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Olha Só! Magazine: UT Portuguese Flagship Program
CASA MARIANELLA
F o t o s e t e x t o : L i l y D a y a n i m
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Numa esquina escondida no leste de Austin, existe uma casa incrível. Uma casa cheia de arte, riso, cor, tristeza, histórias e esperança. O nome dela: Casa Marianella. Casa Marianella nasceu no ano 1986 com a missão de ajudar as pessoas fugindo da América Central para a cidade de Austin, pessoas estas que não tinham casa nem nada nos EUA. Hoje em dia, a Casa Marianella funciona como um abrigo aberto para todos os refugiados, imigrantes, e pessoas procurando asilo. A duração que as pessoas ficam na Casa varia de poucos dias até alguns meses. Os serviços que a Casa oferece aos seus residentes incluem: camas, banhos com chuveiro, lavanderia, refeições frescas, roupa, acesso aos computadores e gestão de caso. A Casa Marianella também oferece serviços para a comunidade, incluindo aulas de inglês, serviços legais de graça e serviços médicos com desconto. O objetivo da Casa Marianella é fazer com que os seus residentes possam se tornar autossuficientes, ou seja, a Casa quer ensinar aos habitantes a pescar em vez de só lhes dar o peixe. O que eu faço na Casa Marieniella, como estagiária, é documentar as histórias dos residentes e também oferecer serviço de tradução para eles.
A demografia dos residentes da Casa Marianella está sempre mudando. Neste momento, a maioria dos residentes são de Angola, Congo, Camarões, Eritreia e Honduras. Em relação ao idioma, a maioria deles fala português, francês, espanhol ou inglês. Ter a habilidade de falar português é algo chave da minha experiência com a Casa Marianella. Eu sou a única pessoa dos funcionários que fala português. Então, os residentes de Angola, do Brasil, ou de outros países da África lusófona contam comigo para comunicar-se, contar suas histórias e obter todas as coisas que precisam.
Falar em português com eles faz com que eles se sintam mais em casa e mais tranquilos neste país. Além da tradução oral, eu também traduzo algumas cartas e escrevo outras em português para encontrar um jeito de tirar as pessoas da prisão.
Um residente que eu tive o prazer de entrevistar em português é Estevão Nzuzi da Silva. Ele, sua esposa e seus cinco filhos tinham que sair de Angola por um problema político. Ele pertencia ao grupo político chamado O Movimento da União Nacional, ou seja, o MUN. O objetivo do MUN é criar uma nova Angola com mais integração e igualdade. O problema que Estevão enfrentou é que o MUN quer substituir o Movimento Popular de Libertação de Angola, ou seja, o MLPA. O MLPA já manteve poder em Angola por muitos anos e criou um regime opressivo. O MLPA vê o MUN como uma ameaça e o tem como alvo. Por isso, Estevão fugiu.
O caminho de Angola até os EUA não foi fácil. Eles tomaram um voo até o Brasil e ficaram em São Paulo por dois meses. Depois, eles caminharam pelo Peru, Equador e Colômbia. Na Colômbia, para chegar no Panamá, você tem que atravessar a selva - onde a família passou nove dias. Disse que isso foi uma das partes mais difíceis. Eles viram pessoas morrendo, animais perigosos e ainda acabou a comida no meio do caminho. Quando chegaram no Panamá, atravessaram Costa Rica, Nicarágua, Honduras, Guatemala e ficaram um tempão no México. Ele disse que o México foi o grande desafio dessa jornada: lá enfrentaram muito racismo. Os abrigos os rejeitaram porque só queriam ajudar aos centro-americanos. Eles lhes disseram: “Se vocês têm problema, voltem pra África”. Estevão e a sua família tinham que implorar pelo dinheiro na rua durante o dia para pagar por um lugar para dormir e também comprar comida. Empobreceram lá no México. Quando finalmente tiveram a oportunidade de cruzar a fronteira dos EUA, foram detidos. Mas isso foi por pouco tempo, porque a Casa Marianella os ajudou a saírem de lá. Estevão disse que de todos os países que eles cruzaram no caminho, os mais hospitaleiros foram o Brasil e os Estados Unidos. Lá, eles acharam abrigos para ficar e muito apoio com o processo de solicitação de asilo. Estevão e sua família querem ficar em Austin permanentemente porque gostam muito da cidade. Todos somos muito otimistas sobre os futuros deles. Tomara que possam ficar aqui e fazer parte da nossa comunidade.
O trabalho que a Casa Marianella faz é muito importante para o apoio dos imigrantes lusófonos e os outros também. É uma organização única nos Estados Unidos porque ela realmente ajuda, principalmente para que as pessoas sejam autossuficientes em vez de só lhes dar comida e uma cama. A Casa Marianella trata os imigrantes com dignidade que muitos não fazem. Estou muito agradecida por ter a oportunidade de trabalhar com a Casa Marianella e apoiar a comunidade de imigrantes em Austin. Eu nunca imaginei que falar português seria uma habilidade tão útil não só no mundo inteiro, mas na minha própria comunidade também.