Muito além do peso

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE COMUNICAÇÃO E ARTES RELAÇÕES PÚBLICAS Teorias da Comunicação

Prof. Carla Soares Faria

“Muito além do peso - Obesidade, a maior epidemia infantil da história” Um documentário de Estela Renner

Lívia Maria Cunha

Na tela, acompanhamos o, até então, improvável: a chegada de produtos industrializados à uma comunidade ribeirinha. A história de Yan, de 4 anos, mais uma criança participante da estatística acerca da obesidade infantil brasileira - esta é a primeira geração a apresentar doenças antes restritas aos adultos, como depressão, diabetes e problemas cardiovasculares – amplia o debate em questão: o consumo de alimentos e a má qualidade nutritiva vai muito além do peso.

O alerta simboliza algumas das principais premissas da produção, tais como a alta e precoce

ingestão

de

açúcar,

hábitos

alimentares

menos

saudáveis,

pais

desinformados, o malefício do bombardeio de propagandas e a clara predisposição das novas gerações serem ainda mais obesas. Com alimentos cada vez menos saudáveis e modos de vida cada vez mais sedentários, a obesidade vem aumentando os casos de diabetes e de problemas do coração, matando já 2.8 milhões de adultos por ano no mundo. O número atual de 1.4 bilhões de adultos no mundo com sobrepeso deverá explodir. Em outros vinte anos, se as coisas continuarem como estão, pode bem ser que de 50 a 60% da população mundial adulta esteja acima do peso.

O documentário expõe – sobre críticas e relatos de especialistas da área da saúde – várias causas que contribuem para o agravamento da obesidade infantil, entre elas a falta de exercício físico, considerada parte fundamental na prevenção e controle da doença. Segundo esses especialistas, em algumas cidades não há recreação disponível, não há segurança nos parques, ou seja, as crianças não têm a opção de

serem ativas. Além disso, somos apresentados a um fato já conhecido pela sociedade atual: as crianças não brincam como antigamente. Hoje estão entretidas com videogames, Iphones, Ipods e computadores, elementos que não permitem o exercício físico, prendem toda a atenção e bloqueiam o senso criativo das crianças.

Há ainda a falta de informação, atenção dos pais em relação à quantidade de calorias ingerida por seus filhos. A ingestão de açúcar – principal vilão presente na obesidade infantil

–

passa

despercebida

através

dos

grandes

estímulos

visuais

e

empreendimentos publicitários. O documentário exemplifica essa ideia no momento em que várias crianças são questionadas sobre continuar bebendo Coca-Cola mesmo já informadas sobre a enorme quantidade de açúcar presente em uma lata – e uma delas responde: “eu não resisto a Coca-Cola, eu abro a felicidade!”.

A grandes corporações alimentícias, juntamente com as redes de fast-food, despertam uma consciência extremamente negativa dentro do imaginário infantil. Educadores, sociólogos e terapeutas apontam o fato de que grande parte das publicidades estão atentas a mostrar um produto associado à saúde, bem-estar e sucesso, influenciando um consumo desenfreado e desleal. Segundo Alejandro Calvillo Unna, sociólogo e diretor do El Poder Del Consumidor no México, não é possível competir com empresas que tem campanhas multimilionárias, que estão na televisão, nas ruas, na internet, por todos os lugares. Para o sociólogo, a criança não vê um restaurante e sim, um lugar de recreação; Alejandro ainda afirma que o McDonald’s é o maior vendedor de brinquedos do mundo, fato extremamente perceptível, uma vez que, grande parte das refeições infantis de redes fast-food estão associadas às personagens de animações – algo para ser proibido, justamente por se tratar de uma publicidade abusiva.

Ainda nessa discussão, atento à entrevista de uma das mães -

Valores são corrompidos e governos e corporações seguem, na falta de políticas públicas que as protejam, tornando um martírio a vida de tantas de nossas crianças, encurtando-as e submetendo-as a um regime permanente não de saúde, mas de tortura física e psicológica. O cenário é como a comida que promovem: de virar o estômago. Mais que isso: de partir o coração. Muito Além do Peso deveria ter exibição obrigatória em todas as escolas infantis do país, com a presença dos pais. Mas não vai acontecer.

A diretora , Estela Renner, entrevista personalidades nacionais e internacionais, como educadores, terapeutas, sociólogos e mesmo o especialista em comida e superstar da culinária, o inglês Jamie Oliver (que cobriu o trabalho de elogios por sua contribuição em despertar uma consciência necessária sobre o problema). Ela não se furtou de dar nomes aos bois - como os de grandes corporações de alimentos e redes de fast food um exército de pessoas bem treinadas para, com meios ardilosos, não apenas empurrar goela das crianças abaixo - muitas vezes com a conivência dos pais – o lixo que produzem e comercializam, como para mantê-las viciadas.

A geração de hoje tem uma expectativa de vida 10 anos menor que a anterior por conta dos alimentos que ingere, observa Oliver. Crianças não sabem o nome de frutas e vegetais corriqueiros, que não constam de seus cardápios, mas reconhecem à primeira vista pacotes de biscoitos, batatinhas, latas de refrigerantes e colecionam os brinquedos distribuídos criminosamente pelas redes de junk food para atrair pais e filhos

incautos.

A desonestidade é tanta que, num vocabulário perverso, estas substituem em seus cardápios a palavra "açúcar" por "carboidratos". O fenômeno não se restringe aos grandes centros - pode ocorrer nos confins do Pará, ou em um bairro pobre da periferia de Porto Alegre. Os pais, diz o documentário, não podem fazer boas escolhas porque elas simplesmente não existem.

Vivemos em um mundo em que o McDonald's ostenta o fato de ser o restaurante oficial das Olimpíadas. Valores são corrompidos e governos e corporações seguem, na falta de políticas públicas que as protejam, tornando um martírio a vida de tantas de nossas crianças, encurtando-as e submetendo-as a um regime permanente não de saúde, mas de tortura física e psicológica. O cenário é como a comida que promovem: de virar o estômago. Mais que isso: de partir o coração. Muito Além do Peso deveria ter exibição obrigatória em todas as escolas infantis do país, com a presença dos pais.

Mas não vai acontecer.