Trabalho Final de Graduação FAUUSP
respeitável público
Projeto de Reativação da Praça Franklin Roosevelt na Cidade de São Paulo
Autor Luís Felipe Abbud Orientador Prof. Dr. Alexandre Delijaicov Banca Convidada Prof. Agnaldo Farias Prof. Fabio Mariz Gonçalves Arq. Martin Hejl, Office for Metropolitan Architecture
trabalho defendido no dia 5 de Julho de 2010
agradecimentos A meu pai Luiz Antonio, minha mãe Teresa e minha irmã Flávia, por tudo e mais um pouco. À Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, pelas tantas oportunidades oferecidas durante meus anos de formação. Ao meu orientador Alexandre Delijaicov pela integridade, conhecimento, organização, dedicação e paixão pela arquitetura enquanto ciência eminentemente humana. A Agnaldo Farias por acreditar no meu trabalho, pelas tantas oportunidades proporcionadas ao longo de minha formação e por me fazer enxergar arquitetura, arte e cultura enquanto uma coisa só. A Fabio Mariz Gonçalves pela atenção, críticas, confiança e presença em “regime de dedicação integral”. To Martin Hejl: maestro, colleague and great friend. Aos meus dois irmãos mais velhos: Luís Pompeo Martins e Ricardo Gusmão, pela paciência, respeito e companheirismo durante tantas poucas e boas mundo a fora. A Julia Dietrich, por me ensinar tanto sobre o ser humano, verdadeiro valor do exercício da arquitetura. Ao pessoal do Galpão: André Sant'anna da Silva, Gaú Manzi, Ivo Magaldi Rodrigues da Cruz, Lucas Girard, Luiz Florence, Moreno Zaidan Garcia, Pedro Mollan Saito, Tiago Oakley, pela mesa (depois acertamos...), pela força, críticas, sugestões, pelas risadas, e um especial para Rafael Urano Frajndlich pelos tantos cafés e conversas nas tardes de biblioteca. A Rodolfo Garcia Vasquez pela receptividade e pela colaboração ativa no estímulo ao uso da Praça Roosevelt. A Paula Dedecca pelo pacotão de material que me foi de grande ajuda nesse projeto. A Ramiro Levy e Julia Pinheiro Ribeiro, pelos materiais, referências e presença ativa ao longo de todo trabalho. A André Malheiros Santiago, André Villas Boas, Alexandre Yassu, Danilo Zamboni, Diego Kapaz, Fernanda Ferrari, Gabriella Radoll, Heitor Kooji, Inês Bonduki, Itala Bonatelli, Juliana Petrarolli, Laura Sobral, Marina Caio e Paulo André Chagas, por estarem bem perto compartilhando momentos de tensão com suas sugestões e grande coleguismo. A Marcos Muzi por me emprestar o Plínio Marcos, pelo apoio tridimensional e pela amizade de muitos carnavais. To my work coleagues in international waters, who supported my work and from whom I’ve learned so much: Adrian Phiffer, Alexader Giarlis, Andreas Kofler, Anne Madjsberg, Barrend Koolhaas, Christopher Parks, Cynthia Ottchen, Kunle Adeyemi, Nancy Chidiac, Ravi Kamisetti, Remy Turquin, Richard Hollington, Samir El Kordi, Silvia Sandor, Stephanie Edwards and Tosin Oshinowo: thank you all! A Álvaro Puntoni e Cesar Nunes, pela ajuda de perto e de longe. Aos conterrâneos velhos de guerra: Adriano Calabrezzi, Alessia Oliveira, Alexander Villalon, Aline Figueiredo, Camila Bachichi, Camila Zanetti, Carol Martinussi, Fernando Ken Otsuka, Flavio Faggion, Gabriela Calejas, Mariana Wilderom, Maríia Carraro, Marina Malagolini, Mayra Mello, Milena Daniel, Mônica Nogara, Patcha Pietrobelli, Rafael Montezi, Rafael Misato, Rafael Scavone, Paula Noia, Roberto Rusche, Sandra Morikawa, Talita Salles, e tantos outros. A Pedro Paulo de Andrade Jr., pela companhia em busca de paisagens paulistanas A Bezerra da Silva, Guru, Itamar Assumpção, Jean Michel Jarre, Joe Satriani, Johan Sebastian Bach, Stevie Wonder, The Offspring e Robert Rich por me ajudarem a materializar minhas idéias E a todos aqueles estiveram do meu lado durante todo o caminho deste projeto.
muito obrigado.
13 de dezembro de 2009 Eram sete horas da manhã quando eu voltava de uma festa no centro da cidade. Subi a alça da Amaral Gurgel até a Consolação para cruzar a Praça Roosevelt e pegar meu ônibus na Rua Augusta para voltar para casa. Ao chegar na Praça pela Rua Consolação, me dei conta que já era domingo de manhã ao me deparar com a feira livre sendo montada na Rua Guimarães Rosa, uma das ruas que definem o perímetro da praça. Aproveitando a ocasião, comecei a tirar fotos da feira com a câmera do meu celular para juntar mais material de pesquisa para esse trabalho, que na época não passava da definição da própria Praça Roosevelt como tema de um projeto, e da vontade de entender a cultura de uso do espaço público na cidade de São Paulo. Chegando do outro lado da praça, na Rua Augusta, parei em frente a uma padaria para tirar a última foto, quando escutei: - Ôu! Ei! Ô velho! Na porta da padaria o sujeito se dirijia a mim. De shorts, Havaianas, camiseta e boné, trajava ainda uma cicatriz de faca entre a boca e o nariz. Na mão direita trazia um pacote. Na esquerda, um celular.
dedicatória
- Opa! - Posso saber porque do que que cê tava tirando foto? - Ah, é que eu tô fazendo um trabalho sobre a Roosevelt, um projeto de reforma pra… (pensei rápido e omiti a palavra faculdade)… pra praça. Daí eu tava tirando foto da feira. - Ah tá. Da hora, tá precisando reformar essa praça mesmo. Isso aí num é nem praça, é qualquer coisa. Eu acho muito loco aquele Parque do Povo, tá ligado? - Aquele lá na marginal Pinheiros? Nunca fui.
- É, esse aí, o pico lá é muito louco! Eles pegaram tipo umas estrutura velha de concreto, tá ligado, e transformaram os bagulho nuns brinquedo, cê precisa ver que louco. - Olha, que legal! Outro dia eu fui naquele Parque da Juventude, “tá ligado” (comecei a afinar mais o sotaque), onde era o Carandirú? - To ligado sim, mas nunca fui. - Tem que ir: puta projeto bacana, cheio de quadra, gente jogando bola, brincando… Os cara tavam até subindo uma balão lá outro dia… - Da hora, mano. Foda meu, passei oito anos na cadeia. To tentando me reerguer, tabalhar, mas é foda, tá ligado... Fui solto aí me prenderam de novo, mas soltaram porque nunca conseguiram provar que eu matei aquele cara, tá ligado? - Putz, foda… - É, mas to trampando aí… - Ah, bacana! Trampando com o que? - Faço umas entregas… (ele olha pro celular) - Ah, e qual que é o esquema? Cê trabalha por conta? - Nada velho, é tudo o PCC, tá ligado? - É mesmo?? E… e como é, os caras controlam tudo lá da cadeia? - Não, velho, é São Paulo inteiro. Cê num tá ligado, o bagulho é revolucionário: os cara manda a ordem lá de cima e cê tem que fazer o que os cara manda, tá ligado? - Tô ligado… foda… Nesse meio aparece um homem bem humorado com um óculos na testa. Cumprimentou a nós dois com aquele toque de escorregar a mão
aberta e devolver o punho fechado, e começou a conversar com o sujeito com quem eu falava. Achei melhor aproveitar e deixar os dois a sós, entrei e comprei um maço de cigarros: achei que ajudaria na situação. Quando voltei no fim da conversa, reparei que os dois tinham trocado entre eles o pacote com um envelope branco fechado.
um copo grande tampado para viagem.
Enquanto acendia um cigarro, ofereci para os demais que recusaram e agradeceram. Depois de falar qualquer coisa engraçada, o sujeito do óculos nos cumprimentou de novo e foi embora. Retomei o assunto:
Nos cumprimentamos, fechei meu casaco e comecei a atravessar a Augusta vazia em diagonal para ir até o ponto de ônibus. Já de costas para o sujeito, mal comecei a digerir esse episódio maluco e a avaliar minha sorte, quando de repente:
- E cê trabalha por aqui mesmo? - Trabalho aqui na Roosevelt. - Ah é? Onde cê fica, embaixo daquela estrutura lá? (apontei pro pentágono)
- Xô só pegar meu bagulho aí que ficou pronto. - Opa, Vai lá que eu vou aproveitar e vou nessa aí também. Falô aí velho, bom trabalho procê! - Falou Mano! Boa sorte aí procê também!
- Ô VELHO! Tomei um susto. Imaginando que tinha cantado vitória antes da hora, me virei lentamente e ele falou:
- Não, aqui embaixo mesmo… (apontou para o túnel que conecta a Rua Augusta ao Minhocão, que fica fechada com uma cancela durante a noite e de domingo, enquando o elevado fica aberto exclusivamente para pedestres)
- Foda essa chuvinha, né?
- Ah tá. E como é que você faz com o posto policial que tem aí em cima?
Dedico esse trabalho para esse sujeito.
- Foda, mano: tem um policial aí que num me deixa em paz, vive atrás de mim. Uma vez ele ameaçou me prender mas aí falei pra ele que num tenho medo de cadeia, porque já fui preso oito anos, tá ligado? Quer me prender: beleza, falei pra ele, só que se você me prender, da cadeia mesmo eu rastreio tua vida inteira, tá ligado? Aí eu mando invadir tua casa, botar uma granada na tua boca e peço pros cara puxar o pino, ao toque de um telefonema, tá ligado? - É… Tá certo, tem que se impor, né… - É, mano, puta cara folgado… Então ele é chamado de dentro da padaria. Lhe apontam um pacote fechado saindo fumaça e
Por ter compartilhado comigo durante esse breve episódio o respeito ao próximo e a vontade de mais e melhores espaços públicos para todos. Indiscriminadamente.
capítulo um construção da idéia de público
introdução
Durante meus sete anos de estudo de arquitetura e urbanismo, não faltavam argumentos que me fizessem entender que a cidade de São Paulo, composta por uma sociedade que vive determinada por suas diversas condições socio-econômicas, físico-espaciais e temporais, é extremamente carente em espaços públicos. Mais do que isso, sua população, por mais heterogênia que seja, se mostra de maneira geral cada vez mais imersa em uma lógica de reclusão social, consequentemente reduzindo a cidade à paisagem que demarca o espaço de seu trânsito sem que se perceba a enorme potencialidade existente para utilização deste espaço com atividades das mais possíveis e variadas. Ao mesmo tempo em que São Paulo é o resultado de um planejamento cujos agentes entendem espaço público como sinônimo de espaço da infra-estrutura de transportes, o projeto de infra-estrutura urbana muito raramente se estende até sua qualificação para utilização do pedestre. Como consequência disso, a extensa e complexa ciência da arquitetura do espaço, da forma e da função enquanto configuradora e organizadora do meio ambiente para realização da vida humana, se mostra cada vez mais insignificante e incompreendida diante do modo em que a cidade se desenvolve. A partir dessas preocupações iniciais, procurou-se usar a oportunidade de realização deste trabalho para uma investigação teórica que levasse a um melhor entendimento do conceito de público, e que pudesse ser complementado por um exercício de verificação da possibilidade de resposta projetual para as questões elencadas como pertinentes no contexto específico da cidade de São Paulo.
construção teórica da idéia de público
Parte do processo inicial deste trabalho foi composta pela leitura de uma bibliografia selecionada voltada para a ciência da sociologia. Desta forma buscou-se fomentar a posterior etapa projetual com elementos conceituais que ajudassem a melhor compreender sob diferentes aspectos o conceito de público. Não cabendo aqui se ater à extensa gama de assuntos que os autores selecionados na bibliografia abordam para construir uma idéia geral do conceito de público, acreditouse importante destacar de forma sintética aquilo que fora compreendido enquanto válido para justificar a ação projetual almejada neste trabalho. Mesmo que as informações apresentadas abaixo possam se mostrar randômicas ou desconexas, preferiu-se de todo modo evidenciá-las enquanto norteadoras para comrpeender o desenvolvimento histórico que culminou na atual conjuntura do que os autores tentam definir enquanto homem público, de modo a fortificar o processo de ação projetual enquanto atividade estrategizadora da ocupação humana do espaço.
. A compreensão de que a idéia de público carrega uma série de significados cuja compreensão geral apresentou variações de acordo com determinados momentos históricos, mas que com o passar do tempo até os dias atuais ela teve a ênfase de seu significado deslocada de algo que deve pertencer a todos de maneira igualitária para tudo aquilo pertencente e administrado por uma instância central superior estatal; . O assustador enfraquecimento das instituições que deveriam assegurar e promover o homem público, bem como o debate sobre a definição do papel do Estado e sobre os limites de sua intervenção nas práticas sociais. No contexto da realidade brasileira como um todo, isso é atribuído ao fato de que vivemos sob a indução de um redirecionamento de atuação governamental para uma administração do tipo gerencial, que reduz o papel do Estado de executor e prestador de serviços (que passa a ser delegado à denominada esfera pública não-estatal, papel exercido na prática por organizações voluntárias), para o papel de regulador e promotor desses, ao mesmo tempo em que concentra seus esforços na gestão dos seus recursos financeiros. Isso faz com que a própria idéia de Estado esteja mais relacionada a assuntos de ordem econômica; . A decadência dos fóruns de discussão e decisão para vida publica atual baseado no entendimento da res publica como um compromisso mutuo entre pessoas estabelecendo um vínculo entre a multidão enquanto sociedade;
Johan Hiuzinga, Karl Marx, Richard Sennet, Sun Alex, Walter Benjamin, Antonio Houaiss, Gui Debord, Edgard
. A introspecção humana propagada pela religião como forma de potencialização de um isolamento do mundo político desde a oficialização do Cristianismo na Roma Antiga, e a promessa ou garantia de salvação individual para uma vida eterna representa um esvaziamento de sentido e de esforço prático de construção coletiva de uma vida em sociedade; . Distorção da psicologia moderna elevando a emoção acalorada das relações de intimidade e o aumento excessivo de preocupação voltada para emoções e desejos particulares em detrimento do estado de frieza na tomada de decisões enquanto condição da racionalidade nas relações sociais; . Estratégia de dominação cultural do mercado sobre a massa na sociedade moderna pela valorização do ‘eu’ por meio do estabelecimento ou usufruto de determinado fenômeno de identificação cultural pré-existente com fins de padronização de indivíduos em determinados status sociais (grupos, tribos, etc.); . A percepção da estrutura de ordenação da vida humana contemporânea pelo ciclo vicioso configurado duplamente pelo trabalho e pelo consumismo enquanto forma de alienação do ser humano pelo sistema capitalista vigente, e de sua estrutura de dominação pelo espetáculo da mercadoria, em detrimento da liberdade temporal (e espacial) para exercício do seu potencial criativo e lúdico, bem como do exercício de sua atividade política enquanto engajamento ativo nas coisas deste mundo;
. O estabelecimento de um modelo urbano rodoviarista, bem como uma cultura de uso de transporte privado, como desestímulo, tanto ao contato direto com o espaço público, quanto com a massa heterogenia que compõe os cidadãos usuários de seu espaço instaurado. Isso é amparado pelo argumento de se possibilitar uma liberdade de deslocamento de grandes distâncias em detrimento da falta de compromisso com o bem estar ambiental urbano. No contexto urbano da cidade de São Paulo particularmente estudado neste trabalho, o primado do fluxo de automóveis para transpor distâncias proporcionais à escala da metrópole sobre a preocupação com a qualidade do espaço na escala compatível com a ação do pedestre acarretou na consolidação de barreiras e vazios urbanos, e por conseqüência direta pode-se dizer que a cidade, ou os agentes no encargo de seu desenvolvimento urbanístico, atuam no sentido contrário de se estabelecer o espaço necessário para o estímulo à construção do homem público; . A compreensão de praça como centro social de acesso desimpedido integrado ao tecido urbano próprio para o livre exercício de atividades humanas coletivas fora do ambiente particular e privado, que em sua gênese política de tomada de decisões em assembléia pública pelo exercício do debate e da deliberação derivado da ágora grega, foi substituída por um espaço não convidativo conformado de maneira residual e negativa configurado pela malha de transporte rodoviário que configura a cidade.
d Morin, Hannah Arendt. As obras utilizadas como referência estão indicadas na bibliografia no final deste trabalho.
Os espaços livres são o reflexo de um ideal de vida urbana em determinado momento histórico. Sun Alex 1
Praça da Rua Amauri – Isay Weinfeld, 2004. Neste projeto, o proprietário pode controlar o horário deste pequeno espaço de acesso público com uma grade retrátil projetada e instalada sob o piso de sua entrada. Fonte: www.isaywenfeld.com
De certo modo, as cidades hoje são incontroláveis, e de tal forma para além do controle, em primeiro lugar, pelas autoridades… Há uma enorme parcela de envolvimento dos empreendedores, que têm suas próprias agendas. Eu penso que o arquiteto é realmente que nós tentamos aprender com a cidade e com a forma com a qual ela se desenvolve na tentativa de enxergar se em algum modo nossa profissão possa ser relevante diante desse fogo cruzado. A tarefa de projetar em São Paulo e para sua população (compreendida de maneira irrestrita) nos dias de hoje requereu a pesquisa sobre a postura dos arquitetos contemporaneamente ativos que possam representar os expoentes da Escola Paulista de Arquitetura. Nesse sentido, sentiu-se a necessidade de entender os elementos essenciais que pudessem compor as características de atuação desse grupo, bem como identificar a efetividade da qualidade do resultado projetual e sua coerência com o discurso social realizado diante da mesma tarefa de projetar um espaço público na cidade de São Paulo. A proposta de curadoria da mostra Coletivo – Arquitetura Paulista Contemporânea 3 realizada há alguns anos atrás em São Paulo, foi justamente a de identificar seus principais expoentes, curiosamente, todos formados pela FAUUSP (todos entre 1986 e 1996). Os textos críticos do catálogo da exibição revelam a especial importância da produção desta geração de arquitetos por marcar o inicio do processo de abertura política e anistia em seguida ao período de Ditadura Militar no Brasil, em contra-partida ao estado da faculdade durante as duas décadas anteriores marcadas por uma atuação mais direta e incisiva de alunos e professores na atividade política. Tal período foi marcado pela retomada do desenho e do “exercício profissional via práxis”4 , atividade na qual “o objeto arquitetônico volta ao centro da escola, envolvido por sua dimensão social e urbana” 5. A tentativa de levantar os pontos em comum entre os arquitetos incluídos no coletivo apresentado ajudou muito a formular uma identidade que o caracterize como um todo, mesmo que de
Rem Koolhaas
2
forma resumida e sem a merecida profundidade: “desejo de projetar na escala urbana, marcada pelo ingresso freqüente em concursos; dialogo direto da implantação do edifício com a paisagem, dotada de descrição harmônica; espaços internos preocupados com a integração de seus usuários; e a afirmação que mais chama a atenção ao ser apontada enquanto característica da arquitetura paulista contemporânea: o “raciocínio rigoroso da estrutura, independente do programa ou material, procurando uma racionalização da construção” 6. Segundo o crítico Guilherme Wisnik, algo que fortemente caracterizaria os expoentes seria a forma instaurada pelos edifícios enquanto instrumento de medida de ordem, diante de uma cidade não planejada, gerando edifícios projetados deliberadamente segundo uma “indiferenciação em seus interiores propícia à criação de espaços condensadores de programas cuja matéria é o vazio” 7. Entende-se então que ao assumir a tarefa de se construir a cidade pelo vazio ao se abrir eixos para possibilitar espaços públicos de ação coletiva humana, a postura incisiva de ataque da arquitetura paulista não pretende assumir enquanto tônica a compreensão da atividade humana culturalmente estabelecida no lugar segundo a qual o projeto deriva ou pretende almejar enquanto cenário desejado, mas sim em concentrar seus esforços em evidenciar o edifício cujos “‘arranjos programáticos’ e ‘disposições espaciais’, ao invés de procurarem configurar uma “forma urbana”, (...) manifestam uma visão sistêmica do urbanismo que procura, através de ações estratégicas, amparar a indeterminação,
a resposta paulista para arquitetura
o último que conseguiria mesmo afirmar: ‘Eu gostaria de mudar isso’. Nesse sentido é
Neste sentido, um breve exercício buscou identificar o bom sucedimento da “ação estratégica” pregada acima em edifícios construídos na cidade de São Paulo preocupados em proporcionar espaços de ocupação coletiva e de fluxo desimpedido que pudesse ser realizada independentemente do horário de funcionamento ao qual estão programaticamente conectados. Notou-se então que as estratégias empreendidas pelos arquitetos, mesmo que representassem soluções projetuais de notável qualidade, se mostraram insuficientes diante do poder de manipulação do espaço por seus
O Museu Brasieiro de Esculturas (MuBE) e o Centro Cultural da FIESP, ambos de Paulo Mendes da Rocha, foram gradeados em um momento posterior à conclusão do projeto original e radicalmente invertendo a proposta de proporcionar espaços abertos e de livre utilização coletiva para espaços encarcerados e somente transponíveis segundo a autorização de seu respectivo proprietário. Já no edifício do Centro Cultural Mariantonia / IAC projetado pelo UNA Arquitetos, que oferece ao público uma pequeno espaço no intervalo entre os dois edifícios com acesso por meio de uma passarela e uma rampa que leva a um generoso pátio interno, a colocação simples grade do tamanho da estreita largura dessa passarela representou uma intervenção extremamente simples trazendo como conseqüência o impedimento da entrada nesse espaço.
notas
Museu Brasileiro de Escultura - P. M. da Rocha, 1995
Diante da condição de subordinação do profissional da arquitetura aos interesses de clientes e do poder dos agentes produtores da cidade (como levantado por Rem Koolhaas na epígrafe), sejam esses públicos ou privados, entende-se então que os projetos engajados na tarefa de proporcionar novos espaços públicos para a cidade devem inevitavelmente levar essas personagens em consideração ao se estabelecer e colocar em prática determinada “estratégia de ação”.
proprietários, cuja postura que tem se mostrado mais natural é a do impedimento do acesso físico por meio de grades ou expulsão pela segurança. Neste caso, seguem os exemplos de três exemplos conhecidos de edifícios de arquitetura projetados em São Paulo durante os últimos 20 anos que sintetizam esta idéia.
Centro Cultural da FIESP - P. M. da Rocha, 1997
na expressão de Paulo Mendes da Rocha, desenhando a imprevisibilidade da vida 8.
1 ALEX, Sun. Convívio e exclusão no espaço público: questões de projeto da praça. São Paulo: Senac, 2008, p.61.
3 Exposição realizada no Centro Universitário Mariantonia, de agosto a novembro de 2006. 4 MILHEIRO, Ana Vaz; Nobre, Ana Luiza; WISNIK, Guilherme. Coletivo – Arquitetura Paulista Contemporânea. São Paulo: Cossac Naify, 2006, p.14. 5 ibid, p. 14 – grifo meu 6 ibid, p. 15 – grifo meu 7 ibid, p.174 – grifo meu 8 ibid. – grifo meu
Centro Cultural Mariantonia / IAC - UNA Arquitetos, 2002
2 Trecho de Legendary European Archtect – Rem Koolhaas, Documentário produzido pela CNN Link na internet: http://www.youtube.com/watch?v=VZvus5DQQPI&feature=related
proposta de trabalho
Uma vez que a etapa inicialde reflexão teórica levantou uma quantidade suficiente de questões, chegou-se à definição do objetivo destre trabalho enquanto a elaboração de um projeto configurador um espaço público na cidade de São Paulo, levando em consideração os fenômenos da construção da identidade cultural dos usuários do contexto a ser projetado, enquanto personagens componentes de uma massa heterogenia. Tal proposta se embasou na minha percepção pessoal de que os projetos de arquitetura desenvolvidos nessa cidade segundo a mesma lógica ou intenção tendem a tratar o futuro público usuário do espaço projetado de maneira genérica enquanto uma massa anônima culturalmente neutra, pode-se dizer, praticamente reduzidos a escalas humanas transeuntes, deixando em segundo plano a riqueza de suas identidades culturais e os respectivos hábitos que derivam destas e as caracterizam. Desta forma, o ponto de partida da proposta deste trabalho é a defesa da idéia de que a complexidade do projeto de arquitetura deva ser proporcional ao teor da própria cultura, a ser compreendida e absorvida de maneira realística e inclusiva. Para tanto, o partido conceitual almejou identificação de um contexto em meio à cidade de São Paulo utilizado por um público usuário estabelecido que representasse uma quantidade abrangente de identidades culturais coexistentes e que carecessem de uma atitude projetual preocupada em compreendêlas e interrelacioná-las. Uma vez encontrado esse contexto, poderia se partir para a etapa projetual, esta sim, preocupada em conceber um edifício que funcione como um catalisador de atividades públicas, visando proporcionar um cenário que estrategicamente não resulte na futura exclusão de usuários histórica e culturalmente estabelecidos, e que seja igualmente aberto e relacionado com a rede de espaços e edifícios públicos já existentes da cidade.
capítulo dois
a Praça Roosevelt : tempo e espaço
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contextualização geográfica
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fonte : Google Maps 2010
rota histรณrica Sรฃo Paulo - Sorocaba
eixo atual Leste - Oeste
Praรงa Roosevelt
cronologia do traçado urbano
século XIX 1a metade
2a metade
. configuração rural formada por córregos e chácaras
. consolidação da malha
. Primeira Igreja de Nsa. Sra. da Consolação
. presença do Velódrom
. estrada para Sorocaba
. expansão da malha ur seus afluentes menores
. respeito à várzea alagável do Córrego Saracura e ao sistema fluvial existente no local
1842
1897
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a urbana ao norte da Rua da Consolação
mo Municipal torna região área de lazer na cidade
rbana estrangula o Córrego Saracura e aterra s
século XX 1a metade
. desinstalação do velódromo e consolidação da malha rodoviária permietral à praça tal como hoje é encontrada . área da praça é asfaltada e transformada em estacionamento de automóveis . processo de aterramento do Córrego Saracura é acentuado até sua canalização permanente
1930
N fonte dos mapas: biblioteca da EMURB
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Via Elevada Presidente Costa e Silva
plano de reconfiguração viária, anos 1960
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fonte : Geoportal 1958
século XX 2a metade
. alargamento da Rua da Consolação . imposição de sistema elevado de autopistas no eixo Leste-Oeste com imposição sobre a malha urbana existente resultando em grande impacto urbnanístico . construção do primeiro projeto modernista de praça na cidade de São Paulo em trecho sobre o complexo viário Leste-Oeste.
1970
N fonte : biblioteca da EMURB
transformação da paisagem, anos 1960
praça roosevelt : memorial de projeto, 1970
PROJETO ARQUITETÔNICO E DE PAISAGISMO Roberto Coelho Cardozo, arquiteto paisagista Antonio Augusto Antunes Netto, arquiteto Marcos de Souza Dias, arquiteto. COLABORADOR Luciano Fiaschi, arquiteto. PROJETO ESTRUTURAL J.C. de Figueiredo Ferraz Ltda. CONSTRUÇÃO Consórcio Técnico de Engenharia REALIZAÇÃO Prefeitura Municipal
As reformulações urbanas tendem a apoiar suas propostas na grandiosidade da megalópole, completa, coletiva e uniformizada, criando monumentos onde se destrói a vitalidade do detalhe e seu correspondente humano. A Roosevelt nasceu no centro de São Paulo e é tipicamente um acontecimento urbano, polifaceado como é a cidade, múltiplo, denso; sua linguagem usa o vocabulário do ambiente, ordenando na grande e na pequena escala de aproximação, Pois assim é a cidade, grande e pequena a um só tempo. A história das cidades sempre esteve ligada à de suas praças, pólos de concentração humana em torno de símbolos próprios do desenvolvimento social. Mas a tradição caracterizou a praça por uma separação rígida de edifício público e espaço público, orientada dentro de uma lógica de geometria, impenetrabilidade e complementação mútua de seus componentes. A Praça Roosevelt é um edifício-praça, e sua estruturação deve ser analisada sob critérios diferentes dos empregados nas praças de província (Praça da República, SP) ou nas de caráter cívico e monumental (Praça dos Três Poderes, Brasília). A concentração de interesses públicos e sua fusão com o espaço aberto e também público propõe sedimentar com naturalidade o processo humano como manifestação de vida social, abrangendo o caráter essencial da cidade.
O projeto opõe-se ao pensamento rígido, de ordenação geométrica e tradicional. Pois, catalizando a formação dos significados comuns, do substrato da cidade, a Roosevelt nasceu com um desabafo urbano, uma forma empenhada na vitalização de um sentimento fundamental, o da presença desta cidade, no seu contraditório e imaturo, mas poderoso reflexo de sí própria. E êste polo intencional, não desenhado ou construído, esta presença1 que atrai e repele, foi para os arquitetos elemento essencial do trabalho. A proposta nasceu da múltipla ocupação do espaço remanescente sôbre o sistema viário da ligação leste-oeste, orientada por um programa extenso e funcionalmente complexo, correspondendo a necessidade da área central levantadas e arbitradas pela Administração Faria Lima, em 1967. Em abril de 1968, após sucessivos debates e contatos, como o que teve lugar no Instituto dos Arquitetos2, foram aprovados o plano e o programa finais. Esta proposta inicialmente englobava o quarteirão lateral; nêle se encontrava, e está lá até hoje3, o Dispensário de Tuberculose do Estado, velho prédio em local inadequado4. O projeto propunha a instalação nesta área de um centro cultural, composto 1 Grifo do autor. 2 Vale notar a vigente presença atividade do IAB na época, com debates e discussões que realizava a ponte entre as ciências da arquitetura e urbanismo com a população sobre a transformação do espaço público vigente. Em contraposição, tal processo se mostra reduzido atualmente a uma estrutura de projeto fechado seguido de uma réplica revisora, respectivamente desempenhados pelo projeto realizado pela EMURB
de um edifício para atividades musicais (Discoteca Municipal, Escola de Música e Escola de Dansa (sic.), entidades até hoje de instalações precárias ou de difícil acesso), um auditório de dois mil lugares, e um conjunto educacional completo, interligado ao playground atualmente existente na praça. Juntamente com um terreno da Prefeitura, cêrca de metade dêste quarteirão é de posse pública; não foi desenvolvida, no entanto a proposta, embora houvesse grande interesse por parte das entidades a ela ligadas, pois, como se tratasse grande parte da propriedade estadual, demandaria troca, empreendimento êste moroso e complicado. O projeto aprovado, dentro da área da Praça Roosevelt antiga visou atender a cinco campos de demanda, distribuídos sôbre e dentro da área da seguinte forma:
Áreas de Praças Públicas:
2.540 m²
Áreas para Serviço de Abastecimento:
6.010 m²
Áreas para Estacionamento:
19.170 m²
Áreas para Atendimento Público, Recreação e Educação: Áreas de Sistema Viário sob o Conjunto:
2.540 m² 17.350 m²
Área Total: (Área da Praça Roosevelt Antiga):
e seu diálogo com a Associação de Moradores do Centro, a
65.100 m² 25.100 m²
ser visto a seguir neste trabalho. 3 Texto original de 1970. O edifício referido ainda se encontra no mesmo local, hoje abrigando a Sociedade Beneficente Clemente Ferreira (patrono da Tisiologia brasileira – estudo de doenças pulmonares), desenvolvendo trabalhos através da implantação e do apoio a programas, projetos e atividades diversas nesta área, em especial quando dirigidas às pessoas em situação de exclusão social e econômica. Fonte: www.sociedadeclementeferreira.org.br 4 Evidência de um sentimento crítico e progressista em relação à dinâmica de transformações urbanas.
Para a distribuição equilibrada destas funções, de forma a caracterizar o espaço-praça-edifício, optouse pela construção horizontalizada, conquistando, tanto no subsolo como na superfície, os 250.000 metros cúbicos de espaço oferecidos na retirada da terra para execução do sistema viário.
Na estruturação do projeto, dois foram os pontos de partida: o sistema de pistas existentes e projetadas e a topografia original da região. Não sendo possível o remanejamento das ruas de contôrno e havendo exigência de mais um nível de estacionamento, a fim de comportar o número de veículos fixados pela Municipalidade, todo o plano principal do conjunto foi disposto no meio-nivel das ruas Olinda5 e Marinho Prado; dêste plano gerador derivaram-se os demais. A geometria da composição, que permitiu solucionar as dificuldades de alinhamento dos apoios, baseou-se no ângulo formado pelas ruas laterais, coincidentemente o ângulo dos lados alternados de um pentágono regular. Assim, a adoção de uma retícula de modulação de 6 x 17 metros, cujas diagonais formam ângulos semelhantes aos gerados pela figura pentagonal, possibilitou apoios nos canteiros centrais da pista subterrânea e facilitou relações de geometria estrutural. A distribuição e extensão dos níveis construiu uma “topografia de concreto” semelhante à originalmente existente: sôbre esta topografia, a peça pentagonal, destinada a abrigar em tôda sua área de cobertura um mercado distrital, principal exigência do programa original, mas tarde modificado pela administração em um supermercado de menor porte. Em têrmos de Praça, os resultados foram, mais explìcitamente, seis espaços urbanos caracterizados: três principais, três secundários, além de áreas de vegetação e sombra. As praças principais: Praça Maior - Correspondendo ao primeiro nível do conjunto, está logo acima da rua Olinda 6, ajustandose às ruas limítrofes com a forma de um pentágono regular de 52 metros de lado, com capacidade para cinco mil pessoas nas concentrações cívicas e culturais. Para êste espaço, cuja versatilidade luminosa é essencial, foi projetada uma torre de iluminação, obelisco de aço com cinquenta metros de 5 Atual Rua João Guimarães Rosa. 6 idem.
altura, que nasce no centro da rampa circular, com características suficientes para abrigar spot-lights, luzes gerais, alto-falantes de difusão e amplificação sonora, de forma a adaptar a iluminação da praça aos espetáculos em ocorrência ou à condição de espaço de uso público normal. Peça de grande verticalidade e esbeltez, dá referência espacial às ruas adjacentes e à toda praça. A estrutura da Praça Maior, com vãos da ordem de 25 metros, apoia-se independentemente no nível do plano gerador em laje do tipo transição, através de coxins móveis de neoprene e aço. O nervuramento projetado, em espinhas, cria uma interdependência estrutural das principais vigas, possibilitando, numa peça monobloco, o emprêgo de concreto armado comum, sem necessidade de protensão. A estrutura do pentágono prende-se à laje de transição pelo pliar central, deixando os apoios livres em todos os quize demais pilares, para absorção dos efeitos de dilatação e contração do conjunto. Praça dos Pombos - É a segunda praça da Roosevelt, voltada para a Avenida Consolação e a Esplanada. Área ensolarada, coloca-se sôbre a cobertura do Restaurante e do Play-Ground, com seu acesso principal feito pela rampa em forma de cone truncado (por onde se ventila a pista). A peça polar desta praça é o Pombal, situado sôbre o eixo da ligação leste-oeste. Os gradeados e caixas de areia existentes não fazem parte do projeto. Ante-Praça - Esta serve de ante-sala à Praça Maior e está situada próxima à Rua Augusta. Exposta aos ventos de sudoeste, seu clima difere radicalmente da Praça dos Pombos. Sôbre o espelho d´água, foi prevista a colocação de esculturas. As praças secundárias, entremeiadas por tôda a obra, denominam-se: Esplanada da Consolação - Um metro e meio elevada em relação à Avenida Consolação, esta área serve princialmente ao restaurante, para colocação de mesas ao ar livre. É também patamar de acesso ao play-ground infantil, servindo a rampa de acesso à Praça dos Pombos como separador dos espaços
Esplanada da Consolação
Ante-Praça Praça dos Pombos
Praça Maior (pentágono)
respectivos. Praça do Mercado de Flôres – Em entrosamento com vegetação de porte alto (eucaliptos), estarão aí instaladas barracas especialmente projetadas para venda de flôres, em caráter permanente. Pátio Pergolado – Bem no interior do conjunto, êste espaço abriga quatro lojas de venda de souvenirs e uma casa de lanches. Por sôbre esta área, em grande pergolado de concreto, garante o clima ameno nos dias quentes. Pelo pátio é feito o acesso às instalações do Serviço de Turismo, às agências de Correio e Telefones, e a sanitários públicos. Além dessas áreas livres, foi prevista vegetação de porte, contornando a Igreja da Consolação, criando zona de sombra densa na região de estacionamento aí localizado, O Serviço de Abastecimento da Praça Roosevelt, instalado em função das necessidades do centro, após a retirada da feira semanal, originalmente era composto de um mercado distrital, ocupando a totalidade da área coberta pelo pentágono, foi posteriormente remanejado para um supermercado de menor porte, obrigando a revisões na distribuição dos espaços. Esta reformulação, realizada quando a construção já se encontrava em fase adiantada, obrigou a adaptações sôbre a estrutura, que justificam os esquemas de distribuição para área de serviços de instalação. A mudança substituiu o mercado distrital por uma composição entre o supermercado (manufaturas e embalados) e uma feira-modêlo destinada apenas aos produtos hortifrutigranjeiros, de reposição mais dinâmica. Para esta feira foram projetadas bancas especiais de “fiberglass”, mais leves e higiênicas, projeto êste adotado pela Secretaria de Abastecimento da Prefeitura. As áreas de estacionamento do conjunto, além de projetada ao lado da Igreja, foram resolvidas em dois níveis, com capacidade total de oitocentos veículos. As entradas são feitas pela rua Martinho Prado, no trecho próximo à rua Nestor Pestana, e a saída cem metros adiante, na metade do quarteirão,
deixando livre a parte intermediária. Os dois níveis de estacionamento têm ventilação natural e previsão de câmaras de insuflação de ar, assim como sanitários, escadas e rampas para pedestres. Os Serviços de Atendimento Público, Recreação Coberta e Educação, situam-se principalmente sob suas praças do conjunto, a Ante-Praça e a Praça dos Pombos. Sob a Ante-Praça - Local de Informações e Exposições Turísticas, projetado para ter acessos pela Rua Agusta e pelo Pátio Pergolado, destinado a promover exposições permanentes sôbre os pontos de interêsse turístico da Capital e fornecer informações. No mesmo setor, agências de Correios e de Telefones, Administralção da Praça e um pequeno Ambulatório Médico de emergência. Foram tembém projetadas quatro pequenas lojas para venda de souvenirs, uma das quais foi adaptada pela adminstração para Agência Bancária. Próximamente, sob o pátio pergolado, uma área para mesas que serão atendidas por uma lanchonete contígua ao supermercado. Sob a Praça dos Pombos - Restaurante, com mesas ao ar livre na Esplanada e parte coberta de 500 m²; e um play-ground para crianças do antigo parque da Praça das Bandeiras, em área coberta de 1.200 m², além de extensa área de brinquedos ao ar livre. Complementando, o sistema viário que atravessa subterrâneamente o conjunto compreende um trecho da ligação leste-oeste, além de três pistas secundárias de articulação com as ruas laterais. Estas pistas possuem ventilação natural ao longo da rua Olinda e na rampa de acesso à Praça dos Pombos.
São Paulo: REVISTA ACRÓPOLE n. 380, Dezembro 1970, p.11-21. A gramática da época da publicação foi mantida.
Pรกtio Pergolado Pรงa. do Mercado de Flores
sentido zona leste sentido zona oeste estacionamento subterrâneo
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N referências gráficas : Revista Acrópole n.380, Dezembro 1970
capĂtulo trĂŞs entrevista com Rodolfo Gracia Vasquez diretor da companhia de teatro Os Saryros 12 de Novembro, 2009
Rodolfo García Vásquez - Vou começar falando um pouco da história da praça. A Praça Roosevelt abriga a Igreja da Consolação que foi durante muitos anos a Igreja Matriz de São Paulo. Quando a Catedral da Sé foi construída ela assumiu esse posto de igreja principal ou matriz. Mas a igreja da consolação tem um papel muito importante na história da cidade de São Paulo. E a própria localização da Praça Roosevelt é uma localização muito especial, porque ela fica num ponto de confluência de vias muito importante da cidade, Leste-Oeste, Norte-Sul. São eixos viários bastante importantes. Ela fica em cima de um eixo que é fundamental: o eixo Radial Leste-Oeste, o Minhocão (Elevado Costa e Silva), e do lado da Rua da Consolação, da Rua Augusta, da Avenida 9 de Julho, que são avenidas muito tradicionais da cidade. Onde é o Teatro Cultura Artística, no final da década de 1950 e começo da de 1960, foi a TV Excelsior, que era uma televisão muito importante em São Paulo. E a região toda da Praça Roosevelt, pegando a Rua Nestor Pestana, a Rua Avanhandava e a própria Praça era a região freqüentada por artistas, por músicos... Então nesse período de 195060 a Praça Roosevelt era um lugar elegante da cidade. Aqui do lado deste prédio1 tem uma escola, que era a escola alemã (Colégio Visconde de Porto Seguro). Então do lado de cá da praça (Oeste), você tinha a escola onde todos os descendentes de alemão vinham estudar, pois era uma escola ˜de excelência”. ���������������������������������������������������� . Entrevista realizada no apartmento do Diretor, esquina da Praça Roosevelt com a Rua Augusta.
Do outro lado da praça (Leste) você têm o primeiro aparthotel de São Paulo, que é o prédio onde é o Satyros 1 hoje, e uma série de construções que a princípio vão atender um centro da cidade que se agita, efervescente e tal. Se você olhar a Praça Roosevelt ela é um paredão de prédios de um lado (Norte) e do outro alguns prédios Federais e onde era a escola alemã [até a década de 1970], onde hoje é a Escola Estadual Caetano de Campos. E tinha um grande estacionamento atrás da igreja nesse período, que recebia os carros. O projeto urbanístico da Praça surgiu com um tipo de visão de arquitetura muito típico daquele período dos anos 1960, que era uma coisa desenvolvimentista, meio Kubitschek... Trabalho Final de Graduação – Diretamente conectado com um modelo de propaganda do automóvel. R.G.V. – É. Por exemplo, com a reforma da Praça foi preservado o estacionamento: são dois andares que dá para milhares de carros estacionarem. Ainda embaixo da Praça você tem a passagem que vai dar para o Minhocão. T.F.G. – Passagem de pedestres? R.G.V. – Não, viária, de carros, que dá para o Minhocão e para a Radial Leste. E você tem ainda um outro andar de concreto que fica num nível mais elevado com formas geométricas. Então se você olhar de cima, e você vê projeto
arquitetônico da praça, você fala: “Nossa, que idéia! Formas geométricas!”, você reconhece círculos, quadrados, retângulos, triângulos, num plano suspenso além do plano da rua, da calçada. Então você tem o plano da calçada que fica totalmente coberto, esse plano superior que forma uma série de figuras geométricas, e dois andares abaixo são os estacionamentos. Isso foi inaugurado pelo Médici, em 1970, e pelo Maluf. Então é um projeto que foi concebido e executado na fase do “Brasil: ame-o ou deixe-o”, e também tinha uma característica bastante totalitária. T.F.G. – Totalitária em que sentido? R.G.V. – No sentido de que existia um planejamento central que definia o que era bom para essa praça, e esse planejamento central impunha um bloco de concreto numa região da cidade sem a menor consulta, sem a menor percepção também de como as pessoas se moviam pela cidade, como as pessoas usufruíam do espaço público... Eu acho que a maior parte dos projetos urbanísticos tem essa tendência de ignorar o que as pessoas precisam, ou querem, ou desejam. São projetos que colocam acima de tudo formas que vão ser impingidas da sociedade, e não formas que brotam de uma série de conflitos, interesses, encontros, combates de forças sociais. São formas que se sobrepõe a tudo isso. Então é isso. Quando isso acontece, essa área, que era nivelada, isolou os dois lados da praça porque ao ter um bloco superior ao nível da calçada, um bloco de cimento quase opressivo,
você acaba não enxergando o outro lado da calçada. Então é como se a Praça tivesse sido recortada no meio: de um lado esses prédios e a escola, e do outro o paredão de prédios com um monte de pequenos galpões, pequenos espaços comerciais embaixo. T.F.G. – Tem até estacionamento em um deles, com elevador, não? R.G.V. – Um deles é um prédio inteiro de estacionamento (1) ! Quer dizer, ele tem uma parte de escritórios e a outra parte é o prédio inteiro para estacionamento, que fica do lado do Satyros. T.F.G. – E esse estacionamento que você falou que tem dois andares para milhares de carros, eles são usados intensamente? R.G.V. – Agora não mais. Eles foram usados até 2007. T.F.G. – Não estão sendo mais usados porque a prefeitura já começou com o processo de demolição da praça? R.G.V. – Exatamente. Bom, o que aconteceu: a TV Excelsior entrou em falência, acho que ainda na década de 1960 (não sei a data exata), e torna-se Sociedade Cultura Artística. Durante os anos 1970, dois desses espaços comerciais que ficavam embaixo de prédios da praça se transformaram em cinema de arte: o Cine Bijou e o Cineclube Oscarito. Talvez o Bijou fosse antes até, eu não sei o período histórico
do Bijou. Nos anos 1950-60 tinha a Baiúca, que era um restaurante que ficava na Praça onde hoje é o Supermercado. Esse restaurante recebia o pessoal da Bossa Nova, os músicos que naquela época estavam fazendo uma pequena revolução na música brasileira na década de 1960. Nos anos 1970 a Baiúca já não tinha mais força e o que sustentou culturalmente a Praça Roosevelt foram esses dois cinemas de arte. Naquele período não existiam muitas salas de cinema dedicadas a filmes “alternativos”, só comerciais, então quem queria assistir Bergman, Fellini ou Pasolini tinha que vir para a Praça Roosevelt. A falência dessas salas de arte se deu nos anos 1980 quando outras salas foram formadas. O Cine Belas Artes tirou esse público da Praça Roosevelt e o levou para a Consolação com a Avenida Paulista. E daí foram surgindo outras salas, e esses espaços de cinema da Praça Roosevelt se deterioraram. No final dos anos 1980 tinha uma boate, que é onde fica o Espaço Satyros 2 hoje, chamada Kay: uma boate Punk, meio Rock dos anos 1980 que se estabeleceu ali, e a praça entrou em processo de degradação completa. Por quê? Porque ela está localizada no meio de uma região altamente problemática que é o centro de São Paulo, mas principalmente entre os eixos da prostituição da Augusta, da Rua Rego Freitas, da Rua Bento Freitas, da [Rua] Marquês de Itu, toda aquela região, e a Praça fica exatamente no meio desses dois conjuntos. Na década de 1990 abriu um bar gay que acelerou essa deterioração, que se chamava Corsário. Inicialmente era uma bar para os gays de classe media-baixa do Centro e rapidamente foi sendo tomado por traficantes e pelo pessoal da prostituição, michês e travestis, e a Praça ficou totalmente tomada por esse movimento. Por outro lado, a própria construção, esse dinossauro de concreto que tem no meio da praça, ele favorecia esconderijos para criminosos. A própria Nestor Pestana era ponto de prostituição. Tinha uma série de casas noturnas na Nestor Pestana que também são casas de prostituição. Então você tinha Augusta, Nestor
Pestana, Rego Freitas, Bento Freitas, Marques de Itú: tudo isso era um grande conglomerado de prostituição. A Praça Roosevelt ficava no meio com uma construção que favorece esconderijos, favorece a criminalidade, e o Corsário, que era um bar de tráfico de drogas, de criminalidade e tal. Então, no final dos anos 1990 a Praça era considerada em várias reportagens, até pela imprensa e tudo, como um dos lugares mais perigosos de São Paulo, comparado à Cracolândia. O Cultura Artística tem um papel engraçado nesse contexto, porque ele tornou-se um templo da burguesia culta e também um templo do teatro comercial burguês. Então a burguesia culta ia para o Cultura Artística para assistir a concertos, recitais, toda a programação da Sociedade Cultura Artística, e o público burguês de teatro ia assistir espetáculos de Regina Duarte, de Antonio Fagundes e tal. Como o Cultura Artística sobrevivia no meio de tudo isso? Ele simplesmente se isolava e fingia que não existia nada em volta dele. T.F.G. – Mais o menos o mesmo efeito que se tem com a Sala São Paulo? R.G.V. – Exatamente. A diferença da Sala São Paulo é que o seu estacionamento é dentro da sala, e no Cultura Artística eles tinham seguranças espalhados. Quando nós chegamos na Praça, rezava a lenda de que no Cultura Artística, entre os estacionamentos e o teatro, eram colocados mais de 40 seguranças para garantir que as pessoas não seriam incomodadas no seu percurso até a sala. Então as pessoas chegavam com seus carros maravilhosos, estacionavam, e durante os 100 ou 50 metros que elas tinham que andar tinham um esquema de proteção fortíssimo. Isso garantia a freqüência do Cultura Artística naquele período. Agente não pode esquecer, por exemplo, que hoje não existe isso para o Teatro Municipal, onde as pessoas têm medo de ir. Então o Cultura Artística, por mais que ele recebesse mais de 2.000 pessoas por noite, seria incapaz de mudar esse quadro porque a idéia era de não dialogar com aquela realidade, mas fingir que ela não estava ali e
Então quando nós chegamos (agente ficou muitos anos trabalhando na Europa), agente acabou escolhendo ficar na Praça Roosevelt. Nós ficamos seis meses procurando um espaço, e nós não queríamos ir para Vila Madalena, nem para Pinheiros, nem para nenhum desses bairros. Agente achava que nós tínhamos que ficar em uma região de fácil acesso para a cidade inteira, e quando agente viu a Praça, agente viu uma oportunidade de um local incrivelmente poderoso do ponto de vista urbanístico. É como se fosse um coração da cidade e que estava moribundo, caindo aos pedaços. E agente se instalou no numero 212 da Praça. Para você ter uma idéia, quando agente chegou na Praça, o prédio onde agente instalou a sala do Espaço Satyros 1 era um hotel de travestis de prostituição. Os travestis tinham seus quartos, seus apartamentos pequenos, e eles recebiam clientes nesse hotel. No hotel houve vários casos policiais, inúmeros, e inclusive suicídios por excesso de drogas... Muita coisa. E o prédio, dois anos antes em 1998, tinha sido fechado porque o dono do hotel não estava pagando o aluguel do prédio inteiro e foi despejado pela policia. Em 1998-99 o Corsário também foi interditado pela policia. (Rodolfo começa a desenhar a praça para melhor pontuar os locais sobre os quais fala)
Quando agente chegou, isso aqui, onde hoje é o Extra e antes tinha sido a Baiúca (3) era um lugar invadido por sem-tetos. (...) Esse aqui, que tinha sido o Corsário, estava fechado; o Satyros 1 que é onde nós chegamos, o espaço que nós ocupamos, é a parte térrea de onde tinha sido o hotel de travestis; a padaria foi fechada por causa de um assassinato: o filho do dono da padaria tinha matado o amante da namorada dele. Onde era o Satyros 2 estava fechado; antes, do lado do Satyros 2 tinha um prédio só de travestis; aqui, onde é o Pet Shop (8) era um bar de travestis; aqui na esquina o Galharufa estava fechado, tinha a Casa de Prostituição Kilt (9) funcionando a pleno vapor. A Nestor Pestana estava normal.
Esquema feito pelo diretor
Quando nós chegamos na Praça, em Dezembro de 2000, existiam dois pequenos teatros que já estavam funcionando na Praça onde eram o Bijou e o Oscarito. No lugar do Oscarito tinha um teatro chamado Studio 184 (1997), e no Bijou... não me lembro na época, mas hoje se chama Teatro do Ator. Qual era a programação do Teatro do Ator (que é a mesma programação até hoje): eles abriam um espaço para apresentações dos seus alunos no final de semana. E o Studio 184 fazia espetáculos que entravam em cartaz. Era mais ou menos assim que funcionava.
O prédio do Satyros 1 é aqui (2) . Aqui tinha sido Baiúca (3), e aqui do lado, onde é uma loja de material elétrico hoje, foi no passado o Corsário (4). Onde era o Baiúca é o Supermercado Extra hoje. O Satyros 1 tinha sido um hotel de travestis. Onde é os Parlapatões tinha sido uma padaria que também tinha sido fechada mais ou menos nesse período (5). 1998 eu acho que é um ano bem crucial na história da praça. Onde é o Satyros 2 (6), na década de 1980 era uma boate bem famosa, e nessa esquininha aqui do lado do Cultura Artística ficava o Galharufa, um café-teatro (7).
Então a Praça era escura, porque os traficantes jogavam pedras nos postes, nas luzes, para deixar a Praça escura. Então por mais que os moradores pedissem, no dia seguinte que eles chegavam a Praça sempre ficava escura, e era essa a situação da Praça. E essa área aqui toda tinha moradores de rua e tal, e o estacionamento embaixo da praça funcionava. T.F.G. – Até determinada hora do dia? R.G.V. – Não, 24 horas. T.F.G. – Porque de Sábado à noite e de madrugada quando se passa por aqui lá tem
Esquema feito pelo diretor
que eles estavam em uma miragem, em uma ”Ilha da Fantasia” rodeada de esgoto.
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R.G.V. – Ah não, esses cones laranjas ficam aqui (10). Isso aqui é a entrada que vai dar no Minhocão. Porque o Minhocão a partir das dez horas da noite não funciona, só para pedestre. Aliás eu ando de bicicleta lá a partir das dez da noite. É o nosso Parque do Ibirapuera. A entrada do estacionamento é aqui (11) na lateral (face Oeste), ou aqui (12), quase em frente ao Satyros 1. Bom, quando agente chegou, a fama da Praça era tão ruim que agente convidava os críticos e eles diziam: “Apresentem-se em outro lugar da cidade, mas na Praça Roosevelt eu não piso”. E isso aconteceu mais de uma vez. O público era minúsculo, as pessoas não tinham coragem de ir. A única vantagem que nós tínhamos era a de que ... Ah, do lado do Satyros, e é importante que se diga isso, porque esse prédio vai ter um papel bem importante a partir de agora: é um prédio abandonado, que na década de 1950 tinha sido um lugar para escritórios fantásticos no Centro e onde... (agora eu não sei o nome desse fotógrafo com sobrenome estrangeiro...) Um grande fotografo de São Paulo tinha o atelier dele aqui. Esse prédio agora vai ser a São Paulo Escola de Teatro. (13) Então o que aconteceu: nós tínhamos muito pouco público e agente fez a reforma nesse prédio. O prédio inteiro estava abandonado e agente fez uma reforma nesse térreo e assumiu o compromisso de fazermos algo em cinco anos que conseguisse mexer com o espaço, ou irmos embora de novo. Porque agente já tinha morado em várias cidades, já tinha tido uma vida meio cigana... Então agente resolveu apostar mas estabelecendo uma data. Aqui e aqui ficam o Teatro do Ator (14) e o Studio 184 (15). Bom, aí começa o processo de transformação. O que mais você quer saber? T.F.G. – Há algumas semanas atrás teve as Satyrianas, na qual não só na Praça Roosevelt mas também no (Teatro) Oficina e em outros
teatros da cidade, tinha uma série de peças que estavam acontecendo, e inclusive que algumas delas foram performances que aconteceram na própria Praça Roosevelt. Eu queria saber um pouco mais então sobre a apropriação do espaço da Praça como modo de aproveitar todo o potencial desse espaço utilizado como esconderijo antigamente, mas que tem uma espacialidade enorme, um espaço público aberto e vocês estão se apropriando dele e atraindo pessoas para vivenciá-lo. R.G.V. - Quando agente chegou, os traficantes nos ameaçaram, óbvio. Na calçada em frente do Satyros tem um bueiro (16) que eles levantavam e enfiavam a droga, para quando a policia desse batida neles eles não fossem pegos. Tem uma história interessante do final dos anos 1990 que aqui nessa parte de cima da Praça (17): ocorre um grande escândalo com o Patrício Bisso, um artista performático argentino que mora em São Paulo, bem reconhecido aqui, e inclusive trabalhou na TV Globo, fazia figurinos e tal. E ele subiu essa rampa aqui (18) com dois michês e começou a fazer sexo com eles. Um dos moradores viu, não sabendo que era o Patrício Bisso e vendo uma cena imoral ali em cima... T.F.G. – Mas ele fez isso com o propósito de ser algo como um happenning? R.G.V. – Não, não, foi absolutamente sexual! [risos] Não era um happenning, e daí pegaram ele no flagra (a policia), ele foi preso e isso foi um grande escândalo da Praça. Então a Praça ficou marcada por essa história também: Patrício Bisso deu [sic] em cima da praça. [risos] Bom, voltando. Quando agente abriu o Satyros 1, os traficantes nos ameaçavam e os travestis nos ignoravam. Então esse processo foi importante no contexto da Praça por que agente se sentiu tão isolado quanto o Cultura Artística, com a diferença de que nós não tínhamos 40 seguranças para nos proteger e proteger o nosso público. E agente decidiu
vista noturna de cima do Pentágono
cones laranjas...
Dois anos depois agente assumiu o Studio 184, cuja diretora se chama Dulce Muniz, e num esforço nosso de união, agente propôs que ela trabalhasse com o Satyros. Agente ganhou um primeiro fomento nosso, que foi o Programa Municipal de Estabilização das Companhias de Teatro: agente a convidou para participar do processo e nós assumimos a direção do Studio 184, que passou a se chamar Satyros 2, e no ano de 2003 agente conseguiu fazer uma ponte com as travestis. Quando nós saímos de São Paulo em 1992, tínhamos um aluno que estava começando um processo de transsexualidade, mas ainda não era um travesti e ele, no final de 2002, agente reencontra esse aluno, que já não se chamava mais Marcos, se chamava Big Loira, ou Bibi. Então a Bibi nos apresenta a Phedra D. Córdoba, que era uma travesti muito importante na cena das travestis. Ela tinha na época 63 anos, fazia shows em casas noturnas, e tinha sido atriz de teatro de revista. É cubana. Bibi e a Phedra nos apresentaram às travestis da praça e nós convidamos a Phedra para entrar no nosso trabalho. Então agente se tornou “vulnerável” à realidade da Praça e
incorporou a Praça na produção do grupo. Ao chamar a Phedra em 2003 para trabalhar como atriz do nosso grupo, agente estava assumindo esteticamente a realidade da praça. Esse foi um momento bastante importante, e fizemos uma remontagem da Filosofia na Alcova, uma peça clássica do nosso repertório que é do Marquês de Sade, no Espaço Satyros 2, onde era o antigo Studio 184. A peça foi um grande sucesso e no Satyos 1 agente fez Antígona, que também foi um grande sucesso, e agente foi indicado a vários prêmios em São Paulo. Nós começamos a circular entre o Satyros 1 e o Satyros 2 e começamos a ocupar mais a calçada, a violência lentamente começou a cair e agente conseguiu atrair muito público. Então nesse momento agente começa a se sentir dono dessa calçada e achar que o espaço era nosso também. Mas ainda era um pequeno fragmento da Praça. Nesse mesmo período começaram as vir artistas, intelectuais, jornalistas, curiosos com essa cena da Praça, e esse período entre 2003 e 2005-06 foi um período muito sui generis e que marcou muito a praça, porque existia uma convivência real da prostituição, dos travestis e michês com os traficantes, os artistas, os intelectuais e os jornalistas que apareciam. Era ainda um movimento incipiente, não era um lugar da
Phedra D. Córdoba
colocar uma mesinha na calçada e deixar as luzes acesas: um de nossos sonhos era que o bar fosse um ponto de encontro da classe teatral. Então colocar a mesinha na calçada, para nós naquele momento, foi uma coisa intuitiva, mas posteriormente agente vai entender isso como um gesto político. Ou seja, esta calçada é pública, essa calçada é nossa, nós não temos medo de usá-la: ela é nossa e nós temos o direito de usá-la, que é o movimento contrario ao que acontece em uma cidade como São Paulo em que as pessoas tem medo do espaço público. E naquele momento nós queríamos ir contra isso e dizer: “Não, o espaço público é nosso˜, e nós íamos colocar aquela mesa na calçada, apesar dos traficantes, apesar das travestis que nos ignoravam... Agente não queria expulsar essas pessoas, agente queria conviver com elas e trazer público. Então o movimento da mesa na calçada foi muito importante: essa pequena mesinha que foi para a calçada.
moda como a Praça se tornou depois, mas um lugar de encontro de realidades sociais absolutamente heterogêneas. No final de 2003, a Dulce Muniz voltou para o Studio 184 e nós nos esprememos de volta no Satyros 1. Mas já nesse período começaram a acontecer as Satyrianas. A primeira ocorreu em 2001, mas em 2003 ela já foi ficando mais forte. Isso foi uma idéia do nosso primeiro período em São Paulo antes de irmos embora do Brasil: em 1991 aconteceu a primeira que era durante 72 horas fazer uma festa ininterrupta de teatro, como se fosse uma vigília pelo teatro. Isso deveria acontecer na primavera e comemorar o aniversário do Satyros e a chegada do período mais frutífero e muito marcado na história do teatro, pois era quando aconteciam os rituais dos festivais dionisíacos. Em 2005, esse espaço onde é o Satyros 2 tinha sido de 2001 a 2005 o espaço de uma outra companhia chamada (Estúdio de) Teatro X [15], pois perdemos o espaço do Studio 184. T.F.G. – Mas perderam porque? R.G.V. – Porque ela resolveu reassumir o espaço. Eu prefiro não entrar no mérito. E nós ficamos espremidos no Satyros 1. Aí a companhia de Teatro X, em 2005 devolveu o imóvel, e como a região ainda era muito marcada pela prostituição agente ficou com medo do espaço virar um “inferninho”, então nós fizemos uma proposta de assumir o espaço, que acabou sendo o Satyros 2, e que é bem mais longe do Satyros 1. Em 2005 começamos a fazer um trabalho nesse prédio do lado do lado do Satyros 1 que estava totalmente abandonado (13) que estava em uma disputa judicial de família. Agente começou a usar o subsolo dele de forma absolutamente clandestina. Agente usou em 2005 já pela primeira vez esse subsolo. Quando o Serra assume a prefeitura em 2005, acontece a primeira Virada Cultural. Algumas pessoas vão dizer que ela se inspira um pouco
no modelo das Satyrianas, com diferença que esta tem 4 dias e a Virada ocorre em só uma noite. E nós fomos convidados para participar da Virada Cultural e resolvemos fazer um livro do Gilberto Dimenstein chamado O Mistério das Bolas de Gude, que é um livro que trata da apropriação da cidade pelas pessoas, como a cidadania se implanta na calçada, na vida pública, e que relata as experiências que ele teve em Nova Iorque, em São Paulo, e tal. E o Gilberto Dimenstein convidou o então prefeito José Serra para assistir a esse projeto. Em 2003 agente conheceu uma comunidade da periferia de São Paulo chamada Jardim Pantanal. É uma comunidade muito carente que fica a uma hora e cinqüenta de trem/ metrô/ônibus do Centro de São Paulo. Fica já na saída, na Rodovia Ayrton Senna. E eles começaram a assistir Filosofia na Alcova: agente começou a dar convites a eles e eles começaram a se organizar e vir em bandos. E nós começamos a fazer um projeto social nessa comunidade: começamos a trazer adolescentes que acabaram o Ensino Médio para aprenderem a ser técnicos de som e luz no nosso teatro e se profissionalizarem nele, e ao mesmo tempo agente fez um curso lá naquela região. Então esse Mistério das Bolas de Gude foi uma reunião de artistas do Satyros com esses adolescentes do Jardim Pantanal. Foi uma noite que choveu muito em São Paulo, foi catastrófico: quase ficamos ilhados porque agente estava ensaiando num espaço, ia para o outro, uma confusão. Mas finalmente o Serra foi assistir a peça no nosso espaço que é muito pequenininho e ele foi com todo o seu entourage. Ele foi com o Secretário da Habitação, Secretário de Transportes e tal, e agente não conseguiu colocar público para dentro: só tinha autoridades, esses jovens do Jardim Pantanal e os atores do Satyros. Ele [Serra] assistiu a apresentação e ficou impressionado com o projeto, com aquilo que agente faz. Ele foi outra vez no Satyros assitir uma peça nova e agente começou a falar de como agente fazia a inserção desses jovens e tal, ele viu esse prédio abandonado e ele
Em 2006 chegaram os Parlapatões e ocuparam aquilo que tinha sido a padaria (5). E daí os Parlapatões tinham um espaço maior que o nosso, e começaram a trazer mais gente, mesmo, da classe teatral porque eles são muito agregadores. Então com o Satyros 1, os Parlapatões e o Satyros 2 a Praça passou a ter uma vida teatral muito mais forte. E ao mesmo tempo, nesse período de 200506, a Rua Augusta começou lentamente a ser tomada por boates, casas noturnas, e começa a vir outro perfil de público para essa região. Até então eram somente casas de prostituição, de meninas e tal. Então é nesse período de 2005-06 que começou a ocorrer lentamente essa transformação da Rua Augusta, algo muito lento que foi acontecendo através dos anos. Do lado oposto da Igreja da Consolação, tem um terreno baldio que tem o desenho de uma quadra de futebol (19), e aqui tem o chamado cachorródromo, para os cachorros dos moradores. Agente montou uma tenda aqui, nas Satyrianas. São 78 peças, ininterruptas, de 5 a 20 minutos de duração, forma inédita para o projeto das Satyrianas, escritas e montadas por artistas, tudo sem dinheiro. Foi o primeiro ano (2007) que agente ganhou algum dinheiro para montar as Satyrianas, e com esse dinheiro agente alugou a tenda. Então nas Satyrianas agente usava só o Sartyros 1, o Satyros 2 e esse prédio abandonado, que vai ser a São Paulo Escola de Teatro. Então em 2007 agente instalou essa tenda do outro lado. E deu muito certo: a tenda ficou lotada direto à noite, de manhã e de tarde ela é um pouco mais vazia (de manhã às vezes muito vazia), mas agente conseguiu levar público. E também foi o primeiro ano que agente chamou outras companhias de teatro para participar, em outros espaços na cidade
para participarem dessa festa. Porque essa festa tem um a carcterística muito específica: ela não tem dinheiro. Então os artistas que trabalham nela não ganham nada. A idéia é a de que eles não estão trabalhando, eles estão se divertindo. É uma festa, não uma atividade remunerada. Nesse sentido ela é anti-mercantilista, totalmente. Então o dinheiro que agente tinha era o dinheiro para agente alocar nesses equipamentos provisórios que agente aluga para utilizar. Já em 2007 os Parlapatões entraram, nós tínhamos essa tenda do outro lado da praça, entraram todos os teatros da Praça e alguns outros teatros da cidade. Em 2008, ao invés de uma tenda agente colocou duas tendas, uma para cinema e a outra para o Drama Mix, e em 2009, que foi esse ano agora, nós instalamos duas tendas no cachorródromo, a tenda do Drama Mix, todas essas do outro lado da Praça, os Parlapatões instalaram uma lona de circo e nós instalamos dentro do estacionamento um projeto de artes visuais, com um monte de artistas participando também. Então ela [Satyrianas] cresceu muito, entende? Ano a ano ela foi dando um passo. Foi realmente um trabalho de formiguinha: você não pode dizer que foi um trabalho que surgiu de repente. E ano a ano a coisa vai mudar. Por exemplo, no ano que vem a São Paulo Escola de Teatro vai estar funcionando na Praça e vai trazer mais um teatro para ela. A Kilt e o Galharufa foram desapropriados. Ironicamente, foram desapropriados para o Teatro Cultura Artística ter uma entrada pela Praça Roosevelt. Então veja como o Cultura Artística, que é um espaço que tem uma verba muito maior, que é muito mais poderoso do ponto de vista financeiro e econômico do que nós, e que agrega muito mais pessoas por espetáculo do que nós, porque a nossa primeira sala tinha 60-70 lugares e no Cultura Artística cabem 2000 pessoas por dia. Então ele acaba se virando para a praça. Então essa área vai ser desapropriada e o Cultura Artística vai fazer seu acesso para a praça Roosevelt. Então a Praça foi assumindo um novo perfil,
festival Satyrians na Praça Roosevelt, 2007. Fotos: Patrícia Rocco
teve a idéia de fazer um curso técnico para adolescentes para formação profissional, que é o São Paulo Escola de Teatro. No primeiro momento é um projeto da Prefeitura, mas ele se candidata a Governador, ganha, e daí se transforma em um projeto do Estado. Mas o prédio ainda estava totalmente abandonado.
T.F.G. – Eu estava pesquisando e me parece que tem uma antropóloga Alemã... R.G.V. – Dramaturga. T.F.G. - ...que escreveu um livro chamado Vida na Praça Roosevelt, que inclusive o Satyros encenou. Qual é a história desse livro e qual o contato que vocês tiveram com ela? R.G.V. – Essa dramaturga chama-se Dea Loher. Ela é muito famosa na Alemanha, “bambam-bam” mesmo, e ela trabalha em uma das cinco principais companhias da Alemanha, que é o Thalia Theater. A estrutura de teatro na Europa não tem nada a ver com Brasil: e é uma coisa impressionante. E o Thalia foi convidado pelo curador da Bienal [Internacional de Arte de São Paulo] de 2004 para fazer um projeto sobre “terra de ninguém”. Eles fariam uma peça que seria escrita pela Dea que viria para o Brasil fazer pesquisa. Quando ela chegou no Brasil ela começou a ir na favela do Rio de Janeiro, no morro do num-sei-o-quê, na FEBEM, no presídio feminino num-sei-dasquantas e tal, e ela começou a escrever a peça de teatro para o Thalia montar. E daí ela veio
assistir uma peça no Satyros e como eu falava alemão e ela não falava português ainda (que depois ela aprendeu). Agente trocou telefones e tal, mas acabou. Uma semana depois era um feriado (acho que era dia 2 de Novembro), e ela estava hospedada em um apartamento em Pinheiros. Ela saiu para comprar umas frutas, e quando ela voltou para casa o apartamento havia sido invadido e levaram o laptop dela, e ela ficou desesperada. Ela ligou para o [Instituto] Goethe e não conseguiu falar com ninguém, porque todo mundo foi viajar, e pensou: “Com quem que eu vou falar?”. E ela me ligou porque eu falava alemão e não sabia o que fazer, e eu disse: “Fica na minha casa”. E daí ela começou a freqüentar a Praça Roosevelt. Então quando ela começou a freqüentar a Praça, ela conheceu as personagens da Praça, por que esse momento 2003-05 é aquele que eu te falei em que existia essa fauna absurda na Praça Roosevelt: você pegava um jornalista sentado com um casal de lésbicas comemorando o aniversário de uma travesti. Esse tipo de coisa. Então quando ela conheceu essa realidade ela ficou enlouquecida. E daí ela ficou hospedada na minha casa durante dois meses até ela voltar para Alemanha com o texto para eles montarem [a peça]. Só que agente não sabia o que ela estava fazendo. Ela tinha dito que ia reescrever o texto que ela já tinha. O que ela fez: como ela havia perdido tudo, resolveu reescrever sobre as pessoas da Praça Roosevelt. E daí essa peça foi montada na Alemanha e eles apresentaram no Brasil. Imediatamente agente pensou: “Meu, se eles montaram nós temos que montar também”. Então nós montamos a peça escrita por uma alemã falando de nós, e daí agente montou com um olhar nosso sobre a visão dela sobre nós. E daí agente depois foi para Alemanha apresentar lá junto com os alemães. Então agente viu olhares cruzados, foi um projeto muito interessante. Mas aquele momento que ela retrata na peça é um momento que não existe mais. T.F.G. – A realidade temporal de 2003-05.
dramaturga alemã Dea Loher; cenas da encenação da peça A Vida na Praça Roosevelt pelo grupo de teatro Os Satyros.
ela agora é uma outra coisa, independente desse mastodonte de concreto que tem aqui no meio, porque se você passar aqui à meia-noite você vai ter medo de andar. Só que isso aqui tudo [teatros] garante uma segurança extrema para quem tiver aqui no centro de São Paulo. Antigamente os moradores da Praça, por exemplo, se tinha alguém que morasse aqui e ele descia na [Rua] Consolação, ele dava a volta pela [Rua] Nestor Pestana para chegar na sua casa. Ou se ele morasse no começo da [Rua] Martins Fontes / [Rua] Augusta, ele vinha pela Nestor Pestana, porque as casas de prostituição e o Cultura Artística davam segurança. Um dos melhores lugares para você andar é onde tem casas de prostituição, porque sempre tem leão de chácara na porta, estrutura e tal. Existe uma criminalidade nesse ambiente, é óbvio: trafico, outras coisas, mas não se podia afugentar cliente, então existia uma segurança muito grande. Mas a Praça era uma terra de ninguém.
A Praça Roosevelt, nesse período de 200305, já tinha uma característica comum. Menos critérios do [Antonio] Negri, do [Michael] Heardt e tal, de um espaço que não é público mas é nosso: meu, teu, dele, dela,... Isso é comum, é nosso. E, a partir de 2006-07 ela se torna pública: não só meu, teu, dela..., mas da cidade. E com a chegada da São Paulo Escola de Teatro, que por sinal vai ser administrada por vários grupos daqui da Praça: pelos Parlapatões, por nós, por outros artistas que circulam na Praça, mas ela vai ter uma caráter público, ou seja, de todos. T.F.G. – Ou seja, ela ganhou então a escala da cidade. R.G.V. – Ela ganhou a escala da cidade, já não é mais da escala do comum, mas do público, com todas as conseqüências que isso tem. Por exemplo: hoje, é muito comum eu ver alguém passando na rua e falando: “Olha, aqui é a rua dos teatros, aonde as pessoas se encontram e tal”, falando isso para um turista, para pessoas de fora, como se fosse um ponto turístico cultural, alternativo mas nem tanto, quase oficial. Com a chegada da Escola vai se tornar mais institucionalizado. Então o grande problema do espaço público é esse, porque quando as pessoas falam “espaço público” elas pensam: “espaço institucionalizado”. Elas não pensam que é o espaço delas, mas da instituição, do Governo, e o Governo não sou eu. Elas não conseguem enxergar essa dimensão. E como o processo de apropriação da Praça passou primeiro pelo
comum para depois se tornar público, isso deu força para a transformação do espaço. Então não veio de um projeto mastodôntico de renovação de uma região da cidade, vindo de um plano diretivo, com metas, com nãosei-o-quê... Não, veio do cotidiano de eu e você e aquela travesti que mora na esquina, e velhinha que não-sei-quê, de agente sentar na mesa da calçada e criar um espaço de convívio com o mundo e tal. Isso foi uma coisa muito específica. Mas eu acho que não dá para se planejar isso do ponto de vista urbanístico, você entende? Mas você pode favorecer que isso aconteça. O que adianta se ter a Sala São Paulo se envolta dela você não cria uma atmosfera em que as pessoas sintam que elas possam andar ali, que elas podem sentar e tomar um café, entende? Por que é que o Teatro Municipal não serve mais? Por que é que ele está completamente abandonado? As pessoas tem medo de ir ao Municipal, porque não se criou essa rede social em volta, no dia-a-dia, no cotidiano daquele espaço. Porque aquele espaço tem que ter a noção do território, da ocupação. Ele tem que ser ocupado, mais do que planejado. E aquele que planeja tem que pensar em como ele vai ser ocupado. Como ele vai se transformar em um território de vida, e não em uma forma. T.F.G. – E nesse sentido das personagens tão definidas que ao longo do tempo foram tecendo o que a Praça Roosevelt é hoje com relação a sua vida cultural, qual a perspectiva que você tem de que essas mesmas personagens se mantenham? Por exemplo, quando agente estava falando na idéia de público como algo institucionalizado: vai chegar a Escola de Teatro, e de repente a Praça vai ser muito mais freqüentada pela escala da cidade, pessoas vêm de longe para a Praça Roosevelt para aprender sobre artes cênicas e depois voltar para casa, e essa praça vai começar a ter ainda mais atividades culturais com esse projeto de revitalização arquitetônica. Então a própria Praça vai se tornar um espaço de espetáculos, imagino eu. E essas personagens que ajudaram, que foram essenciais para a formação dessa Praça, será que elas vão ser expelidas de lá? Será que elas vão se mudar
fotos retiradas da página do escritório: www.cat.arq.br.
R.G.V. – Exatamente, porque a tendência também é essa: você começa a assimilar o espaço público. O que acontecia: existia esse espaço. Ele se transformava de certos grupos heterogêneos mas que criaram um código comum naquele período. Então era o espaço comum de alguns, só que a projeção da Praça foi alargando isso e passou do comum, que é de um grupo de pessoas, para o público, que é de todas as pessoas. Então existia esse processo de transformação do espaço da Praça Roosevelt.
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museu / galeria
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blocos de rua / concertos ao ar livre
projeções ao ar livre / teatro de rua
murais / performances / happenings / flashmobs
patrulha
USUÁRIOS
traficantes assistentes sociais
cafetões prostitutas
DJs músicos bartenders
diretores atores técnicos
artistas montadores curadores
policiais
clientes
dançarinos
espectadores
fruidores
vítimas
discoteca
Cine Bojou + Estação Cinemateca
galeria R.G.B.
projeções ao ar livre / teatro de rua
HQ Graffiti
agentes
público usuários
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clínica de reabilitação
secretaria da mulher + biblioteca feminista
praça das putas
delegacia
SOLUÇÃO
Projeto de Camila de Almeida Toledo - CAT. As imagens retiradas do site do escritório não exibem qualquer diálogo direto do projeto com a praça, que não seja puramente visual por ambientes de estar avarandados.
SP Escola de Teatro, 2009
7.
CHAMA
proprietário
corpo eclesiástico
morador
paróquia
templo
rua
e
de lá? R.G.V. – Eu acho que existe um mecanismo social meio inevitável... T.F.G. – Será que é inevitável? R.G.V. – Por exemplo, o que aconteceu em 2007 é que nós quisemos sair da Praça. Porque os imóveis, todos esses apartamentos... A Praça Roosevelt foi um dos locais em que mais valorizaram-se os imóveis na cidade de São Paulo nos últimos 10 anos. Nós compramos um apartamento no prédio do Satyros 1 (2) no final de 2001 começo de 2002, eu acho, por R$ 32.000,00 (trinta e dois mil reais): um apartamento de 65m2. Hoje esse partamento vale R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais). Se você fizer o cálculo, são [quase] 400% em 7 anos. Quantas regiões da cidade de São Paulo valorizaram tanto quanto a Praça Roosevelt? Então o que aconteceu: todos os travestis que moravam na Praça foram expulsos. Eles não tinham condições de manter os seus apartamentos. E começou a vir um novo tipo de morador. Então aqueles que freqüentavam a Praça, aqueles que moravam na Praça não podem mais nela morar. A Praça expulsou essas pessoas. O teatro expulsou essas pessoas. O que é que nós do Satyros pensamos em determinado momento: que agente devia ir embora, porque não era o lugar para nós. Porque a Praça se tornou um ponto cult, um ponto que a menina que estuda artes cênicas na (Escola Superior de Artes) Célia Helena, que mora na Vila Madalena e que o pai é diretor de uma grande empresa, ela pode freqüentar a Praça Roosevelt e ela acha legal freqüentar, e ela não quer enfrentar nenhum traficante, nenhum travesti, nada. Ela quer encontrar o mesmo povo da Vila Madalena, entende? Nós só não fomos embora porque o projeto da São Paulo Escola de Teatro estava andando, que é um projeto de inclusão social. Porque a idéia é que aproximadamente metade das vagas da escola sejam preenchidas por jovens carentes da periferia, que acabam o Ensino
Médio, não têm perspectiva nenhuma de trabalho, não têm dinheiro nem para pegar um metrô para procurar trabalho no centro... Aliás nem conhecem o centro de São Paulo direito, então não sabem nem onde procurar trabalho, não têm perspectiva de entrarem em uma Universidade, mas ele vai receber uma bolsa para estudar na nossa escola de forma gratuita. Não só o ensino vai ser gratuito, como ele vai ter dinheiro para poder ir até a escola. T.F.G. – Então o Satyros vai administrar a Escola? R.G.V. – O projeto foi proposto pelo Serra para nós Satyros, mas nós chamamos um grupo de artistas e grupos para dividir essa história com agente, porque seria impossível agente fazer isso, e nem seria justo. Então chamamos o [José Carlos] Serrone, que é arquiteto formado pela FAU[USP] e o maior cenógrafo do Brasil, segundo muita gente, que vai cuidar do Curso de Cenografia, Figurino e Técnicas de Palco; chamamos Marici Salmoão, que era de um grupo chamado Dramáticas em Cena e que é consultora de dramaturgia do SESI, do British Council no Brasil; chamamos os Parlapatões para o Curso de Humor; o Raul Barreto, e para o Curso de Direção o Hugo Possollo; chamamos o Raul Teixeira para Sonoplastia, que é do CPT [Centro de Pesquisa Teatral], do Antunes Filho; e chamamos o Guilherme Bonfante que é o iluminador do Teatro da Vertigem. Então são vários grupos que cada um assumiu uma área, e tudo isso agente está coordenando e pensando. Se você for pensar todo espaço é público. Essa parte embaixo desse concreto ele é público e é considerado território pelos sem-teto que moram ali embaixo. Quando as pessoas falam: “Ah, isso não é um espaço público”, tem muito um viés da classe social. É publico para você, porque para o sem-teto, para o cara que está lá embaixo adora: ele está protegido da chuva, ele está lá com os amigos dele, ou ele faz xixi lá no canto... É público aquele espaço. Ele não é público para mim e para você porque agente tem medo de entrar lá embaixo.
proposta de reforma em andamento, 2005
imagem retirada da apresentação digital Praça Roosevelt e entorno. EMURB, Setembro de 2009.
O novo projeto para Praça Roosevelt desenvolvido pela Empresa Municipal de Urbanização (EMURB) se resume à derrubada do projeto de 1970 (mantidos apenas os dois pisos de estacionamento), ao cobrimento do buraco de ventilação da Rua Augusta, à interrupção de parte do trânsito da Rua Guimarães Rosa para fazer frente ao Instituto Clemente Ferreira, e ao plantio de novas espécies arbóreas. Deixando de lado considerações a respeito da efetividade do novo desenho proposto para a praça, basta perceber que o projeto concentra suas intenções na simples intervenção arquitetônica do espaço sem a leitura necessária tanto do pouco público usuário que ainda faz uso do espaço físico interno da praça, quanto daqueles que usam os programas do seu entorno imediato.
Então esse espaço da Praça ainda continua criando um conflito com essa calçada, porque as pessoas que freqüentam esse espaço não são as pessoas que freqüentam essa calçada, e o pessoal da Cracolândia que está sendo expulso de lá eles estão vindo para cá. Então existe esse movimento do pessoal da Cracolândia que está invadindo a Praça. T.F.G. – Isso agora? Porque pelo que eu entendi, com a atividade dos teatros os traficantes estavam se deslocando para outro lugar. R.G.V. – Não, o que eles fizeram: eles usavam toda a Praça, era “pública” para eles. Agora, para eles só é pública essa região do lado de cá, então eles continuam lá, tudo isso continua. Todas as contradições do Centro de São Paulo continuam na Praça Roosevelt, é uma mentira pensar que não. A única coisa que você tem é que mudou o perfil desse lado [dos teatros]. Mudou o perfil também de classe social. E como os apartamentos ficaram mais caros vieram moradores de classe media mais alta. A classe media baixa que morava na praça foi expulsa. T.F.G. – É uma lógica que agente estuda exaustivamente na faculdade. É posto como inevitável. R.G.V. – É como o Soho em Nova Iorque, existem movimentos de renovação de uma área que partem de artistas ou de moradores... O Marret na França... Agora a São Paulo Escola de Teatro é uma esperança que eu tenho que ainda seja um espaço que pela sua própria característica de inclusão social ela permita uma resistência disso. Agora eu fico imaginando quando a reforma acontecer, como é que vai ficar isso. T.F.G. – E a reforma está prevista para quando? R.G.V. – Fala com os seus amigos arquitetos, não comigo... (risos) T.F.G. – Não, porque pelo que eu sei que eles começaram com o processo de demolição já
em 2007 e aí param.... R.G.V. – Deram quatro marretadas e pararam! Porque tudo é muito complicado... Mas o que eu acho mais louco é que em nenhum momento passou na cabeça desses arquitetos procurarem quem estava fazendo essa revolução aqui nessa calçada. Porque isso que aconteceu nessa calçada foi uma revolução urbanística, sem quebrar uma parede! Sem um projeto arquitetônico, houve uma reforma de paradigma: surgiu um novo paradigma para um lugar que é absolutamente igual! Porque são pessoas que fizeram isso mudar. E em nenhum momento eles [arquitetos] pensaram? “Meu Deus do Céu: o que eles conseguiram fazer nessa calçada, imagina se eles vierem dar opiniões sobre o projeto da reforma da praça”. T.F.G. – O que não foi feito em momento algum? R.G.V. – Não, nós procuramos eles uma vez, quando o projeto já estava pronto, e agente falou: “Olha, e se vocês fizessem uma área para teatro a céu aberto, uma arena... E se aqui, nessa escadaria, talvez pudesse fazer não-sei-o-que, ...”, mas já estava pronto o projeto! Porque a visão dos urbanistas é uma visão fechada. Urbanista não sabe trabalhar em rede. Não sabe trabalhar com outras influências. Não sabe trabalhar... Não sabe, e não busca isso! É impossível você pensar um Século XXI sem pensar em rede! Você tem que trabalhar em rede, você não pode trabalhar achando que você tem a solução para o mundo. Se você não tiver o cara do teu lado dando opinião e discutindo com você, o resultado vai ser pífio. Então eu acho que falta essa reforma na maneira de ver urbanismo, porque o que aconteceu aqui foi simplesmente uma ação de pessoas. Não foi nada a mais do que isso. E não mudou nada: a calçada continua com problema, isso aqui continua um nojo, esse paredão de prédios continua com as mesmas características... nada. Mas como ocupar esse espaço? Como fazer ele viável? Enfim, desabafo de um leigo!
(...) Como agente tem um apoio institucional agente já se torna meio instituição, agente está também do lado de dentro. Nós não estamos só do lado de fora pedido alguma coisa, agente está do lado de dentro do mecanismo da burocracia. Então muda também a maneira como as pessoas te enxergam. E é muito louco você pensar que estando do lado de dentro e ao mesmo tempo do lado de fora, você tem duas visões diferentes: tudo que é do lado de dentro da máquina estatal, é lento, é burocrático, é medroso. O maior medo da burocracia estatal é o escândalo, é o jornalista pegando no pé, é a denúncia... E como agente passou a vida inteira sendo escandalosos, a visão que agente tem disso é uma visão muito mais libertária, muito menos presa, amarrada. É difícil, é um confronto. Que caminho agente vai seguir? Que caminho agente vai traçar pra chegar nisso?
capítulo quatro a geografia física da Praça Roosevelt
topografia soterrada
O vazio nas cidades está entre uma série de objetos des de lógica que estão relacionados com coerência. É verda cionadas com o desenvolvimento de uma lógica coeren coerência tem de haver idéias gerais que têm que ser m coerente em relação ao lugar ou ao espaço. (...) Trabalh de trabalho a duas dimensões, está acabada, já não fa reformulação radical do problema urbano.
trecho retirado de entrevista para revista arq./a , edição dupla 47/48, p.110,111; foto de vista arérea: André Villas Boas.
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conectados que não têm qualquer coerência ou idéia. Todos os arquitetos trabalham com sistemas adeiramente o que fazemos. Fazemos coisas com significado e as bases desse significado estão relante. E a discussão determinante é sobre o que determina essa lógica coerente. Para desenvolver essa mais estruturais do que o vazio. Penso que o vazio está próximo do nada, e por isso não tem nada de hamos sempre em termos espaciais, com as três dimensões do espaço. A planta, como instrumento az sentido. Na cidade contemporânea existem muitos solos, múltiplas camadas, o que leva a uma Thom Mayne
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Viaduto Martinho Prado realiza a conexão entre o bairros da Consolação e do Bexiga. escadaria torna possível a transposição vertical de pedestres para o lado do Bexiga.
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r. augusta / r. martins fontes
r. consolação
nível mais baixo do complexo viário soblados a Praça Roosevelt. exatamente no mesmo nível em ambos da Praça, as ruas Augusta / Martins Fontes e Consolação passam por sobre o complexo viário subterrâneo enquanto viadutos, junto às alças que realizam as transposições verticais para automóveis. transposição vertical para pedestres da Avenida 9 de Julho passando por baixo do Viaduto do Café onde se encontra um Sacolão da Prefeitura no cruzamento com a Rua Avanhandava.
da igreja ação l o s n o c
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nível de conexão com o Viaduto do Café e com a Rua Amaral Gurgem / Elevado Costa e Silva. nível de implantação da Igreja Nossa Senhora da Consolação
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nível em que o Viaduto do Café atinge o lado do Bexiga, deixando sob ele terrenos vazios com grande potencial de ocupação, atualmente usados como abrigo por moradores de rua. escadaria realiza transição vertical da Avenida Nove de Julho para a Rua Frei Caneca, que com um projeto recente de revitalização da rua realizado pelo estúdio catalão Fondarius + FMC, será transformado em um mirante com anfiteatro.
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nível baixo complexoa viário sob a Praça Roosevelt. nívelmais no qual se do estabelece Rua Martinho Prado, com acesso para a Rua Nestor Pestana
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nível de conexão com o Viaduto do Café e com a Rua Amaral Gurgem / Elevado Costa e Silva. nível no qual se estabelece a Rua João Guimarães Rosa, com acesso para a Rua Gravataí e o antigo Colégio Des Oiseaux na Rua Caio Prado, cuja grande área arborizada será futuramente aberta ao público.
sentido zona oeste
sentido zona leste
rota alternativa proposta de desativação da via
Rua da Consolação / Rua Martinho Prado
Rua Augusta / Rua Martinho Prado
remoção das alças do sistema viário
Rua da Consola巽達o / Rua Jo達o Guimar達es Rosa
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Mais do que isso, descobriu-se que a cada duas estações ao lado da linha foi projetado um posto de Ventilação e Saída de Emergência – VSE, um dos quais se encontra situado do lado oposto à Rua da Consolação exatamente em frente à Praça Roosevelt, que inclusive dá nome ao equipamento. 9
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Diante disso, percebe-se que a integração direta de um equipamento de uso público na cidade de São 7 Paulo com o sistema de linhas de transporte público traria grandes contribuições ao projeto ao estimu10 lar o uso deste meio, ampliar a acessibilidade aos equipamentos de uso público projetados da escala 11 local e centralizada para a metropolitana, e aumentar a intensidade da ocupação do seu espaço pelo fluxo contínuo pessoas. 600m 800m 840mde750m 840m 300m 530m 350m 500m 450m 580m 840m 560m 630m 550m 530m 680m 560m 580m 570m 660m 2430m
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Mesmo que o aumento de número de estações ao longo de uma linha de metrô resulte em mais paradas, por tanto um tempo maior de viagem, percebe-se que a elevada distância entre as estações da Linha 4 poderia ser melhor aproveitada. Uma vez que um rápido estudo comparativo mostrou que outras estações na cidade possuem distâncias semelhantes àquela correspondente ao intervalo entre duas paradas da Linha 4, sugere-se que se as construções correspondentes às VSEs presentes ao longo de sua extensão fossem projetadas enquanto estações, a cidade seria beneficiada com o dobro das estações de metrô propostas. C
conexão com a linha 4 de metrô
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Mesmo que já se encontre situada perto da Estação República da Linha 3 - Vermelha de metrô, os arredores da Praça Roosevelt serão beneficiados com a implantação da nova Linha 4 – Amarela. Um estudo sobre o traçado da nova linha, que em seu trecho mais a Leste passa por sob a Rua da Consolação, revelou que a Praça fica situada exatamente na metade da distancia entre a nova Estação Higienópolis-Mackenzie e conexão com a Linha Vermelha pela própria Estação República já existente.
Higien贸polis - Mackenie
VSE Roosevelt
Rep煤blica
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capĂtulo cinco
a geografia humana da Praça Roosevelt
Sugestões da Associação Viva o Centro
MORADORES
Atenção sobre a omissão da EMURB sobre um plano de gestão da praça “A Praça Roosevelt precisa de uma gestão específica e de garantia de manutenção permanente. Essa gestão cuidaria não só da programação das atividades na praça como gerenciaria a zeladoria do espaço para que ele se mantivesse limpo e seguro. O problema da Roosevelt vai além do desenho, é de gestão. Nenhuma praça central se mantém sem isso. (....) O momento da decisão do programa que irá orientar o projeto é também o momento em que se deveriam contemplar as questões de uso do espaço e, a partir daí, as relativas à gestão da praça com seus reflexos no projeto físico final”. p.7 Sobre a falta de usos previstos para a praça, sem vinculo com a atividade existente no entorno "No projeto apresentado pela Emurb não identificamos nenhum ponto forte ou atrativo previsto para o nível principal da praça, somente os espaços ajardinados com floreiras e quiosques de floricultura. (...) Que tipo de uso uma Praça Roosevelt somente ajardinada com floreiras atrairia?
uso residencial
lazer
Novamente, qual a força que o projeto tem para dialogar com a realidade do entorno? Se a vocação do lugar, além de residencial e educacional, tende à boemia e à produção cultural, por que não refletir sobre isso e buscar algo condizente e que promova a integração de todos esses equipamentos com o uso residencial?" Sobre o partido arquitetônico A grande maioria das dúvidas dos moradores gira em torno de especulações sobre a ausência de desenhos que apresentem efetivamente desenhos de paisagismo, arquitetura do telecentro, a insuficiência da força de um pergolado como principal elemento arquitetônico articulador do projeto, comprometimento da ventilação to túnel com o fechamento do grande buraco com uma laje de concreto e o custo da construção dessa nova estrutura. A única posição concreta defendida em relação ao projeto de 1970 é a manutenção do Pentágono, apostando no seu aproveitamento para sugestões preliminares de atividades diversas: "Além de espaço de convivência, ele pode abrigar exposições, desfiles de moda, eventos e shows que atendam ao perfil dos usuários da praça, aí incluídos moradores, estudantes, artistas, público dos teatros, skatistas e grafiteiros.”
trechos retirados de ASSOCIAÇÃO VIVA O CENTRO SÃO PAULO, 2009 - documento digital; imagens retiradas do documentário Praça Roosevelt - Passado, Presente e Futuro, de Jussara Figueiredo
Preocupados com os futuros da praça desde o anúncio de sua reforma, os moradores de seu entorno entorno vêm apresentando uma postura ativa pela organização de assembleias abertas e de seminários com os responsáveis pelo projeto. Outra instituição de notável atividade nesse sentido é a Associação Viva o Centro.
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RELIGIÃO
A Igreja de Nossa Senhora da Consolação, cuja padroeira, protetora dos charreteiros e viajantes noturnos, deu origem ao nome do bairro e coincidentemente se identifica com o intenso uso noturno da Praça, sempre encontrou-se voltada de costas para esta. Apesar de concentrar ao seu redor sua massa arborizada, as intervencões viárias do projeto de 1970 (acesso à garagem e alça conectora) obstruem o acesso direto da Praça pela Rua Martinho Prado, e seu isolamento foi intensificado posteriormente com o gradeamento do seu entorno. Nas proximidades encontram-se ainda o Templo BethEl e a Catedral Evangélica de São Paulo, respectivamente a primeira sinagoga e a primeira igreja presbiteriana da cidade.
templo
procissão
ENSINO
O programa encontra-se intimamente ligado com a história da Praça desde que o edifício na Rua Guimarães Rosa (antiga Rua Olinda) abrigou o colégio alemão Porto Seguro a partir de 1913, que hoje em dia ainda é utilizado para o mesmo fim ao abrigar a Escola Estadual Caetano de Campos. No edifício igualmente antigo situado ao seu lado será futuramente relocada a Escola Municipal de Educação Infantil Patrícia Galvão, que ocupou por muito tempo o espaço sob a Ante-Praça, originalmente destinado a pequenos programas de uso misto. No entanto, percebe-se atualmente uma grande carência em espaços de recreação na Praça. Vale ressaltar ainda a existência da loja HQ Mix no entorno, cujos eventos relacionados a histórias em quadrinhos apresentam grande afinidade com o público jovem das escolas.
escola
local de estudo / espaço de recreação
Poluição visual e sonora, falta de limpeza e ambulantes foram os principais problemas da região elencados pela Ação Local Avanhandava em relatório à Subprefeitura da Sé. O documento inclui anexos com a descrição das ocorrências, cópias de ofícios enviados à SubSé pedindo providências, leis municipais que tratam dos assuntos, abaixo-assinados e fotos comprovando irregularidades.
O presidente da Ação Local reclama, principalmente, de a SubSé estar fazendo a reforma apenas no primeiro trecho da rua, onde há uma grande concentração de restaurantes, e não em toda extensão da Avanhandava, onde passa o Viaduto Costa e Silva. “O Minhocão é um dos grandes problemas desta cidade e é preciso ver como fica o pessoal instalado debaixo dele”, ressaltou.
Waldemar Galasso, presidente da Ação Local Avanhandava, diz que por diversas vezes procurou a Subprefeitura da Sé para pedir maiores cuidados com o local, mas nunca obteve retorno. Dentre os pontos citados o que mais desagrada Galasso é a falta de limpeza sob o Viaduto do Café, onde está instalado um Sacolão Municipal, e na escada que faz ligação da área com a Avenida 9 de Julho.
A SubSé informou que a recuperação do primeiro trecho da Rua Avanhandava está sendo feita em parceria com a Associação de Restaurantes do local, e que o processo de requalificação do segundo trecho está em estudo, mas não há previsão de mudanças no momento.
Por lei, a limpeza das áreas próximas aos Sacolões é de responsabilidade dos proprietários dos empreendimentos, pois estes devem zelar pelo espaço. A Secretaria de Serviços afirmou que faz a averiguação do local periodicamente e informou que a limpeza é feita sempre que possível, mas não se pode responsabilizar o Sacolão quanto ao lixo lançado por populares embaixo do Viaduto.
sacolão / mercado
feira livre
O Departamento de Iluminação Pública da Secretaria de Serviços irá implantar novos pontos de iluminação na Avanhandava até o final do ano e a reforma do primeiro trecho tem previsão de ser concluída em outubro próximo. A Ação Local Avanhandava é uma das 43 Ações Locais que, coordenadas pela Associação Viva o Centro, são organizadas por ruas e praças do Centro para lutar por melhorias em suas microrregiões.
2o trecho da Avanhandava pede ateção, 2006. reportagem do site Viva o Centro São Paulo - www.vivaocentro.org.br
COMÉRCIO ALIMENTAR
Ocorrendo às quartas-feiras e domingos, a feira livre é uma atividade que ocorre na Praça Roosevelt desde antes de sua reconfiguração arquitetônica com o projeto de 1970. Mesmo que o Pentágono fosse previsto no projeto original enquanto cobertura para um Mercado Distrital, substituído pela implantação de um supermercado logo após a inauguração do projeto, a feira livre passou a ser instalada ao longo da Rua João Guimarães Rosa. Além de alguns mercados espalhados pela região, existe ainda o Sacolão da Prefeitura situado sob o Viaduto do Café com entrada pela Rua Avanhandava que, diferente da repavimentação ocorrida no trecho dos restaurantes luxuosos, encontra-se então sob condições precárias.
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A ampla oferta de botecos, bares, restaurantes e lanchonetes sempre atenderam a um publico diversificado econômica e culturalmente, garantindo movimentação noturna na Praça e arredores, e representando um complemento à sua vida cultural, principalmente ligada à saída teatros e os antigos cinemas de arte: os tradicionais restaurantes italianos luxuosos na Rua Avanhandava, como o Família Mancini e o Gigetto (anteriormente na Rua Nestor Pestana), o Bar Redondo em frente ao antigo Teatro Arena, o bar de samba na Rua Guimarães Rosa (a ser desapropriado), o Restaurante Planeta na Martins Fontes, E os bares da Rua Martinho Prado dividindo espaço no térreo com os teatros experimentais. " Vindo pra cá, você sempre acaba encontrando atores, diretores, sempre gente ligada ao teatro, ou saindo de uma peça, ou entrando em uma peça, ou tomando uma cerveja... então eu acho que a alma é o teatro mesmo. " " Se não fossem os teatros aqui, a praça... ia estar... completamente abandonada. (...) É muito bom esse lugar, né?! " " É um bom lugar para se embebedar porque aqui agente encontra pessoas interessantes, que gostam de arte... E não tem coisa mais interessante do que arte... Além, claro, da questão política, que essa é a mais importante de todas... "
" Eu acho que o pessoal que vem pra cá... eles são mais relaxados, porque eles estão mais preocupados em ter um... uma noite agradável, de beber uma coisa legal, de estar com os amigos... Niguém está aqui para competir... muito... Ninguém está aqui para mostrar o seu estilo novo... É mais mesmo para... para curtir o dia. "De final de semana, de quinta, sexta, sábado, e domingo às vezes também, sempre antes da balada agente passa aqui, ou fica a noite toda. A conversa flui aqui.. E está todo mundo mesmo mais ou menos na mesma 'vibe', então as conversas sobre... né... sobre arte, cultura... essas coisas... E a cerveja também! Que é sempre bem gelada, e... É isso, o ar aqui é muito bom... "
estabelecimento
mesinhas na calçada
transcrição livre de reportagem do site Bravo On Line - www.bravonline.abril.com.br
BAR / RESTAURANTE
" Os Satyros se instalaram e a partir daí houve uma... uma... um revigoramento da cena teatral aqui nesse pedaço. E além... A cena teatral puxou a cena cultural, e aí agente ta aqui por causa disso, por causa dessa questão... cultural. "
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Mario Romário – Guarulhos : "Praça Roosevelt é um lugar muito antigo no skate. Muitas pessoas já vieram andar aqui, mas de uns tempos para cá ela estava meio abandonada por causa dos buracos, tal..."
aqui, evoluiu aqui e aqui era a casa dele. Tem muita gente daquela época que anda aqui até hoje: o Zikizira, o Davi, o Sucrilhos andava no começo dos 90 e continua andando até hoje..."
Alexandre Tizil – São Paulo : "O que eu sei da Roosevelt é que... Eu comecei a freqüentar aqui há uns quinze anos atrás, no começo dos 90, até antes. Era o 'point': era o lugar que todo mundo se encontrava, e ficava aí a tarde inteira. Uns se encontravam aqui pra depois ir andar no centro, e vinha gente de tudo quanto é lugar. Era o ponto de encontro. Passou um tempo e a Praça foi ficando esquecida, foi aparecendo outros pico, e a galera dos anos 80, na real, a maioria parou de andar. Os profissional dos anos 80 do final ali, a maioria parou de andar pra fazer outras coisa e a Praça ficou meio que esquecida e ficou abandonada pela Prefeitura, por todo mundo. Teve algumas pessoas que continuaram andando aqui meio que sozinhas. O Rodrigo foi um deles que morava aqui do lado e se criou nessa praça aqui: mesmo ela estando toda zoada ele começou a andar
Esteban Florio – Argentina : "O ponta pé inicial do projeto da Praça Roosevelt foi ter construído um obstáculo lá, numa quina que fica num dos cantos da Praça para fazer a foto do Probag da 100%, que eu tive que fazer meio que na pressão, e como num tinha um pico na minha mão, me ocorreu jogar um pouco de cimento no chão, sabendo que era um lugar, um espaço público, mas fiz igual.
skate park
street style
Se me ocorreu renegar uma matéria da Etnies, através desse tipo de mensagem: construção de obstáculos na via pública a modo de presente para os skatistas. O resultado final o foi que agente esperava, que era reativar a Praça de novo. Aí o primeiro obstáculo foi uma transiçãozinha leve, uma entrada suave naquele obstáculo sobre uma das paredes que eu achei que era a maior, pelo 'moment', pelo
transcrição livre de reportagem do site Olho de Peixe - www.programaolhodepeixe.com; fotografias retiradas da mesma reportagem.
SKATE
Ao lado do Vale do Anhangabaú, a Praça Roosevelt é local mais frequentado por skatistas no centro de São Paulo. Diferentemente das demais atividades culturais mencionadas que se concentram no perímetro da Praça, essa atividade é uma dos únicas responsáveis pelo uso ativo do seu espaço físico interno. Apesar de uma atividade essencialmente livre e informal, sendo incorporada durante as últimas décadas do século XX a um cenário de contracultura metropolitana e relacionada a outras manifestações culturais como o hip-hop, São Paulo sedia uma série de eventos internacionais de skate, em sua grade maioria proporcionados por marcas voltadas para a atividade.
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Derivado do chamado "sidewalk surfing" - surfe de calçada - , o skate foi criado na Califórnia e tem como base a liberdade de utilização de elementos inseridos paisagem urbana como ladeiras, desníveis, degraus, corrimãos e bancos para realização de manobras, que em uma classificação mais específica atende pela modalidade Street Style. Existem Skate Parks de grandes dimensões na Região Metropolitana de São Paulo, concentrados principalmente nas cidades do ABC Paulista, ou menores, presentes em alguns poucos locais da cidade como no Parque da Juventude, no Metrô Caradirú, ou o Parquie Zilda Natel, na Avenida Doutor Arnaldo. "Half pipes", "bowls", rampas e outros elementos utilizados para saltos e realização de manobras também podem ser utilizados por usuários de patins e bicicletas próprias para a atividade.
Depois o segundo obstáculo foi o 'vulcãozinho' que é para poder fazer manobras na borda, coisa que escorrega com certeza, então você utiliza aquele 'vulcãozinho' para poder escorregar e voltar na transição que continua embaixo daquela borda que a gente fez para escorregar. Foram os obstáculos mais arriscados na real, porque é meio suicida: você vai e encara sem dor aquela borda, e aquela borda num é muito grossa não e tem dois andares pra cima. Ainda não caiu ninguém, mas já caíram alguns skates, o que pode ser prejudicial, porque pode cair o skate em cima de alguém. Mas é muito azar, ainda não caiu. Outro obstáculo foi a rampinha para pular o banco. A rampinha tem a mesma inclinação que tem a escada. Ela foi construída em cima de uma escada, foi por cima um cimento, cimento liso, tem uma boa distância para pular o banco do outro lado... O quinto obstáculo na real foi a ruba, a rubinha, a borda descendo. Aquela borda foi na real o obstáculo mais cara-de-pau da praça, porque foi levantar uma parede do lado da via pública."
ruba
transição
rampa
Marcelo Formiguinha – São Paulo : "A gente tamos aqui na Roosevelt, aqui, meu, eu achei essa borda aí meu um dos bagulho loco aí que fizeram aí no centro que tava faltando uns obstáculo assim, tipo um ruba né, que quase num tem em São Paulo, né, pra gente andar, então eu achei que o obstáculo ta perfeito e dá pra dar várias manobra como vários moleque já veio aí e executou várias manobras aí nesse obstáculo...." Diego Correia – Rio Grande do Sul : "A iniciativa, meu, eu achei uma das melhores, meu, que nem uma marca, e tipo nenhuma pessoa tinha tido a iniciativa de fazer nenhum obstáculo. Como a Roosevelt tava aí abandonada, já ia demolir, achei que foi uma das iniciativas que teve das melhores aí pro skate. Demais, agente ta andando aqui todo o dia, tipo roubou a galera que andava no vale (do Anhangabaú), na Sé, parece que vem todo mundo pra cá, daí a galera se reúne e parece que os cara nem liga mais pra andar de skate. Vem todo mundo pra Roosevelt assim, depois do almoço, e fica andando aqui o dia todo, é bem tranqüilo assim."
vulcãozinho
pool ("piscina") ou bowl ("tigela")
half pipe ("meio cano")
mega rampa
imagens retiradas de diversos sites na internet sobre o assunto.
fundo dela, a mais linda de todas, né? E é uma que fica justamente do lado do primeiro obstáculo que fizemos.
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albergue
calçada / sob viadutos
As características formais e espaciais do projeto de 1970 fizeram ainda com que os espaços cobertos vazios e escuros da Praça, sem a devida manutenção e ocupação programática do espaço, tornaram-se com o passar do tempo locais propícios para assaltos, violência, estupros e tráfico de drogas. A repercussão com que tais fatos são propagados pela cultura local e pela mídia acabaram por fazer com que os sentimentos de medo e repulsão ocupem grande parte do imaginário urbano associado à Praça Roosevelt e prejudique ainda mais sua identidade cultural na cidade, desestimulando o seu uso enquanto local de destino. Tal fato tem sido potencializado ultimamente pelo seu uso frequente enquanto cenário para filmes de ficção que abordam esses assuntos.
boca
penumbra / vazios urbanos / locais desertos
acima: fotos de Julia Chequer/R7; abaixo: cena de making-off do filme Dois Coelhos, de Felipe Hirsch.
VIOLÊNCIA E TRÁFICO
INDIGÊNCIA
Desde a retirada dos programas que ocupavam as estruturas da Praça Roosevelt, a falta de estímulo ao seu uso interno e manutenção resultou em péssimas condições de higiene, o que tem sido uma das maiores reivindicações do moradores do entorno. Tal situação de abandono, somada ao recente fechamento dos albergues para moradores de rua no centro da cidade, resultou na ocupação da Praça por moradores de rua, o que ainda é potencializado pelas características formais e espaciais do próprio projeto de 1970, uma vez composto por um complexo de espaços cobertos e de trechos de total falta de continuidade visual.
Programa Roda Viva - Gabriela, quando a gente fala aqui em regulamentação da profissão, o que a gente poderia estabelecer? Salário, décimo terceiro, direito à aposentadoria, recolhimento para a previdência social? Como é que a gente pode reduzir ou resumir quais são esses direitos trabalhistas?
elas ficam em cárcere privado. Eu vi isso lá no Oiapoque: as prostitutas presas numa casa e o dono da casa dizia que trancava elas a cadeado para elas não fugirem, entendeu? Então eles fazem o que querem: eles pagam dinheirinho para funcionar para a polícia e as prostitutas não tem nada.
Gabriela Leite - A prostituição no Brasil não é crime. Crime é manter casa de prostituição. E como tudo que é proibido que existe cria máfia existe uma máfia muito grande no meio dos chamados exploradores da profissão, que não pagam direito nenhum para as prostitutas. Então agente está lutando para tirar do Código Penal esses senhores e senhoras e para que eles assumam os seus deveres com as prostitutas, e nada impedindo também que a prostituta consiga, como autônoma, pagar todos os seus impostos e também receber os seus direitos.
(...) RV - Com toda sua experiência de luta pelos direitos das prostitutas, de questionamento na sua própria vida, dos estereótipos lançados seja as mulheres, seja como vítimas, seja como fatais, ameaçadoras para cultura, então com toda essa larga experiência e essa trajetória enorme, eu queria te perguntar o seguinte: você acha que a sociedade brasileira mudou em relação à prostituta? Você acha que os pânicos morais estão mais abrandados? Você acha que há um outro olhar em relação à prostituição? Entendendo que você é uma pioneira na construção desse novo olhar.
E E
E
2.
PROSTITUIÇÃO
1.
associação de moradoes
religião
RV - essas pessoas que você citou seriam então 4. 5.Aí eles recolheriam 6. 7. 8. os3. empregadores. previdência social como qualquer outro empregador no país? GL - Exatamente, porque da forma que é hoje as prostitutas são extremamente maltratadas. Existem lugares no Brasil, por exemplo, que ensino
comércio
escola
loja / sacolão / mercado / shopping / box
casa
templo
rua
procissão
espaço de estudos
proprietário
corpo eclesiástico
corpo docente
morador
paróquia
bar e restaurante
bar / restaurante
esportes radicais
skate park / half
casas de prostituição / moteis feira / ambulantes
feirantes
mesinhas na calçada
balconistas garçons
“street”
organizadores de eventos
indigência
tráfico
albergue
boca
calçada / sob viadutos
assistentes sociais
9.
prostituição
casa de prostituição / motel
10.
11.
12.
13.
boate
espetáculo
exposição
segurança
discoteca
sala de espetáculos
museu / galeria
delegacia
GL - Eu acho assim: a sociedade sempre, com relação à prostituição, ela é meio a meio. Quando eu participo de algum programa que tem uma enquete é sempre assim: 49%, 51%, contra, a favor, sempre é contra, e sempre é muito a favor. Não
penumbra / vazios urbanos / locais desertos /
esquina
traficantes
cafetões prostitutas
DJs músicos bartenders
diretores atores técnicos
artistas montadores curadores
policiais
clientes
dançarinos
espectadores
fruidores
vítimas
assistentes sociais
blocos de rua / concertos ao ar livre
projeções ao ar livre / teatro de rua
murais / performances / happenings / flashmobs
patrulha
esquinas e calçadas estudantes
sacoleiros
fregueses
skatistas
moradores de rua
usuários
transcrição livre da entrevista com Gabriela Leite realizada pelo Programa Roda VIva - Junho, 2009.
A prostituição é uma atividade muito característica da região central da cidade, representando grande importância para a movimentação noturna nos arredores da Praça Roosevelt e se extendendo para além dos limites representados pelas ruas Consolação e Augusta. Ao mesmo tempo que sofre todo tipo de discriminação social, e que sua existência é incorporada de forma a qualquer paisagem metropolitana em escala global enquanto profissão, suas naturezas legal e cultural são extremamente pouco discutidas.
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tem meio termo com relação à prostituição. Com relação aos preconceitos, ao pânico moral e essa coisa toda, eu particularmente acho que piorou ultimamente. Eu sou uma pessoa que viveu a juventude na década de 70, onde agente queria se abrir para tudo, e de repente, como a sociedade na minha opinião vive em ondas, nós estamos vivendo uma onda muito conservadora. Outro dia eu dei uma entrevista aí para o site de um jornal, depois tinha lá os comentários das pessoas: nossa, era terrível! As pessoas me chamavam de vadia, de sem vergonha, que precisava de um tanque de roupa pra lavar... Eu até mandei um e-mailzinho dizendo: “Gente, ninguém precisa lavar roupa no tanque, tem máquina de lavar, né?!” [risos] Então é assim: as pessoas ainda tem muito preconceito, mas tem também as pessoas que acham que tem que ser por aí, que tem que se mudar, que prostituta tem que sair de baixo do tapete, e eu continuo falando a mesma coisa há trinta anos: prostituta é, acima de tudo, também uma mulher, como outra qualquer. RV - É uma novidade muito grande que você trás, eu realmente não conheço outra pessoa que trouxe dessa maneira (...) um patamar de relacionamento com a prostituição. Você abriu um espaço em que não há uma pretensão de salvar a prostituição naquele sentido de retirá-la da prostituição, que era uma estratégia que nunca deu certo mesmo. Então talvez você pudesse contar um pouco para nós disso. GL - Eu acho que, a princípio, é muito boba essa história de querer salvar as pessoas. É de uma pretensão imensa. Salvar o que? As pessoas fazem as suas opções. Às vezes as opções são maiores, às vezes são um pouquinho maiores, mas as pessoas fazem, e elas vão para os seus lugares porque elas estão optando por isso. E se ela quiser sair eu acho que ela, como mulher, ela sai por ela mesma. Ela começa a pensar: “Não, eu não quero, eu não me dou bem nessa história, eu vou fazer outra coisa”, como todas as pessoas. E então isso pra mim sempre me incomodou, porque eu nunca quis que ninguém me salvasse. Eu sempre tomei missas decisões e quando o pessoal da igreja, tal: “Não, você precisa ter uma outra vida, se encontrar com Deus...”. Não, eu quero ter minha vida,
do jeito que é. Por isso que eu acho que não é por aí que agente deve ver a questão da prostituição. Na minha opinião a questão da prostituição deve estar inserida dentro das questões da sexualidade, das políticas da sexualidade, dos direitos sexuais... Porque as feministas sempre disseram que estavam trabalhando os direitos sexuais e reprodutivos. Se você ler todos os relatórios das várias conferências internacionais (Cairo, Pequim, essa coisa toda), lá só tem os direitos reprodutivos. Os direitos sexuais estão ali para irem na caixinha junto, mas ninguém nunca mexeu com os direitos sexuais. E a prostituição, na minha opinião, é um direito sexual. E demais a mais as pessoas se esquecem que as prostitutas estão lá no seu trabalho trabalhando porque tem alguém que vai lá procurar elas. Então existe essa demanda, existe na sociedade, e pra mim a grande história é sair de debaixo do tapete, se mostrar e dizer: Olha, eu sou uma delas, e estou aqui. Sou uma mulher, inteirona, como qualquer outra mulher.” [risos] RV - Existe também o estereótipo da prostituta. O nome, chamar de “flho-da-puta”, etc. Para as suas filhas, como foi durante a vida toda esse preconceito? Elas sofreram esses preconceitos? Elas sabiam da sua profissão, da sua opção? Como era isso para elas? GL - O preconceito é extensivo aos filhos. Eu faço muita questão do nome “puta” (é o que eu mais gosto, aliás) porque eu acho que a gente num pode esconder esse nome e colocar ele para um dia ficar bonito. Porque as pessoas não se tocam que os nossos filhos são o maior palavrão da sociedade brasileira. Eles são literalmente filhos-da-puta. Então você imagine que o preconceito para eles também é muito grande. E às vezes, quando eles tem revolta com a mãe, essa coisa toda, dá ate pra entender. É triste, mas dá pra entender. Porque na escola eles vivem isso, na vida com os amigos, eles vivem isso. As pessoas comentam: “Nossa, sua mãe é puta, é prostituta”. É muito chato, né? Então eu acho que a luta maior é lutar contra esses estigmas todos, contra o nome, a favor dos nomes que a sociedade nos deu. E estar sempre discutindo com os filhos a respeito e nunca se esconder debaixo de uma segunda identidade, porque isso que eu acho pior.
fotos retiradas da entrevista do Programa Roda VIva - Junho, 2009, e de sites na internet sobre a grife Daspu.
Gabriela Leite foi prostituta em São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro nos anos 70 e 80. Nesse período, se envolveu em manifestações para defender os direitos da categoria. Atualmente, aposentada, dedica-se a defender a categoria e a regulamentação da profissão. A ONG Davida, fundada por ela em 1992, não tem a intenção de tirar as prostitutas da rua, mas promover a cidadania das mulheres, com ações nas áreas de educação, saúde, comunicação e cultura. A grife Daspu, inaugurada em 2005, ajuda nessa missão gerando visibilidade e recursos para os projetos.
A Praça Roosevelt situa-se centralizada entre as tantas boates do Bexiga, da Rua Augusta e do centro da cidade, atendendo a um publico diversificado com uma gama composta por vários estilos musicais específicos que caracterizam os estabelecimentos. Ex: revelação de novas bandas de rock no Outs, jazz ao vivo no Tapas Club, concertos de bandas estrangeiras no Studio SP, hip hop no Sarajevo, música de flash back na Trash 80s, DJs de música eletrônica na HotHot, etc. Além da grande variedade de opções em seu entorno, espaços da própria praça, com seu estacionamento, são adaptados como boate em eventos tais como a Virada Cultual. Vale ainda destacar a Banda Redonda, um dos primeiros blocos de carnaval de rua do centro da cidade que se concentra todo ano em frente à Praça na Rua Dr. Teodoro Baíma.
raio = 1km
Love Story
Dali Studio Roxy
Outs Studio SP Vegas Boca Club
Kabul Fun House Milo Garage Tapas Club
Geni
Inferno
Teatro Mars
A Lôca Sarajevo
BOATES
Drops
clube / discoteca
blocos de rua / concetros ao ar livre
Hot Hot
Club Noir
Trash 80’s
Hotel Cambridge
103
raio = 1km
Fernando de Azevedo Teatro Aliança Francesa TUSP
Teatro Municipal Satyros Um Studio 184 Teatro do Ator Parlapatões Satyros dois Miniteatro Galharufa
Teatro Sesc Consolação Teatro de Arena Eugenio Kusnet N.EX.T.
Lucas Pardo Filho
Cultura Artística
Fábrica São Paulo
Associação de Amigos do Teatro Augusta
Teatro Teatro Mars do Shopping Frei Caneca
Teatro Cazuza
Teatro Maria Della Costa
Teátro Zaccaro (antigo Aquarius)
ESPETÁCULO
Ruth Escobar
Ágora Teatro Popular do SESI
sala de espetáculos
projeções ao ar livre / teatro de rua
Oficina
Sérgio Cardoso (antigo Bela Vista)
Teatro Renassence
Procópio Ferreira
TBC
Teatro Abril Theatro Imprensa
Teatro Brigadeiro Teatro Bibi Ferreira
fotografias de atores e diretores retiradas de Bexiga Broadway, documentário sobre teatro produzido para televisão (Atmosphera Filmes/Globosat). Na sequência: Lima Duarte, Raul Cortez, Antônio Abujamra, Anselmo Duarte, Zé Celso Martinez Corrêa, Cacilda Becker, Ruth Escobar, Stênio Garcia, Tônia Carrero, Paulo Autran, Renato Consorte, Ney Latorraca, Aracy Balananian, Gianfrancesco Guarnieri, Marília Pera, Renato Borghi, Fúlivo Stefanini, Vera Holtz, Antônio Fagundes, Etty Fraser, Ruthinéa de Moraes, Marcos Caruso, Jandira Martini.
Somado à elevada importância que o teatro experimental tem representado para reativar a vida cultural do entorno da praça previamente descrita na entrevista com Rodolfo Vasquez neste trabalho, vale reforçar a grande proximidade geográfica que a Praça Roosevelt tem com o bairro do Bexiga, de grande valor histórico para a história das artes cênicas no país, de onde saíram dos mais importantes atores e diretores de teatro, cinema e televisão.
museus / galerias / centros culturais
murais / performances / happenings / flash mobs A presença física das bases da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana na Praça, ocupando com seu estacionamento o espaço correspondente à Esplanada da Consolação do projeto de 1970, não tem se mostrado suficiente para assegurar o uso noturno pacífico do local, uma vez que consabidamente a atividade de tráfico de drogas na própria Praça continua e que os bares e teatros da Rua Martinho Prado precisam recorrer a seguranças particulares para evitarem os assaltos que ocorrem com certa frequência. Dessa forma, defende-se neste trabalho que o estímulo de uma presença humana contínua junto a uma convivência ativa e mútua das personagens heterogênias na praça funcionaria com muito mais eficácia para que os próprios usuários possam garantir o uso pacífico do espaço.
delegacia
patrulha
abaixo: civil acudindo policial ferida em passeata de professores em São Paulo. foto de Rodrigo Coca/Fotoarena/Folhapress.
EXPOSIÇÕES POLICIAMENTO
Apresentando afinidades culturais com o Skate ao ser igualmente abraçado pela cultura do Hip-Hop enquanto um seus componentes, o grafite, uma das poucas atividades culturais ativas na apropriação do espaço interno da Praça Roosevelt, representa grande potencial a explorado pelo valor plástico próprio que representa ao longo de toda paisagem urbana. Uma vez conjugadas a idiossincrasia gestual do anonimato com certa carga de transgressão que, em certa medida, deveriam ser respeitadas e mantidas, a liberdade e informalidade do grafite representam ingredientes únicos que podem atuar enquanto complemento à atividade expositiva organizada em meio ao circuito de centros culturais e galerias localizadas no centro da cidade.
capĂtulo seis um novo projeto de praça
referências arquitetônicas
Oscar Niemeyer - OCA, São Paulo. O exemplo revela a insuficiência do impulso projetual que se basta na monumentlidade do objeto arquitetônico diante do evidente potencial de ativação do espaço público circundante pela interação direta com seu entorno.
1. (autor desconhecido) - Sergels Torg, Estocolmo 2. Mecanoo - Biblioteca Universitária, Delft 3. Foster and Partners - Prefeitura, Londres 4. Snohetta - Teatro de Ópera, Oslo 5. BIG - Biblioteca Scala, Copenhague 6. Bruce Nauman - Depressão Quadrada, Munster 7. Plot - Casa da Juventude, Copenhague 8. BIG - High Square, Copenhague praça rebaixada - precepção visual e convite uso amplificados edifício-praça - extensão do espaço público na cobertura
fachada pública - transformada em espaço de estar convidativo
superfície programada - forma definidora de atividades diversas
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O que para mim é fascinante, agora que estamos envolvidos tanto com arquitetura quanto com urbanismo, é descobrir que são coisas totalmente diferentes. Mas a arquitetura tenta definir, tenta limitar, tenta excluir outras possibilidades. Se você faz uma arquitetura você não somente é forçado a dizer o que essa coisa especifica é, mas ao dizer o que aquilo é você também exclui tudo aquilo que ela não pode ser, e eu acho que isso é interessante a respeito do urbanismo. Urbanismo nada mais é do que criar potenciais, dizendo “isso
estratégia de projeto : limpar . . .
poderia acontecer, e isso poderia acontecer, e isso também pode acontecer aqui...”. Então você simplesmente faz uma versão compacta ou intensa de coisas que são possíveis e permite algo. E arquitetura vem, tira algo daquele potencial que você acumulou e faz sua própria declaração. Portanto eu acho que o urbanismo é fundamentalmente generoso e arquitetura é fundamentalmente egoísta nesse sentido. Rem Koolhaas
A sequência de leituras iniciais para este trabalho resultou na compreensão da idéia de que, por mais que uma estrutura (edifício, parque, etc.) seja projetada visando um acesso coletivo, por sua demanda ou por suas proporções preparadas para abrigar o uso de uma grande quantidade de pessoas, sua lógica operacional de abertura e fechamento para realização de sua atividade programática está subordinada àquele que a controla, bem como a lógica do horário de uso para o qual for projetado. Portanto, não existem garantias de que um edifício de acesso coletivo possa ser acessível de forma contínua e ininterrupta. Diante disso, a metodologia de composição do sistema arquitetônico neste projeto foi desenvolvida por meio do processo de manipulação de um volume em sua forma bruta pela adição e subtração de matéria, tomandose o cuidado para manter uma transição contínua entre escalas, ora mais abrangente voltada para composição total do complexo de edifícios, ora mais próxima da ocupação e transposição de espaços pelos fluxos humanos. Tal processo foi feito de forma a
definir as interrelações entre espaços internos e externos enquanto cheios e vazios, ou seja, na medida em que o espaço externo como espaço negativo configurado pelo edifício enquanto volume é desenhado de forma a possibilitar determinada atividade humana, o espaço interno é igualmente configurado pelo resultado formal definido pelos fluxos desejados no exterior. Desse modo, pretendeu-se garantir que o ambiente externo pudesse funcionar enquanto espaço de passagem desimpedido e de atividade humana independentemente do funcionamento do ambiente interno. Além disso, o resultado formal desse processo, no qual a ação humana realizada no espaço exterior imediato fica espacialmente registrada no ambiente interno pela relação constante do contraste entre positivo e negativo, consegue ainda estimular resultados espaciais inusitados que representam possibilidades desafiadoras de organização do espaço interno de sua ocupação, não segundo a lógica de otimização racional quantitativa do espaço de atividades, mas sim poética e qualitativa. Defende-se então que este processo representa uma possível solução para a falha de estratégia projetual mencionada no início do trabalho, não somente pelo resultado positivo observado em exemplos de edifícios contemporâneos realizados em outros países que operam segundo a mesma lógica, mas igualmente pela identificação de uma falta de diálogo da arquitetura com o uso de seu público pela sua configuração formal que não se esgote em sua monumentalidade. Valeria aqui afirmar que, estando-se ciente dos limites da escala de sua intervenção, o projeto não pretende se aprofundar no detalhamento próprio de uma escala mais aproximada da utilização do usuário, mas sim se concentrar em definir sua composição volumétrica continente de um conjunto de programas que atenda às características culturais próprias de cada uma das personagens elencadas anteriormente. No entanto, tal atividade levou em consideração direta as situações viária, topográfica e programática do entorno existente, bem como as possibilidades de implantação de sistemas estruturais.
" É preciso conviver com o povo para entendê-lo, perceber que tem sua cultura própria e talvez até incentivá-lo a ocupar novos espaços. "
. . . para depois sujar
Partindo do princípio que a pura e simples intervenção arquitetônica para melhoria do espaço provavelmente resultará na gentrificação desta área, o projeto traz como desejo a garantia de que as personagens elencadas, identificadas enquanto pertencentes ao universo popular do submundo e marginalizado, deixem gerar qualquer tipo de sentimento ignorante de repugnância, cujo preconceito é gerador de um afastamento cultural pelo medo do desconhecido, e passem a ser devidamente respeitadas enquanto personagens de características culturais próprias, cujo convívio e proximidade devem ser estimulados. Face a esta intenção, propõe-se nesse projeto renomear a praça resgatando uma personalidade importante representando uma das maiores figuras na resistência a favor da liberdade de expressão que marcou as diferentes formas de cultura, no caso a dramaturgia, contra a Censura durante o Período de Ditadura Militar Brasileira. Plínio Marcos de Barros (Santos, 29 de setembro de 1935 — São Paulo, 19 de novembro de 1999). Ao tomar como protagonistas de suas peças e romances extremamente polêmicos personagens marginalizados da sociedade tais como prostitutas, trapaceiros, assassinos e presidiários, o autor trouxe à tona uma realidade evitada e escondida na metrópole paulistana para retratar assuntos de ordem universal e atemporais.
" Um povo que não ama e não preserva suas formas de expressão mais autênticas jamais será um povo livre. "
" Teatro só faz sentido quando é uma tribuna livre onde se podem discutir até as últimas conseqüências os problemas do homem. "
" Não faço teatro para o povo, mas faço teatro em favor do povo. Faço teatro para incomodar os que estão sossegados. Só para isso faço teatro. "
Jô Soares - O nosso convidado teve peças encenadas em várias partes do mundo, é considerado um dos mais importantes dramaturgos brasileiros. Mas está desempregado, pobre, sobrevivendo às custas de livros que ele mesmo vende em bares, restaurantes e ruas de São Paulo. Meu amigo Plínio Marcos! Plínio: você se considera um marginal graças a Deus"...
do rio e quase se afogam toda vez que chove, daquele homem que só come da banda podre, daquelas pessoas que só berram da geral sem nunca influir no resultado. É disso que eu falo.
JS - Você já foi impedido de trabalhar em jornal, teatro, televisão... Como é que aconteceu isso? PM - Ah, mas sempre por merecimento! Eu nunca fiz nada para agradar as pessoas, Então eu fiquei quase doze anos sem arrumar nenhum emprego, Jô. Era de entortar o patuá. Aí é que eu comecei a vender livro na rua, e você veja: até engordei. Vendendo livro em terra de analfabeto com fome e engordar deve ser um sucesso, né? JS - É que o povo tem fome de cultura! PM - Não, eles usam mais é pra se abanar! Em porta de teatro, de restaurante... Porque você usa esquemas, né? Eu trabalho, por exemplo, no frio: eu me enrolo no cachecol e trabalho no estilo doente. Você chega assim: [tosse, tosse] “Quer comprar um livro?” Tem a "mão repelente": você suja a mão no teatro [pega no paletó do Jô], “Quer comprar um livro?” E o cara compra pra sair fora. Então você vai vendendo livro. (...) Temos esse aqui que são histórias Nas Quebradas do Mundaréu, lá de onde o vento encosta o lixo e as pragas botam os ovos.... Sabe, eu falo das transas dos estreitos, escamosos e esquisitos caminhos do roçado bom Deus, falo das pessoas que estão por aí se danando, que moram na beira
JS - Agora Plínio: pouca gente sabe mas você é um dos melhores autores de comédia que agente tem. (...) Eu me lembro da peça da Feira Paulista de Opinião, na peça que... PM - Num lembra! Que toda vez que lembram dessa peça eu vou preso! JS - Não, espero que agora não haja mais problema. Você ainda continua perseguido pela Censura? PM - Hoje a censura é a Mídia, Jô Soares. Fazia dez anos que eu não entrava neste canal aqui. Então você não tem divulgação. As pessoas me encontram na rua e me perguntam: “O quê que você anda fazendo?”, porque elas não sabem, porque os jornais não divulgam, as televisões, não deixam entrevistar... Essas coisas todas. Então quando agente consegue entrar num espaço que nem o seu, porque você é uma pessoa generosa, sempre foi a favor da liberdade de expressão, aí então tudo fica maravilhoso, fica claro, agente aparece e fala. Porque hoje a censura não é Policia Federal, hoje é a mídia. JS - Hoje você está inclusive com um trabalho novo para divulgar! (...) Navalha na Carne está sendo encenada novamente agora! PM - Está aí de novo, porque a peça ainda tem validade. Não por méritos da peça: é por culpa do país que não evolui. Nunca! Então a peça fica valendo. E se continuar nessa situação que está aí, a peça vira um clássico! [aplausos]
trecho da entrevista a Plínio Marcos no programa Jô Soares 11:30, 1988.
Plínio Marcos - Eu não: ELES que me marginalizaram! Eu jamais ia ser marginal, né? Marginal dá trabalho...
(...)
a praça plínio marcos
implantação
N
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100
bicicletรกrio
E +765
E
lanchonete/ restaurante
estacionamento vertical
C.E.I.
o Centro de Encaminhamento e Informação ocupa um volume elevado configurando um pórtico que deixa livre seu espaço inferior como entrada para a praça pela Rua da Consolação.
escadaria / arquibancada bowl de skate
parque linear elevado solução alternativa à futura retirada do Elevado Costa e Sivla recentemente anunciada, a função de corredor de lazer para pedestre aos domingos é mantida permanentemente com o reaproveitamento de sua estrutura para a criação de um parque linear elevado. uma nova laje estende o elevado diretamente até a Rua da Consolação em direção à nova praça e a estrutura se conecta subterraneamente com o sistema de ciclovias e com a nova estação de metrô.
intervenção na igreja nsa. sra. da consolação
visando estimular uma integraçao direta da igreja com as atividades realizadas no centro da praça, propõe-se a inversão de sua entrada principal que passa a ocupar a posição de seu antigo altar. N
0 10
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corredor de cinema
complexo linear que visa devolver à praça sua importância enquanto destino para as salas de cinema de arte na cidade, formado por duas salas de projeção, dois cafés, um mirante para a Avenida 9 de Julho e a Estação Cinemateca com acervo de filmes de arte e pequenas salas de projeção. a disposição programática suspensa sob o Viaduto do Café acompanha a transição entre os bairros da Consolação e do Bexiga estimulando sua utilização noturna.
gibiteca
+760
situada em frente ao colégio Caetano de Campos, o programa proporciona um espaço de leitura para jovens e visa promover uma maior integração entre o grafite dos skatistas e a concentração de eventos relacionados a histórias em quadrinhos das por meio das afinidades gráficas existentes.
corredor de lojas
o volume negativo de uma grande rampa é ocupado pela disposição linear de pequenos estabelecimentos comerciais que ajudam a trazer movimento para a entrada da praça pela Rua Augusta. os diferentes espaços e funções acompanham a variação progressiva do pé direito, proporcionando tamanhos variados para as lojas.
sacolão municipal ocupa o volume central da praça, configurado pelas rampas que realizam a conexão vertical do pátio elevado para a praça rebaixada, abrigando com um espaço mais generoso o mesmo programa que anteriormente ocupava um espaço reduzido sob o Viaduto do Café, podendo finalmente consolidar a praça como o centro de abastecimento alimentar da região como fora anteriormente planejado.
galeria RGB
manutenção e ampliação do espaço deste seviço já existente na praça, até então ocupando uma pequena sala ao lado do posto da Guarda Civil Metropolitana, de forma a manter sua importância como promotor de eventos relacionados à causa feminista, denúncia de maus tratos, saúde reprodutiva, informação e promoção de atividades cultuais e artísticas.
albergue noturno um edifício contendo dormitórios, cozinha, vestiários e depósitos, infra-estrutura necessária para abrigar moradores de rua durante a noite bem como possibilitar o eventual internamento de tóxico-dependentes em reabilitação. N
realizando a interconexão dos corredores subterrâneos resultantes da desativação de parte do complexo rodoviário, a galeria é equipada com uma estrutura de iluminação e projeção imbutida que pode ser usada para exposições de vídeo e para ambientação do mesmo espaço como discoteca.
centro de informação da mulher
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corredor de cinema
+753
E E galeria RGB
estação de metrô acesso à linha 4 de metrô
N
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seções transversais
Uma vez assumida a estratégia do rebaixamento da praça para possibilitar uma maior apreensão visual de seu espaço, as transições verticais passam a ser o principal elemento caracterizador dos diferentes ambientes e situações elaborados neste projeto, configurado por variações de quatro elementos definidores dessas transições: a arquibancada, a rampa, a escadaria e as transições curvas. Mais do que apenas equipamentos para transposição de cotas, a existência e a localização prevista desses elementos definem espaços que explorados livremente pelos usuários além de configurarem formalmente lugares com idendidade própria.
vista geral pela rua augusta
estacionamento vertical
Com o rebaixamento do nível da praça neste projeto, os estacionamentos subterrâneos criados em 1970 foram retirados. Uma alternativa para suprir a ausência deste equipamento usado inclusive por moradores da praça é a criação de duas torres de estacionamento vertical na entrada da Rua Nestor Pestana. O edifício de funcionamento automatizado com um sistema de elevadores de alta capacidade ocupa o local das mesmas duas casas de prostituição desapropriadas pela prefeitura (no caso para dar lugar a um pátio de manobra de para automóveis), utilizando a mesma altura dos edifícios residenciais da Rua Martinho Prado. O edifício abriga ainda um Posto Policial, desta vez fora do perímetro da área da praça.
CHAMARIZ DE TURISTA OU ISCA DE POLÍCIA?
E
3.
ensino
3.
ensino
escola
paço de estudos escola
paço de estudos
orpo docente
orpo docente estudantes
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E
CHAMARIZ DE TURISTA OU ISCA DE POLÍCIA?
E E
E
8.
9.
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E
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comércio
4.
bar e restaurante
esportes radicais
6.
indigência
tráfico
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prostituição
boate
espetáculo
11.
exposição
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segurança
13.
PROGRAMA
comércio
bar e restaurante
esportes radicais
indigência
tráfico
prostituição
boate
espetáculo
exposição
segurança
PROGRAMA formal interior
museu / galeria
delegacia
5.
7.
loja / sacolão / mercado / shopping / box
bar / restaurante
skate park / half
albergue
feira loja//ambulantes sacolão / mercado / shopping / box
mesinhas na calçada bar / restaurante
skate “street” park / half
calçada / albergue sob viadutos
feira / ambulantes
feirantes
mesinhas na calçada
balconistas garçons
“street”
organizadores de eventos
calçada / sob viadutos
assistentes sociais
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P
2.
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associação de moradoes
religião
2.
ensino
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comércio
4.
bar e restaurante
esportes radicais
6.
indigência
tráfico
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prostituição
boate
espetáculo
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exposição
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segurança
associação de moradoes
religião
ensino
comércio
bar e restaurante
esportes radicais
indigência
tráfico
prostituição
boate
espetáculo
exposição
segurança
museu / galeria
delegacia
1.
5.
7.
9.
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STATUS
boca
casa de prostituição / motel
discoteca
sala de espetáculos
rígida
casa
templo
loja / sacolão / mercado / shopping / box
bar / restaurante
skate park / half
albergue
rua casa
procissão templo
espaço de estudos escola
feira loja//ambulantes sacolão / mercado / shopping / box
mesinhas na calçada bar / restaurante
skate “street” park / half
calçada / albergue sob viadutos
penumbra / boca vazios urbanos / locais desertos /
rua
procissão
espaço de estudos
feira / ambulantes
mesinhas na calçada
calçada / sob viadutos
penumbra / vazios urbanos / locais desertos /
esquina
proprietário
corpo eclesiástico
corpo docente funcionários seguranças
vendedores feirantes
gerentes funcionários
organizadores de eventos
assistentes sociais
traficantes
cafetões prostitutas seguranças
gerentes funcionários seguranças
diretores atores técnicos segranças
artistas montadores curadores galeristas
policiais
assistentes sociais
artistas fruidores montadores curadores galeristas
policiais vítimas
escola
STATUS
penumbra / boca vazios urbanos / locais desertos /
casa esquina de prostituição / motel
blocos de rua / discoteca concertos ao ar livre
projeções ao ar livre / sala de espetáculos teatro de rua
murais / performances / museu / galeria happenings / flashmobs
patrulha delegacia
informal formal exterior interior fluida rígida
boca
casa de prostituição / motel
casa esquina de prostituição / motel
discoteca
sala de espetáculos
blocos de rua / discoteca concertos ao ar livre
projeções ao ar livre / sala de espetáculos teatro de rua
murais / performances / museu / galeria happenings / flashmobs
patrulha delegacia
blocos de rua / concertos ao ar livre
projeções ao ar livre / teatro de rua
murais / performances / happenings / flashmobs
patrulha
informal USUÁRIOS exterior fluida penumbra / vazios urbanos / locais desertos /
esquina
traficantes
cafetões prostitutas
assistentes sociais
blocos de rua / concertos ao ar livre
DJs músicos bartenders
projeções ao ar livre / teatro de rua
diretores atores técnicos
murais / performances / happenings / flashmobs
artistas montadores curadores
patrulha
policiais
agentes USUÁRIOS
feirantes sacoleiros
balconistas fregueses garçons
organizadores skatistas de eventos
assistentes moradores sociaisde rua
traficantes usuários assistentes sociais
cafetões clientes prostitutas
DJs músicos dançarinos bartenders
diretores espectadores atores técnicos
artistas fruidores montadores curadores
policiais vítimas
sacoleiros
fregueses
skatistas
moradores de rua
usuários
clientes
dançarinos
espectadores
fruidores
vítimas
público agentes
“street”
proprietário morador
corpo eclesiástico paróquia
corpo docente estudantes funcionários seguranças
vendedores consumidores feirantes
gerentes fregueses funcionários
organizadores skatistas de eventos
assistentes moradores sociaisde rua
traficantes usuários assistentes sociais
cafetões clientes prostitutas seguranças
gerentes funcionários dançarinos seguranças
diretores espectadores atores técnicos
morador
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estudantes
consumidores
fregueses
skatistas
moradores de rua
usuários
clientes
dançarinos
espectadores
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público
estudantes
S
escola
loja / sacolão / mercado / shopping / box
bar / restaurante
pracinha escola
feira : espaço linear loja / sacolão / plano previsto mercado / shopping / box
mesinhas na calçada bar / restaurante
skate park / half
skate planos park / half inclinados / halfs / banquinhos
albergue noturno
albergue noturno
clínica de reabilitação
secretaria da mulher + biblioteca feminista
clínica de reabilitação
praça das secretaria daputas mulher + biblioteca feminista
discoteca
Cine Bojou + Estação Cinemateca
galeria R.G.B.
discoteca
projeções ar livre / Cine ao Bojou teatro+de rua Estação Cinemateca
HQ Graffiti galeria R.G.B.
delegacia
SOLUÇÃO
delegacia
SOLUÇÃO
S
rua
templo
escola
loja / sacolão / mercado / shopping / box
bar / restaurante
templo
pracinha escola
feira : espaço linear loja / sacolão / plano previsto mercado / shopping / box
mesinhas na calçada bar / restaurante
skate park / half
skate planos park / half inclinados / halfs / banquinhos
albergue noturno
albergue noturno
clínica de reabilitação
secretaria da mulher + biblioteca feminista
clínica de reabilitação
praça das secretaria daputas mulher + biblioteca feminista
discoteca
Cine Bojou + Estação Cinemateca
discoteca
projeções ar livre / Cine ao Bojou teatro+de rua Estação Cinemateca
fruidores galeria RGB
vítimas
galeria RGB galeria R.G.B.
delegacia
HQ Graffiti galeria R.G.B.
delegacia
entrada pela avenida ipiranga
escadariarquibancada
O rebaixamento da praça permite a garantia da percepção total do seu espaço e das atividades que nele ocorrem. Conjugado com os planos e equipamento que proporcionam movimento em alta velocidade para a prática do skate, a escadariarquibancada situada ao longo do corredor de teatros, estimula o uso da praça como local de permanência e estar, potencializando seu uso contemplativo. Uma vez equipado com um sistema conectado à Galeria RGB, suas tomadas de iluminação atraem o local para seu uso noturno contínuo.
ciclovia e a torre-bicicletário
A transição entre os bairros da Consolação e do Bexiga por cima do Viaduto do Café representa um caminho longo sem rotas de escape para pedestres. A necessidade de um trânsito rápido por este caminho, somado ás alterações propostas no sistema viário neste projeto, trazem a oportunidade para implantação de um sistema integrado de ciclovias que realiza o mesmo trajeto em direção leste-oeste, equipado por bicicletáriostorre (estacionamento, aluguel e borracharia) que ajudam a pontuar o trajeto ao longo da paisagem.
vista pela rua martinho prado
entrada pela rua da consolação
Ao identificar a falta de uma ordem administrativa que garantisse o funcionamento pleno das atividades da praça, viu-se necessária a proposição de uma estrutura política gestora.
estrutura administrativa
Ao mesmo tempo em que a tônica deste trabalho é estimular o uso concomitante da praça por diferentes grupos culturais, tomou-se o cuidado no projeto para que todos esses compartilhassem de um mesmo grau de atenção correspondente às suas respectivas formas de utilização do espaço público. Desta forma, imaginou-se que uma estrutura administrativa deveria ser no máximo possível aberta e receptiva para todos esses grupos de forma equilibrada, ao mesmo tempo em que pudesse estrategicamente evitar um futuro desbalanceamento em prol dos interesses particulares de um dos grupos em relação aos seus demais. Propõe-se então que a nova praça seja gerida por um conselho composto por representantes de cada um dos grupos culturais distintos, especificamente pelos agentes promotores desses programas correspondentes à estrutura funcional particular de cada um deles, mas eleitos pelo público usuário como um todo. Ainda nessa estrutura, imagina-se que dentre os membros do conselho, cuja responsabilidade recai em zelar pelo bom andamento das atividades dos usuários, colocar em pauta as reivindicações da classe correspondente e apresentar propostas de atividades e eventos específicos, um deles ocuparia o cargo administrativo mais elevado da praça com um mandato de tempo curto o suficiente para promover atividades relacionadas a sua classe em meio a um sistema de rotatividade contínua e seqüencial dos demais membros do conselho. Desta estrutura de possibilidade de eleição para o cargo principal ficam excluídos apenas os moradores, por não representarem nenhum uso específico da praça (a não ser que se incluam em algum dos demais) e os policiais, por atuarem como prestadores de serviço e não usuários. Busca-se desse modo manter um diálogo saudável e contínuo entre os diferentes grupos culturais, bem como estimular o exercício da atividade política ativa de cada um dos usuários: seja minimamente em relação à praça, seja para além dela enquanto esses se perceberem cidadãos.
PÚBLICO
AGENTE PROVEDOR
morador
proprietário
paróquia
corpo eclesiástico
estudante
corpo docente
sacoleiro
feirante
freguês
balconista / garçon
admirador
skatista
morador de rua
assistente social
usuário
traficante PROGRAMA assistente social PROGRAMA
USUÁRIO
cliente
DO PROGRAMA
P P P P
cafetão prostituta
PROGRAM
PROGRAM
STATUS
STATUS
STATUS
STATUS
formal interior formal rígida interior
formal interior formal rígida interior
rígida
rígida
informal
informal
exterior informal
exterior informal fluida exterior fluida
dançarino
DJ / músico bartender
espectador
fluida diretor / ator / técnico exterior / fluida projetor
fruidor
artista / montador / curador USUÁRIOS USUÁRIOS USUÁRIOS
vítima
policial
USUÁRIO
agentes
agentes
agentes
agentes
reativação do uso noturno
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