Antonio,um rapaz de Lisboa

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ANTÓNIO, UM RAPAZ DE LISBOA


O texto de “António, um rapaz de Lisboa” foi elaborado num Seminário de Escrita Teatral organizado pelo Serviço Acarte da Fundação Calouste Gulbenkian entre 1 de Fevereiro e 14 de Março de 1995 e teve a participação de Lia Gama, Rita Tomé, Manuel Wiborg, Paulo Claro (actores convidados) e de Alfredo Nunes, António Carlos Borges, António Silva, Cristina Bizarro, Helena Reis Silva, Inês Nogueira, Isabel Leitão, Karas, Miguel Vasconcelos, Paula Macedo, Paula Serra, Paulo Patraquim, Pedro Canhoto e Tiago Torres da Silva.

Jorge Silva Melo

António, um rapaz de Lisboa

Título: António, um rapaz de Lisboa © Jorge Silva Melo ©Edições Cotovia, Lda., Lisboa, 1995 1.ª edição: Janeiro de 1996 2.ª edição: Dezembro de 2005 Concepção gráfica de João Botelho ISBN 972-8028-48-2

Cotovia


ÍNDICE Prefácio de quem vai à guerra Nota à 2.ª edição Elenco da estreia António, um rapaz de Lisboa Diário de Bordo

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PREFÁCIO DE QUEM VAI À GUERRA

1 “Tutto è susceptibile di teatro”, proclamava Goldoni, e era no século XVIII. Tudo pode ser teatro. Por que estamos então nós fora de cena, os nossos gestos, os nossos costumes, os nossos fracassos, as nossas casas, a nossa língua, os nossos erros de gramática? Por que voltaram a estar junto à ribalta os príncipes e os marqueses de empoeiradas cabeleiras que já nada nos tinham a dizer quando, em 1823, Stendhal se manifestava (no “Racine e Shakespeare” ) por um teatro “para nós, rapazes inteligentes, sérios e um bocado invejosos”? Por que nos retiraram de cena? A nós, que estamos vivos (e não será preciso, depois de tanto terramoto, decidir “cuidar dos vivos e enterrar os mortos?”) Por que voltaram os mortos a todas as cenas? Porque é que, para falarem hoje connosco, precisam os actores de pôr peruca, collant e armadura? Por que é que se tratam uns aos outros por Vosselência com voz de sepulcro? Ou, se os gestos são os de agora, nunca as personagens se encontram na Almirante Reis, e sim algures numa Alemanha que é um puro “não-lugar teatral”? Não pode já haver um teatro dos dias de hoje? Não digo para hoje, insisto que seja de hoje, e desta rua. Goldoni pôs em cena terrinas e chávenas de café, rapé, sombrinhas e cheques. E os gestos com que vivemos nós as nossas vidas não terão o direito de entrar no teatro – a não ser no teatro americano, ou quando são olhados com o desprezo (onde há muito se instalou um proto-fascismo) de Botho Strauss?

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Fazer um texto – um texto, um texto, um texto! – dos dias de hoje. Tão de hoje que até haverá partes em que as personagens verão a TV do dia e lerão os jornais da véspera ou desse mesmo dia. Um dia, em que toda Lisboa andará cantando um qualquer hit que, se fosse em 1993, teria sido o “Esta Vida De Marinheiro” e em 1994… o senhor Abrunhosa, que é o que há… Um texto de hoje com palavras de hoje. Um texto que não recuse o trivial perante o qual não podemos, cem anos depois de Tchekhov, hesitar. Se ainda podemos dizer uma frase tão anódina como “Para Moscovo!” e nela suspiramos todos os nossos anseios, por que precisa o teatro de herdar a empolada linguagem dos simbolistas – por que tem o teatro de hoje de ser como a peça que Nina representa na “Gaivota”, por que é que em vez de “Temos que trabalhar” tem sempre no teatro que se dizer coisas como “Um pouco mais de luz eu era brasa” com voz trémula? Por que é que a poesia do teatro é tão bafienta e deixamos ao rock as palavras dos nossos dias? Foram as palavras dos nossos dias, as palavras banais – banalidade cinzenta mas divertida, triste mas… – o que perseguimos nestes dois meses de fim do inverno. Porque queremos falar de pessoas que sobrevivem e se esganam por sobreviver hoje mesmo. Pessoas como tu e eu que também temos o direito de entrar em cena e de querer que nos contem a história, história pateta mas nossa, herdeiros que somos daqueles 6 que na Sicília procuravam quem deles falasse, um autor. Ah, um autor? (Mas o que é um “autor” agora que os encenadores passaram a empresários, quando não a empreiteiros e tudo indica que em breve refarão o Grémio?) O que pode ser um “autor”? Um puro escritor? Ou um encenador impuro que, culpado, trai a sua “corporação”? A resposta estará sempre do lado de Heiner Müller. Neste que ele chama “tempo dos dentistas” teremos que estar contra o “teatro para dentistas”… e lembrarmo-nos que no teatro já passou a poesia e a filosofia.

Partimos, neste seminário, de uns episódios escritos por mim para televisão. Começámos por discutir as personagens. Ao fim de uma semana, assassinadas umas, misturadas outras, tínhamos uma primeira montagem em que personagens existiam, tinham motivações e sentido, passado e até avós – e a história seguia, corriqueira, mas seguia… Era uma peça coxa de um tardio naturalismo, em que a ausência de formas, a indecisão destes dias, não tinha lugar. A peça que nessa primeira semana apontámos, era uma peça que, contando mais ou menos a história que queríamos contar, acabava por contar apenas a anedota de homens e mulheres um bocado parvos. Estávamos dentro de uma pequena família e a peça era, no fundo, coscuvilheira – olhávamos as personagens de fora, seres como nós que tínhamos transformado em macacos numa sua estética aldeia. E aí percebemos que, mesmo que tivéssemos conseguido escrever “bem” a peça – psicológica e sociológica – esse teatro já não dava conta do real complexo de que queríamos falar. E queríamos falar desse real, inventá-lo. Foi ao começar a desarticular as cenas e ao encontrar o princípio da “narração no futuro” da personagem Carmem e da “narração no passado” da personagem Ana, que percebemos que poderíamos não só “contar a história” como casar pela escrita a hesitação das personagens e o seu eterno retorno ao mesmo local de sempre que nunca será o mesmo. Descobrimos que podíamos escrever um texto “ruminante”. Não queria Stendhal o romance como um espelho levado ao longo de um caminho? Não pode o teatro, em vez de impôr um esquema de análise – quatro actos, protagonista, antagonista, conflito, desfecho – deixar-se ir ao sabor das personagens, espelho também, ao longo de um pensamento? Este texto começa, assim, de uma maneira e rapidamente bifurca; instala-se num realismo que seria hiper como os mercados para logo passar a uma narração que é lírica se não for pirosa,

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e arriscamos mesmo na parte 3 a pura fantasia teatreira. Porque se tutto è susceptibile di teatro, também a escrita do teatro, achámos nós nestas vinte sessões do seminário em que escrevemos, pode ser aberta a tudo, não se prender, deixar-se andar, maria que vai com as personagens e os temas e não se rala. Fizemos um texto aberto aos quatro ventos (ou foi só a dois?), um texto que não se quer totalitário nem sistemático, um texto ao deus-dará que, isso sim, discutimos e dicutimos.

4 Para Aristóteles, o “espectáculo” (opsis) é apenas um dos seis elementos constitutivos da “mimesis” – e aquele a que não ligou importância nenhuma. “Quanto ao espectáculo cénico”, diz ele, “decerto que é o mais emocionante mas também é o menos artístico e menos próprio da poesia.” “Independentemente do espectáculo”, continua, “a história tem que ser construída de tal forma que, ao seguirmos os acontecimentos, nós estremeçamos e nos enchamos de piedade perante o que se passa – é o que sentiríamos ao ouvir a história de Édipo. Produzir este efeito pelo espectáculo não tem a ver com arte, é trabalho de encenação.” Ao analisar este capítulo VI da Poética, escreve Jean Jourdheuil num texto fundamental publicado no Libération de 15 e 16 de Julho de 1994: “Quanto mais um texto é poeticamente fraco, mais cuidado prestamos ao espectáculo para suprir essa fraqueza. Um texto poeticamente poderoso incita-nos normalmente a uma certa retenção espectacular. Racine suporta mal um máximo de espectáculo: a poesia necessita do vazio. (…) A história do teatro mostra bem que, quando falham os poetas, prolifera o espectáculo; é ver o que diz Goldoni contra a ‘commedia dell´arte’. (…) Esta deriva do espectáculo, este afogamento da poesia e esta vitória do cénico, está evidentemente ligada à expansão da sociedade liberal e mediática: duas razões, uma já antiga – pensemos no nosso teatro de entretenimento do século XIX

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– e uma outra moderna e inicialmente tecnológica, militam a favor dessa espectacularização. Já no início dos anos 60, Guy Debord nos tinha avisado num livro, ‘A Sociedade do Espectáculo’… Como é que, de elemento (o quinto, e talvez o menos importante), o espectáculo passou nos nossos dias a valor englobante e a esvaziar o teatro? E o texto passou a acessório que tanto faz? Bem sei que Aristóteles considerava a mulher um ser inferior – mas ter-se-ia o rapaz enganado em tudo? Estou farto de, em finais do século XX, viver em pleno século XIX, esse século que inventou o maestro, o encenador e o crítico, os patrões, os capatazes e os intermediários. Devolver o teatro à “polis” (e que pode ser a “polis” na Internet? ) tem, necessariamente, que passar pelo brutal assassinato dessa divisão do trabalho – e devolver aos artistas a arte que lhes foi retirada pela circulação das mercadorias. Como seria o teatro outra vez, se outra vez só houvesse actores e autores? É porque do teatro só me interessa a “arte” – e não o “espectáculo” seja ele cénico, social ou político – que agora quero escrever. Escrever com a culpa de uma prática impura do “espectáculo”… Escrever palavras. É claro. E o jogo proposto nesse seminário que o ACARTE acolheu foi esse – pensarmos no pensamento, escrevermos um texto, um texto em que a palavra pode evocar, dar conta, registar, em que a palavra é o centro. A poesia, e se calhar não presta esta poesia, será sempre o centro que nenhum HMI ou faraónico “espaço cénico” poderá afogar. (Apesar de tudo, é ainda o que mais nos distingue dos macacos, não é? A palavra.) Palavra que aqui queremos funcional e lírica, evocativa e eficaz, colorida e pertinente e trivial… e que mesmo que nada disso seja, será sempre o resistente corpo de qualquer representação.

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5 Se está pronto o texto? O de hoje está. Entre 1 de Fevereiro e 20 de Março fizemos 7 versões completas (e diferentes) desta peça. Se continuássemos o seminário iríamos provavelmente encontar outras formas, iríamos alterar esta até dela nem sequer nos lembrarmos… Há, no Seminário, quem não goste do texto a que chegámos, ou de partes do texto (por exemplo, de toda a parte 4 ou do monólogo interior de António na sessão nas Belas-Artes). Há quem – e não eram poucas as vozes –, na sessão de 17 de Março e ainda na de 19, quisesse que o texto acabasse com a leitura do jornal diário, quem quisesse depois disso acompanhar António até um novo rame-rame. Há quem tenha proposto passar a parte 4 para o lugar da 3 – ganharíamos em “crescendo” de emoções, ganharíamos em relação à personagem de António, perderíamos em relação à personagem Carmem, perderíamos em relação à construção em espiral, teríamos uma versão talvez mais clara mas menos evocativa. (Mas deixamos a dúvida: não seria uma ideia?) E deixem-nos duvidar: teremos conseguido tratar a personagem de António? Foi quem primeiro nos trouxe aqui, filho do “António, Bastardo da Borgonha” de van der Weyden, e não é ele quem, de todos, está mais indefinido, vago, mais “pretexto”, personagem apenas traveling para os outros existirem? Ou não? E é precisamente no seu vazio que o podemos ler e nos podemos ler? Estarão os vários níveis de linguagem a responderem-se uns aos outros – ou trata-se de um pitoresco apenas divertido? Está pronto o texto? O de hoje está. Foi este o que fizemos. Aquele que eu assino, “autor” a 100% destas páginas que fui propondo, reescrevendo, criticando, para as quais fui recebendo sugestões (de frases, de cenas, de características, de montagem – ou seja de “escrita”) dos participantes do seminário que até à última sessão, felizmente, não se calaram. E para as quais fomos todos

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recebendo as indizíveis propostas feitas pelos actores (Lia Gama, Rita Tomé, Manuel Wiborg e Paulo Claro) no seu próprio e material segredo, na sua intuição, ao começarem a representar estas frases, ao aceitarem ser “modelos” deste nosso seminário de escrita, que se processou como se de “desenho à vista” se tratasse. Seria o texto de amanhã? Ou amanhã não iríamos precisamente encontrar uma outra forma? Cada coisa tem o seu tempo – de crescimento, de maturação, de feitura – e, por muitas dúvidas que a cada um de nós individualmente este texto possa levantar (e talvez levante menos a mim do que a ti), ele está “colectivamente” acabado. A vida a seguir é para ele a viver… nas unhas de quem lhe quiser tocar a guitarra.

6 Não é isso o teatro? Raiz do pensamento que “não há machado que corte”? Raiz efémera, irrepetível, raiz sempre recomeçada, nunca vista raiz? Foi assim que o tratámos, e disso nos orgulhamos. Fomos mais ou menos 20 pessoas a fazê-lo: e durante 24 sessões juntos pensámos, errámos, perdemo-nos, encontrámos (de vez em quando houve uns “Eureka!” e isso foi bom) e discutimos e esquecemos e voltámos a pensar. A pensar? Sobre como é viver em Lisboa. Um rapaz viver em Lisboa. Uma rapariga, outra, uma mulher, outros rapazes. Quando? Hoje. Será como a gente escreveu? Se calhar não é. E depois?

Jorge Silva Melo

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NOTA À SEGUNDA EDIÇÃO Depois disto, depois da peça na Gulbenkian, do espectáculo no Tivoli, depois de nos juntarmos, houve um filme. Fizemo-lo. Rodado no verão de 1999, estreou nas salas em 2002. Alguma coisa mudou? Já há “Corte Inglés” ali no Parque Eduardo VII, já toda esta gente teria telemóveis… Mais do que uma história, António, Um Rapaz de Lisboa é um retrato: o de um António, rapaz de Lisboa, nem rico nem pobre, nem trabalhando nem desempregado, nem delinquente, nem enquadrado na vida social… Um rapaz que tenta sobreviver e sobrevive na Lisboa de hoje. Filmei-o em complexos planos-sequência, gente que entra, gente que sai, corpos, e às personagens do texto-base fui acrescentando outras, os amigos, os que a nós se foram juntando e connosco vivendo os dias felizes. A ideia da personagem veio-me de um quadro de Roger van der Weyden visto e revisto no Museu de Belas Artes de Bruxelas nos inícios de 93, estava eu na montagem Sonora de Coitado do Jorge: António, Bastardo de Borgonha. Retrato de um rapaz com queixo firme e olhar voluntário, posando para um futuro que muito evidentemente irá dominar, numa vontade sem dúvidas e sem hesitações. Pelas salas vazias do museu, fui-me eu perguntando: e como seria o retrato de um António agora, de um rapaz de Lisboa? Seria tão nítida a sua obstinação, seria tão firme a sua determinação? Escrevi um postal ao Manuel Wiborg, tinha a certeza desta personagem, deste actor, era com ele que eu queria inventar uma Lisboa destes dias. Daí que tenha inventado este António: terá uns 25 anos, não fez estudos para além de um liceu que não concluiu, vive com um irmão mais novo, André, num modesto apartamento de um dos bairros periféricos de Lisboa, trabalha aqui e ali, ora numa loja de fotocópias, ora num escritório de compra e venda de imóveis, ora vive dos pequenos expedientes dos jovens desempregados. Os pais

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separaram-se, era ele criança. A mãe, Carmem, envelhece agora sozinha. Já não trabalha, tem um cancro. Uma enorme vontade de viver (uma alegria insensata) fá-la evitar os problemas mais negros da sua vida. O pai, Luís Carlos, emigrou – passa de quando em vez em Portugal, dono que é de uma pequena empresa de camionagem e transportes nos arredores de Paris. Os filhos quase o não conhecem, e só André tem com ele uma relação mais firme. De uma mulher ligeiramente mais velha, Teresa, com quem António nunca deixa de estar e de não estar, tem ele um filho pequeno (três anos) de quem se ocupa regularmente, sobretudo nas alturas em que Teresa recai no consumo das drogas e do álcool – de que ele se libertou mas onde irá recair e de novo escapar. Com Ana, a rapariga que um dia encontra no metropolitano, ele tentará várias vezes recomeçar uma vida que nunca mais se endireita… Com estas histórias, falámos dos anos da indecisão, dos anos em que António se não define. Por isso, não pode haver, em relação a ele, acontecimentos marcantes: se quero falar dele e dos problemas que se lhe põem e ele não resolve, no que respeita ao amor, à habitação, à delinquência, à família, ao enquadramento social, ao trabalho, à morte, ao envelhecimento, não posso captá-lo no momento das decisões principais. Nada nestas histórias pode ser definitivo: nem mortes, nem nascimentos, nem casamento. Trata-se de falar dos anos em que as decisões se arrastam, em que tudo se começa a delimitar à nossa volta e a irresponsabilidade já pesa. Não os anos de aprendizagem, sim os anos de indecisão de António. Em Lisboa, na Lisboa em que vivemos. E com a personagem de António pus-me a ficcionar sobre os lugares onde as pessoas vivem: os bairros suburbanos, as paragens de autocarro, os cafés sujos, as lojas dos centros comerciais de bairro, os hospitais, as creches onde se colocam os filhos, as cervejarias onde se mata o tempo. Há muito que sentia a necessidade de uma personagem como a de António: para captar com ele esse minuto da vida do mundo que passa (frase-lema de Cézanne que Merleau-Ponty cita). Com

António, o que pretendo é fazer o retrato de um rapaz em Lisboa, nesta Lisboa em obras. Retrato de um desconhecido, claro, como o rapaz dos arredores de Milão que anda à procura do primeiro emprego no Il Posto de Ermano Olmi (filme de que cada vez gosto mais), como o Jean-Pierre Léaud de Godard, Truffaut ou Eustache, para sempre o rapaz de Paris, ou o Lou Castel de Bellochio, rapaz de Roma. Por isso, António, Um Rapaz de Lisboa é um diário desta indecisão de António, o retrato dos seus sítios, das suas horas mortas, a tentativa de captar o seu desejo pelas raparigas, as suas amizades, os conflitos com o pai ou com o irmão, mas também o copo de cerveja, a leitura dos jornais de música, o metropolitano onde se entra sem pagar, a namorada de uma noite. Fui feliz neste filme, somos nós quem lá está, a nossa carne, os corpos a crescer, a rapariga que rouba fruta no mini-mercado da Graça, tudo isto somos nós. E iremos desaparecer.

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Jorge Silva Melo


Elenco da Estreia de ANTÓNIO, UM RAPAZ DE LISBOA

no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian em 18 de Setembro de 1995 no âmbito dos Encontros Acarte Lia Gama Manuel Wiborg Sylvie Rocha Isabel Muñoz Cardoso Paulo Claro Marco Delgado Joana Bárcia Alfredo Nunes Isabel Leitão

Carmem António Ana Teresa André Nuno Rita Jaime Rapariga da publicidade

e Anabela Almeida, Angelo Torres, António Simão, Daniel Martinho, Guilherme Mendonça, Helena Reis Silva, João Meireles, Jorge Andrade, Magda Dimas, Maria João Vicente, Miguel Mendes, Miguel Pereira, Paula Serra, Paulo Patraquim, Pedro Canhoto, Rafaela Santos, Silvia Filipe, Teresa Amaro Encenação Movimento Músicas Cenografia e figurinos Luz Som Assistentes de encenação

Jorge Silva Melo João Fiadeiro José Mário Branco Rita Lopes Alves Pedro Domingos Pedro Caldas Manuel Mozos João Pedro Rodrigues Manuel Wiborg Rosa Lopes Alves

Assistente cenografia e figurinos

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ANTÓNIO UM RAPAZ DE LISBOA – o filme com Manuel Wiborg, Lia Gama, Paulo Claro, Sylvie Rocha, Isabel Muñoz Cardoso, Joana Bárcia, Ivo Canelas, Miguel Borges, Glicínia Quartin e ainda com Agueda Manzano, Alejandra Alem, Alvaro Correia, Américo Silva, Ana Nave, António Pedro Cerdeira, António Simão, Artur Ramos, Carlos Aurélio, Carlos Gonçalves, Charo Sanchez, Cristina Perez, Daniel Martinho, Elvio Camacho, Gracinda Nave, Guilherme Pinto Leite, Hélder Braz, Henrique Félix, Hugo Samora, Inês Lapa Lopes, Inês Nogueira, Isabel Abreu, Isabel Leitão, Isabel Ribas,João Coelho, João Meireles, Joaquim Horta, José Airosa, Laura Godoy, Lucinda Loureiro, Luís Esparteiro, Luís Gaspar, Magda Fernandes, Madalena Victorino, Manuela Couto, Maria João Abreu,Maria João D`Arc, Maria Manuel, Mathieu Boer, Miguel Pereira, Miguel Sermão, Miguel Telmo, Nuno Lopes, Patrícia Abreu, Pedro Assis, Pedro Carmo, Pedro Carraca, Rafaela Santos, Ricardo Aibéo, Rosa Vila, Rui Guilherme Lopes, Rui Luís, Solange F., Teresa Amaro, Teresa Roby, Vanessa Dinger, Virginia Dominguez, Realização e argumento: Jorge Silva Melo a Fotografia: José Luís Alcaine Câmara: Rui Poças Som: Emidio Buchinho e Branko Neskov Cenografia: João Calvário e Ana Paula Roch – Figurinos Rita Lopes Alves Montagem: Teresa Font e Irene Blecua Produção: José Mazeda Assistente de realização: João Fonseca Uma produção Fábrica de Imagens 2001

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Entre o Aeroporto e a Encarnação. Operários largam o trabalho nocturno. OPERÁRIO UM 4 da manhã… Uma mulher de 30 anos (Teresa) corre pelo meio da rua. Um dos operários fica para trás a olhá-la. *

Quarto de António. Cama improvisada, roupa espalhada pelo chão, uma cadeira ao lado da cama. António acende a luz, levanta-se. A campainha toca. Uma, duas, três vezes. Ana, a rapariga que com ele dormia, acorda também. ANA Que horas são?… António levanta-se, enfia umas calças que estavam pelo chão. A campainha continua a tocar. ANA A Teresa? TERESA (gritando de longe para Ana) Sou, sou eu, sou eu. ANTÓNIO Que é que tu queres? TERESA Não me deixas entrar? ANTÓNIO Que é que tu queres?

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TERESA Não tens nada que se beba? Não tens nada que se beba… ANTÓNIO São cinco horas… TERESA … porra! ANTÓNIO Teresa! TERESA Merda! António aproxima-se dela, põe-lhe a mão no ombro. Por um momento, ela deixa mas, logo a seguir, um berro. TERESA Deixa-me! ANTÓNIO Anda, eu vou levar-te a casa. TERESA Eu? Para casa? Ana levanta-se devagar. António regressa ao quarto. ANTÓNIO … só vestir-me, levo-te. TERESA Nem uma cerveja? Nem u-m-a cerveja… ANTÓNIO (ao passar por Ana) … eu levo-a a casa… Esboça um gesto apaziguador em relação a Ana, ela esquiva-se. Teresa está agora irritada com o sapato que a magoa.

parecia que ia a chover, chuva!… (alto, para António)… a máquina ficou-me com o Multibanco… ANA (para Teresa) Um dia destes passo-me. TERESA … o tipo perguntou se a gente… eu não me assustei… era o indiano… o indiano das rosas, não sei… desatou a chover… ANA Ouviste? T ERESA (olhando para Ana) … ainda me perguntou se a gente… amanhã os Blumenstein às 9… ver se o meu carro… ANA Ouviste ou não ouviste? T ERESA … certeza que não está pronto… (para António) Emprestas-me mil paus?… a máquina ficou-me com o Multibanco… ANTÓNIO (para Teresa) Vamos? TERESA … cinco contos?… tem que se pagar o infantário do João e eu… buscar os Blumenstein às 9… o Nuno depois dá-te… Teresa tenta levantar-se, mas é melhor nem se mexer. Ana regressa ao quarto, acende um cigarro, já não se irá deitar. Teresa consegue levantar-se. TERESA … eu vou-me embora.

TERESA Merda do sapato! Agacha-se, desequilibra-se. Sente o olhar de Ana, especada à porta da cozinha. Teresa, ao vê-la, baixa o olhar. António veste-se no quarto. ANTÓNIO (para Ana) Deixa-a! Um tempo. TERESA (numa conversa sem interlocutor) … cheguei à rua da Misericórdia, o tipo ainda me perguntou se a gente…

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António pega nos sapatos dela que estão pelo chão. Nesse momento, surge André, o irmão mais novo de António. Acordou com toda esta barulheira. ANDRÉ Outra vez? ANTÓNIO Não te metas nisto! TERESA Chove! ANDRÉ Já ontem foi a mesma porra. ANTÓNIO Não te metas nisto! André! André abre o frigorífico, serve-se de leite.

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TERESA Desculpa, desculpa… Desculpa, André!

JAIME Ó Lima! ANTÓNIO Não me chamo Lima!

Teresa sai da cozinha. ANDRÉ Porra! ANA (passado um tempo) … ca merda!… Ana apaga a luz. André reabre o frigorífico. Volta a fechá-lo. Ana acende o candeeiro. André senta-se ao lado do frigorífico. *

Praceta onde há uma paragem de autocarro e umas lojas ainda fechadas. Jaime, o eterno agarrado do bairro, senta-se no chão e refaz um cigarro a partir de beatas. JAIME Ó Lima! *

Silêncio. Teresa caminha descalça, de olhos fixos no chão, muito cuidadosa no andar excessivamente direito. E António segue-a, levando-lhe os sapatos. TERESA A Ana sempre… sempre arranjaram outra casa?… tu e a Ana? Uma Mulher da Limpeza olha para António. MULHER DA LIMPEZA Tem o sapato desapertado… António ata o sapato, mantendo-se em equilíbrio de pé. TERESA Sempre arranjaram casa? MULHER DA LIMPEZA … ainda cai… ANTÓNIO … ficou com a casa da Guida… pelo menos até ela voltar de Cabo Verde…

ANDRÉ (da cozinha, para Ana) … tens aí um cigarro? (ela não ouviu, ele aproxima-se) Dás-me um cigarro, Ana?

Homens da Câmara começam a lavar a rua com agulhetas, o que obriga Teresa a desviar-se.

Ana atira-lhe o maço. André apanha-o, acende o cigarro, regressa ao seu quarto.

ANTÓNIO … não levas o João amanhã…? TERESA … ao infantário?… A tua mãe… ela disse que levava… ANTÓNIO … antes do hospital… TERESA … um dia destes a tua mãe não me deixa sequer vê-lo… Julga que é mãe dele ou quê? ANTÓNIO … tens que deixar de beber, Teresa. TERESA (rindo) Mas eu não bebo! (foge à água) Ai!

ANDRÉ … tinha conseguido não fumar o dia inteiro, olha… Que horas são? ANA Cinco. *

E Teresa ensaia uns passos de dança. Por entre os relvados dos Olivais.

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ANTÓNIO Teresa! TERESA As pessoas são uma porra! (agarra-o, em pose evidente) E se a Teresa deixar de beber? ANTÓNIO Tu tens que deixar de beber. TERESA E a gente vai…? ANTÓNIO Não, a gente não vai… HOMEM DA CÂMARA … “assim é que não pode ser”… HOMEM DA CARRIS … “eu vou deixar de aparecer”… Teresa, que quer atravessar a rua, dá um empurrão a António que a agarra. T ERESA (rindo) Eu sei ir para casa! Deixa-me! (e gritando de forma a que todos a ouçam) Agora nem sequer posso ir comprar cigarros? ANTÓNIO Vais para casa. (procura nos bolsos, dá-lhe um maço) Toma! TERESA E mil paus, não dá para emprestar à Teresa?

Silêncio. O Homem da Carris olha o relógio. HOMEM DA CARRIS Seis e um quarto. TERESA Protege-me. ANTÓNIO Sim, Teresa, sim. MULHER DA LIMPEZA … a camioneta das 6 e 8… Silêncio. TERESA Protege-me. ANTÓNIO Sim, Teresa, sim. Silêncio. TERESA Protege-me. ANTÓNIO Sim, Teresa, sim. MULHER DA LIMPEZA … a camioneta das 6 e 8… *

António faz que não com a cabeça. Teresa ainda hesita, quase vai para gritar. Cai em si. HOMEM DA CARRIS … “assim é que não pode ser ”… TERESA Ok. Ok. A gente não vai… a gente não vai… HOMEM DA CARRIS … “eu vou deixar de aparecer”… TERESA … a gente não vai… a gente não vai… a gente não vai… Um grupo de jovens sportinguistas atravessa o palco depois de uma vitória do clube. Estão muito efusivos, beberam muito – mas nem um som. Teresa deixa-se levar, esconde a cara no ombro de António. Aproximam-se do prédio onde ela mora. TERESA Protege-me! ANTÓNIO Sim, Teresa, sim.

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Em casa, André, que já não consegue voltar a dormir, senta-se numa cadeira ao lado do frigorífico, come uma laranja, folheia o jornal da véspera. *

António e Teresa estão parados junto à porta da casa dela. Exasperada, Teresa vasculha no seu saco. TERESA Não sei das chaves. ANTÓNIO Eu tenho. TERESA Não sobes? ANTÓNIO Não, Teresa.

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Teresa olha-o, muito triste. TERESA Não sobes? ANTÓNIO Não, Teresa. TERESA Dá-me mil paus. António dá-lhe uma nota de 500 e algumas moedas. Teresa desata a correr. António ainda fica um tempo à porta da casa de Teresa. Uma mulher com um saco de compras do Corte Inglès atravessa o palco a correr, dirige-se para um prédio modesto, toca desenfreadamente à campainha. Está muito nervosa. O mesmo operário de há pouco fica para trás a olhá-la. OPERÁRIO UM Sete horas…

JAIME Olhó Lima… ANTÓNIO Não me chamo Lima! JAIME … o gajo ainda no Verão passado a distribuir pizzas comigo e agora… ANTÓNIO Não me fodas! JAIME … Um gajo às tantas tá sozinho… António pára à porta de sua casa. Não quer entrar já. Acende um cigarro. Fuma. Deitá-lo-á fora. ANTÓNIO … deixar de fumar… *

Em casa, André lê o “Correio da Manhã” da véspera.

Silêncio. Um rapaz aparece, de pijama, abraça a Mulher. MULHER Protege-me! RAPAZ Sim, sim… Começa a juntar-se gente na paragem de autocarro. Rapazes, uma Hospedeira da Tap, uma Mulher da Limpeza… MULHER DA LIMPEZA … a camioneta das 6 e 8… RAPAZ DA T-SHIRT HEAVY … o penalty, o caraças… OPERÁRIO UM … 6 e 20. HOSPEDEIRA DA TAP … nem sei qual é o hotel… HOMEM DA CARRIS … 7 e um quarto… MULHER DA LIMPEZA … tanta humidade, hoje… RAPARIGA QUE LÊ O CORREIO DA MANHÃ … era porreiro passar na entrevista… RAPAZ COM ÓCULOS ESCUROS … deixar de fumar… RAPAZ COM SACO DE GINÁSTICA … não foste à piscina? António dá dois passos para regressar a casa. Uma voz interrompe-o.

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ANDRÉ (improvisação de acordo com o jornal da véspera do dia do espectáculo. Por exemplo:) … Nogueira, 37%… relatório da Unesco… corrector… Banco Barings… lotação esgotada para… Foz Côa… (fecha o jornal, levanta-se desapertando o casaco do pijama)… tomar um duche… Cruza Ana que regressa da casa de banho. ANDRÉ … a chorar? Ana encolhe os ombros, regressa ao quarto. Mas fica sentada na cadeira ao lado da cama, sem vontade de fazer nada. ANDRÉ (de longe) És parva. *

António continua parado à entrada do seu prédio. E o Jaime ali ao seu lado.

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JAIME Ó Lima! ANTÓNIO Não me fodas!

ANDRÉ … não, já tava acordado… é só fazer a barba…

Já Jaime se afasta, gritando. JAIME Olha, vota no Eanes…

António entra em casa. Cruza André que fala com a mãe ao telefone. ANDRÉ … podes vir, eu é um quarto de hora…

A Mulher da Limpeza repara no sapato de António. MULHER DA LIMPEZA … agora é o sapato direito…

André desliga. ANDRÉ … a mãe, levo-a eu ao hospital… e tu… pá caminha… hã?

RAPARIGA Era porreiro passar na entrevista… A Mulher e o Rapaz continuam abraçados repetindo o “Protege-me” de Teresa. MULHER Não sei das chaves… O Rapaz dá-lhe uma grande bofetada. Na paragem do autocarro, pessoas aguardam.

António vira costas, entra no quarto, atira-se para cima da cama. Ana, sentada na cadeira ao lado, faz-lhe uma festa no cabelo. Ele tem uma reacção surpreendentemente bruta. ANA Desculpa. António repara agora que o seu gesto foi desabrido. ANTÓNIO Desculpa.

MULHER DA LIMPEZA … ou vai chover… RAPARIGA (abrindo o “Correio da Manhã”) … filme estrangeiro… massagista… massagista… cobranças difíceis… MULHER DA LIMPEZA … ou não sei. RAPAZ DO BLUSÃO NEGRO … comprar “A Bola”… RAPAZ DO SACO DE GINÁSTICA … um gajo não pode esquecer o corpo… RAPAZ DE T-SHIRT ECOLÓGICA … o corpo é que paga... *

O telefone toca. André vem a correr do duche, com um lençol de banho enrolado.

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Silêncio. ANTÓNIO Não consegues dormir? Ana faz que não com a cabeça. ANA A Teresa… Vocês acabaram, e agora? ANTÓNIO Tens razão, tens razão… tens razão… tens razão… tens razão… tens razão… O despertador toca. Ana desliga-o.

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ANA (sem se mexer) … tenho que ir.

Ana agarra as fotocópias todas amarfanhadas, olha, endireita-as, guarda-as no saco.

António puxa-a para si, dá-lhe um beijo. ANA Ponho o despertador? ANTÓNIO Eu ponho.

ANA Sete horas… António beija-a, quer fazer amor. Ana escapa-se. ANA Tenho que ir. Ana sai para a casa de banho de onde vem André, a correr, meio vestido.

Ana vai para a cozinha. António soergue-se, corrige o despertador. ANTÓNIO 8 e 40… e 5! ANA Não tens que levar o João ao infantário…? CARMEM (entrando) Já lá o fui pôr… estejam descansados… Ele faz que não com a cabeça, volta a deitar-se.

ANDRÉ … a mãe tá a chegar. António fica na cama enquanto Ana se agita num vaivém entre cozinha, quarto de banho e quarto. ANA (da casa de banho, para André) … a banheira cheia de cabelos… ANDRÉ Eu limpei! Ana sai da casa de banho, vai ao quarto, procura qualquer coisa. ANA … o coiso de História de Arte? ANTÓNIO Hã? ANA … o que eu tive a estudar pó teste… António remexe ao lado da cama, encontra umas fotocópias amarrotadas.

ANA Já não há laranjas, André! André, vestido mas não calçado, corre à porta. ANDRÉ Eu compro logo… ANA Logo… (grita) E as minhas chaves, onde é que as puseste? ANDRÉ … cima do frigorífico. André abre a porta onde surge Carmem. CARMEM … vai lá, eu espero. (senta-se numa cadeira da entrada, depois de ter retirado a tralha que lá estava) … O tratamento também é só às 9 e meia… André deixa-a só, corre para o quarto. Volta a cruzar Ana. CARMEM … e da outra vez saímos já passava das duas… Mas se não quiseres, não venhas… é um disparate…

ANTÓNIO “Arte Moçárabe”?

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André reaparece em peúgas e com os sapatos na mão. Cruza Ana. ANDRÉ Que horas são? ANA Oito, quase… CARMEM Ver se não me esqueço do gel anti-celulítico para a Helena…

ANA Vais ter comigo!? ANTÓNIO Não, vou ficar aqui todo o dia… toda a noite e o resto da minha vida… (ouve-se a porta, Ana que sai) Adeus, ao menos diz adeus! António fecha os olhos, volta-se na cama.

Ana volta a entrar no quarto, veste-se. ANA … tens que ser bruto… com a Teresa… Ana acaba de se vestir. Come, à pressa, uma tosta. André senta-se ao lado da mãe, calçando os sapatos. CARMEM (tirando um tupperware do saco) Trouxe isto para vocês… (repara na t-shirt de André, toda molhada.) … Toda rota essa t-shirt… também… Já foi há quantos anos que o teu pai ta trouxe?… Vestes a roupa sem te secares… António agarra Ana pelo braço. ANTÓNIO Um beijo! ANA Vais ter comigo ao Califa… ou à casa da Guida? ANTÓNIO Sei lá onde é a casa da Guida. ANA Já te expliquei… ANTÓNIO e ANA … 84.000 vezes, eu sei… Carmem mexe na t-shirt de André. CARMEM … sabonete… cheiro tão esquisito… André encolhe os ombros. ANTÓNIO … mas a Outra Banda para mim é estrangeiro.

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