Minimanual de Jornalismo Humanizado parte VIII: Orixás na Umbanda

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Minimanual de Jornalismo Humanizado Parte VIII: Orixรกs na Umbanda Escrito por Felipe Monteiro 20 de maio de 2019

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A Umbanda é uma religião afro-brasileira composta por ritos confluentes das matrizes étnicas do Brasil. Sua história é permeada por um passado de opressão por parte de um Estado branco, iluminista e predominantemente cristão cujos símbolos racionais negam o simbólico e a oralidade, fatores intrínsecos à cultura e reprodução dos cultos aos orixás e ameríndios, e um histórico de resistência por parte de um povo composto por negros, migrantes e imigrantes pertencentes à classe trabalhadora que encontra na religião um meio de amparo para as labutas diárias. Ao longo do século XX, a Umbanda se desenvolveu e passou de uma situação de extrema marginalização, para um momento em que passou a integrar um movimento de inclusão que permitiu o início de uma frágil aceitação social. Entretanto, com o avanço do neopentecostalismo, dos discursos de ódio e, mais recentemente, a ascenção ao poder de grupos racistas e intolerantes com as religiões afrobrasileiras, um novo cenário de lutas e resistência surge e, com ele, necessidades de criação, fomento e manutenção de meios que propaguem a cultura afrobrasileira, seus símbolos, cultos e a defesa dos direitos humanos. Com isso, e devido aos últimos acontecimentos midiáticos, se faz necessário a criação de um minimanual que vise orientar as produções jornalísticas de forma que respeitem esses valores, contribuam para a democracia e colaborem com a construção de uma sociedade equitativa e justa, principalmente com os recortes de negritude, LGBTI+ e de classe.

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INTRODUÇÃO Estudar a situação da Umbanda no espaço social brasileiro é reler a história da formação do país e da construção dos espaços e não-espaços em que as trocas humanas, a mistura de matrizes e nacionalidades, o preconceito e os jogos de poder se entrelaçam. Nesse meio, se faz importante entender a origem dos cultos aos Orixás, herdados dos povos africanos que foram trazidos no período escravocrata, a estruturação de determinados centros urbanos nos quais essa religião se fundou e a composição do poder e das religiões dominantes socialmente. O culto aos Orixás aportou em terras brasileiras trazido por inúmeros grupos de algumas nações africanas, em sua maioria pertencentes a um território extenso conhecido como Yorubaland (SANTOS, 1977), local em que se partilhava um idioma e uma crença, elementos que ficaram popularmente chamados de nagôs n Brasil. Do encontro

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desses povos, surgiram os Candomblés, Xangôs, Catimbós e outros cultos como forma de resistência e de construção identitária. Tais religiões se consolidaram principalmente na região nordeste, com destaque para o estado da Bahia devido o fato de ser o porto com maior contato com o tráfico negreiro. Fato que garantiu a realimentação cultural e de crença. Na região sudeste, devido ao florescimento urbano e a alta influência do pensamento iluminista trazidos pela industrialização e fomentados culturalmente pelas religiões cristãs, além do higienismo social das imigrações que visavam incorporar europeus e povos brancos ou asiáticos para trabalho assalariado, criaram um não-espaço que tornou difícil o estabelecimento dos cultos africanos. Nesse contexto de conflitos e estruturas colonizadoras, surge uma religião que conseguiu realizar o encontro das


divergências para construir algo novo e que oferecesse uma possibilidade de resistência dos cultos aos Orixás. Agregando a diversidade étnica das metrópoles e buscando encontrar um espaço entre as ideias racionais da cultura, política e fé dominantes, a Umbanda se constrói em situação de (des)encaixe. É um encaixe de negros, novos imigrantes, indígenas e espíritas (religião nova que ganhava volume nas grandes cidades com maior influência europeia), porém um desconforto, um desencaixe por se inserir numa lógica que nega qualquer elemento simbólico e não racional, como pregavam as religiões cristãs do século XIX (SILVA, 1995) e, posteriormente, os embates com o crescimento do pentecostalismo e neopentecostalismo nos séculos XX e XXI. Frente esse espaço em que sobrevivência e fé convivem ora dialogando, ora disputando, e por uma crescente institucionalização de agentes sociais intolerantes com sua existência, se faz necessário construir caminhos para o fomento do culto aos Orixás (neste caso, focado na Umbanda), como preservação histórico-cultural, proteção dos Direitos Humanos, defesa da

pluralidade religiosa e da democracia. Por isso, esse minimanual foi pensado de forma a proporcionar caminhos à produção jornalística como forma de construção de um cenário mais justo e equitativo. Para tentar abordar o universo de signos da Umbanda de forma a trazer meios adequados de abordagem jornalística, dividi este documento em 5 partes: Informações Gerais: Os manuais de redação costumam carregar uma seção de anexos nas quais oferecem informações gerais e breves para orientações básicas sobre determinados assuntos, entre eles as religiões. Entretanto, essas descrições costumam ser rasas e embasadas em estereótipos ou estigmatizações, principalmente quanto às religiões afro-brasileiras. Este tópico foi pensando, então, de forma a conceder informações básicas e necessárias para um jornalista iniciar uma matéria ou reportagem saindo do contexto limitado; Umbanda é sagrado: É comum encontrar discursos que abordam a Umbanda como charlatanismo, ritos “mágicos” vazios, universo simbólico desprovido de razão e do sagrado. Essa seção visa orientar quanto a isso e indicar

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possibilidades de como abordar aspectos concernentes ao sagrado umbandista; Oferendas, rituais e símbolos: Os rituais da Umbanda e seus elementos litúrgicos, culturais e sagrados costumam ser alvos de preconceito de desinformação. Essa seção tem por objetivo esclarecer o assunto e indicar meios de como tratá-lo em matérias jornalísticas; Exu e Pombogira: Dentre as entidades da Umbanda, essas duas são a que mais sofrem com estigmatizações, esvaziamento de significado e inversão de valores, fato que contribui para a propagação de informações falsas a respeito da religião e das entidades, além de contribuir para o crescimento do preconceito e da violência. Essa seção, então, tenta explicar essas entidades, seus signos e propor maneiras adequadas de escrever sobre elas; Transe mediúnico: O fenômeno do transe mediúnico, intrínseco às religiões espiritualistas como a Umbanda, costuma ser estigmatizado como possessão demoníaca, disfunção psiquiátrica ou charlatanismo. Por isso, esse tópico tenta desmistificar ideias erradas sobre o conceito, também fornecendo meios mais

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corretos de abordá-lo. Ao final, são apresentadas algumas informações que podem contribuir para o entendimento desse universo religiosos, bem como oferecer dados, fontes e materiais de estudo para auxiliar na produção de reportagens jornalísticas.


"Vamos abrir a nossa gira Com licença de Oxalá. Vamos abrir a nossa gira Com licença de Oxalá. Salve Xangô, salve Iemanja, Mamãe Oxum, Nanã Buroquê. Salve Cosme e Damião, Oxóssi, Ogum e Oxumaré. Salve Cosme e Damião, Oxóssi, Ogum e Oxumaré" Ponto cantado de abertura da gira

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1 Informações Gerais Essa seção baseia sua estrutura no Anexo de Religiões do Manual da Redação da Folha. Tem, todavia, um caráter de compromisso com os valores da religião, buscando mostrar seus elementos e sua composição básica de forma breve, porém sem se prender a estigmas, esvaziamentos e outros preconceitos que deslegitimam a religião. Umbanda Fundação Começou a ocorrer de forma não estruturada por volta do século XIX, entretanto, sua fundação oficial ocorreu no dia 15 de novembro de 1908, na cidade do Rio de Janeiro. Doutrina Formada a partir do encontro das matrizes culturais brasileiras, assimila elementos de fé africanos, indígenas, católicos e espíritas. Acredita que o universo se manifeste em dois planos de existência que coexistem - o plano espiritual e o plano material - em relação

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de trocas constantes. Todos os seres humanos são em essência espíritos envoltos em um corpo material que lhes permite viver experiências de crescimento por meio das vicissitudes do plano material. Após a morte (desencarne), os espíritos voltam ao plano espiritual onde passam a atuar de diversas formas, dentre elas processos de evolução espiritual que lhes permite aconselhar e ajudar os encarnados por meio da configuração das entidades, algumas delas são Caboclos, Pretos e Pretas Velhos, Baianos, Marinheiros, Ciganos, Exus, Pombogiras e Erês (crianças). A comunicação do plano espiritual ocorre a todo momento, com todos os seres humanos - todos somos possuímos faculdades mediúnicas, ou seja, que permitem contato com o plano espiritual -, entretanto, por questões de necessidade material e evolutiva, algumas pessoas nascem com esses canais mais abertos (os chamados médiuns) e, quando


orientados pela doutrina da Umbanda, servem de instrumentos para que as entidades possam se manifestar e auxiliar no processo evolutivo tanto do próprio médium, como daqueles que buscam ajuda por meio das consultas públicas. Organização Os terreiros de umbanda herdam o histórico e a cultura da oralidade dos cultos dos Orixás trazidos de países africanos, portanto, os nomes dos cargos, dos elementos ritualísticos, a liturgia e a organização pode variar de acordo com as orientações, cultura e tradição de cada terreiro. Entretanto, o modelo básico de organização é: Ialorixa (feminino) ou Babalorixá (masculino): alguns terreiros costumam usar o nome de mãe ou pai-de-santo, que seria o cargo de líder da comunidade religiosa, quem organiza a liturgia, as giras, os rituais e a organização do terreiro. Filhas e filhos-de-santo: pessoas que compõem a corrente mediúnica de um terreiro e cujas faculdades mediúnicas se desenvolveram ao ponto de permitir uma manifestação das entidades capaz de transmitir auxílio

espiritual por meio da consulta. Ogã: membro da corrente mediúnica responsável por tocar o atabaque e cantar os pontos, além de fornecer suporte para o trabalho mediúnico. Cambone: membro da corrente que auxilia o trabalho de das entidades, dando suporte aos médiuns em transe, às pessoas que buscam a consulta com os guias espirituais e auxiliam no rituais em geral. Médium iniciante: fiel que entrou para a corrente mediúnica recentemente, ainda passando pelas giras e rituais para desenvolver suas capacidades mediúnicas Consulente: também chamado de assistência, é o nome dado à qualquer pessoa que frequente as giras e não seja do corpo integrante dos trabalhos do terreiro. Liturgia Varia de acordo com a tradição da casa. Em geral, constitui-se de: Giras públicas, nas quais são feitas orações, defumações da casa e de cada pessoa presente no terreiro, pode haver um momento para uma palavra da ialorixá ou do babalorixá, ritual de atendimento espiritual. Além

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disso, existem diversos rituais privados, giras de desenvolvimento - que ajudam membros em iniciação no culto a desenvolverem suas faculdades mediúnicas -, entre outras relacionadas ao culto dos Orixás, manutenção energética do terreiro e ritos ligados ao culto dos guias.

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"Corre gira Pai Ogum, Filhos quer se defumar. Umbanda tem fundamento, É preciso preparar Com arruda e guiné, Alecrim e alfazema. Defumar filhos de fé Com as ervas da Jurema" Ponto cantado de defumação

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2 Umbanda é sagrado A Umbanda é uma religião afrobrasileira que reúne elementos das manifestações do sagrado das três matrizes étnicoculturais que constituem as bases populacionais do país. Dos povos africanos trazidos na diáspora, foram assimilados conceitos do culto aos Orixás e a própria crença nessas divindades. Em contato com o cristianismo, preces e sincretismo com os santos católicos incorporaram a liturgia umbandista. Por fim, a pajelança e outros ritos das culturas dos povos originais passaram a compor o universo simbólico e metafísico da religião. Essa religião começa sua história em meados do século XIX. Nesse período, já havia registros de um tipo diferente de manifestação do sagrado ocorrendo em diversos pontos do país. Pessoas estavam incorporando espíritos que se apresentavam como negros idosos que haviam sido escravos, índios guerreiros e conhecedores das práticas de

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cura com ervas ou, até, homens com histórias de vida desregrada que vinham ajudar aqueles que se consultavam em suas casas. No ano de 1908, um jovem carioca chamado Zélio Fernandino de Moraes, que incorporava tais espíritos em sua casa, formulou a primeira reunião (que mais tarde passou a se configurar como gira) guiado pelo espírito do Caboclo das 7 Encruzilhada. Assim, a Umbanda ganhava uma composição oficial. Assim como toda religião, ela tem uma estrutura que orienta como deve se constituir um terreiro, além de sua liturgia e seus símbolos que manifestam o sagrado, bem como um conjunto de saberes intrínsecos a esses elementos culturais-religiosos. A manutenção e a realização do culto renova os valores da casa e do grupo, mantendo os elos de identidade e fé bem estabelecidos. Além disso, por meio das giras e da comunhão entre participantes e universo simbólico manifestados no


terreiro, busca-se a elevação espiritual capaz de contribuir para a melhora na qualidade de vida, no entendimento e nas relações dos indivíduos e da comunidade com o meio. Devido ao seu aporte de manifestações mediúnicas e rituais simbólicos com uso de uma gama de elementos materiais, passou a ser tratada como charlatanismo, mercado de “magia” e esoterismo por parte do pensamento racional europeu vigente. Com os avanços nas lutas por direitos humanos e tolerância religiosa, esse discurso de esvaziamento e de descrédito foi lentamente se transformando. Entretanto, ainda é possível verificar diversos veículos midiáticos construindo notícias com elementos da Umbanda em caráter de esoterismo, atribuindo-lhe caráteres de banalidade e seculares, desconsiderando o sagrado da religião, depreciando a cultura dos Orixás e das comunidades umbandistas. Dessa forma, ao abordar o tema em qualquer tipo de produção jornalística, é importante ter em mente o respeito às estruturas de formação, o sagrado e seu transcendente, bem como as relações sociais que permeiam a religião.

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2 Umbanda é sagrado Praticantes da umbanda prestam homenagens a Iemanjá https://globoplay.globo.com/v/6946843/

As religiões cristãs têm seu sagrado devidamente aceito, sendo que as pessoas que professam tal fé são chamadas de fiéis. Com a Umbanda e outras religiões usa-se o termo praticantes, o que pode descaracteriza o teor sagrado da religião, comparando com feitiçaria ou práticas seculares. Evite esse termo e use fiéis umbandistas no lugar.

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'Jogaram coco, pau e pedra', diz chefe de terreiro de umbanda que se diz alvo de intolerância religiosa no RN https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/jogaramcoco-pau-e-pedra-diz-chefe-de-terreiro-de-umbanda-que-se-dizalvo-de-intolerancia-religiosa-no-rn.ghtml

Em caso de religiões, o adequado é utilizar o termo líder espiritual ou semelhantes, além do termo próprio dado a cada culto (bispo, padre, rabino, etc.). No caso da Umbanda, o termo chefe é uma forma de negar o sagrado e associar a organizações ou grupos sem fim espiritual, o correto seria recorrer aos termos pai/mãe de santo, babalorixá/ ialorixá ou líder espiritual.

“...ao experimentar religiões afro-brasileiras como candomblé e umbanda” https://oglobo.globo.com/busca/click? q=umbanda&p=112&r=1556058467029&u=http%3A%2F%2Fblogs.oglo bo.globo.com%2Fancelmo%2Fpost%2Fa-foto-de-hoje-sinhazinhacravo-canela462430.html&t=informacional&d=false&f=false&ss=&o=&cat=&key=

Religiões são vivências de uma cultura de um povo e seus elementos divinos, não objetos de prontos para experimentação. Esse termo reforça a conotações que associam a Umbanda à magia e charlatanismo, substituições mais adequadas seriam frequentou, conheceu ou vivenciou.

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3 Oferendas, rituais e símbolos

Na visão Umbandista, todo o universo é repleto de energia e formado por esse mesmo elemento. O que algumas crenças chamam de prana, mana ou axé, seria compreendido como um tipo de fluido etéreo que pode ser moldado por aqueles que possuem capacidade para tanto, formando, assim, variações e composições diversas. A própria matéria, mesmo, é uma composição mais grosseira dessa energia universal. Assim, todo objeto material é produzido e portador desse fluido. Até mesmo os seres vivos são possuem uma essência energética que, da parte material, é liberada com a morte. Portanto, partindo desse entendimento fica mais fácil compreender os rituais, símbolos e oferendas contidos no universo de práticas da religião. Tendo como referência dois pontos: a melhora da condição material e a evolução espiritual são alicerces que guiam a

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Umbanda, como visto anteriormente; e que tudo no universo é energia; então os conceitos se cruzam. Cada orixá está associado a esse fluido de uma maneira própria e as entidades espirituais são capazes de utilizar a energia para poder realizar as tarefas que são necessárias: sejam curas, melhoras emocionais e espirituais ou demais necessidades que precisam ser atendidas. Os objetos simbólicos são, além de elementos culturais que fomentam o carga de signos que mantém unido os elos dos fiéis e ferramentas que possibilitam a construção da identidade, envólucros portadores de energia. A utilização ou o porte desses objetos tem por finalidade renovar, manter e aplicar esse fluido etéreo para fins determinadas e orientados pelas entidades com intuito de contribuir para o progresso espiritual da comunidade do terreiro e do indivíduo que realiza a oferenda.


"Quem está de ronda é Ogum Megê. Quem rola as pedras é Xangô Kaô. Flecha de Oxóssi é certeira, é. E Oxalá é o meu Senhor. Sete linhas de Umbanda, Sete linhas pra vencer. Dentro da lei de Oxalá, Ninguém pode perecer. Tem Oxum nas cachoeiras, Iemanjá Deusa do mar, Iansã pra defender E Cosme e Damião para ajudar" Ponto cantado de saudação às 7 linhas da Umbanda

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3 Oferendas, rituais e símbolos

Delivery para os orixás

Dossiê Superinteressante - As religiões afro: As origens, as divindades, os rituais. São Paulo: Abril, fev/2018, p. 52 - 53

Essa matéria traz em seu título uma alusão aos serviços de entrega de alimentos comparando-o às oferendas para os Orixás, sendo o restante do texto uma expansão dessa concepção de que as oferendas são como alimentos utilizados em um sistema de troca no qual é preciso entregar determinada fruta ou prato para que as entidades ofereçam alguma ajuda para o indivíduo. Além de caráter de curiosidade, a reportagem é preconceituosa, se apropria

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dos ritos de forma a esvaziar seus sentidos e compõe uma visão limitada e preocupante a respeito dessa prática espiritual, já que oferece um entendimento de que a Umbanda é desprovida de um sagrado e uma essência transcendental, sendo tida como um mercado de troca para realização de pedidos.

Oferendas para São Jorge com preços do ano passado https://odia.ig.com.br/economia/2019/04/5636220-oferendas-parasao-jorge-com-precos-do-ano-passado.html

A reportagem aborda o rito de celebração do dia de Ogum, ou São Jorge no sistema sincrético, como uma festa secular com caráter comercial. Trata os elementos associados à energia de Ogum como produtos sem relação simbólica ou espiritual.

“...Nas religiões de matriz afro-brasileiras, não há o sacrifício de animais domésticos, como garante Pai Ricardo de Odé, de Águas Lindas de Goiás.” https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/ 2019/01/25/interna_cidadesdf,732911/homem-que-matou-cadelaem-oferenda-tera-de-pagar-r-19-mil-em-multa.shtml

Essa reportagem é um exemplo de acerto. Ela aborda um incidente em que um rapaz sacrificou uma cadela como parte de um ritual, entretanto vai aprofunda-se buscando explicar que esse tipo de prática não está associada aos cultos afro-brasileiros e traz a fala de um representante do Candomblé que explana a visão da religião sobre o assunto.

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4 Exu e Pombogira Dentre as entidades e Orixás da Umbanda, as figuras que passaram por maior processo de esvaziamento e construção negativa da imagem são Exu e Pombogira. No imaginário popular brasileiro, proveniente da cultura cristã predominante, é comum encontrar comparações entre essas divindades e o demônio, Satã ou quaisquer outras formas de manifestações do mal maniqueísta. A concepção de tal ideia é tão equivocada que ao analisarmos a estrutura de antagonismo na qual Diabo é oposto a Deus e compararmos aos mitos da de Exu no conjunto de narrativas yorubanas, não existe sequer uma simetria em que se possa sustentar algo do gênero. Para tornar o tema mais claro, é preciso primeiro distinguir Orixá Exu das entidades Exu e Pombogira. Orixá Exu: divindade parte do panteão yorubano, está intimamente ligado à criação do universo e é cultuado por

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sua capacidade de atuação na vida humana por meio do Odu (uma ideia similar à de destino) ou por sua proteção. Esse Orixá não é cultuado na Umbanda tradicional, entretanto algumas vertentes que misturam as influências do candomblé possuem ritos e liturgias de culto a essa divindade. Os elementos associados a Exu são o tridente e o XXXX, instrumento fálico feito de palha da costa. Inclusive é possível encontrar imagens dessa divindade com um enorme falo, caracterizando seu poder de criação e concepção; Exu e Pombogira na Umbanda: trata-se de entidades(nota) que manifestam-se nas giras denominadas de esquerda. Além do branco tradicional das vestes umbandistas, essas entidades costumam vestir preto, vermelho e outras cores escuras. O espírito que se manifesta como Exu tem como símbolos cartolas, capas, punhais, tridentes, charutos, cigarros e bebidas; podem falar


com voz grossa e rouca, apresentam mãos como garras. As pombogiras são espíritos femininos cujos símbolos costumam ser véus, saias, cigarrilhas, leques, cartas, taças, anéis, flores (principalmente rosas); manifestam-se como mulheres empoderadas e livres das estruturas sociais que causam repressões às diversas formas de feminilidade. Essa construção errônea ocorre por caráter histórico de uma colonização europeia branca e racista. Em seu livro Exu - O poder organizador do caos, Norberto Peixoto trata do tema e explica que não existe separação entre o Orixá e Olodumaré.

“É fato amplamente sabido que nos países da diáspora yorubá (dispersão de um povo de seu local de origem em consequência de preconceito ou perseguição política, religiosa ou étnica), os colonizadores europeus foram os primeiros antropólogos das religiões a traduzirem as tradições orais africanas, atribuindo a Exu identidades alheias aos seus atributos divinos, sincretizando-o ao Diabo católico [...] Mas Exu não se opõe ao Criador, Deus ou Olodumare, em nenhum momento no corpo literário de Ifá, registrado seja pela oralidade ou por escritos originais.” (PEIXOTO, 2016, p. 20)

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Com essas palavras, o autor coloca um ponto final na dicotomia Deus - Exu. Ao longo do capítulo é explicado como esse Orixá atua na mitologia yorubá, qual seu papel na cosmogonia e na crença dos grupos que o cultuam. Entendendo essas estruturas, é possível compreender os processos de demonização das entidades na Umbanda. Os espíritos que se manifestam nas linhas de Exu e Pombogira são homens e mulheres cujas narrativas das vivências pregressas falam de seres humanos que viveram vidas desregradas, praticaram atos considerados imorais dentro da lógica cristã e que, ao desencarnarem, receberam a oportunidade de se redimir de seus atos ajudando o próximo por meio dos atendimentos nas giras de esquerda. Entende-se que esses espíritos estão associados com a energia vital do corpo, bem como tudo o que estimula a vida e, devido a seu passado e sua atual condição energética, estão mais próximos da humanidade e de seus dilemas. Isso significa que, assim como as demais entidades que atuam na Umbanda, Exu e Pombogira têm conhecimento sobre as dores da alma, a necessidade de crescimento espiritual de cada indivíduo e as aflições relativas à vida material e atuam de

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forma a estimular os indivíduos, proporcionandolhes força para vencer as dificuldades. Porém, algumas pessoas fazem associações indevidas, concebendo essas entidades como patronos dos relacionamentos amorosos e da vida material, capazes de trazer ou afastar parceiros, garantir emprego ou dinheiro, facilitar acesso aos bens materiais e entre outras leviandades. Esse aglomerado de equívocos costuma estar presente na visão popular. Dessa visão obtusa a respeito da entidades de esquerda, forma-se um mercado de notícias que vende uma iconoclastia pautada pelo racismo que esvazia e contribui para a vulgarização das religiões afro-brasileiras. É comum encontrar matérias sobre essas entidades na seção de entretenimento ou esoterismo de alguns portais de notícias, ou veicular notícias de pessoas famosas envolvidas em polêmicas associadas a Exu ou Pombogira, recriando um universo de charlatanismo, criminalidade e sexualização envolvendo esses Orixás. Esse tipo de construção jornalística deve ser evitado, já que afetam negativamente a esfera pública e a democracia.


"Ogum, Exu pede licença pra seu povo arriar. Ogum, Exu pede licença pra seu povo arriar. Mas ele é Exu guerreiro, E vem trazendo força para esse terreiro" Ponto cantado de chamada de Exú

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4 Exu e Pombogira O que é a Pombagira? https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-a-pombagira/

A matéria é simplista, reduzindo a entidade Pombogira à sexualidade e promessas de amor. Dessa forma, esvazia a carga simbólica e espiritual do que a entidade realmente é, de seu propósito na Umbanda, além de seu caráter sexista, machista e racista. Ao abordar as entidades, em especial Exu e Pombogira que já são altamente estigmatizados, é importante entender e respeitar o sagrado da religião e seu papel transcendental.

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Problemas com o amor? Exus e Pombagiras também podem ajudar https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/horoscopo/esoterico/exus-epombagiras-tambem-podem-auxiliar-noamor,220946b08a6d95e23ca142567c8834ff30maey04.html

Exemplo de matéria comum de ser encontrada nos nichos jornalísticos de entretenimento ou esoterismo. Trata-se de uma abordagem simplista, que nega o sagrado e trata Exu e Pombogira como elementos de superstição, desprovidos do caráter divino e que esvazia a saudação dessas entidades reapropriando-a como uma simpatia para obter o que se deseja. Além disso, tratar o sagrado como entretenimento é uma escolha editorial que apresenta uma visão equivocada e preconceituosa.

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5 Transe mediúnico Por se tratar de uma religião fundamentada na existência de um plano espiritual capaz de se manifestar, a incorporação ou transe mediúnico é parte constituinte do universo simbólico e metafísico da Umbanda. Dentro da visão umbandista, esse mecanismo é importante para os ritos, porém não é essencial, isto é, por meio do transe mediúnico, diversos processos se realizam, mas a religião não se resume a isso. O religar-se com o divino ocorre pela fé nos Orixás, pelo conjunto de elementos que compõem o universo simbólico da religião e de cada terreiro, já que cada templo umbandista é independente e constitui seus próprios ritos e símbolos. A incorporação, por mais que seja uma ligação da vida material com a manifestação do sagrado, é parte de um todo maior que compõe o religare. Entretanto, esse elemento religioso é estigmatizado na sociedade cuja mentalidade é tradicionalmente cristã e racional. O estado alterado de

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consciência com manifestação da espiritualidade é, equivocadamente, referido como possessão demoníaca ou perturbação mental. Dessa forma, se torna alvo de ataques motivados por intolerância de todas as formas, inclusive em meios jornalísticos. Por ser um fenômeno ainda pouco compreendido, a abordagem mais comum do fato é com o olhar do Outro, do peculiar ou anormal. Por esses e outros motivos envolver exposição de pessoas, estigmatização do rito e concepções religiosas sobre o transe - esse mecanismo é protegido pelos umbandistas. Mesmo com giras públicas, os registros do fenômeno costumam ser proibidos, fator que merece atenção e respeito de jornalistas.


"Eu fecho a nossa gira, Com Deus e Nossa Senhora. Eu fecho a nossa gira, SambolĂŞ pemba de Angola. Fechei a nossa gira, Com Deus e Nossa Senhora. Fechei a nossa gira, SambolĂŞ pemba de Angola" Ponto cantado de encerramento da gira

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5 Transe mediúnico Por tratar-se de um tema sensível para a Umbanda, uma vez que carrega uma série de elementos simbólicos da religião, além do fato de proteger os médiuns em estado alterado de consciência de possível exposição e proteger, também, o próprio rito de transe de estigmatização, é imporntante tecer algumas considerações e orientações a respeito de produções jornalísticas que visem abordar a incorporação.

Do tema

Como foi dito, a incorporação, ou transe mediúnico, é um ritual intrínseco à Umbanda e sensível dentro de sua cultura e liturgia. Sua funcionalidade cabe aos próprios membros do terreiro. Quando o tema surgir em uma possível pauta, cabe questionar: é importante falar sobre isso, por quê? Vai ser abordado como um rito religioso de caráter transcendental? A pauta busca trazer informações que contribuam para o entendimento da religião, de seus códigos e do seu sagrado? Como essa abordagem pode ser positiva aos umbandistas? Existem muitos fatores que podem auxiliar a compreensão do universo umbandista e que são menos propensos a gerar problemas à comunidade religiosa, portanto ao abordar a incorporação zele pelos princípios de proteção aos grupos minoritários e aos signos da Umbanda para evitar reforçar estigmatizações.

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Do registro

Assim como outras religiões costumam não permitir o registro de seus cultos e rituais, é comum encontrar babalorixás e ialorixás que não permitem registros audiovisuais dos cultos de suas casas. Tanto pela proteção dos participantes que podem ser prejudicados com a exposição*, como por conceitos espirituais. Dessa forma, é melhor realizar registros audiovisuais fora das giras, em momentos que a casa não está realizando seu culto. Caso seja concedida a permissão para fotografar ou filmar as giras com incorporação, é importante ter em mente que não é preciso identificar as pessoas para uma captura do momento de transe.

* Em entrevista realizada para a produção desse minimanual, houve relatos de pessoas que perderam o emprego quando o patrão soube que elas eram umbandistas.

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Considerações

O histórico da formação das religiões afro-brasileiras é permeado de violência do Estado e intolerância religiosa. Estabelecer uma ponto de comunhão para o culto dos Orixás representava (e ainda representa) não só uma religião a mais no território nacional, mas uma fé negra, que agregava escravos e exescravos em processo de reconstrução de seu universo simbólico, e construção e fortalecimento de suas identidades. Fator preocupante para um Estado cuja economia era baseada na produção escravocrata. A Umbanda está inserida nesse contexto, mesmo com sua consolidação em 1908. O legado da escravidão não foi superado e afetou a religião que foi marginalizada. Além disso, com a chegada dos imigrantes, muitos trabalhadores rurais e de classes sociais estigmatizadas, a Umbanda acolheu aqueles que cruzaram os mares e arcou com a xenofobia decorrente

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disso. Com o avanço do neopentecostalismo, a intolerância ganhou novos patamares. O discurso televisivo de emissoras dessa vertente religiosa contribuiu para o aumento da violência contra os terreiros e seus fiéis. Por volta do período lulista, houve avanços significativos com relação à proteção e fomento das religiões afrobrasileiras por meio de políticas públicas, como a lei 10,639/03 que tornou obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e africana nas escolas e a formação da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR) em 2003. Mais tarde, durante o governo Dillma, a elaboração do Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana deu mais um passo à frente na luta pelos direitos dessas comunidades.


Entretanto, o levante de uma onda conservadora que ganhou força em 2015 e se instaurou no poder em 2019 ameaça a manutenção dessas políticas públicas, bem como é orientada por discursos de ódio contra negras e negros, religiões afro-brasileiras, LGBTI+s e classe trabalhadora. Nesse contexto, é papel do jornalismo contribuir para a proteção dos Direitos Humanos, zelando por produções adequadas que contribuam para a esfera pública de forma que possibilite recobrar as vozes desses grupos. Por isso, esse minimanual foi planejado visando orientar produções jornalísticas que colaborem com a manutenção da democracia, que busque a equidade e que proteja a Umbanda, os grupos negros e demais classes minoritárias.

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GLOSSÁRIO Axé: energia primordial emanada pelos Orixás ao universo. É uma força dinâmica que sustenta e dá vida a tudo, encontrada nos elementos naturais relacionados a cada Orixá ou irradiada pelas entidades durante as giras. Caboclo: entidade espiritual que assume a forma de índios nativos do Brasil ou de grupos étnicos tribais de alguns países africanos. Candomblé: religião afrobrasileira de culto aos Orixás segmentado pelas nações africanas que carregam seus próprios ritos, liturgias e elementos religiosos ou culturais. Catimbó: religião afrobrasileira tradicionalmente encontrada nas regiões norte e nordeste do Brasil. Suas tradições derivam o Candomblé e têm forte influência dos ritos dos povos originários brasileiros, principalmente pelo uso de ervas como a Jurema. Também é conhecido em algumas regiões como Jurema (devido à

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erva utilizada no ritual). Corrente (mediúnica): esse termo umbandista se refere a um mesmo elemento dividido em duas instâncias - o plano material e o plano espiritual. A corrente, ou corrente mediúnica, no plano material é o grupo de médiuns que atuam em um terreiro que se organizam em fileiras paralelas. Esse nome se dá porque no plano espiritual, uma corrente energética percorre essas fileiras de médiuns, fluindo de forma a energizar os próprios médiuns e irradiando para as pessoas. Gira: sessões de culto nos terreiros de Umbanda. Podem ser públicas com ou sem atendimento, ou fechadas para determinados fins espirituais de acordo com a liturgia da casa. Guias: título com o qual se refere às entidades na Umbanda. A origem do termo é de guiar, uma vez que as entidades guiam a jornada espiritual e material dos médiuns.


Iemanjá: Orixá feminino associado aos mares. É tida como a mãe de todos, genitora da vida. É cultuada por ser a protetora dos lares, das famílias e por ser aquela que conduz a humanidade em seu desenvolvimento e crescimento espiritual. Jurema: esse termo possui muitos significados, mas para entendimento deste minimanual, refiro-me à Jurema citada no ponto cantado de defumação. Nesse caso, é preciso compreender que Jurema é uma entidade feminina que se manifesta na Umbanda com a forma de índia brasileira (cabocla) e que é conhecida por seus domínios sobre as ervas e suas utilizações ritualísticas. Ela habita uma região do plano espiritual repleta dessas. O ponto cantado em questão faz referência às ervas utilizadas na defumação que pertencem aos domínios da Jurema. Nanã Buruquê: também chamada de Nanã Buruku (ou só Nanã), é um Orixá feminino associado à vida e à morte, à sabedoria, à magia e aos processos do tempo em transformar as pessoas. Rege as águas lamacentas, nas quais decanta a negatividade, deixando emergir a pureza (ou a água límpida em referência

metafórica). Ogum: Orixá masculino associado ao trabalho, comércio, forja dos metais e às lutas. Conhecido como Orixá guerreiro, é sincretizado com São Jorge nas regiões sul e sudeste do Brasil. É cultuado para, entre tantas coisas, proteção e ajuda a vencer as dificuldades da vida. Olodumaré: Deus no culto aos Orixás (também chamado de Nzambi). Na Umbanda, o entendimento de Deus varia devido às influências regionais, das culturas associadas à religião e às orientações de cada terreiro, sendo que pode se aproximar do conceito yorubano ou ser entendido dentro do pensamento espírita kardecista. Oxalá: Orixá masculino da criação, da fé e da paz. Algumas tradições acreditam que foi o primeiro Orixá criado por Olodumaré. Foi encarregado da criação do planeta Terra e de toda a vida aqui existente. Como notado nos pontos cantados deste minimanual, antes de abrir as giras pede-se licença a Oxalá, por ser o criador, e a Exu, pois sem ele nada é feito. Oxóssi: Orixá masculino irmão de Ogum, associado à caça, pesca, fartura, conhecimento e

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às matas. Na Umbanda, entende-se caça e conhecimento tanto como sinônimos de fartura de alimentos e de intelectualidade (respectivamente), como por esse Orixá ser associado ao caçador de espíritos perdidos para que possa lhes conferir conhecimento e direção na jornada espiritual. Oxum: Orixá feminina associada às riquezas da vida o amor em todos os sentidos, principalmente o amor espiritual, a prosperidade material, os filhos, o bem estar, a beleza. Rege as águas doces e também é conhecida por zelar pelas parturientes. Oxumaré: Orixá que é homem e mulher, associado às transformações da vida, ao equilíbrio e à beleza. Seu símbolo é o arco-íris e as cobras de metal que usa como cetros. Como a Umbanda foi uma das primeiras religiões que aceitou a comunidade LGBTI+ desde o começo de seus cultos, Oxumaré ficou conhecido como o regente dos transexuais e das travestis que eram membros dos terreiros. Ponto (cantado): Na Umbanda, existe o ponto cantado e o ponto riscado. O primeiro são os elementos cantados ao embalo dos toques de

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atabaque que se referem à energia de determinados ritos da gira ou a determinadas entidades, sendo entoados para evocar essas energias. O segundo é o símbolo, marca em forma de desenho, associado a uma entidade. Preto(a) velho(a): entidades da Umbanda que se manifestam como escravos idosos e são conhecidos por sua sabedoria, suas mensagens consoladoras e seu jeito humilde de lidar com os problemas e necessidades de quem busca sua ajuda. Xangô: neste minimanual, Xangô aparece com dois sentidos. O primeiro como Orixá masculino associado à justiça, às leis divinas que regem o universo, regente dos vulcões e pedreiras, cujo brado deu origem ao som. O segundo é o culto das regiões norte e nordeste que deriva das tradições do Candomblé. Yorubá: cultura de determinados povos africanos que partilhavam a crença nos Orixás, bem como outros elementos como o idioma yorubano.


Colaboração Colaboraram com a produção desse minimanual diversas pessoas participantes do grupo Umbanda Bauru do Facebook que aceitaram participar da entrevista sobre intolerância religiosa. https://www.facebook.com/groups/1886244208257257/ O babalorixá e os médiuns do terreiro São João Batista e Ogum Iara que também participaram das entrevistas. O terreiro está localizado na rua das Jabuticabeiras, 3-55 - Nucleo Residencial Presidente Geisel, Bauru - SP. O sacerdote umbandista Norberto Peixoto, líder espiritual do grupo de Umbanda Triângulo da Fraternidade e autor de diversos livros religiosos, entre eles Exu: o poder organizador do caos. http://www.triangulodafraternidade.com

Referências bibliográficas BRASIL. Lei n. 10 639, de 9 de janeiro de 2003. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm. Acessado em: 21 de mar. 2019. CEAP - CENTRO DE ARTICULAÇÃO DE POPULAÇÕES MARGINALIZADAS. Intolerância Religiosa no Brasil - Relatório e Balanço. Rio de Janeiro: Editora Klínē, 2016. Disponível em: https://www.geledes.org.br/wpcontent/uploads/2018/08/relatorio-final-port-2.pdf. Acessado em 15 mar. 2019. MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS. Secretaria Nacional de Cidadania. Diretoria de Promoção e Educação em Direitos Humanos. Relatório sobre Intolerância e Violência Religiosa no Brasil (2011 –

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2015): Resultados Preliminares. Brasília, 2018. Disponível em: https:// www.mdh.gov.br/navegue-por-temas/diversidade-religiosa/publicacoes-1/ RelatoriosobreIntoleranciaeViolenciaReligiosanoBrasilExpediente2.pdf. Acessado em: 15 mar. 2019.

_________________. Mapeamento das redes dos povos e comunidades de matriz africana e de terreiros. Brasília, 2018. Disponível em: https://www.mdh.gov.br/biblioteca/consultorias/ seppir/mapeamento-das-redes-dos-povos-e-comunidades-dematriz-africana-e-de-terreiros. Acessado em: 21 mar. 2019. PEIXOTO, Norberto. Exu: o poder organizador do caso. Porto Alegre: Besourobox, 2016. SANTOS, Juana Elbein dos. Os nagô e a morte: pàde, àsèsè e o culto égun na Bahia. Rio de Janeiro: Vozes, 1977. SILVA, Vagner Gonçalves da. Orixás na metrópole. Rio de Janeiro: Vozes, 1995. SEPPIR - SECRETARIA DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL. SECRETARIA DE POLÍTICAS PARA COMUNIDADES TRADICIONAIS. Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana 2013 – 2015. Brasília, 2013. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/ uploads/ckfinder/arquivos/ plano_nacional_desen_sustentavel_povos_comunidades_trad_matriz_africana.pd f. Acessado em: 21 mar. 2019.

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