Samuel R. Pinheiro
“O Melhor de Tudo...” DESCOBRINDO O MELHOR DA VIDA EDIÇÃO EXPANDIDA
“O melhor de Tudo é crer em Cristo” LUÍS VAZ DE CAMÕES
DEDICO ESTE LIVRO a toda a minha família biológica e da fé, especialmente aos meus pastores, ao longo da minha vida cristã, na pessoa do Pastor António Gonçalves, nestes últimos cerca de 23 anos; à minha esposa a quem amo, companheira de alegrias e tristezas há 32 anos, e à minha querida filha, que será sempre a menina dos meus olhos.
EM MEMÓRIA dos meus avós, do meu pai e da minha mãe de quem aprendi nas suas vidas “o melhor de tudo” e que já me esperam na casa do Pai onde um dia juntos celebraremos a graça pela qual fomos reconciliados com Deus.
O MEU MUITO OBRIGADO à Ana Ramalho Rosa pelas suas sugestões, incentivo e trabalho de edição e ao Adilson Morais nas artes gráficas (dois amigos, verdadeiramente excelentes, com quem trabalhar é um prazer).
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INTRODUÇÃO
Este livro pretende traduzir o que o meu coração sente e a minha mente crê diante da figura única e exclusiva de Jesus Cristo. Sei que não sei tudo, nem conheço todos os homens que já alguma vez pisaram esta terra nos quatro cantos do mundo, mas uma coisa sei, logo à partida – nenhum deles poderia alguma vez ultrapassar, ser maior ou sobrepujar a pessoa de Jesus Cristo. As evidências estão por todo o lado a propósito da exclusividade de Jesus Cristo, Homem de facto, mas muito mais do que humano. Ele é Deus entre nós de modo a que O possamos ver, tocar, ouvir, cheirar e provar. Acessível aos nossos cinco sentidos e ao outro sentido da dimensão espiritual, para todos os que O recebem ao reconhecerem que Ele é o Filho de Deus. Esta dimensão leva-nos muito mais além. Não se trata de uma obra académica, utilizando os bisturis da ciência, da história, da arqueologia ou da filosofia, para dissecar a pessoa de Jesus Cristo. Não tenho preparação, nem competência para tanto. Outros já o fizeram com sucesso e eficácia. Tendo dedicado muitos anos ao estudo da Apologética, cada vez mais fico com Pascal que considera que “o coração tem razões que a razão desconhece”. André Frossard escreveu um livro intitulado Deus Existe, Eu Encontrei-o. Eu prefiro dizer simplesmente que Deus existe, Ele veio ao meu e ao nosso encontro em Jesus. 17
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Junto razão e coração, emoção e pensamento, contemplação e exclamação, porque, no fundo, sou assim mesmo. Deus vem ao nosso encontro como somos e muda-nos para que venhamos a ser como Ele nos desenhou. Sou ainda, porventura, um borrão, um esboço, uma obra inacabada, mas com a certeza de que estará pronta no dia de Jesus Cristo. Nesse dia, tenho a certeza de que vou contemplá-l’O face Deus vem ao nosso encona face. Não mais o infante tro como somos e muda-nos de Belém; o carpinteiro de para que venhamos a ser Nazaré; o batizado nas águas como Ele nos desenhou. do Jordão, cumprindo toda a justiça diante do relutante percursor e primo João Batista; o tentado no deserto pelo malabarismo descarado do maligno; o caminhante pelas estradas poeirentas da Palestina de há dois mil anos; o sedento sentado no poço de Jacob; o servo de mangas arregaçadas, empunhando uma toalha e um recipiente com água para lavar os pés dos discípulos; o agonizante prostrado no Jardim das Oliveiras, suando gotas de sangue diante da visão da crucificação; o preso diante do Sinédrio, de Herodes e de Pilatos, guardando silêncio e assumindo por inteiro a Sua identidade e a Sua missão salvadora; o crucificado entre dois malfeitores no Gólgota e até mesmo o ressureto entre os mortos, preparando o pequeno-almoço dos discípulos; mas o Senhor glorificado na visão que abre o último livro da Bíblia e que o discípulo amado não suportou, tendo caído como morto. “Vi o Candelabro de ouro Com seus sete braços, E, no centro, o Filho do Homem, com uma túnica e um peitoral de ouro, o cabelo branco como a neve. Olhos como chamas de fogo, os pés como bronze refinado na fornalha, 18
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Sua voz como uma catarata, segurava as Sete Estrelas na mão direita. Sua boca como uma espada afiada, seu rosto como o Sol quando está próximo da Terra. Vi tudo isso e caí como morto a seus pés. Sua mão direita me levantou, e fiquei tranquilo quando ouvi sua voz. Não tenha medo. Eu sou o Primeiro e o Último. Eu estou vivo. Morri, mas voltei à vida e agora vivo para sempre. Vê estas chaves na minha mão? Elas abrem e fecham as portas da morte, abrem e fecham as portas do Inferno.” (Apocalipse 1:12-18, MSG)
Aqui, ficam algumas batidas do meu coração e alguns circuitos do meu cérebro, mas, mesmo, o melhor de tudo é crer em Cristo, na alegria e na tristeza, nas lágrimas e nos sorrisos, nas vitórias e nas derrotas, na euforia e na depressão, nos sonhos e nos pesadelos, nos êxitos e nos fracassos. Reconheci, já há algum tempo, que ninguém jamais dirá ou escreverá mais ou melhor sobre Jesus Cristo do que O próprio falou a Seu respeito. Com isto em mente, mesmo assim, permitam-me que formule um desejo simples, singelo, mas sincero: espero que algumas destas palavras entreabram alguma janela do coração, da mente e da vontade de quem as ler, pela graça infinita e admirável de Jesus Cristo. Samuel R. Pinheiro Lisboa, fevereiro de 2016
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jesus cristo, o melhor de tudo
Este é o meu tema preferido. O tema central em torno do qual tudo gira. A essência da minha mundividência e da minha cosmovisão. É, a partir d’Ele, que eu me vejo e me entendo. Melhor dizendo, não é um tema, nem o tema. Jesus é a Pessoa por excelência. Jesus Cristo é Deus entre nós, é Deus connosco. Conhecer a Jesus é conhecer Deus. Ouvir Jesus é ouvir Deus. Obedecer a Jesus é obedecer a Deus. Jesus é a Mensagem. Jesus Cristo é o meu absoluto, o meu tudo. Todo o sentido, razão de ser, propósito e desígnio estão centrados n’Ele. Percebo que a vida não é apenas tempo, nem apenas matéria, que as minhas origens estão muito para além do acaso e da energia, por causa d’Ele. Para mim, Jesus é muito mais do que Mestre ou do que um Modelo e Exemplo de vida. Mais do que o Mestre, o Modelo e o Exemplo, Ele é o Salvador, o que me tirou e tira de uma vida sem sentido, vazia e condenada à morte. Ele é a fonte da minha esperança. Acredito n’Ele com os olhos abertos e com os olhos fechados. Ele abriu e abre a minha mente muito para além do que eu podia pensar por mim mesmo. Ele dilata os meus horizontes muito para além do que eu poderia ver. Ele expande o meu coração muito para além do que eu podia alcançar através do meu próprio esforço. Ele leva-me a sentir muito mais do que eu seria capaz de sentir contando apenas com a minha capacidade. Perante Ele, não é possível manter a ideia de que a vida é um 21
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absurdo, um acidente, um produto do acaso, uma viagem do nada para o nada, sob o signo da morte, porque Ele mesmo, a Si mesmo, Se apresentou como a vida. Em Jesus, temos a exaltação da vida. Ele é a vida. Ele veio para que tenhamos vida e vida com abundância. Ele é o pão da vida e a água viva que alimenta o esfomeado e mata a sede do sedento. A vida que Ele é e dá, não se restringe ao tempo, é eterna, porque é Deus. Fico a pensar o que seria a vida, o que seria o mundo, COMO EU GOSTARIA DE TER A o que seria a História, se Ele CAPACIDADE DE APRESENTAR não tivesse vindo, e tenho a JESUS COMO ELE DEVE SER nítida impressão de como APRESENTADO. tudo seria muito mais escuro. Estamos longe de viver no Paraíso, mas, com Jesus, as coisas mudaram muito e para melhor. Apesar de todos os desvios e atropelos, apesar de todas as distorções e perversidades, apesar de tudo o que fizeram de ruim, invocando o Seu nome, ainda assim a História foi empurrada muito para cima com a Sua presença entre nós. Há muito joio no meio do trigo, como Ele mesmo avisou. O inimigo fez isso, mas em breve virá o dia em que o joio será arrancado por quem sabe do assunto, e, com Ele, estaremos, definitivamente, em novos céus e nova terra, em que a justiça habitará para sempre. Não estamos no Paraíso, mas, com Jesus, estamos a caminho dele. Jesus não é apenas o modelo para a nossa vida, não nos ensina apenas a viver, não nos dá apenas a vida, Ele é a própria vida. Como eu gostaria de ter a capacidade de apresentar Jesus como Ele deve ser apresentado. Como eu gostaria de dominar o dom da palavra de modo a que ela ressaltasse toda a beleza que n’Ele reside. Mas, já aprendi, há muito tempo, que nunca alguém dirá 22
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a respeito de Jesus mais ou melhor do que Ele próprio disse de Si mesmo. Nunca a respeito de alguém se escreveu tanto como acerca de Jesus e, no entanto, Ele continua inesgotável. O mais que se possa dizer nunca sobrepujará o que Ele disse. A Sua pessoa continua a alimentar a veia dos artistas, dos pintores, dos músicos, dos escritores, dos poetas, dos filósofos. Mesmo os que O negam ou pretendem distorcer a Sua imagem, precisam d’Ele para alimentar a sua reflexão e o seu ceticismo face à vida. Acabam por negar-se a si mesmos, porque não têm outra alternativa a oferecer que não a morte, o nada, o vazio, o efémero, a frustração. Não têm nada, nem ninguém, para oferecer como alternativa a Jesus Cristo – o Salvador e o Senhor da humanidade. A minha maior frustração reside em não ter a coragem e a ousadia suficientes para importunar todas a pessoas à minha volta com a pessoa de Jesus. Tenho a perfeita noção de que não falei d’Ele tanto quanto devia, que fico muito mais calado do que seria desejável, que me falta a sabedoria para colocá-l’O diante do olhar do homem de hoje tão intoxicado pela ilusão do efémero, do passageiro e do descartável. Como lamento que não vejamos à nossa volta mais fome do autêntico, do genuíno – de Jesus. Infelizmente a nossa cultura acomodou-se à ausência de sentido e de propósito eternos. Estamos rodeados de uma cultura que privilegia o imediato, o passageiro, o efémero, o temporal, o material e não o espiritual e o eterno. Levar cada pessoa a Jesus é o privilégio de cada um dos Seus seguidores. O cristão vive para isso, porque ele sabe que é disso que todas as pessoas, antes de tudo, mais necessitam. Daí a razão de Camões, quando escreveu no seu soneto: “O melhor de tudo é crer em Cristo.” Cem por cento de acordo. Antes de tudo, na vida, o melhor é Jesus. Tudo sem Ele é nada. Ele é tudo. Lidando, todos os dias, com adolescentes e jovens que são fruto desta cultura do vazio, como é notória a necessidade de uma 23
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referência viva que ensine, que estimule, que promova, que alimente uma identidade adequada do ser humano, que oriente os objetivos supremos da vida, que estabeleça a dignidade da existência e da essência humana, que fundamente princípios e valores morais e éticos, que ensine a gostar da vida, que forneça uma verdadeira e sadia autoestima. É lamentável que, na escola, se estude tanto sobre cientistas, filósofos, escritores, romancistas, poetas, artistas, pintores, escultores, arquitetos, músicos, bailarinos, cantores, políticos, economistas e não se considere, de um modo atento, a pessoa e o ensino da figura incontornável, insubstituível e inultrapassável, suprema, única e exclusiva de Jesus Cristo – O SENHOR DO UNIVERSO E DA HISTÓRIA! Diante do fracasso humano, face aos comportamentos desviantes, perante as disfunções dos indivíduos e das famílias, no confronto com as múltiplas dependências que fazem do homem um farrapo, é urgente voltar a acreditar em milagres. Mas para isso, é preciso abrir os braços, a mente e o coração para Aquele que é capaz de os realizar. Milagres de transformação de vida, milagres de libertação das prisões da morte em vida, do desespero, dos vícios, das dependências, da violência, da indiferença, do imobilismo, da injustiça, do crime, da corrupção. Para isso, precisamos deixar de lado o Jesus religioso e acolhermos o Jesus dos evangelhos e da história, que andou entre as pessoas, que conversou com os indigentes, que denunciou o egoísmo e a injustiça, que convocou ao arrependimento e à conversão. Precisamos de conhecer Jesus tal como Ele se nos apresenta, tal e qual Ele foi crido pelos Seus discípulos. Temos que olhar para Jesus segundo os Seus próprios olhos, segundo as Suas próprias declarações e reivindicações acerca de Si mesmo. Sem a ajuda do Pai, do próprio Jesus e do Espírito Santo, não saberemos, de verdade, quem Ele é. Precisamos ouvi-Lo uma vez 24
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mais. Meditar nos Seus ensinos. Sermos interpelados pelos Seus desafios. Incomodados pela Sua vida para vivermos a partir d’Ele e n’Ele. Aprender a amar. Aprender a perdoar. Aprender a servir. Temos de lidar, hoje em dia, com as diversas deturpações de que Jesus tem sido alvo pelos seus detratores e também pelos que se apresentaram como Seus seguidores, mas não viveram e agiram em conformidade com o Seu ensino. É necessário e urgente, é decisivo voltar o nosso olhar e concentrarmo-nos nos relatos fidedignos que temos acerca d’Ele e sobre o Seu ensino, sobre a Sua vida e, acima de tudo, na Sua morte e ressurreição, na Sua ascensão, na promessa da Sua segunda vinda e na Sua presença junto do Pai como pessoa da Trindade divina. Carecemos da ajuda do Espírito Santo numa atitude de Não há outro que nos humildade para que sejamos possa salvar do pântano expurgados de toda a disem que nos encontramos. torção, de todas as escórias, permita-se mesmo a expressão – de todo o lixo que se tem acumulado nos nossos sentimentos a respeito da pessoa de Jesus Cristo. É necessário ficar com o genuíno, o original, Aquele que nos vem apresentado no texto bíblico. Quando precisamos tanto de sentido e propósito, de amor e de perdão, de verdade e de justiça, não há outro que nos possa salvar do pântano em que nos encontramos, que nos seja caminho, verdade e vida. Ele é o Mestre da Inteligência Espiritual, fundamento essencial da inteligência cognitiva e emocional. A inteligência que nos abre as portas do espiritual, que nos permite enxergar no coração e na mente de Deus, que nos permite entender o plano e o propósito do Criador a nosso respeito, que nos permite perceber 25
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a razão e o sentido da nossa própria vida, que nos leva a considerar o nosso real valor e dignidade como seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus, que nos leva para lá da matéria e da energia, que nos conduz ao âmago da vida e da essência do ser. Ele mostra-nos as nossas origens, esclarece-nos sobre o que de errado aconteceu e ELE É A ESPERANÇA DA acontece para que estejamos GLÓRIA. ELE É A GRAÇA NO no ponto em que nos enconMEIO DA DESGRAÇA. tramos. Ele é a possibilidade de uma reviravolta no processo – podemos mudar de vida! Ele é a esperança da glória. Ele é a graça no meio da desgraça. Ele é a vida face à morte. Ele é o perdão diante da culpa. Ele é a absolvição perante a condenação. Toda a vida de Paulo estava concentrada em levar o maior número de homens e mulheres a compreender o mistério de Deus – Cristo, como escreve aos colossenses: “Gostaria, pois, que saibais quão grande luta venho mantendo por vós, pelos laodicenses e por quantos não me viram face a face; para que os seus corações sejam confortados, vinculados juntamente em amor, e tenham toda a riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros de sabedoria e do conhecimento estão ocultos. (…) porquanto nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade.” (Colossenses 2:1-5,9, ARA)
Ainda a estes cristãos Paulo dá a revelação do propósito divino: “E o plano de Deus é que Cristo habite em vós, dando-vos a esperança da glória divina.” (Colossenses 1:27b, BN) 26
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E quando escreve aos coríntios diz: “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou da parte de Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção, para que, como está escrito: Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor.” (1 Coríntios 1:30,31, ARC)
Paulo é um homem absolutamente apaixonado por Jesus Cristo, depois de ter sido um dos Seus mais acérrimos perseguidores e da Sua Igreja. Há esperança para todos os que não vendo Jesus Cristo como Ele é de facto, encontrando-O se tornem Seus dedicados e incondicionais seguidores. Citando Paulo uma vez mais: “Porquanto, para mim o viver é Cristo, e o morrer é lucro.” (Filipenses 1:2, ARA) PARA REFLETIR
- Quem é Jesus para mim? - Quais as consequências das deturpações que têm sido veiculadas a respeito de Jesus, através da História e pelos meios de comunicação, hoje em dia? - De que forma conheço Jesus Cristo e aprofundo esse conhecimento num relacionamento pessoal? - Qual o maior desafio que Jesus, atualmente, coloca à minha vida? - Em que medida Jesus é mais do que um Mestre, um Modelo e um Exemplo de vida?
SUGESTÃO BIBLIOGRÁFICA
O Jesus que eu nunca conheci, Philip Yancey, Editora Vida.
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APÊNDICE
A
“O Melhor de Tudo” com o Evangelho de João Guia de Estudo
JESUS CRISTO é o cerne da Bíblia. Tirar Jesus da Bíblia é ficar sem Bíblia. Não há vida cristã sem Jesus Cristo. A vida de um cristão só pode existir em Jesus Cristo e a partir d’Ele. É na pessoa e pela pessoa de Jesus que compreendemos e interpretamos o texto bíblico. Ele é a chave hermenêutica da revelação escrita. Toda a Bíblia apresenta e fala sobre Jesus de modo direto ou indireto. Tanto o texto escrito antes do nascimento de Jesus Cristo, como o texto escrito depois, está voltado para Ele. No primeiro testamento temos as evidências acerca d’Aquele que haveria de vir. No segundo testamento temos o registo do Messias prometido, Aquele que já veio e prometeu voltar um dia destes para trazer até à consumação final o que realizou de modo completo e cabal com a Sua vida, morte e ressurreição enquanto Emanuel, Deus connosco. Para nós o mesmo acontece com a História. Jesus é a chave da História. É n’Ele que a História tem o seu sentido e realização. É n’Ele que os mistérios e as aparentes contradições se resolvem. De igual modo a nossa existência tem em Jesus Cristo um antes e um depois e a eternidade será de uma glória que não podemos aquilatar. Se quer conhecer Jesus leia a Bíblia. Mas provavelmente não será fácil lê-la toda logo de início. Os quatro Evangelhos têm informação privilegiada acerca da Sua vida entre nós. Dos quatro Evangelhos eu recomendaria o último – o Evangelho de João, que se apresenta a si mesmo como o discípulo amado, como todos o 211
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podemos ser, que afinal de contas é o âmago da intenção divina – termos a certeza absoluta e vivenciarmos, de modo cada vez mais pleno, o Seu amor. Fomos criados para este relacionamento e intimidade de amor e só estaremos realizados nele. Poderemos mesmo dizer que fomos criados para uma natureza de amor, como é a natureza do próprio Deus. Sermos amor e relacionarmo-nos em amor com o Deus que é amor, porque amou o mundo de tal maneira (de modo absoluto, incondicional e radical) que deu o Seu Filho único para que todo o que n’Ele confia tenha a vida eterna e não se perca (paráfrase de João 3:16). Propomos-lhe de uma forma muito breve alguns tópicos, algumas referências, alguns sinais para a leitura de cada um dos capítulos deste Evangelho. Não se trata de um comentário nem de um guião exaustivo (longe disso), o que seria muito pretensioso da nossa parte. Trata-se apenas da sugestão de alguns aspetos desse Evangelho que não se esgotam, em toda a riqueza dos significados e sentidos que nos oferece. Encontrará destacadas algumas questões e sugestões ao longo do texto. Deixamos-lhe um autêntico desafio. Leia na dependência do Espírito. Ele iluminará o seu coração e a sua mente. Leia demoradamente, como quem saboreia. Estas reflexões podem servir de base não apenas à meditação pessoal, sempre a partir da leitura do próprio Evangelho, bem como de estudo em pequenos grupos, ou na Escola Dominical com adolescentes ou jovens. Julgo que é uma excelente ideia. Reservar algumas semanas para a leitura deste Evangelho, fazer uma reflexão pessoal ou em grupo, em que todos podem participar, e usando este texto apenas como uma achega.
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JOÃO 1 O Evangelho de João abre de modo idêntico ao primeiro livro da Bíblia, apresentando-nos Jesus como o Logos, a Palavra viva, o Verbo divino. Apresenta-nos a divindade de Jesus Cristo. Deus que Se fez homem. É o início e a origem de todas as coisas, não de modo acidental ou ocasional, mas pela intervenção intencional e com propósito do próprio Deus. Na origem está uma pessoa e não uma força. Não é “a Força esteja contigo” como no filme Star Wars, mas Deus, o Criador, que está connosco. E esse princípio está umbilicalmente ligado ao momento crucial da História quando o próprio Deus entra na história humana, em forma de homem. Identifique no texto estas declarações e reflita sobre o que isso significa para cada um de nós em termos da nossa compreensão de Deus e da certeza da Sua existência. O texto dá-nos a conhecer o grande plano de Deus em Jesus Cristo, de nos conceder o poder de sermos feitos filhos de Deus. Essa é a vontade divina. Essa é a forma como Deus responde à corrupção, causada pela rutura do homem com Deus no jardim do Éden ao decidir comer da árvore da ciência do bem e do mal.
• Pense no que isto provocou e no modo como Deus determinou consertar o ser humano. • Considere ainda a vocação excelente que Deus nos oferece quando o escolhemos como Pai. O testemunho de João Batista, primo e percursor de Jesus, mostra-nos a diferença essencial de Jesus em relação a Moisés, o 213
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grande líder e libertador do povo de Israel da opressão do Egito. Confronte a lei dada por seu intermédio e a graça e a verdade que vieram por meio de Jesus Cristo.
• Demore-se no versículo dezoito que nos afirma que nunca ninguém viu a Deus, mas o Filho, Deus entre nós, é a Sua revelação. O depoimento de João Batista continua a mostrar-nos a singularidade e supremacia de Jesus. João Batista afirma a preexistência de Jesus e que Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
• Outra das declarações sobre a qual demoradamente devemos refletir é o sinal do Espírito sobre a pessoa de Jesus e de ser Ele quem batiza com esse mesmo Espírito Santo. A vida de Jesus e o Seu ministério, a Sua missão e propósito, só acontecem nessa unção. O que é que isso nos diz em relação a nós próprios? Mantenha no seu pensamento este fio condutor e identifique o seu desdobramento ao longo do Evangelho. O testemunho e a experiência pessoal no conhecimento e na relação com Jesus é marcante na narrativa que envolve André e Simão, Filipe e Natanael. Considere o desafio no testemunho que é feito perante o ceticismo: “Vem, e vê.” Considere como Jesus acolhe as dúvidas, e até talvez algum preconceito de Natanael, esboçando um certo elogio: “Eis um verdadeiro israelita em quem não há dolo!”. O choque é evidente e a resposta de Jesus dá a entender que não conseguimos perceber na totalidade o que estaria em causa, que o Mestre sabe tudo, mesmo o mais escondido e recôndito: “Antes de Filipe te chamar, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira.” Isto foi o suficiente para que Natanael baixasse a guarda e acreditasse em Jesus. E com um certo sentido de humor, Jesus que estaria 214
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preparado para uma maior reserva da sua parte: “Porque te disse que te vi debaixo da figueira, crês? Pois maiores coisas do que estas verás. (…) Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.” Que evento do Antigo Testamento na vida de Jacob isto nos faz lembrar, e o que manifesta em relação à singularidade, exclusividade e superioridade de Jesus (enfim à Sua identidade)?
APROFUNDE A SUA LEITURA
Aconselhamos os capítulos 3, 6, 8 e 15 da primeira parte deste livro.
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APÊNDICE
B
Uma proposta de cronologia da vida de Jesus
Apresentamos uma possível cronologia da vida de Jesus, segundo os quatro Evangelhos, baseada num projeto que distribuiu em Portugal cerca de um milhão de exemplares para as faixas etárias das crianças, adolescentes e jovens. O “Livro de Vida” no mundo já ultrapassou a fasquia de um bilião de exemplares distribuídos sobre a vida de Jesus. Aqui fica uma expressão de gratidão à “Book of Hope” e ao seu fundador, missionário Bob Hoskins a quem Deus deu esta visão: partilhar a vida de Jesus com cada criança, adolescente e jovem. O meu reconhecimento igualmente ao meu amigo, irmão na fé e padrinho de casamento Lennart Johanson, que me deu o privilégio de participar neste projeto em língua portuguesa. I. Os Trinta Anos de Preparação 1.1 Introdução 1.2 Um anjo anuncia o nascimento de João Batista 1.3 Um anjo anuncia o nascimento de Jesus 1.4 Maria visita Isabel 1.5 Cântico de Maria 1.6 Nascimento de João Batista 1.7 Cântico de Zacarias 1.8 Nascimento de Jesus 1.9 Os anjos e os pastores 1.10 Apresentação de Jesus 1.11Sábios do Oriente adora o Messias 1.12 Fuga para o Egito 1.13 Massacre das criancinhas 1.14 Regresso do Egito 1.15 Jesus no Templo
Marcos 1:1; Lucas 1:1-4; João 1:1-18 Lucas 1:5-80
Mateus 1:18-25 Lucas 2:1-38 Mateus 2:1-23
Lucas 2:40-52 261
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II. O Ano da Inauguração 2.1 Pregação de João Batista 2.2 Batismo de Jesus 2.3 Jesus é tentado 2.4 Testemunho de João Batista 2.5 João apresenta Jesus ao povo 2.6 Primeiros companheiros de Jesus 2.7 Filipe leva Natanael a Jesus 2.8 As bodas de Caná 2.9 Jesus purifica o templo 2.10 Encontro de Jesus com Nicodemos 2.11 Jesus e João Batista 2.12 Encarceramento de João Batista 2.13 Diálogo com uma mulher samaritana 2.14 Os discípulos retornam a Jesus 2.15 Muitos samaritanos acreditam 2.16 Jesus regressa a Galileia 2.17 Cura do filho dum funcionário real 2.18 Jesus rejeitado em Nazaré 2.19 Atividade de Jesus na Galileia
Mateus 3:4-10; Lucas 2:40 — 3:18 Mateus 3:13-17; Lucas 3:23 Mateus 4:1-11 João 1:19 — 4:3
Mateus 4:12; Lucas 3:19-20 João 4:4-54
Lucas 4:16-30 Mateus 4:13-17; Marcos 1:14-15; Lucas 4:14-15
III. O Ano da Popularidade 3.1 Jesus chama os primeiros discípulos 3.2 O homem com um espírito mau 3.3 Jesus cura muitos doentes 3.4 Jesus ora num lugar isolado 3.5 Jesus cura os doentes 3.6 Cura dum homem com lepra 3.7 Cura dum paralítico 3.8 Jesus chama Levi (Mateus) 3.9 A questão do Jejum 3.10 Cura junto à piscina de Betesda 3.11 Poder do Filho de Deus 3.12 Testemunho acerca de Jesus 3.13 Jesus e o sábado 3.14 Multidões seguem Jesus 3.15 Os doze apóstolos
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Mateus 4:18-22; Lucas 5:1-11 Marcos 1:21-38
Mateus 4:23-25 Marcos 1:40 — 2:17
Lucas 5:33-39 João 5:1-47
Mateus 12:5-14; Marcos 2:23-28 Mateus 12:17-21; Marcos 3:7-12; Lucas 6:17-19 Marcos 3:14-19; Lucas 6:12-13