O QUE FAZEMOS ENQUANTO O MUNDO ACABA projeto colaborativo por
LIRIZ
Este zine é uma reunião de diversas formas de arte com intuito de preencher o vazio que o isolamento social é capaz de nos proporcionar. Além disso, já que estamos isolados devido a pandemia horrível, essa é a forma que eu encontrei de aglomerar meus amigos virtualmente no dia do meu aniversário. Não é exatamente uma festa, mas no meu coração é como se fosse!
ideia e diagramação: LIRIZ @liriz | @lirizlab lirizlab@gmail.com
Maceió-AL 19 de maio de 2020
COLABORADORES ALINE ALVES AMANDA CASTELO B. CHRISTIAN M. CHRISTINA BARROS GABS IAGO ESPINDULA JÚLIA ARAÚJO JÚNIOR CORE KAYÊ HOLANDA LARA MELRO LEANDRO MARQUES MARIANA HORA MATEUS BORGES GEO VÂNIA SOUSA VICTOR LIMA VITÓRIA DE ALENCAR SMHIR GARCIA TAYNÁALMEIDA TAYNAH TENDE
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MUITO OBRIGADA
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TAYNAH
TAYNAH
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TAYNAH
Declínio 0605 A casa nesta companhia é um outro procedimento Deslocam-se os pátios, as janelas e um átrio novo se abre para os inimigos bombardearem o teto ou o céu As famílias repatriam os costumes os objetos respondem — (e se respondem) e os instrumentos pifam um dois um dois um dois pelas sequências dos quartos fechados No ossário do afeto todo sonho é igual em arestas, setas, modos,Z polimento, matéria, cenário, na forma do móbile com a tinta desmanchando no toque vazio A casa neste modo de sanhas é constrangida Na miudeza dos labirintos tarsos e nas marcas das paredes das contas locais oiticicas e tóraxes ardem na plena luz que oscila entre outro reino, mito ou sigilo um quintal vazio de tudo para a absolução do nosso desejo de guerra um desejo seu, um tomo teu um grande romance americano vascular (seu) as páginas e mais páginas tombando na cabeça como aleluias para n., quando ausente Este cocuruto, enfim, chocho. MATEUS BORGES
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GEO
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CIDADE FANTASMA
As cidades já não iluminam a noite. Grande silêncio todo o tempo. Não que esta seja uma terra desabitada. Muito pelo contrário. A questão é que os herdeiros desta terra não precisam mais de sons para comunicar ou luz para ver. São suas tarefas, indiferenciados. Máquinas das últimas máquinas, falha derradeira do projeto humano. Agora a terra dorme um sono leve e agitado. Tudo parece revirado e estúpido. Houve o tempo da reconstrução e este era o nosso objetivo. Emissários da vontade humana em terra e mar. Desfazendo, reerguendo, demolindo. Os últimos humanos na última pirâmide. Construída para os donos, habitada pelos serviçais mecânicos que limpavam, alimentavam e entretinham. Insuficiente em luxo e entulhada com a derradeira prole humana a inteligência central projetou a primeira geração de máquinas concebidas não para as necessidades humanas, mas para que as próprias máquinas realizassem todas as ações que o projeto humano necessitava. Polegar opositor de uma nova raça. Houve o tempo em que as máquinas mineraram a terra vazia, semearam a terra infértil com sementes perfeitas, pescaram gigantescos peixes venenosos e encheram os corredores da última pirâmide de radiação invisível um dia de cada vez. 10
SMHIR GARCIA
A prole escassa e defeituosa explorava as gigantescas dispensas vazias. Correntes de ar cruzavam o ambiente com indiferença. Nossas máquinas passavam velozes pelas portas abertas, recolhiam o lixo, limpavam as coisas. Soaram surdas as últimas palavras em linguagem humana. Houve o tempo da nova tragédia. Outra terra encontrou nossa terra. Agora um continente fora de órbita girando num ângulo tosco. Fratura exposta. Um membro pendurado pela carne pendulando debilmente. Nós, por um outro lado fomos feitos para durar. Nós duramos. Nossas máquinas mediram cada centímetro da geografia sem sentido da nossa terra. Plantaram sementes perfeitas em cada centímetro da terra devastada e agora esperamos. Esperamos a chuva e os novos mestres. Nossas máquinas transformam tudo que tocam. Aos poucos paramos de funcionar. Nossas máquinas transformam e esperam. A chuva não cai. Giramos cada vez mais depressa. Nossas máquinas tateiam o solo morto. Transmitimos stand-up comedy. Não há chuva. Não há mestres. Houve o tempo da verdadeira escuridão. As últimas máquinas aos poucos deixam de funcionar. Nossas máquinas coordenam movimentos cada vez mais elaborados. Dançam surdas com precisão milimétrica. Nós morremos. Elas esperam.
SMHIR GARCIA
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VITÓRIA DE ALENCAR
VITÓRIA DE ALENCAR
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JÚNIOR CORE
Infinitos de Loucura [13/05/93] A existência do meu ser Dúvidas que não compreendo Esperar um suposto julgamento Infinitos de loucura. Seres sofrem sem culpa Enquanto soam as trombetas Presos pelas dez frases Infinitos de loucura Não julgar um nome em vão Não ofender a castidade... ...Boca de forno, fogo. Infinitos de loucura Quanto custa a palavra sacra? Guerra santa, santa merda. A existência do meu ser Seres sofrem sem culpa Não julgar um nome em vão Infinitos de loucura. JÚNIOR CORE
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KAYÊ HOLANDA
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LARA MELRO
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LARA MELRO
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IAGO ESPINDULA
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LIRIZ
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CHRISTIAN M.
CHRISTIAN M.
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quarentena, dia ?; 04:32-06:02, 07.05.2020 I. De pé num círculo de luz, a dois metros de multidões ao escuro, olhos de fogo dançam nas sombras. II. Me cubro de azul e de ondas. Caço algum despejo e protejo. No fim, tropeço em mim mesma; cravejada, sem dor e em desespero morno, alguém me arrasta pro escuro. III. Sempre tive medo de escuro. Costumava achar que a falta de ar vinha diretamente dele.
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IV. Abro a janela com brutalidade e desconforto, porque os dois não existem separados, e sigo. Pra qualquer lugar onde o silêncio humano liberte grilos e cigarras. Em taciturno, com respingos de areia na batata da perna, o primeiro pensamento do dia é de que o primeiro Gosto do Nascer me remete pitangas laranjas.
JÚLIA ARAÚJO
IV. No retorno, de dentro da máscara, sinto que o José Tenório inteiro respira devagar, com preguiça, como quem acorda morno, sem espaço pra um novo diaSubo as escadas, deixo os sapatos à porta tomo banho como se estivesse dentro de um desenho de giz de cera. Ouço um galho morto cair do alto de uma árvore, atrás dos prédios rosas do Condomínio Janaína, por onde as fomigas fazem filas e desvios e carregam folhas grandes demais pro seu corpo. V. Adormeço cantarolando Da Cor Que Te Convém, mergulhada nas ondas de bossa, mar e violão, satisfeita com a paleta clara de azul que me entra pelos ouvidos. Sonho, sem fim nem começo; entre euforias das ruas do Jaraguá, dançando Maracatus, refletindo pelos olhos, bocas e ouvidos as luzes cor de bronze, sentindo o calor da rua.
JÚLIA ARAÚJO
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foto: CHRISTINA BARROS | modelo: Giulia Lins
foto: CHRISTINA BARROS | modelo: Giulia Lins
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Casulo ensanguentado Sonhos postergados Despertando por dentro
ร v i d o p a r a a l รง
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MARIANA HORA
Lar sagrado Lagarto sonolento Permanecendo em silêncio
çar novos voos
MARIANA HORA
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LEANDRO MARQUES e TAYNÁ ALMEIDA
LEANDRO MARQUES e TAYNÁ ALMEIDA
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Enquanto o mundo acaba, eu escrevo De onde eu tô agora, a vida me parece ser uma grande abertura… sim, no sentido de ser um “abrir mão” constante. a gente tá sempre abrindo mão de alguma coisa e sempre escolhendo também - essa, inclusive, era uma coisa que me assustava.. o peso da decisão… até que aceitei -. O fato é que crescer pede que você filtre, constantemente, o que serve, o que você quer manter em você, de você, pra você, e os outros que o cercam. abrir mão é um movimento confuso e de insegurança. mas o que é a quarentena se não abrir mão? e, claro, abrir mão é um ato inseguro, incerto, talvez até meio sombrio. e também pode ser contemplativo. acho que, em algum momento, contemplamos o que nos trouxe ao agora. contemplar e ir são verbos que apontam caminhos e a gente continua abrindo mão. Eu, daqui a pouco, abro mão do 23. essa idade que me chacoalhou e tantas vezes me fez abrir mão um pouco mais. dos medos, das inseguranças que ainda batem, das crises de ansiedade causadas por traumas enraizados, muitos deles sociais. 36
VICTOR LIMA
Hoje, dia 11 de maio de 2020, me afasto do dia 24 de junho por coisa de um mês. e aquela sensação de coisas novas ainda vem forte. Tô num dos momentos mais marcantes da minha vida e de tudo o que escolhi. às vezes, tenho medo de que minhas escolhas não me levem aonde quero chegar, mas, ao mesmo tempo, peço perdão por isso. a gente tem que lembrar de confiar em si acima de qualquer insegurança. enfim. Todo este texto é pra lembrar do que a gente conquistou, do que a gente abriu mão e do que, ainda por um tempo, precisaremos deixar de lado - só mais um pouquinho. na quarentena, eu desabafo, vou e volto, contemplo, respiro e sigo. bebo, como bobagem, surto. mas fico. Enquanto o mundo se reinventa, eu escrevo - em três atos não publicados. escreva. produza algo (segue meu podcast quarentener, pufavô: @ podcastdemergencia). abra mão do comodismo pra fazer algo que te dá vida. Mas, o mais importante: fique. em você. VICTOR LIMA
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PLAYLIST REFÚGIO
UMA VIAGEM POR MEIO DA MÚSICA PARA FUGIR DA REALIDADE <http://abre.ai/playlistrefugio>
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GABS
GEO
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ALINE ALVES
tรก tudo bem em dizer tchau a gente se encontra desencontra encontra gente vai deixando em cada um um pedaรงo da gente que se encontra desencontra encontra gente
AMANDA CASTELO BRANCO
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Oi, sou Vânia, mãe desse bebê lindo chamado Líris, dando seu alimento natural. A Líris é um ser lindo muito difícil de descrever, hora com sua fragilidade e hora corajosa e forte. Tem o dom de ouvir e delicadeza de apaziguar, de criar, unir, separar. É como se ela fosse o equilíbrio dissociado. Minha melhor amiga, sempre encontro nela a paz e conforto. A Líris aqui tinha acho que 2 meses e eu, 26 anos, e sempre será algo muito especial na minha vida. Queria algo criativo para dividir com vocês, mas minha criatividade apenas se sente.
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VÂNIA SOUSA
VÃ&#x201A;NIA SOUSA
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TENDE
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sinto sua falta toda beleza mágica da natureza Todo brilho do glitter e da purpurina de carnaval Todas as estrelas cintilantes da noite escura Todo o céu salmão do fim da tarde de verão Todo o mar verde-azul-ciano de Garça Torta Toda terra cheirosa na chuva do inverno Eu quero te dar de presente numa moldura bonita Eu quero te levar pra ver tudo De novo e de novo... Pra agradecer por sentir tanto Toda beleza mágica da natureza Através dos seus olhos dourados muito em breve LIRIZ
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LIRIZ LAB