Pagu

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MAIO 2015

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EDIÇÃO 1

AGU TIRE SEU PADRÃO DE MIM! O CORPO IDEAL É AQUELE QUE AGRADA A SUA DONA (E MAIS NINGUÉM!)

PERFIL

SARA DONATO E O RAP COMO ARMA CONTRA O MACHISMO E O RACISMO

ENSAIO

SEIS MULHERES, BELOS SORRISOS E O EMPODERAMENTO FEMININO

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EDITORIAL

EXPEDIENTE Revista produzida pelas alunas do 6º termo do curso de Comunicação Social: Jornalismo do período diurno da UNESP. Reitor Júlio Cézar Durigan Diretor da FAAC Nilson Ghirardello Coordenador do Curso Francisco Rolfsen Belda Chefe do Departamento de Comunicação Social Juarez Xavier Orientadores Jaqueline Esther Schiavoni Mauro de Souza Ventura Equipe Amanda Fonseca Bianca Arantes Carolina Baldin Meira Flávia Nosralla Giovanna Diniz Keytyane Medeiros Lívia Lago Marina Moia Tania Rita

Nome: Patrícia Galvão Estado civil: LIVRE

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agu era uma dessas mulheres corajosas e fortes. Foi presa diversas vezes (mais de 20) por ser comunista durante o governo Vargas, sendo a primeira mulher presa por motivos políticos no nosso país. Fugiu da prisão ao menos uma vez. Participou de greves de operários. Quase foi deportada para a Alemanha nazista. Pagu foi uma mulher livre e polêmica, usava roupas consideradas indecentes pela sociedade brasileira da década de 1920, fumava na rua, dizia palavrões, viajava o mundo como correspondente de jornais e aproveitava essas viagens para conhecer diversas figuras marcantes da época (dizem que fez amizade até mesmo com o último imperador chinês). Patrícia Rehder Galvão, ou Pagu como era conhecida, foi inúmeras vezes chamada de “uma mulher a frente do seu tempo”. Escritora, poeta, diretora de teatro, tradutora, desenhista e jornalista, Pagu viveu a vida intensamente e de acordo com seus desejos. Cometia erros. Mudava de ideias. Era tão complexa e imperfeita quanto todas nós. E é nessa mulher, e tantas outras como ela, que a Pagu se inspira. A leitora da Pagu é uma mulher independente, pronta para encarar os desafios e se divertir durante o caminho. Ela é livre para decidir o que quer ou não fazer na vida e da vida. Ela é curiosa e quer sempre conhecer mais deste mundão. Seja o bar que abriu ali pertinho, o restaurante do outro lado da cidade que a amiga sempre comenta, ou até mesmo um café em Paris ou uma pousada na Suécia. Porque nós, aqui da Redação, acreditamos que lugar de mulher é em casa, na rua, na balada. Lugar de mulher é no exército, na polícia, na presidência. Lugar de mulher é na cozinha, na sala, no trabalho, lugar de mulher é na liderança. Lugar de mulher é na maternidade, na clínica de aborto. Lugar de mulher é no altar, em casa sozinha, na casa de quem ela quiser. Lugar de mulher é beijando um, dois, três, lugar de mulher é beijando ninguém, lugar de mulher é beijando homem ou mulher. Lugar de mulher é na rua sem fiu ­fiu. Lugar de mulher é usando roupas curtas, longas ou roupa nenhuma. Lugar de mulher é de cara lavada, lugar de mulher é com maquiagem na cara. Lugar de mulher é PP, P, M, G, GG. Lugar de mulher é onde, como e quando ela quiser.

Modelo da capa Letícia de Maceno

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ÍNDICE

DICA CULTURAL Mesmo sofrida...

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LADO M Lugar de mulher é na cozinha!

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Mulher sim e tatuada

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PERFIL Sara Donato: sem medo, sem amarras, no corre

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SEXUALIDADE Não vamos falar sobre sexo

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Aqui, a carne mais barata é a carne negra

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ENTREVISTA Transgressora

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REAL BELEZA Meu cabelo, minha decisão

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Tire seu padrão de mim!

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ENSAIO Empoderar

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ENTRE 4 PAREDES Um assunto cheio de dedos

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Sem nóia, sem neura

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BEM ME QUERO Durma bem com yoga

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Gravidez: hoje não

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Faça as pazes com “aqueles dias”

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É um parto!

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MULHER NO MUNDO Liberdade para quem?

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TUTORIAL Força feminina e resistência (de chuveiro)

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Fica, vai ter bolo!

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#revistapagu facebook.com/ revistapagu

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ENTREVISTA

Confira em nosso site o vídeo da entrevista exclusiva com a rapper Karol Conka, famosa pelo atual single “Tombei”, feito em parceria com o projeto de música eletrônica Tropkillaz.

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EMPREENDEDORISMO

Empresárias dão dicas de como se dar bem e gerar renda a partir de suas ideias.

PERFIL

Veja na próxima edição o perfil da vereadora Telma Gobbi, que discute temas relacionados à política e a inclusão das mulheres nesse meio.

TUTORIAL #SOMOSTODASVERÔNICA

Aprenda a fazer um belo filtro dos sonhos e conheça mais sobre essa tradição indígena.

I AM NO ANGEL

Você é uma Angel? Nós também não! Conheça a campanha #ImNoAngel, da marca de lingeries Lane Bryant.

A agressão à modelo Verônica Bolina, 25 anos, tem circulado na mídia e nas redes sociais. A Revista Pagu apóia Verônica e todas as mulheres trans negras, além de repudiar a ação brutal da Polícia Militar de São Paulo. Acesse nosso site, entenda o caso e dê o seu apoio também. Somos todas Verônicas.

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DICA CULTURAL

MESMO SOFRIDA JAMAIS ME KAHLO Texto Keytyane Medeiros

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amos fazer um jogo. Pense rápido em cinco nomes de mulheres importantes para a história mundial em apenas um minuto. Aparentemente, não é tão complicado, mas, na prática, nos pegamos num grande vazio referencial. Não tem nada a ver com a capacidade das mulheres em realizar grandes feitos ou entrar para a história, trata-se de representatividade. Marie Curie descobriu dois elementos químicos e recebeu um Nobel pela descoberta do rádio e do polônio, além disso, foi a única pessoa da história da premiação a receber dois títulos, de Química e Física. Rosa Luxemburgo foi uma importante filósofa e ativista política do período entre Guerras Mundiais e responsável pelas primeiras críticas ao marxismo no mundo moderno. Rosa Parks foi uma importante militante em prol dos direitos civis dos afro-americanos na década de 1960, começando um grande movimento pacífico de resistência às medidas de exclusão racial nos Estados Unidos da época.

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No mundo do entretenimento o espaço ainda é majoritariamente masculino. Nas principais gravadoras internacionais, menos de 15% dos cargos de gestão são ocupados por mulheres, apenas 10% dos Prêmio Nobel de literatura foram destinados à literatura feminina e apenas 12 países no mundo são chefiados por mulheres, segundo o Conselho Mulheres Líderes Mundiais de 2012. Em Hollywood, a cada cinco homens trabalhando, há uma mulher exercendo cargos de roteirista, diretora, editora, escritora ou produtora executiva e apenas 30% do elenco com fala é composta por mulheres, numa relação de 500 filmes lançados no circuito convencional entre 2007 e 2012, segundo pesquisa da New York Film Academy. Para te ajudar a conhecer mais trabalhos realizados por mulheres, preparamos uma lista de vídeos, filmes, músicas e livros para você ver, ouvir e se empoderar!


DICA CULTURAL

Filmes de ficção Frida (2002) Nota: 9,0 Direção: Julie Taymor Frida Kahlo, artista plástica e militante do Partido Comunista do México, é vivida por Salma Hayek. O filme tem quase duas horas de duração e é bem animado, com uma fotografia muito bonita, repleta de cores quentes e vibrantes, tal como os quadros de Khalo e também se mantém fiel às expectativas sobre o México dos anos 30. Com uma vida turbulenta, com muitas viagens, bebedeiras e obstáculos físicos e matrimoniais, Frida Khalo luta pelo que sonha e vive pelo que acredita: liberdade, amor e arte. Firme, decidida e independente, Frida mostra como a maturidade intelectual e artística acompanha seu desenvolvimento e expande nossa compreensão sobre o que é ser mulher em uma sociedade machista, de ontem e de hoje.

Cairo 678 (2009) Nota: 10,0 Direção: Mohamed Diab

Preciosa (2009) Nota: 8,0 Direção: Lee Daniels O filme retrata a história de Claricee Precious Jones, uma jovem negra de 16 anos, obesa, moradora de um gueto dos EUA e constantemente abusada sexualmente pelo pai. Nesse contexto, a relação entre mãe e filha é destruída pelo pai e reflete diretamente na qualidade de vida de Precious, incluindo gravidez na adolescência, brigas e expulsão escolar. Tomates Verdes Fritos (1991) Nota: 8,5 Direção: Jon Avnet Cheio de flashbacks, o filme conta a história de Ninny Threadgoode, uma idosa que está num hospital esperando um parente para levá-la para casa, quando conhece Evelyn Couch. Ambas se tornam amigas e Ninny compartilha com Evelyn algumas histórias sobre o passado de parentes e amigos que viviam numa cidade vizinha nos anos 20. Entre as historietas, Ninny se prende à vida de Igde e Ruth, amigas e proprietárias da lanchonete “Tomates Verdes Fritos”.

Cairo 678 é um belíssimo filme-denúncia egípicio, que narra algumas histórias que antecedem o primeiro caso de assédio sexual a ser levado aos tribunais de justiça de Cairo no ano de 2009. Com uma estética urgente e realista, o filme procura mostrar o cotidiano da mulher, exposta a todo tipo de agressão física, moral e psicológica na sociedade egípicia atual.

INDICAÇÕES Persépolis (2007) A Fonte das Mulheres (2012) Cidade do Silêncio (2006) Olga (2004) 4 meses, 2 semanas e 3 dias (2007)

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DICA CULTURAL

Documentários

Clandestinas (2014) Nota: 8,7 Direção: Fádhia Salomão Documentário média-metragem brasileiro que aborda o tema do aborto. Por meio de depoimentos e entrevistas, o média procura mostrar ao espectador quem são e como pensam as mulheres que abortam no Brasil. Todos os depoimentos explicitam as razões pelas quais as mulheres abortam e como esse procedimento, ao contrário do que muitos pensam, não é a opção mais desejada ou confortável para a mulher. No entanto, seja por culpa do documentário ou pela própria criminalização do aborto no Brasil, a peça audiovisual peca ao trazer apenas relatos de mulheres brancas de classe média, que podem procurar boas clínicas clandestinas e diminuir o risco de morte envolvido no procedimento por meio de grandes quantidades de dinheiro. A temática e a problematização do aborto combinam com a fotografia e com a proposta cenográfica do documentário, gravado em vários cômodos de uma mesma casa, trazendo unidade visual ao discurso único dos depoimentos.

Que Bom Te Ver Viva (1989) Nota: 8,5 Direção: Lúcia Murat

Miss Representation (2011) Nota: 9,5 Direção: Jennifer Siebel Newsom

Um clássico obrigatório do cinema brasileiro, seja por sua importância política, seja pela estrutura narrativa até então pouco explorada em solo tupiniquim. O longa, dirigido por Lúcia Murat, traz o depoimento de mulheres militantes de esquerda no Brasil da ditadura militar dos anos 60 e 70. Essas histórias são recheadas de humilhações, estupros e torturas em nome de uma ideal: um país igualitário e democrático.

Lançado em 2011 por uma ONG americana feminista, o documentário suscita importantes discussões sobre a representação da mulher na mídia estadunidense. Embora traga um contexto político-social específico, a maneira como a mulher é representada pela mídia em geral se repete na América Latina, Europa e também no Brasil.

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DICA CULTURAL

Músicas

Biblioteca

Não é de hoje que mulheres influentes da indústria musical denunciam o machismo. Artistas como Beyoncé, Björk e Madonna há muito tempo relatam que sofreram com o machismo no início de suas carreiras. Para a islandesa Björk, numa entrevista recente, “o que um homem fala uma vez, uma mulher precisa falar cinco”. Podemos pensar que o cenário está mudando, tendo em vista que há muitas artistas em destaque no meio musical, no entanto, ao analisarmos o quadro do mercado fonográfico, as mulheres ainda ocupam apenas 14,3% dos cargos executivos numa grande gravadora. Separamos algumas cantoras icônicas com discursos feministas e libertadores, com melodias dançantes e alegres para que você se inspire!

No mundo da literatura, não é menos difícil para as mulheres. Entre as 111 edições realizadas até hoje pelo Prêmio Nobel de Literatura, apenas 11 mulheres foram premiadas e nenhuma brasileira. Isso significa que 90% dos prêmios foram destinados a homens, dando pouca ou nenhuma visibilidade à literatura feminina. Em contrapartida, as mulheres são maioria entre o público leitor, 57%, e também leem em média 4,2 livros por ano, enquanto os homens lêem 3,2 obras por ano no Brasil, por exemplo. Embora grandes autoras tenham marcado presença na história da literatura mundial como Virginia Woolf e Jane Austen pelo teor de seus livros e J.K. Rowling e Stephene Meyer pela grande repercussão e retorno financeiro de suas obras, ainda são poucas as mulheres que dominam o mercado das letras. Quando pensamos em mercado marginal, a cena parece melhorar e estimular a obra de escritoras promissoras, como Chimamanda Ngozi Adichie e Lady Sybylla.

“Durou tão pouco, toda gentileza, Você sustentou a máscara com destreza; Me pôs na torre me tratou como princesa, Trancou, jogou a chave fora, pra minha surpresa. Vivi um pesadelo, eu queria acordar, Amanhecia e a noite demorava pra chegar; Nem assim eu deixei de sonhar, Fechava os olhos e me imaginava em outro lugar.” Não foi em vão, Lívia Cruz “Já pulei do abismo Já fiz muito amor Eu perco o juízo Sem nenhum pudor”

INDICAÇÕES Hibisco Roxo (Chimamanda Adichie) A Cor Púrpura (Alice Walker) O Quarto de Despejo (Carolina Maria de Jesus) Espectro (Cecília Meirelles)

Nunca fui santa, Rita Lee

INDICAÇÕES Antipatriarca - Ana Tijoux Pagu - Rita Lee Hoje - Ludmilla Sandália - Karol Conka Flawless - Beyoncé F*kin’ Perfect - Pink Pretty Hurts - Beyoncé

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LUGAR DE MULHER É NA COZINHA! Texto Bianca Arantes Foto Creative Commons revistapagu.com.br

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LADO M

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ma faca é afiada calmamente por uma mão calejada. Uma panela borbulha no fogão, o cheiro do seu conteúdo se espalha pela cozinha. Alguém corta legumes com rapidez e precisão na bancada ao lado. Uma máquina imprime os pedidos que vêm do salão do restaurante. Uma voz pede “Duas entradas e dois risotos para a mesa quinze!”. Chefs e garçons dançam pela cozinha de modo organizado, para evitar acidentes, mas frenético. E novamente a voz pergunta “Onde está a sobremesa da mesa sete?” O ritmo da cozinha de um restaurante é intenso, são facas descendo, pratos sendo montados, louças sendo lavadas, pedidos sendo levados para os clientes a todo momento. E no meio dessa rotina é necessário uma voz forte, que comanda cada atividade com maestria e permite que o cliente tenha a melhor experiência possível e que o serviço da frente da casa, o salão onde as refeições acontecem, possa se desenvolver tranquilamente. Ao longo da história da gastronomia mundial, grandes chefs se destacam, o francês Paul Bocuse, pai da nouvelle cuisine; o brasileiro Alex Atala, do D.O.M, considerado o melhor restaurante do país; o chef Alain Ducasse, natural de Monaco, considerado padrinho da cozinha francesa; o dinamarquês René Redzepi do restaurante Noma, duas vezes melhor do mundo; o catalão Ferran Adrià, chef do restaurante El Bulli, considerado o criador da cozinha moderna. A lista de nomes não tem fim. Mas tem um fator em comum, a maior parte desses nomes são masculinos. Desde 2004, todos os anos a revista britânica Restaurant divulga a lista dos cinquenta melhores restaurantes do mundo naquele período. Apesar do prêmio incentivar que seus jurados procurem sempre novos restaurantes que estejam inovando ou fazendo um trabalho espetacular, a lista costuma repetir sempre os mesmos nomes, muitas vezes intercalando por anos os restaurantes que se mantém entre os dez melhores. No ano passado, apenas três mulheres gerenciavam restaurantes que ficaram entre os cinquenta melhores, seja como chef de cozinha ou proprietárias, mas sempre dividindo o espaço com um homem. A primeira da lista é Elena Arzak, na oitava posição, que chefia a cozinha do espanhol Arzak junto do pai, Juan Mari Arzak. A segunda é a peruana Pia León que­ apesar de possuir um restaurante próprio, o LIMA, que vem ganhando cada vez mais destaque no cenário gastronômico ­ganhou o décimo quinto lugar pelo Central, restaurante em que divide o comando da cozinha com o chef Virgílio Martinez. A última mulher da lista é a brasileira Helena Rizzo, na posição número trinta e seis, que dirige a cozinha do Mani junto do marido, Daniel Redondo. Foi justamente essa falta de representatividade do gênero feminino comandando as cozinhas profissionais que costumam ser nomeadas pela revista que levou à criação de um novo prêmio em 2011, que é votado pelos mesmos 900 jurados que escolhem os 50 14 PAGU

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melhores restaurantes do mundo, o Prêmio de Melhor Chef Mulher do Mundo Veuve Clicquot em homenagem a Madame Clicquot Ponsardin, conhecida como a “Grande Dama do Champanhe”. Embora existam mulheres comandando grandes cozinhas, o mundo da culinária continua a ser dominado pelos homens. De acordo com a revista, “o prêmio Melhor Chef do Mundo Veuve Clicquot destaca o trabalho de uma chef excecional, cuja cozinha emociona até os críticos mais duros do mundo. O prêmio inspira­se na vida e nas conquistas de Madame Clicquot, que revolucionou, há quase 200 anos, o papel das mulheres no mundo dos

OS 50 MELHORES O prêmio é decidido por uma Academia com 900 membros especialistas no cenário gastronômico internacional. O objetivo é que esse grupo possua uma quantidade equilibrada de chefs, restaurateurs, jornalistas gastronômicos, gourmands e apaixonados por comida.

negócios [ligados ao champanhe]. A vencedora reflete os atributos de Madame Clicquot no que respeita à inovação, criatividade e determinação”. A primeira chef a ganhar essa honraria, em 2011, foi a francesa Anne­ -Sophie Pic, conhecida por ter ganhado três estrelas Michelin por seu restaurante, Maison Pic, no sudeste da França. Anne­Sophie foi a quarta mulher a receber as três estrelas Michelin, uma das mais importantes condecorações do mundo da gastronomia. Em 2012, foi a vez da espanhola Elena Arzak, que, como já dito, divide o comando do também três estrelas Michelin, Arzak, com seu pai. Já em 2013, a italiana Nadia Santini levou o prêmio. A chef comanda a cozinha do Dal Pescatore, também três estrelas Michelin, sendo que a chef foi a primeira mulher italiana a receber esta distinção. A vez do Brasil chegou em 2014, quando a chef Helena Rizzo foi condecorada Melhor Chef Mulher do Mundo Veuve Clicquot. No ano anterior, a chef já havia recebido o prêmio de Melhor Chef Mulher do recém­ criado 50 Melhores Restaurantes da América Latina. De acordo com Suzana Barelli, editora da Revista Menu, esse tipo de premiação é importante por chamar atenção para uma categoria, valorizando o trabalho de um chef. “Acho importante os prêmios


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Helena Rizzo também é a mais bem classificada chef brasileira na lista

o assunto, a pesquisa americana pode dar um bom parâmetro de como essa questão tem se desenvolvido no mundo. Dados do US Bureau of Labor Statistics (Escritório Americano de Estatísticas,Trabalhistas) mostram que apesar de as mulheres constituírem a maioria

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das melhores mulheres, mas mais importante ainda é uma premiação não separada por gênero, mas por qualidade do trabalho”, explica ela. A chef Barbara Verzola, do Soeta, uma das responsáveis por colocar a capital capixaba no mapa da alta gastronomia brasileira, concorda “Os eventos ajudam a reconhecer o trabalho do cozinheiro. E os prêmios são importantes, pois, quando se ganha um prêmio, você sabe que está indo no caminho certo”. Já a Chef Tereza Paim, um dos principais nomes da cena gastronômica soteropolitana, complementa que esse tipo de premiação ajuda a chamar a atenção da sociedade para o trabalho do cozinheiro, trabalho esse que até recentemente ficava “escondido no fundo das casas”. Apesar do constante trabalho pela valorização da mulher no mercado gastronômico, uma pesquisa publicada em março de 2014 pelo site americano Bloomberg revelou que a situação dessas profissionais nos Estados Unidos está longe de ser perfeita. Apesar de não existirem pesquisas brasileiras sobre

No filme Ratatouille, da Disney, a personagem Colette é uma caricatura da mulher na gastronomia. Ela deixa claro que é necessário uma mulher “ser durona” para de manter no mercado

dentro da indústria de comida nos EUA, ainda há um percentual maior de mulheres em cargos de diretoria executiva de empresas do que como chef de cozinha. Segundo a análise da Bloomberg, as mulheres ocupam apenas 6,3%, ou 10 de 160 posições de chefe de cozinha em 15 grupos de restaurantes proeminentes nos EUA. No entanto, essa tendência parece estar melhorando. Cada vez mais mulheres têm comandado grandes cozinhas, principalmente no Brasil. “Foi necessário um tempo histórico para que as mulheres assumissem o comando do restaurante e de outras atividades ligadas ao mundo gastronômico. É interessante notar que as mulheres que sempre cozinharam, mas o status de chefiar cozinhas é bem mais recente. Em qualquer esfera, a presença de mulheres ainda é menor do que a dos homens. E a cozinha é um reflexo disso.”, explica a editora Suzana Barelli. Apesar dessa diferença, Barelli acredita que não há preconceito de gênero na gastronomia brasileira. “Tem tantas boas chefs trabalhando, viajando. A Mara Salles e a Ana Luiza Trajano, para citar só dois exemplos, são pioneiras em ir para o interior do Brasil, descobrir ingredientes, modos de preparo. E desconheço que elas tiveram problemas por serem mulheres.”, comenta. A chef Barbara Verzola, que já passou por grandes cozinhas como a do catalão El Bulli, concorda com Barelli. “Na maioria dos restaurantes em que trabalhei eu era a única mulher na cozinha, mas nunca tive que ser brava para impor respeito, respeito você conquista com a postura que tem na cozinha, sendo homem ou mulher”, acrescenta a chef. O ambiente de um restaurante e o dia-a-dia de quem trabalha nessa profissão costumam ser agitados e, por vezes, tensos. Um cozinheiro costuma carregar muito peso e ficar mais de 12 horas por dia em pé, no revistapagu.com.br

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LADO M gerindo que todos os grandes e influentes chefs eram homens. Mas muitos chefs influentes atualmente, homens ou mulheres, aprenderam suas técnicas com mulheres, como Lidia Bastianich, uma chef celebridade, apresentadora de TV, autora e restaurateur especializada na gastronomia ítalo-americana e mãe do jurado do MasterChef americano, Joe Bastianich. Alice Waters é outra chef americana que com seu restaurante Chez Panise revolucionou a culinária mundial com seu incentivo ao uso de produtos orgânicos e locais. A também americana Julia Child é um dos mais influentes nomes dessa lista, sendo sempre lembrada com carinho pelos que conhecem seu trabalho. A chef ganhou fama por trazer a culinária francesa de modo simplificado para o público americano, sendo autora de diversos livros e apresentadora de programas de televisão que incentivavam o público a aprender a cozinhar. Em 2009, parte de sua trajetória culinária foi retratada no filme Julie & Julia, protagonizado pela atriz Meryl Streep, baseado no livro homônimo escrito por Julie Powell. Em terras brasileiras, a chef, pesquisadora e dona de restaurante Mara Salles é umadas grandes referências nacionais graças às suas pesquisas sobre nossas tradições, ingredientes e pratos, todas aplicadas em seu restaurante, o Tordesilhas. A lista poderia ser infinita, mas não há necessidade. Lugar de mulher é na cozinha, sim!

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calor, correndo riscos constantes de se queimar e se cortar. Além disso, a cobrança psicológica costuma ser grande e afeta mulheres e homens. No ano passado, chefs franceses lançaram uma campanha para acabar com a violência nos restaurantes. A campanha surgiu quando um grupo de top chefs assinaram um manifesto contra a violência, assédio moral e sexual nas cozinhas após a demissão de um chef em um restaurante três estrelas de Paris, após o mesmo ter escaldado seu ajudante de cozinha com uma colher em brasa. Com a crescente importância da gastronomia e do interesse do público por esse assunto, a discussão dos problemas que esse mercado possui se torna cada vez mais necessária. Mais do que falar dos novos restaurantes da moda e das tendências que vem chegando, é necessário discutir a violência dentro dessa profissão, que, apesar de não ocorrer em todos os restaurantes a todo momento, ainda é preocupante. Torna-se cada vez mais necessário discutir por quê, apesar de incentivarmos as garotas a aprenderem a cozinhar desde pequenas, elas não possuem o mesmo espaço e importância nesse mercado que um homem. Quando feito em casa, o ato cozinhar é comumentemente associado mais com as mulheres do que os homens, mas a cozinha profissional, de alta nível ainda continua a ser vista como um local de domínio masculino, apesar das mudanças que tem ocorrido. Em 2013, a revista Time publicou um gráfico su-

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INSPIRE-SE LADO M

“Feminista: Uma pessoa que acredita na igualdade social, política e econômica entre os sexos.” Chimamanda Adichie

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MULHER SIM E TATUADA Texto e Fotos Amanda Fonseca e Bianca Arantes

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atuagem sempre foi um tema meio polêmico. Durante muitos anos, uma pessoa tatuada era automaticamente vista como “mal-caráter” ou “bandido”, fazer uma tatuagem era assinar uma sentença de morte na visão da sociedade. Para uma mulher tatuada a situação era ainda mais complicada, além de carregar o estigma de rebelde, ela também era vista como “promíscua”. Atualmente, as tatuagens têm se tornado cada vez mais comuns e o estranhamento parece ter diminuído também em relação ao público feminino. Até mesmo a boneca Barbie já aderiu às tatuagens. Em 1998, a boneca ganhou uma versão chamada Buttefly Art Barbie. Com longo cabelo loiro escuro frisado, e uma tatuagem de borboleta na barriga chapada, o brinquedo fez sucesso por também vir com tatuagens removíveis para a criança ou para outra boneca. Já a Tokidoki Barbie, dona de um cabelo chanel cor de rosa e diversas tatuagens causou sucesso quando foi lançada, em 2011. Mas nem sempre foi assim. Na virada do século XIX para o XX, mulheres tatuadas eram tão raras, que se tornavam atrações circenses. Olive Oatman foi a primeira mulher branca tatuada dos Estados Unidos. Em 1858, Olive já era considerada uma celebridade por ter ganhado uma tatuagem tribal ao ser adotada por uma família da tribo Mohave após seus pais terem sido assassinados. Já a primeira atração americana de circo tatuada foi Nora Hildebrandt, no final dos anos 1880, que costumava contar a história de que teria recebido os desenhos a força quando estava sob custódia de uma tribo indígena. Na verdade, Nora foi tatuada em Nova Iorque

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pelo seu pai, Martin Hildebrandt, um dos primeiros tatuadores dos Estados Unidos. Maud Wagner passou a ser conhecida como a primeira americana a trabalhar como tatuadora em 1911. O livro Bodies of Subversion: A Secret History of Women and Tattoos (Corpos da Subversão: Uma história secreta de Mulheres e Tatuagens), publicado pela jornalista americana Margot Mifllin, em 1997, e que hoje já chegou a sua terceira edição, conta um pouco da história das tatuagens femininas. Na introdução do livro, Mifflin escreve: “Tatuagens possuem apelo para as mulheres contemporâneas tanto como emblemas de empoderamento em uma era de ganhos feministas e como distintivos de autodeterminação em um momento em que controvérsias sobre o direito ao aborto, estupro e assédio sexual tê-los feito pensar muito sobre quem controla os seus corpos e porque”. Para a estudante Ana Clara Picolli, suas tatuagens são uma forma de se expressar, “para mim, elas são uma forma de mostrar insatisfação com o cotidiano, com coisas que são impostas para nós, de ser tudo certinho, do mesmo jeito”. Mhell Guilhen vai além, ela adotou as pinturas corporais como um estilo. O chamado Old School remete a um estilo ocidental de tatuagens com contornos pretos fortes e uma paleta de cores limitadas. O movimento em seus primórdios era associado à figura rebelde dos marinheiros. Mas Guilhen não transparece nenhuma rebeldia, a moça de 23 anos, desde pequenadesenhava em seu corpo, e hoje afirma: “É tudo por estética”.


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Preconceitos e Estereótipos Não há como discordar que tatuagens estão relacionadas a uma exteriorização de personalidade. Quem se tatua quer passar uma mensagem, mesmo que seja puramente estética. E até que ponto as pessoas aceitam esta mensagem sem julgá-la? Ainda existe preconceito contra tatuados? Para Ana Clara, sim! Em ambientes públicos, ela sente uma certa marginalização. “No mercado, quando estou com outros amigos tatuados, olham com medo, achando que vamos roubar. Em uma viagem para o Rio Grande do Sul, senti um preconceito todos os dias. Um dia em um restaurante, nos trataram muito mal, nos colocaram em uma mesa perto do banheiro, porque a gente não se encaixava naquele ambiente com pessoas de terno”. Já Mhell conta que nunca sentiu nenhum preconceito e muitas vezes vira atração. “As pessoas ficam olhando curiosas, querem cutucar, tirar foto. Sempre me trataram muito bem”.

Mercado de trabalho De acordo com a Companhia de Estágios, iniciativa baseada em São Paulo que auxília empresas na contratação de estagiários, um candidato tatuado não deve ser preterido em um processo de seleção em relação a um não-tatuado. “Para algumas vagas ou setores, no entanto é necessário que o candidato esteja atento para que sua apresentação seja formal. Não é compatível um candidato a vaga de estágio em um escritório de advocacia, por exemplo, ir a uma entrevista de emprego com jeans e tatuagens a mostra.”, explicam. Parte essencial da preparação do candidato para uma entrevista de emprego seria pesquisar o código de vestimenta da organização para a qual está se concorrendo. Algumas empresas, como é o caso da Disney, não permitem que seus funcionários tenham tatuagens visíveis. Para trabalhar nos parques americanos e ter Mickey Mouse como chefe, o candidato deve seguir o Disney Look, uma série de regras de vestimenta e aparência que determinam que o mesmo deve seguir um estilo limpo e clássico. Qualquer tipo de alteração corporal por motivos estéticos é proibida. Todos os piercings e tatuagens visíveis devem ser retirados ou escondidos, respectivamente. revistapagu.com.br

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Algumas Andreias em meu coração Por Keytyane Medeiros Meio da tarde, dia morno, sala lotada de jovens estudantes de comunicação. Um pouco de sono, um trabalho em classe, uma resposta mais ou menos direta e começa ali o meu desgosto. Alguma coisa naquela garota havia me incomodado profundamente. Quem ela pensava que era? Por que falava daquele jeito mandão com as pessoas? Comecei a me manter afastada da garota. Vou chamá-la aqui de Andreia. Por alguma razão, não gostava do jeito que ela falava, que se vestia, a maneira como falava dos assuntos que a interessavam. Passei a atribuir à Andreia a noção de que tudo o que ela fazia era falso e vazio. Além disso, internamente, não gostava do comportamento “arrogante” dela, o que me permitia deslegitimar suas falas, suas teorias e suas opiniões sobre temas considerados importantes para mim. Na minha cabeça, uma garota como ela não era capaz de desenvolver um pensamento crítico de maneira autônoma e criativa. Alguns meses emburrada até que conheci o feminismo e ouvi falar de uma tal sororidade. A noção simples de que as mulheres devem ser amigas, ter empatia pela vivência de outras mulheres, afinal, todas nós sofremos, em algum nível, os mesmos tipos de opressão - algumas de nós sofrem também com o racismo, a homofobia e a transfobia, agravando o quadro de violência e apagamento social da mulher. Mas, como ia dizendo, vi tudo aquilo que o feminismo marchava contra e coloquei um “OK” ao lado daquilo que - inocentemente - acreditava já ter desconstruído ou ser mais fácil do que realmente era. Patriarcalismo, objetificação da mulher, sororidade. OK. Acreditava mesmo que era capaz de sentir empatia por todas as mulheres ao meu redor e sobre aquelas de que não gostava, carregava comigo a desculpa de que se tratava apenas de desavenças pessoais, e assim fui vivendo. Até que percebi essa outra faceta do machismo que nos separa. Num dia qualquer, me dei conta de que eu não tinha razão alguma para não gostar de Andreia. Ela nunca havia me feito nada e eu simplesmente supunha uma desavença pessoal que não existia. O machismo impediu que eu a conhecesse melhor antes, me afastando a partir julgamentos naturalizados sobre uma desconhecida e potencial inimiga. Mas inimiga de que? Por que brigaríamos? Desde pequenas ouvimos com frequência que meninas são falsas, briguentas e fofoqueiras. Sempre ouvimos que uma mulher não deve confiar na outra. Ora, nessa lógica, todas as coisas que Andreia ou qualquer outra mulher me dissesse sobre suas opressões e violências seriam tidas como mentiras ou culpa da própria vítima, desumanizando o sofrimento feminino, banalizando nossa dor, nos separando em nossa luta. E isso é muito grave. Pensando 20 PAGU

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friamente, já existiram várias garotas como a Andreia em minha vida e hoje compreendo o quão mal interpretei algumas delas e o quanto devo ter perdido em termos de amizade. Andreia e eu passamos a nos falar mais, mas não porque eu tinha percebido o quanto a sororidade é importante, apenas, passamos a descobrir gostos e escolhas éticas em comum e a trocar experiências sobre nossas semelhanças. Percebi até que o jeito meio mandona dela se parece muito com o meu e o que mau-humor que eu julgava existir era só aparente. Nos aproximamos à medida que eu comecei a desconstruir o ranço injustificado que mantinha por Andreia e a começar, verdadeiramente, a marcar a “sororidade” como item em construção na minha luta feminista. Andreia também é feminista. Andreia deve ter tido algumas Andreias em sua vida. Será que eu também fui Andreia? Teria sido eu uma Andreia na vida de Andreia? É possível. É improvável. Talvez. Nunca saberei ao certo, mas o que posso afirmar é que ela é uma garota muito mais aberta e divertida do que eu supus e como companheira de lutas, é uma boa guerreira. De inimiga em potencial, Andreia ganhou outro espaço no meu coração, é uma aliada fundamental.


SARA DONATO SEM MEDO, SEM AMARRAS, NO CORRE Texto Keytyane Medeiros Foto Amanda Fonseca revistapagu.com.br

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PERFIL

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la tem um sorriso leve de menina do interior e um olhar que alterna timidez e determinação. Uma das muitas revelações da nova geração do Rap, Sara Donato se destaca pela luta ferrenha contra o machismo e os padrões de beleza, além de denunciar o sexismo dentro do próprio movimento Hip Hop, uma missão diária e, no mínimo, muito complicada. Sem perder o bom humor, sempre atenta aos debates na internet e provocando reflexões em suas páginas nas redes sociais, Sara me responde com muita firmeza que o que mais a influencia tanto na música quanto na vida, é a família e, principalmente, “as coisas boas que procura assimilar das pessoas que estão ao [seu] redor”. A doçura da são-carlense de 24 anos se restringe ao contato próximo, aos risos amigos e amistosos que constantemente recebe em Bauru, sua “segunda casa”, nas palavras da jovem. Suas canções, no entanto, são o lado oposto da mesma moeda. Seus versos são ácidos, incisivos, violentos contra o machismo e a opressão diária do povo de pele preta. Suas rimas não são feitas à toa, tem o propósito de libertar mulheres, em especial as mulheres negras das quebradas, fazer com que percebam os padrões de beleza que as cercam e libertá-las. Sara deseja que suas letras cheguem à mulheres violentadas dentro da própria casa e também aos homens que fazem do Hip Hop um espaço ainda machista e de boicote à participação feminina, mostrar a eles que existem mulheres na cena e que são, com o perdão da expressão, minas que impõem 22 PAGU

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respeito e medo em qualquer marmanjo falador. Moradora da Cidade Aracy, bairro periférico de São Carlos, Sara começou a ouvir rap por influência do irmão e dos primos, aos 13 ou 14 anos - ela não lembra ao certo. Logo em seguida, montou um grupo com outras cinco meninas, chamado “Conduta Feminina” e na época, ninguém sabia muito bem como fazer rap ou o que era esse tal de Hip Hop, mas as coisas foram seguindo e acontecendo. Algum tempo depois, Sara decidiu acompanhar seu irmão em apresentações e seguir carreira solo. É curioso saber que a MC não tinha o hábito de ler antes de começar a escrever suas próprias rimas. Ela também lembra que seu primeiro livro lido de cabo a rabo foi O Hip Hop a Lápis, do Tony C., importante escritor da literatura marginal e autor da biografia Sabotage - Um Bom Lugar, sobre o rapper Sabotage, lançado recentemente. A música Flores, seu último lançamento, é na verdade uma denúncia contra o padrão de beleza feminina imposto pela mídia e também um grito contra a violência doméstica, na qual a vítima é quase sempre culpabilizada pela agressão. Sobre isso, infelizmente, a rapper tem muito a dizer. Durante sua infância e adolescência assistiu sua mãe ser agredida pelo padrasto várias vezes, incluindo uma tentativa de homicídio. “Ele era uma pessoa boa, mas começou a usar drogas e a droga acabou influenciando a personalidade dele, as coisas que ele fazia. Minha mãe se separou dele, mas acabaram voltando e ele acabou tentando matar ela (sic)”.


PERFIL Sara poderia ter em seus olhos o brilho daquelas lágrimas que seguramos quando, na condição de mulheres, nos solidarizamos com a dor e a agressão vivida por outra mulher, ou ainda, aquelas lágrimas ardidas que só vem com lembranças muito dolorosas, mas não. Sara decidiu fazer dessa uma das suas motivações, um dos seus temas principais de vida, luta e poesia. Como ela mesma reforça em suas músicas, Sara não teve tempo para ter medo, a vida seguia e a violência era diária. “Minha mãe denunciou, ele foi preso e respondeu por isso. Hoje não temos mais contato com ele. Mas serviu de empoderamento porque minha mãe tinha medo de largar dele e não conseguir se virar, cuidar dos filhos sozinha e se sustentar. Depois disso, ela percebeu que ela não precisava de homem nenhum pra nada, que ela era o alicerce da nossa família. E pra mim serviu como exemplo de força, pra pular vários obstáculos”. Como boa poetisa que é, Sara compreende que cada artista é livre para criar e fazer o que quiser de sua arte, ela, no entanto, preferiu fazer das suas músicas um ato político. “Eu precisava me expressar, contar a minha história, da minha mãe, da minha quebrada”, mas essa livre manifestação de pensamento teve (e tem) um preço. No começo da carreira solo, a MC

Há quem diga que beleza põe na mesa, com certeza E que mulher bonita é sinônimo de magreza. Existe um padrão de beleza imposto pela sociedade E muitos o seguem como se fosse a verdade A bela se esquecendo do que realmente importa Traindo seus princípios pelo que te conforta. Se rebolar é bem mais fácil, então pra quê estudar?!

sofreu vários boicotes em apresentações abertas, fosse o microfone que não funcionava, a regulagem de som ruim ou mesmo não ser convidada a cantar. Ela acredita que os boicotes só não foram maiores porque antes de mandar um som, Sara já era militante do Hip Hop. Um dos seus singles mais famosos chama-se Peso na mente, onde fala abertamente sobre gordofobia e sobre padrões de beleza surreais e inalcançáveis, que só trazem sofrimento e angústia para as mulheres. A MC rotineiramente critica a hiper valorização do corpo e chama atenção para o crescimento intelectual das mulheres, incentivando-as a estudar, conhecer um pouco mais sobre política, sociedade, história, entre outros assuntos. Como mulher empoderada, Sarita, como gosto de chamá-la, é uma mulher que dá voz e empodera outras minas. Sara é independente, o que pode significar algumas dificuldades financeiras no seu dia a dia, mas nem por isso muda seu comportamento ideológico para ter mais visibilidade em grandes shows de Rap. Categórica, afirma que não canta em eventos que só chamam mulheres para cantar em março, em homenagem ao mês da mulher. “Eu to no corre todos os dias”.

A Bela, Sara Donato.

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Texto e Fotos Amanda Fonseca

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asta de dente, creme hidratante, batata chips, desodorante, o novo modelo automobilístico, as novas tendências da moda, os pratos afrodisíacos e até um simples sapato. Todo produto colocado no mercado vem atribuído a certos valores, entre eles, o sexo. Além do machismo comumente implícito em anúncios publicitários, o culto ao prazer e ao desejo sexual são retratados como meios de se atingir o bem-estar, estariam diretamente relacionados à felicidade. Assim, qualquer produto que permita ser associado ao sexo é bem-vindo. E, afinal, quem se incomodaria com isso? A questão a ser levantada aqui é que nem todos os indivíduos se sentem representados por esta hiperssexualização, pelo contrário, o incômodo existe. E vai mais além, nem todos entendem ou sentem o tal desejo que é valorizado na nossa cultura. Estamos falando de um grupo pouco divulgado, mas que está começando a ter voz: os assexuais. Assexualidade é o termo usado para definir pessoas que não possuem o desejo sexual, de modo não patológico. Ou seja, não é uma doença. Não está associada a problemas psicológicos e nem à disfunção hormonal. É o que retrata Rebeca, uma mulher virgem de 21 anos que, durante um relacionamento sério aos 16 anos, percebeu que não sentia vontade de ter relações sexuais com seu companheiro e resolveu procurar ajuda. Passou por uma psicóloga, fez diversos

exames e constatou que “era diferente”. O namoro acabou porque a menina não achava certo privar seu namorado do sexo. Situação semelhante aconteceu com Rafaela*, 38 anos, separada, mãe de três filhos. Era apaixonada por seu marido, sentia um pouco de prazer nas suas transas, no entanto, o desconforto era frequente. Quando descobriu que existia uma definição para isto, se separou. Embora uma pesquisa do zoólogo Alfred Kinsey, nas décadas de 40 e 50, tenha constatado que, naquele período, 1% dos norte-americanos não tinha interesse em sexo e 25 anos depois, estudo semelhante no Reino Unido teve o mesmo resultado; a assexualidade só foi definida no início do século 21. A criação da Rede de Educação e Visibilidade Assexual (AVEN, em inglês) auxiliou na divulgação da comunidade pela internet. “As comunidades têm crescido ao longo desses primeiros anos do século 21. Depois do surgimento delas, a ciência passou a estudar a assexualidade, principalmente a psicologia, a sociologia e o estudos feministas”, declara Elisabete de Oliveira, pedagoga e pesquisadora sobre o tema no Brasil. Iniciou-se também a distinção entre diferentes assexuais. Abaixo, pode-se entender um pouco mais sobre essas classificações. * Essas pessoas não quiseram que seus nomes verdadeiros fossem divulgados. revistapagu.com.br

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“Não sou heterossexual e também não sou lésbica. Sou demissexual.“ (Nathalia Caldeira, criadora do blog www.sobreocinza.wordpress.com)

"Meu sonho é ser mãe. Eu pretendo fazer sexo para fins reprodutivos.” (Rebeca)

heterossexual exclusivo heterossexual mais que ocasionalmente homossexual

assexual

indiferente sexualmente

Alfred Kinsey é conhecido como o pai da sexologia e seus relatórios foram vistos como o início da revolução sexual dos anos 60. Segundo Kinsey, a sexualidade dos seres humanos não seria imutável, apresentando assim diferentes graus de certas características. Estas características se dividiam em 8 categorias.

heterossexual ocasionalmente homossexual

bissexual

homossexual ocasionalmente heterossexual

homossexual mais que ocasionalmente heterossexual homossexual exclusivo

"Para mim, sexo era algo tão difícil que eu evitava falar sobre." (Rafaela*)

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“Eu nunca dei importância a essas questões, nunca me fez mal o fato de não ter interesse por sexo, sempre tive outros hobbies.” (Amanda)


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assexualidade

área cinza e demissexualidade parceiros sexuais e aliados da causa

comunidade Bandeira do Orgulho Assexual

Classificações Heterorromânticos são aqueles que gostam de se relacionar com pessoas do sexo oposto, gostam de beijar, abraçar, de dar e receber carinho. Mas não tem desejo sexual. Este comportamento revela que a atração física/amorosa não está definitivamente ligada à atração sexual. Os arromânticos tem certa aversão ao toque, o que impediria qualquer tipo de relacionamento. Há também outras denominações associadas ao grau de atração sentido. Neste contexto, demissexuais seriam descritos como quem tem a capacidade de sentir desejo sexual por pessoas com as quais já desenvolveu laços afetivos e emocionais. Priscila* é demissexual, apesar de ficar bastante incomodada ao falar sobre sexo, ela relata que o ato se normaliza proporcionalmente ao seu grau de afetividade com o parceiro. Ao mesmo tempo, o orgasmo não a encanta, ela ainda prefere formas sensoriais de relacionamento, está muito mais ligada ao toque e ao cheiro. Dentro deste universo, também encontram-se assexuais homorromânticos e birromânticos. Isto é, homossexuais e bissexuais que não sentem interesse por sexo. Maria* é uma delas. Uma senhora de 62 anos e viúva há quinze, conta que sempre lhe incomodou muito o fato de ser praticamente forçada a transar com seu marido. Ela não gostava, “fazia por fazer” e, consequentemente, teve dois filhos. Há pouco tempo, se descobriu assexual. Além disso, se assumiu homossexual. “[Depois da morte do marido] Tomei nojo de homem. Aliás, sempre tive atração por mulher. Sou assexual homorromântica”. Contudo, as nomeações dos próprios assexuais vão além disso tudo. Luciana de Roccio se considera uma assexual lexossexual, o que faz com que as palavras

despertem seu libído. Aliás, diante de seus 40 anos, já teve dois relacionamentos sérios e nunca transou. “Sinto prazer nas palavras e na masturbação. Sou assexual celibatária e às vezes [também] tenho nojo ao toque”.

Aceitação e Preconceito Quando se trata de sexualidade, as opiniões são diversas, as generalizações só desvalorizam a discussão e a aceitação é um processo árduo em uma sociedade ainda muito conversadora. A assexualidade já se tornou pauta para alguns estudos científicos, porém continua sendo um assunto pouco abordado e desconhecido para a maioria das pessoas. Então, quando alguém resolve assumir a assexualidade comumente se vê obrigado a conviver com a indignação dos outros. “Meus amigos aceitam, mas meus pais dizem que eu ainda vou gostar de sexo. Só não encontrei a pessoa certa” diz Gabriella, que há um ano admite ser assexual. Já Amanda tem o apoio de sua mãe, só não se sente confortável contando para seus amigos: “eu converso sobre sexo, meus amigos nem imaginam que sou assexual”. A autoaceitação também é um processo que às vezes demora. Para Rebeca, é preciso ser sincera consigo mesma e se respeitar, consequentemente o respeito dos outros virá. Será que é bem assim? Considerar-se anormal em um ambiente que glorifica o ato sexual não é tão improvável. Ainda é preciso desconstruir várias crenças e preconceitos, ter a mente aberta, não considerar a sexualidade como um tabu e muito menos com uma norma. A diferença sim, ela deveria ser bem-vinda. revistapagu.com.br

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AQUI, A CARNE MAIS BARATA É A CARNE NEGRA Texto Keytyane Medeiros

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Foto BeyonceTribe.it


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Brasil carrega consigo um triste dado: a cada 100 mil mulheres, em média cinco são mortas anualmente no país. Isso nos coloca na vergonhosa sétima posição entre os países mais perigosos para uma mulher, segundo dados da Secretaria Mundial das Mulheres da ONU. Mais de 80% dos casos de agressão registrados no país acontecem em casa e muitas vezes são tratados como crimes passionais, isto é, quando o agressor é marido, namorado ou companheiro da vítima e tem como motivação desavenças amorosas do casal. A violência contra a mulher, no entanto, está intimamente ligada à opressão de gênero e sexualidade feminina. A mulher, numa sociedade machista, é socialmente instruída a não explorar seu próprio corpo, assim como seu comportamento e visões de mundo devem estar submetidas às vontades dos homens que a cercam. Seu corpo não é só seu, ele existiria para satisfazer os desejos do homem, seja em espaços públicos ou privados. Aline Ramos, jornalista e autora do blog “Que Nega é essa?” afirma já ter vivido situações invasivas nas ruas. “Parece que o meu corpo não pertence a mim, apesar de estar presa a ele. Você pode afirmar que todas as mulheres recebem cantadas na rua, mas será que todas as mulheres tem a cor da sua pele enfatizada nessas cantadas? Acredito que não”. Para a jovem de 23 anos, o viés racial da violência é evidente, mas é constantemente velado por se tratar de mulheres negras, seres humanos construídos simbolicamente no imaginário social como mulheres mais afeitas ao sexo e descartáveis. Aproximadamente 53 mil denúncias de violência doméstica foram registradas no Brasil somente em 2014 e, desse total, 3% correspondem a abusos sexuais. Uma mulher negra, ao ser agredida pelo marido, muitas vezes ainda ouve adjetivos de cunho sexual pejorativo como “nega feia” ou “nega safada”, como relatado por algumas mulheres negras na internet. As vítimas desse feminícidio são, em sua maioria, mulheres pretas. Há um recorte racial na agressão que fica claro ao consultar dados do Mapa da Violência de 2010. Naquele ano, 2,9 mulheres brancas morriam a cada 100 mil enquanto outras 5,7 mulheres, dentro da mesma proporção, eram negras. Mas o que explicaria essa alta incidência de crimes e mortes violentas contra mulheres pretas e pardas no Brasil?

A cor da solidão A ideia de que as mulheres negras são produtos sexuais fáceis e descartáveis é tão difundida dentro da sociedade que a solidão da mulher negra é pauta recorrente no feminismo negro. Para se ter uma ideia, em Salvador, cidade com aproximadamente 80% da população autodeclarada negra ou parda e a cidade com maior número de afrodescendentes fora do continente africano no mundo, 51% das mulheres do município nunca se casaram, sendo que mais da metade

desse número é composto por mulheres negras ou pardas. O tema é tão importante que a pesquisadora Ana Cláudia Lemos Pacheco defendeu uma tese de doutorado chamada Mulher Negra: Afetividade e Solidão em 2008, na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), buscando retratar esse cenário que beira questões como sexualidade, racismo e opressão de gênero à mulher negra no Brasil. A pesquisa traz à tona colocações de importantes teóricas do feminismo negro, como a norte-americana Bell Hooks que, em 1995, alertava para a intersecção entre a hiperssexualização do corpo negro e a solidão feminina. Naquele ano, ainda que sobre o contexto estadunidense, Hooks afirmava: “mais que qualquer grupo de mulheres nesta sociedade, as negras têm sido consideradas ‘só corpo, sem mente’. A utilização de corpos femininos negros na escravidão como incubadoras para a geração de outros escravos era a exemplificação prática da ideia de que as ‘mulheres desregradas’ deviam ser controladas. Para justificar a exploração masculina branca e o estupro das negras durante a escravidão, a cultura branca teve que produzir uma iconografia de corpos de negras que insistia em representá-las como altamente dotadas de sexo, a perfeita encarnação de um erotismo primitivo e desenfreado”. Além disso, o corpo afrodescendente, de maneira geral, é invisibilizado na mídia nacional. A pesquisa “A cara do cinema nacional: perfil de gênero e cor”, feita em 2012, por exemplo, indica que apenas 4% do elenco principal de filmes comerciais é composto por mulheres negras, sendo que nenhum diretor dos 226 filmes analisados era mulher de pele preta. Esta sub-representação também acontece nas revistas e novelas, no qual as negras são representadas apenas como empregadas domésticas, operárias e secretárias. Em contrapartida, o corpo da mulher negra é também, em vários momentos, hiperssexualizado e visto como exótico e exuberante, mas apenas para envolvimento casual e furtivo. “Eles preferem as loiras” é uma das reclamações recorrentes na tese apresentada por Ana Cláudia Lemos. Na sociedade brasileira, segundo pesquisadores, a mulher negra teria duas funções e ambas, servilistas. A primeira voltada para o trabalho doméstico e a segunda voltada para a “mulata”, produto tipo exportação nacional de uma máquina de sexo desprovida de virtudes. Ainda segundo essa ótica, mas priorizando os tempos atuais, a mulher negra, para ser creditada por seu trabalho em diferentes áreas do conhecimento e cargos de gestão, não poderia apresentar qualquer traço de sexualidade em seu cotidiano para não colocar em risco todo o seu investimento em educação e negócios, por exemplo. Trata-se do que Patrícia Hills Collins, teórica feminista, chamará de “política de respeitabilidade”, que pode gerar ainda mais conflitos e pressões sobre a vida e sexualidade da mulher negra no Brasil. No entanto, a mulher negra, assim como mulheres de outras etnias, possui uma sexualidade revistapagu.com.br

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própria e natural do seu corpo, comportamento e personalidade. A política de respeitabilidade é capaz de inibir o desenvolvimento espontâneo da sexualidade feminina na mulher negra e com isso, negar a sua própria condição humana, segundo análises de coletivos negros como o Blogueiras Negras e o Instituto Géledes da Mulher Negra.

Da “cor do pecado”? A novela Da Cor do Pecado, de 2004, suscitou um importante debate nacional sobre o racismo e a objetificação da mulher preta. Nela, um homem branco e rico se apaixona por uma jovem negra e pobre, tirando-a dessa condição ao fim da novela. A funcionária pública e militante da Frente Feminina de Hip Hop de Bauru, Camila Pinheiro, acredita que o termo “cor do pecado” está ligado a dois fatores. “O primeiro e mais importante é uma herança escravocrata, na 30 PAGU

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qual as mulheres negras do passado eram obrigadas a servir sexualmente aos seus ‘senhores’. Eram estupradas como se fossem feitas para isso, para pecar. Num segundo fator, acredito que é o termo ‘da cor do pecado’ é usado erroneamente para a mulher negra como uma espécie de elogio à exuberância da beleza da mulher negra, porém está sempre ligada a uma conotação sexual e invasiva”. Aline, por sua vez, acrescenta que “o cristianismo possui elementos que atrelam a mulher ao pecado e a tentação, e essa cultura e crença certamente influenciou a sociedade, principalmente a brasileira”. Além disso, a negritude foi historicamente associada ao pecado e às sociedades mais primitivas ao longo dos anos da colonização africana. Dessa maneira, para Aline, “associar o negro ao pecado era uma forma de controlar esses corpos em diversos aspectos, e principalmente dar aval para a escravização dessas pessoas”, afirma. Por conta dessa hiperssexualização do corpo negro,


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“Saartjie Baartman, africana da etnia khoisan, escravizada e exibida como aberração na Europa do século XIX por seu corpo volumoso. Ficou conhecida como Vênus Negra.”

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a mulher sente-se sozinha e os relatos de agressões psicológicas acerca de sua cor são recorrentes. Mas a autoestima da mulher negra também é afetada por sua sexualidade e a maneira social como seu corpo é visto e visibilizado. Aline Ramos acredita que as diferenças entre mulheres negras e não-negras vai além do fenótipo, cor de pele, tipo de cabelo e traços físicos, passa também pelo desenvolvimento da sexualidade e da liberdade corporal da mulher já que, para ela, a visão machista da sociedade brasileira compreende que “as mulheres brancas são vistas como passivas em relação aos homens, as mulheres negras não. As negras, então, são vistas como predadoras de homens indefesos”, defende. Camila Pinheiro, no entanto, acredita que o desenvolvimento e liberdade sexual não se diferencia muito do caminho trilhado pela branca, já que ambas vivem sob o véu do machismo, mas reconhece que a autoestima de ambas será diferente, dado o fator racial existente nesse processo. Paola Ferreira, jovem cabelereira afro e militante da estética negra em São Paulo, acredita que todas as agressões vividas pelas mulheres podem ser potencializadas quando se trata da mulher negra. Para ela, “até chegar a morte física, a mulher negra já foi desumanizada, escravizada e sua saúde mental foi afetada por conta de outras diversas formas em que o racismo e o machismo conseguem destruir a sua existência”. Assim sendo, a violência doméstica, os estupros, a violência institucional que desconsidera as denúncias de abuso sexual vivido por mulheres negras em delegacias da mulher, a solidão afetiva e muitas outras questões que envolvem o bem-estar da mulher negra e a sua aceitação no mundo estão intimamente ligadas à percepção social do seu corpo e da sua identidade afro. A hiperssexualização e a objetificação dos seus corpos pode ser cruel e somente o empoderamento e a representatividade na mídia podem ser capazes de reverter esse quadro a favor das particularidades da mulher negra, segundo Paola. De acordo com a jovem de apenas 20 anos, “não existe auto estima para quem não se vê ou é vendida”.

Campanha #AhBrancoDáUmTempo surge na UnB e discute cotas raciais nas universidades revistapagu.com.br

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TRANS GRESSORA Texto Tania Rita

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Fotos Milena Vaz


ENTREVISTA

Bandeira do Orgulho Trans

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m 2013, o deputado Jean Wyllys e a sindicalista e política Érika Kokay redigiram o Projeto de Lei João Nery (PL 5002) que concede, entre outras coisas, o direito a pessoas transgêneros de terem a identidade reconhecida conforme sua declaração, sem a necessidade de uma cirurgia de readequação sexual. O nome do projeto é uma homenagem a João W. Nery, mais antigo transhomem brasileiro, que, em 2011, publicou sua autobiografia, A Viagem Solitária, promovendo maior visibilidade as pessoas trans no país. O projeto ainda está em trâmite e é tema de muita controvérsia. Encontra, sem dúvida, grande resistência dos setores conservadores que, muitas vezes, acabam utilizando de ocorrências pontuais para generalizar e deslegitimar a luta do grupo Trans. Para a antropóloga Larissa Pelúcio, professora da UNESP, a confusão que existe entre orientação de gênero e orientação sexual faz com que, muitas vezes, as pautas de pessoas Trans, Lésbicas e Gays se confundam, sejam generalizadas e silenciadas, embora a pressão e o preconceito em cima dos Transgêneros são muito mais intensos. Ainda hoje, a Transexualidade é considerada doença. Uma rápida explicação: identidade de gênero se

refere a formas de autoidentificação como homem, mulher, ou, nenhum dos dois, já a orientação sexual se refere a atração afetivo/sexual por algum gênero. Uma dimensão não depende da outra. Assim, Transgênero é um conceito que abrange pessoas que não se identificam com o gênero que lhes foi atribuído no nascimento; Cisgênero, às pessoas que se identificam com esse gênero atribuído. Dessa forma, uma pessoa Trans pode ser bi, homo ou heterossexual dependendo do gênero que adota e do gênero ao qual se atrai afetivossexualmente, ou assexual, caso não sinta atração por pessoas de qualquer gênero, ou ainda, pansexual, caso se sinta atraída por todos os gêneros (lembrando que a assexualidade e a pansexualidade também se estendem a pessoas Cis). Nessa edição da Revista Pagu, entrevistamos a cabelereira transexual Milena Vaz de 21 anos, residente da cidade de Jaú, interior de São Paulo. Milena, que diz gostar muito da profissão, sonha em um dia ter seu próprio negócio, além de revelar as dificuldades de ser uma mulher Trans no interior do estado, relatar seu processo de auto­aceitação e as expectativas de futuro na sociedade para as pessoas Trans.

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ENTREVISTA Quando você tomou consciência do seu gênero? Sempre tive consciência de ser alguém “diferente”. Principalmente pelo modo como as pessoas me tratavam. É claro, isso não me influenciou, mas aumentou a minha consciência sobre o meu comportamento diante deles. Já na infância, não me sentia à vontade com outros garotos para brincar, conversar, fazer o que eles faziam. Foi quando começaram a me tratar mal, com preconceito. Sempre sofri com isso. Aos dez anos, já tinha certeza. Foi quando eu comecei o tratamento hormonal para me adequar. Como foi? Quais foram as maiores dificuldades? Minha maior dificuldade acredito que foi a autoaceitação, já que a minha família, acho, sempre soube, então, desde o começo, me ajudaram muito. A sociedade dificulta bastante e muitas pessoas se afastaram de mim, inclusive parentes. Mas o “me aceitar” foi o mais difícil porque a cada dia que passava eu descobria uma dificuldade nova, principalmente o conflito para se adequar fisicamente e isso me abalou bastante, mas varia de pessoa para pessoa. Muitas Trans não tem o apoio da família nem de amigos, chegam a serem mandadas embora de casa pelos pais.

"A sociedade, sem dúvida, estigmatiza muito mais a mulher trans." Se pudesse voltar no passado, mudaria alguma coisa? O que? Se pudesse voltar atrás, é claro que, como todo mundo, mudaria algo (risos), mas acho que me informaria mais sobre o tratamento hormonal. Tenho que me cuidar muito mais do que uma pessoa que não precisa disso e, infelizmente, o SUS no interior de São Paulo não ajuda em nada. Por que? Até que ajuda, mas poderia se expandir. Aqui onde moro, o SUS não disponibiliza os remédios. O tratamento tem que ser feito na capital. Acho que toda cidade deveria fornecer os remédios, até porque nós temos um CID (classificação internacional de doenças), então tem que ser obrigatório. Você acha certo considerar a Transgeneridade doença? É muito complicado! Sem o CID, o SUS não pode aju34 PAGU

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dar. A mudança de nome se tornaria muito difícil porque o juiz quer a comprovação dos médicos. Eu acho errado porque fortalece o preconceito, mas se tirarem o CID, as coisas vão ficar ainda mais difíceis. Existe alguma solução que contemple as duas coisas? O fim da classificação no CID e maior poder das pessoas Trans em conseguir os medicamentos? Correto, mas isso demoraria muito, muito tempo. A maioria das pessoas Trans param de estudar por uma série de fatores e um tratamento hormonal bem acompanhado sai caro. A pessoa teria que ter um emprego bom. É complicado! Visibilidade/invisibilidade: qual a diferença desses conceitos para as pessoas Trans comparada a outros grupos oprimidos não Trans (gays, lésbicas, mulheres cis)? Olha, hoje em dia está mudando a questão da visibilidade Trans. Estamos tendo mais voz, mas mesmo assim, se você comparar, a quantidade de pessoas Trans com emprego e vida social é bem menor do que a de gays, bissexuais e lésbicas. Você acredita que as dificuldades enfrentadas pelas pessoas Trans, principalmente no que se refere à autoconsciência, aceitação e autoestima, são exclusivamente externos, vindos da sociedade, ou existe algum fator interno/psicológico que também dificulta a vivencia das Transexuais? Acredito que a aceitação e autoestima da pessoa Trans vem dela mesma. A sociedade acaba colocando padrões em todos, sendo Trans ou Cis, mas sem dúvida, estigmatiza muito mais a mulher Trans. Qual a sua opinião sobre o papel da mídia ao abordar a Transgeneridade? A mídia não ajuda nenhuma pessoa Trans. Nunca vi uma pessoa Trans atuando em novela, por exemplo. Eles apenas confundem e mostram uma imagem vulgar e distorcida. E sobre o tratamento hormonal em crianças Transgênero? Acha necessário, importante? Acho que quanto mais cedo um tratamento hormonal, melhor. É claro que se tratando de uma criança deverá ser muito bem acompanhado. E cirurgia de mudança de sexo em adolescentes menores (com consentimento dos pais)? Nesse caso, acho que tem que estar bem preparada, muito certa do que quer. A cirurgia é algo muito particular. Ninguém, de repente, vai te tratar diferente, sem preconceitos porque você fez a cirurgia. Vai ser


ENTREVISTA algo pra você se realizar. Se o menor estiver realmente preparado, sou a favor, mas ainda acho que o ideal seja esperar um pouco. Acha que toda pessoa Trans precisa fazer a cirurgia? Acho que a pessoa Trans tem que se sentir bem com ela mesma. Isso é uma batalha de remédios e/ou cirurgias. Vai de pessoa para pessoa, mas isso não a faz mulher ou homem, até porque ela já é antes de se submeter a redesignação. Existe alguma demanda do judiciário em submeter Travestis e Trans a cirurgia de mudança de sexo quando essas pessoas buscam adequar seus documentos/registros civis ao nome e ao gênero? Sim. A maioria dos juízes exigem que seja feita a resignação. Isso, além de dificultar, acaba obrigando algumas pesoas que queiram mudar seus documentos a fazerem a cirurgia e se arrependerem depois. Mudar os documentos pode dar uma nova vida social para ela, como um emprego. Isso não seria uma prática de esterilização forçada? Sim. E sobre o feminismo, você acha que existe uma falha no feminismo tradicional em incluir e lutar pelas pautas Trans? Acho que hoje em dia o feminismo inclui muito mais as mulheres Trans, assim como o movimento LGBT, mas associar pessoas Trans com o grupo gay, acaba confundindo muito algumas pessoas. Como que o transfeminismo pode também ajudar as mulheres cis? O feminismo e o Transfeminismo têm um único objetivo: lutar pelos direitos das mulheres. Os dois, no fim das contas, ajudam as mulheres, sejam elas Cis ou Trans. Quer falar alguma coisa que eu não tenha perguntado? Só reforçar que o mais importante é a inclusão da pessoa Trans no mercado de trabalho. A maioria das mulheres Trans tem que se prostituir porque não tem escolha. São colocadas na rua e não são ajudadas por ninguém. A pressão e o preconceito na escola fazem muitas pararem de estudar. Sem qualificação, sem emprego. A inclusão no mercado e abordagem do tema de forma correta e saudável nas escolas seria algo muito importante. revistapagu.com.br

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MEU CABELO, MINHA DECISÃO Texto Lívia Lago Foto Lílian Lago

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Ilustrações Nneka Myers


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lisar os cabelos se tornou, por muito tempo, a salvação de muitas mulheres, afinal, um cabelo liso é muito mais fácil, prático e barato de se cuidar. Isso sem contar que é muito mais bonito, charmoso e elegante! É mesmo? Existe um tipo de cabelo mais bonito? Um tipo de cabelo mais prático? Existe um cabelo melhor que os outros? Se você, assim como esta humilde jornalista que escreve, tem o cabelo cacheado, ou cabelo crespo, sabe bem do que estou falando. Quantas vezes já não ouviu coisas do tipo “cabelo ruim”, “armado”, “juba”, “pixaim”? E quantas vezes não chorou por ouvir esses comentários maldosos? Ou chorou por não saber o que fazer com o seu cabelo para que ele ficasse “bonito como o das outras meninas”? Se você já passou por algum deses sofrimentos, é muito provável que tenha se encantado com as maravilhas do alisamento. Seja a escova progressiva, definitiva, marroquina, de chocolate ou o relaxamento e até a própria chapinha! Não importa o método, o importante era ter o cabelo liso: o cabelo que era aceito por todos. Por que se sentir aceita na sociedade é algo muitas vezes fundamental para nossa autoestima. Mas a que custo? Até onde vale a pena gastar horas (eu mesma gastava no mínimo cinco) no cabelereiro? Ralar para juntar o dinheiro que pague pelo tratamento? E ficar sempre atenta pois, ao surgirem os primeiros centímetros de raiz, precisamos correr de volta para o salão. Para mim e para algumas amigas, o custo-benefício não valia a pena. Além dos problemas citados acima, há os efeitos colaterais que a química causa no couro cabeludo. Escamação, queimaduras e até mesmo a queda dos fios. Esses problemas fizeram com que tomássemos uma importante decisão: abandonar o alisamento e assumir nossos cabelos naturais! A decisão de assumir os cabelos vem sendo cada vez mais frequente entre mulheres cacheadas e crespas. No Facebook, podemos encontrar inúmeras páginas e grupos cujo objetivo é incentivar quem está nesse processo e dar dicas para cuidar do seu cabelo durante essa fase de transição. Uma das páginas de mais acesso é a Faça Amor, Não Faça Chapinha, criada pela pernambucana Letícia Carvalho. A página tem mais de 100 mil seguidores, é administrada por cinco mulheres e sua principal função é desmistificar essa ideia de cabelo bom e cabelo ruim e, assim, ajudar a combater esse preconceito. Para as integrantes do movimento, o alisamento capilar se tornou um instrumento para mascarar a própria imagem. “Fazer chapinha, escova ou qualquer mudança não é um problema. Isso é prejudicial quando passa a ser uma forma de mascarar a identidade dessa pessoa, a cultura, as vontades.” Além da página, há um grupo no Facebook onde os integrantes podem trocar ideias, dicas e experiência sobre os cuidados com diferentes tipos de cabelo. “Dizer que é difícil ou caro de cuidar é falácia. Todo cabelo, se você for uma pessoa vaidosa, vai demandar tempo e dinheiro, o que acontece é que a indústria de

cosméticos ainda é bastante falha em relação ao cabelo crespo.”

Racismo da raiz às pontas Quando falamos do preconceito em relação ao cabelo, não podemos deixar de relacionar com o racismo. Pois se ter o cabelo cacheado é ruim, imagina ter um cabelo afro! A ideia de que o cabelo crespo é inferior anda de mãos dadas com a ideia de que o negro é inferior. O racismo não se limita a cor da pele, ele se expande para todos os aspectos que são relacionados à população negra. E o cabelo não fica de fora. Quando nos damos conta dessa associação, percebemos o quão ridículo se torna o discurso de que há um cabelo melhor que os outros. O que há é um racismo enraizado que se articula em todos os aspectos da sociedade. O cabelo crespo não é inferior ao de ninguém. Black power e tranças nagô não são “penteados exóticos das mulheres negras”. Elas não estão fugindo de nada nem ninguém quando fazem isso. Estão se emponderando, se libertando das amarras estéticas da sociedade.

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Parei de alisar, e agora? Infelizmente, o cabelo não vai ficar pronto da noite para o dia. Pode demorar meses, até anos. Mas até lá, o processo é bem delicado, às vezes dá vontade de desistir (eu já senti isso). Isso porque, nesse período de transição, nosso cabelo fica estranho - metade liso e metade cacheado/crespo - a gente não se sente bonita

CALMA NA ALMA Não é fácil, não é divertido, não é bonito e não há atalhos. Mas pode haver paciência. Essa é uma das principais chaves para conseguir levar a transição até o fim. Pense sempre que “é difícil sim, mas eu vou conseguir!”. Quando você leva esse período com menos estresse possível, fica muito mais fácil. Os fatores que antes atrapalhavam não irão mais te incomodar tanto assim.

CULTIVE ESSE AMOR Parece loucura, mas ao mesmo tempo que você se sente irritada com a transição, também se sente muito feliz. Isso acontece principalmente devido àquela ansiedade que a gente sente ao redescobrir o nosso cabelo. Você não sabe mais como ele é ao natural, como ele vai se comportar. E essa ansiedade pode ser boa, pois te ajuda a nutrir um amor e um carinho especial pelos novos fios que estão por vir.

DEIXE QUE DIGAM Sim. Sempre tem aquele chato ou chata que vai questionar sua decisão. Que vai dizer que você não vai aguentar por muito tempo ou que você fica melhor com o cabelo alisado. Ignore. Se gostam tanto assim, que alisem o deles! Essa é uma decisão muito pessoal, não deixe que a opinião dos outros interfira na sua jornada.

TEM GENTE NA TORCIDA Como já disse antes, existem muitas páginas e grupos sobre a transição capilar no Facebook. Que tal dar uma pesquisada? Além de dicas, você encontra pessoas que podem compartilhar sua experiência e te apoiar durante o processo. Isso é muito importante, pois quando alguém está torcendo e apoiando, nos sentimos com muito mais garra para seguir em frente! 38 PAGU

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e fica difícil tratar de um cabelo com duas texturas diferentes. Por isso, separei algumas dicas para que vocês se inspirem e não desistam de lutar pela volta dos seus cabelos naturais. Tenho certeza que o resultado irá valer muito a pena!


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Inspire-se! Veja os depoimentos de algumas mulheres que passaram pela transição e hoje estão muito mais felizes

Isabela Cunha

com seus cabelos naturais. Inspire-se com suas histórias e descubra que a transição pode valer a pena!

Rebeca Santos

22 anos jornalista

19 anos estudante

Eu não me lembrava de como era meu cabelo. E também não imaginava que em algum momento poderia gostar tanto. O processo é lentíssimo e não necessariamente “natural”. Mas, olhando para minha penteadeira, para o meu último ano e para o amor que tenho nessas molinhas, o desejo é um só: ter mais pequenas revoluções a comemorar, ter mais e mais mulheres comemorando suas pequenas e grandes revoluções.

Thaisa Dias

24 anos professora Eu comecei a ver blogs e páginas do Facebook sobre cabelo natural e sobre transição e fui a cada vez mais me apaixonando pela idéia de deixar meu cabelo como ele realmente é. Após uns seis meses eu já estava desesperada! Ponta lisa e raiz enrolada. Não dava pra fazer nada! Então eu resolvi fazer o grande corte. No começo foi muito difícil, mas aos poucos eu fui descobrindo como arrumar (ou não arrumar) e como, pela primeira vez, ter orgulho do meu cabelo.

No início eu não pensava em deixar meu cabelo natural. Deixei por preguiça da progressiva mesmo! Depois de um tempo que o cabelo cresceu, vi a forma dos cachos...e fui me apaixonando pela minha fibra natural e comecei a me aceitar como realmente sou. A transição durou um ano. Em setembro do ano passado que decidi tacar a tesoura de vez e deu no que deu! Estou muito mais feliz com meus cabelos cacheados, e muito mais confiante.

Ísis de Hércule

27anos psicóloga Mudar o visual, ou melhor, voltar a ser você mesma de um jeito que você nunca foi é no mínimo libertador! Alisar o cabelo foi uma tentativa de me sentir melhor e confesso que essa ilusão permaneceu em mim por oito anos. Ao sentir as “ondinhas” que insistiam em nascer pensei em deixá-las respirar! Sei que existem diversos gostos, porém, minha transição capilar trouxe empoderamento pra mim. Cada pessoa deve encontrar a melhor forma de ser. revistapagu.com.br

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TIRE SEU PADRテグ DE MIM! Texto e Foto Marina Moia revistapagu.com.br

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REAL BELEZA arriga chapada, pés pequenos, cabelos lisos, pele aveludada, unhas pintadas de vermelho, não pode ser muito alta, mas também não pode ser baixinha demais. Não se esqueça de usar maquiagem, mas tem que ser tudo bem natural. A saia não pode ser muita curta, se não você fica com fama de vadia. Se for longa, será chamada puritana então. Depile tudo. Depile a axila, depile a perna, depile a virilha, depile até o bigode que você nem vê. Malhe todos os dias, não tenha culote e muito menos celulite. Ah, a celulite, a vilã mais temida juntamente com a estria, as varizes, as espinhas e não podemos esquecer das pintas também. Essas são apenas algumas das milhares de exigências que as mulheres tem que seguir todos os dias se elas desejam se encaixar no modelo perfeito que a sociedade impõe. Mas será que esse padrão é realmente perfeito? Ou ainda, será que ele é alcançável? Não é de hoje que as mulheres sofrem com a pressão imposta pela sociedade para serem bonitas. A cada época histórica, o padrão estético muda e a mulher é praticamente obrigada a se adaptar. No antigo Egito, bonito era ter cintura e ombro estreitos, mas, já nos anos 80, o corpo atlético e torneado era o mais valorizado, por exemplo. Sendo assim, as mulheres fazem o possível e o impossível para agradarem as amigas, a família, o namorado, a vizinha, o chefe, e acabam não enxergando que a única pessoa que elas tem que agradar é a si mesmas. Por trás disso, estão as revistas de moda, programas de televisão e redes sociais, que são grandes vilões da autoestima feminina. A veiculação de propagandas, novelas e reportagens com imagens utópicas e machistas faz com que a sociedade aceite esses valores como verdadeiros e oprima as mulheres no trabalho, na escola, no supermercado ou até na rua. Consequentemente, parte da população feminina acaba cedendo aos padrões e, para isso, entram em dietas malucas ou utilizam químicas bem perigosas para mudarem seus cabelos e corpos. “Em culturas que os homens valorizam as mulhe-

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res gordas (“que enchem uma cama”), a pressão é para que elas engordem. Nossa cultura pede que as mulheres sejam magras, saudáveis, saradas, jovens, bonitas, trabalhadoras e submissas. E essa pressão funciona bem porque se vende a ideia de que estar fora do padrão significa fracasso”, explica a psicóloga Juliana Bárbara.

Reflexos utópicos O descontentamento das mulheres em relação ao próprio corpo também se traduz em números. A marca de higiene Dove realizou uma pesquisa global em 2010 chamada A verdade sobre a Real Beleza, que aponta que apenas 4% das mulheres se consideram bonitas. Em 2004, a estatística era ainda pior: 2%. Outro dado relevante da pesquisa é que 72% das meninas se sentem extremamente pressionadas a serem

Egito Antigo

Grégia Antiga

Dinastia Han

Renascença

Era Vitoriana

cabelos longos rosto simétrico corpo magro e alto cintura estreita

pele branca seios fartos cintura larga

olhos grandes pés pequenos pele pálida cintura fina

corpo arredondado quadris largos seios grandes pele branca

corpo volumoso cabelos longos silhueta fina e bem definida

Por Lívia Lago

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bonitas. São números muito extremos, o que torna a situação preocupante. Em nossa sociedade, sucesso é associado a beleza, o que faz surgir a ideia de que mulheres bonitas seriam mais felizes e realizadas. “Com tantos recursos de manipulação de imagem, ou mesmo de cirurgias plásticas, esse ideal de corpo perfeito passou a beirar o inatingível, fazendo assim com que as mulheres se cobrem cada vez mais uma aparência artificial e se sintam cada vez mais frustradas pela incapacidade de alcançá-la”, afirma Juliana Bárbara. Outra profissional que comenta sobre o assunto é a psicóloga Marlene Neves Strey. Segundo ela, as mulheres não são educadas para refletir sobre o que leem na mídia e acabam se tornando vítimas. “Desde o berço, as mulheres são levadas a pensar primeiro nos outros e, muito depois, em si mesmas. São ensinadas a duvidar da própria capacidade. São ensinadas a

Década de 20 Anos Dourados Década de 60

sem curvas seios pequenos cabelos curtos e ondulados

corpo curvilíneo seios grandes cintura fina quadris largos

corpo magro pernas longas e finas aparência juvenil

buscar confirmação nos outros sobre o que devem ou não devem pensar”, enfatiza Marlene. A autoestima é algo que é construído desde quando somos pequenos e está sempre em constante alteração de acordo com o estado psicológico da pessoa ou com as influências de fora, como a mídia ou as relações interpessoais. E quando a autoestima da mulher é abalada, também podem surgir consequências mais graves, como ataques contra si mesma, depressão, ansiedade ou até mesmo alergias e, em casos mais graves, câncer. Para que a mulher consiga superar esses problemas, Juliana explica que “melhorar de verdade, nesse caso, significa que a pessoa deve se libertar dessa pressão absurda para atingir o corpo utópico e perceber-se como uma pessoa real e perfeita assim como ela é. Dependendo do grau de comprometimento da doença, as vezes se faz necessário o uso de medicamentos”.

Anos 80

Anos 90

Atualmente

corpo atlético estatura alta braços e pernas torneados

pele translúcida aparência andrógena corpo extremamente magro

corpo magro barriga chapada seios e bumbum grandes

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Sou linda sim! Apesar de milhões de mulheres no mundo ainda lutarem diariamente contra a própria aparência ou com a sociedade que as impõe os padrões, não podemos esquecer das meninas que aceitam seus corpos e querem passar essa positividade para outras mulheres. Gabriela Soares, de 28 anos, tem 1,71m de altura, é gordinha e sabe como valorizar seus pontos fontes e, assim, se sentir cada vez melhor com seu corpo. “Hoje consigo manter uma relação cordial com o espelho. Apesar de não estar nem um pouco dentro dos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade e pela mídia, me considero uma mulher bonita”, conta. Gabriela, assim como muitas outras, acredita que a mídia é doentia quando se diz respeito aos padrões de beleza e que as pessoas tentam, exaustivamente, alcançar o cabelo, rosto, barriga e unhas perfeitas por causa dela. “Ela faz uma lavagem cerebral na cabeça das meninas e dos meninos, passando a mensagem de que se você não tiver o corpinho de uma diva (ou de um galã), nunca vai ser feliz, nunca vai encontrar alguém que te ame e nunca vai ter sucesso profissional", enfatiza. Além de transformar os adolescentes em adultos frustados e doentes, ela também acredita que “a mídia acaba disseminando preconceito, porque além dessas pessoas não se aceitarem como são, não aceitam os outros também”. A estudante Marilia Cavalcante, de 20 anos, já teve problemas de autoestima por não se encaixar nos parâmetros da sociedade, mas diz que conseguiu superar isso graças a ajuda de sua mãe, que sempre a apoiou e ensinou que ela conseguiria sucesso e amor independentemente de sua aparência. “Eu não me enxergo perfeita, mas eu me vejo linda. E me sinto muito bem comigo mesma. Se estou bem por dentro, o por fora não vale nada”, conta. Outra atitude que ajudou a estudante a se aceitar melhor foi a criação de seu blog Afrodite É Plus (afroditeeplus.wordpress.com), onde ela escreve principalmente sobre artistas gordinhas que estão em evidência na mídia e que mostram que não é preciso se encaixar no padrão para serem bem sucedidas e, principalmente, felizes. Sobre os padrões estéticos, a estudante acredita que eles existem para serem quebrados e que “quanto mais você quebra, melhor você fica consigo mesma. Essa história de você tentar seguir um padrão é quase uma utopia. Nem a modelo é o que ela é, a foto é cheia de filtros”. Em sua opinião, a mídia faz com que as pessoas fiquem paranóicas e por isso vemos casos de anorexia, bulimia e ansiedade crescendo entre meninas jovens.

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Marilia Cavalcante

Gabriela Soares


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“Olhe para você. Perceba-se, por dentro e por fora. Sinta-se. Conheça suas origens. Você não é obrigada a amar o seu corpo inteiro, você pode mudar algo que te incomoda, sim. Mas mude-o por você, somente por você e por mais ninguém. E não faça loucuras: o seu corpo é o reflexo da sua vida.” (Gabriela Soares)

“Olhe para alguém que se aceite e veja que a vida não se resume só a um corpo. A vida é muito mais do que o corpo. É sua inteligência, sua forma de relacionar com as pessoas. Se você é uma boa pessoa, você é linda por si só. O seu exterior é apenas um complemento.” (Marilia Cavalcante)

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Luz no fim do túnel Falamos muito sobre como a mídia pode ser nociva à autoestima da mulher e como os padrões que ela impõe são irreais. Mas hoje em dia também existem blogs e sites que estão na missão de quebrar a imagem de que só mulher magra é feliz e que só cabelo liso é bonito. Mulher é muito mais do que sua imagem e, além disso, todas são lindas com suas próprias características. E são pensamentos assim que essas profissionais desejam passar. Uma das principais blogueiras atualmente é a Ju Romano (www.juromano.com). A jovem paulista é formada em jornalismo, já passou por diversas redações e hoje é repórter de beleza do Portal MdeMulher. Além disso, ela possui o Entre Topetes e Vinis, que existe desde 2009 e é um espaço onde mulheres que não se encaixam nos padrões da sociedade podem encontrar matérias e dicas que as contemple. No blog, são postados looks da própria Ju, que se define em seu blog como uma “uma gordinha de pernas curtas e cílios longos”, dicas de beleza, de lojas que vendem todos os tipos de tamanho (e não apenas P, M e G) e também reflexões sobre o comportamento das mulheres e da nossa sociedade. A bauruense Paula Bastos, também jornalista, usou o seu blog Grandes Mulheres (www.grandesmulheres.com.br) como seu Trabalho de Conclusão de Curso. Desde 2009 no ar, o blog continuou além e hoje é uma referência no segmento pluz size do país. Assim com Ju Romano, Paula posta fotos de looks do dia, conta sobre gordinhas que são inspirações pelo mundo e também fala de comportamento, beleza e tutoriais. revistapagu.com.br

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em.po.de.rar (v. tr. e pron.) dar ou adquirir poder ou mais poder revistapagu.com.br

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“É tirar de cada tombo um aprendizado.” Thalita

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“Minha autonomia de escolhas, de pensamentos e atitudes.� Maria revistapagu.com.br

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“É olhar pra mim e conseguir realmente me amar, sem esperar isso dos outros .” Julia

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“É me enxergar livre de julgamentos e parâmetros.” Bruna

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“É eu não ter vergonha do meu corpo e do meu gênero e encontrar nas mulheres irmãs e não inimigas.” Sara 58 PAGU

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“É fazer o que quiser sem se preocupar com a opinião dos outros.” Talita

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UM ASSUNTO CHEIO DE DEDOS Texto Flávia Nosralla Ilustrações Jenny Yuen Fotos Cadídja Assis

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“Relaxa e goza!”...Espera ai, como assim, goza? Gozar de que jeito? Gozar com quem? Alias, como que eu faço pra gozar?

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autora da famosa frase foi Marta Suplicy, uma mulher. Curioso que justamente as mulheres possuem muito mais dificuldade em gozar do que os homens. Segundo uma pesquisa do Datafolha de 2010, 76% dos homens sempre atingem o orgasmo enquanto 70% das mulheres nunca chegaram lá! E o pior: 50% das entrevistadas já fingiram ter essa sensação. Se você faz parte dessas estatísticas, entenda que a culpa não é sua. Somos criadas, desde pequenas, em um ambiente que tende à repressão sexual feminina. A psicóloga Eliane Rosa Maio explica que, enquanto “os meninos são encorajados a se tocarem (fazem xixi segurando o pênis, o sentem, cheiram, sabem onde é bom tocar)”, as meninas passam pelo contrário: elas “não são educadas a se olharem, tocarem, sentirem sua vulva ou clitóris. Quando sentam de pernas abertas, há alguém que pede para fechá-las”. Ou seja, enquanto o menino, desde criança, sabe onde é gostoso encostar, conhece o periquito de cabo a rabo, a menina, muitas vezes, só vai tocar em si mesma perto da primeira menstruação, quando os pelos começam a surgir, quando a região da vagina acaba pedindo mais atenção. Ainda assim, às vezes esse toque vem com sentimento de culpa, de estar fazendo algo errado - o que não deveria acontecer. Essa falta de conhecimento pode estar muito relacionada a tantas mulheres não conseguirem ter um orgasmo. A Pagu conversou com sexólogas, meninas que se masturbam e reuniu histórias e dicas para você que quer saber melhor sobre o assunto.

Amor à primeira vista Se só de começar a ler esta matéria, você já ficou com as bochechas vermelhas, fique tranquila. Segundo a psicóloga e sexóloga Cristiane Koyama, é preciso entender que ter vergonha é o mais esperado para essa situação. “O mais comum é você encontrar mulheres que têm dificuldade com a sua autoestima e dificuldade de lidar com o próprio corpo”. Então não há nada demais em nunca ter encarado a sua pepeca de frente. A Cristiane dá uma dica muito boa: pare para pensar que “assim como você tem um pé, uma mão, um braço, você tem um canal vaginal e ele é mais uma parte do seu organismo que você vai precisar cuidar da melhor forma pra ficar funcional a vida toda”. Se você ensaboa o seu corpo inteiro durante o banho, apalpando seus braços, pernas, seios, barriga, não há porque ser diferente com a vagina. Ela não precisa ter esse caráter de mistério e desconhecido. “Quando a gente tira esse viés sexual como uma coisa de primeiro foco, a gente pensa que esse “ter coragem” fica mais tranquilo”. Pensando assim, a masturbação - que, segundo a doutora, nada mais é que uma massagem em si mesma com fim de gozo - acaba não tendo um cunho somente de prazer sexual: é uma forma de conhecer melhor o corpo que você possui, “que é seu e que você vai conviver com ele durante toda a sua vida”. Naturalizando o processo, fica mais fácil de encarar a danada. Um jeito simples de começar é, após

o banho, pegar um espelhinho, sentar ou deitar na cama com as pernas afastadas e olhar a sua menina. Se você não se sentir à vontade na primeira vez, nem precisa tocá-la, apenas olhe. Repare em quantas dobrinhas ela tem, como são os seus lábios (tem os mais gordinhos, mais fininhos), por onde sai o xixi, a menstruação, o tamanho do seu períneo (o espaço entre a entrada da vagina e o ânus), onde fica o clitóris. Essa primeira olhada já pode tirar muitas dúvidas - várias meninas, por exemplo, perguntam “como eu vou fazer xixi?” quando o assunto é absorvente interno, porque, provavelmente, nunca perceberam que os buracos são diferentes. Quando já estiver rolando uma paquera boa entre vocês duas, as olhadelas podem evoluir para alguns delicados toques. Perceber a textura da sua pele, como os seus pelos crescem (caso eles estejam por ali), o quanto os lábios ficam próximos ou não uns dos outros. O clitóris, por exemplo, é um órgão com a única função de dar prazer, que não envelhece e que só nós temos (chupa, omi!). Ele costuma ficar envolvido por uma pele que o protege, o prepúcio. Massageá-lo por cima da pele já é gostoso, mas, minha amiga, se você consegue “descobri-lo”, a coisa fica muito mais intensa. Ele é extremamente delicado (se você mexer nele descoberto sem estar excitada, pode sentir aflição ou um pouquinho de dor) e provoca reações muito intensas.

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ENTRE 4 PAREDES

Solta o som, DJ! A prática em si é muito simples, uma massagem, como já vimos. Se você está começando, é interessante que seja um momento em que não poderão te interromper, como na hora de dormir, no banho ou enquanto não tem ninguém em casa, para que você possa relaxar e curtir o momento. E, é claro, não se esqueça do seu cérebro. Agora não é hora para pensar nas contas que você não pagou ou no trabalho da faculdade. É um momento seu, para aproveitar com você mesma. Pense no que te dá prazer: alguma pessoa, situação, imagem, coisas que você gostaria que acontecessem ou pelas quais já passou. Qualquer coisa que te excite é válida. E aí basta você tocá-la. Pressionar levemente os dedos sobre o clitóris fazendo movimentos circulares (o famoso dj) é um bom começo. Quando você está excitada, seu canal vaginal fica lubrificado e dilata, o que favorece a penetração - que tal passear com os dedos por ali? Você pode ir colocando um dedo de pouquinho, conforme se sente confortável, enquanto continua massageando o clitóris. A lubrificação natural também é excelente para você molhar o dedo e voltar para o clitóris. Nessa hora, todo o seu corpo está ali ao seu bel prazer, então não despreze nenhuma parte. Seus seios podem ficar enrijecidos com um simples toque e apalpá-los pode trazer sensações muito agradáveis. Dá pra passar a mão pelo pescoço, barriga, entre as coxas, apertar a si mesma. Explore cada centímetro de você, descubra quais são suas zonas erógenas, quais regi-

ões te dão prazer. A prática fará com que você perceba qual jeitinho te agrada mais. É importante não ter pressa nessa hora. Continue se massageando, descobrindo seu corpo, se concentrando no estímulo que escolheu e no prazer que você está sentindo. A sensação irá ficar mais forte até a hora em que você “não aguentar mais”, que é quando o orgasmo chegou. Para a Natália*, o começo da masturbação foi mais literário. Ela conta que, quando tinha 12 anos, ficava lendo fanfictions de sexo e chegava lá só pela imaginação. Ela ainda não sabia do poder das mãos. Depois de ler em um site que um parceiro poderia acariciá-la, ela utilizou os dedinhos e sua vida mudou. “Nunca mais fiz nada que não com a minha mão ou outra pessoa. Às vezes, pressionar em cadeira, colchão ou em uma pessoa dá uma vibe legal, mas, pra finalizar, tem que ser mão/língua mesmo”, complementa.

Não me deixe só Nem só de clitóris e vagina vive a siririca. O ânus está ali pertinho e é uma zona erógena de mulheres e homens. Para começar a brincar com ele, só é necessário que você tenha um pouco mais de cuidado pela higiene e pela “abertura”. A vagina é feita para se dilatar no momento da excitação, já o furico é mais apertadinho. Um bom jeito de começar é apenas passando a mão por ele (você já conheceu sua pepeca assim, certo? Não custa nada fazer um carinho ali também), sentindo suas dobrinhas, o formato. Uma leve pressionada com o dedo também pode te mostrar se ali é uma área de prazer. Se seu corpo responder positivamente a esses estímulos, não se acanhe em colocar o dedo, mexe-lo, estimular a região como sentir vontade. Dá para gozar pelo ânus, sabia? Imagine a intensidade de um estímulo triplo, clitóris + canal vaginal + ânus. Só se lembre de não usar o mesmo dedo na vagina novamente, pois ele entrará em contato com bactérias que podem causar infecção na pepeca. 62 PAGU

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Tá vibrando Um aliado interessantíssimo na hora da masturbação é o vibrador. Ele foi inventado em 1896 para ajudar no tratamento da histeria (gozar faz falta!). Os médicos ficavam massageando por horas as mulheres solteiras que tinham o diagnóstico e reclamavam de insônia, irritação e ansiedade. Apesar de não ter um fim erótico quando foi criado e de ser bem rudimentar (o vibrador funcionava a vapor e depois a manivela), o objeto foi evoluindo - a versão elétrica começou a ser comercializada em 1902 - e hoje as sex shops disponibilizam dezenas de versões que se encaixam ao prazer de cada uma. A Catherine* ganhou o seu de um ex-namorado, há quatro anos. “Ele teve a iniciativa para usarmos no sexo. Disse que era um presente para ambos e que só fazia sentido ficar comigo”. O namoro terminou, tem outro cara na parada, mas o vibrador continua fazendo a alegria de Catherine. “Uma vez em que estava fazendo com o vibrador foi tão bom que acabei gritando - e acordando minha mãe, que correu pro meu quarto. Deu tempo de esconder tudo, mas, nossa, queria mor-

rer de vergonha!” relembra, entre risos. Apesar de preferir o uso do objeto, ela não usa sempre por causa do barulho. “Uso imaginação mesmo ou estímulo visual junto. Às vezes vejo pornô, mas tomo muito cuidado, por sentir que a maioria degrada as mulheres”. Existem inúmeros tipos de modelos de vibrador. Os bullets, por exemplo, são excelentes para quem está começando e quer apenas estimulação externa, são pequenos e discretos. E o preço começa na faixa dos R$ 25,00. Tem os que são em U e estimulam o canal vaginal e o clitóris ao mesmo tempo, de diferentes tamanhos e texturas, os que simulam um pênis, o rabbit, que possui um eixo rotativo e uma parte para estimular o clitóris. Se você quer aprender mais sobre cada tipo, formas diferentes de usá-los (alguns vibradores não vêm com manual de instruções) e descobrir mais curiosidades, tem um e-book disponível para download grátis e bem útil: Vibrador, o livro, escrito pela Paula Aguiar (sexonico.com.br/ebook/vibrador-o-livro. pdf). Definindo a sua preferência, você pode comprar pela internet de maneira discreta.

Uh, uh, uh, que beleza! Sabe qual é a melhor parte disso tudo? A masturbação só tem benefícios! Dá prazer, não tem contraindicação, não tem riscos, relaxa e desestressa. A Natália* acrescenta que “é legal fazer antes de dormir, porque você relaxa muito depois e acaba dormindo melhor”. Para a psicóloga Cristiane Koyama, a melhor parte é a elevação da auto-estima. “Se você tem um bom contato com o seu corpo, se olha no espelho e te agrada aquilo que vê, independente do corpo que você tenha, você já está ganhando um grande benefício de gostar de você mesma e de conseguir obter prazer para si mesma”. A sexóloga complementa que a masturbação permite que você reconheça a melhor forma de obter prazer e de ensinar o outro a lhe proporcionar prazer. “Esse processo masturbatório ajuda não só a vida sexual dessa mulher, mas também a vida íntima, o contato, a própria intimidade”.

Além do autoconhecimento, a masturbação te proporciona liberdade e independência. Tudo o que você faz quando está com o boy ou com a sua mina, dá para fazer sozinha, todo o prazer que você tem quando está transando com outra pessoa você também consegue alcançar batendo uma. O cuidado que você precisa tomar quando for bater uma siririca é com relação à higiene. Cristiane ressalta que, por ser uma região mais sensível do corpo, é preciso que suas mãos estejam limpas e que os possíveis acessórios que você vá utilizar estejam devidamente limpos e esterilizados. E escolha bem o que você vai introduzir na sua pepeca - verduras e legumes moles não são indicados. De preferência, procure algum acessório em um local adequado, com o selo do Inmetro, já que a maioria desses produtos é verificado pelo instituto, acrescenta a psicóloga. revistapagu.com.br

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Passe adiante Já deu pra perceber que masturbação é uma delícia. E esse assunto tão gostoso vive escondido dos nossos ouvidos e, principalmente, das nossas mãos. Isso acontece justamente pela educação machista e repressora a qual somos submetidas. A Eliane é doutora em Educação Escolar e, para ela, a masturbação feminina não é tratada em nenhuma medida no ensino da educação sexual. “As escolas brasileiras, quase todas, ainda mais as públicas, pouco ou quase nada trabalham com as questões de Educação Sexual, a não ser estritamente biológico, deixando de trabalhar temas de afeto, carinhos, respeito e compreensão sexual”. Por isso, não tenha medo de espalhar o assunto. Conversar sobre isso em uma roda de amigas com certeza vai render muitas histórias. Ou você pode puxar o assunto com as mais próximas, para se sentir mais à vontade. A Juliana*, por exemplo, tem 19 anos e conta: “nunca fui impedida de nenhuma forma quanto ao

O termo SIRIRICA seria, para a mulher, o equivalente a “punheta” para homem. A origem do termo não é exata. Há fontes que dizem ser uma onomatopéia para o barulho do grilo (já que o clitóris é conhecido por alguns como “grilinho”) ou um nome técnico, abreviação de “Sistema Individual de Recreação Íntima ao Rostir o Indicador no Clitóris e Adjacências” (e põe recreação nisso!).

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assunto, sempre falei abertamente com amigas e com meu namorado”. A conversa sobre o tema é um ponto muito importante no qual a sexóloga Cristiane tocou quando conversou com a gente: é uma grande reflexão para nós, mulheres. “Se a gente puder pensar que somos nós geradoras de filhos, ou seja, somos mães de meninos e meninas, nessa criação já podemos realizar essa diferenciação em como a masturbação é vista”. Para ela, é importante que as mães (ressaltando aqui “mães” porque essa é uma revista para mulheres, mas a tarefa é também função é dos pais ou da família), de uma forma criem seus filhos com uma naturalidade do toque do seu próprio corpo e da sua sexualidade, para que, no futuro, nós vejamos um quadro diferente do qual se vivencia hoje. * Os nomes das meninas foram trocados para preservar suas identidades.


Faça você mesma De teoria você já sabe bastante, chegou a hora de praticar. Separamos sete dicas para você por em prática e que te ajudarão a ter um bom orgasmo.

Tangerina Pegue um gomo da fruta, morda metade e passe a outra metade, a que fica aberta com os gominhos laranjas, no clitóris. A sensação simula uma língua no sexo oral. Você pode sentir uma leve ardência, então não abuse da acidez do momento, é apenas para dar um tchan à siririca.

Chuveirinho Se você escolheu a hora do banho, o famoso chuveirinho pode te dar uma ajuda. Posicionar o jato de água diretamente no clitóris vai pressioná-lo bem de leve, o que é bom para quem está começando. O jato de água do bidê faz a mesma função, caso você tenha um em casa, mas sinta bem a temperatura da água antes de Dica: tome colocar o jato na sua menina cuidado se você para evitar broxadas com ficar viciada no água muito quente ou chuveirinho, porque o muito fria. excesso de água pode alterar a sua lubrificação natural.

Gelo Na mesma onda do esmalte, só que mais intenso, pegar um cubo de gelo e passar pelo clitóris, pelos lábios e pela entrada da vagina é uma boa pedida para os dias quentes. Fica melhor se você colocá-lo num copo com água antes. Assim, ele vem mais derretido e molhado - se você tirar direto do congelador e botar na pepeca, pode grudar e não vai ser nada agradável.

Esmalte Já percebeu que o vidro do esmalte é geladinho? Escolha um da sua coleção, lave bem, segure-o pela tampa e passe a parte do vidro no clitóris para sentir a refrescância. Você pode enfiá-lo no canal vaginal também, só segure bem já que o esmalte costuma ser pequeno.

Halls A famosa balinha não serve só pro sexo oral. Experimente comprar um Halls preto, de preferência, molhá-lo e esfregá-lo na sua menina. A refrescância é sensacional.

Toalha molhada Pegue uma toalha de banho, molhe-a um pouco e enrole. Coloque sobre a cama, fique por cima dela de joelhos, com a toalha entre as pernas, e aí é só requebrar, como se você estivesse “montada” nela. Os movimentos para frente e para trás simulam o sexo e vão pressionar o clitóris.

Pepino Se não rolou grana pro vibrador e você quer volume, vegetais que têm o formato de um pênis e são bem firmes resolvem a situação. Compre um bem grande para você ter base para segurá-lo bem e colocar o quanto te agrade (é melhor sobrar do que faltar). Mas lembre-se: é muito importante Dica: dê que ele esteja totalmente higieuma leve esnizado. Vestir uma camisinha no quentadinha nele no dito cujo é melhor ainda, porque microondas (não vai a lubrificação dela vai melhoqueimar a pepeca!), o rar bastante o atrito, além de suficiente para ser mais seguro. deixá-lo morno.

Cuidado: Se você for fazer no banho, jamais use sabonete, shampoo ou produto do tipo. Na hora, ele vai ajudar a deslizar perfeitamente, mas depois a ardência é insuportável e você ainda corre o risco de pegar alguma infecção, já que a área vai ficar irritada e extremamente sensível. Aproveite a água do chuveiro e a sua própria lubrificação. revistapagu.com.br

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SEM NÓIA, SEM NEURA Texto Lívia Lago

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exo é bom. Falar sobre sexo é bom. Fazer sexo é bom. E não há nenhum problema nisso. Quem disse que mulher pra namorar tem que ser uma virgem pura? Mulher tem que fazer o que quiser. Os incomodados que namorem o travesseiro. Então, se você tem vontade de fazer sexo, faça. Seu corpo, seus desejos, sua vida. Mas lembre-se: sexo bom é sexo com segurança. Não deixe que o prazer de uma boa transa

acabe devido à uma gravidez indesejada ou uma DST (Doença Sexualmente Transmissível). Pensando nisso, separamos alguns métodos contraceptivos que vão te proteger e, assim, deixar a transa muito mais saudável e tranquila. (Você também pode encontrar tudo sobre a pílula anticoncepcional na página 74). Porque sexo bom é sexo sem nóia, sem neura!

Camisinha Feminina

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Feita de látex flexível e resistente, a camisinha impede o contato do pênis com a vagina, prevenindo contra DSTs. Ela também “aprisiona” os espermatozóides, o que impede a fecundação do óvulo. A camisinha deve ser colocada antes do ato sexual, em uma posição confortável. Segure a camisinha com o anel externo para baixo, comprima o anel interno com o polegar e o indicador e a introduza na vagina. Com o indicador, empurre a camisinha o mais fundo possível. O anel externo deve ficar cerca de 3cm para fora. Após a relação sexual, retire a camisinha com cuidado, puxando pelo anel externo e jogue no lixo (jamais no vaso sanitário, aproveite para ser ecológica!).

Camisinha Masculina

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A caminha masculina é feita do mesmo material que a feminina, além de apresentar as mesmas funções de contracepção e prevenção de DSTs. Ela também deve ser colocada antes do ato sexual, neste caso com o pênis ereto. Pressionando sua ponta para impedir a entrada de ar, desenrole a camisinha devagar até a base pênis. Após a ejaculação, retire a camisinha com cuidado e jogue no lixo.

DIU

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É um dispositivo cilíndrico em formato de “T” que bloqueia a passagem de espermatozóides para as trompas, fazendo com que não cheguem até o óvulo. Além disso, ele deixa as paredes do útero mais finas, o que impede a fixação do óvulo em caso de fecundação. O DIU deve ser inserido e removido de dentro do útero em uma clínica, por um médico. É um método de longo prazo, que pode durar de 5 a 10 anos, no entanto não previne o contágio de DSTs. 66 PAGU

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ENTRE 4 PAREDES Diafragma

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Uma cúpula feita de silicone ou látex com bordas firmes e flexíveis. Existe em dois tamanhos diferentes: 6cm e 8cm. Por isso, é necessário conversar com seu médico para saber a medida ideal para o seu corpo. A cúpula forma uma barreira no colo do útero, impedindo a passagem de espermatozóides. O diafragma deve ser colocado até 6 horas antes do ato sexual e retirado até 6 horas depois. Os métodos para colocar e retirar são os mesmo do anel vaginal. Este método também não previne contra DSTs.

Anel Vaginal

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Pequeno anel flexível e transparente feito de silicone que combina dois tipos de hormônios: estrogênio e progestagênio. Quando colocado dentro da vagina, ele libera continuamente pequenas doses desses hormônios, que são absorvidas pelo organismo e impedem a ovulação. O anel deve ser inserido no primeiro dia da menstruação e removido após três semanas. Um novo anel deve ser colocado após uma pausa de sete dias. A aplicação pode ser feita por você mesma, com as mãos limpas. Aperte o anel com o dedo indicador e o polegar e introduza no início da vagina. Depois, empurre para dentro com o dedo indicador. Para retirar, introduza o indicador na vagina e puxe o anel com a ponta do dedo em forma de gancho. O método não previne contra DSTs.

Espermicida

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Solução em gel ou creme que possui substâncias químicas que paralisam os espermaozóides, impedindo que eles fecundem o óvulo. Com a ajuda de um aplicador, você deve inserir a solução no fundo da vagina, pelo menos dez minutos antes do ato sexual (siga as instruções do fabricante). O método é apenas contraceptivo, não prevenindo contra DSTs.

Sexo Lésbico

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O sexo entre mulheres também deve ser feito com proteção. Apesar de não haver penetração dos órgãos sexuais, há troca de fluídos. Isso pode causar o contágio de DSTs como HIV, HPV, candidíase e gonorréia. Para se proteger, as mulheres podem usar a própria camisinha feminina fazendo um corte vertical e abrindo o látex sobre a vagina. Mas a melhor opção é o Dental Dam: um quadrado de látex ou silicone usado em cirurgias dentárias. A vantagem do Dental Dam é que ele possui fitas adesivas nas laterais, permanecendo fixo no corpo durante o ato sexual. revistapagu.com.br

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DURMA BEM COM YOGA Texto Carolina Baldin Meira Ilustração Kimberly Glenesk

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rática milenar e movimento filosófico originado na região em que hoje é a Índia, o Yoga se popularizou ao redor do mundo. A palavra de origem sânscrita está associada ao conceito de união: consigo próprio – na forma de autoconhecimento – e com o absoluto, na conexão consciente entre as pessoas e a totalidade, a natureza, o universo. Além de se basear em valores éticos e vivências pessoais, o Yoga é composto de técnicas que permitem estados de consciência e plenitude, tais como a meditação e as posturas físicas (ásanas). Muitos praticantes buscam melhorar a qualidade de vida, a saúde e o estado emocional. Aos que sofrem com insônia ou noites mal dormidas o Yoga pode ser de grande ajuda, pois reduz a an-

siedade, equilibra a frequência cardíaca e a pressão arterial. Entre as suas práticas está a Saudação à Lua (Chandra Namaskar), que prepara o corpo e a mente para um descanso mais sereno. A sequência de posturas, em geral feita à noite, ajuda a canalizar a energia lunar e oferece diversos benefícios: redução do estresse, alongamento da coluna vertebral e de tendões, fortalecimento de músculos (pernas e braços), regulação dos sistemas digestivo e respiratório, entre outros. Para realizá-la, esteja de preferência com o estômago vazio, e mantenha o abdômen contraído durante a prática. Confira a descrição das posturas abaixo e acompanhe as ilustrações passo-a-passo na página ao lado. Ao finalizar, apague a luz e recarregue as energias!

1. Fique em pé, com a coluna alinhada, peito aberto, pés juntos e mãos unidas em posição de oração. 2. Inspire e alongue bem os braços para cima. Com cuidado, arqueie as costas e coloque os braços dobrados atrás do quadril, empurrando a pélvis para frente. A cabeça deve estar voltada para cima e para trás, com o queixo apontando ao teto. 3. Expire e curve o tronco para frente. Leve as mãos em direção aos pés e dobre os joelhos. Com a ajuda das mãos no chão, tente esticar os joelhos.

9. Repita o movimento do passo 4, agora com a perna direita para trás.

4. Empurre a perna esquerda para trás o máximo possível, com o joelho esquerdo apoiado no chão e a sola do pé voltada para o teto. O joelho direito deve estar flexionado e os braços de apoio ao lado dele. 5. Inspire, erga o braço direito acima da cabeça e use o braço esquerdo de apoio. Olhe para cima. O pé da frente deve estar em um ângulo reto, o de trás deve estar apoiado lateralmente. 6. Exale, continue com o joelho flexionado e o braço esquerdo de apoio. Leve o braço direito para a lateral do corpo, com o peito aberto e ombros nivelados. 7. Gire seu corpo no sentido anti-horário até ter as pernas estendidas e os dois pés paralelos. 8. Inspire, dobre o joelho esquerdo e estique a perna direita, com a coluna alongada. O braço esquerdo acompanha o movimento, levemente flexionado ao tentar encostar o chão. Repita o movimento do lado direito.

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10. Inspire e faça a posição da prancha: mãos alinhadas abaixo dos ombros, braços apoiados e pernas esticadas atrás. 11. Expire, apoie os joelhos no chão, caminhe com as mãos e estique os braços à frente do corpo, encoste o peito no chão, quadris para cima. 12. Traga as mãos abaixo dos ombros e erga o peito, curvando com cuidado a coluna e olhando para cima, com pescoço bem esticado. 13. Exale, faça a posição do cachorro olhando para baixo: braços esticados à frente, coluna alongada, pernas esticadas e apoiadas nos calcanhares, pescoço apontando para baixo. 14. Inspire, estique e levante a perna esquerda em direção ao teto, depois exale e volte à posição anterior. 15. Leve a perna esquerda para a frente do corpo, repetindo o passo 9. 16, 17 e 18. Idens aos passos 1, 2 e 3. Respire fundo: Respiração é o ponto essencial do Yoga. Seu controle consciente intensifica o potencial dos pulmões e a concentração. Antes da prática, sente em uma posição confortável e verifique se está respirando apenas pelo nariz. Mantenha um ritmo regular: conte tempos iguais de inspiração e expiração. Quando se tornar natural, dobre o tempo da expiração.


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GRAVIDEZ: HOJE NÃO Texto Flávia Nosralla e Marina Moia Foto Marina Moia

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m meados de 1950, o principal papel da mulher perante a sociedade era ser dona de casa e submissa ao homem, principalmente na questão sexual, já que ela praticamente não tinha controle sobre seu próprio corpo. Com o movimento feminista, que começou a ser idealizado na década seguinte, e a invenção da pílula anticoncepcional, muita coisa começou a mudar. Com contraceptivos hormonais, as mulheres poderiam exercer sua sexualidade sem o perigo de engravidar e com maior liberdade, já que elas não dependeriam mais apenas do parceiro para se prevenir. O fim dessa repressão permitiu também maior conquista de espaço profissional e na luta pela igualdade. Hoje, usar anticoncepcional é um método muito comum e que pode começar a ser usado desde a adolescência. Mas quais são as reais vantagens e os cuidados que devemos tomar ao escolher essa opção de contraceptivo? De acordo com a ginecologista Escolástica Rejane Ramalho, como a quantidade de hormônios nas pílulas atuais é inferior à da década de 60, o uso do anticoncepcional “não apresenta limitação de tempo, podendo ser usado pelos vários anos da fase reprodutiva sem pausas ou períodos de descansos e sem causar danos à saúde da mulher”. Naquela época, as doses de estrogênio eram cerca de sete vezes maiores que atualmente, o que causava aumento de peso e dor nas mamas, além de aumentar os riscos de trombose e câncer no útero. Já as pílulas atuais, com baixa dosagem de hormônio, ajudam também a diminuir os sintomas da TPM, evitam a endometriose, diminuem a aparição da acne, além de reduzirem o fluxo e as cólicas menstruais. Mas os anticoncepcionais também podem trazer efeitos colaterais. A ginecologista Gladys Castedo alerta que, a longo prazo, a mulher corre o risco de sofrer períodos de amenorreia, ou seja, a falta da menstruação. “Também pode resultar na suspensão da ovulação e na anovulação crônica. Além disso, tem o aumento de peso e retenção de líquido, que são os efeitos mais notórios”. A pílula também pode causar uma falsa sensação de segurança: por estar protegida contra a gravidez, a mulher para de usar camisinha nas relações sexuais, ficando suscetível às doenças se-

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xualmente transmissíveis. Quando a mulher começa a tomar esse tipo de contraceptivo, é importante que ela tenha alguns cuidados. “Não pode esquecer nenhuma pílula, principalmente aquelas da metade da cartela. Se esquecer, deve tomar até o limite de 12 horas a que esqueceu e a próxima que segue também”, afirma Gladys. Outro detalhe importante para que o anticoncepcional tenha um efeito 100% é sempre tomar a pílula no mesmo horário, todos os dias - assim, o organismo se acostuma e atua nas 24 horas entre um comprimido e outro. As pílulas anticoncepcionais variam de uma marca para outra e seus efeitos também podem variar de mulher para mulher, então é essencial que você procure um médico para saber qual a mais indicada para o seu tipo de organismo. Somos todas diferentes e reagimos de maneiras diversas aos medicamentos, então se informe com sua ginecologista e não se automedique!

Falhou. E agora? A pílula do dia seguinte é um método de emergência! Ela não deve ser utilizada com frequência porque contém altas doses de hormônios e perde a eficácia se você tomá-la repetidamente. Usada até 24 horas depois da relação sexual desprotegida, ela inibe a ovulação e a fertilização do óvulo, dificultando a incidência de gravidez. “No geral, seus efeitos colaterais poderão ser: náuseas, vômitos, tontura, fadiga, cefaleia (dor de cabeça), mastalgia (desconforto nas mamas), diarreia, dor abdominal ou irregularidade menstrual”, afirma Escolástica, sobre tomar a pílula mais de uma vez por semestre. Quem tem acima de 75kg, por exemplo, não possui a eficácia prometida pela pílula do dia seguinte. Segundo Gladys, a paciente com um Índice de Massa Corporal maior que 25 possui uma captação maior de hormônios, o que a faz precisar de uma pílula “mais concentrada” para cobrir sua situação. A médica Escolástica reforça que estudos na área “constataram risco de gravidez quatro vezes maior em mulheres obesas que tomaram a anticoncepção de emergência em comparação com mulheres de peso normal”.


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“Anticoncepcional? Nunca mais!”

“Sigo a cartela como se fosse uma religião!”

Assim como qualquer outro medicamento, a pílula anticoncepcional também possui seus lados negativos. Enxaqueca, cistos e inchaço são alguns dos sintomas que motivam mulheres a pararem de tomar o contraceptivo de vez. “O remédio é receitado assim sem nem pensar duas vezes. A médica que me passou não pediu exame nenhum e muita gente toma só por conveniência. Ninguém fala o que que pode dar errado, o que que isso altera no seu organismo”, comenta a estudante Carol Hanada.

O uso do anticoncepcional também tem aspectos positivos. Diminuição da cólica, da TPM e do fluxo menstrual são benefícios que conquistam muitas meninas, que não abrem mão da pílula diária de jeito nenhum. “Desde o primeiro mês de uso já reparei uma grande diferença: a minha pele não era mais oleosa, eu não tinha mais o mesmo apetite de antes (o que me fez emagrecer horrores!) e eu nunca mais senti nenhuma dor. Aliás, devido às pílulas, eu quase não menstruo mais, já que eu costumo não fazer a pausa”, diz Izabela Rubens.

Devido ao uso de anticoncepcional, Carol teve uma trombose muito grave. “No meu caso, foi um pouco acima da coxa, então minha perna inteira ficou inchada. Fiquei cinco dias internada levantando somente para o que fosse estritamente necessário. Depois fiquei mais um mês em casa até desinchar a perna de verdade. Tinha que ficar com ela pra cima o máximo possível e doía muito pra andar. Uma época inclusive usei bengala, embora o médico não quisesse”, relata. Já Cristina Rodrigues teve problemas para engravidar: “tive uma síndrome chamada de síndrome do ovário preguiçoso devido ao uso de anticoncepcional por muitos anos. Meu ovário não desenvolvia os óvulos e assim não conseguia engravidar. Ele demorou 9 meses para perceber que precisava voltar a sua função, isso com ajuda de remédios que forçaram seu funcionamento”. Hoje, grávida de três meses, Cristina afirma com veemência que “anticoncepcional nunca mais!”. Por desconfiar que o anticoncepcional estava aumentando o seu nível de colesterol e fazendo mal ao fígado, Julia Gottschalk também parou de tomar a pílula. Desde que tomou a decisão, seis meses atrás, ela sentiu melhoras significativas. “Sinto que minha gastrite melhorou muito, sempre me sentia mal do estômago quando tomava. Dei uma boa desinchada, especialmente nas pernas. Também senti uma melhora no aparecimento de vasinhos nas pernas. Os que eu já tinha não sumiram, mas não apareceram novos”, conta.

Ela explica que seu humor melhorou bastante e que não sofre mais da temida TPM. “Uma vez resolvi fazer a pausa anual (um mês do ano sem tomar a pílula, recomendado pela minha ginecologista) e me arrependo amargamente. Meus seios incharam, minha pele ficou com espinha e meu humor era completamente instável. Definitivamente eu sou viciada em anticoncepcional, sigo a cartela como se fosse uma religião.” conta. E pra quem diz que a pílula deixa a mulher com menos vontade de sexo, Iza afirma o contrário: “o sexo se tornou melhor e mais prazeroso, já que, por mais que haja o uso da camisinha, eu sempre ficava com a preocupação “e se ela estourar?!” Eu sei que há inúmeros métodos para um sexo seguro, mas eu, passei a me sentir mais protegida e segura devido às pílulas.” Ser um contraceptivo, em alguns casos, não faz diferença. Gabriela Abreu é lésbica e toma a pílula porque tem endometriose. “É a única forma paliativa de cuidar da doença. E engravidar não seria problema, justamente pela minha sexualidade também não penso em ter filhos dessa forma”. Susana Santos, que usa anticoncepcional há 12 anos, diz que o anticoncepcional é “muito amor”. Ela fica com raiva de publicações que limitam as vantagens a “não engravidar” e as desvantagens a “engorda”. “Foram escritas por um homem que não tem noção do aparelho feminino”, completa.

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FAÇA AS PAZES COM “AQUELES DIAS” Texto Carolina Baldin Meira Ilustração Marcela González

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uando o assunto é o corpo da mulher, a sociedade ainda impõe uma série de tabus e padrões opressores que acabamos por naturalizar e não discutir. Apesar dos avanços na luta por liberdade sexual, temas fundamentais como a menstruação continuam sujeitos a constrangimento e negação, tanto por fatores externos quanto pelas próprias mulheres, desde o início da puberdade até a vida adulta. Vamos direto ao ponto: nós, mulheres, sangramos. E não há motivos para nojo ou aversão. Todo mês nosso útero se prepara para a fecundação do óvulo e, quando esta não ocorre, suas paredes internas (endométrio) se desprendem rompendo vasos sanguíneos. Essa descamação dá origem ao fluxo menstrual, que é eliminado pela vagina na forma de menstruação. Tudo bem, sejamos francas, nem sempre é fácil. A contração do útero para desprender o endométrio pode provocar dor no ventre, a incômoda cólica menstrual. Outra queixa comum é a TPM (tensão pré-menstrual), momento em que a oscilação dos níveis de hormônios interfere na produção de serotonina e pode provocar alterações no humor, ansiedade, excesso ou falta de apetite, irritabilidade, entre outros sintomas.

Segue o fluxo Mas qual é o sentido em reprimir e tornar indesejado este fenômeno natural do corpo? Por que somos ensinadas a esconder a menstruação e a pouco falar sobre ela? “Eu sempre aprendi que, embora normal, a menstruação é nojenta, e vazar [o fluxo] é o maior desastre da Terra! Poucos círculos permitem que o assunto seja dito sem grandes rodeios”, conta Maisa Fidalgo, mestranda em antropologia social da Unicamp. Evitar o tema, em especial quando há homens por perto, é comum a quase todas as mulheres. Nos últimos tempos, a menstruação está de volta às rodas de conversa e o responsável é um produto que começa a ganhar visibilidade no Brasil: o coletor menstrual. É um pequeno copo de silicone medicinal, flexível e hipoalergênico que é introduzido no canal vaginal, aderindo às paredes e coletando o fluxo menstrual. Uma das vantagens em relação aos absorventes de algodão – internos e externos – é que ele não absorve a umidade natural da mulher nem deixa a região abafada, evitando a proliferação de fungos e bactérias. Além disso, por não permitir que o sangue entre em contato com o ar e oxide, os coletores não produzem nenhum odor incômodo. O coletor menstrual não possui substâncias químicas, é reutilizável e sustentável: a mulher pode permanecer com ele por até oito a doze horas, de acordo com 72 PAGU

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a intensidade do fluxo menstrual, e depois, para reutilizá-lo, deve retirar, lavar com água e sabão neutro e enxaguar. É recomendável fervê-lo na água por cinco minutos entre um ciclo e outro, para esterilizar e aumentar sua vida útil que (pasme!) chega a dez anos dependendo do uso e da limpeza corretos. Para a radialista Thais Almeida Rocha, precisamos quebrar o silêncio: “Quando converso com mulheres adultas sobre os coletores menstruais, muitas vezes escuto que não usariam por medo de ter contato com o sangue, ou por precisar ter um contato maior com a vagina para a colocação e retirada do coletor, e isso é reflexo desse tabu não só com relação à menstruação, mas também no que diz respeito a conhecer e se apropriar do próprio corpo”, opina. Usuária do “copo” coletor há seis meses, Thais diz que o produto mudou a sua vida e o recomenda sem pestanejar: “Minha relação com a menstruação era horrível e toda vez que chegava perto do fim da minha cartela de anticoncepcional eu já começava a me sentir mal. Sempre usei absorventes externos porque


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nunca me adaptei aos internos, mas com o coletor eu não sinto absolutamente nada. Coloco e só vou me preocupar com ele depois de 12 horas”, explica. Maisa fala sobre o seu processo de aproximação com o ciclo depois de descobrir o coletor: “Eu sinto que mudou muita coisa. Aliás, nem esperava que mudaria tanto. Parece exagerado, mas me sinto mais mulher, respeito meu corpo, a vontade dele de sentir dor, de menstruar, de fluir. É sensacional! E também eu conheço mais o que sai de mim, o sangue tem uma cor linda, é meio poderoso”. Ela também acredita que os coletores menstruais fogem da lógica de mercado e são uma forma de nós, mulheres, negarmos tantos produtos que a indústria “empurra” ao criar mecanismos que induzem cada vez mais ao consumo.

O copinho do bem

Poder feminino e (re)conexão

A psicóloga Amanda Matsuyama também utiliza o coletor e relata a experiência como positiva. “Acho bem confortável. A parte que mais me agradou foi que agora eu sei o que é o meu fluido menstrual, e sei o quanto eu sangro (e é bem menos do que pensava). Os absorventes descartáveis induzem a ideia de que aquilo é uma sujeira e deve ir para o lixo. Quando eu usava, não tinha um contato direto com a minha menstruação”, comenta. O aspecto ecológico é um dos maiores atrativos do copinho: se em 40 anos de vida fértil – cerca de 520 ciclos – uma mulher utiliza 20 tampões por menstruação, temos a quantidade absurda de 10.400 absorventes não-biodegradáveis descartados no lixo, sem reutilização. O gasto total pode atingir 9 mil reais, enquanto os coletores menstruais custam o investimento único de, em média, R$70,00 a R$150,00, dependendo de marcas, tamanhos e taxas de importação. Na hora da compra, muitas mulheres optam por importar de outros países, já que aqui não há tantas opções. São três principais marcas vendidas no Brasil: InCiclo (em torno de R$70,00), MeLuna (cerca de R$80,00) e HolyCup (R$77,00).

O ciclo menstrual, suas fases e efeitos são parte do processo reprodutivo da mulher e podem traduzir a força biológica e espiritual da natureza feminina: é um período de renovação e purificação. A menarca (primeira menstruação) era considerada por culturas antigas como um símbolo do sagrado feminino: algumas tribos na Austrália e em Papua Nova Guiné ainda hoje a celebram. Não importa a origem, sociedade, crença, etnia: a menstruação é um denominador comum de todas as mulheres. Ter consciência do que acontece com o próprio organismo, com os sentimentos e com a mente é um meio de resgatar o autoconhecimento, de se reconectar com a essência feminina. Para Amanda Matsuyama, a espiritualidade tem a ver com a compreensão de que existe um princípio de vida que conecta e rege tudo no Universo. “Tudo é ciclíco, com começo, meio e fim. Lei de impermanência. E, consequentemente, a aceitação dessa lei leva à renovação de ciclos. O mesmo acontece com o nosso corpo, e com processos fisiológicos, como a menstruação. O antigo que se retira para dar lugar ao novo. O corpo fala e a gente tem que aprender a escutar”, reflete.

COM QUE COPO EU VOU? A escolha do coletor deve levar em conta: Altura do colo do útero: Durante a menstruação, insira o dedo no canal vaginal e procure uma estrutura firme e arredondada. Se não precisar inserí-lo profundamente: colo do útero é baixo, copo deve ser curto. Se o colo do útero for médio: coletor M. Se for alto e difícil de alcançar: coletor deve ser G.

Atividade física: Se você pratica esportes intensos ou possui músculos da pélvis fortes deve usar coletores mais firmes, que evitem dobras e vazamentos. Se pratica atividades mais leves ou possui a bexiga sensível, escolha um coletor mais maleável, “mole”.

Fluxo menstrual: Observe a frequência com que precisa trocar de absorvente. Confortável por mais de 3 horas: fluxo regular, coletor pode ser de 30 ml ou menos. A cada 2 horas: fluxo intenso, coletor com capacidade de 30 ml ou mais. A cada uma hora: fluxo muito intenso, recomendável coletor acima de 30 ml.

Força da pélvis: A tonicidade do assoalho pélvico tende a diminuir com a idade e após gestação; para quem não fortalece tais músculos, o coletor de diâmetro maior é o adequado. Para mulheres sem filhos e/ou que possuem tais músculos fortalecidos, o indicado é o coletor de diâmetro menor. revistapagu.com.br

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É UM PARTO! Texto Tania Rita Ilustrações Ana Muriel revistapagu.com.br

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BEM ME QUERO

“Roubaram o meu parto! É a pior sensação do mundo! Me senti assaltada e também culpada. Olhei para minha filha, tão pequena, e já vítima de um mundo cruel.”

O

depoimento é da museóloga Natasha Rodrigues (25) e mostra a realidade imposta a inúmeras mulheres no país, que, além de vítimas de um sistema obstétrico mecânico e desumano, passam a nutrir um sentimento de culpa em relação ao bem estar e saúde de seus filhos. Mas a culpa não é delas. Segundo dados da pesquisa Nascer no Brasil, coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a cesariana é praticada em 52% dos nascimentos, sendo que, nos estabelecimentos particulares, o número sobe para 88%. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que somente em 15% dos nascimentos sejam feitas intervenções cirúrgicas. O desencorajamento por parte dos médicos e da família justifica o número alarmante de cesarianas, ainda que quase 70% das brasileiras desejem um parto normal no início da gravidez. No entanto, de longe esse é o maior problema. Natasha Rodrigues desde sempre desejou um parto normal e conta que, após assistir ao documentário o Renascimento do Parto, de Eduardo Chauvet, deu início à procura por uma obstetra comprometida com o parto humanizado. Encontrou, mas, como seu plano de saúde não cobria o método humanizado, não pode dar continuidade às consultas até o fim da gravidez. Na trigésima oitava semana de gravidez, em uma

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consulta rotineira, o novo obstetra disse ser a hora de fazer a cesariana.Também alegou que, se Natasha optasse por levar a gravidez adiante, sua filha correria risco de paralisia cerebral. No mesmo dia ela foi internada e submetida ao procedimento. Tempos depois, descobriu que os dados e diagnóstico apresentados pelo médico para justificar a cesariana eram incoerentes. “Eu estava fragilizada, assustada... Tive tanto medo de que algo acontecesse à minha filha e fui me internar no mesmo dia para fazer a cesárea”, contou a museóloga. A cesariana, ao contrário do que é divulgado, não é um procedimento simples. É uma cirurgia de médio a grande porte e por isso envolve riscos tanto para mãe quanto para o bebê. Natasha teve problemas com os pontos que inflamaram e fizeram muita secreção. Gravíssimo! Mas, para ela, diante de todo o contexto, “ainda não foi nada”. Situação parecida houve com a doula Bruna Rúbio (29) que fez a cesariana em sua primeira gravidez por medo e desinformação – “achava que era necessário, o famoso cordão enrolado no pescoço que tanto assusta as gestantes”. A recuperação da primeira cirurgia foi problemática. Rúbia ficou com os movimentos limitados, sendo que nos primeiros 15 dias não conseguiu se mexer, nem andar direito. Na segunda gravidez, estava determinada a fazer o parto pelo método humanizado. Passou a se informar, a frequentar grupos de estudo e tinha em mente ir para hospital somente no momento em que o trabalho de parto estivesse bem


BEM ME QUERO

Conscientização Parto humanizado é aquele onde é respeitada a autonomia e protagonismo da mulher no processo de nascimento do seu filho. As chances de um parto normal ocorrer aumentam quando a mulher está tranquila, é empoderada e tratada com respeito, mas, também é possível ter uma cesariana com acompanhamento humanizado. E quem faz o parto humanizado? A mãe e o bebê. Simples, natural, mas rechaçado. Natasha Rodrigues revela que na sua procura pelo método humanizado, ouvia todos os tipos de in-

dagações – diziam, “sua louca, sua Índia, vai parir no mato então! Pra que negar os avanços tecnológicos?” - expressões também reveladoras do preconceito e do racismo enraizado na sociedade. Acontece que no parto humanizado existe uma equipe que respeita o processo fisiológico natural do nascimento, que evita interferências desnecessárias e preza pela saúde e bem estar do bebê. Segundo Gisele Bodin (34) educadora física e fundadora do grupo “Gerando Amor” de apoio ao parto normal no interior de São Paulo, as tecnologias que ajudam e facilitam o processo do parto humanizado são utilizadas com critérios rigorosos e sempre com vistas a atender as necessidades da parturiente e bebe. “A equipe humanizada (obstetra, enfermeira obstetra e doula), pode fazer toda a diferença, pois a mulher pode ter muito medo já que a dor normalmente é intensa” explica a educadora. Mas a equipe humanizada não presta atendimentos apenas durante o trabalho de parto (fase ativa), a atenção no pré e pós parto também estão voltadas às necessidades da parturiente – “a posição em que ela quer parir, o que ela quer comer, quem quer que esteja presente, sempre ser informada e dar seu consentimento sobre procedimentos médicos a serem realizados”, diz Bodin. A prática de respeitar a posição em que a mulher deseja parir remete a um fato recente e polêmico. Um médico, em Congresso no Rio de Janeiro, afirmou que é “humilhante” para um obstetra sentar no chão e que “não tinha estudado tantos anos para ficar em tal posição’. O discurso mobilizou mães, doulas, obstetrizes

Retratos da Violência Obstétrica

avançado, para não dar tempo de tentarem a cesariana. Não deu certo. “No fim da gestação os médicos minam sua confiança, fazem você acreditar que não vai rolar, que o bebe está grande, que o líquido está pouco, que não vai dilatar, que seu corpo não é perfeito”, desabafa. Com três centímetros de dilatação, Rúbia passou por intervenções que fizeram seu parto (normal) ser mais dolorido, entre elas, a episiotomia que a médica realizou mesmo sem o consentimento – “só conseguia sentar de lado; andar, só depois que os pontos caíram porque repuxava tudo e eu sentia que estava rasgando”. Não conformada com a violência física e psicológica pela qual passou, Rúbia focou em ajudar outras gestantes. Fez o curso de doula e se tornou ativa em partos humanizados. Mas afinal, o que é um parto humanizado?

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Liora Parto em Casa

e ativistas do parto humanizado a fazerem a campanha #sentandoparaopartonormal, publicando fotos de seus partos, com profissionais que sentaram e respeitaram seus tempos. A frase do médico serviu para a divulgação e informação do parto humanizado ao mesmo tempo que revela uma cultura que subjuga, menospreza e desencoraja as mulheres sobre suas capacidades. Para Giselle Bodin, com a “naturalização” da cesariana as mulheres perderam principalmente autonomia – “seus sentimentos, desejos e vontades ficam subordinados aos interesses dos médicos e hospitais e a maioria não se dá conta disso”. A doula Bruna Rúbio diz que as violências mais comuns em hospitais são: impedir a mulher de caminhar, não permitir o uso do chuveiro, proibir acompanhantes, obriga-la ficar deitada o tempo todo, além de serem constrangidas se gritarem ou pedirem algo para a equipe. Caroline Linhares, vendedora de 21 anos, sofreu agressões psicológicas por ter gritado na hora do parto, além de ter sofrido a episiotomia contra a sua vontade. “Meu marido estava no quarto e disseram para ele sair para não ficar chocado. Quer dizer, eu estava sofrendo a episiotomia e ele não podia ver porque ia ficar chocado” - desabafou. Segundo Carol, a anatomia mudou muito e que até hoje, depois de três anos, sente dor ao transar - “não dá para esquecer ela”, diz, sobre 78 PAGU

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a episiotomia. Mas nem só de broncas médicas e episiotomias vive a violência obstétrica, Maria Benícia de Oliveira (51), professora, conta que em seu primeiro parto fizeram uso do fórceps. Tempos depois, seu filho precisou fazer fisioterapia pois teve pequenas lesões nas regiões da cabeça onde os ferros pegaram. Ela ficou três dias internadas e horas antes do filho nascer disse que o médico ordenara a duas enfermeiras que forçassem o nascimento do bebê. “Elas jogaram o corpo sobre minha barriga forçando com os cotovelos”. Durante quatro anos Maria sofreu com os pesadelos – “aquilo não foi um parto normal, foi anormal”. A violência sofrida por essas e milhares de mulheres brasileiras revela como é importante a discussão sobre a cultura do parto no país, além da necessidade de disseminação da prática humanizada. Para Bodin, a conveniência e prepotência médica são os maiores empecilhos: “um médico fala que seu bebê pode sofrer no parto e uma mãe nunca está preparada para ouvir isso.”

Empecilho: o custo? Um dos maiores impedimentos para a instituição do parto humanizado é o seu custo por vias particulares ou de planos de saúde. Para Natasha, o méto-


BEM ME QUERO do é inacessível para a maioria das mulheres. “Não contempla minha realidade financeira. E olha que eu me considero até privilegiada. Infelizmente a mulher mais pobre tem que optar pela cesariana agendada ou pela violência obstétrica do SUS”, relata a museóloga. A doula Bruna Rúbio diz que em algumas cidades, as mulheres já conseguem pelo SUS, seja em maternidades ou casas de parto, mas a quantidade e a qualidade do serviço ainda estão longe do ideal. Questionada sobre o tema, a Personal e ativista do parto humanizado Giselle Bodin explica que a questão financeira é bem relativa. Os valores do método humanizado e da maioria das cesarianas feitas por plano de saúde são similares, entre três e seis mil reais no interior e até dez mil nas capitais – “o problema é que a maioria acaba em cesarianas por conveniência médica e por medo. Também é muito comum que se gaste valores altíssimos com quarto e enxoval do bebê e depois não ter dinheiro para o parto. É a escolha que cada um faz”. Em relação as mulheres que dependem do atendimento no SUS (a maioria), Bruna enfatiza a obrigação do governo em dar maior atenção as medidas de humanização dentro dos hospitais públicos – “o processo de humanização custa muito menos do que se imagina, ou, muito, levando em conta que depende da ‘cooperação e disposição’ humana e os interesses são sempre muito particulares e voltados para os ganhos próprios”. Destaca-se aqui, a palavra processo em contraposição a “tipo” de parto: a humanização do parto é um processo e não um produto acabado, para tanto é necessário, além da disposição das mulheres em se informarem, a obrigação do governo na instituição do método em hospitais públicos, para que cada vez mais parturientes sejam contempladas. Em 2014 foi redigido, pelo deputado Jean Wyllys, o Projeto de Lei 7633 que define os direitos da mulher na gestação e no parto, inclusive nos casos de aborto, em todo o país. O texto também define o limite de cesarianas e todo tipo de intervenções, menos em hospitais maternidades que possuam maior demanda por atendimento de alto risco. Um avanço, ainda que pequeno, no processo de humanização da rede pública de saúde. Depois de sua experiência traumática na rede pública, Carol Linhares afirma que parto humanizado “é pra quem pode e não pra quem quer” (sic), embora confesse que talvez conseguisse economizar dinheiro para pagar uma doula (profissional que dá apoio físico, moral e psicológico as gestantes, só não faz intervenções invasivas). No seu caso, a desinformação, o medo e falta de apoio da família fizeram-na passar pela violência obstétrica, mas ressalta: “Mesmo sem uma estrutura enorme, dá para ter um parto legal em hospitais. Profissionais mais humanizados. A enfermeira que me acompanhou era tão bacana, uma das únicas que respeitou minha vontade.” No fim de cada entrevista, questionadas sobre o que as mulheres esperam em relação a seus partos a resposta foi unânime: respeito. revistapagu.com.br

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LIBERDADE PARA QUEM? Texto e Fotos Giovanna Diniz

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MULHER NO MUNDO

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o dia 15 de março, durante o exame da Ordem dos Advogados (OAB) em São Paulo, a estudante de Direito Charlyane Silva de Souza, muçulmana, é interrompida várias vezes por estar usando o hijab - véu usado para cobrir a cabeça de mulheres islâmicas. Essa prática - de proibir o hijab - é muito comum em países ocidentais, que entendem que o uso do lenço é um símbolo religioso e deve ser evitado. A questão é polêmica. No Brasil, não há leis que proíbam o uso do hijab ou seu parente “mais respeitoso”, o niqab - lenço que cobre também o rosto, deixando apenas os olhos à mostra. Apesar disso, não é raro ouvir casos de intolerância e discriminação com mulheres que escolhem usar a vestimenta. Em outros países como Rússia e Bélgica, as leis já regulam o uso da vestimenta para mulheres islâmicas. Na França, já existem leis que proíbem o uso do véu em escolas e em vias públicas, prevendo inclusive multa de até 150 euros para quem desobedece ou pra quem obriga mulheres a usar a burca - véu que cobre o corpo inteiro - pode ser penalizado com multa de até 30 mil euros e prisão por um ano. A lei também obriga essas mulheres a receber aulas de cidadania francesa. Naira Tatyane, muçulmana há sete anos que vive em Paris, diz que atualmente também não é permitido também às mulheres islâmicas acompanharem seus filhos em viagens da escola, outra medida que deixa a olhos vistos a xenofobia que assola a França e parte da Europa atualmente. O atentado à redação da revista Charlie Hebdo em Paris reacende o discurso da intolerância religiosa. Até que ponto as tradições ocidentais devem ser aplicadas a muçulmanos? E, ainda, as tradições muçulmanas representam de fato a submissão das mulheres dentro da religião?

Tradição e respeito Não é recente a discussão da visão da mulher para os muçulmanos. A mídia está repleta de casos de estrangeiras e árabes que moram no Oriente Médio e recebem punições severas, inclusive o famoso apedrejamento por não respeitarem regras estabelecidas não só pela religião islâmica, mas pelos países que se fundamentam na lei islâmica (sharia). Mas sabe-se que mesmo dentro de outras religiões o fundamentalismo está presente. Regular as roupas, comportamento e casamento das mulheres é algo que não acontece apenas no Oriente, mas também em outras comunidades e religiões ocidentais. Para Deise Oliveira, praticante do Islã há pouco tempo, o uso do véu implica respeito e serve para ela se proteger de quem a veja como mero objeto sexual. Para ela, essa visão que a mídia mostra das mulheres islâmicas está equivocada: “Homens e mulheres têm os mesmos direitos dentro do Islamismo”. O Alcorão - livro sagrado utilizado na religião - não proíbe as mulheres de não usar o véu. A decisão fica a cargo de

cada comunidade ou mesquita específica, por exemplo. Francirosy Campos, professora de antropologia da USP, ainda completa “Não dá para comparar um comportamento religioso com outro tipo de comportamento. É liberdade para elas (as mulheres islâmicas) o uso do hijab”. Saindo do campo da vestimenta, o Islã foi a primeira religião a permitir o divórcio das mulheres e o reconhecimento da mesma depois de separada. A mulher, ainda casada, também tem direito a receber parte do dinheiro do marido, já que o trabalho feminino não é visto com bons olhos pelo Islamismo. No Alcorão há trechos que descrevem o papel sagrado da mulher como mãe e parte importante da família, que deve colocar acima de todas as coisas - menos Alá. As mulheres islâmicas acreditam que esse “papel sagrado” é o que as protege do machismo e “banalização do sexo” que ocorrem na sociedade atualmente. Como diz Janaina Openheimer, islâmica há dois anos, dentro da mesquita o respeito impera entre homens e mulheres, tendo penas para homens que maltratam mulheres, por exemplo. Na realidade ocidental, as islâmicas são vistas como submissas e atrasadas. Mas até que ponto podese dizer que o abuso só ocorre dentro do Islamismo? Se uma mulher é espancada no Brasil a cada 20 segundos e há várias ocorrências de estupros, maus tratos e abusos, talvez não haja tantas diferenças entre os sistemas, afinal.

Contra o sistema Mesmo dentro do islamismo existem casos que fogem à regra. Hoje já existem correntes feministas que estudam o islamismo. No entanto, para Francirosy Campos, essa corrente é feita de mulheres “muçulmanas ou não que estudam a religião na perspectiva feminina dos direitos”. Isso significa que o Islã em si não engloba o feminismo em suas leis e ensinamentos. Mesmo assim, outras mulheres conseguem realizar ações que seriam consideradas feministas nos termos ocidentais. Muneera Williams e Sukina Owen-Douglas, londrinas e islâmicas, cantam no duo de Rap Poetic Pilgrimage. Elas combinam o hijab com roupas mais despojadas e acessórios e subvertem o estereótipo da mulher muçulmana, bem como acabam com o preconceito com rappers mulheres. Suas músicas envolvem letras sobre o empoderamento de mulheres e uma visão crítica a respeito de sua condição. Outro exemplo são grafiteiras que mesmo nascidas no país onde foi criada a Al-Qaeda e onde o uso da burca é obrigatório, fazem um trabalho sério de conscientização. Shamsia Hassani e Malina Suliman são duas afegãs que tentam mostrar uma visão diferente da burca e mesmo sobre o caos e destruição da guerra. Elas são, de fato, guerreiras dentro de um sistema que as oprime.

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Força feminina e resistência (de chuveiro) Diga adeus a banhos gelados no inverno e saiba como trocar a peça em minutos Texto e Fotos Carolina Baldin Meira

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ada como um banho quente e revitalizante ao fim de um dia cansativo. Mas e se a sorte não te sorrir e a resistência do chuveiro elétrico queimar? O que fazer com esse balde de água fria? Recorrer à casa de uma amiga ou ferver água em canecas? Enfrentar a temperatura glacial? Pedir socorro a um eletricista ou porteiro? Nada disso: a tarefa é muito mais simples do que aparenta ser e leva menos de meia hora. Substituir a resistência do chuveiro, trocar pneus ou realizar consertos elétricos e mecâ-

Instruções de segurança: • Antes de iniciar, desligue a rede elétrica através da chave geral de energia – normalmente o quadro de força fica na entrada das casas e apartamentos. • Feche o registro de água do banheiro. • Não fique descalça, use calçados de borracha, como chinelos ou tênis. Para não levar choques, trabalhe com mãos e corpo secos.

nicos são tarefas comumente designadas a homens. Pode parecer bobagem, mas questionar por que certas atividades são atribuídas a papeis de gêneros é um passo importante na busca por autonomia e protagonismo. Nós, mulheres, somos perfeitamente capazes de realizar qualquer serviço, sem restrições de gênero – muito menos que se faça necessária a presença de um homem. Arregace as mangas, siga o tutorial e repasse essa tarefa de resistência a suas amigas!

Materiais necessários: Verifique especificações no manual de instrução do chuveiro e compre uma resistência nova (em supermercados ou lojas de materiais elétricos). Alicate Escada ou cadeira

Passo a passo 1. Desconecte a

fiação do chuveiro (encapada por uma espécie de “tubo branco”).

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2. Remova o chuveiro do cano de metal pelo qual a água passa.


TUTORIAL

3. Desrosqueie o

espalhador da ducha (parte com furinhos do chuveiro) e desdobre com cuidado o fio terra.

5. Retire a resistência

queimada dos três conectores, você pode utilizar um alicate. (Dica: Memorize a posição das resistências ou consulte o manual para saber colocá-las no lugar).

7. Conecte a tampa

com a vedação de volta, tomando cuidado com a posição do fio terra (deve estar dobrado para dentro e apoiado num suporte central).

9. Conecte o chuveiro

ao cano de água e à fiação elétrica. Para não correr o risco de queimar outra resistência, ligue apenas o registro de água e deixe por alguns segundos no chuveiro desligado.

4. Retire a tampa

do chuveiro, observe que a borracha preta de vedação permanece.

6. Coloque a resistên-

cia nova nos conectores adequados, utilize o alicate para fixá-las bem na posição, apertando o metal se necessário.

8. Rosqueie a peneira

de volta ao chuveiro, com atenção aos risquinhos das partes de cima e de baixo, que garantem o fechamento perfeito.

10. Volte ao quadro de força e ligue a chave geral de energia. No chuveiro, escolha os modos verão ou inverno e aproveite seu banho quente!

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TUTORIAL

Fica, vai ter bolo! Texto e Fotos Bianca Arantes

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ontade de comer algo gostoso, mas com preguiça de cozinhar? Não sabe nem esquentar água para fazer chá? Todas as receitas que você encontra parecem super difíceis e demoradas? Não tema, minha cara leitora, a Pagu resolve esse seu dilema! Todas as receitas dessa seção foram testadas e aprovadas na nossa cozinha pela nossa foodie de plantão. Então, bora colocar a mão na massa?

Bolo Vegano Ingredientes 1 e 1./2 xícara de farinha 1/3 xícara de chocolate em pó 1 colher de chá de bicarbonato 1 xícara de açúcar 1./2 colher de chá de sal 1 copo de água gelada 5 colheres de sopa de óleo vegetal 1./2 colher de chá de essência de baunilha 1 colher de sopa de vinagre branco açúcar de confeiteiro para polvilhar (opcional) Modo de preparo Bata todos os ingredientes em uma vasilha. Não é necessário usar a batedeira. Pré-aqueça o forno à 180º por 5 minutos. Asse por 25 a 30 minutos à 180º, ou até você furar o bolo com um palito e ele sair limpo.

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Lanche de Forno Ingredientes Molho Branco: 2 colheres de margarina 1 xícara de requeijão 1 caixa de creme de leite tempero à gosto

Lanche: 1 pacote de pão de forma molho branco queijo presunto queijo ralado Modo de preparo Molho Branco: Derreta a margarina em uma panela. Acrescente o requeijão, mexendo sempre para não empelotar, até engrossar. Apague o fogo e acrescente o creme de leite e tempero. Lanche: Comece espalhando molho branco em um refratário que possa ir ao forno. Monte o lanche intercalando camadas de molho, pão, molho, queijo, presunto e molho. Na camada final, espalhe queijo cortado e queijo ralado para grelhar.

Drink de Pêssego Ingredientes 1 lata de leite condensado 1 lata de pêssego em calda 1 garrafa de Cidra (pode ser substituído por champanhe ou outro espumante) Modo de preparo Bata todos os ingredientes no liquidificador até formar um líquido espesso e você não ver mais pedacinhos de pêssego. Sirva gelado e decore a taça com pedaços de pêssego. revistapagu.com.br

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De desapegos Por Giovanna Diniz Eu queria ser tão desapegada quanto o feminismo me ensina a ser. Queria que começasse o dia e eu não me importasse em fazer uma verdadeira bagunça no meu quarto para escolher a roupa "certa" para sair de casa, como se ainda existisse alguém na minha cabeça dizendo o que devo ou não vestir. Mas sabe, não é fácil de um dia pro outro ser uma "super" feminista, uma mulher maravilha e tudo mais. Não foi fácil desapegar, por exemplo, da depilação. Lá em 2011, quando descobri o feminismo, achei que jamais conseguiria lidar com os olhares de nojo de outras pessoas quando viam um pelinho meu fora do lugar. Até minhas amigas, davam aquele "aviso" de quem parece se preocupar com você: "amiga, não levanta o braço!" Mas e daí? Não é só a sociedade que me julga. Sou também uma fiscal dos meus "delitos" diante das regras que me impõem. Eu já internalizei tudo isso, como posso, então, ser livre? Aprendi que tenho que praticar a terapia do desapego. De saber o que me faz confortável

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e me questionar toda vez que eu achar que estou agindo dessa forma impositiva. Seja uma roupa ou um comportamento, quem deve fazer a decisão sou eu e ninguém mais. Lembro também de um colega que vivia dizendo que não se sentia atraído por mulheres fumantes. Depois de ouvir tanto isso, eu me perguntava quantos homens eu havia afastado por ser fumante. Até o dia em que fiquei com esse colega e resolvi que deveria pôr mais essa "regra" no lixo. Por que então eu tenho tanta dificuldade em me desapegar? É questão de lidar melhor com as minhas escolhas. Da mesma forma que não existe uma polícia feminista para tirar minha "carteirinha" do clube da causa, também vivo num país que posso (e devo) ser livre para fazer o que sinto que é certo para mim. Afinal, é isso que eu mais defendo e luto acima de tudo: a liberdade de exercer o "mulher" da forma como quero, da forma que acho que todas minhas amigas e mulheres que me rodeiam querem. Eu sou livre.




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