Bitter Blood (Sangue Amargo)
RACHEL CAINE
The Morganville Vampires Series Glass Houses The Dead Girls’ Dance Midnight Alley Feast of Fools Lord of Misrule Carpe Corpus Fade Out Kiss of Death Ghost Town Bite Club Last Breath Black Dawn Bitter Blood
G
Sinopse
raças à erradicação dos draugs, os vampiros de Morganville foram libertados das suas restrições habituais. Com os vampiros cedendo a cada um de seus caprichos, a população humana da cidade está determinada a agarrar suas vidas ao pegar em armas. Mas a estudante universitária, Claire Danvers, não está escolhendo lados, considerando que ela tem laços com ambos, seres humanos e vampiros. Para piorar a situação, um programa de televisão vem à Morganville procurando fantasmas, então os vampiros e a política humana colidem. Agora, Claire e seus amigos têm que descobrir como manter a paz sem acabar nos noticiários... ou pior.
M
Introdução
organville, Texas, não é como as outras cidades. Oh, ela é pequena e empoeirada, e comum, na maioria dos aspectos, mas o problema é, tem estes — bem, não vamos ser tímidos sobre isso. Vampiros. Eles são os donos da cidade. Eles governam ela. E até recentemente eram a classe dominante inquestionável. Mas a reputação dos vampiros de invulnerabilidade tomou algumas proporções recentemente. A revolta humana subterrânea problemática, liderada pelo Capitão Óbvio, parece nunca morrer; mesmo que a Fundadora de Morganville e seus amigos vampiros tenham derrotado os seus inimigos mais terríveis, os draugs monstros-da-água, eles precisaram da ajuda humana para fazer isso. Agora Morganville está em reconstrução, e é um novo dia... Mas sem a ameaça dos draugs muito temidos para mantê-los juntos, o que irá impedir os vampiros de Morganville de recuperar o seu controle rígido na cidade? Uma coisa é certa: vai haver problemas. E onde há problemas, lá está Claire Danvers.
Prólogo
-E
AMELIE
u tenho uma surpresa para você — Oliver disse. Eu — sem nenhuma razão — esperava que ele talvez me presenteasse com uma caixa de veludo embalando joias raras, ou até mesmo um novo animal de estimação... mas em vez disso ele estendeu um pedaço de papel caro, pesado e marcado com o selo de Morganville no canto, a cera ainda estava quente. — Leia. Ele caiu em uma das minhas poltronas brocadas em frente à minha mesa, cruzou uma perna sobre a outra, e me deu um sorriso longo e lento que me fez estremecer. Não de temor — oh, não. Algo muito mais complexo, e muito mais aterrorizante. Nós tínhamos sido inimigos por muito tempo, aliados desconfortáveis pelos últimos anos, e agora... agora, eu hesitava em dar um nome ao que erámos. Nos dias de antigamente, a palavra teria sido íntimos, o que significava tudo ou nada, como a situação exigia. Eu abaixei o meu olhar daquela expressão astuta e li as palavras escritas com uma manuscrita bonita e fluida — a mão de um funcionário treinado, obviamente, que tinha recebido a formação adequada em um momento em que realmente precisava. CONSIDERA que o Conselho de Anciões de Morganville, preocupados com a segurança de todos dentro de suas fronteiras de influência, resolveu decretar uma lei que exige a identificação de todas as pessoas, seja mortal ou imortal. Essa identificação deve ainda ser realizada sobre as pessoas residentes em todos os momentos. Considerando que essa prova de identidade é vital para a saúde da nossa comunidade, nós também estamos decididos que a violação de tais requisitos deve ser considerada uma ofensa direta ao conselho e, como tal, pode ser punida com a Primeira, Segunda e
Final Ação como escrito nos códigos formulados pela Fundadora desde os primeiros fundamentos desta grande comunidade. Em aprovação desses requisitos, e estes castigos, a Fundadora de Morganville marca com a sua assinatura logo abaixo disso. Eu congelei com a caneta na mão e franzi a testa. — O que é isso? — Como discutimos — ele disse. — A exigência para os cidadãos de Morganville manter a identificação adequada. Para os vampiros, é claro, os requisitos são um pouco diferentes, mas ainda vai precisar de um cartão. Não seria bom parecer discriminatória. — Realmente não — eu disse, uma onda de irritação deslizando pelo meu tom. — Eu pensei que nós tínhamos resolvido esperar um ano para implementar tais medidas de identificação, até que pudesse ser explicado corretamente. — Eu teria acreditado que era possível esperar tanto tempo se eu não tivesse ouvido um boato de que o Capitão Óbvio está mais uma vez entre nós, e agitando contra nós. — A voz de Oliver carregava um tom amargamente sombrio agora, e seu desgosto pelo nome de guerra do nosso adversário humano mais incomodativo mostrou na expressão em seu rosto severo e rígido. Anos não tem nenhuma consequência para os vampiros, é claro, além do poder que eles trazem consigo, mas Oliver era uma raridade — um vampiro que tinha sido transformado em seus últimos anos, e mantinha a aparência em sua imortalidade, com cabelos cinza enfiados em seu marrom e rugas aparecendo na pele dos seus olhos e boca. Ele podia parecer caloroso e amigável quando ele escolhia, mas eu tinha há muito tempo aprendido que Oliver era primeiro, por último e para sempre um guerreiro. E esse... Capitão Óbvio, como os humanos de Morganville agora nomearam ele, era similar. Um lutador, determinado a nos trazer prejuízos. Nós havíamos matado ele uma dúzia de vezes nos últimos cem anos e, vidas mortais são o que são, nunca tínhamos esperado na primeira vez que o problema ressuscitasse de novo, e de novo, e de novo; mesmo que um Capitão Óbvio caísse, outro daria um passo à frente, mascarado e escondido, para tomar o seu lugar. E agora, ao que parecia, fomos obrigados a suportar mais um candidato a vingador. Eu senti o olhar de Oliver em mim, caloroso e ainda desafiador; de todas as barreiras que haviam caído entre nós, sua ambição não era uma delas. Ele
exigia mais de si mesmo e, portanto, mais de mim. Era uma dança perigosa, e essa era a parte — se não a maior parte — da atração. — Sim — eu disse. — Se eles se sentem confiantes o suficiente com o próprio poder deles para seguir abertamente mais um agitador, então eu suponho que nós temos que ter a nossa própria resposta. — E eu escrevi a minha assinatura elaborada com todos os laços, redemoinhos e inclinações na parte inferior do documento formal. Em uma verdadeira época de moda pósmoderna, isso seria fotografado, digitalizado, transferido para palavras brandas e simples em uma tela... mas os efeitos eram os mesmos. A palavra de um governante era lei. E eu era agora a governante incontestável de Morganville. Todos os meus inimigos tinham caído; a doença que tinha aleijado os vampiros por tanto tempo havia sido conquistada finalmente, graças à intervenção de seres humanos, principalmente a jovem memorável e problemática Claire, aprendiz do meu amigo mais antigo, Myrnin. Nós também tínhamos despachado finalmente o meu pai, Bishop, aquela besta enlouquecida por sangue. E só nos últimos meses, os draugs cruéis e frios, que nos havia caçado à beira da extinção, tinha sido destruído e não existiam mais. Agora, nada se interpunha entre o meu povo — os últimos dos vampiros — e o poder e status que eram justamente devido a nós. Nada, além do orgulho e confiança dos humanos nesta cidade — humanos que eu tinha escolhido, reunido, permitido crescer, florescer e prosperar em cooperação e sob condições estritas; os seres humanos que me tinham reembolsado, em grande parte, com medo, rancor e resistência que ficava mais forte a cada ano. Não mais. — Não mais — Oliver disse em voz alta, e levantou-se para tomar o decreto da minha mão. — Não haverá mais esses vassalos pensando que podem escapar em segredo de seus crimes. É a nossa hora, minha rainha. Nosso tempo de assegurar a nossa sobrevivência final. — E ele capturou a minha mão na sua, se curvou e tocou os seus lábios frios na minha pele igualmente fria. Eu tremi. — Sim — eu disse. — Sim, eu acredito que seja. Seus lábios viajaram pelo meu braço, com beijos lentos e suaves, e encontraram o meu pescoço; ele soltou o meu cabelo de sua pesada coroa e deixou-o cair solto. Suas mãos fortes foram em torno de mim e me puxaram para ele. Ele era tão irresistível quanto a gravidade de Newton, e eu desisti da política, orgulho e status pelo romance puro, a alegria e o desejo.
E se havia uma parte de mim, uma parte pequena e escondida que questionava tudo isso e entendia que quanto mais poder eu tomava para os vampiros, mais os seres humanos se rebelavam... bem, eu enterrei isso com uma eficiĂŞncia impiedosa. Eu estava cansada de estar sozinha, e o que Oliver causava em mim era agradĂĄvel, e uma medida necessĂĄria. O antigo estilo de Morganville... Elas eram o meu passado. Oliver era o meu futuro.
Capítulo 1
C
CLAIRE
laire Danvers estava de mau humor raro, e quase ser presa não melhorou. Primeiro, suas aulas na universidade não tinham ido bem, em seguida, ela teve uma discussão humilhante com o seu “conselheiro” (ela geralmente pensava nele dessa maneira, entre aspas, porque ele não “aconselhava” ela a fazer nada, além de trazer temas centrais chatos e não desafiar ela), e, em seguida, ela conseguiu um B completamente injusto em um teste de física que ela sabia que as respostas tinham sido perfeitas. Ela teria a contragosto aceitado um B em algo sem importância, como história, mas não, nessa tinha que ser a maior nota. E, claro, o professor Carlyle não estava em sua sala para falar sobre isso. Então, ela não estava prestando totalmente atenção quando ela saiu do meio-fio. O tráfego de Morganville, Texas, não era exatamente rápido e furioso, e aqui perto da Universidade Prairie do Texas, as pessoas integralmente costumavam parar para estudantes alheios. Ainda assim, o guincho de freios a surpreendeu e mandou-a de volta à segurança da calçada, e foi só depois de um par de respirações rápidas que ela percebeu que ela quase tinha sido atropelada por um carro da polícia. E um policial estava saindo do carro, parecendo irritado. Enquanto ele caminhava até ela, ela percebeu que ele provavelmente era um vampiro, ele era pálido demais para ser um ser humano, e ele usava óculos de sol mesmo aqui na sombra do edifício. Olhando para a viatura para confirmar, ela viu a tintura extrema nas janelas. Definitivamente um policial vampiro. O slogan oficial da polícia era proteger e servir, mas o namorado dela chamava as patrulhas de vampiros de proteger e servir o jantar da patrulha. Era raro ver alguém tão perto da universidade, no entanto. Normalmente, os policiais vampiros trabalhavam à noite, e mais perto do centro da cidade, onde a Praça da Fundadora era localizada, juntamente com
a população vampira central. Apenas os residentes regulares iria vê-los lá, e não os transitórios — embora bem distraídos — alunos. — Sinto muito — ela disse, e engoliu um gosto enferrujado em sua boca que parecia composto de choque e raiva totalmente inútil. — Eu não estava olhando para onde eu estava indo. — Obviamente — ele disse. Como a maioria dos vampiros, ele tinha um sotaque, mas ela há muito tempo desistiu de tentar identificá-los; se vivessem tempo suficiente, os vampiros tendiam a pegar dezenas de sotaques, e muitos deles eram antigos de qualquer maneira. Seus traços faciais pareciam... talvez chineses? — Identificação. — Para andar? — Identificação. Claire engoliu o protesto e pegou em sua mochila a sua carteira. Ela tirou a sua carteira de estudante e carteira de motorista do Texas e os entregou. Ele olhou para elas e empurrou as carteiras de volta. — Não essas — ele disse. — Sua identificação da cidade. — Minha o quê? — Você deve ter recebido pelo correio. — Bem, eu não recebi! Ele tirou os óculos de sol. Atrás deles, seus olhos eram muito escuros, mas havia indícios de vermelho. Ele olhou para ela por um momento, depois assentiu. — Está bem. Quando você receber o seu cartão, carregue-o em todos os momentos. E da próxima vez, tome cuidado. Você vai acabar sendo atropelada por um carro, vou considerá-la um perigo para os carros. Com isso, ele colocou os óculos de volta, virou-se e voltou para o carro. Antes que Claire pudesse pensar em alguma maneira de responder, ele colocou a viatura em marcha e virou a esquina. Isso não melhorou o seu humor. Antes que ela pudesse sequer pensar em ir para casa, Claire tinha uma parada obrigatória para fazer em seu trabalho de tempo parcial. Ela temia ter que ir hoje, porque ela sabia que não estava em condições de lidar com o humor incrivelmente inconsistentes de Myrnin, seu chefe vampiro cientistalouco. Ele poderia estar focado como laser e super-racional; ou ele poderia estar falando com louças e citando Alice no País das Maravilhas (que tinha sido o que ela viu durante a sua última visita). Mas o que quer que ele estivesse fazendo, ele teria trabalho para ela, e provavelmente muito. Mas pelo menos ele nunca era tedioso.
Ela já tinha feito essa caminhada tantas vezes que ela fez no piloto automático, nem sequer percebendo as ruas e as casas do beco que ela teve de passar; ela verificou seu celular e leu mensagens enquanto descia os degraus de mármore longos que levavam para a escuridão de seu laboratório, ou covil, o que ele estivesse no humor hoje. As luzes estavam acesas, o que era ótimo. Quando ela afastou o celular, ela viu que Myrnin estava curvado sobre um microscópio — uma coisa antiga que ela tentou se livrar uma dúzia de vezes para trocar por um modelo eletrônico mais recente, mas ele continuava desenterrando a coisa. Ele se afastou das oculares para rabiscar números freneticamente em um quadro. O quadro estava coberto de números, e aos olhos de Claire pareciam completamente aleatórios — não apenas em termos de valores, mas na maneira que eles tinham sido escritos, em todos os ângulos e em todas as áreas do espaço disponível. Alguns estavam até mesmo de cabeça para baixo. Não era uma fórmula ou uma análise. Era totalmente sem sentido. Então, esse ia ser um dia daqueles. Adorável. — Ei — Claire disse com uma resignação fatalista quando ela deixou a sua mochila no chão e abriu uma gaveta para pegar o seu jaleco. Foi uma coisa boa ela ter olhado primeiro; Myrnin tinha colocado uma variedade grande de bisturis em cima. Qualquer um deles poderia ter cortado ela até os ossos. — O que você está fazendo? — Você sabia que certos tipos de corais se qualificam como imortais? A definição da imortalidade científica é que, se a taxa de mortalidade de uma espécie não aumenta após atingir a maturidade, não existe tal coisa como o envelhecimento... o coral preto, por exemplo. Ou o pinheiro Bristlecone. Eu estou tentando determinar se existe qualquer semelhança entre o desenvolvimento dessas colônias celulares com a substituição de células humanas que acontece em uma conversão para o vampirismo... — Ele estava falando a mil por hora, com um excesso de excitação que Claire sempre temia. Isso significava que ele estava precisando de medicação, a qual ele não aceitaria; ela precisava ser furtiva quando adicionasse no seu estoque de sangue mais uma vez, para trazê-lo um pouco para a zona racional. — Você me trouxe um hambúrguer? — Se eu... não, Myrnin, eu não trouxe um hambúrguer para você. — Bizarro. Ele nunca pediu isso antes. — Café? — Está tarde. — Donuts? — Não.
— Você é boa em quê, então? — Ele finalmente ergueu os olhos do microscópio, fez outra anotação ou duas no quadro, e deu um passo para trás para considerar o caos das marcas de giz. — Oh querida. Isso não é muito... foi aqui que eu comecei? Claire? — Ele apontou para um número em algum lugar perto do canto superior direito. — Eu não estava aqui — Claire disse, e abotoou o jaleco. — Você quer que eu continue trabalhando na máquina? — O quê? Ah, sim, aquela coisa. Faça, por favor. — Ele cruzou os braços e olhou para o quadro, franzindo a testa agora. Não era um dia de auge para ele também. Seu cabelo longo e escuro estava emaranhado e precisava de uma lavagem; ela tinha certeza de que a camisa pouco branca e muito grande que ele estava usando havia sido usada como um pano para limpar os produtos químicos derramados em algum momento de sua longa vida. Ele teve a presença de espírito para colocar algum tipo de calça, embora ela não tenha certeza de que os shorts largos para caminhar eram o que ela teria escolhido. Pelo menos os chinelos meio que combinavam. — Como foi na escola? — Péssimo — ela disse. — Bom — ele disse distraidamente, — muito bom... Ah, eu acho que este é o lugar onde eu comecei... sequência de Fibonacci... entendi o que eu fiz... — Ele começou a desenhar uma espiral através dos números, começando em algum lugar no centro. Claro, ele estaria anotando os resultados em uma espiral. Por que não? Claire sentiu uma dor de cabeça vindo. O lugar estava sujo de novo, grãos no chão que era uma combinação de areia soprada dos ventos do deserto e tudo o que Myrnin tinha trabalhado que ele tinha liberalmente derramado em todo o lugar. Ela só esperava que não fosse muito tóxico. Ela teria de agendar um dia para tirá-lo daqui para que ela pudesse reorganizar, varrer o entulho, empilhar os livros de volta em algum tipo de ordem, arquivar o equipamento do laboratório... não, isso não seria em um dia. Seria mais em uma semana. Ela desistiu de pensar nisso, depois foi para a mesa de laboratório no lado direito da sala, que era coberta por um lençol empoeirado. Ela puxou o lençol para fora, tossiu com os grãos grandes que voaram para cima, e olhou para a máquina que estava construindo. Era definitivamente sua própria criação, essa coisa: faltava a maioria dos elementos de design excêntrico que Myrnin teria colocar nele, embora ele quisesse incrementar um volante e líquidos brilhantes ao longo do caminho. Ela era retangular, prática, em forma de sino e tinha controles de movimentos dos lados. Ela pensou que parecia
um pouco como uma arma antiga de emitir raios de ficção científica, mas tinha um uso muito diferente... se realmente funcionasse. Claire ligou o dispositivo para conectar os programas de análise, e começou a gerar simulações. Esse era um projeto que Myrnin tinha proposto meses atrás, e tinha levado muito tempo para ela até mesmo chegar perto de uma solução... Os vampiros tinham uma habilidade, até agora misteriosa e decididamente não-científica, para influenciar as mentes e emoções dos outros — seres humanos, em sua maioria, mas às vezes outros vampiros. Cada vampiro tinha um conjunto diferente de pontos fortes e fracos, mas a maioria partilhava de algum tipo de mecanismo de controle emocional; ele ajudava a acalmar as suas presas, ou convencê-las a entregar o seu sangue voluntariamente. O que ela estava trabalhando era uma forma de cancelar essa capacidade. Para dar aos humanos — e até mesmo os outros vampiros — uma forma de se defender contra a manipulação. Claire tinha construído uma máquina que pudesse identificar e mapear as emoções para uma que poderia construir um retorno de reações, aumentando o que já estava lá. Esse era um passo necessário para chegar ao controle do estágio — você tinha que ser capaz de replicar a capacidade de negálo. Se você pensasse em emoção como um comprimento de onda, você poderia amplificar ou cancelá-la com o apertar de um botão. — Myrnin? — Ela não olhou para cima para longe da análise em execução na tela do laptop. — Você mexeu com o meu projeto? — Um pouco — ele disse. — Não está melhor? Estava. Ela não tinha ideia do que ele tinha feito nele, mas ao ajustar os controles mostraram calibrações precisas de que ela não poderia ter feito sozinha. — Você poderia escrever como você fez? — Provavelmente — Myrnin disse alegremente. — Mas eu não acho que isso vá ajudar. É só ouvir os ciclos e ajustar eles. Eu não acho que você seja capaz com os seus sentidos humanos limitados. Se você quiser se tornar uma vampira, você tem muito mais potencial, você sabe. Ela não respondeu. Ela descobriu que era realmente melhor não se envolver nesse debate especial com ele e, além disso, no segundo seguinte, ele tinha esquecido tudo sobre isso, com o foco em seu entusiasmo pelo coral preto. No papel, o dispositivo que eles tinham desenvolvido — bem, ela tinha desenvolvido, e Myrnin tinha mexido — parecia funcionar. Agora ela tinha que descobrir como testá-lo, certificar-se de que era uma réplica exata do modo
que a capacidade dos vampiros funcionava... e, em seguida, certificar-se de que ela poderia cancelar essa capacidade, de forma confiável. Poderia até ter outras aplicações. Se você pudesse deixar um vampiro atacando com medo, fazê-lo recuar, você poderia terminar uma luta sem violência. Isso por si só fazia o trabalho valer a pena. E o que acontece quando alguém usasse para o oposto? Ela se perguntou. O que acontece se um intruso se apodera dele, então usa para fazer você ficar com mais medo, como uma vítima? Ela não tinha uma resposta para isso. Era uma das coisas que a faziam sentir, às vezes, que esta era uma má ideia, e que ela deveria simplesmente destruir a coisa antes que ela causasse mais problemas. Mas talvez ainda não. Claire desprendeu a máquina — ela não tinha dado nenhum nome legal para isso ainda, ou mesmo uma designação de projeto — e testou o peso dela. Pesada. Ela construiu a partir de componentes sólidos, e gerava calor desperdiçado considerável, mas era um protótipo; ia melhorar, se valesse a pena. Ela tentou apontá-la para a parede. Foi um pouco estranho, mas se ela acrescentasse um apoio na frente, isso ajudaria a estabilizar... — Claire? A voz de Myrnin veio logo atrás dela, muito perto. Ela girou, e seu dedo acidentalmente apertou o botão na parte superior, enquanto ela se atrapalhou com seu domínio sobre a máquina, e de repente houve um teste ao vivo em ação... nele. Ela a viu funcionando. Os olhos de Myrnin se arregalaram, ficaram muito escuros e, em seguida, começaram a brilhar com pequenos pontos vermelhos. Ele deu um passo para trás. Um grande. — Oh — ele disse. — Não faça isso. Por favor, não faça isso. Ela desligou rapidamente porque ela não tinha certeza do que exatamente tinha acontecido. Alguma coisa, com certeza, mas testes ao vivo eram... inconclusivos. — Desculpe, desculpe — ela disse, e colocou o dispositivo para baixo com um baque no tampo de mármore da mesa de laboratório. — Eu não queria fazer isso. Hum... o que você sentiu? — Mais do que eu já senti — ele disse, o que era pouco informativo. Ele deu outro passo para trás, e o vermelho não parecia estar desaparecendo de seus olhos. — Eu ia perguntar se você podia trazer mais algum tipo AB do banco de sangue; parece estar acabando. E também, eu queria perguntar se você tinha visto o meu saco de chicletes em formato de minhoca.
— Você está com fome — Claire adivinhou. Ele assentiu com cautela. — E isso... deixou mais ainda? — De certa forma — ele disse. Não ajudando. — Deixa pra lá a entrega do banco de sangue. Eu acredito que eu devo... dar um passeio. Boa noite, Claire. Ele estava sendo muito educado, ela pensou; com ele, isso era geralmente um disfarce para questões internas graves. Antes que ela pudesse tentar descobrir exatamente o que estava acontecendo em sua cabeça, porém, ele se dirigiu para as escadas com a velocidade de vampiro e foi embora. Ela balançou a cabeça e olhou com irritação para o dispositivo desligado. — Bem, isso foi útil — ela disse a ele, e depois revirou os olhos. — E agora eu estou falando com equipamentos, como ele. Ótimo. Claire jogou uma folha sobre a máquina, fez anotações no caderno, desligou as luzes do laboratório e foi para casa. Q q q Chegar em casa — na Lot Street — não ajudou muito o seu humor, tampouco, porque quando ela passou pela caixa de correio enferrujada e inclinada do lado de fora da cerca de piquete, ela viu que a porta estava aberta e as correspondências estavam para fora. Elas ameaçavam voar no sempre presente vento do deserto. Perfeito. Ela tinha três companheiros, e todos eles de alguma forma não conseguiam pegar a correspondência. E isso não era função dela. Pelo menos hoje. Ela olhou para a casa Vitoriana grande e desbotada, e se perguntou quando Shane iria a pintá-la como ele havia prometido que faria. Nunca, era o mais provável. Assim como o correio. Claire reajustou a sua mochila pesada em um ombro, um deslocamento automático e impensado do peso, tirou os papeis amassados da caixa, e folheou as mãos cheias de papel. Conta de água (aparentemente salvar a cidade de monstros como os draugs da água não tinha dado a eles quaisquer créditos de utilidade), conta de energia elétrica (alta, de novo), folhetos do novo local de entrega de pizza (cuja pizza tem gosto de comida de cachorro com molho de tomate) e... quatro envelopes embutidos com o selo oficial da Fundadora. Ela se dirigiu para a casa. E então o dia deu mais um passo para o lado obscuro porque preso na porta da frente com uma adaga de metal barata estava um bilhete desenhado à mão com quatro lápides nele. Cada lápide tinha um de seus nomes. E em baixo dizia, Amantes de vampiros conseguem o que merecem.
Encantador. Isso teria assustado ela exceto que esse não foi o primeiro que ela tinha visto ao longo das últimas semanas; houveram outros quatro bilhetes, um deslizado sob a porta, dois presos nisso (como esse) e um na caixa de correio. Isso, e um número constante e crescente de lojistas rudes, insultos deliberados de pessoas na rua e portas batendo em seu rosto. Não tornava popular ser a amiga do único casal misto de vampiro/humano casados em Morganville. Claire arrancou o bilhete para fora, balançou a cabeça para a adaga barata, que serviria em uma luta, e abriu a porta da frente. Ela abriu-a com o quadril, fechou-a e trancou-a novamente — uma cautela automática em Morganville. — Ei! — ela gritou sem olhar para cima. — Quem era para pegar o correio? — Eve! — Shane gritou do fundo do corredor, na direção da sala de estar ao mesmo tempo que Eve gritou — Michael! — lá de cima. Michael não disse nada, provavelmente porque ele não estava em casa ainda. — Nós realmente precisamos conversar sobre os horários! Mais uma vez! — Claire falou de volta. Ela considerou brevemente mostrar para eles o folheto, mas depois ela dobrou-o e jogou-o junto com o punhal no lixo, assim como os lixos do correio oferecendo uma porcaria de desconto e crédito de juros altos de variados cartões. É só conversa, ela disse a si mesma. Não era, mas ela pensou que eventualmente, todos — humanos e vampiros — iriam apenas aceitar o casamento de Michael e Eve. Não era da conta de ninguém, além deles mesmos, afinal. Ela preferiu se concentrar nos quatro envelopes idênticos. Eles eram feitos com papel exagerado e pesado que cheirava a mofado e velho, como se tivesse sido armazenado em algum lugar por cem anos e alguém tivesse acabado de abrir a caixa. O selo na parte de trás de cada um era de cera, vermelho profundo e gravado com o símbolo da Fundadora. Cada um de seus nomes foi escrito na parte externa com uma letra elegante e fluida, tão perfeita que parecia que uma impressão de computador até que ela olhou de perto e encontrou as imperfeições humanas. Seus instintos estavam formigando com o perigo, mas ela tentou pensar positivamente. Qual é, isso poderia ser uma coisa boa, ela disse a si mesma. Talvez seja apenas um cartão de agradecimento de Amelie por salvar Morganville. Mais uma vez. Nós merecemos isso. Soava bom, mas Amelie, a Fundadora de Morganville, era uma vampira muito antiga, e os vampiros não eram de agradecer as pessoas. Amelie tinha
crescido na realeza, e ter as pessoas fazendo coisas loucas e perigosas (e possivelmente fatais) para os pequenos caprichos dela era... normal. Isso provavelmente nem sequer exigia um sorriso, muito menos um bilhete de gratidão. E, para ser honesta, quando Claire tinha estado uma vez quaseamigável com a Fundadora tinha sido um pouco... tenso. Morganville, Texas, era o último local de encontro para os vampiros do mundo; era o local que tinha sido escolhido para manter a sua última posição, para esquecer as antigas desavenças, para unir-se firmemente contra as ameaças e inimigos em comum. Logo quando Claire tinha chegado, os vampiros tinham estado lutando contra uma doença; então eles tinham estado um contra os outros. E há quatro meses, eles estavam lutando contra os draugs, criaturas aquáticas que depredavam os vampiros como aperitivos deliciosos e saborosos... e os vampiros tinham finalmente ganhado. Isso fez deles campeões indiscutíveis na cadeia alimentar do mundo. Ao salvar Morganville, Claire realmente não tinha parado para pensar o que poderia acontecer quando os vampiros já não tivessem algo a temer. Agora ela sabia. Eles não se sentiam exatamente gratos. Oh, por fora, Morganville era boa, ou pelo menos estava ficando melhor... Os vampiros tinham sido rápidos para começar a reparar a cidade, limpar após o desaparecimento dos draugs e trazer toda a população humana de volta a suas casas, empresas e escolas. Os oficiais de relações públicas tinham dito que um vazamento químico perigoso forçou a evacuação, e isso parecia ter satisfeito todo mundo (juntamente com os pagamentos em dinheiro generosos, e boas notas automáticas para todos os alunos da Universidade Prairie do Texas que tinha tido seus semestres interrompidos). Claire também suspeitava que os vampiros tinham aplicado alguma persuasão psíquica, quando necessário — havia alguns deles capazes de fazer isso. Por fora, parecia que Morganville não só estava se recuperando, mas prosperando. Mas isso não parecia certo. Nas poucas ocasiões em que ela tinha visto Amelie, a Fundadora parecia estranha também. Sua linguagem corporal, seu sorriso, o jeito que ela olhava para as pessoas... tudo era diferente. E mais misterioso. — Ei — Sua companheira de casa Eve Rosser — não, era Eve Glass agora, depois do casamento, disse. — Você vai abrir isso aí ou o quê? — Ela caminhou ao lado de Claire, pousando um copo sobre o balcão da cozinha, e se serviu de um copo de leite. Seu anel de casamento rubi piscava para Claire como se estivesse convidando-a a partilhar de uma piada secreta. — Porque a última vez
que eu vi algo oficial assim, estava me convidando para uma festa. E você sabe o quanto eu amo festas. — Você quase foi morta naquela festa — Claire disse, distraída. Ela entregou o envelope de Eve e pegou o seu próprio. — Eu quase fui morta na maioria das festas. Então você pode perceber o quanto eu as amo — Eve disse, e rasgou o papel. Claire — que era por natureza o tipo de pessoa que abria-a-coisa-suavemente — estremeceu. — Hum. Outro envelope dentro do envelope. Eles gostam de desperdiçar papel. Eles não ouviram falar de abraçar as árvores? Quando Eve tirou a segunda camada, Claire teve a chance de fazer a varredura do figurino habitual de sua melhor amiga... e não estava decepcionada. Eve tinha de repente tomado um gosto por azul água, e ela acrescentou mechas dessa cor em seu cabelo preto, que estava hoje em dois rabos de cavalo bonitos e brilhantes nas laterais de sua cabeça. Seu rosto branco gótico era iluminado pela sombra de olho cor água e — onde ela encontrava essas coisas? — batom combinando, e ela usava uma blusa preta justa com cruzes gravadas. A saia curta e puffy continuava com o tema azul. Em seguida, calças justas pretas com corações azuis. E então, botas de combate. Então, era uma quarta-feira típica de verdade. Eve puxou o envelope interior para fora, abriu a aba e tirou uma folha de papel dobrada grossa. Algo caiu e saltou em cima do balcão, e Claire pegou. Era um cartão. Um cartão de plástico como um cartão de crédito, mas este tinha o símbolo da Fundadora exibido na parte de trás, e tinha a foto de Eve no canto superior — tirada quando ela estava sem a pintura de guerra completa de gótica, a qual Eve desprezaria. O cartão tinha o nome de Eve, endereço, número de telefone... e uma caixa na parte inferior que dizia Tipo sanguíneo: O Neg. Em frente a ele tinha Protetor: Glass, Michael. — O que...? — Oh, Claire pensou, antes mesmo de ela terminar a pergunta. Isso devia ser o que o policial vampiro estava lhe pedindo. O cartão de identificação. Eve arrancou o cartão de seus dedos, olhou para ele com uma expressão completamente em branco, e então voltou sua atenção para a carta que tinha vindo com ele. — “Cara Sra. Michael Glass” — ela leu. — Sério? Sra. Michael? Eu nem sequer tenho o meu próprio nome mais? E o que diabos é isso de ele ser o meu protetor? Eu nunca concordei com isso! — E? — Claire estendeu a mão para a carta, mas Eve a afastou com o quadril e continuou lendo.
— “Eu anexei seu novo Cartão de Identificação de Residente de Morganville, que todos os residentes humanos são agora obrigados a transportar em todos os momentos, para que no caso improvável de qualquer emergência pudermos entrar em contato rapidamente com os seus entes queridos e Protetores, e fornecer informações médicas necessárias. — Eve olhou para cima e encontrou os olhos de Claire diretamente. — Isso é um papo-furado. Residentes humanos. Com o tipo de sangue listado? É como uma lista de compras para os vampiros. Claire assentiu. — O que mais? Eve voltou a sua atenção para o papel. — “Falha ao transportar e fornecer este cartão quando pedido resultará em multas de...” Oh, que se dane isso! — Eve enrolou o papel, deixou-o cair no chão e pisou nele com as suas botas, que certamente foram feitas para pisar. — Eu não vou levar por aí um cartão de Me Beba, e eles não podem exigir os meus documentos. O que é isso, a Terra dos Nazistas? — Ela pegou o cartão e tentou dobrá-lo ao meio, mas era muito flexível. — Onde você colocou a tesoura..? Claire pegou o cartão e olhou para ele novamente. Ela virou-o, segurouo sob a luz mais forte disponível, a janela, e franziu a testa. — Melhor não — ela disse. — Eu acho que isso está chipado. — Chipado? Eu posso comê-lo? — Microchip. Tem algum tipo de tecnologia nisso. Eu teria que dar uma olhada para ver que tipo, mas é bastante seguro dizer que eles sabem se você quebrá-lo. — Oh, ótimo, então isso não é apenas um cartão de Me Beba; é um dispositivo de rastreamento, como aquelas coisas de ouvido que eles colocam em leões no Animal Planet? Sim, não tem como isso dar errado — como digamos, vampiros sendo receptores de emissão para que eles possam fazer compras on-line com quem eles quiserem na noite. Eve estava certa sobre isso, Claire pensou. Ela realmente não se sentia bem com isso. Por fora, era apenas um cartão de identificação, perfeitamente normal, ela já carregava uma carteira de estudante e carteira de motorista — mas isso parecia outra coisa. Algo mais sinistro. Eve parou de remexer nas gavetas e apenas olhou para ela. — Ei. Cada um de nós tem um. Quatro envelopes. — Eu pensei que eles eram apenas para residentes humanos — Claire disse. — Então, o que tem no de Michael? — Porque Michael Glass definitivamente não era humano nos dias de hoje. Ele tinha sido mordido bem antes de Claire o conhecer, mas a coisa de vampiro tinha sido construída
lentamente; ela via mais e mais agora, mas no fundo ela achava que ele ainda era o mesmo cara forte, doce e sensato que ela conheceu quando chegou pela primeira vez na porta da Glass House. Ele era definitivamente ainda forte. Era a doçura que estava perigosamente desaparecendo ao longo do tempo. Antes que Claire pudesse avisar a Eve que talvez essa não fosse uma boa ideia, Eve rasgou o envelope de Michael e abriu, também arrancou o de dentro e tirou a carta dele. Outro cartão caiu. Este era de ouro. Ouro brilhante. Nele não tinha qualquer informação. Apenas um cartão de ouro, com o símbolo da Fundadora em relevo. Eve foi para a carta. — “Querido Michael” — ela disse. — Ah, claro, ele recebe Michael, não Sr. Glass... “Querido Michael, Anexei o seu cartão de privilégio como foi discutido nas nossas reuniões com a comunidade. — Ela parou de novo, relendo silenciosamente, e olhou para o cartão que ela estava segurando em seus dedos. — Cartão de privilégio? Ele não recebe o mesmo tratamento que nós. — Reuniões da comunidade — Claire disse. — A que nós não fomos convidados, certo? E que tipo de privilégios, exatamente? — Pode acreditar que é muito melhor do que um mocha de graça no Common Grounds — Eve disse severamente. Ela continuou lendo silenciosamente, em seguida, entregou o papel duro para Claire sem dizer uma palavra. Claire pegou-o, se sentindo um pouco mal agora. Ele dizia: Caro Michael, Anexei o seu cartão de privilégio como foi discutido nas nossas reuniões da comunidade. Por favor, mantenha este cartão por perto, e você está convidado a usá-lo a qualquer momento no banco de sangue, na viatura do banco ou no Common Grounds para até dez litros mensais. Uau, isso realmente era bom para bebidas gratuitas. Mas isso não era tudo. Este cartão também lhe dá direito a uma caça legal por ano sem declaração antecipada de vontade. Caças adicionais devem ser pré-aprovadas através do Conselho dos Anciões. A falta de buscar por aprovação irá resultar em multas de até cinco mil dólares por ocorrência, a pagar ao Protetor da família, se aplicável, ou à cidade de Morganville, se não houver Protetor em arquivo. Melhores desejos da Fundadora,
Amelie Por um momento, Claire não conseguia entender o que ela estava lendo. Seus olhos continuavam sobre ele, e sobre ele e, finalmente, tudo se encaixou, ficou claro, seu foco afiado como uma navalha, e ela deu uma respiração profunda e trêmula. O papel dobrou quando o aperto dela ficou tenso. — Sim — Eve disse. Claire encontrou seu olhar sem palavras. — Está dizendo que ele recebe um passe livre para matar uma pessoa por ano, apenas por capricho. Ou mais, se ele planejar. Você sabe, como um tratamento especial. Privilégio. — Não havia nada em seu tom, ou seu rosto, ou seus olhos. Apenas... neutro. Retraído. Eve pegou o papel da mão sem resistência de Claire, dobrou-o, e colocouo de volta no envelope com o cartão de ouro. — O quê... o que você vai dizer a ele? — Claire não conseguia ficar com a cabeça no lugar. Isso era errado, apenas... errado. — Nada bom — Eve disse. E esse foi o momento preciso em que a porta da cozinha se abriu e Michael entrou. Ele estava vestindo um casaco grosso de lona preta em estilo cowboy, chapéu de abas largas e luvas pretas. Eve tinha brincado antes dizendo que ele se parecia com um super-herói de anime, mas era as roupas práticas de vampiros para resistir ao sol. Michael era relativamente ainda um recémnascido como um vampiro, o que significava que ele era especialmente vulnerável ao sol, e a se queimar. Agora, ele tirou o chapéu e deu as duas uma curvada elaborada que ele provavelmente tinha copiado de um filme (ou, Claire pensou, aprendeu com um dos vampiros mais velhos), e se ergueu com um sorriso largo e doce. — Ei, Claire. E olá, Sra. Glass. — Havia uma suavidade especial quando ele disse o Sra. Glass — um tipo de coisa privada, e que era impressionante e comovente. Devastador, porque no segundo seguinte, ele sabia que algo estava errado. O sorriso vacilou, e Michael olhou de Eve para Claire, depois de volta para Eve. — O que foi? — Ele jogou o chapéu e as luvas sobre a mesa, e tirou o casaco sem desviar o olhar do rosto de Eve. — Baby? O que há de errado? — Ele andou até ela e colocou as mãos em seus ombros. Seu anel de casamento combinava com o dela, até mesmo a inserção de rubi, e ele capturou a luz do jeito que o de Eve tinha feito antes. Vermelho sangue. Era terrível, Claire pensou, que ele ainda fosse tanto o Michael — exatamente do jeito que ele tinha sido quando ela o conheceu pela primeira
vez — dezoito anos, embora todos eles estivessem se aproximando da idade dele agora. Não era justo chamá-lo de bonito, mas ele era lindo — uma desordem de cachos loiros que de alguma forma sempre pareciam perfeitos; olhos azuis claros da cor de um céu da manhã. Sua palidez dava-lhe a aparência perfeita de marfim, e quando ele ainda estava de pé, como ele estava agora, ele parecia uma estátua perdida e fabulosa direta da Grécia ou Roma. Não era justo. Eve segurou o olhar entre ela e o seu marido, e disse: — Isto é para você. — Ela ergueu o envelope interior com o nome dele escrito com a letra elaborada. Por um segundo, Michael claramente não sabia o que era... e, em seguida, Claire viu-o perceber. Seus olhos se arregalaram, e algo como horror passou sobre sua expressão e foi rapidamente escondida por baixo, uma máscara cuidadosamente composta em branco. Ele não disse nada, apenas tirou as mãos dos ombros dela e aceitou o envelope. Ele enfiou-o no bolso. — Você não está nem fingindo estar curioso? — Eve disse. Sua voz tinha vindo do fundo de sua garganta e tinha tomado um tom perigoso. — Ótimo. — Você leu? — ele perguntou, e tirou novamente para abri-lo. O cartão caiu mais uma vez, mas ele habilmente pegou no ar sem qualquer esforço. — Hum. É mais brilhante do que eu pensei que seria. — Isso é tudo que você tem a dizer? Ele desdobrou a carta. Claire não era boa em ler aquelas microexpressões das pessoas na TV que eles sempre falavam em programas de crime, mas ela achou que ele parecia culpado enquanto lia. Culpado como o inferno. — Não é o que você está pensando — ele disse, que era exatamente a coisa errada a dizer, porque isso fez Claire (e quase certamente Eve) pensar em todos os caras que são pegos traindo. Felizmente, ele não parou por aí. — Eve, todos os vampiros têm o privilégio de caça; é apenas parte da vida em Morganville, sempre foi a regra, mesmo quando ninguém na comunidade humana sabia. Olha, eu não quero isso. Eu me opus a ideia inteira nas reuniões... — Que você não contou para nós, idiota — Eve interrompeu. — Somos da comunidade! Michael respirou fundo e continuou. — Eu disse a Amelie e Oliver que eu não vou usar isso, mas eles não se importam. — Não importa. Você tem um passe livre para assassinar. — Não — ele disse, e pegou-lhe as mãos, um gesto tão rápido que ela não pôde evitá-lo, mas suave o suficiente para que ela pudesse se afastar se ela
quisesse. — Não, Eve. Você me conhece mais do que isso. Estou tentando mudar isso. Os olhos dela se encheram de lágrimas de repente, e ela desabou contra seu peito. Michael colocou os braços em volta dela e segurou-a firmemente com a cabeça descansando contra a dela. Ele estava sussurrando. Claire não podia ouvir o que ele estava dizendo, mas realmente não era da conta dela. Ela pegou o copo de leite que Eve tinha colocado para ela mesma, vendo o quanto ele estava lá indesejado e bebeu. Ele ainda devia ter nos dito, ela pensou, e abriu seu envelope com uma faca para tirar a sua própria carta e cartão de identificação. Parecia estranho ver a informação ali. Mesmo que os vampiros sempre soubessem qual o seu tipo de sangue era, onde morava... isso parecia diferente, de alguma forma. Oficial. Como se ela fosse algum tipo de mercadoria. Pior: com o chip nele, isso significava que ela não conseguiria se esconder, não podia correr. Ela agora, como Eve tinha dito, tinha marcadores, assim como eles exigiam naqueles filmes antigos de guerra em preto-e-branco; ela tinha que carregar o cartão ou ser presa (o encontro de hoje tinha provado isso), e isso significava que eles poderiam levá-la sempre que quisessem... para interrogatório. Ou para prendêla em algum tipo de campo de prisioneiros. Ou pior. Uma coisa era certa: Shane Collins não ia gostar disso nem um pouco... e assim que ela pensou sobre isso, Shane bateu na porta vaivém da cozinha, indo direto para a geladeira e agarrando um refrigerante gelado, que ele abriu e deu três goles antes de parar, olhar para Eve e Michael, e dizer: — Oh, qual é. Não me digam que vocês estão brigando de novo. Sério, não deveria ser o período de lua de mel ou algo assim? — Nós não estamos brigando — Michael disse. Havia algo em sua voz que advertiu que este era um momento ruim para Shane fazer brincadeiras. — Estamos fazendo as pazes. Nós vamos estar lá em cima. Shane realmente abriu a boca para dizer mais alguma coisa, mas de repente ele estremeceu e deu um passo para trás. — Ei! — ele disse, e olhou para o teto. — Pare com isso, Miranda! Pirralha. Miranda era... bem, a adolescente fantasma da Glass House. Uma verdadeira. Ela morreu aqui, na casa — se sacrificando na batalha contra os draugs — e agora ela era parte dela, mas invisível durante o dia. Ela ainda podia fazer os outros a sentirem quando ela queria; o ponto frio que ela tinha acabado de formar em torno de Shane era a prova do que
ela sentia por seu impulso de perseguir Michael e Eve nesse momento. Miranda não podia ser ouvida ou vista durante o dia, mas ela podia mostrar o seu descontentamento. E eles provavelmente ouviriam sobre isso hoje à noite, em detalhes, quando ela se materializasse. Claire suspirou quando Michael levou Eve para fora da sala com um braço em volta dos ombros dela. — Aqui — ela disse, e passou para Shane o envelope com o nome dele. — Você deve sentar. Você realmente não vai gostar disso. Q q q Sentar Shane e discutir as coisas não ajudaram porque tudo o que causou foi uma cadeira virada, e Shane andando pela cozinha perigosamente em silêncio. Ele tentou lançar o seu cartão de identificação no lixo, mas Claire calmamente recuperou e o colocou de volta na mesa junto com o dela. O de Eve ainda estava abandonado no balcão. — Você vai cooperar com isso? — ele perguntou finalmente. Ela estava observando-o enquanto ele andava; havia muito o que analisar no seu namorado quando ele não estava dizendo nada, apenas a partir da tensão de seus músculos, e a sua postura. Como ele parecia agora estava dizendo a ela que ele estava à beira de bater em algo — de preferência algo com um conjunto de presas. Shane tinha ficado melhor em controlar os seus impulsos para lutar, mas eles nunca realmente foram embora. Eles não podiam, ela supôs. Agora ele parou, ficou de costas para a parede, e usou as duas mãos para empurrar seu cabelo desgrenhado e comprido para trás de seu rosto. Seus olhos estavam arregalados, sombrios e cheios de desafio quando ele olhou para ela. — Não — ela disse. Ela sentia-se estável, quase calma, na verdade. — Eu não vou cooperar com isso. Nenhum de nós vai... nós não podemos. Você vem comigo para falar com Amelie sobre isso? — Inferno sim, eu vou com você. Você acha que eu ia deixar você ir sozinha? — Você promete manter a calma? — Eu prometo que não vou iniciar nenhuma briga. Mas eu vou levar alguma garantia, e você vai carregar também. Sem argumentos... Eu sei que você não acha que Amelie está exatamente do nosso lado mais, portanto confiar nela está fora de questão. — Ele se afastou da parede e abriu os armários
sob a pia; nele havia várias bolsas de lona preta com equipamentos, todos prejudiciais para os vampiros de alguma forma. Claire queria ser corajosa e dizer que ela não precisava de nenhum tipo de defesa, mas ela já não tinha certeza disso. Morganville, desde a derrota dos draugs, estava... diferente. Diferente em pequenas maneiras indefiníveis, mas definitivamente não a mesma, e ela não tinha certeza de que as regras que ela tinha aprendido sobre a interação com Amelie, a Fundadora vampira, eram as mesmas, tampouco. A antiga Amelie, a que ela tinha estado quase confortável em conhecer... aquela mulher não iria machucá-la apenas por discordar com ela. Mas esta nova e mais poderosa Amelie parecia diferente. Mais remota. Mais perigosa. Então, Claire olhou para o conteúdo da bolsa que ele abriu e tirou dois frascos de nitrato de prata líquida, que ela colocou nos bolsos de suas calças jeans. Ela não estava exatamente vestida para uma luta com vampiros — não que houvesse um código de vestimenta de verdade para isso — mas ela estava preparada para sacrificar a blusa bonita azul céu que ela usava, em caso de emergência. Pena que ela não tinha escolhido o preto esta manhã. Ah, Morganville. Se vestir para esconder manchas de sangue era apenas bom planejamento diário. — Devemos falar com Hannah primeiro — ela disse quando Shane pegou uma faca com lâmina fina que tinha sido revestida com prata. Ele verificou a borda da faca, acenou com a cabeça e colocou-a de volta na bainha de couro antes de enfiá-la no bolso interno da sua jaqueta de couro. — Se você acha que vai ajudar — ele disse. Hannah Moses era a prefeita recém-nomeada de Morganville — ela tinha sido a chefe de polícia, mas com a morte de Richard Morrell, ela acabou sendo nomeada a Principal Humana da cidade. Não era um trabalho que Hannah queria, mas era um que ela tinha aceitado como a soldada que ela tinha sido uma vez. — Embora eu acho que se Hannah pudesse ter feito algo sobre isso, ela já teria feito. Ela não precisa de nós para dar-lhe a notícia. Isso era verdade, mas ainda assim, Claire não conseguia afastar a sensação de que eles precisavam de aliados ao seu lado antes de se meter com Amelie. A força dos números e tudo mais; ela não poderia pedir a Michael, não sem pedir a Eve, e Eve era um assunto delicado para os vampiros agora. Michael e Eve se casaram, realmente e legalmente se casaram, e isso tinha incomodado uma boa parte dos vampiros da comunidade fracassada deles. Aparentemente, os preconceitos não morreram mesmo quando as pessoas morreram.
Não que os seres humanos parecessem mais contentes com isso, tampouco. — Ainda assim — ela disse em voz alta, — vamos falar com ela e ver o que ela pode fazer. Mesmo que ela só vá com a gente... — Sim, eu sei... com ela seria mais difícil nos fazer desaparecer. — Shane se aproximou, abaixou a cabeça e beijou-a, uma coisa repentina, calorosa e doce que a fez puxar a sua atenção para longe de suas preocupações e concentrar-se totalmente nele por um momento. — Humm — ele murmurou, sem se mover mais para trás do que o necessário para as palavras se formarem entre os seus lábios. — Eu senti falta disso. — Eu também — ela sussurrou, e se inclinou para o beijo. Tinha sido alguns meses agitados com a reconstrução de Morganville, encontrar as suas vidas e colocar as coisas no lugar novamente. Então ela tinha focado em acompanhar a universidade de novo — já que a Universidade Prairie do Texas reabriu, ela estava determinada a não ter de repetir quaisquer horas de crédito que tinha perdido durante a emergência geral. O namorado dela tinha tido alguns dias difíceis — mais do que difíceis, na verdade — mas eles estavam lidando com isso muito bem, ela pensou. Eles se entendiam. O melhor de tudo, eles realmente gostavam um do outro. Não era apenas os hormônios (embora agora mesmo, os dela estivessem efervescendo como um refrigerante chacoalhado; Shane tinha esse efeito sobre ela); era outra coisa. Algo mais profundo. Algo especial que ela pensou que realmente iria durar. Talvez até mesmo para sempre. Shane se afastou e beijou a ponta do seu nariz, o que a fez rir um pouco. — Prepare-se, princesa guerreira. Temos algumas aventureiras para enfrentar. Ela ainda estava sorrindo quando eles deixaram a casa de mãos dadas, caminhando pelo meio da tarde escaldante. Lot Street, a rua deles, estava quase intacta de todos os problemas que Morganville tinha passado; ela ainda tinha conseguido a maioria dos seus antigos moradores de volta ao lugar. Ao passarem, a Sra. Morgan acenou para eles enquanto regava as suas flores. Ela estava usando um maiô que era na opinião de Claire muito pequeno, especialmente na idade dela, que devia ter pelo menos trinta anos. — Olá, Shane! — a Sra. Morgan disse. Shane acenou de volta, e lhe deu um sorriso deslumbrante. Claire lhe deu uma cotovelada. — Não dê corda pra ela. — Você simplesmente não quer que eu tenha nenhuma diversão, não é? — Não esse tipo de diversão.
— Ah, qual é, ela não está falando sério. Ela só gosta de flertar. Isso deixa ela entusiasmada. — Eu não estou entusiasmada. O sorriso de Shane desta vez era positivamente predatório. — Ciumenta? Ela estava, surpreendentemente, e escondeu isso com um olhar penetrante. — Estou mais com nojo. — Qual é, você acha aquele cara que é ator sexy, e ele provavelmente é tão velho quanto a Sra. Morgan. — Ele está na TV. Ela está modelando de biquíni para você duas portas depois de nós. — Ah, então é por causa do acesso. Em outras palavras, se ele estivesse a duas portas e estivesse andando de cueca... Ela lhe deu uma cotovelada de novo, porque isso não iria se transformar em uma conversa com uma vitória fácil. Ele resmungou um pouco, como se ela tivesse machucado ele (o que ela não tinha, nem um pouco), e ele colocou o braço em volta dos ombros dela. — Ok, eu me rendo — ele disse. — Não vou mais dar corda. Eu não vou nem sair sem camisa quando eu for cortar a grama. Mas você tem que fazer a mesma promessa. — Não sair sem blusa? Certo. — Não — ele disse, e de repente ele estava completamente sério. — Não flertar com caras mais velhos. Especialmente os muito velhos. Ele quis dizer Myrnin, seu chefe vampiro, amigo, mentor, e às vezes a amargura de sua existência. O louco, descontroladamente e sentimental Myrnin, que parecia gostar dela mais do que era bom para qualquer um dos dois. E às vezes ela não fazia um trabalho muito bom em lidar com isso, ela tinha que admitir. — Eu prometo — ela disse. — Sem flertar. Ele enviou-lhe um olhar de soslaio que era um pouco duvidoso, mas ele balançou a cabeça. — Obrigado. Com exceção do brilhante biquíni laranja da Sra. Morgan, foi uma caminhada tranquila. Morganville não era um lugar enorme, e da Lot Street para o gabinete da prefeita era cerca de dez minutos caminhando — nas temperaturas atuais de fim de primavera, esse tempo já era suficiente para realmente começar a sentir a queimadura do sol batendo. Claire estava um pouco grata quando Shane abriu a porta e ela entrou no espaço mais frio e mais escuro do lobby da Prefeitura de Morganville. Ela havia sido reconstruída em sua maioria, mas havia uma coisa sobre os vampiros: eles exigiam elevados
padrões em seus edifícios cívicos. O lugar parecia ótimo, com novos pisos de mármore, colunas e luminárias de teto parecendo caras. Elegância do velho mundo do Meio do Nada, Texas. A mesa redonda de madeira estava situada no centro do lobby, composta por uma mulher de boa aparência que provavelmente estava a apenas alguns anos depois da faculdade. A placa de identificação na frente dela dizia que ela era Annabelle Lange. Ela olhou para cima quando Claire e Shane pararam na frente dela, ela deu-lhes um sorriso acolhedor e caloroso. Ela tinha um cabelo castanho longo e brilhante, e grandes olhos azuis... bonita até demais, e toda a sua atenção foi focada imediatamente em Shane. Isso foi pior do que a Sra. Morgan por vários motivos. Annabelle não era velha. E ela não tinha que vestir um biquíni Day-Glo para conseguir atenção. — Estamos aqui para ver a prefeita — Claire disse antes que Annabelle pudesse falar ou pedir a Shane o seu número de telefone. — Claire Danvers e... — Shane Collins — Annabelle a interrompeu, ainda sorrindo. — Sim eu sei. Só um momento; vou ver se a prefeita Moses está disponível. Ela virou-se e pegou um telefone. Enquanto ela estava ocupada, Claire enviou a Shane um olhar, um significativo. Ele ergueu as sobrancelhas, claramente se divertindo. — Eu não fiz nada — ele disse. — Não é totalmente culpa minha. — Pare de ser tão... — Charmoso? Atraente? Irresistível? — Eu ia dizer arrogante. — Ai. — Antes que ele pudesse se defender, a recepcionista estava de volta com sorrisos e covinhas. — A prefeita Moses está em uma reunião, mas ela disse que pode atender vocês imediatamente depois. Se vocês desejarem podem ir lá em cima e esperar no escritório dela... — Obrigado — Shane disse. E a menina realmente fez aquela mordida-delábio do tipo eu estou disponível e deu-lhe o olhar por baixo dos cílios. Clássico. Claire não pôde deixar de revirar os olhos, não que ela realmente existisse no planeta de Annabelle Lange. Shane notou, no entanto. Definitivamente. Ele empurrou Claire rapidamente para os elevadores. — Qual é, não precisava dessa reação toda. Ela foi apenas... amigável. — Se fosse mais amigável ela estaria te dando uma dança no colo agora.
— Uau. Quem transformou você no Monstro dos Olhos Verdes? E não me diga que você foi mordida por uma aranha radioativa. Não há nenhum super-herói do ciúme. — Quando ela não respondeu antes de chegarem aos elevadores, ele apertou o botão, em seguida, virou-se para ela. Não era apenas um tipo informal de olhar; era um olhar nivelado e muito direto, e ele pegou Claire um pouco desprevenida. — É sério. Você está realmente pensando que eu estou a fim da Sra. Morgan? Ou aquela não-sei-o-nome lá de trás? — Annabelle — Claire disse, e desejou que ela não se lembrasse do nome da menina rápido demais. — Não. Mas... — Mas o quê? — Não era típico de Shane parecer tão sério. — Você sabe que eu só estava brincando sobre a Sra. Morgan, certo? Eu não iria fazer isso. Ou qualquer outra coisa. Quer dizer, eu olho para meninas, porque qual é, isso é biologia. Mas eu te amo. — Ele disse isso com tanta naturalidade que enviou um calafrio através dela, profundamente para baixo dos seus dedos dos pés. Quando Shane estava falando sério, quando ele tinha aquele olhar firme e calmo nos olhos, ele a deixava quente e fria ao mesmo tempo. Ela se sentia como se estivesse flutuando em algum lugar muito alto, onde o ar era terrivelmente pouco, mas intoxicante. — Eu sei — ela sussurrou, e se aproximou dele. — É por isso que eu estou com ciúmes. — Você sabe que não faz sentido, certo? — Faz. Porque agora eu tenho muito mais a perder, e mais a cada vez que você me beija. Eu penso em perder você, e isso dói. Ele sorriu. Ocorreu-lhe que Shane não sorria muito com as outras pessoas, somente com ela, e certamente não dessa forma. Era tão... caloroso, ter tudo isso para si mesma. — Você não vai me perder — ele disse. — Eu prometo isso. Seja lá o que ele ia dizer — ela pensaria sobre isso no silêncio feliz e ressonante — foi interrompido pelo toque suave da campainha do elevador. Shane ofereceu o braço, e ela aceitou, sentindo-se estúpida e um pouco risonha e o deixou escoltá-la para dentro do elevador. Assim que as portas se fecharam, Shane apertou o botão para o terceiro andar (que tinha uma placa ESCRITÓRIO DO PREFEITO sobre ele) e, em seguida, apoiou-se contra a parede, inclinou a cabeça e beijou-a de verdade. Muito. Profundamente. Seus lábios macios, úmidos, doces e calorosos um pouco demais para eles estarem em público, e ela fez um pequeno som de protesto que era metade aviso de que a porta iria se abrir a qualquer segundo. A outra metade dela estava implorando a ele para ignorar completamente o
aviso e só continuar... mas, em seguida, ele empurrou-a de volta, deu uma respiração profunda e se afastou quando as portas se abriram. Ele ainda estava sorrindo, e ela não conseguia parar de olhar para ele. De perfil, seus lábios eram apenas... caramba. Deliciosos. — Claire — ele disse, e deu-lhe um gesto de depois de você. — Oh — ela disse brilhantemente, e tentou colocar a cabeça no lugar. — Certo. Obrigada. O período caloroso do elevador foi interrompido porque quando ela e Shane saíram para o corredor, uma porta bateu com força no corredor, e uma menina alta usando uma saia curta e saltos de grife veio caminhando ao virar a esquina. A cor da temporada era rosa choque, e ela estava praticamente brilhando no escuro com essa cor... a saia, os sapatos, as unhas polonesas e o batom. Os lábios tomaram uma curva particularmente amarga quando Monica Morrell avistou os dois. Seus passos retardaram por um segundo, e então ela jogou o cabelo brilhante sobre os ombros e continuou andando. — Alguém chame a segurança, vagabundos estão entrando novamente — ela disse. — Ah deixe pra lá. É só vocês. Veio visitar o seu agente de condicional, Shane? Soou classicamente como Monica, Menina Malvada, Edição de Luxo, mas havia algo diferente nela, Claire pensou. Monica não parecia tão empolgada com isso. Ela parecia um pouco pálida sob o bronzeado artificial, e apesar da maquiagem e roupas, ela parecia um pouco perdida. O mundo tinha finalmente e de forma decisiva destruído Monica Morrell, e Claire desejava que ela pudesse ter mais satisfação nisso. Ela ainda sentia uma palpitação sombria de raiva e ressentimento, com certeza; que estava praticamente cravada por dentro, após os anos de abuso que Monica tinha feito com ela desde que ela tinha chegado. Mas, sabendo o que ela sabia, não era uma vingança muito deliciosa ter Monica desequilibrada. — Monica — Shane disse. Nada mais. Ele observava ela da forma que você observava um pit bull potencialmente hostil, pronto para qualquer coisa, mas ele não estava reagindo a zombaria dela. Monica não retornou a saudação. — Vestido bonito — Claire disse. Ela falou sério. O rosa choque parecia particularmente bom em Monica, e ela obviamente levou um monte de tempo com o look todo. Monica apertou o botão do elevador já que as portas já tinham se fechado, e disse: — É só isso? Vestido bonito? Você não vai nem mesmo me perguntar se eu assaltei uma prostituta morta para pegar ele ou algo assim?
Que idiota, Danvers. Você precisa intensificar os seus esforços, se você quiser dar uma boa impressão. — Como você está? — Claire perguntou. Shane fez um som de protesto na parte traseira de sua garganta, um aviso que ela ignorou; talvez isso fosse inútil, tentar ser compreensiva com Monica, mas não era realmente da natureza de Claire não tentar. — Como eu estou? — Monica parecia confusa, e por um momento, ela olhou diretamente para Claire. Seus olhos foram maquiados habilmente, mas sob as camadas cobertas parecia cansados e um pouco inchados. — Meu irmão está morto, e vocês idiotas apenas ficaram lá e deixaram que isso acontecesse. É assim que eu estou. — Monica... — A voz de Shane estava mais suave do que Claire esperava. — Você sabe que não foi isso o que aconteceu. — Eu sei? — Monica sorriu levemente, seus olhos nunca deixando os de Claire. — Eu sei o que as pessoas me disseram que aconteceu. — Você estava conversando com Hannah — Claire adivinhou. — Ela não te disse... — Não é da sua conta o que falamos — Monica interrompeu. O elevador apitou para ela, e ela entrou quando ele abriu. — Eu não acredito em qualquer um de vocês. Porque eu deveria? Vocês todos me odiavam desde sempre. Pelo que eu sei, todos vocês acharam que isso foi uma vingança. Adivinhem só? Vingança é uma vadia. E eu também. Monica parecia... sozinha, Claire pensou, quando as portas se fecharam sobre ela. Sozinha e um pouco assustada. Ela estava sempre isolada do mundo real — primeiro por seu pai, o ex-prefeito de Morganville, e por suas fiéis e malvadas companheiras. Seu irmão, Richard, não tinha mimado ela, mas ele tinha protegido ela também, quando ele achava que era necessário. Agora que Richard tinha morrido pelos draugs selvagens, ela não tinha... bem, nada. Seu poder tinha sumido, e com ele, as suas amigas. Ela era apenas outra menina bonita agora, e uma coisa que Monica não estava acostumado a ser... era comum. — Eu pensei que ela fosse ser menos... — Vadia? — Shane forneceu. — Sim, boa sorte. Ela não é do tipo que muda. Claire lhe deu uma cotovelada. — Como você? Porque, pelo que eu me lembro, você tinha uma péssima atitude de bad-boy quando eu conheci você. Então você o quê, perdoou ela? Isso não era típico de você, Shane.
Shane deu de ombros, um envergar lento de seus ombros, parecendo ser mais para se livrar da tensão do que expressar uma emoção. — Eu poderia ter estado errado sobre algumas coisas que ela fez antes — ele disse. — Não significa que ela não é um desperdício de espaço, no entanto. Bem, ele estava certo sobre isso, e já que Monica tinha ido embora, não havia nenhum motivo para gastar tempo discutindo sobre ela, de qualquer maneira. Eles tinham um compromisso, e quando eles viraram a esquina em direção ao escritório da prefeita, eles encontraram a porta aberta com a recepcionista em sua mesa. — Pois não? — A recepcionista daqui, ao contrário do andar de baixo, era todos negócios... séria, fria e com os olhos azuis como raios-X analisando os dois de cima a baixo e rendendo a um veredito de não muito importante. — Posso ajudar? — Estamos aqui para ver a prefeita Moses — Claire disse. — Hum... Claire Danvers e Shane Collins. Nós ligamos. — Sentem-se. — A recepcionista voltou para a tela de seu computador, completamente desinteressada neles mesmo antes de eles se moverem para a área de espera. Ela era confortável o suficiente, mas as revistas eram antigas, e dentro de alguns segundos Claire encontrou-se agoniada para fazer alguma coisa, então ela pegou o celular e começou a rolar através das mensagens e emails. Não eram muitos, mas por outro lado, seu círculo de amigos não era muito grande. A maioria dos moradores de vampiros de Morganville não tinha adquirido as habilidades e não queriam tentar. A maioria dos seres humanos eram muito cuidadosos com os monitoramentos de rede para se comprometer muito. No entanto, Eve tinha marcado ela em um vídeo engraçado de um gato, o que foi uma pausa agradável ao habitual caos relacionado com os vampiros. Claire assistiu duas vezes enquanto Shane folheava uma Sports Illustrated de décadas atrás antes da recepcionista finalmente dizer: — A prefeita irá... — Ela provavelmente iria pronunciar friamente que a prefeita iria vê-los agora, mas ela foi interrompida pela abertura da porta do escritório interno da prefeita, e a própria Hannah Moses pisou fora. — Claire, Shane, entrem — ela disse, e deu um olhar para a sua assistente. — Nós não somos tão formais aqui. A boca da recepcionista apertou em uma ruga como se tivesse chupado limão, e apertou as teclas do seu computador como se tivesse a intenção de afundar as suas impressões digitais nelas.
A prefeita Moses — soava tão estranho, honestamente — fechou a porta atrás deles dois e disse: — Desculpe por Olive. Ela herdou aquilo das duas administrações anteriores. Então. O que era tão urgente? — Ela indicou as duas cadeiras em frente de sua mesa enquanto tomava o seu assento e se inclinava para frente com os cotovelos na superfície de madeira lisa. Havia algo elegante e composto nela, e algo intimidante também... Hannah era uma mulher alta, rígida e com a pele da cor de chocolate muito escuro. Ela era atraente, e de alguma forma a cicatriz (a lembrança do Afeganistão e sua carreira militar) só a deixava mais interessante. Ela mudou seu cabelo; as trancinhas arrumadas tinham desaparecido agora, e o tinha raspado tão perto de sua cabeça em uma forma que a fazia parecer uma peça de escultura bela e assustadora. Ela trocou seu uniforme da polícia por jaqueta e calça acentuadamente adaptadas, mas o olhar ainda era de alguma forma oficial... mesmo com o alfinete de Morganville em sua lapela. Ela podia não ter uma arma mais, mas ela ainda parecia completamente competente e perigosa. — Aqui — Shane disse, e entregou o seu cartão de identificação. — O que diabos está acontecendo com essas coisas? Ele certamente não ia desperdiçar qualquer momento. Hannah olhou para ele e entregou-o de volta sem um sorriso. — Não gostou da sua foto? — Qual é, Hannah. — Teve certos compromissos... que eu tive que fazer — ela disse. — E não, eu não estou feliz com eles. Mas portar cartões de identificação não vai matálos. — Licenças de caça poderia — Claire disse. — A carta de Michael disse que elas estavam de volta com força. Cada vampiro pode matar um humano por ano, livre e justificadamente. Você sabia disso? Isso rendeu-lhe um olhar afiado e ilegível da prefeita, e depois de um momento, Hannah disse: — Eu estou ciente disso. E trabalhando nisso. Nós temos uma sessão especial esta tarde para discutir o assunto. — Discutir? — Shane disse. — Estamos falando de licenças para assassinar, Hannah. Como você pode autorizar isso? — Eu não autorizei isso. Eu estava em minoria — ela disse. — Oliver está com... influência sobre Amelie agora. Ao derrotar os draugs, o que tínhamos que fazer para a segurança da população humana, nós também removemos a única coisa que os vampiros realmente temiam. Eles certamente não têm medo dos seres humanos mais.
— É melhor eles terem — Shane disse severamente. — Nós nunca aceitamos essas coisas sem revidar. Isso não vai mudar. — Mas... Amelie prometeu que as coisas iriam mudar — Claire disse. — Depois que ela derrotou o pai dela, Bishop. Ela disse que os humanos teriam um lugar igual em Morganville, que essa caça toda iria parar! Você ouviu. — Eu ouvi. E agora ela mudou de ideia — Hannah disse. — Acredite em mim, eu tentei parar a coisa toda, mas Oliver está no comando dia-a-dia. Ele colocou mais dois vampiros no Conselho dos Anciões, o que torna três para dois se votarmos na linha de vampiros versus humanos. Em resumo, eles podem simplesmente ignorar os meus votos. — Ela parecia calma principalmente, mas Claire notou os músculos tensos em sua mandíbula, e no jeito que ela olhou para longe foi como se revivesse uma memória ruim. Claire seguiu o olhar dela e viu uma caixa de papelão de mudança solitária no canto. Hannah não tinha conseguido o trabalho há muito tempo, por isso só poderia ter sido a desempacotação que ela deixou de fazer... mas pelo que ela sabia, a prefeita Moses não era de deixar as coisas paradas ao redor desfeitas. — Hannah? A prefeita focou nela, e por um segundo, Claire pensou que ela poderia falar sobre o que a estava incomodando, mas, em seguida, ela balançou a cabeça. — Não importa — ela disse. — Claire, por favor, aceite o meu conselho. Deixe isso pra lá. Não há nada que você possa fazer ou dizer que vai mudar a mente dela, e Amelie não é a pessoa que você conhecia antes. Ela não está razoável. E ela não é confiável. Se eu pudesse colocar um fim nisso, eu teria; sete gerações da minha família vêm de Morganville, e eu não quero ver as coisas desabarem mais do que você. — Mas... se eu não falar com Amelie, o que devemos fazer para parar isso? — Eu não sei — Hannah disse. Ela parecia irritada e profundamente perturbada. — Eu só não sei. Em momentos como estes, Claire lembrava fortemente que Hannah não era apenas uma xerife de cidade pequena atualizada para prefeita. Ela tinha sido uma soldada, e ela lutou por seu país. Hannah tinha pego em armas em Morganville antes, e em uma luta não havia ninguém mais que Claire queria para proteger ela (exceto Shane). — Isso não foi uma resposta — Shane disse. Ele mostrou o cartão de identificação novamente. — Você não está falando sério sobre carregar essas coisas.
— Essa é a nova lei da cidade, Shane. Carregar ou ser multado pela primeira vez. Segunda vez, é cadeia. Eu não posso aconselhá-lo a fazer qualquer outra coisa, além de cumprir. — O que acontece na terceira vez, escárnio público? — Não haverá uma terceira vez — ela disse. — Sinto muito. Eu realmente sinto. Ele olhou para ela por um longo momento, então silenciosamente colocou de volta no bolso. Claire conhecia aquele olhar, e ela viu o músculo saltar desconfortavelmente ao longo de sua mandíbula. Ele estava contando até dez, em silêncio, deixando de lado o impulso de dizer algo louco e suicida. Quando ele deixou escapar a sua respiração lentamente, ela sabia que estava tudo bem, e ela sentiu a tensão que ela nem sabia que tinha começar a sair ao longo de sua espinha. — Obrigada por nos ver — Claire disse, e Hannah se levantou para oferecer-lhe a mão. Claire aceitou, embora ela ainda sentisse as mãos trêmulas e desajeitadas. Tentar ser profissional sempre a fazia parecer uma fraude, como uma criança brincando de se vestir. Mas ela tentou segurar o olhar de Hannah quando ela devolveu o aperto frio e firme. — Tem certeza que você não vem conosco? — Vocês têm a intenção de ir ver Amelie? — Temos que tentar — Claire disse. — Não é? Como você disse, ela costumava me ouvir um pouco. Talvez ela ainda ouça. Hannah balançou a cabeça. — Garota, você tem coragem, mas eu estou dizendo a você, não vai funcionar. — Você vai deixar uma hora marcada para mim, no entanto? Dessa forma, vai ficar registrado. — Eu vou. — Hannah olhou para Shane. — Você vai deixá-la fazer isso? — Não sozinha. — Bom. Dez segundos depois, eles estavam na sala de espera, sob o olhar julgador da assistente, e em seguida, no corredor. Claire deu uma respiração profunda. — Nós realmente fizemos alguma coisa? — Sim — Shane disse. — Descobrimos que Hannah não vai nos ajudar muito. Vai entender, uma prefeita de Morganville cujas mãos estão atadas? Quem esperaria por isso? — Ele parou Claire e colocou a mão em seu ombro. — Eu vou com você para ver Amelie. — Isso é doce, mas ter você comigo é uma espécie de convite para problemas.
— Só porque eles sabem que eu prefiro os meus vampiros extracrocantes... — Exatamente. — Claire cobriu a mão dele no ombro dela com a dela própria. — Eu vou ter cuidado. — Eu falei sério. Você não vai lá sozinha — ele disse. — Leve Michael. Ou, e eu não acredito que eu realmente estou dizendo isso, leve Myrnin. Apenas leve alguém para te proteger, ok? Era realmente algo se Shane sugeria que ela fosse a qualquer lugar com Myrnin, e por boas razões... Myrnin tinha sentimentos por ela, e ele tinha sentimentos por Shane também, mas no sentido inteiramente oposto. Por exemplo, Myrnin provavelmente pensava na morte de seu namorado, e Shane tinha as mesmas fantasias. Era uma aversão mútua e estranhamente animada, mesmo que ela não se tornasse um conflito direto. — Ok — Claire disse. Ela não falou sério, mas a emocionou que ele estivesse tão genuinamente preocupado com a segurança dela. Ela sobreviveu a muita coisa em Morganville — não tanto quanto Shane, no entanto — e ela pensava em si mesma como muito forte nos dias de hoje. Não indestrutível, mas... resistente. Um destes dias ela teria que sentar com ele e explicar que ela não era a garotinha frágil de dezesseis anos que ele tinha conhecido; ela era uma adulta agora (ela ainda não se sentia com esse status ainda apesar dos aniversários) e ela provou que ela poderia enfrentar os desafios de sobrevivência por aqui. E embora seja doce e adorável que ele queira protegê-la, em um certo ponto ele realmente precisava entender que não era o seu trabalho fazê-lo por vinte e quatro horas. Ele prendeu o seu braço com o dela e levou-a até o elevador. Não houve repetição do beijo, o que foi um pouco decepcionante, mas ele ignorou abertamente a sua candidata a assediadora, Annabelle, no lobby exterior. Isso era melhor. Após o frio do saguão, caminhar em direção ao sol era como bater de cara no forno, e Claire piscou e agarrou os seus óculos de sol. Eles eram baratos e divertidos — um presente de Eve, é claro. Enquanto os ajustava, ela viu algo estranho. Monica Morrell ainda estava aqui. De pé na parte inferior da escada, encostada em um ameaçador pilar de granito (o tribunal foi construído em um estilo que Claire gostava de chamar de Antigo Mausoléu Americano) e protegendo os olhos para olhar para a rua. O vento quente agitava o seu cabelo longo, brilhante e escuro como uma folha de seda, e o seu vestido, como
sempre, estava perigosamente perto de violar as leis de decência quando a brisa avançou até a bainha. Shane viu também, e abrandou, dando a Claire um olhar de soslaio. Ela concordou silenciosamente. Era estranho. Monica não ficava apenas parada em locais, pelo menos não a menos que ela estivesse fazendo uma declaração de algum tipo. Ela estava sempre em movimento, como um tubarão. — Hum — Monica disse. — Isso é estranho. Vocês não acham que é estranho? — Ela dirigiu essa observação para o ar, mas Claire supôs que ela pretendia que fosse para ela e Shane. Mais ou menos. — O quê? — ela perguntou. — A van — Monica disse, e inclinou a cabeça em direção à rua. — Estacionada na esquina. — Legal — Shane disse. — Alguém tem novas rodas. — É o modelo deste ano — Monica disse. — Eu sei que a nossa loja de carros idiota não tem nem mesmo o modelo do ano passado. Eu tive que ir para Odessa para comprar o meu conversível. Morganville não acompanha exatamente as novidades. — Ok. — Shane deu de ombros. — Alguém foi para Odessa e comprou uma nova van. Por que isso é estranho? — Porque eu saberia se alguém tivesse ido, estúpido. Ninguém em Morganville comprou uma nova van há anos. — Ela parecia confiante. Monica era a rainha das fofocas da cidade, e Claire teve que admitir, ela tinha razão. Ela saberia. Ela provavelmente sabe os números de série de cada compra, e quantas vezes eles tinham conduzido através da cidade, e que motorista estava sendo usado em cada ocasião. — Além disso, essa coisa brilhante? Isso é tão cidade, não interior. E confira o tingimento. — E? — Claire perguntou. A maioria dos carros lustrosos em Morganville tinha janelas superescuras porque eles eram de propriedade de pessoas que eram, para dizer o mínimo, alérgicas ao sol. — Isso não é tons de vampiros — Shane disse. — Escuro, mas não tão escuro. É material personalizado. Hum. E tem um logotipo na lateral. Realmente não consigo ver, no entanto, e... — Sua voz sumiu quando as portas da van se abriram. Três pessoas saíram. — Oh — Monica disse. — Oh. Meu. Deus. Olhe para ele. Havia dois homens que saíram da van, mas Claire sabia exatamente o que ela queria dizer... Havia apenas um ele, mesmo à distância. Alto, moreno, Latino, gostoso.
— Aquilo — Monica continuou com uma voz que soava muito parecido com admiração, — é um homem de verdade. — Shane fez um som de vômito na parte traseira de sua garganta, o que trouxe um sorriso agradável nos lábios de Monica. — Eu aposto que se eu lambesse ele, ele ainda teria gosto de fruta. Maracujá. Havia uma mulher também, alta com pernas longas e cabelo loiro preso em um rabo de cavalo brilhante. Ela parecia bonita também, mas Claire teve que admitir, a sua atenção estava no Sr. Pedaço de Mau Caminho. Mesmo à distância, Monica tinha focalizado nas características. Monica se separou da coluna e partiu com grandes passos com os saltos altos estalando na calçada de concreto quente. — Vamos lá — Shane disse, e puxou Claire atrás dela. — Isso, eu tenho que ver. E talvez colocar na Internet.
Q
Capítulo 2
CLAIRE
uando eles chegaram mais perto da van, Claire percebeu que era grande — estilo Texas, com um teto alto. Parecia mais como algo para transportar equipamentos do que pessoas. O logotipo na lateral da van era um ímã, e era vermelho e preto. Havia algum tipo de crânio com um microfone e letras difíceis de ler, não que ela estivesse prestando muita atenção. O alvo de Monica era claramente o Sr. Pedaço de Mau Caminho, que, Claire teve que admitir, não tinha defeitos após uma inspeção mais minuciosa. Ele era alto (tão alto quanto Shane), e de ombros largos (como Shane)... mas com um estilo de aparência cara com seu cabelo escuro grosso e pele marrom perfeitamente dourada. Se era retocada ou natural, combinava com ele. Ele estava com uma camisa de malha apertada que mostrava seu tanquinho, e seu rosto era apenas... perfeito. — Oi — Monica disse, e estendeu a mão para ele a cerca de vinte centímetros de distância dele. — Bem-vindo à Morganville. Ele sorriu para ela com os dentes deslumbrantemente brancos. — Bem — ele disse, e até mesmo sua voz era perfeita, com apenas um pequeno sotaque espanhol para deixar mais atraente. — Morganville ganha pontos por ter o mais belo comitê de boas-vindas. Qual é o seu nome, linda? Monica não estava acostumada a ser elogiada no jogo de bajulação, Claire imaginou, porque ela piscou e realmente parecia um pouco surpreendida. Mas durou apenas um instante, e então ela deu o seu maior e mais brilhante sorriso e disse: — Monica. Monica Morrell. E qual é o seu nome? Seu sorriso perdeu um pouco de seu brilho, e aqueles olhos escuros cintilantes diminuíram um pouco. — Ah, eu pensei que você soubesse. Monica congelou. Shane murmurou: — Obrigado, Deus, — e tirou seu celular para iniciar uma gravação. — É como uma coisa arrogante conhecendo uma anticoisa arrogante.
Monica descongelou tempo suficiente para surtar. — Guarde isso, Shane. Deus, você tem seis anos? — Antes de se concentrar de volta no Sr. Pedaço de Mau Caminho. — Não ligue para ele, ele é o idiota da aldeia. E ela é a Einstein da aldeia, o que é quase tão ruim quanto. Ele aceitou isso como um pedido de desculpas, Claire imaginou, porque ele pegou a mão da garota e inclinou-se sobre ela para plantar seus lábios sobre os nós dos seus dedos. Monica parecia deslumbrada. E um pouco assustada. Seus lábios se separaram, seus olhos se arregalaram, e por um momento ela parecia uma garota normal e regular de dezenove anos que tinha sido impressionada por um homem mais velho e astuto. — Meu nome é Angel Salvador — ele disse. — Eu sou o apresentador do programa After Death. Talvez você conheça? Parecia vagamente familiar — era um dos programas de caça-fantasmas que Claire nunca assistia. Shane girou e se focou na menina. — E você é… — A outra apresentadora — a mulher disse a poucos metros de distância. Ela era tão bonita quanto Angel, mas ela era fria.... Até mesmo o cabelo dela era um loiro aguado e pálido e seus olhos eram azuis muito claros. Ao contrário de Angel, ela parecia desconfortável na luz solar forte. — Jenna Clark. O outro cara bufou e disse: — Já que ninguém vai perguntar o meu nome, é Tyler, obrigado. Eu sou apenas aquele que faz todo o trabalho e transporta todos os equipamentos e... Jenna e Angel disseram em perfeita sincronicidade entediada: — Cale a boca, Tyler. — Em seguida, eles atiraram olhares venenosos uns aos outros. Claramente, não havia nenhum amor envolvido ali. Ou talvez algo esteja indo mal. — O After Death? — Shane perguntou. — Vocês não fazem algum tipo de coisa caça espírito? — Sim, exatamente — Jenna disse, e parecia se concentrar em Shane como um ser humano real pela primeira vez. Ela sorriu, mas para o alívio de Claire era mais um tipo de atenção profissional, não o tipo de coisa uau, você é gostoso. — Nós estamos procurando pelo escritório de autorização. — Autorização? — Monica tinha recuperado a compostura, pelo menos um pouco. Angel tinha parado de beijar os seus dedos, mas ele não tinha soltado a mão dela, e Claire pensou que a voz dela soou um pouco mais alta do que o habitual. Ela também estava um pouco mais corada do que o normal. — Autorização para quê? Vocês estão trazendo os negócios para cá?
Angel riu por baixo de sua garganta — uma risada sexy, é claro. — Infelizmente, não, minha linda. Nosso estúdio é fora de Atlanta. Mas estamos interessados em filmar alguns pontos turísticos locais daqui. Talvez realizar uma investigação à noite no cemitério de vocês, por exemplo. Nós sempre fazemos uma visita aos escritórios locais para pegar licenças de filmagem. Evita muitos problemas. Claire não poderia nem mesmo contar quantas maneiras isso era uma má ideia... pessoas da televisão. Em Morganville. Filmando à noite. Ela estava hipnotizada pela inundação de possibilidades horríveis que corriam através de seu cérebro. Felizmente, Monica não era de ter uma profunda reflexão. — Oh — ela disse, e sorriu tão calorosamente que Claire quase foi enganada. — Entendo. Bem, eu não iria perder meu tempo. Morganville não tem nada de especial para vocês. Nem mesmo um fantasma decente para caçar. Nós apenas somos realmente... tediosos. — Mas é tão pitoresca! — Angel protestou. — Olhe para essa corte judicial. Puramente da Renascença Gótica do Texas. Passamos por um cemitério que era perfeito — lápides elaboradas, ferro forjado e aquela grande árvore branca — uma cor impressionante, muito fotogênico. Eu tenho certeza que vamos encontrar alguma coisa. Shane murmurou para Claire: — Se eles ficarem por lá à noite, eles definitivamente vão, mas eu não acho que seja o que eles estão esperando. — Ssssshhhiu! Ele limpou a garganta e ergueu a voz. — Monica está certa, é muito tediosa. — Parecia que ele ainda estava lutando para não rir. — A menos que vocês queiram o reality show menos interessante do mundo. A coisa mais estranha que acontece por aqui é o velho Sr. Evans correndo nu à meia-noite e uivando, e ele só faz isso em ocasiões especiais. — Isso é lamentável — Jenna disse. — Parecia perfeito. — Bem, não vai doer conseguir as autorizações. Pelo menos vamos contribuir para a economia local, não é? — Angel disse, e mostrou um sorriso imparcial de estrela de cinema. — Adios. Tenho certeza de que vamos nos encontrar novamente. — Ele deu a mão de Monica outro beijo breve, e então ele e Jenna estavam caminhando pela calçada em direção a Prefeitura com Tyler lutando no rastro deles enquanto carregava uma pequena câmera de vídeo — embora qual tipo de drama poderia requerer uma autorização, Claire não imaginava.
— Merda — Shane disse. Ele ainda parecia muito divertido. — Então. Alguma aposta em quanto tempo eles duram antes dos vampiros fazerem eles irem embora? — Nenhuma aposta — Monica disse. — Eles não vão durar muito tempo. — Parecendo com olhos sonhadores, ela suspirou e segurou a mão dela. — Uma pena. Tão bonito. E totalmente depilado sob a camisa, eu aposto. Shane enviou-lhe um olhar revoltado, em seguida, colocou o braço em volta de Claire. — E com esse comentário, vamos embora. — Sério? — Claire disse, e não pôde deixar de sorrir. — É disso que você foge. Depilação. Você pode aguentar vampiros, draug e assassinos, mas você tem medo de arrancar cabelo do peito? — Sim — ele disse, — porque eu sou são. Eles caminharam um pouco, e demorou alguns minutos para Claire perceber que apesar de terem deixado para trás os caçadores de fantasmas, eles ainda tinham uma visitante indesejada: Monica. Ela estava mantendo o ritmo com eles. Não convidada. — Sim? — Claire perguntou a ela incisivamente. — Algo que podemos ajudá-la? — Talvez — Monica disse. — Olha, eu sei que eu tenho sido historicamente um tipo de vadia com vocês, mas eu queria saber... — Desembucha, Monica — Shane disse. — Me ensina a fazer as coisas que você faz. — O que, ser incrível? Não é possível fazer isso. — Cale a boca, Collins. Eu quero dizer... — Ela hesitou, então baixou a voz quando alisou o cabelo para trás de seu rosto. Ela diminuiu a velocidade e parou na calçada, e Claire parou, encarando-a. Shane tentou continuar, mas, eventualmente, ele voltou, derrotado. — Eu quero dizer que eu quero aprender a lutar. No caso de eu precisar fazer isso. Eu meio que sempre achei... o meu pai sempre disse que não precisávamos nos preocupar com os vampiros porque nós trabalhamos para eles. Mas Richard nunca confiou nisso. E agora eu sei que eu não deveria também. Então, eu quero aprender a fazer armas. Lutar. Esse tipo de coisa. — Oh, inferno, não — Shane disse. — E nós já vamos. Ele começou a andar, mas Claire ficou onde estava. Ela estava analisando Monica com uma careta, sentindo-se em conflito, mas estranhamente compelida também. Monica parecia séria. Não desafiante, ou arrogante, ou qualquer de suas poses habituais. Seu irmão havia dito a Claire antes de morrer que achava que Monica poderia mudar — e tinha que mudar. Talvez ela estivesse começando a entender isso.
— Como é que nós vamos saber que você não vai nos trapacear na primeira oportunidade possível? — ela perguntou. Monica sorriu. — Eu provavelmente iria se me desse vontade, mas nos dias de hoje não dá para ficar parada. Os vampiros não estão olhando para nós como colaboradores e inimigos mais. Nós somos todos apenas... lanches. Então. Eu entendo para que serve uma estaca, mas vocês parecem ter todos os brinquedos assassinos. O que vocês acham de fazermos uma partilha? — Nós vamos considerar — Shane disse, e agarrou o cotovelo de Claire. — Estavam indo. Agora. Eles deixaram ela, e quando Claire olhou para trás, pensou que Monica realmente nunca pareceu mais solitária. A outra garota finalmente caminhou até seu conversível vermelho, entrou e foi embora. — Nós não vamos ficar amiguinhos dela — Shane disse. — Ela tem problemas com vamps? Buá. Ela passou a vida toda atiçando alguém que a irritava. Parece justiça para mim. — Shane. — Qual é, esta é uma garota que me atormentou na maior parte da minha vida. Que bateu em você e te atormentou. Ela é uma valentona. Ela que se dane. Claire deu-lhe um longo olhar. — Você foi legal com ela quando Richard morreu. E ela salvou a sua vida. — Sim, nem me lembre — ele disse, mas depois de um momento ou dois, ele suspirou. — Bem. Ela sempre vai ser um saco, mas eu acho que não faz mal ensiná-la a usar uma estaca ou algo assim. Autodefesa básica. — Esse é o meu garoto. — Ela apertou o braço dele. — Além disso, se você ensinar a ela autodefesa, você pode esmagá-la no chão quando você enfrentar ela. — De repente, eu estou gostando desse plano. Eles andaram cerca de metade de um quarteirão antes de Shane parar na frente da loja de peças usadas para falar com o cara que administrava — algo sobre precisar de uma nova mangueira para o carro funerário sempre-sendoconsertado de Eve. Claire perdeu o interesse após a conversa começar a soar como uma língua estrangeira e acabou olhando para uma loja duas janelas ao lado. Era uma loja de sucata, na verdade, cheia de coisas descartada (algumas realmente boas), e ela ficou assustadoramente se perguntando se as pessoas realmente traziam aqui para revender, ou se tinham sido limpas das casas abandonadas após o desaparecimento dos proprietários. Talvez ambos.
A loja estava abençoadamente em um tom escuro, assim como o beco estreito de tijolo ao lado dela... que foi por isso que ela não viu o rápido ataque. Aconteceu tão rápido, ela não viu nada além de um borrão fora do canto de seu olho, e então sentiu a sensação de mãos esmagando seus ombros, e depois uma corrida trêmula de movimento. Quando ela recuperou o fôlego para gritar, ela estava bateu contra a parede de tijolos, e uma mão fria pressionou sobre sua boca para cobrir o som. — Silêncio! — Myrnin disse urgentemente. — Silêncio, agora. Me prometa. Claire não queria prometer nada, porque havia um brilho maníaco nos olhos escuros de seu chefe vampiro, e ele parecia... especialmente despenteado hoje. Myrnin estava propenso a se vestir excentricamente, mas essa roupa parecia que ele tinha escolhido no escuro — algum tipo de calças de veludo comida pelas traças que teria sido considerada muito da década de 1970, uma camisa amarelo limão folgada que estava abotoada errado e um colete com personagens de desenhos animados. Ele combinou com um chapéu que um peregrino poderia ter usado e, além disso tudo isso, colar de contas néon de carnaval — três colares. Ele também estava — ela se encolheu ao ver isso — totalmente descalço. Em um beco. Isso era perturbador. Ela assentiu com a cabeça, o que não era muito uma promessa, mas ele aceitou como uma e tirou a mão. Ela terminou a respiração, mas segurou o grito, apenas no caso de ele não estar louco no momento, tirando os pés descalços. — Eu soube que você falou com a prefeita Moses? — ele perguntou. — Você esqueceu dos seus sapatos. — Não se incomode com os meus pés! Moses? — Sim, nós conversamos com ela. — Ela lhe disse que Amelie acabou de anunciar uma eleição? Claire piscou. — Para quê? — Para prefeita, é claro. Ela removeu Hannah do cargo, em vigor amanhã, já que Hannah recusou-se a concordar em assinar alguns de seus novos decretos mais agressivos. A eleição será realizada na próxima semana para nomear alguém mais... amigável com a nova pauta. — Myrnin parecia não apenas agitado, mas realmente preocupado. — Você entende porquê eu me oponho. — Uh... — Na verdade, não. — Você se lembra que você é um vampiro, certo?
Ele deu-lhe um olhar completamente são e perplexo. — As presas e o fato de eu ansiar sangue me dão uma pista geral, sim. E, sendo um vampiro, eu estou naturalmente interessado na sobrevivência da minha espécie. Portanto, eu sinto que eu deveria parar Amelie e aquele maldito Cabeça Redonda de arruinar tudo o que temos conseguido de valor aqui. — Myrnin, você não está fazendo nenhum sentido. — Oh, não estou? — Ele a soltou e deu um passo para trás, e ela teve que admitir, apesar do guarda-roupa casual, ele parecia muito mais normal do que costumava estar. Seus olhos estavam firmes, escuros e focados; ele estava parado, com o mínimo de inquietação. — Eu vim para Morganville para criar algo único na história do mundo... um lugar onde humanos e vampiros pudessem coexistir em relativa segurança, se não sempre em paz. Eu não vou permitir que Oliver distorça essa realização em nada mais do que a própria... reserva de caça dele! É uma distorção que Amelie pretende aqui. E se ela não reconheceu isso, eu devo fazer isso por ela. Shane deve ter notado que ela tinha desaparecido porque ela o ouviu gritar seu nome, uma nota aguda e urgente de alarme em sua voz. Ele sabia o quão facilmente as pessoas podiam desaparecer daqui, mesmo em plena luz do dia. Não demorou mais do que alguns segundos para ele identificar que o beco era o perigo mais provável, e ela viu seus ombros largos bloquearem cerca da metade da luz escura. — Que incômodo, o seu jovem superprotetor. — Myrnin suspirou. — Lembre-se: nós temos que ter um plano de como combater a influência de Oliver. Talvez outro humano para estar no conselho. Se não Hannah Moses, então alguém na oposição dos planos de Amelie. De preferência alguém em sã consciência, é claro. Trabalhe nisso. Eu vou entrar em contato em breve. — Ele enviou um olhar escaldante no beco quando Shane se aproximou, em seguida, mostrou brevemente os dentes finos e afiados antes de apenas... desaparecer. Ele não chegou a desaparecer em uma névoa, Claire sabia; ele acabou de se mover mais rapidamente do que o seu olho poderia seguir, de modo que o cérebro humano usava essa similaridade como referência. E, em seguida, Shane estava lá, olhando primeiro para ela, em seguida, para as sombras. — O que diabos, Claire? Ela deu uma respiração profunda, e desejou que ela não tivesse. Becos. Nojentos. Ela pensou nos pés descalços de Myrnin, e estremeceu. — Vamos sair daqui. Q q q
Um telefonema para Michael resolveu o seu problema da escolta de vampiro para sua próxima audiência com a Fundadora de Morganville; ele estava disposto — de fato, ansioso — para falar com Amelie junto com ela. Claire estava especialmente grata, pois se ela não tivesse sido capaz de conseguir seu apoio, Shane teria insistido em ir com ela, e ela podia prever como isso iria acabar. Ela não precisa ser uma vidente para saber que a boca de Shane iria meter eles dois em apuros, especialmente com a própria atitude de Amelie destes dias. Michael trouxe seu carro e pegou Claire na rua da frente da Glass House. Era um sedan com o padrão de emissão dos vampiros; ter presas em Morganville vinha com rodas gratuitas, assim como uma associação para a retirada do banco de sangue da cidade. A desvantagem de andar no carro de Michael era que Claire não podia ver nada fora das janelas, já que era pintadaadaptada para os vampiros. — Então — ela disse depois de terem conduzido por alguns quarteirões em silêncio, — vocês estão bem? Eve parecia... — Ela está bem — ele disse em um tom que significava que ele não iria falar dos detalhes com ela. — Ela não está feliz comigo não dizer a vocês sobre os cartões, mas atualizar vocês não teria feito nada além de dar espaço para vocês reclamarem mais. Eu estava tentando manter a paz pelo tempo que eu podia. — Ele atirou-lhe um olhar com as sobrancelhas para cima. — Eu estava errado? Ela encolheu os ombros. — Eu não sei, honestamente. Tudo está tão estranho nos dias de hoje, talvez você esteja certo. Pelo menos nós temos que ter algumas noites agradáveis livres de brigas. — Sim — ele concordou. — Mas esses dias acabaram. Claire pensou que ele provavelmente estava certo. Hannah pode ter ligado antes, mas isso não queria dizer que a ordem tinha chegado até o nível dos guardas de plantão perto da Praça da Fundadora — dois vampiros, ambos usando uniformes da polícia, só que desta vez eles eram do sexo feminino... uma alta e uma baixa. A mais alta usava o cabelo loiro-branco em uma trança grossa pelas costas. A mais baixa usava o dela cortado rente ao crânio. Cartões de identificação foram as primeiras coisas que elas pediram para ver. Michael silenciosamente tirou o seu cartão de ouro, mas as duas policiais nem sequer olharam para ele. Elas queriam o de Claire.
A mais alta sorriu quando ela olhou-a. — Bom tipo de sangue — ela disse, e entregou-o a sua parceira, que admirou após a outra. — Cuide-se. Não gostaria de vê-lo desperdiçado. Claire se sentiu particularmente estranha com nisso. Era como ser exposta, como se tivesse sido tirado algum tipo de privacidade dela. Michael deve ter percebido isso também porque ele disse em uma voz perigosamente suave: — Vocês já conferiram. Parem com isso. — Você não é divertido — a mais baixa disse, e piscou para ele. — Assim como o seu avô. E olha o que aconteceu com ele. — Morreu — a policial mais alta concordou. — Tudo para tentar tratar os seres humanos como iguais. Parece que os membros da família Glass simplesmente nunca aprendem suas lições. Os olhos de Michael piscaram, um vermelho brilhante repentino, e ele disse: — Eu vou levar qualquer comparação com o meu avô como um elogio. E você realmente precisa parar de mexer com a gente agora. — Ou? — Viv, se controle — a outra policial disse, e entregou o cartão de Claire de volta para ela. — Nós terminamos. Eles estão liberados para o escritório da Fundadora. — Eu tenho certeza que vamos vê-lo novamente — Viv disse, e sorriu, mostrando as presas. — Ambos. Época de caça começa em breve. Michael subiu a janela e colocou o carro em marcha. Claire soltou a respiração que ela não tinha percebido que estava segurando, e finalmente disse: — Isso foi completamente assustador. — Sim — Michael concordou. — Sinto muito. Foi. — Ele parecia estar quase pedindo desculpas pelas duas mulheres, ou talvez pelos vampiros em geral. — Talvez não tenha sido uma boa ideia vir aqui. Não é como era antes. — Eu tenho que tentar. — Seja breve, então. Eu não quero você aqui fora quando o sol se pôr. Mesmo que eu esteja com você. Isso era muito incomum de ouvir dele, e inquietante também. Claire olhou para a frente — para o nada, porque a vista era basicamente a escuridão de breu. O rosto pálido de Michael e cabelos dourados estavam tingidos com um pouco de azul da luz do painel, e ele brilhava como um fantasma pelo canto do olho. — O que está acontecendo com a gente? — ela perguntou. Ela não quis; apenas saiu, e isso revelava demais o crescente temor que ela estava sentindo. — Elas olharam para mim como uma carne em um supermercado.
Eu sei que sempre houve alguns vampiros assim, mas... elas eram policiais. Isso significa que elas deveriam ser as melhores em conter seus instintos. Michael não respondeu. Talvez ele não soubesse como. A menção de Sam Glass, seu avô, tinha atingido ele, e ela sabia disso. O avô de Michael parecia fisicamente como Michael era agora, só que com mais cabelo avermelhado. Ele tinha sido um homem doce, provavelmente o mais humano de todos os vampiros que Claire já conhecera. Sam tinha sido uma força benéfica em Morganville, e ele pagou por isso com sua vida. Michael não tinha esquecido disso. Claire se perguntou se ele pensava sobre o que poderia acontecer com sua própria vida se ele continuasse tentando ficar no meio, diretamente entre humanos e vampiros, e se ele pensava sobre ser morto. Claro que ele pensava. Especialmente agora que ele se casou com Eve, contra a vontade de ambos os lados. Ambos tinham tudo a perder. Michael desacelerou o carro, seguindo a curva da rampa que levava para baixo da Praça da Fundadora. Os vampiros tinham um excelente estacionamento, todo coberto. Quando ele parou e desligou o motor, ele finalmente disse: — Vai ficar feio, Claire. Eu sei disso. Eu senti isso. Nós temos que fazer tudo o que pudermos para impedir. — Eu sei — ela disse, e estendeu a mão. Ele pegou e segurou-a levemente — uma coisa boa, porque ele poderia facilmente quebrar ossos. — A gangue da Glass House para sempre. — Para sempre — ele disse. — Se nós vamos ser uma gangue, precisamos de um bom lema. Algo intimidante. Eles tentaram alguns lemas estranhos e idiotas, mas os esforços pareceram estranhos. — Nós — Claire disse, — somos a pior gangue. — Péssima ideia — Michael concordou, encarando ela. — Shane é o único de nós com vivência de rua de verdade de qualquer maneira. Eles saíram do carro, e Claire estava atenta as sombras; assim como Michael, mas ele não deve ter visto nada fora do comum porque ele concordou e acompanhou-a até o elevador. Enquanto esperavam ele descer, Claire ficou olhando para trás, apenas para garantir que ninguém tinha decidido vigiá-los. Ninguém o fez. Alguém tinha decidido que a música de elevador precisava de uma mudança, por isso, desta vez para cima, Claire lidou com uma versão orquestral de “Thriller”, uma escolha estranhamente apropriada. Até mesmo os vampiros tinham um senso de humor, embora a maioria seja distorcido. Ou Michael não achou engraçado, ou ele estava muito centrado para notar —
provavelmente o último, porque ele parecia muito reservado agora. Ele deve ter se preparado para o que estaria esperando por eles. As portas se abriram na frente de um vampiro branco-morto, careca como uma bola branca e vestido de preto formal. Claire não sabia se ele era segurança ou apenas uma saudação muito intimidante, mas ela deu um passo para trás, e Michael ficou tenso ao lado dela. O homem olhou-os em silêncio, então abruptamente virou as costas para eles e foi embora. Enquanto ele se afastava, uma mão se estendeu para dar um gesto de me sigam. — Você o conhece? — Claire perguntou quando eles se arrastaram atrás de seu guia de terno preto nos corredores de lambris. Os vampiros pareciam projetar deliberadamente todos os seus edifícios para confundir as pessoas, mas os dois realmente não precisavam de uma escolta pessoal; eles passaram muito tempo aqui ao longo dos últimos dois anos. — Ele é sempre simpático assim? — Sim, e sim. — Michael colocou o dedo nos lábios, pedindo-lhe silêncio, e ela obedeceu. Eles estavam passando por portas fechadas e não classificadas e viu retratos de pessoas que ela reconhecia ainda andando pelas ruas de Morganville, apesar de ter sido pintados com roupas de estilos antigos. A escolta deles se movia rápido, e Claire percebeu que apesar de ter sido difícil para ela acompanhar, provavelmente era apenas uma velocidade pequena para o padrão dos vampiros. Isso estava estranhamente dizendo que os vampiros já não sentiam que precisavam desacelerar para se adaptar a meros mortais. Ela prendeu o fôlego e correu, enquanto Michael caminhava ao lado dela, combinando com sua velocidade, mas não pressionando ela. Ele estava observando as portas, ela percebeu. Ela nunca o tinha visto tão alerta antes, pelo menos não aqui, no que deveria ser um lugar seguro para os dois. Tudo ficou claro quando um vampiro deslizou para fora das sombras à frente, baixou o queixo, e mostrou os dentes. Claire o conhecia ligeiramente, mas ele nunca tinha parecido tão... desumano. Ele era branco como osso, e seus olhos estavam queimando com a cor carmesim, e ele exalava ondas de ameaça que a fez abrandar e olhar para Michael em alarme. Porque essa ameaça não era (para variar) destinada a ela. Era dirigida puramente ao seu amigo. — Você não é bem-vindo aqui — o vampiro disse em voz baixa e sedosa que era de alguma forma pior do que um grunhido. — Aqueles que tem seres humanos como consorte usavam a entrada de serviço.
— Ignore ele — Michael disse para ela, e continuou. — Henrik não vai te machucar. — Quem é essa? Outra pequena mulher-bicho de estimação que você está planejando se casar quando você cansar da que você tem? — O sorriso de Henrik estava cheio de diversão cruel. — Ou você não vai se preocupar com a bênção da igreja da próxima vez? É perfeitamente ok comer elas, você sabe. Você não precisa santificá-las primeiro. Elas ainda têm gosto delicioso. Os olhos de Michael fixaram no outro vampiro, e seus olhos começaram a ficar vermelhos. Claire viu suas mãos flexionarem, tentando formar punhos. — Cale a boca — ele disse. — Claire, continue andando. Ele vai embora. Desta vez, houve algo como um grunhido, ou um sibilo, e os olhos de Henrik ficaram ainda mais vermelho escuro. — Eu vou? Não por você, menino. Certamente não pelo seu animal de estimação. Claire continuou andando, mas ela também enfiou a mão no bolso e tirou um pequeno frasco de vidro. Ele era de fácil abertura, e ela abriu-o com a unha do polegar, sem tirar os olhos de cima de Henrik. — Eu não sou um animal de estimação — ela disse. — E eu reajo. — Ela ergueu o frasco. — Nitrato de prata. A menos que você queira gastar um par de horas cuidando de suas queimaduras, recue. Estamos aqui para ver Amelie, não você. Seus olhos fixaram nela pela primeira vez, e ela sentiu um choque de medo; havia algo realmente violento dentro dele, algo que ela mal poderia entender. Era um instinto cego e irracional de ferir — de matar. Mas seus dentes se dobraram em sua boca como uma cobra, e o seu sorriso assumiu proporções mais humanas... embora ele tenha permanecido intimidante. Intimidante como um assassino em série. — Absolutamente — ele disse. — Passe. Eu tenho certeza de que vamos nos encontrar novamente, flor. Ele fez uma saudação elaborada e recuou para as sombras. Claire manteve os olhos sobre ele enquanto eles passavam, mas ele não se mexeu. Quando Michael a seguiu, porém, houve uma súbita explosão de movimento, um borrão acentuado por um grito suave de Michael... e depois o outro vamp estava andando calmamente e se afastando para a outra direção. — Michael? — Claire se virou para ele, gritando quando viu os danos em seu rosto. Tinha muito sangue, mas estava fluindo das marcas de garras ao lado de seu rosto, da têmpora ao queixo. Eles eram cortes profundos — nada que não fosse curar, mas ainda assim... Michael tropeçou e se segurou contra a parede, fechou os olhos e disse: — Talvez seja melhor você continuar sem mim. Eu vou precisar de um minuto.
— Sua voz estava tremendo, tanto de dor — ela presumiu — quanto de choque. — Está tudo bem. Eu vou ficar bem. — Eu sei. — Claire afastou o nitrato de prata e remexeu nos bolsos, pegando um pacote de lenços de papel, que ela entregou. — Aqui. Ele olhou para ela, deu-lhe um flash fraco de um sorriso, e pegou o pacote dela. Um após o outro, os tecidos ficaram ensopados de vermelho, mas cada sucessivo ficava de forma mais lenta. Na hora que ele tinha usado a maioria deles, as feridas estavam curando — horripilantes ainda, mas de forma constantemente melhor. — Esta não é a primeira vez, não é? — ela perguntou. — Você estava esperando por isso. Eu percebi como você estava tenso. É por se casar com Eve. Eles estão intimidando você por causa disso. Michael deu de ombros e esfregou a última das manchas úmidas em sua pele. — Todos nós sabíamos como eles se sentiriam sobre isso. Assim como o Capitão Óbvio e sua tripulação de seres humanos crentes se sentem também. Todo mundo nos vê como traidores, não importa qual seja a causa deles. — Isso é estupido. Você dois já estão juntos há anos! — Não casados. Eles são engraçados em relação a isso. Nos círculos de vampiro, casar com alguém é uma grande coisa... vampiros sendo imortais e tudo mais. Isso quase nunca acontece, e quando acontece, há muita energia envolvida. O parceiro menor fica elevado até o status do maior. Então agora Eve tecnicamente tem todos os direitos, poderes e privilégios que eu tenho. E sendo da linhagem direta de Amelie, isso é meio que grande coisa. — Ele enfiou todos os tecidos sangrentos no bolso e acenou para ela. — Vamos continuar. Eu não gosto de ficar parado sentado por aqui. A escolta deles não tinha esperado por eles, mas ele estava de pé na frente do escritório de Amelie quando eles chegaram, e ele abriu a porta para empurrá-los para dentro. Ele não seguiu, e Claire ouviu o clique da trava se fechando com uma determinação que a fez se perguntar se eles estavam, de fato, trancados. Se eles estavam, a recepcionista dentro não deu nenhum sinal disso. O nome dela era Bizzie, e ela tinha estado com Amelie por um longo tempo. Ela deu a Claire um aceno imparcial e frio, e ignorou Michael quase completamente, embora seu olhar passou rapidamente para os ferimentos em seu rosto. Ela não perguntou o que tinha acontecido. Na verdade, ela não falou nada, o que na experiência de Claire era um pouco incomum; Bizzie sempre foi cordial no passado. As coisas tinham mudado.
Claire e Michael esperaram silenciosamente nas poltronas estendidas na pequena sala com painéis de madeira, e Claire passou o tempo analisando os retratos pendurados no alto das paredes. Amelie estava em um deles, parecendo assim como ela era agora, mas com um penteado mais elaborado que lembrou a Claire dos filmes que ela tinha visto na escola sobre a Revolução Francesa. Elegante em cetim branco, Amelie estava iluminada por velas, e em sua mão direita estava um espelho pendurado negligentemente ao seu lado. Os dedos da mão esquerda descansavam em cima de um crânio. Assustador e bonito. — A Fundadora irá ver vocês — Bizzie disse, embora Claire não tenha ouvido ela falar no telefone ou interfone. Enquanto Claire se levantou, a porta interna se abriu sem um som. Respire fundo, Claire disse a si mesma. Ela não sabia por que ela estava tão nervosa; ela se encontrou dezenas de vezes com Amelie, provavelmente quase cem agora. Mas de alguma forma, isso parecia seriamente como entrar em uma armadilha. Ela olhou para Michael, e seus olhos se encontraram por um tempo. Ele sentia isso também. Respire fundo, Claire pensou novamente, e entrou. Q q q O escritório parecia estranhamente o mesmo: estantes altas, janelas panorâmicas grandes tingidas com anti-UV para reduzir os danos da luz solar, velas acesas aqui e ali. A mesa de Amelie era enorme e ordenada, e por trás dela, a Fundadora de Morganville estava sentada com as mãos cruzadas sobre o mata-borrão de couro. Atrás dela estava Oliver. Os dois vampiros não poderiam ser mais diferentes. Amelie era elegante, sedosa, cabelo claro, cada polegada de governante nata. Oliver, por outro lado, tinha a tenacidade rígida de um guerreiro, e com o cabelo grisalho e um sorriso cruel ele poderia muito bem estar vestindo armadura assim como uma gola e jaqueta. O terninho de Amelie era de seda branca e imaculada, e contrastava completamente com o todo preto dele — deliberadamente; Claire estava certa disso. Amelie também usava o cabelo solto em ondas fluídas e lindas. Não como a antiga Fundadora.
Oliver estava com a mão no ombro de Amelie, um gesto de familiaridade confortável que teria sido estranho no momento antes da chegada, batalha e derrota dos draug. Ele e Amelie tinha sido inimigos, então aliados relutantes, e então, finalmente — algo mais. Algo mais perigoso, obviamente. Claire olhou em volta, mas as cadeiras que tinham estado uma vez em frente à mesa de Amelie, aquelas para os visitantes, foram embora. Era esperado que ela e Michael ficassem de pé. Mas, primeiro, aparentemente, era esperados que eles fizessem outra coisa, porque Oliver observou os dois por um momento, então franziu a testa e disse: — Mostrem o devido respeito se vocês quiserem falar com a Fundadora. Amelie não disse nada. Ela sempre foi um pouco rainha do gelo, mas agora ela estava ilegível, toda pele perfeita, pálida e fria, com olhos avaliando. Não havia como dizer o que ela sentia, se ela absolutamente sentia alguma coisa. Michael inclinou a cabeça. — Fundadora. — Eu vejo que você foi recentemente ferido — ela disse. — Como? — Não foi nada. — Isso não respondeu à minha pergunta. — É problema meu. Eu vou lidar com isso. Amelie se recostou na cadeira e lançou um olhar para cima para Oliver. — Faça Henrik entender que eu não desculpo este tipo de comportamento dentro destas paredes. Michael, você faria bem ao responder às minhas perguntas quando eu perguntar da próxima vez. — Desde que você já sabia a resposta, eu não vejo o objetivo. — Ele era quase tão bom em esconder as emoções como Amelie. — Se você realmente se importasse em parar ele e os outros como ele, você iria reconhecer publicamente o nosso casamento e colocar um fim a isso. — Você não obteve permissão de mim, e é meu direito como sua criadora de sangue dar ou recusar — ela disse. — Eu não tenho de reconhecer tudo o que você faz sem a minha bênção. E nós já trilhamos este caminho antes sem nenhum bom propósito. O que te traz aqui, então? Claire limpou a garganta e deu um passo adiante. — Eu... Oliver a interrompeu. — Cumprimente a Fundadora corretamente, ou você não vai dizer outra palavra. Amelie poderia ter reprimido isso; ela poderia ter apenas acenado como ela normalmente faria... mas não o fez. Ela esperou, seu olhar no rosto de
Claire, até Claire engolir em seco e baixar a cabeça para a frente um pouco. — Fundadora — ela disse. — Você pode falar, Claire. Puxa, obrigada, Claire queria dizer com uma dose liberal de sarcasmo, mas ela conseguiu sufocá-lo de volta. Shane teria dito isso, que foi por isso que ela não tinha deixado ele vir nesta pequena aventura. — Obrigada — ela disse, e tentou fazer-se soar verdadeiramente grata. — Eu vim para conversar com você sobre os cartões de identificação. O rosto de Amelie mostrou emoção, afinal — raiva. — Eu já ouvi todas as críticas que eu estava preparada para suportar — ela disse. — A medida garante que todos os residentes de Morganville tenham o cuidado adequado em caso de emergência, que seus protetores estejam devidamente identificados, que eles possam ser encontrados no caso de estarem desaparecidos. Seja qual for os ressentimentos que você tem da falsa sensação de que você estava livre para fazer o que você quiser. Você não está, Claire. Ninguém está neste mundo. — Eu pensei que você levasse os objetivos de Sam a sério. Você me disse que faria os seres humanos parceiros iguais em Morganville, que tínhamos direitos assim como os vampiros. Você me disse isso! — Eu disse — Amelie disse. — E ainda acho que onde os seres humanos são permitidos um pouco de liberdade, eles irão querer mais, até que sua própria liberdade destrua o nosso modo de vida. Se se trata de uma escolha, devo escolher a sobrevivência da minha própria espécie. A de vocês é certamente muito numerosa como está. Qual é a contagem agora, sete bilhões? Você vai me desculpar se eu acredito que nós podemos estar em uma ligeira desvantagem numérica. — É por isso que você está permitindo a caça de novo? Oliver riu. — Um outro benefício tentador, mas não. A caça está enterrada tão profundamente na natureza dos vampiros como a necessidade de se reproduzir em seres humanos. Não é simplesmente uma coisa que podemos desligar. Para alguns, a caça lhes permite controlar um lado sombrio e violento que seria muito mais prejudicial. Pense em um rio represado com uma falha na estrutura. Mais cedo ou mais tarde, aquela torrente de água vai se libertar, e os danos que ela fará será consideravelmente pior do que uma liberação lenta e controlada. — Você está falando de água! Eu estou falando sobre a vida das pessoas! — Chega — Amelie disse categoricamente. — Esta não é uma preocupação humana. Você e seus amigos não precisam ter medo; a lei não toca em vocês. As coisas que você fez em Morganville assegurou o meu patrocínio pessoal
para vocês, como você pode ver em seus cartões. E qualquer vampiro é livre para recusar-se a caçar. Michael recusou. Sem dúvida muitos vão fazê-lo. De alguma forma, contar com a boa vontade dos vampiros individuais não era o que Claire podia ver como uma solução positiva, mas era bastante claro que Amelie não estava interessada em suas opiniões. — Então os seres humanos precisam saber — Claire disse. — Eles precisam entender que estar sem um protetor significa que eles estarão sendo caçados novamente. Deixálos, pelo menos, ter a chance de se defender! — Diga a eles se quiser — Oliver disse, e sorriu. — Se isso faz você se sentir mais segura para estar preparada, diga a eles para ficarem armados. Diga a eles para ficar em grupos. Diga a eles o que quiser. Isso não vai fazer qualquer diferença além de fazer a caçada mais desafiadora. — Isso é coisa sua, não é? — Ele apenas a olhou sem responder. Claire voltou a sua atenção para Amelie. — Você vai deixá-lo destruir tudo — Claire disse, e prendeu seu olhar com o da Fundadora. Isso era perigoso; Amelie tinha poder, um monte dele, e mesmo quando ela não estava tentando projetálo, havia algo realmente assustador sobre olhar profundamente em seus olhos. — Você vai realmente deixá-lo transformar esta cidade na própria reserva de caça pessoal dele. — Você está sempre livre para deixar a cidade, Claire — Amelie disse. — Eu já disse isso antes, e eu te dei mais do que termos generosos. Eu encorajo você a aproveitar a oportunidade antes que você faça eu me arrepender de ter dado tanta... consideração. Lembre-se, eu sempre posso retirar a minha Proteção. — Talvez eu vá embora! E o que você vai fazer então? Porque eu não acho que Myrnin realmente goste de qualquer uma das suas novas ideias, e você não pode controlá-lo, pode? Mas de qualquer forma, essas não são realmente suas ideias. — Claire transferiu seu olhar para Oliver. — São? Oliver passou de ficar parado como uma estátua — se estátuas poderiam sorrir — a correr em sua velocidade máxima, um borrão que ela instintivamente se encolheu para longe. Michael ficou no caminho, e empurrou Oliver violentamente para fora do curso, em uma mesa lateral, destruindo um vaso antigo, provavelmente de valor inestimável. Oliver rolou a seus pés, quase não abrandou pela queda, e veio atrás dele. — Chega — Amelie disse e Oliver só... congelou. Assim como Michael. Claire sentiu uma sensação esmagadora de pressão no escritório e percebeu que Amelie tinha acabado de fazê-los parar. Deve ter doído, porque até mesmo
o rosto de Oliver se contorceu de dor por um segundo. — Eu tive o bastante de brigas de estilo camponês na minha presença. Michael, sua lealdade é equivocada, e eu já tive o suficiente de você pensando que as suas escolhas pessoais superam o seu dever para mim. Você me deve a sua vida. Se uma escolha deve ser feita, tenha muito cuidado como você faz. Um vampiro sozinho é vulnerável a muitas coisas. — Eu sei — Michael disse. — Você pode parar de tentar me ameaçar. Eu não vou desistir das pessoas que eu amo, não importa o que você faça. E nas palavras do meu melhor amigo, me morda. Venha, Claire. Nós não vamos conseguir nenhum favor dela. Ela estendeu a mão para ele, mas no instante seguinte, seus olhos azuis se arregalaram e ficaram desesperadamente em branco, e ele ficou direto de joelhos — orientado lá pela força da fúria de Amelie. Parecia uma tempestade, atacando Claire como uma reflexão tardia, e ela se encontrou de joelhos ao lado dele, estendendo a mão para a mão dele e segurando-a com força trêmula. Ele estava tentando não esmagar a dela, mas ainda doía. Amelie levantou-se atrás de sua mesa, pegou um elegante abridor de cartas com revestimento de prata de sua mesa, e caminhou para olhar para baixo para Michael. Quando ela virou a faca em sua mão, mechas finas de fumaça escaparam; ela não era invulnerável à prata, apenas mais forte do que a maioria. — Não me teste — ela sussurrou. — Eu sobrevivi a meu pai. Sobrevivi ao draug. Eu vou sobreviver você. Saiba o seu lugar ou morra onde você está ajoelhado agora. Michael de alguma forma conseguiu rir e virar o rosto em sua direção. Pela primeira vez, Claire pensou, ele realmente parecia um deles. Como um vampiro. — Eu sei quem eu sou, e eu não sou um de vocês — ele disse. — Vai se fuder. Ela dirigiu o abridor de cartas para baixo, e Claire teve tempo de ofegar em horror; ela teve um flashback terrível e vívido do tempo que ela tinha visto alguém esfaquear Michael — nos primeiros dias de sua amizade. Ele sobreviveu a aquilo. A isso não. Não com a prata. Não, eu não posso dizer isso a Eve. Não, por favor… Amelie empurrou a faca de prata no chão, até o cabo, a uma polegada do joelho de Michael. Ela levantou-se graciosamente, virou as costas e foi embora, ignorando os dois com um movimento de sua mão.
Oliver, depois de uma longa olhada nela que Claire não sabia ler, disse: — Considerem-se com sorte. Vocês dois, saiam. Agora. Claire tropeçou em seus pés, ainda segurando a mão de Michael, e conseguiu levantá-lo. Ele apoiou-se sobre ela. Ele parecia atordoado, mas seus olhos estavam carmesim como o sangue escorrendo de seu nariz e orelhas. Ele estava, Claire pensou, pronto para ir para a garganta de Oliver, por isso era uma sorte que ele estava fraco demais para tentar. — Vamos — ela sussurrou para ele. — Michael! Vamos! Você deveria ser o calmo, lembra? Ele fechou os olhos, que foi quando ela sentiu que ele estava de acordo com os termos dela, então ela metade levou-o para a porta. Que permanecia fechada. Atrás dela, Oliver disse: — Se vocês vierem aqui, que venham como suplicantes. Se for qualquer outra coisa, da próxima vez, a faca não vai errar. Claire foi inteligente o suficiente para manter o vai se ferrar para si mesma.
Capítulo 3
S
CLAIRE
air da Praça da Fundadora não foi tão ruim como entrar, mas com Michael cambaleando e só realmente capaz de ficar metade de pé, Claire estava preocupada que Henrik ou outra pessoa com sentimentos semelhantes saísse para terminar o trabalho que Amelie e Oliver tinham começado. Ele foi ferido... talvez não com a condição de ferimentos evidentes, mas ela estava convencida de que o sangue que ainda manchava seu rosto perto de seu nariz e orelhas era um sinal de algum tipo de hemorragia interna. Ela não tinha ideia do que fazer por ele, mas os vampiros podiam curar da maioria das coisas sem ajuda. Ainda assim, ele provavelmente iria precisar de sangue, e ela não queria ser a única fonte de pé nas proximidades se um desejo repentino viesse fortemente. Ela tinha visto isso acontecer, e as consequências. Poderia não arruinar a amizade deles, a menos que ele realmente a matasse, mas tornaria as coisas muito estranhas em torno da mesa de jantar. — Você pode dirigir? — ela perguntou a ele ansiosamente quando eles chegaram ao nível da garagem. Ela manteve a mão em seu braço, embora ele estivesse se movendo sozinho agora; ele não havia falado muito, mas agora ele assentiu. — Você está bem? — Não — ele disse. Sua voz soava rouca, como se ele tivesse estado gritando. — Ainda não. Mais vou estar. — Você provavelmente precisa de uma bebida. — Ela disse isso da forma trivial que ela ouvia Eve falar, e ele parecia aliviado que ele não tivesse que falar. — Eu não me importo de esperar no carro, se você quiser parar no banco de sangue. Michael... Eu sinto muito. Eu não achei que seria tão... — Errado. Violento. Louco. Mas Shane de alguma forma tinha previsto isso, ou ele não teria insistido em alguém ir com ela. Alguém forte o suficiente para lutar contra Oliver e Amelie... ou quem estaria disposto a tentar.
Se eu tivesse terminado a máquina, eu poderia ter usado ela. Anulado o poder dela. Talvez isso teria funcionado. Talvez tivesse até mesmo cancelado a influência de Oliver sobre Amelie, a fizesse voltar a ser a antiga Fundadora, a que Claire sentia muita falta. E talvez ela teria só piorado as coisas. Abatia ela ao pensar no quanto perigo Michael tinha se colocado, por ela. E ele mostrou o quanto havia perigo para todos eles. Hannah estava certa, afinal. Não havia nenhum objetivo em tentar. No carro, finalmente, Claire se sentiu segura o suficiente para abordar o assunto que ela tinha estado freneticamente girando em sua mente durante a longa caminhada. — O que aconteceu com Amelie? Ela não era assim. O draug pode ter, eu não sei, infectado ela? Feito alguma coisa com ela? — Talvez — Michael disse. Ele tossiu, e foi um som molhado. Claire se encolheu. — Talvez tenha algo a ver com Oliver; ele tem a capacidade de influenciar as pessoas. Ela sempre se mantinha a uma distância antes. Agora é como se eles estivessem canalizando Sid e Nancy. — Quem? Michael gemeu. — É triste o quanto você não sabe sobre música, Claire. Sid Vicious? A banda Sex Pistols? — Ah, ele. — Você não tem ideia de quem eu estou falando, não é? Ela sorriu um pouco. — Não menos. — Lembre-me de tocar algumas músicas para você mais tarde. Mas de qualquer maneira, se Myrnin disse que as coisas estavam fora de controle, ele não está errado. Amelie não usa esse poder que ela acabou de atirar em mim a não ser que as coisas estejam realmente críticas. Nunca apenas para sua própria diversão pessoal. — Ele estremeceu, e finalmente disse em voz baixa:— Ela poderia ter me matado, Claire. Pelo menos a parte de mim que não é puramente um vampiro. Ela poderia ter me feito... eu não sei, o fantoche de carne ou algo assim. Ela tem o poder como ninguém. Claire engoliu em seco, de repente e fortemente inquieta novamente. — Mas ela não fez isso. — Desta vez — ele disse. — E se ela decidir que é a única maneira de me fazer obedecer do jeito que ela quer? Eu não quero viver assim, se ela esmagar tudo dentro de mim, quem eu sou. Prometa-me, você e Shane, vocês vão... cuidar disso. Se isso acontece. — Não vai. — Prometa.
— Deus, Michael! Ele ficou em silêncio por um segundo, então disse: — Eu vou pedir a Shane. — Porque ambos sabiam que Shane iria entender esse pedido, provavelmente muito bem. E ele diria que sim. — Isso não vai acontecer — Claire disse. — De jeito nenhum, Michael. Nós não vamos deixar isso acontecer. Ele não lhe disse que isso provavelmente era uma coisa que ela não podia controlar, mas ela já sabia de qualquer maneira. Ela apenas se sentiria melhor, e mais no controle, ao dizer isso. O caminho para o banco de sangue foi tranquilo, e Claire ficou de frente para a janela escurecida do passageiro. Depois de toda a adrenalina, ela estava dormente, e — estranhamente exausta — realmente com fome. Michael entrou na parte de trás do banco de sangue através da entrada só para vampiros, e voltou com um pequeno refrigerador portátil, que ele entregou a ela. Ela colocou-o no chão entre seus pés. — O fornecimento de sangue está acabando — ele disse. — Eles vão enviar a viatura da coleta de sangue amanhã. Shane está devendo? — Ele não está sempre? — Claire revirou os olhos. — Eu vou levá-lo voluntariamente na parte da manhã... eu vou doar também — Claire, por decreto de Amelie, havia sido historicamente livre da responsabilidade de doar sangue, que era o imposto dos seres humanos de Morganville a partir dos dezoito anos; ela tinha sido menor de idade antes, mas mesmo agora que ela era legal, ela não tinha que contribuir. Ela ainda contribuía, principalmente porque os hospitais, não os vampiros, ficavam esgotados em uma emergência. Shane claramente não tinha sido excluído da lista de impostos. Provavelmente por causa de quantos problemas ele tinha historicamente se metido em Morganville. Michael suspirou. — Você se importa se eu…? Claire abriu o refrigerador e tirou uma das bolsas de sangue. Estava um pouco quente e pesada, e ela tentou fingir que era um saco de água colorida, uma daquelas coisas que eles utilizavam em programas de televisão. Mas ela ainda desviou o olhar quando ele mordeu. Levou apenas cerca de um minuto para ele drenar totalmente, e ele olhou em volta por um lugar para colocar a bolsa vazia, em seguida, deixou que ela pegasse e devolvesse ao refrigerador. — Desculpe — ele disse. Seu pedido de desculpas soou genuíno. — Eu sei que provavelmente não é o que você precisava ver agora.
— Comer é sempre nojento — Claire disse, — mas todos nós temos que fazer isso. De qualquer forma, eu estou morrendo de fome. O Chico’s ainda está aberto? — Você sabe que se eu comprar tacos, eu tenho que levar para a casa inteira, certo? — Eu te ajudo. O Chico’s Tacos era recém-chegado à cidade, aberto por um residente de Morganville que tinha tomado um gosto para algo que ele tinha provado fora da cidade em El Paso: tacos deliciosos enrolados, ensopados e afogados no molho picante, em seguida, coberto com queijo ralado. Melecados, sim. Prejudiciais a saúde, provavelmente. Mas eram ótimos. Pedidos extras eram obrigatórios. Michael virou para o serviço de drive-through, desembolsando dinheiro e recebendo todas as guloseimas para entregar a Claire. Ainda era novo para eles contar cinco colegas de casa; Miranda estava apenas na metade do tempo, durante o dia ela era insubstancial, mas à noite ela era muito carne e osso, capaz de andar, falar, fazer as atividades, comer o jantar... fazia pouco sentido para Claire, mas a Glass House (como todas as originais Casas Fundadoras restantes da cidade) era capaz de fazer coisas que a ciência dela não podia explicar, não importava o quão longe ela fosse e estendesse os limites. Quando Michael tinha sido morto dentro de seus muros, drenado por Oliver, a casa o tinha preservado — salvado ele, literalmente, como um arquivo, só que como um fantasma. A Glass House era mais poderosa à noite do que durante o dia, portanto, à noite ele podia criar uma forma de carne e osso real, ele podia usar para ter metade de uma vida... mas quando amanhecia, ela derretia. Não era real, exatamente, embora Michael tenha dito que ele podia sentir, comer, beber, fazer tudo como se fosse real, entre o anoitecer e o amanhecer. Mas para fazer essa meia-vida verdadeiramente permanente, ele teve que fazer um acordo com Amelie e tornar-se totalmente vampiro. Miranda parecia ter herdado as mesmas vantagens e desvantagens. E ela não tinha desejo de se tornar uma vampira. Em vida, Miranda tinha sido uma menina perdida, amaldiçoada com um dom psíquico que era tão assustador como era informativo; ela tinha sido evitada por toda a sua vida pela maior parte da cidade, e mesmo Eve — sua melhor amiga, talvez — não tinha sido capaz de lidar com ela por algum tempo.
A fantasma-Miranda estava florescendo em uma jovem feliz, agora que ela já não tinha os poderes psíquicos e era capaz de ter amigos de verdade. Então, Miranda ganhava tacos também. — O que vamos dizer a Shane sobre o que aconteceu? Ou Eve? — Claire perguntou quando o farfalhar familiar das rodas do carro sobre o cascalho sinalizou que eles chegaram em casa. Michael estacionou, desligou o motor, e passou um momento pensando antes de dizer: — Nós vamos dizer a eles tudo. Qualquer outra coisa não seria justo. E poderia colocá-los em muito perigo se eles achassem que Amelie ainda está de alguma forma nos protegendo. Isso iria perturbar Eve, e iria enraivecer Shane, mas ele estava certo; mantê-los no escuro era um caminho certo para o desastre. Você poderia proteger as pessoas do mal, mas não do conhecimento. — Bem — Claire disse, — pelo menos nós temos tacos. Tudo fica melhor com tacos. Q q q E os tacos ajudaram. Até mesmo Shane, que os encontrou na porta e olhou para o cooler na mão de Michael, animou-se com a visão dos sacos de papel com manchas de óleo que Claire segurava. — Você realmente sabe o caminho para o coração de um homem — ele disse, e agarrou-os das mãos dela. — Entre as costelas? — ela disse, e deu-lhe um beijo doce e rápido quando ele pareceu chocado. — Ei, a piada é sua. Não me culpe se eu me lembro. — E você parece uma garota tão legal. — Tudo bem, se você não está a fim, eu vou pegar esses tacos de volta... Isso fez ele colocar as bolsas dos tacos para longe, Shane claramente teria vencido por causa do tamanho e agilidade, exceto que Miranda sorrateiramente veio por trás dele e roubou um par de surpresa, o que o mandou gritando em busca quando ela saiu correndo através da cozinha para a sala de estar. E então Eve correu atrás, e Claire teve que lutar para ficar com os dois sacos que lhe restava. No final, tudo isso de alguma forma chegou à mesa de jantar. Eve pegou pratos de plástico grossos, garfos e colheres, e Michael e Shane organizaram as bebidas enquanto Claire e Miranda colocavam pequenos taco em cada um dos pratos. Era tudo muito caloroso, doce e como um lar, e Claire garantiu enquanto eles comiam que Miranda ganhasse um par de tacos extras que
normalmente Shane teria agarrado enquanto eles repassavam. Ele fez beicinho, mas de uma maneira fofa. Foi quando eles estavam terminando que Shane disse com uma falsa casualidade: — Então eu acho que tudo correu bem hoje? Miranda lambeu o resto do molho picante do fundo do prato de plástico e ergueu as sobrancelhas. — O que aconteceu hoje? Eu nunca consigo saber nada. — Ela ainda era fisicamente uma coisinha frágil, e Claire supôs que a aparência delicada e frágil da garota nunca iria mudar agora; fantasmas não envelhecem, e não importa quantos tacos ela comesse ou Coca-Colas ela bebesse, ela nunca cresceria um centímetro ou ganharia um quilo. Isso era algo que um monte de meninas sonhava, Claire pensou. Claro, essas meninas provavelmente nunca pensariam em ter que viver a sua eternidade presas dentro de uma casa, vivendo meia vida, nem ao menos sendo capazes de fazer compras ou ver um filme que não fosse trazido para casa, ou sair para comer... ou ir em um encontro. Miranda nunca foi a um encontro. Essa era provavelmente a coisa mais triste de todas. Ela provavelmente não tinha sequer sido beijada. Nenhuma vez. E o que era pior, ela estava morando em uma casa com dois casais. Sim. Vivendo no inferno, Claire decidiu, e ela deu uma cotovelada em Shane e deu a Miranda o último taco. Parecia o mínimo que ela podia fazer. Então ela percebeu que Michael não tinha sequer começado a responder à pergunta. De alguma forma, Claire tinha esperado que ele assumisse a liderança sobre isso, mas desde que ele não tinha, de repente todo mundo estava olhando para ela, esperando. Claire limpou a garganta, tomou um gole de água e disse: — Eu acho que eu vou acabar logo com isso. Hannah não pode ajudar a se livrar dos cartões de identificação, ou as licenças de caça. Ela está sendo jogada para fora do escritório. Oliver é um idiota. Amelie se transformou em uma vampira com um V maiúsculo, e ela quase matou Michael para provar o quão foda ela está agora. Falei tudo, Michael? — Praticamente — ele disse. Isso... não saiu tão bem como ela esperava. Por um segundo, ninguém disse uma palavra, e então todo mundo estava tentando falar ao mesmo tempo. Michael tentou colocar um pouco de elegância no que ela tinha dito, mas não houve mudança na verdade disso. Eve bruscamente exigiu saber o ela quis dizer por quase ser morto. Shane estava xingando e dizendo que ele sabia que seria assim.
Até mesmo Miranda estava timidamente perguntando algo que foi perdido no caos geral. — Um de cada vez — Claire finalmente gritou, o que surpreendeu o suficiente para que todos ficassem em silêncio. Surpreendentemente, foi Miranda, que se atirou na frente pela primeira vez. — Você está se sentindo bem? — ela perguntou a Michael, e havia uma ponta de ansiedade em sua voz que surpreendeu Claire... e, por outro lado, não a surpreendeu. Afinal, Miranda nunca tinha sido beijada, e Michael não poderia deixar de ser um ímã de garotas. Claire se sentiu um pouco aliviada, na verdade, porque pelo menos a menina não desejava Shane. Não que Shane teria notado, ou se importado, mas ainda assim. Eve, por outro lado, parecia ignorar completamente Miranda; seu olhar focado totalmente no rosto de Michael. Seus olhos escuros estavam enormes, e ela agarrou a mão esquerda dele firmemente com a direita dela. — Eu estou bem — ele disse, não para Miranda, mas para Eve, e levou a mão dela aos lábios para beijá-la. — Claire pode ter exagerado um pouco. — Não muito — Claire murmurou, mas ela deu uma mordida de taco e não fez objecções mais alto. — Ela está certa, no entanto — Michael continuou. — Definitivamente há algo de errado com Amelie e como ela está lidando com as coisas. Não é a Fundadora que a gente conhece; é mais da maneira que Bishop agia. Talvez seja algo a ver com ela quase morrer com o draug. — Ou talvez seja apenas Oliver dentro do bolso dela o tempo todo — Shane disse. — Eu estou dizendo bolso porque tem uma criança morta presente, mas por bolso eu quero dizer calças. Claire bateu nele por debaixo da mesa do lado de sua perna, com força, mas ela não discordava da opinião — apenas da expressão. — Oliver é um mau namorado — ela concordou. — E ela está ouvindo ele demais. É por isso que ele está se livrando de Hannah; ele não quer quaisquer divergências no Conselho dos Anciãos. Ele só quer algum corpo humano sentado à mesa para manter as pessoas na linha, fingindo que eles ainda têm voz. — Podemos voltar para o assunto de Michael quase ser morto? — Eve disse. — Porque eu realmente não estou bem com isso. O que aconteceu? — Eu não concordei com Amelie em alguma coisa. — Michael deu de ombros. — Não é a primeira vez, certo? Eve, sério, não discuta. Eve olhou para ele por um momento longo, em seguida, mudou sua atenção para Shane. — Você acredita nessa porcaria de nada-demais? — Não.
— Então, o que vamos fazer sobre isso? — Oh, eu não sei. Matar todos eles; alimentar as galinhas com as carcaças deles? Inferno, Eve, o que podemos fazer? Nós sobrevivemos até aqui porque tivemos sorte e nós tivemos os vampiros certos do nosso lado. Agora os mesmos vampiros estão do outro lado da linha. O que temos a nosso favor? — Bem, nós somos inteligentes, fortes e mais fashions — Eve disse. — Exceto por você. Ele saudou-a com um garfo cheio de respingo de taco e enfiou-o na boca. — Você esqueceu de bonito — ele disse. — Além de cuidadoso, amável, corajoso... — Shane, o mais próximo que você chegou de Garotos Escoteiros foi quando toda a tropa deles bateu em você na quarta série — Eve revidou. — Seja justa, eles eram escoteiros, e aquelas meninas tinham treinamentos de futebol. Ou seja, chutadoras. — Shane tomou um gole de sua bebida e mudou de assunto. — Nós não temos muitas coisas que contam a nosso favor agora, não é? Sem ofensa, Mike. Você sabe que eu te amo e Eve, mas vocês dois se casar não tornou a vida mais fácil por aqui; a maioria das pessoas nos evita, o lado pró-humano nos odeia, o lado pró-vampiro nos odeia também. Agora não temos a Rainha do Gelo do nosso lado, tampouco. Estrategicamente, eu acho que a nossa posição inteira se resume a isso é uma merda. — Nós temos Myrnin — Claire disse. — Ele não gosta de como as coisas estão indo também. Ele vai ajudar. — Oh yeah, porque Myrnin é sempre confiável — Eve disse. — Sim, Shane, eu disse isso por você. — Obrigado por ler a minha mente. — Obrigada por torná-la tão simples. Shane jogou um guardanapo nela, ela se defendeu dele e jogou no colo de Miranda, Miranda o atirou em Michael, que nem sequer olhou para cima quando pegou o papel amassado no ar e arremessou-o para Claire. Que o perdeu, é claro. — O perdedor lava os pratos — Michael disse. — Nova regra. — Demais — Shane concordou e, em seguida, ficou menos alegre com isso. — Espera... são todos de plásticos. — Ei, você poderia ter perdido se tivesse pensado nisso. Miranda foi quem estragou o momento, perguntando, em voz muito preocupada: — O que vocês vão fazer a respeito de parar Amelie? Quer dizer, se ela está realmente perigosa agora?
Eve colocou o braço ao redor da garota e a abraçou. — Claire vai ter um plano incrível, e todos nós vamos fazê-lo funcionar. Você vai ver. Sim, Claire pensou melancolicamente, enquanto recolhia o lixo. Sem pressão. Ela tinha quase acabado quando encontrou Miranda de pé ao lado dela, entregando-lhe as coisas. Eve, Michael e Shane todos tinham se movido para fora, e a menina mais jovem deu-lhe um rápido sorriso torto. — Eu não me importo — ela disse. — Eu gostaria de ajudar. Está tudo bem? — Claro — Claire disse. — Obrigada. — Eu queria te perguntar uma coisa, na verdade. Eu ouvi Shane dizer alguma coisa sobre pessoas que vieram para a cidade. As pessoas com o programa de TV. — Oh, certo. Angel e Jenna. — E Tyler, que fazia todo o trabalho. — Esses? — Você não acha que eles vão, ah, encontrar qualquer coisa, não é? E se eles encontrarem? E se eles espalharem para fora de Morganville? — Isso não vai acontecer — Claire disse. — Mesmo que eles encontrem qualquer coisa — o que eu realmente duvido — eu não acho que eles seriam capazes de levar para fora da cidade. Por quê? Você está preocupada com eles descobrirem sobre você? — Não, na verdade não. — Miranda parecia estranhamente envergonhada. — Eu só... eles devem ter encontrado outros fantasmas antes. Eu só queria saber se talvez eu pudesse falar com eles sobre isso. Sobre o que é normal. — Eu não tenho certeza se há qualquer coisa como normal quando se trata de fantasmas, especialmente por aqui — Claire disse em dúvida. — Mir, você não está pensando em tentar trazê-los aqui, não é? — Bem, à noite eles não vão ver nada estranho... — Não. Não, definitivamente não. E se Myrnin aparecer por meio de um portal na parede, ou algum vamp aleatório decidir fazer uma visita? Como explicar isso? E Michael? Eles vão notar algo de estranho com ele, não? — Oh — Miranda disse. — Certo. Eu não tinha pensado nisso. Ok, então. Eu só... eu só queria poder fazer mais amigos. Claire bateu no quadril dela e sorriu. — Nós não somos o suficiente para você? Ela deu um sorriso em resposta, mas não era muito um. — Claro — Miranda disse suavemente, e se afastou. Oh céus. Isso, Claire pensou, poderia ser um problema.
Q q q O banco de sangue em Morganville tinha horas estranhas — por exemplo, eles estabeleciam doações ímpares de vinte e quatro horas por dia, o que significava que Claire foi capaz de empurrar Shane para fora da cama e se enfiar nas calças, sapatos e camisa às quatro da manhã, e arrastá-lo meio dormindo para o lugar para drenar um litro de sangue, antes que ele estivesse muito acordado para protestar. Ela deu uma segunda bolsa apenas para tornar as coisas iguais, e o levou para casa para amontoar-se na cama. Ele se recusou a ir para a dele, o que era apenas pura teimosia, e curvou o corpo quente e forte ao lado dela debaixo das cobertas por mais duas horas até que ela teve que levantar para ir à escola. Poderia ter sido mais sexy, exceto que ele adormeceu dentro de cerca de cinco minutos, e ela se estendeu por apenas alguns minutos mais. Sete da manhã veio muito cedo, mas Claire se arrastou bocejando através da rotina matinal: chuveiro, se vestir, ir sonâmbula ao Common Grounds por um mocha. Foi aí que ela ouviu a notícia de que a prefeita Hannah Moses estava “deixando o cargo por motivos pessoais” e que uma eleição seria realizada no fim de semana. Os estudantes universitários estavam naturalmente ignorando o que isso significava, mas havia uma pilha de folhetos sobre isso perto do caixa, e Claire pegou um. O comunicado de imprensa era chato e resumido, e havia explicação de como votar na parte inferior do panfleto, com instruções para deixá-lo na Prefeitura na urna apropriada. Claire colocou o panfleto em sua mochila, pegou seu café, e dirigiu-se para a aula. Felizmente, ela tinha uma agenda diferente de professores hoje, aqueles que ela realmente gostava, e passou através da manhã cheia de cafeína e discussões desafiadoras de física sobre matéria condensada, que foi o estudo de como exatamente os átomos combinados e recombinados formavam líquidos, sólidos, e o estado disso, teoricamente, não tinha sido visto. Só que ela tinha visto. Myrnin tinham inventado eles, e ele usou-os como centros de transporte ao redor da cidade. Ele os chamou de portas, enquanto Claire os chamava de portais, mas se resumia a uma coisa: viajar daqui para lá e pular o entre. Então, ela meio que tinha uma vantagem inicial sobre esse conceito, e cálculos. Ela teve uma pausa ao meio-dia, e foi até a loja de café do campus. Era o dia de Eve trabalhar lá em vez do Common Grounds; ela era uma barista boa
o suficiente para que ela pudesse trabalhar em qualquer lugar que ela quisesse, e ela gostava de ver pessoas diferentes do outro lado do balcão. Além disso, Eve sempre insistia que ela gostava dessas pequenas férias semanais longe do carrancudo do Oliver. Ela não parecia especialmente feliz agora, porém, Claire pensou, enquanto esperava na fila. Quando o cara na frente dela saiu com seu café, Claire apoiou os cotovelos no balcão e disse: — Você está bem? — Ela colocou o dorso da mão na testa de Eve. — Eu acho que você deve estar com febre. — O quê? — Eve parecia cansada sob a maquiagem, como se ela não tivesse dormido muito. — Do que você está falando? — O Sr. Gostoso McBonitão está a apenas uma curta distância. Ele está a fim de você, e você nem sequer sorriu para ele. Eve levantou a mão e tocou o anel em seu dedo. — Dispositivo anti-flerte — ela disse. — Isso funciona. — Ah, qual é, isso não pode impedir você de sorrir! — Eu simplesmente não estava me sentindo com vontade. — Mas não era isso, e Claire sabia. Havia um pedaço de papel sobre o balcão, virado para baixo, mas a água o tinha encharcado em alguns lugares, e ela viu lápides nele desenhadas. Antes que Eve pudesse detê-la, Claire se esticou e pegou. Elas eram as mesmas quatro lápides dos folhetos que continuavam aparecendo na Glass House, só que este era mais pessoal. Ele tinha uma seta apontando para o túmulo de Eve com as palavras, Logo, logo, vadia escrito acima dele. Eve deu de ombros. — Estava no balcão quando eu cheguei aqui para trabalhar. — Sinto muito — Claire disse. — As pessoas são idiotas. — A maioria — Eve concordou. — Mocha, então? — Apenas chocolate quente. — Claire pegou o panfleto que ela agarrou no Common Grounds de sua bolsa e colocou-o em cima do balcão, evitando as gotas de bebidas derramadas. — Você viu isso? Eve misturou o cacau e leu o jornal ao mesmo tempo, o que era bastante impressionante. — Escrever candidatos. Bem, isso é fácil. Eles só escolhem quem eles querem e escrevem as cédulas com o nome que eles querem que ganhe. E nós vamos nos preocupar em votar por quê? — Não podemos deixar que as coisas fiquem da forma que estão — Claire disse fervorosamente. — Temos que reunir as pessoas para exigir uma eleição livre e justa, contadas por seres humanos.
— Você tem uma quantidade impressionante de loucura em sua cabeça. Como exatamente você faria isso? Porque eu garanto que se você criar uma página no Facebook eles vão matá-la antes que você possa atualizar a tela. E nem sequer pense no Twitter. Era verdade; os vampiros tinham um domínio no setor das comunicações eletrônicas da cidade, e Claire ficou perplexa por um momento. — Do jeito antigo — ela disse finalmente. — O Capitão Óbvio ainda está por aí, certo? — O Capitão Óbvio era um pouco como o Spartacus de Morganville... Ele era o cara encarregado de organizar e dirigir a resistência humana, independentemente da forma que isso exigia. O Capitão Óbvio era um indivíduo que normalmente não durava por muito tempo, mas um novo estava sempre à espera nos bastidores. — Bem, em teoria, eu acho — Eve disse. — O último correu antes que as barreiras voltassem em torno da cidade. Da última vez que eu soube, porém, não havia ninguém no comando da resistência humana mais, por isso está acabado... não que isso fosse fazer qualquer diferença, para começar. Eles são um bando de perdedores desorganizados, principalmente. Bem, com exceção de que uma vez eles salvaram as nossas vidas. Mas se ele ainda está por aí, talvez seja ele que nos está enviando os avisos de morte, portanto, talvez não seja uma aprovação. Claire piscou e bebeu o chocolate quente que Eve entregou a ela. Ninguém estava na fila atrás dela, então ela permaneceu no balcão. — O velho Capitão Óbvio foi tirado do armário, de qualquer maneira. Todo mundo sabia quem ele era. E se houver um novo? Um secreto? — Querida, eu tenho certeza que eu saberia. Eu ouço tudo. — Mas Claire não estava ouvindo agora; seu cérebro estava disparando em uma cadeia de flashes brilhantes e aleatórios, juntando as coisas, planejando, até que Eve estalou os dedos na frente de seus olhos e ela percebeu que Eve estava dizendo algo antes de terra para Claire. — Desculpe — Claire disse. Ela sorriu lentamente. — Eu acho que eu já sei. — Como curar a gripe suína? Um aneurisma? A resposta da fusão a frio? — Como é que vamos fazer os vampiros não ignorar os resultados da eleição? — Você não sabe. — A menos que os resultados sejam o que eles querem ver — Claire disse. — Eles acabaram de anunciá-los, certo? Eles não se incomodaram em falsificar nada.
— Verdade. — Eve estava olhando para ela com ar de dúvida. Muito em dúvida. — O que diabos você está pensando, CB? — Nós escrevemos alguém que é exatamente o que eles querem: um ser humano ligado a uma família antiga de Morganville. Mas um que não tenha medo de enfrentar os vampiros. — Ok, talvez precisamos retroceder porque você não está fazendo qualquer sentido — Eve disse, e ela segurou o olhar de Eve por tempo suficiente para que ela visse a luz — meio assustadoramente — se acender. — Shane? — sua melhor amiga disse e cobriu os lábios azuis de batom com uma mão pálida. — Você não pode candidatar Shane para prefeito. Qual é! Shane é exatamente o oposto da política! — Eu não estou falando dele — Claire interrompeu. — Mas há alguém nesta cidade que é perfeitamente qualificada. E perfeitamente não qualificada, ao mesmo tempo. E se alguém sabe provocar o caos nesta cidade, é ela. Silêncio. Silêncio absoluto e mortal. Eve piscou os olhos, piscou novamente e finalmente disse: — O quê? Mas Claire já estava indo embora, cantarolando baixinho e suavemente, sentindo pela primeira vez em meses que ela tinha algo realmente indo para o caminho certo em Morganville. Ironicamente, na verdade.
Capítulo 4
F
CLAIRE
iel à sua palavra, Monica veio para o ginásio pronta para trabalhar, o que foi um pouco chocante; Claire quase não a reconheceu. Sem maquiagem. O cabelo escuro amarrado para trás em um rabo de cavalo simples e grosso. Ok, a roupa de ginástica apertada ainda era de marca, e seus calçados esportivos tinham o nome de uma estrela de basquete sobre eles, mas essa era definitivamente uma Monica desconectada. E ela era chocantemente boa em socar as coisas. Até mesmo Shane ficou impressionado depois de cerca de dois minutos de vê-la bater no saco pesado com uma enxurrada de golpes bem colocados, cotoveladas e pontapés. — Ela não é tão ruim — Shane admitiu quando Monica continuou a golpear o alvo. — Boa forma. Inferno de direita. — Sim, ela conseguiu isso batendo em outras crianças, não é? Shane enviou-lhe um olhar um pouco envergonhado. — Eu sou todo a favor de paz e amor, querida, mas eu estou falando apenas de técnica aqui. — Ele voltou a olhar para Monica em uma avaliação calma com os braços cruzados. — Ela está trabalhando nisso. Ela estava, sem dúvida. Quando Monica terminou com o saco pesado após os necessários cinco minutos, ofegante e suando, ela enviou a Shane um olhar triunfante enquanto bebia um pouco de água. — Está vendo? — ela disse. — Não foi tão ruim, certo? — Não fique arrogante — ele disse. — Ei, Aliyah? Tem um minuto? — Ele apontou para uma moça alta e esguia que estava dando socos em sua sombra no canto. Ela se virou, e seus olhos escuros caíram sobre Monica, e se arregalaram. — Monica precisa de uma parceira de treino. — Espere — Monica disse, e virou-se para ele. — Eu pensei que você fosse... — Eu sou o sensei aqui, e você luta com quem eu digo para você lutar — Shane disse com muito prazer. — Mas ela...
— Algum problema, Monica? — Seu sorriso era brutal, e Monica apertou os lábios em uma linha fina e balançou a cabeça. Ela caminhou até o ringue enquanto Aliyah tomava o seu lugar no interior. — Deixe-me adivinhar — Claire disse. — Monica intimidava Aliyah. — Você não conseguiria jogar uma pedra em Morganville sem atingir alguém que se encaixa nessa descrição — Shane disse. — Mas ninguém intimida Aliyah, eu não sei, pelo menos há cinco anos, ok, vamos ter uma luta limpa, meninas! Não foi. Aliyah levou cerca de dez segundos para derrubar Monica. Era um balé violento de fingimento, ataque, enfraquecimento — e quase cirúrgico, na verdade. Dois socos rápidos e precisos — no rosto e barriga — e um movimento de perna e Monica estava de costas olhando atordoada para o teto enquanto Aliyah saltava para trás sem um arranhão. Aliyah deixou cair sua defesa e olhou para Shane, que deu de ombros. — Obrigado — ele disse. — Disse o que eu precisava saber. Ele subiu no ringue quando Aliyah saiu, e ele se agachou ao lado de Monica, que não estava fazendo nenhum esforço para se levantar. — Alguma coisa quebrada? — ele perguntou. Ela balançou a cabeça. — Então levante. — Me ajuda? — Ela estendeu a mão, mas ele endireitou-se e recuou. Monica gemeu. — Seu filho da p... — Vamos lá, chorona. Levanta. Ela se levantou desajeitadamente e se encostou contra as cordas por um momento. — Aquela vadia me socou. — Ela tocou o lábio. — Se eu estiver inchada... — Você mereceu — Shane disse, — porque a sua defesa foi uma porcaria. Você vai ficar reclamando ou treinar? Claire inclinou-se contra o poste e assistiu, principalmente; Shane era um bom professor, paciente, mas não gentil, e ele mostrou a Monica com eficiência brutal e alegre que o bullying não realmente se igualava a lutar. Foi uma aula relativamente rápida — cerca de uma hora — mas no final Monica estava uma bagunça despenteada e desconcertada. Quando Shane finalmente disse: — Ok, é o suficiente por hoje, — ela caiu de costas no chão, como se ela nunca conseguiria ter controle sobre si mesma novamente. — Você — ela disse entre suspiros para respirar, — é um idiota total, Collins. Você gostou disso. — Absolutamente — ele disse, e sorriu, mas o sorriso desapareceu rápido. — Sem brincadeiras, Monica: você não é ruim, você tem força, mas você nunca
foi pressionada. Lutar contra os vampiros não é como tirar dinheiro do almoço de Jimmy na quarta série. Você precisa ser rápida, destemida e precisa, e você precisa entender que não pode desistir, porque se eles ao menos cheirar isso em você, você está acabada. — Eu posso fazer isso — ela disse. Mas ela disse deitada no chão. — Eu não vou desistir. — Bom — ele disse. — Porque a oportunidade de bater em você é basicamente o sonho de todo mundo de Morganville. Ah, e você tem que me pagar. — Eu o quê? — Ela levantou a cabeça do piso de lona e olhou para ele, e Claire teve que sufocar uma risada ao ver a expressão no rosto de Monica. — Pagar — ele disse. — Pelo treinamento. O quê, você pensou que eu faria isso de graça? Nós somos amigos? — Tudo bem — ela disse, e baixou a cabeça novamente. — Quanto? — Vinte por hora. — Você está brincando comigo. Você recebe cerca de sete por hora no seu melhor dia! — Isso é quando eu estou fazendo um trabalho honesto como limpar esgotos. Trabalhar com você significa cobrar uma recompensa. Ela levantou uma mão exausta e mostrou o dedo do meio para ele, mas disse: — Ok, tudo bem. Vinte por hora. — Vinte e cinco agora que você foi rude por causa disso. Monica enviou-lhe um olhar enojado, rolou e mancou lentamente para os chuveiros. Shane observou-a ir com um sorriso de pura satisfação. — Ouro — ele disse. — Ouro puro. Claire o beijou. — Não se vanglorie tanto — ela disse. — Ela vai ficar melhor. — Eu sei. Mas eu posso apreciar enquanto ela não fica. Claire foi atrás de Monica para o vestiário. Ela encontrou a outra garota tirando as roupas de ginástica e examinando no espelho de corpo inteiro os lugares descoloridos que estavam formando contusões. Claire imediatamente sentiu uma onda de constrangimento e não sabia para onde olhar; Monica tinha um corpo quase perfeito, esculpido, depilado e bronzeado. Claire lembrou dos seus anos vergonhosos por causa da admissão precoce do ensino médio onde tomar banho com as meninas bonitas tinha sido um exercício de zombaria impiedosa. Mas ela não estava no radar de Monica, exceto como um segundo par de olhos. — Ei — Monica disse sem nem mesmo focar nela. — Você acha que isso
vai deixar uma marca? — Ela apontou para uma área vermelha em suas costelas logo abaixo de seu peito esquerdo. — Provavelmente. — Droga. Eu ia para a piscina. Agora eu tenho que usar um maiô. — Ela fez soar como se fosse uma túnica. — Então, pré-escolar, você me seguiu até aqui para confessar o seu amor gay ou o quê? — O quê? Não. E nunca seria você. — Oh, é mesmo? Você tem uma queda por outra pessoa? Claire sorriu. — Bem, eu perdi o meu coração para Aliyah quando ela te colocou no chão... — Vai se ferrar, Danvers. Eu preciso de um banho. — Monica agarrou o sabonete, shampoo, lâmina e uma toalha, e se dirigiu para a área de azulejos aberto. Claire seguiu à distância e sentou-se longe dos salpicos no banco de teca. — Sério, você está me perseguindo? Porque você não está fazendo do jeito certo. — Eu preciso falar com você. — Não é mútuo. Monica ligou a torneira e entrou na água fumegante. Claire esperou até que ela espumou o cabelo, enxaguou, colocou condicionador e apoiou o pé em cima do degrau para passar a navalha antes de tentar novamente. — Eu tenho uma proposta para você. — De novo com o amor por garotas. — Eu quero que você se candidate a prefeita. Monica estremeceu, gritou e o sangue escorreu pelo seu pé. Ela sibilou, lavou e olhou para Claire. — Não é engraçado. — Não era para ser — Claire disse. — Estou falando muito sério. As pessoas gostam de nomes conhecidos, e não há nenhum nome para prefeito mais familiar do que Morrell. Seu avô era o prefeito, seu pai, seu irmão... — Olha, por mais que eu goste de ser lembrada como uma realeza da política, não é assim que funciona. As pessoas têm que realmente gostar de você para votar em você. Eu não sou estúpida o suficiente para acreditar que eles gostam. — Mas ela estava ouvindo enquanto ensaboava sua perna novamente e raspava. Claire sabia que ela ouviria, porque não havia nada que Monica ansiava mais do que o poder popular e a aceitação — e essas coisas vinham com a placa na porta do prefeito. — Eu acho que posso fazer isso funcionar — Claire disse. — Nós poderíamos colocar cartazes pedindo às pessoas para escrever você nas cédulas.
Você tem pessoas que lhe deve favores, certo? E os vampiros iriam gostar. Eles pensam que você é fácil de controlar. — Ei! — Eu disse que eles pensam que você é. Mas você não estaria aqui lutando com Shane se você fosse tão fácil, não é? — Claire inclinou a cabeça. — Me desviei do objetivo. — Você pode chegar logo a esse objetivo? — Morganville precisa de um novo Capitão Óbvio — ela disse. — E Morganville precisa de um novo prefeito que os vampiros iriam aprovar. Você poderia ser os dois. — O quê, como uma identidade secreta? — Monica riu, mas era um som seco e amargo. — Você é uma idiota. — Shane já está lhe ensinando como lutar — Claire apontou. — Você já sabe como mirar nas pessoas que você não gosta. Por que não faz para o bem da cidade para variar? O Capitão Óbvio sempre foi meio intimidante, apenas um valentão no lado dos seres humanos. Monica não tinha nada a dizer sobre isso. Ela simplesmente franziu a testa enquanto levava o resto de sabão de sua perna direita, então a esquerda, e depois lavou o condicionador do cabelo dela. Quando ela fechou a água, Claire jogou a toalha. Monica se secou e se embrulhou e, finalmente, deu de ombros. — Isso nunca iria funcionar — ela disse. — Talvez não — Claire disse, — mas você me deve. E você vai concorrer a prefeita. Monica se analisou no espelho, depois sorriu quando encontrou os olhos de Claire. — Bem — ela disse, — eu daria uma prefeita incrível. Eu sou muito fotogênica. — Sim — Claire concordou, encarando ela. — Porque é isso que realmente importa. Q q q Shane não aceitou tão bem. — Monica — ele continuou dizendo por todo o caminho de casa. — Espere, vamos retroceder. Nós vamos fazer uma campanha para Monica. Para prefeita. — Sim — Claire disse. — Me desculpe, por que isso é tão difícil de entender?
— Você tropeçou no chuveiro e bateu a cabeça ou algo assim? Monica Morrell. Eu tenho certeza que nós ainda odiamos ela. Deixe-me ver os meus lembretes, sim, ainda odiamos ela. — Bem — Claire disse, — você está pegando dinheiro para ensinar ela a lutar, então você não odeia odeia ela. E eu não tenho certeza se eu odeio, tampouco. Ela é apenas meio irritante e patética agora que ela não tem sua posição importante e bando. — E você quer mudar isso e dar a ela de volta, vamos ver, uma posição importante com um título e um salário, e o poder de fazer a vida de todo mundo nesta cidade um inferno? Ela não idiota. — Shane, eu estou falando sério sobre isso. Precisamos ter alguém no Conselho dos Anciãos que os vampiros não possam controlar, e alguém que é humano, e alguém que as pessoas possam votar. Ela é uma Morrell. Ela consegue voto de simpatia por causa do irmão. Ele esfregou o rosto com as duas mãos enquanto ela abria a porta da frente da Glass House. — Essa é uma má ideia — ele disse. — Por muitos motivos. Diga-me que não vamos realmente ajudar. — Bem, eu meio que prometi fazer os cartazes. Ela esperava que ele reclamasse disso também, mas em vez disso, ele colocou um sorriso diabólico e lento no rosto e disse: — Oh, por favor. Eu faço. — Shane... — Confie em mim. Ela não confiava. E como esperado, duas horas mais tarde, ela ouviu o grito indignado de Eve vindo do andar de baixo. Ela correu para a sala e viu Shane segurando um cartaz... Era uma coisa néon azul brilhante que dizia, em letras quadradas, TEM INTENÇÃO DE VOTAR PELOS MENORES DOS MALES? VOTE EM MORRELL!, e abaixo das letras tinha a foto mais inocente de Monica que ela tinha visto. Honestamente, não poderia parecer mais angelical se Shane tivesse feito uma auréola no Photoshop sobre ela. Ele também tinha uma daquelas estrelas amarelas brilhantes de texto explicativo no canto que dizia APROVADA PELO CAPITÃO ÓBVIO! APROVADA PELOS HUMANOS!, além de uma cópia da cédula de voto com o nome de Monica escrito corajosamente com hidrocor. Isso simultaneamente era a coisa mais engraçada que Claire já tinha visto, e a mais terrível.
Eve não conseguia pensar em nada para dizer. Ela apenas olhou... primeiro para o cartaz, em seguida para Shane, em seguida de volta para o cartaz, como se ela não pudesse imaginar um mundo em que isso tinha acontecido. Finalmente, ela disse: — Eu realmente espero que isso seja uma piada. Se não for, Monica vai matar você. E então ela vai envolvê-lo nesse cartaz e enterrá-lo. — O que há de errado com ele? — Shane perguntou, e olhou para o papel. — Eu sei, azul não foi a minha primeira escolha, mas eu percebi que rosa choque seria um exagero. — Ok, eu preciso de uma recapitulada. Por que exatamente você está fazendo um cartaz de eleição de Monica para prefeita? Perdi alguma coisa, ou acordei em um mundo de cabeça para baixo, ou...? — É o plano de Claire — ele disse. — Eu sou apenas o designer gráfico. Ela é a gerente de campanha. Eve desabou no sofá e colocou o rosto entre as mãos. — Vocês são insanos. Vocês ficaram louco. Muito estresse. Eu sabia que um de nós iria enlouquecer algum dia... — Monica é perfeita — Claire disse. — Eve, realmente, ela é. Pense nisso. E ei, se você quiser, você pode ser o Capitão Óbvio. — Eu — Eve repetiu, e deu uma risada estrangulada e seca. — Sim, claro. Certo. — Ei — Shane disse. Ele apoiou o cartaz no canto, e — inesperadamente, pelo menos para Claire — se ajoelhou na frente de Eve. Ele pegou as mãos dela e as arrastou para baixo para que ele pudesse ver o rosto dela. — Olhe para mim. Você é a rebelde original por aqui, Eve. Inferno, você era uma descontente antes de mim. Antes de Michael. Antes de Claire. A maioria destes aspirantes a Capitão Óbvio conseguiram porque lá no fundo eles eram caras normais, irritados por não ter tudo o que queria quando queriam. Isso não é rebelião; é apenas egoísmo. Mas você não é como eles. Se você quisesse ser Capitão Óbvio, você seria de verdade. Ele estava falando sério. Sem zombaria, sem piada, sem brincadeira amigável; ele estava falando sério, sinceramente, e Eve deu uma respiração profunda e irregular enquanto olhava ele de volta. Ela balançou a cabeça uma vez. — Eu não posso, Shane. — Sim — ele disse. — Você poderia ser. Mas só se você realmente quisesse. — Ele disse isso sem drama, sem nem mesmo qualquer ênfase especial, apenas afirmando um fato simples. — Vamos lá. A pizza está ficando fria.
— Michael vai matar vocês dois — Eve disse, e seguiu-o quando ele se levantou e caminhou até a mesa, onde Claire se deu conta do que estava fazendo e ajeitou os pratos. — Matar vocês. Mas ela estava errada, porque quando Michael apareceu — cerca de quinze minutos depois, saindo da cozinha da forma silenciosa e furtiva de vampiros que às vezes ele fazia quando esquecia das maneiras sociais — ele deu um longo olhar para o cartaz, inclinou a cabeça e disse: — Foto errada. Shane lançou a Eve um olhar de triunfo maldoso. — Bem, eu teria usado a foto do anuário sênior, mas ela parecia uma Spice Girls rejeitada. Algo mais? — Não existe Capitão Óbvio. — Essa é a sua objeção? — Eve disse, deixando cair a pizza meio-comida de volta para o prato. — De tudo no cartaz, inclusive — oh, eu não sei, Monica? — esse é o seu problema com ele? — Ele escreveu o nome dela direito. Eu realmente gostei do lema “o menor dos dois males”; realmente captura o espírito. — Michael tinha trazido sua própria pizza, e uma das suas garrafas esportivas opacas. Pizza e sangue, uma combinação única que um vampiro poderia amar; tentando não pensar muito sobre isso, Claire acrescentou um pouco de pimenta vermelha esmagada em sua fatia. — E para ser justo, eu me oponho à primeira foto. Faz ela parecer muito doce. — Eu acho que foi intencional — Claire disse. — Todo mundo sabe... — Que tem um novo Capitão Óbvio — Shane interrompeu. — É mesmo? — Michael deu uma mordida gigante na casca, queijo e carne, então murmurou: — Quem? Shane silenciosamente apontou para Eve, que deu um tapa na mão dele. Assim como Claire. E Michael engasgou, tossiu, agarrou a garrafa esportiva e bebeu um gole. Eve disse: — Não mesmo. Nunca. — Não — Michael disse, e tossiu de novo, tão violentamente que Claire se perguntou se os vampiros realmente podiam sufocar até a morte. Provavelmente não. Eles realmente não precisam respirar, afinal de contas; eles simplesmente parariam de falar até que pudessem limpar suas gargantas. — De jeito nenhum. Você não. E isso, Claire pensou, foi seu primeiro erro, porque Eve, em vez de ficar aliviada que ele estar apoiando sua objeção geral, olhou para ele com uma careta repentina. — Não? Por quê, Miguelito? — Porque, bem... — Michael tropeçou ao colocar isso em palavras. — Eu quero dizer, o Capitão Óbvio...
— É o quê, sempre um cara? É isso que você está insinuando? — Não, não... é só que você... uh... — Michael inclinou-se para trás e olhou para Shane. — Me ajude. Shane levantou ambas as mãos em sinal de rendição silenciosa. — Você está sozinho. — Olhe, ser o Capitão Óbvio faz de você um alvo, e eu não quero que você esteja... Eve interrompeu novamente, levantando o queixo em desafio. — Não quer que eu esteja no comando? Na frente? Correndo riscos? Você já viu os folhetos de lápides que as pessoas têm deixado para nós? — Sim — ele disse. — E eu estou com medo, porque eu te amo. E isso vai ser perigoso. Você sabe disso sem eu precisar dizer. — Ela sabe — Claire disse, — mas você não deve dizer que ela não pode. Michael estava começando a ficar realmente preocupado. Eve se aproximou e pegou a mão dele. — Relaxe — ela disse, e segurou o olhar dele. — Eu sei que eu poderia fazer isso. Mas eu não vou. Eu sei que iria colocá-lo em uma posição ruim, no mínimo. Obrigada por não dizer isso, a propósito. — Não me importo com o que aconteça comigo — ele disse, e afastou o cabelo do rosto dela com os dedos gentis. — Você sabe disso. — Ok, você está me fazendo perder a minha pizza — Shane disse, e jogou um guardanapo nele, e começou uma guerra de papel, voando por todos os lados até que Claire acenou o último sobrevivente não lançado em um sinal de rendição. Então ficou tudo bem. Por agora. Uma coisa em relação a pizza era que tornava a limpeza fácil, pratos de plástico novamente, caixas de papel e alguns copos jogados na máquina de lavar. Miranda tinha ficado em seu quarto, assistindo filmes; ela ainda estava fascinada com ter tantos deles, e foi chocante como muitos dos clássicos, tais como Star Wars, ela nunca tinha visto antes. Claire deixou Michael limpando já que era a vez dele, e considerou se juntar a Shane no sofá (ele e Eve estavam discutindo sobre quais vídeo game jogar, porque ela estava farta de atirar em zumbis e ele nunca estava), mas a atração de estudar era simplesmente demais. Isso a tornava estranha. Ela estava ciente disso. Depois de uma hora ou mais, ela se deu conta de uma leve batida, e por um momento ela pensou que era na porta de seu quarto (e que poderia, milagrosamente, ser Shane escolhendo-a ao invés dos zumbis), mas não era, o som era em sua janela, a janela virada para a árvore grande na parte de trás da
casa. Estava completamente escuro agora, as estrelas se estabeleciam como diamantes no céu azul escuro aveludado; aqui no deserto alto era muito nítido, ela poderia até mesmo ver o fraco redemoinhos e nublado das galáxias. O céu parecia suficientemente perto para tocar. Então era Myrnin, de pé equilibrado sobre um galho de árvore que era muito fino para o seu peso. Se ela não o conhecesse melhor, ela teria pensado que ele estava flutuando no ar, mas nem mesmo os vampiros poderiam fazer isso. Não, ele só estava sendo incrivelmente gracioso, e ignorando as leis da física que inevitavelmente protestavam. — Abra — Myrnin disse. — Apresse-se, menina. Abra a janela. Este ramo não vai — ele parou quando houve um estalo, e o ramo cedeu sob seus pés, — me segurar por muito tempo! — Ele terminou a sua sentença rapidamente enquanto ela subia o caixilho da janela. Ele pulou para a frente através da abertura assim que o galho quebrou e bateu entre as folhas no chão abaixo. Claire saiu do seu caminho. Os vampiros eram ágeis. Ele não precisava de ajuda, e agora ela não estava especialmente com vontade de ajudá-lo, de qualquer maneira. Myrnin bateu no chão, rolou e se levantou com uma graça fluída de volta para uma posição ereta. Ele fez uma pose. — Eu suponho que você esteja se perguntando o que me traz aqui desse jeito em segredo. — Na verdade, não. Mas eu vejo que você encontrou os seus sapatos, graças a Deus — Claire disse. Olhando para baixo para os mocassins brancos de couro brilhante em seus pés, ele deu de ombros. — Eu acho que eles pertenciam a um pastor, talvez. Foi tudo o que eu consegui localizar — ele disse. — Não faço ideia do que levou os meus sapatos. Talvez Bob tenha desenvolvido um gosto para calçados, o que seria mais interessante. Embora alarmante. — Bob, a aranha. — Sim. — Isso não é... muito provável. Por favor, me diga que você lavou. — Os sapatos? — Seus pés. Você sabe que tipo de doenças está por todos os becos? Ele olhou para ela com uma quietude perfeita por um segundo, então disse: — Eu vi o cartaz da campanha na varanda exterior. Eu não tenho certeza se eu aplaudo a sua iniciativa ou te sacudo. Monica Morrell? Sério? — Eu sei que parece estranho.
— Estranho? Parece insano, e acredite em mim, quando eu estou lhe dizendo isso, vale a pena levar a sério, querida menina. Eu esperava que você colocasse adiante um candidato de verdade. — Você pode pensar em alguém que poderia realmente fazer o trabalho? Se Hannah Moses não conseguiu, ninguém mais tem uma chance, de qualquer maneira — Claire disse. — Monica vai conseguir os votos, apenas porque, bem, o irmão dela morreu com o cargo. E o pai dela. E ela é uma Morrell. As pessoas na maior parte apenas votam em quem é familiar, mesmo que seja errado. Myrnin olhou para ela, e ele apenas pareceu... miserável. Derrotado, na verdade. — Infelizmente, eu não posso rebater a sua lógica. Então estamos acabados — ele disse. — O grande experimento está feito, e toda a esperança está perdida. Suponho que devemos fazer os preparativos para irmos embora então. — O quê? — Claire, acompanhe: se esta loucura continuar incontrolada, só há uma maneira para que isso acabe, e isso é com sangue, fogo e fúria. Amelie e Oliver formaram o que os psicólogos chamariam de uma loucura a dois, e as indulgências deles levará a crueldade, e crueldade levará ao abate, e o pior de tudo, o abate levará à descoberta de vampiros nesta idade moderna. Eu já vi isso antes, e eu não vou ser pego no resultado inevitável. Melhor fugir agora antes que as forquilhas, tochas e cientistas venham. Ou seja, se os dois não tiverem um desentendimento amargo e sombrio primeiro e destruir a cidade com sua raiva. — Myrnin! — Eu estou falando sério — ele disse. — Há uma razão para eu ter tentado manter Amelie e Oliver separados. Opostos não se limitam a se atrair. Uma química com sua habilidade deve saber disso, muitas vezes eles violentamente explodem. Vá enquanto você ainda pode, Claire, e leve todos os seus amigos. Em questão de semanas não será um lugar adequado para você chamar de lar, de qualquer maneira. — Ele parecia quase triste agora. — Eu gosto dessa casa. Muito. Aflige-me deixá-la para trás, e eu temo que eu nunca vou encontrar um lugar que seja tão tolerante com as minhas excentricidades... Ele realmente estava falando sério, e isso a chocou. Ele sempre tinha sido um pouco descuidado com o perigo, até mesmo com o seu próprio; ele não era alguém que fugia facilmente. Na verdade, ele convenceu os outros vampiros a manter-se firmes contra os draugs para proteger Morganville. Como ele poderia querer fugir agora, de tão pouco?
— Bem — ela disse, — você pode ir se você quiser, eu acho, mas eu não posso. — Não — ele corrigiu recatadamente. — Você pode ir quando quiser. Amelie disse isso e, pelo que eu sei, ela nunca revogou. — Ela disse que eu poderia ir sozinha. Ela insiste que Michael, Eve e Shane fiquem aqui. Eu não vou deixar eles para trás, especialmente se você acha que isso vai ficar perigoso. Que tipo de amiga — que tipo de namorada — eu seria se fizesse isso? — Uma com um senso de autopreservação — ele disse, e deu-lhe um sorriso desequilibrado e carinhoso. — E isso seria tão diferente de você. Você está sempre se preocupando com os animais abandonados e marginalizados entre nós, eu inclusive. Você realmente é uma menina muito estranha, você sabe; com tão pouca noção do que é bom para você. Talvez isso seja o que eu acho fascinante em você. Vampiros, você sabe, têm esse sentimento forte de ferro de autopreservação; nós somos os restantes dos narcisistas, eu suponho, e por isso nós não vemos nada de errado com os outros morrendo para nos salvar. Mas você, você é o nosso estranho espelho oposto. — Vindo de você, eu não sei como encarar isso, e sobre o tema do estranho e não ser apropriado, você poderia por favor parar de entrar no meu quarto no meio da noite? — Oh, eu entrei? — Ele olhou ao redor vagamente. — Eu suponho que eu entrei. Desculpe. Bem. Se você não vai deixar este lugar, arme-se fortemente durante o tempo que você ficar — ele disse. — Não vá a lugar nenhum sozinha. E faça planos alternativos para fugir quando for necessário. — Myrnin... você está me assustando — Claire disse, e estendeu a mão. — Por favor, me diga o que está acontecendo! Ele pegou a mão dela e levantou-a à boca em um gesto antiquado que fez sua pele formigar, especialmente quando ela sentiu o toque frio de seus lábios contra sua pele. Seus olhos estavam muito escuros na luz fraca de sua lâmpada de estudo, e ela achou que ele nunca tinha parecido mais... humano. Louco, talvez, mas muito humano. — Espero que eu esteja assustando você — ele disse. — Quando as coisas parecem mais calmas, é a hora que você deve temer mais; é quando você tem mais a perder. Não são os seus inimigos que são mais prováveis a te prejudicar. Trata-se sempre daqueles que você confia. E você confiou demais em Amelie. Ele não tinha soltado a mão dela, e ela estava começando a se sentir corada e estranha por isso. — Eu confiei em você, também — ela disse. E ele deu-lhe um sorriso triste e um pouco maníaco.
— Sim, e isso também é um erro — ele disse. — Como você soube desde o primeiro momento em que você me conheceu, eu não sou confiável. — Eu acho que você é — Claire disse suavemente. — Eu realmente acho. Myrnin, por favor. Por favor, não vá embora. Você... você importa. Para mim. Havia apenas um lampejo de calor, algo, e por um momento ela pensou... mas então o rosto de Myrnin se apagou, e ele soltou sua mão. Onde os dedos dele tinham tocado, sua pele estava gelada. — Não — ele disse. — É terrivelmente injusto dizer coisas como essa quando esta é provavelmente a última vez que nós vamos conversar, e nós dois sabemos que você não fala sério no que disse. É puro egoísmo você querer me manter aqui. — Seu tom de voz tinha um tom mais duro do que ela estava acostumada a ouvir dele, e sua expressão estava mortalmente parada. Ela sentiu um inesperado aumento de raiva. — Você não acabou de me acusar de não ser egoísta o suficiente? — Não brinque com as palavras comigo. Eu era um mestre nisso antes do seu país sequer existir. — Você não pode simplesmente ir embora! Onde você vai... — Blacke — ele disse, interrompendo-a. — Para começar. Morley e eu não nos damos muito bem, mas ele e a mulher bibliotecária bastante assustadora construíram o esboço de uma cidade onde os vampiros são bem-vindos. Irá servir até que eu reúna recursos para me acomodar em outro lugar mais agradável. Você faria melhor se pensasse em si mesma. Sem mim para ajudar a protegê-la é provável que você acabe morta, Claire. Eu lamentaria isso. Você foi a aprendiz menos inútil que eu já tive. — É só isso? Isso é tudo o que você vai dizer? Que eu sou a menos inútil? Isso explodiu dele em uma voz rápida, baixa e furiosa. — Sim, claro que é tudo o que eu vou dizer porque não há nenhum motivo nisso, nenhum motivo em dizer-lhe que eu sou solitário, que fazia tanto tempo desde que eu pudesse discutir sobre livros, teorias, ciência, metáforas, alquimia e filosofia, e isso é uma coisa desesperadamente solitária, Claire. Mesmo para alguém que já matou para se manter vivo, há um ponto em que a vida — a existência — só parece... sem valor, sem alguma conexão mais profunda. Você entende? Ela temia que sim, na verdade, mas ela engoliu uma respiração profunda e disse: — Você está dizendo que você se importa comigo. Myrnin congelou, olhando para ela. Ele era realmente incrível, ela pensou; quando ele tinha aquela luz em seus olhos, era possível ver através daqueles comportamentos loucos e roupas caóticas e reconhecê-lo como apenas... bonito. O desejo em seu rosto era de tirar o fôlego.
Mas ele disse, em voz baixa: — Não como você iria entender. O que eu admiro em você é... intelectual. Espiritual. Ela riu um pouco. — Você me ama por minha mente. Ele suspirou. — Sim. De certa forma. — Então fique. — E ver você dilacerada entre Amelie, Oliver e esta cidade? Impotente para deter? — Ele balançou a cabeça. — É melhor eu ir. — Não — ela disse, e agarrou-o pela manga. O antigo tecido de sua jaqueta tinha uma textura estranha — um tecido que tinha sobrevivido cem anos ou mais. Ele poderia ter evitado ela, é claro, mas ele não o fez. Ele simplesmente esperou. — Você não pode ir! Você lutou com os draugs para salvar a cidade! — Eu não vou lutar contra Amelie, e enquanto Oliver manter o domínio sobre ela, ela é perigosa para todos nós. Então, o que você propõe que eu faça? Eles virão atrás de mim, mais cedo ou mais tarde; eu sempre fui um espinho para Oliver, e ele vai querer lidar comigo antes. Se eu tiver sorte, ele vai fazer isso antes que ele vá atrás de você e seus amigos, me aliviar do fardo de presenciar isso. — Amelie não vai deixá-lo te machucar. — Ela não vai? — O rosto de Myrnin ficou duro, e ele parecia estar se lembrando de algo muito desagradável. — Oliver tem um talento para a corrupção. Ele tinha a mesma habilidade na vida enquanto respirava. As atrocidades que homens cometeram em nome dele foram enormes e lendárias, e aqueles eram meros mortais que agiram em seu nome. Vampiros podem ser infinitamente mais cruéis. Se deixar o suficiente de nós perder os nossos melhores instintos para isso haverá uma espécie de — febre. A loucura que nos arrebata, e nós não nos preocupamos com promessas de bom comportamento, ou nem mesmo com a nossa própria sobrevivência. Eu já vi isso acontecer com cidades inteiras de vampiros. Eles só... quebram. — Ele estalou os dedos na frente de seu rosto em um movimento seco e acentuado, e o som lembrou de ossos quebrando. — Eu não gostaria de ver isso novamente. E eu certamente não quero fazer parte disso. — Então faça ela ouvir você. Você é um dos amigos mais antigos dela! — Os amigos contam pouco quando eles enfrentam amantes — ele disse. — Você é velha o suficiente para saber disso. E é por isso que eu não posso... — Ele balançou a cabeça. — Porque eu não posso ficar. Ela sentiu que iria engasgar com lágrimas de repente. Ele deu um passo para frente e pegou suas duas mãos nas mãos geladas dele. Por um momento, ela pensou que ele tinha a intenção de beijá-la, e por um momento de pânico,
ela não tinha certeza se ela deveria impedi-lo, queria impedi-lo... mas, em seguida, ele apenas tocou a testa dela e ficou lá. — Quieta, agora — ele disse, e havia tanta doçura em sua voz. — Eu não quero ver você chorar. Não precisa chorar por mim. — Eu não quero que você vá. Ele se afastou, ainda perto, muito perto, muito perto. Houve uma cintilação carmesim fraca no fundo dos seus olhos, como uma tempestade distante. — Tome cuidado — ele disse. — Me prometa. — Eu vou — ela disse. — Myrnin... Ele a beijou. Foi tão rápido que ela não poderia se mover para impedi-lo, mesmo se ela quisesse; também foi apressado, leve e frio, e então... Em seguida, ele se foi. Claire se inclinou para fora da janela e viu ele se arrastando em um borrão para baixo da árvore. Ele pulou os últimos três metros, pousou suavemente em seus sapatos de couro branco, e olhou para ela em silêncio, em seguida, levantou uma mão pálida com os dedos longos. Ela levantou a dela em resposta. As lágrimas nublaram sua visão dele, antes que elas se libertassem de seus olhos e deslizassem quentes para baixo de suas bochechas. Quando ela piscou, o quintal estava vazio, exceto pelo ramo quebrado que ele estava em cima quando ela o viu pela primeira vez. Claire engoliu várias respirações profundas e frias do ar da noite, em seguida, fechou a janela e sentou-se em sua cama. Ela se sentia... ela não sabia como ela se sentia. Apenas estranha. Ela queria conversar, mas não podia ser com Shane, não sobre isso; ele não entenderia, não sobre isso. Eve. Talvez ela pudesse falar com Eve... Mas ela podia ouvir os gritos do andar de baixo, e a voz de Eve estava alegremente anunciando sua vitória sobre Shane no jogo. No andar de cima parecia um mundo inteiro de distância. Claire se estendeu sobre a cama, fechou os olhos, quase enjoada com o quão errado isso tinha sido, como ela estava culpada com toda a conversa. Mas ela precisava ter ela com ele; ela sabia disso. Ela se encolheu e deu um salto com a batida na porta, ambos os braços instintivamente cruzando sobre o peito. — Quem é? — O que você quer dizer com quem é? — Shane abriu a porta e observou ela. Oh. Claro, essa era a batida de Shane; ela conhecia ela muito bem. — O que aconteceu? Você está bem? Você parece assustada.
Ela sentiu uma onda de sentimento tão feroz que ardia em suas bochechas e fez seu estômago revirar, e por um segundo ela não soube o que era, até que seu cérebro contribuiu. Era vergonha. — Não — ela disse, e sua voz soou trêmula. — Não, eu só... eu tive um sonho. Um pesadelo. — Mentirosa. Ele lhe deu um sorriso que fez a vergonha ficar mais profunda, em seguida, sentou-se na cama ao lado dela. — Não deveria ter vindo até aqui e ido dormir então. Vamos, dorminhoca. É muito cedo para você dormir. Ele a beijou, e foi quente, doce e forte e, acima de tudo, vivo... e ela caiu sobre ele ansiosamente, quase desesperadamente. O beijo continuou, continuou, úmido e lento, como algo perfeito em um sonho, e ela se apertou perto de seus braços, e toda a tempestade dentro dela se transformou em paz, uma paz tão forte que ela podia senti-la brilhando em seu sangue. Ela suspirou em seus lábios, em sua boca, e ele estava sorrindo, seu cabelo alisando suavemente sobre o rosto dela como a carícia de um fantasma. — Você me faz feliz — ela sussurrou. Ela quis dizer literalmente — ele apenas a levava de um lugar estranho e escuro para um com luz solar, e o alívio foi tão grande que ela sentiu as lágrimas nos olhos. — Tão feliz. Shane se afastou e olhou para ela com uma expressão de foco absoluto. Seu sorriso era ofuscante. — Eu estava prestes a dizer a mesma coisa — ele disse, e passou os dedos sobre o rosto dela. — Trapaceira. Por um segundo horrível ela pensou que ele sabia sobre Myrnin, aqui de pé em seu quarto, mas, em seguida, com uma onda de alívio gelado ela percebeu que ele estava falando sobre ela ter falado antes dele. Ela lhe deu um sorriso trêmulo. — Tem que ser rápido. — Oh — ele disse, e beijou-a muito levemente, movendo os lábios para baixo de sua garganta, — eu realmente não acho que eu seja. Ela riu, porque a alegria tornou-se apenas um pontinho de luz em seu interior, brilhante e ardente, e ela rolou por cima dele e se esparramou em cima dele e beijou-o de novo, e de novo, e de novo, até que tudo era uma explosão de brilho, em todos os lugares no mundo. E quando o brilho desapareceu, quando estava escuro e silencioso de novo, ela ouviu a batida forte e rápida do coração dele em seu peito, e pensou, eu sinto muito. Ela não tinha certeza do porquê ela estava se desculpando, ou até mesmo para quem foi dirigido. Myrnin? Ela mesma? Shane? Talvez ela tenha decepcionado todos eles, de alguma forma. Mas de novo não.
Nunca mais. Q q q Shane adormeceu ao lado dela, apagou como uma lâmpada, mas Claire se viu cantarolando com energia e muito inquieta para tentar fechar os olhos. Ela saiu para o corredor silencioso, fechou a porta, e afundou-se contra a parede, virando o celular constantemente em suas mãos. Ela poderia muito bem fazer isso, ela pensou. Era tarde, mas seus pais estavam acostumados com isso, e eles estavam sempre falando sobre o quanto ela não ligava o suficiente. Claire discou antes que ela pudesse pensar melhor. Sua mãe atendeu no segundo toque com seu tom ansioso. — Claire? Você está bem, querida? — Tudo bem — Claire disse. Ela sentiu uma profunda onda de culpa, porque o que dizia sobre ela que sua mãe achava que ela estava em apuros toda vez que ela se preocupava em ligar? — Desculpe por eu não ter visto vocês recentemente. Como está o papai? Ele está bem? — Seu pai está bem — sua mãe disse com firmeza. — Só que ele se preocupa com você, e assim como eu. Ele estava esperando que você pudesse voltar para casa e visitar em breve. Alguma chance disso? Se você quiser trazer o seu namorado, eu suponho que está tudo bem. — Ela não parecia muito entusiasmado com isso. Não era que ela e meu pai desaprovasse Shane exatamente, mas eles eram... cautelosos. Muito cautelosos. — Eu posso fazer isso — Claire disse. — Então, você ainda está fazendo aquela coisa de clube do livro? — Ah sim; acabei de ler o melhor romance de mistério, A garota com a tatuagem de dragão. Talvez você já tenha ouvido falar dele...? — Sim, mãe, eu ouvi falar dele. E tem filmes. — Eu não sabia que havia algum cinema em Morganville. — Tem um par — Claire disse. — Mas eu assisti alugado. Você deveria fazer isso. — Oh, eu tenho que fazer isso na Internet agora; parece tão complicado. — Não é. Eu poderia mostrar a você... — Você conhece eu e a tecnologia, querida. Então, como vai a escola? — Tudo bem — Claire disse. Ela sabia que devia dizer algo mais, algo importante, mas ela não conseguia pensar em nada mais. Meu chefe vampiro, que gostaria de talvez ser o meu namorado, acabou de passar aqui para me dizer que iria fugir porque Morganville é muito perigosa. Isso era muito para despejar sobre um pai desavisado, em muitos níveis. — Obrigada pelo lindo presente de
aniversário. — Ele tinha sido realmente lindo — Claire estava esperando um vestido fora de moda, um cartão de presente ou algo assim, mas em vez disso ela tinha ganhado um livro encadernado à mão que tinha fotos dela da infância em diante, com espaço para adicionar mais. Ela já tinha colocado algumas fotos dela e de seus amigos, e dela e de Shane. De repente, ela lembrou que ela nunca tinha tirado uma foto de Myrnin... e agora talvez ela nunca tiraria. — Isso é um alívio. Você sabe, eu acho que você estuda demais para essas aulas. Nós ficaríamos tão feliz em ver você, querida. Você acha que você pode ser capaz de sair este fim de semana? — Os pais de Claire viviam apenas algumas cidades de distância, em uma casa que não teria sido capaz de pagar se a Fundadora de Morganville não tivesse comprado para eles, em um ataque de consciência sobre as contribuições de sua filha para a sobrevivência dos vampiros. Seus pais também já haviam entendido sobre os vampiros, mas não mais. Essas lembranças haviam desaparecido para nada — uma ação deliberada pelos vampiros, ou por Amelie em particular. O que estava tudo bem. Claire preferia que fosse assim, ela gostava deles pensando que ela estava em um lugar seguro, com pessoas que a amavam. Era meia-verdade, de qualquer maneira — a segunda metade. — Talvez eu possa tentar — ela disse. Se Myrnin estava certo, ela podia não ter muita escolha em sair da cidade em breve. — Mãe, eu sei que você ficou desapontada por eu não ter ido para o ITM quando me chamaram, mas... — Eu confio em você, querida. Eu estava com medo que você tivesse tomado essa decisão por causa de... bem, por causa de Shane. Se você realmente fez isso porque você não estava pronta para ir, então está tudo bem. Eu quero que você faça as coisas da maneira que for mais confortável para você. Seu pai concorda. — Houve um murmúrio indistinto no fundo que pode ter sido seu pai concordando, mas era mais provável que fosse exatamente o oposto, e Claire sorriu. — Shane não está no comando do que eu faço — ela disse. — Mas eu não vou mentir. Eu não queria deixá-lo aqui, tampouco. Então talvez haja um pouco disso lá no fundo. — Eu... docinho, eu sei que você não quer ouvir isso de novo, mas você tem certeza de que não está mergulhando em algo muito rapidamente com ele? Era um assunto familiar, e Claire sentiu uma pontada de aborrecimento. Nunca pensei nisso, mamãe. Uau, que visão! Ela não diria isso.... ela raramente tinha sido sarcástica com seus pais, mas isso não a impedia de pensar. As
pessoas mais velhas muitas vezes pensavam que tinham visto tudo, experimentado tudo... mas não era verdade. Poucos deles tinham vivido em Morganville, por exemplo. Ou aprendido com um vampiro com pouco controle de impulsos. — Eu não estou — Claire disse. Ela aprendeu que respostas curtas funcionavam melhor; elas a faziam soar adulta e certa. Explicar demais só abria a porta para mais sermões. — Eu sei que você está preocupada, mãe, mas Shane é um cara muito bom. — Eu sei que você não iria ficar com ele se ele não fosse, você é uma menina muito inteligente. Mas isso me diz respeito, Claire. E ao seu pai. Você tem apenas dezoito anos. Você é muito jovem para estar pensando em passar uma vida inteira com alguém. Você nem sequer namorou qualquer outra pessoa. Claire já estava de saco cheio da ladainha você é muito nova. Ela tinha ouvido desde o momento que ela tinha idade suficiente para entender as palavras. O formato podia mudar, mas a música continuava a mesma: muito jovem para fazer o que mais queria fazer. E ela não podia resistir a dizer: — Se você não tivesse dito que eu era muito jovem para ir ao ITM aos dezesseis anos, eu nunca teria vindo para Morganville. Era verdade, mas foi um pouco cruel, e sua mãe ficou em silêncio de uma forma que Claire disse que ela tinha marcado um ponto. Isso não é um jogo, ela lembrou a si mesma, mas ela não poderia evitar de sentir uma pequena onda de satisfação de qualquer maneira. Quando sua mãe reiniciou a conversa, era sobre seu novo passatempo, que tinha algo a ver com a remodelação da casa. Claire ouviu com metade da atenção enquanto ela virava páginas em seu livro que ela tinha aberto em seu colo. Ela ainda tinha mais vinte páginas do material para aprender, e ligar para casa estava tendo o efeito desejado: fazendo-a esquecer sobre Myrnin, e o que ele tinha dito, e concentrar-se em seus estudos. A porta de seu quarto se abriu inesperadamente, e Shane estava ali de pé com o cabelo assanhado e bocejando. Ele acenou para ela. Ela apontou para o celular e murmurou mãe. Ele balançou a cabeça, passou por ela e se dirigiu para seu próprio quarto. Conhecendo-o, ele voltaria para a terra dos sonhos em cinco minutos. Claire pegou suas coisas e voltou para seu próprio quarto. Sua mãe ainda não havia feito uma pausa para respirar, e com exceção de alguns uhuns evasivos, Claire era apenas uma espectadora da conversa.
Um segundo depois que ela se deitou na cama, houve outra batida na porta — não Shane desta vez, porque era muito mais hesitante. Claire cobriu o celular e falou: — Entre! Era Miranda, que entrou e olhou em volta com interesse. Claire murmurou para ela, eu estou falando com a minha mãe. Miranda assentiu com a cabeça e foi olhar a grande estante no canto da sala. Ela começou a puxar para fora alguns livros. — Mãe, eu tenho que ir — Claire disse. — Minha amiga Miranda está aqui. Eu disse a você sobre ela. Ela é nova na casa. — Oh, ok. Te amo, Abóbora. Seu pai diz que ele te ama também. Mal posso esperar para você dar uma olhada nas amostras do tapete. Eu tenho certeza que você pode nos ajudar a decidir sobre isso. Talvez este fim de semana? — Obrigada, mãe. Eu também te amo. Sim, talvez este fim de semana. Ela desligou e deixou cair o celular de volta no bolso enquanto Miranda vagueava com um par de livros. — Você se importa se eu pegar isso? — ela perguntou. — Eu não durmo mais. — Qualquer hora — Claire disse. — Você gostou de Star Wars? — Sim — ela disse. Miranda sentou-se na cama ao lado dela. Ela era uma garota pequena e parecia ainda mais frágil do que Claire, que tinha, pelo menos, adquirido um pouco de músculo nestes últimos anos, se ela não tinha crescido um pouco. Miranda tinha a força física parecida com a de um bichopau. Isso era enganoso, é claro; Miranda não estava realmente viva da mesma maneira que Claire, e ela podia tirar um poder considerável da Glass House quando ela precisava, então ela provavelmente poderia quebrar tijolos com as mãos se necessário. Era difícil não se sentir protetora, no entanto. A garota apenas tinha aquele olhar de vulnerabilidade. — Só isso? Sim? As pessoas costumam ter mais a dizer do que isso. — Que foi bom? — Miranda tentou timidamente, e depois deu de ombros. — Eu acho que eu realmente não estou com disposição para filmes, afinal. Você sabe, eu costumava pensar que se eu não pudesse ver o futuro, seria terrível, mas na verdade eu me sinto muito bem sem saber o que vai acontecer. Isso torna mais divertido assistir filmes e coisas quando você não pode adivinhar o final. — Ela ficou em silêncio por um segundo, em seguida, empurrou o cabelo para trás da orelha. — Mas seria mais divertido se eu fizesse isso com vocês.
Ela estava saindo de sua concha lentamente, mas de forma constante; ela ainda não tinha se juntado a gangue da Glass House inteiramente, mas ela era, pelo menos, uma garota adotada que estava tentando se encaixar na família. Claire sabia como era isso; ela tinha entrado na casa quando Shane, Michael e Eve já tinham estabelecido uma familiaridade de velhos amigos. Ela sabia qual era a sensação de ser uma intrusa. Claire a abraçou impulsivamente. — Nós vamos fazer isso — ela disse. — Noite de cinema. Amanhã. Eu tenho um monte de coisas que eu acho que você gostaria. — Michael e Eve vão sair — Miranda disse. Claire quase caiu da cama enquanto ela se contorcia para conseguir olhar para o rosto de Mir. A outra garota estava olhando para baixo, e ela não parecia estar fazendo uma piada de mau gosto; ela parecia séria, e um pouco triste. — O quê? — Eu sei que eu não devia escutar, e eu tento não escurar, na verdade, mas é difícil quando você está invisível durante o dia — Miranda disse. — Quero dizer, você está vagando por aí entediada e não há ninguém para conversar. Você não pode nem mesmo assistir TV a menos que alguém ligue, e então você tem que assistir o que quer... — Mir, foco. Por que você está dizendo que eles vão se mudar? — Porque eles estão falando sobre isso — ela disse. — Eve acha que é difícil sentir-se casada quando eles estão apenas vivendo a mesma vida, sabe? Quando eles estão aqui com você e Shane. Eu sei que ela mudou-se para o quarto de Michael, mas ela não se sente como se alguma coisa realmente tivesse mudado. Tipo, eles estão casados de verdade. Claire honestamente nunca tinha pensado nisso. Tinha apenas parecido, em sua mente, que o casamento não mudaria nada — que não faria qualquer diferença na forma que Michael e Eve se sentiam em torno dela e Shane. Eles já tinham ficado, ah, juntos, afinal de contas. Por que isso deveria importar? — Talvez eles só precisem de algum tempo. — Eles precisam de espaço — Miranda disse. — Isso é o que Michael disse, de qualquer maneira. Espaço e privacidade e ninguém ouvindo eles o tempo todo. Bem, Claire poderia entender a parte da privacidade. Ela sempre se sentiu estranha sobre isso também. Mesmo que a Glass House fosse grande, às vezes parecia muito apertada com cinco pessoas nela. — Eles não deveriam sair — Claire disse. — É a casa de Michael!
— Bem, eu não posso me mudar, posso? — Miranda disse, e chutou seus pés. Ela estava usando um tênis bonito cor de rosa com uma cara de coelho marrom adoravelmente e estranha sobre eles. — Eu não quero que eles vão embora, no entanto. Claire, o que vai acontecer comigo se vocês todos forem embora? Eu só... vou ficar aqui? Para sempre? Sozinha? — Isso não vai acontecer — Claire disse e suspirou. Ela pegou um travesseiro e caiu para trás, segurando-o apertado contra o peito. — Deus, isso não pode acontecer agora. Como se tudo não estivesse o suficientemente complicado! Miranda se deitou também, olhando para o teto. — Eu não me sinto certa esta noite. A casa parece... é uma sensação estranha. Ansiosa, talvez. — A Glass House tinha o seu próprio tipo de força de vida rudimentar — algo que Claire não entendia exatamente, mas podia sentir tudo ao seu redor. E Miranda estava certa. A casa estava no limite. — Eu acho que ela está preocupada conosco. Com o que vai acontecer com todos nós. Claire lembrou da expressão ansiosa e determinada de Myrnin, sua insistência de que ela deveria sair da cidade, e sentiu um calafrio. — Nós vamos ficar bem — Claire disse, e abraçou o travesseiro mais apertado. — Todos nós vamos ficar bem. Era como se o universo tivesse ouvido e respondido, porque de repente ela ouviu o barulho de vidro no andar de baixo. Miranda ficou ereta e fechou os olhos, em seguida, abriu-os e disse: — A janela da frente. Algo quebrou. Claire correu escada abaixo com Shane tropeçando atordoado para fora de seu quarto para seguir. Eles descobriram que Michael e Eve já estavam lá. A janela na sala estava quebrada, e um tijolo estava no tapete com pedaços de vidro quebrados. Envolvido em torno de outro bilhete. Ninguém falou quando Michael desatou a corda que prendia e leu, em seguida, passou para Eve, que passou para Shane, que passou para Claire. — Uau — ela disse. — Eu não achava que eles conseguiam escrever pervertidos. — Está ficando pior — Eve disse. — Eles não vão deixar isso para lá, não é? Michael colocou os braços ao redor dela e abraçou-a com força. — Eu não vou deixar nada acontecer — ele disse. — Confie em mim. Ela soltou um suspiro de alívio e concordou com a cabeça. Shane, sempre prático, disse: — Eu vou pegar a madeira e um martelo.
Q
Capítulo 5
OLIVER
uando Amelie dormia, ela parecia pouco mais do que uma criança, pequena e indefesa, banhada pelo luar como uma camada de gelo. Sua pele brilhava com um brilho fantasmagórico, e deitado ao lado dela, eu pensei que ela poderia muito bem ser a coisa mais magnífica e bela que eu já tinha visto. Me destruía traí-la, mas eu realmente não tinha escolha. Eu deslizei silenciosamente através da escuridão do seu mais secreto esconderijo; era onde Amelie mantinha os tesouros que ela tinha preservado através de anos, através de guerras, através de todas as dificuldades que tinha caído sobre ela. Belas obras de arte, belas roupas, joias, livros de todas as descrições. E cartas. Tantas cartas manuscritas que em sete enormes baús blindados não cabiam todas. Uma ou duas, eu pensei, poderia ter vindo da minha própria caneta. Elas não tinham sido poemas de amor. Provavelmente tinham sido ameaças. Me movi silenciosamente através dos aposentos para a porta, e saí para o jardim com aroma de jasmim. Era um pequeno recinto, mas repleto de flores coloridas que brilhavam mesmo na escuridão. Uma fonte jorrava no centro, e ao lado dela estava outra mulher. Eu teria confundido ela com Amelie de relance; elas eram semelhantes o suficiente na cor, altura e forma física. Mas Naomi era um tipo muito diferente de mulher no geral. Vampira, sim; velha, sim. E uma irmã de sangue da Fundadora, através de seu criador vampiro em comum, Bishop... mas onde Amelie tinha o poder de comandar vampiros, para forçá-los a sua vontade, Naomi sempre exercia seu poder menos como uma rainha e mais como uma sedutora, embora ela tivesse pouco interesse na carne — ou pelo menos, na minha. Amelie parecia ser feita de gelo, mas por dentro era fogo, quente, feroz e furiosa; Naomi por dentro, eu sabia, não era nada além de ambição fria. E, no entanto... eu estava aqui.
— Oliver — ela disse, e colocou uma mão pequena e delicada no meu peito, por cima do meu coração. — Que amável você me encontrar aqui. — Eu não tive escolha — eu disse. O que era verdade — ela tinha tomado todas as escolhas de mim. Eu me enfureci com isso, no interior; eu estava em um frenesi de raiva rasgando por dentro, mas nada disso apareceu no meu rosto ou no meu comportamento. Nada poderia, a menos que ela permitisse isso; ela tinha o controle de mim dos ossos para fora. — Verdade — ela disse. — E como está a minha irmã muito querida? — Bem — eu disse. — Ela poderia acordar a qualquer momento. Não seria bom para ela ver você aqui. — De jeito nenhum, já que a minha querida irmã de sangue acredita que eu estou seguramente morta e enterrada. Ou eu tenho que lhe agradecer pelo atentado contra a minha vida, Oliver? Um de vocês deve ter desejado me ver morta entre os draugs. — Eu organizei o seu assassinato — eu confessei imediatamente. Mais uma vez, nenhuma escolha; eu podia sentir a sua influência dentro de mim, tão irresistível quanto a mão de Deus. — Amelie não fez parte disso. — Ela não iria; nós mantivemos a nossa trégua durante mil anos. Vou ter que pensar em uma maneira apropriada para recompensá-lo por trair isso. Do que ela suspeita? — De nada. — Você ganhou a confiança dela? — Sim. — Você tem certeza disso? — Eu estou aqui — eu disse, e olhei ao redor do segredo mais protegido de Amelie. — E agora, você está aqui. Então sim. Ela confia em mim. — Eu sabia que enfeitiçar você era um investimento que em breve iria vir a calhar — Naomi disse, e me deu um sorriso encantador e doce que fez a tempestade dentro de mim trovejar de fúria. Eu a odiava. Se eu tivesse a capacidade de lutar, eu teria rasgado ela em pedaços pelo que ela tinha feito comigo, e estava fazendo através de mim com Amelie. — Ela não detectou a sua influência em suas decisões? — Ainda não. — Bem, ela provavelmente vai começar a questioná-lo em breve, se não já fez; minha irmã tem uma tendência desagradável de altruísmo que aparece de tempos em tempos. Uma vez que os humanos começarem a se queixar de seu tratamento, ela pode pensar sobre aplacá-los mais uma vez. — Ela correu os
dedos sobre meu rosto, em seguida, separou meus lábios com os dedos frios. — Vamos ver as suas presas, meu monstro. Eu não tinha escolha. Nenhuma. Mas eu tentei, meu Deus, eu tentei; lutei contra a escuridão dentro de mim, eu lutei e ganhei uma hesitação, apenas por um momento, em obediência a vontade de ferro de Naomi. E ainda assim, minhas presas desceram, afiadas e brancas como as de uma serpente. Havia um único minúsculo puxão de dor, constantemente como se uma parte de mim mesmo agora se recusasse a acreditar no estado que eu estava condenado, mas séculos atrás eu tinha me acostumado com isso. A dor que ela estava pressionando de dentro de mim era muito, muito pior. Ela me soltou e deu um passo para trás, estreitando os olhos. — Sua relutância não me agrada — ela disse. — E eu não posso arriscar que você se liberte um pouco do meu lado agora, posso? Fique quieto, Oliver. E eu o fiz, para minha vergonha; eu fiquei muito quieto, com os olhos fixos na água que fluía calma da fonte enquanto ela derramava lágrimas na pedra. Ela levantou meu braço para seus lábios, mordeu, e bebeu. Ela era uma verdadeira serpente, e com isso, o veneno correu de sua mordida para mim; isso corrompeu e destruiu o pequeno pulso de vontade que eu tinha conseguido levantar. Ela lambeu o resto do meu sangue de seus lábios e sorriu para mim. Derrotado. E então ela colocou seus lábios perto do meu ouvido e disse: — Devo-lhe algo por essa força de vontade, não é? Muito bem. Eu quero que você sinta dor. Eu quero que você queime. Começou lentamente, uma sensação de calor passando pelas minhas mãos, mas rapidamente se transformou na picada familiar do sol batendo em mim... mas onde a idade tinha me dado a blindagem contra essa dor, eu não tinha defesas contra a bruxaria de Naomi. Era como ser um vampiro recémnascido de novo, amarrado ao brilho do meio-dia, com o meu sangue fervendo e queimando através da minha carne, explodindo em chamas pálidas e finas, descamando minha pele para cinzas e assando os meus nervos... Eu cerrei meus dentes contra a dor, então gemi baixinho no extremo da agonia. Deixe-me morrer, algo em mim implorou. Apenas deixe-me morrer! Mas esse, é claro, não era o seu plano. Ela não tinha me feito nenhum dano físico, nenhum. Era apenas a memória do fogo, a sensação dele; meu sangue estava fresco e intacto, e minha pele sem marcas. Eu só senti como se eu fosse uma tocha incendiada.
Quando ela finalmente me liberou, eu caí de mãos e joelhos na grama macia, sugando o ar frio da noite em respirações de pânico como se eu não fosse mais do que um humano. Eu não precisava de ar, mas eu ansiava a frieza; o orvalho da grama parecia como um bálsamo em meus nervos ainda escaldantes, e usei todas as minhas forças para me impedir de me lançar de bruços ao seu abraço. Mas eu não daria isso a ela. Não até que ela exigisse. Ela não o fez. Eu me acalmei e levantei, e desejei que eu pudesse rasgá-la em pedaços, mas eu sabia que não devia sequer tentar fazê-lo. E eu fui recompensado com um sorriso lento e calmo. Acima dele, os olhos de Naomi continuavam a me observar de perto por qualquer indício de rebelião. — Agora — ela disse. — Eu tenho um trabalho para você. Quero que você encontre o vampiro Myrnin e o mate. Não que eu não tivesse muitas vezes desejado fazer exatamente isso, mas eu odiava a ideia agora, sabendo que era ela que me dirigia a isso, e não a minha própria vontade. — Sim, minha senhora — eu disse. A resposta foi automática, mas também foi sábia. — Esse é o meu amável cavaleiro — ela disse, e seus olhos brilharam vermelhos. — E, inevitavelmente, você terá que fazer o mesmo com a minha irmã, para minha própria segurança. Quando estiver pronto, nós vamos governar Morganville juntos. Você pode realizar o seu esporte onde você quiser; eu não me importo. Isso é o que você sempre quis. — Sim — eu sussurrei. Não. Não a esse custo. E não com ela. Eu nunca tinha esperado, depois de tudo que tínhamos sofrido, ser jogado nas mãos branco-lírio de uma donzela. Myrnin, eventualmente, teria sido capaz de encontrar uma maneira de parar isso, e ela. Era por isso que Naomi queria que ele morresse, é claro. E porque eu não teria nenhuma escolha além de cumprir sua ordem, até que ela finalmente não tivesse mais utilidade para mim. Todos os vampiros tinham alguma medida de controle sobre os outros; era um instinto que nos fazia ser caçadores eficazes, mas em alguns — como Amelie — esse aspecto era muito forte, um golpe de martelo que poderia ser usado contra outros vampiros. A capacidade de Naomi era um sussurro, não um grito, mas era tão poderoso quanto. Eu nunca tinha suspeitado que ela possuía tais habilidades. Ela sempre pareceu tão... inocente. E boa. Eu deveria ter imaginado; vampiros nunca são bons, a não ser que a bondade nos dê algo. — Diga-me — eu disse. — Diga-me porquê você está fazendo isso. Por que agora?
— Eu não vim atrás de você — Naomi apontou, e levantou uma sobrancelha. — Eu não sou o meu pai, Bishop; eu não tinha que me pronunciar até que se tornou claro que Amelie estava... incapaz. Eu teria ficado feliz em vê-la curada e inteira novamente, no entanto. Mas você tinha que vir atrás de mim, Oliver. Portanto, é inteiramente sua culpa que fui levada a esse extremo. O queixo de Naomi de repente levantou-se, e seus olhos esmaeceram para um azul pálido. — Parece que eu devo deixá-lo agora, Oliver. Ela está acordada — ela disse. — Você sabe o que fazer. E lembre-se, se você lutar contra mim, eu vou fazer com que as punições que já lhe dei pareçam com carícias. Ela desapareceu como fumaça. Sobreviver a minha tentativa de destruíla em meio ao caos da batalha final com os draugs tinha tornado ela mais forte, mais rápida, mais insensível do que nunca. Eu esperei até que eu senti a aproximação de Amelie, e depois me virei com um sorriso falso, mas convincente; me rasgou como lâminas de barbear traí-la assim, porque, mesmo depois de todos os anos de rivalidade, eu tinha finalmente chegado a perceber o seu valor, e agora... agora o sorriso já não era meu. Era uma isca, uma mentira, e me enojava vê-la retribuindo ele. Ela caminhou descalça pelo caminho, suas mãos acariciando as pétalas de flores enquanto ela vinha; seu vestido branco fino soprava como a névoa sob o luar. Ela era bonita, e desejável, e eu me desesperei por dentro enquanto suas mãos tocavam a pele nua do meu peito, porque eu ia ser a morte dela. E não havia nada que eu pudesse fazer para parar isso. Nada mesmo. Eu queria avisá-la, dizer-lhe o quão perigoso eu era para ela agora. Quão destrutivo. — Você saiu — ela disse, e me beijou muito levemente. — Sim — eu disse, e me senti dar aquele sorriso quente e desafiador que tinha encantado ela até a sua confiança. — Mas eu nunca vou tão longe. Até que eu te mate. Deus me perdoe.
Capítulo 6
C
CLAIRE
laire realmente queria enfrentar Eve sobre o que Miranda tinha ouvido — ela e Michael não poderiam realmente estar pensando em se mudar, poderiam? — mas na parte da manhã Eve tinha ido embora cedo e Michael estava dormindo até tarde; ela não era corajosa o suficiente para bater na porta e exigir saber a verdade. Michael era ranzinza no período da manhã. Miranda, é claro, tinha mantido Claire conversando até altas horas; ela foi ficando mais e mais tagarela desde que ganhou a sua residência, o que era ótimo de certa forma, porque a criança tinha sido tão reprimida e isolada antes, mas ruim para o ciclo de sono de Claire. Isso também interrompeu o tempo que ela poderia gastar com Shane; ele tendia a afastar-se quando Miranda estava por perto, e embora ele tivesse a opção de mover a garota firmemente para fora do quarto quando ele sentisse que era necessário, ele não tinha feito isso na noite passada. Então Claire acordou depois de dormir pouco, bocejando e um pouco mal-humorada. Não era o seu melhor dia, mas em questão de minutos, ele ficou drasticamente melhor; ela ainda estava se alongando e cansada tentando decidir o que vestir quando houve uma pancada batendo na sua porta, muito diferentes entre as tentativas de tapas de Miranda. Ela agarrou o roupão e vestiu enquanto atendia. Ela não abriu toda a porta, apenas espiou. Lá estava Shane, equilibrando uma caneca de café precariamente em cima da outra. Ele tinha escolhido para ela a caneca gigante do Snoopy esta manhã, o que era bom. — Qual é a senha? — ela perguntou a ele. — Hum, você parece gostosa com esse cabelo assanhado? — Bom o suficiente. — Ela deu um passo para trás e salvou Shane da caneca do Snoopy enquanto ele entrava; então ela pousou ela às pressas para baixo enquanto ele se aproximava para deslizar a mão livre ao redor da cintura
dela e beijá-la. Ela estava com hálito matinal, mas isso não parecia importar para ele; ele tinha um sabor de creme dental de menta e café, mas ela esqueceu tudo isso em segundos e então tudo isso era apenas incrivelmente delicioso. Seu corpo inteiro formigava com o calor. — Bom dia — ele murmurou, seus lábios perto dos dela. Eles eram tão saborosos, ela os lambeu, o que o fez sorrir e beijá-la novamente. — Pena que você está vestida. — Eu não estou vestida. Eu só estou de roupão. — Mesmo? — Ei — ela disse, e colocou uma mão sobre seu peito. — Nada disso, senhor. Uma garota tem limites. — Você vai me avisar quando eu chegar lá — ele disse, e desamarrou o roupão. — Você mentiu. Você está de pijama. — Bem, sim, estou com eles também. — Ela estava com falta de ar, e quando suas mãos encontraram seu caminho sob a flanela de seu pijama, o ar em seus pulmões desapareceram. — Você realmente não deveria... — Fazer isso? Sim, eu sei. — Ele desabotoou o primeiro botão da parte superior do pijama e colocou um beijo no lugar. — Mas eu estive pensando em fazer isso a noite toda. Assim como ela, na verdade, e todas as objeções lógicas de que isso não era uma boa ideia meio que desapareceu sob o calor do seu toque... até que Claire percebeu que ele tinha deixado a porta do quarto escancarada, e alguém estava de pé na porta. — O café de vocês está esfriando — Eve disse. Ela estava claramente em seu caminho para o banheiro com os braços cheios de roupas pretas, cabelos soltos e em uma confusão multicolorida em torno de seu rosto pálido. Ela soprou um beijo para os dois. Claire gritou e pulou para longe, abotoando de novo sua blusa e amarrando o roupão na velocidade da luz. Shane não parecia chateado, mas ela podia sentir o rubor quente manchando suas bochechas. — Hum, oi, Eve — ela disse. — Sinto muito. — Eu não sinto — Shane disse, e deu a Eve um olhar significativo. Eve deu a Shane um sorriso perverso. — Você não tem coisa melhor para fazer? — Do que atrapalhar a hora-sexy da manhã de vocês? Não, não. Reivindico o chuveiro! E vocês deveriam lembrar que essa coisa realmente se fecha. Conselho de profissional. — Eve bateu a porta entre eles.
Shane pegou um livro na mão e ia jogá-lo, mas Claire agarrou-o de suas mãos. — Não o livro de cálculo avançado! — Ela procurou ao redor e encontrou um de história ao invés. Ele balançou a cabeça tristemente. — O momento acabou — ele disse, e ele não estava apenas falando sobre a oportunidade de jogar alguma coisa. Ele pegou seu café e bebeu, e ela tentou fazer com que seu batimento cardíaco acelerado ficasse sob controle, ela provou o dela. Estava bom e forte, e embora não fosse tão bom quanto o que poderia ter sido o seu despertador da manhã, não era tão ruim. — Sobre o que Miranda ficou tagarelando aqui na noite passada? — Coisas. — Claire deu de ombros. — Você sabe. Ela é solitária. — Eu sei a sensação, acredite em mim. — Ele deu-lhe um olhar de cachorrinho, e ela mirou um chute na direção dele, que ele se esquivou. — Mas ela disse algo estranho. — Miranda? Não me diga! — Ela disse... — Ela deveria repetir isso? De alguma forma dizer em voz alta para Shane tornava mais... real. Mas ele precisava saber. — Ela disse que Michael e Eve estavam falando em se mudar. — Mudar — ele repetiu como se ele não conhecesse a palavra. — Mudar o quê? — Eu acho que para fora. Para uma outra casa. — Por que nós nos mudaríamos? — Não nós, Shane. Eles. Michael e Eve. Como um casal. Se mudar. — Oh — ele disse como se ele ainda não entendesse, e então ele entendeu. — Oh. — Ele parecia como se alguém tivesse atirado em seu cachorro, e ele sentou-se na cama desfeita e olhou para a sua caneca de café. Ela era uma das de Eve, preta com morcegos roxos por toda ela. — Você quer dizer, nos deixar para trás. Ele tinha dado ênfase ao ponto forte que magoava: nos deixar. Porque isso era o que estava acontecendo, na verdade: não que eles precisavam de espaço, mas que Michael e Eve estavam deixando Claire e Shane para trás, em seu passado. — Eles precisam de espaço, é o que Miranda disse. Sabe, o tipo de espaço para ficarem juntos. — Eles não são os únicos — Shane disse. Ele não olhou para cima. — Inferno. Michael não disse nada. — Nem Eve. Então talvez seja apenas, você sabe...
— Conversa? Pode ser. Mas se eles estão falando sobre isso, é real o suficiente para importar. — Ele deu uma respiração e soltou lentamente. — Eu estive pensando sobre isso também. — Sobre Michael e Eve se mudar? — Ela era a única que não sabia disso? — Não. Eu me mudar. Claire não poderia ter ficado mais atordoada se ele tivesse anunciado que tinha decidido virar um vampiro. Ela sentou-se muito rápido e apenas conseguiu não derramar o café todo sobre si mesma; até mesmo isso mal foi registrado por ela porque sua atenção estava subitamente e completamente em seu namorado, e havia um nó nauseante e ferido em seu estômago. — O quê? — É só... — Ele fez um gesto vago para a porta. — Estamos sem privacidade por aqui. Às vezes seria bom apenas ter... — Você quer ir embora — Claire disse. — Sozinho. — Não! — Shane finalmente olhou para cima, assustado. — Quero dizer... nós poderíamos encontrar um lugar... O momento congelou com os dois olhando um para o outro; esta era uma conversa que Claire nunca tinha esperado ter, e certamente não no início da manhã com seus pijamas e cabelos bagunçados. Claramente não era algo que Shane tinha pensado tampouco. A coisa toda de repente pareceu inesperada, delicada, errada. E ela não sabia porquê. Isso fez o caroço doendo em suas entranhas doer ainda mais. — De qualquer forma — Shane finalmente disse com o tipo de tom nósvamos-fingir-que-isso-nunca-aconteceu, — é só que esta é a casa de Michael. Deve ser Michael e Eve, de mais ninguém. Eu poderia sempre... nós poderíamos... — Ele não conseguia juntar as palavras, tampouco, e ela viu o mesmo pânico que ela estava sentindo crescendo nele. Não estou pronta para isso, ela pensou. Realmente não estou. Isso lembrou do que sua mãe havia dito tão profeticamente ontem à noite no celular. Tem certeza de que você não está indo rápido demais? Ela odiava quando sua mãe estava certa. — Ok, claramente, isso é uma conversa louca de qualquer maneira — Shane disse, em um tom deliberadamente deixando para lá. — Nunca mais vamos falar sobre isso novamente. Pode brigar pelo direito do chuveiro depois que Eve terminar. — Pode ir — Claire disse. Seus lábios estavam dormentes. Ela bebeu o café, mas foi apenas para ter algo para fazer; ela não sentiu o gosto, e seu cérebro parecia sobrecarregado com todas as ondas de emoção. Muitas coisas
estavam acontecendo rápido demais, nenhuma delas em sintonia. — Eu esperarei. — Ok. — Ele queria dizer mais alguma coisa, e até mesmo abriu a boca para falar, mas o que quer que fosse, sua coragem falhou. Ele encobriu isso bebendo, e Claire olhou para os morcegos roxos de desenhos animados em sua caneca e se perguntou se de alguma forma ela poderia redefinir a manhã de volta para o beijo. O beijo que tinha sido tão maravilhoso. Mas, como Shane tinha indicado, aquele momento se foi, e aparentemente não ia voltar tão cedo. Depois de alguns momentos estranhos, com as xícaras drenadas, Shane finalmente se arriscou: — Eu fiz mais cartazes. — Bom — Claire disse. — Vamos pregá-los. Ela achou que os dois estavam aliviados por ter algo para fazer. Q q q Shane deve ter feito vinte cartazes, o que era definitivamente um exagero em uma cidade como Morganville. Claire e Eve ambas deram risadinhas com a variedade de fotos — a maioria loucamente desfavorável — que Shane tinha escolhido. — Eu tenho que aplaudir Monica — ele disse, admirando sua obra. — Essa menina tem um álbum no Photobucket que vocês não iriam acreditar. Eu acho que tem quinze páginas de fotos. Até mesmo as Kardashians diriam que são muitas. Sorte minha que ela gosta de tirar fotos bêbada. — A ideia não é ela realmente ser eleita? — Eve finalmente conseguiu bufar, então eclodiu em outra explosão descontrolada de gargalhadas. — Oh, meu Deus, olha essa. Essa é a minha favorita. — Ela puxou um cartaz para fora e levantou-o. Era Monica com uma roupa que era sua marca registrada apertada-e-curta de pé e posando com as mãos nos quadris, franzindo os lábios em um biquinho. — Tantas coisas erradas nessa. — Isso não vai impedi-la de ser eleita — Shane disse. — Pessoas estúpidas são eleitas o tempo todo. É a América. Nós amamos o desprezível. E os loucos. — Eu gostaria de pensar melhor de nós — Claire disse, — mas sim. Você está certo. Ele estendeu a mão para ela bater, que ela relutantemente bateu, e depois eles separaram os cartazes entre eles. Eles eram mais pesados do que Claire tinha imaginado, e ela se curvou um pouco com o peso. Shane, sem pedir, redistribuiu, assumindo o resto, e piscou para Eve. — Você quer ir junto?
— Alguém tem que trabalhar por aqui — ela disse. — Eu suponho que tenha que ser eu. De novo. — Divirta-se com esse trabalho. — Preguiçoso! — E orgulhoso disso, escrava de salário. Na calçada, Shane equilibrou o cartaz pesado até Claire o acompanhar com sua mochila presa em seu ombro. — Você trouxe o grampeador? — Aqui — ela disse. O grampeador em questão era um antigo, o tipo de coisa gigante e industrial de aço pesado que provavelmente poderia disparar o seu fecho através de um carro se precisasse. — Também trouxe algumas estacas no caso de precisarmos colocar as coisas nos gramados. — Como, por exemplo, esse? — Shane olhou ansiosamente para o jardim da frente da Glass House, e Claire riu alto. Ela abriu sua mochila e entregoulhe uma estaca (engraçado, elas tinham sido feitas para colocar em cartazes). Ele empurrou-a no chão e colocou o cartaz nela, e eles recuaram para admirar o efeito. — Uma coisa bela. Eve abriu a janela na frente da sala e olhou para fora, desconfiada. — Ei! Vocês crianças loucas, o que vocês estão fazendo? — Você esqueceu de dizer “Saiam do meu gramado!” — Shane respondeu. — Oh não, você não colocou aquela coisa lá fora! — Relaxe... eu usei a sua foto favorita. — Shane disse para Claire enquanto ela fechava o zíper de sua mochila: — é melhor nós nos movermos. Os três primeiros cartazes foram pregados sem incidentes. No quarto poste de telefone, no bairro comercial muito escasso de Morganville, Claire estava grampeando o cartaz no lugar quando ouviu o grito de freios na rua, e depois o retumbar de uma buzina de carro. Ela se virou e viu um conversível vermelho brilhante e um borrão de movimento enquanto a motorista parava. Objetivamente, era impressionante que Monica conseguisse manter o equilíbrio naqueles saltos enquanto se movia tão rápido. — Que diabos você está fazendo? — ela perguntou, e empurrou Claire para fora do caminho enquanto encarava o cartaz néon brilhante, que estava se debatendo um pouco ao vento. Seu rosto ficou em branco. Não com raiva, só... em branco. — O que é isso? — O que parece? — Shane perguntou. Ele pegou o grampeador de Claire e terminou de fixar o cartaz no poste, em seguida, girou a coisa como um revólver muito estranho enquanto admirava o efeito a alguns metros de distância. — Parece que você está correndo a prefeita.
Os lábios brilhantes de Mônica se separaram, e ela simplesmente... olhou. Como se ela não conseguisse pensar em uma única coisa a dizer. Espere só, Claire pensou, e se preparou para o ataque inevitável. Monica estava prestes a atingir uma massa crítica termonuclear, e ela tinha a intenção de ficar a uma distância de segurança mínima antes que ela explodisse. Mas em vez disso, um sorriso suave e encantado se curvou ao redor dos lábios de Monica, e ela disse: — Espere um minuto. Vocês fizeram isso? — Claire fez — Shane disse. — Eu sou apenas o designer gráfico incrivelmente impressionante. Além de chefe do comitê de entretenimento. Toda campanha precisa deles. — Isso é... incrível — Monica disse. — Eu não sei, tudo bem, bem, você sabe, ninguém provavelmente vai votar em mim. Quero dizer, eu não sou Richard. Eu não saí do meu caminho para ser responsável ou qualquer coisa. — Você é uma Morrell — Shane disse. — Muitas pessoas imaginam que está em seu sangue. Três gerações de prefeitos em sua família, certo? — Bem, eles devem estar errados. — Nós sabemos — Shane disse alegremente. — Mas, ei, você vai ser um ótimo preenchimento de assento, e eu sei que você ama uma boa foto, sendo uma grande fã de si mesma e tal. — Ele perdeu o sorriso, e toda a leveza que estava nele. — Tudo isso vem com uma condição, você sabe — ele disse. — Você faz o que é bom para os seres humanos. Não o que os vamps dizem. Monica arqueou uma sobrancelha bem feita. — Você tem que retroceder, Collins. Eu não faço o que você diz. Você faz o que eu digo. Afinal de contas, vai ser o meu nome na placa de identificação cara da porta. — Contanto que você não seja um fantoche para os vampiros, eu realmente não me importo — Shane disse. — Mas quanto a nós fazermos o que você diz... yeah. Boa sorte com isso. A atenção de Monica se voltou para o cartaz, e seus olhos se estreitaram. — Espere um segundo. Essa é uma das minhas fotos do Facebook? — Pode ser. — Hmmm. — Ela inclinou a cabeça com os lábios franzidos. — Poderia ter escolhido uma melhor. — Você sempre disse que você não consegue tirar uma foto ruim — ele disse encarando ela de frente. — É verdade. — Ela deu ao cartaz um sorriso malicioso e lento, e disse: — Ok, então. Contanto que eu não tenha que pagar por qualquer coisa, ou aparecer para uma série de reuniões. Ah, garanta que as pessoas saibam que eu posso ser subornada.
— Combinado. Ela olhou para ele por um segundo, em seguida, para Claire. — O que exatamente vocês estão fazendo? Não finjam que vocês estão gostando disso, porque vocês não gostam muito de mim. — Nós não gostamos — Claire disse. — Não se preocupe com isso. Isso não lhe diz respeito. Tudo o que lhe diz respeito é ter certeza que você aja agradável e acene para as pessoas. Finja que é um concurso de popularidade, porque isso é o que é. — Você não ganha concursos de popularidade por ser agradável — Monica disse. — Você ganha fazendo as pessoas terem medo de votar contra você. Por isso, considere isso ganho. Ela caminhou de volta para seu carro estacionado ilegalmente, subiu e desapareceu. Claire balançou a cabeça enquanto observava o conversível vermelho guinchar ao virar a esquina, e disse: — Só Monica consegue pensar que Vote em mim ou eu vou quebrar a sua perna é um slogan de campanha decente. — Em Morganville provavelmente é. Eles fizeram mais dez paradas antes de comer um lanche. As reações variaram de lugar para lugar onde eles tinham solicitado colocar os cartazes, de riso para a consternação, na última parada, uma raiva completa. Claire nunca tinha visto alguém rasgar um cartaz de papelão resistente com tanto entusiasmo, mas a lavanderia a quatro quarteirões definitivamente não era uma fã da Morrell para prefeita. — Por que o cara da lavanderia ficou tão furioso? — ela perguntou a Shane enquanto eles comiam seus burritos sentados do lado de fora em uma mesa de metal frágil. Ainda estava frio o suficiente fora para fazer isso em relativo conforto, embora as moscas e mosquitos (visitantes novos e indesejados desde a chegada aquosa dos draugs) já estivessem bombardeando eles com picadas por lanches. Eles sabiamente mantiveram as tampas em seus refrigerantes. — Ele? O nome dele é William Batiste. Nós costumávamos chamá-lo de Billy Esquisito. Eu acho que Monica deve ter beijado ele uma vez no colegial. Para ser justo, ela beijou a maior parte da escola que permaneceu lá por tempo suficiente. Billy era meio que um cara com extrema resistência. Não gosta da Morrells há muito tempo. — Eu suponho que nem todo mundo pode dizer sim — Claire disse. — Eu acho que teremos sorte se ela receber votos por terror e apatia — Shane disse. — Nós ainda temos mais dez para colocar esta tarde. Você ainda pode?
— Claro — Claire disse. — É o meu dia livre, de qualquer maneira. Se você não se importar, no entanto poderíamos parar no laboratório? Apenas checar Myrnin? Shane não estava entusiasmado, mas ele deu de ombros; ele provavelmente achava que era um pequeno preço a pagar já que ele a teve por todo o dia. — Nós apenas precisamos terminar antes de escurecer — ele disse. — Eu não sou um funcionário de campanha tão dedicado assim. Especialmente para Monica. A cidade parecia calma e de volta ao normal, e os sons de construção estavam em todos os lugares — serras, moedor, martelos. Tudo parecia industrial e positivo. Havia mais sinais visíveis de Proteção também; muitas lojas estavam exibindo janelas agora, ou, pelo menos, balcões, e ela estava vendo mais residentes em Morganville usando pulseiras com símbolos de seus protetores também. Morganville estava em seu caminho de volta... mas para o quê? Não é a mesma cidade que tinha sido antes dos draugs. Talvez ela estava virando o relógio de volta para o que tinha sido no começo, com os vampiros em controle total. Não se nós estivermos algo a fazer sobre isso, ela pensou, e ajudou Shane a grampear outro cartaz em um poste de telefone fora do Common Grounds. Eles recuaram para admirar o trabalho, e Claire se deu conta de que alguém estava na sombra do toldo ao lado dela. Ela não sentiu-o chegar, mas de repente Oliver estava apenas... lá. Ele era uma presença sólida e assustadora mesmo que ele estivesse usando o que Claire pensava como um agradável disfarce hippie — cabelo cinza amarrado para trás em um rabo de cavalo, uma camisa escura e calça jeans sob o avental tingido com o logotipo do Common Grounds nele. Ele cheirava a café, uma espécie calorosa e acolhedora de perfume mesmo que sob ele fosse frio como o mármore. Ele estava olhando para o cartaz com uma expressão estranhamente vazia. — Entendi — ele finalmente disse. — Vocês todos enlouqueceram. — Não — Shane disse, e jogou o grampeador no ar em uma exibição tênue entre ousadia e estupidez; ele poderia ter perdido um dedo se essa coisa tivesse disparado. — Encontramos nossa vocação. Nós somos ativistas. E ei, Monica tira uma foto decente. Isso é tudo o que vocês realmente precisam de um candidato, certo? Shane recebeu um olhar total, e Claire o sentiu queimar mesmo longe da direção dele. — Não me teste, menino — Oliver disse suavemente como veludo. — Você não deveria mexer comigo estes dias. Eu tenho sido muito
gentil com você; eu deixei você e seus amigos fazerem brincadeiras. Não mais. Você vai ter que tirar isso. Shane ergueu as sobrancelhas. — Por quê? Porque eu mandei essa era a resposta óbvia, mas Oliver esboçou um sorriso e disse: — É contra o código. O cartaz deles não era o único no poste; havia panfletos para animais de estimação perdidos, pessoas desaparecidas, uma nova banda que iria tocar (provavelmente ruim) no Common Grounds no fim de semana, o seguro mais barato, babás... Claire disse: — Você nunca teve um problema com isso antes. — Agora eu tenho. — Oliver saiu à luz do sol, mesmo que sua pele imediatamente tenha começado a ficar um pouco rosa onde o brilho tocava, e ele começou a puxar as coisas para fora do poste sem qualquer consideração em não rasgar. Suas unhas deixaram arranhões na madeira de dois centímetros de profundidade. Ele rasgou o cartaz de Monica ao meio com um golpe casual, deixou cair os pedaços no chão e chutou-os em direção a Shane. — E agora você está sujando também. Pegue. Shane não se mexeu. Ele não falou. Ele apenas ficou lá com o grampeador em sua mão, e parecia... perigoso. — Pegue-o ou eu vou prendê-lo — Oliver disse. — Ambos. E ninguém virá para salvá-los desta vez. Se Eve tentar, ela vai acompanhá-los. — Michael... — Eu posso lidar com Michael Glass. — As palavras de Oliver interromperam o que quer que Shane fosse dizer enquanto ele recuava para as sombras. Havia um leve fio de fumaça saindo de sua pele, mas parou assim que ele estava fora do sol, e a queimadura desapareceu quase tão rapidamente. Por outro lado, o brilho de seus olhos estava estranhamente específico. — Pegue. Isso. Shane ainda não se moveu, e Claire percebeu, com uma consternação fatal, que ele não tinha a intenção de pegar — então ela pegou. Ela inclinou-se e pegou o cartaz e outro papel picado, caminhou e depositou-os no lixo do Common Grounds ao lado da porta de entrada. E poderia ter estado tudo bem, exceto que Oliver teve que ronronar: “Boa menina” para ela como se ela fosse seu bicho de estimação pessoal e Shane... Shane lhe deu um soco. O vampiro nunca esperou por isso porque ele estava olhando diretamente para Claire com o que parecia ser uma apreciação do seu pequeno momento de triunfo; O punho de Shane pegou na lateral de sua mandíbula, e o poder por trás dele foi enorme o suficiente para que, na verdade, Oliver
cambaleasse antes de se virar com uma flexibilidade sobrenatural e saltar sobre o namorado dela tão rápido, era como se ele tivesse sido lançado de uma catapulta. Ele bateu em Shane de volta na parede de tijolos ao lado da janela e manteve-o lá com um braço sobre sua garganta. Quando Shane tentou empurrá-lo para trás, Oliver pegou sua mão e puxou com força para o lado. Shane congelou. — Nada está quebrado — Oliver disse, — mas está a meia polegada de distância. Então, por favor, faça isso de novo, menino. Vou esmagar cada osso que você tem, um punhado de cada vez, e você vai implorar para parar... Ele parou abruptamente porque Claire o fez calar a boca pelo simples meio de colocar a ponta de uma faca de lâmina fina de prata contra as costas dele, pouco mais de onde precisava para percorrer até alcançar seu coração. — Solte ele — ela disse. — Eu peguei o lixo como você disse. Estamos quites. Eles não estavam e ela sabia disso sem ele sequer se preocupar em dizer isso, mas Oliver silenciosamente soltou a mão de Shane. Claire se afastou com a faca ainda apontada e pronta enquanto Oliver empurrava Shane de volta com violência e pegava o grampeador de onde ele tinha caído na calçada. — Você nos deve um cartaz — Shane disse. — Eles me custaram cinco dólares cada. Eu vou esperar uma bebida de graça em troca. — Assim como eu — Oliver disse, — da sua veia da próxima vez que eu pegar qualquer um de vocês... em circunstâncias menos visíveis. — Ele mostrou os dentes, e caminhou de volta para a loja de café. — Eu acho que isso significa que Monica não pode contar com o voto dele, tampouco — Shane disse. Soava como uma piada, mas ele estava tremendo, e apertando o grampeador com muita força. Ele sabia, como Claire, que eles tinham acabado de passar por mais de um tipo de limite. Talvez de forma permanente. — Por quê? — ela perguntou a ele, um pouco melancolicamente. — Porque você fez isso? — Ninguém fala com você desse jeito — ele disse. — Nem mesmo ele. Ele passou o braço em volta dos ombros dela, pegou os outros cartazes e eles continuaram para a próxima parada. Q q q Na próxima parada, enquanto Claire e Shane colocavam o cartaz de Monica, eles encontraram alguém lá diante deles nos avisos grampeados: uma mulher mais velha de aparência séria e um homem mais jovem, provavelmente seu filho. Ele tinha quase a altura de Shane, mas magro como um chicote. Ele
acenou para Claire como se conhecesse ela (e ela não achava que eles já tinham se conhecido), em seguida, fixou o olhar em Shane. — Ei, cara — ele disse, e estendeu a mão. — E aí? — Tudo certo. Como você está? — Bom, Bom. Você se lembra da minha mãe, Flora Ramos, certo? — Sra. Ramos, com certeza, eu me lembro dos burritos que você costumava fazer para Enrique na escola — Shane disse. — Ele costumava trocálos comigo se eu desse o meu M&Ms. Eu sempre aceitei o acordo; eles eram bons assim. — Você dava os meus burritos, Rique? — a Sra. Ramos disse, e ergueu as sobrancelhas para o seu filho. Ele estendeu as mãos e encolheu os ombros. — Você me dava todos os dias — ele disse. — Então sim. — Eles eram deliciosos — Shane disse. — Ei, ele tinha lucro. Ele costumava cortá-los ao meio e negociar cada um separadamente. — Enrique. — Eu era um empresário, Mama. — Enrique deu um sorriso devastador. — O quê, você quer os meus M&Ms agora? — Em resposta, ela entregou lhe uma pequena folha de tamanho carta de papel, e ele segurou-a contra o poste de telefone enquanto grampeava no lugar. O panfleto dizia, Capitão Óbvio para prefeito, e ele tinha um grande ponto de interrogação sob a legenda onde uma imagem deveria estar. O slogan dizia, voto humano. Isso era tudo. — O que diabos é isso? — Shane disse, e apontou para o retrato em branco. — Sra. Ramos, o Capitão Óbvio saiu da cidade. Você não pode pedir para as pessoas votarem em alguém que não está nem mesmo aqui. — Talvez um assento vazio seja melhor do que um cheio por outro puxasaco inútil — ela disse, e por mais simpática que ela parecia, seus olhos estavam frios e sombrios, de repente. — Eu já vi esses cartazes dos Morrell. Como você, de todas as pessoas, pode suportar uma coisa dessas, Shane? Eu sei o quanto essa bruja fez mal para você e sua família! — Não é... — Shane deu um passo para trás, franzindo a testa. — Não é o que parece. Olha, Monica é uma série de coisas, mas uma puxa-saco? Não é assim que eu notei. É mais provável que use botas e chute eles. Fraca, ela não é. E nós precisamos de alguém no conselho que vá enfrentar os vampiros por nós. A raiva brilhou no rosto enrugado da Sra. Ramos. — Ela é parte do câncer que come a cidade. Ela e toda a sua família nojenta! Agradeço a Deus que o pai e irmão dela se foram...
— Espere um segundo — Shane interrompeu, e foi com uma voz grave agora, o que significava que ele não ia deixar para lá. — Richard Morrell era legal. Ele tentou. Não... — Ele era um homem corrupto de uma família corrupta. — Sua voz tinha ficado dura agora, tão inflexível como a distância cruel em seus olhos. — Já chega. Eu terminei de falar com você. Claire tentou uma abordagem diferente. Emoção claramente não estava levando eles em qualquer lugar. — Mas eles não vão deixar você escrever alguém que nem sequer existe! — Capitão Óbvio existe — Flora disse. — Ele sempre existiu, sempre existirá. Até que ele se levante novamente, eu vou ficar com ele. — Você — Claire disse. — Você é o novo Capitão Óbvio? Enrique tinha ficado quieto agora, e quando ele não estava sorrindo e sendo amigável, ele parecia um pouco perigoso. — Por quê? Você tem um problema com isso? Minha mãe não é boa o suficiente para você? — Não, eu só... — Claire não sabia como terminar isso. Shane sabia. — Cara, ela é a sua mãe. Ela costumava vender bolos. Ela fazia cookies. Como ela pode ser Capitão Óbvio? — Nenhuma mãe não pode ser contra o mal que vive aqui? — Flora disse. — Eu criei as crianças nesta cidade. Enrique, Hector, Donna e Leticia. Me diga, Shane. Me diga o que aconteceu com os três dos meus filhos. Ele apenas olhou para ela em silêncio por alguns segundos, e então se afastou. — Isso não foi culpa de ninguém. Foi um acidente. — Foi o que eles disseram. Claire limpou a garganta; ela se sentia — como sempre — como se alguém tivesse falhado em introduzi-la, e aqui estava ela de pé no meio de uma cena claramente cheia de tensão, e ela não entendia nada disso. — Uh, desculpe, mas... o que aconteceu? A Sra. Ramos não respondeu, e Shane não parecia querer falar agora que ele tinha tropeçado na mina terrestre. Então Enrique finalmente suspirou e falou. — Minha irmã Donna estava dirigindo — ele disse. — Ela tinha dezessete anos, acabado de ganhar sua licença. Ela estava levando meu irmão Hector para trabalhar, ele tinha dezenove anos e minha irmã Letty para a escola. Foi no meio do inverno, um pouco gelado como fica às vezes. Gelo escuro, do tipo que você não pode ver. Ela nunca tinha dirigido assim antes. Eles bateram em um poste. — Ele não terminou a história, mas Claire adivinhou como iria acabar. Em funerais. Isso foi confirmado por um olhar de lado para Shane.
Ele tinha aquele olhar silencioso e fechado que ele tinha quando as pessoas falavam sobre seus amigos e parentes perdidos; ele tinha muitos dele mesmo, ele perdeu sua irmã, em seguida, sua mãe e, finalmente, seu pai. Ele sempre parecia se proteger contra a emoção, mesmo quando ela vinha de outras pessoas. — Isso não foi tudo — Flora Ramos disse com uma raiva reprimida que fez estremecer o cabelo na nuca de Claire. — Meus filhos estavam lá deitados, feridos e sozinhos, e eles tomaram suas vidas. Eu sei o que eles fizeram. — Mama, foi um acidente. Eles sangraram; você sabe o que os médicos disseram. — Os médicos, os médicos, como se eles não trabalhassem para os monstros da mesma forma que todos nós trabalhamos? Não, Enrique. Foram os vampiros. Não foi um acidente. Você deveria saber disso! — Ela parecia cansada e furiosa ao mesmo tempo; não interessa quando tinha acontecido, ainda estava fresco em sua mente. — Sobrou uma criança que não foi tirada de mim. E eles não vão. Não enquanto eu tiver fôlego no meu corpo. — Você poderia sair da cidade — Shane disse calmamente. — Você teve uma chance. — E a nossa casa? Nossa vida? Não. Meu marido está enterrado aqui, e os meus filhos. Esta é a nossa casa. Os monstros devem deixá-la antes de nós. — Ela ergueu o queixo, e Claire viu que, apesar das rugas, o cabelo grisalho, ela era determinada e perigosa. — Não jogue estes jogos, Shane; política aqui significa nossas vidas. Eu não vou deixar você transformar em uma piada. Shane olhou para ela por um longo momento. Ele sentia pena dela; Claire podia ver isso. Ele sabia como era culpar os vampiros pela perda das pessoas que amava. Mas acima de tudo, Shane era prático. — Você não pode ganhar — ele disse. — Não faça isso. Nós temos um plano. Confie em nós. — Vocês dois? — Flora riu. — Sua namorada, ela é o animal de estimação de um vampiro de estimação da Fundadora. E você, você está muito apaixonado para ver isso, e muito criança. Ela está com eles, não com você. — Ela liberou eles com um movimento de sua mão. — Já chega. Enrique. Vámanos. Ele enviou a Shane um olhar de desculpas e ergueu as mãos em um tipo de gesto o-que-se-pode-fazer?. — Ela é minha mãe — ele disse. — Desculpa. — Está tudo bem. — Shane acenou de volta. — Mas você deve convencê-la disso. É sério. É perigoso. — Eu sei, cara. Eu sei.
Enrique correu para alcançá-la. Sua mãe já estava na metade de um quarteirão de distância. Claire ficou com Shane, olhando para o cartaz que promovia o Capitão Óbvio, e Shane finalmente pegou o cartaz maior e mais brilhante de Mônica e firmemente grampeou-o bem no topo. — Vamos — ele disse. — Eu garanto que isso não acabou.
Capítulo 7
CLAIRE
ão acabou, não por um longo tempo, mas pelo menos eles foram deixados sozinhos para colocar o resto dos cartazes; isso não significava que as pessoas não estavam olhando para eles, ou falando coisas ruins, mas ninguém tentou ativamente prejudicá-los. Claire se perguntou se a Sra. Ramos iria rasgar os cartazes por trás deles e se ela aprovava Oliver fazer a mesma coisa. Talvez eles se encontrassem no meio. Isso seria uma coisa interessante para testemunhar. No momento em que eles tinham grampeado o último cartaz em um poste na frente do cartaz de Morganville High (“Vai Víbora!”), Claire estava completamente desgastada. Isso, ela pensou, tinha sido o pior dia de folga... Eles ainda não tinham parado para um almoço, embora eles tenham devorado alguns biscoitos entre paradas e tinham comprado um par de cocas. Morganville não era uma cidade muito grande, mas eles tinham andado por quase todas as ruas dela, e era o suficiente para um dia na opinião dela. Ela ia expressar isto, mas ela não precisou porque Shane lhe deu um olhar que lhe dizia que ele estava tão cansado quanto, e disse: — Podemos pular o laboratório e ir para casa? — Casa — ela disse, e deslizou o braço no dele. O único peso agora era o grampeador em sua mochila (e a faca antivampiro e estacas extras que ela raramente deixava para trás), mas ainda parecia que pesava uma tonelada. Shane pegou dela e colocou-a em um ombro, e ela invejou seus músculos — e admirou também. Ele parecia tão quente e firme sob seus dedos, e isso a deixava um pouco tonta, não importava a exaustão. — O que você acha que Monica está fazendo agora? — Atormentando alguém para fazer um site de baixa qualidade e alguns broches? Claire gemeu, porque ele tinha certeza. — Nós criamos um monstro. — Bem, não. Mas nós estamos dando poder.
Por consentimento comum não mencionado, eles evitaram a rua do Common Grounds, que os colocou em um caminho diferente, menos avenidas movimentadas; era uma que ela mantinha algumas más recordações, Claire percebeu, e desejou que eles tivessem arriscado a ira de Oliver mais uma vez. Esta era a rua onde a casa de Shane tinha estado uma vez. Não havia nada no local agora, exceto um monte de espinhos expostos, alicerces rachados e restos em ruínas do que teria sido uma lareira. Mesmo a caixa de correio, que tinha estado inclinada antes, tinha desistido de balançar como um fantasma e caiu em pedaços como um metal aleatório e enferrujado. — Nós não... talvez nós deveríamos... — Ela não podia pensar em como dizer isso, ou se ao menos ela deveria, mas Shane simplesmente continuou andando com os olhos fixos na calçada da frente. — Está tudo bem — ele disse. Ela poderia até mesmo ter acreditado nele um pouco, com exceção do ligeiro arquear de seus ombros, e do jeito que ele abaixou a cabeça para deixar seu cabelo desgrenhado cair sobre sua expressão. — É apenas um espaço vazio. Não era. Estava cheio de tristeza e raiva, angústia e terror. Ela quase podia sentir isso como agulhas em sua pele, uma vontade irresistível de desacelerar, parar, olhar. Ela se perguntou se Shane sentia também. Talvez ele sentisse. Ele não estava andando tão rapidamente quando eles se aproximaram do local silencioso e vazio, que estava sufocado com o lixo, tijolos espalhados enegrecidos pelo fogo e as bolas de amarantos voando. Esse foi o local onde era a casa da família de Shane, antes de ter incendiado, levando sua irmã com a casa. Assim que eles deram seus primeiros passos na frente da casa, Shane parou. Apenas... parou, sem se mexer com a cabeça ainda para baixo e as mãos nos bolsos. Ele lentamente olhou para cima, diretamente nos olhos espantados de Claire, e disse: — Você ouviu isso? Ela balançou a cabeça, confusa. Tudo o que ela ouviu foi o constante barulho da vida diária no fundo — TV sussurrando nas casas distantes, rádios de carros que passavam, o chocalho de amarantos soprando contra as cercas. E então ela ouviu algo que soou como um sussurro muito suave, mas claro. Ela não conseguia saber o que significava, não conseguia entender a palavra, mas não soava como uma conversa distante, ou o diálogo de uma TV, ou qualquer coisa assim. Soava muito... específico. E muito perto. — Talvez... um gato? — ela adivinhou. Poderia ter sido um gato. Mas ela não viu nada quando olhou sobre as ruínas da infância de Shane. A única
coisa que ainda era reconhecido como sendo uma casa era o alicerce — quebrado em alguns lugares, mas ainda estava lá onde não estava escondido pelo mato — e o esboço confuso do que deveria ter sido uma lareira de tijolos. Shane não olhava na direção do terreno. Ele ficou olhando para ela, e ela viu seus olhos se arregalem assim como os dela também, ouvindo o que ele estava ouvindo. A voz. A voz clara de uma menina, muito, muito suave, dizendo: Shane. Seu rosto drenou completamente de cor e Claire pensou por um segundo que ele iria cair no pavimento, mas ele conseguiu se segurar de alguma forma, e voltou-se para o terreno e disse: — Lyss? — Ele deu um passo hesitante em direção a ela, mas parou na borda da calçada. — Alyssa? Shane. Era muito claro, e não soava como a voz de uma pessoa real — havia algo estranho, frio e distante nela. Claire se lembrou dos draugs, dos inimigos dos vampiros que se dissolviam em água e atraiam com música; isso continha um pouco da qualidade deles — algo errado. Ela agarrou a manga de Shane quando ele começou a pisar na terra do terreno. — Não — ela disse. — Não. Ele olhou fixamente para os destroços caídos de sua casa, e disse: — Eu tenho que ir. Ela está aqui, Claire. É Alyssa. A irmã dele, Claire sabia, tinha morrido no incêndio que tinha destruído esta casa, e ele não tinha sido capaz de salvá-la. Esse foi o primeiro, e talvez o maior trauma em uma vida que tinha tantos. Ela nem sequer tentou falar com ele argumentando que era impossível que a irmã dele estivesse aqui. Havia coisas muito mais loucas em Morganville que isso. Fantasmas? Isso não era mais incomum do que os meninos da fraternidade bêbados em uma noite de sexta-feira. Mas ela estava com medo. Muito medo. Porque havia uma grande diferença entre fantasmas que se manifestavam nas Casas Fundadoras — como a Glass House, em que eles viviam — e que podia falar do nada, energizado por nada. O tipo de coisa que ela poderia explicar, pelo menos teoricamente. Já isso? Não muito. — Eu tenho que fazer isso — Shane disse novamente, e se puxou para livre dela. Ele entrou no mato, que tinha sido uma vez o gramado da frente cuidadosamente cuidado de uma família relativamente estável, e caminhou firmemente para a frente. Os restos quebrados de uma calçada estavam escondidos sob as ervas daninhas, Claire percebeu; ela estava torta e quebrada
em pedaços corroídos, mas era reconhecível quando ela olhou para ela. Shane continuou indo para a frente, em seguida, parou e disse: — Isto costumava ser a porta da frente. Claire sinceramente não queria fazer isso, mas não podia deixá-lo sozinho, não aqui, não desse jeito. Então, ela deu um passo adiante, e imediatamente sentiu um arrepio passar sobre ela — algo que não queria ela aqui. As sensações de alfinetes e agulhas tomaram conta dela novamente, e ela quase parou e recuou... mas ela não ia deixar isso impedi-la. Shane precisava dela. Ela enfiou a mão na dele, e ele apertou com força. Seu rosto estava severo com o queixo apertado, e o que quer que ele estivesse olhando, não era o entulho na frente deles. — Ela morreu lá em cima — Shane disse. — Lyss? Você pode me ouvir? — Eu realmente não sei se isso é uma boa... — Claire prendeu a respiração quando os alfinetes e agulhas cutucaram novamente, profundamente. Dolorosamente. Ela quase podia ver as minúsculas marcas de alfinetadas em seus braços, as gotas de sangue, embora soubesse que não havia nenhum dano físico. — Lyss? — Shane deu um passo adiante, acima do limite inexistente, para o que teria sido a casa. — Alyssa... Ele recebeu uma resposta. Shane. Foi um suspiro, cheio de algo que Claire não poderia realmente compreender — talvez tristeza, talvez saudade, talvez algo mais sombrio. Você voltou. Ele sugou uma respiração profunda e trêmula, e soltou a mão de Claire para estendê-la para a frente no ar vazio. — Oh Deus, Lyss, eu achei... como você ainda pode estar... Sempre aqui, o sussurro disse. Tanta tristeza; Claire podia ouvi-la agora. O ressentimento que sentia era o de uma irmã mais nova odiando que alguém tivesse tirado o seu irmão dela; podia ser perigoso, mas era compreensível, e a tristeza trouxe um nódulo na garganta de Claire. Não posso ir. Socorro. — Eu não posso — Shane sussurrou. — Eu não posso ajudá-la. Não pude antes e não posso agora, Lyss... Eu não sei como, ok? Eu não sei o que você precisa! Casa. Havia lágrimas brilhando em seus olhos agora, e ele estava tremendo. — Eu não posso — ele disse novamente. — A casa se foi, Lyss. Você tem que... você tem que seguir em frente. Eu segui. Não.
Havia um fio de movimento na borda da visão de Claire, e então ela sentiu um empurrão, um empurrão distinto que a fez dar um passo para trás em direção à calçada. Quando ela tentou se mover em direção a Shane novamente, os alfinetes e agulhas voltaram, mas parecia mais como uma picada agora, súbita e cruel. Ela assobiou e agarrou seu braço, e desta vez quando ela olhou para baixo, viu que ela tinha uma marca vermelha, como se alguém tivesse machucado ela fisicamente. Alyssa realmente não se importava com a ideia de que seu irmão tinha encontrado uma namorada, e Claire se viu pulando para trás, sendo empurrada e intimidada a voltar pelo caminho até a calçada. Shane ficou onde estava. — Por favor, eu posso... eu posso ver você? Havia aquela pista fraca do movimento de novo, névoas nos cantos de sua visão, e Claire pensou que por um segundo viu uma sombra fantasmagórica aparecer contra os tijolos ainda de pé da lareira... mas ele tinha ido embora em segundos. Por favor, me ajude, o sussurro de Alyssa disse. Shane, me ajude. — Eu não sei como! Não me deixe sozinha. Claire de repente não gostava do que estava acontecendo. Talvez ela tenha visto muitos filmes de terror japoneses, e talvez fosse apenas um formigamento de aviso de gerações antepassadas supersticiosas, mas de repente ela sabia que o que Alyssa queria não era ser salva, mas que Shane se juntasse a ela. Na morte. Ela não sabia o que Shane poderia ter feito, porque assim que ela chegou a essa conclusão de parar o fôlego, ela avistou uma van preta brilhante virando a esquina. Por um segundo, ela não a conectou a qualquer coisa em particular, e, em seguida, ela reconheceu o logotipo na porta da van. Ótimo. — Shane... nós temos companhia — ela disse. — A companhia de caça-fantasma. — O quê? — Shane virou e olhou para ela sem expressão, depois para onde ela apontava. Não só os caçadores de fantasmas chegaram, mas os dois apresentadores — Angel e Jenna — já estavam fora e caminhando em direção a eles. Jenna tinha algo nas mãos que parecia um dispositivo de medição eletrônica; ele estava fazendo barulhos estranhos e bizarros, como um sintonizador de frequência. Angel tinha o que parecia um gravador. E atrás deles, seguindo com uma câmera de mão volumosa em seu ombro, estava Tyler.
— ...atividade — Jenna estava dizendo em uma voz intensa. — Definitivamente alguns sinais significativos aqui. Eu tenho um enorme aumento vindo da van, e é ainda maior agora. O que quer que esteja aqui fora, definitivamente vale a pena conferir. — Onde? — Angel parecia cansado e mais do que um pouco irritado. — Nós tivemos um monte de falsos alarmes já. Se eu não soubesse melhor, eu acharia que os residentes locais estavam tentando brincar com a gente, olá. Olha, é o pessoal da corte judicial. Onde está a amiga bonita de vocês? Claire não sabia com o que estava mais ofendida — a implicação de que ela não era bonita, ou que Monica podia ser considerada uma amiga. Ela foi salva de responder por Shane, que caminhou até ela e continuou andando até que ele estava bloqueando completamente o caminho para o terreno baldio. — Deem o fora — ele disse categoricamente. — Eu não estou no clima. — Como é? — Jenna disse, e tentou mover-se em torno dele. Ele entrou em seu caminho. — Ei! Esta não é uma propriedade privada. É um passeio público! Estamos totalmente dentro dos nossos direitos para estar aqui. Enquanto ela e Shane estavam se enfrentando, Claire ouviu Angel murmurar para Tyler: — Certifique-se de que você está gravando tudo isso. É importante. Podemos usá-lo nos teasers. A cidade que não quer saber. — Você — Shane disse, e apontou para trás de Angel, para Tyler e a câmera. — Desligue isso. Agora. — Não posso fazer isso, mano. Estamos trabalhando aqui — Tyler disse. — Relaxe. Apenas deixe-nos fazer o nosso trabalho. — Faça isso em outro lugar. Não faça aqui. — Por quê? — Jenna estava olhando para ele com atenção, e além dele, no terreno baldio. Ela estendeu a engenhoca de medição, e Claire podia ouvir os tons que exalavam. Ela não precisava ser um especialista em fantasmas para saber que estava bipando como um louco. — Algo que você não queira que nós víssemos, talvez? — Só dê o fora, senhorita. Estou falando sério... — Vamos ver sobre isso — Angel disse, e tirou um celular. Teatralmente, é claro. — Nós temos uma autorização para filmar direto do gabinete da prefeita! — Vamos ver sobre isso — Shane disse. — Vamos lá; ligue para alguém. Eu vou esperar. — Ele encarou Angel até que o outro homem guardasse o celular. — Sim. Foi o que eu pensei. Olha, só nos faça um favor, ok? Vão para casa, entrem na van de vocês e vão para alguma outra cidade onde eles não se importem de vocês tirando sarro de pessoas mortas, tudo bem?
— Não é o que nós estamos fazendo! — Jenna disse severamente. — Estou muito empenhada em tentar localizar aqueles que estão perdidos e presos, e encontrar uma maneira de trazer-lhes um pouco de paz. Como se atreve a dizer... — Eu não sei, será que é porque você organiza toda essa porcaria de audiência, anunciantes e dinheiro? Talvez seja por isso? — Shane deu um passo adiante, e ele estava usando todo o seu tamanho e atitude neste momento. — Apenas vá. Saia desta rua. O dispositivo que Jenna estava segurando deu um alarme estridente súbito; ela estremeceu em surpresa e olhou para ele, então se virou para Angel. Tyler inclinou-se para obter um zoom do medidor. — O que foi? — Shane falou zangado. — Temos um aumento enorme eletromagnético — Jenna disse. — Está vindo do terreno baldio atrás de você. Eu nunca vi nada como isso... Shane. Foi um sussurro frio e desejoso muito claro, e ele veio logo atrás deles. E isso apenas congelou todos no lugar. Claire teve uma vívida visão instantânea clara deles: Tyler, com a boca aberta por trás de sua câmera; Angel, atordoado em silêncio; Jenna, de olhos arregalados. E Shane. Os lábios de Shane se separaram, mas ele não falou. Seu rosto tinha ficado branco e pálido, e ele realmente deu um longo passo para trás, puxando Claire com ele. Ela não se importava. Aquela voz tinha uma qualidade sobrenatural assustadora que não parecia humana. Angel quase deixou cair o gravador, mas ele recuperou sua compostura e mudou a câmera para conseguir um zoom. — Você ouviu isso? — ele perguntou a Tyler, em seguida, virou-se para Jenna. — Isso não foi um fenômeno de voz eletrônica. Essa foi uma voz. — Alguém está brincando com a gente — Jenna disse em aborrecimento. — Corta, Tyler. — Eu acho que não — ele disse. — Continue gravando. — Tyler! — Grave, Jenna, continue! — Eu estou dizendo a você, os moradores estão brincando com a gente. Nós provavelmente vamos encontrar algum tipo de transmissor eletromagnético aqui fora, e alguns tolos do colegial com um megafone... — Grave! — Ok, ok, é digital. Pelo menos você não vai desperdiçar filme... — Ela respirou fundo e disse, em sua voz tensa de caça-fantasma. — Podemos
conseguir um contato de verdade com um espírito! Eu não posso nem começar a descrever o quão incrivelmente raro é isso! — Você pode falar com a gente de novo? — Angel disse, e se possível, ele ficou ainda mais empolgado. — Você disse um nome. Você pode dizer de novo? Nada. — Eu acho que ele disse vergonha1 — Jenna disse. — Foi por vergonha que você se foi? Você tem vergonha de alguma coisa? — Oh, pelo amor de... — Claire não conseguiu segurar sua exasperação. — Vamos. Temos que ir, agora. — Ela deliberadamente não usou o nome dele. Eles não pareciam suficientemente brilhantes para fazer a conexão, mas mesmo assim... — Essa é Alyssa — Shane disse. — Eu estou dizendo a você, que é ela. Minha irmã está logo ali. Droga. Bem, lá se foi todo o seu plano de nada para ver aqui, vão embora. — Não existe fantasmas — ela disse, e incisivamente olhou para a câmera. Shane, recuperando do choque, finalmente voltou ao roteiro suficiente para assentir. — Eu acho que alguém está brincando com vocês. De verdade. Vocês têm sido enganados pelos moradores. — Ou — Shane disse, — vocês poderiam bisbilhotar ao redor no escuro. Seria engraçado. Pode haver menos visitantes irritantes se vocês tentarem fazer isso. — Como é? — Jenna disse. — Você está nos ameaçando? — Não, apenas fazendo uma observação. Quero dizer, vagar no escuro não é uma boa ideia, senhorita. Pergunte a qualquer um. — Ele deu de ombros. — Metanfetamina. É um câncer por aqui. É o que eu soube, de qualquer maneira. — Oh — ela disse, e parecia levar a sério pela primeira vez. — É um problema em um monte de lugares. Eu deveria ter pensado nisso. Gente, talvez nós devêssemos arrumar as malas para mais tarde. — Mas nós ouvimos algo — Angel protestou. — Nós devemos, pelo menos, analisar o terreno baldio, para prevenir! Shane começou a protestar, mas Claire puxou seu braço com urgência. Deixe eles, ela murmurou, e ele finalmente deu de ombros e deu um passo para fora do caminho. — Divirtam-se — ele disse. — Tentem não ser mordidos por quaisquer cascavéis ou qualquer coisa. — Cobras? — Tyler de repente soou muito, muito nervoso. 1
Shame: Significa vergonha. Que é parecido com o nome de Shane.
— Ou, você sabe, escorpiões — Claire disse alegremente. — E tarântulas. Nós temos aqui. Oh, e as aranhas viúvas negras e marrom solitárias, elas adoram aqui fora. Você vai encontrá-las em todo o lugar. Se você for mordido, apenas chame o 911. Eles quase sempre podem te salvar. — Quase sempre — Shane ecoou. Eles caminharam em frente, deixando os três visitantes — já não tão ansiosos para se aproximar — debatendo os riscos. Quando eles se afastaram, Shane pegou seu celular. — O que você está fazendo? — ela perguntou. — Mandando mensagem para Michael — ele disse. — Ele precisa falar com alguém na hierarquia dos vampiros e tirar esses idiotas da rua antes que isso se torne muito, muito público e um grande problema... — Ele fez uma pausa e olhou para cima. — Oh inferno. Duas vezes em um dia? Eu devo ter grudado chiclete na cruz para que isso aconteça. Ele quis dizer que Monica Morrell tinha acabado de cruzar o caminho deles novamente. Ela estava ao lado de uma van grande e de aparência gasta, com a língua enrolada com seu atual admirador na esquina de onde a casa de Shane tinha estado uma vez. Como a maioria dos namorados de Monica, seu atual galanteador era um grande pedaço de mau caminho, exibicionista, com um QI com cerca da temperatura ambiente, e muito alto. — Desculpe-me, Dan — Shane disse ao se aproximarem. — Eu acho que você tem algo em você, oh, ei, Monica. Não vi você aí. Ela interrompeu o beijo para encará-lo. — Esquisito. — Alguma razão especial para você estar se agarrando aqui, exatamente? Não é o seu território habitual. Eu não vejo qualquer loja a uma curta distância de cartão de crédito. Seu namorado — Dan, aparentemente — parecia um atleta do time do colégio de futebol; ele tinha os músculos, o tamanho, e o penteado militar. Monica tendia a atrair os caras grandes-mas-idiotas, e este, pelo olhar interrogativo que enviou para eles, parecia desse tipo. — Ela disse que esse era o lugar certo — ele disse, — para armar o... — Cale a boca — Monica disse. — Armar o quê? — Shane perguntou. — Talvez você esteja planejando mexer com os nossos amigos caça-fantasmas? — Você está? — ela retrucou. — Sim. Nós colocamos uma coisa na van que garante que sabote com eles, o que é aquilo mesmo?
— Sabota a merda deles — Dan disse, sinceramente. — Você sabe, a merda de monitoramento deles. Vai tocar Black Sabbath de trás para frente e realmente vai assustar eles. Eu li isso na Internet. — Jesus, Dan — Shane disse. Ele quase parecia impressionado. — Você é apenas... a referência de estúpido, não é? Guinness te chamou para esse recorde mundial? Dan grunhiu e foi atrás dele, e isso foi, naturalmente, um erro; Shane se equilibrou levemente sobre a frente de seus pés, evitou seu ataque, esquivouse de volta para a van, e quando Dan se alinhou para atacá-lo novamente, ele se esquivou como um toureiro e bateu a cabeça de Dan no metal. Dan não perdeu a consciência, mas foi quase. Ele se apoiou pesadamente sobre o metal e olhou fixamente para a distância por um minuto. Sua testa tinha uma marca vermelha vívida sobre ela, e Shane disse: — Você provavelmente deveria colocar um pouco de gelo nisso, cara. — Sim — Dan disse. — Sim, obrigado, mano. — Ele não se atreveu a vir atrás de Shane novamente, então ele encontrou o olhar de Monica. — Bem? Plano brilhante, Prefeito. O que você tem mais? — Oh, Dan, não fale como se... — Faça suas próprias brincadeiras estúpidas para variar. Monica deu-lhe um olhar intenso de decepção, e ele deu de ombros e entrou na van. Em segundos, ele despediu-se e foi embora com uma liberação de fumaça. Deixando Monica para trás. Ela atirou a Claire um olhar de fúria misturada com indignação. — Eu estava tentando ajudar a tirar esses idiotas da cidade. Eu estava sendo precavida e atuando como prefeita! O que diabos vocês fizeram? Audições para papéis de protagonista no programa estúpido deles? Eles tinham atraído a atenção, é claro. Não era das casas vizinhas, já que ninguém se preocupava em olhar para fora para as brigas misteriosas nas ruas por razões inteiramente inteligentes, mas da equipe do After Death que veio carregando câmeras, microfones e máquinas. Angel imediatamente fixou o sorriso de modelo direto sobre Monica. — Esses dois estão incomodando você, linda moça? — Qual é — Claire murmurou, mas já era tarde demais; Monica estava piscando os olhos e colocando sua melhor atuação de magoada enquanto ela se amontoava ao lado de seu cavaleiro recém-chegado com sapatos de couro engraxados. — Ah, sim — ela arfou. — Você viu? Ele bateu no meu namorado!
— Chame a polícia — Angel ordenou a Tyler, que ainda estava gravando, mas Tyler estava distraído com Jenna, que estava batendo em seu dispositivo eletrônico de medição com irritação óbvia. — Ei, ei, ei, é tecnologia, não um tambor! — ele disse, e pegou dela. — O quê? O que há de errado com isso? — Eu estava com um sinal forte! — ela disse. — Ele estava lá, eu juro que estava, mas ele simplesmente desapareceu cerca de trinta segundos atrás. Eu acho que eles espantaram. — Você estava lendo algo errado. — Eu vi! Ele estava no limite no terreno vazio, eu estou dizendo a você... — Oh... hum, foi o meu namorado — Monica disse, e trouxe o caos conflitante a um silêncio morto. — A van que acabou de sair? Ele estava transmitindo um sinal para fazer vocês pensarem que era algum tipo de fantasma. Ele achou que era engraçado. Angel estava olhando para Monica com uma expressão desolada. — Por que você faria aquilo? — Foi Dan, não... — Por que os adolescentes fazem essas coisas? — Jenna falou com raiva. Ela deu um passo para o espaço de Monica, parecendo que estava sentindo um forte impulso de esbofetear a menina como Claire estava. — Vá embora antes que eu chame a polícia. — Não é contra a lei! — Você está certa. Vá embora antes que eu faça algo que é contra a lei, como colocar meu punho na sua cara. — Ei! — Monica deu um passo para o espaço de Jenna agora com as bochechas ruborizadas com um rosa brilhante e agitado. — Você sabe quem eu sou? — A abelha rainha do ensino médio do ano passado, que já não é relevante, mas que ainda pensa que é? — Jenna retrucou, e os olhos de Claire se arregalaram com a precisão da observação. Assim como Monica. — Olha, querida, eu vi uma dúzia de cidades como esta, e há sempre alguém como você que pensa que é... bem, alguém. Monica abriu a boca para responder, mas não o fez. Ela estava se lembrando de que ela era, na verdade, ninguém, pelo menos por suas próprias normas; ela era apenas mais uma valentona agora, sem nada para apoiá-la. Ela nem sequer tinha suas melhores amigas para apoiá-la. Até mesmo seu namorado Pré-Histórico tinha terminado com ela no primeiro sinal de problemas.
E doeu. Nesse momento, Claire sentiu uma pontada de simpatia, porém ela não deveria. — Eu estou concorrendo para prefeita! — Monica se recuperou o suficiente para responder. — Então cuidado com o que você diz, porque o meu primeiro ato oficial seria mandar vocês para fora da cidade em um trilho! Jenna deu de ombros e olhou para Angel, que ainda estava parecendo seriamente decepcionado, e disse: — Vamos lá, vamos filmar de novo um pouco mais no terreno baldio. Nós ainda podemos salvar algumas das filmagens. — Ela se afastou em um ritmo rápido ao virar da esquina, em direção ao terreno baldio. Depois de uma hesitação, Tyler seguiu. Angel deu de ombros e disse: — Me desculpe, mas você vê como é. Temos trabalho a fazer. — Desta vez, não houve beijo na mão, e nem muita paquera, tampouco. — Espere — Monica disse quando ele começou a sair. — Você apenas vai me deixar aqui? Sozinha? Com eles? Angel lançou-lhe um sorriso perfeito, mas continuou andando. — Tenho certeza de que eles vão levar você para casa a salvo. — Oh yeah — Shane disse. — Está na minha lista de coisas a fazer, logo após a descoberta de Atlantis. Aproveite a sua caminhada, Princesa Prefeita. — Ele colocou o braço em torno de Claire e inclinou o queixo dela para olhar em seus olhos. — Você está bem? Não está machucada? — Não — ela disse. — Você? — A única maneira que Dan pode realmente me machucar é tentando ter uma conversa. Ele pode estar na equipe de futebol da faculdade, mas confie em mim, ele é apenas do time juvenil em uma luta de rua. Monica olhou para o pessoal da televisão que partiam e de volta para os dois, em seguida, para a rua vazia. Procurando por algum tipo de terceira opção, Claire pensou. — Você poderia simplesmente ir sozinha — Claire disse, com um pouco de doçura demais. — Eu tenho certeza de que você estará segura. Afinal, todo mundo sabe quem você é. — Graças aos nossos cartazes — Shane colocou. — Você sabe, a culpa é sua que a minha vida é como um inferno, de qualquer maneira, então me poupe dos seus pequenos gestos! — Então agora você está nos culpando por sua vida estar desmoronando depois de uma vida de ganhos? Interessante. — Minha vida estava boa antes de vocês chegarem aqui! — Monica falou.
Shane lhe deu um olhar longo e nivelado. — Você sabe de quem a vida não foi tão boa? De praticamente todo mundo. Inclusive dos vampiros, não que eu esteja contando isso como um extra, mas para você ter uma ideia. Ela ignorou Shane. Estranhamente, porque os dois eram quase sempre gasolina e fósforo. — Eu preciso de uma escolta até em casa — ela anunciou ao ar em algum lugar entre os dois. — Digam que vocês vão para esse lado. Shane deu de ombros quando Claire olhou para ele. — Bem, eu acho que seria melhor. Como ela pode ser prefeita se ela estiver morta em uma vala? — Ela acabou de lhe provocar com a voz de sua irmã morta! — Não — Monica disse. — O quê? — Claire falou com raiva; ela estava ficando com muita raiva agora, raiva o suficiente para fazer ou dizer algo que ela não poderia se arrepender. E Shane, estranhamente, não estava. — Eu não fiz isso — Mônica disse, e encontrou os olhos de Shane. — Eu não faria isso. Dan e eu estávamos brincando com os aparelhos eletrônicos deles, e já estávamos planejando se aproximar e fazer alguns barulhos irritantes. Mas eu juro, eu não fingi ser a sua irmã. — Ela não faria isso — Shane disse suavemente. — Não depois de Richard, de qualquer maneira. — Houve, Claire percebeu, algum tipo de entendimento entre os dois agora, algo que ela não entendeu muito bem, mas podia ver; não era afeição, e com certeza não era paixão, mas uma espécie mútua de... cautela. Como se eles pudessem entendessem um ao outro abriria um lugar que poderia ser ferido, e nenhum estava disposto a passar por isso. — Então, o que foi aquilo? Foi realmente... realmente... — Ela não conseguiu terminar o pensamento. Ela estava se sentindo um pouco deslocada agora, como se o mundo estivesse dobrando em torno dela... Ela pensou que ela tinha visto o suficiente de Morganville, que algo como isso nunca aconteceria novamente. — Eu não sei — Shane disse, — mas eu pretendo descobrir. Q q q Levar Monica para casa foi exatamente o divertimento que Claire havia esperado, ou seja, nenhum divertimento. Ela reclamou sobre ter que andar em seus saltos (que Shane, provando que ele não estava totalmente fora do movimento Vamos Odiar Monica, sugeriu que ela montasse na sua vassoura e voasse para casa); ela reclamou sobre o tempo quente, suor e arruinar a sua
roupa; ela reclamou sobre a falta de serviço de táxi (Claire teve de concordar que ela tinha razão — Morganville precisava desesperadamente). Claire começou a ignorá-la nesse ponto quando eles estavam dentro da vista do complexo de apartamentos de luxo de Monica (o único em Morganville, de fato, com dez apartamentos que custavam mais do que a maior parte da cidade podia até pensar em pagar). Monica tinha vendido a casa da família Morrell, que tinha na sua maioria sobrevivido a todos os problemas dos últimos anos intacta, exceto por danos de festas, e fez uma conta bancária para permitir que ela não trabalhasse por pelo menos um par de anos, embora ele provavelmente não durasse tanto com os sapatos de grife de Monica. E, em seguida, Monica disse: — Eu ouvi as pessoas falando em torno da cidade hoje. Seus amigos deveriam ter cuidado, ‘porque as facas estão para fora’. Isso chamou a atenção de Claire, rápido. A de Shane também. Ambos pararam de andar, e Monica andou mais alguns passos antes de parar e dizer: — O quê? Como se vocês não soubessem? — Do que você está falando? — Shane fechou a distância em direção a ela rapidamente. — O que você ouviu? Desembucha! — Ei, ei, espere! — Ela tentou se afastar, mas perdeu o equilíbrio em seus calcanhares instáveis e quase caiu; Shane agarrou seu braço e firmou-a, e não a soltou. — Olha, eu não sei porque você está tão surpreso e tudo mais! Me solte! — Não até que você responda a pergunta. O que tem Michael e Eve? — Oh, qual é. Um vamp se casar com um humano faz com que os vampiros fiquem chateados, e Eve fez-se parecer ao máximo como uma fodapresas para todos os seres humanos quando colocou um anel, então o que vocês esperavam exatamente? Flores e desfiles? Aqui é o Texas. Nós ainda estamos tentando descobrir como soletrar tolerância. — Eu disse, o que você sabe sobre isso? Onde? Quando? Quem está envolvido? — Qual é, idiota! Ele não disse nada, mas Claire tinha quase certeza de que ele a apertou porque Monica fez um som um pouco engraçado e ficou muito quieta. — Tudo bem — ela disse. — Ok, imbecil, você ganhou. É apenas uma conversa geral, pelo que eu saiba, mas algumas pessoas estão dizendo que um exemplo deve ser feito. Michael e Eve são apenas alvos acessível que estão no meio da zona de guerra. Comece a pensar nisso, assim como a sua namorada, com toda a bajulação dela com Amelie.
Shane soltou ela. — Você que está falando. — Sim, eu estou. Eu sei como é pensar que você está estável e seguro e, de repente, está de pé sozinho. Você acha que você e seus amigos são os únicos na mira? Você tem alguma ideia de quantas pessoas querem me machucar? Monica era mais autoconsciente do que Claire lhe dava crédito. Ela sabia como as coisas eram — talvez mais do que Shane, surpreendentemente. Ela provavelmente teve que aprender a se proteger rápido, já que a cidade tinha parado de ser intimidada por seu status de princesa auto coroada. — Então você não deveria estar irritando os únicos que podem ouvir você quando você gritar por ajuda — Shane disse. — Me entendeu? Monica finalmente balançou a cabeça, um pouco a contragosto. Ela lançou um olhar rápido e ilegível para Claire e, em seguida, virou-se e caminhou até a entrada para o apartamento dela. Eles observaram enquanto ela pegava uma chave (embora onde ela a mantinha nesse vestido muito justo era um mistério) e destrancou a porta. Uma vez que ela estava lá dentro, e as luzes estavam acesas, Shane colocou as mãos nos bolsos e estendeu um cotovelo para Claire, que enfiou o braço nele. — Você está super agradável com ela de repente — Claire disse. — Há. Se eu fosse super agradável com ela, ela não teria hematomas no braço direito agora — ele disse. — Mas eu estou disposto a esquecer de odiá-la de vez em quando. Ela teve uma vida difícil nesses últimos anos. — Assim como você. Ele lhe deu um sorriso. — Eu nunca tive muito, portanto ter uma vida difícil fazia parte. Eu estava condicionado a isso. E você está esquecendo a coisa mais importante que diferencia. — Você não tem um vício de moda para roupas coladas? — Eu tenho você — ele disse, e o calor em sua voz tirou seu fôlego. Ela soltou o braço e se aproximou enquanto eles caminhavam, e ele a abraçou. Foi estranho caminhar dessa forma, mas pareceu tão doce. — Ok, e eu não tenho um vício de moda. Diferença válida. — Você não acha que ela sabe algo sobre um complô para machucar Michael e Eve, não é? O jeito que ela disse... — Eu não sei — Shane disse. — Eu não acho que ela iria esconder; ela realmente gostaria de nos provocar com isso, mas ela desistiu. Não é como se ela quisesse que Michael morresse, de qualquer maneira. Ela sempre teve uma queda por ele. — E por você — Claire disse, e lhe deu uma cotovelada. — Mais do que um pouco.
— Eca. Por favor, não diga isso ou eu vou perder a minha vontade de viver. — Eu te amo. — Isso saiu de sua forma espontânea, e ela sentiu um pouco de choque de adrenalina, em seguida, uma explosão um pouco de medo logo depois disso. Não tinha havido nenhuma razão para ela dizer isso agora, andando na rua, mas tinha apenas parecido... certo. Ela estava um pouco com medo de que Shane pensaria que foi pegajoso ou falso, mas quando ela olhou para ele, viu que ele estava sorrindo — um sorriso leve e descontraído, simples e feliz. Não era algo que ela via muitas vezes, e isso fez com que ela se sentisse gloriosa. — Eu também te amo — ele disse, e isso pareceu uma espécie de marco para ela, parecia bastante fácil que um apenas dissesse ao outro sempre que quisesse, sem uma sensação desagradável por isso, ou medo. Estamos crescendo, ela pensou. Estamos crescendo juntos. Ele colocou seu braço ao redor dela, e eles caminharam juntos por todo o caminho de casa. O sol poente era brilhoso, vermelho e dourado, derramando no céu vasto e aberto, e era uma das coisas mais bonitas que Claire já tinha visto em Morganville. Pacífico. Foi a última delas, no entanto.
Capítulo 8
E
AMELIE
u não conhecia ninguém, vampiro ou humano, que poderia desviar Myrnin de um curso uma vez que ele tivesse decidido sobre isso, mesmo sendo louco, maníaco, destrutivo ou simplesmente apenas um objetivo. Então, quando os guardas me informaram que ele havia se recusado a parar no ponto de checagem para o corredor do meu escritório, eu não me incomodei em ordená-los a tentar detê-lo. Poderia ter sido possível por alguns momentos, uma hora, um dia, mas Myrnin não esqueceria. Ele poderia simplesmente começar de novo, e mais cedo ou mais tarde, ele teria sucesso. Eu apertei o botão no meu telefone — ainda um aparelho tão estranho e comum, a meu ver, não tinha nada atraente nele — e informei a minha assistente da sua chegada, ela não devia ficar em seu caminho. Coitada, ela tinha recebido bastante ofensas ultimamente, dos humanos, bem como dos vampiros. Só que eu poderia lidar com Myrnin com alguma escala de sucesso. Ele explodiu através da minha porta com a força de uma tempestade tropical, e de fato a profusão de cores sobre a sua pessoa me fez lembrar disso... tantos tons, e nenhum deles combinados. Eu não me incomodei em catalogar todas as ofensas, mas elas começaram com a jaqueta que ele tinha escolhido. Eu não tinha um nome para essa tonalidade particular de laranja, que não seja deplorável. — Esta é a minha última tentativa de fazer você ver a razão — ele disse. Gritou, na verdade. — Maldita seja, há quanto tempo nós trabalhamos, quantos sacrifícios que fizemos? Para ver você jogar isso tudo fora por ele... Eu já tinha decidido, bem antes de sua entrada triunfal, qual seria o meu primeiro passo, e com uma economia de movimento, eu lhe dei um tapa em cheio no rosto. A força dele teria derrubado um mortal forte; certamente fez Myrnin pausar, com a marca do golpe corando um leve rosa na forma dos meus dedos.
Ele piscou. — Você pode guardar o seu discurso bem ensaiado — eu disse. — Eu não vou ouvir nada disso. Esta intrusão mal aconselhada está no fim. — Amelie, temos sido amigos desde... — Não se atreva a me dizer quantos anos. Eu posso contar, assim como você, ou possivelmente melhor nos dias em que você está insano — eu rebati de volta. — Sente-se. Ele o fez, parecendo estranhamente atento. Eu andei de um lado para o outro. Eu tinha feito isso com mais frequência do que era o meu hábito normal, mas eu suprimi os meus nervos. Morganville ultimamente parecia exasperante, um brinquedo quebrado que nunca seria consertado, não importava quanto tempo e amor eu despejasse sobre os reparos. Myrnin disse: — Você até se move como ele agora. — Silêncio! — Virei-me para ele, rosnando, e sabia que meus olhos tinham ficado um vermelho profundo. — Não — ele disse, com uma espécie estranha de calma. Myrnin era muitas coisas, mas ele raramente era calmo, e quando ele estava, era hora de se preocupar. — Há algumas pessoas que podem dizer que este é um bom parceiro para você, que você precisava de um braço direito forte para acalmar os temores dos vampiros e subjugar a população humana. Eu não sou uma dessas. Sam suavizou você, Amelie. Ele fez você se sentir mais uma parte do mundo que você governa. Oliver nunca vai fazer isso. Ele não sente nenhuma responsabilidade por aqueles que ele esmaga e... — Suje o nome dele e nós estamos acabados — eu interrompi. Eu falei sério, e isso escorria em cada sílaba que eu falava. Myrnin ficou sentado por um momento, olhando nos meus olhos, e então ele acenou com a cabeça. — Então, nós acabamos de fato — ele disse. — Eu só tinha que ter certeza de que você estava além da minha esperança e da minha ajuda. Mas se ele amarrou você tão forte, ele terá você para fazer o que ele quiser. Doa a quem doer. — Você acha que eu sou assim tão estúpida? Tão absolutamente fraca que eu permitiria que qualquer homem que... — Não é apenas um homem — Myrnin disse. — Ele influenciou uma nação para matar seu rei, uma vez. Ele persuade. Ele influencia. Talvez ele nem sequer tenha a intenção de fazê-lo, mas é da sua natureza. E enquanto você é mais poderosa do que ele, de longe, uma vez que ele tiver a sua confiança, não há como dizer o que ele pode ser capaz de realizar através de você.
Suas palavras me deixaram fria por dentro, um frio que eu não tinha sentido desde o momento em que eu finalmente reconheci a necessidade doendo por conta de Oliver, por sua lealdade, por sua atenção. Eu tinha estado sozinha por tanto tempo; o avô de Michael, Sam Glass, e eu tínhamos nos amado, mas exceto por alguns momentos preciosos, sempre com cuidado, e de longe. Oliver tinha vindo até mim como uma tempestade, e a fúria disso era uma... limpeza. Mas Myrnin estava certo? Eu poderia ser uma vítima de queda, como muitos tinham sido, pelo encanto mortal de Oliver? O que eu estava fazendo ali era certo, ou simplesmente conveniente para suas ambições? Eu lentamente me sentei em uma cadeira em frente ao meu amigo vivo mais antigo, aquele que — no final das contas — eu confiava mais do que qualquer pessoa ainda caminhando na terra, e disse: — Eu conheço minha própria mente, Myrnin. Eu sou Amelie. Eu sou a fundadora de Morganville, e o que eu faço aqui, eu faço para o bem de todos. Você pode confiar nisso. Você deve. Ele tinha uma tristeza em seus olhos que eu não conseguia entender, mas, no entanto, quem já tinha entendido Myrnin totalmente? Eu não poderia fazer essa reivindicação, e nem Claire poderia, a garota que ele confiava tanto. E então ele se levantou, e com a facilidade de milhares de anos de experiência, ele fez uma reverência graciosa e antiga, pegou minha mão na sua e beijou-a com o maior amor e respeito. — Adeus — ele disse. E então ele se foi. Eu lentamente puxei minha mão de volta para o meu peito, franzindo a testa, e me tornei ciente de que eu estava embalando-a, esfregando o local onde seus lábios tinham pressionado como se tivessem me queimado. Adeus. Ele tinha tido explosões de raiva muitas vezes, ameaçando ir embora, mas isso... isso pareceu diferente. Era uma calma ordenada, e acima de tudo uma triste partida. — Myrnin? — eu disse suavemente no silêncio, mas era tarde demais. Tarde demais.
Capítulo 9
S
CLAIRE
hane antecedeu Claire para dentro da casa por dois passos enquanto ela fechava e trancava a porta atrás deles; ao que parecia isso foi uma sorte, porque enquanto ela estava girando a maçaneta, ela o ouviu dizer: — Ah, merda — em uma voz que foi sufocada por um riso e, em seguida, um grito assustado de Eve, seguido pelo som de arrastados e batidas. Shane se apoiou ao lado de Claire e segurou-a para trás quando ela se moveu para frente. — Confie em mim — ele disse. — Espere um segundo. Michael e Eve estavam na sala, a sala de estar da frente que era tão raramente usada, exceto para deixar cair casacos, bolsas e materiais diversos, e pelos sussurros apressados e farfalhar de roupas, Claire rapidamente descobriu exatamente porquê Shane estava segurando-a. Oh. — Eu acho que eu deveria ter dito, Vistam as calças — Shane disse, em voz alta o suficiente para que eles pudessem ouvir. — Alerta, há uma garota quase menor de idade aqui fora. — Ei! — Claire levantou a mão até ele, que ele facilmente evitou. — O que eles estavam fazendo? — O que você acha? Com o rosto rosa, Eve inclinou-se ao redor da moldura da porta e disse: — Hum... oi. Vocês chegaram cedo. — Não — Shane disse com um impiedoso bom ânimo. — É a hora do pôr do sol. Não é nem um pouco cedo. Você está vestida? — Sim! — Eve disse. Suas bochechas ficaram mais brilhantes. — Claro! E você não viu nada, de qualquer maneira. — Havia um pouco de preocupação em sua voz, no entanto, e Shane tornou pior dando um sorriso grande e totalmente antipático. — Pessoas casadas — ele disse a Claire. — Elas são uma ameaça.
Eve saiu da porta, fechando o zíper de sua blusa — era uma daquelas com a frente com zíper — e limpou a garganta. — Certo — ela disse. — Nós realmente precisamos conversar, pessoal. — Sabe, meu pai era uma droga na maioria das coisas, mas ele me explicou as coisas sobre sexo quando eu tinha dez anos, então eu entendi — Shane disse. Cara, ele estava gostando disso demais. — Claire? Ela assentiu com a cabeça sobriamente. — Eu acho que entendi o básico. Eve, ainda corando, revirou os olhos. — Estou falando sério! Michael finalmente apareceu atrás dela. Ele estava vestido, mais ou menos; sua camisa estava desabotoada, embora ele estivesse abotoando o mais rápido que podia. — Eve está certa — ele disse, e ele não estava brincando. — Nós precisamos conversar, pessoal. — Não, nós não precisamos — Shane disse. — Apenas me mande mensagem ou algo assim da próxima vez. Nós poderíamos ir comer um hambúrguer ou assistir um filme... Michael balançou a cabeça e caminhou para dentro da sala. Eve o seguiu. Shane enviou a Claire um olhar que tinha um pouco de alarme nele e, finalmente, deu de ombros. — Acho que estamos conversando — ele disse. — Quer nós queiramos ou não. Michael e Eve não se sentaram quando os dois entraram; eles estavam de pé com as mãos entrelaçadas, em solidariedade, aparentemente. — Uh-oh — Shane murmurou, e, em seguida, deu um sorriso alegre. — Então, Mikey, o que foi? Porque isso parece mais do que apenas um tipo de discussão de “como foi o seu dia”. — Precisamos falar sobre uma coisa — Eve disse. Ela parecia nervosa, e — para Eve — ela tinha se vestido super simples, apenas uma blusa preta e jeans, nem um único crânio ou coisa brilhante em evidência, exceto pelo brilho sutil de seu anel de casamento. — Desculpa, gente. Sentem. — Vocês primeiro — Shane disse quando Claire despejou sua mochila com um baque pesado perto da parede. Michael trocou um olhar com Eve e, em seguida, sentou-se ao lado dela no sofá de veludo velho, enquanto Claire se instalou na poltrona e Shane inclinou-se sobre o topo da mesma, com a mão no ombro dela. — Se estamos jogando jogos de adivinhação, eu vou começar com... você está grávida. Espera, você pode ficar? Quer dizer, vocês dois podem...? Eve se encolheu e evitou olhar para os dois. — Não é isso — ela disse, e mordeu o lábio. Ela torceu seu anel de casamento em agitação, e então
finalmente disse: — Nós temos falado sobre ter o nosso próprio lugar, gente. Não porque nós não amamos você, nós amamos, mas... — Mas precisamos de nosso próprio espaço — Michael disse. — Eu sei que parece estranho, mas para nós nos sentirmos realmente juntos, casados, precisamos ter algum tempo para nós mesmos, e vocês sabem como é aqui; estamos todos metidos uns nos negócios dos outros aqui. — E há apenas um banheiro — Eve disse com tristeza. — Eu realmente preciso de um banheiro. Claire suspeitava que isso iria acontecer, mas isso não fez ela se sentir melhor. Ela instintivamente estendeu a mão para a mão de Shane, e seus dedos fechados sobre os dela a fez se sentir um pouco mais estável. Ela estava tão acostumada à ideia dos quatro juntos, sempre juntos, que ouvir Michael falar sobre se mudar despertou sentimentos que ela tinha pensado que ela tinha largado... sentimentos que não estavam no seu radar desde que ela entrou pela porta da Glass House pela primeira vez. De repente, ela se sentia vulnerável, sozinha e rejeitada. Ela sentia saudades de casa, mesmo que ela estivesse em casa, porque a casa não estava do jeito que ela tinha deixado esta manhã. — Nós queremos que vocês sejam felizes — Claire conseguiu dizer. Sua voz soava pequena e um pouco magoada, e ela não quis dizer isso dessa forma, nem um pouco. — Mas vocês não podem se mudar... essa é a sua casa, Michael. Quer dizer, é a Glass House. E vocês dois são... Glass. Nós não. — Dane-se isso — Shane disse imediatamente. — Claro que eu quero que você dois loucos sejam felizes, mas vocês estão falando de destruir algo que é bom, muito bom, e eu não gosto disso, e eu não vou ser todo nobre e fingir que eu gosto. Juntos, somos fortes, você mesmo disse isso, Michael. Agora, de repente, vocês querem mais privacidade? Cara, isso é tão lógico quanto Vamos nos separar em um filme de terror! Michael deu-lhe um olhar quando ele terminou de abotoar a camisa. — Eu acho que é bastante óbvio que a privacidade é um problema. — Não se vocês não decidirem enlouquecer em um quarto sem uma porta trancada. Ou, vocês sabem, sem uma porta. — É só que estávamos esperando vocês, e estávamos nervosos, e... apenas aconteceu — Eve disse. — E nós somos casados. Nós temos o direito de enlouquecermos se quisermos. Em qualquer lugar. A qualquer momento. — Ok, eu entendo — Shane disse. — Inferno, eu gostaria de um pouco de sexo espontâneo também, mas vale a pena colocar todos nós em perigo?
Porque Morganville não é seguro, pessoal. Vocês sabem disso. Vocês saem dessa casa, ou nos fazem sair, e algo vai acontecer. Algo ruim. — Você fez uma leitura da sorte com Miranda? — Eve perguntou. — Eu poderia dizer algo sobre bolas de cristal... — Não preciso de uma amiga psíquica para me dizer que é desagradável lá fora, e vai ficar pior. Michael, você está na Equipe Vampiro. Você está dizendo que não acha que vai ficar pior com Amelie e Oliver no comando? Michael não tentou responder a essa, porque ele não podia; todos eles já concordaram com isso. Eve falou, em vez disso. — Nós poderíamos ter uma casa no bairro vampiro — ela disse. — De graça. É parte da cidadania de Michael na cidade. Não seria um problema exceto que... — Exceto que você estaria vivendo no Centro dos Vampiros, e seria a única coisa com um pulso em alguns blocos quadrados, cercada por pessoas que pensam em você como um recipiente atraente em forma de plasma? — Shane perguntou. — Problema. Oh, um outro problema: Mikey, você disse a si mesmo que estar em torno de nós, ou seja, de todos nós, o ajudou a lidar com seus instintos. Agora você está falando em se isolar com um grupo de quase-mortos. Não é inteligente, cara. Isso vai tornar você mais vampiro, e isso vai colocar Eve em mais perigo também. — Eu nunca disse que estávamos nos mudando para a área dos vampiros — Michael disse. — Eve estava apenas apontando que poderíamos, não que iríamos. Nós poderíamos encontrar outro lugar, algo perto. O antigo lugar de investimentos ainda está à venda na rua abaixo. Amelie me deu uma herança, então eu tenho dinheiro para pagar. — Michael... Nós não vamos nos mudar para aquele buraco — Eve disse. Soou como um velho argumento. — Tem cheiro de urina de gato e roupas velhas de homem, e é tão antigo que faz este lugar parecer com a casa do futuro. Eu não acho que ele tenha linhas de telefone, sem contar Internet. Seria melhor viver em uma caixa de papelão. — É sempre uma opção — Shane disse alegremente. — E você teria um enorme banheiro. Tipo, o mundo inteiro. — Eca, nojento. — É para isso que você me paga. — Me lembre de dar a você um aumento negativo. — Isso não vai nos levar a lugar nenhum — Michael interrompeu, e fez ambos se calarem. — Além disso, não somos só nós quatro mais. Tem Miranda também.
A conversa deu uma parada repentina e vívida, e todos eles esperaram para ver o que aconteceria. Era noite; isso significava que Miranda tinha forma física. Mas isso não significava necessariamente que ela podia ouvir tudo. Claire baixou a voz a um sussurro instintivo e feroz. — Ei! Não fale assim! — Olha, eu não estou dizendo que eu não tenho simpatia por ela; eu tenho, muita. Eu costumava ser ela — Michael sussurrou de volta. — Eu sei qual a sensação de estar preso aqui dentro. Isso te deixa meio louco, e a única maneira que você pode sobreviver a isso, a única maneira, é estar perto de pessoas que pensam em você como... normal. Mas ela não tem isso. Nós sabemos o que ela é. Sabemos que ela está por perto o tempo todo, e isso significa que ela anda na ponta dos pés em torno de nós, e nós andamos na ponta dos pés em torno dela, e... isso não é nada bom, ok? Não é. — Então, o que você quer que eu faça? — Miranda perguntou. Todos eles se encolheram e viraram. Ela não tinha estado lá antes, mas agora ela apareceu na porta do corredor, assim como o fantasma assustador que às vezes ela era. Claire tinha quase certeza de que era deliberado. — Que eu vá embora? — Você não pode — Michael disse. Ele disse isso com cuidado, mas não havia nenhuma dúvida nisso, também. — Mir, você sabia que quando você veio aqui da última vez — quando ela tinha sido morta aqui, ele queria dizer, — que nunca haveria uma maneira de sair de novo. A casa a salvou, e protege você, mas você tem que ficar dentro da casa. — Só porque você ficava? — Miranda disse. Havia algo diferente nela agora, Claire percebeu; ela estava vestindo uma roupa definitivamente nãoMiranda. Sem vestidos enormes e deselegantes desta vez, ou suéteres desfiando baratos; ela estava vestindo uma blusa preta transparente e apertada com um crânio preto impresso nela, e abaixo disso, uma blusa de gola canoa vermelha que de alguma forma conseguiu lhe dar um decote — apenas a sugestão, mas ainda assim. Para Miranda, isso era... uma grande mudança. — Eu não sou você, Michael. — Talvez não, mas você tem que se tornar Eve? — Shane perguntou. — Porque eu tenho certeza que você invadiu o armário dela. — Eu comprei isso para ela! — Eve protestou. — E de qualquer maneira, ela está bonita nelas. Ela estava. Miranda também havia arrumado para cima seu cabelo em dois rabos de cavalo grossos em ambos os lados de sua cabeça, e usou um pouco do delineador de Eve. Era um pouco gótico, mas não totalmente. Combinava com ela.
— Sou eu, não é? — Miranda disse, ignorando tanto Eve como Shane neste momento. Ela estava totalmente fixa em Michael, seus olhos firmes e largos. — É por causa de mim, estando aqui o tempo todo. Você sente como se você não pudesse se esconder de mim. Bem, isso é verdade. Você não pode. Sinto muito, mas é apenas como as coisas são, e você sabe disso melhor do que ninguém. Você não pode simplesmente... desligar, como uma espécie de luz. Você está aqui, e você está entediado. — Eu sei — Michael disse. — Mir... — É por isso que você não quer ficar aqui. Porque eu estou aqui. Não é por causa deles. — Não, querida, realmente não é. — Eve mordeu o lábio e olhou de Michael para Miranda e depois de volta novamente. — Não é isso, eu juro... — Não jure — Miranda disse, — porque eu sei que estou certa. — Ela está — Michael disse. Quando Eve se virou para ele, ele levantou a mão para impedir a explosão. — Sinto muito, mas como eu disse, eu passei por isso. Eu sei como ela se sente. Eu não posso simplesmente ignorá-la... E eu não posso aproveitar a vida aqui sabendo o quão miserável ela está, ou pelo menos vai estar. — Você estava miserável? — Eve disse em voz baixa. — Realmente? Conosco? — Não... eu não quis dizer... — Ele fez um som frustrado e sentou em uma das cadeiras, com os cotovelos sobre os joelhos. — É difícil de explicar. Estar em torno de vocês, de vocês três, era tudo o que tornava as coisas suportáveis, na maioria dos dias. O mundo simplesmente fica cada vez menor e menor até que sufoca você como um saco de plástico sobre o seu rosto. Com ela aqui, eu... eu me lembro como é a sensação. Eu sonho com isso. — Então, o que eu devo fazer? — Miranda exigiu. — Eu salvei a vida de Claire, sabia! Eu morri por ela! — Eu sei disso! — Michael retrucou. — Eu só queria que você tivesse feito isso em outro lugar! Até mesmo Shane sugou a respiração com isso e disse, em voz baixa: — Cara... — Não — Miranda disse. Seu queixo tremia, e ela piscou para conter as lágrimas, mas ela não desmoronou. Claire sentiu uma vontade louca de abraçá-la, mas Miranda parecia como se pudesse se quebrar se alguém a tocasse. — Não é culpa dele. Ele tem razão. Eu fiz isso acontecer, e isso não é justo. Não com ele, não comigo, nem com ninguém. É uma bagunça, e eu causei isso. Eu achei... eu apenas achei que era perfeito. Que eu finalmente
teria um verdadeiro lar, uma família de verdade, pessoas que... — Sua voz falhou e sumiu, e ela balançou a cabeça. — Eu deveria saber. Eu não entendo dessas coisas. — Eu não quis dizer que... — Michael disse, mas ela se virou e foi embora. Nenhum deles reagiu em primeiro lugar. Claire achou que ninguém sabia direito o que pensar ou fazer, e então ela viu Michael vacilar e levantar. Ela não sabia por que até que ela ouviu a abertura da porta da frente. — Não! — ele gritou, e correu em uma velocidade de vampiro para fora da sala. — O que diabos? — Shane deixou escapar, e correu atrás dele, seguido por Eve e Claire. — O que... Claire passou por ele quando ele parou, e ela sugou uma respiração profunda e assustada. Porque Miranda estava lá fora. Na varanda. E Michael estava ali de pé, segurando seu braço enquanto ela lutava para se libertar. Ele estava segurando o batente da porta, esticado completamente para fora, e Miranda devia ter a força de um tigre naquele pequeno corpo, porque ele estava claramente tendo problemas para manter seu aperto. — Pare! — ele gritou com ela. — Miranda, eu não vou deixar você fazer isso! — Você não pode me parar! — ela gritou de volta, e havia lágrimas caindo em seu rosto agora em listras irregulares de delineador. Ela parecia horrorizada, trágica e muito, muito chateada. — Me solte! — Volte para dentro. Podemos falar sobre isso! — Não há nada para falar. Você não me quer aqui, então eu só preciso ir! — Você não pode ir... você vai morrer! — Claire gritou. Ela passou por Michael, foi para a varanda e pegou Miranda em um abraço de urso. Ela podia sentir o coração da garota não-tão-real batendo contra seu antebraço, de terror, raiva ou pura adrenalina. — Miranda, pense. Volte para dentro e vamos conversar sobre isso, certo? Nenhum de nós quer que você morra aqui! — Eu vou morrer lá dentro, se vocês forem embora! Desta forma, vocês podem ficar; vocês podem ser felizes novamente... — Não é você; eu não estava falando sério! — Michael estava com medo, Claire pensou, realmente e seriamente com medo de que isso tudo fosse culpa dele. — Você não pode fazer isso. Nós vamos resolver isso. Miranda ficou muito quieta por um segundo, embora seu coração continuasse a correr descontroladamente rápido, e ela soltou um profundo suspiro, se rendendo. — Tudo bem — ela disse. — Você pode me soltar. Michael disse: — Se você vir para dentro, claro.
— Eu irei. Claire soltou seu aperto, só um pouco. E foi apenas o suficiente para Miranda retorcer como uma coisa selvagem, seus rabos de cavalo chicoteando no rosto de Claire, e quando Michael gritou e tentou puxá-la para dentro, Miranda agarrou seu braço e o mordeu, com força suficiente para fazê-lo soltar ela. E então ela tropeçou para trás, livre, descendo os degraus, e caiu no chão no quintal. Todos eles congelaram — Miranda, Claire, Michael, Eve e Shane, que se lançou para fora também. A única coisa se movendo era uma única mariposa vibrando e circulando no brilho amarelo da luz da varanda. Miranda se levantou lentamente. — Hum... — Shane disse, quando ninguém falou. — Ela não deveria estar, eu não sei, se dissolvendo? Michael deu um passo para baixo em direção a ela, e Miranda pulou para trás. Ele estendeu a mão, com a palma para fora, como se ela fosse uma criança perdida que podia sair correndo para o trânsito. — Mir, espera. Espera. Olhe para você. Shane está certo. Você não está... desaparecendo. — Eu ainda estou na propriedade. — Não funciona dessa maneira — ele disse. — Eu não podia sair pela porta, muito menos descer para o quintal. Claire? — Ele olhou para ela quando ela andou ao lado dele, porque ela tinha ficado um breve período presa em um estado fantasmagórico também. Ela assentiu com a cabeça. — Eu não podia sair, também — ela disse. — Miranda, como você está fazendo isso? — Eu não estou! — Ela deu mais um passo para trás para baixo da calçada, em direção à cerca. — Eu só estou tentando... sair daqui, ok? Se vocês me deixarem ir! Parecia tão quieto esta noite. As casas da Lot Street estavam esboçadas em traços largos de cinzas; o céu tinha mudado para a cor de lápis-lazúli, e as estrelas estavam brilhantes e intensas. Não havia nuvens. A temperatura já havia caído pelo menos dez graus, como era típico para o deserto; que ia mergulhar quase ao congelamento antes do amanhecer. — Como você se sentiu? Indo para fora? — Michael perguntou. Miranda teve um pequeno tremor. — Foi como... me empurrar através de algum tipo de plástico, eu acho. Parecia frio, mas está mais frio aqui fora. Muito mais frio. Como se eu estivesse me afastando de um incêndio.
— Mas você se sente bem? Não está se despedaçando? — Eve disse. Ela estava observando com olhos arregalados e assustados. — Miranda, por favor, não vá mais longe, ok? Apenas fique onde está. Vamos... pensar sobre isso. Se você não quer que a gente vá, vamos ficar, ok? Nós vamos todos ficar em casa. Seremos todos amigos e seremos uma família para você. Eu prometo. Nós não vamos desapontar você. — É melhor eu ir. — Miranda estremeceu novamente. Ela estava pálida agora, mas não exatamente fantasmagórica. Apenas fria. Claire se perguntou se deveria pegar um casaco para ela, mas isso era estúpido; a ideia era trazê-la de volta, não ajudá-la a ir embora. Esse plano não parecia estar funcionando tão bem, porque quando Claire tentou dar um passo mais para perto, Miranda abriu o portão da frente na cerca de piquete inclinada, que estava seriamente precisando de pintura. — Não! — eles quatro disseram em coro, e Michael usou uma oportunidade, uma grande. Ele correu até a menina, em velocidade de vampiro, na esperança de pegar e puxá-la de volta para dentro antes que ela saísse para a calçada pública, fora da propriedade da Glass House completamente. Mas ele não chegou a tempo. Miranda abaixou e correu até a rua. Para o meio da rua, onde ela parou, estremecendo quase constantemente agora, e olhou para o céu grande do Texas, a lua, as estrelas. — Eu estou bem — ela disse. — Eu vou ficar bem. Está vendo? Eu não tenho que estar dentro o tempo todo. Eu posso sair. Estou bem… Mas ela não estava bem; todos eles podiam ver isso. Ela estava pálida leitosa e seus dentes batiam. Não estava tão frio lá fora; a respiração de Claire ainda não estava vaporizando, mas pela maneira como Miranda estava tremendo, poderia muito bem ter estado abaixo de zero. — Você não está bem — Eve disse. — Mir, por favor, volte. Você provou seu ponto. Sim, você pode sair... — Ela olhou para Michael e balbuciou, Por que?, mas ele só deu de ombros. — Você pode sair a hora que quiser. Então, vamos para dentro e comemorar, ok? Além disso, está escuro. Você é como uma isca de vampiro no meio da rua desse jeito. — O que eles vão fazer... mordê-la? — Shane perguntou. — Ela está morta, Eve. Eu nem acho que ela tem sangue. — Sim, ela tem — Michael disse. Ele estava observando Miranda com uma expressão preocupada agora. — Ela tem um corpo vivo à noite, assim como eu tinha. Ela pode ser ferida durante a noite. E drenada. Isso só não iria matá-la
de forma permanente; pelo menos eu não acho que iria... eu acho que ela tem que voltar. — Fonte de sangue renovável — Eve disse suavemente. — É um pesadelo para você. Não podemos deixá-los saber sobre ela. Precisamos levá-la de volta para dentro e descobrir como ela é capaz de fazer isso. — Como? Ela não vai deixar qualquer um de nós chegar perto! — Cerquem ela — Eve disse. — Michael, Shane, vão pelo outro lado. Claire e eu iremos deste lado. Encurralem ela. Não deixem ela correr. Nós só vamos levá-la de volta para dentro. — Ela é forte — Michael advertiu. — Bastante forte. — Ela não vai nos machucar — Eve disse. Michael olhou para seu braço, que ainda estava se curando e mostrava marcas de mordida. — Bem, não muito, de qualquer maneira. — Você e seus abandonados — ele disse, mas Claire poderia dizer que havia amor por trás disso. — Tudo bem, vamos fazer do seu jeito. Shane? — Estou dentro. Michael e Shane se espalharam, pela direita e esquerda, circulando em torno de Miranda e deixando-a com um amplo espaço no meio da estrada quando Eve e Claire fecharam a distância pela frente. Claire supôs que parecia estranho, mas se alguém estava olhando das outras casas, ninguém fez um som. Nem uma cortina balançou. Não só a cidade de Morganville não se importava; ela nem percebeu quando uma garota foi perseguida por quatro adolescentes mais velhos. Mesmo que tivessem boas intenções. Miranda não estava tentando fugir, no entanto. Ela tinha envolvido os braços finos em torno de seu corpo e estava estremecendo em espasmos contínuos agora, e sua pele parecia menos real, mais como vidro com névoa por trás dele. — Miranda — Claire disse suavemente, — precisamos levá-la para dentro. Por favor. — Eu posso fazer isso — Miranda disse. Ela estava olhando para si mesma com uma expressão vazia, mas havia uma rigidez teimosa em seu queixo, e ela enxugou seu rosto com as costas da mão e endireitou os ombros. — Eu posso viver aqui fora. Eu posso. Eu não preciso estar lá. — Você precisa — Eve disse. — Talvez seja uma coisa gradual. Você precisa trabalhar nisso um pouco de cada vez. Então podemos tentar novamente amanhã à noite. Hoje à noite, ei, venha para dentro; vamos assistir a um filme. Você pode escolher.
— Podemos ver o filme do pirata? O primeiro? — Claro, querida. Basta entrar na casa. Shane e Michael estavam fazendo progresso constante vindo de trás de Miranda, e Michael acenou para Claire quando ela chegou em sua posição. — Vamos todos entrar — ele disse. Miranda arrastou os pés sem jeito no lugar, como se suas pernas não quisessem se mover, e virou-se para olhar para ele por cima do ombro. — Nós não queremos que nada de ruim aconteça com você, Mir. — Bem — ela disse, — é um pouco tarde para isso, mas eu aprecio isso. Você sabia? Eu não posso mais saber o futuro? É como se todo o poder que eu tive foi para outro lugar. — Ela apontou para si mesma. — Para dentro disso. Isso... poderia fazer algum tipo estranho de sentido, Claire pensou, que os dons psíquicos poderosos de Miranda — mesmos que eles a levaram a morrer dentro da Glass House para salvar a vida de Claire — tornaram-se uma espécie de sistema de suporte de vida para ela depois da morte. — Mas isso significa que eu não sei mais — Miranda disse. Sua voz estava mais fraca agora, quase como um sussurro. — Eu não sei o que vai acontecer. Estou com medo. — Você não tem que estar — Claire disse, e estendeu a mão. Miranda hesitou, depois estendeu a mão. Mas no segundo que sua pele a tocou, a de Miranda rachou como o gelo mais fino, e um nevoeiro gelado derramou-se, queimando os dedos de Claire com o frio. Ela recuou com um grito, e havia rachaduras em todo o corpo de Miranda agora, correndo através das linhas de renda preta, e então ela simplesmente... Ela simplesmente se quebrou. Por alguns segundos, o nevoeiro se manteve junto na forma de uma menina turva, e Claire ouviu um grito, um grito real, surpreso e assustado... E então ela se foi. Completamente desaparecida, exceto pelas roupas vazias que encontravam-se na rua. — Mir! — Claire sentiu a pressão em sua mão desaparecer, e pulou para a frente, cortando o ar, esperando por algo, qualquer coisa... mas não havia nada — apenas um espaço vazio. Miranda tinha desaparecido completamente, e sua última palavra pareceu ecoar repetidamente na mente de Claire. Assustada. — Oh, Deus — ela disse em um sussurro, e sentiu as lágrimas arderem seus olhos. Miranda tinha sido tratada mal por toda a sua vida, e inclusive
tinha morrido na Glass House pelas mãos de um draug, mas tinha parecido como se, finalmente, ela estivesse tendo alguma coisa boa. Um lugar de segurança. Uma vida, mesmo que limitada, que ela poderia chamar de sua. Era simplesmente... muito triste — tão triste que Claire sentiu as lágrimas sufocando-a, e ela caiu nos braços de Shane, agarrando-se a seu calor sólido por um longo momento antes de ele sussurrar em seu ouvido: — Nós temos que voltar. Não é seguro aqui fora. Ela não queria ir, mas não havia nenhum bem em arriscar suas vidas por alguém que já se foi. Então, ela o deixou guiá-la de volta para a Glass House. Michael e Eve já estavam lá. Eve, estranhamente, não tinha derramado uma lágrima, pelo estado impecável de seu lápis de olho; ela era geralmente a propensa a começar a chorar, mas não desta vez. Ela apenas parecia perplexa e chocada. — Talvez ela esteja bem — Eve disse. Michael colocou seu braço ao redor dela. — Talvez... oh, Deus, Michael, nós fizemos isso acontecer? Nós começamos isso, com toda a conversa sobre se mudar. Se não tivéssemos dito que ela estava nos incomodando, talvez ela não teria... teria... — Não é culpa sua — Shane disse calmamente. — Ela seria atraída a experimentar isso mais cedo ou mais tarde; já que ela descobriu que ela poderia sair pela porta, ela iria continuar pressionando sua sorte. E de qualquer maneira, você pode estar certa. Ela pode ainda estar bem. Talvez ela apenas não esteja mais ancorada. Poderia ser mais difícil para ela voltar ou nos avisar que ela ainda está ao redor. Talvez ela estará de volta amanhã. Ele estava tentando encarar isso da melhor forma, mas não importava o quê, era terrível. Eles tinham perdido alguém, aqui no escuro — uma garotinha assustada, deixada sozinha. Talvez para sempre. E pelo olhar em seus olhos, até mesmo Shane sabia que todos eles eram culpados. q q q Claire tinha estado ansiosa para passar a noite na companhia de Shane, em todas as nuances de significados que poderia haver, mas o desaparecimento de Miranda tinha tirado toda a alegria dos dois. Michael e Eve pareciam estar na mesma. Todos eles acabaram sentados no sofá juntos e assistiram a um DVD que nenhum deles particularmente se importou — alguma coisa sobre viagens no tempo e dinossauros — só porque Eve tinha mencionado que tinha sido o favorito de Miranda de sua pequena coleção de vídeos caseiros. Claire
fechou os olhos a maior parte dele, encostando a cabeça no peito de Shane, escutando a sua lenta e forte batida do coração, e permitindo que as carícias firmes em seu cabelo aliviassem um pouco a dor. Quando o filme terminou e fez-se silêncio, Michael finalmente perguntou se alguém queria jogar um jogo, mas ninguém parecia disposto a assumir os controles — nem mesmo Shane, que nunca tinha, tanto quanto Claire podia se lembrar, rejeitado um jogo. Então Michael e Eve foram para o andar superior para o quarto deles, e deixaram Claire e Shane sentados sozinhos. Parecia frio. Claire se encontrou tremendo, mas ela não queria afastar-se do abraço de Shane; ele resolveu isso, pegando a manta do encosto do sofá e envolvendo-a em torno de ambos. — Bem — ele finalmente disse: — Eu acho que a questão de se mudar está fora de questão, pelo menos por agora. — Acho que sim — Claire disse. Lágrimas ameaçaram novamente, mas ela enxugou os olhos com as costas da mão dela com um gesto furioso. Já chega. Ela sabia que não estava realmente chorando por Miranda nesse momento; ela estava apenas sentindo pena de si mesma, por perder mais um tijolo no muro de sua zona de segurança, por mais mudanças, quando ela só queria que tudo ficasse na mesma. — Mas a questão não é ir embora. E não podemos deixar que os nossos amigos simplesmente... saiam, Shane. Não está certo. Não é seguro. — É Morganville — ele disse, e beijou-a suavemente. — Segurança não é algo que nós temos garantido. — Eles têm. — Ela realmente falava sério, Ele tinha, porque Michael era o único com a isenção de regras humanas, mas certamente isso se estendia a Eve, agora que ela era sua esposa. Esposa — que palavra estranha; ela ainda não parecia bastante real para os ouvidos mentais de Claire. Eve era uma esposa. E Shane levantou a possibilidade ainda mais estranha de que um dia Eve poderia ser mãe. Talvez isso não deveria ter sido tão estranho para ela, mas ela não tinha tido quaisquer outras amigas que tinham se casado; ainda era um conceito estranho quando aplicado a uma pessoa real, e ela não entendia totalmente porquê Michael e Eve, que tinham sido tão cômodos com a partilha de uma casa quando eles estavam todos solteiros-mas-comprometidos, achariam tão estranho agora que tinha havido uma cerimônia de verdade em uma igreja. — Bem, você pode ter um ponto. A família Glass teve uma consideração especial por um longo tempo — Shane concordou. — Provavelmente porque por via de regra eles não eram idiotas. Mas a família de Eve... — Ele hesitou, como se perguntando se isso era algo que ele deveria compartilhar. Então ele
deve ter decidido que sim, porque ele disse: — A família de Eve teve uma má reputação, nas gerações passadas. — Por…? — Algumas pessoas bajulam e espezinham, se você sabe o que quero dizer. A família de Eve era assim: bajulava os vampiros em todas as oportunidades, pisando em todos que eles achavam que estavam abaixo deles. Intimidando. Meio como os Morrell, só que em escala muito menor. Isso não os fez ganhar o respeito dos vampiros, ou dos seres humanos; eles não tinham dinheiro para comprar as pessoas, ou o poder para deixá-los com medo. Então, eu não diria que Eve nasceu com imunidade ou coisa assim. Não como Michael era, quando ele era humano. Todo mundo gostava da família Glass. Claire sabia que o pai de Eve era ruim, e sua mãe era praticamente um papel de parede, mas o conhecimento de que isso tinha passado por gerações era revoltante. Geração após geração, agradando os vampiros com favores, e dando as suas crianças quando os vampiros se interessavam — como Brandon, o Protetor dos Rosser, tinha ordenado que Eve fosse dada a ele. Eve não tinha aceitado, o que foi parte do motivo pelo qual ela terminou na Glass House com Michael no início. Ela estava tão disposta a se rebelar que ela correu o risco de morrer para fazer isso. — Então, você está dizendo que Eve poderia ser atingida de ambos os lados se ela deixar esta casa. — Eu estou dizendo que eu acho que é praticamente certo. Ela não tem ninguém além de Michael para cuidar dela, e ele não pode estar com ela o tempo todo. Ela não quer que ele esteja. Isso só... me deixa preocupado. — Shane sorriu um pouco e deu-lhe um olhar de soslaio. — Não fique com ciúmes. Você ainda é a minha menina número um. — Eu não estou preocupada — ela disse. Ela realmente não estava. — Estou com medo, também. E o que vai acontecer quando Michael e Eve não estiverem conosco? Porque estamos no mesmo barco, certo? Eu tenho um pouco de respeito dos vampiros, mas a sua família... — Sim, a família Collins fez todo o possível para tornar-se indesejada por aqui. E os vampiros não se esquecem. Nunca. — Ele suspirou e aconchegou-a mais contra ele. — Sabe, nós realmente devíamos dormir um pouco. É quase três da manhã, e você tem aula hoje, certo? Ela tinha. Sua cabeça não estava nisso, mas ela não podia se dar ao luxo de faltar mais alguma aula; os velhos dias de indulgências dos professores tinham acabado. Suas notas B recentes eram suficientes para provar isso. — Só um pouco mais — ela disse. — Por favor?
— Não é possível dizer não a isso. E eles dormiram, aconchegados juntos no sofá e enrolados na manta, até que um barulho de batidas — chocantemente altos — fez Claire acordar com um espasmo descontrolado. Ela não conseguia respirar para perguntar, mas Shane saltou sobre ela, pousou de pé no chão de madeira, e correu para o corredor. Ele se foi apenas um segundo antes de voltar correndo. — Fogo! — ele gritou, e passou através da porta vaivém da cozinha enquanto Claire se atrapalhava com seus sapatos. Ele voltou em segundos, carregando o grande extintor de incêndio vermelho. — Chame Michael e Eve, e saiam da casa pela porta dos fundos! — O que aconteceu? Ele não respondeu; ele já tinha ido embora, se atirando de volta pelo corredor. Quando ela voou até as escadas, ela o ouviu abrir a porta da frente, e sentiu o cheiro acre de fumaça. Michael, vestido e pronto, já tinha aberto a porta do quarto, e Eve estava vestindo um quimono de seda vermelho em torno de seu corpo. Ela deu uma olhada no rosto de Claire e colocou seus pés em uns sapatos Doc Martens desatados. — Vamos — ela disse, e caminhou para baixo das escadas. Michael separou-se delas na parte inferior, indo para frente; ele agarrou um tapete pesado, arrancando-o como um mágico de debaixo do sofá e correu para se juntar a Shane na luta contra o fogo. Claire e Eve saíram pelos fundos. — O que aconteceu? — Eve perguntou quando ela abriu as fechaduras. — Nós ouvimos algo, mas... — Eu não sei — Claire disse. — O que quer que fosse, foi barulhento. Ela começou a sair, mas Eve segurou-a para trás, esticou a cabeça para fora da porta, e fez uma cuidadosa inspeção do pátio escuro antes de dizer: — Tudo bem, vá. Foi um erro. Um ruim. Porque elas não olharam para cima. O vampiro caiu atrás delas, separando-as da casa, e Claire nem percebeu sua aparência até que ela ouviu Eve dar um pequeno suspiro surpreso. Isso foi tudo o que ela teve tempo de fazer porque no instante seguinte ele já estava bem atrás delas, com as mãos fechadas em torno dos ombros de Claire... Mas só para empurrá-la violentamente para fora do caminho. Ela caiu e rolou, caindo com uma batida dolorosa contra a casca da velha árvore de carvalho viva que Myrnin tinha escalado para entrar em seu quarto. Não era Myrnin que tinha caído neste momento. Este era Pennyfeather, um
amigo pálido e de rosto longo de Oliver que a lembrava de um esqueleto junto com cordas e uma cobertura de carne. Ele não estava interessado em Claire. De modo nenhum. Ele tinha prendido Eve, suas unhas rasgando a seda vermelha de seu robe. Ela gritou e tentou se libertar, mas ele era muito forte; Claire podia ver as marcas nos braços de Eve que suas garras deixaram enquanto ela lutava para se libertar. — Se você quer ser um de nós — Pennyfeather disse com um sorriso terrível, — um de nós realmente deve lhe fazer esse favor. Seu marido parece incapaz de fazer o seu dever. Isso soou horrível, e quando essa implicação entrou em sua cabeça, Claire engasgou e tentou levantar-se. Ela não tinha nada para lutar com ele — nem estacas, nem facas, nem mesmo um objeto contundente — mas ela não podia simplesmente deixá-lo... fazer o que ele ia fazer. Enquanto ela se levantava, sua mão caiu sobre um ramo de árvore — quebrado, com ondulações e folhas secas ao longo do seu comprimento. Estava cortado com uma ponta afiada e angular em direção à extremidade mais grossa. O galho parecia recente, e Claire levou um momento para perceber que era esse o ramo que tinha quebrado sob os pés de Myrnin quando ele se lançou através de sua janela na noite anterior. Ela o agarrou e lançou-se a correr até Pennyfeather, gritando no topo de seus pulmões. Foi um grito de guerra, vindo de algum lugar profundo e primal dentro dela, e ela devia ter ficado com medo, ela deveria ter se sentido estranha, titubeante ou estúpida, mas ela só se sentiu preenchida com uma fúria vermelha e determinada. Ela já tinha perdido Miranda esta noite. Ela não iria perder Eve, também. Eve a viu chegar, e seus olhos escuros se arregalaram. Pennyfeather estava muito atento em puxar a cabeça de Eve para o lado e preparando suas presas para a mordida para notar, e Claire teve um instante de clareza para perceber que, se ela continuasse indo, direto para eles, ela era susceptível a espetar Eve juntamente com o vampiro. Então, Claire mudou de rumo, passou correndo por eles, virou, e se lançou, totalmente estendida, justo como Eve tinha ensinado-a a fazer quando estava brincando com floretes de esgrima. Ela colocou todo o seu corpo nisso, a linha reta das suas costas continuando no mesmo ângulo que sua perna esquerda rígida, e seu braço direito estendido para cima, para fora, e ela bateu a arma nas costas de Pennyfeather, nitidamente à esquerda do centro.
O gralho era grosso demais para fazê-lo passar completamente através das costelas, mas isso o chocou, e ele deu um grito que fez os cabelos levantar-se nos braços de Claire. Ele soltou Eve, e ela tombou para frente em um monte de seda vermelho esfarrapado, se agachou, e girou para enfrentá-la com um olhar em seu rosto tão assassino que Claire ficou momentaneamente chocada. Pennyfeather não percebeu. Ele estava muito ocupado tentando tirar o galho de suas costas, mas mesmo quando ele o agarrou, a madeira flexível curvou, e ele só conseguiu tirá-lo parcialmente antes de ele quebra-lo em sua mão. — Pegue a sacola — Eve falou a Claire, e ela balançou a cabeça e correu de volta para a cozinha. Em segundos, ela estava com uma das bolsas de lona preta que eles mantinham prontas, mas pelo tempo que ela tinha voltado para fora, Pennyfeather tinha arrancado o galho, rasgado em pedaços, e estava indo em direção a Eve com um rosnado baixo e furioso e um pedaço ainda agarrado como um porrete em sua mão. Não havia tempo para chegar até Eve. Claire fez a próxima melhor coisa; ela virou-se e atirou a sacola. Ela formou um arco através do ar e atingiu a grama aos pés de Eve, derramando-se em uma confusão de objetos, mas Eve não hesitou sobre as escolhas. Ela pegou uma pequena garrafa, abriu a tampa de plástico e jogou o conteúdo no rosto de Pennyfeather. Nitrato de prata. Seu grunhido virou um uivo, subindo de volume e tom até doer os ouvidos de Claire, e ele parou sua corrida até Eve para agarrar o rosto dele. A prata líquida se agarrou como napalm, e queimou quase tão ferozmente. Claire agarrou a sacola, reenchendo de itens o mais rápido possível, e agarrou o pulso de Eve. — Vamos lá! — ela gritou, e elas correram ao redor do lado da casa, seus pés deslizando no cascalho branco. Michael e Shane estavam na frente, e entre a última explosão do extintor de incêndio e as batidas do tapete para abafar o fogo, eles apagaram um incêndio que tinha enegrecido uma seção de três metros do exterior da casa. Vidro quebrado estava caído em torno da base da mesma, e quando elas chegaram mais perto, Claire sentiu o cheiro picante e quase doce de gasolina. Havia algo preso à porta da frente, também, vibrando palidamente na brisa noturna. Michael deixou cair o tapete e correu em velocidade vampiro para pegar Eve em seus braços. Ele deve ter sentido o cheiro do sangue de seus cortes, Claire pensou; ela podia ver o fraco brilho iridescente de seus olhos. — O que aconteceu? — ele perguntou, e tocou a marca de garras em seu quimono. — Quem fez isso?
— Pennyfeather — Claire disse. Agora que a adrenalina estava passando, ela se sentiu estranhamente trêmula, e ela estava começando a perceber quantas coisas que ela tinha feito que poderia ter acabado muito mal para ela. Para Eve, também. — Foi Pennyfeather. Ele ia... ele ia mordê-la. Michael fez um som sibilante, como uma cobra muito irritada e perigosa, e desfocou fora da vista para o quintal. O olhar de Shane o seguiu, mas ele não foi junto; ele pegou ao invés a sacola que Claire segurava e vasculhou através do conteúdo. Ele entregou a Eve uma faca, deu a Claire outra das garrafas de prata, e para si mesmo um bastão de beisebol normal, exceto que os últimos quinze centímetros do fim da coisa eram revestidos com prata. — Estava morrendo de vontade de testar isso — ele disse, e deu a ambas um sorriso tenso e selvagem. — Rebatedor. — Ele balançou experimentalmente, acenou com a cabeça e pousou em seu ombro direito. — Você está bem, Eve? — Este era o meu robe favorito — ela disse. Sua voz estava instável, mas era de raiva, tanto quanto de medo, Claire pensou. — Droga. Era vintage! Shane ainda estava observando ao lado da casa, em torno do qual Michael tinha desaparecido. Ele estava claramente se perguntando se ele deveria ir apoiá-lo. Claire colocou a mão em seu braço e puxou seu foco, só por um segundo. — Eve jogou isso no rosto de Pennyfeather — ela disse, e ergueu a garrafa. — Ele está em desvantagem, e Michael está muito irritado. Isso aliviou um pouco a tensão nas costas e ombros de Shane, pelo menos. — Eu não quero deixar vocês duas sozinhas aqui fora — ele disse. — O fogo apagou. Voltem para dentro e tranquem as portas. Vão. — E quanto a vocês? — Se vocês ouvirem nós chorarmos por nossas mães, vocês podem vir nos resgatar e Eve está meio seminua e sangrando aqui fora. Shane tinha um grande ponto, e quando Claire olhou para ela, ela viu que Eve estava segurando a faca em uma mão com os nós dos dedos brancos e tremendo bastante. Estava frio lá fora e o choque estava começando. Claire a pegou pelo braço e conduziu-a até os degraus. Shane observou elas até chegarem à porta, e em seguida, acenou para ela e correu para dentro da escuridão, o bastão levantado e pronto. Ela abriu a porta e empurrou Eve para dentro, em seguida, fez uma pausa e olhou para o que estava preso à madeira. Ela supôs que era a escrita de Pennyfeather, porque era difícil de ler, espetada, e tinha uma cor acastanhada desagradável de uma tinta que poderia muito bem ter sido sangue.
Dizia, Feito por Ordem da Fundadora, e estava preso profundamente na madeira por uma faca gigante, como uma faca bowie elevada ao cubo. Claire puxou-a de um lado para o outro até que ela pudesse puxá-la para fora da superfície da porta, dobrou o pedaço de papel e guardou com os dedos trêmulos. Eve estava ali olhando para ela, com uma expressão indecifrável no rosto. Ela ainda estava tremendo. — É uma sentença de morte, não é? — ela disse. — Não minta, Claire. Você não é boa nisso. Claire nem sequer tentou. Ela levantou a faca. — O lado positivo — ela disse, — eles nos deixaram outra arma. E é afiada. Sinceramente, esse era um conforto frio, de fato. E no final, depois que Michael e Shane voltaram sem Pennyfeather, que tinha conseguido fugir para salvar sua vida, apesar de ter levado uma boa surra de ambos, ninguém mais sentia vontade de comemorar. Ou dormir. q q q A manhã trouxe luz e calor, mas não muito na forma de tranquilização; a polícia veio e tomou declarações, olhou o dano da casa, e fotografou os cortes nos braços de Eve (que, pela inspeção no hospital, felizmente acabou não sendo tão profundos quanto eles pareciam). A polícia se recusou a incluir a destruição de seu robe vintage como uma declaração de vandalismo. Eles também ficaram mudos sobre quem era Pennyfeather, ou até mesmo que os vampiros existiam, mesmo que ambos os homens estivessem claramente usando pulseiras de Proteção em plena vista. Típico. Em outra época, Claire poderia ter chamado alguns detetives da polícia de Morganville que tinham reputação de imparcialidade... mas eles foram todos embora agora. Richard Morrell tinha sido chefe de polícia antes de ter sido prefeito, e ele tinha sido justo; Hannah tinha sido ótima no mesmo papel, mas agora Richard estava morto, e Hannah estava impotente para agir. Feito por Ordem da Fundadora. Isso dizia... tudo, realmente. Isso significava que qualquer que seja a tênue reivindicação que eles quatro tinham de segurança em Morganville estava oficialmente cancelada. Claire ficou com Eve enquanto pôde, mas as aulas estavam chamando, e assim com a sua média de notas em perigo; ela pegou sua mochila, beijou Shane rapidamente, e saiu correndo para a Universidade Prairie do Texas. Nada iria acontecer durante o dia, pelo menos em relação aos vampiros. A
manhã estava bem avançada ao longo do horizonte, e ela teve que pular sua parada normal para o café e correr os últimos cem metros para dentro do prédio de ciências, subiu as escadas, e desceu o longo corredor sem graça de sua classe de estudo avançado. Hoje era termodinâmica, um assunto que ela normalmente amava, mas ela não estava no humor para teorias hoje. Era mais um dia de ciências aplicadas — assim como a quantidade de combustível necessária para queimar uma casa. Claire deslizou em sua cadeira da sala de aula, ganhando um olhar de reprovação do professor Carlyle, que não fez uma pausa em seu discurso de abertura. Pennyfeather tinha sido a pessoa que tinha atacado eles, mas isso não significava que ele tinha agido sozinho; ele poderia ter lançado os coquetéis molotov na parte da frente da casa e, em seguida, pulado no telhado para esperar eles saírem por trás, mas de alguma forma, Claire achava que havia mais do que isso. Alguém na frente, e Pennyfeather esperando por Eve, especificamente. E enquanto dava um pouco de alívio não ser o alvo principal, isso era inquietante. Eve não era impotente, mas de alguma forma ela estava mais vulnerável. Talvez fosse apenas que Claire queria desesperadamente que Michael e Eve dessem certo de alguma forma, que a cidade parasse de odiálos, e... — Danvers? Ela olhou para cima a partir da consideração de seu livro fechado; ela nem sequer se lembrava de tirá-lo da bolsa. Ela tinha perdido a noção do tempo, ela adivinhou, e agora o professor Carlyle — um homem mais velho e severo com cabelos grisalhos cortados rente e olhos cor de aço — estava olhando para ela com uma expressão descontente, claramente esperando por algo. — Desculpa? — ela disse inexpressivamente. — Por favor, forneça a equação para o assunto no quadro. Ela focou atrás dele. No quadro-negro, ele tinha escrito Oscilador Harmônico Função Partição. — No quadro? — A menos que você goste de apresentá-la em uma dança interpretativa. Houve uma agitação de risos e sorrisos dos dez outros estudantes, a maioria dos quais eram candidatos a mestrado; eles eram, pelo menos, cinco anos mais velhos do que ela, e ela não era popular. Mesmo aqui, ninguém gostava de uma espertinha. Claire relutantemente levantou-se da mesa, foi para o quadro-negro e escreveu zHO = 1/(1-e-a/T).
— Onde? — ele perguntou, sem um traço de satisfação. Claire obedientemente escreveu abaixo, onde a = hv/k. Carlyle olhou para ela em silêncio por um momento, depois assentiu. Aparentemente, isso deveria fazê-la se sentir insegura. Não fez. Ela sabia que ela estava certa; ela sabia que ele teria que aceitar isso, e ela esperou que isso acontecesse. Uma vez que ele tinha dado a ela o sinal, ela largou o giz e caminhou de volta para sua mesa. Mas Carlyle não tinha acabado com ela ainda. — Já que você se saiu tão bem com isso, Danvers, por que você não prevê o seguinte para mim? — E ele rabiscou no quadro uma outra equação: Kp = Pb/Pa - [B]/[A]. — O que acontece se T for infinitamente grande? — T estava totalmente faltando nessa equação, mas isso realmente não importava. T era uma variável implícita, mas que era enganosa. Era uma pergunta capciosa, e Claire viu muitos dos outros abrirem seus livros e começarem a folhear, mas ela não ligou. Ela encontrou os olhos de Carlyle e disse: — Kp igual a dois. — Seu raciocínio? — Se T é infinitamente grande, todos os estados de energia são iguais e ocupados. Portanto, há o dobro de estados em B e A. Kp igual a dois. Não é realmente um cálculo. É apenas um exercício de lógica. Ela estava tendo termodinâmica avançada puramente para ajudá-la a entender um pouco do que Myrnin tinha realizado na construção de seus sistemas de portal em Morganville... Elas eram portas que distorcia o espaço, e ela sabia que tinha que haver alguma explicação para isso na física, mas, até agora, tinha encontrado apenas peças aqui e ali. Termodinâmica era um componente necessário, porque a energia produzida na transferência tinha que ir a algum lugar. Ela só não tinha descoberto onde. Carlyle ergueu as sobrancelhas e sorriu levemente. — Alguém comeu seu café da manhã — ele disse, e virou o foco do laser em um outro estudante infeliz. — Gregory. Explique-me o cálculo se T é igual a zero. — Uh... — Gregory era um dos que folheavam as páginas, e Carlyle esperou pacientemente enquanto ele olhava para a resposta. Era gritantemente óbvia, mas Claire mordeu a língua. Demorou excruciantes quatro minutos para Gregory admitir a derrota. Carlyle passou para outros três estudantes então, e finalmente, com um suspiro, virou-se para Claire. — Vá em frente — ele disse, visivelmente irritado agora. — Se não houver nenhum T, não há nenhum B — ela disse. — Por isso, tem que ser zero.
— Obrigado. — Carlyle olhou para os outros na classe. — Eu choro pela situação da engenharia, eu realmente choro, se este é o melhor que vocês podem fazer com algo tão óbvio. Danvers recebe crédito extra. Gregory, Shandall, Schaefer, Reed, vocês todos falharam no questionário. Se vocês quiserem resolver equações de crédito-extra, me procurem mais tarde. Agora. Capítulo seis, a entropia residual de cristais imperfeitos... Era uma coisa desagradável, pensou Claire, que, mesmo quando ela tinha altas notas e olhares de reprovação de seus colegas, ela ainda se sentia entediada e pouco desafiada. Ela desejou que ela pudesse ir falar com Myrnin por um tempo. Myrnin era sempre imprevisível, e isso era emocionante. Embora que, às vezes, o problema era apenas permanecer vivo, mas ainda assim; ele nunca era chato. Ela também não tinha que ficar sentada com as explicações incrivelmente densas (e erradas) de outros estudantes quando ela estava em seu laboratório. Se ele tivesse assistentes tão lerdos, ele os teria comido. De alguma forma, ela conseguiu atravessar a hora, e a próxima, e a próxima, e então era hora de correr para o Centro Universitário e pegar uma Coca-Cola e um sanduíche. Não era o dia de Eve de trabalhar no balcão do café, então depois de engolir o almoço, Claire — ao ter finalizado o dia na faculdade — caminhou para o Common Grounds, apenas para checar se ela estava lá. Ele estava apenas levemente ocupado agora, graças aos caprichos dos horários universitários; havia alguns moradores de Morganville, e um grupo de dez estudantes discutindo muito a sério os méritos de James Joyce. Claire reivindicou uma poltrona confortavelmente surrada e jogou sua bolsa nela; a cadeira e tudo o mais cheirava a café quente com uma pitada de canela. O Common Grounds, apesar de todas as suas falhas, ainda tinha um ambiente acolhedor. Mas quando ela se virou para o balcão, ela viu um homem jovem malhumorado com um avental tingido no estilo tie-dye e um cabelo emo tingido de vermelho, que olhou para ela enquanto ela se aproximava. Ele bocejou. — Oi — ela disse. — Hum, onde está Eve? — Foi despedida — ele disse, e bocejou novamente. — Eles me chamaram para pegar o turno dela. Cara, eu estou exausto. Quarenta e oito horas sem dormir, graças a Deus pelo café. Qual é o seu veneno? No Common Grounds, isso poderia ser literal, Claire pensou. — Água engarrafada — ela disse, e pegou dinheiro a mais para ele. Ninguém bebia a água da torneira de Morganville. Não depois da invasão dos draugs. Claro, eles
tinham limpado as tubulações e tudo, mas Claire — como a maioria dos moradores — não podiam afastar a ideia de que algo tinha estado vivo lá dentro. Melhor pagar uma quantidade ridícula de água engarrafada de Midland. — Então, o que aconteceu esta manhã para fazê-la ser demitida? Porque eu sei que ela estava planejando vir. O Cara do Balcão não era conversador o suficiente para dar uma resposta; ele apenas deu de ombros e resmungou quando ele registrou sua compra e entregou a garrafa fria. Ele tinha tatuagens de cima a baixo dos braços, em sua maioria símbolos chineses. Claire pensou em perguntar a ele o que queria dizer, mas em sua experiência ele provavelmente não fazia ideia. Ele tinha uma coisa em comum com Eve: unhas pintadas de preto. — Oliver está aqui? — No escritório — o Cara do Balcão disse. — Mas eu não iria lá se eu fosse você. O chefe não está de bom humor. Ele provavelmente estava certo, Claire pensou, mas ela bateu lá de qualquer maneira, e recebeu um lacônico: — Entre — um comando que ela seguiu. Ela fechou a porta atrás dela. O Cara do Balcão e os outros residentes lá fora não viriam em seu socorro se as coisas ficassem ruins, e ela não queria os alunos sem noção envolvidos. Eles estavam tendo problemas suficientes com James Joyce. Oliver nem sequer olhou para cima, mas ele não precisava, ela pensou; ele provavelmente a identificou antes de ela chegar perto do escritório, apenas por seu batimento cardíaco, o cheiro do sangue dela ou algo assim. Os vampiros eram uma fonte inesgotável de coisas assustadoras. — Pennyfeather atacou Eve na noite passada — ela disse. — Você disse a ele para fazer isso? Ele ainda não se preocupou em olhar para cima a partir de qualquer pedaço de papel que ele estava lendo. Ele pegou uma caneta e rabiscou uma nota, em seguida, assinou o fundo. — Por quê? — Ele deixou um bilhete preso à porta com “Feito por Ordem da Fundadora”. — Eu não sou a Fundadora — ele disse. — E Pennyfeather já não é minha criatura. Ele age como lhe agrada. Embora eu diria que sua atitude é um catavento preciso da opinião pública entre nossa espécie, se é isso que você está perguntando. — Oliver não perguntou como Eve estava, ou o que tinha acontecido, e isso, Claire pensou, era diferente. Ele tinha ficado um pouco mais humano desde que ela o conheceu, mas agora ele estava de volta ao antigo vampiro mau, insensível e totalmente desinteressado nas vidas humanas. Ele
não iria diretamente machucar Eve, provavelmente, mas ele não se importaria em ajudá-la se isso significava que ele tinha de fazer um esforço. — Você tem alguma razão válida para me perturbar, ou você está simplesmente tentando me irritar? — Eu sei o que está acontecendo — Claire disse suavemente, e sua caneta parou de se mover sobre o papel. O silêncio repentino a fez se sentir ofegante, como se ela estivesse de pé na beira de um abismo tenebroso. — Você queria governar Morganville desde que você descobriu que ela existia. Você veio aqui querendo tirar Amelie do poder e tornar-se rei ou algo assim. Mas ela não deixou, então você teve que ser... criativo. Agora ele olhou para ela, e, embora seu rosto fosse humano, suavizado pelos cabelos grisalhos soltos e cacheados, a expressão e o foco eram puramente os de um predador. Ele não disse nada. Claire mergulhou à frente. — Amelie confiou em você. Ela deixou você chegar perto. E agora você está jogando com ela para conseguir o que você sempre quis. Bem... isso não vai funcionar. Ela pode gostar de você, mas ela não é estúpida, e quando ela acordar, e ela vai, você vai se arrepender de tentar fazer isso. — Eu não acho que o meu relacionamento com a Fundadora seja da sua conta. — Você pode influenciar outros vampiros — ela disse. — Você me disse isso antes. E você é sutil sobre isso. O que quer que você esteja fazendo com ela, pare antes que isso tudo acabe mal. Os humanos não vão ficar parados sendo gados, e Amelie não vai deixar você ir tão longe quanto você pensa. Apenas... recue. Oliver, talvez eu seja louca por dizer isso, mas você não é desse jeito. Não mais. Eu não acho que você realmente quer tudo isso lá no fundo. Ele olhou para ela com olhos estranhamente vazios, brilhantes e, em seguida, voltou para a sua papelada. — Você pode sair agora — ele disse. — E se considere sortuda por estar autorizada a fazer isso. — Por que você atacou Eve? — ela perguntou. Provavelmente foi um erro, mas ela não podia deixar de perguntar isso. E, surpreendentemente, ele respondeu. — Ela me acusou de tentar matá-la — ele disse. — Assim como você fez. Infelizmente, eu sou incapaz de atacar você. E minha paciência agora está chegando ao fim. Saia! — Não até que você me diga...
Ela nunca o viu se mover, mas de repente ele estava em torno da mesa e batendo com a caneta na madeira da porta atrás dela. Foi apenas uma esferográfica simples, mas afundou uns centímetros de profundidade, vibrando a dois centímetros de sua cabeça. Claire vacilou e recuou contra a barreira em suas costas. Oliver não se afastou. Desta distância, ele parecia osso e ferro, e ele cheirava — ironicamente — a café. Ela vigorosamente se lembrou de que ele tinha sido um guerreiro quando ele estava vivo, e ele não era menos assassino agora. — Vá — ele disse muito suavemente. — Se você for sábia, você vai para muito, muito longe daqui, Claire. Mas em qualquer caso, saia da minha presença, agora. Ela abriu a porta. E quando ela fez isso, ela teve a impressão borrada de alguém de pé a poucos metros de distância do outro lado, com pessoas brigando e exclamando, e o Cara do Balcão gritando: — Ei! — Então ela não se concentrou sobre a figura de pé diante dela, mas sobre o que a figura alta e escura estava segurando. Era uma besta com uma flecha de prata. E antes que Claire pudesse respirar ou reagir, a besta foi levantada e disparada. Claire sentiu uma ardência passar contra seu rosto quando a flecha saiu voando, e ela levantou a mão para o arranhão sangrando quando ela se virou para ver o que tinha acontecido. A flecha tinha atingido o peito de Oliver, mas foi acima e à direita de seu coração. Claire olhou para ele com uma sensação de irrealidade; o brilho da prata, o círculo carmesim se espalhando lentamente em torno do eixo, a flecha com penas vermelhas brilhantes, e Oliver, preso no lugar com surpresa tanto quanto dor. Em seguida, ele cambaleou para trás contra a mesa. Claire não pensou; ela só agiu, estendendo a mão para a flecha. Ele golpeou a mão dela com uma fúria impaciente, forte o suficiente para que ele pudesse ter quebrado ossos, e disse entre dentes: — Você não pode retirá-la pela frente, tola. Tire pelas minhas costas! Ele disse isso como se ele não tivesse dúvida de que ela iria obedecer, e por uma fração de segundo, Claire estava tentada a obedecê-lo; poderia ter sido sua tendência natural a querer ajudar, ou poderia ter sido Oliver exercendo sua vontade. Ela fez uma pausa, no entanto, e olhou pela porta ainda aberta.
O atacante estava calmamente recarregando outra flecha no arco. Ela não reconheceu — e não podia reconhecer — a pessoa; era apenas uma figura em branco em algum tipo de máscara preta opaca, uma jaqueta com capuz preto fechado com zíper, e calças jeans azuis bem-vestidas. Botas pretas. Luvas. Nada a trair qualquer identificação pessoal, nem mesmo um gênero. A figura olhou para cima e a viu ali de pé, e ela sentiu um calafrio, inconfundível e indefinível. Em seguida, ele apontou para ela e apontou o polegar para a porta. Você. Fora. — Claire! — Oliver retrucou. Sua voz soava irregular agora, e cheia de fúria. — Puxe a flecha para fora! — Você mandou Pennyfeather tentar matar Eve? A ferida em volta da prata estava começando a fumegar e escurecer, e isso devia estar doendo bastante, mesmo que não fosse imediatamente fatal, porque ele tentou rosnar para ela, mas saiu mais como um gemido. Ele caiu para baixo em uma posição sentada no chão, inclinando um ombro contra a mesa. Ela quase cedeu, quase, porque ele realmente parecia ruim nesse momento... vulnerável e ferido. Mas, em seguida, seus olhos brilharam vermelho em fúria, e ele disse em um silvo venenoso: — Eu vou mandá-lo matar você se você não fizer o que eu digo, menina. Você é um animal de estimação, não uma pessoa. — Engraçado — ela disse, — já que eu sou a única coisa entre você e um cara com uma besta. — Literalmente. A figura mascarada ainda estava de pé atrás dela, pronto para disparar. Ela estava apenas no caminho. — Você mandou? — Não! — ele gritou, e convulsionou de lado. O veneno estava tomando conta dele, e rápido. Claire virou-se para enfrentar o suposto assassino, que estava apontando a besta agora para ela. Diretamente. Mova-se, a figura fez o gesto mais uma vez, impaciente. Claire balançou a cabeça. — Não posso. — Ela não tentou explicar, e ela não tinha certeza se realmente podia; não havia uma razão no mundo para que ela não devesse andar para longe de Oliver e deixá-lo para qualquer destino que viesse. Era evidente que o resto da população havia fugido do café, incluindo os alunos; o cara do balcão de cabelo vermelho e tatuagens havia deixado o prédio também. Era apenas ela, de pé entre Oliver e a morte. Ela adivinhou que ela estava fazendo isso porque não importava quem era Oliver, afinal de contas. Ela teria feito isso por qualquer um. Até mesmo
Monica. Ela odiava valentões. Ela odiava que alguém fosse atacado quando ele ou ela estava caído, e Oliver estava definitivamente caído. Quem quer que a figura segurando a besta fosse, ele ou ela considerou derrubá-la para atingir Oliver. Ela podia ver isso, mesmo que ela não pudesse ver um rosto, ela sabia que neste momento ela estava em um perigo tão grande como ela alguma vez tinha estado em Morganville. Ela estava completamente à mercê de tudo o que esta pessoa decidisse. Ninguém podia, ou iria, ajudar. Ela sentiu o cheiro forte e acre de carne queimada atrás dela. Oliver estava ruim, e rapidamente ficando pior. A cabeça mascarada assentiu com a cabeça, só um pouco, como se em reconhecimento do que ela não havia dito. A figura baixou a besta, guardou-a em uma sacola de lona preta, e se afastou em direção à frente da loja. Ela o perdeu de vista no brilho da luz do dia que mostrava o formato de sua silhueta, embora ela tivesse a impressão de que o atacante tinha retirado a máscara antes de correr para a rua. Claire não tentou seguir. Ela ficou ali por alguns segundos, em seguida, virou-se e olhou para Oliver. — Se eu fizer isso por você — ela disse, — você vai me dever. E eu vou cobrar. Ele estava além de dar uma resposta amarga. Ele apenas acenou com a cabeça, como se não pudesse reunir forças para fazer mais, e conseguiu rolar um pouco mais sobre seu estômago. A ponta afiada e farpada da flecha foi saindo de seu peito cerca de oito centímetros abaixo da omoplata. As bordas eram duras como lâminas de barbear. Isso realmente era uma coisa boa; não tinha feito muito mais danos por isso. Mas ela precisava tirá-la antes do envenenamento de prata ficar muito pior — isso ou deixá-la para sempre — que ela poderia ouvir Shane dizendo que ainda era uma opção perfeitamente válida. Com os dentes cerrados, ela embrulhou o tecido solto de sua camisa em torno da ponta da flecha afiada, agarrou o eixo logo abaixo, e puxou, forte e rápido. Ela quase parou quando Oliver convulsionou novamente, e sua boca escancarou em um grito silencioso — silencioso porque ele não conseguiu puxar a respiração para reabastecer — mas ela não se atreveu a desistir. Melhor doloroso agora do que mortal mais tarde. Pareceu durar uma eternidade, mas devem ter sido apenas alguns segundos antes que ela a puxasse completamente. Ela deixou cair a flecha no chão com um som estridente e tentei não pensar sobre o sangue manchando sua camisa onde ela a puxou para fora de seu corpo. Ou de quem esse sangue
poderia ter sido, porque não era realmente o sangue de Oliver, não era? Era emprestado ou roubado, de outros. Ela se levantou, respirando pesadamente e tentando não sentir náuseas com o que ela tinha acabado de fazer, e não apenas pelo sangue, ou a dor que ela tinha causado, mas pelo fato de que ela tinha acabado de salvar a vida de Oliver. Shane teria ficado tão zangado com ela, ela percebeu; ele teria se afastado e chamado isso de carma. Ou de justiça, pelo menos. Mas agora, esse não era o jogo inteligente. Se Amelie estava lá fora para pegá-los — se ela realmente tinha enviado Pennyfeather, e Oliver não tinha — então ela precisava de Oliver ao seu lado. Por agora. Oliver virou de costas, com os olhos bem fechados. A ferida em seu peito ainda estava fumegante, e claramente ele estava com dor, mas ele se curaria. Os vampiros sempre se curavam. — É melhor você não ter mentido para mim — ela disse. — E lembre-se, se você for atrás de Eve, você vai atrás de todos nós. Isso vai ser muito mais perigoso para você do que um cara aleatório com uma máscara e uma besta. Ele não se moveu, e não falou, mas seus olhos se abriram e a analisaram com uma intensidade ímpar. Ela realmente não conseguia decidir o que ele estava sentindo, mas ela decidiu que ela realmente, realmente não se importava. Ela fechou a porta do escritório em seu caminho para fora.
Capítulo 10
- B
CLAIRE
em? — Shane perguntou. — Quem era? — Claire estava no celular com ele enquanto se dirigia para casa. Onde quer que ele estivesse, havia uma máquina barulhenta de metal moendo e ganindo, e ele teve de gritar para se fazer ouvir. — Quem tentou acertar Oliver? — Eu não sei. — Vamos lá, Claire. Adivinhe. — Não, na verdade, eu não sei. Quem quer que fosse estava de máscara, jaquetas, luvas e tudo. Era meio alto, talvez um pouco magro. Bom com um arco e flecha, no entanto. Muito bom. — Ela se lembrou do corte na bochecha dela e tocou-o com os dedos hesitantes. Não doeu, e o sangramento havia parado, mas havia um corte. Pela primeira vez, ela realmente se perguntou o quão ruim ele parecia, e se ele poderia deixar uma cicatriz. — Hum, de qualquer maneira, eu não consegui olhar para ele sem a máscara. Não foi você, foi? — Essa última foi brincadeira. Ela sabia muito bem que Shane não teria disparado com ela no caminho, a não ser que ele não tivesse escolha. Este era alguém que não era tão... envolvido. — Inferno, garota, se tivesse sido eu, ele estaria morto no chão agora, porque eu não teria errado. Alegre o meu dia. Diga-me que ele sofreu. — Ah, sim, ele está definitivamente machucado — ela disse. — E eu não acho que ele estivesse de complô com Pennyfeather na noite passada. Mas há algo estranho com ele, Shane. — Quando ele não é estranho? — Não, eu dizer... — Ela não sabia apontar o que era, na verdade. — Eve lhe disse o que aconteceu esta manhã? — O quê? — Shane soava instantaneamente em alerta novamente, preparando-se para a má notícia. — O que agora? Porra, espere... — Ele recuou do que soou como um carro sendo esmagado no fundo, até que encontrou um espaço relativamente calmo. — Continue.
— Oliver despediu ela do Common Grounds. Eu acho que ele ficou meio chateado quando ela o acusou de tentar matá-la. Você conhece Eve. Provavelmente não foi sutil. — Deve ter envolvido tentar acertá-lo com algo, como uma máquina de café — Shane concordou. — Ela está em casa, mas ela não conversa. Foi direto para o quarto. Ela tinha aquele olhar como se estivesse prestes a chorar, então eu não entrei no caminho dela. — Covarde. — Chorar, então sim. Você está vindo para casa? — Sim — ela disse. — Eu preciso fazer uma parada, no entanto. Nos vemos em cerca de uma hora. Shane conhecia ela muito bem. — Você vai ver Myrnin, não é? Claire... — Eu preciso ver o que ele está fazendo — ela disse rapidamente. — Ele estava estranho da última vez que eu o vi. O namorado dela murmurou algo que poderia ter sido ele está sempre estranho, mas ele praticamente manteve sua insatisfação para si mesmo. — Diga oi para o meu pai quando você estiver lá. Você sabe, o cérebro na jarra? Frankenstein? Aquele cara. — Você poderia vir e... — Não — Shane disse sem rodeios. Houve uma pausa de um segundo, como se ele tivesse se surpreendido pela veemência de sua resposta, e quando ele falou novamente foi em um tom mais suave. — Tenha cuidado lá fora. Se você quiser que eu vá... — Para o laboratório de Myrnin? Isso é apenas pedir para ter problemas e você sabe disso. Eu posso lidar com isso. Eu vou ter cuidado. — E ir com estacas revestidas com prata em sua mochila. Ela tinha resolvido nunca sair de casa sem elas, após os acontecimentos de ontem à noite. — Se eu não estiver em casa antes de escurecer, no entanto... — Sim, o resgate está agendado. Entendi — ele disse. — Amo você. Ela ouviu o esforço que o levou para dizer isso, não porque ele não falava sério, mas porque os meninos simplesmente não gostavam de admitir isso por telefone. Ele até baixou a voz, no caso de alguém — Michael? — puder ouvi-lo. Honradamente. — Eu também te amo — ela disse. — Fique atento a Eve, está bem? Há algo estranho nisso tudo. Eu acho que Pennyfeather foi realmente atrás dela, não do resto de nós. Eu acho que há algo acontecendo na Terra dos Vampiros que tem a ver com ela e Michael.
— Entendido — ele disse. — Collins está desligando. — Ele fez um som de beijo no telefone antes de desligar, o que era mais constrangedor do que dizer eu amo você, mas provavelmente o divertia mais, e ela sorriu tanto em sua caminhada para o laboratório de Myrnin que seu rosto doía — especialmente em torno do corte. A rua que continha a entrada do covil de Myrnin — ela sempre pensava nisso como um covil, mais do que um laboratório — era em um bairro residencial normal de Morganville; mais degradado do que alguns, melhor do que outros. As casas eram em sua maioria construções baratas de tábuas de quarenta ou cinquenta anos atrás, embora houve algumas de boa qualidade. Duas casas tinham sido queimadas ou outras tinham sido destruídas durante a invasão recente dos draugs, as que estavam ocupadas com bandos de trabalhadores usando chapéus de proteção sobre pilhas de tijolos, madeira serrada e azulejos. As estruturas das casas novas já estavam erguidas. Claire se perguntou como deveria ser se mudar para um lugar novo, um que nunca tinha tido qualquer outra pessoa nele, que estava novo e não assombrado. Isso seria estranho, provavelmente. Ela tinha ficado tão acostumada a casas com história. No final da rua apareceu a velha Day House. Era uma Casa Fundadora construída quase exatamente como a Glass House, onde Claire morava; que tinha sido pintada recentemente com um branco ofuscante, e os detalhes haviam sido pintados de azul escuro. Como sempre, havia uma cadeira de balanço na varanda. Claire esperava ver a forma um pouco velha da Vovó Day lá, balançando e tricotando, mas em vez disso, a mulher sentada ali era alta, de pernas longas, e ela não estava tricotando. Ela estava limpando uma arma. Claire virou fora do beco que era a entrada para o laboratório, e parou respeitosamente no portão que bloqueava a calçada da Day House. — Oi, Hannah — ela disse. Hannah Moses olhou para cima, e a luz do sol brilhou na cicatriz em seu rosto em relevo; era difícil ler a expressão dela, mas ela disse: — Olá, Claire. Pode subir. Claire desbloqueou o portão e subiu os degraus para a varanda. Havia outra cadeira do outro lado da cadeira de balanço e uma mesa baixa no meio onde Hannah tinha colocado as partes de sua arma com uma precisão linear de militar.
— Pegue uma cadeira — Hannah disse, e soprou a poeira da parte que ela segurava em sua mão. Ela examinou-a criticamente, poliu com um pano e colocou-a em seu lugar na mesa. — Aonde você vai, Claire? — Myrnin. — Ah. — O olhar de Hannah se prendeu no corte em sua bochecha. — Algo interessante aconteceu? — Depende de como você se sente sobre Oliver, eu acho. Alguém todo de preto tentou atirar uma flecha de prata no coração dele. Hannah fez uma pausa no ato de deslizar uma peça sobre a estrutura da arma. — Tentou — ela repetiu. — Eu presumo que não teve sucesso? — Foi muito perto. — Eu posso ver isso. Aparentemente quem tentou não se importava muito se você estivesse no caminho. — Importou o suficiente para errar, eu acho. Hannah assentiu com a cabeça e voltou para remontar a arma com uma eficiência graciosa e praticada. Demorou um incrivelmente curto período de tempo e, em seguida, ela carregou a arma, checou as munições, e verificou a trava antes de colocar de volta na mesa. — Claire, nós duas sabemos que eu sou excluída pelos vampiros, e eu não terei muita oportunidade de ajudar em uma capacidade oficial. Então, eu quero que você faça algo por mim. — Claro! — Eu quero que você saia de Morganville. Claire ficou em silêncio, olhando para ela. — Eu não posso simplesmente fugir. — Sim você pode. Você sempre poderia ter feito isso. — Ok então, eu não vou fazer isso. Minhas notas... — Você não vai precisar de uma boa nota se elas forem esculpidas na sua lápide. Faça as malas e vá embora. Vá encontrar os seus pais, faça eles fazerem as malas e vá para outro lugar. Para longe. Uma ilha, se você conseguir fazer isso. Mas dê o fora para longe dos vampiros, e se mantenha longe. — Mas você vai ficar? — Sim — Hannah concordou. — Eu vou ficar. Esta casa tem estado na minha família há sete gerações. Minha avó é velha demais para ir, e eles ainda estão com a minha prima trancada em algum lugar nas masmorras deles, se ela não estiver morta e drenada. Eu era como você. Eu queria que paz, amor e cooperação funcionassem, mas isso não vai acontecer. Os vampiros estão destruindo os acordos. Isso não é sobre nós. É sobre eles.
Quando Claire não falou, Hannah balançou a cabeça, inclinou-se e pegou a arma. Ela colocou-a em um coldre debaixo do braço. — Uma guerra está vindo — ela disse. — Uma guerra de verdade. Não vai haver qualquer espaço para pessoas como você que estão no meio, tentando fazer as pazes. Estou tentando salvar a sua vida. — Você sempre quis a paz. — Eu queria. Mas quando você não pode ter paz, só há uma coisa que você possa fazer, Claire, e é vencer a guerra da melhor forma e talvez da maneira mais sangrenta que puder. — Eu não quero acreditar. Tem que haver uma maneira de fazer Amelie ouvir, parar tudo isso... — É tarde demais — Hannah disse. — Ela criou a gaiola na Praça da Fundadora novamente. É uma mensagem clara. Contrarie os vampiros e você vai queimar. Tudo o que você batalhou, tudo o que eu batalhei, desapareceram. Escolha um lado, ou vá embora. Não tem mais nada a fazer. Claire limpou a garganta. — Como está a sua avó? — Velha — Hannah disse, — mas ela tem sido assim desde que eu me lembro. Ela vai fazer cento e dois anos de idade este ano. Eu vou dar a ela os seus parabéns. Não havia mais nada a dizer, então Claire assentiu com a cabeça e saiu. Ela fechou a porta atrás dela e olhou para trás e viu Hannah se levantar, se inclinar contra o pilar da varanda e olhar para a rua como uma guarda que presta atenção para problemas no horizonte. Qualquer um que decida ir contra Hannah Moses tinha que ter um desejo de morte. Não era apenas a arma que ela tinha tão habilmente montado e carregado — inferno, carregar arma no Texas era praticamente normal. Era sua linguagem corporal: calma, centrada, pronta. E mortal. Se realmente ia ter uma guerra, estar contra Hannah seria um lugar muito perigoso. Claire seguiu pelo beco, longe do mundo normal das construções e ferramentas elétricas e Hannah de guarda. Quando as paredes de madeira aumentaram em ambos os lados dela, e reduziu de uma estrada de um-carro para um caminho de carroça e depois para um pequeno labirinto claustrofóbico, ela quase não notou; ela tinha feito esta caminhada tantas vezes que fazê-la em plena luz do dia não causava terrores nela. Mas havia algo diferente quando ela chegou ao final do beco.
O barraco antigo, a coisa torta que tinha estado lá desde que Claire tinha vindo aqui pela primeira vez, tinha simplesmente... desaparecido. Não havia nenhum sinal de destroços, nem mesmo um pedaço de madeira ou um prego enferrujado deixado em seu lugar. Havia escadas indo para baixo para o laboratório de Myrnin dentro do próprio barraco. Agora, havia uma laje de concreto. Estava quase seca, mas tinha sido feita apenas um dia atrás, Claire tinha certeza disso; o concreto secava rápido no calor do deserto do Texas, e esse ainda estava um pouquinho frio e úmido ao toque. Alguém tinha deixado uma marca de mão no canto da laje. Ela colocou a própria mão na impressão; era uma mão maior com dedos mais compridos, mas ainda finos. A mão de Myrnin, ela pensou. Ele tinha selado o laboratório. Claire sentiu uma onda estranha de tontura passar sobre ela, e ela abaixou a cabeça e respirou profundamente para combatê-la. Ele disse a ela que ele iria embora, mas ela realmente não tinha acreditado. Não desse jeito. Não tão rápido. Mas selar o seu laboratório com concreto era um sinal bem definido de decisão. Claire deixou o beco correndo. Ela passou pelo portão da Day House e subiu os degraus, e disse sem fôlego para Hannah: — Eu preciso usar o portal de vocês. — O nosso o quê? — Qual é, Hannah. Eu sei que vocês têm um portal na casa de vocês. É no banheiro. Eu usei para chegar até Amelie antes. Eu preciso ver se eu ainda posso entrar no laboratório dessa forma. — O rosto de Hannah permaneceu firme e cauteloso. — Por favor! A porta da frente se abriu com estilo de filme de terror, e a pequena forma murcha da Vovó Day apareceu na abertura. Ela analisou Claire com os olhos marrons desbotados que ainda mantinham a mesma inteligência severa que Hannah tinha, e estendeu uma mão enrugada e paralisada. Claire a pegou. A pele da velha senhora era suave como era frágil e velha, e era quente, mas abaixo dela havia uma força que quase deixou Claire sem equilíbrio. — Entre aqui — Vovó Day disse. — Não tem necessidade de você estar de pé na varanda como um mendigo. Você também, Hannah. Ninguém vem atrás de nós hoje. — Você não sabe disso, Vovó. — Não me diga o que eu sei ou não, garota. — Havia um tom firme de comando na voz da velha senhora quando ela levou Claire para o corredor.
Havia uma estranha sensação de déjà vu nisso — o mesmo vestíbulo que o da Glass House, a mesma sala de visitas à esquerda, a mesma sala de estar à frente. Só o mobiliário era diferente, e a fila de retratos da família nas paredes, alguns deles de meados de 1800, de pessoas afro-americanas com olhares sérios em suas melhores roupas. Enquanto elas passaram pelo corredor, eles ficaram mais modernos. Retratos com fotos coloridas de pessoas com penteados bufantes e então afros luxuosos e abundantes. Em direção ao fim, Hannah Moses parecendo incrivelmente elegante e majestosa em seu uniforme militar, e um conjunto emoldurado de medalhas abaixo dela. Havia uma diferença importante entre a Glass House e a Day House: havia um banheiro no andar de baixo. Deve ter sido adicionado há séculos, mas Claire tinha inveja dele de qualquer maneira. Vovó abriu a porta e enxotou-a para dentro. — Você vai ver a rainha? — Vovó perguntou a ela. — Não, senhora. Vou ver se eu consigo encontrar Myrnin. Vovó bufou e balançou a cabeça com um tremor. — Nada de bom virá disso, menina. Alçapão Aranha não é uma pessoa segura para que você vá correr atrás. Você deveria ir para casa, fechar todas as portas, preparar-se para o problema. — Eu estou sempre pronta — Claire disse, e sorriu. — Não desse jeito — Vovó disse. — Nunca vi um momento em que os vampiros não estavam com medo de nada, mas agora, eles não têm medo de nada, e vai ser difícil para nós. Bem, você faz o que você quiser. As pessoas sempre fazem. — Ela fechou a porta na frente de Claire, e Claire tateou apressadamente pelo interruptor de luz, uma coisa com ligação à moda antiga na parede. As lâmpadas acima se ligaram. Pela aparência das lâmpadas, elas poderiam ter sido originais de Edisons. Era um tipo completamente normal de banheiro e, embora ela meio que precisasse usar, Claire não se atreveu. Apenas Myrnin teria sido imprudente o suficiente para construir um portal em um banheiro, ela pensou. As pessoas na Day House devem ter muita mais coragem do que ela, porque ela nunca seria capaz de tirar suas calças em um lugar onde qualquer pessoa com o aperto de mão secreto pudesse atravessar a parede e ver ela. Embora fosse um círculo pequeno de pessoas... Amelie, Oliver, Myrnin, a própria Claire, Michael, alguns outros (e até mesmo Shane tinha conseguido uma ou duas vezes). Oh, e um par de candidatos a assassinos em série que tinham descoberto o segredo. Eca.
Claire limpou sua mente, fechou os olhos e focou. Ela sentiu o formigamento do portal respondendo, adormecido e invisível, e quando ela olhou, ela viu uma fina película de escuridão formando sobre a porta pintada de branco. Estava enevoada no início, em seguida, tão escuro como uma cortina de veludo pendurada no ar, ondulando suavemente em uma brisa sem sentido. Ela construiu a imagem do laboratório de Myrnin em sua mente: as mesas de trabalho de granito, as lâmpadas art deco nas paredes, a confusão caótica de livros e equipamentos. Em seguida, havia o tanque da aranha Bob no canto, maior do que nunca e grossa no interior com teias, juntamente com a poltrona velha e gasta ao lado dele, onde Myrnin sentava e lia quando estava de bom humor. A imagem tremulou na escuridão espectral e, em seguida, o brilho apagou. Não, ele ainda estava lá, Claire pensou, mas as luzes haviam sido desligadas. Para mantê-la longe? Dane-se isso. Claire pegou sua mochila e tirou uma pequena lanterna grossa. Ela ligou-a e pisou através do portal na escuridão. Q q q Não estava apenas escuro no laboratório. Estava profundamente e elementarmente preto. Ele era muito abaixo do solo, e com a entrada selada parecia como ser selada em uma tumba. Claire sentiu o portal se fechar atrás dela, e por um momento ela estava tentada a se virar e desejar estar em casa, imediatamente, mas isso não ajudaria. Ela ainda não saberia. Havia um interruptor principal para a luz, e ao observar cuidadosamente o piso (Myrnin não se preocupava em organizar as pilhas de livros ou tirá-los para fora do perigo), ela encontrou o caminho até a parede mais distante, ao lado de um sarcófago antigo e mofado que ela sempre assumiu que era de verdade — porque era Myrnin. Ela nunca abriu. Conhecendo Myrnin, poderia ter qualquer coisa dentro, de um corpo que ele tinha esquecido a uma roupa suja. Ela ligou o interruptor, e as luzes brilharam. As máquinas começaram a ligar em torno do laboratório com um coro de zumbidos, estalos, crepitações e tons musicais. O laptop que ela tinha comprado para Myrnin se ligou no canto e brilhava tranquilizadoramente. Pelo menos um béquer começou a borbulhar, embora ela não soubesse o porquê. Mas não havia absolutamente nenhum vestígio de Myrnin.
Ela parou na mesa onde ela tinha deixado o dispositivo que ela estava trabalhando; ele ainda estava lá coberto pelo lençol. Myrnin não tinha levado com ele, e ele não tinha feito mais nenhum de seus ajustes suspeitosamente precisos nele, tampouco. Por um momento, Claire debateu em enfiá-lo em sua mochila, ela não podia deixá-lo aqui juntando poeira, não quando ela estava perto de realmente começar a fazê-lo funcionar — mas o peso era muito extremo, e ela precisava olhar em volta mais. Ela ia voltar, ela decidiu, e colocou o lençol de volta no lugar. Claire passou por uma pilha de caixas e caixotes no canto e abriu a porta na parte de trás — ou tentou. Trancada. Ela vasculhou em torno das gavetas até que ela achou um conjunto de chaves, que continha tudo, desde antigos modelos de esqueleto oxidados até aqueles reluzentes modernos. Ela procurou através do chaveiro, olhando para o bloqueio, e tentou as prováveis chaves até encontrar uma que se encaixava e a girou. A porta do quarto de Myrnin se abriu silenciosamente. Ela tinha entrado antes (sem ele, claro) quando ela tinha ficado confinada ao laboratório por obrigação de dever, então ela estava bem familiarizada com o conteúdo. Nada parecia diferente. A cama tinha sido desarrumada, os travesseiros atirados no chão, e gavetas estavam penduradas abertas, mas ela não sabia dizer — como sempre — se isso era normal, ou algum tipo de frenesi de pânico. Não havia nenhum bilhete. Nada que dissesse a ela que Myrnin estava apenas temporariamente fora, ou tinha ido de vez. Ela não podia acreditar que ele tinha ido... embora. Apenas desse jeito. — Frank? — Claire saiu do quarto para o laboratório principal. — Frank, você pode me ouvir? — Frankenstein, Shane o chamou. Frank Collins tinha sido o pai de Shane — talvez não um bom, mas ainda assim. Em seguida, ele tinha sido transformado em vampiro contra a sua vontade. Então ele tinha morrido, e Myrnin tinha decidido recolher seu cérebro e usá-lo para alimentar o computador principal da cidade. Talvez Frankenstein não fosse um nome muito ruim para ele, afinal. Houve um som de zumbido que parecia vir de tudo o redor dela, e se uniu finalmente em uma voz distorcida e bêbada. — Sim, Claire — ele disse. — Você está bem? — Não — ele disse, depois de uma longa pausa. — Faminto. Claire engoliu em seco e cerrou os punhos. Frank — Frank Collins, ou o que restava dele — era programado em um computador no térreo, uma área que Myrnin não queria que ela fosse. — Eu pensei que os seus nutrientes foram entregues automaticamente.
— O tanque secou — ele disse. Ele parecia terrivelmente cansado. — Preciso de sangue. Pegue sangue, Claire. — Eu... eu não consigo fazer isso! — O que ela deveria fazer — pedir um galão do banco de sangue? Magicamente transportá-lo por todo o caminho até lá ela mesma? Ela não tinha ideia de como Myrnin fazia estas coisas; ele nunca tinha incluído ela em qualquer uma atividade de manutenção. Mas ela suspeitava fortemente que o único capaz de fazer isso seria um vampiro. — Myrnin foi embora? — Faminto — Frank disse fracamente novamente, e então apenas... parou de falar. O zumbido sob a sua voz se desligou. Ela pensou que isso era o equivalente a estar offline, como um laptop desligado sem bateria. Se ela quisesse que ele sobrevivesse, ela realmente tinha que cuidar disso. Claramente, Myrnin não estava aqui para fazê-lo. Claire foi para a caixa de vidro no canto. Era difícil de ver com todas as teias, mas quando ela pegou a parte de cima do tanque, a aranha Bob rastejouse ansiosamente para o início de sua construção fina de multiniveis. Ela era uma grande aranha macia, e de alguma forma incrivelmente bonita, embora parte dela ainda gritasse como uma menina com o pensamento de tocá-la. Ele saltou para cima e para baixo em sua teia, todos os oito olhos olhando diretamente para ela. — Você está com fome também — ela disse. — Certo? Myrnin não te alimentou também? Isso era muito estranho. Myrnin podia negligenciar Frank, porque ele e Frank realmente não se davam tão bem (e Frank poderia estar fingindo; ele tinha um senso cruel e estranho de humor), mas deixar Bob sozinho e morrendo de fome não era típico do chefe dela. Ele era ridiculamente fã da coisa. Ela ainda se lembrava do pânico total de Myrnin da primeira vez que Bob tinha perdido a pele. Tinha sido como uma pessoa normal surtando sobre o nascimento de uma criança. Não era como se ele fosse deixar Bob para trás se ele realmente fosse embora. Algo estava errado aqui. Muito errado. Claire pegou o celular e ligou para a discagem rápida de Myrnin. Estava chamando, e de repente ela ouviu um eco no laboratório, um ringtone composto por música de órgão assustadora. Ela mesma tinha dado a ele o celular e colocado o toque.
O celular estava jogado nas sombras ao lado de uma pilha de livros. Ele tinha uma tela rachada, mas ainda estava funcionando. Claire pegou e sentiu a rigidez nos dedos. Sangue. O que tinha acontecido? — Você não deveria ter vindo — Pennyfeather disse atrás dela. Sua voz, como o resto dele, era incolor, e seu estranho sotaque melodioso só o fazia parecer menos humano de alguma forma. — Mas não se preocupe. Você não vai embora. Claire tropeçou para trás surpresa, batendo o calcanhar em uma pilha de livros descartados, que caíram e jogaram empoeira, livros pesados caíram em cima dela. Ela gritou e se abaixou, e percebeu que ela tinha uma oportunidade enquanto Pennyfeather estava parado para examinar o caos; ela pulou, deslizou sobre a parte superior da mesa de laboratório mais próxima, fazendo livros e béqueres de vidro voarem e atingir o chão enquanto ela corria. Ela ouviu barulhos suaves atrás dela, e em sua imaginação, ela viu Pennyfeather pulando sem esforço na mesma mesa, pousando e correndo atrás dela. Ela se sentia humana, sólida, desajeitada e totalmente superada contra sua graça estranha. Claire estava acostumada o suficiente a correr de vampiros para não estar totalmente aterrorizada — ela tinha feito isso com frequência suficiente aqui neste laboratório — mas Pennyfeather era diferente dos outros. Oliver, Amelie, Myrnin... Todos eles tinham algum tipo de humanidade neles, algumas dicas de misericórdia, no entanto escondidas. Elas poderiam ser alcançadas. Pennyfeather era puramente um vampiro assassino em série, e nenhum ser humano, nenhum, seria páreo para ele. Claire se esticou para a estaca com revestimento de prata em sua mochila, mas ela rolou para o lado, e correr, caçar ao redor em uma bolsa e observar obstáculos perigosos não eram exatamente atividades complementares. Era inevitável que, assim que as pontas dos dedos tocassem o metal frio, o pé dela pisasse em um livro que deslizaria para o lado, e ela cairia, fora de equilíbrio, no chão. Assim como ela fez. Ela conseguiu pegar a estaca assim que Pennyfeather pousou em seu peito, ágil e surpreendentemente pesado. Ele facilmente abaixou os braços dela. Tudo o que ela podia fazer era sacudir a estaca ineficazmente contra o azulejo. De jeito nenhum ela poderia conseguir levantá-la para estacá-lo, ou
nem mesmo arranhá-lo. Ela resistiu, tentando empurrá-lo para longe, mas ele desviou-se facilmente. Atingiu a ela, com uma clareza fria, que ela não iria escapar disso. Sem ideia genial de última hora. Sem pequenas aplicações inteligentes de ciência para resolver o problema. No final, ela iria apenas ser outra estatística em Morganville. Mais um ponto para os vampiros. — Ei — uma voz áspera e eletrônica rosnou por cima do ombro de Pennyfeather, e uma imagem em escala de cinza bidimensional cintilou lá. Frank Collins, o ausente/abusivo pai de Shane, assustadoramente com várias cicatrizes, estava empunhando uma chave de roda, que ele acertou na cabeça de Pennyfeather. Pennyfeather reagiu à coisa olhando pelo canto do olho, empurrando-a para fora do caminho e soltando Claire para parar o movimento do objeto... mas suas mãos atravessaram o braço insubstancial de Frank, e Pennyfeather caiu para a frente, fora de equilíbrio. Claire agarrou a chance de rolar, e Frank cintilou entre ela e Pennyfeather, confundindo o problema. — Saia do meu caminho, espírito! — Pennyfeather rosnou com as presas para fora. — Eu não sou um espírito — Frank respondeu, e suas presas desceram também, quando ele voltou a rosnar. — Eu sou o maldito do seu pior pesadelo, Esqueleto. Eu sou um vampiro assassino com presas e rancor. Isso soou tão parecido com Shane que Claire estava realmente assustada. Assim como o Pennyfeather quando uma chama súbita de fogo saltou de um dos bicos de Bunsen próximo. Claire mal se deu conta enquanto pegava a estaca do chão e sua mochila, e se lançava para a entrada escura do portal. Concentre-se! ela implorou e tremeu com adrenalina. Ela tinha segundos, no máximo, antes que Pennyfeather atingisse ela, não importava que tipo de distrações Frank podia estar tentando; ele não tinha qualquer força real e física para exercer a favor dela, mesmo que ele quisesse. Ela precisava sair daqui, rápido. Ela não podia reconstruir mentalmente o banheiro da Day House sob este tipo de pressão, ou em qualquer outro lugar que Myrnin tenha estabelecido um de seus limiares de teletransporte. O único que saltou de forma clara e instantaneamente em sua mente estava foi a casa dela — na sala de estar da Glass House, com o seu sofá confortável, poltrona e caos mal controlado... Ele se formou na frente dela quando ela mergulhou para a frente, confiando de alguma forma, desesperadamente, que ela poderia conseguir.
Pennyfeather pulou para a frente e pegou o pé dela assim que ela empurrou a pressão que cobria a porta, e ela estava presa, principalmente do lado de fora com a perna esquerda dela sendo segurada em um aperto tão forte como ferro, ela sabia que ele iria arrastá-la de volta. Ou pior. Se ela ficasse presa quando o portal fechasse, ela seria triturada. — Socorro! — Claire gritou. Michael, Eve e Shane estavam todos na sala de estar. Michael e Shane deixaram cair os controladores de jogos que eles estavam segurando e viraramse no sofá para olhar fixamente para ela, enquanto Eve — que já estava de frente para ela — lançou as mãos na boca em choque. — Me ajudem! Me puxem! Todos os três saíram do congelamento momentâneo ao mesmo tempo. Michael passou por cima do encosto do sofá e chegou até ela primeiro, agarrando o braço dela assim como Pennyfeather a puxava para trás e, embora Michael apertasse com força, ambos deslizaram em direção ao portal. Claire não conseguia respirar. — Ele está me segurando; ele está me segurando; eu não posso...! — ela gritou quando Pennyfeather puxou com força a perna dela, e ela sentiu a tensão em seus músculos. Ele ainda estava brincando com ela. Ela tinha visto um vampiro com raiva rasgar membros para fora de uma pessoa, e isso era assustadoramente possível agora. Shane pegou Claire e passou os braços em torno dela em um aperto tão forte que ela se sentiu como se tivesse sendo esmagada. — Vá, Mike. Eu vou segurá-la aqui! Tire o bastardo para longe dela! — É no laboratório! — Claire gritou: — Ele está no laboratório! Ela não tinha certeza se Michael poderia atravessar — não havia muito espaço — mas ela se encolheu para o lado na esperança de deixar mais espaço. Pelo menos Michael sabia o que estava fazendo. Ele parou por um momento, fixou a localização do laboratório em sua mente, em seguida, acenou para ela e mergulhou através correndo. Claire sentiu a perturbação da membrana fina ainda segurando sua perna na altura do joelho como uma onda estranha, e o aperto de Pennyfeather ficou mais forte. Ele começou a puxá-la firmemente para trás, e toda a força de Shane não era suficiente para mantê-los de deslizar para frente. Pennyfeather parecia estar mais ainda com a intenção de levá-la com ele, nada menos. Claire gritou e escondeu o rosto no peito de Shane enquanto ela sentia a tensão em sua perna aumentando, passando de doloroso a intensamente agonizante, e em mais um segundo ela sabia que sentiria seus músculos se soltando...
Mas, em seguida, um segundo depois, o domínio esmagador em seu tornozelo foi liberado. Shane tinha se preparado e a estava puxando com toda a força para contrabalançar, e quando a pressão soltou, ambos caíram no chão de madeira com ela por cima. Ela estava ofegante e assustada, mas ainda era bom estar de corpo-a-corpo com ele, e ela viu o fogo de prazer em seus olhos também, apenas por um momento. Ele afastou o cabelo do rosto dela e disse: — Tudo bem? Ela assentiu com a cabeça. — Então vamos fazer isso novamente mais tarde — ele disse, — mas agora, Michael precisa de reforços. Fique aqui. — Ele rolou ela para longe dele, levantou-se, pegou o saco de lona preta que Eve jogou para ele da porta da cozinha e mergulhou na escuridão. Eve correu para o lado dela quando Claire tentou dobrar a perna, e estremeceu com as dores que passaram por ela. — Não — Eve ordenou, e caiu ao lado dela para passar suas mãos sobre o joelho de Claire. — Porra, eu não acredito que Myrnin fez isso com você. Eu mesma vou estacar a bunda dele, se sobrar alguma coisa quando os meninos ensinarem a ele boas maneiras... — Myrnin? — Claire perguntou, e então percebeu o que ela quis dizer. — Não foi Myrnin! Com um terrível sentimento de desgraça, ela percebeu que não tinha dito que era Pennyfeather. E nenhum dos meninos estava preparado para isso.
E
Capítulo 11
Myrnin
stava tão escuro. Escuro escuro escuro escuro escuro escuro. Escuroescuroescuroescuroescuroescuroescuroescuronãoconsigorespirarescuu uuuroooooooo... Eu assumi o controle da minha tagarelice, conversando na mente com um esforço que me deixou tremendo. Se eu ainda fosse humano, ainda respirando — como eu fazia, às vezes, em sonhos — eu acho que eu estaria encharcado de suor de medo e ofegante. Eu sonhava com isso, às vezes, também, a umidade pegajosa na minha pele, pingando e queimando nos meus olhos, mas nos sonhos isso não era escuro; era brilhante, tão brilhante, e eu estava correndo pela minha vida, fugindo do monstro por trás... Tantos anos correndo na escuridão ficando vermelha nada nada é seguro não há abrigos não há amigos perdidos todos perdidos até Amelie até este lugar até a casa mas a casa se foi se foi morta e enterrada... Eu engasguei com o gosto na parte de trás da minha boca, o pico excruciante de fome, e caí contra a parede lisa e molhada. Não se lembre, eu disse a mim mesmo. Não pense. Mas eu não conseguia parar de pensar. Nunca. Minha mãe tinha me espancado por fantasias quando eu observava as estrelas, desenhava seus formatos e esquecia as ovelhas enquanto os lobos comiam os cordeiros e as minhas irmãs com suas feridas pequenas e cruéis quando ninguém via, e meu pai encurralado como um animal enquanto ele uivava o pensamento nunca para nunca nunca nunca uma tempestade uivando na minha cabeça até que o calor exploda através da minha pele e me devore. Pare. Gritei dentro da minha cabeça até que eu podia sentir a força disso martelando contra o osso, e por um momento abençoado ganhei o espaço de um silêncio contra todo o peso da memória pressionando e do terror que nunca, nunca ia embora por muito tempo. Houve tempo suficiente para pensar onde eu estava e me lembrar da minha situação atual... não do meu passado.
A prisão era familiar para mim, não familiar por causa de Morganville, mas de anos antigos e fortemente desagradáveis do passado... Meu inimigo ainda era um grande fã dos clássicos, porque ele tinha me deixado cair em uma masmorra — um buraco redondo e estreito em pedra que era profundo o suficiente, e liso o suficiente, para frustrar as tentativas de um vampiro para pular ou escalar. Em tempos menos civilizados, alguém poderia cair ali e ser esquecido completamente. Os humanos durariam apenas alguns dias, geralmente, antes do confinamento, da escuridão, da fome ou da sede — ou do simples horror — tomar conta deles. Vampiros... bem. Éramos resistentes. É uma coisa triste para um vampiro confessar, mas eu sempre odiei o escuro amargo e sufocante. É útil para nós para se esconder e perseguir, mas apenas quando há uma pitada de luz — um brilho fraco, algo que vai definir as sombras e dar-lhes forma. Um corpo quente de sangue brilhando, e isso também é um conforto e uma conveniência. Mas aqui não havia brilho fraco, nem vítimas, nada para aliviar o preto absoluto. Isso me lembrou de coisas terríveis, terríveis como a sepultura que eu tinha cavado para sair mais de uma vez, o gosto de sujeira e gritos na minha boca, vívido e azedo, e aquele gosto que nunca ia embora, deixando-me engasgado com ele, engasgado e incapaz de lutar contra a sensação terrível de asfixia do enterro que só o sangue poderia lavar, o sangue e a luz cegante... EscuroescuroescuroescuroescuroescuroescuroescuroescuroescuroescuroahmeuDeus porque... Quando voltei a mim, eu estava inclinado e vomitando, minhas mãos contra a parede. Eu estava de joelhos, o que era ainda menos agradável do que em pé. Eu caí para trás e encontrei a pedra fria e molhada da parede somente alguns centímetros atrás de mim. Eu poderia sentar, se eu não me importasse de ficar com a água imunda até a altura da cintura, e levei meus joelhos até meu queixo. Bem, isso era uma mudança, pelo menos. Era minha culpa eu estar aqui, inteiramente minha. Claire sempre me repreendeu por minha obstinação e ela estava certa, certa, sempre certa, até mesmo Frank me disse para ir, mas o pobre e mal-humorado Frank vai morrer de fome por falta de nutrientes porque ninguém vai mudar os tanques e cuidar dele corretamente, e Bob, o que fazer com Bob, eu não poderia deixá-lo para trás por conta própria, como ele iria pegar suas moscas, grilos e os besouros suculentos ocasionais sem assistência, ele era a minha responsabilidade e Claire Claire Claire estava vulnerável agora sem Amelie sem piedade bondade misericórdia não não não eu não poderia ir não devia... Pennyfeather frio e esquelético, com seus olhos ácidos e sorriso matador...
Frank me avisou me avisou me avisou me... Pennyfeather arrastando hereges às chamas, me caçando, me puxando do meu último ninho seguro e indo para a luz solar ardente onde Oliver riu e em seguida a masmorra a escuridão escuroescuroescuroescuroescuroescuro... Eu abri meus olhos novamente, eventualmente, com os meus gritos ainda soando voltando para mim a partir das paredes de pedra. Que coro barulhento que eu era. Ainda estava uma completa e absoluta escuridão — a rocha que eu me inclinei, a água, a minha mão na frente do meu rosto, todo frio e negro, nem mesmo uma centelha de luz, vida, cor. Isso era porque eu estava cego. Lembrei disso de repente, com um choque de culpa; era estranho que se poderia esquecer de algo tão significativo. Mas em minha defesa, algumas pessoas não tendem a querer se lembrar dessas coisas (o sorriso terrível e pálido de Pennyfeather, o brilho da faca, a dor, a queda). Você já se curou de coisa pior, eu disse a mim mesmo severamente. Eu fingi ser alguém claro, alguém prático. Ada, talvez, em seus melhores dias. Ou Claire. Sim, Claire seria muito prática em um momento como este. Cegos três ratos cegos cegos vejam como eles correm quem segura a faca onde está o gato Meu Deus do céu o gato e eu sou apenas um rato, um rato cego e indefeso em uma armadilha de queijo que apenas alguém iria colocar um pedaço de queijo, ou outro rato... A masmorra, eu não era um rato, eu era um vampiro, eu era um vampiro cego que iria se curar, é claro, eventualmente, e ver de novo. Pare, eu disse a mim mesmo. Eu dei uma respiração profunda e cheirei a morte antiga, as ervas daninhas esmagadas, o metal enferrujando, a pedra. Eu não tinha ideia de onde a masmorra estava localizada. Eu estava simplesmente na parte inferior da mesma, de pé na água fria e imunda e pensando que, desta vez, os meus chinelos favoritos estariam verdadeiramente arruinados. Que pena. Toda a teimosia no mundo não vai ajudá-lo agora, tolo. Eu podia ouvir Pennyfeather dizendo isso; eu podia sentir o aperto frio de suas mãos sobre meus ombros. Esta cidade pertence ao forte. E, em seguida, a queda. Bem. Eu era forte. Eu tinha sobrevivido. Eu sempre sobrevivo. Não desta vez não há ninguém para me resgatar ninguém sabia que eu estava tão sozinho sozinho sozinho escuroooooooooooooooooooooo. O pânico levou algum tempo para subjugar; durava mais a cada vez ao que parecia; do ponto de vista puramente científico, eu acho que eu deveria ter estado fazendo anotações. Uma monografia sobre o assunto dos terrores da
escuridão, com adição da cegueira. Eu poderia escrever volumes, eu poderia nunca ver novamente para ser capaz de escrever. Seus olhos vão curar, a minha parte racional — uma pequena parte, na melhor das hipóteses, e não significava a minha melhor — sussurrou. Tecidos delicados demoram mais tempo para se regenerar. Eu sabia disso, mas a minha parte animal e instintiva gritou em pânico, convencida de que eu seria deixado neste lugar, sufocando com nada para sempre, duplamente cego, incapaz até mesmo de distinguir as paredes brancas que me confinavam. A maré de pânico rolou em cima de mim de novo, e quando ela finalmente passou e meu cérebro se acalmou, eu estava agachado na água, aconchegado nas paredes frias e tremendo de um ataque próximo. Minha garganta estava estranha. Ah. Eu tinha estado gritando, novamente. Engoli um fio do meu próprio sangue precioso e escasso e me perguntei quando Claire iria me procurar. Ela iria; ela devia. Eu acreditava desesperadamente que ela faria isso. Certamente ela não estava tão brava comigo para ela me rejeitar e me deixar aqui, neste lugar horrível. Por favor. Por favor, venha. Eu não posso sobreviver aqui eu não posso sozinho não não não não sozinho não cego não... Eu não estava acostumado a sentir esse horror, que combinava todos os medos da minha vida mortal em um elixir tóxico; a proximidade das paredes, a escuridão, a água suja, o conhecimento de que eu poderia nunca sair deste lugar, que eu morreria de fome aqui em trapos e ossos até a sede me roubar todos os pedaços da minha mente que eu tinha lutado tanto para preservar, roendo minha própria carne, drenada até secar. Eu me tornei o meu pai afinal de contas. Meu pai tinha enlouquecido quando eu era apenas um menino muito jovem, e eles o tinham confinado... não em um lugar como este, mas em uma cabana, um casebre sem luz e acorrentado, sem esperança ou memória da luz do dia. Quando eu tinha pesadelos — diariamente — esse era o meu inferno, que eu acordava vestido nos trapos imundos do meu pai, acorrentado e sozinho, abandonado aos gritos na minha cabeça. No escuro. E aqui está, o pesadelo se tornando real, no escuro, sozinho, abandonado. Bobagem. Pennyfeather sempre trabalhou para Oliver. Tentei me concentrar na lógica, qualquer coisa para me impedir de deslizar sobre aquela encosta lamacenta indo direto ao poço do desespero novamente. Portanto, Oliver queria que eu fosse eliminado. Por que ele queria isso? Porque Amelie confiava em mim?
Isso não parecia certo. Oliver não era aleatoriamente cruel; ele gostava de poder, mas principalmente o que o poder poderia fazer. Ele teve muitas oportunidades para refazer Morganville à sua própria imagem, mas ele abstevese várias vezes; eu pensei que não havia respeito genuíno, mesmo um amor estranho e relutante, crescendo entre ele e Amelie. No entanto, ele tinha mudado, e através dele, Amelie também tinha. Para pior. Amelie, minha doce senhora, tão pequena, tímida e quieta no início, quando o seu mestre e o meu se encontraram, quando como vampiros novatos tínhamos aprendido a alegria da caça, o terror de ser possuído. Eu salvei você de seu pai vil, e perdi você, e encontrei novamente. Você ao menos se lembra de mim como aquele vampiro jovem e experimental, cheio de medo e noções vagas? Amelie não era ela mesma. Oliver não deveria ter feito isso comigo; ele não deveria ter sido capaz disso sem o consentimento dela. Havia algo faltando, algo que eu ainda não entendi. Era um quebra-cabeça, e eu gostava de quebra-cabeças; agarrei-me a ele, aqui no escuro, um escudo contra todas as peças caindo aos pedaços, quebrando juntos na minha cabeça, quebrando e cortando.... Outro ataque de pânico tomou conta de mim, quente como chumbo fervendo e frio como a neve que se acumulava na altura da minha cintura, na minha juventude, e a pouca mente que eu tinha dissolveu em um frenesi ácido, os pensamentos correndo tão rápidos quanto trens modernos através de pedras, virando descontroladamente dos trilhos, girando e queimando no caos pertoescuromuitoescuromuitopertoparedeslisasnãonãonão... Foi mais difícil desta vez de voltar. Eu sentia dor. Eu tremia. Eu acho que eu poderia ter chorado, mas a água pingava fria em mim, e eu não tinha certeza. Não havia vergonha nas lágrimas. Não havia vergonha nenhuma, já que não havia ninguém para me ver, ninguém nunca nunca nunca mais novamente. Venha até mim. Por favor, a minha parte solitária e perdida lamentou. Mas ninguém veio. Horas arrastaram-se lentamente, e eu comecei a sentir algo estranho... uma pressão, uma sensação estranha que me fez querer arranhar os olhos feridos... mas eu me impedi, com as mãos em punhos tremendo, e bati nas paredes lisas e duras até que senti ossos deslocando abaixo da pele. Ele curou mais rápido do que eu teria gostado; a distração não durou, e a pressão nos meus olhos ficou mais forte e, de repente, houve uma incrivelmente linda explosão de luz.
O brilho queimava tanto que eu gritei, mas isso não importava. Eu podia ver e, de repente, o pânico não era tão desesperador ou esmagador. Eu poderia superar isso. Eu iria superar. Como tudo na minha vida, havia uma saída, um único fio tênue de esperança, por mais que fosse insano... Porque esse era, de fato, o meu segredo. Em um mundo insano, a sanidade fazia muito pouco sentido. Ninguém esperava que eu vivesse e, no entanto, eu sobrevivia. Sempre. Eu olhei para cima e vi um túnel estreito deprimentemente fechando em um pequeno buraco turvo muito, muito acima... e o brilho de uma grade de prata acima, um círculo vedando uma cruz. Pennyfeather não tinha apenas me jogado cego em um poço; ele tinha me jogado em um dos níveis do inferno, e me trancou com prata, sobre a chance terrivelmente improvável de eu poder escalar essa altura e rastejar para fora. E quem sabia o que havia além; nada de bom, eu tinha certeza. Se tivesse sido Oliver a dar a ordem, ele tinha deixado pouco ao acaso quando ele estava determinado em seu curso. Ainda assim. Pelo menos não está escuro agora, eu me consolei. Eu olhei para baixo, e com a menor porção possível de luz eu vi as minhas pernas — nuas abaixo dos joelhos, já que eu tinha talvez imprudentemente usado um par de calças antigas de veludo até o joelho, e tão pálida como eu nunca tinha visto a minha pele. Estava da cor de neve suja, enrugada até os pés. Eu levantei um pé da água salobra, e as pantufas de coelho estavam encharcadas e caídas pateticamente. Até mesmo as presas pareciam sem qualquer charme. — Não se preocupe — ele disse. — Alguém vai pagar por seu sofrimento. Fortemente. Com gritos. Eu senti que eu deveria repetir isso para o outro chinelo, no caso de haver qualquer sentimento ruim entre os dois. Nunca se deve criar tensão entre um calçado e o outro. Com esse dever cumprido, eu olhei para cima novamente. A água pingava fria das alturas e batia no meu rosto em facadas afiadas e geladas. Era cruel, já que só poderia me irritar, não me sustentar. Ainda assim, devia ter ratos. Toda masmorra tinha ratos; eles eram um padrão. Sangue de rato não era o meu favorito, mas como diz o velho ditado, qualquer porta serve em uma tempestade. E eu estava definitivamente em uma tempestade, uma verdadeira tempestade de problemas. Água. Água água água fria caindo de um céu cinzento afogando as terras sujas cinzas cinzas ossos cinzentos de casas caindo lentamente em ruínas olhos cinzentos de uma mulher olhando para baixo com pena e lágrimas tantas lágrimas de uma mãe tanta decepção em seu rosto, e o que eu era agora não era o que eu tinha sido quando
ela tinha me visto da última vez... os gritos, a porta batendo, nenhuma família sobrando agora, ninguém para cuidar... minhas irmãs gritando para eu ir embora, vá embora... Eu me puxei bruscamente da memória. Não. Não, nós não pensamos nessas coisas. Você deve pensar neles, pense em suas irmãs, pense no que você fez, algo sussurrou em meu ouvido, mas era um sussurro ruim, um verme vil e traiçoeiro com o rosto de alguém que eu tinha uma vez amado, eu tinha certeza disso, mas eu não queria me lembrar de quem poderia ter me avisado. Eu não tinha escutado, em qualquer caso. Eu nunca escutei. Eu levantei o chinelo direito novamente e me dirigi a sua pequena cabeça encharcada. — Eu receio que eu tenha que deixar você para trás. E você, também, gêmeo. Vai ser difícil o suficiente subir sem você me atrasando. E suas presas não são muito afiadas. Eles não responderam. Uma pequena faísca de clareza gelada tomou conta de mim, e eu me senti envergonhado por falar com os meus sapatos e, especialmente, por pedir desculpas a eles. A clareza me confundiu. Era muito menos indulgente e agradável do que o estado geral de desconexão em que eu gostava de viver. No entanto, a sanidade — mesmo que breve — me forçou a olhar novamente para as paredes. A superfície não era perfeita, afinal de contas; era crivada de imperfeições minúsculas. Não construído, mas perfurada em uma pedra sólida, e enquanto quem quer que fosse que tinha feito a perfuração tinha polido os lados e limpado, ainda não tinha removido cada toque de textura. Não era muito, mas era alguma coisa, e eu suspirei com a perspectiva de quão desagradável isso ia ser. Então eu severamente pressionei minhas unhas na parede e comecei a raspar pequenos apoios. Venha me encontrar, eu ainda estava implorando a Claire, porque eu sabia muito bem que minhas unhas — mesmo que afiadas e resistentes — estariam desgastadas muito antes de eu alcançar a grade de prata acima. E cuja prata seria impossível para mim romper debaixo, sem alavancagem e um apoio arriscado. E, é claro, levaria dias para eu raspar uma escada até o topo, mesmo assumindo que minhas unhas aguentariam tanto tempo. Mas o mínimo que eu poderia fazer seria tentar. Pennyfeather podia voltar, afinal de contas; ele não pode ter acabado comigo. Talvez eu tivesse sido oferecido a ele como algum brinquedo macabro. Se fosse esse o caso, eu certamente precisava estar pronto para matá-lo, rapidamente, antes que ele pudesse inventar novas coisas horríveis para fazer comigo.
Essa podia ser a Ăşnica chance que eu tinha para sobreviver.
Capítulo 12
P
SHANE
elo menos as luzes do laboratório estavam acesas; isso era alguma coisa. Eu não tinha pensado em perguntar a Claire se eu precisava de uma lanterna — quero dizer, havia muita coisa acontecendo, e não havia tempo para perguntas e respostas — mas quando eu me espremi através da escuridão gelada/quente que Claire chamava de portal, e eu chamava de errado, estava decentemente iluminado do outro lado. O laboratório de Myrnin estava, como de costume, um desastre, mas eu achei pior do que antes... provavelmente porque havia dois vampiros lutando um com o outro, e com a velocidade que eles estavam se movendo era difícil ter certeza de qual era meu amigo. Tudo o que eu vi foram impressões enquanto eles empurravam um ao outro de um lado para o outro pelos corredores lotados com livros espalhados e massacrado. Claire odiaria isso — todas essas páginas mutiladas. Eu estava mais preocupado com o sangue, porque havia manchas de sangue aqui e ali, e parecia que alguém estava levando a pior na luta. E o meu palpite de que era Michael foi confirmado quando de repente a luta terminou. Passou na velocidade da luz ao ponto final em um segundo frio, e Michael estava no chão com o assustador e andrógino Pennyfeather ajoelhado em seu peito, seus olhos vermelhos e garras da mesma cor. Oh, puta merda. Não era Myrnin. Em uma luta franca, Michael poderia ter provavelmente derrotado o chefe de Claire, mas Pennyfeather era outra coisa — algo pior. Pennyfeather recuou para um golpe que provavelmente teria decapitado Michael, exceto que eu saltei para frente e plantei uma bota no seu lado, deixando-o sem equilíbrio, e atirei nele com o meu brinquedo mais novo e mais doce. Ele tinha sido feito para tranquilizar grandes animais de caça, como leões e tigres, e achei que serviria também para os vampiros. Especialmente se,
em vez de usar sedativos, os dardos foram preenchidos com prata em suspensão. E funcionou. Pennyfeather pensou que ele tinha me pego; ele se dobrou e concentrou sua raiva direto na minha cara, e sim, era assustador, mas eu vi o primeiro lampejo quando passou por seu rosto. Confusão. Então dor. Em seguida choque. — O que...? — ele disse, e então caiu de joelhos. Ele pegou o dardo que eu enterrei em seu pescoço e puxou-o para fora. Eu vi uma nuvem de fumaça ondular para fora do buraco enegrecido em sua pele. — O que você... — Você tentou matar a minha namorada e o meu melhor amigo — eu disse. — Chupa isso, garoto de presas. Não havia dardos de prata suficientes para matá-lo, mas era mais do que suficiente deixá-lo profundamente infeliz por um longo tempo e, o mais importante, parado ali mesmo, incapaz de se mover. Do jeito que eu queria. Eu estendi a mão para Michael, que não se moveu de onde ele estava pousado, e ele a pegou e conseguiu ficar de pé. Sua perna estava quebrada, e eu estremeci quando vi o quão não-linear que estava, mas ele apenas balançou a cabeça, pulou em um pé, e a chutou para frente com força. Os ossos deslizaram de volta juntos. Ele conseguiu não gritar. Eu teria gritado. Bastante. Mas ele apertou a mão no meu ombro e segurou com força brutal. — Você está bem? — eu perguntei, o que era uma coisa estranha de dizer, honestamente; ele tinha acabado de consertar uma perna quebrada, no estilo vampiro, que era nojento e legal ao mesmo tempo. — Nada que não possa curar — ele disse. — Porra, ele é rápido. Quer dizer, realmente rápido. Eu estava esperando que Myrnin fosse selvagem. Não ele. — Quer ir chutá-lo mais algumas vezes? — Com uma perna quebrada? — Ok, bom ponto. — Eu me certifiquei de que ele poderia estar por conta própria, então voltei para a minha sacola caída. Ela estava cheia de coisas interessantes. Eu vasculhei através dela, lentamente, porque eu sabia que Pennyfeather ainda estava consciente e me observando. — Humm. Então, eu deveria ir com algo rápido, como a estaca de prata através do coração? É um clássico, eu admito, mas eu estava esperando por algo que ele realmente apreciasse. Uma coisa que eu sei sobre esse babaca é que ele realmente gosta de dor de alto nível.
— Ele não vai sair daqui novamente — Michael concordou. — Mas você não tem que dar uma de Marquês de Sade com ele, também. Apenas mate-o. Ou deixe eu matar. — Você não é um assassino — eu disse a ele. — Presas à parte, eu conheço você, cara. Você tem uma faixa de cara bonzinho de um quilômetro de largura. Agora me... — Tirei uma grande faca revestida de prata, adequada para a esfola de cervos, presumindo que eu já cacei vampiros cervos, e a ergui tão acima que captou a luz. — Eu, eu sou mais do tipo de pessoa “Bem-vindo ao lado negro”. A perna de Michael estava fixada bem o suficiente para que ele mancasse até mim e pegasse a faca. Eu o deixei, é claro. — Você não é um assassino frio — ele disse. — E Pennyfeather está lá deitado esperando por isso. Você mata alguém em autodefesa, ou defendendo alguém, mas não desse jeito. — E você o fará? Me dê a minha faca. — Você vai usá-la ou simplesmente posar para fotos? Porque você sabe que não podemos deixá-lo vivo. — Estas últimas palavras foram ditas em voz baixa, com uma voz que era muito mais obscura do que o Michael Glass que eu conhecia a maior parte da minha vida, aquele que sempre me dava cobertura e estava pronto para chutar traseiros, se necessário. Mas nenhum de nós matou. Não no sentido de assassinar a sangue-frio. — Ele tentou matar Claire — eu disse. — Eu acho... — Ele tentou matar Eve, também — Michael disse, — e esposa supera namorada só um pouco. Por isso, é o meu trabalho. — Seus olhos azuis pareciam escuros agora, quase com uma cor do céu noturno, e eu teria, na verdade, me sentido melhor se tivesse estado na forma vampírica de alguma forma. Mas não estava. Era apenas o Michael regular, falando sobre assassinato, com a minha faca na mão. Eu não sabia o que dizer sobre isso. Levantei-me devagar, observando seu rosto, e ele concordou. — Acho que eu vou fazer isso. — Cara... Ignorando-me, ele mancou até Pennyfeather, que ainda estava de bruços no chão onde o tranquilizante o tinha derrubado. Eu tinha que admitir, isso tinha funcionado muito melhor do que eu esperava. O que levantou a importante questão do porquê tinha funcionado melhor do que o esperado — porque nada nunca funcionava. Na verdade, eu sempre ficava surpreendido quando qualquer uma das coisas que eu inventava davam certo. E Pennyfeather era um vampiro difícil de matar. De repente, eu tive uma sensação ruim e negra na boca do estômago.
— Michael... — Eu vou fazer isso — ele disse. Ele parecia pálido, mas determinado. — Ele tentou matar Eve, e Claire, e se nós o deixarmos ir, ele vai fazer pior. Você sabe disso. — Cui... Cuidado, eu ia dizer, mas eu não tive a chance porque Pennyfeather não estava tão tranquilizado afinal de contas. Ele não estava totalmente curado, porém, e foi isso que salvou Michael de ter seu braço arrancado quando o outro vampiro levantou do chão, agarrou seu pulso e puxou com força suficiente para fazê-lo soltar a faca. Ela caiu no chão de pedra e saltou, e eu fui atrás dela quando Michael deu um soco na cara de Pennyfeather duas vezes para tentar quebrar seu aperto, sem sucesso. Os olhos de Pennyfeather tinham ficado todo vermelho, e suas presas estavam abaixadas; ele estava tentando puxar Michael para mordê-lo, e conseguiu deixar um longo raspão vermelho em seu antebraço antes de Michael dar um passo para trás. Eu peguei a faca e voltei até ele, e Pennyfeather sabia que as regras tinham mudado; talvez fosse o olhar no meu rosto e o fato de que por mais que eu pudesse hesitar em esfaquear um inimigo indefeso, eu não iria hesitar quando ele era uma ameaça para o meu amigo. Ele empurrou Michael com força em uma mesa atrás dele, mas Mike estava pronto para isso; ele saltou para frente novamente, diretamente em Pennyfeather, e derrubou seu corpo no chão. — Shane! — ele gritou. — Anda logo. Eu não posso segurá-lo! Eu estava correndo, e isso foi um erro, porque um dos estúpidos livros sempre espalhados de Myrnin deslizou sob o meu pé e me deixou sem equilíbrio, e durante o segundo ou dois que eu levei para recuperar o meu equilíbrio novamente, Pennyfeather soltou-se de Michael e quase levitou até uma posição ereta. Ele não estava bem de forma alguma; ele estava oscilando no lugar, mas de alguma forma isso o fazia parecer mais ameaçador, mais desumano, como um fantoche demoníaco sinistro com olhos brilhantes. Em vez de vir para mim, ele saltou para trás, em cima de uma mesa, onde ele enviou vidros quebrados para o chão, e assobiou para nós. Ele ainda estava tonto, e talvez ele realmente iria cair de vez por causa da prata, mas ainda não. Obviamente. Atacar um vampiro que tinha o maior terreno não era inteligente, e eu abrandei a minha pressa e fiquei ombro a ombro com Michael. Se ele decidisse vir para nós lá de cima, estaríamos lutando por nossas vidas a sério e, embora a faca fosse ajudar, não era o suficiente. Nem perto.
— Sabe — eu disse para Michael, — minha namorada derrubou ele com um galho de árvore quebrado. — Pena que ela não está aqui — ele disse. — Cui... Ele ia, provavelmente, dizer cuidado, mas Pennyfeather fez algo que nenhum de nós estava pronto: ele saltou para trás para fora da mesa para o chão e, correu, ziguezagueando através das minas terrestres do laboratório de Myrnin, indo para as sombras. — Droga — eu disse. — O que diabos vamos fazer agora? Não podemos deixá-lo aqui, não se os portais ainda funcionam. Ele poderia aparecer em nossa casa. E onde diabos está Myrnin? — Eu não sei — Michael disse, — mas definitivamente não está aqui. Temos que acabar com ele. De uma vez por todas. — Podemos não ter muito tempo. — Eu apontei para a porta preta, que ainda estava brilhando. Talvez Claire estivesse segurando-a aberta para nós, mas estava começando a ficar irregular. Eu olhei para as escadas, onde a outra saída não-mágica estava, e por um longo momento não conseguia descobrir por que eu estava vendo uma parede. — Hum, Mikey? — O quê? — Onde está a porta regular de sair daqui? Ele se virou e olhou também, e viu exatamente o que eu vi: uma massa áspera de concreto que enchia e bloqueava a escada que levava para cima e para fora. — O que...? — Ele não perdeu tempo com isso, porém, apenas se voltou para o portal. — Esse é o nosso caminho para fora. O nosso único caminho. — Como eu disse, o tempo está passando, cara. — Eu estava observando o portal nervosamente, porque parecia estar vibrando, ondulando como seda em um vento forte. Não era bom, ou pelo menos eu achava que não era bom. — Ou nós vamos agora ou nós ficamos presos aqui, e minhas chances não são tão boas com dois vampiros famintos e sem banco de sangue. — Não vai ser fácil pegarmos ele com o que temos aqui. Precisamos de algo mais! Eu olhei em volta. Certamente não havia falta de porcaria por aqui que poderia ser perigoso, mas era tudo uma confusão sem esperança... e quando eu abri a primeira gaveta, Pennyfeather deslizou para fora das sombras cerca de seis metros de distância, e atacou. Eu quase estava com a faca no lugar, mas ele deu um tapa nela para longe, e tirou tudo o que eu tinha — e Michael saltou nas costas do outro vampiro — arrancando seu aperto antes que ele pudesse começar a extrair pedaços de
mim. Tateei cegamente e envolvi a minha mão em torno de um pedaço pesado e sólido de... bem, algo. Parecia um pouco com uma câmera cara, só que realmente de difícil manuseio. Eu não tentei fazer nada inteligente com isso, apenas golpeei o lado da cabeça do albino Pennyfeather tão forte quanto eu podia. Era dura o suficiente para que ela nem mesmo se dobrasse, e ele se inclinou como se eu tivesse feito algum dano, e eu segui com um chute que fez ele se redobrar. E nós ainda não conseguimos acabar com ele, porque ele se esquivou livre de Michael e circulou ao redor, e Michael o perseguiu, com intenção e foco e com os olhos brilhando de energia vampírica. Ele estava mais preocupado por mim, e eu apreciei isso, mas eu tinha a nítida sensação de que Pennyfeather não se importaria de acrescentar a morte de Michael ao seu cartão de escores, tampouco. Eu acho que na tentativa de balançar a coisa que eu estava segurando para atacar o vampiro novamente, eu acertei algum tipo de botão, porque eu senti uma onda pesada de energia espalhar-se pelo meu braço, e então eu devo ter acidentalmente passado para Michael, porque ele vacilou como se algo tivesse batido nele... E então ele simplesmente ficou maníaco. Moveu-se em um borrão até Pennyfeather, gritando em fúria, e Pennyfeather caiu duro. A próxima coisa que eu sabia era que Michael estava segurando-o no chão, socando-o com fúria cruel como eu nunca soube que ele era capaz de sentir antes. Foi assustador. Fiquei olhando para a máquina zumbindo em minhas mãos e rapidamente e desajeitadamente procurei em torno por um botão de desligar. Eu pressionei algo que parecia com um botão, e o zumbido parou. Michael parou, respirando com dificuldade, olhando para Pennyfeather com os olhos que brilhavam tão vermelhos que pareciam estar nadando com o fogo do inferno. Pennyfeather não estava se movendo. — Jesus — eu sussurrei, e coloquei a arma — porque era o que era, algum tipo de arma — bem rápido no espaço da mesa mais próxima disponível. — Michael? — Eu... — Sua voz soava rouca e estranha, e ele olhou para mim com aqueles olhos cheios de fúria, e eu quase desejei que ele não tivesse. — Me dê a faca. — Hum... cara... — Faca. Eu balancei a cabeça e a puxei para longe. — Não é porque eu não quero vê-lo morto. É porque eu não confio no que você vai fazer com isso agora.
— Ele tentou matar Eve. — Havia uma espécie de terrível ânsia na maneira como ele disse isso que me fez querer tremer. — Ok, cara, é ótimo que você entrou em contato com seu interior assassino em série e tudo mais, mas de jeito nenhum. — Eu estava falando sério. Eu queria Pennyfeather morto; esse não era nenhum problema. O que eu sinceramente não queria era que Michael acordasse disso — seja o que for que fosse — e tivesse a memória do que ele estava prestes a fazer. Além disso, no caso de ele de repente ter um interesse doentio em mim, eu queria ser o único segurando a faca. Levou mais alguns segundos, mas, finalmente, o brilho desapareceu dos seus olhos para uma cor sangrenta mais normal — eu odiava que eu poderia dizer que isso era normal — e ele sentou-se, tremendo todo. — Que diabos foi isso? Eu só... — Se tornou um super-herói do mal? Sim. Eu não sei. Um dos brinquedinhos inventados por Myrnin, eu acho. — Eu cutuquei a coisa, franzindo a testa, e ela deslizou em cima de uma pilha de livros e quase caiu no chão até que eu a agarrei e pousei no lugar novamente. Michael ainda estava estendendo a mão para mim, e eu percebi que ele ainda estava esperando a faca. Calmamente, agora. Nossos olhos se encontraram e mantiveram, e eu disse: — Você tem certeza, cara? — Não — ele disse. — Mas isso tem que ser feito. Eu entreguei a ele. Os olhos de Pennyfeather estavam fechados, e ele já parecia sem vida, surpreendentemente inconsciente pelo ataque furioso de Michael. Deitado ali em silêncio, ele parecia muito... menor. E com essa estrutura óssea andrógina ele poderia ter sido facilmente uma mulher forte, caracterizada como um homem, o que fez a coisa toda ficar ainda mais inquietante. Eu não tinha certeza se eu mesmo poderia ter feito isso, honestamente. E só para piorar as coisas naquele momento, o portal brilhou, estremeceu e expeliu Claire. Minha namorada ainda estava correndo da adrenalina; era evidente pelos seus olhos castanhos grandes demais, a cor queimando em suas bochechas. Ela tinha um arco em sua mão que era quase tão grande quanto ela, e uma flecha pronta para puxar. A flecha tinha uma ponta de prata farpada. Ela derrapou até parar, mas ela não baixou a guarda. — Pennyfeather está... — Ela viu Michael ajoelhado sobre o vampiro caído, e a faca, e ela sugou sua respiração com força.
— Tem que ser feito — eu disse. Ela mordeu o lábio, mas ela não tentou argumentar. — Olha, nós precisamos sair daqui. Myrnin fez algo louco e tampou a saída, por isso estamos agora contando com a boa vontade do meu Frankenpai para manter esse portal aberto, e eu não estou me sentindo bem sobre o plano. — Sinta-se pior — ela disse. — Frank está faminto. Eu não sei se ele pode mesmo manter isso aberto. Precisamos sair daqui, agora. — Não se deixarmos Pennyfeather para trás e ele achar uma saída que conduz para a nossa casa. Eve surgiu naquele momento, tendo aparentemente parado para carregar uma besta de fogo rápido que ela segurava com uma competência assustadora. Ela verificou os cantos em busca de ameaças também, antes de baixar sua guarda e começar a se direcionar até Michael. — Espera — eu disse, e entrei em seu caminho. — Apenas... dê a ele um minuto. Ela deu um passo para trás e me considerou silenciosamente por um segundo, então disse: — Foi atrás de mim que Pennyfeather veio atrás. É o meu trabalho, certo? — Não! — Claire e eu dissemos ao mesmo tempo, mas Claire continuou, sinceramente. — Eve, você não vai matá-lo sem ser em uma luta. É... assassinato. — E daí? — Eve disse. Seus olhos tinham ficado duros como pedra. — Quantos assassinatos ele cometeu? Você não acha que ele tem que morrer? — Eu não acho que isso é algo que qualquer um de nós deve decidir! — Oh, querida — Eve disse, e sorriu um pouco. — Você realmente não é de Morganville ainda. — Ela olhou para mim. — Qual é a sua objeção, Collins? Eu dei de ombros. — Michael pode lidar com ele se ele acordar. Você não pode. Logística. Claire parecia chocada, mas ei, Eve estava certa; as pessoas de Morganville compreendiam isso melhor. Podia parecer cruel e duro, mas quando a decisão era viver ou morrer, sabíamos de que lado nós queríamos acabar. Ter Pennyfeather continuamente nos perseguindo não era uma opção. Eve assentiu com a cabeça. Ela caminhou até Michael e colocou a mão suavemente no seu ombro, e ele olhou para ela e tomou uma respiração profunda, se firmando. — Ele não pode — Claire disse. — Ele não pode, Shane... Eu caminhei até ela, e ela deixou cair o arco e flecha com um barulho quando eu passei meus braços em torno dela e virei as costas para o que estava
para acontecer. — Silêncio — eu disse, e acenei com a cabeça para Michael sobre seu ombro. — Seja rápido. — Pare. A voz pareceu vir de todos os lugares, ao nosso redor, dos alto-falantes ocultos e do meu celular também. Ela era estridente e pálida, e parecia exausta, mas era muito familiar. — Frank — eu disse. Enfrentar o meu pai era algo que eu tinha feito muito ao longo dos últimos anos, mas sempre parecia ter um fim desagradável, todas as vezes. Fiquei imaginando qual seria hoje. Eu engoli o que parecia ser um bocado de ácido, e disse: — Apenas nos deixe em paz, ok? — Vocês não precisam do sangue dele em sua consciência — Frank disse. — Confie em mim, crianças, vocês não precisam. Me deixem fazer isso. — Você? Pai, odeio dizer isso a você, mas no térreo há um computador, e no meio dele há um cérebro flutuando em um frasco com fios correndo para ele, e esse é você. Portanto, você não vai matar Pennyfeather, por mais fodão que você ache que você seja. — Eu só tenho que fazer uma coisa, filho — ele disse. — Eu só tenho que morrer. Eu estou morrendo de qualquer maneira; os tanques de nutrientes estão secos, e não há mais nada para mim. Se vocês deixarem ele aqui, eu vou segurar os portais fechados até eu morrer. Ele não vai a lugar nenhum. Eu me virei e olhei para Michael e Eve, e eles pareciam tão surpresos quanto eu. E um pouco aliviados. — Bem — Eve disse, — talvez seja a melhor... — Pense no que você está dizendo — Michael disse. — Porque se eu colocar isso no peito dele agora, ele está acabado. E se nós formos embora, o que acontece se o seu pai estragar tudo e deixar ele sair? — Pior — Claire disse, — e se ele não fizer isso? Vocês não querem a morte de Pennyfeather na consciência de vocês, mas vocês não têm nenhum problema em deixar ele aqui morrendo de fome? Como seria isso, Michael? Divertido? Fácil? Ele desviou o olhar. Ele sabia, e eu sabia, que os vampiros não morriam fácil de fome; eles viviam um longo, longo tempo. E sofriam. — Talvez ele mereça. — Talvez — eu concordei. — Mas se ele merece, eu tenho certeza que ele merece a faca também. E eu não quero acordar pensando nele aqui gritando, vocês querem? Pennyfeather tomou a decisão de nossas mãos, porque ele abriu os olhos, rosnou e avançou para cima com as garras estendidas.
E Michael agiu completamente por reflexo, defendendo ele e Eve. Rápido, suave e precisamente mortal. Pennyfeather bateu no chão com força, e a prata começou a correr através de sua pele. Seus olhos estavam abertos. Eu não sabia se ele ainda estava vivo, mas eu esperava que não; de qualquer forma, não demorou muito. A voz de Frank voltou, desta vez mais fraca. — É hora de ir — ele disse. — Vocês precisam ir, agora. Michael deixou a faca no peito de Pennyfeather, pegou Eve em seus braços, e levou-a para o portal. Ele ondulou enquanto eles passavam sem parar. Isso deixou apenas Claire e eu olhando um para o outro. — Ei, pai — eu disse a Frank. Minha voz soava rouca inesperadamente, e eu a limpei. — Talvez isso seja errado, mas acho que você tentou me ajudar quando os draugs me prenderam nos tanques. Eles estavam me matando e me fazendo sonhar enquanto eles faziam isso, somente alguém... alguém ficava tentando me fazer acordar. Era você? Nada. Silêncio. Ouvi o gotejamento distante de água por um momento. — Bem, se foi, obrigado, eu acho. Isso me fez lutar. Isso resumia eu e o meu pai perfeitamente. Ele me fez lutar, se eu queria ou não, e se era por uma causa que eu acreditava ou não. Ele me tornou resistente, forte e um sobrevivente, e sim, isso valeu a pena, especialmente agora que eu tinha coisas para realmente lutar. Claire tinha citado um escritor chamado Hemingway para mim, há pouco tempo atrás: O mundo quebra todo mundo, e depois, alguns ficam mais fortes nos lugares quebrados. Eu não acho que o meu pai tenha lido Hemingway, mas ele teria gostado dele. Passei mais alguns segundos esperando — eu não sei, alguma coisa — e então eu virei para ir embora. E uma sombria figura bidimensional granulada se formou na minha frente. Meu pai tinha escolhido uma versão mais jovem de si mesmo do que a idade que ele tinha quando ele morreu, mas ainda era ele — ele dos últimos bons momentos da minha infância. Relativamente falando. Olhamos um para o outro por um momento, e então seus lábios se moveram. Eu mal podia ouvir as palavras ásperas silvando para fora de um alto-falante velho no lado da máquina do outro lado da sala. — Eu sabia que esse dia chegaria, Shane. É por isso que eu mandei você de volta aqui. Para estar aqui quando tudo acabasse mal. — Os vampiros — eu disse. Era sempre sobre os vampiros com ele. Ele os culpava por tudo — pela morte provavelmente acidental da minha irmã, pelo
provável suicídio da minha mãe, pela sua própria bebedeira, amargura e raiva. E sim, tudo bem, talvez ele estivesse certo, porque Morganville era um lugar tóxico. — Eles estão fora de controle. — Sempre estiveram — ele sussurrou. — Sempre estarão. Pare eles. Não importa o que custar. Queime a cidade toda se você precisar. Esse era o meu pai. Sempre mate-todos-eles-deixe-Deus-cuidar-deles. Se alguns inocentes fossem pegos no caminho, bem, eram danos colaterais. — Claire, vá — eu disse. Ela estava chorando, eu percebi, lágrimas silenciosas que corriam em gotas prateadas por suas bochechas. Eu não conseguia entender às vezes toda a bondade dentro dela, porque quem chorava pelo meu pai, por um cérebro em um frasco que quase nunca tinha sido bom para ninguém? Claire chorava. Ela provavelmente estava chorando por Pennyfeather também. — Vá — eu disse de novo, suavemente, e beijei-a nos lábios. — Eu vou estar bem atrás de você. Ela pegou o arco e a flecha e depois de uma hesitação, pegou a máquina volumosa que tinha afetado Michael tão fortemente. Antes que eu pudesse perguntar sobre isso, ela se dirigiu para a porta, mas ela parou ali, olhando para trás. — Vamos lá — ela disse. — Vamos juntos. Eu fui para a saída, andando direto através da imagem de Frank. Pareceu como uma cortina de alfinetes e agulhas, mas eu estava acostumado a dor, especialmente quando ela vinha do meu pai. Ele recriou-se na minha frente, bloqueando o caminho de Claire. Eu continuei andando, e ele continuou voltando, andando sem problemas como o fantasma que ele era. — Filho — ele disse, — eu quero te dizer uma coisa. Apenas uma. — Então diga. — Eu estou orgulhoso de você — ele disse. Eu dei uma parada súbita e completa, encarando-o — o homem que eu nunca tinha conhecido, porque ele nunca me deixou conhecer ele; ele me tratou como uma ferramenta útil e inimigo em potencial por toda a minha vida. — Você é diferente — ele disse. — Você é melhor do que eu era. E eu estou orgulhoso de você por ser tão forte. Isso é tudo. Eu só precisava dizer isso, antes do fim. Ele dissolveu em fumaça eletrônica. E se foi.
— Pai? — Eu me virei em meus calcanhares, minha voz ecoando pelo laboratório silencioso e frio. — Pai? Nada. Apenas... silêncio. Isso me disse que ele não tinha mais energia de sobra, e nós estávamos sem tempo. As luzes piscaram, me alertando da mesma coisa. Claire de repente disse: — Ah, não... Bob! — Bob? — Eu olhei para ela fixamente, e ela apontou para o laboratório. Oh. A aranha. Eu balancei a minha cabeça e corri para pegar o tanque — que, com exceção do conteúdo do vidro, estava iluminado — e me certifiquei de que a tampa estava sobre ele com força antes de levá-lo para o portal. Claire esperou ansiosamente enquanto as luzes continuavam a piscar, mais e mais rápido. Parei na beira do portal quando ela passou através dele. Eu queria dizer algo profundo, mas eu não sou esse tipo de cara, então eu apenas disse, sem jeito: — Tudo bem, pai. Até logo. — Até logo. — Sua voz sussurrou, e havia algo melancólico em sua voz eletrônica. Eu pisei através do portal para o ar fresco e familiar da Glass House, e senti a coisa se fechando — se fechando completamente — atrás de mim. Houve quase uma sensação física de desconexão, de todo o sistema simplesmente... morrendo. Eu coloquei a minha mão na parede branca e me concentrei, por um momento, em apenas respirar. Você perdeu ele antes, eu disse a mim mesmo. Ele não estava realmente lá de qualquer maneira. Mas ele havia parecido real para mim quando ele disse que estava orgulhoso. Talvez eu sempre ansiasse por isso, precisasse disso. Talvez ele soubesse disso. Mas, apesar da onda de tristeza, havia algo de bom em deixá-lo dessa vez, algo que parecia definitivo, e completo. Talvez isso era o que todos esses médicos psiquiatras da TV queriam dizer quando eles falavam sobre encerramento. Eu coloquei o tanque de Bob em cima da mesa da sala de jantar, com um murmúrio de aflição de Eve, e Claire rapidamente jogou a pesada máquina esquisita na mesa de café, junto com seu arco e flecha. Notei vagamente que estava apontado na minha direção, mas no momento, isso não queria dizer nada, e nem a sensação espinhosa que corria através de mim. — Você está bem? — Claire disse, e se aproximou com uma expressão de pura preocupação. Ela parecia... Eu não posso explicar isso, exatamente, mas
de repente eu senti um raio de calor passar por mim como o fogo do céu, e, cara, eu queria ela de todas as maneiras — certas ou erradas. Ela tinha crescido ao longo dos anos — cheia de curvas que imploravam para ser seguradas e acariciadas, e esse definitivamente não era o momento, mas, de repente, eu estava pensando em não me importar com o que era um comportamento adequado. — Tudo bem — eu disse através de uma garganta subitamente seca. — Quer dizer, eu vou ficar, de qualquer maneira. — Eu sinto muito — ela disse. — Eu gostaria que pudéssemos ter feito alguma coisa. — É por isso que eu te amo — eu disse, e estendi a mão para afastar seu cabelo para trás de seu rosto. — Porque você se importa tanto. — Seu olhar subiu e encontrou o meu, e mais calor explodiu através de mim como uma bomba. Eu vi a onda de choque disso nos olhos dela. Oh. Eu realmente não conseguia explicar o que estava acontecendo na minha cabeça e ricocheteando ao redor do meu corpo, mas era... bom. Ótimo, na verdade. Eu coloquei minha mão em torno das bochechas de Claire e me inclinei para beijá-la. Seus lábios tinham gosto de cereja e sal, doce e azedo ao mesmo tempo, e eu rosnei em algum lugar profundo e me inclinei, puxandoa para perto. Ela era minha, minha, e isso era tudo o que importava. Myrnin tinha ido embora, desapareceu, e ele não era uma ameaça agora. Algum sussurro traidor me disse que eu poderia ter perguntado a Frank sobre ele, sobre o que tinha acontecido, mas eu não queria saber. Ele se foi. E eu tinha Claire, de corpo e alma, e cara, eu queria ela, agora. De muitas maneiras. — Ei — Michael disse de algum lugar atrás de mim. — Isso é realmente doce e tudo mais, mas acabei de matar um cara e seu pai... tem certeza de que quer fazer isso agora? Ele estava certo sobre isso, mas eu não podia tirar as minhas mãos longe dela — ou meus lábios. Eu gostaria de alguma forma deslizar meus polegares sob a apertada malha de sua blusa e encontrar a pele debaixo, e eu não queria acabar com isso. A sensação da sua carne fina e macia, mesmo esse pouco, fez eu me sentir como se a minha cabeça estivesse em chamas. E então Claire engasgou, tossiu e se soltou de mim. Eu instintivamente estendi a mão para ela e peguei o ar, e tropecei em seguida... e assim que eu o fiz, eu suguei uma respiração afiada de ar frio e senti algo como a sanidade começando a voltar.
Oh. Oh. A máquina. Ela estava na mesa de café, brilhando com um verde fraco, e o fim do negócio estava apontado para onde Claire e eu estávamos de pé. Ela tinha ligado quando ela tinha colocado lá, eu suponho. E então, há, há, não é engraçado, ela havia me ligado. Claire, corando em um tom furioso e lindo de vermelho, circulou ao redor da mesa e virou uma espécie de interruptor na parte traseira. A luz morreu, e assim o fez o zumbido, e eu me senti... não normal, mas menos louco. — Desculpa — ela disse, e mordeu o lábio. Eles ainda estavam úmidos e inchados do nosso beijo, e me sacudiu do foco deles com um esforço genuíno. — É... meio que um experimento. — Myrnin fazendo um raio da luxúria — eu disse. Claro que ele estava, porque... por que não? Eu tinha que admitir, eu provavelmente veria algum valor nisso eu mesmo. Inferno. Eu acabei de ver. — Espere um segundo. Eu acidentalmente apontei aquilo para Michael, e isso deixou ele... — Irritado — Michael disse. — Super bravo. Pronto para matar. — Não, não, ele não é... — Claire engoliu e visivelmente tentou acalmarse. — Não é um raio da luxúria. Ele só engrandece o que você está sentindo. E não é de Myrnin. É meu. Eu só estava... fazendo uma experiência. — Eu sei que não sou um especialista científico nem nada disso, mas eu tenho que dizer que eu acho que funciona. Se é isso o que você estava querendo, de qualquer maneira. — Eu pulei toda a questão do porquê tinha decidido focar esse impulso especial em mim. Ela tomaria isso como um elogio, eu espero, mas eu não estava muito certo sobre isso. Meu histórico de adivinhar o que pode ofender as garotas não era exatamente perfeito. — Para que você estava pensando em usá-lo? Porque do jeito que deixou Michael com raiva intensa... O rubor simplesmente não estava ficando menos vermelho, ou — mesmo sem o raio — menos interessante. — A ideia é que já que pode amplificar exatamente um sentimento, eu também posso anulá-lo — ela disse. — Era para funcionar apenas com os vampiros, não humanos. Eu não sei por quê... por quê ele funcionou em você, Shane. Eu sinto muito. — Bem — eu dei de ombros, — eu não sinto, particularmente. Isso foi um pouco divertido. — Eu odeio admitir isso, mas quando estava apontado para mim, também foi — Michael disse. — Meio como se ele tirasse todas as inibições. — Uma arma de embriaguez — eu disse. — Demais. — Não — Claire disse, e franziu a testa. — É perigoso. — Ela o pegou e colocou na sua mochila, apertando algum tipo de interruptor de segurança
que eu não tinha notado antes. — Eu vou encontrar um lugar para mantê-lo onde ele não vá machucar ninguém até que eu possa destruí-lo. Foi provavelmente uma ideia idiota, de qualquer maneira. Eve desapareceu na cozinha, sempre prática, e saiu com um saco de sangue que ela jogou para Michael, que arrebatou-o no ar e mordeu-o com um nível assustador de entusiasmo. Ele esvaziou-o em cerca de, oh, dez segundos ou menos, da mesma forma que um ser humano poderia engolir água depois de um treino realmente agressivo. E tinha o mesmo efeito; ele ficou um pouco fraco nos joelhos e teve que apoiar-se em uma parede, mas depois o choque passou, e ele parecia quase imediatamente melhor. Seus olhos se desbotaram de volta ao azul simples, e sua coloração da pele passou de cara-morto pálido a mais como marfim. As feridas começaram a fechar mais rápido, também. — Obrigado — ele disse a Eve. Ela levantou uma sobrancelha arrogante. — Você vai me compensar mais tarde — ela disse, e piscou. Isso rendeu um tipo muito diferente de sorriso de Michael, e eu encontrei outra coisa para olhar, rápido. Agora eu era o único a sentir como um intruso em algo pessoal, como eu imaginei que Mikey tinha se sentido anteriormente, com toda a apalpação apaixonada e línguas. Engraçado como o jeito que eles sorriam um para o outro poderia ser íntimo. Ou talvez eu só estivesse me transformando em uma garota, vivendo com duas delas na casa. Isso era assustador. Não que eu não gostasse de garotas. Eu só preferia ser o meu velho eu, simples e insensível. — Um já foi — eu disse. — Mas Frank me deu um aviso. Esta cidade realmente vai ficar louca. Precisamos estar prontos. — Sempre — Eve disse, e me deu um polegar para cima. Mas eu queria saber se nós realmente, verdadeiramente estávamos.
Capítulo 13
O
CLAIRE
sistema de portais tinha estado completamente e absolutamente morto. Na manhã seguinte, Claire começado a testar cada uma das entradas que ela tinha mapeado, e cada uma delas se encontrava apenas como inativas, como as da Glass House. Até a da fuga de emergência de Amelie, a de lá de cima do quarto do sótão secreto tinha desaparecido. Ela sabia que isso aconteceria, mas ainda era... estranhamente triste. Ela estremeceu e tentou não pensar em Frank morrendo lentamente em seu silencioso túmulo enquanto ela saía do armazém abandonado — o portal número doze do mapa — e voltava em direção ao centro da cidade. Deste lado de Morganville era principalmente deixado para apodrecer e para os ratos — tinha sido assim por anos, lentamente caindo em ruína enquanto os negócios fechavam ou eram realocados. O alpendre finalmente havia caído na frente do antigo edifício do hospital onde ela e Shane tinham corrido uma vez do pai dele e de Oliver, bloqueando para até mesmo os mais resistentes exploradores urbanos. Havia provavelmente muitas outras maneiras de entrar, mas ninguém são queria ir lá. Era um ótimo lugar para ficar permanentemente desaparecido — não apenas por causa dos vampiros, mas porque havia algumas pessoas do comércio de drogas que tinham reivindicado-o como sua propriedade. Eles podiam ficar com ela se dependesse de Claire. O lugar não era só assombrado; era diabólico. Eu poderia ter passado a manhã trabalhando na máquina — como eu vou chamala? Dispositivo de Cancelamento de Poder de Vampiro? DCPV como sigla? Tudo bem, que tal Coisa Mágica? Ela estava fantasiando demais sobre o que poderia fazer, ela pensou, mas ela não conseguia se livrar da ideia de que se ela conseguisse um sinal perfeito para combinar com o que os vampiros estavam enviando, ela de alguma forma poderia cancelá-lo... e perfeitamente anular o efeito. Não que isso teria parado Pennyfeather de tentar arrancar a sua garganta, claro. Inconvenientes.
Esta área da cidade estava muito degradada. Claire amaldiçoou sob sua respiração quando ela tropeçou em outro muro caído. Os vampiros realmente poderiam ter feito alguma renovação urbana por aqui, mas eles gostavam de ter algumas ruínas ao redor; talvez convinha às sensibilidades góticas deles, ou talvez fosse apenas prático, ter lugares onde eles poderiam perseguir alguém ao redor em privado depois de escurecer. Ela se perguntava por que eles não fecharam o comércio de drogas, no entanto. Talvez — provavelmente — eles só não se preocupassem o bastante. Quando Claire estava indo embora, ela viu a van preta do After Death de caça-fantasma virar a esquina e parar em frente ao edifício. Ah, não. Não. Não... Mas lá estavam eles: Jenna, Angel e Tyler, saindo da van, puxando para fora todos os tipos de equipamentos, cabos e caixas. Claramente, eles iam encenar algum tipo de investigação de espírito lá dentro. Uma péssima ideia. Claire tirou o telefone e discou o número não-emergencial do departamento de polícia de Morganville. Geralmente, não eram rápidas as respostas, e levava pelo menos dez toques antes de finalmente alguém atender. — Oi, sou Claire Danvers — ela disse. — Você sabe quem eu sou? — Sim. O que você quer? — A voz do outro lado era fria e profissional. Sem pistas de com quem ela poderia estar falando, ou como a pessoa realmente se sentia. — Eu estou em frente ao edifício do velho hospital, aquele abandonado. E aquelas pessoas estúpidas caça-fantasmas estão aqui. Eu só achei... talvez você pudesse mandar uma viatura, dizer a eles para eles irem embora? — Ela hesitou por um instante, então foi em frente. — Por que eles ainda estão aqui, afinal? — Estamos esperando por uma decisão quanto à forma de lidar com eles — a voz disse. — Até lá, vamos deixar eles vasculharem. As pessoas sabem como evitá-los. Esperamos que eles só percam o interesse e vão embora. Pessoas, significava, Claire presumiu, pessoas vampiras. A polícia parecia ter tudo sob controle. — Ok — ela disse. — Mas o hospital não é seguro. Você sabe disso, certo? — Enviaremos uma viatura — ele prometeu e desligou na cara dela. Tanto trabalho para ser cívica. Claire vigiou a atividade na van por um tempo, até que ela os viu realmente entrarem através de um corte na cerca de arame ao redor do prédio. Eles conseguiram entrar. Nada bom. Para eles. Ela atravessou a rua na esperança de ouvir uma sirene se aproximando, mas não havia nada exceto o silvo constante do vento do deserto e o chocalho de amarantos contra as cercas. Em alguns lugares havia tantas plantas
enroladas e espinhosas que parecia uma barricada. Uma que subia no terreno aberto prendeu contra a perna da calça dela, e ela teve que parar para puxar; sua ponta dos dedos começou a tremer e coçar depois. Tyler já tinha entrado. Angel estava deslizando através da cerca com Jenna mantendo-a aberta. — Ei — Claire disse, e ambos se viraram para olhar para ela com surpresa. — Desculpe, eu não quis assustar vocês, mas esse não é um bom lugar. Lá dentro é instável. O chão está todo podre. — Ah, você é... Claire, certo? — Quando ela assentiu, Angel sorriu — com menos energia do que ele teria usado com Monica, ela pensou. — Bem, obrigado pelo aviso, mas estamos muito acostumados a trabalhar em espaços perigosos. Lembra do asilo, Jenna? Aquele no Arkansas? — O chão tinha desaparecido completamente — Jenna disse. — Tivemos que andar sobre as vigas ou cairíamos pelo menos três andares direto para o porão. Teve coisas boas, no entanto. Foi um vencedor enorme de audiência. — Ela empurrou uma caixa para Angel e, em seguida, uma segunda. — Não se preocupe, somos treinados para esse tipo de coisa. — Tem cobras lá — Claire disse. — Cascavéis. E aranhas viúva-negra. Realmente não é seguro. — E estamos realmente bem com isso — Jenna disse. — Pode ir, Claire. Temos tudo sob controle. — Jenna analisou ela com olhos curiosos e pálidos. — Você parece bastante ansiosa para nos manter fora de lá. Qual é a sua verdadeira razão? Claire deu de ombros e chutou uma pedra aleatória. — Nada — ela disse. — Eu só ia odiar ver vocês se meterem em apuros por nada. Você está perdendo o seu tempo por aqui, de qualquer maneira. — Você ficaria surpresa do que nós já captamos por aqui — Jenna disse. Isso soou ameaçador. — Minha opinião pessoal é que esta cidade é um local de atividade paranormal. Eu acredito que nós vamos divulgar a filmagem dramática que encontrarmos aqui dentro. É quase como se... como se nós estivéssemos sendo guiados. — Guiados — Claire repetiu. — Pelo quê? — Por quem — Angel corrigiu. Seu sorriso continha apenas um toque de dúvida indulgente. — Jenna acredita que ela fez contato com um espírito perdido. — Eu fiz — Jenna disse, e soou como as cinzas de uma antiga briga queimando novamente. — Talvez você a conheça. É uma garota jovem...
Não Alyssa, Claire pensou, abatida. Por favor, não diga que é a irmã de Shane. Porque não havia nenhuma dúvida em sua mente agora que o espírito de Alyssa podia estar protelando e preso no terreno que ela tinha morrido, mesmo que a casa tivesse caído aos pedaços. — Miranda — Jenna terminou. — Pelo menos, foi isso o que eu fui capaz de reconhecer através das gravações do fenômeno de voz eletrônica. Temos um monte delas. Ela é muito falante. — Miranda — Claire repetiu e deu uma respiração profunda. Ela tinha sobrevivido de alguma forma; ela tinha se agarrado a tripulação de caçafantasma na esperança de conseguir ajuda. Mas isso era tão perigoso. — Hum... não, eu acho que não reconheço esse nome. Provavelmente foi antes de eu chegar. — Hum — Jenna disse, mas Claire não gostou do olhar nos olhos dela. Era muito perspicaz. — Engraçado que ela sabe o seu nome, no entanto. E muito mais. Ela foi salva pelo grito distante de uma sirene. Ela estava se aproximando. Jenna e Angel entreolharam-se com as sobrancelhas levantadas quando ficou claro de que ela se dirigia em direção a eles, e ambos chamaram ao mesmo tempo: — Tyler! Tyler voltou pela porta do hospital tombada e coberta com tijolos espalhados. — Sim, o que foi? Eu vou ter que passar por cima de toda essa porcaria para conseguir entrar. Talvez devêssemos ver do lado... — Você acertou o local com a polícia? — Angel perguntou. — Não era você? Jenna suspirou. — Droga, Tyler... Claire fez um recuo tático e rápido quando o carro da polícia de Morganville parou por trás da van com as luzes e sirenes ligadas, e deixou-os para resolver o problema. Miranda ainda estava por perto, e ela estava trabalhando com os caçadores de fantasmas de alguma forma. Bem, era bom que ela tenha encontrado uma maneira de sobreviver, mas Claire teve um pressentimento terrível de que também era uma complicação. Talvez uma grande. Q q q Claire se sentiu melhor depois de deixar o bairro e começar a ver as empresas abertas novamente, mesmo esfarrapadas como eram; a maioria delas
eram depósitos de sucata e lugares que podiam reparar aparelhos, talvez um par de “lojas de antiguidades” que eram de onde você tirava as coisas do depósito de sucata. Uma loja de roupas de segunda mão que Claire visitou algumas vezes, apesar de ser principalmente os nativos de Morganville que faziam compras lá; a loja perto do campus era a única com coisas do tamanho dela dentro e fora da cidade em geral, por causa dos alunos da faculdade que abandonavam suas roupas a cada temporada. Era terrível pensar em roupas agora, no entanto; ela tinha acabado de eliminar qualquer possibilidade de procurar no laboratório de Myrnin por pistas de onde ele tinha ido. Lá estava profundamente acabado. Sem mencionar que necessitaria de uma britadeira e uma retroescavadeira para cavar o concreto selando a entrada se ela pretendia resgatar os livros de Myrnin, que na sua maioria eram insubstituíveis. Ela viu o primeiro panfleto de campanha para prefeito presa em um poste de luz — um para o Capitão Óbvio — e lembrou, com um choque, que a eleição era hoje. Ela não tinha votado ainda. Bem, o dia ainda era uma criança; ela tinha tempo. E era seu dever desde que tinha sido sua ideia para começar, para votar em Monica, embora ela teria que franzir o nariz para fazer isso. Então ela estava indo à Câmara Municipal e correndo direto para uma multidão. O barulho era um rugido maçante em um quarteirão de distância, e ela achou que era algum tipo de trabalho de construção, talvez um trator gigante ou uma máquina de moer ou algo assim... mas quando ela se aproximou, ela ouviu que não era nada mecânico. Eram vozes — vozes gritando, tudo se misturava em algo que soou como uma insanidade coletiva. As pessoas estavam correndo em direção ao ruído, e ela se encontrou tendo o mesmo impulso de ir ver o que estava acontecendo. Embora tenha havido algumas tentativas, nada tão grande tinha acontecido em Morganville em sua experiência. As pessoas só não tinham coragem de fazer um tumulto tão grande assim. Até agora. Quando Claire virou a esquina, ela viu que havia um trator de reboque estacionado no meio-fio na frente da prefeitura, enfeitado com algumas bandeiras patrióticas com aparência melancólica e fitas, e sobre ele estava Flora Ramos, com alguém em uma jaqueta de couro preta, calças pretas, luvas e um capacete de motociclista com um fone de ouvido escuro e opaco. Ele — pelo menos Claire achava que era um homem — estava com os braços cruzados. Flora estava ao microfone ao lado de um grande par de alto-falantes.
Os cartazes que as pessoas colaram nos postes e erguiam sobre suas cabeças continham CAPITÃO ÓBVIO PARA PREFEITO. E, claramente, o homem de pé na plataforma ao lado de Flora era... o novo Capitão Óbvio? Poderia ter sido o mesmo cara que tinha disparado contra Oliver no Common Grounds; ele estava usando um capuz preto, em vez do capacete, mas a jaqueta parecia semelhante. Flora Ramos levantou as mãos e acalmou para um murmúrio aborrecido o rugido de aprovação de cerca de mil pessoas amontoadas na rua. — Já tivemos o bastante — ela estava dizendo. — Chega de opressão. Já chega de morte. Chega de desigualdade. Chega de perder sob nossas casas, nossas vidas, nossos filhos, para as coisas que não controlamos. E nós não vamos ficar em silêncio. Se a prefeita Moises não pôde ouvir as nossas vozes, vamos fazê-las serem ouvidas em cada rua, em cada prédio, e em todos os cantos de Morganville até que as coisas mudem! Até que nós façamos elas mudarem! Nós construímos esta cidade com o nosso suor, sangue e força, e é a nossa cidade tanto quanto daqueles que fingem possuí-la! Ela era, Claire teve que admitir, uma ótima oradora. Ela estava com raiva, cheia de entusiasmo, e ela se movia como um relâmpago para agitar a multidão com mais gritos, recitais e barulhos. Claire desacelerou. Ela estava com um pouco de medo, de repente, do poder dessa multidão, e da eloquência de Flora. Assim como os policiais de Morganville, ela percebeu. Eles estavam fora como uma força, mais ou menos vinte, formando um cordão sólido entre a multidão e a prefeitura. Sem falar como os vampiros se sentiam sobre isso, mas Claire não tinha nenhuma dúvida, nenhuma mesmo, de que eles estavam bem conscientes disso. E se eles estiveram infelizes com Monica exigindo o escritório, o quão irritados eles estariam agora? Bastante, ela imaginou. Pela multidão que se reuniu, o Capitão Óbvio ia ganhar com uma vitória esmagadora, e se os vampiros pensavam que podiam ignorar as cédulas e escolher o seu próprio candidato, as coisas iam ficar muito feias muito rapidamente. Ninguém iria ser enganado, e claramente, os seres humanos não estavam dispostos a aguentar calados. Flora ainda estava falando, mas era difícil ouvi-la através dos aplausos constantes e agitados, e os encorajamentos. Claire olhou fixamente para o Capitão Óbvio. Era difícil de dizer alguma coisa sobre ele debaixo do disfarce, mas ele tinha um inferno de muita coragem para vir aqui, em público e em pé como um alvo livre depois de colocar uma flecha em Oliver. Então ela poderia ter previsto o que veio a seguir.
Tudo começou com bastante calma. Claire estava acostumada a procurar por vampiros, então ela percebeu os movimentos sutis e suaves das sombras bem antes da maioria das outras pessoas. Tudo começou com um ou dois aparecendo, bem cobertos em casacos longos e cachecóis, chapéus e luvas, mas não parou por aí. Logo havia dez. Então vinte. Então demais para Claire conseguir contar. E como a polícia, eles se espalharam, mas não para isolar a multidão. Eles estavam indo em direção ao palco, e ao Capitão Óbvio. Ele viu eles chegando ao mesmo tempo que a maioria dos outros. Vampiros não precisavam de proteção, nem mesmo em uma multidão como esta; os nativos de Morganville estavam cientes de que para se proteger tinham que se afastar, e foi exatamente isso o que eles fizeram. Gritos de alarme surgiram e pequenas ilhas de espaço se formaram em torno dos vampiros quando eles se empurraram para a frente. O capacete do Capitão Óbvio virou para Flora, e ela balançou a cabeça. Ele recuou até a borda do caminhão, caiu para fora e longe da vista, e um segundo depois, Claire ouviu o rugido de uma motocicleta. Ele veio rugindo para fora do esconderijo do outro lado do caminhão, pulverizando fumaça enquanto derrapava ao redor. A multidão se afastou por causa dele, ou pelo menos por causa da moto rosnando, e ele inclinou o guidão e deu um impulso forte para frente. Um vampiro se arremessou tentando tirá-lo da moto, mas ele se abaixou e habilmente se contorceu enquanto continuava manobrando. Quando outro tentou impedi-lo três metros depois, alguém no meio da multidão — mais ousado do que o resto — correu para a frente e tirou o chapéu do vampiro. O vampiro se virou com um rugido de fúria e colocou o chapéu de abas largas de volta por cima da cabeça fumaçando, mas foi perca de tempo, e o Capitão Óbvio acelerou, inclinando-se em uma curva acentuada com o joelho quase no chão. Era alguém com treinamento, Claire pensou, alguém com muita habilidade. A maioria dos vampiros desistiu dele, embora alguns tentaram perseguilo; o resto se afastou e invadiu o palco, e os dois agarraram Flora Ramos. Um terceiro cortou o fio do microfone com um único puxão enquanto puxavamna do seu palanque. Mas quando eles tentaram levá-la para baixo da plataforma, as pessoas avançaram gritando. Eles haviam perdido o medo, de repente. Fazia sentido. Flora era uma senhora popular, uma viúva, que tinha perdido as crianças para os vampiros. Ela era a mãe de todos, de repente, sendo arrastada para a
escuridão — não no meio da noite, mas em público, em plena luz do dia, em um show evidente de força de vampiros. Amelie e Oliver devem ter aprovado isso. Eles devem estar observando, Claire pensou com uma pontada súbita. Ela se virou e olhou para trás e viu um sedan comprido com janelas fumê em marcha lenta na esquina. Ela caminhou nessa direção. Caminhou em direção ao carro e bateu na janela do banco traseiro. Ela deslizou para baixo e revelou o rosto pálido e severo de Oliver. Ele não falou. Ele só olhou para ela com um desinteresse frio. Próximo a ele, Amelie estava olhando para a frente com um leve franzido entre as suas sobrancelhas. Ela parecia impecável, como sempre, mas Claire a conhecia bem o suficiente para saber que ela estava incomodada com o que via à sua frente. — Deixe a Sra. Ramos em paz — Claire disse a Oliver. — Ela está pregando um tumulto e violando a paz pública — ele disse. — Ela é nossa por direito. — Pode ser. Mas se você se livrar dela nesse momento, você perde. Não apenas agora, mas por um longo tempo. As pessoas não vão esquecer. — Não me importa o que eles vão lembrar — ele disse. — A única maneira de parar uma rebelião é esmagá-la com sangue e fogo, e feri-los para que eles nunca se atrevam a levantar a mão novamente. Isso soou quase como se ele gostasse. Claire estremeceu e olhou para além dele, para Amelie. — Por favor — ela disse. — Isso não está certo. Pare. Deixe Flora em paz. Não demorou muito para a Fundadora falar, mas quando ela o fez, sua voz era suave, até mesmo decisiva. — Deixe a velha em paz — ela disse. — Não vamos ganhar nada fazendo dela uma mártir. Nosso objetivo é encontrar este novo Capitão Óbvio. Ele não pode se esconder por muito tempo. Quando pegarmos ele, nós fazemos dele um exemplo e deixamos claro que este tipo de interrupção não será tolerado. Estamos claros? Oliver fez uma careta e deu a Claire um olhar assassino. — Minha rainha, eu acho que você está ouvindo demais os seus animais de estimação. A menina tem um coração mole. Ela vai levar todos nós à ruína. — Ele levantou a pérola da mão branca de Amelie aos lábios e beijou-a com os lábios demorando em sua pele, e ela finalmente olhou para ele. — Deixe-me guiá-la nisso. Você sabe que eu tenho os melhores interesses por Morganville. E você é Morganville. A carranca entre as sobrancelhas perfeitamente arqueadas de Amelie relaxou e suavizou, e ela manteve o olhar totalmente focado nele. — Eu temo que o seu modo vai nos trazer mais problemas, Oliver.
— E o modo dessa pivete nos trará a morte — ele disse. — Anote o que eu estou dizendo, ceder não é nenhuma resposta. Nós iremos nos acomodar em uma pira de cinzas. Os seres humanos não têm nenhuma pena de nós, e nunca teve; eles matariam cada um de nós. Você esqueceu que um deles apenas ontem tentou colocar uma flecha de prata no meu coração? — E eu a puxei para fora — Claire disse. — Ou você estaria morto agora, seu idiota. O que exatamente é uma pivete? Era uma pergunta retórica, mas o olhar de Amelie se afastou de Oliver por um momento, e Claire teve toda a força da atenção da Fundadora. — Uma jovem desrespeitosa — ela disse. — Algo que eu fui chamada mais de uma vez. Algo que toda mulher de qualidade é chamada, mais cedo ou mais tarde, por um homem que sente que elas não conhecem o seu lugar. Como não o conhecemos, pois o nosso lugar é tão elevado quanto podemos aspirar para subir. É a linguagem dos homens que temem as mulheres — Havia algo estranho nos olhos de Amelie; eles pareciam mais escuros do que o normal, e Claire não conseguiu perceber o quê até que ela notou que as pupilas estavam excessivamente grandes, como se ela tivesse colocado algum tipo de gotas de dilatar nelas. Ela estava sendo drogada? — O que traz um bom ponto, Oliver. Eu acredito que você já me chamou de pivete em certas ocasiões. No entanto, de repente você me chama de sua rainha. — Você já era a rainha em meu coração — ele disse, o que fez Claire querer vomitar. Sua voz era calorosa, calmante, e de um modo muito sedutora. — Podemos não concordar com uma coisa, minha senhora? Que a sobrevivência de alguns vampiros devem prevalecer sobre as legiões de seres humanos que vagueiam esta terra em seus bilhões? Se nós confiarmos na boa generosidade deles, vamos morrer. — Ele não está errado nisso, Claire — Amelie disse. — A humanidade não é conhecida por sua caridade com aqueles que temem. Se nós não somos dilacerados como demônios, somos dissecados em seus laboratórios, para a ciência. Ou pior, colocados a exposição, não melhor do que aqueles leões perturbados e ursos exaustos em seus zoológicos. Quem irá nos proteger, se não protegermos a nós mesmos? Claire queria dizer que ela estava errada, que não seria assim, mas ela tinha lido histórias suficientes e sabia o suficiente sobre os ressentimentos e medos que as pessoas continham para perceber que Amelie provavelmente estava certa, em teoria. — Solte ela — Claire disse. — E as pessoas vão ver que você não está com medo de ser parte desta cidade e ouvi-los. Confie em mim. Por favor. Eu não
quero que isso exploda, e nem você, mas vai. Se você fizer a Sra. Ramos desaparecer, isso nunca vai parar de explodir. Os vampiros vão acabar com os seres humanos, os seres humanos vão acabar com os vampiros, e mais cedo ou mais tarde, estaremos todos mortos ou vocês serão descobertos. — Eu não posso deixá-la ir. Não é uma opção. — Mas Amelie parecia considerar as coisas, e de repente ela puxou a sua mão livre do agarre de Oliver, abriu o outro lado da limusine e saiu para o sol. Ao contrário dos outros vampiros, ela não se preocupou em tentar se cobrir; ela era velha o suficiente para que o sol não fizesse mais do que dar-lhe uma queimadura dolorosa, mas suave. Ver ela em plena luz do dia era surpreendente. Ela usava um terno de seda branco, habilmente ajustado, e sua baixa estatura estava escondida com saltos altos brancos. Seu cabelo dourado pálido estava envolto como uma coroa em volta de sua cabeça, era quase do mesmo tom. A única cor nela era um colar de rubi vermelho-sangue e um anel combinando, e enquanto ela caminhava em direção à multidão, cada polegada dela parecia de uma rainha. Oliver abriu sua porta com força, agarrou Claire pelo braço e empurroua contra uma parede de tijolos. — Garota estúpida — ele disse, e correu atrás de Amelie. Ela não parecia estar se movendo rápido — flutuando, quase — mas ele teve problemas em acompanhar ela. Ela alcançou a multidão antes dele, e a multidão se separou em frente dela como uma fumaça diante de um vento forte. Os vampiros pararam no palco, subitamente conscientes de sua presença, e o silêncio tomou conta do caos, a ponto de que Claire imaginou que ela quase podia ouvir o clique dos saltos de Amelie enquanto ela subia as escadas portáteis até o palco. Oliver se moveu atrás dela, sua expressão impassível, mas ela podia ver a raiva e frustração em sua linguagem corporal. Era tarde demais para parar o que ela pretendia fazer. — Solte a mulher — Amelie disse para os dois vampiros que prendiam Flora. Eles a soltaram imediatamente, e se afastaram com as suas cabeças inclinadas. Amelie avançou para ficar na frente dela. — Você está ferida? Flora balançou a cabeça negativamente. — Então você pode deixar este lugar, se você desejar. Ou você pode ficar aqui, nesse palco, e aceitar o trabalho muito difícil e sem recompensa de prefeito, uma posição para a qual eu acredito que você é exclusivamente adequada. O que quer que Flora estava esperando, não era isso. Nem os seus apoiantes. Um murmúrio confuso começou a se elevar, e Claire correu de
volta para que ela pudesse ouvir mais claramente a confusão. Os microfones estavam desligados, para que apenas as primeiras filas estivessem propensas a ouvir o que estava acontecendo. — Eu não estou concorrendo — Flora disse. — É o Capitão Óbvio que as pessoas querem. — Eles não vão conseguir o Capitão Óbvio — Amelie respondeu com uma perfeita calma. — Não se pode eleger um homem muito covarde para mostrar o seu rosto. Você, Sra. Ramos, tem coragem suficiente por ambos, claramente. Então você é a minha candidata. O que você diz? Temos bastante residentes aqui para você ganhar simplesmente pela voz. Sim ou não? — Eu não posso... — Não foi uma recusa, no entanto; foi um argumento confuso e relutante. — Eu não sou da política. — Nem o Capitão Óbvio, senão ele não teria fugido no primeiro sinal de problemas — Amelie disse friamente, e conseguiu uma onda de risadas de alguns na multidão. — Eu vim para ficar diante do povo de Morganville como a Fundadora. Sem medo. Ele pode dizer o mesmo? Você enfrentou também. E eu digo que você vai sustentar a confiança deles. Eu não peço a você nada além de um serviço honroso. Você aceita? Claire não ouviu a resposta, porque o rugido que se elegeu na multidão era ensurdecedor. Isso realmente não foi uma recusa. Amelie tinha enganado o Capitão Óbvio e Oliver, e ela tinha recuperado o equilíbrio de Morganville, pelo menos temporariamente, tudo isso em apenas trinta segundos. Claire balançou a cabeça em admiração, e foi para casa para dizer a Shane isso — apesar do trabalho duro — e glitter — Monica estava fora da eleição. Ela ficaria tão decepcionada. Q q q Claire não foi a primeira a dar a notícia para a Glass House, embora ela tenha ligado enquanto corria para longe da prefeitura. Eve atendeu no primeiro toque e disse: — Você está na confusão? — Não é bem uma confusão. É mais uma reunião. — Porque a conversa subterrânea diz que é uma confusão. Eles estão batendo nas pessoas com cartazes? Tem sprays de pimenta envolvido? Detalhes!
— Não que eu tenha visto — ela disse. — Eu realmente achei que tinha notícias de última hora, mas você chegou antes de mim. — Nem tanto, Torta de Açúcar. É verdade que eles quase pegaram Flora Ramos? Cara, eu queria que eles tivessem. Isso destruiria qualquer posição elevada que sobrou para Amelie. Quero dizer, Flora Ramos... todo mundo sabe dos filhos dela... — Eles não levaram ela — Claire disse, e falou rápido, no caso de Eve atualizar a página da Web. — Amelie declarou ela prefeita. — Espera... declarou? Como isso é justo? Uau, Monica vai ficar puta por ela nem sequer ter chegado a perder corretamente... Ok, isso é um lado positivo, na verdade. — Ela não teria ganhado muitos votos. Tinha cerca de metade da cidade reunida lá, você sabe, a metade que respira? E eles não estavam carregando nenhum cartaz de “Monica Morrell”. Todo mundo de lá era da Equipe Óbvio. Houve um farfalhar na outra extremidade e, em seguida, um borrão confuso de vozes discutindo. — Ei! — Eve entrou em foco novamente. — Claro que não, Shane, ligue você mesmo. Eu falei com ela primeiro... Oh, tudo bem. Shane disse para eu dizer que ele trabalhou duro naqueles cartazes, e eles eram melhores do que os do Capitão Óbvio. — Eve cobriu o alto-falante, mas Claire ainda ouvia sua conversa abafada com ele. — É sério? Você tinha que tentar roubar o meu celular para dizer isso? Perdedor! — A resposta de Shane era indistinta, mas provavelmente um insulto. Eve friamente ignorou-o e disse: — O que você estava dizendo, Claire? — Não importa o quão grande eram, todos os nossos cartazes foram retirados ou... — Ou? Claire? Alôôôôôôôôôôô? — Eu tenho que ir — Claire disse às pressas, e desligou o celular porque o conversível vermelho de Monica estava parando no meio-fio na frente, e ela estava ali de pé, olhando para um de seus cartazes que não tinha sido retirado. Claire podia ver a expressão vazia em seu rosto, o que a deixou curiosa, e ela correu para ficar em um ângulo onde ela podia ver o cartaz. Ela cobriu a boca para esconder um suspiro chocado, porque alguém tinha feito uma arte completa no pôster de Monica — mais de uma pessoa, obviamente, com variações e estilos de tinta colorida. Um tinha escrito com hidrocor grosso, Queime no Inferno, que era realmente a coisa mais legal que alguém tinha escrito. As adições à sua foto meio-bêbada de biquinho eram interessantes também, e principalmente pornográficas.
Não que Monica não merecesse isso. Ela merecia. Isso não era nada além de vingança, mas pelo olhar no rosto da garota, ela não esperava por isso, nem um pouco. — Eles me odeiam — Monica disse. Sua voz era calma e um pouco abafada, e seus olhos estavam arregalados. Havia manchas de cor sobre as suas maçãs do rosto sob o bronzeado artificial. — Jesus, eles realmente me odeiam. — Hum... sinto muito. Mas o que você esperava? — Respeito — Monica disse. — Medo. Mas eles não têm medo de mim. Não mais. — Ela estendeu a mão, pegou o cartaz e puxou-o para baixo. Ele rasgou no meio, e ela puxou a segunda metade com uma fúria cruel ainda maior. O cartaz era duro, mas ela conseguiu reduzi-lo a pedaços vívidos de cor néon e lançá-lo desafiadoramente para a calçada em um montão amassado. — Culpa deles! E sua, cadela! Eu sei que você e Shane armaram isso. Você sempre quis me ver humilhada! — Ela avançou sobre Claire com os punhos cerrados. Claire se manteve firme com calma, e Monica parou de se aproximar quando ela percebeu que ela não ia conseguir fazê-la recuar, mas a raiva ainda fervia por todo o seu corpo. Na menor oportunidade, no pequeno sinal de fraqueza, ela atacaria. — Nós pensamos que você ia conseguir — Claire disse. — Não é nossa culpa que você tem mais bagagem do que um aeroporto no Natal. Talvez em vez de tentar se vingar, você deva pensar em como melhorar o que as pessoas pensam sobre você. — Eu acho que você tem cerca de dez segundos para sair da minha frente! Claire deu de ombros. — Aproveite a sua vida de excluída, então. Você vai se acostumar com isso. O resto de nós se acostumou muito bem. — Vadia! — Monica gritou de volta, mas foram apenas palavras, e era um sinal do quanto as coisas tinham mudado entre as duas que Monica não tivesse se atrevido a atacá-la com qualquer outra coisa, nem mesmo quando ela estava virada de costas. — Você vai pagar por isso... eu juro! Claire apenas acenou e continuou andando, embora a área bem entre as suas omoplatas continuou coçando até que ela ouviu a porta do carro de Monica bater e ouviu o ronco do motor. Mesmo assim, ela ficou pronta para pular fora do caminho se o Mustang misteriosamente saltasse no meio-fio, mas quando o carro passou por ela, correndo rapidamente em uma névoa fina e intensa no ar calmo, ela relaxou. Um pouco. Mas só por um momento. Era uma manhã ensolarada e silenciosa; o sol quente pendurava em um céu sem nuvens cor de brim desbotado, e dois grandes falcões voavam sobre
sua cabeça, circulando enquanto caçava. Esse não era o momento nem o lugar que ela teria esperado para detectar uma ameaça, e ainda assim... No entanto, algo estava errado. Ela podia apenas... sentir. Levou alguns segundos de análise rápida para descobrir que o que tinha disparado o alarme era a livraria empoeirada da faculdade que ela tinha acabado de passar. Em vez de estar aberta, alguém tinha fechado as cortinas... e agora uma mão alcançou através da cortina e virou a placa ABERTO para FECHADO. Isso não estava certo. Era um dia de trabalho regular, e a loja não tinha estado aberta por muito tempo. Bem, a pessoa poderia apenas querer tomar o café da manhã. Ou um almoço mais cedo. Ela não podia ter certeza, porque aconteceu muito rápido, mas ela podia jurar que a mão que virou a placa tinha adquirido uma queimadura vermelha viva mesmo com a breve exposição ao sol. Vampiro. Claire lentamente recuou, olhando para a loja. Ela pensou de volta no que estava acontecendo enquanto ela estava falando com — bem, estava sendo ofendida por — Monica. Alguém tinha entrado no lugar? Sim, uma pessoa; ela o viu com o canto do olho. E, agora que ela pensou nisso, essa pessoa tinha sido o professor Carlyle, ele injustamente deu B em seu trabalho de física, mas obviamente ele não era uma criatura da noite, mesmo que ele fosse mau. Alguém estivera na loja já, como uma aranha esperando em uma teia. Não é problema meu, Claire disse a si mesma, mas algo no fundo discutiu com ela. Talvez ela tivesse passado muito tempo perto de Shane, que estava sempre atirando-se alegremente em uma briga após a outra. Talvez ainda fosse apenas a raiva da atitude arrogante de Amelie e Oliver com a população humana e indefesa de Morganville. Tanto faz. Ela tirou a mochila de seu ombro, puxou uma estaca de prata, e tentou abrir a porta, e apesar da placa, ela ainda estava destrancada. Ela estava comprometida agora — o vampiro teria ouvido ela de qualquer maneira, não interessa a distração que ele esteja tendo. Então ela entrou com tudo, deixou a porta estrondar atrás dela, e aterrissou solidamente em seus pés, pronta para a luta. Ainda bem que ela estava, porque o vampiro veio para ela rápido das sombras, um rosto branco distorcido e um rosnado raivoso, e ela atingiu algo e era carne, mas não o coração dele. Ele gritou e correu para longe, claramente não preparado para uma luta com alguém que poderia machucá-lo, e no breve intervalo Claire olhou ao redor da loja. As luzes estavam acesas, o que era útil. Uma típica livraria de faculdade com prateleiras carregadas e abarrotadas de
livros didáticos com orelhas de burro e grifados; todo o lugar tinha uma aparência decadente e barata que provavelmente era exatamente o que o aluno médio típico da UPT gostava nele — isso, e os preços baixíssimos. (Claire tinha tentado uma vez, mas o livro que ela havia comprado com moedas de um centavo também teve problemas significativos, como a falta de cerca de uma dúzia de páginas cruciais no meio.) A lojista, cujo nome ela vagamente lembrava como Sarah alguma coisa — Sarah Brooke, era isso — estava sentada no chão. Seus pulsos e tornozelos tinham sido amarrados juntos, e seus olhos estavam tão grandes que ela provavelmente estava gritando sob a fita adesiva que cobria sua boca. O professor Carlyle estava ajoelhado ao lado dela. Ele tinha sido atacado de surpresa, aparentemente; ele tinha um corte no lado da cabeça que sangrava livremente em riachos vermelhos chocantes, e ele estava segurando a mão trêmula em seu pescoço. Mais sangue escorria pela ferida, mas não estava jorrando. — Danvers? — ele disse com um espanto confuso. — Você está bem, senhor? — Ele... ele me mordeu, mas eu sou protegido! — Ele ergueu a mão que não estava apertada sobre sua garganta, e Claire viu o brilho prateado de uma pulseira. — Isso não pode acontecer! Sarah era protegida também — ela estava usando uma pulseira semelhante que garantia a sua segurança de ataque de vampiros, pelo menos teoricamente. Obviamente, não era um escudo mágico. O vampiro, que tinha se afastado temporariamente de Claire, deu outra corrida até ela, e desta vez, ela pulou para trás e arrancou as cortinas sobre a grande janela da frente, ficando na luz do dia. — Venha, se você quer vir — ela disse, mas o vamp derrapou até parar na borda onde se reunia a sombra do sol. E ela deu a sua primeira boa olhada nele. — Jason? — ela falou em horror. O vampiro que estava tentando matar ela — e Sarah, e o professor Carlyle — era Jason Rosser, o irmão de Eve. Ele quis ser um vampiro — fez uma campanha ativa para isso — e ela teve medo que ele fosse uma pessoa pior quando as presas crescessem; e aqui estava, a prova positiva, que se você tivesse tendências violentas assustadoras como um ser humano, você se sentiria livre para saciá-las como um novo vampiro. A única coisa boa sobre a situação era que ele era realmente novo, e super alérgico ao sol. Na verdade, o ataque de hoje poderia ter sido sua primeira tentativa de caça. Se assim fosse, ele não estava indo muito bem.
— Saia daqui — Jason disse. Sua voz era baixa, áspera e feia com fúria. — Eu não quero você. Saia. — Que pena, você me pegou, idiota. O que diabos você está fazendo? — O que parece, mordendo a isca? — Ele mostrou os dentes para ela, o que poderia ter assustado ela, oh, anos atrás. — Falhando? E não mostre as presas para mim, Jason. Não é educado. Ah! Cuidado! — Ele fez um movimento, e embora ela não achava que ele iria se lançar na luz do sol para agarrá-la, ela não iria presumir nada. Ela levantou a estaca para uma posição fácil de usá-la. Ele já tinha um buraco enegrecido e fritado em seu lado que não estava curando rápido. Ele não estava ansioso para ser atingido de novo. — Essas pessoas são protegidas, idiota. Elas estão fora do menu. Vá para o banco de sangue se você precisa de uma dose de B positivo ou seja lá o que for que você está viciado. — Além de causar dor e terror, ela pensou, mas não disse. Claramente, essa era a melhor parte disso para Jason. A maioria dos outros vampiros eram mais clínicos sobre a sua alimentação, mas ele tinha trazido toda a sua bagagem estranha e distorcida com ele. De certa forma, ele e Eve eram imagens espelhadas um do outro — ambos fascinados pela escuridão. Só que Eve tinha escolhido manifestar isso exteriormente, e Jason... Jason tinha tomado isso tudo por dentro. Por um tempo, Claire tinha estado convencida de que havia mais do que isso nele. Algo melhor. Mas com o tempo, ele provou que ela estava errada. E agora, ali estava ele, com a boca sangrenta, sorrindo para ela como o Coringa de Batman, se o Coringa tivesse presas. — Proteção é uma piada — Jason disse a ela. Ele rondava a linha da sombra, olhando para ela com olhos escuros e irritados que pareciam perturbadoramente como os da irmã. — Sempre foi; é uma fraude, e os vampiros riem disso sobre suas bebidas. Você sabe qual é a penalidade para eu drenar esses dois? Eu tenho que pagar uma multa. É como um bilhete em seu arquivo na escola. Eu posso fazer o que eu quero. Ninguém vai se importar. Ninguém vai me parar. — Oliver pode. Ou Amelie. Eles meio que gostam que os vampiros fiquem na linha por aqui. Torna as coisas mais fáceis para todos. Ele fez o som de uma campainha. — Desculpe, resposta errada — ele disse. — Dias antigos, Claire. Você não está acompanhando. Temos privilégios agora. Vocês não podem mais nos manter andando com coleiras como cães domesticados.
Seus passos lembravam de um animal enjaulado também. Bizarro. — Não me faça estacar você, Jason. Eu teria que dizer a sua irmã, e eu não quero fazer isso. — Como de costume, é tudo sobre Eve. Por que é da conta dela o que eu faço? — Ela ainda se preocupa com você, você sabe. — Ela nunca se importou. Não tente isso comigo. Se ela tivesse sido qualquer tipo de irmã que me apoia, ela teria prestado atenção em mim. Ela simplesmente saiu correndo e me deixou para trás para receber a minha punição e foi se amigar com o seu precioso Michael. — Jason cantarolou o nome como um pré-escolar. Ele está apenas tentando assustar você, Claire disse a si mesma, de forma pouco convincente. Você lidou com Myrnin por todo esse tempo; você pode lidar com esse garoto estúpido. Mas ela não tinha tanta certeza. Ela contava com um vampiro que iria recuar, não aquele que era o garoto propaganda a desequilibrado. Hora de uma mudança de estratégia. Claire abaixou a estaca. Ela precisava de ambas as mãos quando ela abriu o zíper da mochila e colocou a mão dentro do bolso interno. Jason decidiu que era o momento perfeito para fazer a sua jogada. Ele foi rápido, ela tinha que dar crédito a ele, mas ela também era, e ela sabia que ele ia morder a isca; ele não era do tipo cauteloso. Então, quando sua mão subiu para fora da bolsa, segurando a caixinha, ele riu, e suas mãos fecharam em seus ombros com uma força esmagadora. — O que você vai fazer? Jogar perfume em mim? Ela pulverizado prata líquida em sua boca aberta. O grito de Jason quase estourou os seus tímpanos e, com tosse e engasgos, ele cambaleou para trás com fumaça saindo entre os seus lábios. Sua pele estava queimando por causa da luz solar. Claire o empurrou para trás para as sombras, e ele tropeçou alguns passos, continuou engasgando e se apoiou em suas mãos e joelhos para tossir convulsivamente. — Só foi um pouco — ela disse. — Considere isso um refresco para o hálito. Da próxima vez, eu vou espirrar em seus olhos, Jason, então fique longe de mim se você gosta do seu rosto. Ele estava muito ocupado vomitando para tentar falar, mesmo que ele pudesse ter conseguido isso. Claire ignorou ele e foi até Sarah, puxou as cordas para longe, e puxou a fita para fora de sua boca. Deve ter doído. A pele embaixo parecia vermelha e esfolada, e Sarah gritou com um profundo suspiro
de alívio. Fixou um olhar venenoso em Jason. — Me aguarde, seu pequeno pedaço de merda — ela disse. — Meu Protetor não vai deixar por isso mesmo. — Nem o meu — o professor Carlyle disse. Ele parecia pálido e trêmulo, mas também com raiva. Claire encontrou toalhas de papel atrás do balcão da livraria e dobrou um pouco para ficar grossa e deu a ele para aplicar no seu ferimento da cabeça. — Obrigado, Danvers. — De nada — ela disse. — Então ... podemos falar sobre o B no último trabalho? Porque realmente merecia A. Eu levaria um B se eu merecesse, mas... — Sim, sim, bem, você já ganhou um A. Se depender de mim, você conseguiu um A pelo resto da disciplina — ele disse. — Sarah, você gostaria que eu ligasse para alguém, ou... — Não — a mulher disse, e se levantou. Ela era pequena, mas era musculosa, o que provavelmente vinha de levantar caixas de livros didáticos durante todo o dia. — Eu vou ligar para o canil para ver se eles podem vir buscar esse cachorro maldito e raivoso... Antes que ela pudesse terminar o pensamento, Jason havia se levantado e corrido para a porta de trás. Os becos, Claire pensou. Os becos sombreados com acesso ao esgoto. Ele iria embora antes que alguém pudesse pegá-lo. — Você devia manter essa porta traseira fechada a partir de agora — ela disse a Sarah quando ela devolveu a garrafa de prata para sua mochila e pegou a estaca para deslizá-la no coldre ao lado dela. — Professor. Ambos assentiram, claramente ainda desequilibrados do encontro com a própria morte; Claire também sentia uma tensão correndo através de seu corpo que a fez perceber o quanto ela tinha acabado de impor a si mesma. Shane estaria furioso que ela tenha feito isso sem ajuda. Ela saiu e caminhou rápido por todo o caminho de casa. Onde ela iria ter de dizer a Eve que o seu irmão tinha ficado todo Hannibal Lecter. Divertido. Ela viu a van preta brilhante dos caçadores de fantasmas — claramente se afastado e deixando a visita ao hospital destruído, felizmente — cruzando lentamente pela rua. Jenna e Angel estavam discutindo (que surpresa) e Jenna estava consultando um mapa de rua. Não havia muitos mapas de Morganville que os vampiros não tinham, ah, editado, por isso, se os membros da equipe estavam tentando encontrar algum lugar “assombrado”, eles não iriam encontrar algo mais exótico ao longo do caminho. Exceto, talvez, Jason, que poderia estar furioso depois de não conseguir o seu lanche da tarde. Claire engoliu o seu orgulho, discou o número de Amelie, e conseguiu a voz viva e com sotaque irlandês de sua assistente, Bizzie. — Por favor, diga a
Amelie que Jason Rosser está aqui fora mordendo as pessoas em público. Pessoas protegidas. E se ela quer que esses caçadores de fantasmas consigam uma boa história, ele é uma ótima maneira de conseguir. — Ela não esperou por uma confirmação. Amelie iria calar Jason; ela poderia calá-lo permanentemente, mas isso não era a preocupação de Claire. Ela estava mais preocupada com os caçadores de fantasmas. Ninguém tinha dito, mas parecia óbvio desde a sua conversa com a polícia que a decisão que os vampiros estavam considerando sobre os estranhos tinha dois resultados: limpar as memórias e despejá-los fora da cidade em algum lugar ou jogá-los em algum lugar profundo, onde ninguém jamais iria encontrar os corpos. Se eles ainda estavam aqui, era quase como se Amelie (ou Oliver) tivesse decidido brincar com eles, sem nenhuma intenção de deixá-los deixar a cidade vivos. Contrariando a si mesma, Claire admirava a determinação dos caçadores de fantasmas, um pouco. Ela reconhecia a curiosidade e a teimosia cega; ela mesma tinha um monte disso em seu próprio caráter. Ela odiaria vê-los sendo punidos por isso. Mas isso, como tantas outras coisas em Morganville, provavelmente não dependia dela. Q q q A adrenalina de Claire tinha finalmente parado de zumbir em seus ouvidos na hora que ela subiu os degraus até a porta da frente da Glass House, e felizmente parecia que não havia emergências em andamento. Havia almoço sendo ponderado, e quando ela entrou na cozinha, Eve, Michael e Shane estavam discutindo sobre os méritos relativos do cachorro-quente contra grelhar hambúrgueres. — Cachorros-quentes são mais rápidos — Michael apontou. — Microondas. — Eca, isso é nojento. Além disso, nós não fazemos macarrão e queijo lá também. Isso é errado — Eve disse, e se serviu de um copo de Coca-Cola. — Ei, garota da faculdade. Bebida? — Sim. — Claire desabou em uma cadeira na mesa da cozinha. Eve deulhe um olhar rápido que deixou-a saber que ela percebeu a sua tensão, em seguida, tirou mais um copo do armário. — O Apocalipse deve estar próximo porque um cara está argumentando contra grelhar. Isso é apenas não-Texano, Michael.
— Vampiro — ele ressaltou. — Se eu for lá fora, a única coisa que iria virar churrasco seria eu. E cachorros-quentes é totalmente Americano. Americano vence Texano. — Você teve uma lavagem cerebral por anúncios publicitários sobre carros e baseball — Eve respondeu, e entregou um copo efervescendo para Claire. — Os cachorros quentes são feitos de traseiro de porco e partes que ninguém em seu perfeito juízo iria comer. Sim, eu gostava deles. Não me julgue, ok? Shane estava claramente na Equipe Grelha; ele já tinha tirado os utensílios — tirado hambúrgueres e colocado em cima do balcão, e agora ele estava tirando os molhos da geladeira. — Nós não estamos tendo essa discussão — ele disse. — Eve está desempregada. O mínimo que ela pode fazer é me ajudar com hambúrgueres grelhados. E vocês dois podem cortar os vege... — Ele fez uma pausa, olhando diretamente para Claire. — O que diabos aconteceu? — Monica foi dispensada da eleição? — Vamos dar uma festa mais tarde. E? Ela realmente não queria dizer isso. — Eu vi Jason. Ele estava meio que... atacando as pessoas. Então eu parei ele. A propósito, o spray de pimenta com prata? Funciona muito bem. Eve tinha ficado completamente imóvel. Ela olhou para Claire por um momento, então disse calmamente: — Ele está bem? — Eu não machuquei ele muito. Ele está bem. Apenas menos previsível para morder por um tempo. Eve... ele não é, ah... — Não enrole — Eve disse, e baixou o olhar para limpar as bolhas em sua Coca-Cola. — Sim, entendi. Ele sempre foi fora do comum. Você sabe disso. Fora do comum realmente não descrevia a sensação que ela tivera com Jason hoje. — Eu acho que é pior do que isso — ela disse, tão gentilmente quanto podia. — Ele está realmente cruel. Michael entrou em cena então. — Não é inesperado que isso aconteça — ele disse. — Olha, se tornar um vampiro... é complicado, o que isso faz com você, mas ele amplia quaisquer impulsos ruins que você já teve. É difícil continuar bom, é mais fácil como o inferno trazer o mal com você. Eu sabia que ele seria... — Michael balançou a cabeça. — De qualquer forma. Eu vou falar com Oliver. Ele é encarregado de Jason. — Pelo que Oliver está fazendo agora, ele não vai realmente se importar — Claire disse. — Ele está um pouco louco pelo poder. Você deve ter notado. — Ok, então Jason Rosser é mau, e Oliver está com fome de poder. Essas não são novidades que devem nos impedir de grelhar hambúrgueres — Shane disse. — Eu ouvi um amém?
Eve e Michael entraram na conversa, mas Claire manteve a cabeça baixa. Ela estava se sentindo muito fraca. Ela gastou muita energia esta manhã ao chamar os portais e encontrá-los vazios e, em seguida, houve a emoção do comício, e Jason... Ela estava drenada — nem mesmo com fome, na verdade, o que era surpreendente. Ela também estava preocupada, realmente preocupada com Myrnin. Ela pensou que agora ela saberia alguma coisa dele. Bob estava lá em cima no quarto dela, contente em girar em torno de teias atrás das moscas que ela pegava para ele, e ela não podia acreditar que mesmo com sua loucura, Myrnin teria deixado o seu animal de estimação para morrer de fome. Ele era descuidado com sua assistente, mas nunca com sua aranha. Então... onde ele estava? E se ele não podia se comunicar, como ela deveria sequer começar a procurá-lo? Isso fez sua cabeça doer, e seu estômago revirar, e de repente tudo o que ela queria era terminar o refrigerante doce e frio e rastejar para o andar de cima para dormir. — Ei — Michael disse quando tirou os tomates, alface, cebolas e pickles do frigorífico. — Você podia me dar uma faca? Ela puxou uma para fora da tira magnética que Shane tinha instalado na parede — acesso fácil, ele tinha dito, em caso de precisar para algum tipo de luta. Shane sempre pensava adiante desse jeito. Ela deu a lâmina para Michael sem comentários e observou enquanto ele picotava as coisas. Ele foi hábil, rápido e preciso. Aparentemente os sentidos dos vampiros são feitos para grandes aulas de culinária. — Michael — ela disse quando ele terminou de cortar o pickles em quatro, — você sabe qual é a linhagem de Myrnin? — Eu suponho que você não quis dizer Welsh — ele disse. — A linhagem de vampiros? Ela assentiu com a cabeça. — Não. Por quê? — Porque eu preciso encontrá-lo, e eu me lembro que Naomi poderia, você sabe, beber uma amostra de linhagem de outro vampiro para encontrar alguém. Ela fez isso com Theo. Talvez, talvez você pudesse beber para encontrar Myrnin? — Talvez — Michael disse, mas ele parecia em dúvida. — Eu soube que tem um registro de sangue em algum lugar, mas eu não tenho ideia de onde ele está. Ou se Myrnin está nele. Pelo que eu soube, ele é o único que sobreviveu de sua linhagem. Ele é muito antigo, e ele não criou quaisquer outras pessoas que sobreviveram por muito tempo, por isso talvez não tenha registro.
— Mas você poderia perguntar? Talvez olhar por aí? Eu preciso encontrálo, Michael. Eu acho que... eu acho que ele está em apuros. — Por quê? — Ele largou a faca e olhou para ela diretamente. — Ele disse alguma coisa? — Só que ele não gostou da forma como as coisas estavam indo na cidade — ela admitiu. — E que ele estava planejando ir embora. Mas você sabe como ele é. Eu não acho que ele realmente teria fugido. Eu não gosto disso. Você viu o laboratório! Ele deu de ombros. — O laboratório é sempre uma confusão; você sabe disso. É impossível saber se houve uma luta, ou ele simplesmente não gostou do último jornal que leu e decidiu destruir o lugar. — Ele deixou Bob! E como Pennyfeather entrou? Ele não tinha autorização. — Você não sabe disso. E talvez ele apenas esqueceu de Bob. Não é como se ele fosse um animal de estimação emocionante. — Bob é legal, e Myrnin ama ele como qualquer outro animal de estimação. Ele nunca iria simplesmente abandoná-lo para morrer de fome — Claire disse. — Mas... eu só estou com um pressentimento, ok? Então, você faria? Por mim? Michael bagunçou o cabelo dela. — Sim, claro. Por você. Venha. Corte algumas cebolas. — Ei! — Considere um pré-pagamento. O almoço a animou — assim como a promessa de Michael — e Claire realmente apreciou os hambúrgueres que Shane tinha cozinhado com perfeição. Eve e Shane se meteram em um debate sobre mostarda versus maionese, mas eles tiveram um bom momento, mesmo com essa controvérsia se devolvendo de lançar potes de condimento de um para o outro. Melhor ainda, desde que era a vez de Shane de limpar. Após o almoço, Claire subiu para o quarto enquanto Michael e Shane se prepararam para experimentar um novo jogo de tiro, e Eve fazer compras online; ela estendeu-se na cama e caiu no sono imediatamente e profundamente. Por um tempo ela estava cansada demais para sonhar, mas finalmente ela sonhou, e foi... estranho. Primeiro, ela realmente não entendeu. Ela estava em algum lugar escuro e muito, muito tranquilo, exceto pelo chiado constante de água pingando. Ela estava com frio e sentia uma fome persistente e desesperada.
Em seguida, ela ouviu uma voz sussurrar no escuro: — Claire? — Era como se ela estivesse sido arrancada de seu corpo e sido violentamente jogada para cima através da escuridão em um borrão, e tudo o que ela queria era gritar, mas ela não o fez, na verdade, ela não tinha pulmões ou um organismo para fazer isso, apenas um sentimento puro e condensado de terror real... E de uma grande altura, ela olhou para baixo para um buraco muito profundo e estreito, e lá embaixo, um rosto pálido virou duramente para ela na luz do luar. A voz. Soava como a voz de Myrnin, mas não poderia ser; não podia. Não fazia sentido esse sonho, porque o que Myrnin estaria fazendo no fundo de um buraco, e por que ele não apenas saltava para fora? — Socorro — ele disse, de muito longe abaixo, muito longe. — Ajude-me. — Eu não sei como! — ela falou para baixo, pelo menos no sonho, e porque era apenas um sonho, fazia sentido que ele podia ouvi-la, de alguma forma, e que mesmo que ela estivesse muito longe, ela podia ver o desespero em sua expressão. — Venha até mim — Myrnin disse, e soou como um fantasma, como a irmã de Shane sussurrando lá fora no terreno baldio assustador, como Miranda sendo rasgada em pedaços de nevoeiro. Soou como alguém que já tinha morrido. Ela acordou com o coração batendo e uma dor de cabeça nauseante, ruim o suficiente para levá-la ao armário de remédios para pegar ibuprofeno, que ela engoliu com punhados de água engarrafada em goles frenéticos. Em algum lugar lá, ela notou que ela tinha conseguido dormir pelo resto do dia; já estava se aproximando do pôr do sol. O que diabos foi aquilo? ela se perguntou. Ela tinha tido sonhos de ansiedade antes, muitos deles, mas eles geralmente envolviam estar nua em uma multidão, ou correr em câmera lenta, ou fazer um teste despreparada. Nada como isso. Este era terrivelmente — suspeitosamente — específico. Se ela fosse sonhar com Myrnin, por que sonharia com ele preso no fundo de um buraco no chão? Alçapão aranha, algo sussurrou no fundo de sua mente. Vovó Day sempre o chamava assim. Assim como você, uma vez. Sim, mas ela não quis dizer literalmente. Talvez você só queira que ele precise de você, aquela voz horrível e calma, disse. Talvez você só goste que ele dependa tanto de você.
O pensamento a perturbou. Ela decidiu colocá-lo para fora de sua mente, tudo isso, especialmente o sonho, porque era apenas a sua imaginação se desenvolvendo com as suas ansiedades. Talvez. Ela desceu as escadas e encontrou o jogo de vídeogame surpreendente ainda em curso, mas em pausa, enquanto Michael e Shane argumentavam os melhores pontos de como as disposições de armas funcionavam, e qual seria uma escolha mais inteligente de como atacar algum tipo de posição fortificada. Era confuso, e ela ainda se sentia estranha e doente. Beber um copo de leite ajudou a acalmar o seu estômago, no entanto, e ela estava apenas enxaguando o copo quando a campainha tocou. A campainha foi acompanhada com uma batida. Michael se levantou do sofá, mas Shane, ainda preso em seu mundo do jogo, não estava prestando muita atenção a qualquer outra coisa. Claire saiu da cozinha e encontrou Eve descendo as escadas. — Correio? — Eve adivinhou. — Não, a não ser que o serviço de correio esteja fazendo corridas noturnas — Michael disse. — Eu atendo. — O significado não mencionado nisso era que se fosse algo ruim, ele pelo menos teria uma chance decente de combatê-la. Ele desceu o corredor e abriu a porta. Além da porta, o sol estava queimando no horizonte com um laranja brilhante, mas não era muito tarde ainda. — Quem é? — Claire perguntou, e se esticou para olhar. — Não sei — Eve disse. — Oh, espere... é... — Ela não terminou a frase. Ela se afastou e desceu correndo pelo corredor. Claire, imediatamente com medo e imaginando todos os tipos de caos, correu atrás dela. Ela quase imediatamente derrapou até parar no corredor lotado de repente; Shane tinha de alguma forma conseguido chegar na frente dela e Eve. Sendo mais baixa; ela não conseguia ver por cima do ombro de Eve, sem falar das costas largas de Shane. Mas ela ouviu uma voz frenética e feminina dizer: — Feche... por favor, feche, rápido! A voz de Miranda. Mas Mir tinha ido embora — desaparecido na escuridão. Dissolvido em névoa. E agora, aparentemente, ela estava de volta. E, pelo som de sua voz, ela estava muito, muito assustada. Eve girou, correu até Claire e empurrou-a para a frente; Claire deu vários passos no corredor, e uma festa se formou atrás dela e na área de estar. Entre Shane e Michael veio — sim — Miranda, mas uma diferente de antes. Esta
Miranda era transluzente e pálida, como uma cópia de vidro de si mesma, e ela parecia aterrorizada. Todo mundo estava tentando falar ao mesmo tempo, exceto ela. A menina fantasma inclinou-se contra uma parede de fácil acesso (para ela não cair?) E fechou os olhos como se estivesse exausta (fantasmas poderiam mesmo ficar cansados?). Eve finalmente conseguiu vantagem, falando em tom de conversa. — O que aconteceu com você? Para onde você foi? — Para longe — Miranda disse fracamente. — Tão cansada. Preciso de energia. — Mas o fato de que ela era visível a todos, antes do sol, era estranho e impressionante. — Eu me sinto melhor aqui. — Ela estava parecendo melhor, muito melhor — já assumindo um pouco mais de forma e substância. Não era um corpo real, mas tinha traços de cor nele agora. — Eles estavam atrás de mim. Eu tive que continuar correndo, encontrar um lugar seguro. — Quem? — Shane disse. Ela apenas tinha dito as palavras mágicas para fazê-lo realmente prestar atenção. — Vamps? Por que os vampiros querem um fantasma? — Ela não é um fantasma o tempo todo — Michael disse. — Lembre-se, quando ela tem um corpo, ele vem completo com sangue. Assim como o meu. E já que ela não pode ser morta... — Ah, certo — Eve disse fracamente, e seus olhos se arregalaram. — Eles poderiam pegá-la e mantê-la, ah, drenando-a até ficar seca... — Não os vampiros — Miranda disse. — Eu posso lidar com os vampiros. É o resto deles. Eles não vão me deixar em paz. Eles continuam... — Ela foi interrompida por outra campainha, seguida por uma batida. — Não! — ela disse, e agarrou a manga de Michael, mas sua mão passou através dele. — Não atenda ainda... não ainda! — Vai ficar tudo bem — ele disse. — Eu só vou olhar. Relaxe. Você está segura agora. — Ele apontou para Shane. — Fique com elas. — Você não presta! — Shane gritou para ele quando Michael se virou para a porta. No fundo, porém, ele estava levando isso a sério. Miranda não era a fonte mais confiável de informações, mas Shane não subestimava um aviso. — Se é Jason lá fora, não tem problema. Se é alguém pior, eu não sei se Michael consegue lidar sozinho. — Então nós vamos lidar com isso se chegar a isso — Claire disse, e, surpreendentemente, ela estava falando sério. Combinando eles quatro, nada iria oprimi-los. Não como costumava fazer. Ela pensou nisso até o maldito exército-de-fantasma chegar.
A primeira indicação de que algo estava muito, muito errado foi o grito de Michael; ele não era esse tipo de garoto geralmente, muito menos esse tipo de vampiro. Foi uma surpresa, e definitivamente a preocupou — o tipo de grito que você faz quando você encontra uma aranha em uma maçaneta, ou uma cobra no banheiro. Um tipo de som que-não-deveria-acontecer. Claire trocou um olhar com Shane, e Miranda disse cansada: — Me desculpem, eu os trouxe aqui, mas foi o único lugar que eu pude pensar que poderia mantê-los fora. Talvez... talvez a casa não os deixe entrar. Mas acontece que a casa deixou. O primeiro fantasma a flutuar — não, atravessar — Michael foi um homem velho, ninguém que Claire reconhecia. Ele era basicamente uma forma visível, mais um truque dos olhos do que uma presença real; ela o via melhor em sua visão periférica do que de frente. Ele desceu o corredor em seu estado de zumbi, olhando para a frente. Shane recuou, mas, em seguida, manteve sua posição e tentou acenar para o fantasma ir embora. Ele ignorou e correu em volta dele como uma fumaça sobre um vidro, e Shane estremeceu e se afastou rapidamente. — Ok, isso foi... desagradável. E havia mais. Muito mais. Alguns eram apenas sombras, sinistras e estranhas; alguns eram pessoas quase visíveis. Claire só pegou um vislumbre deles, porque Michael só deixou apenas um par deles entrar antes dele dar um passo para atrás, fechar e trancar a porta... e isso, surpreendentemente, funcionou. Nenhum mais entrou. Mas aqueles já eram o bastante. Um deles era um homem quase visível, mas Claire não conseguia distinguir o rosto enquanto ele se movia em direção a eles, até que de repente um truque da luz e das sombras se uniu e mostrou a ela que era Richard Morrell, o irmão morto de Monica. Ela suspirou e agarrou o braço de Eve, e Eve assentiu enquanto mordia o lábio. Richard diminuiu a velocidade e olhou para eles, e Claire viu sua boca abrir e fechar, mas ele não conseguia falar. Depois de alguns segundos, ele correu, indo em direção a... A Miranda, que estava fugindo do velho homem que se aproximava, e Richard seguindo atrás. Ela parecia miseravelmente apavorada. — Faça eles pararem — ela disse, e olhou para Michael. — Michael, faça eles pararem! — Eu não sei como! — ele disse. Era sinistro e misterioso como o velho se concentrava em Miranda, como se a menina fosse o último cupcake sobrando no mundo e ele fosse guloso por doce. — O que é que eles querem? — Eu! — Ela parecia mais real agora, e ela tinha conseguido um leve rubor de cor em seu rosto e roupas. Miranda, na verdade, parecia muito mais real do que qualquer um dos outros fantasmas. — Eles me querem!
— Shane...? — Claire olhou para ele, mas ele não estava ao seu lado. Isso era surpreendente, mas depois ela o viu, e ela sabia com um sentimento nauseante de horror porquê. Ele estava de pé, imóvel a poucos passos de distância, de frente para um fantasma — um pequeno fantasma na forma de uma menina quase na adolescência com os cabelos em duas longas tranças. Claire sabia imediatamente para quem ele estava olhando, mesmo antes de ouvir a voz pequena e fraca sussurrar: — Shane. — Lyss — ele disse. Havia um mundo de emoção nesse nome — dor, culpa, desejo, amor, horror. — Oh, meu Deus, Lyss. Ela estendeu a mão para ele, e Shane levantou a mão. — Não! — Miranda gritou. — Não, não toque nela! Você não pode tocála. Você não sabe de nada? — Ela arrastou-se em torno da barreira do sofá, se afastando do velho trôpego que ainda estava atrás dela. Richard estava perseguindo ela também agora, mas a uma distância, como se ele estivesse irresistivelmente atraído em direção a ela, mas não quisesse estar. Era mais um circundar lento. Como um tubarão, Claire pensou, e estremeceu. Ela levou a palavra de Miranda a sério, e se lançou sobre Shane, alcançando a mão dele enquanto ele tentava tocar a sua irmã morta. Ele soltou um som áspero de surpresa, e ela viu seu aperto de mão formar um punho, mas relaxou quase que imediatamente, e ele deu uma respiração profunda. — Não — Claire disse. — Por favor, não. Alyssa ainda estava estendendo a mão fantasmagórica, mas ela não estava tentando chegar até Shane. Ela só estava esperando. Talvez — seja lá o que for que Miranda estivesse com medo, talvez tenha que ser a decisão dele de tocála, e não adiantaria se Alyssa o tocasse primeiro. Embora o que aconteceria se ele fizesse isso era uma questão totalmente diferente, e Claire realmente não queria saber a resposta. Nem mesmo como uma cientista. — Lyss? — Shane perguntou. — Você pode me ouvir? Ela não se moveu ou falou novamente. Ela simplesmente continuou estendendo a mão fantasmagórica e fumegante em direção a ele. Shane olhou para ela, e Claire sabia que ele queria tentar, queria com toda a sua vontade. — Não — ela sussurrou, e pegou a mão dele na dela. — Por favor, fique longe dela. Shane deu em uma respiração profunda. Havia lágrimas brilhando em seus olhos, mas ele piscou-as de volta e assentiu. — Desculpe, Alyssa — ele disse. — Eu não posso. — Sua voz tremia. Todo o seu corpo tremia. Mas ele falou
sério, e Alyssa claramente entendeu, porque ela deixou cair a sua mão de volta para o seu lado e deu alguns passos para trás, em seguida, virou-se e voltou a perseguir Miranda. — Ajude-me! — Miranda gritou. Com fantasmas em três lados, ela foi rapidamente encurralada. Era apenas uma questão de um ou dois minutos até que um deles conseguisse segurar ela. — Façam alguma coisa! — O quê? — Michael perguntou, e então seus olhos se arregalaram, como se algo tivesse finalmente lhe ocorrido. — Eu posso fazê-los sair? Como o chefe da casa? Normalmente Shane teria entrado na conversa com algo parecido Quem disse que ele é o chefe desta casa?, mas a atenção de Shane estava voltada completamente para o fantasma da sua irmã mais nova, e foi Eve quem disse: — Talvez. Experimente! Michael fechou os olhos e encostou-se na parede, como se estivesse ganhando força da própria casa, ou pelo menos tentando se comunicar com ela. Claire sentiu um lampejo de energia ao seu redor, como se a ligação estivesse quase lá, e então ela morreu. — Todos nós! — ela gritou, e acenou para Eve encostar na parede também. Ela colocou as mãos espalmadas sobre o antigo papel de parede e se concentrou. Vamos lá, casa. Eu sei que você está aí. Eu sei que você ainda está viva; Eu posso sentir você…. Saia, saia, de onde quer que você esteja... Shane não se juntou a eles. Claire não achava que ele podia. Ele estava quase fixo em sua irmã enquanto os fantasmas que perseguiam Miranda estavam sobre ela... mas felizmente, isso não parecia importar. Os três juntos pareciam completar algum tipo de circuito, e Claire sentiu uma onda de poder rudimentar chicotear através da sala. — Segure-se, Miranda! — ela disse, e a menina-fantasma pegou o braço do sofá quando uma onda de força varreu a sala em uma ondulação quase líquida. Ela passou sobre Claire, deixando a sua pele formigando e sensível, e quando ela o atingiu fantasma mais próximo — Richard — explodiu em névoa. Alyssa estava ao lado e, em seguida, o velho, a poucos segundos de tocar Miranda com a mão estendida. Miranda vacilou e ficou pálida e esfumaçada, mas então ela estabilizou quando a onda passou por ela, em uma forma transparente e quase-real. Ela lentamente soltou o sofá e se endireitou para olhar ao redor. — O que vocês fizeram? — Shane disse. Ele girou, procurando freneticamente. — Onde está Lyss? — Lá fora — Miranda disse. — Ela está bem, Shane. Ela simplesmente não é bem-vinda aqui mais. A casa colocou-a para fora.
— Isso é loucura — ele disse, e afundou-se no sofá com a cabeça entre as mãos. — Insano. Eve se sentou ao lado dele e pôs a mão levemente em suas costas. — Eu sei — ela disse. — Sinto muito. Eu sinto muito. Antes que Claire pudesse ir até ele também houve outra enorme batida na porta, ruidosa como tiros, e todos eles saltaram. — O que diabos é agora? — Michael disse. — Seja lá o que for — Eve disse, — apenas deixe do lado de fora. Por favor. — Não — Miranda disse. Ela respirou fundo e se elevou até a sua altura completa — o que não era muito, mas ela parecia de repente muito adulta. — A casa está cuidando de nós agora, cuidando de mim. Não é um fantasma lá fora, de qualquer maneira. Eles não podem fazer um barulho como esse. As batidas vieram novamente à porta, e Michael deu alguns passos nessa direção antes de se virar para olhá-la novamente. Ela assentiu com a cabeça. — Por favor — ela disse. — Está tudo bem. Agora que a casa está ajudando, não é tão ruim. Eu acho que eu poderia ser capaz de... capaz de ajudá-los. Era tão esmagador, lá fora, sozinha. Aqui, eu não me sinto tão ruim. Michael não parecia convencido, mas ele não parecia saber o que mais fazer, tampouco. Ele abriu as fechaduras da porta e abriu-a durante a terceira rodada de batidas, e fora havia dezenas de fantasmas, talvez centenas, uma massa de formas nebulosas acenando amontoados como zumbis para o ataque, e em pé no meio deles na porta estavam Angel, Jenna e Tyler. Os caçadores de fantasmas. Que, aparentemente, não conseguiam ver qualquer um dos fantasmas. Irônico. Angel Salvador surpreendeu Michael Glass, ele atravessou a porta e correu até o corredor, seguido por Jenna Clark e Tyler, com sua câmera de vídeo brilhando com uma luz vermelha. — Ei! — Michael disse. — Ei, espere um minuto. Eu não disse... — Continue gravando, Tyler. Nós podemos cortar isso — Jenna disse. — Eu sei que ela está aqui; eu posso senti-la. Angel, você está conseguindo alguma coisa? — Ela parecia quase frenética, e havia manchas de cor no alto de suas bochechas. — Olá, garota. Você está aqui? Em algum lugar? — Ei! — Michael fechou a porta, embora no momento a própria casa parecia estar barrando os fantasmas de flutuarem para o interior da abertura, e correu ao redor deles — não muito com a velocidade de vampiro — e ficou no caminho deles novamente. — Espere. O que diabos é isso, cara? Esta é a nossa casa!
— Parabéns — Angel disse. Ele continuou olhando para o dispositivo de mão que ele estava segurando. — As leituras são notavelmente fortes. Acho que eu já encontrei. Parece que este é o local de origem. — Ele olhou para Shane, que estava bem na frente dele, bloqueando o corredor, e disse: — Há quanto tempo a sua casa tem sido assombrada? Shane olhou além dele, para a câmera e, em seguida para Michael. Claire teria apostado que ele iria socá-lo, mas em vez disso, Shane ficou vermelho e caiu na gargalhada incontrolavelmente. — Ei! — Eve disse, e empurrou-o para fora do caminho com um olhar irritado. — Vocês, fora! Fora da nossa casa, agora! — Ela tentou empurrar Tyler, mas ele se afastou para trás, claramente acostumado com as pessoas que fazem esse movimento. Angel parou ela. — Espere, espere, ainda não. Vamos pelo menos documentar estas leituras, você sabe a história desta casa? Alguma coisa violenta aconteceu aqui, talvez um assassinato famoso? Quem eram os proprietários anteriores? Há quanto tempo você mora aqui? A nevasca de perguntas era confusa, e todo o tempo Angel estava filmando-os, ele estava se movendo inexoravelmente para a frente. Logo quando Eve recuou foi empurrada para fora do seu caminho pela força de seu impulso, e o resto deles apenas seguiu junto. Tyler focou em Eve, evidentemente gostando do estilo gótico dela em conexão com uma casa mal-assombrada, o que Eve não aprovou. — Ei, tire a sua câmera da minha cara antes de eu empurrá-la na sua! — Calma, querida — Michael disse, e agarrou-a pelos ombros para puxála de volta. — Estamos bem. Está tudo bem. — Ele se inclinou para Claire e sussurrou: — Descubra o que diabos Miranda quer que nós façamos. — Em seguida, ele virou o olhar cheio com seu sorriso na câmera. — Então, vocês querem que eu mostre ao redor, ou...? — Nós só precisamos que você saia do caminho — Jenna disse. — Vocês, crianças, tem o quê, vinte anos, todos vocês? Vocês não têm ideia de como esse tipo de coisa pode ficar ruim. Uma sessão descuidada com um tabuleiro Ouija e brincar com cartas de tarô e vocês convidam os espíritos para entrarem em contato com vocês. Uma vez que eles estão aqui, você pode não ser capaz de se livrar deles... mesmo quando eles começam a te machucar. Eu sei. Isso aconteceu comigo. Isso foi, Claire percebeu, uma história que os espectadores do show provavelmente já sabiam. O rosto de Jenna estava severo e tranquilo, e havia uma luz de uma crença ardente em seus olhos. Claire tinha uma memória
misteriosa do fantasma vingativo proprietário original da casa, Hiram Glass, dilacerando-a com ódio, e se perguntou exatamente o que a jovem Jenna tinha passado. Ela estava certa. Fantasmas podiam ser cruéis. Miranda sabia disso melhor do que ninguém, aparentemente. Apesar da personalidade cativante e do sorriso de estrela de cinema de Michael, isso não estava funcionando. Michael tinha um efeito definitivo sobre as meninas, quando ele estava realmente tentando... e nos garotos, ele estava tentando. Claire podia sentir o formigamento a centímetros de distância, e nem sequer foi dirigido a ela. Ele sempre tinha charme, mas ultimamente ela tinha percebido que, como um vampiro, ele era plenamente capaz de usá-lo como uma arma — uma agradável, mas poderosa do seu próprio jeito. Mas Jenna parecia imune. Claire não podia ver Miranda, e ela teve a sensação de que talvez ela tivesse perdido a coragem e fugido, mas então ela viu um rosto fantasmagórico espreitando atrás das estantes. Claire foi naquela direção, tentando não parecer óbvia sobre isso. Ela inclinou-se ao lado dela e murmurou: — Michael precisa saber o que você está fazendo. — Esperando — Miranda disse. — Para que? Miranda estava olhando através dela, Claire percebeu — olhando para a janela que dava para o oeste, em direção ao crepúsculo. Escorregando em direção ao sol de forma constante abaixo do horizonte. — O pôr do sol — ela disse, e saiu de trás da estante de livros. Claramente um fantasma. Claramente um andar de garota morta. Houve um súbito silêncio vívido quando Michael, Jenna, e Angel e todo mundo parou de falar, e todos focaram diretamente sobre Miranda. Claire podia até ouvir o pequeno zumbido mecânico de Tyler ajustando o foco em sua câmera. — Olá — Miranda disse. — Meu nome é Miranda. Eu sou um fantasma. E então ela desapareceu. — Não! — Jenna gritou. — Não, por favor, volte! Eu quero ajudar você. Queremos ajudar. Não corra! E esse foi o momento exato em que o sol se pôs completamente lá fora, e Miranda caiu do teto, passando de névoa para sólido no ar e batendo de cara no chão no meio do tapete. Ela disse com a voz abafada: — Ai.
Ninguém disse nada por um momento. E então Jenna disse em uma voz desafinada e estranha: — Tyler? Por favor me diga que você está filmando isso. Q q q Pelo que pareceu minutos, ninguém parecia capaz de se mover. Os três caçadores de fantasmas pareciam estátuas de cera, congelados em suas poses, incapazes de processar o que tinha acabado de ver. Tyler finalmente moveu a câmera para longe de seus olhos e piscou, como se não tivesse exatamente certeza do que havia de errado com seus olhos. — Bem, isso foi estranho — Shane disse finalmente, e se agachou ao lado de Miranda. — Você está bem, garota? Ela não estava. Ela ficou de barriga para baixo por um longo momento, estremecendo, e Claire se lembrou com um choque que quando Michael tinha ficado preso como um fantasma, ele tinha revivido como ele morreu, todos os dias. Isso era particularmente terrível para Miranda, que tinha sido morta pelos draugs — não uma forma muito agradável de morrer. Shane ajudou-a a se sentar, e Miranda deu-lhe um sorrisinho grato e corajoso. — Desculpe — ela disse, — mas eu precisava conseguir a atenção de vocês. — Bem, você já tem — Jenna disse, soltando uma risada. — Nós não podemos sair. Temos a melhor coisa que já foi gravada no caça fantasma. Inferno, não apenas caça-fantasma. Ciência. Isso não é apenas enorme, isso é destruidor-do-mundo! Isso muda tudo! Angel claramente não sabia o que dizer. Ele estava olhando para Miranda com uma expressão curiosa em branco, como se ele realmente não soubesse como lidar com isso. Ele era mais um ator do que alguém que realmente acreditava, Claire pensou, e ao contrário de Jenna, que via como uma prova, ele via isso como uma perturbação. Quando Miranda mergulhou fora do ar, o seu mundo tinha definitivamente se partido, e parecia que ele levaria um tempo tentando colocar tudo de volta junto novamente. Tyler não tinha dito uma palavra. Ele ainda estava gravando, como se estivesse muito congelado para parar, mas Claire ouviu ele murmurando baixinho: — Caramba, caramba, caramba, que inferno! Ela se sentiu da mesma maneira na primeira vez que tinha visto Michael se formar para fora do ar. Mas a essa altura, ela já sabia sobre os vampiros. Seu mundo já havia sido desmembrado do seu eixo; a equipe fantasma teve que fazer um monte de ajustes muito rapidamente.
Jenna se inclinou em direção a Miranda enquanto subia a seus pés. — Você tentou falar comigo, não é? Tentando nos ajudar? — Não, eu... — Miranda parecia cansada e muito preocupada. — Eu queria avisá-la. Você estava deixando todos eles irritados. Isso vai fazer vocês se machucarem. — Quem? — Todos os fantasmas. — Mas é por isso que estamos aqui, para falar com... — Morganville não é como qualquer outra cidade — Miranda disse, interrompendo-a, e encontrou os seus olhos com uma intensidade que fez Jenna piscar. — Você veio aqui procurando por fantasmas, e eles ouviram vocês. E isso é perigoso. Ok, eu não posso explicar muito sobre isso, mas há poder aqui. Poder antigo. E às vezes os mortos podem usá-lo se você dar-lhes acesso. Você abriu a porta, eu acho. E agora precisamos fechá-la antes que algo pior aconteça. — Isso é loucura — Angel disse, e ficou ao lado de Jenna. — Claramente, este é o trote mais bem feito que eu já vi, mas... — Cale a boca — Jenna disse. Ela estava olhando fixamente para Miranda, e de repente ela estendeu a mão e pegou a mão da menina na dela. — Você aparenta real. Você parece real. — Eu sou — Miranda disse. — Na metade do tempo. Mas é porque eu sou como você. Eu tinha poder, e a casa pôde usar isso para me salvar, não totalmente, mas desta forma. Durante o dia, porém, eu sou na maior parte invisível. Era difícil fazer você me ver agora, até mesmo dentro de casa. Eu estou ficando melhor, no entanto. — Você é... você é um espírito de verdade. — Sim — ela disse, e apertou a mão de Jenna. — Prazer em conhecê-la. Jenna explodiu em uma risada encantada e continuou apertando a mão de Miranda até que a menina finalmente se soltou. — É um truque — Angel disse novamente. — Jenna, você não pode acreditar em nada disso. É óbvio que é... — Está tudo bem — Miranda disse a ele. — Vai levar tempo para aceitar. Eu sei. — Cale a boca! — ele grunhiu para ela. — Ei! — Eve disse, e deu um passo adiante. — Ela é uma criança. Meça as suas palavras. Miranda, você não tem que falar com eles. Se essa vai ser a atitude deles, eles podem enfiar essa câmera no...
— Eve — Michael disse, e balançou a cabeça. — Não está ajudando. — Ele ficou atrás de Tyler e bateu-lhe no ombro. — Eu vou precisar dessa coisa. Tyler se empurrou para a frente, escorando ombro a ombro protetoramente com Angel. — Oh não, cara. Você não vai levar isso para longe. — Você acha que não? — Os olhos de Michael tinham pequenos lampejos aleatórios de vermelho. Claire acenou para ele atrás das costas deles e apontou para seus próprios olhos, então para ele. Ele entendeu a mensagem, e ela o viu se acalmar com esforço. — Olha, o que vocês acham que vocês viram, vocês simplesmente não entenderam. Não tem nada de sobrenatural acontecendo aqui. É um alçapão. Ela veio do andar de cima. Tyler e Angel ambos esticaram o pescoço para olhar para o teto totalmente uniforme... e Michael, com a velocidade de vampiro, arrancou a câmera para longe e recuou quando Tyler veio atrás dele. — Não me faça quebrá-la — ele disse. — Parece cara. — É, cara. Devolva! — Certo. Espere aí. — Michael olhou-a, ignorando as tentativas de Tyler para agarrá-la de novo, e encontrou o cartão de memória, que ele ejetou. Ele entregou a câmera de volta. — Sem problema. — Você não pode ficar com isso! — Eu não planejo — Michael concordou. Ele quebrou-o ao meio, em seguida, quebrou as metades em pedaços menores. Então ele colocou os pedaços no bolso do jeans. — Pronto. Desculpe, Mir, mas você sabe que eles não podem sair daqui com esse filme. Ela concordou com a cabeça, mas Claire percebeu que algo estava errado, especialmente quando Tyler trocou um olhar rápido com Angel e Jenna. — Seu imbecil — Tyler murmurou, mas soou como algo que ele sentiu que devia dizer, não que ele sentia profundamente. Ele recuou. — Talvez devêssemos ir, pessoal. A próxima coisa que eles vão fazer é quebrar os nossos pescoços. Angel está certo. Isso é o inferno de uma farsa. Jenna olhou para Miranda novamente. — Você pode falar comigo — ela disse suavemente. — Você realmente pode. Eu não tenho medo de você. — Não — Miranda disse. — Eu sei. Mas eu tenho medo de você. E o que você pode fazer. Você fez eles ficarem com fome, e agora eles são perigosos. Você não entende isso? — Talvez — Jenna disse. — Minha irmã gêmea morreu, e ela ficou comigo por mais tempo. Não real como você é, mas... estava lá. Mas ela mudou. Se tornou má. Eu tive que... eu tive que me livrar dela, mandá-la embora.
— Você não entende — Miranda disse. — Foi algo mais. Foi você. Você mudou. Você a fez ver um caminho para voltar, e isso torna eles, nós... fantasmas, desesperados. Desesperados o suficiente para fazer qualquer coisa. É você que está fazendo isso acontecer. — Você não é um deles, essas pessoas perdidas. Você é amada aqui. Amada. Protegida. E isso é bom; isso é muito bom. Eu só quero ter certeza de que você está protegida contra as coisas que os seus amigos não podem ver e lutar. — Jenna deu uma respiração profunda e soltou-a. — Eu acho que você e eu juntas poderíamos... poderíamos consertar tudo o que eu fiz de errado. Você poderia me mostrar como. — Você precisa ir embora — Miranda disse. — Você precisa ir antes que seja tarde demais e tudo fique completamente errado. Sinto muito. — Mas... — Eu vou precisar do resto das gravações — Michael disse para Tyler. — Me desculpe, cara. — Não temos mais nada — Tyler disse. — Você acabou de quebrar a droga toda do nosso programa. Shane olhou para Michael com as sobrancelhas levantadas, e Michael balançou a cabeça. — Esse idiota está mentindo — ele disse. Os batimentos cardíacos, Claire pensou. Ele podia ouvi-los. Ele podia nem sempre ser capaz de dizer quando um indivíduo estava mentindo, mas era mais fácil para ele se houvesse três pessoas com a mesma mentira. Mais pessoas significava mais informação, como uma triangulação da verdade. E o mais provável, todos os três caçadores de fantasmas sabia que Tyler tinha cópias. — Eu leio as pessoas realmente bem — ele disse. Era uma mentira óbvia, mas ele não deu a Tyler tempo para discutir. — Tudo bem, vocês três, fora da porta. Se vocês quiserem que eu quebre a van de vocês, eu ficarei feliz em fazer isso também. — Ou, vocês sabem, socar vocês — Shane disse alegremente. — Aqui é o Texas. Nós temos o direito de fazer isso quando vocês entraram em nossa casa. Ele deixou Eve dizer: — Ou pior — com uma voz tão baixa e obscura, que qualificava como gótica por si só. Jenna ficou de pé. — Bem. Se vocês quiserem condenar esta menina a uma eternidade de dor e tormento, vocês estão fazendo exatamente as coisas certas. Vocês não estão preparados para o que vai acontecer com ela. Eu estou! Talvez isso fosse meio que verdade; era muito difícil dizer. Mas em qualquer caso, Claire estava farta de meias-verdades e agressão, especialmente
quando sua cabeça estava doendo tanto. — Apenas vão embora — ela disse, cansada. — Ela é nossa responsabilidade. Nós vamos cuidar dela. Ela está certa, você já fez bastante dano já por aqui. Foi quando Jenna virou e focou nela, focou realmente, e Claire viu algo familiar em seus olhos frios e pálidos. Era o mesmo olhar distante que tinha visto tantas vezes em Miranda... aqui e não-aqui ao mesmo tempo. — Você sonhou — ela disse. — É verdade. Eu vejo... água. Um buraco. A cruz de prata em um círculo. Alguém está tentando falar com você. — Sim, sim, guarde a atuação de Vegas, moça — Shane disse, e empurroua para a porta da frente. Angel e Tyler já estavam caminhando para fora na frente dela. — Se queremos ajuda profissional, vamos chamar os CaçaFantasmas. Pelo menos eles têm uniformes combinados. Ciao. Miranda seguiu-os, parecendo ansiosa. — Claire — ela disse, e pegou o braço dela. — Claire! Está escuro lá fora. — Está tudo bem. Eles têm uma van — ela disse. Ela não estava se sentindo particularmente caridosa com a equipe do After Death agora. Se Michael estava certo — e ela sinceramente achou que ele estivesse — então o interesse de Jenna em agitar os mortos trouxe a irmã de Shane, e isso, isso era imperdoável. — Eles vão ficar bem. Não se preocupe com eles. — Os fantasmas sabem o que ela é. Eles vão segui-la, comer pequenos pedaços dela. Ela não vai sentir primeiro, mas depois ela vai ficar cansada e doente, e eles podem matá-la, Claire. Pior: eles podem conseguir força o suficiente para fazer outras coisas. Coisas perigosas. Ela é muito poderosa. — Eu acho que ela é cheia de si — Claire disse, mas agora que sua raiva estava desaparecendo um pouco, ela pensou no que Jenna tinha dito a ela. Água. Buraco. Cruz de prata em um círculo. Isso se encaixava em seu sonho sobre o buraco no chão, e a água em torno de suas pernas. Alguém está tentando falar com você. — Eu acho que ela estava apenas inventando, Mir. Ouça, você fica aqui. Nós vamos garantir que eles saiam, ok? Miranda estremeceu. — Eu não posso ir lá novamente. Mesmo que após o pôr do sol estivesse escuro lá fora, mais escuro do que Claire esperava; as faixas laranja no horizonte já estavam desaparecendo, sendo pintado com tons de roxo e azul. As estrelas maiores e mais fortes já faziam aparições em cima, mas não havia lua, ainda não. A van do After Death estava estacionada na rua, duas casas em baixo; eles provavelmente tiveram problemas para encontrar o lugar. Claire lembrou-se de vê-los olhando mapas. Eles provavelmente já estavam procurando a Glass
House. Ugh. Em pensar que ela achou que Angel era meio encantador no início. Agora, ela nunca queria vê-lo novamente. Não havia nenhum sinal do grupo de fantasmas que ela tinha visto antes quando eles tinham estado na casa, o que parecia estranho; ela podia sentir algo aqui fora, uma sensação de desconforto na parte de trás do pescoço dela, um sussurro fantasmagórico no vento. Por instinto, Claire recuou para o limite de dentro da casa, e quando ela o fez, ela viu a neblina entrar em foco novamente. Todos os fantasmas lotavam agora em torno de Jenna enquanto ela se dirigia para a van. Dentro da casa, os fantasmas eram visíveis. Lá fora, no mundo real, não havia nada. Shane já estava descendo os degraus, e Claire correu para se juntar a ele. — Eles estão desistindo muito facilmente — ele disse. — Não parece que eles simplesmente deixaram aquela coisa do cartão de memória muito rápido? — Que escolha eles têm? — ela perguntou. — Michael pegou e quebrou antes que eles pudessem fazer muita coisa. — Sim, mas... — Shane balançou a cabeça. — Eu esperava mais drama vindo deles. Eles estão na TV. É meio o que eles fazem para ganhar a vida. — A câmera estava desligada. — Para pessoas como eles, a câmera nunca está desligada... — Seus olhos se arregalaram de repente, e ele correu para a frente para pegar a câmera das mãos de Tyler. Tyler resistiu, gritando por socorro, e de repente era um emaranhado de caras — Angel, Tyler, Shane, e Michael, todos lutando pelo controle da coisa. Não muito surpreendentemente pelos jogadores, Michael ganhou e jogou-a para Shane. — Você queria isso? — ele perguntou. — Ei, você não pode fazer isso! — Tyler gritou. — Isso é equipamento profissional caro, cara! Vou processar o seu traseiro! Shane correu para subir alguns degraus e segurou-a sob a luz da varanda. — Droga — ele disse. — Michael, você pegou o cartão de memória, mas essa coisa estava transmitindo direto por banda larga também. O cartão de memória era apenas reserva. Eles manipularam para que eles pudessem gravar sem a luz aparecer. Michael se virou para Tyler, cujo rosto empalideceu. — Onde você está transmitindo isso? — Cara, você está errado. Sim, com certeza ela tem a capacidade, mas eu nem sequer liguei...
— Isso é mentira — Michael disse, e agarrou-o pelo colarinho. — Me diga outra mentira; vamos. — Solte ele. — A voz de Jenna era fria, calma e focada, e todos olharam para ela. Michael soltou Tyler, porque Jenna estava segurando uma arma. Era algo semiautomático; Claire não conseguia dizer o calibre, mas isso realmente não importava. Michael não estaria com medo dela, mas receber buracos e curar-se seria tão condenável, se não mais do que aquilo que Miranda já havia gravado. Então, ele levantou as mãos e deu um passo para trás. — Isso não vai parecer tão bom na câmera — Michael disse. — É melhor repensar isso. — Eu só estou defendendo os meus amigos de algumas pessoas assustadoras — Jenna disse — e, além disso, pela magia da edição, eles nunca vão ver que eu estava armada, de qualquer maneira. Agora vamos todos simplesmente se acalmar, ok? Isto não tem de ficar mais louco. — Ela virou a cabeça para Tyler. — Pegue a câmera e leve o seu traseiro para a van. Temos uma edição para fazer. — Nós poderíamos transmitir ao vivo — Angel sugeriu. — Não seja estúpido, Angel; você não perde uma revelação como essa com um par de milhares de pessoas que encontram do nada na web. Este é um grande evento de TV, talvez até mesmo da pay-per-view. Nós vamos divulgar por semanas antes de divulgar um único segundo. Tyler! — Ela levantou a voz e o macaco da câmera subiu os degraus e pegou o gravador das mãos submissas de Shane. — Vocês não sabem o que vocês têm aqui. Ou o que vai acontecer. Vocês vão precisar de nós, confie em mim. Miranda precisa de nós. Toda essa cidade vai ficar famosa. Ela provavelmente ia dizer mais, mas ela nunca teve a chance, porque uma figura vestida de preto saiu das sombras atrás das árvores, e antes que Claire pudesse respirar, a figura tirou Jenna para fora do caminho, empurrando-a para o chão. A arma caiu para longe, perdida na grama escassa de ervas daninhas. O intruso mostrou um lampejo de um rosto pálido, olhos vermelhos carmesim e o sorriso de uma mulher jovem, e num piscar de olhos, ela estava segurando o seu alvo. Não Jenna, afinal. Angel. O vampiro colocou a mão sobre a boca dele quando ele tentou falar e disse: — Silêncio, agora, bonitão. O que todos os vizinhos vão achar se você fizer um barulho?
Tyler murmurou uma maldição, e correu para a van. Ele conseguiu passar da cerca antes que outro vampiro aparecesse na frente dele. Jason. O irmão de Eve parecia tão demente como ele tinha estado antes, e Claire estremeceu com o sorriso que ele virou primeiro para Tyler e, em seguida, para a sua irmã. — Ei, Eve. Você não escreve, você não liga... mas pelo menos você nos trouxe o jantar. Isso é bom. — Não! — Eve correu para a frente e colocou-se entre Tyler e Jason. — Não, Jase. O que diabos você está fazendo? Eles não são daqui! Você não pode só... — Eu odeio essa frase. Não pode. O fato é que eu posso, irmã mais velha. Eu posso fazer o que eu quiser. Assim como Marguerite, aqui. E Jerold, ele está lá atrás em algum lugar... Acene para a minha irmã agradável, Jerold. — Claire virou. Havia um vampiro agachado na beira do telhado íngreme, olhando para eles com um sorriso. Ele acenou. — Veja, nós temos privilégios agora. Nós podemos caçar, se quisermos. E nós realmente queremos. Portanto, se você não quiser estar no menu, vire o seu traseiro ao redor e caminhe de volta para a casa e feche a porta. Inferno, você estava agorinha discutindo com estes tolos. Por que você se importa? — Eu... — Eve realmente não tinha uma resposta para isso. — Não é sobre eles. Eu não quero ver você... sendo isso. Deus, Jason. É assim que vai ser? Você já não foi mau o suficiente? — Não — ele disse, muito racionalmente. — Eu nunca fui ruim o suficiente para impedir que as coisas ruins acontecem comigo. Até agora. — Ele esperou. Eve não se mexeu. — Ok, então. Vou ser gentil desta vez. Nós podemos compartilhar apenas um presente. Você pode manter os outros. — Ele estalou os dedos, e Marguerite, a que segurava Angel, assentiu. Ela pegou Angel em seus braços — uma façanha, porque o homem era grande, alto, e estava em pânico — e antes que qualquer um deles pudesse respirar, ela apenas... desapareceu. Michael começou a correr atrás dela, mas ele não foi longe quando Jerold caiu do telhado no seu caminho. Em uma mão enluvada, ele segurava uma garrafa de vidro que continha prata. — Nós aprendemos isso com você — Jerold disse. — Você começou a lutar com a sua própria espécie, e nós vamos lutar de voltar. Você gosta deste estranho o suficiente para queimar por ele, Michael? — Não! — Eve olhou suplicante para o seu irmão — que, ela gostasse ou não, claramente estava no comando. — Não, qual é, por favor, Jason, não. Não o machuque.
— Se ele ficar fora do nosso caminho, ele vai ficar bem — Jason disse. — O mesmo vale para você, e Claire e Shane; eu vou deixar vocês em paz. Mas é um novo dia por aqui. Nosso dia. E o sol não vai chegar para estragar isso para nós. Em algum lugar na escuridão, houve um grito de dor. Angel. Claire tentou desesperadamente pensar no que fazer, mas não havia nada. Eles tinham armas, mas Michael tinha acabado de ser cercado; Shane só tinha estacas e, embora Eve tivesse uma besta, ela não parecia inclinada a usá-la em seu próprio irmão. Eu preciso fazer alguma coisa, Claire pensou. Qualquer coisa. Eu preciso salválo. — Jason, se você deixá-lo ir, eu acho que nós podemos fazer algum tipo de acordo — ela disse, falando tão rápido quanto podia. Ela nem sabia o que ela estava dizendo. — Olha, eu até mesmo deixo você me morder, duas mordidas pelo cara que você acabou de tirar. Qual é, é um bom negócio. Eu faço o testemunho no Common Grounds, podemos colocar isso por escrito, e... — Cale a boca — Jason disse, ainda sorrindo. — Eu não quero duas míseras mordidas, como se eu estivesse fora para tomar uma cerveja com os caras. Eu quero caçar. Fique calada se você não quiser ser o coelho, garotinha. Ela fechou os olhos e tentou pensar no que fazer. Havia três vampiros, e mesmo que ela e seus amigos estivessem em menor número, seria uma luta dura, e provavelmente um deles estaria gravemente ferido, talvez morto. Ela nunca tinha odiado tanto matemática em sua vida. Shane colocou o seu braço ao redor dela. — Não — ele disse calmamente. — Você não pode, Claire. Você não pode salvar todo mundo. E Deus, ele estava certo; ele estava certo e ela odiava isso também. — Tudo bem — ela disse. — Eve, chame a polícia. Depressa. Eve assentiu com a cabeça e correu para dentro da casa. Jason riu alto. — Bem pensado — ele disse. — E boa sorte, mas a polícia não vai nos pegar, e você sabe disso. Eles são espertos demais para tentar. Legal fazer negócios com vocês, pessoal. — Ele tocou um dedo na testa em saudação irônica. — Até mais tarde. — Espere! — Jenna desabafou. — Espere, e quanto a Angel, o que... — A moça bonita realmente não entendeu, não é? — Jason disse. — Expliquem a ela. Estou faminto. E então ele e Jerold apenas... desapareceram. Como fumaça no vento. E Angel tinha parado de gritar, embora isso seria devido a ter sido amordaçado
ou morto, Claire não sabia dizer e não queria imaginar. Todo o seu corpo doía de tensão, e ela queria vomitar. O que ela acabou de fazer? Nada. Ela salvou a vida de um de seus amigos, provavelmente. Ao custo de Angel. Quando ela tentou dar um passo, ela cambaleou e quase caiu. Shane pegou-a e segurou-a para cima. — Ei — ele disse. — Ei, está tudo bem. Estamos bem. Os policiais abrirão um caso. Claire sabia que ele não acreditava nisso mais do que ela. Os policiais não abririam um caso; eles não ousariam, a menos que Amelie ou Oliver fizessem eles pararem a caça. Afinal, Jason — como Michael tinha privilégios. E Angel havia sido tecnicamente um alvo justo... desprotegido, um estranho. Isso significava, porém, que não haveria como encobrir com Jenna e Tyler. Ou suas memórias seriam alteradas para explicar o desaparecimento ou morte de Angel, ou eles enfrentaram o mesmo destino. Dez minutos atrás você estava jogando-os para fora da casa, ela se lembrou. Eles iriam anunciar em público sobre Miranda. Sobre Morganville. — Verifique a van — ela disse para Shane. — Veja se Tyler estava dizendo a verdade. Se eles transmitiram o vídeo para um servidor na van... — Entendi — ele disse, e correu para a distância para o veículo. Ela estava destrancada — grupo confiante — e ele deslizou a porta traseira para entrar. — Ei! — Tyler saiu de seu transe atordoado, e cor inundou seu rosto. — Ei, saia daí, tem equipamentos delicados! — Ele foi em direção a van, mas Michael o alcançou e o deteve com nada além de um olhar. Que, no entanto, não fez Tyler parar de falar. — Nós temos direitos, você sabe. Você toca qualquer coisa naquela van e eu vou processar os seus traseiros! — Era, obviamente, algo que ele poderia aproveitar, algo real e reconfortante em um mundo que tinha enlouquecido ao redor dele. Ele sabia que Miranda era real, mas isso era em parte além da sua zona de conforto, ou ele não estaria fazendo o programa After Death. Mas ser perseguido e caçado por vampiros — mesmo que ninguém tenha dito que eles eram vampiros — era diferente. E havia uma luz brilhante febrilmente em seus olhos que refletiam tanto medo quanto raiva. — Calma — Michael disse. — Espere. — Ele manteve a mão estendida com a palma para frente, para afastar Tyler se ele continuasse a sua corrida para a frente, mas Tyler ficou apenas parado, olhando além de Michael, para a van. E, em seguida, para Shane, que saiu cerca de meio minuto depois. — O vídeo está no servidor deles, Mike. O que você quer que eu faça?
Desta vez, quando Michael focou em Tyler, ele não estava brincando. Vermelho apareceu em sua íris, e Claire sentiu uma força sair dele, o que era, ela não sabia dizer, mas era poderoso. — Essa é a única cópia que sobrou? — ele perguntou a Tyler. Até mesmo a voz dele soava diferente, de alguma forma. Menos humana. — Sim — Tyler disse, e piscou. — Quero dizer, não! Já foi transmitido para a Internet... — Sim, isso é uma mentira. — Michael olhou para Shane e assentiu. — É a única cópia. Apague. — Não! — O grito de Tyler ficou furioso e agoniado, mas ele não tentou ir contra Michael, tampouco. Ele deve ter percebido o quão perigoso era tentar. Jenna nem sequer protestou. Ela caiu no chão, sentada de pernas cruzadas, e colocou a cabeça entre as mãos. — Ele não acreditava — ela disse. — Angel nunca acreditou de verdade. Deus. Eu não deveria tê-lo metido isso. Eu deveria ter mandado ele ir para casa... — Ela parecia cansada, e Claire se lembrou com um arrepio do que Miranda tinha dito. Ao redor dela, invisível aqui no mundo real além da Glass House, os fantasmas estavam lotados em torno de Jenna, arrancando pedaços dela de alguma forma psíquica e estranha, e consumindo a força saborosa que ela trouxe para a cidade. Tornando-os mais fortes. Silêncio. O profundo silêncio foi interrompido pelo latido distante e frenético de um cão. — Vamos lá — Michael disse, e levou Tyler pelo braço. — Vamos entrar. Claire foi até Jenna e ofereceu-lhe uma mão. Ela olhou para a mão, então para ela, e finalmente balançou a cabeça e levantou-se. — Isso é loucura — Jenna disse a ela. — Eu sei — ela disse. — Entre. Ela fez uma pausa na porta para observar enquanto Shane corria de volta para se juntar a eles. Nada surgiu da escuridão para ameaçar ele... desta vez. Quando ele entrou, ela fechou e trancou a porta, e esperou um momento enquanto inclinava a cabeça contra a madeira. Eu sinto muito, ela disse ao Angel desaparecido. Do seu modo, ele tinha sido encantador. Eu queria… Mas ela nem sabia como terminar o pensamento.
Capítulo 14
O
MYRNIN
truque para fazer o impossível, eu descobri, era simplesmente nunca pensar no que está ao seu alcance. Faça a coisa diante de você. E então a próxima. Então a próxima. Dessa forma homens construíram pirâmides, ou escalaram montanhas, ou foram para a lua em foguetes. E foi assim que eu tinha esculpido, doloroso centímetro por centímetro, os nichos para as minhas mãos e os pés na parede de pedra da masmorra. Eu não olhei para cima; eu não olhei para baixo. Eu olhava apenas para a tarefa diante de mim, e ignorei a dor como um efeito colateral. Eu tive bastante prática para isso, certamente. Com concentração suficiente, os ataques de pânico desapareceram em um murmúrio correndo na parte de trás da minha mente, como um rio correndo rápido que se tornou um ruído de fundo que eu não sentia a necessidade de prestar atenção. De certa forma, era uma espécie de distração reconfortante. Era um pouco como não estar sozinho, mesmo se a minha única companhia real fosse a minha própria mente terrivelmente distorcida gritando. Eu descobri o quão longe eu tinha subido da pior maneira, quando eu perdi a minha concentração, e perder a minha concentração não foi culpa minha. Eu estava extremamente centrado, mas quando de repente há uma sensação dentro da minha mente que parece como dedos gelados se arrastando através dos meus pensamentos, e... bem. Você tende a se distrair quando algo assim acontece. Meus dedos deslizaram, assim como os meus pés descalços, e quando eu caí — contando a altura no caminho para baixo, meu Deus, quase três metros completos — eu vi o rosto de Claire. Apenas um flash dele, pálido e preocupado. E outro rosto, o de uma mulher, com cabelos dourados pálidos e olhos claros. Não era Amelie, embora em alguns aspectos, a semelhança estava lá... Era alguém que eu não conhecia.
Alguém humano. Mais notavelmente, uma humana cujas impressões digitais mentais estavam claras em minha mente. Uma vidente, uma verdadeira, como a menina Miranda — alguém que podia ver o futuro, mas não só isso; essa poderia alcançar e tocar as mentes dos outros. Eu duvidava que ela tinha desfrutado da experiência mais do que eu, mas eu tinha a convicção de que através dela, Claire soube alguma coisa de mim. Venha até mim, eu implorei a ela novamente, assim quando minha queda terminou abruptamente na água gelada, e até mesmo na pedra fria abaixo. Ossos quebraram, é claro. Eu fiquei lá, atolado em um desconforto estranho na parte inferior do inferno, até que eu tive bastante foco e força para me curar, e, em seguida, começar a considerar a subir novamente. Claire, eu pensei. Venha até mim. Por favor. Porque a dúvida começou a insinuar-se para me informar que três metros foi apenas um começo, e eu tinha um longo, longo, longo caminho a percorrer... e a fome já estava mordendo os meus calcanhares. Em breve, a clareza e o foco que eu tinha conseguido alcançar até agora seria difícil. E então impossível. Você não vai conseguir, alguma parte de mim friamente lógica declarou, a que não era de grande auxílio. Eu queria cortar essa parte do meu cérebro e deixá-la flutuando na água, mas talvez essa poderia ter sido uma resposta não muito sã. Então eu tranquei a minha parte lógica em uma prisão feita de barras mentais, com foco na próxima coisa na frente do meu nariz, e comecei a subir.
Capítulo 15
CLAIRE
polícia tomou notas, parecendo profissionalmente céticos em relação à ideia de que um homem jovem e forte pudesse ter desaparecido em plena vista de seus amigos. Porque isso nunca acontece aqui, Claire pensou cinicamente, mas sabia que eles tinham alguma razão para serem duvidosos... os vampiros escolhiam vagabundos; eles não corriam para o rebanho. Não era inteligente, e eles sempre tinham sido muito cuidadosos em não envolver estranhos que poderiam ser facilmente procurados. Angel é um dos visitantes famosos que Morganville recebeu, se você não contasse a passagem de um governador de cabelos brilhante dois anos atrás. Aquele cara não tinha sequer parado para a gasolina, apenas atravessou a cidade em um turbilhão de sopro de areia e carros brilhantes, embora ele supostamente tenha aberto a janela em um semáforo e acenado para as pessoas que não se importavam. Levar Angel era quase tão provável quanto os vampiros terem parado a caravana do governador, arrancado a porta do sedan e arrastá-lo para fora no meio da tarde. Todos tinham fornecido declarações — Eve, Michael, Shane, Claire, Jenna e Tyler. Miranda tinha sabiamente permanecido escondida. A história de Tyler tinha se transformado em um ataque de uma gangue de adolescentes empenhada em roubar a Van — adolescentes armados — e Jenna tinha apenas dito que ela não tinha visto muito exceto um deles agarrando Angel e levando para fora. Shane tinha diretamente perguntado a Eve antes que as primeiras sirenes e luzes parassem: — Você quer que a gente denuncie o seu irmão, ou não? A decisão é sua, Eve. Pessoalmente, eu não acho que o pequeno monstro precise de mais nenhuma trégua, mas... — Sim — ela o interrompeu. — Denuncie. Eu vou dizer tudo a eles.
Assim, os quatro dos residentes da Glass House identificaram Jason pelo nome e forneceram os nomes dos outros dois vampiros também; Claire certamente sentiu uma espécie amarga de confirmação ao fazer isso. Ela confiou em Jason por um tempo, mas ele saiu descontroladamente do controle, e ele tinha que ser parado. Até mesmo Eve reconhecia isso agora. Os policiais tinham encerrado e ido embora; ninguém parecia ter muito senso de urgência sobre a coisa toda. Tyler e Jenna se sentaram juntos nos degraus da frente, claramente entorpecidos e sem saber o que fazer a seguir, então Claire chamou eles para dentro, organizou cafés e — depois de consultar com os outros — indicou para Jenna o sofá da sala de estar, e para Tyler a sala de visitas. Ninguém dormiu muito bem, e quando Claire desceu as escadas antes do amanhecer para fazer o café, ela descobriu que os dois visitantes estavam levantados e sentados juntos na mesa de jantar de mãos dadas. Claire parou na escada, olhando. Era um tipo estranho de cena, e havia algo definitivamente estranho nisso. Por um momento, Claire não entendeu o que Jenna estava dizendo... e então, com um calafrio, ela entendeu. — ...Perto — Jenna disse em uma voz distante e drogada. — Eu posso sentilo lá fora; ele está vindo… só um momento... é difícil para ele passar as barreiras em torno deste lugar... Claire desceu cautelosamente um degrau, depois outro. A sala estava escura, exceto pelas velas tremeluzentes na mesa de jantar para adicionar iluminação ao ambiente sinistro. O que vocês estão fazendo? Ficou muito claro no próximo segundo, quando o fantasma de Angel pálido e insubstancial derivou através das paredes. Tyler endureceu em sua cadeira, mas Jenna se agarrou em sua mão e fez ele se sentar novamente. Angel pairou lá, brilhando com a luz fraca e estranha fosforescente. Ele parecia perdido e angustiado. As pernas de Claire estavam dormentes. Ela sentou-se rapidamente na escada, olhando com os lábios entreabertos e dando respirações rápidas. O que diabos está acontecendo? Angel estava claramente, bem, morto — nenhuma dúvida nisso; você não chegava a ser aquele tipo de fantasma sem passar por todo o caminho ao longo do limite. Havia uma mancha escura em torno de sua garganta, e Claire estremeceu ao vê-la. Sem dúvida era a evidência do que Jason tinha feito com ele. Ou seus amigos. Se o corpo de Angel tinha sido recuperado ou não, ele era uma vítima do crescente problema de vampiros de Morganville. E Jenna — Jenna tinha sido capaz de chamá-lo, e até mesmo fazê-lo passar através das defesas da casa.
Jenna soltou das mãos de Tyler, e Claire esperava que o fantasma-Angel desaparecesse, mas ele permaneceu à deriva cada vez mais perto de Jenna como se algum tipo de gravidade estivesse puxando-o para ela. — Angel — ela disse, — eu sinto muito. Sinto muito. Claire percebeu que ela estava estendendo a mão em direção ao fantasma, e lembrou-se do medo absoluto de Miranda. — Espere! — ela exclamou, e desceu as escadas correndo. — Espere, não. Não toque nele. Mas já era tarde demais. Jenna já tinha tocado e quando suas mãos se conectaram, Angel assumiu forma e peso, até mesmo um pouco de cor — quase real. E Jenna caiu para trás em sua cadeira, claramente esgotada. — É verdade — Angel disse. Sua voz soava como se viesse do fundo de um poço profundo. — É tudo verdade o que você disse. Tantos espíritos aqui, Jenna. Tão perdidos. Tão irritados. — Eu sinto muito que não pude ajudá-lo — Jenna sussurrou. — Eu sei. — Ele incluiu Tyler nisso, com um olhar de lado, e o homem mais jovem se encolheu. Ele provavelmente esperava ser ignorado completamente. Quando o olhar do fantasma-Angel passou dele para pairar em Claire, ela sabia como Tyler se sentia. Havia algo realmente e verdadeiramente aterrorizador naquele olhar vazio. — E você — Angel disse a Claire. — Não é sua culpa. Eu sei que você se culpa. Claire estremeceu. O ar na sala estava parecendo gelo, como se o espírito de Angel chamasse a energia do mundo em torno dele. — Lamento que tenhamos perdido você. — Angel não está perdido — Jenna disse. — Eu estou com ele. Ele pode nos ajudar. — Eu não... — Claire deu uma respiração profunda, e parecia respirar no inverno. — Eu não acho que seja uma boa ideia, Jenna. Você sabe o que Miranda disse... — Miranda não está aqui, e eu certamente não vou abandonar o nosso amigo. — Você deveria — uma voz suave disse da porta da cozinha, e Claire se virou e viu Miranda ali com uma caneca na mão que vaporizava ferozmente no frio. — Você precisa deixá-lo ir. Quanto mais tempo ele ficar aqui, mais faminto ele ficará. E depois de um tempo ele não será mais seu amigo, Jenna. Assim como a sua irmã. — Não fale dela!
— Você tem que deixá-lo ir — Miranda disse. Ela caminhou até a mesa e pousou a caneca — o conteúdo cheirava a chocolate quente — e respirou fundo. — Eu posso mostrar-lhe como fazê-lo ir para onde ele precisa estar. Os olhos de Jenna se arregalaram, então se estreitaram. — Como eu sei que você pode fazer isso? — Porque eu estava lá, e eu voltei. Ele está confuso e assustado. Eu posso levá-lo lá, se você me deixar. Mas eu só posso fazer isso na parte da manhã. — Miranda olhou para fora da janela. Ainda estava escuro, mas havia um forte brilho ao leste. — E eu só posso fazer isso se ele quiser ir comigo. Quanto mais você fizer ele querer ficar aqui com você, mais difícil vai ser. Você tem que soltar a mão dele, agora. Jenna franziu a testa, mas ela puxou a mão da de Angel, e ele imediatamente começou a perder a cor e substância, assumindo o caráter insubstancial e nevoento de um fantasma. A mudança, junto com a dor óbvia e o horror no rosto de Angel, foi tão alarmante que Jenna imediatamente tentou estender a mão de novo para ele. Miranda retirou a mão dela. — Não — ela disse. — Você não pode. Entendeu? Você simplesmente não pode. Ele está bem. O que ele sente... não é a dor que você conhece. É confusão. Eu vou levar ele quando o sol nascer. Vai ficar tudo bem. — Mir? — Claire perguntou baixinho. — Isso é... está tudo bem para você fazer isso? É perigoso? A menina suspirou e encolheu os ombros, só um pouco. — É difícil — ela disse. — Mas eu não estou pronta para ir, então eu posso voltar. Nem todo mundo pode. E não o tempo todo. Você se lembra, não é? Aquela sensação? Claire se lembrava, porém ela tentava sinceramente não lembrar... ela morreu aqui, brevemente, na Glass House, e teve a sensação de que quando as proteções da casa tinham desmoronado ela teve impressão de ser sugada para algum lugar, para um caos. E talvez teria ficado tudo bem, mas foi realmente assustador. Ela assentiu com a cabeça. — Eu posso fazer isso — Miranda disse calmamente. — Eu só não gosto. É por isso que todos eles estavam me seguindo antes. Porque eles sabem que eu posso ajudar. Eu só... Eu só não quero. — Você pode falar com eles? — Claire perguntou. — Eu posso — Jenna disse, e Miranda assentiu com a cabeça também. — Eu acho que nós duas podemos.
— Eu estava pensando... — Ela realmente hesitou sobre isso, porque parecia um uso tão egoísta do que ela tinha acabado de descobrir. — Eu estava pensando que talvez, se fosse possível, você poderia pedir a eles para descobrir algo para mim. — O quê? — Sobre Myrnin — ela disse. — Jenna, você teve uma visão dele antes. Eu acho que ele está sendo mantido em algum lugar contra a vontade dele. Eu preciso ajudar ele, mas eu preciso de alguma ideia de onde procurar. Você pode me ajudar? Eles podem me ajudar a descobrir onde ele está? — Ela estava tentando fazer o desespero em sua voz não soar óbvio, mas provavelmente ela falhou muito nisso. — Por favor? — É muito perigoso para ela — Miranda disse, e acenou com a cabeça em direção a Jenna. — Ela não deveria tentar falar com mais nenhum deles. Eu vou, no entanto. Enquanto ela parar de deixar eles animados, eu posso sair e vê-los... — Ela olhou para a janela de repente. — O sol está vindo. Angel e eu temos que ir agora. Sinto muito. Miranda caminhou até Angel e pegou a mão dele, e ele pareceu dar um suspiro de alívio profundo por não estar mais sozinho. Ambos estavam desaparecendo. Tyler, que estava sentado em silêncio, espantado e mudo o tempo todo, saltou para trás da mesa, fazendo a sua cadeira voar; Jenna se moveu para longe também quando Miranda jogou a cabeça para trás, fechou os olhos, e seu corpo muito real pareceu apenas... dissolver, junto com o de Angel. Em seguida, ambos foram embora. Claire engoliu o medo instintivo, e disse: — Mir? Você ainda está ao redor? — Ela sentiu uma vibração fria que se moveu através dela, e ela compreendeu que isso significa sim. — Está tudo bem. Ela ainda está aqui; nós simplesmente não podemos vê-la agora. Ela vai levar Angel para onde ele precisa ir, eu acho. Tyler parecia prestes a chorar. — Quem são vocês? Mas Jenna não parecia assim. Ela parecia... focada. Havia uma luz surgindo em seus olhos, e seus ombros estavam eretos. — É por isso que eu fui trazida até aqui — ela disse. — Era isso o que eu estava destinada a fazer. Conhecer essa menina. E ajudá-la. — É mesmo? — Tyler retrucou. — E quanto a mim, Jenna? O que eu devo fazer, exatamente? Como é que eu vou voltar a ter uma vida normal agora? Jesus, isso era apenas um trabalho, um trabalho estúpido. Eu nunca fui um verdadeiro crente, não como você...
Mas agora ele era, claramente. E ele não gostava. Ele puxou seu cabelo bagunçado, como se ele quisesse puxar tudo para fora, em seguida, caiu de bruços sobre a mesa, totalmente exausto. — Eu nunca vou poder ir embora, vou? — Sua voz abafada flutuou para cima, quase tão fantasmagórica como a de Angel foi. — Droga. Eu tinha bilhetes para o jogo do Red Sox. Bons lugares. Claire ouviu passos atrás dela, e Eve apareceu, seus Doc Martens batendo fortemente nas escadas. Ela fez uma pausa e bocejou. Havia algo estranho em seu cabelo — estava apontando para cima como uma crista de uma cacatua. Provavelmente não de propósito. Ela ainda estava com calças de pijama adoráveis, uma camiseta gigante do show de White Stripes, e ela não tinha colocado sua maquiagem ainda. — O que eu perdi? — ela perguntou. — É melhor você se sentar — Claire disse, — e é melhor eu fazer o café. Q q q A polícia finalmente ligou após o café da manhã — café significava torradas e brigas sobre se seria uma boa ideia bater na cabeça de Jenna e Tyler e prendê-los em um quarto até que eles pudessem decidir o que fazer com eles, o que foi ideia de Shane. Claire meio que esperava que os policiais quisessem os dois membros sobreviventes do After Death, mas não, eles queriam Eve na delegacia. Apenas Eve, o que foi bom, porque Claire tinha que ir para a aula; ela estava louca para conversar com Miranda novamente, e ver se suas conexões fantasmagóricas podiam ser capazes de encontrar Myrnin, mas ficar em casa exigindo respostas não ia levá-la a lugar nenhum. E nem faltar aula. — Eu tenho um concerto de jazz em cinco minutos no Common Grounds — Michael disse, se movendo enquanto olhava para o relógio. Eve estava sentada em sua penteadeira, aplicando delineador. — E? — ela perguntou. Claire ficou fascinada observando-a; ela tinha tanta concentração e precisão, era estranho. Claire não era boa com o delineador. Precisava de habilidade. — E eu preciso ir logo — ele disse. — Você vem? — Querido, a verdadeira beleza não pode ser apressada. — Eve mudou para o rímel. — Vá em frente. Eu vou ficar bem. — Não sozinha — Michael disse. — São as novas regras. Nenhum de vocês andem sozinhos. Nem mesmo Shane. — Puxa, pai superprotetor, você provavelmente deve ter dito isso a ele antes que ele saísse de manhã.
— Para onde ele foi? — Entrevista de emprego, ele não me disse para fazer o quê, talvez por que seja algo embaraçoso, como fazer arranjos florais ou fazer striptease para homens — Eve disse. — Relaxe; ele está bem. E de qualquer maneira, eu posso dirigir. O Carro da Morte está finalmente pronto para andar novamente. — Ela quis dizer seu carro fúnebre personalizado, que tinha tido tantos reparos e substituições que era quase um veículo inteiramente novo de novo. — Além disso, eu vou ver os policiais, não caçar vampiros em becos escuros. Eu tenho o vampiro que eu preciso. — Ela soprou-lhe um beijo. Michael se inclinou e beijou o topo de sua cabeça — agora que seu cabelo estava domado novamente, não em uma posição tão perigosa — e disse: — Tome cuidado. — Sempre tomo. Ele saiu com pressa, levando tanto a sua guitarra acústica quanto a elétrica. Eve sorriu serenamente e fez o seu outro olho com o rímel cuidadosamente e calmamente. — Você pode me dar uma carona? — Claire perguntou. — Eu tenho aula. E o que vamos fazer com os nossos visitantes, afinal? — Nada — Eve disse. — Não é da nossa conta. — Mas o que acontece se Jenna decidir falar ao público? Ou Tyler? Eles sabem demais. — Eles não têm nenhuma prova agora. E isso é o que eu vou dizer aos policiais — Eve disse. — Não é um problema da Glass House mais. É um problema de Morganville, e precisa ser tratado oficialmente. Inferno, Jason que causou isso, não nós. Ainda parecia errado; Claire tinha medo de que a solução oficial de Morganville envolvesse mais dois corpos em um acidente de carro como o fim da história do After Death. Mas ela tinha que admitir que ela não via como sair disso sem avisar a polícia, ou Oliver, ou Amelie. As coisas tinham ido um pouco longe demais. E, ela teve que admitir, ela estava carregando uma carga impressionante de culpa pela morte de Angel. Ela tinha a sensação incômoda de que ela poderia ter feito algo para impedir... mesmo que, em termos práticos, ela soubesse que não poderia. Isso era uma bagunça, e levará tempo para resolver o problema, mas uma coisa era certa: eles não podiam se dar ao luxo de deixar Jason se safar com isso. Ele já era perigoso. Se ele achasse que tinha saído livre, quem sabia o que ele faria? Bem, Claire sabia; ela soube disso eventualmente, ele iria atrás de Eve. E não havia nenhuma maneira de que ela pudesse deixar isso acontecer.
Eve estava linda, de um jeito muito Eve; ela tinha suavizado as roupas com temas de crânio, mas manteve o esquema de cores preto gótico, e algumas cores de destaque. Suas joias permaneciam ousadas, e sua maquiagem era algo normalmente visto apenas em anúncios de moda e filmes do espaço sideral. Ela manteve as botas gastas grossas, porém, e Claire tinha que admitir que lhe convinha. O Carro da Morte parecia brilhante e novo outra vez, e Eve tinha acrescentado um boneco cabeçudo do Anjo da Morte no painel frontal com foice e olhos vermelhos brilhantes que cintilavam quando sua cabeça balançava. Ela também colocou um aparelho de som maneiro que ela subiu até doze e meio em uma escala de dez, a melhor forma de fazer propaganda de Florence + The Machine em uma cidade que, Claire pensou, provavelmente nunca ouviu falar da banda. A música era alta demais para falar, e estava tudo bem; Claire estava com um humor pensativo de qualquer maneira. Ela não tinha dormido bem, e ela estava cada vez mais preocupada com Myrnin. O dia, ao contrário, era um típico dia quente do Texas, com pouca umidade e alto potencial de queimaduras solares. Ela manteve a janela abaixada por causa da brisa árida. Cabeças se viravam quando elas passaram. Algumas, principalmente de pessoas idosas, é claro, estavam irritados com o barulho; algumas pareciam neutras até que avistaram o carro fúnebre. Ele era facilmente reconhecível como o carro de Eve; ninguém mais em Morganville, exceto a Casa Funerária de Ransom, continha algo mesmo vagamente parecido como isso, certamente não com a Morte como um ornamento. Claire, de repente nervosa, esticou a mão e diminuiu a música. — O quê? — Eve perguntou. Surpreendentemente ela estava em um humor radiante, considerando os eventos da noite anterior, e por sua vez, o de repente assassinato causado por seu irmão, mas, em seguida, Claire imaginou que ela estava aliviada por estar tomando algum tipo de ação positiva contra ele para variar. — Qual é, não é tão emo. — Não, é legal. Eu só... — Claire não podia explicar o motivo de sua inquietação, na verdade, exceto que ela definitivamente tinha uma sensação estranha. Talvez fosse apenas todos os folhetos que ela tinha visto, e o fato de que a janela da frente deles ainda estava estilhaçada e fechada com madeira compensada. Mas definitivamente parecia pessoal, os olhares que eles recebiam nos dias de hoje.
O carro passou pelo Common Grounds, e em um relance pela janela da frente, ela viu que Michael estava montando suas guitarras. Ele não tocava tanto quanto ele gostaria, por isso era um evento especial para ele. Tornar-se um vampiro pode ter modificado as suas ambições de estrela do rock um pouco, mas não havia como negar que ele era realmente, realmente, realmente bom. Ele até tinha uma oferta de um contrato de gravação, mas ele recusou-a já que fazer uma turnê parecia uma má ideia (e, é claro, Amelie tinha proibido). Afinal, ele tinha um problema que nem mesmo as grandes gravadoras seriam capazes de esconder. Ele não falava muito sobre isso, Claire percebeu; sobre como toda a sua vida tinha estado centrada na música, e então isso tinha mudado sem aviso prévio, e sem a sua permissão. Ele nunca se queixou sobre como era injusto, pelo menos não em voz alta. E não para ela. — Deveria ter mais gente lá — Eve disse. — O quê? — Uma multidão. Michael sempre atrai uma multidão, mas olhando para lá. Você vê uma fila de pessoas? — Eve parecia chocada no início, depois com raiva. — Esses idiotas. Eles não estão com raiva dele, estão? Por quê? Porque ele é um vampiro casado com um ser humano, Claire pensou, mas não disse. Eve sabia disso. Ela simplesmente não podia aceitar que as pessoas poderiam odiar Michael por princípios, sem contar quem ele realmente era. — Vai quebrar o coração dele se eles não forem ouvi-lo tocar. É tudo o que ele sempre quis, tocar e fazer as pessoas felizes. Se tirarem isso dele... — Eve mordeu o lábio, e lágrimas brilharam em seus olhos escuros. Claire estendeu a mão e agarrou a mão dela e apertou, e sua melhor amiga respirou fundo e tentou um sorriso. — Sim. Ele vai ficar bem. Nós vamos ficar bem. Certo? — Certo — Claire disse, e sentiu um buraco oco ao dizer algo que ela não chegava a sentir. Ela cobriu isso com um grande sorriso. Eve fez uma pausa em um dos poucos sinais de trânsito da cidade, esperando por algumas picapes velhas rastejarem através do cruzamento, e disse: — Você tem uma grande pressa para chegar na UPT? Claire olhou para o relógio. — Minha aula é em vinte minutos. — Oh. Eu estava pensando que talvez um café no Common Grounds... E fazer Michael se sentir melhor pelo apoio delas, Claire adivinhou. Ela odiava falar isso, mas ela disse: — a polícia está esperando por você, não? — Sim. Como se tivesse alguma coisa que eu possa dizer a eles que não tenha no arquivo de quatro centímetros de espessura do meu irmão.
— Eu acho que eles querem saber quem são os amigos dele agora, coisas desse tipo. — Como se eu soubesse. Verdade. Jason e Eve tinham ido para caminhos muito distintos desde jovens. Claire se perguntava às vezes como seria ter irmãos e irmãs, mas considerando o quão ruim era a experiência de Eve, talvez ela devesse ser grata por ser filha única... — Ei! — Eve disse acentuadamente. — O que você está fazendo? Claire saltou, pensando que foi dirigido para ela, mas não, Eve tinha aberto a janela e estava gritando para fora. Quando Claire começou a virar a cabeça, ela ouviu um som estridente de metal, metal em metal, e Eve gritou, abriu a porta do carro e saltou para fora. Claire se atrapalhou com seu cinto de segurança e finalmente conseguiu soltá-lo, em seguida, saiu atrás dela. — O que aconteceu? — ela perguntou, mas foi imediatamente óbvio, porque um grupo de adolescentes estava ali na calçada ao lado do cruzamento, e um deles estava com as chaves na mão e estava raspando letras na pintura do carro de Eve. Ele já tinha escrito um V e estava escrevendo um A. Claire adivinhou que um D-I-A ainda viria. — Deus, é como no colegial de novo! — Eve disse, e empurrou o menino para longe do carro fúnebre. — Tire as suas mãos do meu carro, Aaron! — Que tal você tirar as suas mãos de mim, fode-presas? — ele zombou, e empurrou-a para trás para batê-la com força contra a pintura riscada. — O que vai, volta. — Você sabe, você não era o mais esperto nem mesmo antes de você ser reprovado na escola, mas aqueles foram os seus dias de glória, não foram? Você realmente quer se meter comigo, idiota? É o maior erro da sua vida! — Eve, com cores brilhantes queimando em suas bochechas até mesmo através da maquiagem gótica, estava furiosa, seu corpo firme, agitado e os punhos cerrados. — Você acha que você tem algum tipo de escudo mágico por causa do seu namorado vampiro gostoso? — Uma das meninas disse do meio-fio. — Você não tem. — Não namorado. Marido — outra disse, e fez um som de vômito. — Deus, você não tem qualquer auto-respeito? Se casar com ele? Isso é apenas nojento. É como uma vaca se casar com um açougueiro. Eles deveriam jogá-lo na prisão por ser repugnante. Aaron riu. — Ah, claro que você diria isso, Melanie. Você namorou o cara no colegial.
— Claro, antes de ele se transformar em um deles! — Meu pai diz que você é uma traidora — um outro menino disse, e ele tinha um tom muito diferente — silencioso, com certeza, e perigoso. — Meu tio Jake desapareceu em uma noite dessas. Apenas outro acidente em uma cidade repleta deles, certo? E você ajudou. Você ajudou a colocar os vampiros de volta ao topo, onde eles sempre estiveram. Assim como todas as famílias das Casas Fundadoras. Você não é nada além de uma puta se entregando para os vampiros por dinheiro. Eve se arremessou contra ele. Claire correu em torno do fim do carro com uma convicção penetrante de que ela nunca seria rápida o suficiente para impedi-la, e ela estava certa: Eve conseguiu dar um tapa forte direito em seu rosto. — Nunca mais, Roy Farmer! — Eve gritou com ele. — Nunca mais... Ele bateu nela de volta, acertando ela com força, direto em sua mandíbula, e antes que Claire pudesse respirar. Foi como se algum sinal invisível tivesse aparecido para todos os outros adolescentes — de sua idade ou apenas um par de anos mais velhos — atacarem. — Não! — Claire gritou quando Eve foi agarrada, arrastada para a frente e jogada no chão. Tudo aconteceu tão rápido e em tal caos que ela não sabia para onde apontar um empurrão ou um soco para conseguir resgatar a sua amiga. Todo mundo estava se movendo de uma só vez, e Eve estava no meio disso, e tudo era simplesmente insano. Pareceu que tinha sido para sempre até que Claire agarrou uma menina pelo cabelo e puxou. A menina se levantou para dar um pontapé furioso, perdeu o equilíbrio e caiu para trás, e Claire arrastou-a por alguns centímetros para longe enquanto ela gritava, se contorcia e arranhava. O que quer que a menina estivesse gritando, envolvia um monte de palavrões, e Claire não estava prestando atenção. Ela empurrou a menina em um arbusto espinhoso e pulou de volta para o círculo de atacantes. Parar uma não tinha parado o ataque. As armas que ela tinha eram para os vampiros, não humanos, e ela não poderia usá-las em pessoas que não podiam se curar... mas se isso continuasse por mais tempo, ela podia ter de infligir dano de verdade e duradouro para salvar a vida de Eve. Respire fundo. Ela deixou-se dar uma pausa de um segundo, e identificou o líder, aquele que Eve tinha batido; ele era o único que se lançou sobre ela com crueldade real. Claire rapidamente deu um passo atrás dele, tentou canalizar Shane tanto quanto ela podia, e fez dois movimentos que ele lhe ensinara: primeiro, um soco rápido e forte nos rins; segundo, colocar a ponta do sapato na curva do seu joelho enquanto ele retorcia em sua direção.
Funcionou. Ele parou o ataque e caiu de joelhos; em seguida, levantouse, cambaleando, e se virou para ela. Os outros ainda estavam indo atrás de Eve, mas quando ele veio atrás de Claire, eles começaram a soltar ela e o seguir. Ela se lançou para trás, gritou por socorro (provavelmente inútil), e começou a correr. Eles seguiram. Todo mundo em Morganville era muito bom em correr, é claro, mas Claire tinha motivação; ela abrandou o suficiente para fazê-los acreditar que eles pudessem pegá-la, e ainda ficou longe do alcance deles. O líder do grupo — qual era o nome dele? Roy alguma coisa? — Roy era rápido, e ela teve de se esforçar para ficar apenas alguns centímetros de distância de suas investidas. Se ele pegasse ela, ela não tinha dúvida de que ele iria atirar toda a sua raiva sobre ela, assim como ele fez com Eve. Que ela fique bem. Por favor, que ela fique bem! Suas pernas estavam começando a queimar; Claire poderia correr uma distância razoável, mas a adrenalina e o medo estavam cobrando seu preço, e ela sabia que as pessoas latindo como cães de caça atrás dela não iam ficar cansados tão rápido — eles tinham uma multidão para encorajá-los adiante. Havia um outro cruzamento à frente, mas ela não viu ninguém na rua. Não, espera — havia um carro cruzando o semáforo. Um carro esporte vermelho com um telhado aberto. O carro de Monica Morrell. Monica tinha um lenço enrolado sobre a cabeça dela para impedir que o vento seco soprasse seu cabelo escuro brilhante para todo o lugar, e ela usava óculos de sol grandes de estrela do rock; quando ela se virou para o ruído da perseguição por Claire, foi impossível ler sua expressão. Claire aceitou a oportunidade. Saltou sobre a porta do carro e caiu no banco do passageiro, por pouco ela não amassava a bolsa de grife de Mônica. Monica olhou para ela por um segundo silencioso, em seguida, olhou por cima dela quando Roy Farmer derrapou até parar com trinta centímetros longe do carro, respirando com dificuldade e vermelho de fúria. — O que foi? — Monica exigiu. — Toque no meu carro e você está morto, Roy Toy. — E então, sem virar a cabeça para ao menos olhar para o semáforo ou tráfego no sentido contrário, ela levou o conversível em linha reta através do cruzamento com um guincho de borracha queimada. A multidão — bem, não era, na verdade, uma multidão, Claire percebeu, eram seis adolescentes exaltados de raiva — ficaram para trás rapidamente, mesmo que tenham corrido alguns passos. Monica observou pelo retrovisor por um par de
segundos, acelerando a cem quilômetros por hora e atravessando mais duas placas de parada sem abrandar para o limite, em seguida, disse: — Alguma razão especial para isso? Não que eu me importe, com exceção do modo que algum lixo se jogou no meu banco do passageiro. — Obrigada — Claire disse, porque independentemente do insulto, Monica realmente tinha acabado de fazer-lhe um favor. Ela estava tendo problemas para recuperar o fôlego tanto pela corrida quanto pela preocupação real. — Dê a volta! — Não estou indo nessa direção, luz do sol. Estou indo às compras. Claire agarrou o volante e puxou-o, e Monica xingou — honestamente, ela sabia palavras que Claire nunca tinha ouvido falar, em interessantes e variadas combinações — e bateu na mão de Claire para dar a volta com cuidado. — Eu juro por Deus, se você me fazer amassar esse carro, eu vou acabar com você! — Eles estão com Eve — Claire disse. — Dê a volta! Dê a volta no quarteirão! — Por que eu deveria? — Eles vão espancá-la. Ela está ferida. Eles poderiam voltar! — E eu me importo por quê...? — Monica, eles podem matá-la! Apenas faça isso! Monica hesitou apenas por tempo suficiente para fazer Claire considerar sair do carro enquanto ela estava em alta velocidade, mas, em seguida, ela pisou no freio e derrapou em uma direção, depois na outra, então fez um U e virou-se para parar no cruzamento onde o carro fúnebre de Eve ainda estava parado. Monica não disse absolutamente nada. Claire deu uma olhada em Eve deitada na calçada em uma piscina de seu próprio sangue, o tempo apenas pareceu congelar em um bloco de gelo por um longo segundo. Em seguida, ele quebrou, e Claire saiu para ajoelhar-se ao lado dela. Os olhos de Eve estavam fechados. Ela estava respirando, mas sua pele parecia pálida, e ela estava sangrando livremente do cortes em sua cabeça; Claire não se atreveu a movê-la, mas ela podia ver as marcas vermelhas nos braços onde ela tinha sido chutada e pisada. Poderia haver ferimentos internos, ossos quebrados... Ambulância, ela pensou, mas quando ela estendeu a mão para o celular dela, ela ouviu Monica dizendo: — Sim, 911? Tem alguém sangrando por toda a rua na Fifth and Stillwater. Apenas procure por um carro fúnebre. Claire olhou para ela enquanto Monica desligava seu celular e jogava em sua bolsa. Monica devolveu o olhar, deu de ombros e olhou para seu batom
no espelho. — Ei — ela disse. — Nunca diga que eu não sou cívica. Essa calçada pode manchar. Então ela partiu com um rugido do motor do conversível. Claire estava certa sobre Roy trazer os outros de volta, mas no momento em que eles chegaram, a metade de seus amigos tinham criado juízo, e os que ainda estavam com ele não eram suficientes para criar uma loucura. Eles ainda foram intimidados pelo som da sirene de ambulância perfurando o ar e aproximando-se. Claire se sentou sobre os calcanhares quando ela olhou para Roy. Ele era um garoto indescritível, na verdade — um rosto do tipo ok, cabelo normal, roupas do ensino médio padrões. A única coisa que realmente o fazia se destacar era o sangue em suas mãos, e no momento que ela percebeu, ele deve ter percebido também porque ele puxou a bainha da camisa e esfregou na pele para limpar, em seguida, enfiou o tecido de volta em suas calças. A evidência se foi, exceto pelas contusões em seus dedos. Ele apontou para Claire quando a ambulância parou, e sirenes tocaram atrás do carro fúnebre. — Isso ainda não acabou — ele disse. — O Capitão Óbvio diz que amantes de vamps têm o que merecem. Você também, por proteger ela. Ela tinha um desejo quase incontrolável de gritar com ele, mas ela podia ver que não faria nenhum bem. Eles estavam todos olhando para ela como se ela fosse o monstro e como se Eve fosse algum tipo de pervertida que merecia morrer. Shane poderia saber o que dizer, mas Shane não estava aqui. Michael não estava aqui. Era só ela, sozinha, segurando a mão mole e sangrenta de sua melhor amiga. Ela encontrou seu olhar de frente e disse: — Vá em frente, Roy Toy. — Mais tarde — ele prometeu, e sacudiu a cabeça para o seu grupo. Eles se dirigiram para fora correndo e se separaram. Foi então que os atendentes da ambulância pediram para ela mover-se para trás e começaram a avaliar a condição de Eve que ela percebeu exatamente o que Roy havia dito. Capitão Óbvio diz... Capitão Óbvio. Oh, Deus. Claire se lembrou dos folhetos, do tijolo, da gasolina jogada em sua casa, e o papel com as lápides sobre ele, e os nomes deles. Todos os nomes deles. Talvez Pennyfeather não tenha usado a gasolina afinal; ele só tinha aproveitado a vantagem da distração. Talvez os humanos houvessem tentado matar todos eles.
Ela tentou ligar para o celular de Michael, mas é claro que estava desligado; estaria se ele estivesse tocando. Ela discou para Shane, em vez disso. Ele atendeu no quinto toque. — Ei — ele disse, — estou ocupado tentando conseguir um trabalho de verdade aqui... — Eve foi ferida — ela disse. — Vá até Michael. O Capitão Óbvio tem a gente em algum tipo de lista negra. E cuidado. — Jesus. — Shane ficou quieto por um segundo; em seguida, ele disse: — Eve está bem? — Eu não sei. — Pela primeira vez, a realidade disso atingiu-a quando a adrenalina desapareceu, e ela sentiu o pânico sufocá-la. — Deus, Shane, eles estavam chutando ela com tanta força... — Quem? — Ela podia sentir a fúria nessa única palavra. — Eu não sei. Roy Farmer, um cara chamado Aaron, uma menina chamada Melanie e outros três. Shane, por favor, vá até Michael. Ele está no Common Grounds... — Estou indo — ele disse. — Você está segura agora? — Eu estou indo para o hospital com ela — Claire disse. — Tome cuidado, eu estou falando sério. — Eu irei. Ele desligou, e ela tinha um desejo insano de chamá-lo de volta, para ouvir a sua voz dizendo o nome dela, dizendo-lhe que iria ficar tudo bem de alguma forma impossível, que a amava e ela não tinha que ter medo dos seres humanos de Morganville também, em vez de apenas dos vampiros. Mas Shane nunca diria essa última coisa. Porque ele era mais esperto do que isso, e sempre foi. Q q q Eve tinha desaparecido em uma sala de área de tratamento de emergência, e Claire não foi autorizada a seguir; ela acabou sentada na beira de uma cadeira de plástico dura na sala de espera, esfregando as mãos. Elas pareciam pegajosas, mesmo que ela tenha lavado duas vezes. Quando ela fechava os olhos, ela ficava vendo o deleite ávido nos rostos dos garotos — pessoas que Eve conhecia — enquanto eles chutavam ela enquanto ela estava caída. Ela já enfrentou Monica e suas amigas, mas esse tinha sido um tipo de violência frio e calculado. Isso... era doentio. Era um ódio irracional e cego
que só queria sangue, e ela não entendia o porquê. Isso a deixou se sentindo horrorizada e trêmula. A primeira coisa que ela soube da chegada de Michael foi de Shane colocando a mão em seu ombro e agachando-se na frente dela. Quando ela olhou para cima, ela percebeu que Michael tinha acabado de passar direto por ela, passando pelo enfermeiro que tentou detê-lo, e atravessando a porta de pronto-socorro para apenas pacientes. Shane não disse nada, e Claire não conseguia encontrar as palavras. Ela simplesmente desmoronou contra ele, e deixou as lágrimas saírem dela. Não eram todas de sofrimento; parte delas eram uma bola afiada de fúria e frustração que continuava saltando ao redor de seu peito. Primeiro Myrnin tinha desaparecido, e em seguida Pennyfeather tinha vindo atrás deles, e Jason, e Angel, e agora isso. Era como se tudo o que ela tivesse conhecido estivesse acontecendo errado, tudo ao mesmo tempo. Os tijolos e argamassa de Morganville estavam de volta juntos, mas as pessoas estavam desmoronando. Shane fez ruídos de namorado para ela, coisas como calma e está tudo bem, e isso acalmou aquela parte profunda assustada de se sentir tão sozinha. Ela engoliu os soluços e teve autocontrole o suficiente para que ela perguntasse: — Foi tudo bem com Michael? — Nah, na verdade não — Shane disse. — Enquanto estávamos saindo, um cara zombou de Michael sobre Eve receber o que ela merecia. Podemos ter destruído o lugar um pouco. Oliver vai ficar puto. Isso foi um bônus, no entanto. Eu tive que impedir Michael de rasgar a cabeça do idiota para fora. Ele estava se referindo a alguma coisa de Orgulho Humano, e você sabe que eu não discordo exatamente disso, mas... — Ele deu de ombros. — Pelo menos eu pude bater em alguém. Eu precisava disso. Ela procurou em sua mochila e encontrou uma pequena bola amassada e triste de tecido, assoou o nariz e enxugou o pior de suas lágrimas. — Shane, eu não pude detê-los. Eles estavam todos sobre ela. Eu tentei, mas... — Conhecendo você, você fez mais do que tentar — ele disse. — Eu ouvi um boato de que o Capitão Óbvio tinha falado que nós já não estávamos mais fora dos limites, mas eu não levei muito a sério; inferno, ele acabou de começar, eu não achava que ele já tinha respeito de verdade ainda. — Ele se sentou ao lado dela e pegou a mão dela na sua. — Eve é forte. Ela vai ficar bem. — Ela não estava — Claire disse, e sentiu as lágrimas ameaçarem novamente. — Ela não podia sequer tentar lutar contra eles. Eles só... Ele silenciou-a e inclinou a cabeça dela em seu ombro, e eles sentaram-se juntos, em silêncio, até que Michael voltou. Ele estava se movendo mais
lentamente agora, mas seu rosto estava tenso e pálido como mármore, e ele não estava se incomodando em tentar manter a graça de vampiro para fora do caminho, ele caminhou como um animal rondando. Seus olhos pareciam roxos à distância, com o vermelho piscando neles. Ele parou na frente deles, e Claire começou a perguntar sobre Eve, mas algo nele manteve ela calada e muito parada. — Eu preciso de você — ele disse para Shane. Shane lentamente se levantou. — Você sabe quem era? Shane olhou para Claire, depois assentiu. — Então vamos. — Cara... — Shane disse para ele, sua voz soou quase hesitante. — Cara, você tem que nos dizer algo. Nós amamos ela também. — Ela tem uma concussão e uma costela quebrada — Michael disse. — Eu não posso estar aqui. Eu preciso ir, agora. Shane olhou para ele por longos segundos antes de dizer: — Eu não vou deixar você matar ninguém, cara. — Eu tenho o privilégio de caçar. Se você quiser me parar de usar isso, é melhor você vir junto. Shane lançou um rápido olhar de desculpas para Claire, e ela balançou a cabeça; não havia dúvida de que Michael estava em um humor de ficar mais violento do que ela jamais tinha visto, e ter Shane o acompanhando poderia realmente salvar vidas. — Fique aqui — ele disse a ela, e lhe deu um beijo rápido e caloroso. — Não saia sem mim. — Não deixe que ele faça nada estúpido — ela sussurrou. — E você não faça nada estúpido, tampouco. — Ei — ele disse com um sorriso arrogante, — olha quem está falando! Ele saiu antes que ela pudesse dizer a ele — como se ele já não soubesse — que ela o amava muito, e Michael nunca sequer olhou para ela. Talvez ele a culpasse, ela pensou miseravelmente. Talvez ele achasse que ela deveria ter sido capaz de parar aquilo, para salvar Eve. Talvez ela deveria ter sido capaz, afinal. Ela se sentou em silêncio, miserável e dolorosa com a culpa e tristeza por horas. Foi longo o suficiente para que ela ficasse com sede e comprasse uma Coca-Cola, bebesse, tivesse que encontrar o banheiro, olhasse todas as revistas antigas empilhadas sobre a mesa e realmente cochilasse um pouco. Eram quase oito horas quando o médico finalmente saiu da área de tratamento. Ele olhou em volta, franziu a testa, e depois veio até ela. — Você está aqui por causa de Eve Rosser?
— Sim. — Ela se levantou e quase tropeçou; suas pernas tinham ficado um pouco dormentes de ficar sentada por muito tempo. — Sim! — Onde está o familiar mais próximo? — Ele está... — Ela tentou pensar em algo mais inteligente do que deixar escapar buscando vingança, e se mexeu desconfortavelmente de um pé para o outro: — indo dizer a mãe dela. O que pareceu um bom artifício porque o médico parecia mais satisfeito com isso. — Bem, quando ele voltar, diga a ele que ela está em recuperação. Estabilizamos ela, mas nós vamos ter que mantê-la por um par de dias e certificar de que não há trauma cerebral. Ela tem sorte. A cirurgia correu bem. — A cirurgia? — Claire cobriu a boca com a mão. — Ela esteve em cirurgia? Para que? Ele a olhou silenciosamente por um momento e depois disse: — apenas diga que ela está estável. Eu não antecipo mais do que uma noite aqui para ela, a menos que haja complicações que não podemos prever agora. Mas a hemorragia interna está sob controle. Ele se afastou antes que ela pudesse perguntar a ele se ela podia ver Eve. Ele estava chegando até a porta, em seguida, virou-se para vê-la se sentar miseravelmente de volta na cadeira de plástico. — Oh — ele disse. — Se você quiser vê-la, ela vai estar acordada em breve. Eu advirto a você, ela vai sentir um pouco de dor. Claire se levantou novamente e seguiu para a sala de recuperação. Q q q Ele não estava brincando sobre a dor, e Claire estava em lágrimas tentando acalmar Eve enquanto ela gemia, se mexia e choramingava, mas eles finalmente deram-lhe algum tipo de medicação que a acalmou um pouco. Claire seguiu enquanto eles moviam ela para um quarto e prendiam ela em máquinas, e desta vez, quando Claire cochilou em uma cadeira, foi um pouco mais confortável, e ela a puxou para perto da cabeceira de Eve. Quando ela acordou, Morganville tinha ficado quieta e escura, banhada aqui e ali pelo brilho suave das luzes da varanda e postes. Faróis de carro cruzavam as ruas. Havia, como sempre, os mais escuros à noite. Veículos de vampiros. Ela ainda estava olhando para fora quando ouviu um farfalhar de lençóis, e Eve disse em uma voz pequena e chocada: — Michael?
Claire foi para o seu lado quando Eve acordou. Ela tinha hematomas vermelhos em seu rosto agora, mas estavam começando a ficar roxos nas bordas. Ambos os olhos estavam inchados. — Ei — ela disse com a voz mais suave que conseguiu. Ela pegou a mão de Eve com cuidado, e segurou-a. — Ei, você me assustou pra caramba, querida. — Claire? — Eve piscou e tentou abrir mais as pálpebras, em seguida, fez uma careta com o esforço. — Merda. Que carro me atropelou? — Você não se lembra? — Alguém dirigiu na nossa direção? O meu carro... — Sua voz desvaneceuse, e ela ficou em silêncio por um momento, então disse: — Oh. Certo. Eles me bateram, não foi? — Sim — Claire disse. — Mas você está bem. Você está no hospital. O médico disse que você vai ficar bem. — Filho de uma p... — Eve tentou levantar a mão dela, mas tinha tubos saindo dela; ela olhou para a mão, então abaixou lentamente. — Onde está Michael? — Ah... — Por favor, não me diga que ele foi atrás deles. — Eu não vou — Claire disse. — Olha, você só precisa descansar, certo? Recuperar as suas forças após a cirurgia. — Cirurgia? Para quê? — Eve tentou sentar-se, mas ela gemeu profundamente e afundou de volta nos travesseiros. — Oh Deus, isso dói. Que diabos…? A enfermeira veio justamente nessa hora, viu que Eve estava acordada, e veio até a cama para ajudá-la a se sentar. — Você pode ficar sentada por um tempo — a enfermeira disse, — mas se você começar a se sentir enjoada, use isso. — Ela apertou uma tigela nas mãos de Eve. — A anestesia pode fazer você vomitar. — Uau. Animador — Eve disse. — Espera... que tipo de cirurgia eu fiz? A enfermeira hesitou, olhou para Claire, e disse: — Você tem certeza que quer que eu diga com a sua visitante presente? — Claire? Claro. Ela é como uma irmã. — Eve empalideceu um pouco quando se moveu. — Isso dói. — Bem, vai doer — a enfermeira disse sem muita simpatia. — Eles tiveram que remover o seu apêndice. Ele estava sangrando. — Ele estava o quê? — Você foi chutada no estômago — a enfermeira disse. — O seu apêndice foi seriamente danificado. Eles tiveram que removê-lo. Portanto, é melhor
você ficar parada por um tempo e deixar-se curar. A polícia vem para entrevistá-lo sobre o que aconteceu. — Ótimo. A enfermeira sorriu. Havia algo um pouco sinistro nisso, um pouco perturbador. — Eu aconselho você a se recusar a dar uma declaração. Pode ser mais saudável para você, considerando todas as coisas. As pessoas que feriram você pode ter amigos. E você não tem muitos. Claire piscou. — O que você acabou de dizer? — A enfermeira se virou. — Ei! Eve colocou uma mão em seu braço enquanto Claire tentava se levantar. — Entendi — ela disse. A enfermeira assentiu, verificou as legendas em um par de máquinas, e disse: — Não mantenha ela acordada por muito tempo. Eu vou dizer à polícia para voltar mais tarde. Dar a vocês algum tempo para pensar sobre o que vocês vão dizer a eles. Você é uma menina inteligente. Você sabe o que é melhor. A mensagem, Claire pensou, era arrepiante e clara: não diga aos policiais os nomes das pessoas que atacaram vocês. Senão. E um “senão” de um médico era bastante desagradável. Se Eve não estava segura aqui... Capitão Óbvio sempre tinha sido um pouco como uma piada na maioria dos círculos dos residentes de Morganville, mas Claire estava começando a pensar que este Cap novo e mais agressivo era algo completamente diferente. Ele estava inspirando as pessoas. E levando-os a extremos assustadores. Como os vampiros com suas carteiras de identidade e licenças de caça. Se ambos os lados continuassem escalando, ninguém poderia ficar no meio por muito tempo sem pagar por isso — e parecia que isso já tinha acontecido. Eve foi a primeira, mas qualquer um deles poderia ser o próximo. A enfermeira saiu. Eve observou-a ir, em seguida, fechou os olhos e suspirou. — Eu achei que isso iria acontecer — ela disse. — Seres humanos em primeiro lugar e toda essa baboseira. Eles ficaram mais fortes. E agora o Capitão Óbvio está de volta. É um mau momento para ser nós, Claire. Eu tenho que dizer a Michael para recuar... Eve tentou sentar-se, mas o esforço deixou-a pálida e exausta. — Ele nunca deveria ter ido atrás deles. Isso é o que eles querem; você não entendeu? Eles vieram atrás de mim para chegar até ele. Eu não sou importante. Ele é. Ele é do sangue de Amelie — meio como o filho dela. Se eles puderem machucá-lo, matá-lo — Claire, vá encontrá-lo. Por favor. Eu vou ficar bem aqui. Apenas vá. A pior coisa que eles vão fazer comigo é me dar uma porcaria de gelatina.
Claire hesitou por um longo momento, então se inclinou e abraçou Eve, dando a ela um tipo suave e desajeitado de abraço que a deixou consciente do quão frágil a menina estava — o quão frágil todos estavam. — Te amo — ela disse. — Sim, tanto faz, te amo também — Eve disse, mas ela sorriu um pouco. — Vá. Ligue para ele. Ele vai ouvir você, ou pelo menos Shane vai. E para o bem dela, Claire tentou, mas o celular não parava de tocar e tocar e tocar, direto para o correio de voz. E o dia prosseguiu enquanto elas esperavam ansiosamente.
Capítulo 16
MICHAEL
raiva que tinha tomado conta de mim me fez doer por toda parte, especialmente os meus caninos; eu raramente tinha experimentado o desejo de morder alguém em pura raiva, mas porra, eu queria afundar as minhas presas profundamente em alguém agora. Roy Farmer, aquele filho da puta, para começar, e depois o resto da sua pequena equipe assassina. Eve parecia tão débil, deitada naquela cama. Tão contrário ao pacote de força e energia que eu amava. Eu realmente não sabia, lá no fundo, o quanto ela significava para mim até que eu tinha visto ela daquele jeito, e eu soube, realmente e profundamente soube, que eu poderia perdê-la. Ninguém feria a minha garota e escapava disso. Shane estava com raiva também, mas — e essa foi uma inversão de nossos papéis usuais como amigos — ele era o cauteloso, me dizendo para ser inteligente e não deixar que a raiva me controle. Ele estava certo, é claro, mas o certo não importava muito agora. Eu queria sangue, e eu queria prová-lo e sentir o medo temperando-o como pimenta. Eu queria que eles soubessem como ela se sentiu, impotente, aterrorizada e sozinha. E sim, isso provavelmente não era justo, mas eu estava com raiva de Claire por deixá-la, mesmo que por um momento. Eu sabia que ela tinha feito a coisa certa, sair da multidão, mas ela tinha deixado Eve deitada sangrando em uma calçada. Sozinha. E eu não podia tirar essa imagem da minha cabeça. Ela poderia ter morrido sozinha. Eu entendi como Shane se sentiu quando jogou seu punho através de uma parede. Algumas coisas apenas a violência poderia apagar. — Roy mora na College Street — Shane disse, — mas ele não vai estar lá. Ele vive com seus pais. Ele é um inútil, mas não tanto para correr para a casa da mãe. — Onde, então? — Nós estávamos no carro fúnebre de Eve, e Shane estava dirigindo; eu estava sentado na área dos fundos escurecido. Shane tinha
verbalmente chutado a minha bunda sobre o risco de queimaduras solares quando eu quis caminhar; ele me fez parar e pegar um longo casaco, chapéu e luvas, também, apenas por precaução. — Você conhece o cara, certo? — Mais ou menos — ele disse. — Um desses tipos de aspirantes a caçador de vampiros de Roy veio até mim duas vezes para mostrar coisas, e me mostrou coisas que ele estava trabalhando, tipo armas. Ele adorava meu pai como se ele fosse um herói, o que lhe diz um pouco sobre o quão ferrado ele é. Eu nunca pensei que ele iria fazer isso, no entanto. Não ir até Eve, ou até qualquer um de nós. Não achei que ele teria coragem. — Não se precisa de coragem para chutar uma menina até quase a morte — eu disse. Shane não disse nada sobre isso, só me deu um olhar inquieto no retrovisor e apertou sua mão no volante. — Onde ele estaria? — Provavelmente no Astro — Shane disse. — Ele tem um Cadillac incrementado construído à mão que ele gosta de mostrar lá. Ele provavelmente voltou para lá para contar a seus amigos sobre o quão incrível ele é. O Astro era um velho cinema ao ar livre abandonado na periferia de Morganville, mal dentro das suas fronteiras; que tinha uma tela de cinema cinza que inclinava mais para o chão do deserto a cada ano, e o pavimento tinha rachado e quebrado ao sol, deixando sálvias e arbustos Joshua através das suas aberturas. O quiosque de lanches tinha caído alguns anos atrás, e alguém tinha feito uma fogueira lá na formatura do ensino médio. Não era preciso dizer que o lugar era um dos favoritos para o consumo de álcool e drogas dos menores de idade. Shane dirigiu até lá. Estava próximo ao crepúsculo agora, e o pôr do sol estava em faixas de cores no horizonte; as madeiras que se inclinavam da tela do Astro agigantavam-se como a coisa mais alta em torno da planície, e Shane circulou a cerca de estanho descascando até chegar a entrada. Os policiais faziam esforços periódicos para mantê-la trancada, mas isso durava apenas enquanto demorava para alguém quebrar o bloqueio — e a maioria daqueles que andavam por aqui tinha caixas de ferramentas em suas caminhonetes. Como esperado, a entrada estava aberta, uma placa rangia no vento feroz e constante. Areia atingiu o para-brisa quando Shane fez a curva, e ele abrandou. — Tem que tomar cuidado com as garrafas — ele disse. — O lugar é como um campo minado delas. Ele estava certo. Meus olhos estavam melhores no escuro, e eu podia ver as garrafas marrons escuras jogadas, algumas intactas, a maioria quebrada em cacos. A linha da cerca estava salpicada com tiros de espingarda, e eu tive a
sensação de que muitos dos vasilhames tinham sido usados para a prática do tiro ao alvo. Comportamento padrão de adolescentes embriagados da cidade; eu não poderia dizer que eu mesmo não tinha feito isso, antes que eu tivesse sido forçado a me adaptar a algo diferente. E eu não sentia falta disso, no entanto. Os faróis de Shane cortaram através da sálvia verde empoeirada, os ramos perfurantes da algaroba se sobressaindo da calçada rachada e, no outro extremo do estacionamento, um brilho de metal. Carros, cerca de seis deles. A maioria eram picapes, o veículo de escolha aqui em Lugar Nenhum, Texas, mas um era um Caddy intensamente brilhante, pintado de azul elétrico, com aros cromados cintilantes. Shane estava certo. Era um carro incrementado. Um bando de garotos — cerca de vinte deles — estavam sentados nos capôs dos veículos, passando garrafas, cigarros, pílulas, tudo aquilo que eles tinham para compartilhar. Eles assistiram a aproximação lenta do carro fúnebre com a atenção desconfiada de pessoas que possam ter que correr a qualquer momento. A única razão pela qual eles já não tinham corrido era que não era um sedan de vampiros padrão, ou um carro da polícia. Roy Farmer estava sentado sobre o capô de seu Caddy com o braço em torno de uma menina loira rechonchuda. Ambos estavam vestindo chapéus de cowboy e botas. Ela devia estar com frio em sua parte superior do top e dos shorts jeans rasgados, mas pela aparência dela, ela estava bêbada demais para se importar. Roy viu quando o carro fúnebre deu uma parada, e ele tomou um longo gole da garrafa marrom em sua mão. — Mike — Shane disse quando estendi a mão à porta. — Sério, cara, vá com calma. Ele não estaria apenas sentado lá desse jeito se ele não tivesse algo na manga. Ele deveria saber que você estaria vindo até ele. Deixe eu verificar isso primeiro. Eu não me incomodei em responder. Eu não ia deixar Shane ou qualquer outra pessoa, fazer isso. Se Roy tinha vindo atrás de Eve, ele veio atrás de mim, e eu não podia deixá-lo ver isso de outra maneira. Talvez fosse a lealdade; talvez fosse a possessividade. Eu não sei; Eve não estava lá para definir a diferença. Mas eu sabia que era o meu trabalho, não de Shane, fazer Roy se arrepender. Talvez essa era a parte de ser casado. Ou talvez só fosse eu, descobrindo pela primeira vez que eu realmente, realmente queria que Eve olhasse para mim e acreditasse que eu poderia — e iria — proteger ela. Ela provavelmente iria rir e me chamar de primitivo, mas secretamente, no fundo, ela estaria satisfeita.
Eu saí do carro funerário e caminhei em direção aos outros carros. Os adolescentes ficaram em silêncio, olhando para mim. Ninguém correu, ninguém reagiu abertamente, mas eles estavam prontos; eu podia ver isso na tensão de seus corpos. Mesmo os drogados colocaram as suas drogas de escolha de lado para prestar atenção. Eu sabia como era. Eu raramente tinha sido um dos que vinha ficar aqui, mas eu era um adolescente de Morganville. Todos nós tínhamos sido ensinados a observar vampiros com completa atenção quando se estava na área. — Você — eu disse, e acenei para Roy. Ele ficou onde estava, um braço sobre os ombros de sua namorada. — Só você. Todo mundo recebe um passe livre hoje à noite. — Ei, olha; é o grande homem do campus — ele disse. — Estou ocupado. Vai se ferrar. Eu senti um rosnado crescer dentro de mim, o animal arranhando em sua jaula. O sorriso de Eve brilhou na frente do olho da minha mente, e eu queria tanto tirar o sorriso do rosto dele. — Cuidado — eu disse suavemente. Só isso. Sua namorada deve ter percebido a ameaça vinda de mim, porque ela se endireitou e lançou um olhar preocupado para Roy; os outros estavam deslizando silenciosamente dos capôs de seus próprios veículos, guardando suas bebidas e cigarros. Não havia lealdade aqui. Ninguém estava disposto a lutar por Roy, nem mesmo a garota que ele ainda mantinha presa debaixo do braço como se ele pretendesse usá-la como escudo humano. Eu esperei até que os outros veículos ligassem seus motores e começassem a ir para lugares menos hostis para ficarem drogados. Uma vez que todos eles foram embora, a noite de Morganville ficou fria, silenciosa, e muito, muito pesada em torno de nós. — Por que Eve? — eu perguntei. Eu estava ciente de Shane de pé em algum lugar atrás de mim, pronto e muito provavelmente armado; eu não precisava dele. Não para isso. — Por que você foi atrás da minha esposa? — Esposa ainda soava estranho em minha boca; ela tinha sido namorada ou amiga por muitos anos. Mas era uma palavra pesada, um passo importante, e ele deve ter ouvido isso, porque seu sorriso ficou mais apertado e mais predatório. — Porque é perverso — ele disse. — Qualquer um estúpido o suficiente para se casar com um vampiro merece morrer antes que contamine outras pessoas. — Ela não estava machucando você.
— Cara, me faz querer vomitar só de olhar para ela, sabendo que você teve as suas mãos sobre ela. Ela está melhor morta. — Aquele sorriso — eu ficava olhando para ele, querendo tirá-lo de seu rosto. — Ela está? Morta? — Não — eu disse. — Que pena. Talvez na próxima vez. Porque você sabe que vai haver uma próxima vez, sanguessuga. Você não pode pegar todos nós. — Talvez não — eu disse, — mas eu posso com certeza pegar você. Eu me movi, e ele percebeu e se moveu ao mesmo tempo, empurrando a sua namorada no meu caminho. Ela gritou e rolou para fora do capô, tropeçando até mim, mas eu pousei facilmente no outro lado dela e agarrei Roy pelo braço enquanto ele tentava pular atrás do volante. Sua camisa rasgou quando ele se soltou, e ele recuou, ainda sorrindo, mas era mais como um rosnado agora. Ele tinha uma lata de spray na mão. Eu não precisei perguntar para saber que era de prata. A desvantagem de todas as armas que Shane e Eve tinham desenvolvido para nos ajudar a sobreviver era que agora todos os seres humanos de Morganville tinham as receitas; ele tinha feito o seu próprio spray de pimenta anti-vampiros, e se ele me acertasse com ele, não apenas iria me ferir; ele podia me cegar por dias. Iria certamente me derrubar o suficiente para que ele pudesse me estaquear com prata sem suar a camisa. Exceto que eu ouvi Shane, ainda de pé atrás de mim, bombear uma espingarda. Os olhos de Roy passaram por mim a concentraram-se nele, e seu grunhido vacilou. — Parece que alguém trouxe uma lata para um tiroteio — Shane disse. — Só para ficar claro, se você machucar o meu amigo, eu vou machucar você de volta. Parece justo. — Você não vai atirar em mim — Roy disse. — Eu sou como você. Eu sou resistente. — Então a resistência está bem no fundo do seu DNA — Shane disse. — E você está indo atrás dos meus amigos. Isso supera qualquer outra coisa. — Eu não teria duvidado dele naquele momento. Eve era como sua irmã adotiva, e eu sabia o que Shane sentia por ela. Assim como Roy. Ele deu um passo para trás, os olhos correndo de um lado para o outro. Ele finalmente deixou cair a lata de spray e ergueu as mãos. — Ok. Ok, tudo bem, você me pegou. O que você vai fazer agora, vampiro? Me matar? — Eu poderia — eu disse.
— Ele tem uma placa que diz que ele pode, e tudo mais — Shane disse. — Mas ele não vai. — Enviei-lhe um olhar. Shane deu de ombros. — Você não vai, cara. Eu conheço você. De qualquer forma, não é com Roy que você tem que se preocupar. Você precisa falar com o líder. — Capitão Óbvio — eu disse. O rosto de Roy drenou de cor. — Você vai me dizer onde encontrá-lo. — De jeito nenhum. Sua namorada estava ficando de pé atrás de mim. Eu nem sequer olhei para ela, mas eu a agarrei e a puxei para mais perto, meu braço em torno de seu pescoço para mantê-la imóvel enquanto ela lutava. — Vamos começar com ela — eu disse. — E se ela não é importante para você, então eu tenho certeza que salvar seu próprio pescoço vai dar conta do recado. Você chutou minha esposa quando ela estava caída, Roy. Você não é tão corajoso. — Michael — Shane disse, muito calmamente. — Cale a boca — eu disse, e deixei minhas presas descerem. — Capitão Óbvio. Agora. Levou apenas cerca de um minuto para ele desistir, mas para mim sentir que eu tinha acabado com ele, levou mais quatro. Q q q — Você tem algo a dizer? — eu perguntei a Shane. Eu estava na frente agora, já que não era mais dia. Ele cortou seu olhar para mim por um segundo, levantou as sobrancelhas, e balançou a cabeça. — Pouco ou muito? — Eu não sou você, Michael. Eu não sei. Foi realmente muito ruim a coisa do carro, no entanto. Aquele era um carro muito bom. — Se fosse Claire... — Quase foi Claire. — Ele parou por um momento, depois balançou a cabeça. — Eu não sei. Eu gostaria de matar o desgraçado. Inferno, eu ainda quero. — Eu poderia — eu disse. — E ninguém diria nada sobre isso. Você sabe quão assustador que é? — Sim — ele disse. — E eu acho que foi extremamente agradável da sua parte apenas quebrar o braço dele. Mas outros vampiros, eles matariam alguém por olhar para eles por muito tempo, por derramar o café, o que quer que seja. É por isso que não pode ser assim, todos os vampiros receber algum tipo de passe livre para assassinato. Para cada Michael, existem três Jasons. Entendeu?
Eu balancei a cabeça. Eu entendia isso melhor do que ele, provavelmente; eu tinha estado em torno de mais vampiros durante um ou dois anos mais do que ele já esteve. — Temos que consertar as coisas — eu disse. — Você está certo sobre isso. Primeiro o Capitão Óbvio, e então... — Então, Oliver — Shane disse. — Porque aquele bastardo velho e rabugento está começando a agir, e se ele fizer isso por muito mais tempo, nós não vamos ter mais uma cidade. A única maneira de nós sobrevivermos aqui é se fizermos todo mundo mostrar respeito. A estrada — como cada estrada dentro dos limites da cidade — era curta, e quando nós paramos na frente de uma casa simples e comum — era um pouco castigada pelo tempo, um pouco precária — Shane e eu ficamos sentados por um momento, avaliando-a. — O que você acha? — eu perguntei a ele. Ele deu de ombros. — Parece tudo bem — ele disse. — Mas se Roy não estava nos enganando, e esta é a casa do Capitão Óbvio, ele vai estar preparado para o apocalipse de vampiros lá. Você anda até lá com presas e olhos vermelhos, e você está acabado. — Você quer que eu deixe você ir sozinho. — Parece mais seguro — Shane disse. — Afinal de contas, eu sou o cara da campanha anti-vampiros, certo? Ele vai me ouvir. — Talvez — eu disse. — Mas o objetivo não é conversar, Shane. É chutar o traseiro e se certificar de que ele nunca venha atrás de Eve novamente. Ou de você. Ou de Claire. Se ele quer pregar um alvo em mim, tudo bem, eu ganhei isso junto com a sede de sangue. Mas há um limite, e ele o cruzou. — Eu sei — Shane disse. — Acredite em mim, eu sei. — Não. Você ainda não viu Eve. Shane considerou isso, em seguida, acenou com a cabeça, abriu a porta e saiu. Ele deixou a arma para trás, na prateleira atrás do assento. — Se você me ouvir gritar, entre lá — ele disse. — Caso contrário, espere aqui. Me prometa. Eu não prometi, e ele não insistiu nisso; depois de um segundo de hesitação, ele balançou a cabeça e subiu os degraus rachados para a porta da frente. Ele tentou a campainha, em seguida, bateu, e depois de alguns longos momentos, as cortinas na janela da frente balançaram e a porta se abriu. Fiquei sentado muito quieto, olhando. Escutando. E, eu percebi, eu não era o único. Havia um outro vampiro nas sombras, quase invisível, exceto pelo brilho vivo de olhos vermelhos. Os vampiros não tinham cheiro, a menos que eles tivessem se alimentado recentemente, e aqui no quintal, com todos os
cheiros de grama, esterco, sujeira, madeira, metal, não havia nenhuma possibilidade de detectar um desse jeito. Eu me perguntava quem era. Não havia nenhum propósito em um confronto, de qualquer maneira; eu precisava me concentrar, no caso de Shane acabar precisando de mim. O vampiro desapareceu poucos segundos depois de eu ter notado sua presença. Shane não gritou por ajuda. Ele abriu a porta da frente e fez um gesto; eu saí e fui em direção a ele. — Vá devagar — ele me aconselhou. — Pense nisso como visitar o escritório da Fundadora. Ele está quase tão pronto para matá-lo se você pisar errado. Eu já tinha desafiado Amelie bastante, eu pensei, mas Shane não necessariamente precisava saber disso. Fui até a porta e... parei, porque a casa tinha uma barreira. A maioria das casas de Morganville não tinha, a menos que elas fossem realmente velhas ou Casas da Fundadora, mas esta era diferente. E era forte. — Entre — Shane disse, mas isso não mudou nada. Eu era um vampiro, e eu não iria entrar até que o residente da casa alterasse as regras. Enrique Ramos apareceu no corredor atrás do meu amigo, e me olhou por um momento antes de dizer: — Sim, entre. Eu analisei uma pilha de roupas pretas, uma máscara, uma jaqueta de couro, e fiz uma pausa para olhar para elas. Havia também um capacete de motocicleta. — Seus? — Claro — ele disse, e atirou-me um sorriso frio. — Todo mundo me viu neles no comício. — Então você não é o Capitão Óbvio — eu disse. — Por que não? — Muito óbvio. E eu estava certo; ele era provavelmente um dos três ou quatro chamarizes lá fora, se passando pelo capitão, levando os vampiros ao redor em perseguições. Esta era a sua casa, e um bom lugar para manter uma sede neutra, uma vez que tinha sido de sua família há muito tempo; sua mãe se mudou para um novo lugar e deixou para seu filho, e ele tornou uma espécie de ponto de encontro seguro e fortificado. O conselho de guerra do Capitão Óbvio estava em sessão na mesa de jantar na cozinha e, quando Enrique e Shane me introduziram, eu percebi o tanto de problemas que estávamos. Havia vários dos empresários mais
proeminentes de Morganville à mesa, incluindo a proprietário do banco, mas esse não era o problema. Havia uma vampira sentada à mesa do Capitão Óbvio. Naomi. A irmã de sangue de Amelie, ela era uma vampira bonita e de aparência delicada que parecia ter uns vinte anos, se muito; ela tinha uma postura suave e um doce sorriso, e ele ocultava profundidades que eu não tinha entendido por um longo tempo. Ela não era apenas ambiciosa; ela era calculista, traidora e determinada a vencer. — Eu pensei que você estivesse morta — eu disse a ela. Eu tinha sido informado que ela tinha sido morta pelos draugs na batalha final; tinha havido um sussurro de que não eram os draugs que tinham feito isso, mas sim Amelie, por procuração, se livrando de uma rival credível para ser a líder de Morganville. Naomi levantou os ombros de um jeito muito francês de encolher os ombros. — Eu já estive antes — ela disse naquela voz encantadora e ressonante, e riu um pouco. — Como você sabe, Michael, eu sou difícil de se manter dessa forma. — Ela me mandou um sorriso que me convidou a compartilhar a piada, mas eu não sorri de volta. Em todas as suas graças e maneiras gentis, havia um núcleo gelado nela que a maioria nem sempre via. — Sente-se e seja bem-vindo. — Você não é o Capitão Óbvio — eu disse, e olhei para cada um dos homens humanos na mesa, um de cada vez. Então eu me virei para a mulher sentada à sua frente. — Você é. Hannah Moses concordou. Seu rosto cheio de cicatrizes estava quieto e silencioso, seus olhos escuros vigilantes. — Eu sabia que ia ser impossível de enganar você sobre isso. Sente-se, Michael. Q q q Eu não queria sentar à mesa do Capitão Óbvio. Eu ainda estava com raiva, sim, mas eu também estava mais do que um pouco chocado, e traído. Hannah tinha sido uma amiga. Uma aliada. Ela tinha protegido todos nós, em um momento ou outro; ela era uma pessoa sólida e real, com um sólido conjunto de valores. Isso tornou tudo muito, muito pior. Mas de qualquer maneira, eu me sentei, porque a alternativa era ir até ela a todo vapor, e eu não podia fazer isso. Ainda não. Shane se manteve de pé, encostado na parede, de braços cruzados. Ele estava observando Enrique, que estava fazendo a mesma coisa; guarda-costas, eu imaginei, se enfrentando
em silêncio e prontos para o outro fazer um movimento. Havia um murmúrio entre os líderes empresariais, e pelo menos um deles se levantou para deixar a sala em protesto. — Sente-se, Sr. Farmer — eu disse sem olhar para ele. — Nós vamos ter uma conversa sobre o seu filho e de onde ele tira as suas ideias engraçadas. O pai de Roy Farmer ficou com um olhar estranho em seu rosto e afundou em sua cadeira. — O meu filho está vivo? — Sim — Shane disse, com falsa alegria. Eu não teria sido tão rápido para tranquilizá-lo. — Espero que você não se importa de consertar o carro dele. Oh, e o braço. — Seu sanguessuga parasita filho da... Me movi então, batendo a palma da mão na mesa com força suficiente para deixar uma rachadura na madeira. — Eu não o matei — eu disse. — Calese e aceite isso como um presente. Ele o fez, parecendo branco ao redor da boca. Então olhei para Hannah. — Você nos colocou na mira. Você colocou Eve na mira — eu disse para Hannah. — Por que você faria isso? — Por que você a colocou no meio? — ela me perguntou, em um tom assustadoramente razoável. — Você sabe que os vampiros não vão deixá-la ficar lá por muito tempo; eles vão matá-la antes de deixar os humanos ganharem poder nesta cidade através de seu status como uma consorte legal. Você sabia disso quando você se casou com ela. Ao colocar pressão sobre ela do lado humano, nós estávamos esperando que nós pudéssemos salvar a vida dela e fazê-la deixar você. Fazer você entender como isso é perigoso para ela, e para você. Nós não odiamos você, Michael. Mas você está no caminho. — Espera — Shane disse, virando a cabeça para ela. — Você mandou Roy Farmer espancá-la para ajudá-la? É isso o que você está nos dizendo? — Isso dificilmente é culpa nossa. Roy não deveria fazer mais do que assustá-la — Naomi disse, com aquele jeito encantador que ela tinha. — Eu lhe asseguro, ele nunca deveria machucá-la tanto. Ele apenas iria deixar claro que ela não seria aceita como esposa de Michael. Como os vampiros também deixaram claro. Ouvi dizer que Oliver enviou Pennyfeather para mostrar esse mesmo ponto. — Eve não é um peão que você pode mover ao redor de um tabuleiro — eu disse, espetando Naomi com um olhar, então Hannah, e então os outros. — E nem eu. — Mas isso é exatamente o que você é, Michael. Você, Shane, Claire, Eve, todos vocês. Vocês estão jogando de um lado ou de outro a cada passo, e vocês
não conseguem ver isso. — Naomi balançou a cabeça no que eu tinha certeza de que era uma falsa tristeza, mas foi muito convincente. — Erros foram cometidos, mas ninguém pretendia causar dano permanente para a sua amante. Você pode acreditar na minha palavra. — Minha esposa — eu disse, incisivamente. — Chame ela disso. Naomi inclinou a cabeça. — D’accord. Olhei para Hannah. Ela não havia dito muito até agora, e deixou Naomi tentar fazer as justificações. Ela observava eu e Shane, com calma e atenção cuidadosa, suas mãos soltas e descontraídas sobre a mesa à sua frente. Mas ela estava com medo. Eu podia sentir isso, ouvir na rápida batida de seu coração. Todos os humanos tinham medo. Eles deviam ter, eu pensei. Eles eram aliados agora de uma vampira traidora, e eles tinha acabado de fazer um inimigo, alguém que por todos os direitos devia ter sido seu amigo e apoiante. — Você nunca deveria ter tocado em Eve — eu disse a Hannah. — Eu sinto muito pelo que aconteceu — ela disse. — Mas, Michael, vocês todos fizeram suas escolhas, e suas escolhas têm consequências. Se você quiser que Eve fique segura, você deve permitir que ela volte para seu próprio lado. Conosco. — Por que tem de haver lados? Somos pessoas, Hannah. Ela balançou a cabeça. — Você era uma pessoa. Você gosta de pensar que ainda é, mas você é um assassino no coração. E sempre há lados. Se você não pode deixá-la só porque você a ama, então você é egoísta, e você é o único a colocá-la mais em risco todos os dias por causa de sua própria espécie. — Então, o que eu devo fazer? — Eu explodi de raiva, e de repente eu estava de pé, com os olhos ardentes, a raiva trazendo as minhas presas e a minha fúria para fora. — Ela é a minha esposa! Esta não é você, Hannah. Não é nada como você, trazer pessoas inocentes para isso, fazê-las serem feridas, talvez mortas! Hannah não se moveu, e ela não pegou uma arma. Enrique desencostou da parede assim como Shane em um movimento combinado, mas eu era o único que mostrava qualquer ameaça. Hannah disse: — Cavalheiros, vocês poderiam deixar eu, Naomi e Michael sozinhos, por favor? Os empresários de Morganville se levantaram e saíram da sala sem argumento. Enrique ficou ao redor. — Eu vou, se ele for — Enrique disse, e acenou para Shane, que acenou de volta.
— Talvez vocês possam ir encarar um ao outro na outra sala — eu disse, e recebi um olhar severo e desafiador de Shane. — Se alguma coisa fosse acontecer, já teria acontecido. Certo? — Provavelmente — Shane disse. — Mas eu não gosto disso. — É melhor se fizermos isso sozinhos — Hannah disse. — Você, eu e Naomi. Há coisas que precisamos manter em privado, até mesmo de nossos consultores. Estudei-as, em seguida, sacudi minha cabeça para Shane. Ele fez um movimento de depois de você para Enrique, em seguida, seguiu o outro homem para fora da cozinha. A porta para a cozinha foi fechada atrás deles. A partir do momento em que a porta se fechou, Hannah não disse nada. Era como se ela tivesse apenas... desligado. Foi Naomi quem se levantou e caminhou pelo perímetro da cozinha, aparentemente fascinada com as bancadas, os aparelhos, o puxador de gavetas. — A solução para o seu problema é perfeitamente comum — Naomi disse finalmente. — Deixe Eve achar que você deixou de gostar dela, e a segurança dela será garantida. Seu casamento é o problema, e é o casamento que deve ser encerrado. Você pode escolher o calendário das ações judiciais, é claro, mas é necessário que você faça ela deixar você agora. — Eu não posso fazer isso. — A raiva não estava me ajudando, e muito em breve, seria drenada, deixando-me sentir vazio e oco. — Eu não posso simplesmente afastá-la. Hannah... Hannah não estava olhando para mim, ou para qualquer coisa. Eu tive uma sensação visceral de perigo súbito, e eu me virei para Naomi. — Por que você está aqui? Você não é o Capitão Óbvio; você não pode ser. Como você fez eles deixarem você entrar pela porta? — Eu estava me perguntando quando você ia perguntar isso — ela disse, e sorriu para mim debaixo de seus longos cílios. — Eu posso ser muito persuasiva. Tem sido a minha força. Depois que eu percebi que Hannah Moses dava uma excelente líder para a resistência humana, ficou claro que eu deveria me aliar a ela. De que outra forma eu poderia derrubar a minha irmã? Olhei para Hannah novamente, arregalando os olhos, porque não era certo que ela estivesse sentada tão calmamente, como uma boneca que tinha sido desligada... ou um fantoche. A distração era tudo o que Naomi precisava. Se os meus nervos não tivessem estados presos, eu nunca teria visto seu movimento; mesmo com o aviso, eu não entendia o que ela ia fazer. Eu pensei que ela iria me estacar, e
eu levantei as minhas mãos em defesa, mas ela passou correndo por mim, atrás de mim, me agarrou e me deixou sem equilíbrio. Senti suas mãos serpenteando frias em volta do meu peito, em seguida, empurrando meu queixo no alto... E então ela me mordeu antes que eu pudesse gritar por socorro. Suas presas deslizaram em minha garganta, e parecia como ser esfaqueado com gelo; todo o calor começou a inundar para longe de mim, para dentro dela, e em seu lugar eu senti uma terrível influência obscura correr por minhas veias. Naomi, como Bishop, seu pai vampiro, tinha o poder de subverter outros vampiros, e agora, ela me tinha. Assim como ela tinha tomado o controle de Hannah, e através de Hannah, toda a resistência humana. Éramos todos apenas marionetes agora. Não demorou muito, e não havia absolutamente nada que eu pudesse fazer para combatê-la. Quando ela me soltou, eu desmoronei sob as minhas mãos e joelhos sobre o azulejo, com a boca aberta, os caninos estendidos, e Naomi andou calmamente de volta para tomar o seu lugar novamente na mesa. Ela olhou para Hannah. — Está terminado — ela disse, e bateu os dedos na madeira da mesa em um ritmo complexo e musical. — Michael. Levante. Eu o fiz. Eu queria dar um bote até ela, matá-la, rasgar ela em pedaços, mas eu sabia que nada daquilo estava aparecendo no meu rosto ou na minha linguagem corporal. Assim como nada mostrou em Hannah. A razão pela qual Hannah tinha colocado Eve em tal risco mortal foi que não tinha sido sua escolha. Foi uma decisão de Naomi — tudo isso levava a Naomi. E era muito tarde para eu fazer algo sobre isso. Eu não poderia nem mesmo tentar avisar as pessoas. — Aqui está o que você vai fazer, Michael — Naomi disse. — Você vai voltar para ver a sua adorável esposa e dizer a ela que você pensou melhor. Você vai fazer o que for necessário para destruir toda a confiança entre vocês. E então você vai arrumar as suas coisas e voltar aqui, para mim. Você vai ser um excelente soldado. O melhor de tudo, ninguém vai suspeitar de você. A criança de sangue de Amelie? Você será o assassino perfeito. — Sim — eu disse. Não, não, não, eu estava gritando, mas eu não podia fazer nada para me impedir. — O que eu devo fazer sobre Shane? E Claire? — Shane não terá nenhuma consequência, e nem a garota, exceto como uma ferramenta a ser utilizada. Eu tirei Myrnin do jogo; sem a proteção de seu cavaleiro negro, ela não é mais que um peão. Mas... — Ela bateu dedos pálidos aos lábios, parecendo momentaneamente pensativa. — Você tem razão. E
quanto a Claire? Até mesmo um peão pode tomar uma rainha, se jogado corretamente... Ela se levantou e caminhou por um momento de braços cruzados com a cabeça baixa. Hannah e eu olhamos um para o outro. Seu coração estava martelando, e eu reconheci agora que não era medo, mas sim raiva. Ela estava tão presa quanto eu. Se o cavaleiro negro, Myrnin, estava fora da mesa, Hannah era o castelo branco de Naomi, escondendo segredos. E o que eu era? — Ah — Naomi disse, e virou-se para mim, os olhos brilhando de alegria profana. — Eu sei como jogar com Claire. Então, aqui está o que você vai fazer, e o que você vai dizer a ela... Eu escutei. Eu a odiava com cada fibra do meu ser e cada pequeno pedaço da minha alma. Mas eu sabia que eu ia fazer o que ela disse, apesar de ter que destruir todas as coisas boas na minha vida. Porque eu não tinha escolha.
Capítulo 17
M
CLAIRE
ichael parecia um morto-vivo quando ele chegou na sala de espera, onde Claire estava pegando café pela milionésima vez da máquina; ela tinha comido seu dinheiro mais uma vez, mas ela tinha aprendido com uma das enfermeiras — não aquela que tinha ameaçado Eve, graças a Deus — a como chutar ao lado da distribuidora no ponto certo para fazer o reservatório abrir e derramar cerca de meia xícara de óleo nojento, o tipo de líquido que tinha um pouco do gosto de café. Era melhor do que nada. Mas não muito melhor. Ela quase deixou cair o copo quando viu os meninos chegarem. Shane tinha uma expressão cautelosa e solene, mas Michael parecia que tinha ido até os portões do inferno e voltado sem uma camiseta de recordação. — Ela está dormindo — Claire disse, antes que qualquer um deles pudesse falar. — Ei, você está bem? Michael? — Tudo bem — ele disse. Seus olhos azuis pareciam estranhamente rígidos e vazios, e havia manchas escuras sob eles, como se ele tivesse sido roubado de uma semana de sono apenas nas últimas horas. — Eu preciso vê-la. — Apenas tome cuidado para não acordá-la — Claire disse. — Ela está muito tonta, e com um pouco de dor. O médico disse que ela provavelmente vai estar melhor na parte da manhã. Eles vão deixar ela ir embora, então vamos poder levá-la para casa. Ela só não pode fazer muito esforço por um tempo. — Bom — ele disse. Ele nem sequer olhou em sua direção, mas ele pegou o copo de café da mão dela e tomou o conteúdo perto da ebulição em um único gole, esmagou o papel e deixou-o cair no chão enquanto se afastava, indo para o quarto de Eve. Claire se inclinou e pegou o lixo. — Uau — ela disse, olhando para ele. — O que diabo foi isso, Shane? — Eu bem que queria saber — ele disse. — Essas foram as duas horas mais estranhas que eu já tive. Roy está bem, eu entendo. Mas, em seguida, fomos ver o Cap... — Ela entendeu que era o Capitão Óbvio sem que fosse soletrado.
— Fizeram-me esperar lá fora para algo. O que quer que eles disseram lá, foi ruim. Ele está assim desde então. Como se alguém tivesse cortado as tripas dele e tivesse feito ele engoli-las. — Então, você sabe quem é? O Cap, eu quero dizer? — Ela falou em um sussurro, olhando em volta da sala de espera vazia. Shane assentiu. — Quem? — É melhor você não saber — ele disse. — Confie em mim, eu queria não saber. Eu estou começando a desejar que eu não soubesse um monte de coisas. Eles se sentaram nas cadeiras da sala de espera, e Shane colocou seu braço ao redor dela... e eles estavam apenas começando a ficar confortáveis quando Shane virou a cabeça e disse: — Você ouviu isso? — O quê? — Claire se sentia sonolenta e satisfeita aninhada contra o ombro dele, mas agora que ele tinha acordado ela totalmente de novo, ela ouviu vozes se elevando. — É Eve — Shane disse, e se levantou. — Alguma coisa está errada. — Claire suspirou e seguiu-o com as pernas doloridas pelo corredor, passando pelo posto de enfermagem vazio, e chegando assim que ele empurrou a porta aberta. Eve estava chorando. Não apenas chorando pouco, mas chorando com soluços chocados, terríveis e dolorosos, mesmo que ela estivesse segurando seu abdômen com ambas as mãos, como se desse a ela agonia até mesmo ao tentar respirar. Michael estava de pé no final de sua cama, olhando para ela sem qualquer expressão em seu rosto. Ele sempre parecia um anjo, Claire pensou, mas agora ele se parecia com um daquele anjos vingativos e frios, do tipo que carregavam espadas. Foi aterrorizante. — Como você pode dizer isso? — Eve disse entre goles dolorosos por ar. Chorar estava machucando ela; Claire podia ouvir nos pequenos gemidos de dor entre as palavras. — Deus, Michael, não... por favor... — O que diabos está acontecendo? — Shane exigiu, e se virou para o rosto de Michael. — O que você disse a ela? — A verdade. Casar com ela foi um erro desde o início — ele disse. — E eu quero que acabe, Eve. Eu vou lidar com os papéis, e você vai assiná-los, e nós terminamos. É melhor para nós dois. Nós dois juntos — o Capitão Óbvio está certo. Amelie está certa. É doentio, e não deveríamos ser autorizados a continuar isso. Vai fazer pessoas inocentes serem mortas. — Cara, não faça isso — Shane disse, e estendeu a mão. Michael bateu na mão dele antes dela atingir seu ombro. — Talvez você pense que isso vai mantêla segura de alguma forma, mas não é o caminho certo, ok? E não é o momento
certo. Eu sei que você não quer magoá-la. Eu ouvi você lá, com o Cap. Eu sei que você está apenas tentando proteger ela... — E você? — Michael virou aquele olhar vazio para Shane, e o deixou imóvel. — Você não sabe absolutamente nada sobre mim, cara. Shane realmente riu. — Você está brincando né? Eu sei tudo sobre você. Você é meu melhor amigo. — É mesmo? — Michael disse e, em seguida, antes que Claire estivesse pronta, antes que ela estivesse ciente de que ele estava se movendo, ele virouse e agarrou-a. Michael Glass, segurou-a em seus braços. E curvou ela. E beijou ela. Com a língua. Habilmente. Ele a pegou tanto de surpresa que Claire só conseguiu fazer um som abafado de choque e surpresa no início, e ela nem sequer tentou resistir; seu corpo relatou sensações em uma corrida — a força fria dele, a suavidade de seus lábios, o gosto, a autoridade absoluta sobre isso... e então seu cérebro racional chutou e gritou de horror. Michael Glass estava beijando ela na frente de Shane. E Eve. E ele estava fazendo um trabalho muito bom de apalpar ela junto com isso, com as mãos deslizando debaixo da blusa dela. Shane gritou alguma coisa, e Claire sentiu ele tentando puxá-la para longe, mas Michael a segurava com uma força implacável. Ela de repente estava apavorada por estar entre os dois, como um trapo entre dois pitbulls possessivos e, em seguida, Michael a soltou tão rápido quanto ele a agarrou. Isso mandou ela de volta para bater contra Shane, Shane contra a parede com os braços em volta dela. A boca de Claire parecia machucada e molhada, e sua blusa estava amontoada logo abaixo da linha do sutiã; ela freneticamente puxou-a para cima e tentou limpar os lábios, ao mesmo tempo não fazendo um trabalho muito bom com qualquer um deles. Michael estava olhando para ela, e o olhar em seus olhos era horrível. Não era amor. Não era nada que ela pudesse entender. — Eu tive vontade de fazer isso há anos — ele disse. — Só para você saber. Você esperava por isso, melhor amigo? Talvez isso venha acontecendo há algum tempo. Talvez desde que ela se mudou. Como você poderia saber? — Seu filho de uma p... — Shane empurrou Claire para fora do caminho, e foi atrás de Michael, mas Michael apenas o empurrou de volta contra a
parede e segurou-o ali, ignorando seus golpes. Ele estava olhando agora para Eve, que estava arfando e chorando, enrolada em si mesma na cama como se ele tivesse dado um soco nela em uma ferida aberta. — Terminamos? — ele perguntou a ela. — Sim — ela sussurrou. — Sim. Saia. — Teria sido um grito, Claire pensou, exceto que Eve não conseguiu dar uma respiração para que isso acontecesse. Michael soltou Shane e se afastou, atravessando a porta do hospital aberta, e desapareceu em menos de cinco segundos. Mas o que ele deixou para trás parecia como uma explosão que ainda estava acontecendo, as ondas de choque ondulando, ondulando, ondulando... Shane se virou para Claire. — O que diabos foi isso? — Por que você está me perguntando isso? — ela retrucou chocada, e esfregou a boca novamente. — Eu não pedi por isso! — Ele não só... — Shane estava com um olhar terrível agora, e quase tão traído como o de Eve. — É a primeira vez? É? — O quê? O que você está dizendo? — Ela se sentiu mal do estômago. Um minuto atrás, tudo tinha estado frágil, mas tudo bem; agora o mundo inteiro parecia estar se fragmentando em torno dela, quebrando em fragmentos irreconhecíveis. — Eu não fiz nada de errado! — Ela se lembrou, com uma dor horrível, que Shane tinha uma vez estado secretamente preocupado com isso, sobre ela e Michael estar juntos por atrás das costas dele. Isso nunca tinha acontecido, mas agora — agora isso estava de volta, toda a paranoia, e a raiva. Michael tinha escolhido exatamente o ponto certo para quebrar a confiança deles. — Como você pode até pensar que eu faria... — Deus, saiam — Eve disse em uma voz baixa e magoada. — Apenas saiam. Vocês dois. — Ela estava chorando ainda, mas silenciosamente agora, e todos os seus monitores estavam buzinando e piscando com luzes vermelhas. — Jesus, por favor, vão! Os enfermeiros vieram em seguida, se aglomerando em torno da cama de Eve para ajustar as máquinas e aplicar agulhas cheias de remédios nas bolsas penduradas. Quando Shane empurrou-a para o corredor, Claire ouviu a batida rápida e frenética do monitor da pulsação de Eve abrandar. Eles estavam colocando-a de volta para dormir. Talvez, se eles tiverem sorte, Eve iria pensar que era tudo um sonho por causa das drogas na parte da manhã. Não. Ela não seria tão sortuda. Shane a soltou, e ela se virou para ele, ainda tentando puxar sua camisa para cima para um nível decente. — Eu não fiz nada — ela insistiu, mais uma vez. — E eu nunca beijei ele! Ele me beijou; você viu.
— Ele fez como se soubesse exatamente como você gostasse — Shane disse. — Como se ele estivesse acostumado a fazer. E você não estava exatamente lutando. — Eu não sabia o que fazer! Deus, Shane, foi rápido, e eu não sei, eu não queria aquilo! Como você pode pensar que eu e ele estivemos... — Eu não sei — Shane disse, e enfiou as mãos nos bolsos com os ombros curvados e rígidos. — Talvez porque o meu melhor amigo pensou que era perfeitamente correto enfiar a língua na sua garganta para dizer que tem razão? Porque eu tenho certeza que ele não fez aquilo apenas para terminar com Eve. Ele não seria tão cruel. — Shane... Shane! Espere! Ele estava caminhando para longe dela, descendo o corredor com a cabeça abaixada. Deixando-a também. Claire ficou lá, chocada e sozinha, sentindo-se como a única pessoa sã restante no mundo, e quando a enormidade disso a atingiu, realmente a atingiu, ela explodiu em lágrimas e se enrolou em uma bola no sofá velho e desgastado no canto da sala de espera. Como é que eu me sinto sobre isso? Ela não queria perguntar a si mesma isso. Ela não queria lembrar a pressa morna dos sentimentos debaixo da confusão e horror do momento, ou a forma como seu coração tinha acelerado, e seu corpo a traiu bem lá no fundo. Eu não queria aquilo. Eu não queria. Bem, ela não tinha sempre achado que Michael era gostoso? Sim, ela achava. Ela sempre tinha notado, e de vez em quando ela tinha tido uma pequena e ocasional fantasia — mas isso era normal; isso era o que acontecia quando você estava em torno de alguém assim, não — não desse jeito. Nunca desse jeito. Ele não queria ela. Ele tinha usado ela, cruelmente e com uma frieza calculada, para afastar Eve, e Shane. Cada um deles estava sozinho agora, em um mundo que não queria ou precisava deles. Por que você faria isso, Michael? Não fazia qualquer sentido. Mesmo se ele tivesse decidido não ficar com Eve, Michael era um bom homem, um homem legal; ele teria feito isso com cuidado e com a maior gentileza possível, porque ele amava Eve; ele amava. Ela não poderia ter estado tão errada sobre isso. E quando ele tinha saído daqui antes, ele tinha sido um cavaleiro em uma missão, determinado a vingar ela. Quando ele voltou... Claire engoliu as lágrimas horríveis e dolorosas, e enxugou o rosto, e tentou pensar sobre o problema, como se estivesse acontecendo com outra pessoa. O que faz alguém se virar assim, se virar contra os seus amigos?
Não. Essa não era a questão. A pergunta era, o que faria um vampiro se virar contra os seus amigos... e só havia uma resposta para isso, na verdade. Claire pensou em Bishop, o vampiro pai de Amelie, que podia infectar outro vampiro com sua mordida e ordenar a sua lealdade absoluta. Amelie tinha uma medida desse mesmo poder, mas o dela vinha de uma forma diferente. Bishop estava sem dúvida morto, então podia ser Amelie? Amelie poderia ter feito Michael de submisso, como ela uma vez ameaçou fazer, e obriga-lo a fazer isso? Claire estremeceu. Se Amelie tiver feito isso, se isso não era a vontade real de Michael, então havia quatro vítimas de sua crueldade, não três... O próprio Michael era o primeiro, e o mais gravemente ferido de todos eles. E mesmo se fosse verdade, mesmo que isso não fosse uma escolha de verdade de Michael, o problema era... Como ela iria provar isso? Q q q No final, Claire dormira na capela do hospital — estava tranquila, calma e abandonada, e ela precisava do apoio espiritual agora. Ela desejou que o Padre Joe fizesse uma aparição... ele era um grande ouvinte, e ela precisava desesperadamente falar com alguém. Mas no final, ela adormeceu lendo a Bíblia através dos olhos inchados de lágrimas, e tentou encontrar algum tipo de conforto. Se ela encontrou, ela não se lembrava. Claire tentou ligar para Shane seis vezes na parte da manhã, mas suas chamadas foram para o correio de voz; as mensagens ficaram sem resposta. Ela ficou surpresa ao vê-lo aparecer em torno do meio-dia, mas ele não tinha vindo para falar com ela, embora ela teve uma esperança lamentável por um momento... Ele caminhou direto através dela com um saco de plástico, ignorando-a, e indo ao quarto de Eve. Quando ele voltou, ele se sentou na frente da sala de espera e olhou para o chão. — Shane? — Ela deu alguns passos hesitantes na direção dele. Ela queria explodir em lágrimas, mas ela sabia que só iria piorar as coisas se ela fizesse isso. — Por favor, por favor, fale comigo. Por favor... — Eu trouxe as roupas dela — ele disse. — Então eu vou levar vocês duas para casa. Então eu vou dar o fora por um tempo. Você cuide de Eve. Você faça isso por mim.
— Mas... — As coisas de Michael não estão mais lá — ele disse. — Ele tirou na noite passada. Eu não sei para onde ele foi, por isso não me pergunte. — Shane, por favor, olhe para mim. — Ela se sentou em uma cadeira ao lado dele. Ele cheirava a suor, como se ele tivesse ido para o ginásio e não tivesse parado para tomar banho. Ele não moveu o olhar de seu exame específico do piso de cerâmica com detalhes. — Nunca teve nada acontecendo com Michael, nunca. Eu não sei porquê ele fez aquilo, mas não é o que você está pensando. Eu nunca te traí. Eu não faria isso. Eu estive pensando que talvez... talvez Amelie fez ele fazer aquilo. Porque eu realmente não acho que aquele era Michael, não o verdadeiro Michael, não é? Ele não respondeu. Eles ficaram em silêncio por alguns segundos obscuros e, em seguida, uma enfermeira virou a esquina e disse: — Ela está pronta para ir. Shane se levantou de sua cadeira como se ela tivesse uma catapulta construída nela, e estava a meio caminho do quarto de Eve antes que Claire conseguisse acompanhar, sentindo-se lenta, desajeitada e dolorosamente perdida. Eve parecia terrível — sem maquiagem, pele de giz, contusões descolorindo seu rosto inchado. Ela deixou o cabelo cair para a frente para esconder o pior de tudo, mas também escondeu qualquer vestígio de como se sentia vendo Claire vir ao virar a esquina. Isso era provavelmente uma bênção, Claire pensou, com uma onda horrível de culpa desmerecida. Eu não beijei ele! Ele me beijou! Mas ela não podia insistir nisso, não com Eve tão devastada de tristeza, e tão ferida. E eu a deixei ali deitada na calçada, sangrando, ela pensou. Eu não posso esquecer disso, tampouco. Shane segurou uma cadeira de rodas parada enquanto Eve praticamente caía nela; ela manteve a cabeça baixa e as mãos sobre a barriga como se estivesse com medo de que ela pudesse se abrir. Claire correu para frente e pegou um saco plástico de roupas da enfermeira, e alguns papéis e pílulas. — Dê dois desses duas vezes por dia — a enfermeira disse. — E deixe ela dormir. Ela vai precisar. Nem levantar nada mais pesado do que um livro, pelo menos por duas semanas. Ela tem que ver o médico novamente na quinta-feira. Alguém terá que trazê-la para a consulta. Sem dirigir até que ele retire a restrição. Claire assentiu silenciosamente, mal capaz de registrar as instruções; seu coração era uma confusão de dor, da preocupação por Eve, da tristeza por Shane, da raiva de Michael. Agora temos que ir para casa e fingir que está tudo bem,
ela pensou, e o conceito era bastante terrível. Mas que escolha ela tinha? Ir embora? Ela não podia. Eve precisava de alguém, e Shane já havia deixado claro que ele preferia fugir. Michael já tinha fugido. Shane empurrou a cadeira de rodas rápido, sem esperar por Claire; ela correu para acompanhar, mas as portas do elevador se fecharam na cara dela. Nenhum de seus colegas de casa olhou para ela diretamente. Ela pegou as escadas para o andar de baixo e se encontrou com eles quando Shane colocou os freios na cadeira de rodas e ajudou Eve a mover-se tremulamente no banco do passageiro da frente do carro fúnebre. — Eu posso dirigir — Claire ofereceu. Shane ignorou, e caminhou para o lado do carro. Ele entrou e ligou o motor, e ela mal teve tempo de correr para a parte de trás e subir na parte de trás do que Eve chamava alegremente de Canto do Homem Morto antes de ele apertar o acelerador para casa. Foram alguns minutos terríveis. Claire agarrou a bolsa macia de roupas; cheirava ao mais recente perfume BPAL de Eve e um cheiro forte e metálico que ela pensou que devia ser sangue. Ela mesma iria lavar, certificar-se de que elas estariam agradáveis e limpas antes dela devolver. Shane não pensaria nisso. Era algo que ela poderia fazer, um pequeno ato de amor. Shane foi cuidadoso na garagem, evitando os lugares irregulares, e puxando para cima o freio dianteiro sem paradas bruscas. Ele até mesmo levantou Eve e carregou-a para dentro, esperando impacientemente enquanto Claire abria a porta da frente. Uma vez que Eve estava acomodada no sofá, com o velho lençol dobrado em torno dela e um travesseiro sob a cabeça dela, Shane disse: — Você pode lidar com as tarefas de enfermagem, certo? — Ele se dirigiu para a porta novamente. — Para onde você vai? — Não é da sua conta — Shane disse. Claire ouviu a porta bater atrás dele e sentiu as lágrimas arranhando a sua garganta; sinceramente, era tão incrivelmente doloroso que ela queria se jogar de bruços em sua cama e chorar até o esquecimento. Foi pior quando ela olhou em volta e viu que as coisas de música de Michael estavam desaparecidas. Ele até mesmo tinha levado a poltrona de couro com ele, a que ele gostava de se sentar enquanto tocava. A casa estava fria, rígida e vazia sem Shane e Michael, e sem o amor entre todos eles que tinha feito disso um lar. Claire se sentou ao lado de Eve, colocou a cabeça sobre as almofadas do sofá, e tentou não pensar nisso.
— Não é culpa sua — Eve disse muito calmamente. Claire ergueu a cabeça, esperança brotando através dela, mas Eve não estava sorrindo, e não havia nada em seu rosto inchado que Claire pudesse interpretar como perdão. — Ele tinha dúvidas o tempo todo; eu sabia. Eu era apenas... estúpida o suficiente para pensar que ele estava preocupado comigo. Então talvez fosse melhor acabar com isso. Só dói muito. Ela não estava falando sobre a dor física. — Eu não sei porquê ele fez... o que ele fez, ou por que ele disse aquelas coisas, mas não é verdade, Eve. Por favor acredite em mim. Eve fechou os olhos e suspirou como se estivesse quase deprimida demais para ouvir. — Tudo bem — ela disse em uma voz muito fraca e indiferente. — Não importa. Claire soltou a mão fria de sua amiga, e as duas ficaram em silêncio por um longo tempo antes do celular de Claire tocar. — Alô? — Sua voz parecia estrangulada e áspera; ela quase não reconheceu a si mesma. — Querida? — Era sua mãe. — Oh, Claire, o que há de errado? Isso causou o choro. Claire poderia lidar com o resto, mas não isso, não o calor compassivo da voz de sua mãe. Ela chorou, e tudo veio à tona, em rajadas unidas e pausadas — Shane, Michael, Eve, seu medo, tudo isso. Mas, principalmente, Shane, e como ela estava com medo de que tudo estivesse arruinado para sempre, todo o futuro brilhante e bonito que ela pensava que estava tão perfeitamente definido. De alguma forma, ela ainda conseguiu deixar escapar que ela estava preocupada com Myrnin, também, o que levou a uma linha de perguntas que ela preferiria não ter respondido, mas a barragem de confessionário estava verdadeiramente aberto, e não havia como voltar atrás. A chamada durou pelo menos uma hora, e no final da mesma, Claire estava amontoada no chão da sala de visitas, desejando que o mundo apenas sugasse ela para baixo em seu núcleo derretido e acabasse com a sua miséria. Ela finalmente conseguiu colocar sua mente de volta em um lugar suficiente para dizer: — Me desculpe, mamãe... Por que você me ligou? — Eu senti que você precisava de mim — a mãe disse. — É um instinto de mãe, querida. Venha para casa, Claire. Apenas venha para casa e vamos cuidar de você. Você vai passar por isso; eu sei que você vai. Você é uma menina muito forte. Vai ficar tudo bem. — Eu vou — Claire sussurrou. — Assim que eu puder. — Ela não tinha nada sobrando para permanecer, tinha?
Ela desligou e foi dar a Eve sua medicação. Eve estava bem o suficiente ao cair da noite para comer um pouco de comida, mas não muita. Claire fez a sopa dela em um copo e, em seguida, colocou-a de volta na cama com a TV ligada suavemente em um filme que ela sabia que Eve gostava o suficiente para dormir. Elas não falaram muito. Miranda voltou na hora que Claire estava lavando os copos de sopa. — Sinto muito — Miranda disse, e abraçou-a. Claire abraçou a menina e apertou com força; pela primeira vez, ela se sentiu como se alguém tivesse realmente a perdoado e compreendido como ela se sentia. — Eu não pude fazer nada hoje. Michael foi embora; ele não disse nada para mim e, em seguida, Shane, ele bebeu muito, você sabe. Isso me assustou. Eu pensei que ele fosse fazer alguma coisa, alguma coisa ruim. Mas ele não fez. Isso teria assustado Claire, se ela soubesse disso. — Mas Eve está bem; o que é mais importante — ela disse. — Nós vamos corrigir isso. De alguma forma. — É verdade? — Miranda empurrou-a de volta para segurá-la no comprimento do braço. — Shane disse... Shane disse que você estava com Michael por trás das costas dele. Mas você não estava, estava? — Não. Não, nunca! — Eu acredito em você. — Miranda segurou suas mãos e sentou na mesa da cozinha. — Eu fiz o que você pediu. Eu saí e tentei ouvir o que os outros fantasmas estavam dizendo. Eu não falei com eles exatamente, porque é perigoso conseguir a atenção deles; eles ainda estão seguindo Jenna, tentando dizer a ela coisas, então é por isso que eu fui capaz de ouvir muita coisa. Pela primeira vez, Claire sentiu uma onda de algo que poderia ter sido esperança. — Você ouviu alguma coisa sobre Myrnin? — Não — Miranda disse. — Sinto muito. Mas eu ouvi algo estranho; talvez isso poderia significar alguma coisa. — A esperança era apenas um lampejo pálido agora, mas Claire assentiu com a cabeça de qualquer maneira. — Um deles disse que uma aranha estava em um buraco sob a árvore branca. E outro disse... Claire, eu realmente não estou certa de que seja sobre ele, que algo estava subindo, mas o sol iria queimá-lo. Isso não ajudou em nada. Claire sentiu uma vontade incandescente de quebrar alguma coisa em frustração, ou perfurar uma parede, no estilo de Shane, mas ela sabia que não ajudaria. Nada iria ajudar, exceto descobrir algo para variar. Pense, ela disse a si mesma. Respire. Se ela pudesse encontrar Myrnin, seria alguma coisa, pelo menos. Algo positivo em toda essa devastação. Algo estava
subindo. Buraco na árvore branca. Ele estava subindo em um buraco de uma árvore branca? Isso não fazia nenhum sentido. Não havia nenhuma árvore branca em Morganville. Ele ao menos estava aqui nesta cidade? Se ele não estivesse, ela não podia ajudar ele. Não, ele está aqui. Pense. Pense! Árvore branca. Isso tinha que significar alguma coisa. Devia ser um ponto de referência, por isso tinha que ser algo que ela pudesse se lembrar. Mas o que…? — O fantasma que estava falando da árvore branca — Claire disse. — Você sabe de onde ele veio? — Acho que ele morreu na Sleep Inne perto da periferia da cidade. Você conhece? — Claire conhecia. Era sem graça e esquecível, e não havia árvores de qualquer tipo naquela direção. — Eu acho que o corpo dele está enterrado no cemitério. O cemitério, Claire pensou. Eles comentaram sobre isso desde o início, como tudo parecia tão fotogênico. Aquela grande árvore morta, Angel tinha dito. Tantas cores marcantes. Porque ele estava morto, e estava... Os olhos de Claire se arregalaram. — A árvore. A árvore do cemitério, é branca, certo? — Eu acho. Ela está morta e a casca está toda descascada e parece branca. — Então, ele está no cemitério — Claire deixou escapar, e abriu os olhos. — Ele tem que estar lá, qualquer que seja esse... esse buraco. É onde Myrnin está. Ele está no buraco, na água. E há algum tipo de grade em cima com uma cruz; Jenna disse que viu isso em uma visão. Mir, eu tenho que ir, agora. Você pode ficar com Eve? — Eu... bem, sim, mas você não pode ir lá fora no escuro, sozinha! — Eu preciso. Myrnin pode ser o único que pode nos ajudar a passar por isso, e seu outro fantasma disse que o sol vai queimar. Se ele está em um buraco no chão, e o sol nascer, ele pode se queimar lá. Eu não posso deixar isso acontecer. — Eu não posso ir com você! Se eu for, os outros fantasmas... eles estarão atrás de mim. Eu tenho que ficar em casa. E Eve está muito doente. — Então eu vou ligar para Shane — Claire respondeu, e pegou o celular. Ela andava enquanto ele tocava e tocava e tocava, e foi para o correio de voz. Ela desligou o celular e mandou uma mensagem para ele com um SOS. Sem detalhes. E, finalmente, depois de cinco longos minutos, ele ligou de volta. — Não desligue — ela disse. — Eu preciso da sua ajuda.
— É Eve? — Não — ela disse com relutância. — Então não. — Espere! Espere, me escute. Eu tenho que ir para o cemitério. Tem alguém em apuros, Shane. Se você não for comigo, eu tenho que ir sozinha. Por favor. Eu sei que você está com raiva de mim, mas fique irritado amanhã. Hoje à noite, apenas por favor, faça isso por mim. — Ele ficou em silêncio do outro lado, mas ela podia ouvir sua respiração irregular. — Shane, por favor. Uma vez. — Quem está em apuros? Ela tinha medo de que ele fosse perguntar isso. Mas ela não podia mentir. Claire fechou os olhos e disse: — Myrnin. Shane desligou. Claire gritou, um som dolorido e selvagem, e jogou o celular violentamente sobre a mesa. Os olhos de Miranda estavam redondos como pires. — Uau — ela disse. — Então... você não vai? — Não — Claire disse severamente. — Estou vou. Sozinha. Q q q O carro fúnebre de Eve ainda estava estacionado na calçada. Miranda argumentou com Claire por todo o caminho até a cerca de piquete, mas ela não estava mais ouvindo. Ela havia colocado o longo casaco de couro de Eve sobre seus jeans e camisa preta lisa, e pegou uma bolsa de lona pesada cheia de armas, além de sua própria mochila, que tinha todos os tipos de coisas que ela poderia precisar — até mesmo livros, se ela tivesse tempo para estudar. No mínimo, eles seriam uma espécie de armadura de papel que ela poderia colocar entre ela e algo atacando ela. — Mas o que eu faço se você não voltar? — Miranda perguntou freneticamente enquanto Claire se estabelecia no assento do motorista. O boneco cabeçudo do Anjo da Morte no painel tremeu e balançou a cabeça com os olhos brilhando. — Claire! Para quem eu ligo? — Ligue para Shane — ela disse. — Talvez ele se sinta mal se eu morrer. Mas tenha certeza de que Eve está bem, e dê a ela a medicação que ela precisa um pouco antes do nascer do sol. Não deixe que ela se levante e fale qualquer coisa, e se ela tiver febre, ligue para o hospital e peça para eles enviarem uma ambulância. Me prometa.
— Eu prometo. — Miranda parecia à beira das lágrimas. — Isto é ruim. Isso é uma ideia muito ruim... — Estou aberta a sugestões. — Quando a outra menina não ofereceu nenhuma, Claire balançou a cabeça. — Me deseje sorte. — Eu... — Miranda suspirou. — Boa sorte. Eu vou esperar você voltar, e se você não voltar antes do sol nascer, eu vou ligar para... alguém. Amelie. Eu vou ligar para Amelie. — Não faça isso — Claire disse. — Porque pode ter sido Amelie. Ok? — Mas... Claire não lhe deu tempo para discutir. O carro fúnebre se movia de forma diferente de qualquer outro carro que ela já tinha dirigido em sua experiência de condução muito limitada... Ele era pesado, difícil de controlar, e tinha uma distância terrível de parada, o que ela descobriu quando atravessou um semáforo enquanto apertava os freios. Felizmente, não havia carros da polícia de Morganville para vê-la. Ela passou alguns carros de vampiros personalizados. Ninguém tentou impedi-la. Claire dirigiu dois quilômetros, mais ou menos, até cemitério, o que passava dos limites do município de Morganville. O local era cercado por um muro de pedra grosso e portões pesados forjados de ferro; a árvore branca morta atingida pelo relâmpago pairava acima com todos os ramos pontiagudos e ângulos intimidantes. As portas estavam trancadas, é claro. Claire considerou golpeá-las, mas sabia que Eve nunca iria perdoá-la por isso, então ela enganchou a bolsa de lona sobre os ombros em cima de sua mochila, e subiu. O ferro estava frio e escorregadio sob seus dedos, mas havia uma abundância de barras transversais, e ela conseguiu chegar até o topo, em seguida, escorregou para baixo do outro lado. O Cemitério de Morganville era velho e da época pioneira, cheio de lápides gastas com o tempo que dificilmente ainda eram legíveis graças ao vento constante. A grama crescia irregularmente. Ninguém visitava aqui com qualquer segurança; o cemitério mais recente, Redeemer, era mais perto do centro da cidade, e era onde os enterros atuais eram feitos. Este era principalmente apenas para valor histórico. Não era um local muito provável que os vampiros estivessem, pelo menos; não havia ninguém com pulso que visitava o lugar há anos. Mas ainda era muito assustador do mesmo jeito — todas as sombras eram como facas negras em todo o terreno, duras e afiadas sob o luar. Galhos de árvores balançando como ossos secos.
Claire estava indo para a árvore quando viu os vampiros aparecerem no topo da parede e saltar facilmente para baixo, pousando sem interromper o movimento. Havia dois deles, movendo-se em conjunto. Um tinha cabelos claros; e o outro tinha tufos de cabelos grisalhos. Amelie e Oliver? Ela caiu no chão atrás de um anjo esculpido grande e esperava que fosse o suficiente para escondê-la. Ela também esperava que ela não tivesse parado em um dos enormes montes de formigas de fogo que pontilhavam o terreno; se tivesse, essa ia ser uma aventura muito curta e desagradável. Se as formigas não mordessem ela até o estupor, os vampiros iriam. Eles passaram bastante perto de onde ela estava escondida, e a sorte estava com ela; o vento tinha mudado, levando o cheiro humano dela para longe deles. E não era Amelie com o cabelo claro se movendo na brisa, Claire percebeu quando viu o rosto da garota, seu sorriso, suas covinhas. Essa era Naomi. Caminhando com Oliver. Mas Naomi era para estar morta. Claro, Claire pensou em horror. A outra filha do Bishop. Ela pode ter os mesmos poderes também. Se Naomi e Oliver estavam juntos nisso, Naomi poderia ter virado Michael contra eles. E Amelie não sabia. Os dois caminhavam pelas ervas daninhas, por meio de lápides e amarantos, e fizeram uma pausa sob a árvore branca. Oliver arrastou um pedaço de mármore caído da distância, e Claire ouviu ele bater no metal. Ela também estava perto o suficiente para ouvir as vozes, e ela ouviu Oliver dizer: — Não há necessidade de descer e ir atrás dele. Depois disso e do sol da manhã, ele está acabado. — Ele enfiou a mão no bolso e tirou uma garrafa que Claire reconheceu — uma das armas que Shane tinha desenvolvido primeiro. Em seguida, ele compartilhou com o Capitão Óbvio e sua tripulação. E, em seguida, com os vampiros, para usar contra os draugs... Era nitrato de prata. Oliver usava luvas, mas ele ainda segurava a garrafa com cuidado ao abrir a parte superior, em seguida, despejou-o no chão — não, não no chão. Através da grade de metal para o chão. Claire ouviu o grito de dor e fúria de Myrnin, e ela teve que pressionar ambas as mãos na boca para manter a calma. Houve um som de salpicos de água e fricção, como se ele estivesse arranhando o seu caminho para cima de uma grande distância abaixo. — Ele não vai chegar longe — Naomi disse. — Nenhum vampiro é forte o suficiente para subir até o topo antes do sol nascer, e a prata na grelha vai
mantê-lo dentro. Se ele cair, a prata na água vai acabar com ele. Muito bom, Oliver. Agora volte para Amelie. Nossos pequenos peões de xadrez estão quase todos no lugar. Nós vamos realizar os nossos últimos movimentos em breve. — Sim — ele disse, — minha rainha. — Sua rainha branca — Naomi disse, e riu. — Eu gosto do som disso. Você é um instrumento contundente e útil, Oliver. Vou mantê-lo no meu círculo quando eu tomar o meu lugar. — Amelie — ele disse, e parecia que era difícil para ele conseguir falar as palavras. — E quanto a Amelie? — O que tem ela? — Naomi perguntou. Ela estava olhando para baixo através da grelha, para onde ela tinha acabado de condenar Myrnin à morte. — Uma governante sábia nunca deixa uma rival em suas costas. Embora eu pudesse considerar um exílio misericordioso, se você pedir com esforço suficiente em nome dela. Você irá, Oliver? Mendigar? Ele não disse nada. Ele ficou de pé com as mãos fechadas atrás das costas, e pelo que Claire podia ver dele, seu rosto estava duro como uma pedra e seus olhos queimavam vermelhos. — Obviamente não — Naomi disse. — Sua dignidade pessoal sempre foi mais importante para você do que a mera emoção, não é mesmo? Muito bem. — Ela se inclinou sobre a grade. — Myrnin? Deixo você com vossos deuses. — Ela colocou os dedos na boca e soprou um beijo delicado para ele e, em seguida, ela e Oliver se viraram, derivando silenciosamente através do cemitério abandonado, depois para cima e para a parede. Em seguida, Naomi virou-se e olhou diretamente para o esconderijo de Claire, e sorriu. — Você realmente acha que eu não iria ver aquele carro ridículo, ou sentir a sua presença? Já que a sua amiga Eve está indisposta, eu imaginava que seria você correndo para o resgate — ela disse. — Eu acho que a nossa pequena amiga sobreviveu à sua utilidade afinal, ainda teria sido uma finalização agradável usá-la para plantar um punhal nas costas de Amelie. Michael. Tire ela do tabuleiro. Claire engasgou, porque Michael pulou na parede ao lado de Naomi, analisou o cemitério e fixou seu olhar direito onde ela estava. Naomi assentiu. — Adieu, Claire. É muito ruim que não haverá lugar para você na Morganville que vamos criar. Ela se foi. E então Michael pulou e veio para ela. Claire correu.
Q q q Michael nem mesmo estava tentando muito, Claire pensou; não havia nenhum motivo real para que ele não pudesse pegá-la na distância de três metros. Ele era muito, muito rápido, e ela não era; o casaco de couro pesado que ela decidiu usar estava puxando-a para baixo, assim como a bolsa de armas. Ela queria deixá-la, mas ela não se atreveu. Você realmente vai tentar matá-lo? ela perguntou a si mesma, e não tinha a menor ideia da resposta. Ela tropeçou em uma lápide titulada arruinada e caída, e saiu voando e rolou, e então o saco de lona rasgou em um pedaço irregular de mármore quebrado. O tecido era grosso, mas tinha rasgado ao longo do zíper, e as coisas se derramaram para fora através do espaço... A primeira coisa que ela segurou foi um saquinho de plástico cheio de elos de aleatórias correntes de prata tiradas de joias antigas que Eve tinha comprado pela Internet. Ela pegou um punhado pesado, e quando ela se levantou, ela se virou e atirou-o em Michael. A prata acertou ele, e onde atingiu a pele, ela viu faíscas; que foi mais surpreendente do que doloroso, mas desacelerou-o, dando-lhe um momento para escolher através de suas outras opções disponíveis. Ela ignorou o nitrato de prata; ela não queria machucá-lo — ela realmente não queria. Suas mãos fecharam em um taco de beisebol de Shane com a ponta de prata, que era a maior coisa do saco de lona, e ela puxou-o para fora. Ela nem sequer teve tempo para preparar um balanço digno quando Michael pulou para a frente, mas ela conseguiu colocar o final revestido de madeira no lugar para que seu impulso levasse até o peito dele; a prata queimou com força, e ele se desviou com um grito de dor. Em seguida, aconteceu um impasse temporário quando Claire se levantou e assumiu a posição de um batedor, pronta e observando quando ele se afastou de seu alcance. — Michael? Ele não respondeu. Seu rosto parecia tão imóvel e congelado como a do anjo de mármore atrás dele. — Michael, por favor, não faça isso. Eu sei que isso não é culpa sua; Naomi está te usando. Eu não quero te machucar. Eu juro… — Bom — ele disse. — Isso torna mais fácil. — Mas eu vou! — Ela terminou, e bateu em seus joelhos quando ele se aproximou. Ele saltou sobre o bastão, pousou levemente, e saltou para ela com as mãos estendidas.
Algo o atingiu no pescoço com um zumbido suave, e Michael pousou fora de equilíbrio, cambaleou e balançou a cabeça em confusão. Havia algo perfurando o seu pescoço. Um dardo. Ele puxou-o para fora, olhou para ele em confusão, e afastado de Claire, voltado para a parede... e sentado em cima dela, com um rifle pesado em suas mãos, estava Shane Collins. — Desculpe, cara — Shane disse. Ele se afastou da parede, flexionando os joelhos e carregando outro dardo na arma tranquilizante. Ele apontou enquanto ele caminhava em direção a eles. — Você vai se sentir malditamente ruim por um tempo. Não me faça atingir você de novo. Eu não tenho certeza de que isso não vá matá-lo. Michael rosnou alguma coisa, mas ele já estava perdendo a sua capacidade funcional; ele caiu de joelhos, em seguida, esticou suas mãos para a frente, e então lentamente se sentou ao seu lado. Suas costas se arquearam em um grito silencioso. Claire deixou cair o bastão e tentou ir até ele, mas Shane pegou-a pela cintura e puxou-a para detê-la. Ela chutou e se contorceu, mas ele a segurou. — Se você chegar perto dele, ele pode terminar o trabalho — ele disse. Ele empurrou ela para o outro lado e mandou-a tropeçando para bem longe de Michael, e de si mesmo. — Você veio para resgatar Myrnin. Vá buscá-lo. Eu vou te cobrir. Ainda não havia nenhum indício de perdão nele, seja para Claire ou — enquanto ele olhava para seu amigo caído e sofrendo — para Michael. Ele estava aqui para cumprir um dever, como ele via, e era só isso. Mas era mais do que ela jamais esperava. Era algo. — Obrigada — ela sussurrou. Shane acenou com a cabeça, não encontrando os olhos dela, e acomodou o segundo dardo tranquilizante no lugar enquanto observava Michael se contorcer dolorosamente no chão. Claire correu sobre as sepulturas irregulares em direção à árvore branca; mesmo descoberta, a grade de prata circular com barras que formava uma cruz simples era quase invisível até que ela quase deu um passo até ela. Isso teria quebrado o tornozelo dela. A grade estava bloqueada no local com um ferrolho velho e enferrujado, e Claire bateu nele freneticamente com o bastão com a ponta de prata, até que se partiu em dois. Ela jogou para trás o metal frio e manchado e tentou ver na escuridão. Nada. Nem mesmo uma pitada de vida.
— Myrnin? — ela gritou para baixo. Ela teve que cobrir o nariz com o cheiro que se elevava do buraco estreito — esgoto, mofo, uma mistura tóxica das piores coisas que ela poderia imaginar. — Myrnin! Você consegue me ouvir? Algo bateu no chão ao lado dela, e Claire olhou para cima e viu que Shane tinha jogado um rolo de corda de nylon que ele tinha pego da bolsa de armas. Ela assentiu com a cabeça e desembrulhou-o, amarrou uma ponta ao redor da árvore morta, e deixando cair o resto para dentro do buraco. — Se você puder me ouvir, agarre a corda, Myrnin! Suba! Ela não teve certeza por alguns longos momentos se ele estava lá, ou se ao menos poderia sair. Talvez fosse tarde demais. Talvez ele já tivesse morrido. Mas então ela sentiu a corda de repente puxar, e em questão de segundos, ela viu algo pálido aparecer no escuro abaixo, gradualmente se tornando mais claro enquanto ele subia em sua direção. Myrnin subiu como se tivesse aprendido com sua aranha de estimação, subindo com uma velocidade frenética. Ele tinha queimaduras no rosto e nas mãos e pernas, queimaduras de prata, mas que não o atrasaram, e quando ele chegou ao topo do buraco, Claire agarrou seus braços e arrastou-o para fora para o lado que não estava bloqueado pela grade de prata. Ele caiu de costas com a água suja saindo de suas roupas encharcadas e em ruínas e do seu cabelo preto emaranhado, e depois de um segundo de silêncio, ele sussurrou: — Eu sabia que você viria, Claire. Eu sabia que você viria. Querido Deus, você demorou. Ela pegou a mão dele, e sentou-se ao lado dele. Shane estava a quinze metros de distância, ao lado de Michael, mas ele olhou para cima e empurrou o queixo em uma pergunta silenciosa. Ele está bem? Ela assentiu com a cabeça. Não era grande coisa, ela pensou. Não era nada para construir qualquer tipo de esperança, só que ele estava disposto a aparecer aqui, disposto a disparar um rifle e entregar uma corda a ela. Mas ela ia aceitar. Era horrível para ela o quão lamentavelmente grata ela estava apenas com a menor sugestão de um sorriso que ele lhe deu, antes de virar as costas. — Você está muito triste — Myrnin disse. Ele parecia fraco e distante, como se ele tivesse estado por muito tempo desligado em mais de uma maneira. — Você cheira a lágrimas. Ele quebrou o seu coração? — Não — Claire disse em um sussurro muito suave que ela esperava que Shane não pudesse ouvir de onde ele estava. — Eu quebrei o dele.
— Ah — Myrnin disse. — Bom para você. — Ele se sentou, e de repente se inclinou para deitar-se com uma quantidade horrível de água preta. — Perdão. Bem, isso foi angustiante... Ah não… Ele caiu de volta no chão, como se estivesse fraco demais para se levantar, e fechou os olhos com força. Seu corpo inteiro estava tremendo e se contraindo, e continuou por um terrível longo tempo. Ela não sabia o que fazer por ele, exceto colocar a mão em seu ombro. Sob as roupas lamacentas, ela podia sentir seus músculos contraírem e se esticarem como se ele estivesse tendo um ataque epiléptico. Ele finalmente relaxou e deu uma respiração profunda e lenta, antes de abrir os olhos e dizer: — Nós temos que ir, Claire. Rápido. — Para onde? — ela perguntou, porque ela estava fria, com medo e não conseguia pensar em nenhum lugar, nenhum, que pudesse ser seguro agora. — Para a segurança — ele disse. — Antes que seja tarde. — Mas você... você não está bem o suficiente... Antes que ela pudesse terminar, ele estava andando descalço pelas ervas daninhas em direção à saída. Ele rasgou a grade de cima do muro com um puxar forte e empurrou os portões abertos com um guincho enferrujado. Então, ele olhou para trás com um brilho vermelho em seus olhos e disse: — Traga Michael. Nada disto é culpa dele. Eu não vou permitir que ele sofra por isso. Shane não se moveu durante tudo isso, mas agora ele se abaixou e puxou o dardo tranquilizante do pescoço de Michael. — Vai durar alguns minutos antes que ele fique bem o suficiente para se levantar. — Então arraste ele — Myrnin disse. — A menos que você goste de desfrutar do conforto da minha pequena masmorra. Eu tenho certeza de que Naomi vai enviar Pennyfeather daqui a um momento para ter certeza de que todos nós estamos mortos, e eu prefiro não estar aqui para agradá-la. Agora, crianças. Ele bateu palmas e desapareceu além dos portões, e em um momento, Claire ouviu o carro de Eve iniciar-se com um rugido. Ela voltou para Shane e pegou um dos braços de Michael quando ele agarrou o outro. Seus olhos se encontraram brevemente. — Eu sinto muito — ela sussurrou. — Sim — ele disse. — Eu também. Mas ela não tinha certeza se eles estavam falando sobre as mesmas coisas.
Capítulo 18
L
CLAIRE
evou um tempo para arrastar o corpo pesado e inconsciente de Michael sobre o terreno irregular e para o carro fúnebre. Myrnin colocou a cabeça para fora da janela do passageiro do carro fúnebre para sugerir que Michael poderia ter estado despejado no mesmo buraco que ele tinha acabado de se arrastar para fora. Shane sugeriu que Myrnin fosse se ferrar. Myrnin recusou. E Claire dirigiu, deixando Shane com Michael, por pedido dele. Ela estava um pouco ansiosa sobre isso; Shane guardava rancores, e ia ser difícil para ele superar o que Michael tinha feito com eles, mas era, pelo menos, uma trégua por enquanto. O perigo mortal superava a dor emocional. Temporariamente. Myrnin disse: — Michael parece estar sob o feitiço de Naomi, assim como Oliver e Pennyfeather estiveram. Eu não tenho nenhuma ideia de quantos ela manipulou, mas é uma pena que ela não experimentou em mim. — Ele sorriu, e sua expressão era sombria e escura, e não era apenas os traços de água preta que manchavam o seu rosto. — Mais vampiros tentaram, inclusive o pai malicioso dela. Eu creio que o meu sangue deixou Bishop doente por um mês. — Para onde devemos ir? — ela perguntou. Ele suspirou. — Eu suponho que nós realmente não temos escolha — ele disse. — Recuar para a Glass House irá simplesmente dar-lhes um ponto fácil de ataque, e nós não podemos defender o lugar, e não de um ataque centralizado. Então, vamos ter de levar a luta até eles. — Onde? Ele deu de ombros, cansado. — Para a própria Amelie. No final das contas, ela é o alvo de Naomi. Oliver seduzir ela — ou, pelo menos, parte disso — foi a tentativa de Naomi de debilitá-la, para causar problemas contra ela. Ela tem que ser avisada do que está por vir ou ela vai ser pega de surpresa por aqueles que ela confia.
— Como diabos vamos entrar na Praça da Fundadora? — Claire perguntou. — Você tem alguma passagem secreta ou algo assim? — Elas estão todas fechadas, eu receio — Myrnin disse. — Oh, e eu estou estragando o estofado da sua adorável amiga. Desculpe a confusão. Imagine se eles me deixassem lá por meses. Isso aconteceu uma vez. Eu fui despejado em uma cela do tamanho de uma casa de cachorro por meio ano. Tudo o que eles me deram foi ocasionais galinhas ou porcos... nojento. Eu pareço ter perdido as minhas pantufas. — Eu vou comprar novas. — Eu espero que a gente possa contar com Michael — Myrnin disse, mudando de repente de volta para a pergunta inicial. — O menino tem uma entrada automática para se encontrar com Amelie, como a prole dela. A dificuldade é que ele não está em posição de nos ajudar voluntariamente, e a propósito, Shame, por que você atirou nele? — É Shane, e se você me chamar disso de novo, você receberá a próxima flecha. — A pergunta ainda permanece. — Porque ele estava indo atrás de Claire. De novo. — Shane não olhou para ela, nem mesmo um olhar no espelho retrovisor; Claire sabia porque ela já estava esperando por isso — por algum sinal de que a sua raiva estava começando a desaparecer. — De novo? — Myrnin perguntou, e suas sobrancelhas se ergueram. — Minha nossa. As coisas mudam tão rapidamente com vocês, jovens. Claire, você agora é inimiga de Michael? — Não exatamente — ela disse. Shane a interrompeu. — Da última vez ele só deu um beijo de língua nela — Shane disse. — Desta vez parecia um pouco mais extremo do que isso. Então eu não corri o risco de estar errado. Isso lhe rendeu um olhar afiado e interessado de Myrnin. — Bem. Nós vamos ter que ir atrás da história completa, então. — Nós realmente não sabemos — ela disse. — Algo está errado com Michael, nós sabemos. E eu vi Naomi, com Oliver. Eles estão trabalhando juntos. — O que... é muito, muito desagradável — Myrnin disse. Ele franziu a testa e puxou um fio perdido em sua camisa, ameaçando descosturar a roupa inteira dele. — Naomi foi morta no ataque dos draugs, ou assim foi dito. Eu tinha minhas dúvidas. Parecia muito conveniente, considerando que Naomi tinha começado a enfraquecer Amelie. Eu imagino que ela queria tomar o
lugar dela mesmo antes, mas Amelie não é alguém que não responde a um desafio. — Você quer dizer que Amelie matou Naomi? — Possivelmente. Ou, eventualmente, Oliver matou para protegê-la. Mas se foi assim, ele deve ter mudado de opinião desde então, ou foi o controle de Naomi sobre ele. Eu mesmo nunca confiei no Soldado. Um homem de caráter baixo e alta ambição. Naomi não seria superior usando-o para alcançar os seus sonhos de governar. — Então nós temos que dizer a Amelie que ele está apunhalando ela pelas costas. — Claire respirou fundo. — Você tem que dizer a ela. Ela não vai acreditar em mim, ou Shane, e Michael não é capaz de dizer a ela qualquer coisa, mesmo se quisesse. — Eu não posso — ele disse. — Olhe para mim. Eu não estou no estado adequado... — Você é o portador oficial de más notícias — Shane disse, e apontou o rifle para Myrnin. — Fim da discussão. — Sim — Myrnin disse instantaneamente. — Claro. Não há problema nenhum. Houve um debate animado sobre como fazer isso na área protegida em torno da Praça da Fundadora. No final, eles apoiaram Michael no banco do passageiro ao lado de Myrnin, o que o manteve na posição vertical com um braço amigável em torno de seus ombros; quando Claire abriu a janela do passageiro, o guarda vampiro da Praça da Fundadora deu um olhar para dentro, viu Michael e Myrnin, e acenou sem perguntas. — Incrível — Myrnin disse, espremendo água suja para fora de seu cabelo. — Você acha que alguém vai notar a minha aparência? — Engraçado, eu acho que não é tão diferente de como você costumava parecer — Shane disse. Ele não tinha abaixado o rifle; ele estava recostado, apontando o rifle principalmente na direção de Myrnin. — É sério? Vou ter que trabalhar nisso, claramente. Diga-me, você está realmente com tanta raiva de Claire que você está disposto a disparar a arma em um carro fechado, com a possibilidade singular de atingir ela? — Eu não estou com raiva — Shane disse. — Eu estou sendo cuidadoso. — Isso, Claire percebeu, realmente não respondia à pergunta. Isso calou Myrnin por um tempo, pelo menos até que eles pararam o carro fúnebre no estacionamento subterrâneo da Praça da Fundadora. Shane foi forçado a deixar a arma, mas ele agarrou a mochila de Claire e segurou uma seleção das possíveis armas mais úteis.
— Nós não vamos ser capazes de lutar no caminho, ou para sair outra vez — Myrnin disse. — Você pode manter isso em mente enquanto você se arma loucamente. — Cale a boca. — Shane colocou a mochila sobre o ombro, e pela primeira vez, olhou para Claire diretamente. — Ele é sua responsabilidade. Impeça-o de fazer algo muito louco. — Eu vou tentar — ela disse. Foi a primeira verdadeira conversa — breve e profissional — que eles tiveram em horas, e isso fez com que ela se sentisse um pouquinho menos horrível... até que ele virou as costas para ela no elevador, preferindo observar os números piscarem até que eles chegaram no andar certo. Myrnin abriu o caminho, o que era uma coisa boa, porque o primeiro cruzamento os trouxe cara-a-cara com dois dos guardas de uniforme preto de Amelie. — Fomos informados de que você foi embora — um deles disse para Myrnin. — Você estava mal informado, então — Myrnin disse arrogantemente, e gotas de água suja desceram pelos seus pés e deixaram manchas no tapete. — Eu estou aqui para ver a Fundadora. — Desse jeito? — O guarda deu-lhe um olhar de cima a baixo com as sobrancelhas levantadas. — Você gostaria que eu tomasse banho e trocasse de roupa antes de avisar a ela um desastre em potencial? Porque é claro que ninguém gostaria de entregar a notícia em um estado abaixo do impecável. O guarda aceitou isso, mas, em seguida, virou-se para analisar Claire e Shane. — E eles? — Estão comigo — ele disse. — Companhia. Você sabe. — Mochila — o segundo guarda disse para Shane, e fez um gesto. Ele hesitou. — Agora. — Oh, desista. Eu lhe disse que não poderíamos usar isso de qualquer maneira — Myrnin disse. — Entregue. Rápido. Temos pouco tempo, pelo amor de Deus. Os guardas estavam ignorando-o agora, com o foco em Shane e os conteúdos potencialmente letais de sua bolsa, e logo que eles se afastaram dele, Myrnin estendeu a mão, agarrou cada um dos guardas do lado da cabeça, e bateu um no outro com força. Claire estremeceu ao som de trituração dos ossos. Ambos os homens caíram no tapete, se contorcendo.
— Vamos lá — Myrnin disse. — Eles não vão ficar caídos por muito tempo. Mas não se preocupem, os cérebros deles não são complicados o suficiente para serem danificados. — Mas... — Claire, não temos tempo. — Ele a agarrou pelo braço e a arrastou para uma corrida, passando pelas portas fechadas, retratos pintados, luzes piscando... E uma porta aberta. A assistente de Amelie se levantou assustada ao vê-los e mostrou os dentes, e Myrnin mostrou os dele também. — Me anuncie — ele disse, e então balançou a cabeça. — Esqueça; eu mesmo faço isso. Ele abaixou o seu ombro e correu para a porta interna. A fechadura quebrou, e a porta se abriu... Onde Amelie estava presa nos braços de Oliver. Não como uma refém, como Claire pensava inicialmente, mas em uma posição que só poderia ser chamada de, ah, íntima. Isso era um inferno de um beijo em andamento, e havia menos roupa do que seria estritamente formal. O beijo se interrompeu quando Myrnin parou ao atravessar os restos da porta, com Shane e Claire logo atrás, e disse: — Bem, isso é estranho. Eu peço perdão, mas eu acredito que Claire tem algo a lhe dizer. Então ele empurrou-a para a frente quando Oliver se afastou do abraço e começou a abotoar a camisa. Amelie olhou para Claire, depois para Myrnin, em seguida, para Shane, como se estivesse decidindo qual deles ia matar primeiro. Myrnin realmente não ia fazer nada, Claire percebeu. Ele estava de pé atrás, observando. Ela não tinha certeza do que ele estava observando, mas ele a deixou deliberadamente parada ali, contorcendo-se como uma minhoca no anzol. — Bem? — A voz de Amelie fez um som de estalo, como um pedaço de gelo se quebrando. — O que poderia ser tão vital para vocês se intrometerem aqui na minha privacidade, como um assassino? — Ela agarrou Shane pelo colarinho e arrastou-o para perto, arrancou a mochila de suas mãos e abriu-a, derramando as armas pelo chão. — Você veio para usar isso, então? Você está associado com o seu pai novamente? Eu adverti você, desta vez a gaiola não vai ser utilizada. Você vai queimar por isso, seu pequeno tolo. — Shane está apenas tentando nos proteger! Oliver está traindo você — Claire gritou. — Ele está trabalhando com...
Ela não teve tempo para falar mais. Oliver estava bem na frente dela, com a mão agarrando a sua garganta quando ele a levantou sem esforço para fora do tapete até que seus pés balançaram e chutaram inutilmente. Ela agarrou a mão dele, mas ele não ia deixá-la respirar. Pânico a cegou, a sufocou, e tudo o que ela sabia por alguns segundos era que ela ia morrer antes que ela pudesse consertar as coisas novamente com Shane. Myrnin se abaixou, pegou o bastão de ponta de prata e bateu em Oliver direito entre as omoplatas, forte o suficiente para deixá-lo sem equilíbrio. Claire caiu no tapete, onde ela gritou para respirar. — Já chega! — Amelie disse. Havia uma cor pálida em suas bochechas, e um brilho vermelho furioso em seus olhos. — Eu já tive o suficiente de suas tagarelices tolas e suas traições. Vocês vêm aqui sem ser convidados; vocês ameaçam o meu consorte. Eu estou cansada de todos vocês. Eu mimei vocês por muito tempo. Eu vou começar por você, Collins. Ela agarrou Shane pela camisa quando ele tentou se afastar de seu caminho, e levantou a outra mão com as garras afiadas e estendidas. Mais um segundo, ela o faria. Ela o mataria. — Não! — Claire gritou através de sua garganta dolorosamente ferida. — Ele está trabalhando com Naomi; Oliver vai matar você! A Fundadora congelou, e por um segundo seus olhos voltaram totalmente ao cinza quando ela olhou para o rosto de Claire, lendo o que Claire esperava que fosse a verdade. E, em seguida, Amelie soltou Shane e começou a virar-se para Oliver. Oliver pegou o bastão das mãos de Myrnin e bateu-a na cabeça da Fundadora com uma velocidade mortal e assombrosa até mesmo para um vampiro, o golpe teria sido fatal se tivesse acertado... mas Amelie moveu-se como a água, fluindo para fora do caminho e pegando o braço de Oliver no caminho, então o torceu até que o taco voou para fora de seu controle. Ele quebrou as janelas em um acidente ensurdecedor, enviando estilhaços de vidro para a noite. O taco de beisebol girou infinitas vezes antes de pousar a quase trinta metros em baixo na grama do parque. Amelie empurrou Oliver de cara contra a parede, prendeu o braço por trás dele e disse: — Diga-me porquê. Por quê? — Ela não duvidava; Claire percebeu. A tentativa de Oliver de matá-la tinha sido clara o suficiente. Ele gritou, e ela o torceu com mais força, embora fosse evidente pela expressão no rosto dela que a estava magoando machucá-lo. — Oliver, por que você me traiu?
Ele riu. Era um som horrível e indiferente. — Eu não traí — ele disse. — Eu nunca fui fiel a você, mulher tola. Eu fiz a vida de governantes tombarem. Você é apenas a última, e a mais gratificante. Amelie virou a cabeça em direção a Claire e Myrnin. — Ele não pode estar trabalhando com Naomi — ela disse. — Ela está morta. — Infelizmente, e convincentemente, não — Myrnin disse. — Eu a vi com os meus próprios olhos. Estou bastante certo de que Claire pode esclarecer os fatos. — E onde em nome de Deus você estava, então? — No fundo de um poço — ele disse. — O que explica o meu estado atual de vestimenta. Embora Shane tenha me garantido que não é tão estranho. Shane não tinha feito um som, e ele não se moveu; ele provavelmente tinha decidido, muito sabiamente, que era hora de se fazer um alvo menor. Que pelo jeito que os seus lábios se apertaram, ele desejava que Myrnin não tivesse mencionado ele. Mas Amelie não parecia se importar. Ela se curvou, pegou uma estaca revestida de prata, e apertou-a contra a pele do pescoço de Oliver, um pouco acima da espinha — apenas o suficiente para tingir a pele e começar a queimar. — Então vá traidor — ela disse. — Nos velhos tempos, a sua cabeça viraria uma decoração para uma estaca. Acho que eu vou ter que me contentar com algo menos... satisfatório. — Havia lágrimas em seus olhos, em seguida, as lágrimas escorreram em seu rosto pálido e imóvel. — Eu confiei em você, seu traidor. Acho que eu deveria ter sido mais esperta. Eu nunca tive sorte no amor. — Eu nunca amei você — ele disse. — Me mate. Isso não muda nada. — Isso muda tudo — ela sussurrou. — Você não vai morrer ainda. Não até que você me ajude a encontrar a minha irmã rebelde. Então eu vou permitir que você morra. Mas ainda não. Ainda não. — Por que esperar? — uma voz baixa e doce disse da porta, e todos eles se viraram — até mesmo Oliver — para ver Naomi ali de pé, com Michael atrás dela. E Hannah Moses carregando uma besta com uma flecha de madeira pesada já preparada. E mais, atrás dela — humanos e vampiros do mesmo jeito. — Obrigada, Claire. Às vezes, um peão pode ser usado como um sacrifício para seduzir a rainha do seu esconderijo. Ao aceno régio de Naomi, Hannah levantou a besta e disparou a flecha direto em Amelie. Era impossível que a flecha fosse errar, e isso não aconteceu, mas... aconteceu alguma coisa, um borrão de movimento que Claire não conseguiu
entender até que tudo acabou, e Oliver estava de pé no lugar de Amelie, balançando. A flecha de madeira estava em seu coração. Ele caiu de joelhos, em seguida, caiu no chão. Amelie foi em um borrão para as janelas quebradas. Hannah tinha uma segunda flecha no arco, e Naomi pegou a besta, mirou e disparou logo quando Amelie saltou no ar da noite. A flecha atingiu ela diretamente no peito. Claire suspirou e observou-a cair para baixo graciosamente e atingir a grama em baixo. — Satisfatório — Naomi disse. — Embora eu não tenha a menor ideia do porquê Oliver escolheu ficar no caminho. Levem todos para a jaula. Agora. Nem mesmo Shane tentou lutar desta vez. Q q q — Ótimo — Shane disse. Claire sentiu que ele estaria caminhando de um lado para o outro se houvesse espaço, mas a gaiola de aço da Praça da Fundadora era apenas grande o suficiente para manter ela, Myrnin, e os corpos flácidos de Oliver e Amelie sem qualquer espaço sobrando. — Apenas ótimo. Eu ainda vou morrer nessa gaiola, depois de tudo o que aconteceu. Isso é simplesmente perfeito. — Bem — Myrnin disse, e virou o corpo mole de Oliver para esticar as suas pernas longas e sujas, — pelo menos nós vamos morrer em companhia real. Isso já é algo. — Ele estendeu a mão para puxar a estaca para fora do peito de Amelie, mas quando ele puxou, uma lâmina de prata fina cutucou através das barras e cortou a mão dele. Ele gritou e se afastou. Hannah estava de pé do lado de fora das barras, observando-os com uma concentração calma. — Não tente isso — ela disse. — Não adianta. Deixe as estacas onde elas estão. — Preocupada? — Myrnin chupou o corte de sua mão, e cuspiu as partículas de prata que queimaram no chão. — Você deve estar, Hannah. Se você acha que apoiar Naomi vai fazer você ganhar a liberdade do seu pessoal, você é uma tola. Ela é pior do que Oliver já pensou em ser, porque eu acho que ela acredita honestamente que o que ela está fazendo é para o melhor, bem, para o melhor dela, em qualquer caso. — Ele inclinou a cabeça, olhando para ela, e então de repente se lançou até as bolsas, envolvendo as mãos em volta delas. Ela não se moveu, embora tenha apertado a faca que segurava com força. — Ela é filha de Bishop. A filha espiritual e da linhagem dele, com todos os dons dele. Ela acredita que os seres humanos são propriedade dela, e o
mundo é a despensa dela. Não seja um tola. Você não pode acreditar que Claire e Shane deveriam estar aqui conosco, mesmo se você odeia os vampiros tão desesperadamente. O que qualquer um deles fez para merecer isso? Ela não respondeu. Myrnin esperou, então balançou a cabeça, como se ela tivesse feito exatamente o que ele esperava. — Entendi — ele disse, e sua voz estava inesperadamente suave. — Estou bem ciente de como é estar sob tal controle, minha querida. Tudo ficará bem. — Como? — Hannah perguntou. Ela parecia indiferente, mas Claire pensou ter ouvido algo novo em sua voz: dor. Ele deu de ombros. — Não tenho ideia — ele disse. — Mas eu estou bastante certo de que isso irá ser descoberto agora. Foi a ênfase que ele colocou na última palavra que fez Claire perceber que ao se inclinar para a frente, e chamar a atenção completa de Hannah, ele deixou Amelie parcialmente escondida. Shane era o mais próximo da vampira caída. Claire freneticamente gesticulou para a estaca de madeira em seu coração, e Shane não hesitou. Ele puxou-a para fora, mas não por todo o caminho. Apenas o suficiente, Claire pensou, para afastar de seu coração. Amelie não se mexeu. Neste ponto, ela provavelmente não poderia. Se ele tiver feito direito, porém, talvez ela se mexa, quando ela estiver pronta. A Praça da Fundadora estava ocupada como um shopping no Natal. Os grandes fogareiros que cercavam o centro da praça estavam sendo acesos, trazendo um esplendor bárbaro à noite profunda; vampiros estavam se reunindo, alguns parecendo sonolentos e confusos, outros animados, alguns abertamente preocupados. Havia humanos também, um grupo deles amontoados nas proximidades. Claire reconheceu vários deles, inclusive a nova prefeita, Flora Ramos, e — incrivelmente — Vovó Day. Um deles estava reclamando em voz alta. Era Monica Morrell. Ela certamente não tinha sido arrastada para fora da cama como os outros; ela estava vestida para a festa... Bem, isso podia não ser verdade. Claire não tinha certeza de que ela não usava vestido tomara que caia para dormir. Myrnin se afastou das barras e cruzou os braços, olhando para Shane. — Muito bem — ele disse em voz baixa. — Garoto inteligente, tirou apenas uma parte. Eu retiro pelo menos uma coisa ruim que eu já disse sobre você. — O que está acontecendo? — Claire perguntou. — Naomi está se preparando para se declarar como a autoridade suprema — ele disse. — Ela vai coroar a si mesma e, em seguida, vai derramar o sangue... — O nosso — Shane disse.
— Oh não, não mesmo. É um costume muito antigo, um que até mesmo Bishop respeitava. Ela vai matar os moradores mais influentes de Morganville... as famílias Fundadoras, líderes empresariais, políticos importantes... Eu suponho que Monica esteja lá para representar a família dela; é uma pena para as memórias deles. — Trata-se mais do que uma cerimônia — Shane disse. — A maioria desses caras estão no conselho de guerra do Capitão Óbvio. Eu os vi. E Vovó Day está relacionada com Hannah. — Sério? — Myrnin ergueu as sobrancelhas. — Interessante, de fato. Ela está honrando os velhos costumes e garantindo a sua própria sobrevivência a longo prazo. Magistral. Digno de seu pai, em seus melhores dias. — Você poderia talvez não admirar tanto o inimigo, e se concentrar mais em como nós vamos sair dessa? — Claire perguntou. — Porque eu tenho certeza de que nós vamos morrer também. — Ah, sim. Mas você e eu somos apenas danos colaterais; esta é uma pira para Amelie. E eu vejo que eles fizeram melhorias. Vocês estão vendo as grelhas debaixo de nós? Gás natural. É muito eficiente como combustível, não como nos velhos tempos com todas as lenhas... — Myrnin! Ele ficou subitamente muito frio e sensato. — Marcas de mordida — ele disse. — Michael tem uma no pescoço. O mesmo acontece com Hannah Moises. E, na verdade, Oliver também. Todas uma mordida com uma distância muito distinta. É preciso de uma boca delicada para fazer tais marcas, como, digamos... — Ele apontou um dedo, e Claire o seguiu até Naomi, que estava vestida em prata e branco a alguns metros de distância. — Ela tem o dom, como você vê. Nem todo vampiro pode compelir assim. Amelie pode, embora ela nunca faça, e Naomi pode... ambas herdaram esse traço do pai vampiro delas, Bishop. Então o que quer que eles tenham feito, você pode justamente assumir que é ela puxando as cordas, e que ninguém tinha qualquer escolha no que fez. — Oh — Shane disse, em um tipo muito diferente de tom. — Oh droga. Michael... eu deixei ele sozinho com Naomi e Hannah. Hannah é o Capitão Óbvio. Eu pensei que Naomi estivesse trabalhando com ela, tentando chegar a Amelie. Mas é muito mais do que isso. Ela estava controlando a coisa toda. E Michael. Claire percebeu com uma onda doce de alívio que era por isso que Michael tinha se virado contra eles e porquê ele tinha sido tão cruel com Eve, com ela e Shane. Ele não tinha escolha. Obrigada. Ela sentia vontade de beijar
Shane em pura gratidão por ele ter confirmado as suas suspeitas, mas Shane não parecia especialmente aliviado; ele parecia perturbado. Talvez ele tenha acabado de perceber que ele tinha passado um dia inteiro odiando um amigo que era inocente afinal. — Ela estava controlando Oliver também, embora seja provável que isso não tenha sido tão difícil — Myrnin disse. — A influência de Oliver sobre Amelie era uma coisa obscura mesmo sem Naomi manipulá-la para os seus usos. Uma vez que ela conseguiu, no entanto, ela a usou para Oliver corromper Amelie, agitar a cidade contra ela, criar o caos e a discórdia... e então usar você, Claire, para desmascará-lo, dando-lhe a chance de atuar diretamente enquanto Amelie estava distraída. Minha nossa, se eu não a detestasse tanto, eu a admiraria. — Então, como é que vamos detê-la? — Claire perguntou. — Nós não podemos. Talvez eu não tenha mencionado que estamos trancados em uma gaiola e prestes a ser queimados vivos...? — Essa gaiola tem uma fechadura? — Uma muito boa — Myrnin disse. — Ali, do outro lado das barras. Eu estou razoavelmente certo de que nenhum de nós é um serralheiro certificado, no entanto. — Bem, podemos tentar. — É de prata — Myrnin disse. — Eu não sou capaz de quebrá-lo. — Se o bloqueio é de prata pura em vez de apenas banhado, então é fraco — Shane disse. — Nós poderíamos usar uma dessas estacas como uma alavanca, talvez. — E isso vai sacrificar o nosso elemento surpresa — Myrnin apontou. — Você sempre parece ter algo escondido por causa da sua natureza perigosa... Você não tem nada a contribuir? — Eles pegaram tudo — Shane disse, — inclusive tudo do meu bolso e do meu cinto. Assim como na cadeia. — Eu não gosto da cadeia — Claire disse, pensativa. — Eles deixaram os seus sapatos. — E? Eu tenho certeza de que um par surrado de botas não vai nos levar a lugar nenhum... — A voz de Shane desapareceu ao ver a expressão em seu rosto. — O quê? — Os cadarços — ela disse, e se curvou para desamarrar os seus próprios sapatos e começou a puxar os cadarços para fora. — Me dê.
— Eu não acredito que devemos considerar pendurar a nós mesmos, Claire — Myrnin disse, parecendo um pouco preocupado. — E isso não iria me matar, você sabe. Claire agarrou o cadarço de Shane enquanto ele segurava-os para ela, amarrou-os de ponta a ponta, e começou rapidamente a trançá-los juntamente com os de seus próprios sapatos em uma corda torcida e grossa, que envolveu em torno do centro das barras na parte de trás. — Cubra-me — ela disse para Myrnin. Ele a observou por alguns longos segundos, então assentiu e foi até a frente da gaiola, empurrando o corpo inerte de Oliver para fora do caminho, e começou a cantar em voz alta algo em francês. Parecia desafinado. Claire começou a torcer a corda tão rápido quanto podia, rapidamente ficando a ponto de torar. — Eu preciso de algo para usar como um ponto de apoio — ela disse para Shane. — Algo que não quebre facilmente. — A única coisa que tem aqui é uma das estacas — ele disse. — Quando puxarmos uma delas, eu suponho que Hannah vai receber ordens de não esperar para o churrasco oficial. Deus, tudo o que ela precisava era de uma vara... Claire lançou seus olhos por todo o lado, frenética para encontrar algo, qualquer coisa que pudesse adaptar-se ao propósito, e seu olhar caiu sobre, de todas as coisas, na faixa que Amelie estava usando para manter o seu cabelo longo e solto para trás de seu rosto. Era uma faixa bela e larga, não feita de plástico, mas coberta de tecido. Talvez. Claire se aproximou, deixando a corda na mão de Shane, e puxou a faixa da cabeça da vampira. Ela pensou que os olhos de Amelie tinham piscado, só um pouco, mas a Fundadora não se mexeu. Ela parecia... morta. Claire flexionou a faixa em seu aperto. Ela tinha uma ponta de metal que ia de um lado a outro, mas não de trás para a frente. E o melhor de tudo, ela não quebrou. Ela correu de volta, deslizou-a na corda, e começou a usá-la para torcer os fios mais e mais em torno das barras. Na quinta girada, ela sentiu a tensão; na décima, ela viu as barras realmente começando a se dobrar ao meio, cedendo à força lenta, mas inevitável. Eu te amo, física. — Ei — Shane disse quando fez força outra vez no dispositivo improvisado. — Eu provavelmente deveria dizer que, depois de refletir sobre isto, eu sou um burro. E eu... sinto muito.
— Isso deve ter sido difícil — Claire disse. Estava ficando muito difícil de virar a coisa. As bordas da faixa estavam cavando em sua mão profundamente. Ela rangeu os dentes e virou-a novamente. — Deixe eu fazer isso — ele disse, e pegou a faixa. Para ele, as próximas três voltas foram muito sem esforço, e as barras se inclinaram lentamente, de forma constante para dentro e em torno da corda. — Porra, isso realmente funciona. Não me admira que eles não deixem entrar com cadarços na cadeia. — Não é por isso. — Eu te magoei — ele disse no mesmo tom de voz, sem olhar para ela. — Eu jurei que nunca faria isso de novo, e eu fiz. Eu caí no truque fácil de Naomi, nos virando uns contra os outros. Eu deveria ter confiado em você, confiado nele, e eu não confiei. Então, eu sinto muito. E você tem todo o direito de não... — Ele ainda estava virando a faixa enquanto falava, mas apenas depois que ele parou com um assobio foi que Claire viu o brilho de vermelho em sua mão. Sangue encharcou rapidamente através do tecido branco da faixa de Amelie, mas depois de uma pausa de um segundo, ele virou-a novamente. — Não confiar em mim, ou me perdoar. Mas eu espero que você o faça. — Deixe-me ver. — É apenas um corte, e se eu soltar, nós estamos mortos — ele disse. — Está tudo bem. — Ele girava o nó cada vez mais apertado no tecido, e agora Claire podia ouvir o ranger das barras. Elas estavam se inclinando fortemente para o meio, e a diferença foi aumentando rapidamente. Não só isso, mas ela pensou que as soldas no topo de uma das barras haviam enfraquecido. Isso pode funcionar, ela pensou. Isso vai funcionar. Então, com um som agudo e estalado, a faixa se desfez nas mãos de Shane enquanto ele tentava girar novamente. — Droga — ele sussurrou, e olhou para ela. — Foi suficiente? — Deixe-me ver a sua mão. Ele estendeu-a, e havia um corte profundo em toda a sua palma, que a machucou de ver. Claire agarrou a ponta da blusa dela e apertou-a contra o corte, então pegou a ponta torada da faixa. O metal que o tinha cortado era afiado, e ela desgastou bastante o pano para rasgar um pedaço livre para enrolar em torno da mão dele. Quando ela amarrou-o no lugar, ela olhou para o rosto dele. — Você me perdoa? — ele perguntou a ela. Seus olhos eram calorosos e firmes, e ele tinha uma pequena e sugestiva tentativa de um sorriso. — Não — ela disse. A deixou enjoada ter que magoá-lo desse jeito... mas isso também era certo. Era necessário. — Eu quero, eu realmente quero, mas
você não confiou em mim, Shane. Você não acreditou em mim quando eu precisei. E isso me machucou, Shane. Realmente machucou. Vai levar um pouco de tempo e um monte de trabalho para eu te perdoar por isso. A respiração saiu dele como se ela tivesse lhe dado um soco, e seus olhos se arregalaram. Ele tinha acabado de assumir que ela iria perdoá-lo, ela percebeu; ela tinha feito isso tantas vezes antes, sem qualquer pensamento ou hesitação que ela o fez pensar que era automático. Mas não era. Agora não. Por mais que ela queira que as coisas voltem ao normal, ela precisava que ele entendesse que ele a tinha machucado. Pelo olhar em seu rosto, ele entendia. No próximo segundo, ele baixou o olhar e respirou fundo. — Eu sei — ele disse. — Eu mereço. Se nós sairmos daqui, eu prometo, eu vou compensar você. — Tire as cordas das barras — ela disse, e estendeu a mão para levantar o seu queixo para cima e beijá-lo, muito levemente. Ela queria cair em seus braços, mas não era o momento, e não era a mensagem que ela queria enviar. — E fique pronto para qualquer coisa. — Sempre. — O sorriso arrogante que ele lhe deu era quase certo. Quase. Mas havia um olhar assustado e hesitante em seus olhos, e ela se perguntou se ele estava pensando, como ela, Nós poderíamos morrer aqui, agora, e não estar bem um com o outro. Mas ela não podia evitar isso. Ela precisava que ele entendesse o que ele tinha feito com ela, e consigo mesmo. Foi a coisa mais difícil do mundo, mas ela se afastou dele. Myrnin ainda estava cantando um refrão interminável de alguma música detestável; ninguém estava prestando atenção, mas era irritante o suficiente para que eles estivessem provavelmente não prestando muita atenção nela e em Shane. Quando ela bateu no ombro dele, ele tossiu e parou para dizer: — Vocês dois terminaram com as palavras doces? Porque eu poderia vomitar. — Isso seria perfeito — Claire disse. — Já tem sido um grande dia. — Ela estendeu a mão, agarrou o queixo pontudo dele, e virou-o para lhe mostrar as barras dobradas na parte de trás da gaiola. Suas sobrancelhas subiram. — Talvez você devesse descansar um minuto. — Talvez eu deva — ele concordou. — Sua camisa está rasgada. E você está usando um ótimo perfume, por sinal. — É sangue — ela disse. — Obrigada. Isso é sempre tão reconfortante. Myrnin se arrastou para o fundo da gaiola, chegando perto de Shane quando fez isso. Os dois trocaram um olhar que fez os pelos da parte de trás
do pescoço de Claire levantarem; eles eram como dois tigres medindo um ao outro, com Myrnin em seguida passando por seu namorado para inspecionar o estado das barras. Ele fez um som de hmmm suave e acenou com a cabeça, em seguida, — para a surpresa de Claire — puxou Shane para perto e deu-lhe um beijo totalmente inesperado na bochecha. — Ei! — Shane disse, e tentou se libertar, mas então ele fez uma pausa porque Myrnin estava sussurrando para ele. O olhar de Shane correu para Claire, então rapidamente para longe, e quando Myrnin terminou, Shane assentiu. Quando Myrnin o soltou, Shane se moveu para longe — bem para longe. Claire murmurou, o que diabos? Mas Shane apenas balançou a cabeça e desviou o olhar. O que quer que Myrnin tenha acabado de dizer a ele, era... perturbador. Myrnin não parou para perguntas. Ele se arrastou até onde Amelie ainda estava deitada muito quieta, e puxou-a em seu colo enquanto ele se ajoelhava. — Minha pobre e encantadora senhora — ele disse, e gentilmente tirou o seu cabelo branco-ouro do seu rosto de marfim. — Você prefere morrer no fogo, ou em glória? Morto é morto, é claro. Mas eu sinto que você deva escolher agora. Amelie não tinha se movido. Era possível que algo tivesse dado errado; talvez uma lasca tenha se rompido em seu coração, congelando-a no lugar, ou qualquer outra coisa tenha acontecido. A estaca de madeira não iria matá-la, mas iria paralisá-la. E eles precisavam dela, Claire pensou. Havia muitos vampiros. Mesmo que o truque de soltar as barras funcionasse, mesmo que eles pudessem ficar livres... — Algo está acontecendo lá fora — Shane disse. — Atenção. Naomi estava avançando finalmente, acalmando o murmúrio confuso dos vampiros reunidos na praça. Ela era como uma rainha usando prata e preto, e sua voz era calorosa, doce e convincente; ela não tinha necessidade de morder as pessoas para convencê-las, Claire pensou. Ela era convincente o suficiente sem isso. Ela só se preocupou em controlar os jogadores-chaves, e apenas durante o tempo que ela precisava deles. Ela era fria, mas inteligente. E agora, ela disse: — Meus amigos, eu venho diante de vocês em tristeza e dor para vos dizer que Amelie, a nossa Fundadora, perdeu o direito de governar. Ninguém duvidava do que estava acontecendo, Claire pensou, mas uma série de vampiros fora da multidão começou a expressar as suas objeções. Não
eram muitos deles, mas era o suficiente para deixar claro que Naomi não era uma escolha popular. Ela levantou a mão num gesto duro de raiva. — Nossas leis são claras: a regra dos mais fortes. Minha irmã era forte; o passado está repleto daqueles que estavam contra ela e perderam. A força dela nos trouxe até aqui, a esta cidade, a um lugar onde nós podemos finalmente começar a recuperar a nossa legítima glória. Mas não se enganem: ela hesitou. Ela corrompeu-se pelo comprometimento com os seres humanos, com suas leis e costumes, até que ela esqueceu o que era ser um vampiro decente. Houve mais gritos de protesto, mais altos. Isso pode não ter sido o que Naomi esperava, Claire pensou; havia uma crescente tensão em seus ombros, e a mão que ela ainda erguia pareceu tremer, só um pouco. — Não haverá debate sobre isso! A minha irmã se tornou fraca e tola, e ela foi derrubada por traição. Não por mim, mas pela traição de um amante que ela confiava. Ela não está apta a governar por mais tempo. Não temem; eu vou queimar o traidor com ela, e vamos começar do zero. Desta vez, ninguém gritou. Houve um silêncio assustador. Claire honestamente não sabia dizer se Naomi tinha convencido eles, ou se alguma outra coisa estava acontecendo — algo que não seria nada bom para a aspirante a rainha. Os vampiros não eram tão fáceis de ler, especialmente em grandes grupos. Os seres humanos encurralados tinham ficado muito calmos e parados — até mesmo Monica. A pequena e fraca Vovó Day estava parada muito ereta e mal se apoiando em sua bengala. Mas havia alguém novo de pé perto deles, quase invisível por trás da altura de Monica, de pernas longas... um outro ser humano, não um vampiro. Jenna? O que diabos a caçadora de fantasmas estava fazendo aqui? Tentando conseguir uma história? Ela estava louca? Não. Ela estava de mãos dadas com outra pessoa; uma ligeira forma pequena, que Claire viu quando Flora Ramos deslocou para um dos lados. Jenna estava de mãos dadas com Miranda. Miranda não deveria estar sólida. Mas ela estava, muito sólida, embora se agarrando a mão de Jenna como se ela fosse uma tábua de salvação em um mar tempestuoso. Talvez a habilidade psíquica de Jenna estivesse alimentando o próprio poder de Miranda e segurando-a firme em sua forma noturna fora da Glass House, mas pelo olhar tenso e assustado em seus rostos, não era fácil. O que diabos elas estavam fazendo?
Naomi não tinha visto elas, ou se tinha, ela não se importava. Ela estava ocupada tentando encantar os seus novos subalternos. — Amanhã marca a nossa nova era, e eu vou levar vocês até ela — ela continuou. — Vocês foram roubados dos seus direitos por tanto tempo, meus amigos, submetido a indignidades, a constantes queixas e restrições daqueles que são legitimamente a nossa propriedade. E isso acabou. Como prova disso, eu dou-lhe o primeiro sangue de Morganville. É de vocês para tomar, como é direito de vocês não governar só este lugar, mas o mundo todo. — Ela estendeu a mão branca para apontar para as pessoas presas do lado de fora — vinte pessoas, incluindo Monica. Os vampiros olharam nessa direção. Nenhum deles se moveu e, em seguida, Jason passeou para fora da multidão, e disse: — Já era a maldita hora de alguém fazer a coisa certa. Ele agarrou Monica e arrastou-a para fora da área cercada. Ela gritou e bateu nele, com força suficiente para fazê-lo cambalear um pouco para trás, e Claire pulou para a frente e arrancou a flecha de madeira por todo o caminho para fora do peito de Oliver. Ela jogou com força através das barras da jaula e gritou: — Monica, pegue! Monica se inclinou para trás quando Jason tentou arrastá-la para mais perto, e viu a estaca dar uma cambalhota através do ar. Em um movimento que era chocantemente gracioso — e provavelmente não poderia ser repetido se ela tivesse realmente pensando nisso — Monica agarrou-a e empurrou não no coração de Jason, mas entre os seus dentes. — Morda isso! — ela gritou, e se afastou dele. Seus sapatos, Claire percebeu, tinha uma cobertura de prata nas pontas do salto. Ela puxou-os para fora e segurou-os prontos. — Alguém mais quer um pouco? Jason cuspir a estaca para fora, parecendo furioso e envergonhado, e quando ele tentou agarrá-la, ela plantou o salto do sapato na mão dele. Sua mão queimou. — Temos de passar, agora — Myrnin. — Ela criou uma distração agradável, mas não vai durar. — Não precisa — Amelie disse. Ela puxou o último centímetro de madeira para fora de seu peito e sorriu para ele. — Eu acho que eu escolho glória, meu querido Myrnin. — Mais que excelente — ele disse. — Claire afrouxe as barras, e... Shane levantou a mão ensanguentada.
— E Shane ajude — Myrnin alterou a contragosto. — Mas eu acredito que devemos ir agora. Naomi está perdendo o respeito de seus seguidores. Isso não vai sair bem para ela. Ela vai nos queimar por puro desespero. Amelie concordou com a cabeça e rolou para se agachar. Ela analisou as barras na parte de trás da gaiola, formou um punho, e bateu com uma precisão cirúrgica no ponto do topo de uma das barras onde a solda era mais fraca. Ela rachou. Sua mão foi queimada em uma listra vermelha brilhante, mas ela ignorou-a, pegou o metal solto, e dobrou-o em direção a eles com uma força chocante. Essa parte também rachou da sua base. — Hannah! — Shane estava gritando atrás deles. — Hannah, não! Claire olhou para trás e viu que Hannah — provavelmente ainda seguindo as instruções que Naomi implantou, apertou um botão que quase certamente iria transformar a gaiola em uma cesta frita. Debaixo deles, os jatos de gás estalaram em chamas azul pálido. — Fora! — Claire gritou. — Saiam agora! Amelie tinha atingido a segunda barra duas vezes sem quebrá-la, e Myrnin se juntou a ela, chutando-a com o pé descalço entre os seus golpes. Cerca de três segundos depois, a coisa toda se dobrou e então estalou completamente livre. Não era uma abertura enorme, mas era suficiente. Amelie pulou para fora, e Myrnin atrás dela. Shane foi depois e estendeu a mão para Claire. Mas Oliver não estava se movendo. — Deixe-o! — Shane gritou. A mão de Hannah estava pairando sobre o botão, balançando, como se ela estivesse tentando desesperadamente lutar por suas vidas, e perdendo. — Claire, vamos, agora! Ela não podia, porque Oliver abriu os olhos e começou a se mover. Claire soltou-se da mão de Shane e se lançou para o vampiro. Oliver abriu os olhos quando ela começou a arrastá-lo, e ele estendeu a mão para pegar as barras e mantê-las no lugar. — Não — ele disse. — Eu tenho que... eu tenho que pagar pelo que eu fiz. — Não desse jeito — Claire disse. — Vamos! Mas ele não se moveu. O idiota não iria se mover... Ela viu a cabeça de Naomi se virar; ela viu ela se dar conta do fato de que os seus prisioneiros estavam se soltando, e ela olhou fixamente para Hannah... Que perdeu a batalha interna e apertou o botão que ligou os queimadores de gás.
— Vamos! — Claire gritou enquanto as chamas se erguiam. Ela rolou para o buraco nas barras da jaula e sentiu Shane puxá-la em seus braços. A blusa dela estava queimando. Ela bateu nas chamas. Amelie passou por eles, agarrou a forma queimada de Oliver, e puxou-o para fora com toda a sua força. A barra que ele estava se segurando se partiu ao meio, mas ele escorregou voluntariamente. Ainda em chamas. Amelie olhou para ele por um segundo com um verdadeiro horror escrito em seu rosto, em seguida, jogou-se em cima dele, sufocando o fogo com o seu corpo e mãos. Ele estava queimado e fumegante, mas vivo. As mãos de Oliver se moviam, acariciando os ombros dela, e ele sussurrou: — Perdoe-me. — Sim — ela sussurrou. — Sim. Silêncio. — Pare-me antes que eu te machuque novamente. — Eu irei. — Ela se sentou enquanto ele fechava as mãos em volta do pescoço dela, e ela empurrou a flecha de madeira que ela tinha puxado de seu próprio peito no coração dele. Oliver ficou mole. Mas Michael e Hannah tinham acabado de virar a esquina, armados e prontos para matar, e não havia nada, além da vontade de Naomi em suas expressões agora. Eles eram fantoches — fantoches mortais. Amelie não parecia saber ou se importar. Myrnin agarrou Hannah, evitando a faca de prata que ela habilmente empurrava em cima dele, e tentou deixá-la sem equilíbrio. — Não a machuque! — Claire gritou. — Não é culpa dela! Michael ainda estava vindo. Shane soltou-a e enfrentou ele. — Não vai acontecer, mano — ele disse. Michael descobriu as presas para ele, e Shane levantou a estaca em sua mão. — Não nesta vida. Eu já tive um vamp me beijando hoje. Isso não vai acontecer... Mas a brincadeira não estava retardando Michael, e antes que Claire pudesse tomar um fôlego, Michael tinha corrido para a frente, agarrado o braço de Shane, e estava implacavelmente dobrando-o para trás até que a estaca atingiu o chão de granito. Ela rolou para a gaiola e pegou fogo no inferno feroz lá de dentro. Naquele momento, Claire viu Miranda e Jenna entrarem à vista atrás deles, e Jenna soltou Miranda... e o ar ficou obscuramente elétrico com a onda de sussurros.
Até mesmo Michael parou. Havia algo aterrorizante nesse som, algo errado. Claire piscou, porque ela podia ver as sombras agora no clarão do fogo — sombras que se moviam por conta própria. Formas humanas, eles correram passando por Miranda. Alguns se empilharam em Hannah e, embora Claire mal podia vê-los, eles devem ter causado um efeito, porque Hannah cambaleou e parou de tentar esfaquear Myrnin. Ele a soltou e recuou, e ela deu um tapa no turbilhão de sombras em torno dela, os movimentos cada vez mais frenéticos e erráticos. E fracos. E então ela ficou de joelhos, e caiu. O mesmo estava acontecendo com Michael, uma tempestade de fúria de fantasmas em torno dele, e quando Shane se afastou, Claire viu uma das sombras se soltar do enxame irritado e vir em direção ao seu namorado. A pequena figura tomou forma em um tipo de realidade opaca enquanto ela se aproximava dele. — Lyss — Shane sussurrou, — obrigado. Ela estendeu a mão; apenas por um momento, Shane pegou. Claire viu o poder que correu entre eles, um estouro que explodiu como uma estrela na sombra do corpo de Alyssa e deu-lhe, só por alguns segundos, realidade. — Eu te amo — Alyssa disse, ainda segurando. — Eu só tinha que dizer a você que não foi culpa sua. Então ela soltou e desapareceu na luz das estrelas. Ela se foi. Shane cambaleou para trás, e Claire o pegou. Seu coração estava batendo rápido, e ele sentia frio, apesar da temperatura quente como inferno dos jatos de gás nas proximidades. Michael estava caído agora, e o enxame de fantasmas voaram por alguns segundos antes de Miranda — chamá-los de volta? Era o que parecia, Claire pensou. Os fantasmas se reuniram como uma capa ao redor dela, tumultuando e sussurrando, e Miranda estremeceu e ficou muito, muito pálida, quase translúcida. Jenna agarrou a mão dela, e ela se estabilizou novamente. — Traga eles — Amelie disse, apontando para Hannah e Michael. Ela olhou para Jenna e Miranda por um momento, como se estivesse tentando decidir o que fazer com elas, então inclinou a cabeça um pouquinho. Era um arco de reconhecimento, se não aprovação.
— O que vamos fazer? — Shane perguntou quando se abaixou para pegar Michael sob os seus braços. Michael gemeu, mas ele não se mexeu muito por conta própria. — Agora — Amelie disse com todo o inferno em seus olhos, — nós vamos descobrir quem joga este jogo melhor. Ela estava uma bagunça, Claire pensou — com o vestido rasgado, manchado agora com fuligem e sangue do corpo queimado de Oliver, o cabelo num emaranhado em volta do seu rosto. Mas ela nunca pareceu mais selvagem, ou mais como uma rainha, do que quando ela saiu de trás da gaiola e enfrentou Naomi. Toda a multidão congelou, uma massa de cem ou mais vampiros, todos decidindo o que fazer; os seres humanos em pânico em seu curral de sacrifício; Jason e Monica, trancados em uma posição fashionista de batalha. Ninguém se mexeu. Nem mesmo Naomi, que parecia totalmente fria e perfeita. Mas seu sorriso parecia abalado e — só por um momento — falso. — É justo — ela disse, em seguida, — que você morra nas mãos da sua sucessora. Tente fazer isso com dignidade, Amelie. — Eu sempre te amei — Amelie disse. — É uma pena que você nunca foi digna do meu amor. — Seus olhos queimaram com a cor prata e branco brilhante, e ela balançou a cabeça em direção a Claire, que estava mais próxima. — Traga eles. Claire supôs que ela quis dizer Michael e Hannah, e ela gesticulou. Myrnin trouxe Hannah, e Shane arrastou Michael. Naomi riu. — Este é o seu exército, minha querida irmã? Patético. — É? — Amelie estendeu a mão em direção a Michael Glass. — Eu vou ter o meu pupilo de volta agora. Qual seja o controle que Naomi estava mantendo sobre ele, ele quebrou com um toque quase audível; Michael agarrou a própria cabeça, e por alguns segundos ele parecia que ia desmaiar, mas ele ficou de pé, limpou o sangue de seu nariz, e passou por Naomi para ficar ao lado de Amelie. Ao lado de Shane, também. Seus olhos brilharam sobre Claire, e ela leu o horror e tristeza neles. Oh, Michael. — E você, também, Hannah. — Amelie moveu seu dedo para apontar para Hannah Moses. — Eu a liberto. Junte-se ao seu povo. Myrnin a soltou, e Hannah piscou, cambaleou e virou a cabeça para olhar para Naomi. A fúria cega nos olhos dela era terrível... mas então ela se afastou
dos vampiros e foi para onde Monica estava segurando Jason com o seu sapato coberto de prata. Hannah disse: — Coloque isso de volta. Isso funciona melhor. — E ela entregou a Monica a faca de prata. — E você? — Monica perguntou quando Jason deu um grande passo. Hannah deu de ombros. — Se ele quiser vir até mim, ele vai descobrir que eu não preciso de mais nada. Não para gente como ele. Jason recuou até a primeira fila de vampiros atrás dele. Eles empurraram ele para a frente, onde não tinha ninguém. — Agora — Amelie disse para Naomi, no assobio das tochas acesas e o rugido do fogo na gaiola vazia, — diga-me de novo como você planeja governar a minha cidade, irmã. Diga-me como é que você vai conseguir a obediência de todos estes aqui reunidos. Me mostre. Não faltava coragem para Naomi, Claire pensou. Ela virou-se para os vampiros reunidos de Morganville, levantou as mãos e disse: — Vocês sabem o que Amelie oferece. Eu vou dar a vocês liberdade. Vou dar a vocês glória. Eu vou devolver a vocês o mundo que vocês merecem. Tudo o que vocês precisam fazer é dar um passo à frente, apenas um, e vocês serão livres! Amelie não disse nada. Nem uma coisa. Ninguém se mexeu. Nem mesmo Jason, que, Claire imaginou, estava começando a perceber o quanto ele fracassou com a sua imortalidade recémdescoberta. O rosto de Naomi passou de emocionada a indiferente quando a realidade de que ela tinha perdido atingiu-a. Decisivamente. — Você perdeu a oportunidade que lhe foi dada antes — Amelie disse. — Muitos deles estavam presentes quando você caiu entre os draugs. Ninguém se moveu para salvá-la antes. E ninguém vai segui-la agora. — Seus olhos brilhavam com a cor prata, uma cor horrível e bonita, e ela nem sequer tinha que levantar a sua voz. — Ajoelhe-se para mim, irmã. — Não — Naomi disse. Ela estava tremendo agora, como se estivesse prestes a desmaiar, mas ela estava severamente apegada a tudo o que a levou tão longe. — Não. Eu fui feita para governar. — Ajoelhe-se — Amelie sussurrou. — Eu não vou te perdoar, mas eu posso poupá-la. E eu vou. Mas você deve se ajoelhar. — Nunca! Mas ela o fez. Isso aconteceu lentamente, como se ela estivesse sendo esmagada sob um peso enorme e impossível, e Claire realmente sentiu pena
dela quando ela finalmente desmoronou de joelhos, abaixou a cabeça e chorou. Amelie ergueu o queixo de Naomi, deu um beijo suave em sua testa e disse: — Nós compartilhamos o mais obscuro dos pais, você e eu. E eu não culpo você. É uma coisa amarga, este sangue nosso. Você terá tempo para pensar sobre isso. Tanto tempo, sozinha no escuro. Cem anos antes de sua penitência comigo ter acabado. Naomi não disse nada. Claire não tinha certeza se ela realmente poderia dizer qualquer coisa. Ela cobriu o rosto com as mãos, e Amelie se afastou dela para olhar para os vampiros. — Naomi não estava errada — ela disse. — Eu tenho sido fraca. Eu permiti que vocês fossem fracos também, para saciar as suas paixões enquanto eu cedia as minhas, como se não houvesse consequências que viriam. Mas o jeito da minha irmã é uma forma antiga, e isso iria nos destruir... Vocês sabem que a emoção da caça traz para nós, e a destruição que irá causar. Morganville foi construída para nos permitir viver sem esse risco, e com o mundo humano nos invadindo a cada passo, não podemos ser fracos. Nós não podemos ser indulgentes. — Ela deu uma respiração longa e lenta. — Amanhã, vocês vão aprender a ser mais fortes do que vocês jamais pensaram que poderiam ser. Não haverá caça. Nem matança. Vocês vão compartilhar a penitência da minha irmã, durante o tempo que me agrada. E eu vou compartilhar também. — Ela virou-se para Hannah, e os seres humanos que estavam lá. — Vocês estão livres para ir. E você pode levar o meu compromisso para o resto de Morganville: não vamos matar. E se o fizermos, a pena para nós é a morte, assim como seria para vocês se nos matarem. Apenas como iguais podemos manter a paz. Isso não está na nossa natureza, mas é a única maneira de sobreviver. Hannah assentiu. Assim como a prefeita Ramos. Monica finalmente deslizou os seus saltos altos de volta, jogou o cabelo para trás sobre os seus ombros nus, e disse: — Você arruinou uma grande festa na minha casa, você sabe. — E ela saiu sem dizer mais nada. Claire quase riu. Quase... e, em seguida, Amelie se virou para ela e disse: — Explique-me sobre esses fantasmas. Foi uma conversa muito longa. Q q q
Claire, Myrnin, Shane e Michael foram retirados da Praça da Fundadora e de volta para o escritório de Amelie, onde os trabalhadores já estavam varrendo o vidro quebrado e montando as janelas em preparação para a manhã. Depois de um olhar sobre o trabalho em andamento, Amelie levou-os para o escritório exterior, onde a sua assistente limpou a mesa para a Fundadora se sentar. Um par de guardas de Amelie carregavam Oliver e o soltou no chão. Ele ficou em silêncio, com os olhos bem fechados. Suas queimaduras estavam se curando, mas ainda havia manchas vermelhas por todo o seu rosto, e suas roupas eram mais carvão do que tecido. — Eu vou fazer os decretos agora. Bizzie, certifique-se de que eles sejam arquivados hoje à noite — Amelie disse. Ela parecia cansada, e desesperadamente pálida, mas não havia nada além de certeza em sua voz. — Myrnin, eu desejo que você retorne ao seu trabalho. Há muito a ser feito para reparar Morganville. Nós não podemos fazer isso sem você, e suas chances de sobrevivência fora são... escassas, na melhor das hipóteses. Myrnin hesitou, então disse: — Eu vou considerar. — Eu poderia ordenar. — Bem — ele disse, e sorriu um pouco. — Você poderia certamente tentar, minha cara senhora, mas... Amelie sacudiu a cabeça e lançou um olhar para a sua assistente. — Apenas coloque que ele concordou — ela disse. — Michael, embora o que você fez não foi do seu livre arbítrio, você levantou armas contra a sua rainha no poder e a sua criadora. Como você pretende me pagar? Pense cuidadosamente sobre a sua resposta. Há apenas uma que irá satisfazer a dívida. Ele balançou a cabeça. — Você sempre consegue o que quer. — Michael parecia exausto e meio que... bem, arrasado. Ele não tinha realmente olhado para Claire nos olhos, ou Shane. — Eve não vai me perdoar. Não por nada disso. — Verdade — Amelie disse. — No entanto, não há traição tão amarga como a de uma criança. Mas eu estou preparada para lhe permitir ficar impune, sob uma condição. — Qual é? Ela deu-lhe um olhar muito frio. — Eu avisei — ela disse. — Continuamente. Eu não dei a minha permissão para o seu casamento não por maldade, mas para protegê-lo, e para proteger Eve. Ela sofreu muito, Michael, e uma parte disso nas suas próprias mãos; é isso o que eu alertei. Os seres humanos são frágeis, e não podemos resistir à tentação de explorar a fraqueza
deles. Você já sentiu isso. Então, para o seu próprio bem, eu lhe permito ficar impune, se você deixar a sua esposa. Deixe ela, Michael. Faça isso. Ele parecia atordoado e, em seguida, houve uma queima lenta de raiva dentro dele que pegou fogo em seus olhos. — Você não pode — ele disse. — Você não pode me pedir para fazer isso. — Eu não estou ordenando a você. Eu estou oferecendo-lhe a chance de evitar uma punição pesada e muito pública. — Ela já não foi ferida o suficiente? Nos separar era o que Naomi queria! — Por razões que não têm nada a ver comigo — Amelie disse. — Eu compartilho a visão com Hannah Moses, e muitos outros. Eu acredito que os seres humanos e vampiros são melhores separados, para a segurança de ambos. Vocês levaram isso muito longe. Eu não estou com raiva da menina, Michael; estou apavorada por ela. Você entende o quanto perigo que você a coloca, diariamente? Ele devia estar pensando em ver Eve no hospital, Claire pensou, e por um segundo ela tinha certeza de que ele ia concordar apenas. E isso era terrível. Mas em vez disso, Michael encontrou os olhos da Fundadora e disse: — Eu a amo. — Só isso, simples e sem dúvida. — Então qualquer punição que você tenha que me dar, vá em frente. Eu não vou machucar ela de novo. Na frente dele, Shane acenou com a cabeça e bateu com o punho contra o peito dele. Respeito. Michael deu-lhe um pequeno sorriso cansado. — Muito bem — Amelie disse. Ela não parecia satisfeita. — Bizzie, por favor, anote que Michael Glass aceitou a punição decretada pela sua criadora. A caneta de Bizzie riscou o papel seco. — Que é? — Eu não decidi — Amelie disse. — Mas vai ser muito público. E, em seguida, foi a vez dela, enquanto os olhos frios de Amelie fixaram nela. — Claire — ela disse. — Sempre no meio. O que eu vou fazer com você? — Claire permaneceu em silêncio. Ela realmente não sabia o que Amelie estava pensando, ou sentindo; havia muita raiva dentro dela, muita tristeza, e sempre era fácil pensar como fraqueza, Amelie apontou para Michael. Quando ela não se moveu e não piscou, Amelie virou-se para Myrnin. — Bem? — Eu preciso da ajuda dela — ele disse. — Frank foi desligado. — O que significava morto, Claire suspeitava. — Sem ela, eu vou demorar anos para colocar todas as proteções necessárias de volta online. Oh, e eu vou precisar de um cérebro. Algo relativamente intacto. Não Naomi; eu não gostaria de têla executando os sistemas de Morganville, você gostaria? — Eu pensei que você estivesse planejando usar o cérebro de Claire — Amelie disse casualmente, e lançou um olhar de volta para ela para ver se ela
iria recuar. Ela não o fez. — Muito bem. Um deles será localizado para você. Claire, você está disposta... — Não — Claire disse. Só isso. Uma palavra muito simples, mas significava jogar-se de um penhasco muito alto. — Você disse que eu poderia deixar Morganville uma vez. Você estava falando sério? — Claire? — Shane piscou e deu um passo na direção dela. — O que você está fazendo? Ela o ignorou, observando Amelie, que estava com a mesma intensidade observando-a. — Você estava? — Sim — Amelie disse. — Se você desejar. Eu posso lhe mandar para entrar na universidade que você desejava, ITM, sim? E conseguir estudo avançado com alguém que é conectado com Morganville, embora não mais um residente. É isso o que você precisa de mim como pagamento por salvar a minha vida? — Não — Claire disse. — Isso é o que você me deve por salvar todas as suas vidas, um monte de vezes. O que eu preciso agora é que você deixe Shane ir também. Se ele quiser. — Claire, este é imprudente — Myrnin disse. — Você não deveria... — Eu quero — Shane disse, interrompendo-o. — Eu definitivamente quero. Claire assentiu. Ela e Amelie ainda não tinham interrompido o olhar. Foi muito difícil continuar fazendo isso; havia algum tipo de poder em Amelie que afetava as pessoas, mesmo quando ela não estava tentando, e foi dando uma tremedeira em Claire, e uma dor de cabeça fraca. — Eu quero que você me mande para o ITM. E que Shane vá para qualquer lugar que ele queira. E que você mantenha a sua palavra sobre Morganville. Não matar. Nem mesmo para conseguir o cérebro de Myrnin. — Não há necessidade — Myrnin disse seriamente. — Existem vários necrotérios dispostos... Amelie levantou a mão e interrompeu-o instantaneamente. — Concordo — ela disse. — Anote isso, Bizzie. — Bizzie anotou, sem levantar a cabeça, enquanto ela escrevia rapidamente no papel. — Agora. Quanto a Oliver — ela disse. Sua voz tinha tomado uma nota mais suave, com algo quase hesitante nela. — Quanto a Oliver, eu vou ser vista como fraca se eu perdoá-lo, assim como a Naomi. Ele foi o meu adversário mais visível, e a faca mais visível nas minhas costas. Assim, ele deve ir. Ele está exilado de Morganville até o momento em que eu decidir que ele pode voltar.
Oliver abriu os olhos e virou a cabeça. O olhar de Amelie caiu sobre ele, e por um momento, havia algo tão doloroso entre eles que fez Claire querer desviar o olhar. Era uma espécie de desejo desesperado e irritado que ela conhecia muito bem. E então Oliver disse: — Sim, minha senhora. — E fechou os olhos. — Como quiser. Eu aceito a sua punição. — Todos vocês estão dispensados — Amelie disse. — Oliver, você pode pegar as suas coisas. Você sairá amanhã. Ela voltou para o seu escritório. E... foi isso. Isso parecia estranhamente vazio para Claire, onde deveria ter havido algum senso de... de triunfo. De alguma coisa. Mas ela não tinha certeza de nada. Ela só sabia que ela tinha que assumir o controle de sua vida agora, ou isso nunca iria acontecer. Michael parou ao lado de Claire e disse: — Então é aqui onde eu lhe digo o quanto estou arrependido. Então, eu sinto muito. Acredite em mim, eu... eu não posso explicar. — Você não precisa — ela disse. — Eu fui controlada por Bishop; eu sei como é. Michael suspirou e balançou a cabeça. — Droga. Não... eu sei que você tem alguns problemas com Shane, e é por causa de mim, não por causa de você. Sinto muito. Deixe-me corrigir as coisas, se eu puder. Ela não tinha certeza de que isso era remotamente possível, mas ela sorriu para ele. — Obrigada — ela disse. Foi o melhor que ela pôde. — Mas é a minha vida, Michael. — Eu sei — ele disse. — Eu... eu só não sei o que vamos fazer sem você. — Você e Eve? Vocês vão ficar bem. Você a ama; todo mundo pode ver isso agora. Eu acho que você iria desistir dela se ela pedisse, mas não se eles pedissem. Isso é amor verdadeiro, eu acho. — Num impulso, ela esticou-se e beijou-o no rosto. Ele se encolheu. Assim como ela, um pouco. — Eu vou voltar. Mas eu preciso... eu preciso ter a minha própria vida por um tempo. Lá fora. Longe. Você entende? Ele entendia; ela viu em seu sorriso. — Isso é o que Eve e eu estávamos tentando explicar para vocês — ele disse. — Às vezes você apenas... precisa disso. Para ter certeza de quem você realmente é. — Seu sorriso desapareceu. — Você não pediu para Shane ir com você. — Não — ela concordou, e foi embora. Shane estava esperando no carro funerário. Ele ainda não estava olhando diretamente para ela, ou para Michael, a propósito, quando os dois se
aproximaram. Ele encostou-se de lado, de braços cruzados, e disse: — Vou na frente. — Claro — Michael disse. — Eu dirijo. Shane... Shane estendeu a mão para detê-lo. — Não agora — ele disse. — Eu não estou pronto para qualquer pedido de desculpas. Você conserta as coisas com Eve, depois você fala comigo. Michael acenou com a cabeça. Isso não era o que ele queria ouvir, obviamente, mas foi o melhor que ele poderia esperar, na verdade. Nós vencemos, ela pensou. Por que isso tudo não parecia melhor? — Desculpe — Shane disse. Ele parecia corado e desajeitado de repente, enquanto se dirigia para a parte de trás do carro fúnebre. — O... olha, você deveria ir na frente e... — Você pediu primeiro — ela disse. — Está tudo bem. Ele ficou olhando para ela, claramente tentando pensar no que dizer, e falhando. Aliás, ela não sabia, tampouco. A viagem para casa foi estranhamente silenciosa. Miranda encontrou-os na porta, com o rosto iluminado. Jenna estava atrás dela, parecendo quase orgulhosa. — Você está bem — ela disse. — Eu sabia que você ia precisar da nossa ajuda. — Na verdade — Jenna disse, — fui eu. Eu tive uma visão de vocês trancados naquela jaula, e eu não sabia o que fazer. — Eu sabia — Miranda disse. — Quando eu parei de ter medo dos outros e realmente tentei falar com eles, foi mais fácil. Eu ainda tenho que ter cuidado em torno deles, mas com Jenna me ajudando, eles não podem se alimentar de mim como podiam antes. Ela pode me ajudar a sair da casa. É perfeito. Jenna não parecia pensar assim, mas no momento, pelo menos, ela balançou a cabeça. — Como está Eve? — Michael perguntou. O sorriso de Miranda desapareceu. — Ela está acordada — ela disse. — Ela está esperando no sofá. Dissemos a ela o que aconteceu. — Obrigada. Você salvou as nossas vidas. — Claire abraçou Miranda, em seguida, seguiu até a sala de estar. Eve estava sentada no sofá, e suas contusões estavam melhores; os blocos de gelo no chão eram provavelmente parte disso. Ela estava observando Michael com uma espécie de esperança frágil em seus olhos.
Ele estava a poucos passos de distância, como se ele não se atrevesse a se mover. Shane parou atrás dele e encostou-se na parede com os braços cruzados. Claire conhecia essa postura; era a sua postura de guarda-costas. Ele estava, no momento, defendendo Eve de Michael. Mas Michael não tentou se aproximar. — Eu a magoei — ele disse. — Eu nunca quis isso, mas aconteceu. Eu poderia dizer que eu não quis dizer aquilo, e que não era eu, e isso é verdade, mas era eu, e eu sei que você não pode esquecer. Eu... — Ele abriu as mãos. — Eu me odeio, Eve. Isso é tudo o que eu posso dizer. Eu me odeio. E se você quer que eu vá, eu vou. Eu farei qualquer coisa. Qualquer coisa. Havia lágrimas em seus olhos brilhantes. — Miranda me contou — ela disse. — Sobre Naomi. Sobre ela ter mordido você. Que você não teve escolha no que você fez. Mas parecia real. Você entende? — Eu sei — ele disse. — Parecia real para mim também. E isso me assustou para caramba. — Nunca mais faça isso de novo. Ele sorriu. — Eu não vou — ele disse. — Eu amo você, Sra. Glass. Ela abriu os braços, e ele a abraçou, tão cuidadosamente como se ela fosse uma peça frágil de cristal. Shane pigarreou. — Hum, você deve saber que Amelie tentou fazê-lo desistir de você — ele disse. — Porque provavelmente Michael não vai te dizer isso. E ele recusou. Então agora ele está em apuros, mais uma vez. — Oh, baby — Eve disse, e afastou-se para olhar para o rosto de Michael. — Que apuros? Ele deu de ombros. — Não importa. E o sorriso de Eve se encheu de prazer enquanto ela deitava a cabeça no ombro dele. Claire encontrou os olhos de Eve e ganhou um pequeno sorriso. Era uma coisa pequena, mas era um começo. — Eu também te amo, Eve — Claire disse. — Sinto muito. — Calada — Eve disse. — Quem não gostaria de beijá-lo? Está perdoado e esquecido. Isso era uma caridade que Claire achava que era melhor do que ela merecia. Em seguida, Michael sussurrou algo para Eve, que claramente não era para ser ouvido, e se intrometer algo tão precioso e privado era mais do que ela poderia aguentar. Shane deve ter sentido isso também; ele se afastou da parede e subiu as escadas em direção ao seu quarto. Claire hesitou, então foi por essa direção.
— Ei. — Era a voz de Michael, suave e um pouco áspera, e ela olhou para ele quando ele se separou apenas um pouco de Eve. — Aquela coisa que você estava trabalhando para Myrnin. Tem algo nela. Eu senti. Eu achei que você deveria saber. Ela estava — surpresa, ela imaginou, e um pouco eufórica. — Obrigada — ela disse. A coisa estava parada como uma peça de motor particularmente grande na mesa da sala de jantar, e ela voltou, pegou-a e perguntou-se de novo o que exatamente ela seria capaz de fazer se ela pudesse realmente, realmente fazê-la funcionar. Algo maravilhoso, talvez. Ou algo horrível. Ela carregou-a para cima, e no corredor, ela hesitou. Todas as portas estavam fechadas, inclusive a de Shane. Ela respirou fundo, firmou-se e começou a caminhar nessa direção. Ela sentia-se um pouco como se estivesse indo ao seu próprio funeral. A porta de Shane estava fechada. Ela bateu na porta e ficou em silêncio esperando uma resposta. Ele não queria falar sobre isso, ela pensou, e mesmo que ela quisesse mantê-lo à distância por agora, deixá-lo entender o quanto ele a tinha machucado quando ele deixou de confiar nela... ainda doía. Então ela foi para o seu quarto, sentindo-se perdida e sozinha. Ela deixou as luzes apagadas. O cansaço, o frio, o desespero, de repente... demais. Ela só queria rastejar na cama e chorar até que ela morresse. Amanhã, ela teria que pensar em como deixar Morganville para trás, como sair para uma nova cidade, uma nova escola, um novo mundo... e de alguma forma fazer isso sem Michael, ou Eve, ou até mesmo Myrnin. E talvez até mesmo sem Shane. Mas ela simplesmente não conseguia enfrentar isso agora. Ela jogou a máquina sobre a cômoda e não se incomodou em tirar a roupa, apenas caiu sob as cobertas, tirou os sapatos, e se arrastou para baixo... e imediatamente sentiu o calor de um corpo ao lado dela, aproximando-se. Oh. Os braços de Shane ficaram em torno dela. Eles estavam lentos e hesitantes, e ele fez isso em um silêncio completo. Ele a puxou para mais perto, e mais perto, até que ela foi pressionada contra ele, suas costas contra a frente dele. Os lábios dele pressionando um beijo ardente, lento e macio na pele macia e suave na parte de trás de seu pescoço. — Eu sei que você não me chamou — ele disse. — Eu sei que você pode não querer que eu vá. Mas eu vou para Boston, e eu vou estar lá quando você
precisar de mim. Você não precisa dizer nada. Eu sei que eu tenho que ganhar a sua confiança de volta. Está tudo bem. Ela prendeu a respiração, suspirou e sentiu o seu coração se partir de novo, de uma forma totalmente nova e bela.
Continua...
PRÓXIMO LIVRO Fall of Night (Cair da Noite)
The Morganville Vampires Series