abordagem
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“A Psicologia Positiva leva a sério a esperança de que, caso você se veja preso no estacionamento da vida, com prazeres poucos e efêmeros, raras gratificações e nenhum significado, existe uma saída. Esta saída passa pelos campos do prazer e da gratificação, segue pelos planaltos da força e da virtude e, finalmente, alcança os picos da realização duradoura: significado e propósito.” (Seligman, 2009, p. 15).
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A busca da felicidade
O indivíduo precisa entrar em contato com seus valores mais profundamente enraizados e viver de acordo com aquilo que é mais importante para ele. Esses valores são a base de sustentação de todas as suas escolhas Por Fabrício Maurício de Oliveira
É
bem provável que cada indivíduo tenha uma maneira muito particular de compreender a felicidade em sua vida. Daí a dificuldade nesta definição. O que é felicidade para determinado sujeito, pode não ser para o outro, e vice-versa. A discussão acerca da felicidade existe pelo menos desde a Grécia Antiga e, hoje, a Psicologia tem sido de certo modo criticada pelo foco nas questões da doença mental em detrimento de maior atenção ao assunto da sanidade mental. É quando surge então os psicólogos humanistas e positivistas. Embora a busca da felicidade seja muito frequente na vida da maioria das pessoas, segundo Seligman (2009), evidências científicas apontam a improbabilidade de uma mudança sustentável no nível de felicidade. Novas pesquisas, porém, demonstram que a felicidade pode aumentar e se estender, e a Psicologia Positiva pretende mostrar esse caminho. Não dá pra ser feliz em todos os momentos, embora seja possível aumentar a incidência desses momentos positivos, segundo os preceitos da Psicologia Positiva. Segundo as pesquisas de Martin Seligman (2009), a felicidade pode ser mensurada através de três fatores: prazer, engajamento e significado. São três vias obrigatórias e não secundárias, que, se trilhadas e potencializadas, podem levar o indivíduo aos estados de felicidade. O prazer é fácil identificar. É possível sentir quando se está dando boas risadas junto aos amigos, quando se come algo delicioso, férias ou sexo, por exemplo. Por ser o mais “simples” a maioria das pessoas ficam só por aqui. O engajamento exige um compromisso maior com a vida. Trata-se de profundidade nas relações que o indivíduo mantém com o mundo e consigo mesmo. Significa estar atento à
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vida, participando como protagonista em tudo que for empreender. O sujeito que está, por exemplo, em seu trabalho, desatento à sua função e de olho no relógio, considerando-se um coadjuvante nesse cenário, certamente não está engajado e provavelmente deve estar com uma tremenda sensação de vazio. Quando o indivíduo realiza uma atividade desafiadora, que exige habilidade, concentração e um envolvimento intenso, ele entra em fluxo, conceito desenvolvido na década de 70 pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi que caracteriza um estado de excelência. Quando a pessoa está realizando alguma tarefa significa em que está engajada, certamente, nessa hora experimenta a vivência de uma emoção positiva. Já a busca por significados vem muito associada à espiritualidade. Trata-se de descobrir o porquê de estarmos aqui neste mundo! Quando o ser humano acredita que faz parte de uma ordem maior, ou que tem um Deus que o ampara, isso traz conforto e gera felicidade.
Exército de meio-felizes
A
fastado de sua essência e infeliz, vem a sensação de vazio. Está cada vez mais difundido o fenômeno do vazio existencial. De acordo com Frankl (2008), este vazio pode ser atribuído a pelo menos duas importantes perdas que o ser humano sofreu desde que se tornou um ser verdadeiramente humano. Fabrício Maurício de Oliveira é psicólogo formado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), pós-graduado em Gestão de Pessoas pela Universidade Paulista (UNIP), Personal e Professional Coach pela Sociedade Brasileira de Coaching. É palestrante, Consultor em Gestão empresarial e autor dos livros: Batalha Interior: Escolhas da Vida (Editora Pandorga); Diário de uma Bicicleta (Editora Pandorga). Contatos: www.fabriciomauricio.com.br/ fabricioliver@hotmail.com psique ciência&vida
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para saber mais abordagem
Grau de vazio existencial
O
jovem europeu que vive sob tradições mais rígidas e uma cultura com padrões mais bem definidos se sente amparado em “seus limites”, mais seguro. O que o conforta e o preenche. Já os jovens norte-americanos que vivem sob a égide de costumes mais liberais, muitas vezes sem limites, e com a falta de uma sinalização mais clara do que ele pode ou deve fazer, apresenta um vazio existencial mais acentuado.
Grau de Vazio Existencial
60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% alunos europeus
Logo no início da história da humanidade o homem foi abandonando alguns instintos animais básicos que regulavam seu comportamento e asseguravam a sua existência. O ser humano perde aí então a sua segurança. Agora ele precisa fazer escolhas. Mais recentemente o ser humano tem enfrentado gradativamente outra importante perda: as tradições, as culturas e os hábitos, que sempre foram grandes aliados para nortear o comportamento humano. Em um levantamento estatístico, foi demonstrado que alunos europeus que viviam sob tradições mais rígidas demonstravam um grau menos acentuado de vazio existencial do que alunos norte-americanos que viviam sob a égide de costumes mais liberais. Assim, o homem não tem mais um instinto que o diga o que fazer e nem tampouco uma tradição que possa lhe sinalizar o que ele poderia fazer. Com isto, segundo sugere o professor, neurologista e psiquiatra Viktor E. Frankl (2008), o sujeito acaba por fazer o que os outros fazem (conformismo) ou fa74
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alunos norte-americanos
zem o que as outras pessoas querem que ele faça (totalitarismo). Tal estudo e afirmação remetem a uma significativa verdade: tudo nasce nas escolhas. E o que move as escolhas iniciais na vida do ser humano senão um sentimento sufocado pela sociedade de “eu tenho que ser alguma coisa” ou ainda “eu tenho que ter as coisas”? Movidas por esse sentimento as pes-
soas são impelidas, não raras vezes, às escolhas equivocadas. Escolhas mais complexas e com consequências maiores e opções corriqueiras que fazem a todo o momento no seu dia a dia. Sem dinheiro, a maioria das pessoas escolhe seus caminhos para tão somente subsistir, e, em geral, são infelizes ao longo de sua jornada terrena. Não escolhem algo que vai gerar real engajamento, compromisso com a vida ou que esteja conectado com o significado maior de sua existência. Escolhem o que pode dar mais dinheiro ou tranquilidade ou de preferência os dois juntos. Em algum momento isto vai vir à tona e este indivíduo vai carecer de um propósito maior em sua vida. Vai se
A sociedade está criando um exército de meio-felizes e solitários cidadãos que não sabem que caminho trilhar para esta completude. Por isso é cada vez maior o número de famílias desagregadas, aumento no consumo de drogas, ambientes de trabalho insanos
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70%
Não dá pra ser feliz em todos os momentos, embora seja possível aumentar a incidência desses momentos positivos, segundo os preceitos da Psicologia Positiva
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• Influência do ambiente •
No campo genético a oscilação da felicidade pode ser atribuída a um gene de nome 5HTT que regula o transporte de serotonina. Assim, infelizmente ser plenamente feliz não depende só do indivíduo. O importante é destacar que muito depende de cada um e que as variáveis externas, sejam circunstanciais ou intencionais, só poderão ser maximizadas na medida em que os indivíduos tenham conhecimentos das técnicas e estratégias para elevar seus níveis de felicidade. E nesse campo a Psicologia Positiva pode contribuir importantemente.
sentir infeliz por isto. Com a infelicidade vêm os conflitos internos.
Acertando as equações
O
limiar da felicidade está em se acertar a equação da expectativa X realização. As pessoas acreditam que quanto maiores forem seus desejos e expectativas, maiores deverão ser suas realizações. Sempre que há um descompasso nessa equação o indivíduo se frustra. Além do mais ainda existem muitas pessoas que acreditam que a felicidade é um estado permanente. Daí, quando ela não está presente (o que não é raro de se acontecer), o sujeito também sofre. Sun Tzu, em A Arte da Guerra, afirmou que “se você conhecer a si mesmo e aos seus inimigos, vai vencer 100 entre 100 batalhas; caso conheça a si mesmo e não conhecer seu inimigo, vai vencer apenas metade delas; e se não conhecer nem a si mesmo e nem aos seus inimigos, vai perder todas as batalhas em que entrar”. Segundo Smith (2007), o indivíduo precisa entrar em contato com seus valores mais profundamente enraizados e viver de acordo com aquilo www.portalcienciaevida.com.br
Afastado de sua essência e infeliz, vem a sensação de vazio existencial, que pode ser atribuído a pelo menos duas importantes perdas que o ser humano sofreu desde que se tornou um ser verdadeiramente humano: a segurança e as tradições culturais
Segundo as pesquisas de Martin Seligman, a felicidade pode ser mensurada através de três fatores: prazer, engajamento e significado que é mais importante para ele. Esses valores são a base de sustentação de todas as suas escolhas. Quando isso acontece, o sujeito encontra prazer, encontra engajamento e, especialmente, encontra o significado. Assim o que a pessoa precisa é encontrar o significado de sua vida! Descobrir sua missão aqui nessa terra. O homem é o único ser vivo que precisa descobrir sua essência para bem viver. Os demais seres vivos já nascem com sua essência definida. Se o sujeito quer ser feliz na maior parte do tempo de sua vida, é preciso descobrir sua missão, sua essência e viver segundo seus valores. Talvez aí resida a maior contribuição da abordagem positivista da Psicologia nesse assunto. Afinal estamos falando de uma mudança de paradigma secular para psicologia enquanto ciência e profissão. Se na maioria das demais abordagens o foco está mais na doença e no tratamento do sofrimento humano, na Psicologia Positiva encon-
tramos um aparato de técnicas que nos ajudam a lembrar de nossas virtudes e valores. Focar as forças e não as fraquezas instrumenta melhor os indivíduos a se descobrirem e se capacitarem para as adversidades presentes na vida de todos nós. E cá para nós, sem é claro desconsiderar a importância de diagnosticar e buscar o alívio ao sofrimento humano, é muito mais fácil encontrar a felicidade quando estamos em contato com nossas forças e virtudes do que quando estamos de olho em nossas mazelas... REFERÊNCIAS Frankl, V. E. Em Busca de Sentido. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2008. Seligman, M. E. P. Felicidade Autêntica: Usando a Psicologia Positiva para a realização permanente. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. Shinyashiki, R. O Sucesso é ser Feliz. São Paulo: Editora Gente, 1997. Smith, H. W. O que Mais Importa: O poder de viver seus valores. Rio de Janeiro: Editora Best Seller, 2007. psique ciência&vida
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