Segunda Adenda (2002) a la Cumbençon Ourtográfica de la Lhéngua/Léngua Mirandesa (1999)

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Língua Mirandesa Projectos Ferramentas Arquivo Documentação

(Para a Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa) Proposta de Adenda 2 Introdução Neste momento, o mirandês está a ser amplamente utilizado em registos diferentes dos tradicionais, sobretudo o registo escrito e formal, demonstrando diariamente a sua capacidade de se adaptar às novas circunstâncias que o estatuto de língua oficial lhe proporcionou. Tradicionalmente, é a oralidade, e uma oralidade exercida no âmbito restrito dos vizinhos e da família, o seu grande domínio de expressão. Neste domínio, nenhuma norma pode ou deve ser imposta: a fala própria é um dos bens mais íntimos e preciosos das comunidades humanas. Cada comunidade herda, ou cria, quando necessário, as marcas, maiores ou menores, que a distinguem das demais. Porém a língua escrita, que é a melhor maneira de vencer as distâncias de espaço e de tempo, deve ser o mais unitária possível. Em Portugal, o português falado no norte, no sul ou nas ilhas adjacentes é diferente na pronúncia, mas escreve-se em todo o lado do mesmo modo. O mesmo princípio se deveria aplicar ao mirandês: máxima liberdade na fala, unidade máxima na escrita. Só assim se pode respeitar a identidade própria e, ao mesmo tempo, preservar a língua para o futuro, só assim ela pode ser um elo entre as pessoas da mesma aldeia e entre essas pessoas e as do imenso espaço em volta - desde os habitantes de todo o concelho aos emigrantes e aos estrangeiros curiosos. Só assim se podem conservar as palavras da vivência diária e ao mesmo tempo oferecê-las como beleza literária e veículo de ideias para todo o mundo. Defendendo estes princípios de respeito pela individualidade da fala de cada aldeia, mas reconhecendo a necessidade de unificação da escrita, um dos problemas ortográficos que devemos agora resolver é o dos neologismos. Tendo em conta que o português é a língua veicular do ensino e é o maior fornecedor de empréstimos à língua mirandesa, há a necessidade de os adaptar ao registo escrito mirandês, integrando-os na representação do sistema fonológico desta língua. Para isso está a ser feito um levantamento de correspondências de elementos fonológicos e morfofonológicos portugueses e mirandeses, de modo a instituir regras gerais que sirvam de modelo para outros casos. Na metodologia seguida, parte-se de alguns exemplos de uso corrente, criando regras extensíveis a todos os contextos semelhantes que futuramente apareçam. Aqueles que aqui são dados já estão a ser praticados pelos escritores da língua mirandesa que subscrevem este trabalho. Nota: Nem todos os exemplos são neologismos em mirandês. As palavras que pertencem ao seu fundo cultural são o ponto de partida para as opções tomadas. M.B.F.

EMPRÉSTIMOS DO PORTUGUÊS I - Empréstimos com X Documento de trabalho do GELM (Grupo de Estudo da Língua Mirandesa)

Objectivo: estabelecer regras para a eventual adaptação de empréstimos, tratando o caso específico de palavras que em português se escrevem com x. Toma-se como referência o valor fundamental das letras em mirandês tal como foi definido na Convenção Ortográfica da Língua Mirandesa. Em mirandês, tal como no português de Trás-osMontes, tem uma pronúncia própria cada um dos seguintes grupos de letras separados por barra:


s-, -ss- / ce, ci, ç / z / -s- / x / j / ch No texto que se segue, estes grafemas, utilizados em palavras mirandesas, remetem para essa pronúncia e não para a pronúncia do português normativo. O valor tradicional mirandês da letra x equivale ao que tem na palavra portuguesa xaile. Como adaptar, porém, os empréstimos portugueses em que existe um x que não tem este valor, como, por exemplo, a palavra máximo? Entre as soluções possíveis, optou-se por seguir a pronúncia local, escolhendo, na lista acima, a letra ou dígrafo que melhor corresponde ao que a generalidade das pessoas pronuncia. Convém repetir que, no que concerne este conjunto de consoantes, a fonologia mirandesa é idêntica à de Trás-os-Montes, diferenciando-se, por conseguinte, tanto do português normativo como do asturo-leonês. Resolvido este problema, surge um outro: como se escrevem, então, palavras tais como oxigénio, em que o português apresenta o som [ks] que não existe na tradição mirandesa? Este trabalho pretende dar uma resposta aceitável a estas questões. Dado o seu objectivo, que é, essencialmente, a eventual (e nunca obrigatória) adaptação de empréstimos - partimos sempre, nesta sistematização, das palavras portuguesas para as mirandesas e não o inverso. 1. -x- intervocálico pronunciado como ss (ápico-alveolar surdo) é transcrito por ss:

máximo > mássimo, próximo > próssimo 2. -x seguido de consoante, pronunciado como -s (ápico-alveolar surdo), é transcrito por s:

ambidextro > ambidestro, contexto > cuntesto, dextro > destro, dextralidade > destralidade, pretexto > pretesto, sexto > sesto, sextante > sestante, texto > testo, textual > testual 3. -x- intervocálico pronunciado como -s- (ápico-alveolar sonoro), escreve-se com s: exagerar > eisagerar, exame > eisame, exacto > eisato,

executivo > eisecutibo, exemplar > eisemplar, exercício > eisercício, exército > eisército, exige > eisige, existe > eisiste, êxito > éisito, exilar > eisilar, êxodo > éisodo Obs.: Há quem diga e escreva eijiste. Este caso interfere com o da transcrição de palavras que em português têm -s-. A Convenção Ortográfica (p. 20) aponta que em mirandês, por vezes, um primitico -s- ápico-alveolar sonoro, quando está junto de vogal ou semi-vogal palatal (em palavras tais como resistir, quaise, quiso), se torna alveo-palatal, escrevendo-se, por conseguinte, rejistir, quaije, quijo. Noutras palavras a pronúncia oscila entre a de -s- e -j-, consoante as localidades (besita e bejita, presidente e prejidente). Nestes casos de variação local, é aconselhável adoptar a escrita mais próxima da etimologia directa, isto é, besita e presidente. Já palavras como curjidade e curjidoso deverão ser


escritas com j, dado que são assim pronunciadas por todos, existem numa zona do país muito mais vasta que a do mirandês e já estão dicionarizadas mesmo em português.

4. O elemento ex- reduz-se a s- (ápico-alveolar surdo) se for seguido por consoante oclusiva: exclamar > sclamar, exclusão > scluson, exdrúxula > sdrúxula, expressão > spresson, experiência > speriéncia, experimentar> spermentar, experimentação > spermentaçon, explicar > splicar, exterior > sterior, extrema > strema, extrema-unção > stremunçon

Obs: A adaptação de "ex-" neste contexto repete a antiga evolução de "es-": escola > scuola. 4.1. A redução de ex- não se verifica no caso de ser tónico, transcrevendo-se como éisêxtase > éistase 5. ex- seguido de ce-, ci- (predorso-dental surdo) transcreve-se como eice-, eici-:

excelente> eicelente, excelência > eicelença, exceder > eiceder, excitar > eicitar, excepção > eiceçon, exceptuar > eicetuar 6. ex- seguido de s- trancreve-se como eiss- (ápico-alveolar surdo):

exsudar > eissudar 7. ex- separado por hífen da palavra seguinte, transcreve-se como ex- tal como em português (valor fónico variável, conforme é seguido por consoante ou por vogal): ex-ministro > ex-menistro, ex-embaixador > ex-ambeixador 8. Tal como acontece com o elemento ex-, a pronúncia do prefixo erudito extra- em mirandês está relacionada com o seu grau de ligação à palavra seguinte. Isto leva a considerar a possibilidade de haver duas grafias: extra > extra - quando os dois componentes da palavra são bem identificáveis.

extra > stra - quando o prefixo já está completamente incorporado, não existindo consciência dos componentes da palavra. Em qualquer dos casos, não há necessidade de o separar com hífen, sendo mais simples escrevê-lo sempre ligado à palavra de base. Quando esta começa por vogal, o -a final do prefixo é elidido.


Assim: extracunjugal, extracuntratual, extracurricular, extrajudicial, extralegal, extralhenguístico, extramuros, extranatural, extranumerário, extrouficial, extraparlamentar, extrapograma, extrarregulamentar, extrascolar, extraterreno, extraterrestre, extraterritorial, extratesto, extrouterino. 9. Nas palavras seguintes segue-se a regra estabelecida em 4 para ex-:

strabagante, strabasar, strabiar, straditar, strair, strapolar, strourdinário 10. Conserva-se a escrita x quando o respectivo som é, em mirandês, o que existe em palavras tradicionais tais como baixo, deixar, xal (e que é idêntico ao som do x português nas palavras correspondentes):

taxa > taxa, tóxico > tóxico, xenofobia > xenofobie Obs.1: Dado que em mirandês o dígrafo ch corresponde sempre a uma africada, utiliza-se igualmente x em algumas palavras que se escrevem com ch em português, qualquer que seja a sua primitiva origem (francês, inglês...) e se pronunciam com x de xal:

borracha > borraixa (mas borracho, com o sentido de 'bêbado'; a origem de ambas é diferente); cheque > xeque; chuto > xuto; chalé > xalé; chefe > xefe; chofer > xofer; ficha > fixa; ficheiro > fexeiro; flache > flaxe. Obs.2: Algumas palavras tradicionais mirandesas apresentam x onde as portuguesas correspondentes apresentam -ss- ou s-: páixaro, xordo, xabon, xeixo... 11. Conserva-se ainda a escrita x em palavras que na língua de origem se pronunciam com o som [ks] (com alguma variação) e que, ao serem utilizadas em contexto mirandês, apresentam esse mesmo som:

anexo, axiologie, boxe, cumplexo, cumbexo, fixo, flexão, fluxo, léxico, marxista, nexo, óxido, ouxigénio, petromax, prefixo, reflexo, saxofone, sexagésimo, sexo, sintaxe, sufixo, taxi, tórax. Neste caso, optou-se por conservar o -x- etimológico dado que estas palavras, não tendo sido ainda incorporadas no léxico do mirandês, apresentam variação de pessoa para pessoa e modos diferentes de formar as respectivas palavras derivadas. Por exemplo, enquanto uns escrevem, espontaneamente, oucigénio, outros preferem oussigénio; outros, escrevendo ouxigénio, ao trasladarem água oxigenada hesitam entre augaciznada e augacisnada, enquanto outros acham que se deveria escrever augouxigenada. Assim sendo, parece de toda a conveniência manter, na escrita, a base etimológica, deixando livres as adaptações orais. No caso deste exemplo, a solução preferível seria augouxigenada. Palavras derivadas de palavras com x [ks] devem igualmente conservar o x: ouxidar, ouxidaçon, ouxidante. Obs.: É de notar que algumas palavras que em português apresentam [ks], surgem em mirandês com outras soluções já bem estabelecidas, ou por não serem empréstimos do português ou por terem entrado na língua há mais tempo. Assim, à palavra anexo corresponde, em mirandês, aneixo (e seus derivados aneixar, aneixaçon, aneixada) pronunciado com x de xal; e a crucifixo corresponde É


curcefício. É interessante notar que o mirandês tão pouco adaptou do português a palavra crucificação, mas formou uma derivada directa de curcefício: curceficion. O problema da simplificação de grupos consonânticos, que se apresenta igualmente noutros casos, deverá ser abordado em estudo específico. GELM:

Amadeu Ferreira, António Bárbolo Alves, Domingos Raposo, Manuela Barros Ferreira. Com leitura e sugestões de Rita Marquilhas e Cristina Martins. Coord. Manuela Barros Ferreira. 5 de Março de 2002

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