Calendário de Histórias de Natal - 1 de dezembro 2020

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O Neve Émilie-Julie Charbonnier


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O Neve Na véspera de Natal, o António abriu as portas: - Ah! Que alegria! Esta noite nevou. Correu para o jardim para fazer um boneco de neve. Juntou muita neve em forma de bola que fez rolar sobre o chão branco. A bola foi aumentando até ao ponto de ele não a conseguir empurrar mais. Depois, fez uma bola mais pequena que colocou sobre a grande. Era a cabeça do boneco de neve. Contente, o António decidiu fazer-lhe os ovos com pedrinhas pretas. Para o nariz, escolheu uma cenoura cor de laranja e, para a boca, algumas bagas de azevinho vermelho. Em seguida, foi buscar dois ramos para fazer os braços. O seu boneco de neve ficou com um ar imponente e com um aspeto muito simpático. - Vou chamar-lhe Neve! - declarou o António com orgulho. - Esta noite vais ver o Pai Natal. Que sorte! Dizlhe para não se esquecer da minha família, principalmente da minha avó que está muito cansada. Feliz por ter terminado a sua obra, o António entrou em 2


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casa para se aquecer e para sonhar com a noite de Natal. Mal o António foi embora, o boneco de neve começou a tiritar de frio. - Brrr... Está aqui um frio de rachar! Um pinheiro, a árvore mais velha do jardim, agitou os seus ramos: - É a primeira vez que vejo um boneco de neve queixarse do frio! - Ah, sim?! E porquê? - retorquiu o Neve, zangado. - Bem, porque os bonecos de neve só

podem

existir durante o inverno. Na primavera, desaparecem e dão lugar às flores e às abelhas. A velha árvore ainda não tinha terminado a sua explicação quando ouviu o Neve soluçar: - Não chores... pelo menos não esta noite... murmurou-lhe baixinho. - Por-porquê? Esta noite? - Porque esta é a noite de Natal e ninguém deve estar triste na noite de Natal. Esta é uma noite mágica em que os sonhos mais belos se tornam realidade; uma noite de luz, uma noite de festa... Abre bem os olhos, porque o que vais ver dar-te-á a coragem necessária para enfrentar a vida... 3


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O Neve ficou calado. Tinha percebido que não tinha o direito de se queixar do seu destino de boneco de neve. No fundo do seu coração gelado, sabia que devia estar vigilante para dizer ao Pai natal para pensar na avó. Algumas horas depois, assim que o Sol se tinha deitado por entre as nuvens e a Lua tinha acendido as suas estrelas, ouviu o som de campainhas. Num instante, o céu ficou todo iluminado. O senhor velhinho, todo vestido de vermelho, conduzia um belo trenó puxado por oito renas majestosas. Avançava depressa pelo céu, mas depois abrandou e foi aterrar no jardim bem perto do Neve. - Tempestade, Rodolfo... mais devagar, meus amigos! Tenho de deixar aqui alguns embrulhos. Maravilhado, o Neve observava o Pai Natal. - Um comboio para o António, um cachecol para a sua mãe, um par de luvas para o seu pai... Eis, já está tudo. O Neve ficou amuado, pois pareceu-lhe que o Pai Natal não tinha mencionado a avó do António. Estava muito assustado, mas dando apenas voz à sua coragem, disse: - Desculpe, Pai Natal, mas não trouxe nada para a avó? O Pai Natal quase morreu de susto. Normalmente, àquela hora, toda a gente dormia. 4


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- Quem está aí? - perguntou o Pai Natal, curioso. - Sou eu - respondeu timidamente o Neve. - Que queres tu, pequeno boneco de neve? - Oh! Para mim, nada! Sou apenas um boneco de neve friorento que vai desaparecer quando chegarem os dias quentes e aí não terei mais frio, mas o António encarregou-me de lhe lembrar a família dele, sobretudo a avó que está bastante cansada. Um pouco perturbado, o Pai Natal pegou outra vez na sua lista: - Ah, cá está... De facto, tens razão, esqueci-me da avó do António. Vou corrigir de imediato o meu erro. Como forma de te agradecer, fica a saber que vais ficar para sempre neste jardim e que nunca terás frio. O Pai Natal foi-se embora perante o olhar maravilhado do Neve e da velha árvore. Na manhã seguinte, debaixo dos ramos do pinheiro, todos tiveram a alegria de encontrar os seus presentes. Mas foi no jardim que tiveram a mais bonita das surpresas: O Neve tinha-se transformado em Cristal.

In: "17 contos de Natal", Valérie Claisse e outros, Civilização Editora, Porto.

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