FEITA (IM)
Corinto, A IGREJA PER
ANTÓNIO MANUEL GONÇALVES
FICHA TÉCNICA
TÍTULO: Corinto, A IGREJA (IM)PERFEITA
AUTOR: António Manuel Gonçalves
EDITOR: Edições Novas de Alegria
Av. Almirante Gago Coutinho, nº158
1700-033 Lisboa | Tel.: 218 429 190
SITE: www.capu.pt
IMPRESSÃO E ACABAMENTO: Europress, Lda.
COORDENAÇÃO EDITORIAL: Ana Ramalho Rosa
DESIGN GRÁFICO E PAGINAÇÃO: Adilson Morais
IMAGEM CAPA: Adilson Morais
REVISÃO TEXTUAL: Ester Carvalho
REVISÃO TEOLÓGICA: Carlos Fontes
1ª EDIÇÃO maio 2023
ISBN: 978-972-580-141-3
DEPÓSITO LEGAL: 514620/23
CATEGORIA: 220 Comentário Bíblico, 240 Vida Cristã
TEXTO BÍBLICO
Excepto quando mencionadas, as citações da Bíblia presentes nesta obra são extraídas da Tradução de João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Corrigida. Copyright © 2001
Sociedade Bíblica de Portugal. As restantes citações da Bíblia estarão identificadas quanto às suas traduções junto dos versículos, em abreviatura: ACF - Tradução de João Ferreira de Almeida, Edição Corrigida e Revisada, Fiel ao Texto Original. Copyright © 1994, 1995, 2007, 2001 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil; Trinitarian Bible Society; ARA - Tradução de João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Atualizada. Copyright © 1993 Sociedade Bíblica do Brasil. Todos os direitos reservados; OL - O Livro: A Bíblia para Hoje. Copyright © 1981, 1999, 2017 Bíblica, Inc.; MSG - A MENSAGEM, originalmente publicada em inglês pela NavPress, representada por Tyndale House Publishers, Inc., EUA, com o título THE MESSAGE, copyright © 1993, 2002, 2018 por Eugene H. Peterson. Todos os direitos reservados. Todos os direitos da tradução em língua portuguesa reservados por Editora Vida.
A presente obra respeita as regras do Novo Acordo Ortográfico.
As Edições NA, uma marca da Casa Publicadora da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal, são uma editora de cariz denominacional. Neste âmbito, procuram produzir literatura cristã de língua portuguesa, em diversos formatos e tendo em vista diversos públicos-alvo, com o cuidado de que os conteúdos apresentados se coadunem com o ensino da Bíblia Sagrada, não endossam necessariamente os pontos de vista particulares dos autores.
© Edições NA - Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo quando mencionado nas páginas e nas condições ali descritas, ou em breves citações, com indicação da fonte.
DEDICAÇÃO
À Nina, minha companheira há 47 anos e que comigo carrega as lutas do ministério.
A Sónia, à Raquel, à Rebeca, à Catarina, ao Gonçalo e ao João que alegram a minha vida todos os dias.
Ao Rui e ao Adilson, por ombrearem comigo nas minhas tarefas.
A Deus Pai, por me ter achado digno de tão elevada tarefa, servi-Lo no ministério pastoral.
António Gonçalves Lisboa, maio de 2023
AGRADECIMENTOS
Agradeço à Ester Carvalho pelo seu trabalho de correção e de colocação das frases, o que sei que ela faz com prazer e com o zelo de uma pessoa apaixonada por Jesus.
Ao Professor Carlos Fontes, meu amigo e companheiro há quase quarenta anos, pela análise teológica e doutrinária do livro.
Ao Arquiteto e Professor Samuel Pinheiro, amigo desde a minha juventude, e que comigo cooperou no serviço à igreja, por ter prefaciado este livro.
Agradeço à minha filha Raquel que muito me ajudou na organização deste livro e cujo contributo foi inestimável.
À Igreja Assembleia de Deus em Benfica que me tem concedido a graça de poder servi-la por mais de 30 anos, e por me suportarem.
António Gonçalves
Lisboa, maio de 2023
PREFÁCIO
A IGREJA ONTEM E HOJE
É um privilégio e uma honra prefaciar este livro do pastor António Gonçalves que na altura em que escrevo estas linhas é meu pastor há mais de trinta anos, e que sempre esteve ao nosso lado como família nos momentos risonhos e nos momentos menos bons, nas situações de harmonia e de tensão, nos sorrisos e nas lágrimas, nas festas e nas dores, nos sonhos e, porque não dizê-lo, nos pesadelos. Obrigado.
Escrevo isto porque quando falamos de Igreja falamos do Deus trino – Pai, Filho e Espírito Santo -, de Jesus – o Filho de Deus, Deus feito Homem, o seu fundador, arquiteto, fundamento e defensor -, falamos da Palavra de Deus, seu alicerce e bússola, falamos da sua liderança, e falamos de cada um dos seus membros.
Numa conversa provocada pelo Mestre sobre a Sua identidade lemos no primeiro Evangelho: “Então perguntou-lhes: ’E vocês, quem pensam que eu sou?’ Simão Pedro respondeu: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo!’ ‘Feliz és tu, Simão, filho de Jonas, porque quem te revelou isso foi o meu Pai que está nos céus; não é pensamento humano. Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja; as forças todas do inferno nada poderão fazer contra ela.’” (Mateus 16:15-17, OL).
Em torno desta afirmação têm-se agitado as interpretações cuja elucidação o Espírito Santo teve o cuidado de entregar à escrita do próprio apóstolo Pedro: “Cheguem-se a Cristo que é a rocha viva, rejeitada, na verdade, pelos homens, mas de grande valor para Deus que a escolheu. Vocês também se tornaram pedras vivas para Deus usar na edificação da sua casa espiritual. E são seus santos sacerdotes para através de Jesus Cristo lhe apresentar ofertas do seu agrado. Como
a Escritura o declara: ‘Eis que ponho em Sião a principal pedra da construção, pedra de muito valor, cuidadosamente escolhida. Aquele que nele crer não será envergonhado.’ Sim, ele é, para vocês que creem, algo de muito precioso; mas para os que o rejeitam: ‘A pedra que os construtores rejeitaram veio a tornar-se a pedra fundamental do edifício.’ E as Escrituras dizem também noutra parte: ‘Ele é uma pedra de tropeço, e uma rocha que os fará cair.’” (1 Pedro 2:4-8, OL).
Ao longo da minha história de vida de 66 anos, e mais de meio século de compromisso com Jesus considerando o batismo nas águas do Rio Mondego em 1971, sem ter a noção de quando decidi segui-Lo “muitos” anos antes, sou uma pessoa que prezo a família natural e a família de famílias que é a família espiritual local, que tem uma história, contexto, cultura próprios, integrada no projeto divino mais vasto como Igreja universal. Conheço na primeira pessoa as falhas e os fracassos como seguidor de Jesus, o Seu amor e a Sua graça que nos mantêm de pé.
Este livro nasceu de uma série de estudos partilhados pelo pastor António Gonçalves, semana a semana, de quinze em quinze dias, de forma expositiva, capítulo a capítulo. Tendo sido um contributo inestimável no que é o modo de ser e de estar da AD Benfica, em formato de livro irá agora, sem dúvida, contribuir para a edificação do Corpo de Cristo na lusofonia.
Não há como amar Jesus sem amar a Sua Igreja, até porque não podemos ser seguidores de Jesus, sem estarmos integrados numa igreja local. Na realidade a verdade é que Deus não nos criou como ilhas, e a constatação do Criador de que “não é bom que o homem esteja só”, também é verdade em relação à vida espiritual dos filhos de Deus.
Crescemos como Igreja. Aprendemos juntos. Somos solidários material e espiritualmente, bem como nas emoções, afetos, na consciência bíblica, e na confiança, dependência e obediência da fé em JESUS. Crescemos juntos na diversidade das diferentes gerações que na IGREJA aprendem o amor, a compreensão, a complementaridade, e também o processo da infância à idade adulta espirituais.
A expressão pública da Igreja é um dos fatores determinantes do testemunho público do mais fascinante projeto de vida que é
seguir JESUS.
No seu todo a Bíblia nunca escondeu as mazelas mesmo dos que são por ela apresentados como heróis da fé. Não nos surpreendemos, portanto que encontremos nos diferentes livros e nas diferentes cartas escritas a igrejas específicas da parte do Espírito Santo que elas sejam expostas, como correção e para não ficarmos chocados porque logo nas origens encontramos problemas que se repetiram ao longo da história, e nos dias de hoje até que Jesus volte. Numa outra carta dirigida aos filipenses temos a declaração “E tenho a certeza de que Deus, que começou essa boa obra na vossa vida, vai completá-la até ao momento em que Jesus Cristo voltar.” (Filipenses 1:6, OL). Convém também ressaltar que o texto bíblico e o seu estudo na dependência do autor – o Espírito Santo -, provocaram ao longo da história da Igreja movimentos de reforma e de avivamentos espirituais. Como Assembleias de Deus somos resultado da Reforma protestante e do avivamento pentecostal que eclodiu no início do século passado, sendo hoje o movimento que mais continua a crescer mundialmente.
Pastor António Gonçalves, muito obrigado por este livro com a chancela Edições NA, da Casa Publicadora da Convenção das Assembleias de Deus, da qual foi Diretor executivo durante 18 anos.
Samuel R. Pinheiro (1956-2023) Diretor de Publicações CAPU (2007-2023)NOTAS
Esta obra comenta e adapta princípios retirados dos casos da igreja de Corinto às vivências do cristão que, necessariamente, deve ser autêntico.
O seu conteúdo emana das pregações do autor, sendo a linguagem acessível e os comentários muito imbuídos do empirismo pastoral.
A abordagem aos textos manifesta sensibilidade e tem como pretensão um compromisso sério, tanto no domínio pessoal do crente como no coletivo da igreja local.
Carlos FontesDiretor académico – MEIBAD
Monte Esperança Instituto Bíblico das Assembleias de Deus em Portugal Pastor evangélico
A igreja, à semelhança de outras instituições divinas, como a família, tem estado sobre constantes ataques à sua existência e integridade. Apesar de existirem ameaças externas, encontramos o maior risco de falência nas ameaças internas.
Quando uma destas instituições falha, a culpa não é do projetista que, sendo Deus, é perfeito! O ónus está sobre quem executa, sobre as pessoas, sobre nós. Deus é perfeito, mas nós não! Essa é a razão pela qual a Primeira Carta aos Coríntios é tão atual. Nela podemos perceber que igrejas perfeitas não existem, senão apenas no imaginário de crentes imaturos e desinformados.
Nela podemos perceber que, apesar da igreja ser imperfeita, ela continua a ser igreja porque Deus não desiste dos Seus projetos. Nela podemos perceber que fazer parte de uma igreja imperfeita é estar disponível para compreender e reconhecer os erros, corrigi-los,
debaixo da operação do Espírito e do amor de Deus. Igrejas perfeitas não existem, mas igrejas saudáveis são possíveis e profundamente desejáveis! Com isto em mente, o pastor António Gonçalves leva-nos numa viagem pela realidade da igreja em Corinto, desenvolvendo estas e muitas outras ideias fundamentais para que tal seja uma realidade. Vale a pena ler!
Nuno R. Fernandes
Professor de Livros Históricos - MEIBAD
Monte Esperança Instituto Bíblico das Assembleias de Deus em Portugal Pastor evangélico – AD Sintra
No seu afinco e preocupação com a defesa da igreja local bíblica, o pastor António Gonçalves conduz-nos numa viagem em torno da realidade da igreja em Corinto, a qual será desafiante e motivadora a uma vivência cristã responsável. A elevada pertinência deste livro assenta no pressuposto que é determinante de que cada crente possa aprender através do ensino das Escrituras e da realidade passada com outros crentes e igrejas, sobretudo através dos ensinos normativos e princípios que nos são transmitidos pelos autores bíblicos, e a necessidade que temos de aplicá-los às nossas vidas hoje.
Conhecendo bem o autor como colega e ministro da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal, também conheço a sua paixão pelo desenvolvimento de cada crente e igreja local, pelo estudo das Escrituras, investigação e, concretamente, pelo tema aqui desenvolvido. Este livro é de tudo isto uma prova clarividente.
O alinhamento e progressão desta obra expressam a intenção clara em (in)formar sobre a realidade da igreja de Corinto através de uma excelente abordagem a cada um dos capítulos da primeira carta enviada a esta igreja. Assim, o autor preconiza trazer ao conhecimento dos seus leitores a clareza de verdades que importa aplicar e viver no quotidiano da nossa vida cristã.
Paulo Gomes Diretor - MEIBADMonte Esperança Instituto Bíblico das Assembleias de Deus em Portugal
Pastor evangélico
É para mim uma enorme honra deixar as notas que se seguem relativas a esta obra, que, não obstante se basear numa Escritura
tão antiga como é a primeira carta de Paulo aos coríntios, espelha a realidade da(s) igreja(s) contemporânea, sendo por isso atual, pertinente e oportuna.
Tendo nós consciência das implicâncias em revelar e defender o que acreditamos, ainda mais em tempos como estes – o tempo do fim, e em especial quando estão em foco as doutrinas bíblicas, expresso aqui o meu obrigado ao pastor António Gonçalves pela coragem em lançar esta ferramenta, que desejo, seja mais um instrumento de ajuda e firmeza para quem deseja estar e andar na verdade que nos conduzirá à presença do Pai.
Apetece-me fazer aqui uma resenha da profunda riqueza desta obra, mas tal não é possível. Assim, resta-me convidar o povo cristão e os líderes a lerem e a reterem tão abençoador conteúdo, a fim de conservar a sua alma para a eternidade com Cristo e promoverem o crescimento e a estabilidade do Seu reino.
Jorge Ferreira
Pastor evangélico
Beja (Missão AD Setúbal)
Vivemos numa sociedade marcadamente consumista. As empresas e prestadores de serviço buscam nichos de mercado onde possam colmatar a procura de bens, serviços e, acima de tudo, os desejos dos clientes. Os clientes por outro lado exigem serem tratados de acordo com as suas expectativas, querendo sentir-se especiais. O que tem tudo isto a ver com a igreja? No livro Corinto, A IGREJA (IM)PERFEITA o pastor António Gonçalves faz uma análise coerente da Primeira carta aos Coríntios, traçando as características desta igreja e fazendo uma aplicação prática daquilo que acontece nas igrejas, atualmente.
O autor mostra que um dos grandes problemas atuais nas igrejas é a forma como os próprios crentes encaram aquilo que é ser igreja: assumimos postura de clientes, em vez de servos e criticamos gratuitamente tantas coisas, esquecendo que a igreja é de Cristo, e que mesma deve avançar e ser construída com base em princípios bíblicos e não na nossa opinião. Este livro não pretende ser um comentário exegético, mas é claramente um comentário bíblico com uma vertente marcadamente prática. A igreja em Corinto era
Corinto, A IGREJA (IM)PERFEITA
altamente imperfeita, porque nós somos imperfeitos, no entanto, e apesar de todos os defeitos não deixou de ser a igreja de Cristo Jesus.
Luís Rodrigues Pastor evangélico – AD TomarEste livro que trago à liça, resultou de uma série de estudos bíblicos que ao longo de alguns meses estive ministrando à igreja da qual sou pastor.
Num tempo em que as igrejas proliferam mais rapidamente que cogumelos, e em que a falta de compromisso com a igreja local atingiu proporções de facto preocupantes, juntamente com uma serie de justificações no mínimo descabidas, senti a necessidade de pegar nesta igreja de Corinto e a partir dela produzir os estudos que agora apresento em livro.
Quando lemos as cartas às igrejas, naturalmente percebemos que em todas elas havia sempre algum tipo de problema ou dificuldade, como por exemplo:
A igreja de Éfeso, que era uma igreja alicerçada na Palavra
“Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus.” (Atos 20:27, negrito do autor), mas, que perdeu o amor “Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor.” (Apocalipse 2:4)
Ou a igreja de Tessalónica, que era uma boa igreja, mas onde havia alguns desordenados que não gostavam de trabalhar “Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs.” (2 Tessalonicenses 3:11)
A igreja de Filipos, até que era uma boa igreja, mas a irmã Evódia e a irmã Síntique desentenderam-se e cortaram relações, mas ainda assim, cantavam no grupo de louvor e no coral e faziam parte dos grupos de oração, pelo que Paulo escreve “Rogo a Evódia, e rogo a Síntique, que sintam o mesmo no Senhor.” (Filipenses 4:2)
Na igreja de Colosso , que era também uma “boa” igreja, havia um grupo que cultuava os anjos “Ninguém vos domine a seu
bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, envolvendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão.” (Colossenses 2:18)
Na igreja da Galácia havia alguns crentes que contendiam entre si “Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros.” (Gálatas 5:15)
A igreja de Tiatira tinha tolerado uma mulher que se dizia profetisa e que apoiava a prostituição e a idolatria, “Mas algumas poucas coisas tenho contra ti que deixas Jezabel, mulher que se diz profetisa, ensinar e enganar os meus servos, para que forniquem e comam dos sacrifícios da idolatria.” (Apocalipse 2:20)
Na igreja de Laodicéia, os membros eram orgulhosos, materialistas e espiritualmente mornos “Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.” (Apocalipse 3:16)
Na igreja de Pérgamo, havia alguns que se deixavam levar por outras doutrinas particularmente a doutrina dos nicolaítas e de Balaão “Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e fornicassem. Assim tens também os que seguem a doutrina dos nicolaítas, o que eu odeio.” (Apocalipse 2:14-15)
Todas estas igrejas, tinham os seus problemas, porém, a igreja de Corinto, sozinha tinha quase todos os problemas e fraquezas que havia nas outras todas. Era uma igreja dividida em grupos partidários “Quero dizer com isto, que cada um de vós diz: Eu sou de Paulo, e eu de Apolo, e eu de Cefas, e eu de Cristo” (1 Coríntios 1:12), onde havia inveja, contendas “Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens?” (1 Coríntios 3:3), contendas que iam parar aos tribunais públicos “Ousa algum de vós, tendo algum negócio contra outro, ir a juízo perante os injustos, e não perante os santos?” (1 Coríntios 6:1) onde havia até alguns envolvidos em pecados morais. “Geralmente se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, que nem ainda entre os gentios se nomeia, como é haver quem possua a mulher de seu pai.” (1 Coríntios 5:1) e onde até havia quem negasse a ressurreição do Senhor Jesus Cristo, “Ora, se
se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?” (1 Coríntios 15:12)
Há muitos crentes hoje vivendo um cristianismo de efeitos, mas sem qualquer compromisso com a essência, a vida prática desse mesmo cristianismo, e por essa razão vivem a sua espiritualidade em busca da igreja perfeita, esquecendo completamente que é impossível encontrá-la porque enquanto pessoas imperfeitas jamais poderão produzir na sua soma algo que seja completamente perfeito.
À igreja de Corinto, apesar das suas múltiplas imperfeições, o apóstolo escreve dizendo: “Paulo, escolhido por Deus para ser o enviado de Jesus Cristo, e o irmão Sóstenes, escrevemos esta carta à igreja de Deus em Corinto, a vocês chamados por Deus para serem o seu santo povo , e também a todos os que, por toda a parte, invocam o nome de Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.” (1 Coríntios 1:1, OL)
Note bem o prezado leitor, que nesta igreja de tantas imperfeições, ainda assim, o apóstolo Paulo chama-a de “igreja de Deus (…) chamados por Deus para serem o seu santo povo”.
Senti o desejo de escrever este livro a partir das mensagens pregadas na igreja que pastoreio, com o objetivo de ajudar os crentes a alicerçarem-se no compromisso da sua igreja local, apesar das suas imperfeições e a esforçarem-se pelo aperfeiçoamento da mesma através do aperfeiçoamento de cada crente individualmente.
Este livro simples não é de modo algum nem deve ser comparado a qualquer tratado teológico, e certamente algumas coisas são passiveis de outras interpretações. Ainda assim, convido o prezado leitor a fazer esta viagem comigo e a deixar que pelas páginas deste livro Deus possa falar consigo.
Bem-haja e boa viagem!
António Gonçalves
Lisboa, maio de 2023
ICORINTO, A “IGREJA
A cidade de Corinto situava-se no sul da Grécia e tornou-se naturalmente pela sua localização um centro de comércio e um bom lugar de paragem, para quem viajava para leste ou para oeste.
Depois de haver sido destruída pelos romanos em 146 a.C., foi um século depois, sob o domínio do Imperador Júlio César reformada e reconstruída como colónia romana.
Depois dessa reforma, a cidade, foi inicialmente povoada por veteranos das legiões romanas de Júlio César e também por cidadãos livres, mas gradualmente os gregos foram regressando e helenizaram os romanos voltando a estabelecer o grego como língua mais falada.
A sua localização geográfica nas rotas do Médio Oriente transformaram-na na mais cosmopolita das cidades do seu tempo, e com uma multiculturalidade influenciada pela vida e pelos costumes de todas as nações da costa Mediterrânea. A partir do ano 27 a.C. devido à sua importância, tornou-se também o centro administrativo de toda a província romana da Acaia.
Devido a toda a influência que recebia dos povos que a visitavam, tornou-se uma cidade profundamente imoral e depravada, cuja licenciosidade ia muito além de outras cidades e portos de comércio que usavam o nome de Corinto como símbolo de zombaria e degradação.
Segundo F.F. Bruce (2008) que foi professor de História Clássica e erudito do Novo Testamento, referido dois outros historiadores, Robertson e Plummer, dizem mesmo: “o nome de Coríntio tinha-se tornado provérbio da devassidão mais grosseira, especialmente em conexão com a adoração a Afrodite, adoração essa que atingia a monstruosidade de grande perversão sexual em nome do culto a Afrodite.” (p.1868)
A realidade é que o culto a Afrodite, deusa do amor, da beleza da sexualidade e responsável pela perpetuação da vida, do prazer e da alegria obscurecia a vida da cidade provocando uma grande destruição da moral1.
Esta compreensão é muito importante para se entender o tipo de pessoas que veem a fazer parte da igreja que Paulo estabeleceu nesta mesma cidade, e qual o background cultural de uma parte muito significativa daqueles que vêm a fazer da mesma.
Devido a toda esta influência negativa e pecaminosa Paulo escreveu duas cartas àquela igreja, por necessidade de repor ordem toda a confusão tanto moral como espiritual que nela acontecia, mas também pela consciência que tem de que devido à posição estratégica, geográfica e intercâmbio comercial e cultural, qualquer coisa que fosse pregada ensinada ou permitida naquela igreja que leva o mesmo nome, espalhar-se-ia rapidamente muito além da província da Acaia. (Marsh; Bruce, 2008)
A primeira visita de Paulo a Corinto, aconteceu durante a sua se -
1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Afrodite [acedido em: 17.06.2021 às 17h00]
gunda viagem missionária, onde ele permaneceu durante dezoito meses conforme descrita no livro de Atos 18:1-18.
Quando Paulo chegou a Corinto, estava possivelmente a passar por um período de grande cansaço e desânimo devido à sua longa viagem missionária e aos muitos obstáculos e desencantamentos que teve de enfrentar.
Na cidade de Filipos havia tido um começo prometedor conforme testemunhado por Lucas: “No sábado, saímos da cidade para a beira do rio, onde julgávamos que algumas pessoas se reuniram para oração. Encontrámos então algumas mulheres que ali foram e falámos-lhes. Uma delas era Lídia, vendedora de púrpura, natural de Tiatira. Ela já adorava Deus, e, enquanto ouvia, o Senhor abriu-lhe o coração, e aceitou tudo o que Paulo dizia. Foi batizada com todos os seus familiares e pediu-nos que fôssemos seus hóspedes: Se acham que sou fiel ao Senhor, venham e fiquem na minha casa. E tanto teimou que acabámos por aceitar.” (Atos 16:13, OL).
Quase de imediato “se formou uma multidão ameaçadora contra Paulo e Silas, e os juízes mandaram que os despissem e açoitassem. Repetidamente as varas caíram sobre as suas costas nuas, e depois meteram-nos na cadeia. O carcereiro recebeu ordem para os guardar com toda a segurança; por isso, meteu-os numa cela interior e prendeu-lhes os pés ao tronco de madeira. Cerca da meia-noite, quando Paulo e Silas oravam e cantavam hinos ao Senhor, escutados pelos outros presos, houve de súbito um grande terramoto; a prisão foi abalada até aos alicerces, as portas abriram-se, e tombaram por terra as cadeias de todos os presos!” (versículos 22-25)
O mesmo que aconteceu em Filipos veio também a acontecer em Tessalónica e Bereia onde “os judeus, cheios de inveja, incitaram uns quantos arruaceiros para provocarem uma agitação. Estes assaltaram a casa de Jason na ideia de levarem Paulo e Silas perante o tribunal da cidade a fim de serem castigados. Como não os encontrassem ali, arrastaram Jason e alguns outros crentes à presença dos juízes.” (Atos 17:5-6, OL)
Na cidade de Atenas, capital da Grécia e centro de grande desenvolvimento cultural “Quando ouviram Paulo falar na ressurreição de mortos, houve quem se risse, contudo houve também quem dissesse:
Queremos tornar a ouvir-te acerca disto, mas mais tarde.” (versículo 32) ou seja, Paulo, também teve pouco sucesso e face a tudo chega a Corinto “em fraqueza, temor e grande tremor”. (1 Coríntios 2:3)
É muito provável que Paulo tenha chegado a Corinto sozinho, o que de facto não ajudava em nada o seu estado de espírito, pois os seus companheiros de viagem, Silas e Timóteo, haviam ficado muito ocupados na Macedónia. (Atos 18:5)
Quando Paulo escreve a sua primeira carta aos crentes de Corinto, [possivelmente a segunda, pois de facto a primeira ter-se à perdido conforme depreendemos “Já por carta vos tenho escrito, que não vos associeis com os que se prostituem” (1 Coríntios 5:9)] traz à lembrança deles como foram difíceis os dias que ali haviam passado e até de algum desânimo expresso como já dito nas palavras: “fraqueza, temor e tremor”. (1 Coríntios 2:3)
Estas expressões, devem-se também ao facto de que na sua primeira estadia em Corinto, Paulo também acabou sendo ameaçado e ultrajado uma vez mais pela comunidade judaica ali residente…, mas no meio de toda essa intimidação, Paulo numa visão muito encorajadora recebe a promessa pessoal de Deus de proteção da ira da multidão e de um serviço que seria muito frutífero. Nessa visão Deus diz-lhe: “Não temas, mas fala, e não te cales; Porque eu sou contigo, e ninguém lançará mão de ti para te fazer mal, pois tenho muito povo nesta cidade.” (Atos 18:9-10)
Estimulado e encorajado por essa visão, o apóstolo com ousadia prega o Evangelho o que leva os já revoltados judeus a ficarem ainda mais furiosos. Fúria essa que fica ainda mais inflamada pela conversão de um judeu de nome Crispo que era o principal da sinagoga e da sua família, o que levou os judeus a iniciam um ataque unido contra Paulo diante de Gálio que era o procônsul romano da província de Acaia.
A hostilidade, não diminuiu, pois, com base no tópico das cartas aos Coríntios, parece que a grande maioria dos convertidos vinha da comunidade pagã da cidade, os quais seriam certamente os possíveis clientes dos artífices da mesma, tal como aconteceu na cidade de Éfeso, onde “naquele mesmo tempo, houve um não pequeno alvoroço acerca do Caminho. Porque um cero ourives da prata, por
nome Demétrio, que fazia de prata nichos de Diana, dava não pouco lucro aos artífices. Aos quais, havendo-os ajuntado com os oficiais de obras semelhantes, disse: Senhores, vós bem sabeis que deste ofício temos a nossa prosperidade.” (Atos 19:23-25)
Depois de 18 meses a pregar e a ensinar, Paulo deixa a cidade de Corinto acompanhado de Áquila e Priscila os quais ficam em Éfeso, continuando ele as suas viagens pela Síria.
MUDANDO UM POUCO O FOCO
Paulo escreveu treze cartas sendo que nove são dirigidas a igrejas e quatro a pessoas especificas. Porém, as cartas à igreja de Corinto são sui generis porque de todas as igrejas do Novo Testamento não houve nenhuma tão contenciosa e problemática quanto esta. Face a tantos transtornos e problemas graves, o apóstolo sentiu a necessidade de escrever esta carta exortando a igreja a dar lugar à ordem de Deus e a um testemunho público que dignificasse o senhorio de Cristo.
A EPÍSTOLA É ESCRITA
COM O PROPÓSITO DE LEVAR A IGREJA
A ENTENDER A SUA
FRAQUEZA ESPIRITUAL
E AJUDÁ-LA A TRATAR
Diante de todas essas questões, a epístola é escrita com o propósito de levar a igreja a entender a sua fraqueza espiritual e ajudá-la a tratar os problemas que Paulo considera que são fruto da carnalidade que a estava a afetar. Ou seja, a igreja estava a secularizar-se com a cultura dos gregos.
Esta carta é por incrível que pareça, muito contemporânea nossa, pois a igreja passa hoje por situações muito semelhantes às da igreja de Corinto a quem o apóstolo escreve usando uma expressão muito difícil de digerir ao acusá-los de que, “ainda sois carnais”. Depois passa a explicar-lhes quais são as evidências dessa carnalidade que é visível e pergunta-lhes: “… havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais e não andais segundo os homens?” (1 Coríntios 3:3)
OS PROBLEMAS
O que é extraordinariamente interessante nesta igreja é que sendo ela cheia de dons espirituais, como veremos mais à frente noutro
capítulo, estava negativamente marcada pela divisão e desordem, o que de algum modo nos leva a entender que sendo os dons espirituais muito bons e importantes, se não forem acompanhados pelo Fruto do Espírito, então não passam de mero exercício religioso que para pouco aproveita.
Neste contexto, Paulo escreve então esta carta com muita energia denunciando os problemas e convidando os crentes ao arrependimento, pois a intenção era apresentar-lhes a importância do viver em santificação, conforme deve ser a nova vida em Cristo.
Dentre as muitas lições que tiramos desta carta, está o facto de como devemos lidar com problemas difíceis, tanto na vida pessoal, quanto na Igreja.
A solução apresentada por Paulo passava sempre pela revelação das Escrituras e do ensino de Jesus Cristo, além daquilo que o próprio Espírito lhe revelava e dessa forma, endossa os valores bíblicos para a direção da nossa vida quotidiana.
A carta aborda principalmente os temas da lealdade, imoralidade, liberdade, amor, adoração, ressurreição e dons espirituais.
Temos várias publicações à sua disposição:
À MESA COM JEZABEL, EM CASA COM ABIGAÍL. Uma Reflexão sobre a sabedoria
Autora: Eunice Pocinho.
A PONTE - Ele veio ligar as duas margens
Descubra uma Ponte sublime, duradoura, segura e que lhe garante sem dúvida alguma um final feliz.
Autores: Isabel Ricardo Pereira e José Manuel Pereira
MEMÓRIAS DE UM MOVIMENTO DO ESPÍRITO - VOL. 1
Os primeiros 50 anos das Assembleias de Deus em Portugal (1913 a 1063)
Autor: Paulo Branco
ONDE ESTÁS?
Autora: Isabel Ricardo Pereira
O NOVO TESTAMENTO HOJE
Um estudo aplicativo de 114 passagens selecionadas, do Novo Testamento, apresentadas de forma cronológica
Autor: Carlos Fontes
O MELHOR DE TUDO...
- Descobrindo o melhor da vida (Edição Expandida)
Autor: Samuel R. Pinheiro
MOVIDOS PELO ESPÍRITO
A história dos Líderes pentecostais em Portugal (1906-1986) e suas Convenções (1939-2013).
Autor: Paulo Branco
O MINISTRO DO NOVO TESTAMENTO
Autor: Luís Reis
CALENDÁRIO MANÁ DO CÉU
Um versículo por dia e plano de leitura de toda a Bíblia em um ano.
LIVRO DE CHEQUES DO BANCO DA FÉ
Meditações bíblicas para um ano.
Autor: Charles Spurgeon
CÂNTICOS DE ALEGRIA
Uma seleção de 526 cânticos clássicos da hinologia congregacional.
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