ABRAXAS O deus do Círculo
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Letícia Cavalcante de Oliveira Aula de Poéticas da Atuação Professora Alice Yagyu 06/2022 - Turma 022
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Esses registros se tratam de estudos e análises de casos que aconteceram com a estudante Letícia Cavalcante de Oliveira em suas experiências em contato com o Círculo e suas conexões com relatos anteriores a ela, principalmente relacionados ao deus Abraxas.
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1. O deus ABRAXAS 2. O Círculo 3. Letícia & o Círculo
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1. O deus ABRAXAS O bem, o mal, origem e registros.
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Abraxas é o nome de um deus que incorpora o Bem e o Mal (Deus e Demiurgo) em uma única entidade, representando o Deus monoteísta, mas não onibenevolente (como exemplificado pelo Deus Cristão). Abraxas já foi considerado um deus egípcio e um demônio. Abraxas se trata de um arconte com aparência de quimera (semelhante a um basilisco): a cabeça de um galo (ou um rei), o corpo de um homem, e pernas em forma de cobras. Algumas vezes é retratado com um chicote na mão. Abraxas reina os mundos e possui referências a si em diversos textos gnósticos.
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É comum encontrar figuras cabalísticas gravadas a respeito de Abraxas, além de seu nome, porém astronomicamente 'abraxa' é uma expressão de cunho científico que foi adotada por místicos e céticos para estabelecer fatores entre opostos, como o diabo e deus, o calor e o frio. Abraxas sempre esteve presente entre registros humanos, focados ou não na mitologia, em diversas culturas e nas mais diferentes épocas, desde os tempos antigos e até nos registros do psicólogo suíço Jung, em 1916, que escreveu Os Sete Sermões aos Mortos, um tratado que tinha Abraxas como um deus acima do Deus Cristão e o Diabo, que combinaria todos os opostos num único Ser. Nota-se um grande registro de elementos, míticos ou não, provindos de influencias de Abraxas aos humanos e que possuem aparência circular ou relacionada a círculos, como as Pedras de Abraxas e a esfera armilar.
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2. O Círculo A dualidade presenteada aos humanos.
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Os registros de Matéi Visniec sobre o fenômeno do Círculo na sociedade humana nas últimas eras foram fundamentais para análise, disseminação de informações e estudos de maneira informativa e poética. A respeito de um indivíduo dentro de um círculo, ninguém tem o poder de entrar, de tocar ou de olhar para ele por muito tempo. Ali, ele não escuta mais barulhos exteriores e pode ficar lá o tempo que quiser, trazendo sensação de felicidade total e paz, pois é incapaz de sentir dor, frio ou fome. Há registros que provam que o tempo também para. Somente a própria pessoa decide quando entra e sai do círculo, podendo apenas ficar sozinha nele. Desde que o círculo foi inventado, não houve guerra, nem fome, nem catástrofe. A criminalidade diminuiu. Qualquer mal-estar pôde ser evitado com o círculo. No começo era preciso um giz magnético especial para poder traçar o círculo, caro demais se comparar a qualquer giz magnético comum. Depois, o giz se popularizou entre as civilizações humanas.
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Um grande número de pedras gravadas existem, chamadas "Pedras de Abraxas". Um exemplo está entre os artefatos do Tesouro de Thetford, do século IV dC, de Norfolk, Reino Unido. Os personagens são mitológicos, e em maioria grotescos, com várias inscrições encontradas com frequência. Também são encontrados em certos textos mágicos obscuros de origem egípcia Abraxas tendo associação com outros nomes dados à gemas; ele também é encontrado no metal grego tessela e entre outras palavras místicas. O significado destas lendas raramente pode ser compreendido, por isso, as gemas costumavam ser lidas apenas como amuletos. Foram encontradas similaridades o suficiente para provar que o giz magnético do Círculo era produzido a partir de Pedras de Abraxas, que inicialmente geravam as características típicas do Círculo. Assim, o Círculo foi nomeado como "Círculo de Abraxas."
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Hoje não se precisa nem mesmo de giz para traçar um círculo em volta de si mesmo. O Círculo pode ser desenhado por uma pessoa com qualquer coisa: um toco de lápis, um batom, uma ponta de faca, uma agulha ou até mesmo com a unha. O poder concedido por Abraxas à humanidade foi espalhado para todos. As pesquisas mostraram que habitantes da cidade passaram mais de cem dias por ano no seu círculo. Foi feito um recenseamento daqueles que não saíram do círculo por cinco anos, dez anos, vinte anos. Apesar das maravilhas do Círculo, estudos apontam que eles escondem uma armadilha, onde entraram para nunca mais sair. Pessoas ficaram bloqueadas no círculo contra a própria vontade e, pessoas que passaram mais de dez ou vinte anos são, na verdade, prisioneiros. É considerada a hipótese de que parte dos círculos não obedece mais aos homens, que não sairão jamais.
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Carl Jung descreveu a terceira fase de desenvolvimento na percepção humana de Deus como uma integração do Senhor e do Diabo. Em Os Sete Sermões aos Mortos, diz: "Abraxas é o deus a quem é difícil saber. Seu poder é muito maior, porque o homem não percebe isso. O homem vê o bem supremo do sol, e também o mal sem fim do demônio, mas Abraxas não vê, porque a vida é indefinível em si, que é a mãe do bem e do mal igualmente. Abraxas é verdadeiramente o terrível um ... o sol e também o abismo eternamente hiante do vazio ... magnífico como o leão no exato momento em que ele ataca sua presa. Sua beleza é como a beleza de uma manhã de primavera ... Ele é o monstro do inferno ... Ele é a luz do dia ea mais profunda noite da loucura ... Ele é mais poderoso do manifesto de criação ser, e ele torna-se temerosa de si mesma ... " É possível ver as características, as influências e as consequências de Abraxas em todos os comportamentos do Círculo e do homem em relação ao Círculo. Há o bem e há o mal em um presente de paz e caos, assim como há a falta de percepção humana em percebê-los. Um verdadeiro Círculo de Abraxas. 15
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"O pássaro luta para sair do ovo. O ovo é o mundo. Aquele que nasce deve destruir um mundo. O pássaro voa até Deus. O nome desse Deus é Abraxas" — Hermann Hesse, Demian
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3. Letícia & o Círculo Experiências de atuação.
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Conhecendo o Círculo
Os estudos de Letícia Cavalcante de Oliveira com o círculo aconteceram em coordenação da professora Alice Yagyu. O primeiro contato de Letícia com um Círculo de Abraxas de forma consciente se deu assim que soube da existência de um. Não hesitou em fechar-se em um Círculo, ciente apenas do lado bom observado a respeito deles. "Dentro do círculo não se sente mais frio, dor ou fome. O tempo, ele também para. Mergulha-se na abstração como num sonho protetor. A gente se torna o centro do círculo." era tudo o que ela sabia. Os relatos a respeito de sua experiência pessoal com o Círculo consistiam em extrema paz, enquanto se trancava apenas com seus pensamentos positivos e excluía de sua mente qualquer problema que rodeava seu dia a dia. Apesar de sozinha, e exclusivamente sozinha, em seu Círculo, imaginava quem quisesse estar com ela, quase como se a pessoa ali existisse de verdade. O sentimento predominante foi de nostalgia, sentia a exata mesma sensação de quando era criança. Podia, de alguma forma, acessar de forma muito mais fácil seus pensamentos e vontades. No Círculo, ela era quem quisesse e sentia o que queria. 20
A experiência não lhe era estranha. Já havia tido contato com o Círculo de Abraxas antes, de forma inconsciente. Havia nomeado de HEADSPACE, um estado físico e espiritual onde se trancava em uma condição mental que a privava de seus problemas e aumentava sua sensibilidade. Era-lhe muito útil durante a prática teatral, onde se trancava na mente da personagem que lhe possuía, ou até mesmo no dia-a-dia, quando queria fugir de sua situação. Relatou ter perdido sua habilidade de contato com seu HEADSPACE após a pandemia, então o contato com o Círculo trouxe ânimo, considerou ótimo. Após a prática, foi-lhe relatado a situação dual do Círculo, assim como sua associação negativa utópica. Por mais que tenha tentado aflorar seu pensamento crítico a respeito e seu lado racional tenha processado como perigoso, continuou gostando do Círculo de Abraxas. Assim, o Círculo de Abraxas a acompanhou por todas as aulas e embasou suas experiências teatrais nela. No Círculo, sentia-se porosa, como se pudesse absorver qualquer estímulo ou falta de estímulo e transformá-lo em algo bom para trabalho, mesmo que uma emoção negativa que a desestabilizasse em choro. 21
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Fora do Círculo
atira na aluna no coração ou na cabeça? balas de palavras Entrando no Círculo permeando o corpo o sentimento flui dopado e poroso Dentro do Círculo viveu sua história chorou em sua própria morte mas ainda está viva
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Teatro da Exaustão
energia livre, movimentos repetidos. teatro-exaustão o cansaço que abre a válvula corporal para entrar a paz Epidemia da Dança dançando no círculo: uma das prisões da mente, mesmo sem a vida
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Manifesto do Círculo X Imanifesto do Círculo
O Círculo de Abraxas deixa tudo estático e em paz. A paz estática, no entanto, é determinada de formar diferentes para pessoas diferentes, assim como pode se expressar de forma diferente para a mesma pessoa. O experimento realizado com Letícia ao inseri-la no Círculo por meio do elemento circular "bola de tênis" obteve dois resultados. Para obtê-los, deitou-se sobre bolas de tênis por um longo período. Num primeiro momento, sentiu-se se entregue ao mundo de forma pacífica, como o véu que cobria seus olhos e queria inseri-la em um sono infantil, onde todas os seus problemas, vontades e não vontades eram pertencentes apenas a uma época que lhe confortou. Em relação aos colegas que a rodeavam em seus próprios círculos, não senia absolutamente nada que a aproximava de um choro ou de um riso. Sentia-se, então, vazia, mas tranquila, mesmo quando levantou- se e sentou, ainda hipnotizada em seu Círculo.
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O Paradoxo do (i)mutável e do (i)manifesto indica que o círculo cósmico é completo por espirais que enlaçam o imutável e o infinitamente mutável. Assim, tudo ao mesmo tempo, se desloca simultaneamente ao que fica aparentemente imóvel. O Círculo de Abraxas mostra pode mostrar o lado manifesto e imanifesto da paz individual. Sendo a primeira parte da experiência citada como algo não manifestado (ou manifestado por meio do vazio), ocorreu uma mudança na experiência pessoal de Letícia no Círculo de Abraxas. Uma reação manifestada e visível por movimentos repetitivos, tremedeira intensa e choro constante se iniciou. Em seu Círculo, nada exterior a abalava, estava em seu próprio interior, mergulhando em seus sentimentos como não conseguia na falta de paz exterior. Estava em estado de KATSUGEN. 29
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KATSUGEN substantivo masculino 1. Vibração incontrolável do corpo 2. Quando é exercida uma pressão em um corpo e ele se solta, como uma reação oposta.
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Em Letícia, a característica do Círculo de Abraxas induzido pelo toque de um sino tibetano foi calma e remeteu a um torpor nostálgico infantil e hídrico. A sensação foi de alinhar os círculos de Chakra, intensificado pela natureza.
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O Sino Tibetano e o Círculo
ondulando o som que arrepia lavando a alma tal como mar calmo
o doom levanta e é o mesmo que deita. a ninguém importa.
um presente dado a menina aceita o sino pés correm na grama
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Linhas do Destino
na linha-destino andam sem que se esbarrarem trajetória própria Relações humanas perante Círculos aliena-se circula e se desconecta não atrapalha um outro O egoísmo da caça à paz corre o chão de círculos desejando estar sozinho gato pega rato
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O Círculo de ABRAXAS e a coralidade teatral
Como já registrado antes, não se pode nunca trancar duas ou mais pessoas no mesmo Círculo, isso não funciona e nunca funcionará. Sendo o Círculo de Abraxas uma representação da mente humana em seu estado livre de amarrações civis, podendo reagir de maneira introvertida ou extrovertida (manifesta ou imanifesta), tal falta de funcionamento é explicada. Não se deve confundir, no entanto, o Círculo de Abraxas com a exclusão do indivíduo de sua presença externa. De maneira figurada, um humano em um círculo ainda existe no lugar onde está o círculo. Assim, um humano no Círculo continua influenciando e sendo influenciado por seu exterior, apesar de estar com a mente em uma funcionalidade livre que o deixa em paz de alguma maneira. Tal paz o deixa POROSO, com o corpo livre para receber estímulos sem ser bloqueado por perturbações explícitas e imediatas. Assim, o Círculo aparece como uma ferramenta muito útil para o FAZER TEATRAL, visto que permite que o corpo e a mente do ator recebam as inspirações necessárias com mais eficácia e facilidade, ajudando até mesmo a assimilar um personagem para si. 39
Entretanto, mesmo para uso do ator, é preciso manter para si a informação de que, como qualquer presente de ABRAXAS, há o bem e o mal no Círculo. Se utilizado sem cautela ou por tempo exacerbado, há risco de nunca mais sair do Círculo, assim como é possível até ocorrer danos emocionais e mentais ao vivenciar uma história fictícia intensa e sem cuidado por muito tempo. Apesar de seu caráter individual, o trabalho de atores em seus próprios círculos (consequentemente, em estado poroso) de maneira coletiva pode gerar resultados satisfatórios. Desta maneira, pode-se ser criada uma conexão de corpos que se comunicam sem esforço, um chamado CORO ORGÂNICO VIVO, que se adapta ao melhor para si e para os outros como uma coreografia feita por um só corpo composto por vários. Desenvolve-se, assim, uma força cênica é criada no momento com base em experiências do grupo aberto a recepção de estímulos. Por fim, é importante reforçar que a exaustão física de cada indivíduo facilita sua imersão individual, assim como a exaustão coletiva ajuda na construção da sinergia em grupo. 40
22/06/2022