Arquitetura e Cinema na Construção de um Futuro (im)Possível

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ARQUITETURA E CINEMA NA CONSTRUÇÃO DE UM FUTURO (IM) POSSÍVEL

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

LIARA DIAS CAMPOS



ARQUITETURA E CINEMA NA CONSTRUÇÃO DE UM FUTURO (IM) POSSÍVEL

Trabalho Final de Graduação apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo e Paisagismo da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho como requisito à obtenção do título de Arquiteta e Urbanista e Paisagista. Orientador: Prof. Dr. Vlad Benincasa Coorientador: Prof. Mr. João Felipe Lança



Dedico esse trabalho a todos os professores que passaram pela minha vida (especialmente a primeira, minha mãe) e que através do ensino me apresentaram o mundo e seus múltiplos pontos de vista e, acima de tudo, me incentivaram a construir um senso crítico sobre ele.

Também vai a todos os artistas que se expressam através das mais diversas formas de arte e me ajudam todos os dias a entender a subjetividade da vida. “Expression is survival” Williams, H.

“You can tell when a Hollywood historical film was made by looking at the eye make-up of their leading ladies, and you can tell the date of an old science fiction novel by every word on the page. Nothing dates harder and faster and more strangely than the future.” Neil Gaiman, “Of Time and Gully Foyle” Prefácio da edição de 1999 de The Stars My Destination (1956)



AGRADECIMENTOS

Escrever esse trabalho significou muito mais do que concluir a parte da minha vida estudantil (até agora), mas se tornou a expressão do que acredito e também foi uma tentativa de responder as minhas angústias enquanto estudante de Arquitetura. Assim, primeiramente agradeço ao Prof. Dr. Vladimir Benincasa por toda a sua ajuda e por aceitar me orientar e acreditar no trabalho e em mim, mesmo quando o tema era somente uma ideia nebulosa. E aos professores que me ajudaram e aceitaram o convite para compor a minha banca, o Prof. Mr. João Felipe Lança como o meu co-orientador e o Prof. Dr. Sidney Tamai como o convidado, e por suas aulas terem sido cruciais para a minha formação e para esse trabalho. Agradeço também a todas as pessoas maravilhosas que conheci e tenho a sorte de chamar de amigos. Em especial a Jobim, minha irmã do coração, que esteve comigo durante toda a graduação e me acompanhou durante a elaboração desse projeto, escutando todas as loucuras da minha cabeça. Mas o agradecimento se estende ainda aos amigos que me ajudaram, mesmo que indiretamente, em momentos de diversão: Taz (parceira para sempre), Jales, Euka, Fernanda, Lorota, as Meninas do Shopping (haha), Masmorra & agregados e Alfajor. Por último, e não menos importante, agradeço à minha família que pode me proporcionar essa experiência, ao meu pai que me ensinou a levar a vida com alegria, a minha mãe que sempre acreditou e lutou pela minha educação, e a minha irmã por toda a ajuda e por ser o meu eterno exemplo.



RESUMO

A construção da imagem no cinema e sua ambientação é imprescindível não só para contar uma história, mas também para induzir o espectador à uma imersão, seja com o intuito de divertir, emocionar ou fazer refletir. Dentro disso, a arquitetura atua como um dos principais elementos na constituição da imagem, configurando o próprio cenário desde um único cômodo até uma cidade inteira. Com a utilização de elementos cenográficos, computadorizados ou com locais já existentes, uma gama de possibilidades é aberta, principalmente no gênero da ficção científica que aborda, em geral, temas como avanço técnico-científico e o futuro em suas histórias. Assim, esse trabalho se propõe a realizar uma investigação para entender de que forma se deu a construção da imagem de futuro das cidades através da representação cinematográfica ao longo dos anos. Palavras-chave: Arquitetura, Cinema, Ficção Científica, Futuro, Metrópolis, Blade Runner, Cidade.

ABSTRACT

The image construction in the cinema and its setting is essential not only to tell a story, but also to induce the viewer to an immersion, whether with the purpose of fun, thrill, or to reflect. Within this, architecture acts a key element in the constitution of the image, setting the scenario itself from a single room to an entire city. With the use of scenographic elements, computerized or existing sites, a range of possibilities is opened, especially in the genre of science fiction that generally adresses topics such as technical-scientific progress and the future in their stories. Thus, this work proposes to carry out na investigation to understand how the construction of the future image of cities through the cinematographic representation has taken place over the years. Keywords: Architecture, Movies, Science Fiction, Future, Metrópolis, Blade Runner, City.


SUMÁRIO

PASSADO

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2.1 METRÓPOLIS (1927) • 23 PRINCIPAIS CENÁRIOS • 27 O SUBSOLO • 27 CIDADE DOS TRABALHADORES • 27 INDÚSTRIA • 30 A CIDADE DE METRÓPOLIS • 32

2.2 BLADE RUNNER (1982) • 41 PRINCIPAIS CENÁRIOS • 43 A CIDADE • 43 O ESCRITÓRIO DAS CORPORAÇÕES TYRELL • 51 CONSTRUÇÕES JÁ EXISTENTES EM LOS ANGELES • 55

PRESENTE

3

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INTRODUÇÃO

1

[61]


DISTOPIA • 63 REALIDADE • 64

[85]

5 CONCLUSÃO • 88

REFERÊNCIAS

3.1 LEVANTAMENTO DE FILMES DE 2013 A 2018 • 63

FUTURO

4

[91]

ICONOGRAFIA • 93 BIBLIOGRAFIA • 95 FILMOGRAFIA • 98



1 INTRODUÇÃO



INTRODUÇÃO | 15

O cinema vem, desde os seus primórdios, dando vida à histórias que não necessariamente expressam o cotidiano, sendo capazes de ocorrerem em diferentes cidades, mundos e tempos. É através, principalmente, da construção da imagem, que o espectador imerge na narrativa e se conecta com aquilo que está assistindo, recurso esse utilizado com o propósito de divertir, emocionar ou fazer refletir. A arquitetura entra então como um dos principais componentes para se atingir esse objetivo, já que ela configura a própria ambientação e cenário, desde um único cômodo até uma cidade inteira. “O cenário, para ser um bom cenário, deve atuar. Seja realista, expressionista, moderno ou histórico, deve desempenhar o seu papel... O cenário deve apresentar o personagem antes que ele apareça, deve indicar sua posição social, seus gostos, seus hábitos, seu estilo de vida, sua personalidade.” (STEVENS, 1929 apud NEUMANN, 1999, P.9, tradução da autora)

Dessa forma, uma gama de possibilidades é aberta como expressão de diferentes lugares através de elementos cenográficos, computadorizados ou com a utilização de locais já existentes. É assim que é possível fazer reconstruções históricas em filmes que retratam o passado ou construir cenários que representem um lugar inexistente em enredos de fantasia. Um dos gêneros cinematográficos que mais explora todos esses recursos é o de ficção científica. Segundo Isaac Asimov (1981, p.16), um consagrado autor do gênero, a ficção científica constrói histórias relacionadas com o avanço técnico-científico, e assim podem retratar situações provenientes do mesmo, como colônias fora da Terra ou carros voadores, bem como ser também sobre o seu retrocesso em situações apocalípticas, por exemplo. O que a difere do gênero Fantasia é que elas sempre são derivadas do tempo presente, mesmo quando representam acontecimentos que virão a acontecer no futuro. É importante pontuar que isso só foi possível quando as pessoas começaram a sentir de fato a mudança que os avanços da ciência e tecnologia poderiam provocar.


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Por muitos anos as transformações que ocorreram na história se davam de formas muito lentas e graduais, o que fazia com que uma pessoa, por toda sua vida, não presenciasse essas modificações. Esse quadro permaneceu o mesmo até a Revolução Industrial, que trouxe o progresso e velocidade para o cotidiano e assim, a idealização do futuro. “Nenhuma decisão sensata poderá ser tomada sem levar em conta não só o mundo como ele é, mas também o mundo como ele será. Naturalmente, isso importa haver uma percepção exata do mundo como ele há de ser, o que significa, por sua vez, que nossos estadistas, nossos empresários, como também todos os homens comuns, deverão assumir, voluntariamente ou não, um modo de pensar condizente ao estilo ficção científica, seja isso do seu agrado ou não, ou mesmo quer tenham ou não consciência disso. Só assim poderão ser resolvidos os angustiantes problemas da atualidade.” (ASIMOV, 1981, p. 18)

É dessa mesma maneira que se dá o papel do arquiteto enquanto profissão em que se projeta o espaço, bem como a sua atuação em filmes do gênero quando se tem que conceber o futuro, como será tratado nesse trabalho. Assim, inicia-se uma investigação através da representação cinematográfica para entender de que forma se deu a construção da imagem de futuro das cidades ao longo dos anos. Como método de pesquisa e estudo dessas representações, optou-se pela construção de uma linha do tempo, separando a monografia em três: Passado, onde faz-se a análise dos principais filmes que compuseram e introduziram a ideia de futuro; Presente, onde há a análise da contemporaneidade diante do que há por vir; e Futuro, que seriam as considerações finais e então a conclusão desse estudo. A produção de um filme reflete a época em que foi feita, portanto a análise começa com a inserção dos mesmos em seu contexto histórico-cultural, levantando os aspectos da realidade que eles mesmos apresentam. Esse mesmo raciocínio é utilizado na análise arquitetônica e urbanística ilustrada pelos filmes, como forma de entender a origem do tipo de estética escolhida para a representação. Desse modo, as técnicas e materiais construtivos, a organização espacial, os elementos urbanísticos presentes na cidade ou a falta deles, e as formas de mobilidade em conjunto com a tecnologia apresentada, são todos levados em consideração para o estudo. Com isso, as questões políticas, sociais e/ou culturais da narrativa são examinadas somente quando influenciam na construção do espaço, não sendo o foco desse trabalho.

Para a escolha dos filmes o critério utilizado foi o de que, além de se passar em um tempo futuro, apresentasse uma ambientação que demonstrasse uma evolu-


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ção do tempo presente, de forma que a representação alcançasse uma criação urbana e arquitetônica exclusiva para a história do filme. Desse modo, para compor a parte do Passado, foram os escolhidos: Metrópolis (1927) dirigido pelo alemão Fritz Lang, e Blade Runner (1982), dirigido pelo britânico Ridley Scott. O primeiro, mudo e preto e branco, foi realizado no começo da história do cinema e foi um dos pioneiros da ficção científica cinematográfica, sendo de extrema importância na construção da imagem de futuro tanto em relação à representação da cidade, quanto pela crítica aos meios de produção e trabalho. O segundo, sendo muito influenciado pelo primeiro, constrói uma estética que além de auxiliar na inauguração do gênero Cyberpunk, é replicada até hoje na imagem de como as cidades virão a ser. Mesmo com uma diferença de mais de cinquenta anos entre eles, cada um teve sua devida importância e expressou os acontecimentos, medos e anseios de cada época, levantando questões pertinentes e reverberando ao longo da história em diversos campos da arte, inclusive no campo arquitetônico. Assim, a outra parte do trabalho, o Presente, se dedica a compreender qual é a atual visão de futuro através de um levantamento realizado dos filmes que seguissem o critério estabelecido nos últimos cinco anos (2013-2018) pelo IMDb (Internet Movie Database). Optou-se pelo levantamento pela dificuldade em se analisar a contemporaneidade, e também pela falta de distância histórica para a escolha de um único filme que pudesse unificar o estabelecimento dessa visão e para julgar a sua importância e influência nessa representação. Desse modo, através da análise de diversos filmes e dos elementos que se repetem entre eles, pretende-se conseguir chegar a uma conclusão. “O historiador futuro certamente escreverá histórias bem diferentes das nossas, em parte também porque será menos subjugado pela imensa quantidade de discursos que ocupam o presente. Se as dificuldades do historiador da antiguidade são muitas vezes devidas à falta de material sobre o qual basear as próprias interpretações, aquelas do historiador do presente são paradoxalmente opostas.” (SECCHI, 2009, p. 265)



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2.1 METRÓPOLIS (1927)

Dirigido pelo alemão Fritz Lang e roteirizado por sua esposa Thea von Harbou, Metrópolis foi uma superprodução lançada em janeiro de 1927, sendo considerado um dos primeiros filmes de ficção científica da história. Seu enredo é ambientado no futuro, em que a grande cidade de Metrópolis, que parece nunca parar, necessita do constante trabalho industrial no subsolo para o seu funcionamento, fazendo com que então os operários trabalhem por muitas horas sem intervalos, até a exaustão. Nesse contexto temos o protagonista Freder Fredersen, filho do dono da cidade, que acaba descobrindo o submundo dos trabalhadores e se apaixonando por Maria, a líder revolucionária dos operários. O conflito começa quando Maria é raptada e forçada a emprestar sua aparência a um robô que pretende incitar a revolução e acabar com a cidade. O filme apresenta uma crítica muito forte à industrialização e às grandes jornadas de trabalho, bastante comuns após a Primeira Revolução Industrial em 1760. Essa situação em específico é melhor aprofundada (mas também influenciada por Metrópolis) no filme Tempos Modernos de Charles Chaplin em 1936, por retratar o trabalho repetitivo e excessivo, assim como os movimentos de revolta. Com o advento da indústria e o grande êxodo rural ocasionado pelo exorbitante número de pessoas que buscavam trabalho nas fábricas nos centros urbanos, uma profunda transformação não aconteceu somente na economia, mas principalmente na parte social, o que refletiu diretamente na organização do espaço. As cidades europeias ainda possuíam resquícios do modo de vida medieval e não estavam preparadas para receber tanta gente, tanto em quantidade de moradia quanto pela falta de infraestrutura urbana, já que não havia a garantia de saneamento básico para todas as pessoas. A situação se tornou insalubre, diversas doenças foram disseminadas, as ruas eram imundas, e muitas famílias compartilhavam um mesmo pequeno espaço. Um século depois e, por mais que esses problemas tivessem sido estudados e algumas ações tenham sido tomadas, muitas questões ainda permaneceram.


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O mundo moderno continua sendo pauta mesmo em 1927, já que a Segunda Revolução Industrial, que vai da segunda metade do século XIX até o início da Segunda Guerra Mundial em 1939, trouxe muitos avanços na indústria e tecnologia. Com o advento dos novos meios de transporte e o carro assumindo o protagonismo do desenho urbano, ele modifica o tempo de deslocamento dentro da cidade, contribuindo na permanente transformação do modo de vida do cidadão metropolitano. Isso, em conjunto com o surgimento de novos materiais de construção, faz com que a distribuição do espaço urbano seja radicalmente modificada. Todas essas transformações podem ser observadas em Nova Iorque no começo do século XX. Por ser um território ainda em formação, com uma alta taxa de imigração vinda da Europa, e por nunca ter sido cenário de grandes guerras, a cidade cresceu rapidamente em pouco tempo. Houve um alto investimento em infraestrutura urbana no sentido de tentar integrar as partes mais afastadas à ilha de Manhattan, construindo diversas pontes, estradas e

Figura 1 Nova Iorque nos anos 20


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criando linhas de metrô. Isso incentivava e proporcionava uma alternativa de ocupação territorial que não fosse necessariamente na área central, beneficiando as pessoas que tinham acabado de chegar no país. Foi uma política bastante estrategista pois, além de ser uma opção mais economicamente viável, também evitava a aglomeração de pessoas em um único local. Dessa forma, Nova Iorque se tornou um símbolo da modernidade, já contando com alguns arranha-céus de diversos usos no começo do século. A eletricidade foi um ponto importante até mesmo como identidade da cidade, já que possuía uma intensa vida noturna com diversos letreiros e luzes espalhadas pelas ruas e edifícios.

Figura 2 Nova Iorque nos anos 20, imagem noturna

“As cidades do século XX nascem da luz. Suas arquiteturas são estruturadas, suportadas e sustentadas pela luz. Placas de neon são integradas na arquitetura: o neon, descoberto no começo do século, torna-se um material de construção como pedra e concreto; as cidades têm um lado de dia e um lado à noite. ” (JACOBSEN; SUDENDORF, 2000, p.23, tradução da autora)


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São esses elementos que chamam tanto a atenção do diretor Fritz Lang, que visita a cidade em 1924. Ele, filho de arquiteto e tendo estudado, mesmo que brevemente, arquitetura na Universidade Técnica de Viena, fica impressionado com a estética de Nova Iorque e acaba tornando-a a principal influência na construção da imagem de Metrópolis. Lang leva para o filme os aspectos da cidade que representam a ideia de modernidade, progresso e, consequentemente, futuro: a verticalização dos edifícios, os meios de transporte como aspecto principal da vida urbana e assim a valorização da velocidade e da máquina, bem como a eletricidade e sua vida noturna. Figura 3 Foto tirada por Fritz Lang em sua visita a Nova Iorque em 1924, evidenciando os letreiros luminosos da cidade


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PRINCIPAIS CENÁRIOS O aspecto principal da construção do filme é que sua organização espacial se dá pela estratificação em diferentes níveis de acordo com a classe social estabelecida: os operários, junto com as máquinas, ficam no subsolo, assim como a “Cidade dos Trabalhadores” que se localiza “muito abaixo do nível da terra”; enquanto as classes mais altas permanecem acima, na metrópole extremamente verticalizada.

O SUBSOLO A caracterização da forma de locomoção entre os diferentes níveis é ilustrada junto com a imagem dos habitantes que fazem esse percurso, os operários. Dois grandes grupos de homens uniformizados e enfileirados atravessam um túnel para utilizarem os elevadores que os levam tanto a Cidade dos Trabalhadores, tanto ao trabalho na indústria (Figura 4).

Figura 4 Túnel utilizado pelos operários para chegar aos elevadores


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Essa representação de um túnel como uma passagem para se chegar à um meio de locomoção, remete muito a uma instalação de metrô. Especialmente a City Hall Station em Nova Iorque, que já era construída durante a visita de Fritz Lang à cidade (Figura 5). Apesar da modificação dos arcos, o diretor reproduz a disposição dos pilares enfileirados e o revestimento feito em tijolos, além de inserir a iluminação artificial presente em toda a cidade.

Figura 5 City Hall Station em Nova Iorque, inaugurada em 1904

Além do cenário em si, a movimentação dos operários enfileirados e uniformizados de forma ritmada, lenta e cabisbaixa apaga qualquer possível vestígio de individualidade entre eles. A atuação dessa grande massa trabalhadora que se move de forma quase robótica, como se fossem somente parte operante de uma grande máquina, apenas uma força de trabalho e nada além disso, introduz a crítica ao capitalismo presente em todo filme. E, se continuarmos com a analogia ao metrô, não deixa de ser uma cena familiar à metrópole atual de 2018, quando todos os dias em grandes cidades a multidão se move pelos transportes públicos em direção ao trabalho.


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CIDADE DOS TRABALHADORES A cidade ocupada somente pelos trabalhadores é ilustrada por uma espécie de pátio central, com um monumento ou construção no centro, sem nenhum tipo de vegetação ou mobiliário. A arquitetura apresentada reflete a uniformização e falta de identidade dos seus habitantes: com uma implantação ao redor da praça, os edifícios são todos iguais, sem qualquer tipo de ornamento ou detalhe, sua estética se assemelha a uma grande caixa em que os únicos recortes são as aberturas das janelas, retângulos de mesma dimensão enfileirados por todas as faces das construções. Além disso, por ser localizada no subsolo, isso faz com que o gabarito dos edifícios seja limitado por um teto, e consequentemente, que sua iluminação se dê de forma artificial (Figura 6). Figura 6 Cidade dos Trabalhadores

Dessa forma, a cidade espelha seus moradores refletindo o que, aparentemente, é sua única ocupação: o trabalho. Lang acaba fazendo uma analogia aos movimentos repetitivos diários e também a produção em massa de um mesmo objeto, o que era a atividade comum da época, expressando então o cenário como um amontoado de prédios iguais e com a mesma estética. Com a valorização da industrialização, esse conceito de repetição de uma arquitetura é defendido pelo Movimento Moderno como forma de produzir e difundir com maior facilidade o que eles determinam como construção ideal para o “cidadão metropolitano”, criando uma universalidade que pode ser espalhada pelo mundo.


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Apesar de Metrópolis ser um pouco anterior ao auge dessas ideias, o filme foi produzido concomitantemente com o surgimento dessa valorização e conceito. Entretanto, ao contrário do que o Modernismo vai defender como um ideal, o diretor expressa essa ideia de repetição de forma bastante monótona e uniforme, sem apresentar qualquer manifestação de cultura, identidade ou individualidade, sem conseguir despertar o mínimo de interesse pelas pessoas que moram ali.

INDÚSTRIA Pode se dizer que a indústria é a parte mais importante da cidade pois, ela não só é a única ocupação de grande parte da população como é o que sustenta o funcionamento de Metrópolis. Assim, suas máquinas refletem essa importância sendo retratadas em tamanho monumental, tendo a sua altura reforçada por serem instaladas acima do nível do chão (Figura 7). Isso também faz com que a figura do operário seja diminuída, fazendo com que a divisão de classes seja marcada ainda e principalmente pelo seu trabalho.

Figura 7 Parte industrial de Metrópolis


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Figura 8 e 9 Máquina principal e Mausoléu Faccanoni, Giuseppe Sommaruga, Sarnico, 1907

A maioria das máquinas são iguais, com a sua representação enfatizando os novos materiais construtivos utilizados na época, para assim conseguir alcançar a expressividade da modernidade plasticamente. Logo, tem-se pilares em concreto que sustentam treliças metálicas por toda a sua extensão. Eles também são utilizados para ilustrar a máquina principal, a única com uma arquitetura diferenciada entre as demais. Nela, um eixo de simetria é marcado por uma grande escadaria central, junto com elementos que podem ser relacionadas a um rosto, com dois objetos redondos de cada lado como olhos e um arco central como a boca (Figura 8). Isso não acaba sendo por acaso, já que sua representação no filme é associada a Moloch, um deus que realiza sacrifícios humanos. Ou seja, torna-se uma analogia ao trabalho realizado ali, de extensa carga horária com pouco descanso, como se os operários entregassem a própria vida em troca do funcionamento da indústria. Entretanto, o seu caráter monumental, junto com as linhas duras e o eixo de simetria utilizados em sua concepção também podem ter outra associação, como o mausoléu Faccanoni projetado por Giuseppe Sommaruga e construído na Itália em 1907 (Figura 9). O projeto é comparado por Kenneth Frampton em seu livro “História Crítica da Arquitetura Moderna” (1997) com as ilustrações de Antonio Sant’Elia para a cidade futurista que ele mesmo criou, a Città Nuova.


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Essa cidade, de caráter utópico, é muito importante para história por ter sido concebida de forma que praticamente concretizava todos os conceitos do movimento Futurista. Sant’Elia foi um grande precursor do movimento por ter escrito em 1914, o Mesagio, um segundo manifesto Futurista reiterando o primeiro, escrito por Filippo Marinetti em 1909 que o inaugurou. O movimento valoriza a velocidade e o avanço tecnológico trazido pela indústria, onde novas formas de comunicação e transporte surgem trazendo um maior dinamismo para o cotidiano que antes não existia. Defendia-se que esses aspectos deveriam, portanto, serem traduzidos em um novo tipo de arquitetura, se desvencilhando de qualquer estilo ou resquício do passado para inaugurar um novo mundo. Assim, busca-se na figura da indústria uma nova estética e novos elementos arquitetônicos, fazendo com que então a cidade fosse “a imediata e fiel projeção de nós mesmos” (SANT’ ELIA, 1914, p.145), e não somente uma reprodução do passado. “Como se nós, acumuladores e geradores de movimento, com nossos prolongamentos mecânicos, com o rumor e com a velocidade da nossa vida, pudéssemos viver nas mesmas casas, nas mesmas ruas construídas para as necessidades dos homens de quatro, cinco, seis séculos atrás. ” (SANT’ ELIA, 1914, p.145) Apesar disso, no filme o movimento é expressado somente na ilustração da própria máquina, e não na arquitetura da cidade. Porém, são nos aspectos de mobilidade que o valores dele serão ressaltados, como será melhor elucidado a seguir no tópico em que aborda a outra parte de Metrópolis.

A CIDADE DE METRÓPOLIS O plano geral da cidade é a primeira imagem do filme: diversos edifícios amontoados, sem qualquer organização espacial aparente, apenas com uma disposição piramidal central em destaque. Isso, somado à falta de exibição da parte térrea, nos remete a uma altura fora do comum, apresentando então a verticalidade como principal elemento de representatividade de futuro (Figura 10). Além disso, há um jogo de luzes com holofotes passando pelos prédios, o que incita a vida noturna existente na cidade, como é ilustrado por outras imagens de edifícios iluminados internamente, e também com as ruas com luzes vindas dos próprios carros e por alguns letreiros pendurados nos prédios (Figura 11).


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Figura 10 Primeira imagem da cidade de MetrĂłpolis

Figura 11 EdifĂ­cios e ruas iluminadas


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Figura 12 Torre de Babel

Assim como as grandes metrópoles da época, como Nova Iorque, a energia elétrica significava um avanço tecnológico que acabou sendo muito valorizado por proporcionar novos hábitos sociais e também uma nova leitura de cidade, uma nova forma de vê-la e até mesmo de construí-la. Na paisagem de Metrópolis também é possível notar a representação de um edifício principal, que não só se sobressai em altura, mas também é o centro da organização radial das ruas (Figura 12). A torre, chamada Torre de Babel, é onde se encontra o dono da cidade, e por isso a sua ilustração ressalta o poder e importância que residem nela. Apesar do seu formato circular único, o estilo arquitetônico acompanha o dos outros prédios com inspiração no Art Decó enquanto valorização da geometria e de linhas verticais nas fachadas, além das múltiplas aberturas em vidro. Isso contrasta diretamente com a monotonia da Cidade dos Trabalhadores pois, apesar do estilo ser o mesmo, eles não são idênticos, e é o que faz despertar um maior interesse e traz identidade para a cidade. Um importante aspecto apresentado pela cidade são as múltiplas formas de mobilidade que existem nela. Há a ilustração de grandes passarelas que interligam um prédio ao outro, sustentada por treliças metálicas, onde é ilustrada a passagem de pedestres, carros e algum tipo de transporte aparentemente coletivo, como um trem. Assim como em 1927, o carro também acaba assumindo um papel importante no desenho da cidade, só que em Metrópolis


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Figura 13 Formas de Mobilidade

esse aspecto é elevado ao nível aéreo, como representado pelos aviões que sobrevoam entre os edifícios (Figura 13). A ideia de grandes passarelas elevadas já acontecia em Berlim com o advento do metrô e outros transportes coletivos, sendo também suportada por treliças metálicas, como símbolo da modernidade e da nova tecnologia (Figura 14). Além disso, paralelamente, também acontecia o mesmo em Nova Iorque, como na figura 15. Mesmo sendo uma foto tirada nos anos 40, nota-se a passarela de trem passando bem no meio dos prédios de forma muito semelhante ao filme, evidenciando ainda mais a influência da cidade sobre ele.

Figura 14 Cartão Postal Berlin Kreuzberg, vista para o trem elevado acima do Anhalter Bahnhof em 1911


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Figura 15 The Second Avenue Elevated em meados de 1940, com o edifício ao fundo chamado 100 Maiden, construído em 1930

Na parte térrea da cidade a representação das ruas é feita de modo com que mais se pareçam com grandes avenidas, em diversos níveis, mas sem a passagem de pedestres por elas. Para eles, há um local ao redor dos edifícios, mas sem qualquer tipo de espaço de permanência, mobiliário ou vegetação, é somente um grande corredor onde as pessoas transitam sem parar. No nível mais baixo das avenidas é onde aparentemente correm os trens, ou alguma outra forma transporte coletivo (Figura 16). É dessa forma que é possível notar a importância dada aos meios de transporte de todas as formas sendo sempre retratadas em todas as imagens de Metrópolis. Assim como os conceitos do futurismo, entende-se aqui a valorização da velocidade e, consequentemente, do trabalho, já que a cidade se torna apenas um local de passagem, apenas o intermediário entre a casa e o trabalho, e não um local para ser vivenciado e ocupado. Há a completa eliminação da noção de permanência nesse espaço, a calçada, na verdade, acaba sendo bastante semelhante ao túnel dos trabalhadores retratado no subsolo, como apenas um grande corredor.


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Figura 16 Parte térrea da cidade

“[...] writes Mike Gold in Jews Without Money (1930) of a Romanian immigrant to New York, [...] “I came to understand it was not a land of fun. It was a Land of Hurry-Up. There was no gold to be dug in the streets here. Derbies were not fun-hats for holidays. They were work-hats. Nu, so I worked! With my hands, my liver and sides! I worked!” (JACOBSEN; SUDENFDORF, 2000, p.119-120)

Nas poucas imagens feitas sobre as ruas da cidade consegue-se reiterar pontos levantados anteriormente em relação ao uso e ocupação das calçadas: a completa falta de vegetação, mobiliários, equipamentos e locais de permanência. Isso, em conjunto com a falta de desenho de piso, ou qualquer tipo de textura no chão, passa uma sensação de quase esterilização por não haver nada sobre ele, nenhum tipo de lixo, ou qualquer sinal de que alguém passou por ali, o que evidencia ainda mais a falta de ocupação e de vida daquele local (Figura 17).


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Figura 17 Ruas de Metrópolis

Entretanto, há a presença de alguns cartazes colados em um muro ao fundo, inspirados no movimento Suprematista e Construtivista russo. Iniciado nos anos 10 do século XX, defendia-se a valorização da forma pura e geométrica, sem que ela se referisse a nada além dela mesma, e também de que a arte deveria ser acessível, à serviço das pessoas. Assim, o movimento acaba se relacionando com a inspiração no Art Decó expressa nas edificações, com o enaltecimento da geometria e de linhas verticais, ou seja, a valorização da forma. Apesar de não ser possível identificar o teor dos mesmos, e se foi feito pela população ou pelo governo, eles acabam sendo a única coisa que expressa algum tipo de cultura ou identidade naquele local. Além disso, pilares de estruturas metálicas estão sempre presentes, possivelmente por estarem sustentando alguma passarela aérea. Isso faz com que não só fique explícito, de forma sutil, a presença dos novos meios de locomoção, mas que também se evidencie o uso dos materiais industriais, que indicam progresso tecnológico, diretamente no cotidiano das pessoas. Há outras duas representações de diferentes lugares que também se encontram na cidade e são, portanto, frequentados exclusivamente pela elite: o complexo “Clube dos Filhos” e os “Jardim Eternos”. O primeiro é ilustrado por um estádio que compõe uma instalação com salões de conferência, bibliotecas e teatros. De caráter monumental, possui um muro de pé-direito muito alto espaçado por grandes pilastras com estátuas de estilo romano em suas pontas, cada uma remetendo a um esporte diferente; e ao fundo é possível observar uma construção circular com arcos ogivais como aberturas (Figura 18).


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Figura 18 e 19 Estádio do complexo “Clube dos Filhos” e “Jadins Eternos”

Tanto a construção, quanto o próprio conceito de complexo de lazer são uma referência aos conceitos romanos da Antiguidade Clássica, em que poucos possuem privilégios e vivem uma vida perfeita e equilibrada, prezando pela geometria para transmitir isso ao entorno construído. Ao mesmo tempo que também faz alusão ao burguês do século XVIII, que enriquece com a industrialização e resgata a arquitetura clássica com sua monumentalidade para reproduzi-la como forma de transparecer poder e se afirmar como uma nova classe social ascendente. Já os “Jardins Eternos” constituem a única ilustração de natureza de Metrópolis, ou seja, ela é uma exclusividade, um preciosismo da elite e não algo comum ao ambiente narrativo. Pelo seu caráter único, é quase como se o jardim fosse tratado de forma onírica, ou ainda uma referência ao Jardim do Éden enquanto uma réplica do Paraíso, em contraste direto com a vida dos operários (Figura 19). Ao mesmo tempo que a própria presença da Natureza representa uma grande quebra no mundo industrial e geométrico que é construído ao longo do filme, a organicidade e até o caminho sinuoso ilustrado contrastam imediatamente com as linhas retas presentes nos detalhes das paredes e da porta. Detalhes estes bastante inspirados no movimento difundido nas primeiras décadas do século XX, o Art Decó. Assim como os outros movimentos que surgiram simultaneamente a ele, como o Futurismo, o Dadaísmo e o Cubismo, o Art Decó também buscava uma ruptura com o passado, de forma a tentar criar algo novo a partir dos novos re-


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cursos que se mostraram disponíveis com o avanço tecnológico. Dessa forma, o movimento prezava pela racionalização e, apesar dele optar pelo uso de ornamentações, utilizava linhas verticais e formas geométricas, o que fez com que, muitas vezes, o edifício parecesse mais alto, já que geralmente era empregado em fachadas. Por isso que sua inspiração nos prédios da cidade, como já mostrado, é muito cabível principalmente pela valorização da verticalidade. Metrópolis é, portanto, uma síntese de seu tempo: ele expressa o que estava acontecendo no começo do século XX e também ilustra os medos e o que se esperava do futuro naquela época. A cidade criada carrega os estigmas da metrópole que vem desde o seu surgimento com a primeira Revolução Industrial, trazendo as questões de comportamento social causadas pela nova forma de trabalho e, consequentemente, de vida do “novo cidadão”. A crítica ao capitalismo presente em todo o filme reflete diretamente na representação da cidade, seja por sua organização espacial, ou pelo modo como ela é utilizada pelos seus habitantes. No advento da metrópole e da vida urbana, a velocidade dos acontecimentos e das mudanças causavam medo nas pessoas. O ineditismo da situação fazia com que ninguém soubesse o que esperar ou como agir sobre a quantidade de problemas novos que surgiam todos os dias. Ao mesmo tempo, isso também causava admiração perante tudo aquilo que estava sendo construído. Dessa forma, a imagem do futuro ainda era bastante nebulosa, como coloca Sevcenko quando analisa as obras de Edgar Allan Poe sobre a cidade: “Não se trata, pois, do medo diante do novo, mas do doloroso pressentimento de uma força irresistível diante da qual nenhum espírito mais está livre e toda resistência se extingue. Poe, o poeta, ouvia no murmúrio das grandes cidades o canto da sereia que anunciava o fim da sua espécie social. ” (SEVCENKO,1984, p. 81)

Fritz Lang reflete esse medo quando retrata o modo de vida dos habitantes da cidade, em que grande parte da população vivia somente para o trabalho, enquanto apenas um grupo seleto era privilegiado não só no sentido de não ter essa obrigação, mas de conseguir viver e ter outras ocupações que não fossem só um trabalho exaustivo. Simultaneamente a isso, a cidade é ilustrada de forma monumental, com grande admiração e valorização das edificações, das novas formas de locomoção e também dos avanços tecnológicos, como a energia elétrica que demonstrava um novo olhar sob a cidade. Logo, tem-se a influência das


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grandes metrópoles da época, especialmente Nova Iorque, que se desenvolvia cada vez mais economicamente e urbanisticamente, tornando-se símbolo de progresso e avanço e também a principal referência para a construção da imagem de futuro. É dessa forma que o filme afirma sua importância na história, não só por ser precursor de representações de imagens de cidades futurísticas, mas por elas transpassarem pelo tempo e serem transformadas até a imagem que temos hoje, permanecendo em nosso imaginário ao invés de serem completamente datadas e esquecidas.

2.2 BLADE RUNNER (1982) Dirigido pelo britânico Ridley Scott, e roteirizado por Hampton Fancher e David Peoples, o filme se passa na cidade de Los Angeles em 2019. Em uma visão decadente do futuro da Terra em que a noite parece permanente, acompanhada da poluição e da chuva ácida constante, a exploração pela habitação em outros planetas é uma realidade. O avanço tecnológico é completamente incorporado ao cotidiano dos habitantes, seja no ambiente de trabalho, como forma de locomoção, e até no âmbito mais íntimo do próprio lar. A tecnologia avançou tanto que a principal e mais poderosa corporação é a que fabrica androides com aparência humana, “superiores em força e agilidade e até igual em inteligência aos engenheiros que os criavam”, como descrito na abertura no filme. Sendo utilizados como escravos nas colônias fora da Terra, os robôs mais avançados resolvem se revoltar e proclamar por mais tempo de vida diretamente com o seu criador e, por isso, são caçados pelos chamados Blade Runners para realizarem suas “aposentadorias”, um eufemismo para extermínio. A história é baseada no livro “Androides sonham com ovelhas elétricas? ” escrito pelo autor Philip K. Dick, nome consagrado na literatura sci-fi dos anos 60. Apesar da década em que foi escrita, a obra levanta questões pertinentes à relação homem-máquina que permaneceram relevantes o suficiente para uma representação fílmica ser realizada no começo dos anos 80. Uma diferença interessante entre o livro e o filme é que, no livro a justificativa da ambientação escura e poluente da cidade é derivada de uma guerra nuclear. Esse fato era uma consequência direta do medo constante causado durante a Guerra Fria (que compreende desde o fim da Segunda Guerra em 1945, até a dissolução da União Soviética em 1991) da possibilidade de uma terceira guerra mundial poder começar a qualquer momento.


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Enquanto isso, a Europa se reconstruía das duas grandes guerras e, apesar de Londres ser considerada em 1950 como segunda cidade mundial (depois de Nova Iorque), houve o aparecimento de grandes metrópoles fora desse eixo ocidental: Tóquio e Xangai, que alcançaram um expressivo aumento em densidade demográfica e territorial durante todo o século XX, assim como México e São Paulo (SECCHI, 2009, p. 40). Em geral, as cidades tiveram um alto crescimento até os anos 60, principalmente na América com os Estados Unidos estabelecido como grande potência econômica. Nova Iorque continuou crescendo e se expandindo, tornando-se graças aos avanços das formas de comunicação como a televisão e o rádio, referência mundial. Todo esse grande desenvolvimento advém, principalmente, pelo aumento da industrialização e crescimento econômico mundial de exportação e importação de recursos e mercadorias. Porém, é nesse momento também que se começa a sentir as consequências desse modelo herdado da Revolução Industrial, do uso desenfreado de recursos energéticos e ambientais e, como resultado, o aumento da poluição da água e do ar, mudanças climáticas e o aparecimento de fenômenos como a chuva ácida. Segundo Priscilla N. C. de Passos, em 1972 a ONU promove uma Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, conhecida como Conferência de Estocolmo, em que houve a reunião de 113 países para discutir questões ambientais. Isso foi então uma forma de exigir o reconhecimento pelos Estados da existência desses problemas e da necessidade de agir sobre eles, (PASSOS, 2009, p.8) além de levar a responsabilidade também para os países em desenvolvimento, como forma de promover uma mudança global no modelo de crescimento vigente. Junto a isso, nos anos 70 a economia mundial entrou em declínio quando em 1973-4 e em 1979-80 houve duas crises do petróleo. Por ser um recurso escasso, e ainda a principal matéria-prima energética de muitos países na época, o aumento do preço dos barris na área do Oriente Médio foi determinante para a crise e a estagnação do crescimento das cidades no mundo, além de causar desempregos e o consequente aumento de imigração para países mais desenvolvidos. Na primeira metade dos anos 70 várias empresas abandonaram Nova Iorque por conta da crise e, durante o mandato do prefeito John V. Lindsay de 1966-74, a cidade foi palco de diversos conflitos de violência racial e se tornou “símbolo de tudo o que estava dando errado nas cidades americanas pós-guerra” (HOMBERGER,1994, p.148). A economia dos EUA só foi começar a sair da recessão no começo dos anos 80 e, por isso, a esse fato atribui-se ser uma das causas pela falta de bilheteria que Blade Runner


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alcançou em seu lançamento em 1982, por demonstrar um pessimismo e a completa degradação da cidade no futuro. “...Blade Runner nos deu um mundo onde tudo o que poderia dar errado deu errado: degradação ambiental, poluição, expansão urbana (urban sprawl), domínio corporativo, tecnologia descontrolada - é a soma de todas as utopias. Não é de admirar o abraço otimista do ET de Spielberg.” (ROSE, 2017, tradução da autora)

PRINCIPAIS CENÁRIOS A CIDADE “Scott considerou estabelecer a história em uma metrópole futura que ligava Nova Iorque e Chicago, mas escolheu Los Angeles como o local mais convincente de expansão urbana e ferrugem” (WEBB,1999, p.44, tradução da autora)

Ridley Scott escolhe a cidade de Los Angeles para ambientar a história e assim construir o seu futuro. Ela foi um dos principais polos comerciais do país e abrigava muitas indústrias, além de “comandar o entretenimento popular na nação” (HOMBERGER, 1994, p.147). Por isso, recebia muitos imigrantes e assim crescia cada vez mais, sendo considerada, nos anos 50, uma das maiores cidades do país em tamanho e desenvolvimento e permanece nesse posto até os dias atuais.1 Entretanto, esse crescimento se deu de forma diferente do que aconteceu em Nova Iorque, em que o progresso da cidade aparecia, principalmente, de forma concentrada em Manhattan. A própria geografia nova-iorquina incentivava isso, já que, por ser uma ilha, a expansão lateral ia somente até certo ponto.

1 Os dados da cidade como população, número de casas, área e densidade podem ser consultados em: https://factfinder.census.gov/faces/tableservices/jsf/pages/productview. xhtml?pid=DEC_10_SF1_GCTPH1.ST10&prodType=table. Acesso em 9 de set. 2018


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Dessa forma, multiplicava-se a área útil de um terreno verticalmente através da construção de um arranha-céu, o que fazia com que o progresso da cidade fosse visível através dos muitos edifícios que compunham a sua paisagem no céu. Enquanto isso, em Los Angeles acontecia o “Urban Sprawl”, que consiste em um crescimento fragmentado pelo território (RIBEIRO, SILVEIRA, 2009). A expansão da cidade aconteceu através de pequenos núcleos espalhados, causados, principalmente, pela segregação social dos imigrantes que chegavam na cidade a procura de trabalho, somado a especulação imobiliária que ocorria nos grandes centros. Além disso, entre as décadas de 50 e 80 difundiu-se a imagem do subúrbio como a materialização do “American Dream”: uma vida em comunidade longe da cidade, que promovesse uma maior aproximação com a natureza por meio de uma casa individual com um jardim (SECCHI, 2009, p.54). Isso tudo fazia também com que o uso do automóvel fosse incentivado, já que a ligação mais rápida entre os núcleos de crescimento era por meio do uso das estradas construídas entre eles. “Essas duas imagens, a da cidade absolutamente vertical em um espaço limitado e a da deitada, implantada em territórios cada vez mais vastos, parecem marcar um ponto de passagem na história urbana europeia e ocidental, sempre interpretada como uma ruptura, uma passagem entre duas épocas distintas ou uma dissolução, quase uma transferência de uma imagem para outra.” (SECCHI, 2009, p.45)


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Dessa forma, o filme abre com uma imagem da paisagem geral de Los Angeles mostrando uma cena noturna de uma cidade identificável principalmente pela quantidade de luzes que se prolongam além do horizonte (Figura 20). Assim, há a representação do “Urban Sprawl”, que, além de caracterizar Los Angeles, faz com que a representação da cidade do futuro, em um panorama geral, aconteça mais pela sua expansão do que pela verticalidade. A altura, na verdade, acaba sendo marcada principalmente pelos dois edifícios principais, que se destacam ainda por sua arquitetura monumental. Contudo, a paisagem ainda demonstra um cenário completamente novo pela sua ambientação escura e de difícil identificação territorial, urbana e arquitetônica que permitisse a imediata relação com a cidade como a conhecemos na realidade. Apesar disso, quando há imagens internas e com uma maior aproximação, é possível observar que, na verdade, a verticalização é uma realidade na Los Angeles do filme. Esse aspecto é sempre ilustrado junto com a demonstração da forma de mobilidade do futuro, com veículos se locomovendo no ar entre os prédios (Figura 21). Ou seja, apesar da paisagem identificar uma maior expansão urbana, a representação do futuro da cidade em relação a escala humana (seja pelo pedestre na ocupação da rua ou pelo próprio automóvel) ainda é apoiada na verticalização exagerada.

Figura 20 e 21 Paisagem de Los Angeles em 2019 e Verticalização junto com a forma de mobilidade


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Embora no panorama geral a altura se evidencie somente pelos dois edifícios identificáveis como pertencentes a corporação Tyrell, quando há imagens internas e com maior aproximação da cidade é possível observar que, na verdade, a verticalização é uma realidade em Los Angeles do filme. Esse aspecto é sempre ilustrado junto com a demonstração da forma de mobilidade do futuro, com veículos se locomovendo no ar entre os prédios (Figura 21). Assim nota-se que, apesar dos muitos edifícios, eles só são perceptíveis por suas inúmeras janelas iluminadas, do mesmo modo que acontece na paisagem geral da cidade. Sua forma e plasticidade não ganham destaque, sendo muitas vezes colocados somente como silhuetas, em contraste com a iluminação artificial ou por resquícios de luz solar. Essa maneira de representação remete bastante a colocação de Rem Koolhaas em seu livro “Nova York Delirante” quando ele se refere a multiplicação dos arranha-céus na cidade: “Não há nenhum manifesto, nenhum debate arquitetônico, nenhuma doutrina, nenhuma lei, nenhum planejamento, nenhuma ideologia, nenhuma teoria; há – apenas – o arranha-céu.” (1978, p. 113). Ou seja, a representação de futuro em Blade Runner não se apoia necessariamente em novas formas arquitetônicas, mas sim pelo conjunto de outros elementos apresentados ao longo do filme, como a ênfase nas diversas propagandas, letreiros e telões que fazem parte da nova paisagem da Los Angeles em 2019, e na tecnologia existente.


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Das poucas vezes que há alguma representação do que seria uma arquitetura gerada no futuro, geralmente ela também está aliada com a ilustração da forma de mobilidade aérea, como grandes plataformas para aterrisagem de carros (Figura 22). Sua estrutura é aparente junto com diversos tubos e cabos que percorrem toda a sua extensão, formando então o que seria a linguagem da cidade de Blade Runner: a grande quantidade de informação visual como consequência tecnológica. Outro momento em que há a ilustração de alguma arquitetura de forma clara e visível é quando aparecem edifícios já existentes em Los Angeles, demonstrando uma carga histórica, porém com a junção desses elementos que fazem com que eles estejam inseridos no contexto de futuro do filme (Figura 23). A cidade não é destruída e reconstruída do zero, os edifícios históricos permanecem mas tem os seus usos adaptados à nova forma de vida que surgiu.

“O conceito-chave para o projeto de arquitetura da cidade foi o de “retrofitting” ou “layering” (sobreposição de camadas) - a reparação contínua e a adaptação as constantes mudanças , que levam a imagens atraentes de prédios cobertos por canos, dutos e detritos tecnológicos” (NEUMANN, 1999, p.152, tradução da autora)

Figura 22 e 23 Edifícios históricos adaptados e Plataforma para aterrisagem de carros


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A constante ocupação da rua é um aspecto importante da cidade. A mobilidade se dá também no nível do chão, o que faz com que as avenidas apareçam quase sempre lotadas de carros parados em trânsito (Figura 24). Além disso, as calçadas são cheias de estabelecimentos e com a presença de pessoas de várias etnias diferentes, falando línguas que não o inglês. Isso reforça o fato de Los Angeles receber muitos imigrantes e isso ter sido determinante para o seu crescimento, de forma que inclusive contribui para a imagem da cidade como uma potência globalizada. Assim, o visual cheio de informação se expande para a própria vida na cidade, com a frequente quantidade de pessoas presentes na rua, seja de passagem ou trabalhando nas lojas e quiosques espalhados nas calçadas (Figura 25). Figura 24 e 25 Multiculturalidade nos painéis neon e Uso intensivo da rua


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Mais uma vez, as luzes neon que formam os letreiros das lojas e das propagandas são os destaques, reforçando também a multiculturalidade presente nos habitantes ilustrados, com os letreiros escritos ora em japonês, ora em mandarim. Pela condição climática estabelecida, de quase não haver luz do sol, a luz é totalmente incorporada pelo comércio, pois é ela, muito mais do que os postes, que vai iluminar a cidade de forma a deixá-la habitável (Figura 25). Assim, a construção da imagem da rua de Blade Runner tem a clara influência das metrópoles orientais junto com os letreiros da Times Square: “A miséria iluminada pelo neon da Times Square e as selvas eletrográficas de Tóquio e Hong Kong também geraram ideias. Mas Scott queria uma perspectiva unificada e lógica, e não uma antologia de citações visuais.” (WEBB,1999, p.45, tradução da autora)

Desse modo, o diretor conseguiu estabelecer uma imagem unificada das grandes metrópoles da época, juntando os elementos que mais as representava, que eram justamente a superpopulação, as luzes e a grande quantidade de informação visual, além da verticalidade (Figura 26 e 27). Figura 26 Hong Kong, 1970


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Figura 27 Akasaka, Tokyo, 1980

Além disso, a fumaça também é sempre constante na representação da rua. Esse ponto também se faz presente na realidade, com um problema sério de poluição do ar que Los Angeles enfrentava, chamado de “Smog”. Com a grande quantidade de indústrias que foram se instalando na cidade somado ao aumento do tráfego de carros circulantes, o agrupamento de poluição gerada costumava se acumular próxima ao nível da rua, obrigando até mesmo o uso de máscaras pelos pedestres. A discussão climática foi ganhando importância com o tempo como consequência do grande crescimento das metrópoles, já que o reflexo do desenvolvimento sem o cuidado ambiental já era notado no dia a dia. Desse modo, essa pauta torna-se uma característica da cidade de Blade Runner e da visão do mundo no futuro: falta de luz solar, chuva ácida constante, poluição e a completa ausência de vegetação. Portanto, todos os aspectos que formam a Los Angeles de 2019 fazem com que a imagem construída seja baseada no pessimismo. Um ambiente de um centro bastante desenvolvido com a incorporação de tecnologias, porém visualmente degradado e abandonado em que as consequências climáticas e ambientais atingiram o seu limite.


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“A parafernália da ilusao que acabou de subvrter a natureza de Coney Island, transformando-a num paraíso artifical - eletricidade, ar-condicionado, tubulações, telégrafos, trilhos e elevadores -, reaparece em Manhattan como parafernália da eficiência, para converter o espaço bruto em escritórios! (KOOLHAAS, 2008, p.111)

Segundo Rem Koolhaas ainda, toda essa parafernália tecnológica é, na verdade, o que abre a possibilidade dos arranha-céus terem outro uso que não o de negócios. Isso acontece em Blade Runner, porém ao invés de ter a significação de progresso, isso vem com o de retrocesso. O semblante escuro e chuvoso junto com o abarrotamento de pessoas transmite a ideia de que as grandes cidades não eram mais vistas como um bom lugar para se viver, tanto que as colônias formadas fora do planeta são uma realidade no filme. Isso também reforça a imagem dos grandes subúrbios, muito difundidos nas décadas de 70 e 80, como a moradia perfeita construída longe dos centros urbanos.

ESCRITÓRIO DAS CORPORAÇÕES TYRELL Figura 28 O edifício


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O único edifício que ganha destaque tanto em altura quanto em forma arquitetônica são os pertencentes a indústria Tyrell, a responsável pela criação dos androides (Figura 28). A importância dela para o enredo e para a cidade se dá justamente por essa diferenciação do restante, principalmente pelo contraste formado na paisagem. Sua arquitetura remete aos templos da civilização maia, em especial os da cidade de Chichén Itzá, localizada no México. Foi, durante o período pré-colombiano, um grande polo comercial e cultural, e sua importância é tamanha que em 2007 foi reconhecida como uma das novas sete maravilhas do mundo pela UNESCO. O Templo de Kukulcán (Figura 29), presente no local,

Figura 29 e 30 Templo de Kukulcán e Templo dos Guerreiros


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é a principal referência dos templos piramidais maias e, junto com o Templo dos Guerreiros (Figura 30), que também compõe Chichén Itzá, formam o que parece ser a inspiração para o edifício no filme. A monumentalidade somada a inclinação de suas laterais de forma piramidal, junto com a faixa central que marca o seu eixo de simetria, são as principais características que remetem a arquitetura maia. Foi feita então a reprodução do formato mais esticado lateralmente, assim como um trapézio, como ocorre com o Templo dos Guerreiros (Figura 30). Entretanto, o escalonamento que ocorre até o topo com a sobreposição de volumes é abandonado e substituído por planos que se deslocam da pirâmide central, o que faz com que a dimensão total seja expandida, deixando o edifício ainda maior visualmente. Além disso, a sua inclinação e o espaço que fica entre os blocos reforça a tecnologia que existe no futuro e que viabiliza esse tipo de construção e estrutura. O excesso de informação presente na cidade de Blade Runner acaba também sendo refletido no edifício. Há uma grande quantidade de luzes internas e externas junto com a própria estrutura aparente, que aparece acompanhada dos inúmeros cabeamentos, tubulações e até equipamentos, todos presentes nas fachadas. Inclusive a mobilidade interna do prédio acaba fazendo parte de todo esse excesso, com o movimento dos elevadores compondo o excedente aparato tecnológico que reveste a construção (Figura 31).

Figura 31 Excesso de informação na fachada


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Dessa forma, a própria tecnologia é absorvida e expressada pela arquitetura e, junto com o material empregado, acaba sendo a estética e até o adorno desse novo edifício. Isso é exatamente o que Sant’Elia (1914) defendia em seu Manifesto Futurista: “Os elevadores não devem esconder-se como vermes solitários nos vãos das escadas; mas as escadas, tornadas inúteis, devem ser abolidas e os elevadores devem prender-se, como serpentes de ferro e vidro, ao longo das fachadas.”. Contudo, apesar de haver essa influência, o Futurismo assumia a total ruptura com o passado, negando qualquer influência histórica e incentivando a criação de uma nova arquitetura vinda “do nada”. Sant’Elia inclusive alegava que os novos materiais empregados, junto com as novas descobertas científicas, não caberiam aos estilos históricos, entretanto, é exatamente isso o que ocorre com a corporação Tyrell, com o seu formato trapezoidal maia revestido da mais alta tecnologia prevista no futuro de 2019. Internamente, o excesso de informação é deixado de lado colocando a monumentalidade como destaque. Pilares volumosos compõem o amplo espaço do escritório, culminando na grande abertura da janela em que o sol aparece pela primeira vez. Ainda assim, o ambiente é escuro pela falta de iluminação artificial, e contém artefatos históricos que reforçam a sua influência e ainda remetem a outras civilizações antigas (Figura 32). Como se o bem precioso da elite fosse a própria detenção da memória, como é um dos questionamentos levantados pelo enredo. Figura 32 Ambiente interno das corporações Tyrell


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CONSTRUÇOES JÁ EXISTENTES EM LOS ANGELES

Há dois momentos do filme em que edifícios históricos e já existentes de Los Angeles aparecem com maior destaque: o apartamento do protagonista como uma reprodução da Casa Ennis Brown (1924) de Frank Lloyd Wright e o Bradbury Building (1893) de George Wyman e Sumner P. Hunt, como um lar ocupado pelo outro criador de androides. Como coloca Dietrich Neumann (1999, P. 150): “...it show a city with history, with buildings that have been there for a long time and have survived beneath gargantuan modern high-rises.” Ambos fazem parte do “retrofit” que aparece pelas ruas do filme, de construções antigas não serem eliminadas no futuro, mas sim terem os seus usos adaptados à tecnologia e a nova forma de vida existente. Assim, dentro do apartamento de Deckard é bastante perceptível como o cotidiano incorpora diversos aparatos eletrônicos e também espelha a cidade internamente: um ambiente escuro em que a maior parte da luz vem de fora (e não como luz solar); e o excesso de informação que aparece desde as tubulações, até a grande quantidade de móveis e objetos pertencentes ao morador (Figura 33 e 34).

Figura 33 Excesso de informação dentro do apartamento


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Figura 34 Aparatos eletrônicos como parte do cotidiano

A escolha da Casa Ennis Brown muito tem a ver com isso também: composta por diversos blocos de concreto modulares, todos repetindo um padrão de desenho que ficam expostos tanto na parte externa quanto na interna, contribui para o acúmulo de elementos presentes. Outro aspecto importante é a sua influência na arquitetura maia, o que faz referência às Corporações Tyrell, que traz um aspecto monumental pelo material usado e também pelos pilares volumosos que se repetem. Além disso, a correlação existente entre a residência do protagonista e a corporação que fabrica os robôs no filme não é à toa, funcionando quase como uma resposta ao grande questionamento levantado durante a história: se o protagonista é um replicante ou não. Já na representação do Bradbury Building, o “retrofit” só é presente externamente, com tubulações percorrendo sua fachada. Porém, internamente é completamente abandonado, tendo somente uma ocupação em um de seus andares (Figura 35). Com isso, ocorre o contrário do que é representado pela Casa Ennis Brown que tem o seu uso adaptado e é incorporada ao novo mundo tecnológico. A escolha por ele, entretanto, é bastante interessante. Se trata de um edifício histórico e importante para Los Angeles, que se tornou um dos escritórios mais prestigiados da cidade. Construído em 1893 pelo arquiteto Gevorge Wyman, o projeto foi inspirado em um livro de ficção científica chamado “Looking Backward”, que se passava em um futuro nos anos 2000, e descrevia a tipologia de edifício comercial como: “vast hall full of light, received not alone from the windows on all sides, but from the dome, the point of which was a hundred feet above”. O projeto, então, construiu uma abertura zenital em seu centro para permitir a entrada de luz como na descrição, e foi por isso


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Figura 35 e 36 Interior do Bradbury Building e Dirigível visto pela abertura zenital do edifício

que se tornou tão famoso. Esse aspecto foi evidenciado pelo filme, só que a luz, nesse caso, vem de um dirigível que faz a propaganda das colônias fora da Terra (Figura 36). É inegável a influência de Metropolis (1927) em Blade Runner, o diretor assumidamente busca nele, junto com as grandes metrópoles da época, a referência para se conseguir a construção final da imagem de Los Angeles em 2019. Isso confirma a importância da criação de Fritz Lang não só para a história cinematográfica, mas também como visão de futuro, já que aspectos levantados na década de 20 permaneceram até os anos 80, como: a verticalidade como significação de progresso, a tecnologia permitindo novas formas de mobilidade e o uso da eletricidade na intensa vida noturna como reflexo de grandes cidades. Ambos buscam no passado a forma de representar espaços ocupados pela elite, o que também fica claro quando colocam em evidência somente


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um edifício, como símbolo de poder. No mais, as cidades se apoiam mais na altura e na quantidade de prédios do que em alguma nova forma ou em um movimento específico para a ilustração de um tempo futuro. A imagem do arranha-céu, assim como a própria cidade de Nova Iorque, continuam sendo a principal imagem e referência dessa construção. Muito do retrato das cidades vêm da incorporação do avanço tecnológico previsto no espaço urbano. Seja pela estrutura dos edifícios que proporcionavam tamanha altura, ou pela disposição dos mesmos de acordo com as formas de mobilidade. Em Metropolis o destaque é muito maior, com diversas avenidas, trilhos e passarelas áreas que possibilitam a passagem de forma desenfreada. Blade Runner herda a forma de locomoção aérea com os seus carros voadores e traz alguns pontos de aterrisagem, porém a tecnologia acaba sendo incorporada nos próprios prédios e nos materiais utilizados na sua obra. Apesar dos aspectos em comum, o foco dado a cada cidade é diferente. Metropolis é uma cidade utópica construída a partir de uma crítica ao capitalismo, que é separada em níveis como reflexão das diferentes classes sociais da sociedade. Dessa forma, sua representação acaba se afastando da realidade e traz um olhar do todo, o cotidiano é ilustrado através do trabalho, e a cidade como passagem. Já Blade Runner retrata uma cidade existente no futuro, com a inserção inclusive de prédios históricos, o que a torna mais crível:

“...ele queria que a cidade de 2019 fosse “rica, colorida, barulhenta, arrojada, cheia de textura e cheia de vida... Estou tentando fazê-la o mais real possível. Esse é um futuro tangível, não tão exótico a ponto de ser inacreditável... como hoje, só que mais.”” (WEBB, 1999, p.44, tradução da autora)

Além disso, ela vem como o real resultado da crítica capitalista do sistema econômico e trabalhista que foi previsto em 1927, com as consequências climáticas, a superpopulação, as constantes propagandas e a degradação. Somado a isso, por mais que sua imagem remeta a Los Angeles, sua imagem vem de forma globalizada, com a representação de diversas etnias e línguas sendo faladas num mesmo local. Há um olhar mais íntimo da cidade, tanto com a ilustração da ocupação das ruas, mas também de uma casa, em que se nota a tecnologia incorporada como um auxílio aos afazeres que já são exercidos no dia a dia.


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Dessa forma, pode-se dizer que Blade Runner traz uma evolução da imagem de futuro dos anos 20 somada à imagem do que as grandes metrópoles se tornaram nos anos 80. E talvez seja essa evolução que faça essa imagem ser replicada até os dias atuais, se tornando pertinente até mesmo a realização de uma continuação, filme lançado em 2017 que então prevê a Los Angeles em 2049.



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3.1 LEVANTAMENTO DE FILMES DE 2013 A 2018

Para entender como o futuro das cidades é representado hoje pelo cinema, foi feito um levantamento de filmes - cuja temática se enquadrassem nos objetivos desse trabalho - lançados nos últimos cinco anos. Os filmes selecionados para este estudo se caracterizam como longas-metragens (com duração superior a setenta minutos) e não utilizam animações como recurso audiovisual principal. Foram contabilizados, portanto, 118 filmes de 2013 a 2018 e, dentro das histórias e cenários apresentados pode-se dividi-los em duas grandes categorias: Distopia e Realidade.

DISTOPIA Os filmes distópicos tem como foco realidades distorcidas e/ou fantásticas e se subdividem em duas categorias: Distopia apocalíptica e Distopia social-econômica.

a) Distopia Apocalíptica: filmes que tratam de ataques químicos, invasões alienígenas, desastres naturais e escassez de recursos naturais. Alguns exemplos são a franquia Cloverfield, de 2008 a 2018 – desconsiderando o título anterior a 2013 - que trata de uma invasão alienígena, e Mad Max: Estrada da Fúria, de 2015, cujo tema é a falta de recurso hídrico. São produções que ilustram o meio urbano de forma abandonada ou completamente destruída. b) Distopia social-econômica: filmes que tratam de uma nova organização e estrutura social e econômica. Alguns exemplos são O Doador de Memórias, de 2014, com o tema da mudança fisiológica da raça humana, e a franquia Divergente, de 2014 a 2016, com a divisão social feita por características pessoais. São produções que ilustram o meio urbano como reflexo da estrutura social preponderante.


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REALIDADE São filmes que tratam de temas variados, mas utilizam o momento presente, como a nossa organização social-econômica, o traçado urbano e a arquitetura como salto inicial na construção da narrativa. Assim, como representação urbana, eles se dividem em: ilustrar o futuro igual ao presente, ilustrar uma cidade futurística ou, então, não ter ilustração urbana. Alguns exemplos são a franquia Uma Noite de Crime, de 2013 a 2018 (futuro igual ao presente), Perdido em Marte, de 2015 (que se passa majoritariamente em outro planeta), e os de representação de cidade futurística serão tratados a seguir. Durante esse período, é importante destacar também que tiveram novos episódios de antigos clássicos da ficção científica, como a série Star Wars, com Despertar da Força (2015), Rogue One (2016), Últimos Jedi (2017) e Han Solo (2018); Star Trek, com Além da Escuridão (2013) e Sem Fronteiras (2016); Planeta dos Macacos, com O Confronto (2014) e A Guerra (2017); algumas refilmagens com Robocop (2014) e Fahrenheit 451 (2018); e a continuação de Blade Runner 2049 (2017). Além disso, houve o lançamento de diversas franquias com realidades distópicas também ambientadas no futuro, são elas: Jogos Vorazes, com Em Chamas (2013), A Esperança Parte 1 (2014) e A Esperança - O Final (2015); a trilogia Divergente (2014), Insurgente (2015) e Convergente (2016); e a trilogia Maze Runner, com Correr ou Morrer (2014), Prova de Fogo (2015) e A Cura Mortal (2018). Isso demonstra a pertinência da ficção científica atualmente e que o futuro tem sido amplamente discutido em diversas instâncias, seja pela fantasia, por imaginar outras formas de organização social ou explorar as múltiplas possibilidades de influência da tecnologia sobre nós. Assim, através da classificação feita foi possível selecionar os filmes que ilustram o meio urbano de forma a apresentar uma evolução do mesmo. São eles: Além da Escuridão – Star Trek (2013), Círculo de Fogo (2013), Elysium (2013), Agente do Futuro (2014), Advantageous (2015), Ares (2016), A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (2017), Blade Runner 2049 (2017), Jogador nº1 (2018) e Mudo (2018). Apesar da temporalidade de lançamento escolhida entre eles ser bastante próxima (apenas cinco anos), a representação não é homogênea, apresentando visões de futuro diversas e com intervalos de tempo de projeção igualmente distintos. Entretanto, é possível destacar alguns pontos em comum em sua cenografia que se repetem na maioria: a grande quantidade de edifícios muito altos, isto é, a verticalidade ainda permanece como símbolo de progresso de uma metrópole; e a representação noturna com diversas luzes, vindas internamente dos prédios e pelas ruas, seja pela iluminação urbana, por anúncios de propagandas e placas neon de estabelecimentos, ou telões digitais e hologra-


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mas. Ambos aspectos são muito determinantes na composição das cidades nos dois filmes abordados anteriormente, Metrópolis (1927) e Blade Runner (1982). Nota-se que a influência da estética criada por Ridley Scott está presente em filmes até hoje, em 2018. Além da própria continuação dirigida por Denis Villeneuve, o Blade Runner 2049 (2017), outros exemplos são: Mudo (2018), dirigido por Duncan Jones e produzido pela Netflix, e Círculo de Fogo (2013), dirigido por Guillermo del Toro. O primeiro se passa em Berlim, em 2058, e o segundo não há especificação de cidade, porém pelos letreiros serem majoritariamente em mandarim, provavelmente se trata de alguma cidade da China, em 2025. Os dois repetem as características do meio urbano de Blade Runner, trazendo uma grande ocupação da rua tanto por pessoas quanto por quiosques de venda, além de evidenciar a altura de edifícios ao fundo.

Figura 37 Meio urbano em Mudo (2018) e em Cículo de

Fogo (2013)


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Apesar da reprodução do excesso de informação trazido pela quantidade de cabos, letreiros neon e luzes, em Círculo de Fogo isso não é ilustrado de forma decadente e escura, pelo contrário, a quantidade de luzes deixa a cidade mais colorida. Entretanto, ambos trazem um aspecto de mobilidade que aparece somente em Metrópolis: passarelas de passagem de pedestres entre prédios em diferentes níveis (Figura 37). O diretor Duncan Jones dá maior destaque para a ilustração de Berlim no futuro que, diferentemente das metrópoles chinesas atuais, por exemplo, hoje não possui um skyline verticalizado com uma grande quantidade de arranha-céus. A forma de mobilidade também é evidenciada, mostrando que ela se dá de forma aérea com carros voadores, bem como pelas extensas avenidas iluminadas (Figura 38).

Figura 38

Skyline de Berlim, em Mudo (2018) e na realidade (2013)


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Há também a representação de outra cidade europeia em Ares (2016), ilustrando Paris por volta de 2050. O filme, dirigido por Jean-Patrick Benes, retrata a França como um dos países mais pobres do mundo, com alta taxa de desemprego, e isso é refletido nas ruas da cidade. A vegetação urbana é quase completamente extinta, os parques agora estão tomados por ocupações de sem tetos, junto com uma grande quantidade de lixo empilhado nas calçadas (Figura 39). Isso contrasta diretamente com os telões digitais instalados em edifícios e monumentos históricos como a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo, ou seja, o grande avanço tecnológico alcançado é desproporcional à qualidade de vida e aos aspectos sociais da sociedade (Figura 40).

Figura 39 Ruas de Paris em Ares (2016)


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Figura 40 Torre Eiffel com telões digitais e a ocupação da população nas ruas

Alguns aspectos, assim como nos filmes anteriores, também se repetem: a verticalidade, com uma grande quantidade de arranha-céus envidraçados destacando as luzes internas, não respeitando mais o gabarito da parte histórica da cidade; e mobilidade através de passarelas construídas entre edifícios para a passagem de pedestres (Figura 41).


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Seguindo a mesma linha, há também A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell (2017), dirigido por Rupert Sanders, que é a versão live-action da animação japonesa de mesmo nome lançada em 1995. Assim, o filme de 2017 se baseia no cenário urbano de 1995, que por sua vez se inspira em fotos de Hong Kong para construí-lo. “A escolha da China como um país modelo de futuro não foi por mera preferência estética, mas dialoga diretamente com a questão do exacerbado avanço multicultural, tecnológico e econômico chinês das últimas décadas, que dão margem a especulações futuristas na arte e na vida real.” (BARDAOUIL, 2017, p. 48-49)

Portanto, mesmo reproduzindo as características de Blade Runner, como fizeram Mudo e Círculo de Fogo, em A Vigilante do Amanhã há algumas diferenças, como: representação da cidade à luz do dia, introdução de hologramas na paisagem urbana como exibição tecnológica (Figura 42), e ilustração de formas de mobilidade que não se dão pelo céu, mas através de avenidas elevadas que permeiam os edifícios, assim como em Metrópolis, feitas aparentemente em concreto (Figura 43).

Figura 41 Mobilidade e Verticalidade em Ares (2016)

Figura 42 Skyline de A Vigilante do Amanhã - Ghost in the Shell (2017) com hologramas


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Além disso, o filme ainda traz a decadência de outra maneira, contrastando o centro urbano, altamente tecnológico, com um bairro residencial. Sua imagem é ilustrada por altos edifícios multifamiliares, externamente desgastados, com a presença de muitos cabos e antigos aparelhos de ar-condicionado, em ruas e becos cheios de lixo e esgoto a céu aberto (Figura 44). Assim, a decadência de Blade Runner que era presente em toda a cidade, aqui se restringe apenas às zonas residenciais que ficam à margem do centro.

Figura 43 Avenidas elevadas


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Figura 44 Degradação em áreas residenciais


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Em Agente do Futuro (2014), dirigido por Gabe Ibáñez, há a representação de degradação semelhante. No filme, que se passa numa cidade não determinada no ano de 2044, há um muro separando o centro do município (também decadente, porém com presença de hologramas), de uma ocupação habitacional precária com uma extensão tão grande que poderia ser classificada como outra cidade (Figura 45). As habitações, bastante precárias são construídas com restos de materiais construtivos, de forma amontoada e com a presença de muito lixo espalhado entre elas (Figura 46). Assim, a decadência imaginada para o futuro se materializa em construções frágeis, ao contrário do que foi representado na cidade dos trabalhadores de Metrópolis e em Ghost in the Shell, em que ainda assim havia a ilustração de um alto edifício, mesmo que sua arquitetura não fosse expressiva ou tivesse uma estética degradada.

Figura 45 Separação do centro e da ocupação habitacional precária


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Já em Elysium (2013), a separação acontece entre o planeta Terra e a colônia construída em um satélite fora dela, de mesmo nome. Expandindo a ideia de divisão de classes, materializada espacialmente em Metrópolis e de forma menos explícita em Blade Runner, o diretor Neil Blomkamp transforma a Los Angeles de 2154 em uma cidade completamente precária. Os poucos arranha-céus existentes foram abandonados e, posteriormente, ocupados pela população remanescente do planeta, enquanto o resto da cidade é caracterizado por diversas casas amontoadas e visualmente inacabadas, semelhantes à uma favela (Figura 47). Aqui há um resgate do “retrofit” introduzido por Ridley Scott, em adaptar edifícios antigos para as novas necessidades da época, ou seja, a transformação dos arranha-céus corporativos em habitações. Assim, os habitantes sonham em ir para a colônia, associando-a com o Paraíso: um local com qualidade de vida, onde há um grande avanço tecnológico e científico, principalmente na área da saúde, e com a presença de vegetação que passou a ser inexistente no mundo.

Figura 46 Construções precárias com restos de materiais construtivos


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Figura 47 Los Angeles em 2154


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O diretor Steven Spielberg também imagina o futuro de forma pessimista retratando bairros pobres em alguma cidade no Estado de Ohio, nos Estados Unidos, em 2044. Porém, ao contrário dos filmes citados anteriormente, em Jogador Nº1 (2018), as moradias são ilustradas por uma nova forma construtiva. A representação traz de forma literal o conceito de edifícios multifamiliares, de modo que utiliza grandes estruturas de aço para possibilitar o empilhamento de trailers. Assim, cada família ocupa um andar diferente dentre as muitas estruturas levantadas de forma caótica próximas umas das outras, assim como uma Favela (Figura 48).

Figura 48 Trailers empilhados


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Indo para um caminho diferente de representação de cidade, Além da Escuridão - Star Trek (2013) traz Londres e São Francisco, em 2259. Mais uma vez a verticalidade é evidenciada, com a estética dos edifícios sendo bastante destacada durante o filme, com diversas imagens urbanas à luz do dia. Desse modo, é possível notar a inserção dos novos edifícios mantendo ainda os históricos, existindo assim, uma variação de formas, linhas e estilos na paisagem. Apesar disso, forma-se uma certa homogeneidade entre as novas construções, sendo difícil, inclusive, de distinguir as duas cidades retratadas entre si (Figura 49 e 50). Esse aspecto vem do fato de que prédios e torres parecem ter o mesmo sistema construtivo: estrutura metálica aparente em conjunto com a vedação de vidros em quase

Figura 49 e 50 Skyline de Londres em 2259 e Skyline de São Francisco em 2259


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todas as fachadas (Figura 49 e 50). Dessa forma, a tecnologia é exibida pela própria arquitetura, já que o uso do vidro exige um controle de luz e ventilação que podem ser feitos automaticamente, através dela, o que permite assim a sua utilização em abundância, além de propiciar um apelo estético. A escolha pelo sistema metálico se deve por ele viabilizar uma maior liberdade plástica, já que possibilita a construção de formas curvas e com maiores vãos de maneira rápida. O sistema também permite a ilustração de uma arquitetura paramétrica, o que evidencia a presença de novos métodos projetuais no futuro, até mesmo por ela se dar de forma completamente digital (Figura 49). A cobertura curva representada na imagem de Londres é rapidamente associada ao Centro Heydar Aliyev projetado pela Zaha Hadid em 2013 (Figura 51). Para alcançar essa forma, foram reunidos diversos parâmetros (carta solar, ventos predominantes, entre outros) que são transformados em algoritmos que geram um modelo geométrico digital. Isso cria uma forma invterligada que se comporta de modo simultâneo em qualquer alteração que se faça sobre ela, propiciando uma nova maneira de se pensar a elaboração e o processo de um projeto. Assim, a estética e o acabamento se dão pelo próprio material construtivo, o que justifica a homogeneidade da paisagem. Além disso, há ainda o resgate do próprio Movimento Futurista, assim como feito em Blade Runner, ao se pensar a arquitetura como um reflexo das máquinas, ou seja, espelhar o próprio avanço tecnológico em suas fachadas de estruturas aparentes.

Figura 51 Centro Heydar Aliyev, Zaha Hadid, 2013


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No meio urbano ilustrado ainda se percebe a representação de diversas formas de mobilidade: desde a aérea, ao veículo individual em avenidas, à transportes coletivos como bondes e VLT’s. Ainda que isso seja um resgate de Metrópolis, Star Trek se diferencia por ter a presença de vegetação por arborização, em canteiros e nos próprios edifícios, que são ilustrados com a prevalência de linhas e formas curvas ao contrário da geometria do Art Decó representado por Fritz Lang (Figura 52). Figura 52 Diversas formas de mobilidade


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Seguindo uma representação parecida, Advantageous (2015), sem especificar a cidade ou o ano, repete os aspectos de verticalidade, a aglomeração de arranha-céus e formas de mobilidade aéreas (Figura 53). Também mostrando o meio urbano à luz do dia, é possível notar a mesma homogeneidade de cor e formas na paisagem. Entretanto, a diretora Jennifer Phang insere uma nova representação arquitetônica, ilustrando uma forma tão orgânica que parece ser construída de forma biológica, assim como foi feito no Pavilhão Silk, projetado pelo MIT Media Lab’s Mediated Matter Group (Figura 54). Apesar de não haver semelhança plástica entre eles, o método projetual experimental consistia em utilizar o potencial do bicho da seda em produzir uma teia para revestir uma estrutura prévia. Essa indução de algo natural como a produção de seda para uma forma arquitetônica possibilita a criação de uma arquitetura mais próxima da natureza e que sua estética se assemelhe a essa ilustrada pelo filme (Figura 55).

“O Silk Pavilion é um exemplo de produção com base animal utilizada em uma escala arquitetônica. Consequentemente, não é difícil de um futuro no qual edifícios podem crescer e se modificar organicamente com o passar do tempo.” (RAWN, 2014)

Figura 53 Skyline com homogeneidade de cor e formas


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Figura 54 e 55 Pavilhão Silk e Nova representação arquitetônica

Apesar do número de filmes que foram levantados que retratassem o futuro ser considerável em quantidade, os que efetivamente ilustravam a cidade como uma evolução do presente foram muito poucos. Nos últimos cinco anos a ideia de sair do planeta tem aumentado, somado à retratação do mundo em completo caos, com crises climáticas que geram uma completa destruição, ou fazem com que não exista mais recursos naturais, como a impossibilidade do cultivo de alimentos e a falta de água disponível. Essas ideias podem ser originadas pelo avanço da exploração de Marte, com o


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envio de sondas como a Curiosity em 20121, que tinha o objetivo de analisar o solo e permitir que novas sondas pudessem procurar a existência de vida no planeta. Isso culminou na descoberta de água líquida em julho desse ano, divulgada pela Nasa. Já em 2015, em Paris houve um acordo promovido pela ONU2 com o objetivo de fazer com que os países se comprometessem mais uma vez em diminuir a emissão de gases de efeito estufa. Essa determinação é uma tentativa de limitar o aumento da temperatura do planeta até 2030 em apenas 1,5 °C pois, caso esse valor seja extrapolado, há um alto risco de perda de ecossistemas, extinção em massa de espécies, entre outras consequências irreversíveis. Alguns efeitos do aumento do aquecimento global já podem ser sentidos, como no ano de 2017 em que ocorreu o crescimento da média de furacões por ano3. Isso acaba sendo ocasionado pelo aumento da temperatura da água dos oceanos, reflexo direto do aumento de temperatura do planeta. Esse fato já havia sido alertado por outro relatório da ONU4 em 2015, em que o crescimento da quantidade de desastres naturais é apontado em relação as últimas três décadas. Isso acaba provocando um grande impacto no setor agrícola, o que interfere, consequentemente, na erradicação da fome e da pobreza nos países em desenvolvimento. A previsão de superpopulação também é afirmada pela ONU5 segundo um relatório divulgado por eles em 2017, que diz que em 2050 o mundo terá 9,8 bilhões de pessoas. É estimado que ocorra um crescimento na expectativa de vida ao mesmo tempo que tenha um aumento exacerbado de habitantes em países subdesenvolvidos, como a Nigéria e a Índia. Ainda que a taxa de natalidade tenha a tendência a diminuir no mundo inteiro, como aconteceu entre 2010-2015 em comparação com 2000-2005, a discrepância desse crescimento entre países é muito grande. Assim, o relatório indica que o impacto do fluxo migratório pode ajudar a compensar essa diferença, principalmente na região europeia em que o envelhecimento da população é uma realidade. Fluxo esse, que só tem aumentado nos últimos anos principalmente no Oriente Médio, com a instabilidade de governos na Primavera Árabe à guerra na Síria, em que a ONU contabilizou a saída de 4,2 milhões de pessoas entre 2010 a 2015.

1 Dado pode ser consultado em: <https://www.terra.com.br/noticias/ciencia/infograficos/curiosity/> 2 Mais informações em: <http://www.mma.gov.br/clima/convencao-das-nacoes-unidas/acordo-de-paris> 3 Mais informações em: <https://nacoesunidas.org/aumento-de-desastres-relacionados-as-mudancas-climaticas-ameaca-seguranca-alimentar-alerta-onu/> 4 Pode ser consultado em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2018/10/08/interna_internacional,995508/especialistas-da-onu-pedem-mudancas-sem-precedentes-para-limitar-mud.shtml> 5. Mais informações em: <https://nacoesunidas.org/apesar-de-baixa-fertilidade-mundo-tera-98-bilhoes-depessoas-em-2050/>


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Além disso, cada vez mais o futuro é representado igual ao presente, deixando a ilustração de outra temporalidade não ser pautada somente pelo meio urbano, e sim pela inserção de tecnologias no cotidiano, desde a automação de cortinas até design diferentes de carros. Um exemplo disso é a construção do filme Ela (2013) em que o diretor Spike Jonze não só ilustra uma realidade tecnológica, mas também utiliza recursos como o uso de cores nos espaços junto com algumas particularidades nos figurinos. Como ele coloca esses detalhes de uma maneira que não é utilizada hoje, isso faz com que se crie uma atmosfera futurista de forma sutil. Já para o espaço urbano são feitas imagens em Shangai, na China, para ilustrar a Los Angeles do futuro (Figura 56). Figura 56 Espaço urbano e interno do filme Ela (2013)


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Isso é resultado, na verdade, da nossa própria realidade. Metrópolis e Blade Runner, cada qual a sua época, se espelharam nas grandes metrópoles para a construção de suas cidades, utilizando elementos já existentes e aumentando-os, como a altura exagerada vinda dos arranha-céus de Nova Iorque e o excesso de informação vinda das grandes cidades orientais, como Hong Kong e Tóquio. Portanto, em geral, o que foi aumentado não foram arquiteturas inovadoras ou diferentes desenhos urbanos, mas sim a quantidade de moradias precárias existentes. Até mesmo a contínua reprodução da estética criada por Ridley Scott, baseada nas cidades dos anos 80, reflete que as cidades contemporâneas não sofreram modificações significativas, fazendo com que essa imagem ainda seja crível como futuro. Portanto, utilizando a premissa que a ficção científica usa o futuro como metáfora para refletir os medos e anseios do presente, é possível afirmar que vivemos em um limiar entre a completa degradação do planeta, com a única solução para as cidades ser a sua construção do zero, ou então que os espaços urbanos tenham a inserção de arquiteturas com novos métodos de projeto e formas de mobilidade. Por isso que os únicos filmes que mais fogem da estética de Blade Runner são Além da Escuridão – Star Trek (2013) e Advantageous (2015), justamente por introduzirem novos métodos de se pensar o projeto, através da Parametria e da Arquitetura Biomimética. O avanço tecnológico por si só não é suficiente para a representação de novas arquiteturas se a forma de se pensar, projetar e construir for igual a que temos hoje. É necessário fazer com que esses aspectos caminhem juntos, para que então os avanços que se queiram representar sejam proporcionais entre si, de forma que o espaço urbano também seja espelho da evolução do desenvolvimento projetual arquitetônico, e também social.



4

FUTURO


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Figura 57

LINHA DO TEMPO

1900 - 1930 Fim II Revolução Industrial

I Guerra Mundial História

1914 - 1918

Modernismo Arquitetura

Guerra Fria

Pós-Modernismo

Subúrbios

1929

1950

1910

1909

II Guerra Mundial

1939 1939 - 1945 1945

Movimento Futurista Art Decó Arte

1940 -

Contemporânea

1920

1950

Expressionismo Neorrealismo Alemão Italiano Metropolis Cinema

1920

1927

Pop Art Op Art Minimalismo

1960 Nova

Nouvelle HollyVague wood

1945 1950 1960


FUTURO | 85

1990 - 2010

1980 Conferência de Estocolmo

Crises do Petróleo

1972

1973-4 1979-80

Fim Guerra SustentaFria e URSS bilidade 1991

2000

Tratado de Paris 2015

Arq. Biomimética Parametricismo

Desconstrutivismo Novo Urbanismo 1980

2008

Street Art Neoexpressionismo 1970

Blade Runner

Dogma 95

1982

1990

2013


86 | CAPÍTULO 4

4.1 CONCLUSÃO

Utilizando a linha do tempo construída como referência somada a análise dos filmes, pode-se então apontar os elementos e aspectos que se repetem e são determinantes na representação de modificação do espaço urbano:

- Formas de mobilidade Introduzida por Metrópolis, as diversas possibilidades de locomoção destacadas são sempre associadas aos diferentes de níveis da cidade e, consequentemente, a verticalização. Até hoje, sempre que existe a ilustração de alguma forma distinta de mobilidade, ela acontece em um nível acima, de forma aérea, como: ruas elevadas; passarelas que permeiam edifícios ou fazem uma ligação entre eles; e até mesmo a figura do veículo voador. Como forma de ilustração do espaço urbano, esses elementos acabam sempre aparecendo junto com a representação de vida noturna, de um modo que as luzes ajudam a evidenciar os aspectos construídos, de mobilidade e de altura dos muitos edifícios. Assim, é essa a combinação que ainda permanece como significação de tecnologia e progresso. - Questões sociais A diferença social, também muito marcada por Metrópolis e determinante na construção de sua cidade, aparece de forma menos explícita em Blade Runner e atualmente volta a ter relevância sendo ilustrada de outro modo. Nos dois primeiros filmes isso é evidenciado através da representação de uma concentração de poder em um único edifício monumental. Esse aspecto acaba sendo abandonado hoje, principalmente pelas formas de trabalho também terem sido modificadas. Metrópolis traz uma visão de trabalho industrial em série que mantém a cidade funcionando de forma literal, enquanto Blade Runner já traz a ideia de trabalho mais especializado com a introdução de tecnologias e, com isso, faz surgir novas profissões. Assim, isso reflete diretamente no modo em que as pessoas utilizam a cidade, o que primeiramente fazia dela somente um corredor, no filme de 1982 já aparece com a ocupação da rua, que se torna o novo local de trabalho da maioria da população. Essa for-


FUTURO | 87

ma de ilustração de trabalho continua nos filmes atuais, porém a diferença social acentuada trazida por Metrópolis é resgatada, mostrando ocupações precárias na própria rua ou então separando o centro tecnológico das áreas residenciais marginalizadas. - Questões ambientais As pautas ambientais bastante salientadas por Blade Runner em representar as consequências da produção desenfreada da época (anos 80) no espaço urbano permanecem atualmente. A degradação e o abandono das cidades, também provenientes da diferença social, fazem com que a ideia de desabitar a Terra e formar colônias em satélites ou em outros planetas ainda sejam reproduzidas, somada, é claro, as condições ambientais representadas de forma a reiterar essa desocupação. Com isso, a falta ou a pouquíssima presença de vegetação na representação de cidades é quase uma regra desde Metrópolis.

Tabela 1 Elementos de modificação do espaço urbano em relação aos filmes

METROPOLIS (1927)

BLADE RUNNER (1982)

HOJE

VERTICALIZAÇÃO

X

X

X

FORMAS DE MOBILIDADE

X

X

X

MONUMENTALIDADE

X

X

_

VIDA NOTURNA

X

X

X

DIFERENÇAS SOCIAIS

X

X

X

PROBLEMAS AMBIENTAIS

_

X

X

DEGRADAÇÃO

_

X

X


88 | CAPÍTULO 4

Portanto, as formas de representação urbanas e arquitetônicas nos filmes funcionam como um modo de comunicar os aspectos do enredo, cada qual com uma possibilidade de futuro diferente, baseadas nos medos e anseios de cada época.

“Talvez os casos mais fascinantes - aqueles para os quais o termo ‘film architecture’ parece mais adequado - sejam aqueles cuja arquitetura é criada para um filme em particular e existe apenas para e através do filme, mas que, no entanto, reflete e contribui para debates arquitetônicos contemporâneos. Em tais ocasiões, a mídia de massa do filme pode desempenhar um papel importante na recepção, crítica e disseminação de ideias arquitetônicas.”(NEUMANN, 1999, p. 8, tradução da autora)

Assim, através do cinema é possível começar debates em questões de como serão as nossas cidades, os edifícios em que iremos habitar, de que forma nos deslocaremos por ela, quais serão as novas formas de trabalho e em que sociedade queremos viver. E é pelo entendimento do passado, em uma análise contextualizada e pela origem e formulação das representações que se compreende o quão mutável é o presente. Por meio da linha do tempo feita desde a formação das grandes metrópoles até hoje, entende-se a evolução de pensamento e as diversas concepções do futuro ao longo dos anos. Logo, pensar o futuro não é fazer uma adivinhação, mas sim escolher onde se quer chegar e perceber quais ações terão que ser tomadas no presente para construí-lo. O papel do arquiteto frente a isso é ter essa compreensão do todo junto com um eterno questionamento e inquietação com o presente, não abandonando jamais a imaginação e a experimentação do que se quer alcançar.




5 REFERÊNCIAS



REFERÊNCIAS | 93

REFERÊNCIAS ICONOGRÁFICAS

Figura 1 e 2. Fonte: <https://martavelascoponcela.wordpress.com/2012/10/01/the-20%C2%B4s-in-new-york-ii/> Figura 3. Fonte: <https://www.zeit.de/online/2008/28/bg-metropolis2> Figura 4. Fonte: Fotogramas do filme Metrópolis (Fritz Lang, 1927) Figura 5. Fonte: <https://www.nycsubway.org/wiki/New_York%27s_Subway_In_ Operation_(1904)> Figura 6, 7 e 8. Fonte: Fotogramas do filme Metrópolis (Fritz Lang, 1927) Figura 9. Fonte: < https://br.pinterest.com/pin/634796509946492648/?lp=true> Figura 10. Fonte: <http://www.fanboy.com/2010/02/fritz-lang.html> Figura 11. Fonte: Fotogramas do filme Metrópolis (Fritz Lang, 1927) Figura 12. Fonte: <http://sabismoinfinito.files.wordpress.com201012filme-metropolis.jpg> Fotogramas do filme Metrópolis (Fritz Lang, 1927) Figura 13. Fonte: Fotogramas do filme Metrópolis (Fritz Lang, 1927) Figura 14. Fonte: <http://www.akpool.co.uk/postcards/26894254-postcard-berlin-kreuzberg-blick-zur-hochbahn-ueber-dem-anhalter-bahnhof> Figura 15. Fonte: <http://photographyinterviews.blogspot.com/2011/04/walter-chandoha-city-streets-numbers.html>


94 | CAPÍTULO 5

Figura 16, 17, 18 e 19. Fonte: Fotogramas do filme Metrópolis (Fritz Lang, 1927) Figura 20, 21, 22, 23, 24 e 25. Fonte: Fotograma do filme Blade Runner (Ridley Scott,1982) Figura 26. Fonte: <http://cafesempo.com.br/hong-kong-anos-70/> Figura 27. Fonte: <https://i.pinimg.com/originals/e2/37/a5/e237a5b0775d8e7a3837e21f57492621.jpg> Figura 28. Fonte: Fotograma do filme Blade Runner (Ridley Scott,1982) Figura 29. Fonte: < https://whc.unesco.org/en/list/483> Figura 30. Fonte: < http://www.chriskuzneski.com/virtual/the-death-relic_files/warriors.jpg> Figura 31, 32, 33, 34, 35 e 36. Fonte: Fotograma do filme Blade Runner (Ridley Scott,1982) Figura 37. Fonte: Fotogramas do filme Mudo (Duncan Jones, 2018) e Círculo de Fogo (Guillermo del Toro, 2013) Figura 38. Fonte: Fotograma do filme Mudo (Duncan Jones, 2018) e Berlin: Photographs by Wolfgang Scholvien, 2013 Figura 39, 40 e 41. Fonte: Fotogramas do filme Ares (Jean-Patrick Benes, 2016) Figura 42, 43 e 44. Fonte: Fotograma do filme A Vigilante do Amanhã – Ghost in the Shell (Rupert Sanders, 2017) Figura 45 e 46. Fonte: Fotograma do filme Agente do Futuro (Gabe Ibáñez, 2014) Figura 47. Fonte: Fotogramas do filme Elysium (Neil Blomkamp, 2013) Figura 48. Fonte: Fotogramas do filme Jogador Nº1 (Steven Spielberg, 2018) Figura 49 e 50. Fonte: Fotogramas do filme Além da Escuridão – Star Trek (J. J. Abrams, 2013) Figura 51. Fonte: < https://www.theengineer.co.uk/engineering-grandest-architectural/>


REFERÊNCIAS | 95

Figura 52. Fonte: Fotogramas do filme Além da Escuridão – Star Trek (J. J. Abrams, 2013) Figura 53. Fonte: Fotograma do filme Advantageous (Jennifer Phang, 2015) Figura 54. Fonte: <https://www.archdaily.com.br/br/01-122777/pavilhao-silk-slash-mit-media-lab/51b0f8bab3fc4b225b000239-silk-pavilion-mit-media-lab-photo> Figura 55. Fonte: Fotograma do filme Advantageous (Jennifer Phang, 2015) Figura 56. Fonte: Fotogramas do filme Ela (Spike Jonze, 2013) Figura 57. Fonte: Imagem produzida pela autora

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FILMOGRAFIA

12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição. Dir. James DeMonaco, 2016. Universal Pictures Advantageous. Dir. Jennifer Phang, 2015. Agente do Futuro. Dir. Gabe Ibáñez, 2014. Green Moon Além da Escuridão: Star Trek. Dir. J.J. Abrams, 2013. Paramount Pictures Arès. Dir. Jean-Patrick Benes, 2016. Albertine Productions Blade Runner. Dir. Ridley Scott, 1982. The Ladd Company Blade Runner 2049. Dir. Denis Villeneuve, 2017. Alcon Entertainment Círculo de Fogo. Dir. Guillermo del Toro, 2013. Warner Bros. Pictures O Doador de Memórias. Dir. Phillip Noyce, 2014. Tonik Productions Divergente. Dir. Neil Burger, 2014. Summit Entertainment Ela. Dir. Spike Jonze. 2013. Annapurna Pictures


REFERÊNCIAS | 99

Elysium. Dir. Neill Blomkamp, 2013. TriStar Pictures Fahrenheit 451. Dir. Ramin Bahrani, 2018. HBO Films Han Solo: Uma História Star Wars. Dir. Ron Howard, 2018. Lucasfilm Jogador Nº 1. Dir. Steven Spielberg, 2018. Amblin Entertainment Jogos Vorazes. Dir. Gary Ross, 2012. Lionsgate Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1. Dir. Francis Lawrence, 2014. Lionsgate Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 2. Dir. Francis Lawrence, 2015. Lionsgate Jogos Vorazes: Em Chamas. Dir. Francis Lawrence, 2013. Lionsgate Mad Max: Estrada da Fúria. Dir. George Miller, 2015. Warner Bros. Pictures Maze Runner: A Cura Mortal. Dir. Wes Ball, 2018. Gotham Group Maze Runner: Correr ou Morrer. Dir. Wes Ball, 2014. Twentieth Century Fox Maze Runner: Prova de Fogo. Dir. Wes Ball, 2015. Gotham Group Metropolis. Dir. Fritz Lang, 1927. UFA Mudo. Dir. Duncan Jones, 2018. Liberty Films UK O Paradoxo Cloverfield. Dir. Julius Onah, 2018. Paramount Pictures Perdido em Marte. Dir. Ridley Scott, 2015. Twentieth Century Fox Planeta dos Macacos: A Guerra. Dir. Matt Reeves, 2017. Twentieth Century Fox Planeta dos Macacos: O Confronto. Dir. Matt Reeves, 2014. Chernin Entertainment RocoCop. Dir. José Padilha, 2014. Metro-Goldwyn-Mayer (MGM) Rogue One: Uma História Star Wars. Dir. Gareth Edwards, 2016. Lucasfilm


100 | CAPÍTULO 5

Rua Cloverfield, 10. Dir. Dan Trachtenberg, 2016. Paramount Pictures A Série Divergente: Convergente. Dir. Robert Schwentke, 2016. Mandeville Films A Série Divergente: Insurgente. Dir. Robert Schwentke, 2015. Summit Entertainment Star Wars: Os Últimos Jedi. Dir. Rian Johnson, 2017. Lucasfilm Star Wars: O Despertar da Força. Dir. J.J. Abrams, 2015. Lucasfilm Star Trek: Sem Fronteiras. Dir. Justin Lin, 2016. Paramount Pictures Os Tempos Modernos. Dir. Charles Chaplin, 1936. Charles Chaplin Productions Uma Noite de Crime. Dir. James DeMonaco, 2013. Universal Pictures Uma Noite de Crime: Anarquia. Dir. James DeMonaco, 2014. Universal Pictures A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell. Dir. Rupert Sanders, 2017. Paramount Pictures




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