Boletim Setembro 2023

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Monitor de Feminicídios no Brasil

Boletim Setembro 2023

Boletim Setembro 2023

Universidade Estadual de Londrina

Centro de Letras e Ciências Humanas

Departamento de Ciências Sociais

Programa de Pós-Graduação em Sociologia

Laboratório de Estudos de Feminicídios

Elaboração

Amanda Vinturini de Oliveira

Ana Luiza Mouriño de Almeida Prado

Denise M. Vieira Dias

Raul Santos do Nascimento

Silvana Mariano

Colaboração

Yumi Santos Aoki

Londrina, 20 de setembro de 2023.

Sumário Apresentação.........................................................................4 Lista de notícias......................................................................7 Direito à memória....................................................................8 Feminicídios no Brasil em 2023............................................9 Feminicídios por dia...............................................................11 Distribuição geográfica dos casos de feminicídios............13 Características da vítima......................................................15 Características do crime......................................................18 Considerações finais............................................................23 Contatos...............................................................................25

A cada dia, mulheres e meninas são confrontadas com a sombria realidade da violência de gênero, que frequentemente resulta na perda de suas vidas.

O fenômeno dos feminicídios necessita de um monitoramento mais rigoroso e ampla visibilidade.

Este Boletim de Setembro, elaborado pelo Laboratório de Estudos de Feminicídios (LESFEM), traz a mais recente atualização do Monitor de Feminicídios no Brasil (MFB). Aqui, consolidamos dados, incluindo novos casos, tanto consumados quanto tentados, destacando as variáveis mais relevantes de nosso banco de dados.

Os números resultam de uma meticulosa análise e catalogação de notícias sobre feminicídios, utilizando ferramentas digitais e um rigoroso trabalho de categorização. A classificação é realizada com base nas Diretrizes Nacionais Feminicídio, publicadas pela ONU Mulheres em 2016, que orientam a investigação, processamento e julgamento de mortes violentas de mulheres com uma perspectiva de gênero.

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Apresentação

Nesta edição, acrescentamos 220 novos casos reportados, dos quais 166 ocorreram em agosto. Assim, até o dia 31 de agosto de 2023, contabilizamos 1.373 casos de feminicídios, sendo 958 consumados e 415 tentados.

Os dados referentes aos feminicídios consumados produzidos pelo LESFEM contribuem para o Mapa Latino-americano de Feminicídios, uma iniciativa do MundoSur.

Mais do que simplesmente informar, nosso Boletim visa chamar atenção para a necessidade premente de eliminar todas as formas de violência de gênero. Buscamos proteger mulheres em situação de vulnerabilidade e almejamos um futuro onde a segurança seja um direito incontestável para todas.

Em memória das vítimas, em defesa das vivas.

Equipe do LESFEM

Londrina, 20 de setembro de 2023.

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166 feminicídios ocorreram no mês de agosto.

O Laboratório de Estudos de Feminicídios (LESFEM) apresenta os dados de todo o país coletados pelo Monitor de Feminicídios no Brasil (MFB) do mês de agosto de 2023.

A coleta de informações é feita pelo tratamento de notícias da imprensa. Dentre os dados, são separados os feminicídios consumados e os tentados.

No período destacado, registram-se 166 feminicídios, sendo 114 consumados, com uma média diária de 3,67, e 52 tentados.

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Acesse a lista de notícias registradas, no mês de agosto, de feminicídios, consumados e tentados, no Brasil.

Clique aqui

Os casos podem aparecer em diversos meios de notícias. Para gerenciamento e divulgação, compilamos apenas uma notícia de cada caso.

Colabore com nosso monitoramento.

Se você conhece algum feminicídio que não consta entre as notícias aqui relacionadas, envie-nos o(s) respectivo(s) link(s) para um dos nossos contatos, disponíveis ao final do documento.

notícias
Lista de
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Direito à memória

Todas as mulheres possuem direito à memória.

A nuvem de palavras a seguir reúne os nomes das vítimas de feminicídios do mês de Agosto/2023.

Dos 166 novos casos que ocorreram durante o mês de agosto, 61 deles (36.7%), não houve divulgação do nome da vítima.

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Feminicídios no Brasil em 2023

0 100 200 300 400 500 jan/23 fev/23 mar/23 abr/23 mai/23 jun/23 jul/23 ago/23 Tentado Consumado Total Gráfico 1 - Feminicídios tentados e consumados em 2023 21 107 128 39 101 140 51 92 143 66 127 193 66 153 219 53 128 181 66 136 202 52 114 166
Maio foi o maior mês de feminicídios no Brasil, em 2023 9

Feminicídios tentados e consumados no Brasil

Apenas entre janeiro a agosto de 2023, houveram no Brasil grandes números de tentativas feminicídas, contabilizando 415 eventos. No entanto, muitos casos não são notificados e noticiados, gerando um desafio enorme para contabilização dos dados. A taxa de casos consumados é ainda mais alarmante, atingindo 958 registros, mais que o dobro de atos tentados.

Gráfico 2 - Registros de feminicídios consumados e tentados no Brasil entre janeiro a agosto de 2023

415

958

Consumado

Tentado
10

Feminicídio por dia

Terça-feira é o dia com mais casos de feminicídios no mês de Agosto

O gráfico abaixo, apresenta a quantidade de registros por dia da semana do mês de agosto. Nota-se que terçafeira é o dia que mais ocorreu feminicídio no mês de agosto. No entanto, quando comparamos com a quantidade no ano de 2023, vemos que esse quantitativo é inédito. Ainda não há hipóteses ou estimativa para explicar esse fenômeno.

Gráfico 3 - Registros de casos por dia

Segunda-feira

Terça-feira

Quarta-feira

Quinta-feira

Sexta-feria

Sábado

Domingo

0 10 20 30
13 30 24 26 22 28 23 11

O registro de casos por dia em 2023 demonstra que a maioria deles ocorrem ao final da semana, principalmente no domingo, com 260 ocorrências, seguido por 222 aos sábados e 195 nas sextas e segundas-feiras respectivamente.

0 100 200 300 Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feria Sábado Domingo Indeterminado Gráfico 4 - Registros de casos por dia, em 2023 195 164 163 167 195 222 260 7
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Distribuição geográfica dos casos de feminicídios

No mês de agosto, o estado de Minas Gerais foi o que mais teve casos noticiados detectados de feminicídios, consumados e tentados, com 23 casos, seguido de São Paulo (21) e Bahia (14).

Gráfico 5 - Quantidade de casos consumados e tentados no Brasil por UF

1 3 3 2 1 3 3 12 4 14 2 6 3 5 7 2 4 8 23 6 21 7 7 2 6 6 5
em agosto de 2023
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O Gráfico apresenta casos de feminicídio por cem mil mulheres nos estados brasileiros durante janeiro a agosto de 2023, revelando que Rondônia obteve a maior taxa, seguida de perto por Roraima. Ainda que os valores decaiam, preocupantemente, o menor dado ainda se estabelece em 1,1 pertencente ao estado de São Paulo.

Gráfico 6 - Casos novos de feminicídios por cem mil mulheres por UF, jan-ago, 2023

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Idade das vítimas

A vítima mais nova tinha apenas 3 meses de idade.

O crime de feminicídio não atinge apenas mulheres adultas. 8,4% das vítimas são meninas e mulheres com até 18 anos. A faixa etária com maior proporção de mulheres vitimadas pelo feminicídios foi entre 25 a 36 anos, com 32,5%.

Gráfico 7 - Idade das vítimas do mês de agosto

Até 10 anos

Entre 11 e 18

Entre 19 e 24

Entre 25 e 36

Entre 37 e 45

Entre 46 e 60

Acima de 60 Dado incerto

0 20 40 60
15 3 11 15 54 28 15 6 34

Recorte racial

A identificação do quesito racial é um grande desafio, visto que a fonte dos dados é notícias. Na maioria dos casos não há imagem ou foto da vítima, impossibilitando a identificação. Das identificações registradas, 22,9% das vítimas eram pretas ou pardas, enquanto 16,9% eram brancas. No entanto, 60,2% das vítimas não tiveram sua identificação racial.

Gráfico 8 - Cor/raça das vítima em agosto

Branca Preta/Parda S I
16

Recorte racial dos casos em 2023

Durante 2023, o número de mulheres brancas 21,7% e de mulheres negras 20,1%, representam as maiores taxas identificadas, sendo quase equivalentes.

Mesmo assim, ainda pode ser notada a dificuldade na identificação da maior parte das vítimas, com 57,6% delas não obtendo cor relacionada, prejudicando uma série de abordagens sociais e estatísticas para o estudo e possível prevenção desses casos em específico.

Gráfico 9 - Cor/raça das vítima em 2023 (%)

0 20 40 60 Amarela Branca Indígena Preto/Parda Sem Informação 0.07% 21.7% 0.94% 19.81% 57.3%
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Características do crime

Um processo importante para a compreensão dos dados sobre o feminicídio no Brasil é a caracterização desses crimes. Em relação ao vínculo do agressor com a vítima, 71,6% eram companheiros ou ex-companheiros, constituindo 119 casos.

Gráfico 10 - Vínculo com agressor (%)

Conhecidos 4,8% Nãoseconheciam4,8% Familiardireto2,4% Familiarporafiliação3

34,9%

36,7%

Casal
Ex-casal
,6% Dad o i ncert o ou desconh ecid o 12 ,7%
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Tipo de Feminicídio

De acordo com as Diretrizes Nacionais de Feminicídio, de 2016, feminicídio íntimo define-se como:

Morte de uma mulher cometida por um homem com quem a vítima tinha, ou tenha tido, uma relação ou vínculo íntimo: marido, ex-marido, companheiro, namorado, ex-namorado ou amante, pessoa com quem tem filho(a)s. Inclui-se a hipótese do amigo que assassina uma mulher – amiga ou conhecida – que se negou

O feminicídio íntimo é o tipo mais comum, envolvendo questões de controle, abuso emocional, psicológico ou físico, antes que o assassinato aconteça.

Por prostituição ou ocupações estigmatizadas

Por mandantes

Por crime organizado/tráfico Transfeminicídio/Travesticídios

0 25 50 75 100 125 Incerto/Desconhecido Íntimo Não íntimo Infantil Familiar
Sexual
Por conexão
sistêmico
Lesbofóbico/Lesbofeminicídio Suicídio feminicida
22 122 9 1 7 2 2 1
Gráfico 11 - Tipo de feminicídio em Agosto
a ter uma relação íntima
ou sexual). 19
com ele (sentimental

Tipo de Feminicídio em 2023

Da mesma forma que em agosto, a maioria dos feminicídios em 2023 são classificados como íntimos, seguidos por casos incertos.

Porém, ao decorrer do ano, em contraste com o mês de agosto, onde a terceira maior taxa de crimes pertence à categoria não íntima, a tendência aponta para casos de violência contra mulheres ocorrendo dentro de um contexto familiar.

0 250 500 750 1 000 Incerto/Desconhecido Íntimo Não íntimo Infantil Familiar Por conexão Sexual sistêmico Por prostituição ou ocupações estigmatizadas Por mandantes Por crime organizado/tráfico Transfeminicídio/Travesticídios Lesbofóbico/Lesbofeminicídio Suicídio feminicida Gráfico 12 - Tipo de feminicídio em 2023 161 992 30 16 60 31 15 3 2 5 10 1 1
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Meio ou instrumento utilizado no feminicídio

O feminicídio, considerado uma modalidade de homicídio, pode ser cometido por meio de diversos instrumentos. O uso de armas brancas, como facas, é o método mais recorrente, representando 46,98% dos casos, seguido pelo uso de armas de fogo.

46,98% Arma Branca 16,3% Arma de fogo 9% Desconhecido 0 20 40 60 80 Arma branca Arma de fogo Asfixia Objetos contundentes Queimadura ou incineração Golpes Atropelamento Decomposição Envenenamento Afogamento Queda de altura Consequências de estupro Degola Tortura Desmembramento Outros Dado incerto ou desconhecido 78 27 10 9 1 8 4 3 1 2 1 1 2 4 15
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Gráfico 13 - Meio utilizado no feminicídio

15,7% das vítimas, do mês de agosto, já tinham realizado denúncia prévia.

6%

Das mulheres vítimas de feminicídio, em agosto, sofreram violência sexual.

42,8%

Dos casos ocorreram na casa da vítima ou casa da vítima-agressor.

21,7%

Dos ataques feminicidas aconteceram em espaço público.

15,8%

As vítimas estavam com filhos(as) no momento do feminicídio

419

Crianças perderam a mãe por feminicídio.

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Considerações Finais

Durante o mês de agosto, no Brasil, foram-nos tiradas, pelo menos, 114 meninas e mulheres, vítimas produzidas pelo patriarcardo e pelo machismo. Outras 52 tiveram suas vidas radicalmente transformadas negativamente. Muitas outras perdas ainda não chegaram ao nosso conhecimento.

Ao trazermos à luz os números contidos neste Boletim, não buscamos apenas quantificar a tragédia, mas alertar para a gravidade do problema e lembrar que são vidas interrompidas ou afetada pela violência de gênero. Por trás de cada estatística há uma mulher, uma família, uma comunidade, sonhos desfeitos e um futuro incerto.

Esperamos que este Boletim não apenas informe, mas também inspire ação, conscientização e mudanças significativas. Almejamos o dia em que Boletins como este se tornem históricos, e não periódicos.

Em memória das vítimas, em defesa das vivas.

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Mapa Latino-Americano de Feminicídio

O Mapa Latino Americano de Feminicídio (MLF), desde 2020, é o grupo responsável pelo monitoramento e divulgação de dados relacionados à violência de gênero, garantindo visibilidade ao debate a partir da associação com diversas equipes localizadas na américa latina.

Dentre essas equipes, encontra-se o Laboratório de Estudos de Feminicídio (LESFEM), que em 2023, passou a ser o representante brasileiro do MLF através da associação MundoSur, que promove projetos inovadores a partir de uma perspectiva crítica e focada no desenvolvimento inclusivo das questões sociais.

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E-mail: contato.lesfem@gmail.com Instagram: https://www.instagram.com/lesfem.br/ LinkedIn: https://www.linkedin.com/company/lesf em-laborat%C3%B3rio-de-estudos- defeminic%C3%ADdios/mycompany/ Site: LESFEM – Laboratório de Estudos de Feminicídios (uel.br) Contatos 25

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