Movidos pelo Espírito

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Conhecer o passado é tão importante como planear o futuro. A História é uma escola para todos os alunos que desejam aprender com o passado, viver o presente e sonhar com o futuro. Esta obra traz-nos à memória homens e mulheres que marcaram a História do seu tempo e a história de centenas de vidas que, através deles, conheceram o amor e o poder de Deus.

Além dessas breves biografias, apresentam-se as reuniões nacionais de líderes das Assembleias de Deus (comummente chamadas “Convenções”), numa interessante cronologia histórica, ambas resultado de mais de duas décadas de pesquisa do autor. “No labor académico de historiador, o Pr. Paulo Branco dá um contributo marcante na celebração do centenário das Assembleias de Deus, que é, ao mesmo tempo, um estímulo para o tempo que temos pela frente até que Jesus volte para arrebatar a Sua Igreja.” Samuel R. Pinheiro Director de Publicações CAPU|CPAD Livraria Cristã

Edição comemorativa

Paulo Branco

www.capu.pt

Líderes Pentecostais em Portugal • 1906-1986 e suas Convenções • 1939-2013

Paulo Neto Martins Branco, nascido num lar cristão evangélico, filho de membros da Assembleia de Deus e criado na Escola Dominical, na cidade de Aveiro. Casado com Ana Mary Baizan e pai de Rebeca, Ester e Paulo David. Doutorando e Mestre em Ciência das Religiões e licenciatura em Ciência das Religiões (U.L.H.T.). Licenciatura em Teologia aplicada pelo S.T.M. (Seminário Teológico Ministerial). Autor de várias obras, atualmente é, para além de outras funções, Pastor Presidente da Assembleia de Deus em Almada; Director Geral e docente do MEIBAD. Docente na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

MOVIDOS PELO ESPÍRITO

No contexto da celebração dos 100 anos das Assembleias de Deus em Portugal, este livro reúne nas suas páginas excertos da vida desses homens e mulheres que, movidos pelo Espírito Santo, contagiaram outros para a experiência cristã completa que é viver com Cristo.



Paulo Branco

MOVIDOS PELO ESPÍRITO Líderes Pentecostais em Portugal • 1906-1986, e suas Convenções • 1939-2013



Índice Agradecimentos 7 Prefácio 9 Nota Introdutória

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Glossário 15 Líderes Pentecostais em Portugal (1906-1986)

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Introdução

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Os Pioneiros do Movimento Pentecostal

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Década de 10

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Década de 20

29

Década de 30

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Década de 40

39

Década de 50

51

Década de 60

67

Década de 70

89

Década de 80

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74 Anos de Convenções Nacionais de Obreiros

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Introdução Histórica

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Nota Final

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Bibliografia 201 O Autor

203 |5|



LĂ­deres Pentecostais em Portugal 1906-1986

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Introdução Através deste livro e, concretamente, no centenário do movimento das Assembleias de Deus, onde pela Sua Graça nasci, cresci e conheci a Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador; e onde O sirvo, a tempo total, há 34 anos; pretendo fazer uma homenagem sincera a todos os obreiros que trabalharam em prol da obra de Deus,nomeadamente nas Assembleias de Deus em Portugal. Não só em território nacional, mas nas antigas colónias (Angola, Cabo Verde, Moçambique, Guiné-Bissau, S. Tomé e Príncipe, Timor e Macau), nas comunidades portuguesas emigradas ao redor do Mundo, assim como noutras comunidades. Por ser impossível, de momento, fazer uma pequena biografia de todos os obreiros, até ao dia de hoje, devido ao tempo limitado para conclusão desta obra, faz-se uma panorâmica até ao ano de 1986, pretendendo-se, num futuro próximo, continuar este importante registo dos servos de Deus que, após essa data, iniciaram os seus ministérios. A ausência nesta obra de alguns anciãos (ou presbíteros) e evangelistas, consagrados até 1986 deve-se à falta de informação ou desconhecimento da sua existência. Por outro lado, muitos não são membros da Convenção, apesar de serem membros locais das igrejas Assembleias de Deus. Infelizmente, com o passar do tempo, perdeu-se muita documentação que, hoje, nos ajudaria a fazer um trabalho com mais pormenores e rigor. Por outro lado, muitos obreiros já faleceram e nunca foi feito um levantamento de dados biográficos das lideranças das igrejas em Portugal, o que revela a falta de hábito, bem à moda portuguesa, de querer conservar a História. Nem sempre foi fácil cruzar dados e conferir os factos relatados em toda a documentação disponível. Em muitos casos, não conhecemos detalhes fundamentais da vida dos mesmos, o que lamentamos, para memória futura. Esta homenagem é para os que já partiram e para todos os que ainda estão vivos. Pretendi, ainda, incluir os nomes das esposas e dos filhos destes mesmos obreiros, que contribuíram na disseminação do Evangelho de Jesus Cristo. Por falta de menção nos registos históricos, não foi possível fazê-lo em todos os casos. | 19 |


Movidos pelo Espírito Muitos destes pioneiros viveram em épocas difíceis. Passaram de uma Monarquia a uma República (5 de Outubro de 1910); viveram no Estado Novo, uma ditadura de mais de 40 anos (1933-1974), tendo nesse período, sucedido acontecimentos como: I Guerra Mundial (1914-1918), o início da Revolução Russa, a “Grande Depressão”, Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a II Guerra Mundial (1939-1945). Tempos de muita dificuldade em todos os sentidos: guerra, fome, miséria e analfabetismo. Em Portugal, o analfabetismo atingia 78% da população de 1910 a 1940 e, em 1960, ainda era de 34%. Em todo esse período, a polícia política (PIDE-DGS), a sua censura e, ainda, a Igreja Católica Romana, não facilitaram e tudo fizeram para impedir o estabelecimento das igrejas evangélicas ou protestantes em solo nacional e nas ex-colónias. Em muitos casos, os pastores (e crentes, em geral, das Igrejas que estes abnegados servos de Deus pastorearam) foram perseguidos e muitas vezes maltratados. Muitos chegaram a estar sujeitos a interrogatórios e até prisão, pelo “crime” de serem protestantes, vendo, muitas vezes, negados e violados os seus direitos, entre eles, no caso dos pastores, o de poderem ter Segurança Social (privilégio conquistado só em 1974 e com algumas limitações, até ao dia de hoje). Era prática frequente os cultos serem espiados por agentes da PIDE e os pastores eram, muitas vezes, chamados para depor depois de serem denunciados por agentes ou pessoas que tinham fobia dos evangélicos. Nos arquivos da PIDE, que se encontram na Torre do Tombo, podemos ver referências a muitos dos nossos pioneiros, a missionários e à nossa revista, Novas de Alegria, que era censurada, assim como os nomes dos crentes que assistiam aos cultos. Livros, revistas e folhetos eram confiscados, autorizações para reuniões evangélicas eram negadas, havia boicotes de vária índole, para não falar das atrocidades cometidas nas ex-colónias pela polícia política a pastores e membros, em geral, das igrejas, que chegaram a ser executados. Alguns padres e bispos escreviam em jornais públicos e em opúsculos as mais inusitadas calúnias e nos púlpitos das igrejas diziam barbaridades acerca dos protestantes. Lembro-me muito bem, do meu tempo de criança, de ver agentes da PIDE presentes nos cultos, sentados na parte de trás da casa de oração em Aveiro, na Rua 31 de Janeiro, onde eu cresci. Ao perguntar ao meu pai quem eram eles, dizia-me “isso não é da tua conta”. Só depois da Revolução de 25 de Abril de 1974 é que entendi quem, na realidade, eram e aquilo que faziam. Quero dizer-vos que, apesar de tudo, valeu a pena o esforço feito por estes homens e mulheres em levar o Evangelho a toda a criatura. | 20 |


Introdução Líderes Pentecostais em Portugal Aqui fica este pequeno trabalho para recordação e homenagem aos mesmos. E, também, para que as gerações actual e futura saibam mais acerca destes homens. Mesmo que o seu trabalho não tivesse sido reconhecido nesta terra, acredito que Deus recompensará, de acordo com a Sua justiça. Nesta obra ordenámos os obreiros por décadas de início de ministério. Para aqueles que serviram a part-time, considerámos a data da sua consagração. Para os demais obreiros, considerámos a data em que se dedicaram a servir a tempo completo. Peço desde já desculpa por alguma omissão, mas comprometo-me, caso seja informado, a incluir, numa próxima edição, os nomes em falta e a corrigir qualquer equivoco cometido, por falta de melhor informação. No final deste livro encontram-se as informações e contactos para envio de dados históricos que, desde já, agradeço.

Um muito obrigado a todos. Paulo Branco Director-geral do MEIBAD Pastor evangélico - Assembleia de Deus em Almada

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Década de 10 ADOLFO ROSA Natural de Cabo Verde, era católico romano. Converteu-se numa igreja Metodista, em 1900, na cidade de New Bedford, Estados Unidos. Foi baptizado em Oakland, Califórnia. Aderiu ao Movimento Pentecostal na Rua Azuza, em 1906, com William J. Seymour. Pastoreou uma igreja Pentecostal em Los Angeles, Califórnia, e foi enviado, segundo a The Apostolic Faith, como missionário, para Cabo Verde, em 1907. Está presente na inauguração do primeiro templo na Ilha da Brava, Cabo Verde, em 1909. PAULO KHOSA Natural de Moçambique, de etnia tonga, convertido na África do Sul, onde o Movimento Pentecostal começou, em 1908. Um dos primeiros pastores pentecostais em Moçambique. Em 1911, pastoreava duas pequenas igrejas, que foram a génese das Assembleias de Deus em Moçambique.

LEOVEGILDO PELÁGIO SALLES Natural de Portugal, Tenente do Exército Português, casou na Igreja Metodista em Lisboa, em 1902. Encontramo-lo em Moçambique, entre 1912 e 1913, participando, mais tarde, numa Conferência Pentecostal, na África do Sul, na cidade de Wonderboom, perto de Pretória. Também esteve na Guiné e em Cabo Verde. Regressa a Portugal a 15 de Setembro de 1913 e vai, jun| 27 |


Movidos pelo Espírito tamente com a sua família, residir em Braga, e chega a dar aulas e a pregar na Igreja Evangélica Bracarense, onde era pastor Eduardo Moreira. Vai visitar o pioneiro pentecostal, José Plácido da Costa, em Valezim, nesse mesmo ano. Realizou o primeiro baptismo de uma crente assembleiana pentecostal na freguesia de Valezim. Em 1914, realizou várias conferências em Cabo Verde. Foi capitão durante a I Guerra Mundial. JOSÉ PLÁCIDO DA COSTA (1869-1965) Natural de Valezim, Seia, Guarda. Nascido a 25 de Dezembro de 1869. Casado com Maria da Piedade Silva Costa, teve uma filha: Maria dos Prazeres Costa. Emigrou para o Brasil, onde se converteu ao Evangelho em 1903. Foi baptizado no dia 1 de Novembro do mesmo ano, na Igreja Baptista, em Belém do Pará, tornando-se num dos fundadores da igreja que deu origem, em 1911, à Missão da Fé Apostólica e, em 1918, à Assembleia de Deus no Brasil. Foi o primeiro missionário da Assembleia de Deus no Brasil. Chegou a Portugal em Abril de 1913, a Valezim, para estabelecer a Igreja Pentecostal em Portugal. Com a morte da sua filha, trabalhou, de 1918 a 1923, com as Igrejas Baptistas em Portugal, no Porto, Viseu e Tondela, chegando a ser eleito o 2º Vice-presidente, na 1ª Convenção Baptista Portuguesa, realizada em 1920. Voltou ao Brasil, indo depois para Buenos Aires, Argentina (entre 1926 e 1934) com o missionário Gunnar Svensson. Regressou em 1934/35 ao Porto. Desde aí, deu assistência às igrejas em Esgueira, Águeda, Recardães e Carvalhal Redondo. Foi co-pastor na Assembleia de Deus no Porto, de 1935 a 1939, e foi pastor-presidente de 1939 a 1950, tendo depois regressado a Valezim, onde continuou a servir. Faleceu a 11 de Abril de 1965.

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Década de 20 MANUEL JOSÉ DE MATOS CARAVELA (1887-1958) Natural de Vila Franca de Xira, Lisboa, a 11 de Dezembro de 1887. Emigrou para o Brasil, onde foi piloto de barcos, no Rio Amazonas. Converteu-se em 1916, na Assembleia de Deus em Belém do Pará. Fundou a Igreja em Macapá, no Estado do Amapá, a 27 de Junho de 1917. Foi enviado como missionário para Portugal, a 21 de Julho de 1921. Começou por fazer evangelismo na zona da Torreira, Ovar, e baptizou a sua irmã. Casou a 7 de Março de 1922, com Palmira da Silva Matos, sobrinha de José Plácido da Costa, e teve oito filhos: Samuel, Paulo, Abraão, José, David, Rute, Ester e Palmira. Caracterizou-se por ser um grande evangelista e desbravador. Foi fundador das Igrejas em Tondela (1922), Carvalhal Redondo (1929), Portimão (1924-1938), Lagos (1927), Silves (1925), Santarém (1938/39), Alcanhões (1946) e Rio Maior (1948). Esteve uns meses em S. Miguel, Açores (1943). Faleceu em Rio Maior, a 3 de Maio de 1958. AUSTIN CHAWNER (1903-1964) Natural do Canadá. Filho de missionários, nasceu em 1903, e viveu com os seus pais na África do Sul. Estudou no Bethel Bible Training School, em New Jersey, nos Estados Unidos. Foi consagrado na cidade de London, em Ontário, Canadá, em 1925. Nesse mesmo ano, volta para a África do Sul, como missionário das Assembleias Pentecostais no Canadá. A 24 de Agosto de 1926, chega a Lourenço Marques, Moçambique, para aprender português e estabelecer a obra evangélica. Em Janeiro de 1927, casou com Carrie Slaybaugh, que faleceu vítima da malária, em 1928. Mais tarde, voltou a casar, com a missionária da Noruega, Ingrid Lokken. Visitou várias vezes Portugal. Destacou-se como autor, compositor, editor e linguista. Foi o fundador da Assembleia de Deus em Moçambique, quer para africanos, quer para europeus. Faleceu num acidente, em 1964. | 29 |


Movidos pelo Espírito MANUEL MARIA RODRIGUES (1893-1969) Natural de Esgueira, Aveiro, nasceu em 1893, emigrou para o Brasil e converteu-se em Belém do Pará, na Igreja Baptista, em 1909. Empresário metalúrgico, casou com Jesuza Diaz e teve uma filha, Lídia Rodrigues, que viria a casar-se com o missionário sueco Nels Nelson, autor de vários livros. Foi um dos fundadores e o primeiro presbítero consagrado na Assembleia de Deus no Brasil. Fundador do trabalho em Esgueira, Aveiro, em 1927, onde viviam os seus familiares. Apoiou alguns obreiros portugueses com recursos financeiros, quando voltou ao Brasil, entre eles, Plácido da Costa e Rogério Ramos Pereira. Faleceu em 1969. INGRID LOKKEN CHAWNER (1899-1976) Natural de Vestfossen, Noruega, nasceu em 1899. Converteu-se na cidade de Horten e estudou no Instituto Bíblico em Oslo, onde se preparou para missões. O seu primeiro trabalho foi nos Estados Unidos, durante dois anos. Em Agosto de 1922, desloca-se para a África do Sul, onde serviu quatro anos, enviada pela Igreja Evangeliesalen, de Oslo. Chegou a Moçambique em 1929, para realizar trabalho missionário, primeiro em Lourenço Marques e depois viajando de moto pelo interior de Moçambique. Em 1935, já com catorze igrejas estabelecidas e activas, abriu uma Escola Bíblica para treinar obreiros nacionais. Casou, a 31 de Dezembro de 1934, com o missionário Austin Chawner e, em 1950, já tinham 200 igrejas implantadas. Escreveu o livro Nkosazawa – A filha do Rei. Faleceu em 1976.

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74 Anos de Convençþes Nacionais de Obreiros 1939-2013

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Introdução Histórica AS ASSEMBLEIAS DE DEUS O nome Assembleia de Deus, para referir-se a comunidades cristãs em geral aparece por vez primeira em Inglaterra não sendo legalizado o nome. O nome de uma Igreja com o nome de Assembleia de Deus aparece nos Estados Unidos em final do Século XIX. O termo pentecostal já era utilizado por algumas igrejas nos finais do Século XIX, inclusive em igrejas ligadas a várias denominações. No início do Século XX não se referem concretamente crentes glossolálicos, xenolálicos ou inclusive trinitários, mas a igrejas pertencentes aos Movimentos de Santidade (Holiness). Nesses grupos haviam diferentes opiniões sobre o que era o baptismo com o Espirito Santo. As Assembleias de Deus Pentecostal em Portugal assim como no Brasil, têm sem nenhuma dúvida a influência do Movimento do Espírito surgido em 1901 e com continuidade na Rua Azuza em Los Angeles de 1906 a 1909, nos Estados Unidos. No Brasil e em Portugal, as Assembleias de Deus Pentecostais nasceram primeiramente com o nome de Missão de Fé Apostólica, e depois mudaram de nome para Assembleia de Deus mas sempre com o mesmo grupo inicial, sem sofrer nenhuma divisão. Daí haver toda a autenticidade para estas igrejas poderem celebrar o seu centenário tendo em conta as datas de início da fundação da Missão de Fé Apostólica, visto a sua raiz inicial nunca ter sido alterada. Assim, no Brasil o centenário foi celebrado em 2011 e agora em Portugal 2013. No Brasil, foi no Domingo 18 de Junho de 1911 com Daniel Berg, Gunnar Vingren juntamente com os portugueses José Plácido da Costa, sua esposa Maria Piedade da Costa, Manuel Maria Rodrigues, sua esposa Jerusa Rodrigues (espanhola), Manuel Rodrigues Dias, e esposa Emília Dias (estes atras mencionados, sabemos que eram portugueses emigrados no Brasil, além de outros que provavelmente por causa dos seus nomes e apelidos seriam portugueses; José Batista de Carvalho, António Mendes Garcia, Lourenço Domingos, João Domingos, Maria dos Prazeres Costa; Maria Pinto de Carvalho; Alberta Ribeiro Garcia, Celina Cardoso de Albuquerque, Maria de Jesus Nazaré Lourenço Domingos, Alberta Ribeiro Garcia, Joaquim Silva, Tereza Silva de Jesus, Izabel Silva e

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Movidos pelo Espírito Benvinda Silva; além de Henrique e Celina de Albuquerque, residentes na casa situada na Rua Siqueira Mendes nº 1 A, em Belém do Pará, onde nasceu a Igreja Assembleia de Deus no Brasil. Em 1913 chega a Portugal, concretamente a Valezim, Seia José Plácido da Costa, enviado como missionário pela Igreja no Belém do Pará e a Igreja em Portugal também se intitula Missão de Fé apostólica apesar que em documentos da época muitas vezes apenas igreja Evangélica. Em 1914 foi fundada em Hot Springs, Arkansas, EUA, durante uma reunião de ministros evangélicos pentecostais a denominação Assembly of God USA (AoG USA), ou seja Assembleia de Deus nos Estados Unidos. Em 18 de Janeiro de 1918 a Igreja no Brasil decide por sugestão de Gunnar Vingren, chamar-se Assembleia de Deus, em virtude da fundação das Assembleias de Deus nos Estados Unidos. Em 11 de janeiro de 1918, Gunnar Vingren registrou o Estatuto da Igreja no Cartório de Registro de Títulos e Documentos do 1º ofício, em Belém, no Livro A, Nº 2, de Registro Civil de Pessoas Jurídicas e outros papéis, número de ordem 131.448, sob o nome “Estatuto da Sociedade Evangélica Assembleia de Deus”, número de ordem 21.320, do Protocolo Nº 2. Os extractos do Estatuto foram publicados no Diário Oficial do Estado do Pará, sob nº 766524. Com esse registro, a Igreja começou a existir legalmente com personalidade jurídica adequando-se aos Artigos 16 e 18 do primeiro Código Civil Brasileiro que acabara de entrar em vigor em 1 de Janeiro de 1917. Em Portugal também começa a chamar-se Assembleia de Deus. As Assembleias De Deus trabalham em comunhão fraternal, havendo neste momento mais de 65 milhões de membros em todo o mundo num universo de 600 milhões de pentecostais e carismáticos. AS CONVENÇÕES NACIONAIS O Movimento da Assembleias de Deus em Portugal durante as primeiras cinco décadas estava dividido geográficamente em três campos, essencialmente. O campo Norte que ia até Águeda, cuja igreja-sede era o Porto. Este era constituido por: Chaves, Carvalhal Redondo, Águeda, Viseu, Esgueira, e respectivas congregações. Depois, o campo Lisboa que abarcava Alentejo, Ribatejo e mais tarde Setúbal, cuja Igreja-sede era Lisboa. E, finalmente, o campo Algarve cuja igreja-sede era Portimão. Com o tempo foram-se dando autonomias a diversas Igrejas e nasceram vários novos campos. Por uma das fotos que encontrámos, podemos afirmar que houve uma ou várias reuniões de líderes das Assembleias de Deus antes de 1939, mas sem periodicidade permanente que as caracterizou, desde esse ano e até à actualidade. O Pr. Tage Stahlberg, missionário sueco que trabalhou em Espanha e, depois, durante | 154 |


Introdução Convenções Nacionais de Obreiros quarenta anos, no nosso país, foi o grande impulsionador das convenções de obreiros em Portugal, destinadas a pastores, anciãos, evangelistas e diáconos. O modelo adoptado foi idêntico ao do Movimento Pentecostal na Suécia, iniciado pelo pastor Lewi Petrus, o pai do Movimento Pentecostal naquele país nórdico. Este historial das Convenções das Assembleias de Deus, inicialmente denominado de Convenção Pentecostal, foi feito a partir da investigação feita, essencialmente, na revista Novas de Alegria, assim como em algumas actas da Igreja em Lisboa1. Antes da primeira Convenção, eram consagrados, ou ordenados, os seguintes obreiros: José Plácido da Costa (1913), José de Matos Caravela (1921), Holger Backstrom (1934), Tage Stahlberg (1931), Manuel Ribeiro Fernandes (1938) e Rogério Ramos Pereira (1938). Além dos já mencionados temos ainda na primeira Convenção outros servos de Deus presentes: Jaime Figueiredo e Augusto Henriques (estes dois provavelmente consagrados no Porto entre 1938 e 1939), António Silva, Diogo dos Santos e Francisco Ventura. Paulo Branco Director-geral do MEIBAD Pastor evangélico - Assembleia de Deus em Almada

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Ao reconstituir o historial das Convenções, deparámo-nos, em alguns momentos, com informação insuficiente, visto que, os autores das notícias omitiram pormenores importantes para a posteridade. Por outro lado, existem algumas contradições nas datas e lugares, assim como no número sequêncial exacto a que corresponde cada Convenção. Estas lacunas e disparidades surgem algumas vezes por erro tipográfico e outras devido ao facto de que, a partir de certa data, se começarem a realizar duas convenções anuais, além de outras convenções extraordinárias.

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Movidos pelo Espírito

Uma das primeiras reuniões de obreiros realizada em Portugal, entre 1934 e 1935. Da esquerda para a direita em cima: José Plácido da Costa, Daniel Berg, Augusto Holger Backstrom e Manuel José de Matos Caravela. Em baixo pela mesma ordem Maria da Piedade Silva, Sara Berg e Lisa Backstrom.

I Convenção, LISBOA – 11 a 17 de Abril de 1939

Pastor da Igreja em Lisboa: Tage Stahlberg (pastor auxiliar, Rogério Ramos Pereira). Presidente da Mesa: Tage Stahlberg. Nesta Convenção foram entregues Certificados de consagração a: Francisco Raimundo Vieira, de Ferreira do Alentejo; Alfredo Rosendo Machado, de Lagos; Isabel Guerreiro, de Évora e Isabel Guerra (conhecida como Mareco), de Portel. O encerramento da Convenção realizou-se no Salão da Juventude Evangélica, nas Janelas Verdes, e participaram cerca de 400 pessoas.

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74 Anos de Convenções Nacionais de Obreiros II Convenção, PORTIMÃO – 1940

Pastor da Igreja em Portimão: Manuel José de Matos Caravela.

III Convenção, LISBOA – Março de 1941 Pastor da Igreja em Lisboa: Tage Stahlberg.

O Pr. Lewi Petrus, líder do Movimento Pentecostal da Suécia, esteve em Portugal e reuniu-se com os pastores. Visitou também as igrejas em Évora, Santarém e Algarve.2

IV Convenção, ÉVORA – 1942

Pastor da Igreja em Évora: Manuel António Ribeiro Fernandes. 2

Actas de 2 de Fevereiro e 3 de Março de 1941 da Assembleia de Deus em Lisboa.

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Movidos pelo Espírito V Convenção, PORTO – 15 a 21 de Junho de 1943

Pastor da Igreja no Porto: José Plácido da Costa. Presidente da Mesa: Tage Stahlberg (Lisboa). Secretário: Rogério Ramos Pereira (Chaves).

VI Convenção, LISBOA – 1 a 6 de Maio de 1944 Pastor da Igreja em Lisboa: Tage Stahlberg. Presidente da Mesa: Tage Stahlberg (Lisboa); Vice-presidente: Rogério Pereira (Chaves); Secretário: Alfredo Machado (Portimão). O encerramento realizou-se no Teatro Taborda.

VII Convenção, PORTIMÃO – 14 a 20 de Maio de 1945 Pastor da Igreja em Portimão: Alfredo Machado. Presidente da Mesa: Alfredo Machado; Vice-presidente: Rogério Ramos Pereira (Chaves); Secretário: João da Costa Ferreira (Cascais); auxiliar: Joaquim da Silva (Lisboa). Estiveram 30 obreiros presentes. O encerramento da Convenção realizou-se no Cine-Teatro de Portimão, com a presença de 1.200 pessoas.

VIII Convenção, ÉVORA – 11 a 17 de Março de 1946 Pastor da igreja em Évora: Manuel António Ribeiro Fernandes. Secretários: João Sequeira Hipólito e Durval Correia (Ribatejo). Foi consagrado, para a missão, Horácio Gomes de Sousa (S. Miguel - Açores).

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Conhecer o passado é tão importante como planear o futuro. A História é uma escola para todos os alunos que desejam aprender com o passado, viver o presente e sonhar com o futuro. Esta obra traz-nos à memória homens e mulheres que marcaram a História do seu tempo e a história de centenas de vidas que, através deles, conheceram o amor e o poder de Deus.

Além dessas breves biografias, apresentam-se as reuniões nacionais de líderes das Assembleias de Deus (comummente chamadas “Convenções”), numa interessante cronologia histórica, ambas resultado de mais de duas décadas de pesquisa do autor. “No labor académico de historiador, o Pr. Paulo Branco dá um contributo marcante na celebração do centenário das Assembleias de Deus, que é, ao mesmo tempo, um estímulo para o tempo que temos pela frente até que Jesus volte para arrebatar a Sua Igreja.” Samuel R. Pinheiro Director de Publicações CAPU|CPAD Livraria Cristã

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Paulo Neto Martins Branco, nascido num lar cristão evangélico, filho de membros da Assembleia de Deus e criado na Escola Dominical, na cidade de Aveiro. Casado com Ana Mary Baizan e pai de Rebeca, Ester e Paulo David. Doutorando e Mestre em Ciência das Religiões e licenciatura em Ciência das Religiões (U.L.H.T.). Licenciatura em Teologia aplicada pelo S.T.M. (Seminário Teológico Ministerial). Autor de várias obras, atualmente é, para além de outras funções, Pastor Presidente da Assembleia de Deus em Almada; Director Geral e docente do MEIBAD. Docente na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

MOVIDOS PELO ESPÍRITO

No contexto da celebração dos 100 anos das Assembleias de Deus em Portugal, este livro reúne nas suas páginas excertos da vida desses homens e mulheres que, movidos pelo Espírito Santo, contagiaram outros para a experiência cristã completa que é viver com Cristo.


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