Tudo que aprendi com João Uma história real Juliana Queiroga
Tudo que aprendi com João MATERNIDADE / VIDA NO CAMPO / DESAFIOS / SÍNDROME DE DOWN INFÂNCIA / LIÇÕES DE VIDA
Uma história real
A história que vou contar é verdadeira, e eu sou Juliana, eterna mãe do João! Gostaria de tocar seu coração através das experiências pelas quais passei, tanto os erros como os acertos, e dessa forma ajudar a iluminar algum caminho ao qual a vida nos leva, que às vezes parece difícil atravessar. A vida é cheia de imprevistos, e estão no começo, no meio e no fim. Mesmo que a gente quase nunca lembre disso, é bem verdade! Quando passamos por certos desafios aprendemos a importância de viver plenamente o momento presente, de corpo e alma, nos servindo da intuição, da serenidade, da aceitação e do amor. Sobretudo quando uma criança vem ao mundo!
Para João
À Chico
A todos que contribuem para o bem-estar de uma criança, seja onde ela estiver.
Às mães e pais dedicados
PLANEJAMENTO E NASCIMENTO DE JOÃO Era uma vez um casal que vivia em uma pequena fazenda de gado de leite. O moço era veterinário e a moça, naquela época, era dona de casa e ajudava em algumas tarefas da fazenda. Eles viviam bem felizes e se alegravam por morar perto da natureza e de seus animais naquele bonito lugar de Minas Gerais. Tinham uma vida simples por opção, não tinham televisão nem internet e, nas horas vagas, gostavam muito de ler, caminhar e viajar. O moço, chamado Francisco, tinha dois filhos já grandes que moravam em outras cidades do Rio Grande do Sul. A moça, chamada Juliana, não tinha filhos. Juliana e Francisco começaram a pensar e a sentir que a vida seria muito alegre e interessante se tivessem um filho. Uma criança que pudesse nascer e crescer naquele ambiente de natureza e ter uma vida muito saudável e bonita naquela fazenda. Com estes pensamentos e sentimentos, decidiram por ter um filho, e esta desejada criança logo apareceria! Em um dia chuvoso e bonito de primavera, depois de nove meses felizes, se ambientando dentro da barriga de Juliana, nasceu João! Seu nascimento foi lindo e inesquecível, e este bebê pequenino e tão bonitinho foi muito bem recebido! No dia seguinte ao seu nascimento, o Dr. Raul, um pediatra muito especial que acompanhou o nascimento de João, contou com carinho e cautela para Juliana e Francisco, que João tinha algumas caraterísticas que sinalizavam para “Síndrome de Down”. Aquela síndrome que muitos costumam chamar de “cromossomo do amor”! Naquele momento em que o Dr. Raul explicava sobre aquela novidade, o papai de João o segurava no colo, e sua reação demonstrou o maior amor do mundo, aceitação e naturalidade! A mamãe Juliana, e os avós de João, que também estavam na maternidade naquele dia, receberam tal novidade com todo amor e tranquilidade, porém, com certa preocupação, que veio pelo desconhecimento das coisas. Mas a sabedoria do papai Francisco e a forma de encarar a notícia com tamanha demonstração de amor e coragem não deram chance nem lugar para deixar brotar qualquer sentimento negativo. Tal gesto transformou e tranquilizou a todos instantaneamente! João era diferente do que era o comum, e isso não impediria a alegria de ninguém!
Os adultos, em sua maioria, não são muito corajosos e sabidos quando tem alguma coisa diferente do que estão acostumados. Por sorte, naquele momento em que todos estavam cheios de emoção, expectativas, planos e ideias pré-definidas sobre o novo bebê, havia pessoas especiais que transmitiram só coisas boas sobre a chegada de João! João chegou naquele dia para transformar e trazer amor verdadeiro a todos. A família e os amigos foram descobrindo tantas bençãos que vêm com a Síndrome de Down! Realmente, a síndrome do amor! E desde sempre, João foi muito bem-vindo!João nasceu com saúde e o Dr. Raul liberou a pequena família, depois de três dias na maternidade, para seguirem a vida com alegria! A sensação de ir para casa levando João foi muito agradável. Foi inesquecível a viagem pela estrada de terra até chegar à fazenda e sentir a alegria de acolher João em seu novo lar! Agora, os passarinhos cantavam, e tinha um bebê sereno que os escutava com alegria. As vacas mugiam e, passando pela frente da casa de João, iam em direção ao curral, lembrando-o que um dia seu leite ele tomaria! As árvores balançavam suas folhas com o vento agradável da primavera e as folhas de outras primaveras um dia seriam parte da brincadeira, imaginação e contemplação de João. Aos 5 dias de vida, João participou da cerimônia de casamento de seus pais na pequena fazenda onde moravam! A data para o casamento havia sido escolhida para que fosse antes do nascimento, mas João chegou antes do previsto para ser membro de honra na cerimônia, selando e abençoando a união de Juliana e Francisco, que já estavam juntos há 3 anos antes de sua chegada. A festa era de Juliana e Francisco, abençoada por João! O lindo bebê vivia cercado de amor, cuidados e canções, e foi amamentado desde o sétimo dia de vida, já com tentativas desde seu primeiro dia de vida, depois de muitas técnicas e tentativas de todo jeito. Com a ajuda da avó que estava muito presente naqueles dias, mas também graças ao empenho da tia Cris, irmã de Juliana, que no dia do casamento, insistia e sabia da necessidade em ajudar João para que não desistisse, finalmente João começou a mamar! Algo tão importante! Juliana com o cansaço e ainda um pouco zonza com tantas novidades, não se dava conta do quanto a amamentação seria importante para João! Foi uma alegria para todos e mais saúde para João, que foi amamentado até os 10 meses!
ADAPTAÇÃO COM A NOVA VIDA Como toda chegada de um bebê, a vida mudou! Desde os primeiros dias de vida, Juliana cuidou de João a maior parte do tempo sozinha. Já era esperado, pois Francisco tinha suas obrigações com a fazenda. Os avós de João passaram uma temporada na fazenda, antes de seu nascimento e ficaram por lá os 15 primeiros dias de vida do bebê, ajudando no que era preciso! Por escolha do casal, não havia babá ou alguém para as tarefas da casa, nem mesmo vizinhos ou parentes havia por perto, afinal, esta pequena família tinha escolhido morar em um lugar mais distante da sociedade! A vida era serena e havia um propósito e felicidade na pequena família de João! Somente depois que o bebê nasce, é que realmente surge uma realidade que ninguém pode explicar antes! João e sua mamãe passavam muitas horas do dia entre canções que ela cantarolava especialmente para ele, trocas de fraldas, silêncio, passeios no “canguru”, cantos de passarinhos, cochilos e mamadas. Quando João dormia um pouquinho, correcorre para arrumar a casa, ou, às vezes, os dois adormeciam juntos! Os dois primeiros meses foram se passando, entre dias a fio em uma casa ampla e simples, uma vida tranquila ali dentro e lá fora também. Uma ou outra ida ao posto de saúde para pesar João e tomar as vacinas necessárias, e ir ao pediatra, o Dr. Raul, na cidade onde João nasceu. Quando um casal não tem filhos, nada os preocupa muito. Os horários, mesmo com todos os compromissos que são assumidos, são somente de dois adultos livres. Os planos, as atividades e os desejos sem um filho são somente uma questão de escolha! Quando nasce um filho, principalmente quando ele ainda é um bebê, nasce a doação, a verdadeira entrega, o esquecimento das prioridades do casal e da mãe principalmente, quando é o pai que trabalha fora. Quando se escolhe realmente ser mãe, assim que é! E assim foi com Juliana! A vida agora era de João, e sua mamãe o ajudaria a crescer feliz e com todo o amor do mundo! Para o casal, a vida mudou com a presença de uma criança. A compreensão, parceria e atenção de um com o outro era fundamental para que a vida fosse bem vivida e adaptada com equilíbrio. Dessa forma, a criança se sentia segura e em paz. Assim tentaram e fizeram a maior parte do tempo, apesar de alguns deslizes comuns aos casais!
Esses deslizes geralmente aconteciam por momentos de cansaço, noites mal dormidas e, talvez, algum hormônio desregulado! Por estar entregue à vida de mãe e dona de casa, com responsabilidades a cada dia e todos os dias da semana, algumas vezes vinha o esgotamento e Juliana ficava nervosa ou triste. Sentia-se sozinha, ou, às vezes, desamparada. Muitos dias sem interação com outras pessoas, e uma rotina mesmo que fácil, cansativa. Por conta dessas situações, o casal, às vezes, se desentendia, e sobrava mesmo era para João, que tudo sentia e percebia quando o ambiente era de discórdias. Mesmo que momentos assim logo passassem, nunca deveriam ter ocorrido. No futuro, esta lembrança viria a doer em Juliana. Se conhecesse o futuro, perceberia o quanto cada milésimo do momento presente é realmente precioso, e como o tempo é curto para desavenças ou algum descontentamento com o momento presente. Percebeu que naquela época, o que causava as desavenças deveria ter sido resolvido. O cansaço deveria ter sido solucionado, quem sabe buscando alguém por perto para ajudar nas tarefas da casa. Dias prolongados a sós, em certas ocasiões na fazenda, não estavam sendo saudáveis para a família e às vezes eram resolvidos com algumas saídas e viagens. Sempre que podiam, viajavam para o Rio de Janeiro e Santa Catarina, para que pudessem interagir com mais pessoas e mudar de ares! Aos dois meses, João já se aventurava em uma viagem de carro, de Minas Gerais até Santa Catarina. Em seguida Rio de Janeiro. Os primeiros de muitos outros quilômetros que percorreria com seus pais. Tudo isso foi riqueza de experiência para João, que sentiu a brisa do mar e foi apresentado a muitos amigos e à sua irmã, a Maira. Os meses foram passando, as necessidades supridas e o lindo e tranquilo bebê ia crescendo com menos pressa e rapidez que normalmente era esperado pela maioria das pessoas. João seguia sua estrada, sempre amado!
TERAPIAS E DESENVOLVIMENTO Certos momentos dos primeiros meses com João, as alegrias e novidades da nova vida foram mescladas com algumas preocupações ou gotinhas de tristeza. Para a nova mamãe, a Síndrome de Down trazia algumas novidades que ainda não eram compreendidas naquela ocasião. Como o desenvolvimento de João era diferente dos padrões comuns, Juliana se preocupava um pouco quando vinha uma nova fase da vida do bebê. Muitas vezes se questionava a respeito de desenvolvimento, fazia comparações, consultava as referências da “caderneta da criança”, e, às vezes, buscava pelo “Dr. Google”, ao qual o Dr. Raul já tinha grandes ressalvas e não aconselhava recorrer. Francisco era um bom e sábio conselheiro para muitos momentos. Juliana o escutava e a isto mesclava sua intuição e observação em João. Refletia sobre conselhos de outras pessoas e fazia suas avaliações, sempre pensando no melhor para o bebê, tanto para seu presente como para seu futuro. A nova mamãe não conhecia o futuro, estava experimentando o presente. Não tinha experiência com o que ainda não havia vivido e não poderia ter feito de outra forma. Afinal, fazia tudo com a melhor intenção e com todo amor. Aqueles primeiros dias de vida do bebê, assim como outras fases de sua vida, não teriam tido lugar para preocupações, se Juliana vivesse a vida de João de “trás para frente”. A vida toda desta criança teria sido apenas uma imensidão de gratidão e tranquilidade por João ter sido exatamente daquele jeitinho especial e no seu próprio tempo! Nenhuma daquelas preocupações iria interferir em sua felicidade! João demorou um pouco mais a sentar, a engatinhar, a andar, a comer sozinho, mas fez tudo o que as outras crianças fazem, com naturalidade, alegria e no tempo dele! O que João não conseguia fazer não impedia a felicidade dele! E foi aceito como ele era. Papai Francisco e o Dr. Raul já sabiam disso! Juliana percebeu que compartilhar suas dúvidas com algumas pessoas em diferentes fases da vida de João teve pontos positivos e negativos! Chegou à conclusão de que escutar, mas também filtrar o que sugeriam as pessoas com suas boas intenções e conhecimentos, foi positivo. Escutar o coração com serenidade e sabedoria, dar ouvidos à intuição, olhando com atenção para a criança e sua individualidade, seria fundamental. A grande lição nesse aspecto foi aprender que whatsapp é uma ferramenta nada indicada para participar
de grupos de mães ou, principalmente, para se comunicar com o médico. É muito utilizada em certas situações de dúvidas e inclusive para alguns doutores, até uma forma de promoverem-se. Infelizmente, quando já moravam no litoral e tinham acesso fácil ao aplicativo, Juliana o utilizou algumas vezes, pensando estar com uma vantagem, porém aprendeu, tarde demais, que não foi nada positiva esta forma de comunicação. Muitos amigos e familiares, e outras mães de crianças com Síndrome de Down, davam sugestões sempre com as melhores intenções. Todos sugeriam a necessidade de João frequentar terapias que são indicadas para estas crianças. A mãe suscetível, muitas vezes balançava-se entre o que escutava das pessoas amigas, o que percebia no dia a dia de João e o que o pai Francisco considerava em suas percepções com tendência a seguir um modo natural de aceitar cada indivíduo como ele é. Com a combinação de tudo isso, Juliana tomava as decisões, apoiadas por Francisco, sempre pensando no melhor para João. Assim, ponderando algumas questões em certos momentos de certos dias, surgiam estas dúvidas e decisões. Além do estímulo primordial que foi a presença atenta dos pais, João frequentou a fisioterapia. Este estímulo específico durou alguns meses e foi bem importante para que João posteriormente pudesse despertar para a maravilha e a liberdade de se locomover. A locomoção ajudou-o em novas descobertas, experiências e alegrias. A trabalho com a fisioterapeuta parece ter valido à pena para ele naquele período. Quando seus pais perceberam que João não estava ficando muito feliz ao frequentar a fisioterapia, voltaram-se para as atividades livres na fazenda, que eram estímulos bem naturais. E assim foi em outras situações. A alegria e a paz sentidas, quando se percebe a importância da criação dos filhos junto aos pais, não tem preço. A atenção integral, a aceitação vinda de dentro do coração, na gravidez e no berço, junto com o bebê, geram resultados enormes e são incomparáveis. A atenção permanente e o estímulo em casa são cansativos, muitas vezes esgotam e é preciso pedir ajuda para o bem de todos, mas a recompensa fica para sempre no coração!
Diante de todos estes questionamentos, amor, cuidado, liberdade e muita observação, João foi crescendo principalmente com a atenção integral de seus pais, que o estimulavam naturalmente. O lema que Juliana e Francisco seguiam para João era que ele fosse feliz! Estar presente de corpo e alma na vida de João, ajudava os pais a perceber se o pequeno menino seguia feliz! Nada de comparações, como se a criança precisasse seguir um padrão. Mesmo que algumas vezes, como já contado anteriormente, a preocupada mamãe se percebia justamente procurando algum manual, tentando algum exercício, ou comparando João com alguma outra criança -As mães algumas vezes têm esta tendênciamas não era natural para Juliana, que logo deixava as regras de lado e seguia o coração. Ela amava João como ele era e sabia que ele estava bem. João seguiu se desenvolvendo feliz!
ESTILO DE VIVER Juliana conversava muito com João desde seu primeiro dia de vida. Durante todos os anos de vida de João, a mamãe artista contava muitas historinhas, sempre explicava o que estava fazendo e cantava muitas músicas bonitas para o animado bebê! Mesmo que ele ainda não falasse, Juliana sempre tinha certeza de que João tudo entendia e com isso sempre tinha o hábito de explicar os sentimentos, passar confiança e utilizar linguagens que o fortalecesse como indivíduo. João sabia que podia contar com seus pais, e eles passavam a ele essa certeza. Em algumas situações, nomear os sentimentos ajudou muito João. A comunicação e a dicção deste “menininho”, como ele mesmo dizia, eram muito boas e surpreendentes, talvez graças a comunicação e interação com os pais desde cedo. Houve uma época em que Juliana ficou até rouca, pelo tanto que conversava e cantava para João!! Aos três anos, João descobriu a TV que servia apenas para assistir os filminhos em dvd selecionados por sua mãe, os quais ele adorava e foram muito valiosos em sua formação! João andou a cavalo, passeou muito de carrinho e velotrol pelas estradinhas de terra da fazenda, foi muito carregado no colo, balançou bastante na rede, correu na areia, passeou de barco, nadou em muitas piscinas, no mar, em laguinhos e rio também! Quando Francisco não estava trabalhando, ajudava, fazia muitas atividades ao ar livre e algumas brincadeiras com “João fazendeiro”. O amanhecer na fazenda era Francisco com João no colo, indo ao curral, alimentando gatos, galinhas, pegando o leite para o café. João ia com sua cordinha acompanhando as atividades e retornando com novidades! Com Francisco João fez muitas caminhadas, tomou muitos banhos de piscina e fez muitas cavalgadas no cavalo chamado Sultão.
Em festas de aniversário ou lugares com muito barulho e gritaria, João não gostava de ficar. Depois de experimentar um pouco o ambiente, já era hora de sair e voltar para casa, em seu universo de silêncio, brinquedos, imaginação e natureza, junto aos seus pais. A casa era onde ele realmente gostava muito de ficar! Durante um período longo, João demonstrava sua agonia ou descontentamento, puxando o cabelo de sua mãe ou de algum escolhido, ou arremessando os óculos de seu pai ou de algum desavisado. Sua mãe quando estava por perto, estava sempre pronta para avisar e acudir um ou outro! Em certo período, Juliana andou chateada com esta reação de João, pelo tanto que demorou a passar. Muitas vezes ela não entendia a razão desta reação e nada podia fazer a respeito. Pequenos detalhes que os pais de João foram convivendo, adaptando-se e aprendendo. Desafios, frustrações, coisas da vida, mas acima de tudo, paciência e amor. O menino João começou a andar aos três anos, no dia do seu aniversário, e foi desabrochando, mostrando-se muito inteligente e carismático. Sabia muitas coisas e tinha muita personalidade! João nesta idade já conversava muito quando estava à vontade e em seu ambiente. Contava e inventava muitas histórias, mesclando as imaginárias com as pessoas do dia a dia dele. Com sua ótima dicção pedia por exemplo, o capim de “citronela” para brincar, escolhia músicas “em espanhol”, da “Maria Helena Walsh” e pronunciava palavras como “marimbondo” ou “gaúcho destemido”, dentro de algum comentário coerente ou contando alguma historinha que inventava a partir daquelas que escutava. Falava nomes difíceis como o amigo “Dagoberto” ou pedindo as músicas da “Adriana Calcanhoto” e surpreendendo a todos com seus comentários e vocabulário!
João viajou muito de carro com seus pais e até a Patagonia de carro João foi! Uma companhia maravilhosa que se portava sempre muito bem! Conheceu muitos lugares, e depois contava aos seus professores ou familiares, que tinha ido à “São José dos Ausentes”, “Belo Horizonte”, “Buenos Aires”, “Rio de Janeiro”, “Itapirubá”, dentre outros, lembrando o nome de todos os lugares por onde passou! Que menino inteligente!
Bonito da vida de João é que cada momento de sua vida foi vivido conscientemente no momento presente, com muita alegria quase que o tempo todo. Sua mãe, sempre atenta, também viveu cada momento desses, muito presente em seu presente! Francisco já dizia (sem saber profundamente o que aquilo queria dizer) que Juliana não conseguiria evitar tudo que pudesse acontecer a João. A mamãe Juliana estava sempre de olho e querendo proteger o tempo todo seu filho João. Das muitas brincadeiras, uma em especial ficou marcada: Quando João, entretido e independente em suas brincadeiras, fazia falta, Juliana ia lhe dar um abraço dizendo “saudade do João!” Outras vezes, enquanto Juliana entretida em alguma tarefa doméstica, de repente fazia falta para João, ele vinha dizendo “saudade da mamãe!”, pedindo um colo! Memória de um tempo que mesmo vivido tão intensamente no presente, os dois pareciam estar prevendo o futuro.
Quando João completou quatro anos, seus pais decidiram que era hora de se mudarem da fazenda. O lindo menino precisava conviver com mais pessoas e ir para a escola. Aos três anos, João já havia experimentado a escola no vilarejo perto da fazenda, mas a experiência, que inicialmente pareceu boa, durou três meses, já que seus pais perceberam que João não estava muito feliz ali. Porém, já completados seus quatro anos, e a pouca convivência com crianças, já parecia importante que João tivesse essa vivência para seguir feliz! E então, “Zãozão”, como era carinhosamente chamado, foi com seus pais morar em uma comunidade no litoral de Santa Catarina, onde ele gostava muito de ir e onde já conhecera e frequentara desde bebê. Saíram dos morros e foram para o mar! Assim, João começou a descobrir a vida dentro de uma sociedade.
João fez natação com um professor com quem se entendia muito bem, foi à escola do bairro, onde foi acolhido por todos com muito amor e cuidado, conheceu muitas crianças e adultos, dos quais ele sabia os nomes e gostava muito. Frequentou com entusiasmo a fisioterapia, que desta vez tinha sido necessária por orientação da escola, para que João pudesse acompanhar as atividades propostas e se entrosar melhor com sua turma. Os amigos se encantavam com João, e João, a seu modo, se encantava também com todos! Como em todas as fases de sua vida, neste curto período em que João viveu no litoral, conviveu com muitas pessoas e teve experiências bem diferentes e necessárias para sua idade. Viveu intensamente, como toda criança, até mesmo nos momentos de não fazer nada! Foi nesta idade que descobriu (com moderação) o celular, que em casa já era regra usar somente quando João não estivesse presente. Este aparelho, que na época da vida na fazenda, não fez nenhuma falta e que foi muito bom não ter existido!
ÀS VEZES, O INESPERADO ACONTECE... João amava estar com seus pais em sua casa. Era aficcionado por relógios de alguns adultos, e o relógio de brinquedo que ele tinha não o interessava. João queria o tempo real, verdadeiro. Alguns amigos grandes de João, emprestavam seus relógios a ele, e João parecia estar brincando com o tempo. Naquele período, ninguém imaginava que o seu tempo estava contado. O relógio (o tempo) foi uma grande diversão para João. No entanto, o tempo de João, de uma noite para o dia, foi parando... João ficou doente, na madrugada do Dia dos Pais.Com toda a atenção que teve, o olhar de sua mãe voltado quase que o dia inteiro para João, não conseguiu perceber algo errado com certa antecipação. Juliana tampouco prestou atenção nem sabia que suas intuições, sonhos e comentários de algum tempo antes, talvez, fossem um aviso. Esses avisos que não estamos acostumados a prestar atenção. Juliana seguiu vivendo por alguns dias a rotina com João do jeito que sempre estavam acostumados. Mas naquela madrugada do Dia dos Pais tinha algo diferente que não tinha sido devidamente percebido antes. João ficou doente... Naquela manhã de domingo, ele foi para o hospital infantil. João não estava bem. Até hoje não se sabe realmente o que causou uma gastroenterite, que culminou em um choque séptico... Durante 27 dias, o tempo e o relógio que João brincava pararam para sua família e para ele. Foram dias sem ponteiros no relógio de verdade. Apenas esperança, otimismo, fé, amor, coragem, garra. Para todos foram dias sem brincadeiras com o relógio. O tempo parou, mas ninguém podia perder um minuto na tentativa de salvar João. Mas existem coisas inexplicáveis, e João voltou para seu planetinha de origem. Deixou seus pais e outras pessoas que o amavam, infinitamente tristes e com as saudades sem fim ... Mas, apesar da tristeza, era preciso reagir e dar novo sentido até nas coisas mais tristes que aconteceram. João precisava significar algo além de sua vida e de sua precoce partida, e assim deixou valiosas mensagens e inspirações para muitas pessoas. E segue inspirando a cada dia. João ainda é presente, literalmente, e este pequeno grande mestre deixou muitas lições. Dentre tantas, algumas são marcantes. Ele ensinou que tanto na vida quanto na partida, devemos sempre reagir com coragem e tranquilidade. Que a vida deve ser bem vivida a cada dia, e com toda a presença, para deixar boas lembranças e um coração sereno. Que nenhum momento passe despercebido, e não seja lamento.
João, que brincou com o tempo, brincou mesmo! Seus pais viram João brincar e isso conforta o coração. Ninguém estava perdendo tempo. Estavam todos presentes. João viu o seu tempo passar. Foi forte e corajoso como o leão da historinha que tanto gostava. Se ele conseguiu olhar para trás, viu o amor e os ensinamentos que foram com ele e o que ele deixou para nós. João amou a vida e seu tempo foi muito bem vivido! Obrigada João! Amor eterno.
“João veio até vocês por motivação qualificada. O sacrifício físico dele e o sacrifício anímico e espiritual de vocês faz parte fundamental desta motivação. Ele ficou o tempo necessário aqui. E segue parceiro sem a matéria. Se fosse para vocês irem também haveria outros meios. Mas não. Vocês ficam na matéria ainda o tempo necessário. Descubram para quê. Depois de descansarem deste curso dificílimo.” Ad majora natus. Minhas reverências Maria Elisa
“É proibida a reprodução total ou parcial de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, sem prévia autorização dos artistas ou do editor da revista.’’ DIAGRAMAÇÃO: Guilherme Henrique Marçal / contato: (48) 9 9857.1460 DESIGN E ARTE FINALIZAÇÃO: Felipe Farias Tambani / contato: (48) 9 8500.1338 [2022]
Minha estrela fugaz, meu anjo de amor, coração que é só luz eu sou teu amor Que falta me faz, seu sorriso e esplendor, sua paz no viver alegria de ser. Que falta me faz coração de leão, valente João tão lindo seu ser A falta que faz, mas sua presença me traz, me traz tudo isso, de volta a MEU SER Você está aqui, em exemplo em amor, você está aqui com tudo o que ensinou. Assim é você presente pra nós!...