Arquitetura Efêmera - Desastres Naturais

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Arquitetura Efêmera Desastres Naturais Habitação temporária para desabrigados devido a desastres naturais

Letícia Lombard-Platet


APRESENTAÇÃO


Habitação temporária para populações desabrigadas devido a desastres naturais.

Trabalho Final de Graduação Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Universidade Presbiteriana Mackenzie Letícia Lombard-Platet

Orientador de monografia: Abílio Guerra Orientador de projeto:Pedro Paulo de Melo Saraiva Dezembro/2014

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Arquitetura Efêmera – Desastres Naturais


DEDICATÓRIA


Ao meu pai, meu amuleto da sorte e de quem tiro a minha maior força, por sempre olhar e cuidar de mim. Onde quer que você esteja, saudades sempre.

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Dedicatória


AGRADECIMENTOS


Gostaria de agradecer primeiramente aos meus orientadores, pelo ano de muito crescimento e aprendizado. Ao Abílio Guerra, por todos os atendimentos e conversas que auxiliaram muito no desenvolvimento deste trabalho e por compartilhar comigo seu conhecimento em tantas áreas que levarei comigo sempre. Ao Pedro Paulo de Melo Saraiva, pelos bate-papos descontraídos que me acalmavam tanto durante os atendimentos e pelos inúmeros desenhos e croquis que me ajudaram no desenvolvimento do projeto. Sem dúvida um arquiteto incrível com quem tive o prazer de aprender. Agradeço à minha mãe, meu exemplo de excelente profissional e mulher guerreira, por sempre me proporcionar os melhores estudos, por me dar a oportunidade de estudar no Mackenzie, pela paciência e apoio sempre, principalmente nestes últimos meses que não foram nada fáceis, e pelo amor incondicional, apesar das broncas e brigas. À minha irmã, companheira de todas as horas. À minha avó, que sempre elogiou tudo que lhe era mostrado, mesmo sem entender muito bem do que se tratava. Aos meus padrinhos, pelo amor e palavras de apoio. Sem nomeá-los, com medo de esquecer alguém, mas com todos no coração, agradeço aos meus amigos pela paciência e compreensão nos meus momentos de ausência, mas que sempre contribuíram e sempre me incentivaram na vida pessoal e profissional. Aos meus amigos arquitetinhos, pricipalmente as minhas pequenas Maria Paula, Luiza Andrade e Luiza Cesário, que caminharam comigo durante esses anos de faculdade, os melhores e piores de nossas vidas, e que entendiam melhor do que quaisquer outros as angústias e desesperos de se fazer arquitetura. Por fim, agradeço a todos os profissionais com quem já tive a oportunidade de estudar e trabalhar, que me acrescentaram muito e que com certeza ajudaram direta ou indiretamente neste trabalho.

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Agradecimentos


SUMÁRIO


1. Introdução .................................................................................................... 11 2. Desastres naturais ....................................................................................... 2.1. Aspectos gerais - Desastres naturais e humanos............................................... 2.2. Desastres no Brasil....................................................................................... 2.3. Desastres em São Paulo................................................................................ 2.3.1. Desenvolvimento da habitação em São Paulo............................................... 2.3.2. A precariedade na habitação em São Paulo................................................... 2.3.3. Os dados dos desastres ........................................................................... 2.4. A resposta aos desastres.................................................................................

15 17 21 27 27 43 54 60

3. Arquitetura efêmera....................................................................................... 3.1. O que é arquitetura efêmera? A cidade em movimento........................................... 3.2. Arquitetura efêmera de caráter emergencial.................................................... 3.2.1. Soluções para abrigos emergenciais- Materiais e tipos de construção...................

67 68 74 80

4. Estudos de caso............................................................................................. 4.1. Vila Serra do Navio, Oswaldo Arthur Bratke....................................................... 4.2. Movimento metabolisa japonês e a Torre Cápsula, Kisho Kurokawa....................... 4.3. Escola Transitória, modelo rural - João Filgueiras Lima, Lelé................................

87 88 92 98

5. Projeto........................................................................................................... 5.1. Normas e diretrizes para a implantação dos módulos......................................... 5.2. Escolha dos materiais..................................................................................... 5.3. Os módulos................................................................................................... 5.4. Implantação dos módulos...............................................................................

101 104 108 110 124

6. Conclusão....................................................................................................... 139 7. Referências Bibliográficas............................................................................... 143

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Sumário



INTRODUÇÃO

1. 11

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1. INTRODUÇÃO

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1. Introdução Ao longo dos séculos, o homem vem intensificando mudanças no meio em que vive para moldá-lo às suas necessidades e usos. Essas alterações acabam perturbando o equilíbrio dos sistemas naturais, o que resulta em situações de vulnerabilidade que podem provocar desastres. Com isso, em todo o planeta, desastres naturais afetam milhões de pessoas. No Brasil, a ocorrência e a intensidade dos desastres dependem muito mais do grau de vulnerabilidade das comunidades afetadas que da magnitude dos eventos adversos provenientes da natureza, de acordo com Anders1. O impacto desses eventos é desastroso, eles desabrigam dezenas de famílias, que podem chegar a perder todos os seus bens. Muitas vezes esses indivíduos são levados para se abrigarem em equipamentos públicos, como escolas e ginásios, o que acarreta a paralisação das atividades nos mesmos. Com isso a ideia do objeto projetual a ser desenvolvida e apresentada ao final deste trabalho é o de apresentar uma habitação temporária para desabrigados de desastres naturais. O estudo consiste em fazer uma análise do que foi considerado importante para chegar ao conteúdo final. Assim, na primeira parte deste trabalho será feita uma apresentação do conceito que conhecemos de desastres naturais e como eles se desdobram no Brasil e no mundo. Ao focar no Brasil, vamos estudar mais especificamente a cidade de São Paulo, os motivos pelos quais possuímos uma alta ocorrência de desastres na cidade e como isso é causado pela vulnerabilidade das habitações e sua precariedade. Após isso serão levantados dados oficiais e medidas preventivas para responder a esses desastres em São Paulo. 1. ANDERS, Gustavo Caminati. Abrigos temporários de caráter emergencial. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2007.


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Na segunda parte do trabalho, será abordada a arquitetura efêmera, o estudo desse tipo de arquitetura e suas diversas vertentes. Uma das vertentes dessa arquitetura é a de emergência, foco central deste trabalho. A arquitetura de emergência será mais aprofundada nesse capítulo juntamente com as soluções para esse tipo de abrigo, como os materiais utilizados e o tipo da construção. Por fim, mas não menos importante, serão apresentados os estudos de casos utilizados para o auxílio do desenvolvimento do presente projeto. Nesse capítulo poderemos perceber que nem todos os projetos estudados possuem o caráter efêmero, mas mesmo assim foram de grande ajuda para este trabalho, como é o caso da Vila Serra do Navio, de Oswaldo Arthur Bratke. Finalmente, após todas as análises e reflexões, será feita a apresentação do projeto idealizado neste trabalho. O objetivo é de criar uma habitação temporária de emergência para os desabrigados com o intuito de que essa população tenha onde ficar durante o período em que os órgãos públicos resolvem os problemas de sua realocação na sociedade. Cabe ressaltar que o interesse por esse assunto foi influenciado pelo contato e participação direta da autora nos trabalhos de uma ONG chamada TETO (Um teto para meu país). Através dessa experiência, houve a oportunidade de conhecer a fundo o interior de uma favela e o tamanho da vulnerabilidade dessas habitações e de sua população.



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16 São Luiz do Paraitinga, em janeiro de 2010, logo após enchente na cidade. Fonte: Disponível em: < http://blogln.ning.com/profiles/blogs/tragedia-em-sao-luis-do>. Acesso em: 18/05/2014.


“Fica claro que, ao contrário do que gostam de afirmar nossos governantes, as enchentes urbanas não acontecem por um eventual excesso de chuvas, ou, mais prosaicamente, por vingança dos deuses(...)”

Com enfoque semelhante ao de Rodrigues dos Santos, temos o autor norte-americano Mike Davis. Ambos os autores têm como ponto em comum a certeza de que o termo desastres naturais é mal colocado e que muitas vezes o governo faz com que a população sinta que a culpa de toda essa desgraça é de uma força maior, 2. RODRIGUES DOS SANTOS, Álvaro. Piscinões verdes contra as enchentes. Minha Cidade, São Paulo, ano 14, n. 167.03, Vitruvius, jun. 2014. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/ revistas/read/minhacidade/14.167/5195>. Acesso em: 07/09/2014.

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Desastres e catástrofes são sinônimos de fatalidades; os termos sugerem uma terrível inevitabilidade. Ao que tudo indica, esses desastres são um drama recorrente da nossa sociedade. O único problema é chamá-los de naturais e deixar de lado a parcela de culpa que a sociedade tem sobre isso. “Fenômenos naturais” são as forças da natureza se manifestando através de erupções vulcânicas, terremotos, ciclones, tsunamis entre outros. Com certeza nem todo fenômeno natural é perigoso ao homem; isso só ocorre quando existe uma desestruturação de uma comunidade, causando perdas de vidas, prejuízos e danos materiais. E assim, esses fenômenos se tornam desastres, e na maioria das vezes isso ocorre por conta de alguma vulnerabilidade causada por algum tipo de intervenção humana. O homem, ao longo dos anos, vem moldando o meio físico às suas necessidades e usos. Ao modificar a paisagem, topografia, curso dos rios, o homem contribuiu para a ocorrência desses desastres. Esse tipo de desastre é definido por secas, incêndios, inundações, deslizamentos de terra, guerras/terrorismo, poluição, desflorestamento entre outros. Segundo Álvaro Rodrigues dos Santos2 :

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2.1. Aspectos gerais - Desastres naturais/humanos


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uma espécie de “castigo dos deuses”. Davis trata dos desastres naturais ocorridos nos Estados Unidos, especificamente em Los Angeles, que ele se refere como um lugar de fabricação de desastres. Segundo ele, “Para alguns infelizes, os desastres têm sido uma provação inexorável como a de Jó.”3

Mas através de diversos dados que serão mostrados ao longo deste trabalho, poderemos perceber que o problema é muito pior. Segundo um relatório da ONU 4 lançado em 2013 , esses desastres se agravarão no decorrer deste século. O Brasil, segundo relatório indicador de risco climático global 20135 , ocupa a sexta colocação no ranking das 10 nações que mais sofreram com eventos climáticos extremos. O estudo apurou que em 2011 mais de mil brasileiros morreram em função desse fato, e que os prejuízos causados ultrapassaram US$4,5 bilhões ao governo federal no ano de 2012. O que pode ser percebido através de muitos textos, que serão interpretados e citados aqui, como a série de artigos do Álvaro Rodrigues dos Santos escrita para o Portal Vitruvius6 sobre o lixo e as enchentes, é que a problemática desse tema envolve muito mais uma questão política, de questões mal resolvidas, de pouca atenção ao assunto e com isso os governos e até mesmo as mídias acabam passando 3. DAVIS, Mike. Ecologia do medo. Rio de Janeiro, Record, 2011. p. 15. 4. Relatório da ONU prevê ‘catástrofe ambiental’ no mundo em 2050. São Paulo, Globo natureza, mar. 2013. Disponível em: <http://g1.globo.com/natureza/noticia/2013/03/relatorio-da-onu-preve-catastrofe-ambiental-no-mundo-em-2050.html>. Acesso em: 27/03/2014. 5. SPITZCOVSKY, Débora. Brasil é 6º país afetado por eventos climáticos extremos. Revista Exame. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/brasil-e-6o-pais-afetado-por-eventos-climaticos-extremos> . Acesso em: 27/03/2014. 6. RODRIGUES DOS SANTOS, Álvaro. O lixo e as enchentes. Minha Cidade, São Paulo, ano 13, n. 149.01, Vitruvius, dez. 2012. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/13.149/4555>. Acesso em: 07/09/2014.


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uma imagem errada desses desastres, que na realidade dos fatos não são causados apenas por culpa de ações da natureza, ou dos deuses e das pragas da bíblia. Com tais dados, podemos perceber que para conter essa situação que se agrava não somente no Brasil, mas no mundo, precisamos de medidas preventivas, de planos de ação e de um esforço dos governos para tentar amenizar tais possíveis danos. E nesse aspecto, a arquitetura deve estar totalmente envolvida no caso para ajudar nesse problema. Devemos usar as técnicas e criatividades para adequar os projetos à natureza e não o contrário.


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20 Angra dos Reis (RJ) - Bombeiros e homens da Defesa Civil trabalham na busca de vítimas do deslizamento de terra que atingiu diversas casas da região nos pirmeiros dias de 2010. Fonte: Disponível em: < http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2010-01-03/4-de-janeiro-de-2010#>. Acesso em: 18/05/2014.


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O Brasil sofre muito com esses fenômenos de origem natural, que afetam suas cidades e assentamentos. Infelizmente isso é causado porque o processo de urbanização do País não foi acompanhado de políticas de desenvolvimento urbano que se preocupassem em prover moradia para toda a população. Esse problema já vem ocorrendo desde a década de 1950, quando ocorreu uma explosão demográfica nas cidades brasileiras e o poder público não conseguiu acompanhar tal crescimento. Sem condições de adquirir no mercado legal uma residência, uma grande parte da população mais pobre ocupou aqueles terrenos menos valorizados por possuírem restrições legais à ocupação, seja devido à situação de risco potencial, seja devido à necessidade de preservação ambiental. Assim, os assentamentos precários se implantaram e se expandiram, com ocupação de áreas de elevada declividade e margens de rios, gerando um quadro urbano de extrema vulnerabilidade perante deslizamentos de encostas, inundações e enxurradas. A partir do mapa a seguir, podemos perceber que um dos países mais afetados do planeta por desastres naturais é o Brasil.

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2.2.Desastres no Brasil


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Nº de pessoas afetadas nos últimos 10 anos. Fonte: EM-DAT the International Disaster Data base (EM-DAT, 2012)


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Segundo dados da defesa civil7 , é possível identificar características mais frequentes dos desastres por regiões do Brasil: -Região Norte: Incêndios florestais e inundações. -Região Nordeste: Secas e inundações. -Região Centro-Oeste: Incêndios florestais. -Região Sudeste: Deslizamentos de terra e inundações. -Região Sul: Inundações, vendavais e granizo. Na década de 2000, a ocorrência de desastres aumentou 286%, e durante os anos de 1991 a 2000 cerca de 2500 pessoas morreram no Brasil por conta de desastres8.

Gráfico de desastres naturais no Brasil de 1991 a 2010. Fonte: JUNGLES, Antônio Edésio. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume Brasil. Florianópolis, CEPED/UFSC, 2012.

7. JUNGLES, Antônio Edésio. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume Brasil. Florianópolis, CEPED/UFSC, 2012. 8. Os dados foram divulgados por Rafael Schadeck, chefe do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad), durante a1ª Conferência Nacional de Mudanças Climáticas (Conclima), no dia 10 de setembro de 2013.


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Gráfico dos afetados por cada tipo de desastre. Fonte: JUNGLES, Antônio Edésio. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume Brasil. Florianópolis, CEPED/UFSC, 2012.

Gráfico dos mortos por cada tipo de desastre. Fonte: JUNGLES, Antônio Edésio. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume Brasil. Florianópolis, CEPED/UFSC, 2012.


“ O fato é que, ao lado das deficiências crônicas de nossas políticas habitacionais,o que acaba obrigando a população mais pobre a buscar 9. RODRIGUES DOS SANTOS, Álvaro. Piscinões verdes contra as enchentes. Minha Cidade, São Paulo, ano 14, n. 167.03, Vitruvius, jun. 2014. Disponível em:<http://www.vitruvius.com.br/ revistas/read/minhacidade/14.167/5195>. Acesso em: 07/09/2014. 10. RODRIGUES DOS SANTOS, Álvaro. Áreas de risco, geologia e arquitetura. Minha Cidade, São Paulo, ano 12, n. 140.02, Vitruvius, mar. 2012. Disponível em: <http://vitruvius.com.br/revistas/ read/minhacidade/12.140/4251>. Acesso em: 22/07/2014.

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Pelo fato do Brasil ser um país tropical, há muita ocorrência de chuva e em grandes quantidades e podemos perceber analisando esses primeiros gráficos, que os desastres mais frequentes com maior número de mortos são os de inundação e, normalmente ela é seguida por deslocamento de terra. Ainda de acordo com Rodrigues dos Santos9 , ao contrário do que pensamos, as enchentes não são causadas pelo excesso de chuvas nas cidades e sim porque essas cidades não possuem a capacidade de reter essas águas, principalmente por causa da impermeabilização generalizada de suas superfícies. Aparentemente nosso país possui uma “compulsão” em livrar-se de suas águas pluviais. Por esse motivo que as medidas tomadas pelas autoridades, como o aumento das calhas dos rios, não têm surtido muito efeito, afinal as medidas deveriam ser voltadas para as cidades conseguirem reter suas águas da chuva. O lixo é outro fator complicador na questão das enchentes nas cidades do Brasil. Nossa população ainda não foi educada corretamente em relação aos lugares que o lixo deve ser devidamente jogado. Mas essa questão acaba gerando um foco de enchente, muito localizado, próximo às bocas de lobo e bueiros entupidos. Agora, quando a água jorra dos bueiros, isso significa que as águas estão retornando das galerias e córregos, pois eles não conseguem dar a devida vazão. No caso dos deslizamentos de terra, a maioria das vezes o que ocorre é a ocupação indevida de terrenos com alta instabilidade geológica. Como podemos ver na fala de Rodrigues dos Santos10 :


O que ocorre, em conjunto desse fator, é a urbanização indevida desses locais unidos com a utilização de técnicas como o desmatamento, aterros, cortes, entre outros, que vão totalmente contra o que deve ser feito nessas regiões. Outro ponto importante a ser levantado é falta de controle que a administração pública tem sobre esses territórios.

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solução própria de moradia em áreas geologicamente problemáticas, não possuímos no país uma cultura técnica arquitetônica e urbanística especialmente dirigida à ocupação de terrenos de acentuada declividade.”

Gráfico dos Mortos e afetados por Região Brasileira. Fonte: JUNGLES, Antônio Edésio. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume Brasil. Florianópolis, CEPED/UFSC, 2012.

A partir destte último gráfico, podemos perceber que a região sudeste é a região onde ocorre o maior número de mortos e afetados por desastres e na maioria das vezes são por inundações relacionadas com as fortes chuvas que atingem a região. Por esse motivo que a região sudeste, e mais especificamente o Estado de São Paulo, vai ser estudado mais a fundo aqui.


São Paulo é nitidamente o resultado de um processo que envolveu ocupação urbana e topográfica do planalto paulista, ela cresceu de uma forma centrípeta, a partir de um núcleo central e da conjugação de novos loteamentos residenciais. A cidade começou a se expandir no final do século XIX principalmente devido atividades ligadas ao complexo cafeeiro. E foi nessa época que a bacia do alto as Tietê começou a ser ocupada por tornar mais fácil a utilização da água como recurso energético. Nessa fase aconteceu a 1ª crise habitacional de São Paulo, entre os anos 1886 e 1900. Tudo isso ocorre por causa do êxodo rural, e a expansão do mercado de trabalho e em consequência uma aglomeração de trabalhadores mal-alojados, o que acabou se tornando uma ameaça a saúde pública, pois a cidade se expandiu rapidamente e começou a carecer de uma infraestrutura que antes não era necessária. Com todos esses problemas, a elite paulistana não queria se misturar com os trabalhadores mal alojados e com o risco de ficarem sujeitos a doenças. Desse modo, começou uma segregação do espaço e com isso a população mais pobre sofria muito mais com os problemas e o poder público pouco fez para melhorar essa situação caótica que tomou conta da cidade. Surgiram epidemias na cidade e então ocorreu uma pequena intervenção estatal, só que esse problema foi tratado como uma questão de falta de higiene da população e não de falta de infraestrutura, e assim o governo se limitou a difundir padrões de comportamento de asseio e hábitos cotidianos. Segundo Bonduki 11 , todos os tipos de moradias que surgiram para as classes mais baixas até os anos 1930 aconteceram com capital de iniciativas privadas e quase todas essas moradias eram de aluguel. Foi com isso que surgiram as primeiras vilas 11. BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil. Arquitetura moderna, Lei do inquilinato e Difusão da casa própria. São Paulo, Estação Liberdade, 1998.

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2.3.1. Desenvolvimento da habitação em São Paulo

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2.3. Desastres em São Paulo


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operárias. Os trabalhadores pagavam aluguéis e moravam próximo as suas indústrias devido principalmente a falta de transportes, que eram mantidos apenas por trens e bondes. Com a renda extra, uma minoria da população passou a comprar lotes vazios e a construir suas próprias casas durante os finais de semana, chamadas de “casas domingueiras”. Em 1940, houve a 2ª crise habitacional, com influência da 2ª Guerra Mundial e um novo êxodo rural por conta do desenvolvimento da indústria. Outro aspecto que veio para agravar os problemas foi o Plano de Avenidas de Prestes Maia, que acabou demolindo e desapropriando muitos prédios no Centro, valorizando a edificação apenas para média e alta renda12. Outro problema encontrado foi que devido a essas novas edificações começou uma especulação imobiliária alta e criouse o congelamento de aluguéis, com o intuito de brecá-la. Mas mesmo com esse congelamento, diversos inquilinos foram despejados por falta de pagamento. Em meio a toda essa crise surge a Lei do inquilinato, que buscava manter os direitos dos inquilinos, mas gerou mais crise uma vez que ela não impedia o despejo, que atingia níveis altíssimos, incluindo edifícios, vilas e cortiços. A lei acabou, a longo prazo, reduzindo a rentabilidade dos investidores do mercado imobiliário e com isso estimulou o crescimento da pequena propriedade urbana e da casa própria. A Lei do inquilinato fez com que houvesse uma queda financeira dos aluguéis. Essa lei acabou influenciando no autoempreendimento e no sonho da casa própria. Ser inquilino nesse período era inseguro e sem futuro, por isso verificouse um aumento das moradias na periferia, que apesar de ter condições precárias, traziam mais segurança. O Estado, ao analisar os autoempreendimentos, decidiu não interferir com investimentos do poder público para que houvesse assim a falsa impressão de que a população de baixa renda estava em ascensão social construindo sua própria moradia. Porém, essa não era a realidade. Houve uma perda na qualidade de vida desses moradores devido à falta de recursos em infraestrutura, 12. BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil. Arquitetura moderna, Lei do inquilinato e Difusão da casa própria. São Paulo, Estação Liberdade, 1998.


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Propagandas nos jornais sobre o autoempreendedorismo. Fonte: BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil. Arquitetura moderna, Lei do inquilinato e Difusão da casa própria. São Paulo, Estação Liberdade, 1998. p. 274.

Manchetes de jornal dos anos 40. Fonte: BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil. Arquitetura moderna, Lei do inquilinato e Difusão da casa própria. São Paulo, Estação Liberdade, 1998. p. 268.


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equipamentos e falta de apoio nas construções, tornando essas moradias muito precárias. Em São Paulo foram criadas condições favoráveis para proliferar as habitações de autoempreendimentos mesmo sendo arcaicas e precárias, diferentes de outros países europeus que melhoravam cada vez mais as regiões. Sobre esse assunto, Bonduki13 , fala: “Além de criar a ilusão do progresso econômico, contribuindo para a estabilidade da ordem macropolítica, a habitação passou a ser considerada fundamento da constituição moral da sociedade e do bom trabalhador, avesso a desejos e práticas desviantes. Portanto, se a casa própria e a difusão da propriedade garantiam a ordem política, no nível micropolítico a reprodução da moral burguesa e sua dócil aceitação pelo operário só seria possível através da moradia individual e da eliminação dos cortiços.”

Com isso, em 1942 surgem as primeiras favelas em São Paulo, como resultado da resistência dos inquilinos de deixarem a área central, agora ocupando terrenos baldios. A favela em São Paulo se deu de maneira diferente das outras cidades. Em resposta à crise da moradia, os trabalhadores construíram suas casas individualmente em lotes periféricos, compondo a paisagem da cidade expandida. Com a crise financeira que tinha sido gerada, os trabalhadores se instalaram em maior quantidade nos bairros da periferia e alguns autoempreendimentos passaram por subdivisões de lotes, onde o dono construía novas casas que poderiam ser para aluguel ou barracos para familiares, gerado pela grande quantidade de despejos. Ainda citando Bonduki14 : “O surgimento das favelas deu visibilidade à crise de habitação e chocou a elite paulistana, orgulhosa do progresso de sua cidade, renovada com 13. BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil. Arquitetura moderna, Lei do inquilinato e Difusão da casa própria. São Paulo, Estação Liberdade, 1998. p. 84. 14. BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil. Arquitetura moderna, Lei do inquilinato e Difusão da casa própria. São Paulo, Estação Liberdade, 1998. p.262.


“Predominou uma urbanização extensiva e precária, resultante da conjugação negativa de três procedimentos de gestão pública: a convivência com a abertura de loteamentos irregulares, a construção de imensos conjuntos habitacionais desconectados da estrutura urbana e a falta de política de desenvolvimento urbano que estimulasse 15. MEYER, Regina Maria Prosperi; GROSTEIN, Marta Dora; BIDERMAN, Ciro. São Paulo Metrópole. São Paulo, Edusp, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004. p.42.

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Em 1947, essa população instalada na periferia começou a reclamar do esquecimento dos órgãos públicos perante a região, que ainda não tinham água, esgoto e luz. Aproveitando- se das reclamações, os comunistas instalaram comitês chamados de CDPs (Comitês democráticos e progressistas) procurando unir a periferia para reivindicar os seus direitos, em prol de melhorias urbanas e organização popular. Em 1953, Janio Quadros, eleito prefeito da capital de São Paulo principalmente pelo povo da periferia, organizou o Plano de Emergência, visando pressionar os serviços públicos para estenderem luz, gás e telefone para toda a região que estava em déficit. E em 1962, viria a nova oficialização em massa de ruas clandestinas. Essas condições fizeram com que o sonho da casa própria começasse a ser cada dia mais desejado por toda a população paulista. Foi criada a Fundação Casa Popular, o primeiro órgão federal brasileiro na área de moradia, com a finalidade de oferecer habitação ao povo. Propunha-se financiar não apenas casas, mas infraestrutura urbana, produção de materiais de construção, estudos, pesquisas, mas em 1964 a Fundação foi extinta. Para resolver os problemas de moradia foram implantados programas como os dos IAPs e BNHs que acabaram sendo deixados de lado com o tempo. Segundo Meyer, Grostein e Biderman15:

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avenidas modernas e arranha-céus. Era uma metrópole de contrastes, mas escondia bem sua pobreza, nos porões dos cortiços pouco visíveis e numa periferia ainda inacessível e ocupada de modo esparso.”


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concomitantemente a instalação de atividades geradoras de empregos e renda.”

Ainda segundo Meyer, Grostein e Biderman16 , em 20 anos, desde 1971, houve uma destruição de 31% das áreas recobertas por matas, ocupação de fundos de vale com avenidas e favelas, destruição de morros e avanço sobre encostas íngremes e áreas de proteção aos mananciais de abastecimento público durante o processo de urbanização da cidade, e podemos afirmar que grande parte desse processo se deu pela multiplicação de loteamentos populares. Ao longo dos anos, houve uma expressiva redução no ritmo de crescimento populacional metropolitano, mas isso não significou que a população mais pobre da cidade teve uma melhora na sua qualidade de vida e nas necessidades habitacionais, pelo contrário, houve um agravamento da inserção urbana dessa população, com a multiplicação de loteamentos em áreas impróprias, o crescimento expressivo das favelas e nos chamados municípios dormitórios. Como levantado por Meyer, Grostein e Biderman, a partir da década de 70 surge na cidade uma política de construção de grandes conjuntos de habitação social nas periferias metropolitanas. O poder público construiu na região metropolitana de São Paulo aproximadamente 210 mil unidades habitacionais em conjuntos de habitações de interesse sociais, divididos entre a Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo (COHAB-SP) e a Companhia de Desenvolvimento Habitacional do Estado (CDHU). Algo que pode ser percebido é que esses conjuntos habitacionais, na sua maioria, estão concentrados em municípios-dormitórios de Caparapicuíba, Itapevi, Jandira e Franco da Rocha e nos distritos do extremo leste de São Paulo. Apesar dos investimentos nessas áreas, a precariedade ainda persiste. Um dado um tanto quanto assustador é que na década de 80, muitas das COHAB construídas não atendiam às normas de infraestrutura e entre os anos de 1993 e 2001, foram regularizadas mais de 100 mil unidades. 16. MEYER, Regina Maria Prosperi; GROSTEIN, Marta Dora; BIDERMAN, Ciro. São Paulo Metrópole. São Paulo, Edusp, Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2004.


17. PREFEITURA DE SÃO PAULO, Secretaria Municipal de Habitação. Disponível em: <http://www. prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/programas/index.php?p=3378> . Acesso em: 22/10/2014.

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A partir da década de 1990, começa uma especulação imobiliária para essa população de média e média baixa renda, com financiamento feito pelas próprias construtoras ou na forma de cooperativas habitacionais (grupos que se associam sem a presença de incorporadoras). O problema foi que essas novas tipologias em pontos precisos do território periférico não auxiliaram em nada as condições de vida dos bairros populares e acabaram enviando essa população cada vez mais para áreas mais distantes ainda e impróprias. Durante as décadas de 80 e 90 começaram a surgir novas formas de abordar o problema da habitação em São Paulo, como a urbanização das favelas, regularização de loteamentos irregulares e relocação de pessoas em áreas de risco. O único problema é que, seguindo essa linha de urbanização de favelas, em 1990 surgiu um programa de remoção de favelas e substituição por conjuntos habitacionais verticais. Porém, a implantação dessas habitações ocorreu em locais inapropriados, na margem de avenidas expressas, em locais de grande circulação de veículos e grande parte desses conjuntos encontra-se em situação irregular devido a problemas fundiários, o que dificulta a comercialização efetiva com os moradores. Esse tipo de dados nos leva a perceber que existe uma grande diferença mesmo entre países desenvolvidos e países de 3° mundo, como o Brasil. Se formos buscar em pesquisas e levantamentos, encontraremos que há uma busca por melhoria de vida em todas as grandes metrópoles, pois no seu processo de desenvolvimento sempre acaba existindo a formação de periferias, mas a diferença é a solução oferecida a esses habitantes que distingue cada país. Durante o mandato da prefeita Luíza Erundina (1989 – 1992), surge o Programa de Mutirões com Autogestão, como explica o site da Prefeitura de São Paulo17:


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“Esse tipo de construção, onde são os próprios “mutirantes” que constroem a casa, tem como objetivo o baixo custo. A possibilidade dos futuros moradores administrarem o empreendimento é o diferencial do sistema de autogestão. O Programa de Mutirões, gerido pela COHAB, foi implementado pela Prefeitura de São Paulo emparceria com 108 Associações Comunitárias e 24 entidades de assessoria técnica, beneficiando cerca de 60 mil pessoas. Os recursos destinados aos mutirões vêm do Fundo Municipal de Habitação (FMH) e Ministério das Cidades e são destinados às Associações e Cooperativas Habitacionais, que administram a verba e a obra.”

Na teoria a ideia é boa, mas acabou recebendo muitas críticas pela baixa produção e pelo fato das associações não precisarem fazer prestação de contas à Prefeitura. Em 2005, o prefeito de São Paulo José Serra sancionou uma Lei que obriga os imóveis construídos pela Secretaria Municipal de Habitação em sistema de mutirão a terem o registro no nome da mulher dona da casa, o que traz mais segurança para famílias beneficiadas pelo programa. Segundo Coradin18, durante os anos 1993-2000 (mandatos dos prefeitos Paulo Maluf e Celso Pitta) houve um declínio na produção habitacional em São Paulo, quando tivemos uma fase marcada pela implantação e repetição do modelo Cingapura. Infelizmente, a mentalidade do modelo da casa isolada no lote, dos conjuntos habitacionais implantados em lugares distantes e das baixas densidades nas cidades brasileiras se manteve, mas, em 2001, foi aprovado o estatuto da cidade, que passou a obrigar a existência de planos diretores para cidades com mais de 20 mil habitantes e criação das ZEIS (Zonas de interesse social). Com o surgimento das ZEIS, surge a real possibilidade de qualificação dos territórios de habitação social, fugindo um pouco das especulações imobiliárias, já que elas destinam parcelas do solo da cidade para habitações de interesse social. 18. CORADIN, Renata Fragoso. Habitar social: a produção contemporânea na cidade de São Paulo. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2014.


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A cidade de Boituva ganhou 178 apartamentos populares, 2014. Fonte: Disponível em: < http:// www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/lenoticia2.php?id=238342>. Acesso em: 12/11/2014.

Conjunto Habitacional José de Anchieta (COHAB I) – São Paulo, 2011. Fonte: Disponível em: < http:// w w w. p a n o r a m i o . c o m / p h o to/51275020>. Acesso em: 12/11/2014.


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São porções do solo destinados à recuperação da cidade, à regularização fundiária e produção de habitação de interesse social (até 6 salários mínimos e máximo 50m² ) e Habitação do mercado popular (até 15 salários mínimos e máximo 70m²). Em São Paulo, durante o mandato da prefeita Marta Suplicy (2001-2004) surge o programa Morar no Centro e segundo Cotelo 19, um livreto foi lançado em 2004 que dizia: “O Programa Morar no Centro é um “conjunto integrado de intervenções municipais”; coordenadas pela Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB) com os seguintes objetivos: • melhorar as condições de vida dos moradores do Centro; • viabilizar moradia adequada para pessoas que moram ou trabalham na região; • evitar o processo de expulsão da população mais pobre, que muitas vezes ocorre em políticas de reabilitação de centros urbanos. Suas principais diretrizes eram: • priorizar a reforma de prédios vazios; • combinar soluções habitacionais com iniciativas de geração de rendas; • buscar a diversidade social nos bairros centrais.”

Dentro desse programa surgem dois instrumentos para colocar em prática as diretrizes apresentadas. O primeiro deles foi o Programa de arrendamento residencial, que com um financiamento da Caixa Econômica Federal era permitido financiar a reforma e reabilitação de edifícios do centro. O outro instrumento que surgiu foi o Programa Locação Social, voltado para aqueles que não podiam arcar com um financiamento para venda e compra, como um tipo de “aluguel social”. Com o Programa Morar no Centro, a SEHAB e a COHAB, em conjunto com 19. COTELO, Fernando Cardoso. Revitalização do centro histórico de São Paulo e habitação popular: microeconomia e microgeografia. Tese de Doutorado. São Paulo, Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, 2008. p.25.


“ O Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), plano habitacional anunciado com o objetivo de promover a construção de 1 milhão de 20. PREFEITURA DE SÃO PAULO, Secretaria Municipal de Habitação. Resultados do concurso Renova SP. Disponível em: <http://renovasp.habisp.inf.br/concurso/publico/resultado/visualizar>. Acesso em: 22/10/2014. 21. FERREIRA, João Sette Whitaker. Produzir casas ou construir cidades? Desafios para um novo Brasil urbano. Parâmetros de qualidade para a implementação de projetos habitacionais e urbanos. São Paulo, LABHAB, FUPAM, 2012. p.27.

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o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), criam o concurso HABITA SAMPA, com o intuito de criar dois projetos de habitação social, um na Rua Assembleia e outro na Rua Cônego Vicente Marino. Os escritórios premiados na Rua Assembleia foram: Andrade Morettin arquitetos associados, em 1° lugar; UNA arquitetos, em 2° lugar e a equipe do arquiteto Ricardo Bellio, em 3° lugar. Já na Rua Cônego Vicente Marino os primeiros colocados foram: Frentes, em 1° lugar; UNA Arquitetos, em 2° lugar e Vigliecca Associados, em 3° lugar. Outro concurso importante nesse mesmo âmbito foi o Renova SP (2011), que contemplou aproximadamente 130 mil moradias, mas entre os 22 perímetros envolvidos no concurso, apenas 17 foram premiados e contratados20. Esse concurso se tratava de uma requalificação de favelas e loteamentos irregulares no município de São Paulo. Um ponto positivo a ser levantado sobre esse concurso é que, mesmo com a mudança de mandato de Prefeito (Haddad assume em 2013), os projetos seguem em andamento. Sobre os programas de habitação que aparecem no plano federal, em 2009 surge o Programa Minha Casa Minha Vida, junto com a explosão imobiliária e o foco do mercado imobiliário nas classes médias, com renda mensal de 6 a 15 salários mínimos. O programa na época prometia construir um milhão de moradias. Podemos observar as considerações de Ferreira21, sobre esse programa:


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Plano proposto vencedor para o Renova SP (UNA arquitetos) para a região do Oratório, mesma área de inserção do projeto proposto no presente trabalho, em São Paulo. Fonte: Disponível em: <http://renovasp.hab i s p . i n f. b r / c o n c u r s o / publico/arquivo/download/74223964-63f3-4066ac31-0c57db976669/207590_ detalhe1..jpg>. Acesso em: 23/10/2014.

Projeto de HIS vencedor para o Renova SP (UNA arquitetos) para a região do Oratório, mesma área de inserção do projeto proposto no presente trabalho, em São Paulo. Fonte: Disponível em: <http://renovasp.habisp. i n f. b r / c o n c u r s o / p u b l i c o / arquivo/download/ce23abd51 3 fe - 4 d 3 0 - 8 4 e 3 - d a c 2 c 8 e c164f/207590_detalhe3..jpg>. Acesso em: 23/10/2014.


Um arquiteto que é conhecido pelos projetos inovadores de habitação de interesse social e de reurbanização de favelas é Héctor Vigliecca. O projeto se insere na paisagem urbana, valorizando seus recursos22. Entre os principais projetos de Vigliecca nessa área estão o Parque Novo Santo Amaro V (2012), em uma região de mananciais em São Paulo, e o Residencial Sílvio Baccarelli (2013), em Heliópolis. Seus projetos se diferenciam por levantar questões e soluções específicas para cada tema, evitando modelos pré-concebidos, e pelo modo peculiar com que lida com o território, respeitando e reconhecendo as características do ambiente e a experiência humana pré-existente. O projeto Parque Novo Santo Amaro V é um exemplo. Mais do que criar moradias para famílias que viviam de forma precária, o projeto trouxe melhoria urbana para a comunidade de baixa renda, situada em uma região de mananciais na zona sul de São Paulo23. Como se pode perceber, houve um grande avanço na questão da moradia no Brasil e, mais especificamente, em São Paulo, mas ainda assim, milhares 22. ARCHDAILY - Palestra de Héctor Vigliecca sobre habitação de interesse social no 3° CHIS 2014. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/601297/palestra-de-hector-vigliecca-sobre-habitacao-de-interesse-social-no-3-graus-chis-2014>. Acesso em:14/11/2014. 23. VIGLIECCA & ASSOCIADOS- Pq. Novo Santo Amaro V . Disponível em: <http://www.vigliecca.com. br/pt-BR/projects/novo-santo-amaro-v>. Acesso em: 14/11/2014.

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casas, veio corroborar o novo cenário do mercado imobiliário brasileiro. O programa contempla, por um lado, o atendimento às camadas de renda abaixo de três salários mínimos, com volume inédito de subsídios públicos para essa faixa e, por outro lado, a construção, pelo mercado, de moradias para as faixas de renda acima de três salários mínimos, com mecanismos de facilitação da viabilidade financeira, que envolvem também alguns subsídios públicos. Ainda que não seja a única forma de produção habitacional para as classes de renda intermediária, o programa acabou englobando, na conjuntura atual, a quase totalidade da produção do chamado “segmento econômico”.”


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Foto aérea do projetoParque Novo Santo Amaro de Vigliecca & Associados. Fonte: Disponível em: <http:// img2.adsttc.com/media/images/53ac/22b0/c07a/8064/4f00/0002/ l a r g e _ j p g / 1 6 3 0 6 _ 1 2 1 0 1 8 _ 3 4 3 D. jpg?1403789993>. Acesso em: 14/11/2014.

Croqui que mostra como o projeto se insere no terreno. Fonte: Disponível em: <http://img2.adsttc.com/media/images/53ac/25e5/ c07a/8064/4f00/0008/large_jpg /16-CROQUIS_CORTE_PASSARELA. jpg?1403790816>. Acesso em: 14/11/2014.


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de pessoas ainda vivem em assentamentos precários, pois a demanda é muito alta. Existem nos dias atuais dois padrões de ocupação em São Paulo, sendo o primeiro um padrão de urbanização bastante moderno, com programas funcionais; já o segundo é precário, que em sua maioria permaneceu no território produzido ao longo de um ciclo industrial.


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42 Habitações na beira do corrégo na Favela Pedra Branca em São Paulo. Fonte: Foto da autora


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Como já foi dito anteriormente, São Paulo teve um crescimento bastante elitista, provocando grandes disparidades sociais e econômicas, o que causou um crescimento periférico e a precariedade nas habitações. As habitações precárias da cidade são consequências diretas de fatores econômicos como a política de especulação imobiliária, a industrialização e as ações políticas e sociais. A legislação de uso e ocupação do solo também influenciou na precariedade, pois a legislação previa baixa densidade até os anos 80, criando uma expansão horizontal na cidade. Todos esses fatores fizeram com que a população mais pobre ocupasse áreas de maior risco, como encostas, áreas de mananciais, entre outros. De um modo geral, a sociedade brasileira sempre teve dificuldade de aceitação com as chamadas ocupações “informais”, principalmente por serem considerados bolsões de pobreza, insalubridade e perigo. Assentamentos precários são os territórios ocupados de maneira não convencional, que não obedecem às regras colocadas pela legislação. Existe uma ausência de infraestrutura e a implantação das habitações está em lugares sujeitos a desabamentos, inundações, sob viadutos, em geral em lugares que a urbanização não é recomendada. De todas as formas precárias de habitação, três serão as mais discutidas neste trabalho, pois são elas que geram o maior número de desabrigados devido a deslizamentos de terras, incêndios, alagamentos e outros. As três formas precárias de habitação a serem discutidas referem-se às favelas, os loteamentos irregulares ou clandestinos e os cortiços.

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2.3.2. A precariedade nas habitações em São Paulo


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44 Cortiรงo localizado na Bela Vista em Sรฃo Paulo Fonte: Foto da autora


24. ANDERS, Gustavo Caminati. Abrigos temporários de caráter emergencial. Dissertação de Mestrado, São Paulo, Universidade de São Paulo, 2007.

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Esse tipo de habitação surgiu com a industrialização da cidade de São Paulo, e isso ocorreu pelo grande fluxo de imigrantes que consistiam mão de obra barata. Os primeiros cortiços da cidade surgiram nos bairros centrais, como Sé, Bela Vista, Santa Ifigênia e bairros operários como Brás e Moóca. Grande parte desses cortiços se originou da subdivisão de grandes casarões antigos. Em 1991, a Lei Moura é criada para adequar os cortiços para melhores condições de moradia e garante o direito ao morador. A lei obriga o proprietário a fazer as mudanças necessárias para conquistar o mínimo de habitabilidade (iluminação, salubridade, ventilação, entre outros). Caso o proprietário não possa fazer todas as adaptações previstas pela lei, ele pode fazer um acordo com a prefeitura para obter mais prazo, porém se não cumprir, será multado. Só foi vigorada em 2001. A gestão municipal de 2000-2004 concede uma atenção especial ao problema da moradia na área central de São Paulo. E nos anos 2000 surgem propostas para requalificação do centro: Programa “Morar no Centro”, coordenado pela SEHAB. Esse programa visava atender a demanda por habitação social com programa de intervenção em cortiços, prevendo melhorias em sua habitabilidade, com financiamento público, incluindo fiscalização de obras, capacitação e envolvimento dos moradores. De acordo com Anders 24 , existem cinco tipos de cortiços: 1. Cortiço de Quintal - Ocupa o centro do quarteirão com acesso através de um pequeno corredor. 2. Cortiço Casinha - Construção independente com frente para a rua também chamada de pensão. 3. Casa de Cômodo - Sobrado com várias subdivisões internas. 4. Cortiço Improvisado - Com ocupação precária de fundos de depósitos, fundo de bares, armazéns, cochileiras e estábulos, sempre no centro do quarteirão.

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Os cortiços


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5. Hotel Cortiço - Tem uso de restaurante durante o dia e à noite, as pessoas sublocam para dormir. Na Capital hoje existem 23.688 imóveis “encortiçados”, onde vivem 160.841 famílias e na Subprefeitura da Sé são 1.288 cortiços onde vivem 15.102 famílias25.

25. PREFEITURA DE SÃO PAULO. Programas da Secretaria Municipal de Habitação. Disponível em: <http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/programas/index.php?p=3380>. Acesso em: 14/07/2014.


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48 Favela na Zona Norte de S達o Paulo- Comunidade Futuro Melhor Fonte: Foto da autora.


“Aproximadamente um milhão de pessoas habitam as favelas da cidade (São Paulo), de acordo com pesquisa do Centro de Estudos da Metrópole a velocidade de adensamento anual das favelas é cinco vezes a velocidade média do crescimento anual da população paulista.”

O problema é que as cidades não são capazes de absorver todo esse número de pessoas e proporcionar habitação adequada a todos. E assim grande parcela dessa população acaba tentando resolver esse problema com as próprias mãos e construir sua própria habitação, com a utilização de materiais nada convencionais e a apropriação de terrenos desprezados pela sociedade e pelo poder público. O termo “favela” vem se modificando ao longo dos anos e a partir dos anos 1980 observou-se a crescente substituição dos barracos de madeira por unidades de 26. TOPALOV, Christian; BRESCIANI, Stella; COUDROY DE LILLE, Laurent; RIVIèRE D’ARC, Hélène (Orgs.). A aventura das palavras da cidade. Através dos tempos, das línguas e das sociedades. São Paulo, Romano Guerra, 2014. 27. SAULE, Nelson; CARDOSO, Patrícia de Menezes. O Direito à Moradia no Brasil, Violações, práticas positivas e recomendações ao governo brasileiro - Relatório da Missão Conjunta da Relatoria Nacional e da ONU (29 de maio a 12 de junho de 2004). São Paulo, Instituto Pólis, 2005. p. 30.

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O termo favela surgiu durante a Guerra de Canudos, pois a cidade de Canudos foi construída junto a alguns morros e um deles se chamava morro da favela. Quando os soldados voltaram para o Rio de Janeiro, eles tiveram que ir morar juntamente com a outra parte “excluída” da população, os escravos26. E como essas habitações eram em morros, com o tempo passaram a se chamar favela como referência à original. As primeiras favelas de São Paulo aparecem na década de 1940, nos arredores da Moóca, Lapa, Ibirapuera, Barra Funda e Vila Prudente. As favelas estão ligadas à urbanização das cidades e nas últimas décadas sua intensificação, devido ao êxodo rural para o meio urbano, se tornou um dos maiores problemas atuais. De acordo com Saule e Cardoso27 :

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As favelas


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alvenaria aparente e com laje cobrindo. Atualmente, com a especulação imobiliária e a verticalização da cidade, as favelas também vêm se verticalizando e isso piora as condições de vida dessa população que vive cada dia em espaços mais reduzidos e com iluminação e ventilação insuficientes. Segundo dados do IBGE(2002)28 , no Estado de São Paulo existem 4026 favelas, contabilizando um total de 805.228 domicílios. Houve um crescimento que correspondeu a um aumento de 24% na área total das favelas (de 24,7km² para 30,6km²), houve também um aumento na densidade média de ocupação, que subiu de 360 para 380 hab./ha.

Tabela de Evolução da população nas favelas de São Paulo, 1973-200029 28. Perfil dos Municípios Brasileiros: pesquisa de informações básicas municipais - gestão Pública 2001. Rio de Janeiro, IBGE, 2002. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2001/munic2001.pdf>. Acesso em: 31/05/2014. 29. ANDERS, Gustavo Caminati. Abrigos temporários de caráter emergencial. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2007. p. 29


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A partir dessa tabela podemos perceber que nos dias atuais a porcentagem dessa população nas favelas já passa dos 10% em comparação aos dados de quase 30 anos atrás.


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52 Grajaú SP – Parque Cantinho do Céu – Aos arredores da Represa Billings Fonte: Revista Monolito, n° 7. Fonte: Disponível em: <http://arquiteturascontemporaneas.wordpress. com/2013/03/19/revista-monolito-2/> . Acesso em: 08/06/2014.


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Essa é outra forma de habitação bem comum na periferia de São Paulo, e caracteriza-se porque todas as obras de infraestrutura exigidas pelo poder público ainda não foram concluídas e pelo parcelamento indevido de terras. Entre as décadas de 1940 e 1960, pode-se generalizar e dizer que essa foi uma prática sem conflitos ou embates sociais. Essa “solução” habitacional foi até conveniente a todos os interessados, pois essa prática proporcionou moradias de baixa renda com baixos investimentos iniciais e, por muito tempo, essas áreas também não foram objeto de disputas por parte do mercado imobiliário ou de diferentes grupos sociais. Grande parte desses assentamentos é feita em encostas, terrenos muito íngremes, ou perto de rios e córregos, ficando sujeitos a inundações e deslizamento de terras. As habitações localizadas nesses locais são bem parecidas com favelas, são habitações precárias, com água e luz clandestinas e sem rede de esgoto. Mesmo com todos os riscos que essa população esta sujeita com essa ocupação indevida, ela permanece no local com esperança de que o poder público regularize essas áreas e instale infraestrutura adequada. Um exemplo que pode ser citado é a ocupação no entorno da represa Billings, que compromete até o abastecimento público.

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Os loteamentos irregulares


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2.3.3. Os dados dos desastres “ Os efeitos estão sendo sentidos cada vez com mais intensidade - com enchentes, poluição, ausência de áreas verdes,desbarrancamentos etc.., mas suas origens estão ligadas ao intenso processo de urbanização que teve início em meados do séculos, caracterizado pela falta de respostas às necessidades de habitação da população de baixa renda, levando -as à ocupação desenfreada de áreas que deveriam ser preservadas”30

As enchentes, que periodicamente ocorrem em São Paulo, deveriam levar a sociedade a indagações sobre o modelo de ocupação urbana que houve na cidade. São Paulo começou a se transformar em grande metrópole no fim do século XIX quando conseguiu se expandir e ocupar a bacia hidrográfica do alto Tietê. O rápido crescimento da cidade foi bem elitista causando grandes diferenças sociais e econômicas na população e acabou desenvolvendo um crescimento periférico com habitações bem precárias. Essa população acabou se assentando principalmente em áreas de preservação ambiental, como as áreas de mananciais e nas regiões mais montanhosas. Com tudo isso, o fornecimento de água, luz, esgoto e outros não foram capazes de acompanhar o crescimento da cidade. As inundações seguidas de deslocamento de terra foram os eventos que mais apresentaram ocorrência no Estado de São Paulo em 20 anos de análises (19912010), segundo dados de Jungles31 .

30. BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil.Arquitetura moderna,Lei do inquilinato e Difusão da casa própria. São Paulo: Estação Liberdade, 1998. p. 320. 31. JUNGLES, Antônio Edésio. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume São Paulo. Florianópolis, CEPED/UFSC, 2011.


Gráfico de frequência mensal de inundação. Fonte: JUNGLES, Antônio Edésio. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume São Paulo. Florianópolis, CEPED/UFSC, 2011.

Gráfico de Danos humanos por inundação entre 1991-2010. Fonte: JUNGLES, Antônio Edésio. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume São Paulo. Florianópolis, CEPED/UFSC, 2011

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Gráfico de médias pluviométricas em 2010. Fonte: ANA/SGH, 2010. Adaptado por JUNGLES, Antônio Edésio. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume Brasil. Florianópolis, CEPED/UFSC, 2012.


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O ano de 2010, segundo o estudo, foi o que apresentou o maior índice de ocorrências de inundações, sendo 106 registros. Como o período mais chuvoso é o verão, pode-se perceber que as maiores quantidades de ocorrência acabam sendo registradas nessa época. Com todas essas ocorrências, um enorme número de pessoas foi afetado, cerca de 375mil. Normalmente, essas inundações já vêm seguidas de deslizamentos de terras. Com isso, a Prefeitura de São Paulo criou um quadro de graus de riscos para áreas propícias a deslizamentos de terras.

Tabela de graus de risco Fonte: HABISP


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57 Gráficos sobre as áreas de risco na cidade de São Paulo. Fonte: HABISP


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Em 2010, a Prefeitura de São Paulo fez um mapeamento das áreas de risco da cidade, sendo que 407 áreas foram mapeadas em 26 subprefeituras, 1179 setores foram avaliados e 607 foram denominados de risco alto ou muito alto. Com toda a certeza, essas ocorrências em São Paulo são causadas pela urbanização desordenada da cidade, das canalizações e retificações dos rios de São Paulo e da baixa capacidade de escoamento das águas no Estado. Todos esses aspectos devem ser levados em conta para entender tamanhos desastres que ocorrem todos os anos na cidade. Ao analisar todos esses dados, podemos identificar também que, mesmo com as novas políticas e programas de habitação, aumentou o número de construções para a população de baixa renda, mas comparando com os dados apresentados neste item pode-se perceber que ainda existem muitas pessoas morando em habitações “irregulares”, e pior do que chamá-las de irregulares é verificar que elas também são habitações de alto risco à essa população, pois elas estão localizadas em encostas, margens de rios e com alto risco de desmoronamento e deslizamentos de terra. De acordo com os dados, cerca 115 mil pessoas estão em áreas de alto risco, o que quer dizer que a cada ano que passa centenas de pessoas perdem suas casas devido a algum tipo de “desastre”. Esses dados e os estudos levantados nesse capítulo nos mostram como as situações de risco e de tragédias são provocadas pelo homem, que ocupam áreas e locais que não deveriam. Essa ocupação de áreas irregulares está totalmente ligada ao desenvolvimento caótico de nossas cidades, com enfoque à cidade de São Paulo, e como o poder público foi omisso em relação à isso, sem construir moradias dignas para as populações de baixa renda. A partir destas análises e dados, podemos prever que é necessário começar a ser pensadas com mais rigor políticas de habitações de caráter social na cidade (pois por mais que elas tenham crescido muito, ainda não atendem a toda demanda que a cidade necessita), urbanização de áreas críticas, além de estudar também novas formas de infraestrutura e como tratamos nossos rios e o escoamento de suas águas. Essas medidas aqui propostas podem ser consideradas medidas de médio a


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longo prazo, pois são construções e intervenções que não conseguem serem feitas nem implantadas do dia para a noite, mas é um ponto de extrema importância para que esses tipos de desastres sejam reduzidos ao máximo. Tais medidas necessitam de discussão e planejamento imediatos por parte do poder público. Enquanto esses pontos não são desenvolvidos, outras soluções precisam ser pensadas para conseguir ajudar essa população quando essas situações de risco chegam ao extremo de fazer com que casas, bairros e até comunidades inteiras sejam devastadas. Essas seriam medidas a curto prazo, medidas emergenciais, enquanto perdurarem tais problemas. Em função disso, pensando em medidas a curto prazo e emergenciais, os objetivos deste trabalho se referem a discutir e propor um projeto de habitações temporárias utilizando acampamentos para desabrigados nessas situações de desastres. Em ultima instância, tais objetivos colaborariam para se pensar em uma forma digna de ajudar essa população tão afetada por falta de olhar do poder público, de medidas de infraestrutura e desenvolvimento de habitações.


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2.4. A resposta aos desastres A consciência da necessidade de gestão do risco de catástrofe ganhou força com as Resoluções da Assembleia Geral da ONU 43/202, de 20 de Dezembro de 1988, e Resolução 44/236, de 22 de Dezembro de 1989, que decretaram a década de 1990 como Década Internacional para a redução das catástrofes naturais. Em situações de catástrofe, a capacidade de intervenção e resposta das Organizações Humanitárias tem-se traduzido no desenvolvimento de abrigos temporários (pensados com um caráter universal, podendo se encaixar em qualquer local). Existe um programa do governo federal chamado Gestão de riscos e resposta a desastres naturais. O programa amplia o conhecimento público sobre as áreas de risco nos municípios mais críticos, faz um mapeamento das áreas de risco ligadas aos fenômenos de deslizamentos, inundações e enxurradas, do mapeamento de riscos nas áreas ocupadas, da definição de diretrizes para a ocupação urbana segura, tanto na escala de planejamento urbano, quanto na escala dos projetos de parcelamento do solo e do monitoramento da ocupação urbana, permitindo avançar num processo de controle e fiscalização urbanos que reduza o avanço da ocupação sobre áreas de maior fragilidade natural. No Brasil observa-se que a estrutura da Defesa Civil, institucionalizada pelo Sistema Nacional de Defesa Civil (SINDEC), encontra-se bem definida e representada, já que se integram ao SINDEC os diversos entes federados e as representações da sociedade atuantes nesse tema. Considerando que o desastre ocorre no município, a instituição local deve estar bem estruturada, articulada com os demais órgãos integrantes do SINDEC, e servir de referência para a tomada de decisão sobre ações preventivas e de resposta (socorro e assistência às vítimas, restabelecimento do cenário afetado e reconstrução de áreas atingidas). O problema é que menos de 10% dos municípios brasileiros têm órgãos de defesa civil implementados e estruturados. Outro ponto importante é o dos investimentos em intervenções estruturais de caráter preventivo, envolvendo a implantação de sistemas de drenagem urbana


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e de medidas que promovam adequadamente o manejo das águas pluviais, a implantação de parques, bosques e áreas de lazer em áreas de grande suscetibilidade a inundações rápidas e enxurradas, e a execução de obras de estabilização e contenção de encostas,além da execução de intervenções emergenciais voltadas para proteger a infraestrutura e setores críticos sob risco de colapso iminente. As intervenções estruturais contemplam também a remoção criteriosa de moradias em áreas de risco, associada ao reassentamento em áreas próximas, de forma a permitir a manutenção das condições de emprego e renda e do acesso aos equipamentos públicos. Uma medida tomada aparentemente adequada é a adoção dos piscinões, mas que acaba acarretando diversos problemas, pois eles precisam de limpeza periódica, senão eles acabam se enchendo de lixo e dejetos, entopem, e se tornam um forte foco de riscos sanitários e ambientais. Em São Paulo, foi criada a Lei das piscininhas, Lei n° 13.276, de 4 de janeiro de 2002, que torna obrigatória a execução de reservatórios para as águas coletadas por coberturas e pavimentos nos lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500 m². Batizada de “lei das piscininhas” remete ao sistema utilizado em algumas cidades da Europa. A obrigatoriedade vale para todas as construções novas e é exigência para obtenção do Certificado de Conclusão ou Auto de Regularização. Infelizmente, por omissão do poder público, essa lei não gerou os resultados que deveria pois não foi posta em prática devidamente. Um grande problema encontrado após o levantamento de todos esses dados é como e com que métodos resolver ou pelo menos, minimizar isso, que é tão recorrente em São Paulo numa escala a médio/longo prazo. Em estudos da defesa civil do Brasil foi encontrado que a melhor forma de se combater esse problema é atacá-lo em duas fases, ideia também adotada pelo presente estudo. Em primeiro lugar, é necessário o controle imediato da situação e redução do sofrimento das vítimas, com a evacuação dessa população e apoio através de abrigos, distribuição de alimentos, vestimentas etc..


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Em segundo lugar, devem ser tomadas medidas em longo prazo, referentes ao estudo daquela área de risco, a recuperação da área, estudos de infraestrutura, vazão das águas, escoamento das mesmas etc.. É mais do que claro que não é possível esperar que a primeira fase ocorra para partir para a segunda fase e com esse intuito a prefeitura já mapeou as áreas de risco, com o objetivo de começar a trabalhar nelas, antes dos desastres.

Fonte: Plano Nacional de Gestão de Riscos e Resposta a Desastres Naturais, Governo Federal. 2012-2014.

Existem muito projetos não governamentais que também buscam responder a esses problemas. Um deles é norte-americano, fundado pelo ator Brad Pitt, chamado Make it Right Foudation, criada para ajudar a restabelecer as populações pós o furacão Catrina e que se entendeu pelo resto dos EUA, construindo habitações


A intervenção comunitária do TETO é focada nos assentamentos precários mais excluídos, sendo seu principal motor a ação conjunta de seus moradores e jovens voluntários, os quais trabalham para gerar soluções concretas para o problema da pobreza. O TETO estimula um processo contínuo de fortalecimento da comunidade, considerando o desenvolvimento comunitário como o eixo transversal da intervenção. A ONG já está localizada em 19 países da América Latina: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. A ONG possui três fases de intervenção e ajuda nas comunidades. Na primeira fase começa com a entrada nos assentamentos e é feito um mapeamento das comunidades, além de identificadas e caracterizadas as condições de vulnerabilidade das mesmas. Em uma segunda fase, como resposta às necessidades identificadas na comunidade, são colocadas em prática algumas soluções nas áreas de habitação, educação, trabalho e outras que resolvam os problemas existentes. Nesta fase, destaca-­se a construção de casas de emergência, que responde 32. TETO – Techo. Piloti mestre. Disponível em : < http://www.techo.org/paises/brasil/wp-content/ uploads/2013/06/Documento-de-indu%C3%A7%C3%A3o_Mai2013.pdf>. Acesso em: 23/10/2014.

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“ Em 1997 um grupo de jovens começou a trabalhar pelo sonho de superar a situação de pobreza em que viviam milhões de pessoas. O sentido de urgência dos assentamentos mobilizou-os a construir casas de emergência de forma massiva em conjunto com as famílias que viviam em condições inaceitáveis; e a investir sua energia em busca de soluções concretas para os problemas que as comunidades enfrentavam todos os dias.“32

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sustentáveis que ajudam a fugir desse tipo de catástrofe. Um projeto muito forte presente na América Latina que teve seu início no Chile é a ONG TECHO (TETO - Um teto para meu país) que constrói casas de emergência para populações de baixa renda e em situações de risco.


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64 Voluntários da ONG TETO construindo uma casa de emergência na Favela Pedra Branca em São Paulo. Fonte: Foto da autora


33. TETO – Techo. Piloti mestre. Disponível em : < http://www.techo.org/paises/brasil/wp-content/ uploads/2013/06/Documento-de-indu%C3%A7%C3%A3o_Mai2013.pdf>. Acesso em: 23/10/2014.

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a uma necessidade prioritária e urgente na maioria dos assentamentos precários e que gera vínculos de confiança entre os voluntários e a comunidade, por ser uma solução concreta, tangível e realizável em curto prazo. A casa de emergência do TETO é um módulo pré-fabricado de 18 metros quadrados, que se constrói em dois dias, com a participação massiva de jovens voluntários e famílias da comunidade. Na terceira e última fase existe a implementação de soluções definitivas nos assentamentos precários, como a regularização da propriedade, a instalação (ou regularização) serviços básicos, moradia definitiva, infraestrutura comunitária e desenvolvimento local. No Chile essa fase já foi implantada em conjunto com o poder público. Em novembro de 2006, TETO–Brasil iniciou suas atividades no maior país da América Latina. Em seis anos de trabalho, a organização mobilizou voluntários e recursos para a construção de 1426 moradias de emergência para famílias de baixa renda de favelas brasileiras. As construções foram realizadas em 15 municípios do Estado de São Paulo, entre eles Guarulhos, Osasco, São Paulo, Suzano, Santo André e Carapicuíba. O trabalho foi realizado por mais de 18.000 voluntários recrutados nas maiores universidades de São Paulo e do país33. Seguindo o pensamento dessa ONG, podemos também citar como uma resposta a esses chamados desastres, os programa de urbanização de favelas (como o já citado RENOVA SP), promovendo a regularização de ocupação de áreas de favelas com foco de inseri-las no tecido urbano, sendo necessário levar infraestrutura para esses locais.



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3.1. O que é arquitetura efêmera? A cidade em movimento

Arquitetura efêmera é uma construção que tem um tempo de existência em um lugar especifico. Segundo o professor Cianciardi*, apud Rêgo34,

“O critério definidor da arquitetura efêmera não é a durabilidade potencial do objeto arquitetônico, mas sim o tempo que este se desfaz de um dado lugar (...)”

A arquitetura efêmera segue quatro conceitos básicos: -É uma arquitetura de montagem rápida, se comparada à arquitetura convencional, mas que com as novas técnicas e tecnologias pode ter o mesmo conforto e aplicação. -Existe um tempo determinado no espaço para ela existir, logo a obra acaba assim que perde seu significado, mas não deixa para trás construções ocas e vazias. -A obra existe independente da paisagem onde está inserida. -Pode ser efêmera portátil, capaz de ser carregada para onde quiser ou pode ser efêmera e não portátil. Em 1851, o projeto do Palácio de Cristal de Paxton foi uma construção inédita de um edifício em larga escala com a projeção de uma rápida montagem e que poderia ser desmontado e remontado em outros locais, é a arquitetura pensando em um edifício que se desloca35. Durante os séculos XIX e XX, diversas edificações de grandes exposições possuíam um prazo de existência, eram projetadas e construídas com prazo para serem demolidas. Dois exemplos para esse tipo de arquitetura são o pavilhão brasileiro na

34. * CIANCIARDI, Glaucus. Material didático da aula “Arquitetura efêmera”, do Curso de Pós-Graduação em Master em arquitetura do Instituto de Pós-Graduação (IPOG). Recife, 20 de janeiro 2012. 35. BOGÉA, Marta. Cidade errante, arquitetura em movimento. São Paulo, SENAC, 2009.


“ As habitações guaranis, pela sua constituição, após o abandono de seus moradores, se biodegradavam. O mesmo acontece ainda com os habitáculos em terra dos lapões noruegueses, ou dos inuit, em neve compactada. Nestas sociedades, os materiais usados pelo homem ainda pertencem aos ciclos naturais preexistentes. São retirados destes, beneficiados e 36. MEURS, Paul. O pavilhão brasileiro na Expo de Bruxelas, 1958. Arquiteto Sérgio Bernardes. Arquitextos, São Paulo, ano 01, n. 007.07, Vitruvius, dez. 2000 . Disponível em:<http://www.vitruvius. com.br/revistas/read/arquitextos/01.007/947>. Acesso em: 16/11/2014. 37. PERROTTA-BOSCH, Francesco. Prêmio APCA 2012 – Categoria “Revelação”. Premiada: Carla Juaçaba / Pavilhão Humanidade 2012. Drops, São Paulo, ano 13, n. 063.09, Vitruvius, mar. 2013 . Disponível em:<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/13.063/4621>.Acesso em: 16/11/2014. 38. PAZ, Daniel. Arquitetura efêmera ou transitória. Esboços de uma caracterização. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 102.06, Vitruvius, nov. 2008. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/ revistas/read/arquitextos/09.102/97>. Acesso em: 10/09/2014.

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Expo de Bruxelas, em 1958, do arquiteto Sérgio Bernardes36, e o projeto do Pavilhão da Humanidade no Rio de Janeiro em 2012, das arquitetas Carla Juaçaba + Bia Lessa construído para o Rio+20, com estrutura de andaimes37. Podemos lembrar com essa arquitetura o termo mobilidade e associado a ele os povos nômades, já que para eles a ocupação do território está ligada ao movimento permanente, ainda de acordo com Bogéa. Lembrando dos povos nômades, também pode-se citar os circos e os ciganos. Para esses, a arquitetura é efêmera no espaço, mas no tempo ela pode ser estável, já que sua ocupação no espaço tende a ser recorrente. Essa arquitetura possui diversas vertentes, desde iglus, campos de refugiados, até pavilhões. No que se refere aos iglus, podemos também perceber uma questão cultural de diversas tribos que utilizam esse tipo de arquitetura efêmera, pois constroem suas moradias de materiais que pertencem a ciclos naturais preexistentes. Paz38, afirma que:


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Pavilhão brasileiro na Expo de Bruxelas, em 1958, do arquiteto Sérgio Bernardes. Fonte: Disponível em:<http://www.archdaily.com.br/br/620490/classicos-da-arquitetura-pavilhao-de-bruxelas-1958-sergio-bernardes>. Acesso em: 16/11/2014

Pavilhão da Humanidade no Rio de Janeiro em 2012, das arquitetas Carla Juaçaba + Bia Lessa. Fonte: Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/01-166107/pavilhao-humanidade2012-carla-juacaba-mais-bia-lessa>. Acesso em: 16/11/2014


“Vivemos num tempo de mudança. Em muitos casos, a sucessão alucinante de eventos não deixa falar de mudanças apenas, mas de vertigem. Hoje a mobilidade se tornou praticamente uma regra. O movimento se sobrepõe ao repouso. A circulação é mais criadora que a produção. Os homens mudam de lugar, como turistas ou como imigrantes. Mas também os produtos, mercadorias, as imagens, as ideias. Tudo Voa.”

As nossas cidades também se encontram em constante movimento e dentro delas podemos citar as feiras livres como um importante instrumento efêmero da cidade, onde o espaço rotineiro é transformado em um mercado aberto, formado pelo conjunto de tendas e após a retirada dos objetos, o espaço volta a sua origem. Como diz Bogéa 40 : “As feiras livres, com sua mobilidade periódica, contam com a disponibilidade de ruas que, momentaneamente, deixam de ser eixos de fluxo para configurar-se enquanto espaços de troca, recebendo as tendas e redirecionando para seu entorno os fluxos e circulações. Essa ruas acabam se transformando em endereços fixos! Isso porque, 39. SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo, Hucitec, 1999. p. 262. 40. BOGÉA, Marta. Cidade errante, arquitetura em movimento. São Paulo, SENAC, 2009. p. 201.

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Esse tipo de arquitetura ganhou força na modernidade, pois vivemos em constante movimento, e a arquitetura seguiu o mesmo rumo, a questão do enraizamento é perdida, o tempo ganha outra dimensão. Santos39 enfatiza essa ideia:

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tornados arquitetura, e depois devolvidos, sempre no mesmo local. O tipo de beneficiamento do material não altera sua constituição a ponto de torná-lo de impossível absorção, nem em quantidade que sobrecarregue os fluxos naturais.”


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na lógica de controle sobre os espaços, é preciso evitar o transtorno que a imprevisibilidade traria ao cotidiano daqueles lugares”

Outra vertente que podemos citar são as intervenções temporárias, que tem como principal característica a de transformar lugares, e que muitas vezes deixam marcas permanentes nas cidades. Surgem como uma forma de reconquista do espaço público, que anda não muito “público” ultimamente. Essas intervenções possibilitam uma nova forma de enxergar o uso da cidade e o modo de levar a vida. Segundo Sansão41, a intervenção temporária: “(...) é a ação intencional que se move no âmbito do transitório, do pequeno, das relações sociais, que envolve a participação, ação, interação e subversão, e é motivada por situações existentes e particulares, em contraposição ao projeto estandardizado, caro, permanente e de grande escala.”

Como dito por Paz 42, muitas vezes esse tipo de arquitetura se confunde com outras coisas que parecem ser efêmeras, mas não são, como é o caso do trailer, que não pode ser considerado uma arquitetura efêmera porque sua construção não se desfaz, continua intacta ao longo de viagens e mobilidade, denominando-se esse tipo de arquitetura de arquitetura móvel. A arquitetura efêmera vem sendo muito utilizada nos últimos anos com um caráter emergencial para desastres naturais, e foram propostos nos últimos anos diversos projetos e soluções de abrigos emergenciais. Nos últimos anos, esse tema também tem sido comum em concursos internacionais, como a Architecture for Humanity ou o concurso Design for Disaster. 41. SANSÃO , Adriana Fontes. Intervenções temporárias, marcas permanentes. A amabilidade nos espaços coletivos de nossas cidades. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro, PROURB-FAU/UFRJ, 2011. p.30. 42. PAZ, Daniel. Arquitetura efêmera ou transitória. Esboços de uma caracterização. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 102.06, Vitruvius, nov. 2008. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/ revistas/read/arquitextos/09.102/97>. Acesso em: 10/09/2014.


Feira livre em São Paulo. Fonte: Disponível em: < http://uipi.com.br/ wp-content/uploads/2012/07/uipi-Feiras -livres-oferecem-diversidade-de-produtosno-dia-a-dia-25072012.jpg>. Acesso em: 16/11/2014.

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Intervenção ‘As Margens do Rio Pinheiros’, de Eduardo Srur, na Ponte Cidade Universitária, na região oeste de São Paulo. A obra visa promover a conscientização das pessoas e chamar a atenção da sociedade para a necessidade de recuperação do rio Pinheiros. Fonte: Disponível em: < http://g1.globo. com/fotos/fotos/2014/09/fotos-imagensdo-dia-17-de-setembro-de-2014.html>. Acesso em: 16/11/2014.


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3.2. Arquitetura efêmera de caráter emergencial Como pudemos perceber nos estudos de desastres anteriormente colocados, a demanda para esse tipo de arquitetura tem crescido consideravelmente nos últimos anos. Seguindo na lógica de arquitetura efêmera e a busca por uma ocupação não impactante de uma área, surge a arquitetura de emergência, com campos de refugiados ou desabrigados devido a algum tipo de desastre. Não existe uma tipologia característica, e o que se pensa é na economia de recursos43. Atualmente, não existe o direito explícito ao abrigo; esse direito está implícito na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em outros documentos elaborados por organizações multilaterais como a ONU. A necessidade por abrigo torna-se fundamental em uma situação de emergência. O conceito de emergência será incorporado à arquitetura efêmera e alguns critérios serão acrescentados para a construção do abrigo, tais como: a rapidez no fornecimento, baixo custo, adaptação ao terreno, flexibilidade, facilidade no transporte e na montagem. Em uma situação de emergência o afetado se encontra mais vulnerável, o que afeta sua autoconfiança, levando, nesse momento, a uma necessidade de se sentir protegido. O abrigo não pode ser um elemento que agrave essa insegurança. A relação entre um indivíduo e os elementos externos pode ser amenizada com o abrigo. Para um abrigo proteger um indivíduo, ele precisa ser construído de maneira apropriada aos elementos externos, como o clima, aspectos culturais, etc., que caracterizam o local onde se localizará. Seguindo essa mesma ideia, Davis44 enfatiza as primeiras necessidades desses indivíduos e mostra a importância imediata dos abrigos: 43. PAZ, Daniel. Arquitetura efêmera ou transitória. Esboços de uma caracterização. Arquitextos, São Paulo, ano 09, n. 102.06, Vitruvius, nov. 2008. Disponível em: <http://www.vitruvius.com.br/ revistas/read/arquitextos/09.102/97>. Acesso em: 10/09/2014. 44. DAVIS, Ian. Arquitectura de emergência. Barcelona, Gustavo Gili, 1980. p. 63. Traduzido pela autora.


“ Não existe um consenso quanto a formas, estratégias ou terminologias, apenas a sua função permanece clara e, portanto, traduz-se como uma possível definição: uma resposta rápida, não necessariamente imediata, à necessidade de abrigo ou habitação provisória, mediante a aplicação sustentada de materiais e tecnologias, com vista à garantia de um habitat digno num período de tempo determinado. A função primordial do abrigo é, portanto, garantir o habitar, as necessidades básicas humanas (alimentação, descanso, higiene, comunicação), em processos de autossuficiência e autogestão.” 45. SANTOS, Maria Teresa de Carvalho Nunes Teixeira. Abrigo humanitário, projecto de design de um abrigo para vítimas de catástrofe. Dissertação de Mestrado.Lisboa. Universidade de Lisboa, dezembro, 2013. p. 4.

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São classificados dois grupos principais de abrigos emergenciais: - construções in loco: são os que podem ser construídos com materiais disponíveis no local e têm um custo mais baixo. - fornecimento de Kits: devem ser duráveis em unidades pequenas e leves, com aparência de temporário e aceitabilidade cultural. São divididos em quatro categorias: Module, Flat-pack, Tensile e Pneumatic. O que mais importa, além da construção dos abrigos, é diminuir a vulnerabilidade, não aumentando a insegurança das pessoas desabrigadas, o que é confirmado nas afirmações de Santos45:

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“As primeiras coisas que aqueles que ficaram sem casa e abrigo precisam são: comida, medicamentos e primeiros auxílios,mas também seguramente os arquitetos estão em importante posição de poder para aconselhar com autoridade e fazer pressão para que a ONU (Organização das Nações Unidas) ou [...] UNRRA (United Nations Relief and Rehabilitation Administration) [...] proporcionem casas imediatas que cheguem o quanto antes às zonas de catástrofe.”


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Quanto ao garantir o habitar, um ponto importante refere-se à escolha de um terreno, que não deve muito distante das áreas de risco, no entanto, seguro, com espaço amplo. Esses terrenos devem facilitar a sociabilidade entre as comunidades autônomas. O acesso de caminhões deve ser fácil para haver entregas de alimentos, vestimentas e materiais para montagem da habitação. Além disso, deve ser drenado, haver água e ficar longe de lixões e insetos. Segundo Anders46, houve um desenvolvimento dos abrigos efêmeros no pós guerra. Durante esse período houve um enorme avanço tecnológico. O arquiteto norte-americano Buckminster Fuller foi um dos primeiros a criar esse tipo de arquitetura e criou diversos abrigos transportáveis. Seu primeiro projeto foi a Dymaxion House, por ser considerada um pouco futurística para a época, 1928, porém nunca saiu do papel. De qualquer forma, fez com que muitas pessoas voltassem seu olhar para Fuller. Alguns arquitetos conseguiram atingir um nível bastante alto, suprindo grande parte dos problemas ao fazer uma arquitetura desse gênero. Entre eles, o arquiteto Shigeru Ban tem se destacado por sua importante contribuição na busca por soluções para habitações de emergência. Isso o levou a conquistar, em 2014, o maior prêmio da arquitetura mundial – o Pritzker Architecture Prize. Ao anunciar o vencedor deste ano, Tom Pritzker disse47 : “O compromisso de Shigeru Ban com as causas humanitárias através de seu trabalho de emergência é um exemplo para todos. A inovação não deve ser limitada pelo tipo de construção e a compaixão não deve ser limitada pelo orçamento. Shigeru fez o nosso mundo um lugar melhor”. 46. ANDERS, Gustavo Caminati. Abrigos temporários de caráter emergencial. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2007. p. 52. 47. PRITZKER ARCHITECTURE PRIZE, Annoucement, 2014. Disponível em: <http://www.pritzkerprize.com/2014/announcement>. Acesso em: 05/11/2014. Traduzido pela autora.


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Vista frontal e planta do Dymaxion house Fonte: Disponível em: <http://www.trumanlibrary.org /education/nhd/images/ dymaxion_house.jpg> . Acesso em: 11/09/2014.

Perspectiva Dymaxion house Fonte: Disponível em: <http://www.setri. sk/wp-content/uploads/2014/11/ekologicky-dom-dymaxion-house-1929.jpg> . Acesso em: 11/09/2014.


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O seu projeto Paper Loghouse Project, todo construído com papel, foi criado primeiramente para as vítimas do grande terremoto em Kobe, no Japão, em 1995 e já foi utilizado também no Vietnã, Turquia, Sri Lanka, etc. Usando materiais abundantes em cada região, Ban vem desenvolvendo soluções simples e eficientes, garantindo privacidade à população deslocada. Bambu, plástico, madeira e principalmente o papel, materiais simples, de baixo custo, flexível, fácil de transportar, de montar e que geram poucos resíduos ao meio ambiente. O Chile também possui diversos projetos e concursos para esse tipo de habitação, afinal lá eles convivem com o problema dos terremotos. A maioria desses projetos são feitos por estudantes nas universidades, como a Vivienda de emergencia, feita pelos alunos Diego Baloian, Manuel Garcés e Sebastián Silva da Universidad Finis Terrae. Esse projeto é uma habitação transitória com o intuito de atender às urgências habitacionais pós-terremotos. Seus elementos modulares são as treliças de madeira, que constroem um abrigo bastante forte48. No Brasil esse tipo de arquitetura ainda não foi bem utilizado. Aqui sempre quando vemos notícias sobre desabrigados, eles acabam sendo deslocados para acampamentos provisórios em escolas e igrejas próximas. O caso na cidade de São Luiz do Paraitinga, que teve sua maior enchente em janeiro de 2010 e que deixou mais de 10 mil desabrigados, é um bom exemplo de como a defesa civil lida com tais situações. Essas pessoas foram distribuídas em galpões, escolas e ginásios, sem o mínimo essencial à sua privacidade e dignidade. Um problema percebido no momento de elaborar este presente projeto foi que é muito difícil pensar nesse tipo de arquitetura para que ela dê dignidade e conforto aos habitantes e, ao mesmo tempo, que eles não se sintam tão confortáveis a ponto de querer se estabelecer naquele local para sempre. Se isto ocorresse, o projeto perderia totalmente seu propósito, que é o de uma arquitetura 48. PASTORELLI, Giuliano. Vivienda de Emergencia. Plataforma arquitectura, mai. 2010. Disponível em: <http://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-42692/vivienda-de-emergencia>. Acesso em: 23/10/2014.


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Shigeru Ban - Foto por Shigeru Ban Architects Fonte: Disponível em: <http://www.pritzkerprize.com/media/2014_media/images-download>. Acesso em: 08/11/2014.

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temporária e de certa forma transitória para que o poder público faça alguma coisa a respeito para realocar esses habitantes desabrigados definitivamente.

Paper Log Houses - Kobe, Japan, 1995. Fonte: Archdaily . Disponível em: <http:// www.archdaily.com/489255/the-humanitarian-works-of-shigeru-ban/> . Acesso em: 30/03/2014.


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3.2.1. Soluções para abrigos emergenciais Um abrigo pode ser um ponto principal para salvar vidas e prolongar a sobrevivência de uma população. Em 1984, a ONU apresentou um relatório, com as diretrizes para assistência a populações afetadas por desastres, chamado “O abrigo depois do desastre” e que direcionava as ações para órgãos assistenciais. Esse tipo de arquitetura, a de abrigo, deve seguir alguns aspectos importantes, como a relação com o clima da cidade a ser implantada e a preservação da dignidade dos indivíduos, que na maioria das vezes acabou de perder tudo, criando espaços para sua privacidade e segurança. Um abrigo emergencial bem montado pode ter um papel fundamental na diminuição dos problemas dessa população, ajudando a controlar doenças, aflições e mortes das pessoas afetadas. Esse tipo de arquitetura deve ser de fácil montagem, com uma boa durabilidade e que proporcione conforto e aconchego para essa população tão abalada. Outros critérios também precisam ser levados em conta em relação aos abrigos emergenciais, como: • rapidez no fornecimento • baixo custo • adaptável a diferentes tipos de terrenos. Quando há uma situação de emergência em que pessoas ficaram total ou parcialmente desabrigadas, existem algumas soluções para auxilio49: 1. O reparo e reabilitação das casas – Que é quando as pessoas permanecem em suas casas e são atendidas por programas de reconstruções. 2. Auto-abrigo – 49. ANDERS, Gustavo Caminati. Abrigos temporários de caráter emergencial. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2007.


4. Acampamento para desabrigados – São acampamentos construídos e que apesar de terem um caráter efêmero, a grande maioria dura mais de cinco anos e apenas 25% dura menos de dois anos. Anders 50 , em seu trabalho sobre abrigos temporários e emergenciais, discute sobre os papéis da defesa civil e subprefeituras, o uso de edifícios não usados para esse propósito e a questão dos acampamentos para desabrigados. Em São Paulo, quando existe a ocorrência desse tipo de desastre, o sistema municipal de defesa civil é acionado e há a supervisão da assistência das subprefeituras, responsável pelo atendimento social às vítimas. Esse atendimento consiste no cadastro dos moradores, distribuição dos materiais de emergência (cesta básica, colchões, cobertores e “kit higiene”) e o encaminhamento para casa de parentes, amigos, albergues e abrigos provisórios. Normalmente, nosso país não está preparado para essas tragédias e acaba utilizando-se da adaptação de edifícios, e, na maioria das vezes, usando os ginásios das cidades, suas escolas e igrejas. O grande problema da utilização desses locais como abrigos é que a partir de certo momento eles deverão voltar a ser utilizados para seu devido propósito e esses indivíduos acabam tendo que recorrer a casas de parentes e amigos até conseguirem se reestabelecer na vida. O problema é que como já discutido, essas pessoas estão muito debilitadas e vulneráveis. Por esse motivo, iremos discutir mais detalhadamente os acampamentos 50. ANDERS, Gustavo Caminati. Abrigos temporários de caráter emergencial. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2007.

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3. Adaptação de edifícios – Se por acaso existir algum imóvel que esteja disponível e em condições de ocupação, pode haver uma adaptação do edifício para receber essas pessoas. Normalmente são utilizadas igrejas, escolas, ginásios, entre outros.

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Quando os próprios indivíduos buscam um local para ficar, mas recebem um apoio financeiro das autoridades.


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Acampamento para desabrigados do terremoto no Haiti em 2010. Fonte: DisponĂ­vel em: <http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-o-mundo/haitiquatro-meses-depois/ >. Acesso em: 11/09/2014.

Nova Friburgo (RJ) - Abrigo improvisado pela prefeitura de Nova Friburgo para acolher os desabrigados pelas fortes chuvas que atingiram a cidade, 2011. Fonte: DisponĂ­vel em: <http://memoria. ebc.com.br/agenciabrasil/sites/_agenciabrasil/files/gallery_assist/29/gallery_ assist663253/13012011-130111VC8710. jpg >. Acesso em: 11/09/2014.


1. Construção in loco (vernacular)Abrigos que podem ser construídos com materiais do local, com baixo custo e podemos reutilizar e reciclar os materiais utilizados. 2. Fornecimento de KitsEsses kits devem ser duráveis, leves, de fácil montagem e podem ser divididos em quatro categorias – modulares, rígidas, tensionadas e pneumáticas. Modulares Nesse tipo de arquitetura as unidades são entregues prontas, feitas de estrutura pré-fabricada. São unidades autônomas, mas que permitem o acoplamento de outros módulos. Rígidas – Também conhecidas como “kits”, elas possuem estruturas pré-fabricadas, mas são entregues nos locais desmontadas. Esse método permite uma facilidade maior no transporte, apesar de precisar de instruções para fazer a montagem.

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e como eles podem ser construídos. Os acampamentos são para essas famílias a melhor solução na espera de retornar a suas novas moradias, tendo em vista que nesses locais, ao menos um quarto individual as famílias irão ter. Os acampamentos para desabrigados seguem duas linhas distintas de pensamento, uma de que o acampamento deve ser uma intervenção mínima que dá apenas suporte a vida para que as pessoas queiram logo voltar para suas casas; e a outra resulta em uma intervenção mais bem planejada que acaba gerando uma dependência maior dos moradores pelo espaço. Existem dois tipos distintos de construção para esse tipo de arquitetura:


3. ARQUITETURA EFÊMERA

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Exemplo de categoria modular. Habitação de Emergência para Mães Solteiras. Fonte : Disponível em: <http://www.archdaily. com.br/br/01-130699/habitacao-de-emergencia-para-maes-solteiras-4l-arq>. Acesso em: 16/02/2014.

Exemplo de categoria rígidas ou kits. Emergeny hjousing. Fonte: Disponível em: < http://www.archiprix.org/2015/index.php?project=3260>. Acesso em: 11/09/2014.

Exemplo de categoria tensionada. Q-Shelter . Fonte: Disponível em: <http://worldshelters. org/wp-content/uploads/2008/01/qshelter3. jpg>. Acesso em: 11/09/2014.

Exemplos de Aplicação de Estrutura Pneumática em habitações militares de caráter temporário. Fonte: Disponível em: <http://portalarquitetonico.com.br/arquitetura-efemera-parte-2-de-3/> Acesso em: 11/09/2014.


“ A análise deste estudo mostra a importância de estabelecer uma arquitetura específica para a habitação de emergência, não esquecendo seu vínculo original com a arquitetura efêmera, mas atentando para outras necessidades e limitações impostas por sua peculiaridade, denotando um grau de complexidade além da questão da transitoriedade.”

Analisando-se os tipos de construção cabíveis para esse tipo de arquitetura, no que se refere ao projeto presentemente a ser apresentado, decidiu-se pelo uso dos “kits” (ou rígidas). Por serem leves, com fácil transporte e dependendo do material utilizado são também econômicos e não necessitam de uma mão de obra especializada para a montagem. 51. RÊGO, Ana Elizabeth Lopes. Análise e diretrizes para a produção de abrigos temporários em situações de emergência. Goiânia, Revista Especialize On-line IPOG - 6ª Edição, v. 01/2013, n. 006, dez 2013.

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Pneumáticas – É uma estrutura que, assim como as tensionadas, possui uma membrana de tensão, mas que normalmente são infláveis. Esse sistema é mais utilizado para estruturas de grande porte. Para que os abrigos sejam habitáveis são necessárias algumas dependências, como dormitórios (podem ser distribuídos por famílias ou por sexo), sanitários femininos e masculinos, cozinha, refeitório, almoxarifado, área para recreação e lazer, além de instalações hidráulicas e elétricas. A arquitetura de caráter efêmero emergencial, ultimamente, tem tido uma maior demanda mundial e a habitação de emergência tem sua importância, como afirma Rêgo51 :

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Tensionadas – O sistema construtivo desse modelo é semelhante ao de tendas, pois possui uma estrutura rígida (aço ou alumínio) e fechamento feito com membrana flexível (lona).



ESTUDOS DE CASO

4. 87

ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS


4. ESTUDOS DE CASO

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4.1. Vila Serra do Navio, Oswaldo Arthur Bratke

Mapa de localização da Vila Serra do Navio. Fonte: SEGAWA, Hugo; DOURADO, Guilherme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke.”Sonho de um urbanista lírico: Vila Serra do Navio e Vila amazonas”p.253-311. São Paulo, Pro Editores, 1997. p. 238.


52. SEGAWA, Hugo; DOURADO, Guilherme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke.”Sonho de um urbanista lírico: Vila Serra do Navio e Vila amazonas”p.253-311. São Paulo, Pro Editores, 1997.

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Projetado pelo arquiteto Oswaldo Arthur Bratke, no ano de 1955, em meio à selva amazônica. Esse projeto tinha como finalidade alojar os empregados da empresa de mineração ICOMI, durante a exploração de jazidas de manganês existentes naquela região. No projeto existiram duas vilas residenciais separadas entre si por uma distância de 200 km. Para Bratke, era um absurdo que, ao longo do mundo, após o término da extração de jazidas, as terras fossem abandonadas. A ideia dele era que a vila continuasse habitada, mesmo após o término da concessão com a ICOMI (que duraria 50 anos) ou com esgotamento dos mananciais. Antes de começar o projeto, o arquiteto resolveu visitar outros projetos similares, na busca de referências concretas para o desenvolvimento de seu próprio. Ao visitar o núcleo de El Pau, na Venezuela, Bratke percebeu que para esses casos ninguém projetava uma cidade, normalmente apenas uma rua era aberta, onde se instalavam os negócios e, além disso, as casas dos superiores eram muito melhores que as dos exploradores52. Para a escolha dos materiais, o arquiteto fez uma análise criteriosa de variáveis empíricas e econômicas, e por fim as estruturas foram todas projetadas para serem em madeira, pelo fato da madeira ser um material abundante na região. A decisão por habitações isoladas ao invés de prédios ou blocos coletivos foi da empresa. Com isso, o arquiteto instituiu alguns padrões de casas, para operários com diferentes tamanhos de famílias e para seus superiores. Por causa do fator de urgência na construção, não se cogitaram plantas flexíveis. Na disposição das casas percebe-se a articulação do espaço, segundo a influência das cidades jardins e também por questões técnicas de terraplenagem. Outro aspecto importante de citar sobre a Vila é o uso das cores nas construções.


4. ESTUDOS DE CASO

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Planta geral do projeto. Fonte: Ribeiro, Benjamin Adiron. Vila Serra do Navio, comunidade urbana na selva amazônica: um projeto do arquiteto Oswaldo Arthur Bratke. São Paulo, PINI, 1992. p.43.

Moradia para operários em Serra do Navio. Fonte: SEGAWA, Hugo; DOURADO, Guilherme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke. ”Sonho de um urbanista lírico: Vila Serra do Navio e Vila Amazonas”p.253-311. São Paulo, Pro Editores, 1997. p. 262.

Detalhe do desalinhamento dos volumes. Fonte: SEGAWA, Hugo; DOURADO, Guilherme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke.”Sonho de um urbanista lírico: Vila Serra do Navio e Vila amazonas”p.253-311. São Paulo, Pro Editores, 1997. p.256.


“O desalinhamento dos volumes quebrava a monotonia, evita uma simetria desagradável e proporcionava outra sensação de espaço.”

Esse foi exatamente o motivo do desalinhamento dos módulos do projeto aqui apresentado. 53. SEGAWA, Hugo; DOURADO, Guilherme Mazza. Oswaldo Arthur Bratke. “Sonho de um urbanista lírico: Vila Serra do Navio e Vila amazonas”p.253-311. São Paulo, Pro Editores, 1997. p. 257.

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Nesse projeto, houve também uma preocupação social e com isso foram planejados equipamentos urbanos e regionais. Em 1992, a área foi transformada em município e em 1998, a empresa ICOMI deixou a concessão. Em 2010, a Vila Serra do Navio virou Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Após as análises dessa construção tão rica do arquiteto Oswaldo Bratke é que podemos associá-la direta e indiretamente ao objeto de projeto deste trabalho. Mesmo com propósitos distintos, é possível perceber que muitas características físicas e sociais estão incorporadas à habitação temporária. Existe a preocupação mútua de tornar esses projetos habitáveis, claro que o projeto de Bratke pretendia ser, e até hoje é, algo fixo, o que mudou totalmente a vida daquela região, diferentemente do projeto aqui apresentado cujo caráter é provisório. Em relação às escolhas de materiais, o que foi importante é que no presente projeto também houve a preocupação em buscar os melhores materiais, levando em conta questões econômicas e de transporte para a implantação. É possível criar um paralelo entre os projetos em relação à escolha da implantação e a planta dos módulos, que como o próprio Bratke afirma53:


4. ESTUDOS DE CASO

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4.2. Movimento metabolista japonês e a Torre Cápsula, Kisho Kurokawa

Detalhe fachada do Edifício Torre Cápsula. Fonte: Disponível em :< http://www.zupi.com.br/nakakin/>. Acesso em 07/11/2014


O desenho dos metabolistas englobava desde o desenho industrial até o desenho urbano e o objeto tem a possibilidade de se adaptar sem perder sua identidade histórica, de acordo com Scóz56 . Dito isso, pode-se citar o projeto da Torre Cápsula do arquiteto Kisho Kurokawa. Ele foi construído com o princípio da possível substituição. O projeto foi construído em Tóquio, em 1971, e suas unidades habitacionais foram concebidas em forma de células intercambiáveis acopladas a uma estrutura 54. TARDIVO, Jessica Aline; MOREIRA, Tatiane. Análise do movimento metabolista japonês – objeto de estudo da torre cápsula, do arquiteto Kurokawa. Cadernos de pós-graduação em arquitetura e urbanismo FAU MACKENZIE, São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, v.12, n.2, 2012. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau/article/view/Tardivo.2012>. Acesso em: 05/11/2014. 55. TARDIVO, Jessica Aline; MOREIRA, Tatiane. Análise do movimento metabolista japonês – objeto de estudo da torre cápsula, do arquiteto Kurokawa. Cadernos de pós-graduação em arquitetura e urbanismo FAU MACKENZIE, São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, v.12, n.2, p.6, 2012. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau/article/view/Tardivo.2012>. Acesso em: 05/11/2014. 56. SCÓZ, Eduardo. Arquitetura efêmera: o repertório do arquiteto revelado em obras temporárias. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2009.

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“O pensamento construtivo de Tange era voltado para a pré-fabricação, considerada a solução mais adequada; e a elaboração de sistemas de ampliação utilizando adições sucessivas de componentes celulares geriu a concepção espacial de grande parte dos arquitetos Metabolistas.”

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O movimento metabolista se deu no Japão, na segunda metade do século XX, mais precisamente em 1960. Segundo Tardivo e Moreira54, foi um movimento com ideias inovadoras, que uniram o design japonês às novas tecnologias construtivas e conceitos do archigram. Essa corrente teve com percussor Kenzo Tange, e segundo Tardivo e Moreira55:


4. ESTUDOS DE CASO

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Torre Cápsula. Fonte: Disponível em: < http://3.bp.blogspot. com/_NPaEK7-W6pI/S_d0eZZg-gI/AAAAAAAAAPM/BRNrnsirFRk/s1600/49993295be568532fff3dc01a5dbe64f_large.jpg>. Acesso em: 07/11/2014.

Módulo de habitação proposto por Kurokawa poderia ser trocado quando achassem que estava obsoleto. Fonte: Disponível em : <http://1.bp.blogspot. com/_GPvNiTV6SWg/TEwYStHU_vI/AAAAAAAAEG0/HjveP-OGIQg/s1600/100724-KKurokawa-CapsulaNagakin-1972.jpg>. Acesso em: 07/11/2014.


Ao analisar esse projeto podem-se perceber algumas inspirações para o presente projeto apresentado. Uma delas, que é mais física, é a forma geométrica das aberturas, em forma de círculo, a mesma utilizada para o projeto aqui proposto. Outro aspecto importante, que já foi citado mais de uma vez neste trabalho e que está presente no movimento metabolista, é a questão da efemeridade, que se reflete na Torre Cápsula e no projeto da habitação emergencial aqui apresentado, pois ambos são projetos pensados para serem removíveis, trocáveis, e adaptáveis, são sistemas abertos para o espaço e para o tempo. 57. TARDIVO, Jessica Aline; MOREIRA, Tatiane. Análise do movimento metabolista japonês – objeto de estudo da torre cápsula, do arquiteto Kurokawa. Cadernos de pós-graduação em arquitetura e urbanismo FAU MACKENZIE, São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, v.12, n.2, 2012. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau/article/view/Tardivo.2012>. Acesso em: 05/11/2014. 58. TARDIVO, Jessica Aline; MOREIRA, Tatiane. Análise do movimento metabolista japonês – objeto de estudo da torre cápsula, do arquiteto Kurokawa. Cadernos de pós-graduação em arquitetura e urbanismo FAU MACKENZIE, São Paulo, Universidade Presbiteriana Mackenzie, v.12, n.2, p. 17, 2012. Disponível em: <http://www.mackenzie.br/dhtm/seer/index.php/cpgau/article/view/Tardivo.2012>. Acesso em: 05/11/2014.

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“Desde sua implantação, o edifício nunca passou por manutenção nem atualização das cápsulas. Hoje encontra-se na iminência de ser demolido, a menos que um plano de restauro seja apresentado e aprovado pelos moradores da região, proprietários e autoridades locais.”

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central de concreto, o que permitia a alteração do local das unidades ou troca das cápsulas, conforme Tardivo e Moreira57. As capsulas são pré-fabricadas em aço e conectadas às torres de concreto. Novamente, de acordo com Tardivo e Moreira 58:


4. ESTUDOS DE CASO

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4.3. Escola Transitória, modelo rural João Filgueiras Lima, Lelé

Escola rural. Fonte: Lima, João Filgueiras. Escola transitóriaModelo rural. Brasília, MEC/CEDATE, 1984. p.21.


Esse projeto foi elaborado pelo fato de que as políticas agrícolas são bem instáveis, aliadas ao uso predatório da terra que acaba determinando a transitoriedade das habitações familiares dos trabalhadores do campo e o funcionamento efêmero de escolas rurais. Segundo Latorraca60: “O testemunho desse fato é a existência de escolas desativadas e abandonadas, o que representa um desgaste econômico para municípios carentes que sequer conseguem manter a rede mínima de prédios para atendimento escolar.”

Com esse fato constatado, o arquiteto passou a pensar em soluções para esse problema e assim surgiu o modelo da Escola Transitória para o município de Abadiânia, GO. A escola é totalmente extensível e desmontável. A escolha pelo material aproveitou, sobretudo, as características de leveza e flexibilidade que já haviam sido alcançados em outros projetos 59. LIMA, João Filgueiras. Escola transitória- Modelo rural. Brasília, MEC/CEDATE, 1984. p. 9. 60. LATORRACA, Giancarlo. João Filgueiras Lima, Lelé. Série Arquitetos Brasileiros, São Paulo, Blau, Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 2000. p.142.

ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

“A Pesquisa em causa vem sendo desenvolvida pelo Arquiteto João Filgueiras Lima com a colaboração intensa da comunidade local e apoio do Ministério da Educação e Cultura, tendo-se demonstrado pelos protótipos já construídos que é possível, utilizando-se mão de obra de baixa qualificação, adotar-se tecnologia avançada e obter-se produto de alta qualidade.”

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O projeto da Escola Transitória apresenta os resultados de uma pesquisa que adotou a tecnologia da argamassa armada na sua construção, que, segundo, o arquiteto João Filgueiras Lima59:


4. ESTUDOS DE CASO

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na Bahia e em Brasília, com a argamassa armada. Outro ponto importante foi a facilidade em seu transporte, seja manual ou mecânico. O tempo médio entre fabricação e montagem dessas escolas é de 45 dias, o que mostra a praticidade e rapidez do projeto. Esse projeto e essa técnica construtiva foram os que mais influenciaram para o desenvolvimento do projeto aqui proposto. O caráter transitório e a facilidade na construção foram os que mais chamaram a atenção no modelo da Escola Transitória. Foi possível encontrar as peças desenvolvidas para a construção dessa escola, como as placas de piso e as divisórias de parede e esses modelos foram decisivos para o desenvolvimento e aprimoramento dos desenhos e detalhes dos módulos de habitações e apoios que serão apresentados mais adiante. Outro ponto decisivo a ser incorporado no presente projeto relativo ao modelo da Escola Transitória, foi a escolha do material para a construção dos módulos, a argamassa armada, que tende a ser leve, de fácil transporte, baixo custo de manutenção, alta resistência e que não necessita de uma escala muito alta de mão de obra qualificada. Todos esses aspectos vão de encontro com o tipo de arquitetura que foi escolhida para a implantação do presente projeto, que foi o tipo em kits, em que as peças já vêm prontas, pré-fabricadas e necessitam de montagem no local, exatamente como no projeto dessas escolas do mestre João Filgueiras Lima.


ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS Desenhos das divisórias do arquiteto Lelé. Fonte: Lima, João Filgueiras. Escola transitória- Modelo rural. Brasília, MEC/CEDATE, 1984. p.83.

Montagem das divisórias, desenho do arquiteto. Fonte: Lima, João Filgueiras. Escola transitória- Modelo rural. Brasília, MEC/CEDATE, 1984. p.87.

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Escola rural para 120 alunos com posto de saúde integrado. Fonte: Lima, João Filgueiras. Escola transitória- Modelo rural. Brasília, MEC/CEDATE, 1984. p.21.



PROJETO

5. 101

ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS


5. PROJETO

102

5. Projeto

A partir de todos os dados analisados, o tema deste projeto foi escolhido com o objetivo de fazer uma análise mais profunda da arquitetura emergencial, que pede uma demanda rápida de habitações temporárias que, por muitas vezes, não são bem desenvolvidas. O tema do projeto é desenvolver uma habitação temporária para desabrigados de desastres naturais. O objetivo é criar uma habitação que apoie os desabrigados principalmente nas regiões do Rio de Janeiro e São Paulo, que sofrem muito com chuvas e deslizamentos de terras, visando a melhoria desse atendimento emergencial. Os módulos desenvolvidos apresentarão um caráter universal, podendo ser aplicados em qualquer lugar com climas semelhantes. Nesse tipo de situação, onde o indivíduo perde seus pertences, sua moradia, e, inclusive, outras vidas próximas a ele, um abrigo é fundamental para a preservação da sua dignidade e identidade, além de protegê-lo de outros fenômenos externos. O projeto pretende ser simples, flexível, portátil, com a principal preocupação de diminuir a vulnerabilidade dessa população.


ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

103 Vista área do Projeto

Perspectivas Módulos de apoio e habitações


5. PROJETO

104

5.1. Normas e diretrizes para a implantação dos módulos

Existem algumas características que foram definidas para o desenvolvimento deste projeto. Elas foram pensadas principalmente pelo fato dessa arquitetura precisar ser de rápido fornecimento, baixo custo, facilmente executada e adaptável a vários tipos de terreno. Como essa é uma habitação temporária, deve existir um prazo para retirar essas pessoas desses abrigos já que a ideia não é transformá-los em uma ocupação irregular consolidada, mas que mantenha seu caráter temporário. Essa é uma preocupação apontada anteriormente a partir dos estudos de Anders61 que mostram uma duração superior a cinco anos para metade dos e uma duração de menos de dois anos para uma pequena porcentagem (25%). Ainda mencionando Anders, foi realizada uma análise de soluções adotadas por designers e agências humanitárias a respeito de abrigos temporários e a partir disso puderam ser notadas duas linhas de pensamento sobre esse tema. A primeira possui um caráter de que não se deve interferir na dinâmica de uma emergência, com intervenção mínima, suficiente para preservar a vida e recuperar a dignidade dessas pessoas, mas não gerando uma dependência externa e com isso não atrasando o desejo desses habitantes voltarem para suas casas. A segunda linha de pensamento sugere uma intervenção maior e mais planejada, utilizando para a construção dos abrigos materiais de alta tecnologia e com custos elevados. Neste projeto optou-se por adotar a primeira linha de pensamento para a sua implantação. O partido a ser seguido não será o de uma habitação unifamiliar, pois já se sabe que existe uma chance grande desse tipo de habitação acabar se tornando permanente. Para que isso seja evitado, decidiu-se por um partido de um acampamento para os desabrigados, evitando conveniências tanto para as famílias ali abrigadas, quanto para o poder público que deverá pensar em uma solução para não perdurar muito com esse tipo de habitação, com módulos de dormitórios, 61. ANDERS, Gustavo Caminati. Abrigos temporários de caráter emergencial. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2007.


• SANITÁRIOS+VESTIÁRIOS - PROGRAMA DE NECESSIDADES -Sanitário Feminino/Sanitário Masculino -Vestiário Feminino/Vestiário Masculino -Bebedouros • ADMINISTRAÇÃO+APOIO - PROGRAMA DE NECESSIDADES -Administração -Depósito de donativos -Enfermaria • HABITAÇÃO - PROGRAMA DE NECESSIDADES -Módulos diversos para atender diferentes números de famílias. -Possuíra módulos com capacidade para 4 ou 8 pessoas. -Não haverá mistura de famílias nos módulos. Para a implantação dos módulos, também foram seguidos alguns critérios e normas: • Módulos vão ser desenvolvidos para que possam ser implantados em lugares distintos. • Existirá, seguindo a norma, uma distância mínima de 3 metros entre módulos. • Deverá seguir norma que determina que ninguém deve andar mais que 100

ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

• REFEITÓRIO+COZINHA - PROGRAMA DE NECESSIDADES - Área para depósito de alimentos -Área para preparo/ Espaço para distribuição de alimentos - Área de lavagem/depósito de utensílios e lavanderia -Refeitório

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sanitários e vestiários, cozinha e refeitório e um módulo de apoio com uma sala de administração, enfermaria e um depósito para donativos. O programa a ser seguido será composto por:


5. PROJETO

106

metros até um ponto de água. • Caso existam pessoas com dificuldades de locomoção, elas ficarão próximas às vias de acesso. • Para um gerenciamento adequado e o controle de doenças, campos populosos serão evitados, ou subdivididos em unidades independentes com não mais de mil habitantes. Para a questão do abastecimento de água, luz e esgoto também serão seguidas algumas diretrizes. Para o saneamento serão locados reservatórios aterrados de PVC onde houver banheiros, e que deverão ser drenados periodicamente. Serão aproveitadas as águas pluviais, havendo uma calha que leve essa água para um reservatório. Além desse método, será utilizado um caminhão pipa que servirá de distribuidor de água aos módulos necessários, como os de sanitários, vestiários e cozinha. Para essa distribuição, uma peça típica em argamassa armada foi desenhada para a passagem dos canos de esgoto e água. Todos os módulos terão pontos de iluminação e tomadas nos locais necessários, feitos com eletrodutos aparentes, para facilitar possíveis manutenções.


ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

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Diagrama de desenvolvimento dos módulos. Fonte: Da autora.

Homens carregando as peças, em argamassa armada, para a instalação da escada drenante em Salvador. Joã Filgueiras Lima. Fonte: Disponível em <http:// www.vitruvius.com.br/media/ i m a g e s / m a ga z i n e s /ga l l e r y _ thumb/79ac_377-02.jpgg>. Acesso em 19/11/2014.


5. PROJETO

108

5.2. Escolha dos materiais A técnica a ser utilizada neste projeto será a que é chamada de kits ou rígidas. Nessa técnica, a habitação é montada no local e são distribuídos kits com todas as “peças” do projeto. Possuem estruturas pré-fabricadas entregues desmontadas nos locais, facilitando o transporte. Para a montagem e desmontagem não é necessária uma mão de obra especializada, exigindo apenas instruções para a montagem. Este projeto será realizado com argamassa armada, a mesma técnica usada pelo arquiteto João Filgueiras Lima. Esse material foi muito utilizado por esse arquiteto que estudou e aprimorou suas técnicas. Segundo Latorraca 62, é um produto muito econômico, com um bom controle de conforto ambiental, através de sistemas construtivos específicos mais elaborados; possui maior resistência e durabilidade; baixo custo de manutenção; não necessita de muita mão de obra qualificada; há rapidez na execução e, dependendo do tamanho das peças, elas podem pesar o suficiente para duas pessoas conseguirem carregá-las. Um ponto muito importante a ser levantado deste projeto é em relação ao armazenamento desses materiais, já que a utilização dos mesmos se dá em um momento que é necessária a ação imediata de montagem para abrigar quem acaba de perder tudo. Com isso, a ideia é que esses kits fiquem armazenados em espécies de galpões e depósitos, para que, ao ocorrer algum tipo de desastre, o projeto possa ser posto em prática o mais rápido possível e que, quando esses acampamentos forem desmontados, as peças dos kits voltem para o mesmo local para que possam ser reutilizadas em algum outro momento.

62. LATORRACA, Giancarlo. João Filgueiras Lima, Lelé. Série Arquitetos Brasileiros, São Paulo, Blau, Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 2000.


ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

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Diagrama de processo de fabricação e montagem. Fonte: Da autora.

Armazenamento de argamassa armada em galpão. Fonte: Disponível em < http:// www.lajeseartefatos.com.br/ img/empresa_02.jpg>. Acesso em: 19/11/2014.


5. PROJETO

110

5.3. Os módulos Como foi mostrado no programa de necessidades, o projeto possui quatro tipos de módulos: os de habitação, sanitários e vestiários, cozinha+refeitório e administração+apoio. O projeto começou a ser pensado a partir dos módulos, pois eles são a parte mais importante do trabalho e definiram como seria a implantação do projeto. O que definiu o desenvolvimento dos módulos foi os tamanhos das placas de piso, sendo decidido que, para a menor influência nos terrenos e por uma questão de higiene, todos os módulos seriam elevados pelo menos 15 cm do chão e ficariam sobre placas de piso elevadas. A partir da definição desse tamanho (1,25m x 1,25m, que fez com que essas placas pesassem menos de 30 kg) foram estipulados os tamanhos das placas de parede (1,25m x 2,50m) e então o tamanho dos módulos. Para a ligação das placas foram criadas peças de união que foram denominadas peças capas e todas essas peças são parafusadas. Os módulos de apoio também contêm treliças metálicas localizadas entre o topo das peças de parede e a cobertura, o que ajuda na estrutura do módulo. Para a cobertura foram planejadas peças para servirem como peças calhas, sendo que algumas possuem aberturas zenitais para iluminação. Dependendo do tamanho do terreno a ser utilizado, o projeto também contará com quadras de esportes para o lazer da população.


ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

111 Vista interna dos módulos de habitação

Perspectiva do acampamento


5. PROJETO

Habitações

112

Os módulos de habitação tem o tamanho de 6,25m² e, em cada um cabem duas camas. Existem duas variações desses módulos, sendo um formado por dois módulos juntos e outro formado por quatro módulos juntos, podendo atender respectivamente quatro ou oito pessoas.

Habitação para 4 pessoas

Habitação para 8 pessoas


ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

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Habitações para 4 pessoas

Planta

Corte 1

0

5

10

15


5. PROJETO

114

Habitações para 4 pessoas

Corte 2

Vista


ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

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Habitações para 8 pessoas

Planta

Vista

0

5

10

15


5. PROJETO

Apoio

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Existem dois módulos de apoio: o de administração e o da cozinha. O módulo de administração é composto pela administração (50m²), enfermaria para auxilio dos moradores (25m²) e depósito de donativos(50m²), e que, dependendo do tamanho do acampamento, alguns podem ser transformados em creche pelo fato de haver vários desses módulos num mesmo acampamento. O módulo da cozinha é o outro módulo de apoio, onde está a cozinha com o espaço para distribuição de alimentos (40m²), área de lavagem de utensílios e alimentos, depósito de utensílios e lavanderia (18,80m²), depósito de alimentos (18,80m²) e o refeitório (80m²) que serve também como área de convivência.

Módulo de Administração


ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

Administração

Administração

Enfermaria

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Depósito/Creche

Planta

Vista

0

5

10

15


5. PROJETO

118

Cozinha

Lavanderia/ Dep贸sito de utens铆lios

Dep贸sito de alimentos

Cozinha

Planta


119

Corte 3

Vista

0 5 10 15

ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS


120 5. PROJETO

Refeit贸rio


Planta

Vista 0 5 10 15

121

ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS


5. PROJETO

Sanitários+Vestiários

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Há dois tipos destes módulos: o de sanitários (18,80m²) e o de vestiários (18,80m²), ambos separados em femininos e masculinos.


123

Vista ARQ. EFร MERA - DESASTRES NATURAIS

Vestiรกrio

Sanitรกrio

Planta

0 5 10 15


5. PROJETO

124

5.4. Implantação dos módulos Como já explicado anteriormente, o projeto começou a ser pensado a partir dos módulos para depois serem pensadas as implantações. Esse projeto começou a ser planejado para terrenos “universais”, onde ele poderia se encaixar em qualquer situação de desastre e para dar conta dos mais diversos terrenos naturais. Contudo, para efeitos de exercício de projeto , um terreno real foi escolhido para desenvolver uma alternativa de implantação dentre as inúmeras possíveis. Foi um estudo de caso para analisar quão eficaz seria o projeto implantado. Toda a implantação foi desenvolvida para que o módulo ficasse elevado ao menos 15 cm do chão, protegendo os habitantes de animais rasteiros, de terra molhada e um possível novo deslizamento. Em função disso, as placas são elevadas e possuem peças de rodapé que auxiliam na estrutura. As implantações partem do princípio de criar passagens entre os módulos, podendo ser comparado às vias de automóveis, separadas por vias expressas, coletoras e locais. As vias expressas seriam as de entrada do terreno e que levariam aos outros módulos, e essas vias foram definidas com cor vermelha. As vias coletoras são as que dão acesso aos equipamentos de apoio e no projeto serão verdes. As vias locais são as que dão acesso às habitações e serão laranjas. A implantação foi planejada para criar núcleos de população, como se criasse pequenas vilas de pessoas para que a vida fosse mais simples e também com isso houve uma concentração da parte infraestrutural de cada núcleo, ideia que veio do estudo dos metabolistas. Desse modo, foram previstas implantações gerais e universais que depois poderiam ser colocadas em diferentes terrenos. Foram definidas três tipos de implantações, uma para 100 habitantes, uma para 200 e outra para 400, principalmente devido a preocupação de não criar campos muito populosos que aumentam a proliferação de doenças. A melhor proposta, entre as citadas, seria sempre fazer uma repetição do modelo de 100 habitantes, tantos fossem necessários na ocasião.


ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

125

Croquis de desenvolvimento das implantações gerais

Resultado final, implantação no terreno real de estudo de caso


5. PROJETO

126

Implantação Geral para 100 habitantes- área média : 2,5 a 3,5 mil m²

Planta

Corte


ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

127

Implantação Geral para 200 habitantes- área média : 5 a 6 mil m²

Planta

Corte 0

5

10

15


5. PROJETO

128

Implantação Geral para 400 habitantes- área média : 10 mil m²

Planta

Corte 0

5

10

15


ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

129

Quanto a questão da implantação,relativa à escolha do campo, os terrenos devem estar relativamente próximos às áreas de risco, sem causar perigo; o espaço pode ser amplo, mas que agrupe pequenas comunidades autônomas, estimulando a sociabilidade; o acampamento deve ser drenado, suprido de água e longe de focos de insetos e dos lixões. Para a escolha do terreno onde seria feito o estudo de caso, e implantação desses modelos universais, foi feita uma pesquisa e descoberto que a prefeitura de São Paulo fez um mapeamento das áreas de risco de São Paulo, sendo criado um quadro especificando os riscos nos graus de 1 a 4, sendo 1 o menor e 4 o maior risco. O terreno escolhido partiu desse mapeamento, buscando uma área de risco que possuísse algum terreno amplo próximo, mas que já estivesse fora do risco. Tal terreno foi encontrado entre as Ruas Cristóvão de Vasconcelos e Antônio de França e Silva. Localizado na subprefeitura da Vila Prudente/Sapopemba, está numa área de zona de centralidade polar – A. O terreno é próximo à favela Parque Santa Madalena I, considerado um local de risco de grau 4, com 1900 domicílios estimados, o que dá uma média de 10 mil moradores. O terreno é levemente acidentado, com 8 metros de desnível. Para esse terreno será proposto um acampamento para aproximadamente 500 pessoas, com aproximadamente 250 habitações. Levando-se em consideração as análises e reflexões colocadas,acredita-se ter sido encontrada uma solução adequada e viável para esse problema que ainda aflige nossa sociedade e que ainda existirá por um tempo indeterminado. É claro que essa é uma solução provisória, tendo que contar com planos dos governos para que essas populações que vivem em assentamentos precários venham a ter, em algum momento, habitações dignas. Dessa forma, com políticas públicas habitacionais eficazes, este tipo de projeto poderia, apesar de útil, ter seu uso minimizado, uma vez que poderiam ser evitados muitos dos desastres.


5. PROJETO

130

Fotos do terreno Fonte: Google Earth

Diagrama de acesso da área de risco até o acampamento Base: Google Earth

Mapa identificando as áreas de risco da favela parque Sta Madalena Fonte:Habisp


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131 Implantação - cobertura

Corte A-A 0

5

10

15


5. PROJETO

132 Implantação

Corte B-B


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133

Detalhes Construtivos

Perspectiva habitação para 4 pessoas

Perspectiva módulos de apoio

0

5

10

15


5. PROJETO

PORCA 3/8" ARRUELA

0.030.03 PAINEL "U" PAREDE

0.08 0.030.03

0.13

PARAFUSO SEXTAVADO

SAPATA DE APOIO

0.02

TUBO METÁLICO 34" CHUMBADO

0.11

0.01

PAINEL CAPA DE FECHAMENTO

B

0.02

0.01

Det. 01- Detalhe de Fechamento

0.11 0.030.030.030.03

PORCA 3/8"

PLACAS DE PISO

PARAFUSO SEXTAVADO

Det. 04 - Detalhe de união dos pisos

0.03

0.10

PAINEL "U" PAREDE

ARRUELA PLACAS DE PISO 1,25X1,25X0,10M

Det. 02 - Detalhe de Fechamento

0.05 0.03 0.05 0.03 0.05 0.20

Det. 03 - Detalhe da sapata

0.03 0.12

0.10

A

1

0.20 0.10

0.05

0.05

SAPATA EM ARGAMASSA ARMADA, DIM:0,20X0,20M

SAPATA DE APOIO

0.03

0.03

TUBO METÁLICO 34" CHUMBADO

PILAR EM ARGAMASSA ARMADA, TIPO T

0.05

134

PAINEL CAPA DE FECHAMENTO

Det. 04 - Corte B


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PEÇA DE FECHAMENTO 2

PAINEL DE COBERTURA COM ENCAIXE EM "U"

BROCA E PARAFUSO 3 8" PAINEL CAPA DE FECHAMENTO

Det. 05- Detalhe fechamento da cobertura tipo 1 PEÇA DE FECHAMENTO 1

135

PAINEL DE COBERTURA COM ENCAIXE EM "U"

BROCA E PARAFUSO 3 8" PAINEL CAPA DE FECHAMENTO

Det. 06- Detalhe fechamento da cobertura tipo 2

PAINEL "U" PAREDE PAINEL CAPA DE FECHAMENTO PEÇA PISO

PEÇA RODAPÉ

Det. 07- Detalhe do piso com o rodapé

1.38 0.13

PEÇA EM "U" PARA DRENAGEM E ELÉTRICA

0.170.03

PEÇA DE PISO

1.00

0.13

Det. 08- Detalhe do piso com peça de drenagem 0

5

10

15


5. PROJETO

PAINEL DE COBERTURA COM ENCAIXE EM "U"

TRELIÇA METÁLICA 40CM DE ALTURA

TRELIÇA METÁLICA 40CM DE ALTURA

0.09 0.33

0.40

2.43

2.40

PAINEIS DE PAREDE

PILAR EM ARGAMASSA ARMADA

2.40

136

0.33

0.09

0.31

PAINEL DE COBERTURA COM ENCAIXE EM "U"

SAPATA DE APOIO EM ARGAMASSA ARMADA

Det. 03Corte A

Det. 03Vista 1

0

5

10

15


Perspectivas do projeto

137

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CONCLUSÃO

6. 139

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6. CONCLUSÃO

140

6. Conclusão Este trabalho teve como objetivo desenvolver o embasamento teórico como auxilio para o desenvolvimento do objeto de projeto, os módulos que abrigam vítimas de desastres naturais. Embora se tenha dado uma ênfase maior a São Paulo, o projeto tem um caráter universal, podendo ser implantado em qualquer local com clima semelhante. Acredita-se que o estudo foi capaz de deixar claro que o termo desastre natural é mal interpretado no sentido de ser atribuído simplesmente a uma condição da natureza, quando, na verdade, ele acaba sendo provocado pela ação do homem que causa situações de risco, levando a possíveis desastres. Por isso, uma análise mais profunda do desenvolvimento das habitações em São Paulo pode mostrar como essa vulnerabilidade das habitações em relação aos desastres está mais ligada ao desenvolvimento da cidade e à omissão do poder público do que relacionada com a natureza. Os abrigos emergenciais fazem parte de uma arquitetura efêmera, podendo ser montados a qualquer momento de necessidade, com uma logística rápida e bastante simples. Um aspecto importante desses módulos é a possibilidade de um baixo custo para sua construção, além deles já estarem prontos e armazenados em local apropriado para sua retirada e uso imediato. Alojar o mais rápido possível pessoas, famílias que subitamente perderam seus bens, sua identidade e sua privacidade, torna-se fundamental no momento do desastre. Os abrigos emergenciais não são as respostas e soluções definitivas, mas têm o importante papel de devolver a dignidade, a proteção e a confiança dessa população tão afetada. Eles são de extrema importância no pós-trauma e por isso foram projetados para serem de montagem fácil e rápida e atendendo as principais demandas necessárias. Cabe salientar que a função desses abrigos emergenciais é temporária, não devendo acabar por se tornar uma moradia definitiva. Políticas públicas dos vários níveis governamentais devem ser discutidas e colocadas o mais rapidamente em


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141

prática para solucionar os problemas que geram tais desastres que levam essas pessoas a ficarem desabrigadas. Essas medidas certamente são preventivas, no sentido de poderem evitar ou minimizar os desastres e, no caso da impossibilidade de impedir sua ocorrência, poder imediatamente lançar mão da implantação das habitações temporárias, em forma de módulos, aqui propostas.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

7. 143

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7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

144

7. Referências Bibliográficas ANDERS, Gustavo Caminati. Abrigos temporários de caráter emergencial. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2007. ARCHDAILY - Palestra de Héctor Vigliecca sobre habitação de interesse social no 3° CHIS 2014. Disponível em: <http://www.archdaily.com.br/br/601297/palestrade-hector-vigliecca-sobre-habitacao-de-interesse-social-no-3-graus-chis-2014>. Acesso em:14/11/2014. BOGÉA, Marta. Cidade errante, arquitetura em movimento. São Paulo, SENAC, 2009. BONDUKI, Nabil. Origens da Habitação Social no Brasil. Arquitetura moderna, Lei do inquilinato e Difusão da casa própria. São Paulo, Estação Liberdade, 1998. CORADIN, Renata Fragoso. Habitar social: a produção contemporânea na cidade de São Paulo. Dissertação de Mestrado. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2014. COTELO, Fernando Cardoso. Revitalização do centro histórico de São Paulo e habitação popular: microeconomia e microgeografia. Tese de Doutorado. São Paulo, Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, 2008. DAVIS, Ian. Arquitectura de emergência. Barcelona, Gustavo Gili, 1980. DAVIS, Mike. Ecologia do medo. Rio de Janeiro, Record, 2011. FERREIRA, João Sette Whitaker. Produzir casas ou construir cidades? Desafios para um novo Brasil urbano. Parâmetros de qualidade para a implementação de projetos habitacionais e urbanos. São Paulo, LABHAB, FUPAM, 2012.


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ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

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145

JUNGLES, Antônio Edésio. Atlas brasileiro de desastres naturais 1991 a 2010: volume São Paulo. Florianópolis, CEPED/UFSC, 2011.


7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

146

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ARQ. EFÊMERA - DESASTRES NATURAIS

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147

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7.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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TOPALOV, Christian; BRESCIANI, Stella; COUDROY DE LILLE, Laurent; RIVIèRE D’ARC, Hélène (Orgs.). A aventura das palavras da cidade. Através dos tempos, das línguas e das sociedades. São Paulo, Romano Guerra, 2014.

TETO – Techo. Piloti mestre. Disponível em : < http://www.techo.org/paises/brasil/ wp-content/uploads/2013/06/Documento-de-indu%C3%A7%C3%A3o_Mai2013. pdf>. Acesso em: 23/10/2014. VIGLIECCA & ASSOCIADOS- Pq. Novo Santo Amaro V . Disponível em: <http://www. vigliecca.com.br/pt-BR/projects/novo-santo-amaro-v>. Acesso em: 14/11/2014.


149

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