LILIAN SOARES
GOLD LAND 2016, chaves metal
Quando ainda no princípio de seu desaparecimento pelo Alzheimer, minha avó tinha por rotina perder as chaves da casa. Quase que diariamente fazia a cópia das chaves do portão principal. Após sua partida descobrimos que quase a totalidade de seus vestidos carregava nos bolsos ao menos uma dessas cópias. A partir disto desenvolvi o projeto Gold Land uma instalação com 35 chaves onde apenas duas delas possuem segredo, todas as outras são novas. As duas chaves com segredo possuem a inscrição da marca que as fabrica: Gold em 34 chaves e Land em uma delas. Essas inscrições são ressignificadas em um vestígio inapagável desse lugar em vias de desaparecer.
YAMAL 2015, técnica mista
Em 2014 foram publicadas no jornal notícias sobre o surgimento de crateras na da Sibéria. Nenhum cientista foi capaz de explicar como aquele buraco poderia repentinamente ter surgido, naquela península chamada de Yamal. Não seria Yamal o vestígio de um continente apagado? Talvez este seja um espaço do inencontrável, pois está constituído por uma existência em (des)aparição. O território de Yamal, que na sua etimologia russa significa fim de mundo ou fim de terra, é inóspito e em estado constante de mutação e desaparecimento, com um solo que consome a si mesmo. A partir disto, passei a buscar o que seria o mapa de Yamal nos vestígios que me defrontava. O desenho-pintura Yamal trata-sede um mapa descoberto nos traços
de tinta que haviam na mesa de meu atelier. De certa maneira, é o que faz o personagem Palomar de Ítalo Calvino, que nas suas tentativas fracassadas de construir um conhecimento de todo universo a partir da observação de uma única onda, acaba apenas por dar evidencia ao incompleto, ao móvel e ao fugidio: “Prestar atenção em um aspecto faz com que este salte para o primeiro plano, invadindo o quadro, como em certos desenhos diante dos quais basta fecharmos os olhos e ao reabri-los a perspectiva já mudou” . Yamal (2015), portanto, não carrega qualquer totalidade, apenas os indícios de um movimento contínuo de aproximação e distanciamento do espaço, em uma dinâmica de um vir a ser lugar, como um mapa aberto e infinitamente inconcluso.
série de desenhos
CONTINENTE 2015, técnica mista 14,8 x 21 cm
Continente (2015) é uma série de desenhos do desencontro de linhas. A partir do mapa da península de Yamal na Sibéria refaço outros mapas. Construo a partir do tangenciamento e sobreposição de linhas uma espécie de labirinto, em que o espaço está em processo, num permanente tornar-se. O desenho se constrói em um movimento de desmonte do mapa para em seguida, como um quebra-cabeça, recriar novas imagens. Com isto as formas estão estruturadas em um ritmo contínuo de construção e desconstrução, descentrado como uma mancha que se espalha, mas que ao mesmo tempo parece se mostrar como uma narrativa de odisseias inconclusas.
sĂŠrie de desenhos
ILHA 2015, furos sobre papel, 14,8 x 21 cm
O trabalho Ê composto por desenhos realizados com furos de alfinete em papel A5, transformando as formas dos mares-mortos em ilhas. A dimensão do papel e a quase impossibilidade de observação do desenho convidam o observador a se aproximar para que isto revele o latente desenho.
ANOTAÇÕES 2012-2016, caneta posca sobre papel, Dimensoes variáveis
GESTO INDELÉVEL 2015, Still de Video
Um risco do grafite sobre o papel o desenho é apresentado como uma ação. Gesto Indelével (2014) é uma vídeo-instalação que acionada em looping exibe a repetição infinita do apagamento do traço. A linha corta a imagem em duas partes iguais para em seguida ser apagada. Esta é linha horizontal configura a busca por um lugar longínquo, por meio de um conciso desenho que transforma a paisagem-miragem do infinito. O apagar está em um porvir impossível de ser realizado, pois o gesto de apagamento já carrega consigo a linha indelével. Horizonte existe entre o desaparecer e o porvir. Fronteira desfeita, labirinto que se ergue. No encontro com a paisagem intima tornamo-nos timoneiro em vertigem em um infindo partir.
SÉRIE MONUMENTO 2013-2014, Still de Video
performance
CIRCUNFERÊNCIA 2015, 45’
Performance com duração de quarenta e cinco minutos que consiste em desenhar uma circunferência no chão com giz branco e ir preenchendo esta forma com gestos fortes e irregulares da margem ao centro até que não haja mais espaço para permanecer em seu interior. A performance finaliza com minha saída do círculo. Com o corpo como ponto central para a construção do desenho a ação se desenrola em um espaço armadilha, que simultaneamente isola, acolhe e impinge a partida.
performance
DESFAZIMENTO 2013, 70’, Still de vídeo
performance
PRINCIPIUM 2011, 60’
fotografia
(EU)PRAXIA linha cirĂşrgica, 2010, 60x90cm
FORMAÇÃO EXPOSIÇÕES
Natural de Recife, Pernambuco. Atualmente mora e trabalho no Rio de Janeiro onde possui atelier no Despina- Largo das Artes. Formada em Educação Artística pela Universidade Federal de Pernambuco, Mestre em Ciência da Arte pela Universidade Federal Fluminense e Doutorado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio= de Janeiro. Atualmente é professora substituta da Escola de Belas Artes e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Foi selecionada pela UFRJ para participar do International Artist Fellowship da University Southern California, ganhadora da Bolsa Capes e FAPERJ-Nota 10 de doutorado, vencedora do Prêmio Latuf Isais Mucci, de apoio a publicação em livro de dissertação de mestrado/ UFF. Trabalha com desenho, fotografia, performance e vídeo, abordando questões relativas à construção de espaços poéticos, memória, narrativa e apagamento. Participou de exposições e festivais de performance no Brasil e no exterior.
exposições 2015 10 Anos do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UFRJ, Rio de Janeiro. Foi convidada para participar do festival de performance Codorna Performa no Atelier Codorna, Rio de Janeiro. 2014 Selecionada para o evento Cemitério dos Peixes organizado pela FUNARTE, Minas Gerais. Poetik+8,Galeria Morgados da Pedrigosa, Portugal. Revolução, Galeria Vórtice, Rio de Janeiro.
2013 AMOR, curadoria Isabel Sanson Portella, Museu Casa Benjamin Constant, Rio de Janeiro. Fronteiras, curadoria Felipe Scovino, Galeria Marco Antônio Vilaça, Sérgio Porto, Rio de Janeiro. III Festival de Corpo Ampliado, Museu de Arte Moderna Murilo Mendes, Minas Gerais. RELUGARES, Centro Cultural Visconde de Mauá, Rio de Janeiro. 2011 A CASA, Solar do Jambeiro, Rio de Janeiro. Futuro do pretérito, Galeria Equivalente, Rio de Janeiro Entre-Tantos, Casa Frame Coletivo, Rio de Janeiro. Equivalentes a Bergson, Atelier da Imagem. 2010 Interolhares, Espaço Imaginário, Rio de Janeiro. 2009 - 2003 Veredas, Galeria de Arte UFF, Rio de Janeiro. Resíduos, Galeria Capibaribe, Pernambuco. Certas Mentiras, Museu Murilo La Greca, Pernambuco. Projeto Mamãe, Coletivo Quarta Parede, Pernambuco. Aspectos do Sagrado na Arte Contemporânea através do Livro de Artista, Galeria Capibaribe, Pernambuco.