COMPLEXO HABITACIONAL Serra da Mutamba Icapuテュ, CE
CCT - CAU - UFC PROJETO ARQUITETテ年ICO II Professor Daniel Cardoso Camila MATOS, Lia AGUIAR, Tinally CARNEIRO maio . 2009
O TERRENO Diante da valorização do projetar para o indivíduo, considerando suas necessidades, seu estilo de vida e seu modo particular de inserção na comunidade, o trabalho da nossa equipe de propor formas de morar teve seu ponto de partida. Inicialmente, o terreno escolhido já denunciava a qualidade de morar bem que deveríamos traduzir em qualidade de espaço das construções. Estabelecido num dos pontos mais altos e belos do município de Icapuí, mais precisamente na Serra da Mutamba, o terreno é formado de quatro quarteirões, cada um deles com 26 lotes de 8m de frente por 15m de profundidade, ladeados nos extremos da quadra por lotes de 8m x 30m, que serão utilizados pela comunidade como espaço público. A partir disso, partimos da seguinte questão: como os moradores dessa região se relacionam entre si? A vizinhança conhecida de todos é algo que criava afetividade com o lugar, estabelecendo sua permanência? Ou, seria característica desse morador reunir-se dentro de sua residência, preservando sua intimidade? Um pouco de todas essas interrogações.
Fotografia panorâmica do terreno na Serra da Mutamba - Icapuí, CE.
foto: Rebeca Gaspar
FONTE: SANTOS, Ana Maria F. Zoneamento geoambiental para uma gestão planejada e participativa do Município de Icapuí-Ce. 2008. 156 f. Disseração (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal, Fortaleza, 2008.
MEMORIAL março, 2009
figura 6
figura 1
8 de abril, 2009
figura 7
figura 2
13 de abril, 2009
figura 8
setor social figura 3
Figuras 1 - 8 Evolução de idéias do projeto apartir de croquis da equipe
figura 5
setor de serviço
figura 4
setor privado
TIPOLOGIA 1
TIPOLOGIA 2
A fim de fortificar laços de vizinhança e como conseqüência trazer mais identidade ao bairro, resolvemos admitir a existência de uma rua interna, entre os lotes, o que permitiria não somente o morador percorrer o quarteirão pela frente do lote, como de costume, como também zpor trás dele. Essa nova forma de circulação para a região entre os lotes promoveria, certamente, uma maior integração entre os moradores de cada quadra. Para a definição do objeto arquitetônico inserido no lote, partimos da confirmação do eixo estrutural encontrado nas casas antigas de Icapuí, nas quais apresentavam bem marcado as áreas destinadas ao serviço, privativo e social. Na tipologia 2 há uma evolução desse eixo, agora não tão definido como na tipologia 1, mas que demonstra uma necessidade de integração mais forte entre aqueles três elementos. Como materiais de construção relevantes, utilizamos a alvenaria estrutural básica e a coberta com a possibilidade de dois tipos: telhas do tipo colonial (46m x 10m) e telhas onduline ( 2,00m x 0,95m). Por fim, como limitação do lote aos fundos, porém sem constituir-se como uma barreira visual para rua interna, propomos o uso da cerca do tipo caiçara, material bastante utilizado na região.
As tipologias das casas propostas obedecem ao gradiente de intimidade que observamos nas casas antigas de Icapuí, onde o alpendre é uma área de transição entre o exterior (rua e passeio) e o interior, como também um espaço receptivo, o primeiro contato do visitante. Aqui, nessa situação, a sala de estar não se apresenta com o mesmo significado daquele encontrado no meio urbano e sim, mais como um local de passagem. Diante disso, mantivemos esse traço tão forte da comunidade icapuiense. Buscamos também preservar a noção de profundidade que a casa nos trás a partir da sua porta principal. É como se a um primeiro olhar toda a leitura do espaço já tivesse sido realizada.
15,00
TIPOLOGIA IA 1 quarto
1m
2m
8,00
ESCALA GRÁFICA
Imagens das fachadas 1A
1m
2m
ESCALA GRÁFICA
CORTE C-02
CORTE C-03
Poderíamos ter reservado o pavimento térreo para as áreas social e de serviço e o primeiro pavimento exclusivamente para o setor privativo (quartos), mesmo tratando-se da casa mínima, mas com isso fugiríamos da organização espacial própria da comunidade, onde o quarto (setor privado) interage harmoniosamente com as demais áreas de convivência. Até mesmo o banheiro não se configura somente como área social, servindo a todo o conjunto interno. Logo, não tivemos problemas em localizá-lo próximo à cozinha. Articulando os cômodos de acordo com o grau de importância, chegamos ao espaço de maior permanência da família: a cozinha, o quintal e o serviço. Nesse ponto, sentimos a necessidade de integrálos num só, valorizando a permeabilidade entre os ambientes.Apesar de não serem encontrados dessa forma nas casas analisadas, buscamos resgatar os seus significados: espaços de maior intimidade da família voltados para a convivência, a amizade, a conversa e a troca de experiências.
As tipologias a seguir, os subgrupos b e c, são propostas que demonstram a evolução das casas. Isso demonstra que a casa não é um organismo estático e sim, dinâmico, em constante alteração. Assim, prevendo esse forte aspecto, tentamos induzir seu crescimento em setores já pré-estabelecidos: acima do conjunto quarto, banheiro e cozinha, o que permitiria o conforto térmico entre as habitações e a possibilidade da residência localizada atrás ter acesso à paisagem. Com esse propósito também, as áreas destinadas ao quintal e ao serviço, propositadamente descobertas, continuariam exercendo sua força na casa e manteriam a integração com a rua interna
Imagens das fachadas 1B
15,00
TIPOLOGIA IB 2 quartos
8,00
1m
2m
ESCALA GRÁFICA
1m
2m
ESCALA GRÁFICA
CORTE C-01
CORTE C-02
15,00
TIPOLOGIA 1C 3 quartos
Nessa tipologia queremos ressaltar a casa no seu estado máximo com três quartos ao todo no conjunto, sendo dois deles no primeiro pavimento. O cômodo adicionado ocorre com a esquadria voltada para a rua interna, no caso dos lotes com a frente nordeste, enquanto os demais, com a frente sudoeste, a abertura dá-se também à rua interna, mas agora com o direito à paisagem, o mar de Icapuí
8,00
1m
2m
ESCALA GRÁFICA
Imagens das fachadas 1C
1m
2m
ESCALA GRÁFICA
CORTE C-02
CORTE C-01
As casas que seguem a tipologia 2 apresentam basicamente os mesmos significados daquelas de tipologia 1: o alpendre acolhedor, a noção de profundidade do espaço, a valorização da permeabilidade dos ambientes e a presença do gradiente de intimidade. A intersecção entre os dois modelos encontra-se na presença de um pátio interno, o que modificou de certa forma a conformação da sala de estar, deixando-a mais quadricular. A escada, nesse exemplo, é um elemento que se associa ao interior da casa, quando se encontra em seus estágios médio (B) e máximo (C). De certa forma, traz um pouco mais de privacidade ao morador, resguardando o espaço dos fundos, seu lugar de maior integração familiar.
Imagens das fachadas 2A
15,00
TIPOLOGIA 2A 1 quarto
8,00
1m
2m
ESCALA GRÁFICA
CORTE C-B
1m
2m
ESCALA GRÁFICA
CORTE C-A
Com ênfase mais uma vez nos últimos compartimentos da casa, a cozinha, o serviço e o quintal, resolvemos integrá-los efetivamente, sem barreiras visuais. Isso nos revelou um espaço bem mais propício e adequado às necessidades da família e certamente de maior agradabilidade. A área de serviço, mesmo pelo lado de fora da cozinha, liga-se a esta por uma generosa esquadria lateral, permitindo a conversa para quem está no exercício do trabalho da pia e fogão. A vista da rua interna, a partir do pátio, também conserva os mesmos fundamentos da tipologia 1, na qual apresenta-se de maneira clara e sem limitações por causa do fechamento do pátio ser uma grade, trazendo a segurança necessária sem perder o contato visual. Também, nesse modelo 2, mantivemos a intenção de sugerir o crescimento da casa apenas em espaços que não comprometessem o conforto ambiental, tanto do lote como do conjunto, e o direito à paisagem para todos. Isso está bem definido na escolha do tipo de telha para cada coberta: o tipo telha colonial para cobertas definitivas e o tipo onduline® para cobertas em transição.
15,00
TIPOLOGIA 2B 2 quartos
A tipologia 2 do tipo B mantém a mesma planta baixa da anterior com a adição da escada. Apesar de não termos observado a presença desse elemento nas casas antigas de Icapuí, aqui se faz necessária por conduzir a evolução da casa, logo a modificação de sua fachada. Como, nesse exemplo, trata-se da casa média somente um quarto e banheiro foram adicionados ao pavimento 1, obtendo uma nova volumetria do conjunto.
1m
8,00
2m
ESCALA GRÁFICA
Imagens das fachadas 2B CORTE C-B
1m
2m
ESCALA GRÁFICA
CORTE C-A
15,00
TIPOLOGIA 2C 3 quartos
A tipologia 2 C é a casa em seu estágio máximo com dois quartos e um banheiro no pavimento 1.
1m
8,00
2m
ESCALA GRÁFICA
Imagens das fachadas 2C
1m
2m
ESCALA GRÁFICA
CORTE C-B
CORTE C-A
Algumas possibilidades de articulação das fachadas, no quarteirão, segundo a regra de composição: 2C
2C
2Ae
2Be
1B
2C
1Ce
1A
1Ae
2B
2Be
2Ae
2B
1C
1A
2Ae
2B
1Ce
2Ae
1A
1Ce
2B
2Ae
2C
2Ae
2B
2Ae
1B
1Ce
1A
1Be
2A
2Ce
2C
2Ae
1B
1Ae
2C
2Be
2Ae
1B
1Ce
2B
1B
1A
1Ce
2A
1Ae
1A
1Ae
2C
1A
1Ce
2B
2Ce
1C
1Be
2A
2Ce
1C
1Ae
2B
2Ae
2Ae
1B
2A
2B
1Ce
2Ae
2C
2Ce
2Ce
2Be
2B
2Ce
1A
1Be
2C
1A
1Ce
2Ae
2A
1B
1Ce
2B
2Ae
1Ce
1Ce
1C
1Ae
2A
2Ce
1B
1A
2C
2Ce
1Be
1A
ou
1Ae
1B
ou
1C
ou
2A
ou
2Ae
1Be
2B
ou
2Be
1Ce
2C
TIPO 2
COMBINAÇÕES Perfil das fachadas.
*
1A
1Ce
2Ae
1B
1Ce
2A
1B
2Ae
1Be
1A
1Be
1Ae
2B
1A
1C
1A
2Be
2C
2Ae 2C
1Ce
TIPO 1
1B
ou
2Ce
REGRA DE COMPOSIÇÃO DO PERFIL DAS FACHADAS.
1Ae
1. As casas se organizam através do espelhamento das tipologias, o que permite conforto ambiental e harmonia estética, já que o crescimento das casas acontece verticalmente em um único eixo.
2A
1C
2Ae
2A
2A
2Ce
1B
2C
2Ae
1A
Exemplo 1 1A
1Ae
2B
2Ae
2A
2Be
1Ae
2B
2Ce
2A
2Be
1C
1Be
2A
2Ae
1A
1Ce
1B
1Ae
2C
2Ae
1A
1Ae
2C
2Be
1B
1Ae
2B
2Ce
1A
1Ce
2B
1Ae
2A
2Be
2C
2Ae
1B
1Ce
2Ae
1C
1Ce
2Ce
1B
1Ae
2B
2Ce
1A
1Ae
2C
2C
2Be
1B
1Be
1C
2A
2Ce
2A
2Ae
1A
2B
2Ce
1B
1Be
2B
2Ae
1C
1Be
1C
1Be
2A
1Ce
2B
2C
2A
1C
1Be
1A
2Ce
2Ae
2Be
2A
2Ce
2Ce
1A
1Be
2Ce
1Ae
2C
2A
1Ce
2C
2Ae
2A
2Ce
2B
2Ae
2B
2C
2Ae
1B
1Ae
1C
1Ce
2A
2Be
2C
2C
2Ce
2B
2Ae
1A
1Be
2C
2Be
2A
2Ae
2Ae
1B
1C
1Ce
2B
2Be
2C 2Be
2Ae
1A
1Ce
2C
2B
2Ae
1C
1Ae
2C
2Be
1A
1Be
1C
1Be
1A
1Be
2A
2Ce
1B
1Ae
1A
1Ae
2B
2Ae
1C
1Be
2C
2Be
2A
2Ae
1Ce
2B
2Ae
2C
2Be
1Ce
2C
2Be
2A
2Ce
2A
1B
1Ae
2C
2A
2B
>>
2B
>>
2C
2C
3. Sempre que houver uma casa do tipo 1, logo após tem de haver uma casa do tipo 1e. E o tipo 1e só acontece após o tipo 1
2Be
1Be
1Ae
2Ce
2Be
2C
1Be
Exemplo 2 2Be
2Be
2. sempre que um lote começar com uma tipologia qualquer, o próximo deverá começar com uma tipologia qualquer espelhada e vice-versa.
1C
2Be
2C
2B
2Ae
2Be
2Ce
Exemplo 3
*Tipo A: 1 quarto. Tipo B: 2 quartos. Tipo C: 3 quartos.
1B
1Ae
2Ce
1B
1B
2Ce
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O QUARTEIRÃO A proposta arquitetônica foi utilizada em um só quarteirão, apesar do terreno conter todo o complexo de quatro quarteirões. Dessa forma, observamos após a obtenção do produto final, este porém não acabado, que a casa em cada lote soube aproveitar o espaço disponível, sem prejudicar as áreas verdes. Isso se traduz em um certo ritmo entre as fachadas, tanto as das ruas principais como as da rua interna. A escolha dos tons vermelho, amarelo e azul para as fachadas foi a partir das mesmas cores observadas nas embarcações da região. Resolvemos também, diante disso, usar as cores como critério de identificação do estágio de evolução das casas: o amarelo para a casa mínima, o azul para a casa média e o vermelho para a máxima. A identificação das casas por cores, também nas fachada de fundos para a rua interna, fortalece a identidade dos moradores entre si e em todo o município.
DUARTE, José Pinto. Corpus. In: Personalizar a Habitação em Série: Uma Gramática Discursiva para as Casas da Malagueira do Siza. Fundação Calouste Gulbenkian. 1.ª Edição, 2007. P. 59 - 127.
quarteirão 1
MATOS, Gisela de. Siza Vieira em Évora: revistar uma experimentação. In: Cidades. Comunidades e Territorios, n° 9, dezembro 2004, p. 39-53. MOLTENI, Enrico. Álvaro Siza: Barrio de la Malagueira, Évora. Ediciones UPC. 1.ª Edição, 1997. P. 11 - 47 foto: Rebeca Gaspar.
quarteirão 2 foto: Cibele Bonfim.
foto: Igor Caracas.
ÁREA VERDE [vista superior]
vistas do quarteirão
Barcos em Icapuí: predominância das cores básicas.
CARDOSO, Daniel Ribeiro. O Desenho de uma Poiesis. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Tese de Doutorado. São Paulo, 2008. P. 23 - 81. ARAVENA, Alejandro. Conjunto de 93 Vivendas - Iquique, Chile. ¿Cuál es nuestro punto? Disponível em: http://www.elementalchile.cl/category/vi vienda/iquique/ ; acessado em 22/02/2009. SANTAELLA, Lúcia. O Que é Semiótica? Editora Brasiliense, 1983. RODRIGUES, Jacinto. Álvaro Siza: Obra e Método. Porto: Civilização, 1992.
CCT - CAU - UFC PROJETO ARQUITETÔNICO II Professor Daniel Cardoso Camila MATOS, Lia AGUIAR, Tinally CARNEIRO maio . 2009