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Ficha técnica EDITOR CESPU, CRL: COPERATIVA DE ENSINO SUPERIOR POLITÉCNICO E UNIVERSITÁRIO
Título: V Jornadas de Obstétricia – Por uma vida Melhor
COORDENAÇÃO DA EDIÇÃO: Albina Sequeira; Catarina Cordeiro; Paula Janeiro & Catarina Amaral
COMISSÃO EDITORIAL: Albina Sequeira; Catarina Cordeiro; Paula Janeiro & Catarina Amaral
Divulgação: V Jornadas de Obstétricia
Suporte: E-book (formato .pdf)
ISBN: 978-972-99165-2-6
Nota: todos os artigos publicados são propriedade da CESPU pelo que não podem ser reproduzidos para fins comerciais, sem a devida autorização.
A responsabilidade pela idoneidade e conteúdo dos artigos é única e exclusive dos seus autores.
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ÍNDICE
1.
Produção científica do projecto de investigação “protecção, promoção e suporte da amamentação” --------------------------------------------------------------------- 4 Giuliana Parizoto; Dulce Galvão & Alacoque Erdmann
2.
Cuidados ao Cordão Umbilical: Qual a melhor prática baseada na evidência ------ 15 Alexandra Pereira; Amélia Ferreira; Sandra Ferreira; Estela Vieira; & Nuno Meireles
3.
Depressão pós-parto: prevenção e intervenção precoce -------------------------------- 23 Estela Vieira; Nuno Meireles; Alexandra Pereira; Amélia Ferreira & Sandra Ferreira
4.
Transição para o Papel Parental: a necessidade da consciencialização -------------- 28 Alexandra Pereira; Amélia Ferreira; Sandra Ferreira; Estela Vieira; & Nuno Meireles
5.
Doar leite materno, uma dádiva para a vida ------------------------------------------------ 32 Ana Morais; Carla Alves; Cristina Gonçalves; Maria do Céu Magalhães; Maria José Magalhães &Sónia Machado
6.
Violência contra mulheres: dilema ético: Dever de divulgar o crime/respeitar o sigilo profissional ---------------------------------------------------------------------------------- 41 Ana Morais & Vanessa Dal Pozzo
7.
Temperamento afetivo, trabalho de parto e vinculação --------------------------------- 50 Raul Cordeiro
8.
Perceções dos professores sobre Educação Sexual em meio escolar----------------- 60 Teresa Correia & Maria Gracinda Amaro
9.
Adolescentes: Autoimagem e nível social e económico --------------------------------- 68 Maria Isabel Ribeiro; Teresa Correia &, Matilde Martins
10.
Implicações da crise económica na saúde materna: uma perspectiva internacional com repercussões nacionais -------------------------------------------------- 80 Mário Cardoso; Andrea Carvalho; Tiago Nascimento & Helena Presado
11.
Blues Pós Parto ------------------------------------------------------------------------------------- 87 Andreia Ribeiro & Joana Coutinho
12.
Um olhar sobre a saúde sexual e reprodutiva dos estudantes do Ensino Superior 94 Mª José Santos; Anabela Figueiredo; João Castro & Filomena Raimundo
13.
Utilização de chupeta na primeira infância: qual o conhecimento / atitude dos pais? Estudo preliminar a Pais de crianças matriculadas em instituições de ensino da cidade do Porto --------------------------------------------------------------------- 104 Ana Barros Cruz; Sofia Nogueira Ferreira; Aline Gonçalves & Teresa Vale
14.
Visita Domiciliária no Pós-Parto---------------------------------------------------------------- 112 Ana Rosa Cruz; Dulce Dinis; Isabel Marques & Ivone Pinto
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1.
PRODUÇÃO CIENTÍFICA DO PROJECTO DE INVESTIGAÇÃO “PROTECÇÃO, PROMOÇÃO E SUPORTE DA AMAMENTAÇÃO
Giuliana Micheloto Parizoto
(1)
;
Dulce Maria Pereira Garcia Galvão Alacoque Lorenzini Erdmann
(3)
(2)
;
;
(1) Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Bolsista do CNPq. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Administração e Gerência do Cuidado em Enfermagem e Saúde (GEPADES) na UFSC, Brasil. (2) Professora Coordenadora, Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Portugal. Doutora em Ciências de Enfermagem, responsável pelo projecto de Investigação “Protecção, Promoção e Suporte da Amamentação”. (3) Enfermeira, Professora, Doutora em Filosofia da Enfermagem, Professora Titular da UFSC/Brasil– Coordenadora do GEPADES, Pesquisadora 1A CNPq.
RESUMO A importância da amamentação é reconhecida pela comunidade científica, todavia, observase a nível mundial que essa prática está longe do preconizado pela OMS. Também em Portugal, a sua prevalência não é satisfatória. É preciso promover o aleitamento materno e estudar estratégias fundamentais para a sua promoção. Sem estudos só por acaso a acção tem resultados eficazes. Neste sentido, criou-se o projecto de investigação, “Protecção, Promoção e Suporte da amamentação”. Objetivo: Descrever e caracterizar a produção científica desenvolvida no projecto de investigação “Protecção, Promoção e Suporte da Amamentação” nas suas três grandes áreas: No Sistema de Saúde; Na Família, na Comunidade e no Local de Trabalho e Na Formação desde a sua formação à actualidade. Métodos: Estudo descritivo, documental, cuja colheita de dados foi feita on-line e nos arquivos dos docentes investigadores que o integram, em outubro de 2012. Resultados: Totalizaram 31 estudos, 45,2% desenvolvidos na área Família, Comunidade e Local de Trabalho e maioritariamente no âmbito académico (77,4%). Houve 37 publicações, onde, 54% são artigos em revistas científicas 40,5% em anais de eventos e 5,5% livro/capítulo de livro. Dos artigos em revistas 55% foram em revistas nacionais e 45% em internacionais. Apresentaram-se 50 comunicações em eventos científicos e foram organizadas cinco actividades científicas.Conclusão: O estudo oportunizou a visualização da produção científica desenvolvida. Os resultados mostraram que as publicações são crescentes o que
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promove a visibilidade das produções científicas desenvolvidas no projecto de investigação promovendo avanços no cuidado de enfermagem em aleitamento materno. Descritores: Projectos de Pesquisa; Protecção; Aleitamento Materno; Promoção da saúde. INTRODUÇÃO A importância da amamentação quer para a criança quer para a mãe é actualmente reconhecida pela comunidade científica, todavia, observa-se a nível mundial que a prática da amamentação está muito longe de corresponder ao preconizado pela OMS (GALVÃO, 2005). Neste momento a taxa de incidência da amamentação à nascença é bastante elevada, porém, verifica-se uma queda acentuada nos primeiros tempos de vida, principalmente a partir do 1º mês e o desmame precoce é uma realidade com que nos defrontamos diariamente (GALVÃO, 2005). Grande percentagem de mães deixa de amamentar muito cedo. De acordo com a Direção-Geral da Saúde (2012), 98.5% dos recém-nascidos iniciam o aleitamento materno exclusivo antes da alta hospitalar, mas esse número sofre uma redução rápida, atingindo 46.4% aos dois meses de idade. Cresce assim a necessidade da sua protecção, promoção e suporte o que implica a adopção de políticas promocionais e de programas sensíveis aos diversos factores que podem ajudar ou impedir uma mãe nos seus esforços para amamentar (GALVÃO e SILVA, 2011). Desconhece-se o porquê deste fenómeno e pouca investigação se tem centrado neste complexo processo que envolve respostas emocionais e psicológicas da díade (mãe/bebé) (GALVÃO, 2005). A amamentação, prática cuja promoção deve constituir meta de todos os profissionais de saúde, dá à criança o melhor começo na vida e contribui para a melhor saúde de ambos, mãe e criança, pelo que é preciso promover o aleitamento materno e estudar estratégias fundamentais para a sua promoção. Só assim os profissionais de saúde poderão zelar pela promoção da saúde e bem estar da criança, família e comunidade com práticas fundadas na evidência científica. Sem estudos só por acaso a acção tem resultados eficazes (GALVÃO, 2005). No documento “Protecção, promoção e suporte ao aleitamento materno na Europa: um projecto em acção”, da Comissão Nacional Iniciativa Hospitais Amigos dos Bebés/Comité Português para a UNICEF (2004), pode ler-se que a promoção da amamentação é uma prioridade no que diz respeito à saúde pública em toda a Europa. Em Portugal, apesar da existência de algumas medidas de promoção da amamentação junto dos profissionais de saúde e da comunidade, a prevalência do aleitamento materno não é satisfatória.
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Neste sentido, considerando que as prioridades devem ser direccionadas para a implementação de medidas e de boas práticas que visem o sucesso da amamentação, aumentando a duração do aleitamento materno exclusivo até aos seis meses de idade e a manutenção da amamentação com alimentos complementares até aos dois anos ou mais, criou-se o projecto de investigação “Protecção, Promoção e Suporte da Amamentação”, que faz parte da linha de investigação Formação de Profissionais de Saúde e Educação para a Saúde, inscrito na Unidade de Investigação em Ciências da Saúde - Enfermagem, acolhida pela Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (ESEnfC, 2012). Este projecto embora constituído formalmente em 2004 teve a sua formação num período anterior tendo os investigadores e colaboradores que o integram desenvolvido os primeiros trabalhos em data antecedente. Desenvolve-se em 3 grandes áreas: No sistema de Saúde; Na Família, na Comunidade e no Local de Trabalho e na Formação e tem como objetivos diagnosticar a situação de amamentação da díade; avaliar diferentes práticas culturais, em relação à importância e prática de amamentação como elemento fundamental para a saúde da criança, mãe e comunidade; estudar as práticas e os limites existentes à amamentação em mulheres trabalhadoras e estudantes após o regresso ao trabalho e às atividades escolares; analisar medidas facilitadoras da amamentação na mulher trabalhadora; estudar os mecanismos promotores da amamentação na infância; estudar, analisar e comparar os conhecimentos e as vivências de amamentação das crianças de diferentes culturas; avaliar estratégias de intervenção desenvolvidas pelos profissionais de saúde em matéria de promoção da amamentação; conhecer as atividades desenvolvidas durante a formação dos enfermeiros que visem o apoio e suporte da amamentação; analisar as vivências das mães durante a amamentação e compreender o significado atribuído à experiência de amamentação; conduzir para a mudança através da implementação de medidas tendentes a aumentar a duração do aleitamento materno e para a implementação de boas práticas que visem o sucesso da amamentação; sensibilizar para a necessidade de inclusão nos programas de formação graduada e pós graduada e em serviço de conteúdos que assegurem que os enfermeiros obtenham conhecimentos e competências necessários para proteger, apoiar e promover o aleitamento materno e encorajar a implementação de iniciativas favoráveis ao aleitamento materno nos serviços de saúde, nos locais de trabalho e na comunidade. São suas finalidades contribuir de forma sustentada na evidência científica para uma cultura do aleitamento materno; que a amamentação seja vista pela criança como algo natural, como parte da sua cultura, educação e meio familiar; avisar os decisores políticos e autoridades competentes para a inclusão de conteúdos sobre amamentação nos currículos 6
e manuais escolares do ensino básico; alertar os responsáveis das unidades curriculares dos Cursos de Licenciatura em Enfermagem para a inclusão de conteúdos sobre amamentação e propor estratégias pedagógicas de lecionação; propor a criação de cursos de preparação para o aleitamento materno nas Maternidades e Centros de Saúde junto de grávidas, lactantes e suas famílias; sensibilizar e informar as entidades empregadoras e Direções Escolares sobre os benefícios para as empresas e instituições de ensino, de modo a facilitarem às empregadas e estudantes as condições necessárias à continuidade da amamentação. Fazem parte do projecto quatro docentes investigadores (duas da escola Superior de Enfermagem de Coimbra, uma da Escola Superior de Saúde de Leiria do Instituto Politécnico de Leiria e outra da Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve) e onze investigadores colaboradores do Hospital Distrital da Figueira da Foz, Centro de Saúde de Soure e do Núcleo de estudos e pesquisas em aleitamento materno – NEPAL, da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. É no decorrer das atividades que realizam no projecto que os elementos têm desenvolvido diversas parcerias com várias instituições nacionais e internacionais e grupos de pesquisa. Os grupos de pesquisa fornecem o suporte necessário de infraestrutura para as atividades de pesquisa dos enfermeiros em formação, licenciados, pós-licenciados e a oportunidade de trabalho integrado. De acordo com Erdmann e Lanzoni (2008) a tendência atual é de produção integrada e em parcerias, e não mais de projetos isolados, assim, o grupo de pesquisa acaba sendo a forma de organização adequada para a realização de atividades coletivas ou compartilhada de produção de conhecimentos. Reconhecento a importância da promoção de saúde e da produção de conhecimentos científicos da Enfermagem na modalidade de pesquisa, desenvolvidas por equipes de pesquisadores titulados ou em formação, organizados sob a designação de Grupos de Pesquisa, surgiu-nos a seguinte questão: Que produção científica tem sido desenvolvida no projecto de investigação “Protecção, Promoção e Suporte da Amamentação” desde a sua formação à actualidade?
OBJETIVO Descrever e caracterizar a produção científica desenvolvida no projecto de investigação “Protecção, Promoção e Suporte da Amamentação” nas suas três grandes áreas: No
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Sistema de Saúde; Na Família, na Comunidade e no Local de Trabalho e Na Formação desde a sua formação à actualidade. MÉTODOS Procedeu-se a um estudo descritivo, documental, cuja colheita de dados foi feita através da consulta on-line da página onde o projecto se encontra inscrito (– ESEnfC, 2012) e nos arquivos dos docentes investigadores que o integram. A busca da produção científica decorreu durante o mês de outubro de 2012. Optou-se por incluir toda a produção científica desenvolvida desde a formação do grupo e não apenas a que se produziu após a sua constituição formal. Toda a informação extraída da produção científica foi disposta em tabelas do programa Microsoft Excel, e organizada em: Estudos desenvolvidos, Estudos em desenvolvimento, âmbito de desenvolvimento e área de desenvolvimento: (No sistema de Saúde; Na Família, na Comunidade e no Local de Trabalho e Na Formação), actividades científicas organizadas, comunicações científicas e seu tipo, publicações em revistas científicas da especialidade, internacionais e nacionais e publicações em actas de eventos científicos, para posterior análise, que inter-relacionada com a literatura disponível fortaleceu a discussão dos resultados.
RESULTADOS Foi possível apurar, como se evidencia no Gráfico 1, que no projecto desde a sua formação à actualidade foram realizados um total de 31 estudos desenvolvidos nas três grandes áreas: No sistema de Saúde; Na Família, na Comunidade e no Local de Trabalho e Na Formação. Observa-se ainda que o ano em que houve maior realização de pesquisas científicas foi em 2010, com 6 estudos, logo seguido de 2005, com 5 estudos.
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14
9 8
4 3
3
3
3
2
2
1 1 2003
2004
2005
1 1
1
2006
2007
Sistema de Saúde
2008
1 1 1
1
1
2009
2010
1 2011
Família/Comunidade/Trabalho
2012
Total
Formação
Gráfico 1. Estudos desenvolvidos no projecto de investigação “Protecção, Promoção e Suporte da Amamentação” nas suas três grandes áreas: No sistema de Saúde; Na Família, na Comunidade e no Local de Trabalho e Na Formação de acordo com o ano. Coimbra, 2012.
Relativamente ao âmbito de desenvolvimento dos estudos verificou-se que os estudos desenvolvidos foram maioritariamente de âmbito académico (77,4%). Estes estudos, como se observa no Quadro 1, foram desenvolvidos no Curso de Licenciatura em Enfermagem (32,3%), Curso de Pós-Licenciatura em Enfermagem (12,9%), Curso de Complemento de Formação em Enfermagem (3,2%), Curso de Mestrado (12,9%), Curso de Doutoramento (9,7%) e Pós-Doutoramento (6,4%). Foram desenvolvidos por iniciativa dos investigadores do projecto 22,6% do total dos estudos. Nota-se ainda que quase metade das pesquisas (45,2%) foram desenvolvidas na área Família, Comunidade e Local de Trabalho, seguidas das 29,0% na área Sistema de Saúde e 25,8% na Formação. Quadro 1. Estudos desenvolvidos no projecto de investigação “Protecção, Promoção e Suporte da Amamentação” de acordo com o âmbito e a área. Coimbra, 2012. Área Âmbito Licenciatura Pós-Licenciatura Compl. Formação Mestrado Doutoramento Pós- Doutoramento Investig. Projecto Total
No sistema de Saúde
Na Família, na Comunidade e no Local de Trabalho
Na Formação
Total
9,7% (3) 0,0% (-) 3,2% (1) 3,2% (1) 3,2% (1) 0,0% (-) 9,7% (3) 29,0% (9)
19,3% (6) 9,7% (3) 0,0% (-) 9,7% (3) 6,5% (2) 0,0% (-) 0,0% (-) 45,2% (14)
3,2% (1) 3,2% (1) 0,0% (-) 0,0% (-) 0,0% (-) 6,5% (2) 12,9% (4) 25,8% (8)
32,3% (10) 12,9% (4) 3,2% (1) 12,9% (4) 9,7% (3) 6,4% (2) 22,6% (7) 100,0 % (31)
Quando analisámos as Instituições onde os autores dos estudos se encontravam a frequentar os seus cursos, verificámos que 58,3% foram realizados com os estudantes da 9
Escola Superior de Enfermagem de Bissaya Barreto actual Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, Escola Superior de Altos Estudos Instituto Superior Miguel Torga e Universidade da Extremadura (16,7%), Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto (12,5%), , Universidade de São Paulo (8,3%) e Escola Superior de Saúde de Portalegre (4,2%) . Quanto aos estudos que o projecto se encontra a desenvolver observou-se que estão em desenvolvimento quatro estudos. Dois desenvolvem-se em âmbito académico a nível dos cursos de Pós-Licenciatura/Mestrado da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. Tiveram o seu início em 2010. Uma das dissertações insere-se na área Família, Comunidade e Local de Trabalho e a outra na área Formação. Relativamente aos outros estudos em desenvolvimento inserem-se na área Sistema de Saúde e estão a ser desenvolvidos pelas investigadoras responsáveis pelo projecto. No Gráfico 2, observamos um total de 37 publicações, onde 20 são artigos publicados em revistas científicas (54%), 15 são publicações em anais de eventos científicos (40,5%) e duas são livro/capítulo de livro (5,5%). Além das publicações em revistas científicas contabilizadas no estudo, três artigos escritos no ano de 2012, encontram-se no prelo aguardando a publicação. As publicações em revistas científicas nacionais somam 55% e as publicações em revistas internacionais somam 45%. Dentre os países onde foram publicados os artigos do projecto de investigação estão: Espanha, Brasil e Itália. Foi publicado em 2006 um livro e em 2011 um capítulo de livro internacional.
2012 2010 2008 2006 2004 2002 0
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Livros/Capítulos
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Anais de Eventos Científicos
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Revistas
Gráfico 2. Publicações dos estudos do projecto de investigação “Protecção, Promoção e Suporte da Amamentação” Coimbra, 2012.
As comunicações científicas apresentadas em congressos, conferências, encontros, jornadas, cursos e eventos, também foram contabilizadas e mostraram grande 10
expressividade nas atividades desenvolvidas no projecto de investigação, totalizando 50 comunicações. A sua forma de apresentação encontra-se representada no Gráfico 3.
14%
Comunicação Oral Poster
24% 62%
Conferência
Gráfico 3. Comunicações cientïficas do projecto de investigação “Protecção, Promoção e Suporte da Amamentação” apresentadas em eventos. Coimbra, 2012.
No decorrer das actividades que realizam no projecto, foram organizadas cinco actividades científicas para a protecção, promoção e suporte ao aleitamento materno dirigidas aos profissionais de Saúde, formadores e conselheiros de amamentação, professores, educadores,estudantes e todos os interessados. No ano de 2005 foi realizado o Seminário “Amamentação: Desafios para os Enfermeiros” onde estavam presentes personalidades reconhecidas, entre outros peritos de renome nesta área. Em 2005 e 2006 por forma a contribuir para a formação e actualização de conhecimentos em amamentação dos profissionais de Saúde foram organizados segundo as orientações da OMS dois Cursos de Aconselhamento em Aleitamento Materno com a duração de 24 horas ministrados por formadores em aleitamento materno creditados pela OMS/UNICEF. Em 2011 foi realizada a conferência “Consentimento ou com sentimento: o cancro mamário, a violência de género e a exclusão social” proferida por uma conferencista da Universidade Católica do Salvador e em 2012 a palestra “Controvérsias em Amamentação”
ministrada por um pediatra
canadiano e consultor da UNICEF para a Iniciativa Hospital Amigo da Criança.
DISCUSSÃO A quantidade de estudos realizados, evidenciam que o desenvolvimento de pesquisa pelos profissionais de enfermagem nos projectos de investigação é uma importante estratégia
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para fortalecer a Enfermagem como ciência e profissão e no caso específico desse projecto de investigação apresenta também a finalidade de contribuir de forma sustentada na evidência científica para uma cultura do aleitamento materno (ERDMANN e LANZONI, 2008; GALVÃO, 2005 ) A área “Família Comunidade e Local de Trabalho” mostrou-se em evidência em quase metade dos estudos demonstrando grande preocupação em se estudar a influência que esses elementos exercem sobre a decisão/manutenção da amamentação. De acordo com Galvão (2005), a influência e o apoio da família, o papel cultural imposto pela comunidade através das suas vivências e da educação formal, as profundas transformações do papel da mulher na sociedade, as aspirações de novas realizações no trabalho e na formação profissional e pessoal e as condições que lhe são oferecidas para conciliar as suas actividades profissionais e maternas poderão ser alguns dos factores influentes na sua adesão à amamentação e consequente manutenção. O estudos maioritariamente desenvolvidos no âmbito da formação académica no Curso de Licenciatura em Enfermagem (32,3%) e nos Cursos de Pós-Licenciatura em Enfermagem e Mestrado (25,8%) demonstram uma melhor qualificação na formação dos estudantes como parte de suas atividades, sob a orientação de professores pesquisadores do grupo, fortalecendo o processo integrado entre estudantes e docentes. Para Erdmann e Lanzoni (2008), o ingresso e a participação de jovens estudantes nos grupos de pesquisa, contribuem para o estímulo à formação como futuro pesquisador. Os estudos desenvolvidos pela iniciativa de investigadores do projecto deixam claro a busca pelo reconhecimento de uma determinada área científica, demonstrando que quanto mais solidificada estiver uma ciência maior a probabilidade de obter resultados positivos. Quanto às Instituições onde os autores dos estudos se encontravam a frequentar os seus cursos notamos a preocupação no desenvolvimento de parcerias e produção integrada. Preocupação esta também dos orgãos nacionais e internacionais que desenvolvem ações em conjunto para a protecção, promoção e suporte ao aleitamento materno. Foi possível verificar o aumento considerável das publicações em revistas científicas em 2011. As publicações em revistas científicas contribuem de forma a aumentar a visibilidade das produções científicas desenvolvidas, promovendo avanços no cuidado de enfermagem em aleitamento materno. As participações dos pesquisadores do projecto de investigação em congressos, conferências, encontros, jornadas, cursos e eventos nacionais e internacionais, foram
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expressivas ao longo desses anos, possibilitando compartilhar além da cultura, o conhecimento produzido e contribuir para o desenvolvimento de práticas fundadas na evidência científica. A promoção de seminários, palestras e cursos também foram ações desenvolvidas pelo Projecto de investigação. A promoção dessas actividades científicas cria um espaço de debate proveitoso na clarificação dúvidas, falsos conceitos e prática dos profissional, apontando caminhos para um cuidado de qualidade.
CONCLUSÃO O alcance do objetivo proposto inicialmente oportunizou a visualização da produção científica desenvolvida no projecto de investigação “Protecção, Promoção e Suporte da Amamentação” desde a sua formação à actualidade. Os resultados mostraram que as publicações são crescentes o que promove a visibilidade das produções científicas desenvolvidas no projecto de investigação promovendo avanços no cuidado de enfermagem em aleitamento materno. O desenvolvimento da pesquisa científica nos projectos de investigação é uma importante estratégia para o fortalecimento da Enfermagem como ciência e profissão. A construção de conhecimentos resulta em recursos humanos competentes para um cuidado mais qualificado para desse modo contribuir para aumentar a duração do aleitamento materno e para a implementar boas práticas que visem o sucesso da amamentação.
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REFERÊNCIAS Galvão, DMPG (2005, Maio). Centro de Estudos de Enfermagem. Boletim da Escola, (6), p. 22-24. Direção-Geral da Saúde | Divisão de Saúde Reprodutiva Mama Mater | Associação pró Aleitamento Materno em Portugal. Registo do Aleitamento Materno - Relatório julho 2010 – junho 2011. Portugal, 2012. Galvão, DMPG, Silva, IA. A amamentação nos manuais escolares de estudo do meio do 1º ciclo do ensino básico.Revista de Enfermagem Referência - III - n.° 4 – 2011 p.7-16 Comissão nacional iniciativa hospitais amigos dos bebés/comité português para a unicef (2004). Protecção, Promoção e Suporte ao aleitamento materno na Europa: Um projecto em acção, (Contrato projecto da EU N. SPC 2002359) Dublin. ESEnfC - Unidade de Investigação em Ciências da Saúde - Enfermagem. (2012). Protecção,
Promoção
e
Suporte
da
Amamentação.
http://www.esenfc.pt/ui/projectos/index.php?target=showContent&tipo=UI&id_projecto=20&i d_linha_investigacao=1&dado_pedido=Descricao Erdmann AL, Lanzoni GMM. Características dos Grupos de Pesquisa da Enfermagem Brasileira Certificados pelo CNPq de 2005 a 2007 Esc Anna Nery Rev Enferm 2008 jun; 12 (2): 316 - 22. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Indicators for assessing infant and young child feeding practices: conclusions of a consensus meeting held 6-8 november. Washington, D. C., 2008. Disponível
em:
<http://whqlibdoc.who.int/publications/2008/9789241596664_eng.pdf>.
Acesso em: 30 out. 2012.
14
2.
CUIDADOS AO CORDÃO UMBILICAL: QUAL A MELHOR PRÁTICA BASEADA NA EVIDÊNCIA?
Alexandra Pereira
(1)(2)(3)
Amélia Ferreira
(1)(2)(3)(4)
Sandra Ferreira
(1)(5)
Estela Vieira
(1)(6)
Nuno Meireles
(1)(6)
(1) Enfermeiro a exercer funções no Centro de Saúde de Lousada – ACES Tâmega III – Vale do Sousa Norte (2) Mestranda em Cuidados Paliativos na FMUP (3) Pós-Graduada em Cuidados Continuados e Paliativos pela CESPU (4) Enfermeira Especialista em Enfermagem Comunitária (5) Enfermeira Especialista em Enfermagem de Reabilitação (6) Mestre em Enfermagem Comunitária
Resumo: O debate acerca do melhor método de cuidados ao cordão umbilical é algo constante e presente no dia-a-dia dos profissionais de saúde. Existe uma grande variedade de técnicas e solutos recomendados e usadas por diferentes profissionais, sem grande consenso. Objectivo: Analisar a melhor prática baseada na evidência científica actual, tentando identificar diferentes práticas e qual a justificação para o seu uso, comparando no final os riscos e os benefícios de cada uma delas. Metodologia: Revisão Sistemática da Literatura, nos últimos 20 anos, através de pesquisa bibliográfica no pubmed, utilizando os termos MeSH “umbilical cord”. Resultados: Encontrados e analisados 10 estudos nos últimos 20 anos: 2 observacional analítico transversal, 3 revisões sistemáticas da literatura; 5 ensaios clínicos. Conclusão: A evidência aponta para que não haja diferenças significativas no risco de infecção entre diferentes tipos de cuidados ao cordão umbilical. Os anti-sépticos parecem diminuir o nível de colonização de staphylococcus aureus no cordão e pele circundante, no entanto parecem aumentar o tempo de separação e queda do mesmo. Parece, por isso, poder-se afirmar que o melhor tratamento será o uso de água e sabão e secagem natural. Abstract: The debate about the best cord care is somewhat constant and present in the healthcare professional’s day. There is a wide variety of technics and solutes recommended and used for different healthcare professionals, without great consensus. Objective: Analyze the best current evidence-based practice, trying to identify different practices and the justification for its use, comparing the risks and benefits of each one of them. Methodology: Systematic review, in the past 20 years, using the following MeSh terms in PubMed “umbilical cord”. Results: We found and analyzed 10 studies in the past 20 years: 2 15
observational studies, 3 systematic reviews, 5 randomized trials. Conclusion: The evidence shows that there are no significant differences in the infection risk between different cord cares. Antiseptics seem to decrease the level of staphylococcus aureus colonization in the cord and skin, even although they seem to increase the time of cord separation and fall. It seems reasonable to say that the best cord care seems to be the use of water and soap and dry care skin. Introdução O debate acerca do melhor método de cuidados ao cordão umbilical é algo constante e presente no dia-a-dia dos profissionais de saúde. Existe uma grande variedade de técnicas e solutos recomendados e usadas por diferentes profissionais, sem grande consenso. Dados mais recentes parecem sugerir que a prática corrente em determinado período de tempo parece estar mais relacionada com tendências históricas e tradições do que em evidência científica. Os cuidados ao cordão umbilical surgiram com preocupações relacionadas com a colonização e a infecção, embora a sua relação fosse pouco clara. Apesar de haver diversos artigos que comparam os diferentes cuidados ao coto umbilical, verifica-se que na prática continuam a existir diferentes teorias e práticas defendidas pelos profissionais de saúde. Prática Baseada na Evidência O Institute of Medicine dos Estados Unidos da América criou um documento intitulado Crossing the Quality Chasm: A New Health System for the 21st Century, apontando as características ideais para um sistema de saúde no século XXI. No seu ponto número 5, é referido: “Tomada de decisão baseada na evidência. Os Utentes devem receber cuidados baseados no melhor conhecimento científico disponível. Os cuidados não deveriam variar de forma ilógica de profissional de saúde para profissional de saúde e de lugar para lugar.” A prática baseada na evidência (PBE) é definida por David Sacket (1996) é definida como “Utilização conscienciosa, explícita e criteriosa de informações derivadas de teorias, investigação para a tomada de decisão sobre o cuidado prestado a indivíduos ou grupos de pacientes, levando em consideração as necessidades individuais e preferências.” A PBE implica uma aprendizagem ao longo da vida, auto-dirigida e baseada na resolução de problemas, questionando as relações entre o raciocínio clínico e a evidência científica e, de forma óbvia, implica prática.
16
A PBE tem 5 fases operacionais, sendo elas: 1. Definir questões clinicamente relevantes; 2. Pesquisa bibliográfica dirigida à questão; 3. Análise crítica da evidência relativamente à sua validade, impacto e aplicabilidade no nosso contexto e aos nossos doentes; 4. Integração da análise crítica da informação com a nossa experiência clínica e com as características biológicas, psicológicas e sociais dos nossos doentes; 5. Avaliar a eficácia e eficiência deste processo com vista à sua melhoria. Em última análise, a abordagem da PBE reconhece que as decisões práticas são raramente baseadas apenas na evidência. Juízos, valores e factores individuais têm sempre um papel importante. (Hammer e Collinson, 2005). Questão PICO Em recém-nascidos, os cuidados ao coto umbilical com água e sabão são mais eficazes que cuidados prestados com outro tipo de solutos? Metodologia: Pretende-se analisar a melhor prática baseada na evidência científica actual, tentando identificar diferentes práticas e qual a justificação para o seu uso, comparando no final os riscos e os benefícios de cada uma delas. Para tal, realizou-se uma revisão Sistemática da Literatura, nos últimos 20 anos, através de pesquisa bibliográfica no pubmed, utilizando os termos MeSH “umbilical cord”. Resultados: Na revisão sistemática da literatura efectuada foram encontrados e analisados 10 estudos nos últimos 20 anos: 1 observacional analítico transversal, 3 revisões sistemáticas da literatura; 5 ensaios clínicos e 1 estudo analítico transversal. De forma a poder avaliar os diferentes estudos, os seus resultados e conclusões, apresentam-se de seguidas quadros referente a cada um dos artigos. Stark and Harrisson (1992) Tipo de estudo
Estudo Analítico Transversal (340 nascidos num hospital do Reino Unido)
RN
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Objectivo
Determinar a prevalência e o nível de colonização de staphylococcus aureus em recém-nascidos e investigar qual a sua relação com a prevalência da infecção.
Resultados
Os RN que apresentavam maior nível de colonização, estavam mais susceptíveis a desenvolver infecção.
Verber e Pagan (1993) Tipo de estudo
Estudo Experimental Longitudinal Prospectivo – Ensaio Clínico (630 RN nascidos num hospital do Reino Unido)
Objectivo
Comparar a colonização e o tempo de separação do cordão umbilical após tratamento com hexaclorofeno, clorohexidina e água e sabão.
Resultados
Colonização diminuída significativa após o uso de clorohexidina, colonização diminuída moderada com hexaclorofeno e sem diminuição significativa com água e sabão.
Medves e O’brien (1997) Tipo de estudo
Estudo Experimental Longitudinal Prospectivo – Ensaio Clínico (136 RN de termo num Hospital do Canadá)
Objectivo
Avaliar a diferença da colonização e tempo de separação do cordão entre o tratamento com álcool e água.
Resultados
Os cordões tratados com água e sabão tiveram um tempo de separação 3 dias mais rápido. Sem diferença na colonização nos grupos.
Dore et al (1998) Tipo de estudo
Estudo Experimental Longitudinal Prospectivo – Ensaio Clínico (1811 RN de termo de Hospital Universitário do Canadá e 18
um Hospital Comunitário do Canadá) Objectivo
Comparar o tratamento do cordão umbilical com álcool e água e sabão.
Resultados
Sem ocorrência de infecções. O grupo que usou água e sabão teve um tempo de separação mais curto (1,7 dias).
Zupan et al (2000, 2004, 2009) Tipo de estudo
Revisões Sistemáticas da Literatura
Objectivo
Comparar os diversos tratamentos cordão umbilical descritos na literatura.
Resultados
Cuidar do cordão umbilical com antissépticos diminui o nível de colonização, em especial de Staphylococcus Aureus, não diminui o risco de infecção e prolonga o tempo de queda.
ao
Oishi et al (2004) Tipo de estudo
Experimental Longitudinal Prospectivo – Ensaio clínico (100 RN no National Tokyo Medical Centre)
Objectivo
Comparar o uso de álcool a 80% e de solução alcoólica de clorohexidina na prevenção da colonização de staphylococcus aureus.
Resultados
48 RN tratados com álcool e 0,5 % de clorohexidina e 52 RN tratados com álcool a 80%. Análise da cultura bacteriológica do cordão e pele circundante 4 a 5 dias após o nascimento. Os que utilizaram clorohexidina revelaram uma prevalência de 25% de staphylococcus aureus, enquanto os que utilizaram álcool revelaram uma prevalência de 57,7%, pelo que concluíram que a clorohexidina solução alcoólica é mais eficaz na prevenção da colonização por staphylococcus aureus que o álcool a 80%.
19
Covas et al (2011) Tipo de estudo
Experimental Longitudinal Prospectivo – Ensaio Clínico (362 RN de termo de um Hospital Argentino)
Objectivo
Comparar a efectividade da prática da água e sabão com a prática do álcool.
Resultados
Maior colonização intrahospitalar e queda mais cedo do cordão no grupo que usou água e sabão. Não se tendo observado maior risco de infecção.
Iyoha e Ibadin (2012) Tipo de estudo
Observacional Analítico Transversal (usando questionário estruturado em 497 mães na cidade de Benim, com tratamento estatístico de dados no SPSS)
Objectivo
Determinar factores que influenciam a prática dos cuidados ao cordão.
Resultados
Cuidados ao cordão aumentam com o aumento do estatuto educacional da mãe, o melhor preditor dos cuidados ao cordão foi o nível de educação das mães. O método utilizado é influenciado por: disposição das enfermeiras, participação das mães e opinião das sogras.
Verifica-se que a maioria dos artigos refere que os cuidados ao coto umbilical com água e sabão têm mais colonização do que em comparação com outro tipo de cuidados. No entanto, esta colonização parece ser benéfica, uma vez que diminui o tempo de separação e queda do coto umbilical, e não parece ter uma influência negativa no aumento do risco de infecção. Apesar disto, e aplicando os resultados da revisão sistemática da literatura à experiência do dia-a-dia, parece-nos importante referir que os cuidados ao coto umbilical com água e sabão são eficazes quando a limpeza e a secagem é bem realizada. Nas mães mais inexperientes e com maior receio de prestar os cuidados ao coto umbilical do recémnascido, este não é sempre o caso, uma vez que manipulam menos e mais a medo o coto umbilical, ficando por vezes húmido. Nestes casos o álcool a 70%, quando aplicado apenas 20
no coto umbilical, parece ser adequado, uma vez que evapora mais rapidamente que a água. O estudo de Iyoha e Ibadin (2012) parece ser também muito importante, uma vez que nele existe evidência científica de que a disposição e disponibilidade dos Enfermeiros são essenciais nos cuidados ao coto umbilical, e podem influenciar positivamente as mães dos recém-nascidos. Conclusão A evidência aponta para que não haja diferenças significativas no risco de infecção entre diferentes tipos de cuidados ao cordão umbilical. Os anti-sépticos parecem diminuir o nível de colonização de staphylococcus aureus no cordão e pele circundante, no entanto parecem aumentar o tempo de separação e queda do mesmo. Parece, por isso, poder-se afirmar que o melhor tratamento será o uso de água e sabão e secagem natural. Apesar disto, não nos podemos esquecer do contexto e do caso prático específico que estaremos a tratar, pelo que estes resultados apenas devem ser utilizados como um dos factores na reflexão diária de cada um de nós.
REFERÊNCIAS Covas, M et al (2011) – Higiene del cordon umbilical con alcohol comparado con secado natural y baño antes de su caída, en recién nacidos de término: ensayo clínico controlado aleatorizado. Arch Argent Pediat 109(4): 305-313 Dore S. et al (1998) – Alcohol versus natural drying for newbotn cord care. JOGNN 27:621627. Hammer S, Collinson G (2005) – Achieving Evidence-based practice: A Handbook for practitioners. London: 2nd Edition BalliereTindall. Institute of Medicine (2001) - Crossing the Quality Chasm: A New Health System for the 21st Century. Iyoha, B, Ibadin, M (2012) – Determinants of cord care practices among mothers in Benin City, Edo State, Nigeria. Nigerian Journal of Clinical Practice 15 (2): 210-213. Medves, J, O’brien B (1997) – Cleaning Solutions and bacterial colonization in promoting healing and early separation of the umbilical cord in healthy newborns. Can J Public Health 88: 380-382. Oishi, T et al (2004) – Double-blind comparative study on care of the neonatal umbilical cord using 80% ethanol with or without clorhexidine. Journal of Hospital Infection 58: 34-37. Sackett, D. (1996) - Evidence-based Medicine - What it is and what it isn't. BMJ; 312:71-72. 21
Stark, V, Harrisson, S (1992) – Staphylococcus aureus colonization of the newborn in a Darlington Hospital. J Hos Infect 21: 205-211. Verber, I, Pagan, F (1993) – What Cord Care: If Any? Arch Dis Child 68: 594-596. Zupan, J et al (2000) – Topical umbilical cord care at birth. Cochrane Database Syst Rev Zupan, J et al (2004) – Topical umbilical cord care at birth. Cochrane Database Syst Rev Zupan, J et al (2009) - Topical umbilical cord care at birth. Review Cochrane Library
22
3.
DEPRESSÃO PÓS-PARTO: PREVENÇÃO E INTERVENÇÃO PRECOCE
Estela Vieira
(1; 6)
Nuno Meireles
(1; 6)
Alexandra Pereira
(1; 2; 3)
Amélia Ferreira
(1; 2; 3; 4)
Sandra Ferreira
(1; 5)
(1) Enfermeiro a exercer funções no Centro de Saúde de Lousada – ACES Tâmega III – Vale do Sousa Norte (2) Mestranda em Cuidados Paliativos na FMUP (3) Pós-Graduada em Cuidados Continuados e Paliativos pela CESPU (4) Enfermeira Especialista em Enfermagem Comunitária (5) Enfermeira Especialista em Enfermagem de Reabilitação (6) Mestre em Enfermagem Comunitária
Resumo: A maternidade e nascimento de uma criança representam um grande desafio, uma vez que acarretam grandes alterações na dinâmica familiar, havendo necessidade de uma adaptação e reajustes constantes. Neste período surgem por vezes vulnerabilidades e instabilidades emocionais, nomeadamente a Depressão pós parto. A prevalência desta patologia em Portugal é de 12.4% na semana que se segue ao parto e 13.7% nos três meses seguintes. Tendo em consideração a dimensão desta patologia no seio familiar, é urgente e essencial que os profissionais de saúde tenham conhecimento acerca dos sinais de alerta da depressão pós parto, para que possam intervir adequadamente e diminuir os efeitos nocivos da mesma. É neste contexto e nesta sequência que surge este trabalho, usando como metodologia a revisão bibliográfica e a reflexão crítica. Palavras-chave: Depressão pós-parto; prevenção; parentalidade; enfermeiro comunitário.
Abstract: Motherhood and the born of a child are a great challenge because this causes big changes in the family dynamics, leading to the necessity of constant adaptation and adjustment. During this period, emotional vulnerabilities and instabilities arouse, like the Postpartum Depression. The prevalence of this pathology in Portugal is 12,4% in the first week postpartum and 13,7% in the following 3 months. Considering the consequences of this problem in the family, it is urgent and essential that the healthcare professionals have the knowledge about the signs and symptoms of postpartum depression, so that they can act
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correctly to prevent its effects. In the context, we did this paper, using as methodology critical reflexion and bibliographic review. Keywords: Depression postpartum; prevention; parenthood, community nurse.
24
Introdução A maternidade e nascimento de uma criança representam um grande desafio, uma vez que acarretam grandes alterações no seio da familiar. Estas alterações trazem implicações na dinâmica familiar, havendo necessidade de uma adaptação e reajustes constantes nas relações interpessoais e nos papéis que cada um dos elementos. Este é um período em que por vezes surgem vulnerabilidades e instabilidades emocionais. A Depressão Pós-parto O Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders IV Text Revision (DSM-IV-TR) utiliza um especificador de início pós-parto para classificar perturbações de humor que ocorrem durante as primeiras 4 semanas de pós-parto. Segundo esta classificação, a depressão pós parto é considerada como um episódio depressivo major com início pósparto (Sousa, 2012). Esta patologia manifesta-se através de sintomas que se assemelham aos de um quadro depressivo: apatia persistente, sentimentos de culpa, alterações do sono, ideias suicidas, receios em cuidar do recém-nascido, diminuição do apetite e da libido, diminuição do nível de funcionamento mental e presença de ideias obsessivas ou super valorizadas (Moraes, 2006). Para além dos efeitos nocivos que tem para a mulher, a depressão pós parto não tratada tem como consequência a saúde e desenvolvimento da criança, afecta os familiares próximos, nomeadamente nas actividades sociais e de lazer assim como a economia familiar, podendo provocam atritos entre o casal e um impacto negativo na saúde mental do próprio parceiro (Sousa, 2012). Existem várias referências quanto aos factores de risco para uma depressão pós parto, no entanto alguns estudos têm revelado resultados contraditórios devido complexidade desta perturbação. Através de uma meta-análise de 84 estudos, Beck (cit in Sousa, 2012) identificou 13 factores de risco para DPP: depressão pré-natal, baixa auto-estima materna, stress relacionado com os cuidados infantis, ansiedade pré-natal, stress associado com condições de vida adversas, baixo suporte social, relação matrimonial complicada, antecedentes pessoais de depressão, dificuldades temperamentais do bebé, melancolia pós-parto, estado civil, estatuto socioeconómico e gravidez desejada/não desejada.
25
Valença e Germano (2010) no estudo que realizaram referem que a dificuldade em identificar possíveis sintomas pode estar relacionada com etiologia desta patologia, uma vez que pode ter múltiplas causa, ou seja, ter influências genéticas, ambientais, psicológicas, culturais e/ou mudanças fisiológicas no seu desenvolvimento e severidade. Os mesmos autores referem que a depressão puerperal consiste numa expressão do sofrimento e da dor humana, que atinge um significativo número de mulheres mundialmente. Segundo Sousa (2012), a prevalência da depressão nas mulheres é cerca de duas vezes superior à dos homens. A mesma autora refere que a prevalência de depressão pós-parto em Portugal é de 12.4% na semana que se segue ao parto e 13.7% nos três meses seguintes. Tendo em consideração a dimensão desta patologia no seio familiar, é urgente a implementação de estratégias de prevenção e tratamento. Segundo Moraes (2006), o acompanhamento minucioso das mulheres durante a gravidez, especialmente as de baixo nível económico, tendo sempre em conta as variáveis associadas à depressão, pode prevenir graves problemas pessoais e familiares no pós parto. Deste modo o papel do enfermeiro de família nas consultas de vigilância da gravidez torna-se essencial, uma vez que este conhece a grávida e todo o contexto familiar e social que a rodeia. Como profissional de saúde têm também a responsabilidade de identificar as grávidas
que
apresentam
uma
evolução
desfavorável,
acompanhando-as
mais
minuciosamente e aconselhando-as desde o inicio da gravidez, e quando necessário, encaminha-las para profissionais da especialidade. Durante as consultas, os profissionais envolvidos devem transmitir confiança às suas grávidas através de uma escuta activa, apoiando-as e esclarecendo as suas dúvidas e receios para que estas se tornem autónomas e confiantes (Valença e Germano, 2010). Conclusão A intervenção precoce e a prevenção na depressão pós parto são fundamentais para se conseguir um papel parental adequado. Para isto, a intervenção do enfermeiro em contexto de saúde comunitária é primordial e extremamente importante.
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Referências Moraes, IGS, e tal. (2006). Prevalência da depressão pós-parto e factores associados. Rev Saúde Pública. Valença, CN & Germano, RM. (2010). Prevenindo a depressão puerperal na estratégia saúde da família: ações do enfermeiro no pré-natal. Rev. Rene. Fortaleza, v. 11, n. 2, p. 129-139.
Sousa, SF. (2012). Depressão Pós-parto: Estudo de prevalência e detecção de factores de risco.
Consultado
em
2
de
Outubro
de
2012;
disponível
em
http://www.fcsaude.ubi.pt/thesis/upload/0/1181/tesesoraiasousapdf.pdf.
27
4.
TRANSIÇÃO PARA O CONSCIENCIALIZAÇÃO
Alexandra Pereira
PARENTAL:
A
NECESSIDADE
DA
(1; 2; 3)
Amélia Ferreira
(1; 2; 3; 4)
Sandra Ferreira
(1; 5)
Estela Vieira
PAPEL
(1; 6)
Nuno Meireles
(1; 6)
(1) Enfermeiro a exercer funções no Centro de Saúde de Lousada – ACES Tâmega III – Vale do Sousa Norte (2) Mestranda em Cuidados Paliativos na FMUP (3) Pós-Graduada em Cuidados Continuados e Paliativos pela CESPU (4) Enfermeira Especialista em Enfermagem Comunitária (5) Enfermeira Especialista em Enfermagem de Reabilitação (6) Mestre em Enfermagem Comunitária
Resumo A transição para o papel parental é uma das transições de desenvolvimento mais importantes na vida do ser humano. A necessidade de adaptação por parte dos pais é constante, pelo que a intervenção do Enfermeiro na área da saúde materna torna-se desafiante. Objectivos: Perceber de que forma a consciencialização da nova situação pode ser essencial para definir intervenções de enfermagem, ajudando o casal a realizar uma transição para o papel parental de forma adequada. Método: Revisão não sistemática da literatura e reflexão crítica. Resultados: A Teoria das Transições de Meleis demonstra que para uma transição ser bem conseguida, é necessário que se adquira consciência da sua posição no mundo, daquilo que sente, e que conhecimentos necessitam de adquirir para efectuar uma transição saudável. Na transição para o Papel Parental ocorrem mudanças, provocando desequilíbrios. Por vezes ‘informatiza-se’ os futuros pais, sem que estejam preparados para integrarem informação para se adequarem ao papel parental. É, assim, necessário que estes tomem primeiro consciência da mudança e das suas necessidades, para que nós, como enfermeiros, os ajudemos a realizar a transição de forma saudável. Conclusão: O Enfermeiro assume-se então como um facilitador do processo de transição, ajudando o casal a consciencializar a nova situação, para se adaptarem à sua nova vida. Palavras-chave: Teoria das transições, Papel Parental, Consciencialização.
Abstract Transitioning to parental role is one of the most important development transitions in a human being life. The necessity of adaptation by the parents is constant, transforming the 28
Nurse’s intervention into a challenge. Objective: To understand the influence of awareness in the definition of nursing interventions, helping the couple to adequately transition to parental role. Methodology: Non systematic review of literature and critical reflection. Results: Meleis’s Transitions Theory demonstrates that it is necessary to acquire awareness of one’s position in the word, one’s feelings and the knowledge required to transition in a healthy manner. While transitioning to the parental role changes occur, causing misbalances. Sometimes, nurses tend to give lots of information to the parents, even though they are not ready to receive and integrate that information. It is, thus, necessary that they are aware of the transition and their necessities, so that we, as nurses, help them to transition in a healthy way. Conclusion: The nurse assumes the role as a facilitator of the transition process, helping the couple to raise awareness of the new situation and to adapt to their new life. Key-words: Theory of Nursing Transitions, Parental Role, Awareness. Introdução A transição para a maternidade é uma das transições de desenvolvimento mais importantes na vida do ser humano. A necessidade de adaptação por parte dos pais é constante, pelo que a intervenção do Enfermeiro na saúde materna torna-se desafiante, necessitando promover a adaptação do casal e dotá-lo de novas capacidades e competências. A Enfermagem assume-se assim como a ciência que ajuda as pessoas a viver transições de forma saudável.
Metodologia: Para a realização deste trabalho foi utilizada uma revisão não sistemática da literatura, recorrendo a experiência profissional como base da reflexão crítica. Resultados Durante a gravidez inicia-se o processo psicológico da idealização do novo elemento, o filho desejado. Através da sua história individual, cada elemento da família, em especial o casal, cria expectativas e fantasias relativas ao recém-nascido. Com o nascimento, a fantasia torna-se realidade, embora por vezes diferente do idealizado. O recém-nascido tem as suas necessidades, fragilidades e exigências, provocando uma necessidade de adaptação constante de toda a dinâmica relacional e funcional do casal: os hábitos, os horários, as necessidades, assim como a disponibilidade para o próprio e para o outro. De certa forma, altera o modo como cada um se posiciona na relação, provocando um ajustamento às exigências do surgimento e desenvolvimento do novo elemento da família.
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Segundo Minuchin (1990) “a família constitui um sistema aberto, onde os seus elementos, com histórias e futuros comuns, interagem entre si e o meio, em que o comportamento de cada elemento afecta o dos outros e da família enquanto sistema”. Assim sendo, é na família e com ela, que cada indivíduo busca o apoio necessário para ultrapassar os momentos de crise que surgem ao longo do ciclo vital. As transformações na família podem proporcionar oportunidades de uma melhoria do bemestar e expor os seus elementos a riscos, que podem afectar positiva ou negativamente o processo de transição. De certa forma, pode-se dizer que a família e os seus elementos ficam vulneráveis. Esta vulnerabilidade pode ser contextualizada como uma qualidade individual mostrada através da compreensão, das experiências dos elementos da família e das respostas durante os períodos de transição. Neste sentido a vulnerabilidade está relacionada com experiências de transição anteriores, interacções e condições ambientais que expõem os indivíduos a potenciais perigos. Segundo Meleis, as enfermeiras são muitas vezes os principais cuidadores dos utentes e das famílias que estão a passar por um processo de transição, observando as mudanças e exigências que as transições acarretam ao seu quotidiano. A autora acima, refere ainda, que as enfermeiras preparam os utentes para as transições e que facilitam o processo de aprendizagem de novas competências relacionadas com a sua saúde e as suas experiências de doença. A transição para a maternidade é uma das transições de desenvolvimento mais importantes na vida do ser humano. A necessidade de adaptação por parte dos pais é constante, pelo que a intervenção do Enfermeiro na área da saúde materna torna-se desafiante, necessitando promover a adaptação do casal e dotá-lo de novas capacidades e competências. A Enfermagem assume-se assim como a ciência que ajuda as pessoas a viver transições de forma saudável. A Teoria das Transições de Meleis demonstra que para uma transição do Ser Humano ao longo do seu ciclo de vida ser bem conseguida, é necessário que se adquira consciência da sua posição no mundo, daquilo que sente, e que conhecimentos necessitam de adquirir para efectuar uma transição saudável, pois, o nível de envolvimento de uma pessoa que está
consciente
de
mudanças
físicas,
emocionais,
sociais
ou
ambientais
será
necessariamente diferente do de uma pessoa que não esteja consciente dessas mudanças Na transição para o Papel Parental ocorrem mudanças, provocando desequilíbrios. Por vezes ‘informatiza-se’ os futuros pais, sem que estejam preparados para integrarem informação para se adequarem ao papel parental. É, assim, necessário que estes tomem primeiro consciência da mudança e das suas necessidades, para que nós, como enfermeiros, os ajudemos a realizar a transição de forma saudável.
30
A consciencialização é um conceito-chave, uma vez que só após adquirirem esta é que os pais tomam consciência de que necessitam adquirir conhecimentos para moldarem a sua atitude, pelo que é fundamental promovê-la quando esta não está aflorada. No entanto, esta promoção é difícil e existem poucos estudos científicos sobre quais as intervenções indicadas para o fazer, pelo que se torna essencial investir mais nesta área. Só após a consciencialização é que se consegue trabalhar os significados de cada conceito com os pais, transmitindo posteriormente conhecimento e consolidando habilidades. Em suma, a Enfermagem, muitas vezes encarada como uma ciência de “ensinos” vê-se a braços com uma mudança de paradigma. Os enfermeiros devem investir no estudo da promoção da consciencialização em casos específicos, de forma a contribuir para a construção do corpo de conhecimento da Enfermagem enquanto verdadeira ciência, fazendo a diferença inequívoca na vida das pessoas. Conclusão As experiências de transição caracterizam-se pela sua unicidade, complexidade e dimensões múltiplas. O Enfermeiro assume-se então como um facilitador do processo de transição, ajudando o casal a consciencializar a nova situação e posteriormente a adquirir as competências e as capacidades necessárias para se adaptarem à sua nova vida.
REFERÊNCIAS Meleis, A. I., Sawyer, L. M., Im, E., Messias, D. K. H., DeAnne, K. H. & Schumacher, K. (2000) - Experiencing Transitions: An Emerging Middle-Range Theory. Advanced Nursing Science, 23, 12-28.; Meleis, A.I.(2011). Theoretical nursing: Development and progress (5th Ed.). Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins; Meleis, A.I., Topaz, M. (2011).
Nursing theory of the future: Situation-specific
theories. Pflege, 24(6),345-347; (4) Meleis, A.I.(2010). Transitions theory: Middle range and situation specific theories in research and practice. New York, NY: Springer Publishing Company. Minuchin, S.; Fishman, H. Ch. (1988). Técnicas de Terapia Familiar. Barcelona, Ediciones Paidor.
31
5.
DOAR LEITE MATERNO, UMA DÁDIVA PARA A VIDA
Ana Maria Martins Morais
1
Carla Alexandra Silva Alves
2
Cristina Maria Fernandes Gonçalves Maria do Céu Gomes Magalhães Maria José Magalhães
3
4
5
Sónia Maciel Fernandes Machado
6
(1) Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Católica Portuguesa – Porto/Portugal (UCP); Enfermeira na USF do Covelo. E-mail: ammmorais@gmail.com (2) Enfermeira USF do Covelo (3) Enfermeira Especialista em Enfermagem Médico-Cirúrgica; UCSP São Roque da Lameira (4) Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Comunitária; UCSP São Roque da Lameira (5) Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica; UCSP São Roque da Lameira (6) Enfermeira; UCSP São Roque da Lameira
Resumo: O leite materno é o melhor alimento para recém-nascidos e lactentes, especialmente para os que nascem prematuros ou estão doentes. Este leite aumenta as probabilidades de um bebé prematuro ou doente recuperar e ser mais saudável durante a infância, ou seja, funciona como um verdadeiro medicamento. No entanto, há situações em que a mãe não tem leite suficiente para o seu bebé ou não o pode dar por diversas razões. Neste sentido o “Banco de Leite Humano (BLH)” surge como resposta eficiente. O BLH permite conservar e armazenar leite materno proveniente de dadoras, com todas as condições de segurança, de forma a poder disponibilizá-lo a crianças que não possam ser amamentados pelas próprias mães, com especial prioridade para bebés prematuros. Em Portugal, o primeiro e único BLH foi instalado em 2008 pela GEOFAR, na Maternidade Dr. Alfredo da Costa (MAC) em Lisboa. O serviço dá apoio às dadoras, e encarrega-se do armazenamento e transporte do Leite Humano para a MAC, bem como para outros Hospitais da zona de Lisboa. Pode ser dadora de leite materno qualquer mulher que o queira fazer e que cumpra alguns critérios de seleção. Este leite após a colheita sofre alguns processos de tratamento para chegar em condições perfeitas às crianças que dele necessitam. Palavras Chave: Banco de Leite Humano, Dadora de Leite, Leite Humano Doado
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Abreviaturas: BLH – Banco de Leite Humano; MAC – Maternidade Alfredo da Costa; LHD – Leite Humano Doado Introdução O leite materno é o melhor alimento para recém-nascidos e lactentes, pois contém, em proporções adequadas, todos os nutrientes necessários, e é de mais fácil digestão contribuindo para um crescimento e desenvolvimento sadio. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os benefícios do aleitamento materno são evidentes em termos de saúde da criança, desenvolvimento intelectual e motor, risco de doenças crónicas futuras e saúde materna, proporcionando igualmente ganhos económicos para as famílias e sistema de saúde. A American Academy of Pediatrics e a OMS recomendam a amamentação exclusiva desde a primeira hora até aos 6 meses de vida e continuar com a amamentação, enquanto outros alimentos são introduzidos, por um ano ou mais de acordo com o desejo da mãe e da criança. As contraindicações médicas para a amamentação são raras. Mas frequentemente, sobretudo quando o leite da mãe biológica não está disponível, como acontece nos casos de partos prematuros em que a mãe não tem leite imediatamente após o nascimento nem em volume suficiente, o leite de mães dadoras é a melhor alternativa. Neste sentido, o BLH surge como resposta eficiente disponibilizando leite humano, em quantidades que permitam o atendimento a alguns lactentes que não disponham do leite da própria mãe, promovendo e apoiando a amamentação. A evidência tem demonstrado que dar leite materno a prematuros e crianças doentes, protege contra enterocolite necrotizante e infeções durante o período neonatal. A longo prazo os índices de desenvolvimento psicomotor aumentam e os fatores de risco cardiovasculares diminuem, Utrera et al, 2010. Com a finalidade de proporcionar leite humano doado existem BLH amplamente distribuídos por todo o mundo. Em Portugal, foi criado o primeiro em 2008, pela GEOFAR, na Maternidade Dr. Alfredo da Costa (MAC) em Lisboa. Neste artigo são focados os aspetos relativamente à história dos BLH a nível Mundial, ao BLH Português, ao processo de doação de leite, benefícios da utilização de leite humano doado, critérios de seleção das dadoras, colheita e armazenamento do leite.
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Desenvolvimento: O leite humano é a fonte ideal de nutrição para todas as crianças, mas quando o leite da mãe biológica não está disponível o leite doado dos BLH deve ser sempre considerado como alternativa, caso esteja disponível e seja economicamente viável a sua utilização. No ano 1909 foi criado o primeiro banco de leite humano em Viena (Áustria). Em 1919 abriram bancos de leite humano nos Estados Unidos da América e na Alemanha, e só vinte anos depois em 1939, abriu em Inglaterra, mais um BLH. O Brasil que atualmente detém a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano com 181 BLH abriu o primeiro em 1943. Têm como missão promover, proteger e apoiar o aleitamento materno, recolher e distribuir leite humano com qualidade certificada e contribuir para a diminuição da mortalidade infantil. “O que para alguns é apenas leite, para muitas crianças é vida”, diz a Pediatra Maria José Mattar, coordenadora do Banco de Leite de São Paulo. Na década de 80 devido ao receio de transmissão do Vírus da Imunodeficiência Humana Adquirida, à recusa de muitas mulheres em fazerem o rastreio para esta doença e ao desenvolvimento de fórmulas para recém-nascidos de baixo peso, o interesse pelo BLH sofreu um declínio. O termo “Banco de Leite Humano” refere-se à colheita, processamento e armazenamento de leite humano doado de forma gratuita e voluntária por uma mulher que esteja a amamentar, para alimentar o bebé de outra mulher, sem dano da amamentação do seu próprio filho e tem como objetivo promover o aleitamento materno a todas as crianças nos primeiros meses de vida. A maior parte do leite humano doado é utilizado na alimentação de bebés prematuros nas Unidades de Cuidados Intensivos, em situações em que o leite da mãe não está disponível, constituindo uma opção às fórmulas de leite artificial para prematuros disponíveis para suprir as necessidades nutricionais deste grupo. Até hoje, não houve uma avaliação formal da extensão da necessidade de utilização nem do volume de leite humano doado necessário para colmatar essa necessidade. Actualmente, as indicações para a utilização de leite humano doado varia muito de Unidade para Unidade. Até 2008 Portugal era um dos poucos países europeus que não oferecia a alternativa do leite humano doado e pasteurizado aos seus prematuros, nas situações em que as próprias mães não tinham leite ou não o podiam dar. A MAC possui a maior Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais do país, tratando cerca de 16 a 18% dos prematuros de Portugal, e inaugurou, em 2008, o primeiro Banco de Leite Humano do nosso País, solução para muitos prematuros cujas mães, por vários motivos, não conseguiam ter leite próprio para os amamentar. Este banco de leite humano foi então 34
criado para ajudar os bebés, recolhendo, tratando, armazenando e distribuindo leite humano de dadoras. O leite armazenado no Banco de Leite da MAC é usado na Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais deste hospital e de outros hospitais de Lisboa que dele necessitem. Em Portugal, tal como na maioria dos BLH europeus o custo da recolha e processamento do leite é relativamente elevado (cerca de 65€/litro), daí que só faça sentido o seu uso, salvo exceções pontuais de certas patologias, nos bebés muito prematuros, onde o impacto na diminuição de enterocolite necrotizante, sépsis nosocomial e intolerância é mais significativo quando comparada com o leite artificial. Nos bebés que nascem às 34-36 semanas de gestação ou de termo, geralmente não há grande diferença entre dar LHD (Leite Humano Doado) ou Leite Especial para Prematuros/Leite Artificial. De acordo com a disponibilidade de leite no BLH, serão adotados critérios de prioridade para o uso deste: prematuridade, síndromes de má absorção, intolerância alimentar, deficiências imunológicas, certas doenças congénitas, nutrição pós operatória, agaláctia materna, adoção, doença materna, situações de risco de transmissão de doenças pelo leite da própria mãe e óbito da mãe.
Benefícios da utilização de leite humano doado Atualmente são reconhecidos benefícios a curto prazo para a saúde do bebé alimentado com leite materno doado. Num estudo efetuado foi comprovado que os recém-nascidos prematuros com peso inferior a 1850g alimentadas com LHD toleraram a alimentação entérica às 3 semanas de vida, contrariamente
a
crianças
alimentadas
com
leite
de
fórmula
para
prematuros,
apresentando-se como um benefício a curto prazo. Segundo Utrera et al, os BLH contribuem para promover e apoiar a amamentação e ajudam a reduzir a proporção de crianças que recebem fórmulas artificiais nas primeiras semanas de vida e ainda permitem, ao recém-nascido prematuro, atingir a alimentação entérica completa o mais rapidamente possível, evitando a via parentérica e todos os riscos que lhe estão associados. Vários estudos comprovam que recém-nascidos prematuros alimentados com LHD tiveram um risco significativamente menor de infeção invasiva, infeções sistémicas e diarreia, em comparação com recém-nascidos alimentados com leite artificial, o que demonstra que o
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leite humano doado tem propriedades anti-infeciosas que proporcionam uma redução do risco de infeção nestes recém-nascidos. Outro benefício da utilização deste leite é a redução do risco de enterocolite necrotizante que foi demonstrado em bebés que foram alimentados com leite humano em detrimento de bebés alimentados com leite artificial: “Apesar da redução ou eliminação de alguns componentes bioativos de leite, a capacidade de leite pasteurizado para exercer efeitos benéficos não é perdida. O leite pasteurizado é conhecido por manter grande parte da sua capacidade para induzir a proliferação de células T e ainda fornecer uma inibição substancial para o crescimento de E. coli.” (Cit. por Ewaschuk, 2011, p. 179). Também a longo prazo são apresentados benefícios para a saúde tais como menor pressão arterial média e diastólica, e redução do risco de resistência à insulina nas fases tardias da infância. Estes fenómenos podem refletir uma programação metabólica na fase inicial da vida, pela taxa de crescimento e pelos nutrientes. Também a nível económico se encontram vantagens a longo prazo pois reduzem-se custos derivados destas morbilidades, assim como a redução do tempo de internamento destas crianças e o tempo até à autonomia alimentar. Apesar destes benefícios terapêuticos o leite materno e o leite especial para prematuros apresentam uma densidade nutritiva superior ao leite humano doado. Desde a década de 1980 que, quando o leite da mãe não está disponível, alguns pediatras recomendam leite especial para prematuros em detrimento do LHD devido ao crescimento inicial significativamente mais rápido demonstrado com a utilização desse leite artificial. Contudo estudos de seguimento de prematuros demonstram que o peso e a estatura em crianças com 7-8 anos não diferem apesar de terem taxas de crescimento diferentes.
Critérios de Seleção das dadoras Antes de iniciar a colheita do leite a amamentação deve estar bem estabelecida, na maioria das mães tal acontece entre a 2ª e a 4ª semana depois do parto. Não se recomenda iniciar a doação de leite após os 6 meses de idade do filho. As mães antes de serem aceites como doadoras de leite devem prestar informações completas em relação ao seu historial médico. Para tal respondem a um questionário que aborda questões, tais como: história de hepatite, icterícia ou problemas hepáticos, história de tuberculose pulmonar, vacinação nas últimas 4 semanas para poliomielite ou rubéola, se
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recebeu terapêutica com hormona hipofisária humana, se fez transfusão de sangue em Portugal ou em outro país, se teve qualquer doença grave no último ano, consumo de medicamentos, consumo de álcool, ingestão de bebidas com cafeína, hábitos tabágicos, se fez tatuagem nos últimos 3 meses ou se tem hábitos alimentares fora do habitual (ex: vegetariana). Estas mães são incentivadas a ter um estilo de vida saudável, com uma dieta saudável e equilibrada. Recomenda-se que não ingiram mais que 3 cafés por dia (ou o equivalente em bebidas com cafeína). As mães dadoras devem ser recrutadas o mais cedo possível após o nascimento do bebé, logo que a lactação do seu próprio filho esteja bem estabelecida e sem quaisquer dificuldades na amamentação, uma vez que o leite de uma mãe recém – lactante tem um elevado conteúdo de fatores imunológicos. As dadoras não devem ser recrutadas quando estão a desmamar o seu bebé e não devem ser incentivadas a continuar a amamentar exclusivamente para doar leite para um BLH. Os critérios para exclusão de doação de leite são:
Mães fumadoras;
Mães que usam droga de adição;
Mães que consomem habitualmente mais de 2 unidades de álcool por dia;
Mães com alguma doença crónica ou doença sistémica, exceto as mães asmáticas que utilizem inaladores de salbutamol e corticoide, mães que utilizem gotas oftálmicas e nasais com anti-histamínicos e mães diabéticas medicadas com insulina;
Mães a tomar medicação prescrita para longo prazo, exceto a pílula de progesterona, diabetes, alterações da tiroide e inaladores para a asma;
Mães com serologias positivas para o antigénio de superfície para a Hepatite B ou para a Hepatite C;
Mães com infeção recente a hepatite A (no último mês);
Mães com serologias positivas para o HTLV I ou HTLV II;
Mães com SIDA, infetadas com HIV 1 ou 2 ou serologia para HIV positiva;
Mães que pertencem a um grupo de maior risco para infeção pelo HIV, ou seja, se têm uma das seguintes características: parceiros sexuais infetados com HIV, parceiros sexuais de consumidores de drogas, parceiros sexuais de indivíduos com hemofilia, comportamento sexual de risco;
Mães com teste treponémico positivo, sugestivo de infeção ativa (sífilis);
Mães de um grupo considerado de risco para a doença de Creutzfeldt Jakob.
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É considerado boa prática testar um dador 3 meses após ter feito uma tatuagem. Qualquer leite colhido durante este período deve ser mantido em quarentena. Uma dadora deve interromper temporariamente a doação de leite se:
A própria ou outro membro da família contrair uma infeção suspeita de ser rubéola outra doença febril;
Se for vacinada com uma vacina viva, por exemplo: rubéola ou febre amarela;
Se clinicamente tiver mastite;
Se contrair uma doença cutânea infeciosa (herpes, eczema impetiginizado).
O leite de uma dadora pode ser novamente aceite 24 horas após a última dose de antibióticos, 48 horas após a última dose de outra medicação e 4 semanas após vacinação.
Colheita, armazenamento e pasteurização do leite A dádiva de leite materno requer consentimento esclarecido da mulher. A colheita do leite deve ser efetuada da forma mais higiénica possível, devendo para isso a mulher receber informação sobre a lavagem das mãos, métodos de recolha de leite e correto funcionamento do equipamento de recolha que lhe é previamente fornecido, assim como todas as instruções necessárias para uma correta recolha e armazenamento do leite em casa. Após a colheita o leite deve ser refrigerado imediatamente para evitar o risco de lipolise e multiplicação bacteriana, procedimento que é efetuado pelas dadoras na sua própria casa. O leite pode ser imediatamente congelado após a colheita, pode ser adicionado a um recipiente durante 24 horas desde que mantido no frigorífico ou adicionado a um recipiente de leite congelado desde que seja recolocado imediatamente no congelador. As dadoras devem manter o leite separado dos outros alimentos, quer no frigorífico quer no congelador para reduzir o risco de contaminação. O leite deve ser transferido no prazo de 1 semana para um congelador de -20ºC, transportado, congelado para o banco de leite e já neste armazenado à mesma temperatura. Para eliminar microrganismos potencialmente perigosos o leite sofre um processo de pasteurização a 62,5ºC durante 30 minutos. O leite deve ser utilizado logo que possível após a pasteurização, não sendo aconselhável estar congelado mais que 3 meses. Para ser utilizado tem de ser descongelado lentamente no frigorífico ou em água corrente fria ou morna, tem validade de 24 horas, a uma temperatura de 4ºC. O LHD sofre um criterioso processo de seleção, sendo de extrema importância a sua análise microbiológica que é efetuada antes e após a pasteurização. No entanto não podemos deixar de considerar o facto de que há muito trabalho a ser feito na investigação dos efeitos da pasteurização sobre o leite materno. Componentes
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imunológicos presentes no leite humano são perdidos durante a pasteurização o que sem dúvida requer investigação adicional no sentido de os BLH disponibilizarem o leite ideal (Ewaschuk, 2011).
Conclusão As doações voluntárias são indispensáveis para dar continuidade ao projeto dos BLH, os quais viabilizam a manutenção do aleitamento natural para grupos alvo, constituídos principalmente por recém-nascidos prematuros de baixo peso e com outras intercorrências. Pelo gesto de carinho e humanidade na condição de dadora de leite humano, a mãe deve ser valorizada e ser acolhida com dignidade e respeito. Neste contexto, o profissional de enfermagem pode desempenhar um papel importante na manutenção do BLH, divulgando o serviço às mulheres, independentemente de estarem grávidas, além de incentivar a mãe a amamentar o seu filho e a doar o leite excedente. Em Portugal ainda não dispomos de BLH que sirva todo o território continental e ilhas. Esperamos com este trabalho ter contribuído para a divulgação e esclarecimento das atividades de um BLH, e sensibilizar os profissionais de enfermagem para a importância da sua divulgação junto de outros colegas e junto das mulheres em geral, bem como para a importância da investigação nesta área.
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40
6.
VIOLÊNCIA CONTRA MULHERES: DILEMA ÉTICO - DEVER DE DIVULGAR O CRIME/RESPEITAR O SIGILO PROFISSIONAL
Ana Maria Morais 1 Vanessa Caroline Dal Pozzo 2 (1) Enfermeira.
Doutoranda
em
Enfermagem
pela
Universidade
Católica
Portuguesa
–
Universidade
Católica
Portuguesa
–
Porto/Portugal (UCP). E-mail: ammmorais@gmail.com (2) Enfermeira.
Doutoranda
em
Enfermagem
pela
Porto/Portugal (UCP). E-mail: vanessadalpozzo@hotmail.com
Resumo Introdução: Os fundamentos do sigilo profissional assentam no facto de haver informação e conhecimentos pertencentes a um indivíduo de que os profissionais tomam conhecimento durante o exercício da sua profissão. Objetivo: Este estudo teve a intenção de averiguar como os profissionais resolvem conflitos ético-jurídicos relacionados com o segredo profissional, e como os tentam resolver e procurar soluções. Materiais e Métodos: Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo-exploratório, no Serviço de Urgência de Obstetrícia/Ginecologia do Hospital de São João E.P.E constituída por 53 enfermeiros. Para a colheita dos dados foi utilizado um questionário, dividido em duas partes distintas. Utilizou-se para o tratamento dos dados o programa de estatística Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) v. 14.0. Resultados: Analisando os dados obtidos, o segredo profissional é claramente valorizado pela profissão de enfermagem (98,1% dos enfermeiros considerarem importante o segredo profissional). Verificamos também que 60,4% dos enfermeiros consideram correcto o utente ter direito ao segredo profissional. Quando questionado acerca se o segredo profissional deve ser sempre respeitado, 56,6% respondeu que em função da situação pode ser ou não respeitado. Relativamente às situações limite do segredo profissional por nós levantadas, podemos constatar que em relação, à situações limite de uma mulher que se dirige ao serviço de urgência e demonstra marcas evidentes de ter sofrido agressões físicas, e confessa que foi agredida pelo marido, mas que não pretende efectuar queixa, e pede ao profissional para não o fazer, a maior percentagem (37,7%) dos enfermeiros informa as autoridades competentes que a mulher foi vítima de maus-tratos. Constatamos também que os enfermeiros do sexo masculino, com habilitações superiores (licenciatura), com mais
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habilitações profissionais, casados e que têm menos anos de profissão, consultam primeiro a Ordem dos Enfermeiros antes de quebrar o sigilo profissional. Conclusão: Estes resultados remetem para a utilidade e necessidade de definir uma estratégia em termos de formação na área da ética/bioética de todos os profissionais que lidam com estas situações limite de segredo profissional.
Palavras Chave: Enfermergem, sigilo profissional, violência, mulher
Introdução O segredo profissional abrange todos os factos que tenham chegado ao conhecimento do profissional de saúde, durante o exercício das suas funções, ou de algum modo relacionadas (Azevedo, 2000, p. 84). Uma profissão, como a dos profissionais de saúde, tem por objectivo principal servir a Humanidade. Todos os que exercem uma profissão de saúde estão ligados por eventuais segredos profissionais (Domingues, 2003, p. 316). O segredo médico é a verdade do doente dita ao médico, sem consentimento de revelação, tendo em conta uma relação estabelecida entre ambos, fundada na doença ou na prevenção da doença (Rueff, 2005, p. 259). O segredo profissional “é um caso especial de segredo confiado” (Archer, Biscaia e Osswald, 1996, p. 191). A defesa do segredo surge em diversos documentos, como por exemplo, a Declaração dos Direitos do Doente (1981) e na Declaração dos Direitos do Homem (1948). O dever de sigilo, ou de segredo, existe como forma de preservar o direito à confidencialidade. O direito do utente à confidencialidade reforça a ideia de que o próprio deve decidir, aquilo que, da informação, pode ser partilhado (Nunes, Amaral e Gonçalves, 2005, p. 235). A confidencialidade é a regra. Contudo, admite-se que o dever de segredo tem limites – que se prendem com o direito do bem individual e do bem colectivo, como é o caso da obrigação de notificação de algumas doenças ou da defesa de valores superiores (Nunes, Amaral e Gonçalves, 2005, p. 236). Os profissionais de saúde hoje em dia têm que tomar decisões que acarretam o risco da dúvida numa valoração do risco/benefício (Almeida, 2002, p. 132). As questões acerca do carácter absoluto ou relativo do segredo profissional têm fundamento devido a conflitos de interesses entre, por um lado, o interesse individual em preservar o direito à confidencialidade, intimidade da vida privada, e por outro lado, o
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interesse da comunidade, na inviolabilidade da vida humana, integridade, liberdade e segurança (Rueff, 2005, p. 259). Ultimamente, os enfermeiros demonstram a preocupação em discutir questões éticas que emergem dos princípios da bioética, mais concretamente questões relacionadas com os princípios da autonomia e beneficência, nomeadamente as que se dirigem aos direitos à informação e à confidencialidade (Vieira, 2002, p. 146). De acordo com o artigo 85º, referente ao dever do sigilo, do Estatuto da Ordem dos Enfermeiros, “o enfermeiro, obrigado a guardar segredo profissional sobre o que toma conhecimento no exercício da sua profissão, assume o dever de: [...] c) divulgar informação confidencial acerca do indivíduo e família só nas situações previstas na lei, devendo, para tal efeito, recorrer a aconselhamento deontológico e jurídico”. Perante situações limite de segredo profissional o enfermeiro vê-se confrontado com um conflito de deveres, o dever de sigilo profissional e o dever de denunciar um crime público. É necessário determinar até que ponto os enfermeiros, no exercício da sua profissão, podem divulgar às autoridades judiciárias, situações previstas na lei em que devem divulgar informação confidencial, estando abrangidos pelo seu Código Deontológico, devendo respeitar o Dever do Sigilo, Artigo 85º, obrigando-os a guardar segredo profissional sobre o que tomam conhecimento no exercício da sua profissão. Ao exercer funções no serviço de Obstetrícia – Puerpério, no Hospital de São João E.P.E., observamos a existência de situações de conflito ético-jurídico em relação ao sigilo profissional, na equipa de enfermagem também quando trata-se de violência doméstica. A violência segundo a OMS (2002) é “uma ameaça ou utilização intencional da força física ou do poder, contra si mesmo, contra outro ou contra um grupo ou uma comunidade, que possui um forte risco de provocar um traumatismo, a morte, doenças psicológicas, dificuldades de desenvolvimento ou privação”1. A violência doméstica é contrária ao bem-estar físico, psíquico e social de todo o ser humano, sendo infringidas várias normas criminais. Este tipo de violência compreende crimes2 contra a vida, a integridade física, a liberdade pessoal, e liberdade e autodeterminação sexual (Nunes, Amaral e Gonçalves, 2005, p. 292). Na violência doméstica sobre mulheres existe por vezes uma gravidez, facto que torna estas mulheres mais vulneráveis ao agressor. Segundo os resultados da investigação efectuada por Lúcia Rocha (Rocha, 2007), no âmbito da sua Tese de Doutoramento 1
Cf : OMS (2002), Rapport mondial sur la violence et la santé. Genève: Organisation Mondiale de la Santé.
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No Código Penal estão especificados os crimes contra a vida (artigo 131º a 139º), a integridade física (artigo 143º a 152º), a liberdade pessoal (artigo 153º a 162º), e liberdade e autodeterminação sexual (artigo 163º a 179º). Disponível in: http://dre.pt/
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efectuada a 2660 mulheres que tiveram parto assistido no Hospital S. João entre 1999 e 2000, a investigadora afirma que “as consequências da violência física durante a gravidez, podem situar-se a nível físico e a nível psicológico, e ter efeitos a curto, médio e longo prazo, dependendo do período de tempo em que a mulher se encontra na relação de maustratos e do grau de severidade com que a violência é perpetrada”3. Das 2660 mulheres portuguesas estudadas, 90,2% não sofreram violência física durante a gravidez, sendo que 9,7% das mulheres sofrem abusos físicos durante a gravidez. Os resultados desta investigação revelaram que as mulheres agredidas têm partos prematuros com maior frequência (o parto pré-termo foi significativamente mais frequente nas mulheres que declararam ser vítimas de violência física comparativamente às não vítimas, 21,4% versus 6,8%), a probabilidade é três vezes maior do que nas mulheres não agredidas. Do mesmo modo, os recém-nascidos das mulheres fisicamente abusadas têm um risco quatro vezes superior de serem leves para a sua idade gestacional, se comparados com as outras crianças. O estudo aferiu também que em 8,4% das mulheres inquiridas, os abusos continuam no primeiro ano após o parto. De acordo com o perfil traçado pela autora do estudo, as mulheres agredidas são usualmente jovens, solteiras, com uma baixo nível de escolaridade, com baixo rendimento e até sem actividade profissional. O não planeamento da gravidez é também um importante factor associado às agressões durante o período de gestação, estando relacionado com gravidezes não vigiadas e tardiamente acompanhadas pelos médicos. Para além disso, “as mulheres vítimas de violência física apresentam redes de suporte social mais fracas, redes sociais mais reduzidas (centradas no quadrante familiar) e maioritariamente fechadas”, afirma a investigadora. E ainda segundo Lúcia Rocha os profissionais de saúde devem identificar as mulheres que são vítimas de agressão e fornecer-lhes toda a informação sobre os recursos comunitários, sociais e legais disponíveis. Se as mulheres não são avaliadas relativamente à agressão, esta permanecerá escondida e, por isso, não tratada, colocando a mulher em risco crescente. A Lei nº 7/2000, de 27 de Maio4, veio efectuar alterações ao Código Penal e Código de Processo Penal, efectuando reforços às medidas de protecção a pessoas vítimas de violência (Nunes, Amaral e Gonçalves, 2005, p. 292). Conforme é definido nesta lei, o crime de maus-tratos físicos e psíquicos ao conjúgue, a quem conviva em condições analogas às dos conjugues ou seja progenitor de descendente comum em 1º grau, passa a ser
3 4
https://sigarra.up.pt/ Disponível in: http://www.portaldocidadao.pt
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considerado crime público, ou seja, não é necessário apresentação da queixa por parte da vítima5. É importante referir que todos profissionais de saúde devem estar informados e sensibilizados acerca deste flagelo da sociedade, de modo a saberem identificas estas situações e encaminharem e informarem correctamente as vítimas. Contudo este estudo tem como objetivo averiguar como os profissionais resolvem conflitos ético-jurídicos relacionados com o segredo profissional, como os tentam resolver e procurar soluções. Tem como grande finalidade ajudar os profissionais a lidar com situações limite do segredo profissional que lhes surgem durante o seu exercício profissional e, como consequência, uma melhor prestação de cuidados de enfermagem.
Materiais e Métodos Trata-se de um estudo quantitativo descritivo exploratório que após uma reflexão criteriosa, equacionamos o seguinte problema “Como decidem os profissionais de saúde perante situações limite de segredo profissional?” Amostra A nossa população é a equipa de enfermagem do Serviço de Urgência de Obstetrícia/Ginecologia do Hospital de São João E.P.E. Uma vez que iremos estudar a totalidade dos enfermeiros que fazem parte da equipa a amostra corresponde ao total da população constituída por um grupo de 53 enfermeiros. Instrumento Ao elaborarmos o nosso questionário tivemos em conta: a sequência e tipos de questões, à selecção dos conteúdos e também ao uso de vocabulários mais claros e simples possível de forma a não levantar dúvidas aos enfermeiros inquiridos. A escolha do tipo de questões tiveram presente o tipo de população a atingir, a brevidade nas respostas, e que fornecessem o máximo de informação pretendida, possibilitando apenas uma interpretação, referindo uma única ideia por questão, relacionando-as com o problema em estudo.
5
Entende-se por Crime o facto declarado punível criminalmente pelo Código Penal ou pela legislação penal avulsa. Para efeitos de participação, os crimes classificam-se em: públicos, semi-públicos, e particulares. Crimes Públicos: São aqueles cujo procedimento criminal não depende de queixa, podendo ser levados ao conhecimento das autoridades públicas por qualquer pessoa ou por quaisquer meios. Exemplos: Crimes de homicídio, ofensas corporais graves, falsificação de documentos, furto, burla e fogo posto. A queixa é gratuita. Disponível in: http://www.portaldocidadao.pt/
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Este questionário, quer por razões da funcionalidade, quer de apresentação, foi dividido em duas partes distintas. A primeira parte foi constituída por perguntas que dizem respeito à colheita de dados pessoais (sexo, idade, estado civil, habilitações literárias, habilitações profissionais, categoria profissional, anos de profissão, serviço onde desempenha funções) de forma a caracterizar a população. Na segunda parte pretendeu-se identificar a atitude dos profissionais de saúde face ao segredo profissional e analisar as decisões na resolução de situações limite do segredo profissional. Antes de ser pedido a cada enfermeiro, que responda ao questionário, foi explicado os objectivos do mesmo, assim como o fim a que se destinava. Procedimentos na recolha dos dados Através do questionário, procedeu-se a análise, tratamento e interpretação dos dados manualmente e através do computador, em que se utilizou um programa Word para texto e para o tratamento dos dados o programa de estatística Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) v. 14.0
Resultados e Discussão Em relação ao sexo dos intervenientes os resultados apresentam-se 90,6% dos enfermeiros são do sexo feminino. Esta observação vem em concordância com o facto de a profissão de enfermagem ser tradicionalmente feminina. P. Kallisch e B. Kallisch (1986) citadas por Queiroz (2004, p. 19) referem que, nas escolas médicas, para além do ensino de medicina, se ensinava as mulheres a assistir ao nascimento das crianças. Em relação à idade dos intervenientes constatamos que a população dos enfermeiros inquiridos é relativamente jovem, pois praticamente 60% tem uma idade inferior aos 40 anos. E em relação ao estado civil verificou-se que 58,5% dos inquiridos são casados, 30,2% são solteiros, e 11,3% são divorciados, onde demonstrou-se que 92,5% (49) dos enfermeiros possuem licenciatura, 3,8% possuem o 9º ano completo, e 1,9% possuem o 12º Ano e o mestrado, sendo que 62,3% (33) tem o curso especialidade em enfermagem, 28,3% (15) tem o curso de licenciatura em enfermagem, 5,7% (3) tem o curso de bacharelato em enfermagem, e apenas 3,8% (2) tem o curso geral de enfermagem. Sendo o Serviço em que foi aplicado o questionário o de Bloco de Partos é de esperar que a maioria dos enfermeiros possuísse as Habilitações Profissionais de Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia.
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Em relação às categorias profissionais dos intervenientes, constatou-se que a maior fracção 49,1% (26) são enfermeiros especialistas, 30,2% (16) dos enfermeiros inquiridos são enfermeiros graduados, 18,9% (10) são enfermeiros nível 1 e 1,9% (1) corresponde à enfermeira chefe. Partindo do pressuposto do anterior resultado, era de prever que a maioria dos enfermeiros possuísse a categoria profissional de enfermeiro especialista, uma vez que exercem funções no Serviço de Bloco de Partos. Pelo que nos é dado a observar a maior percentagem 41,5% dos enfermeiros exercem a sua actividade profissional há 11-20 anos, 24,5% exerce há 21-30 anos, 9,4% exercem a sua profissão entre 6-10 anos e há mais de 30 de anos de serviço, 7,5% há menos de 1 ano e máximo 5 anos. Como a população em estudo é relativamente jovem é de se prever que os enfermeiros exerçam a sua actividade profissional há cerca de 11-20 anos. Em relação ao local de exercício profissional concluímos que 62,3% dos enfermeiros desempenham funções no Serviço de Urgência de Obstetrícia/Ginecologia – Sala de Partos e 37,7% exerce funções no Serviço de Urgência de Obstetrícia/Ginecologia – Bloco Operatório. Importa referir que o serviço é o mesmo, só que está dividido em dois sectores distintos, o Bloco de Partos e a Sala de Partos. A Distribuição absoluta e relativa da opinião dos enfermeiros acerca da violência doméstica contra as mulheres observou-se que 88,7% dos enfermeiros inquiridos consideram a violência doméstica contra as mulheres um crime público, mas ainda uma percentagem relevante 7,5% considera um crime semi-público e 1,9% considera um crime particular. Se houvesse um total conhecimento da Legislação Portuguesa, todos os enfermeiros teriam respondido que a violência doméstica contra as mulheres é um crime público, conforme menciona a Lei n.º 7/2000, de 27 de Maio6, artigo 152º. E quando diz respeito à situação limite do segredo profissional/violência doméstica às mulheres 17,0% dos enfermeiros inquiridos pede autorização à Ordem dos Enfermeiros para quebrar o segredo profissional, uma grande percentagem (35,8%) dos enfermeiros não divulgaria às autoridades para não quebrar o segredo profissional, 37,7% dos enfermeiros informa as autoridades competentes que a mulher foi vítima de maus-tratos, e 9,4% não responde nenhuma das anteriores. Em relação a alínea em que a opção era outros, cinco enfermeiros responderam nenhuma das anteriores e as respostas foram agrupadas em categorias:
6
Lei n.º 7/2000, de 27 de Maio, publicada no Diário da República n.º 123, I Série – A, pág. 2458
47
Categoria
Subcategoria
Unidade de Significância “Tentar convencer a mulher a fazer a queixa e
Encaminhar
encaminha-la para associações de apoio à
para
vítima” I 13;
associações
“Alertava-a para as associações de apoio à
Atitude dos
vítima” I 21;
enfermeiros
“Não divulgo porque a mulher é adulta e ela que Respeitar a
tome as suas opções” I 9;
decisão da
“Não contava ao marido para respeitar a vontade
mulher
da utente” I 28 “Respeitar a decisão da utente” I 46
Fonte: as autoras, 2010. Os enfermeiros que informam as autoridades (37,7%) ou que pedem autorização à Ordem dos Enfermeiros para quebrar o segredo profissional (17,0%) são em maior percentagem, demonstrando que os enfermeiros estão cientes das consequências da violência contra as mulheres, nomeadamente no risco de vida que correm. Conclusão Estes resultados remetem para a utilidade e necessidade de definir uma estratégia em termos de formação na área da ética/bioética de todos os profissionais que lidam com estas situações limite de segredo profissional. É essencial efectuar sensibilização/capacitação dos profissionais, criação de rotinas hospitalares (quem faz o quê), melhoraria dos registos hospitalares, criação de uma dinâmica de responsabilização para a notificação dos casos e criação de mecanismos sociais de apoio para que a notificação não signifique apenas denúncia. Os profissionais de saúde não podem ficar indiferentes a esta problemática, é preciso ter conhecimentos e competências para poderem actuar e encaminhar as vítimas onde possam ser ajudadas de acordo com as suas necessidades sem prejudicar ainda mais a situação dessas mulheres. Referências bibliográfica: ALMEIDA, Filipe (2002) – Comissões de ética para a saúde: Sua natureza e tarefas, in: NEVES, Maria do Céu (coord.) – Comissões de Ética, das bases teóricas à actividade quotidiana, 2ª edição, Coimbra, Gráfica de Coimbra. ARCHER, Luís; BISCAIA, Jorge; OSSWALD, Walter (1996) – Bioética, Editorial Verbo. DOMINGUES, fr. Bernardo (2003) – É bom promover a saúde e a ética, Porto, Metanóia. 48
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49
7.
TEMPERAMENTO AFETIVO, TRABALHO DE PARTO E VINCULAÇÃO
Raul Alberto Cordeiro Professor – Escola Superior de Saúde /Instituto Politécnico de Portalegre
Existem inúmeras teorias que abordam a temática do temperamento e como tal, corporizam diferentes perspetivas sobre a sua definição (e.g., diferenças nos traços que o constituem), origem (e.g., estritamente constitucional ou com origem na interação com o ambiente), desenvolvimento (continuidade ao longo do desenvolvimento vs. mudança) e avaliação (e.g., avaliações mais molares ou moleculares) (cf., Vaughn & Bost, 1999; Rothbart & Bates, 1998). No entanto, considera-se que transversal a todas elas está a asserção de que o temperamento se refere a um conjunto de traços individuais, com origem em parte biológica, que se demonstram desde a infância precoce e que apresentam algum grau de continuidade ao longo do tempo (Bates, 1989a; Vaughn & Bost, 1999). Estas características correspondem de uma forma geral a qualidades comportamentais relativas à resposta emocional (e.g., resposta emocional positiva ou negativa aos estímulos novos ou familiares), à atenção (e.g., capacidade para se acalmar quando atinge níveis de ativação emocional desorganizadores utilizando recursos atencionais) e ao nível de atividade (e.g., vigor da atividade motora, frequência e adequação da automodelação da atividade) (Bates, 1989a). O temperamento refere-se à forma de ser emocional de cada indivíduo sendo considerado como a base do humor, do comportamento e da personalidade (Lara, 2006). Está relacionado com a natureza emocional individual, possui herança predominantemente genética e é relativamente estável no tempo (Allport, 1961; Cloninger, Svrakic & Przybeck, 1993). O conceito de temperamento tem raiz histórica nas propostas de Galeno e Hipócrates (há cerca de 2300 anos) que sugeriram o temperamento colérico, melancólico, sanguíneo e fleumático, baseando-se nos quatro elementos do filósofo Empédocles (500-430 a.C.): água, ar, terra e fogo (Akiskal & Akiskal, 2005a). No início do século XX, Kraepelin descreveu os estados fundamentais ou predisposições pessoais que correspondem ao que hoje chamamos de temperamentos afetivos, propondo como estados fundamentais o depressivo, o ciclotímico, o irritável e o hipertímico (Kraepelin, 1921).
50
Uma classificação igualmente muito divulgada é a desenvolvida pela escola alemã de Kretschmer (1925), que considerava que as diversas disposições temperamentais se interrelacionavam com quatro tipos constitucionais distintos. Kretshmer (1925) desenvolveu uma classificação de tipos somáticos, com a intenção de relacionar uma determinada estrutura corporal com perfis psicológicos temperamentais: os pícnicos
–
caracterizados
por
apresentarem
grandes
cavidades
corporais
e
desenvolvimento visceral. A constituição picnomorfa mostra tendência a coincidir com um temperamento designado de ciclotímico, que se caracteriza por ser extrovertido, com fácies de alternâncias de humor, e é dominante nos quadros clínicos da psicose maníacodepressiva; os leptossomáticos ou asténicos – caraterizados por apresentar tórax estreito e alongado e fraco desenvolvimento muscular. A constituição asténica convenciona um temperamento designado de esquizotímico, que indica que a pessoa é de difícil contacto nas relações pessoais, mostra frieza e hipersensitividade; os atléticos - de ombros largos, com bom desenvolvimento da musculatura e esqueleto. A constituição atletomorfa, de estrutura robusta, corresponde a um temperamento viscoso, com acentuada tendência à explosividade; os displásticos - figuras amorfas, grandes, pequenas ou raquíticas ou apresentando anomalias e deformidades morfológicas ou viscerais. Esta constituição mostra tendência para reações intempestivas e alternâncias de humor. Mais tarde, a escola norte-americana de Sheldon (1943) elaborou com maior rigor e com definições que se sobrepõem às de Kretschmer, uma classificação biotipológicotemperamental em três dimensões relacionando-se cada uma delas com os três folhetos embrionários da blastoderme (ectoderme, mesoderme, endoderme): os ectomorfos – esbeltos e frágeis, correspondem, no plano psicológico a indivíduos que ficaram designados como cerebrotónicos, que são pessoas hipersensíveis, tensos e com predisposição para as neuroses; os mesomorfos – fortes e toscos, predominam os somatotónicos, que se caracterizam psicologicamente por serem executores, energéticos e competitivos, com evidência de traços paranóides, quando entram no campo da patologia; os endomorfos – de figura arredondada e suave, mostram tendência para a viscerotonia e caracterizam-se psicologicamente por serem sociáveis, tolerantes, e afetuosos, traços que predispõem para certas perturbações afetivas. Estas classificações temperamentais, possuíam o benefício de proporcionar uma sistematização dos tipos psicológico-constitucionais humanos, mas também o inconveniente de se mostrarem algo rígidas, com a dificuldade de nelas se poderem incluir muitos tipos intermédios além de não considerarem as variações morfológicas e psicológicas que se operam em muitos tipos humanos com o decorrer da idade ou sob influência de fatores alimentares, transculturais, entre outros.
51
As classificações de Kretschmer (1925) exerceram uma grande influência em toda a psicologia e psiquiatria europeias, acabando por construir uma das principais padronizações da personalidade. Mais tarde Klages (1929) propôs que a natureza psicológica do temperamento podia definirse como uma constante de excitabilidade da vontade, fundamentada no equilíbrio ou na posição de duas qualidades: a rapidez e a lentidão. Se predominasse intensamente a rapidez, tínhamos um temperamento do tipo sanguíneo. Se prevalecesse a lentidão tínhamos um temperamento do tipo fleumático. Segundo Chess & Thomas (1986), o temperamento designa características de personalidade inatas que influenciam a forma como o indivíduo reage ao ambiente e a sua progressão no desenvolvimento. Elaborando um modelo tridimensional da personalidade, também Cloninger (1987) e Cloninger et al. (1993), descreveram um modelo de personalidade baseado em sete dimensões, sendo quatro de temperamento (com base predominantemente biológica): Busca de Novidades, Evitamento de Dano e Dependência de Reforço Emocional e Persistência e três de carácter (com base predominantemente psicológica): Autorientação, Cooperação e Autotranscendência. A partir desta formulação foi desenvolvido o TCI (Temperament and Character Inventory (Cloninger et al., 1993; Cloninger, Pryzbeck, Svrakic & Wetzel, 1994) reunido 240 questões e destinado a estudas as a intensidade e as relações entre as sete dimensões referidas. Akiskal desenvolveu o seu modelo de temperamentos afetivos para caracterização de pacientes com perturbações do humor (Karam, Mneimnehm, Salamoun, Akiskal & Akiskal, 2005). Neste modelo o temperamento é concebido a partir do padrão afetivo básico, que pode ser hipertímico, ciclotímico, irritável e depressivo, os quais foram propostos originalmente por Kraepelin (Kraepelin, 1921), e mais recentemente o tipo ansioso que foi adicionado por Akiskal (Akiskal & Akiskal, 2005). Estes cinco temperamentos afetivos são considerados a base de predisposição para o desenvolvimento dos transtornos do humor. Akiskal e seus colaboradores e seguidores desenvolveram uma estrutura classificativa dos temperamentos (Akiskal, 1985, 1994; Akiskal & Akiskal, 2005) baseada, nos primeiros estadios dos seus estudos, na seguinte tipologia: - Temperamento depressivo: indivíduos preocupados, pessimistas, quietos, tímidos, indecisos e passivos. Têm uma conduta reservada, são resignados, reflexivos e com elevada tolerância para situações monótonas ou que exigem cautela. - Temperamento ciclotímico: indivíduos que alternam entre períodos de autoconfiança alta e baixa, estados apáticos e energéticos, pensamentos confusos e aguçados, humor tristonho
52
e brincalhão, momentos introvertidos e expansivos, sonolência e pouca necessidade de sono. - Temperamento irritável: manifestação de irritabilidade como característica marcante e constante. Os indivíduos são ameaçadores, desconfiados, combativos e destrutivos. - Temperamento hipertímico: os indivíduos são dinâmicos, desejam estímulos e sensações de
prazer,
tem
tendência
para
a
impulsividade,
curiosidade,
extravagância
e
desorganização. Pretendem reações afetivas rápidas e intensas, e possuem inquietação, tédio e irritabilidade. Em estudos posteriores viria a ser integrado o temperamento ansioso: caracterizado por disposição de personalidade exagerada em direção à preocupação. Caracteriza-se por um humor ansioso, com sensações desagradáveis de ansiedade manifestando-se por tremores, sudorese ou taquicardia, sempre com reações ansiosas em situações específicas (provas, trabalho, entrevistas, situações sociais, entre outros). Mais recentemente, Lara (2006) propôs, um modelo em que cada dimensão do temperamento propostas por Cloninger está relacionada com as emoções básicas de medo (evitação de dano), raiva (busca de novidades), apego (dependência de reforço emocional) e ambição ou determinação (persistência). Neste modelo, as dimensões apresentam distribuição normal, contemplando tanto a normalidade quanto as suas variações. Medo e raiva são as emoções mais básicas que constituem o temperamento, que são moduladas por uma função de controlo (Lara & Akiskal, 2006). O modelo dimensional baseado em traços de medo e raiva tal como proposto recentemente (Lara & Akiskal, 2006) adapta os conceitos de evitação de dano e busca de novidades de Cloninger e procura combinar as vantagens dessa abordagem ao modelo de Akiskal para temperamentos afetivos. Essa remodelação tem como objetivo diminuir as limitações de ambos os modelos. Este novo modelo integrativo incorpora as dimensões normais e patológicas, concebe perturbações
do
humor,
comportamento
e
personalidade
concomitantemente,
e
fundamenta-se em funções cerebrais nos níveis comportamental, cognitivo, neuroquímico e anatómico. A combinação dos traços de ativação (vontade/raiva), inibição (medo) e controle (deveratenção) geraria os principais tipos de temperamentos afetivos propostos por Lara (ver Figura 1).
Esses temperamentos afetivos formam a predisposição a perturbações do humor como a perturbação bipolar do tipo I em indivíduos com temperamento hipertímico e irritável, do tipo II em irritáveis e ciclotímicos, perturbações da ansiedade em ansiosos, perturbações depressiva major em depressivos, e perturbações de hiperatividade com défice da atenção e seus subtipos em lábeis, apáticos e desinibidos (Lara & Akiskal, 2006). 53
Figura 1 - Caraterização dos temperamentos afetivos (Adaptado de Lara, 2006)
Mas centremo-nos também no temperamento do bebé. Bates, Free Land & Lounsbury (1979) centraram a sua definição de temperamento nos comportamentos observáveis do bebé, salientando a dimensão do temperamento difícil, em parte pelas ligações observadas entre esta característica e o desenvolvimento de trajetórias desenvolvimentais menos adaptativas (Bates, 1989; Lee & Bates, 1985). A perspetiva de Bates deve a sua especificidade, não só, à relevância dada ao constructo de temperamento difícil, mas sobretudo à importância que atribui aos fatores sociais na avaliação do temperamento. Considera que as diferenças de temperamento, obtidas na investigação através do preenchimento de questionários, se devem tanto às características intrínsecas do bebé, como à perceção pessoal, nomeadamente da mãe, acerca da dificuldade em lidar com o comportamento da criança (Bates & Bales, 1984). Assim, segundo Bates & Bayles o relato parental resulta de características objetivas da criança (e.g., estilo comportamental da criança que outros observadores podem validar), de aspetos subjetivos da resposta (e.g., características psicológicas e de personalidade dos pais), de expectativas parentais e, por fim, duma margem de erro (ver também, Hwang & Rothbart, 2003; Mantymaa, Puura, Luoma, Salmalin, & Tamminen, 2006). 54
Esta visão da avaliação coaduna-se com as teorias mais recentes sobre o temperamento que defendem a necessidade de equacionar uma implicação bidirecional de fatores ambientais e constitucionais no seu desenvolvimento (Wachs, 2002; Ziv & Cassidy, 2002). Estas características iniciais de funcionamento pessoal, temperamentais, parecem ter uma forte base biológica, embora a sua estabilidade dependa, em larga medida, das interações entre estas e os processos de desenvolvimento que estão radicados num contexto físico e social podendo, por isso, dar origem a uma multiplicidade de trajetórias desenvolvimentais (Rothbart & Bates, 1998). Sobre a relação entre temperamento e vinculação refira-se que os teóricos do temperamento não questionam os princípios básicos da teoria evolucionista e etológica que subjazem à teoria da vinculação e que postulam a sua origem biológica (Vaughn & Bost, 1999). No entanto, alguns investigadores defendem que o que faz emergir as diferenças interindividuais na organização do sistema comportamental da vinculação, ou seja, os diferentes padrões de vinculação, são características do temperamento da criança, relegando para segundo plano a qualidade da prestação de cuidados (Kagan, 1985). Sobre o confronto de temperamentos no período perinatal, alguns estudos (Gunnar, Wolf, Rigatuso & Larson, 1995) mostraram existir uma relação entre a reatividade ao stress neonatal (medido pelo ritmo cardíaco, nível de cortisol – produzido pela glândula suprarrenal e diretamente ligado à resposta ao stress, e tónus vagal - constitui um indicador do funcionamento do sistema nervoso parassimpático, é promotor da regulação emocional, comunicação, interação social e gestão do stress) do bebé e o temperamento emocional avaliado ao fim de 6 meses. Os resultados mostram que respostas mais adequadas do bebe no momento do parto (respostas neurocomportamentais) estão ligadas a temperamentos menos seguros (angústia perante as limitações. A angústia perante as limitações integra as dimensões do temperamento do bebe avaliadas pelo Infant Behavior Questionnaire (Rothbart, 1981) a saber: nível de atividade, adequação, medo, angústia perante limitações, risos e sorridos, e orientação).
A satisfação com e a qualidade da experiência de parto é suscetível de influenciar o bemestar psicológico da mulher, bem como a adequação da sua interação com o bebé . A verificação do impacto que a experiência de parto tem em áreas vitais ao bom desenvolvimento, quer da mãe, quer do bebé e, consequentemente, da díade a estabelecer, alerta para a importância de atender ao modo como o parto é vivido pela mulher e às dimensões que mais interferem na qualidade dessa vivência. Assim, alguns autores dedicaram-se ao estudo da experiência de parto e das variáveis que mais contribuem para a qualidade dessa experiência, no sentido de delinear o tipo de intervenção preventiva, a ser eventualmente realizada pelos profissionais de saúde, com o intuito de providenciar circunstâncias que sejam mais positivas para a mulher. 55
O parto é um acontecimento muito significativo para a generalidade das mulheres, particularmente o momento em que vê e pega no bebé pela primeira vez (Garel, Lelong, & Kaminski, 1988; Lee, 1995). No entanto, a experiência de parto é muitas vezes pautada pela ocorrência de elevado mal-estar e emocionalidade negativa, dado que a maior parte das mães relata ansiedade, falta de controlo, perda da noção de tempo e de lugar, bem como sentimentos negativos, tais como tristeza e zanga (Thune-Larsen & Pedersen, 1988). À medida que o trabalho de parto progride, que as contrações aumentam de intensidade e que a dilatação se torna maior, os níveis de dor, raiva, medo, tristeza e cansaço são cada vez mais elevados, enquanto que são cada vez menores os níveis de energia e as emoções positivas (Leventhal, Leventhal, Shacham, & Easterling, 1989). Os sentimentos negativos derivam, na maior parte das vezes, da dor sentida. A relação entre o temperamento e vinculação em crianças tem sido discutida na literatura a partir de duas perspetivas conceptuais e metodológicas. A teoria da vinculação tem mantido que o desenvolvimento da relação entre a criança e o cuidador é uma co-construção decorrente da produção de sinais por parte da criança que atraem a atenção do cuidador (sorriso) e a prestação de cuidados (choro), e da forma como o cuidador responde a esses sinais (sensibilidade e responsividade), acreditando que a qualidade da vinculação estará mais relacionada com o comportamento do cuidador que com diferenças na produção de comportamentos por parte da criança (Mangelsdorf & Frosch, 1999; Vaughan & Bost, 1999). Outros teóricos do temperamento têm argumentado que este pode afetar a forma como as crianças chamam a atenção dos seus cuidadores realçando no entanto que a atitude de resposta do cuidador é o fator que mais afeta a qualidade da ligação (Sroufe, 1985). Do ponto de vista metodológico, a relação entre temperamento e vinculação foi examinada em primeiro lugar em estudos que avaliavam a vinculação em Situação Estranha (Ainsworth, Blehar, Waters & Wall, 1978). Outros pesquisadores sugeriram que o comportamento em Situação Estranha podia ser influenciado pelo temperamento da criança, mas apenas na medida em que afetava as respostas desta à separação (Vaughan & Bost, 1999). Em conjunto parecem surgir evidências compatíveis com alguma controvérsia relativamente às contribuições das classificações do temperamento para a vinculação, sendo esse contributo mais indireto do que direto (Vaughan & Bost, 1999) sendo mais correto focar a análise na relação do que propriamente no cuidador ou na criança, e nas suas características temperamentais, isoladamente. Sobre as hipóteses de relações que emergem do estado de arte atual cumpre antes de mais referir que ao estudarmos a relação entre vinculação e temperamento estudamos dois constructos de natureza diferente passiveis de relações recursivas. 56
Para finalizar refere-se que a perceção que a mãe pode ter do temperamento do bebé e isso pode estar relacionado tanto com aspetos de emocionalidade (ativação do afeto e comportamento em resposta aos acontecimentos) positiva (sorriso, vocalizações, olhar) como negativa (irritabilidade, capacidade para se autoacalmar ou para se deixar acalmar) ou ainda com os níveis de atividade (motilidade, ritmos e reação à frustração), características dos estados de vigília ou com as capacidades sensoriais. REFERÊNCIAS Ainsworth, M.D.S., Blehar, M.C, Walters, E., & Wall, S. (1978). Patterns of attachment: A psychological study of the strange situation. Hillsdale, NJ: Erlbaum. Akiskal, H.S. (1994). Dysthymic and cyclothymic depressions: therapeutic considerations. Journal of Clinical Psychiatry, 55, 46-52. Akiskal, H.S., & Akiskal, K.K. (2005a). TEMPS: Temperament Evaluation of Memphis, Pisa, Paris and San Diego. Journal of Affective Disorders, 85 (1-2). Special Issue. Akiskal, H.S., & Akiskal, K.K. (2005a). TEMPS: Temperament Evaluation of Memphis, Pisa, Paris and San Diego. Journal of Affective Disorders, 85 (1-2). Special Issue. Allport, G.W. (1961). Pattern and growth in personality. New York: Holt, Rinehart & Winston. Bates, J. E. (1989a). Concepts and measures of temperament. In G. A. Kohnstamm, J. E. Bates, & M. K. Rothbart (Eds.), Temperament in childhood (pp. 3-26). England: Wiley. Bates, J. E. (1989b). Applications of temperament concepts. In G. A. Kohnstamm, J. E. Bates, & M. K. Rothbart (Eds.), Temperament in childhood (pp. 321-355). Chichester, England: Wiley. Bates, J. E., & Bayles, K. (1984). Objective and subjective components in mother’s perceptions of their children from age 6 moths to 3 years. Merril-Palmer Quarterly, 30, 111130. Bates, J. E., Freeland, C. A. B., & Lounsbury, M. L. (1979). Measurement of infant difficultness. Child Development, 50, 794-803. Chess, S., & Thomas, A. (1986). Temperament in clinical practice. New York: Guilford. Cloninger, C. (1987). A systematic method for clinical description and classification of personality variants. A proposal. Archives of General Psychiatry, 44: 573‐588. Cloninger, C., Svrakic, D., & Przybeck, T. (1993). A psychobiological model of temperament an character. Archives of General Psychiatry. 50 (12), 975‐990.
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59
8.
PERCEÇÕES DOS PROFESSORES SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL EM MEIO ESCOLAR 1
Teresa Isaltina Gomes Correia , Maria Gracinda O.C.G.Amaro
2
(1) Escola Superior de Saúde-Instituto Politécnico de Bragança, Investigadora do CIDESD. (2) Agrupamento de Escolas Miguel Torga, Coordenadora do Projeto Saúde Escolar.
Objetivo: Avaliar perceções, atitudes e conhecimentos em relação à educação sexual entre professores do ensino básico e secundário. Métodos: Participaram neste estudo transversal 292 professores do terceiro ciclo e do ensino secundário do Concelho de Bragança no ano letivo 2010/2011. Foi aplicado um questionário constituído por escalas relativas a atitudes e importância atribuída a temas de educação sexual (adaptado de Ramiro e Matos, 2008). Foram excluídos da amostra os professores que não tinham componente letiva. A análise das diferenças foi efetuada pela análise de variância ANOVA. Resultados: A amostra deste estudo era maioritariamente (68%) do sexo feminino e lecionava há 20,6 anos (dp ± 8,5). Quanto ao conhecimento da lei que regula a educação sexual em meio escolar, apenas 40% dos professores afirmou conhecê-la. Os professores manifestaram a sua preferência quanto ao profissional mais habilitado para abordar a temática da educação sexual em meio escolar, e, 45% escolheu o profissional de saúde da área e da especialidade. Apenas 18% dos docentes referiram ter experiência de educação sexual em meio escolar. Os professores, no geral, revelaram ter atitude e atribuir importância média/alta em relação à educação sexual. Revelaram uma atitude mais positiva em relação à educação sexual: as professoras [Média=37,7;p=0,035] em relação aos professores; os que têm experiência em educação sexual em meio escolar [Média=39,9; p=0,000], em relação aos que não têm experiência; os mais novos [Média=38,1; p=0,017], em relação aos mais velhos. Conclusão: Os professores, no geral, conhecem e são favoráveis à educação sexual em meio escolar. Palavras-chave: Educação Sexual, Escola, Conhecimentos, Atitudes
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Introdução A Educação Sexual dos jovens assume grande relevância na comunidade escolar e é uma preocupação em termos de Saúde Pública. (Ramiro e Matos, 2008). Num atual quadro de orientações considera-se a obrigatoriedade de abordar a educação sexual em meio escolar. Recentemente, a Lei n.º 60/2009 de 6 de Agosto, estabelece o regime de aplicação da Educação Sexual em meio escolar, e torna obrigatória a sua lecionação em contexto de sala de aula, pela necessidade de uma abordagem do tema de uma forma explícita, intencional e pedagogicamente estruturada. A Educação Sexual cria condições para que os adolescentes tomem decisões mais adequadas acerca da sua sexualidade, defendendo alguns autores que a Educação Sexual deve começar na infância, antes de ocorrerem as primeiras relações sexuais (Correia, Mendes e Correia, 2012; Ramiro, et al, 2010; Ramiro et al 2011). A escola é o lugar privilegiado para realização de educação sexual formal e articulada, pois crianças e adolescentes permanecem aí um tempo significativo. A opinião dos estudantes também vai neste sentido num estudo realizado a maior parte dos adolescentes (cerca de 88%) optaram pela Escola como o local privilegiado para a Educação Sexual. (Ramiro, et al, 2010; Correia, 2008). A formação e a experiência de educação sexual em meio escolar estão associadas com as atitudes do professor (Reis e Vilar, 2004). Conhecer as conceções dos professores sobre Educação Sexual em contexto escolar e os fatores que as podem influenciar torna-se preponderante no planeamento de medidas para a operacionalização da Educação Sexual na Escola. Apesar da diversidade de atores que nela participam, os professores em geral e os de Ciências Naturais em particular, são tradicionalmente os sujeitos chave na sua implementação ao nível escolar. Este trabalho teve como objetivo identificar perceções, atitudes e conhecimentos em relação à Educação Sexual entre professores do ensino básico e secundário em contexto escolar. Métodos Participaram neste estudo transversal 292 professores do terceiro ciclo e do ensino secundário do Concelho de Bragança no ano letivo 2010/2011. Foram definidos como critérios de inclusão: Serem professores do 3ºCiclo e/ou Ensino Secundário e lecionarem no
61
Concelho de Bragança. Foram excluídos da amostra os professores que não tinham componente letiva. Para a recolha de informação foi aplicado um questionário constituído por escalas relativas a atitudes e importância atribuída a temas de Educação Sexual (adaptado de Ramiro e Matos, 2008). O instrumento inclui questões referentes aos seguintes aspetos: Sociodemográficos; Atitudes em relação à Educação Sexual; Conforto na abordagem de tópicos relacionados com sexualidade; Importância atribuída a temas gerais da Educação Sexual. Após autorização das escolas envolvidas, por parte dos seus Diretores, procedeu-se à recolha da informação que foi realizada pelos investigadores nas escolas, no primeiro período do ano letivo 2010-2011. Foi efetuada uma reunião geral de docentes preparatória de sensibilização aos professores e explicitada a necessidade do preenchimento da totalidade das perguntas do instrumento. Os dados foram depois introduzidos numa base de dados produzida para esse efeito, no programa estatístico SPSS versão 18. O conjunto de informações recolhidas foi analisado de acordo com a metodologia estatística descritiva e analítica usual. Foram calculadas prevalências, médias, medianas e desvios-padrão. A análise das diferenças de média foi efetuada pela análise de variância ANOVA. Os dados são anónimos e confidenciais sendo respeitados os princípios da Declaração de Helsínquia. Resultados A amostra deste estudo era maioritariamente (68%) do sexo feminino (Gráfico 1) e lecionava em média há 20,6 anos (dp ± 8,5) (Gráfico 2).
Sexo
Gráfico 2. Diagrama de extremos e quartis para o Gráfico 1. Distribuição da amostra de acordo com o sexo
número de anos de docência
62
Quanto ao conhecimento da lei que regula a Educação Sexual em meio escolar, mais de metade (60%) dos professores afirmou desconhecê-la (Gráfico 3).
Conhecimento da lei que regula a ES em meio escolar 70 60 50 %
40 30 20 10 0 Série1
Sim
Não
40
60
Gráfico 3. Conhecimento sobre a Lei ES
Apenas 18% dos docentes referiram ter experiência de Educação Sexual em meio escolar (Gráfico 4).
Experiência em Educação Sexual em meio escolar 18%
Sim 82%
Não
Gráfico 4. Experiência em Educação sexual em meio escolar
63
Os professores manifestaram a sua preferência quanto ao profissional mais habilitado para abordar a temática da Educação Sexual em meio escolar, sendo que 45% escolheram o profissional de saúde da área e da especialidade (Tabela 1).
Tabela 1. Profissional mais habilitado para abordar E. S.
N Professor da “área disciplinar” Professor de “qualquer área disciplinar” Profissional de saúde da área e especialidade Psicólogo Outro Total
% 93
32,1
53
18,3
130
44,8
12
4,1
2
0,7
290
100%
Neste estudo os professores, no geral, revelaram ter atitude e atribuir importância média/alta em relação à Educação Sexual. Pela análise da tabela 2 verifica-se que os professores do sexo feminino revelaram uma atitude mais positiva em relação à Educação Sexual, [Média=37,7;p=0,035], do que os docentes do sexo masculino. Também os professores que têm experiência em Educação Sexual em meio escolar, em relação aos que não têm experiência revelaram ter atitude e atribuir importância média/alta em relação à Educação Sexual, [Média=39,9; p=0,000]. De igual modo os professores mais novos em relação aos mais velhos revelaram ter atitude e atribuir importância média/alta em relação à Educação Sexual [Média=38,1; p=0,017] (Tabela 2).
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Tabela 2. Pontuação na escala QAAPES segundo o género e a experiência em Educação Sexual em meio escolar
Variável
N
Média
Desvio padrão
Masculino
94
36,266
5,961
Feminino
198
37,687
5,026
Sim
52
39,808
5,871
Não
240
36,671
5,106
20-30
20
37,950
5,880
31-40
68
37,661
5,584
41-50
111
38,081
4,696
51-60
86
35,919
5,721
7
33,571
ET
p
-2,123
0,035**
3,907
0,000*
3,070
0,017*
Género
Experiência em E. S. em meio escolar
Grupo Etário
Mais de 60
a
a
4,276
* Estatisticamente significativo a 1%; ** Estatisticamente significativo a 5%; NS – Não significativo
Discussão A primeira lei relativa à ES em meio escolar, que surgiu em Portugal, remonta ao ano de 1984 (lei nº.3/84, 1984) sendo sucessivamente atualizada por outras leis que foram afinando pormenores e estratégias no sentido de maior eficácia para a implementação da ES na Escola. No presente estudo apenas 40% dos professores afirmou ter conhecimento sobre a lei que regula a Educação Sexual em meio escolar. Estes resultados permitem questionar se os professores estão interessados em conhecer esta problemática. Num estudo recente os jovens referem que se sentem à vontade para falar de educação sexual com os amigos (85,4 %) e pouco à vontade para falar com os professores (73,3 %). (Ramiro, et al, 2011). Apenas 18% dos docentes referiu ter experiência de Educação Sexual em meio escolar. Estudos realizados (Ramiro e Matos, 2008; Reis e Vilar, 2004;Reis, 2003) 65
com professores do ensino básico e secundário permitiram verificar que a maior parte dos professores (cerca de 72 %) referiu não ter experiência em educação sexual em meio escolar, apesar de considerarem que possuem conhecimentos e atitudes favoráveis à mesma. No entanto os estudantes do ensino secundário (87,6%) referem que a escola é o local eleito para a implementação de estruturas de apoio à sexualidade e preferencialmente (71,5%) lecionada numa disciplina específica. (Correia, 2008). Quando está plasmado na lei (Lei n.º 60/2009 de 6 de Agosto) que a educação sexual em meio escolar deve ser transversal a todas as disciplinas custa a entender o porquê de nem um quarto dos docentes terem tido essa experiência. Entenderão que essa é uma área de parceria com outros atores do processo e portanto esperam colaboração de outras áreas? Neste estudo os professores, no geral, revelaram ter atitude e atribuir importância média/alta em relação à Educação Sexual indo de encontro a outro estudo (Ramiro e Matos, 2008). Os professores do sexo feminino revelaram uma atitude mais positiva em relação à Educação Sexual [Média=37,7;p=0,035] do que os docentes do sexo masculino. Também os professores que têm experiência em Educação Sexual em meio escolar em relação aos que não têm experiência revelaram ter atitude e atribuir importância média/alta em relação à Educação Sexual, [Média=39,9; p=0,000], dados corroborados com outros (Ramiro e Matos, 2008; Ramiro et al, 2010), no qual foi verificado também que os professores com mais formações atribuíram mais importância à Educação Sexual. De igual modo os professores mais novos em relação aos mais velhos revelaram ter atitude e atribuir importância média/alta em relação à Educação Sexual [Média=38,1; p=0,017].
Conclusão Os professores, no geral, conhecem e são favoráveis à Educação Sexual em meio escolar. Neste estudo os docentes, no geral, revelaram ter atitude e atribuir importância média/alta em relação à Educação Sexual. Os professores do sexo feminino, os que se enquadram no grupo etário entre os 41 e 50 anos e os que têm experiência em Educação Sexual têm atitudes mais positivas face à Educação Sexual. No entanto, parece verificar-se ainda alguma dificuldade na operacionalização de estratégias para a sua implementação.
66
REFERÊNCIAS Correia, PMGP; Mendes, JCO, Correia, T. (2012) - Dados e reflexão sobre a saúde sexual e reprodutiva dos adolescentes portugueses. Formasau, Formação e Saúde Ldª. Sinais Vitais. ISSN 0872-884. 100, p. 35-40. Lei nº.3/84,24 de março de 1984 (1984) - Direito à Educação sexual e ao Planeamento familiar. Diário da República, I Série. Ramiro, L., Reis, M., Matos, M.G. & Vilar, D. (2010) - Educação Sexual em Meio Escolar: Conhecimentos, Atitudes e Conforto nos Professores do Ensino Básico e Secundário. Journal of Children and Adolescents Psychology, Special Issue: School 1: 163 -180. Lisboa: Universidade Lusíada. Ramiro, L; Reis, M; Matos, M; Diniz, JA; Simões, C. (2011) - Educação sexual, conhecimentos, crenças, atitudes e comportamentos nos adolescentes. Rev. Port. Sau. Pub.. ISSN 0870-9025, p.11-21. Ramiro L, Matos M. (2008). - Perceções de professores portugueses sobre educação sexual. Rev. Saúde Pública. 42:684– 92. Reis, M.H. & Vilar, D (2004) - A implementação da Educação Sexual na Escola: atitudes dos professores. Análise Psicológica, XXXII (4), 737-745. Reis MH. (2003). - A educação sexual nas escolas portuguesas: os professores como atores na sua implementação. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Dissertação de Mestrado. Teresa, C. (2008) - Expectativas dos adolescentes em relação aos professores e profissionais de saúde na área da sexualidade. Revista Sinais Vitais. ISSN 0873-5689.80, p. 42-48.
67
9.
ADOLESCENTES: AUTOIMAGEM E NÍVEL SOCIAL E ECONÓMICO
Maria Isabel Ribeiro
1
Teresa Isaltina Gomes Correia
2
Matilde Delmina Da Silva Martins (1)
3
Instituto Politécnico de Bragança. Investigadora do CETRAD. Colaboradora da UDI.
(2;3) Escola Superior de Saúde-Instituto Politécnico de Bragança, Investigadoras do CIDESD.
Objetivo: Este estudo tem como objetivo analisar as relações entre o nível social e económico e a autoperceção da imagem corporal em adolescentes. Métodos: Estudo transversal. Após autorização de participação dos responsáveis pelos adolescentes, foram distribuídos, no ano letivo 2010/2011, em contexto de sala de aula, 320 questionários a estudantes, com idades entre os 10 e os 15 anos, que frequentavam o 2º ciclo de escolaridade de uma Escola do Concelho de Vila Nova de Gaia. Para avaliar a perceção da autoimagem corporal utilizou-se a Escala de Silhuetas proposta por Tiggemann & Wilson-Barret (1998). O nível social e económico foi determinado através da Classificação Social Internacional estabelecida por Graffar. Resultados: Dos adolescentes que participaram nesta investigação, 77 eram do género feminino. Uma parte significativa apresentou sobrepeso (24,2%) ou obesidade (18,3%). Os resultados permitiram verificar que a imagem corporal esteve associada ao género (Χ2= 54,121; p= 0,046), ao Índice de Massa Corporal (Χ2=48,291; p=0,000) e ao nível social e económico (Χ2=6,273; p=0,043). Por um lado, foram os adolescentes do género feminino que apresentaram, em maior número, insatisfação corporal por excesso de peso ou obesidade. Por outro, observou-se que os adolescentes de nível social e económico mais elevado apresentaram maior satisfação com a sua imagem corporal e menor Índice de Massa Corporal em comparação com os adolescentes de nível social e económico mais baixo. Conclusões: As condições sociais e económicas em que os adolescentes estão integrados influenciam a sua autoimagem, destacando-se o papel da escola/família na ajuda para a compreensão/gestão das emoções. Palavras-Chave: Adolescentes, Imagem corporal, Nível social e económico.
68
Introdução A adolescência é um período compreendido entre os 10 e os 19 anos de idade, caraterizase por diversas modificações físicas, comportamentais e psicossociais, entre outras, podendo interferir nas atividades sociais. É marcada por transformações relacionadas com a formação da auto-imagem do indivíduo (Conti et al., 2009; Castro et al., 2010 e Nogueira et al., 2010). Os adolescentes têm como características comportamentos de contestação que o tornam vulnerável, instável, seguidor de líderes, grupos e modas, desenvolvendo preocupações ligadas ao corpo e à aparência (Branco et al., 2006). Os adolescentes são, atualmente, mais propensos a preocupações em relação à imagem corporal (Matos et al., 2006), sendo a insatisfação corporal mais prevalente no género feminino (Scherer et al., 2010). Norris (1982) defende que a imagem corporal é o conjunto de perceções, informações e sensações conscientes e inconscientes, em constante mudança sobre o nosso próprio corpo com base nas sensações e experiências vividas ao longo da vida. O desenvolvimento da imagem corporal dá-se paralelamente ao do próprio corpo da criança, tendo uma relação com aspetos fisiológicos, afetivos e sociais, constituindo um processo que vai sendo construído ao longo de toda a vida do indivíduo (Nogueira et al., 2010). A imagem corporal ser influenciada por inúmeros fatores de origem física, psicológica, ambiental e cultural no âmbito da subjetividade de cada ser humano, tais como o género, a idade, os avanços tecnológicos, as crenças, a raça e os valores (Castro et al., 2010; Graup et al., 2008). Neste contexto, sabe-se que o nível socioeconómico, as crenças, os meios de comunicação, o ambiente escolar, os valores, as atitudes e a própria cultura, têm grande influência sobre a imagem que o indivíduo forma de si mesmo. Esta investigação de caráter quantitativo, transversal e analítico teve como objetivo analisar as relações entre o nível social e económico e a auto perceção da imagem corporal em adolescentes.
Metodologia Após autorização de participação dos responsáveis pelos adolescentes, e por parte da organização que foi objeto de estudo, foram distribuídos, no mês de maio do ano letivo 2010/2011, 320 questionários a estudantes, com idades entre os 10 e os 15 anos, que frequentavam o 2º ciclo de escolaridade de uma Escola do Concelho de Vila Nova de Gaia. Receberam-se, devidamente, preenchidos 153 questionários.
69
O questionário estava dividido em duas partes, a primeira parte era relativa à perceção da imagem corporal real (atual) e ideal e foi preenchida pelo estudante, em contexto de sala de aula. A segunda parte, preenchida pelo encarregado de educação ou por um dos progenitores, dizia respeito aos dados socioeconómicos do agregado familiar do estudante. Para avaliar a perceção da autoimagem corporal utilizou-se a Escala de Silhuetas proposta por Tiggemann & Wilson-Barret (1998) a qual representa um continuum desde a magreza (silhueta 1) até à obesidade severa (silhueta 9). Nesta escala, cada adolescente escolheu o número da silhueta que considerava mais semelhante à sua imagem atual e a que percecionava como ideal. Deste modo a insatisfação com a imagem corporal foi determinada pela diferença entre a auto perceção da imagem real e da imagem ideal. O nível social e económico foi determinado através da Classificação Social Internacional estabelecida por Graffar. Para avaliar o Índice de Massa Corporal (IMC) foi necessário recorrer às tabelas de Percentis. Foram formalizados dois pedidos de autorização, um ao Conselho Executivo de uma Escola Básica 2,3 localizada no Concelho de Vila Nova de Gaia e o outro direcionado aos encarregados de educação/progenitores dos estudantes que foram objeto deste estudo. Após concedida a autorização por parte do Conselho Executivo da referida escola e recebida a autorização por parte dos responsáveis dos estudantes, foram nomeados professores para procederem à distribuição dos questionários e prestarem os devidos esclarecimentos sobre a natureza e a importância desta investigação. Nas comparações entre duas proporções, foi aplicado o teste de significância do quiquadrado. O nível de significância adotado foi de 5%.
Resultados A maioria dos participantes era do género feminino e pertencia à classe social média (68,6%). Uma parte significativa apresentou excesso de peso (24,2%) ou obesidade (18,3%) (tabela 1).
70
Tabela 1 - Frequências (Género, Classes sociais e IMC) e medidas de tendência central e de dispersão (idade)
Variáveis
Grupos
Género
Classe social
IMC
Frequências (n=153) %
n
Masculino
49,7
76
Feminino
50,3
77
Média alta
5,3
9
Média
68,6
105
Média baixa
25,5
39
Baixo peso/ normal peso
57,5
88
Excesso peso/obesidade
42,5
65
Medidas de tendência central e de dispersão relativas à idade Média = 18,8 DP ± 0,962 Moda= 12 Mediana = 12 Mínimo = 10 Máximo = 15
Relativamente aos dados socioeconómicos do agregado familiar do estudante, observa-se que 3,9% dos pais têm o ensino primário incompleto; cerca de metade 50,3%, têm o ensino primário completo; 33,3% o ensino médio ou técnico inferior; 7,9% o ensino médio ou técnico superior e 5,2% o ensino universitário ou equivalente (figura 1). Relativamente às mães dos inquiridos observa-se que 3,92% têm o ensino primário incompleto; cerca de 57% têm o ensino primário completo; 26,1% têm o ensino médio ou técnico inferior; 3,3% o ensino médio ou técnico superior e aproximadamente 8% o ensino universitário ou equivalente (figura 2).
Figura 1 – Grau de instrução do pai do adolescente
71
Quanto à profissão do pai verifica-se que 30,1% pertencem à categoria equivalente de jornaleiros, mandaretes e ajudantes de cozinha; 32,1% pertencem à de motoristas, polícias e cozinheiros; 20,4% pertencem à de ajudantes técnicos, desenhadores, caixeiros e contramestre; 3,92% pertencem à de chefes de secções administrativos ou de negócios de grandes empresas e 3,92% pertencem à de diretores de bancos, diretores técnicos de empresas (figura 3). Relativamente à profissão da mãe verifica-se que mais de metade, 62,09%, pertencem à categoria de jornaleiras, mandaretes e ajudantes de cozinha; 22,88% pertencem à de motoristas, polícias e cozinheiros; 9,15% pertencem à de ajudantes técnicos, desenhadores, caixeiros e contramestre; 1,31% pertencem à de chefes de secções administrativos ou de negócios de grandes empresas e 4,58% pertencem à de diretores de bancos, diretores técnicos de empresas. (figura 4)
Figura 3 - Profissão do pai do adolescente
principal fonte de rendimento do agregado familiar resulta do salário, ou seja, renumeração por semana, horas a tarefa (45,8%), seguindo-se de rendimentos que correspondem a um vencimento mensal fixo (32,1%). De beneficência pública ou privada vivem cerca de 15% dos agregados familiares. Lucros de empresas, altos honorários, lugares bem remunerados são a fonte de rendimento de 4,6%. Por fim, cerca de 2% dos agregados familiares têm principal fonte de rendimento fortuna herdada ou adquirida (figura 5).
Figura 5 - Fontes de rendimento do agregado familiar
Uma grande parte dos inquiridos, 71,9%, vive em casas ou andares modestos, bem construídos e em bom estado de conservação, bem iluminadas e arejadas, com cozinha e 72
casa de banho. Em casas ou andares que sem serem muito luxuosas são, não obstante, espaçosos e confortáveis vivem cerca de 17% dos inquiridos. Uma pequena parte dos mesmos (2%) habitam casas ou andares luxuosos ou muito grandes oferecendo aos moradores o máximo conforto. Os restantes 8,5% vivem em casas de categoria intermédia (figura 6).
Figura 6 – Conforto do alojamento do agregado familiar
Uma grande parte dos inquiridos, 64,7%, habita em bairros residenciais bons, de ruas largas com casas confortáveis e bem conservadas. Em ruas comerciais ou estreitas e antigas com casas de aspeto geral menos confortável e zonas rurais não degradadas e em bairros operários, populosos, mal arejados ou bairro em que o valor do terreno está diminuído como consequência da proximidade de oficinas, fábricas habitam cerca de 17% dos inquiridos. Uma pequena parte dos inquiridos (1,3%) habitam em bairros residenciais elegantes, onde o valor do terreno ou os alugueres são elevados (figura 7).
Figura 7 – Aspeto do Bairro habitado
A maioria dos adolescentes está insatisfeito com o seu corpo (69,9%) sendo que destes, 51,1% está insatisfeito por considerar que tem uma silhueta acima da desejada e 18,3% está insatisfeito porque considera que tem uma silhueta abaixo da desejada (figura 8).
73
Insatisfeito por ter uma silhueta inferior 18,3%
Insatisfeito por ter uma silhueta superior 51,6%
Satisfeito 30,1%
Figura 8 – Prevalência de adolescentes insatisfeitos com a imagem corporal
As raparigas em comparação com os rapazes ambicionam, em maior número, ter uma silhueta menor (54,5% vs 48,7%) (figura 9). Enquanto que os rapazes desejam ter uma silhueta mais robusta e maior.
Insatisfeito por uma ter silhueta superior
54,5 48,7 28,6 31,6
Satisfeito Insatisfeito por ter uma silhueta inferior
20,0 Feminino
34,2 65,8
2,3
satisfeito
97,7
Insatisfeito por ter uma silhueta inferior
16,9 19,7 0,0
insatisfeito por uma silhueta superior
40,0
60,0
Masculino
Figura 9 - Prevalência de adolescentes (in)satisfeitos com a imagem corporal por género
0,0 100,0 0,0
Excesso peso/obesidade
50,0
100,0
Baixo peso/normo peso
Figura 10 - Prevalência de adolescentes (in)satisfeitos com a imagem corporal por IMC
Os resultados permitiram verificar que a imagem corporal esteve associada ao género (χ2= 54,121; p= 0,046), ao Índice de Massa Corporal (χ2=48,291; p=0,000) e à classe social (χ2=6,273; p=0,043) (tabela 2). Por um lado, foram os adolescentes do género feminino e os que possuíam excesso de peso ou obesidade que apresentaram, em maior número, insatisfação corporal por terem uma silhueta superior à que desejariam (figuras 9 e 10).
74
Tabela 2 – Comparação de grupos quanto ao nível de (in)satisfação com a imagem corporal
VARIÁVEIS
GRUPOS
Género
IMC
Classe social
N
Masculino
76
Feminino
77
Baixo peso/ normal peso
88
Excesso peso/obesidade
65
Média alta
9
Média
105
Média baixa
39
COMPARAÇÃO PROPORÇÕES χ2
P
54,121
0,046*
48,291
0,000*
6,273
0,043*
*Existem diferenças, estatisticamente significativas, entre as proporções para nível de significância de 5%.
Observou-se que os adolescentes de nível social e económico mais elevado apresentaram em maior número, satisfação com a sua imagem corporal (figura 11) e menor Índice de Massa Corporal em comparação com os adolescentes de nível social e económico mais baixo (figura 12).
30,8
Classe média baixa
69,2
7,1
Classe média baixa
30,1
27,6
Classe média
72,4
92,9
Classe media
62,6
55,6
Classe média alta
44,4 0,0
20,0 Satisfeito
40,0
60,0
0,0 7,3
Classe média alta 80,0
Insatisfeito
Figura 11 - Prevalência de adolescentes (in)satisfeitos com a imagem corporal por classe social
0,0
20,0 40,0 60,0 80,0 100,0
Excesso peso/obesidade
Baixo peso/normo peso
Figura 12 – Índice de massa corporal por classe social
Discussão Na presente investigação a prevalência de excesso de peso e obesidade foi de 24,2% e 18,3%, respetivamente. Constatou-se ainda que a prevalência de obesidade denotou 75
padrões distintos entre os géneros, com um predomínio no género feminino (20,8% vs 15,8%). Num estudo realizado em Portugal, por Matos et al. (2006), verificou-se uma prevalência de sobrepeso e obesidade de 15,2% e 2,8%, respetivamente. Janssen et al. (2005) referem que em Portugal, 12% dos jovens, entre os 10 e 16 anos, apresentam excesso de peso e 3% obesidade, valores substancialmente inferiores aos encontrados neste estudo. Porém, Ribeiro et al. (2003), numa investigação que teve como objeto de estudo a população escolar do grande Porto constataram que os rapazes apresentavam valores ligeiramente superiores de excesso de peso e de obesidade (22,5% e 8,4%, respetivamente) quando comparados com as raparigas (18,5% e 5,3%, respetivamente). Dados recentes referentes ao sobrepeso e obesidade de 25 países da Europa evidenciam uma prevalência de excesso de peso maior em jovens do género masculino quando comparado com o género feminino, na maioria dos países europeus (IOTF, 2009). Nos últimos anos, tem-se observado um importante aumento da prevalência da obesidade em diversos países e em variadas faixas etárias (Silva, Balaban & Motta, 2005), sendo considerado, segundo a Organização Mundial da Saúde, uma epidemia global (Carmo, 2001) A escala de silhuetas constitui um instrumento bastante eficaz para avaliar o grau de insatisfação com o peso e as dimensões corporais na avaliação da componente perceptiva da imagem corporal (Gardner, Friedman & Jackson, 1998; Gardner, Stark, Jackson & Friedman, 1999). Contribui também para o estatuto da imagem real e da imagem ideal, especialmente entre pessoas portadoras de sobrepeso e obesidade, ou que apresentem dificuldades no controle do peso e do comportamento alimentar. Nos últimos anos têm-se observado uma ascensão do sobrepeso e obesidade em todas as faixas etárias (Wang & Dietz, 2002), os adolescentes com excesso de peso corporal têm apresentado problemas em relação à aceitação da sua auto-imagem e à valorização do seu próprio corpo. Segundo Ricciardelli & McCabe (2001) a insatisfação com a imagem corporal é altamente prevalente durante a adolescência, sendo frequentemente associada à discrepância entre silhueta real e ideal (Almeida et al., 2005 e Durkin & Paxton, 2002). Nesta investigação, a maioria dos adolescentes está insatisfeito com o seu corpo (69,9%) sendo que destes, 51,1% está insatisfeito por considerar que tem uma silhueta acima da desejada e 18,3% está insatisfeito porque considera que tem uma silhueta abaixo da desejada. Na opinião de Petroski, Pelegrini & Glaner (2012) a estética e a autoestima são os motivos que mais influenciam na distorção da imagem corporal em adolescentes. Foram os adolescentes do género feminino que apresentaram, em maior número, insatisfação corporal por excesso de peso ou obesidade. Os valores de insatisfação corporal são superiores nas raparigas, resultados que confirmam os achados de Branco et 76
al. (2006), Triches & Giugliani (2007), Barker & Galambos (2003); Eisenberg et al. (2006) e Petroski et al. (2012). Segundo Petroski et al (2012) os principais motivos indicados pelos adolescentes que desejam reduzir o tamanho da silhueta corporal foram, por ordem decrescente, a autoestima, a saúde e a estética e entre outros. Por outro lado, os motivos apontados pelos adolescentes que desejam aumentar o tamanho da silhueta corporal foram, melhorar nas atividades diárias, a opinião de familiares, o desejo de ser forte fisicamente e a estética. Nesta investigação observou-se que os adolescentes de nível social mais elevado apresentaram em maior número, satisfação com a sua imagem corporal, verificando-se existir uma associação entre a (in)satisfação com a imagem corporal e classe social. Contrariamente, aos resultados obtidos num estudo levado a cabo por Lima (2009) onde o autor concluiu que os pré-adolescentes de nível socioeconómico “superior” não apresentaram maior perceção de imagem corporal satisfatória em comparação aos préadolescentes de nível socioeconómico “inferior”. O referido autor também concluiu que, no caso da amostra estudada não havia associação entre o nível socioeconómico e a satisfação corporal.
Conclusão No presente estudo as condições sociais e económicas em que os adolescentes estão integrados estão associados à (in)satisfação com a sua autoimagem, destacando-se o papel da escola/família na ajuda para a compreensão/gestão das emoções de forma a evitar no futuro problemas e distúrbios alimentares.
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79
10.
IMPLICAÇÕES
DA
CRISE
ECONÓMICA
NA
SAÚDE
MATERNA:
UMA
PERSPECTIVA INTERNACIONAL COM REPERCUSSÕES NACIONAIS Mário Cardoso
1
Andrea Carvalho
2
Tiago Nascimento Helena Presado
3
1
(1) EESMOG, Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, mmcardoso@esel.pt (2) EESMOG, Centro Hospitalar do Oeste (3) Enfermeiro, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa,
Resumo: Objectivo: Compreender as implicações da crise económica na área da saúde materna, nas vertentes internacional e nacional. Metodologia: Optou-se pela realização de uma reflexão recorrendo à revisão não sistemática e selecção de documentos através do recurso à leitura crítica. Foram seleccionados seis documentos produzidos por entidades de referência na área económica e na área da saúde. Resultados: Apesar dos sistemas de saúde não serem passíveis de serem comparados dado as suas diferentes géneses e modelos de financiamento, surgem preocupações associadas à diminuição da qualidade e do acesso aos cuidados e consequente comprometimento dos indicadores de qualidade, a médio e longo prazo. É parca a documentação existente que faça a correlação entre a crise económica e as consequências na área da Enfermagem, em especial na Área da Enfermagem de Saúde Materna. Conclusões: Existe um risco de regressão na qualidade dos cuidados prestados associados à depressão económica e à pobreza, o que se fará sentir não só em Portugal mas em toda a Europa. São necessários estudos correlacionais que possam desenvolver a temática e mostrar as reais implicações para as populações bem como são urgentes políticas nacionais para a maior protecção da mulher e da criança.
Palavras-Chave: Economia; Saúde; Crise; Saúde Materna
INTRODUÇÃO Nos últimos tempos a economia internacional tem-se vindo a degradar dando azo a que investimentos sejam colocados de lado e que sejam promovidas alterações do ponto de vista financeiro, que colocam em causa a viabilidade de várias áreas, entre elas a saúde. De um ponto de vista macro estas alterações terão um impacto directo no acesso das famílias aos cuidados de saúde, não só pela carência destes mesmos cuidados mas também pelo facto da saúde das famílias poder sofrer alterações em virtude da diminuição de recursos financeiros o que implica menos condições de alimentação, compra de 80
medicamentos, acesso a saúde, entre outras. Todos estes conjuntos de variáveis poderão ter, a médio e longo prazo, consequências desastrosas não só para a saúde em geral, mas mais especificamente para a saúde materna. Cabe assim aos enfermeiros especialistas em saúde materna, obstetrícia e ginecologia, o assegurar de condições de saúde ao longo do processo bem como a protecção destes mesmos grupos da sociedade.
ENQUANDRAMENTO CONCEPTUAL
A economia, mais especificamente, a economia da saúde, deve ser vista, segundo Pita Barros, “como o estudo da afectação de recursos no sector da saúde.” (2005, p.3). Samuelson (1976), citado por Del Nero (2002) define também a economia, numa definição mais completa, como, "o estudo de como os homens e a sociedade escolhem, com ou sem o uso de dinheiro, a utilização de recursos produtivos limitados, que têm usos alternativos, para produzir bens e distribuí-los como consumo, atual ou futuro, entre indivíduos e grupos na sociedade. Ela analisa os custos e os benefícios da melhoria das formas de distribuir os referidos recursos." (p.20) A economia da saúde procura assim dar resposta à utilização dos recursos disponíveis potenciando-os para a melhor utilização pelos profissionais e pelos clientes. Aplicado ao tema em discussão, a economia deve garantir que existe equidade no acesso aos recursos em saúde. A crise é definida, na mais pura acepção da palavra, como conjuntura ou momento perigoso, difícil ou decisivo (Priberam, 2012). Neste momento é a melhor definição a aplicar. Desde 2007 que vimos a assistir a uma degradação da economia mundial e com repercussões muito negativas em Portugal, um dos países mais atingidos pelas medidas de austeridade infligidas pela chamada Troika. Várias são as previsões para a saída da crise mas, até ver, não existem dados concretos que permitam estabelecer um prazo. Segundo o Relatório da Primavera, “em Portugal, não dispomos de um sistema de monitorização dos efeitos da crise na saúde. Deste modo, não é possível acompanhar com dados objetivos os reais efeitos da crise na saúde dos portugueses.” (OPSS, 2012). A saúde é definida pela organização mundial de saúde (1948) como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade.
81
No que concerne à saúde materna, especialmente à área de intervenção em enfermagem, é essencial recorrer à Ordem dos Enfermeiros que, no seu regulamento dos Padrões de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem Especializados em Enfermagem de Saúde Materna, Obstétrica e Ginecológica, definem como missão do Enfermeiro ESMOG, “assegurar os cuidados especializados de Enfermagem de SMOG nos contextos onde os clientes se encontram (instituições de saúde, domicílios, comunidade, entre outros); garantir a acessibilidade; contribuir para a satisfação dos clientes; produzir ganhos em saúde (…)” (2011, p.2) Esta definição é assim o foco e sinónimo de saúde materna.
METODOLOGIA Para dar resposta ao objectivo de compreender as implicações da crise económica na área da saúde materna, nas vertentes internacional e nacional, optou-se pela realização de uma reflexão recorrendo à revisão não sistemática e selecção de documentos através do recurso à leitura crítica. Foram seleccionados seis documentos produzidos por entidades de referência na área económica e na área da saúde e realizada uma análise de conteúdo dos referidos documentos. Estes não se cingiram apenas a caracterizações/estudos de países desenvolvidos mas abordaram também a questão dos países em desenvolvimento pois, com a escassez de recursos, pode haver uma regressão considerável que coloque as condições dos países desenvolvidos em paridade com os países em desenvolvimento. ANÁLISE e DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Antes de iniciar a análise é necessário fazer uma salvaguarda dado que os documentos analisados têm por base sistemas de saúde diferentes, com diferentes modelos de financiamento e diferentes modelos de protecção social. Desta forma, apesar de não ser possível a comparação directa com Portugal, a nossa reflexão incide sobre aquilo que poderá ser o futuro a médio/longo prazo, em termos económicos bem como a continuidade, ou não, do dito Estado Social. Numa vertente de enquadramento histórico, Ensor et al (2010) consideram que devemos aprender com as crises ao longo da história especialmente nos períodos de grande recessão económica. Estes autores afirmam que existe em vários países uma correlação directa entre os choques económicos e as flutuações na mortalidade infantil com influência nas alterações dos indicadores maternos e infantis. Este estudo apresenta como caminho para superar a crise, a protecção das populações vulneráveis como resposta às variações económicas de cada um dos países. 82
Num estudo da Instituição para o Estudo do Trabalho, na Argentina, as conclusões apresentadas vão de encontro à literatura existente sendo que, “as crises socioeconómicas promovem um aumento da mortalidade a longo prazo através da deterioração de vários indicadores tais como os de baixo peso ao nascer e que comprometem também as gerações vindouras pela recuperação destes indicadores” (2011, p.18) Este estudo aponta também para a necessidade de pro-actividade dos governos para a manutenção, não só dos investimentos mas também da qualidade dos recursos nos sistemas de saúde. Ambos os estudos acima apresentados relevam a solução para o poder do decisor político, no entanto os profissionais de saúde, em especial os enfermeiros, podem ter uma palavra a dizer, não só na prestação de melhores cuidados de saúde como também na investigação do impacto destas alterações na saúde das famílias. O relatório da Amnistia Internacional vem corroborar esta hipótese pois aponta como uma das soluções para a melhoria dos indicadores de saúde materna, em tempos de crise, “melhorar a força de trabalho de cuidados de maternidade, melhorando a educação e o treino para enfermeiros, criando um núcleo de assistência interdisciplinar na maternidade com currículo para promover as melhores práticas baseadas na evidência, centradas na mulher, culturalmente competentes (…) que irão prevenir complicações e reduzir disparidades” (2011, p.22) Esta perspectiva acaba por contrastar com outras perspectivas apresentadas dado que esta aposta, mesmo em tempos de crise, no investimento na área da saúde, com especial enfoque nos cuidados de enfermagem, para que os indicadores não caiam por terra e possa haver uma diferenciação entre a crise económica e a crise na saúde materna. Em 2005, o relatório da Organização Mundial de Saúde aponta 3 factores de sucesso para uma maternidade segura e que têm implicações directas com os resultados dos estudos e relatórios anteriores: 1. “Os decisores políticos e os gestores foram informados: estava a par que tinham um problema, que este poderia ser combatido e decidiram actuar em consonância com essa informação; 2. Optaram por uma estratégia de senso comum que apresentou-se como a estratégia acertada: não apenas os cuidados pré-natais, mas também os cuidados durante e pós-parto para todas as mães, cuidados estes prestados por parteiras, enfermeiras especialistas (adaptado) e por médicos com apoio dos cuidados hospitalares; 3. Garantiram o acesso a estes serviços, financeira e geograficamente, a toda a população.” (p.68)
83
Num paralelismo com Portugal, em que estamos a assistir ao encerramento de maternidades e hospitais, de extensões e centros de saúde, não estaremos também nós a regredir no tempo? O aumento das taxas moderadoras não será também um incentivo ao não recurso ao Serviço Nacional de Saúde? Segundo este mesmo relatório, o não cumprimento destas 3 premissas foi, e é, o grande problema das elevadas taxas de mortalidade infantil nos Estados Unidos da América, que ainda hoje luta por recuperar. Numa perspectiva internacional, o Relatório sobre os Objectivos do Milénio, produzido pelas Nações Unidas, reforça que tem existido um abrandamento de todos os indicadores, apesar de ligeiras melhorias, e que existe um longo caminho a percorrer, que pode ser dificultado pela crise, pondo em causa o pleno alcançar do Objectivo nº 5 – Melhorar a Saúde Materna. (2012) Também em Portugal se podem fazer sentir estes efeitos dado o país tem um elevado estatuto a defender: o de país com uma das melhores taxas de mortalidade infantil do mundo. Existe já a nível nacional uma sensibilização para o impacto da crise económica na saúde da mulher, evidenciado pela Dra. Edite Estrela, numa sessão plenária do Parlamento Europeu, "a crise económica e financeira e as medidas de austeridade adoptadas pelos Estados-Membros, em particular ao nível da oferta, podem levar à redução do financiamento da saúde pública e dos serviços de saúde e da promoção da saúde, da prevenção da doença e dos cuidados de saúde de longo prazo, devido aos cortes orçamentais e à redução das receitas fiscais, podendo, simultaneamente, aumentar a procura de serviços de saúde e de serviços de saúde de longo prazo, devido a uma combinação de factores que contribuem para a deterioração do estado de saúde da população em geral" (2011, p.1) Por esta constatação podemos percepcionar que existe uma consciencialização por parte do poder político para as questões da importância da saúde materna, como é evidenciado no mesmo documento, “a UE e os Estados-Membros devem «garantir às mulheres fácil acesso aos métodos de contracepção, bem como o direito a um aborto seguro», afirma o PE no relatório, encorajando também um acesso mais uniforme aos tratamentos de fertilidade e o apoio à investigação médica e farmacêutica na área das doenças que afectam primordialmente as mulheres. Em termos de acesso às tecnologias de reprodução assistida, o PE apela à adopção de medidas para eliminar a discriminação das mulheres em razão do estado civil, da orientação sexual ou da origem étnica ou cultural.” (2012, p.2)
84
No âmbito das competências do ESMOG este pode, e deve, ter um papel preponderante na consecução destes objectivos, apoiando-se nos órgãos reguladores existentes, entenda-se Ordem dos Enfermeiros e Sindicatos, para poder dar visibilidade a este trabalho. CONCLUSÕES Todos os documentos revelam a enorme problemática que a crise económica pode trazer para a saúde global e cujos impactos podem recair negativamente na saúde materna. Portugal está incluído nessa crise económica e pode também, se não existir uma adopção de políticas que permitam a estabilização económica na área da saúde bem como a protecção social das mulheres e crianças, incorrer na diminuição dos indicadores e perder a médio/longo prazo, os resultados que tantas décadas demoraram a obter. É necessário também repensar o impacto da rede de recursos do serviço nacional de saúde, para que esta seja a mais equitativa e justa possível. Para que o Enfermeiro, em especial o Enfermeiro ESMOG, tenha um papel preponderante na mudança, é essencial que traduza as suas práticas em evidência, recorrendo à investigação e à prática baseada na evidência. Dada a parca literatura sugere-se a realização de estudos que possam avaliar o impacto na saúde, a médio/longo prazo, da austeridade que está a ser imposta nos dias de hoje. REFERÊNCIAS AMNISTIA INTERNACIONAL (2011). Deadly Delivery – The Maternal Health Care Crisis in the
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86
11.
BLUES PÓS PARTO
Andreia Alexandra Silva Ribeiro
1
Joana Isabel de Almeida Coutinho
1
(1) Enfermeira na USF Novo Sentido
Resumo O objectivo deste trabalho foi estudar a temática do blues pós-parto, tentando identificar a sua prevalência, manifestações clínicas, factores desencadeantes e tratamento. Queríamos também saber se o blues pós-parto seria um factor precipitante da depressão pós-parto. Com esse objectivo foi realizada uma pesquisa bibliográfica através de bases de dados científicas. Concluímos que a experiência uma série de alterações emocionais no pós-parto. Entre elas a tristeza materna ou blues pós-parto. Esta afecta entre 20% e 80% das mulheres e caracteriza-se por irritabilidade fácil, depressão, labilidade emocional, insónia e choro fácil e é desencadeada por importantes mudanças, quer sejam alterações físicas, sociais ou psicológicas que ocorrem entre o 3º e o 10º dia pós-parto. Tendo um carácter transitório é uma situação que não exige tratamento, apenas educação e suporte. Nesse sentido, o enfermeiro desempenha um papel importante enquanto contacto privilegiado com a puérpera, nomeadamente aquando da visitação domiciliária ao recém-nascido e à mãe, conseguindo identificar, vigiar e apoiar a puérpera e muitas vezes o companheiro nesta fase.
Palavras-chave: Puerpério, tristeza pós-parto, enfermeiro, prevenção.
Metodologia Este trabalho foi desenvolvido com recurso a pesquisa bibliográfica aliada a reflexão crítica. Introdução O período pós-parto é uma época de alterações emocionais, sociais e físicas significativas para as mulheres sendo, por isso, considerado um período de maior vulnerabilidade para o início ou recorrência de perturbações do humor. A gravidade destas perturbações pode 87
variar desde sintomas leves a graves. O reconhecimento do puerpério como um período de risco na eclosão da doença mental é antigo. Hipócrates, Celso e Galeno, entre outros, terão dado especial atenção a este facto. De facto, foi desde a antiguidade clássica, notada a relação entre o período pós-parto e as alterações de humor. Existem três tipos de perturbações de humor no período pós parto: a tristeza pós-parto, a depressão e a psicose puerperal. O blues pós-parto é extremamente comum, afectando entre 25% a 80% das novas mães durante os primeiros dez dias pós-parto. Os sintomas incluem choro fácil, insónia, labilidade emocional e sentimentos de tristeza os quais se iniciam nos primeiros três dias pós-parto e diminuem pelo décimo quinto dia. Esta forma de alteração de humor pós-parto é limitada, não causa défice de funcionamento e não requer tratamento específico além de educação e suporte. Contudo, apesar destas características, o blues pós-parto é importante pois constitui um factor de risco para a depressão pós-parto subsequente. A sua diferença com a depressão pós-parto parece ater-se à sua menor gravidade e a uma evolução, mais breve. Com esta revisão bibliográfica pretende-se abordar parte da temática inerente ao blues pósparto. Desenvolvimento Segundo Shorge e Norwitz (2001) o puerpério é o período que ocorre desde o nascimento do bebé até ao retorno dos órgãos reprodutivos ao seu estado não gravídico e compreende em média uma duração entre 6 a 8 semanas. O puerpério pode ser dividido em três fases: puerpério imediato (compreende as primeiras 4 horas após o nascimento do bebé), o puerpério mediato (entre o fim do período imediato até ao 3º dia) e o puerpério tardio (entre o final do puerpério mediato e as 6 ou 8 semanas). A par de todas as alterações que ocorrem na gravidez, também o puerpério é uma fase de grandes e importantes mudanças, quer sejam alterações físicas, sociais ou psicológicas. Assim, as alterações físicas que surgem ao longo do puerpério, ocorrem a nível dos seguintes sistemas: reprodutor, endócrino, urinário, gastrointestinal, cardiovascular, músculo-esquelético, tegumentar e nervoso. (Perry e Lowdermilk, 2006) A nível hormonal sucede-se uma diminuição significativa nos valores de progesterona e de estrogénio que foram, progressivamente, aumentando durante a gravidez, assim como se
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verifica um aumento brusco nos valores de prolactina que permite a produção do leite materno. Relativamente às alterações sociais, Nascimento (cit in Saraiva et al, 2008), refere que a maioria das perturbações de humor que ocorrem durante o puerpério têm implicações em todo o sistema sócio-familiar que envolve a mulher, denotando-se uma dificuldade inerente à maioria das puérperas na adaptação do seu papel parental à vida do casal. Também é de salientar que a presença do bebé vai implicar um conjunto de mudanças a nível familiar, uma vez que a chegada deste prejudica o equilíbrio existente entre os vários membros da família. No que concerne aos factores psicossociais, vários estudos têm revelado que não existe qualquer relação entre o Blues pós-parto com a classe social e com as variáveis sóciodemográficas (Henshaw, 2003; Glangeaud-Freudenthal, Crost & Kaminski, 1999). No entanto investigações provaram que o Blues pós-parto é mais comum nas mulheres que são mães pela primeira vez, em situações de partos difíceis, cesarianas, falta de experiência nos cuidados ao recém-nascido e alimentação dos bebés com substitutos do leite materno (Henshaw, 2003). Pitt (1973) encontrou uma associação entre o Blues pós-parto e a dificuldade em amamentar. As mulheres que apresentaram níveis de Blues pós-parto mais elevados eram as que tinham maior tendência para alimentar os seus bebés com substitutos do leite materno, uma vez que demonstram mais dificuldades em amamentar. Em concordância estão as investigações desenvolvidas por Glangeaud-Freudenthal, Crost e Kaminski (1999) que demonstraram que as mulheres que amamentavam manifestavam níveis de Blues pósparto mais elevados comparativamente com as mulheres que recusaram amamentar. Em simultâneo com todas as adaptações temos ainda que considerar que a mulher não se encontra isolada e que a sociedade em que vivemos também exerce alguma pressão, esperando que as mulheres sejam mães exemplares, que exprimam felicidade e receptividade perante a chegada do novo membro da família. No que se refere às alterações psicológicas, Saraiva et al (2008) considera que os sinais indicativos mais frequentes de perturbações psicológicas são: impulsos, instabilidade emocional, irritabilidade, vontade de chorar, apreensão, medo, alegria e excitação. Duarte (2009) apresenta uma classificação para as perturbações psicológicas destacando três formas de gravidade crescente: Blues pós-parto, perturbação depressiva major (também conhecida como depressão pós parto) e psicose puerperal.
89
A maternidade é um período caracterizado pela necessidade de resolução de tarefas de desenvolvimento específicas, associadas a um período de crise que se espera que seja ultrapassado com sucesso (Leal, cit in Sousa, 2006). No entanto Sousa (2006) diz-nos que se esta crise não se resolve pode levar a problemas de desenvolvimento e perturbações graves na saúde mental da mulher. Nesta linha de ideias Antunes et al (2007), aponta vários factores para o aparecimento de alterações psicológicas no puerpério, sendo estes: factores biológicos, sócio-económicos, antecedentes familiares e pessoais de doença psiquiátrica, falta de suporte social e familiar, privação materna precoce, desarmonia conjugal, gravidez não planeada, mãe solteira, primípara, mãe adolescente ou de idade avançada, parto prematuro ou difícil, bebés com défices sensoriais, morte perinatal do bebé, filhos de mães que sofreram luto recente, filhos de mãe toxicodependentes e alcoólicas. São estes também os factores precipitantes da tristeza pós parto, que embora não seja considerada pela maioria dos autores como uma perturbação psicopatológica, é sem dúvida um desequilíbrio emocional sobre o qual vale a pena debruçarmo-nos. Este desequilíbrio emocional foi já amplamente estudado pelo que nos debruçamos sobre os conceitos de alguns autores sobre o tema. Assim, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (2007) esta alteração de humor encontra-se patente em cerca de 80% das puérperas, podendo ter início entre os três e os sete dias depois do parto, persistindo em média por uma ou duas semanas. Os sintomas que caracterizam esta alteração de humor são menos intensos e de pouca durabilidade comparativamente com a depressão pós parto (Araújo e Silva, 2003). Segundo Ruchii et al. (2007), a tristeza materna é um transtorno que tem inicio nas duas semanas após o parto, com incidência de 50 a 80% dos casos, sendo um transtorno autolimitado. Silva e Piccinni (2009), definem a melancolia pós parto como uma espécie de depressão leve e de carácter transitório. De acordo com Cantillino (2003), a tristeza materna apresenta uma prevalência de 25 a 80%, dependendo do critério de diagnóstico utilizado, desenvolvendo-se nos 10 primeiros dias após o parto. Os sintomas específicos desta perturbação segundo Figueiredo (2001) são: disforia, labilidade emocional, crises de choro, irritabilidade, ansiedade, insónia, fadiga, perda de apetite, fragilidade, hipo-emotividade, falta de confiança em si própria e sentimentos de 90
incapacidade. Arrais (2005), também cita sintomas como dificuldades de concentração, alterações de memória e raciocínio, ansiedade, fadiga e preocupação excessiva com a amamentação e a saúde do bebé, no entanto segundo este autor estes sintomas não impedem a realização de tarefas pela mãe para com o bebé. De acordo com Araújo e Silva (2001) a tristeza pós parto é vista como um evento normal e adaptativo, sendo que os mesmos autores referem que o desequilíbrio emocional chega ao ponto de ser essencial para o alívio do stress e ansiedade que decorrem do puerpério. É também considerado como algo natural e adaptativo e que favorece a aproximação mãe/bebé (Figueiredo cit in Canavarro, 2001) Embora a tristeza pós parto seja uma alteração de humor transitória não deve nem pode ser menosprezada, até porque a persistência de sintomas para além de duas semanas funciona habitualmente como percursor de perturbação depressiva major (Duarte, 2009), que pode mesmo afectar a funcionalidade da mãe e por em perigo o seu bem-estar e o do bebé, desta feita torna-se importante delinear estratégias preventivas. Os enfermeiros têm um papel fundamental na detecção precoce desta alteração de humor de forma a prevenir que surja uma alteração psicopatológica pós-parto. Assim, é importante desenvolver competências de relação de ajuda e empatia, favorecendo uma relação interpessoal positiva, recorrendo ao esclarecimento de dúvidas que as puérperas possam apresentar, educando e intervindo de forma individual e personalizada (Perry e Lowdermilk, 2006). Segundo os mesmos autores, nos profissionais de enfermagem é depositada a responsabilidade de orientação inerente às alterações físicas, psicológicas e sociais decorrentes do puerpério. Os enfermeiros devem ainda apoiar a puérpera e incentiva-la a procurar auxílio nas pessoas da sua confiança e que tenham uma atitude positiva e construtiva (Soares, 2010). Encarando a mulher como elemento de uma família em fase de adaptação, o enfermeiro deve consciencializar os vários elementos da família para a fase que a mãe está a atravessar e capacita-los dos sinais de alerta e consequências possíveis do agravamento da tristeza pós parto. Sabendo que é na família que se reúne o ambiente físico, social e afectivo que influenciam o nível de saúde da puérpera, estas não devem ser consideradas isoladamente mas sim dentro do contexto em que vivem. Assim, o enfermeiro deve centrar a sua actuação no envolvimento com o meio familiar e comunidade.
91
Neste contexto a visita domiciliaria de enfermagem torna-se de extrema importância constituindo uma estratégia que permite aos profissionais de saúde aproximarem-se do domicílio da puérpera e da sua família. A finalidade da visita domiciliária à puérpera e ao recém-nascido é promover a relação de proximidade entre a equipe de saúde e a família, assim conhecer as condições habitacionais em que a mãe e o bebé se encontram, bem como o seu estado de saúde. Pretende-se igualmente identificar eventuais situações de risco e através da educação para a saúde, minimizá-las, encaminhá-las para os serviços mais adequados ou sempre que possível elimina-las. Conclusão Perante o que foi descrito ao longo deste trabalho podemos concluir que a tristeza pós parto é bastante frequente e embora na grande maioria dos casos não culmine numa perturbação psicopatológica, esta não deve ser menosprezada. Durante o puerpério do ponto de vista vivencial a mulher encontra-se numa situação de adaptação continua, acompanhada de inúmeras alterações físicas e psicológicas, associadas muitas vezes a uma diminuição do suporte sócio-familiar o que pode facilmente potenciar uma perturbação depressiva. Assim, e tendo em conta o impacto bio-psico-social desta perturbação de humor na puérpera e na sua família, torna-se imperativo diagnosticar este desequilíbrio de humor o mais precocemente possível. Cabe ao enfermeiro munir-se das estratégias necessárias para o acompanhamento à puérpera e família, no sentido de conhecer o ambiente familiar e ser capaz de identificar sinais de alerta. Uma das estratégias considerada como mais-valia neste campo é a visita domiciliária à puérpera e recém-nascido. REFERÊNCIAS Antunes,
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93
12.
UM OLHAR SOBRE A SAÚDE SEXUAL E REPRODUTIVA DOS ESTUDANTES DO ENSINO SUPERIOR
Maria José Santos
1
Anabela Figueiredo João Castro
2
3
Filomena Raimundo
4
(1) Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia; Mestre em Saúde Pública ; Doutoranda do Curso de Ciências de Enfermagem da Universidade do Porto. (2) Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia; Mestre em Ciências da Educação pela Universidade do Porto (3) Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia; Mestre em Bioética; Doutorando do Curso de Bioética da Universidade Católica Portuguesa. (4) Especialista em Enfermagem de Saúde Infantil e Pediátrica; Mestre em Promoção da Saúde pela Universidade Braga.
Resumo — Realizou-se um estudo exploratório, descritivo, de natureza quantitativa, com o objetivo de caraterizar os comportamentos de saúde sexual e reprodutiva de estudantes do Ensino Superior, numa amostra constituída por 122 estudantes. Na recolha de dados utilizamos um questionário de caracterização sociodemográfica e de comportamentos sexuais. Na análise de dados utilizamos a estatística descritiva. Dos participantes, 66% referiram ter um relacionamento amoroso e destes 80% mantem uma vida sexual ativa, utilizam como método contracetivo o preservativo (69,1%) e a pilula (69,9%). Reportaram poucos comportamentos de risco, mais de metade nunca recorreu aos serviços de saúde sexual e reprodutiva (61,7%), apenas 54,5% realizou vacinação para o HPV e a grande maioria das raparigas não realiza citologia vaginal (71,4%). Face aos resultados consideramos que os enfermeiros especialistas em saúde materna obstétrica e ginecológica, tem um papel preponderante na promoção da saúde sexual e reprodutiva e na divulgação dos serviços existentes, uma vez que a sua procura ainda é limitada e os estudantes parecem não reconhecer a importância de uma vigilância de saúde regular.
Palavras-chave – saúde sexual e reprodutiva, comportamentos, jovens
94
Introdução A saúde sexual e reprodutiva (SSR) representa atualmente uma das principais preocupações da Saúde Pública Internacional e Nacional uma vez que os potenciais problemas afetam, a saúde e bem-estar dos indivíduos/comunidades, e comprometem o nível social e económico das sociedades em que estes fenómenos ocorrem (UNFPA, 2006). A definição de SSR adotada por instituições de referência como a Organização Mundial da Saúde e Direção Geral da Saúde, é a que resultou da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo em 1994, um acordo entre 179 países, outorgou um papel primordial à saúde e aos direitos sexuais e reprodutivos, sendo uma das suas principais metas o acesso universal à saúde reprodutiva até 2015. O Programa de Ação do Cairo apontou ainda para necessidade crítica de abordar a SSR dos jovens com o objetivo de se conseguir reduzir substancialmente a gravidez adolescentes, as Infeções de Transmissão Sexual (ITS`s) e as desigualdades de género (Fernandes, 2005). Apesar do investimento na educação sexual nas escolas e nos serviços de saúde adequados aos jovens, os resultados ainda não são satisfatórios, sabe-se através de dados e pesquisas nacionais que o número de gravidezes não desejadas em jovens adultos continua elevado (5%), a incidência das IST`s está a aumentar nos jovens com menos de 25 anos (Eaton et al., 2005; SPG, 2010; APF, 2010; Reis, Matos, Simões & Diniz, 2011; Pista et al., 2011, em particular a infeção pelo VIH/ SIDA que na faixa etária entre os 25 e 29 anos de idade atinge os 18,7% (CVEDT, 2007). Apesar do VIH ser a infeção mais severa, muitas outras IST´S como Clamídia, Sífilis, Gonorreia, Vírus do Papiloma Humano (HPV) e a Hepatite C podem também ter impactos negativos na SSR dos jovens adultos, particularmente na sua fertilidade (CDC, 2009). São os jovens adultos que frequentam os contextos académicos, frequentemente associados a práticas sexuais de risco, onde prevalecem relações amorosas de curta duração, uso inconsistente do preservativo, prática de relações sexuais desprotegidas com múltiplos parceiros e a associação frequente entre o consumo o álcool e/ou drogas com as práticas sexuais (Eaton et al., 2005). De acordo com dados nacionais de 2010 (Matos et al., 2011), verificou-se que são os jovens do sexo masculino mais velhos e com relações mais recentes, que mencionam frequentemente ter tido relações sexuais sob o efeito de álcool ou drogas, parceiros ocasionais e o estabelecimento de relações sexuais para além do parceiro. As conclusões do mesmo estudo evidenciam ainda que os jovens universitários, em particular nas faixas etárias mais jovens (18-21 anos), revelem mais competências, mais comportamentos preventivos e menos comportamentos de risco, mas no entanto, existe uma percentagem significativa de jovens em risco a frequentar as Universidades. Além da educação sexual nas escolas, para promover o processo de aprendizagem e de 95
responsabilização na tomada de decisão e adoção de comportamentos sexuais seguros, será determinante a existência de serviços apropriados, economicamente acessíveis e integrados, considerados como uma ferramenta fundamental na promoção da saúde global dos jovens (Matos & Reis, 2008; Silva & Meneses, 2010; Vilar & Ferreira, 2010). O acesso dos jovens aos cuidados de saúde sexual e reprodutiva é amplamente discutido no âmbito do Projeto Sexual Awareness Europe (SAFE), onde se faz uma reflexão sobre os desafios e barreiras que os jovens têm de enfrentar no acesso aos serviços de SSR. Considerando-se que o fator idade exacerba ou aumenta a existência de barreiras específicas, como a falta de serviços específicos para jovens, a localização e os horários dos serviços, entre outras (APF, 2012). Das recomendações apresentadas para a minimização das barreiras identificadas destacam-se, a participação dos jovens na implementação e desenvolvimento de espaços de atendimento específicos e a formação adequada e regular da equipa multidisciplinar de profissionais que aí exerce a sua atividade. Neste sentido, considera-se que o contributo do Enfermeiro Especialista em Saúde Materna, Obstétrica e Ginecológica (EESMOG) é indispensável. Pois, se no domínio das suas competências profissionais (Regulamento n.º 127/2011) está previsto o cuidado às mulheres, inseridas na família e comunidade, no âmbito da saúde sexual e reprodutiva, as recomendações atuais corroboram a emergência de uma atenção especial sobre as necessidades deste grupo etário, nomeadamente em contextos de proximidade como os gabinetes
de
atendimento
em
contexto
académico
constituídos
por
equipas
multidisciplinares. Esta atenção por parte do EESMOG justifica-se ainda, porque se trata de um período de preparação para o papel social do adulto do ponto de vista da família, da procriação, da profissão, com plenos direitos e responsabilidade (Sant’Anna et al., 2008). Complementarmente os SSR seriam de “grande utilidade como resposta a outras necessidades, designadamente dando acompanhamento à jovem grávida e/ou casal e na formação pré-natal ao jovem casal que se encontra à espera do primeiro filho” (Matos et al., 2011). Assim, tendo em conta que o conhecimento detalhado e sistemático dos comportamentos sexuais é um dos aspetos fundamentais para a criação de programas eficazes, estabelecemos como objetivo deste estudo, a caraterização dos comportamentos sexuais e de procura dos serviços de saúde sexual e reprodutiva de estudantes do Ensino Superior. Método O presente estudo “Um olhar sobre a saúde sexual e reprodutiva dos estudantes do ensino superior ”, foi desenvolvido, por nos apercebermos no decorrer do nosso contacto com os estudantes, das lacunas de conhecimento sobre a extensão e abrangência da saúde sexual 96
e reprodutiva. A realização do estudo poderá constituir uma oportunidade de posteriormente, atuar junto dos jovens estudantes de uma forma mais fundamentada, na prevenção de comportamentos sexuais de risco e na adesão a comportamentos de vigilância de saúde. Estas questões adquirem particular relevância, dado que estes estudantes serão futuros profissionais, com responsabilidades não só na divulgação dos cuidados em saúde sexual e reprodutiva mas também na implementação e concretização dos mesmos. Para dar resposta aos objetivos da investigação foi realizado um estudo exploratório, descritivo, transversal de natureza quantitativa. Participantes A constituição da amostra, foi orientada por um princípio não probabilístico e de conveniência, sendo constituída por 122 estudantes (93 raparigas e 29 rapazes) do 1º e 4º ano do Curso de Licenciatura em Enfermagem Instrumentos Tendo em conta que o objetivo do estudo era caraterizar os comportamentos de saúde sexual e reprodutiva de estudantes do Ensino Superior, na recolha de dados utilizámos um questionário de autopreenchimento, construído especificamente para o efeito, sendo constituído por perguntas abertas e fechadas. O preenchimento do mesmo permitiu a caracterização demográfica, académica, dos comportamentos sexuais, bem como as práticas de vigilância de saúde reprodutiva. Procedimento O tratamento estatístico dos dados referentes a este estudo, foi efetuado informaticamente, através do programa Statistic Package for the Social Sciences (SPSS) na versão 19.0. Na análise de dados utilizamos a estatística descritiva (medidas de tendência central e de dispersão). A colheita de dados decorreu no mês de Outubro de 2011, sendo o tempo médio de preenchimento do questionário de aproximadamente 30 minutos. Os participantes foram informados sobre a finalidade e objetivos do estudo, garantindo-se a confidencialidade dos resultados e o anonimato, e reafirmado o carácter voluntário de participação no estudo. Análise e Discussão de Resultados
Caraterização Sociodemográfica da Amostra
97
Participaram no estudo 122 estudantes, com uma idade média de 20 anos (20 ± 3,28), dos quais 76,2% eram do sexo feminino. Destes cerca de 53% dos estudantes cresceu na zona rural, e consideram que a família se enquadra no nível socioeconómico médio (87,6%). Os pais apresentam como habilitações literárias, 25,4% apresentam o 1º ciclo completo, 24,6% o ensino secundário completo e apenas 13,1% formação superior. Estes resultados refletem não só o facto da Licenciatura em Enfermagem ter uma elevada percentagem de estudantes do género feminino, mas também o facto desta Instituição do Ensino Superior se encontrar numa zona do interior e com características marcadamente rurais.
Comportamentos de Saúde Sexual e Reprodutiva
A grande maioria dos estudantes referiu já ter tido relações sexuais (70%), a idade média da primeira relação foi aos 17 anos, (por consentimento mútuo em 81,3% dos casos), 96,2% refere ter utilizado um método contracetivo, privilegiando a utilização do preservativo (89,9%) e da pílula (31, 6 %). Apenas um pequeno número de estudantes refere ter utilizado os métodos naturais (1, 3%) ou coito interrompido (2,5%). Observou-se ainda que, 66,3% dos participantes tem um relacionamento amoroso atual e 80% destes mantém relações sexuais com o companheiro, revelando na sua maioria (84,2%) preocupação com utilização de um método contracetivo nas relações sexuais com penetração. Uma percentagem elevada utiliza a pilula como método contracetivo (69,6%), observando-se uma mudança no padrão de contraceção nas relações amorosas de longa duração, revelando que ao aumentar a confiança no companheiro, deixa de existir preocupação com as IST`s e os estudantes passam a utilizar menos o preservativo (69,1%), como método de proteção. Estes dados confirmam as tendências do último estudo publicado em Portugal sobre os comportamentos sexuais dos estudantes do Ensino Superior
(Reis
et
al.,
2011),
onde
participaram
3.278
estudantes
de
144
institutos/universidades de Portugal continental. O relatório publicado menciona que a maioria dos jovens era sexualmente ativa (83,3%), iniciou relações sexuais a partir dos 16 anos (79,2%). Os métodos contracetivos mais utilizados pelos estudantes com um relacionamento amoroso, foi a pílula (70,4%) e o preservativo (69%).
Informação Sobre Saúde Sexual e Reprodutiva
Quando questionados sobre as fontes de informação sobre SSR, mais de metade dos estudantes (60,7%), referiu que, as principais fontes de informação foram os professores (44,3%), amigos (35,2%) e internet (33,6%). As fontes de informação mais formais, como os profissionais de saúde, são referidas apenas por um número reduzido de estudantes 98
(enfermeiros 17,2% e médicos 10,7%). De fato, a evidência sugere, que os jovens continuam a não privilegiar como fontes de informação os profissionais de saúde (Martins et al., 2008; Sant’Anna et al., 2008; Ribeiro & Fernandes, 2009), observando-se que muitos tiveram acesso à informação nas aulas de educação sexual, ou de forma informal, por meio dos amigos e internet. E ainda que, de acordo com os dados nacionais de 2010, 40,7% dos jovens universitários tenham mencionado o Centro de Saúde, quando questionados sobre a forma como têm obtido mais informação sobre sexualidade, o recurso aos serviços de saúde para obter informação não é habitual (Matos et al., 2011). Neste estudo dos jovens que recorreram aos serviços de SSR, uma larga maioria (70%) referiram ter recorrido apenas para obter um método contracetivo.
Comportamento de Risco Para a Saúde Sexual e Reprodutiva
Os dados obtidos neste estudo sobre os potenciais comportamentos de risco para a SSR, revelam, que a grande maioria dos estudantes (82,6%) perceciona o risco para contrair uma IST`s como muito baixo, e apenas 2,7 % refere já ter tido uma IST´s, destes todos recorreram ao médico de família para efetuarem tratamento e informaram o parceiro sexual. Vários documentos oficiais a nível internacional têm denunciado um aumento das IST´s em todo o mundo, particularmente em pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos (CDC, 2009; Global sex Survey, 2006)). Contudo ainda pouco se sabe sobre a prevalência das IST`s em Portugal, os últimos dados do Global Sex Survey (2006), referiam que a prevalência destas infeções se situa nos 8%, nesta faixa etária. Quanto ao auto relato de comportamentos de risco, 22,7% afirma já ter tido relações sexuais com parceiros ocasionais pelo menos uma vez e 6,7% várias vezes, relações sexuais sobre o efeito de álcool (5,3%) ou drogas (1,3 %), várias vezes. No que diz respeito ao número de parceiros sexuais, 85% dos estudantes, referem ter tido apenas um parceiro sexual nos últimos 6 meses e 84% refere ter convencido o seu parceiro a usar sexo seguro. No estudo já citado realizado por Matos e colaboradores (2011), estes observaram que os comportamentos de risco são mais prevalentes em rapazes mais velhos, com relações mais recentes, que mencionam mais frequentemente relações sexuais associadas ao álcool (53,1%), drogas (10,7%), parceiros ocasionais (57,3%) e relações sexuais com outras pessoas para além do parceiro habitual (10,7%).
Vigilância de Saúde Sexual e Reprodutiva
Constatou-se que os estudantes procuram pouco os serviços de SSR, uma vez apenas 38,3% refere já ter utilizado estes serviços. O género determina diferenças notórias no tipo de utilização, uma vez que os rapazes recorrem menos que as raparigas (88,9% versus 99
53,8%). Os estudantes procuram preferencialmente os Centros de Saúde (83,3%) e o Centro de Atendimento de Jovens (14,6%) e apenas 6,3% recorreu aos serviços de SSR da Universidade / Escola. Os motivos apontados pelos estudantes para procurar os serviços de SSR disponíveis, relacionam-se com a aquisição de métodos contracetivos (71,4%), vigilância de saúde (44,9%) e aconselhamento sobre métodos de contraceção (38,8%). Martins e colaboradores (2008), numa amostra de jovens universitários (portugueses e espanhóis), observaram que os profissionais de saúde são procurados, essencialmente pelas raparigas (20,7%) e sobretudo as de idade superior a 23 anos (13,2%), pressupondo que o fazem por serem sexualmente mais ativas e com necessidade de métodos contracetivos de prescrição médica. Granja (2009), afirma que para muitos jovens, os horários, localização ou os custos dos serviços tornam-nos inacessíveis, além de que as atitudes dos profissionais de saúde são desencorajadoras, e dificultar o aceso dos jovens aos serviços, para obterem informação, aconselhamento ou tratamento em saúde sexual e reprodutiva. As questões relacionadas com a vigilância de saúde também parecem preocupantes se considerarmos que os participantes são estudantes de um curso de saúde onde estas questões são abordadas. Os dados revelam que apenas 58,6% das raparigas foi vacinada contra o HPV, apesar da vacina contra o HPV estar preconizada no plano nacional de vacinação desde 2008, e 4% das estudantes referem desconhecer a necessidade de vacinação. Adicionalmente uma grande maioria das estudantes (71,4%) nunca realizou citologia vaginal apesar de uma elevada percentagem já ter vida sexual ativa e 19,7% refere ter realizado citologia anualmente.
Conclusões Os resultados evidenciam que a primeira relação sexual acontece em média aos 17 anos e que a grande maioria dos estudantes utiliza o preservativo como método contracetivo, passando a utilizar a pilula nas relações amorosas de “longa” duração, pelo que consideramos importante refletir a importância da dupla contraceção mesmo que no contexto de relações consideradas de “longa duração “. Referem poucos comportamentos de risco, relacionados com as relações sexuais sob o efeito de álcool, drogas e parceiros ocasionais e elevada perceção da capacidade de negociação de sexo seguro. Mais de metade dos estudantes (60%) dos estudantes tiveram algum tipo de informação sobre SSR, contudo os profissionais de saúde tem um papel pouco relevante na
100
transmissão de informação e aconselhamento. Aceder a informação de qualidade, educação e procura de aconselhamento nos serviços de SSR disponíveis, pode levar a um aumento da prática de sexo seguro, à utilização de práticas contracetivas adequadas e pode aumentar a perceção sobre a importância da vigilância regular da saúde. Verificou-se ainda uma sub- utilização dos serviços de SSR e pouca adesão a comportamentos de autovigilância de saúde. Assim, consideramos que os profissionais de saúde devem continuar a promover junto dos estudantes os comportamentos sexuais seguros, mas também motivar para comportamentos responsáveis de saúde, em particular a realização por rotina do exame pélvico e citologia vaginal e, quando as jovens se tornam sexualmente ativas e a vacinação contra o HPV. Por parte das instituições do Ensino Superior deve continuar a existir um investimento na divulgação e criação de serviços de SSR numa perspetiva multidisciplinar e de proximidade, nas Universidades /Escolas, para que possam atender às necessidades específicas dos jovens desta faixa etária.
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103
13.
UTILIZAÇÃO DE CHUPETA NA PRIMEIRA INFÂNCIA: QUAL O CONHECIMENTO / ATITUDE DOS PAIS? ESTUDO PRELIMINAR A PAIS DE CRIANÇAS MATRICULADAS EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO DA CIDADE DO PORTO 1
Ana Barros Cruz , 2
Sofia Nogueira Ferreira , 3
Aline Gonçalves , Teresa Vale
4
(1) Médica Dentista (2) Médica Dentista, Aluna de Pós-Graduação em Ortodontia Intercetiva Odontopediátrica (3) Médica Dentista, Professora Convidada do Departamento de Ciências Dentárias do ISCS-N (4) Médica Dentista, Professora Auxiliar do Departamento de Ciências Dentárias do ISCS-N
Introdução Segundo Freud, o primeiro estágio de desenvolvimento humano surge no primeiro ano de vida, sendo designado por fase oral. Adquire esta designação porque a força motivadora do comportamento reside na zona oral, sendo facilmente exemplificada pelo prazer dos bebés ao succionar a chupeta, o que não tem nenhuma função vital, a não ser o de proporcionar prazer. [1] Padrões motores rítmicos da mandíbula e lábios que se assemelham à sucção são observáveis cedo na vida do feto humano. DeVries, Visser e Prechtl referem que a primeira ocorrência de movimento mandibular ocorre entre a 10ª e a 11ª semanas de gestação, sendo os primeiros movimentos similares à sucção nutritiva observáveis apenas um pouco mais tarde, à 12ª, 13ª semanas. [2,3] Nos primeiros anos de vida de uma criança, esta tem duas funções biológicas fundamentais no que respeita à cavidade oral: a sucção nutritiva e a sucção não-
-
nutritiva. [1,2,4] A sucção nutritiva (SN) tem como objetivo a nutrição da criança. Já a sucção nãonutritiva (SNN) consiste no succionar de uma chupeta ou dedo com fins principalmente psicológicos uma vez que reduz as angústias e stress da criança, dando-lhe conforto. [1,2,4]
Apesar de diferirem, ambos os tipos de sucção têm sistemas de regulação em comum. O tronco cerebral tem um papel central no seu controlo. Este necessita da atividade dos nervos cranianos V, VII e XII, mas, para a deglutição, é necessária ainda a função dos nervos cranianos IX e X. O ritmo e padrão é que diferem; a SN é mais contínua e ocorre
104
com menor frequência do que a SNN. Além disso, a SN é uma função mais complexa e as crianças necessitam de maior maturação para a executar. Wolff sugeriu que estes são sistemas independentes mas Hafstrom et al. acreditam que sejam sistemas parcialmente independentes que interagem. [3,5] Historicamente, existem dados sobre a utilização da chupeta desde há milhares de anos. Contudo, só em finais do século XV é que esta foi citada pela primeira vez na literatura médica. Até ao ínicio do século XX, as chupetas eram tidas como altamente benéficas para a criança; no entanto, a partir desta data começou a surgir alguma contestação acerca dos reais efeitos que este objeto poderia ter sobre a saúde física e psicológica da criança. [1,4,6,7] Uma das principais vantagens da chupeta referida pela comunidade científica reside no seu efeito calmante, diminuíndo níveis de dor e ansiedade. [1,7,8] No caso de recém-nascidos prematuros a chupeta demonstrou ser benéfica já que estimula as funções da sucção, deglutição e respiração facilitando o aumento de peso nestas crianças. [1,7,9,10] O Síndrome de Morte Súbita do Recém-Nascido (SIDS) continua a ser a principal causa de morte pós-natal nos E.U.A.. A American Academy of Pediatrics recomenda o uso de chupeta à hora de deitar como meio de redução do risco de SIDS. O mecanismo pelo qual ocorre a prevenção deste síndrome não é totalmente conhecido mas admite-se que o uso de chupeta diminua a probabilidade do bebé se deitar de bruços, mantenha a via aérea patente, diminua o refluxo gastroesofágico e a apneia de sono.
[6,7,11]
Dentro da esfera das desvantagens que este hábito possui encontra-se o efeito deletério sobre a oclusão dentária. É comum na literatura as referências que associam a utilização excessiva da chupeta para além dos 24 meses de idade a alterações como a mordida aberta anterior, overjet aumentado, mordida cruzada posterior e atresia maxilar. [1,7, 9,12,13,14,15]
Assume-se também que os hábitos de sucção não-nutritivos serão fatores
deletérios para a articulação temporomandibular pelas alterações oclusais que provocam e por um possível efeito direto no desgaste da articulação. [16] A partir do fim da década de 80, a Organização Mundial de Saúde e a UNICEF passaram a desaconselhar a utilização da chupeta por forma a facilitar o sucesso do aleitamento materno. Vários autores têm pesquisado sobre o assunto e as suas conclusões suportam a forte associação entre a utilização da chupeta e o desmame precoce. [6,7, 15,17,18] Diversos estudos têm revelado que as chupetas são frequentemente colonizadas com Candida albicans e outros microrganismos, especialmente as de latex em comparação com as de silicone. Ainda assim, a associação direta entre a utilização de chupetas e infeções por estes microrganismos ainda não foi completamente estabelecida.
[7,19]
105
Uma condição frequente na infância é a otite média aguda e a sua relação com a utilização de chupetas tem sido alvo de investigação. São propostos dois mecanismos para este fenómeno: por um lado, a sucção da chupeta aumenta o refluxo de secreções nasofaríngeas para o ouvido médio, facilitando a entrada de patogéneos para esta via; por outro lado, também se assume que a chupeta ao induzir alterações dentárias pode levar à disfunção da trompa de Eustáquio. [7,19] A chupeta pode igualmente ter impacto negativo sobre o desenvolvimento da fala, pois à medida que ocupa a cavidade oral limita o balbucio, a imitação de sons e a emissão de palavras, levando a uma vocalização distorcida. [1, 20,21] Já muito foi pesquisado e publidado acerca das consequências destes hábitos orais, especialmente quando prolongados no tempo. De facto, é extremamente comum uma criança succionar uma chupeta, mas o que falta compreender são as determinantes que levam pais e educadores a oferecer estes meios aos seus educandos e qual o seu grau de informação sobre o assunto. Este tipo de conhecimento é deveras importante para determinar qual o papel atual do Médico Dentista quanto à utilização da chupeta e qual a melhor forma de intervir perante pais e educadores para uma correta utilização da chupeta, minimizando ao máximo a possibilidade de se instalarem alterações e tirando máximo proveito dos benefícios que esta traz. O objetivo deste artigo consiste numa primeira análise em determinar a prevalência de hábitos de sucção não-
-nutritivos em crianças dos 0 aos 5 anos. Numa outra
vertente pretendemos determinar quais as motivações de pais e educadores, qual o seu grau de conhecimento, bem como criar uma maior consciência acerca deste comportamento que, em última análise, é um fenómeno social e cultural. Material e Métodos Foi levado a cabo um questionário indireto, não presencial, a pais de crianças com idades compreendidas entre os 0 e os 5 anos, acerca de hábitos de sucção não-
-
nutritivos, com um foco principal na utilização da chupeta. A amostra populacional alvo deste estudo consistiu em 400 crianças matriculadas em infantários do Grande Porto, tanto instituições públicas como privadas O questionário foi entregue, entre os meses de novembro de 2011 e abril de 2012, aos diretores de cada instituição que procederam ao seu encaminhamento aos pais das crianças. Como critérios de inclusão consideraram-se: pais de crianças matriculadas em instituições de ensino públicas e privadas da cidade do Porto, sem discriminação de
106
género ou idade; crianças com idades compreendidas entre os 0 e os 5 anos, sem discriminação de género. Como critérios de exclusão: crianças com mais de 5 anos; inquéritos não respondidos corretamente. Foram excluídos 252 inquéritos, perfazendo uma amostra total de 148. Destes, 94,6% (n=140) foram respondidos pelas mães das crianças, enquanto 5,4% (n=8) foram respondidos pelos pais. Incidiu-se sobre crianças de ambos os géneros, num total de 50,7% (n=75) do sexo masculino e 49,3% (n=73) do sexo feminino com idade compreendida entre os 0 e os 5 anos, fazendo uma média de 4,21 anos. A informação recolhida foi analisada com o software SPSS versão 20.0 (Statistical Package for Social Sciences). Como apoio bibliográfico recorreu--se à base de dados PubMed com as palavras-chave pacifier, non-nutritive sucking e dummy, entre os anos 1998 a 2011. Resultados No momento do preenchimento do inquérito, 36,5% (n=54) das crianças possuíam algum tipo de hábito oral, enquanto 63,5% (n=94) não possuíam qualquer hábito. Das crianças que, efetivamente, possuíam algum hábito, 87,1% (n=54) recorriam à chupeta, 8,6% (n=6) recorriam ao dedo e 4,3% (n=3) possuíam outro tipo de hábito como a sucção labial e a sucção de cobertores. No que concerna as crianças que usaram chupeta nalgum momento da sua infância, inquiriu-se os seus progenitores acerca do motivo pelo qual deram a chupeta. 75,9% (n=63) dos inquiridos revelou ter dado a chupeta por iniciativa própria, 10,8% (n=9) por indicação do Pediatra/Médico de Família, 7,2% (n=6) por indicação do Enfermeiro e 6,0% (n=5) por indicação familiar. Das crianças que abandonaram o hábito, 65,8% (n=50) fizeram-no por iniciativa dos pais, 15,8% (n=12) por iniciativa da criança, 7,9% (n=6) por iniciativa do Pediatra/Médico de Família, 3,9% (n=3) por indicação do Médico Dentista. Dos pais inquiridos, 87,2% acredita que o uso de chupeta tem vantagens para a criança. Em relação às vantagens referidas, 90,2% (n=133) considera acalmar a criança para dormir, 57,1% (n=84) considera a hipótese acalmar a criança durante uma birra, 19,5% (n=29) considera que a chupeta é vantajosa por substituir o hábito de chuchar no dedo, 5,3% (n=8) considera distrair a criança, 3,0% (n=4) considera facilitar o desenvolvimento psicológico, 0,8% (n=1) facilitar o desenvolvimento motor e nenhum dos pais considerou a hipótese prevenção de doenças. A maioria dos inquiridos, 87,1% (n=129), considera que a chupeta tem desvantagens para a criança, ao contrário de 12,9% (n=19) que não concorda com este facto.
107
Em relação a estas desvantagens, 88,8% (n=131) considera que o uso da chupeta pode originar alterações na dentição, 61,9% (n=92) referem a dificuldade em remover o hábito, 29,1% (n=43) consideram que é possível a transmissão de infecções, 7,5% (n=11) consideram que pode levar ao atraso no desenvolvimento psicológico, 1,5% (n=2) consideram que leva a hiperactividade da criança e à diminuição do apetite e 0,7% (n=1) assume que leva ao atraso mno desenvolvimento motor. Em relação ao grau de informação dos pais acerca deste tema, 45,5% (n=66) considera estar bem informado seleccionando a hipótese Bom, 37,2% (n=54) seleccionam a hipótese Intermédio, 11,0% (n=16) considera estar muito bem informado, 4,8% (n=7) classifam o seu conhecimento como fraco e 1,4% (n=2) como muito fraco.
Discussão Os hábitos de SNN são bastante comuns na infância. Na amostra considerada obtevese uma prevalência de 36,5%. Outros estudos encontram prevalências superiores, no entanto, a faixa etária incluída nestes estudos era mais reduzida incidindo em idades mais precoces, altura em que o hábito se encontra mais marcado. No presente estudo, os pais demonstraram ser a força motivadora quer da iniciação quer do abandono do hábito, desvalorizando o papel dos profissionais de saúde. Este é um fato particularmente importante, demonstrando que os profissionais de saúde podem e devem ter uma intervenção mais preponderante. Sob a perspetiva dos pais a utilização da chupeta tem, quer vantagens quer desvantagens. As principais vantagens referidas foram acalmar a criança para dormir, acalmar a criança durante uma birra e substituir o hábito de “chuchar no dedo”. Pode-se então confirmar o efeito calmante e apaziguador que a chupeta possui, corroborando a literatura.[1,7,8] No que diz respeito às desvantagens, os pais apontam principalmente as alterações dentárias, a dificuldade de remoção do hábito e a facilidade na transmissão de infeções. A opção mais escolhida pelos pais está, de facto, de acordo com a literatura científica como um dos efeitos mais devastadores no uso da chupeta. Tal efeito comprova-se quando se sabe que a prevalência de má-oclusão da infância é de 49,7% e que esta aumenta para 67,5% nas crianças com hábitos de sucção não-nutritivos enraizados. [21]
Conclusão Assim, pode-se concluir que os pais se encontram moderadamente informados acerca do tema. O que, no entanto, não condiciona a forma deliberada com que recorrem à chupeta. 108
É importante reforçar o papel do profissional de saúde na adequação destes comportamentos, tornando-os mais conscientes e integrados no desenvolvimento motor e psicológico saudável da criança. Sendo este um estudo preliminar sobre o assunto em questão, futuros estudos devem ser elaborados, visando descobrir a melhor maneira de se conseguir incutir nos pais e educadores a melhor forma de utilizar os hábitos de sucção não-nutritivos, nomeadamente a chupeta, e de estes ficarem melhor informados sobre os verdadeiros efeitos nefastos que a prolongada utilização do hábito podem causar.
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111
14.
VISITA DOMICILIÁRIA NO PÓS-PARTO
Ana Rosa Cruz 2
Dulce Dinis
Isabel Marques Ivone Pinto
1
3
4
(1) Enfermeira Especialista em Enfermagem de Saúde Comunitária a exercer funções na USF Sete Caminhos (2) Enfermeira a exercer funções na USF Sete Caminhos (3) Enfermeira Mestre em Saúde Materna e Obstétrica a exercer funções na USF Sete Caminhos (4) Enfermeira Graduada a exercer funções na USF Sete Caminhos
Resumo — A Visita Domiciliária no pós-parto é uma atribuição do Enfermeiro de Família/Enfermeiro Especialista em Saúde Materna Obstetrícia que proporciona conhecer o utente no seu ambiente familiar; interagindo e conhecendo as suas fragilidades, necessidades
e
desenvolver
ações
de
promoção,
prevenção,
tratamento
e
acompanhamento, tendo como propósito consequentes ganhos em saúde.
Palavras-chave: visita domiciliária; utente; puerpério.
Introdução O enfermeiro que trabalha na área dos cuidados de saúde primários é responsável pela prestação de cuidados globais e continuados, ao indivíduo, família e comunidade. Hoje em dia, os objetivos dos cuidados de saúde para famílias “em gestação”, são uma gravidez saudável, um recém-nascido saudável e pais preparados e confiantes nos seus novos papéis. O apoio à mulher e família no período pós-parto é fundamental para o reajustamento e equilíbrio pessoal e familiar, podendo verificar-se de várias formas e a diferentes níveis, nomeadamente o apoio promovido pelo Estado, o apoio dos técnicos de saúde e o apoio da família e dos amigos. É fundamental para a promoção da saúde e do bem-estar da mulher e da família, o apoio dos técnicos de saúde, pelo facto de que a gravidez e o nascimento de um filho são considerados períodos de crise para a mulher/casal, surgindo uma maior recetividade a mudanças de hábitos e comportamentos. 112
O Enfermeiro de Família, tem um papel primordial no apoio à mulher/família ao longo de todo o processo vital. Esse apoio deve estar articulado com os outros profissionais de saúde, permitindo a continuidade e a interdisciplinaridade no cuidar, especialmente nos primeiros dias após a alta hospitalar, devendo existir visitas domiciliárias.
Objectivos da Visita Domiciliária O Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia tem dado uma contribuição valiosa para a recuperação das mães e bebés depois do parto, e, para o início bem sucedido de novas famílias. Independentemente do ambiente familiar, os cuidados de enfermagem no puerpério continuam a ser necessários para atingir os seguintes objetivos: Supervisionar e garantir o bem-estar físico e emocional dos membros da família; Identificar precocemente complicações em evolução, evitando agravamentos e custos com reinternamentos hospitalares; Assegurar que são prestados cuidados individuais à mulher e ao recém-nascido no puerpério, tendo em conta as necessidades individuais de cada mulher; Preencher a lacuna de cuidados existentes entre a alta e o acompanhamento da mãe e do recém-nascido, em ambulatório, por parte do Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia; Prevenir ou identificar precocemente situações de risco para a mãe ou para o recémnascido. A maioria das puérperas e dos recém-nascidos têm uma recuperação saudável após o nascimento. Contudo, ninguém pode prever que o recém-nascido ou a mãe desenvolva alguma complicação no pós-parto. Cabe ao Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia, ir ao encontro das necessidades das mães, dos recém-nascidos e das famílias. Os
cuidados
domiciliários
no
puerpério
representam
uma
evolução
natural
na
reestruturação dos cuidados maternos. O Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia necessita ter uma atitude participativa no que respeita ao estabelecimento dos cuidados domiciliários no puerpério, como uma componente integrante dos cuidados à puérpera, ao recém-nascido e família. Só assim poderá garantir a segurança e o bem-estar a longo prazo, para promover uma sociedade mais saudável. Diagnósticos de Enfermagem MÃE:
Dor, relacionada com:
Laceração do períneo/episiotomia,
113
Incisão de cesariana,
Ingurgitamento mamário,
Dor lombar.
Nutrição alterada
Risco de infeção, relacionada com:
Ferida cirúrgica (cesariana/laqueação),
Episiotomia,
Trato urinário,
Útero,
Seios.
Risco de complicações, relacionadas com:
Elevação da tensão arterial,
Anemia,
Hemorragia do pós-parto,
Tromboflebite,
Violência doméstica.
Adaptação/coping individual ineficaz
Padrões sexuais alterados
Ansiedade
Fadiga
Hipertermia.
RECÉM-NASCIDO:
Mamar ineficaz,
Nutrição alterada, relacionada com ingestão inferior às necessidades físicas,
Risco de complicações, relacionadas com:
Hiperbilirrubinémia,
Sopro cardíaco,
Anemia.
Risco de infeção, relacionado com:
Coto umbilical,
Globo ocular.
Risco de temperatura corporal alterada,
Mamar eficaz.
114
FAMÍLIA
Défice de conhecimento (alimentação, desenvolvimento e cuidados infantis),
Adaptação da família: potencial de crescimento.
A visita domiciliária no pós-parto na usf sete caminhos A Visita Domiciliária no Puerpério, na USF Sete Caminhos, é efetuada, desde 2008, a todos as puérperas e recém-nascidos até aos 15 dias de vida, e que residam dentro das freguesias do ACES de Gondomar. Esta Visita é efetuada pelo Enfermeiro de Família. No Programa de Saúde da Mulher – Puerpério e no Programa de Saúde Infantil, a visita domiciliária tem uma importância de grande valia, pois é através dela que, precocemente, se poderá avaliar as condições ambientais e físicas em que vive a puérpera/família e onde se irá integrar o recém-nascido, visando manter a Continuidade dos Cuidados de Enfermagem após a alta de Maternidade. Após algum tempo em que não se atribuía muita prioridade a esta vertente dos Cuidados de Saúde Primários, e dada a sua extrema importância, a equipa de enfermagem da USF Sete Caminhos implementou a realização desta atividade, iniciando por planear as visitas com base nos dados contidos na Notícia de Nascimento vinda da Maternidade, assim como na informação colhida aquando das consultas de Saúde Materna, sessões de preparação para o Parto e Parentalidade e através de contacto telefónico. Pensamos que este tipo de intervenção incute na família um sentimento de controlo e participação ativa na determinação das necessidades de ajuda. Procuramos deste modo incutir um maior e crescente relacionamento do grupo familiar com os enfermeiros de família, passando a ideia de que os cuidados de enfermagem podem ser prestados num ambiente mais favorável e familiar do que nas dependências dos Serviços de Saúde.
Conclusão Os
cuidados
domiciliários
no
pós-parto
representam
uma
evolução
natural
na
reestruturação dos cuidados maternos. Os custos dos cuidados de saúde continuam a aumentar; o que resulta em estadias hospitalares mais curtas e uma maior procura dos cuidados de saúde prestados pela comunidade. À medida que se for assistindo ao desaparecimento das gerações que deram origem à explosão da natalidade, a procura pelos serviços de saúde ao domicílio aumentará exponencialmente. Uma abordagem holística dos cuidados domiciliários, que responda às necessidades em
115
cuidados de saúde do utente e da família, reflete as realidades com que se depara o profissional de enfermagem na prática. Os
cuidados
domiciliários
no
puerpério
representam
uma
evolução
natural
na
reestruturação dos cuidados maternos. Existe um padrão nacional de cuidados, no sentido de todas as mulheres receberem cuidados pré-natais, de modo a facilitar as atividades de promoção da saúde e identificar complicações. A maioria das mulheres tem realmente uma gravidez e parto saudáveis. Este mesmo conceito deveria ser aplicado ao período de recuperação do pós-parto, que se prolonga para além da duração do internamento hospitalar de 48 ou 96 horas. A avaliação abrangente efetuada por um enfermeiro especialista, durante este período, não só ajudaria a gerir a recuperação no puerpério e os riscos associados, como também iria ao encontro das necessidades educacionais das famílias. Os enfermeiros especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia, precisam ter uma atitude participativa no que respeita ao estabelecimento dos cuidados domiciliários no puerpério, como uma componente integrante dos cuidados maternos. Fazê-lo garantirá a segurança e o bem-estar das mães, recém-nascidos e famílias e, a longo prazo, promoverá uma sociedade mais saudável.
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