Jennifer L. Armentrout - Dark Elements #3 - Every Last Breath

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Tradução e Revisão


Alguns amores vão durar até ao seu último suspiro Cada escolha tem consequências, mas Layla, com dezessete anos de idade, enfrenta escolhas mais duras do que a maioria. Luz ou escuridão. O perversamente sexy príncipe demônio Roth, ou Zayne, o lindo guardião protetor que ela nunca pensou que poderia ser dela. E o mais difícil de tudo, Layla tem que decidir em qual lado de si mesma deve confiar. Layla tem um novo problema, também. O Lilin – o mais mortal dos demônios – foi liberto, causando estragos em todos à sua volta... Incluindo no seu melhor amigo. Para manter Sam a salvo de um destino muito, muito pior do que a morte, Layla deve chegar a um acordo com o inimigo e também salvar a sua cidade e a sua raça da destruição. Dividida entre dois mundos e dois homens diferentes, Layla não tem certezas, muito menos de sobrevivência, especialmente quando um antigo acordo volta para assombrar a todos. Mas, às vezes, quando segredos estão em toda parte e a verdade parece irreconhecível, você precisa ouvir o seu coração, escolher um lado e depois lutar loucamente...


Isto é para todos os fãs de Zayne e Roth, todos os que torceram por Layla e queriam a sua própria Bambi, e para todos aqueles que apaixonadamente se reuniram atrás do seu cara favorito e votaram naquele que eles gostariam que Layla escolhesse. Obrigada por fazer esta viagem comigo.


Eu estava parada na sala de estar da Stacey quando o meu mundo caiu completamente ao meu redor, mais uma vez. Sam era o Lilin. Um horror agudo me imobilizou, prendendo o ar em meus pulmões enquanto eu olhava para o que costumava ser um dos meus amigos mais próximos no mundo inteiro. Por causa do demônio familiar, Bambi, e ser incapaz de ver almas enquanto ela estava ligada a mim, eu nunca vi o que estivera bem na frente do meu rosto todo este tempo. Nenhum de nós viu, mas foi o Sam – foi ele quem provocou o caos na escola e todas recentes as mortes. Em vez de arrancar almas com um único toque, como eu vi um Lilin fazer, ele tomara o seu tempo, tomando um pouco aqui e ali, brincando com as suas vítimas e brincando com a gente. Brincando comigo. Exceto que o que estava na casa de Stacey estava, basicamente, vestindo a pele de Sam, um traje perfeitamente trabalhado, porque o verdadeiro Sam... Ele não existia mais. A dor de saber que meu amigo estava morto, e morto por um tempo, sem qualquer um de nós saber, me cortou profundamente, fazendo angústia entrar em meu osso e tecido.


Não fui capaz de salvá-lo. Nenhum de nós foi capaz, e agora a alma dele... A alma dele deveria estar lá embaixo, para onde iriam todas as almas tomadas por um Lilin. Meu estômago estava apertado. — Você não pode me derrotar, — o Lilin disse, com a voz idêntica à de Sam. — Então, junte-se a mim. — Ou o quê? — Meu coração batia como uma britadeira no meu peito. — Ou morra? Isso é um clichê bem conhecido, nem tem piada. O Lilin inclinou a cabeça para o lado. — Na verdade, eu não ia dizer-lhe isso. Preciso de você para ajudar a libertar a nossa mãe. No entanto, o resto deles pode morrer. Nossa mãe. Antes que eu pudesse me debruçar sobre o fator nojento de ser relacionada com a criatura que havia matado meu amigo e infligiu tanta carnificina, Zayne voltou à sua verdadeira forma, me distraindo. Sua camisa havia rasgado até as asas se desdobrarem e sua pele escurecida ao granito escuro dos Guardiões. Dois chifres brotaram, dividindo seu cabelo loiro ondulado enquanto eles se curvavam para trás, e suas narinas se achataram. Quando ele abriu os lábios para deixar sair um grunhido baixo de advertência, as presas apareceram. Ele deu um passo em direção a Sam, suas mãos enormes enroladas em punhos. — Não! — Eu gritei. Zayne parou; sua cabeça balançando bruscamente em direção a mim. — Não chegue perto dele. Sua alma, — eu lembrei a ele enquanto o meu coração disparava. Ou o que restava da alma de Zayne, considerando que eu, acidentalmente, dei uma pequena mordida agradável nela não há muito tempo. Zayne recuou; sua postura cautelosa. Voltei minha atenção para o mal disfarçado de Sam. Seja qual fosse a coisa que estava parada diante de nós, nós partilhávamos a mesma carne e sangue. Só recentemente eu percebi exatamente como eu era parte demônio e parte Guardião. Eu era a filha de Lilith e essa... Essa coisa realmente era uma parte de mim. Ele


nasceu de Lilith e do meu sangue, e era tão mau como Lilith. Ele queria libertá-la? Impossível. Se Lilith acabasse vitoriosa, o mundo como nós conhecíamos iria irrevogavelmente mudar. — Eu não irei ajudá-lo a libertar Lilith. — Eu me recusava a referir-me a ela como nossa mãe. Que nojo. — Isso nunca acontecerá. O Lilin sorriu enquanto me olhava com olhos cruelmente negros. — Chegue tão perto você quiser. — Ele ignorou a minha declaração, provocando Zayne. Uau, provocando todos nós. — Ela não é a única nesta sala que gosta da alma de um Guardião. Puxei uma respiração afiada, um fôlego cortante, enquanto Stacey deixava escapar um gemido. No espaço de um segundo, seu relacionamento com Sam passou diante de mim. Eles eram amigos desde sempre, e só recentemente ela reconheceu que Sam sempre, sempre foi apaixonado por ela. Mas ela não prestava atenção nele, até que Sam começara a mudar... Oh Deus. Stacey deveria estar totalmente quebrada, vendo o garoto que ela finalmente amara tornando-se pior do que os monstros que rondavam as ruas à noite, mas eu não podia me dar ao luxo de tirar o meu foco do Lilin. Ele poderia fazer um movimento a qualquer momento, e nesta sala, três de nós eram vulneráveis ao pior tipo de ataque que ele poderia conseguir. — Não há nada como tomar uma alma pura, mas você já sabe disso, Layla. Tudo o que é calor e bondade desce tão suave como o chocolate mais rico. — O Lilin levantou o queixo e soltou o tipo de gemido que normalmente teria provocado rubor nas minhas orelhas. — Mas tomar o seu tempo, saboreando o sabor, é muito mais prazeroso. Você deveria tentar isso, Layla, e parar de ser tão gananciosa quando se alimenta.


— E você deve tentar fechar a boca. — Calor saiu do poderoso demônio ao meu lado. Roth, o atual Príncipe do Inferno, ainda não mudara, mas eu poderia dizer que ele estava perto. Fúria pingava de suas palavras. — Que tal? O Lilin nem sequer deu um olhar na direção de Roth. — Eu gosto de você. Realmente gosto, Príncipe. Pena que acabará morto. Meus dedos se enroscaram, as unhas cortaram as palmas das minhas mãos quando a quente e amarga raiva foi liberada em meu sistema. Minhas emoções estavam por todo o lugar. No topo de tudo o que dera errado recentemente, eu estava aqui entre Zayne e Roth, que era cerca de mil vezes estranho e desconfortável em um dia normal, mas agora, depois de Roth... Eu não conseguia me concentrar em nada disso agora. — Você é muito corajoso, fazendo ameaças quando nós superamos você. Um ombro se moveu em um gesto tão essencialmente de Sam que uma fatia de dor me atravessou. — Que tal eu ser apenas inteligente? — Ele perguntou corajosamente. — E que tal eu saber mais do que todos vocês sobre como isto acabará? — Você fala muito, — Roth rosnou, avançando. — E eu quero dizer muito. Por que os caras maus sempre têm que dar monólogos repugnantemente longos e chatos? Vamos apenas chegar à parte da matança, tudo bem? A boca do Lilin formou um sorriso torto. — Então, ansioso para morrer a morte final, não é? — Ansioso para ver você se calar e perder, — Roth respondeu, movendo-se, mais uma vez, ficando bem ao meu lado. — Foi você esse tempo todo? — A voz de Stacey tremia sob o peso da dor que devia estar sentindo. — Você não era Sam? Não, desde...


— Não, desde que Dean exibiu os seus punhos de fúria. Isso foi divertido. — O Lilin riu enquanto aqueles olhos escuros deslizaram até ela. — Sam não tem estado em casa há algum tempo, mas posso garantir, eu gostava... Do nosso tempo juntos, tanto quanto eu tenho certeza que ele teria gostado. Sabe, se isso serve de consolo para você. Ela bateu as mãos sobre a boca, abafando as palavras enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto pálido. — Meu Deus. — Não é bem assim, — ele murmurou suavemente. Dei um passo mais perto de Stacey, desviando a atenção do Lilin. Eu estava sofrendo por ela, absolutamente perdida. — Por quê? — Exigi. — Você tem estado ao nosso redor durante semanas. Por que não atacou qualquer um de nós? O Lilin suspirou profundamente. — Não sou tudo sobre a violência, morte e sangue. Descobri rapidamente que há um monte de coisas divertidas para fazer aqui, coisas que eu gostei muito. — Ele piscou para Stacey, e eu vi vermelho. Minha pele formigava como se mil formigas estivessem marchando por ela. — Não olhe para ela. Não fale com ela, ou mesmo respire na direção dela, e nem sequer pense em tocá-la, nunca mais. — Oh, eu fiz mais do que isso, — o Lilin respondeu. — Muito mais. Tudo o que o Sam desejava fazer, mas não tinha coragem. Mas sabe, ele não está realmente preocupado com essas coisas no momento. Veja, eu consumi totalmente a alma dele. Nenhuma parte dele permanece neste plano. Ele não é um fantasma, como os outros que cruzaram o meu caminho. Eu não brinquei com a minha comida quando foi a vez dele, tendo apenas pedacinhos dele. Não, ele se foi. Ele... Várias coisas aconteceram ao mesmo tempo. Stacey correu em direção ao Lilin, sua mão subindo como se ela estivesse prestes a arrancar o zombador sorriso do rosto dele. O Lilin flutuou em direção a ela,


e enquanto ele ainda não havia tomado a alma dela por qualquer razão, agora eu sabia que não havia garantias. O Lilin era imprevisível. Ele expôs o que realmente era, e senti que isso foi feito para brincar. Ele estava ao alcance dela e eu, bem, eu meio que perdi a calma. Raiva se acendeu no meu interior. A mudança veio sobre mim sem sequer tentar. Como tirar uma camisola, eu deixei a forma humana que usei durante tanto tempo, e de certa forma, se agarrou desesperadamente a mim. Nunca foi tão fácil antes. Os ossos não se quebraram e se uniram novamente. A pele não esticou, mas a senti endurecer, ficando resistente à maioria das facas e balas. O céu da minha boca formigava enquanto as minhas presas saíam, dentes projetados para cortar até mesmo a pele de um Guardião, e definitivamente um Lilin. Logo abaixo da base do meu pescoço, e em cada lado da minha coluna, minhas asas se soltaram e se abriram. Houve uma inspiração afiada de alguém na sala, mas eu não estava prestando atenção. Movendo-me tão rápido quanto uma impressionante cobra, eu agarrei o braço de Stacey e a empurrei para trás de mim. E fiquei entre ela e o Lilin. — Eu disse para não tocar nela. Não olhar para ela. Nem sequer respirar na direção dela. Você faz, e eu arrancarei a sua cabeça de seus ombros e a chutarei pela janela. O Lilin se afastou, dançando um passo atrás. Seus olhos escuros se arregalaram. Choque estava estampado em seu rosto e seus lábios se curvaram. — Você não está jogando limpo. O que era? Era medo o que vi no rosto dele? — Pareço me importar? — Oh, você irá. — O Lilin se afastou, movendo-se em direção à porta. — Você se importará. Então, o Lilin se foi, girando e saindo da casa com uma rapidez que me deixou parada ali, olhando estupidamente para a porta vazia. Eu não entendi. O Lilin não tinha medo de Zayne ou Roth, mas eu me transformei e ele abaixou a cauda e fugiu?


Uh. — Bem, isso foi... Decepcionante. — Virei-me lentamente, colocando minhas asas para trás. O primeiro que eu vi foi Zayne. Ele voltou à sua forma humana. Zayne sempre, mesmo quando parecia exausto, poderia ter saído de uma revista Town and Country1. Sua boa aparência era além de todos os americanos e em direção ao do paraíso, encantando cada garota no planeta. Ele parecia como eu imaginava que fossem os anjos. Vibrantes olhos azuis e feições quase celestiais, mas ele olhava para mim com a boca ligeiramente aberta. Seu rosto absolutamente lindo estava pálido, o que fez as implacáveis sombras sob seus olhos se destacarem nitidamente. Ele olhava para mim como se nunca tivesse me visto antes, o que era bizarro, porque ele cresceu comigo. Eu me senti como uma espécie de amostra. Um filete de inquietação percorreu minha espinha quando meu olhar mudou para o sofá. Em algum momento, Zayne se moveu para mais perto de onde Stacey havia caído. Eu esperava encontrá-la enrolada em uma bola, mas ela também olhava para mim de boca aberta, com as mãos pressionadas em suas bochechas, e em qualquer outro momento, eu teria rido dessa expressão. Agora não. Minha frequência cardíaca acelerou enquanto eu balançava em direção a parte de trás da sala, onde Roth estava. Meu olhar colidiu com os olhos cor de âmbar. Os dele estavam arregalados, as pupilas verticais. Mesmo assim, ele era um espetáculo para a vista. Roth era – bem, não havia ninguém que andou nesta terra parecido com ele. Provavelmente tinha a ver com o fato de não estar em forma humana, mas ele era impressionante. Sempre foi, mesmo quando ele optava pelo cabelo preto arrepiado. Eu preferia a aparência atual, no momento ele arrasava com o cabelo caindo sobre a testa, as pontas escovando as orelhas e os arcos das sobrancelhas igualmente 1 Town & Country é uma revista mensal de estilo de vida americana. É a revista de interesse geral mais antiga publicada nos Estados Unidos.


escuras. Olhos dourados eram ligeiramente inclinados nos cantos externos. Ele tinha maçãs do rosto e uma mandíbula que você poderia cortar vidro com elas, um rosto que qualquer artista morreria para esboçar ou tocar. E aqueles lábios cheios e expressivos se separaram. Sua pele morena não estava pálida, e ele não olhava para mim como se eu devesse estar sob um microscópio, mas ele olhava para mim com espanto, tal como Zayne. O mal-estar se transformou em bolas de medo, estabelecendo-se fortemente no meu estômago. — O quê? — Sussurrei, olhando ao redor da sala. — Por que vocês estão olhando para mim como se... Como se houvesse algo errado comigo? Não poderia ter sido porque eu disse ao Lilin que rasgaria a cabeça dele. Sim, eu era um pouco menos violenta na maioria dos dias, mas na semana passada ou assim, eu pensei ser o Lilin, fui beijada por Zayne e quase peguei a alma dele, fui posteriormente acorrentada e mantida em cativeiro pelo próprio clã que me criou, quase fui morta por esse mesmo clã – respirei fundo – fui então curada por Roth e uma bebida misteriosa fornecida por um coven de bruxas que adoram Lilith, e agora acabei de descobrir que meu melhor amigo estava morto, sua alma estava no inferno, e o Lilin havia tomado o lugar dele. Você acha que uma garota poderia ser perdoada pelo seu temperamento, não é? Roth pigarreou. — Pequena, olhe... Olhe para sua mão. Olhar para a minha mão? Porque no mundo que ele me pediria para fazer isso, no meio de toda esta confusão? — Faça isso, — ele disse calmamente e muito gentilmente. Medo explodiu nas minhas entranhas como chumbo grosso e meu olhar caiu para a mão esquerda. Eu esperava ver o estranho mármore preto e cinza, uma mistura do demônio e Guardião que existia dentro de mim, e uma combinação que se tornou quase familiar até o momento. Minhas unhas ficaram alongadas e afiadas, e eu


poderia dizer que elas eram fortes o suficiente para cortar um aço tão duro quanto a minha pele, mas a minha pele... Ela ainda estava rosa. Realmente rosa. — O que...? — Meu olhar viajou ao meu outro lado. Era a mesma coisa. Apenas rosa. Minhas asas se contraíram, lembrando-me que eu havia mudado. Zayne puxou ar. — Suas... Suas asas... — O que tem as minhas asas? — Quase gritei, olhando atrás de mim. — Elas estão quebradas? Estão bem? — As pontas dos meus dedos entraram em contato com algo tão suave como seda. Minha mão retrocedeu. — O que... Os olhos lacrimejantes de Stacey dobraram de tamanho. — Humm, Layla, há um espelho acima da lareira. Acho que você precisa olhar para ele. Encontrei o olhar de Roth por um segundo antes de me virar, e corri para a lareira, a qual eu tinha certeza que a mãe de Stacey nunca usou. Afastando o manto branco, eu olhei para o meu reflexo. Eu parecia normal, como eu era antes de mudar... Como se estivesse indo para a aula ou algo assim. Meus olhos eram uma sombra clara de cinza, um azul aguado. Meu cabelo era tão loiro que era quase branco, e uma confusão de ondas que iam a todas as direções, como de costume. Eu parecia uma boneca de porcelana incolor, o que não era nada novo, exceto para as duas presas saindo da minha boca. Eu não ia mostrá-las na escola, mas não foi isso que chamou minha atenção e a segurou. Eram as minhas asas. Elas eram grandes, não tão volumosas quanto as de Zayne ou Roth, e, normalmente, elas pareciam ter uma textura de couro, mas agora, elas eram negras... Pretas e com penas. Como penas legítimas. Era isso a coisa sedosa que eu senti? Eram pequenas penas. Penas.


— Oh meu Deus, — sussurrei para o meu reflexo. — Eu tenho penas. — Essas são, definitivamente, asas de penas, — Roth comentou. Eu me virei, derrubando uma lâmpada com a minha asa direita de penas. — Eu tenho penas em minhas asas! Roth inclinou a cabeça para o lado. — Sim, você tem. Ele não tinha absolutamente dado nenhuma ajuda nisto, então eu me virei para Zayne. — Por que eu tenho penas em minhas asas? Zayne balançou a cabeça lentamente. — Não sei, Layla. Nunca vi nada parecido com isso. — Mentiroso, — Roth chiou, atirando-lhe um olhar sombrio. — Você já viu isso antes. Eu também. — Eu não vi, — murmurou Stacey, que nesse ponto, havia colocado as pernas contra o peito e parecia estar balançando em qualquer ponto. Até recentemente, Stacey não sabia o que Roth era realmente. Ela nem sabia sobre mim. Isto precisava ser demais para ela. — Ok. Como e por que você já viu isso antes? — Exigi, respirando muito rápido. — Eu terei que raspar minhas asas agora? — Pequena... — os lábios de Roth se contraíram. Levantei minha mão, apontando o dedo para ele. — Não se atreva a rir, seu idiota! Isso não é engraçado. Minhas asas são aberrações da natureza! Ele ergueu as mãos. — Eu não vou rir, mas acho que você deve deixar as lâminas de barbear sossegadas. Além disso, muitas coisas têm penas em suas asas. — Como o quê? — Exigi. Havia ainda mais criaturas sobrenaturais com as quais eu não estava familiarizada?


— Como... Como falcões, — ele respondeu. Minhas sobrancelhas franzidas. — Falcões? Falcões? — E águias? — Eu não sou um pássaro, Roth! — A paciência escorreu de mim. — Por que eu tenho penas em minhas asas? — Eu gritei; desta vez para Zayne. — Você já viu isso antes? Onde? Alguém me diga... Debaixo de mim, o chão começou a tremer, me interrompendo. O tremor aumentou, viajando até as paredes, balançando o espelho e sacudindo as fotos emolduradas. Plumas de gesso sopraram do teto. A casa tremeu e um ruído alto tornou-se ensurdecedor. Stacey saiu do sofá, agarrando o braço de Zayne. — O que está acontecendo? Asas esquecidas, eu troquei um olhar com Zayne. Alguma coisa nisso era muito familiar. Eu senti isso antes, quando... Ofuscante luz dourada entrava pelas janelas, pelas pequenas rachaduras na parede e de entre as tábuas de madeira do chão. Luz suave e luminosa se arrastou pelo teto, escorrendo para baixo. Eu pulei para o lado, evitando ser atingida por ela. Eu lembrava claramente o que aconteceu na última vez que fui estúpida o suficiente para tocar a luz. Meu tipo nunca poderia. Nem Roth. — Merda, — ele murmurou. Meu coração parou quando o estrondo desapareceu e o lindo brilho desapareceu. Em um flash, Roth estava ao meu lado, uma mão enrolada em meu braço.


Stacey aspirou o ar. — Porque cheira como se estivéssemos sendo sufocados em lençóis lavados? Ela estava certa; um novo perfume impregnava o ar. Para mim, era almiscarado e doce. Céu... O céu cheirava a tudo o que você queria, o que você realmente mais desejava no mundo, e era diferente para todos. Zayne empurrou Stacey para trás dele, e eu tinha a sensação de que Roth estava prestes a arrastar nossos traseiros não angélicos para fora de lá, mas uma fissura de potência irradiou por toda a sala. O doce aroma que me encheu de desejo foi substituído por trevo e incenso. Calor viajou pelas minhas costas, e eu sabia que era tarde demais para fugir. Ah não. Stacey engasgou. — Oh meu... — seus olhos reviraram em sua cabeça e seus joelhos cederam. Ela dobrou como um acordeão. Zayne a pegou antes que batesse no chão, e eu realmente não tive tempo de me preocupar com ela. Nós não estávamos sozinhos. Eu não queria virar, mas não consegui evitar. Eu precisava me virar, porque eu queria vê-los. Precisava vê-los antes que eles me expulsassem da face do planeta. Roth deve ter sentido o mesmo, porque ele também se virou. Um brilho suave refletiu em suas bochechas. Ele estreitou os olhos e olhei para a porta. Dois deles estava lá como sentinelas, perto de 2 metros de altura ou possivelmente ainda maiores. Eram tão bonitos que era quase doloroso de se olhar. Cabelos cor de trigo e pele brilhando, a qual captava e absorvia a luz ao redor deles. Não eram nem preto nem branco, nem qualquer sombra no meio, mas, de alguma forma, todas as cores de uma vez, e usavam algum tipo de calças de linho. As esferas de seus olhos eram puro branco – sem íris ou pupilas. Apenas espaço em branco, e eu vagamente me perguntei como eles poderiam ver. O peito e os pés descalços. Seus


ombros eram tão amplos como qualquer Guardião e as suas asas eram magníficas, de um branco brilhante de, pelo menos, 2,44m de cada lado. Suas asas também eram de penas. Ao contrário das minhas, no entanto, essas penas tinham centenas de olhos, globos oculares reais. Olhos que não piscavam, mas percorriam constantemente o espaço e pareciam captar tudo de uma vez. Cada uma das criaturas empunhava uma espada de ouro, uma verdadeira espada, que parecia ter o comprimento da minha perna. A combinação toda era possivelmente a coisa mais estranha que eu já vi, e vi um monte de coisas esquisitas em meus dezessete anos de vida. Eles estavam aqui, os que comandavam este pequeno show chamado vida, que criaram os Guardiões, e que eram para os demônios o equivalente do bicho-papão. Nunca na história, eles estiveram na presença de qualquer pessoa com um rastro de sangue demoníaco sem acabar com suas vidas imediatamente. Senti minhas asas – minhas asas com penas – se encolherem atrás das minhas costas. Nem sei por que tentei escondê-las neste ponto, mas estava um pouco autoconsciente. No entanto, não estava disposta a mudar para a minha forma humana, não na presença desses seres. Eu não conseguia parar de olhar para eles. Temor e medo guerreavam dentro de mim. Eles... Eles eram anjos, e suas asas emplumadas praticamente brilhavam, eles eram tão brilhantes. Nunca fui permitida em qualquer lugar perto deles, nem mesmo quando eles foram ao complexo dos Guardiões para se encontrar com Abbot, o líder do clã. Sempre fui forçada a deixar o local, e nunca pensei que eu iria vê-los. Um desejo irresponsável de ir até eles me atingiu fortemente no peito, e esforcei-me para ignorá-lo. Respirei profundamente, e o cheiro era maravilhoso.


Roth estremeceu de repente, e meu coração ficou alojado em algum lugar na minha garganta. Medo escorreu de mim. Eles fizeram algo com ele? Então, eu vi. Uma sombra se afastou dele, derramando-se no ar diante de nós. Eu também já vi isso antes. Era o que acontecia quando os familiares tatuados saíam de sua pele. Eu sabia que não era Bambi ou os gatinhos, pois essa sombra veio da área da sua... Bem, onde estava o cinto de sua calça jeans. Apenas uma tatuagem existia lá, a única que eu nunca vi. O dragão familiar que Roth alertara que só saía de sua pele quando a situação era muito grave ou ele estivesse seriamente chateado. Os Alfas estavam aqui, e Tambor finalmente saiu para brincar.


Preparando-me para o aparecimento de um dragão grande e muito destrutivo, fiquei tensa e prendi a respiração. Nós todos morreríamos, mortes ardentes horríveis. A sombra era enorme, uma vez que se transformou em milhares de pontinhos pretos que giravam juntos no ar, como um mini ciclone, tomando forma e consistência. Segundos se passaram enquanto escamas azuis e douradas iridescentes apareciam ao longo da barriga e das costas do dragão. Asas vermelhas escuras brotaram, bem como um altivo focinho longo, e garras nas patas traseiras. Seus olhos combinavam com os de Roth, um amarelo brilhante. Era uma bela criatura. Mas... O dragão era do tamanho de um gato – realmente um gatinho. Não era exatamente o que eu esperava. Suas asas se moveram silenciosamente, e pairava a esquerda de Roth, a cauda chicoteando ao redor. Era tão pequeno e tão... Tão bonito. Pisquei lentamente. — Você... Você tem um... Um dragão de bolso? Zayne bufou de algum lugar atrás de mim. Um suspiro veio de Roth.


Apesar de todas as nossas vidas estarem em perigo e provavelmente morrermos, definitivamente não havia nenhum amor entre Roth e Zayne. O dragão virou a cabeça na minha direção, abriu a boca e soltou um gritinho. Mais como um bip. Uma nuvem de fumaça negra estufou dele. Nenhum fogo. Apenas manchas escuras que cheiravam levemente a enxofre. Minhas sobrancelhas se levantaram. — Remova o familiar de nossa vista, — um Alfa exigiu, fazendo-me estremecer. O que falou estava à direita da porta, e sua voz era incrivelmente profunda, reverberando tanto na sala e em mim. Parte de mim esperava que meus tímpanos fossem estourar. Fiquei surpresa pelos Alfas não tentarem tirar o Tambor imediatamente, mas, novamente, não era como se o dragão de bolso fosse uma ameaça. A postura de Roth parecia casual, mas eu sabia que ele estava tenso por dentro, pronto para entrar em ação. — Yeah, isso não acontecerá. Os lábios do Alfa formaram um sorriso de escárnio. — Como ousa falar comigo? Eu poderia acabar com sua existência antes de tomar sua próxima respiração. — Você poderia, — Roth respondeu calmamente. — Mas você não vai. Meus olhos se arregalaram. Falar assim com os Alfas não era o que eu consideraria uma jogada inteligente. — Roth, — Zayne murmurou. Ele parecia mais perto, mas eu não queria tirar os olhos dos Alfas para verificar. — Você pode querer relaxar um pouco. O Príncipe Herdeiro sorriu. — Nah. Você quer saber por quê? Os Alfas poderiam acabar comigo, mas eles não vão. Diante de nós, o Alfa que falara endureceu, mas não interrompeu.


— Veja, eu sou o Príncipe Herdeiro favorito, — Roth continuou; seu sorriso se espalhando. — Eles me abatendo quando não fiz nada para merecer, eles terão de enfrentar o Chefe. Eles não querem isso. Surpresa cintilou em mim. Eles não poderiam simplesmente acabar com Roth por causa de quem ele era? Sempre pensei que eles poderiam fazer simplesmente o que quisessem. O Alfa que esteve em silêncio até este ponto falou. — Existem regras por uma razão. Isso não significa que nós temos que gostar delas, então sugiro que você não abuse da sorte, Príncipe. Então, Roth fez o impensável. Ele levantou a mão e estendeu seu dedo médio. — Será que isso conta como abuso, Bob2? Oh merda, ele provocou um Alfa! E chamou o Alfa de Bob! Quem faz isso? Sério? Meu queixo caiu no chão enquanto o Tambor em miniatura tossia outra nuvem de fumaça. — Não estou cego pela glória de vocês, — Roth disse. — Vocês se sentam em suas nuvens altas e julgam todos os seres vivos que existem. Nem tudo é preto-ebranco. Vocês sabem disso e ainda assim não reconhecem nenhuma área cinzenta. Faíscas de eletricidade crepitavam dos olhos completamente brancos do Alfa. — Um destes dias, Príncipe, você conhecerá o seu próprio destino. — E o farei de forma bastante espetacular, — ele brincou. — E com uma ótima aparência enquanto faço isso também. Apertei brevemente os olhos fechados. Oh Meu Deus... O Alfa da direita se moveu; sua mão fechada no punho da espada o apertando mais, e eu tinha a sensação de que ele queria enfiá-la em Roth. Achei que era hora de 2 Um nome de substituição para o nome que você não conhece.


tirar a minha língua do céu da boca. — Você está aqui por causa do Lilin, certo? Vamos pará-lo. — Eu não fazia ideia de como faríamos isso, e provavelmente não deveria fazer uma promessa aos seres que poderiam me destruir num piscar de olhos, mas não vi uma escolha. Não só porque eu precisava distraí-los de Roth, mas porque o Lilin precisa ser parado. Qualquer coisa com uma alma agora estava em perigo. — Eu prometo. — Os Guardiões cuidarão do Lilin. Foi para isso que eles foram criados – é o trabalho deles proteger a humanidade. Se não o fizerem, eles pagarão o preço final junto com os demônios, — o Alfa que falara respondeu primeiro. — Mas estamos aqui para lidar com você. Meu coração parou novamente. — Eu? O Alfa que Roth apelidara de Bob estreitou os olhos. — Você é um sacrilégio da mais alta ordem. Antes, você era uma abominação que deveria ter sido tratada, mas agora, você é uma perversidade que não podemos permitir que continue. Roth inclinou a cabeça para o lado enquanto Zayne corria para frente. — Não! — Zayne disse; suas asas dobrando para trás. — Ela nunca fez nada que... — Oh, sério? — O outro Alfa respondeu secamente enquanto suas asas se arqueavam e ficavam mais altas. Aqueles olhos incorporados nas penas giravam ao redor da sala, e então, todos eles, centenas deles, focaram em mim. — Nós vemos tudo, Guardião. A justiça deve ser feita. Bob levantou a espada, e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Roth estendeu o braço. Ele me pegou um pouco acima do peito, empurrando-me para Zayne. Eu bati em seu peito duro, e teria caído se Zayne não tivesse me segurado com o braço em minha cintura. Tambor, ainda circulando perto do ombro de Roth, soltou outro grito que se transformou em um rugido, o que fez a casa tremer ainda mais do que tremera quando os Alfas apareceram.


Roth abaixou o queixo, sorrindo. — Como eu disse antes, o tamanho importa. Tambor começou a crescer a uma proporção que não consegui sequer acompanhar, brotando pernas do tamanho de troncos de árvores e garras com o comprimento de anzóis. Brilhantes escamas azuis e douradas do dragão pareciam à prova de balas, e as patas traseiras esticadas para o chão, quebrando as tábuas de madeira. Uma asa carmesim bateu no teto, atravessando-o. Gesso caiu em espessas nuvens enquanto a outra asa atingia a cadeira. O Alfa gritou algo, mas foi perdido em meio ao rugido do dragão, cantarolando e rosnando. Ele se inclinou, balançando a enorme cauda cravada ao longo do chão. Móveis voaram na parede, quebrando um retrato. Uma janela quebrou e o ar frio proveniente do exterior verteu para a sala. Tambor parou na nossa frente, de frente para o Alfa enquanto ele recuava, bufando faíscas de fogo de suas narinas. O fogo escureceu o que restava do teto quando Bob gritou novamente. — Você dá um passo em direção a ela e eu fritarei um pouco de Alfa para mim. — A voz de Roth era baixa e mortalmente calma. — Estilo Extra-crocante. Um Alfa recuou, mas Bob parecia explodir uma junta. — Você se atreve a nos ameaçar? — Atrevo-me muito mais do que isso. — A pele de Roth parecia fina, seu rosto adquirindo ângulos afiados. — Não ficarei parado vendo um fio de cabelo na cabeça dela ser prejudicado. Se você a quer, terá que passar por mim. Bob sorriu largamente para isso, e meu estômago caiu. Roth foi preso e estava determinado a se matar por minha causa. Ele se sacrificou para os abismos, voltou deles, em seguida foi contra seu Chefe e salvou minha vida. De maneira nenhuma eu poderia permitir que ele estivesse entre mim e o perigo novamente. — Pare! — Eu consegui me libertar do aperto de Zayne, mas Tambor mudou. Sua cauda balançou, parando nem uma polegada de meus quadris.


Eu não poderia ir mais longe. Meu olhar de pânico disparou de Roth para os Alfas. — Seja qual for problema que vocês tenham, isso é comigo. Não eles. Assim, pode... Mesmo enquanto eu falava, Bob, o Alfa, se moveu em direção a Roth, levantando a espada de fogo, e Tambor não gostou disso. Se erguendo novamente, ele esticou o longo pescoço e abriu a boca, revelando presas do tamanho de um punho. O cheiro de enxofre aumentou, e então uma explosão de fogo disparou da boca dele. Um grito cheio de dor terminou abruptamente, e onde Bob estava anteriormente, agora estava apenas uma pilha de cinzas carbonizadas. Todo mundo ficou perfeitamente imóvel. Ninguém falou ou mesmo pareceu respirar. E então... — Faça esse extra-extra-crocante, — Roth disse, estudando a bagunça. Meus joelhos enfraqueceram quando levantei minhas mãos, impotente. Tambor girou para o outro Alfa. Houve uma série de triturações repugnantes, e então, o dragão olhou por cima do seu ombro, seus olhos dourados encontraram os meus enquanto ele abria a boca. Um líquido azul brilhante manchava seus dentes quando ele deixou escapar um som que realmente soou como uma risada gutural. Bambi havia comido um Guardião. Tambor havia comido um Alfa. Estes familiares realmente não tinham boas maneiras. Algo mais importante, eu não sabia que poderia realmente matar um Alfa, muito menos comer um. — Oh-oh! — Stacey gritou, e eu me virei para o lado, bem a tempo de vê-la espremer-se em duas almofadas do encosto do sofá. — Há um dragão na minha casa!


Um dragão! — Acho que ela ainda estava muito desligada com o desmaio para lembrar que havia anjos em sua casa também. — Tambor, — Roth chamou. — Volte para mim. O dragão arrotou uma espessa nuvem de fumaça e se virou. Com um pulo saí do caminho de sua cauda, assim como Zayne. A lareira não teve a mesma sorte. A cauda letal a atingiu, derrubando alguns tijolos soltos. Eles caíram no chão, ficando em pedaços. Tambor deslocou seu peso pesado de um lado para o outro. Zayne franziu a testa. — Isso está... Arrastando os pés? Roth revirou os olhos. — Ele não sai muito. — Por razões óbvias, — Stacey murmurou. Tambor levantou a cauda e a bateu, quebrando o que restava do chão e ganhando um suspiro de Roth. O dragão sacudiu a cabeça, depois estremeceu antes de encolher à sua forma bonita, do tamanho de um gato. Tambor finalmente voltou para Roth, estabelecendo-se no lado de seu rosto como uma pequena sombra, a qual rapidamente deslizou pelo pescoço e sob o colarinho da camisa. Fiquei impressionada, absolutamente silenciosa, e mal tinha consciência de voltar para a minha forma humano. Meus pensamentos corriam de uma situação ruim para a próxima. Sam como o Lilin. Minhas asas emplumadas. Alfas aparecendo. Tambor. — Mamãe vai me matar, — Stacey sussurrou, apertando uma almofada bege ao peito. Ela olhou para cima. — Como explicarei isso? Roth franziu os lábios. — Explosão de gás? — Stacey repetiu as palavras vagamente enquanto continuava. — Posso queimar o lugar, torná-lo um pouco mais autêntico. Não danificará o andar de cima, caso não queira isso. — Tem muita prática com isso, não é? — Zayne perguntou secamente.


— Ah, quando Tambor sai, é sempre bom usar explosão de gás como desculpa. É prático. — Roth se virou para mim. — Você está bem aí? Eu estava bem? A raiva misturava com medo, medo por ele. Olhei por um momento e então, corri em direção a ele. — O que você estava pensando? — Virando, eu bati no peito dele. — Você ameaçou um Alfa! — Eu bati novamente, mais forte dessa vez, o suficiente para picar. — Ow. — Ele esfregou o peito, mas seus olhos brilhavam. Ele achava que isso era engraçado! Zayne caminhou até onde a pilha de cinzas permanecia. — Mais do que apenas ameaçar. Ele deixou Tambor comê-los. — Ei, tecnicamente, Tambor fritou um e comeu o outro, — Roth corrigiu, acariciando seu estômago, onde Tambor agora descansava. — Oh meu Deus! — Desta vez minha mão acertou o braço. — Você estará em tantos problemas, Roth! Tantos problemas. Ele deu de ombros. — Me defendi. — Me defendi. — Eu o imitava, balançando a cabeça para trás e para frente. — Você não pode simplesmente sair por aí matando Alfas, Roth! — Você matou aqueles anjos? — Stacey perguntou; então eu imaginei que ela se lembrou deles. Ele deu um sorriso inocente. — Bem, eu não, mas... — Roth! — Gritei, afastando-me antes de começar a asfixiá-lo. — Isto não é uma piada. Você...


Ele era malditamente rápido quando queria ser. Um segundo, ele estava a vários metros longe de mim, e no próximo ele estava lá, apertando o meu rosto. Ele abaixou a cabeça para que estivesse no nível dos meus olhos. — Existem regras, pequena. — Mas... — Regras que até mesmo os Alfas têm de respeitar. Eles não podem me atacar sem provocação física. Se o fazem, eles desafiam o Chefe, e então o Chefe retalia de uma maneira que fará o que o Lilin fez parecer uma brincadeira de criança. Não sou apenas um demônio aleatório. Eu sou o Príncipe Herdeiro. Eles levantaram o braço para mim, e eu me defendi. Fim da história. Mas ele os provocara, talvez tivesse provocado não fisicamente, mas ele não era um espectador inocente. Quando o choque diminuiu, houve um tipo diferente de pílula amarga para engolir. E se Roth entendeu as regras de forma errada? E se mais Alfas viessem para vingar seus irmãos? — Eu ficarei bem. — Seus olhos me fitaram conforme ele se aproximava, alinhando os pés com os meus. — Nada acontecerá comigo. Eu prometo. — Você não pode fazer essa promessa, — sussurrei, procurando seu olhar atentamente. — Nenhum de nós pode. Suas mãos deslizaram e ele fechou os dedos no meu cabelo solto. — Eu posso. Essas duas palavras eram como jogar ao chão um desafio a todo o universo. Baixei meu olhar enquanto ele arrastava meu cabelo para trás, colocando atrás das minhas orelhas. Foi então que, enquanto ele lentamente retirava suas mãos, que lembrei que não estávamos sozinhos. Afastei-me e meu olhar colidiu com Zayne. Por um momento, deixei-me realmente ver Zayne. Eu quase o matei. Quase fiz algo muito, muito pior do que isso. Quando um Guardião perde a sua alma, se transforma em uma criatura horrível. Eu


sabia disso, porque eu vi o que aconteceu a um Guardião após a sua alma ter sido tirada dele. Quase fiz isso para Zayne, e ele ainda estava aqui, ao meu lado. Um buraco se abriu no meu peito quando vi a sutil cautela em seu olhar. Meu estômago revirou com algo terrível e abri minha boca, mas não sabia o que dizer. Meu coração e cabeça iam subitamente a duas direções muito diferentes. Felizmente, eu não tive a chance de dizer alguma coisa. — Eu o deixo sozinho por algumas horas, e você deixa Tambor fritar e comer um Alfa. Ganindo, virei-me conforme Stacey gritava. Cayman estava no centro da sala de estar destruída. Ele veio do nada. Poof. Lá estava. Ele usava calça escura e uma camisa branca que ele parecia ter se aborrecido ao colocá-la, e seu cabelo loiro estava solto em volta do rosto angular. Quando se tratava de hierarquia demoníaca, Roth uma vez explicara que como um administrador Infernal, Cayman era gerência média. Ele era como o demônio-de-toda-obra, e eu tinha a sensação de que ele era mais do que apenas um... Um colega de trabalho de Roth. Roth afirmando isso ou não, eles eram amigos. — Isso foi rápido, — Roth comentou, cruzando os braços sobre o peito. Cayman deu de ombros. — É um sinal dos tempos, homem. Isso provavelmente estará no mural do Facebook de algum Alfa dentro de uma hora. Alfas tinham Facebook? Stacey agora segurava a almofada na boca, e tudo o que era visível era os seus enormes olhos castanhos escuros. Quando falou, sua voz estava abafada. — Quem é esse? Comecei a explicar, mas Cayman se inclinou na direção dela, estendendo seu braço com um floreio. — Só o mais bonito e mais inteligente demônio, e francamente,


o mais charmoso que existe. Mas sei que é um bocado demais, então você pode me chamar de Cayman. — Hum. — Seu olhar se lançou ao redor da sala. — Ok. A pele de Zayne escureceu, em uma clara indicação de que ele estava perto de mudar novamente, e eu esperava que ele mantivesse a calma. Cayman era um amigo, e a última coisa que precisava era os dois se metendo um com o outro. — Roth está em apuros? — Pequena, eu... Levantei a mão, interrompendo-o. — Shiuuu. Cayman, ele está em apuros? Cayman sorriu. — Acho que a melhor pergunta é: quando ele não está em apuros? Estreitando meus olhos, eu precisava admitir que era um bom ponto. — Ok. Ele está em mais problemas do que normalmente está? — Ah... — seu olhar se deslocou para Roth, em seguida, seu sorriso se espalhou em um sorriso diabólico. Ele estava gostando mesmo. — Vamos apenas dizer que o Chefe não está satisfeito com o que acabou de acontecer aqui. Na verdade, o Chefe está incomodado com um monte de coisas, e se Roth descer em breve, ele provavelmente não sairá por um tempo. Como por um par de décadas. Suspirei. — Isso não é bom. — Tanto faz o Chefe estar do lado de Roth. — Poderia ser pior, — Roth disse, sorrindo. Cayman assentiu. — Se quer a verdade, acho que o Chefe secretamente ficou satisfeito com o que Tambor fez, mas você sabe... Política. — Ele suspirou enquanto eu levantava minhas sobrancelhas. — Estraga tudo que é divertido. Minhas têmporas começavam a doer. — Hoje foi...


— Inacreditável? — Stacey ofereceu. Soltando a almofada, ela pressionou as palmas das mãos sob os olhos. A sua expressão era pálida e tensa. Suas mãos tremiam enquanto limpava sob seus olhos. Balancei a cabeça lentamente enquanto virava. Meu olhar encontrou Roth e depois Zayne. Ambos olharam para mim, esperando. Eu queria fingir que não sabia o que eles estavam esperando, mas isso seria uma mentira. E isso também me faria uma covarde. Peso pousou sobre os meus ombros enquanto eu esfregava meus dedos ao longo das minhas têmporas. Havia tanta coisa que eu precisava descobrir. — Precisamos cuidar disso. — Fiz um gesto para a sala arruinada. O cheiro de enxofre permanecia, e parte de mim estava grata por ter algo imediato em que se concentrar. — Então Stacey não fica em apuros. — Muito agradecida, — ela disse, e quando olhei para ela, eu a vi arrastando as mãos pelos cabelos. Roth se moveu. — Por que vocês não vão à padaria enquanto eu cuido disso. Você pode fazer isso? — A pergunta foi dirigida a Zayne, que assentiu. — Vou mantê-las seguras, — Zayne respondeu. Roth hesitou, e então respirou fundo. — Se outros Guardiões aparec... — Eu protegerei ambas de tudo ou quem quer que possa aparecer, — Zayne assegurou. Ele tomou uma respiração profunda. — Mesmo... Mesmo que seja o meu clã. — E eu também posso me proteger, — eu disse, ganhando um olhar divertido de Roth. — O quê? Confie em mim. Qualquer um dos meus... Meu antigo clã vem em minha direção, eu não abrirei os braços para abraçá-los. — Ignorei a onda de medo


que surgiu com o pensamento de ficar cara-a-cara com eles novamente. — Bem, exceto Nicolai e Dez. Eu acho que eles são... — Pequena, — Roth disse. Suspirei. — Que seja. Vamos. — Virando-me para Stacey, eu andei até ela para erguer suavemente a almofada que ela havia pegado novamente e apertava furiosamente. — Você está bem para sair? Ela piscou uma vez e depois duas vezes. — Quais são as minhas opções? Ficar aqui enquanto Roth queima o lugar? Não, obrigada. É bom ver que mesmo após o dia que tivemos Stacey ainda poderia ser espertinha. Roth se dirigiu até Cayman, colocando a mão no ombro do outro demônio. — Eu quero que você mantenha um olho lá fora, ok? A lista de coisas que Cayman deveria estar tomando conta era astronômica. — Tudo bem. — Cayman desapareceu. Poof. Foi. Balançando a cabeça, eu olhei para Stacey. As lágrimas enchiam seus olhos enquanto ela olhava para mim através de cílios úmidos. — Sam... Ele está morto, não é? Coloquei a almofada ao lado dela no sofá e me ajoelhei. Um nó quente de emoção se formou no fundo da minha garganta. — Sim. Ele está. Ela fechou os olhos enquanto um tremor passava por ela. — Eu me lembro de você falando sobre o... O Lilin e o que ele faz com as pessoas. Se ele está morto, então a alma de Sam...


A alma dele estava no Inferno. Eu sabia. Stacey já sabia disso. Todos nesta sala sabiam, e não poderia haver nada mais terrível do que ser preso no Inferno. Ele não merecia todas as coisas terríveis que aconteciam com as almas lá. Segurando as mãos de Stacey, eu as apertei com força. — Prometo tirar a alma de Sam do inferno. Eu prometo.


— Você não deveria ter feito essa promessa, — Zayne disse calmamente após Stacey entrar no banheiro das meninas na padaria que ficava a várias quadras da casa dela. Eu tentei ir com ela, mas ela declarou firmemente que precisava de alguns momentos sozinha. Sentei na cabine mais próxima à janela, observando as pessoas correndo do lado de fora, suas auras uma tela estonteante de cores. Era tão estranho ver as auras novamente. Uma parte de mim se acostumou a não vê-las enquanto Bambi estivera em mim, e esqueci como poderia ser perturbador. — Por que não? Zayne deslizou na minha frente. Preocupação beliscou suas feições. — Como você conseguirá tirar a alma de Sam do Inferno, Layla? Roth pode ser o Príncipe Herdeiro, mas eu duvido seriamente que isso seja algo que ele possa pedir, ainda que ele tenha um bom relacionamento com eles. O Inferno não entregará a alma de Sam assim. — Eu não cheguei tão longe no meu plano. — Na verdade, eu esperava que fosse algo que Roth poderia nos ajudar. Afinal, ser o Príncipe Herdeiro significava que ele poderia apenas deixar Tambor fritar e comer Alfas. — Mas é algo que devemos


fazer. Zayne, ele é meu melhor amigo. — Minha voz falhou, e eu senti meu tênue controle sobre minhas emoções começar a escorregar. — Ainda que não fosse, eu não poderia deixá-lo lá. Ele não merecia isso. Deus, Zayne, Sam não merece isso. — Eu sei. — Zayne abaixou o queixo, seu olhar nunca deixando o meu. — Não estou sugerindo que nós vamos esquecê-lo. — Nós devemos fazer alguma coisa, — reiterei; respirando profundamente enquanto encostava à cabine e descansando minhas mãos sobre a mesa lisa. Olhei para onde Stacey havia desaparecido. Ela pediu um tempo, mas era tão difícil dar a ela. Considerando tudo o que aconteceu, fiquei surpresa por podermos nos sentar aqui e conversar normalmente. — E então, nós precisamos descobrir o que com o Lilin, e depois nós... — Hey, desacelere por um segundo. — Zayne estendeu a mão, dobrando sua mão sobre a minha. Estudei-o enquanto o meu coração ficava pesado. Sempre que eu olhava para ele agora, via as manchas sob seus olhos, e via a aura embotada ao redor dele. Eu não poderia deixar de ver isso. — Eu sei que muitas coisas malucas aconteceram, mas você já passou por muita coisa. Precisamos conversar sobre isso. Eu realmente não quero falar sobre nada disso, porque havia uma boa chance de que eu não poderia lidar com isso. Zayne tinha outras ideias. — Você sabe como é difícil para mim sentar do outro lado desta cabine e não puxá-la para o meu lado? Só para ter certeza de que está realmente viva? — Ele perguntou, e minha respiração ficou presa na honestidade crua de suas palavras. — O que aconteceu não foi culpa sua. Você precisa saber disso. Meu clã, nosso clã, e meu pai nunca deveriam ter feito o que fizeram. Deixei meu olhar ir para a mão dele, que segurava a minha, e me segurara por tantos anos. Fechei os olhos e imediatamente vi Zayne deitado no chão do meu quarto, pálido e imóvel. Lembrei-me de como Abbot, o Guardião que me criou, olhou para mim ao encontrar seu filho, ele olhou para mim como se eu fosse um monstro que ele


ajudara a criar. Pressão cresceu no meu peito conforme recordava a fuga em pânico através do complexo, a minha tentativa desesperada de escapar, e o fracasso. Falha que terminou comigo sendo presa e drogada, deixada sozinha no escuro, sem esperança de alguma vez ver a luz do dia novamente. Eu ainda podia sentir o cheiro de mofo que permanecera no porão do complexo, sentir as correntes que me amarravam quando fui transferida para o armazém secreto. — Layla? Um tremor rolou por mim quando lembrei que eu não estava mais naquela jaula. Abri os olhos e forcei aqueles pensamentos sombrios para fora da minha cabeça. — Eu aprecio que você esteja dizendo isso. Você está certo. O que eles fizeram comigo foi errado. Percebo que eles pensaram que era eu a causadora dos problemas ao redor do complexo, até mesmo eu pensei que era um perigo para todos, mas eles foram longe demais. Minhas palavras me surpreenderam. Sempre defendi Abbot, mas eu não conseguia arranjar desculpas para suas ações ou para os da maioria de meu clã. Tudo o que pensei depois de acordar do golpe, a ferida destinada a mim e realizada na frente de Abbot, havia mudado quem eu era no meu interior. Não havia nenhuma dúvida quanto a isso. — Eles agiram como o júri com algumas evidências circunstanciais bem ruins, e, em seguida, eles se tornaram o juiz e o carrasco. Eu poderia ter morrido. Eu teria morrido se não fosse por Dez... E, a propósito, em quantos problemas ele e Nicolai estão agora? Dez e Nicolai arriscaram tudo, alertando Roth para o que estava acontecendo. Se eles não tivessem feito isso, eu não estaria sentada aqui agora. Os cílios de Zayne baixaram enquanto a sua expressão ficava deformada. — No início houve discussões sobre expulsá-los, — ele disse, e eu respirei fundo. Expulsá-los significava que eles seriam deserdados do clã, o que era horrível o suficiente para um único macho, mas Dez tinha uma companheira e dois bebês


pequenos. — Mas, uma vez que eles perceberam que era Petr causando estragos ao redor do complexo, Abbot começou a ver a luz. Nicolai e Dez estão seguros. Com tudo o que aconteceu, eu esqueci que Zayne havia me dito que eles descobriram a aparição de Petr, pego na câmera. Alívio me atravessou. Eu... Eu matara o jovem Guardião em legítima defesa quando ele me atacou, cumprindo ordens de seu pai. Elijah. Que também acabou por ser o meu verdadeiro pai, isso significava que Petr, que foi o pior tipo de garoto que havia, era o meu meio-irmão. Isso ainda me enojava. Desde que eu suguei a alma de Petr, ele se tornou um fantasma. — Você poderia ter morrido também. Eu poderia ter tomado toda a sua alma, — eu continuei, mantendo minha voz baixa. Esse foi o presente de minha mãe, Lilith. Ela me deixou com a maravilhosa capacidade de sugar almas com um único beijo. Qualquer um que recebesse um beijo estava em perigo, a minha boca era perigosa, o que até recentemente colocara um verdadeiro amortecedor sobre todo o negócio de namoro. Mas, então, Roth apareceu, e como um demônio, ele estava na categoria de sem-alma. No início, eu odiava sua própria existência, e olhando para trás, isso tinha muito a ver com a forma como suas palavras e ações me faziam questionar tudo o que os Guardiões me ensinaram. Por natureza, os demônios não eram algo que você pudesse convidar para jantar, mas nem todos eram as criaturas miseráveis que fui condicionada a abominar a um grau quase fanático. Eles tinham sua finalidade também. Cada segundo que passei com Roth, eu me apaixonei um pouco mais por ele, e compartilhei muito com ele antes dele se sacrificar para salvar Zayne dos abismos do Inferno. Pensei tê-lo perdido então, mas ele conseguiu voltar, embora as coisas entre nós tivessem ficado diferentes. Roth se distanciara, para me proteger. Para me proteger de Abbot. Então, houve tudo o que aconteceu com Zayne. Eu fui criada com ele, passei anos o idolatrando e o amando de longe. Durante muito tempo, ele foi o meu tudo, mas ele era um Guardião e eu era apenas metade Guardião, e pior, metade demônio.


Entre a sua alma e minha herança genética, ele estava fora dos limites. A amizade com ele, o vínculo que compartilhamos, foi um vislumbre de um futuro que cada Guardião feminino tinha assegurado, mas que nunca esteve sobre a mesa para mim. Esse conhecimento não fez nada para parar os meus sentimentos crescentes, e quando Roth retornou dos confins do Inferno, empurrando-me para longe, ele me empurrou diretamente para os braços de Zayne, o homem que eu nunca pensei que retribuiria as minhas afeições. Eu estava errada sobre isso. Eu estava errada sobre um monte de coisas. Os olhos de Zayne se abriram. — Mas você não tomou. — Por pouco. — A pressão voltou, pesando sobre mim enquanto eu sentia novamente o horror da noite em que percebi que havia me alimentado de Zayne em vez de... Em vez de beijá-lo. — Posso ver onde tirei os pedaços da sua alma. Eu posso dizer em sua aura. — Estou bem... — Não graças a mim. A única razão pela qual eu fui capaz de... Beijá-lo antes, era Bambi. Quando ela estava em mim, eu podia controlar minhas habilidades. — Deslizei minha mão livre, pressionando meus lábios enquanto balançava a cabeça. — Você não pode ignorar o que eu fiz com você, e sei que você não pode estar cem por cento bem. Zayne olhou para mim e então levantou a mão, empurrando os dedos pelo cabelo. — Você parou a tempo. Apenas me sinto um pouco cansado e... Mais rabugento do que o normal, eu estou bem, Layla-bug. Meu coração apertou com o uso do meu apelido. — Mais rabugento do que o normal?


As sobrancelhas subiram, e por um momento, eu não achei que ele responderia. — Meu temperamento é mais fácil de inflamar atualmente. Não sei se isso tem a ver com o que aconteceu entre nós ou se é o resultado natural de tudo o que está acontecendo ultimamente. Eu acho que sabia a resposta para isso. Quando a alma de alguém era arrancada, mesmo um pedacinho, mudava quem eles eram, de alguma forma. Talvez tenha feito alguns um pouco mais propensos a mudanças de humor, outros mais imprudentes e outros violentos. E, aparentemente, para Zayne, ele perdera um pouco de sua bondade, um pouco do que o faz absolutamente maravilhoso, e eu fiz isso com ele. Embora não fosse de propósito, nós, especialmente eu, não mostramos qualquer nível de bom senso ao tentarmos ficar juntos. Não pensamos muito profundamente no porque de repentinamente eu poder fazer coisas como beijar e tirar uma alma. Então, novamente, como Zayne apontara uma vez, havia muito mais que poderíamos ter feito sem unir as nossas bocas. Estranhamente, sentada na frente dele, percebi que não sentia o desejo de me alimentar. Era a primeira coisa que eu notei em sua ausência. Desde que o meu clã me abandonara, eu estava ficando com Roth e Cayman, e como nenhum deles possuía uma alma, eu ainda não havia pensado sobre a alimentação – algo com que passei dezessete anos lutando contra a vontade de fazer. Agora, embora eu estivesse mais uma vez rodeada por almas, o desejo simplesmente não estava lá. Talvez os acontecimentos de hoje tenham me chocado o bastante que até isso foi afetado. — Sinto muito, — eu disse finalmente, lançando o olhar para a rua além da janela. Era a segunda semana de dezembro, e os céus acima de Washington, DC,


estavam cinza e o vento forte, carregando o cheiro de neve no ar. — Eu sinto muito, Zayne. — Não se desculpe, — ele foi rápido em dizer. — Nunca peça desculpas para mim. Eu não me arrependo de nada que aconteceu entre nós. Nem um momento. Será que eu me arrependo? — De qualquer maneira, não é sobre mim que quero falar. Você está bem? — Ele perguntou. — O que eles fizeram... — Eu estou bem, — eu disse, e parecia uma mentira. — Fui curada pelos bruxos. Sabe, aqueles que adoram Lilith. Eles deram a Cayman algo para eu beber e funcionou. — O que me lembrou do fato de que Cayman teve que prometer algo em troca e nós ainda não sabíamos o negócio que ele fizera. — Não tenho ideia do que eles me deram. — Isso é preocupante, — ele respondeu ironicamente. Meus lábios tremeram, e quando levantei meu olhar, nossos olhos se encontraram, e depois ficaram paralisados. Ele se inclinou, colocando os cotovelos sobre a mesa. — Layla, eu... Uma sombra caiu sobre a nossa mesa, e quando olhei para cima, vi a aura de Stacey primeiro. Era um verde suave, semelhante à cor do musgo. A cor comum. As almas puras eram raras, e quanto mais escura a sombra da aura, mais provável era que eles tinham pecado. O rosto manchado de Stacey quebrou meu coração. Eu deslizei, enviando um olhar a Zayne. O olhar que ele me deu prometeu que esta conversa ainda não estava terminada. — Como você está? — Perguntei, sabendo que era uma pergunta estúpida. — Estou bem. — Ela não parecia bem. — Eu só precisava de um momento ou cinco. — Parecia mais como dez, mas ela poderia ter tantos momentos quanto


precisasse. Ela fez uma pausa, passando o dorso de suas mãos sobre suas bochechas. — Eu estou bem, certo? Meu sorriso era fraco enquanto lágrimas queimavam a parte de trás de meus olhos. — Sim. — Estendi a mão, deslizando meu braço sobre os seus ombros. — Mas se não estiver, tudo bem também. Um tremor percorreu-a enquanto ela se inclinava, descansando a cabeça no meu ombro. Normalmente, era difícil se alguém ficasse tão perto, mas, novamente, o desejo que existia profundamente dentro de mim não estava roendo minhas entranhas. — Ele está morto, — ela sussurrou. Fechei os olhos e me forcei a tomar profundas, realmente profundas respirações, para afrouxar o nó na minha garganta. Tudo o que eu queria fazer era segurar Stacey e desabar, porque Sam... Deus, Sam partiu, e foi como um milhão de lâminas de barbear soltas no meu estômago, mas eu precisava ser forte pela Stacey. Ela conhecia Sam a muito mais tempo do que eu, desde a escola primária, e ela se apaixonara por ele. Sua dor era uma prioridade sobre a minha. Mantendo meu braço em torno dela, eu não disse nada, porque não sabia o que dizer nestas situações. Mesmo quando eu pensara que Roth havia partido, eu tinha esperança de que ele ainda estava vivo. Isto era diferente. Não haveria surpresas. Sam não iria reaparecer um dia. Ninguém próximo de mim já havia morrido anteriormente, e eu sabia que a minha mente não havia totalmente processado a realidade dele ter partido. Então, apenas a abracei enquanto olhava para a porta, cegamente observando as pessoas entrando e saindo. Em algum ponto, Zayne se levantou e voltou com duas xícaras de chocolate quente. Eu mal senti a doçura. Não sei quanto tempo se passou até eu sentir o formigamento de consciência me alertando da presença de um demônio. Na nossa frente, Zayne endureceu, mas quando a porta se fechou, era Roth. Ele caminhou até a nossa mesa e Zayne ficou tenso. Normalmente, teria desatado a rir de vê-los sentados lado a lado.


Nenhum deles parecia exatamente confortável. Havia um perfume amadeirado que se agarrava à roupa de Roth, como se ele tivesse estado perto de uma fogueira. — Tratei de tudo, — disse a Stacey. — Seu andar de baixo está praticamente queimado. O corpo de bombeiros já está a caminho. Basta lembrar que você não foi para casa depois da escola. Você veio aqui para ficar com Layla e Zayne. Engolindo com força, ela balançou a cabeça e circulou as mãos ao redor da xícara de chocolate quente. — Entendi. Roth inclinou a cabeça para o lado, as sobrancelhas franzidas enquanto a observava. — Você ficará bem com isso. Quando Stacey balançou a cabeça novamente, ele estendeu a mão sobre a mesa, e a mão virou para a esquerda. Ele pegou a minha xícara de chocolate quente. Tomando um gole, ele nem sequer olhou na minha direção. — Sirva-se, — murmurei sob a minha respiração. Seus lábios tremeram. — Então, qual é o plano de jogo, Stony? Um músculo se contraiu ao longo do queixo de Zayne. Ele odiava esse apelido. — Plano de jogo em relação a quê exatamente? — O Lilin, — Roth respondeu, como se a resposta devesse ser óbvia. Eu endureci. — Acho que agora não é o momento para discutir isso. Os olhos dourados se afastaram de mim para Stacey. Houve uma pausa. — Bom ponto. — Não, — disse Stacey, virando para mim. — Este é o momento perfeito. — Mas...


— Aquela coisa na minha casa não era Sam. Não era, — ela disse, levantando a voz. Um casal na porta olhou para nós com os rostos sérios. — Então, quando você falar sobre isso, o Lilin, você não está falando sobre Sam. – Sua voz travou. — Aquela coisa não é Sam. Zayne moveu-se para frente na cabine. — Você tem certeza, Stacey? — Positivo, — ela sussurrou. Com o peito dolorido eu olhei para eles e assenti. — Ok. Roth devolveu o meu copo ao lugar em que estava e se inclinou contra o assento almofadado, virando a cabeça para Zayne. — Soou como os Alfas tivessem falado com os Guardiões, e se esse for o caso, acho um pouquinho interessante você não ter dito nada. — Quando eu teria tido tempo para dizer alguma coisa, mesmo que fosse esse o caso? — Zayne retrucou com a voz entrecortada. — Entre ver Layla e quando os Alfas realmente apareceram? Roth levantou as sobrancelhas. — Você está ficando irritado comigo? — Você acha? — Zayne retorquiu. — Não sei. — Um ligeiro sorriso se formou em seus lábios conforme ele jogava o braço ao longo das costas do assento. Eu suspirei, porque conhecia esse olhar. — Mas você ficar sarcástico comigo é quase tão interessante quanto ler sobre os benefícios de um sistema de purificação de água. Olhei para ele. Apenas poucas horas atrás, Zayne havia agradecido Roth por me salvar. Eles foram realmente educados um com o outro. Imaginei que não deveria ficar surpreendida por não durar muito tempo. — Roth. — Hmm?


Meus olhos se estreitaram. — Pare com isso. O sorriso se espalhou até que houve um flash de dentes brancos. — Qualquer coisa para você, pequena. Oh, Senhor. Zayne mudou seu olhar para mim, e eu não conseguia decifrar o que vi em seu olhar. — Não sei se os Alfas falaram com meu pai ainda. Eu realmente não tenho estado... Falando com ele recentemente, e eles não apareceram no complexo enquanto eu estive lá. — O que não entendo é por que os Alfas poderiam pensar que o seu tipo seriam os únicos a parar o Lilin. Vocês têm almas, portanto, têm uma grande vulnerabilidade. — Roth olhava para o que restava do meu chocolate quente. — Meu tipo não tem esse problema. — Não é algo para se vangloriar. — Zayne exalou ruidosamente, e resisti à vontade de bater a cabeça contra a mesa. — Olha, vou até lá e ver se consigo descobrir alguma coisa. — Tudo bem, mas temos um problema maior, — Roth advertiu. Stacey afastou os olhos da sua xícara. — Nós temos? Eu queria ecoar essa afirmação, porque não sabia exatamente o que poderia ser maior do que derrubar uma criatura que poderia infligir tanta dor e destruição. — O que os Guardiões farão uma vez que souberem que Layla está viva e bem? — Houve um som baixo na voz grossa de Roth que se assemelhava a um grunhido. — É com isso que eu estou preocupado. Os lábios de Zayne se apertaram. — Eles farão nada. Eles sabem que ela não é a causa do que aconteceu...


— Isso não desfaz nada que eles fizeram, — Roth interrompeu. — Eu não disse que fazia. — A mão Zayne que repousava sobre a mesa começou a mudar para uma cor de granito. — Eu não permitirei que toquem nela. Abri minha boca para ressaltar, mais uma vez, que eu não permitiria que eles tocassem em mim, mas Roth encarou Zayne. — E eu não esquecerei uma única coisa que fizeram com ela, — ele advertiu. — Eu não me esqueci de como ela voltou para mim, com marcas de garras no rosto. Sugando uma respiração afiada, eu encostei-me ao assento enquanto Stacey se virava para mim. — Você estava com marcas de garras no rosto? Apertei minha boca fechada enquanto olhava para ela, recusando-me a olhar para Zayne, ou mesmo Roth, mas eu não precisava olhar para eles para saber que estavam se encarando. Quando Zayne me beijou, e inadvertidamente comecei a me alimentar da alma dele, ele começou a mudar e me agarrou, em uma tentativa de quebrar a ligação. Não havia uma única parte de mim que pensou que ele tinha a intenção de realmente me machucar. Roth deveria saber isso também. Os olhos de Stacey procuraram os meus, e ela deve ter visto a verdade, porque tão impossível quanto parecesse, uma tristeza ainda maior encheu seu olhar. — Eu nunca vou me perdoar por isso. — A voz calma de Zayne quebrou o silêncio conciso, e virei para encará-lo. Roth abaixou o queixo. — Nem eu. — Pare com isso. — Apertei a ponta da mesa. — Falar sobre isso não nos levará a lugar nenhum. Não importa. — Faz diferença, — Roth respondeu. — Porque não importa o quê, eu nunca, nunca a machucaria. Zayne recuou como se tivesse levado um golpe fatal.


— Mas você fez isso. — Meus dedos começavam a doer. — Você me machucou. Talvez não fisicamente, mas Roth me machucou no passado. Palavras poderiam cortar tão profundo quanto garras afiadas, e enquanto a pele pode curar, as feridas que as palavras deixam não se desvanecem tão rapidamente. Ele podia ter feito isso tentando me proteger, mas não havia diminuído nenhum pouco a picada. O olhar de Roth encontrou os meus olhos, e então seus cílios grossos baixaram, protegendo os olhos. Silencioso, ele se endireitou e cruzou os braços sobre o peito. Zayne olhou para a mesa, uma mecha de cabelo loiro caindo em seu rosto. Tensão escoou de ambos, e minha pele parecia estar muito fina, esticada. O telefone de Stacey tocou e ela o pegou de sua bolsa com uma mão trêmula. Ela começou a se levantar. — É minha mãe. — Olhando para mim com olhos lacrimejantes, ela parecia anos mais jovem. — Eu posso fazer isso. — Você pode fazer isso. — Estendi a mão e apertei o braço dela através da blusa. Seus olhos tinham um olhar selvagem, um olhar de pânico. Ouvi-a atender ao telefone enquanto caminhava até a porta de entrada e saía. Meu olhar a seguiu quando ela começou a andar atrás de um banco vazio. Eu só queria rastejar debaixo da mesa e me balançar um pouco. Achei que não seria pedir demais. Zayne pigarreou. — Você sabe disso, mas você não pode voltar para o complexo. Não é um lugar no qual você pode ficar, onde estará segura. — Eu tenho um lugar para ficar, — disse a ele, tomando um gole de meu chocolate quente, agora morno. Sua mandíbula endureceu. — Com ele? Surpreendentemente, Roth permaneceu em silêncio, o que me fez sentir que eu precisava verificar se ele estava vivo. Coloquei o copo de lado e apoiei os braços


sobre a mesa, mais do que apenas exausta. Mais como cansada até à minha essência. — É um lugar seguro, — eu disse. — E sim, é com Roth e Cayman. Zayne abriu a boca, e depois fechou. Vários segundos se passaram e senti o clique da eternidade. — O que você fará, Layla? A pergunta carregava uma grande quantidade de peso, porque eu sabia que ia além de exatamente onde eu estava hospedada para passar a noite ou nos próximos dois dias. Havia tanta coisa que eu não sabia a resposta. Escola estava fora de cogitação. Onde eu viveria estava completamente incerto. Como poderíamos derrotar o Lilin ou salvar a alma de Sam era ainda desconhecido. Eu não tinha ideia do que acontecia quando me transformei hoje. E havia mais... Havia Roth e Zayne, dois caras muito diferentes que eu tinha amado e pelo quais me apaixonei. Stacey voltou, me salvando de ter que responder a pergunta. Sua mãe estava histérica, como esperado, e Stacey precisava ir para a casa de sua tia. Nós quatro saímos para o ar frio. Stacey e Roth caminharam à frente, mas eu parei e me virei. Com o coração batendo rápido, andei até onde Zayne estava, atrás do banco onde Stacey havia passeado com o celular na mão. Esticando-me, eu o abracei. Houve um momento de hesitação, e então ele devolveu o abraço, me segurando tão apertado que meu rosto ficou pressionado contra o seu peito. O abraço me fez sentir bem, mais do que bem. Foi como voltar para casa após um longo dia, e era difícil de romper isso. — Quando eu te verei de novo? — Ele perguntou com a sua voz grossa. — Logo, — prometi. Seus braços se apertaram ao meu redor. — Por favor, fique segura, Layla. Por favor. — Você também.


— Claro, Layla-bug. Eu olhei nos olhos dele. — Eu nunca o culpei pelas marcas de garras, então, por favor, não se culpe por algo que eu nem sequer preciso perdoá-lo.

***

Roth e eu não falamos na viagem de volta para a casa do outro lado do rio, em Maryland. Ainda não tinha ideia de como eles conseguiram a posse da McMansion, só sabia que Cayman a adquiriu em algum momento, e achei que era melhor não fazer muitas perguntas. Passei várias horas com Stacey, sua mãe e irmão, na casa de sua tia, enquanto Roth permanecia fora fazendo... Coisas de demônio ou o que ele quisesse fazer. Já era tarde, quase meia-noite, quando saí da casa e consegui voltar para esta. Eu não sabia por que Roth estava tão quieto, mas apreciei isso, porque eu não tinha a inteligência para manter uma conversa ou para realmente pensar em qualquer coisa. Roth estacionou o Mustang vintage na garagem, e a casa estava escura e silenciosa quando entramos. O lugar estava quentinho, mas não havia nenhum sinal de Cayman. Subi a escada em espiral e arrastei-me pelo corredor até ao quarto onde havia acordado após eles me resgatarem dos Guardiões. Quando cheguei à porta fechada, eu prendi meu cabelo atrás da minha orelha enquanto olhava por cima do ombro para Roth. Ele estava a pouca distância no corredor, encostado na parede com as mãos nos bolsos e a cabeça pressionada contra a parede. — Ficarei com este quarto aqui, — ele disse sem olhar em minha direção. Ele ficou comigo enquanto eu estava


curando, mas agora realmente não havia razão para... Ficarmos juntos. — Se você precisar de alguma coisa, a porta estará destrancada. Minha mão apertou em torno da maçaneta. — Obrigada. Eu não tinha ideia se ele sabia pelo que eu estava agradecendo, mas ele balançou a cabeça. Nenhum de nós se moveu por um longo momento. Ele continuou olhando para o nada enquanto eu olhava para ele. Finalmente, eu disse. — Boa noite, Roth. Ele não respondeu. Girando a maçaneta, eu abri a porta e imediatamente me dirigi para a lâmpada de cabeceira, ligando-a. O quarto era enorme, uma suíte máster, e decorada com antiguidades deslumbrantes. Nunca me senti mais fora de lugar enquanto pegava o pijama que Cayman trouxe para mim há poucos dias, e rapidamente vesti as calças de algodão e a camisa solta. Pelo menos, a roupa de dormir não era nada como a outra roupa que ele e Roth escolheram para mim. Estava meio surpresa por não me darem uma minúscula roupa de dormir. Fui descalça até o banheiro, um muito maior do que o banheiro em anexo ao meu quarto no complexo dos Guardiões. Bem, meu velho quarto. Definitivamente, não era meu mais. Nada naquela casa era meu mais. A luz no banheiro era intensa e brilhante enquanto eu escovava os dentes e lavava o rosto, deixando pequenas poças na bacia de mármore e gotas na minha camisa. Eu fazia uma confusão nestas tarefas. Mais de uma vez, eu acabei com pasta de dentes no cabelo e parecendo ter participado de um concurso de camiseta molhada. Quando fechei a torneira, olhei para cima e vi meu reflexo no espelho. Mas não me vi. Na verdade, não. Quando fechei os olhos, vi o mesmo, a mesma imagem.


Eu vi Sam. Eu vi Sam sorrindo. Eu o vi rindo. Vi a pele ao redor dos olhos enrugando-se, e quando me afastei da pia, eu podia ouvi-lo jorrando sobre algum conhecimento aleatório e obscuro, tal como uma banana congelada poderia atuar como um martelo. Eu podia vê-lo brincando com os óculos e olhando para Stacey, incapaz de tirar os olhos dela, mesmo quando ela estava completamente alheia à atração dele. Eu podia vê-lo tão claramente, como se ele realmente estivesse no banheiro comigo. — Oh Deus, — sussurrei, e meu rosto enrugou. Não havia ninguém lá para me ver, mas bati minhas mãos sobre meus olhos enquanto me pressionava contra a parede. Um tremor me abalou conforme as lágrimas que eu estive lutando durante toda a tarde e à noite finalmente se libertavam. Sam foi embora. O conhecimento era como ser atropelado por um limpa-neve em excesso de velocidade, e depois ficar preso sob as rodas e arrastado por uma estrada esburacada. Lágrimas caíam enquanto os meus ombros sacudiam com a força delas. Lembrei-me da primeira vez que eu o conheci. Nós compartilhamos uma aula de história no meu primeiro ano, e eu havia estado muito tensa, muito nervosa sobre minha primeira incursão na escola pública e em encontrar as canetas em minha mochila, então ele me deu uma das suas ao explicar que existia uma média de cem pessoas por ano que se sufocavam com canetas. Uma risada estrangulada me escapou. Deus, como Sam sabia todas essas coisas? Quem sabia esse tipo de coisa? Sam sabia, mas eu nunca saberia a resposta para essa pergunta, e isso dói. Tentando ficar firme e calma e falhando, eu deslizei pela parede e coloquei os joelhos contra o peito. Pressionando meu rosto contra a minha perna, eu gritei, expulsando toda dor, raiva e tristeza. O som foi abafado, e ele fez muito pouco para


aliviar a tempestade de emoções rodando dentro de mim. Eu queria gritar novamente, me enfurecer. Não ouvi a porta do banheiro ser aberta, mas de repente, um braço circulou meus ombros, e depois Roth estava sentado no chão ao meu lado. Ele não disse nada quando me puxou para o colo dele, e fui incapaz de pronunciar uma única palavra quando enterrei meu rosto em seu peito, inalando o cheiro almiscarado único e absorvendo seu calor. As lágrimas caíam cada vez mais e mais. Não havia controle. Roth me segurou, um braço ao meu redor, o outro enterrado em meu cabelo, curvando-se ao redor da minha nuca. Ele não sussurrou palavras de conforto, porque não havia absolutamente nada que poderia ser dito. Meu coração havia rachado escancaradamente, e estava cru, triste. Era injusto. Chorei tudo no banheiro de uma casa que não me pertence, na proteção dos braços do Príncipe do Inferno. Eu lamentei a perda do meu melhor amigo.


Sentada de pernas cruzadas no centro da cama king-size, eu introduzi os números de Zayne e Stacey no celular que Cayman colocara do lado de fora do meu quarto esta manhã. Eu tinha uma sorte terrível, terrível com telefones celulares. Deixei para trás um cemitério de telefones celulares, pilhas de telefones que simplesmente tiveram a infelicidade de acabar em minhas mãos, mas assim como eu esperei de cada um anteriormente, eu realmente esperava que desta vez fosse diferente. O último telefone que Zayne pegara para mim era um smartphone bacana, mas este era uma versão ainda mais recente e mais sofisticada. Estranhamente, não importava que local eu posicionasse o meu dedo sobre o botão, ele não lia a minha impressão digital. Tecnologia. Suspiro. Soltei o telefone na cama e pisquei os olhos turvos. Eu chorei tanto ontem à noite que agora parecia que uma lixa foi colada na parte interna das minhas


pálpebras. Chorei até adormecer no chão do banheiro, nos braços de Roth. Ele deve ter me levado para a cama, mas não me lembro disso, apesar de lembrar como é bom sentir-me abraçada por ele. Ele saiu, e quando acordei não o vi, nem Bambi. Imaginei que ela estava nele. Tentei não entrar em pânico com a ausência dele, mas era difícil. Pela forma como iam as coisas havia uma boa chance de que Cayman e Roth houvessem subestimado a extensão da reação do Chefe aos atos de Roth ontem, com os Alfas e Tambor. Os meus pensamentos vagavam de Roth para Zayne e de volta para Roth, formando um círculo sem fim antes de Sam e Stacey quebrarem o ciclo. A perda dele ia doer horrivelmente por um longo tempo no futuro, mas tão mal como eu me sentia, não era nada comparado à dor de Stacey. Se perder Sam me ensinara alguma coisa, foi para aproveitar a vida, aproveitar tudo que tinha a oferecer, incluindo as lágrimas, a raiva e a perda, mas acima de tudo, o riso e o amor. Apenas aproveitar a vida. Porque era passageira e inconstante, e ninguém, nem eu ou qualquer um que eu conheça, tinha mais um dia, muito menos um segundo, prometido a eles. Saindo da cama, peguei o telefone e caminhei lá para baixo. Quanto mais me aproximava da cozinha, mais forte ficava o cheiro do paraíso. Bacon. Senti o cheiro de bacon. Meu estômago roncou e acelerei o meu ritmo. Encontrei Cayman na cozinha, fazendo ovos no fogão. Com certeza, bacon chiava em uma chapa ao lado dele. — Bom dia, — ele disse sem se virar. Seu cabelo estava preso em um tic tac rosa com uma borboleta ofuscante ligado a ele. Um sorrisinho surgiu no meu rosto. — Você gosta de seus ovos mexidos ou o quê?


— Mexidos está bom. — Subi no banco do bar posicionado na grande ilha. — Boa. Meu tipo de garota. — Ele virou o bacon e foi para a geladeira, girando a espátula enquanto andava. Abrindo a porta, ele pegou uma garrafinha de OJ3. Virando, ele a atirou na minha direção, e peguei antes que acertasse o meu rosto. — Escolhi algumas dessas, também. Eu olhei para a garrafa. — Como você sabia? Ele levantou as sobrancelhas, e depois balançou a cabeça, voltando para o fogão. Bacon estalou enquanto eu abaixava a garrafa. Roth deveria dito a ele que o OJ ajudava com os desejos, assim como qualquer coisa doce. Quando acordei, a familiar sensação de queimação na boca do meu estômago estava lá, apesar de ter estado ausente ontem. Ainda assim, era menor em comparação com o que eu estava acostumada. — Então, o que você planeja fazer hoje? — Cayman perguntou, recolhendo os ovos e soltando-os em dois pratos. — Não sei. — Arrastando meu cabelo ainda úmido sobre um ombro, eu o torci com as mãos. — Eu iria ver Zayne mais tarde e ver se ele ouviu algo sobre os Alfas, e depois ligar para Stacey. Eu... Eu estou preocupada com ela. — Ela passará por isso. Parece ser uma garota forte. — Ela é, — concordei. — Mas perder alguém é... — Imagino que seja difícil, mas eu realmente não sei. Não tenho amado nada nem ninguém além de mim, — ele respondeu, e levantei uma sobrancelha. Pelo menos ele foi honesto. — Deve ser horrível. — Sim, é. — Eu tirei a tampa do OJ, sentindo o peso no meu peito. Eu não tinha ideia de quanto tempo levaria para desvanecer. Lembrei-me de quando Roth se 3 Orange juice – suco de laranja


sacrificara; havia momentos em que o fardo da dor diminuía, mas sempre ressurgia como uma vingança amarga. Cayman recolheu as fatias de bacon, espalhando-as em nossos pratos antes de se juntar a mim na ilha. Se alguém me dissesse a um ano que eu estaria comendo ovos mexidos e bacon feitos por um demônio, eu teria rido na cara dele e diria que o crack que usara estava estragado. Os tempos mais que definitivamente mudaram. Peguei um pedaço de bacon. — O que está acontecendo com você e Zayne? Quase engasguei com o bacon. Meus olhos lacrimejaram enquanto eu pegava o JO e tomava um grande gole. — Desculpe-me? — Resmunguei. Um meio sorriso se formou enquanto ele cortava os ovos no meio. — Você e Zayne, o Gárgula lindo. O que está acontecendo lá? — Como você sabe que algo está acontecendo? Cayman revirou os olhos. — Querida criança, uma pessoa cega pode ver que há grande tensão. Qual é o lance? Calor explodiu em meu rosto. Bem então. — Eu... — eu não tinha ideia de como responder a essa pergunta, porque nem eu sabia. — Eu não sei. Ele olhou para mim longamente. — Ah, eu acho que você totalmente sabe, mas apenas não está pronta para colocar em palavras. Empurrando outra fatia de bacon em minha boca, eu olhei para ele. — Oh, você sabe? — Sim. Sua merda é complicada. Eu entendo você, mas sei o que está realmente acontecendo aí, então estou prestes a soltar o verbo. — Abaixando o garfo, ele se inclinou e sussurrou a verdade no meu ouvido.


Eu me afastei com suas palavras ecoando – não, na verdade, insultando-me – e raiva inflamou dentro de mim rapidamente. Eu olhei para ele, minha mão apertada sobre o garfo. Algo sobre o que ele disse era tão verdadeiro que eu queria chutar o rosto dele. — Não quero falar com você sobre isso. Ele riu. — Faça como quiser. Ignorando-o, eu devorei o resto do meu café da manhã, então me levantei e coloquei o prato e talheres na máquina de lavar louça. Quando o encarei, ele ainda estava sorrindo. Cruzei os braços. — Onde está Roth? — Ele saiu. Esperei e não houve resposta. — Para fazer o que? — Coisas, — ele respondeu. — Deveres de demônio. Suspirando, eu me inclinei contra o balcão. — Você é realmente útil. Piscando o olho, ele levantou o prato vazio entre dois dedos. Ar crepitava, e depois chamas saíram da ponta dos dedos, subindo no prato. Meus olhos se arregalaram enquanto eu observava o fogo destruir completamente o prato. O garfo pegou fogo em seguida. — Bem, isso é uma maneira de limpar, — murmurei. — Apenas um pequeno truque de negócio. — Ele limpou as cinzas de suas mãos. — Mas voltando para a parte em que não fui útil, eu vou te mostrar que sou muito útil. Pergunte-me como você pode conseguir a alma de Sam de volta. Pisquei. — O quê? Ele suspirou. — Pergunte-me como tirar a alma de Sam do Inferno. Sabe, assim você pode garantir que ele vá para onde deveria, o que eu suponho que seja para além daquelas grandes portas prateadas no céu.


Lentamente, desdobrei meus braços. — Você sabe como alcançar à alma de Sam? — Sim. Embora eu ache que Roth prefere que eu não lhe diga. Agora, tire esse olhar de sua cara, esse que faz as pessoas pensar que um pássaro defecou em sua cabeça. Minhas sobrancelhas subiram. É assim que eu parecia? Ele continuou: — Roth pode conhecer uma maneira, mas eu não acho que é onde a cabeça dele está agora. Honestamente, não tenho certeza se ainda quero saber onde a cabeça dele está no momento. Desconforto floresceu no meu interior enquanto avançava em direção à ilha de cozinha. Cayman me observava atentamente. — Então, aqui está o negócio. Existe um ser que vigia as almas abaixo e só esse ser pode liberar uma alma. Pelo menos, na maioria das vezes. Caso a pessoa não esteja completamente morta e esteja pairando no meio, então, tanto o Chefe quanto o grande cara no céu podem fazer a escolha de liberar a alma ou puxá-la. — Puxá-la? — Inclinei-me, colocando as mãos sobre a superfície fria do granito. — Como em trazê-las dos mortos? Ele balançou a cabeça. — Não gostamos de usar essa frase particular. Mais como trazê-las da beira da morte. — Ok, — murmurei, mas esperança acendeu-se e queimou brilhante. Eu sabia que era ruim estar preocupada apenas com a alma de Sam quando havia outras pessoas que também acabaram injustamente no inferno, mas eu também era inteligente o suficiente para perceber que não seria capaz de ir lá e salvar todos. Ou talvez eu pudesse. Minha coluna se enrijeceu. Eu poderia pelo menos tentar. — Semântica, — eu disse.


— Você diz semântica e eu digo equilíbrio do universo. – Olhei para ele um momento, e continuei. – Podemos trazer Sam de volta desde... — Não, criança doce e incrivelmente ingênua, você não pode trazê-lo de volta. — Apoiando os cotovelos no balcão, Cayman apoiou o queixo na mão. — Sam está morto. Como em morto, morto. Decepção me esmagou, mas ainda havia algo para me agarrar. Se não pudéssemos trazer Sam de volta, poderíamos garantir que sua alma estivesse no lugar certo. — Como funciona? Conseguir uma alma de volta e garantir que ela está na vida após a morte certa? — Bem, quando uma pessoa morre, os Alfas decidem para onde a alma vai. Normalmente, a alma vai para onde ela pertence. Não há negociação, súplica ou lamentos. Se isso significa ir lá para baixo, é aonde ela vai. — Ele fez uma pausa. — A menos que a alma seja arrancada por um Lilin... Ou alguém como você. Nesses casos, ela só vai a uma direção. É uma merda. Totalmente injusto, mas é simplesmente assim que é. Alguém como você. Normalmente, a lembrança do que eu era teria sido um tapa na cara, mas isso... Essa capacidade era uma parte de mim. Ela não me fazia uma má pessoa. Sentando-me no banco, eu peguei o OJ. — Como vamos pegar a alma dele de volta, Cayman? — Você vai atrás de um Grim. Senti meus lábios apertarem. — Grim? Cayman sorriu e não disse nada. Levou um momento, mas depois eu consegui. Balancei para trás no banco, fiquei surpresa por não cair dele. — Grim, como o Ceifador?


— Ele não gosta de ser chamado assim, uma vez que é a versão degradante do nome dele. — Cayman girou em seu banco, um círculo completo. — Você não pode sequer pronunciar o seu nome verdadeiro, então vamos apenas com Grim. Ele é legal com isso. Ele é o guardião das almas abaixo e é o único que pode libertá-las. Refleti por um momento. — Ele é bom? Cayman parou e jogou a cabeça para trás, rindo de forma extensa e forte. — Não, incrivelmente doce e ingênua criança, ele não é. Ele é tão antigo quanto o tempo, e tem o temperamento de alguém que faz merda na cama e fica rolando nela o dia todo. Meu nariz enrugou. — Ai credo. — O lado positivo é que é realmente muito simples chegar até aos abismos de fogo primeiro. Você pega um dos elevadores no Palisades, — ele continuou, fazendo referência ao edifício de apartamentos onde Roth normalmente vivia, e que também abrigava um clube demoníaco. — Mas você não pode levar Roth com você. O Chefe ainda está chateado, e alguns dos outros demônios de Nível Superior. Eles colocam as mãos nele, e vão segurá-lo. — Então... Então eu teria que ir sozinha? — Um arrepio dançou pela minha coluna. — Para o Inferno? — Provavelmente. Eu iria com você, mas... Sim, eu realmente não quero falar com o Grim. — Seu apoio significa o mundo para mim, — murmurei, e tomei um gole de JO. — Tudo isso parece muito fácil. Eu só pego um elevador até o Grim e peço a alma de Sam?


Cayman riu novamente. — Começo a pensar que a sua ingenuidade querida é realmente uma adorável idiotice. Você é como a versão fofa do idiota da aldeia4. — Uau. — Fiz uma careta. — Você realmente sabe como acabar com o ego de uma garota. Ele girou no banco novamente e o tic tac de borboleta escorregou em seu cabelo. — O que posso dizer? Rapazes são mais a minha área de especialização. Mas voltando ao tema em apreço, não, ficar com a alma de Sam não será tão fácil como você faz parecer, mas para sua sorte, você terá algum tempo para planejar sua estratégia. O Grim não está lá embaixo agora. Ele está... Fora, como de férias. — O Grim de férias? — Descrença pingava da minha voz. — Se você estivesse fazendo um trabalho para mais de dois mil anos, você precisaria de um período de férias, também. — Seus joelhos bateram no meu. — Ok. Ele não está realmente de férias, mas ele está em um lugar muito mais agradável do que os abismos, no momento. Ele tem uma ocupação dupla. — O que isso significa? E não me chame de idiota novamente. Não estou familiarizada com todo o seu jargão demônio. Cayman olhou para o teto e, em seguida, para o chão. — Você entendeu? — Ele está lá em cima? — Apontei para o teto. — E lá embaixo, também? Ele vai aos dois lugares? — Claro. Ele é o Grim Reaper, o que significa que ele é realmente... Oh, é como um jogo de Taboo5. Vou te dar exemplos e você adivinha o que ele realmente é. — Cayman bateu palmas como uma foca. — Ele tem asas e...

4 Uma pessoa de muito baixa inteligência e conhecida em uma aldeia. 5 Taboo é um jogo de palavras, adivinhação. O objetivo do jogo é que um jogador adivinhe a palavra no cartão do outro jogador sem usar a própria palavra ou as cinco palavras adicionais listadas no cartão.


— Um anjo. — Eu o interrompi. — Ele é um anjo. A expressão de Cayman caiu. — Você não é divertida. Eu não sabia muito sobre todos os diferentes tipos de anjos, mas eu estava adivinhando que o Grim era realmente um anjo da morte, talvez o original, então supostamente fazia sentido que ele dividisse o seu tempo entre o Céu e o Inferno. Honestamente, eu não me importava. O que era importante era que havia alguma coisa que poderíamos fazer por Sam, e talvez, se eu tivesse sorte, para todos aqueles que o Lilin condenara ao Inferno. — Ele voltará logo, na próxima sexta do nosso tempo. — Cayman inclinou-se, beliscou meu nariz, e depois riu quando bati na mão dele. — Porque essa é a sua única opção, você vai lá para baixo. Você não vai lá para cima. Bem, duh. Mas sexta-feira estava a seis longos dias de distância. Engoli em seco. — Não sei se posso esperar tanto tempo. A alma de Sam... — Você não tem uma escolha, Layla. — Brincadeira finalizada. — Ninguém mais pode liberar a alma dele, a não ser o Grim, e não há como você entrar nos céus para falar com ele. Absolutamente nenhuma maneira, especialmente agora. Meus ouvidos se animaram. — Especialmente agora? Como hoje é diferente do que ontem? Nunca pensei que eu pudesse entrar no céu antes de... Espera. Sabe alguma coisa sobre as minhas asas, por que elas estão emplumadas? Seus lábios tremeram. — Você diz emplumadas como se fosse um mau penteado. Então, novamente, cabelo de penas é muito ruim. — Cayman. — Eu reclamei, perdendo a paciência. — Por que se preocupar com suas lindas asas superiores quando você tem um Lilin que logo perceberá que não há nenhuma maneira no Inferno de Lilith ser liberta,


e isso não é brincadeira. O Chefe a tem bem trancada. Ela não vai a lugar nenhum, meu pequeno cupcake. Meus lábios ficaram franzidos. Seus termos de carinho eram menos do que cativantes. — E o que você acha que o Lilin fará quando perceber que mamãe querida não receberá passe livre e não há nada que ele possa fazer? — Ele levantou os braços e mexeu os dedos. Totalmente movimento de mãos de jazz. — O caos se seguirá, e o que você acha que acontecerá quando o caos se instalar? Os Alfas vão intervir, e haverá muitos deles, e Tambor ganharia uma dor de estômago tentando comer todos. Não queremos isso. Abri a boca. — E por que se preocupar com suas asas de penas suaves e estilosas quando você tem um clã inteiro de Guardiões que descobriram nas últimas vinte e quatro horas que você não está realmente morta? Porque, confie em mim, eles sabem. Zayne não diria. Os Alfas sim. Alguns não ficarão felizes com a sua sobrevivência. Oh não, ursinho. Depois, há a coisa toda das bruxas, e nem sequer me pergunte o que elas queriam em troca de salvar a sua bunda, porque eu não serei o portador de notícias ruins. Bati minha boca fechada. Meu Deus, eu realmente começava a me sentir super estressada. Ele não havia terminado. — E por que o estresse sobre as asas, em geral, quando você caminha para quebrar o coração de alguém? — O quê? — Eu disse. Cayman saiu do banco do bar, todo sorrisos. — Vamos parar de brincar, meu ursinho de pelúcia pessoal. Zayne está apaixonado por você. Roth está apaixonado por você.


Eu respirei fundo, mas o ar ficou preso na minha garganta. — Qualquer um deles faria qualquer coisa para você; viver, respirar e morrer por você, mas você não pode ter ambos, Layla. Minhas mãos caíram para minhas coxas e eu sussurrei. — Eu sei disso. — E você sabe qual é o negócio real, o que mais importa, — ele continuou, olhando-me atentamente. — Você sabe, o tipo de amor para a eternidade, então por que você está arrastando esta merda? — Não estou arrastando nada, — protestei. — Eu estava meio fora disso, sabe, com tudo aquilo de ser mantida prisioneira e, em seguida, quase morta por meu próprio clã. Então, eu estava escondida aqui, me recuperando, e com o que aconteceu ontem. — Frustrada, eu pulei do banco e caminhei ao redor da ilha. — E, talvez, eu ache que não é o momento certo para ficar com qualquer um deles. Você alguma vez pensou nisso? Cayman inclinou a cabeça para o lado. — Quando é a hora certa para dar plenamente o seu coração para outro? Sempre haverá obstáculos. Você apenas precisa decidir que vale a pena. — Que seja. — Cruzei os braços. Ele imitou a minha posição. — Não seja uma covarde. — Como é? — UMA. COVARDE, — ele repetiu, e brevemente pensei em pegar o vaso no centro da ilha e jogá-lo nele. — Não fazer uma escolha é o caminho dos covardes. Você ama os dois. Entendi. Mas você não sente o mesmo tipo de amor por ambos, e quanto mais cedo você aceitar isso, melhor. — Por que estamos falando sobre isso novamente? E por que você se importa?


Cayman sorriu. — Porque eu sou uma espécie de demônio que gosta dessas coisas. — Ugh, — eu gemi, jogando as minhas mãos para o alto em frustração, e pânico abriu caminho através de mim. Cayman fez parecer tão fácil, como se eu não fosse perder um deles, mas eu ia. Chame-me egoísta, mas a ideia de não ter os dois em minha vida me aterrorizava. — Você pode ser tão irritante. — Não odeie, — disse ele, sorrindo. — Procrie. Agora eu apenas olhei para ele. — Procriar com o cara certo, — acrescentou. — Só queria esclarecer isso. — Oh meu Deus, — gemi, inclinando-me e colocando minha testa sobre o balcão. Eu fiquei assim e depois senti a saída de Cayman da cozinha e, provavelmente, de toda a casa, porque depois de alguns momentos, eu não sentia um demônio. A bancada de granito realmente estava fresca e suave, e sentia bem contra o meu rosto corado. Talvez eu ficasse assim o dia todo. Soou como um plano. Melhor que... Não, não é melhor do que ouvir o que Cayman havia dito sobre Zayne e Roth. Ele estava certo. Oh Deus, ele era tão horripilantemente direto. Eu amava os dois rapazes. Eu realmente amava, e a ideia de ferir um deles ou perder um deles me fez querer arremessar um objeto, mas Cayman também estava certo sobre mais algumas coisas. Eu não poderia ter os dois. E o que eu sentia por eles era diferente.


Não havia como esconder isso. Sempre foi assim. Ambos me faziam feliz. Ambos me faziam rir. Ambos me enchiam de saudade e faziam as minhas partes de garota ficar realmente feliz. Mas apenas um realmente me fez... Bem, só havia um que eu sabia que seria para sempre feliz com ele, que eu sempre iria rir com ele. Um que eu faço mais do que desejá-lo, eu anseio por ele, e cada segundo que passava ignorando isso, era um segundo que eu não teria para gastar com ele – um segundo que eu não viveria a vida com amor, o amor verdadeiro, do tipo que tinha poder duradouro. Apesar do que Cayman disse, eu não tinha certeza de que ambos eram verdadeiramente apaixonados por mim. Eu não estava em suas cabeças, mas a maneira como eles se sentiam não importava. Era como eu me sentia, e eu não aceitaria impasses ou soluções rápidas. Também não esperava que eles resolvessem este dilema. Minha testa estava começando a ficar colada ao granito. Pela primeira vez em dias, deixei-me realmente pensar nas palavras de Roth, as que eu pensei ter alucinado antes de desmaiar das minhas feridas e tudo o que as bruxas me deram. Eu te amo, Layla. Eu te amei desde o primeiro momento em que ouvi a sua voz e continuarei a te amar. Não importa o quê. Eu te amo. Roth praticamente confirmara que eu, de fato, ouvira essas palavras ditas com tanta doce urgência, mas havia essa parte de mim que simplesmente não podia acreditar. Ou talvez, eu não quisesse, porque quando pensava no que Roth disse, eu também me lembrava do que Zayne havia dito ao me ver na sala de estar da Stacey. Eu gostaria de saber se uma parte do meu coração se foi.


Todo o meu ser parecia estar espremido até ao ponto de dor. Havia todos os segredos que Zayne me disse, e como ele esperara... Por mim. Ainda assim, eu passei anos o querendo, e nunca parecia possível que eu alguma vez fosse tê-lo. Talvez eu apenas estivesse com medo de finalmente... Perdida em meus próprios pensamentos, eu não reconheci a consciência que se infiltrou em minha pele, alertando-me para outra presença na casa, até que uma voz profunda retumbou por toda a cozinha. — O que no mundo que você está fazendo, pequena? Erguendo-me, eu levantei a cabeça enquanto pressionava minha palma contra o meu peito. Com o coração batendo, eu assisti Roth caminhar em direção à ilha e parar. Ele estava vestido muito parecido com a roupa da noite passada, só que ele usava um branco hoje, que realmente combinou com o tom dourado de sua pele. — Eu estava... Eu estava pensando, — eu disse, alisando minhas mãos sobre o meu cabelo. — Pensando sobre coisas. Ele apoiou um quadril contra a ilha. — A bancada ajudou a pensar nas coisas? Pressionei meus lábios. — Talvez. O olhar de Roth baixou, e depois voltou lentamente para o meu rosto. Havia um calor satisfeito em seu olhar que operou um tipo muito diferente de arrepio em mim. — Essa é uma maneira estranha de fazer algumas reflexões, pequena. — Sim, eu sei. Cayman... Hum, ele fez café da manhã. — Brincando com o meu cabelo, eu envolvi as pontas ao redor dos meus dedos enquanto Roth começava a andar novamente. Ele estava se aproximando de mim. — E me deu um telefone. — Eu disse a ele para conseguir um telefone para você, — ele respondeu, com os olhos semicerrados. — O café da manhã, porém, foi legal da parte dele. Ideia totalmente dele.


— Foi bom. — Meu coração não havia abrandado, e não ajudou quando ele chegou mais perto ainda. — Onde você esteve? Ele parou na minha frente. — Fui fazer vistoria na casa de Sam. Pensei que seria uma boa ideia. — Estendendo as mãos, ele pegou as minhas e as puxou do meu cabelo. — Não é uma boa notícia. — Não? Roth balançou a cabeça enquanto segurava minhas mãos. — A família dele estava morta. Em suas camas. – A expressão dele ficou fechada, sombria. — E eles morreram há, pelo menos, dois dias. Desde que não vi quaisquer fantasmas, acho que as almas não foram colhidas. Uma... Uma bagunça foi deixada para trás. Apertando os olhos fechados, eu não poderia suprimir o estremecimento. Eu não precisava perguntar o que constituía uma bagunça. — Por que o Lilin matou sem tomar uma alma? Seus polegares acariciaram o interior das minhas mãos. — Porque ele pode. Nenhuma outra razão além dessa. — Deus. — A única fresta de esperança era que a família de Sam iria para onde eles pertenciam, uma vez que ainda tinham suas almas. — Eu meio que esperava isso, para ser honesto. Pensei nisso ontem à noite, mas não queria sair até ter a certeza de que você estava bem. — Suas mãos quentes espalharam-se para os meus pulsos, e quando abri os olhos, ele estava olhando para mim. — Eu odeio ter que trazer essa novidade para você. Eu odiava o fato de que mais vidas inocentes foram perdidas. Estive com os pais de Sam algumas vezes. Eles eram muito legais, tão excêntricos e adoráveis quanto Sam. — Espere. Sam tem uma irmã. Ela é mais jovem e...


Um músculo brilhou em sua mandíbula quando Roth baixou o olhar, e então o que ele me disse me atingiu. Roth não havia dito os pais dele. Ele disse a família dele. Os ovos e bacon agitaram-se no meu estômago, e desejei não ter comido nada. — Fiz uma ligação anônima para a polícia. Eles provavelmente já estão na casa. Embora o que parece ser o Sam esteja acordado e andando com a sua família... Falecida, isso forçará o Lilin a sair da escola, ficando longe dos estudantes. Terá que ser cuidadoso. Não que seria fácil prendê-lo, mas duvido que ele queira problemas extras. Meu peito doía demais quando murmurei. — Isso foi muito inteligente. Ele se aproximou ainda mais. — Percebi que para Stacey... E para você, seria mais fácil se todo mundo achasse que ele estava morto ou, bem, que era um assassino agora, ao invés de mais tarde. Se permitir o Lilin vagando em torno da escola como Sam, isso significa que Stacey teria que passar por toda essa perda novamente. Meu olhar voou para o dele. — Isso foi muito atencioso. Roth murmurou a palavra atencioso como se nunca a tivesse ouvido antes ou realmente não entendesse o que isso significava. — Eu serei honesto. Ok? — Ok? — Eu gosto de Stacey. Não me interprete mal. Essa menina tem um monte de coisas más nela, do tipo de divertido, mas eu estava realmente pensando em você. — Seus olhos tinham os meus. — Depois de te ver ontem tão triste, sabendo que ainda está te rasgando em pedaços, eu não queria que você sentisse tudo isso novamente quando começasse a curar. Oh. Oh, wow.


— Então, não me elogie por algo que não sou, — ele terminou, soltando minhas mãos. Quando ele deu um passo atrás, eu inclinei-me para a ilha, absolutamente abalada. — Acho que você não se dá crédito suficiente, Roth. Ele olhou por cima do ombro enquanto se afastava. — Eu sei o que eu sou. Essa era a coisa. Acho que ele não tinha uma pista sobre o que ele era, não o que existia dentro dele, o que realmente importava. As palavras de Cayman, as sussurradas, ecoaram entre os meus pensamentos novamente, e desviei o olhar. Havia tanta coisa acontecendo agora e tudo era uma bagunça. Eu precisava começar por algum lado, a classificar tudo isso, pensei, e eu sabia por onde começar. — Preciso fazer uma coisa. Roth foi até à geladeira e tirou uma garrafa. Ele não se virou, mas havia um som de assobio suspeito quando ele puxou a tampa. Respirei fundo e disse. — Eu preciso... Eu preciso ver Zayne. Seus ombros tensos, e depois curvados, quando ele levantou a bebida aos lábios. — Achei que faria isso, — ele disse, e olhei para a linha rígida de suas costas. — Roth... Ele não me deixou terminar. — Eu vou chamar Cayman. Ele a levará onde precisa ir. — Então, ele me encarou, e minha respiração parou. Havia uma vulnerabilidade em sua expressão que nunca vi antes, uma grande e terrível tristeza, a qual amorteceu o brilho de seus olhos. — Eu sei que você confia e... E gosta de Zayne, mas eu não confio no resto deles. Além disso, há os problemas com os Alfas. Cayman vai com você. Antes que eu pudesse dizer mais ou até mesmo protestar, Roth foi embora. Num piscar de olhos ele desapareceu, e fiquei olhando para o espaço onde ele estava.


Não foi até ao fim da tarde que pude encontrar com Zayne, e então eu tive que esperar para Cayman dar uma de motorista. Ele não parecia incomodado com a nova exigência imposta a ele. Ele conversava enquanto dirigia, mas eu estava muito ansiosa e distraída para prestar atenção ao que ele dizia, então eu olhava pela janela, verificando todas as guirlandas penduradas nos postes e as luzes cintilando adiante. Eu me contorci todo o caminho até o café que Zayne e eu costumávamos visitar todos os sábados, minha mente presa no rosto que Roth tinha quando olhou para mim na cozinha. Eu não percebi. Ele foi de – me tocando para completamente partindo. Não apenas distante, mas com dor. Nem sequer tive a chance de explicar nada. Agora, meu coração batia rápido, como se eu estivesse prestes a ir de igual para igual com um Hellion, e não tinha nada a ver com ver Zayne. Talvez Cayman e eu tivéssemos interpretado de forma completamente errada... Hum, o interesse de Roth, mas mesmo que tivéssemos, isso não mudava o que eu estava prestes a fazer. Não podia.


Cayman virou o Mustang para uma parar ao longo dos carros estacionados do lado de fora da cafeteria. Quando alcancei à porta, ele bateu os dedos contra o volante. — Meu número está inserido no seu telefone como Incrivelmente Suculento. Envie uma mensagem quando você terminar. — Ok. — Abri a porta, fazendo uma careta quando o vento deu um tapa no meu rosto. — Não vagueie. Você tem Alfas e quem sabe o que mais, potencialmente visando o seu traseiro, — ele continuou. — E eu realmente não quero voltar para a casa e ter que explicar para Roth que eu perdi você de alguma forma. Eu resisti tanto ao desejo de salientar que eu não tinha certeza de como Roth sequer se sentiria sobre isso neste momento quanto ao desejo de revirar os olhos. — Sim, pai. Ele sorriu. — Faça-me orgulhoso. Atirando-lhe um olhar por cima do ombro enquanto saía, bati a porta do carro e pulei no meio-fio. O vento era brutal enquanto eu corria em torno das pessoas correndo ao longo da calçada. Uma matriz de auras me cumprimentou; amarelos amanteigados e azuis e rosas suaves. Fiquei de olho para ver se faltava a aura em qualquer um, um sinal certo de um demônio em nosso meio, mas tudo parecia normal. A sineta fosca pendurada na porta tilintou quando entrei. Antes mesmo de passar pela porta, eu sabia que Zayne estava lá. Senti-o quando o ar quente tomou conta de mim. O café era uma espécie de casa familiar, e não um café das grandes redes, ele cheirava a assados doces e grãos de café. Estandes coloridos de café cobriam as paredes e avistei o brilho branco de Zayne imediatamente. Ele estava sentado em direção à parte de trás da cafeteria, em uma das cabines confortáveis, de frente para a porta. Antes de me juntar a ele, eu levei alguns momentos para colocar a minha cabeça no lugar e pedir um mocha de hortelã-pimenta. Então, eu levei o copo quente


para ele. Ele imediatamente se levantou, e quanto mais perto eu ficava, mais eu podia ver que as olheiras sob seus olhos se desvaneceram um pouco. Por isso, eu estava grata. A loja estava cheia de pessoas em ternos e outros carregando sacolas de compras, mas quando Zayne tomou o copo da minha mão e colocou-o sobre a mesa, não havia mais ninguém lá. Antes que eu pudesse dizer uma palavra, ele me abraçou e segurou firme, abaixando o rosto para o meu. Eu gelei, porque ele estava muito perto da minha boca, mas Zayne... Oh, ele sempre foi tão incrivelmente imprudente comigo. — Era isso o que eu queria fazer ontem, — ele murmurou; sua voz baixa no meu ouvido. — Quando inicialmente a vi naquela casa, isso era tudo em que eu conseguia pensar. Apertei meus olhos fechados enquanto o abraçava. Emoção já arranhando o meu interior. — O clã sabe que você está viva agora, — ele continuou, e senti os músculos das costas tensos. Cayman havia dito isso, mas ouvi-lo confirmando era uma história totalmente diferente. — Danika queria vir comigo. Ela queria ver por si mesma que você está bem. Um estrangulado e surpreendido riso me escapou, e senti o crescer da bochecha de Zayne contra a minha quando ele sorriu. Danika e eu tínhamos uma relação muito estranha. O clã inteiro esperava que Zayne fosse acasalar com ela. Em outras palavras, começar a trabalhar e produzir um monte de bebês Guardião, e, por causa disso, eu sempre fui extremamente ciumenta dessa Guardiã puro-sangue. Danika era incrivelmente linda e bastante durona, ao contrário da maioria das fêmeas Guardiãs. Ela não estava bem com ficar sentada e fazer bebês para o bem da humanidade. E também ficara interessada em Zayne. Em suma, havia muitas razões para odiá-la, mas ela e eu finalmente formamos uma aliança improvável.


Eu sentia falta dela de uma maneira estranha, como se sentisse falta da neve durante uma onda de calor. Quando Zayne relutantemente me soltou, me deixei cair no assento, enquanto lutava para ganhar o controle do que eu estava sentindo, do que eu estava prestes a fazer. Zayne voltou para a cadeira na minha frente. — Você está bem, Layla-bug? A preocupação em sua voz era evidente. — Sim. — Limpei minha garganta e tomei um gole do mocha mentolado. — Ontem à noite foi um pouco complicado. Comecei a pensar em Sam... — balancei a cabeça e mantive minha voz baixa. — Roth voltou a casa dele esta manhã. A família dele está morta. Aparentemente, as almas deles não foram tomadas. — Droga. — Zayne arrastou os dedos pelo cabelo. Balancei a cabeça lentamente, lançando o olhar para a tampa no meu copo. — Ele chamou à polícia, o que foi muito inteligente. Isso forçará o Lilin a ficar quieto por um tempo, já que a polícia estará procurando... Pelo Sam. Pelo menos, esperamos. Você descobriu alguma coisa sobre os Alfas? O olhar de Zayne foi intenso, e percebi que ele estava olhando para mim desde que me sentei. — Sim. Alguns deles fizeram uma visita ao clã mais ou menos ao mesmo tempo em que os outros dois apareceram na casa de Stacey. Pelo que pude reunir a partir de Nicolai, os Alfas sabiam que havia um Lilin, sempre souberam. Não perdi o fato de que ele havia dito que falara com Nicolai, em vez de seu pai, mas eu estava distraída com a última parte. — Eles sabiam? — Sim, aparentemente, eles não podiam se envolver por suas próprias razões celestes. Acreditavam que descobriríamos isso. Fúria cresceu no meu peito enquanto eu olhava para ele. Todas as semanas quando pensei que eu era de alguma forma responsável pela morte, destruição e caos na escola e em casa, e os Alfas sabiam a verdade desde o início. — Eles sabiam esse


tempo todo e nunca pensaram que era melhor dizer a qualquer um de nós? Por quê? — Minha voz aumentava, mas eu não poderia evitar. — Por causa de algumas regras de merda? — Eu sei, — ele concordou suavemente. Eu queria dar um soco no rosto de um Alfa! Queria esmurrar. — Nós poderíamos ter salvado vidas. Eu posso mesmo... — tomei um gole enorme do mocha, esperando que isso me acalmasse. Mas realmente não me acalmou. — O que mais eles disseram? Ele apoiou os braços sobre a mesa e se inclinou. — Meu pai foi capaz de negociar algum tempo com eles. Eles estão nos dando até ao Ano Novo para lidar com o Lilin, a menos que o Lilin faça algo que tenha risco de exposição. Temos Guardiões procurando por ele agora. Minhas sobrancelhas subiram. Para ser honesta, eu não pensei que nos dariam qualquer tempo. Eu poderia facilmente vê-los dando-nos duas horas. Não fiquei surpresa ao saber da coisa toda da exposição, no entanto. Os Alfas decretaram há muito tempo que a humanidade nunca poderia ter prova real, forte, que um céu e um inferno existiam, que eles deviam acreditar em um poder superior com base apenas na fé. Eu não entendia isso, nunca entendi. Tudo o que eu sabia era que os Guardiões faziam um grande esforço para manter a existência de demônios em segredo de seres humanos em todos os lugares. — O que acontece se não o tiverem sob controle? — Nada de bom. Eles ameaçaram eliminar todos nós. A mesma coisa se o Lilin for longe demais. — Ele exalou bruscamente enquanto eu me perguntava o quão longe demais seria. — Eles parecem compreender que rastrear o Lilin e matá-lo não será fácil, mas eles não falam apenas disso. — O que mais eles falam? Quão legal é o altivo poleiro deles?


Ele me olhou por um momento, e então disse. — Uh, não. Eles... Bem, não há nenhuma maneira fácil de dizer isso. Eles não estão felizes com você, Layla-bug. Talvez algumas semanas atrás, eu teria virado, me jogado em um canto e tremido, como se isso fosse acabar com todos meus problemas. Agora? Eu suspirei, e tomei outro gole. — Grande surpresa. O olhar de Zayne vagou sobre meu rosto. Ele não falou por um longo momento. — Roth disse algo verdadeiro ontem. Eu vi asas de penas negras antes. Eu estava me esforçando para não pensar em minhas asas estranhas, mas abaixei o copo. — Onde? Um músculo sob seu olho se contraiu quando ele baixou o olhar, e meu estômago ficou apertado. Não é um particularmente bom sinal. — Vi apenas um demônio com elas. Senti como sendo um de Nível Superior. Foi um breve vislumbre. Pensei que estava vendo coisas, mas elas eram como as suas. — Oh, — murmurei; incerta de como me sentia sobre isso. Zayne e Danika já tinham confirmado que eu cheirava como um demônio de Nível Superior. Foi por isso que o Guardião Tomas me atacou. Portanto, isto não era nada novo, na verdade, mas ainda não explicou por que minhas asas estão subitamente emplumadas, e por que eu não mudei totalmente, como faria um Guardião ou um demônio. — As minhas asas têm algo a ver com isso, é por causa delas que os Alfas, de repente, não gostam de mim? Bem, eles nunca gostaram de mim, em primeiro lugar, mas o que há agora? — Tudo o que disseram foi que você era uma abominação. Isso não está certo. Você... — Eu sei. Não está certo. Há coisas piores aprontando do que eu. Eu sei disso. E se eles não sabem disso, não é problema meu. Zayne levantou uma sobrancelha.


— Bem, tudo bem, é meu problema se eles tentam vir atrás de mim novamente, mas eu sei que não sou uma abominação, — repeti, arrastando o dedo ao longo da borda do copo. Levou muito tempo para eu chegar a esse ponto, para não deixar que as palavras dos Alfas, ou próprios membros do meu clã me ferissem. Ou até mesmo as palavras das meninas na escola, como Eva Hasher e o bando de cadelas, como Stacey se referia a elas, que costumavam me fazer duvidar de mim, de tudo o que eu era. Sequer sei o que exatamente virou o interruptor em mim. Talvez tenham sido as longas e escuras horas que passei naquela jaula horrível abaixo do complexo, ou talvez quase morrer. De qualquer maneira, foi uma chamada para mudar a forma como vivia a minha vida. Em mais de uma maneira, e agora eu deveria aproveitar uma dessas outras maneiras. Olhei para Zayne, meu mais próximo amigo desde que eu era uma garotinha, meu tudo por muito tempo, e descobri que não conseguia desviar o olhar. Isto... Isto ia doer. Santa barra de granola, ia picar como um enxame de vespas. E era tão assustador, porque não havia rede de segurança para esta decisão. Zayne inclinou a cabeça. — Ei... — ele estendeu a mão sobre a mesa, mas eu puxei a minha, apertando as minhas mãos juntas. Seus olhos voaram para os meus. — Layla? Pensei no que Cayman sussurrara em meu ouvido naquela manhã. Pare de ser uma covarde e deixe o passado. Abrace o futuro, porque são duas coisas muito diferentes. Cayman tinha razão. Eu era uma covarde, com medo de abandonar o passado, tudo o que era familiar, porque havia segurança lá, a simplicidade em seu conforto. O passado era como ir para casa, e era doce e caloroso, e perfeito em seu próprio


modo. Não era nada menos do que o futuro, mas eu estava com medo de abraçar o desconhecido, do potencial de perder a minha segurança. Porque havia apenas um par de olhos que eu via quando fechava os meus à noite e quando os abria na parte da manhã. — Layla? — A voz de Zayne era suave. Inclinei meus ombros quando dei uma respiração tensa. — Você disse que precisávamos falar ontem e você estava certo. Nós precisamos. Seu olhar procurou o meu enquanto inclinava para frente. — Eu sei que há muita coisa acontecendo agora, estão muitas coisas no ar, e muitas delas estão uma loucura. — Mas...? Havia um nó do tamanho de uma bola de golfe atualmente depositado na minha garganta e eu queria fechar meus olhos. Eu queria desviar o olhar, mas me forcei a não esconder nada. — Você sabe que significa o mundo para mim, sempre foi, e que eu me importo tanto com você. Eu te amo... — Mas você não está apaixonada por mim? — Seus olhos fecharam enquanto o seu rosto ficava tenso. — É isso que você está dizendo? — Não. Quer dizer, eu não estou dizendo isso assim. Eu te amo, mas... — Você tem que estar brincando comigo. — Zayne abriu os olhos quando se encostou à cabine, balançando a cabeça. — Simplesmente pare. Abri a boca. — Pare. Só por um segundo, — disse ele novamente; os olhos abertos e não perdendo nada. Ele balançou a cabeça, olhando para mim com o pior tipo de deslumbramento. — É por causa do que aconteceu quando eu te beijei da última vez,


ou por causa do nosso clã? Eu confio em você, Layla. E sei que você confia em mim. Nós podemos fazer isto funcionar. Oh Deus, a bola de golfe se transformara em uma de softball. — Eu sei que você confia em mim, mas essa não é a razão. Não realmente. — Essas palavras foram mais verdadeiras do que eu percebera até aquele momento, no final, meu coração, meu coração pertencia a outro lugar. — Nós poderíamos ter feito isto funcionar sem... Sem o beijo, e nós poderíamos ter sido cuidadosos. E confio em você, mas isto não é uma questão de confiança. Zayne, você é importante para mim e eu... — Você ama o Roth, — ele continuou por mim. —– Você está apaixonada por ele. Meus olhos encontraram os seus azuis brilhantes. — Sim, — sussurrei; meu lábio inferior tremendo. — É ele. Sempre foi ele. Eu sinto muito. Eu te amo. Eu gosto muito de você, e de muitas maneiras, estar com você foi um sonho tornado realidade, mas não é o mesmo. Ele recuou, como se eu tivesse estendido a mão através da mesa e lhe dado um tapa. — Por favor, não espere que eu fique sentado aqui ouvindo um discurso que me faz sentir como um maldito segundo classificado em algum tipo de competição. Chupei uma respiração afiada. — Não é assim que eu quero que você se sinta. As sobrancelhas de Zayne baixaram enquanto olhava para mim. — Como diabos você espera que eu me sinta? Lágrimas queimaram atrás dos meus olhos, porque eu nunca tinha, nunca quis machucar ninguém. Especialmente ele. — Eu não sei. — Claro que não. — Ele enfiou a mão sobre a cabeça, apertando a nuca. Um momento transmitido como tensão endureceu as linhas da sua boca. — Eu te amo, — ele grunhiu; um músculo vibrando ao longo de sua mandíbula. — Estou apaixonado por você. Eu esperei por você, Layla. E nada disso – nada disso importa.


Eu não sabia o que dizer. Isso importava – importava muito, mas como eu poderia dizer isso? Porque no final, mesmo que eu volte para a casa e Roth risse na minha cara, isso não mudaria nada. Raiva brilhou em seu rosto. — O que estava acontecendo entre nós? Foi apenas uma forma de passar o tempo para você? — Oh meu Deus, não! — Uma mulher com uma aura rosada olhou em nossa direção a partir da fila de café, e lutei para manter minha voz baixa. — Não foi nada disso. Deus, era perfeito, e foi como se toda a fantasia que eu já tive estivesse vindo à vida. — Sério? — Descrença inundou seu rosto. — Porque o que parece para mim é que você estava apenas brincando até que pudesse ficar com ele. — Até que eu pudesse ficar com ele? — Repeti em silêncio. — Eu nem sequer sei se vamos ficar juntos. — Não se atreva a dizer que não sabe que ele te ama. Não brinque de estúpida agindo como uma estúpida, — ele cuspiu, e me endireitei, atordoada pelo rancor em seu tom. — Droga, — ele murmurou, abaixando o braço. — Zayne... — Chega, — ele ordenou, e apertei meus olhos fechados. — Apenas chega. Zayne não disse mais nada quando se levantou, e não tentei detê-lo quando ele saiu pela porta da frente. Soltando os cotovelos sobre a mesa, eu plantei meu rosto em minhas mãos. Minhas entranhas torcidas e queimadas. Mesmo quando Zayne havia ficado justamente chateado comigo anteriormente, nunca falara assim comigo. Não que eu o culpasse. Eu merecia isso. Não tive cuidado com minhas próprias ações ou com o coração dele. Eu não me arrependo de nada que nós compartilhamos, mas errei e não deveria ter me permitido me envolver com ele, porque o que eu disse há poucos momentos atrás também era verdade.


Sempre foi Roth; desde o momento que ele se pavoneou naquele beco maldito onde eu estive em vão lutando contra um demônio, que era ele para mim. Talvez eu tivesse sido cega para ver isso depois que ele voltou dos abismos. Talvez eu estivesse muito zangada com ele depois da maneira como ele inicialmente agiu. Talvez eu tivesse feito charme com Zayne, ainda que isso não fosse a minha intenção. Eu não sabia. Tudo o que sabia era que eu perdi o garoto com o qual eu cresci. Se tivesse alguma dúvida sobre isso, o fato dele me deixar aqui sozinha, me disse tudo o que eu precisava saber. Sendo protetor comigo, de maneira nenhuma ele teria me deixado desacompanhada com um Lilin ainda à solta. A não ser que ficar longe de mim fosse mais importante do que manter-me segura. Não sei quanto tempo fiquei sentada lá, mas, eventualmente, eu senti um calor pouco natural se espalhando ao longo da minha nuca, alertando-me da presença de um demônio. Esperando encontrar Cayman quando levantei minha cabeça, olhei em volta do café. Meu olhar vagou sobre os tons suaves de auras até que encontrei um jovem na frente da loja, com nada ao seu redor. Havia um demônio e não era Cayman. Grata por ter algo para me concentrar além do fato de que eu acabara de quebrar o coração de Zayne em pedacinhos, estudei o homem na frente da loja enquanto jogava meu cabelo para frente, protegendo o meu rosto. Devido à minha dupla herança, demônios nunca foram capazes de me sentir, o que facilitou a caça que eu havia feito no passado. Mais uma vez, a mistura de Guardião e demônio me dera a capacidade única de marcar demônios. Um toque e eles se transformavam em uma luz de néon, deixando um rastro sobre eles que os Guardiões poderiam controlar facilmente. Não marquei demônios desde... Bem, desde que Roth entrara na minha vida, me mostrando que até mesmo demônios tinham um propósito na vida. Com ele, aprendi que alguns demônios não eram tão ruins, como Demônios que tendiam a


apenas mexer com coisas; como postes, canteiros de obras, qualquer coisa eletrônica, e eram um pouco propensos a serem vaga-lumes. Esse demônio não deu uma vibração de Fiend, e eu estava disposta a apostar que ele também não era um Poser, um demônio cuja mordida tornava um ser humano algo parecido com um figurante no set de The Walking Dead. Não, esse demônio emitia o tipo de vibrações de Nível Superior, o que significa que ele poderia ser um duque ou um rei ou qualquer outra variedade de vilão da elite. Eles não deveriam estar aqui, porque o tipo de coisa que poderiam fazer, poderia realmente causar algum caos sangrento e desagradável. Fiz uma careta. O que aparentemente significava que talvez eu não devesse estar aqui, tampouco. Eu esquecia que agora eu cheirava como eles, e meio que me assemelhava a alguns deles. Suspirei. O demônio inclinou a cabeça para o lado, e uma mecha de chocante cabelo loiro-branco caiu sobre as sobrancelhas escuras que se destacavam em forte contraste. Ele tinha uma aparência de roqueiro, como caso a corrente de prata que usava quebrasse, os seus jeans skinny cairiam. Perscrutando o café, ele olhou para mim, continuou, e então seu olhar voltou correndo para mim. Eu congelei. O demônio congelou. Uh-oh. Demônios não poderiam me sentir, mas ele olhava diretamente para mim, como se tivesse brotado um terceiro braço do topo da minha cabeça.


Seu rosto empalideceu como a cor do seu cabelo enquanto ele recuava um passo, batendo em uma mulher com uma aura azul clara. Ela quase deixou cair sua bolsa e café quando tentou dar um passo ao redor dele. Então, ele girou sobre os calcanhares e empurrou um cara mais velho para fora do caminho. O homem gritou, mas o demônio chegou à porta. Eu não estava pensando como deveria. Curiosidade e surpresa tinham poder sobre mim. Corri pela cafeteria, deixando o que restava do meu mocha para trás. Eu estava alguns passos atrás do demônio quando ele irrompeu pela porta, para a calçada. Ele enviou um olhar de pânico por cima do ombro em minha direção. Ele derrapou até parar sob o toldo da cafeteria. — Uh... O demônio ganhou velocidade, correndo pela calçada, desaparecendo em torno do quarteirão, perdido no mar de auras suaves. — Hum, — murmurei, olhando para trás e meio que esperando ver um bando de Alfas, mas era só eu, eu e eu, e isso significava apenas uma coisa. O demônio de Nível Superior correu para longe... De mim.


Não contei a Cayman sobre o demônio de Nível Superior fugitivo, e ele não perguntou como foi a conversa com Zayne, o que funcionava para mim. Depois de um passeio quase silencioso, ele me deixou em frente da casa. — Divirta-se com isso, — foi tudo que ele disse, e então desapareceu. Virando-me para McMansion, eu não tinha ideia do que Cayman estava se referindo, mas percebi que descobriria em breve. A casa estava escura, mas não tranquila quando entrei pela porta da frente. O barulho afiado de uma guitarra rapidamente desapareceu no bater de tambores derivando do segundo andar. Franzindo a testa, eu caminhei em direção à escada, e cerca de metade do caminho, eu encontrei algo estranho. Inclinei-me e peguei uma garrafa vazia de cerveja. Olhando para cima, eu percebi que havia uma em cada passo, todo o caminho até o topo. Dez garrafas vazias. Oh céus.


Meus olhos se arregalaram quando coloquei a garrafa de volta na escada. Não havia como eu poder reunir todas elas sem um saco, e a última coisa que eu queria fazer era ir até a despensa. Acelerei o meu ritmo, correndo para percorrer o restante das etapas. Como uma trilha de migalhas, garrafas foram periodicamente largadas ao longo do amplo salão, levando para o quarto em que Roth havia parado ontem à noite quando entrei no meu. Meu coração pulou no meu peito quando cheguei ao seu quarto. A porta estava entreaberta, a música pesada e vibrando. Luz suave se arrastou pela fresta. Respirando fundo, eu abri a porta e parei completamente assim que entrei no quarto. Nada neste mundo poderia ter me preparado para o que eu estava vendo. Bambi andava confusa por todo o piso de madeira. Ela parou, torcendo seu corpo normalmente gracioso para mim. Aqueles olhos vermelhos estavam encobertos, sem foco. Sua língua bifurcada disparou para fora, e então ela continuou, caminhando lentamente para o assento da janela. Lá, ela passou metade do seu corpo pelo banco e prontamente deslizou para a direita, se jogando no chão. Preocupação me inundou, mas quando dei um passo em direção a Bambi, outra coisa chamou minha atenção. Na cama, o gatinho preto-e-branco de Roth tentava atacar um todo-branco, que parecia estar desmaiado, deitado de costas, seus pequenos braços e pernas abertas. O preto-e-branco, chamado Fúria, saltou para o Nitro dormindo, perdeu por um passo e caiu sobre o travesseiro. O gatinho deixou um rastro de pelo preto-e-branco enquanto rolava e saía do travesseiro, colidindo com Nitro. Meu queixo caiu. O terceiro gatinho, um todo negro chamado Thor, sentou em uma cômoda, os olhos estreitados em fendas finas. Enquanto eu olhava para Thor, ele oscilou de um lado para outro, me avistou e abriu a boca, o mais provável para assobiar para mim,


porque esses gatinhos eram bastardos, mas um arroto bastante humano saiu ao invés disso. Oh meu Deus, os familiares estavam bêbados. Uma risada borbulhou de mim, mas a porta se fechou atrás de mim, roubando a risada selvagem. Um segundo eu estava lá e na próxima respiração, minhas costas estavam contra a porta. Um peito duro, quente e muito nu estava nivelado com o meu, e hálito quente patinou sobre a minha bochecha enquanto duas mãos batiam na porta, em cada lado da minha cabeça. — O que você está fazendo aqui? — Roth exigiu, e meu coração bateu contra minhas costelas, em seguida, dobrou sua batida quando seus lábios roçaram a curva do meu maxilar. Ele inalou profundamente. — Inferno, você cheira bem. Como hortelã-pimenta e... E sol. Hum. Eu não tinha ideia de como responder a isso. — Eu deixei você ir, — ele continuou, mergulhando a cabeça em meu pescoço, e um arrepio passou por mim. — Você estava certa ontem. Eu te magoei. Não como ele. Pior. Eu te deixei sair de casa para que você pudesse ser feliz com ele. Não era isso que você queria? Mas você está aqui. Eu te deixei ir e me matou fazê-lo, e você está aqui. Meu Deus. Roth estava divagando, mas meu coração implodiu quando as suas palavras despertaram algo profundo e feroz dentro de mim. O olhar no rosto dele esta manhã, quando eu disse que precisava falar com Zayne fez sentido de repente. Se tivesse me dado a chance de explicar o que estava fazendo ele não teria pensado que eu estava indo embora, que estava escolhendo Zayne. Mas Roth havia me deixado ir para que eu pudesse ser feliz. O Príncipe do Inferno, que alegou ser o mais egoísta de todos os demônios, me deixara sair por


aquela porta, por acreditar que eu seria mais feliz com outra pessoa. Palavras se perderam quando um tipo diferente de lágrimas encheram meus olhos. Ele se afastou para me proteger uma vez, e fizera isso novamente, para que eu pudesse ser feliz com outra pessoa. Não havia um pingo de egoísmo em qualquer uma dessas ações. Na verdade, muito pelo contrário, e a revelação costurou a fenda aberta do meu coração, reparando a farpa dolorosa. Contudo, isso não curaria as cicatrizes deixadas para trás quando deixei Zayne ir. Isso nunca desapareceria. Apertei meus olhos fechados. Ele lentamente ergueu o queixo e descansou sua testa contra a minha. Ele sussurrou: — Por que você está aqui, Layla? — Estou aqui... Estou aqui porque aqui é onde eu sou feliz, com você. Roth não se mexeu, e eu não tinha certeza de que ele respirava. Havia uma boa chance das minhas palavras não terem atravessado a névoa de todo o álcool que consumiu, obviamente, o que era uma boa indicação de que esta conversa precisava acontecer mais tarde. Coloquei minhas mãos em seu peito, a ponto de apontar isso, quando se moveu. Seus braços me envolveram e me segurou firme a ele. Eu gostei disso, gostei muito. Cada parte de nossos corpos se tocaram quando ele enterrou a cabeça no meu pescoço, arrastando uma respiração profunda. Meu pulso estava acelerado, minhas mãos tremendo. Um tremor profundo veio dele e ele apertou-se em meus braços, e em seguida, se moveu. Apertando meu rosto em suas mãos grandes, ele disse algo muito baixo e muito rápido para eu entender, e inclinando minha cabeça para trás, ele me beijou. Não havia nada suave nisso. Sua boca estava na minha, o aro de metal em sua língua fazendo barulho em meus dentes enquanto ele me pressionava contra a porta. Ele tinha o sabor de algo doce, e o amargo do álcool ainda estava em sua língua. Pequenos arrepios de prazer correram pelo meu corpo enquanto eu gemia no beijo. Minhas mãos


deslizaram até aos ombros e os meus dedos cravaram em sua pele lisa. O beijo estava fazendo coisas malucas para os meus sentidos, obliterando o meu bom senso quando a metade inferior dele pressionou contra a minha. E parecia que era para sempre desde que senti isso. A selvageria doce que veio de um único beijo e a libertação e liberdade de finalmente me soltar, de aceitação completa e absoluta, de ter o que eu queria, o que desejava. A corrida imediata e absoluta de desejo tão potente que nublou meus pensamentos, e a energia nervosa e euforia que veio da degustação do amor na ponta da minha língua. Nada se comparava a isso. Roth quebrou o beijo, respirando pesadamente enquanto embalava meu rosto. — Diga isso de novo, — ele ordenou bruscamente. — Diga isso de novo, Layla. Eu mal podia recuperar o fôlego. — Estou feliz aqui com você. Eu... — eu arrastei minhas mãos para cima do pescoço, correndo meus polegares ao longo de sua mandíbula. Havia mais que eu queria dizer, mas ele agarrou meus pulsos e apenas os segurou em suas mãos, olhando para eles, sem dizer nada. Meu coração batia rápido, mas meu sangue parecia lento. Uma mecha de cabelo preto caiu em seu rosto, e quando ele finalmente ergueu o queixo, a vulnerabilidade estava em seu olhar novamente. Sua beleza era irreal, quase demasiado perfeito, mas naquele momento, ele parecia mais humano do que já parecera anteriormente. — Eu estive... Eu estive bebendo. Não é exatamente o que eu esperava que ele dissesse. — Posso ver. Soltando as minhas mãos, ele deu um passo atrás e virou, dando-me uma visão bastante agradável de sua parte traseira tonificada. Fiquei feliz ao ver quando ele virou de lado que Tambor estava nele – um dragão não-tão-de-bolso bêbado teria sido muito complicado. Também estava feliz em ver todos os elevados e planos de seu estômago. Muito feliz.


Aquelas calças penduradas tão baixo que era quase indecente. Quase. Ele pegou uma garrafa da cômoda. E apertou. — Fiquei tão bêbado que eu fiquei literalmente incapaz de ir atrás de você e impedi-la. — Ele estudou a garrafa vazia, franzindo a testa. — Mas sabia que a intoxicação funciona de forma diferente para nós? Ela durou apenas talvez uma hora e, em seguida, eu me senti como um merda, então eu precisava beber um pouco mais. Eu ainda poderia estar um pouco bêbado... Pressionei meus lábios para parar de rir. — Acho que sim. Um lado de seus lábios se curvou quando ele lançou um olhar de soslaio para mim. — Eu sei que não deveria beber. Isso me faz um travesso menino, travesso. — Sim, e aparentemente também deixa seus familiares bêbados. — Fiz um gesto em Bambi, que estava dormindo onde havia caído, uma pilha patética de serpente no chão. — Talvez você não fique tão intoxicado porque seus amigos absorvem todos os efeitos. Roth inclinou a cabeça para o lado. — Hã. Vivendo e aprendendo. — Ele se virou para mim, e havia um calor reconhecível em seu olhar. — Eu quero te beijar de novo. Embora houvesse partes de mim que estava louca por Roth, eu sabia que isso não ia acontecer esta noite, por muitos motivos. — Como você disse, você está bêbado. Ele me encarou com o queixo apontado para baixo e seus lábios cheios entreabertos. — Eu ainda quero te beijar. Quero fazer outras coisas. Um monte que envolve tocar, com e sem roupas. Minhas bochechas aqueceram. Inclinando a cabeça para trás, ele suspirou profundamente. — Mas sim, bêbado. Desculpa.


— Roth. — Dei um passo cauteloso em direção a ele. Mesmo intoxicado, ele foi rápido. — Quanto tempo você esteve bebendo? Um ombro subiu ao se virar para a cama. — Desde que você saiu? Se não tivesse, eu teria ido atrás de você e, possivelmente, deixaria Tambor comer Stony, e você não ficaria bem com isso. — Não, — sussurrei. — Eu não ficaria. — Talvez eu não devesse ter bebido tanto. Você não... Sim, você merece melhor do que isto. — Ele parou ao pé da cama, olhando para mim enquanto esfregava os dedos pelo cabelo bagunçado. — Você está realmente aqui? Ou será que consegui ser o primeiro demônio a ter uma intoxicação por álcool? Parte de mim queria cair na gargalhada, mas não, havia um nó apertado de profunda tristeza no meu peito. Isso era formado por uma culpa amarga, rançosa. Minhas ações tiveram tanto efeito cascata. Claro, eu não colocara as garrafas na boca de Roth, mas nunca o vi beber antes. — Eu estou realmente aqui, — disse a ele. Ele parecia prestes a dizer algo ao se sentar no pé da cama. Comecei a avançar, já vendo que ele calculara mal à distância, mas já era tarde demais. Roth bateu no chão na frente da cama, encostado. Ele jogou a cabeça para trás, rindo alto enquanto eu batia a mão sobre a minha boca. Eu não sabia para o que eu estava voltando depois de sair do café. Havia esse temor – medo irracional – de que Roth só daria tapinhas na minha cabeça e me mandaria seguir o meu caminho. Então havia uma parte que pensou que ele me pegaria nos braços e professaria seu amor por mim. De qualquer maneira, encontrá-lo bêbado não entrara no reino das possibilidades. Ele se endireitou, apoiando as mãos nas coxas enquanto olhava para mim. — Então, você realmente voltou?


Balancei a cabeça, e disse que sim com estrondo extra. Seu olhar caiu e ele suspirou profundamente. — Aposto que você está lamentando agora. — Não, — respondi sem hesitação, caminhando até onde ele estava sentado. — Eu não me arrependo. Ele levantou uma sobrancelha, mas não apagou o olhar perdido que ele tinha. — Sério? Sentando-me no chão ao lado dele, eu balancei a cabeça. — Você está bêbado. Grande coisa. Quero dizer, você provavelmente não deveria estar tão bêbado, mas você não é mesmo... Humano. E é o Príncipe do Inferno. Acho que o consumo de álcool não é ruim de onde você vem. — Não, eu acho que não. — Ele dobrou uma perna na altura do joelho e molhou os lábios. — Você... Eu não quero que você olhe para trás e pense, uau, que decisão terrível, porque ele não... — Pare, — eu disse. Implorei, na verdade. — Eu não vou me arrepender da minha decisão, mesmo se você acabar correndo para as montanhas gritando para ficar longe de mim. — Acho que isso não vai acontecer, — ele disse secamente. Eu me aproximei e estendi as pernas ao lado dele. — O que estou tentando dizer é que eu tomei a minha decisão. Eu não vou me arrepender. Não importa o que aconteça entre nós. — Mordendo meu lábio, eu assisti uma série de emoções fluírem em seu rosto marcante. — Olha, eu acho que não devemos falar sobre isso agora. Isto pode esperar. É preciso esperar, porque eu... Eu acho que realmente machuquei Zayne esta noite. Não, eu sei que eu fiz. E você não está no estado pleno de funcionamento do cérebro. — Parei novamente, porque wow, eu parecia tão madura...


Eu meio que queria me dar tapinhas nas costas. — Isso pode esperar. Nós temos amanhã. Roth não respondeu enquanto me estudava, e eu não tinha ideia do que ele pensava na cabeça dele, mas então ele se inclinou. Ele colocou a cabeça no meu colo, como fez naquela noite que eu havia acordado depois de ser curada pela poção das bruxas, mas, desta vez, eu não hesitei. Minhas mãos não se demoraram por um segundo. Elas imediatamente foram até ele, uma correndo através dos fios preto como seda, e outra curvando em seu ombro. Ele curvou para o lado e fechou os olhos. Cílios grossos enquadrados nas suas bochechas. Vários momentos se passaram em silêncio, mas eu sabia que ele não estava dormindo. Seus músculos estavam muito tensos. — Eu... Eu fiz algumas coisas realmente ruins, Layla. Meu peito apertou enquanto eu olhava para ele, e naquele momento, eu não estava pensando no Lilin, ou em minhas asas, ou mesmo Sam ou Zayne. Eu estava cem por cento focada em Roth, no mundo ao nosso redor, e todos os problemas que nos rodeava se desvaneceu no esquecimento. — Eu meio que percebi que você fez. — E isso era verdade. Ele era um demônio de Nível Superior, um Príncipe Herdeiro purosangue. Nunca me enganei acreditando que ele era um santo mascarado como um pecador. — Coisas realmente obscuras, — ele murmurou. — Entendi. — Meus lábios tremeram. Ele enrolou um de seus braços em minha perna. — A... Primeira vez que eu fui enviado aqui pelo Chefe eu tinha apenas um ano depois de ter sido criado. Era para encontrar um Duque que já não atendia à convocação do Chefe, — ele continuou enquanto eu gentilmente trabalhava meus dedos pelos seus cabelos. Eu não ousava falar, porque Roth realmente nunca falara abertamente sobre o que seu Chefe o mandava fazer. — O Duque havia encontrado uma mulher, um ser humano. Acho que


ela não sabia o que ele realmente era. Não que isso importasse. O Chefe estava chamando-o de volta, mas ele não quis deixá-la. Mordendo o interior da minha bochecha, eu tinha a sensação de que esta história não acabaria com um felizes para sempre depois. — Havia outros comigo que foram chamados. — Seu braço apertou em volta da minha perna. — As coisas ficaram... Confusas. Fechei os olhos, o coração doendo. — Essa não foi a única vez. Houve outras... Situações como essa. E essas situações, bem, elas nunca pesaram sobre mim antes. Não está em minha composição genética sentir culpa. — Um sorriso irônico brilhou em seu rosto e desapareceu rapidamente. — Não, até você. Agora eu penso nessas coisas e gostaria de saber se há alguma... Bondade em mim. Ou o que você poderia ver. Oh Deus, meu coração estava quebrando todo de novo. Eu não sabia o que era ser Roth, ser algo que era apenas o mais recente na longa linha que viera antes dele. Outros Príncipes, os quais o Chefe havia se cansado deles, destruídos de uma forma ou de outra, antes de criar esta versão de Astaroth. E eu não sabia tudo que Roth fizera em seu passado, mas com toda a honestidade, eu não me importava. Quem era eu para julgar? Sendo que estava longe de ser perfeita e também era parte demônio, eu mesma fiz coisas que desejei não ter feito, e sabia que haveria coisas no futuro que eu gostaria de ter de volta. Mas Roth havia passado dezoito anos mantendo o Chefe do Inferno feliz. Nenhuma escuridão dele me surpreendeu. Apenas me entristeceu. Inclinando-me, eu beijei o rosto dele, e quando me endireitei, ele virou seus enormes olhos âmbar em mim. — Eu vejo o que você não faz. — Corri minha mão pelo braço dele. — Você não é egoísta, ainda que tenha momentos de agir como tal. Todos nós temos. Você não é mau, ainda que tenha sido criado pelo maior mal de todos.


Você provou para mim e para você mesmo que tem livre arbítrio, e tomou decisões corretas uma e outra vez. Quando arrastei minha mão pelo seu braço, ele estremeceu. — Você aceitou quem e o que eu sou desde o início. Nunca tentou me mudar... Ou me esconder. Você sempre confiou em mim, mesmo quando provavelmente não deveria ter confiado. — Eu ri disso, pensando no tempo que ele me deixou sozinha no clube Palisades, com instruções explícitas para não vaguear — Você... Você celebrou o que sou, e muito poucos podem reivindicar isso. Como eu disse antes, você é mais do que o último Príncipe Herdeiro. Você é Roth. Por um momento, ele não se moveu ou piscou. Então, admiração encheu sua expressão enquanto ele olhava para mim, e finalmente a tensão deixou seus músculos. — E eu sou seu.


Em algum ponto, eu consegui colocar Roth na cama e Bambi, eventualmente o seguiu. Isso era um espetáculo impressionante para testemunhar, uma anaconda demoníaca bêbada tentando deslizar sobre uma cama. Precisei intervir e levantar a extremidade traseira, e então, cuidadosamente peguei o gatinho desmaiado sobre a cômoda e o coloquei na cama também. Eu só podia esperar que Bambi não comesse Thor caso acordasse no meio da noite com fome por causa da bebida. Então, comecei a limpar as garrafas. Parei de contar as que estavam no quarto e levei o saco chocalhando de garrafas para o lixo. Depois disso, eu fiz um sanduíche e chequei Stacey. Ela estava indo tão bem quanto se poderia esperar, e também confirmou que Roth realmente fizera uma ligação anônima. — A polícia veio esta tarde. Mamãe pensou que era sobre o incêndio em casa, mas foi... Foi sobre Sam. Sentada na sala, enrolada contra a traseira de uma almofada de tamanho grande, eu fechei os olhos. — A família dele...


— Eu sei. — Sua respiração estava trêmula através da conexão. — Eles me disseram. Eles também perguntaram se eu o vi. Falei sobre a última vez que estivera na escola. Ontem. — Isso foi inteligente. Uma pausa, e depois: — Deus, Layla, como isso aconteceu? Dois meses atrás eu nunca viria nada disso vindo, — ela disse, e ouvi uma porta se fechando. — Minha mãe está me seguindo desde que a polícia apareceu. Ela está preocupada e assustada. A polícia acha que Sam... Que ele enlouqueceu e dizimou a família dele. Estará tudo na escola amanhã, e isso não é certo. Sabe? Que as pessoas acreditem que Sam fez algo parecido. — Não é, — concordei, abrindo meus olhos. Havia uma pintura pendurada na parede diante de mim. Uma estrada pitoresca com o outono em plena exibição, mas as brilhantes cores laranja e vermelhas estavam desbotadas. — Sam não merecia nada disso. — Nenhum de nós merecia. — Houve outra inspiração profunda. — Ok. Preciso ser distraída, porque senão eu vou enlouquecer novamente. Vou perdendo a razão a cada hora, a cada hora. Ok? Distraia-me. — Humm... — meu cérebro esvaziara. Realmente, bem útil. — Ah, eu não presto nisto. Ela riu com a voz rouca. — O que Roth está fazendo? — Bem, ele está... Sim, ele está meio que incapacitado no momento. — Eu me encolhi, sabendo como isso soou. — Sério? — Interesse animou seu tom. — Por quê?


Olhei para o grande arco. — Eu disse a ele esta manhã que eu precisava falar com Zayne, e acho que ele pensou que significava que eu ia dizer a Zayne que queria ficar com ele. Assim, ele poderia ter ficado um pouco bêbado. Um riso estrangulado veio através do telefone e meu coração deu um salto com o som. — Você está falando sério? — Sim. E seus familiares? Eles estão bêbados, também. — Fiz uma pausa, sorrindo um pouco. — Foi um show. — Posso imaginar. Não. Espere. Eu não posso. Você precisa ir buscar imagens disso para mim. Eu sorri, embora isso não fosse acontecer. — Então... Você não quer ficar com Zayne? Você era obcecada por ele desde que te conheci. — Eu não diria obcecada. — Era realmente errado falar sobre isso com Stacey, mas ela pediu para ser distraída, então eu faria o que ela queria. — Você sabe que eu amo Zayne. Sempre o amei e amarei, mas Roth? Ele é... — Ele é o único, — ela disse calmamente. — Sim. Por mais que ele me irrite, eu amo o tipo de amor que ele tem. Eu sei que soa torcido, mas é verdade. — Desdobrei as minhas pernas e me ergui, enrolando um braço em volta do meu estômago quando comecei a andar ao longo da sala, usando um pequeno caminho no tapete oriental. — Eu... Eu o amo, Stacey. Eu realmente o amo. — Eu não estou surpresa, — foi a resposta dela. Comecei a sorrir novamente, passando pela segunda vez na frente do sofá. — Sério?


— Não. Eu via o jeito que ele olhava para você. Via a maneira de você olhar para ele. Era sempre diferente com Zayne. Mais suave. Você sabe que eu daria meu ovário esquerdo por uma chance com um tipo desses... Deus, isso soou bem ruim, não? Cedo demais até mesmo para uma piada? — Ela suspirou profundamente. — Sou uma pessoa terrível. — Não! Oh, Deus, não! Não pense isso, e você não é uma pessoa terrível. — Posso... Posso perguntar uma coisa? E você me responderá honestamente? Parei em frente à pintura. — Claro. — Promete, — ela sussurrou. — Prometo. Passou um momento antes de falar. — Estive pensando muito sobre isso. Eu nunca realmente comecei a prestar atenção em Sam até que ele começou a mudar, sabe? Quando começou a se vestir de forma diferente e estilizar o seu cabelo. Quando ele começou a ficar confiante... Ah não. — E todo este tempo, tudo isso, nunca foi Sam. — A voz dela falhou um pouco. — Era aquela coisa fingindo ser ele. Isso significa que eu me apaixonei por aquela coisa, Layla? E não Sam? E o que isso diz sobre mim? — Oh, Stacey... Não vá por esse caminho. A verdade é que eu acho que você sempre gostou de Sam, só levou um tempo para reconhecê-lo. Você não se apaixonou pelo Lilin. — Tem certeza? — Sua voz soou pequena e tão jovem.


— Tenho certeza e pense nisto. O Lilin, ele agiu tanto como Sam que nenhum de nós poderia dizer a diferença. Você pensou que era Sam. Eu pensei que era Sam – a versão dele que finalmente descobriu como usar um pente. A risada de Stacey foi um choque agradável para os meus ouvidos. — Sim. Ok. Minúsculos nós se formaram na minha barriga. — Você entende o que eu estou dizendo, certo? Não pense isso sobre si mesma. — Não. Quer dizer, eu só... Eu precisava ouvir você dizer o que disse. Isso é tudo, — ela prometeu, e eu esperava que ela estivesse dizendo a verdade. — Quando posso vê-la para poder obter os segredos sobre você e Roth em pessoa? Eu não sabia que detalhes eu poderia dar a ela, uma vez que não conversamos realmente, pelo menos, não quando nós dois estávamos sóbrios. — Você vai à aula na segunda-feira? — Provavelmente sim. E você? Meus ombros caíram. — Eu realmente quero, mas agora precisamos descobrir como cuidar do Lilin, e perdi muito tempo. — Oh, Layla. Balancei a cabeça, não querendo pensar nisto. — Uma vez que tudo estiver bem, eu vou descobrir alguma coisa. De qualquer forma, posso tentar te ver depois da escola. Depende do que for fazermos. Fizemos planos para mandarmos mensagens entre nós, mas antes de desligar o telefone, ela me parou. — Layla? — Sim


Sua inalação afiada era audível. — Prometa-me que você vai ajudar o Sam. Que podemos consertar isso para ele. Minha mão livre apertou em um punho, até que as pontas das minhas unhas cavaram minhas palmas. — Eu prometi que iria. Não vou quebrar essa promessa.

***

Uma vez que a noite caiu e uma verificação rápida me garantiu que Roth ainda estava dormindo, cercado por ronco dos familiares, peguei uma colcha do pé da cama e saí para uma varanda que dava para algum tipo de reserva natural. Uma pequena nuvem, enevoada da respiração visível separou meus lábios quando inclinei a cabeça para trás. A noite estava clara, cheia de estrelas que brilhavam como mil pequenos diamantes, distantes. Fui até a grade, puxando o cobertor mais perto de mim. Minha mente não se desligava. Analisava tudo sem parar. A conversa com Stacey repetida, persistente em seus medos. Eu sofria por ela, desejando que houvesse algo mais que eu pudesse fazer, mas a única via era libertar a alma de Sam, então eu faria isso. Eu já sabia por onde começar, com Grim. Eu só precisava esperar até a próxima semana, e isso me enojava, porque quem sabia o que aconteceria com a alma de Sam entre agora e depois. Precisávamos lidar com o Lilin, porque eu sabia que não ia ficar na clandestinidade por muito tempo, mas meus pensamentos se moveram para o demônio que correu de mim hoje e, em seguida, para as minhas asas de penas. Inevitavelmente, o que me fez pensar nos Alfas e por que eles pensaram que eu era como uma abominação agora, quando fui inteiramente tolerável por dezessete anos.


Eu estava adivinhando que tinha algo a ver com as asas e a maneira que eu me transformei. Uma estrela quebrou longe das massas, disparando pelo céu e chamando a minha atenção. Quando era jovem, eu costumava pensar que eles eram anjos descendo. Zayne sabia melhor, mas ele me animava e contava histórias sobre como eram anjos da guarda que vinham para proteger suas cargas. Apertando os olhos fechados, doeu quando tomei a minha próxima respiração. Não sei quanto tempo fiquei lá fora, mas meu nariz estava frio e os meus lábios estavam dormentes quando entrei. Deixando cair a manta sobre a cama, troquei para o meu pijama, mas parei antes que eu pudesse subir na cama. Com o coração acelerando, eu virei e saí do quarto. Não me dei tempo para realmente pensar no que eu estava fazendo enquanto caminhava para o quarto onde Roth dormia. Abrindo a porta, deslizei para dentro e silenciosamente me aproximei da cama. Roth estava deitado de lado, de frente para a porta. Seus lábios estavam entreabertos e seu cabelo era uma queda confusa na testa. O cobertor foi empurrado para baixo da sua cintura magra, e eu podia ver que Bambi havia encontrado o seu caminho de volta para ele. Ela descansava em forma de tatuagem ao longo de seu braço esquerdo. Parecia que uma parte dela estava de costas, mas eu não podia ver para ter certeza absoluta. Eu não vi os gatinhos, mas eu sabia por experiência que eles poderiam estar em qualquer lugar, pronto para atacar meus pés e tornozelos. Eu não queria voltar para a minha cama, sozinha com todos os meus pensamentos. Eu queria estar aqui, com ele. Com o coração alojado em algum lugar na minha garganta, eu corri até à cama, levantei o cobertor e entrei. Os movimentos não acordaram Roth, e por isso, eu estava aliviada, porque eu me senti estranha, entrando na cama como uma perseguidora. Deitei-me de lado, de frente para ele, eu levei o status de perseguidora a um nível totalmente novo quando


deixei o meu olhar vagar pelo rosto dele. Meus dedos coçaram para traçar a linha de seu rosto, mas mantive minhas mãos dobradas debaixo do meu queixo, e depois de alguns minutos, todos os pensamentos girando em minha cabeça acalmaram. Estar perto dele, bem, ele me acalmava de uma maneira que eu tanto precisava. Enquanto ouvia as suas constantes e pesadas respirações, meus olhos se fecharam. Apenas alguns minutos depois, quando comecei a cair no sono, eu ouvi o que soou como um zumbido de um minimotor vindo do outro lado do Roth. Levei um segundo para perceber que era um desses gatinhos endiabrados, e apesar de quão mal eles eram, um sorriso puxou meus lábios. Eu dormia profundamente, embalada pelo calor perto do corpo de Roth, e não tinha certeza de quantas horas se passaram quando senti um braço prender-me em torno da cintura e puxar-me para o lado. A minha frente bateu em um peito duro, e pisquei os olhos abertos. Uns olhos cor de âmbar olharam nos meus. — Bom dia. Sua voz era áspera com o sono e sua respiração era mentolada, como se ele tivesse escovado os dentes antes de rastejar de volta para a cama. Sono agarrava os meus pensamentos enquanto arrastava meu olhar para cima. Seu cabelo estava úmido. Ele deve ter lido a confusão no meu rosto. — Eu refresquei-me, — explicou. Levantando uma mão, ele pegou uma mecha do meu cabelo com os dedos e o colocou atrás da minha orelha. — Você estava morta para o mundo quando acordei. Pensei em usar o tempo para apagar o pânico que permaneceu da noite passada. — Seu olhar se moveu sobre meu rosto enquanto as pontas de seus dedos arrastavam ao longo da linha do meu rosto. — Eu tenho que admitir, acordar e encontrar você na minha cama foi uma agradável surpresa. Minha língua foi destravada. — Foi?


— Sim. — Seu dedo agora traçou meu nariz. — Quando acordei, percebi que nunca fiz isso antes. Não com você. Não com ninguém. Eu sempre... As poucas vezes que adormeci na cama com ele, ele sempre havia ido embora quando acordei, com exceção do tempo que eu estava me curando, mas ele não pareceu contar isso e nem eu. Um sorriso estranho curvou os seus lábios. Não estranho de uma forma ruim, mas apenas um que eu nunca vi nele. Ele escorria encanto juvenil. — Eu gostei tanto que agora estou estragado. Uma manhã, e sou um homem mimado para a vida. Eu quero você aqui todas as manhãs, comigo. Bem, talvez no quarto principal. Aquela cama é mais confortável. A névoa de sono foi se afastando, e eu me vi sorrindo para ele como uma completa idiota. — Achei que esta cama era boa. — Porque eu estava nela? — Uau. — Meu sorriso se espalhou pateta. — É bom ver que o seu ego ainda está funcionando normalmente. Arrastando o dedo sobre a testa, ele riu profundamente. O som desapareceu, assim como seu sorriso. — Sobre a noite passada? Eu... Eu sinto muito por aquilo, — ele disse, lutando com o pedido de desculpas, e por alguma razão, me fez querer rir. Demônios não se desculpam facilmente. A palavra desculpe não estava no vocabulário deles. — Eu honestamente pensei que você estava indo embora, e bebi tanto para não ir atrás de você. Isso não é uma desculpa. Eu sei, mas eu realmente estou... Desculpe por isso. — Tudo bem. Você é uma graça. — Graça? — Seus dedos caminharam para o meu queixo. — Eu prefiro bestiamente sexy.


Um riso finalmente me escapou. — Desculpe, eu tenho certeza que essa descrição é reservada para Tambor. Seu olhar procurou o meu enquanto seus dedos paravam no meu queixo, logo sob o centro dos meus lábios. — Como você está? — Quando não respondi, ele passou o polegar ao longo do meu lábio inferior. — Eu posso colocar dois e dois juntos. Você falou com Zayne ontem à tarde e está acordando comigo hoje. Eu sei que não deve ter sido fácil para você. — Não foi, — sussurrei, pensando na angústia que vi na expressão de Zayne. Isso era uma parte dos pensamentos que me assombraram a noite passada. Luz irradiava pela fresta entre as cortinas grossas além da cama, acariciando sua bochecha. — Então, como você está? A princípio, comecei a dizer que estava bem, mas isso seria uma mentira. E não quero que haja mais mentiras entre nós. — Foi difícil, — admiti, colocando minha mão em seu peito. Ele contorceu-se um pouco, e eu gostei disso – que meu toque tinha esse tipo de efeito. — Provavelmente uma das coisas mais difíceis que tive de fazer, porque eu me preocupo com ele. Eu o amo e nunca quis machucá-lo. Nunca. — Eu sei. — Seus lábios roçaram minha testa. — Perder você não seria fácil, mas acho que... — O quê? — Deixei meus dedos fazer um pouco de exploração. Era estranho, pensei, enquanto desenhava um círculo ao redor do peito dele, que tocá-lo assim fosse uma espécie de poder. Não da mesma maneira quando lutava contra os demônios Raver6 ou enfrentando ao meu clã, mas ainda era uma sensação inebriante. — Não posso acreditar que eu vou dizer isso, — ele confidenciou com um suspiro. — Stony é um bom rapaz, mas ele provavelmente precisará do espaço dele.

6 Age de forma selvagem ou incoerente, como se fosse delirante ou insano.


Fechei os olhos por alguns instantes. — Sim, eu sei. O braço em volta da minha cintura se apertou. — Podemos fazer alguma coisa? Meus dedos pararam no primeiro quadrado do abdômen duro. – Hum. — Garota suja, deixe de pensar neste tipo de coisas. Eu não falava sobre essas coisas. No entanto, — acrescentou; de uma forma que fez minha barriga apertar. — O que eu quis dizer foi, podemos recomeçar a noite passada? Eu não entendi. — Como assim? — Eu estava mal, mas acho que você disse que queria ficar comigo, e bem, eu quero ouvir você dizer isso de novo. Meu coração deu um salto mortal e inclinei a cabeça para trás, de modo que nossas bocas estavam perto. — Eu quero ficar aqui com você. — O braço em volta de mim apertou ainda mais, me encostando ao peito como ele fizera na noite passada, e mais uma vez, eu realmente gostei. — Eu quero ficar com você. Roth pressionou sua testa contra a minha enquanto rolava um pouco sobre suas costas, levando-me com ele. Acabei encontrando-me metade sobre ele, ambas as mãos apoiadas em seu peito e minhas pernas entrelaçadas nas dele. O braço na minha cintura era inabalável e a mão enrolada em torno da minha nuca fez com que uma profusão de sensações deslizasse pela minha espinha. Mas não terminou. Olhando nos olhos que eram tão brilhantes e bonitos como qualquer joia castanha amarelada, eu disse o que nunca disse antes. E disse com cada onça do meu ser por trás disso. — Eu te amo, Roth. — Minha voz tremia de emoção. — Estou apaixonada por você. Roth se moveu novamente. Desta vez, eu estava nas minhas costas e ele em cima de mim, uma perna entre as minhas e a mão dele ainda segurando meu pescoço. — Diga isso mais uma vez, — ele suplicou com uma voz quase um sussurro.


— Eu te amo. Eu te amo. — E eu disse isso uma e outra vez, até que não podia dizer mais, porque ele me silenciou com a boca. O beijo não foi nada como na noite passada. Seus lábios eram gentis sobre os meus, uma carícia doce que estava em desacordo com sua enorme força, e o senti em cada parte de mim. Ele me beijou suavemente, e em seguida, levantou-se apenas o suficiente para que eu pudesse vê-lo. Tirando minha mão de seu ombro, ele apertou seus dedos ao redor dos meus e colocou nossas mãos unidas contra o peito e apertouas juntas. Eu podia sentir seu coração batendo fortemente. — Eu cobicei você como qualquer bom demônio faria. — A outra mão apertada na parte de trás do meu pescoço. — E o meu desejo por você aumenta a cada segundo de uma forma que deveria me assustar, mas realmente me excita. Mas, acima de tudo, eu te amo, — ele disse, e meu corpo inteiro sacudiu com as palavras. Ele não pareceu notar. — Eu, Astaroth, o Príncipe do Inferno, estou apaixonado por você, Layla Shaw. Ontem. Hoje. Amanhã. Uma centena de décadas a partir de agora, eu ainda estarei apaixonado por você, e isso será tão feroz hoje como será daqui uma década. Ouvir as palavras dele foi como um urso abraçando o sol. Calor derramou em mim e ele me deu um beijo que foi além de suave, questionador, apenas compartilhado. Foi profundo e completo, e senti como se ele estivesse me reclamando e eu o reclamando em troca. Que finalmente, depois de todo esse tempo, nós havíamos destruído essa linha entre nós e ela não voltaria. — Eu te amo, — foi dito várias vezes, entre beijos e entre os gemidos que aqueles beijos, eventualmente, forjaram a partir de nós. Mesmo quando nos mudamos para além das palavras, isso foi gritado em cada beijo e toque. Soltando nossas mãos, Roth agarrou meu quadril quando pressionou seu corpo ao meu. A calça do pijama fino não ofereceu nenhuma barreira real entre nós, não quando estávamos tão gananciosos um com o outro. Eu o queria, tanto que sofria de uma forma que tinha de ser física, totalmente física, mas foi mais longe, mais fundo, tatuando a minha pele, conquistando meu músculo e gravando em meus


ossos. E ele deveria sentir o mesmo, porque eu podia sentir o quanto ele queria isso com cada movimento de seus quadris, e quando ele enfiou a mão debaixo da camisa, arrastando o material para cima, eu mal podia respirar. Meu coração batia quando ele se levantou em um braço e olhou para mim. Eu estava nua da cintura para cima, e embora esta não fosse a primeira vez que ele viu tanto de mim, um ninho de borboletas canibais começou a bater as asas na minha barriga. Minha experiência nestas situações era limitada, mas a fome crua em seu olhar ardente era evidente, e eu sabia, no âmago do meu ser, que ele ficou entusiasmado com o que viu. E provou isso com suas palavras. — Linda, — ele disse; a voz grossa conforme arrastava levemente seus dedos em minha barriga. Eu estremeci e mordi o lábio. — Você é tão bonita, Layla. E se eu pudesse escolher uma coisa que eu poderia olhar para o resto da eternidade, seria você. Meu coração inchou tão rápido e tanto que pensei que flutuaria até o teto e para as estrelas. Talvez até aos céus. Os dedos de Roth estavam no meu rosto, o seu carinho reverente. — Seria sempre você. Então, ele estava me beijando novamente, e esses beijos, esses momentos eram preciosos, poderosos e belos em sua própria maneira. Os lábios de Roth pairaram sobre o meu rosto em direção ao meu ouvido e sussurrou palavras que enviaram um calor inebriante pela minha pele e fez meus músculos se tensionarem de uma estranha maneira deliciosa. Quando ele levantou a cabeça, seu olhar era questionador, desejoso e milhares de outras coisas. Eu balancei a cabeça.


Um lado de seus lábios virou para cima, e então ele disse: — Obrigado. Nem uma única parte de mim entendia por que ele estava me agradecendo, mas, em seguida, todos os pensamentos voaram pela janela, porque ele beijou o canto dos meus lábios, e então começou uma linha de pequenos beijos que ia do meu queixo à minha garganta e, em seguida, mais distante ainda. Meus dedos apertaram o edredom quando ele parou, e depois se esticaram quando um suspiro me escapou. Eu realmente não entendo por que ele me agradecia quando ele estava fazendo isso, porque, na verdade, devia ser ao contrário. Seus lábios deslizaram sobre minhas costelas. — Eu acho que nós precisamos que você obtenha uma tatuagem. Levei alguns minutos para que as palavras dele fizessem sentido. — Uma... Uma tatuagem? — Sim. — Ele beijou um pouco acima do meu umbigo. — Um familiar. — Eu posso fazer isso? Roth levantou o queixo e sorriu de uma maneira que fez com que meu coração desse uma volta ao redor. — Não vejo por que não, e sei quem pode fazer uma para você. — Seu olhar viajou para baixo, enviando uma dança de arrepios sobre a minha pele. — Aqui seria um bom lugar. — Ele arrastou a mão sobre o lado das minhas costelas. — Ou aqui? — Essa mesma mão fez o seu caminho sob a borda da minha calça de pijama e enrolou-se em volta do meu quadril. Seu olhar aquecido. — Eu realmente gosto da ideia de estar aqui. — Realmente importa onde ela será feita? — Perguntei. — Vai se mover de qualquer maneira, certo? — Oh, isso é importante. — Ele beijou o ponto abaixo do meu umbigo. — Principalmente, apenas importa para mim.


Eu ri. — Está bem então. Sorrindo, ele se levantou novamente, subindo em cima de mim. Seus braços eram enormes e poderosos, e suas mãos desceram em ambos os lados da minha cabeça. Minha respiração ficou presa quando seus lábios assumiram o controle dos meus. Passei meus braços em torno dele, segurando-o perto. Sua língua varreu a minha, e o gosto dele me deixou louca. Roth estava de novo em movimento, deslizando para baixo mais uma vez. Meus dedos jogados em seu cabelo, e eu já não podia manter o controle de onde ele ia, porque ele obliterou quaisquer habilidades de pensamento abrangentes. Nem sei como minha calça saiu ou onde elas foram. Foi como mágica. Roth era mágico. Ele também tinha essa agradável inclinação travessa nos lábios enquanto suas mãos viajavam até à parte externa das coxas. Não havia nada entre minha pele e as mãos, e podia sentir cada toque, e até mesmo a carícia mais suave era como ser atingida por volts de eletricidade. — Pequena? Afrouxei meu aperto em seu cabelo, deixando minhas mãos cair de volta para o edredom. — Sim? — O que acha de uma tatuagem aqui? — Ele beijou o lado da minha coxa, logo acima do meu joelho, no interior. — É um lugar muito interessante. Eu gosto disso. Mordi meu lábio. — Tenho certeza que você gosta. Seus olhos deflagrou um ocre brilhante. — Você sabe o que mais eu estive pensando? Com ele, era uma incógnita. — Eu acho que terei que tornar isso oficial. Sabe, eu sendo o presidente do fãclube da horda demoníaca de Layla.


Uma risada explodiu de mim. — O que você fará? Uma camisa que diz que você é o presidente oficial? — E bottons. Estou totalmente decidido a fazer alguns bottons. Comecei a rir, mas seus dedos encontraram o material – a única coisa fina deixada em mim – e as coisas foram definitivamente mais longe do que foram antes. Eu estava nervosa, mas também confiava nele. Lembrei-me do que ele sussurrara em meu ouvido anteriormente. Eu sabia que isto não iria tão longe. Antes de meus nervos poderem tirar o melhor de mim, seus lábios estavam onde as suas mãos estiveram, e eu já não pensava em nada. Apenas sentia-o, e à bela corrida de sensações que ele estimulou em mim. Ele era um mestre nisso, absolutamente brilhante, porque eu estava fora de mim. Eu não estremeci e tremi assim e esses barulhos suaves não vinham de mim. Eu era como um pedaço de pano sendo puxado muito apertado, até que de repente toda a tensão quebrou, e fui apanhada no turbilhão, jogada tão alto que eu poderia beijar as estrelas. Roth se levantou devagar, balançando um braço debaixo de mim e me puxando contra seu peito. Quando abri os olhos, ele parecia ter tido sua mente derretida, mas era estranho, porque foi ele quem fez tudo ser alucinante. Eu era aquela na extremidade de recepção. — Isso... — minha língua não queria trabalhar. — Isso foi incrível. Seu sorriso era parte arrogância, pois ele já sabia exatamente como era impressionante, mas havia algo de menino na curva de seus lábios. Ele estendeu-se ao meu lado, me mantendo perto. Ele abaixou a cabeça, beijando-me suavemente, e eu estava desossada e fraca nos braços dele. Sua boca estava quente contra a minha testa úmida. — Eu quero uma eternidade de manhã como esta. — Ele deu um beijo junto ao meu ouvido. — Uma eternidade.


Um frio soprou em mim enquanto meus olhos se abriam. O brilho feliz entorpeceu e a neblina se dispersou. De repente, percebi algo muito importante, algo que nenhum de nós pensou neste momento. Roth nunca envelheceria. Por enquanto, ele andava nesta terra, ele ficaria como está hoje, enquanto eu iria envelhecer e morrer como qualquer outro mortal lá fora, graças a meu sangue Guardião. Roth tinha uma eternidade. Eu não.


O sentimento perturbador e instável esteve presente o resto da manhã e eu odiava isso, porque Roth e eu estávamos finalmente na mesma página, pela primeira vez, e o que fizemos – o que ele fizera – era francamente incrível e bonito, e sim, eu iria querer uma eternidade de manhãs como essa. Agora eu me senti assombrada, como se houvesse uma sombra pairando sobre nós, transformando tempo infinito em minutos ou segundos. O que era estúpido, porque reconheci que eu tinha um longo, longo tempo antes de precisar me preocupar com o constrangimento de um indivíduo sexy de passar tempo comigo quando eu estava bem em meus anos dourados. Mas continuei imaginando Roth parecendo tão bem e fresco como nesta manhã, quando ele rolou para fora da cama e lançou um sorriso maroto na minha direção. Na minha cabeça, eu não parecia como estava agora. Em vez disso, eu tinha cabelos grisalhos, um rosto que rivalizava com um daqueles cães que tinham a pele enrugada e uma corcunda. E em vez de fazer o que fizemos esta manhã, nós passaríamos o tempo jogando bingo. Eu meio que gostava de bingo, no entanto. De qualquer forma, a coisa toda foi muito além de desconfortável.


Havia questões mais prementes que precisávamos abordar agora, que era por isso que estávamos reunidos na cozinha com Cayman e outro demônio que eu nunca conheci, mas que atendia pelo nome de Edward. Eu seriamente duvidava que fosse o verdadeiro nome do loiro, porque o nome Edward realmente não levava o medo no coração de ninguém. Cayman estava sentado no balcão perto da pia, balançando seus pés como se estivesse no recreio. Eu estava na ilha, após ter comido o meu peso em salsicha, e Roth estava de pé ao meu lado. Quando nós entramos na cozinha juntos, eu meio que esperava que Cayman sacasse uma câmera e começasse a tirar fotos de nós. Sua expressão era francamente alegre. Eu estava me esforçando para não olhar para Roth naquele momento, porque quando o fiz, eu pensei no que ele fez esta manhã e o que não fez, e então eu fiquei com o rosto todo vermelho. As coisas poderiam ter progredido mais se Roth não tivesse sentido a presença do outro demônio, forçando-nos a deixar o quarto para investigar. Edward fitou Cayman e seus olhos tinham uma luz estranha que se refletia quando ele inclinava a cabeça de certa maneira. Ele definitivamente não era um demônio de Nível Superior, e pensei que ele poderia ser um Fiend. — Então, o que está no menu hoje, crianças? — Perguntou Cayman. O sorriso lento de Roth enviou fogo em meu rosto enquanto lançava um longo olhar em minha direção. Ele abriu a boca, mas o olhar que lhe enviei prometia assassinato caso ele respondesse a essa pergunta do jeito que eu pensei que ele poderia. Ele riu, apoiando o quadril contra o balcão. — Eu acho que nós precisamos verificar a cidade, começar a pesquisar as áreas que achamos que o Lilin possa estar escondido. Os Guardiões estão fazendo o mesmo, mas duvido que eles sejam bemsucedidos.


— O Lilin vai senti-los a uma milha de distância, — Edward concordou. — Enquanto nós nos misturamos com as massas demônio, pelo menos até que tenhamos uma chance de chegar perto. Cruzei os braços sobre o ventre, onde Bambi atualmente residia depois de fazer o seu caminho até lá quando saímos do quarto. Eu pensei sobre como o demônio de Nível Superior reagiu a mim ontem e, em seguida, empurrei a memória de lado. — Você acha que as bruxas que adoram Lilith abrigariam o Lilin? Cayman sacudiu a cabeça. — Acho que não. Elas são obcecadas com a sua mãe, mas elas sabem o quão arriscado seria dar abrigo a algo tão mal como o Lilin. Normalmente, tendo Lilith referida como minha mãe me enviaria em um estado de confusão épica de proporções inauditas, mas agora era apenas... Bem, era apenas a verdade. Lilith era minha mãe, eu querendo ou não. — Mas será que algum demônio pode dar-lhe abrigo neste momento? — Perguntei. — Não um esperto. — Roth disse, colocando uma mão nas minhas costas. Embora eu usasse um suéter, um dos mais horrivelmente apertados que Cayman escolhera a partir de um canto em algum lugar, sem dúvida, o peso da mão dele ainda queimava minha pele. — Eles têm que saber que não só os Guardiões querem o Lilin, o Chefe também, e, por extensão, eu, e eles realmente não querem entrar no meu lado mau. — Você não é um filho da mãe mau. — Edward encostou-se ao balcão e seu cotovelo roçou a cafeteira. Contorci-me no banco quando a máquina apitou de repente, o cheiro de ozônio queimado enchendo a cozinha quando ele olhou por cima do ombro. O pote rachou no meio enquanto Edward nos encarava. — Uh, sinto muito por isso. Sim. Era definitivamente um Fiend. Roth fechou a cara. — Você terá que substituir até amanhã de manhã.


O demônio fez uma careta. — Sim, senhor. Senhor? Abaixando o olhar para a bancada, eu pressionei meus lábios para parar de sorrir. — Nenhum dos Fiend ajudará o Lilin. Posso assegurar a vocês, — Edward continuou, sacudindo seu embaraço, e me perguntei se ele era algum tipo de portavoz de sua espécie. Ainda havia tanta coisa que eu não sabia sobre a população demoníaca, e isso me fez contorcer-me no meu lugar. Eu havia marcado tantos deles no passado, sentenciando-os de volta para o inferno, e percebi que o Chefe não apreciava o fracasso de qualquer tipo. Será que o Chefe puniu os Demônios como esse na sala com a gente, cujo único crime parecia ser massacrar aparelhos? Culpa me agitou. Exalando suavemente, eu olhei para cima, pegando o meu cabelo, comecei a torcê-lo por nenhuma outra razão, a não ser para ter algo a fazer com as minhas mãos. — Bem, esta é uma grande cidade. Não podemos apenas começar a vagar sem rumo. — Droga, — murmurou Cayman. Ele piscou. — Eu estava ansioso para isso. Revirei os olhos. — O que precisamos fazer é começar a controlar quaisquer mortes, ou seja, ver se há mortes suspeitas – pessoas saudáveis morrendo sem razão. Duvido que o Lilin esteja indo sentar e não fazer nada. Se ele começa a puxar as almas, os corpos têm de amontoar-se. — Boa ideia, — Edward saiu. — Essa é minha garota. — Roth colocou os dedos embaixo do meu queixo, inclinando a cabeça para trás e para o lado. Seus lábios estavam nos meus em um nano segundo, e primeiramente, eu endureci. Eu não estava acostumada a ser beijada na frente dos outros. Eu não gostava de ser beijada em público. Nosso relacionamento era tão novo, menos de vinte e quatro horas, mas seus beijos tinham essa capacidade


de derreter reservas e preocupações. Eu suavizei, e a sala entrou em foco de novo. Ele me beijou como se não houvesse mais ninguém ao nosso redor, mas nós não estávamos sozinhos. Alguém limpou a garganta, e depois Cayman gemeu: — Sério, caras? Meu rosto estava queimando quando me afastei, mas Roth não se intimidou. — O quê? — Perguntou. — Enquanto eu estou feliz que vocês decidiram se tornar o casal do ano, eu realmente não quero ver você chupar o rosto dela, — Cayman comentou. Eu não tinha certeza se acreditava nele, desde que ele era todo Equipe Roth. — Isso faz coisas à minha indigestão. Coisas ruins. — Eu não me importo, — Edward disse. Meus olhos se arregalaram. Ok. Isso foi estranho e... E rude. Roth se endireitou, mas deixou o braço cair sobre os meus ombros. — Cayman, você pode ficar de olho nos necrotérios e hospitais, e Eddie-boy, mantenha os olhos nos clubes por toda a cidade. Só não toque em nada. O Fiend realmente parecia envergonhado ao assentir. — O que faremos? — Eu perguntei, e quando os olhos de Roth se aprofundaram, eu sabia que direção ele estava tomando. Estendendo a mão, eu coloquei minha mão na boca dele. — Não. Ele mordiscou meus dedos e sorriu quando puxei minha mão. — Há um par de lugares que nós devemos verificar. Nós começamos a nos separar, nesse ponto, era bom fazer algo diferente do que sentar e ficar sem fazer nada. Fui à sala para pegar um laço de cabelo que eu havia deixado na mesa. Peguei e me virei para encontrar Cayman perto de mim.


— Você ainda quer ver o Grim na próxima semana, Layla-Bunda-Sexy? — Perguntou. Olhei para ele um momento, deixando esse apelido fazer sentido, e então olhei para a porta. — Sim, mas eu ainda não disse nada ao Roth. — Eu não faria isso, porque ele não vai aceitar. — Ele manteve a voz baixa enquanto falava rapidamente. — Lembre-se, ervilha de cheiro7. Eu lhe disse que o Chefe não está totalmente satisfeito com ele. Ele vai até lá, eles o manterão preso. Você não quer isso. Meu estômago afundou enquanto me aproximava de Cayman. — O Chefe pode apenas aparecer e levá-lo se ele quiser? Ele inclinou a cabeça para o lado. — Sim, mas é duvidoso no momento. Mais tarde? Quem sabe? Eu posso distrair Roth na próxima sexta-feira e dar-lhe tempo para chegar lá, mas uma vez que você estiver lá, você terá que se apressar. — Pressa? Caso você tenha esquecido, eu nunca fui ao inferno, então não tenho ideia de como é a paisagem, — apontei, tentando não surtar com o fato de que eu estava indo ao inferno. Literalmente. — Preciso de um pouco de direção aqui. Cayman sorriu. — É mais fácil do que você pensa. Confie em mim, manteiguinha. Você saberá exatamente aonde ir quando chegar lá. — Então ele piscou. — A propósito, eu estou orgulhoso de você. Você tomou a decisão certa ontem, escolhendo a escolha de futuro – Roth. Abri a boca, mas ele se foi antes que eu pudesse dizer uma palavra. Rodando lentamente, eu olhei o quarto agora vazio. — Eu odeio quando ele faz isso. — O quê?

7 Uma planta trepadeira da família das ervilhas, amplamente cultivadas por suas flores perfumadas coloridas.


Pulando ao som da voz de Roth, não poderia dizer que eu estava surpresa de encontrá-lo um pé atrás de mim. — Quê! Vocês apenas entrando e saindo de salas. É estranho e não natural. — Você está apenas ciumenta porque não pode fazer isso. Revirei os olhos, mas ele tinha razão. Eu tinha meio que uma inveja de não ter essa habilidade bacana. Se tivesse, estaria aparecendo aqui, ali e em toda parte. Bambi escolheu aquele momento para trocar de posições. Ela deslizou em volta da minha cintura, descansando a cabeça ao longo das minhas costelas. Eu também arrebento a bunda dela no sofá quando ela ficava nervosa. — O que Cayman estava fazendo aqui? — Roth pegou uma mecha do meu cabelo e começou a enrolá-lo em torno de seu dedo. A ideia de mentir para Roth, especialmente depois de tudo, me fez sentir banhada em sujeira, mas eu sabia que se dissesse a ele o que planejava fazer sobre a alma de Sam, ele não me deixava ir lá sozinha, e talvez nem me deixasse ir. Eu não podia permitir que ele me parasse. E isto era mais do que apenas proteger Roth de um Chefe infeliz. Salvar a alma de Sam era maior do que o que qualquer um de nós queria. — Ele estava apenas sendo Cayman, — eu disse finalmente. Roth puxou o fio de cabelo que tinha em volta do dedo, me guiando para perto dele. — Essa é uma afirmação forte. — Seus olhos encontraram os meus, e o meu coração acelerou. Inclinando-se, ele descansou a testa contra a minha. — Adivinha? — O quê? — Se você se comportar hoje, eu tenho uma surpresa para você depois. Meus lábios se curvaram. — Se eu me comportar?


— Uh-huh. — Ele beijou minha testa quando se endireitou, soltando meu cabelo. — E, comportando-se, eu quero dizer ser tão impertinente como você pode possivelmente ser. Rindo, eu juntei meu cabelo, torcendo-o em um coque rápido. — Eu não sei se posso ser impertinente se estivermos em público, procurando o Lilin. — Há sempre tempo para maldade, pequena. — Não estou surpresa por você acreditar nisso. Ele me lançou um olhar. — Quando foi que as minhas crenças estavam erradas? Arqueei uma sobrancelha. — Muitas, muitas vezes. — Eu acho que você tem uma memória distorcida, — ele virou, e eu ri novamente, estava sentindo estas brincadeiras. Fiquei aliviada ao ver que ele não foi manchado por tudo o que nos levou para chegar a este ponto. — Continue dizendo isso. — Eu sorri quando ele fez beicinho. — Antes de qualquer surpresa, eu quero ver Stacey. — Posso fazer. — Ele ergueu a mão, escovando os nós dos dedos na minha bochecha, e isso era outra coisa sobre Roth que nunca mudou, nem mesmo quando estávamos separados. Ele era definitivamente um tipo meloso de demônio. — Você quer visitá-la sozinha? Sua consideração realmente não me surpreende mais. Não que isso não me emocione, e meu coração estava fazendo aquilo do inchaço de novo, mas eu não conseguia descobrir como ele não via sua própria bondade. Estiquei-me e beijei o canto dos lábios dele antes de voltar para baixo. — Acho que ela ficará feliz em vê-lo.


— É claro que ela ficará, — ele murmurou; seu olhar persistente em meus lábios. Eu tremi, embora não estivesse com frio. Não. De modo nenhum. — Todo mundo fica feliz em me ver. Balancei a cabeça. — Você está pronto? — Quando ele acenou com a cabeça, sorri para ele. — Você vai me dizer para onde vamos? — Eu iria, mas estragaria a diversão. — Ele riu enquanto meu sorriso escorregava em uma carranca. — Ok. Nós não vamos a lugar algum. Bem, em nenhum lugar específico. Vamos vagar sem rumo pelas ruas. — Uau. Isso é um plano estelar. Ele mordeu o lábio ao sorrir. — Na verdade, é muito esperto. — Isso ainda está para ser visto. Roth pegou minha mão e começou a me levar para a porta da frente. — Aqui está o acordo. Acho que nós não precisaremos procurar muito para achar o Lilin. Na verdade, eu não acho que você terá que procurar o Lilin lá fora. — E por que é isso? Ele olhou por cima do ombro para mim, todo o humor desaparecendo de seu rosto. — Porque eu acredito que o Lilin vai procurar por você.


Nada como ouvir que um demônio psicótico que você involuntariamente ajudou a criar estaria te procurando para fazer você se sentir como se precisasse entrar no programa de deslocalização. Mas eu esperava que Roth estivesse correto, porque isso facilitaria a busca do idiota. Desde que era de tarde, nós dirigimos para a cidade e estacionamos o carro em um dos estacionamentos. Não tínhamos muita sorte relativamente a essas estruturas particulares, mas voar estava fora de questão à luz do dia. Enquanto os residentes humanos da cidade eram muito conscientes dos Guardiões e Roth era semelhante o suficiente a eles em sua verdadeira forma, se um ser humano olhasse muito atentamente para ele, perguntas surgiriam que não estávamos preparados para responder. Roth olhou para mim quando abri a porta. — Você não trouxe um casaco? Balancei a cabeça. Ele fechou a porta do motorista. — Um cachecol?


— Não. — E luvas? Meus lábios tremeram. — Não. Ele me olhou quando contornei a frente do carro. — Que tal um pequeno gorro para sua cabecinha? Eu ri. — Não, pai. Estou bem. Seus olhos brilharam. — Eu gosto quando você me chama... — Pare. Ele inclinou a cabeça para o lado. — Em um sério apontamento, lá fora está frio, pequena. Isso eu já sabia. Roth estava vestindo apenas uma camisa de mangas compridas e calça jeans, porque, como Guardiões cheios de sangue, sua temperatura interna estava em algum lugar entre o vapor e a ebulição. Alguém poderia pensar que porque eu era uma mistura de ambos, eu também teria uma alta tolerância ao frio, mas nunca tive. Até agora, eu imaginei. Não poderia estar mais de quatorze graus. — Não estou com frio. Um olhar estranho cruzou suas feições enquanto ele me observava atentamente. — Estranho. Havia coisas mais estranhas em mim, digamos, por exemplo, as minhas asas de penas. Não havia uma maldita coisa normal nisso, e enquanto Roth e eu saíamos com segurança da garagem na F Street, eu falei delas. — Então... — empurrei a palavra para fora quando fiquei em torno de um rebanho de crianças e jovens em uniformes e, auras brancas e suaves sendo levadas


em direção a um ônibus em espera no meio-fio. A calçada estava com uma variedade de cores, e minha atenção foi imediatamente atraída para aqueles com tons mais escuros, os vermelhos e ameixas. A maioria era de ternos, segurando pastas. Eles tinham pecado, e pecado de uma forma muito ruim. Meu estômago se apertou com a necessidade, mas a vontade não era nem de longe tão intensa como costumava ser, e isso também me confundiu. Roth pegou minha mão, enfiando seus dedos nos meus. Meu coração ficou todo vertiginoso. Lembrei-me de um tempo em que eu teria arrancado minha mão da dele tão rápido que a sua cabeça teria girado. — O quê? — Perguntou. Eu estava distraída pelo fato de que estamos realmente de mãos dadas, andando pela calçada lotada como um... Como um casal de verdade, um casal normal. Ar travou na minha garganta. Esta era a primeira vez que estávamos de mãos dadas, como um casal, e embora não tivéssemos chamado o outro de namorado ou namorada, erámos isso. Um sorriso estúpido e pateta puxou meus lábios e, como o meu olhar dançava sobre as pessoas correndo para chegar onde elas estavam indo, eu parei de lutar contra ele. Eu sorri tão amplamente que havia uma boa chance do meu rosto se dividir ao meio. Nesse segundo, eu não pensei na feiura com Zayne ou Lilin ou minhas asas de penas ou outros mil problemas esperando para nos atacar. A felicidade na boca do meu estômago se espalhou rapidamente, como uma quebra de diques, o calor correndo por mim. Meus passos de repente pareciam mais leves, e eu queria parar no meio da calçada, agarrar o rosto dele e dar um beijo em Roth. Quantas vezes eu quis que ele fizesse isso anteriormente? Mesmo quando eu estava afastando-o, eu o queria. Agora ele era meu. — Layla? — Roth apertou minha mão. — Do que você está rindo? Não que eu esteja reclamando. É um belo sorriso, e isso me faz...


Fiz o que eu desejava fazer. Parando no meio da calçada, eu ignorei os olhares agressivos expressos em nossa direção, e ninguém disse uma coisa para nós após receber um olhar de Roth. Estiquei nas pontas dos meus dedos. Com a mão livre envolvi6da em torno da nuca dele, eu guiei a cabeça para baixo. Surpresa cintilou em seu rosto e então eu fechei os olhos, pressionando a boca na dele. O beijo foi breve, mas quando me afastei, sua expressão fez o meu dia. Ele olhava para mim com os olhos arregalados e as pupilas ligeiramente dilatadas. Seus lábios se separaram e o piercing em sua língua brilhou. Os topos de suas maçãs do rosto estavam vermelhas. Ele parecia... Ele parecia amedrontado. — O que... O que foi isso? Meu sorriso realmente ia partir meu rosto. — Só por que... Bem, houve tantas vezes que eu secretamente desejei que você tivesse feito isso no passado, e pensei, por que não posso? Seu olhar procurou meu rosto. — Eu só quero que você saiba que sempre que sentir a necessidade de fazer isso, faça. Não me importo com o que estamos fazendo, eu sempre estarei disposto para isso. Sempre. Foi a minha vez de corar, mas concentrei-me em coisas importantes conforme começávamos a andar novamente. Sabendo que ninguém prestaria atenção ao que eu dissesse, porque eles ouviam coisas estranhas nas ruas de DC, eu continuei. — Então, o que você acha das minhas asas de penas? Ele deu uma risada abafada. — Eu gosto do jeito que você diz penas. Fiz uma careta. — Eu acho que elas são sexys, — acrescentou.


Revirei os olhos quando paramos em um cruzamento. — Claro que sim, mas sério, isso não me diz muito. Quer dizer, isso não é normal, certo? Eu sei que Zayne já viu antes, e você também, mas ele disse que só viu uma vez, em um Superior. E por que agora? Por que eu seria diferente agora, depois de todo esse tempo? Um olhar pensativo atravessou o rosto dele enquanto esperávamos a luz mudar. — Bem, você só começou a mudar recentemente. Talvez fosse assim que você deveria ser. — Duvidoso, — murmurei, e quando o homenzinho verde se iluminou no sinal, eu comecei a avançar. — Sim, eu estava apenas tentando ser otimista. — Roth diminuiu o ritmo de pernas longas, examinando as multidões ao nosso redor. A buzina tocou, seguida por outra, e o cheiro de carne assada era forte quando passamos por um restaurante. — Olha, eu vi asas como essas antes, mas não faz sentido. — Por que...? — Parei ao pegar um vislumbre de branco brilhante que refletiu do lado de fora da frente de janela de um prédio de escritórios. Eu parei, meu coração acelerando enquanto procurava sua origem. Roth imediatamente sentiu a mudança. — O quê? — Vejo uma aura completamente branca, — eu expliquei, andando novamente enquanto me esforçava para avistá-la através dos tons vertiginosos passando por nós. — Era deslumbrante, demasiado brilhante para ser um ser humano. — Guardião? Balancei a cabeça. Deveria ser um Guardião, a menos que fosse um Alfa. Embora eu duvidasse que o último estivesse perambulando pelas ruas. Até onde eu sabia, eles pareciam da forma como eles apareciam o tempo todo, e não havia como esconder essas asas.


A mão de Roth se apertou ao redor da minha, e uma sensação geral de alarme se enraizou no meu estômago. Poderia ser qualquer Guardião, mas se eu tivesse avistado sua aura, eles poderiam ter percebido Roth e eu, por sua vez. Se fosse Nicolai ou Dez lá fora, eu pensei que eles se aproximariam. Talvez não Zayne neste momento, e me matou até mesmo reconhecer isso. Caminhamos outro quarteirão, silenciosos e em alerta. Justo quando estávamos a vários metros de um beco, eu senti a consciência. O Guardião estava nas proximidades. O queixo de Roth abaixou. — Você sente isso? Balancei a cabeça, e quando nós cruzamos a entrada do beco, avistei o branco brilhante novamente, e minha cabeça virou bruscamente para a direita. Todo o caminho em direção ao fundo do beco, havia uma enorme fonte de bondade perolada. A aura desbotada, e tive um vislumbre do que existia além do brilho. Gelo se espalhou pela minha espinha enquanto eu respirava pesadamente. Mesmo do outro lado eu reconheci aquele rosto. Quem não? A cicatriz irregular que corria a partir do canto do olho aos lábios era inconfundível. Era Elijah. Meu pai. Na parte de trás da minha cabeça, registrou um tanto vagamente como enganosa era a aura branca. Ele queria me matar, durante toda a minha vida, sua própria filha. Mas Guardiões tinham almas puras, não importa que pecados os manchem. Soltando a mão de Roth, corri para onde eu o vi. Não sabia por que eu estava sequer atrás dele. Não o vi desde que ele ordenou a seu filho, meu meio-irmão, que me matasse. Quando Petr desapareceu, Elijah desapareceu, e naquela época eu estava sob a proteção do meu clã. Não mais.


Mas eu não precisava da proteção deles agora. Agora, nenhum de nós precisava de Elijah rondando a cidade. Tivemos problemas suficientes, e se ele estava aqui para se meter comigo, e ele deveria estar, eu prefiro lidar com ele agora, em vez de ficar olhando por cima do ombro, esperando ele atacar. — Droga, — eu ouvi Roth rosnar pouco antes de decolar atrás de mim. Eu era rápida quando queria ser, mas quando cheguei à parte de trás do beco, o meu objetivo não estava lá. Minha cabeça se ergueu. Elijah estava escalando a escada de incêndio a um ritmo veloz, o casaco escuro que ele usava esvoaçando atrás dele. — Isso pode ser uma armadilha, — Roth disse quando me alcançou, olhando para o telhado. Ele não estava me dizendo nada que eu já não soubesse. — Layla, precisamos pensar nisso. — Nós não precisamos lidar com ele nos assombrando. É ruim o suficiente que o filho dele seja um fantasma. — Eu virei para ele. — Essa é a última coisa que qualquer um de nós precisa se preocupar. — Pequena... Eu encarei o seu olhar por um momento e então virei. Correndo para a escada de incêndio, eu pulei e a peguei. Meu corpo balançou para o lado e voltou. Meus pés tocaram a escada. — Ok, — Roth disse atrás de mim. — Você está louca, mas também é uma louca sexy. — Ele resmungou enquanto subia na escada atrás de mim. — Apenas pensei em compartilhar isso com você. Voei até a escada, determinada. Levou apenas alguns segundos para escalar o que deveria ser, pelo menos, dez andares, e na parte de trás da minha mente, me


perguntei como isso era possível. Eu sempre fui mais rápida e mais forte do que um ser humano, mas não assim. Agora não era o momento para realmente aprofundar o motivo. Chegando ao topo da escada, eu me impeli sobre a borda, caindo agachada. Meus olhos se arregalaram ao ver a cena à minha frente e meu estômago caiu um pouco. Ah, Roth poderia estar certo. Ele caiu ao meu lado, xingando baixinho enquanto nós dois levantávamos. De pé, no outro extremo da cobertura estava Elijah. Ele não estava sozinho. Três Guardiões estavam com ele. Eu os reconheci de quando seu clã visitara o complexo. Vento açoitava através do telhado, soprando a jaqueta de Elijah ao seu redor enquanto seu olhar frio estava centrado em mim. Uma emoção feia de ódio subiu dentro de mim, espalhando pelas minhas veias como ácido de bateria. — Olá, pai. Surpresa gravou em suas feições duras. Foi breve, desapareceu quando seus lábios se curvaram em um sorriso de escárnio, distorcendo a cicatriz irregular. — Não me chame disso. — Por quê? — Perguntei enquanto Roth se aproximava de mim, mas eu estava focada neste ser que supostamente deveria me amar. Não era isso que mães e pais faziam, tipo, inatamente? Por que os meus eram a exceção à regra? — Você é meu pai. Um dos outros Guardiões, um homem alto de cabelo escuro olhou para Elijah interrogativamente. Será que eles não sabem? Um sorriso horrível puxou meus lábios e foi sem qualquer calor. Em vez disso, ele estava cheio de desprezo e dezessete anos de querer saber. — Sim, talvez você se lembre de como você ficou com Lilith. — Cale a boca, — ele sussurrou, com as mãos formando punhos de carne.


Um baixo murmúrio de advertência retumbou de Roth e uma explosão de calor rolou dele, mas meu sorriso se espalhou. — E vocês dois me fizeram. O que? Você achou que eu não sabia? Dois dos Guardiões atrás dele trocaram olhares incertos. — O quê? — Repeti. — Eles não sabiam? — Isso não importa. — Seu nariz começou a nivelar e sua mandíbula alongar, estendendo-se para dar espaço para as presas enormes que poderiam cortar sem esforço através de aço e mármore. — Não? Importa. — Eu sabia que estava empurrando-o. Sua fúria era tangível sobre este último piso. Eu praticamente podia estender a mão e tocá-la, mas estava muito focada na minha própria raiva para ter medo. Depois de todo esse tempo, eu finalmente fui capaz de enfrentá-lo. Era como uma fantasia secreta finalmente se tornando realidade. — Você fodeu Lilith. — Fodeu? — Roth riu baixinho e então disse: — Deus, eu te amo. Elijah estremeceu com esse comentário. — Amor? De um demônio? Você está falando sério? — Não, — eu avisei, sentindo o espaço abaixo do meu pescoço começar a formigar. — Não tente agir como se você soubesse alguma coisa sobre o amor. Você não é melhor do que eu e, certo como o inferno, não é melhor do que ele. Ele é mil vezes melhor do que você jamais poderia esperar ser. Elijah bufou. — Ele? Um demônio? Você es... — Ele é o Príncipe Herdeiro, — rebati; minhas mãos enrolando fortemente. — Não apenas um demônio. Mas mesmo que ele fosse apenas um Fiend, ele ainda seria bom demais em comparação a vocês. — Essa é minha garota, — Roth murmurou.


— Por que você está aqui? — Perguntei, alimentada por uma raiva que queimava tão profundo e tão brilhante que era como se fosse meu próprio sol pessoal. — Espere, deixe-me adivinhar. Você quer me matar? — Eu estava seguindo você. Eu sabia que, eventualmente, você iria ressurgir. — A pele dele começou a escurecer. — E eu deveria ter cuidado disto quando você era nada além de um bebê. Eu deveria saber no momento em que a cadela a deixou comigo que você não era certa. Você seria como a prostituta... — Continue com muito cuidado com o que você está prestes a dizer: — Roth aconselhou suavemente. — É a minha garota que você está prestes a insultar, e não ficarei feliz com isso. Absolutamente. — Que seja. — Forcei um encolher de ombros. Sim, o que Elijah disse doeu, mas eu estava tão farta dos meus problemas com o pai. — Mesma coisa. Dia diferente. Tente algo novo na próxima vez. O Guardião de cabelos escuros atrás de Elijah mostrou suas presas, mas Elijah o cortou. — Não posso dizer que estou surpreso de encontrá-la com um demônio. Roth deu um passo adiante, posicionando-se entre Elijah e eu. — Não posso dizer que estou surpreso de encontrar você, e que é tão feio como o seu filho. Oh espere. Filho morto. Minha culpa. O olhar gelado de Elijah virou na direção dele. — Não fale do meu filho. — Eu não vou falar dele, só porque ele é pior do que a escória que reveste as ruas abaixo, — Roth disse; sua voz estranhamente calma. — Mas quer saber o que eu fiz com a espinha dele após rasgá-la do corpo dele? Ele fez isso.


Principalmente porque após eu tomar a alma de Petr em autodefesa, Roth retirara a espinha de Petr do corpo dele, e eu estava adivinhando que Elijah havia imaginado isso. Os Guardiões mudaram. Roupas rasgavam com os corpos expandidos e pele endurecida. Suas asas se propagavam e as garras apareciam. O casaco que Elijah usava, rasgou nas costas. Ele era impressionante em sua verdadeira forma. Chifres separaram seu cabelo escuro. — Eu vou acabar com vocês dois, — prometeu. — Por favor, — riu Roth. Em seguida, Roth foi todos os tipos de durão. Ele não mudou. Ele não precisava neste momento, porque não sentia que eles eram uma ameaça grande o suficiente para justificar isso. O Guardião de cabelos escuros correu e Roth abaixou, chutando e acertando o Guardião nas rótulas, e as pernas cederam. Seu peso sacudiu o telhado, mas ele só abaixou por meio segundo. De volta em seus pés, ele foi para Roth, mas ele era rápido como um relâmpago. Roth se abaixou sob o braço estendido do Guardião e apareceu atrás dele. Ele plantou a bota na parte de trás do Guardião, deixando-o de joelhos. Sobre a cabeça do Guardião, Roth olhou para cima e piscou para mim. Piscou para mim no meio de uma luta. Uau. Os outros dois Guardiões foram para Roth, e meu coração apertou quando um quase o alcançou. Ele girou. Luz vermelha pulsou de sua palma. Como se seus dedos fossem feitos de gasolina, fogo lambeu a mão e, em seguida, disparou como um míssil, atingindo o Guardião. Elijah veio para mim.


— Bambi! — Chamei o familiar. — Ajude Roth. Houve umas cócegas acima do meu umbigo e, em seguida, de debaixo da barra da minha camiseta, uma sinuosa sombra escura flutuou para fora e derramou-se no espaço diante de mim. A sombra quebrou em um milhão de bolinhas de mármore, saltando silenciosamente fora do telhado. Eles atiraram em direção ao outro, reunindo rapidamente. Bambi levantou a cabeça em forma de losango, com os olhos vermelhos brilhando a luz do sol. Sua boca se abriu, revelando presas do tamanho da minha mão. Ela parecia com fome. Então, novamente, Bambi sempre parecia faminta. A cobra atravessou o telhado, indo direto para um Guardião de cabelos mais curtos. Roth girou para fora do caminho quando Bambi atacou, pegando o Guardião na garganta. Houve um agudo som estridente. A risada baixa de Roth enviou calafrios sobre a minha pele enquanto se movia para o terceiro Guardião, brincando com ele, claramente se divertindo. Era meio que bonito assisti-lo, a graça na maneira como ele se movia, quase como um dançarino no palco. — Você corrompe seu corpo com familiares agora? — A voz de Elijah estava carregada com desgosto. — Sério? Preciso repetir? Você fodeu Lilith! Elijah rosnou. — E lamento ter lhe dado a criação com cada respiração que eu tomo. Assim como tenho certeza que Abbot se arrependeu de salvar sua vida. Ouch. Que... Ok, doeu mais profundo do que eu pensava, e vacilei, porque o ferimento era tão cru. Mas essa dor deu lugar a algo em brasa em mim. Músculos do meu estômago e pernas apertaram, e deixei que a mudança viesse sobre mim.


Foi como Donkey Kong. O ar frio me atingiu enquanto a minha camisa rasgava a gola. Minhas asas desfraldadas, arqueando atrás de mim quando senti minha pele endurecer. Elijah imediatamente gritou; sua boca ficando aberta. — O que...? — Sim. Minhas asas são de penas agora. É estranho. Eu sei. Ele balançou a cabeça enquanto dava um passo para longe de mim – literalmente recuando. Em vez de ficar com a boca aberta sobre isso, eu usei para minha vantagem. Baseando-me em todas as técnicas ofensivas que Zayne mostrara ao longo dos anos, eu aproveitei o poder em minhas pernas e meu interior. Virei-me, mais rápido do que alguma vez fizera, e chutei, atingindo Elijah no peito. O golpe cambaleou, mas isso foi uma pequena vitória. Jogando um cruzado que faria um boxeador orgulhoso, eu esmurrei Elijah na mandíbula, enviando sua cabeça para trás. Dor explodiu em toda a minha mão, mas a ignorei enquanto olhava para cima, encontrando o olhar de Roth. — Droga, — ele disse, sem tirar os olhos de mim enquanto sua mão estalava para fora, pegando o Guardião pela garganta. Orgulho e algo muito mais profundo agitavam as profundezas douradas. — Ainda malditamente sexy. Dei um sorriso rápido em sua direção antes de me voltar para Elijah, a tempo de afastar a mão com garras que apontava para o meu rosto. — Você não pode ser, — ele grunhiu; pupilas dilatadas. Pulei para trás quando ele estendeu a mão para mim novamente, mas ele pegou minha asa em seu aperto. Ele torceu a mão. Ouvi um estalo quase delicado, e dor surpreendente se arqueou em toda a minha asa, batendo em meu ombro e deslizando pela minha espinha.


Não foi possível pará-lo, um grito saiu de mim, mas aquela centelha de dor acendeu um fogo em mim. Eu comecei a trazer o meu joelho para cima, mas antes que eu pudesse fazer – levei um empurrão – Elijah bateu a palma da mão no meu peito. O golpe me fez sair do chão e pelo ar como se ele tivesse me jogado. Eu voei para trás, por cima da borda do telhado com vista para o beco. — Layla! — Medo enchia o grito de Roth. Quando comecei a cair em nada além de ar, o instinto tomou controle. A dor na minha asa esquerda arremessou o ar dos meus pulmões, mas empurrei através dela, rangendo os dentes enquanto me erguia. O movimento era como trazer um fósforo aceso à minha asa, mas lancei-me até vários pés acima do telhado. Ele havia quebrado minha asa! Assustado, Elijah gritou quando enfiou a mão no casaco rasgado e tirou um punhal, e eu sabia, mesmo sem chegar perto, que era de ferro, e se você tivesse sequer a menor quantidade de sangue de demônio, ferro poderia ser mortal. Ele agachou-se, em seguida, disparou para o ar, e o fogo em mim se elevou para um inferno. Atravessei o telhado quando Elijah levantou a mão, balançando a adaga em direção a mim. Caí no concreto, e o punhal girou sobre a minha cabeça. Agarrei suas pernas, minhas garras cavando enquanto o puxava para baixo com toda a minha força. Elijah não esperava esse movimento, e ele abaixou quando avancei para ele, cravando as pontas das minhas garras. Girando, eu balancei a minha mão com garras. Minhas garras acertaram o peito dele, cavando fundo, rasgando a pele endurecida. Sangue esguichou e pulverizou. Choque espirrou no rosto de Elijah quando ele cambaleou para trás, na direção da borda do telhado, com as mãos pressionando o seu peito. Não foi um golpe fatal, mas quando ele olhou para mim, eu


vi minha abertura. Sua garganta estava vulnerável e exposta. Se eu o pegasse lá, ele não se recuperaria. Dei um passo em direção a ele, minhas asas se contraindo quando levantei minha mão novamente. Meus músculos estavam tensos, apertados com antecipação. Eu queria trazê-lo de joelhos, acabar com ele. Ele era meu pai e tentou me matar mais vezes do que eu, provavelmente, ainda sabia. Matá-lo seria compreensível, justificado, porque se não fizesse, ele certamente viria atrás de mim novamente e novamente. Meus olhos se encontraram com os azuis, e toda aquela fúria, e tudo o que doía rodaram juntos em um ciclone de desarrumadas emoções sujas. Todos esses anos de sentir como se eu não pertencesse, que fui expulsa e indesejada. O choque de saber que a minha própria carne e sangue me queria morta bateu em mim tão duro como quando eu soube primeiramente da verdade, e eu... Fiquei triste por ele. Eu poderia ter sido a menininha que olhava com admiração para ele. Eu poderia ter sido uma boa filha para ele. Eu poderia ter tido anos o conhecendo. Eu poderia tê-lo amado. Mas ele havia feito a escolha de nunca ter nada disso. No final, ele não valia a pena o tempo de vida de culpa. Abaixando minha mão, eu dei um passo para trás de Elijah quando senti um Guardião atingir o telhado, forte o suficiente para quebrar o cimento. Mesmo quando eu comecei a falar, um borrão – a escura sombra – apareceu sobre a borda, e depois atravessou o telhado. Antes que qualquer um de nós pudesse se mover ou reagir, Sam estava lá, de pé entre Elijah e eu. Não Sam, eu percebi com um choque fresco de dor, mas o Lilin. Ele não parou para conversar uma vez que se lançou em direção a Elijah. O último


Guardião de pé gritou; suas palavras ilegíveis por seu rosto partido e seu grito interrompido quando Roth o derrubou, nocauteando-o. O Lilin estava sobre Elijah em um nano segundo, envolvendo sua mão ao redor da garganta do Guardião e arrastando-o acima de seu nível. No início, eu estava atordoada para me mover. Vendo o que parecia Sam incapacitar completamente o Guardião era bizarro. Minha cabeça quase não conseguia entender o fato de que este não era o magricela Sam, mas uma versão turbinada de todos os piores pesadelos. Os ombros do Lilin subiram quando ele inalou profundamente. Horror me inundou quando percebi que ele estava se alimentando de Elijah. A aura dele piscou como uma luz saindo, e depois desapareceu. Vento frio soprou em mim, jogando ao redor os fios de cabelo que se soltaram enquanto eu cambaleava para o lado, já sabendo que era tarde demais. O Lilin foi muito rápido, muito mortal. Ele golpeara como uma cobra, e seu veneno foi o mais mortífero. Roth estava de repente atrás de mim, envolvendo um braço em volta da minha cintura, me segurando, mas verdade seja dita, eu não estava me movendo, porque eu sabia por Deus, eu sabia... Estava acabado. Em poucos segundos, o Lilin largou Elijah. As costas do Guardião estavam estranhamente duras quando ele se apoiou no parapeito. Eu esperava que ele se transformasse em algo horrível naquele ponto, como Petr quando o despojei de sua alma, mas isso não aconteceu. A pele de Elijah picou quando ele voltou para sua forma humana e suas asas dobradas em suas costas. Presas e garras recuaram. A ferida no peito, a ferida que eu dera a ele, ainda era visível agora, e a cicatriz em seu rosto se destacou duramente. Não havia nenhum fantasma. Não sobrou nada da alma de Elijah.


Aqueles olhos azuis geralmente cheios de tanto ódio eram maçantes e sem foco quando Elijah caiu para trás, sobre a borda. Foi-se. Girando, o Lilin nos confrontou. Imediatamente, ele começou a se transformar, seu corpo contorcido quando ele se curvou antes de se endireitar, jogando a cabeça para trás. Seu corpo se esticou, e, em seguida, expandiu, aumentando. — Oh meu Deus, — sussurrei quando um totalmente novo horror me atingiu. O Lilin estava tomando a forma de Elijah, tal como aconteceu com Sam. Ele estava se tornando algo totalmente diferente, e dentro de poucos momentos, o que parecia Sam já não estava em pé diante de nós. Em vez disso, havia uma réplica exata de Elijah, até a cicatriz em todo o lado do rosto, até o canto dos lábios. — Você não precisa agradecer — O Lilin até soava como Elijah. A única coisa que faltava era a aura dele. Como foi o caso com o sósia de Sam, não havia nada em torno do Lilin. O Lilin se inclinou sobre as pernas poderosas enquanto sacudia seus ombros. Sua pele endurecida ao granito e asas enormes apareceu, espalhando-se atrás dele. Um lado de seus lábios se curvou em um sorriso, e depois se lançou no ar, desaparecendo rapidamente com o aumento dos outros edifícios. Respirando pesadamente, eu puxei Roth e seu braço me escapou. Eu andei em direção à borda do prédio e olhei para baixo, todo o caminho para a rua abaixo. Uma multidão de pessoas se reunia. Alguns se afastavam, suas mãos vibrando em suas bocas. Apertei meus olhos fechados enquanto meu estômago revirava. O verdadeiro Elijah havia atingido a calçada abaixo e foi... Confuso. Garganta apertada, eu me virei e forcei uma respiração profunda. — Temos que avisar os outros Guardiões.


Neve caía das nuvens espessas acima e uma fina camada de neve polvilhou os telhados dos edifícios. O entardecer invadia lentamente a cidade, e lá em baixo, postes piscavam diante, juntamente com as luzes brancas de Natal que foram amarradas ao longo das árvores. Como eu estava perto da borda olhei para baixo, e vi os seres humanos apressar ou parar para chamar um táxi, eu pensei que se eu pudesse capturar este momento com uma câmera, seria quase parecido com o cartão perfeito do feriado. Havia algo calmante no fato de que milhões de pessoas estavam vivendo suas vidas, completamente inconscientes da escuridão muito real ameaçando a cidade delas. Depois de todo esse tempo, eu finalmente entendi isso – por que os Alfas exigiram que os seres humanos permanecessem ignorantes quando se falava na existência de demônios. Tinha a ver com mais do que apenas o desejo de ter fé em um poder superior. Era também sobre a proteção, permitindo que os seres humanos vivessem as suas vidas todos os dias, porque se eles soubessem a verdade, o mundo seria mudado irrevogavelmente, danificado além da forma como os seres humanos negligenciavam os outros seres humanos.


Calor afastou o frio quando Roth veio ficar atrás de mim. Ele colocou seu braço em volta da minha cintura e apoiou o queixo no topo da minha cabeça. Não houve rigidez em seus braços ou em minha reação a ele. Embora isto fosse totalmente novo para nós dois, esta abertura sobre nossos sentimentos, não havia nada desse constrangimento que eu imaginei que a maioria dos casais enfrentava. Nós não estávamos no mesmo edifício que anteriormente. Agora estávamos perto do distrito federal, esperando por membros do meu clã. Por força do hábito, eu mandara uma mensagem a Zayne, uma mensagem curta, dizendo para ele não confiar em Elijah, isso se eles o vissem, aquilo não era o Guardião que eles conheciam. Minutos se passaram antes que ele respondesse, provando que não estava dormindo, envolto em pedra, como ele deveria estar naquele momento. Ele solicitou uma reunião, e então, agora nós esperamos. Nervos formaram um emaranhado na boca do estômago. Eu veria Zayne novamente, o que seria difícil o suficiente, mas pior ainda, percebi que eu também veria outros membros do clã. Talvez até Abbot, e eu não era nada mais que uma bola de medo ansiosa. Roth não esteve muito emocionado com nada disso, o que explicava porque Bambi estava novamente enrolada em minha cintura e Cayman também estava aqui, junto com Edward. Eles ficaram nos cantos do edifício como duas sentinelas. Realmente sentinelas bem vestidas. Ambos estavam em calças escuras e uma camisa branca, vestindo sapatos de couro polido. Eu não tinha ideia do motivo. Talvez eles tivessem deixado as aulas de dança de salão ou algo assim. Eu podia ver totalmente Cayman fazendo isso. — Como estão as suas costas? — Roth perguntou depois de alguns momentos. Não mencionei que minhas costas doíam de onde Elijah havia agarrado minha asa, mas Roth teve o cuidado de evitar a área e não irritar a irritante pulsação. — Não dói tanto assim, mas acho que ele poderia ter quebrado algo.


Os músculos ao longo do braço se agruparam. — Quando chegarmos a casa, eu quero fazer check-up para ver se a mudança não a machucou muito. Casa. Casa era com Roth. Isso era tão certo que eu nem sequer precisava questioná-lo. Ficamos em silêncio por alguns segundos, e então eu deixei escapar: — Eu sei. Sua mão achatada ao longo do meu estômago, logo acima do meu umbigo quando ele ergueu o queixo. Bambi moveu na minha pele, se estendendo e se movendo para mais perto dele. — Você entende o que? — Ele perguntou em voz baixa. — Por que os Alfas exigem que os seres humanos não saibam a verdade, — expliquei, descansando minha cabeça contra o peito dele. — Eu costumava pensar que era tão estúpido. Como saber a verdade realmente machuca alguma coisa? Eles sabem que há realmente um Céu e o Inferno e tudo mais. Talvez as pessoas agissem bem, então. — Talvez, — ele murmurou; seu braço apertando quando ele nos moveu ligeiramente. — Mas essa é a coisa. As pessoas provavelmente agiriam direito, mas apenas porque não viveriam, não no momento. — O vento pegou, e eu sorri um pouco quando percebi que Roth se moveu para bloqueá-lo. — Eles estariam petrificados. É por isso que eles não podem saber. Ou pelo menos, faz parte da razão. — Faz sentido, eu acho. É difícil para mim entender, sendo que entrei na criação sabendo, bem, tudo. — Ele riu quando revirei os olhos, embora não houvesse como ele pudesse ter visto isso. — E daí? Você quer protegê-los agora? Fiz uma careta enquanto olhava para a cidade. — Eu sempre quis protegê-los.


Seu peito subia nas minhas costas. — Você é mais do que isso, Layla. Você não quer uma vida além de marcar demônios? — Eu não faço mais isso. Você sabe disso. — Eu virei e inclinei a cabeça para trás, de frente para ele. Ele estava olhando para baixo, com a cabeça inclinada da forma como fazia quando ele estava tentando entender algum tipo de emoção humana que ele simplesmente não conseguia entender. — E eu quero mais. — Como o quê? — Desafiou. — O que você quer fazer quando isto acabar? Quando o quê acabar? A luta com o Lilin? Recuperar a alma de Sam? A guerra entre os Guardiões e demônios? Eu não tinha ideia se ou quando nada disso terminaria, mas eu precisava agarrar a esperança de que terminaria. Que nós dois ainda estaríamos de pé, como estariam todos aqueles que gostávamos. Eu não podia me permitir considerar, mesmo que brevemente, a ideia de que não haveria um depois. — Eu acho... Eu acho que gostaria de ir à faculdade, — eu disse a ele. — Bem, isso significa que tenho de terminar o ensino médio primeiro. Isso faz sentido. Seus lábios tremeram. — Esse é o seu grande plano? Lembrei-me de todas aquelas aplicações que eu tinha no chão do meu antigo quarto no complexo e assenti. — Sim, e eu... Eu quero viajar pela primeira vez. Quero ver lugares fora da cidade. — Como onde? — Ele perguntou, erguendo a mão e traçando a linha da minha mandíbula com os dedos. — Ainda estou apostando no Havaí. Eu sorri. — Isso seria legal. Então, sim, coloque isso na lista. — Precisa de outros lugares para fazer uma lista, pequena.


— Ok. Quero ver Nova York, Dez diz que é incrível. E Miami. Quero andar em uma praia. — Entrando nisso, eu comecei a enumerar lugares. — Quero passear no bairro francês de Nova Orleans, e quero visitar Galveston. — Galveston... Texas? Por quê? — Li um livro uma vez, que se passava ali. Não importa. Quero ver Dallas, com cowboys de verdade e outras coisas. Ele riu enquanto colocava uma mecha do meu cabelo para trás. — Cowboys verdadeiros são um pouco difíceis de encontrar. — Nós vamos encontrá-los. Eu sou positiva. E então, eu quero ver o letreiro de Hollywood e talvez até Portland. Chove muito lá, certo? Não tenho certeza se eu gostaria de ficar lá muito tempo, mas acho que eu realmente gostaria de ver o Monte Rushmore... Oh, e Canadá. Posso continuar, — eu disse. — Mas acho que é um bom começo. Seus olhos tinham essa expressão semicerrada que trouxe um corar para minhas bochechas. — Isso é uma grande lista. — E você? — Perguntei. — O que você quer fazer quando tudo isso acabar? — De verdade? — Quando balancei a cabeça, ele abaixou a cabeça, dando um beijo rápido na ponta do meu nariz. — Não posso acreditar que você sequer tem que perguntar isso. Eu pretendo estar onde quer que você esteja. Meus lábios imediatamente se curvaram em um daqueles sorrisos grandes, de aparência engraçada conforme o meu coração se enchia no meu peito como um personagem de desenho animado antigo. Eu esperava que meus olhos se transformassem em corações e saíssem voando. — Essa é... Essa é a resposta perfeita. — Isso é porque eu sou perfeito. — Bem, essa não era a resposta perfeita, — eu disse secamente.


O aviso do Cayman cortou a risada de Roth. — Eles estão vindo. Nós nos voltamos para onde ele apontou. Ao longe, pareciam grandes aves das nuvens. Meu estômago caiu quando eles mergulharam, vindo para o pouso. Zayne estava definitivamente lá; ele estava no meio do grupo, e até mesmo em sua verdadeira forma, eu sabia quem era ele. Três outros guardiões estavam com ele, e quando se aproximavam do último andar, reconheci-os como Nicolai e Dez. Um pouco do desconforto, não todo ele, diminuiu. Dez era do clã de Nova York e ele visitou pela primeira vez DC com sua companheira, Jasmine. Enquanto ele foi inseguro comigo no início, ele rapidamente veio a gostar de mim. Acho que foi porque ambos estávamos lá fora, lutando pelo nosso caminho. Nicolai sempre teve um fraquinho por mim, e eu para ele. Ele não era muito mais velho do que Zayne quando perdeu sua companheira e filho. Nicolai raramente sorria, mas quando o fazia, ele poderia tirar o fôlego. O quarto membro da tripulação me chocou. Deveria ser Danika. — Interessante, — Roth disse, desdobrando o braço em torno de mim. Ele não se afastou, no entanto. Interessante realmente não resumia isto. Guardiões não permitiam que suas fêmeas saíssem muito, preferindo mantê-las em gaiolas douradas. Era uma das muitas coisas que eu odiava sobre nossa espécie. É verdade que eu entendi que a população de Guardião diminuía e as fêmeas eram os principais alvos de demônios de Nível Superior, mas ainda assim, a ideia de ser mantida sequestrada me fez querer socar alguma coisa. Danika era muito selvagem e mais louca do que sua irmã mais velha, Jasmine, e passei a maior parte dos meus anos de formação odiando-a por nenhuma outra


razão, a não ser pelo fato de que ela gostava de Zayne e seria capaz de monopolizar todo o tempo dele com um movimento do seu cabelo preto brilhante. Cayman e Edward não se moveram de seus poleiros, com exceção de para frente, para a direção na qual os Guardiões estavam vindo. A tripulação de quatro pousou no telhado, seu impacto causando rachaduras como um trovão. Então Cayman olhou para Roth, que assentiu. Ambos, Cayman e Edward, desapareceram, como se eles nunca estiveram lá, mas eu ainda podia senti-los. Eles estavam perto, monitorando a situação, e se eu podia senti-los, assim podiam os Guardiões. Zayne avançou, com o queixo inclinado e suas asas dobradas para trás. Meu estômago ficou instável enquanto o meu olhar desviava para Nicolai e depois para Danika. Eles estavam bloqueando-a, mantendo-a atrás deles. Algo que ela claramente não estava muito entusiasmada. Vindo para frente, ela passou por Zayne, que lançou seu olhar para o céu, um músculo pulsando ao longo de sua mandíbula. Ela mudou para a forma humana enquanto avançava diretamente para onde Roth e eu estávamos, sua pele cinza dando lugar ao impecável alabastro. Dez murmurou algo sob sua respiração enquanto Nicolai seguia atrás dela, um olhar de preocupação puxando os cantos dos lábios. Sem olhar para os machos, ela jogou a mão para cima na direção deles e tudo o que ela disse foi: — Não adianta tentar me impedir. Nicolai derrapou até parar, as sobrancelhas levantadas. Eu endureci, assim como Roth. Absolutamente destemida, Danika veio até nós e antes que eu pudesse piscar um olho, ela me abraçou e apertou. Um aroma frutado, como maçãs, rodeou-me enquanto Bambi deslizava em minhas costas, se afastando dela. Danika era tão forte como um linebacker, e engoli um grito quando fui pressionada contra seu peito duro. A dor surda queimando era uma sensação latejante afiada em ambos os lados da


minha espinha, reforçando a minha crença paranoica de que Elijah poderia ter quebrado uma das minhas asas – uma das minhas asas emplumadas. — Cuidado, — Roth aconselhou apenas alto o suficiente para nós ouvirmos. — Ela foi ferida. — Oh Deus! Sinto muito. — Danika imediatamente me soltou, e eu tropeçaria para trás se Roth não estivesse ali para me firmar. — O que aconteceu? O que é... — Eu estou bem, — assegurei a ela, apanhada desprevenida por suas boasvindas. Eu ainda não estava acostumada com nossa nova amizade. Ela olhou para Roth com cautela e era óbvio que não confiava cem por cento nele. Ele sorriu para ela, de boca fechada e ousadia. — Estive tão preocupada, — ela continuou, dando um pequeno passo para trás e passando as mãos ao longo de seus quadris vestidos de denim. — Quando Zayne disse que você entrou em contato porque algo aconteceu e eles estavam vindo para vê-la, eu precisava vir. Precisava dizer que sinto muito. — Danika, — Nicolai chamou suavemente. — Sente muito pelo que? — Perguntei, olhando para os outros Guardiões. Zayne agora olhava Roth como se quisesse jogá-lo do telhado. Dez não parecia totalmente surpreso, mas Nicolai, bem, parecia que ele queria pegá-la e voar, o que era... Isso era estranho. — Pelo que eles fizeram com você, — ela disse; suas bochechas coradas. — Este clã. Não foi certo, e eu queria chutar Abbot nas bolas. — Desculpas são dadas demasiadas vezes para significar qualquer coisa, mas eu gosto de você, — murmurou Roth. — De verdade.


Seu olhar se lançou dele para mim, e ela, então, deu mais um passo para trás enquanto Nicolai se aproximava mais. — De qualquer forma, ele estava errado. Você nunca iria ferir Zayne propositadamente, ou qualquer outra pessoa. Bem, a coisa foi, eu feri Zayne, ainda que não fisicamente, e não havia dúvida disso. Eu precisava acreditar que ela sabia. Quando olhei para ele novamente, ele ainda não havia olhado na minha direção. Sentindo-me mal sobre isso, voltei a me concentrar. — Obrigada, Danika. Eu... Hum, eu aprecio isso. — Virei para Nicolai e Dez. — E devo tudo a vocês, também. Obrigada por encontrar Roth e me ajudar a sair daquele armazém. Vocês ajudaram a salvar a minha vida. E isso era verdade. Por causa deles, eu estava de pé hoje. Em vez de ir junto com Abbot, encontraram Roth e confrontaram o próprio clã com grande risco pessoal a fim de me salvar. — É bom ver que você está recuperada, — Dez disse, e eu sorri. — Concordo. Eu te conheço a maioria de sua vida, e acredito que você nunca seria a responsável pelo que estava acontecendo no complexo ou fora dele, — Nicolai acrescentou, e fiquei comovida. — Você pode ficar feliz em saber que o lugar dificilmente está livre de problemas desde que você se foi. Ainda não conseguimos exorcizar o fantasma do Petr. Sempre que tentamos, ele sente isso e sai da casa. — Ele está provando ser tanto um idiota morto quanto era em vida, — Dez comentou, provando que o filho de Elijah, meu meio-irmão, não era bem quisto. Ele fez uma pausa. — Jasmine diz oi. — Diga oi a ela por mim, — respondi sem jeito, e como uma idiota, eu levantei minha mão e mexi os dedos.


Dez sorriu e desviou o olhar, algo que ele sempre fazia perto de mim. Eu meio que queria me espetar nos olhos com meus dedos de jazz8. — O que aconteceu? — Zayne finalmente falou, e quando o fez, meu olhar se voltou para ele. Ele olhava para Roth, o que fez o meu estômago torcer dolorosamente. — A mensagem diz que houve um incidente com Elijah e para não confiar nele? Nicolai cruzou os braços ao longo de seu peito enquanto enfiava as asas para trás. Permanecendo em sua forma de Guardião, como os outros dois, ele era uma visão impressionante. — Nós nunca confiamos em Elijah. — Seus olhos estavam focados em mim. — Suas crenças e ações sempre foram uma fonte de descontentamento entre nós. — Bem. — Roth disse. — Elijah não será mais uma fonte de muita coisa. Todos os olhares dos Guardiões se focaram nele, e seu lacônico sorriso. — Detalhes seria bom, — Zayne exigiu; a brisa fresca jogando fios em torno de seus chifres escuros. Eu entrei antes que a conversa fosse por água abaixo. — Elijah está... Ele não está mais, — eu expliquei, e em seguida, corei quando ouvi a maldição afiada de Dez. — Nós não o matamos. — Não que não tentamos, — Roth disse, e quando lancei um olhar para ele, ele deu de ombros. — Por que mentir, pequena? Estávamos procurando o Lilin... — Estamos lidando com isso, – Zayne cortou; o queixo subindo. — Claro que estão, — Roth respondeu, e apesar de ser uma provocação, eu sabia que ele era capaz de muito mais quando se tratava de ser um idiota com Zayne. Esta foi contida. — E como isso vai para todos vocês? 8 Um movimento no jazz. Também é comumente associado a tipos de desempenho especialmente exuberantes, como musicais, torcedores, shows de coro, revistas e, especialmente, shows de dança de jazz.


A mandíbula de Zayne trabalhou como se fosse moer para baixo cada um de seus dentes. Quando não houve resposta imediata, Roth continuou. — Alguma pista? Não. Acho que não. Mudei o meu peso de pé para pé enquanto Dez estreitava os olhos e Danika começou olhar para o chão do telhado. — De qualquer forma, como eu estava dizendo, estávamos procurando o Lilin quando Layla viu Elijah. Ele e outros três membros do clã estavam nos rastreando a partir dos telhados. Nós os confrontamos e eles atacaram. — Ele ainda me quer morta, — expliquei. — Nada de novo lá. Zayne olhou na minha direção, mas não fez contato visual. — Então, o que aconteceu? — Bem, Bambi comeu um dos Guardiões, — Roth continuou, e Bambi sacudiu sua cauda ao longo do meu quadril, como se estivesse feliz com o pronunciamento. Apertei meus olhos fechados por alguns instantes. — Eu meio que apaguei outro. Permanentemente. Defesa pessoal. Eu juro. — Tenho certeza disso, — Nicolai murmurou enquanto se movia para ficar um pouco na frente de Danika. Ela não parecia incomodada. — Se eles eram do clã dele, eles não farão falta. — Danika, — Dez advertiu. — O quê? — Ela jogou as mãos para cima. — É a verdade. Eles são todos idiotas. Nós todos sabemos isso. Os lábios de Nicolai se contraíram. — O que aconteceu com o terceiro Guardião?


— Ele estava tirando uma soneca no terraço quando o deixei. Não sei se ele está acordado ou algum demônio veio e fez algo ruim, coisas ruins com ele. — Roth deu de ombros novamente. — Não sei. Não me importo. — E Elijah? — Zayne perguntou com a voz tensa. Tomei uma respiração profunda e estendi a mão, tirando o cabelo solto do meu rosto. — Eu estava lutando contra ele... — Você estava lutando com Elijah? — As sobrancelhas de Nicolai subiram. — Uh. Sim? Danika abriu um largo sorriso. — Impressionante. Balancei a cabeça. — O Lilin apareceu e ficou entre nós. Tomou a alma de Elijah, ele a consumiu. Não havia nenhum fantasma. Nada, e então o Lilin mudou sua aparência. — Parece-se com Elijah agora, — Roth disse. — É por isso que Layla pensou que seria uma ideia inteligente avisá-los. O outro Guardião que estava com ele, se esse Guardião ainda estiver vivo, estava apagado quando o Lilin tomou a alma de Elijah. Ele não teria nenhuma ideia que não é o verdadeiro Elijah caso o Lilin volte ao clã. — Droga, — Dez murmurou. — Não sei se sabemos onde eles estão escondidos aqui para avisá-los. Talvez Geoff saiba. A expressão de Nicolai ficou pensativa. — Se não, eu tenho um sentimento que Abbot pode ter uma ideia. Eu me encolhi interiormente com a menção do nome do Abbot, mas disse. — Como eu disse, nós queríamos avisá-los de tudo, apenas no caso dele tentar ir ao complexo. — A parte seguinte era o pior. — Com base em como o Lilin foi capaz de


fazer uma representação de Sam de forma tão convincente, acho que o Lilin recebe memórias da pessoa quando consome a alma. — Isso faz sentido, — Danika disse, olhando para os machos. — A alma é a essência, o âmago do nosso ser. Iria manter tudo. Nicolai exalou asperamente. — Se esse for o caso, então o Lilin saberia muito. — Muito, — Zayne afirmou, e começou a se virar, suas escuras asas cinzentas se desenrolando. — Precisamos falar com o meu pai e os outros. Dez e Nicolai concordaram com a afirmação. Danika permaneceu, olhando entre Roth e eu. — Não seja uma estranha, — ela disse; a voz baixa. — Ok? Nós todos precisamos trabalhar juntos se vamos parar essa coisa. Balancei a cabeça, sentindo-me estranha enquanto os via partir. Era difícil pensar em um momento em que Zayne estava saindo de algum lugar, e eu não estava indo com ele. Quando os Guardiões viraram, eu dei um passo adiante. Embora, no fundo, eu sabia que deveria apenas deixá-los ir – o deixar ir – eu não pude me conter. Havia muitos anos entre nós para simplesmente fingir que erámos estranhos. — Zayne? — Gritei. Ele estava na borda quando gritei o nome dele, e pensei ter visto seus ombros se mexerem, mas ele ajoelhou-se e, em seguida, lançou-se para o céu sem olhar para trás. Sem me encarar.


A noite caíra quando chegamos ao Palisades para nos encontrarmos com Cayman. O clube que ficava sob o prédio de Roth estava lotado de demônios, assim como humanos cercados por auras sombrias e turvas. Minha barriga estava agitada, mas nada que realmente incomodasse. A música obscena vibrava enquanto as súcubos no palco balançavam, seus quadris cobertos com diamantes que brilhavam com a luz do pisca pisca pendurado no teto, como luzes de natal. Luzes de natal era irônico, se considerarmos todas as coisas. A mão de Roth estava firmemente enrolada na minha conforme me conduzia ao redor do palco. Quando passamos pelos cantos escuros, me esforcei para ver o que acontecia lá, mas tudo que pude distinguir foi um jogo de cartas entre uma fêmea demoníaca e um humano que não parecia muito excitado, se a cor amarelada da pele dele fosse alguma indicação. Uma das dançarinas da gaiola estendeu a mão para mim e, então riu loucamente quando Roth lhe lançou uma careta de aviso. Sua mão apertou a minha. — Não vou me afastar de você, — eu disse a ele. Na última vez que estivemos aqui, ele me disse para não dançar com ninguém e, bem, acabei indo dançar com uma súcubo e um íncubo. Às vezes, eu realmente precisava ter um adulto por perto.


Sua risada viajou pela música. — Não pretendo correr o risco agora. — Agora? Soltando minha mão, ele envolveu o braço em meus ombros e me puxou contra ele enquanto caminhávamos pelas mesas. Ele abaixou a cabeça, escovando os lábios contra minha bochecha, e então falou em meu ouvido: — Já te disse o quanto adoro essas calças? — O que? — Olhando para baixo, engoli um gemido. Ela estava grudada em minha pele, e tive que literalmente me deitar na cama para conseguir fechá-la. —Seu gosto e o do Cayman por roupas é uma merda. Ele riu. — Não consigo para de olhar o seu... — Olhos? — Sugeri utilmente — Mmm. — Ele beijou meu lóbulo enquanto finalmente passávamos pelo palco. — Ou talvez o meu nariz? — Não é exatamente este lugar, — ele respondeu. Sorri. — Então te aconselho a verificar minhas rótulas. — Está chegando um pouco mais perto. — Ele fez uma pausa quando nos aproximamos do bar. — Mais tarde eu posso te mostrar em detalhes o que estive olhando o dia todo. Minhas bochechas coraram. — Você é tão prestativo. — O que posso fazer? Você desperta meu lado altruísta. Cayman saiu de trás de uma pilastra antes que eu pudesse responder a essa última declaração, jogando um pano branco em cima do balcão. — Vamos para o escritório.


Nunca vi o escritório, então fiquei curiosa. Cayman nos levou através de uma porta do lado de fora do bar onde se lia SOMENTE EMPREGADOS, mas alguém havia raspado algumas letras deixando LOL9. Legal. O corredor era estreito, iluminado por tochas de verdade fixadas em arandelas presas à parede. — Escolha interessante de decoração, — eu disse. Cayman sorriu enquanto Roth fechava a porta cortando o zumbido da música. — Meu ursinho de açúcar, você sabe que nós temos gostos peculiares. Roth bufou. O escritório era a terceira porta a direita e a sala não era como eu esperava. Para ser sincera, nem sabia o que estava esperando, mas definitivamente não era isso. O espaço era decorado com cores suaves – parede azul clara, mesa branca, poltrona com estampa de leopardo. Um sofá de couro cinza ficava contra a parede e logo acima havia um pôster gigante do One Direction. Um que estava assinado por todos os membros, até aquele que havia saído. Minha boca se abriu. — Não fui eu quem decorou esse escritório, — Roth explicou ao ver meu olhar de espanto. Cayman se sentou numa cadeira de aparência normal atrás da mesa e esticou as pernas. — Ele queria tudo preto. Paredes pretas, móveis pretos. Blá, Blá, Blá. Eu gosto de um toque de cor de vez em quando. Mantendo minha opinião para mim mesma, fui até o sofá e me sentei. Antes de entrar no clube, enviei uma mensagem para Stacey, explicando o que havia acontecido. Em resposta, ela enviou um ponto de exclamação e uma série de carinhas tristes sobre o que aconteceu com Elijah. Embora ela soubesse que não havia

9 Por causa da palavra Employes, que significa empregados/funcionários. Enquanto LOL significa ri muito, gargalhar.


absolutamente nenhum amor entre ele e eu, ela também sabia que vê-lo morrer não foi fácil. E saber que ele estava no inferno era pior ainda. Eu odiava o cara, mas uma eternidade no Inferno, entre as criaturas que ele ajudara a colocar lá, não deveria ser um passeio no parque. Pior, agora que eu vi o que acontecera com Elijah, eu sabia pelo que Sam havia passado e isso fazia meu coração doer. O corpo de Sam estava em algum lugar, frio e esquecido, mas eu sabia onde estava o que restara de sua alma. Não queria pensar em nada disso, mas não consegui parar. Meus pensamentos sempre voltavam para Sam e para o que aconteceu com ele. Levantei do sofá depois que Roth terminou sua conversa com Cayman. — Podemos subir até seu loft em vez de voltar para casa? — Se é isso que quer, — ele disse, afastando-se da mesa onde estivera encostado. — Duvidamos que Guardiões venham nos procurar agora. Será seguro. Aliviada por ouvir isso, eu sabia que ficaria feliz em ver o loft novamente. Estava me sentindo nostálgica, e eu realmente gostava mais de lá do que da casa de Maryland. Claro, a McMasion tinha características agradáveis e tudo, mas era muito grande, fria e formal para o meu gosto. Cayman apertou o nariz quando passou, dirigindo-se para porta do escritório. — Vou enviar um pouco de coisas gordurosas. Minha barriga roncou, me lembrando de que eu não comi aquela manhã. Precisávamos subir as escadas, já que os elevadores só desciam, e no momento em que cheguei ao último andar, desejei ter pegado carona nas costas de Roth. Os cãezinhos miseráveis não estavam vigiando a porta. — Onde estão seus amigos? — Estão se alimentando, — ele disse. — Você não vai querer saber como. Eca.


Quando Roth abriu a porta, o ar quente nos cumprimentou. Ele entrou, ligando as luzes e fui atrás, parando no meio da sala, olhando ao redor. — Parece como antes, — eu disse, olhando a enorme cama King Size. Os lençóis negros estavam arrumados e, enquanto olhava para a porta que levava até o até o telhado, vi que não tinha um único grão de poeira em cima do piano. As pinturas mórbidas de fogo e sombras escuras ainda estavam precisamente penduradas. Roth foi até a estante de livros, cheias de edições antigas e chatas, e tirou os sapatos. — Ninguém ousaria mudar nada. — Entretanto, alguém esteve limpando. — Cayman. Faz sentido. — Você achava que estaria diferente? — Ele perguntou, tirando a camisa. Minha boca secou; como se fosse a primeira vez que eu o via fazer isso naquele mesmo lugar. Seu corpo era uma obra de arte esculpida. — Eu... Acho que sim. Seus braços abaixaram e ele me lançou um sorriso presunçoso, como se soubesse que havia me distraído. — Nós saímos daqui tem um bom tempo, mas não tão longo assim. Roth estava certo. Mas muita coisa mudara desde então. Eu havia mudado, então era estranho ver algo que se parecia como era... Antes. Ele passou a mão sobre o esterno, indo parar no cinto do jeans, perto da tatuagem de dragão, e algo nesse movimento comprimiu meu estômago. Minha respiração gaguejou. Seus cílios se ergueram e os olhos âmbar encontraram os meus. A tensão embriagadora estava lá, atraindo-nos um para o outro. Sempre esteve ali entre nós, e não estava enfraquecendo. Três sombras saíram do corpo dele, flutuando lentamente até o chão. Eles se solidificaram na forma de gatinhos. Dois deles imediatamente foram para debaixo da


cama. O terceiro, Thor, trotou até mim, esfregou-se em minhas pernas, ronronando como um pequeno motor, e então também foi para debaixo da cama, sem tentar tomar meu sangue, isso era uma grande melhoria. — Me pergunto o que eles tanto fazem por aí. Roth levantou um ombro largo. — Na verdade, prefiro não saber. — Provavelmente esta é a escolha mais sábia. — Me dirigi até a cama e tirei minhas botas. — Fico feliz por estar de volta. Senti falta deste lugar. Ele sorriu levemente enquanto eu tirava os pés rapidamente do chão, não confiando naqueles malditos gatinhos, ainda que estivessem se comportando bem comigo agora. — Eles podem ficar invisíveis. Comecei a responder, mas Roth escolheu aquele momento para se espreguiçar e havia algo sobre ver todos aqueles músculos e pele trabalhando juntos, de forma tão fluida, que me fez perder minha linha de pensamento. — Quer beber algo? — Ele perguntou. Muda, fiz que não com a cabeça. Ao abaixar os braços, ele foi até o frigobar preto e pegou uma garrafa de água. Abrindo a tampa, ele tomou um gole saudável antes de abaixar a garrafa. Então, me encarou. Roth me olhava, não como se esperasse que eu tivesse um colapso a qualquer momento, mas simplesmente como se estivesse preocupado. Ele não precisava perguntar o que estava em minha mente enquanto caminhava até mim. — Eu... Eu continuo pensando que foi assim que... Foi assim que Sam morreu, — admiti. — Isso volta o tempo todo para minha mente. Roth se ajoelhou diante de mim. — Layla... — Você viu o que Lilin fez. Ele pegou... Ele pegou a alma de Elijah e depois engoliu. Ele consumiu a alma e depois ficou idêntico a ele. — Levantei meu olhar para o de Roth. — Foi assim que Sam morreu, e é por isso que o Lilin conseguiu ficar


parecido com ele. Isso deve ser tão doloroso. — Apertei brevemente os olhos. — Mas rápido, certo? Parece que com Elijah foi muito rápido. Ele colocou as mãos nos meus joelhos, esfregando suavemente. —Sim, foi rápido. Meus ombros caíram e balancei a cabeça. — Eu... Não estou realmente chateada pela morte de Elijah, e ele era meu pai. O que isso diz sobre mim? Sua expressão endureceu. — Isso não diz nada sobre você. Aquele idiota foi apenas o doador de esperma. Essa é a verdade. Ele não era seu pai. Você não lhe deve nem um único momento de tristeza. Você não deve nada a ele. Ele dizia a verdade, mas... — Ainda é difícil não me sentir culpada. Ele não respondeu enquanto me estudava atentamente. — Às vezes, você é tão humana, Layla, e ainda assim, não há uma gota de sangue humano em você. — Socialização. — Ofereci, e Roth riu baixinho. — Falo sério. Stacey e... E Sam tiveram grande influência sobre mim. Eles me mantiveram humana, e gosto disso. Gosto de me sentir humana. — Eu amo isso em você. — A resposta dele foi rápida, me surpreendendo. — Sério? Ele assentiu solenemente, e sorri um pouco. — Você não deve nada a Elijah, — ele reforçou. — Por favor, diga que entende isso. — Eu entendo. — O difícil era aceitar. Seu olhar ficou desconfiado. — Não está planejando nada, não é? Franzi o cenho. — Como o quê? — Como resgatar a alma de Sam? — Perguntou; os olhos se fixando nos meus. — Não tente negar, sei que é isso que quer. Eu irei lá se... — Não. Você não pode ir lá. Se fizer isso, eles te manterão lá, — interrompi. — Você não pode.


Seus olhos se estreitaram. — Você falou com Cayman. Não neguei. — Não quero que você se arrisque. — Nem por Sam? — Ele contestou. Foi difícil dizer a última palavra sabendo o que eu havia planejado fazer. — Não. — Também não quero que se arrisque por ele, — ele respondeu. — Não me importo que isso pareça cruel. Você não quer que eu faça isso, e sinto o mesmo em relação a você. Foi ainda mais difícil dizer as próximas palavras, porque eu ia mentir e não queria mentiras entre nós, mas eu precisava salvar Sam. Não havia outro modo, e eu sabia que se contasse a Roth, ele encontraria um modo de me impedir ou iria comigo. Nenhuma dessas opções era viável. — Como eu conseguiria a alma de Sam? — Perguntei. — Nem sei por onde começar. Roth não respondeu enquanto me observava, eu sabia que ele tinha essa resposta. Se Cayman também sabia que o Grim não estava no inferno agora, então havia uma grande chance de que Roth também soubesse. E eu sabia que havia uma possibilidade de que Roth planejasse ir até o Grim apesar de todos os riscos. Eu precisava chegar lá antes dele. — Você acha que pode mudar antes que Cayman chegue aqui com a comida? Quero verificar suas asas. Recusar apenas adiaria o inevitável e fiquei agradecida pela mudança súbita de conversa. Tirei meu suéter e havia duas pequenas lágrimas onde minhas asas havia se rasgado, mas a pele embaixo estava intacta. Antes de mudar de forma, tentei o que Roth havia feito com os gatinhos. Deslizei meus dedos sobre a área que Bambi descansava e observei enquanto ela surgia de minha pele.


Bambi foi até Roth primeiro, cutucando sua coxa com o nariz. Eu abaixei, acariciando sua cabeça. Deliciada, ela deslizou para a poltrona perto do piano, subiu e descansou a cabeça no braço enquanto olhava pela janela. Mudar de forma não foi muito difícil. Realmente não precisei me concentrar nem me levantar. Quis que acontecesse e simplesmente aconteceu. Minhas costas esticaram e minhas asas começaram a sair, a esquerda estava doendo, e quando olhei para trás ela parecia levemente caída, como as asas do bebê Izzy. — Acho que está quebrada, — eu disse a ele. Roth foi até a cama e sentou, virando para mim. Ele verificou a asa. — Isso dói? — Queima, — admiti. — Mas não muito. Seu olhar se deslocou até meu rosto e depois voltou para minha asa. — Poderia ter quebrado, mas parece que já está se curando. — Seus dedos roçando as bordas das penas, distante da parte dolorida. Estremeci, embora seu toque fosse gentil. Ele afastou a mão imediatamente. — Machuquei você. — Não. Elas são supersensíveis. Abri a boca e depois fechei. Então sorri e disse: — Tire sua mente da sacanagem. — Pequena, desista disso, minha mente vive lá. — Ele piscou enquanto eu ria e depois voltou a estudar minha asa. — Acho que devia deixá-la descansar por algum tempo, no máximo um dia, e ela ficará completamente boa. Olhei novamente para a asa machucada. — Acha que as penas vão cair? — O que? Minhas bochechas coraram. — Talvez eu esteja passando por algum tipo de metamorfose e começarei a perder penas.


Ele parecia querer rir, mas ele era mais esperto que isso, então apenas beijou meu ombro nu. Engatinhando na cama, fui até onde ele havia deixado a água. — Você realmente odeia essas coisas, não é? — Não as odeio. Não exatamente. — Trouxe minha asa esquerda para mais perto de mim e passei os dedos por elas com cuidado. — Somente não as entendo. Demônios de Nível Superior que as tem. Eu as tenho, mas não sou um demônio de Nível Superior. Roth tomou um gole e depois abaixou a garrafa. — Você parece com um demônio de Nível Superior agora, os Guardiões e os demônios sentem isso, o que significa que você está amadurecendo. Talvez as penas sejam outro sinal dessa maturidade. Você não é como o resto de nós – ou algum outro demônio. Você é uma mestiça, e isso faz com que seu amadurecimento seja difícil de prever. — Ele encolheu os ombros. — Essa é a melhor teoria que temos, de qualquer forma, mas estou um pouco fora da minha especialidade aqui. A maioria de nós foi criado quase totalmente formado, e o crescimento que em outros demora, em nós termina em um dia. — Não é nada demais, — murmurei sob minha respiração. Ele sorriu. — As penas e sua aparência quando muda? Bem, não entendi isso. Sei que minha resposta é inútil, mas você é a primeira a carregar o Guardião e o sangue demoníaco, e não de um demônio qualquer, mas o de Lilith. Isso pode ser apenas uma fase. Naquele momento, lembrei–me de que não lhe falara sobre o outro demônio na cafeteria. — Quando fui conversar com Zayne sobre... Bem, você sabe o que, havia um demônio de Nível Superior que entrou na cafeteria depois que ele saiu. Você sabe como os demônios normalmente não me sentem, certo? Pois é, este sentiu. — Os demônios superiores são diferentes. É provável que alguns deles consigam sentir o que você é. O que?!


Levantei meu olhar para o dele. — Mas este demônio... Saiu correndo de mim, Roth. Ambas as sobrancelhas levantaram. — Ele realmente fugiu de mim parecendo assustado, — continuei; perturbada pela memória. — Nunca soube de um demônio de Nível Superior fugindo de alguma coisa, nem mesmo de Guardiões. — Eles fogem. — Seus traços ficaram tensos. — A única coisa de que superiores sente medo é do Chefe, ou... Senti meu coração apertar. — Ou o que? O cenho franzido de Roth não fez nada para diminuir sua beleza, mas fez minha barriga embrulhar mesmo assim. — Eles correriam de um dos originais. — Originais? Ele se inclinou contra a parede, olhando-me com cílios baixos. — Os originais, pequena, os que são iguais ao Chefe. Os anjos caídos. — Os caídos...? — Sussurrei, e então percebi. — Você fala dos anjos que caíram quando foram enviados para ajudar a humanidade? — Quando ele assentiu, meus olhos se arregalaram. — Eles têm asas negras de corvo? Seus lábios fizeram aquela coisa trêmula de novo. — Sim. O Chefe também. Senti um peso enorme em meus ombros. — Mas isso... — Não faz sentido, eu sei. É por isso que não entendo. Você não é um dos originais. Obviamente, — ele disse, arrastando a palma da mão sobre o peito. — É por isso que eu acho que é algum tipo de show. Você começou a mudar apenas agora, pequena. Ainda não sabe tudo do que é capaz. Suspirei. Se isso realmente fosse apenas uma fase, então o que mais viria? Chifres ao longo da minha espinha, como algum tipo de dinossauro. — Então, por que você acha que o demônio correu? — Você tem o meu cheiro.


— Como é? O sorriso torto reapareceu. — Meu cheiro está em você. Outros demônios podem sentir. Lutei contra a urgência de me cheirar. — Isso é único para demônios, — explicou. — Como impressões digitais. A maioria dos demônios com uma célula cerebral em funcionamento vai à direção contrária assim que sentem meu cheiro. Eu ainda tentava não me cheirar quando lembrei que Zayne já havia dito que podia sentir o cheiro de Roth em mim. De repente, o que eu sempre cheirei ao redor dele fazia sentido. — Você cheira algo doce e... Almiscarado. O sorriso desapareceu e um longo momento passou enquanto ele me olhava intensamente. — Você cheira a luz do sol. Minha respiração parou em minha garganta. Eu não tinha ideia de como a luz do sol cheirava, mas imaginei que era algo bom, e também achava que era doce dele dizer. Sentindo-me inesperadamente autoconsciente, acenei, esticando a borda da minha asa direita. — Me sinto como um... Pavão. — E voltamos para os pássaros. — Sua expressão suavizou. — Muitos acreditam que os pavões são bonitos. — Que tal uma cacatua? Os olhos de Roth se iluminaram. — Tenho certeza de que há alguns que os acham bonitos também. — Um pombo? Ele riu. — Layla, nada sobre você me lembra de um pombo. — É bom saber disso. Houve uma pausa. — Você realmente olhou para si mesma desde... Esta mudança? Quer dizer, depois da primeira vez?


Abaixando meu olhar, balancei minha cabeça. — Você deveria fazer isso. Talvez veja o que eu vejo. Talvez veja o que todo mundo vê, — ele disse calmamente. — Porque você é linda, Layla, e mesmo que diga isso milhares de vezes, não há como mostrar. E eu já vi muitas, muitas coisas bonitas. Pessoas tão bonitas quanto os demônios são atrozes. Você, de longe, brilha mais brilhante que qualquer um eles. É mais do que o que está por fora. Vem de dentro de você. Eu vi muitas coisas e nada, nada se aproxima de você. Oh, Deus, enquanto levantava meu olhar, eu tinha meu coração e todas as estrelas no céu em meus olhos. Essa era a coisa mais bonita que alguém já disse para mim, e sabia, em todas as células do meu ser, que ele acreditava nessas palavras. Elas eram verdadeiras para ele. Essas palavras eram a realidade dele. Cayman chegou com a comida antes que eu pudesse formular uma resposta decente e Roth se virou para a TV. Mudei de volta, e depois mergulhamos em um prato de hambúrgueres, frangos e batatas fritas. Ele mergulhou tudo no molho ranch, até mesmo o seu hambúrguer, algo que eu não havia notado antes. Depois fui ao banheiro para lavar as mãos e o rosto, imaginando que era preciso depois de basicamente enfiar meu rosto no prato da comida. Quando voltei, apenas a luz da televisão iluminava o quarto. A bandeja havia desaparecido e Roth estava esticado na cama, com os braços atrás da cabeça. Seu estômago estava incrivelmente plano enquanto eu sabia que eu parecia grávida de tanta comida. Às vezes, esse era um daqueles momentos em que me sentia completamente desajeitada em relação a Roth. Caminhando até ele, subi na cama e deitei de lado, de frente para ele. Meu coração estava batendo como se eu tivesse corrido do banheiro para a cama uma dúzia de vezes. Roth virou a cabeça e olhou para mim. Cheguei mais perto. Ele me observou.


Aproximei-me ainda mais, até que a frente do meu corpo estava pressionada contra sua lateral. Sem olhar para ele, coloquei minha cabeça em seu peito. Passou um momento e ele abaixou os braços. — A noite não foi como eu queria, — ele disse. Foi quando eu me lembrei da surpresa dele. — Tudo bem. — Eu queria levá-la a um encontro, — ele continuou, quase como se ele não tivesse me ouvido. — Algo normal. Jantar. Talvez um filme. Levantando a cabeça, olhei para ele, assustada. Seus olhos encontraram os meus. — Sei que isso parece louco com tudo que está acontecendo, mas é que... É isso que os humanos fazem. Eles saem. Comem. Veem um filme em que nenhum deles está realmente prestando atenção. — Sim, eles fazem. Ele se moveu para o lado e escorregou para baixo, ficando olho-a-olho comigo. — Acho que eles passam todo o jantar e o filme pensando sobre a outra pessoa, sobre o que vai acontecer quando chegar a hora de sair. Será que ela o convidará? Será que ele a convidará? Haverá um beijo? Mais? Meus dedos enrolaram. — É assim que você passaria o tempo? — Sim. Cem por cento sim, — ele disse. — Eu queria te dar esse encontro, no entanto. Eu queria te dar essa noite. Essa era pra ser a minha surpresa. Aproximei-me e beijei-o levemente nos lábios. — Quero essa noite com você, mas não preciso disso. O que eu preciso é isto... Esses segundos e minutos com você. É isso que eu sempre precisarei. Sua mão ficou no meu braço. — Você merece mais que isso. Porque ele disse isso, ele mereceu outro beijo. E porque ele disse isso, eu me apaixonei, mesmo quando sabia que não era possível me apaixonar ainda mais. — Nós jantamos esta noite e a TV está ligada agora. Isso é tão bom quanto um filme. E


você tirou minha mente das coisas ruins e me disse que eu sou bonita. Você me deu a noite que você queria. Ele olhou para mim por um momento, e então seus lábios se curvaram nos cantos. Seu sorriso correu pelo rosto dele, suavizando as linhas ásperas. Vários momentos se passaram antes de falar. — Você sabe por que às vezes eu tenho que me afastar de você? — Ele perguntou, passando os dedos pelo meu braço. A declaração me surpreendeu. — Não. Roth acompanhou o movimento de sua mão com o olhar. — Quando estou perto de você, eu sempre quero te tocar. Os músculos abaixo da minha barriga apertaram em resposta à admissão dele. — Nem sei se é um querer ou mais uma necessidade de fazê-lo, — ele continuou, e seus grossos cílios abaixaram, protegendo seus olhos. Seus dedos se moviam da minha barriga para o meu quadril. — Sempre foi assim, desde a primeira vez que te vi. Eu acho que é por que... Não há nada como você de onde eu venho. Sua bondade inerente, — ele disse, levantando o olhar para o meu. — Posso sentir isso. Eu não sei, talvez apenas goste de sentir sua pele sob minhas mãos. Quem sabe? Posso ter um problema de limites. Eu sorri. — Talvez um pouco, mas não me importo. Ficamos em silêncio por alguns momentos e meus pensamentos começaram a vagar para além da noite, além de todos os nossos problemas mais prementes e em um futuro muito desconhecido. — Eu estava pensando. — Ah não. Eu ri levemente e então, o humor que eu sentia desapareceu. — O que vamos fazer? — Sussurrei. Roth endureceu. — Essa é uma pergunta ampla, pequena. — Eu sei. — Me aconcheguei mais perto, deixei o calor do corpo dele escorrer para dentro de mim. — Mas estou pensando em daqui uma década.


— Hmm. Uma década. Gosto do som disso. — Eu estava pensando em daqui duas décadas. Três. Quando eu tiver quarenta anos, e você tiver a mesma aparência que tem agora, — expliquei, olhando para a escuridão. — Isso não ficará estranho? — Não. Não houve um momento de hesitação no final, mas eu ri. — Oh, qual é, em algum momento, você vai se parecer com meu filho. O sangue de Guardião em mim significa que eu envelheço, Roth. Posso parecer mais jovem do que sou quando estiver mais velha, mas envelheceria e eu... — Não diga isso. — Sua voz foi cortante. — Não termine essa frase. Eu engoli em seco enquanto levantava a cabeça, encontrando seu olhar brilhante. — Mas é verdade. Como estaremos juntos quando eu tiver noventa anos e você com 18 anos? Como? — Não sei como faremos isso funcionar, mas vamos conseguir. Daremos um jeito. E quem sabe se você continuará envelhecendo mesmo? Eu entendo que você envelheceu até agora, mas talvez isso acabe. Layla, você é parte demônio. Os demônios não envelhecem. Talvez o sangue de Guardião tenha diluído alguns aspectos, mas veja o que aconteceu quando você mudou recentemente. Você está mudando e você não... Não sabemos tudo o que isso significa. — Você faz parecer tão fácil, — eu disse depois de um momento. — Como se o fato de parecer que sou sua avó não fosse grande coisa. — E não é. — Ele pegou minha bochecha. — Acho que você não entende o que significa quando um demônio se apaixona, Layla. Isso não desaparece. Não se desvanece, mesmo que desejemos. Nós amamos até a morte. Isso não é apenas algo que dizemos. Nós amamos apenas uma vez e é para sempre. Não importa o que. E isso é um pouco torcido se você pensar direito, mas, felizmente, você sente o mesmo, então isso não é estranho. Você me sente?


Paimon, o demônio de Nível Superior que amou Lilith e que arriscou tudo isso quando tentou libertá-la, havia dito algo parecido, mas vindo de Roth, era como o primeiro gosto de chocolate. Não levou todas as minhas preocupações, mas me fez sentir melhor sobre elas, me deu esperança de que pudéssemos enfrentá-las juntos, mesmo que eu precisasse de um andador quando enfrentássemos o problema. — Deus, Roth, às vezes... Às vezes, você é perfeito. Eu esperava uma resposta espertinha, como ele normalmente me daria, mas sua mão percorreu minha bochecha, e então deslizou ao redor da nuca. Ele me guiou para que eu estivesse aninhada contra ele, minha cabeça dobrada debaixo do queixo e uma das pernas enroladas na minha. — Posso te dizer algo? — Claro. O polegar de Roth se moveu vagamente ao longo da base do meu couro cabeludo. — São momentos como esses que eu preciso, também.


Ficando de frente para a cadeira, senti como se tivesse acabado de tomar uma bebida com alto teor de cafeína. A energia nervosa me consumia, e deslizei de um pé para o outro, não muito diferente do que vi Tambor fazer na casa de Stacey. — Isso não pode esperar? — Perguntei, limpando minhas palmas úmidas nos quadris. — Quer dizer, realmente acho que isso poderia esperar. Sorrindo como um gato que encurralou ratos, Roth se afastou, porque havia uma boa chance de eu socá-lo. — Agora é tão bom como qualquer outro momento, pequena. Enruguei o nariz, cruzando os braços em meu peito e olhando para onde Cayman estava mexendo com uma engenhoca maciça que parecia uma ferramenta elétrica, mas eu sabia que não era. — Ele pode realmente fazer isso? Levantando o olhar para mim, Cayman sorriu. — Posso fazer quase tudo. — Quase tudo, — Roth lembrou. Cayman encolheu os ombros, e então ele apertou algo na máquina e um zumbido zangado encheu o escritório na parte de trás do clube. Meus olhos se arregalaram quando meus músculos se endureceram. — É... Suposto ser tão alto?


Cayman riu. — Pequena, você enfrentou Nightcrawlers e demônios Raver, você não pode ter tanto medo de se tatuar. Eu girei em direção a Roth. — Não é você quem fará a tatuagem, então talvez você deva simplesmente calar a boca. Atrás de mim, Cayman bufou, e girei em direção a ele, atirando-lhe o meu melhor brilho da morte. — Você também. Quieto. Ele ficou. — Eu tenho cinco tatoos, pequena, eu sei como é, — Roth disse com as mãos levantadas. — Será uma picada, mas você é forte. Você vai aguentar. Eu não queria aguentar. Também não queria estar agindo como um bebê, mas não podia ansiar para me sentar e deixar alguém cavar tinta no meu corpo. Por que eu achei que essa era uma boa ideia? Cayman levantou. — Vamos fazer ou não? Porque tenho certeza de que todos nós temos coisas para fazer. Como você, todos tem um Lilin para encontrar e eu tenho ofertas para negociar. — Depende de você, Layla, — disse Roth. — Se você não quer fazer isso, não precisamos. Uma grande parte de mim queria saltar sobre o que ele ofereceu, mas obter uma tatuagem familiar na minha pele era a coisa inteligente a fazer. Isso me tornaria mais forte e eu teria o meu próprio sistema de backup embutido caso as coisas não fossem bem. Então, eu precisava de coragem. — Eu quero fazer isso. Roth sorriu para mim enquanto Cayman aproximava a mesa. — Então sente na cadeira, — ordenou o demônio. — E nós vamos fazer isso.


Sentei-me conforme instruído e quase gritei quando Cayman bateu em algo no lado e inesperadamente colocou a cadeira em uma posição reclinada. Segurei os braços da cadeira, olhando para ele. — Um aviso teria sido bom. — E qual seria a graça disso? — Ele respondeu. — Você sabe o que vai tatuar? Olhando para Roth, acenei com a cabeça lentamente. Nós conversamos sobre isso na noite passada, e foi mais difícil do que eu imaginava quando se tratava de escolher um familiar. A maioria das minhas ideias era fraca. Em um ponto, eu sugeri uma ilhama, o que foi quando Roth anunciou que era hora de dormir, já que meu cérebro precisava recarregar. — Uma raposa, — falei a Cayman. — Porque elas são rápidas e inteligentes. — Como eu, — acrescentou Roth. Revirei os olhos. — Não porque é como Roth. — Uma raposa? Interessante, — Cayman murmurou agitando a mão esquerda. Um banquinho baixo apareceu no ar, e pensei que era muito bacana. — Eu vou precisar de algum espaço para fazer isso. Tire sua camisa. A cabeça de Roth girou em sua direção. — Você pode querer repensar esse pedido. Cayman bufou enquanto olhava através do cabelo. — Por favor. Tão bonito quanto nosso pequeno bolo de strudel é, ela não faz isso por mim. No entanto, você tirando a camisa, flutua meu barco e a âncora. Apertei meus lábios quando Roth murmurou: — Que seja. Respirando profundamente, puxei minha camisa para que minha barriga ficasse exposta. — Tenho a sensação de que isso vai doer. — Você ficará bem. — Roth se moveu atrás da cadeira, colocando as mãos nos meus ombros. — Você consegue.


Cayman tratou o instrumento como se ele soubesse o que fazia quando começou a se inclinar sobre mim. Eu fiquei tensa e ele balançou a cabeça. — Você é sortuda, bunda mole. Isso será muito mais rápido e fácil do que para os humanos. — Por quê? Ele olhou para mim. — Por causa da magia. — Ele disse como se eu fosse uma criança. — E porque você vai curar muito mais rápido do que um humano. Você nem precisará cobrir a tatuagem. — Ok. — Eu teria que acreditar nele. — Como você vai chamar sua raposa? — Cayman perguntou. Eu estava tão tensa que havia uma boa chance de que partes do meu corpo começassem a quebrar. — Robin. Suas sobrancelhas se ergueram. — Por que Robin? — Meu filme favorito da Disney é aquele em que uma raposa é Robin Hood, — expliquei. — Então, Robin. — Essa é minha garota, — Roth disse atrás de mim. — Inteiramente. Cayman olhou para Roth, e então ele colocou a mão nas minhas costelas. Pulei um pouco com o contato, e então, porque eu não podia desviar o olhar, mesmo que eu devesse, assisti-o trazer a arma de tatuagem para minha pele. — Caralho! — Gritei, aumentando meu aperto nos braços da cadeira. Picadas, como se eu tivesse caído num ninho de vespas, se espalharam por minha barriga inteira. — Apenas um pouco de dor? Você está brincando comigo? — Vai melhorar, — Roth disse, esfregando meus ombros. Sem sequer olhar para ele, eu podia ouvir o sorriso em sua voz, e eu queria dar um soco na cara dele. Minha barriga queimou enquanto Cayman fazia a tatuagem, e só depois de uma eternidade, a dor diminuiu, e acho que foi porque minha barriga ficou dormente. Mas eu permaneci lá como uma boa meio-demônio, meio-Guardiã, e lutei contra o desejo de mudar para me proteger. Roth se esforçou para me distrair,


me explicando como seria ter meu familiar e não apenas um tipo de guarda compartilhada. Robin, minha raposa familiar, provavelmente dormiria no primeiro dia ou mais, e não se moveria muito, e ele não iria sair da minha pele durante esse tempo. Roth explicou que Robin se uniria comigo não apenas fisicamente, mas emocionalmente e mentalmente. Enquanto Robin descansava, o familiar tomaria as minhas lembranças. Ele aprenderia tudo sobre mim, e sim, isso era meio estranho, mas, como com Bambi e Roth, Robin seria capaz de sentir quando eu estava em apuros ou precisasse que ele tomasse forma. Eu só esperava que ele não aparecesse como uma raposa gigante e mutante, porque isso também seria extremamente assustador. Não fazia ideia de quanto tempo passou, mas, finalmente, Cayman se afastou, desligando a pistola de tatuagem. — Feito, — ele disse, esticando os braços sobre as costas. Olhando para o estômago ferido, tudo o que eu podia fazer era olhar. Havia uma tatuagem gigante lá, estendendo-se da minha caixa torácica direita ao meu umbigo. Talvez isso não fosse grande para alguns, mas para mim, era genial. E era lindo. Como eu não estava prestando atenção ao que Cayman estava fazendo quando ele parou e começou, o que eu vi foi uma completa surpresa para mim. O pelo avermelhado da raposa era tão realista que quase esperava ser capaz de sentir o pelo se eu abaixasse a mão para tocá-lo. A cauda da raposa era grossa e manchada de branco. Estava enrolada, as patas traseiras dobradas perto do corpo e o longo focinho apoiado nas pernas da frente. Os detalhes que Cayman fez eram extraordinários, até os grossos cílios, as manchas brancas de pelos em torno dos olhos fechados e dos bigodes pretos. E o que também era realmente surpreendente foi à rapidez com que a vermelhidão desaparecia nas bordas da tatuagem. Cayman não estava brincando


quando disse que eu tinha sorte. Dentro de uma hora ou mais, eu sabia que a pele estaria completamente curada. Sem aviso, um dos bigodes da raposa se contraiu e eu pulei na cadeira. Olhei para Roth. — O bigode se moveu! Seu sorriso chegou aos olhos dele, aliviando a cor. — Isso foi rápido. Tenho a sensação de que este será bem ativo. — Espero que ele e Bambi se deem bem. — Era como apresentar a irmã mais velha ao irmãozinho, esperando que ela não jogasse o intruso na frente de um caminhão. — Eles vão, — ele disse, curvando sua mão em volta da minha nuca. — Você fez bem, pequena. Merece uma recompensa. Arqueei uma sobrancelha, sabendo que eu realmente não fizera isso tão bem. Francamente, eu agira como um bebê gigante. — Uma recompensa? Roth assentiu e então se inclinou, beijando-me, e não apenas um estalo rápido nos lábios, também. Todos os meus sentidos reorientaram-se unicamente para ele. Eu nem sentia a dor maçante na minha barriga. Sua mão deslizou no meu queixo, segurando-me no lugar enquanto ele aprofundava o beijo e eu conseguia sentir aquele piercing na língua. Oh, esse beijo... Isso me fez pensar em outras coisas – coisas que não eram inteiramente apropriadas quando se tratava de onde estávamos e o fato de que o dia amanhecia na nossa frente. Na noite passada, após conversarmos sobre o familiar, nós estávamos muito cansados para fazer qualquer coisa além de dormir, e agora eu desejava que tivéssemos utilizado o tempo privado com mais sabedoria. Precisávamos avançar, pois havia coisas realmente importantes que precisavam ser feitas, mas meu corpo corou e levantei a mão, envolvendo-a na nuca dele, enfiando os dedos pelos cabelos bagunçados.


— Não se importem comigo, — Cayman disse. — Não estou aqui. Não. Não estou segurança vela, e nem acho estranho ter que testemunhar vocês dois comendo o rosto um do outro. Levantando a cabeça, Roth lançou um olhar sombrio na direção do Cayman enquanto eu simplesmente permanecia lá, curtindo os efeitos secundários do beijo. — Você poderia simplesmente sair. — Não traga lógica para essa conversa, — ele disse se levantando. Quando olhei para ele, vi que a pistola de tatuagem havia desaparecido. Ele piscou para mim enquanto eu puxava a minha camisa. — Como Roth disse, não se surpreenda se o seu familiar não se mexer muito no início. Ele basicamente está dormindo, mas quando ele estiver pronto e sentir que está em algum tipo de perigo, ele provavelmente sairá. Assenti com a cabeça e depois saí da cadeira, me levantando. Não me senti exatamente diferente agora que eu tinha meu próprio familiar, mas estava um pouco animada para ver Robin pessoalmente pela primeira vez. Agora era hora de andar nas ruas. Havia uma boa chance de que o Lilin aparecesse novamente, desde que ele havia feito isso ontem, mas estaríamos preparados desta vez. Precisávamos estar. Cayman apoiou-se na mesa e se inclinou contra ela, cruzando os braços. — Antes de vocês partirem, você pode me fazer um favor, Roth? — Depende, — ele disse. — Você tem um livro no andar de cima — aquele sobre demônios menores. Posso pegar emprestado? Roth levantou uma sobrancelha. — Sim. Desde quando você pede pelas coisas? — Estou em uma nova fase. Os olhos de âmbar de Cayman se estreitaram. — Você pode pegar para mim?


Roth olhou para ele. — Estou cansado, — Cayman disse, imitando um sotaque francês que eu já ouvi em um vídeo do YouTube uma vez. — Além disso, eu não quero entrar depois e pegar você e Layla lá, sem roupas, porque então, você teria que me machucar caso eu visse suas partes privadas... — Ok, — Roth cortou-o, esfregando os dedos pelos cabelos, irritado. — Apenas pare de falar. Cayman sorriu. Murmurando em voz baixa, Roth caminhou em direção à porta e depois desapareceu. Eu pisquei, odiando quando faziam isso. Resistindo ao desejo de tapar minha barriga agora tatuada, eu mantive minhas mãos ao meu lado. — Foi um pedido estranho. — Na verdade, não quero o livro. A leitura é muito chata, — ele respondeu, tirando a mesa. Fiz uma careta. — Então por que... — Não temos tempo. Entrei no loft esta manhã e empurrei esse livro atrás de um monte de outros livros empoeirados que pareciam chatos como Inferno, mas ele estará aqui em alguns instantes, — explicou. — Recebi a notícia ontem à noite que o Grim voltou para o Inferno. Ele está lá. No começo, tudo o que eu podia fazer era olhar para Cayman. Grim – O Grim Reaper – estava de volta ao Inferno, o único ser que poderia libertar a alma de Sam. A emoção e o terror explodiram como um foguete dentro de mim. Eu poderia finalmente fazer algo por Sam, mas também sabia que isso não seria fácil. — Se você estiver pronta para ir lá, eu sugiro que faça isso logo, caso o Grim mude seus planos, — ele prosseguiu. — E eu ouvi dizer que ele está de bom humor. Então, agora seria um ótimo momento para implorar. Porque é tudo o que você realmente precisa oferecer, certo? Seu pedido?


Eu pisquei. — É tudo o que posso pensar. Ele é o Grim, e se ele passa parte do seu tempo no Céu, ele não pode ser realmente todo o mal. — Então, você espera poder apelar para o seu sentido inato de bem e justiça? — Ele perguntou, e quando acenei com a cabeça, ele riu. — Oh, Layla, você é tão fofa. Dobrando meus braços, exalei alto. — O que mais eu tenho para oferecer? Se você tiver uma sugestão, seria útil. — Eu não. — Ele tirou uma mecha loira do rosto enquanto encolhia os ombros. — A verdade é que eu nem sei o que o Grim poderia querer em troca, ou se ele quer alguma coisa. Você terá que simplesmente descobrir. Você ainda quer fazer isso? Na parte de trás da minha cabeça, eu reconheci plenamente que aquela era uma ideia horrível. Quem era eu para invadir o Inferno e exigir que aquele que era praticamente o anjo da morte fizesse alguma coisa, mas que outra escolha eu tinha? Eu não podia arriscar Roth fazendo isso, sabendo que se ele entrasse no Inferno agora, ele não voltaria, e eu não poderia deixar Sam lá. Eu não podia ser complacente e precisava tentar algo. — Estou dentro, — disse, e meus nervos se esticaram. Ele inclinou a cabeça e a diversão costumeira desapareceu de sua expressão. — Quando? Meu coração estava batendo enquanto eu olhava para a porta. Estar no Inferno seria tão perigoso quanto caminhar pela via circular durante a hora do rush. Tantas coisas podiam dar errado, e se eu fosse agora, Roth saindo dessa sala poderia ser a última vez que o vi. As mensagens que troquei com Stacey poderiam ser a nossa última correspondência, e quando eu vi Zayne ontem, essa poderia ser a última vez. Ter outro par de horas ou dias não consertaria nada com Zayne, mas isso me daria tempo para ver Stacey e me daria tempo com Roth para... Para espremer um eterno em poucas horas. Para experimentar tudo o que ainda não exploramos antes de perdermos a chance.


— Posso ir hoje à noite? — Perguntei. Cayman me olhou e depois assentiu. — Encontre–me no átrio pela manhã. Aproveite ao máximo o dia de hoje. Qualquer coisa é possível amanhã.


À noite, entrei no banheiro do loft de Roth e olhei para o meu reflexo. Meu rosto estava corado, os olhos estavam muito grandes, como de costume, e nada realmente parecia diferente em mim. Mas eu me sentia diferente. Mais velha, de alguma forma, e eu não sabia o que provocara isso. Do lado de fora do banheiro, eu podia ouvir Roth se movendo e o zumbido suave da TV era reconfortante. Olhei para a porta e meu coração se transformou em uma marreta. Somente quando Cayman me contou que o Grim estava de volta ao inferno que isso realmente me atingiu, que eu iria entrar no inferno para falar com o Grim. Cayman não precisava me avisar que seria perigoso. Eu sabia que seria. Qualquer coisa poderia dar errado, e esta noite poderia ser minha última noite com Roth. Eu queria – não, precisava – estar perto dele hoje à noite. Se alguma coisa desse errado amanhã, eu queria experimentar o máximo que pudesse antes. Eu queria experimentar Roth. Não foi uma decisão que tomei levemente. Estive obcecada por isso o dia todo enquanto caminhávamos pelas ruas, voltando com as mãos vazias. O que eu queria da noite era um grande problema. Enquanto Roth e eu fizemos coisas, não fizemos aquela coisa, e assumi que o nervosismo que eu sentia era normal. Roth tinha muito mais experiência do que eu


quando se tratava disso, mas quando meu olhar voltou para o espelho, eu sabia que estava pronta. Eu só esperava que eu... Eu não me envergonhasse. Que ele não achasse que eu era ingênua ou não tinha ideia do que estava fazendo, porque eu realmente não tinha ideia do que estava fazendo nesta área. Meu olhar mergulhou para as alças da minha camisola e minha pele foi aquecida em um instante. Quando entrei no banheiro, eu estava completamente vestida. Claro. Mas agora, meu jeans e camiseta estavam dobrados na borda da banheira, e empurrei meu sutiã entre eles. O tecido da camisola era fino, tanto que não precisava olhar para baixo para saber exatamente o que podia e não podia ser visto. E eu não precisava dos pequenos arrepios pelas pernas para lembrar que, enquanto minhas roupas íntimas não eram muito escassas, elas certamente não conseguiram cobrir tudo. Nunca andei despida assim, e não tinha ideia de como ficava a minha bunda nessas roupas curtas, e realmente não queria saber. Movi os dedos dos pés no chão de azulejos. — Eu posso fazer isso, — sussurrei para o meu reflexo. — Sou uma híbrida fodona... Não uma covarde... Com asas emplumadas. Isso é bonito e estranho. Eu posso fazer isso. Minha conversa não ajudou. Eu só precisava abrir a porta e andar confiantemente pelo quarto, pegar Roth pelos ombros, jogá-lo na cama no estilo total She-Ra e entrar no negócio. Eu fiz uma careta. Bem, nada disso parecia exatamente romântico, e na verdade, eu só precisava sair daqui sem parecer uma completa idiota. Esqueça tudo. Jogando meus cabelos sobre os ombros, respirei fundo, e então virei para a porta, puxando-a quase para fora das dobradiças enquanto a abria. Dei dois passos e depois parei. Roth estava de pé na frente da cama, olhando a TV com o braço erguido, e o controle na mão. Ele olhou na minha direção e congelou.


Meu coração estava alojado em minha garganta, e eu não conseguia dizer uma única palavra quando ele se virou para mim, o controle remoto escorregando de seus dedos e caindo no chão. Caiu como um trovão, mas nós não reagimos ao som. Seu olhar começou no topo da minha cabeça e deslizou todo o caminho até as pontas dos meus dedos curvados, e depois lentamente fez a viagem de volta aos meus olhos. A intensidade em seu olhar criou uma sensação flutuante na minha barriga. Quando ele falou, sua voz era áspera, enviando uma série de calafrios ao longo da minha espinha. — Não sei o que fez você mudar seu traje de dormir, mas quero deixar você saber que estou cento e cinquenta e cinco por cento feliz com isso. Tudo o que eu podia pensar era que ele gostava do que via e que era um bom sinal. — Na verdade, se você quiser se vestir assim sempre que estivermos sozinhos, para jantar, assistir a TV, ler um livro ou o que quer que seja, eu também apoio isso. Outro grande sinal. Seu olhar ardente mergulhou mais uma vez e ele fez esse som na parte de trás da garganta, provocando outra série de arrepios. — Droga, Layla, eu... Ele pareceu ficar sem palavras, e isso me fez sentir um pouco melhor ali, minhas mãos tremendo. Ele estava obviamente afetado, e isso me afetou, fazendo com que o peso se instalasse em certas áreas do meu corpo. Minhas pernas me levaram para ele e elas pareciam estranhamente fracas. Quanto mais eu me aproximava dele, mais a tensão se intensificava. Ele se enrijeceu, suas pupilas dilataram ligeiramente e eu mal consegui ar em meus pulmões quando coloquei minhas mãos em seu peito. O calor de sua pele queimava através da camisa, e senti seu peito se erguer com uma respiração profunda. Estiquei-me, pressionando todo o meu corpo contra o dele. Não tive que perguntar. Roth me encontrou a meio caminho, abaixando a boca para a minha, e embora fosse eu a iniciar o beijo, foi ele quem me assustou com a paixão por trás disso.


Desejava seduzi-lo, o que era risível caso eu realmente pensasse sobre isso, mas não estava realmente pensando. No momento em que seus lábios tocaram os meus, eu estava consumida, com meu coração martelando enquanto ele rodeava um braço em minha cintura e me levantava para que meus pés estivessem sobre os seus. A outra mão se fechou ao redor da nuca, e nós nos beijamos, realmente nos beijamos, e eu podia sentir a urgência na língua dele. Não havia uma polegada de espaço entre nossos corpos. Cruzei meus braços ao redor de seu pescoço, meus dedos deslizando nos cabelos macios. De repente, ele levantou a boca da minha. Cada respiração que ele tomava enquanto olhava para mim estava arfante, e senti isso em cada parte de mim. — Não posso acreditar que vou dizer isso, mas nós... Precisamos ir devagar. Meus lábios estavam inchados e minha pele zumbindo, mas meu coração estava prestes a sair do meu peito. — Eu... Eu não quero diminuir a velocidade. Seus olhos brilharam com uma cor brilhante e dourada quando seu braço me apertou. — Layla... — Eu não quero parar. — Minha pele sentia-se muito tensa enquanto eu me apressava. — Não quero diminuir a velocidade. Eu quero ir rápido. — No momento em que essas palavras saíram da minha boca, eu quis me bater. — Quero dizer, eu quero... — Entendo o que você está dizendo, — ele disse com a voz grossa. — Droga, eu sempre não entendo? Engolindo com dificuldade, fui novamente para sua boca, mas a mão na minha nuca me acalmou. Confusa, senti as ondas de constrangimento começar a construir. — Eu não... Entendo. Você não quer isso? — Isso é uma pergunta séria? — Sim.


Com o braço ele me levantou apenas mais alguns centímetros, até que nossos corpos estivessem juntos de todas as maneiras que contavam. — Qual você acha que é a resposta para essa pergunta? Calor explodiu pelas minhas veias, não por vergonha, mas porque eu podia sentir todas as partes dele. — Eu... Eu acho que você quer. — Não há nada que eu queira mais do que isso neste momento. Layla, eu quero você. Quero tanto que cada vez que estou sozinho com você – Inferno, sempre que estou perto de você – é preciso toda grama de restrição para não ter você. Não se engane, o próprio pensamento de estar com você me desfaz, — ele disse com a voz rouca, e eu estremeci com a intensidade de suas palavras. — Mas eu só quero ir lá se você estiver pronta. Não há meio termo. Eu espero o quanto for preciso. Uma maravilha absoluta me encheu. Era uma resposta tão não demoníaca, mais uma vez, e realmente tão diferente da maioria dos caras de qualquer espécie. No fundo, eu sabia que uma pequena parte de mim não estava inteiramente pronta até este momento, que eu estava fazendo isso por causa do potencial de nunca mais vê-lo depois de amanhã. Eu estava correndo em direção a isso porque eu temia que não tivéssemos a chance novamente, e essa realmente era a razão errada para querer levar nosso relacionamento para o próximo nível. Mas isso – o que ele acabara de dizer – apagou todas as minhas dúvidas. Não o nervosismo inerente que veio com uma coisa tão importante, mas venceu todas as preocupações persistentes que eu tinha. Eu estava pronta. Estava pronta porque ele estava disposto a parar. Ele estava disposto a esperar. Ele estava disposto a deixar-me definir o ritmo. Minha mão não tremeu quando a coloquei contra sua bochecha, e meu olhar ficou firme quando encontrei o dele. — Estou pronta, Roth. Seus olhos se fecharam. — Layla. — Ele disse meu nome com dureza. — Eu não sou um santo. Você sabe disso. Eu quero...


— Eu não quero que você seja um santo. Quero que você seja você, — eu disse a ele, movendo meu polegar ao longo do lábio inferior. — Eu amo você e quero isso. Ele não parecia respirar enquanto os segundos se estendiam entre nós. — Você tem certeza? — Sim. — Então, eu acenei com a cabeça para uma maior ênfase, no caso de estar confuso. Um longo momento passou antes de Roth mostrar qualquer reação ao que eu disse, e então ele sorriu. Não um grande, de tirar o fôlego, mas um menor, mais íntimo, que apertou meu coração. E então ele me beijou. O toque inicial de nossas bocas era diferente do beijo anterior. Era uma pena suave, dolorosa, um beijo de reverência. Eu nem sabia que você poderia ser beijada assim. Mas o contato... Evoluiu com a segunda passagem de seus lábios, e os meus se separaram, recebendo-o, e aquele beijo era muito mais que algo físico. Nesse beijo, eu podia sentir nosso amor um pelo outro, nossa aceitação um do outro. Era como tirar todas as nossas esperanças e sonhos e colocá-las em um beijo, e embalava uma emoção tão poderosa que foi um golpe para o nosso núcleo. Era apenas um beijo e era quase demais, e ainda não era suficiente, e era lindo. Roth levantou a cabeça novamente, mas desta vez não foi para nos impedir. Nossos olhares se chocaram, e uma riqueza de emoções mostrou em seus olhos castanhos quando ele olhou para mim. — Você me faz... — ele engoliu novamente. — Você me faz querer ter uma alma para que eu pudesse ser digno de você. Engoli fundo. — Você é digno de mim. Roth segurou meu olhar e então seus lábios estavam nos meus novamente. Estávamos nos movendo, e quando a parte de trás das minhas pernas bateu na cama, ele me guiou até eu estar deitada no meio dela. Minhas mãos reviraram para o edredom enquanto eu o observava de pé acima de mim. Seu sorriso era suave quando ele se abaixou e puxou a camisa, jogando-a em algum lugar atrás de mim, e minha barriga esvaziou enquanto seus magros músculos


se moviam com fluidez. Os gatinhos estavam fora dele, provavelmente escondidos em algum lugar da sala. A cauda de Bambi era visível ao longo da pele esticada e o dragão estava onde ele sempre estava. Ele foi até a mesa de dormir e pegou um pequeno pacote, jogando-o sobre a cama. — Não sei se podemos produzir uma criança, se eu posso ou você pode. Então, eu acho que precisamos ter cuidado. Meu rosto estava em chamas. — Boa decisão. Inclinando a cabeça para o lado, ele sorriu. — Sim. Talvez um dia nós venhamos a testar isso. Acho que meu coração pode ter parado, porque fazer um bebê não era algo que eu considerava brevemente. Crescendo, eu assumi que nunca estava nas cartas por causa do que eu era e não era. Fui ensinada que eu não tinha os atributos para a maternidade, e se isso significava que era geneticamente impossível para mim ou simplesmente não era a preferência dos Guardiões, eu não sabia. Mas a ideia de fazêlo no futuro era estranha, entusiasmada e assustadora. Movendo-se em direção à cama, colocou os joelhos de cada lado das minhas pernas enquanto rastejava acima de mim. O ar se estreitou em meus pulmões enquanto ele me cobria. Nossos olhos se encontraram, e jurei que Roth parou de respirar por um momento. Então, ele lentamente se abaixou, e o peso dele estava sobre mim. Ele me olhou, as pontas de seus dedos seguindo a curva da minha bochecha. — Quero que isso seja perfeito para você. Meu coração inchou. — Será, porque será com você. Um lado de seus lábios levantou. — Eu sinto como se... — uma risada sufocada o cortou. — Como se nunca tivesse feito isso antes. — Bem, somos dois então. — Eu sorri. — Assim, isso pode ser realmente bom ou...


— Será mais do que realmente bom, — ele disse, arrastando o polegar ao longo do meu lábio inferior, imitando minha carícia anterior. — Sim, será mais. Estremeci enquanto ele abaixava a cabeça e parou de me beijar. — Se, por qualquer motivo, você quiser que eu pare em qualquer ponto, diga-me. Ok? Promete? — Prometo, — sussurrei, envolvendo meu braço ao redor de seu pescoço. Algo suave e incrível passou por suas feições e depois nos beijamos, e nós nos beijamos pelo que pareceu uma eternidade. Cada beijo teve um efeito de droga, afrouxando a rigidez em meus músculos. E cada beijo era como uma borracha, removendo tudo deste pequeno mundo que estávamos criando. Eu me perdi nele, e ele se perdeu em mim. O tempo desacelerou e correu, e nós ficávamos quentes e corados conforme os beijos aumentavam, torcendo uns contra os outros. Quando Roth ergueu a cabeça mais uma vez, ele não falou ou se moveu por um longo momento, e meu peito apertou enquanto eu arrastava meus dedos em seus cabelos. Ele mergulhou a cabeça, beijando minha bochecha. — Lembre-se de sua promessa. Lembrei-me, mas não iria detê-lo e não negaria o que nós queríamos. Ele pareceu perceber, porque, quando se instalou sobre mim novamente, não me tocou, ele fechou os olhos, com expressão tensa. Eletricidade disparou entre nós, puxandonos como um sentimento cru pulsante. Volteei a cabeça, busquei sua boca e, quando achei, derramei tudo o que senti por ele no beijo. Minhas mãos deslizaram sobre os grossos tendões de seu pescoço, viajaram pelos músculos onde eles desciam em seus ombros, em seus lados magros e depois em volta de seu abdômen, indo mais baixo em cada cume tenso, e ainda mais baixo. Ele puxou um suspiro afiado quando alcancei o botão no jeans. Ele pegou minha mão, puxando-a e pressionando-a no colchão. Meu coração pulou quando o calor atingiu meu corpo. Sua pele parecia muito fina e havia sombras atrás da camada de carne quando ele levou a mão para a bainha da minha camisola. Eu realmente não estava pensando quando levantei meus ombros e a camisola acabou em algum lugar com sua camisa, ou quando levantei meus quadris e o último


pedaço de roupa desapareceu. Eu não estava pensando quando seu corpo se curvou e ele beijou o espaço logo abaixo da minha nova tatuagem. E não havia pensamentos quando, com as mãos trêmulas, ele começou a me explorar. Meu coração tropeçava sobre ele mesmo e o fogo na minha barriga se transformou em uma onda de lava derretida percorrendo minhas veias. Então, suas roupas saíram, e ele era possivelmente a coisa mais linda que eu já vi, e quando seus lábios encontraram os meus, eu estava quase superada pela força das emoções fluindo entre nós. E tudo – tudo o que ele começou a fazer foi francamente delicioso. Pressionávamos um contra o outro, esticados até que eu estava flutuando em sensações intensas. Minha pele ficou viva onde quer que tocava, e nossas mãos estavam em todo lugar – eu estava perdida nele enquanto seus lábios abriam um caminho ardente na minha garganta e mais abaixo, muito mais baixo, como antes e, como antes, eu me afundei com cada toque preciso e medido, e ele me recompensou com beijos profundos e lentos. Quando se elevou acima de mim novamente, seus dedos estavam nos meus quadris e ele tremeu enquanto pousava sua testa contra a minha. Nossa pele estava úmida, nossos corpos corados. — Eu preciso... Preciso de um minuto, — ele disse com uma voz baixa e áspera. Olhei para ele, o olhei e vi que ele estava perto de perder o controle de sua forma humana. Sua pele escureceu e alisou como granito. Quando vi seus olhos, eles estavam dourados, mas as pupilas esticaram-se verticalmente. Encorajada pelo efeito que tive sobre ele, toquei-o, lembrando o comentário que ele fez há muito tempo sobre ter piercing em outras áreas, e ele não estava brincando com isso. Ele fez esse som que enrolou os dedos dos meus pés. Seus olhos se fecharam quando seu peito afundou profundamente e, quando eles voltaram a abrir, suas pupilas voltaram ao normal. Suas mãos voltaram para mim e ele deslizou lentamente para baixo, até que ambos clamássemos pelo outro, incapaz de esperar, e então aconteceu.


Eu não estava inteiramente certa do que esperar, já que não era algo sobre o qual eu havia obtido detalhes antes, nem mesmo de Stacey. Houve uma centelha de dor que roubou minha respiração, mas Roth... Ele suavizou essa dor e a transformou em algo absolutamente incrível, requintadamente belo. Parecia estar em uma montanha-russa, prestes a cair a centenas de metros, e quando caí, Roth estava lá. E nunca experimentei nada assim antes. Era perfeito e poderoso, e enquanto Roth sussurrava aquelas três palavras uma e outra vez, nossos corpos se moviam um contra o outro. Neste momento, Roth não era o Príncipe Herdeiro e eu não era, bem, o que quer que eu fosse. Nós éramos apenas duas pessoas apaixonadas, e isso era tudo. Minutos podem ter passado, talvez até horas; eu não podia ter certeza, mas, eventualmente, nossos corações diminuíram e nós ficamos enrolados no meio da cama, seus braços ao meu redor, me segurando. — Você está bem? — Ele perguntou, soando como se não falasse há anos. Levei um momento para reaprender a falar. — Eu me sinto... Perfeita. Seus lábios escovaram os meus. — Eu não te machuquei? Balancei a cabeça quando meus olhos se fecharam. — Não. Você foi... — Surpreendente? Divino? Sensacional? Rindo suavemente, aconcheguei contra ele. — Sim. Para todas essas coisas. Seu abraço se apertou e nós não falamos por um longo momento, ele alisando sua mão ao longo das minhas costas, me acalmando em uma neblina agradável e relaxante. — Obrigado, — ele disse. — Pelo que você está me agradecendo? — Sussurrei. Roth beijou minha sobrancelha. — Por tudo o que você me deu.


Adormeci nos braços de Roth, mas quando estiquei meus braços em algum tempo depois, achei a cama vazia. Abrindo os olhos, encontrei-me com a escuridão. Ainda era noite, e enquanto movia os dedos dos pés, recusei a permitir que pensamentos da manhã flutuassem para a minha lânguida felicidade. Rolando, esperei até meus olhos se ajustarem ao escuro. Pensei que ele pudesse estar no banheiro, mas quando meu olhar atravessou o quarto, eu o vi no piano. Meu coração acelerou; minha mente imediatamente voltando para o que fizemos, e o que compartilhamos. Os lençóis estavam reunidos em torno dos meus quadris e eu estava com muita preguiça para arrumá-los. Em vez disso, cruzei os braços com força no meu peito. Ele estava sentado no banco, de frente para mim, com os braços estendidos sobre os joelhos dobrados. Não consegui distinguir a maior parte dele enquanto me aconchegava no meu lado. — O que você está fazendo? Roth levantou e saiu das sombras. Sua expressão estava relaxada e aberta, mas ele não parecia normal. Roth nunca poderia parecer normal, mas, enquanto ele


estava parado, ele parecia tão perto quanto ele jamais estaria. — Provavelmente vou parecer um louco, mas eu estava te observando. — Essa é a marca registrada de um louco. Um lado de seus lábios se curvou e uma covinha apareceu na bochecha direita. — Não posso evitar. Você é linda demais para se afastar. É verdade. Sou um demônio. Eu não minto. Olhei para ele. Seu sorriso se espalhou. — Levantei para beber algo, — admitiu. — E olhei para você. Nem sei por quê. Acabei de fazer e depois parei. Seu sorriso desapareceu um pouco. — Talvez eu não acredite que você esteja realmente aqui. Que estamos aqui. Ele ergueu um ombro e a pele se esticou sobre os músculos tensos. — E então sentei e comecei a pensar sobre... Sobre tudo com o Lilin, e agora tinha essa ideia de pegá-la enquanto você dormia e basicamente te sequestrar. O Havaí ainda parece um bom lugar. Dane-se o que quer que aconteça com o Lilin e tudo isso. Nós poderíamos sobreviver. Eu me certificaria disso. Estendendo as mãos, meus dedos enrolaram na borda do edredom. — Roth... Ele suspirou enquanto levantava a mão, esfregando os dedos através de seus cabelos escuros desarrumados. — Eu sei. Você não pode se afastar de nada disso. Nós não podemos. — Ele deixou o braço cair. — Então, era o que estava pensando enquanto eu olhava para você. — Aqueles olhos de âmbar brilharam com travessura e eu relaxei. Eu não estava pronta para que o mundo externo se intrometesse. — Eu lhe disse que você é linda? — Sim. — Levando minha mão para o ninho que era atualmente meu cabelo, eu ri, pressionando minha bochecha contra o travesseiro. — Mas não sei como você poderia pensar assim. Estou uma bagunça.


Ele inclinou a cabeça para o lado e virou, indo em direção ao banheiro. Depois de alguns segundos, ele voltou com uma escova de cabelo na mão. Com seus jeans desabotoados, os quais pendiam indecentemente baixos. Eu definitivamente poderia ver aonde ia a cauda. Não que eu não tivesse visto isso antes. Com as bochechas coradas, eu pressionei todo o rosto no travesseiro, escondendo o que deveria ser o sorriso mais famoso conhecido pelo homem. Apesar de toda a loucura que enfrentamos e a incerteza sobre o que a próxima hora ou o amanhã poderiam jogar sobre nós, meu pequeno pedaço do mundo ficou brilhante e quente. O que Roth e eu compartilhamos, o que fizemos, era maravilhoso e não era algo que eu pudesse simplificar com palavras. Para ser assim entre nós, deveríamos estar apaixonados um pelo outro – loucamente e profundamente apaixonados. Eu era o milho mais corajoso em um campo de milho cheio de pipoca. Roth tocou meu ombro. — Sente-se. — Nãooo, — murmurei no travesseiro. Ele riu. — Sente-se. Por favor. Os demônios raramente diziam por favor. Eu começava a pensar que não era uma palavra no vocabulário básico deles, então me sentei, puxando o edredom até o meu peito. Roth escorregou atrás de mim. Uma perna estava dobrada contra o meu lado, a outra pendia na borda da cama. Olhei para ele, mas antes que pudesse falar, baixou a boca para a minha e me beijou. O toque do metal gelado contra a minha língua foi muito breve. Ele se afastou e gentilmente virou meu queixo, então eu estava de frente, longe dele.


— Deixe-me ver o que posso fazer com isso, — ele disse, juntando meu cabelo. — Você está certa. Isso é uma bagunça. Parece que você poderia estar em um vídeo de música dos anos 80. O que você fez? — Eu não fiz nada. Isso. — Apontei para a minha cabeça. — Foi você que fez. Ele começou a passar a escova através do meu cabelo. — Culpe o demônio. Eu vejo como você é. Quando Roth abriu caminho através dos emaranhados, realmente me atingiu que o Príncipe Herdeiro do Inferno estava realmente escovando meu cabelo. Isso era além de bizarro, mas também incrivelmente doce. Meu brilho caloroso e distorcido desde o início estava se transformando em tristeza emocional. Lágrimas enchendo os meus olhos. Eu precisava de um estabilizador de humor. Roth foi extraordinariamente paciente quando se tratava de trabalhar os nós, mais do que eu. Neste ponto, eu costumava xingar e puxar a escova através do meu cabelo. Ele resmungava enquanto trabalhava, e eu imediatamente reconheci a melodia. — Paradise City é a sua música favorita? — Perguntei. — A música simplesmente ficou presa na minha cabeça, — ele disse. — Por alguns anos, tudo o que conseguimos levar para baixo era a estação clássica de rock, e a parte grama é verde sempre ficou na minha cabeça. Eu sorri, imaginando o Inferno recebendo a Sirius rádio. — Por quê? Houve uma batida de silêncio. — A grama nunca é verde lá embaixo, pequena. Meus lábios caíram nos cantos. — Não é? Que cor é?


— Cinza, — ele respondeu. — Tudo é praticamente cinza. Exceto pelo sangue. E há muito sangue. Um estremecimento abriu caminho pela minha coluna vertebral. — Soa amável. — É um lugar estranho. Como eu disse antes, ele imita a parte superior, mas faz um trabalho de merda. Tudo é brilhante no início, quase... Lindo. Toda vez que eu vou lá, é assim – é assim para todos, mas não demora muito para que as coisas comecem a ir ladeira abaixo. Isso desaparece. Os edifícios desmoronam, o céu parece estar poluído com sujeira, e a grama... Sim, é cinza. — Ele aliviou a escova no meu cabelo, parando em outro emaranhado. — Tudo é torcido e manchado lá embaixo. As coisas são reais aqui. Lá embaixo estão as réplicas tristes que se desmoronaram. Lembrei-me de quando Roth admitiu que esta era uma das razões pelas quais ele gostava de vir para a superfície. Meu coração ficou pesado. — Você... Terá que voltar? Ele não respondeu imediatamente, fazendo com que os nós se formassem na minha barriga. — Eu não sei, pequena. Se o Chefe me chamar de volta, eu só posso desobedecer por um período de tempo. Fechando meus olhos contra a dor no meu peito, eu sabia que era algo que acabaria por enfrentar. — O Chefe não o chamou de volta ainda? — Não. — Ele fez uma pausa, pressionando um beijo contra meu ombro. — O Chefe permite que a maioria de nós venha e vá como quisermos, a menos que seja necessário para algo. Enquanto eu permanecer no bom lado do Chefe, eu devo estar bem. Isso não foi reconfortante. — Mas pensei que o Chefe estava descontente com você.


— O Chefe está sempre descontente, — ele respondeu. — Há uma grande diferença entre ele estando descontente e eu estar no lado ruim do chefe. Levei essa afirmação ao coração, mas não consegui imaginar Roth ficar no lado bom do Chefe para sempre. — Não se preocupe com isso, — ele disse, voltando ao meu cabelo. Eu podia senti-lo separar as mechas agora desembaraçadas em três partes. — Neste momento, esse não é o maior dos nossos problemas. Resmunguei. — Verdade. Mas não posso deixar de me preocupar que um dia você vai... Que você vai simplesmente desaparecer. — Quero que você ouça quando eu digo isso. — Ele descansou o queixo no meu ombro, e quando virei minha cabeça em direção a ele, ele estava olhando para mim através de espessos cílios. — Nada neste mundo ou abaixo me impedirá de ficar com você. Nada, Layla. Essa é uma promessa que nunca vou quebrar. Uma emoção profunda e poderosa mexeu dentro de mim. — Eu faço a você a mesma promessa. Aqueles cílios grossos varreram, protegendo os olhos. — Você fará? — Sim. –— E eu quis dizer as minhas próximas palavras. — Eu não deixarei nada te afastar de mim, e isso inclui o seu Chefe. Roth riu enquanto levantava a cabeça, parando para pressionar um beijo contra o lado do meu pescoço. — Eu gosto quando você fica toda mal-humorada. — Ele voltou ao meu cabelo, voltando para as três partes. Passaram-se vários minutos. — Quando eu estava no abismo, eu realmente não achava que iria sair. Achei que o Chefe não se importaria o suficiente para tirar minha bunda feliz de lá, ou esqueceria. Mordi meu lábio enquanto ele falava. Roth nunca falou sobre seu tempo nos abismos sem ser sarcástico sobre isso.


— Honestamente não tenho ideia de quanto tempo eu fiquei lá. O tempo se move de forma diferente lá embaixo, — ele continuou, torcendo as partes de cabelo uma ao redor da outra. — Não foi agradável. — Um riso seco escapou dele. — Na verdade, aquilo era realmente uma merda, mas você me ajudou a passar por aquilo. Demorou um momento para que suas palavras afundassem. — Como? — Fácil. Pensei em você. Você era tudo o que eu pensava. — Sua voz silenciou enquanto meu coração espremia dolorosamente. — Eu me concentrei no tempo que passamos juntos, e tão louco quanto parece, pensei em você seguindo em frente com Zayne. Eu estremeci. Como foi útil? Segundos depois, ele respondeu a minha pergunta não dita. — Saber que você ficaria a salvo e, eventualmente, feliz, tornou-se um pouco mais suportável. E eu sei – eu sei – que Zayne teria dado a vida dele para protegê-la. Provavelmente ainda faria. Você estaria bem. Então, saber isso ajudou quando ficou... Bem, quando ficou difícil. Um nódulo formou na parte de trás da minha garganta. — Eu queria poder apagar o tempo que você ficou nos abismos. Os nós de seus dedos roçaram o centro das minhas costas enquanto ele continuava fazendo a trança. — Você já está fazendo. O nódulo triplicou. — E eu gostaria que você nunca tivesse se sacrificado. — Eu não mudaria nada. — Eu sei, — sussurrei, fechando meus olhos novamente. Levei um momento para encontrar as palavras certas. — Você sabe que eu me importo com Zayne profundamente. Isso nunca mudará. Embora, no momento, ele provavelmente preferiria me dar um pontapé no trânsito do que falar comigo, eu sempre vou amá-lo.


Pausando, respirei fundo. — Eu já disse isso antes. Eu amo Zayne, mas não estou apaixonada por ele, e não sei se isso mudou. Eu poderia ficar com ele? — Levantei um ombro. — Sim, eu poderia, mas nunca seria assim – como é entre você e eu. Não sei por quanto tempo eu ficaria feliz com Zayne caso nós ficássemos juntos e você nunca voltasse. Ou se ele continuaria feliz com ele mesmo, mas em algum momento, o que sentiria por ele não teria sido suficiente. Isso é injusto para ele. Então, estou feliz em saber que eu ter alguém ajudou você a superar isso e, para ser sincera, isso alivia minha mente, mas quero que você saiba que isso... Nunca teria sido suficiente para mim. Roth me alcançou, colocando a mão sobre meu coração. Ele apertou a palma da mão e levantei meu braço, cruzando a mão sobre a dele. Sua respiração estava quente contra meu ombro quando ele falou. — Eu sei. Desencaixando, ele colocou a trança sobre meu ombro. — Pronto. Estendi a mão e alisei meus dedos sobre a grossa trança. — Você é realmente bom nisso. Melhor que eu. Você praticou em seus amigos demoníacos? — Somente em todas as minhas bonecas. Eu ri enquanto Roth jogava a escova de lado. Ela saltou da extremidade da cama e caiu no chão. Um segundo depois, Fúria saiu da cama e se precipitou na escova. Seu pelo preto e branco cresceu e suas orelhas estavam espetadas para fora. O gatinho agarrou o punho da escova e depois a arrastou para debaixo da cama. Não tinha ideia do que planejava fazer com isso por lá. Virando, eu encarei Roth. Nossos olhos se encontraram. Ele sorriu. A próxima respiração que tomei foi tremida. — Eu te amo. Só queria dizer. — Eu desejo você. — Abaixando a cabeça, seus lábios percorreram o lado do meu pescoço, até o ponto sensível abaixo da minha orelha. – Eu quero você. Preciso de você. — Ele mordeu a parte carnuda do meu lábio, me fazendo ofegar. — E eu te amo.


A próxima coisa que eu soube era que estava de costas e Roth estava se sentando sobre mim, e aqueles dedinhos estavam viajando pelo meu pescoço e baixaram, e não demorou muito para que todo o trabalho que ele teve no meu cabelo fosse completamente desperdiçado das formas mais gloriosas. ***

Eu estava olhando meu reflexo novamente. Meus olhos ainda pareciam muito grandes e meu rosto estava corado, mas desta vez, eu não estava meio nua. O que, honestamente para com Deus, parecia ser um grande feito, considerando... Bem, uma vez que cruzamos esse novo nível de nossa relação, Roth realmente era... Meu rosto ficou mais brilhante e baixei o meu olhar enquanto puxava o colarinho do meu suéter. Ok. Eu precisava me concentrar. Ontem à noite, e no meio da noite, e esta manhã foi incrível, mas hoje ficaria louco. Eu estaria no Inferno. O nervosismo nem sequer tocava o que estava sentindo, e ainda não tinha ideia de como eu ia distrair Roth para que ele não soubesse o que eu planejava. Ele pensou que íamos procurar o Lilin. Ele mencionou visitar outro clube de demônio na cidade. Enquanto estava meio animada para isso, não aconteceria hoje. E eu também não sabia o que faria quando voltasse – se eu voltasse – porque Roth estaria bravo. Bambi se moveu nas minhas costas, acenando a cauda no lado esquerdo das minhas costelas, aproximando-se de cutucar Robin. Assim que me levantei esta manhã, ela se colocou em mim, o que não fazia parte do plano, mas não era como se eu pudesse brigar com ela por estar comigo. Roth saberia que algo aconteceu, o que era um saco, porque a última coisa que queria fazer era colocar Bambi numa posição precária.


Ela era praticamente nossa criança. Torcendo meus cabelos, empurrei um milhão de tic tacs e saí do banheiro. Roth estava encostado na parede, suas longas pernas cruzadas nos tornozelos, as mãos dentro dos bolsos de seu jeans. Eu o vi, e talvez eu tenha esquecido o que estava fazendo. Roth é impressionante. Com seus cabelos pretos caindo em olhos âmbar e a camisa agarrada a todas as áreas certas, ele estava de tirar o fôlego, mas era aquele sorriso, aquele que mostrava suas covinhas e transformava todo o seu ser quando ele me olhava. E ele estava sorrindo para mim assim agora. — Eu gosto das suas calças, — ele disse. Eu olhei para baixo. Elas eram pretas. Couro. Suspirei. — Nunca vou permitir que Cayman vá as compras novamente. Ele riu quando se afastou da parede. — Espero que ele cuide disso de agora em diante. — Passando por mim, em direção à porta, ele deslizou a mão sobre minhas pernas revestidas de couro. — Ou, pelo menos, mantenha isso. Revirei os olhos enquanto eu me virava. — Mmm. — Seu olhar percorreu-me. — Por favor, mantenha-os. Rindo, levantei as mãos sobre as costas e empurrei-o para a porta. — Somente porque você pediu gentilmente. — E porque sua bunda parece deliciosa nelas? — Jesus, — engasguei, balançando a cabeça enquanto ele fechava a porta. No corredor, ele colocou o braço sobre meus ombros e me puxou perto de seu lado. Começamos a andar pelo corredor. — Eu acho que essa é uma razão válida.


— Tenho certeza que você acha. Sua mão moveu ao longo do meu braço enquanto atingíamos a escada e começávamos a longa viagem até o lobby. — A aparência da sua bunda é uma coisa muito importante ao comprar calças, pequena. Apertei meus lábios juntos para não rir. — Tenho certeza de que há coisas que são ainda mais importantes. Ele zombou. — Como o quê? — Oh, eu não sei. Que tal o conforto? — Chato. — E a utilidade? Ele me enviou um olhar. — Não há nada mais útil que as calças de couro. Elas protegem sua bunda enquanto faz com que pareça bem. Estávamos perto do primeiro andar. — Você tem uma resposta para tudo, não é? — Sim. — É irritante, — murmurei, e olhando para a porta de cimento cinza meu pulso chutou. — Você ainda me ama, — ele respondeu. — É verdade. — Concordei com meus ombros quando Roth abriu a porta. Saímos para o lobby grandioso com o braço ainda pendurado sobre meus ombros. Como na primeira vez que vi o lobby, era impressionante. Não consegui ver muito, porque sempre entramos pela garagem ou na entrada do loft e depois entrávamos na escada.


Um enorme candelabro pendia no centro do lobby, lançando luz brilhante em todos os cantos, mas era o mural pintado no teto que realmente chamava a atenção. Anjos. Muitos anjos pairando acima, se envolvendo em uma batalha dura, lutando uns contra os outros com espadas ardentes. Alguns estavam caindo através de nuvens brancas. Outros levantavam suas lâminas. O detalhe era extraordinário, até as chamas vermelho alaranjadas e as carinhas de dor. Até o brilho virtuoso em seus olhos estava lá. Rapidamente desviei o olhar da pintura, perturbada quando antes apenas me divertia. Os sofás de couro vintage estavam em toda parte, e eles não estavam vazios. Pessoas de todas as idades estavam espalhadas, sentadas sozinhas ou em grupos, conversando e rindo. Alguns conversavam em telefones. O aroma do café era espesso no ar. Para um humano, todos seriam normais, mas seus olhos tinham brilhos estranhos. Não eram exatamente pessoas, não no sentido técnico. Alguns me deram um olhar estranho. Outros absolutamente me ignoraram. Uma, uma jovem vestida com algum tipo de bustiê, eu podia ver facilmente as compras do Cayman, parada em uma poltrona reclinável, seus olhos arregalados brilhando enquanto ela atravessava o vestíbulo, desaparecendo por um corredor. Não tinha ideia se isso tinha a ver comigo ou com a presença de Roth. Eu realmente não conseguia entender a dinâmica dos demônios quando se tratava de Roth, mas nenhum dos demônios passando pelo lobby chegou perto de nós. Quando comecei a me dirigir para Roth, Cayman apareceu no meio do lobby, sob o candelabro. Enrijecendo, eu o observei se aproximar de nós, sua camiseta havaiana rosa floral possivelmente a coisa mais agradável que eu já vi. — Ok. Eu troco oficialmente minha opinião sobre as compras de Cayman para você, — Roth disse.


Eu ri. Cayman ignorou os comentários. — É uma ótima manhã, não é? — Ele disse brilhantemente, pisando ao lado de Roth. — O sol está lá fora, mas eles dizem que terá neve esta noite. Muita neve. Tanta neve... O som de crack me sacudiu. Ele se moveu tão rápido que não percebi o que havia feito até as pernas de Roth se dobrar e entrarem em colapso. Com o coração pulando na minha garganta, eu tentei agarrar Roth, mas ele era muito pesado e acabei caindo de joelhos. Cayman havia quebrado o pescoço de Roth.


Horror me encheu quando a cabeça de Roth caiu de lado em um ângulo estranho. — Oh, meu Deus! — Eu gritei, olhando para Cayman. — O que você fez? O que você fez...? — Nós precisávamos distraí-lo. — Ele gesticulou no chão. — Ele está distraído. E você não tem ideia de quanto tempo eu queria fazer isso. Deixe-me ter o meu momento. Minha boca caiu aberta. Um demônio caminhando pelo lobby carregando café em copos brancos girou sobre seu salto preto pontudo. — Não quero ser parte disso, — ela disse, apressandose. Minhas mãos tremiam enquanto ainda olhava para Roth. Não consegui respirar, e enquanto resistia, minha pele começou a endurecer, a pele de cada lado da minha espinha tingiu. — Uau. — Cayman levantou as mãos. — Calma, demônio agachado, Guardião escondido. Ele está bem. Olha, se ele estivesse gravemente em perigo, Bambi sairia


de você em dois segundos. Ele vai acordar em alguns minutos, e vai acabar comigo ao perceber que você se foi, e quando eu quebrar o pescoço dele para impedir que ele vá atrás de você, nós vamos repetir, então, por favor... Por favor, não demore pra sempre. Meu coração não desacelerou. — Se ele estiver machucado... — Ele não está, — disse um demônio do sofá, seu rosto cinza enquanto olhava para Roth. — Você não pode matar o Príncipe assim, e quando ele acordar... — Sim, ele ficará chateado. — Cayman suspirou. — Eu nem consegui dizer adeus para ele, Cayman. — Tomei uma respiração superficial. — E se eu...? — Não termine essa frase. Você voltará. Layla, você precisa ir. Não deixe que a culatra que eu vou receber seja em vão. Você precisa ir. Ele apontou para trás e olhei para os elevadores pintados de ouro. Eu precisava ir. Com o coração batendo, eu me ajoelhei e escovei meus lábios ao longo da bochecha de Roth enquanto alisava minha mão sobre sua cabeça, tirando o cabelo do rosto dele. Eu não queria deixá-lo. Queria ficar lá até ele abrir os olhos, mas não consegui. — Eu amo você, — sussurrei; a voz sufocada enquanto eu fechava minha mão direita em um punho. Em pé, eu me virei para Cayman e abaixei meu braço, golpeando-o bem no estômago o mais forte que pude. Vários demônios ofegaram. — Ouch, — ele grunhiu, dobrando-se e apertando o estômago. — Bendito seja Moisés.


Sentindo um pouco melhor sobre a situação, forcei-me a girar e caminhar em direção ao elevador. Não olhei para trás, porque se eu fizesse, não tinha certeza de que continuaria andando. Gostaria de pensar que eu teria, que eu reconheceria que esta situação era maior do que eu e Roth, mas não sabia se eu era tão boa, tão altruísta. Os elevadores dourados esperavam por mim e bati o botão redondo no painel um pouco mais do que o necessário. Com um gemido suave e quase humano, as portas se abriram. Entrei, virando-me para enfrentar o corredor. Cayman apareceu na frente dos elevadores, esfregando o estômago. — Cuidado, Layla. Lembre-se, nada no Inferno é o que parece. Antes que eu pudesse responder, as portas fecharam e o elevador entrou em movimento. Retrocedi, engolindo com dificuldade quando começou a descer lentamente. Não havia música, nem painéis internos no elevador, e a porta parecia ser feita de algum tipo de material estranho. Escovei os dedos pelo interior da porta e então afastei minha mão com um suspiro assustado. Parecia... Como pele. Meu estômago apertou, e pensei que poderia vomitar enquanto ele ondulava. Um estranho brilho laranja refletiu nas paredes do elevador. Elevando meu olhar até o teto, bati minha mão na minha boca. Não havia realmente um teto acima de mim. Um telhado de chamas se mexia, queimando, brilhando ao longo das bordas das paredes. Meus olhos se arregalaram conforme eu esperava isso engolir todo o elevador, mas as chamas não se espalharam. O elevador sacudiu e aquela lenta descida acelerou.


Fui derrubada contra a parede. Estendendo as mãos, segurei o trilho enquanto o elevador caía rapidamente. Meu coração golpeando, meus dedos dobraram por quão forte eu estava segurando o pedaço de metal. O elevador parecia que ia se partir. Sem aviso, ele parou, me soltando. Meus joelhos atingiram o chão, a dor pálida em comparação com a tontura repentina que me apreendeu. Demorou vários minutos para a tontura diminuir, e percebi então, o elevador parou de se mover. Levantando, acabei de me endireitar quando as portas do elevador se separaram suavemente. Minha boca se abriu quando recebi meu primeiro vislumbre do... Inferno? De modo nenhum. O que estava além das portas abertas do elevador eram paredes brancas – um chão branco, um teto branco. Branco brilhante. Prístino. Meus pés me levaram para fora do elevador, em um amplo e vasto lobby circular com centenas, senão milhares de corredores. Havia música tocando. Horrível, alegre música de lobby; o tipo que o deixaria louco caso você tivesse que escutar por mais de cinco minutos. Não podia acreditar no que via. O Inferno tinha um lobby. Nada guardava o lobby. Nenhum demônio esperava para atacar, e isso me surpreendeu. Então, novamente, Cayman me advertiu que nada no Inferno era o que parecia. Talvez eu simplesmente não visse os demônios. Enquanto andava por aí, procurando por perigos ocultos, percebi que havia placas douradas nas paredes perto de cada corredor, exibindo os nomes de... — Caramba, — sussurrei. Os nomes de todos os demônios foram claramente gravados nas placas douradas. Alguns eu não reconheci. Outros fizeram meu estômago torcer e depois apertar. ABADDON. VINE. MOLOCH. BAEL. Os nomes continuaram. Em frente ao elevador estava o corredor rotulado como O CHEFE e, ao lado, era um que prendeu minha respiração.


ASTAROTH. Eu quase entrei, porque algo dentro de mim queria ver como Roth realmente morava quando ele estava aqui, mas me detive. Não tenho tempo para isso. Em frente a esses nomes estavam OS ABISMOS. E lá, três abaixo disso, era o nome que eu estava procurando: GRIM. Tomando uma respiração profunda e intensa, caminhei rapidamente para o corredor com o nome de Grim e, em seguida, atravessei o túnel longo, brilhantemente iluminado e relativamente frio. Não havia janelas. Sem aromas para sentir. O ar estava estagnado, mas limpo, e ainda assim, os cabelos do meu corpo começaram a subir. Cheguei a um duplo conjunto de portas sem janelas e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, elas abriram silenciosamente, revelando um mundo que eu nunca vi enquanto uma explosão de calor opressivo entrava em mim. Parando uma polegada da saída, mordi o lábio. Isso... Era o que eu esperava. De certa forma. O céu além do corredor estava vermelho queimado. Não havia nuvens. Sem sol nem lua. Apenas um vermelho profundo e alaranjado que parecia não ter fonte. O cheiro de enxofre e algo que eu não conseguia distinguir fez meu estômago revirar. Uma estrada feita de algum tipo de pedra separava edifícios altos, de cor cinza. Eles se levantavam como arranha-céus, alcançando aquele estranho céu, as janelas escuras, sem sinais de vida dentro deles. Meu olhar rastreou os edifícios formidáveis e intimidantes até a estrutura maciça no final da estrada, a vários quarteirões da cidade. Era o maior de todos os edifícios, mas projetado como algo direto da Idade Média. Campanários idênticos subiam de ambos os lados do telhado de piche e davam a impressão de que era mais uma fortaleza do que uma casa. Como o complexo em que cresci. Engoli com dificuldade, sabendo que era onde eu teria que ir, porque, claro, não era como se o Grim pudesse viver em uma linda casa com uma cerca de piquete


ou algo assim. Oh não, tinha que ser o castelo do Senhor dos Anéis todo o caminho até lá. Sabendo que eu não tinha muito tempo e que, em geral, ele trabalhava muito diferente aqui, vesti minhas roupas de menina grande e saí do corredor. Aconteceu imediatamente. Sem qualquer aviso, um arrepio ondulou em minha pele e senti Bambi e Robin deixarem o meu corpo. Em pânico, tentei detê-los, porque não tinha certeza se Robin estava pronto para isso, mas não havia como chamar de volta. Duas sombras saíram debaixo da minha camisa, formando dois círculos em forma irregular. Eles tremiam e depois caíram na estrada de pedra, derramando em um milhão de bolinhas que se juntaram. As bolas pretas cheias de tinta levantaramse no ar, mas elas não caíram no chão como normalmente fariam. Os pontos giraram e giraram até formar uma densa sombra. Diante de mim, conforme minha boca se abria, as pernas se formaram, juntamente com torsos, braços e cabeças. Por um segundo, eles eram duas piscinas em forma de pessoas de óleo preto, e então, dentro de um batimento cardíaco, a obscuridade deu lugar ao detalhe. Um menino e uma menina ficaram na minha frente. Minha mandíbula começava a doer de quanto tempo eu estava boquiaberta, mas não consegui fechar minha boca. Não eram meninos e meninas. Na verdade, eles pareciam um pouco mais velhos do que eu, mas eles eram definitivamente da variedade humanoide masculina e feminina. O cara era alto e esbelto, com cabelos castanhos que caíam em olhos de cor carmesim. Sem camisa, ele era toda graça afiada. Uma fina varredura de cabelo avermelhado cobria sua pele nua. Ao lado dele estava uma mulher de cabelo vermelho escuro, quase combinando com seus olhos. Vestida com uma camisa preta e jeans,


ela quase parecia normal. Quase. Os remendos de sua pele não eram exatamente... Pele. Mais como pequenas escamas, todas muito semelhantes a serpentes. Meu Deus. A mulher sorriu intensamente. — Ei, menina, ei. — Ei, — eu disse lentamente, olhando entre os dois. — Um... Levantando o queixo em uma saudação, o nariz do cara se contraiu e então... Então seus ouvidos fizeram o mesmo. — Oi. Meu Deus. — Eu sabia que você estava planejando travessuras, e eu estava certo! — Virando-se para o cara, a menina ergueu a mão, para se cumprimentarem. — Eu te disse isso. Disse que ela viria aqui. Então, você deve estar feliz por eu estar aqui, então você não será comida por dragões. E sim, há dragões aqui. E não tão bons como Tambor, também. — Você é tão inteligente, — ele respondeu secamente. — Maldito tootin10. — Ela girou em minha direção. — Ele não é muito útil agora, já que ele é novo em tudo isso. Eu precisava vir junto. — Você... Você é... — quase não consegui dizer para mim. — Você é Bambi. Pulando, ela bateu as mãos juntas. — E você é Layla. E ele é Idiota. Idiota suspirou. — Eu sou Robin. Você sabe, seu verdadeiro familiar. Não o parasita que precisa voltar para o papai. Bambi bufou. — E se você voltar para você mesmo. Hã? Que tal?

10 Usado para dar ênfase.


Isso não fazia sentido, mas o fato de eu estar olhando para Bambi e Robin e eles pareciam humanos também não fazia sentido. — Então, vocês dois... É assim que vocês realmente são? Ela assentiu. — Sim. Quando podemos, o que tragicamente não é muito frequentemente. Mas podemos falar um com o outro mesmo em nossas formas de animais. Um tipo de telepatia. — Ela fez beicinho. — Robin aqui é um chato. Ele realmente dormiu o tempo todo. Ele franziu o cenho em sua direção. — Porque eu precisava estar carregado. — Seja como for, — ela brincou. — Eu sinto falta dos meus meninos. Nitro, Fúria e Thor. Eles são divertidos. Tambor é como você. Outro furão que apenas dorme o tempo todo, e quando ele não dorme, ele é uma ferramenta mal-humorada. Pisquei lentamente enquanto Bambi erguia os seus braços acima de sua cabeça, se esticando. Seu tom rosado aumentou, piscando em um estômago retesado, e de repente me dei conta que Roth tinha uma garota nele. Roth teve uma garota nele, o tempo todo! Em muitas partes de seu corpo. E eu tinha um cara no meu estômago! Roth e Cayman falharam em mencionar esse pequeno detalhe. Um sentimento feio e insidioso penetrou em mim e não consegui me impedir de dizer: — Você está em Roth. — Hum, sim. E às vezes, eu estou com você. Duh. Ela franziu a testa. — Você machucou sua cabeça ou algo assim? Ok. Apertei os olhos brevemente. O ciúme era ridículo. Eu não podia estar com ciúmes de Bambi, que poderia ser uma garota sexy, mas também era uma cobra na maior parte do tempo – uma cobra legítima e gigante que comeu coisas grosseiras.


Além disso, eu tinha um cara em mim: — Oh, meu Deus, — gemi, olhando para Robin. — Você estava em mim ontem à noite. Você estava comigo... — No momento em que todos começaram a perder roupas, eu totalmente saí. — Ele ergueu as mãos, enrugando o nariz. — Não queria ver nada daquilo. Não sentir nada daquilo. — Eu... — não havia palavras. — Olhe, — Bambi disse, — Na maior parte do tempo que estamos com você, não estamos prestando atenção ao que você está fazendo. Bem, não é verdade. Quando você estava com Zayne, eu estava prestando atenção. Eu belisquei a ponte do meu nariz. — Então, os gatinhos? Eles... — Eles são sexys. Oh, meu Deus precioso, eles são trigêmeos, — Bambi disse, batendo meu braço com força suficiente para me fazer cambalear. — Trigêmeos, Layla. Na verdade, eles são três. — Eu entendi isso. — Esfreguei meu braço ardente. — Obrigada. Robin cruzou os braços ao lançar um olhar para o céu alaranjado. — Tenho a sensação de que não deveríamos estar aqui. — Isso é incrivelmente estranho, — murmurei, tentando entender o fato de estar falando com os familiares. Bambi virou o cabelo carmesim sobre o ombro. — Eu acho que é fantasticamente delicioso. — Avançando, ela apontou a língua na direção de Robin. Mesmo em sua forma humana, a língua ainda estava bifurcada. — Mas você sabe o que não é delicioso? Seu gosto de homens. Eu realmente esperava que você se ligasse com o Zayne. Ele parecia gostoso. — Você já comeu um Guardião...


— Querida, esse não é o tipo de comida que penso quando acendi os olhos naquela grande e loira bola de doce e doce amor. Meus olhos se arregalaram enquanto Robin revirava o dele. — Eu sou... Uh, desculpe decepcioná-la? Bambi continuou como se eu não tivesse falado. — Eu gostei quando ele me acariciou e acho que você também gostou, — ela disse, e meu rosto ficou em chamas, porque eu sabia exatamente o momento a que se referia. — Mas eu me pergunto como ele se sentiria se soubesse que parte de mim ele estava realmente acariciando. Não era meu pescoço. — Isso é nojento, — Robin disse. Ela riu. — Foi fantástico. Ok. Eu sabia que precisava me concentrar nas coisas importantes, mas ainda estava presa no fato de estarem aqui. — Como isso é possível? — Perguntei. Bambi abriu a boca, mas foi uma voz masculina atrás de mim que respondeu. — Ah, falando como um verdadeiro recém-chegado. Permita-me esclarecê-la, jovem inocente. Sempre que os familiares estão no Inferno, eles tomam automaticamente essa forma. Obviamente, ninguém pensou em dizer-lhe, porque eles acreditavam que isso não seria um problema. Girando, lutei contra o desejo de me afastar. O instinto exigiu que eu me afastasse, ficando longe do homem alto que estava na frente das portas que levavam ao corredor. Alto realmente não lhe fez justiça. Ele deveria ter cerca de 2 metros e 10 de altura. Um homem robusto e bonito, se barba escura e olhos duros e glaciais fossem o seu tipo. — Eles também podem tomar essa forma na superfície, — ele continuou.


Bambi riu atrás de mim. — Astaroth me deixa fazer isso. Não frequentemente. Mas quando ele deixa, é sempre divertido. Eu queria que ele deixasse com mais frequência. O homem arqueou uma sobrancelha. — Provavelmente não é a mais sábia das decisões. Veja, — acrescentou, voltando a atenção para mim, — Os familiares têm muito pouco controle de impulso, e eles não operam por nenhuma bússola moral humana. — Caramba, não fazemos, — Bambi concordou. — Você e eu precisamos conversar, — o homem me disse, levantando a mão. Ele estalou os dedos, e senti mais do que vi que os familiares desapareceram. — Não se preocupe. Eles estão bem. Bem, eles serão advertidos para ficarem longe dos abismos e de qualquer demônio que esteja um pouco bravo com o Príncipe, mas tenho certeza de que esses dois causarão mais problemas do que qualquer problema que possa encontrá-los. Tenha certeza de que eles serão devolvidos a você uma vez que você sair. Meus olhos se arregalaram quando minha frequência cardíaca subiu. Não vi uma aura ao redor do homem, mas se eu tivesse, eu imaginei que seria escura e vasta. Poder irradiava dele, o tipo supremo. Ele não fez um movimento em minha direção, mas eu sabia que dentro de um segundo ele poderia acabar comigo. Ele poderia acabar com todos nós. — Eu sabia que você viria, — ele continuou; seus lábios se curvando um pouco atrás da barba. — Eu até apurei minha chegada dos portões perolados em antecipação a esse momento. Mas você não tem nada a dizer, criança? Afinal, você queria me ver. E aqui estou eu. Esse era o Grim... Grim Reaper.


Óleo santo de canola na minha cara, eu estava me esforçando para não me descontrolar, mas este era um Ceifador de Almas, e ele estivera esperando por mim. Claro que ele esteve, porque ele era quem ele era, e provavelmente via tudo. O que era estranho de pensar. Um tremor de inquietação me percorreu quando um milhão de perguntas brotaram, as que eu sabia que não deveria perguntar a ele. Mas eu queria. Eu queria saber se ele realmente era o anjo da morte. Se eu poderia levar Sam agora? Se ele conhecia Lilith? Se ele viu para onde Elijah foi depois que o Lilin o matara? E o que aconteceu com todas as outras pobres pessoas? As perguntas continuaram sendo liberadas, e levou tudo em mim para permanecer em silêncio. O Grim sorriu atrás de sua barba aparada. — O Príncipe ficará muito chateado com você quando voltar. — Sim. — Não havia como negar isso. Eu só esperava voltar. Seu sorriso se espalhou, mas não alcançou seus olhos ou suavizou seu rosto. Francamente, isso o tornou mais assustador. — Especialmente tendo em conta que


bloqueei qualquer entrada para o inferno. Ele não pode vir por você. Eu não queria ser interrompido, precisamos de nosso tempo juntos, e sim, eu tenho esse tipo de poder e alguns mais. Meu coração bateu mais fortemente enquanto minha boca secava. Nosso tempo juntos me deu calafrios. No entanto, eu não podia voltar. — Eu precisava vir. Precisava... — Eu sei por que você está aqui, mas não quero falar sobre isso. — Ele começou a caminhar e passou por mim, para a fortaleza. — Ainda não. Virei-me para segui-lo. — Mas. — Se for sábia, você não irá me questionar. Por favor, me diga que você é sábia. Desgostosa, me contive do que realmente queria dizer. — Eu gosto de pensar que sou. — Então, você caminhará comigo, — ele respondeu com cortesia simulada, jogando as palavras por cima do ombro. — E vai falar comigo sobre o que eu quero falar. Eu não tinha ideia do que o Grim poderia querer falar comigo que não tivesse a ver com Sam, mas eu corri para alcançá-lo. — Essa é uma garota inteligente, — murmurou enquanto caminhava pelo centro da estrada vazia, com as mãos enfiadas nos bolsos da calça. Os edifícios que nos rodeavam estavam silenciosos. — É uma pena, no entanto, que você não seja muito observadora. Pressionando meus lábios para me impedir de dizer alguma coisa que eu certamente que me arrependeria, me concentrei nas pedras na estrada. Elas também tinham um tom avermelhado.


— Por exemplo, o que você acha que sabe sobre a sua mãe? — O Grim perguntou, surpreendendo-me. — Sim, Lilith. É disso que eu quero falar. Você sabia, criança, que Lilith não é um demônio? Bem, não exatamente? Por um momento, não pude falar. — Ela é um demônio. Todo mundo diz. — Todo mundo pode dizer o que eles gostariam de dizer, mas isso não significa que estejam corretos, e a verdade é que às vezes eles se perdem na tradução quando os fatos não são conhecidos, — ele respondeu; os cantos de seus lábios se curvando. — E a verdade é que os fatos são que Lilith não é simplesmente um demônio. Passamos um edifício estilo cabana, esmagado entre os arranha-céus mais altos e mais frios. Pelo canto do meu olho, pensei ter visto o movimento na janela da cabana, mas quando olhei, não vi nada. — Eu... Não entendo. — Tenho a sensação de que você entende muito pouco. — Deixou sair o insulto bastante bem. — Você conhece a história de Lilith, certo? Ela foi expulsa do Éden porque ela era, bem, exigente. A partir daí, ela se juntou aos demônios, e disso criou uma nova classe deles, mas nada disso aconteceu imediatamente. Oh não. Veja, a difícil situação de Lilith havia ganhado a simpatia de um ser muito poderoso. Ela se tornou... Amiga de um aliado improvável, e quando o Éden caiu e todos os seus antigos habitantes foram despojados de sua imortalidade devido ao pecado, assim foi com Lilith. Seu novo amigo, bem, esse ser não sentia que era justo que Lilith fosse... Punida novamente. — Eu acho que posso adivinhar quem era esse ser, — disse, esperando que ele não me atingisse até o próximo século por tentar fazer isso. — O Chefe? — Correto. Na época, eles eram duas ervilhas em um lugar perturbado. O Chefe não havia criado nenhum demônio antes de conhecer Lilith e não tinha ideia de como fazer isso, mas o Chefe se recusou a permitir que Lilith tivesse uma morte mortal. Quem sabe o Chefe tivesse uma verdadeira afeição por Lilith ou simplesmente


fez isso como uma forma de... Dar ao grande homem no céu o dedo médio mais uma vez. O porquê de tudo isso realmente não importa no final. — O Chefe descobriu que o sangue de um anjo original que havia caído, se bebido, concedia a imortalidade, entre outras coisas. Esse sangue foi dado a Lilith e sua imortalidade foi restaurada. — Ele fez uma pausa enquanto eu processava esses novos conhecimentos. — Tenho certeza que o Chefe lamenta esse presente agora, mas pensar no passado é inútil. Ele abriu um largo sorriso quando nos aproximamos de uma ponte estreita construída com as mesmas pedras em que caminhamos. O cheiro de enxofre e metais ficou mais forte. — Assim que, Lilith... Realmente não é um demônio, afinal. Era, também, o quer que fossem as primeiras pessoas, então era mortal, e, em seguida, conseguiu o sangue de um anjo caído. — Minha careta cresceu. — Sim, isso... O que diabos ela é, então? Um ombro levantou quando ele olhou para mim. — Quem no mundo é você? Um arrepio correu pelas minhas costas, apesar do ar ácido e sufocante. — Acho que eu realmente não sei. — É interessante ver como a natureza sempre cuida de si mesma, desenvolvendo um sistema de controle e equilíbrio, sua própria lei de equilíbrio. Apesar de ter sua imortalidade restaurada, Lilith tinha uma fraqueza, basicamente um interruptor para desligá-la. Se ela gerasse um filho naturalmente, se algo acontecesse a esse filho, isso acabaria com ela. Ao dar-lhe a vida, ela finalmente colocou em movimento a única arma verdadeira que poderia matá-la. Natureza. Essa é a verdadeira cadela. Meus olhos se arregalaram. Então, isso significava que... Quando eu morrer, Lilith também morreria? Eu era o interruptor dela. Uau.


— Para ser honesto, eu nunca entendi por que ela decidiu correr o risco de criar você. Sem ofensa. — Não me ofendi, — murmurei. — Talvez ela não soubesse nada sobre o... Interruptor que a mataria? — Oh, eu tenho certeza que ela sabia. A arrogância dela rivaliza com a do Chefe, — ele respondeu, e eu enrijeci, quase esperando o Chefe aparecesse diante de nós para nos fazer pagar pelo insulto. — Ela pensou que seu filho seria como ela, um traidor, obcecado pelo poder e controle. Foi um plano sinistro. Fornicar com um Guardião, deixando a criança para ser criada entre o inimigo, para finalmente usurpar os Guardiões e, possivelmente, até mesmo o Chefe. Lilith queria o mundo, já que sentia que tudo fora tirado dela quando foi exilada do Éden. Não importava que tivesse recebido a imortalidade novamente e poderia ter encontrado algum senso de paz. Ela queria se vingar de toda a humanidade, sempre quis e sempre irá querer. A gravidez foi um plano sinistro, mas, em última análise, um esforço falho, já que você não é como ela. Não dessa forma. — Não, — sussurrei, dando um passo em direção à ponte. Não sabia como me sentia ter a confirmação de que, para Lilith – minha mãe – eu não era nada mais que uma ferramenta, uma arma em uma guerra sem fim. Raiva e decepção se misturaram, e eu me obriguei a dar uma risada áspera. O que eu tinha significado para Lilith não poderia me importar agora. Não importava antes. — Eu não sou como ela. — Mas você também não é como os Guardiões, ou assim pensa. — Ele riu suavemente, parando para olhar por cima da parede de pedra da ponte, para o rio abaixo. E será que o rio era de que. De um vermelho escuro, o rio borbulhava e espumava com lodo, e tive a sensação de que era o lugar de onde vinha o cheiro desagradável. Eu não queria saber do que era realmente o rio, mas parecia algo pesado, então duvidei que fosse água.


— Vou lhe contar uma pequena história, uma que você deve prestar muita atenção. Eu não sabia se poderia lidar com outra história, mas me forcei a me concentrar. Retirando suas mãos dos bolsos, ele as colocou levemente no muro. — Quando os anjos foram enviados para iluminar o homem, eles falharam da maneira mais gloriosa. Eles sucumbiram ao mal e à tentação, tornaram-se gulosos por comidas e bebidas. Eles fornicaram. — Ele fez uma pausa para sorrir, e olhou para mim. — E houve muitas falhas, Layla. Tantas que o grande cara no céu sabia que ele tinha um grande problema em suas mãos. Esses anjos eram poderosos, criados a partir de suas próprias virtudes, e eram desonestos. Eles poderiam desfazer tudo o que ele criou, então eles deveriam ser lidados, castigado pelos Alfas. Perdida

em

uma

parte

da

história

que

nunca

foi

voluntariamente

compartilhada ou falada, fiquei em silêncio enquanto ouvia. Também tentava não respirar muito profundamente, porque o cheiro estava perto de me fazer vomitar. — Alguns dos que caíram, os anjos originais enviados para o homem, escaparam do castigo ao descer para o Inferno. O Chefe lhes deu as boas-vindas de braços abertos. Eles eram seus caídos, os originais que outros demônios temem. Há aqueles que se referem a eles como demônios, mas eles não são e nunca foram criados pelo Chefe ou gerados por outro demônio. Seria conveniente lembrar-se de onde eles vieram, — ele explicou, inclinando a cabeça para cima. Seus ombros ficaram tensos sob a camisa branca que ele usava. — Em seguida, houve aqueles que caíram, e que assumiram a sua punição, essas criaturas piedosas que se deram conta de que estavam falhando e cujo amor por seu criador era maior que seu desejo de liberdade. E foram punidos. Você sabe como, Layla? Meu nome derivou de seus lábios como uma explosão ártica e estremeci. — Não.


Ele se virou para mim, encostado na parede com uma confiança na estrutura que eu não compartilhava. — Eles se transformaram em pedra. Engoli em seco quando compreensão me derrubou. — Você compreende o que eu quero dizer. — Seus olhos brilharam friamente. — Aqueles que caíram e aceitaram sua punição foram transformados em pedra e receberam uma horrível aparência bestial não apenas para lembrar a humanidade que existia o mal, mas para servir como uma lição tangível para aqueles que deveriam estar acima da tentação, de que eles também podem cair em desgraça. — Uau. — Minha cabeça girava. Os Guardiões eram originalmente anjos que caíram? De repente, quando Roth zombeteiramente os chamou de – rejeição celestial, fazia sentido. Ele sabia, mas sempre disse que não era sua história para contar. — Durante muitos séculos, os penitentes caídos permaneceram enterrados, até que os Alfas os despertaram para lutar contra a população de demônios em rápida expansão e os Lilin que foram criados tantos séculos atrás, — O Grim continuou, voltando a olhar para o rio. — Eles não acordaram todos, Layla. Alguns ainda estão dormindo. Até mesmo seu clã não saberia disso, mas aqueles cujos pecados foram mais ofensivos são os que seguem presos em seu castigo. — Deus, — engasguei, pensando em todas as gárgulas que adornam os edifícios apenas em DC. Todo esse tempo, eu acreditei que o homem simplesmente os havia esculpido. — Aqueles que despertaram se tornaram os primeiros Guardiões, mas sua punição os mudara. É por isso que eles têm duas formas, e é também por isso que, em sua verdadeira forma, se assemelham as mesmas criaturas que são responsáveis por despachar. Irônico, não é? — Ele sorriu novamente. — Estou certo de que seu clã não esqueceu sua verdadeira história, mas eles adorariam, não é? Os únicos seres mais arrogante do que os Alfas seriam os Guardiões. Havia outra coisa que eu não podia negar. — Isso tudo é fascinante, mas...


— Por que estou te contando isso, a história de sua mãe e a raça que a criou? Você quer algo de mim, mas eu quero que você entenda o que você é. — Ele se afastou da parede, de frente para mim a apenas um metro de distância. — Você está na minha frente, encolhida como uma menina indefesa. Os cabelos ao longo da minha nuca estavam de pé novamente. — Isso é porque você é... Você é o Grim... — Eu sei o que eu sou. Pelo menos posso dizer isso. Você não pode. — Sim, eu entendo, mas... Sua mão saiu, envolvendo minha garganta. Havia tomado o meu último suspiro antes de me dar conta. O pânico me inundou quando ele me suspendeu, me segurando em sua mão enorme. Obriguei meu corpo a mudar, mas o Grim sorriu enquanto ele me erguia. — Você não pode mudar. Aqui não. Cayman não lhe disse isso? Demônio bobo, ele tende a deixar de fora informações importantes. Você não é deste reino, criança, portanto, você não pode tomar sua verdadeira forma aqui, — ele disse, me levantando ainda mais. — Posso quebrar seu pescoço em um segundo e você sabe o que aconteceria? Eu morreria. Não era como se eu pudesse dizer isso desde que eu estava ocupada tentando manter o que quer de oxigênio que foi deixado em meus pulmões, o que não era muito. Meu peito estava queimando, meu coração batendo ferozmente. — Isso te prejudicaria. Iria te apagar, mas não, você não morreria, — continuou; como se ele pudesse ler meus pensamentos. — Francamente, a única coisa que vai matar você é um punhal de ferro no coração ou se alguém cortar a sua cabeça. — Suas palavras passavam através da névoa ardente, mas não fazia muito sentido. — Fogo? Não. Cair de uma centena de andares? Não pode matar você. Eviscerada?


Não. Uma vez que entender isso, você será mais forte e mais feroz do que qualquer Guardião que caminha acima, inclusive os demônios de Nível Superior fugirão da sua presença. De repente, ele me soltou. Eu bati na ponte, cambaleando na parede de pedra. Ela se desintegrou como cinzas sob o meu peso, caindo na água transbordante. Cambaleei para a borda, acenando meus braços. Ele me pegou pelo braço, me puxando para longe da borda e contra seu peito. O contato de corpo inteiro era como abraçar um boneco de neve, um boneco de neve psicótico. Minha pele esfriou enquanto exalava asperamente, então puxei o ar em grandes goles, uma nuvem de neblina se formou diante dos meus lábios. — Agora, você vê o que eu tentei te mostrar, com o objetivo de todas as minhas histórias? Você não é um demônio. Você nunca foi um demônio, menina tola.


Eu não sou um demônio. Parei de lutar para respirar enquanto observava seus olhos frios. O que ele me disse sobre Lilith e os Guardiões me balançou, mas agora eu estava estupidamente surpreendida pela pura descrença. — Isso não faz sentido, — ofeguei. — Por quê? Porque seu clã acha que você é a culpada? Porque o Príncipe nunca negou? Foi isso o que o Chefe disse, porque se os demônios de Nível Superior soubessem o que o Chefe fizera anteriormente por Lilith anos atrás, eles não estariam felizes. Nenhum demônio gosta da ideia de que o Chefe tem favoritos e que ainda o faça. O Príncipe não tinha razões para acreditar em algo diferente. Eles sentem você como um demônio só porque você parece com um anjo caído original. — Seu aperto era forte, na fronteira com a crueldade. — Se prestar atenção na minha história, você poderá acompanhar para onde estou indo com isso. Partes do meu corpo estavam congeladas pelo contato com ele, então eu não estava realmente seguindo-o agora.


O Grim abaixou a cabeça, e seu rosto endureceu quando parou a apenas alguns centímetros do meu. — Você é parte Guardiã e parte do que quer que foi Lilith quando você nasceu, o que te faz algo completamente diferente. O sangue Guardião em você enfraquecia o que Lilith te passou. Você era tão mortal quanto qualquer um deles, longe de ser tão poderosa, apenas com seu dom de beijo mortal, mas aqueles malditos bruxos... — ele riu, e sua respiração fria esfriou meus lábios, me fazendo tremer. — Aqueles que reverenciam sua mãe. Eles te deram algo para beber, logo após o esfaqueamento e o resgate heroico do Príncipe? Curando você de forma eficiente. Certo? — Sim. — Eu assobiei. — Nós não sabíamos o que era. Roth não sabia... — Mas você pode adivinhar o que é agora? Prove que estava prestando atenção na minha pequena lição de história? O sangue pulsava em minha cabeça, e eu sabia para onde ele ia com isso agora, mas não podia acreditar na ideia de que tinham me dado o sangue de um dos anjos caídos originais. Primeiro, era malditamente nojento. Em segundo lugar, eu... — Por que fariam isso? Como tinham o sangue? — Isso você tem que perguntar a eles. — Seus cílios abaixaram, escondendo seus olhos. — Mas o que fizeram, destruiu todo o sangue Guardião que tinha em você. Agora… Você é algo completamente diferente. Pensei em como Zayne e Danika tinham dito que me sentiam como um demônio de Nível Superior, mas isso foi antes dos bruxos me darem... A poção. Mas tudo começou a se conectar. Roth estava parcialmente certo. Eu ainda estava me transformando, e já que não era o que ninguém esperava que fosse, o que os Guardiões estavam sentindo podia ser o que era em que estava me transformando. Além disso, um demônio havia fugido de mim desde que bebi aquela coisa, e eu parecia diferente.


— Oh meu Deus, — sussurrei, esquecendo que ele estava me segurando. — É por isso que eu tenho penas em minhas asas. Sua boca se contorceu. — Entre outras coisas. — Eu sou... Eu sou imortal? Ele me soltou e se afastou, mas eu estava tão focada que notei apenas o calor voltando para mim lentamente. — Tão imortal como o que pode ser morto dessas duas formas que mencionei anteriormente. Quando você bebeu o sangue dos originais, você se tornou o que os Alfas chamam de abominação. Mas o que eles não conseguem apreciar é que você pode finalmente parar o que está vindo. Surpreendida por tudo o que ele disse, levantei minhas mãos trêmulas, empurrando o cabelo que havia se soltado do meu rosto. Eu vim aqui para pegar a alma de Sam e acabei descobrindo que tudo que eu havia pensado sobre a minha vida, a minha identidade estava errada... Novamente. Parte de mim não sabia o que pensar sobre isso. A outra parte borbulhava com uma doce consciência. Incrivelmente egoísta, é claro. Não haveria mais velhice no meu futuro enquanto Roth permaneceria eternamente jovem. — Você é como Lilith – completamente original. Algo que não deveria existir, mas existe. Assim como também é o Lilin. Não deveria existir, mas você... Você pode detê-lo. Meu olhar se voltou para ele enquanto abaixava minha mão. — Eu vou parálo. — Sério? — Ele abaixou a cabeça. — Porque tudo o que tem feito desde que o Lilin se revelou é se lamentar por seu amigo, fazendo beicinho, se permitindo dramas de relações que normalmente esperaria apenas de uma adolescente humana que ainda tem sua virgindade.


Fiquei dura, enrijecendo meus músculos de apreensão. — O quê? — Acredito que falei claramente. — Ele caminhou na minha direção, e desta vez não me afastei, embora minha garganta ainda doesse da última vez que me defendi. — Você precisa parar o Lilin, mas a única coisa que você realmente realizou foi à perda de sua virgindade. Ainda assim, eu acho que lhe devo parabéns. É um passo grande, depois de tudo. Por favor, dê meus parabéns ao Príncipe. Envergonhada e furiosa, senti minha boca se abrir de repente. — Isso não é verdade! — Não é? — O Grim inclinou a cabeça para trás e riu sobriamente. — Digame, o que mais que você fez? Abri a boca, pronta para dizer tudo que havíamos feito – no que estivemos trabalhando – mas as únicas coisas que realmente não havia mencionado eram nossas tentativas fúteis de localizar o Lilin, o fim de Elijah, e minha nova tatuagem, que agora estava longe, fazendo sabe-se lá o que com Bambi – que, aliás, nem sequer deveria estar aqui. Apoiada em um canto, eu disse a primeira coisa que saltou para a ponta da minha língua. — Eu não pedi nada disso! No momento em que essas palavras saíram da minha boca, eu sabia que elas eram erradas. Além do fato de que elas não eram nenhuma contribuição para a conversa e provavelmente era a coisa mais infantil que eu já havia dito. E isso era algo. O Grim sorriu. — Ninguém nunca pede o que a vida lhe dá. Dificilmente, você é especial.


Meu olhar caiu para suas botas, e depois apertei os olhos para fechá-los. Deus, era verdade. Não importa o que estava acontecendo na minha vida, eu não fiz o suficiente para parar o mal que inadvertidamente ajudara a criar quando Paimon realizou o ritual em sua tentativa de libertar Lilith, e mais pessoas inocentes morreram como resultado. Eu não sabia o que mais poderia ter feito, mas obviamente deveria ter feito algo. Respirei fundo e levantei os olhos para ele. — Tem razão. Não estive fazendo o suficiente, mas farei o que for preciso para parar o Lilin. Seus olhos brilhavam estranhamente, como se tivesse sua própria fonte de luz. — Qualquer coisa? — Qualquer coisa, — eu repeti, embora as palavras não mudassem por eu estar aqui. — Mas não vou esquecer o Sam. A alma dele está aqui e não pertence a esse lugar. Ele se moveu novamente, rápido como um raio, e saltei para trás quando ele levantou os braços, bloqueando sua tentativa de pegar minha garganta novamente. Dor atingiu meu braço, e provavelmente, teria uma contusão lá mais tarde, mas melhor lá do que no meu pescoço. O Grim se afastou e pensei ver o brilho de aprovação em seus olhos. — Talvez você não entenda o que está em jogo aqui. Então, sem aviso, ele agarrou meu pulso, e já não estávamos mais na ponte; estávamos em algum tipo de edifício com uma enorme parede de chamas na nossa frente. O calor saía da parede em chamas enquanto as faiscantes chamas tocavam o chão e o teto, mas de alguma forma, assim como os incêndios no elevador, não se dispersavam.


Desconcertada com a súbita mudança, cambaleei para trás e contra o Grim. Afastando-me de repente, não fui mais para frente porque um braço forte me pegou pela cintura, me puxando para trás. O ar deixou meus pulmões de repente. — Acredito que há alguém que precisa conhecer, — ele disse em voz baixa no meu ouvido. As chamas pulsaram, e depois caíram do teto, desaparecendo no chão e revelando o que existia mais à frente. Era uma sala e um quarto de algum tipo, com uma grande e ornamentada cama e ricas peles cobrindo o chão de pedra sem mobília. Havia uma mesinha e duas cadeiras, até mesmo uma TV, e riso histérico borbulhava dentro de mim quando me lembrei do que Roth disse sobre a recepção aqui em baixo. Do telhado havia um pino de aço preso a uma corrente que descia do muro, e seguia o comprimento da corda ao pescoço de uma mulher que estava de pé à direita, seus quadris estreitos contra a parede. Minha respiração ficou presa. Ela estava vestida toda de branco, um vestido fino que mostrava tudo, desde o pescoço até a bainha, e mostravam um vislumbre de todos os lugares que deveriam estar cobertos. Esta mulher, com seu cabelo tão louro que era quase branco e olhos que eram de uma pálida sombra de cinza, era surpreendentemente bela, tão incomum, com olhos oblíquos nos cantos e boca vermelha exuberante. E essa boca vermelha se curvou para cima em um sorriso presunçoso. Então ela falou em uma voz que era antiga e pesada como as peles que cobriam o chão. — Bem, já era tempo. — Lilith, — engoli em seco.


Pela primeira vez na minha vida eu estava em pé na frente de Lilith, minha mãe, e ela era uma criatura vivente que respirava. Não sei por que isso me surpreendeu mais, mas ela sempre foi mais como um mito que algo real em minha cabeça. Havia algo dentro de mim que rejeitava a corrente no fino pescoço. Era uma sensação estranha, uma ligação de família. Afinal, não importa o que, era minha mãe, e estava amarrada. Eu não gostava. Nem sequer gostava da sensação de não gostar, e não sabia o que fazer com ela. — Mãe teria sido uma saudação mais apropriada, — ela disse, e essa voz era como mil Bambis deslizando sob a minha pele. — Mas, novamente, não devo esperar tal cortesia de você. Pisquei para tal insulto. Então...


Lilith não foi muito para o centro do quarto enquanto andava. Eu não estava certa se seus pés tocaram a pedra. — Por que você está aqui? Não acredito que seja para me libertar, não com você aqui. — Você sabe que nunca ficará livre, — o Grim respondeu mordazmente. — Não importa o que pense o Lilin, seu tempo aqui embaixo é dificilmente limitado. Uma mudança se viu em seu rosto, suavizando a beleza etérea. — Meu filho? Sabe alguma coisa sobre ele? A falta de fôlego em sua voz foi o chute no peito que me despertou. — Teu filho? Você fala daquela coisa louca lá em cima que está correndo por aí causando o caos? Seus olhos claros me escrutinaram. — É do seu irmão que você está falando. Tenha um pouco de respeito. — Meu irmão? — Bufei. — Acho não. Ela balançou a cabeça e longos cachos dançaram ao redor do seu rosto. — Você não pode negar o que é. É parte de você. Você é parte de mim. Nós três estamos conectados. Eu enrijeci. — Não sou parte de você ou dele. Lilith ergueu o queixo. — Você sempre foi uma decepção para mim, — ela disse, e eu me encolhi; impotente. — Eu tinha grandes esperanças em você. Era suposto que não apenas me libertasse, mas que também subisse comigo. Nós teríamos mudado o mundo, mas isso? — Ela fez uma pausa, levantando as mãos. — Isto é o que eu tenho para mostrar. Não me respeita. Não me honra. — Vá, — sussurrou com a respiração entrecortada. — Simplesmente vá. — Alguma vez você já se preocupou com alguém que você ama? Já amou alguém? — Amor? — Ela torceu o nariz.


— Paimon te amou, — respondi. Ela revirou os olhos. — Aquele estúpido. Falhou em me libertar e é a razão pela qual todos me vigiam tão de perto agora. Não existe amor, e, por favor, não se exponha a um novo nível de idiotice para discutir o assunto comigo. Vou perguntar de novo. — Ela lançou um olhar para o Grim que ainda me segurava por trás. — Por que você está aqui? — Eu faço as perguntas. — O aperto do Grim em meus braços não diminuiu, como se ele esperasse que eu saísse correndo e retirasse a corrente do teto. Preocupação desnecessária. Isso não ia acontecer. — Você vai chamar o Lilin de volta? Você sabe que pode fazer isso. Mesmo desta cela, você pode pará-lo. — Por que você não pode obrigá-la a fazer isso? — Perguntei ao Grim. O Grim rosnou. — Não é tão simples. O olhar de Lilith ia e vinha entre nós, e então jogou a cabeça para trás, soltando uma risada gutural. — Isso é uma pergunta séria? Você me pede para parar o meu filho? — Baixando a cabeça, seu olhar parecia de aço. — Se eu não posso fazer do meu jeito, então mal posso esperar para lançar a destruição sobre a humanidade. Ele trará tudo o que eu nunca poderia fazer... O fim. — Por quê? — Eu quis saber. — Por que você iria querer isso? Ninguém ganha nessa situação. Nem mesmo você. — Por quê? — Descrença encheu seu rosto. — Você não tem ideia do que eu tenho sofrido? Primeiro graças a quem me criou e depois nas mãos dos homens? Você tem ideia do que eu perdi? Minha liberdade negada várias vezes! Minhas opções afastadas! Fui expulsa do Éden, forçada a vagar em um mundo escuro cheio de horror! Você não tem ideia do que experimentei. Não ouse perguntar por quê. — Você sofreu. — O Grim disse calmamente. — Assim como também as muitas almas que reclamei por sua culpa.


Ela riu amargamente. — E não me arrependo de nada. — Ela olhou para mim. — Bem, talvez de algumas coisas. Fiquei chocada e disse a primeira coisa que veio na minha cabeça. — Eu sou sua filha. Seu rosto ficou tenso. — Então me honre. — Não posso fazer isso, — sussurrei; comovida. — Não se honrar significa que milhões de pessoas vão morrer. — Então terminamos aqui. — Que assim seja, — o Grim murmurou. A parede de chamas voltou com uma explosão ensurdecedora, e não estávamos mais lá. Estávamos de volta na ponte, e o Grim me libertou. Eu me afastei dele. Olhei para a água por vários segundos, sentindo náuseas e... E com o coração partido. Havia uma ferida, a qual foi ignorada a maior parte de minha vida ou fingia que não era um grande problema, mas era e doeu. Não importa o que era Lilith, ela era minha mãe, e nem ela nem meu pai jamais se preocuparam comigo. — Por que você me levou até ela? — Além de demonstrar que ela jamais se importou comigo. — Pode ter parecido cruel, mas você precisava ver o que ela é real, porque mostra o que é realmente o Lilin. E nada mudará nenhum dos dois também. Nenhuma quantidade de lógica ou negociação. O Lilin deve ser parado. — Eu sei. Não precisava me encontrar com ela para entender. — Esgotada com tudo o que ele me contou e por conhecer uma mãe que era uma decepção, eu o


confrontei. — Eu quero a alma de Sam. Você pode libertá-lo, assim ele pode ir para onde deveria ir, e deterei o Lilin. Mas eu quero a alma dele livre. O Grim olhou para mim com uma expressão apática. — Não posso fazer isso. Preparada para essa resposta, eu juntei minhas mãos para evitar bater nele e descobrir quão fácil seria para ele acabar com a minha recém-descoberta imortalidade. — Por favor. Ele não merece isso. Por favor. Farei o que você quiser que eu faça. — Você nunca deve oferecer tal barganha a alguém. — Seu olhar não tinha crueldade, mas senti um calafrio. — Especialmente a mim, porque posso pedir algo que você não esteja disposta a dar. Calafrio me percorreu de novo. — Preciso fazer isso por ele. Não entendo. Sam era uma boa pessoa... Uma pessoa realmente boa. Sua alma era quase pura. Não merece uma eternidade de tormento. — Não discordo, mas não há nada que eu possa fazer. Minhas mãos começaram a tremer e as separei. — Não. Eu sei que você pode. Você controla as almas que passaram. Você é o... — Eu sei o que eu sou, garota, como eu disse antes. — A passividade de sua expressão mudou para irritação. — E sei que não posso liberar o que não tenho. Frustração saiu da minha voz. — Então quem tem a alma dele? Para quem eu tenho que implorar? Porque eu vou. — Você não entende. — O Grim balançou a cabeça, quase triste. — A alma dele não existe mais. Você consegue entender? Apesar do que Lilith disse, o que você é e o que o Lilin é são duas coisas muito diferentes.


— O quê? — Sussurrei; meu coração de repente batendo muito rápido. Entendi o que ele estava dizendo, mas queria estar errada. Precisava estar errada. Meu lábio inferior tremeu. — Onde está a alma dele? — O Lilin a consumiu, garota. Você sabe. De que outra maneira podia ter sua forma ou de qualquer outra? Quando o Lilin consome uma alma, não é o mesmo que arrancá-la. Por isso, que qualquer Lilin, mesmo um só, é tão incrivelmente poderoso. Horror tomou conta de mim. Não. Não. Não. Eu não sabia. Não havia nenhum manual de instruções do Lilin para explicar essas coisas. Assumi que ainda haveria algo da essência de Sam que havia sido enviada para o Inferno. Assumi que a habilidade do Lilin era como a minha. Não me permiti a ideia de qualquer outra coisa em minha cabeça. — Está me…? — Eu mal conseguia dizer as palavras sem me emocionar. — Está me dizendo que não há nada que possa fazer? — Não há nenhuma alma que eu possa libertar, — respondeu calmamente. — Oh, Deus. — Fechei os olhos, me virando enquanto a dor e a decepção tiravam minha respiração. Não era justo. Absolutamente. Sam jamais fizera mal a nenhuma pessoa e agora ele… Deixara de existir? Alguém diria que isso era melhor do que uma eternidade de tortura, mas para mim, era pior. Tudo o que Sam foi, tudo o que ele fez, simplesmente não importava. Ele se foi, não havia nada para ele neste mundo nem em outro, e isso era muito ruim. E o que diabos ia dizer para Stacey? Isso... Isso iria destruí-la, mas como poderia mentir, sabendo o que eu sabia? Mas preferiria carregar esse fardo a eles saberem. — Eu não disse que não há nada que você possa fazer.


Meus olhos se abriram e eu me virei para ele. — O quê? — O Lilin consumiu a alma, e essa alma está nele, junto com as outras almas que ele consumiu. Nem tudo está perdido. Por um segundo, não me atrevi a respirar, e depois explodi. — O que você acha de ter começado essa conversa por aí, em vez de me deixar pensar que ele não tinha mais salvação! — E você vigie esse seu tom, — respondeu rispidamente. Cada parte de mim queria ficar zangada com ele, mas me forcei a me acalmar, porque ele tinha todas as informações. — Sinto muito, — eu disse. — É que o Sam é importante para mim. O Grim levantou uma sobrancelha. — Vejo. — Cruzando os braços sobre o peito, ele me olhou atentamente. — Você e eu queremos a mesma coisa. Você quer libertar a alma de Sam e eu quero que o Lilin seja contido. Acredito que os humanos chamam de matar dois pássaros com um tiro só. Mate o Lilin. Sam e as outras almas que foram consumidas serão libertadas. — Feito. — Eu disse sem um segundo de hesitação. — Devo preveni-la que não será tão fácil. Almas apanhadas assim não duraram indefinidamente. Nunca ouvi de nenhuma que tenha sobrevivido alguns meses, — ele disse. — O tempo é a essência. Sam já partiu há muito tempo. — É tarde demais para ele? — Não, — ele respondeu, e acreditei porque ele era quem ele era. — Mas você não tem muito tempo. Por várias razões. Assenti, não só com a esperança de que ainda poderia ajudar o Sam a encontrar a paz que ele merecia, mas com plena compreensão de que no momento que subisse tinha de encontrar o Lilin.


— Não falhe nisto. Não é apenas a alma do seu amigo que está em jogo, — acrescentou, e um vento frio afastou o calor. — Se o Lilin continuar sem controle, os Alfas vão intervir. E eles vão erradicar todos os demônios e os Guardiões de cima, e se isso acontecer, o Céu terá que contra-atacar. De maneira nenhuma, o Inferno ficará à margem e deixará que isso aconteça. O Chefe vai liberar os Quatros Cavaleiros. Engoli em seco. — Suponho que não refira aos cavaleiros da Kentucky Derby11? — Não. — Ele não parecia divertido. — Eles cavalgarão e trarão o apocalipse. Morrerão trilhões, Layla, e a terra será um desastre. Só Lilith e o Lilin gostariam realmente disso. Eu não. Nem o Chefe nem o Grande lá do Céu. Ninguém quer isso, porque todos nós iríamos à guerra. — Sem pressões nem nada, — murmurei, suspirando. — Eu vou somente parar o apocalipse. Seus lábios se curvaram em um sorriso, mas desapareceu tão rápido que posso ter imaginado. — Ao contrário de sua mãe, eu tenho fé em você, Layla. Mas lembrese de uma coisa. Todo mundo paga um preço com sangue no final.

11 Kentucky Derby é uma competição de turfe disputada anualmente no hipódromo de Churchill Downs, em Louisville, Kentucky nos EUA. A corrida realiza-se sobre uma pista de areia com a distância de uma milha e um quarto (aproximadamente 2.000 metros) de galope plano, destinada para cavalos thoroughbred de 3 anos. É também conhecida como "os dois minutos mais excitantes do esporte” e "a corrida pelas rosas", por causa da guirlanda de rosas dada ao ganhador. O derby acontece sempre no primeiro sábado de maio de cada ano e é a primeira prova da Tríplice Coroa americana, sucedida pelo Preakness Stakes e o Belmont Stakes.


Bambi e Robin foram devolvidos a mim pouco antes de dar um passo atrás no corredor significativamente mais fresco. No momento em que eu apareci, eles começaram as disputas entre si. Tudo o que o Grim me disse e mostrou estava me consumindo por dentro. Aflita, não senti os familiares retomarem as suas formas de animais e se juntarem a mim, não lembro muito da caminhada até o elevador ou parte da viagem para cima. Meus pensamentos ainda giravam em torno de um círculo vicioso quando as portas do elevador se abriram novamente. Brilhantes olhos âmbar encontraram os meus e antes que eu pudesse dizer uma palavra, ou dizer como fiquei aliviada ao vê-lo, Roth estava diante de mim. Linhas mal contidas de fúria em seu rosto quando ele entrou no elevador. — Ele te fez algum mal? — Ele perguntou. — O quê? Não. — Te feriu de alguma forma que não posso ver? Quando balancei a cabeça um pouco do estresse, mesmo que apenas uma pequena quantidade, desapareceu dele. Comecei a levantar minhas mãos. — Eu...


Minhas palavras terminaram em um grito enquanto ele me levantava. Dentro de um segundo, balançava-me no ar. Grunhi quando meu abdômen bateu em seu ombro. Instintivamente, peguei o cinto de couro em torno de seus quadris. Ele se virou e o elevador fechou as portas enquanto saíamos no vestíbulo. — Roth... — Não faça mais isso, — rosnou. Apertei-me mais enquanto ele avançava. — Ponha-me no chão! — Isso não vai acontecer. Ele se virou para o corredor que conduzia às escadas e levantei minha cabeça. O átrio estava vazio, exceto por Cayman. Ele estava atrás dos sofás e cadeiras, e seu geralmente belo rosto estava marcado com uma variedade de manchas roxas e vermelhas. Eu não tinha ideia de que um demônio poderia sequer ser machucado. Cayman sorriu, mas parecia doloroso fazer isso. Batendo na parte inferior das costas de Roth tentei chamar a atenção dele. — Ponha-me no chão. Agora. — Quando ele não respondeu, comecei a mexer as pernas, mas o seu braço livre me agarrou pela parte de trás dos joelhos. — Roth! — Não faça isso, — ele disse novamente quando a porta da escada se abriu de repente batendo nas paredes de concreto. Estremeci quando o som ecoou. — Não diga uma palavra até chegarmos lá em cima. Minha boca se abriu. — Não me diga para não falar! Ele riu sobriamente, sem humor. — Foi isso que acabei de fazer, baby.


Dizendo a mim mesma que eu sabia que ele ficaria chateado, e a raiva deveria ser o resultado dele ter ficado tão preocupado com meu bem-estar, eu lutava para manter a sanidade. Eu realmente só queria chutá-lo. — Eu sei que você está com raiva... O braço ao redor de minhas pernas endureceu. — Você não tem ideia de quão irritado eu estou. Absolutamente nenhuma ideia. Cerrei meus olhos fechados e contei até dez. Fui até cinco. — Bom. Eu entendo. Mas não é necessário que me leve pelas escadas. Em vez de responder ele foi pulando os degraus, me sacudindo enquanto subia as escadas de dois em dois. Quando chegamos ao quarto ou quinto andar, eu entendi. Entendia que ele estava com raiva, mas isso era ridículo. Aproveitando a força que sabia que tinha, levantei minhas mãos e agarrei seus ombros enquanto levava meu peso para trás ao mesmo tempo. O movimento pegou Roth de surpresa e o braço afrouxou o suficiente para quebrar seu aperto. Deslizei pela frente do corpo dele e o contato enviou um flash de calor através das minhas veias. Ignorando isso, eu imediatamente recuei, colocando distância entre nós, e foi provavelmente uma das coisas mais inteligentes que eu fizera até agora. Roth estava furioso. A ira se derramava de cada célula de seu corpo fortemente curvado e brilhava em seus olhos dourados. Tinha a pele mais magra, expondo o tom mais escuro que existia além da carne. Meus olhos se abriram. Não por medo, porque não tinha medo dele, mas sim porque não era mais a ira o que via em seu rosto, havia ansiedade crua. Sim, ele parecia feroz, mas parecia que ele esperava nunca mais me ver novamente. — Roth, — eu disse suavemente, e seus olhos se fecharam fortemente com uma careta diante do som do nome dele. — Sei que você está chateado. Sinto muito, mas eu precisava ir até lá e sabia que não era seguro para...


— Sim, vamos falar sobre segurança! — Sua voz ecoou pela escada. — Você sabe o quanto se arriscou indo até lá? Como você incrivelmente tem sorte de estar aqui, ilesa? — Sim, mas… — Não há um mas nisto, Layla. Há um sem número de coisas muito perturbadoras e horríveis que poderiam ter acontecido. E para que? — Para que? Você sabia que eu precisava ajudar Sam. Eu não podia... — Eu poderia ter ajudado se tivesse permitido! — Seus olhos de um âmbar intenso brilharam. — Eu sei o que pode acontecer lá em baixo e não me importo com o que Cayman te disse, não havia como você poder ter ido preparada. Qualquer número de demônios poderia ter pegado você e teriam feito coisas que fariam você implorar pela morte. Estremeci com o pensamento, mas forcei minha voz a manter a calma. — Nada aconteceu comigo, Roth. Eu estou bem… — Eu não sabia disso, sabia? Acordei depois que aquele idiota quebrou meu pescoço e você havia ido ao Inferno, Layla, e eu não podia ir até você. Tentei, mas o maldito elevador não veio. Eu sabia que a entrada foi bloqueada, e você não tem ideia do que me fez pensar. Eu não sabia se você estava bem. — Passei um dia e meio temendo o pior! — Ele gritou, e meu estômago caiu porque eu havia esquecido que o tempo passa diferente lá embaixo. O que parecia uma hora foram horas e horas de incerteza para ele. Engoli em seco. — Roth, me desculpe. Realmente sinto muito. Eu não queria que você se preocupasse. — Se não queria que eu me preocupasse, nunca tivesse conspirado contra mim. Eu ofereci minha ajuda e você preferiu essa escolha. — Sua mandíbula era uma linha


dura. — E fiquei totalmente impotente quando se tratava de te ajudar. Droga, Layla, eu quero estrangulá-la. — Bem, isso não é realmente me ajudar. Seus olhos se estreitaram e percebi que a minha pobre tentativa de humor era virtualmente um cisne mergulhando pelas escadas. — Você acha que isso é uma piada? — Não, — eu disse, começando a perder a paciência. Ele deu um passo à frente, um músculo pulsando em sua mandíbula. — Você arriscou muito, Layla. Você... — Eu não ia te arriscar! — Gritei; meu controle começando a quebrar. Avancei, plantando minhas mãos em seu peito e empurrando forte. Ele cambaleou para trás apenas meio passo. — Você entende isso? Eu tive que ir lá para ajudar Sam, mas eu não te arriscaria e não voltaria atrás para alterar isso, mesmo se pudesse. Sinto muito! Pode ficar com raiva o quanto quiser. — Estou com raiva porque eu te amo, Layla, e o pensamento de te perder fodidamente me apavora! — E eu não ia jogar com a sorte de te perder! Porque eu amo você, chato, arrogante e superprotetor... Roth disparou para frente segurando meus pulsos em suas mãos. Pressionando-me contra a parede, prendeu minhas mãos acima da minha cabeça. Nossos corpos estavam corados e meu coração batia de forma irregular quando ele abaixou a cabeça. A boca de Roth estava sobre a minha e foi um beijo brutal, que não admitia espaço para negação. Não que eu fosse querer negar alguma coisa. O beijo foi quase demasiado poderoso, muito primitivo. Isso fez com que rompesse a bola de medo que


estava na minha barriga, e ela se esvaziou porque esse era o tipo de beijo forjado pelo medo de perder alguém, e isso tornou a nossa situação mais real. Isso fez com que tudo o que eu havia feito fosse ainda mais doloroso. Devolvi o beijo com igual avidez e exigência. Ele deu. Eu tomei. E à medida que nos agarrávamos, eu sabia que havia mais amor em suas palavras do que raiva. Depois do que pareceu uma eternidade, ele levantou a boca da minha. Descansando nossas testas juntas, ele manteve as mãos nos meus pulsos. Respirando pesadamente, eu podia sentir seu coração batendo contra meu peito. — Não posso te perder, — ele disse em um sussurro rouco, sua voz retorcendo minhas entranhas. — Não posso. — Você não vai, — sussurrei, mas essas palavras soaram vazias para mim, mesmo depois do que o Grim havia me dito. — Você ainda está com raiva de mim? A respiração dele era quente em meus lábios. — Eu ainda quero estrangulá-la. — Ele fez uma pausa. — Mas da maneira mais carinhosa possível. Pressionei meus lábios. — Está bem então. Os lábios de Roth roçaram minha testa e, em seguida, foi se afastando, soltando meus pulsos e meus braços. Seus movimentos eram duros e se virou para as escadas, enquanto eu percebia que, embora a maior parte da raiva tivesse ido, ainda não foi completamente. Ele começou a subir as escadas e depois de respirar profundamente algumas vezes, eu o segui. Não falamos no caminho até o loft ou quando entramos. Ele fechou a porta. — Bambi. Saia. A familiar deixou minha pele imediatamente e, em vez de flutuar em direção a ele, a sombra se lançou para debaixo da cama.


— Acho que ferimos os sentimentos dela, — eu disse, encarando Roth. — E você não mencionou que os familiares são na realidade pessoas. Isso é algo importante demais para esquecer, sabe, você tem uma mulher adulta rastejando na sua pele. Ele parou; ambas as sobrancelhas levantadas. — Está com ciúme? Porque você tem um cara em você agora. Estremeci. — Obrigada por me lembrar disso. Ele olhou para mim. — Sério? Você não está com ciúmes, está? Suspirando eu fui para o banco do piano e me deixei cair. — No começo, sim, eu estava. Mas então, percebi quão estúpido era. E, além disso, aparentemente, ela sente algo por Zayne. — Por que isso não me surpreende? Bambi sempre teve mau gosto. Meus lábios se franziram. — Você poderia ter me dito. Roth me deu um olhar sombrio enquanto atravessava o quarto. — Para ser honesto, nem passou pela minha cabeça. Fui um tolo em pensar que não haveria nenhuma chance de que você daria um passeio pelo Inferno. Resisti à vontade de revirar os olhos. — Bambi fez parecer que você a deixa tomar essa forma aqui em cima. — Às vezes. — Ele cruzou os braços sobre o peito. — Não é algo em que penso frequentemente. — Ainda assim, teria sido útil saber. Imagine a minha surpresa quando eles saíram de mim. — Toquei onde Robin estava enrolado ao lado do meu quadril. — Acho que eles não se gostam. Tudo o que fizeram foi discutir. — Olhei para a cama. — Eu realmente acho que ela está se escondendo.


— Porque está, — ele respondeu, olhando para a cama com uma mistura de afeto e irritação. — Ela sabia que você ia para baixo, ou pelo menos suspeitava. Ela deveria ter te impedido. Descansei minhas mãos sobre os joelhos, encontrando seu olhar duro. — Quando eu disse que estava arrependida, eu falei sério. Não sabia que Cayman ia te distrair dessa maneira. Eu dei um soco nele, se isso faz você se sentir melhor. Ele arqueou uma sobrancelha, olhando insatisfeito. Eu continuei. — Mas eu precisava tentar ajudar Sam. Precisava. Roth ficou em silêncio por um longo tempo e, em seguida, exalou com força. — Você viu o Grim? Conseguiu o que procurava? — Eu encontrei um monte de coisas que não estava procurando, — eu disse, passando minhas mãos sobre os joelhos. — Ele me disse o que os Guardiões eram antes, quem eles eram. — Rejeitados celestiais, — disse, com o rosto impassível. — Nunca foi minha história para contar. Eu não sabia se acreditaria em mim caso eu dissesse. — A princípio? Provavelmente não, — admiti, e depois continuei. — Ele me disse que alguns deles nunca foram despertados, eles ainda estão trancados em pedra. Eu nunca soube disso. Você sabia? Roth balançou a cabeça. — Ouvi rumores, mas algumas gárgulas são somente esculturas de pedra e nada mais. — Ele também falou sobre Lilith. Ela nunca foi um demônio. Suas sobrancelhas se franziram. — Eu acho que ele estava brincando com você, Layla. Lilith é um demônio.


Balancei a cabeça, cansada, e então expliquei tudo o que o Grim me contou sobre Lilith. Vi o momento em que Roth acreditou em mim quando lhe disse como o Chefe havia encoberto tudo. — Portanto, me sinto como um demônio, assim como Lilith, mas apenas porque ninguém sabia o que realmente somos, e acho que com o Chefe dizendo a todos que ela era um, ninguém pensou em questionar isso. As pessoas veem o que querem ver. — Até os demônios, eu acho. Roth se aproximara de mim enquanto eu falava o que o Grim me dissera, mas agora se ajoelhou na minha frente. — Você não é um demônio. — Não. Não de acordo com o Grim, e faz sentido. Sabe, os demônios não podiam me sentir a princípio, não até recentemente, não até que as bruxas me deram a poção. — Entendimento explodiu na parte de trás de seus olhos e vi que seria mais fácil dizer o que descobri. — Eu tomei o sangue de um dos anjos caídos originais. O que foi dado a Lilith. É por isso que eu pareço diferente agora, quando mudo. O sangue do anjo caído diluiu o sangue Guardião que havia em mim. E desde então, eu não tenho os mesmos impulsos de me alimentar. Ele ainda está lá, mas nada como antes. Não preciso de nada para aliviá-lo. Posso ignorá-lo. De qualquer forma, a boa notícia é que sou um pouco imortal, assim você não precisa se preocupar que eu vá ficar com o aspecto de sua avó algum dia. Ele me olhou em silêncio por um longo tempo e, finalmente, quando comecei a me preocupar, disse: — Não vejo onde há uma má notícia envolvida no que você acabou de me dizer. Eu quase sorri. — Bem, eu sou meio que um monstro muito maior do que eu pensei que fosse no início. — Não me importo se crescer um terceiro seio quando você mudar ou se parte de você é um demônio, — ele disse fervorosamente. — Ou se durante três dias por mês você acabar precisando consumir carne dos mortos. Hum. Isso foi hardcore.


— Eu vou te amar igualmente. — Ele colocou as mãos sobre as minhas. — Mas saber que não terei que fazer algum acordo louco no futuro para evitar que você morra de velhice, para mim, é a cereja no topo do bolo, baby. Eu não poderia mesmo parar o sorriso puxando meus lábios. — Você é ridículo, sabe? Você realmente faria um acordo? Seu olhar era firme. — Eu faria qualquer coisa por você. — Igualmente. — Eu o vejo levar minhas mãos à boca e pressionar os lábios contra os nós de cada um dos dedos. — Não consegui a alma do Sam. — Sinto muito, — ele disse, e embora as palavras fossem pronunciadas muito baixas, eu sabia que eram verdadeiras. E também sabia que a única coisa que realmente importava naquele momento era que eu estava sentada na frente dele, sem nenhum dano. Enrolei meus dedos nos dele. — O Lilin ainda tem a alma de Sam. Qualquer alma que consome ele mantém. Matar o Lilin liberta as almas, mas o Grim disse que não sabia se a alma dele duraria muito mais tempo dentro do Lilin. Roth sorriu, mostrando uma covinha profunda. — Bem, então isso não é uma má notícia. Temos a intenção de matar o Lilin de qualquer maneira. Isso resolve os dois problemas. Não gosto de pensar se Sam estava ciente do que estava acontecendo enquanto preso dentro do Lilin. — Esse tem sido nosso plano, mas como? Imagino que o Lilin não será fácil de matar. — Não será. — Ele soltou minhas mãos, levantou e caminhou até a cômoda. Abrindo a gaveta de cima cuidadosamente, ele tirou algo envolto em couro grosso. Ele foi até a tampa do piano, onde colocou e retirou o material. — Mas vamos fazer da mesma maneira que matamos qualquer demônio, com uma estaca de ferro.


Eu não poderia suprimir um arrepio ao ver três estacas de ferro dispostas de uma maneira inócua, olhei para Roth quando algo me ocorreu. — Se não sou um demônio, então como ferro me machucou antes? — Porque, até onde eu sei, é fatal para os originais, também. Enquanto eles não são demônios, ainda assim são amaldiçoados, em muitos mais aspectos que os demônios. Afinal, eles pecaram de forma que se acreditavam serem imperdoáveis. — Ele sorriu levemente enquanto olhava para mim. — Você já sabe da minha pequena coleção. Isto é tudo que precisa saber. Roth não tocava nas armas, já que o queimariam. A união no extremo mais grosso da estaca só lhe protegeria durante um tempo. Não foi assim para mim antes, já que podia tocá-las, o que eu sempre pensei que era devido ao meu sangue Guardião, mas agora não tinha certeza. Estendi a mão, passando rapidamente meus dedos pelo frio metal antes de Roth poder me parar. Ele lançou uma maldição áspera enquanto agarrava minha mão, a puxando para trás. — Não queima, — eu disse. — Assim como antes. Acho que eu sou especial. Ele estreitou os olhos. — Essa é uma maneira de colocar. Fiz uma careta, e ele riu, dobrando roupas de couro por cima das estacas. Com calor, empurrei as mangas do meu suéter.

— Temos que parar o Lilin. Sei que

estivemos dizendo isso, mas... — O que é isso? — Ele agarrou meus dedos, levantando o braço no ar. No começo não consegui ver o que ele estava vendo, mas quando dobrei meu braço, vi os hematomas, na forma de três dedos que foram pressionados. Seus olhos brilharam olhando do meu braço para o meu rosto, seus traços se esticando. — Eu fiz isso? — O quê? — Balancei a cabeça. — Não. Preocupação borbulhava nos olhos esticados verticalmente. — Quem fez isso?


— Hum... Ele inclinou a cabeça para um lado. — Para deixar hematomas na sua pele alguém teria que ter agarrado seu braço com tanta força que se você fosse humana teria quebrado o osso. — Meu braço está bem. — Isso não responde à minha pergunta. — Acho que não preciso responder a sua pergunta, porque você ficará louco. Os lábios de Roth se pressionaram. — Estou totalmente calmo. Eu gostaria de saber quem marcou sua pele para que possa pôr um nome na cara da criatura que vou matar muito lentamente. — Acho que poderíamos ter definições diferentes de calma, — eu disse ironicamente. — Nunca estive mais calmo na minha vida. — Quando eu lhe dei um olhar de incredulidade, seu peito se levantou com uma respiração profunda. — Foi o Grim, certo? Delicado, bastardo impaciente. Não respondi. — Tenho a sensação de que você não pode matá-lo. — Posso tentar. — Sua voz era muito séria. — Que bem faria se tentasse? Temos problemas suficientes sem adicionar mais um a eles, e depois, o Grim seria uma grande dor de cabeça que não precisamos neste momento. Roth abaixou o queixo enquanto fechava os olhos. — Está em meu interior procurar vingança contra os que machucam os meus. Nunca poderia esquecer o que era Roth. Eu deveria estar preocupada, ou mesmo com raiva de que ele estivesse disposto a se vingar, mas havia uma parte de


mim que estava secretamente emocionada com o nível de proteção. Porque a verdade era que se a situação fosse inversa, eu mataria quem o machucasse. — Vou deixar isso pra lá, — ele continuou, levando o braço a sua boca. Ele deu um leve beijo na contusão, e meu peito amoleceu. — Por agora. Eu gemi quando ele soltou meu braço. — Ei, isso é melhor do que eu irrompendo no Inferno agora mesmo, não? — Sim, quando você coloca dessa forma, com certeza. Ele andou até a cama e sentou. — O Grim disse algumas outras coisas, — eu disse, olhando para as contusões. Puxei minha manga para baixo. — Coisas que ele estava cem por cento correto. — Igual como eu vou quebrar todos os dedos da mão dele? — Ele deu um tapinha na cama. — Não. — Suspirei enquanto Bambi espiava de debaixo da cama. Ela se levantou graciosamente, empurrando a perna de Roth com seu focinho. — Ele nos repreendeu por realmente não fazermos nada sobre o Lilin. Bambi colocou a cabeça no joelho de Roth, que distraidamente lhe acariciou. Imediatamente, pensei no que ela havia dito sobre Zayne e onde, na verdade, ele havia a acariciado, e tive que dizer a mim mesma para não ir até lá e remover a mão de Roth para a ponta do nariz dela, porque pensei que a cabeça não poderia ser um lugar impróprio em seu corpo. Deus, eu precisava parar de pensar nisso. — Estamos apenas sentados de braços cruzados, — ele disse, sorrindo para Bambi. — Encontrar o Lilin não é fácil. Não é como se ele estivesse se aliando com alguém.


— E quanto ao clube que você mencionou? — Oh, aquele que eu planejava investigar antes de você penetrar no Inferno? — Esse mesmo, — eu disse; hesitante. Roth bateu em seu peito sem ter que dizer uma palavra e Bambi se fundiu a sua pele, desaparecendo sob a prega da camisa. — Nós ainda podemos verificar, mas Layla, eu sei o que Grim pode conseguir se meter debaixo da nossa pele. Poderíamos sempre fazer mais para lutar contra o mal? Sim. Devemos parar de viver nossas vidas no processo? Não. Estamos fazendo o que podemos fazer, que é muito mais do que temos que fazer. Comecei a responder, mas houve uma batida na porta. Os olhos de Roth se estreitaram novamente. — Entre se você tem bolas. Minhas sobrancelhas se ergueram, mas, em seguida, a porta se abriu para revelar Cayman e, de alguma forma, eu entendi a saudação quando o demônio entrou no quarto. O humor normal e arrogante havia desaparecido do rosto dele, e havia uma sugestão doentia em sua aparência que não estava lá quando o vi no átrio. Eu soube imediatamente que eu não tinha nada a ver com a tensão entre Roth e ele, mas o olhar de Cayman estava concentrado nele. — O quê? — Roth começou a se levantar, aparentemente, também tendo detectado o problema. — Sinto muito, — Cayman disse com os ombros rígidos. — Os bruxos estão aqui. Eles vieram pelo que tive que prometer.


Fechei os olhos com força, engolindo um gemido. Esta era a última coisa que precisávamos lidar agora, mas os bruxos salvaram minha vida. Eles também eram responsáveis por meu estado atual. Não sabia se eu deveria estar zangada com eles por me dar algo tão poderoso como o sangue de um anjo caído. Como eu posso existir? Deus, era muito pensar no fato de ter consumido o sangue de alguém, mas eles me deram a coisa mais próxima que existe para a imortalidade, era algo que não tive a oportunidade de processar ainda. Roth e eu não tínhamos ideia do que eles poderiam querer em troca da ajuda que deram na noite em que Maddox me esfaqueara, mas pela expressão no rosto de Cayman e pela forma desanimada que ele percorria o caminho pelo corredor que levava ao clube, era motivo de verdadeira preocupação. Eu sabia que isso seria ruim. Roth plantou ambas as mãos na porta, balançando até abri-la enquanto caminhava para o piso principal do clube. Estava silencioso, uma atmosfera completamente

diferente

a

que

estava

acostumada.

Nenhuma

das

luzes


deslumbrantes estava ligada e o espaço parecia quase ordinário sob o brilho das luzes do teto. Não havia dançarinos enfeitando os cantos do palco em forma de ferradura e os cantos escuros do clube estavam ausentes de demônios e jogos de cartas. Os bruxos estavam sentados em umas das altas mesas redondas separadas do palco. Eram dois: O homem mais velho que nos recebeu quando fomos ao restaurante nos encontrar com a velha bruxa e aprender mais sobre o Lilin, e uma jovem que não poderia ser muito mais velha do que eu. Ambos estavam vestidos normalmente, o que era bem estúpido da minha parte me surpreender, porque não era como se a maioria dos bruxos fosse andar por aí com um manto preto ou mulheres com vestidos brancos ondulando. Eles compartilhavam características semelhantes, cabelos e olhos castanhos, nariz e boca pequena, e me perguntei se eles estavam relacionados. Pai e filha. A velha bruxa que me lembro da nossa última reunião, a que parecia ser a líder, não estava com eles, mas não estava surpresa, porque duvidava que a mulher pudesse viajar muito. Ela era tão velha que, quando a vi pela primeira vez, havia esperado que caísse morta a qualquer momento e explodisse em uma nuvem de poeira. Os bruxos eram uma raça muito estranha. Eles eram em sua maioria humanos, mas em algum lugar em sua linhagem tinha sangue demoníaco, e dali era de onde obtinham suas habilidades. Mas apesar de terem antepassados demoníacos, eles não reivindicaram a conexão. Os bruxos não confiavam nos demônios e não confiavam nos Guardiões, tampouco. Para mim, eles não eram nem bons nem maus, e, normalmente, eu ficava longe, muito longe de drama. O clã dos dois à nossa frente adorava Lilith, e imediatamente quis começar um sermão sobre como essa ideia era ruim. — O que está acontecendo? — Roth perguntou conforme caminhava até a mesa, completamente destemido, enquanto eu tinha o bom senso de permanecer alguns passos atrás. Não sabíamos do que os bruxos eram totalmente capazes.


O homem observou Roth cautelosamente antes de voltar seu olhar para onde eu me encontrava perto de Cayman. — Vejo que está bem. — Graças a todos vocês, — respondi, e os olhos de Roth se estreitaram. Dei um passo para frente, na esperança de manter todos calmos. — Desculpe-me, qual é o seu nome? Ele ergueu o queixo ligeiramente. — Eu sou Paul. — Paul? — Roth repetiu. — Engraçado, de alguma forma, eu pensei que você seria um Eugene ou Omar. Virei-me para Roth lentamente. Paul ignorou o comentário. — E esta é Serifina. — É um belo nome, — eu disse, e a menina sorriu para mim. — Eu sei o que seu clã me deu quando eu estava ferida. — Quando Paul ficou em silêncio, eu tive que fazer minha próxima pergunta. — Como vocês têm sangue de anjo caído? — Isso importa? — Ele perguntou. — Acho que não, mas eu... Bem, estou curiosa. — Dei de ombros. — Não é algo que imagino que as pessoas, mesmo os bruxos tenham aos montes por aí. — Não é o caso. E posso te dizer que não foi fácil achar, e tampouco compartilhamos sem considerar seriamente, — Paul explicou. O tédio marcava a expressão de Roth quando ele se inclinou atrás do palco. — Isso é interessante. O sorriso de Paul foi estreito. — Todos nós já ouvimos falar da arrogância do Príncipe. Como é reconfortante ver que este rumor é correto.


Fiquei rígida enquanto os lábios de Roth se levantavam em um canto, e quando falou, sua voz era tão espessa como melaço. — Também escutou o rumor de como uma vez acorrentei uma bruxa pelos dentes? Porque isso também é verdade. Paul empalideceu, e depois seu rosto ficou corado enquanto meus olhos se abriam. — Isto está naufragando muito rápido, — Serifina disse suavemente enquanto seu olhar ia entre Roth e eu. — Não é o que queremos. Viemos pelo que nos prometeu, e isso é tudo. — E o que foi prometido? — Roth exigiu. — Vamos terminar logo com isto. Paul olhou para Cayman com vil horror gravado em seus traços. — Você não disse? Ai não. Isso não parece bom. — Não perguntei. Não era uma de minhas prioridades, — Roth respondeu; o desprezo escorrendo do seu tom de voz. Paul exalou bruscamente. — Cumprirá a promessa. — Eu disse que não vou? Serifina estava horrorizada, tremendo. — Mas você não sabe sequer o que foi pedido em troca. — Ela olhou para Cayman, que parecia ainda mais pálido do que antes, neste momento eu temia que ela ia desmaiar e cair da cadeira. — Minha paciência está se esgotando, — Roth disse. Paul pigarreou e aparentou ser um homem. Uma parte de mim queria parar o que ele falaria, porque tinha a sensação de que o que ele ia dizer seria tão desastroso que consumiria tudo. — Em troca de salvar a vida dela, — ele disse. — Pedimos um familiar seu.


Prendi uma respiração afiada e penetrante enquanto as palavras dele saltavam para fora da minha cabeça. Não. Ele não poderia ter dito o que eu pensei que disse. Roth desenrolou os braços lentamente. — Desculpe-me? — Em troca de sal... Salvar a vida dela, pedimos um familiar em troca. — Paul respondeu; seu nervosismo ecoando dentro do ambiente. — Esse foi o acord... Acordo que fizemos. Atordoada, me virei para Cayman e ele estava olhando para as costas de Roth. — Eu disse que você não gostaria do que eles pediriam em troca, mas você disse que lhes dessem... — Eu disse a você que desse qualquer coisa, — Roth interrompeu asperamente. — Eu sei o que eu disse. Cayman se encolheu, e olhou para baixo. — Espere, — eu disse, balançando a cabeça. — Você não pode estar falando sério. Por que um dos familiares dele? Serifina cuidadosamente deslizou de sua cadeira e ficou ao lado da mesa, obviamente tinha mais coragem do que Paul. — Os familiares são seres muito poderosos, especialmente quando têm um laço com uma pessoa. São como um sifão ou um condutor. Quando os familiares do Príncipe têm um laço com outra pessoa, depois de um tempo, a nova… — A nova pessoa com o laço pode desenvolver algumas das habilidades do hóspede original, — Roth interrompeu. — Eles querem meus talentos. Ela engoliu em seco. — Essa não é a razão principal. — Já sei o suficiente com o que ouvi. — Ele deu um passo para frente, e a menina se afastou, mas ele não se aproximou mais. Sabia que Roth estava furioso, mas eu também sabia que ele não lhe faria mal. — Vocês pedem muito.


— Um acordo é um acordo, — Paul disse suavemente. — E tenho o pressentimento de que não há preço que não pagaria pela vida que salvamos. Razão pela qual não queremos qualquer familiar. Fomos muito específicos em nosso acordo. Cayman fechou os olhos. — Foram sim. Muito específico. Roth foi em direção dos bruxos enquanto meus pensamentos corriam para encontrar uma maneira de sair dessa. — Quem? Nenhum bruxo parecia querer dizer o nome, mas Paul finalmente tomou coragem e avançou. — Fizemos o negócio em troca da cobra. — Não! — A palavra escapou da minha boca antes que eu pudesse parar. Vireime com os olhos selvagens pregados em Roth. — Não Bambi. De jeito nenhum. Roth

não

disse

nada

enquanto

observava

os

bruxos,

com

ombros

impossivelmente tensos. — Por que não algum outro? — Perguntei. Renunciar ao Tambor ou aos gatinhos seria difícil, mas deixar Bambi ir seria pior. — Porque ela? — Porque ela é a mais poderosa, — Paul respondeu simplesmente. — Não é só relacionada com o Príncipe, mas também com você. Nenhum outro familiar tem isso. — Ela tem mais chance de se relacionar com um dos nossos. Virei-me para Roth. — Não. Você não tem que fazer isso. Que se fodam. Eles não podem me machucar ou a você. — Bem, eu suponho que eles não possam, mas que diabos. — Não temos que fazer isto. Paul me deu um olhar de incredulidade. — Você o deixará quebrar a palavra dele? — Vou fechar sua maldita boca, — apontei com minhas mãos fechadas em punhos. Culpa agitava meu estômago. Isto estava acontecendo por minha culpa. Eu


não me esfaqueara deliberadamente, mas me envolver com Zayne sem realmente me questionar do por que ter sido capaz de beijá-lo permitiu o incidente em que ele me beijou. O que causou os acontecimentos que vieram depois. — Ela tem razão. — Cayman esfregou a palma de sua mão em seu queixo machucado. — Roth, ela está certa. Você sabe que há uma maneira de sair dessa. Eu não vou... Segurá-la contra você. Eu sei o quanto Bambi significa para você, e sabia disso quando negociei o acordo. Roth se virou para Cayman. — Você negociou um acordo acreditando que eu não o honraria? Cayman assentiu. A incredulidade se desenhou no rosto do Roth. — Você sabe o que vai acontecer se eu não honrar este acordo? Cayman assentiu novamente. Roth amaldiçoou enquanto levantava a mão e passava os dedos pelo cabelo antes de se aproximar do outro demônio. Preparei-me para uma briga de proporções épicas, mas Roth apertou a mão na parte de atrás da cabeça de Cayman. — Estúpido filho da puta, — disse, mas não foi com ira. Meu coração se retorceu em meu peito. Dor encheu o tom de Roth. — Você queria morrer? Você sabia o que aconteceria. Se você negociar um acordo e falhar, você morre. Ai Deus. — Você faria qualquer coisa para salvá-la, — Cayman sussurrou, encontrando o olhar de Roth. — E eu faria qualquer coisa para servir aos seus interesses, mesmo que isso signifique a minha morte. Nunca esperei que você abrisse mão de Bambi, mas era isso o necessário para eles salvarem a Layla. Então foi isso o que prometi.


Meu coração poderia ter impedido que as palavras afundassem. Cayman fizera o negócio sabendo que Roth não podia desistir de Bambi. Ele fez isso para me salvar, porque era isso que Roth queria. A lealdade que Cayman sentia por Roth era dilaceradora. Virei-me para os bruxos. — Vocês não podem cancelar o negócio, certo? Serifina sacudiu a cabeça. — A velha bruxa quer a familiar feminina. — E a velha bruxa consegue o que quer, — Paul terminou. Lágrimas cravavam na parte de atrás dos meus olhos, e senti Robin mover-se ao longo do meu flanco, obviamente, sentindo o torvelinho das minhas emoções. Isto não estava bem, não era nada justo. Sem soltar a parte de atrás da cabeça de Cayman, Roth fechou os olhos brevemente, e depois os abriu, girando para ficar de frente para os bruxos. Sua forte mandíbula enviava um recado que faria um homem sábio fugir. — Ela não será machucada. — Serifina insistiu, tratando de nos apaziguar. — Será tratada como uma rainha. Escutar isso não ajudou, porque não os conhecíamos, e Bambi não era como se pertencesse a nós. Bambi fazia tanto por nós, por mim, e agora teríamos que entregála a estranhos? Ela era uma parte nossa, e eles estavam pedindo que renunciássemos a ela, que Roth se desfizesse dela. Aproximei-me de Roth, sem saber o que dizer. Nossos olhos se encontraram por um momento, e o rude brilho se foi por tempo suficiente para que eu pudesse ver o verdadeiro alcance da agitação que ele sentia. Coloquei minha mão em seu braço, e ele assentiu. — Bambi, — disse, com seu olhar ainda segurando os meus. — Saia.


Eu não queria ver, mas como todas às vezes anteriores, Bambi saiu da sua pele e caiu no espaço ao lado dele, reconstruindo-se rapidamente. Bambi se levantou, girando o pescoço para os bruxos antes de bater no quadril de Roth. Ela deveria saber. Eu sabia, porque essa era a forma como funcionava a união, e meu peito doía enquanto ela se estirava mais, batendo em meu braço com seu focinho. Lágrimas nublaram minha visão enquanto estendia a mão, passando-a sobre as suaves escamas entre seus olhos. — Deve haver alguma outra maneira, — resmunguei. — Não há, — ele disse baixinho. — Cayman não é o culpado. Ele fez o que precisava fazer. — Eu sei. — E eu não farei isso com ele, — ele continuou. — Quando os demônios morrem, não é como os seres humanos. Isso envolve o abismo. Isso não seria justo também, e apesar de Roth e Cayman terem brigado ontem por eu ir ao inferno, os dois eram amigos. Francamente, eu tinha certeza de que Cayman era seu único amigo além de mim, e Roth teve que escolher entre duas opções ruins. Renunciar Bambi para um grupo de bruxos ou sentenciar seu amigo a morte. Bambi se virou para Roth e se ergueu. Ela descansou a cabeça no ombro dele, e quando se levantou Roth lhe deu um beijo entre os olhos. — Quem de vocês a levará? Duvido que planejem caminhar com ela nesta forma. — Não. — Serifina passou as mãos sobre as calças escuras que usava. — É por isso que estou aqui. — Ah, sim? — Roth perguntou, e logo levantou os olhos para ela. Quando ela assentiu, ele sorriu cruelmente. — Se causar a ela uma gota de dor, eu saberei. E não


importa as consequências que terei que enfrentar, não só te caçarei até te matar, mas também todo o seu clã. — Não lhe faremos mal, — prometeu. Roth olhou para Bambi, e tentou sorrir, mas não conseguiu. — Vá. Mas a familiar hesitou, e Roth teve que dizer para ela ir novamente. Uma dor muito real passou por mim quando levantei minha mão, passando o dorso sobre a umidade em minha face. Finalmente, depois do que senti como se meu coração fosse cortado do meu peito e jogado ao chão, Bambi escorregou para longe de nós, com a cabeça abaixada. Roth deu um passo adiante, como se fosse segui-la, mas parou. Andando atrás dele, eu passei meus braços ao redor da sua cintura. Suas mãos descansaram em meus braços, mas em vez de afastá-los, agarrou-se a eles. Empurrando a manga do seu grosso suéter e expondo o braço, Serifina esperou com um temor que claramente não podia conter. A um metro diante dela, Bambi se desfez, formando uma espessa sombra que se acomodou no braço dela. Serifina se sacudiu enquanto Bambi se fundia em sua pele, apertando sua mandíbula quando Bambi desapareceu sob o suéter. A garota se sacudiu e depois se retorceu, curvando-se. Um segundo depois se endireitou, com as costas inclinadas enquanto Bambi aparecia, dando voltas ao redor do seu pescoço. Paul xingou e agarrou Serifina pelos braços. Bambi desapareceu sob o suéter, e pela forma repentina como o rosto dela se avermelhou, eu duvidava que Bambi estivesse fazendo de sua casa um lugar confortável. Estava feito.


Nenhum de nós poderia ter previsto isso. Entendia por que Cayman não havia dito nada até este ponto, eu pensei que saber que isso poderia acontecer teria sido um golpe ainda mais duro. Ou talvez não. A perda era amarga se era esperada ou não. E esta era uma perda. — Foi cumprido. Saiam. Daqui. — Roth grunhiu, com os olhos brilhando de um intenso vermelho. Houve um momento de hesitação. Mas então Paul e Serifina se moveram mais rápido do que eles provavelmente já haviam feito. Viraram e saíram, eu queria pegar seu cabelo castanho e jogá-la no chão, exigindo que nos devolvesse Bambi. Mas não pude. Um demônio não quebrava suas promessas. Serifina parou na porta e se virou para onde estávamos. Paul abaixou a cabeça, falando muito baixo para nós ouvirmos. Serifina respirou e olhou para cada um de nós por sua vez. — Entendemos a gravidade do problema com o Lilin. Por favor, não achem que não. É por isso que precisamos do familiar. — Por que Bambi vai ajudá-los a sobreviver ao apocalipse? — Eu ri com voz rouca. — Ela é incrível, mas nem mesmo ela pode fazer isso. Ela fez uma careta de dor. — Não é isso que pensamos, mas ela nos fará mais fortes. Você sabe disso. E isso nos protegerá de todas as frentes, incluindo a sua. — Seu olhar descansou brevemente em Roth. — Ela garantirá que nenhum dano nos prejudique, não quando nós a temos. Maldita seja. Ela estava certa e ainda me sentia tão errada. — Então, é uma refém em vez de uma rainha? — Eu atirei. — Vamos, — Paul insistiu. — Não adianta argumentar com eles.


— Sim, vão. — Roth deu um passo à frente, com o queixo inclinado para baixo. — Vão embora antes que eu me arrependa das minhas ações. Serifina parecia rasgada, mas manteve-se firme. Tive que admirá-la por isso, porque Roth parecia um sanguinário, e eu estava certa de que não estava tão diferente. — O Lilin não foi muito longe, — ela disse, afastando-se quando ele se virou para ela. — Há muita escuridão na cidade, uma que não havíamos visto antes, mas que podemos sentir. Um calafrio desceu pela minha espinha enquanto ela continuava. — Não sabemos o que é. Mas o que mais poderia causar isso? Algo não natural está acontecendo lá. — A cidade é um lugar muito grande, — eu disse. — Isso não reduz nada. Ela olhou deliberadamente para Paul. — Diga a eles. — Quando ele hesitou, ela levantou a voz. — Se eles não pararem o Lilin, haverá muito poucos lugares onde qualquer um de nós possa se esconder. — Conte. Aborrecido e com o rosto vermelho, Paul deu de ombros. — Estivemos mantendo uma estreita vigilância sobre a igreja dos Filhos de Deus há um tempo. Oh Deus, eu me esqueci deles, foi uma loucura, mas meu tempo foi gasto em um monte de coisas. A igreja não pertence a nenhuma das principais seitas, e onde tive o desprazer de conhecer alguns dos piores seres humanos. Não só odiavam os demônios como detestavam os Guardiões. E realmente me odiavam. Tentei não pensar no dia em que dois deles nos seguiram para o estacionamento, ou como perdi a minha calma, fazendo algo realmente horrível envolvendo uma bíblia e o rosto de um homem. Minhas ações permitiram uma das suas mortes, e embora eles fossem realmente terríveis, saber que havia provocado a morte um ser humano era difícil de engolir.


— Suas crenças fanáticas os tornam tão perigosos como qualquer demônio, — Paul continuou. — Estiveram ativos até quarta-feira passada. Nenhum membro foi visto ou ouvido desde então. — Ele fez uma pausa, pressionando os lábios. — Nós nos infiltramos há muito tempo, mas o nosso irmão não tem entrado em contato conosco. — Não somos tão tolos em ir verificar, — Serifina disse. — Somos muito vulneráveis para nos colocar em perigo, mas assumindo que nossas premissas são verdadeiras, se encontrarem a igreja, podem encontrar a escuridão, e o Lilin.


O endereço da Igreja dos Filhos de Deus não era segredo. O endereço estava impresso em muitos folhetos que foram deixados nos para-brisas dos carros e nas cabines telefônicas. Era perto de Adams Morgan, que sempre pensei que era um local estranho para uma igreja, porque o bairro era bastante animado e conhecido por sua vida noturna. Tornava-se cada vez mais uma área de entretenimento, então o edifício da igreja realmente parecia fora de lugar. Mas não fomos direto para Adams Morgan. Nos três ficamos no vazio clube depois que os bruxos se foram, levando Bambi com eles. Roth era a personificação da raiva mal contida, ele estava no meio da pista abrindo e fechando as mãos várias vezes. Ele foi o primeiro a falar. — Acho que devemos ser inteligentes e não entrarmos todos de uma só vez na igreja. Se o Lilin realmente estiver lá, duvido que esteja sentado e cantando hinos com essas pessoas.


Olhei para Cayman, que ainda parecia aflito com o que acabou de acontecer, e então, me virei para me concentrar. Por que diabos o Lilin estaria com eles? E viceversa? — Por mais que eu não goste, precisamos chamar os Guardiões, — Roth continuou, se dirigindo para o lugar onde os bruxos estavam sentados, e pegando uma cadeira com cuidado, meticulosamente, ele a colocou embaixo da mesa. — Sim, suas perfeitas almas peroladas estarão em risco. — Roth... — dei um passo à frente. Ele me ignorou, colocando a outra cadeira embaixo da mesa. — Nós temos as armas necessárias para eliminar o Lilin. Os Guardiões também. Vamos fazer isso. — Roth. — Eu repeti mais alto desta vez. Seus olhos dilatados encontraram os meus. O brilho neles era completamente assassino. — Pare por um segundo. — E se não? — Ele respondeu baixinho, bem baixinho. A dor em meu peito triplicou. — O que aconteceu... Temos que conversar. Seus lábios estavam pressionados em uma linha fina. — Temos? Porque insistir com isso parece bastante inútil. O que vai mudar? — Não muda nada, — eu disse, enquanto Cayman se virava de lado, passando a mão pelo cabelo claro. — Mas não podemos fingir que não aconteceu. Bambi... — Acredito que é melhor que pretenda fazer exatamente isso. — Sombras começaram a tomar forma sob sua pele, tornando suas características nítidas, formando ângulos duros. — Porque estou muito perto de rasgar aquele clã, e se eu fizer isso, quebrarei o acordo que Cayman fez. Cayman baixou a cabeça, colocando as mãos sobre seus estreitos quadris. — Eu esperava que eles não viessem cobrar.


Roth não respondeu a isso, e eu não sabia o que dizer para melhorar. Ele havia perdido um ente querido. Não importa se a pessoa amada era um familiar que muitas vezes tomava a forma de uma cobra gigante. Os dois se juntaram a um nível que nem mesmo eu poderia entender completamente, e eu me juntei a Bambi. Coloquei minha mão na minha costela onde Robin descansava. Eu já estava ligada com a raposa. — Sinto muito, — eu disse a ele. Seus ombros se esticaram. — Por que você está se desculpando? Não foi você que a levou embora. — Se alguém deve pedir desculpas, sou eu. Eu negociei o acordo, — Cayman interrompeu mal-humorado. — Eu sabia... — Você estava fazendo o seu trabalho, — Roth apontou. — Eu disse que daria qualquer coisa, por isso fez o negócio. Não há nada pelo que deva se desculpar. Fechei os olhos, me forçando a não dizer o que queria. A culpa ganhou, mas eu sabia que ele não precisava escutar isso de mim neste momento. Por mais que queria me enfurecer pela perda de Bambi, não se tratava de mim, e o que eu sentia não era nada comparado com o que Roth estava sentindo. Colocando meu cabelo atrás de minhas orelhas, juntei minhas revoltosas emoções, escondendo-as, e me foquei. — Ok. Posso entrar em contato com Zayne. Roth acenou com a cabeça e voltamos para seu apartamento para que eu pudesse pegar meu telefone. Cayman não nos acompanhou, e eu me senti tão mal por ele quanto por Roth. Entrar no quarto dele e saber que Bambi nunca mais viria serpenteando até o piano novamente arrancou minha respiração do peito enquanto pegava minha bolsa ao lado da mesa.


— Ela ficará bem, — Roth disse suavemente enquanto eu pegava meu telefone. Virei e o encontrei olhando para o piano. — Eu sei que vai. Bambi não permitirá que a maltratem. Mordi o lábio. À parte de trás da minha garganta queimava. Suspirando, ele olhou para mim e a raiva ainda estava lá, borbulhando sob a superfície, mas também estava sua desilusão destroçada. — Eu realmente espero que esses bruxos estejam certos, porque eu tenho um monte de agressão reprimida que precisa sair do meu sistema. — Eu... Calei-me impotente, sem poder ajudar, segurando o telefone. Seus grossos cílios se baixaram. — Ela ficará bem. Caminhando em direção a ele, coloquei minha mão em seu ombro, e então me estirei, beijando seu rosto. Ele ficou rígido por um momento, então me cercou com os braços, enterrando seu rosto na dobra do meu pescoço por um breve momento antes de se afastar, esfregando a mão ao longo de sua bochecha. — Mande um recado para Zayne. E foi isso que fiz.

***

Roth e eu esperamos os Guardiões sobre o telhado de uma área nas proximidades de Adams Morgan antes do pôr do sol. O nervosismo tornou difícil que eu ficasse parada, e Robin estava absorvendo isso através do meu estômago de sua maneira pessoal. Por sorte passara apenas cerca de dez minutos antes que um movimento no céu chamasse a nossa atenção.


De longe, à primeira vista, pareciam com pássaros de caça, como se fossem mergulhar e pegar as pessoas. Mas quando eles se aproximaram, não havia dúvida sobre o que eles eram. Mesmo aqueles nas ruas seriam capazes de reconhecer as diferenças. Notei também que vários Guardiões de merda estavam chegando. — Maldição, — sussurrei, rigidamente. Roth estava do meu lado em menos de um segundo. Isso não deveria me surpreender. Obviamente, isso estava prestes a se tornar um grande problema, e eu sabia que acabaria tendo que enfrentar alguém que não fosse Zayne, Dez e Nicolai. Apenas uma parte de mim não estava pronta. Não. — Isso será desconfortável, — eu disse, tirando meu cabelo do rosto. — Não. — Roth colocou a mão na parte inferior das minhas costas. — Mas pode ser sangrento. Dei-lhe um olhar. — Comporte-se. — Não posso prometer nada. — Não é sobre eles que você tem que jogar sua agressividade. Ele sorriu. — Deixe-me ser o juiz disso. Isso não estava indo bem, mas já era tarde demais para mudar nossos planos. O resplendor branco desbotado diminuiu e Zayne aterrissou primeiro. Em sua forma real, ele era imenso. Sua pele era cinza escura, seus chifres estavam curvados para trás, dividindo seu cabelo loiro. Não era feio ou assustador, pelo menos para mim,


mas seus olhos tinham uma rajada fria que estava direcionada para nós, uma lembrança dolorosa do quanto ele mudou. Eu queria me esconder desse olhar e de tudo que ele podia ver, mas achei meu lado corajoso e me mantive perto. Eu me coloquei nesta situação com ele e teria que lidar com as consequências. Dez e Nicolai foram os próximos, seguidos por dois outros membros do clã, mas o último a chegar foi o único que causou o terror que explodiu como chumbo grosso no meu estômago e fez com que Roth soltasse uma forte maldição. Abbot estava aqui. O teto estremeceu quando ele aterrissou atrás dos membros do clã e se endireitou, ele era uns bons quinze centímetros mais alto do que o resto. Com o cabelo dourado como do seu filho, que caía sobre os ombros, ele sempre me fez lembrar um grande leão. De certa forma, Abbot era o rei. Durante anos, eu tremia com a simples visão dele em sua forma humana e de Guardião, já que era a maior autoridade que conhecia. E durante anos, eu lutava para obter o menor indício de orgulho de sua parte. Eu basicamente trabalhei na teoria de que qualquer atenção era boa, como um cachorrinho. Agora? Raiva incontida era o que me consumia, e eu estava certa como o inferno que não me importava se ele estivesse orgulhoso disso ou não. Abbot pensou o pior de mim, com pouca ou nenhuma evidência apoiando. Eu também não sentiria saudades dessa baixa autoestima de perdedora, também acreditei no pior. Embora ele não tivesse me apunhalado com a maldita adaga no estômago, manteve-me enjaulada como um animal, e depois algemada como um.


Isso era um pouco difícil de deixar passar. — O que ele está fazendo aqui? — Roth perguntou, embora ele parecesse perguntar sobre o tempo, eu sabia que não estava tão calmo assim. Abbot avançou enquanto seu clã, incluindo seu filho, permaneceu ao lado dele. Seu olhar deslizou para Roth, e quase não conseguiu manter a satisfação em seu rosto, mas, em seguida, quando olhou para mim, todas as linhas duras do seu rosto se suavizaram. — Layla, eu... — Não. — A palavra que surgiu me surpreendeu. — Não se desculpe. Algumas palavras não compensam o que você fez. Ele se esticou, alcançando sua altura máxima. — Eu sei que nada será capaz de apagar parte do que aconteceu, mas eu... Lamento o papel que tive nele. O papel que teve? Para mim, ele foi o maldito capitão liderando o desfile de Assassinem a Layla, que houve na rua principal. Abbot não terminara. — Você era minha para criar e proteger. Eu te decepcionei. — Sim, você falhou, — Roth disse. — Eu não, mas este não é o assunto, e esta mensagem é para todos. Ela não precisa de proteção. Não mais. Enchi-me de calor e de certo formigamento ao ouvir isso, mas o sentimento presunçoso rapidamente se evaporou quando meu olhar encontrou Zayne, e ele desviou o olhar sem muita demonstração de emoção. — Ouvi do meu filho que você é... Outra coisa. — Abbot falou comigo diretamente. — Você já não se parece conosco. — Não sou como vocês. — Minhas mãos se apertaram em punhos e Robin começou a ficar inquieto. — Nunca fui um demônio. Isso atraiu a atenção de Zayne e tirou a emoção do seu rosto. Surpresa. — Sim, eu tenho algumas habilidades demoníacas, mas... Bem, algo disso importa?


— Não, — Zayne respondeu, me surpreendendo. — Nunca importou antes. A qualquer um de nós. Não importa agora. Houve uma sensação de puxão no meu coração. — Você disse que tinha uma pista sobre o Lilin, — Nikolai disse; sempre o pacificador do grupo. — Que ele poderia estar trancado na igreja dos Filhos de Deus? Roth olhava para Abbot como se quisesse arrancar à cabeça do Guardião, e ele teria feito isso naquela noite em que fui capturada se eu não o tivesse detido. — Sim. Layla e eu iremos ver se o Lilin está lá, vamos precisar de reforços. — É por isso que estamos aqui, — Dez disse. — Diga-nos o que você quer fazer. Este é o show de vocês. Os ombros do Abbot se curvaram, era óbvio que ele não estava feliz com essa decisão. Roth parecia arrogante ao dizer: — Nós precisamos que todos vocês fiquem por perto. Se as coisas ficarem feias, saberão. — E como será isso? — Nicolai perguntou. Um lado dos lábios de Roth se curvou para cima. — Nitro. Fora. Meu olhar disparou quando a pequena nuvem negra apareceu na frente dele. Ele caiu sobre o chão, e então rapidamente sobre si mesmo, formando um gatinho. Zayne sacudiu a cabeça. — O que há com você e essas pequenas ninhadas? — Paciência, grande Stony, paciência. Antes que Roth terminasse estas palavras, o gatinho cresceu diante dos nossos olhos. Os ombros frágeis expandiram-se em um lombo poderoso. Suas costas se alargaram com músculos grandes completamente cobertos por pele branca. O que começou parecendo algo suave, cresceu até se transformar em algo ameaçador,


reverberando grunhidos que arrepiavam os cabelos da parte de trás das minhas costas. Nitro parecia uma pantera, se panteras fossem brancas. Deus. — Nitro vai informá-los caso as coisas fiquem fora de controle, — Roth explicou. — Será óbvio. Eu não conseguia parar de olhar para o gato. Ele se sentou no chão enquanto sua língua se movia sobre os dentes. Ele olhava com fome para os Guardiões, os quais pareciam muito, muito infelizes, especialmente quando ele tossiu algo que soou suspeitosamente como uma risada. Roth se virou para mim. — Pronta? — Sim. — A adaga estava metida em minha bota, assim como a de Roth. Caminhamos até a borda com vista para o beco lá em baixo. A maneira mais rápida de descer era pulando. Roth mudou rapidamente, dobrando suas asas para que não me batesse com as bordas delas. Sabendo que todos os olhos estavam sobre nós, permiti que a minha própria forma tomasse lugar. Minha pele vibrou com a mudança, e quando isso aconteceu foi como se eu estivesse finalmente acordada depois de dormir por dias. Minhas asas se desdobraram, arqueando sobre mim, as penas fazendo cócegas devido ao vento. Alguém murmurou uma maldição atrás de nós, e parecia muito com Abbot. Olhei para o Roth e sorri. — Vejo você lá, — ele disse, e saltou. — Presunçoso, — murmurei.


Em vez de saltar, caminhei para fora da borda e o espaço vazio imediatamente se esticou para me agarrar. A gravidade tomou o melhor. O beco estava se aproximando muito rápido, e deixei minhas asas abertas, reduzindo a queda. Aterrissei, encolhendo minhas pernas, me impulsionando para cima para me encontrar olhando para um homem velho, de rosto sujo e sem se barbear, olhando para mim. — Santa Mãe, — ele engasgou, tropeçando enquanto recuava contra a parede, então deslizou contra ela, apertando sua bolsa marrom contra o peito. Fiz uma careta enquanto minhas asas se dobravam, desaparecendo. — Ops? Roth riu, voltando a sua forma humana, e se esticando para alcançar minha mão. Enviei ao pobre homem um olhar de desculpas, e então nos apressamos para a lateral do prédio, saindo para a rua principal. Meu coração pulava enquanto nos juntávamos à multidão agitada na calçada. — Espero que isso não conte como exposição, — eu disse enquanto atravessávamos a rua. Ele apertou minha mão. — Com certeza acho que os Alfas têm assuntos mais importantes para lidar agora. — Então, ele deu de ombros. — E falando sério, você deveria ter visto o olhar no rosto do homem quando ele me viu. Isso foi divertido. Balancei a cabeça, mas um sorrisinho escapou. Roth estava com um humor muito melhor do que estivera imediatamente depois que as bruxas nos deixassem levando Bambi. Se distrair com o que nos aguardava estava funcionando para ele, e era estranho estar grata a isso, mas eu estava. — Aí está, — eu disse dois edifícios mais abaixo do edifício que era a igreja. Ele arqueou a sobrancelha escura, estudando a estrutura de quatro andares. — As janelas sempre foram assim?


Balancei a cabeça quando a porta do edifício em frente se abria. Uma explosão de música e risos seguiu o jovem para fora. Sua aura era da mesma cor verde das algas marinhas, e formava suaves redemoinhos enquanto ele vestia a jaqueta, dirigindo-se na direção contrária. — Sim, — respondi. — Sempre tiveram essas janelas escuras por dentro, para que assim não se possa ver nada. Só contribui para seu aspecto sombrio, não é? Ele bufou. — Você se lembra do homem que jogou água benta? Revirei os olhos. — Não é algo que possa esquecer. — Eu realmente espero que ele esteja lá. — Oh, céus, — murmurei. — Sabe o que acaba de me ocorrer? Eu olhei para ele. — O quê? Algo da faísca maliciosa estava de volta em seu olhar âmbar. — Não cheguei a te deflorar no meu Porsche. — Oh, por Deus. — Fiquei boquiaberta. — O que no mundo te fez pensar nisso agora? — Chama-se ser multitarefa. — Ele piscou para mim. — E eu ainda acho que iremos fazer isso nesse bebê, apenas para sua informação. — Você é ridículo. — Soltando a mão dele, andei rapidamente em direção ao prédio, e o sorriso no meu rosto se desvaneceu como uma velha memória assim que cheguei à porta. — Você sente isso? — Eu me sinto em casa. Ignorei isso, porque estive no Inferno, e nem sequer o Inferno parecia como isto, como se cinco litros de óleo fossem lançados sobre nossas cabeças. Caminhar era


como se empurrar através do lodo. O ar estava espesso, uma maldade tão pesada que acho que era disso que as bruxas falavam, e nunca na minha vida senti nada assim. Roth me cercou, alcançando a maçaneta da porta. — Fechada com chave. — Ele torceu a maçaneta fortemente, como fizera no porão da escola, quando estávamos caçando a fonte de um aroma demoníaco bastante podre, quebrando a fechadura enquanto batia nela com uma dose de muito pouco calor celestial. — E já não está mais fechada. No momento em que ele abriu a porta, o aroma que havia no ar nos fez andar alguns bons metros para trás. — Oh meu Deus. — Coloquei minha mão sobre a minha boca bruscamente, parando meu impulso de vomitar enquanto observava o átrio mal iluminado. — Jesus, — Roth murmurou; seus lábios se abrindo em uma careta. O cheiro de carne deixada ao ar livre por muito tempo misturava com algo que não era capaz de lembrar. Pior do que enxofre, ou um beco sujo na cidade. Cuidadosamente, abaixei minha mão, e tentei não respirar pelo nariz. Se o cheiro servisse como uma espécie de indicador, as coisas estavam muito, muito erradas por aqui. No vácuo atrás do funcionário da recepção estava pendurado um enorme banner. Guardiões desenhados cruelmente, que mais pareciam morcegos e gárgulas, foram colocados juntos com as palavras, O FIM É ESTA NOITE. — Tão clichê. — Roth caminhou ao redor da recepção em direção às portas duplas e sem janelas. — Eles acreditaram que iria acontecer algo novo.


Eu o segui; decepcionada porque o cheiro estava piorando. — Mas o fim é esta noite. — Você... — ele olhou para mim por cima do ombro quando chegou à porta. — É adorável. Eu teria sorrido para isso, mas as portas se abriram, e tudo que eu podia fazer era pressionar meus lábios para evitar me jogar sobre as costas de Roth. Havia velas em todos os lugares, lançando uma luz suave piscando através da sala no átrio, o qual foi transformado em um lugar de cerimônias, completada com os bancos e o presbitério, que era uma plataforma elevada. Os bancos não estavam vazios. Eles eram a fonte do cheiro horrível. Eles estavam cheios de corpos.


Inalei uma profunda respiração, e imediatamente me arrependi, o fedor foi ofuscado pelo horror do que estávamos assistindo. Dezenas e dezenas de corpos estavam espalhados pelos bancos, alguns desmoronaram enquanto outros ainda estavam sentados, com as cabeças caídas para trás, as mandíbulas escancaradas. Eles estavam em vários estados de decomposição. Por mais que eu tenha experimentado coisas nos últimos meses, nunca na minha vida vi nada assim. — Meu Deus, — eu disse horrorizada. Roth se esticou quando um movimento perto do local do coral atraiu nossa atenção. Estava vazio um momento atrás, mas agora uma figura estava em pé na frente do altar. Pisquei. Era o Lilin, e havia tomado a forma de Sam novamente. — Eu acho que isso é apropriado, — o Lilin disse, abrindo os braços para os lados. — Tenho uma congregação de mortos.


— A maioria das pessoas tem um objetivo maior, — Roth disse, olhando a carnificina com desgosto. — Eu não sou a maioria, sou? — Sorriu ligeiramente da sua posição elevada. — Estive esperando por você, irmã. — Não sou sua irmã, — disse entre dentes. — A aceitação é o primeiro passo para a recuperação, ou assim eles dizem. — O Lilin foi até a beira do altar e se agachou. — Você está aqui para me ajudar. Isso não era uma pergunta, mas respondi de qualquer maneira. — Não. Estou aqui para pará-lo. A coisa riu suavemente. — Você não pode me parar. Muito menos o Príncipe. — Não aposte nisso, — Roth respondeu. Olhos brancos como leite se moveram para Roth enquanto o Lilin sorria misteriosamente. — Acho que vamos ver isso, não é? — O olhar do Lilin encontrou o meu. — Precisamos libertar a nossa mãe. É uma tolice que uma força como ela deva permanecer trancada. Estamos juntos nisto e… — Você pode parar seu discurso de vendedor justamente aí, — interrompi. — Não há nada que você possa dizer para me convencer. Você não será capaz de libertar Lilith. Você não entende isso? Nada a libertará. Depois que Paimon tentou fazer isso, medidas extraordinárias foram feitas para impedir que ela saia. — É verdade, — Roth comentou presunçosamente. — O Chefe a tem trancada com chave. Isso não acontecerá. — É aí que você está errado, — o Lilin respondeu do altar. — Se eu tiver sucesso em levar o Inferno sobre a Terra, ninguém de baixo prestará atenção em Lilith. Ela será o menor problema deles.


Músculos se esticaram ao longo das minhas costas. — Se você trouxer o inferno à Terra, os Alfas intervirão. Varrerão tudo, inclusive você. — Não é como se eles pudessem puxar um feitiço mágico e nos fazer desaparecer. Roth suspirou. — Ele tem um ponto. — Isso não ajuda, — eu disse entre dentes. — Os Alfas lutarão conosco e nós revidaremos; mesmo aqueles que não querem ver Lilith livre ou o Inferno abrindo suas portas. — Eles lutarão, — o Lilin continuou. — Como eu, e enquanto todo mundo estiver lutando para sobreviver, o mundo entrará em colapso. Se eu não puder libertar nossa mãe, então realmente não tenho nada a perder. O que o Grim me avisara estava se tornando realidade, mas realmente não era uma surpresa. O Lilin realmente não pensava. Tudo o que importava era Lilith livre, e se não podia ter isso, então se conformaria com caos e destruição absoluta. O Lilin se levantou de forma fluida. — Você verá já. No final não terá escolha, a não ser me ajudar. A escuridão ao longo da parede que estivera imóvel e imperceptível até este momento, de repente se moveu. Espessas sombras se moveram e cresceram, deslizando para cima do teto como uma mancha de óleo e lama. O fedor do lugar aumentou, mas a maldade ali se tornou sufocante. Havia uma fonte de escuridão e nós estivemos no meio disso esse tempo todo. — Espectros, — ofeguei, dando um passo para trás. Eles irromperam através do teto, como algo saído de um filme de terror, e caíram no chão entre os bancos. Mas isso não foi tudo.


Podíamos ver a parede agora, podíamos ver que havia várias estátuas alinhadas. Pareciam com as gárgulas de pedra colocadas no topo de vários edifícios na cidade, mas, mais cruas, mais grotescas do que as reais. Algumas pareciam elfos. Outras eram partes leão, e algumas pareciam pássaros. Não do tipo pombos felizes. Mais como pterodátilos, que foram um réptil voador carnívoro há cerca de 150 milhões de anos. Havia vinte estátuas. — Eles os criaram das pedras. — O Lilin gesticulou para os corpos nos bancos. — Tão bizarro. Eles usaram isso como um lembrete do mal que tanto queriam enfrentar. Irônico. Um segundo se passou. A primeira linha de bancos voou pelo ar, se quebrando e jogando corpos em todas as direções. A segunda linha seguiu a primeira, em seguida, a terceira, a quarta... Os bancos saíram voando, juntamente com as partes deixadas para trás. Cada explosão de banco era um trovão. — É melhor alguém chamar os Caça Fantasmas, — Roth murmurou. — Porque não temos tempo para isto. Eu teria rido, eu queria, mas um pedaço de madeira voou em minha direção. Abaixei-me, evitando por pouco ser esmagada. A madeira bateu na parede atrás de nós. Mudei imediatamente. Roth fez o mesmo enquanto saltava, pegando um grande pedaço de madeira no ar. Quebrando ao meio e jogando-o no chão. Faíscas voaram e chamas subiram do canto mais distante quando as velas caíram e o fogo começou nos escombros.


Agachando-me, tirei a adaga da minha bota e comecei a caminhar pelo corredor central, até o altar do coral. Os espectros não gostaram disso. Eles vieram para mim. Em forma humana, mas não mais consistentes do que a fumaça, eles eram bem difíceis de lutar do que os animais. Um conseguiu agarrar meu cabelo, jogando minha cabeça para trás. Eu assobiei e me contorci para sair do punho do espectro. O Lilin gritou algo em uma língua antiga, com um som gutural que não significava nada para mim, mas os espectros responderam. Eles recuaram e correram para as paredes. — Oh merda, — Roth disse. — A coisa está preste a ficar feia. Não tive que esperar muito para saber a que ele se referia. Os espectros bateram nas estátuas, envolvendo-as como um cobertor. Eu não sabia o que estavam fazendo, mas o instinto me disse que eu não gostaria. As sombras piscaram e então desapareceram, filtrando-se nas estátuas, entrando através de fendas e aberturas. Alguns espectros permaneciam perto do teto, suas formas girando e tremendo. Uma forte e terrível sacudida atravessou o prédio, espalhando bancos e corpos, e a sacudida se transformou em um gemido cortado pelo som de pedra de amolar contra a pedra. Então, as estátuas se moveram. — O que, em...? — Eu disse. Roth grunhiu baixo enquanto as coisas se endireitavam e se estiravam, como se despertassem de uma sesta. A gárgula com forma de leão jogou a cabeça para trás, deixando sair um rugido ensurdecedor, o qual era bastante realista.


Uma gárgula em forma de duende se separou da parede. Com apenas 1,52m de altura, suas pegadas ressonavam enquanto se apressava em direção a Roth, cacarejando com uma voz aguda. Roth deu um passo para o lado, girando. Pegou o braço do duende e lançou ao teto. Fazendo um arco fluido, Roth voou para baixo a uma velocidade incrível, estatelando o duende no chão. O piso se quebrou quando a criatura de pedra se partiu em grandes pedaços, liberando o espectro. A sombra negra saiu dos escombros, golpeando Roth, que foi vários passos para trás. Meu familiar se moveu em meu estômago, liberando a si mesmo antes que eu pudesse detê-lo. Robin apareceu, primeiro do tamanho de uma raposa e então cresceu, ficando do tamanho de um Dobermann, e menino, isso era horripilante. Robin se lançou pelo corredor, seu muito grande, mas magro corpo movendose incrivelmente rápido. Saltou, pegando a parte traseira do espectro e derrubando-a. Minha boca caiu aberta. Não tinha ideia que os familiares pudessem tocar os espectros, mas Robin não só tocava. Sacudia a cabeça dele como um pitbull com um sanduíche noturno, girando o espectro de um lado para outro. As outras estátuas nos rodearam, e em um minuto, perdi Roth de vista. Sabendo que a adaga não faria nada contra estas coisas, coloquei-a novamente em minha bota. Gritando do teto, a gárgula com forma de pterodátilo me atacou, seu bico aberto como se planejasse me engolir inteira. Saltei para o lado, mas a ave girou, e foi quando vi sua cauda. Acertou-me no quadril, me derrubando. Bati no chão, minhas mãos aterrissando em algo úmido e pegajoso. Realmente não queria pensar nisso enquanto parava e olhava através da cortina do meu cabelo.


A criatura virou para mim de novo, e rolei nas minhas costas. Usando minhas pernas me empurrei para cima, e depois me agachei. O pássaro veio para mim novamente, mas desta vez estava mais bem preparada, lancei-me para cima e peguei uma de suas asas. Apoiando-me na força que sempre houve em mim, mas que nunca usei realmente, nunca a entendi completamente, quebrei a asa que estava perto do chifre pequeno. Gritando, o pássaro caiu em espiral em direção ao chão, colidindo com os bancos quebrados. Pegando uma mesa, eu a segurei até onde ele estava parado ao pé do altar do coral. Levantei a mesa, e enquanto a criatura se levantava sobre as patas traseiras, bati na cabeça dela com a mesa. Madeira e pedra se quebraram do pescoço para cima. O resto da estátua veio a baixo enquanto a fumaça negra ia para o teto, lembrando-me de um programa de TV que Sam havia me viciado. Girando, observei Roth chutando uma das estátuas na parede, e girando para pegar uma atrás dele. Movia-se com uma graça brutal, destruindo tudo o que se colocava a um toque de distância dele. Robin havia encurralado outro espectro, assim girei e subi na plataforma, onde o Lilin estava observando a carnificina. Ele sorriu para mim na pele de Sam, e eu queria subir e bater naquele rosto sempre amoroso… Uma estátua caiu em mim, me jogando vários metros no ar. Minhas asas se expandiram, me impedindo de ser jogada contra a parede como uma das estátuas de Roth. Parei por um momento, observando a criatura leão. Era gigantesco, seus poderosos músculos se retraindo e esticando enquanto olhava para mim, sua boca aberta revelando presas de pedra. Essa era uma criatura que eu não queria que me pegasse. Virando-me para o Lilin, aterrissei no altar, e como esperava, o leão não veio até mim. Ele foi para trás justamente quando as portas duplas explodiram abertas.


Os Guardiões estavam aqui. — Perfeito. — O Lilin disse; seu sorriso se alargando. Atirei-me para ele, mas o Lilin se esquivou, saltando da plataforma. Xingando baixinho, eu o segui. Dei dois passos antes que Roth aparecesse ao meu lado, tomando meu braço e virando-me para a esquerda, para fora do caminho de outra criatura com forma de duende. — Obrigada, — murmurei. — Foi um prazer. — Roth se lançou para cima, e depois se afastou da espessa nuvem de fumaça que saía do fogo. — Precisamos sair daqui antes que todo este lugar entre em colapso. Fogo lambia seu caminho, subindo pelas paredes, faminto, enquanto consumia tudo o que tocava. Uma parte do teto já havia vindo abaixo. Espreitando o Lilin, parei e me abaixei enquanto outra das criaturas possuídas corria para mim. Suas mãos carnudas se engancharam em minha camiseta, mas saltei para trás, me libertando. Girando, eu chutei, plantando meu pé em seu peito e lançando-o para trás. Agitando os braços, ele caiu sobre as chamas, mas imediatamente retornou, desta vez envolvida em fogo. — Meu Deus. — Rosnei, esquivando-me e depois saltando para longe do seu aperto. Aterrissando vários metros longe dele, olhei para Robin, arrastando-se entre os bancos quebrados, indo atrás de um espectro. A criatura de fogo girou, distraída por Nicolai. Os Guardiões facilmente se esquivaram, escutando quando Roth gritou instruções sobre como destroçá-los.


Voltei-me novamente para o Lilin, vendo que ele havia atingido um dos Guardiões e tentava se alimentar. Pelo canto do meu olho, vi que Abbot tinha uma das criaturas pelo pescoço. Ganhando velocidade, corri pelo corredor, querendo atingir o idiota, mas ele virou no último momento, me viu e se lançou sobre mim. Não havia tempo para impedir a colisão. Chocamo-nos um contra o outro e acertamos o chão, girando várias vezes, parando a poucos metros do fogo, com Lilin sobre mim. Ele sorriu para mim. — Desista. — Isso não vai acontecer. — Esticando minhas pernas, passei pela sua cintura e atirei meu peso em volta dele, tirando-o de cima de mim. Movi-me, levantando a adaga segundos antes de enterrá-la profundamente em seu rosto sorridente. Algo me acertou de lado e tirou o ar dos meus pulmões. Levantando-me, fiquei cara a cara com o maldito leão. Atrás dele e do Lilin, vi Zayne subindo pelo centro do corredor com uma adaga na mão. Lentamente dei um passo para trás, meus olhos sobre as garras afiadas e perturbadoras. O Lilin riu. — Você gosta do meu mascote? — Você gosta disto? — Zayne rosnou, abaixando a adaga em uma ampla descida. O Lilin se virou e se retorceu pela cintura, mas não foi rápido o suficiente. O punhal atingiu alguns centímetros acima do seu coração. Meu corpo estremeceu e a adaga caiu dos meus dedos enquanto um intenso fogo que me tirou a respiração explodiu dentro de mim. Gritando diante da explosão de repentina de dor, cambaleei para trás e tropecei em uma perna, humana ou de


pedra, não sabia, e caí no chão. Tentei tomar fôlego, mas meus pulmões doíam. Olhei para baixo e vi uma linha vermelha sangrando através do meu suéter, bem sobre o meu coração, e perto do meu ombro. — Mas que merd...? Roth girou no ar. Seus olhos arregalados se movendo de mim para o Lilin, e depois para Zayne, que levantou a adaga novamente. Pressionei minha mão logo abaixo do ombro, parando o fluxo de sangue enquanto lutava para me levantar. — Não! — Roth gritou, mudando de direção. — Zayne! Não! — Ele bateu no chão ao lado de Zayne, atingindo-o com o ombro e forçando-o a dar vários passos para trás. Ele se esticou, torcendo o pulso que segurava a adaga enquanto olhava o rosto perplexo de Zayne. — Pare. O Lilin abafou uma risada enquanto se arrastava para o lado, aproximando-se das chamas. O sangue saía do seu peito enquanto ele lutava para respirar. — Você me mata, — ele rosnou, — E ela morre também.


As palavras do Lilin ricocheteavam em minha cabeça, mas havia pouco tempo para me concentrar nelas. As portas estalaram atrás de mim e a luta parou no vestíbulo, a fumaça estava muito densa para ver ou respirar. O fogo rugia fora de controle. Zayne se libertou de Roth quando o Lilin foi em direção a fumaça, desaparecendo de vista. Virei-me, e me dobrei com a dor quando a sensação de queimação no meu ombro se propagou. Procurei no desastre o meu familiar, em pânico quando não conseguia ver além de meio metro na minha frente. — Robin, — eu gritei, rangendo os dentes contra a dor. Ele saiu da nuvem de fumaça, diminuindo de tamanho enquanto corria em minha direção. Saltando, bateu na minha mão, e tomou a forma da minha tatuagem. Roth estava de repente ao meu lado, envolvendo um braço em volta da minha cintura. Zayne estava do meu outro lado, com o rosto marcado pela confusão, olhando para o sangue no meu suéter. Saímos do lugar, atingindo o átrio. Lá, Dez e uma das criaturas de pedra lutavam punho contra punho até que outra gárgula de pedra veio


através das portas, batendo na cintura de Dez, jogando-o pela janela. O vidro se quebrou em pedacinhos, e, então, a luta estava lá na rua. Nicolai estava diante de nós, lançando seu olhar de um lado para outro. — O que aconteceu? — Não sei. Apunhalei o Lilin e isto aconteceu com ela. Vocês têm que mudar para a forma humana, — Zayne disse quando saímos para o ar mais limpo e mais frio da noite. — Vocês dois. Estão se destacando muito. Roth mudou novamente diante de mim. Eu demorei um momento, porque a adrenalina estava bombeando muito rápido no meu sistema, mas minhas asas foram dobradas e quando levantei a mão para tirar o meu cabelo do rosto, eu vi a loucura. As pessoas que estavam nos bares e edifícios próximos saíram às ruas. Em seu pânico aterrorizado, provavelmente elas não poderiam dizer a diferença entre os Guardiões e as gárgulas. Tudo o que viram foi uma batalha brutal. Os gritos aumentaram assim como a fumaça que agora transbordava do edifício. O fogo se espalhou, atingindo os andares superiores da sede da igreja e alcançando os telhados dos edifícios ao lado dele, dando ao céu um tom de laranja queimado. — Estou bem. — Empurrando a dor, me afastei de Roth e Zayne. — Onde está…? Antes que eu pudesse terminar a pergunta, o maldito leão saiu disparado do edifício. Ele se lançou no ar e atingiu Zayne nas costas. Os dois caíram em um carro estacionado. O metal foi esmagado sob o peso combinados dos dois. Eles rolaram, quebrando o para-brisa. — Fique fora da luta, — Roth disse, e não tive oportunidade de responder. Em sua forma humana, ele correu para onde o leão tinha Zayne pregado no capô.


Mesmo na forma humana, Roth era uma força a ser considerada. Ele agarrou os ombros do leão e o puxou. Virando, ele jogou a criatura. Um táxi vinha a toda velocidade pela rua e pisou nos freios, mas não a tempo de evitar um impacto direto. O leão se chocou contra a porta do lado do passageiro, inclinando o táxi para o lado enquanto o leão caía sobre suas quatro patas de pedra. Essa coisa não iria morrer. Sem aviso, uma rajada de ar quente soprou nas minhas costas, e eu me virei, vendo a criatura de pedra que havia sido queimada. Ignorando a dor, girei como um pião antes que pudesse me agarrar. Dez apareceu, suas asas agitando as cinzas pelo chão. Ele pousou agachado e, em seguida, levantou-se. Com o pontapé mais épico do século, lançou a criatura para dentro do prédio. Antes que eu pudesse parabenizá-lo por isso, outro se chocou contra ele. Virei-me, vendo o Lilin sair aos tropeções das ruínas em chamas do edifício, o rosto coberto de fuligem. Nossos olhos se encontraram, e depois ele se virou, começando a correr pela rua. Nem estava pensando quando corri atrás dele. Já que ele estava muito mais ferido do que eu, logo o alcancei. Lancei-me para ele, batendo meu ombro bom em suas costas. O Lilin caiu, comigo em cima. Ele imediatamente resistiu, mas eu não ia acreditar na resistência dele. Coloquei a mão na nuca dele, forçando-a para baixo, mas ele lutou quando plantei meus joelhos em ambos os lados dos seus quadris. Ele conseguiu levantar a cabeça. — Sério, é assim tão estúpida? Não pode me matar sem matar você mesma. Estamos nisso juntos.


Meu estômago caiu diante das palavras dele. — Isso não significa que eu não possa esmurrá-lo! — Bati a cabeça dele contra o chão e explodiu estrelas atrás dos meus olhos, fazendo-me gritar. — Deus, — rosnei. — Idiota. — Ele ofegou em uma gargalhada. — Tem que aprender tudo da maneira mais difícil. Indiferente neste momento se doía ou não, inclinei meu braço para trás e fechei meu punho em suas costelas. Logo senti esse novo beijo de dor. Balancei-o para trás para dar outro golpe, que provavelmente ia doer mais em mim do que nele, mas que me daria um doentio sentido de satisfação, quando um grunhido baixo me deteve. Olhando por cima de meu ombro, suspirei quando vi o leão. — Você. Outra vez. O Lilin se levantou, se afastando de mim. Bateu-me nas costas, e fui muito lenta para me levantar, com os olhos fixos na nova ameaça. Estava consciente do Lilin fugindo, mas não me atrevi a ir atrás dele. Não parecia que algum destes monstros tivesse captado a mensagem de que me matando matariam o Lilin. O leão me espreitou, sua cauda de pedra oscilando. Essa cauda bateu em outro veículo, quebrando uma janela. Alguém gritou, mas eu não sabia quem era a fonte. O leão se agachou, preparando-se para atacar, e eu soube que isto ia doer demasiadamente. Ele se jogou no ar, e tudo que eu podia ver eram suas garras. Eram feitas de pedra e enormes. Mas, de repente, havia um enorme Guardião na minha frente. Alto e largo, seu cabelo dourado tão brilhante como o de um verdadeiro leão. O Guardião tomou o golpe direto com a parte superior do seu corpo, e cambaleou sob a força do ataque. Engoli em seco quando ele agarrou os lados da cabeça da criatura enquanto o monstro cavava com suas garras, rasgando através da textura de granito da pele do Guardião, espirrando sangue.


Com um rangido, o Guardião retorceu a cabeça da criatura limpamente. Sombras escuras se uniram à esmagadora fumaça, mas a criatura estava acabada, finalmente. O Guardião se voltou em minha direção, e o terror se apoderou de mim quando meus olhos se encontraram com os de Abbot. O azul vibrante se libertou quando sua pele começou a ficar rosa, revelando o horror das lesões, o desumano alcance dos danos. — Não, — eu disse em voz baixa, dando um passo a frente. Abbot abriu a boca, mas não houve palavras, apenas o borbulhar do ar através do seu pescoço esmigalhado. Suas pernas cederam, e saí em disparada, tentando parar sua queda. Mas com seu peso e minha lesão, foi um esforço inútil. Nos dois caímos na calçada. Ele aterrissou sobre suas costas e eu ao lado dele. Havia tanto sangue. Pressionei minhas mãos em seu pescoço enquanto levantava minha cabeça, examinando a rua e gritando por socorro. Eu nem mesmo sei para quem gritava, mas Roth finalmente emergiu da fumaça, seus passos hesitantes vendo o que restava da criatura leão e Abbot. Eu gritei novamente, desta vez por Zayne e depois por Dez, por Nicolai, porque alguém precisava ajudá-lo. Alguém precisava ajudá-lo. Roth rodeou as pernas de Abbot e se ajoelhou ao meu lado, suas mãos alcançando as minhas. — O que você está fazendo, Layla? — Sua voz estava rouca, e quando olhei para ele, vi um hematoma se formando ao longo de sua mandíbula. — O que você está fazendo?


Pensei que fosse óbvio. — Estou parando o sangue. Eu estou... — Layla. — Ele balançou a cabeça enquanto envolvia suas mãos ao redor das minhas. — É muito tarde. — Não, — eu disse, olhando para Abbot, o homem que me abrigou, que me traiu, mas que me salvou em última instância. Não podia ser muito tarde. Os olhos de Abbot, outrora tão vibrantes e azuis, estavam de um tom opaco e estavam fixos em nada. Não havia aura em torno dele, não importa o quão duro eu tentasse ver. Mas, então vi que os ferimentos não eram limitados apenas a sua garganta. Seu peito... — Oh, Deus. Oh. Deus, não. Roth tirou minhas mãos, e não lutei com ele, porque ele estava certo e não fazia sentido. Era muito tarde. Minha mente se rebelou com o que viu, pelo que havia acontecido tão rapidamente. Saindo da fumaça e do caos, outros vieram em nossa direção. Primeiro Nicolai, e ele parou, e então, a única pessoa que eu não queria que visse isso, mas também era tarde demais para impedi-lo. Zayne viu o pai dele. Ele caiu de joelhos do outro lado de Abbot, e estendeu a mão para seu pai, mas parou; as mãos ainda pairando sobre o peito arruinado de Abbot. Ele tremia. — Pai? Não houve resposta. Nunca mais haveria. O tempo pareceu parar, e ninguém se moveu, e não ouvi qualquer som, apesar de terem gritos, sirenes e o rugir das chamas à medida que o fogo consumia os


edifícios. Não havia nada além de Zayne olhando para seu pai com horror gravado em seu rosto. Não havia nada, apenas Zayne. Engatinhando me liberei de Roth e me arrastei para perto de Abbot. Cheguei ao lado de Zayne, coloquei-me sob suas asas e o abracei. Ele se sacudia com tanta força que meus dentes tremeram, mas aguentei, e quando Zayne se agachou e segurou meus braços, não me afastei. Segurei-me nele para que ele… sentisse que não estava sozinho. Abbot estava morto.


A hora seguinte foi um borrão. Lembrava-me de Zayne e Nicolai trazendo gentilmente o corpo de Abbot e colocando em uma grande caminhonete, nem tinha certeza de que pertencia a algum deles. Lembro-me de entrar com eles, juntamente com Roth. Lembro-me de ouvir as sirenes e ver luzes azuis e vermelhas quando Nicolai atravessou a rua movimentada cheia de carros destruídos e pessoas em pânico. E então, nós estávamos no complexo, um lugar que eu pensei que nunca mais voltaria, e lá estavam Geoff, Jasmine e Danika. Seus rostos marcados pelo horror e surpresa quando Abbot foi retirado da caminhonete e colocado na casa. Mas foi Morris quem partiu meu coração. Fazia muito tempo desde que eu o vi, o homem dos Guardiões para todo tipo de trabalho, e tive que parar a corrida em direção a ele quando saiu da cozinha, tristeza estava gravada nos sulcos profundos do seu rosto. Quando me viu, ele sorriu levemente, mas não alcançaram aqueles comoventes olhos escuros.


Jasmine – a prática Jasmine de pensamento rápido pegara um cobertor e colocara no chão. Abbot foi colocado sobre ele, e Morris pegou as bordas e envolveu Abbot, formando uma mortalha. Zayne estava ao lado do seu pai, com a cabeça baixa, e fiquei perto, apenas para o caso dele precisar de mim. Eu não tinha certeza se ele ia precisar de mim ou o que eu podia fazer por ele, mas faria o que pudesse. Roth e eu fomos esquecidos enquanto os membros do clã entravam e saíam da sala. Soube quando Dez telefonou e informou que todas as criaturas de pedra foram destruídas e que ele e os outros Vigilantes estavam atualmente caçando os espectros que o Lilin criara. Ouvi também que estavam tentando fazer um pouco de controle de danos entre os seres humanos. Algumas pessoas nas ruas viram os espectros, e para eles os espectros seriam parecidos com fantasmas estereotipados... Um nível de exposição que os Guardiões não queriam arriscar. Dez terá que conversar rapidamente com muitos e convencer a todos que não era o que viram. Felizmente, aqueles que saíram dos lugares não foram capazes de perceber as criaturas de pedra, somente os Guardiões. Seria um desastre. Era um desastre, e somente o tempo diria o quanto isso foi ruim, mas duvidava que qualquer um de nós estivesse pensando nisso neste momento. — Por que não se senta? — Roth perguntou, com os olhos cheios de preocupação. Neguei com a cabeça enquanto trocava meu peso de um pé para outro. — Estou bem. Ele olhou para mim, em seguida para onde estava Zayne. Percebi que Roth queria dizer outra coisa, mas foi forçado a permanecer em silêncio. Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, Zayne juntou o restante das dobras do cobertor e cobriu o rosto de Abbot.


— Está pronto? — Geoff perguntou estoicamente. Zayne apertou as mãos sobre as coxas e se levantou. — Sim. Nicolai avançou e os homens levantaram o corpo de Abbot, levando-o para fora da sala. Meu coração começou a bater e eu sabia que o levariam para um lugar mais privado a fim de preparar o corpo e limpá-lo da melhor forma possível. Os corpos dos Guardiões quando morrem, são feitos os mesmo procedimentos dos humanos, mas o processo era mais rápido para eles. Dentro de um dia, não restaria nada além dos ossos. Por isso, eles cremavam seus mortos. Muitas horas passaram quando Dez e o resto do clã voltou, e embora minhas pernas e todo o meu corpo estivessem entorpecidos, estava lá quando Abbot foi apressadamente erguido para a pira,

e estava lá quando Zayne colocou

cuidadosamente uma tocha acesa aos pés de seu pai. E estava lá para ver Nicolai colocar um braço em volta dos ombros de Danika. E estava lá quando nada além de cinzas restou. Quando tudo acabou, Roth colocou cuidadosamente o braço em volta da minha cintura, me sobressaltando. Não que eu tivesse esquecido que ele estava lá, mas eu estava... Estava fora de mim. Olhando para trás, provavelmente ficaria fascinada pelo fato de que o Príncipe Herdeiro do Inferno testemunhara o ritual de sepultamento de um Guardião. Roth me levou para a casa, mas não foi muito longe antes de Jasmine aparecer na nossa frente. Tristeza irradiava de cada um de seus poros, mas um olhar de determinação de aço se instalou em seu lindo rosto. — Venham comigo, — ordenou, virando para as escadas.


Quando não me mexi, Roth tomou o assunto em suas próprias mãos. Ou braços. Ele empurrou o braço sob meus joelhos e no momento seguinte, eu estava fora dos meus pés e embalada contra seu peito. — O que você está fazendo? — Perguntei. — Você esteve de pé esse tempo todo e está ferida. — Ele se dirigiu para as escadas, atrás de Jasmine. — Não me diga que você está bem. Vamos pedir para Jasmine examiná-la. Comecei a protestar, mas ele já estava no meio da escada, e tudo o que havia acontecido nos últimos dias me atingiu neste momento. A exaustão me pegou e não me largou mais. Estava profundamente enraizada e eu estava cansada até os ossos. Jasmine parou em frente do que costumava ser o meu quarto, e quando a porta se abriu, uma onda de nostalgia se chocou contra mim. Olhei em volta enquanto Roth me levava até a cama perfeitamente feita e me deitou. Ele ficou perto, sentado do outro lado. Na verdade, nada foi tocado, exceto a cama, que estava feita, já que na verdade não tinha sido eu. Minha mesa estava cheia de cadernos, papéis soltos e livros. A porta do armário estava entreaberta, revelando a confusão da metade das minhas roupas penduradas em cabides e espalhadas pelo chão, misturadas entre folhetos da faculdade. Era muito estranho voltar aqui novamente. Olhei para a janela que Abbot uma vez aparafusara para fechá-la e vi a casa de bonecas. Meu peito se contraiu, porque não podia deixar de pensar no passado e em Zayne. Em um ataque de raiva eu destruí a casa de bonecas, e ele a reconstruiu em sua antiga glória. A casa de bonecas também me lembrou de como Bambi gostava de ficar lá.


Lágrimas obstruíram minha garganta, mas não as deixei caírem. Em vez disso, me concentrei em Jasmine, que havia tirado várias ervas e seus instrumentos de tortura da sua bolsa, também conhecido como kit de primeiros socorros. — Você pode tirar o suéter? — Ela perguntou, torcendo seu longo cabelo escuro para trás e prendendo com um laço de cabelo. Inclinando-me, puxei o suéter arruinado por cima da minha cabeça. Tinha uma camiseta por baixo dele, mas mesmo que não tivesse, eu estava muito cansada para me importar se eu estava mostrando minhas meninas. Roth pegou o suéter e o jogou no chão, em seguida colocou a mão no meu ombro. Seus olhos estavam fixos no meu rosto. Jasmine fez um suave som de estalo enquanto olhava a ferida. — O que aconteceu? — Realmente não sei. — Limpei a garganta. — Zayne esfaqueou o Lilin e foi isso o que aconteceu comigo. — O Lilin foi apunhalado com uma adaga de ferro, — Roth adicionou. — Mas não parece que ela tenha os sintomas de ser apunhalada por uma. Jasmine negou com a cabeça enquanto colocava antisséptico em um pano. — Não. Estaria muito doente se fosse esse o caso. Sinto muito se doer. — Ela colocou o pano sobre a ferida, e sim, ardeu, mas já me senti pior. — Como tem passado? — Bem. — Eu não queria falar de mim. Olhei para a porta e, em seguida para Roth. — Zayne... Vai ficar bem, certo? Roth foi lento ao assentir. — Ele ficará. — Ele tem razão. — Jasmine limpou o sangue do meu ombro e do braço. — Com o pai morto, Zayne está na linha de sucessão para ser o chefe deste clã.


Meus olhos se arregalaram. Eu ainda não havia pensado nisso. — É muito jovem para encarregar-se completamente, — continuou. — E é provável que recaia sobre Nicolai intervir até que Zayne esteja preparado. Era o fim de uma era e seria o começo de outra. Apenas meu corpo estava presente enquanto Jasmine continuava falando durante a limpeza da minha ferida, pois parecia que minha mente estava a mil quilômetros de distância. Eu não podia acreditar no que aconteceu. Esse resultado nunca passou pela minha cabeça. Eu não estava mentalmente ou emocionalmente pronta para tudo isso. — Boas notícias, — Jasmine disse, chamando minha atenção. — A ferida já está começando a cicatrizar. Não precisa levar pontos. Graças a Deus, porque da última vez que isso aconteceu, eu tive que ser contida. Jasmine espalhou algum tipo de pomada refrescante com cheiro mentolado no meu braço, então se levantou. — Você deve descansar um pouco, — ela disse. — É tarde. Tenho certeza que o clã não terá nenhum problema de vocês ficarem aqui. Roth levantou as sobrancelhas por isso. — Tem certeza? Ela deu um sorriso cansado. — Se eu estiver errada, então alguém virá aqui para dizer a vocês saírem. — Alguém está com fome? Posso solicitar uma entrega. — Estou bem. — Roth olhou para mim. — E você? — Estou bem. — Estendi a mão, pegando a mão de Jasmine enquanto ela se virava para sair. — Obrigada. — Não há necessidade de agradecer. — Com isso ela saiu do quarto.


Olhando para o meu ombro, olhei para a pele enrugada e brilhante. A ferida não estava tão ruim como era no início. — Você quer um suéter? — Roth perguntou, e quando balancei a cabeça, foi para o meu armário e voltou com um grosso e macio que abotoava na frente. Ele ficou em silêncio enquanto abotoava e, em seguida, ajoelhou-se, tirando minhas botas. Enquanto ele tirava as botas, Morris apareceu na porta, segurando dois copos. Ambos tinham suco de laranja, o que fez com que um sorriso fraco aparecesse no meu rosto. Ele levou até a mesa de cabeceira, e como de costume, não disse uma palavra. Quando se virou, esticou a mão, acariciando minha bochecha com sua mão fria. O sorriso retornou ao seu rosto e desta vez foi para seus olhos. Então, acariciou minha bochecha e saiu, deixando a porta entreaberta. — Este homem... É estranho, — disse Roth. — É maravilhoso, — defendi Morris imediatamente. Roth balançou a cabeça lentamente. — Não estou dizendo que não é, mas... — Mas o que? — Não sei. Apenas... Dá-me arrepios. — Roth fez uma careta. — E nada me dá arrepios. Fiz uma careta. — Não há nada de assustador nele. Morris é o melhor, e é um grande senhor... Não é exatamente uma ameaça para você. — Como eu disse, não posso explicar. — Virando para mim, ele correu os dedos pelos cabelos. — Hoje foi... — Um desastre completo? — Me recostando sobre a cabeceira me estendi e peguei o copo de suco de laranja


Roth sentou ao meu lado, nossos ombros se tocando. Ele esticou as pernas. — Sim, isso resume tudo. Tomei um gole e depois mais outro antes de deixar o copo de lado. Quando olhei, vi os hematomas em sua mandíbula que já estavam ficando mais claros, mas os acariciei com meus dedos. — Você está bem? Suas sobrancelhas se uniram. — Não se preocupe comigo. — Eu me preocupo. — Você não precisa. Suspirei. — Roth. — Eu estou bem, — disse finalmente. — Nem sequer dói. — Ok. — Lutei para respirar com calma. — Esta noite... Nem sei o que pensar sobre isso. Não posso acreditar que Abbot se foi. Ele respirou fundo. — Você sabe como me sinto sobre este homem, o que ele ajudou a fazer com você, mas sei que te criou. — Ele deslizou sua mão sobre a minha e apertou. — Eu sei que o que aconteceu não é fácil para você aceitar. Fechando os olhos, me recostei. — Ele me protegeu. Não posso... Meu Deus, nem sei o que dizer. Eu estava tão chateada com ele antes disso, mas no final, ele se redimiu. Eu... — parei, abrindo meus olhos. Eles estavam molhados, e quando falei, minha voz estava rouca. — Ainda gostava dele, sabe? Roth pegou minha mão e levou aos lábios. — É óbvio que ele a amava também. — Sim. — Pisquei para secar as lágrimas e respirei trêmula. Houve uma pausa. — Você quer ir ver Zayne?


Virei minha cabeça para ele, não tão surpresa diante da sua consideração. — Sim, mas eu acho... Acho que ele provavelmente precisa de um pouco de tempo. — Provavelmente, — ele murmurou, estirando sua mão e colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Concentrando-me no problema mais recente que tínhamos descoberto, levei nossas mãos unidas para o meu colo. — O Lilin... Disse-me que estávamos juntos nessa. Você o ouviu dizer isso. Acho que nós não percebemos quão literalmente deveríamos ter tomado suas palavras. Roth fez um som baixo e furioso com a parte de trás da sua garganta. — Eu não esperava por isso. — Eu também não, — respondi secamente. — Mas faz sentido. Parte de mim o criou. Assim como também parte de Lilith. O Grim me disse que estávamos juntos, todos os três, mas não entrou em detalhes sobre o que isso significava. — É obvio que não. — Teria sido bom saber disso, — continuei cansada. — Quero dizer, esse é um detalhe muito grande. Se matarmos o Lilin, então morrerei. E suponho que isso funciona em ambas as direções. Os olhos de Roth se tornaram intensos. — Deve haver outra maneira. Se não houver, simplesmente encontraremos uma forma de mantê-lo… fora de problemas. Levantei uma sobrancelha, eu não acreditava que havia alguma coisa que pudéssemos fazer para manter o Lilin fora de perigo sem matá-lo. Mas mesmo se nós pudéssemos contê-lo enquanto o deixássemos viver, como Sam ficaria? A alma dele se perderia, assim como todas as outras almas da congregação que o Lilin tomara.


Claro, aquelas pessoas eram fanáticas, mas isso não significa que mereciam esse tipo de destino. Os olhos de Roth foram para a entrada, e segui seu olhar, minha respiração parou quando vi que era Zayne. Abri a boca, mas ele falou primeiro. — Posso entrar? — É claro. — Levantei minhas pernas para lhe dar espaço, mas ele ficou na porta, apenas dentro do quarto. Meu coração doeu por ele, por tudo. — Você está...? — Não... Eu nem sei o que pensar. — Ele colocou as mãos nos bolsos da calça jeans. — Mas não estou aqui por isso. Queria me desculpar. Minha boca se abriu. — Não sabia que quando apunhalasse o Lilin te machucaria. — Seu olhar cristalino se encontrou com o meu. — Eu nunca te machucaria. Não importa o que. Eu não… — Eu sei. Eu sei que você não sabia. Nunca pensei que você faria se soubesse. Nós mesmos não sabíamos, — insisti. — Não precisa se desculpar. Essa é a última coisa que você precisa fazer agora. Sério. Seus traços relaxaram um pouco. Não muito, mas já era alguma coisa. — Sabemos por que isso aconteceu? Parte de mim queria dizer que ele não deveria se preocupar com isso, mas então percebi que ele poderia estar procurando uma distração, e não queria tirar isso dele. Disse-lhe o que Roth e eu havíamos acabado de discutir. — Deve haver uma forma de arrumar isso, — Zayne disse quando terminei. — De te separar do Lilin.


— Mas, e se não? — Um tremor me atravessou. — E se o Lilin e eu estivermos realmente unidos, como parecemos estar e…? — Não diga isso. — Os olhos de Roth brilharam ferozmente. — Nem sequer termine a frase. — Ele tem razão, — Zayne disse, esfregando seu peito com a mão. — Deve haver outra forma. Simplesmente não a conhecemos ainda. Eu queria acreditar que havia algo mais, mas se estávamos conectados, estávamos conectados. — Poderíamos falar com o vidente, — Roth sugeriu. Lentamente me virei na direção dele, observando-o. — O garotinho? Ele balançou a cabeça. — Se alguém pode saber, seria ele. A chave é fazer com que fale. — O Vidente? — Zayne estava confuso. — O menino que se comunica com, bem, não sei com quem ele se comunica, mas não trabalha nem para o céu nem para o Inferno. — Fiz uma pausa, sorrindo lentamente. — Ele gosta de jogar Assassins Creed. — E de frango, — Roth acrescentou. Bufei. — Podemos falar com ele amanhã. — Um momento se passou e franzi a testa. — Provavelmente sabe que nós vamos. Roth sorriu. Meu olhar foi para Zayne. Sombras floresceram sob seus olhos cansados, e ele parecia... Parecia perdido.


— Layla, você sabe que pode ficar aqui. — Seus ombros se esticaram. — Ambos podem ficar o tempo que for necessário. De acordo? E se forem – tomem cuidado. Tenho que… preciso ir. Saindo da cama, andei na direção dele. Antes que ele pudesse sair, eu o abracei. Ele endureceu, em seguida, virou no meu abraço. Abaixando os braços, ele me abraçou. Contra a minha bochecha, ele sussurrou com voz rouca: — Obrigado. E então, ele me soltou e saiu do quarto, fechando a porta. Fechei os olhos novamente, muito fortemente. Não sei quanto tempo fiquei lá, mas me virei e fui para a cama. Subindo, voltei para a mesma posição em que estava antes, ombro a ombro com Roth. — Acho que ele não sabe, — eu disse. — Saber o que? — Roth perguntou em voz baixa. Olhei para ele. — Acho que ele não sabe como o pai dele morreu. Que Abbot estava me protegendo. Já está tão… — Pare. — Roth pegou meu queixo, segurando meu olhar. — Aquele cara que estava aqui? Eu odeio dizer isso em voz alta, mas é um bom garoto. Ele não te odeia. Nunca poderia. Pode ser que não goste agora, mas isso não tem nada a ver com o pai dele. Não sei se ele sabe como Abbot morreu, mas se ou quando descobrir, não vai te culpar. Porque não foi culpa sua. E ele sabe disso. Por um segundo, eu não soube o que dizer. — Eu odeio quando você está certo. Roth riu, passando um braço cuidadosamente a minha volta e me segurando perto. Minha bochecha encontrou o seu caminho em seu ombro. Tantas coisas aconteceram em poucos dias que minha cabeça zumbia constantemente com tudo isso. Mas neste segundo, neste momento, minha cabeça estava tranquila. — Eu não teria mudado nada.


Pestanejei enquanto levantava minha cabeça. — Do que você está falando? — Da oferta que eu disse para Cayman fazer às bruxas. — Ele arrastou o polegar sobre meu lábio inferior. — Mesmo se eu soubesse que iriam pedir Bambi, ainda assim eu teria concordado se isso significasse que você fosse se salvar. Só posso supor que Zayne se sentiria da mesma forma pela maneira pela qual Abbot morreu. — Oh, Roth... — Quero apenas que você saiba. De acordo? — Ele se aproximou de mim e beijou minha testa. — Sinto falta daquela cobra. Eu sempre vou sentir falta dela, mas se eu tivesse que fazer tudo de novo, eu faria. Sem perguntas. Eu faria tudo de novo por você.


Eu não estava certa de como Zayne e Stacey acabaram no banco de trás do Munstang na manhã seguinte. Stacey apareceu nos primeiros momentos depois que saí do chuveiro, batendo na porta da frente e pedindo para entrar. Uma grande parte de mim (bem, tudo de mim) desejou estar na sala de comando para ver a cara do Geoff quando isto aconteceu. Em todo o nosso tempo como amigas, Stacey nunca foi admitida no recinto. Pelo que ouvi, os Guardiões se recusaram a permitir a entrada dela até que Zayne apareceu. Ela ouviu falar da minha lesão pelo Zayne em algum momento na noite anterior, porque nem Roth nem eu respondemos as mensagens. Em primeiro lugar, o fato de que ela e Zayne estavam enviando mensagens um para o outro foi uma grande surpresa para mim. Eu acho que eles nunca trocaram números antes. Não que eu teria sido contra Stacey ter o número de Zayne, mas não sabia quando essa troca de mensagens havia começado. Provavelmente quando eu estava no Inferno. Teria sido ontem? Ou anteontem? Já não tenho um registro do tempo.


Neste momento, ela deveria estar na sala de aula, não que eu pudesse realmente chamar sua atenção, já que não coloquei os pés dentro da escola no que parecia ser uma eternidade. Como Zayne estava no quarto quando Roth sugeriu uma visita ao vidente, ele trouxe o assunto à tona quando Stacey estava me visitando no meu antigo quarto. Ela pediu para ir com a gente, e depois de meia hora de discussão, eu desisti de tentar argumentar com ela. Não queria ela perto disso, nem mesmo do vidente, mas como ela apontou mais de uma vez, já estava até o pescoço nisto. Também foi bom vê-la viva e ativa, em vez da versão fantasmagórica desde o desaparecimento do amigo que amava. Fiquei espantada que Zayne tivesse se juntado a nós. Ele ficou em silêncio, com uma expressão estoica. Eu não sabia como ele estava processando a dor de perder seu pai apenas algumas horas atrás, mas ele estava se segurando, e que força admirável. Quando vi Elijah morrer, senti dor, mas foi de um tipo diferente. Com a morte dele eu perdi o potencial do que poderia ter sido um pai. Não que eu nunca tenha me enganado pensando que um dia ele acordaria e me aceitaria como sua filha, mas lamentei a perda... Perda do que nunca tive. Quando Abbot morreu, eu senti a perda da única figura paterna que conheci, no entanto, embora a minha dor fosse intensa, não era comparada com a que Zayne devia estar sentindo. E minha dor pelo Sam não alcançava as alturas do que Stacey havia experimentado. Parecia que por tudo isso, eu recebia uma prova das consequências do que estava acontecendo, não um gole todo. No entanto, tinha a sensação de que isso mudaria muito em breve. A viagem para a casa do vidente foi desconfortável, porque começou com uma viagem ao supermercado.


O frango Perdue estava entre Zayne e Stacey. O primeiro estava atirando adagas na parte de trás da cabeça de Roth, a qualquer momento que eu olhava para ele. Roth estava em sua terceira rodada de cantarolar Paradise City, aparentemente alheio ao olhar de morte dirigido a ele. Eu tentava fingir que estava tudo ótimo e nada perto dos sete níveis de desconforto, e Stacey parecia precisar de um balde de pipoca. Quando finalmente paramos em frente da antiga casa com cercas de madeira e paredes de pedra perto do campo de batalha de Manassas, estava pronta para sair do carro voando. — Acho que é melhor vocês dois ficarem no carro. — Roth desligou o motor, então ele virou, olhando para os nossos penetras. — Tony é peculiar. Não há necessidade de incomodá-lo. Zayne olhou para o frango. — Você tem que levar um frango? — Eh... — Roth não respondeu. — É realmente um menino? — Stacey perguntou, olhando para a casa. Uma cortina se moveu em frente a uma janela perto da porta. — Como um menino, menino? — Sim, provavelmente tem somente nove ou dez anos, — expliquei, tentando alcançar a porta. — Caramba, — Stacey murmurou, balançando a cabeça lentamente. — Vocês dois ficarão bem aqui? — Hesitei. Roth inspirou. — Tenho certeza que ficarão bem. Dei um olhar para ele, e ele me devolveu um olhar inocente enquanto eu esticava a mão por trás dele. — Alguém me passe o frango? Foi Stacey quem entregou. — Isto é muito estranho. — Você não tem ideia, — murmurei.


Roth esperava por mim do outro lado do Mustang, e delicadamente colocou a mão na parte inferior das minhas costas. — Sente-se bem? — Perguntou enquanto atravessávamos o portão e passávamos pelos arbustos cortados ordenadamente. — Apenas um pouco dolorida, — admiti; porque dizer que estava cem por cento ele não acreditaria. Abaixando a cabeça, ele roçou os lábios na minha testa antes de subirmos as escadas. Olhei para o carro e descobri que Zayne não estava no lugar que foi instruído a ficar. Ele estava de pé ao lado do carro, de costas para a casa. Ele estava lá, mas olhando para ele, senti como se estivesse assistindo uma imagem gravada de alguém. Ele estava lá, mas não estava. A porta se abriu antes que batêssemos, atraindo nossa atenção. A aura azul fraca desapareceu, revelando a mãe de Tony. Desta vez, ela vestia uma jaqueta de malha branca, mas ainda estava com as pérolas no pescoço. — Ainda não estou feliz em vê-los, — disse. Roth levantou um ombro. — E eu diria que sinto muito, mas realmente não quero dizer isso. Bom Deus, de novo não. — Deixe-os entrar, — disse a voz atrás da mulher. Ela deu um passo para o lado e lá estava ele. Primeiro, vi o brilho branco ao redor dele, mais brilhante do que Zayne. Uma alma pura, totalmente estranha. O impulso que estava acostumada a sentir ao ver uma alma pura foi mínimo, quase esquecível. O menino era todo cachos loiros e tinha o rosto de um querubim. Era adorável, com a exceção das pupilas brancas no meio de seus olhos cobalto. Porque aqueles olhos eram tão estranhos.


Tony olhou a sacola de compra que Roth segurava. — Outro frango? Sério? — Hey. Ouvi dizer que Perdue é o melhor, — Roth respondeu. — E ouvi dizer que Tyson não é tão ruim, tampouco. — Suspirando, o pequeno vidente fez um gesto para sua mãe. — Pegue isso. A mulher, que provavelmente era muito versada no estranho, pegou a bolsa. — É Terça-feira de Taco. Isto terá que esperar. — Pode apostar que sim. — O vidente nos fez gestos para que o seguíssemos. A casa tinha cheiro de pinho e maçãs, me fazendo desejar o Natal. — Você sabe que poderia ter deixado seus amigos entrarem. Em vez disso, eles estão lá fora, sendo melancólicos e provavelmente assustando os vizinhos. — Provavelmente eles sejam a coisa menos horripilante que seus vizinhos já viram, — Roth disse. — Depende do que você acha do que é assustador, não é? Bati no braço de Roth quando ele abriu a boca, obviamente, formando outra réplica; se não o parasse, ele nunca faria. Ele me deu uma olhada, mas Tony soltou uma risadinha infantil. Nós o seguimos para a sala. Havia uma árvore enorme toda decorada com ornamentos, com uma montanha de presentes embaixo dela. Outro vídeo game estava parado na televisão, mas desta vez parecia um jogo medieval. Havia um carro e o que parecia ser um oficial de polícia perseguindo. Tony se deixou cair em um puff, e de alguma forma, isso parecia um trono. — Eu sei por que vocês estão aqui. — É óbvio, — murmurei, me sentando no sofá.


Ele levantou uma sobrancelha loira enquanto olhava para Roth. — Só para que saiba, quando você terminou acorrentado nos abismos de fogo, eu não ri como previ. Os olhos de Roth se estreitaram com a lembrança enquanto se sentava no braço do sofá a meu lado. — Talvez apenas uma risada baixa com diversão, — Tony acrescentou maliciosamente. — Tem certeza de que não era uma estridente risada de diversão? — Roth respondeu. — Dado que não chegou à puberdade ainda? Oh, Deus. Tony levantou uma mão gorducha e mostrou o dedo para Roth. — Ah, incomodei o pequeno, o pequeno bebê…? — Roth. — Suspirei, atingindo-o na perna ligeiramente. — Não posso te levar a lugar nenhum. — Não é certo. — Ele piscou os olhos para mim. — Sou adaptável a qualquer situação. Tony apoiou suas pernas sobre a mesa de café, cruzando os tornozelos. — Embora eu ache que seja ótimo que vocês dois tenham, obviamente, chegado a um acordo com o que ambos são e seus sentimentos um pelo outro, eu tenho coisas melhores a fazer do que ver os dois... — Tony! — A voz de sua mãe ecoou de algum lugar na casa. — Tire seus pés da mesa de café, agora! Pressionei meus lábios para não rir enquanto Tony revirava os olhos, mas fez o que lhe foi pedido. Seus pés tocaram o chão de madeira. — Quer saber como matar o


Lilin, — disse, olhando maliciosamente para Roth. — Você conhece as regras. Não posso ajudar um lado sobre o outro. — Foda-se as regras, — Roth ordenou. — É fácil para você dizer quando não é sua vida que estará na linha, — disse o vidente. — A coisa é, ambos já devem saber a resposta que procuram. — Nós sabemos como matar o Lilin, — eu disse, passando rapidamente a almofada para frente. — Apunhalá-lo no coração ou decapitá-lo, e quase conseguimos apunhalá-lo no coração, mas… — Mas descobriram uma pequena complicação? — Ele virou para dar um olhar angustiado para a tela, como se passar um minuto longe de seu jogo fosse uma tortura. — Uma ferida mortal no Lilin gera uma ferida fatal em você. Eu assenti. — Era o esperado. Uma parte de você foi usada para criar o Lilin, assim como parte de Lilith foi usada para criar os dois, — ele continuou, inclinando a cabeça para o lado. Várias mechas loiras se sacudiram por cima. — Todos os três estão conectados. Isso foi dito antes, mas ninguém mencionara o fato de que matar o Lilin me mataria. Esse pequeno detalhe foi excluído. Não que eu estivesse completamente surpresa. — Precisamos saber como separar os dois. — Roth abriu e fechou a mão mais próxima de mim. — É por isso que estamos aqui. — E eu sei disso. — Tony afastou sua atenção do jogo em pausa. — Essa conversa está desperdiçando meu tempo e o de vocês. — Não se importa? Reconheço que seu estúpido jogo é importante, mas se não pararmos o Lilin, você vai morrer. Todo mundo vai morrer! — Bati meus pés, querendo pegar o pequeno vidente e sacudi-lo, mas, havia uma parte de mim que entendeu que


ele não estava sendo obtuso. Nós é que estávamos. Frustração me atingiu. — Se não tivermos sucesso, o Lilin lançará o fim do mundo. Você mesmo nos alertou da última vez que estivemos aqui. — Da última vez que estiveram aqui, eu vi que havia uma boa chance para que isso acontecesse. — Suas pupilas eram mais uma vez de um branco brilhante. — Agora, vejo que não vai acontecer. Você vai pará-lo. Eu fiquei tensa. — Mas... — Você, — repetiu, me olhando fixamente. — Vai pará-lo. E você sabe como. A história terminou. Fim. Roth respirou profundamente, mas eu acho que parei de respirar por um segundo. O que nenhum de nós queria reconhecer horas depois de estarmos mano a mano com o Lilin agora batia na nossa cara novamente. Matar o Lilin significava me matar. — Você não está nos ajudando aqui, amigo. — A voz de Roth estava calma, mas tinha raiva e algo mais, algo como desespero saindo dele, tornando-se uma entidade tangível no quarto. — Precisamos saber como matar o Lilin sem prejudicar Layla. — E como eu disse, já sabem a resposta para isso, — Tony disse do seu trono de puff. — Só não querem aceitar. Fechei os olhos por um momento. — Então, o que você está dizendo é... Viceversa. Se eu morrer, matamos o Lilin? — Isso é besteira, — Roth cuspiu, e estava em pé no momento em que abri os olhos. — É uma resposta inaceitável. Um olhar de remorso cruzou o rosto do jovem vidente. — É a única resposta.


Roth se dirigiu para Tony, e peguei a mão dele, agarrando seu braço. Ele respirou fundo, seu peito subindo acentuadamente. Um segundo depois, a mãe de Tony estava na sala. Ela segurava uma panela sobre a cabeça, como se estivesse pronta para jogar em um de nós. — Eu acho que é hora de irem embora. Segurei com força o braço de Roth. Ela estava certa. Era hora de ir, porque sabíamos qual era a resposta. Já sabíamos antes mesmo de virmos aqui, ou pelo menos, eu sabia. Roth continuava olhando com raiva para o vidente, então puxei o braço dele. — Roth. — Sussurrei. — Vamos. Ele se virou, me fulminando com um olhar afiado. — Você aceitará isso? — Ele jogou um braço para Tony. — Que não há outra maneira? — Não, — eu disse; e não era tanto uma mentira, uma vez que era uma tentativa de acabar com isso antes de terminarmos com uma caçarola de feijão verde na cabeça. — Mas terminamos aqui. Quando ele ainda hesitou, eu empurrei o braço dele novamente. — Vamos resolver isso sozinhos. Minhas palavras soaram fracas até para os meus próprios ouvidos, mas Roth finalmente cedeu. Nós começamos a nos mover em direção ao hall de entrada, passando pela severa mãe de Tony. — Tudo é por uma razão, — o vidente falou enquanto nos aproximávamos do arco no vestíbulo, e quando olhei para trás, ele estava de pé, com expressão solene e sábia para os seus poucos anos. — Não há nada neste mundo que passe sem um propósito. Todas as ações – do Príncipe e dos Guardiões – impulsionaram isto. Todos se sacrificaram por você, por isso. E não será em vão. ***


O rosto de Stacey estava da cor de um pedaço de papel e seus olhos escuros estavam arregalados. — Não, — ela disse, e depois mais alto: — Não. Virando-me no banco do passageiro, dei uma olhada em Roth. Para suas mãos. Seus nódulos estavam brancos de agarrar o volante. Ele não falou muito desde que voltou para o Mustang. Ele olhava para frente, um músculo marcando ao longo de sua mandíbula enquanto nos levava de volta e deixava Stacey no colégio. — Não há literalmente nada que possamos fazer? — Zayne perguntou, com as mãos na parte de trás do meu acento. — Ou simplesmente, o vidente não sabe o que é necessário? — Acho que não há uma maneira, — respondi, movendo meu olhar para Zayne. Ele não parecia apenas zangado ou confuso, mas era uma combinação dos dois. — Faz sentido, de certa forma, o fato dele estar conectado a mim e ambos ligados a Lilith. Nosso sangue criou o Lilin. — Talvez faça sentido para você, — Stacey disse, levantando uma perna e puxando-a contra o peito. — Nada dessa porcaria realmente faz sentido para mim, mas que seja. O que vamos fazer agora? Se não podemos matar o Lilin... — Se não matarmos o Lilin, perdemos o Sam. Perdemos todas aquelas almas que o Lilin tem tomado, — eu a lembrei. Seu rosto se contorceu enquanto ela afastava o olhar, movendo-os em direção à janela enquanto jardins e casas deram lugar a paredes. — Não me esqueci disso. Eu só... Zayne recostou-se no banco, esfregando as mãos sobre o rosto. — Deve haver alguma coisa... Há muitos livros no escritório do meu pai. Vou verificar quando voltar. Colocarei Dez nisso também. — Abaixando as mãos, ele suspirou profundamente. — Não vamos nos render.


O fato de que Zayne ainda se importava o suficiente comigo para querer ajudar, aliviava um pouco a carga que eu carregava comigo desde que o machuquei tão terrivelmente. Então, novamente, eu não deveria estar tão surpresa. Havia provavelmente uma parte dele que me odiava, e isso era compreensível, mas debaixo de tudo isso, ele era um bom garoto, um grande garoto. — Você me ouviu? — Zayne perguntou, atraindo meu olhar para ele. — Não vamos nos render. — Eu sei, mas... Nós estamos correndo contra o tempo para Sam. E quanto tempo mais os Alfas vão permitir que esta violência continue? — Eu fazia boas perguntas. Umas que nem Zayne, nem Roth podiam responder. — O Lilin exterminou uma congregação inteira dos filhos de Deus. E sim, eu tenho certeza de que eles não estavam na lista de favoritos do grande cara lá de cima, mas é apenas uma questão de tempo antes do Lilin fazer algo que não pode ser ignorado. Quase expôs todos nós quando despertou aquelas gárgulas. Realmente quanto tempo nós temos para descobrir uma maneira de evitar isso? — O que você está falando? — Roth não falou, grunhiu a pergunta. Assustada, eu olhei para ele. Seus olhos estavam fixos na estrada. — Não sei. Apenas... Não temos tempo. Roth voltou a ficar em silêncio, e então estávamos na frente da escola. Ver isso, depois do que pareceu uma eternidade, provocou uma resposta mista em mim. Parte nostalgia e parte decepção aguda, eu não era capaz de esquecer o quanto esperei me levantar a cada manhã e ir para a escola. Dentro destas paredes, fui capaz de fingir que era normal. Agora, olhando para trás, eu podia ver quão tola era essa necessidade infantil de esconder o que eu era. Não era algo que eu poderia continuar a fazer. Stacey pegou sua mochila do chão do Mustang e saiu. Fui atrás dela para darlhe um breve abraço. No entanto, não poderia demorar. Se qualquer um dos


funcionários da escola me visse, iam levantar um monte de perguntas indesejáveis para as quais não tínhamos tempo. — Você está bem? — Perguntei quando saí do abraço. Assentindo, ela removeu dos seus olhos sua franja muito comprida. — Não. Sim. — Ela levantou a alça de sua mochila mais para cima do seu ombro. — Por que mesmo você está me perguntando se eu estou bem? É você que é virtualmente a gêmea siamesa de um demônio psicótico. Não se preocupe comigo neste momento. — É difícil não me preocupar. — Ou é mais fácil se preocupar comigo, em vez de si mesma? Abri a boca, mas o que eu poderia dizer sobre isso? Ela estava claramente correta. Olhando para as nuvens espessas, suspirei. — Não sei o que pensar agora. Eu... — parei balançando a cabeça. Stacey agarrou a manga do meu suéter me puxando delicadamente. — Você sabe que é a irmã que eu pedi, certo? Eu sorri. — Sim. — E eu te amo, não importa o que. Sabe disso também. E sabe o quanto… matou-me perder o Sam. — Lágrimas encheram seus olhos, mas seu olhar estava fixo. — Não posso te perder também. Sua declaração me desconcertou. — Por que você acha que isso vai acontecer? — Porque te conheço, — ela respondeu com voz rouca. — Prometa-me que não fará nada estúpido. — Eu? — Forcei uma risada que soava como ossos secos se sacudindo. — Não fazer algo estúpido?


A piada não fez nada para aliviar a mente dela. — Sabe a que me refiro. Prometame, Layla. Eu quero ouvir você me prometer. — Eu prometo, — sussurrei. Enquanto me separava de Stacey, eu sabia que a minha promessa havia feito pouco para tranquilizá-la. A verdade era que eu nunca deveria ter feito a promessa. Porque eu tinha muita estupidez em mim e sabia o que deveria fazer.


Durante à tarde, Roth e eu ajudamos Zayne e Dez a pesquisar os livros antigos que enchiam as prateleiras do chão ao teto no escritório de Abbot. Quando a noite caiu, se juntaram a nós Danika e Nicolai. Quando passamos de uma página empoeirada para a próxima, eu podia ouvir os risos de Izzy e os gritos agudos e estridentes de Drake e estava claro que Jasmine estava com dificuldade de cansá-los o suficiente para levá-los para a cama. Durante o tempo em que ficamos procurando, eu não vi os gêmeos e não encontramos nada útil. Exceto eu que encontrei uma pequena criatura chamada Pukwudgie em um dos volumes, uma pequena criatura semelhante a um troll de quem já havia ouvido falar quando Dez trouxe Jasmine para o nosso complexo há muitos anos. Ela foi mordida por um e ficara muito doente como resultado disso. Ainda assim eu queria ver um com meus próprios olhos. A neve caía quando Roth e eu saímos. Fomos para Palisades, uma vez que era mais perto do que a McMansion, estacionamos na garagem e passamos ao lado do clube. Assim que entramos, ele enxotou os gatinhos. Eles se espalharam pelo quarto. Um foi para o piano, enquanto os outros dois foram para debaixo da cama.


— Você quer que eu peça alguma comida? — Ele perguntou, largando às chaves na estante. Eu não estava com muita fome, mas sabia que Roth não havia comido durante todo o dia. — Claro. — Vou pedir algumas coisas para nós, — ele disse em vez de chamar Cayman como faria normalmente. — Alguma coisa em particular que você queira? Pressionando meus lábios, sacudi a cabeça e observei Roth começar a ir para a porta, parando como se quisesse dizer algo e depois saindo. A inquietação se agitou em meu estômago. Perguntar sobre a comida foi o máximo que ele havia dito desde que deixamos a casa do vidente. Suspeita floresceu em mim. O que ele estava fazendo? O que eu estava fazendo? Desconfortável, olhei ao redor do quarto, então chamei Robin. Ele veio do meu braço, uma sombra em forma de raposa até que caiu no chão. Ali, sua pelagem de cor vermelha alaranjada se retorcia enquanto me olhava, com a cabeça inclinada para um lado. Ele sabia. Claro que ele sabia. Gorjeando, ele saltou para a porta do armário aberta, usou as roupas que estavam fora dos cabides para fazer uma cama. Vi a espessa ondulação da cauda ao redor do seu corpo, e depois fui para a entrada do terraço. O ar frio me cumprimentou quando abri a porta e subi a escada estreita. Uma fina camada de neve cobria os recipientes vazios e o dossel acima da carruagem rodava silenciosamente. Todas as árvores estavam nuas, mas não mortas. A vida seria renovada na primavera, se a humanidade chegasse à primavera.


Fui para o parapeito e fiquei olhando para as luzes brilhantes de DC. Uma nuvem de névoa se formava cada vez que eu expirava, mas era agradável aqui, acima do ruído da cidade e dos gases nocivos. Muito calmo. Estávamos a alguns dias do Natal, e estávamos correndo contra o tempo. Na verdade, não tínhamos tempo. Enquanto Zayne e Dez planejavam continuar vasculhando as páginas à procura de uma maneira de pôr fim ao Lilin ou incapacitá-lo de alguma forma, eu duvidava que fossem encontrar algo. Além disso, mesmo se pudéssemos incapacitar o Lilin, isso não resolveria nada sobre as almas que ele sugara, e nem para Sam. Respirei fundo, mas ficou preso na garganta quando o pânico, como o fio de uma navalha, levantou-se como um fantasma na noite, ameaçando me derrubar. Antes que eu pudesse ceder a isso, senti a presença de Roth. Engoli em seco, empurrei o medo até o fundo, e o encarei. Ele estava de pé ao lado da porta, a brisa despenteando seu cabelo escuro enquanto a neve salpicava os fios e seus olhos brilhavam como joias avermelhadas. — O que você está fazendo aqui? Encolhi os ombros. — Não sei. É tão bonito com a neve. — E está gelado, — comentou. — Isso não nos afeta. — Eu sei. — Um lado de sua boca se curvou para cima. — Eu senti que deveria apontar isso. — Ele fez uma pausa. — Você não está com fome, certo? — Na verdade, não. Uma sobrancelha subiu enquanto ele caminhava até mim. — Você quer ficar aqui por um tempo?


— Sim, eu quero... Seu meio sorriso permaneceu enquanto Roth se sentava na cadeira. Ele bateu a almofada que estava cheia de neve. Aproximei-me dele, e quando ele estendeu o braço, coloquei minha mão sobre a dele. Roth me puxou para entre suas pernas, me posicionando de forma que minhas costas ficassem pressionadas contra seu peito. Com seus braços cruzados ao meu redor, eu fechei os olhos, afastando todos os pensamentos da minha cabeça para que eu pudesse ter tempo de desfrutar do calor do seu corpo e do conforto do seu abraço. Não sei quanto tempo ficamos sentados ali vendo à neve cair em silêncio antes de Roth voltar a falar, mas a neve no chão do terraço parecia ter engrossado. — Estive pensando, — começou. — Sobre você em um desses minúsculos biquínis. Do tipo que na parte de trás seja realmente como fio dental. — Oh, meu Deus. — Eu ri, arrastando meus dedos sobre suas mãos. — Por que isso não me surpreende? — Agora. Vamos lá. Ouça-me, — ele disse, apoiando o queixo no meu ombro. Virei o rosto para ele, esperando. — Você não seria a única usando menos roupa do que temos neste momento. Eu realmente não tinha ideia de para onde esta conversa estava indo, mas estava feliz que ele estivesse falando, e também estava disposta a deixar tudo de lado por agora – por esses momentos preciosos, para seguir a corrente que saía da boca dele. — Você também estaria em um pequeno biquíni? — Perguntei. Senti seus lábios se curvarem em um sorriso. — Eu não seria capaz de te controlar se me visse em algo tão incrível. — Ele me puxou novamente para o V de suas pernas quando eu comecei a virar em direção a ele. — Me trataria como um pedaço de carne.


— Sério? — Eu ri. Roth encostou-se à almofada, me levando junto com ele, e nos apertou enquanto a neve continuava caindo. — Uh-huh. Então, eu estaria vestindo um traje de banho. — Speedo12? — Nem mesmo eu usaria um Speedo, — respondeu. — Como um Speedo é basicamente diferente de um fio dental? — É. Apenas confie em mim. — Ele inclinou a cabeça para um lado para que eu pudesse ver sua expressão. — De qualquer forma, sungas e biquínis minúsculos também implicam em uma praia de areia branca. Você nunca foi a uma praia, certo? — Certo. — Mordi o lábio quando ele se moveu para que seus lábios roçassem a minha orelha, enviando um arrepio para minha espinha. — Então, sobre esta praia? — A praia existe em uma área tropical, onde sempre é quente e ensolarado na maior parte do ano, — continuou; uma mão brincando com a barra do meu suéter, a outra preguiçosamente subindo e descendo pela minha coxa e quadril. — A praia seria em um lugar longe daqui. — Quão longe? — Sussurrei. — Tão longe quanto quisermos. — Uma mão viajou até meu queixo, seus dedos guiando minha cabeça para trás. — Eu estava pensando nas Ilhas Turcas e Caicos. — Ele me beijou na testa. — Não estive lá ainda. — Seus lábios estavam em minhas sobrancelhas. — Mas tenho ouvido falar deste lugar chamado Grace Bay. — Ele beijou cada uma das minhas pálpebras. — Areias brancas. Águas azul-turquesa. — Então, ele beijou a ponta do meu nariz. — O paraíso, foi isso que me disseram. Devemos ir lá. 12 Speedo é uma empresa produtora de acessórios para a prática de natação fundada em 1914 por Alexander MacRae em Sydney, na Austrália. Produziu material utilizado por medalhistas em várias Olimpíadas e também atua como patrocinadora de atletas.


Sorri fracamente. — Nós devemos. Seus olhos encontraram os meus quando ele se afastou. — Estou falando sério. Podemos sair de manhã. Meu sorriso começou a desaparecer. — O quê? — Não custaria nada conseguir um jato particular. Apenas algumas palavras para a pessoa certa, e depois seguir nosso caminho. É um pouco longe demais para irmos voando com nossas asas. — Seus olhos procuraram os meus fixamente, e fiquei rígida, porque ele realmente não estava brincando. — Poderíamos estar lá amanhã à noite. — Roth. — Nós podemos deixar tudo isso. — Ele continuou, com a mão cobrindo meu rosto. — Deixar os pedaços caírem onde quiserem, mas você e eu estaremos longe disso... — Não há nenhum lugar onde possamos escapar realmente disto. Os Alfas intervirão. O Lilin quer isso, e até mesmo o Grim disse isso. Eles vão trazer o fim do mundo. Esconder-nos em uma praia não vai nos salvar. — Poderíamos tentar, caramba. Poderíamos tentar sobreviver a isso, — insistiu, os olhos brilhando no escuro. — Indo embora daqui pelo menos nós teremos um amanhã, talvez até uma semana ou um mês, mas aqui, o que temos? Respirei fundo. — O que quer dizer? — Você acha que não sei o que está acontecendo em sua cabeça desde que você percebeu que sua vida estava ligada ao Lilin? — Sua mão se enrolou em volta do meu pescoço enquanto ele se inclinava, pressionando a testa na minha. — Porra, Layla, eu sei... Meus olhos se fecharam firmemente contra a súbita queimação.


— Você é muito boa. Você não vê isso, mas eu sim. Você é muito boa, mas eu não. — Sua voz estava voz rouca. — Eu serei egoísta o suficiente por nós dois. — E quanto a Sam, Roth? — Não sei. Não tenho uma resposta para isso que você queira ouvir, — admitiu. — Sinto muito. Você é minha prioridade. Esqueça o resto. Envolvi um braço ao redor do seu pescoço, sem dizer nada enquanto colocava minha cabeça sob seu queixo. Sua mão se manteve em meu pescoço. — Eu sei que você acha que só há uma maneira de sair dessa. Dar a sua vida para parar o Lilin, — ele disse, com a voz mais grossa do que antes. — Mas eu não posso deixar você fazer isso. — Eu não quero fazer isso. Ele passou seu outro braço ao redor da minha cintura enquanto movia a cabeça, os lábios roçando meu rosto enquanto falava. — Então, não faça. Roth fazia soar tão simples. Mas eu sabia que não era tão fácil. Se deixássemos este lugar amanhã, havia uma boa chance de que teríamos dias, talvez semanas, ou meses antes dos Alfas intervirem e tentarem acabar conosco. Mas como eu poderia realmente aproveitar esses dias ou semanas sabendo que virei as costas para Sam... Deus, e a humanidade? O que estava acontecendo era muito maior do que nós, isso era muito mais importante do que queríamos ou desejávamos. Sua mão se contraiu ao meu redor e ele forçou as palavras a saírem em um sussurro áspero. — Estou apavorado. Meu coração pulou uma batida e depois começou a bater com força. Ouvi-lo admitir isso foi um choque para o meu sistema. Eu me afastei, encontrando seu olhar mais uma vez. — Você nunca está assustado.


— Não estou assustado. Estou apavorado, — repetiu, enrolando os dedos nos meus cabelos. — Estou aterrorizado de te perder, e não haverá nada que possa fazer para impedir. Havia uma parte de mim que só queria tranquilizá-lo, mas agora, todas as minhas defesas se desintegraram. O pânico que descansava no fundo do meu ventre se expandiu. Roth deve ter visto o medo em meus olhos, porque me puxou novamente para seu peito. — Eu não deixarei isso acontecer, — ele disse. — Eu sou o Príncipe. Deve haver algo que eu possa fazer. Posso ir ao Chefe. Mas se houvesse algo que o Chefe poderia ter feito, não teria já sido feito? Ou o Chefe poderia intervir neste ponto? Não importava. Agarrei-me ao Roth, ele sabia que no fundo, realmente não tínhamos amanhã. Se adiasse o que eu deveria fazer, não só perderia o Sam, mas também as demais almas que o Lilin já sugara, arriscaria milhões de vidas que seriam perdidas caso o apocalipse fosse colocado em movimento. Corria o risco que Roth fizesse algo ainda mais estúpido do que havia planejado, e se não podia salvar a mim mesma, então pelo menos podia salvar o Sam. Poderia salvar as outras almas. Poderia salvar às pessoas inocentes que morreriam devido ao final que estava chegando. Poderia salvar Roth. Quando Roth levantou a cabeça, abriu a boca para dizer algo, mas eu não queria que houvesse mais palavras entre nós. Fechei a distância, beijando-o. Ele tentou virar a cabeça, mas segurei suas bochechas, me negando a permitir que palavras se formassem em seus lábios, sejam quais forem às palavras que ele queria dizer. E quando o beijo não foi suficiente, quando ele tentou falar novamente, levanteime, plantando cada joelho de cada lado dos seus quadris. Pressionei nossos corpos, e quando sua boca finalmente se abriu, meu coração doeu da pior maneira, mas ele estava devolvendo o beijo, e foi escaldante. Suas mãos desceram pelas minhas costas, e seu desespero amplificava o que eu sentia.


Seus músculos se esticaram de repente, e então estávamos de pé. Envolvi minhas pernas ao redor de seu quadril. Nossas bocas se fundiram juntas e saímos sob a neve. O vento atirando meu cabelo ao nosso redor. Não pensei que chegaríamos às escadas. Mas conseguimos. Uma vez dentro do estreito corredor, a porta se fechou atrás de nós, e Roth se virou, pressionando minhas costas contra a parede. Nós nos enrolamos um no outro, nossas respirações em ofegos curtos quando a parte mais dura dele se pressionou contra a minha parte mais suave. A neve que estava sobre nós derreteu, umedecendo nossa pele e cabelo. Nós nos beijamos. Nós nos agarramos um no outro e o mundo exterior ficou em espera mais uma vez. Neste momento, esses momentos roubados eram apenas para nós. Nada mais importava, exceto nosso amor um pelo outro. — Espere, — eu disse, eu não tinha a intenção de deixá-lo ir. Roth capturou minha respiração com os lábios quando se virou, começando a descer as escadas de novo. Chutou a porta e a fechou, selando o frio, e quando ele se virou, bateu no banco do piano, derrubando-o. Quase não ouvimos. Ele me levou direto para a borda da cama, beijando-me o tempo todo, e não foi suficiente. Nem mesmo quando ele mordiscou a pele sensível do meu ouvido, tirando um som acalorado de mim. Nós nos separamos apenas tempo suficiente para nos livrarmos das roupas, e levou mais tempo do que o necessário, porque parávamos... E nos distraímos sempre que aparecia uma camisa para tirar ou um botão para desabotoar. Nossas mãos. Nossos dedos. Nossas bocas. Tudo em nós era ganancioso.


Quando minhas costas bateram na cama e olhei para ele, pensar era completamente impossível. Ele me consumia, mas eu sabia que eram em ambas as direções, porque a mão dele tremia quando ele me tocou e sua voz tremeu quando ele disse o quanto eu era bonita, quando disse que me amava, várias vezes. A voz dele tremia o tempo todo. O que veio depois foi simplesmente ele me adorando e eu fazendo as honras. Não havia uma parte de mim que não tivesse sido explorada, do arco do meu pé aos muitos vales no caminho para meus lábios. Nossos olhos e mãos estavam entrelaçados quando começamos a nos mover juntos. E quando tudo terminou, ficamos juntos, sua mão se arrastando sobre minhas costas, meus quadris, e depois começamos tudo de novo. Ficamos esgotados com todo amor que sentíamos, e deixamos de fora as sombras por pura força de vontade, até que não restasse nada. O sono não veio para mim depois, mesmo porque eu não queria nada mais do que me enrolar em Roth e ignorar tudo o que pudesse. Se eu fizesse o que deveria, tudo que era importante para mim seria perdido, e inúmeras pessoas inocentes sem nome seriam pegos no fogo cruzado. Sabendo que eu era a única que poderia realmente acabar com isso, me afastar não era algo com o qual eu pudesse conviver. Além disso, dar as costas só nos daria alguns dias, talvez algumas horas, porque uma vez que o Lilin fosse longe demais, expondo muito, os Alfas apagariam todos nós, e estavam esperando pacientemente por uma boa razão para fazer isso. Eu precisava fazer isso. Sabia que não havia outra opção, mas quando olhei para Roth, o que eu estava a ponto de fazer bateu profundamente em mim. Doía. Um nó se formou na parte de trás da minha garganta, pressionando um peso no meu peito e meus olhos ardiam com lágrimas reprimidas. Meus dedos coçaram para tocá-lo, apenas uma última vez, mas me eu arriscaria acordá-lo. Então, decidi memorizar todos os ângulos do seu bonito rosto, a partir da nitidez das maçãs do seu rosto até a linha dura da sua mandíbula, apenas ligeiramente suavizada pelo sono. Decorei a espessura dos cílios e o arco natural da


sobrancelha. Olhei, até me saciar, para seus lábios carnudos e desejei poder ver essas covinhas novamente, ou como seus olhos âmbar se iluminavam quando me via. Desejava enrolar minha mão em seu cabelo novamente, sentir a suavidade sedosa enquanto os fios passavam por entre meus dedos. Eu ansiava ouvi-lo dizer eu te amo novamente. Mas nada disso aconteceria. Fechando fortemente os olhos contra a corrente de lágrimas, me virei com cuidado para fora da cama e na ponta dos pés fui até onde minhas roupas estavam empilhadas no chão. Na escuridão tranquila, me vesti, peguei a adaga de ferro do piano, e então caminhei para onde Roth estava de lado, de frente para o espaço em que eu havia descansado. — Eu te amo, — sussurrei; minha voz abafada. — Te amo demais. E então fiz a única coisa que nunca pensei que faria, mas a única que podia. Deixei Roth.


Como de certa forma já esperava, não demorou muito para encontrar o Lilin. Eu havia deixado o apartamento Roth pela saída através do telhado e fugi, deixando que o vento frio agitasse minhas asas pela última vez. Era quase irônica – essa coisa toda. Roth se sacrificou por mim. Zayne também. Até mesmo Abbot, no final. Todos eles renunciaram a algo para me manter com vida. Devido ao que os bruxos me deram, havia ganhado a imortalidade, e por um doce e curto tempo tive uma prova do para sempre com Roth. E assim entendi completamente o que eu era, o que me dera essa força incrível. Apenas minha mera presença infundia temor nos corações de demônios e Guardiões, igualmente. Eu me tornei uma força a ser reconhecida, uma garota híbrida resistente e um completo desastre. E, finalmente, todos estes sacrifícios e tudo o que todo mundo já havia feito me levou a este momento, quando eu ia terminar com isso. Eu queria rir, mas tinha a sensação de que seria um tipo louco de risada e isso me derrubaria, porque não queria morrer. Porque eu não era tão valente.


Porque eu não era assim tão desinteressada. Aterrissando no parque Rock Creek, entre as árvores espessas e altas com as pontas cobertas de neve, caminhei pelo atalho estranhamente tranquilo. Está bem. Talvez não tão tranquilo. Enquanto olhava à lua sair das nuvens, não senti nada. Estava vazia – determinada, mas completamente vazia. Apenas alguns minutos se passaram antes de ouvir uma risada suave atrás de mim. A adaga estava em meu bolso traseiro, onde teria fácil acesso a ela, mas a deixei lá enquanto me virava lentamente. Uma leve camada de neve cobria o chão. O Lilin estava a um metro e meio de mim, e se parecia com Sam novamente. Raiva me acertou. Odiava quando essa coisa adquiria a imagem dele. E ele sabia disso. O Lilin sorriu para mim através da distância. — Você finalmente encontrou a razão? Levantei minhas sobrancelhas. — Se encontrar a razão é te ajudar a libertar Lilith… — Nossa mãe, — ele me interrompeu. Ignorando isso, continuei. — Então, está louco. Nunca te ajudarei a libertá-la, porque libertá-la significaria o fim de tudo. — Não a libertar significa o fim de qualquer maneira, — o Lilin disse, dando um passo a frente. — Você não entende? Continuarei sugando almas até que os Alfas não tenham mais opção senão intervir, até que erradiquem cada demônio e Guardião da superfície.


Minhas mãos se apertaram. — Por que você faria isso? Você estaria morto junto com todos nós. — Ah, sim, é verdade, mas eu sei que o Inferno não tolerará os Alfas indo atrás de todos os demônios. Ele irá retaliar, e será o Armageddon. — O Lilin que parecia com Sam sorriu como se estivesse imaginando um dia ensolarado na praia. — Minha morte, a sua morte, vale a pena ao saber que os rios irão correr com o sangue dos seres humanos, estes parasitas descuidados morrerão aos milhares. Absolutamente atordoada por suas palavras, eu balancei a cabeça. — Você é... Cem por cento demente. — Não. Apenas não tenho nada a perder. Minha vida? Esta casca que estou usando? Ele deu um tapinha na bochecha. — Não é nada. Não tenho nada para renunciar. E mesmo que tivesse, eu faria por nossa mãe. Faria qualquer coisa para entregar a ela a vingança que ela merece. Pisquei. — É um pouco triste. Ele levantou um ombro. — É a verdade. Algo despertou no meu peito, e tinha gosto de esperança. — Não tem que ser assim. Não entende? Você tem decisões a tomar. Você pode parar o que está fazendo e tentar fazer algo fora desta vida que lhe foi dada... O Lilin jogou a cabeça para trás e riu. — Nós temos livre arbítrio, — insisti, agarrando-me a qualquer coisa que pudesse, de alguma forma, fazê-lo mudar de ideia. — Todos nós, não apenas os seres humanos têm livre-arbítrio. Você pode mudar. Você pode parar isso agora. Você... — Livre arbítrio? Você é ingênua, irmã. Não existe tal coisa. Nascemos com o nosso destino claramente estabelecido diante de nós. Não há mudança nisso.


— Você está errado, tão incrivelmente errado. — Eu queria chutar o chão para tornar as coisas mais claras. — Qualquer um pode mudar seu caminho, incluindo demônios. Olhe para Roth. Ele costumava pensar que não havia um livre-arbítrio, mas quando fez a escolha de me salvar, ele percebeu que existia. Olhe para ele! Ele sorriu. — Ah, o Príncipe. Eu olho e vejo alguém que já foi grande e temido por todos, mas tornou-se nada mais do que o lacaio de uma garota estúpida e idiota. Apertei minha mandíbula. — Não sou eu que sou estúpida, e ele não é lacaio de ninguém. — Basta. — Ele suspirou. — Na verdade, essa conversa me chateia. Você sabe que não pode me parar. A esta altura você deve ter notado. Você não pode me matar, senão morre. Eu sou uma parte de você. — Você não é nada, — eu disse; cheia de veneno amargo. Ele abaixou a cabeça. — Se eu tivesse sentimentos, você poderia ter me ferido. Enquanto olhava para o Lilin, essa pequena faísca de esperança piscou, e logo se apagou. Não haveria nenhum raciocínio com isso, assim como o Grim disse. Talvez se eu tivesse feito essa abordagem desde o início, teria havido tempo para tentar mudar a mente dele, mas agora, não havia tempo suficiente para isso, e era muito arriscado correr o risco. O peso pressionou mais para baixo sobre meus ombros e enquanto o Lilin se aproximava de mim. Eu me mantive no lugar, respirando profundamente. — Qual… qual é sua verdadeira aparência? Surpresa cruzou seu rosto. — O quê? — Você me ouviu. Você não é Sam. Você não é Elijah. Eu quero saber como você realmente é.


As rajadas em torno de nós pareciam se acalmar enquanto ele me estudava cuidadosamente, limpando a fina capa de neve que cobria seu cabelo. — O que isso importa? Eu queria ver o seu verdadeiro rosto, apenas uma vez, mas não era exatamente o argumento mais convincente. — Não sei, talvez... Talvez me ajudasse a compreendêlo melhor. Seus olhos se estreitaram, então ele olhou para o céu. Suspirando dramaticamente. — Você é tão humana. Quando Roth me disse essas palavras estavam imersas em calor e amor. Quando essas mesmas palavras saíram da boca do Lilin, elas eram um insulto. O Lilin, de repente, se lançou para frente, parando não mais do que dois passos a minha frente, seus olhos de um puro negro. — Quer ver como sou realmente, — ele perguntou. — Você quer isso? — Sim, — sussurrei. Ele sorriu, e, em seguida, começou a mudar. Todo o seu corpo tremia, depois se sacudiu violentamente. Eu queria dar um passo para trás, porque neste momento, esperava que ele explodisse de alguma forma, mas encontrei-me incapaz de me mover, ele foi ficando menor e mais magro enquanto o cabelo castanho dava lugar a um cabelo loiro quase branco. Os ossos foram divididos e re-fundidos em diferentes comprimentos. Suas feições se retorceram até que eu estava olhando para os olhos que eram uma sombra clara de azul, drenados de quase toda sua cor. Inalando uma respiração entrecortada, senti como se estivesse me olhando no espelho. Uma réplica exata de mim estava na minha frente. — Eu sou você, — ele disse com minha voz. — Não. — Meu coração começou a bater. — Você não é eu.


— Eu sou. Sempre fui você. — Um sorrisinho apareceu, revelando apenas parte dos seus dentes, e tudo o que eu conseguia pensar naquele momento era... Eu parecia assim quando sorria? Deus. — Somos a mesma pessoa, — ele acrescentou. — Não somos diferentes. Você entende isso? Alguns meses atrás, um show como este teria sido um golpe para a minha confiança. Eu ficaria abalada a ponto de não ser capaz de me recuperar disso. Pensar que era uma parte de algo tão cruel e ruim teria me paralisado. Mas eu não era mais a mesma garota agora, era mais forte. — Isto é uma espécie de truque. — Minha voz era firme enquanto olhava para mim mesma. — Como você faz para se transformar em mim? Você não tem… — Nós somos parte um do outro, — ele disse, olhando para ele mesmo. Com uma risada baixa, ele correu as pequenas mãos pelos seus quadris e pela frente, e depois para cima. Wow. Isso foi perturbador ver... Eu mesma me acariciando. — Você ajudou a me criar. — Estirando uma mão, começou a girar uma mecha de cabelo ao redor do seu dedo. Uma sobrancelha clara se elevou. — Compartilhamos o mesmo sangue. — Isso é tudo o que compartilhamos, e sei que essa não é a sua forma real. O sorriso se tornou tímido enquanto ele erguia um ombro. — Se você diz. Respirei fundo. — Você é um covarde. Sabe? Nem sequer pode me mostrar quem é realmente. — Não sou um covarde. — O sorriso desapareceu do seu rosto.


Imitando seus movimentos anteriores, dei de ombros. — Não admira que você não possa me mostrar como é verdadeiramente. Não se vê claramente. As bochechas ficaram coradas, os olhos claros desapareceram em um buraco negro. O Lilin começou a mudar de forma novamente. Desta vez o meu reflexo estava se esticado como o Gumby13. Quando os ossos foram se modificando, o cabelo loiro ficou mais curto até os ombros, que eram mais amplos. O Lilin parou de tremer, e o que estava diante de mim ainda era algo completamente familiar, e mesmo assim diferente. E no fundo eu sabia que esse era realmente o Lilin. Os olhos eram poços negros e a tez pálida. As maçãs do rosto eram altas como as minhas, mas mais amplas, e a inclinação da mandíbula era mais masculina, os lábios menos cheios. O Lilin, em sua verdadeira forma era um homem, era uma cabeça mais alto do que eu e um pouco mais largo, muito mais magro do que Roth ou Zayne. Ele era bonito de uma forma assustadora, uma beleza masculina frágil, que parecia poder se quebrar a qualquer momento. Ele se parecia com Lilith. Ela se parecia comigo. Se alguém colocasse nos três juntos em um ambiente, seria óbvio que éramos parentes. Não foi até este momento, observando-o, que eu realmente o vi. Esta criatura... Esta coisa era realmente uma parte de mim. Nós compartilhamos o mesmo sangue. Era meu irmão. O nó de antes voltou para minha garganta e me deu vontade de chorar. E seria tão estúpido e inútil, queria me atirar ao chão frio na neve e chorar, porque realmente estava olhando algo que era uma parte torcida da – minha própria carne e sangue.

13 Gumby (também conhecido como Gomosito em países de língua espanhola) é uma figura de argila humanoide de jade, criada e modelada por Art Clokey.


— Está feliz agora? — Perguntou, e sua voz era profunda. Neguei com a cabeça, piscando para conter as lágrimas. O rosto de Roth se formou em meus pensamentos, e esperava com cada grama do meu ser que ele pudesse me perdoar por isso. — Não. Nem um pouco. Confusão atravessou seu rosto e sua expressão foi se normalizado, tornando-se branda. — Já terminei com esta tolice. — Eu também. Alcançando atrás de mim, tirei a adaga do meu bolso traseiro. Movi-me tão rápido quanto pude, mais rápido do que jamais fiz, meu cérebro era uma grande tela em branco enquanto me movia. Não pensei, e não registrei o assombro marcando seus traços. Mas então, em uma fração de segundo, a compreensão passou por mim quando avancei, empurrando a adaga no peito do Lilin com cada grama da minha força. Fui valente. Choque estampava suas feições ao mesmo tempo em que a dor explodia em meu peito. A intensidade foi tão surpreendente que deixei à adaga cair, me atirando para trás. A dor era como fogo, invadindo meu peito e se espalhando por todos os membros. Era muito mais poderosa do que quando o Guardião me esfaqueara no estômago, uma intensidade que era definitiva. O calor úmido caía da minha testa. Meu coração estava batendo, em seguida, houve uma sensação penetrante e afiada na parte mais profunda de mim. Os olhos negros estavam muito abertos e suas mãos pálidas agarravam a ponta da adaga. — O que... O que você fez? Eu não ia responder; mesmo se pudesse. Porque estava acontecendo.


A ferida no peito dele se iluminou, pulsando com uma luz matizada de azul que parecia vir de dentro, e a luz se espalhou rapidamente, como se a pele dele estivesse sendo removida. A luz explodiu em chamas de diferentes cores: rosa claro, azul e amarelo; e essas luzes, quase como bolinhas, dispararam para cima, desaparecendo no céu acima de nós. Quando as luzes desapareceram, eu tolamente percebi que eram as almas, as almas de todos aqueles que o Lilin havia consumido. Eu sabia no meu coração que Elijah estava entre eles, e também o Sam. Eu quase podia senti-lo, pensei, quase ouvi a risada do Sam e senti o roçar da sua mão sobre a minha. Ele estava livre. Eu sabia. Não houve outro batimento do coração. Nossas pernas se dobraram no mesmo segundo, e nos dobramos como um saco de papel. Não senti o chão parar a minha queda. Não senti nada. Tudo o que vi através da escuridão se arrastando em minha visão foi a neve começando a cair novamente, um pequeno floco aproximando-se do chão. E então, não vi mais absolutamente nada.


Eu não conseguia me lembrar de ter fechado os olhos, nem sequer piscar. Mas de alguma forma, já não estava deitada no chão frio do parque de Rock Creek, e sim em pé, parada no mesmo parque, mas não durante a noite, ou durante o inverno. Luz solar atravessava as folhas exuberantes, e uma brisa quente brincava com o cabelo em volta do meu rosto. Mais o quê? Meu olhar foi para o chão, e Lilin não estava lá. Confusão pulsava em mim enquanto olhava para o espaço vazio na minha frente e depois para o meu suéter. Estava ensanguentado, como esperado, mas não havia nenhuma dor no meu peito. E este era o parque em DC, mas também não era. Algo parecia errado. Frágil. Fraco. Enquanto caminhava perto de uma árvore, arrastei os dedos ao longo da casca. As pequenas partes pontilhadas transformaramse em cinzas. Tirei minha mão. — O que você fez? Girando para o som da voz que escutei apenas uma vez, não pude reprimir o estranho estremecimento diante da visão dela, Lilith. Vestida com o mesmo vestido


branco em que a vi pela última vez, mas estava diferente. Principalmente porque havia uma mancha vermelha escorrendo na parte central do seu vestido, assim como o meu. — Como... Como você está aqui? — Perguntei, olhando ao redor. — Está livre? — Livre? — Seus olhos claros se arregalaram. — Eu nunca serei livre, graças a você, pelo que você fez. Você matou meu filho... Você me matou! Talvez morrer tenha me tornando um pouco lenta no entendimento, mas sua resposta não respondeu a minha pergunta. — Não entendo. — Como não entende? — Ela se moveu em direção a mim, os pés descalços se mostrando sob o vestido longo. — Você o matou, sabendo que seria a sua morte, minha morte. Ok. Eu não tinha ideia de que minhas ações a matariam. Não. Ninguém me informara sobre isso. Assumi que ela era como um Twinkie, que sobreviveria a uma chuva radioativa. — Onde estamos? Seus lábios vermelhos sangue se franziram. — No intermediário. — O que? — Você está feliz com você mesma? — Ela vociferou, ignorando a minha pergunta. Suas faces desprovidas de todas as cores. — Você acha que matá-lo, me matando, mudará alguma coisa? O mal permanece sendo o mal. O Inferno não deixará de existir. Ações sombrias ainda serão feitas. — Mas isso... Isso parou o Armageddon, — eu disse; piscando. Ela zombou. — Por um tempo, mas menina, você sabe quantas vezes o mundo esteve prestes a ser destruído? O fim é inevitável.


Fechei os olhos, sentindo-me subitamente tonta. — Mas isso não acontecerá agora. — Nunca estive mais decepcionada com o que eu criei, — ela falou enfurecida, e quando abri os olhos, ela estava bem na minha frente, uma bela aparição alta e terrível. — Meu sangue ainda corre em suas veias? — Sim. — Engoli em seco, mas não fiz nada para conter a náusea. Seus olhos, da mesma cor que os meus, ficaram inexpressivos. — Duvido. Eu teria criado algo mais inteligente, com mais astúcia e instintos de sobrevivência reais. Dei um passo para trás, me afastando dela, forçando o ar em meus pulmões, mas senti que conseguia apenas um pouco do que precisava. — E pensar que sobrevivi milhares de anos, superando tanto, para ser eliminada pela mão da minha própria filha, — ela bufou. — E de maneira tão covarde. Mas meu filho… honrou-me. Ele me adorava como devia, mas você o matou. Você não é minha filha. — Eu sou sua filha, — eu disse entre dentes, me concentrando nela. — A filha abandonada ao nascer. Que diabos você esperava de mim? — Lealdade? — Ela devolveu. Olhei para ela, querendo rir na cara dela, mas meus lábios estavam estranhos. Entorpecidos. Frios. — Você me deixou com o homem que queria me matar. — Mas ele não matou, certo? Obviamente que não. Balançando a cabeça, eu imediatamente me arrependi. O mundo girou um pouco. — Eu tive que parar o Lilin. Havia muitas vidas em jogo. Talvez você não se preocupe com isso. Talvez você nunca tenha se importado com nada disso, mas é aí que nós somos diferentes. — Com as pernas fracas, inclinei-me contra a árvore, mas no momento que meu peso tocou o tronco, ele cedeu.


Cambaleando para o lado, vi um grande buraco no meio e a árvore se quebrando em pedaços e desintegrando-se em flocos. Tudo ficou em silêncio. Um minuto a árvore era uma parte sólida deste mundo e no seguinte tinha ido. — O que está acontecendo...? — Virei-me para Lilith com os olhos arregalados. Ela franziu os lábios quando olhou para mim com o queixo levantado. — Você está morrendo. Isso é o que está acontecendo. — Não estou morta agora? — Sim e não. Seu corpo esfriou, certo? Mas não está completamente morta. Ainda não, mas estará em breve. Ela agitou as mãos, apontando para as árvores. — Como eu disse, você está no intermediário. Quando você entrou, a ligação entre nós me atraiu para cá. Quando você morrer, eu morrerei também. Criar você foi um risco que tomei. Estamos ligadas e você estava destinada à grandeza. Pensei que seria como eu. Agora, algo que o Grim me disse fez sentido, sobre o perigo que Lilith havia criado para ela mesma ao me criar... Naturalmente. Mas onde estava o Lilin? Por que ele não estava aqui conosco? Então, ocorreu-me enquanto olhava para minha mãe. Eu tinha uma alma. Ela tinha uma alma. O Lilin não. Quando ele morreu, ele deixou de existir. Não é assim para nós. Presumi que nada disso importava agora. — O destino é uma merda, — eu disse; minhas mãos geladas enquanto as enroscava contra a palma da minha mão. Eu não conseguia senti-las. — Ninguém está destinado a nada. Nós controlamos nossos próprios destinos.


— Obviamente, — ela murmurou, revirando os olhos. — Mas olhe para você agora, o caminho que escolheu. O que você sabe sobre a vida? Toda a sua existência não tinha sentido. Atrás dela outra árvore cedeu, caindo sobre si mesma em uma nuvem de poeira, seguida de outras arvores. — Você não está certa. — Minhas pernas tremiam, e eu não sabia quanto tempo mais poderia suportar. — Sei o que é a amizade. Sei o que é o amor. Você não sabe nada dessas coisas. Lilith estremeceu por um longo tempo e ficou em silêncio. — Isso não é certo. Conheço o amor, a forma mais pura. — É mesmo? — Sussurrei. O sol foi embora o céu era uma sombra salpicada de cor violeta e marrom. — Sim. — A voz dela era baixa e distante, e percebi então que eu não estava mais em pé. Eu estava no chão, e não tinha certeza se ainda estava mesmo lá. Eu sabia que estava desaparecendo, desta vez de verdade, meus olhos se fecharam do nada. A última coisa que ouvi foi: — Quando a segurei em meus braços e você olhou para mim com apenas poucos minutos de nascida, eu conheci a forma mais pura de amor.


Quando abri os olhos novamente, parecia que apenas alguns minutos havia se passado, e me senti fora dele, como se tivesse caído de uma espécie de buraco do coelho. Demorei alguns segundos para perceber que estava olhando para os ramos cobertos de neve. A vista era muito... Bonita. Pedacinhos de gelo se formaram nas extremidades dos ramos e a neve brilhava na luz do sol como mil diamantes brancos. Isto era o céu? Acho que não haveria neve no Inferno ou que lá seria tão bonito. Por outro lado, Roth havia dito que as coisas eram sempre boas em um primeiro momento. Eu vi o que ele queria dizer. Dor cortou meu peito, tão real como a adaga que usei para matar o Lilin. Roth. Deus. Dói pensar nele e o que ele deve estar passando. Meus dedos estavam frios. Também estavam os dedos dos meus pés. Espere. Meus pés estavam nus? Meu olhar foi descendo ao longo do meu corpo e pude ver as pontas dos dedos dos meus pés. O esmalte azul estava desbotado, e se


eu estava morta e no céu, pensei que ao menos minhas unhas estariam como se tivesse ido recentemente a uma pedicure. Só que todo o meu corpo estava frio, muito frio. Expirei e uma nuvem subiu dos meus lábios. Então, eu estava respirando e com frio, e daí para um salto de lógica e para a ideia de que eu não podia estar morta, morta. Sentei-me com esforço. Os ramos que me cercavam dançaram um pouco quando o enjoo se apoderou de mim. A neve se agarrou ao meu cabelo, aos meus cílios. O suéter que vestia era o mesmo que eu me lembrava, manchado com meu sangue. Cautelosamente, eu estendi a mão e puxei a barra do suéter. Dei um forte suspiro alto no ar. Não havia nenhum ferimento. Olhando para cima, deixei o suéter cair novamente em seu lugar enquanto olhava ao redor. Meu coração pulou no meu peito. A compreensão bateu em mim. Tropecei em meus pés, balançando instável. Estava na plataforma de observação da casa da árvore, perto do complexo dos Guardiões. Uma enxurrada de lembranças me atingiu. Eu fugia para a casa da árvore quando era uma menina e me sentia sozinha, passava horas intermináveis com Zayne deitado ao meu lado, ombro a ombro, vendo estrelas. Mas como no mundo eu estava aqui? Então puxei a gola do meu suéter e vi a tatuagem de Robin. Ele estava enrolado em volta do meu ombro, e sua cauda se contraiu enquanto eu olhava. Ele estava aqui também. Mas ele não estava em mim quando deixei Roth. Robin havia me encontrado de alguma forma? Comecei a saltar da plataforma, mas pensei duas vezes. Minhas pernas estavam trêmulas enquanto caminhava pela plataforma e entrava na casa. Descer da árvore foi lento e a neve cedeu sob meus pés quando atingi o chão.


Seguindo o caminho que caminhara tantas vezes que poderia fazê-lo de olhos fechados, lentamente caminhava em direção a casa. Sempre que meus joelhos começavam a tremer muito, parava por alguns minutos. Fraqueza invadia cada célula. Era como se eu estivesse muito doente. Tudo que eu queria era deitar e tirar uma soneca, e depois tirar uma soneca mais longa ainda. Só que eu precisava continuar andando, porque eu... Não sabia se estava realmente viva ou se era uma espécie de algo estranho ou sei lá o que. Quando o muro de contenção entrou na minha linha de visão, eu quase caí de joelhos. Quando arrastei meu olhar e vi a mansão, mal consegui recuperar o fôlego. O detalhe debaixo da calçada quebrada perto da porta de entrada era muito preciso para não ser algo real. O pavimento estava coberto de gelo sob meus pés enquanto me obrigava a cruzar a pracinha. Fui até a calçada quando a porta se abriu de repente. Nicolai estava lá, seu lindo rosto pálido enquanto me olhava do alto das escadas. — Layla? Minha garganta estava grossa. — Olá? Ele não se moveu, apenas parecia ser capaz de olhar para mim, e havia uma boa chance que eu fosse cair de cara sobre os degraus. Uma brisa fresca correu pela porta, agitando os fios escuros do seu cabelo, puxando-os para o seu rosto. Então, ele se moveu. Fiquei tensa e cambaleei para trás enquanto ele descia os degraus largos, três de cada vez. Dentro de um piscar de olhos, ele estava na minha frente, segurando meus braços. Seus vibrantes olhos azuis estavam arregalados. — Pensamos que você estivesse morta, — disse com voz rouca.


— Não estou? Ele balançou a cabeça. — Não, querida. Se você está aqui de pé, você não está. Confusão tomou conta de mim. — Isso é... Uma boa notícia. Nicolai abafou uma risada, e meu olhar vagou por cima do ombro dele. Eu vi Geoff na porta, e Danika estava no meio da escada, sua boca formando um perfeito O. Meu olhar voltou de novo para Nicolai. — Não sei o que aconteceu. Ele balançou a cabeça e se virou para mim, ficando ao meu lado. — Vamos entrar e vamos resolver isso. Não discuti com ele enquanto ele me levava pelas escadas até o calor abençoado da casa. Tudo parecia o mesmo como estava desde a última vez que estive lá, logo após Abbot morrer, exceto que pareciam anos desde que eu havia atravessado o limiar. Nicolai me levou para a sala, a mesma onde eu me sentei em tantas ocasiões. Ele me colocou no sofá. — Vou buscar Jasmine. Eu queria dizer que estava bem, mas ele saiu antes que eu pudesse dizer uma palavra, e então Danika estava lá, colocando um cobertor pesado sobre os meus ombros. Peguei as bordas do cobertor com dedos dormentes. — Obrigada. Ela se ajoelhou diante de mim, sacudindo a cabeça. Abriu a boca, em seguida, levantou-se rapidamente, recuando. Sem sequer olhar para cima, eu sabia por que ela havia se retirado. Zayne estava lá, ajoelhado na minha frente. Ele compartilhava a mesma expressão estupefata de Nicolai e do resto dos Guardiões. Sua boca se moveu, mas nenhuma palavra saiu.


— Olá? — Grasnei de novo, provando mais uma vez que eu era muito patética quando se tratava de falar em geral. — Como você está aqui? — Ele agarrou meus joelhos, seu aperto aumentou quando ele se inclinou. O fresco aroma de inverno mentolado me rodeou, mas não me encheu com desejo como antes. Agora era como ser enrolada em um cobertor de familiaridade. Foi agridoce, mas poderoso, mas em última instância já não era a fonte do meu desejo. — Ela não sabe, — Nicolai respondeu da porta. Olhando para cima, vi que não estava sozinho. Dez e Jasmine estava com ele, dirigindo-se diretamente para nós. — Você já…? — Zayne não tirava os olhos de mim. No começo pensei que estava falando comigo, mas foi Dez quem respondeu. — Sim, há poucos minutos. Antes que eu pudesse perguntar sobre o que eles falavam, Zayne disse: — Layla, o que aconteceu? Limpei a garganta, pensando que já era tempo realmente de falar mais do que algumas palavras. — Não sei. Encontrei-me com o Lilin e eu... — Você o matou, — terminou para mim, sua expressão era tensa. — Você se matou, Layla. — Eu tive que fazer, Zayne. Era a única maneira, mas agora não tenho tanta certeza se consegui. — Olhei para Jasmine enquanto ela se sentava ao meu lado no sofá. — Eu realmente acho que estou bem. Jasmine sorriu calorosamente. — Eu só quero ter certeza, ok?


— À parte da frente do seu suéter está com sangue, — Zayne argumentou. — Deixe-a olhar. Por favor? Expirando lentamente assenti e deixei que Jasmine desse uma olhada enquanto Zayne se levantava rigidamente. Ele parecia querer inclinar-se para mim em primeiro lugar, mas afastou-se. Havia um peso em seus ombros que não estavam lá antes enquanto ele se levantava. Eu me perguntava se era porque ele seria o chefe do clã daqui alguns anos, ou pelo que havia acontecido com nós dois. — Você matou o Lilin, — Zayne disse após um momento. — Os Alfas nos disseram que o Lilin estava morto. Eles se retiraram, não ameaçam mais matar a todos nós. Foi assim que soubemos que algo aconteceu, algo que você deveria ter feito. Jasmine puxou o cobertor mais para perto dos meus ombros enquanto terminava de me checar. — Ela está bem, — disse ao Zayne. — Pelo que eu posso ver. Não se feriu. Zayne levantou a mão, esfregando a mão pelo cabelo. — Quando Roth apareceu, nós sabíamos. — Sua voz era áspera, e meu coração se apertou como se alguém tivesse deixado cair em um espremedor. — Ele disse que você se foi no meio da noite sem ele. Eu... Eu nem sei por que ele veio aqui, talvez pensasse que nós poderíamos fazer algo. Ele disse que um dos seus contatos havia confirmado que você... O que você fizera. Roth estava... — suas sobrancelhas se uniram quando ele desviou o olhar. — Fizemos um funeral para você, Layla. Meu estômago caiu. — Fizeram o que? — Você se foi. Não havia corpo. — Nicolai franziu a testa da porta, e de repente me senti como se fosse arremessada, porque estavam falando do meu corpo. — Mas nós sabíamos que você havia partido e eu... Nós tivemos que te dar este ritual, depois do quanto se sacrificou.


Grande salada de abacate, não tinha ideia do que pensar sobre isso. Eu perdi o meu próprio funeral! Bem, se eu estivesse morta, teria perdido meu próprio funeral de qualquer maneira. — Isso parece um pouco rápido, — eu disse finalmente. Zayne deu um passo em minha direção, com uma expressão severa. — Layla, não foi rápido. Você esteve fora durante seis dias. O funeral foi há dois dias. — Seis dias? — Meus olhos se arregalaram. — Não poderiam ter sido seis dias. Foi apenas na noite passada... — eu me calei, me lembrando do que Roth havia me dito sobre o tempo diferente se movendo lá embaixo. A desconexão que ocorreu quando desci para ver o Grim. Embora não acredite que tenha ido ao Inferno desta vez. Tive a sensação de que estava em algo mais parecido com uma espécie de sala de espera. Então, o tempo deve ter se movido lentamente, também. Sacudi minha cabeça e o cabelo úmido e frio se agarrou em minhas bochechas. — Pensei que tivesse morrido. Eu estava neste lugar e vi… Uma comoção veio do corredor, me interrompendo. Olhei para cima quando Jasmine se levantou do sofá. Um formigamento quente percorreu lentamente a minha nuca. Nicolai virou e vi Dez parar de lado, longe da sala. — É ele, — Dez disse em voz baixa. Eu estava de pé antes que percebesse o que fazia, o cobertor escorregou dos meus ombros. Meus sentidos começaram a entrar em operação, disparando ao mesmo tempo. Arrepios corriam ao longo da minha espinha. Meu coração falhou e, em seguida, deu um tombo quando uma forma alta se separou dos Guardiões na porta. Um cabelo desordenado cor de corvo caía sobre os olhos de cor ocre, que estavam profundamente escuros. Rugas se agarravam à camisa negra que usava. Ele parecia ter dormido com ela por dias, assim como também os jeans escuros. O cordão de suas botas estava


desamarrado. Ele estava um desastre em cada centímetro, mas ainda assim era a coisa mais impressionante que eu já vi. Roth entrou na sala, parando no meio do caminho. Seus lábios cheios se separaram, e tomei um rápido vislumbre da luz refletindo-se na bola de metal. Nossos olhos se encontraram, e foi como se estivéssemos sozinhos no mundo que nos rodeava. Era somente eu e ele, e não me lembrava de me mover e nem da terra se mover, mas num piscar de olhos, estava diante de Roth, olhando para ele. — Layla? — Sua voz se quebrou na metade de meu nome. Ele estendeu a mão, segurando meu rosto com as mãos trêmulas. Um tremor saltou de sua pele para a minha. Lágrimas encheram meus olhos enquanto inalava profundamente. O aroma doce e escuro tomou conta de mim. Nesse momento, não havia nenhuma dúvida persistente em minha mente de que eu estava viva e de que isto não era uma espécie bizarra de alucinação. — Estou aqui, — sussurrei enquanto as lágrimas eram lentamente liberadas. — Estou realmente aqui. As mãos de Roth escorregaram das minhas bochechas, e então seus braços estavam ao meu redor. Ele me jogou contra seu peito, fiquei nas pontas dos pés enquanto ele enterrava seu rosto na curva do meu pescoço. Ele cambaleou um passo para trás, e imaginei que suas pernas tinham cedido, porque a próxima coisa que eu soube era que ele estava sentado e eu estava no colo dele, meus joelhos de ambos os lados dos seus quadris. Todo o seu corpo tremia enquanto o abraçava, segurando-o tão ferozmente como ele me segurava. Estávamos tão perto que eu podia sentir seu batimento cardíaco e a rápida ascensão e queda do seu peito. Lágrimas correram pelo meu rosto incontrolavelmente e não tinha ideia de quanto tempo nós ficamos sentados bem


agarrados um ao outro, enquanto Roth se balançava para frente e para trás ligeiramente. Eu não conseguia me aproximar o suficiente. Queria me enterrar nele, porque nunca pensei que sentiria algo assim outra vez, seus braços ao meu redor, envolvida em seu calor e sua essência única. Apenas uma pequena parte de mim esperava que de alguma forma, alguém desejasse me ver depois que morresse, mas não havia contado com isso. Fui enfrentar o Lilin e não esperava experimentar isso de novo. Emoção crua se expandiu dentro de mim, e era quase demais, mas estranhamente não era suficiente. Roth se afastou, levantando a cabeça. Havia um brilho em seus olhos cor de âmbar, uma tonalidade cristalina que rasgou meu coração. Nunca vi um demônio chorar, nem mesmo sabia que era possível, mas estava errada. Então, meu rosto foi pressionado contra seu ombro novamente, e ele me segurava com tanta força que havia uma boa chance de me transformar em um brinquedo sibilante, mas valia a pena. Não houve palavras entre nós. Não havia nada para falar. Cada ação estava embebida no que sentíamos um pelo outro. Uma de suas mãos viajou até a linha da minha espinha, se fechando em volta do meu cabelo na nuca. Ele arrastou sua boca para a minha e me beijou. Não havia nada suave nisso. O beijo tinha gosto de desespero e alegria, de dor e de alívio, e o redescobrimento da brilhante manhã que uma vez foi roubada. O beijo foi o ato de alguém que nunca pensou que teria a chance de experimentar isso novamente. O gosto de sangue eu não tinha certeza se era dele ou meu, mas não importa. Nossas lágrimas se misturavam e nossas mãos apertavam. Ele estava muito mais quente e vivo sob as roupas, e eu era muitas coisas aqui com ele. Roth pressionou sua testa contra a minha, e minhas mãos tremiam enquanto a pressionava contra suas bochechas molhadas. Ele estava sem se barbear, e a barba


áspera fazia cócegas nas minhas palmas. — Eu te amo, — ele disse, em seguida, falou em uma língua que não entendi antes de tornar a dizer: — Eu te amo, eu te amo, eu te amo.


Horas mais tarde, estávamos tombados na cama, braços e pernas emaranhadas enquanto a noite caía e a neve seguia cobrindo o chão. A viagem de volta para a McMansion passou rapidamente. Os Guardiões nos deixaram ir quase que imediatamente, o que foi chocante. As coisas mudaram definitivamente se eles estavam agora dispostos a deixar um demônio e, bem, o que diabos eu fosse, sozinha em seu santuário, embora houvesse guardas na sala. Ninguém nos parou quando saímos, e eu não vi Zayne. Nicolai e Dez eram visíveis apenas quando saímos da sala. Eu não estava em condições de voar nos céus amistosos, então acabamos fazendo Cayman nos pegar. Ele estava muito animado com o pensamento de ser motorista. Deitei-me de lado, a parte da frente do meu corpo pressionada contra a de Roth. Eu me enrolei ao lado dele e ele deslizava sua mão pelas minhas costas, em um toque contínuo e suave. A partir do momento em que entramos na sala do complexo, não houve um segundo em que não estivéssemos nos tocando. E apenas alguns segundos se passaram desde o momento em que entramos no quarto e nossas roupas acabaram em uma pilha, esquecidas no chão. Mais uma vez,


falamos pouco, mas o que sentíamos um pelo outro foi expresso em cada toque de nossas mãos, dos nossos lábios, e da forma como nos movíamos um contra o outro. Eu não sabia quanto tempo havia se passado depois que nossos corações desaceleraram e a fina camada de suor na nossa pele se resfriasse. As pontas dos dedos seguiram a linha da minha coluna. — Eu fui ao Inferno para te procurar. Levantei meu queixo, olhando para ele porque estava aconchegada em seu peito. — Você foi? Roth era tão perigoso. Eles poderiam ter te detido. Ele olhou para mim e levantou a sobrancelha. — Pensei que você estivesse morta. A última coisa que me preocupava era que o Chefe lançasse meu traseiro no abismo. E eu estava tão patético que o Chefe teve pena de mim e apenas empurrou o meu traseiro do Inferno depois de me dizer que você não estava lá. Descansando minha mão sobre seu coração, senti-o pulsar fortemente antes de falar. — Mesmo assim, foi perigoso. — Eu estava... Desesperado. — Sua mão fez outra viagem pelas minhas costas. — Nunca me senti assim. Quer dizer, quando aquele idiota do Guardião esfaqueou você, eu senti medo, provei isso pela primeira vez quando você estava em meus braços e pensei que poderia morrer, mas desta vez foi muito mais forte. Era diferente. Quando acordei naquela noite e você tinha ido, eu sabia... Eu sabia o que havia feito, e não estava nem mesmo bravo com você por isso. Eu estava com muito medo de sentir raiva em primeiro lugar. — Ele inclinou o queixo, olhando para o teto enquanto engolia saliva. — Algum tipo de missiva veio do Inferno. Como uma maldita mensagem de texto, dizendo que o Lilin estava morto, na verdade, foi uma mensagem de texto. Uma mensagem de grupo para cada demônio de Nível Superior. Eu vi isso no meu celular quando levantei da cama. Por alguma razão terrível, tive vontade de rir. O Inferno enviava mensagens de texto – em grupos? De certa forma, não havia mais nada pior do que estar no fim da


recepção de um grupo de mensagens – algo como ser mantido como um refém. Mas não foi engraçado quando Roth me disse. — No momento em que li a mensagem, eu juro que meu coração parou. Saí do quarto e encontrei Cayman lá embaixo. A expressão no rosto dele me confirmou. Você tinha ido e eu... Não poderia lidar com isso. Foi quando fui para o Inferno, mas você não estava lá, e pensei... Que você tinha ido para o outro lugar. E isso fazia sentido. Não importava o que corresse em seu sangue, você terminou lá em cima. — Sua mão congelou a meio caminho das minhas costas. — Mas lá em cima, está totalmente fora do meu alcance. Para sempre. Meu coração se partiu quando a voz dele quebrou. — Eu sou um demônio, Layla. Sou egoísta. Mesmo acreditando que você ascendeu para um lugar como aquele, eu nunca poderia alcançá-la. Nunca mais. Eu queria ser feliz com isso, mas não podia. Eu não podia encarar. Nesses seis dias que você se foi, não... — ele limpou a garganta quando abaixou o queixo. Seus olhos estavam abertos e havia um brilho doloroso realçando a cor âmbar. — Não havia nada além de raiva e dor. Não era justo. Não para nós. Não era justo, e quando a raiva finalmente desapareceu, eu estava morto por dentro, Layla. Essa é a maldita verdade. Eu estava morto por dentro. As lágrimas me cegaram. — Sinto muito. Eu fiz isso e sinto muito... Roth se moveu de repente e nós dois estávamos de lado, de frente um para o outro e ao nível dos olhos. As mãos nas minhas costas vieram para o meu pescoço. — Há uma grande parte de mim que quer estrangulá-la da maneira antiga, mas com amor. Minhas sobrancelhas subiram na minha testa. — Há uma grande parte de mim que quer ficar com raiva de você por tomar essa decisão. — Há uma parte descomunal de mim que quer te sacudir até que entenda que tomou uma decisão que me quebrou. — Sua mão apertou a parte de trás da minha cabeça. — Eu me quebrei, Layla.


Emoção obstruiu minha garganta. — Eu… não tinha outra opção. Seus olhos brilhantes olharam fixos nos meus. — E você sabe o quê? Essa é a parte que me machucou mais. Você não tinha escolha. Eu entendi. Uma parte de mim entendeu isso no momento em que falamos com o vidente, mas não queria aceitar. Talvez se tivesse feito, então poderíamos enfrentar juntos. Então... Você não teria feito isso sozinha. — Não, — eu disse suavemente, colocando a mão em seu rosto. — Não havia nada que pudesse fazer. Você não tem culpa de nada disso. Seus olhos procuraram os meus, como se procurasse um toque de insinceridade, e quando viu a verdade, seus olhos se fecharam. — A coisa é, Layla, embora haja partes de mim que se sente dessa forma, não ofuscam a alegria de segurar você em meus braços, a emoção que vem junto com o sentir a batida do seu coração e ouvir cada respiração sua. Isso é o que mais importa. Roth me deu opção. Não havia nenhuma dúvida em minha mente que ele queria ficar com raiva de mim, mas entendia o que eu havia feito e deixou pra lá. Ele nunca deixava de me surpreender com suas tendências muito pouco demoníacas. Em uma ocasião ele havia me dito que as pessoas com as almas mais puras podem ser capazes do maior mal, e sabia que funcionava nos dois sentidos, sobretudo quando se tratava dele. Talvez eu não seja capaz de ver uma alma ao redor dele e todo mundo poderia dizer que não tinha uma, mas em seu ser, era melhor do que a maioria dos humanos e dos Guardiões que eu conhecia. Seus cílios levantaram quando ele deslizou os dedos pelo meu cabelo e seguiu a curva do meu maxilar para minha boca. Ele arrastou o polegar sobre meu lábio inferior. — Eu queria que você não tivesse que ficar sozinha. Devia estar tão assustada.


Eu estava apavorada, mas acho que ele não precisava saber disso. — Você não poderia ter ido lá comigo, — eu disse suavemente. — Você nunca deixaria isso acontecer. — É verdade, — ele concordou. — O que... O que aconteceu? Olhei para o rosto dele. — Você realmente quer saber? —Sim, eu quero. Respirando fundo, mudei a minha mão para seu peito nu. — Assim que saí daqui, encontrei o Lilin. Eu acho que ele sabia que eu iria a ele com o tempo, que me juntaria a ele. E ele é... É realmente um ele. Pedi para ele me mostrar quem ele era. Primeiro, se transformou em mim. Era como se me olhasse no espelho. Ele se parecia comigo. — Você não é nada parecida com ele, — Roth assobiou. Meus lábios se curvaram em um pequeno sorriso. — Eu sei. Finalmente ele se mostrou. O tipo se parecia comigo, se fosse um menino. Foi estranho. — Talvez não, porque ele realmente era meu irmão. Eu tenho uma família muito desastrosa. Ele bufou. — Baby, isso é algo que posso entender. Levantei uma sobrancelha. — Apunhalei-o no coração. Ele não me viu chegando. — Nesse momento, deixei os detalhes sangrentos indo até a parte após morrer. — Terminei neste estranho, lugar intermediário. Eu vi... Eu vi minha mãe novamente. Choque correu pelo rosto dele. — O quê? — Não era realmente ela. Era mais como o espírito dela. Todos nós estávamos conectados, estamos conectados. Quando o Lilin morreu e eu estava morrendo, ela foi capaz de vir a mim. — Fiz uma pausa, franzindo a testa. — Estava no modo cadela. De novo.


Roth deixou escapar uma risada surpresa. — Eu poderia ter te falado isso. Estreitei os olhos para ele, mas disse a ele o que Lilith disse. — Ela falou por um tempo, e então o mundo começou a desmoronar ao meu redor. Pensei ter a ouvido dizer que havia me amado ao me segurar quando bebê, mas não tenho certeza. Realmente, não coincide com o que ela me disse. De qualquer forma, Lilith me disse que estava morrendo e me senti como... Como se tivesse piscado e então, eu estava na casa da árvore. Não senti que dias se passaram. Provavelmente alguns minutos, uma hora ou mais. Não acreditava que pudesse ter isto, uma segunda oportunidade. Ainda não sei como consegui isso. Dor apareceu no rosto dele e ressoou dentro de mim. Sua voz era baixa quando falou. — Nunca pensei que te veria de novo. Pensei que passaria uma eternidade te desejando, de luto por você. Eu poderia ter lidado com isso se soubesse que você estava viva e feliz. Teria sido difícil. Provavelmente eu passaria muito tempo batendo a cabeça contra uma parede caso você terminasse com o grande Stony. — Ele fez uma pausa. — E provavelmente também seria um perseguidor assustador te observando. Quer dizer, eu sou um demônio. O que esperam? Mas tão difícil como teria sido, eu poderia suportar isso porque você estava viva. Virando a cabeça, beijei a mão dele. — Isto não é uma espécie de sonho ou alucinação, certo? — Acho que não, mas se for o caso, eu não quero acordar. — Seu nariz escovou o meu enquanto ele falava. — Poderíamos passar a eternidade assim. Mordi o lábio, sabendo que ainda havia muito mais a dizer. — Foi tão difícil deixar sua cama, deixá-lo. Eu quero que você saiba. Não fiz com alegria. Doeu, Roth, e foi a coisa mais difícil que tive que fazer. Tudo o que eu esperava era que um dia você me perdoasse e encontrasse algum tipo de paz, porque eu precisava fazer. Precisava…


— Você precisava... Salvar o mundo, — ele disse suavemente. — E você salvou. Olhe para você, pequena heroína, salvando a humanidade do apocalipse. — Eu acho que salvei. — Era estranho pensar nisso, acreditar. Era como se alguém me devesse um suprimento vitalício de massa de biscoito, minha coisa favorita no mundo para comer. — Isso soará terrível, mas quando eu... Bem, depois de tudo o que aconteceu e eu estava lá deitada, pensei que salvar o mundo realmente não valia a pena, já que eu... — Eu entendo o que você está dizendo. Você não precisa nem terminar a frase, e isso não faz de você uma pessoa terrível. Se tivesse sido da minha maneira, estaríamos descansando em uma ilha distante enquanto o mundo ao nosso redor desabava. — Não, você não teria ido. Ele levantou apenas uma sobrancelha. — Você me dá muito crédito, Layla. Isso é exatamente o que eu planejava. Mais ou menos, eu ia te sequestrar e te levar para longe. Imaginei que poderíamos sobreviver, mesmo contra os Alfas, enquanto bebíamos Mojito e nos bronzeávamos. Tentaríamos pelo menos, e estava disposto a ver o mundo queimar se isso significasse que estaria com você para vermos. Eu não teria sacrificado você. Minha... Compaixão pelos outros, com exceção de você, não é tão profunda. Ele estava sendo honesto e era um demônio, então realmente não podia reclamar disso. — Então, isso foi tudo com Lilith? — Passou o polegar pela minha bochecha. Quando balancei a cabeça, ele franziu a testa. — Não entendo. Como você chegou aqui? — Você quer dizer como eu estou viva?


Seus lábios se franziram. — Eu estava tentando evitar dizer isso, assim não pareceria ingrato, nem nada. — Não sei como, Roth. Eu queria saber se você fez alguma coisa. Fez outro acordo talvez? — Eu tentei. Fomos até os bruxos, mas eles disseram que não havia nada que pudessem fazer, — explicou. — Cheguei a ver Bambi. Bem, Bambi se separou daquela mulher no momento em que apareci. Eu... Precisava vê-la. — Ele respirou fundo. — Eu não fiz isso, Layla. Confie em mim. Se pudesse me vangloriar de tê-la salvado, eu estaria fazendo, mas... Não tive nada a ver com isso. — Então quem? — Sussurrei. Ele deu um pequeno aceno de cabeça. — Não sei. Deve ser um ser superior. Talvez os Alfas? Dei risada. Não pude evitar. — Duvido. Eles me odeiam. Provavelmente eles fizeram uma festa de pizza nas nuvens quando souberam que eu tinha partido. — Festa de pizza? — Ele murmurou; o canto dos seus lábios se curvando levemente. — Mais como fogos. — Obrigada. Esse leve sorriso cresceu um pouco mais enquanto levantava seu olhar para o meu. — Sabe o que? Não importa. Você está aqui. Isso é tudo o que me interessa. Eu não estava certa se me importava com quem me salvou, mas havia uma parte de mim que ainda estava incomodada, e se alguma criatura viesse cobrar, como fizeram os bruxos? Não gosto da ideia de alguém vir exigir um pagamento a qualquer momento. A menos que tenha sido o Anjo Castiel, porque estava totalmente de acordo com ele me salvando da perdição, caso seja isso que aconteceu.


Roth guiou minha cabeça para trás e me beijou de uma forma que fez meus dedos se dobrar. — Neste momento, tudo que eu quero pensar é no fato de que você está aqui. Isso é tudo que eu posso pensar. — Puxou meu lábio inferior de uma maneira rápida e deliciosa. — Se alguém ou algo tentar cobrar um acordo, vamos enfrentar juntos. Aproximando-me mais, nossos corpos se pressionaram e enterrei meu rosto no peito dele. — Juntos, — sussurrei. — Juntos, — ele repetiu. — Nunca mais você terá que enfrentar algo assim sozinha. Não importa o que. Eu estarei colado ao seu maldito quadril se for necessário. Pela primeira vez desde que acordei na casa da árvore, a tensão aguda aliviou meus músculos e sorri. Mesmo durante todas as belas boas-vindas em casa que Roth me deu, eu não havia realmente sorrido. Fiz um monte de outras coisas, mas agora, quando ele beijou o topo da minha cabeça, tudo que eu podia fazer era sorrir. Não importa o que, nós enfrentaríamos o que cruzasse nosso caminho. Roth me rolou de costas. Pairando sobre mim com todo o seu peso suportado em seus braços poderosos, e mostrou aquele sorriso de um lado só que costumava me enfurecer ao extremo. Mas agora, era uma visão do Roth por quem me apaixonei; o Roth com quem eu faria o impossível para passar a eternidade.


— Então… como é morrer e voltar à vida? Balancei a cabeça enquanto franzia a testa para o telefone celular. — Você já me fez essa pergunta três vezes. O bufo de Stacey ecoou através do banheiro. — Vou te perguntar todos os dias em que falar com você só para ter certeza que nada mudou e você não se tornará um zumbi. Não quero ter que ir toda Rick Grimes14 sobre seu traseiro. Revirei os olhos, torci meu longo cabelo em um coque, e depois coloquei grampos nele para segurá-lo no lugar. — Isso não vai acontecer, e seria um viajante, não um zumbi. — Semântica, — replicou — Vou te ver hoje? Balancei a cabeça, então percebi, como uma idiota, que ela não podia me ver. — Sim, acredito que Roth e eu planejamos passar por aí esta tarde. Ele mencionou algo sobre levar batatas fritas com queijo.

14

Rick Grimes: Personagem que mata zumbis na série de TV The Walking Dead.


Stacey e sua mãe, juntamente com seu irmão mais novo, ainda permaneciam na casa da tia dela. Esperavam estar em seu novo lar na primavera, mas a casa de sua tia era tão agradável como a McMansion, a qual Cayman adquiriu. — Eu já te disse ultimamente o quanto eu gosto de Roth e todas as boas ideias dele? — Ela disse. Rindo, peguei meu suéter do guarda-roupa. — Você gosta porque ele leva comida. — Eu diria o mesmo se ele agisse como um demônio de verdade e transformasse meu irmão em um sapo ou algo assim, — balbuciou. Enquanto arrastava o grosso suéter por cima da minha cabeça, Robin se moveu rapidamente através do meu ombro e terminou estirando-se na parte de baixo das minhas costas. — Acho que Roth não tem a capacidade de fazer isso. — Ele poderia tentar. — Foi a resposta dela, e eu praticamente podia ouvir o amuo em sua voz. Levantando o telefone, desabilitei o viva voz enquanto entrava no quarto, e fiz uma careta ao ver um dos gatinhos enrolado em uma pequena bola peluda em cima do cachecol que planejava usar. Era Thor. Droga. Uma espetada familiar de perda me bateu no peito quando me aproximei cuidadosamente da cama. Sentia saudades de Bambi. Depois que as coisas se acalmaram um pouco, me lembrei de que Roth havia mencionado vê-la. Fomos até o clã e surpreendentemente nos foi permitido visitá-la. Ver Bambi curou um pouco da dor em meu peito. Eu sabia que ela estava feliz e era tratada como uma princesa, mas ainda assim, apesar do apocalipse ter sido evitado, não pertencia mais a nós. — Então... — Stacey perguntou. — Você está se preparando para ir falar com Zayne?


Parei a poucos metros da cama, minhas sobrancelhas se uniram. — O quê? Como você sabe que vou fazer isso? — Zayne me disse que ele havia enviado um recado ontem para você, — ela respondeu. Thor levantou a cabeça. — Eu não sabia que ele havia te falado disso, — murmurei distraidamente, pensando em como deveria ganhar acesso ao meu cachecol sem derramamento de sangue. — Você não... Incomoda-se que Zayne e eu nos falamos, não é? — O que? — Ignorei a maneira como as orelhas do gatinho se aplanaram. — Não. Não me incomodo. Por que faria? — Não sei, — Stacey murmurou. — Eu só queria ter certeza. Sacudi minha cabeça mesmo que, novamente, não podia vê-la. — Acho ótimo você passar um tempo com Zayne. — Realmente e verdadeiramente eu queria dizer isso. Stacey havia perdido Sam e Zayne perdera seu pai... E, de alguma forma, ele me perdeu. Pelo menos é assim que às vezes me sentia. Eles estavam lá, um para o outro, e isso é incrível. Só não sabia que ele havia falado da mensagem para ela. — Bem, — ela respondeu. — Estou feliz em ouvir isso, porque é bom... É bom ter ele por perto neste momento. — Houve uma pausa. — Roth vai com você? Bufei. — Uh, não. Se Roth fosse comigo, eles passariam o tempo todo tentando irritar um ao outro. Stacey riu. — Sabe, se não fosse por você, eu acho que eles teriam um bromance épico. Zayne e Roth bromanceando? Duvidoso.


— Bem, eu vou deixar você ir, me ligue quando terminar e deixe-me saber como foi tudo com Zayne. Está bem? — Está bem. Eu te ligarei em breve. — Após dizer adeus a Stacey, eu deslizei meu celular no bolso de trás e então respirei fundo. Avançando rapidamente, levantei um lado do meu cachecol e dei um forte puxão para trás, fazendo Thor pular na cama. A pequena bola demoníaca caiu de costas, as quatro patas apontadas para o céu. Ficou apenas ali, sua cauda indo e voltando sobre o edredom. — Me desculpe? — Eu disse, me afastando. Thor virou a cabeça para mim e miou o som mais melancolicamente conhecido pelo homem. Quase fui até ele para me certificar que ele estava bem, mas não o fiz. — Não vou cair nessa. Você está bem. As orelhas do gatinho apontaram para trás enquanto ele rolava para o lado. Em seguida, se acomodou sobre suas patinhas e desfilou pela cama, e quero dizer, desfilou mesmo, sua cauda se agitando e tudo. Pequeno merdinha malvado. Colocando o cachecol ao redor do meu pescoço, dirigi-me escada abaixo. Podia escutar Cayman falando na cozinha, algo sobre espalhar e colocar em salmoura, e enquanto queria acreditar que falava sobre um peru, não apostaria meu dinheiro nisso. Tinha dado um passo para longe das escadas quando Roth apareceu na entrada. Meu coração deu uma cambalhota. Somente a visão dele fazia isso comigo, e duvidava que mudasse alguma vez. Tão alto como Roth era, a largura dos ombros já era marcante o suficiente, mas acrescente a obra de arte, seu rosto e seus olhos brilhando como topázio, roubava o fôlego e corações por onde passava.


Ele usava uma blusa térmica azul de manga longa com um cinto de tachinhas escuro, calça jeans pretas penduradas muito baixas. Quando ele estendeu a mão para esfregar os dedos pelos cabelos, empurrando os fios revoltos da sua testa, a camisa se levantou e fui saudada por um bom vislumbre de pele dourada e essas duas pequenas fendas em ambos os lados dos seus quadris. Roth sorriu quando finalmente arrastei o olhar para o dele. — Continue olhando para mim assim, baby, e não deixará esta casa tão cedo. Calor inundou minhas bochechas enquanto brincava com o nó que fiz no meu cachecol. — Não te olhava de nenhum jeito em particular. — Quantas vezes eu tenho que te dizer como você é ruim mentindo? Torci o nariz para ele. — Que seja. Ele cruzou a distância entre nós. Agarrando minhas mãos, tirou-as do cachecol, e então começou a refazer o nó. — Você se encontrará com Zayne agora? — Sim. — Olhei para ele cuidadosamente. Eu sabia que não estava exatamente entusiasmado com a ideia de que eu fosse me encontrar com Zayne, mas ele sabia o quanto isso significava para mim, então, basicamente, e surpreendentemente, manteve sua boca fechada sobre o assunto. — Robin está com você? — Ele arrumou o cachecol até sua aparente satisfação, o que não parecia muito diferente do que eu havia feito, então deixou cair às mãos sobre meus ombros. Balancei a cabeça, justamente quando a cauda da raposa se moveu ao longo da base da minha espinha. — Ele está nas minhas costas. Ele franziu a testa. — Ainda não gosto da ideia de você ir lá. Eu posso... — Roth, — eu disse, levantando minhas mãos e colocando em seu peito. — Eu estarei bem. Você sabe disso. Oficialmente, sou bastante fantástica.


— Não questiono sua fantasticidade, mas só porque o Lilin se foi e os Guardiões estão sendo agradáveis neste momento não significa que todos estão correndo atrás do arco-íris lá fora. Agh. Poderia ter seguido sem a imagem. — Eu sei. Ele me estudou por um momento, então suspirou. — Estou sendo superprotetor. — Sim. Suas mãos deslizaram até meu pescoço, me arrepiando, ele envolveu meu rosto. — É difícil não ser, pelo menos por um tempo. — É compreensível. — Me mande uma mensagem quando terminar. Vou me encontrar contigo. — Guiando meu queixo para baixo, ele beijou minha testa, e acredito que também beijou a parte alta do meu coque, o que foi realmente lindo. — Ok? — Ok. — Evidentemente estava em um humor do tipo rimador quando comecei a me afastar, mas pegou minha mão e me puxou novamente. A fantasticidade saiu direto pela janela, porque terminei pressionada contra seu peito. — Roth… Fechando um braço em volta da minha cintura, inclinou-me para trás enquanto abaixava sua cabeça. Roth me beijou, e ele... Beijou-me como se nunca tivéssemos nos beijado antes, como se fosse a primeira vez, estudando a curva dos meus lábios, e levou um tempo fazendo isso. Esse beijo foi meticuloso. Meu pulso acelerou enquanto me derretia nele, envolvendo um braço em torno do seu pescoço enquanto agarrava seu braço com a outra mão. — Oh, pelo amor dos meus olhos inocentes e virtuosos, vocês poderiam fazer isso onde eu não possa ver? — A voz de Cayman veio da porta da cozinha.


Roth levantou a cabeça, e quando ele se endireitou, observei aturdida que ele me sorria astutamente. — Eu só queria ter certeza que ela não vai me esquecer. Cayman bufou. — Eu acho que ela não esquecerá tão cedo. Roth parecia bastante satisfeito consigo mesmo. — Diga olá para o grande Stony por mim. Atirei-lhe um olhar, e ele parecia completamente arrependido quando piscou para mim e, em seguida, me beijou novamente antes de me soltar. Mas havia uma parte de mim que pensava que Roth não estava sendo um idiota com seu pedido, e isso foi simplesmente incrível.

***

A grama fria rangia sob minhas botas enquanto cruzava o pátio, indo em direção aos bancos do Centro Comercial. A temperatura subiu ao longo dos últimos dias, derretendo a neve, o sol saiu, e embora ele ainda estivesse fraco, as pessoas estavam em todos os lugares no Centro Comercial. Os humanos perambulavam, dirigindo-se para os museus, alguns sentados nos bancos jogando xadrez, outros estavam correndo e sendo saudáveis. Será que algum deles sabia o quanto ficaram perto do fim do mundo, o tipo de fim do mundo com trombetas tocando e rios de sangue? Eu nem sequer necessitava me fazer essa pergunta realmente, porque já sabia a resposta. Com as gárgulas despertando e semeando o caos, e mesmo todas aquelas pobres pessoas que supostamente caíram mortas nas ruas, a humanidade realmente não fazia ideia do quanto ficaram perto do apocalipse.


Salvamos o dia. Eu salvei o dia, e nunca saberiam. Eu era como um tipo de Batman, mas sem a capa genial. Mas se eu fosse o Batman, isso faria do Roth, Robin, o menino prodígio? Ah, não. Ele não concordaria com isso, mas a ideia me fez sorrir de orelha a orelha. O som de passos chamou minha atenção, e olhei para cima. Zayne estava a poucos metros de mim, uma de suas mãos enfiadas no bolso da calça jeans e a outra segurando um saco quadrado preto. Seus ombros estavam caídos, o queixo abaixado. Meu estômago fez um movimento estranho, não inteiramente agradável. Meu familiar não afetava minha habilidade de ver auras como Bambi fazia, mas agora quase desejei que fizesse. Isso seria melhor do que saber o quanto… se tornou opaco o brilho ao redor de Zayne. O branco clássico de sua aura era um constante aviso do que eu fiz a ele. E isso não era tudo. Meu sorriso enfraqueceu um pouco, mas não o deixei desaparecer, porque afinal de contas, eu estava feliz em vê-lo. — Ei, — ele disse e sorriu, mas o sorriso não alcançou seus olhos vibrantes. Deus, eu sentia saudades desse sorriso, assim como do seu rosto, de todo seu ser. — Você veio. Dei uma pequena sacudida com minha cabeça. — Claro que vim. Eu disse que viria. — Sim, você disse. — Ele se sentou ao meu lado, colocando o saco do outro lado, e então ele colocou as duas mãos nos bolsos enquanto olhava para frente. Alguns segundos se passaram. — Apenas pensei que talvez tivesse mudado de opinião... Ou algo assim.


Entendimento chegou a mim. — Eu não mudaria de ideia, e Roth nunca me pediria isso. A cabeça de Zayne deslizou na minha direção. Ele abriu a boca, fechou-a, e depois tentou novamente. — Eu... Eu gosto do seu cabelo assim. — Oh. — Levantei a mão, tocando com cuidado meu coque. — Honestamente não tinha vontade de fazer nada com ele hoje. — Está diferente. — Ele olhou para mim e então rapidamente desviou o olhar. — Enfim, eu queria te ver, te dizer que estou feliz que você esteja bem. Não tive nenhuma oportunidade de te dizer quando você entrou na casa. Ficamos todos surpresos em vê-la. — Quanto mais ele falava, mais ia perdendo o desconforto. — Quando ouvimos que o Lilin estava morto, bem... Nós sabíamos o que isso significava. Eu sabia o que significava. — Sinto muito, — eu disse. Percebi que havia dito muito isso, mas ainda queria falar. Só desejei poder dizer algo mais. Um rápido sorriso apareceu antes de desaparecer. — Sei que sente... O que você fez foi incrivelmente corajoso. Louco, mas corajoso. — Não vou te dar um sermão sobre isso. Tenho certeza... Tenho certeza de que Roth já fez isso. — Ele parou, respirando fundo. — Você sabe que não pode duvidar do que você realmente é, não mais. Por dentro. Você tem que saber. Após tomar esse tipo de decisão, e você não pode duvidar do seu valor. Eu apenas queria que você soubesse disso. Fechei os olhos e soltei um suspiro. — Eu... Obrigada. — Isso era tudo que eu poderia dizer, porque ele estava certo. Eu sabia o que era no interior. Ser um demônio ou um Guardião não me fazia quem era. Minhas decisões e minhas ações faziam. Eu não era perfeita, e não era malvada. Era apenas eu. Uma brisa empurrou uma mecha do seu cabelo loiro pela linha esculpida da sua mandíbula.


— Já falamos o suficiente sobre mim, — eu disse, e Zayne riu. — O quê? — perguntei. Ele deslizou as mãos dos bolsos e encostou-se ao banco, relaxando. — Laylabug, que morreu e voltou à vida. É um pouco difícil não focar nisso. Ao som do meu apelido, fiquei um pouco atordoada internamente. — Está bem. Bom ponto... — torci meu cérebro para dizer alguma coisa e achei. — Vou voltar para a escola na próxima semana. Roth e Cayman fizeram sua coisa e os oficiais da escola pensam que estive fora por drogas ou algo assim. Posso colocar as aulas em dia e me formar a tempo. — Isso é bom. — Sinceridade baixou a voz. — E sobre a faculdade? Movi-me no banco. — Acredito que vou tentar no semestre da primavera, em algumas das universidades daqui; uma vez que termine a escola, quero viajar. — Relembrando a conversa que tive com Roth sobre ver o mundo, sorri. — Nunca estive em nenhum lugar, e quero ver coisas; a praia, as montanhas, o deserto. Agora tenho tempo para fazer isso. Um monte de tempo. — Isso é bom. Não sei como eu continuo esquecendo que você... Não ficará velha ou algo assim. — Sua mandíbula se apertou. — Eu acho que é bom, no entanto, você viajar e essa coisa toda. Você vai se divertir. — Sim. — Era estranho e algo que honestamente não me obcecava, mas sempre pareceria assim... A menos que alguém conseguisse me apunhalar no coração ou cortar minha cabeça. Eu realmente precisava mudar de assunto novamente. — Mas, falando sério, já falamos o suficiente sobre mim. Quero saber como vai você. Ele levantou um amplo ombro. — Levando um dia de cada vez, para ser honesto. Alguns clãs chegarão para vistoriar tudo. Nada que se preocupar, — acrescentou quando me estiquei. — Só é lixo de procedimentos como Nicolai e Dez disseram. — Eles foram de muita ajuda, certo?


— Sim. Eu tenho mais alguns anos antes de tomar conta de tudo, e sei que os dois me ajudarão a fazer as coisas direito. Eles farão algumas mudanças necessárias, especialmente agora que Nicolai e Danika estão se tornando mais próximos. Eu sorri, ainda gostando da ideia dos dois juntos. — Definitivamente, a mudança é necessária. As coisas têm sido um pouco... Arcaicas. Se Danika fizer da maneira dela, eu não consigo visualizar vocês parando-a até que ela faça tudo que almeja, então as mulheres do clã terão muito mais opções no futuro. Mas, além de suas responsabilidades com o clã, como você está? Suas sobrancelhas se uniram. — É difícil alguns dias, — admitiu em voz baixa. — Falar com Stacey tem sido bom. Ela... Entende-me, sabe? — Ele fez uma pausa enquanto eu assentia. — Eu sei que meu pai não concordava com um monte de coisas no final, mas era meu pai, e eu o amava. — Ele me olhou. — Ele amava você. Você sabe disso, certo? No fundo, ele se importava com você. Relembrando a conversa que Zayne e eu tivemos depois que Abbot morreu, assenti. — Eu sei. Comecei a me estirar para apertar o braço dele, mas parei na metade do caminho. Eu não sabia se ele queria esse tipo de consolo de mim agora. Zayne deve ter captado o movimento pelo canto dos olhos, porque girou, levantando o saco preto. — Eu trouxe uma coisa. Minhas sobrancelhas se ergueram. — Trouxe? Ele balançou a cabeça enquanto pegava algo de dentro do saco. — Pensei que você podia estar sentindo saudades disso. Curiosa, observei quando seu braço se levantou e uma cabeça marrom de pelagem irregular veio à tona. Juntei minhas mãos, minha boca se abrindo enquanto Zayne tirava um velho e espancado urso de pelúcia que já viu dias melhores. — Senhor Snotty, — exalei, com veneração.


Zayne havia me dado o Sr. Snotty na noite em que Abbot me trouxe pela primeira vez para o complexo dos Guardiões. Eu tinha apenas sete anos e estava com medo das criaturas aladas com pele de pedra dura e dentes afiados. Eu corri e atravessei a casa, ele me encontrou escondida dentro de um armário, fiquei lá até Zayne me convencer a sair, me oferecendo um ursinho de pelúcia. Eu amava aquela coisa. Tanto quanto amava Zayne. Peguei o urso, abraçando-o enquanto Zayne pigarreava. — Eu sei que você não é mais uma criança. Inferno, eu sei que se a ocasião aparecesse, você poderia chutar o meu traseiro, mas pensei que... Bem, você sempre pode usar o Sr. Snotty. Ele é seu. Lágrimas queimaram meus olhos enquanto enterrava meu rosto na parte superior da cabeça do Sr. Snotty e respirava fundo. O cheiro do que costumava ser a minha casa estava no ursinho, e quase comecei a chorar ali mesmo. Abraçando o urso, eu queria voltar no tempo para que pudesse ter mais um abraço de Abbot, antes de tudo ir por água abaixo com a gente. Piscando para conter as lágrimas, levantei meu rosto para Zayne. — Obrigada. Muito obrigada. Ele fechou os olhos por alguns instantes. — Eu sinto falta de você, Layla. Meu peito se esticou como se o apertasse. — Você não precisa sentir, — sussurrei, inclinando-me em direção a ele enquanto segurava o urso. E aqui estávamos nós, finalmente no cerne do motivo pelo qual estávamos sentados no banco. — Estou bem aqui. Eu sinto sua falta, Zayne. Quero que sejamos amigos. — Eu sei. É só que... Eu não estou pronto para isso, — ele disse, voltando o olhar para o céu.


Seu peito subia com uma respiração profunda. — Gosto de pensar que um dia eu estarei. Bem, eu sei que estarei. Um dia. — Estarei esperando, — eu disse. — Falo sério. Eu estarei esperando por esse dia. Algum peso que eu carregava em torno do meu coração ficou aliviado quando Zayne balançou a cabeça lentamente. Então ele sorriu quando olhou para mim, realmente sorriu, com aquele sorriso que eu cresci amando, e nesse momento soube que realmente haveria esse um dia pelo qual esperar.


Zayne e eu conversamos mais um pouco, e quando era hora de ir, eu estava relutante em sair. Eu não sabia quando o veria novamente. Estive tão perto de saltar sobre ele e abraçá-lo como fiz com o Sr. Snotty, mas sabia que ainda era muito cedo para isso. Com lágrimas nos olhos, vi Zayne atravessar o gramado e esperava que um dia viesse logo. Eu realmente esperava. Gentilmente acomodei o Sr. Snotty no saco e quando me levantei, olhei pelo gramado na direção oposta, para os museus. Logo enviaria um recado para Roth, mas precisava de alguns minutos para pensar sobre tudo o que sentia. Fiquei feliz em ver Zayne e saber que ele não me odiava, mas sentia uma saudade enorme dele. Eu gostaria que pudesse ser da forma que era antes que ele e eu percorrêssemos o caminho, mas não me arrependia de nada do que compartilhamos. Precisávamos experimentar tudo o que tivemos para saber onde estávamos realmente com relação ao outro. Embora queira forçá-lo a ser meu amigo agora, respeitava-o e me preocupava muito com ele para dar-lhe todo o tempo que for necessário para ele se reerguer. Por enquanto, já estava feliz que ele pudesse contar com Stacey.


Passei pelos bancos e mesas, me focando em tomar respirações profundas e regulares, enquanto o saco contendo o Sr. Snotty se balançava gentilmente ao meu lado. Pelo canto do meu olho, pensei ter visto um familiar rosto escuro, parando a meio-passo, virei para minha direita. Morris estava sentado em uma das mesas de madeira, as sobrancelhas grossas franzidas com concentração. Sua mão enluvada estava curvada sob o queixo e a outra sobre as peças de xadrez brancas e pretas que estavam estrategicamente colocadas no tabuleiro de jogo. Não sei o que me surpreendeu mais, o fato de ver Morris na rua quando não o vi desde que Abbot morreu, nem sequer quando retornei de... Bem, da morte, ou do fato de que ele não estava sozinho. Na frente dele estava uma mulher de cabelos negros. Escura, com óculos enormes que cobriam a maior parte do rosto, mas poderia dizer que a partir da sua posição sentada, que ela era alta e magra, a pele de sua mão enquanto movia as peças de xadrez era perfeita. Morris tinha amigos? Amigas? Amigas que parecia muito, muito mais jovem do que ele? Vamos, Morris... A mulher moveu um de seus cavalos, levando o que eu assumi que era um peão do seu adversário. Enquanto ela tomava a peça escura, uma espessa nuvem passou sobre o sol, bloqueando-o de repente. Assustada, olhei para cima e franzi a testa. Estava tão escuro que era quase como um anoitecer. Um tremor estranho passou pela minha espinha quando abaixei meu olhar para eles. O calafrio se espalhou pelas minhas costas e ombros. Robin se inquietou, deslizando pelas minhas costas e arrastou-se para descansar logo abaixo minhas costelas. Morris olhou para cima, seus olhos em movimento me encontrando. A pele ao redor dos olhos enrugados se esticou quando ele abriu um largo sorriso. Levantei minha mão enquanto o sol aparecia de trás da nuvem escura e acenei para ele.


Isso era estranho. Ele voltou sua atenção para o jogo de xadrez, e eu tinha a sensação de que fui descartada, com o que estava estranhamente de acordo. Cada músculo do meu corpo estava bloqueado enquanto minha pele formigava. Reconheci o cantarolar, sempre reconheceria. Paradise City. A mesma música que Roth cantarolava constantemente, mas desta vez, vinha de uma mulher. Tinha que ser uma coincidência, eu disse para mim mesma enquanto me virava lentamente. O tom incrivelmente afinado vinha da mulher sentada na frente de Morris. Ela parou de cantarolar e seus lábios vermelhos se curvaram em um meio sorriso quando se esticou, tirando os óculos. Então ela virou seu queixo em minha direção, e eu vi o rosto dela. A mulher era belíssima. Cada uma das suas características muito bem definidas. Maçãs do rosto altas e definidas, nariz pequeno e lábios incrivelmente cheios, mas foram seus olhos que tiraram o ar dos meus pulmões. Era âmbar... Idêntico aos de Roth. — Sabe, — ela disse, falando com uma voz que era espessa como fumaça. — Ele sempre foi o meu Príncipe Herdeiro favorito. Meu queixo caiu, e engasguei diante dela como um peixe fora d'água. Meu Príncipe Herdeiro Favorito? Meu? Ela era…? Oh, meu Deus. Oh, meu Deus! O Chefe era uma mulher! A mulher inclinou a cabeça para o lado e seu cabelo preto deslizou por cima do ombro. — Ah, eu posso ver as rodas girando em sua cabecinha. Aquece o meu coração amargo saber que meu Príncipe está com alguém que é, pelo menos, relativamente inteligente.


Havia uma boa oportunidade de que meus olhos saltassem, esse insulto foi diretamente contra minha cabeça. — Você é... — Aposto que você pode adivinhar meu nome. Como diz a canção, eu tenho muitos. — Os óculos de sol batiam em seus dedos enquanto ela me estudava. — Alguma vez você já se perguntou por que está aqui, Layla? — Quando comecei a olhar ao redor, ela riu sobriamente. — Não aqui neste parque, bobinha, mas sim de pé aí, com sangue correndo em seu corpo e seu coração batendo no peito? Morris levantou as sobrancelhas de novo, se foi por seu último insulto ou um aviso do meu quase falecimento, não estava certa, mas permaneceu em silêncio, como sempre. — Foi você? — Eu disse depois de um momento. — Você me trouxe de volta? Ela não respondeu imediatamente. — Como eu disse, o Príncipe Astaroth é o meu favorito, mas não a ressuscitaria dos mortos, mesmo por ele. Pelo menos, não sem ganhar algo em troca. Balancei a cabeça. — Não entendo. Se não foi você...? — Oh, fui eu. E de nada. — Ela colocou os óculos de sol novamente, mas senti como se pudesse ver através de mim. — Mas foi por causa da sua mãe. Se o vento tivesse soprado nesse segundo, eu teria caído naquele momento. — Lilith me salvou? — Lilith me prometeu nunca tentar escapar novamente caso salvasse você, e essa era uma oferta que eu não poderia recusar. Então, fiz um acordo com ela, e você está aqui. Mil emoções me inundaram, e meus joelhos enfraqueceram. Lilith me salvou? Incredulidade bateu em mim, misturada com esperança, euforia e surpresa.


Finalmente, me reconheceu como sua filha e fizera algo para se redimir? O saco começou a deslizar dos meus dedos e apertei minha mão sobre ele. E então algo me atingiu. Se eu tivesse morrido, então Lilith teria morrido também. Não fazia sentido que o Chefe fizesse este acordo com ela a menos que... A menos que tivesse feito parcialmente por Roth. Santos macacos de biscoito, o Chefe era capaz de se compadecer? Oh homem, o mundo havia virado de cabeça para baixo. — Agora, não fique toda grudenta e enjoativa, minha querida. Se você morresse, ela teria morrido. Então, ela sentiu um vínculo materno por você ou no final, estava apenas se salvando? Talvez ela espere que algum dia você mude de ideia e a solte. Afinal de contas, então agora ela não estaria fugindo, não é? Quem sabe? Realmente não me importo, — ela disse, levantando um ombro em um encolher de ombros delicados. — Você não deve se preocupar com isso, porque sabe com o que você deveria se preocupar? Com o fato de que além dos Alfas, sou o único ser que pode desfazer a existência de Astaroth com um estalo… dos meus pequenos e minúsculos dedos. Sendo Lilith minha possível salvadora e o Chefe sendo assombrosamente memorável, senti minhas costas endurecerem e meus olhos se estreitaram quando sua ameaça me bateu. Fúria assumiu o controle e tive que usar cada grama de restrição para não mudar naquele momento e assustar algumas pessoas. Sequer reconheci a voz que saiu de mim em um rosnado baixo que fez as pessoas evitarem passar perto de mim. — Pode ser que eu não seja capaz de derrotála, mas sei que posso sair em um mano a mano com você. Então, se você ferir um fio de cabelo da cabeça de Roth, eu me banharei em seu sangue e farei um colar com suas vísceras.


Preparei-me para alguns golpes que provavelmente trariam alguns dos Alfas gritando para nós, e talvez hoje, eu devia ter trazido o Roth comigo depois de tudo, porque minha pequena viagem repentinamente tomara um giro realmente ruim. Mas, então, Morris sorriu e balançou os ombros em silêncio enquanto ela jogava a cabeça para trás e ria alto. Nada do que eu disse foi engraçado. Ou pelo menos, eu não acreditava nisso. Olhei em volta, sem saber o que estava acontecendo. — Eu gosto de você, — ela disse quando parou de rir. — De verdade. Você merece o Príncipe Herdeiro. — Hum... — E posso ver que você e eu... Bem, eu acho que vamos nos dar muito bem. — Ela voltou para o jogo. — Visite-me quando quiser, mas ouça apenas uma coisa. — Uh... Ela levantou um cavalo enquanto lambia seus lábios. — Me ameace de novo, e não importa o que eu tenha prometido a sua mãe, que amigos você tenha nos altos escalões, ou o que Astaroth fará, você estará usando vísceras como colar, mas não serão as minhas. Está bem, então. Eu não era estúpida, então sabia quando era hora de sair. Afastei-me da mesa em transe e não foi até depois de alguns bons cinco minutos que parei no meio de uma calçada lotada para pensar em voz alta. — Se ela é o Chefe, então o que ou quem diabos é Morris?

***


Em vez de enviar uma mensagem para Roth, acabei voltando para casa sozinha. Entrei pela porta da frente, colocando o saco contendo o Sr. Snotty na cadeira na sala de estar. Assim que cruzei para a sala, Roth estava lá. Movendo-se tão rápido quanto uma sombra, dentro de um segundo seus braços estavam ao meu redor e seus lábios estavam ao lado do meu pescoço. Imediatamente, um som suave escapou de mim quando o meu sangue aqueceu. Uma mão encontrou o seu caminho sob o meu suéter e alisou a minha pele nua, enviando um arrepio quente através de mim. — Você não enviou a mensagem, — ele disse no espaço logo abaixo da minha orelha. Meus olhos se fecharam. — Huh? Seu riso profundo me aqueceu. — Era para me mandar uma mensagem e era suposto que eu fosse buscar você. — Oh. Sim está correto. — Mordi o lábio quando ele beijou o espaço que seus lábios acariciaram. Por que não enviei a mensagem? Meus olhos se arregalaram. — Droga. Você é uma distração. Preciso te dizer algo. — Mmm. Pode dizer. — A outra mão deslizou pelas minhas costas. — Estou escutando. Eu tinha dificuldade para respirar. — Não posso falar quando você faz isso. — Fazer que? — Ele disse inocentemente. — Você sabe o que. — Estendo a mão para trás, peguei a mão dele e a tirei da minha bunda. — Não é minha culpa você não poder fazer várias coisas ao mesmo tempo, — ele disse enquanto começava a me levar para trás. Em seguida, virou e sentou, puxando-me para o seu colo, então eu estava de frente para ele, minhas pernas


aninhadas nos braços da cadeira. — Agora. Estou sentado. Você está aqui no meu colo, onde eu gosto que você esteja, e estou ouvindo. — Certo. — Eu pisquei lentamente quando ele sorriu para mim. Ele enrolou seus braços frouxamente em torno dos meus quadris. — Encontrouse com Zayne? — Sim, mas não era disso que eu queria falar. — Enquanto ele abaixava suas sobrancelhas, eu o cutuquei no peito com um dedo. — Vou lhe contar sobre isso mais tarde. Foi bom conversar com ele e tudo mais. — Mas? — Seu olhar caiu para a minha boca, e senti que ele ia me beijar. Eu precisava parar isto antes que ele acabasse sendo bem-sucedido em anular os meus sentidos, e foi bastante difícil quando seus dedos começaram a se mover ao longo dos meus jeans. — Acredito que conheci sua mãe, Roth. Seus dedos pararam e seus lábios ficaram entreabertos. Um olhar sombrio subiu pelo seu rosto, esticando a pele ao redor dos seus olhos. — Minha mãe? — Sim Sabe, a Chefe... Ela estava no Centro Comercial, e a escutei cantarolar Paradise City. — Tudo correu rapidamente após esse ponto. — Eu me virei e lá estava ela. Ela é realmente muito bonita. Quero dizer, se parece muito com você. Não que você seja bonito. Você é bonito e sexy, realmente um tipo de beleza e... — Eu entendo o que você diz, — ele interrompeu. — E obrigado. Mas só desta vez devemos falar de outra coisa além do meu aspecto. O Chefe te disse alguma coisa? Ele fez alguma coisa com você? — Bem, me disse que Lilith fez um acordo para não escapar do Inferno e foi por isso que fui salva, mas isso não faz muito sentido, porque a morte de Lilith resolvia o problema. Eu acho... Eu acho que a Chefe aceitou o acordo por você. E me disse que


você era o seu Príncipe favorito. — Cruzando meus braços, fiz uma careta. — Ela também disse que poderia anular a sua existência. Seus olhos se estreitaram. — Por que o Chefe disse isso? — Eu... Hum, a ameacei. — Você fez o que? Mordendo meu lábio, assenti. — Eu disse que tomaria um banho com o sangue dela e usaria suas vísceras como um colar se te machucasse. Um dos cantos dos seus lábios tremeu. — Você fez o quê? Levantei meu queixo. — Queria que ela soubesse que não levo ameaças amavelmente, mesmo que veladas, contra você. O rosto do Roth se suavizou. — Oh, baby... Você me faz sentir orgulhoso. Corando, me afastei do seu olhar enquanto revirava os olhos. — Que seja. — É sério. Você queria me proteger. — Seus dedos se enroscaram em volta do meu queixo, guiando meus olhos para os dele. — Estou honrado que você tenha feito isso. Tenho certeza que o Chefe não ficou muito feliz com isso. — Bem, ela meio que riu... E, em seguida, disse que gostou de mim. E então, basicamente, me disse que usaria minhas próprias vísceras como um colar caso eu alguma vez a ameaçasse novamente. Foi tão estranho. Você nunca me disse que o Chefe era uma mulher, e sua mãe. E achei que você a chamou de o Chefe antes. Ou estou inventando isso? Não importa. Chega de falar de família e política loucas, querido Deus. — Uma mulher? — Ele riu profundamente. — O Chefe é o que quiser e quem quer que escolha ser.


Agora era eu quem estava boquiaberta. — O quê? Ele passou a mão pelo meu queixo, embalando minha nuca. — O Chefe não é minha mãe ou meu pai. É mais parecido com meu criador, e por algum motivo, recentemente, o Chefe escolheu se parecer com uma mulher que se parece comigo, mas o Chefe não é nem homem nem mulher. Abri minha boca, fechei-a, em seguida, abri novamente. — Hum... — Estranho, né? — Sim. — Minha cabeça doía. Após alguns momentos, Roth franziu a testa, pensativo. — O que o Chefe fazia no Centro Comercial? — Estava jogando xadrez – oh meu Deus, eu quase esqueci! Estava jogando xadrez com Morris! Sabe, Morris, o chofer e faz tudo do recinto dos Guardiões. Ele estava lá com ela. — Balancei-me com entusiasmo, fazendo com que Roth ficasse com um aspecto interessante e deslocado em seu rosto. — Por que ele estava com ela? Por que eles estavam jogando xadrez? Santo azeite de canola, eles estavam jogando xadrez! Que clichê! Oh meu Deus, e se ele for... — Não sei o que ele é, — ele me interrompeu. Meus olhos estavam arregalados. — Ele quase nunca fala e é incrível com uma arma, e pode fazer alguns movimentos de kung fu, mas espere… não posso imaginar… — abaixei minha voz, — Você sabe quem disparar uma arma ou saber kung fu. Seus lábios estavam se contraindo novamente. — Sim, difícil imaginar que o grande homem lá de cima precise andar com arma ou saiba artes marciais. Verdade. Esvaziei-me como um balão furado. Por um segundo, pensei que estava dentro de algo assombroso. — Mas ele tem que ser algo.


— Tudo é possível. — Seus dedos acalmaram os músculos do meu pescoço enquanto seu olhar encarava o meu. — Então, sobre sua mãe... Abaixei a cabeça, dando um melhor acesso a ele. — Sua... Quer dizer, o Chefe me disse que fez um acordo para ela nunca fugir caso eu fosse salva, e no começo pensei, bem, Lilith finalmente fez algo por mim, sua filha, mas depois lembrei que se eu morresse, ela morreria também, e Lilith sabia disso. Basicamente, ela estava salvando ela mesma. — Dei de ombros. — Então, eu acho que nós sabemos agora, né? Como eu retornei. Eu ainda sou grata. Não importa como retornei, por estar aqui. Sua expressão pendeu em traços duros novamente. — Tem razão. Você está aqui e isso é tudo que importa, apenas uma coisa Layla. O Chefe… Bem, o Chefe tem momentos de grande compaixão, e algumas vezes, o Chefe faz tudo o possível para evitar ter crédito por isso. — Ele se curvou, pressionando sua testa contra a minha. — E Lilith poderia ser da mesma forma. Fazer algo de bom e depois esconder. Ou talvez fosse somente para salvar o próprio rabo, mas, sabe o que? — O quê? — Sussurrei. Ele abaixou a cabeça, beijando a ponta do meu nariz. — Você nunca saberá o motivo real, mas você pode optar por acreditar no que quiser sobre isso. Você não precisa tomar as suas decisões agora, mas não importa o que você escolha acreditar, não muda quem ou o que você é, ou o quanto você significa para mim, para Zayne ou para os outros Guardiões e Stacey. Até mesmo para Cayman, — acrescentou. — Até mesmo Cayman? — Eu ri com voz rouca. Ele beijou o canto da minha boca. — Até mesmo ele. Nada disso muda. Aquela mulher – Lilith – se fez o que fez para te salvar, está ótimo. Se ela fez isso para salvar a própria vida, então a esqueça. De qualquer maneira, isso não muda você. Fechei meus olhos enquanto me inclinava para ele, e ele pegou meu peso, me envolvendo com seu outro braço. — Tem razão.


— Eu sempre tenho razão, baby. — Não, nem sempre. — Eu sorri quando ele bufou. — Mas você tem agora. Seria bom saber que Lilith se importava comigo e tomou a decisão de me salvar porque sou a filha dela, mas no final, não importa realmente. — Não. — Ele beijou o outro lado dos meus lábios. — Para nada. — Eu importo, — sussurrei, e ele recompensou minha resposta com um beijo diretamente nos meus lábios. — Você importa. Nós importamos. — Ganhei mais um beijo por isso. — Zayne importa, e Nicolai e Dez e todos outros Guardiões importam. Stacey importa. Até mesmo Cayman importa. Seus lábios se curvaram em um sorriso contra o meu. — Eu não iria tão longe. — Quieto. — Desta vez, eu o beijei. Roth segurou meu rosto e se afastou. — Você está bem? Eu sabia que ele perguntava não só pelo que se passou com Lilith, mas também com Zayne, e o amava tanto por isso – tanto. — Estou bem — Ah, então é melhor você se segurar, baby. — Me segurar... — gritei quando ele me virou de repente e me segurei, envolvendo minhas pernas em torno dos seus quadris estreitos e meus braços em volta do seu pescoço. — Você me entendeu. — Então ele me beijou novamente enquanto fazia um som baixo e profundo em sua garganta, o qual enviou arrepios pelo meu corpo. Seus lábios deslizaram sobre os meus novamente, mordendo e se unindo a eles, até que aprofundou seu beijo com um mergulho de sua língua e senti o piercing de metal. Meus sentidos dispararam em todas as direções e foi explosivo, meu coração acelerou, juntamente com muitas, muitas outras partes do meu corpo. Um desejo familiar


surgiu dentro de mim, e em vez de medo correr pelo meu sistema, dardos sublimes de prazer dispararam pelas minhas veias. — Certifique-se de se segurar, — Roth ordenou, e uma sensualidade sombria escureceu sua voz. — Eu farei você se sentir mais do que bem. E ele manteve a promessa.


Um vento quente soprava meu cabelo, puxando as mechas claras para o meu rosto e estimulando as penas pequenas e sensíveis que cobriam as minhas asas. A lua estava alta e as nuvens eram grossas, uma noite perfeita para voar. Eu estava no telhado do One World Trade, um pé no parapeito, o outro pendurado para fora. Minhas asas estavam arqueadas no alto, evitando que eu caísse. Lá embaixo, luzes deslumbrantes iluminavam as ruas. Eu não conseguia distinguir as pessoas, mas podia ver as formas, um monte de pequenas manchas em movimento. Em torno de mim havia outros edifícios que se estendem bem alto no céu, as janelas iluminadas enquanto outros estão escuros. Nenhum deles ia tão alto quanto eu. Alcançando o prédio por trás, coloquei minha mão sobre o edifício e fechei os olhos. A história triste e ainda poderosa do renascimento e da renovação que ocorreu neste pedaço de terra era difícil de não sentir, de não parar um momento para conhecer. Aprendi há muito tempo que, às vezes, os seres humanos podiam ser piores do que qualquer demônio vindo das profundezas do Inferno. Um agudo assobio atraiu minha atenção e meus olhos se abriram enquanto deixava que minha mão voltasse para a borda. O assobio veio de algum lugar em Wall Street, e um sorriso repuxou meus lábios. Coloquei-me lentamente de pé.


E então, comecei a voar. O vento soprou para cima, imediatamente atingindo minhas asas quando elas se estenderam. Arqueando-me para cima, os olhos fechados, voei mais alto e o ar frio girou na minha pele quente, até o meio das minhas costas e sobre as minhas asas. Foi justamente como Jasmine havia descrito quando abri meus olhos. Estiquei o braço e realmente pensei que poderia pegar as estrelas em minha mão e puxá-las para perto do meu peito. Talvez pudesse inclusive voar direto para o céu, mas duvidava seriamente que os Alfas ficariam muito entusiasmados com isso. A simples ideia de bater no portão deles trouxe um sorriso ao meu rosto enquanto permitia me aventurar a girar como um pequeno míssil antes de alcançar a parte da atmosfera onde poderia facilmente ser cortada por um avião e começar a ter dificuldade para respirar. Eu sabia que se fosse mais longe, não seria capaz de respirar, mas também sabia que o instinto tomaria o controle do meu corpo e me forçaria a descer. Aprendi isso da pior maneira na noite passada. Olhei para baixo e era como se o mundo inteiro estivesse logo abaixo de mim. Edifícios se projetavam em minha direção como dezenas e dezenas de punhos crescendo. Milhões de pessoas viviam e respiravam em uma área que agora parecia tão incrivelmente pequena. Que vista maravilhosa era essa da cidade de Nova Iorque. Uma corrente de vento bateu nas minhas asas, mas girei para fora da rajada, e logo desci fazendo uma pirueta. Dobrando minhas asas para trás, deixe-me levar por uma épica queda livre. Peguei velocidade, e por um momento a velocidade em que caía roubou minha respiração, mas não de medo ou pânico, somente de um fluxo incrível de adrenalina e alegria.


No meio do caminho para a cidade, desdobrei minhas asas, diminuindo minha descida, assim não viraria omelete contra algum edifício, porque isso seria uma forma infernal de terminar a noite, e minha pequena incursão ao campo dos voos travessos. Vagando sobre a cidade, evitando as áreas que sabia que outros Guardiões frequentavam, voltei para o distrito financeiro. O clã de Nova York sabia que estávamos aqui. Dez ligara com antecedência, alertando o clã para não mexer com a gente, mas não queria empurrar a nossa sorte. Além disso, eu duvidava que fosse o inimigo número um deles, desde que trabalhamos juntos para parar o Lilin e o apocalipse, já meu cúmplice sempre seria outra história, uma história bastante complicada. Freando, aterrissei, flexionando sobre o teto do que pensava ser um banco. Minhas asas acabaram se recolhendo quando uma pesada forma pousou ao meu lado, fazendo com que pedacinhos do parapeito de pedra se soltassem e caíssem no chão. Arqueando uma sobrancelha, olhei para cima. Roth estava de pé, com suas pernas abertas e suas asas estendidas. Sua pele estava escura como ônix, brilhante e dura. Com o torso nu, mesclava-se com a noite ao seu redor. Ou teria feito se suas presas não tivessem cintilado para mim – e se a caveira na fivela do seu cinto não fosse de um branco brilhante. — Seu cabelo, — ele disse. Meus olhos se estreitaram quando resisti à necessidade de estender a mão e ver o que ele queria dizer. — O que há com ele? Ele sorriu enquanto se ajoelhava junto a mim, voltando rapidamente para sua forma humana. — Brilha como se acabasse de sair de um clip do Guns N’ Roses. — Obrigada por isso. — Provavelmente até mesmo do clip de Paradise City.


— Fica cada vez melhor. Ele se curvou, beijou minha têmpora e, em seguida, minha testa. — Malditamente sexy, no entanto. Lembro-me do quanto ele brilha depois de passar meus dedos por eles e nós... — Eu entendo a imagem. — Sorri. — Sei totalmente para onde você vai com isso. — O quê? Eu ia dizer quando nos levantamos pela manhã. Eu bufei. — Oh, o que seja. Sua risada profunda provocou um arrepio em mim. — Você me conhece muito bem. Isso era verdade. Fechando a distância entre nós, dei-lhe um beijinho na bochecha. — Você me viu? — Sim. — Ele fechou uma mão ao redor do meu pescoço, evitando que me afastasse. — Vi você beijar as estrelas. Meus lábios se estenderam em um amplo sorriso. Eu gostei da maneira como soou. — Você quer ver eu beijar minha estrela pessoal? — Sim, isso foi brega, mas embora não pudesse ver seu sorriso, podia senti-lo em cada célula do meu corpo. Sua proximidade, sua felicidade e a minha, tinha praticamente meu corpo zumbido. — Sempre, — murmurou. Inclinando minha cabeça, rocei meus lábios sobre os dele uma vez, depois mais duas. A mão ao longo do meu pescoço se apertou quando corri a ponta de minha língua ao longo da linha da sua maravilhosa boca. Seus lábios se separaram, e aprofundei o beijo, e como sempre, ele tinha um pecaminoso sabor de chocolate, e como todas às vezes, um beijo nunca era o suficiente. Sabia que se não tomássemos


ar logo, começaríamos a ficar luxuriosos, primeiro com nossas mãos e depois com outras partes nossas. Isso também aconteceu na noite anterior. Afastando-me, soltei a respiração que estava segurando enquanto acariciava sua mandíbula com a mão e ele fez um som melancólico. Eu sorri, mantendo um pequeno espaço entre nossas bocas. — Mais tarde, — prometi. O som se tornou um ruído surdo muito mais profundo, cheio de aprovação. A antecipação ia crescendo, formando uma fome muito maior do que vivíamos a cada dia. — Melhor que mais tarde chegue logo, — grunhiu. Ele deslizou a mão pelo meu pescoço e desceu pelas minhas costas, e através da minha frouxa blusa solta pude sentir seu calor. — E amanhã nos vamos seguir para o Canadá? Eu assenti. — Canadá. Eu não disse nada enquanto ele descansava sua mão sobre meu quadril, e fiquei calada enquanto olhava para a cidade lá embaixo. Olhava para meu futuro enquanto me agachava junto a minha eternidade, e era um sentimento maravilhoso e lindo. Ainda não escolhi uma universidade ou decidi que carreira ia seguir, mas estava bem. Tinha tempo e não queria apressar um segundo dele. — Já é mais tarde? — Roth perguntou. Lançando um olhar demorado para ele, eu sorri enquanto me levantava fluidamente, com uma graça que nunca pensei que poderia ter. — Só se você me pegar. Roth se levantou imediatamente, capturando minha mão antes que eu pudesse decolar, entrelaçando os dedos entre os meus. — Eu já fiz, Layla.


E ele já havia feito, muito tempo atrás, quando percorreu um beco escuro e bateu em um demônio. Verdade seja dita. Eu realmente nem sequer quis correr. Isto era amor, e o amor podia mudar às pessoas, mesmo que essa pessoa fosse, na verdade, um demônio e o Príncipe Herdeiro do Inferno. — Eu te amo, — eu disse. — E vou te dizer todos os dias que ainda virão. Roth abaixou a testa na minha enquanto juntava nossas mãos sobre o peito, colocando-as em seu coração. — E eu te amo, — ele disse. — Com cada respiração, eu sempre vou te amar.


Série Finalizada. 0.5 - Bitter Sweet Love 01 - White Hot Kiss 02 - Stone Cold Touch 03 -Every Last Breath


Jennifer L. Armentrout é uma escritora americana. Publica também sob o pseudônimo de J. Lynn. Mora em Martinsburg, Virginia Ocidental (EUA). Todos os rumores que você possa ter ouvido falar deste estado são verdadeiras. Bem, a maior parte. Quando não está trabalhando duro na escrita, passa seu tempo lendo, passeando, assistindo filmes B de zumbi que finge que escreve. Mora com seu marido e o cão deles chamado, Jack Russell, que eles chamam de Loki. Seu sonho de se tornar uma escritora começou nas aulas de álgebra, onde passava o tempo escrevendo histórias curtas... O que explica suas notas terríveis em matemática. Jennifer escreve fantasia urbana e romântica para adultos e jovens.


Paradise City Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Oh, won't you please take me home

Cidade do paraíso Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Você não quer, por favor, me levar pra casa

Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Take me home (Oh, won't you please take me home)

Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Me leve pra casa (Você não quer, por favor, me levar pra casa)

Just an urchin livin' under the street hard case that's tough to beat I'm your charity case so buy me somethin' to eat I'll pay you at another time Take it to the end of the line Ragz to richez or so they say ya gotta-keep pushin' for the fortune and fame It's all a gamble when it's just a game ya treat it like a capital crime Everybody's doing their time Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Oh, won't you please take me home Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Take me home Strapped in the chair of the city's gas chamber Why I'm here I can't quite remember The surgeon general says it's hazardous to breathe I'd have another cigarette but I can't see Tell me who you're gonna believe Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Take me home, yeah Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Oh, won't you please take me home So far away, so far away so far away, so far away

Só um vagabundo vivendo sob as ruas Caso complicado, difícil de derrubar Eu sou um necessitado Então me compre algo pra comer E eu te pagarei mais tarde Leve até o fim Da pobreza para a riqueza Então eles dizem Você tem que se esforçar para ter fortuna e fama É tudo um caça-níquel quando é só um jogo yeah trate Como um crime grave Todo mundo o faz o tempo todo Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Você não quer, por favor, me levar pra casa Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Me leve pra casa Amarrado na cadeira da câmara de gás da cidade Por que estou aqui Eu não consigo me lembrar O cirurgião geral disse que é difícil entender Eu fumaria outro cigarro, mas não posso ver Diga-me quem vai acreditar Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Leve-me pra casa, yeah Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Você não quer, por favor, me levar pra casa Tão longe daqui, tão longe daqui Tão longe daqui, tão longe daqui


Captain America's been torn apart Now he's a court jester with a broken heart He said- turn me around and take me back to the start I must be losin' my mind- "Are you blind? " I've seen it all a million times Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Take me home Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Oh, won't you please take me home Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Take me home Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Oh, won't you please take me home home Oh I wanna go, I wanna go oh won't you please take me home I wanna see how good it can be Oh won't you please take me home Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Take me home Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Oh won't you please take me home Take me down, lead me 'round Oh won't you please take me home I wanna see, what a woman can be I want to take you home Take me down to the paradise city Where the grass is green and the girls are pretty Oh won't you please take me home I wanna go, I wanna know Oh won't you please take me home

O Capitão América foi dilacerado Agora ele é só um falso com o coração partido Ele disse: vire-me e me leve de volta pro começo Eu acho que perdi minha cabeça "você está cego? Eu vi um milhão de vezes Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Me leve pra casa Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Você não quer, por favor, me levar pra casa Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Me leve pra casa Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Você não quer, por favor, me levar pra casa Casa Oh eu quero ir, oh eu quero ir Oh você não quer, por favor, me levar pra casa Eu quero ver o quanto isso pode ser bom Oh, você não quer, por favor, me levar pra casa? Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Me leve pra casa Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Oh, você não quer, por favor, me levar pra casa? Me leve de volta, pra dar uma volta Oh, você não quer, por favor, me levar pra casa? Eu quero ver, do que uma mulher é capaz Eu quero te levar pra casa Me leve de volta pra cidade paraíso Onde a grama é verde e as garotas são lindas Oh, você não quer, por favor, me levar pra casa? Eu quero ir, eu quero saber Oh, você não quer, por favor, me levar pra casa?


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