MICHEL CRUZ
Através da Palavra de Deus, aprendemos os Seus ensinos mas também lições de vida através dos sucessos e fracassos daqueles que Ele escolheu para liderar. Na obra Aprendendo com os líderes da Bíblia – volume 1, lançada em 2015 descobrimos o caráter, o carisma e dos relacionamentos do líder. Agora, apresentamos o livro Aprendendo com os líderes da Bíblia – volume 2, que retrata várias funções e características da liderança, como uma sequência natural do estudo efetuado pelo pastor Michel Cruz no volume 1.
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Um livro que, tal como o primeiro volume, certamente irá ser de beneficio para todos os que seguem Jesus, sendo uma mais valia para o ministério de todos aqueles envolvidos nas várias áreas de liderança na Igreja. Mais uma obra com o selo Edições NA, uma marca da CAPU|CPAD Livraria Cristã.
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· Aprendendo com os líderes da bíbliA · VOLUME 2
Volume 2
Funções e Características
Volume 2
Michel CRUZ
Funções e Características Nasceu 1965, em França, num lar católico romano, vindo a converter-se ao Evangelho em 1985, em Aveiro. Passados cerca de nove anos ingressa na Escola Bíblica Nacional das Assembleias de Deus e em 1994 inicia o ministério a tempo integral. Tendo servido nas igrejas de Aveiro e Coimbra como obreiro auxiliar, serve na Assembleia de Deus em Leiria onde, desde setembro de 2005, é Pastor Presidente. Tem exercido vários cargos em órgãos sociais de departamentos da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal e em outras instituições evangélicas. Tem vários livros e artigos publicados. É casado com Dina Cruz e pai de dois filhos: Rúben e Lígia.
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APRENDENDO COM OS LÍDERES DA BÍBLIA VOLUME 2 Funções e Características
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FICHA TÉCNICA
TÍTULO: Aprendendo com os Líderes da Bíblia SUBTÍTULO: Funções e Características Volume 2 AUTOR: Michel Cruz EDITOR: Edições Novas de Alegria Av. Almirante Gago Coutinho, nº158 1700-033 Lisboa | Tel.: 218 429 190 SITE: www.capu.pt IMPRESSÃO E ACABAMENTO: ACD Print CORDENAÇÃO EDITORIAL: Ana Ramalho Rosa REVISÃO TEXTUAL: Ester Carvalho DESIGN GRÁFICO: Adilson Morais FOTO CAPA: © Olivier Le Moal - Shutterstock 1ª EDIÇÃO setembro 2016 ISBN: 978-972-580-125-3 DEPÓSITO LEGAL: 415236/16 CATEGORIA: 253 Liderança TEXTO BÍBLICO
A tradução base usada nesta obra é a João Ferreira de Almeida, Edição Corrigida e Revisada Fiel ao Texto Original. As restantes traduções estarão identificadas junto da respetiva citação, em abreviatura: João Ferreira da Almeida Revista e Corrigida (ARC); Nova Versão Internacional (NVI), Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). Esta obra respeita as regras do Novo Acordo Ortográfico. © Edições NA - Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações, com indicação da fonte.
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PREFÁCIO
Em outubro de 2015 lançámos o primeiro volume da série Aprendendo com os Líderes da Bíblia da autoria do pastor Michel Cruz. Este ano, pela graça de Deus e devido à excelente aceitação dessa primeira obra, temos o prazer de editar o segundo volume, dando assim continuidade a este tema crucial e importante. Desde que li o manuscrito deste livro que fiquei deveras maravilhado pelo conteúdo bíblico e adequado aos tempos em que vivemos. Somos diariamente desafiados com novas propostas que diante da pressão a que como líderes de igrejas e comunidades espirituais estamos muitas vezes expostos, nos sentimos desafiados a ceder. A multiplicação de novos modelos de cultuar ou de estabelecer igreja, são muitas vezes causadores de grandes lutas para vivermos firmes nos princípios bíblicos com que iniciámos a nossa carreira. Livros de autoajuda, programas que garantem sucesso em 7 passos, técnicas de marketing, estratégias “salvadoras” e tantas outras coisas estão a ocupar o tempo dos líderes religiosos, no desejo naturalmente humano de fazer mais e melhor. No entanto, ao estarem cada vez mais afastados das Escrituras, são seduzidos por soluções fáceis e “milagrosas”, que prometem fazer prosperar 11
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as suas igrejas e ministérios, trazendo um crescimento que, de facto, raramente acontece. Por todas estas razões, é pois oportuno ouvir uma voz que nos chama de novo de volta aos modelos de liderança bíblicos. Num tempo em que o povo de Israel e os seus líderes se desviavam andando cada um segundo o propósito do seu coração (Jeremias 16:12), Deus conclamou o povo e os líderes a um retorno: “Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas; mas eles dizem: Não andaremos nele.” (realce meu) Temos uma tendência natural colocarmos de parte o que já usamos há muito tempo. Fazemos isso com quase tudo na vida: mudamos de casa, mudamos de móveis, trocamos de carro, procuramos roupas novas etc. E nessa tendência somos muitas vezes levados a trocar o melhor até pelo pior, apenas porque está na moda. Só mais tarde é que descobrimos que fizemos um mau investimento. É sempre um mau investimento quando deixamos de parte o ensino das Escrituras e vamos em busca de novos modelos, sem respaldo bíblico. Por tudo isto e muito mais, considero este livro algo muito especial, pois o pastor Michel com maestria traz o leitor de volta às Escrituras e aos princípios que até hoje ainda funcionam. Este segundo volume que a Casa Publicadora da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal tem o prazer de trazer ao público, tal como o primeiro, é pois um desafio do autor a voltarmos às “veredas antigas”, à Bíblia Sagrada e a aprendermos com o exemplo de homens que foram, apesar das suas imperfeiçoes, líderes que tem vencido as páginas do tempo e da história, chegando até aos dias de hoje como verdadeiros modelos do que deve ser um líder espiritual. É uma obra que não foca apenas as questões de liderança mas outros temas ligados à mesma e que sendo particularmente do interesse de quem é líder, interessa também ao público em geral 12
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como referência do que deve ser um modelo para quem serve a Deus seja qual for a área ministerial em que estiver envolvido. Depois de abordar questões relativas ao caráter, carisma e relacionamentos de um líder no primeiro volume, agora, neste segundo volume, o autor fala de várias funções e características do líder: candidato, sucessor, pentecostal, pregador, missionário, mentor, sem brilho e, finalmente, vencedor. Parabéns ao pastor Michel por se deixar usar nas mãos de Deus. Desejamos que, tal como aconteceu com o primeiro volume, este segundo volume possa levar o prezado leitor numa viagem pela Palavra de Deus, aprendendo preciosas lições para a sua vida, através dos líderes nela apresentados. Embarque nesta viagem pelos líderes da Bíblia e aprenda com eles. António Gonçalves Diretor executivo CAPU|CPAD Livraria Cristã
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ÍNDICE DEDICATÓRIA
005
AGRADECIMENTOS
007
APRESENTAÇÃO
009
PREFÁCIO
011
CAPÍTULO 1
Candidato
017
CAPÍTULO 2
Sucessor
035
CAPÍTULO 3
Pentecostal
047
CAPÍTULO 4
Pregador
065
CAPÍTULO 5
Missionário
081
CAPÍTULO 6
Mentor
107
CAPÍTULO 7
Sem brilho
119
CAPÍTULO 8
Vencedor
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BIBLIOGRAFIA
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CAPÍTULO 51
MOISÉS MISSIONÁRIO Chamada
“Mas levanta-te e põe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda; livrando-te deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio.” (Atos 26:16-17)
Missão, a missão da Igreja. Missão, ainda que seja um termo que não encontramos na Bíblia, está, no entanto, claramente expresso nas suas páginas no “ide” de Jesus e na vida prática normal da igreja primitiva. Missão é a vocação da Igreja. Efetivamente, a missão é a razão de ser e de estar da Igreja no mundo. O motivo de existir a presença da Igreja na terra é a obra missionária. A Igreja que não é missionária, que não faz missão ou não se envolve e participa na obra missionária, não se pode chamar de “igreja”. Pensamos em igreja, pensamos em missão. Há um chavão missionário frequentemente proferido que diz: “Missão está no coração de Deus”. É verdade! Mas devemos igualmente e com a mesma veemência afirmar que “Missão está no coração da Igreja!” Como Corpo de Cristo, representante de Deus na terra, a Igreja expressa o coração de Deus! Assim como Deus pulsa pela obra missionária, assim a Igreja deve pulsar pela obra missionária. A razão de existir da Igreja à face da terra não é para adorar, louvar, cantar e servir a Deus. Isso faz, e deve fazer, parte da prática da Igreja. Porém, isso pode ser e é feito no céu. Se essa fosse a razão de existir da Igreja, então, Deus no momento em que salvava o pecador levava-o para o céu, onde ele cumpriria com essas práticas 81
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de forma plenamente perfeita. 5.1 UMA IGREJA QUE NÃO FAZ MISSÃO 5.1.1 Está a caminhar para a extinção do Espírito Santo no seu seio. Isto sucede porque o poder e o fogo do Espírito Santo é dado à Igreja com vista à obra missionária (Lucas 24:47-49). O poder e o fogo do Espírito Santo não é dado para alegrar e fazer os crentes sentirem-se bem (ainda que sejam efeitos do enchimento do Espírito)! O poder e o fogo do Espírito é dado para que os crentes tenham ousadia, intrepidez, sabedoria e autoridade para testemunharem de Jesus (Atos 1:8)! Se não se cumpre esse propósito, então não tem sentido dar algo que não é usado para essa finalidade! É como pôr na mão de alguém uma ferramenta da qual não faz uso! Pôr na mão de alguém que não faz furos, um berbequim. Dar uma colher de pedreiro a uma pessoa, que não assenta tijolo ou não reboca paredes. Dispor uma enxada a quem não trabalha a terra. A operação dos milagres são manifestações do poder de Deus que acompanham, especialmente, a ação missionária. Os milagres são sinais – demonstrações do poder de Deus - que seguem não somente os que creem, mas, sobretudo, os que, crendo, saem às gentes a evangelizá-las (Marcos 16:19-20)! 5.1.2 Está fadada à extinção Quem não faz missão não ganha vidas, e não ganhando (novas) vidas não há crescimento. Pelo menos, não há renovação e reposição dos membros que ou falecem ou que se muam para outros locais.
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5.1.3 Está destinada à estagnação Isto porque missão significa novas pessoas que trazem um revigoramento espiritual à própria igreja. O entusiasmo que acompanha o novo convertido, a sua exuberante alegria contagia os “velhos”, a sua entrega e disponibilidade para o serviço e testemunho “picam” os “velhos”. As notícias daquilo que está a acontecer nos campos missionários animam e dinamizam os membros da igreja para a obra missionária. 5.1.4 Concorre para que seja substituída por uma nova que o fará. Na parábola da vinha e dos maus lavradores, Jesus disse que por falta do cumprimento da missão, a vinha iria passar para outro povo e outros líderes. Sabemos o que isto quer dizer: Israel, porque não cumpriu a sua missão de povo representativo de Deus na terra, iria perder esse privilégio, o qual iria ser entregue a outro povo. Esse outro povo é a Igreja (Mateus 21:33-44). Mas poderemos aplicar num plano mais restrito, exatamente, na igreja local. A missão é um mandamento de Jesus; é uma ordem! Não cumprir com este mandamento é desobediência. Deus tem compromisso com os obedientes. Para Deus não importa a dimensão e a história de uma igreja ou de um movimento. Para Deus importa o hoje! Se hoje a igreja não cumpre com o mandamento da missão, Deus retira-Se e volta-Se para homens e grupos de crentes que estejam dispostos a obedecer! O compromisso de Deus é com os que obedecem. A igreja local é feita à imagem da sua liderança. O líder da igreja é o grande responsável de conduzir a igreja na realização da obra missionária. Independentemente do dom ministerial, que pode não ser o de missionário, o líder da igreja deve ter a visão missionária, em sintonia com o que atrás foi dito sobre a missão. 83
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5.2 O MISSIONÁRIO O Missionário é a pessoa com chamada divina específica para o ministério da Missão e que realiza a Obra missionária no meio de um povo de cultura ou civilização diferente, dentro ou fora do seu país, ou num contexto espacial, demográfico ou civilizacional diferente. Há o líder eclesiástico que deve viver a vocação missionária da igreja, que conduz a igreja a fazer missões, e há a pessoa que recebe especificamente a chamada para realizar essa obra, propriamente dita. A pessoa que é separada e enviada para ir ao campo e aí estabelecer trabalhos missionários. O exemplo e modelo bíblico por excelência de missionário, encontramo-lo na pessoa do apóstolo Paulo. É no estudo da sua pessoa e do seu ministério que iremos desenvolver o estudo do líder missionário. 5.2.1 A Obra do Missionário Três textos nos servirão de base para dissertarmos a respeito do trabalho que envolve a obra do missionário: Atos 13:47; 14:21-23; 26:16-20. De acordo com estes textos a obra do missionário consiste nos itens que mencionamos de seguida. Levar a mensagem da boa nova de salvação em Cristo até aos confins da terra. Esta é grande comissão da Igreja e isto é, acima de tudo, fazer missão. A ação missionária que não anuncia a mensagem do Evangelho não pode ter esse nome. Missão não é filantropia ou uma obra de assistência humanitária. Missão é a proclamação da mensagem da salvação em Cristo! Filantropia e assistência humanitária poderão fazer parte, e em certos países é com essas obras que se consegue entrar e chegar às populações. Porém como meio para se chegar às populações para lhes pregar o Evangelho. Essas ações são uma forma de demonstrar a compaixão cristã, que resulta do amor de Deus no coração do missionário. Paulo 84
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foi instruído que deveria incluir essas ações na obra missionária a desenvolver (Gálatas 2:10; Atos 20:35). Contudo, a sua atividade foi essencialmente, porque deveria ser, proclamadora do Evangelho. Não há salvação fora do Evangelho de Jesus Cristo! Se não fosse assim, Jesus não mandaria pregar o Evangelho a todos os povos, em todo o mundo e a cada criatura. Se nas outras religiões e credos houvesse salvação, Jesus não teria dado esta ordem. Mais, Ele não precisaria ter vindo ao mundo para dar a Sua vida para nossa salvação! Ele teria vindo e morrido debalde. Dar testemunho da sua experiência com Jesus. Como certo pastor que visitava uma igreja e que foi convidado para dar testemunho da sua conversão, começou por dizer: “Os Pastores também têm testemunho!”. Todo o líder cristão tem que ter experiência de conversão, de novo nascimento. Quando comparecia diante das autoridades, o apóstolo Paulo testemunhava da sua experiência de conversão. Paulo teve um encontro real e transformador com Cristo. Paulo, antes de dar a conhecer ESTA É GRANDE Cristo aos outros, conheceu-O COMISSÃO DA IGREJA pessoalmente (Gálatas 1:15-16). O E ISTO É, ACIMA DE líder missionário tem que ter esta TUDO, FAZER MISSÃO. experiência para ser credível e fazer acreditar na eficácia do Evangelho. Levar o conhecimento da verdade aos que não a conhecem e levá-los à conversão. Paulo tinha a convicção que “Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:3-4). E que essa verdade consiste no facto de que “há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o Qual Se deu a Si mesmo em preço de redenção por todos” (1 Timóteo 2:5-6), isto é, Jesus pagou o preço para tornar possível a libertação dos pecadores. Os povos vivem acorrentados nas mentiras religiosas, espiritualistas, filosóficas e no pecado. Só o 85
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conhecimento da verdade, centrada Naquele que morreu por todos nós na cruz, os poderá libertar. As gentes precisam de conhecer a verdade de que estão presos nessas mentiras e no pecado, de que têm que se arrepender e que abandonar essas práticas e voltar-se para Deus, crendo e confessando a Pessoa do Senhor Jesus como Seu Salvador pessoal (Romanos 10:8-13). Libertá-los do domínio de Satanás e introduzi-los no domínio de Deus. Jesus disse que todo aquele que peca é servo do pecado (João 8:34). Paulo disserta acerca desta realidade espiritual na carta aos Romanos, nos capítulos 6 e 7, onde explana que aquele que peca se torna escravo do pecado e que o pecado torna o homem incapaz de praticar sempre o bem e de deixar de praticar o mal. Outrossim, a Bíblia diz que o pecado cria separação entre o homem e Deus (Isaías 59:2). Paulo escreveu de modo semelhante que, por causa da prática do pecado, o homem está separado da vida de Deus (Efésios 4:18). O apóstolo João, por sua vez, escreveu que todo aquele que peca é do diabo (1 João 3:8-10). O pecado é o elo que liga qualquer pessoa que o pratica ao diabo. O pecado é semente do diabo, identifica quem o pratica com a pessoa do maligno e, por isso, o sujeita ao seu domínio, mesmo que inconsciente disso (1 João 5:19b). Não há uma situação de meio-termo ou de neutralidade. Ou se é de Deus, ou se é do diabo. Ou se pertence ao reino de Deus, ou se pertence ao reino do diabo! Fazer missão é resgatar as vidas do domínio de satanás e transportá-las para o “Reino do Filho do Seu (de Deus) amor, em Quem temos a redenção pelo Seu sangue, a saber, a remissão dos pecados.” (Colossenses 1:13-14, parêntesis do autor). Levar o perdão dos pecados. Visto que é o pecado que aprisiona o pecador a satanás e o separa e afasta da justiça de Deus, o perdão dos pecados é absolutamente essencial! O pecado é o maior mal que assola o homem, e todo o homem! É por isso que o perdão dos pecados é a maior necessidade que o homem tem. Maior 86
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necessidade que a cura de enfermidades e a solvência de problemas financeiros. Qualquer pessoa poderá ir para o céu morrendo doente ou com falta de dinheiro, mas ninguém poderá ir para o céu sem o perdão dos pecados. O perdão dos pecados só a Deus pertence, na Pessoa de Jesus, o Salvador. O perdão é uma possibilidade que Deus oferece ao pecador de forma gratuita. Basta ao homem reconhecer que é pecador, arrepender-se e confessar os seus pecados a Jesus e será completamente perdoado. O perdão dos pecados só Deus o pode conceder (Daniel 9:9; Salmo 130:4; 103:3), e perante o arrependimento e confissão do pecador, Deus concede o perdão de uma forma inequívoca: Ele remove (Salmo 103:12), apaga (Atos 3:19), desfaz (Isaías 44:22), e lança no esquecimento (Miqueias 7:19) todos os seus pecados. Daí que o missionário deve proclamar esta boa notícia aos pecadores: “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar” (Isaías 55:6-7). Fazer discípulos. Discípulo significa aprendiz e seguidor. É alguém que aprende de um mestre a sua doutrina, o tem como modelo, espelha esse modelo na vida, segue-o fielmente e seus ensinamentos, e é propagador da sua pessoa e da sua doutrina. Fazer missão é mais do que recrutar adeptos para o cristianismo. Fazer missão é fazer discípulos e fazer discípulos trata-se de conduzir aqueles que abraçam o Evangelho a tornarem-se aprendizes dos ensinamentos de Cristo, terem-No como modelo maior, refleti‑Lo na vida e ser Seu fiel seguidor e propagador da Sua Pessoa e doutrina. Usando palavras e expressões do missionário Paulo, fazer discípulos é conduzir os que abraçam o Evangelho a obedecerem “de coração à forma de doutrina de Cristo” (Romanos 6:17; 1 Timóteo 6:3), até que todos “cheguemos ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo” (Efésios 4:13, ARC), de modo a refletir “como um espelho, a glória 87
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do Senhor, somos transformados de glória em glória, na mesma imagem” (2 Coríntios 3:18) e para isto Deus “os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho” (Romanos 8:29), a fim de que “por meio de nós, (Deus) manifeste em todo o lugar o cheiro do Seu conhecimento” (2 Coríntios 2:14-15, ARC, parêntesis do autor) e de sermos “ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador.” (Tito 2:10). Educar os perdoados a viver uma vida santa. Ser convertido é viver no rumo oposto àquele que o perdoado vivia, que é marcado pelo pecado. Uma das prerrogativas da Pessoa de Jesus é a Santidade. O discípulo segue o exemplo de santidade do Seu Mestre. Esta prerrogativa também é inerente ao reino de Deus. Ser santo significa ser separado do pecado – do qual o discípulo foi perdoado e resgatado – para viver para Deus. Por conseguinte, o perdoado tem que viver uma vida santa! O mandamento de Deus para os Seus filhos é que sejam santos em toda a maneira de viver (1 Pedro 1:15-16). A Bíblia declara que “sem santificação ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14). Paulo, o missionário, escreveu: “Mas agora, libertados do pecado, e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna” (Romanos 6:22). Formar e estabelecer igrejas. Outra expressão sinónima é plantar igrejas. Um missionário é um plantador de igrejas. Aos discípulos que se vão gerando numa determinada zona geográfica, é trabalho do missionário agregá-los numa comunhão, cujos membros se comprometem uns com os outros, partilhando privilégios e deveres mútuos. Este grupo organiza-se numa comunidade local e passa a ter atividades em conjunto, como seja reunirem-se com regularidade para cultuar a Deus, promover a edificação mútua por meio do estudo da Bíblia, da oração e da operação de dons espirituais e para partilharem a sua fé com outros. Assim nasce uma nova igreja. Com o crescimento vem a necessidade de constituir um governo eclesiástico sobre a igreja. Trata-se de um conselho de membros 88
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com vocação ministerial para dirigir o grupo e administrar os bens comuns. É trabalho do missionário eleger “anciãos”. Estes “anciãos” também podem ser chamados de “pastores”, ou “presbíteros”, ou “bispos”. As várias designações são biblicamente usadas para a mesma função de liderança espiritual da igreja (Atos 20:17-28; Tito 1:5-7; Atos 15:2; Filipenses 1:1; 1 Timóteo 5:17; 1 Pedro 5:1; Hebreus 13:7,17). As igrejas podem nascer onde ainda não há ninguém convertido, COM O CRESCIMENTO a partir de uma pessoa que se VEM A NECESSIDADE converta, ou a partir de pequenos DE CONSTITUIR grupos de crentes que ainda não UM GOVERNO estão organizados numa comunhão ECLESIÁSTICO formal, à qual se chama de “igreja SOBRE A IGREJA. local”. Pode iniciar-se com uma família, realizando cultos em casa da mesma e, crescendo o trabalho, poderá dar lugar a uma congregação. Em Filipos, Paulo começa um trabalho onde não há ninguém crente. Ali prega o Evangelho a um grupo de mulheres, e uma delas, Lídia, recebe o Senhor, e juntamente com ela a sua família. Depois de serem batizados, Lídia convida o apóstolo e seus companheiros para sua casa, e, a partir daí, estabelece-se uma igreja (Atos 16:13-14,40). Em Antioquia, Paulo, acompanhado por Barnabé, consolidou, organizou e estabeleceu uma igreja a partir de um grupo de crentes que receberam o Evangelho pelo testemunho de crentes que haviam fugido da perseguição infringida contra a igreja em Jerusalém (Atos 11:19-26). Em Éfeso, o missionário Paulo, encontra um grupo de doze homens que já havia ouvido e recebido a mensagem veiculada por João Batista. Depois de os esclarecer que Aquele que João havia anunciado já Se tinha manifestado, e tendo os doze aceite o testemunho de Paulo, foram batizados e com eles inicia-se uma nova igreja local (Atos 19:1-7). Supervisionar as igrejas que vão sendo plantadas.No início, os 89
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missionários, mesmo após terem constituído um governo sobre as igrejas que estabeleciam, mantinham a responsabilidade espiritual máxima sobre elas. Supervisionavam as igrejas. Podiam fazê-lo à distância através da troca de correspondência (1 Coríntios 7:1), através do envio de emissários (Colossenses 4:7-8) ou através de representantes que as igrejas enviavam aos missionários (1 Coríntios 16:17; Filipenses 4:18). Outra forma era por meio de visitas pessoais. Nessas visitas viam o estado das igrejas, davam orientações à liderança local e fortaleciam e animavam os membros com a Palavra de Deus e a operação de dons espirituais (Atos 14:2122; 15:26). Atualmente, algumas denominações ainda mantêm esta prática ou semelhante. 5.2.2 Os Imperativos do Missionário O Missionário ou melhor, a pessoa do Missionário, deve reunir os seguintes imperativos (a estes devem-se juntar os considerados nos restantes capítulos deste 2º Volume): Convicção da chamada para o ministério (Atos 22:13-15; 26:1619). Um missionário sem convicção da chamada desistirá facilmente perante as diferenças de costumes, hábitos e língua e os, eventuais, maus tratos e perseguições. Se não fora essa convicção o apóstolo Paulo teria desistido. Quando os irmãos de Cesareia, informados por revelação divina de que o servo de Jesus iria ser preso e entregue nas mãos dos romanos em Jerusalém, desencorajavam-no para que não se deslocasse até à cidade Santa, Paulo mostrou-se magoado por tal ação dos irmãos porque dizia “eu estou pronto não só a ser ligado, como ainda a morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus” (Atos 21:13). Já antes, reunido com os anciãos de Éfeso, ele afirmava que nada o impediria de “anunciar e ensinar publicamente e pelas casas, testificando, tanto a judeus como aos gregos, a conversão a Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo” contanto que cumprisse 90
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o ministério que havia recebido do seu Salvador (Atos 20:19-24, ARC). Fazia parte da sua chamada “padecer pelo nome de Jesus” (Atos 9:15-16). Todos os discípulos de Jesus são chamados para padecer pelo nome de Jesus, muito especialmente aqueles que estão na linha da frente, como é o caso dos líderes missionários. É algo que, em muitos países não acontece e que no mundo ocidental não estamos habituados a ouvir. Não é muito agradável, mas acontece noutras partes do mundo. Claro que não gostamos de lidar com essa realidade. Preferimos um evangelho “light”, sem cruz. Um Evangelho ilusoriamente triunfalista – “ninguém toca nos ungidos do Senhor”, dizem alguns. Porém, não é isso que nós lemos nas páginas da primeira história da igreja, no livro dos Atos dos Apóstolos e nas cartas apostólicas. Paulo cumpriu a sua carreira, porque tinha a convicção acerca da chamada para a obra missionária e, também, acerca Daquele que o chamou que é poderoso para guardar o depósito espiritual de todo o líder missionário fiel (2 Timóteo 4:7; 1:11-12). A respeito da convicção da chamada, esta deve incluir a convicção da tarefa específica a cumprir. Paulo tinha essa convicção (Atos 13:47; 26:16-20). Confirmação da chamada (Atos 13:2). Paulo já tinha recebido, anos antes, a chamada divina para a obra missionária. Porém, não começou de imediato a realizar a obra que Deus lhe havia determinado. Agregou-se à igreja local e lá recebeu a confirmação da chamada, neste caso por revelação profética. A confirmação é necessária ao chamado para a obra missionária, pois firma a convicção da chamada e é necessária do ponto de vista da Igreja, para que esta não tenha receio em enviar o missionário e a estar envolvida com seu ministério em todas as áreas, quer no campo espiritual, quer no campo material. Experiência e maturidade ministerial qualificada (Atos 13:1-4). 91
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Paulo e Barnabé são enviados pela igreja em Antioquia (esta igreja é tida como o exemplo bíblico de uma igreja missionária) e verificamos que eram pessoas com experiência espiritual e ministerial. Foram eles quem fundaram e organizaram aquela Igreja (Atos 11:25-26) e pertenciam ao ministério da mesma (Atos 13:1). Eram pessoas experientes e maduras. Pessoas que se desenvolveram espiritualmente e que se desenvolveram no ministério ao serviço da sua igreja local, com provas dadas de bons crentes e de obreiros qualificados (Mateus 25:23; Atos16:1-3). Pessoas com ministério provado (2 Coríntios 8:22). É frequente enviarem-se obreiros no início de ministério para o campo missionário. Toda a liderança eclesiástica requer obreiros com experiência e maturidade, mas muito mais a obra missionária, especialmente em campos virgens e distantes da igreja que envia. As exigências e dificuldades que se deparam no campo missionário - a saudade da família, da igreja de onde é proveniente, o ambiente, a mentalidade e os costumes diferentes, a falta de recursos humanos e materiais, a ausência do amparo do seu pastor, eventuais perseguições e maus tratos, entre outros - são deveras elevadas que requerem uma estrutura pessoal à altura. Requer-se do missionário uma estrutura que o capacite a resistir, saber lidar, saber decidir, saber ‘virar-se’ sozinho. Visto que faz parte do seu ministério a plantação e a organização de igrejas, deve ser uma pessoa bem conhecedora do modo como se estabelece, organiza e administra uma igreja e o que é a vida normal de uma igreja, com os seus desaires, desilusões, conflitos que possa encontrar, faltas e muitas outras situações menos agradáveis. Sujeição (Atos 20:18-24). O ministério que o missionário tem, foi-lhe dado ou outorgado. Não lhe pertence. Foi-lhe outorgado por Jesus. Assim deve a sua sujeição a Jesus. O Evangelho que ele prega é de Deus. Quem o orienta e o capacita é o Espírito Santo (Atos 16:6-10). O trabalho do missionário visa a conversão das pessoas a Deus e a fé em Jesus Cristo. Nada é dele, nada é por ele 92
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e nada é para ele! Isto exige sujeição a Deus por parte da pessoa do missionário. Atitude de servo (Atos 20:19). A missão de Jesus a este mundo também foi servir (Mateus 20:28). Paulo já tinha este imperativo na sua Igreja local (Atos 13:1-2). Servir é realizar a tarefa em proveito dos outros e não para si próprio, não para seu próprio proveito A MISSÃO DE JESUS (Atos 20:20; 1 Coríntios 10:33). Um A ESTE MUNDO serviço com o propósito de resgatar TAMBÉM FOI SERVIR as vidas perdidas. Buscar e salvar aqueles que se têm perdido. Espírito de sacrifício (Atos 20:24). É isso que significa não ter a vida como preciosa. Longe da sua terra, o missionário fica privado dos seus amigos e parentes e do seu berço e ambiente espiritual, a sua igreja local, sem o apoio bem chegado a si. Terá que enfrentar a saudade. Há diferenças climáticas às quais tem que se adaptar. Terá que ter a capacidade para aceitar as novas ideias do país ou do lugar em que se encontra. Poderão surgir dificuldades financeiras, as quais poderão obrigá-lo a ter um trabalho secular para obter o seu sustento, e, quem sabe, para suprir necessidades da obra, o que, obviamente, exige um esforço e desgaste redobrado em forças físicas e mentais. É possível que a receção dos nativos não seja a melhor. Poderá haver oposições para desenvolver o ministério, ocorrer perseguição e… ter que enfrentar a morte. O missionário tem que ser uma pessoa corajosa, humilde e preparada para sofrer. Disposição para comunicar (Atos 20:20). Ser ministro do Evangelho é ser anunciador do Evangelho, comunicador das boasnovas de Salvação aos perdidos. Para tal o missionário tem que ir ao seu encontro. Não pode ficar fechado em casa, no gabinete ou no templo. Precisa de “sair fora das portas” (Atos 16:13) para ir ao encontro das pessoas e dialogar com elas, com vista à partilha 93
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do Evangelho. Também, precisa de habilidade para comunicar. Quanto a este imperativo, dois elementos devem ter-se em conta: empatia e cultura geral e informação. Empatia. É o princípio que Paulo estabelece em 1 Coríntios 9:19-22. Trata-se do missionário conhecer a cultura e a mentalidade do povo e os aspetos relacionados com usos e costumes enraizados, e conhecer as suas necessidades, a fim de se identificar e se adaptar ao povo autóctone, para facilitar a partilha do Evangelho. Estar preparado para se conduzir de forma conveniente no meio de um contexto sociocultural diferente a fim de facilitar a convivência e a aproximação aos locais. O missionário deve estar preparado para abdicar e assumir determinados usos e costumes para poder fazer discípulos com eficácia. São matérias pontuais e acessórias em que não há qualquer imposição ou proibição bíblica, em que a sua observância ou inobservância não constitui pecado, mas que para as pessoas de determinada sociedade e cultura, que as têm como tal, as escandaliza. Nesses casos deve deixar-se que seja a cultura e a conveniência locais a determinar, e aí o que deve orientar o missionário é a compreensão, a tolerância e, até, a submissão contando que não vá contra a letra e o espírito da Bíblia, sirva para a expansão do Evangelho, edificação do corpo de Cristo e para a glória de Deus, e não anule o mandamento de Deus (1 Coríntios 10:33; Mateus15:3). É neste âmbito que cabem as palavras de Paulo que escreveu em 1 Coríntios 10, e versículos 23-24. Há coisas que temos direito de fazer, outras que não temos obrigação de fazer, mas se para bem da causa da obra missionária se impuser a abdicação da coisa a que se tem direito, ou a prática da coisa de que não existe obrigação de fazer, então, o missionário deve estar mentalizado a abdicar de direitos pessoais para o bem do Evangelho. Vejamos três situações concretas desta prática do missionário Paulo: 94
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Atos 16:1-3 - Paulo desejava alcançar os judeus com o Evangelho e fazia-o entrando nos templos e sinagogas judaicos. Os judeus só admitiam o acesso a esses locais a pessoas circuncidadas. Na sua segunda viagem missionária Paulo levava consigo Timóteo, o qual, por ser filho de mãe cristã e de pai grego, não era circuncidado. Para que o apóstolo atingisse o seu objetivo, fez que Timóteo se circuncidasse. A circuncisão era um costume judeu que os cristãos estão livres de observar, no entanto, naquele caso pontual, era conveniente e útil observá-lo. Relativamente à circuncisão, por exemplo, há países em que é obrigatório a sua prática por motivos de saúde. Nesses casos o missionário não deve invocar a liberdade cristã para impedir os crentes de se submeterem a essa operação clínica. Atos 21:17-26 - Paulo chega a Jerusalém. Ali havia um grande grupo de judeus convertidos a Cristo mas que ainda guardavam certos preceitos cerimoniais da lei de Moisés e algumas tradições judaicas, como, por exemplo, as que diziam respeito às lavagens “purificadoras”. Havia chegado o boato de que Paulo ensinava os judeus de entre os gentios a apartarem-se da lei de Moisés. Ora tais notícias ofendiam aqueles cristãos-judeus, gerando grande revolta contra o missionário. Para que Paulo demonstrasse que não era verdade o que se noticiava a seu respeito, Tiago, o líder da igreja em Jerusalém, aconselhou-o a submeter-se àqueles ritos de purificação, aplacando, assim, a fúria daqueles crentes, contribuindo para o bem-estar da Obra de Deus. Paulo seguiu o conselho. Paulo, em Cristo, estava livre daqueles preceitos mas submeteu-se a eles por ser conveniente naquela circunstância. Existem usos e costumes que o cristão está livre de os guardar, porém, se é conveniente a sua guarda, se traz benefício à Obra de Deus, deve fazê-lo. Por exemplo, e de certa forma ligado ao exemplo bíblico citado neste ponto, em Israel existem atualmente as chamadas 95
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comunidades judaico-cristãs isto é, comunidades compostas por judeus convertidos a Cristo, que observam o sábado e ainda certos preceitos cerimoniais da lei mosaica, não com o alvo de obterem a justificação, mas, sim, com o alvo de não criarem qualquer obstáculo que impeça outros judeus de se aproximarem e de se converterem. É uma questão de conveniência com o objetivo de expandir o Evangelho e de almas serem ganhas para Jesus. Romanos 14:1-3,13-21 – Na igreja de Roma havia crentes que achavam que não se deveria comer determinados manjares, considerando-os imundos e, para eles, constituía pecado o crente comê-los; e havia outros crentes que não viam qualquer problema nisso e por isso comiam. Esta ação ofendia, escandalizava e entristecia os primeiros, sendo causa de tropeço e, até, abandono da fé - destruía a Obra de Deus. O ensino de Paulo é que de facto, em Cristo Jesus, tudo se tornou puro, não existindo qualquer problema comer tais manjares. No entanto, o missionário, em nome da paz e da edificação e apelando à tolerância e invocando o amor fraternal, instrui aos que não viam qualquer problema em comer aqueles manjares, a negarem-se a eles mesmos. Certos usos e costumes não constituem pecado, mas se a sua prática é causa de desordem, é melhor abdicar deles. Não é pecado comer, fazer, usar, mas não é conveniente. Apela-se à tolerância, ao amor fraternal e auto negação para quem não vê pecado, visando o bom progresso na Obra de Deus! Pensando noutros exemplos que nos sejam mais comuns, temos: a gravata, que para nós ocidentais é um acessório de vestuário que dá boa imagem e é símbolo de autoridade, sendo conveniente em certas situações, enquanto para certos países, por exemplo, africanos, é dispensável, bastando um “safari” ou camisa aberta; em relação ao luto, há sociedades que usam o preto como luto, enquanto outras usam o branco, e também 96
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há as que não enlutam. Este princípio aplica-se à liturgia nos cultos - o missionário deve adaptar-se e adaptar alguns aspetos quanto à forma de pregar e de realizar os cultos. Cultura geral e informação. Paulo era um homem que procurava conhecer a cultura, as crenças religiosas e o pensamento filosófico dos povos para saber como os abordar com o Evangelho de forma contextualizada e pertinente, para que fosse eficaz. Paulo mostra esse conhecimento nos seus sermões e escritos. Conhecia a poesia grega (Atos 17:28); conhecia o direito romano; conhecia que os cretenses eram “sempre mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos” (Tito 1:12); conhecia os conceitos PAULO ERA UM teológicos entre os colossenses6; e HOMEM QUE conhecia o pensamento filosófico PROCURAVA dos epicureus e dos estoicos (Atos CONHECER 17:18). Inclusive, Paulo conhecia a A CULTURA, vida do “Jet set” político: ele sabia AS CRENÇAS que Félix havia provocado o divórRELIGIOSAS E O PENSAMENTO cio de Drusila, a qual estava casada FILOSÓFICO com Azis de Emesa, para se casar DOS POVOS com ela. Foi por isso que Paulo, no seu diálogo com o governador, dissertou a respeito “da justiça, e do autodomínio e do Juízo vindouro” – o que Félix fez foi um ato injusto e imoral, o qual decorreu dos seus incontinentes desejos carnais e por isso haveria de enfrentar o Julgamento divino! Daí Félix ter ficado “espavorido” (Atos 24:24-25). Paulo sabia qual era o conhecimento e convicções religiosas do rei Agripa (Atos 26:2-3, 26-27). Por fim, a comunicação do Evangelho envolve, paralelamente, o próprio missionário, a sua vida e a sua postura. O missionário deve comunicar bem o Evangelho usando as palavras certas e 97
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de forma habilidosa e com o seu comportamento (Atos 20:18; 1 Tessalonicenses 2:8-10). Identificação. O missionário deve saber identificar-se com Deus e com a igreja que o enviou. Deus (Atos 27:23). Paulo identificava-se com Deus ao declarar “o anjo de Deus, de quem eu sou” (realce do autor). Uma designação para o missionário é o de “embaixador”. Essa é a expressão que Paulo usa em II Coríntios 5:20. O embaixador é um representante de quem o envia, como se fosse a própria entidade a ir. Nessa mesma epístola, o apóstolo escreve “falamos de Cristo com sinceridade, como de Deus na presença de Deus.” (2 Coríntios 2:17). O missionário não fala de si mesmo e deve espelhar quem o envia, “como Jesus Cristo mesmo” (Gálatas 4:14). A Igreja que o enviou (Atos 13:1-4). O missionário é um embaixador de Deus e um embaixador da igreja de onde ele sai, a qual foi a entidade que o enviou. Deus chama o missionário, a igreja reconhece a chamada divina, e, como agência divina, envia o missionário em nome do Senhor. O missionário (“apóstolo”7) é um dom ministerial doado por Cristo à Igreja (Efésios 4:11), para a servir nela e a partir dela. Por isso o missionário deve honrar a igreja, manter a sua comunhão com a mesma e prestarlhe contas (Atos 14:26-28). O missionário ao ser consagrado, enviado e recomendado à graça de Deus pela igreja, não se torna um “freelancer”, independente, servindo por conta própria, sem uma autoridade sobre si, a quem prestar contas. Não! Ele é um ministro que continua integrado nos membros da igreja que o envia - eventualmente, de uma igreja próxima do campo onde está desenvolvendo o seu trabalho -, ser submisso à autoridade do presbitério da igreja, ao qual tem obrigação de prestar contas. Persistência (Atos 20:24). Levar a Obra até ao fim (2 Timóteo 4:7; João 17:3; Eclesiastes 11:1). Dificuldades, adversidades, oposições e frustrações são recorrentes na obra de Deus. O próprio apóstolo 98
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Paulo assemelhou a obra de Deus ao trabalho do agricultor (1 Coríntios 3:9). Esse trabalho requer do agricultor persistência. Ele semeia e planta, mas nem sempre colhe o que esperava, e, quantas vezes, não colhe nada. As intempéries, alterações climáticas excecionais e inesperadas, pestes e pragas atacam as culturas e danificam as colheitas e os resultados da sementeira ou do plantio não são os esperados. Contudo, o agricultor continua a semear e a plantar, e, agindo assim, irá colher o que espera e o quanto espera. O agricultor sobrevive desse trabalho pelo que, tem que continuar, com persistência. Há, entretanto, um aspeto que diferencia a lavoura de Deus da lavoura dos homens, que é o princípio de que uns semeiam e outros colhem (1 Coríntios 3:7; João 4:36-38). Quer dizer, muitas vezes aquilo que parece ser um trabalho sem resultados, é, com efeito, um trabalho cujos resultados veem mais tarde, quando o missionário já deixou o campo e outro obreiro que lhe sucede colhe o fruto da sua sementeira. O que o líder missionário precisa é de ter a boa consciência de que está a cumprir o mandado de Deus. Não cabe a ele os resultados, porque esses pertencem a Deus. É Deus quem assume a responsabilidade de convencer os pecadores e de dar o crescimento. Ética ministerial (Romanos 15:20-21; 2 Coríntios 10:15-16). O missionário não deve iniciar trabalhos e estabelecer igrejas em campos onde já existem igrejas. Deve procurar locais virgens e aí lançar o fundamento de uma nova igreja. Não é correto estabelecer igrejas em lugares onde já existem outras, nem seduzir os membros dessas igrejas, prometendo-lhes consagração a cargos de liderança. É óbvio de que em grandes aglomerados populacionais se aceita o surgimento de novos trabalhos missionários e o estabelecimento de novas igrejas. Todavia, os missionários que entram em lugares onde já existem igrejas, devem respeitar essas igrejas, não procurando os seus membros ou usar-se deles. Não devem chegar para subtrair ou dividir, entrar numa atitude concorrencial, mas ganhar e somar almas para o Reino de Deus, fazendo um trabalho honesto. 99
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Através da Palavra de Deus, aprendemos os Seus ensinos mas também lições de vida através dos sucessos e fracassos daqueles que Ele escolheu para liderar. Na obra Aprendendo com os líderes da Bíblia – volume 1, lançada em 2015 descobrimos o caráter, o carisma e dos relacionamentos do líder. Agora, apresentamos o livro Aprendendo com os líderes da Bíblia – volume 2, que retrata várias funções e características da liderança, como uma sequência natural do estudo efetuado pelo pastor Michel Cruz no volume 1.
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· Aprendendo com os líderes da bíbliA · VOLUME 2
Volume 2
Funções e Características
Volume 2
Michel CRUZ
Funções e Características Nasceu 1965, em França, num lar católico romano, vindo a converter-se ao Evangelho em 1985, em Aveiro. Passados cerca de nove anos ingressa na Escola Bíblica Nacional das Assembleias de Deus e em 1994 inicia o ministério a tempo integral. Tendo servido nas igrejas de Aveiro e Coimbra como obreiro auxiliar, serve na Assembleia de Deus em Leiria onde, desde setembro de 2005, é Pastor Presidente. Tem exercido vários cargos em órgãos sociais de departamentos da Convenção das Assembleias de Deus em Portugal e em outras instituições evangélicas. Tem vários livros e artigos publicados. É casado com Dina Cruz e pai de dois filhos: Rúben e Lígia.