Cidade 07 JORNAL MINUANO
BAGÉ, 15 DE ABRIL DE 2015
Bode é degolado e despachado em via pública Líderes espirituais de religiões de matriz africana afirmam ser contra essa prática
Em plena discussão e apreciação de parecer ao Projeto de Lei 21 2015, que proíbe a utilização de animais em rituais religiosos, bichos imolados ainda são encontrados nas vias públicas em Bagé. Um cabrito e um galo foram sacrificados e abandonados na rua João Telles, nas proximidades da vila Vicentina, causando desagrado entre os seguidores das religiões de matriz africana. O tema gera discussão entre religiosos que não aceitam esse tipo de prática na rua. O ritual de sacrifício é utilizado por religiões de matriz africana, Nação (Orixás) e Quimbanda (Exus), mas segundo os praticantes não pode ser realizado em via pública e a carne é utilizada como alimento. De acordo com o conselheiro estadual do Povo de Terreiro, Miguel Almeida, houve uma reclamação dos próprios religiosos sobre a imolação e o caso está sendo investigado. Ele salienta que nenhum seguimento africanista cultua este tipo de prática. “Toda a oferenda destinada a orixá ou exu, que necessite de sacrifício animal é realizada dentro do terreiro e utilizada como alimento”, afirma. Conforme Almeida, algumas seitas de magia negra realizam esses tipo de imolação e as religiões de matriz africana como a Nação e Quimbanda acabam levando a culpa. O dirigente espi-
FOTOS Tiago Rolim de Moura
Quimbandeira é contra esse tipo de atitude ritual observa que normalmente as oferendas despachadas na rua, são feitas com farinha, pipoca, batata e frutas em geral, além de cachaça e cidra. “São produtos da natureza que voltam para a natureza, as garrafas são retiradas”, explica. O conselheiro ressalta que a Umbanda não realiza nenhum tipo de oferenda. O material usado pelos praticantes dessa religião, são velas, incenso, água e ervas e são utilizados dentro do terreiro. “A Umbanda não aceita sacrifício animal”, disse.
Quimbanda A quimbandeira, Neusa Gomes Jardim, 66 anos e 50 dedicados à religião, afirma que é totalmente contra esse tipo de
Caprino e um frango foram jogados na rua João Telles prática. Ela salienta que apesar da Quimbanda aceitar sacrifício animal, a imolação de bichos em encruzilhadas, não faz parte dos ensinamentos da religião. A religiosa observa que normalmente quem faz esse tipo de trabalho são pessoas mal intencionadas que necessitam chocar a população e assustar possíveis desafetos. “Ao invés de fazerem isso, porque não doam a carne para pessoas necessitadas”, disse. Neusa conta que para as suas oferendas utiliza pipoca, batata, milho, frutas e bebidas,
e a imolação é realizada apenas na casa e toda a carne serve de alimento.
Lei contra sacrifícios A apreciação de parecer ao Projeto de Lei 21 2015 de autoria da deputada estadual Regina Becker Furtado (PDT), que proíbe a utilização de animais em rituais religiosos, ficou para o dia 28 de abril. A matéria constava na Ordem do Dia da reunião ordinária da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa, ontem,
mas não foi votada devido a pedido de vista da deputada Lisiane Bayer (PSB). Na próxima terça-feira, não haverá reunião em razão do feriado de Tiradentes. O projeto, propõe uma alteração no Código Estadual de Proteção aos Animais, proibindo o sacrifício em rituais religiosos. Obteve parecer favorável do relator e presidente da comissão, deputado Gabriel Souza (PMDB). Na semana passada o deputado Diógenes Basegio (PDT) já havia pedido vista.