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VILA ZELINA,
A LITUÂNIA NO BRASIL
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Autor Raphael Taets
Arte de Capa Victor Hugo Silva
Diagramação Carolina Farias
Orientação Denise Paiero
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Agradecimentos
Em primeiro lugar, aos meus pais, Mauro e Simone, base de tudo o que sou e pessoas em quem me inspiro para ser cada vez melhor. Obrigado pelo amor e pela confiança que sempre depositaram em mim, além do apoio incondicional durante todo o curso. Espero me tornar alguém tão incrível quanto vocês. Ao meu irmão, Andre Taets, e meu melhor, amigo Victor Paiva, que estão comigo desde que posso me lembrar. Ter pessoas com quem contar e em quem confiar é algo muito difícil, mas por sorte, vocês sempre estiveram por perto. Aos meus avós, imigrantes e descendentes diretos deles, por todo o aprendizado concedido. Sem vocês eu não seria capaz de entender tão a fundo o sentimento de ter que deixar a própria pátria em busca de melhores oportunidades de vida para a família. Vocês me inspiraram a realizar este trabalho. 5
À minha namorada, Isabella Jarrusso, pelo incentivo nos momentos mais difíceis. Você foi a responsável por me manter nos trilhos e permitir que chegasse a meu objetivo. À minha orientadora, Denise Paiero, pelos meses de trabalho em equipe, suporte e incentivo. Este trabalho também não existiria sem você. Aos meus professores, por todo o conhecimento e vivência compartilhados. Levarei cada um de vocês comigo enquanto exercer minha profissão. À Universidade Presbiteriana Mackenzie, pelos quatro anos muito puxados – mas bem aproveitados. Espero que nossos caminhos se cruzem novamente num futuro próximo. À minha amiga, Carolina Farias, que salvou a diagramação do livro nos últimos minutos e tornou esta obra possível. E aos meus colegas de curso, (e em especial, Victor Silva, Douglas Oliveira, Aline Oliveira, Victoria Köhler, Mariana Perbone) pela amizade e troca de experiências engrandecedoras. Sem vocês, a graduação teria sido, sem dúvidas, muito mais árdua e sem graça. 6
Dedicatória
À comunidade lituana no Brasil, que espero ter representado da melhor forma possível. Este trabalho foi feito por vocês e para vocês. E que sua importância na sociedade brasileira possa ser reconhecida por meio destas páginas. A todos os demais imigrantes, independente do país, etnia, credo, idioma ou origem social. As barreiras geográficas nunca devem ser mais fortes do que o amor de uma pessoa por seus semelhantes. Indivíduos podem e devem migrar para onde quiserem e pelas razões que sejam necessárias. Dedico, também, à minha família, base de tudo que sou hoje, e em especial a meu avô, Urbino Jorge, imigrante português da Ilha da Madeira. Foi ele quem me ensinou que “pessoa alguma pensaria em deixar sua terra natal caso não fosse esta a única alternativa”. Sua história, de certa forma, também está representada nestas páginas e seus ensinamentos serão sempre um dos meus maiores tesouros. 7
Por fim, dedico este trabalho a todos que participaram direta e indiretamente dele, com apoio, supervisão ou participação ativa em entrevistas e diagramação. Vocês são parte disso e é por cada um de vocês que me mantive firme e segui em frente.
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Sumário
1 – TEMPOS DIFÍCEIS, DECISÕES ARRISCADAS
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2 – A CHEGADA À TERRA DE OPORTUNIDADES
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3 – O NASCIMENTO DO BAIRRO DE VILA ZELINA
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4 – VILA ZELINA, LAR DOCE LAR
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5 – O RETORNO QUE, PARA MUITOS, NUNCA
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OCORREU 6 – CORRESPONDÊNCIAS AOS FAMILIARES
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7 – OS ANOS FESTEIROS DO BAIRRO
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8 – A JUVENTUDE LITUANA NA VILA ZELINA
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9 – OS ESCOTEIROS E A COMIDA DE GRAÇA
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10 – SEGUNDA INDEPENDÊNCIA, IMPORTANTES
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RETORNOS 11 – A VILA ZELINA CONTINUA VIVA
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Apresentação
Este livro-reportagem foi pensado e produzido com o objetivo de preservar e disseminar a história do bairro de Vila Zelina, na Zona Leste da cidade de São Paulo, fundado por imigrantes da Lituânia que vieram para o Brasil fugindo da guerra e da fome na segunda metade da década de 1920. As tradições, costumes e cultura trazidas por este povo distante foram mantidas entre os primeiros moradores da região e, de certa forma, perpetuadas até os dias atuais – é impossível dizer que não houve hibridização cultural, por conta da dominante cultura brasileira e a constante sobreposição à estrangeira –, algo de que os atuais integrantes da comunidade se orgulham muito. Meu interesse pela colônia lituana em São Paulo se deu pelo fato de eu ser descendente de imigrantes da Estônia, também integrante do grupo de países bálticos. Acredi11
tava que, com o jornalismo, poderia, de alguma forma, retratar a história tão semelhante à da minha família, de pessoas que abandonaram a terra natal e rumaram a um país muito distante para tentar melhorar as condições de vida. Era uma espécie de dívida que eu estaria sanando. E para que o conteúdo deste livro-reportagem fosse algo realmente relevante e que simbolizasse o mais verdadeiramente possível o sentimento daqueles imigrantes e seus descendentes, decidi colocar as impressões e pontos de vista de cada personagem em primeiro plano, não me atendo simplesmente a registros históricos – embora tenha feito parte do embasamento com auxílio deles para que a obra não se tornasse algo fantasioso. Desta maneira, pode-se dizer que o resultado alcançado é a história da Vila Zelina pelos olhos e memórias daqueles que ajudaram a construir toda esta trajetória. O livro traz a contextualização histórica da Lituânia em alguns períodos, como o momento da vinda dos primeiros imigrantes e os períodos de guerra subsequentes, para que possam ser observados os reflexos que eles tiveram no bairro, tão distante geograficamente, mas próximo em coração e 12
alma. As personagens, escolhidas de acordo com seu grau de envolvimento com a comunidade lituana, tiveram destaque nas atividades de maior domínio e autoridade pessoal, de forma a, juntas, montarem um grande mosaíco do que foram os já 90 anos de Vila Zelina. Que a comunidade lituana possa aproveitar deste registro histórico e sentimental de sua própria trajetória em São Paulo e do bairro que, mais que todos, podem chamar de lar. E que o jornalismo, mesmo atravessando tempos difíceis, não perca a sua essência de dar voz às pessoas mais simples e contar as memórias de cidadãos comuns, mas que possuem sua importância para a compreensão de um todo tão complexo. O jornalismo informa, educa e preserva conhecimento e cultura através dos anos, e torço muito para que estas páginas tenham cumprido, também, esta missão.
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Tempos Difíceis, Decisões Arriscadas
Era inverno 1 na Europa. Na região do mar báltico, as vastas e verdejantes florestas que outrora pulsavam e vibravam infinitas tonalidades, emanando vida de si, agora sustentavam, em suas folhas e galhos, uma espessa e mórbida camada de gelo, que parecia, a todo custo, querer por abaixo cada uma das árvores e findar a beleza daquele lugar. Os lagos, igualmente afetados pelo clima, apresentavam a superfície totalmente solidificada, inerte até mesmo quando assolada pelas rajadas de vento mais cruéis. O ambiente inóspito, inclusive, deixara de abrigar as majestosas cegonhas-brancas, que por ali ficaram durante O ano em que se passam os fatos é 1927, treze anos antes de nova invasão sofrida pela Lituânia, que desta vez, ficaria sob o comando da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. O país estava afundado em crise por conta dos anos em que esteve subordinada ao Império Russo e buscava se reerguer, mas o clima tenso nos arredores do país alimentavam incertezas e insegurança em toda a sua população 15 1