ANOITECER DE COPACABANA

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Sumário Prefácio........................................................................................................ 9 Introdução................................................................................................13 Prostituição: a realidade de hoje......................................................17 O Anoitecer de Copacabana..............................................................29 O Guia das Ruas......................................................................................37 Retorno à Atlântica................................................................................53 Nasce o Cafetão......................................................................................69 Contratações e Sarah............................................................................95 A Face Imunda...................................................................................... 125 Fantasias Sexuais................................................................................. 143 O Rei da Noite....................................................................................... 155 A Face Obscura..................................................................................... 167 Luma, a Dama Cigana........................................................................ 175 O Amanhecer de Copacabana........................................................ 183


Prostituição: a realidade de hoje Falar sobre o meu passado, sobre a minha atividade com garotas de programa, sem explicar como de fato é esse mercado hoje no Brasil seria contar uma história de forma incompleta. O que dificulta a discussão do tema é que ele é tratado de forma preconceituosa por muitos membros da sociedade e não somente na nossa, mas em muitas outras existentes no mundo. A intenção não é formar opinião através do meu parecer sobre o assunto. Quando pessoas sem conhecimento sobre esse assunto debatem em algum fórum de discussões, nada de fato é esclarecido, pois são várias as faces do submundo da prostituição; ele é muito mais amplo do que se possa imaginar. É necessário, assim, entender os reais motivos dessa antiga prática: por que ela ainda existe? O que mudou com o tempo? Como tende a continuar? Para saber sobre um cafetão e entender a sua atividade, é preciso que todos saibam que a prostituição tem uma realidade bem dinâmica, que muda constantemente com o decorrer do tempo; digo isso não me referindo ao objeto em questão, que é o sexo, pois, de fato, são as formas de conduzir o negócio que mudam. 17


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As constantes mudanças na economia, na forma de pensar e nos modelos mentais que cada pessoa adquire para si fazem com que muita coisa mude, até mesmo a maneira como a prostituição é conduzida. A sociedade rotula as prostitutas como destruidoras de lares e os cafetões como bandidos que as exploram; assim, juntos eles constituem a união perfeita para a desestruturação de um lar, a corrupção de menores, o tráfico de drogas, entre outras situações que, na opinião de todos, fazem, intimamente, parte do universo desses profissionais. No capítulo sobre admissão de mulheres, todos saberão os motivos que fazem tantas mulheres entrarem para essa vida. A grande questão é que hoje, no nosso país, as prostitutas são ainda muito discriminadas, não só pelo poder público, mas principalmente pela sociedade. Isso ocorre muito pelo fato de muitas garotas da classe média renunciarem o conforto de seus lares para se dedicar à putaria, que tem o corpo como objeto de venda. Essa e muitas outras questões que envolvem os vários tipos de ingresso a esse ofício fazem com que essa profissão ainda seja muito criticada e banida. Quando se ouve a palavra cafetão, já se imagina algo que a TV e o cinema pintam. Tapa na cara, arma na cintura, tráfico de drogas, ilegalidades, status de homem soberano, conquistador de mulheres e outros detalhes mais. Nos dias de hoje, as prostitutas, em geral, não têm mais na figura do cafetão o seu mentor, seu protetor, sua referência. Confesso que isso ainda existe sim, mas bem no início da função, quando elas 18


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começam nessa atividade, momento em que precisam de apoio e orientações para aprender a malícia do negócio. Quando uma puta percebe que pode se virar sozinha, que não precisa prestar contas a ninguém, ela bate asas e vai embora, por conta própria. O que ocorre, em muitos casos, são aquelas garotas de família pobre, sobretudo da Região Norte-Nordeste, que enxergam no mercado do sexo uma grande possibilidade de sobrevivência, alimentando-se da ilusão de achar alguém que as resgate dessa vida. Nessas horas, vários aliciadores conseguem recrutar as candidatas a meretriz e as colocar num caminho que, às vezes, é sem volta. Entretanto, hoje a realidade mudou. A maioria das prostitutas de ofício, hoje em dia, é independente e não tem tanta necessidade de um cafetão; elas apenas precisam de boas condições para exercer seu trabalho. Nesse sentido, muitos empresários que possuem casas com boa estrutura, alojamento, comida e roupa lavada acabam por receber esse título, mas o que elas buscam deles é somente isso: o conforto e a segurança. Como a minha experiência aconteceu em Copacabana, preciso lhes explicar como é a realidade da prostituição nesse bairro em questão. Não muda muito em relação à realidade dos demais lugares do Brasil, contudo Copacabana é único. Após o aterro hidráulico, em meados dos anos 70, o bairro começou seu momento de maior prosperidade; com o alargamento da orla, muitos foram morar ou viver no bairro. Foi um período de desenvolvimento em todos os sentidos. No auge dos anos 80 e parte dos anos 90, o mercado do sexo em Copacabana foi muito lucrativo e teve seu período de maior re19


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torno, constituindo uma verdadeira explosão aos que investiam nesse sujo mercado. Nessa época, a figura do cafetão e da cafetina era soberana. As mulheres que viviam de seu corpo realmente se prestavam a esses profissionais, porém, com o passar dos anos, a realidade em Copa foi mudando, não só no mercado do sexo, mas em vários outros setores da sociedade carioca. Muito mudou. Garotas, hoje, iniciam no comércio sexual com justificativas de necessidade financeira; algumas por coação, de forma disfarçada, de mães um tanto quanto cafetinas; outras por capricho da idade, pois, quando completam 18 anos, querem se sentir livres, ou seja, algumas acabam por ver nessa atividade algum grito de liberdade. Fato este real, pois eu mesmo lhes comprovo: minha primeira e única namorada da noite, ao completar a maioridade, iniciou sua vida na prostituição, desistindo semanas depois, convencida por mim a sair. A ninfeta me daria, sem dúvida, um bom lucro, pois seu corpo escultural era de invejar. Seus pais eram funcionários públicos do Judiciário e ela não precisava disso para viver; foi só por capricho da idade. Muitos se questionam quais os motivos que fazem com que tantas jovens entrem nisso. Pessoalmente, sempre respeitei mais aquelas que estão na função há muito tempo e não essas filhas da classe média, em muitos casos, universitárias que entram por entrar. No tempo em que trabalhei com essas mulheres, pude ver que ainda é possível fazer bons negócios no sexo, mas não como antes. 20


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Recordo-me de duas belas capixabas que acabavam de chegar ao Rio. Consegui segurá-las por dois meses; dei-lhes bons programas e lhes apresentei a cidade. Assim que descobriram como ganhar mais dinheiro sem ter de me dar satisfações, as perdi. Ainda existem esses Vendedores de Mulheres, mas, à medida que a classe feminina conquistou a independência financeira, espaços no trabalho e na sociedade, muito mudou. Esperto é quem consegue, no oportunismo, adaptar-se às mudanças desse mercado complexo e oscilante. Descobri, nesse tempo, uma forma de comercialização do corpo que muitos talvez não acreditem, mas que é pura realidade; a mais escancarada que possam imaginar, porém maquiada pela mídia. Entendam, meu papel não é entregar pessoas, fazer fama em cima de celebridades ou algo parecido. Meu objetivo é mostrar como é a prostituição hoje e quais os fatores que configuraram meu trabalho como profissional do sexo; então, para poder explicar de forma completa o assunto “Realidade da Prostituição Hoje”, será necessário explicar como funciona o surpreendente mundo da putaria por dinheiro, no mundo de muitas que se dizem celebridades. O brasileiro valoriza muito uma bela bunda, um belo corpo, seios fartos, lábios carnudos, formas esculturais e tudo mais. Já foi o tempo em que executivos de sucesso, quando precisavam ter prazer, dirigiam-se a um puteiro simplesmente ou, talvez, até uma rua famosa, tais como Augusta ou Avenida Atlântica. Mesmo existindo há tempos esses corretores do sexo, muitos preferiam buscar nesses locais sua mulher de aluguel. 21


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Atualmente, o mercado de altíssimo nível do sexo é configurado nas famosas e restritas termas de luxo, nas várias e caríssimas putas de sites, que, em muitos casos, são desagradáveis surpresas, visto o cliente deparar-se com alguém totalmente diferente do anunciado, e principalmente num seleto, secreto e caríssimo mercado de mulheres de mídia. Num daqueles gostosos fins de tarde em Copacabana, eu e um conhecido da época tomávamos uma bebida no quiosque Rainbown, reduto gay situado em frente ao Hotel Copacabana Palace, um ambiente que, nas noites de domingo, sempre apresentou verdadeiros espetáculos, com os shows de drag queens, com muita diversão ao público geral, constituído não só por gays, mas por outros. Ali, ele me revelou em detalhes como funcionava o comércio sexual de mulheres da mídia. Muitas famosas que aparecem com destaque na época de carnaval e se intitulam modelos, dançarinas de palco etc. são, na verdade, na maior parte do ano, putas de luxo para executivos de nível, jogadores de futebol e políticos do alto escalão. Sem denegrir a profissão de modelo e dançarina, nem generalizar, apenas mostro a realidade de um mercado muito fechado, que, por intermédio de um book bem restrito, comercializa o período de poucas horas de sexo, por valores que podem chegar a 20 mil dólares ou mais. Não se consegue bancar caríssimos flats, apartamentos na Zona Sul do Rio e de São Paulo, vestuário de luxo e joias caras ganhando mesada dos pais. Também, muitos sabem que cachês de trabalho de propaganda não são pagos todos os dias, pois propostas publicitárias são esporádicas; então, me digam: do que vivem muitas das famosas modelos da mídia? 22


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Num ano, muito se gasta, é só questão de pensar, mas, no meu caso, ouvi relatos reais de quem era totalmente infiltrado nesse negócio; assim, o que lhes escrevo não é especulação, mas a pura realidade, proporcionada a um seleto grupo de mulheres de safra especial, que vivem também do sexo. Para essas, os cafetões são figuras que intermedeiam o contato entre os figurões e as “modelos”; é uma forma diferente de atuar como cafetão, não acham? Apenas por curiosidade, vou lhes relatar um desses programas que um cafetão de luxo, que por acaso é amigo meu, contou-me em detalhes. Houve uma conferência no Rio para tratar de uma fusão de empresas, em que a presidência, vinda da Europa, estaria presente. Como sempre, foi comunicado aos assessores desses tipos de empresário a facilidade em adquirir mulheres de alto nível, restritas a poucos que podem pagar. O preço sempre era negociado por esses assessores, os quais os jogadores de futebol também têm, no caso, geralmente, algum amigo de infância ou membro íntimo da família. As “modelos” também sempre tinham alguém que intermediasse; então, a negociação era feita entre os assessores dos clientes e aquele seria o cafetão das “modelos”, porém, nesse caso, uma espécie totalmente mais privilegiada do que os cafetões normais, pintados pela sociedade. No caso dessa reunião executiva no Rio, foi combinado o programa de 15 mil dólares por uma noite de sexo com uma garota conhecida na mídia, que tem algum destaque na época de carnaval. O programa foi feito num luxuoso hotel na Avenida Sernambetiba, região próxima ao Posto 4. O assessor cafetão disse que, além do valor do programa, ela ganhou uma linda joia de presente. 23


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Em algumas situações, as próprias “modelos” negociavam os valores, mas, de forma geral, preferiam que se fizesse isso por elas. Ainda, por serem mulheres famosas, davam-se ao luxo de combinar até as posições sexuais, sendo que muitas faziam essa exigência, configurando, assim, o sexo como um ato totalmente mecânico, com o único objetivo de receber as grandes somas em dinheiro em troca do pouco tempo de prazer. Já entardecia em Copacabana, mas a conversa estava bem interessante. Como esse conhecido tinha contato direto com essa outra realidade, contou-me um fato interessante: essas prostitutas da mídia contam os dias para que chegue o carnaval, pois muitas passam grande parte do ano sem trabalho, assim, acabam por viver de alguns bicos publicitários e, claro, da prostituição de seus corpos. O carnaval acaba por valorizar o produto, que são seus belos corpos, bem como a exposição faz com que alguns novos trabalhos, entrevistas e programas possam acontecer. Peço que não me entendam mal; por isso, digo a todas essas “modelos” que têm uma vida paralela na putaria para não se preocuparem, pois poderão vender seus corpos até quando quiserem ou, ainda, até quando seus silicones sustentarem seus peitos e suas bundas cumprirem seu papel de atraentes vitrines. O capitalismo contemporâneo, com sua proposta consumista, juntamente ao grande desejo de inclusão na sociedade através da mídia e de suas ramificações, faz com que essa categoria de mulher continue a se prostituir e ainda mais diversificar o legado de Maria Madalena. Pouco importa se é uma puta de um cabaré de estrada ou uma celebridade que se vende por dezenas de milhares de dólares, a 24


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profissão é a mesma e, se tivesse um sindicato, todas se reportariam a ele. Já eram mais de 20h quando me despedi dele. Estava um pouco atrasado, pois a boate já iria abrir, então era hora de ir para o apartamento tomar um banho e seguir noite adentro. Outro caso interessante da época que desempenhei esse trabalho foi quando, periodicamente, eu e alguns amigos nos encontrávamos às quintas-feiras num tradicional boteco em Ipanema, mais precisamente, na Praça General Osório. Amanda (nome fictício), uma amiga, bela morena, com seus 1,69 m de altura, seios maravilhosos, boca linda, sensualidade transbordando em seus 24 anos. Durante vários encontros, eu, Amanda e nossos velhos amigos do bairro de Ipanema tomávamos o chope de sempre. Muita descontração e o cruzamento de olhares entre mim e ela eram constantes. Certo dia maravilhoso de sol, combinamos todos de nos encontrar no famoso Posto 9, em Ipanema, para um dia de praia. Após algumas brincadeiras e cervejas à beira-mar, Amanda, após um amigo lançar uma indireta, praticamente confessou, sem perceber, ser mulher de programa. Foi questão de minutos. Ingenuamente, depois de eu alfinetar a classe, ela de forma defensora perguntou-me: “O que você tem contra as garotas de programa, Sid?” Não há como não admitir que ri por dentro ao perceber seu ofício. Não só Amanda, mas muitas outras que se dizem modelos ou dançarinas são garotas de programa. No caso de Amanda, pelo que percebi, ela nem precisava de cafetão, pois já tinha um bom esquema de catálogo na internet que lhe rendia boas viagens; ela se dizia dançarina e viajava pelo mundo. 25


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Assim como uma velha conhecida do carnaval carioca que sempre sai como destaque, a belíssima Amanda beneficiava-se do fato de ter trabalhado numa conhecida terma que fica entre a Praça General Osório e a Rua Barata Ribeiro, divisa entre Ipanema e Copacabana. Aliás, essa casa, assim como outra terma que fica nas proximidades do Aeroporto Santos Dumont, foi um dos grandes berços das novas “modelos” que tanto nos esbaldam nas revistas masculinas. Na vida, prevalece quem pode e quem tem, então, como cada uma é dona do seu corpo, tem o direito de fazer dele o que quiser. Apesar de esse capítulo parecer ser algo ofensivo às mulheres que se prostituem por altos valores, saibam que não é. Volto a dizer que apenas mencionei a questão do catálogo de luxo com as “modelos” de hoje em dia para poder mostrar o quanto o atual mercado do sexo está diferente do de antigamente. Sei que faz poucos anos que saí desse meio, mas seria impossível falar dele sem mencionar os vários ramos dessa realidade em que a figura do Vendedor de Mulheres já não é mais tão presente como antes. Bem, é verdade que ainda existem as figuras de assessores, amigos de confiança ou quaisquer outros tipos de intermediadores do negócio. Isso porque a realidade consumista é cruel, sendo necessário lucrar, fazer dinheiro seja por qual meio for. Não me incomodo tanto de dizer que vivi do sexo, bem como não me incomodo de falar sobre as várias formas desse mercado. Então, as putas de luxo que me desculpem; continuem a fazer seu negócio, que os cafetões também continuarão a fazer o deles. Assim como Amanda, várias outras amigas tentavam esconder de mim a sua profissão, mas é difícil. 26


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Uma velha lição passo-lhes agora: jamais uma mulher de programa consegue esconder o que faz de um malandro profissional da noite. Se por um acaso você, leitora, for uma prostituta, saiba que, se encontrar-se comigo, poderá me chamar de colega, pois, em poucos minutos, saberei o que você faz. É fato! São vários os indícios; um mascar chiclete, a forma de pegar um copo, o andar e o olhar nos olhos são apenas alguns dos detalhes que podem entregar uma garota de programa. Entretanto, independentemente de qual ramo elas trabalhem, sempre as respeitarei. Afinal, prostituta é uma mulher como outra qualquer; dessa forma, na prostituição, elas também adquiriram sua independência, livrando-se com mais facilidade de profissionais como eu era na época. Como a classe mudou, os gerentes de boate e cafetões também precisaram mudar. Assim, independentemente da forma como cada uma se prostitui, entender o universo feminino, com suas peculiaridades, é primordial. Saber lidar com a sensibilidade feminina, aliado ao pulso forte, é necessário à função, constituindo requisito elementar para conseguir segurar por um tempo maior essas profissionais ao seu lado, não somente como suas subordinadas na função, mas conquistando também a confiança e a amizade, pois, hoje em dia, a atitude “tapa na cara” não é mais tão bem-vinda. O cafetão de sucesso, atualmente, precisa de mais; precisa entender como é uma mulher e as prostitutas nada mais são do que mulheres, apenas mulheres.

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