Análise sobre autismo

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ANÁLISE SOBRE AUTISMO



Esse livrinho foi criado como intenção de análise pessoal a respeito de um autodiagnóstico de autismo após 2 anos de pesquisa psicológica externa e pessoal feita por Letícia Cavalcante de Oliveira, de atuais 17 anos em 2022. Nele, há diversos traços/sintomas comuns do autismo, assim como suas definições em páginas rosa e experiências pessoais em páginas azuis. Todos os textos de definições foram tirados do https://guia-autismo.carrd.co/, um guia informativo sobre autismo feito por autistas. Créditos a Alix Kayden, Ania, Caio Pietro, Georgia Zielinski, Glenn Altaïr Lennie, Irene, Jessie Berni, Kiara, Laura, Lúcifer e Nex Lyn. Os textos sobre as experiências pessoais estão em formas simples de tópicos, por pontuarem situações que se encaixam na definição citada.

ANÁLISE SOBRE AUTISMO


O autismo é tradicionalmente classificado em três níveis: um, dois e três, que são conhecidos popularmente como leve, moderado e severo. A medicina os classifica de acordo com o nível de “comprometimento”, ou seja, quanto mais “afetado” pelo “transtorno”, mais “grave” é o nível de autismo. Essa classificação é extremamente ofensiva e incorreta. Vale lembrar que ume autista moderado não é “mais autista” do que ume leve, ou “menos autistas” do que ume severo, todos são igualmente autistas, e também não devemos subestimar as dificuldades de ume autista leve e as competências de ume autista severo. Sendo assim, ês autistas adotaram um sistema de classificação que leva em conta o nível de suporte do indivíduo. Quanto mais ajuda elu precisa, maior o nível de suporte. Os níveis continuam sendo de 1 ao 3. As características dos níveis serão apresentadas na página seguinte. Este livro retrata uma vivência que parece se encaixar no nível 1 de suporte do autismo


Nível 1: Os sintomas do autismo são iguais em todos os níveis, porém no nível 1 eles são mais brandos e mais difíceis de serem percebidos, levando às pessoas nessa parte do espectro a “parecerem normais”, o que pode ocasionar num diagnóstico tardio. Nível 2: Nesse nível, os sintomas são mais aparentes, os atrasos e transtornos de linguagem são bem mais comuns. Precisam de um suporte maior. Deficiência intelectual (DI) é uma comorbidade comum nesse nível. Nível 3: Autistas nesse nível possuem várias dificuldades, podendo apresentar habilidades cognitivas baixas, inflexibilidades mais severas, tendência maior ao isolamento e também podendo ser não-verbais (ou seja, sem expressão pela fala). Terapias podem fazer a pessoa migrar para o nível 1 ou 2. Sim, é possível “andar” no espectro, tanto para frente quanto para trás. Ume autista nunca sai do espectro. Dentro disso, cabe frisar que o tratamento no autismo deve buscar a independência e funcionalidade do indivíduo, aumentando sua qualidade de vida e não tentando “curar o autismo”.


DEFINIÇÕES EM PÁGINAS ROSAS.


VIVÊNCIAS EM PÁGINAS AZUIS.


MASKING.


Masking, como o termo já deixa a entender, é a habilidade de mascarar algo. No autismo, o masking é usado para esconder características do espectro que possam ser vistas como diferentes daquelas consideradas "normais". Alguns exemplos são esconder os stims, forçar contato visual, etc. O masking é muito comum em autistas, e também um dos motivos pelo qual o diagnóstico é dificultado. Muitas vezes, o masking é feito de maneira não intencional, ou seja, nem mesmo ê autista percebe que está fazendo, e isso pode vir desde a infância.


O modo mais comum de se fazer o masking é imitando o comportamento de pessoas neurotípicas. Seja a forma de se mexer, de falar, de se comportar... Assim, a pessoa autista consegue esconder suas características e assim ser enxergada como "normal" pela sociedade. Contudo, mascarar pode trazer problemas. Esconder e reprimir as características durante muito tempo sobrecarrega ê autista, aumentando as chances de uma crise, além de muitas vezes impedir ou dificultar muito um diagnóstico. É ideal que autistas possam mostrar suas características sem medo para terem uma melhor qualidade de vida.


AUTO DIAGNÓSTICO a importância do autodiagnóstico sério para o diagnóstico do autismo O meio médico e psicólogo segue majoritariamente um modelo distorcido sobre o que é o autismo. Todo diagnóstico é pautado em pesquisas feitas com homens, cis, brancos e ainda crianças. Fazendo um panorama socioeconômico, ter um diagnóstico é uma realidade distante pra maioria dos autistas. O custo das consultas e avaliações são outros fatores que atrapalham.


É aí que entra o autodiagnóstico, ele é uma suspeita pessoa baseada em bastante estudo que antecede a busca por um diagnóstico formal, visto que é um processo longo que muites não têm acesso. E essa suspeita se dá por meio de identificação com os traços e outres autistas. Precisamos de mais compreensão, mais suporte e mais respeito para que possamos finalmente ter paz e deixar essa necessidade de agir como neurotípiques para sermos aceites. Precisamos entender que o autodiagnóstico é o primeiro passo nessa luta onde a medicina, a psicologia e familiares têm se mostrado nossos maiores inimigos. Precisamos que entendam que somos válides do jeito que somos e não precisamos mudar, não precisamos ser menos autistas. E, finalmente, precisamos de apoio para sermos quem somos, sem precisar mudar, para podermos alcançar a autoaceitação e nos sentirmos amades do jeito que somos.


Quando passamos a nos identificar, a nos ver no autismo, é que a perspectiva começa a mudar. Você é quem se conhece melhor, você é quem sabe tudo que você passou. Aí que entra o autodiagnóstico, enquanto a instituição da medicina tradicional espalha desinformação e faz desserviçso, nossa comunidade luta para acolher autistas de todas as idades, raças, classes, e condições sociais, quem antes se sentiam deslocades. O autodiagnóstico é o primeiro passo na jornada de autodescoberta e leva à busca pela avaliação profissional. Ainda é muito difícil achar profissionais que não sigam instruções e informações antiquadas pregadas por médicos, psicólogos e familiares. Por isso, o autodiagnóstico não deve ser desvalidado, e todo apoio possível deve ser oferecido ao indivíduo que dá início a essa caminhada longa e que não precisa ser solitária. Precisamos de mais colaboração e menos preconceito.


MINHA VIVÊNCIA: MASKING.


Desde a infância, sempre houve muita repreensão de stims e crises por parte da mãe, principalmente, a ponto de com o tempo virar automático; Mudança de comportamentos com o tempo para tentar fazer amizade, se enturmar, etc, uma vez que havia exclusão e bullying com sua forma de agir; Presença teatral desde os 5 anos, fazendo com que literalmente aprendesse como fazer expressões faciais e expressar emoções por voz, fazendo com que todas as suas reações pareçam exageradas e também recebam críticas familiares e de colegas; Há um incômodo grande em olhar nos olhos, mas foi forçada pela mãe a aprender a fazer, o que causa desconforto e incapacidade de focar.


RIGIDEZ COGNITIVA.


A rigidez cognitiva é a responsável pelo apego à rotina, resistência à mudanças, comportamentos restritivos e repetitivos. A previsibilidade traz segurança e conforto para ê autista, e a falta dela pode desencadear crises. A rigidez cognitiva também é a responsável pela dificuldade em entender conceitos abstratos e figuras de linguagem. Ela também faz autistas tenderem a seguir regras e levá-las muito a sério, ou não segui-las se não entenderem seu motivo. Muites autistas também tem dificuldade de executar tarefas sem receber instruções do passo a passo completo. A rigidez cognitiva também cria um perfeccionismo exacerbado e uma tendência maior à frustração que muitas vezes não é entendida por alistas. Além de sobrecarga por estímulos, é comum que as crises ocorram em decorrência do pensamento rígido, que está relacionado à disfunção executiva. A rigidez cognitiva compromete o processamento de informação inesperada, nova ou complexa, como afeta a adaptação e o controle emocional de autista. Por isso, quebra de planejamento e mudanças bruscas podem causar crises em autistas.


MINHA VIVÊNCIA: RIGIDEZ COGNITIVA.


Crises pós mudança do 1ºEM para 2ºEM (pessoas, barulho no pátio, local de intervalo, sala de aula); Ordem das cobertas; Ordem de sanduíche; Agonia quando querem interferir na minha ordem de fazer tarefas; Perfeccionismo na infância; Interpretar regras de forma literal a ponto de me excluírem; Levar o que a mãe e professores falavam de forma definitiva por anos (por exemplo, quando citou sobre não poder ser apelidada, sempre pedindo permissão de forma que irmã estranhava); Brigas frequentes com a mãe por não seguir regras ou ordens que não entendia, perguntando a respeito; Crises constantes na infância quando perdia sua rotina de novela; Ordem certa de comida no prato.


DISFUNÇÃO EXECUTIVA.


As funções executivas são as funções cerebrais responsáveis pela execução de tarefas, desde as mais simples do dia a dia até as mais complexas. Memória de trabalho, atenção de curto prazo, organização e controle de impulsos são alguns exemplos. Para quem tem disfunção executiva, iniciar tarefas, persistir nelas, fazer tarefas simples, receber instruções, pode ser um desafio. A condição está muito presente no autismo, no TDAH, na depressão e ansiedade Para entender melhor, pense na seguinte tarefa: lavar a louça. Ela está subdividida em vários pequenos passos, pegar a esponja, colocar detergente, separa a louça. Para a maioria das pessoas, este processamento de etapas é feito de maneira automática. O cérebro de quem tem (ou está passando por) disfunção executiva faz muito mais esforço e gasta muito mais energia apenas para pensar e organizar o processo.


Ela também é a responsável por sentirmos emoções tão fortes que às vezes fogem do nosso controle. Quando passamos por uma frustração, é comum ter uma resposta relativamente forte. Também está relacionada a dificuldade de flexibilização, o que leva à criação de rituais. Esses rituais permitem que fiquemos na nossa zona de conforto, pois cria uma forma de automatização que nos conforta.


Vivemos cansades, procrastinamos sem intenção e lutamos para terminar as obrigações. Instruções precisam ser escrita para não esquecermos. Mas a culpa NÃO é nossa. Não é preguiça, não é má vontade, não é irresponsabilidade. Disfunção executiva é um fator que pode ser incapacitante e piora com o nível de sobrecarga da pessoa. Ela nos faz precisar de adaptações, paciência, flexibilização nos prazos e várias outras coisas.


MINHA VIVÊNCIA: DISFUNÇÃO EXECUTIVA.


Grande dificuldade em iniciar obrigações, como tarefas, organizações simples, ou até mesmo trabalhos profissionais; Desde a infância mau humor intenso e instabilidade emocional com frustrações, mudanças de planos, sentindo emoções intensas demais para situações simples; Rotinas e rituais citados anteriormente, que causam grande frustração e choro quando quebrados.


CRISES.


Meltdown, shutdown e burnout são termos usados para definir crises que podem ocorrer, em sua maioria, como reação a uma sobrecarga sensorial/emocional, ansiedade ou situações estressantes. Cada indivíduo pode ter um gatilho pessoal, assim como a forma na qual a crise se manifestará poderá ser diferente, bem como o suporte que ele necessitará. Tode autista é únique e suas necessidades pessoais devem ser levadas em consideração. Meltdown (ou crise explosiva/nervosa) é uma perda temporária do controle emocional, podendo acarretar reações como choros e movimentos repetitivos intensos, gritos, algumas vezes até mesmo auto-agressão (como se arranhar ou se morder, por exemplo).


O termo SHUTDOWN (ou crise implosiva) vem da linguagem da informática e se refere a um comando capaz de desligar/interromper o sistema. Autistas, quando passam por um episódio de shutdown, costumam parecer parcialmente ou completamente distanciades do momento presente, não respondem à comunicação, distanciam-se do contato social. Algumas vezes também perdem a capacidade de retirar-se do gatilho (sobrecarga ou situação estressante) que iniciou a crise. Algumes autistas verbais ficam não-verbais durante o shutdown.


BURNOUT pode ser definido como uma exaustão a longo prazo. O Burnout caracteriza-se pelo esgotamento físico e mental de forma intensificada. É comum que em uma crise como essa o autista perca o interesse em executar suas atividades, fique mais sensível a quaisquer estímulos externos e, consequentemente, mais estressade. O foco, a memória, a capacidade de comunicar-se, a capacidade de reagir a estímulos, também são diretamente afetados. Esse evento pode durar, dias, semanas ou meses, não existe tempo determinado, dependendo apenas do indivíduo, do motivo que acarretou a crise e do suporte que o mesmo receberá.


MINHA VIVÊNCIA: MELTDOWN.


Crises intensas desde a infância; Ocasionadas, na época, principalmente por mudanças ou interrupções de planos pessoais; Confundido com "birras"; Experiência com a psicóloga (aos 9 anos de idade): descreveu como ferramenta de manipulação e drama e ensinou a mãe a conter segurando os braços); Stims constantes (incluindo arranhões); Choros intensos; Extrema dificuldade de controlar a voz, o choro é acompanhado de som e gritos desconexos; Já ocorreu por crises existenciais, após sobrecarregar os pensamentos com coisas que não são compreendidas; Sempre há tentativa de contenção verbal ou física; Incomodou os vizinhos a ponto de chamarem a polícia (aos 9 anos); Sempre há tentativa de isolamento no quarto, para diminuir incômodo sensorial (tampar as orelhas, apagar as luzes, se encolher, evitar toque).


MINHA VIVÊNCIA: SHUTDOWN.


Mais comum após meltdowns, onde há um desligamento repentino da crise histérica; Pouca reação mental a estímulos externos, como conversas ou ações; Ocorre por superestimulação sensorial e emocional; Grande dificuldade ou incapacidade de movimentação corporal; Sem resposta a estímulos e tentativa de comunicação; Também confundido com birra ("Se fazer de morta"); Mesmo após recuperação de movimentos, grande lentidão para fazer ou processar as coisas;


MINHA VIVÊNCIA: BURNOUT.


Análise incerta, porque a definição parece confusa; Estado mentalmente instável, com crises recorrentes; Cansaço extremo físico e mental; Habilidade escolar e de memória pior que o costume; Habilidade social também pior, com comunicação muito afetada. Falta de interesse em planos, em tarefas, em tudo; Duração extensa;


HIPERFOCO.


Hiperfocos, também conhecidos como interesses especiais quando a longo prazo, são definidos, pela medicina como: um estado de concentração mental intensa, no qual é intensificado o interesse por algum determinado assunto. Costumam ser associados ao TDAH, porém é uma característica muito presente em autistas. Na ausência de diagnóstico, por vezes, confunde-se com estados de fixação e obsessão, fazendo com que busquem retirar a pessoa de seu hiperfoco. Na realidade existem, sim, atitudes prejudiciais, como quando a pessoa se esquece das atividades importantes, como alimentação e higiene, ao se concentrar demais em algum hiperfoco. Entretanto, há diversos benefícios em incentivar estas atividades, como facilidade na interação social com outres que tenham o mesmo interesse, inclusive neurotípiques. Além da possibilidade de evolução para uma área de estudo ou trabalho.


MINHA VIVÊNCIA: HIPERFOCO.


"Obsessão" por determinado assunto que pode durar dias, meses ou anos; Comumente por ficção, mas pode ser por famosos ou até por pessoas reais; Exemplos: Harry Potter, Percy Jackson, BTS, Amor Doce, Sasuke, Shiita, Thiago e Vítor; Atrapalhou interação social e gerou bullying e rótulos no Ensino Fundamental; Passa a maior parte do dia consumindo conteúdo a respeito do assunto; Pode reassistir várias vezes algo que esteja hiperfocada em loop, por exemplo; Passa a saber tudo sobre cada detalhe do assunto; Esquece ou protela tarefas básicas como beber água, comer, fazer obrigações;


TPS.


O Transtorno de Processamento Sensorial (ou TPS) é uma dificuldade no processamento de estímulos externos, como toques, sons, luzes, etc. Pode se apresentar como hipo ou hipersensibilidade (sentir as sensações de menos ou demais) ou ambas ao mesmo tempo. O TPS é um forte indicativo de que alguém pode estar no espectro. O excesso ou variações específicas de estímulos podem resultar em sobrecargas que podem ser desencadear uma crise. A hipersensibilidade sensorial costuma levar a pessoa a evitar os estímulos, como cobrir a orelha, fechar os olhos com força, evitar contato físico, etc. A hipossensibilidade faz com que a pessoa busque estímulos para compensar, como criança que põe a boca em tudo e lambe, buscar cores fortes e coisas brilhantes, encostar em tudo, gritar ou ouvir coisas com som alto.


A presença do TPS não é obrigatória em pessoas autistas, mas é muito comum, sendo um dos primeiros critérios avaliadas em um processo de diagnóstico. Alguns exemplos são: sensibilidade a sons, luzes, cheiros, texturas, seletividade alimentar, etc. As sensações causadas pelos estímulos são muito particulares a cada pessoa, variando de um desconforto até uma dor física.


E a reação varia também com o nível de sobrecarga da própria pessoa, sendo mais forte quando se está cansade, ansiose ou já está exposte a muitos estímulos há um tempo mais longo. É importante sempre perguntar à pessoa em questão se elu se sente confortável com certos estímulos antes de qualquer coisa. Saber se há excesso de ruídos, sons muito altos, luzes ou cores muito fortes, contato físico exacerbado, etc. Cada autista vai poder falar melhor sobre os próprios limites.


MINHA VIVÊNCIA: TPS.


Desde criança há um imenso desconforto e dificuldade em dormir se o lençol não estiver 100% esticado onde está tocando quando deita. Mesmo na adolescência, ao não conseguir fazer isso, já teve crise de choro pelo incômodo; Há diversos dias onde até mesmo apenas duas pessoas conversando geram incômodo auditivo a ponto de ter que se isolar mesmo que quisesse estar com elas; Sempre se incomodou muito com etiquetas em roupas, desde criança a mãe retirava todas; Grande incômodo com a sensação de manga curta ou comprida "embolada" sob uma blusa, a ponto de chorar, preferir tirá-la e passar frio; Após trauma na infância, incômodo em ser segurada pelos braços; Sempre se assusta bastante com barulhos altos repentinos, principalmente portas batendo, tampando as orelhas em automático; Gritos facilmente deixam a beira de um meltdown.


STIMS.


Já os Stims (estereotipias) são um mecanismo usado pelas pessoas autistas para regular estresse, emoções, e também age como uma contrabalança para combater os estímulos invasivos, para evitar sobrecarga ou para que a quebra de planejamento não cause tanto prejuízo. Todos têm suas formas de aliviar estresse, como balançar o pé quando se está ansiose. A diferença é que para ês autistas os stims são essenciais. Stims podem ser uma forma de expressão para autistas. Por exemplo, aquelus que pulam quando estão felizes. Por serem estranhados pelus outres, acabamos evitando e escondendo nossos stims. Ouvir a mesma música diversas vezes, repetir frases e palavras, balançar o corpo, andar em círculos, qualquer coisa pode ser um stim. Stims nunca devem ser reprimidos, eles são extremamente benéficos. Só devem ser substituídos caso forem agressivos (machuque a si mesmo ou a outra pessoa). Enquanto nem tudo o que fazemos é um stim, quase tudo que fazemos pode ser um stim.


MINHA VIVÊNCIA: STIMS.


Perna balançando (repreensão desde a infância); Mãos de jazz para cima e para baixo (ou fechadas em punho); Pés balançando, mesmo quando de pé; Estalar os dedos; Tocar o dedão em todos os dedos continuamente, Balançar para frente e para trás (principalmente sentada ou em crises); Balançar o corpo todo de um lado para o outro enquanto conversa (comentado por várias pessoas, comparação com personagem de animação); Mão balançando estilo-maestro quando prestando atenção em uma música); Caretas com a boca; Stims de textura: esfregar constantemente cobertas, pelúcias, tecidos; Ouvir uma música diversas vezes em loops de mais de 5 horas, por vários dias.


COMUNICAÇÃO.


Uma das características mais comuns observadas no autismo é a diferença na comunicação e na interação social, que pode incluir atraso na fala na infância, ecolalia, falta de contato visual, falta de uso de expressões faciais, tons de voz e de gestos de faz de conta e ecolalias. Mas, como o autismo é um espectro e os indivíduos são plurais, algumes autistas podem também começar a falar muito cedo, algumes podem ser expressivos demais, usar expressões faciais consideradas exageradas, falar mais alto e com muita ênfase, especialmente quando falam sobre seus hiperfocos. Outros meios de comunicação dê autista também podem ser seus stims e ecofenômenos.


Autistas também costumam falar e compreender as coisas de modo mais direto e literal, o que pode causar situações constrangedoras e gerar ofensas. As dificuldades nas interações vão além, pois a literalidade afeta também a compreensão de algumas piadas e expressões, assim como nuances da interação social. Autistas costumam ser mais sinceros e pragmátiques e não vêem sentido em hábitos neurotípiques, como criar regras sem a intenção de seguilas, costumes e tradições antigos e sem muito sentido ou agir amistosamente na frente de uma pessoa e maliciosamente pelas costas.


Essas diferenças causam frustração na interação com neurotípiques e ocasionalmente uma sensação de incompreensão mútua. Há também ês autistas não falantes, que não se comunicam através da fala, mas que podem usar a escrita ou digitação, formulação de frases através de imagens ou até LIBRAS. Um exemplo é Naoki Higashida, um autista de nível 3 de suporte, que não fala, mas escreveu "O que me faz pular", um dos livros mais conhecidos sobre autismo.


MINHA VIVÊNCIA: COMUNICAÇÃO.


Ecolalia e outros ecofenômenos; Dificuldade em contato visual; Expressividade e tons de voz muito exagerados; Ou, então, falta de uso de expressões faciais e tons de voz monótonos, confundidos com arrogância ou malcriação; Voz muito alta, a ponto de ter que ser levada num otorrino e numa fono. Fala com muita ênfase sobre hiperfocos ou situações que cause animação, gerando desconforto em quem escuta; Dificuldade em entender piadas e ironias, comumente fazendo com que a família e os amigos tirem sarro; Na infância, era muito visto a literalidade e radicalidade em interpretar regras, a ponto de sofrer bullying por isso; Confusão com expressões, levando a brigas com a mãe; Dificuldade em assimilar coisas de consenso, como o conceito de existência; Dificuldade em entender expressões e tons de voz.


ECO FENÔMENOS.


A definição médica dos ecofenômenos é que eles são "ações imitativas automáticas sem consciência explícita", e são identificados como patológicos. Por isso, muitas vezes são vistos como algo ruim e que deve ser eliminado. Assim como os stims, os ecofenômenos são involuntários, ou seja, não temos controle sobre essas ações e elas acontecem de forma automática. Muites “especialistas” afirmam erroneamente que ecofenômenos são inúteis. Quando tomamos consciência deles, podemos fazer uso de tais como mecanismos de autorregulação e comunicação. Eles estão entre as características repetitivas mais presentes no autismo, mas nem todos são conhecidos, e também são comuns em outras neurodiversidades como o TDAH ou Síndrome de Tourette.


Ecofenômenos incluem: Ecolalia: vocalizações, envolvendo repetições de palavras, sons ou frases, diversas vezes ou de imediato, podendo ser bem depois ou assim que lhe acabou de ser dito algo. Podem ser repetições de diálogos de filmes e/ou séries, de frases que chamam a atenção da pessoa, músicas, palavras, barulhos que os animais fazem, como miado de gato, latido de cachorro e etc. A ecolalia pode ser muito benéfica, ajudando autistas não-verbais ou semi-verbais no aprendizado da falar e/ou na comunicação, sem falar que muitos de nós a usamos como stims vocais também, podendo nos ajudar em momentos de estresse e/ou crises. Mas ela também pode incomodar, porque algumes autistas tem a ecolalia por repetição imediata, repetindo imediatamente tudo que lhe falam, podendo causar exaustão.


Palilalia: quando a pessoa repete a si mesma involuntariamente. Pode ser repetição de palavras, frases, ou até mesmo sentenças completas. Essa pode ser um tanto irritante às vezes, porque pode fazer com que a pessoa fique presa num looping de se repetir, mas não é uma regra, pode diferir de pessoa pra pessoa. Um exemplo é se a pessoa fala "Yeah", a palilalia pode fazer com que ela fique falando essa palavra seguidamente, "Yeah-yeah-yeah(...)". Esse looping pode ocorrer quando a pessoa encontra uma dificuldade em se expressar ou esquece alguma palavra, pode se parecer com um gaguejar também.


Ecopatia: repetição de tons de voz (usar a voz para alcançar vários tons/timbres diferentes). Isso é basicamente imitar, falando com a voz mais grave ou mais fina. Pode envolver sotaques, havendo grande interesse pela riqueza de diferentes palavras e sotaques que algumas línguas tem, como a nossa por exemplo. E muitas vezes repetimos frases ou palavras tanto em diferentes tons de voz, como em diferentes sotaques. Ecografia: repetição de palavras escritas ou digitadas. É basicamente isso, repetir as palavras que se está lendo ou escrevendo, seja em pensamento (se relacionando com a ecologia) ou vocalizando (se relacionando com a ecolalia).


Ecologia: repetição de sons no pensamento, como frases específicas, músicas, palavras marcantes, sons ouvidos recentemente, etc. Seria a ecolalia do pensamento, a pessoa faz essas repetições mentalmente, sem as vocalizar. Pode ser cansativa também, e/ou intrusiva, repetindo, por exemplo, uma música do nada enquanto se faz uma prova. Pode ser de ajuda, repetindo tal música num momento difícil, ou repetindo alguma informação importante para o momento. Ecomimia: repetição de expressões faciais, como copiar as expressões de outras pessoas ou repetir expressões marcantes. Repetir expressões faciais tanto das pessoas ao redor, como também de personagens em filmes e/ou séries.


Ecolaliplasia: repetição envolvendo língua de sinais. Essa repetição ocorre com pessoas mudas e/ou com autistas não-verbais ou semi-verbais, bem como com pessoas que simplesmente também saibam língua de sinais. Ecoplasia: hábito repetitivo de traçar o contorno de objetos mentalmente ou fisicamente. Basicamente, é quando a pessoa ou passa os dedos pelos objetos, os contornando, ou quando os contorna mentalmente, também podendo contornar traços de pessoas e animais. Ecopraxia: repetição de movimentos com o corpo. Tratase de repetições de movimento, como repetir um passo dança, um gesto, se balançar pular e etc.


Lembrando mais uma vez que os ecofenômenos são involuntários! Não temos controle sobre eles, eles simplesmente acontecem, muitas vezes nem notamos. Contudo, podemos, sim, usá-los como stims voluntários e mecanismo de comunicação ao aprendermos ou notarmos eles.


MINHA VIVÊNCIA: ECO FENÔMENOS.


Ecolalia muito comum enquando assiste TV e em chamadas de áudio, mas presente também no dia-adia, repetindo a fala de outras pessoas com quem conversa, diversas vezes, a ponto de acharem engraçado; Ecopatia em situações parecidas; Ecografia em situações parecidas; Ecologia muito comum com frases ditas, escutadas e, principalmente, versos de músicas; Ecomímia enquanto assiste TV e fala com pessoas, principalmente após costume de utilizar máscaras; Ecolaliplasia com soletração de palavras em línguas de sinais e "mãos de jazz" para comemorações; Ecoplasia bastante comum desde a infância; Ecopraxia em público, principalmente.


ALEXITIMIA.


A Alexitimia é um conceito pouquíssimo divulgado e discutido que diz respeito à marcante dificuldade de verbalizar emoções e descrever sentimentos, bem como sensações corporais, etc. Outros indicadores são: a confusão entre sensações e sentimentos, etc; dificuldade em processar e discernir emoções; pouca fantasia e pouca identificação do que se passa no seu interior, entre outros.


MINHA VIVÊNCIA: ALEXITIMIA.


Quoisexualidade; Dificuldade e confusão em definir sentimentos românticos; Confusão de gênero; Dificuldade em perceber sentimentos como ciúmes e outros, por não saber identificá-los;


LGBTQIA+.


Quando tratamos de orientação sexual e identidade de gênero, autistas são muito mais prováveis de serem identificades como parte da comunidade LGBTQIA+ devido a sua diferente perspectiva sobre questões e rótulos sociais, o que reflete diretamente na facilidade de autoaceitação como tal. Faltam pesquisas sobre pessoas autistas com relação à comunidade LGBTQIA+, e, principalmente, sobre pessoas autistas que não sejam voltadas a pessoas cis do gênero masculino.


Trata-se de um tema raramente discutido tanto no contexto de neurodivergências, quanto no contexto de orientação sexual e formas de identificação de gênero. Uma consequência disso é a falta de atenção médica à saúde sexual de pessoas neurodivergentes e pessoas da comunidade LGBTQIA+. Além de concepções equivocadas da sociedade sobre orientação sexual (lésbicas, gays, bissexuais, assexuais, pansexuais e outras formas de orientação sexual) e formas de gênero (transgênero, queer e outras identidades de gênero), o capacitismo ainda permite a propagação de outras concepções equivocadas sobre os temas em pessoas neurodivergentes.


As dificuldades de autistas da comunidade LGBTQIA+ são ainda mais significantes, considerando a resistência da sociedade em aceitar a capacidade e o direito que pessoas com deficiência possuem de expressar seus gêneros e sexualidades. No entanto, autistas vivem as múltiplas dimensões da sexualidade e de gênero, sendo equivocado presumir a falta de capacidade destas pessoas para tanto. Inclusive, o número de autistas transgêneros é considerável, diante da falta de identificação com o gênero designado no nascimento da pessoa.


Além das identidades transgêneras binárias, as identidades trans não-binárias também fazem parte da comunidade LGBTQIA+. O xenogênero, em especial, é parte da comunidade trans não-binária de microidentidades. No entanto, não se confunde com genderfluid ou outras identidades. A pessoa xenogênera expressa sua identidade por meio de metáforas, por não se sentir confortável com outros termos de identidade de gênero ou não se identificar com outras identidades já existentes. Em razão disso, é uma identidade de gênero comum entre pessoas neurodivergentes ou por pessoas que não possuem conexão com outras identidades, em decorrência de qualquer outro fator. Ser xenogênero não excluí outras formas de identificação e alinhamento.


Logo, todas formas de sexualidade e identidade de gênero devem ser respeitadas, sejam elas expressadas por pessoas com deficiência ou pessoas sem deficiência, visto que fazem parte da experiência única de vida de cada uma dessas pessoas, ressaltando ainda os desafios extraordinários de discriminação e de capacitismo sofridos por autistas LGBTQIA+.


MINHA VIVÊNCIA: LGBTQIA+.


Pansexual assexual heterorrômantica; Assexualidade: quoissexual, uma orientação dentro do espectro assexual (grey area), onde a pessoa não consegue distinguir atração sexual, sensual e estética. Alguém assim não consegue entender os conceitos dessas atrações, é uma linha tão tênue e confusa que não consegue nem dizer se alguém a atrai ou não porque o conceito não faz sentido para ela; Xenogênero Strawberry Shortcake, um gênero fluído com alinhamento feminino predominante e alinhamento neutro, ambos fluindo em intensidade. Também há presença do masculino que aparece eventualmente em frequências menores. Sua forma é representada com a metáfora de um bolo de morango; Link para saber mais sobre o xenogênero: https://issuu.com/letccavalcante/docs/strawberry_s hortcake_1_


COMORBIDADES.


Comorbidade é a existência de uma ou mais condições em uma pessoa ao mesmo tempo. Acontece pois algumas condições potencializam as chances umas as outras existirem. A existência de comorbidades pode dificultar o diagnóstico e influenciar o prognóstico. No autismo, as comorbidades mais comuns são: TDAH, Deficiência Intelectual (DI), Epilepsias, Disturbios do sono, TOC, Bipolaridade, Transtorno de Ansiedade, Depressão, mas também pode haver outros, como, por exemplo, Borderline. É importante frisar que essas condições não estão sempre atreladas ao autismo nem fazem parte do diagnóstico. Existem pessoas que as possuem sem serem autistas e pessoas autistas que não as possuem.


MINHA VIVÊNCIA: COMORBIDADES.


Grande suspeita pessoal de TDAH; Suspeita de Transtorno de Ansiedade e Depressão; Assim como a psicóloga anterior, suspeitou de TOC e Borderline.


ASPIE QUIZ Alguns resultados: o ASPIEQuiz é um teste que ajuda a mapear e encontrar se há ou não uma neurodivergência, sendo um teste que autistas e neurodivergentes podem/precisam realizar. No entando, ele NÃO válida diagnóstico, não diagnostica. Seus resultados, são, então, interessantes para percepção pessoal e ajuda na busca do diagnóstico. O teste foi realizado diversas vezes entre 2020 e 2022, obtendo as seguinte pontuações, da mais antiga para mais recente:


Índices: neurodiverso135/200

neurotípico 95/ 200

Índices: neurodiverso157/200

neurotípico 54/ 200

Índices: neurodiverso151/200

neurotípico 62/ 200

Índices: neurodiverso160/200

neurotípico 44/ 200

Índices: neurodiverso172/200

neurotípico 33/ 200


O autismo é um espectro com variáveis e combinações infinitas. É uma forma diferente do cérebro de processar o mundo. Cada indivíduo tem suas próprias vivências e experimenta as situações de um jeito único. Aqui, foram analisados alguns termos e caracteríscas comuns que ajudam a identificar a condição neurológica, combinando com análise em tópicos sobre situações do cotidiano e história de Letícia. Por se tratar de diversas situações que aocntecem todos os dias, foram listados apenas algumas, de forma sintetizada. Para mais informações, elaborações e detalhes, entre em contato.


@childoftheskyy Letícia Cavalcante de Oliveira

ANÁLISE SOBRE AUTISMO


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