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a. as diferentes feiras
Sobre a Feira de Agricultores, trata-se de um evento que acontece em duas escalas: a primeira trata-se de um evento de menor porte, organizado semanalmente pelo Sindicato dos Produtores Rurais de Canindé às quartas-feiras ao longo da Rua Professora Mercês Santos, localizada no centro da cidade; e a segunda, intitulada Feira da Agricultura Familiar de Canindé, é um evento anual de maior porte organizado pela Secretaria de Agricultura e Recursos Hídricos de Canindé.
Geralmente associada à Feira de Ovinos e Caprinos no município e à tradicional missa dos vaqueiros - organizada pelo Santuário de São Francisco em homenagem ao Dia Nacional do Vaqueiro, 29 de agosto -, a Feira da Agricultura Familiar adquire uma escala regional e ocorre no Parque de Exposições José Clerton Facundo Bezerra, espaço localizado nas margens da Avenida Dr. Aramis Paiva, na entrada da cidade.
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Diferentemente da Feira da Agricultura Familiar de Canindé, idealizado principalmente com a motivação de atrair turistas, a feira semanal dos agricultores associados ao Sindicato tem como foco as compras cotidianas realizadas no Centro pelos moradores da cidade e pelo público da zona rural que se desloca fazendo uso do transporte público intramunicipal (os “carros de horário”) sendo responsável, ainda, por proporcionar interações diárias entre esses dois públicos. Próxima da Praça Cruz Saldanha (ver imagem ao lado), a feira do Sindicato possui uma relação direta com o principal ponto de chegada dos ônibus. b. iniciativas culturais na zona rural de Canindé
(Habitante da Zona Rural de Canindé sobre a Feira de Agricultores e a tradição dos vaqueiros, 2019.Fonte: Portal G1.)
Outra disparidade entre as feiras pode ser percebida no fato de que mesmo sendo realizada semanalmente, a feira que é organizada pelo Sindicato ainda não conta com um local adequado para a sua realização. Para venderem os seus produtos, os feirantes precisam montar uma estrutura improvisada com lonas e caixas plásticas do tipo hortifruti ao longo da rua destinada ao acontecimento da feira. Lá, são vendidas frutas, verduras, pescados e produtos artesanais como doces, manteigas e mel, todos de origem orgânica, sendo um evento importante para a aquisição de produtos que podem incrementar a saúde alimentar dos canindeenses.
Junto da questão do acolhimento ainda pouco planejado dos transportes intramunicipais, a feira semanal representa outro aspecto que necessita de maior atenção tanto por ser uma atividade na cidade que apresenta certa constância quanto pelo fato de ser uma forma de obtenção de renda para o povo da zona rural, junto da característica da feira como um espaço de diálogo entre a população da cidade e do campo.


No que diz respeito às iniciativas culturais organizadas no território rural de Canindé, o que se observa é uma pluralidade de manifestações. Sejam elas grupos de dança, teatro, rodas de leitura e as Casas de Cultura presentes em alguns assentamentos, essas atividades contribuem para a formação cultural e cidadã dos assentados, ressaltando aspectos de coletividade, pertencimento ao território e transmissão de tradições locais para outras gerações. Geralmente organizadas pelos moradores dos assentamentos, sendo poucas delas apoiadas financeiramente por iniciativas do governo estadual e ONGs (Organizações Não-Governamentais) e pelo INCRA, a organização dessas iniciativas parte de grupos ou sindicatos atuantes no campo como forma de dar visibilidade à cultura rural e envolver crianças, jovens e adultos em atividades além da produção agropecuária, trazendo assim novas perspectivas de futuro e conscientização social para os habitantes desse território.
O INCRA possui forte presença no município incentivando, por meio do Projeto de Arte e Cultura na Reforma Agrária (PACRA), criado em 2003, o desenvolvimento de atividades que objetivam conectar, através da arte, gerações e afetos nos assentamentos onde atuam. Conforme o que consta na página web do projeto, a demanda de criação da rede surgiu a partir de reivindicações por parte dos assentados de reforma agrária pelo “direito à memória, valorização dos seus saberes e fazeres, mantendo vivas e renovando as tradições de cada assentamento, assim como gerando novos aprendizados e trocas de saberes”. Em Canindé, o Projeto está presente nos assentamentos Tiracanga, Todos os Santos, Monte Orebe e Gameleira. Ainda sobre a atuação do PACRA, a descrição do projeto afirma:
“Em conjunto com assentados e assentadas e algumas parcerias, o PACRA foi conseguindo proporcionar atividades de formação, criação, difusão, intercâmbio, registro e preservação da produção artístico-cultural dos assentamentos, valorizando a diversidade dessa produção, proporcion ando uma nova perspectiva para o desenvolvimento dos assentamentos rurais e gerando novas oportunidades de formação, geração de renda e de reconhecimento do assentados enquanto produtores de cultura.”
(Disponível em: https://redepacracvc.org/#sobre)
, Sobre os grupos culturais, cabe mencionar o Grupo de Dança Raízes da Terra (Assentamento Tiracanga), o Grupo de Teatro Carrapicho (Assentamento Todos os Santos) e as Casas de Cultura presentes nessas localidades: a Casa de Cultura da Reforma Agrária, na localidade Todos os Santos, e a Casa de Cultura Raízes da Terra, no assentamento Tiracanga. Esses e outros grupos de cultura são responsáveis por organizar, ao longo do ano, diversas mostras culturais, exibições de cinema comunitárias, aulas de instrumentos musicais como violão e percussão, saraus, rodas de leitura e outros eventos da mesma natureza. Nesses grupos são feitas ainda rodas de conversa e debates sobre temas que envolvem o território do Campo e o camponês, como o direito à terra, a luta das mulheres agricultoras e chefes de família e discussões sobre projetos de lei em andamento que reforçam ou desfavorecem as práticas culturais na zona rural. Dessa forma, esses grupos fortalecem a cultura e as lutas locais, representando um espaço de manifestação democrática para os camponeses.
Apesar de toda a contribuição dessas atividades para a cultura regional de Canindé, ainda não há, no território do município, um local que possa acolhê-las em eventuais momentos de trocas culturais entre diferentes localidades, sejam elas rurais ou urbanas, dificultando o contato desses grupos com a cidade e, consequentemente, em grande parte dos casos, limitando a visibilidade dos mesmos apenas aos seus assentamentos de origem. Como forma de incentivar as trocas culturais, se mostra necessária a investigação de diferentes maneiras de gerar um local de congregação que possa funcionar como mediador e palco dessas atividades.

