Bilbao - Intervenções urbana contemporâneas

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ADRIANA MARTINS | MASCARIN | LARA

DORA BENEDINI MELOTTI TONSIG

DE LEMOS | INNA FLÁVIA | LETÍCIA SARDELLA ARANDA

BILBAO

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP - | INSTITUTO DE ARQUITETURA E URBANISMO - IAU - | SÃO CARLOS, NOVEMBRO 2013 IAU 728 ARQUITETURA E URBANISMO CONTEMPORÂNEOS II PROFESSOR DOUTOR FRANCISCO SALES TRAJANO FILHO | PROFESSOR DOUTOR MIGUEL ANTONIO BUZZAR



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INTRODUÇÃO

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CONTEXTUALIZAÇÃO

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Economia Global e Cidade Global Economia Criativa e Cidade Criativa

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Situação Geográfica, Contexto Histórico, Social e Econômico A Reforma Os Agentes Transformadores A Repercussão

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ARQUITETURA

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A Arquitetura em Bilbao Museu Guggenheim de Bilbao Palácio do Congresso e da Música Euskalduna Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma” Ponte Zubizuri Estação de Metrô de Bilbao, Estação Indautxu

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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REFERÊNCIAS

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Referências Bibliográficas Referências das Imagens

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A presente Monografia é produto de um trabalho desenvolvido para a disciplina IAU728 – Arquitetura e Urbanismo Contemporâneos II, ministrada pelos Professores Doutores Francisco Sales Trajano Filho e Miguel Antônio Buzzar, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo - IAU - da Universidade de São Paulo USP -, Campus São Carlos, durante o 2º Semestre de 2013. O mote do trabalho são as chamadas Intervenções Urbanas Contemporâneas. Dessa maneira, o objetivo do exercício é investigar os processos pelos quais um número expressivo de cidades ao redor do mundo tem passado ao longo das últimas décadas. Mais especificamente, analisar as mudanças ocorridas nos campos do urbanismo e da gestão urbana no período, impulsionadas pelas importantes transformações ocorridas no final do século XX no sistema capitalista, provocadas por sua vez pelos significativos avanços tecnológicos nas áreas da comunicação e da informática. Cidade com uma população atual estimada em 355731 habitantes, base de um cinturão metropolitano onde residem 900000 pessoas, Bilbao é um nome frequentemente citado como palco de intervenção urbana com cores de city marketing e não raramente

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reduzida à figura emblemática do Museu Guggenheim. Porém, um olhar mais atento sobre a complexidade das relações criadas no processo de regeneração urbana e de dinamização social, econômica e cultural que a cidade vivenciou em pouco mais de 20 anos revela uma riqueza de aprendizados de diversas ordens. Da necessária contextualização do debate inicial e de seus fatos catalisadores, em meados da década de 1980, às inspirações e armadilhas evidentes a posteriori, o caso Bilbao oferece uma composição de desenvolvimentos que o afastam radicalmente da etiqueta de máquina de crescimento urbano. Com isso, o presente trabalho se desenvolveu traçando um percurso que parte desde o estudo dos conceitos Cidades e Economias Globais e Cidades e Economias Criativas, podendo, assim, melhor contextualizar Bilbao dentro dessa lógica. Passando, em seguida, a estudar o caso da cidade de Bilbao e chegando a uma análise de algumas obras arquitetônicas icônicas geradas ao longo do processo de Reforma em Bilbao.

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Economia Global e Cidade Global Durante cerca de duas décadas após a Segunda Guerra Mundial, até meados da década de 1960, as nações capitalistas industrializadas puderam crescer exponencialmente, com base na reconstrução da infraestrutura e do potencial produtivo destruídos durante a Guerra, com a implantação da política do Estado de Bem-Estar Social, e à custa do acirramento do desequilíbrio e das desigualdades entre países ricos e pobres. Entretanto, completada essa fase de reconstrução, esse ritmo de crescimento começou a esgotar-se, face ao surgimento de dificuldades no escoamento da produção, desencadeadas principalmente pela incorporação na indústria dos avanços da chamada Terceira Revolução Industrial. A saída encontrada para a manutenção do sistema capitalista que entrava no momento - década de 1970 - mais uma vez em crise, capitaneada pelos EUA, foi a manutenção da demanda para a produção mundial através de um déficit comercial à custa do abandono do Acordo Bretton Woods e a paridade dólar-ouro, a financeirização da economia e o aliviamento do Estado através de políticas liberais de desregulação, dando um novo fôlego e garantindo uma sobrevida ao sistema. Um ajuste rapidamente festejado como um novo patamar de

eficiência do sistema, que parecia se comprovar pelo novo contexto político da vitória sobre o mundo comunista e a aparente propagação universal do modelo capitalista, assim como, pelas fantásticas perspectivas de comunicação global colocadas pelas novas tecnologias da telemática. Iconizando os fetiches dessa Nova Era e seus principais acontecimentos, como a internet, a telefonia celular, a cobertura global da CNN ou a Queda do Muro de Berlim, o capitalismo rapidamente cunhou esta aparente Nova Era com o termo globalização. Para melhor se entender o que é o conceito de Cidade Global, é preciso primeiramente entender as transformações e processos ocorridos na esfera econômica, que vem sendo genericamente incorporados ao chamado processo de globalização, e também na esfera da telemática, uma vez que esse modelo de produção e gestão urbana que prevê a criação dessas Cidades Globais surge como uma resposta direta a esse novo cenário, com uma suposta adequação às novas demandas e realidades mundias.

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Economia Global e Cidade Global Economia Global A Crise do Capital na Década de 1970 Em meados do início da década de 1970, o sistema capitalista baseado na produção Fordista começou a entrar em colapso. Questões políticas e econômicas - a Crise do Petróleo, por exemplo - e questões de cunho tecnológico - a Terceira Revolução Industrial - influenciaram diretamente essa crise, que se tornou visível ao redor do mundo na década de 1970 e que ficou marcada pela seguinte tendência inegável: por um lado, o surgimento de novos padrões tecnológicos e organizacionais que romperam a lógica de produção Fordista-Taylorista e exacerbaram os níveis de produtividade, e por outro a desindustrialização que esses mesmos padrões provocaram, gerando a terciarização e, em função da generalização de políticas neoliberais, o aumento expressivo do desemprego. A informatização elevou a produção a níveis nunca vistos, ao mesmo tempo em que instaurou um processo de substituição da mão de obra pela máquina, fazendo com que o sistema capitalista mundial estivesse produzindo cada vez mais, empregando cada vez menos

e, consequentemente, não tendo a quem vender. Coerentemente, vale notar, com o que Marx previu no seu Manifesto Comunista, há mais de um século atrás. A crise do Capitalismo Fordista é, em essência, a já conhecida crise de superprodução que assolou anteriormente o sistema em 1929. Em outras palavras, ela evidencia a exaustão do ajuste anterior, propiciado pela implantação do Modelo Keynesiano do Bem-Estar Social para superar a crise estrutural do fim da década de 1930, que durou exatamente 30 anos, a partir do Pós-Guerra, até a década de 1970. Assistiu-se no período, nas palavras de Kurz (1991), ao “colapso da modernização”. O impasse do subconsumo e a necessidade de manter o ciclo econômico de escoamento da produção fizeram com que o sistema capitalista substituísse a máxima da produtividade pela da competitividade, em nome de sua sobrevivência. Em outras palavras, vender passou a ser mais importante do que produzir. A alternativa encontrada para tal impasse foi a conquista de mercados externos, uma vez que o mercado interno dos países desenvolvidos encontrava-se esgotado. A formação de blocos econômicos foi uma primeira saída para enfrentar a


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Economia Global e Cidade Global escassez de mercado, protegendo e dinamizando os mercados intrablocos e aumentando o poder de inserção concorrencial interblocos. O rápido esgotamento dessa possibilidade, em função da saturação dos mercados industrializados e da adoção de barreiras tarifárias e alfandegárias por cada um dos blocos, levou a contenda pela busca de novos mercados a se generalizar pelo mundo. Assim, a busca do mercado mundial se tornou tão prioritária quanto a necessidade de competitividade.

b) a decadência do Capitalismo Fordista de produção e a consolidação de seu substituto, o chamado Capitalismo Financeiro;

A Terceira Revolução Industrial

f) a terceirização ou terciarização da economia.

Como já citado, os avanços tecnológicos e inovações na área da comunicação e da informática ocorridos em meados do final do século XX, como por exemplo, o surgimento da internet e da telefonia celular, influenciaram e provocaram uma reação em cadeia de transformações nas demais esferas - econômica, política, social e, especialmente, a da produção -. Dessa forma, entres as principais consequências da Terceira Revolução Industrial, podemos destacar: a) os rápidos avanços desenvolvimento nos setores Ciência e Tecnologia;

e de

c) a formação e expansão das multinacionais ou empresas globais; d) a relativa descentralização e segmentação industrial (não havia mais a necessidade de as indústrias estarem uma do lado da outra, apesar de isso ainda ser comum); e) a flexibilização do trabalho, ou Toyotismo, aliada a uma crescente tendência à informalização do mesmo;

Sobre esse último ponto, é importante destacar que ele é decorrente do processo de substituição da mão de obra humana pela máquina, ocorrida, principalmente, nos setores primário e secundário da economia. Esse processo de revolução também foi o responsável pela instrumentalização da Economia Financeira, mais conhecida por Economia de Mercado, e sua integração mundial, vinculada a chamada Globalização. Isso porque ela propiciou o máximo desenvolvimento nos meios de comunicação e transporte, que

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Economia Global e Cidade Global alcançaram proporções jamais vistas anteriormente. As grandes distâncias e obstáculos, que antes separavam países e regiões, não representavam mais os mesmos desafios de outrora.

A Reestruturação Produtiva Pelo lado da produção, é inquestionável que o salto no desenvolvimento da informática, a partir da década de 1970, permitiu significativas transformações. A robotização e informatização de etapas e processos da produção, além das novas possibilidades de comunicação e transporte, fizeram com que o setor produtivo se reordenasse espacialmente, passando a ocupar plantas industriais mais reduzidas e possibilitando a segmentação da produção pelo mundo. As grandes multinacionais puderam redefinir as relações matrizfiliais típicas do Imperialismo do PósGuerra, quando então se transferia por completo o processo produtivo, uma vez obsoleto no centro, para as periferias do sistema, distribuindo, agora, a fabricação de um mesmo produto ou mesmo segmentando as diversas etapas da produção desses produtos pelo mundo, de acordo com as vantagens de cada cidade, região e país. No âmbito da gestão empresarial,

diretores passaram se reunir no espaço virtual, independentemente da distância que os separava, graças à telemática. As tecnologias de produção, comunicação, conservação, transporte permitiram uma organização bastante mais precisa, descentralizada e complexa da produção e de seu escoamento pelo mundo. Não há dúvidas que essas mudanças desestruturaram, em especial, nos países industrializados, as relações Fordistas de tempo e espaço, cuja rigidez foi substituída por uma nova ordem flexível de acumulação de capital, processo a que Harvey denominou de Reestruturação Produtiva. “(...) as grandes firmas têm uma tendência a se fragmentar em unidades de tamanho às vezes muito reduzido, assim como a externalizar uma parte crescente de suas atividades. (...) O modelo do ‘pipe line’ da produção de massa,no qual a firma realizava praticamente tudo ela mesma, desde os estudos até a comercialização, passando pela fabricação do essencial dos componentes - modelo ainda dominante na indústria automobilística, por exemplo, até os anos 1950-1960, recua inexoravelmente. Cede lugar a modelos em rede muito mais diversificados e complexos, nos quais coexistem ‘business units’


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Economia Global e Cidade Global mais ou menos autônomas no plano operacional - mas severamente enquadradas no plano estratégico, financeiro e normativo - e uma miríade de empresas terceirizadas (...).” (VELTZ, 1996 apud FERREIRA, 2003)

Por um lado, as inovações tecnológicas nas áreas da informática e da telemática permitiram uma desconcentração geográfica da produção, uma nova organização fabril, sistemas mais ágeis, complexos e interligados de produção, uma decomposição do processo produtivo em empresas terceirizadas, e assim por diante. Esse é, de certa forma, um processo inexorável, intimamente ligado aos avanços científicos da humanidade, que permitiu um aperfeiçoamento do sistema. Por outro lado, as ações realizadas por parte das empresas a partir dessas novas possibilidades a chamada reestruturação produtiva - não passam por causa disso a ser, elas também, um fenômeno inevitável. A partir dessa perspectiva, elas não passam de um resultado, de decisões estratégicas e políticas. Assim, na citação acima, Veltz lembra que as unidades fabris hoje distribuídas pelo mundo são “severamente enquadradas no plano estratégico, financeiro e normativo”, apontando

para uma situação que foi criada pelas empresas e que só tem a ver com os avanços tecnológicos porque foram estes que a permitiram, o que não significa que ela é uma consequência obrigatória desses avanços. Essa decisão política e estratégica citada explicita o interesse das empresas de, ao se espalharem pelo mundo, não abrirem mão de centralizar o comando e o capital em suas sedes. Assim, o que temos é na verdade a implementação de uma nova forma de divisão internacional do trabalho e de expansão imperialista, com as empresas multinacionais instalando em cada país - graças aos recursos gerenciais acima descritos - o que as vantagens comparativas do lugar puderem oferecer: mão de obra barata, ausência de restrições ambientais e / ou trabalhistas, proximidade da matéria-prima e, especialmente, possibilidade de algum mercado de consumo potencial, o que países com alta concentração de renda e economias bastante dinâmicas, como o Brasil e o México, oferecem em condições privilegiadas. De maneira geral, a palavra-chave dessa nova estrutura de relações das empresas, e no âmbito mais geral do próprio capitalismo, é fluxo, para denominar as diferentes dinâmicas de

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Economia Global e Cidade Global deslocamentos espaços-temporais da economia global: fluxos comerciais, de passageiros, de produtos, de dinheiro, de informações, de conhecimento, etc. O cenário da reestruturação produtiva do capitalismo, portanto, caracterizase pela reorganização e expansão da economia-mundo capitalista em busca da conquista dos novos mercados, que comentamos acima: a decisão estratégica das empresas é concentrar as atividades de maior valor agregado nas fábricas dos países-sede, industrializados, mantendo a oferta de trabalho qualificado e um patamar de emprego aceitável, distribuindo pelo mundo as outras atividades menos qualificadas mas suficientes, por sua vez, para alavancar novos mercados nos países periféricos. A essa nova tendência de expansão e segmentação das empresas pelo mundo pode-se chamar Multipolarização da Economia.

A Financeirização da Economia Global Que essas orientações no campo da política econômica favoreceram um cenário de financeirização da economia mundial, não resta dúvida. O capital passou a poder circular com ainda mais facilidade do que já circulava até então, de forma ainda mais rápida e instantânea, ajudando

na integração mundial do sistema financeiro e das bolsas de valores. As empresas transnacionais e grandes grupos financeiros - em especial fundos de pensão - começaram a vislumbrar, devido a todos os fatos aqui expostos, melhores possibilidades de lucro no mundo das finanças do que na indústria, passando então a atuar preferencialmente na área da especulação financeira, o que posteriormente levou a uma fragilização do sistema econômico mundial como se pode perceber nos dias de hoje. Sendo assim, mínimas decisões de um único investidor em qualquer parte do mundo podem gerar desastrosas crises em cadeia, como vimos recentemente acontecer na Ásia, na Rússia e no Brasil, por exemplo. Mas esse ajuste da economia capitalista em busca de mais extensão para o mercado mundial não teria sido possível se não houvesse ocorrido, concomitantemente aos fenômenos relacionados ao sistema produtivo e à financeirização do capital, a adesão substancial das elites dos principais países periféricos a um modelo econômico - de clara Ideologia Liberal - que permitisse essa expansão, ao mesmo tempo em que lhes possibilitava, também, um novo


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Economia Global e Cidade Global fôlego político face à insustentável e inflacionária da crise em que se encontravam, no fim da década de 1980.

A Globalização Na sequência de todos esses fatos e transformações descritos até aqui, em meados do início dos anos 1990, começava a se delinear mais claramente os traços daquilo que viria a se consolidar, alguns anos depois, como uma das mais impressionantes formas de dominação ideológica e econômica da história do capitalismo mundial e, portanto, dos países hegemônicos sobre a periferia do sistema, a chamada “globalização” (FERREIRA, 2003). O fenômeno da globalização, embora designe e se refira a processos reais de ajuste e transformação da economia capitalista, vem sendo utilizado correntemente como um instrumento ideológico para a consolidação da dominação internacional do centro sobre a periferia através da imposição do modelo do Consenso de Washington (1989). Se por um lado, o termo abarca transformações no capitalismo e, em especial, do sistema produtivo, decorrentes da chamada Revolução da Informática,

que não podem ser desprezadas; por outro, a esse fato real é associado todo um discurso ideológico - e mais do que isso, esse discurso acaba se mascarando por trás do termo - cujo objetivo é simplesmente promover o ajuste do capitalismo global face à exaustão do modelo de Bretton Woods (1944) e permitir a continuidade de sua expansão e mais uma reimposição de sua hegemonia no desigual sistema econômico mundial. De modo geral, os principais autores e teóricos da Cidade Global difundem uma visão da globalização que se alinha ao “pensamento único” hegemônico, o mainstream teórico neoliberal: a de que se trata de “um novo patamar de mobilidade internacional do capital, oriundo das transformações do processo de produção e da economia mundial, consequência dos chamados “avanços tecnológicos” das últimas três décadas, e que abarcam, em sua essência, as novas tecnologias de informática e de comunicações. Esses novos patamares tecnológicos e a dinamização dos fluxos de capital e de produtos que eles propiciam estariam fortalecendo o advento de um mercado transnacional, enfraquecendo o papel dos Estados nacionais (e fortalecendo o das cidades autônomas),

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Economia Global e Cidade Global internacionalizando a divisão social do trabalho (ela já não o era?), transformando a gestão industrial.” (FERREIRA, 2003)

O resultado disso seria a economia Pós-Industrial segundo Sassen, ou ainda a sociedade “informacional”, defendida por Castells. Como a maioria dos autores, Saskia Sassen identifica a composição de uma nova dinâmica de organização econômica mundial a partir da constatação da perda relativa de hegemonia econômica dos EUA e do novo papel exercido pela economia japonesa, de localização da produção, que se tornou mais complexa e estrategicamente dispersa, dos processos de desregulamentação das transações financeiras internacionais, do crescimento significativo do fluxo de Investimentos Diretos no Exterior IEDs -, e das fusões e aquisições entre grupos transnacionais (SASSEN, 1996 apud FEREIRA, 2003). Toda essa reestruturação político-econômica levou à emergência da nova economia urbana no final dos anos 1980. Para a autora, o que ocorreu foi a formação de um sistema econômico globalmente integrado baseado em redes ou circuitos globais característicos, especializados, tanto

a nível mundial como de caráter mais regional, sendo os diferentes circuitos compostos por grupos diferentes países e cidades. Dessas diferenças especializadas surge uma complexa divisão global de funções. Assim, cada cidade, ainda segundo Sassen, se insere em uma ou em algumas dessas redes globais, não em todas, fato este que se comprovaria pelos recorrentes colapsos que atingem as grandes instituições financeiras, que envolvem conjuntos específicos de circuitos globais, e que não afetam todas as Cidades Globais da mesma maneira. A formação desses circuitos teria se dado a partir da intensificação das transações entre cidades, sobretudo através dos mercados financeiros, investimentos e fluxos de serviços. Para Sassen, a desigualdade na concentração dos recursos e atividades estratégicas, entre cada uma dessas cidades e entre elas e outras cidades do mesmo país, ajudou a estruturar uma complexa rede de nós urbanos responsáveis pelos principais fluxos da economia e do comércio mundiais, em níveis hierárquicos de intensidade. (SASSEN, 1998 apud FERREIRA, 2003). A partir dessa tendência de estreitamento das relações entre cidades ao redor do mundo, pode-se


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Economia Global e Cidade Global verificar na última década a ampla disseminação - pela mídia, pela academia, pelo mercado e pelo Poder Público - de análises interpretativas que consolidaram a ideia de que a chamada globalização seria sinônimo de hegemonização das economias. Na opinião de Sassen: “O reconhecimento do valor das diferenças ou características de especialização entre diferentes cidades e diferentes regiões urbanas na economia global de hoje demonstra como a história econômica aprofundada de um lugar influencia o tipo de economia do conhecimento que uma cidade, ou cidade-região, termina por desenvolver. Isto contradiz o senso comum, de que a globalização homogeneíza as economias. A variação dessa história econômica aprofundada depende dos detalhes da economia de uma cidade ou região. É mais importante do que se pensa, e influencia e afeta fatores que não costumam ser facilmente reconhecidos. A globalização homogeneíza padrões – para administrar, para contabilizar, para construir distritos de escritórios modernos e assim por diante, mas ainda requer diversificação das capacidades econômicas.” (SASSEN, 2008)

Como teórica da Cidade Global, Sassen também se atenta às consequências e transformações na dimensão espacial e territorial da globalização. Para ela, a crise do sistema de Bretton Woods e as novas configurações da economia mundial pós-anos 1970 provocaram, não uma desintegração do sistema capitalista, mas sua reestruturação geográfica e temporal, criando uma “dualidade complexa”: enquanto a economia se dispersaria no espaço, ela estaria consolidando sua integração na escala planetária. “As capacidades de comercializar, financiar, prestar serviços e investir, a nível global,precisam ser geradas: elas não são simplesmente um derivado do poder das empresas multinacionais e dos avanços nas telecomunicações. A cidade global é uma plataforma para produzir esses tipos de capacidades globais, mesmo quando isto exige grande número de empresas estrangeiras, neste caso em cidades tão diversas quanto Pequim e Buenos Aires.” (SASSEN, 2008)

Nesse cenário, as cidades aparecem como elementos essenciais às empresas, uma vez que são elas que fornecem a infraestrutura e que criam as condições mínimas que sustentam

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Economia Global e Cidade Global as redes abstratas de relações globais. As cidades são vistas então como instrumentos, como viabilizadores, verdadeiras portas de entrada. Elas não representam então um fim em si para as empresas, mas sim um meio de se conseguir os objetivos maiores que almejam. “O outro lado desta dinâmica é que, para que se torne global, uma empresa precisa se plantar em muitas cidades, que funcionem como pontos de entrada para as economias dos respectivos países. Esta função de ligação é crítica: os vários circuitos que ligam as maiores e menores cidades globais são a infraestrutura viva da economia global, indicando que as cidades não estão simplesmente competindo umas com as outras. Uma empresa global não quer ficar apenas numa cidade global, mesmo se esta for a melhor cidade do mundo. Será desejável trabalhar com grupos diferentes de cidades, mesmo em caso de desvantagens sérias. Isto ajuda a explicar porque não existe nenhuma cidade global considerada “perfeita”. A atual fase global não funciona através de uma única capital do império global, que contenha tudo.” (SASSEN, 2008)

Como última transformação importante a ser considerada na discussão sobre

globalização, Sassen aponta para, em sua opinião, o inegável fato de que, na economia global, os setores de serviços e de produção de bens imateriais ligados ao conhecimento, à informação e à imagem, entre outros, vêm ganhando um espaço considerável nas últimas décadas. No padrão econômico da chamada globalização, que substituiu o ideal da produtividade pelo da competitividade, as atividades de gestão empresarial, ligadas à produção dos meios de convencimento ao necessário consumo de massa, alcançaram um patamar de importância mais elevado, e representam os empregos mais visados no mundo dos negócios. Assim, ocorreu também com setores ligados à informática e às redes de comunicação, como a internet, como com setores de apoio e consultoria nas áreas de tecnologia, dos contratos jurídicos empresarias, e assim por diante. Ou seja, a expansão significativa do setor dos serviços: a já comentada terciarização. Outro importante autor e teórico da Cidade Global é Manuel Castells, que tem como principal diferença, com relação às ideias de Sassen, o enfoque nas transformações nas relações espaço / tempo propiciadas pelas novas tecnologias, complementando o enfoque na dimensão espacial que a


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Economia Global e Cidade Global autora promove. “O que é a globalização? É um processo segundo o qual as atividades decisivas, num âmbito de ação determinado (a economia, os meios de comunicação, a tecnologia, a gestão do meio ambiente, o crime organizado) funcionam como unidade em tempo real no conjunto do planeta. Trata-se de um processo historicamente novo (distinto da internacionalização e da existência de uma economia mundial) porque somente na última década se constituiu um sistema tecnológico (telecomunicações, sistemas de informação interativos, transporte de alta velocidade em um âmbito mundial para as pessoas e mercadorias) que faz possível esta globalização.A informacionalização da sociedade, a partir da revolução tecnológica que se constituiu como novo paradigma operante na década de setenta, é a base da globalização da economia.” (CASTELLS, 1998 apud FERREIRA, 2003)

Na visão do autor, globalização, desregulação e privatização, foram respostas diretas à crise dos anos 1970. Elas não são a única alternativa, elas foram uma opção, uma sugestão oportunista dos agentes dominantes à época. A partir dessas ações,

constituiu-se o que ele chama de PósIndustrialismo, que seria o mesmo sistema capitalista de antes, mas agora dominado por uma economia de serviços e de característica informacional. Nesse novo cenário, o crescimento e a produtividade passam a nascer da atividade da “criação do saber, englobando todas as dimensões da atividade econômica, através do tratamento da informação; a atividade econômica se desloca da produção de bens para a de serviços e; esta nova economia aumenta a importância das profissões com forte conteúdo de informação e conhecimento.” (CASTELLS, 1998 apud FERREIRA, 2003)

Outra característica importante dessa Nova Era, que Castells chama de Informacional, seria o recuo dos Estados Nacionais que estariam se retirando do papel de forte influenciador que exerciam anteriormente, durante a vigência da Política do Bem-Estar Social. Contrariando a visão desses autores, que reforçam o caráter inovador e transformador desse novo estágio do capitalismo, o fenômeno da globalização não é inédito e, nem assim tão novo, quanto o discurso que

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Economia Global e Cidade Global o acompanha faz crer. “O adjetivo “global” surgiu no começo dos anos 80, nas grandes escolas americanas de administração de empresas, as célebres ‘business management schools’ de Harvard, Columbia, Stanford, etc. Foi popularizado nas obras e artigos dos mais hábeis consultores de estratégia e marketing, formados nessas escolas...Fez sua estreia a nível mundial pelo viés da imprensa econômica e financeira de língua inglesa, e em pouquíssimo tempo invadiu o discurso político neoliberal. Em matéria de administração de empresas o termo era matizado tendo como destinatários os grandes grupos, para passar a seguinte mensagem: em todo lugar onde se possa gerar lucros, os obstáculos à expansão das atividades de vocês foram levantados, graças à liberalização e à desregulamentação; a telemática e os satélites de comunicações colocam em suas mãos formidáveis Instrumentos de comunicação e controle; reorganizem-se e reformulem, em consequência, suas estratégias internacionais.” (CHESNAIS, 1996, pág. 23)

Além dessa, que parece ser a primeira confusão relativa ao fenômeno da globalização, outra importante

distinção que precisa ser feita é a de que a partir de seu surgimento, o termo foi rapidamente incorporado e transformado em sinônimo de modernidade e progresso. Na realidade, esse fenômeno da globalização nada tem de novo, e nem representa Modernidade, muito menos para os países do Sul (FERREIRA, 2003). Por trás desse mito, o que aparece é apenas um termo cunhado para “manipular o imaginário social e pesar nos debates” (CHESNAIS, 1996 apud FERREIRA, 2003), associando a um processo de hegemonização da ideologia liberal, a ideia de “modernização e integração da economia global”, com o objetivo verdadeiro de escamotear um ajuste necessário face à crise estrutural da chamada Economia-Mundo Capitalista. Esse é o cenário, o pano de fundo sobre o qual se deve discutir o fenômeno da globalização: a ideia de que por trás de todas as movimentações da economia global nas últimas décadas está a tentativa de expansão dos mercados para garantir a sobrevivência da Economia-Mundo Capitalista à beira da exaustão. Em outras palavras, se por um lado os avanços tecnológicos no setor produtivo geraram uma crise estrutural


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Economia Global e Cidade Global em função do paradoxo aumento da produtividade / desemprego, por outro lado elas também abriram a porta para uma saída, mesmo que provisória, ao permitir novos arranjos espaciais / temporais que sustentaram a expansão do sistema capitalista para a periferia, permitindo certo fôlego industrial e o acesso a novos mercados. É exatamente essas decisões das empresas que dão uma primeira amostra do caráter político e ideológico do processo, já que essa expansão exacerbou as relações de dominação / dependência entre o centro e a periferia do capitalismo mundial. Um caráter político, porque as decisões de expansão para países periféricos, e as negociações para a instalação nesses países envolvem - desmentindo a ideia de Castells de que o papel do Estado estaria diminuído - os respectivos governos e elites dominantes locais e as decisões estratégicas dos países industrializados em distribuir sua presença e força econômica pelo mundo. Um caráter ideológico, porque a expansão das empresas multinacionais, sob o novo padrão tecnológico, não é apresentado ao mundo, e muito menos aos países

da periferia, como um movimento de ajuste global de uma economia em crise, mas sim como um inequívoco sinal de modernização e integração das economias periféricas ao novo mundo globalizado, que passaram a ter o privilégio de receber as mesmas fábricas e os mesmo produtos dos países industrializados. Uma necessária adequação das economias locais aos novos padrões globais, sem a qual não é possível adentrar suas redes e participar de suas transações.

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Economia Global e Cidade Global Cidade Global Foi dentro dessa perspectiva descrita até o momento, de reestruturação do capital em busca da conquista de mercados externos, que se consolidou o modelo de Cidade Global que pretendemos discutir. O modelo de gestão urbana conhecido por Cidade Global representa, dessa maneira, a correspondente urbana do processo de globalização contemporânea. Dessa maneira, as cidades produzidas de acordo com esse modelo se apresentam como uma porta de entrada para as economias e o mercado local, além de uma ponte para a abertura de novas filiais em outras cidades globais - formação de redes de consumo e de interesses para as empresas -. O discurso dominante do pensamento único neoliberal que vem sendo amplamente difundido pelo mundo ao longo dos últimos anos, que tem como paralelos urbanos as teorias da Cidade Global, do Planejamento Estratégico e do Marketing de Cidades - as quais serão melhor explicadas em momento posterior -, impõe um discurso ideológico pelo qual esses modelos seriam as únicas opções de urbanização que as cidades

do mundo teriam para sobreviver ao ambiente competitivo e globalizado da economia atual, resultante da nova era do sistema capitalista, o chamado Capitalismo Financeiro. Trata-se de um receituário específico, de forte perfil neoliberal, cujo objetivo principal é prover infraestrutura para as empresas globais como meio de atrair investimentos do capital internacional para essas cidades. É acompanhando esse raciocínio que Sassen reforça seu argumento sobre o comum equívoco de que as cidades competem diretamente entre si, dentro de um mercado internacional de cidades. Para além dos fatores comuns, que todas as Cidades Globais apresentam - padrões de administração, contabilidade etc. -, cada cidade possui uma especificidade, visto que é impossível homogeneizar todas as economias locais, uma vez que não se pode apagar toda a história econômica de um lugar, sua localização geográfica e o perfil de sua população. “O reconhecimento do valor das diferenças ou características de especialização entre diferentes cidades e diferentes regiões urbanas na economia global de hoje demonstra como a história econômica aprofundada de um lugar influencia o tipo de economia


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Economia Global e Cidade Global do conhecimento que uma cidade, ou cidade-região, termina por desenvolver.” (SASSEN, 2008)

Dessa maneira, cada Cidade Global funciona como uma plataforma para produzir esses tipos de capacidades globais, cada uma partindo de uma característica, tendência ou tradição específicas que já possuíam. Todas as maiores ou menores 70 cidades globais do mundo contribuem para a produção dessas capacidades em seus respectivos países, funcionando, portanto, como pontes entre a economia nacional e a economia global (SASSEN, 2008). Várias cidades funcionam como eixos importantes na escala regional e também global, cada uma delas representando um conjunto diferente de especializações e vantagens. O outro lado desta dinâmica, representado pelos interesses das próprias empresas, apenas reforça essa teoria. Para que se torne global, uma empresa precisa se plantar em muitas cidades, que funcionem como pontos de entrada para as economias dos respectivos países. Esta função de ligação é crítica: os vários circuitos que ligam as maiores e menores cidades globais são a infraestrutura viva da economia global, indicando que as

cidades não estão simplesmente competindo umas com as outras (SASSEN, 2008). Uma empresa global não quer ficar apenas numa Cidade Global, mesmo se esta for a melhor cidade do mundo. É desejável para ela trabalhar com grupos diferentes de cidades, mesmo em caso de desvantagens sérias. Isto ajuda a explicar porque não existe nenhuma Cidade Global considerada perfeita. A atual fase global não funciona através de uma única capital do império global, que contenha tudo. O enfoque atual do sistema é exatamente a multipolarização, a dispersão pelo mundo de modo a conquistar cada vez mais mercados consumidores. No âmbito geral, o principal entendimento sobre o conceito de Cidade Global é esse: trata-se, assim como o conceito de globalização no campo da economia, de mais um instrumento para se alcançar a hegemonização liberal da economia através do mundo, agora em sua faceta urbanística. Nesse processo de imposição global de uma ideologia única, que ficou sendo conhecida como a do “pensamento único”, a vertente urbana da Cidade Global se apoia em teorias auxiliares de perfil menos teórico e mais pragmático e instrumental:

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Economia Global e Cidade Global o Planejamento Estratégico e o Marketing Urbano, que nos mesmos moldes do Consenso de Washington, constituem-se em verdadeiras cartilhas de procedimentos supostamente imprescindíveis à sobrevida da cidade no contexto da economia globalizada.

da questão urbana.

Planejamento Urbano

Para os teóricos do assunto, a posição de Cidade Global, supostamente uma condição privilegiada, no contexto econômico atual, é alcançada uma vez que se reúnam em uma metrópole certos atributos que permitam dinamizar os fluxos da economia globalizada. Em outras palavras, seria a correta resposta das cidades às novas formas de organização da economia global que lhes garante seu eventual sucesso.

Estratégico

e

Marketing

O reflexo direto da globalização e da ideologia liberal no campo do planejamento urbano apresenta-se através do modelo prático de gestão urbana chamado de Planejamento Estratégico. O arcabouço teórico do Planejamento Estratégico parte da transposição das técnicas militares para o campo empresarial, e posteriormente, de sua adaptação para as dinâmicas urbanas, sob a égide da competitividade, do liberalismo, e da onipotência absoluta do capital (FERREIRA, 2003). Os principais atores da imposição ideológica da globalização econômica, a saber as agências multilaterais, são exatamente os mesmos que se esforçam, num marketing conjunto com os consultores internacionais (dentre os quais os catalães), para difundir o Planejamento Estratégico, que nada mais é senão a adaptação dessa ideologia no âmbito

De maneira resumida, trata-se de uma nova modalidade de planejamento urbano que prevê a remodelação de áreas e trechos das cidades de forma planejada e estratégica, baseandose nos interesses e necessidades infraestruturais do capital internacional.

O fornecimento de infraestrutura capaz de abrigar e fazer circular os diversos fluxos da economia financeira global perpassa as mais diversas áreas como, por exemplo, comunicação e segurança pública; melhorias urbanísticas, ambientais, de infraestrutura de serviços urbanos, transportes; de programas sociais de moradia; de oferta cultural e geração de empregos; até mesmo isenções fiscais, aliviamento nas leis ambientais e urbanas etc.


INTERVENÇÕES

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Economia Global e Cidade Global A ideia que sustenta o conceito de Cidade Global é a de que, no mundo da Acumulação Flexível - em que dominam as novas dinâmicas econômicas da globalização -, as cidades devem ser mais competitivas na sua capacidade de oferecer a base física para esse novo cenário, e, para isso, devem ser pensadas não mais como cidades, mas sim como empresas, cujo produto a ser vendido são as próprias cidades. Segundo Vainer, para seguir de fato o Planejamento Estratégico, a cidade deve ser vendida como mercadoria dentro do mercado global. Para tanto, necessita ser gerida como empresa, seguindo os princípios de competitividade e produtividade, incorporando dessa maneira políticas de marketing e promoção urbanas. Já que o “turismo cultural, recreativo, de compras e de negócios”, vem se mostrando como um importante ativador econômico e social nos projetos de revitalização das áreas centrais já implantados até hoje no mundo, essa forma de urbanismo depende então da presença de edifícios-chave de viés especialmente culturalista para obter sucesso. Ainda segundo os exemplos já consolidados, essa arquitetura deve apresentar um caráter monumental atingido pela escala, forma de implantação urbana

e opção por técnicas construtivas e materiais de alta tecnologia. Além desses fatores, essas obras devem ser assinadas por importantes arquitetos do star system, de maneira a agregar ainda mais uma carga de valor simbólico a esses monumentos que pretendem representar a imagem da cidade perante o mundo. Além desses, outro fator importante para o sucesso na implantação desse modelo, é o apoio da opinião pública local. Quando se trata de Planejamento Estratégico, deve-se atentar para um “bom ambiente sócio-trabalhista”, ou seja, os aspectos sociais não podem ser deixados de lado. O plano deve permitir a “prevenção das possíveis situações de marginalidade social”. Mas não nos enganemos: não se trata de um esforço no sentido de refrear os efeitos excludentes da sociedade capitalista. O objetivo é exatamente o oposto, o de favorecer um ambiente adequado para a livre expansão do capital e para a manutenção da competitividade: “se a articulação do tecido social” for ‘sacrificada’, é previsível que, em prazos não muito longos, se gerem tensões sociais, com o que a cidade deixaria de ser atraente aos olhos dos investidores estrangeiros.” (GÜELL, 1997 apud FERREIRA,

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Economia Global e Cidade Global 2003)

Como diz Vainer, trata-se neste caso da “miséria estrategicamente redefinida como problema paisagístico (ou ambiental)”. A fim então de despertar entre os cidadãos o desejo de transformações significativas na cidade, o Planejamento Estratégico prevê a necessária criação de um “sentimento de crise” e um “reavivamento patriótico”, os quais permitem a legitimação do plano, tornando possível a reativação da economia local. “o “urbanismo monumentalista patriótico” [...] implantado, em especial, em antigas áreas degradadas e deterioradas, como centros urbanos e/ou zonas portuárias, marcados por uma nova imagem da cidade para reativar o “sentimento patriótico” nos cidadãos. A reconversão dessas áreas, por meio de um grande projeto urbano, é assimilada pela transformação no uso do solo, voltado, sobretudo, para o chamado cultural turn, uma vez que, no mundo contemporâneo, ‘para entrar nesse universo dos negócios, a senha mais prestigiosa é a cultura.” (BONATES, 2009)

Assim, temos que o Planejamento

Estratégico cumpre então o papel de promover a infraestrutura e a imagem exigidas para a inserção e competição na rede mundial de cidades, mas também garante as políticas públicas necessárias para, “desregular, privatizar, fragmentar e dar ao mercado um espaço absoluto” (MARICATO, 2001). Segundo Vainer, o Planejamento Estratégico estabelece as linhas de gestão para uma “cidade empresa”, que promove a “cidade mercadoria”, que, por sua vez, deve ser capaz de ser vendida, e, sobretudo, estabelece a estratégia ideológica para que tais políticas sejam aceitas como inquestionáveis e necessárias pela população. Trata-se de promover o “patriotismo de cidades” (VAINER, 2000). Essa construção ideológica necessita então de consensos entre todos os agentes locais, para legitimar essa nova vocação da cidade e os investimentos públicos necessários para tornar a cidade atraente para seus potenciais compradores, os investidores internacionais (VAINER, 2000). Neste sentido, os grandes eventos internacionais, como as Olimpíadas ou as Exposições Universais aparecem na história recente como elementos cobiçadíssimos exatamente pelo potencial que representam de dinamização urbana nos novos


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Economia Global e Cidade Global padrões de competitividade, e pela certa facilidade em serem aceitos como positivos pela opinião pública. Por precisar “gerar os consensos” necessários à sua própria aceitação, o Planejamento Estratégico insiste fortemente em questões como a gestão participativa e a importância do chamado Terceiro Setor. Por outorgar um papel central e competitivo às cidades, o Planejamento Estratégico dá especial ênfase aos governos locais. Por necessitar criar polos geradores da renovação urbana competitiva, o Planejamento Estratégico se apropria de formas de planejamento que se apoiam na seleção de áreas especialmente representativas das problemáticas existentes, elegendo-as para sofrer uma intervenção exemplar. Ora, a participação popular, a gestão democrática e descentralizada, a importância dos poderes locais, o papel responsável e cidadão da sociedade civil, a necessidade do planejamento funcional se distanciar da intervenção de gabinete em favor de uma abordagem mais próxima das áreas reais que demandam transformações, enfim, são todos procedimentos há muito tempo presentes na pauta dos movimentos urbanos de esquerda. O Planejamento Estratégico se apropria dessas práticas, só que com o objetivo de torná-las um instrumento

ideológico para legitimar a busca pela competitividade, que é, contrariamente a esses procedimentos, elitista e excludente, em especial quando aplicada em cidades periféricas. O discurso segundo o qual essa forma de produção da cidade iria supostamente deflagrar seu verdadeiro desenvolvimento (rumo à justiça social), graças ao efeito sinérgico das Ilhas de Primeiro Mundo criadas nas suas centralidades terciárias, é ideologicamente tão forte que até governos de perfil progressista se deixaram levar por essa crença (FERREIRA, 2003). Existe ainda mais um elemento importante para se alcançar a completa efetivação do modelo do Planejamento Estratégico que, embora não seja novo, vem se exacerbando de forma significativa. Trata-se do enorme esforço dos investidores internacionais e dos empreendedores em canalizar, através de bem costuradas coalizões com o Poder Público, investimentos públicos extraordinários destinados a diferenciar e valorizar suas frentes de atuação, em relação à outras. Por causa disso, a cidade sofre com a inversão total de suas prioridades urbanísticas, ao seguir um modelo de produção de cidade totalmente dominado pelos interesses do capital

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Economia Global e Cidade Global local, e que procura se legitimizar através da imposição de uma suposta matriz moderna e global por sobre a cidade. O mais importante em relação a esse modelo de intervenção urbana talvez seja perceber que o problema do Planejamento Estratégico não é propriamente a metodologia em si, mas o uso que se faz dela. O Planejamento Estratégico pode ter sido bom em Barcelona, mas nem por isso o será em todas as cidades do mundo, em especial nas cidades periféricas (FERREIRA, 2003). Abordagens participativas de revitalização são liberais e despropositadas - no sentido da redemocratização das nossas cidades - quando propõem intervenções nas áreas centrais, em bairros facilmente recuperáveis pelas classes altas, em beiras de rios ou docas, a exemplo das ramblas barcelonenses ou das docas londrinas, e promovem assim apenas mais elitização e exclusão sócio-espacial. Porém, essas mesmas abordagens, embora se pareçam com alguns aspectos do Planejamento Estratégico, podem ser altamente transformadoras e redistributivas se aplicadas nos bairros periféricos historicamente excluídos, contribuindo assim para a diminuição da segregação sócio-espacial. Aí está, em suma, a

diferença fundamental. Como pode se perceber, um intenso esforço teórico foi e vem sendo produzido, em nível internacional, para parametrizar os elementos conformadores do que seria exatamente esta nova categoria de análise urbana denominada Cidade Mundial ou Cidade Global, conforme as distintas abordagens. O termo Cidade Mundial, utilizado pela primeira vez por Patrick Gueddes em 1915, foi retomado com certo destaque por Peter Hall em 1966, com sua obra World Cities. A ideia básica sempre foi a de que, na organização econômica mundial, certas cidades, mais do que outras, teriam maior domínio estratégico por sua posição geográfica, seu potencial de comércio, seu desempenho econômico, sua influência política, e assim por diante. Em suma, uma dinâmica observável desde que as cidades existem, e que poderia ser aplicada entre tantos exemplos ao acaso, às cidades-estados da Grécia antiga, às poderosas cidades comerciais do mediterrâneo, ainda na antiguidade, ou às metrópoles produtivas da Era Pós-Industrial (FERREIRA, 2003). O principal pressuposto das teorias contemporâneas da Cidade Global é o


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Economia Global e Cidade Global de que as transformações na economia mundial ocorridas a partir dos anos 1970 - genericamente, a globalização -, alteraram definitivamente o papel e as formas de organização e estruturação das principais cidades mundiais, em especial àquelas com papel mais relevante no sistema econômico global. Assim, o ponto de partida da teoria é resumida com precisão: “A partir dos anos 60, a organização da atividade econômica entrou em um período de transformações marcantes... desmantelamento dos antigos centros industriais nos EUA, na Grã-Bretanha e, mais recentemente, no Japão; a industrialização acelerada de vários países do Terceiro Mundo; internacionalização rápida da indústria financeira através de uma rede de transações em escala mundial. Cada uma dessas mudanças modificou a relação entre as cidades e a economia internacional.” (SASSEN, 1996) “Ao invés de se tornarem obsoletas com a dispersão propiciada pelas tecnologias da informação, as cidades passaram a concentrar funções de comando, se tornarem locais de produção pós-industrial para as empresas de ponta,

sejam financeiras e de serviços especializados, e mercados transnacionais onde empresas e governos podem se utilizar dos produtos e serviços do mercado financeiro e contratar serviços especializados”. (SASSEN, 1999)

Ou seja, contrariando as previsões segundo as quais o potencial de dispersão da globalização e da telemática estaria tornando as cidades obsoletas, a autora observa que concomitantemente ao declínio de alguns grandes centros industriais da era fordista, verificou-se que “um número significativo de grandes cidades também viu elevar-se a concentração de seu poder econômico” (SASSEN, 1999)

A globalização demanda novos espaços especializados, e as cidades são o locus mais eficaz para oferecer tais espaços. Assim, cria-se uma rede mundial de cidades capazes de estabelecer as conexões econômicas demandadas pelos novos fluxos globais. “Esse enfoque nos permite conceber a globalização como constituída por uma rede global de lugares estratégicos que emergem

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Economia Global e Cidade Global como uma nova geografia de centralidade.” (SASSEN, 1999)

Para Sassen, esses novos centros estratégicos se caracterizam por seu perfil essencialmente terciário, que lhes daria uma nova importância, em detrimento daquela que tinham as metrópoles industriais Fordistas do passado. Analisando-se o diagnóstico dos processos globais pelos quais as cidades do Norte passaram, nota-se: o desmonte das estruturas tradicionais e rígidas do espaço da produção Fordista, a dispersão espacial permitida pelas tecnologias de comunicação, um forte processo de desconcentração industrial, exemplarmente verificado na acelerada degradação e abandono de outrora poderosíssimos centros industriais Fordistas. Um grande exemplo dessa caracterização é a cidade norte-americana de Detroit. Apenas alguns antigos centros industriais com know-how acumulado da mão de obra e possuidores de centros de pesquisa e desenvolvimento e universidades conseguiram reciclarse para o uso de novas tecnologias de produção (FERREIRA, 2003). No mais, a crise de consumo e o alto grau de desemprego levaram muitos

centros urbanos europeus e norteamericanos à situação de estagnação e rápida degradação. Assim, a matriz teórica da Cidade Global aparece como para evidenciar um modelo que deu certo, usando o caso das cidades mais poderosas na liderança desse Capitalismo Pós-Reestruturação Produtiva. O discurso é o de que são as Cidades Globais aquelas que serão capazes de superar o processo de desindustrialização e degradação comentado acima, o que explica o esforço verificado para rotular toda grande cidade de global. Afinal, como para um bom vinho, o selo global representaria uma garantia de sobrevida em um cenário econômico incerto. Podemos resumir de maneira bastante genérica o conjunto de atributos das cidades-globais, de acordo com Ferreira, da seguinte maneira: - as Cidades Globais são pontos nodais de relação entre a economia global e a nacional; - são o palco de grande volume de negócios transnacionais e recebem intenso fluxo de homens de negócios (turismo de negócios); - abrigam número significativo de sedes de grandes empresas, em especial de empresas de atuação


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Economia Global e Cidade Global transnacional, com ênfase nos setores financeiro, bancário, mas também produtivo de ponta e inovadores (telecomunicações, informática, etc.); - abrigam bolsas de valores importantes para as transações regionais e / ou globais, recebendo importante fluxo de capitais financeiros; - apresentam uma supremacia econômica, às vezes, quantitativa, às vezes, quanto ao valor adicionado, das atividades terciárias, em especial aquelas do setor de serviço, de apoio às empresas de atuação globalizada: serviços financeiros, de contabilidade, publicidade, consultoria de negócios, serviços jurídicos internacionais, outros serviços empresariais, telecomunicações, apoio em informática, produção de softwares, etc.; e declínio das atividades industriais Fordistas;

tendendo a concentrar-se em distritos que concentram grande número de edifícios de alta tecnologia, e apresentam significativa atividade hoteleira voltada ao turismo de negócios; - concentram sedes de empresas com significativa parte de sua receita oriunda de exportações; - oferecem infraestrutura para a recepção de grandes eventos do circuito cultural e esportivo global: espetáculos da Broadway, grandes exposições, olimpíadas, feiras universais.

apresentam alto grau de especialização do emprego, em negócios e serviços financeiros e nas atividades de serviços acima citadas. Concomitantemente, concentram atividades de baixa remuneração relativas a serviços de apoio logístico, como limpeza e segurança de edifícios, etc.;

Como pode se perceber a partir da leitura dessa lista e de toda a contextualização apresentada até aqui, é imposto às cidades de hoje uma necessidade de que ela se adapte (esta é a nova palavra-chave, que hoje vale como palavra de ordem) às novas exigências e obrigações da globalização. Adaptação da própria cidade às exigências das transformações globais que lhe permitirão um novo papel estratégico, e adaptação dos homens que comandam os negócios mundiais às mesmas exigências, graças à infraestrutura que essa cidade oferece.

- têm disponibilidade de infraestrutura de telecomunicação e informática,

Assim, da mesma forma que surge, com o processo de expansão

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Economia Global e Cidade Global da globalização econômica, um verdadeiro receituário para orientar os países periféricos à seu novo papel no ajuste da Economia-Mundo Capitalista, cujo modelo mais conhecido foi o do Consenso de Washington, há certa lógica no fato de surgirem também cartilhas orientadoras das políticas de gestão urbana a serem adotadas para inserir a cidade ao mundo globalizado. A partir daí, a globalização, através da ideia da Cidade Global, adentra em definitivo no mundo do planejamento urbano. Vale, por fim, observar que, os autores mais destacados da teoria das Cidades Globais, como Sassen e, em especial, Castells, não só aderem à essa abordagem como são responsáveis pela sua difusão, assim como pela elaboração de uma teoria urbana - a da Cidade Global - ela mesmo assentada nos princípios ideológicos da globalização. Se a globalização econômica escamoteia a tentativa de imposição - com certo sucesso quanto a esse objetivo, mas não quanto a seus resultados - de um modelo neoliberal de modernização econômica por sobre uma base socioeconômica que mal superou os desequilíbrios da herança colonial, parece que a Cidade Global, por sua vez, pode ser uma transferência do mesmo processo para o campo do urbanismo. Parece-

nos que está surgindo nesse sentido um discurso ideológico hegemônico quanto à gestão das cidades que preconiza como inexorável - assim como o faz a globalização no âmbito cultural, político e econômico - o papel modernizante das Cidades Globais (VAINER, 2000). Ocorre que, se no caso da globalização da economia os interessados nessa construção ideológica são claramente identificáveis - os grandes grupos econômicos e seus governos, por um lado, e as elites periféricas, por outro -, no caso da Cidade Global não fica tão claro a quem tal fenômeno poderia interessar. Entretanto, como para a globalização, os beneficiados pela rápida difusão da teoria da Cidade Global são também tanto as forças do capitalismo mundial quanto uma pequena elite interna. No caso das forças capitalistas internacionais, esse padrão urbano é interessante simplesmente porque ajuda fisicamente o processo de expansão da Economia-Mundo Capitalista. Seria apenas coincidência que a ONU, através de sua agência Habitat, tenha incumbido justamente Castells e Borja de fazer uma revisão das propostas levadas à conferência Habitat II de Istambul, que gerou um livro (BORJA E CASTELLS, 1997) no


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Economia Global e Cidade Global qual apresentam suas ideias como verdadeiras receitas para a aplicação do modelo. Vainer ainda lembra que foram o Banco Mundial, a ONU e o Pnud que financiaram a publicação de importante volume, organizado também por Borja (1995) destinado a difundir para a América Latina a bem sucedida experiência paradigmática de Planejamento Estratégico de Barcelona.

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Economia Criativa e Cidade Criativa “Vende-se um pouco de tudo nesse mercado de imagens, mas seja o que for, (...), a base é uma só, até pela exigência elementar de uma sede: a cidade-imagem, a ser refeita, reembalada e relançada.” (ARANTES, 2012)

Economia Criativa Como visto, no arco da última década e meia, uma confluência de fatores de impacto mundial originou novos entendimentos e organizações de ordem econômica e urbana. Insere-se nesse quadro a eclosão dos debates acerca da Economia Criativa e, de forma mais recente, da Cidade Criativa. O diálogo entre economia e urbanismo tem sido amplamente enfatizado, desde estudos que mostram a relação íntima entre a configuração urbana e o modelo econômico em vigor, até os desenvolvidos pela ótica da economia urbana, os que abordam as cidades como matrizes socioespaciais da economia de mercado e, nas duas últimas décadas, os que se dedicaram a analisar o papel das cidades na economia global.

As origens do crescimento e do desenvolvimento urbanos na sociedade moderna residem acima de tudo na dinâmica da produção econômica e do trabalho. É certo que as cidades atuais são sempre muito mais do que simples acumulações de capital e trabalho, já que também são arenas nas quais outros tipos de fenômeno - sociais, culturais e políticos - florescem. Podemos dizer, para sermos mais precisos, que os complexos localizados de produção e seus mercados de trabalho associados constituem formas protourbanas ao redor das quais esses outros fenômenos se cristalizam de várias formas concretas. Além disso, conforme essa cristalização ocorre, são criados processos múltiplos de interações recursivas, nas quais todas as dimensões da vida urbana desenham e redesenham continuamente umas as outras. Mesmo assim, na ausência do papel genético e funcional da produção e do trabalho, as cidades seriam imensamente diferentes em escala, contexto e expressão substantiva, talvez não mais do que centros de serviços ou comunidades de semelhantes. Foi a confluência de alguns fatores que impulsionou a formação de uma nova dinâmica de processos e modelos


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Economia Criativa e Cidade Criativa sociais, culturais e econômicos, no qual a Economia Criativa encontra um terreno fértil. Dentre eles destacam-se a globalização, as novas mídias, a falência dos modelos econômicos tradicionais em promover desenvolvimento e inclusão e a valorização do conhecimento como ativo econômico diferencial. Para o presente objetivo, nos parece ser mais relevante, por envolver questionamentos acerca da importância da localização dos recursos, ampliar exponencialmente a noção de espaço e a sensação de pertencimento a uma sociedade, afetar diretamente a mobilidade dos profissionais e consumidores entre cidades e países e ainda deixar mais permeáveis as fronteiras espaciais e mentais entre local e global, é certamente a globalização. Sob o viés econômico, a globalização pode ser caracterizada por uma maior permeabilidade das barreiras nacionais às transações, à mobilidade dos ativos financeiros mundiais e à conjugação da fragmentação das cadeias produtivas em escala planetária com o acesso a mercados antes inviáveis. Recursos e mercados mapeados globalmente por empresas que, na busca de mais-valia, privilegiam localizações, com base em sua percepção do

planeta. O quadro é viabilizado pela dispersão mundial das tecnologias de informação e comunicações, que franqueiam e aceleram uma miríade de transações, da consolidação instantânea do faturamento de uma multinacional, ao acompanhamento simultâneo e por vezes interativo dos fatos e produtos que ganham o mundo. Otília Arantes diz que o urbanismo, atualmente, não está mais preocupado em corrigir problemas, mas sim em “fazer negócios”, otimizando a competição entre as cidades: “Trocamos a máquina de morar pela máquina de crescimento atual (...)” (ARANTES, 2012). Assim, dentro do Planejamento Estratégico, é a cidade que se encontra em venda e, daí, nos vemos frente a políticas de imagemarketing ou business-oriented, que visam responder aos desafios da Globalização e gerar vantagens comparativas de renovação urbana. Dessa forma, as políticas urbanas tem como propósito expandir a economia local e aumentar sua riqueza frente as possibilidades econômicas dos lugares. Harvey fala que na Condição Pós-Moderna o Espetáculo Urbano é uma forma de controle social e não mais uma forma de resistência ou revolução popular, o que se realça na fala de Peter Hall:

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Economia Criativa e Cidade Criativa “uma nova e radical elite financeira tomava efetivamente a posse da cidade, liderando uma coalizão pró-crescimento que habilmente manipulou o apoio público e combinou fundos federais e privados para promover uma urbanização comercial em grande escala.” (HALL, 1995)

Por conseguinte, a máquina urbana de crescimento é ideológica, impulsionada pelos urban-imaginners que revelam o culturalismo do mercado, ao mesmo tempo em que são um dos principais agentes da gentrificação. Por extensão, Otília Arantes diz que esse Planejamento Estratégico, nada mais é que um eufemismo para gentrificação, mesmo não sendo exatamente a mesma coisa, pois “à medida que a cultura passava a ser o principal negócio das cidades em vias de gentrificação” ficava mais evidente que a cultura era “um dos mais poderosos meios de controle urbano no atual momento de reestruturação da dominação mundial”. Uma conjunção nociva de falta de acesso às novas tecnologias, analfabetismo tecnológico e puro e simples analfabetismo não prenunciam um cenário mundial no qual a capacidade de criação,

produção e distribuição dos bens e serviços criativos será plenamente desenvolvida. Por decorrência, na guerra de foices promovida pela competitividade global, o ativo mais valioso passa a ser constituído não mais pelos prontamente transferíveis (como capital financeiro ou, de forma menos imediata, infraestrutura tecnológica), mas sim aqueles capazes de produzir bens e serviços diferenciados - ou seja, com maior valor agregado e menor possibilidade de cópia -. Ganha assim evidência o capital humano capaz de pensar de modo diferente, encontrar soluções para novos e velhos problemas e inovar constantemente. Em suma, capital humano criativo, entendido por alguns como classe criativa. Embora não haja consenso quanto às raízes da Economia Criativa, evidências bibliográficas indicam sua primeira aparição sob a expressão Creative Nation, surgida na Austrália, em 1994. Motivada por um lado pelas nascentes discussões acerca da importância da preservação da diversidade cultural como mistura social da nação e, por outro, pelo impacto das novas tecnologias de informação e comunicações na maior inserção da economia australiana no cenário mundial, Creative Nation foi o prenúncio de uma convergência entre


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Economia Criativa e Cidade Criativa objetivos culturais, econômicos e sociais, em uma espécie de desenho de economia criativa visionário, tingido com nuances de uma preocupação com a sustentabilidade em termos amplos. Existia ainda o receio de que a globalização, impulsionada pelas tecnologias de informação e comunicações, pusesse em risco a singularidade da cultura australiana. Em contrapartida, o país vislumbrava a globalização também como possibilidade de se fortalecer e reposicionar o país no quadro mundial. Três anos depois, o governo britânico parece ter se inspirado nessa proposta ao colocar a criatividade no epicentro do programa estratégico do país, enfatizando sua importância para a realização de objetivos socioeconômicos e a consequente competitividade mundial da economia britânica. Como resultado de uma esmiuçada análise das contas nacionais britânicas, da competitividade de suas indústrias no cenário mundial e das tendências que se prenunciavam, foram identificados 13 setores de maior potencial para a economia do país. A eles se deu o nome de Indústrias Criativas, entendidas como indústrias que têm sua origem na criatividade, habilidade e talento individuais e

que apresentam um potencial para a criação de riqueza e empregos por meio da geração e exploração de propriedade intelectual. Nesse conceito torna-se evidente o divisor de águas utilizado para a seleção das indústrias de maior potencial para economia britânica: os direitos de propriedade intelectual. Em um primeiro momento, enlevados pelas estatísticas apresentadas ou ainda desejosos por encontrar uma tábua de salvação econômica para contextos os mais diversos, vários países parecem ter caído na tentação não de se compreender e absorver o conceito e sua lógica das indústrias criativas, mas também de importar seu produto final: a mesma seleção de indústrias criativas identificadas pelo Reino Unido. Esse exercício, de ingenuidade impressionante, equivaleria em certa medida a promover o plantio de trigo no Brasil ou de soja na Escandinávia, assumindo que nos novos países fossem obtidos os mesmos resultados que nos de origem. A falta de adequação do conceito e das indústrias para os contextos locais, com a importação inclusive da geração de direitos de propriedade intelectual como critério de priorização das Indústrias Criativas, também ocorreu a despeito do fato de a legislação

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Economia Criativa e Cidade Criativa dos direitos de propriedade intelectual não ser necessariamente adequada a países com organização social e perfil socioeconômico distintos, em especial aqueles com prevalência de saberes comunitários e tradicionais. De fato, vários estudos e especialistas defendem que nos países em desenvolvimento, devido à falta de condições estruturais capacidade tecnológica, mão de obra qualificada, acesso a informação etc. - e à própria falta de atualização do marco regulatório em questão à revolução da tecnologia digital, os direitos de propriedade intelectual em geral e os autorais especificamente podem ser mais um empecilho do que um meio de acesso ao conhecimento. Complementarmente, dados - ou melhor, a ausência deles - constituem talvez o maior calcanhar de Aquiles da Economia Criativa. Em um esforço louvável para minimizar essa carência, a UNCTAD (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento) desenvolveu em 2008 o primeiro relatório mundial sobre a Economia Criativa, trazendo inclusive estatísticas a respeito das Indústrias Criativas em uma miríade de países. A despeito das dificuldades enfrentadas incompatibilidades conceituais, metodológicas e históricas das estatísticas disponíveis

e grandes lacunas nos levantamentos nacionais de estatísticas, em especial nos países em desenvolvimento -, o estudo logrou compilar dados interessantes, em especial relativos ao comércio internacional de bens e serviços criativos, por regiões, países e setores. A análise setorial é particularmente interessante, por revelar a prevalência da participação dos países desenvolvidos nos setores nos quais há concentração expressiva dos canais de distribuição e exibição nas mãos de poucas empresas de poucos países. Resolver ou ao menos minimizar desbalanços como estes não requer o desenvolvimento apenas de uma política industrial ou econômica. Há uma constelação de fatores que impactam nesse panorama, da capacitação de mão de obra à difusão do acesso à internet. Sendo assim, os desafios perpassam uma vasta gama de políticas público-privadas, da revisão do sistema educacional - questionando a adequação do perfil dos profissionais de hoje e anunciando a emergência de novas profissões -, à elaboração de metodologias para a valoração do intangível por parte de instituições financeiras e de políticas que contemplem o estímulo à criatividade no espaço urbano.


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Economia Criativa e Cidade Criativa O histórico e o desenvolvimento dos conceitos de Indústrias Criativas e Economia Criativa sugerem a possibilidade de estarmos diante de uma lógica econômica com traços próprios, pautada pelo reconhecimento do intangível criativo como grande elo agregador de valor às cadeias de produtos e serviços criativos, bem como às de bens e serviços tradicionais; fomentador de novos modelos de organização de negócios, baseado mais em redes do que em estruturas hierárquicas; possibilitado por uma convergência de interesses públicos e privados, bem como de objetivos sociais, culturais e econômicos; e no qual as singularidades locais podem sim ser engolfadas pela massificação global ou, o contrário, valorizadas por sua unicidade. A ocorrência de uma ou outra alternativa depende essencialmente de quão sólidas forem as condições necessárias à eclosão e ao desenvolvimento da Economia Criativa, a exemplo de investimentos em capacitação voltada à criatividade, em infraestrutura de informação e comunicações, articulação das políticas públicas setoriais e ainda na identificação e promoção das indústrias criativas mais promissoras para a concretização de uma estratégia de desenvolvimento.

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Economia Criativa e Cidade Criativa Cidade Criativa Conceito de contornos fluídos e histórico recente, Cidade Criativa tem despertado atenção crescente em vários países de todos os continentes, ao longo da última década e, de forma mais pronunciada, a partir da segunda metade desta. Contribuíram para isso vários fatores confluentes, em contraponto aos fatores que motivaram a gênese da economia criativa. Dentre eles, podemos destacar a busca por um modelo de organização urbana coerente com um paradigma socioeconômico em transição do industrial ao do conhecimento, ainda que em uma economia com peso importante do setor secundário. Por trás disso jaz o entendimento de que a competitividade econômica das regiões depende de inovação (de processos, produtos, sociais, culturais etc.), de que esta por sua vez se utiliza da criatividade e que, portanto, quão mais criativo for o ambiente no qual as pessoas / trabalhadores residem e trabalham, mais realizadas elas serão e mais pujante será a economia. As primeiras menções explícitas ao termo Cidade Criativa envolvem profissionais, sobretudo do eixo

Austrália, Reino Unido, Estados Unidos e Canadá, advindos de áreas de saber enredadas e convergentes, em especial urbanismo, economia e sociologia - nas duas últimas, com destaque para pesquisadores envolvidos com o campo cultural -. A obra Creative Britain, de autoria do Secretário de Estado da Cultura, Mídia e Esporte do Reino Unidos, Chris Smith, foi lançada no calor dos debates acerca da urgente necessidade de injetar competitividade à quarta maior economia do mundo, sentindo-se ano após ano combalida e em uma via de derrocada no cenário Pós-Industrial e ainda contaminada com problemas sociais. Surgiu assim dando eco aos que clamavam pela recuperação da primazia da prevalência britânica em setores de alto valor agregado, tendo por foco a exploração do benefício da criatividade do país, na visão de Smith injustamente apropriada pelo resto do mundo. A ligação explícita com questões urbanas se faz não apenas pelos projetos de recuperação de cidades de história marcadamente industrial, a exemplo de Birmingham e Manchester, mas também ao propor transformar o Reino Unido no Polo Criativo do mundo, tendo por base a criação de ambientes urbanos favoráveis ao florescimento da criatividade.


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Economia Criativa e Cidade Criativa Dentre os nomes que se destacam na leva de autores que surgiram acerca do tema, um dos mais proficientes e renomados é o arquiteto britânico Charles Landry. Já então a criatividade era encarada de modo multidisciplinar, transversal às atividades econômicas e estrutura às políticas de desenvolvimento, em uma expansão sem fronteiras da proposta Corbusiana de síntese das artes, abrangendo agora todas os setores presentes na cidade, como forma de responder a seus desafios. Segundo Landry, as cidades são seres vivos, porque têm fases de crescimento, estagnação e declínio. A viabilidade urbana é sua capacidade de se adaptar e responder à mudança das circunstâncias. Tal adaptabilidade e capacidade de resposta é maior nas cidades cujas dimensões econômica, cultural, social e ambiental encontramse igualmente desenvolvidas, até um nível de auto sustentabilidade. “A cidade criativa é um toque de trombetas para estimular abertura mental, imaginação e participação pública. Isso tem um impacto dramático na cultura organizacional. A filosofia é que há sempre mais potencial em qualquer lugar do que pensaríamos à primeira vista (…). Parte-se do pressuposto que devem ser criadas condições

para que as pessoas pensem, planejem e ajam com imaginação para aproveitar oportunidades ou resolver problemas urbanos aparentemente intratáveis. Estes podem variar de respostas à questão dos desabrigados, à geração de riqueza ou à melhoria do ambiente visual. Isso significa que cidades grandes e pequenas podem ser criativas. Cidade criativa é portanto um conceito positivo. O pressuposto é que pessoas comuns podem fazer coisas extraordinárias acontecerem, se tiverem uma oportunidade.” (LANDRY, 2009)

Avançando nesse debate, foi na trajetória bibliográfica do economista estadunidense Richard Florida que o encontro entre Economia Criativa e espaços urbanos mostrou-se de maior repercussão e também de controvérsia. Em seu livro The Rise of the Creative Class (2002), o autor defende a existência de uma classe criativa, composta por trabalhadores cuja atuação tem por base o conhecimento - cientistas, engenheiros, artistas, músicos, designers, profissionais das áreas de direito e saúde - e propõe que a maior diferença entre as pessoas que integram a classe criativa e as outras reside no que elas são pagas para fazer. As que integram

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Economia Criativa e Cidade Criativa a classe trabalhadora e a classe de serviços são pagas principalmente para executar o que foi determinado, enquanto as que compõem a classe criativa são pagas sobretudo para criar e têm consideravelmente mais autonomia e flexibilidade do que as outras duas classes. Há certamente áreas de intersecção e problemas de limites no seu esquema. Florida defende um ambiente criativo, favorável à eclosão e ao aumento de criatividade. Para isso seria necessário garantir: a oferta de um mercado de trabalho voltado aos trabalhadores com alto potencial criativo, compreendendo, portanto, universidades, centros de pesquisa e empresas com perfil diferenciado; oferta cultural e de apreciação estética, compatível com a sensibilidade criativa e a voracidade por ampliação de repertório desses profissionais; e efervescência de vida urbana (cafés, galerias, centros de design...) e valorização à diversidade. A disputa por esse capital criativo, por essa classe criativa, altamente móvel, seria, portanto, capital para garantir a competitividade das cidades, agora no contexto Pós-Industrial mundial. Para atraí-la, porém, seria necessário investir nas condições vistas por ela como as mais atraentes e imprescindíveis no contexto global, ou seja, na formação de um ambiente

favorável à tolerância, à tecnologia e ao florescimento do talento. O ciclo seria sustentável, uma vez que a concentração de talento engendraria novas conexões de trabalho e sinergias de ideias, resultando em maior nível de inovação e competitividade. Porém, alguns problemas foram encontrados na realização desse exercício. Em primeiro lugar, não há uma análise conjunta dos subíndices, assim, um país com altíssimo índice de talento científico, mas baixo índice de tolerância poderia atingir uma classificação alta e ser considerado bastante criativo apesar de não ter grande diversidade. Em segundo lugar, Florida considera o talento científico em termos absolutos, o que claramente desfavorece as cidades menores, ainda que estas abriguem uma concentração relativamente alta de cientistas. Terceiro, a presença de pessoas criativas em uma cidade parece ser condição necessária, mas não suficiente, para garantir que essa criatividade se converta em inovação, requer políticas integradas que lhe permitam desabrochar e se sustentar ao longo do tempo, inclusive financeiramente, como recompensa e estímulo ao pensar e ao agir criativo. E por fim, por que os trabalhadores criativos não são muito


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Economia Criativa e Cidade Criativa bem remunerados, apesar de todo o reconhecimento do talento criativo como o ativo mais importante da economia. Talvez a crítica mais relevante ao trabalho de Florida sobre a classe criativa seja ver nela a causa, não a consequência, de um quando mais amplo. Não raro o termo Cidades Criativas é empregado de maneira equivalente a outros termos, embora eles possuam os significados mais distintos, e por vezes até antagônicos. Uma das confusões mais corriqueiras ocorre entre Cidade Criativa e Marketing Urbano. Enquanto, o primeiro termo preconiza as singularidades e as identidades dos territórios, valendo-se eventualmente de ícones e festivais de impacto mundial como ponta de um iceberg de transformações, no Marketing Urbano esses projetos icônicos, pontuais e descontextualizados, constituem o próprio iceberg. A cultura, por alguns vista como instrumental e manobrada de acordo com a conveniência dos detentores de poder econômico e / ou político, na cidade criativa apresenta uma miríade de enredamentos, como um amálgama da estratégia de desenvolvimento. Se por si só não sustenta um processo de transformação, é porém elemento fundamental para garantir a

diferenciação e a permanência das mudanças.

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Situação Geográfica, Contexto Histórico, Social e Econômico Bilbao é uma cidade da comunidade autônoma do País Basco, na Espanha, sendo também a capital da Província da Biscaia. Atualmente, o município possui 41,3 Km² e mais de 350000 habitantes. Parte do limite do município é dado pelas duas cadeias montanhosas de 400 m de altitude, que encerram o principal núcleo urbano da cidade.

01. Vista Aérea de Bilbao, 31-12-2010


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Situação Geográfica, Contexto Histórico, Social e Econômico 02. Localização de Bilbao na Espanha 03. Localização da cidade de Bilbao na Província da Biscaia


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Situação Geográfica, Contexto Histórico, Social e Econômico Bilbao foi uma das primeiras vilas Biscainas que nasceram no século XIV. Dom Diego López V de Haro, Senhor da Biscaia, fundou a Vila de Bilbao por uma Carta Puebla assinada em 14 de junho de 1300. Estando localizada em uma das rotas por onde transitavam mercadores, a vila pode estabelecer um forte poder comercial. Em seu centro histórico é possível encontrar desde ruas medievais, edifícios neoclássicos, igrejas góticas. Até o século XVIII os dois setores que acumulavam a maior parte do poder local eram os comerciantes e proprietários rurais. Porém é durante o século XIX e início do século XX, devido ao seu grande desenvolvimento portuário e industrial - de siderurgia, mineração e construção naval - que a cidade mais cresce. A estrada de ferro chega a cidade em 1857, quando também é fundado o Banco de Bilbao. Além do âmbito da indústria, a cidade expande também em cultura, comércio, economia e população. A população cresceu, passando de 11000 habitantes em 1880 para 80000 em 1900. A partir deste período, Bilbao se torna reconhecida como uma cidade muito ligada à indústria, ao comércio, e a geração de riquezas. Ao mesmo tempo, também se torna lugar de degradação das condições de vida de

04. Primeira Gravação da Cidade de Bilbao, feita por Franz Hohenberg em 1554 05. Centro Histórico da Cidade de Bilbao


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Situação Geográfica, Contexto Histórico, Social e Econômico muitos trabalhadores e local de grande exploração dos recursos naturais e modificação da paisagem. Nas pinturas de Aurélio Arteta, nos murais pintados em 1923 para o Banco de Bilbao em Madrid, é possível ver o quão monumental foi o esforço industrial bilbaino. Passada a Guerra Civil, a economia biscaina continuava sendo uma das mais dinâmicas da Espanha, a grande referência econômica do país Basco. Apesar do período da Guerra Civil (1936-1939) e posteriormente da Ditadura Franquista ter sido como um silêncio que interrompe seu crescimento, em seguida a cidade retomou seu processo de desenvolvimento industrial e se torna um polo para atração de imigrantes por sua indústria em expansão. Ainda que a cidade sofra um grande crescimento territorial, Bilbao mantém em sua paisagem urbana, a imagem de vila industrial, com chaminés e estaleiros, e aparência suja e úmida. Neste momento, Walter Tauber, escrevia: “Bilbao es [...] para los turistas tan atractivo como el Polo Norte. La ciudad del carbón, acero y de los bancos nunca ha sido famosa por la cultura”.

06. Pintura de Aurélio Areta. Retrata o Esforço Industrial Bilbaino 07. Pintura de Aurélio Areta. Retrata o Esforço Industrial Bilbaino


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Situação Geográfica, Contexto Histórico, Social e Econômico No entanto, passado seu auge econômico, no final do século XX a indústria siderúrgica passa por um colapso. Junto à crise do modelo Fordista de produção, e ao crescimento da economia de Acumulação Flexível, que teve como consequência o deslocamento das grandes indústrias para os então chamados países de Terceiro Mundo, Bilbao teve seu parque portuário e industrial bastante reduzido, passando por um processo de desindustrialização após a década de 1970. “Em meados dos anos de 1970, o setor industrial de Bilbao passou por uma crise provocada pela insuficiente capacidade de adaptação às mudanças tecnológicas e aos novos desafios da globalização e pela concorrência de outros países. Durante os anos de 1980, como resultado desses fatores, a região metropolitana de Bilbao perdeu 80000 empregos industriais e 70000 residentes sobre um total de um milhão. A crise econômica agravou a deterioração urbana e ambiental, ao mesmo tempo em que gerou mais exclusão social.” (MELO, 2008, pág. 06)

Nos anos 1980, chega ao fim os relatos de Bilbao como uma cidade movida pela indústria. Com a

08. Gravura de Bilbao do século XVIII, onde é representado parte do Casco Viejo, com a zona onde, atualmente, se situa o Mercado da Ribeira em primeiro plano 09 Vista Aérea de Bilbao nos anos 1950


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Situação Geográfica, Contexto Histórico, Social e Econômico economia estagnada, é criado então um recente passado de riquezas e um presente conflituoso de instabilidade econômica. Junto a isso, a aparência de cidade arruinada. “De uma economia de pleno emprego relativa a economia industrial, passou-se em 1988, a uma taxa de 25,8% de desemprego na região metropolitana de Bilbao. A renda per capta de Biscaia, que fora uma das mais altas da Espanha até os anos 70, caiu à condição de décima quarta entre as províncias espanholas.” (ABASCAL, 2004, pág.135)

O historiador de arte Javier Gonzalez de Durana comenta a obra do pintor Lazkano que retratou Bilbao em seus quadros, como: “un retablo de imágenes en el que La ruina industrial es vista con El sentimeinto melancolico que embarga a quien contempla los encenarios abatidos de las promesas incumplidas, [...] lãs audaces construciones abandonadas por su funcion [...]”. Contribuindo ainda mais com esse cenário de deterioração, a cidade sofreu a inundação do Rio Nervión, que destruiu parte do centro histórico, em 1983. A partir de todas essas ruínas e deste sentimento de crise que também é uma técnica para um

10. Pintura de Lazkano: Retrata as Ruínas da Indústria Biscaia 11. Pintura de Lazkano: Retrata as Ruínas da Indústria Biscaia


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Situação Geográfica, Contexto Histórico, Social e Econômico grande Planejamento Estratégico -, Bilbao foi reinventada. Dando início a uma reabilitação urbana do centro histórico e, posteriormente, estendendo-se a diferentes áreas da cidade, principalmente, ao longo da margem do Nervión, visando reabilitar sua área portuária e industrial e convertendo-a novamente em uma cidade dinâmica, porém voltada aos serviços e atrativos para o turismo.

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A Reforma Bilbao, efetivamente, aderiu a esse modelo de Planejamento Estratégico, ao remodelar não só sua estrutura urbana, mas também o imaginário das pessoas, desde a população basca até o resto do mundo. Tendo como principal ícone de arquitetura de grife o projeto de Frank Gehry, o Museu Guggenheim, vem procurando afirmarse para além do Museu. Em panfletos turísticos sobre a cidade é frequente aparecer a frase “El Guggenheim y mucho más”. O Plano Estratégico se refere, ainda: a melhoria no sistema de transportes com a construção da linha do tramway, com a maior conectividade metropolitana via estações de metrô; a reestruturação do porto e do sistema ferroviário; a construção / reforma de pontes monumentais ao longo do Rio Nervión; a construção de hotéis, museus e instituições esportivas e artísticas; a valorização cultural, incluindo a implantação de esculturas no meio urbano; a criação do parque tecnológico; a produção de novas moradias; a urbanização e pedonização de ruas. A cidade de uma tradição industrial e portuária viu a necessidade de transformar a suas bases econômicas. O redesenho teve então o papel de modificar o sistema produtivo, para que através de um fomentando o setor terciário,

do turismo, conseguisse rebater o desemprego. O objetivo era apresentar a cidade ao cenário mundial econômico, como capital cultural e de serviços avançados no atlântico. Durante o mandato do prefeito José Luis Robles, em 1988, o Plano Geral de Ordenação Urbano foi elaborado. Nele se previa que a cidade, ao mesmo tempo em que se preservava, se renovava, a partir de duas linhas guias: uma que, segundo Rossi, prevê uma continuidade da malha urbana pré-existente e a tipologia histórica, e outra que inseria uma cidade na cidade, com a inserção de uma nova estrutura urbana. Por meio de concurso, realizado em 1993, o arquiteto argentino César Pelli fez o Plano Geral de Abandoibarra, muitas vezes contestado e modificado, mas sendo a base das intervenções. Nesse Plano Geral, se elegia a Ría como elemento protagonista para a transformação da área metropolitana, tendo a região de Abandoibarra, na região central de Bilbao, como um lugar emblemático da recuperação urbana. Deste modo, se mostrava necessária a liberação do solo com a realocação de instalações portuárias da região e um novo traçado do trem. Eunice Abascal salienta em sua Tese a importância da polifonia composta por um diálogo, por


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A Reforma 12. Panorâmica de Bilbao 13. Vista Aérea de Bilbao


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A Reforma vezes conflituoso, das diferentes vozes que trabalharam durante o processo instalado em Bilbao. “(...)No processo de recuperação de Bilbao, são estas vozes: as instituições públicas e seus agentes, os partidos políticos que se alternavam no poder, o discurso ou a linguagem dos instrumentos de planejamento que falavam no lugar das forças político-ideológicas (porque transmitiam os anseios e propostas para a sociedade, em dado momento), os arquitetosurbanistas que propuseram soluções carregadas de significados, os empreendedores e forças de mercado – estiveram presentes, num dialogismo que intermediou conflitos e redesenhou a cidade.” (ABASCAL, 2004, pág. 140)

Os recursos necessários para as reformas foram obtidos com a venda de terrenos estatais de Renfe e Feve, a partir da obtenção de plus-valias (porcentagens das negociações de compra e venda de terrenos urbanos para investidores privados). Houve discussões sobre qual deveria ser o uso dado as áreas centrais. Uma esquerda extrema defendia a construção de grandes parques e áreas verdes. Estes eram

rebatidos por seus opositores de que esses usos não geravam tantos empregos, defendendo outros meios, que ativassem mais a economia. A coordenação interinstitucional era trabalhosa e enfrentava muitas dificuldades, o que gerava atrasos nos prazos a que se propunha. A administração só se consolidou com a sinalização de compromisso das diversas partes com o investimento e o início de diversas obras estruturadoras do Plano. Para Abandoibarra, a ideia original era de se criar um centro comercial emblemático. Porém, devido às dificuldades de se comercializar a quantidade de escritórios que se pretendia para a região, acabouse diversificando os usos, com a implantação de um centro comercial e habitações. O Ranfe e o Porto Autônomo eram os terrenos que foram desapropriados para a intervenção. Devido a problemas legais, a desapropriação precisou ser revista, uma vez que as famílias anteriormente donas dos terrenos exigiam novos pagamentos. O tramite dessas discussões prejudicou o andamento das reformas e com isso a implantação das infraestruturas em Variante Sur. O que também exigiu uma readaptação dos projetos foi a


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A Reforma organização de um grupo opositor, denominado de Plataforma Cidadãos por Abandoibarra, que buscava um plano alternativo ao que ia se instalando, buscando um urbanismo mais sustentável. Coube, então, a César Pelli, que também havia sido o responsável pelo projeto original de intervenção de 1993, o papel de responsável, naquele momento, pelo projeto e, também, o responsável por tentar conciliar as diferentes opiniões, incorporando as críticas e demandas da sociedade. Somente com a intervenção da União Europeia, que ameaçava retirar investimentos no projeto, que foi possível dar prosseguimento aos trabalhos, por meio de uma proposta de possível consenso por Pelli, finalmente retomando as obras. Ainda que considerando essa proposta insatisfatória, mais do mesmo, a Plataforma acabou concentrando as discussões em respeito ao centro comercial que se construiria na região central da intervenção. Em defesa dos pequenos comerciantes, buscava-se uma reconfiguração tanto do seu tamanho como da sua localização. A empresa responsável pelo empreendimento se mostrou sensível aos pedidos e modificou o projeto - levando, inclusive, a recisão de contrato com Peter Coleman, autor

das primeiras propostas -. O Plano original foi sendo modificado ao longo do tempo, como mostra a maior presença de áreas verdes no plano da Intervenção de 2000. Segundo Eunice Abascal, isso seria sinal de como a intervenção em Bilbao se realizou de maneira participativa e aberta a comentários e feed backs da sociedade. Abascal defende, ainda, que os males da gentrificação foram evitados, tentando-se criar as ferramentas para que a população não fosse prejudicada, a partir de medidas de compensações sociais. Entretanto, a existência dela foi necessária para angariar fundos para dar continuidade a intervenção. Em informe expedido pela Associação Bilbao Metropoli-30, em 2000 revelou-se tendência a baixa do desemprego, assim como, a melhora da qualidade do emprego.

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Os Agentes Transformadores Com seu declínio industrial após a segunda metade do século XX, Bilbao elabora um Plano de Revitalização para a cidade. Para que os objetivos deste Plano fossem alcançados nos prazos pretendidos, duas ferramentas de planejamento e gestão foram desenvolvidas: Bilbao Metropoli-30 e Bilbao Ría 2000. E, apesar de o primeiro ter caráter metropolitano, enquanto o segundo, territorial, ambos deveriam trabalhar juntos e compartilhar o mesmo objetivo final, para que assim o Plano de Revitalização da cidade se efetivasse, com melhora da competitividade internacional de Bilbao e melhoria de qualidade de vida para seus habitantes.

Agência Bilbao Metropoli-30 O primeiro Plano Estratégico, Bilbao Metropoli-30, tem um caráter metropolitano e busca realizar projetos de planificação, estudo e promoção para a recuperação e revitalização de Bilbao Metropolitana, pensandose em projetar para todo seu entorno regional e internacional e, assim, melhorar a imagem de Bilbao local e internacionalmente. A Associação responsável pela revitalização é de promoção e investigação, constituída em 1991, que busca aplicar o conhecimento necessário para avançar com o processo de revitalização. Esta Associação centra seus esforços para formar uma visão em que Bilbao seja capaz de atrair ideias e projetos - transformar o conhecimento em projetos inovadores que dinamizam a revitalização - para enfrentar os desafios das próximas duas décadas. Para tudo isso, se conta com a cooperação do setor público e privado. Criada em 1989, a Associação Bilbao Metropoli-30 - Associação para a Revitalização de Bilbao Metropolitano - foi moldada para a discussão, crítica, e diagnósticos e estudos para a revitalização da área metropolitana. Ela


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Os Agentes Transformadores é a responsável “por desenvolver os Planos Estratégicos, que coordenam as diferentes iniciativas.” (ABASCAL, 2004). Eles são as ferramentas avançadas de planejamento e gestão, que ainda que não garantam a ação de suas propostas, tem como objetivo final da reativação econômica da área metropolitana. Para isso, buscase, sem esquecer o seu entorno e a importância que tem para o conjunto do País Basco, tornar Bilbao a capital do Eixo Atlântico, implantando um modelo meta-industrial, no qual se estabeleceriam atividades industriais, financeiras e de serviços. Precisouse, portanto, criar uma vantagem competitiva para conseguir atrair empresas e novos capitais para a cidade. “Entorno agradável e qualidade de vida urbana, adequada formação e mão de obra qualificada e diversificada, oferta cultural e de lazer, etc., definiram as estratégias para consolidar uma economia de funcionamento e natureza mais complexos.” (ABASCAL, 2004, pág. 243)

A recuperação urbana ganha então alguns pontos que precisariam de melhoria para essa nova imagem que se buscava criar - como a mobilidade urbana, a relação com o meio ambiente,

a necessidade de criar habitações e edificações emblemáticas -. Gerar um “habitat urbano excelente e de alta qualidade de vida” com a participação ativa da iniciativa privada. O seu funcionamento ocorre com a ação de Assembleias Gerais, que organizam a discussão de etapas, que estabelecem metas de desenvolvimento para anos futuros. Os membros constituintes são instituições públicas e privadas em atividade em Bilbao ou sua região metropolitana. Integraram-se a elas também “universidades, centros de pesquisa, organizações sem fins lucrativos, meios de comunicação e principais empresas.” (ABASCAL, 2004)

Busca-se implementar um processo participativo, compartilhado e aberto “em que as instituições públicas e as entidades sociais afetadas conhecessem em conjunto o avanço dos trabalhos, podendo indicar critérios a equipe responsável pela elaboração do Plano Territorial Parcial de Bilbao Metropolitano (PTP).” (ABASCAL, 2004)

Os municípios da margem esquerda, que no passado eram os mais industrializados, foram os mais afetados pela crise dos anos 1980 na região. Isso fazia com que a região

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Os Agentes Transformadores metropolitana de Bilbao sofresse com um “deserto de ruínas industriais” (ABASCAL, 2004). Ainda que as reformas buscassem uma reativação da economia de toda a região anteriormente degradada, algumas cidades da região metropolitana não conseguiram reverter a sua situação. “A cidade dominante (Bilbao) passou a concentrar a maioria dos equipamentos culturais e serviços permanecendo os municípios do antigo centro industrial em estado de isolamento e em processo de degradação progressiva.” (ABASCAL, 2004, pág.270)

Deste modo, um desenvolvimento harmônico entre as cidades passa a figurar como uma das diretrizes gerais nos Planos Estratégicos. À medida que se desenvolviam os planos e se implantavam as reformas, as discussões também se modificavam, agregando correções e feed backs. Ainda que a Associação fizesse da exclusão social uma das questões fundamentais a serem resolvidas na metrópole, medidas de ação social específicas só foram incluídas por volta de 1999, quando se dedicou a consolidação de um Cibercentro de

apoio ao emprego que oferecesse capacitação.


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Os Agentes Transformadores Associação Bilbao Ría 2000 “A coordenação entre ordenação territorial e ação local se realiza por meio de entidades gestoras que estabelecem, que estabelecem as associações entre os diferentes níveis, gerenciam a quantidade e a qualidade de investimentos, bem como as formas de obtenção de recursos de financiamento. Em Bilbao, esse papel é desempenhado por Bilbao Ría – 2000.” (ABASCAL, 2004, pág. 297)

O Plano Estratégico Bilbao Ría 2000, criado em 1992, já tinha caráter territorial, procurando recuperar zonas e áreas industriais desativadas, propondo promover uma diversificação de serviços, cultura e indústria. Tal Plano, como observa Bonates (2009), foi uma parceria interinstitucional, de capital público, formada por vários órgãos, dentre os quais se destacam o Governo Central, a autoridade portuária, o Governo Basco, entre outros. O exemplo dos bons resultados obtidos em cidades como Barcelona (Holding Olímpica) e Sevilha (V Centenário), influenciou a organização a se estabelecer como uma Sociedade Anônima.

Mas foi o arquiteto César Pelli o incumbido de desenvolver o Plano de Reforma a ser aplicado gradualmente em conjunto com construção de edifícios emblemáticos, projetados por arquitetos reconhecidos internacionalmente. Partiu-se de 25 intervenções que buscavam a reabilitação de várias áreas da Bilbao Metropolitana, das quais de acordo com Melo (2008), estão divididas em três grupos de investimentos: provimento de infraestrutura; requalificação de espaços públicos e áreas livres; e habitação. Conforme Vieira (2012), dentre as intervenções se destaca a recuperação da Zona de Abandoibarra, com a intervenção emblemática e motor do projeto, o Museu Guggenheim de Frank Gehry. Juntamente, com o Palácio do Congresso e da Música Euskalduna de Federico Soriano e Dolores Palacio, que a Associação considera como o fator de consolidação de Bilbao como “centro de intensa atividade comercial e turística”. Assim, estes edifícios qualificaram o lugar, dotando a área de equipamentos públicos com maior caráter social e cultural, para mais tarde se investir na urbanização do local - a cargo

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Os Agentes Transformadores das entidades públicas - e em empreendimentos como hotéis e edifícios residenciais, comercias e de escritórios - pela iniciativa privada. Neles a referência e critério para desenho arquitetônico é o Plano original de Pelli, principalmente, sobre o uso e ocupação do solo. Assim, conforme aparece na página da web da própria Associação, o discurso é que a “arquitetura de alta qualidade é apresentada como chave para a reforma”. E, “o lado metropolitano da cidade ao longo do rio, foi modificada ambientalmente e economicamente, numa estratégia que transformou a cidade numa cidade de serviços.”


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A Repercussão As mudanças na cidade geraram um grande eco na imprensa nacional e internacional. Foi muito comum nos noticiários reconhecer e enaltecer a Estratégia Urbana de Revitalização que pretendeu transformar Bilbao através de edifícios emblemáticos em um forte centro cultural e polo atrativo de turismo, recolocando a cidade no mapa mundial. Junto com as notícias da inauguração do Museu Guggenheim Bilbao sempre eram mencionados os últimos complicados 15 anos em contraponto com o novo futuro possibilitado pelo Museu, buscando criar uma imagem de Bilbao civilizada e otimista, em oposição a, até então, imagem de desemprego e crise econômica. Podem ser destacadas três grandes linhas de resultados: de ordem urbanística, econômica e cultural. Em termos de regeneração urbana, embora o Museu Guggenheim Bilbao seja visto como âncora de um processo, foi apenas uma de várias ações, desenvolvidas ao longo de 25 anos, com grandes marcas de infraestrutura. Como resposta às críticas de favorecimento de zonas com potencial de valorização e especulação, cabe ressaltar duas áreas de atuação. A primeira, Bilbao La Vieja, era o bairro de maior marginalidade social e deterioração física de Bilbao. A

segunda é a do Entorno Metropolitano. Foram construídos um centro de convenções e um terminal de cruzeiros, agregando mobilidade turística. Na região de Ametzola, 110000 m² de três antigas estações ferroviárias foram convertidos em uso residencial. Em Portugalete foi regenerada a antiga região de uso portuário que durante décadas alimentou os altos fornos de Biscaia. No setor econômico, embora Bilbao tenha adquirido nome no circuito internacional de museus, ganho atratividade turística e conquistado uma melhoria notável no desenvolvimento urbano, não conseguiu se posicionar como cidade internacional - ou mesmo nacional - de negócios. A cidade não logrou alcançar nem o desenvolvimento Pós-Industrial que almejava, nem tornar-se referência no setor de serviços. Por outro lado, é fato que não apenas a taxa de desemprego caiu significativamente entre 1991 e 2000 - e de forma ainda mais pronunciada do que as comunidades catalã e madrilenha -, como também se mostrou menos vulnerável aos impactos da crise que se abateu sobre o país. No que diz respeito à cultura, nos 13 anos que se seguiram à sua inauguração, mais de 12 milhões

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A Repercussão de pessoas passaram pelo Museu Guggenheim Bilbao, em sua maioria estrangeiros. A maior crítica desferida diz respeito à parca presença de obras locais no acervo e na programação do Museu. Conclui-se assim que se ao Museu Guggenheim Bilbao é reconhecido o título de símbolo do processo de recuperação urbana, não lhe cabe mérito no tocante à geração de sinergias com a própria comunidade cultural. Essa falta de conexão com o ambiente cultural bilbaino e com algum objetivo de fortalecimento das instituições locais foi - e continua sendo - um dos traços mais marcantes e frágeis do projeto. A reafirmar essa percepção está a ausência de indicadores utilizados no planejamento do Museu Guggenheim, que em sua maioria se restringem a seu impacto econômico e à sua gestão. Nenhum indicador se refere às potenciais conexões com a comunidade ou com os equipamentos existentes, nem tampouco consideram o impacto do Museu na Região de Biscaia ou no País Basco como um todo.


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A Repercussão 14. Mapa Turístico de Bilbao



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A Arquitetura em Bilbao A arquitetura de autoria de nomes emblemáticos como Gehry, Nouvel, Toyo Ito ou Dominique Perrault, citados por Solà-Morales (2002) diz muito sobre a cidade contemporânea. Eles constituem “arquiteturas brilhantes, atrativas, que trabalham e proporcionam mensagens de natureza subliminar, ao privilegiarem a cidade com objetivos singulares.” (ABASCAL, 2004, pág. 42)

Esses edifícios possuem uma estética singular que tem a capacidade de se tornarem elementos centrais e agregadores dos conjuntos. Em Bilbao, a exemplo do Museu Guggenheim de Frank Gehry, a utilização destes edifícios tem o objetivo promover a imagem internacional da cidade, funcionando como símbolo da requalificação das áreas de intervenção. A singularidade do edifício, refletida inclusive na escolha de seus materiais, através da ruptura que representa, tem a capacidade de articular as diferentes linhas de força da cidade, simbolizando a transição da porção industrial degradada em recuperação e a parte histórica. Desta maneira ocupam uma posição estratégica, organizando em função de si o fluxo e o movimento de

uma cidade competitiva, fragmentada e justaposta. “A arquitetura assim abordada dialoga com a cidade, com seus conflitos, com as justaposições de tempos históricos que surgem como fragmentos, fazendo o antigo e o novo, o belo e sua negação coexistirem.” (ABASCAL, 2004, pág. 43)

O Plano Estratégico de Bilbao é composto por várias grifes, sobretudo ao longo do rio, na antiga área portuária degradada da cidade. Apesar do Guggenheim de Frank Gehry ser a obra mais conhecida, várias outras grifes importantes no mundo da Arquitetura Contemporânea também assinam intervenções estratégicas, seguindo as diretrizes do plano. Com um caráter de monumentalidade, são como propagandas, que acabam por atrair pessoas e investimentos para a cidade. Alguns outros desses exemplares arquitetônicos são: o Palácio do Congresso e da Música Euskalduna, dos arquitetos Federico Soriano e Dolores Palacios; a Biblioteca Universidade de Deusto, de Rafael Moneo; as Torres Residenciais Comerciais , do arquiteto Arata Isozaki; o Zubiarte Shopping Center, de Robert

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A Arquitetura em Bilbao Stern; o Hotel Sheraton, de Ricardo Legorreta; além de projetos em fase de desenvolvimento, de outros famosos arquitetos como Álvaro Siza, César Pelli e Zaha Hadid.

15. Vista de uma Margem do Rio Nérvion, na ÁreaAlvo do Maior Número de Intervenções 16. Foto Aérea de Algumas Áreas de Intervenção da Bilbao Ría 2000, Indicando uma Área Portuária e Industrial


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Museu Guggenheim de Bilbao Projeto: Arquiteto Frank O. Gehry Começo da Construção: Outubro 1993 Inauguração: 18 de Outubro de 1997 Localização: Avenida Abandoibarra, Nº 02, 48009, Bilbao, Biscaia, Espanha

O Museu Guggenheim é a obra mais reconhecida de Bilbao: símbolo da cidade reformulada, pois serviu como peça central para o programa de regeneração e renovação urbanística de Bilbao, que passara da velha cidade industrial para famosa cidade de turismo e serviços. Num primeiro momento, foi estudado com Gehry a possibilidade do Museu se estabelecer em um edifício histórico na área central, entretanto, além das dificuldades de se aplicar o programa de um museu a este prédio, havia também a intenção de criar um impacto com a construção deste, formando uma imagem de uma cidade que se projetava para o cenário mundial. Colaborou para isso também a vontade da Fundação Guggenheim de aumentar o destaque que a marca já possuía, sendo ela uma Fundação vinculada a atividades culturais composta por uma Rede Museus: dois em New York , um em Veneza, um em

17. Arquiteto Gehry

Frank

O.

18. Implantação do Museu Guggenheim Bilbao 19. Relação do Museu Guggenheim Bilbao com o Entorno


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Museu Guggenheim de Bilbao Berlim e, agora, este em Bilbao. O Museu de Bilbao é muito citado pela crítica. Para alguns, ele com sua complexa forma única, tornase um fragmento na cidade, não se relacionando com ela, mas sim, desvirtuando e desintegrando a cidade, funcionando como um gerador de não lugar. Entretanto, Eunice Abascal (2004) o vê de modo diferente. Ela descreve a obra com estrita relação com a cidade, como um produto de seu passado, presente e futuro. Segundo ela, o projeto desde o início se vincula ao lugar, com Gehry fazendo a escolha da implantação do museu a partir de investigação sobre “as condições do sítio, da paisagem, da pré-existência urbana”. Montaner (2000) apud Abascal (2004) vê nas obras de Gehry não uma simples arbitrariedade da forma pela forma, mas uma “densidade máxima de referências”. Abascal exemplifica isso em respeito ao Guggenheim: “(...) em Bilbao relacionam-se o fundo da cidade antiga e o Guggenheim inovador, e no interior da operação metodológica que o constituiu, fragmentos de história que passam a conviver, a alusão à história portuária e à construção naval que se expressa nas formas (que não são nenhum navio ancorado, mas de alguma brecha

intertextual do sistema se pode ler esta referência) o átrio central iluminado que se refere ao do outro célebre Guggenheim, o de Wright em Nova York (1959) (...).” (ABASCAL, 2004, pág. 404)

Fica implantado em uma área de 32500 m², na margem do Rio Nervión, cercado de uma montanha com vegetação, possui superfície total de 24000 m², contando com mais de 11000 m² destinados às salas de exposições. Boa parte do perímetro do Museu conta com a presença de um grande espelho d’água de 30 cm de profundidade com o fundo pintado de verde, trazendo uma forte relação de continuidade com o Rio Nervión. Tem sua entrada principal voltada para uma das principais vias da cidade, e encaixa-se à Ponte La Salve, de 1972, que é um importante acesso à cidade, mostrando, assim, sua preocupação com a interação ao plano presente de Abandoibarra. Sob esta Ponte, inclusive, se estabelece a área de exposições temporárias, uma das três existentes no Museu. “Uma vez sobre a Ponte de La Salve, o observador tem uma vista panorâmica do Guggenheim, ou seja, a ponte integrada passa a ser um mirante para os curiosos da arquitetura de Gehry. E mais: a caminhada pela Ponte, no


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Museu Guggenheim de Bilbao sentido de contornar o Museu, possibilita um verdadeiro passeio arquitetônico contemplativo das várias formas e volumes do projeto. Em função disso, além da integração, poder-se-ia falar em utilização da ponte pelo arquiteto como ponto de observação de sua obra de arte.” (BONATES, 2009, pág. 65)

Embora, de um modo geral, a arquitetura de grife seja classificada como indiferente ao lugar ou ao tempo que pertence, existe sim algumas relações geográficas, no entanto, o comum é que estas tenham como objetivo apenas valorizar o próprio edifício e ressaltar seu caráter monumental. Na arquitetura virtual, a integração do homem com a máquina, facilitada pelos softwares utilizados no projeto libera a possibilidade de se criar formas inéditas. Desta maneira, a ruptura com o modo convencional de desenvolvimento de projetos demonstra a vanguarda do projeto e a referência ao futuro. O edifício do Museu vai além de sua casca metálica. É uma composição feita com volumes, cores e texturas de blocos revestidos com pedra ou pintados de azul e as estruturas

metálicas que sustentam os painéis de vidro. Combinam-se materiais, tais como aço, pedra, titânio, vidro ou água, “se verifica, porém, uma integração do revestimento de pedra com as placas de titânio, pois ambos possuem praticamente a mesma dimensão e o mesmo assentamento; além de a cor do titânio aproximar-se da tonalidade da pedra, dependendo da luz do dia e da distância do observador.” (BONATES, 2009)

O prédio de Gehry se conforma como uma grande escultura de silhueta única e materiais surpreendentes. E sob sua aparência caótica, o edifício é estruturado em torno de um eixo central, o átrio, o vazio monumental coroado por uma cúpula de metal por meio do qual claraboias e paredes de vidro trazem a luz. Em torno desse eixo, um sistema de passarelas curvas, elevadores de vidro e torres de escadas ligam as 19 galerias que combinam espaços retangulares clássicos com outras formas únicas. Todo esse cenário espetacular criado pelas dimensões, formas e o particular brilho do titânio, refletem o tipo de espaço pensado não só para Abandoibarra, mas para toda a imagem de Cidade Global: principalmente, destinada ao consumo, turismo e à

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Museu Guggenheim de Bilbao população de alto poder aquisitivo. Sem dúvidas, resultou em um lugar socialmente gentrificado, já que os espaços públicos próximos as conjuntos habitacionais, realmente frequentados pela população em geral, receberam outro tipo de tratamento com investimentos significativamente menores. A coleção permanente do Museu inclui, principalmente, obras dos artistas mais importantes das últimas quatro décadas do século XX. Assim, o Museu conta com exemplos de Pop Art, Minimalismo, Arte Povera, Arte Conceitual, Expressionismo Abstrato, entre outras correntes contemporâneas, além, é claro, da Arte Contemporânea Basca e Espanhola, sendo mantido graças aos fundos fornecidos pela Fundação Solomon R. Guggenheim. Aliado a isso, há a diversidade e a riqueza excepcional dos espaços do Museu. Assim, a visão enciclopédica da coleção é dividida cronologicamente em galerias retangulares cobertas de pedra. Esta visão é complementada por espaços dedicados a artistas específicos, cujas obras são reservadas para nove galerias de surpreendentes formas e dimensões especiais, situadas nos volumes de titânio. As exposições temporárias e obras de grande formato ficam numa excepcional galeria, de

quase 30 m de largura por 130 m de comprimento, livre de colunas, encaixada em um volume percorrível embaixo da Ponte de La Salve e no cruzamento de volumes que compõem o edifício. Portanto, como dito no site da Associação Bilbao Metropoli-30, o significado arquitetônico do prédio do Museu Guggenheim de Bilbao foi pensado desde o início como um elemento essencial para atingir o nível de excelência artística na esfera internacional, visado pelo projeto. Esta abordagem continua a tradição iniciada pela Fundação Solomon R. Guggenheim, desde quando esta encomendou a Frank Lloyd Wright o projeto do museu, na Quinta Avenida de New York. Assim, a eleição do arquiteto Frank O. Gehry para desenhar o Museu de Bilbao, reflete o potencial do projeto, por pretender integrar o edifício no tecido da cidade de Bilbao e no plano de regeneração urbana.


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Museu Guggenheim de Bilbao 20. Croqui do Museu Guggenheim de Bilbao 21. Croquis de Frank O. Gehry do Museu Guggenheim de Bilbao


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Museu Guggenheim de Bilbao 22. Plantas Baixas do Museu Guggenheim de Bilbao


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Museu Guggenheim de Bilbao 23. Elevações do Museu Guggenheim de Bilbao


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Museu Guggenheim de Bilbao 24. Elevações do Museu Guggenheim de Bilbao


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Museu Guggenheim de Bilbao 25. Corte Longitudinal do Museu Guggenheim de Bilbao 26. Cortes Transversais do Museu Guggenheim de Bilbao


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Museu Guggenheim de Bilbao 27. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao 28. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao 29. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao 30. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao 31. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao 32. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao 33. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao 34. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao


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Museu Guggenheim de Bilbao 35. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao 36. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao. 37. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao 38. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao. 39. Vista Construção do Museu Guggenheim de Bilbao


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Museu Guggenheim de Bilbao 40. Panor창mica do Museu Guggenheim de Bilbao 41. Vista Exterior do Museu Guggenheim de Bilbao 42. Vista Exterior do Museu Guggenheim de Bilbao 43. Vista Exterior do Museu Guggenheim de Bilbao 44. Vista Exterior do Museu Guggenheim de Bilbao


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Museu Guggenheim de Bilbao 45. Vista Exterior do Museu Guggenheim de Bilbao 46. Vista Exterior do Museu Guggenheim de Bilbao 47. Vista Exterior do Museu Guggenheim de Bilbao 48. Vista Interior do Museu Guggenheim de Bilbao 49. Vista Interior do Museu Guggenheim de Bilbao


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Museu Guggenheim de Bilbao 50. Vista Interior do Museu Guggenheim de Bilbao 51. Vista Interior do Museu Guggenheim de Bilbao 52. Vista Interior do Museu Guggenheim de Bilbao 53. Vista Interior do Museu Guggenheim de Bilbao


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Palácio do Congresso e da Música Euskalduna Projeto: Arquitetos Federico Soriano e Dolores Palacios Começo da Construção: Outubro 1994 Inauguração: Fevereiro de 1997 Ampliação: 2009-2012 Localização: Avenida Abandoibarra, Nº 04, 48011, Bilbao, Biscaia, Espanha

Segundo a Associação Bilbao Metropoli-30, em sua página na internet, o Palácio representa a consolidação da atividade musical e da atividade de Congressos, que tem caracterizado Bilbao, como polo de um intenso turismo comercial e de negócios. Aglutina variadas e numerosas atividades de natureza econômico-empresarial, institucional, social e cultural. E nele que ocorre a Temporada de Opera de ABAO, uma das mais importantes do Estado e da Europa, além de ser a sede da Orquestra Sinfônica de Bilbao. O nome do edifício faz referência ao antigo Estaleiro Euskalduna, que se situava nesse local. Seu desenho busca ser fiel à memória do local ao harmonizar materiais mais nobres entre eles, pedra e cristal - com formas da arquitetura naval, fazendo com

54. Arquitetos Federico Soriano e Dolores Palacios 55. Implantação do Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 56. Relação do Palácio do Congresso e da Música Euskalduna com o Entorno


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Palácio do Congresso e da Música Euskalduna que ele lembre o casco de um navio. O Projeto do Palácio se manifesta no ambiente urbano com “cara dupla”: A fachada voltada para a Ría não tem blocos em terraços, é um bloco “navio de aço”, se irrompendo com força total, sendo o efeito bem marcado pela água da bacia em contato com o casco. Na outra fachada, de frente para o Parque Doña Casilda, um dos volumes reduz de escala e se soma à cidade como um grande edifício de vidro, alumínio e pedra. A área total do projeto foi superior a 25000 m², necessários para sediar um salão principal para 2200 lugares, 03 salas menores, 08 salas de ensaio, 07 salas de conferências e coletivas de imprensa, bem como, outras instalações complementares (cafeteria, restaurante, galeria comercial, etc.). Assim, o edifício combina zonas dedicadas ao uso público com áreas de serviços. O entorno do terreno foi adornado com um “bosque de postes” - os postes são uma figura de árvores com vários galhos - que formam a iluminação. Obteve o Prêmio Enric Miralles 2001 na VI Bienal de Arquitetura Espanhola. E foi reconhecido com um prêmio em 2003 concedido pela Federação Espanhola de Organizadores Profissionais de Congressos. Além

57. Construção Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 58. Vista Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 59. Vista Palácio do Congresso e da Música Euskalduna


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Palácio do Congresso e da Música Euskalduna disso, em Junho de 2001 obteve o Certificado Qualidade ISO-9001 e em Novembro de 2005, o Certificado de Gestão Ambiental ISO-14001, e em Outubro 2004, ele foi premiado com o “Q” de Qualidade Turismo, sendo o primeiro centro com suas características a alcançar tal distinção. Em 2003 o Palácio foi considerado o Melhor Palácio de Congressos do Mundo, com recorde de espectadores alcançado em 2002, com seus quase mil eventos. Assim para manter esse nível, em 2009, o Conselho Provincial de Biscaia apresentou junto com o Arquiteto Federico Soriano um projeto de ampliação e melhoras das instalações do Palácio. Este projeto fez parte do Plano de Aceleração Econômica assinado pelos três Conselhos Provinciais e o Governo Basco. Em 2010, foi apresentado o projeto definitivo, com as obras se iniciando em 2011 e acabando em apenas 09 meses. Sua versão final varia significativamente desde os primeiros esboços, aumenta-se a altura, permitindo a entrada pela Avenida Abandoibarra e reduz o espaço, alterando a sua forma inicial de “L maiúsculo”. A expansão foi possível graças a um novo espaço, se configurando como instalação para Exposições. Este

60. Vista Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 61. Vista Palácio do Congresso e da Música Euskalduna


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Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 62. Vista Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 63. Vista Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 64. Vista Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 65. Vista Palácio do Congresso e da Música Euskalduna


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Palácio do Congresso e da Música Euskalduna grande espaço é funcional, versátil e autônomo, podendo funcionar como um edifício separado do prédio principal, tendo escadas rolantes e elevadores que dão acesso direto a ele do lado de fora. No interior do edifício foi instalado painéis móveis, permitindo criar salas de reuniões de diferentes formatos em uma única sala com capacidade para 418 pessoas ou duas salas menores de 250 e 162 pessoas cada. Além disso, este projeto melhorou as instalações e o tornou mais acessível às pessoas com deficiência. E um dos destaques é o projeto de cobertura, construída em aço inoxidável, superfície irregular, metal formando sulcos e vales com as mudanças de direção.

66. Primeiro Projeto de Ampliação do Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 67. Primeiro Projeto de Ampliação do Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 68. Projeto Definitivo de Ampliação do Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 69. Projeto Definitivo de Ampliação do Palácio do Congresso e da Música Euskalduna


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Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 70. Vista Aérea durante as Obras de Ampliação Palácio do Congresso e da Música Euskalduna Depois da Ampliação 71. Ampliação Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 72. Ampliação Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 73. Ampliação Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 74. Ampliação Palácio do Congresso e da Música Euskalduna 75. Ampliação Palácio do Congresso e da Música Euskalduna


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Aeroporto Internacional de Bilbao, Terminal “La Paloma” Projeto: Arquiteto Santiago Calatrava Inauguração: 19 de Novembro de 2000 Localização: Estrada Aeropuerto, Nº 48180, Loiu, Biscaia, Espanha

O Aeroporto de Bilbao inaugurado em 19 de Setembro de 1948 vinha sofrendo um contínuo aumento do tráfico, além do crescente processo de liberalização vivido pelo transporte aéreo. Esses fatores levaram ao desenvolvimento de um projeto de ampliação e modernização do Aeroporto. Assim, construiu-se um novo terminal, projetado pelo arquiteto Santiago Calatrava, ocupando uma área de 25000 m² e pronto para atender, anualmente, 2,5 milhões de passageiros. O Terminal foi apelidado de “La Paloma” por causa da silhueta em forma de pássaro e por ser predominante branco. Distribuído em dois andares, o superior para partidas - balcões de check-in e portões de embarque - e, o de baixo, para as chegadas. O Fundador da Design Within Reach, Rob Forbes, diz: “Esse lugar me parece contemporâneo do estilo Gaudí” e “em plena sintonia com a tradição espanhola / basco / catalã de ‘barroco moderno’”. No

76. Arquiteto Calatrava

Santiago

77. Implantação do Aeroporto Internacional de Bilbao, Terminal “La Paloma” 78. Relação do Aeroporto Internacional de Bilbao, Terminal “La Paloma” com o Entorno


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Aeroporto Internacional de Bilbao, Terminal “La Paloma” interior, o Terminal é escultural, sem adornos e bem iluminado, com a luz solar entrando em padrões rítmico, criados por suas costelas de concreto. Segundo Gabriela Celani, esse edifício “trata-se de um caso exemplar de integração entre estrutura e instalações. A iluminação e o ar condicionado estão completamente integrados ao projeto. Os parapeitos e os bancos possuem uma linguagem coerente com o conjunto, que tem as características típicas do arquiteto valenciano: uso de simetrias de friso e bilateral, estrutura monocromática (branca) e uso da repetição parametrizada de formas.”

No entanto, o projeto sofreu críticas pela Aena, a Autoridade Aeroportuária Espanhola, pelo fato do projeto ser muito fechado, o que torna difícil fazer novas ampliações para aumentar a capacidade do terminal. Mas apesar disso, foram realizadas modificações entre 2005 e 2006 no check-in para aumentar a área de estabelecimentos comerciais para os viajantes. Havia também reclamações por parte da população que utiliza o Aeroporto pela falta de uma área de espera coberta, pois os passageiros e seus acompanhantes são expostos às intempéries. Assim, em 2009, Calatrava volta a trabalhar no Terminal, para lhe

acabar por definitivo e encerrar com as contínuas queixas em relação à área de chegada. Dessa forma, a intervenção tem por objetivo fechar os 3500 m² do recinto de espera, no nível inferior, com uma estrutura de vidro e aço. Junto a isso, outras melhoras foram incorporadas: a instalação de 07 elevadores; duas novas vias de acesso à área de chegada, com a transformação da parte da frente do Terminal, que é dividido em 02 níveis, mas com uma única plataforma de acesso; uma zona de espera climatizada com serviços de lazer; restaurantes; um ponto de informação turística e adequação às normas de acessibilidade universal. No entanto, há uma Galeria, levantada acima da área de bagagens, onde aqueles que acompanham os passageiros podem esperar e ver estes pegando suas bagagens e deixando o terminal. Esse é um dos argumentos que o arquiteto usa em defesa de seu projeto, a área de chegada.


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Aeroporto Internacional de Bilbao, Terminal “La Paloma” 79. Implantação do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma” 80. Planta 01 do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma”


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Aeroporto Internacional de Bilbao, Terminal “La Paloma” 81. Planta 02 do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma” 82. Elevação 01 do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma” 83. Elevação 02 do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma”


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Aeroporto Internacional de Bilbao, Terminal “La Paloma” 84. Vista Aérea do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma” 84. Vista Exterior do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma” 86. Vista Exterior do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma” 87. Vista Exterior do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma” 88. Vista Exterior do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma”


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Aeroporto Internacional de Bilbao, Terminal “La Paloma” 89. Vista Interior do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma” 90. Vista Interior do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma” 91. Vista Interior do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma” 92. Vista Interior do Aeroporto de Bilbao, Terminal “La Paloma”


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Ponte Zubizuri Projeto: Arquiteto Santiago Calatrava Começo da Construção: 1990 Inauguração: 30 de Maio de 1997 Localização: Passeio Campo de Volantín, Nº 22, 48007, Bilbao, Biscaia, Espanha

A Ponte Zubizuri, conhecida também como Ponte Branca ou Ponte do Campo Volantín é exclusivamente pedonal, ligando o Campo de Volantín ao Passeio de Uribitarte, cruzando o Rio Nervion, possuindo 75 m em sua maior extensão, comprimento de 75 m e 15 m de altura. Seu design incomum consiste em uma passarela curva que é suportado por cabos de suspensão de aço em cima de um arco. A estrutura da ponte é pintada de branco e a do tabuleiro é composta por tijolos de vidro translúcido. Rampas de acesso e escadas estão localizados em ambas as margens. As luminárias foram desenhadas por Santiago Calatrava, estando localizadas entre as barras de aço, iluminando o chão desde embaixo. A iluminação adicional está localizado nas grades, escadas e rampas. Uma cobertura translúcida com superfície estrutural laminada de cristal é de um raio menor que o do jogo de suporte,

93. Arquiteto Calatrava

Santiago

94 Implantação do Ponte Zubizuri 95. Relação da Ponte Zubizuri com o Entorno


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Ponte Zubizuri a qual é reforçada por um tubo de aço curvado cuidadosamente, posicionado perpendicularmente ao talude e levado por braços de concreto que se estendem desde a estrutura. O vidro laminado é utilizado na cobertura da ponte e por razões estéticas artísticas, de modo que a ponte pode ser iluminada por baixo. Portanto, o piso da ponte torna-se a fonte de iluminação e o emprego de instalações elétricas é evitado. O uso de vidro laminado também dá a ponte uma sensação de leveza. Desde a sua inauguração, ela foi considerada um símbolo da nova Bilbao e mais um atrativo para o turismo. O Professor de Arquitetura Alexander Tzonis escreveu: “A inteligência, vitalidade e originalidade da configuração curva da ponte desafiou o declínio do cenário urbano de normalidade e lentidão, trazendo uma mensagem de esperança e um convite a imaginar melhores condições.”

No entanto, outros profissionais têm sido mais críticos em relação ao projeto, como por exemplo o engenheiro Matthew Wells que diz: “Infelizmente, o final do balanço da superestrutura de aço leve no pilar escorado é tensionado , como um brinquedo escultural, e a ponte toca

o chão de maneira desconfortável.”

Outra crítica direcionada ao projeto foi em relação ao uso de tijolos de vidro fixados no piso, o que a torna escorregadia e perigosa no clima úmido da cidade. Em 2006, as autoridades locais ergueram um novo passeio da ponte para o canteiro de obras das Torres Isozaki Atea. Calatrava respondeu em 2007, processando Bilbao por direitos morais à integridade de sua criação, pois uma barra de metal havia sido cortada. O prefeito de Bilbao, Iñaki Azkuna, com o apoio de seus colegas vereadores afirmou que os direitos proprietários de Bilbao tem precedência sobre os direitos do arquiteto. E o Prefeito também observou os casos de quedas e escorregões de usuários na ponte, por conta das telhas de vidro, e o custo de substituição das telhas quebradas por ano. Juristas e arquitetos locais têm apoiado a posição do Prefeito, afirmando que as modificações não afetam os direitos de Calatrava. Em novembro de 2007, um juiz concordou que houve danos aos direitos morais do criador, mas favoreceu o conselho local e permitiu que a conexão de Isozaki permanecesse. Calatrava anunciou sua intenção de apelar contra a decisão. Em março de 2009,


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Ponte Zubizuri o Tribunal Superior concedeu 30.000 € de indenização para Calatrava.

96. Vista Ponte Ponte Zubizuri 97. Vista Zubizuri

Ponte

Ponte

98. Ponte Ponte Zubizuri unida à Passarela de Isozaki, o que gerou polêmicas


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Ponte Zubizuri 99. Vista Ponte Ponte Zubizuri 100. Vista Ponte Ponte Zubizuri 101. Vista Ponte Ponte Zubizuri 102. Vista Ponte Ponte Zubizuri 103. Vista Ponte Ponte Zubizuri


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Estação de Metrô de Bilbao, Estação Indautxu Projeto: Norman Foster & Partners Começo da Construção: 1990 Inauguração: 1995 Acesso Principal:Doctor Areilza, Nº 33, 48010, Indautxu, Bilbao, Biscaia, Espanha

Tomando como princípio que não há projeto urbano sem a constituição de uma centralidade urbana podese considerar que a questão do sistema transporte público visando à acessibilidade é fundamental. Portanto, apesar da ideia inicial da construção de um metrô em Bilbao ser datada dos anos 1920, os planos foram retomados, apenas, nos anos 1970. Porém, somente, em 1987 o Governo Basco aprovou definitivamente o plano para construção e financiamento do Metrô de Bilbao. Hoje, o Metrô possui 40 estações dispostas ao longo de um traçado em forma de “Y”, com duas linhas que correm a margem do rio e confluem em um tronco único que leva a cidade de Basuri. O arquiteto Norman Foster ganhou o concurso do projeto para desenhar as estações do sistema, das quais ficou responsável pela construção de oito estações na Linha 01. Para Foster as estações deviam situar o

104. Arquiteto Foster

Norman

105. Caverna da Estação de Metrô de Bilbao


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Estação de Metrô de Bilbao, Estação Indautxu mais próximas possíveis da superfície, de tal modo que o acesso da rua às plataformas fosse o mais simples e direto. Segundo o próprio arquiteto o sistema de metrô é um bom exemplo de como o ambiente das construções são capazes de influenciar na qualidade da vida diária das pessoas. Comumente nos metrôs o sistema de tuneis é pensado separadamente do local de circulação dos pedestres. No entanto neste processo, essas duas camadas foram pensadas em conjunto, associando desde o início, arquitetura, engenharia, e design gráfico. A arquitetura procura ser legível e explicar qual o sistema de linhas, facilitando a compreensão do usuário em saber para onde deve ir. Assim, desde o princípio a gestação do projeto teve atenção com o desenho e arquitetura das estações, não apenas no quesito estético, mas também pela funcionalidade e bem-estar dos passageiros, integrando arquitetura e engenharia. O sistema construtivo usado nas estações é de concreto pré-fabricado e os elementos como escadas, mezaninos, e cabines para compra das passagem são de estrutura metálica.As entradas envidraçadas das estações, ao nível da rua têm como objetivo uma flexibilidade futura, com material de

alta resistência que permite as formas curvas e a entrada de luz na estação durante o dia. Segundo o arquiteto, ”the curved glass shelters have come to be recognized as symbols of the new underground”. Tais entradas foram apelidadas pelos moradores da cidade como “fosteritos”, remetendo ao nome de Foster.


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Estação de Metrô de Bilbao, Estação Indautxu 106. Linhas do Metrô 107. Implantação Linhas do Metrô

das

108. Acesso ao Metrô de Bilbao, Estação Indautxu 109. Acesso ao Metrô de Bilbao, Estação Indautxu 110. Imagem interna ao Metrô de Bilbao, Estação Indautxu 111. Saída do Metrô de Bilbao, Estação Indautxu



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O caso de Bilbao é pautado, em primeiro lugar, pela inovação na lógica do Planejamento Urbano, adotado de forma contínua a partir de 1985, congregando os entrelaçamentos das esferas econômica, social, cultural, turística e de melhoramentos urbanos. Em segundo lugar, Bilbao se destaca pela aposta em utilizar um ícone cultural mundial para simbolizar a transformação da cidade e sua tentativa de reinserção na nova dinâmica econômica global, não obstante fosse o Museu apenas uma de 25 linhas estratégicas adotadas pela cidade. Em seu ímpeto por comunicar ao mundo a consolidação de um novo ciclo e de projetarse internacionalmente, Bilbao deu continuidade à adoção da arquitetura de grife. No rol de inovações, cabe também mencionar o recurso institucional a parcerias público-privadas, tendo na Sociedade Bilbao Ría 2000 seu emblema de maior representatividade. De fato, Bilbao Ría 2000, ao ter seu patrimônio formado por terrenos cedidos por instituições ou empresas estatais, investir na urbanização desses terrenos e com a mais-valia escorar projetos de regeneração de antigas áreas industriais e marginalizadas rompe com a tendência à gentrificação

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de regiões antes degradadas. A primeira conexão, entre público e privado, é representada não somente pela já mencionada Bilbao Ría 2000 - com investimento público e gestão privada -, mas também pela Associação Bilbao Metropoli-30, ao congregar diferentes esferas governamentais, empresas e fundações. Complementarmente, as áreas foram reintegradas também por conexões simbólicas, como o são os espaços de convívio, parques e caminhos que desenham o seio urbano. Talvez a conexão mais significativa no caso de Bilbao seja a que se tentou promover entre áreas da cidade - ao recuperar zonas marginalizadas -, reintegradas pela expansão da mobilidade individual e dos transportes públicos, pela construção de pontes físicas e de grandes eixos viários. Mais relevante do que a conexão entre a cidade e o mundo, foi essa tentativa de unir regiões fragmentadas, abandonadas e em deterioração da própria Bilbao, por meio de lazer, comércio, cultura e habitação. Nesse sentido, também cabe menção à despoluição e à recuperação do Rio Nervión, sendo a água uma veia de conexão física e simbólica por excelência, em especial quando

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está à frente da própria razão de desenvolvimento da cidade, como no caso de Bilbao, que nasceu voltada a seu estuário. A não rara associação de transformação de Bilbao ligada ao Museu, não deixa de ser paradoxal, ao se verificar que o aspecto cultural foi o mais negligenciado, dentre os que compõem o tripé de uma Cidade Criativa. A cultura, assim, integrou o plano de desenvolvimento da cidade, não por suas especificidades ou por algum conteúdo básico, mas ao se converter na ponta de lança da transformação bilbaina, de fora para dentro. À cultura foram atribuídos inúmeros papéis, que acabaram porém por transformar o benefício cultural em algo complementar aos outros. Bilbao selou a cultura global, como forma de se inserir no mundo, preterindo a promoção da cultura local para então se conectar a ele. Dessa forma, no que tange à cultura, as conexões com o mundo sobrepuseram-se às passíveis de serem criadas com as instituições e raízes da própria cidade. De maneira geral, as intervenções realizadas em Bilbao foram bastante coerentes com os objetivos, com a realidade e as possibilidades da cidade. Talvez a lição mais importante a se aprender com todos esses processos

globais é que é preciso conhecer e estudar muito bem as exatas condições em que as ações do Planejamento Estratégico aconteceram nos exemplos já consolidados e que ainda vão acontecer nos casos futuros e perceber quais fatores econômicos, urbanos e sociais favorecem esse modelo de gestão urbana. O grande problema é a cega e alienada reprodução de um modelo aplicando-o à realidades muito distintas e mesmo contrastantes; não é a metodologia em si, mas o uso que se faz dela. O marketing urbano pode ter funcionado muito bem em Barcelona, por exemplo, mas isso não quer dizer que ele vá funcionar nas cidades dos países periféricos. É preciso analisar os indicadores sociais e urbanos após a implantação desses Planos. É uma grande armadilha basear a análise apenas nos indicadores econômicos. Como os interesses que movem essas intervenções são econômicos, o sucesso nesse campo já é esperado. Como são investimentos em grande parte públicos, é preciso se considerar os fatores sociais. Uma das grandes consequências desse modelo é a gentrificação das áreas que recebem as intervenções e também seus entornos. Por fim, essas intervenções podem acarretar o agravamento do abismo da desigualdade social, principalmente, em cidades de países


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periféricos, onde essa realidade já é perceptível e alarmante. Assim, como ocorre com o conceito da Cidade Global, o problema não está tanto nas suas formulações em si, nem nas bases empíricas originais - Barcelona, para o Planejamento Estratégico, e Nova York, Londres e Tóquio para as Cidades Globais -, mas na sua transferência para a realidade urbana de outros países, no que acaba se tornando um instrumento ideológico de difusão de alguns preceitos urbanísticos de perfil nitidamente liberal. Em outras palavras, são as “ideias fora do lugar”. Talvez, mais preocupante ainda do que esse fato, seja a disseminação da ideologia / política Liberal que está escondida por trás dele. Mascarado de ações de esquerda como, por exemplo, ao dar importância ao poder local e promover ações participativas, ou seja, construídas em parcerias público-privadas com a participação da sociedade civil; essas ações estratégicas, na realidade, visam somente legitimar a renúncia do Estado e sua retirada de muitas funções essenciais, como por exemplo a gestão dos serviços públicos e de infraestrutura. É nesse sentido também que pode ser entendida a ênfase conferida ao Terceiro Setor, agente de

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uma nova esfera público-privada, que em alguns casos serve mais como um guarda-chuva para a promoção dos interesses privados em funções antes reservadas ao Estado. Após a análise atenta dos processos e da maneira como foram organizadas e aconteceram as etapas de implantação do Planejamento Estratégico de Bilbao e também da análise das principais conceituações dos mais expressivos autores sobre o assunto, fica evidente que não se trata, de maneira nenhuma, de ações e tomadas de posição isentas de um forte conteúdo ideológico. Todos, tanto os autores e teóricos quanto os governos e lideranças locais, partem de um pressuposto da globalização - que não passa de uma construção ideológica - como base conceitual para uma ideia de Cidade Global fortemente alinhada com o discurso dominante da expansão neoliberal e da ampliação do mercado mundial. Em nenhum momento, esse modelo econômico é questionado, pelo contrário, ele é reafirmado como algo que não se pode mudar e, mais ainda, algo ao qual todos devem se adaptar. Aí é que entra a forte imposição do modelo de Planejamento Estratégico. Modelo, e não solução única, apenas uma alternativa possível - apesar de não ser essa a maneira como ele é

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difundido. A iminência ou a simples aproximação de uma crise - seja ela real ou forjada -, ou mesmo a sensação de atraso ou de déficit em relação às cidades desenvolvidas, cria a condição perfeita para o convencimento, para a aprovação coletiva, para a aplicação do pesado aparato de construção ideológica de consensos, como por exemplo: de civilidade, de patriotismo, de cidadania. São estratégias de legitimação e aceitação por parte da opinião pública, são ilusões que confundem até mesmo a Academia, de tão bem construídas e articuladas ideologicamente que são. Percebe-se que são realizadas opções e ações por parte das elites periféricas movidas por interesses elitistas e fúteis, em detrimento de um desenvolvimento socialmente mais justo da cidade. “Um tema complexo, assunto de vários debates, seriam as vantagens e desvantagens em relação à textura social mais ampla dessas cidades e respectivos países. Entretanto, o fato de que as firmas globais precisam das cidades, e de fato de grupos de cidades, deveria permitir que as lideranças políticas e empresariais, além da sociedade civil, dessas cidades, pudessem negociar com as empresas globais, no sentido

de obter maiores benefícios para suas respectivas cidades. Isto poderia levar a resultados positivos generalizados, se as classes governantes pudessem ver que essas funções econômicas globais poderiam se desenvolver melhor num contexto de uma classe média forte e próspera, ao invés de numa situação de desigualdade aguda e de polaridade, como existe entre grande parte das famílias. Por este exato motivo, as cidades globais europeias foram mais bem sucedidas que as norteamericanas.” (SASSEN, 2008)

Outra argumentação recorrente entre os que trabalham com o conceito da Cidade Global é a de que esta nova configuração urbana estaria produzindo uma polarização social mais acentuada. A lógica de Sassen, ressaltada em todos seus textos, é que as empresas do terciário avançado precisam, para funcionar, de serviços não qualificados. Assim, nas cidades estudadas, isto é, as paradigmáticas Cidades Globais do Mundo Desenvolvido, um contingente não desprezível de trabalhadores com baixa qualificação e baixos salários estaria surgindo nos mesmos centros de negócios em que se concentram as empresas globais. A maioria dos


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teóricos do tema apresentam o mesmo entendimento de que a dinâmica econômica global contemporânea - isto é, a globalização - é, em essência, um fenômeno positivo, isto é, ao qual vale a pena se alinhar. Ou seja, tais teorias são, por sua própria lógica, acríticas quanto ao fenômeno da globalização. O aceitam, de partida, como um processo aparentemente inexorável, ao qual vale a pena adaptar-se, já que ele estaria condicionando a organização futura das cidades. Ocorre que, e esse é um dos aspectos mais interessantes da discussão, a maioria dos fenômenos apontados como causadores da globalização não são exatamente uma novidade no cenário do capitalismo mundial, e nem sempre são tão significativos, em termos numéricos, quanto se pretende. Sem dúvida nenhuma, a imagem de novidade que recebem se deve muito mais à força da ideologia dominante do que às características reais do fenômeno. Nesse sentido, surge um dado interessante em relação à questão dos Investimentos Diretos no Exterior - IDEs -, usado pela totalidade dos analistas como um indiscutível indicador da novidade do fenômeno. Apesar disso, a própria Sassen mostra como os IEDs, ao contrário de promoverem

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uma expansão internacional dos fluxos de investimentos, concorrem de forma extremamente concentrada, quase que na sua totalidade entre as maiores economias do mundo. Também é significativa para essa análise a constatação da preponderância dos mercados internos, em detrimento do crescimento dos fluxos econômicos internacionais. As exportações equivalem, segundo dados, a 12 % ou menos do PIB em países fortemente exportadores como EUA, Japão ou a Comunidade Europeia, e os mercados internos “absorvem cerca de 80% da produção e geram 90% dos empregos” (BATISTA Jr., 2000). Através dos exemplos acima, percebemos que a internacionalização da atividade econômica que geralmente se associa à globalização é menos intensa do que se divulga por aí. John Kenneth Galbraith, experiente economista e diplomata norte-americano, declarou a um jornal italiano que “a globalização... não é um conceito sério. Nós, os americanos, o inventamos para dissimular a nossa política de entrada econômica em outros países” (BATISTA Jr., 2000, pág. 68)

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Uma dissimulação tão bem feita que leva seus arautos a formularem receitas prontamente adotadas por nossas elites, como a de que “a única forma de prevenir a desestabilidade monetária e financeira é, para os governos, tratar de homogeneizar cada vez mais as economias nacionais com os mercados financeiros globais.” (CASTELLS, 1998)

Dessa maneira, a globalização se coloca como um fenômeno essencialmente ideológico, apoiado em algum “substrato de realidade... que lhe confere certa plausibilidade” (BATISTA Jr., 2000, pág. 38). Trata-se de uma argumentação exaustivamente difundida pela mídia, adotada sem parcimônia pela academia, e que vem sendo aceita sem questionamentos como um fenômeno inexorável, embora ele seja, assim como no caso do conceito das Cidades Globais, empiricamente frágil quanto a seus argumentos centrais. Tendo vista tudo o que aqui foi exposto e discutido, apontamos para a necessidade urgente em se inovar na fronteira da governança urbana. As velhas táticas burocráticas não funcionam maishá tempos. Vivemos uma era urbana totalmente nova que

precisa ser tratada com atenção e receber intervenções mais atentas, específicas às novas condições da realidade e menos presas à ideologias seculares que já provaram, muitas vezes ao longo da história, serem rígidas demais e totalmente obsoletas.




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