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1. A SEMANA ENQUANTO UNIDADE ESTRUTURAL DE PLANEAMENTO

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NOTA INTRODUTÓRIA

NOTA INTRODUTÓRIA

Existem diversas metodologias para desenvolver as competências de uma equipa de futebol, tornando‑a mais competitiva. Julgamos que a pretensão de colocar a metodologia à frente de tudo não faz sentido. Isto é, distingui‑la como principal fator de sucesso de uma equipa, quando nos identificamos com essa forma de intervenção – ou fazer o oposto, atribuindo culpas a outra metodologia, da qual não somos apologistas, perante o insucesso de uma equipa que a utiliza.

A metodologia serve o propósito de nos permitir selecionar ferramentas efe tivas para comunicar as ideias aos jogadores, potenciando o rendimento indivi dual e coletivo ao seguir e respeitar um conjunto de regras e procedimentos que salvaguardem as estruturas biológicas dos atletas. É um meio para alcançarmos o sucesso1 e não um fim em si mesma.

Acreditamos que a metodologia pode ser adaptada a situações distintas com as quais nos vamos deparando ao longo da carreira desportiva, em função de inúmeros constrangimentos (culturais, desportivos, climatéricos), não sendo estanque e estando constantemente aberta à crítica, podendo ainda ser cons truída com contributos de diferentes correntes metodológicas. Contudo, estas atualizações não devem acontecer por uma questão de moda ou por qualquer outro aspeto acessório, mas porque trazem mais‑valia ao nosso processo de trei no, mantendo uma base metodológica robusta com opções fundamentadas.

O que procuramos no treino em futebol é desenvolver uma identidade coletiva2, assente numa determinada forma de jogar, priorizando a comunicação das ideias através dos comportamentos táticos que pretendemos implementar a

1 O sucesso pode ser medido de várias formas, em função da realidade competitiva em que estamos inseridos. Pode tratar‑se de alcançar determinados objetivos desportivos, acrescentar valor monetário a uma equipa ou introduzir conceitos a uma equipa de formação, contribuindo para o desenvolvimento do jovem praticante.

2 Dentro desta identidade, tem de haver espaço para o desenvolvimento de competências indi viduais, dotando o jogador de mais recursos técnico‑táticos, tornando‑o mais competente na resolu ção de problemas no jogo e, consequentemente, contribuindo para a melhoria da equipa.

Tabela 1.1. | Exemplo dos comportamentos a abordar numa semana de treino com jogos ao domingo. Aqui, entra o jogo anterior sempre numa lógica de correção dos aspetos mais negativos e de reforço dos comportamentos pretendidos pelo treinador.

Domingo

Sábado (1 dia)

Jogo

Tempo de reação

6.ª-feira (2 dias)

5.ª-feira (3 dias)

4.ª-feira (4 dias)

3.ª-feira (5 dias)

2.ª-feira (6 dias)

Domingo

Velocidade específica

Resistência específica

Força espe ‑ cífica

Descanso

Regenerativa/ /Resistência específica

Individual

Sectorial, indi vidual, grupal

Bolas paradas

Bolas paradas (adversário)

Complemen tares, lúdicos, meiinhos, bolas paradas, episódicos

Complemen tares, meiinhos, circulações táticas, jogos reduzidos, bolas paradas, episódicos

Coletivo

Sectorial, indi vidual, grupal

Adversário

Último jogo

Jogos posicio nais, suces sivos, MPB, situações de jogo

Complemen tares, meiinhos com transição de espaços, jo gos reduzidos

Sectorial, individual

Meiinhos, jogos de posição, jogos reduzidos

Jogo

Dominante

Conteúdos

Dimensão dentro da equipa

Adaptação (vertente estratégica)

Análise de vídeo com jogadores

Exercícios-tipo

Intensidade  –Baixo;  –Alto;  –Muito baixo;  –Muito alto;  –Ausente;  –Presente.

Partes constituintes da sessão de treino

O treino deve ser composto por várias partes que tenham algumas diferenças en tre si, obedecendo a princípios fisiológicos (por exemplo, aquecimento e retorno à calma, em que o organismo passa do estado de repouso ao de atividade e, de pois deste último, ao repouso novamente) e também pedagógicos, direcionando o foco dos nossos jogadores para os comportamentos pretendidos, com vista a predispor os atletas para a aquisição de conteúdos ao longo do treino.

Verticais e rápidos (ataque e TDA)

Espaço para ligações interiores

Espaço entrelinhas

TDA equipa muito alongada

Comportamentos do DL

Ocupação defensiva do 2.º porte

Dificuldades de ligação da 1.ª com a 2.ª fase

Muitos jogadores em apoio (equipa partida)

Ligação da construção com a criação

Pouco critério na criação

Equipa muito alongada e pouco pressionante

Desorganização da linha defensiva

Figura 2.3. | Exemplo de comportamentos observados na própria equipa (cinza claro) e no adversário (cinza escuro) que poderão ser trabalhados ao longo da semana, em função do binómio identidade/adaptação. A partir daqui, podemos estabelecer objetivos para a semana.

Preferimos uma estrutura tripartida, adaptada a partir de vários modelos de estruturação das aulas de educação física, dividindo a sessão de treino em três partes, que diferem entre si pelos objetivos, pelo tipo de tarefas que as constitui (em função do grau de prontidão dos jogadores), mas que se sucedem de forma integrada e não devendo ser encaradas de forma estanque8.

Parte inicial

A parte inicial deve contemplar uma breve introdução dos objetivos do treino e a explicação dos exercícios da parte principal, para direcionar o foco dos joga portador rapidamente em resposta à circulação do adversário, naturalmente temos de contemplar no nosso modelo de treino situações que promovam este tipo de ações, através da criação de exercícios‑tipo que depois poderão ser desenvolvidos com variantes e/ou progressões. Esses comportamentos devem ser hierarquiza dos e introduzidos ao longo da época em função de várias condicionantes, como, por exemplo, das aquisições prévias, do sucesso ou insucesso até ao momento na época ou mesmo da preparação para um jogo contra um adversário em que o treinador considere que a introdução de determinados princípios seja benéfica.

8 Ver, por exemplo, Castelo (2013), que propõe um modelo que divide a sessão de treino em futebol em quatro partes constituintes. O programa Grassroots da FIFA também propõe uma divisão em partes no treino com crianças e jovens.

Quadro 3.1. | Resumo de algumas considerações que contemplamos na criação do modelo de treino.

• Trabalhar aspetos de organização defensiva e ofensiva

Potenciar a ideia coletiva a cada jogo, aproveitan do as características e capacidades dos joga dores

•  Garantir equilíbrio em todos os momentos de jogo como pla taforma para desenvolver comportamentos

•  Criar contextos que possibilitem o desenvolvimento de um modelo, garantindo liberdade aos jogadores e aproveitando as suas características e rotinas de clube

•  Consolidar o modelo de jogo ao longo das competições em que estamos envolvidos

• Conhecer as características do adversário

Explorar as fraquezas no adversário, conciliando as com a maior estimu lação, a cada jogo, de comportamentos que vão ao encontro das la cunas detetadas

Rentabilizar o tempo da melhor forma possível, articulando os treinos com outra informação complementar, para pas sar a informação de for ma inteligível

•  Explorar eventuais fraquezas, usando preferencialmente com portamentos inseridos no modelo de jogo

•  Antecipar pontos fortes do adversário, mostrando vídeos e dando soluções dentro do modelo de jogo

•  Articular de forma coerente identidade (modelo) e adaptação (estratégia)

• Treinar focando aspetos de diferente dimensão de organização dentro do coletivo: grupal, sectorial, intersectorial, coletiva e individual

•  Potenciar a aquisição de comportamentos, com divisão da equipa em grupos funcionais

•  Usar momentos de vídeo para análise do adversário, da própria equipa em jogo e dos treinos, contrapondo os comportamen tos esperados com os efetuados, numa lógica de correção

O modelo de treino deve levar em consideração as contingências próprias de cada equipa, de modo que o treinador as consiga antecipar, arranjando alternativas. Por exemplo, uma equipa pode ter um calendário extremamente sobrecarregado e, em função dessa contingência, precisar de respeitar o tem po de recuperação entre jogos, mas procurando treinar num regime diferente.

Pegando neste exercício, pode mos construir uma variante (Figura 4.3.) na qual vamos alterar a forma de finalização da equipa preta, que, além de ter de defender a baliza, tem quatro minibalizas onde deve tentar marcar. Esta alteração pro voca comportamentos diferentes na equipa preta que, além do foco na organização sectorial defensi va, tem de explorar o momento de TDA ou o ataque (mais difícil) para finalizar nas minibalizas. Também os brancos vão ter de reagir à per da da bola e focar‑se em defender as quatro minibalizas. Logo, com esta variante, estamos a solicitar a ambas as equipas um maior leque de comportamentos expectáveis de ser desenvolvidos pelo exercício. Relativamente ao exercício ori ginal, podemos criar uma progressão, acrescentando dois médios à equipa preta e dois DL à equipa branca (Figura 4.4.). Com esta mu dança no número de jogadores, es tamos a focar‑nos, na equipa preta, na ligação intersectorial defensiva entre a linha de quatro defesas e os dois MI. Por seu turno, nos brancos, introduzimos alguns comportamentos du rante o ataque, nomeadamente na ocupação dos espaços e ações entre os DL e os MA. O seu funcionamento é idêntico, mantemos os comportamentos preten didos no exercício inicial e acrescentamos alguns novos.

Caso optemos por alterar condicionantes como, por exemplo, a estrutura e o número de jogadores, já consideramos um novo exercício, que vai implicar uma dinâmica diferente (Tabela 4.1.).

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