A Cenografia como forma de construção do espaço arquitetônico.

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FACULDADE BRASILEIRA - MULTIVIX CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

LÍVIA FIOROT BENINCÁ

A CENOGRAFIA COMO FORMA DE CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO ARQUITETÔNICO: UM ESTUDO SOBRE ELEMENTOS QUE CONSTITUEM O ESPAÇO DE ENTRETENIMENTO

VITÓRIA 2018


FACULDADE BRASILEIRA - MULTIVIX CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

LÍVIA FIOROT BENINCÁ

A CENOGRAFIA COMO FORMA DE CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO ARQUITETÔNICO: UM ESTUDO SOBRE ELEMENTOS QUE CONSTITUEM O ESPAÇO DE ENTRETENIMENTO

Trabalho de Conclusão de Graduação em Arquitetura e Urbanismo apresentado à Faculdade Brasileira MULTIVIX, como requisito parcial para a obtenção de título de bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientador: Fornaciari.

VITÓRIA 2018

Dorieli

Zuccoloto


A todos os amantes da Arte.


AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a meus pais, que com muito esforço e amor me deram o privilégio de cursar essa faculdade, e apesar de todos os desafios que encontrei durante o percurso, sempre me mantiveram firme em busca da minha felicidade. Aos meus irmãos pelo incentivo, apoio, cuidado e inspiração por toda minha vida, e aos meus amigos pelo companheirismo. Agradeço aos professores que contribuíram para meu aprendizado e formação acadêmica, em especial a minha professora orientadora Dorieli Zuccoloto, pela seriedade perante o seu trabalho e toda paciência durante a criação deste estudo. Agradeço também a todos que fazem parte da minha instituição de ensino, aos colegas de turma e de estágio que tornaram esse período memorável e satisfatório. Por último, e mais importante, agradeço a Deus e o universo pelo dom da vida, por cada caminho trilhado, por todas as pedras e flores encontradas. Pela oportunidade de concluir este ciclo em minha vida, em que tive muitos aprendizados e evoluções.


RESUMO

O presente estudo trata-se de uma pesquisa exploratória que tem como objetivo, afirmar a Cenografia como forma de construção do espaço arquitetônico. Baseia-se em um estudo teórico sobre Cenografia, Arquitetura Efêmera e seus principais elementos em comum, que são analisados em espaços de entretenimento, a fim de firmar suas potencialidades e utilidades. Através do histórico e conceituação da Arquitetura Efêmera e da Cenografia, destaca-se suas similaridades. A capacidade de definir e conceituar espaços utilizando as relações sensoriais fica evidente entre os consensos. Desta relação, a compreensão dos elementos, cor, luz e som, comuns entre as áreas, que são os responsáveis pela interação corpo humanos e espaço é essencial. A partir da análise de aplicações dos consensos em espaços de entretenimento, é possível compreender a eficácia de transformação espacial e indução de sentimentos através da Cenografia e Arquitetura Efêmera e também, que essas áreas, abrangem proporções de construções muito diversas, o que destaca a importância da criação da Cenografia por um profissional qualificado- o Arquiteto.

Palavras-chave: cenografia; arquitetura efêmera; sensorial; cor; luz; som; evento.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Palácio de Cristal em Sydenham- 1854

07

Figura 2: Palácio de Cristal em Nova York -1854

07

Figura 3: Pavilion des Temps Nouveaux, 1937

08

Figura 4: Pavilion Philips, 1958.

08

Figura 5: Intervenção de Siza Vieira na Bienal de Veneza, 2012.

11

Figura 6: Intervenção de Siza Vieira na Bienal de Veneza, 2012.

12

Figura 7: Intervenção de Zaha Hadid na Bienal de Veneza, 2012

13

Figura 8: Exterior do Pavilhão da Serpentine Gallery 2010 por Jean Nouvel 14 Figura 9: Exterior do Pavilhão da Serpentine Gallery 2010 por Jean Nouvel

14

Figura 10: Cafeteria do Pavilhão da Serpentine Gallery 2010 por Jean Nouvel 15 Figura 11: Pavilhão da Serpentine Gallery 2011 por Peter Zumthor

16

Figura 12: Pavilhão da Serpentine Gallery 2011 por Peter Zumthor

16

Figura 13: Teatro Grego

19

Figura 14: Teatro Romano

20

Figura 15: O lugar teatral na Idade Média

20

Figura 16: : A sequência do filme Viagem á lua, George Méliés, 1914.

22

Figura 17: A cenografia televisiva.

23

Figura 18: Cenografia de palco no Tomorrowland

25

Figura 19: Cenografia além do teatro

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Figura 20: Cenografia aliada ao marketing de consumo

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Figura 21: Possibilidade cenográficas

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Figura 22: Espectro eletromagnético

35

Figura 23: A aplicação da luz em ambientes.

36

Figura 24: A luz como definidor de espaços

39

Figura 25: Instalação Breathing Light 2013 de James Turrel

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Figura 26: Instalação Shallow Space de James Turrel

40

Figura 27:Instalação Shallow Space de James Turrel

40

Figura 28:Espectro visível.

41

Figura 29: Comparação da cor aplicada no ambiente.

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Figura 30: A cor associada a cenografia do produto.

43

Figura 31: Cor como conceito para espaços lúdico.

44

Figura 32: Escritório Google

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Figura 33: Efeitos fisiológicos da cor- cores quentes

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Figura 34: Efeitos fisiológicos da cor- cores frias

46

Figura 35: Estrutura montada para o Espetáculo Varekai do Cirque du Soleil

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Figura 36: O espetáculo Vakekai.

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Figura 37: Ícaro ao cair do céu no espetáculo Varekai

55

Figura 38: Balé espetáculo Varekai.

55

Figura 39: Ícaro ao encontro da criatura mística.

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Figura 40: QR CODE Espetáculo Varekai

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Figura 41: Instalação com símbolo Rock in Rio.

57

Figura 42: A cidade do Rock no Rio de Janeiro.

59

Figura 43: Palco mundo Rock in Rio no Rio de Janeiro.

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Figura 44: Palco Rock Street Africa.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO

01

2. CONCEITOS: ARQUITETURA EFÊMERA E CENOGRAFIA

04

2.1

ARQUITETURA EFÊMERA

04

2.2

CENOGRAFIA

17

2.3

CONSTRUINDO CONSENSOS

29

3. ARQUITETURA E OS SENTIDOS: LUZ, COR E SOM NA CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO

31

3.1 LUZ

34

3.2 COR

40

3.3 SOM

47

4. APLICANDO CONCEITOS EM ESPAÇOS DE ENTRETENIMENTO

51

4.1

CIRC DU SOLEIL

52

4.2

ROCK IN RIO

57

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

62

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1.INTRODUÇÃO

A Cenografia, que tem origem no teatro, ao longo dos anos vem se adaptando às novas realidades e abrangendo novos mercados como afirma Mantovani, (1989). Essas mudanças, que provém do avanço tecnológico, hoje se devem às tendências capitalistas de consumo e as transformações ocorridas na sociedade. Esta sociedade que cada vez mais preza pela excitação do momento, por novidades aceleradas e cada dia mais por comunicação sensorial (COHEN, 2007). Assim como a Cenografia, a Arquitetura Efêmera também passou por diversas mudanças nas áreas de atuação. Essas começaram a se alinhar com a cenografia a partir da segunda metade do Séc. XX quando, com o intuito de criar a comunicação empresa/cliente através das exposições de produtos e países, o conjunto organizado de luz, som e imagens passou a compor o espaço dos eventos, o que gerou a demanda de interação e integração das percepções humanas em relação aos espaços e as sensações que eles passam para os espectadores. (MONASTÈRIO, 2006). Ambas as áreas, possuem caráter transitório, ou seja, que são criadas sabendo que terão um fim e utilizam elementos similares, muitas vezes com o mesmo objetivo de conceituar e definir espaços através do estímulo de sensações e percepções humanas. Essa observação fez com que houvesse análises e reflexões sobre materiais, espaços e formas importantes no desenvolvimento de construções para que atendesse novas necessidades rápidas e mutáveis, aproximando ainda mais as duas áreas em estudo. (MONASTÈRIO, 2006) A Cenografia cuja área de atuação que se define hoje como ato criativo, que alinhase a técnicas e teorias para organizar o espaço em prol da comunicação, utiliza-se das percepções humanas e elementos que fazem a interação corpo/espaço e é em diversos aspectos similar a arquitetura efêmera. O mercado cenográfico está em constante crescimento, mas devido às transições nas áreas de atuação é escassa a mão de obra qualificada e o mercado pedagógico para quem deseja se capacitar. Essa proximidade com a arquitetura conduz este trabalho de forma a aprofundar as 1


ligações de conceitos e áreas de atuação de ambas a fim de demonstrar a conexão entre a Cenografia e a Arquitetura e a necessidade de reafirmá-la como atividade em exercício dos profissionais habilitados - os arquitetos. (MANTOVANI 1989). Diante disto, este trabalho consiste em uma pesquisa sobre a Cenografia como forma de construção do espaço arquitetônico, abrangendo em específico o estudo dos principais elementos que constituem o espaço de entretenimento e a análise aplicada dos mesmos em ambientes contemporâneos. Para isso, relata-se o conceito e o histórico da cenografia e da arquitetura efêmera a fim de traçar seus consensos. Diante das similaridades, evidenciam-se as relações fisiológicas do corpo com o espaço, demonstrando assim como os sentidos, as sensações e as percepções atuam. E então, os elementos que são utilizados para criar essa conexão, a luz, a cor e som são estudados e exemplificados de forma que entendam-se suas características e suas capacidades de influenciar as percepções do ser humano e como aplicá-los. Para concluir as passagens conceituais demonstradas, analisa-se dois ambientes de entretenimento a fim de evidenciar na prática contemporânea o que foi estudado. A partir dessa demonstração do que será visto neste trabalho é possível compreender a importância do arquiteto como criador da cenografia. Isso é devido á as abrangências de áreas de estudos e conhecimentos que é necessário para a realização de uma boa Cenografia e também da Arquitetura Efêmera. Esse trabalho que tem como objetivo estabelecer e caracterizar a Cenografia como forma de construção do espaço arquitetônico, e para isso, tem-se como objetivos específicos: 

Conceituar a Arquitetura Efêmera e a Cenografia estabelecendo

relação entre seus elementos de construção; 

Compreender como os principais elementos em comum dessas áreas

impactam na percepção do ambiente; 

Estudar a aplicação dos elementos cenográficos e arquitetônicos em

espaço de entretenimento. 2


Visa responder essas questões a partir de uma bibliográfica exploratória qualitativa. Em uma primeira fase, a pesquisa direciona-se para uma abordagem mais geral, conceitual e histórica sobre a Cenografia e Arquitetura Efêmera, onde as teses de Carnide (2012),Monastério (2006) a dissertação de Cohen (2007) e o livro de Mantovani(1989) tornaram-se fundamentais para as conclusões e aproximações das duas áreas estudadas. De seguida, perante a necessidade de delimitação temática e fez-se a consulta de uma bibliografia mais específica e, portanto, mais reduzida sobre os elementos comuns entre Arquitetura Efêmera e Cenografia- a luz, a cor e o som. A análise bibliográfica incluiu livros, artigos e webpages em português e inglês. Para concluir, a análise dois ambientes de entretenimento a bibliografia deu-se principalmente a partir dos websites oficiais dos eventos e das análises do autor, que a partir de todo conteúdo estudado e desenvolvido para este trabalho e ao longo do percurso acadêmico do curso de Arquitetura e Urbanismo e nesse intervalo, a experiência direta de trabalho com cenografia e projetos audiovisuais ,vivenciando por 15 meses a luz, a cor, e o som em eventos, tornam-se agora, relevantes num processo de consolidação de ideias e desenvolvimento de um espírito crítico para realização das análises.

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2. CONCEITOS: ARQUITETURA EFÊMERA E CENOGRAFIA.

A Arquitetura Efêmera e a Cenografia, embora sejam antigas, passam por evoluções constantes e nessas transformações evidenciam-se suas similaridades nas atuações contemporâneas. Assim, para a realização deste estudo, suas conformidades precisam ser demonstradas e analisadas. E para relacionar as duas áreas de atuação é preciso primeiro, entender separadamente seus conceitos, históricos, aplicações e necessidades específica e posterior explanar suas relações através de exemplos.

2.1 ARQUITETURA EFÊMERA

Para atingir o objetivo de conceituar Arquitetura Efêmera é necessário inicialmente entender o sentido da palavra efêmero e sua ligação com Arquitetura. Diante disso, Monastério (2006) afirma que:

Conceituar o efêmero é uma tarefa difícil. O adjetivo provém de duas palavras gregas: epi (sobre) e n’nemera (dia). O efêmero pode ser visto como algo passageiro, transitório, ou que tem um curto tempo de existência. Mas, como definir algo como efêmero se nada é eterno? (MONASTÉRIO,2006, p.9)

De acordo com Carnide (2012), se entende como transitório aquilo que se desfaz dentro da escala humana de tempo, de modo perceptível. E o efémero pressupõe que sua temporária presença seja intensa e resistente, mas que diante de uma duração curta de existência a própria criação já admite seu fim. Ao encontro dessa ideia para exemplificar o sentido de efêmero, Monastério (2006) diz que um edifício pode ter duração maior que a vida do homem, mas mesmo assim será menos duradouro que o tempo da humanidade. Ainda completa que é necessário quantificar o sentido de efemeridade a partir da escala humana de tempo, já que este é um elemento ambíguo na qual não se é possível traduzir. Ou seja, entende-se 4


como transitório aquilo que se desfaz de modo perceptível, dentro da escala humana de tempo. Ao associar o conceito de efemeridade à Arquitetura, Paz (2008,p.43) afirma que: “Entendemos que quanto menor o tempo de estadia de uma construção no espaço, maior a sensação de sua efemeridade’’ Carnide (2012) completa afirmando que de certa forma, toda arquitetura é efêmera. Porém há obras mais efêmeras que as outras e o que as diferencia é a consciência do tempo de vida pré determinado. Ou seja, uma Arquitetura Efêmera é aquela que nasce para morrer, que tem um período de existência determinado. Complementarmente ao conceito de Arquitetura efêmera, Monastério (2006) afirma: A temporalidade torna-se visível na experiência do instante, pois a representação da sua presença tem lugar aqui e agora. É, então, nesta aceitação e numa certa ostentação de uma breve existência que se desenvolve a atratividade da arquitetura efémera, surgindo frequentemente associada a eventos ou inovações experimentais, usadas para testar processos e materiais. (MONASTÉRIO,2006, p.9)

Paz (2008) completa sobre o assunto ao dizer que o critério definidor da Arquitetura Efêmera não é o potencial de duração do objeto, mas sua durabilidade significativa no espaço, onde sua finalidade se faz mais importante que a permanência do objeto no local. Afirma ainda que esses precisam de fato, implicar mudanças no espaço de usos independente da sua capacidade arquitetônica. De acordo com essa ideia Monastério (2008) compreende que o efêmero está em tudo, o que importa é o motivo da existência, mesmo que por um curto período. Para compreender o que Paz relata é importante apresentar o histórico da Arquitetura Efêmera e onde é utilizada nos dias atuais com função de gerar mudanças no espaço. Bahamón (2004) citado por Miotto (2016) diz que Arquitetura Efêmera é utilizada desde o tempo das cavernas, e provém da necessidade humana de adaptação e mudanças. Foram as culturas nômades, povos que deslocavam-se pelos territórios em busca de alimentos, que construíram as primeiras tendas como local de moradia, pela facilidade de desmontagem e possibilidade de transporte deste tipo de abrigo. Romano (2013) complementa que as estruturas leves e

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flexíveis utilizadas pelos nômades, criadas para sobrevivência, deram origem às técnicas de construções atuais. Romano (2013) explica que essa Arquitetura criada na pré-história era formada basicamente por tendas que se diferenciavam pela estrutura e membrana da cobertura e que assim como os outros materiais que as constituíam, varia pela região na qual a tribo estava inserida. Mas na maioria das vezes, os materiais no qual era construídos os abrigos, eram peles de animais e armações de madeira. Afirma também que no Império Romano, foi desenvolvida uma estrutura semelhante as tendas, o Valariae. Uma cobertura retrátil de linho suspensa por cordas que eram presas a mastros de madeiras no exterior e no interior da edificação por um anel de corda na parte inferior. Essa estrutura era utilizada para eventos em espaços públicos, mas principalmente nos anfiteatros. (ROMANO, 2013) Outro tipo de tenda também foi desenvolvido nessa época, a chamada d´abri compostas por lonas presas ao solo e suspensa por mastros ancorados por estacas formando aberturas triangulares para o acesso. Essas serviam de abrigo para os exércitos em suas campanhas. Romano (2013), afirma também, que após o período Romano e antes do século XIX as tendas foram pouco desenvolvidas devido a falta de demanda e esse tipo de estrutura retorna com mais atividade no período industrial. O marco da evolução das estruturas também consideradas transitórias, deu-se na Revolução Industrial, conforme descrito por Monastério (2006). A Revolução Industrial foi grande impulsionador das feiras e exposições universais para exibição de produtos. Essas traziam novidades e modernidade e funcionavam como vitrine de inventos e mercadorias. Miotto (2016) completa essa ideia ao dizer que, as feiras proporcionam o aperfeiçoamento das estruturas com o emprego de novos materiais como o ferro, a gusa e o vidro já que seu caráter efêmero demandava materiais leves, com fácil montagem, armazenamento e transporte. Assim a temporalidade das edificações permitia o teste de materiais diferenciados e a criação de projetos não tradicionais para o período.

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Nessa época, a Inglaterra destacou-se na organização desses eventos. Foi em Londres em 1851 para a primeira exposição mundial que um dos ícones da arquitetura foi projetado. O Palácio de Cristal (figura 1) foi construído para que pudesse ser desmontado e reutilizado após a exposição. Tal arquitetura exibia a exuberância do império britânico e foi considerado um dos maiores edifícios préfabricados no mundo, que o tornou um marco para as feiras internacionais e ainda fez com que fosse remontado em Sydenham Hill, em 1852. E em 1854 (figura 2) tivesse uma releitura ainda maior em Nova York. (MONASTÉRIO, 2006) Figura 1: Palácio de Cristal em Sydenham- 1854

Fonte: Goessel and Leuthaauser (1996) apud Monastério (2006) Figura 2: Palácio de Cristal em Nova York -1854

Fonte: http://atlantic-cable.com//1858ny/ apud Monastério (2006)

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Nos anos de 1800 as exposições ainda eram raras, porém tornaram-se numerosas no final do mesmo século. O espírito competitivo de expositores e arquitetos influenciou para que a arquitetura de exibição e as feiras de negócios passassem a ser um meio de experimentação de novos materiais e projetos para o modernismo. Entre os ilustres arquitetos que contribuíram para este legado está Le Corbusier, que em 1937 desenha o Pavillon des Temps Nouveaux junto a Pierre Jeanneret, para a Exposição Mundial de Paris, (figura 3) que tinha como finalidade mostrar novas ideias da Arquitetura e do Urbanismo. (MONASTÉRIO, 2006) O pavilhão, que tinha cunho experimental, foi construído como uma tenda, da qual a estrutura metálica suportava uma lona. Mais tarde, Le Corbusier desenhou o Pavilion Philips (figura 4) para a Exposição Internacional de Bruxelas como um protótipo de forma desafiante e inovadora com estruturas suspensas por cabos que serviu de inspiração para diversos outros projetos, como afirma Carnide (2012). Figura 3: Pavilion des Temps Nouveaux, 1937.

Figura 4 : Pavilion Philips, 1958.

Fonte: http://www.fondationlecorbusier.fr/corbuweb/morpheus apud Carnide (2012)

De acordo com Romano (2013), com o passar do tempo, as edificações para exposições passaram a ter nova função. Expor atuando como estrutura de 8


apresentação, com materiais leves e ao mesmo tempo expor-se através da sua forma como meio de comunicação. Essa diferenciação tornou-se possível através da união de outros setores como artes plásticas, pedagogia, ciência, religião e etnologia que através de seus conhecimentos e públicos passam a ser o símbolo desses grandes eventos. Desse modo, Romano (2013) afirma que as exposições passaram a ter caráter mais informativo e lúdico e seu foco deixou de ser a competição das nações industrializadas. O autor aponta ainda que os eventos menos desenvolvidos passaram a se destacar por seus aspectos exóticos demonstrados nas edificações desenvolvidas. Utilizaram para isso, tecnologias como Steel Frame, projeções audiovisuais, estruturas pneumáticas e tensionadas além de sistemas de encaixe que possibilitam o desmembramento das estruturas para sua posterior reconstrução, como exemplifica Monastério (2006). Monastério (2006) relata que, na segunda metade do séc. XX , nas exposições, o marketing e a mídia introduzidos no espaços projetados influenciavam os espectadores diretamente, por fazê-los compreender o objeto criado como imagem da empresa, instituição ou país que representava. Surgia uma nova cultura de mercado e valor estético, que acentuou a comunicação expressiva, abrindo espaço para integração e interatividade entre os espectadores e as edificações criadas. Monastério (2006) ainda completa, que posteriormente, eventos efêmeros de caráter comercial passaram a comunicar experiências nas quais o público já não seria um mero espectador mas sim um participante ativo do espaço e da imagem. Em alguns casos saiam elementos tradicionais arquitetônicos em favor de um conjunto organizado de imagens, sons e luz. Esse novo modo de criação dos espaços efêmeros, fez com que o público e as empresas assumissem a importância, o fascínio e enxergá-los como um momento de encontro cultural. Essa excitação deu início a novas tecnologias de projetos e impulso do desenvolvimento de unidades móveis. Assim, essas construções temporárias passaram a

apresentar

variedades de desenhos em que a flexibilidade e a mobilidade trouxeram novas dimensões, possibilidades e criatividade aos projetos (MONASTÈRIO, 2006).

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Na sociedade contemporânea, as tendências capitalistas prevalecem e o intenso consumo é instigado pelo marketing e a publicidade. O entusiasmo pela novidade gerado pela satisfação da mentalidade supérflua, essa que é sustentada pela facilidade da troca e do descarte dos objetos, que diante dessa perspectiva tornamse rapidamente obsoleto, faz progredir a industrialização e a inovação tecnológica. Também provocam transformações no modo de agir e sentir de toda a sociedade. E inevitavelmente no espaço cultural e industrial (CARNIDE, 2012). Carnide (2012) diz que, na atmosfera cultural preza-se pela a excitação do momento e desenvolve-se de forma clara a comunicação sensorial. Desse modo, complementa ao dizer que na contemporaneidade a arte é construída e comunicada através de exposições públicas. Essa cultura, geradora de encontros sociais se faz notar em galerias, museus, projetos expositivos de arquitetura temporária. “ É nesse limiar entre arte e arquitetura que se insere uma via alternativa a construção tendencialmente perene: a arquitetura expositiva efêmera.” (CARNIDE, 2012,p.11). Como dito, a tendência do consumo rápido, trocas aceleradas favorecem soluções arquitetônicas de custo menos elevado e rápida execução. A intenção primária da arquitetura efêmera de apontar a vivência do instante, as experimentações plásticas, formais e sociais das intervenções, inspira estratégias de análise e reflexões sobre materiais, espaços e formas importantes no desenvolvimento da construção arquitetônica (CARNIDE, 2012). Se a arquitetura efêmera procura o êxtase do momento fazendo uso da sua liberdade experimental para desafiar e deslumbrar o utilizador, levanta-se a questão da sua materialização, para além de uma definição de espaço do contentor. (CARNIDE,2012, p.15)

Com isso, Carnide (2012) busca analisar a arquitetura efêmera para além de um espaço de encontro social, cujas exigências e técnicas os limitam a modelação do espaço formal. Mas sim, como uma obra que configura uma pura criação artística como elemento mutuamente de contemplação e definidor de espaços. Ao encontro dessa ideia, Monastério (2006) completa afirmando que é importante entender o espaço arquitetônico diante do ponto de vista da percepção sensível, em que elementos e experiências sensoriais proporcionam a relação íntima entre o 10


espaço e o visitante, no qual o espaço pode ser construído por elementos com características materiais e imateriais como por exemplo; luz, sombra, cor, vegetação, água, som, entre outros. Ainda afirma que, esses elementos efêmeros embora representem imaterialidade e instabilidades, podem transformar e definir espaços com eficácia. Carnide

(2012)

exemplifica maneira

Figura 5 : Intervenção de Siza Vieira na Bienal de Veneza, 2012

essa de

ver

arquitetura

a

efêmera,

expondo

alguns

exemplos. Iniciando pela peça

arquitetônica

de

Álvaro Siza Vieira no Giardino delle Vergini, na Bienal de Arquitetura em Veneza em 2012,

Fonte: Nico Saieh via Archidail,2012

(figura 5) no qual o arquiteto modela o espaço de jardins em uma pura criação artística através de muros e cores, criando zonas contemplativas de experiência emocional (figura 6). Figura 6 : Intervenção de Siza Vieira na Bienal de Veneza, 2012

Ao desenvolver novas configurações

em

torno das árvores e plantas dos jardins, apesar de não

existir

programa

um

concreto,

abstratamente pode-se dizer que o programa Fonte: Nico Saieh via Archidail,2012

se concretiza na própria escultura arquitetônica, tal como no espaço em que a peça configura, não deixando por isso de ser arquitetura. 11


Para demonstrar o exemplo seguinte, Carnide (2012) diz que, na área da intervenção efêmera que desafiam os tradicionais espaços arquitetônicos, surgem também atividades dentro de edifícios pré-existentes, esses através de elementos decorativos ou estruturais re-organizam e modelam o espaço interior trazendo novas qualidades sensíveis. Zaha Hadid também na Bienal de Arquitetura em Veneza em 2012 (figura 7) desenvolve um jogo de luz e sombra que definem a atmosfera sensível de toda a sala, através de uma composição de modelos abstratos suspensos ao nível do olhar dos visitantes. Essas peças, apresentadas como esculturas de contemplação, com o forte contraste preto e branco que as envolve, assim como o jogo de sombra que elas projetam, as transformam no fator caracterizador do espaço, pela forte experiência emocional que promovem. Ou seja, definem o espaço através do seu impacto visual e psicológico. Figura 7 : Intervenção de Zaha Hadid na Bienal de Veneza, 2012

Fonte: Iwan Baan via highendweekly.com, 2016

Ainda sobre os exemplos de intervenções arquitetônicas temporárias, Carnide (2012) relata sobre o programa da Serpentine Gallery, situada em Kensington Gardens em Londres. Este destaca-se pelo forte sentido experimental que promove formas ousadas que não seriam viáveis em edifícios permanentes. Esse evento tem sido palco para experimentações arquitetônicas assinadas por arquitetos de referência. 12


O Serpentine Gallery é um evento anual que acontece no verão Londrino. Com quase duas décadas de duração, tornou-se um dos momentos mais aguardados do ano pela comunidade de arquitetos global. A criação de pavilhões por arquitetos que ainda não construíram no Reino Unido oferece aos profissionais a oportunidade de mostrar seu trabalho e inovações arquitetônicas para todo o mundo (DOROTEO, 2016). A intervenção desenhada em 2010 por Jean Nouvel, em uma referência nostálgica das icônicas cabines britânicas tradicionais, apresenta um vermelho vivo que faz contraste com o verde do parque (figura 8). A cor intensa que fascina o observador, utilizada em toda edificação e iluminação, potencializa a temporalidade do projeto, já que dificilmente seria aceita em um edifício perene (figura 9). O arquiteto desenhou um sistema versátil que atende as necessidades momentâneas proporcionadas pela escolha dos materiais. O edifício foi construído com formas geométricas ousadas compostas por estruturas metálicas, tecido e policarbonato, materiais leves, que geram grandes toldos retráteis e uma parede autoportante (figura 10) ( CARNIDE, 2012). Figura 8 : Exterior do Pavilhão da Serpentine Gallery 2010 por Jean Nouvel

Fonte: Atelieres Jean Nouvel

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Figura 9 : Exterior do Pavilhão da Serpentine Gallery 2010 por Jean Nouvel

Fonte : Atelieres Jean Nouvel

Figura 10 : Cafeteria do Pavilhão da Serpentine Gallery 2010 por Jean Nouvel

Fonte : Atelieres Jean Nouvel

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Em 2012, o conceito de uma sala contemplativa de um jardim interno a um jardim foi apresentado por Peter Zumthor (figura 11) . Como um refúgio ao ruído e tráfego londrino, em um espaço interior onde se podia caminhar observar flores e sentar, o arquiteto tinha como objetivo mostrar um corpo físico e simultaneamente um objeto de experiência emocional (figura 12) . Ainda, procurou enfatizar, aspectos sensoriais e espirituais da experiência arquitetônica através da manipulação da luminosidade, sombras, escalas e a escolha minuciosa dos materiais. A construção foi feita a partir de armações leves de madeira, envolta com tecido e revestida com uma pasta preta misturada com areia ( CARNIDE, 2012).

Qualidade arquitetônica só pode significar que sou tocado por uma obra. (...) Entro num edifício, vejo um espaço e transmite-se uma atmosfera e numa fracção de segundos sinto o que é. A atmosfera comunica com a nossa percepção emocional, isto é, a percepção que funciona de forma instintiva e que o ser humano possui para sobreviver. ( CARNIDE, 2012, p. 19 apud ZUMTHOR, 2006,p.11)

Figura 11 : Pavilhão da Serpentine Gallery 2011 por Peter Zumthor

Fonte : Atelieres Water Herfst por Archidaily

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Figura 12 : Pavilhão da Serpentine Gallery 2011 por Peter Zumthor

Fonte : Atelieres Water Herfst por Archidaily

Carnide (2012) afirma que, os exemplos de projeto, mesmo com motivações distintas apresentam princípios projetuais semelhantes. Alcançam um teor experimental material distinto das obras construídas para permanecer, primam pela importância do elemento estrutural, abstrato e modular. As obras são marcadas por transmitir uma percepção

emocional proposta

pela

consciência

conceitual

comunicativa, que procura de forma direta controlar as emoções e o subconsciente do utilizador que são marcadas pela impressão do instante. De acordo com isso, segundo Carnide (2012) pode-se concluir que a Arquitetura Efêmera é uma a arquitetura condicionada pelo tempo da sua existência, mas igualmente geradora de espaços e formas assumindo as características do meio em que se insere. Mesmo com as diferentes maneiras de criação, interpretações e 16


configurações que sofreu ao longo dos tempos, é hoje, valorizada pelo seu carácter aberto e experimental. Principalmente em uma época em que a cultura e as exposições públicas e eventos possuem interesse em escala global. Carnide (2012) ainda completa afirmando que a sociedade atual é marcada por uma sobrevalorização dos valores económicos e por um ambiente de transitoriedade, onde a substituição material se dá a um ritmo acelerado devido às necessidades de rápido consumo e a arquitetura sofre uma metamorfose em direção a uma nova abordagem do projeto. Ou seja, a Arquitetura Efêmera é por consequência entendida como uma resposta a necessidades momentâneas. Apesar de se sobressair pelo caráter de experimentação formal e material, sendo então, também associada a eventos, o que materializa muitas destas ações, esta surge como uma obra de valor artístico potencializadora de encontros sociais, estimulando o diálogo e a reflexão. Numa atmosfera sensorial associada a uma composição espacial determinada, celebra o instante, como o testemunho da comunicação arquitetônica, o que se assemelha a cenografia.

2.2 CENOGRAFIA Assim como a Arquitetura Efêmera, a Cenografia está em constante evolução e ampliação das zonas de atuação, diante disso seus conceitos vêm se adaptando às novas realidades e formas na qual se insere. De acordo com Mantovani (1989),a cenografia é uma composição em espaço tridimensional que ela define como o lugar teatral. Também designa o lugar teatral como o lugar onde se estabelece a relação cena/público. Esse utiliza-se de elementos como cor, luz, formas, volumes e linhas, assim como a arquitetura efêmera. Por isso, nunca é demais frisar que cenografia não é decoração, nem composição de interiores; cenografia não é pintura nem escultura, é uma arte integrada. Nunca é demais repetir que cenografia é a composição resultante de um conjunto de cores, luz, formas, linhas e volumes equilibrados e harmônicos em seu todo e que criam movimentos e contrastes. Cenografia é um elemento do espetáculo ela não constitui um fim em si ( COHEN, 2007 p. 55 apud DIAS 1999).

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Rodrigues (2008) define a cenografia como uma manifestação espacial que se encontra no meio do caminho entre a arquitetura e arte. Cohen (2007) completa ao dizer que a cenografia como qualquer atividade artística, exprime um conjunto de ideias e emoções relativas e pessoais. E complementa essa definição ao citar:

[…]a boa cenografia é a que participa também da ação narrativa, que não apenas é algo externo a ação, decorativamente, mas que se identifica até com o estado psicológico dos personagens ou o ambiente da cena. Como o nome está dizendo, a cenografia é uma escritura da cena, é uma escritura não verbal, icônica, que deve imbricar-se nos demais elementos dramáticos, trágicos ou cômicos ( COHEN, 2007 p. 55 apud PIGNATARI 1984 p. 72).

Com isso, é possível afirmar que através de elementos artísticos que criam espaços tridimensionais compostos por personagens cheios de significado, a cenografia tem como objetivo transmitir uma mensagem a um público. Temos que começar a pensar em termos de cenografia não como uma “coisa”, mas como um conceito. A cenografia é um conceito, e é um conceito no território da linguagem, ou seja, a cenografia implica no conjunto de signos visuais que comunica alguma coisa aos espectadores, uma ideia, uma emoção, enfim, a cenografia tem o propósito da comunicação. ( COHEN, 2007 p. 60 apud MILLARÉ 2002 p. 39-40 ).

A cenografia existe desde o espetáculo teatral na Grécia Antiga, mas em cada época teve um significado diferente dependendo da proposta do espetáculo. Mesmo com as transformações, de acordo com a origem da palavra grega skénegraphein,( skéne, cena, graphein, desenhar, pintar, colorir), o termo cenografia era utilizado para designar os traços em perspectiva do espetáculo teatral ( MANTOVANI, 1989) . Mantovani (1989) relata que a origem do espaço teatral ocidental deu-se na Grécia. Com caráter religioso e sem distinção de público, eram construídos em pedras com formato concêntrico e circular. Sua estrutura era formada por,Orkhêstra, circulo central onde atuava o coro; Kôilon, lugar do espectador, anfiteatro que envolvia o circulo; Proskhênion, lugar onde atuavam os atores situado dentro do círculo central e a Skéne, uma parede maior que o diâmetro do círculo central, com entrada e saída dos atores(figura 13).

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Sobre a Skéne, a cena, Urssi (2006) explica que inicialmente era o local onde os atores trocavam o figurino, e tinha característica de uma tenda. Depois também passou a ser o local onde eram guardados os materiais cênicos. “O uso da Skéne como suporte pictório era evidente por ser o ponto focal da cena” ( URSSI, 2006, p.21). Figura 13 : Teatro Grego

Fonte: URSSI, 2006,p.21

Enquanto para os Gregos, o teatro era um local de reunião, para os Romanos servia para oferecer diversão para um grande público. Ricamente decorados, os teatros Romanos, eram dividido por classes sociais, onde os mais privilegiados ocupavam os melhores lugares e diferente dos Gregos, o teatro Romano perde seu caráter religioso conforme Mantovani (1989). Urssi (2006), completa afirmando que, a Orchestra transformou-se em semicírculo, o proscenium, tem sua fachada decorada com colunas, baixos relevos e estátuas. Agora, a cena é fechada e aberta por um pano de boca sustentado por um sistema de mastros com acionamento vertical (figura 14). A cena greco-romana tem as unidades de ação, lugar e tempo com características do espaço cênico. O desenvolvimento do espaço cênico grego ao romano, formalizou o edifício teatral. A skéne produzida transformou-se em um edifício construído e a orchestra deu lugar ao proscênio como lugar da ação teatral ( URSSI, 2006, p.28).

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Figura 14 : Teatro Romano

Fonte: URSSI, 2006,p.25

Na idade média, com intuito religioso, as cenas inicialmente aconteciam dentro das igrejas, confundindo-se com a liturgia na quais fiéis e atores participavam. As encenações foram ficando maiores e mais elaboradas até tomarem os espaços públicos. Os cenários efêmeros e com movimentações (figura 15), simulavam as paisagens, criavam novas possibilidades de cenários e locações mas principalmente passaram a revelar o vínculo da cenografia com o espírito do texto (URSSI, 2006). Seu sistema cênico era composto de diversos palcos, construídos em carros, plataformas e palcos de madeira onde os cenários eram montados em sequência conforme o conteúdo religioso de cada auto. As imagens bem como os cenários, eram o principal meio de informação para a abrangente população analfabeta medieval ( URSSI, 2006, p.26).

Figura 15 : O lugar teatral na Idade Média

20 Fonte: URSSI, 2006,p.27


A cenografia foi se desenvolvendo junto com o edifício teatral ao longo das décadas. Esses tiveram grandes influências dos pensamentos e artes Renascentistas e Barrocas. No primeiro caso, a redescoberta da perspectiva foi de extrema importância, a representação da terceira dimensão em um plano bidimensional trouxe a ilusão para os espectadores e uma nova forma de ver a relação homem e mundo, através das imensas pinturas de fundo do cenário. No Barroco, o edifício teatral e sua popularização, era também dividido por classes e passou a atender a necessidade de um público pagante. O palco passou a ter medidas mínimas para grandes espetáculos como a Opera. E é no teatro Italiano que nasce a caixa cênica (MANTOVANI, 1989). Em consonância com essa ideia, Urssi (2006) relata que, a boca de cena criada no Teatro Italiano, formava uma moldura de um quadro vivo. O teatro Italiano também resgatou o sistema de cortinas do teatro Romano e posteriormente com a inclusão da tecnologia naval , desenvolve-se a mecanização cênica renovando os efeitos ilusórios e uma nova forma de fazer cenografia. Com mudanças de cenários, textos abundantes e cheio de imaginação a nova forma do teatro junto às novas técnicas cenográficas rapidamente se espalharam pela Europa. Em meados do Séc. XX, a linguagem cenográfica começa a se deslocar para outras áreas de atuação. Essa mudança fica evidente devido a consolidação dos meios de comunicação a sofisticação dos novos recursos e as tecnologias disponíveis. Com isso outros meios de comunicação junto ao marketing comercial, por exemplo, também se apropriam dessa linguagem artística para vender ideias (COHEN, 2007). No cinema, foi possível criar efeitos que seria impossível no teatro. O movimento, trouxe a possibilidade de visualizar diversos ângulos no cenários, que com o auxílio da fotografia podiam então dispor de lugares naturais e com paisagens e construções reais. George Méliés, em meados de 1900 (figura 16) uniu truques de teatro com o cinema, pintando sobre as telas, isso proporcionou as primeiras cenas onde a câmera toma lugar do olhar do espectador e direciona o movimento que percorre toda a cenografia em diversos ângulos e distâncias (URSSI, 2006).

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Figura 16: A sequência do filme Viagem á lua, George Méliés, 1914.

Fonte: URSSI, 2006,p.58

Hamburger (2014) afirma que a cenografia cinematográfica tem características próprias, diferente do teatro em que o espectador tem um ponto fixo da cena e geralmente longe. No cinema essa relação com o espaço cênico é mutante, ampliando as relações espaciais e seus significados. Completa ao dizer que, a composição do espaço trabalha com diversos elementos combinados. O desenho do espaço define a disposição dos pontos de referência para a ação levando em conta os efeitos que se pode conseguir através do olhar da câmera. Consegue-se produzir diversos efeitos com a exploração da continuidade espacial e profundidade, relacionadas com a proporção do espaço e corpo através de perspectivas e também gerar diferentes atmosferas através do posicionamento de luz. Ainda, a geometria espacial é alinhada ao tratamento da cor e de texturas que junto com tons, intensidades e contraste são definidos de forma analitica e intuitiva de acordo com o objetivo do projeto (HAMBURGER, 2014). Na composição de cada de cada conjunto de elemento cenográfico, a comunicação de dados cognitivos soma-se a provocação de ordem emocional e sensorial ao espectador, além de construir a base estrutural para a construção das cenas pelo diretor, fotógrafo e pelos atores. A composição e caracterização do personagem dão se também pela visualização dos cenários no qual ele se insere. Por meio de elementos visuais definem-se os aspectos fundamentais para a compreensão de cada sujeito na trama, como posição social, estado civil, postura política e social, relações familiares, estados psicológicos e etc (Hambuerger, 2014, p. 14).

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O cinema abriu caminho para a cenografia televisiva que inicialmente não era valorizada nesse meio. Os primeiro cenários foram criados com a mesma linguagem do teatro e depois passou a utilizar uma linguagem cinematográfica. A linguagem cênica adaptou-se aos novos meios, adquiriu novas características como a separação do tempo e espaço. O ambiente televisivo passou a ser referência para tendências de artes visuais passando a ser um meio consagrado de comunicação. A cena televisiva brasileira teve destaque ao encontrar uma linguagem própria com a inauguração da Tv Excelsior em 1960 (URSSI, 2006). Urssi (2006), ainda sobre a cenografia televisiva, especificamente sobre a cenografia das telenovelas fala sobre como precisa trabalhar com estereótipos para passar uma mensagem, como a casa do rico, o bar da periferia, a rua, a cidade como um catálogo de estilos pré-determinados. E diz ainda que apesar da forte alusão ao teatro elas se diferenciam pela fragmentação dos espaços que é construída. Os espaços são projetados separadamente para que a câmera possa ter mobilidade da gravação das cenas e para essa movimentação, os espaços chegam a ser o dobro do utilizado para a cena em si (figura 17). Os cenários televisivos possuem marcações na diagonal para onde geralmente acontece a movimentação dos atores. A marcação de cena ideal de um ator é feito onde pode-se ser pego por duas câmeras, para criar maior interesse no espectador ao ter dois pontos de visões da cena ( URSSI, 2006). A cenografia tanto no cinema quanto na televisão solicita do cenógrafo um olhar conceitual atento, que entende-se de pequenos detalhes como o cenário de fundo como por exemplo, a cor do pires sobre a mesa até o pôr-do-sol ao fundo. Exige também do cenógrafo, as sensações abstratas que definem as cenas, como o clima do local e a sensação que quer transmitir ao espectador (COHEN 2007, apud THOMAS, 2002).

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Figura 17: A cenografia televisiva.

Fonte: URSSI, 2006,p.64

O cinema e a televisão, apesar de terem absorvido elementos de outros meios de comunicação como teatro e rádio, desenvolveram uma cenografia específica e assim uma identidade visual com características próprias. Por isso acabaram se distanciando conceitualmente dos outros meios e passaram a modular uma nova sociedade consumidora de mensagens audiovisuais (URSSI, 2007). A cenografia hoje é um ato criativo, aliado a conhecimento de técnicas e teorias específicas que tem o objetivo de organizar o lugar teatral para que nele se estabeleça a relação cena/ público (figura 18). O cenário torna-se produto desse ato criativo, precisa traduzir a intenção da mensagem a ser transmitida e ser adequada a proposta da concepção do espetáculo (teatral, cinematográfico, etc) (MANTOVANI 1989).

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Figura 16: Cenografia de palco no Tomorrowland.

Fonte: Pinterest

Mantovani(1989) explica que criar e projetar um cenário significa fazer cenografia. Desse modo, é preciso não haver dúvidas sobre os termos, cenografia e cenário. O cenário é o conjunto de diversos materiais, elementos e efeitos cênicos que servem para criar a realidade visual ou a atmosfera do local onde se passará a ação. E o cenário está inserido dentro da cenografia, que é um conceito abrangente do espaço do espetáculo de qualquer natureza (COHEN, 2007). Cohen (2007) afirma que, outros tipos de comunicação associados ao marketing comercial tornam-se mais evidente em nosso cotidiano ao se apropriar da linguagem cenográfica para vender suas ideias (figura 19). Esse deslocamento para além do teatro cria novas referências espaciais e seus reflexos sensoriais são percebidos com mais frequência no cotidiano. Ainda afirma, ao referenciar Thomas (2002), sobre a cenografia estar se expandindo no mundo da moda, dos shows dos clipes e nas montagens de exposição. Também vem se fazendo presente em trabalhos comerciais como vitrines, standes, montagens de passarelas e palcos.

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Figura 19: Cenografia além do teatro.

Fonte: Pinterest editado pelo autor.

Essa expansão segundo Cohen (2007) acontece devido a sociedade moderna de consumo, que é denominada de sociedade da performance, na qual tudo é pensado, idealizado e realizado na forma de espetáculo. Onde a cultura do consumo destacase por sua capacidade da construção de universos imaginários em torno das mercadorias e produtos através da criação de ambientes de consumos cativantes, fascinantes e sedutores (figura 20). Desse modo, a cenografia com suas técnicas de representação de realidades e sonhos sejam reconhecidas na atualidade como ferramenta comunicativa para o consumo. 26


Figura 20: Cenografia aliada ao marketing de consumo

Fonte:Pinterest editado pelo autor.

Desse modo, (Cohen, 2007) relata que hoje a cenografia se divide em dois grupos de atuação. O mercado consumidor dos mais diversos bens e novidades. E a consolidada cenografia como forma de linguagem da comunicação investidas de autenticidade plástica, cujos atributos cenográficos são desenvolvidos através de uma narrativa que atendem a múltiplas dramaturgias. Desse modo, ainda divide-se em 4 grupos de ação como mostrado na figura 21. 27


Figura 21: Possibilidade cenográficas

Fonte: COHEN,2007 p. 82

Existe ainda, uma categoria de espaços de consumo cujo produto associado é o lazer, que são os parques lúdicos e temáticos. Este que também são exemplos de uso da cenografia e de uma categoria que podemos qualificar como cenografia indireta, formada pelas atividades complementares que fazem parte do conceito, como figurinos, maquiagem, programação visual dentre outros (COHEN, 2007). O segmento de espaço comercial, grupo 4 demonstrado na figura 17 é o que mais vem se desenvolvendo nos dias atuais e o universo de eventos e festas é o que possui caráter mais efêmero. É uma área bem ampla, que pode variar desde um lounge de patrocinador dentro da São Paulo Fashion Week, casamentos e festas de lançamentos até camarotes temáticos no sambódromo no Carnaval do Rio de Janeiro e o Rock in Rio, por exemplo. De qualquer forma, o sucesso dos eventos está relacionado com o envolvimento do público no projeto e na cenografia, que nesse caso se caracterizam como formadores de opinião, tendências e modismo. Na maioria desses casos a cenografia implica em caráter operacional em detrimento de questões visuais que muitas vezes são resolvidas com efeitos de iluminação e sonorização. (COHEN, 2007).

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Cohen (2007) afirma ainda que a cenografia hoje, depois de sua trajetória em direção a novos espaços de atuação que transcendem os espaços teatrais é consolidada como linguagem artística. Possui objetivo de passar uma mensagem a vários tipos de plateias e é reconhecida como importante ferramenta nos processos comunicativos na cultura de consumo. O autor ainda completa ao dizer que apesar de no Brasil, a deficiência de formação de nível técnico e superior para quem deseja ingressar nesse mercado de trabalho e também para quem já atua e quer se qualificar seja existente, a área continua em expansão e as novas frentes de atuação chegam de forma rápida com qualificação profissional de outros segmentos como arquitetura, por exemplo. Essa expansão torna-se compreensível visto que a Cenografia possui qualidades de representação da realidade e dos sonhos, reconhecida como ferramenta comunicativa em uma sociedade com intenso consumo de bens materiais e símbolos, sejam de conceitos, lazer e cultura ou ainda de estado de prazer. Diante disso, fica clara a necessidade do conhecimento sobre a cenografia, suas áreas de atuação e seus elementos.

2.3. CONSTRUINDO CONSENSOS: RELAÇÃO ARQUITETURA EFÊMERA E CENOGRAFIA.

ENTRE

Visto que ao longo de suas histórias, a Arquitetura Efêmera e a Cenografia passaram por diversas mudanças e evoluções na forma de atuação, aproximandoas da comunicação sensorial. Dessa forma, ambas utilizam elementos similares, muitas vezes com o mesmo objetivo de conceituar e definir espaços através do estímulo de sensações e percepções humanas. Como apresentado, tanto a Cenografia como a Arquitetura Efêmera, possuem caráter transitório, ou seja, são criadas com prazo estabelecido para seu fim. A experiência do instante, gerada pela temporalidade tornam essas áreas atrativas, devido a possibilidade de inovações, demonstrando até certa ostentação, o que as associam a eventos e entretenimento (MONASTÉRIO, 2006). Na Arquitetura Efêmera, a necessidade percebida na Segunda metade do Séc. XX de criar a comunicação empresa/cliente através das exposições trouxe para essa 29


área a demanda de interação e integração com os espaços e as sensações que ele passa para os espectadores. Para que isso acontecesse, o conjunto organizados de luz, som e imagens passaram a compor o espaço com o intuito de comunicar (MONASTÉRIO, 2006). Assim como Arquitetura Efêmera, que cria espaços com necessidade de transmitir mensagens e sensações, a cenografia também possui esse objetivo. A Cenografia é a composição resultante de um conjunto de cores, luz, formas, linhas e volumes equilibrados criando movimentos e contrastes, é um conceito com propósito de comunicação como dito. Essas duas áreas, na sociedade contemporânea, se desenvolveram e abrangeram novos mercados através das tendências capitalistas, o consumo instigado pelo marketing, publicidade e as mudanças culturais da sociedade que passaram a prezar pela excitação do momento e, como consequência, a comunicação sensorial. Isso fez com que houvesse análises e reflexões sobre materiais, espaços e formas importantes no desenvolvimento de construções para que atendesse essas necessidades rápidas e mutáveis, aproximando ainda mais as duas áreas em estudo. O que levou-as a atuarem em conjuntos em inúmeras ocasiões tornando-as complementares, sempre buscando entre a arte e arquitetura a melhor forma de definir os espaços a partir das percepções humanas, e que seus elementos, principalmente a luz a cor e o som possuam uma relação interativa com os visitantes.

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3. ARQUITETURA E OS SENTIDOS: LUZ, COR E SOM NA CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO A partir do entendimento de que a Arquitetura Efêmera e a Cenografia utilizam-se das percepções humanas para impactar e comunicar, é preciso entender como alguns dos principais elementos utilizados nessa interação funcionam e relacionamse com o corpo humano e sua impressão do ambiente construído. A conexão da arquitetura a diversas áreas de conhecimento como exatas, humanas e artes, que envolvem aspectos como estética, bem estar, harmonia e criatividade, demonstram a intimidade na ligação dos sentidos humano com a arquitetura. Para entender a fundo essa conexão é preciso analisar de forma separada esses elementos e incialmente a interação do corpo com a arquitetura. Leme (2013), afirma que a arquitetura é toda e qualquer intervenção no meio ambiente criando novos espaços, quase sempre com intenções plásticas para atender a alguma necessidade. Desse modo, destaca- se a definição de arquitetura através da criação do espaço mas, além disso, é a interação do homem com o ambiente projetado, como expõe Zevi (2002),

ao dizer que o conteúdo da

arquitetura provém das ações físicas, psicológicas e espirituais do homem que vivem no espaço, sendo o espaço construído pelas pessoas e para as pessoas com a intenção de adequá-los às utilizações. Neste mesmo sentido, Pallasmaa (2011) afirma que, nossos corpos estão em constante interação com o ambiente e as experiências sensoriais fazem parte do ser humano. O autor ainda conclui que uma obra arquitetônica tem presença material e espiritual corporificada, por unir e infundir estruturas físicas e mentais, reforçando a identidade pessoal que permite nos envolver totalmente nas dimensões mentais de sonhos, imaginações e desejo. Para compreender de fato a ligação arquitetura e corpo humano é preciso conhecer sobre os processos fisiológicos que envolvem a ligação homem e planejamento espacial. Desse modo, os cinco sentidos humanos são responsáveis pela interação homem-espaço, já que conectam o meio externo ao sistema cognitivo. Esses sentidos presentes no corpo humano, - visão, audição, tato, paladar e olfato estabelecem as funções que propiciam relacionamento do corpo com o meio 31


ambiente, relação essencial para a sobrevivência do indivíduo. O corpo humano possui receptores sensoriais altamente especializados capazes de captar diversos estímulos. Esses receptores são formados por células nervosas capazes de traduzir esses estímulos em impulsos nervosos que serão processados no sistema nervoso produzindo uma resposta, voluntária ou involuntária (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2011). Os sentidos agem em grupo, basta acionar um que os outros também respondem. Nosso cérebro utiliza todas as percepções para criar um cenário mental da situação, como por exemplo, ao olhar um abacaxi, você sente a textura espinhenta da fruta, enquanto mentalmente é capaz de sentir seu cheiro e o sabor doce e ácido. Para entender essa situação, primeiro é preciso diferenciar sensação de percepção. Apesar de serem processos complementares, são diferentes. A sensação é quando os sentidos são acionados, recebem um estímulo, por exemplo, as ondas sonoras atingem o aparelho auditivo, fazem o tímpano vibrar e, na forma de impulsos elétricos, são levadas pelo nervo auditivo até o cérebro (AXT, 2005). A partir do momento em que as informações começam a ser analisadas pelos processos neurológicos, inicia-se a percepção. Nossos sentidos estão sempre ligados, mas as percepções variam conforme a experiência. A percepção pode ficar temporariamente desligada, como em momentos que em algum lugar barulhento, conseguimos prestar atenção somente na conversa na qual nos interessa (AXT, 2005). Na arquitetura, é comum expressarmos as percepções e induzi-las de forma positivas através dos conceitos de conforto, termo subjetivo mas que se classifica como uma experiência agradável ou sensação de prazer. O conforto está relacionado a questões psicológicas de identificação e satisfação com o local, assim como a condições físicas de temperatura, umidade, ventilação, iluminação e acústica (FREITAS, 2005). Nesse sentido, Rocha diz que: O conforto, apesar de ser uma palavra aparentemente simples, é bem mais complexa. A gente tem o conforto físico, o conforto mental e um conforto espiritual. É a composição desses três em conjunto com toda a sensibilidade, a função, o biótipo e outras características físicas da experiência que vocë tem durante toda sua vida que te dão a percepção de conforto (ROCHA, 2016,p. 24).

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Ou seja, o conforto está intimamente ligado a capacidade de percepção do ser humano com as características físicas do local em que está inserido. Como afirma Rocha (2016),o conforto é o conjunto da percepção física e psicológica de todos os sentidos, integrando o corpo em relação aos ambientes, espaços e objetos. Complementando esse pensamento, Monastério (2006) relata a importância em entender o lugar do ponto de vista das experiências sensoriais, por essas proporcionarem uma relação mais íntima entre o espaço e o visitante. Os componentes sensoriais e imateriais da arquitetura estão em constante adaptação como, luz, sombra, cor e som. Estes podem definir e transformar o espaço com eficácia, tanto quanto uma barreira material. A cor e a iluminação podem ser elementos importantes para a transformação do lugar, gerando emoções e percepções diferenciadas de acordo com suas tonalidades e aplicações. Para Pallasmaa (2011),percepção, memória e imaginação estão em interação constante projetando próprias emoções e produtos mentais das percepções sobre a obra. Diante disso, considera-se que a capacidade de transformar o espaço, gera novas percepções e emoções para cada indivíduo que se fez presente, fugindo da monotonia e trazendo mais interação e incentivo ao usuário a viverem outros tipos de experiências ao retornar no lugar, agora novo. A realização dessas mudanças podem ser implementadas de forma simples. Desse modo, um espaço modificado com instalações efêmeras, direcionadas a incitar as percepções e sentidos humanos, como a arquitetura efêmera e a cenografia, mostra para cada participante uma visão individual das obras presentes, tendo em vista que cada emoção, sensação e visão tornam- se diferentes para cada corpo humano ao ter contato com a arte e com o espaço projetado para os visitantes. As sensações de conforto e desconforto, arranjos de cores, luzes e sons de formas diferentes das convencionais que por meio de instalações modificam as percepções do lugar podem fazer os participantes descobrirem sentimentos diferentes do que estão acostumados. De fato, é por meio do corpo humano, que torna-se possível sentir e entender tudo que está ao nosso redor, as experiências sensoriais relacionam-se com o corpo, e esse está em constante interação com o ambiente é o que diz Pallasmaa (2011), que completa: 33


Qualquer lugar pode ser, em parte por ser lembrado único, mas também por ter afetado nossos corpos e produzido associações suficientes para que fosse impresso em nossos mundos pessoais. (PALLASMA, 2011, p.20)

Ainda, para Pallasmaa (2011), tem-se a capacidade de lembrar e imaginar o lugar através da percepção, que ao unir-se a memória e imaginação produz emoção. Para realizar essas tarefas, o ser humano precisa de estímulos que são captados pelos sentidos humanos. Ou seja, é necessário criar emoções e sentimentos e para isso estudar os elementos que serão utilizados para realizar tal feito, sendo eles a cor, luz e som.

3.1 LUZ

Para as pessoas sem deficiência visual, a maior parte da percepção é através da visão. Desse modo, a cor e a luz também são atributos importantes nesta relação. Pode-se utilizá-las com diversos fins: para favorecer desempenho, relaxamento, trazer harmonia para os espaços e influenciar no bem estar do usuário. Para isso, entender sua origem e seu funcionamento são importantes para compreendê-la como elemento arquitetônico e cenográfico de influência na percepção do ambiente (LIMA, 2010). Segundo Lima (2010), a luz é parte de um fenômeno ondulatório chamado radiação, que possui espectro formado por ondas eletromagnéticas que se diferenciam entre si pela frequência que propagam, como por exemplo, ondas de rádio, micro-ondas, radiação infravermelha, ultravioleta. De todo espectro, o ser humano só é capaz de identificar uma faixa chamada luz visível (figura 22). Essa estreita faixa é composta por diversas outras, cada uma dessas outras faixas correspondem a uma impressão de cor: vermelho, amarelo, azul, violeta e cada cor correspondem a um comprimento de onda determinado.

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As cores mais quentes tem menor comprimento de onda e são associadas ao fogo e as mais frias (verde ao violeta) maior comprimento de onda, são associadas ao frio e água, teoria criada pelo psicólogo Whilhelme Wundt (1832-1920), que também afirma que cada comprimento pode ser considerado com uma cor primária, que dá origem a todas as outras (LIMA,2010). Figura 22: Espectro eletromagnético

Fonte: todamateria.com

É importante considerar a relação da luz com as pessoas, diante disso Martins (2008), considera que a iluminação é artifício importante para o estímulo no ambiente e pode ser aplicada de forma natural ou artificial. A luz possui capacidade de transformar a maneira que é percebido o espaço, destacando formas e texturas (figura 23). As tonalidades aplicadas enfatizam os estímulos corporais, como por exemplo, trazer aconchego, tranquilidade ou excitação.

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Figura 23: A aplicação da luz em ambientes.

Fonte: Pinterest editado pelo autor.

Ainda é possível modificar a visão e sensação do espaço através da iluminação, é o que afirma Lima (2010) ao dizer que a luz se tornou um artifício para os arquitetos quando se quer definir espaços, enfatizar volumes, criar atmosferas e transmitir mensagens. O autor admite, contudo, que é preciso ter uma consciência total do ambiente, para que se possa integrar técnica e criatividade, ou seja, saber o tipo de mobiliários, detalhes das estruturas, características do edifício e grau de reflexão dos materiais, por exemplo, para que as formas espaciais, modulações e subdivisões possam transmitir o efeito desejado por meio da luz (figura 24).

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Figura 24 : A luz como definidor de espaços

Fonte: Pinterest editado pelo autor.

A especialidade de um ambiente está muito relacionada com a iluminação. A luz natural é efêmera, sempre se altera, devido a posição solar e suas intensidades durante o dia. Isso a torna totalmente diferente da luz artificial, que é fixada em um local e não tem alteração. A principal função da iluminação artificial é a possibilidade da extensão da luz natural, tornando possível a realização de tarefas noturnas, ou auxiliar local com baixa iluminação natural (APEZZATO,2016). Segundo Lima (2010) foi o lighting designer Willian Lam (1992) quem constatou que a iluminação influencia de forma consciente e inconsciente o ser humano. Para 37


exemplificar essa relação entre ser humano e iluminação , a dividiu em três grupos de acordo com as funções de interação com o corpo humano. O primeiro grupo trata-se da realização de atividades, como por exemplo, a luz é necessária para a leitura de um livro durante a noite. Já o segundo grupo, é voltado para as necessidades biológicas, que estão associadas às percepções inconscientes, essas estão ligadas ao conforto que por sí liga-se às emoções e bem estar. E o terceiro grupo, trata-se da comunicação e privacidade gerada pela iluminação na qual podese definir espaços, caminhos e localizações (LIMA, 2010). Apezzatto (2016), de acordo com essa ideia complementa classificando a iluminação em três categorias: Iluminação ambiente, iluminação funcional e iluminação de destaque. A iluminação ambiente, que é uma iluminação difusa, ou seja, ilumina de forma geral todas as partes do ambiente e pode ser feita de forma direta ou indireta. A iluminação funcional, que tem ligação com alguma função específica como, área de trabalho. São mais direcionais para esses trabalhos que precisam de mais iluminação. Já a iluminação de destaque, considerada de duas maneiras, uma em que a luz seja o destaque, como forma decorativa. E outra onde a luz é elemento para destacar algum objeto específico. No campo artístico, a iluminação vem sendo utilizada como instalação, que de acordo com Apezzatto (2016), é definido como toda obra que, de alguma forma, explore a articulação envolvendo o espectador por sua presença corporal e sinestésica. Ligadas às pessoas e às percepções, as instalações provocam sensações, sendo boas ou ruim, em que cada pessoa tem sua própria experiência que é alterada principalmente pela sua memória e vivência ligada aquele tipo de situação. Pioneiro da Ligh Art, movimento que surgiu nos EUA nos anos de 1960, James Turrell é referência no segmento de iluminação artística recebendo diversos prêmios de arte e arquitetura. Formado em psicologia da percepção, o artista inovou ao explorar a imaterialidade da luz através de blocos cromáticos abstratos (figura 25) que nos permitem “sentir a luz fisicamente”, conforme define o próprio artista (VOGUE,2013). De acordo com Turrel (2018), por mais de meio século, o artista americano trabalhou diretamente com a luz e o espaço para criar obras de arte que envolvem espectadores com os limites e as maravilhas da percepção humana. 38


Figura 25: Instalação Breathing Light 2013 de James Turrel

Fonte: James Turrel oficial,2018

Trabalhando apenas com luz, Turrell diz:

Meu trabalho não tem objeto, sem imagem e sem foco. Sem objeto, sem imagem e sem foco, o que você está olhando? Você está olhando para você olhando. O que é importante para mim é criar uma experiência de pensamento sem palavras. (TURREL,2018 )

Sua maior preocupação era de criar sensações de algo presente no espaço, como um objeto, uma entidade presente ali. Prezava a relação exterior e interior sempre tendo influências da luz natural. Em suas diversas obras, Turrel criou impressões de objetos flutuantes, com massa e peso feitos apenas de luz, criou ilusão de frestas nas paredes (figura 26 ), mudando a percepção de profundidade do observador em relação a sua obra, criando espaços tridimensionais através a diferenciação da cor da luz. Sua especialidade é criar a sensação de espacialidade, de que a pessoa flutua em meio a luz e cor de forma homogênea no espaço (APEZZATTO, 2016).

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Figura 26: Instalação Shallow Space de James Turrel

Fonte: James Turrel oficial, 2018

As instalações utilizam-se da iluminação, que podem instigar a imaginação dos visitantes, criando uma nova atmosfera perceptiva dos espaços. Isso acontece porque a luz, sendo ela natural ou artificial é crucial para as atividades humanas por agir nos aspectos racionais, emocionais e comunicativos da inteligência. Por isso, para criar os efeitos e induzir as sensações desejadas na Cenografia e na Arquitetura Efêmera, a luz é indispensável. Muitas vezes, une-se a cor para atingir os objetivos desejados.

3.2 COR

Quando se ouve dizer que cor é luz é porque, como dito, o ser humano só é capaz de identificar uma faixa em todo espectro luminoso, a chamada luz visível. Essa estreita faixa é composta por diversas outras, que correspondem a uma impressão 40


de cor: vermelho, amarelo, azul, violeta; e cada cor corresponde a um comprimento de onda determinado (figura 28). Martins (2008) diz que, as sensações podem ser estimuladas pelas cores, e compreende que o funcionamento do nosso organismo é diretamente influenciado pela aplicação das cores no dia a dia. Cada cor possui um significado, em exemplo o verde que simboliza harmonia e equilíbrio. Entretanto, cada cor tem suas afinidades com determinadas emoções e oferecem muitas leituras visuais.

Figura 28: Espectro visível.

Fonte: filofima.com.br

Fonseca (2002) diz que as cores quentes, como o vermelho, amarelo e laranja, são assim consideradas por causarem aceleração dos batimentos cardíacos e elevação da pressão arterial de quem está exposto a elas. Por isso, estão associadas à atividade de alerta e excitação como restaurantes, Ao contrário, as cores frias, como o azul e o verde, são capazes de diminuir a aceleração dos batimentos cardíacos e pressão arterial, estando associadas às sensações de relaxamento (figura 29). Com isso, pode-se influenciar diretamente nas sensações e percepções

dos

usuários, lhes causando propositalmente essas condições.

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Figura 29: Comparação da cor aplicada no ambiente.

Fonte: Pinterest editado pelo autor.

Fonseca (2002), ainda define que, as cores claras tendem a trazer amplitude, e as escuras fazem o contrário, diminuem o ambiente. Superfícies pintadas de cores claras expandem, logo parecem mais afastadas do observador, do mesmo modo, as escuras passam a sensação de avançarem até o observador. Para Martins (2008), ao escolher uma cor, a primeira consideração a ser pensada é a função do espaço. Cores como o vermelho tendem a trazer excitação e por isso devem ser utilizadas em ambientes de curta permanência porque sua exposição prolongada pode ocasionar irritabilidade. Um exemplo da utilização correta das cores é visualizado na figura anterior (figura 30), que são os fast foods, que utilizam 42


as cores quentes de forma adequada a finalidade do espaço, já que elas favorecem rotatividade de clientes. Nesse mesmo contexto, em um evento, se deve considerar a função do evento, e o que se quer transmitir. No caso de uma conferência para lançamento de produto, a cor do produto fica em evidência, assim como em ambientes de patrocínio e venda de produtos energéticos, por exemplo, cores escuras e vibrantes criam a sensação de agitação e entusiasmo, o que fazem as pessoas sentirem vontade de consumir o produto. Figura 30: A cor associada a cenografia do produto.

Fonte: Pinterest editado pelo autor.

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Nesse mesmo sentido, também podemos observar espaços com caráter lúdico que utilizam diversas cores como instrumento para criar uma atmosfera divertida e descontraída como conceito (figura 31). Como por exemplo, espaços para recreação de crianças, sorveterias, coworkings e escritórios contemporâneos que utilizam dessas estratégias para transformar o espaço de trabalho em um ambiente mais produtivo, comunicativo e criativo (figura 32). Figura 31: Cor como conceito para espaços lúdicos.

Fonte: Pinterest editado pelo autor.

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Figura 32: Escritório Google.

Fonte: Pinterest.

A cor atua como fenômeno mental, ou seja, ocorre a atuação dos raios coloridos sob nosso subconsciente. As cores nos tocam de forma particular, porque cada um de nós possui uma ressonância própria, mas também nos falam como uma linguagem universal. Com exceção do branco e do preto, as outras cores revivem nos nosso inconsciente os elementos ar, água, fogo e terra. Os fenômenos coloridos exercem na vida cotidiana uma influência inconsciente sobre o comportamento humano; a escolha

das

cores

se

faz

intuitivamente

sem

passar

pelo

consciente

(RAMBAUSKE,2017). O papel psicológico da cor implica, pois, num estudo aprofundado e deve ter em conta a linguagem das cores, as preferências estéticas ou afetivas, os simbolismos. Frente às cores, os indivíduos manifestam suas reações de aceitação, indiferença ou repulsa; os psicólogos se servem deste método de análise para os problemas de origem psíquica. (Rambauske,2017 p. 130)

Rambauske (2017) relata os efeitos fisiológicos e psicológicos das cores e detalha estas de acordo com cada faixa de cor colorida do espectro como pode-se observar nas figura 33 e 34 . 45


Figura 33: Efeitos fisiológicos da cor – cores quentes

Fonte: Imagem desenvolvida pelo autor com referência à Rambauske (2017) Figura 34: Efeitos fisiológicos da cor – cores frias

Fonte: Imagem desenvolvida pelo autor com referência à Rambauske (2017)

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Depois dessas informações entende-se que de fato as cores influenciam e atuam diretamente no corpo humano. Por isso é um importante elemento para a Cenografia e para a Arquitetura Efêmera, além de sua versatilidade, os efeitos fisiológicos, permitem criar atmosfera, conceitos e transmitir mensagens através de percepções e sensações, e ao uni-la a outros elementos como o som, o objetivo de comunicar é atingido com convicção.

3.3 SOM

Diferente da cor e da luz que são elementos visuais e por isso permite-se desligar, com o som isso não acontece, porque a audição é um sentido que está sempre em contato com os acontecimentos ao redor. A visão é direcional, enquanto a audição recebe os sons de forma radial. A audição estrutura e articula a experiência e o entendimento do espaço. Na maioria das vezes, não percebe-se a importância do som na percepção espacial, mesmo que muitas vezes o som complemente a sensação de temporalidade causada pela visão. Se analisar um filme, por exemplo, e remover à trilha sonora as cenas perdem a continuidade, a plasticidade e o tempo de vida (PALLASMA,2011). Para entender a forma em que intuitivamente o som faz parte presente das percepções humanas de forma considerável, tornando possível a noção do espaço, suas dimensões e também de criar sensações de pertencimento, Pallasma (2011) diz que: A visão é o sentido do observador solitário, enquanto a audição cria um sentido de conexão e solidariedade; nosso olhar perambula solitário nos vãos escuros de uma catedral, mas os sons dos órgãos nos fazem sentir imediatamente nossa afinidade com o espaço. Fitamos isolados os momentos de suspense de um filme, mas o irromper de aplausos após o relaxamento desses momentos tensos no unem a multidão. O som dos sinos de uma igreja que ecoa pelas ruas de uma cidade nos faz sentir nossa urbanidade. O eco dos passos sobre uma rua pavimentada tem uma carga emocional, pois o som que reverbera nos muros do entorno nos põe em interação direta com o espaço; o som mede o espaço e torna sua escala compreensível. Acariciamos os limites do espaço com nossos ouvidos. Os gritos das gaivotas de um porto nos fazem cientes da imensidão do oceano e da infinidade do horizonte. (PALLASMA, 2011,p.48)

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Complementarmente, Loureiro (2013) relata que a relação entre o som é o espaço é essencial para na percepção do homem em relação ao espaço, uma vez que o som vincula o homem ao local e ao tempo em que esta. O som tem características espaciais que permitem que ele penetre e permeie o espaço, ocupe e preencha o espaço. O autor ainda afirma que o som é imersivo, pelo poder de nos colocar no meio das coisas, diferente da visão que nos coloca a frente delas. Por ora, o som pode ser totalmente perceptível e desconfortável aos humanos. A exposição contínua a alto nível de decibéis pode causar desconforto ao usuário, e problemas de saúde. Isso por que o som é uma onda sonora com uma oscilação espacial que é caracterizada por três elementos, a frequência, a intensidade e o timbre. A frequência é o número de oscilações por segundo do movimento vibratório do som. O ouvido humano pode detectar frequências na faixa entre 20Hz e 20.000Hz. A Intensidade em acústica refere-se à percepção da amplitude da onda sonora, também é chamada de volume ou pressão sonora. E o timbre é determinado pelo número e intensidade da composição harmônica da onda sonora o que permite reconhecer sua fonte geradora, sendo ela qual for (ROSA, 2007). Desse modo, o ouvido humano codifica as informações contidas no som para serem interpretadas pelo cérebro, podendo distinguir 400.000 sons diferentes. Alguns deles como os ruídos, definidos como um tipo de som desagradável, que causa desconforto para os seres humanos, possui grande influência no dia a dia e na saúde das pessoas. Eles causam diversos efeitos aos homens, que vão desde a perda de concentração, stress, falta de sono, desconforto, até a perda gradativa da audição, dependendo à que nível e tempo for exposta (ROSA, 2007). Ao pensar em um espaço de eventos, por exemplo, imergir os participantes de forma confortável e que consiga transmitir a informação desejada de forma clara é de extrema importância para o sucesso do acontecimento. Desta forma, se opondo aos efeitos sonoros causadas pelos ruídos, o conforto acústico é a sensação de bem estar relacionada aos níveis sonoros. E a acústica arquitetônica promove tratamentos adequados ao ambiente á titulo de obter boas condições de audibilidade, logo o conforto acústico (ROSA, 2007). Diante disso, Cazeloto (2003) afirma que é preciso diferenciar dois fatores importantes quando se tratam de acústica de ambientes, o isolamento acústico e o 48


condicionamento acústico. O isolamento acústico é um processo pelo qual se preocupa em proporcionar a um espaço condições que permitam a boa audição às pessoas presentes no mesmo ou a finalidade a qual está destinada, sem que haja interferências de ruídos externos e nem que os ruídos internos sejam expostos para além do ambiente. Em um projeto acústico o primeiro passo é o planejamento, ou seja, observar suas operações preparatórias, desde a escolha do lugar até sua posição em planta. Em seguida, devem-se definir os pontos em que receberão os tratamentos e materiais necessários para isolamento, de acordo com suas finalidades. A quantidade do material utilizado para o tratamento depende da intensidade da fonte, ou seja, a quantidade de isolamento que o fechamento produz depende da frequência que o som incidente e das características construtivas da parede. O condicionamento acústico é o processo pelo o qual se procura garantir em um espaço o tempo ótimo de reverberação, que é a capacidade do som de refletir e permanecer em um ambiente e, se for o caso, também a boa distribuição do som. Por isso, o tempo de reverberação e a forma do recinto são muito importantes para que se obtenha um condicionamento acústico ideal. Isso porque se os materiais absorventes não forem distribuídos homogeneamente no recinto e a distribuição espacial do som não se tornar homogênea, o som reverberante vai persistir apenas certo tempo no local depois que a fonte emitir o som, podendo não atingir todo o espaço com a mesma eficácia (CAZELOTO, 2003). Dessa forma, o projeto acústico torna-se muito importante na criação da Cenografia e da Arquitetura Efêmera, por que o som, sendo um imersor do ser no ambiente e o comunicador de forma direta e indireta é um elemento fundamental quando precisa se transmitir uma mensagem. Neste caso, o som e o ambiente precisam ser previamente analisados e projetados para atingir o objetivo esperado. Cazeloto, (2003) ainda afirma que o projeto acústico de um espaço deve iniciar junto com o projeto arquitetônico, isto porque algumas decisões de acústica prevalecem sobre a arquitetura, como geometria interna, volume, número de pessoas, materiais de acabamento, para que seja possível alinhar as funcionalidades da sonorização junto a os outros elementos perceptíveis do ambiente, que em conjunto possam transmitir a mensagem desejada. 49


Depois de conceituar Arquitetura Efêmera e Cenografia, demonstrar suas passagens históricas e evoluções, traçou-se suas similaridades o que levou a percepção de como essas áreas são complementares e principalmente como estão cada vez mais próximas e associadas devido a cultura de consumo contemporânea. Essa similaridade transmitem dúvidas em diferenciar onde começam e terminam suas individualidades. O que leva a afirmar que hoje é uma tarefa árdua criá-las de forma separada. Essa análise levou ao estudo dos principais elementos utilizados. Torna-se claro, a importância da iluminação tanto natural como artificial nas atividades humanas e sua capacidade de transformar e perceber objetos e espaços dependendo da forma que é aplicada. As tonalidades utilizadas na luz para gerar sensações, revelam sua íntima ligação com a cor. As cores então, além das percepções espaciais como amplitude ou distanciamento, influenciam diretamente no organismo humano trazendo efeitos fisiológicos e psicológicos para quem está em contato, como a aceleração da pressão sanguínea, o aumento do metabolismo ou equilíbrio da respiração, por exemplo. Dessa mesma forma acontece com o som, que possui também a capacidade de situar o ser humano no tempo e no espaço em que está inserido, isso acontece porque suas características físicas são capazes de penetrar e ocupar todos os lugares ao redor, o que induz as percepções humanas à sensação de imersão no ambiente. Após a identificação desses fatores é preciso para a conclusão deste trabalho, analisar a aplicação desses elementos e conceitos em espaços de entretenimento.

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4. APLICANDO CONCEITOS EM ESPAÇOS DE ENTRETENIMENTO

A criação da Cenografia e da Arquitetura Efêmera, possuem diversas similaridades. O som, a luz e a cor, destacados neste estudo são os mais perceptíveis. Assim como o entretenimento é o ramo na qual as duas áreas vem se aproximando e crescendo devido a suas características e também a alta do setor. De acordo com a 19ª edição da Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia 20182022, que analisou a evolução desse mercado em 53 países, os setores de entretenimento e mídia devem crescer cerca de 30% nos próximos cinco anos no Brasil, dados que foram divulgados pela consultoria PriceWaterhouseCoopers conhecida com PWC (O GLOBO,2018). Como terceiro maior mercado do mundo, a indústria do entretenimento é composta por diversos nichos entre eles estão, cinema, teatro, televisão, internet, games, esporte música. Esses seguimentos que são voltados aos momentos de lazer, diversão e bem estar, ou seja, convívio e satisfação social. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (ABRAPE), Carlos Alberto Xaolim, o segmento musical é responsável pela maior concentração de público e eventos da indústria do entretenimento (DE OLHO NO MERCADO,2015). Com isso, os setores de serviços que fazem parte da criação desse meio, também se beneficiam, já que por trás desses setores existe uma superprodução. No caso dos eventos em específico, conta com sistema de áudio, vídeo e é claro a cenografia e a arquitetura efêmera. Devido a esse crescimento, principalmente das mídias digitais e das tecnologias, essas áreas estão sempre trazendo novidades, já que o objetivo é ressaltar a experiência dos momentos, cativar e encantar os participantes. Segundo a Event Manager Blog (2017),72% das pessoas com menos de 35 anos preferem pagar por uma experiência do que por um objeto, isso faz com que empresas de todos os setores se reposicionem no mercado e redescubram o que motiva e atrai a nova geração, chamada Geração Y ou Millennials. O autor ainda destaca, que um dos motivos do sucesso do mercado de eventos é a relação face51


to-face que é proporcionada, ou seja, a relação de convívios social. E afirma que, apesar de há 10 anos existir o questionamento sobre o fim desse tipo de relações, hoje essa demanda de valor só aumenta. Isso nos mostra a importância das relações sociais dessa área e que analisar as aplicações dos conceitos estudados em espaços de eventos torna cada dia mais importante e necessária. Assim, serão analisadas duas formas em que foram aplicadas em conjunto os elementos estudados neste trabalho, na maior companhia circense, o Cirque Du Soleil, o festival de música Brasileiro, Rock in Rio.

4.1 CIRQUE DU SOLEIL

O Cirque du Soleil é uma companhia de entretenimento, conhecida mundialmente por ser a maior companhia circense existente. A companhia original de Quebéc no Canada, iniciou sem a perspectiva de reinventarem a arte circense mas com o passar do tempo perceberam como o circo moderno poderia ser. Iluminações mágicas e músicas originais sempre fizeram parte de suas apresentações. A combinação única entre cenografia, teatro e envolvimento ao público tanto fisicamente como imaginativamente marcam os processos criativos que impulsionam a criação de todos os espetáculos do Cirque du Soleil (CIRQUE DU SOLEIL, 2018). Hoje, com 40 anos de existência, o Cirque du Soleil expandiu-se em uma ampla gama de atividades criativas, desde filmes a roupas e de butiques a casas noturnas. Com o objetivo de invocar imaginação, provocar os sentidos e evocar as emoções das pessoas ao redor do mundo, o Cirque du Soleil tenta ultrapassar os limites da imaginação e surpreender continuamente o espectador. Inovação e criatividade sempre estiveram no coração dos shows e continuarão a transcender as futuras produções (CIRQUE DU SOLEIL, 2018). De acordo com o site oficial da companhia, existem seis espetáculos em turnê na grande lona, que se baseia em shows em estruturas transitórias bem características do circo original, as grandes tendas e todos os equipamentos necessários para a realização das superproduções. Também existem três espetáculos em turnê para 52


arenas. Esses que utilizam as estruturas das arenas existentes para a realização dos shows levam a cenografia e elementos do show e instalações já que é executado dentro de uma estrutura fixa. Assim como também existem shows permanentes em diversos locais como Nova York e Las Vegas. Em 2011, o espetáculo Varekai que esteve em turnê no Brasil e impressionou pelo tamanho da estrutura montada para a realização dos shows. A tradicional tenda no estilo circense que possui capacidade para 2.612 pessoas, sua lona possibilita ter 11 túneis de acessos e pesam aproximadamente 5.217 kg, têm 17 metros de altura e um diâmetro de 50 metros (figura 35). Por fim, são necessárias mais de 1.000 estacas (pregos de 1,5 metros) para fixar as diferentes tendas que compõem o conjunto da “cidade” Cirque du Soleil. Foram necessários oito dias para transportar as 1000 toneladas de equipamentos, 68 caminhões que, durante a estadia na cidade fixada, são utilizados como armazéns, cozinha e zona de workshops (ASTUTO, 2011). Figura 35: Estrutura montada para o Espetáculo Varekai do Cirque du Soleil

Fonte: fotogaleria dinheirovivo.com

O espetáculo que veio em turnê para o Brasil na qual se faz a análise de um trecho é o Varekai. Escrito e dirigido por Dominic Champagne, o nome que na linguagem cigana significa “sempre”, é uma homenagem a alma nômade e ao espírito e arte da 53


tradição circense. Varekai é um show que une drama e acrobacias com música inovadora e cenários do outro mundo, coreografias vívida que falam a todos na linguagem universal do movimento(VAREKAI PRESS KIT,200?). O show começa com uma introdução para que possamos perceber o mundo Varekai. As luzes em tons vermelhos e amarelos valorizam o cenário de fundo que possui diversos tubos de aço em vários tamanhos para remeter a uma floresta mística ao redor do fogo de um vulcão. As criaturas fantásticas que andam e dançam pelo cenário, ao som de uma música mística, que remete a antigas tradições e a melodia do canto dos pássaros e dos mais diversos animais, insere no local em que vai ocorrer a trama (figura 36). Figura 36: O espetáculo Vakekai.

Fonte: fotogaleria dinheirovivo.com

A história então começa quando as cores da iluminação mudam para o tom azul e um facho de luz branca se volta para o topo do cenário, o céu, e ao som de uma música sacra caí um jovem homem nos dando a ideia de um anjo caído. Assim, inicia-se a jornada de Ícaro, personagem da mitologia grega, no mundo dos sonhos de Varekai (figura 37).

54


Figura 37: Ícaro ao cair do céu no espetáculo Varekai

Fonte: concart.net

Durante todo o espetáculo, os principais elementos que compõem a apresentação dos artistas circenses são as luzes e o som, que nesse contexto são os responsáveis comunicativos do drama. Eles modificam o cenário ao mostrar outras atmosferas e os lugares em que estão inseridos de acordo com o tipo de apresentação que acontecerá ao longo da trama. Como por exemplo, na entrada dos palhaços, a trilha sonora é mais divertida e as cores são mais vibrantes o que auxilia no produto final, a risada dos espectadores, assim como acontece nos momentos das coreografias (figura 38). Figura 38: Balé espetáculo Vakekai.

Fonte: concart.net

55


Outro momento marcante é quando Ícaro conhece a criatura exótica pelo qual se apaixona, o cenário está com poucas luzes destacando apenas os personagens enquanto a trilha sonora calma e romântica os leva ao beijo (figura 39). Essa cena é continuada por uma de suspense e mistério com uma melodia pesada que contém baterias e guitarras no arranjo e é unida a uma luz mais forte que se movimenta por todo o espaço do show, inclusive na plateia. Esse momento manifesta a sensação de que algo importante e até errado aconteceu quando eles se beijaram, o que fica mais evidente quando a personagem mística é elevada até o topo do cenário sendo separada de Ícaro. Figura 39: Ícaro ao encontro da criatura mística.

Fonte: VIVIEN - aktuality.sk

Com impressionantes números aéreos, acrobacias, e gargalhadas proporcionadas pelos palhaços, o show dura cerca de duas horas. E em uma enorme construção efêmera, que abriga o espaço do espetáculo, as acomodações para 100 pessoas que compõem a equipe e todos os espaços necessários para a logística do show, a tenda no estilo tradicional de circos, torna-se também parte da experiência proporcionada. A Cenografia e a Arquitetura Efêmera unem-se na criação desse grande circo moderno, e suas apresentações para provocar os sentidos e emoções com inovação e criatividade. Para ver a apresentação do espetáculo Varekai 56


completo, basta baixar no celular um aplicativo com leitura QR CODE e acessar o link através da figura 40. Figura 40: QR CODE Espetáculo Varekai

Fonte 40: Desenvolvido pelo autor.

4.2 ROCK IN RIO O Rock in Rio é o maior festival de música brasileiro (figura 41), que com 33 anos história e 18 edições em vários lugares do mundo reuniu 9,2 milhões de pessoas. O festival possui público diverso, fãs do metal, rock, pop, MPB e muito da música nacional e internacional. A primeira cidade do Rock, nome para o espaço em que é sediado o festival, foi Figura 41: Instalação com símbolo Rock in Rio. construída em 1985 e ocupou uma área de 250 mil metros quadrados no Rio de Janeiro e em 10 dias

de

shows

reuniu 1 milhão e 380 mil pessoas. Na época,

criou-se

o

maior

palco

do

mundo

com

80

metros de boca de cena e pela primeira Fonte : oglobo.com vez, a plateia de um show foi iluminada. O público começou ali a fazer parte do espetáculo (ROCK IN RIO, 2018). 57


A última edição no Brasil aconteceu em setembro de 2017 no Rio de Janeiro e o espaço escolhido, o Parque Olímpico do Rio de Janeiro. De acordo com a Prefeitura do Rio de Janeiro (2018) o espaço contempla uma área de 1,18 milhão de metros quadrados. E foi construído para sediar o jogos Olímpicos de 2016. Além do espaço amplo, a escolha do local também facilita o acesso do público devido a proximidade e oferta de transporte público. E apesar do aproveitamento de parte da estrutura do local já existente, de acordo com o CAU-RJ (2017) foram necessários 21 dias de montagem e a participação direta de 75 arquitetos e urbanistas na execução dos diversos projetos das áreas que formam a cidade do rock. A cidade do Rock é uma Arquitetura Efêmera e Cenográfica que tem finalidade de proporcionar aos visitantes diversas experiências de arte, diversão e música com shows quase simultâneos, criando interações diversas com o público por todo o espaço planejado. Esse, que remete a dinâmica de um parque temático que tem como prioridade a música. Formada por 7 palcos, sendo o Palco Mundo o maior e principal, diversas atrações como tirolesa, montanha russa, roda gigante, capela e ainda áreas de serviços como lounges, posto médico, lojas e infraestrutura para atender o público como banheiros e comida (figura 42 e 43), tem suas características próprias e

são responsáveis por criar a atmosfera mágica e

confortável para quem quer viver diferentes experiências. Figura 42: A cidade do Rock no Rio de Janeiro.

Fonte 40: globo.com

58


Figura 43: A cidade do Rock no Rio de Janeiro.

Fonte 40: rockinrio.com editado

A intenção de fazer do público parte do espetáculo, criando diversas vivências para que isso ocorresse durante os dias, faz com que cada instalação dentro da cidade do rock seja importante na essência do espaço, sendo única e conceitual. Desse modo, para exemplo, destaca-se alguns ambientes para analise. O Palco Mundo (figura 44) que recebe as principais atrações do festival é o maior do evento com um total de 86 metros de largura, ao centro tem 24 m de boca de cena e ao redor placas curvas e convexas iluminadas criam a cenografia metalizada e com efeito de movimento proporcionado pela luz. Além do imenso cenário do palco, que conta também com painéis de led para transmitir de perto o que acontece no centro, as luzes coloridas e com movimento junto ao som são direcionadas para toda a 59


plateia que presenciam a sensação de não só ver o show e o belo palco, mas fazer parte dele. Figura 43: Palco mundo Rock in Rio no Rio de Janeiro.

Fonte: oglobo.com editado

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Com a criação de uma rua elevada com estrutura e madeira para a criação de dois lagos, a cenografia do Palco Rock Street África (figura 44), emergiu visitantes em uma rua típica Africana. As lojas tinham fachada coloridas de casas locais e os personagens de rei e rainha com um elefante cenográfico em tamanho real, os grupos de dança e coral completavam a experiência de estar em outro continente. O conceito do espaço, ainda trouxe para o palco, que imita a fachada de edifícios africanos, apresentações de artistas africanos e danças de rua para completar a surpresa do público. Figura 44: Palco Rock Street Africa.

Fonte: folha.uol

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As cores presente em todo o festival, na maior parte das vezes vibrantes e em tons quentes, associadas a iluminação ou as instalações, são utilizadas para destacar os ambientes e criar excitação nos visitantes, tornado a experiência e o espaço marcantes. Desse modo, através da análise dos elementos no Rock in Rio e no Cirque du Soleil, ficou claro que a luz, a Cor e Som realmente transformam e causam diversas sensações aos usuários e expectadores. Esses três elementos unidos, resultam em uma experiência completa em relação a espacialidade e inúmeras sensações. Fica claro também que a Cenografia e a Arquitetura Efêmera, atuam em proporções muito distintas. Desde pequenos ambientes, como o cenário do espetáculo Varekai e nas instalações de forma separada do Rock in Rio, como em grandes proporções como a Cidade do Rock e toda a estrutura da tenda do Cirque de Soleil para o espetáculo Varekai.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Cenografia, oriunda dos espetáculos teatrais da Grécia ainda possui grande ligação com o local teatral dessa época - O teatro-, onde desenvolveu-se e aprimorou-se em diversos aspectos. Apesar disso, em cada época teve um significado diferente de acordo com a proposta do espetáculo. Conceitua-se a cenografia como o lugar teatral, onde acontece a relação cena/público, sendo assim a composição resultante de um conjunto de cores, luz, formas, linhas e volumes equilibrados e harmônicos em seu todo e que criam movimentos e contrastes com o objetivo de transmitir uma mensagem ao público. Seus conceitos e áreas de atuação começam a se expandir a partir do Séc. XX devido a consolidação dos meios de comunicação a sofisticação dos novos recursos e as tecnologias disponíveis. Passou também a ter suas próprias características no cinema e na televisão, abrindo caminhos para outras formas de entretenimento e mercado comercial como shows, vitrines, passarelas e afins. Com isso, a cenografia passa a ser vista como conceito, uma linguagem artística, a linguagem cenográfica, que hoje é caracterizada como ato criativo com intuito de comunicar. De forma similar, acontece a evolução da Arquitetura Efêmera, que nessa mesma época e pelos mesmos fatores, mudou-se a forma da sociedade e da cultura de mercado verem a Arquitetura Efêmera, prezando agora por integração, comunicação e interação do espectador com o espaço. Isso ocorreu nas Feiras e Exposições mundiais, na qual os elementos tradicionais arquitetônicos, que faziam parte das edificações efêmeras desses eventos, muitas vezes foram substituídos por um conjunto organizado de imagens, sons e luzes e cores. As Feiras e Exposições Mundiais são um marco na história da Arquitetura e da Arquitetura Efêmera. Destacaram-se na Revolução Industrial, os eventos que prezavam por exuberância, criatividade e inovações dos países e arquitetos envolvidos na criação das edificações efêmeras, serviu para experimentações de materiais e técnicas que aprimoraram a Arquitetura e são utilizados até hoje. O êxito das criações fez com que ao passar do tempo, além de ser um ambiente para expor, 63


a edificação era exposta como conceito e forma de comunicação e posteriormente passou a ter caráter mais lúdico que abriu caminho para o marketing e a mídia se introduzirem nesses locais como dito. A partir daí, na atmosfera cultural e social que preza pela a excitação do momento e que desenvolve de forma clara a comunicação sensorial, as áreas de atuação da Arquitetura Efêmera foram sendo analisadas e ampliadas, como dito. Deste modo, as áreas de atuação da Arquitetura Efêmera se atualizam, assim como seu conceito que, pela nomenclatura, a palavra efêmera significa algo passageiro ou transitório, então Arquitetura Efêmera, é algo que nasce com seu premeditado fim. Mas, sua finalidade é mais importante que sua permanência e torna-se conceituada como criação artística, condicionada pelo tempo de sua existência, assumindo e criando características no meio em que se insere com o intuito de potencializar encontros sociais em uma atmosfera sensorial comunicativa. Desta forma, evidencia-se um dos objetivos deste trabalho que relaciona a Arquitetura Efêmera e a Cenografia a partir de seus conceitos. Seus consensos ficam claros em diversas ocasiões, mas principalmente pelo fato de que ambas utilizam elementos similares para suas criações artísticas, que possuem o mesmo objetivo diversas vezes, conceituar e definir espaços através do estímulo de sensações

e

percepções

humanas,

buscando

atender

as

necessidades

momentâneas e rápidas da sociedade e do mercado atual, operando de forma efêmera. Reafirmar a aproximação das áreas de atuação no mesmo período e com o mesmo intuito de integrar o espectador, devido ao direcionamento do marketing de mercado comercial e de entretenimento induzido pelas tendências da sociedade capitalista de consumo. Essa similaridade exprimem dúvidas em diferenciar onde começam e terminam as individualidades de cada área. O que leva a afirmação de que hoje é uma tarefa árdua criá-las de forma separada. De acordo com isso, se pode compreender como os principais elementos em comum dessas áreas impactam na percepção do ambiente.A iluminação, tanto natural como artificial é crucial nas atividades humanas, sendo ela funcional, que serve como apoio para a realização de alguma tarefa; iluminação ambiente, a fim de iluminar de 64


forma geral o espaço ou iluminação de destaque, que é caracterizada como forma de destaque a algo ou ser o destaque do ambiente. Desse modo, percebeu-se que através dessas três áreas é possível induzir as percepções humanas, já que tratam de aspectos racionais, emocionais e comunicativos a fim de gerar conforto ou desconforto a partir do mesmo, podendo fazê-la através da designação correta do tipo de iluminação e sua intensidade de acordo com conceito e a finalidade proposta. As tonalidades aplicadas na luz enfatizam os estímulos corporais de acordo com a necessidade proposta, já que a cor, através do nosso subconsciente, atua como fenômeno mental e influencia diretamente na sensação causada ao ser humano. Assim, as cores atuam nas percepções espaciais como amplitude ou distanciamento e influenciam diretamente no organismo humano trazendo efeitos fisiológicos e psicológicos para quem está em contato, como a aceleração da pressão sanguínea, ou equilíbrio da respiração. Dessa mesma forma acontece com o som, que também possui a capacidade de situar o ser humano no tempo e no espaço em que está inserido, trazer lembranças ou gerar gatilhos mentais, isso acontece porque suas características físicas são capazes de penetrar e ocupar todos os lugares ao redor, o que induz às percepções humanas a sensação de imersão no ambiente. Diante disso, o estudo e análises das aplicações desses elementos em espaços de entretenimento resultaram na conclusão de que, de fato, a luz, a cor e o som possuem a capacidade de transformar o lugar através das sensações que causam aos espectadores, mudando cenários e atmosferas e transmitindo diferentes mensagens através deles. Visto os exemplos do Rock in Rio e do Cirque du Soleil, também ficou claro que a Arquitetura Efêmera e a Cenografia se sobrepõem, e essas abrangem proporções de construções muito diversas, podendo criar ou modificar pequenas intervenções e cenários internos ou gerar grandes locações e estruturas como no Rock in Rio por exemplo. Diante disso, fica cada vez mais evidente que a Cenografia consiste em uma forma de construção do espaço arquitetônico, uma vez que utiliza seus elementos, forma de linguagem e atributos históricos e conceituais como componente para a criação de espaços e construções arquitetônicas. E então, importante ressaltar que é 65


significativo para os acadêmicos de Arquitetura e os Arquitetos conhecerem a Cenografia e reafirmá-la como atividade a ser exercida pelos profissionais qualificados - os arquitetos, já que para sua criação é necessário um entendimento técnico sobre diversas áreas de conhecimento que são dominadas e exercidas por esses profissionais.

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