a aquela que me trouxe a este mundo
“O verbo no infinito Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar. E crescetr, e saber, e ser, e haver E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito E esquecer tudo ao vir um novo amor E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...”
Vinicius de Moraes
AGRADECIMENTOS Agradeço antes de tudo à aqueles que muito fizeram por mim e possibilitaram que eu chegasse até aqui: meus pais, que sempre estavam ali para me fazer acreditar que eu era capaz, por terem sido a minha base para prosseguir e sempre serem a minha grande inspiração. Agradeço à minha mãe, a primeira e maior feminista a que conheci, por ter me apresentado a este tema e sua beleza. Agradeço ao meu pai, por sempre ter me dado o ânimo que precisava e por sempre estar disposto a ajudar. Agradeço à minha irmã por ter estado sempre comigo e por sempre ter sido a força que faltava. Agradeço agora aqueles que me acompanharam durante esse ciclo: aos meus amigos, que compartilharam comigo o mesmos desafios e sempre colaboraram para tornar o ambiente acadêmico sempre mais leve. Em especial agradeço à minha amiga Larissa, por todo o apoio, por todas as conversas e principalmente por todo o companheirismo nesses 5 anos. Agradeço à equipe minha equipe de trabalho por sempre terem sido compreensivos com a demanda que a faculdade carrega e por terem me apresentado outras faces da profissão. Agradeço a minha professora orientadora, pela dedicação, paciência e pela grande contribuição e colaboração com este trabalho. Por fim, agradeço a todos os professores que me inspiraram nessa trajetória e me deram o conhecimento que eu precisava para completar a graduação.
Resumo “Todo o processo do parto passa a ser feito da maneira mais fácil e ágil possível, dentro de intervenções muitas vezes agressivas e com ênfase em resultados imediatos. É preciso reverter esse cenário, é preciso dar às mulheres, o empoderamento que lhes foi tirado com a agressividade das cesarianas.“
Centro de Parto Natural e Humanizado, aliado a uma Faculdade de Obstetrícia, considerando que existem apenas duas casas de parto para atender toda a demanda do município de são Paulo, e visto que a graduação é oferecida apenas na Universidade de São Paulo com um total de cerca de 60 vagas anuais. Considerando as questões de mobilidade, de modo que o equipamento se faça acessível dentro das dinâmicas da cidade, e, dada a necessidade de extensão da Casa Angela (2ª Casa de Parto Natural do município), localizada na zona sul do município, o terreno escolhido localiza-se a 140 metros da estação Giovanni
O parto é um acontecimento que tem sido construído há milhares
Gronchi do metrô, no bairro Jardim Angela. Insere-se em um grande
de anos, encarado inicialmente de forma natural dentro do tecido
eixo de mobilidade formado pela Av. João Dias, estação de metrô,
social: feito de mulheres, entre mulheres e para mulheres. A entrada
terminal de ônibus e faixa exclusiva que segue desde o centro da
do médico no universo do nascimento traz uma quebra do ritmo
capital. Possui um total de 17.139,27 m² e conforma-se sobre uma
tratado até então. Inicia-se um processo de enraizamento da prática
topografia que se eleva do entorno, fornecendo ao terreno uma
do parto horizontal1 - tratado, quase que mitologicamente “como
visão privilegiada do bairro.
mais seguro e livre de riscos” – e da retirada do controle da mulher sobre o nascimento. E temos então, como dito por Ricardo Jones2
Partindo da premissa do “resgate ao que é natural”, a que se baseia este presente trabalho, nasce uma concepção de projeto
“A transformação de um evento familiar, afetivo, carinhoso e
que se alicerça em três atos:
com pessoas conhecidas, de um lugar que a gente exercia um
1.
determinado domínio, para um lugar absolutamente estranho
se encontra implantado atualmente configura-se como um grande
[construído para atender pacientes doentes], inóspito, com
corte e aterro que descontextualizou o terreno do seu entorno, de
pessoas completamente alheias ao nosso convívio diário, cheio de
forma que a topografia estabelecida com a sua estrutura em alta
máquinas e, portanto, um lugar bastante assustador para a maioria
declividade, conforma-se sutilmente por todo o terreno.
das mulheres.”
2.
Parte-se da topografia natural do terreno, visto que o que
Entende-se que dada a ideia do natural, estabelecer uma
estrutura sustentável e um modelo projetivo que permita integração Todo o processo do parto passa a ser feito da maneira mais fácil e
com a natureza
ágil possível, dentro de intervenções muitas vezes agressivas e com
3.
ênfase em resultados imediatos. É preciso reverter esse cenário, é
casa coletiva, de valores humanistas que inserida no espaço urbano
preciso dar às mulheres, o empoderamento que lhes foi tirado com
configura-se como um lugar de intimidade, conforto e acolhimento.
Estabelece-se o arquétipo da casa, do abrigo, como uma
a agressividade das cesarianas. É preciso alterar o domínio do médico sobre o tema e aumentar o número de profissionais que trabalham na área, retirando-os de uma posição inferior à figura “soberana” do médico. Onde estão nossas parteiras, enfermeiras e obstetras? A partir da reflexão exposta, é proposto então a idealização de um
Por assim dizer, o presente trabalho busca, além de discutir sobre o ideal projetado na busca por respeito e igualdade, produzir um ambiente que concretize a humanização do parto, melhore a percepção e experiência do nascimento e contribua para a cidade, a sociedade e o ambiente que o cerca.
1 Posição chamada como “litotômica”, em que a mulher se deita com as pernas levantadas e os joelhos parcialmente flexionados, para que sejam realizados exames ginecológicos e principalmente cirurgias cesarianas. Configura-se como a posição mais confortável para a equipe médica mas, considerada a pior para a mulher e para o bebê. 2 Declaração de Ricardo Jones, obstetra, no Documentário “O Renascimento do Parto”, disponível em <Netflix.com.br>
Parir No parto eu parto para uma grande mudança No parto eu me reparto e me entrego para uma criança No parto, faço parte de um todo, mas também de um mundo só meu Me ligo, religo na força do universo, que é quem tudo nos deu Parir é um ato de fé, de entrega, de amor. Para rir quando “seus olhinhos” brilharem de esplendor Parir é partir e se repartir em dois, é encontrar-se consigo e com o que vem depois Criando laço encontro seu abraço, te vejo, me vejo me parto e me refaço! Priscilla Soares
Sumário 1 INTRODUÇÃO
Objetivos e relevância do tema
2
CONTEXTUALIZAÇÃO O histórico da assistência e o papel do profissional da saúde A cesárea em números O conceito de humanização e sua contribuição no empoderamento feminino
3
O PAPEL DA ARQUITETURA A influência do ambiente para a percepção e experiência do parto Estudos de caso: a casa de parto e a escola de obstetrícia Referências projetuais
4
O PROJETO A leitura do lugar O programa e a inserção em áreas de vulnerabilidade Processo de desenvolvimento Resultados da Banca Intermediária Projeto final
5
CONCLUSÃO Considerações finais Referências
Objetivo geral A partir da análise e conclusão dos objetivos específicos tem-se como objetivo geral projetar uma arquitetura capaz de
Introdução Objetivos e relevância do tema
contribuir para a humanização
Há tempos a mulher tem sido tratada como um sujeito a ser controlado e não seria diferente
do momento do nascimento e
quanto ao nascimento, que passou a ser visto, erroneamente, como um processo pouco seguro
do empoderamento da mulher,
e instável, colocando o Brasil como um dos países mais adeptos a cirúrgia cesariana, com uma
além de produzir um espaço que traduza as necessidades locais e contribua para a sociedade e o ambiente que o cerca.
taxa que excede os 200% do que é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Acrescenta-se ainda o fato que de que o termo violência obstétrica passou a estar presente no país em números assustadores; segundo dados do Centro de Estudos Estratégicos (CEE) da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) entre 2012 e 2013 houveram cerca de 19 mil registros de agressões e um percentual 95% dos partos feitos na posição horizontal, considerado a posição menos adequada e confortável para a mãe e o bebê, porém a mais colocada pela equipe
Objetivos específicos
médica.
1. Entender como se deu o processo da assistência ao
Assim, empoderamento feminino e humanização do nascimento andam juntos: a mulher precisa
parto, traçando suas proble-
retomar o controle do parto e das decisões que são tomadas sobre seu corpo e sua família.
máticas e necessidades ao
Precisa estar em um ambiente confortável, seguro, privado e o mais acolhedor possível e precisa,
longo dos tempos. 2. Identificar quais elementos arquitetônicos podem contribuir, e de que forma, com a humanização do nascimento. 3. Entender como a escola de obstetrícia pode se relacionar com seu entorno imediado
15
por fim, de profissionais que a respeitem como mulher, como mãe e como gestante.
Portanto, a Escola de obstetrícia e o Centro de Parto se tornam pontos importantes de contribuição para este processo. Assim, este trabalho se desenvolve a partir uma breve apresentação do histórico da assistência ao parto na história, a fim de se compreender a situação atual a que se relaciona o tema, quais são suas problemáticas e consequentes necessidades. A partir disto, o caderno passa a tratar da arquitetura e de que forma ela pode contribuir para a experiência do parto. Trata-se então do lugar escolhido com uma breve análise do seu entorno, traçando seus aspectos positivos e negativos, a serem ressaltados e tratados, respectivamente, no projeto. Até, enfim, apresentar o desenvolvimento do projeto, considerando todas as prerrogativas abordadas durante o desdobramento da pesquisa.
Contextualização O histórico da assistência e o papel do profissional da saúde O parto, caracterizado como um “marco transformador para a vida da mulher” (Vendúscrulo & Kruel, 2016, p. 95), tem apresentado em seu histórico de assistência, transformações que destituíram a gestante de sua autonomia e do seu poder de escolha, distante do ambiente familiar e diante de pessoas fora do seu círculo de confiança, transformando um evento que antes acontecia de forma natural e familiar, para um evento regrado, enquadrado em regras sociais e conformado dentro de um modelo projetivo que não estabelece o usuário como foco principal. Para contextualizar essas transformações, é importante ressaltar que o parto acontecia inicialmente dentro do ambiente domiciliar, acompanhado de familiares e com o mínimo de intervenções, conduzido por parteiras, as únicas detentoras do conhecimento acerca do tema. A inserção da figura masculina acontece a partir da
Sou mulher, sou mãe, sou deusa, e assim mereço ser cuidada. Se parir faz parte da natureza, que esta força seja espeitada. Respeitada pelos homens e por mim mesma, pois fazemos a humanidade crescer. Que as cesáreas, induções, tecnologia, sejam usadas com magia e saber. Saber que os médicos dominam, e nós, mulheres, também. Conhecendo nosso corpo e instinto, sabemos mais do que ninguém. Portanto, minha gente, é hora de parir como e com quem quiser. Se durante a noite ou na aurora, a ordem é esperar quando vier. Chega de intervir na natureza! As mulheres precisam compreender, receber o bebê no coração, experimentar o “dar à luz e renascer”. Livia Pavitra
idade média com a dominação da igreja católica e a presença do chamado “parteiro-sacerdote”. Se passou a acreditar que a mulher deveria sofrer a “expiação do pecado original1” e, a parteira que era adepta a métodos caseiros de alívio da dor, foi colocada em posição de benzedeira, sofrendo perseguições durante o período de Caça às Bruxas, e, posteriormente restrições governamentais devido à sua falta de escolaridade, já que, cabe salientar que até meados do século XIX, era proibido a participação feminina no ensino superior. A figura médica, se firmou, como papel principal de assistência ao parto a partir do século XVII, com a inserção do fórceps2 pelo cirurgião inglês Peter Chamberlain. As parteiras se consolidaram como figuras subordinadas à equipe médica e é no século
1 “E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos; e o teu desejo será o teu marido, e ele te dominará” (Bíblia, Gêneses 3:16) 2 “Instrumento cirúrgico empregado em partos difíceis: a aplicação de fórceps permite apressar a extração da criança. Tem a forma de uma pinça” (Dicionário Aurélio)
16
Figura 01 - Diagrama de contextualização do desenvolvimento da assistência ao parto. Fonte: produzido pela autora
A transferência do nascimento para o interior do ambiente hospitalar, construído para atender pessoas doentes, estabelece modelos projetuais que refletem o modelo social que impediu a mulher “[...] de participar e ser sujeito pleno de sua própria história” XIX que o avanço da medicina solidifica o “monopólio dos médicos no exercício da obstetrícia” (SEIBERT & BARBOSA, 2005, p 247). A queda da mortalidade materna diminui, contribuindo para a aceitação da hospitalização do nascimento, resultando em uma sociedade dita como tecnocrática3, onde o nascimento deixou de ser um processo fisiológico para ser um saber técnico. Junto a isso, o ambiente deixa de ser agradável e familiar para dar lugar a maternidades conformadas quase que como em “linhas de produção”, dada a uma crescente necessidade de incorporação de medidas tecnológicas no ambiente de nascer. A transferência do nascimento para o interior do ambiente hospitalar, construído para atender pessoas doentes, estabelece modelos projetuais que refletem o modelo social que impediu a mulher “[...] de participar e ser sujeito pleno de sua própria história” (BRASIL, apud BITENCOURT, 2007, p 38). O procedimento cirúrgico que inegavelmente trouxe resultados positivos para o nascimento, deixa de ser relegado apenas a situações de emergências, para se tornar uma prática banalizada que, por assim feito, produz o efeito oposto do potencial favorável que traria se praticado de forma ponderada, distorcendo o precioso processo de assistência ao parto e ainda consumindo valiosos recursos do sistema de saúde em prol do uso indiscriminado de intervenções cirúrgicas. Na década de 50, o movimento feminista, pautado principalmente no empoderamento da mulher, passa a lutar pela qualidade da assistência ao parto, sustentado na prerrogativa de que era preciso passar a “[...] priorizar a tecnologia apropriada, a qualidade da interação entre parturiente e seus cuidadores e a desincorporação da tecnologia danosa” (DINIZ, 2005, p. 629). A Organização Mundial da Saúde (OMS), por volta de 1980, em conjunto com o Movimento pela Medicina Baseado em Evidências (MBE), desenvolve uma série de recomendações acerca da melhoria da assistência, partindo do ponto que era preciso voltar a destacar a mulher como protagonista e sujeito ativo no processo do nascimento. Considerando as falhas do sistema obstétrico, surge na década de 90, no Brasil, a Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento (REHUNA)4, que denuncia as circunstâncias a que são conduzidas e submetidas às mulheres. A Carta de Campinas, a qual destaca-se o trecho abaixo, publicada em 1993, se coloca como ato fundador do REHUNA e esclarece: O incentivo da prática do parto normal e humanizado se torna cada mais presente à medida 3 Entende-se por sociedade tecnocrática a valorização do saber técnico acima das relações humanasv 4 Rede tem atuação desde 1993 no Brasil e tem como objetivo a divulgação e promoção de uma assistência de qualidade com base em evidências científicas.
18
“Quando o parto é vaginal, a violência da posição, das rotinas e interferências médicas perturbam e inibem o desencadeamento dos mecanismos fisiológicos naturais de parto. Parto e nascimento passaram a ser sinônimo de doença, de patologia e de intervenções cirúrgicas. Estes fenômenos vitais e existenciais cruciais tornaram-se momentos de terror, angústia, impotência alienação e dor. Seu custo social, psicológico e econômico é muito alto e a sociedade é vítima indefesa desta realidade. Não espanta que as mulheres passaram a introjetar a cesárea como a melhor forma de nascer, buscando um parto sem dor, sem medo e sem risco. A cesárea é também a via de acesso à ligadura de trompas, método anticoncepcional que vem esterilizando definitivamente grandes massas de mulheres brasileiras. Ninguém informa as gestantes que as cesáreas desnecessárias lhes trazem um risco de 3 a 30 vezes maior de morrer no parto além de uma morbidade muito maior que a do parto normal. Também ninguém lhes diz que a cesárea desnecessária traz risco 13 vezes maiores de morbimortalidade para o bebê. Ninguém lhes informa ainda que o parto é tecnicamente o pior momento para a realização da laqueadura, expondo a mulher a grandes riscos. Segundo a OMS 15% é a taxa máxima de cesáreas, encontrada em serviços e países que apresentam os menores valores de mortalidade perinatal. Arrolamos a seguir, resumidamente alguns outros fatores relacionados a este comportamento: · Mudanças sociais profundas vêm fazendo com que as mulheres se distanciam de suas raízes e de seus corpos, se submetam à desapropriação de suas práticas e saberes milenares. Se alijando progressivamente de seu papel de sujeito no momento do nascimento. A esta situação se aliam tabus, a repressão da sexualidade e a opressão, subordinação e manipulação das mulheres em nossa sociedade. · No modelo social e econômico, em que tempo é dinheiro, o parto vem sendo crescentemente realizado como se fosse linha de montagem, concentrando-se nas vésperas de feriados, fins de semana, violentando o tempo e o ritmo natural da mãe e filho. [...] · Inseridos no contexto de crescente especialização e incorporação de novas tecnologias diagnósticas e terapêuticas, os obstetras se afastam cada vez mais da concepção de nascimento como fenômeno essencialmente normal, tendo perdido o conhecimento e a segurança da prática da arte da obstetrícia.” 19
que vão surgindo movimentos e coletivos que estabelecem as recomendações colocadas pela OMS para garantir melhores condições de assistência à mulher. Em 1978 a Associação Comunitária Monte Azul, passa a promover, juntamente com a parteira Alemã, Angela Gehrke da Silva (fundadora da Casa de Parto, Casa Angela), assistência ao parto humanizado na comunidade. Em 1981, surge o Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde voltado a luta pela saúde e direitos reprodutivos e sexuais da mulher; em 1990 é estabelecido o direito da parturiente de ter durante todo o trabalho de parto um acompanhante de sua confiança e, em 1998 é fundada a primeira casa de parto natural5 em São Paulo, na zona oeste da cidade. Os Centros de Parto Normal (CPN) então vem como um novo modelo projetivo e de assistência, que: Tem como objetivo resgatar o direito à privacidade e à dignidade da mulher para dar à luz num local semelhante ao seu ambiente familiar, permitindo um trabalho de parto ativo e participativo e, ao mesmo tempo, garantindo e oferecendo recursos tecnológicos apropriados. (OMS, 1996 apud VENDÙSCRULO & KRUEL, 2016, p. 100) Caracterizando um espaço construído que traduz a necessidade de retomada da colocação da mulher como sujeito principal no processo do nascimento, considerando a “importância da valorização dos procedimentos naturais do parto em detrimento às intervenções cirúrgicas” (BITENCOURT, 2008, p. 11) de forma que seja compatibilizado elementos de conforto que favoreçam a equipe de saúde, o bebê e a parturiente. O programa Rede Cegonha, implantado em 2011 no Brasil pelo Ministério da Saúde, se apresenta como uma estratégia para assegurar o direito das mulheres à uma assistência ao parto humanizada e gerar uma atenção à saúde materno-infantil adequada, através do tratamento da ambiência de todo o processo aliado a uma equipe assistencial treinada e qualificada. Dito isso, a “relevância da formação de obstetrizes se insere nesse contexto, pois atende a necessidade de grande contingente de profissionais preparados para implementar o modelo de atenção integral [e humanizada] à saúde da mulher, em especial em momentos em envolvem a gestação, o parto e o pós-parto [...]” (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, Curso de Graduação em Obstetrícia, USP, 2008, p. 07) O curso de obstetrícia, a qual se refere a citação acima, é oferecido apenas na Universidade de São Paulo (USP) e possui uma demanda de cerca de 5 a seis vezes maior, e de forma crescente,
5 Casa de parto Sapopemba que faz atendimentos a mulheres desde 1998 integralmente por profissionais não-médicos <http:// casadopartosapopemba.wordpress.com/about/>
20
segundo dados da Fundação Fuvest6, do número total de vagas oferecidas. Refletido a isso, temos um total de apenas 252 obstetras inscritos no Conselho Regional de Enfermagem (COREN) do município, um número preocupante quando comparado aos 170 mil partos7 que acontecem por ano na região (figura 02).
Figura 02 - Diagrama comparativo: número de partos X casas de partos no município. Fonte: DATASUS
O gráfico acima retrata essa discrepância apresentada: o munícipio de São Paulo abrange apenas 2 casas de parto, uma na zona oeste da cidade e uma na zona sul, objeto de estudo deste presente trabalho, e claramente não comporta a demanda da região, acentuado pelo fato da procura pelo parto natural e humanizado ter aumentado a cada ano como reflexo das políticas públicas que vem sendo implementadas.
“[...] o ambiente deixa de ser agradável e familiar para dar lugar a maternidades conformadas quase que como em “linhas de produção”, dada a uma crescente necessidade de incorporação de medidas tecnológicas no ambiente de nascer.” 21
A trajetória do nascimento começou então, de forma natural e domiciliar e hoje enfrenta uma necessidade à retomada de conceitos mais primitivos de ambiência e assistência voltados para humanização do processo e a desconstrução do “mito da segurança” do parto cesariana. As casas de parto e o incentivo a formação obstétrica e inserção do profissional no processo da assistência tem se estruturado como a melhor solução para um estado que busca oferecer assistência de qualidade à mulher. É preciso a construção de mais Centros de Parto Normal, é preciso oferecer ao profissional formado em obstetrícia, bem como à parturiente, autonomia durante o nascimento e é preciso que o número de obstetras aumente afim de atender a demanda do munícipio. Assim, teremos, conforme apresentado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em seu programa, Parto Adequado, “modelos de atenção ao parto e nascimento que favoreçam a qualidade dos serviços, valorizem o parto normal e contribuam para a redução dos riscos decorrentes de cesarianas desnecessárias”.
6 7
Fundação Universitária para o Vestibular – FUVEST. Fonte: <https://www.fuvest.br/vestibular-da-usp/> Sistema de Nascidos Vivos – DATASUS. Fonte: <http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvsp.def>
A Cesária em números O avanço das técnicas da medicina para o parto e a praticidade para a equipe médica que a prática cirúrgica envolve, colocou o Brasil como campeão de índices de parto cirúrgico no mundo. Enquanto em países como a Nova Zelândia e Holanda, se encontra uma abordagem mais humanizada, com trabalho mais independente de parteiras e obstetrizes, o Brasil encontrase na classe dos países altamente medicalizados e com uma assistência totalmente centrada no médico.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda uma taxa máxima de 15% de cesarianas. Segundo dados do Sistema de Tecnologia da Informação à Serviço do SUS (DATASUS) , em 2016, o Brasil apresentou um total de 52% de cesarianas, sendo 88% apenas no sistema privado de saúde. Em 2018 no município de São Paulo, foram registrados um total de 53,9% da cirurgia e
As prerrogativas da medicina que construíram a falsa ideia de segurança do parto cesárea caem por terra quando as taxas de mortalidade materna e infantil ainda se mantêm altas, e não satisfatórias, em países mais adeptos à cirurgia
81% na rede particular.
Figura 03 - Infográfico relativo aos nascimentos no Brasil. Fonte: produzido pela autora baseado em dados apresentados em nota de rodapé 4
Fonte: gráficos baseados nos dados coletados no Nascer no Brasil, no Ministério da Saúde e nas seguintes reportagens: <https://epoca.globo.com/vida/ noticia/2014/11/um-novo-levantamento-mostra-que-ha-bcesarianas-demais-no-brasilb.html> https://www12.senado.leg.br/noticias/infográficos/2018/09/ estudiosos-defendem-parto-humanizado-e-incentivo-a-boas-praticas-de-nascimento
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), impelida a agir para redução do número de cesáreas no Brasil, por meio de Ação Civil Pública, ajuizada pelo Ministério Público Federal, criou o programa Parto Adequado (PPA), em 2015, como uma iniciativa em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein e o Institute for Healthacare Improvement (HI) em apoio do Ministério da Saúde, com o objetivo de que até 2020 “todas as mulheres brasileiras tenham acesso a maternidades que oferecem atenção ao parto com base em evidências científicas e como uma experiência positiva” (ANS, 2016, p. 02); a partir do incentivo a modelos de atenção ao parto e nascimento que favoreçam a qualidade do serviço.
22
O programa (PPA) conta com adesão de cerca de 40 hospitais distribuídos em todas as regionais do país, dentre eles tem-se o Hospital Maternidade Santa Joana, Pro Matre Paulista e Rede São Luís; maternidades particulares de referência do município, que apresentaram em 2018 um percentual de 89,1%, 86,5% e 73,7% (SINASC), respectivamente, de cesarianas. Todos eles, de acordo com a ANS e as recomendações da OMS inauguraram alas em suas maternidades para prestar assistência humanizada ao parto natural, fator significativo na trajetória da busca pela atenção ao parto adequado e de qualidade.
Contudo, vale ressaltar que as mudanças apresentadas pelos hospitais particulares para atender as demandas atuais, bem como, determinações judiciais do Ministério Público, como a obrigação de inclusão de enfermeiras obstétricas nos planos de saúde1, significam um importante passo em direção a humanização do atendimento. Não obstante, cabe salientar que, existem claras diferenças das dinâmicas dentro de maternidades de hospitais e dentro de Centros de Partos Normal (CPN). As maternidades ainda atribuem o comando e direcionamento do parto aos médicos, enquanto que os CPN’s dão autonomia ao trabalho das obstetrizes. Quanto a ambiência, as alas de parto normal dos hospitais (ainda) não desvincularam das características frias e controladas do ambiente hospitalar, no tempo que os Centros de Parto Normal apresentam uma atmosfera mais domiciliar e confortável, reflexo da desvinculação de muitas normas projetivas que não se atribuem a unidades menores e especializadas de assistência à saúde.
As prerrogativas da medicina que construíram a falsa ideia de segurança do parto cesárea caem por terra quando as taxas de mortalidade materna e infantil ainda se mantêm altas, e não satisfatórias, em países mais adeptos à cirurgia (figura 04). Conforme citado pelo arquiteto Fábio Bitencourt, a OMS considera que 90% das mortes poderiam ser evitadas se as mulheres tivessem melhor assistência obstétrica. Portanto, essa estatística pode ser considerada como um indicador da qualidade dos cuidados prestados à mulher no período da gravidez-partopuerpério. (THEME FILHA, 1996 apud BITENCOURT, 2008, p. 24)
Considerando os dados apresentados e acrescentando percentuais preocupantes (figura 3) relativos à violência obstétrica em partos via vaginal (não humanizados) - como um percentual de cerca de 12,6% de registros de agressões, segundo dados da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) - a ruptura com o modelo tradicional de assistência obstétrica se torna desejável e necessária, aliada a construção de um modelo projetivo que traduza e favoreça o atendimento humanizado à parturiente.
1
Conselho Federal de Enfermagem – CONFEN. Fonte: < http://www.cofen.gov.br/justica-obriga-inclusao-de-enfermeiras-obstetricas-
23 -nos-planos-de-saude_71419.html?fbclid=IwAR2M1b7tzJLRo95RxU1WzGvD8HTc9_Agu50C9Um5FQ4s6N3_oIW7P8VRra8 >
2 Taxas de cesarianas em % em 2013. Fonte Ministério da Saúde. Outros países, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Disponível em: <12.senado.leg.br> 3 Número de mortes a cada 1000 nascidos, em 2016. Fonte: <indexmundi. com> Figura 04 - Tabela comparativa entre percentural de cesarianas, taxa de mortalidade infantil e taxa de mortalidade materna. Fonte: produzido pela autora baseado em dados apresentados acima
O conceito de humanização e sua contribuição no empoderamento feminino É necessário pontuar que o conceito de humanização do parto refere-se ao estabelecimento de uma relação de confiança e respeito entre parturiente e o profissional da saúde, ao passo que a vontade da mulher seja soberana considerando valores de humanidade e crenças e respeitando sua dignidade e autonomia. O parto humanizado representa um conjunto de condutas, procedimentos e ações, discutidas juntamente com a mulher, que tem, como propósito, a melhoria do parto a fim de promover nascimentos saudáveis e prevenir a morbimortalidade materna e perinatal. (CORDEIRO, et. al., 2018, p. 2155). O empoderamento feminino se faz então, quando se pratica o parto humanizado, entregando (novamente) à mulher total controle acerca das decisões que serão tomadas sobre seu corpo, sua família e ao que se refere ao momento mais transformador de sua vida. Momento este, marcado pelo nascimento de um filho e de uma mãe, assegurado pela confiança entre gestante e profissional. Falar de empoderamento feminino, também é falar do direito das mulheres à cidade e ter espaços, edifícios e assistência voltadas à mulher se faz, consequentemente, a presença feminina no território, nas dinâmicas da cidade e na colocação da mulher como um sujeito de valor igualitário na sociedade, perante a atribuição de autonomia e respeito no espaço e na assistência. Em tempos que a cidade representa um território de opressão, e aqui acrescenta-se também a questão de desigualdade social, estabelecer um modelo projetivo pautado no empoderamento feminino e consolidado em um espaço que carece de equipamento públicos e de lazer, se apresenta como uma questão atual e necessária no que tange ao desenvolvimento da cidade e no projeto de arquitetura.
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“A questão dos direitos da mulher ganhou espaço na sociedade. O que era visto como comum e com descaso virou desrespeito, violência. As mulheres querem ser respeitadas, ouvidas. Elas podem decidir o tipo de parto que desejam; só vai depender da vontade dela e das suas condições médicas. Não é só parto, é o empoderamento das mulheres que também está em jogo.”
Anke Riedel, fundadora da Casa Angela
O papel da arquitetura A influência do ambiente para a percepção e experiência do parto A concepção do projeto de um centro de parto, se dá quando se considera além das necessidades físico-funcionais da edificação e atenção às normas referentes aos cuidados com a saúde, se considera a necessidade requerida pelo usuário. Conforme o arq. Fábio Bitencourt, em seu livro “A arquitetura do ambiente de nascer”, se o objetivo é a humanização do serviço e do atendimento, a arquitetura deve incorporar tal necessidade e aregar a percepção do usuário no processo projetual, de tal forma que a arquitetura e a medicina possam oferecer as melhores condições de conforto e segurança. Não se trata apenas de discorrer sobre condições térmicas, luminosas ou acústicas, mas enfocar um conjunto de fatores que transcendem os aspectos físicos. Assim escreveu Antonio P. A. de Carvalho , referente ao apresentado por Bitencourt; é necessário buscar estabelecer um novo modelo do ambiente de nascer que não tenha embotado sua liberdade criativa que o projeto de arquitetura tem como prerrogativa, devido às demandas físico-funcionais e técnicas a que são submetidos os estabelecimentos de saúde. O edifício deve contemplar as condicionantes qualitativas e de composição estética que a boa arquitetura carrega. A grande questão é encontrar um equilíbrio das demandas assistenciais sem anular a perspectiva positiva do usuário. Esta arquitetura pode, inclusive, ser
representada
modelos ou
mais
menos
construção.
pelos
elementares
complexos Assim
recorrentemente
da
sendo,
utiliza-se
a
referência da residência, do ambiente doméstico, familiar, como o mais representativo do ambiente do nascer [figura 05]. (Bitencourt, 2008)
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Figura 05 - Ambiente de nascer na residência. Pintor: Daniel Celentino. Fonte: BITENCOURT, 2008, p. 34
A LINGUAGEM ARQUETÍPICA DA CASA Para o arquiteto Juhani Pallasma a arquitetura tem se baseado meramente em um jogo de formas em detrimento da busca de uma experiência real do lugar, de forma que o edifício se reduz a uma composição formal, sem esforços voltados para restaurar uma riqueza da arquitetura mediante a diversificação da forma, onde, cabe acrescentar que conforme citado por Pallasmaa “[...] a riqueza de uma obra de arte está na vitalidade das imagens que ela desperta e – paradoxalmente – as imagens que permitem maior número de interpretações são despertadas pelas formas mais simples, mais arquetípicas.”. Formas arquitetônicas elementares podem ser destinados para outros fins, de maneira que haja uma “significação tipológica da função” como “formas estranhamente similares para funções radicalmente diferentes” (NESBIT, 2008); alinhado à teoria da Arquitetura Analógica de Aldo Rossi, que busca a recuperação do pensamento arcaico de forma a produzir associações de modo inconsciente baseado na memória coletiva de uma sociedade. A forma em si não carrega significado, mas pode compor-se em uma linguagem que traduza um sentido por meio de associações construindo uma arquitetura enriquecida de tal forma que contemple ao indivíduo a sensação de estar em um lugar único, como uma experiência mais vasta e possivelmente mais importante que se pode ter de um edifício. Olhar e contemplar o espaço através da consciência confere uma busca pela linguagem interna da construção, confere a teoria da fenomenologia de Christian Norberg-Schulz, baseado na investigação da consciência e seus objetos. Dar significado à arquitetura mediante a criação de lugares específicos (“Genius Loci”), de forma que o lugar, como um fenômeno qualitativo, se compreende como um conjunto de elementos (material, forma, textura e cor), que determinam uma “qualidade ambiental” e dão essência ao lugar, como o espaço sendo portador de um significado, mesmo que inconscientemente. Sendo assim: A arquitetura pertence à poesia, e seu propósito é ajudar o homem a habitar. Mas é uma arte difícil. Fazer construções e cidades concretas não é suficiente A arquitetura começa a existir quando ‘faz visível todo um ambiente’, para citar uma definição de Suzanne Langer. Isso significa concretizar o genius loci. Vimos que isso acontece por meio de construções que reúnem as propriedades do lugar e as aproximam do homem. Logo, o ato fundamental da arquitetura é compreender a ‘vocação’ do lugar. (SCHULZ apud NESBIT, 2008, p. 459) Dessa forma, partir da concepção de um edifício que traz à tona a memória coletiva de uma residência, a clássica “casinha”, configura-se como forma de resgatar a questão do natural, “do primitivo”, objeto teórico deste estudo. O caráter bucólico da forma pode trazer “qualidade poética” ao lugar, seja exterior ou interior, amparado nos elementos arquétipos que,
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inconscientemente conferem inteligibilidade ao edifício, mesmo que a forma se distancie de sua função, mas ainda permanecendo com suas sensações de aconchego. Em complementação, conforme dito pelo arquiteto e urbanista Lucio Costa,“a intenção plástica que semelhante escolha subentende é precisamente o que distingue a arquitetura da simples construção”. (COSTA, apud, BITENCOURT, 2008, p. 45)
CONFORTO AMBIENTAL DO AMBIENTE DE NASCER O espaço hospitalar é medicalizado em sua função e seus efeitos. Assim afirmou Michel Foucalt (1988) , em seu texto O nascimento do hospital (apud. BITENCOURT, 2008, p. 43).A descentralização da instalação de prédios com a função de atenção à saúde - por exemplo: unidades básicas de saúde, clínicas, laboratórios, unidades de internação hospitalar e centros de partos naturais - contribuiu para que os arquitetos pudessem estabelecer critérios e diretrizes mais especificas para o tipo de assistência que a unidade de saúde irá prestar. Assim, considerando ao que afirmou Foucault, o Centro de Parto Normal (CPN) deve ser humanizado em sua função e seus efeitos, de tal forma que as condições de conforto ambiental equacionem as situações estressantes geradas durante o processo do nascimento.
Da mesma forma que passou-se, a partir da década de 90 , a denominar arquitetura dos ambientes de saúde, considerando a abrangência que o termo hospitalar não permitia (BITENCOURT, 2008, p. 44), se passou a ter a necessidade de estudos projetivos mais específicos, de tal forma que a unidade de saúde não tenha, como via de regra, o caráter de um ambiente hospitalar.
Pode-se entender como conforto ambiental o resultado da harmonia de vários condicionantes, seja o desenho do espaço, os elementos funcionais e estéticos, o tratamento paisagístico, o uso das cores, os aspectos acústicos e de luminosidade, entre outros. Essas variantes devem considerar a sensibilidade do usuário e a sua experiência perante situações que predominam os sentimentos de medo e insegurança, além de propiciar praticidade ao trabalho assistencial. Se o projeto arquitetônico pode ser um elo fundamental entre as expectativas do usuário e a efetividade das ações desenvolvidas no ambiente construído, para atender esta função ele deve estabelecer a necessidade de compatibilizar paralelamente a produção dos serviços, para o qual foi projetado, com a função terapêutica complementar. (BITENCOURT, 2008, p. 67)
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Diante das variantes a que se envolve a concepção do projeto de arquitetura, partindo da prerrogativa de que é necessário anuir todas os interesses dos usuários envolvidos, arrola-se abaixo diretrizes de conforto ambiental que foram consideradas para o desenvolvimento do trabalho
Fluxo – circulações
A parturiente que necessita dos serviços do centro de parto deve dispor de um ambiente que atenda todos os períodos gestacionais, ou seja, um ambiente que contenha uma circulação clara, de preferência horizontal, dispondo de total acessibilidade e comportando sempre o uso de cadeira de rodas. O estabelecimento também deve estar preparado (mobiliário e equipamentos) para permitir sempre a presença de um acompanhante, conforme preconizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Conforto higrotérmico
A qualidade do ar está relacionada diretamente à salubridade do ambiente. Nos termos dos estudos do arquiteto Fábio Bittencourt em “A arquitetura do ambiente do nascer”, pode-se elucidar: 1.
Ambientes não críticos como banheiros, sala de espera, guarda de maca e
cadeira de rodas e registro não necessitam de condições especiais de controle de temperatura e ventilação; 2.
Ambientes que comportam atividades que produzem odores, como sala
de expurgo, depósito de lixo e guarda de materiais tóxicos, não necessitam de controle de temperatura, mas precisam de exaustão mecânica; 3.
Ambientes de atendimento e de longa permanência, como consultórios,
salas de enfermagem, sala de preparo de materiais, quartos PPP (pré parto-parto-pós parto) e alojamento conjuntos, necessitam de condições especiais de controle de temperatura e ventilação, devendo buscar as melhores condições das mesmas. 4.
Ambientes que produzem calor como sala de esterilização e sala de
ultrassonografia, necessitam além de controle de qualidade do ar artificial, demandam ventilação direta associada à necessidade de ventilação mecânica.
Conforto acústico
Considerando que um ambiente silencioso, acolhedor e confortável pode conduzir tranquilidade e relaxamento à parturiente e à equipe assistencial e considerando que o trabalho de parto pode fazer com que a gestante produza gemidos e gritos, como forma de alívio da dor; é necessário que o quarto PPP, além de absorver todos os ruídos externos a edificação, ainda possa fornecer total liberdade vocacional à mulher. Tal necessidade pode ser tratada a partir do uso da madeira, considerada como um material com um grau de absorção considerável, combinada com materiais não convencionais, como um material poroso isolante, criando assim, um espaço que reverbere menos o som e não o transmita ao ambiente externo.
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Conforto visual
No caso de um trabalho de parto, no qual a parturiente pode estar sujeita a se submeter a horas, no que se procede o nascimento, é desejável que o quarto PPP possa fornecer boas condições de iluminação e percepção do ambiente externa, sem que haja exposição dos acontecimentos internos.
Quanto à luz, caracterizada como um elemento que dá forma e cor ao ambiente, se considerada corretamente na concepção do projeto de arquitetura, levando em conta as condições
O desenho do espaço, os elementos funcionais e estéticos, a adequada utilização da iluminação natural e artificial, o uso das cores e, naturalmente, os aspectos vinculados ao conforto ambiental assumem um papel fundamental na aproximação entre serviço e o cliente. BITENCOURT, 2008, p. 82
climáticas e as atividades a qual o ambiente irá exercer, pode propiciar ao usuário a sensação de estar em um ambiente acolhedor e confortável. Conforme recomendado pela norma NBR ISO/CIE 8995-1, o uso de brises e/ou persianas, podem ser elementos desejáveis para compor o Quarto PPP (pré parto-parto e pós parto).
Atualmente, já se entende que as cores tem influência na percepção do individuo acerca do ambiente, podendo até influenciar em suas escolhas e reações. Em um projeto de arquitetura que deve tratar de configurar espaços acolhedores, calmos e que se propõem a se assemelharem a um lar, pode ser almejado o uso da madeira como forma de transmitir sensações de aconchego, com elementos que remetem a natureza.
Segundo Lacy, 20111, em seu livro “O poder das cores no equilíbrio dos ambientes”, o uso de tons claros de vermelho e azul em maternidades, além de tornarem o ambiente mais relaxante e acolhedor, auxiliam também na conexão entre mãe e bebê. Enquanto tons de rosa, amarelo claro e turquesa, podem acalmar o sistema nervoso, a mente e as emoções, auxiliando para uma experiência positiva durante o nascimento (figura 06).
Figura 6 - Paleta cromática compatível com o ambiente do nascer. Fonte: produzido pela autora, baseado nos estudos de Marie Louise Lacy em O poder das cores no equilíbrio dos ambientes, citado por Neta, I., & Meira, F.A. (s.d.).
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1 Citado por Neta, I.C., & Meira, F.A. (s.d.). Diretrizes projetuais para quartos de pré parto, parto e pós parto. Fonte: Revosta IntraMuros: <http://revistaintramuros.com.br/>
Estudo de caso: A Casa Angela A Casa Angela, localizada no Jardim Angela, zona sul do município de São Paulo, iniciou suas atividades de assistência na região por volta da década de 90, antes mesmo de se consolidar como um espaço físico, quando a parteira alemã Angela Gehrke veio para São Paulo e passou a oferecer assistência à gravidez, parto e pós-parto, até 1993, juntamente com a Associação Comunitária Monte Azul, voltada para a favela de mesmo nome. Reconhecida por sua competência e sua contribuição social na área, em 2003, a Associação convidou a médica alemã Anke Riedel, que havia trabalhado com Angela durante seu período de atuação na região, para desenvolver e coordenar, em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde, o projeto da Casa de Parto, posteriormente batizada como Casa Angela em homenagem a parteira alemã. As obras iniciaram em 2006, terminaram em 2009 e em 2012 o Centro de Parto Natural foi inaugurado com assistência 24 horas, graças ao apoio de fundadores, doadores e pacientes particulares. Em 2015, a casa finalmente firmou parceria com o Sistema Único de Saúde (SUS), aumentando os partos realizados e podendo oferecer serviço gratuito a qualquer usuária do SUS. A visita técnica à Casa de Parto foi realizada no dia 28 de março de 2019, com acompanhamento da obstetra Carina Pinheiro Barreto , coordenadora do Núcleo de Pesquisa, Ensino e Consultoria . Durante a visita, pôde ser constatado que a Casa Angela se caracteriza como um ambiente calmo, tranquilo e com grande hospitalidade. Fornece a segurança e assistência de uma maternidade, mas trazendo o conforto e a tranquilidade do ambiente conhecido que é o seu lar. Segundo Carina, a casa procura abranger um ciclo de assistência completo (figura 07), que vem desde a assistência infanto-juvenil com planejamento sexual, até a assistência pré-natal, com grupo de acolhimento e consultas individuais. Acrescenta-se ainda que a casa ainda
“[A Casa de Parto] Fornece a segurança e assistência de uma maternidade, mas trazendo o conforto e a tranquilidade do ambiente conhecido que é o seu lar”
oferece terapias complementares como yoga, fisioterapia, acupuntura.
Figura 7- Diagrama acerca do funcionamento da Casa Angela. Fonte: produzido pela autora baseado nos relatos da Obstetra Carina Barreto durante a visita à Casa.
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Segundo dados do relatório anual da Casa Angela de 20181, é possível perceber o aumento da demanda de usuárias em um espaço que não o comporta – assim como apresentado durante a visita – e se torna necessário pontuar que o número de atendimentos tem aumentado de forma significativa e quando comparado a 2017, apresenta:
•
Aumento de 16% do número de atendimentos
•
Aumento de 23% do número de partos acompanhados.
•
Inserção de DIU em 149 mulheres com projeção do Ministério da Saúde de ampliar esse
número de 1,9% para 10% até 2020, configurando um aumento de cerca 426% apenas para esse tipo de atendimento;
Figura 9- Gráfico de percentual de atendimentos. Fonte: produzido pela autora baseado no relatório anual de 2018 da Casa
•
Aumento gradual do número de partos ao longo dos anos, oscilando entre 29 e 45 partos
por mês, com uma média mensal de 38 partos, considerando que há uma transferência intra-parto de parturientes para o hospital de 19%, compatível com valores de países que seguem o mesmo modelo de assistência, como Reino Unido e Austrália, por exemplo.
Figura 10- Gráfico de percentual de atendimentos. Fonte: produzido pela autora baseado no relatório anual de 2018 da Casa
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Figura 8 - infográfico acerca das atividades desenvolvidas na Casa. Fonte: produzido pela autora baseado no relatório anual de 2018 da Casa
1 Barreto
Todos os dados apresentados foram retirados do Relatório Anual da Casa Angela de 2018 disponibilizado pela obstetra Carina
Em se tratando de ambiente construído, a Casa Angela dispõe de cerca de 750m² de área construída, com um programa de necessidades dividido em 5 setores afim de abranger todos os atendimentos que foram listados na página anterior, sendo: acolhimento, atendimento, centro de parto, apoio e administrativo. A entrada se dá pela recepção, onde ocorre a distribuição dos ambientes, sendo, para meio pavimento abaixo o centro de parto, as áreas de serviço e as áreas externas e seguindo pelo segundo pavimento encontra-se as áreas administrativas, depósitos e o salão multifuncional que abriga todas as oficinas, cursos, atividades, atendimentos coletivos, etc, como demonstrado nos croquis abaixo.
Observações feitas durante a visita técnica:
. De fato, as três salas de parto e os 2 consultórios disponíveis na Casa Angela são insuficientes para atender de forma confortável todas as pacientes que o lugar acolhe. . Os banheiros devem ser grandes a fim de atender uma gestante, um acompanhante e dois profissionais. . As salas de administrativas são pequenas e não comportam as atividades da Casa e aquelas desenvolvidas pelo NUPEC, além de faltar espaço para armazenamento de arquivos, estes acabam ficando nos corredores. . A cozinha não comporta as refeições que são feitas para a equipe e para a gestante. . Ambientes para atividades multifuncionais são desejáveis. . Luz natural com controle do conforto térmico é desejável. . Sempre há a tentativa de estabelecer maior contato do indivíduo com a natureza.
Figura 11: Croqui esquemático das plantas da Casa Angela. Fonte: produzido pela autora
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Imagem 01:Recepção da Casa. Nota-se o
Imagem 02: Alojamento conjunto. Duas
Imagem 03: Posto de enfermagem que
Imagem 04: Quarto PPP, nota-se o piso frio
Imagem 05: Quarto PPP
Imagem 06:Salão Multifuncional. Nota-se o pé direito alto e o uso de madeira
Imagem 07: Bolas de Ling usadas nas atividades oferecidas no Salão
Imagem 08: espaço externo. Nota-se a tentativa de proximidade com a natureza
Imagem 09: Fachada frontal da Casa Angela.
ambiente pequeno e acolhedor.
e o ambiente monocromático.
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parturientes por quarto.
Figura 12- Conjunto de Imagens da Casa Angela. Fonte: acervo pessoal
atende ao Centro de Parto
Estudo de caso: A Escola de Obstetrícia
Observações feitas durante a visita:
A obstetrícia se define como uma ciência dedicada a reprodução humana em que o profissional se orna apto a acompanhar todos os processos fisiológicos e patológicos da gestação, desde o
. Segundo a coordenadora do
pré-parto até o parto e pós-parto. Caracteriza-se como uma formação de nível superior enfocada
curso, Cláudia Medeiros, um se-
na saúde e no cuidado da mulher, tendo disciplinas em comum com o curso de enfermagem.
gundo curso com admissão de 100
Possui uma estrutura curricular baseada em tratar a assistência de forma humanizada e holística, formando profissionais que se tornarão peças importantes da equipe de saúde, considerando que a política de promoção ao parto normal e à redução do número de cesáreas fornece um consequente aumento da demanda de profissionais formados em obstetrícia.
alunos, dividido em duas salas, por ano seria satisfatório para atender a demanda da graduação, . Um único laboratório seria suficiente para atender as ativi-
A graduação é oferecida apenas na cidade de São Paulo, na Universidade de São Paulo (USP),
dades desenvolvidas, porém seria
no campus da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), localizada na zona leste da
desejável que estivesse aliado a
capital, ao lado do Parque Ecológico do Tietê. Foi inaugurada em fevereiro de 2005 e possui uma
um ambiente maior para atividades
estrutura curricular integral, recebendo por ano 60 alunos aprovados via vestibular desenvolvido
complementares, livre de balcões.
pela VUNESP (Fundação para o Vestibular da Universidade Estadual Paulista).
. Salas que simulam o ambiente domiciliar seria desejável para
A visita à Escola foi realizada no dia 29 de março de 2019, com acompanhamento da coordenadora do curso Profª Drª Claudia Medeiros de Castro1. Durante a visita foi observado que o curso não possui um espaço único pois as atividades se desenvolvem por todo o campus integrado a outras graduações. Ou seja, todos os ambientes como laboratórios, salas de aula, auditório, anfiteatro, refeitório e administração foram projetados para comportarem diversas disciplinas dos 11 cursos oferecidos pela EACH, distribuídos pelos 14 edifícios do campus, como demonstrado na figura 14 da página 36.
compor a grade curricular, já que houve uma tentativa de se construir essas salas no campus da EACH, porém não obtiveram sucesso. . O curso no geral se desenvolve em espaços característicos de ambientes escolares, sendo salas
1 Coordenadora do curso de Obstetrícia na Universidade de São Paulo (USP), psicóloga, obstetra e professora doutora do curso de Obstetrícia.
de aulas tradicionais e laboratórios.
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Figura 13 - Grade curricular do curso de obstetrícia. Fonte: produzido pela autora baseado nas informações disponíveis em: < http:// www5.each.usp.br>
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Figura 14 - Planta de implantação do campus da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Cidade de São Paulo. Fonte: EACH USP, modificado pela autora. Planta original disponível em: < http://www5.each.usp.br>
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Imagem 01:Entrada ao Campus saindo da
Imagem 02: Vista do prédio I1, onde
Imagem 03: Sala de aula tradicional,
Imagem 04: Piso térreo do prédio I1, a
Imagem 05: prédio que abrange salas de
Imagem 06:anfiteatro
Imagem 07: laboratório de saúde, atende a todos os cursos da EACH
Imagem 08: armários do laboratório de saúde
Imagem 09: biblioteca da EACH
estação de trem
frente o refeitório e acesso as salas
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abrange as principais atividades
aulas menores e anfiteatros
Figura 15- Conjunto de Imagens do campus da EACH e seus ambientes. Fonte: acervo pessoal
projetada para comportar 60 alunos
Referências projetuais Léo Surgical , Centro de Saúde e Clínica Cirúrgica O Centro de Saúde e Clínica Cirúrgica, inaugurada em 2014, em Burkina Faso é projeto do arquiteto Diebédo Francis Keré, reconhecido mundialmente pelos seus trabalhos voltados para comunidades carentes, em áreas que sofrem com a falta de infraestrutura, trazendo uma arquitetura formada sob um viés social e direcionada para a minimização de recursos econômicos e de impactos ambientais.
O projeto abriga um Centro Cirúrgico, uma enfermaria, uma administração e um bloco de atendimento que se dispõem no terreno de forma linear, paralela e dinâmica, em que, aliado ao uso de cores, trazem ao usuário conforto e sensação de acolhimento. Considerando que a região carece de infraestrutura e mão de obra, e ainda dispõe de falta de acessibilidade para o transporte de materiais de construção, Keré então estabelece uma sequência modular, de fácil construção, de blocos autoportantes, de tijolo de terra compactada, que além de poderem ser produzidos no local pela mão de obra disponível na região, ainda fornecem conforto térmico ao ambiente interno, pois sua alta massa permite absorver o ar fresco da noite e libera-lo durante o dia, mantendo o ambiente fresco e conferindo uma estrutura de baixo custo e baixo custo energético.
O maciço volume dos blocos de tijolos se contrapõem com a estrutura leve e sobreposta da cobertura, que se destaca do volume do edifício e sobressai de suas extremidades para fornecer maior proteção contra o sol e a chuva. Se torna assim referência de projeto pela simplicidade de implantação e as soluções inteligentes que o arquiteto adotou quanto ao uso de material e a disposição dos ambientes.
Figura 16 - Planta térreo editado pela autora. Fonte: < http://www.kere-architecture.com/projects/ clinic-leo/>
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Figura17 - Fotografia do projeto construido. Fonte: < http://www.kere-architecture.com/projects/clinic-leo/>
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Eco-Techno Park: Centro empresarial sustentável Localizado em Ancara, na Turquia e projetado pelo escritório ONZ Architects, o edifício alia um Centro para Pesquisa e Tecnologia sustentável a espaços de escritórios e oficinas que são incorporados ao terreno. É claro como o escritório toma partido da topografia natural e implanta o edifício da maneira mais suave possível (imagem 17), se confundindo com a paisagem, de forma que o impacto na paisagem seja o minímo. Estabelece o bloco maior como o edifício principal, que concentra espaços mais coletivos como cafés e auditóros e funciona então quase que como um grande núcleo de circulação e distribução do programa. As áreas mais privativas como os escritórios, se inserem “sob” a topografia de modo que seu acesso seja mais restritivo mas, ainda sim permanecem em contato com o ambiente externo e com as áreas vegetativas (imagem 16). Se torna assim, referência de projeto pela suave inserção do edifício no terreno acidentado, trazendo um caráter natural e marcante para a região.
Figura 18 - Planta de implatação editado pela autora. Fonte: ONZ Architects Disponível em: < http://www.onzmimarlik.com/projedetay.php?id=38&lang=en>
Figura 19 - Diagrama de desenvolvimento do projeto, editado pela autora. Fonte: ONZ Architects Disponível em: < http://www.onzmimarlik.com/projedetay. php?id=38&lang=en>
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Figura 20- Imagem eletrônica da implantação do projeto. Nota-se a inserção do edifício de acordo com a topografia do terreno. Fonte: ArchDaily Brasil. Disponível em: < https://www.archdaily.com.br/br/756083/12-projetos-vencem-o-holcim-awards-africa-e-oriente-medio>
Figura 21- Vista do entorno do terreno de projeto. Fonte: Acervo pessoal
O projeto de arquitetura A Leitura do lugar Parâmetros de
Considerando a necessidade de expansão da Casa Angela a fim de atender a demanda que
ocupação
tem crescido de forma significativa nos últimos anos, é escolhido um terreno próximo a Casa de Parto, próximo ao metrô e próximo a comunidades de baixa renda, de forma que se estabeleça
Segundo o Plano Diretor
como um ambiente acessível a todos.
Estratégico da Cidade de São Paulo, a região tratada
O terreno está localizado na Rua Luiz Grassmann, Zona Sul de São Paulo, na Subprefeitura de
está
M’Boi Mirim, próximo ao Rio Pinheiros no bairro denominado Jardim Mirante. Dista 140 metros da
delimitada
como
macroárea de redução da
vulnerabilidade
urbana que tem como diretrizes o melhoramento da condição de vida e de convivência da região e o incentivo a usos não residencias para geração de
estação Giovanni Gronchi, linha 5 lilás do metrô e possui na Av. São João, localizada em frente o terreno, uma faixa exclusiva de ônibus que vem desde o centro da capital até a zona sul. Caracterizando este juntamente com a Av. Maria Coelho Aguiar, dois eixos de mobilidade e de comércio próximo ao terreno. A Avenida João Dias por ser uma Avenida de alto fluxo e por também abrigar a linha do metrô, percebe-se que ela corte esse trecho da cidade, sendo perceptível que: a norte concentra-se bairros com menores índices de vulnerabilidade social, enquanto que a sul trata-se do oposto.
oferta de emprego e serviços.
Quanto aos parametros urbanisticos temos: Perimetro da zona de uso: ZEU Zona Eixo de Estruturação da Transformação Urbana . CA: 04 . TO: 0,7 . PA: 05 Permeabilidade: 0,25 Figura 22- Imagem 01: terreno visto da passarela da Av. João Dias. Nota-se a proximidade com a linha do metrô. Fonte: Acervo pessoal
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“ CPNp [Centro de Parto Normal Peri-hospitalar]: Figura 23: nível de vulnerabilidade social no entorno do terreno. Fonte: produzido pela autora baseado em Geosampa.prefeitura.sp.gov.br Há maiores índices de vulnerabilidade e portanto, maior concentração de assentamentos precários. Colocando o terreno de projeto entre dois polos, acessível para atender a todas as classes sociais (figura 23). A região é bem servida de transporte público, atendida pela linha 12 Safira do metrô e pela linha 9 Esmeralda da CPTM; possui corredores de ônibus que seguem para o centro da cidade pela Av. João Dias ou seguem sentido Parelheiros - extremo sul - pela Av. Atlântica. Além de estar distante, aproximadamente 600 metros da Marginal Pinheiros, importante eixo estruturador do município. Tem como hospital municipal mais próximo o Hospital do Campo Limpo, a uma distância de 2,1 km, aproximadamente 8 minutos - o mesmo que recebe as parturientes que necessitam de transferência da Casa Angela.
Localizado nas imediações do estabelicimento hospitalar de referência, a uma distância que deve ser percorrida em tempo inferior a 20 (vinte) minutos do respectivo estabelecimento, em unidades de transporte adequeadas” Fonte: trecho do art. 6 da Portaria 11 de 07/01/2015 que redefine as diretrizes para implantação e habilitação de Centro de Parto (CPN).
Em um raio de 2 km abrange também quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) e a Fundação Santa Casa de Misericórdia a 1,4 quilômetros.
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Imagem 02:Trecho da calçada elevada
Imagem 03: Trecho dessa mesma calçada seguindo sentido o acesso ao metrô. Nota-se ambiente hostil.
Imagem 04: Escadaria da calçada da Av. João Dias que segue até a Rua Mahamed Aguil.
Imagem 05: Vista da escadaria sentido
Imagem 06: Vista da escadaria sentido terreno anexo a esquerda. Nota-se topografia acentuada
Imagem 07: Vista da Rua Mahamed Aguil olhando para a Favela Monte Azul
Imagem 08: Vista da Rua Luiz Grasmann, a esquerda o muro da escola.
Imagem 09: Esquina da Luiz Grasmann com a Av. João Dias. Nota-se declive acentuado, curva muito ampla e pouco agradável ao pedestre.
Imagem 10: vista para o terreno visto de dentro da plataforma do metrô.
da Av. João Dias. Nota-se proximidade com a linha do metrô.
linha do metrô.
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Figura 24- Conjunto de Imagens do terreno de projeto e seu entorno. Fonte: acervo pessoal
Nota-se que os lotes voltados para a Avenida João Dias são em sua maioria comércio e serviços. Enquanto que a medida que se adentra sentido norte e sul a partir da Avenida tem-se a presença de quadras em sua maioria residenciais.
Nota-se que a quadra do terreno em questão está elevado em relação a Avenida João, ficando próximo a linha do metrô. Fato que explica o fato do bairro ser denominado como Jardim Mirante.
Aspectos observados: conclusões sobre a região > Como se caracteriza o entorno imediato? Qual a sensação de estar naquele ambiente?
Pode-se dizer que a região possui um caráter, certamente, misto. O bairro residencial começa muito próximo da Avenida João Dias e da estação de metrô. O caminho no entorno do quarteirão é hostil aliado a acentuada declividade. O caminhar não é agradável e o desnível entre a cota da calçada para o terreno é enorme, a ponto de se tornar hostíl. > Como funciona a circulação do metrô até a Casa Angela e até o terreno em questão? É de fácil acesso?
A estação do metrô possui uma passarela que direciona o pedestre até o lado da Avenida que se deseja ir, no caso, a Av. João Dias, porém, apesar de configurar-se como uma avenida plana e de fácil acesso, a proximidade com uma via de alto fluxo, torna o ambiente pouco agradável. Sem contar que, o caminhar até a Casa Angela é dificultoso já que existe uma declividade de 37 metros entre ambos.
A linha irregular entre o terreno e a Avenida João Dias se caracteriza como uma barreira e como apresentado no destaque do texto à direita, torna o ambiente hostil e também deve ser levado em conta no tratamento dos espaços livres do edifício a ser projetado.
> Como a arquitetura a ser desenvolvida e seu programa de necessidades pode beneficiar a região?
Como já mencionado anteriormente, a região possui um caráter pouco definido, podemos dizer que até um tanto quanto confusa em questão de fluxos e usos. Sendo assim, uma arquitetura aliado a uma requalificação do entorno imediato ao terreno pode, e deve, melhorar a qualidade visual e urbana do espaço para as pessoas que transitam por ali. É necessário pensar em como deve ser feita uma fruição com acessibilidade adequada a fim de vencer a declividade acentuada do terreno, na escadaria que é utilizada constantemente daqueles que saem da estação e adentram o bairro. Além de que, melhorar o espaço urbano, tornando-o, no mínimo agradável ao se caminhar, no trecho da Av. João Dias que faz frente ao terreno, levando em conta a necessidade de
harmonizar a aparente altitude do terreno com a escala do pedestre. Além de que, é importante ressaltar que existe uma quantidade considerável de assentamentos precários ou núcleos em processo de urbanização no entorno do terreno, levando-nos ao questionamento de que, o que poderá ser acrescido no programa que poderá beneficiar aquela população no geral em questão de espaço público?
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O programa de necessidades e a inserção em áreas de vulnerabilidade A partir da leitura do lugar é perceptível que a região sofre com a precariedade de espaços públicos qualificados e usos não residenciais que segundo o PDE (Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo) possam gerar oferta de emprego e serviços, realidade esta que se agrava a medida que se adentra ao município sentido sudoeste. Um projeto de arquitetura aliado a reforma urbana do entorno imediado como a calçada da Avenida João Dias que faz frente ao terreno, as esquinas da Avenida com a Rua Luiz Grasmann e a Rua Vitalina Grasmann e a escadaria que sai da João Dias e sobe sentido a Rua Mahamed Aguil, pode tornar mais agradável e confortável o caminho daqueles que se utilizam desses espaços diariamente. Além de que, pode ser desejável o acréscimo de espaços de uso coletivo, sendo externo e/ou interno, ao projeto em questão, já que as comunidades presentes no entorno sofrem com a carência de espaços públicos próximos e qualificados. Quanto a programa em si, pode-se dizer que além de acrescentar a região uma boa arquitetura, traz educação, assistência e oferta de emprego , condizente com o que está previsto no PDE. Para a elaboração do programa de necessidades do projeto foi pensado em dividi-lo por tema e tipo de atividade exercida no ambiente. Sendo:
ESCOLA DE OBSTETRÍCIA • Administrativo: ambientes de caráter administrativo como sala dos professores, secretaria e administração em um caráter geral. • Pedagógico: ambientes de caráter educacional, sendo salas de aulas, laboratórios e bibliotecas, por exemplo • Utilidades: ambientes de apoio aos usos pedagógicos e de vivência como auditórios, anfiteatros e refeitórios • Vivência: ambientes de uso coletivo daqueles que frequentam o edifício como pátios, café e grêmio.
GERAL • Apoio: ambientes de apoio que podem atender tanto a escola quanto ao centro de parto como depósito de materiais de limpeza, depósito de manutenção, reservatórios, estacionamento, etc.
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CENTRO DE PARTO • Administrativo: ambientes de caráter administrativo como sala de coordenadores, sala de arquivos, sala de reuniões e administração geral. • Assistência ambulatorial: ambientes de caráter ambulatorial, de atendimento a parturiente como consultórios, recepção, triagem, sala de coleta e ultrassonografia, etc. • Assistência complementar e acolhimento: ambientes de atendimento coletivo e complementar a assistência obstétrica, como atendimentos coletivos, atendimetos psicoóligos, oficinas de yoga, etc. • Centro de parto: ambientes necessários para assistência completa ao parto natural, sendo quartos PPP (pré-parto, parto e pós-parto), alojamentos conjuntos, assistência ao recém nascido, posto de enfermagem, etc. • Apoio assistencial: ambientes de apoio e utilização pela equipe como sala de conforto, cozinha, copa, etc. • Apoio: ambientes de apoio técnico ao Centro de parto no geral, como depósito de equipamentos, sala de esterilização, expurgo, etc.
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Contando que a Casa Angela possui 2 consultórios, mas deveria ter no mínino três já que sempre acabam utilizando as salas de parto vazias para este fim; e considerando um aumento de 30% na demanda é estabelecido 4 consultórios
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* Os ambientes e dimensionamentos do Centro de Parto foram baseados em valores e apresentados na: Portaria 11 do Ministério da Saúde, Resolução, número 50, 36 e 306 da ANVISA,. Todos citados por completo no fim deste caderno.
Conforme a portaria 11 de 07/01/2015 da ANVISA, Centros de Partos Normais, peri-hospitalares (localizados a uma distância de até 20 minutos do hospital de referência da região), poderão ter no máximo 5 quartos PPP (parto - pré parto e pós parto), com produção de 840 partos anuais e média de 70 partos mensais. Fonte: Inciso III, art. 06, portaria 11 (ANVISA). *No programa é definido um quarto a mais do que definido na norma para casos de superloatação da casa. O apoio assistencial se refere a ambientes que devem esyat integrados diretamente com o CPN, ou seja, preferencialmente no mesmo pavimento.
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Processo de desenvolvimento - implantação Considerando os levantamentos apresentados e como já mencionado anteriormente, a necessidade de tornar o passeio mais agradável para quem caminha pela calçada da Avenida João Dias, se tornou um dos partidos de projeto. A fim de adequar a escala do pedestre a escala do terreno, anteriormente com grandes taludes, é deifinido inicialmente resgatar a topogafia inicial deste, que além de condizer com o tema em questão, do resgate ao que é natural, também convida a cidade a adentrar o espaço.
Ressalta-se ainda que a premissa para o desenvolvimendo da linguagem projetual é entender que apesar dos ambientes se relacionarem ao mesmo tema (Escola X Centro de Parto), as funções exercidas neles e as necessidades que o edifício deve proporcionar para se adequar ao nível de conforto requerido pelo usuário de acordo com tal atividade, são diferentes.
A concepção do projeto nasce então da ideia de colocar os blocos escolares em contato com as áreas coletivas que estão vinculadas aos espaços de alto fluxo, como a Av. João Dias e a estação do metrô Giovanni Gronchi, como ambientes mais dinâmicos e interativos. Enquanto que o Centro de Parto se coloca na cota superior, mais longe das áreas de maior movimentação e mais próximo as áreas verdes já existentes. Se estabelece em um ambiente que poderá ter maior restrição de acesso, proporcionando mais privacidade ao usuário.
Quanto a forma e a linguagem, partindo da ideia de relação ambiente escolar X ambiente externo e considerando que muitas áreas que compõem o programa escolar podem também servir de apoio a atividades externas; o bloco escolar se adentra na topografia interligado a um bloco transversal que funciona como um eixo de articulação entre o desnível do terreno. Enquanto que o Centro de Parto, apensado na necessidade de se proporcionar privacidade, conexão à natureza e a necessidade de se propor uma forma que de individualidade as atividades nele exercidas resgata-se a memória da forma de uma residência, da clássica “casinha”, que se distancia de sua funcionalidade, mas permanece com as suas sensações de aconchego, concretizadas em blocos individuais, com coberturas inclinadas e módulos que permitem que a vegetação adentre aos ambientes de forma acolhedora e confortável.
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Figura 25- Conjunto de croquis referente a concepção da implantação deste projeto. Fonte: elaborado pela autora.
Figura 26- Conjunto de croquis referente a concepção da da linguagem do Centro de Parto Normal. Fonte: elaborado pela autora.
Figura 27- Croqui volumĂŠtrico do projeto. Fonte: elaborado pela autora.
Volumetria inicial
Resultados da banca intermediária O trabalho apresentado na Banca Intermediária teve como críticas e sugestões: primeiro a necessidade de incorporar à teoria as transformações que tem acontecido dentro do ambiente hospitalar a afim de atender as demandas atuais e as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo, foi apontado que o projeto de arquitetura tenha mais cuidado quando se utilizar da estética do arquétipo da casa para conceber o projeto do Centro de Parto; com base na indagação: “será que o caráter bucólico da imagem da clássica “casinha” tem efetiva contribuição para a experiência e percepção do ambiente?”.
A estratégia para absorver as criticas e traçar soluções para tais, foi primeiro realizar um estudo referente às mudanças dos hospitais (pag. 20 e 21), bem como a incorporação de alas destinadas a partos normais em grandes maternidades particulares, que até 2017 chegaram a atingir um percentual de quase 90% de cesarianas, fato esse que colocou o Brasi como o primeiro no ranking de países mais adeptos ao procedimento cirúrgico.
Para o segundo ponto e a fim de mabter a linguagem do arquétipo da casa, defendido pela orientanda como forma de trazer mais conforto e sensibilidade ao ambinete do Centro de Parto, mesmo que insconscientemente, foi necessário inserir à teoria do caderno um capítulo que se preste a esclarecer, com base nas teorias pós-modernas, o por que tal linguagem pode ser benéfica para a experiênca do usuário, considerando questões de memória coletiva “versus” arquitetura. Além de aprimorar o projeto de arquitetura, de forma que o desenho do Centro de Parto, em específico, a cobertura, seja mais harmonioso com o desenho da escola, isso foi feito “amenizando” a forma da casa, de forma que a inclinação do teclado fosse mais sútil.
Em se tratando de desenvolvimento do projeto, a partir da entrega intermediária, o trabalho seguiu além das mudanças citadas acima, ainda foi desenvolvido o sistema estrutural, optado por ser em madeira, tendo em vista as questões de sustentabilidade. O paisagismo foi tratado, considerando trazer um meio para captação e reaproveitamento das águas pluviais. Foi estabelecido um mirante na cobertura do edifício maior, que se volta para a favela Monte Azul, onde a parteira alemã que inspirou a construção da Casa de Parto, a Casa Angela, fazia trabalhos na comunidade em parceria com a associação. Acrescenta-se ainda que a favela, voltada a oeste, também contempla o pôr-do-sol. Além de refinamentos quanto a disposição, tamanho e configuração dos ambientes.
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Maquete eletrĂ´nica 01 Figura 28- maquete eletrĂ´nica elaborada pela autora
Projeto final O projeto procura se adequar ao máximo, da forma mais sútil possível, na alta declividade do terreno. As salas de aula e laboratórios “escondem-se” na topografia como referência ao projeto do escritório ONZ architects, apresentado nas páginas 40 e 41, de forma que se abram para o ambiente externo, possibilitando atividades mais dinâmicas, proporcionado pelas portas pivotantes em policarbonato alveolar translúcido. Material que ao mesmo tempo que permite que a luz penetre ao ambiente de forma difusa e harmoniosa, também oferece conforto acústico e luminoso, considerando que os alveolares possuem uma camada de ar que favore o desempenho termoacústico.
O edifício transversal ao terreno funciona como um eixo de articulação entre o Centro de Parto e a Faculdade, abrange ambientes que podem servir para ambos os estabelecimentos pois possui um caráter de uso mais coletivo. Apresenta-se como um bloco que resolve o desnível de 18 metros entre a cota de acesso ao metro da cota de acesso ao CPN, a partir de escadas e elevadores. Possui lateralmente uma grande área verde, que desde da topografia e se estabelece escalonado no nível de cada ambiente, a fim de proporcionar iluminação e ventilação adequada. Parte do edifício possui fechamento em policarbonato alveolar, assim como as salas de aula, porém, a outra parte, visível na imagem ao lado, possui caixilharia em vidro e portas de corrrer que se abrem para jardineiras penduradas nas lajes dos pavimentos, juntamento a ripas de madeira que protegem este lado do edifício da insolação.
Por fim, o Centro de Parto, apensado na linguagem arquetípica da casa e tendo tido como referência o projeto do arquiteto Francis Keré, apresentado nas páginas 38 e 39, localiza-se na cota mais alta do projeto, e possui um sistema modular em que a cobertura sobressai de suas extremidades, fornecendo conforto térmico ao ambiente, protegido do sol e da chuva.
Maquete eletrĂ´nica 02 Figura 29- maquete eletrĂ´nica elaborada pela autora
Considerando
as
questões
emergentes
referentes a sustentabilidade, no âmbito da construção civil a madeira tem se tornado destaque nos projetos arquitetônicos, visto que se apresenta como um material de excelente desempenho estrutural, de fácil montagem e ainda é um recurso renovável que não requer a queima de combustíveis fósseis durante a sua produção. A madeira laminada cruzada (CLT - Cross Laminated
Timber)
por
sua
estrutura
composta por placas de madeiras serradas e coladas perpendicularmente a outra orientação da placa, possui maior rigidez estrutural, fornecendo bom desempenho em ambas as direções. Tal sistema foi adotado para compor a malha estrutural do projeto levando em conta seu bom desempenho estrutural, térmico, acústico e por sua linguagem, e Figura 30- Conjunto de croquis referente aos detalhes do sistema estrutural. Fonte: elaborado pela autora
estética estarem totalmente alinhados com as premissas do projeto, se estabelecendo no projeto conforme o croqui ao lado.
76
Figura 31- Diagrama explodido de distribuição do pro-
77grama. Fonte: elaborado pela autora
Maquete eletrĂ´nica 03 Figura 32- maquete eletrĂ´nica elaborada pela autora
Figura 33- croqui esquemรกtico dos pricipais elementos do quarto PPP. Fonte: elaborado pela autora
91
A A
B B
C C
Maquete eletrĂ´nica 04 Figura 32- maquete eletrĂ´nica elaborada pela autora
QUADRO DE ÁREAS PAVIMENTO
CA TOTAL: > 4 - 68.556,92 m ²
CA NO PROJETO: > 0,66 - 11.801 m ²
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AMBIENTE
TEMA
TIPO
M²
Total (com área de circulação) 1420
Área coletiva PAV. 01 - Cota Lixo organico 737 Lixo reciclável Reservatório inferior
Escola Geral Geral Geral
Vivência Apoio Apoio Apoio
460 50 20 70
Foyer +café Auditório Estacionamento Depósito manutenção PAV. 02 - Cota Dep. Material de limpeza 741 Dep. Gases medicinais Sala de máquinas Vestiário funcionários Dg telefonia Dg elétrica
Escola Escola Geral Geral Geral Casa de parto Geral Geral Geral Geral
Utilidades Utilidades Apoio Apoio Apoio Apoio Apoio Apoio Apoio Apoio
Uso múltiplo PAV. 03 - Cota Salas de aula 745 Biblioteca Pátio descoberto
Escola Escola Escola Escola
Pedagógico Pedagógico Pedagógico Vivência
Uso múltiplo Secretaria e sala de espera Sala dos professores Sala de reuniões Sala de coordenadores PAV. 04 - Cota Sala de apoio 749 Sala de preparo e amostras Armários e depósito geral Laboratório de saúde Sala de simulação Laboratório de informática Sala domiciliar
Escola Escola Escola Escola Escola Escola Escola Escola Escola Escola Escola Escola
Pedagógico Administrativo Administrativo Administrativo Administrativo Pedagógico Pedagógico Pedagógico Pedagógico Pedagógico Pedagógico Pedagógico
Uso múltiplo PAV. 05 - Cota Anfiteatro aberto 753 Refeitório Cozinha
Escola Escola Escola Escola
Pedagógico Utilidades Utilidades Utilidades
Sala de yoga Sala de massagem e acupuntura Sala de atendimento psicológico Salão multifuncional Recepção Triagem Sala de espera Recreação Consultórios Sala de armazenamento Sala de coleta Sala de ultrassonografia Sala de aleitamento materno PAV. 06 - Cota Cozinha 755 Sala de conforto Sala de apoio Rouparia Alojamento conjunto Sala de reanimação neonatal Sala de equipamentos de transporte Posto de enfermagem Sala de serviço Sala de esterilização Sala de materiais limpos Lixo geral Descarte hospitalar Expurgo Quarto PPP
Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto Casa de parto
Acolhimento Acolhimento Acolhimento Acolhimento Assistencia Assistencia Assistencia Assistencia Assistencia Assistencia Assistencia Assistencia Assistencia Apoio equipe Apoio equipe Apoio equipe Apoio Centro de parto Centro de parto Centro de parto Centro de parto Centro de parto Centro de parto Centro de parto Centro de parto Centro de parto Centro de parto Centro de parto
Administração geral Sala de reuniões Sala de arquivos PAV. 07 - Cota Mirante 759 Café Copa Sala de coordenadores
Casa de parto Casa de parto Casa de parto Geral Geral Casa de parto Casa de parto
Administrativo Administrativo Administrativo Vivência Vivência Administrativo Administrativo
390 340 1093 55 23 22 50 25 16 16 128 92 342 280 128 75 150 25 35 64 6 15 80 80 80 45 128 100 170 100 40 18 14 110 22 12 80 10 14 14 14 14 16,5 30 48 4 4 30 15 15 22,5 7,5 14 12 7 5 5 30 177 30 9 330 170 12 35
2609
2270
1740
2594
540
11173
Conclusão Considerações finais Estudos relativos sobre os estímulos promovidos pelo ambiente que cerca a mulher durante o processo do trabalho de parto, relacionados diretamente com a visão arquitetônica, são raros. Porém, é fato que o ambiente projetado para tal trabalho deve servir para atender a todas as necessidades e desejos da parturiente da forma mais confortável e agradável possível, transmitindo segurança, calma e privacidade. A partir disto, e acrescenta-se ainda as necessidades requeridas pelos usuários da Faculdade, este projeto procura por meio da composição de formas e volumetrias, compor uma arquitetura que seja capaz de atender a todas esses necessidades em um ambiente que integre a cidade e melhore a vida urbana das pessoas que pelo entorno habitam.
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O contrato anexado nas três páginas seguintes se refere a concessão de direito de uso para fins acadêmicos das ilustrações das páginas 01, 06, 12, 23 e a capa. Assinado com a a ilustradora Stepha Lawson.
Folha de S. Paulo. (12 de outubro de 2018). Folha de São Paulo. Fonte: Copyright Folha de S. Paulo:
<https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2018/10/brasil-e-o-segundo-pais-
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acessado
em
13/03/2019 às 18h00
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B I R T H
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