No fim da história, eu teria que escrever outra vez sobre prédios, muros e grades. Eu teria que escrever sobre cebolas, abismos, empresários coreanos e esgoto. No fim eu teria que escrever obviamente sobre meu vício em chicletes e ser dona de um jornal. Teria que escrever sobre omoplatas, podolatria e dores no estômago. Teria que escrever sobre cachorro morto e mais chiclete. Sobre vidro quebrado, sabão, tortura. Sobre mim e sobre você aí também. Não poderia deixar de escrever sobre mijar na calça. Nem sobre a verdade e sobre a serpente que vomita a si mesma eternamente. No fim da história, eu teria que escrever sobre a morte, a ruína da civilização, a domesticação do pobre e o entretenimento sádico, e então, finalmente escrever sobre a beleza bizarramente fria escondida no mundo, igual sempre.