Daylighters - Os vampiros de morganville Vol.15

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Daylighters

RACHEL CAINE


The Morganville Vampires Series Glass Houses The Dead Girls’ Dance Midnight Alley Feast of Fools Lord of Misrule Carpe Corpus Fade Out Kiss of Death Ghost Town Bite Club Last Breath Black Dawn Bitter Blood Fall of Night Daylighters


Sinopse lgo drástico aconteceu em Morganville enquanto Claire e seus amigos estavam fora. A cidade parece mais limpa e mais feliz do que jamais foi vista antes, mas quando o grupo deles é preso e separado na entrada — os vampiros de humanos — eles percebem que as mudanças não são definitivamente para melhor. Parece que uma organização chamada Fundação Daylight tem oferecido à população de Morganville algo que ela nunca teve: a esperança de um futuro livre de vampiros. E mesmo que isso soe como salvação — até mesmo para os próprios vampiros — a verdade é muito mais sinistra e mortal. Agora, Claire, Shane e Eve precisam encontrar uma maneira de tirar seus amigos da Daylighter antes que os vampiros de Morganville tenham seu fim prematuro...


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Introdução

organville, Texas, não é como as outras cidades empoeiradas. Ela tem segredos. É uma cidade com comando, e quem comanda são os vampiros. Se você ficar, você trabalha para eles, assina acordos especiais por Proteção e paga uma taxa com trabalho ou sangue pelo privilégio de não ser, você sabe, comido. Isso funcionou por alguns séculos sob o toque de ferro-e-veludo da Fundadora, Amelie... mas os últimos anos tem sido tumultuados, problemáticos e de reviravoltas. Claire Danvers foi embora para se livrar disso ao embarcar em um programa de estudos especiais no ITM. Mas mesmo que você consiga tirar a garota de Morganville, você não consegue tirar Morganville da garota — e ela correu de cabeça em direção a um novo inimigo que sabia muito sobre os vampiros. A Fundação Daylighters. Agora Claire retornou para casa com seus companheiros de casa (Eve, Michael e Shane) e seus aliados (seu chefe cientista louco e bipolar, Myrnin; o antigo segundo em comando de Amelie, Oliver; a nova amiga vampira de Claire, Jesse) e a Dra. Anderson, uma cientista prisioneira que já foi nativa de Morganville e que agora se tornou uma traidora. Mas seu lar não está do jeito que eles deixaram...


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Capítulo 1

laire olhou para o outdoor rangendo que marcava os limites da cidade de Morganville, Texas, e pensou, eu deveria estar chorando. Sua melhor amiga, Eve, já estava dando soluços indefesos e furiosos. Claire se agarrou a ela e fez todas as coisas certas e simpáticas — murmurou que tudo ficaria bem, deu um tapinha nas costas dela e abraçou-a. Mas, embora ela tenha dito as coisas certas, ela se sentia... vazia. Seca enquanto a areia soprava através do deserto do lado de fora das janelas da viatura da polícia. Eles estavam sentados no banco de trás, atrás da tela metálica, e as portas não abriam por dentro. A viatura foi feita como um táxi, mas definitivamente não era já que ele levava você para onde você não queria ir. Ou seja, para a cadeia. E do outro lado de onde a viatura deles estava estacionada, quatro corpos flácidos de vampiros estavam sendo carregados em duas das ambulâncias da cidade — firmemente amarrados a macas, no caso da madeira ainda enterrada em seus corações para mantê-los mortos temporariamente não funcionasse. Claire identificou os rostos relaxados enquanto eles passavam: Oliver, uma vez o segundo-em-comando da Fundadora Amelie, agora exilado. Jesse, a vampira que Claire menos conhecia, uma bela mulher que parecia ridiculamente jovem e frágil agora, roubada (temporariamente, esperançosamente) de sua vida vampira. Então Myrnin, o vampiro bipolar chefe e amigo de Claire, seu cabelo escuro estava uma confusão selvagem ao redor de seu rosto branco e parado. Finalmente, e mais terrivelmente, Michael Glass, o amigo de Claire e o amor da vida de Eve. Sua pele ainda tinha a cor de mármore branco puro, e seus olhos azuis estavam abertos e sem brilho. Ele parecia mais morto que todos eles. — Está tudo bem — Claire sussurrou, certificando-se de manter o rosto de Eve afastado enquanto o corpo de Michael era levado. — Vampiros podem sobreviver a isso. Não é nenhum problema para eles se as flechas saírem em breve; eles não vão deixá-los no sol ou nada disso. Apenas respire, ok? Respire.


— Não era pelo que ela estava dizendo, era pelo fato de que sua voz era firme e calma, uma tábua de salvação em um oceano de caos. Eve respirou fundo, e seus soluços diminuíram e engataram a uma parada. Ela se recostou quando as portas da ambulância se fecharam e um após o outro os grandes veículos se afastaram para o asfalto de duas pistas em direção ao centro de Morganville — se Morganville tivesse alguma coisa que poderia ser descrita como um centro. Ela enxugou os olhos na parte de trás da mão dela, manchando o pouco de maquiagem que tinha restado do olho. O brilho de seu anel de casamento rubi captava a luz, e por um momento a parede de dormência de Claire estremeceu e ameaçou desabar para revelar a dor e o medo que ela tinha escondido por trás dela. — Você viu Michael? — Eve perguntou. Ela prendeu a respiração em outro soluço, e seus olhos avermelhados seguraram os de Claire. — Ele parece bem? Claire não sabia dizer, porque a visão de sua pele gelada e os olhos em branco a enervou absolutamente. — Ele vai ficar bem. Você sabe que ele é mais forte do que isso — ela disse. O que era uma coisa totalmente verdadeira, e além de qualquer argumento. — Eu sei, Deus, por que isso aconteceu? O que eles querem de nós? Eve disse isso como uma lamentação retórica, mas essa era a pergunta que fazia barulho na mente de Claire repetidamente. Por quê? Eles tinham voltado para Morganville para avisar a Amelie sobre várias coisas, nada menos do que o crescimento mortal de uma organização antivampiro chamada Fundação Daylight — e o fato de que um dos agentes mais confiáveis de Amelie, Dra. Irene Anderson (uma vez de Morganville), aderiu ao outro lado. Mas eles tinham sido recebidos pela polícia local em vez do pessoal de Amelie, e as coisas tinham ido por água abaixo. Os policiais haviam separado os seres humanos — Claire, Eve, e o namorado de Claire, Shane, além da prisioneira, Dra. Anderson. Então, sem qualquer aviso, eles derrubaram os seus amigos vampiros, que acabaram de ser levados para as ambulâncias e conduzidos para fora para destinos desconhecidos. Claire se contorceu no banco para olhar para o carro atrás deles. Não foi fácil para os policiais colocarem Shane dentro da viatura; eles acabaram algemando e ameaçando ele com um laser. Ele sentou-se rigidamente no banco de trás, olhando à distância como se estivesse a fim de uma surra. Próximo a ele, a Dra. Anderson caiu contra a janela, como se ela não se importasse mais em ser uma prisioneira. Claire sabia porquê eles tinham separado ela de Shane, e ela sabia que Eve precisava dela agora, mas ela queria desesperadamente estar com ele e fazer


todas as perguntas que estavam queimando em sua mente. Por que Hannah Moses faria isso? Afinal, a policial chefe Moses era a aliada deles, uma boa e confiável amiga. Mas ela não tinha mostrado nenhuma hesitação, nenhum remorso. A única maneira de interpretar o que aconteceu era que Hannah tinha livremente e voluntariamente se juntado a Fundação Daylight. Nada fazia qualquer sentido, e Claire precisava que fizesse sentido. Os seres humanos tomaram o controle de Morganville, Hannah tinha dito a ela, enquanto os amigos deles — os amigos mútuos deles — estavam imóveis no chão. Vampiros vão ser colocados em quarentena pela própria proteção deles. Não podia ser verdade. Isso só... não podia estar acontecendo. E ainda assim, obviamente estava. — Para onde eles estão levando ele? — Eve estava encarando as luzes piscando das ambulâncias que partiam. — Ela disse algo sobre quarentena. O que significa isso? Você acha que eles estão levando-os para o hospital? Eles pensam que eles têm algum tipo de doença? — Eu não sei — Claire disse. Ela sentia-se desamparada, e ela sabia que se ela se deixasse sentir alguma coisa, ela estaria tão irritada quanto Shane na outra viatura. Ele parecia pronto para mastigar a tela de aço. Mas se ela ficasse com raiva, ela também teria que deixar todo o resto entrar, todas as outras emoções que borbulhavam e ameaçavam dentro dela. Se ela fizesse isso, ela iria desmoronar, como Eve estava fazendo. Era melhor não sentir nada no momento. Era melhor ficar forte. A porta do lado do motorista se abriu e Hannah Moses ficou atrás do volante do carro da polícia. Ela se sentou e colocou o sinto de segurança em um movimento suave. Um auxiliar entrou do outro lado — novo, Claire pensou. Alguém que ela não conhecia. Mas ela reconheceu o broche que ele usava no colarinho do uniforme — um sol nascente, dourado. O símbolo da Fundação Daylight. Eve pulou para a frente e agarrou a tela, enfiando os dedos nela quando Hannah ligou o motor da viatura. — O que diabos você está fazendo, Hannah? — ela exigiu, e bateu na tela com força. — Para onde você vai levar Michael? — Ele está seguro — Hannah disse. — Nada vai acontecer com ele. Confie em mim, Eve. — Sim, sabe de uma coisa? Vai se ferrar. Eu não confio em você. Vocês todos nos apunhalaram pelas costas, você é uma vadi... Claire agarrou Eve e arrastou-a para longe, mudando a palavra para um grito de protesto. — Pare — ela sussurrou ferozmente no ouvido de sua melhor


amiga. — Você não vai conseguir nada fazendo-a ficar com raiva de nós. Apenas espere. Fique quieta e espere. — Fácil para você dizer — Eve sibilou. — Shane vai com a gente, pelo menos. Michael... nós nem sequer sabemos para onde estão levando ele! Ela tinha razão. Claire realmente odiava admitir, mas não havia absolutamente nada que elas pudessem fazer trancadas em um carro da polícia. E contrariar a pessoa que estava com as chaves das algemas delas provavelmente não era a melhor estratégia. — Nós não vamos desistir — ela disse a Eve. — Nós estamos apenas... aguardando o nosso momento. — E o que você acha que eles vão fazer com ele enquanto estamos esperando, exatamente? — Eve perguntou, puxando a tela novamente. — Ei, Hannah! Como é a sensação de esfaquear os seus amigos pelas costas? Espero que você não fique com sangue por todo o seu uniforme bem passado! O auxiliar se virou e deu-lhe um olhar frio e duro. — Fique sentada quieta — ele disse. — Se você não fizer isso, eu vou dar um choque em você até que você fique. — Com o quê, o seu hálito? Já ouviu falar do uso de fio dental, Auxiliar Débil Mental? — Eve — Hannah disse. Era um aviso, um evidente e simples, e foi reforçado pelo auxiliar — cujo hálito, realmente, meio que fedia — que tirou uma arma de eletrochoque. Embora Eve ainda estivesse fervendo de raiva, ela deixou para lá e sentouse, cruzando os braços sobre o peito. Em seguida, ela chutou o assento dele. Não causou nada, porque o banco era reforçado com uma placa de aço, mas ela provavelmente se sentiu melhor ao fazê-lo. — Ei — Claire disse, e estendeu a mão para a de Eve. Eve hesitou, em seguida, pegou-a e agarrou com força. — Vai ficar tudo bem. Ele vai ficar bem. Eve não disse nada. Ela provavelmente estava pensando, você não sabe disso, e ela estava certa. Claire não sabia disso. Ela se sentia fria, indefesa e vulnerável, e ela não sabia como isso poderia realmente ficar ok... mas por agora, nos momentos entre as oportunidades, tudo o que ela podia fazer era fingir. Q q q Eles esperavam que fossem levados direto para a prisão, ou pelo menos para o tribunal, mas em vez disso os dois carros da polícia viraram e se


dirigiram para os arredores de Morganville. Claire reconhecida a área, e ela não gostava nem um pouco. Não acontecia nada bom aqui fora nas extremidades da cidade; que estava cheia de prédios abandonados e pessoas abandonadas. — Ei — ela disse, inclinando-se para a frente, mas com cuidado para não tocar no tecido. — Com licença, mas para onde exatamente você está nos levando? — Não se preocupe. Vocês não estão em perigo — Hannah disse. — Tem alguém que quer conhecer vocês. Estamos quase lá. Quando Claire deixou Morganville, um monte de reconstrução já estava em curso em torno da cidade, mas não nesta área. Ninguém tinha pensado que tinha muito que valeria a pena salvar, ela suspeitava. Ela tinha principalmente antigas barracas em ruínas, armazéns apodrecendo e fábricas mortas há muito tempo. Agora havia grupos de homens se movendo com propósito, a maioria em coletes laranja, escavadoras mecânicas ruidosas nivelando o chão desigual e amontoados de restos de tijolos despedaçados, madeira e aço enferrujado. Outras equipes estavam levantando as molduras dos edifícios em áreas que já tinham sido limpas. Mais à frente, era muito óbvio que a construção estava em curso, algumas das quais já tinham sido pintadas e acabadas. Ela podia imaginar o que Shane estava murmurando no outro carro: Ótimo, eu saí da cidade e de repente tem bons empregos. Ele gostava de construção, e havia um monte de homens e mulheres lá fora, vestidos com camisas de trabalho e jeans, martelando, transportando, dirigindo as máquinas e criando. Era uma nova Morganville. Parecia... alegre. Esperançosa. — O que causou isso? — Claire disse. — Todas essas novas casas? — Elas são para os novos membros — Hannah disse. Sua voz estava calma e indiferente, e não demonstrava nada. Seu auxiliar, o que estava usando o broche da Fundação Daylight em seu colarinho, olhou para Claire. — Ao se unir a Fundação Daylight eles podem receber de graça novas moradias se eles quiserem. Isso atraiu muito entusiasmo e apoio. Metade dessas pessoas estão trabalhando como voluntários aqui. — Ela diminuiu a velocidade da viatura e fez uma curva à esquerda. — É bom deixar o passado para trás e construir um novo futuro, você não acha? Especialmente em uma cidade cuja história é tão obscura quanto Morganville. Claire não queria concordar, porque ela ainda sentia que havia muito que ela não sabia e não entendia completamente, mas o que Hannah tinha


acabado de dizer fazia sentido — ou faria, se ela confiasse na Fundação Daylight ao menos um pouco. Falando dos Daylighters... eles haviam renovado um dos antigos armazéns e construíram para eles mesmo uma nova sede. Era um grande edifício à frente, fresco e iluminado com uma pintura brilhante com uma grande placa giratória no topo do telhado. Ela cintilava com um dourado suave na luz solar quando virava — o mesmo símbolo do broche da Fundação Daylight que o auxiliar usava. Uma única imagem, algo que deveria parecer esperançoso. O nascer do sol, um novo dia, e tudo mais. Claire não acreditou. O que ela acreditava era que o prédio, apesar de toda a pintura alegre, parecia uma ótima proteção se chegasse a isso. As janelas eram todas altas, estreitas e não parecia que elas eram abertas. Paredes grossas também. Na verdade, se você ignorasse tudo além da construção, isso poderia facilmente ser uma prisão. Hannah parou no estacionamento — recentemente pavimentado, ainda fresco e preto, com listras brancas brilhantes demarcando espaços. Já havia cerca de cinquenta carros presentes, mas encheram menos de um terço dos lugares disponíveis. Você poderia colocar metade dos carros daqui de Morganville, Claire pensou, e teria espaço de sobra para estacionar ônibus grandes. Duas viaturas policiais já estavam no local, além de Hannah e a viatura que carregava Shane e a Dra. Anderson que estava estacionando no local ao lado. Ela achou que tinha reconhecido alguns outros veículos, mas ela não tinha certeza. Lá, ela percebeu, não tinha os carros de vampiros escurecidos. Nem um único. Hannah desligou o motor, mas nem ela nem o auxiliar saíram imediatamente; em vez disso, Hannah girou para olhar para Claire e Eve através da tela. — É assim que vai ser — ela disse. — Vocês vão se comportar, sair e caminhar com a gente para dentro do prédio, e vocês vão agir como jovens civilizados enquanto vamos apresentar a vocês o homem no comando. — Ou o quê? Você vai colocar uma nota permanente na minha ficha? — Eve zombou. — Ou você vai acabar algemada, talvez levar um choque, e o resultado final será exatamente o mesmo, só que muito menos sorridente — Hannah disse. — Então, eu realmente prefiro ignorar todos os desagrados e tornar isso o mais simples possível para vocês. — Ah, claro, você só está pensando em nós — Claire disse. — Eu entendo completamente.


Hannah deu-lhe um olhar longo e conturbado, como se ela entendesse que a rendição aparente de Claire era mais preocupante do que a agressão aberta de Eve. — Eu estou tentando ajudar vocês, crianças — ela disse. — Não façam eu me arrepender. — Eu não sou uma criança, e você emboscou o meu marido — Eve disse. — Eu vou sair daqui e dizer que há várias coisas que você vai se arrepender. Provavelmente, muito brevemente, porém, se isso faz você se sentir melhor. Hannah trocou um encolher de ombros com o auxiliar. — Bem — ela disse, — eu tentei. Se vocês querem tornar isso difícil para vocês, isso é certamente o direito de vocês, eu suponho. As duas saíram, e Hannah abriu a porta de Claire, agarrou-a pelo braço e empurrou-a firmemente contra a viatura com força. Então ela colocou a algema nas mãos atrás dela. — Desculpe — ela disse. — Mas eu vejo que vocês vão causar problemas. Vocês duas não vão tranquilamente. Shane estava causando problemas também, problemas suficientes para Claire ouvir que o auxiliar encarregado dele estava falando palavrão no outro carro enquanto ele tentava coagir o namorado dela em rendição. Hannah deixou escapar um rosnado frustrado e impaciente e virou Claire para encarála. — Acalme ele — ela disse. — Faça isso agora. Claire ergueu o queixo. — Por quê? — Porque se você não fizer isso, ele vai se machucar. Claire olhou por cima dela. Shane deve ter dado uma cotovelada nele antes que eles deixassem ele sob controle porque o auxiliar estava com um nariz sangrando. Agora Shane estava driblando e chutando, tentando passar pelas defesas do homem de novo. Provavelmente só para chegar até ela, porque não havia nenhuma maneira de ele escapar com as algemas que ele estava usando. — Shane — ela disse. — Não. Hannah, movendo-se lentamente e com calma, desabotoou a amarra em seu coldre e tirou a arma dela, que ela segurou ao seu lado. Ela olhou diretamente para Shane. — Ela está certa — ela disse. — Não me faça levantar essa arma, Shane. — Vai se ferrar — ele disse isso em uma respiração ofegante e deu a Hannah um sorriso desafiador. Ela levantou a arma. Ela apontou para Claire.


Shane congelou no lugar, seu sorriso desaparecendo rapidamente. — Você está blefando. — Provavelmente parece dessa maneira — Hannah disse. — Mas você me conhece bem o suficiente para saber que eu não aponto uma arma a menos que eu esteja pronta para atirar para matar. Eu gosto de você, Shane. Eu gosto da sua garota, aqui. Mas você está me testando, e eu realmente não acho que é uma boa ideia. Ele continuou parado. O auxiliar segurou ele e puxou as mãos atadas dele para cima o suficiente para fazer Shane ficar na ponta dos pés, seu rosto se contorceu de dor. Ele colocou a mão no ombro de Shane. — Anda, criminoso — o homem rosnou. Shane andou. Claire andou também. Eve tinha caído em um silêncio atento, mas, mesmo assim, Hannah algemou ela também. Isso era quase certamente um movimento sábio. As pessoas subestimavam muito Eve por causa do seu sarcasmo engraçado e seu rosto bonito-como-um-botão, mas eles eram um perigo. Eles deixaram a Dra. Anderson algemada e em silêncio no carro atrás delas, e Claire se perguntou sobre isso. Alguém tinha colocado uma nova calçada até a porta do armazém, e havia arbustos e galhos de árvores ao redor recém-plantados. Mesmo assim, andar nesse lugar parecia subir os degraus até aquelas forcas antigas; ela não sabia o que ia acontecer com eles quando eles entrassem. As portas de vidro grossas tinham o símbolo do sol nascente sobre elas, e as palavras FUNDAÇÃO DAYLIGHT abaixo dele. E, em letras douradas, TODOS SÃO BEM-VINDOS À LUZ. Isso soava agradável... a menos que você tenha conhecido os seguidores sob circunstâncias bem menos iluminadas. Digamos que, em um laboratório onde estavam maltratando vampiros. Hannah abriu uma das portas duplas, e uma lufada de ar refrigerado levantou arrepios nos braços nus de Claire. Ela esperava escuridão estilo caverna, mas quando seus olhos se ajustaram ao brilhante sol do lado de fora, ela percebeu que era quase tão brilhante por dentro graças a uma claraboia gigante sobre o saguão principal em que eles se encontravam. Banhada pelo brilho estava uma mesa de madeira com o símbolo Daylighters na frente dela e uma mulher mais velha bem vestida sorria gentilmente para eles. — Sra. Hodgson? — Claire gritou. Ela conhecia essa mulher; ela era uma vizinha de Lot Street, onde a antiga casa vitoriana deles era localizada. Uma


senhora agradável que sempre arrumava o seu jardim com suas flores e acenava para eles agradavelmente. Ela já levou cookies para eles no Natal um par de vezes. Cookies Snickerdoodles. — Claire? Eve? E oh, meu Deus, Shane, também. — A Sra. Hodgson parecia educadamente perturbada com a visão das algemas. — Não se preocupem. Não há absolutamente nada a temer aqui. Vocês estão na luz agora. Vocês estão seguros. — Ela levantou-se da mesa, revelando que ela estava usando um terno ajustado que era de 1960, completo com um colar brilhante de pérolas, e colocou crachás em suas camisas. — Eu vou cuidar de cadastrar a identidade de vocês. Eu não posso deixar vocês aqui sem identificação, não é? Pronto. Não foi tão ruim, foi? — Obrigada, Doreen — Hannah disse. — Avise a ele que estamos aqui, ok? — Absolutamente. Posso pegar alguma coisa para vocês? Um pouco de água, talvez? — Cerveja — Shane. — Shiner Bock, se vocês tiverem. — Oh, pare com isso — a Sra. Hodgson disse. — Você é muito jovem para beber, malandro. Esta não era uma situação onde eles estavam com vontade de sorrir, mas Shane sorriu um pouco, e balançou a cabeça. Ele gesticulou com a boca a palavra malandro para Claire com as sobrancelhas levantadas. Ela levantou a dela de volta. — Um pouco de água pode ser bom — Hannah disse. — Muito obrigada. Ela levou Claire até uma cadeira próxima e empurrou-a nela; Eve sentouse ao lado dela. O auxiliar manteve Shane de pé. A sala de espera era bem simples, dominada principalmente pela mesa ocupada pela Sra. Hodgson, mas havia algumas fotos nas paredes — Claire apertou os olhos contra o brilho da claraboia e viu as formas de várias pessoas em uma das fotos, de pé na frente desse prédio — mas nas fases iniciais de renovação, pelo que parecia. Ela percebeu que uma delas era Hannah, e a nova prefeita de Morganville, Flora Ramos. Além delas, as outras eram um mistério — exceto que ela notou um rosto padrão e repetitivo. Um homem baixo e magro, não havia nada realmente notável sobre as suas características. Doreen Hodgson voltou segurando garrafas de água e seguindo atrás dela estava o mesmo homem, em carne e osso. Ele não era muito impressionante na vida real, tampouco — menor do que Shane por dez centímetros, pelo menos. Ele usava um terno preto liso e uma camisa branca; as únicas cores sobre ele eram seus olhos muito azuis — quase da mesma cor surpreendente do de Michael — e uma gravata vermelha


de seda e lenço no bolso. Seu rosto tinha uma forma vagamente europeia oriental, mas isso era tudo o que Claire realmente poderia dizer sobre ele. Isso, e o fato de que seu broche da Fundação Daylight brilhava como ouro de verdade. Ele acenou para Hannah e disse: — Você pode soltá-los agora. Eu tenho certeza de que todos nós vamos ser civilizados. Além disso, eles dificilmente podem beber água se as mãos estiverem atadas. É importante iniciar esta conversa com confiança. Hannah acenou para o seu auxiliar, e enquanto ele soltava os lacres de plástico de Shane, ela puxou uma faca e cortou os lacres de plástico nos pulsos de Claire, e então de Eve. Doreen se apressou para colocar as garrafas de água em suas mãos recém libertadas — as garrafas frias e suadas lembraram a Claire quanto tempo fazia desde que ela tinha bebido alguma coisa. — Obrigada — ela disse, e colocou a garrafa na cadeira onde estava sentada. — Não estou com sede. — Era uma mentira, mas ela ainda não sabia o suficiente para confiar em qualquer coisa nesta situação, nem mesmo uma garrafa de água selada. As sobrancelhas pálidas do homem levantaram apenas um pouco. — É uma marca conhecida — ele disse. — Eu posso prometer a você que não foi adulterada. — Ele estendeu a mão para ela. — Eu sou Rhys Fallon. E você deve ser Claire Danvers. — Você está no comando aqui? — Claire perguntou a ele, sem apertar a mão que ele estava oferecendo. Ele baixou ao seu lado, não visivelmente ofendido. — Eu suponho que você possa dizer que sim — ele disse. — Embora eu goste de pensar que é mais como uma colaboração, e não uma ditadura. — Se você está no comando, você pode nos levar até os nossos amigos, agora — ela disse. — Seus amigos...? — Michael — Eve disse. — Oliver, Myrnin, Jesse. Você sabe. Os que você atirou e levou. — Ah. — Rhys cruzou suas mãos atrás em suas costas e, pela primeira vez, analisou Eve. Ele passou um longo e estranho tempo fazendo isso, e houve algo em sua linguagem corporal que alterou, só um pouco. — Eve Rosser, não é? — Eve Glass — ela disse, e levantou o queixo para deixar mais claro. Ele não pareceu notar.


— Estou muito feliz por conhecer alguém que é tão... lendária em Morganville. As descrições que eu ouvi não fazem-lhe justiça. — Ele sorriu para ela, e foi um pouco potente demais para se dirigir a uma mulher casada — a uma mulher casada com raiva. — Bem, eu sinto muito, e eu gostaria de poder conceder o seu pedido, mas não é possível agora. Michael e os seus outros amigos estão sendo bem cuidados, e depois eles serão completamente recuperados, eles vão ser colocados em uma prisão preventiva. Você será capaz de visitar mais tarde, talvez. — Eu quero ver o meu marido, e não há mais tarde e não há nenhum talvez. Eu quero ver ele agora. Eu não me importo com quem você pensa que é, você não pode... — Sim, eu posso — ele disse, e Claire foi atingida pelo fato de que ele disse isso sem ênfase. Não era um blefe; não era uma ostentação. Era apenas... um fato. Sem nem mesmo um pingo de remorso. — Eu sinto muito, senhorita Rosser... — Sra. Glass! — O rosto de Eve estava corado agora, e seus punhos cerrados. — ...mas você deve aceitar que as coisas são diferentes aqui do que quando você saiu da cidade. Eu acredito que melhores, mas você pode não concordar completamente ainda. Eu espero que você concorde, no final. Eu sinceramente quero. — Ele limpou a garganta e desviou o olhar, pela primeira vez, para Hannah Moses. — Nós vamos ter que discutir a... legitimidade de seu casamento depois. — O quê? — Eve quase pulou na garganta dele, ali mesmo, mas Hannah conteve ela com uma mão em seu ombro. — Do que você está falando? Nós nos casamos! Na igreja! — Como eu disse, uma conversa para mais tarde, talvez. Lamento incomodá-la. Ele deve ter sentido, mas ele definitivamente tinha aborrecido ela, e muito. As bochechas de Eve tinha ido de vermelhas a pálidas agora, e ela parecia instável. Ela não esperava por isso... nem um pouco. Claire disse: — Eu quero ver Amelie. Isso causou a sua atenção imediata. Seus olhos eram muito azuis, e nem um pouco calorosos. Não frios, tampouco. Apenas... inexpressivos. — Eu sinto muito, talvez você não tenha entendido — ele disse. — Isso simplesmente não é possível. E não vai ser no futuro próximo. Se você quiser falar com a pessoa encarregada de Morganville, já não é uma vampira. É a prefeita Flora Ramos, a representante devidamente eleita, que é como deveria ser. Ou você não


concorda que os seres humanos devem governar a si mesmos? A sua reputação era... um pouco diferente. Eu pensei que você tinha lutado para o livre-arbítrio e os direitos dos seres humanos nesta cidade. — Depende do humano — Claire disse. — Até onde eu sei, Hitler tinha pulsação e eu não votaria nele para estar no comando. Isso lhe rendeu um sorriso caloroso e lento. — Você acha que a prefeita Ramos é Adolf Hitler? — Você está fazendo ligações falsas, e eu não sei quem você é. Mas eu aposto que a prefeita Ramos obedece você. — Essa é uma dedução interessante, e eu pensando que você se surpreenderia com o quão livre a prefeita seria. Shane? Você está inexplicavelmente em silêncio. — De repente, ele se virou e olhou para o namorado dela, que olhou de volta sem qualquer mudança em sua expressão cautelosa e não disse nada. — Você vai deixar que a sua namorada faça todo o trabalho? — Sim — Shane disse. — Por quê? Está incomodando você, Rhys? Que tipo de nome é esse, afinal? — Irlandês. Eu não quis desrespeitar, eu simplesmente pensei que você seria mais... — Rhys apenas deu de ombros. — Bem. Forte. Shane apenas deu o seu sorriso mais doce e mais agradável, mas seus olhos estavam severos. E perigosos. — Ele é — Claire disse. — Assim como Eve e eu. Então. É melhor começar a responder às nossas perguntas, agora. — Você sabe, eu aprecio o seu entusiasmo, mas você trai a sua tenra idade quando você fala comigo dessa forma, porque eu não sou o seu prisioneiro, Claire. Você faria bem em notar esse fato com muito cuidado. Havia ameaça em seu tom agora, algo sutil, mas ainda sério. Fallon manteve o olhar de Claire por um longo momento, e então, sem desviar o olhar, disse: — Oh, Irene. Como você está, minha amiga? Claire virou assim que a porta de vidro se fechou atrás da Dra. Irene Anderson, que estava ali bloqueando o caminho deles para fora. A Dra. Anderson tinha sido a professora de Claire no ITM; Claire já tinha confiado nela, até mesmo gostado dela. Agora ela só odiava a visão dela — especialmente livre, armada e com um brilho pálido de ódio em seus olhos ligeiramente dementes. A Dra. Anderson levantou a espingarda que ela segurava, apenas para dar ênfase. — Eu estou bem, Rhys, obrigada — ela disse. — O que é mais do que eu


posso dizer de todos os nossos compatriotas de Cambridge. Eles mataram eles. Eles mataram todos eles. — Até mesmo o Dr. Davis? — Ele está morto. Estão todos mortos. — Ela virou a espingarda para Claire, Shane e Eve. — Hannah, dê um passo para o lado. Nós não podemos deixar esses colaboradores saírem vivos. — Irene! — A voz de Fallon era um inconfundível comando furioso, e ela se encolheu e olhou para ele, surpresa. — Ninguém vai fazer nada tão imprudente aqui. Largue isso, agora. — Mas... — Você ouviu o que eu disse? O que está errado com você, mulher? Você atiraria com uma espingarda em três pessoas que são pouco mais velhas do que crianças? — Confie em mim, eles são adultos — ela disse. — E eles não hesitaram em nos matar quando tiveram a chance. Você está cometendo um erro, Rhys, um grande. Você não pode lidar misericordiosamente com esses... amantes de vampiros. Eu já lhe disse antes, o mundo é melhor se você acabar com tudo isso de uma vez por todas. Sem meias medidas. Não subestime eles. Isso era meio que um elogio, Claire supôs, mas era aterrorizante também quando combinado com a espingarda carregada e o olhar meio louco em seu rosto. A Dra. Anderson gostaria muito de matá-los. E, aparentemente, a única coisa que realmente estava de pé em seu caminho era Fallon e, pelo que Claire sabia, ele estava pensando sobre as suas opções. Hannah calmamente removeu o seu revólver de seu coldre e segurou ele do seu lado. Então, ela disse: — Irene, por favor, abaixe a arma. Isso assustou a Dra. Anderson, e seus olhos se arregalaram quando ela se deu conta do fato de que Hannah tinha a sua própria arma pronta. — Você atiraria em mim? — Eu estou aqui para manter a paz — Hannah disse. — Você parece estar ameaçando ela. Então, eu estou pedindo gentilmente, por favor, largue isso e vamos todos ser civilizados. Fallon pareceu tomar a sua decisão. Ele deu três passos para a frente e colocou-se diretamente na linha de fogo — uma posição que Irene não poderia não acertar nele se ela atirasse. — Você não é assim, minha querida — ele disse. — Agora, deixe-me pegar essa coisa antes que alguém se machuque. Irene hesitou, mas ela baixou a espingarda da posição de tiro e entregoua a ele. Fallon abriu-a e colocou-a confortavelmente na curva de seu braço, como se ele estivesse familiarizado com os procedimentos de segurança


adequados da arma. — Obrigado — ele disse. — Sra. Hodgson, você poderia mostrar a Dra. Anderson os aposentos dela? Eu acredito que ela precisa de um descanso confortável e uma refeição, e talvez algum medicamento calmante. Obrigado, muito obrigado. Foi tudo muito caloroso e gentil, mas Claire ainda se sentia tensa enquanto observava a vizinha velhinha e simpática pegar a Dra. Anderson pelo braço e levá-la para fora através da porta distante, dando tapinhas nela e murmurando com uma voz calma e do jeito de uma avó. Se o último olhar escaldante que a Dra. Anderson enviou de volta em direção a eles era alguma dica, aquilo não estava funcionando. — Eu me desculpo por isso, mas para mim parece que há alguma justificativa para o quanto ela não gosta de vocês três — Fallon disse. — Vocês gostariam de contar a versão de vocês? Ou eu devo apenas levar isso ao pé da letra? Se eu fizer isso, vocês podem muito bem ir para a cadeia, acusados de assassinato. — Nós não matamos ninguém — Claire disse rapidamente quando Eve deu uma respiração forte, pronta para começar a gritar. — Nós fomos sequestrados. Fomos mantidos prisioneiros, sob a mira de armas. Nós lutamos para sair sim, pessoas morreram, mas nós não tivemos escolha. — Eles torturaram Michael — Eve disse. — Eles iam matar todos nós quando terminassem. Eles estavam usando Myrnin, Oliver e Jesse como ratos de laboratório também. — Mas vocês mataram eles — Fallon disse. — Já ouviu falar de legítima defesa? — Shane perguntou. Ele parecia tão calmo e medido quanto Eve parecia com raiva. — Foi uma cena ruim, e confie em mim, se eles eram amigos de vocês ou não, eles não eram boas pessoas. Eles sequestraram a colega de quarto de Claire, que não têm nada a ver com nada, e quase foi morta no processo. Eles mataram outro cara que estava apenas no lugar errado na hora errada. Um cara humano. Fallon considerou por um momento, então deu um olhar para Hannah, que deu de ombros. — Nós só temos a palavra deles contra a de Anderson — ela disse. — Irene pode ser amiga de vocês, mas eu conheço essas crianças, e eles geralmente tentam fazer a coisa certa. Eu acredito neles. — Legal. Será que isso significa que eu posso começar a segurar a arma? — Shane perguntou. — Talvez outra vez — Fallon disse. — Em qualquer caso, por quem quer que esses crimes foram cometidos, não foram cometidos aqui, e então estaria fora da jurisdição de Moses. Mas, por favor, não me interpretem mal; eu levo


a morte do meu povo a sério, e isso conta contra vocês. É necessária a cooperação sincera de vocês para evitar qualquer desconforto. Porque se acontecer qualquer outro problema aqui em Morganville, não será tão facilmente esquecido, vocês entenderam? Não são as antigas regras, as regras da Fundadora. Estas são as regras da lei e da justiça, e elas vão ser aplicadas independentemente de quem vocês são ou quem vocês conhecem. Belas palavras, Claire pensou. Ela se perguntou se tinha sido aquilo que tinha levado Hannah a ficar a bordo de seu trem. — Eu percebo que a sua declaração de lei e justiça não se estende aos vampiros — ela disse. — Vendo como você está disposto a mantê-los fora da vista. — Não, fatalmente, você deve ter notado. — A voz de Fallon era suave, mas firme. — Todo mundo vai ter uma oportunidade justa em Morganville. É por isso que a prefeita se juntou a nós e a chefe de polícia, — ele disse isso com um aceno educado na direção de Hannah, — e a maioria dos outros cidadãos e famílias. Você vê, a ameaça de Amelie para aqueles em Morganville foi removida, ninguém hesitou em falar o que pensam sobre o quão radicalmente a situação precisava mudar. Havia apenas uma parte disso que chamou a atenção de Claire — a ameaça de Amelie para aqueles em Morganville foi removida? Bem, ela imaginou que já deveria saber disso; se Amelie ainda estivesse no comando, ela não teria perdido tempo para fechar essa Fundação Daylight — não importava se custasse vidas. O que preocupava Claire era que Amelie era velha, inteligente e implacável, mas de alguma forma ela não esperava por isso. O que tinha acontecido com ela? Onde ela estava agora? — Onde você está mantendo ela? — Esse foi Shane perguntando, como se ele tivesse lido os pensamentos de Claire; também era incomum que ele estivesse preocupado com o destino dos vampiros, mas por outro lado, Amelie tinha principalmente ficado ao lado deles recentemente. — Ou você ignorou a perseguição e já matou ela? — Claro que não — Fallon disse. — Eu não estou aqui para matar. Estou aqui para proteger a população humana de Morganville, e para me certificar de que eles ganhem o controle que eles merecem sobre as suas vidas, isto é a minha primeira prioridade. Mas os vampiros são moradores desta cidade também, e vamos trabalhar para o bem deles a longo prazo também. — Então Amelie não está morta — Shane disse. — Você sabe que enquanto ela ainda estiver viva, você nunca vai ter o controle desta cidade, certo? É dela; ela construiu. Ela se vê como uma rainha, e ela não é do tipo que apenas desiste.


Claire sentiu como se a temperatura nesta sala iluminada pelo sol quente descesse para dez graus. Shane estava realmente de alguma forma advertindo Fallon a matar a Fundadora de Morganville? O pai de Shane tinha sido radicalmente antivampiro; Ele tinha convencido Shane a odiá-los também, pelo menos por um tempo. Mas ela pensou que ele tinha superado isso. Na maior parte do tempo. Fallon, no entanto, observou Shane com os olhos fixos e balançou a cabeça. — Como a própria Amelie, você superestima o quão as pessoas nesta cidade são afetuosas a ela e a sua espécie. Agora que eles estão livres do medo, das ameaças e represálias, eles simplesmente viraram as costas para ela e esqueceram que ela existiu. Ninguém vai ouvi-la ou tentar salvá-la, mesmo que ela decida fazer disso um tipo de luta. Eles não temem ela o suficiente. — Por que estamos falando sobre Amelie? — Eve perguntou em voz baixa e dura. — Eles estão com Michael. É com ele que devemos estar preocupados! Shane não respondeu. Ele estava com seu olhar fixo em Fallon, e Claire sentiu uma profunda onda de inquietação. Algo estava estranho nele. Esta não era a maneira habitual e desafiante que Shane confrontava alguém que tinha — no mínimo — feito mal aos seus amigos. Ela não conseguia identificar exatamente o que estava diferente, mas... estava. Definitivamente. — Shane — ela disse, e colocou a mão em seu braço. — Shane. — Isso chamou a atenção dele, e o vazio dentro dele desapareceu. Quando ele olhou para ela, ele estava normal novamente. Bem, normal para Shane, de qualquer maneira. Ele limpou a garganta e disse: — Sim, sobre isso, nós vamos precisar do nosso amigo Michael de volta. Intacto. — Ou? — Fallon perguntou. Não era um confronto, na verdade, apenas uma pergunta interessada. — Olha, você claramente não sabe com quem você está se metendo — Eve disse, e ela estava definitivamente confrontando, e muito. — Eu quero o meu marido de volta, Osama bin Louco, agora! E não me diga qualquer merda sobre como você não quer chamá-lo de meu marido, porque ele é, e sempre será! — Ela estava com tanta raiva agora que lágrimas brotaram em seus olhos, mas com um enorme esforço de vontade, ela se recusou a ceder aos soluços. Fallon pegou o lenço de seda vermelho do bolso e colocou na mão de Eve. Ele até mesmo bateu gentilmente em seus dedos quando os dedos dela apertaram em torno do tecido. — Eu sinto muito por aborrecê-la — ele disse. — Acredite em mim, essa não é a minha intenção. Eu vim para Morganville para trazer uma paz que nunca existiu aqui, e não apenas uma paz imposta pelo medo nas ruas, mas a verdadeira paz nos corações daqueles que vivem aqui.


Estou certo de que Michael não gostaria que você sentisse tal desconforto por ele. — Não se atreva a falar sobre o que Michael iria querer! Você nem sequer conhece ele! E Fallon, sem uma centelha de ressentimento, sorriu de repente para Eve — uma espécie de sorriso doce e desarmador. — É claro que você está certa — ele disse. — Eu não o conheço, mas tenho uma ligação muito verdadeira com ele. Veja bem, pelo que eu sei, Michael foi atacado por um vampiro e, bem, morto. Não é verdade? Eve, surpresa, não conseguia juntar as palavras, então Claire disse: — Ele não foi morto, exatamente. — Oh, não, eu lhe asseguro que foi. No entanto aquela casa extraordinária de vocês o salvou, não foi? Deu a ele uma meia-vida transparente de uma existência como uma espécie de fantasma? Ele tinha pouca escolha ao se tornar um vampiro, e eu entendo isso. Eu tive pouca escolha no que me aconteceu, tampouco, e é por isso que eu criei a Fundação Daylight, não para destruir os vampiros, mas para reabilitá-los. Para salvá-los. Vocês já viram o lema na porta: TODOS SÃO BEM VINDOS À LUZ. E isso é sincero. E eu acho que se vocês perguntassem a ele, realmente perguntassem, ele diria a vocês que ele não tem nenhum desejo real de ser um vampiro. Apenas os monstros desfrutam dessa existência. Eve arfou com uma respiração firme e disse: — Michael ainda é Michael, não importa qual seja a dieta dele, e eu quero estar com ele. Não me diga que não é seguro. Eu não vou me machucar! — Eu entendo. Eu acho que você acredita honestamente nisso. Bem, eu realmente deveria deixar Michael lhe dizer ele mesmo, não é? Talvez seja melhor se você ver ele, então. Hannah vai levá-la para uma visita curta, e nós vamos ouvir mais sobre isso depois. Ele tinha crença traçada nele, Claire pensou. Ela podia ver como ele poderia convencer as pessoas a segui-lo... até mesmo Hannah, que definitivamente não nasceu crédula. Ele tinha um ardor nele, força e coragem. Estava bem ali, para qualquer um que olhasse bem o suficiente. Deus, ela pensou, de repente friamente alarmada. Até eu mesma estou caindo nisso um pouco. Isso não era comum. Não para ela. Talvez quando ela tinha chegado em Morganville ela teria acreditado nesse tipo de carisma, mas ela tinha crescido desde então. Ela aprendeu a desconfiar de um rosto bonito e um sorriso vencedor.


Era estranho, mas algo nele lembrou de vampiros, e do charme que eles poderiam implantar para ganhar o que eles queriam. O que a deixava inquieta era que Fallon claramente não era um vampiro — ela podia ver a pulsação em sua garganta, a cor dele era boa, e não havia nenhuma outra sensação estranha que ela quase sempre tinha da gangue de presas. Ela estava tão envolvida em suas próprias reações que ela quase perdeu o que Fallon disse, e demorou alguns segundos para penetrar o que ele tinha dito, na verdade, ela só concordou. Ele iria deixá-los ver Michael, o que deveria ter sido, sem qualquer dúvida, uma vitória. Por que parecia muito mais como uma armadilha?


Capítulo 2 m certo dia — bem antes de Claire chegar em Morganville, e provavelmente antes de ela entrar na puberdade — havia existido um shopping na cidade. Não tinha sido um enorme, não como os templos enormes de shoppings que você poderia encontrar nas cidades maiores, como em Dallas ou Houston, ou até mesmo em Midland. Lá também nunca tinha tido quaisquer grandes cadeias de lojas, principalmente porque (como Eve tinha especulado, provavelmente com razão) Amelie não queria ter um tráfego regular dentro e fora da cidade ou incentivar os visitantes. E por mais humilde que uma loja Sears pudesse ser, ainda seria melhor do que qualquer outra coisa dentro de duzentos quilômetros, e isso teria feito as pessoas — pessoas que não conheciam — virem para Morganville. Assim, o único shopping abrigava lojas locais, e ele tinha sofrido ao longo de alguns anos em meados dos anos de 1980. Até o último negócio falhar e falir, deixando vazia e para trás uma das maiores estruturas de Morganville — o que dizia muito, considerando que havia muitas estruturas vazias em torno da cidade. A antiga fábrica de pneus e o hospital mais antigo, por exemplo, eram bastante gigantescos. Mas a maior diferença para Claire era que ela nunca tinha sido forçada a correr por sua vida no antigo shopping. Sempre lhe parecera mais um lugar triste do que um mal. Quando o carro da polícia parou em um dos lugares de estacionamento rachado e deserto, ela achou que isso estava prestes a mudar. — Certo — Hannah disse, e virou-se no banco da frente para olhar para eles. Os três tinham estado amontoados no banco de trás desta vez, o que na verdade era reconfortante; Claire amava o calor e a solidez de Shane sentado no meio, mesmo que ele desconfortavelmente estivesse empurrando-a em direção ao plástico duro da porta. — Regras, pessoal. Nós temos regras, e vocês vão obedecê-las. Primeira regra é, vocês fazem exatamente o que os meus policiais disserem, sem hesitação ou dúvida. Se eles disserem para vocês deitarem no chão, vocês comem terra. Se eles disserem para vocês pararem, vocês se tornam uma estátua. Estamos entendidos?


— O que diabos aconteceu com você? — Shane perguntou a ela. — Porque eu tenho certeza que você costumava ser legal, Capitão Óbvio. — Assim como você — Hannah respondeu. — Então seja legal agora, ou você vai acabar algemado. Fallon disse que vocês queriam ver Michael, e eu vou fazer com que isso aconteça, mas vocês têm que ser legais. Ninguém tinha uma resposta para isso. Eve parecia tensa, seus olhos estavam enormes, como se ela estivesse com medo de fazer qualquer coisa para estragar a chance de ver o homem que amava — mas também, Claire pensou, como se ela estivesse pronta para roer barras de aço para chegar até ele, se necessário. Em momentos como estes, Eve parecia exatamente o que era: forte e determinada. Fallon veria isso quase certamente como uma ameaça, esse tipo de devoção. — Cuidado com ela — Claire sussurrou para Shane, e conseguiu um aceno de cabeça quando Hannah saiu do carro da polícia e abriu a porta de Eve. — Vou cuidar de você primeiro — Shane sussurrou de volta, em seguida, deslizou em direção à saída. Claire seguiu, piscando na luz forte do dia do deserto novamente; a tonalidade nas janelas da viatura não era escurecida para vampiros, mas tinha envolvido ela em uma falsa sensação de estar em um lugar mais suave e agradável, a realidade seca e empoeirada atingiu-a em cheio. O shopping tinha dois andares, e foi construído com tijolos da cor de lama seca. Sem janelas. Tinha a forma de um retângulo — sem toques arquitetônicos extravagantes aqui. As letras de aço enferrujadas ainda se agarravam ao lado do edifício, ou pelo menos a maioria delas dizia: SHOPPING BITTER CREEK. Apesar de algumas letras terem caído ou terem sido roubadas, então lia-se SHO PING BIT ER EEK. O que parecia apropriado de alguma forma estranha. Dois policiais militares estavam na parada de descanso fora das portas duplas que levavam para o shopping, e Claire reconheceu um deles. Ele prendeu Shane uma vez — embora não fossem poucas pessoas que fizeram isso. Hannah deu a ambos acenos breves, parecendo a porteira mais intimidante existente, e os policiais abriram a entrada e afastaram-se para deixá-los entrar. Cheirava a abandonado. Essa foi a primeira coisa que Claire notou — o fedor de mofo do carpete velho, poeira, sujeira — o cheiro de um lugar que os seres humanos tinham rejeitado há muito tempo. Um tom fraco de podridão também.


E tranquilo. Tão, tão tranquilo. O som de seus passos ecoava em torno de um saguão aberto com piso rachado, azulejos sujos em um estilo de cores vivas que deve ter sido moda na Idade das Travas quando o local foi construído, mas agora parecia antigo e desajeitado. Uma fonte seca e sem vida de três camadas estava no canto. A luz acesa era fraca na melhor das hipóteses; claraboias, Claire encontrou quando olhou para cima, elas estavam imundas, e o plástico tinha envelhecido e se tornado um amarelo opaco sem vida. Isso dava a todos eles uma palidez doentia. — Aconchegante — Shane disse. — A intenção era um mercado dos semteto viciados em heroína, não é? — Nós trabalhamos com o que tínhamos — Hannah disse. Ela parecia apenas um pouco defensiva. — Vamos deixar mais limpo e mais habitável, mas eles não parecem se importar tanto assim com a decoração. Eles significavam os vampiros, Claire percebeu, porque apesar do silêncio, eles definitivamente não estavam sozinhos. Figuras silenciosas apareceram nas sombras como manequins abandonados. Mesmo quando as figuras se moveram, foi mais como fantasmas caminhando — silenciosos e misteriosos. Tantos vampiros. Mas nenhum deles veio para fora para o saguão. Eve deu uma respiração forte e súbita. — Jesus! — ela engasgou, e Claire sabia que ela tinha visto eles também. Havia algo profundamente inquietante na maneira que eles estavam sendo observados. Como presas. Como inimigos. — Fiquem onde estão — Hannah disse quando Eve deu um passo na direção deles. — Eles sabem as regras; eles ficam fora do saguão a não ser que chamamos especificamente os seus nomes. — Ou o quê? — Shane perguntou firmemente. Ele não gostava disso mais do que Claire. — Que tipo de punição você vem dando? Hannah não respondeu isso — ela não queria, Claire pensou. Mas ela estava com a mão sobre o que Claire tinha pensado originalmente ser uma espécie de rádio em seu cinto — uma caixa preta com botões na parte superior com uma luz verde piscando. Talvez não fosse um rádio, afinal. — Michael Glass — Hannah disse. Ela não elevou a voz, mas, em seguida, em um shopping cheio de vampiros, ela realmente não precisava fazer isso. — Estamos aqui por causa de Michael Glass. Michael, um passo à frente, por favor. Ele não deu. Amelie deu.


Era como se de alguma forma as sombras se separassem em torno dela, mas Claire sabia que não era o caso; Amelie simplesmente havia se mudado para a frente sem parecer se mover, e de repente ela estava em pé na borda nos azulejos, os dedos do seu pé alinhados muito precisamente com a fronteira. A Fundadora de Morganville estava vestida com um branco impecável, incrivelmente limpa e pura contra o brilho amarelado sujo. Seus olhos prateados pálidos pareciam quase incolores, e por experiência, Claire sabia que isso significava que Amelie estava em sua aparência mais perigosa. — O que você quer com Michael? — ela perguntou. Ela estava com as mãos cruzadas na frente dela, uma posição calma e de repouso, e sua linguagem corporal era vigilante. — Eve quer vê-lo, para ter certeza de que ele está bem. Isso fez Amelie sorrir, só um pouco. Era uma espécie de expressão de calafrio, e ela abaixou o queixo apenas o suficiente para fazer isso parecer assustador. — Sim, eu tenho certeza de que todos vocês estão simplesmente cheios de preocupação com o nosso bem-estar. — Ele é o meu marido! — Eve disse bruscamente. — Olha, eu tive que lutar para chegar até aqui. Não seja uma babaca, Amelie. Isso interrompeu a concentração de Amelie, e ela parecia um pouco confusa quando empurrou a palavra para fora. — Babaca? — ela disse lentamente, como se estivesse testando as sílabas. — Ah. Você acha que eu sou a culpada? Você tem muito a aprender, Eve. Mas se você quiser ver Michael, vou mandá-lo para fora assim que Moses me garantir que ele vai permanecer ileso e será devolvido no mesmo estado. — Devolvido para você? E quanto a mim? — É claro que você não entende o que está acontecendo em Morganville — Amelie disse. — Então, eu vou te perdoar por não compreender o quanto de perigo que você coloca Michael ao separá-lo da minha proteção. — Ela assentiu com a cabeça ligeiramente, e do outro lado do saguão, Oliver apareceu. Ele estava segurando Michael pelo braço. Michael se libertou, e por apenas um piscar de olhos Claire o viu claramente na penumbra: um cabelo selvagem dourado em volta do rosto, olhos azuis claros fixados em Eve. De todos eles, ele era o que parecia menos com um vampiro, exceto pela palidez de sua pele. Ele parecia um anjo Renascentista ganhando vida, se os anjos espirituosos usavam jeans e camiseta. Ele estava usando algo preto ao redor de sua garganta, e por um segundo Claire pensou que fosse uma das gargantilhas de Eve, do tipo de colarinho de cão, no entanto, seria uma coisa estranha para ele usar. Ela mal podia vê-lo, e


então ele era um borrão dirigindo-se em uma velocidade de vampiro através dos azulejos. Hannah apertou um botão na caixa do seu cinto, e Michael parou. Não, não só parou, ele interrompeu o passo, tropeçou e caiu de joelhos, tremendo. — Vá devagar — Hannah disse. — Não me faça levar isso ao próximo nível, Michael. Mova-se devagar. — Sim — Amelie disse das sombras. — Faça o que ela diz, Michael. Eve, depois de um olhar ardente para Hannah, atirou-se para fora do espaço aberto e correu para baixo ao lado de Michael. — O que você fez com ele? — ela perguntou. — Ele está ferido! Michael, baby, você está bem? Michael! — Ele está bem — Hannah disse, e levou seu dedo para fora do botão. — Nenhum dano permanente, eu prometo. Mas eu tenho que garantir que todo mundo obedeça às regras. É a única maneira de isso funcionar. Os vampiros não tinham se movido, mas havia um sentimento novo no ar, Claire pensou. Um tipo de estresse que era reforçado pelo que soou quase como um sussurro. Um grunhido. — Eu estou bem — Michael disse. Ele soava instável, mas ele passou os braços em torno de Eve e segurou firme. — Deus, aí está você. Com todos os pedaços. Eu estava tão preocupado. — Eu? Não fui eu que recebi uma flecha no peito, garoto. — Eu não sabia o que tinha acontecido com você. — Ele ergueu as mãos para envolver o rosto dela, e pentear o cabelo preto dela para trás. Ele estava crescendo de novo, e ela não tinha trançado, portanto ele caía em uma cortina elegante. — Eu estava tão assustado que eles... eles tivessem feito alguma coisa com você. Você não está machucada? — Apenas os meus sentimentos — Eve disse. — Ver como a nossa velha amiga ali enfiou uma faca nos nossos ombros. — Ela acompanhou a sua declaração com um gesto rude, ao qual Hannah não se incomodou em reagir. — Docinho. — Ela estendeu a mão para o colar em volta do pescoço dele. Ele pegou as mãos dela e segurou-as nas dele quando ela tentou puxar. — Querido, o que é essa coisa em torno do seu pescoço? — Colar de choque — Shane disse. — Não é, Hannah? Como você colocaria em um cão. Você colocou em todos eles. — Temos de manter a ordem — Hannah respondeu. — É a maneira violenta para fazermos isso. Eles precisam ficar dentro deste edifício para a própria proteção deles, e precisamos de ordem para a segurança dos meus policiais.


Amelie tinha o mesmo colar, Claire percebeu. Assim como Oliver, que estava com os cabelos grisalhos soltos e selvagens ao redor dos ombros. E onde estava Myrnin? Seu coração pulou uma batida e, em seguida, acelerou. Ela não o via em nenhum lugar. Certamente ele estaria aqui se ele fosse capaz, aquilo significava que ele não estava apto a aparecer. Havia algo errado com ele. Michael tinha se firmado agora, e ele beijou as mãos de Eve e, em seguida, se inclinou para pressionar os seus lábios nos dela — uma espécie de beijo suave e gentil que a fez soltar um gemido quando acabou, e enterrar o rosto na curva de seu pescoço. Ele se agarrou a ela, mas manteve os seus olhos azuis fixos em Hannah. Sua expressão era difícil de ler. Claire nunca tinha visto ele parecer tão fechado. — Eve não pode ficar aqui — ele disse. — Você não pode deixá-la ficar aqui comigo, você sabe disso. Nem mesmo se ela quiser. — Eu não faria isso — Hannah disse. — Eu sei o quão perigoso seria, mesmo que ela se recuse a admitir. — Você está louco? — Eve disse. Sua voz foi abafada contra seu ombro, mas Claire ainda ouviu claramente. — Não, eu não vou a lugar nenhum, e eu não vou deixar você ficar preso aqui sem mim. Eles não vão conseguir deixálo em algum tipo de zoológico-de-vampiros. Você vai voltar para casa onde você pertence. Conosco. Comigo. — Ele não pode — Amelie disse. — Se ele deixar este lugar, ele será morto. Não por nós, é claro. Por aqueles que são nossos... protetores. — A ironia não passou despercebido por ela, Claire pensou, percebendo o franzir de seus lábios. O gosto disso deve ter sido amargo. — É verdade? — Shane se virou para olhar para Hannah, mas ela continuou a dar um olhar de meia-distância. — Ei. Eu estou falando com você, moça! — Eu ouvi você — ela disse. — Ele está certo de que não é seguro para os vampiros estarem fora deste enclave. — Enclave? — Claire ouviu a indignação em sua própria voz, embora ela tentou segurá-la de volta. — Eu não me importo que tipo de nome legal você quer dar para fazê-la se sentir melhor. É um campo de prisioneiros. — Eles estão aqui para a própria proteção deles. — Uma merda! — ela respondeu, e Shane colocou a mão em seu ombro. Surpreendeu-a o suficiente para impedi-la de proferir o resto do que ela estava prestes a dizer, o que provavelmente não teria sido tão bom. — Claire — ele disse, — vamos respirar fundo. Talvez, talvez isso não seja uma coisa ruim.


— O quê? — Talvez nós precisemos apenas pensar um pouco mais — ele disse. — Quero dizer, com os vampiros obedecendo as regras... o que há de tão errado com isso? Eles com a maldita certeza não obedecem a ninguém a menos que eles estejam com medo de alguma coisa. Nem mesmo as regras que fazem para si mesmos. Certo, Amelie? — Você está sendo tolo — Amelie disso. — E desleal com o seu amigo. — Ei, senhora, eu tenho me curvado durante anos por aqui sem julgar vocês, sanguessugas, não importando que tipo de coisas horríveis que vocês tenham feito. Me dá um tempo. E você sabe de uma coisa? Para variar, me dê um pouco de respeito também. Porque eu mereço isso. Todos nós merecemos. Todos nós, pobres seres humanos e estúpidos. — Shane não estava totalmente errado, Claire teve que admitir, embora ele geralmente não fosse tão rude sobre isso. Mas por outro lado, os vampiros normalmente não teriam deixado ele dizer essas coisas sem represálias. — Talvez todos nós devêssemos mostrar um pouco de bom senso e concordar que os vampiros não são a coisa mais segura do mundo para ter à espreita em seu bairro... — Obrigado por estar do meu lado, mano — Michael disse. — Eu não estou dizendo que este é o caminho certo para fazer isso. Mas talvez seja a ideia certa, manter os vampiros e seres humanos separados. — Shane tremeu um pouco, como se ele estivesse com frio, mas Claire percebeu que seu rosto estava corado e ele estava suando. Não estava muito quente aqui, provavelmente tinha um ar condicionado para o conforto dos guardas. Ele realmente não parecia bem, Claire pensou, e pegou a mão dele. Parecia quente-febril. Ele estava doente? Ela podia sentir os tremores passando por ele, mais e mais. — Shane? O que está errado? Você está queimando! — Claire colocou o dorso da mão contra a testa dele, ou tentou. Ele atingiu o braço dela para longe. Ele chocou-a, e ela o surpreendeu também. Ela viu o arrependimento imediato em seus olhos, mas quando ele tentou falar, ele engasgou. — Shane? — Eu preciso sair daqui — ele disse. — Eu não posso ficar aqui... — Ele não conseguia dizer o resto, apenas continuar engasgando. Seu rosto parecia cinzento e úmido. — Leve-o para fora e deixe-o conseguir um pouco de ar fresco — Hannah disse. — Eu vou ficar aqui com Eve. Nada vai machucá-la. Claire não queria ir; ela não queria que Eve se sentisse sozinha e abandonada. Mas algo estava claramente muito errado com Shane, e ficando pior a cada respiração que ele dava. Ela não pensou mais. Ela só agarrou seu


braço e puxou-o para a luz jorrando através das portas de vidro grossas. Quando ela tentou a fechadura de metal, ela não se mexeu. Trancada. Ela bateu com urgência sobre o vidro, e o policial do exterior finalmente abriu, mas bloqueou o caminho. — Só um minuto — ele disse. — Onde está a chefe Moses? — Está tudo bem, Bud — Hannah chamou atrás dele. — Deixe-os sair. Ele não parecia convencido, mas ele deu um passo para trás, e Claire puxou Shane sobre o solado da porta e para baixo da calçada, para fora, para a luz solar forte e o brilhante do ar seco do deserto. Ele praticamente se dobrou quando atingiu o meio-fio, e sentou-se com dificuldade com a cabeça entre as mãos. Os tremores, porém, foram diminuindo, e enquanto ela acariciava seu cabelo, ela achou que ele estava ficando cada vez melhor. — Shane? — ela perguntou. — Shane, o que diabos foi isso? — Eu não sei — ele disse, e engoliu ar. — Deus. Eu não sei. Parecia que eu estava queimando de dentro para fora. Talvez, talvez seja melhor você voltar, por Eve. Eu não posso, Claire. Eu só não posso. — Por que não? Ele definitivamente e inexplicavelmente estava melhor aqui fora, longe do shopping e dos vampiros. E quando ele olhou para cima, ela viu a estranha luz em seus olhos. Parecia quase medo. — Porque eu quero matá-los — ele disse. — Os vampiros. Eu quero matar todos eles. É como o que eu senti por toda a minha vida, mas multiplicado. E se eu voltar lá, eu não acho que eu possa controlar isso. Ela olhou para ele, chocada, e ele levantou os ombros em um pequeno encolher de ombros. Ele ainda parecia estranhamente ruborizado, e suor colava fios de cabelo em sua testa. — Eu não sei — ele disse. — Eu não sei porquê. Por favor, não me peça para explicar isso, ok? Porque eu não posso. Mas de alguma forma ela pensou que ele podia. Ela viu como ele agiu ao longo tempo em torno de Michael e dos outros vampiros na viagem de volta. Havia algo de errado com ele. Realmente errado, de forma que assustava a ambos, mas Shane estava tentando esconder e ignorar tudo isso. Não era hora de pensar nisso, no entanto, e ela empurrou para longe o seu desejo de interrogá-lo até que isso fizesse algum tipo de sentido, não importava o quão distorcido; ele estava certo — ela precisava voltar. Para Eve. Para Michael. Para Myrnin, porque se alguém sabia onde ele estava, esse alguém era Michael.


Ela beijou Shane, e então se levantou e voltou para as portas. O guarda — Bud? — não veio para cima dela dessa vez; ele apenas silenciosamente desbloqueou e deixou-a voltar, e ela caminhou até ficar ao lado do local onde Eve e Michael ainda estavam ajoelhados perto da fonte. Eles não pareciam com a pretensão de soltar um ao outro, mas Eve olhou para cima e levantou as sobrancelhas, silenciosamente fazendo a pergunta. — Eu não sei — Claire disse. — Mas ele se sente melhor lá fora. Era quase como claustrofobia ou algo assim. — Estranho — Eve disse. — Porque aquele garoto nunca hesitou em rastejar em espaços pequenos, e isso não é exatamente limitado. É um shopping center. — Talvez seja a alta proporção de vampiros — Michael disse, e conseguiu dar um sorriso, embora fosse pequeno. — Quero dizer, se eu não estivesse já na equipe dos mordedores, eu poderia estar um pouco intimidado. — Shane? Intimidado? É melhor você agradecer por ele estar lá e não aqui fazendo você comer essas palavras — Eve disse. Ela balançou a cabeça. — Não, algo não está certo com ele. Foi estranha a forma que ele reagiu. Estranha e errada também. Claire, mantenha um olho sobre ele, ok? — Eu vou — ela disse, e hesitou por longos segundos antes que ela olhasse para Michael. — Hum... eu tenho que perguntar, porque eu não os vi, mas e quanto a Myrnin, e Jesse...? — Eles estão bem — Michael disse. — Bem, você sabe. É Myrnin, então bem provavelmente não é tão preciso, mas ela está mantendo ele calmo em um dos quartos daquele lado. — Ele balançou a cabeça em direção à escuridão, para o canto do nordeste onde alguns lugares com venezianas escuras se escondiam. — Ele está tendo dificuldade em aceitar... a situação. — Ele bateu no colar com um dedo e deu a Hannah uma olhada rápida. — Você sabe como ele fica quando se sente preso. Oh, ela sabia, e ela se sentiu deprimida com a ideia de como Myrnin, de todas as pessoas, teria reagido a usar um colar de choque. Hannah teve, provavelmente, que substituir as baterias na unidade de comando dele várias vezes, porque uma coisa a respeito de Myrnin era que ele era teimoso, e ele simplesmente não desistia. Jesse estava, provavelmente, segurando-o com toda a sua força para mantê-lo de vir aqui — e sem dúvida não pela primeira ou última vez. Ela se absteve de perguntar mais alguma coisa, principalmente porque ela estava ciente de Hannah ali de pé, e ela realmente não confiava em Hannah agora. Ela era leal a Fallon, obviamente, ou ela não estaria segurando o botão


dos colares de choque. Não seria sensato dizer muito perto de Hannah, já que tudo seria reportado à Fundação Daylight. Mas ela se virou para Hannah e fez uma pergunta que parecia perfeitamente óbvia. — Você não pode manter um bando de vampiros aqui assim para sempre — ela disse. — Não importa que tipo de dispositivos de treinamento você coloque sobre eles. O que você está planejando fazer com eles? Hannah nunca olhou para ela diretamente. Ela estava observando Amelie, Claire percebeu — observando qualquer sinal de problema vindo da rainha vampira. Mas Amelie não parecia estar inclinada, ainda, a dar ordens ao seu povo. — Nós planejamos ajudá-los — ela disse. — Isso é tudo. Nós pretendemos ajudá-los a ficar melhores. — Sim — Eve disse. — Você está ajudando muito. O que é isso, um Acampamento de Reeducação de Vampiros? Você está pensando em ajudá-los a aprender a viver sem sangue? Vampiros vegetarianos? O silêncio que seguiu foi tão profundo que fez os músculos já tensos de Claire doerem e contraírem. Havia algo na expressão cuidadosamente controlada de Hannah que a fez se sentir enjoada e assustada. — É provavelmente hora de irmos agora antes que isso fique mais confuso — Hannah disse. — Vamos embora, crianças. Eve levantou a cabeça do ombro de Michael. Havia lágrimas em seus olhos, mas ela não estava chorando. Ela estava zangada demais para chorar. — Eu não vou deixá-lo. — Eve, ela está certa. Você não pode ficar — ele disse em uma voz suave. Ele passou a mão pelo seu cabelo preto lustroso, deixando seus dedos passarem por eles, e tocou seus lábios suavemente. — Você tem que ir, Eve. Você não ficaria segura aqui. — Por que não? Eles não estão te alimentando? — Eles estão nos alimentando. Eu vou ficar bem — ele disse, e beijou-a. — Eve, eu vou ficar bem. Apenas vá, ok? Claire, leve ela. Por favor. Claire não queria, mas ela podia ver que ele estava falando sério; quando ela hesitou, ele a fitou com um olhar calmo e firme até que ela se moveu para a frente e colocou a mão debaixo do braço de Eve para levantá-la. — Não — Eve disse. — Não, eu não vou, Claire. Eu não posso... não podemos deixá-lo aqui... — Talvez não, mas também não podemos tirá-lo — Claire disse. As palavras tinham um gosto horrível em sua boca, como cinzas e ferro, e ela teve


que engolir em seco para continuar. — Ainda não. Mas nós iremos, Eve. Eu juro para você, isso não acabou. Hannah disse: — Acabou por agora. Michael, se mova de volta para a linha. Vamos. Ele se levantou e caminhou de volta para onde Oliver estava esperando na borda dos azulejos — exatamente o oposto de onde Amelie estava de pé em seu brilhante terno branco. Oliver colocou uma mão no ombro de Michael. Talvez ele quisesse apenas segurá-lo, mas para Claire parecia... conforto? Estranho, se for isso. Oliver não era muito de empatia. Mas por outro lado, o olhar no rosto de Michael — perdido, vazio, impotente — iria comover qualquer um. Exceto Hannah, aparentemente, que os levou direto para a porta. Quando ela abriu, porém, Amelie disse, sem se mover de onde estava: — Obrigada por permitir que Eve visse ele, chefe Moses. Eu não esquecerei a sua bondade. — Parecia inconfundivelmente arrepiante, e os ombros de Hannah ficaram tenso por um segundo, então deliberadamente relaxaram. — Eu tenho certeza de que você não vai — Hannah disse. — Qualquer um que se mover, todo mundo vai ser jogado no chão. Está claro? — Sim — Amelie disse. — Você fez-se muito clara, de fato. Nenhum dos vampiros se moveu. Era como olhar para uma sala cheia de estátuas silenciosas e pálidas, mas o ódio em seus olhos era como nada que Claire tinha visto antes. Não se admira que Michael não queria que Eve ficasse. Esse tipo de fúria presa não se incomodava com distinções sutis, e haveria alguns nesse shopping que não se importariam com quem matavam... contanto que eles desabafassem a raiva em um ser humano. Assim que a porta se fechou, Claire ouviu Amelie dizer, suave como um sussurro: — Não se preocupem. Vamos vê-los muito em breve. A luz do sol parecia tão fria como o inverno. Shane estava andando perto da viatura, pálido e agitado, e ele estava esfregando o braço como se estivesse machucado. Ele parou e olhou para elas quando Claire caminhou em sua direção. — O que diabos aconteceu? — Ele não esperou por uma resposta, no entanto; ele agarrou o outro braço de Eve e ajudou a segurá-la. — Droga, Eve... — Eu quero voltar — Eve disse. Ela soava estranha e instável. — Eles vão matar todos eles, eu sei que eles vão, eles vão fazer alguma coisa terrível com Michael. Eu tenho que voltar. — Ela tentou se afastar, mas Shane e Claire agarraram ela. Hannah abriu a porta traseira do carro-patrulha. Ela ainda não estava olhando para eles, olhando para qualquer lugar, menos para eles, na


verdade. Seu rosto poderia ter sido esculpido em pedra. — Por favor, não faça isso, Shane, por favor, deixe-me ir... — Você não pode sequer chegar perto de entrar lá de novo e você sabe disso — Shane disse. — Eve. Você não pode, e Michael não iria querer que você fizesse algo louco assim. Vamos. Ele a colocou dentro do carro e deu a volta para impedi-la de sair pelo outro lado; Claire ficou no espaço de um lado de Eve enquanto ele entrava no outro. Ela não estava lutando contra eles, mas ela não estava ajudando, tampouco. Pelo menos ela não está com raiva, Claire pensou, mas ela não tinha certeza de que isso era uma melhoria. Sem lágrimas, sem gritos. Apenas isto... silêncio. E então havia Shane, ainda agindo inquieto à esquerda de Eve, franzindo a testa e esfregando e batendo no antebraço enquanto Hannah tomava o assento do motorista. — Podemos apenas dar o fora daqui? Isso fez com que Hannah lhe desse uma longa olhada no espelho, mas ela ligou o motor. A linguagem corporal tensa de Shane pareceu aliviar um pouco quando o carro se afastou do exterior sem vida e sinistro do shopping. Bitter Creek era um bom nome para ele, Claire pensou. Definitivamente não era um tipo de lugar feliz. Preocupava-lhe que ela não tenha visto Myrnin.


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Capítulo 3

annah levou eles para a Glass House. A casa parecia diferente. E não era apenas o tempo que Claire passou longe que causou isso. Alguém tinha pintado. Tinha feito uma boa reforma também — o exterior era um brilhante branco puro, em vez da bagunça desbotada e descascada que tinha sido antes. As molduras estavam azul escuro vivo. Parecia quase respeitável. O gramado estava até mesmo aparado. — Que diabos foi isso? — ela deixou escapar antes que pretendesse, e enviou a Shane um olhar incrédulo. Ele retribuiu com um olhar alargado. Ele não tinha participado da equipe de trabalho então. Nem Eve, aparentemente, porque ela engoliu em seco, endireitou-se e disse: — Hum, o que é isso? — A cidade financiou um programa de renovação para todas as restantes Casas da Fundadora — Hannah disse. — Para preservar a nossa história. Não me diga que vocês não estão satisfeitos. Parece muito melhor do que a bagunça em ruínas que era antes. Parecia. As cercas estavam retas, as tábuas entortadas tinham sido substituídas na varanda e as janelas na verdade brilhavam. No topo do telhado pontiagudo um novo cata-vento em forma de um nascer do sol (eca) rangeu e se virou na direção da brisa, e quando Hannah abriu a porta do carro, Claire ouviu o som dos sinos de vento sussurrando e tinindo. Alguém tinha colocado um conjunto deles na beira da varanda, junto com um grande vaso de plantas que parecia novo e saudável. O lugar era bonito e muito bacana e nem um pouco deles. — Diga-me que vocês não tocaram em nada lá dentro de casa — Eve disse. — Porque eu juro que eu vou cortar alguém. Nós gostamos da casa da maneira que nós deixamos! Essa é a nossa casa! — O que ela não disse, mas Claire pensou que ela quase tinha ouvido era: é a casa de Michael. E seu coração doeu por ele, e por Eve. — Ninguém entrou na casa — Hannah lhes assegurou. — Este foi um projeto de renovação do lado de fora. Eu achei que vocês iam ficar satisfeitos.


— Vocês poderiam ter pedido primeiro — Eve disse, mas depois do choque inicial, um pouco de sua antipatia estava desaparecendo. E sim, a casa parecia fantástica — restaurada para toda a sua glória vitoriana elegante e sólida. Claire percebeu que só destacava o quão pouco eles tinham tomado conta do lugar... Mas por outro lado, eles tinham outras prioridades, como manter-se vivos. E nenhum deles se esforçava muito nas tarefas diárias. — Vamos entrar — Shane disse. — Ei, Hannah? Diga ao Daylighters para não nos fazer mais favores. Eu não quero dever a eles. Hannah não comentou sobre isso. Ela só abriu a porta traseira da viatura e Shane saiu, seguido por Eve, e por último, Claire. Subir os degraus foi uma experiência totalmente diferente. A tinta ainda era nova o suficiente para deixá-la tonta, e seu cheiro era misturado com o cheiro de grama recém-cortada e novas plantas no ar quente do deserto. — Acho que nós vamos ter que começar a regar a maldita grama agora — Shane disse, e se atrapalhou com as suas chaves. — Era muito mais fácil de cuidar quando era uma devastação. Vejam a tinta na porta. Eu tenho certeza de que ela ainda está molhada. Quando Claire os seguiu através do solado da porta, ela sentiu um arrepio de poder rastejar sobre ela... a casa, acordando de um sono e ganhando vida, acolhendo-os para a casa. Tinha a sensação de um novo sopro de ar fresco, e também, estranhamente, como mãos acariciando seus cabelos. Ela fechou a porta e trancou dando duas voltas — hábito enraizado em Morganville — e se encostou na madeira para respirar profundamente. No interior, ainda cheirava familiar. Madeira velha, poeira, papel — não um cheiro limpo, mas um bom. As paredes internas precisavam de pintura, assim como do lado de fora precisava; elas estavam manchadas, riscadas, amassadas de uso árduo. Nenhum dos quatro se esforçavam muito na limpeza das superfícies, e quando Claire olhou para a sala de visitas, ela viu que a mesa de café oval — substituída relativamente recentemente, depois de metade do mobiliário ter sido esmagado em uma luta — tinha uma mancha de poeira sobre a sua superfície. O velho sofá vitoriano parecia tão caído e desgastado como sempre. Shane e Eve já tinham se afastado pelo corredor, Shane indo em direção ao sofá mais moderno e estofados da sala de estar e as botas desajeitadas de Eve ecoavam na escada que levava até seus quartos. Claire passou por alguns degraus, e apenas... parou. Ela fechou os olhos e sentiu um tipo peculiar e quente de paz. Lar.


Ela sentia quase como se fosse a própria casa dizendo: Aqui é onde você pertence. Ela se lembrava de sair daqui para a sua breve viagem ao ITM na escuridão da madrugada, carregando suas malas para baixo e tentando não acordar qualquer um dos outros para que eles não soubessem que ela estava saindo. Ela lembrou-se da sensação de excitação, de preocupação, de saudade, de medo, de angústia... e de devastação. Parecia a cura estar de volta. Parecia a coisa certa. — Claire? Ela abriu os olhos. Shane estava de pé no final do corredor, e seus olhos escuros estavam cheios de preocupação. Ela sorriu para ele e viu a tensão se acalmar. — Eu estou em casa — ela disse, e caiu em seus braços. Eles se fecharam ao redor dela, fortes e quentes. — Eu estou em casa, Shane. Estamos em casa. — Sim — ele disse, e soltou um suspiro longo e lento. — Em casa. Mas não é exatamente o que deixamos para trás, não é? — A casa, ou Morganville? — Qualquer um dos dois. — Parece o mesmo aqui. — Não muito — ele disse. — Não sem Michael. Ele estava certo sobre isso. Q q q Eve não queria comer, mas Shane encontrou bastante material de cozinha para fazer uma refeição de espaguete e molho de carne, embora o molho de carne tivesse o gosto suspeitosamente de pimenta-malagueta. Pimenta em conserva. Eve empurrou mecanicamente em sua boca, mastigou e engoliu, o que era tanto quanto Claire pensou que poderia razoavelmente esperar dela agora. Ela tinha os olhos ocos, exaustos e apenas... vazios. Shane tentou perguntar a ela coisas que normalmente teriam uma resposta bem-humorada de Eve, mas ela ou as ignorou ou respondeu com encolher de ombros, até que finalmente ele largou o garfo e disse: — Então, Eve, qual é o seu plano? Sentar aí e parecer triste e deprimida até que alguém se sinta tão mal com os seus sentimentos a ponto de devolver Michael? — Vai se ferrar — ela disse. Soou mecânico, mas, em seguida, um fogo apareceu em seus olhos e começou a arder mais quente. — Sério, cara, vá se ferrar. Como você se atreve?


— Como você se atreve? — ele respondeu. — Porque a Eve que eu conheço não ficava apenas sentada e se tornava a garota propaganda da terapia. Peça Depressia ao seu médico hoje, o remédio que faz você não se importar com nada. — Você acha que eu não me importo? — De repente ela se levantou com os punhos cerrados, e honestamente, Claire pensou que Eve podia arremessar o outro lado da mesa nele. A cor estava elevada e quente no rosto de Eve, e ela estremeceu com fúria. — Como você pode pensar isso, seu idiota? Você que foi embora para começar! E talvez se você tivesse me ajudado lá... — Se eu tivesse ficado no shopping, eu teria começado uma merda que iria matar a todos nós, e você sabe disso — Shane disse categoricamente, e Eve deu uma respiração firme para responder, em seguida, soltou lentamente, sem uma resposta. Ela olhou para ele por um longo momento. — O que diabos está errado com você? — ela perguntou. — Eu não sei — ele disse. Mas ele estava mentindo, e Claire sabia; ela percebeu que Eve também sabia, e as duas compartilharam olhares rápidos confirmando. A atenção dele estava fixa em Eve, e Claire rapidamente estendeu a mão, agarrou o braço dele e puxou a manga do casaco jeans. Era o braço que ele estava esfregando mais cedo. Nele, ela viu uma cicatriz vermelha vívida na forma de uma mordida. Curada, mas inflamada, como se ele tivesse sido infectado. — O que é isso? Ele puxou para longe dela, franziu a testa, e puxou a manga de volta para escondê-la. — Nada. — É onde o cão estranho mordeu ele — Eve disse. — Eu me lembro. Foi naquela noite quando você foi embora. Ele não era normal, era? Algum tipo de cão vampiro esquisitão. — Não era um cão vampiro. — Como você sabe? — Porque eu só sei. Porque se fosse um cachorro vampiro enviado para morder as pessoas, então eu não iria querer matar vampiros, não é? — Shane deixou escapar. Ele estava pálido, de repente, e um pouco instável, e quando ele pegou o garfo, sacudiu contra o prato, e então o deixou cair novamente. — Olha, eu fiz o máximo para não ir atrás deles no caminho de volta para aqui de Cambridge. Eu não conseguia nem mesmo ficar em torno de Mikey por muito tempo sem querer... querer ir atrás dele. Machucá-lo. Isso não foi nada comparado a voltar aqui. E no shopping... foi demais. Era como se eu tivesse


que atacar. Precisasse rasgá-los. E não, eu não sei o que é isso, e sim, eu estou com um medo da porra, está bem? Eu estou apavorado. Isso deixou um silêncio envolvendo a sala. Eve abriu a boca novamente, fechou-a, e, lentamente, sentou-se na cadeira. Claire se sentiu congelada no lugar, incapaz de pensar no que dizer. Sua garganta estava grossa e apertada, e ela engoliu em seco para limpá-la, em seguida, estendeu a mão na direção dele. Ele se encolheu, mas foi apenas um pequeno movimento, não um de verdadeiro recuo. Ela descansou os dedos suavemente em seu ombro, em seguida, acariciou o seu cabelo. Ele parecia quente, do jeito que ele estava no shopping. Febril. — Shane, você está doente — ela disse. — Alguma coisa aconteceu com você. E nós precisamos descobrir o que é e como ajudá-lo. — Doente ou não, pelo menos eu não estou preso em uma gaiola com um colar de choque em volta do meu pescoço — ele disse. — Eve está certa. Não podemos deixá-lo assim. Eu vou ficar bem. — Você não está — Eve disse, e deu uma risada amarga e irritada. — Ok, nenhum de nós está bem. Precisamos fazer um monte de coisas, mas antes de tudo, Shane, precisamos descobrir o que está acontecendo com você. Eu posso estar deprimida, mas pelo menos eu não sou o Sr. Assassino Lobisomem. — Ela parou por um segundo, e depois balançou a cabeça. — Ok, eu estava prestes a dizer que deveríamos ver se Myrnin sabia o que poderia ser, mas... não. Não podemos ir até nenhum vampiro, eu suponho. Sala de emergência? — Eles não sabem de nada — Shane disse. — Mas eu sei alguém que sabe. Hannah. Ela estava lá quando eu fui mordido. Ela disse que havia mais cães, mais mordidas. Ela sabe alguma coisa, de qualquer forma. — Eu não confio em Hannah. — Não brinca. Nem eu, tampouco, mas não é como se nós tivéssemos uma tonelada de opções, Eve. Eu não quero ir salvar Michael e acabar fazendo algo que eu me arrependa. O que parece realmente provável no momento. Eu quase perdi o juízo lá. E eu posso fazer isso novamente, e eu juro por Deus, eu não quero. — Seu rosto ficou severo, e seus olhos escureceram até parecerem quase pretos. — Então, se Hannah sabe o que está acontecendo comigo, então ela vai me dizer. Isso foi sinistro, e o senso de inquietação de Claire ficou mais forte. — Shane, não... Ele já tinha se levantado da mesa com o seu prato e o garfo na mão. Não era típico dele não terminar uma refeição, mas ainda havia uma pequena montanha sinuosa de espaguete sobrando quando ele levou para a cozinha.


Eve empurrou a sua comida para mais longe e disse: — Claire, estamos em apuros. Você sabe disso, certo? — Sim — Claire disse. — Coma o seu espaguete. Eve obedientemente levantou uma garfada à boca, mastigou e engoliu, em seguida, disse: — Você sabe que eu te amo, mas confie em mim, uma coisa que a viagem extravagante para Boston não ensinou a aquele garoto? Como fazer um molho de espaguete. A crítica de Eve a comida era por algum motivo estranho e engraçado, Claire soluçava enquanto ria. E Eve começou a rir também. Shane voltou através das portas da cozinha e olhou para elas, o que só as deixou rindo impotentemente e irremediavelmente ao ver a expressão no rosto dele. — Desculpe — Claire engasgou. — Não é engraçado. — Eu sei! Mas... a comida... estava... — Muito ruim. — A linguagem corporal de Shane relaxou, só um pouco. — Sim, eu esqueci a arte de combinar a merda dos ingredientes enquanto eu estava fora da Cidade da Fantasia, não foi? — Cidade da Fantasia? Você viu onde eu morei! — Seu riso finalmente deslizou para longe, mas pelo menos ela foi deixada mais feliz do que antes. Eve conseguiu dar outra mordida, por solidariedade, provavelmente. — Tem razão. — Ele se sentou e apoiou os cotovelos sobre o local vazio onde o seu prato tinha estado. — Vocês têm que colocar uma coleira em mim, ok? Eu acho que eu não posso confiar em mim agora. — Uma coleira de verdade? Porque eu tenho uma — Eve disse. — Ela tem spikes no colar e tudo. — Já fiz isso — ele disse. — Lembra? — E com um choque Claire se lembrou; parecia há muito tempo agora, mas uma vampira terrível levou ele com uma coleira para uma festa, e a memória disso ainda revirava o seu estômago. E o dele. E o de Eve, aparentemente, porque ela deixou o garfo cair sobre o prato, empurrou a coisa toda para a distância, e apoiou a testa em suas palmas. — Desculpe — ela suspirou. — A minha é mais para fins recreativos, de qualquer maneira. Eu não acho que ajudaria a segurar você. — Recreativos, okay, esquisita, eu não quero nem saber disso — Shane disse. — Vamos fingir que nunca aconteceu. O que eu quis dizer foi, eu estou contando com vocês duas para checar se eu estiver indo para um precipício. — Entendido — Eve disse. — Eu vou chutar a sua bunda nesse meio tempo. — Tente não quebrar nada enquanto você faz isso.


— Tipo uma unha? — Ela inspecionou as unhas pintadas de preto, que estavam parecendo um pouco mal feitas, provavelmente ela não teve muito tempo para manicure recentemente. — Você tem razão. — Em seguida, ela cruzou as mãos e olhou para ele com toda a ousadia posta de lado. — O que vamos fazer agora, hum? Ir ver Hannah, ou não? — Vamos — Claire disse. — Mas Shane, você não vai falar. Eu vou. Estamos claros? — Claros — ele disse e assentiu. — Apenas um pedido. — O quê? — Podemos parar para um hambúrguer? Porque, sério, eu estou morrendo de fome. Q q q Tudo em Morganville, até mesmo os lugares de hambúrgueres, tinham recebido uma reforma ou estava no processo de receber uma, e enquanto Eve dirigia o seu grande carro fúnebre preto vintage ao redor da cidade, eles passaram muito tempo abrandando a velocidade, encarando e balançando as suas cabeças. — Eu queria ter investido na loja de ferragens agora — Shane disse. — Eu estaria nadando em dinheiro com as vendas de tintas. — Ele estava certo sobre isso. Quase todos os prédios já tinham uma nova pintura reluzente ou tinha pessoas em escadas aplicando uma. Os poucos edifícios que não tinham sido pintados tinham adesivos laranjas brilhantes aplicados sobre eles — um sinal de que os trabalhos de pintura estavam a caminho ou que seriam multados por não ter um. — É pior do que isso — Eve disse, e apontou para a frente. — Olha o Dog King. O Dog King era uma relíquia da década de 1950, com uma placa vintage — era um pequeno drive-through de cachorro-quente e hambúrguer, para dizer no mínimo, parecia mal elaborado, exceto pela placa totalmente incrível de um cachorro Dachshund usando uma coroa, um pão de cachorro-quente e um sorriso arrogante. A barraca inclinada tinha sido demolida e reconstruída como uma nova loja brilhante que tinha sido pintada com um azul muito questionável. A placa, pelo menos, não tinha sido tocada. — Certo, o Dog King então — Eve disse, e virou na entrada recémpavimentada. Ainda era o tipo de lugar peça-pela-janela, de modo que isso não havia mudado, e ela pediu um saco de mini-cachorros, hambúrgueres, batatas fritas e refrigerantes para todos, e jogou as compras em Shane e Claire para


eles escolherem enquanto ela dirigia o monstro que era o seu carro. As curvas acentuadas era uma coisa que o carro fúnebre não era ótimo em fazer, mas ela conseguiu não raspar nem na pintura nova do edifício, nem na cerca. Claire parou de prestar atenção nisso, porque o cachorro-quente que ela agarrou estava derretendo em sua boca tão deliciosamente que apagou totalmente a experiência não-tão-boa do espaguete de pimenta. Depois de dois mini-cachorros para Claire e dois hambúrgueres praticamente inalados por Shane, Eve estacionou o carro na frente da (não surpreendentemente) recentemente remodelada prefeitura de Morganville, onde a chefe Moses tinha o seu escritório. Eles ficaram no estacionamento e mastigaram o resto da comida, observando o tráfego de pedestres vindo e indo. — Vocês estão vendo o que eu estou vendo? — Eve perguntou finalmente quando ela amassou o último dos embrulhos e arremessou para dentro do saco que Shane ergueu como uma cesta. — Morganville nunca pareceu tão bem — ele disse. — É como aquele filme antigo sobre as esposas dos robôs ou os extraterrestres ou algo assim. Sério, olha para a grama. É realmente verde. E uniforme. — Não, idiota, eu quero dizer os broches. Vários broches na polícia. — Eve apontou para um colar imaginário. — Broches da Fundação Daylight. Se eles ficarem mais populares, eles vão colocar isso na maldita bandeira. — Ótimo — Shane disse. — Todo mundo tem broche. Nós vivemos em uma casa de fraternidade gigante do mal agora. A aparência gótica da frente do edifício parecia antiga, mas tinha sido justamente recentemente reconstruído; o envelhecimento da pedra foi feito com jatos de areia. Ainda assim, parecia taciturno e impressionante, pairando sobre eles enquanto eles caminhavam até as portas grandes e pesadas. Dois policiais pairando na entrada deram aos três olhares frios e indiferentes, bem, bastante comuns, na verdade. A polícia da cidade nunca tinha sido amigável, especialmente com Shane e Eve. Um deu de ombros, no entanto, e abriu a porta para eles quando eles se aproximaram. Ambos, Claire percebeu, usavam broches. No interior, era profissional como de costume em Morganville — funcionários se movendo ao redor, telefones tocando, pessoas em pé na fila para licenças, bilhetes, ou seja lá o que for. Mas havia uma diferença, de alguma forma; era intangível, mas estava lá. Claire não conseguia apontar o que parecia errado, ou pelo menos estranho, mas tinha algo a ver com os sorrisos excessivos e os tons felizes de suas vozes.


— Alguém esteve tomando um suco em pó de Cheery1 — Eve disse. — Eu acho que você quis dizer Cherry2, esperta. — Eu quis dizer cheery, idiota. Tente acompanhar — Eve disse, e deu a Shane um empurrão no ombro. — Chega de turismo. Este é o seu espetáculo. Coloque o pé na estrada. Ele andou até as escadas que levavam ao segundo andar, desceu o corredor e abriu a porta que dava para o escritório de Hannah Moses. Não o escritório que ela tinha antes ocupado como major; este tinha uma policial do sexo feminino com aparência perturbada sentada atrás de uma mesa trabalhando com um telefone multi-teclas. Ela lançou para eles um olhar irritado quando os três entraram. Ela bateu na tecla EM ESPERA e disse: — A Chefe Moses não vai ver ninguém hoje. Ela está em reuniões. — Pode dizer a ela que é Shane Collins? — Eu não me importo com quem você é. Ela está ocupada. Shane inclinou ambas as mãos sobre a mesa da funcionária. — Diga a ela que é sobre a minha mordida de cão. Eu acho que eu posso estar com raiva. Havia algo em seu rosto que convenceu a mulher. Ela franziu a testa, olhou-o por alguns segundos, em seguida, apertou outro botão em seu telefone e disse: — Sim, eu preciso de você no escritório, por favor. Obrigada. — Excelente — Shane disse. — Nós estaremos bem aqui. — Ele caminhou até uma pequena fila de cadeiras de espera. Claire sentou em uma com Eve ao seu lado, enquanto Shane folheou uma variedade de revistas rasgadas... e então a porta se abriu. Não era Moses. Era, em vez disso, o maior e mais musculoso policial que Claire já tinha visto. Mais largo e mais alto do que Shane. Seu olhar fixou imediatamente na policial atrás da mesa. — Você tem algum tipo de problema aqui? — ele perguntou. Ela apenas apontou sobre seu ombro para Shane e continuou falando com quem quer que seja o cliente ao telefone no momento. — Merda — Eve disse. — Hum... pessoal? Era tarde demais. O policial se movimentou pesadamente, e Shane se levantou rapidamente, derrubando a sua revista no chão. — Eu acho que teve algum mal-entendido — ele disse. — Porque eu não pedi pelo Policial Amigável. Eu pedi...

1 2

Cheery: Significa alegre. Cherry: Nessa frase a Eve faz um trocadinho de Cherry (cereja) com Cheery (alegre).


Isso foi o máximo que ele falou antes do policial agarrá-lo pelo ombro, virar ele e apertá-lo contra a parede, sacudindo o quadro suave pendurado lá. — Cale a boca — ele disse, e pegou algemas. — Você quer dizer que eu tenho o direito de ficar em silêncio? E quanto ao meu direito a um advogado, eu tenho? Ai. Olha, você nunca fez isso antes, não é? Deixe-me ajudá-lo... — Cale a boca, espertinho. Você está criando uma perturbação. — Eu só quero ver a chefe Moses! — Moses está ocupada. Você vai me ver ao invés. — Deveríamos estar fazendo alguma coisa? — Eve perguntou a Claire, que ainda estava congelada sentada em sua cadeira. — Porque eu meio que estou acostumada a Shane ser preso, mas isso parece errado. Você não vai fazer as perguntas? Claire sacudiu-se da sensação de irrealidade que se instalara sobre ela, e se levantou. O Policial Amigável (o nome realmente se encaixava) passou os olhos para analisar ela, então a ignorou. Ela tentou de qualquer maneira. — Senhor, nós conhecemos Hannah Moses. Ela não iria querer que você fizesse isso. Nós só precisamos fazer algumas perguntas a ela. Perguntas importantes. A moça ao telefone, que tinha acabado de terminar a sua chamada e, finalmente, desligou o telefone, revirou os olhos. — Sim. Algo em relação a uma mordida de cão. Curiosamente, o Policial Amigável parou por um par de segundos, e então agarrou Shane pelo ombro, virou-o de frente para ele e disse: — Você foi mordido por um cachorro? — Isso foi dito com uma preocupação e ansiedade, uma combinação tão estranha que Claire não conseguia ver sentido nisso. Nem Shane, baseado em sua expressão. — Quando? Shane conseguiu se libertar, apesar das algemas e do aperto em seu ombro. — Um tempo atrás. O policial virou o namorado de Claire, subiu uma das mangas de Shane, não tinha nada, e tentou a outra. Ele olhou para a cicatriz avermelhada por um segundo, em seguida, pegou as chaves e abriu as algemas. — Desculpe, garoto — ele disse. — Eu vou chamar a chefe. Se sente. Apenas isso e ele foi embora. Todos eles — até mesmo a policial/recepcionista — pareciam silenciosamente confusos, e passou um minuto até que a porta de vidro fosca abriu novamente a mostrou Hannah Moses.


— Desculpe — a moça atrás do balcão disse, — mas este jovem foi muito insistente... Hannah a ignorou. Ela caminhou até Shane, agarrou o seu braço — o correto — e olhou para a cicatriz. — Droga — ela disse. — Venham comigo, todos vocês. Ela os levou para o seu escritório, onde ela bateu e trancou a porta atrás deles. — Eu só... — Shane começou, mas então ela levantou um dedo para impedi-lo, foi atrás de sua mesa e abriu uma gaveta. Ela virou uma espécie de interruptor, em seguida, assentiu. — O que é isso, uma porcaria de espião? — Shane perguntou. — Uma porcaria de espião — ela afirmou, e sentou-se na cadeira do escritório com rodas. — Eu sabia que você tinha sido mordido, mas com a pressão de todo o resto, isso evaporou da minha mente. Eu sinto muito. Quais são os tipos de efeitos colaterais que você está sentindo? — Espere um minuto. Quem diabos está tentando ouvir você? Todos os vampiros estão presos lá, não fazendo compras no shopping — Eve disse. — A menos... você não confia em seu novo chefe brilhante. Eu acho que é o seu novo chefe, certo? Fallon, o Fanático? Hannah não respondeu. Ela só se fixou em Shane com aquele olhar firme e esperou até que ele dissesse: — A sensação da mordida é muito estranha, na verdade. Não estava tão ruim quando eu saí de Morganville, mas piorou na estrada, e piorou quando eu cheguei em casa. Começou pequena, como uma espécie de dor no meu braço, mas depois começou a parecer... compulsiva. — Compulsiva para caçar vampiros. Combatê-los. Matá-los — Hannah disse. — É por isso que você saiu tão de repente do shopping. Você não conseguiu controlar mais. — Sim — ele disse. — Parecia que algo estava me dominando, e eu não gostei. Ainda não gosto. Olha, eu não estou dizendo que eu sou do fã clube dos vampiros ou qualquer coisa, mas eu não odeio tanto eles, não como eu costumava odiar. Não como o meu pai odiava. — Isso era incomum, Claire pensou, Shane aparentar assim... impotente. Perdido. — Eu só não sei o que eu estou fazendo. Eu só sei que eu não quero. — Hannah... — Claire se sentou em uma das cadeiras de visitantes e se inclinou para frente, olhando para a chefe. — Por favor, nos diga o que está acontecendo. Por favor. Nós precisamos saber. Hannah olhou para o lado, como se estivesse recompondo-se por um momento, e então assentiu. — A Fundação Daylight tem conduzido uma


pesquisa por um longo tempo — ela disse. — É uma organização antiga, muito antiga, embora eles tenham saído só recentemente do esconderijo. Eles realizam experimentos genéticos; alguns funcionaram, outros não. Alguns acabaram criando coisas que eles acharam útil. — Como os cães do diabo — Shane disse. — Como o que me mordeu naquela noite. — Os cães foram parte da equipe avançada de Fallon — Hannah disse. — Ele viu uma oportunidade, com o exílio de Oliver de Morganville. Achou que havia agitação suficiente, dado o que aconteceu, para depor Amelie de sua posição. E ele estava certo, maldito. Ele estava certo demais. — Mas... eu pensei que você estivesse... — Eve apontou para o pingente Daylighters no colar de Hannah. Como resposta, Hannah desabotoou a manga engomada de sua camisa da farda e enrolou-a, revelando uma marca de mordida irregular que parecia tão inflamada quanto a que Shane esteve escondendo. — Alguns de nós teve escolha — ela disse. — Ou eu sou o cão de caça ou eu sou a adestradora de cães. Ele mantém os instintos controlados com uma medicação que me dá. Sem isso, eu sou apenas mais uma do bando. — Ela acenou para Shane quando ela atacou de volta os seus botões da manga. — Como você, garoto. — Espere um segundo, eu não sou parte de nada... — Não? — Hannah inclinou a cabeça para ele. — Só Porque Fallon não se preocupou em fazer uso de você ainda. Ele não precisava. Mas ele irá, Shane. Ele certamente precisou de mim, e dos outros. — Quantos outros? — Eve perguntou. — E o que você quer dizer exatamente sobre ele estar fazendo uso deles? Porque se há algo que eu odeio mais do que o controle da mente dos vampiros, é o controle da mente por alguém que não é um vampiro. Os olhos escuros de Hannah piscaram para ela, de repente ardentes com raiva, Claire percebeu, ela esteve fervendo sob a superfície o tempo todo. — Você não tem ideia — ela disse. — Eu consigo a minha vida de volta dos jogos de mente de um vampiro, e agora este filho da puta faz isso... Você acha que eu não odeio ele? Que eu não quero rasgar a cabeça dele? O fato é, eu não posso. Eu não posso nem levantar a mão para ele. É parte da programação. — A mulher era geralmente tão controlada que isso fez Claire recuar, ao vê-la perder o controle mesmo que um pouco. Havia uma tremenda onda de raiva sob essa superfície de calma. Raiva e frustração. — Quantos? — Shane disse. — No bando?


— Seis — Hannah disse. — Incluindo eu e você. Eu não sei se nós apenas somos azarados, ou se de alguma forma aqueles cães foram programados para atingir indivíduos específicos. Eu gostaria de pensar que ele nos escolheu porque... porque nós somos os mais capazes de lutar contra ele, como seres humanos. Shane engoliu em seco. — Sim, eu vou fazer o meu melhor para aceitar isso como um elogio — ele disse. — Mas como eu posso lidar com isso? O que eu faço? — Fique longe de vampiros — ela disse. — O que deve ser muito fácil de fazer, agora que eles estão no enclave, e sim, eu odeio usar essa palavra. Mas se você sentir uma onda do que você sentiu naquela hora, você vai saber que ele está ativado para você caçar. Quando isso acontecer... quando isso acontecer, você não vai ser você mesmo. — O que você quer dizer com, não vai ser ele mesmo? — Claire perguntou, mas Hannah apenas balançou a cabeça e mudou de assunto. — Eve, eu estou mantendo um olho em Michael, eu te prometo isso. Eu estou tentando me certificar de que eles estejam seguros. Agora, a melhor maneira de fazer isso é mantê-los confinados e complacentes. — Você ainda é o Capitão Óbvio? — Eve perguntou. — De que lado você está? Porque eu não te entendo, Hannah. Eu realmente não entendo. — O Capitão Óbvio ganha — Hannah disse. — Esse é o problema, nenhum de nós realmente pensou sobre o que faríamos se nós conseguíssemos derrotar os vampiros e assumir o controle. Nós nunca pensamos sobre o que faríamos com eles, que tipo de futuro eles teriam. Assim, por um lado, eu já não sou eu mesma mais. — Ela parecia triste com isso, e com raiva, e houve um momento de silêncio antes de ela continuar. — Agora, todos vocês, por favor, vão para casa. Shane, não há nada que possa ser feito sobre o que você está sentindo, mas se você sentir vontade de lutar, apenas... fique tão longe de qualquer vampiro o quanto você possa. Isso vai ajudar. Shane se apoiou em sua mesa e olhou para ela diretamente nos olhos. — Por que ele precisa de um bando de pessoas pré-programada para caçar vampiros, Hannah? — Para rastrear — ela disse. — Nem todos os vampiros vão ficar no shopping. Eventualmente, eles vão sair, e ele vai precisar rastreá-los. É aí onde você — onde nós — entramos. Esse foi o fim da reunião. Ela foi até a porta, abriu-a e não parecia haver qualquer escolha a não ser sair, com o Policial Amigável olhando de cara feia para eles do lado de fora do escritório. A recepcionista ignorou eles com uma


intensidade persistente enquanto atendia as chamadas... E então eles estavam fora, no corredor, e Shane estava inquietamente esfregando o braço e parecendo mais perturbado do que nunca. — Isso ajuda? — Claire perguntou a ele. Ele balançou a cabeça. Eve disse: — Pelo menos sabemos que ele não é o único louco na cidade. Vamos, Cachorro Soldado. Vamos lá. Q q q Eles passaram uma hora atravessando Morganville, observando as mudanças. Muitas delas eram na aparência — prédios pintados, estradas reparadas. Mas também havia novos lugares aparecendo por toda a cidade, e foi Shane que apontou os símbolos da Daylighters que surgiram em quase todas as placas das empresas ou vitrines. Como se estivessem orgulhosamente dizendo, Vampiros não são permitidos. O mais estranho de tudo eram as pessoas. Tantos nativos de Morganville fora de casa, andando, conversando, levando os seus filhos para o pequeno parque da cidade. O Shopping. Isso parecia tão malditamente normal que deu a Claire arrepios, porque a linguagem corporal deles era completamente diferente agora. Não era a Morganville que ela estava acostumada a ver; isso era certeza. Onde antes, as pessoas caminhavam com uma espécie de cautela, com uma reflexiva do que estava em torno deles, essas pessoas estavam quase eufóricas, não paranoicas. Alheias. Seguras. Era uma melhora, ela sabia disso; as pessoas se sentirem felizes e seguras — seus sorrisos iluminavam. Mas então por que eu me sinto tão mal? Claire receava que talvez ela só não queria mudança, até mesmo mudança para melhor. Mas não era isso; ela presenciou uma série de mudanças em Morganville até aqui. Isso era algo mais profundo, e mais preocupante. Eles só querem que os vampiros vão embora. Eles não se importam como isso acontece. Então, todos esses sorrisos felizes, eles eram sorrisos de vencedores de uma guerra muito longa, lenta e silenciosa. Os mortos não estavam por perto para incomodar as suas consciências. O que quer que Fallon fez, ele fez fora da vista, no escuro, e eles nunca teriam que encarar nada disso. Claire sabia que talvez não fosse racional querer salvar os vampiros; afinal de contas, eles tinham sido o bicho-papão debaixo da cama de Morganville por gerações, e tinham sido responsáveis por tantas coisas ruins. Mas os vampiros tinham sido individualmente responsáveis. Podia culpar um grupo inteiro pela ação de alguns ruins?


Isso me faz a vilã agora? Ela se perguntou, com um arrepio, ao deixar de lado os sorrisos, o entusiasmo, a camaradagem. A Morganville totalmente nova com apenas humanos. Sou eu quem vai ser a responsável por arruinar tudo para essas pessoas? Ela encontrou-se segurando a mão de Shane enquanto eles dirigiam ao redor. Sua pele ainda estava quente, e ela se perguntou se talvez Hannah estivesse errada — se a mordida podia infeccionar, e não apenas... ser projetada para aquilo. Talvez ele só precise de antibióticos. Eles acabaram enfrentando a estranheza sobrenatural tantas vezes que era fácil esquecer que uma simples e velha bactéria poderia ferrar com a pessoa da mesma maneira. Quando ela propôs parar no hospital, no entanto, ele rejeitou com uma mão. — Não vale a pena — ele disse. — Eu estou bem, Claire. De verdade. — Ele não estava. Mas ela não pressionou, porque ela sabia que não ajudaria. Eve levou o carro fúnebre em direção a parte traseira da casa até o pequeno e caído galpão/garagem, que não era realmente grande o suficiente para ele. Michael havia deixado o seu vampmóvel longe — fornecido gratuitamente por Morganville para todos os vampiros, até os dias recentes — já que o carro fúnebre de Eve tinha uma tintura pesada nas janelas traseiras, onde ele poderia se proteger quando precisava. Nenhum deles poderia conduzir o carro de Michael, de qualquer maneira, por causa do para-brisa e as janelas pretas e grossas, então, por enquanto, o melhor era deixá-lo onde estava, estacionado no subterrâneo da Praça da Fundadora. Mas não ver o carro de Michael aqui, parado ao lado do de Eve... Parecia significativo. E isso fez Claire tremer de pensar que talvez ele nunca estacionasse aqui novamente. Passar pela cozinha a lembrou que eles não tinham devidamente limpado o Grande Desastre do Espaguete, mas ela não se importava agora, e claramente, nem Shane nem Eve, que ignoraram a destruição no caminho. Ela os seguiu. Ambos foram para o andar de cima. No topo, Eve abriu a porta do quarto que ela agora partilhava com Michael, olhou lá dentro, e ficou parada por um momento antes de dizer: — Eu vou ficar on-line e ver o que eu consigo descobrir. — Então ela entrou e fechou a porta silenciosamente atrás dela. Shane ficou parado por alguns segundos com a cabeça baixa, e então disse: — Eu preciso de um banho. Te vejo daqui a pouco, ok? — Tudo bem — Claire disse. Ela desejou ter dito mais alguma coisa, algo mais significativo, mas ela entendeu a necessidade de ficarem sozinhos. Eve


estava se isolando para que ela pudesse digerir o que ela estava sentindo e fazer algo produtivo. Shane... bem, obviamente, ele precisava pensar, também. E todos eles precisavam de um banho, isso era verdade. Era evidente pelo cheiro. Ela foi até o seu quarto e se sentou na cama. O rangido familiar das molas a fez se sentir em casa, mas a maior parte das coisas dela ainda estavam presas em Cambridge. Ela teria que resolver isso, eventualmente, ela supôs. Precisava pensar em como conseguir as suas roupas de volta, e seus livros, e todas as fotos que ela tinha levado com ela. Ela não tinha levado tudo, pelo menos; havia ainda alguns pares de roupa íntima, um sutiã que já tinha visto dias melhores, um par de calças jeans, e algumas camisetas velhas. Ela montou uma vestimenta com as opções limitadas, em seguida, pegou um par de lençóis do armário de roupas do corredor e forrou-os na cama — era mais para fazer alguma coisa do que para qualquer intenção de dormir. Quando ela terminou, ela estendeu-se na cama e ouviu o som do chuveiro ligado. Quando ele parou, ela recolheu as suas coisas e esperou na porta. Shane apareceu depois de alguns minutos ali, enrolado em uma toalha mostrando uma parte deslumbrante do seu peito e ombros, e mostrava os seus quadris baixo o suficiente para fazê-la impotentemente preencher o restante das informações com a sua memória. Ela deu uma respiração necessária quando ele empurrou o cabelo úmido para trás do seu rosto e deu a ela um sorriso. — O que foi? — ele perguntou. — Eu... minha vez. — Ela sentiu as suas bochechas corarem, e sabia que era ridículo, mas ela não podia evitar. Isso... isso parecia como voltar para casa, essa tensão doce que de repente se arrastava entre eles, uma gravidade que era tão fácil de obedecer. Apesar de tudo, de toda a insanidade, medo e estranheza geral de Morganville, eles tinham isso, e era torturantemente bonito. Ele pigarreou e moveu-se para fora do caminho — mas não longe o suficiente para que eles não roçassem um contra o outro quando eles passaram. — Vejo você quando você sair? — ele fez disso uma pergunta. — Talvez. — Ela levantou as sobrancelhas, e viu a resposta faiscar em seus olhos. — Você está me matando. — Você merece isso, não é? Isso lhe rendeu um sorriso de se arrepiar. — Provavelmente. Ela fechou a porta atrás dele e se apoiou contra ela, maravilhosamente e de repente com falta de ar, e levou um momento antes que ela pudesse se


afastar, pendurar as suas roupas e começar a tirar a roupa para entrar no chuveiro. Ainda estava quente e úmido quando ela entrou, e ela usou o shampoo com aroma de erva e sabonete líquido de Eve, então — com todas as orações mentais adequadas por perdão — pegou emprestado a lâmina de barbear de Eve também, porque o estado de suas pernas e axilas estavam especialmente ruins. A água começou a correr fria no momento em que ela terminou, então ela lavou o cabelo e tirou rapidamente a espuma, em seguida, saiu tremendo para o ar frio. Depois de se secar, ela penteou o cabelo molhado para trás e contemplou a triste pilha de roupas que ela trouxe com ela. Então ela enrolou a toalha em torno de seu corpo e levou a pilha de volta para o seu quarto em vez de colocá-la. Não foi realmente uma surpresa encontrar Shane lá, sentado na beira da cama e ainda com a sua própria toalha. Mas ele parecia ótimo. Realmente, realmente ótimo. Ela colocou as coisas no topo da cômoda e fingiu não notálo quando ela guardou as roupas de novo. — Sério? — ele disse. — É isso que você vai fazer nessa situação? Me ignorar? — Absolutamente — ela disse. — Pelo menos até eu fazer isso. Ela caminhou e fechou a porta, e trancou-a, apenas no caso de... Bem, apenas no caso. Então ela se virou, encostou-se nela, e olhou para ele. — Oh — ele disse. — Então — Claire disse. — Uhum. — Você está sentado na minha cama. — Sim. — Vestindo uma toalha. — Aparentemente sim. — E... nada mais. — Por quê, você tem roupas íntimas por baixo da sua? — Não. — Prove. — Você primeiro. — Ela deu um passo mais perto e cruzou os braços. — Por que eu? — Você que começou. — Outro passo para frente. Ela não estava conscientemente planejando isso, mas parecia que o mundo tinha se inclinado em direção a ele. O chão estava inclinado. Não era culpa dela, na verdade, que


ela estivesse se movendo na direção dele. Ela podia sentir a mudança de ar ao redor deles. Ficando mais quente. — Na verdade, eu acho que você começou, me perseguindo do lado de fora da porta do banheiro — Shane disse. Ele tinha aquele olhar em seus olhos semicerrados, aquela expressão inconfundível de desejo que fazia com que sua pele parecesse muito apertada em seu corpo, fazia todo o calor estalar no ar entre eles e ser atraído pelo brilho dourado dentro dela. — Você primeiro, então. — Eu vou fazer um acordo — ela disse. Mais um passo para a frente, que ela nem sequer deu conscientemente. Os joelhos dela estavam roçando nos dele agora, e não era possível que roçar de joelhos fosse tão sexy assim, exceto que era, e o coração dela estava trovejando dentro de seu peito agora, inundando o corpo dela com formigamento e palpitações como a luz das estrelas. — Eu ajudo você a tirar isso se você me ajudar com a minha. Ele fingiu considerar, mas ele não a estava enganando, nem sequer um pouco. Isso era um jogo, um que era preguiçoso por fora e cheio de excitação por dentro. O que foi que Eve disse uma vez? Restrição é mais excitante. Na época, Claire tinha pensado que ela quis dizer isso no sentido de cordas-ealgemas, mas agora ela estava começando a perceber que isso significava algo totalmente diferente. Isso significava apreciar a antecipação. Shane estendeu as mãos e as colocou no lado de fora das pernas dela, um pouco acima do joelho. Onde a toalha praticamente terminava. Então ele lentamente deslizou-as até metade da coxa, e ela podia sentir os fantasmas quentes deixados pelas palmas dele. O resto dela estremeceu em resposta, e ela mordeu o lábio. Seus olhos se arregalaram, e seu sorriso fez uma curva malvada. O quarto parecia tão tranquilo, exceto pelo som suave da respiração deles, o sussurro das toalhas em movimento. Ela estendeu a mão e puxou o tecido em torno dele, e no mesmo momento ele fechou as mãos sobre a bainha da toalha dela e puxou. E então ela estava caindo, caindo, caindo em seus braços, em um fogo brilhante e ardente que só brilhou mais quente quando as peles nuas e úmidas deles se encontraram... e então seus lábios, em uma explosão de necessidade, vontade e desejo. E por um tempo, de qualquer maneira, no roçar sem fôlego da pele dele na dela, nos sussurros profundos e perfeitos, ela se esqueceu de Morganville. Ela se esqueceu de tudo.


Q q q Claire acordou de um sono tão profundo e feliz que era como flutuar nas nuvens. Ela tomou conhecimento do mundo ao seu redor gradualmente — a luz solar sobre sua perna nua, e o farfalhar das folhas na árvore velha fora da janela de seu quarto. Ela estava quente, pesada e perfeitamente em casa. Ela virou a cabeça e viu que Shane ainda estava dormindo ao lado dela, e ela rolou em direção a ele. Ele murmurou algo e colocou os braços em torno dela, mas foi mais reflexo do que uma ação consciente, pelo menos até que ela o beijou. Em seguida, o murmúrio tornou-se um som baixo na parte de trás de sua garganta, quase um ronronar, e sua mão correu lentamente para baixo de sua coluna, dedos roçando em cada protuberância. — Bem — ele disse, quando havia espaço suficiente para palavras entre eles, — isso é um começo de dia muito bom. Deus, é de manhã? De manhã quanto? — Hum... oito e meia da manhã. — Café da manhã? — ele soava esperançoso. O mundo inteiro soava esperançoso, pelo menos no momento, e ela riu e beijou-o novamente e sentou-se. As roupas que ela tinha pego para colocar na noite passada estavam na gaveta, então ela as pegou e as colocou, olhando para trás enquanto fechava seus jeans para ver ele notando nada além da falta de roupas dele no chão. Depois de um suspiro, ele pegou a toalha, se enrolou e beijou-a no caminho para a porta. — Volto em um minuto. A porta trancada arruinou a saída suave dele por alguns segundos, mas ele conseguiu sair, e Claire se sentou na cama para colocar os sapatos. O sentimento bom ainda estava lá, borbulhando e cantarolando, mas a vida real começou a aparecer também... e a escuridão, embora expulsa pelo sol da manhã, estava lentamente tomando conta. Ela passou uma escova no cabelo, que precisava desesperadamente, e correu para o banheiro para lavar o rosto, escovar os dentes e cuidar dos negócios padrões no banheiro. No momento em que ela terminou, Shane estava no corredor, esperando, usando calças de brim frouxas confortáveis e uma camiseta do Transformers a cerca de duas lavagens para se dissolver em trapos. — Eve está lá embaixo — ele disse, e havia algo infeliz em sua voz. — É melhor você falar com ela. Isso... não parecia bom, e Claire desceu correndo os degraus antes de sequer fechar a porta do banheiro.


Ela encontrou Eve na cozinha, de pé na pia, engolindo o último gole de uma caneca de café preta gigantesca com crânios vermelhos nela. Eve estava completamente gótica hoje: calça cargo preta, botas de sola grossa pesadas, uma blusa vermelha escura apertada com ossos cruzados vermelhos brilhantes sobre o coração, como o emblema de um pirata. Uma gargantilha grossa de elos de corrente brilhante de prata. Combinando com braceletes de prata grossos nos pulsos. Ela colocou mechas avermelhadas em seu cabelo preto e enrolou-o em um coque, o qual ela empurrou pauzinhos de prata — no entanto, eles eram mais afiados do que os pauzinhos normais. Sua maquiagem estava mais para uma máscara — com pó de arroz pálido, com sombra de olho vermelha e muito lápis de olho. Ela tinha uma mochila pesada parada ao lado de seus pés. — Então deixe-me adivinhar... você vai sair para dar uma corrida? — Claire disse, e abriu os armários para tirar a sua própria caneca de café. Shane que tinha encontrado uma para ela, com pequenos aliens estranhos nela. Ela passou perto de Eve para tirar o bule da cafeteira e despejar na caneca. Então ela ofereceu o restante silenciosamente, e Eve tão silenciosamente estendeu a caneca. Ela encheu a caneca apenas um quarto. Claire colocou a sua caneca de lado e encarou a cafeteira, tentando parecer normal quanto possível. — Você parece impressionantemente gótica hoje. Eve assentiu com a cabeça. — Indo a algum lugar? — Eu vou para o shopping — ela disse. — E eu vou tirar Michael de lá. Claire encheu o reservatório de água, trocou o filtro, e despejou mais café moído. — Eu percebi que você pensou totalmente no seu plano, obviamente, que consiste em reunir o apoio dos seus melhores amigos antes de matar a si mesma. Eve deu um olhar ardente, foi mais eficaz com a pintura de guerra. — Eu não vou aguentar mais porcaria dos Daylighters. Nós tentamos conversar. Conversar me deu cinco minutos para eu ficar com o meu próprio marido, que não merece nada disso. Eu estou cansada da abordagem sutil. Desta vez eu não vou aceitar um não como resposta e não tente me convencer do contrário, Claire, porque você não sabe como é. Nós acabamos de tirar Michael de uma gaiola em Cambridge, e agora ele... ele apenas está em uma gaiola maior, guardada pelas mesmas pessoas que querem machucá-lo. Eu não posso suportar isso, e eu não vou suportar isso. A paixão em sua voz, e a determinação, eram assustadoras. Claire engoliu em seco e tentou se concentrar no que ela estava fazendo com as mãos — fechar


a tampa com o café, colocar o bule de volta no lugar, pressionar o botão de preparar — e isso a ajudou a acalmá-la e manter a sua voz racional quando ela respondeu: — Eu não disse que você tinha que suportar, disse? Eu disse que você deveria apenas nos envolver. — Para você poder me convencer do contrário? — Para eu ter certeza de que você não morra, Eve. Porque Michael não merece ter que lidar com isso, não é? Ele não merece vê-la ferida, ou morta, por causa dele. Você sabe que ele diria a mesma coisa: seja inteligente, e tenha cuidado. Escolha a batalha que você pode ganhar. — Ela segurou o olhar de Eve por mais difícil que fosse. — Diga-me se eu estiver errada. Ela sabia que ela não estava, assim como Eve, que mudou de rumo. — Olha, eu não sou uma flor frágil para ser protegida o tempo todo. Posso não ser uma máquina de desordem e destruição completa como Shane, mas posso causar estragos quando eu quero. — Ela parou por um segundo, distraída. — Por que é que uma pessoa só pode causar estragos, de qualquer maneira? Por que não, eu não sei, a paz no mundo? — Boa pergunta. Eve agitou o dedo para ela. — Não tente se livrar de mim, CB. O meu ponto é, eu sou forte, mesmo que eu esteja sozinha. — Eu sei. Mas você tem que admitir, somos todos muito mais fortes se ficarmos juntos. — Claire arriscou um sorriso rápido. — Além disso, por que você tem que ficar com toda a diversão? — Se por diversão você quer dizer a guerra toda, você pode ter razão. É um pouco egoísta não compartilhar. Porque eu tenho a intenção de desencadear o inferno se alguém ao menos pensar em me dizer que Michael não pode sair de lá — Eve disse. Ela bebeu o resto da caneca de café, e Claire percebeu que ela estava bebendo puro. O que, para Eve, era uma espécie de sinal de perigo; suas preferências de café variavam com o seu humor, e preto era o seu extremo. Claire acrescentou creme e açúcar para ela mesma, mexeu e soprou-o para esfriar antes de provar. Qualquer coisa para ganhar um pouco mais de tempo. — E quanto ao resto deles? — Claire perguntou. — Amelie. Myrnin. Até mesmo Oliver. Eles merecem ficar presos lá com colares de choque em seus pescoços? Deus, você viu o lugar. Não é uma prisão, é... é uma área de confinamento. Eve parou com os olhos arregalados. — Área de confinamento para o quê? — Deus. Eu não quero nem imaginar. Os Daylighters querem os vampiros mortos, certo? Abominações contra a natureza, e tudo isso. Eles nunca fizeram


disso um segredo, não importa o que Fallon diga sobre isso. Ele é o rosto, aquele que faz todo mundo se sentir melhor sobre reunir as pessoas em enclaves. — Eles têm muito apoio também — Eve apontou. — Eu acho que agora que os vampiros foram empurrados para fora do palco, ninguém vai pensar muito sobre o que acontece com eles, contanto que eles não tenham a ver com o que vai acontecer. Mesmo assim, eu não tenho certeza de que a maioria deles não iria simplesmente ter uma justificativa. Claire estremeceu. Eve estava certa sobre isso. A natureza humana era obcecada em transferir a culpa... e a responsabilidade. De que outra forma você poderia explicar os campos de concentração e genocídio e todas as coisas que as pessoas terríveis fazem uns com os outros todos os dias? Eles só continuam com a vida e fingem que o mal não existe, contanto que esteja acontecendo fora de suas vistas. A população humana de Morganville não era diferente. Realmente não importava se algo era certo, desde que fosse para o benefício e que acontecesse com alguém que eles odiassem. — Você acha que eles vão matá-los? — Claire perguntou. — Você não? — Eve tomou um gole maior de seu café. — Dane-se. Eu não vou ser uma espectadora enquanto torço as minhas mãos. Eu vou fazer algo. Agora mesmo. Vocês podem ajudar, ou ficar de fora. De qualquer maneira. — Espere, eu não disse que nós vamos? — Claire disse. — Você sabe que Shane nunca evitaria uma boa luta, e eu não vou virar as costas para isso, também. Mas vamos ser espertos com isso, ok? Isso significa pensar. Com calma. — Eu estou tão cansada de calma — Eve disse. Ela jogou o resto do café na pia, pousou o copo com um barulho, e puxou a mochila para descansar em seu ombro. — A diplomacia é o seu crack, Claire. Não o meu. Eu sou mais do tipo de garota direta, e agora, eu vou direto nos rostos deles. Com o meu punho. Claire suspirou. Ela bebeu o resto do café, apesar de estar muito quente e muito amargo, e lavou os copos. O jantar de espaguete ainda permanecia preso nos pratos, e ela jogou aquilo tudo e passou a água quente com um spray de detergente. Apenas no caso de eles não morrerem e precisarem de algo para comer mais tarde. — Deixe-me pegar minhas coisas — ela disse. — Não vá sem mim. — Cinco minutos — Eve disse. — Então eu vou embora. — Prometo.


Claire subiu as escadas de dois em dois, e correu para Shane que estava sentado no topo; é evidente que ele estava ouvindo. Eles trocaram um olhar, e ele agarrou a mão dela. — Eu quero ajudar — ele disse. — Eu quero, você sabe disso. Mas se eu voltar para lá... merda, Claire, eu não sei o que aconteceria. Não, na verdade, o problema é que eu sei exatamente o que iria acontecer, e isso não ajudaria qualquer uma de vocês. Ela se inclinou e beijou-o, muito levemente. — Então fique aqui — ela disse. — Mas eu tenho que ir com ela e tentar impedi-la de fazer algo louco. Você sabe que eu tenho. — Não podemos apenas bater na cabeça dela e empurrá-la em um armário até acalmá-la? — Sua mandíbula estava apertada, seus olhos escuros e ferozes, mas ele não estava bravo com ela. Era tudo dirigido para ele mesmo, para os seus próprios problemas. — Eu me sinto uma merda inútil agora, você sabe? E cansado de ser um fantoche idiota de outra pessoa. — Sério? Fantoche? — Parece apropriado. — Então conserte isso — ela disse. — Shane, eu te conheço. Você é inteligente. Pense em como você pode usar isso, não deixe ele te usar. Ele riu um pouco, e parecia magoado, mas real. — Você é muito boa para mim, você sabe disso? Ela colocou a mão dele contra a bochecha dela e sorriu. — Eu sei. Eu tenho que ir para cima para pegar as coisas. — Ela percebeu, tarde demais, que todas as coisas dela tinham sumido. Até mesmo a mochila estava desaparecida agora, porque tinha sido rebocada pela polícia com as vans. — Hum... certo. Eu suponho que você tenha algumas coisas boas escondidas? — Eu? — Shane levantou-se em um movimento suave e brando, e por um momento ela sentiu aquela mudança gravitacional novamente, puxando-a. — Você me conhece. Eu sou um Garoto Escoteiro. Sempre preparado. — Mostre-me as suas coisas boas, então — Claire disse, e se pegou dando uma risada. — Embora eu queira dizer... — Eu sei o que você quis dizer — ele disse, e inclinou-se muito perto para sussurrar em seu ouvido. — Embora se você tiver alguns minutos... Ela estremeceu, tentada em alguma parte totalmente instintiva dela, mas ela balançou a cabeça. — Mais tarde — ela disse, suavemente. — Por que estamos sussurrando? — Porque isso te excita? — Oh, e a você não? Porque isso é um pouco óbvio.


Ele limpou a garganta e deu um passo para trás, levantando as palmas para cima em sinal de rendição, e disse, em tom de voz normal: — Ok, então vamos para o arsenal. Assassina sussurradora. Ela bateu no braço dele, o que obviamente não fez absolutamente nada, exceto ferir a própria palma da mão dela, e seguiu-o pelo corredor até seu quarto. — Uau — ela disse quando ele abriu a porta. — Eu achei que você tinha se mudado quando me seguiu. — Eu me mudei — ele disse. — Isto é o que eu não levei comigo. O que ele não havia levado era praticamente um quarto completo, até os lençóis estavam retorcidos ainda na cama. As roupas no armário. A esteira muito usada e botas pesadas empilhadas no canto. Shane foi até uma caixa no canto e abriu a primeira gaveta. — Fique à vontade — ele disse. — Veja, queira, pegue. Shane era um imundo com o seu quarto — sério — mas a forma que ele guardava e armazenava as suas armas era meticulosa. A gaveta superior continha coisas de prata — correntes, joias, armas. Claire pegou um punhal com revestimento de prata, correntes para a garganta e pulsos, e ignorou o resto. Ele fechou uma gaveta e foi para a de baixo, revelando uma seleção de armas que, mesmo que eles vivessem no Texas, elas eram provavelmente excessivas. Ela balançou a cabeça. Ele ergueu as sobrancelhas, mas foi para baixo para a outra gaveta. Arco e flecha. Ela gostava disso. Eles eram pequenos, leves e fáceis de apontar e com um poder surpreendente, e ela agarrou as flechas que vinham com ele. — Posso indicá-la uma jaqueta do exército a prova de balas? — ele perguntou e chutou o fundo da gaveta. — Garantia de eficácia, mas provavelmente seria muito grande para você. Além disso, ele não é exatamente fácil de se levantar se você cair. É meio que um problema de tartaruga virada. Tem um capacete que combina, embora, pelo menos você parece maneiro enquanto está caindo impotente e sendo assassinado. Ela balançou a cabeça. Ele deu um passo para a frente, pegou a cabeça dela entre suas mãos grandes e quentes, e inclinou o queixo dela para cima de modo que seus olhos se encontraram. — Você precisa descobrir como impedila de fazer isso, você sabe disso? — Eu sei — ela disse. — Eu só preciso estar totalmente armada enquanto eu faço isso. Para prevenir.


Ele a beijou, muito suavemente. — Eu te protejo. Bem de longe, obviamente. Apenas... não me peça para ficar muito perto dos vampiros agora, ok? Inclusive Michael. Eu não quero machucá-lo. — Ele estava falando sério, ela sabia disso — por tudo o que tinha acontecido entre eles, toda a estranheza, ele e Michael eram irmãos de coração e melhores amigos, e sempre seriam. Sem Shane, Claire sabia que parar Eve — sem mencionar protegê-la — seria severamente desafiador; Eve era insana quando ela estava determinada a alguma coisa, e não tinha nada que a deixasse mais determinada do que algo relacionado a Michael. Eles iriam precisar de ajuda. Sem Hannah ao seu lado, e com os vampiros fora do alcance, Claire tentou imaginar quem poderia estar disposto e capaz de se aventurar... e ela falhou, pelo menos até que ela sentiu um pequeno tremor da pressão do ar e lembrou-se de algo. — Shane — ela disse, — você viu Miranda desde que voltamos? A Glass House era complicada. Não era apenas uma casa, e não tinha sido por um longo tempo. Ela certamente tinha um poder, uma certa sensibilidade que Claire não podia explicar, exceto que deveria vir do que Myrnin fez para tornar a cidade segura para os vampiros. As treze Casas Fundadoras originais tinham sido todas ligadas — com um tipo de rede de transporte ativo e defensivo que Claire não sabia explicar, ainda, como nada além de mágica. Poucas delas restavam agora, mas a Glass House era a primeira, e ainda a mais forte. Ela tinha a capacidade de fazer coisas loucas, mas o mais surpreendente era que ela poderia optar por salvar pessoas que morriam dentro de seus muros. Michael primeiro. Então Claire, brevemente. E, mais recentemente, a adolescente psíquica Miranda, que havia se sacrificado para que Claire pudesse viver. Mas Miranda, já psíquica antes de morrer, tinha poderes que o resto deles não tinha; suas habilidades lhe permitiam ir para fora das paredes da casa, e manter-se em forma humana real lá fora também. Mas ela ainda morava aqui — estava presa aqui, em um sentido muito real, porque ela não podia ficar longe por tempo indeterminado. Shane estava balançando a cabeça. — Não. Ainda não vi a garota, o que é estranho. Eu deveria ter pensado nela antes, mas ela meio que fica sozinha. — Eu acho que ela pode ser útil — Claire disse. — E, além disso, ela está, provavelmente, solitária, você não acha? — Solidão não é o pior problema que alguém pode ter em Morganville. Mas verifique no terceiro andar. Que ela fez de lá o espaço dela quando você foi embora.


Não existia um terceiro andar. Shane estava se referindo a uma sala secreta no sótão — uma com uma porta escondida fora do salão principal do segundo andar. Um quarto que Claire não esteve há algum tempo... mas fazia sentido que Miranda o achasse aconchegante. Afinal, ela poderia, quando ela quisesse, ficar entrando e saindo como um fantasma sem fazer qualquer som — e lá era um lugar legal e assustador. A melhor coisa para uma adolescente que era mais do que um pouco assustadora no melhor das hipóteses. — Volto já — ela disse, e foi para a área da parede do lado de fora do seu quarto, onde a porta secreta estava escondida. Ela sabia como abri-la, e depois de um par de tentativas fracassadas, os painéis começaram a se mover. Ele rangeu, é claro. Isso era quase uma garantia. — Miranda? Mir, você está aí? Uma luz brilhava no topo dos degraus estreitos e íngremes levando para cima. Quando a porta se fechou atrás dela, Claire subiu, e quando ela chegou no topo ela apareceu em um quarto que mal reconhecia. O mobiliário vitoriano ainda estava no local, e todas as lâmpadas de vidro grossas e colorida, mas as paredes estavam cobertas com pôsteres de filmes, bandas, jogos (e mais da metade Claire não teria vergonha de ter em suas próprias paredes). Os antigos tapetes tinham sido enrolados e guardados, e o chão estava brilhando com um marrom polido agora. Havia uma mesa novinha em folha no lado mais distante do quarto com uma televisão de tela plana ligada a uma console de jogos. E um baú de antiguidades que Claire achou que deve ter sido arrastado para fora do sótão estava aberto e roupas esparramadas fora dele, em sua maioria de cor escura, e estilo antigo. Miranda estava no sofá, as mãos cruzadas sobre o seu estômago enquanto ela olhava para o teto. Ela era uma menina magra e pequena, vestida de preto que ecoava as escolhas de roupas de Eve. E para ser honesta, ela parecia mais morta do que viva. Claire franziu a testa e parou onde estava. — Miranda? Você está bem? — Vá embora — Miranda disse. Isso não era comum. — Você não está bem. Miranda abriu um olho para olhar para ela. — Eu estou irritada. Você sabe o que está acontecendo? — Hum... não tenho certeza. Tem um monte de coisas que se encaixam nessa definição. — Aqui! Em Morganville! — Miranda se sentou e balançou as pernas para baixo para olhar a pleno vigor. — Eles reuniram os vampiros e colocaram eles em uma prisão. Você sabia? Onde você esteve? Todo mundo foi embora e me


deixou e eu não sabia o que fazer! Eu nem sequer sei se eu deveria fazer alguma coisa! — Me desculpe — Claire disse. Ela se sentou ao lado de Miranda e colocou o braço ao redor da garota; Mir parecia sólida, quente, viva e bem. Ela não estava, é claro, mas ela parecia estranhamente real dentro da Glass House. — Eu sinto muito. Nós não queríamos abandoná-la. É que apenas as coisas aconteceram. — Elas aconteceram aqui também. É como se as pessoas simplesmente tivessem ficado loucas, sabia? Primeiro os vampiros apenas... eu não sei, era como se eles se rendessem e, em seguida, Morganville mudou. Não era mais seguro lá fora para mim. Essas pessoas, essas pessoas da Daylight, eles... eles me assustam. — Miranda estremeceu com força, e Claire esfregou o braço dela em uma tentativa fútil de fazê-la se sentir melhor. — Eu estou com medo de sair de casa. Tudo parece tão errado lá fora. Tão quieto. — Bem, estamos de volta — Claire disse. — E confie em mim, não vai ficar quieto por muito mais tempo. Você esteve aqui o tempo todo? — Principalmente — Miranda disse. — Os Daylighters tentaram entrar enquanto vocês estavam fora. Eu os mantive fora e, em seguida, o padre Joe da igreja veio me alertar. Ele me disse para ficar fora das ruas. Eles estão caçando qualquer coisa que não seja estritamente e completamente humano, que é aí onde os vampiros entram. Eu posso desaparecer, mas eu ainda estava preocupada que eles pudessem ser capazes de chegar até mim. — Ela balançou a cabeça. — Claire, quando eles estavam na casa eu ouvi um deles dizer que realmente queriam limpar a cidade, eles precisavam destruir todas as casas da Fundadora. Houve uma discussão, mas parecia que eles estavam ganhando quando eles foram embora. Você acha que eles fariam isso? Tentar nos destruir? Se os Daylighters realmente queriam se livrar de todos os elementos nãohumanos e sobrenaturais de Morganville, então eles iriam ter que ir atrás das casas da Fundadora. Claire estava um pouco surpresa que já não tinha pensado nisso. A casa podia se defender contra a maioria dos intrusos, mas não poderia defender-se contra o fogo, ou equipes de demolição. Isso a fez se sentir frenética bem lá no fundo. Não, vocês não vão, ela pensou ferozmente. Vocês não vão destruir a nossa casa. — Quando o padre Joe veio te ver? — Eu não sei. É difícil dizer. — Miranda, na verdade, não prestava muita atenção nos dias e noites, e menos ainda se ela tinha se escondido aqui no quarto privado de Amelie sem janelas ou relógios. — Há alguns dias, talvez?


— Quando eles entraram na casa para investigar? — Claire perguntou. — Por favor, pense! — Ontem — Miranda disse. — Ontem cedo. Eu senti o sol nascendo. — Era o que os fantasmas sentiam. Suas vidas estavam vinculadas ao amanhecer e entardecer. — Por que você não desceu e nos disse? Miranda olhou para longe, e sua voz ficou muito baixa. — Porque você me deixou — ela disse. — Vocês todos me deixaram aqui. Sozinha. Era difícil lembrar como ela era jovem às vezes, até que dizia algo parecido. — Você estava de mau humor. — Não, eu não estava! — Mir. Seus ombros subiam e desceram, só um pouco. — Talvez. — Miranda, se os Daylighters decidirem demolir a casa... — Eu vou com ela — Miranda disse, e encontrou os olhos de Claire novamente. — Você acha que eu não sei disso? Mas os vampiros não estão aqui para ajudar você a fazer qualquer coisa agora. Como você vai detê-los? — Eu não sei ainda, mas nós vamos — Claire disse. Ela ouviu a força em sua voz, e ela a surpreendeu. — Nós vamos, e isso significa que você vai também. Sem mais mau humor. Nós vamos precisar da sua ajuda. Miranda assentiu. — Apenas me diga o que eu posso fazer. — Nós vamos ter uma reunião no andar de baixo, agora. E eu acho que nós temos que dizer a Eve que a missão suicida dela está fora de questão, se ela quer ter uma casa para voltar mais tarde. — Ela não vai ficar feliz — Miranda observou. Cara, ela estava certa sobre isso.


E n

Capítulo 4

ve estava, para dizer o mínimo, irritada, até o ponto que por um segundo Claire pensou que ela iria bater em alguém — provavelmente na própria Claire — e atravessar porta afora. Mas ela era também uma residente da Glass House, e ela sabia o que Miranda estava dizendo. Ela sabia do perigo. — Você não está apenas fazendo isso para me manter aqui? — ela perguntou, ainda de pé na porta de trás com a sua mochila no ombro. Miranda se moveu e pareceu assustada, mas Claire colocou a mão no ombro dela para mantê-la estável. — Oh, relaxe, criança, eu não vou morder você. Ela está realmente falando sério? Eles podem tentar derrubar a nossa casa? — Essa última foi direcionada a Claire, e para Shane, de pé do outro lado da sala. Shane, de braços cruzados, apenas deu de ombros. — Nós podemos nos dar ao luxo de pensar que ela não está? — ele perguntou. — Olha, Claire estava pronta para ir. Estava com um arco e tudo. Mas você sabe que isso é mais importante. Esta casa... — Ele ficou em silêncio por um segundo, olhando para seus pés. — Esta casa é a nossa casa. E nós temos a responsabilidade de mantê-la segura para Michael. Se eles vierem para cá, então nós temos que garantir que eles tenham alguma luta. Você sabe que é verdade, Eve. Nós lutamos uns pelos outros, e nós lutamos por esta casa. Contra os vampiros, seres humanos, qualquer um e todos. É assim que sempre foi. Eve soltou um suspiro longo e lento, fechou os olhos e assentiu. Seus ombros caíram, e ela deixou escorregar a mochila com um som metálico pesado no chão. — Michael nunca iria me perdoar se eu me arrastasse para resgatá-lo e voltasse para um buraco fumegante no chão — ela disse. — Mas isso não significa que eu tenho que gostar disso. — Você não seria Eve se você gostasse — Shane assegurou. — Vamos lá, um pouco de planejamento de defesa de perímetro vai animá-la, eu prometo. Eu vou até deixar você segurar o lança-chamas. Claire virou-se para Miranda e disse: — Você acha que você é forte o suficiente agora para sair de novo?


Miranda assentiu ansiosamente — tão ansiosamente que ela estava quase saltando no lugar. — O que você quer que eu faça? — Eu preciso que você faça um pouco de trabalho de espionagem para nós — Claire disse. — Já que você é tão boa em ficar invisível. A Fundação Daylight parece estar por trás de toda essa renovação urbana que temos, então são eles que fazem um plano para a demolição também, não é? — Eu acho. — Vá para a sede deles e veja se tem algo que você possa encontrar que nos diga quando eles pretendem derrubar a casa. Isso fez com que Miranda desse um passo atrás. — Eu não posso. — Você acabou de dizer... — Eu não posso! — Miranda gritou por cima dela, e então a voz dela caiu para quase um sussurro. — Eu tentei, ok? Eu não posso chegar perto. Dói, e eu começo... eu começo a desfazer. É como... é como se não tivesse ar lá dentro. Eu não posso entrar. Ela estava tremendo só de pensar nisso, e Claire colocou o braço ao redor da garota. A pele dela estava fria sob a palma de Claire, e ela agarrou a manta do encosto do sofá para colocar sobre os ombros de Miranda. Estou tentando aquecer um fantasma. Pareceu tolo quando ela pensou sobre isso, mas ainda assim, a garota estava fria e angustiada. — Então, obviamente, Miranda não vai ser capaz de fazer a sondagem para nós — Eve disse. — Hum, pergunta. Não estamos exagerando? Eles só não acabaram de repintar a nossa casa? Por que eles decidiram derrubá-la depois de todo esse trabalho? Miranda levantou a mão lentamente. — Eu sei essa — ela disse. — As pessoas que estavam aqui, aquelas que pintaram e outras coisas... elas eram do conselho da cidade. A nova prefeita estava com eles. Foram os Daylighters quem ficaram chateados porque eu os joguei para fora da casa quando eles tentaram entrar. E as Daylighters querem derrubar a casa abaixo. Não a prefeita. Eu acho que ela gosta da casa. — Então vamos ver a prefeita — Eve disse. — Fazer com que ela pare Fallon. — Você realmente acha que ela pode? — Shane perguntou. — Eu gosto de Ramos, mas é de Fallon que estamos falando. Ele é um maldito caçador de vampiros. Os Daylighters estavam matando as pessoas em Boston; eles não vão causar problema aqui também. Se a prefeita ficar contra os Daylighters, ela não vai durar no seu mandato. Isso era deprimentemente verdade, Claire pensou. — Precisamos descobrir se eles têm planos reais para derrubar a nossa casa — ela disse. — Por


Miranda, principalmente, ela não pode fugir. Ela não pode sobreviver se a Glass House for embora. — Esse era um pesadelo que todos eles sentiam em seus ossos. Eles tinham visto isso acontecer com Michael. Quando a casa tinha pegado fogo. Ele teria sido queimado com ela. — Eu posso ir à prefeitura — Miranda ofereceu. — Jenna pode me levar lá. Eu podia ver se eles têm alguma coisa no arquivo. Talvez haja uma autorização? Eles parecem gostar de licenças e essas coisas. Eles até tinham uma para arrumar a parte externa da casa. — Por Jenna, ela quis dizer Jenna Clark — uma recém-chegada a Morganville, uma vez apresentadora do reality show Após a Morte. Uma psíquica de verdade, uma que tinha despertado os fantasmas remanescentes de Morganville para uma atividade sólida com a sua chegada... e tinha acabado mostrando a Miranda como sobreviver fora das restrições da Glass House. — Jenna não saiu da cidade? — Claire sentiu estranhamente surpresa com isso; ela pensou que Jenna teria se mudado depois de perceber o perigo constante que Morganville representava. Ela não precisava ficar. — Por que ela faria isso? — Ela meio que começou a namorar um cara — Miranda disse. — Rad, o mecânico. E acho que ela gostou daqui. Ela comprou uma casa e tudo. — Então, você poderia por favor ir até Jenna e ver se ela pode levar você até a prefeitura? Mas tenha cuidado. Não seja pega, quando você for fazer o que quer que seja. — Miranda, afinal, poderia ficar invisível... mas Jenna não. O plano tinha a segurança adicional de que Jenna estaria dirigindo, para que houvesse uma fuga rápida no caso de algo der errado. E pela experiência de Claire com Morganville, as coisas davam errado. Com frequência. Miranda assentiu. Ela se tornava, nesses momentos, de uma menina medrosa para uma jovem confiante e corajosa. Claire pensou tristemente que ela nunca iria ver Miranda verdadeiramente crescer, que a menina ficaria presa na idade que ela tinha agora, incapaz de avançar para a morte ou retroceder na forma humana. Mas ela estava consciente e — mais ou menos — viva, mesmo que sua vida seja com cordas e restrições. E, pela primeira vez em sua vida, Miranda parecia... feliz. Estressada no momento, mas feliz por ser desejada, recompensada e parte da gangue da Glass House. Colocar ela em risco deveria ter sido uma decisão difícil, e Claire se sentiu culpada por isso, mas ela também sabia que tinha que ser feito. Claire tinha estado em perigo regularmente desde o primeiro dia em que pôs os pés dentro destas paredes; era parte do que significava viver aqui. Parte de estar com as pessoas que se importavam o suficiente para assumir riscos.


— Você consegue ir até Jenna sozinha? — Claire perguntou. — Eu acho que sim. — Ok, então vá. Nós vamos garantir que a casa esteja segura enquanto você estiver fora. — Bom — Miranda disse: — Porque eu amo a casa. Eu amo vocês também. — Ela olhou diretamente para Claire quando disse isso, e Claire abraçou-a com força. A menina era fria e ossuda, mas era muito real. — Fique segura — ela disse. — Volte logo. Vou ligar para Jenna para avisar que você está indo. Eve abraçou a menina também. Shane não, mas Miranda era tímida perto dele, e sempre tinha sido. Ela apenas balançou a cabeça, e ele acenou de volta daquele modo durão e resumido de caras, em seguida, ela tinha apenas... sumido. Dissolvendo para o ar. Era inquietante, não importava quantas vezes eles tinham visto isso acontecer. Claire pegou o telefone da casa — ainda funcionava mesmo que ela não tenha imaginado que algum deles tinha se incomodado com as contas há algum tempo — e discou o celular de Jenna, onde eles tinham rabiscado na parede ao lado do telefone com lápis hidrocor. Era uma versão confusa de uma lista de contatos, mas funcionava em apuros. Ela atualizou a outra mulher quando ela atendeu, e Jenna parecia feliz em ajudar. Ela desligou o telefone e virou-se para os outros dois. — Bem? — ela perguntou. — E agora? — Minas terrestres nos canteiros de flores? — Shane perguntou. — Além disso, poderíamos substituir por arame farpado a cerca de piquete. Talvez eletrificada. — Fale sério. — Por que você acha que eu não estou? Claire revirou os olhos e olhou para Eve. — E quanto a você? — Qual é a maneira mais fácil de derrubar uma casa como essa? — Eve perguntou. Era uma pergunta surpreendentemente prática — e uma arrepiante, quando Claire pensou mais sobre isso. — Fogo — ela disse. Isso já havia sido tentado antes. A Glass House era de madeira velha, e no entanto, não importa o quão viva ela tinha se tornado e autoconsciente, ela não poderia controlar o quão inflamável era. Não por muito tempo, de qualquer maneira. A estrutura de madeira velha, os ossos dela, era o seu elo mais fraco. — Se eles não querem trazer uma tripulação


inteira de construção para derrubar o lugar, eles só vão tocar fogo. Incêndio proposital. Eve assentiu com a cabeça. — Nós podemos colocar spray retardante de fogo na casa. Não sei onde nós vamos conseguir, no entanto. — Rad tem um pouco — Shane disse em um tom muito mais sério do que antes. Quando elas olharam para ele, ele deu de ombros. — O cara gosta de tacar fogo em si mesmo. Ele está treinando para ser um dublê desde que desistiu de seus sonhos de artes marciais mistas. — Eu sabia que o cara era louco — Eve disse. — Ok, então, vamos roubar o esconderijo de Rad. O que mais precisamos? — De extintores de incêndio — Claire disse. — Isso deve ajudar com todo o risco de incêndio criminoso. Eu não tenho certeza de como nos defenderemos contra um trator, no entanto, se eles decidirem derrubar a casa inteira. — Ela levantou um dedo quando Shane abriu a boca. — Não diga lançachamas, ou qualquer coisa a ver com dinamite. — Ele fechou-a sem falar. — Precisamos saber exatamente o que eles estão planejando fazer — Eve disse, e deu uma respiração profunda. — Eu vou para a Fundação Daylight. — Como é que você está pensando em encontrar qualquer coisa lá? Com o poder da sua grandiosidade? — Shane perguntou. — Eu não estou fazendo pouco da sua grandiosidade. Mas ela não tem o poder de, digamos, do calibre .357. — Nem todos nós precisamos de armas — Eve disse. — Alguns de nós têm charme. O jeito dela dizer isso fez a pele de Claire ficar tensa e arrepiada, e ela nivelou um olhar com a sua melhor amiga. — Não — ela disse. — Nem pense nisso. — Pense em quê? — Em correr com algum plano maluco de fazer o quê? Fazer Fallon dizer a você o que ele vai fazer com a Glass House? — Por que não? Ele pensa que eu sou uma menina histérica. Ele me trata como se eu fosse uma boneca de porcelana — Eve disse. Ela tinha tirado um dos pauzinhos afiados de seu cabelo e estava inquieta raspando a madeira da mesa com ele. Metade do seu penteado caiu desleixado. — Você acha que eu não posso seduzir ele, e fazê-lo soltar Michael ao mesmo tempo? — Eu acho que você vai se matar — Shane disse calmamente. — Ou pior. — O que é pior? — Não sei — ele disse. — Mas esses caras são o pior tipo de bastardos, do tipo calmos. Do tipo que parecem agradáveis, educados e gentis e fazem tudo


isso pelas razões certas. Que fazem você se sentir como o vilão por não concordar com eles. E eu não sei o que Fallon é realmente capaz de fazer. Você sabe? Ele estava certo, e foi decepcionante. Eve franziu o cenho, mas ela não discutiu. Ela só arrancou o outro pauzinho, torceu o cabelo para trás e colocou novamente os pauzinhos para segurá-lo. A maior parte dele. A carranca ficou, e pelo olhar duro em seus olhos, o assunto estava acabado. Ela não iria discutir, mas ela não ia mudar de ideia tampouco. Claire suspirou. — Por mais que eu adore ouvir vocês dois se ofenderem durante todo o dia, nós temos que resolver os problemas atuais. Eu vou conseguir extintores de incêndio, e quando eu voltar, Shane, você pode ir procurar o material retardante de fogo de Rad. Eve — Ela hesitou, depois balançou a cabeça. — Seja lá o que você pretende fazer, eu sei que não podemos pará-la. Mas tenha cuidado. Nós estamos a uma mensagem de distância, e você não hesite em gritar por ajuda se começar a parecer pelo menos um pouco estranho. — Eu sei — Eve disse. Ela levantou a mochila para o ombro. — Eu vou. Shane não podia resistir de alfinetar. — Eu pensei que você tinha dito que nem todos nós precisávamos de armas. — Eu não preciso delas — Eve disse. — Mas eu não sou louca, tampouco. Banzai, vadios. Ela bateu a porta atrás dela, e Claire deu uma respiração profunda quando encontrou os olhos de Shane. — Acho que não tem nenhuma chance de voltarmos para a cama — ele disse. — Porque esta manhã na cama? Foi muito bom. — Ele parecia lamentoso. Ela absolutamente concordava com aquilo. Ela foi até ele e beijou-o — e pareceu doce, morno-beirando-o-quente e até mesmo um pouco desesperado. — Mais tarde — ela prometeu a ele. — Eu vou pegar os extintores de incêndio. Não devo demorar muito tempo, por isso tente não se meter em nenhum problema até eu voltar. — Tem momentos em que eu queria que você fosse um pouco menos prática, você sabia disso? — Deus — ela suspirou. — Eu também. Q q q Se separar de Shane e Eve pareceu estranho. Eve tinha pego o carro fúnebre, o que deixou Claire de repente preocupada sobre como ela iria trazer


um amontoado de extintores de incêndio da loja local de Morganville, uma imitação da Home Depot. Mas então, no último minuto, Shane saiu correndo e voltou com um conjunto de chaves de carro e um papel. — Aqui — ele disse. — Vá ver Rad. Eu divido com ele o meu carro compartilhado quando eu não estou usando. Diga a ele que eu vou lá mais tarde para buscar as outras coisas, para que ele possa juntar tudo. — Você tem certeza de que ele vai me dar o seu carro? — Não deixe ele falar merdas de que eu devo dinheiro a ele. Eu não devo. O acordo é que eu pegue o carro quando eu quiser, e ele dirige quando eu não quero. É como eu pago todo o material extra que ele coloca nele. Mas tenha cuidado. É um belo carro, mocinha. — Que engraçado — ela disse em um tom que indicava que não era, e beijou-o rapidamente em seu caminho para fora da porta. Ela correu parte do caminho, apenas para desfrutar o exercício, e o fato de que estranho estavam fora nos gramados, acenando olás, sorrindo e animados. Morganville tinha sido sempre empolgada, mas ela não podia dizer que sempre foi amigável, e isso foi uma mudança inesperada e agradável. Quando ela parou, sem fôlego, ela acabou falando com o trabalhador da entrega de correio, e um casal de estranhos que passavam. Assim como uma cidade regular. O que não era tão comum. Eu vou arruinar isso, ela pensou, e esse sentimento terrível varreu-a novamente, esse conhecimento terrível de que mesmo que ela estivesse fazendo o que parecia certo, podia ser muito errado. Mas ela não podia apenas... não fazer nada. Talvez não houvesse um lado certo, mas ela sabia de uma coisa: deixar os Daylighters ganharem tinha que ser a pior das duas opções ruins. Não demorou muito tempo para ela chegar a loja de motocicleta de Rad, que também funcionava como uma loja de mecânica. As bicicletas que ele vendia eram geralmente adicionadas com vários acessórios e personalizadas, embora ele tivesse alguns modelos básicos de consumo para variar, e na parte de trás ele tinha uma fila de carros em vários estágios de degradação, e alguns que ele mantinha cobertos com lona. Um deles, Claire sabia, era o de Shane. Seu carro compartilhado, como ele gostava de chamá-lo. Ela reconheceu a forma sob a cobertura de lona. Rad estava sentado atrás de sua mesa desgastada do escritório com os pés para cima e óculos de sol. Ele era um cara enorme, com suas tatuagens que ele adorava mostrar e seus óculos bloqueando os seus olhos ele parecia exatamente o oposto de todos os rostos amigáveis que ela viu até chegar aqui.


A antiga Morganville em carne e osso. Ele deu-lhe um aceno de cabeça, pôs suas botas no chão e disse: — Ei, Claire. Faz muito tempo que não vejo você por aqui. — Não muito tempo. — Parece desse jeito. — Ele deu de ombros. — Muita coisa mudou desde que você deixou a cidade, e isso é um fato. — Não tanto em torno de você. — Eu entendi o que você disse aí, com o jogo de palavras — ele disse e cruzou os braços. — Eu nunca gostei dos malditos vampiros e eu estou contente que eles foram embora. Eu nunca fiz segredo disso. A nova administração parece estar funcionando. — Ele estava, ela percebeu, tentando descobrir em que lado ela estava. Ela não tinha vontade de discutir sobre isso, ou tempo. — Eu só vim para pegar o carro de Shane — ela disse. — Ele me deu as chaves. — Ele ainda... — Ele também disse para te dizer que ele não te deve nada, então não tente fazer isso. Ela entregou o bilhete, e ele leu; mostrou os dentes brevemente, e eram surpreendentemente retos e limpos. — Sim, está bem, você não pode culpar um cara por tentar conseguir um dinheirinho. Tem metade do tanque cheio, por isso está bom para ir. Eu vou tirar a lona para você. — Shane vai passar aqui mais tarde — ela disse. — Ele, ah, vem pegar retardante de chama emprestado com você. Bem, não tanto emprestado porque talvez a gente use todo. Mas nós vamos pagá-lo de volta. — Oh, isso parece ótimo. Mal posso esperar para ter essa conversa. Você sabe, toda vez que eu faço algo para vocês, eu acabo em uma briga e eu estou realmente tentando parar com isso. Controle de raiva e toda essa baboseira. Ei, eu tenho uma namorada agora e ela não gosta quando eu me meto em apuros. — Ela gosta de você quando você coloca fogo em si mesmo? Ele considerou isso. — Tem razão. Eu acho que eu posso dar a vocês a espuma. Para quê você quer? — Eu... prefiro não dizer. Eu prometo, nós não estamos procurando briga — Claire disse. — Mas as pessoas podem vir atrás de nós, e nós temos que lutar de volta, não é? — Claro — Rad concordou. — Nenhum crime nisso. Algumas das minhas melhores lutas foram em legítima defesa. — Ele flexionou seus músculos um pouco, mas não era para se mostrar, era mais como se ele estivesse lembrando


dos bons tempos. Claire supôs que Rad teria uma lista das dez melhores e piores lutas. Na verdade, ela ficaria surpresa se Shane não tivesse também, e se algumas delas não correspondessem com a lista de Rad, só que em lados opostos. — Ok, eu vou manter os meus rancores contra Shane, não contra você. Você é muito bonita, de qualquer maneira. Vamos para o carro. Ele a levou para a parte de trás, que era um monte de terra seca rachada e com ervas daninhas ocasionais que lutavam para atravessar o chão duro; as ervas daninhas pareciam tão secas quanto a sujeira que elas estavam rompendo. A maioria tinha espinhos, Claire estava cuidadosamente evitando elas enquanto ajudava Rad a desatar a tela e dobrá-la, tirar as camadas de poeira e colocar o quadrado limpo debaixo do braço. Ele deu um passo para trás para admirar o carro. — Amo essa besta maldita — ele disse. — Seu namorado tem muito bom gosto para rodas. Era um carro muito grande, todo preto fosco, com rodas assassinas e com cromo brilhante aqui e ali, apenas para chamar atenção. Ele parecia poderoso e intimidador. Claire deslizou atrás do volante no assento de couro brilhante e teve que empurrar quatro vezes para a frente para que seus pés pudessem alcançar os pedais. Pedais, não apenas dois, mas três. Acelerador, freio e embreagem. Ela teve aulas de condução com câmbio manual, mas tinha sido... há um tempo atrás. E ela teve o pai dela pacientemente instruindo o processo. Além disso, ele tinha sido um carro doméstico pequeno e agradável, não esse monstro de Detroit de Shane. Ela respirou fundo e ajustou os pés como ela se lembrava. Ela se atrapalhou na mudança de sentido inverso primeiro, e estremeceu com o ranger das engrenagens; ela viu Rad sacudir a cabeça tristemente de onde ele estava encostado na parede. O que endureceu a sua determinação, e ela acelerou para fora rapidamente, atingindo a segunda marcha antes que ela tivesse chegado no final do estacionamento. Ela se moveu com força o suficiente para cantar pneus. Foi uma sensação boa. Assim como ver o olhar surpreso no rosto de Rad. Ela lhe deu um pequeno aceno rápido e alegre da janela, o que era arriscado, mas valeu a pena, e ela estava na terceira antes de chegar no final do quarteirão, rugindo através do sinal verde e se dirigindo para o Macom Hardware. O estacionamento estava cheio, o que era uma visão muito estranha; ela não conseguia se lembrar de alguma vez ter visto um local com muitos clientes na cidade, e ali estavam eles, famílias inteiras do lado de fora durante o dia,


empurrando carrinhos na loja, conversando em seus celulares, vivendo uma... vida normal. Ela encontrou um lugar e desligou o carro, fazendo o motor rosnar baixo, mas ela não conseguiu sair do carro ainda. Ela sentiu-se deslocada, e triste. Se ela, Shane e Eve conseguissem libertar os vampiros, esses mesmos sorrisos, essas pessoas felizes iriam voltar para exatamente o que elas tinham sido antes, assustadas e ansiosas — com medo de deixar suas casas para tudo, além do necessário, com medo de deixar os seus filhos correrem e brincar. Medo por uma boa razão. Como ela poderia realmente querer trazer isso de volta? Mas que outra escolha ela tinha? Levou um bom minuto para ela se recompor, pegar sua carteira e entrar na loja. Ela pegou um carrinho de compras da pequena seleção restante — claro que era um com a roda esquerda com defeito — e seguiu para a esquina de trás da loja, onde ela se lembrava de ter visto extintores de incêndio. Não foi fácil; Macom não era construído para o fluxo pesado de clientes, e foi um pouco como brincar de jogo de trânsito, onde um tinha que se mover para o outro passar. Quinze minutos mais tarde e várias desculpas, Claire finalmente avistou os cilindros vermelhos no canto, e parou seu carro o mais fora do caminho possível enquanto carregava eles até o carrinho. Havia seis em exposição, e ela pegou todos eles. Ao lado deles havia uma caixa de coisas ovais de aparência estranha, mas tinha as palavras GRANADA DE SUPRESSÃO DE FOGO, e ela pensou que isso era algo que Shane amaria. Ele não era muito fã da linha de defesa, mas isso era praticamente tudo o que ela viu dada a seleção limitada disponível, embora em um impulso ela tenha agarrado caixas pré-carregadas de sal de rocha para a espingarda. Não que ela não pudesse atirar em alguém que estava tentando queimar a casa deles, mas ela preferia não mandá-los para o hospital ou o cemitério. Essas poderiam ser pessoas que ela conhecia, pessoas que ela se importava, e ela não poderia ser inimiga delas. Mesmo que ela fosse, pelo menos por agora, a vilã deles. Vinte minutos a mais para manobrar até o caixa e pagar e, em seguida, outros cinco para carregar tudo para o carro. Mais cinco minutos para alimentar a Besta (que era como ela tinha decidido chamar o carro de Shane) e descer pelas ruas surpreendentemente ocupadas em direção à Glass House. Quando ela chegou lá, Shane estava sentado na varanda da frente na cadeira de balanço desbotada pelo sol que Eve tinha colocado lá fora, meio como uma piada porque nenhum deles eram pessoas de sentar na varanda — e ele estava com uma espingarda.


Dois policiais uniformizados estavam de pé nos degraus. A mulher alta e loira estava com sua mão em sua arma, mas ela não a tinha tirado; seu parceiro, também alto, mas esquelético, não se preocupou com a sua arma. Ele estava encostado na grade e tentando parecer casual. Com isso, Claire supôs que ele estava tentando combinar com Shane, que tinha aberto o cano da espingarda, retirado as balas e estava limpando. Ela sentiu cheiro de óleo de arma enquanto estacionava a Besta na garagem, e em vez de descarregar o carro, pegou a caixa de cartuchos de sal de rocha e caminhou em direção a entrada. A policial girou para olhar imediatamente para ela com olhos frios e analíticos e uma expressão vazia, mas ela se mudou de lado para deixar Claire subir os degraus. — Obrigada por me emprestar o carro — ela disse e se inclinou para beijar Shane na bochecha como se os policiais não estivessem lá. — Eu trouxe um presente. — Balas de patifes. Legal. Tem muitos patifes por aí nestes dias. — Ele abriu a caixa, tirou uma e começou a colocá-la na culatra da espingarda. Então ele a fechou enquanto olhava para os policiais. Bem. Aquilo se intensificou rapidamente. — Me desculpe, eu acho que eu não entendi, estamos tendo problemas aqui? — Claire sorriu triunfantemente para o policial. O nome dele era Charlie, ela lembrou, Charlie Kentworth. — Oficial Kentworth, como você está? Há algo de errado? — Nós só queríamos entrar por um minuto, mas o Sr. Collins não parecia muito entusiasmado com a ideia — Charlie disse. — Eu pensei que poderíamos ter uma conversa agradável e civilizada, mas eu interrompi a limpeza semanal da espingarda dele aparentemente. — Bem, você sabe, um homem tem que ter rotinas — Shane disse. — Anime-se, Charlie, ao menos é apenas sal de rocha. Só vai prejudicar a sua dignidade. Pode até não romper a pele. — Os sorrisos que eles trocaram foi desafio puro, e Claire resistiu ao impulso de revirar os olhos. Esse definitivamente não era o momento. — Desculpe, por que você quer entrar? Não que nós não amemos visitantes, policial Kentworth. É só que eu voltei para a cidade ontem, e eu ainda estou me ajustando. — Ela trocou de foco e olhou para a mulher com ele. — Eu não acho que nós já nos conhecemos antes. — Ela ofereceu a mão, mas a policial não se moveu para pegá-la. — Policial Halling — a mulher disse. — Esse é o seu primeiro nome? — Shane disse. — Policial?


— Pelo que é da sua conta. — A mulher não tinha tirado a mão da coronha da sua arma, e quando ela mudou de posição, os olhos de Claire foram atraídos para o brilho de ouro em seu colarinho: o broche da Fundação Daylight. — Nós recebemos um relatório que vocês mantêm armas ilegais em sua casa. Nós gostaríamos de sua permissão para realizar uma pesquisa nas instalações. — Eu pensei que eles emitiam mandados para coisas como essa — Shane disse, e passou o pano com óleo em sua espingarda como se ele não tivesse nenhuma preocupação no mundo — e como se ele não tivesse, de fato, coisas dentro da casa que iria fazê-lo ser preso. — Quero dizer, eles fizeram isso quando os sanguessugas governavam as coisas por aqui. Eu acho que nós pensávamos que seriam um pouco mais respeitosos com esse processo com os seres humanos no comando, certo? — Você está dizendo que não vai nos deixar entrar? — a policial Halling disse. Seus olhos eram uma sombra peculiar de uma tempestade azul e, embora não mostrasse em sua linguagem corporal, Claire tinha a impressão de que ela estava realmente, realmente com raiva. Não havia nenhuma maneira de adivinhar o motivo. Talvez ela fosse apenas uma pessoa raivosa em geral. — Isso é o que estou dizendo — Shane disse. — Michael Glass é o dono desta casa, e já que ele foi colocado no novo enclave incrível, eu acho que eu tenho que fazer o que eu acho que ele gostaria, que seria dizer não. Claire? Ela assentiu com a cabeça. — Volte com um mandado — ela disse. — Isso não é pedir demais, não é? — Não — Halling disse. — Não é. Estaremos de volta em breve. — Bem, você sabe onde nos encontrar — Shane disse com um sorriso admiravelmente doce enquanto colocava a espingarda casualmente sobre o ombro. — Até mais. — Desculpe pelo problema — Kentworth disse, e Claire teve a sensação de que ele estava envergonhado pela abordagem hostil de sua parceira. — Vocês dois... Eu sei que soa clichê, mas, por favor, não deixem a cidade. — Por que iríamos? Somos moradores de Morganville. Nós vivemos aqui — Claire disse. Halling fez um barulho no fundo de sua garganta que não era bem um grunhido, e liderou o caminho de volta para o carro da polícia. Shane sentouse na cadeira de balanço, parecendo para todo mundo como se ele pudesse adormecer, ele estava tão relaxado — pelo menos até a viatura virar a esquina.


Então ele se levantou da cadeira de balanço como se ela estivesse pegando fogo. — Você trouxe os extintores? — ele perguntou, deixando de lado a espingarda. — No carro. O que foi tudo isso? — Eu não tenho ideia, mas eu estou começando a ter a forte sensação de que nós não somos mais desejados por aqui, Claire. E eu não sei o motivo, nós somos tão encantadores. — Bem, você é — ela disse, e beijou-o levemente. — Vamos lá, me ajude a carregar tudo para dentro. Ele levou uma braçada de extintores, enquanto ela agarrou o último par e a caixa. Eles despejaram as coisas na sala da frente, levantando uma nuvem de poeira fraca das almofadas antigas do sofá, e Claire empurrou-a para longe, tossindo. — O que... — A atenção de Shane estava voltada para a caixa que ela tinha colocado para baixo, e antes que ela pudesse sequer começar a responder, ele estava rasgando, parecendo tão emocionado como se magicamente fosse Natal. — Você sabe o que é isso? Não é? — Algum tipo estranho de granadas — ela disse. — Não fique muito animado. Eu acho que elas não explodem ou qualquer coisa. — Elas são excelentes. Você arma e joga no fogo. Se não for muito grande, ela vai explodir em um pó que acaba com o fogo. — Ele agarrou-a e beijou-a. — Você me trouxe granadas. Você é oficialmente a melhor namorada do mundo. — Eu sou a namorada mais preocupada do mundo — ela disse. — Porque isso está ficando um pouco louco. Policiais? É sério? E você decidiu limpar a espingarda para, o quê, intimidar eles? — Qual é, esta é a zona rural do Texas. Espingardas são tão regulares como gnomos de jardim. Além disso, óleo de armas realmente fede dentro de casa. — Assim como os seus sapatos, mas eu não vejo você deixá-los do lado de fora. — Eve mandou essa piada por mensagem? Porque pareceu com ela. — Ela é minha tutora — Claire disse, e se afastou um pouco dele, porque estar tão perto dele tornava mais difícil de ser lógica. Ele tinha esse efeito sobre ela. — Precisamos colocar alguma coisa na sala de despensa? — A sala de despensa era um cômodo escondido fora da cozinha, com prateleiras antigas de produtos enlatados. Basicamente, ela era apenas um cômodo sujo, sem janelas, quase certamente já tinha sido usado por vampiros visitantes de vez em quando, ou até mesmo para coisas mais picantes, mas era seguro o suficiente para o armazenamento.


— Agora que você mencionou, eu tenho um saco cheio de coisas que devem ficar lá — ele concordou. — Você sabe, a minha coleção de unicórnio brilhante. Eles provavelmente vão me prender com razão. — Estou falando sério! — Eu também. Eu nunca faria uma piada sobre unicórnios brilhantes. — Ele ergueu a mão para impedi-la de ficar irritada. — Ok, sim, eu vou esconder todas as coisas que precisam ser escondidas. Dê-me quinze minutos, e então eu vou sair para pegar o material de Rad. Embora, droga, granadas. Eu não tenho certeza se precisamos de muito mais do que isso. Elas podem até servir como armas ofensivas. — Mas elas só sopram pó, certo? — Se eu jogar em alguém e gritar “granada!” eu aposto que eles vão se abaixar de qualquer maneira. No mínimo, seria hilário. — Até que eles atirem em você. — Bem. Sim. Isso pode não ser tão engraçado. Mais um beijo, e Shane estava indo embora. Levou menos de quinze minutos para recolher as coisas em uma mochila gigante, que ele arrastou pelas escadas e entrou na cozinha. Ela o ouviu escondendo as coisas na despensa de bagunça, e entrou para checar se ele não tinha deixado quaisquer vestígios reveladores no chão, mas ele tinha guardado ordenadamente, e se ela não soubesse sobre o quarto secreto, ela nunca teria adivinhado que estava lá. Outro minuto e Shane tinha ido embora para pegar o retardante de chamas de Rad. Ele disse a ela com firmeza para trancar atrás dele — como se ela já tivesse se esquecido disso em Morganville. A Besta rugiu ao descer a rua, e um profundo silêncio caiu sobre a Glass House. Era raro ela estar sozinha no local; havia quase sempre alguém para conversar, ou pelo menos em outro cômodo. Mas parecia calma, tranquila e pacífica. — Nós vamos cuidar de você — Claire disse para a casa, com o rosto inclinado para cima até o teto. Ela bateu na parede. — Não se preocupe. Nós não vamos deixar nada acontecer com você. Imediatamente o ar aqueceu em torno dela, como se ela tivesse entrado em uma luz solar intensa. Era equivalente a um abraço da Glass House, e ela sorriu e pegou os dois primeiros extintores de incêndio para levá-los lá para cima. Ela colocou um no quarto de Michael e Eve e um no dela — de lados opostos, e eles poderiam cobrir qualquer coisa de lá. O resto ela distribuiu no térreo, onde ela pensou que qualquer tipo de incêndio criminoso provavelmente iria começar. Seus inimigos uma vez tinham tentado queimar o lugar com coquetéis de bomba bem-colocados, e agora ela se certificou de


que a janela não estivesse a mais do que alguns centímetros de um extintor de incêndio. Então ela tirou as granadas, espalhando-as ao redor para ter certeza de que elas estavam todas em fácil acesso. Ela estava tirando as últimas quando ouviu o som nítido de uma batida — alta, autoritária, e nada hesitante. Definitivamente não era Shane, e ela não estava esperando nenhum visitante. Claire deslizou uma das granadas de extintor em seu bolso do casaco e desceu para verificar o olho mágico na porta. O policial Kentworth estava de volta. A policial Halling estava com ele, assim como um homem à paisana que Claire reconheceu como Detective Simonds. Pelo que ela tinha ouvido falar dele, ele era um cara legal — e um bom investigador. Ela não tinha certeza se essa última parte era uma coisa boa agora. Ela abriu a porta e se agarrou nela, bloqueando a entrada. — Policiais? — Senhorita Danvers — o detetive Simonds disse, e deu-lhe um sorriso agradável. — Se importa se nós entrarmos? — Sem ofensa, senhor, mas eu preferia esperar até que os meus amigos voltassem, se vocês não se importarem. — Não me ofendi, mas eu sinto muito em dizer que isso é apenas uma questão de cortesia. — Ele deslizou um pedaço de papel do bolso do paletó e entregou a ela. — Este é um mandado de um juiz permitindo-nos procurar por armas ilegais nesta casa. Bem, isso não era inesperado, mas ainda parecia ruim. Claire engoliu em seco, mas ela recuou e abriu mais a porta para eles. Quando os três policiais entraram, ela sentiu a temperatura no corredor começar a diminuir. E ela procurando por abraços calorosos. A casa estava se assemelhando ao seu malestar, e ela nunca tinha gostado de convidados indesejados. — Kentworth, vá lá em cima — Simonds disse. — Halling, nesse piso e porão. Senhorita Danvers, que tal me fazer uma xícara de café na cozinha e nós sentarmos para conversar um minuto. — Claro — ela disse. Seu coração estava acelerado, e ela esperava que ela não parecesse tão culpada quanto ela se sentia. — Siga-me. Ela levou-o através da sala de estar e pela porta da cozinha, e agarrou um moletom para colocar sobre o que ela estava vestindo porque a casa agora parecia gelada. Ela quase podia ver sua respiração. Simonds, vestindo uma jaqueta leve adequada para o sol quente de Morganville, estava tremendo. —


Droga — ele disse. — Vocês gostam de manter aqui frio. Suas contas de energia elétrica devem ser insanas. — Não é verdade — ela disse. — Eu acho que a casa é realmente muito bem aquecida. — Ela se virou para a cafeteira e colocou todas as coisas para fazer o café. Eles esperaram em silêncio enquanto ela chiava, soltava o vapor e enchia a garrafa, e então ela encheu duas canecas, colocou o leite e o açúcar em cima da mesa, e dosou a sua própria caneca em silêncio. Simonds tomou um gole do café preto, falou uma mentira educada de que estava bom, e acrescentou um pouco de leite. Ele enrolou por um tempo excessivamente longo enquanto ficava olhando para ela. Não diretamente intimidante como Halling, mas muito, muito observador. — Vamos direto ao assunto, Claire, posso chamá-la de Claire? — Ela balançou a cabeça em silêncio. — Morganville teve uma remodelação enquanto você estava fora, não há dúvida sobre isso. Eu sei que há um monte de coisas diferentes, e você provavelmente não está se sentindo muito bem com elas agora. Mas eu prometo a você, que é tudo para melhor. Você acredita em mim? — Na verdade, não — ela disse, e tomou um gole cuidadoso de sua própria caneca. — Eu não confio em Fallon, e eu não confio na Fundação Daylight, tampouco. — Por que não? — ele perguntou. Interessante que ele não estava usando um broche, ela pensou, mas ele poderia ter tirado apenas para deixá-la com uma falsa sensação de segurança. — Eu honestamente quero saber, Claire. Eu apenas não estou entendendo. — Porque eu vi o que eles são capazes de fazer — ela disse. — O problema de lutar com monstros é que você pode se tornar um convencendo a si mesmo que vale tudo. Mal por mal. Eu vi, senhor. Eu os vi assassinar pessoas por suas próprias crenças. E eu não vou fazer parte disso. Ele parecia pensativo e sério, e eles ficaram em silêncio por um momento antes de ele balançar a cabeça. — Eu não tenho resposta para isso — ele disse. — Mas eu posso te garantir que a partir do momento em que a Fundação Daylight chegou em Morganville, eles tinham um plano, e eles não fizeram nada além de ajudar aqueles necessitados. Você diz que eles estão dispostos a matar, mas eles nem mesmo mataram os vampiros, na verdade, o Sr. Fallon garantiu que eles fossem tratados bem. Talvez você tenha visto coisas ruins que eles fizeram, mas eu já vi coisas muito boas. Eu posso andar pelas ruas em paz. Isso tem que contar para alguma coisa.


— E conta — ela admitiu. — Mas há algumas centenas de vampiros presos naquele shopping na orla da cidade, e eles não podem ficar lá para sempre. O que você acha que os Daylighters pretendem fazer com eles a longo prazo? — Fallon diz que ele vai garantir que eles estejam seguros, e eu acredito nele — Simonds disse. — Olha, eu trabalhei com alguns vampiros, e eles eram pessoas boas, ok, bebedores de sangue, mas nunca fizeram mal a ninguém. Na verdade, os que eu trabalhei algumas vezes colocaram suas vidas em risco para salvar as pessoas normais. Eu sei que os vampiros não são apenas monstros; Eles podem ser bons ou maus, assim como nós. Mas o fato é, eles não são nativos, e uma boa porcentagem deles não tem qualquer tipo de consciência. Você não pode argumentar com isso. Ela não podia. Ela conheceu um monte de vampiros que eram perigosos; alguns completamente terríveis e que precisaram ser presos para sempre. Alguns egoístas com um grau sociopata, e muitos deles não achavam errado matar alguém que estivesse em seu caminho. Os vampiros não se tornaram vampiros por serem escrupulosos... ou altruístas. Mas isso não significava que eles mereciam a morte. E ela suspeitava — não, na verdade, ela sabia — que essa era a resposta que Fallon tinha. Morte. Livrar o mundo dos vampiros para sempre e todo o sobrenatural, como as Casas Fundadoras. Como Miranda. — Você quer mais café? — Claire perguntou. Ele tinha esvaziado a sua xícara rapidamente. Simonds acenou com a cabeça, e sua expressão ainda era ilegível. Ele tinha um rosto agradável, longo e fino, com um tom de pele chocolate escuro liso e olhos castanhos calorosos, e em outras circunstâncias ele poderia ter sido um amigo. Mas não agora. Ela encheu a sua caneca outra vez, e percebeu que ela estava evitando olhar para a despensa da cozinha. Essa era provavelmente o tipo de denúncia que ele estava procurando, ela pensou, então ela colocou o bule de volta na cafeteira, foi até a despensa, abriu-a e saiu com outro saco de grãos de café. Ela colocou-o no armário acima da cafeteira. — Que idade tem esta casa? — ele perguntou a ela. Ela podia ouvir eles vasculhando lá em cima agora — Kentworth, passando pelo quarto dela. Claire sentiu um rubor irritado em seu rosto, e sentou-se pesadamente em sua cadeira e agarrou a sua caneca de café. Ela não gostava da ideia de alguém remexendo em suas coisas, por mais que fossem poucas. E ridiculamente, ela odiava pensar nele vendo a cama ainda bagunçada que ela e Shane tinham passado a


noite. Parecia muito intrusivo e assustador. — Esta é uma das Casas Fundadoras, certo? — Uma das treze originais — ela disse. — Eu acho que só restam apenas algumas delas agora. — Lindo lugar — ele disse. — A construção é toda original? Imediatamente ela sentiu como se tivesse uma armadilha iminente, cobriu a sua pausa com um gole de café. — Não tenho ideia — ela disse com um sorriso. — Eu não estive aqui por tanto tempo, você sabe. — Ela sabia que as pessoas tendem a subestimá-la, ela era pequena e jovem, e podia parecer muito inocente quando ela queria... e Simonds não a conhecia muito bem. Mas ela sabia que ele não estava acreditando, e quando ele abriu a boca para perguntar-lhe outra coisa, provavelmente algo muito mais intrusivo, ele foi interrompido pela voz aguda de Halling do outro lado da porta da cozinha. — Detective! É melhor vir ver isto! Ele se levantou rapidamente, a aparência amigável dele sumindo imediatamente; o que restava era apenas seriedade. Ele apontou para ela. — Fique aqui — ele disse, e se empurrou através da porta para se juntar a policial Halling. Houve uma conversa abafada. Claire tentou ouvir, mas ela não conseguia distinguir nada... E então ela ouviu seus passos voltando, então ela recuou rápido para ficar ao lado da mesa da cozinha. Simonds empurrou a porta e fez um gesto para que ela se juntasse a ele. Ela não gosta do olhar severo em seu rosto — nem um pouco. Halling tinha encontrado algo no porão. Enquanto Simonds liderava o caminho descendo os degraus estreitos da sala de concreto fria onde eles guardavam a lavadora e secadora e as prateleiras envoltas em poeira de armazenamento de gerações atrás, a mente de Claire corria. O que eles poderiam ter esquecido? Shane e Eve sabiam esconder coisas e esquecer delas; e se Shane tivesse esquecido um esconderijo de armas que ele quis esconder? Isso não seria bom. E então ela viu o que Halling tinha encontrado. Não era armas. Havia um corpo morto no chão de seu porão. Era um dos policiais do shopping que tinha deixado eles verem Michael. Havia uma faca saindo de seu peito, uma revestida de prata — e ela parecia familiar. Eles tinham muitas daqueles em torno da casa; Shane banhava tudo com prata para usar como arma anti-vamp. Claire parou nos degraus e agarrou o corrimão; ela sentiu-se tonta, e de repente precisava sentar e apenas respirar. Parecia impossível. Era impossível.


Como diabos este homem tinha chegado aqui, entrado e morrido? Ela não tinha feito isso, e sabia que Shane e Eve também não. Não podia ser. — Ele não foi morto aqui. Não há sangue suficiente — Halling disse, agachando-se ao lado do cadáver. Os olhos do homem estavam abertos e cobertos com uma película cinza, e ele parecia irreal, como um manequim de loja de departamentos. — Ele está morto há algumas horas, no máximo. — Descubra há quanto tempo ele está desaparecido — Simonds disse. — E certifique-se de que os outros guardas dos vampiros no shopping ainda estão seguros. Vai! Halling se dirigiu para as escadas, e Claire se moveu para fora do caminho quando as longas pernas da policial passaram. Ela se sentia mal e fraca, como se estivesse caindo em um buraco negro sem fim. O que diabos estava acontecendo? Ela tirou o seu celular enquanto Simonds se movia para inspecionar o corpo, e silenciosamente mandou uma mensagem para Shane não voltar para casa. Ele enviou de volta um ponto de interrogação. Ela respondeu com um ponto de exclamação, e então rapidamente colocou o celular para longe antes que Simonds visse. — Você conhece este homem? — ele perguntou a ela. Ela balançou a cabeça. — Eu já o vi — ela disse. — Eu o vi no shopping, onde eles estavam mantendo os vampiros. Mas eu não conheço ele. — Qualquer explicação do porquê de ele estar morto em seu porão, senhorita Danvers? Ela só podia sacudir a cabeça novamente. Ela não tinha ideia do que dizer. Simonds suspirou, levantou-se, e tirou o celular para fazer uma ligação. Ele solicitou unidades adicionais, e um kit de forense — Morganville não era grande o suficiente para ter uma verdadeira equipe forense — e depois olhou para ela. Ele parecia pesaroso, ela pensou. Mas não muito. — Levante-se — ele disse a ela. — Venha para o chão. Ela se levantou, mas ela percebeu naquele momento que se ela deixasse ele prendê-la, ela não teria nenhuma chance de inocentar a si mesma. Fallon deve ter planejado isso — um plano para colocar todos eles atrás das grades e tirá-los para fora do seu caminho. Ela não podia correr esse risco. — Sinto muito — ela disse. Ela colocou a mão no bolso e tirou o objeto redondo de seu bolso. Ela puxou o anel do gatilho e jogou a coisa pelas escadas na direção de onde ele estava. — Granada!


Shane estava certo. Ninguém esperava para ver o que acontecia quando ouviam essa palavra. Ela subiu os degraus, e abriu a porta na parte superior, assim que houve um ruído abafado em baixo. Ela olhou para baixo e viu uma nuvem de pó branca e espessa espalhando-se sobre tudo, como se ela tivesse jogado um saco gigante de farinha. Simonds, que estava de cócoras atrás de um frigorífico velho na extremidade do porão, tossiu e começou a abanar o ar enquanto a coisa se acalmava sobre ele. Ele estava bem. — Danvers! — ele gritou, e sacou a sua pistola por debaixo de seu casaco enquanto golpeava seu rosto para limpar os olhos. — Pare onde você está! Ela iria ser mandada para prisão agora, então ela correu. A casa fechou e trancou a porta do porão para ela; ela se dirigiu para a porta da frente, mas ouviu passos à frente — dos outros policiais. Realmente não importa mais quais; Qualquer um iria provavelmente matá-la como uma suspeita em fuga. Ela foi pela porta da cozinha, indo direto para a entrada dos fundos; ela voou para a porta aberta à sua frente e sentiu um empurrão gigantesco em suas costas como se a própria casa estivesse empurrando-a para fora. Ela ouviu a bala passar por ela antes que ela realmente ouvisse o tiro. Foi uma onda de choque ao lado de sua cintura, perto o suficiente para que a deixasse se sentindo arrasada. A porta bateu atrás dela e trancou antes que o policial — quem quer que seja — pudesse se preparar para dar um segundo tiro. Ela caiu para baixo nos degraus e se levantou, em seguida, voltou a correr para a cerca. Ela sabia que ela estava solta no canto, e ela empurrou-a para fora, em seguida, foi em direção ao beco estreito e sujo. Uma senhora regando plantas em outro quintal ficou boquiaberta com ela, e perguntou algo a ela em uma voz aguda e urgente, mas Claire não parou. Ela apenas correu. Ela conseguiu chegar ao final do beco antes de um carro da polícia bloqueá-la com uma explosão de luzes piscando e o som retumbante de uma sirene. Claire derrapou até parar, recuou, e virou-se para fugir pelo outro lado, mas foi cercada também. O detective Simonds coberto de pó estava se apertando através do buraco na cerca, e ele tinha a sua arma apontada diretamente para ela. — Pare — ele disse. — Claire, não torne isso desagradável. Você não tem para onde ir. Ele estava certo. Isso poderia ficar ruim agora.


Ela colocou as mãos para cima. — Caminhe até a cerca. Se incline contra ela, mãos acima da cabeça. Ela pensou que ela ia vomitar, mas ela não vomitou, e ele pelo menos avisou antes de colocar as mãos sobre ela e começar a acariciá-la para baixo em busca de armas. Ela respondeu às suas perguntas sobre armas escondidas e objetos pontiagudos sem realmente notar o que ela disse; sua mente estava correndo em um borrão ofuscante, e ela pensou que estava provavelmente a apenas um par de respirações longe de desmaiar. Ele lia alguns direitos dela, e ela entorpecida concordou que ela entendeu. Então ele pegou os pulsos dela da cerca de madeira espinhosa e colocou as algemas, e ela prendeu a respiração em um soluço. Mas eu não fiz nada. Shane teria avisado a ela que para as pessoas que viviam na Glass House, isso quase nunca importava.


Capítulo 5 emorou meia hora para ela ficar com a cabeça fria, e nessa hora ela estava sendo levada na parte de trás de um carro-patrulha da prefeitura. A prisão era um andar abaixo no porão da estrutura de castelo gótico, onde eles deixaram ela com uma calma eficiente. Ela não falou. Ela realmente não achava que ela poderia, honestamente. Não havia mais ninguém nas celas com ela de qualquer maneira, além de Simonds e um guarda uniformizado fora das grades — como uma precaução, ele disse, embora ele não fosse específico sobre o que ele estava esperando. — Eu não fiz nada — ela finalmente disse a ele, quando ele estava pronto para deixá-la. — Detetive, eu não fiz nada. Nenhum de nós sequer sabia que o homem estava lá em baixo! — Vou ouvir a sua declaração mais tarde — ele disse a ela. Não foi cruel, apenas calmo, rápido e um pouco desinteressado, como se ele já tivesse qualificado ela como uma causa perdida. — Me diga para onde o seu namorado e Eve foram, e nós podemos falar sobre como eu posso ajudá-la. — Eu não sei onde eles estão. — Ela não sabia, na verdade. A polícia tinha levado o celular dela, e ela esperava que Shane tivesse obedecido a mensagem dela, corrido para se esconder e desligado o celular. Ela desesperadamente esperava que ele tivesse pensado em avisar a Eve também. Miranda conseguia esconder facilmente a si mesma, mas Eve se destacava como um polegar dorido, assim como Shane e seu carro monstruoso. Ambos conheciam Morganville bem, então eles teriam lugares para ir para se esconder. Mas, ainda assim — ela se preocupava. Simonds disse: — Eu espero que você pense muito sobre me dizer onde eles estão porque se nós não conseguirmos encontrá-los, você está encrencada sozinha, Claire. Eu não quero ver isso acontecer mais do que você. O fato é, você viu a vítima viva, e apenas algumas horas depois, ela foi esfaqueada, movida e jogada em seu próprio porão. Parece muito simples. Talvez você pensasse que poderia contrabandear o marido de Eve para fora do shopping e algo deu errado... Olha, é perfeitamente aceitável desejar salvar o seu amigo. Talvez você tenha pensado que ele estava em perigo de verdade. Talvez o Sr.


Thackery — esse é o nome dele, a propósito, o homem morto em seu porão — talvez tenha tentado pará-la. Pode ter sido legítima defesa, eu sei disso. Ela ficou calada porque o seu tom calmo e amigável a assustava. Ele era bom em tirar as coisas das pessoas, até mesmo coisas que elas não queriam dizer; ela sabia muitas coisas que já a envolviam, e uma declaração errada poderia trazer Shane e Eve nisso também. Melhor ficar calada até que ela pudesse descobrir o que diabos estava acontecendo. Ele aceitou o silêncio dela perfeitamente, trouxe para ela algumas garrafas de água, prometeu um pouco de comida, e foi embora. A policial parada do lado de fora — não Halling, felizmente, porque honestamente Claire não podia suportar a visão dela — tinha um símbolo da Daylighter em seu colarinho, mas ela não parecia com vontade de conversar ou julgar. Ela arrastou uma cadeira e sentou-se para ler uma revista ao invés. Claire bebeu a sua água sem saboreá-la, em seguida, se esticou no beliche estreito e duro. Depois de alguns momentos, ela enrolou o cobertor em torno de seu corpo trêmulo e, finalmente, fechou os olhos. Só para pensar. Ela acordou no escuro. Sua respiração parou na garganta, porque estava muito escuro, mesmo que ela tivesse dormido no pôr do sol. Todas as luzes no corredor estavam apagadas além de sua cela, e ela ouviu algo metálico raspar pouco antes da porta da cela se abrir com um rangido de filme de terror. Claire afastou o cobertor áspero e se levantou, pronta para lutar. Mas ela não precisava. Ela tinha um visitante. Era Myrnin. Ele estava usando roupas limpas que eram pelo menos dois tamanhos maiores para ele e, provavelmente, obtidas de um varal ou uma secadora automática. Mesmo escolhendo roupas de outra pessoa, ele tinha conseguido torná-las curiosamente peculiares de Myrnin, uma camisa tingida sob um moletom laranja de capuz e calções de carga brilhantes. Evidentemente ninguém lavava sapatos porque ele estava usando um par de chinelos de plástico que ele deveria ter encontrado no lixo; eles pareciam ter visto melhores dias na década anterior, e eles eram também muito grandes para seus pés. O lado positivo, pelo menos ele estava usando sapatos. — Bem — ele disse, e deu-lhe um sorriso encantador e lento. — Isso é algo que eu não esperava. Você, atrás das grades. Que reviravolta. — Como você conseguiu sair? — Seus olhos se arregalaram, porque ele ainda estava usando o colar de choque em volta do pescoço, como um colar de declaração particularmente feia. — Eles não deram choque em você?


— Oh, sim, muitas vezes — ele disse. — Alguns de nós realmente não se importam muito com esse tipo de coisa. Se tivessem sido equipados com a sua invenção perturbadora, então teria sido uma história completamente diferente. — A arma que ele estava falando tinha a capacidade de destruir a capacidade de um vampiro para lutar de volta, e ela odiava o pensamento de que ela era responsável por criá-la. Ela tinha criado, e ela tinha que admitir isso, mas isso não significava que ela tinha que gostar. — Eu presumo que Fallon ainda mantém a nossa amiga traidora Dra. Anderson construindo novos modelos, então eles não tiveram uma chance para equipar plenamente os seus guardas o bastante ainda. Sorte minha. — Você... você foi o único que... — Saiu? — Myrnin terminou. Ele se debruçou contra as grades como se ele tivesse todo o tempo do mundo. Ela lembrou-se da policial do lado de fora da porta, e na iluminação de emergência fraca ela reconheceu a forma da mulher jogada no chão ao lado de sua cadeira virada. — Temo que sim. Oliver fez várias tentativas corajosas, mas ele realmente não tem a habilidade em ignorar a dor como eu. Eu acho que incomoda ele consideravelmente. Ele cobriu a minha fuga, no entanto, pelo que eu suponho que eu tenha que ser grato. Ela não conseguia realmente acompanhar o que ele estava dizendo, porque ela estava agora preocupada com a policial. Ele tinha se movido tão rápido e de forma decisiva, e a mulher não estava se movendo. — Você... ela está? — Oh, que perturbação, não faça essa cara, Claire. Não, eu não matei a pobre coitada, eu só fiz ela dormir. Eu sei como você se sente sobre tais coisas. Embora ela tenha um cheiro delicioso. — Não morda — ela alertou a ele. — Como sempre, estou ao seu comando. — Ele disse isso de uma forma que deixou bem claro que ele não estava, nem um pouco. — Vamos então, a menos que você goste de ser julgada por um assassinato que não cometeu. — Como você sabe sobre o assassinato? Houve uma pequena mudança de sua postura, mas a sua expressão não mudou. — Eu falei com Shane. Eu testemunhei você sendo levada pelo nosso detetive super entusiasmado. Sorte para o seu garoto, ele decidiu que a discrição era a melhor parte da coragem. — Ele está bem?


— Bem, eu estou bastante certo de que as nossas definições variam consideravelmente para essa palavra, querida Claire, mas ele parecia estar respirando e se movendo, embora compreensivelmente irritado. Ela não conseguia tirar os olhos do colar de choque feio ao redor do pescoço dele. — Dói? — Isso? — Ele tocou o colar de choque com as sobrancelhas levantadas. — Estou fora de alcance. Ele atrapalha um pouco, e me faz parecer patético. — Você quer que eu tire? — Não seja ridícula, eu vou precisar dele mais tarde, e se você quebrar o selo vai fazer um som muito barulhento para alertar e ativar um explosivo que iria remover tanto a minha cabeça quanto as suas mãos, que eu acho que podemos concordar que ambos seriam indesejáveis. — Espere, o quê? Explosivos? — Não se preocupe, eles não vão sair a menos que forem acionados por alguém que tentar removê-los sem as ferramentas adequadas. Além disso, eu preciso voltar hoje à noite antes que eles sintam a minha falta, o que significa que o colar deve estar intacto. Ah, e a minha cabeça. Eles iria notar. — Mas... — Estamos no meio de uma fuga da prisão! Vamos, agora, não nos atrase. Você tem alguma bagagem? — É uma prisão, Myrnin, não um hotel. — Bem, prisões modernas são muito mais bonitas estes dias, nunca se sabe — ele disse, e saiu da cela e pelo corredor, passando por cima da policial caída com seus grandes chinelos pendurados precariamente. — Vamos lá, então. Ela hesitou por um segundo, porque por mais ruim que a sua situação fosse, ela não tinha certeza de que ir com Myrnin não iria acabar pior... mas ela não havia muita escolha, realmente. Ela deu um passo para fora da prisão e tornou-se uma fugitiva. Myrnin levou-a para as escadas, ignorando o elevador. Quando eles correram até elas, ele disse: — Eu cortei a luz do edifício, a propósito. Oh, vamos lá, se mova, a sua amiguinha estranha está esperando ansiosamente. — Minha... espere, quem? Ele deu de ombros. — A menina fantasma. Ela pareceu me achar bastante alarmante, e ela não confiou o bastante para se manifestar para dizer onde encontrá-la. Acho que ela estava com medo que eu fosse tentar mordê-la. Eu acredito que ela pode ter, você sabe, problemas mentais. — Ele fez um círculo inconfundível em sua têmpora, e Claire só olhava para ele com um espanto


mudo. O sujo falando do mal lavado, ela pensou. — Oh, e eu também nocauteei várias pessoas em vários andares diferentes, incluindo a prefeita Ramos e sua assistente. Eu achei que poderia muito bem provocar uns problemas enquanto nós fazemos a nossa fuga. — Sobre isso. Qual é exatamente o plano para a nossa fuga inteligente? — Porta da frente — ele disse alegremente. Claro. Não havia qualquer chance de falar com ele sobre isso, infelizmente, e ela não teve escolha a não ser seguir perto dele quando ele abriu a porta de saída de incêndio no topo das escadas, com um descaso para qualquer emboscada que pudesse ter. Não havia. Havia, no entanto, dois policiais armados do lado de fora das portas da frente, mas Myrnin atingiu-os com a força de um furacão de cor neon e os deixou inconscientes em seu rastro. — Está vendo? — ele disse enquanto marchava sobre seus chinelos. — Plano bem sucedido. E eu estou sendo extremamente humanitário. Você realmente não pode me criticar. Um carro estava em marcha lenta no meio-fio, e através da janela do lado do passageiro aberta ela viu o rosto pálido e ansioso de Miranda; a menina estava gesticulando freneticamente. Ao lado dela, coberta com uma sombra sinistra verde brilhosa da luz do painel, Claire vislumbrou Jenna — a psíquica que se tornara a mãe adotiva de Miranda, de certa forma, e de quem Miranda puxava o poder para se manter viva e bem fora dos limites da Glass House. Ela parecia tensa e muito preocupada. Como ela deveria estar. Sirenes uivaram, e atrás deles, as luzes de repente resplandeceram dentro da Prefeitura. O período a favor deles estava oficialmente acabado — e eles estavam muito longe da segurança do carro de Jenna. Jenna tomou uma decisão rápida e apertou o acelerador. Miranda soltou um grito de protesto, mas era tarde demais; alguns segundos depois, o carro de Jenna estava virando uma curva à direita para fora do estacionamento da Prefeitura e acelerando à distância. — Bem — Myrnin disse, — isso não estava no meu plano. Acho que é hora de correr. Ele puxou-a para uma corrida cheia de curvas. Estava ficando escuro, e entre suspiros por ar Claire conseguiu dizer: — Esse tipo de moletom com capuz brilha no escuro. Você poderia tirá-lo! — A minha pele é ainda mais reflexiva — ele disse. — E eu gosto bastante da cor, você não? É tão festiva.


— Para onde estamos indo? — Claramente não desse lado — Myrnin disse, e fez uma correção instantânea no curso quando avistou as luzes de uma viatura da polícia indo em direção a eles. Ele agarrou o braço de Claire e arrastou-a sobre o gramado para as sombras de algumas árvores verdes. — Silêncio. — Ele não esperou a oportunidade de ela poder não concordar; ele agarrou-a e colocou a mão sobre a boca dela. O protesto dela — fraco como era para ser — desapareceu completamente. Ele estava segurando-a com muita força contra ele para ela conseguir se libertar. Um refletor do carro da polícia deslizou sobre as árvores, mas eles estavam bem escondidos emaranhados nos ramos. Myrnin havia esperado até que o perigo passasse, depois a soltou e rebocou-a de volta para o gramado aberto. — Para onde estamos indo? — ela perguntou a ele em um sussurro urgente. — Porque eu não estou me sentindo bem com isso! Nós dois somos fugitivos agora, você sabe! — Devidamente anotado. Economize seu fôlego, agora temos que correr. Acompanhe. Ela não achava que ela podia. Myrnin se conteve um pouco da verdadeira velocidade de vampiro, mas mesmo assim, ela sentiu que ela estava correndo mais rápido do que era seguro no escuro, com a falta de luz. Postes estavam acesos quando eles chegaram nas lojas em frente da prefeitura. Eles se abaixaram em um beco à medida que mais carros de polícia passaram e vasculharam os tijolos com os refletores. Myrnin não parecia incomodado com as poças desagradáveis que molhavam seus pés, mas Claire tentou evitar ao máximo. Definitivamente não era água limpa. Ela não tinha certeza se era água. — Para onde estamos indo? Ele não tinha respondido da primeira vez, mas enquanto ele observava a rua do lado de fora, ele disse: — Sua amiga Jenna parece ter nos oferecido um lugar seguro. Pena que perdemos a carona. Eu desconfio dela, mas tanto Steve quanto Shane... — Eve! Honestamente, Myrnin, há quanto tempo você conhece ela? — É um nome muito estranho, você sabe. Agora Efa é um tipo de nome adequado. Ou até mesmo Aoife — ele disse. — Tudo bem. Eve e Shane me asseguraram que é o melhor que podemos fazer no momento. Acredito que a alternativa deles era nós acabarmos mortos em um fosso, isso não soa atraente. — Provavelmente não. Estamos salvos? — Aparentemente. — Myrnin agarrou a mão dela e arrastou-a para uma outra corrida muito rápida. Esta não foi tão ruim, simplesmente porque eles


estavam nas calçadas, embora quando ele desviou bruscamente em um beco, francamente foi terrível, e ela decidiu que seria melhor apenas comprometerse a confiar nele para não esmagar seu rosto nos obstáculos escondidos. Houve alguns momentos preocupantes onde ela passou raspando por coisas que definitivamente seriam dolorosas, mas no geral, eles saíram para a rua do outro lado ilesos. E havia pessoas nas ruas. Myrnin derrapou até parar e apoiou-se nas sombras. — Droga — ele disse. — Eu tinha esquecido que os residentes daqui tinham perdido toda a cautela. Onde o mundo vai parar? — Segurança? Ele deixou escapar uma risada sem humor e incrédula. — Não seja ridícula. Eles estão cheios de empolgação da vitória agora, e amor fraternal, mas a própria natureza humana inevitavelmente se enche de confiança. Os criminosos vão tirar proveito de toda essa confiança recém-descoberta para cometer crimes, homens justos vão fracassar e deixar os seus ideais, todos os tipos de caos virão; homens sempre foram seus próprios pesadelos. É como o mundo funciona, e mesmo que os vampiros certamente não ajudem em nada, eles estão longe de ser a raiz do mal. Não há segurança, Claire, e nunca poderá haver, é apenas uma ilusão. Mas é assim que deve ser, você não acha? Ela não tinha uma resposta para isso. Ela observava as pessoas passeando nas ruas, desfrutando o cair do pôr do sol. Confiando na melhor natureza um dos outros. Algumas delas podiam ser genuinamente boas pessoas que nunca fariam mal a ninguém, mas algumas não. E a gelou ao perceber o que Myrnin estava dizendo a ela — com ou sem vampiros, Morganville seria sempre perigosa. Apenas perigosa de uma forma totalmente diferente. Uma maneira menos óbvia. Uma calmaria veio quando a verdadeira escuridão caiu e os últimos remanescentes de laranja sumiram. Myrnin, sem fazer barulho, agarrou a mão dela e puxou-a para outra corrida pela calçada. Ele não parou quando a calçada veio a um final súbito, mas correu para um estacionamento abandonado, em seguida, para outra calçada, uma curva acentuada à esquerda, depois à direita, e ela estava perdida, totalmente perdida, e tudo estava se movendo muito rápido para ela se orientar. Seu coração batia tão rápido que ela pensou que iria desmaiar, e o ar queimava quente e grosso em seus pulmões. Ela não teve tempo para sequer considerar a dor em suas pernas e pés, até que, de repente, tudo tinha acabado. Ele tinha parado tão rapidamente que ela bateu com força contra ele. Ele nem sequer se moveu.


Por um momento, eles estavam pressionados juntos, e ela sabia que ele podia ouvir a pulsação muito rápida em seus ouvidos, cheirar seu suor e sangue, e ela viu suas pupilas lentamente expandirem para absorver toda essa sensação... e por um momento, ela viu a fome. Estava obscura e desesperada, e ela se perguntou o quanto ela podia confiar nele. Então Myrnin gentilmente empurrou as costas dela enquanto ela lutava para manter o equilíbrio, ele a segurou até que ela conseguiu e disse: — Eu acredito que nós chegamos. A casa era como muitas outras em torno dela — pequena, coberta por ripas, uma construção quadrada. Ela tinha um pouco de personalidade por causa dos adornos azul escuro nas janelas e na porta da frente, e um pouco de dignidade com seu novo trabalho de pintura dos Daylighters, mas ela tinha todo o estilo de Morganville — um pouco assimétrica, um pouco em ruínas, com uma obscuridade estranha. Myrnin a levou até a calçada rachada para a varanda da frente, e antes que ele pudesse alcançar a fechadura de ferro da porta, a porta se abriu. Jenna estava lá — alta, loira, com olhos claros penetrantes. Ela parecia com uma psíquica, de alguma forma, até mesmo com a expressão distante em seu rosto... mas não havia nada psíquico ou sonhador no alarme quando ela viu Myrnin. Era apenas preocupação e avaliação. Ele esperou um segundo, então fez um movimento abrupto de agitação com as mãos. — Bem? — ele perguntou. — Eu sou um vampiro, mulher tola. Me convide para entrar! Nós somos criminosos procurados, você sabe! Ela não parecia convencida de que era uma boa ideia, mas ela recuou e disse: — Por favor, entrem, vocês dois. — Ele entrou correndo, trazendo Claire com ele, e Jenna fechou a porta atrás deles. Claire tinha acabado de começar a recuperar o fôlego quando Miranda apareceu de repente do nada, correndo para ela, e seu corpo sólido colidiu contra o de Claire quando ela colocou os braços ao redor dela. — Você conseguiu! — ela disse. — Eu não sabia se você conseguiria. Eu sinto muito por ter deixado você lá. Sinto muito, mas eu estava com medo de deixar Jenna por muito tempo... — Está tudo bem — Claire disse. Ela ainda estava com falta de ar, e ela se sentia suada e horrível, mas havia algo bom em ver Miranda. A menina se afastou, e Jenna colocou seu braço ao redor dela; isso também foi bom, a vibe maternal da psíquica com a menina fantasma. Jenna tinha, desde o início, se sentido protetora de Miranda, e parecia que o relacionamento tinha ficado


mais forte — algo que Miranda precisava desesperadamente, porque ela basicamente tinha sido abandonada por sua própria família. Algo bom aconteceu em Morganville para variar, afinal: duas pessoas tristes tinham encontrado uma a outra, e fazia bem uma a outra. Shane estava de pé na soleira da porta, esperando pacientemente que ela o notasse. Ela conhecia essa expressão — ou a falta dela — em seu rosto. Essa era específica para situações em que Myrnin estava envolvido, e Shane estava tentando fortemente não deixar o seu ciúme aparecer. Ele não tinha nada para ter ciúmes, e ele sabia disso, mas vê-la apertando a mão de Myrnin provavelmente não foi o momento favorito dele. Isso, e os instintos antivampiro de Shane que provavelmente estavam agitados, estando tão perto de um deles agora. — Ei — Shane disse, e levantou o queixo. Sua saudação mais neutra. Ela foi até ele e o abraçou, então beijou-o. Isso quebrou a parede que ele ia colocar entre eles, e seus braços foram em volta dela para abraçá-la com força. — Eu não sabia mais o que fazer. Eu não podia deixá-los mantê-la lá. Você não foi exatamente feita para a cadeia. — Bem, você tem que admitir, provavelmente era a minha vez de ficar algemada e jogada em um buraco — ela disse. O sorriso dela não tinha muita força, porém, e desapareceu rapidamente. — O homem no porão, ele foi morto com uma de nossas facas, Shane. — Ela conseguiu não tornar isso uma pergunta. Ele entendeu a mensagem de qualquer maneira, no entanto, e respondeu com uma careta. — Bem, não fui eu. Nem Eve, eu garanto. Ela pelo menos teria movido o corpo para outro lugar. Ela não é nenhuma idiota. — Onde está Eve, exatamente? — Fora — Jenna disse. Ela parecia muito firme, e com desaprovação. — Eu alertei ela, mas ela disse que não podia ficar. Ela voltou para tentar ver Fallon. — Eu achei que ela tivesse ido ver ele quando saiu da nossa casa! — Eles não deixaram ela entrar. Ela voltou para me encontrar, e ambos vimos você ser levada para a cadeia. Eu não tenho certeza de qual de nós dois segurou o outro, na verdade, mas talvez o seu bom senso esteja começando a passar para nós. Nós não nos metemos e fomos presos, pelo menos — Shane disse. Claire virou-se para olhar para ele com os olhos arregalados; tantas perguntas que corriam em sua mente que ela não conseguia escolher uma única do borrão. — Mas... — Claire não conseguia expressar o quanto ela não gostava da ideia de Eve — irritada e frustrada ainda mais do que ela tinha estado — indo


atrás de Fallon como um míssil direcionado. Era bastante óbvio, porém, que não havia muito que qualquer um deles pudesse fazer sobre isso neste momento. — Olha, faz sentido. Está bastante claro que ele está comandando o espetáculo aqui; se ela conseguir entrar para vê-lo, e eu realmente não imagino ninguém impedindo ela, então ninguém vai invadir o escritório de Fallon para arrastá-la para fora a força. E se ela realmente conseguir convencê-lo a deixá-la ver Michael, talvez ela possa dar uma chance a ele para fugir, ou ajudar Amelie a sair. Ela é a única que tem uma chance de ser o nosso homem infiltrado. Mulher. Tanto faz. Vamos ser honestos, nenhum de nós tem exatamente um plano agora. — Ela ao menos sabe do cara morto? — Oh, ela sabe — Jenna disse. — Eve acha que o guarda foi morto na prisão e moveram ele para a sua casa, e ela acha que pode ser capaz de descobrir quem fez isso e porquê. Eu acho que ela usou exatamente essa frase, eu vou ser a Nancy Drew dessa merda. — Aposto que ela não disse merda — Shane disse. — Eu estou parafraseando. O plano de Eve era perigoso, e Claire sentiu imediatamente uma descarga de adrenalina, pensando nela presa sozinha sem ninguém em quem confiar. Michael, com certeza, mas Michael não poderia ajudar — a não ser que algo mudasse drasticamente. Myrnin estava estranhamente quieto desde que eles tinham chegado, e ela olhou e o viu franzindo a testa para seus chinelos. Ele provavelmente sentia falta dos seus chinelos de coelho vampiro. — Os guardas do shopping sabem que você fugiu? — ela perguntou a Myrnin. Ele não olhou para cima. — Duvido muito — ele disse. — Eu matei o guarda que me viu, afinal de contas. Todos pararam o que estavam fazendo, e houve um ou dois segundos de silêncio. De repente, a cabeça de Shane girou, e ele virou todo o seu corpo depois dela, ficando de frente para Myrnin. E deu um passo para ele. Ele disse, com a voz tensa de fúria: — Seria o guarda morto no nosso maldito porão? — Bem, é claro, quantos guardas mortos poderia haver? Por que, você matou um também? Desperdício.


Shane rosnou. Isso veio de algum lugar profundo em seu peito, um som de animal que Claire nunca tinha ouvido antes, e esperava que ela nunca ouvisse novamente. Ele deu outro passo para Myrnin, e os olhos de Myrnin tornaram imediatamente carmesim em alarme. — Claire — ele chamou ela bruscamente. — Cuide do seu garoto. Você realmente quer que eu tenha que matá-lo? Foi pela maneira desatenciosa que ele disse que aterrorizou Claire. Ela esquecia, às vezes, apesar de seus melhores esforços, que Myrnin era só meio são, e meio humano. E ela não tinha certeza do que Shane era agora, tampouco. Jenna e Miranda instintivamente saíram do caminho e, apesar de todos os instintos de seu corpo gritassem para ela fazer o mesmo, Claire entrou no meio, enfrentou Shane, e seus olhos se encontraram diretamente. Eles não pareciam certos. Nem um pouco certos. A cor — o vazio — era totalmente errada. Ele se arremessou para a frente, olhando dela para Myrnin, e ela podia jurar que viu uma centelha de amarelo hostil em seus olhos. Ela não se mexeu. Ela levantou as duas mãos com as palmas para fora, e ele pegou elas, sacudindo-a com força e a fez recuar um passo — mas mudou o foco para longe de Myrnin e para ela. E o olhar estranho em seus olhos brilharam, e desapareceram, deixando apenas Shane. Irritado, sim, agitado além do que deveria estar também, mas o que tinha causado isso, ela parou. Por agora, de qualquer maneira. Shane levantou ambas as mãos, recuou um passo e, em seguida, girou e se afastou, respirando com dificuldade. — Por que você está protegendo ele? — Ele não chegou a gritar isso para Claire, e ela sabia que custava para ele manter isso em apenas uma acusação raivosa. — Boa pergunta — ela disse, e virou-se para Myrnin. — Você matou um homem — ela disse. — E você levou para a nossa casa? — Para ser justo, eu estava procurando por você — ele disse, — mas você não estava em casa. Eu tinha que fazer algo com ele. Normalmente eu teria levado para o cemitério, a propósito, é um ótimo lugar para se livrar de um cadáver, apenas cavar um túmulo antigo e... Havia partes dele que ela nunca iria entender, e sabia que ela nunca, jamais deveria tentar, pelo bem de ambos. Shane se virou, e Claire instintivamente agarrou seu braço, porque ela ainda sentia a violência contida nele. Ele estava sob controle o suficiente para


não avançar em Myrnin — o que acabaria mal de qualquer maneira — mas ela sabia que às vezes ele simplesmente não conseguia controlar esses impulsos, e ela não queria ver ninguém ferido. — Você despejou um homem morto na nossa casa, e o quê? Só esqueceu sobre isso? — Eu estava ocupado, e como eu saberia que você seria estúpida o suficiente para permitir que os policiais andassem livremente pela... — Eles tinham um mandado, e não somos o seu armazenamento temporário de corpos assassinados! — Claire disse, e percebeu que ela estava um pouco chateada demais com essas coisas também. Quase tanto quanto Shane, e sem a desculpa da infecção de mordida do cão. — Você o matou. De onde você tirou uma faca? Nossa faca? Myrnin deu de ombros, claramente não levando nada disso muito a sério. — Vocês são muito descuidados com essas coisas — ele disse. — Eu acredito que originalmente eu peguei de você. O guarda em questão havia confiscado de mim quando eu estava preso, e eu decidi que eu queria de volta. Mas eu deixei ele ficar com ela no final. — Ele sorriu, e seus dentes de vampiro pareceram longos e terrivelmente afiados. — Oh, não franza a testa para mim, Claire. Ele mereceu, você pode ter certeza disso. Ele era um bandido brutal. Eu estava defendendo a honra de uma senhora, na verdade. — A de Jesse, talvez? — Claire perguntou. Porque Jesse — a barman ruiva, que tanto ele quanto Claire tinham feito uma grande amizade — era apenas uma vampira, mas Myrnin tinha tido uma afeição surpreendente. — O que aconteceu? Myrnin não respondeu, não diretamente. — Chega disso. O tempo está passando. A Lady Grey irá assegurar que ninguém perceba a minha ausência, por agora, mas vou precisar estar de volta a tempo para o exame noturno dos prisioneiros. Antes disso, eu tenho coisas para pegar. Eu estou sem todos os materiais que podem ser de uso, mas eu vou precisar de algumas coisas que simplesmente não estão disponíveis naquele lugar. — Materiais para quê? — Claire perguntou. — Nada da sua conta — ele disse. — Mas esses seguidores loucos de Fallon iniciaram uma guerra, e eu pretendo terminar. — Os olhos de Myrnin pareciam incendiar vermelho por um segundo, brilhantes de forma alarmante, e ela lembrou-se da fome que ela tinha sentido nele antes, e a nitidez assustadora de seus dentes. Ele não parecia ser ele mesmo agora, e ela percebeu, com uma sensação horripilante de alarme, que eles quase certamente não tinham se incomodado com suas medicações habituais na


prisão — e, neste estado, ele não deveria estar disposto a tomá-los por conta própria. Havia algumas coisas mais assustadoras do que um vampiro bipolar sem seus remédios, mas para ser honesta, não muitas. — Myrnin — ela disse, e chamou a sua atenção imediata. Perturbadoramente. — Você não pode ir lá novamente. É muito perigoso para você. — Muito perigoso para as pessoas inocentes vagando e pensando que é seguro. — Se você está insinuando que seria melhor você ir no meu lugar, certamente é muito mais perigoso para você, Claire, já que você é uma assassina meia-condenada. — Ele disse isso inteiramente com muito prazer. — E antes de você oferecer os serviços do seu garoto, ele não está em melhor forma, não é? Não, é melhor eu ir sozinho, e rapidamente. Eu estive nesta cidade por muito tempo para ser pego desprevenido pelos desejos de Fallon e seus Daylighters sabendo das intenções deles. Jenna trocou um olhar rápido com Miranda, e disse: — Eu levo você. Para onde você vai? — Para o meu laboratório, é claro. — Eu não sei onde é. Myrnin suspirou. — Eu posso dirigir, você sabe. Claire estremeceu e fez um rápido gesto de cortar a garganta nas costas dele para Jenna. Myrnin em seus melhores dias não era um bom motorista. Seus olhos se arregalaram, mas Jenna entendeu, sorriu e disse: — Eu tenho certeza que você pode, mas é muito mais seguro se você ficar fora de vista, você não acha? — Ah, talvez — ele disse. — Vamos indo, então. A noite não vai durar para sempre. Jenna apontou para Miranda. — Você vai ficar aqui — ela disse. — Eu sei que você quer ir, mas fique com eles dois. Me prometa. — Miranda assentiu sobriamente. Claire agarrou Jenna antes que eles saíssem e sussurrou instruções rápidas sobre onde encontrar os medicamentos de Myrnin. Shane soltou uma respiração lenta quando a porta fechou e foi trancada atrás deles. — Sinto muito — ele disse. Ele parecia exausto, e afundou contra a parede e com a cabeça apoiada em ambas as mãos. — Deus, eu sinto muito. O que diabos foi isso? — Eu acho... eu acho que foi apenas o estresse, e ele estar tão perto — Claire disse. — Você está bem agora. — Ela disse com confiança, mas na verdade, ela realmente não estava tão certa quanto ela pretendia, e depois de


alguns segundos de silêncio, ela inclinou a cabeça e meio que sussurrou: — Por favor, me diga que você está bem. — Ele matou alguém e parece não se importar muito — Shane disse. — Eu não acho que eu seja o maior problema de vocês no momento. — O que você acha que ele está planejando fazer? — Seja lá o que for, eu garanto que não vai ser seguro para ninguém perto dele. — Eu queria que Jenna não tivesse ido — Miranda disse. Ela parecia mais pálida agora, e um pouco translúcida. Sem a Glass House para sustentar ela, era difícil para ela ficar visível e sólida, e com sua conexão com Jenna desaparecendo através da distância, ela provavelmente não poderia manifestar um corpo por muito mais tempo. — E quanto a casa? Quem vai protegê-la agora? Estamos todos aqui! — Eve não está — Claire disse. — Eve está com os Daylighters. Ela não pode ajudar a casa de lá. Miranda estava certa, e Claire sentiu uma onda de ansiedade quando pensava sobre a casa sozinha, vulnerável, e ainda sob ameaça, talvez mais agora do que antes, já que todo mundo sabia que eles estavam fugidos. Era o momento perfeito para atacar. — Precisamos ir — Shane disse. — Precisamos chegar lá no caso de tentarem alguma coisa. Miranda estava agora fina como vidro, os olhos enormes e escuros naquele rosto fantasmagórico. — Você precisa ir agora — ela disse, e parecia como se sua voz, como o corpo que ela habitava, estava ficando oco e enfraquecido. — Agora! Vá agora! E então Claire sentiu também... uma sensação de algo tremendo dentro dela, uma vibração quase como um terremoto, não físico, mas emocional, mental e psíquico. A casa estava gritando.


C

Capítulo 6

laire correu para a porta da frente. — Não! — Shane entrou em seu caminho rapidamente e empurrou-a para trás. — Não, você sabe que eles estão procurando por nós. Você não pode... — Você ouviu ela! — Ela não tentou passar por ele — ele era muito bom com defesa. Ela simplesmente mudou de curso e foi por outro caminho. Ela não conhecia a casa de Jenna, mas era quadrada e pequena, e fazia sentido que houvesse uma porta traseira em uma dessas extremidades. Ela apostou na parte de trás, já que os arquitetos de Morganville eram mais sem originalidade do que modernos; ela viu a porta, situada no canto direito da cozinha, então entrou no cômodo pequeno. Jenna mantinha a sua cozinha impecável e bonita, e Claire teve um momento de pura inveja, mas apenas um lampejo, porque o pânico dentro dela estava começando a tomar conta. Ela abriu a porta de trás, atingiu a varanda dos fundos, lançou-se fora em uma corrida ao redor da casa. Ela ouviu Shane chamando atrás dela, mas ele claramente não queria fazer um alarido público, por isso foi apenas uma menção de seu nome, e depois ela ouviu a batida da porta e passos no caminho atrás dela. Não havia nenhuma maneira que ela pudesse correr mais rápido que ele, mas ela não estava pretendendo... estava apenas tentando levá-lo pela maior parte do caminho, para que ele visse isso como uma ideia melhor do que voltar atrás. Ela chegou até um dos estacionamentos iluminados de Morganville e o único complexo de apartamentos de Morganville (com dez unidades construídas em formas antigas de L) quando ele estendeu um braço longo e arrastou-a para uma relutante parada. Então ele pegou o outro braço. — Claire. Isso é loucura. Nós não podemos estar aqui fora. Você sabe disso! — Você que está chamando atenção para nós — ela disse. — Eu era apenas uma garota saindo para correr. Agora eu estou sendo abordada pelo meu namorado irritado.


— Eu não estou... — Ele deu uma respiração profunda e a soltou. — Okay. Apenas caminhe de volta comigo. Calmamente. Podemos fazer isso. Vamos só... — Não — ela disse, e virou-se para ir em direção a Glass House, ainda estava a vários quarteirões de distância. — O que há de errado com você? Ele não podia sentir. Talvez porque ele fosse excelente em anular as coisas psíquicas; talvez ele só estivesse bloqueando. Mas ele honestamente não tinha ideia de que a casa estava gritando por ajuda, e ela não podia dizer não para essa necessidade. Aquela casa tinha salvado a sua vida pelo menos uma vez. Ela devia a ela. Mas ela fez uma parada repentina e paralisante quando ouviu a voz preguiçosa de Monica Morrell dizer: — Pare aí ou eu vou explodir a sua cabeça, Pré-escolar. Isto é para você também, Shane. Não seja estúpido. Bem, você sabe. Mais estúpido. Monica era coroada como a princesa má de Morganville — uma menina bonita que tinha crescido rica, poderosa e com direito a tudo o que queria, e ela queria tudo. Ela tinha crescido um pouco nos últimos dois anos, mas ela tinha apenas passado de ativamente malvada para passivamente desagradável, na opinião de Claire. Eles nunca tinham sido amigos, eles três, mas eles tiveram momentos de não-muito-ódio. Esse, no entanto, não era um deles. Claire percebeu que eles tinham de alguma forma conseguido encenar a briga justamente no estacionamento ao lado do carro vermelho brilhante de Monica — o único em Morganville, instantaneamente reconhecível se você estivesse prestando a mínima atenção. E, claro, ele estava estacionado em frente ao apartamento de Monica. Monica estava encostada no batente da porta aberta, alta, elegante e pronta para uma festa em um vestido curto cor de pêssego que esvoaçava ao vento e ameaçava entrar em áreas perigosas a qualquer segundo. O que era mais preocupante para Claire não era o vestido, mas a arma. Ela era, em termos do Texas, uma arma de mulher — uma pequena arma automática preta que a maioria dos homens provavelmente recusaria por ser uma arma de bolsa — e Monica estava com ela diretamente voltada para o peito de Claire. A esta distância, não era muito provável que ela errasse. Arma de bolsa ou não, ela definitivamente fazia estragos. Claire levantou as mãos lentamente. Shane disse: — Jesus, Monica...


— Mãos para cima, Collins — ela disse, e deu a eles dois um sorriso feliz e imparcial. — Eu ouvi um boato de que vocês massacraram um pobre otário na casa de vocês. Mas infelizmente não foi um sanguessuga, ou todo mundo iria apenas dar de ombros e superar isso. Muito ruim para vocês. Acho que eu realmente deveria fazer a prisão de um cidadão e colocar de volta na cadeia. Vocês sabem, segurança pública e essa merda. Além disso, eu acho que pode haver uma recompensa. Dólares de bônus. — Você está gostando disso até demais — Claire disse. — Claro que eu estou, e eu tenho todo o direito de amar ver vocês dois vestindo macacões laranja. É tão sua cor, Shane. — Me morda, Rainha Vadia. Monica soprou um beijo no ar para ele. — Não pense que eu não iria deixar uma marca. — Havia uma luz brilhante e maldosa em seus lindos olhos. Ela sempre teve algum tipo de atração sadomasoquista e perversa por Shane, e o fato de que Shane empurrava-a para longe repetidas vezes deflagrava algo nela que ele nunca tinha esperado. A maioria das pessoas ainda assumiam que Monica tinha estado por trás do incêndio que consumiu a casa da família de Shane e matou sua irmã mais nova, Alyssa. Claire nunca tinha tido certeza, e ela sabia que Shane tinha desistido dessa convicção também. Monica não estava acima da consequência de uma tragédia, mas ela não tinha começado o incêndio. Isso não fazia dela uma pessoa melhor, no entanto. — Eu só vou dizer isso uma vez — Shane disse, — e eu mal posso acreditar que eu vou dizer isso, então eu nunca vou repetir, mas precisamos da sua ajuda. Por favor. Monica piscou. Isso não era, obviamente, o que ela esperava — ou, na verdade, o que Claire esperava, tampouco. Monica era uma pessoa irritante sem muito esforço, e Shane normalmente era muito fácil de manipular... mas não desta vez. — Como é? — ela perguntou e inclinou a cabeça para um lado. — Você está fingindo que realmente nós somos amigos? — Monica, eu tenho certeza de que você não tem ideia de como é ter um amigo que não seja sem alma e puxa saco, mas você não é idiota. Você sabe que você causou karma ruim demais por aqui, e está tudo voltando para você. Os vampiros se foram, os seres humanos estão por aí, e você agiu como a Rainha de Todas as Vadias na metade da sua vida. É melhor você começar a levar em conta os seus aliados. Eu tenho certeza de que você só vai precisar da metade dos dedos de uma mão para contar.


Isso rendeu um olhar longo e calculado — mais pensativo e adulto do que qualquer coisa que Claire já tinha visto em Monica antes. Talvez até mesmo os eternamente egocêntricos às vezes poderiam crescer, pelo menos o suficiente para reconhecer seu próprio perigo. — Eu estou ouvindo — Monica disse. — Nós poderíamos fazer isso lá dentro? — Claire perguntou. Ela teve um vislumbre à distância de uma viatura da polícia de Morganville com os refletores piscando. Monica debateu em um total de quinze segundos antes de recuar e abaixar a arma. — Sim — ela disse. — Mas não esperem que eu fique toda dona de casa com vocês e ofereça um chá gelado e biscoitos. Eu não sou a avó de vocês. E não toquem nas minhas coisas. Nenhum deles hesitou. Eles se moveram rápido, e estavam dentro e trancando a porta atrás deles antes que ela dissesse as últimas palavras. O alívio foi imenso, e Claire se virou para colocar as costas contra a porta. — Uau — Shane disse. — Isso... — Ele ficou sem palavras. Claire totalmente compreendia o porquê. Era o cômodo mais feminino que Claire já tinha visto. Tapete claro, sofá de cetim rosa, poltrona de cor amarela pálida, também de cetim. Pisca-pisca amarrados ao redor das luminárias. Uma estante não cheia de livros, mas com fotos de Monica em porta-retratos rosa com brilho. Uma pintura gigante adaptada de Andy Warhol — apenas que Marilyn Monroe tinha sido substituída pelo rosto de Monica. Houve latidos fortes e estridentes, e Claire olhou para baixo e viu um minúsculo chihuahua com um colar felpudo rosa e olhos malvados e esbugalhados latindo para eles debaixo da cadeira amarela. — Channing, silêncio — Monica disse, e pegou a coisa pequena. Ele tremia constantemente, analisando Shane e Claire com uma intensidade frenética. Ele parou de latir, mas continuou rosnando tão fraco que não teria intimidado nem uma borboleta. — Este é Channing. Channing, estes são Estúpido e Namorada Nerd. — Eu acho que esse é o novo nome da minha banda — Shane disse. — Estúpido e Namorada Nerd. Tem um certo charme. Você nomeou o seu cão por causa de Channing Tatum? — Ele tem qualidades — Mônica disse, e colocou o Chihuahua para baixo. Ele atacou imediatamente os cadarços de Shane. Ele o observou com um cenho franzido, como se ele não conseguisse decidir se ria ou se... realmente ria. E era realmente ridículo. O sapato era maior do que o cão inteiro. — Sentem-se. Não toquem em nada.


Claire sentou no sofá cor de rosa; Shane evidentemente decidiu que a cor poderia ser infecciosa, por isso ele sentou na poltrona amarela, que era ligeiramente mais viril, e tentou se livrar de Channing. O que resultou em uma transa entusiasmada com a perna dele. Claire cobriu a boca para parar uma explosão totalmente imprópria de risos, enquanto Monica ignorou o drama e serviu-se de uma bebida forte de uma garrafa de bourbon. Ela não se ofereceu para compartilhar, não que Claire teria aceitado. — Então falem — Mônica disse, e bebeu metade da bebida em um gole. — Porque eu ainda posso atirar em vocês alegando serem invasores de casa e ladrões. Ninguém duvidaria, porque vocês todos são assassinos e fugitivos. — Precisamos chegar em casa — Claire disse. Era surreal toda essa cena, desde o apartamento cor pastel (aquilo era um bule de chá cor de rosa no fogão?) até Channing tendo relações sexuais de ódio com a perna de Shane, a ansiedade que tinha torcido suas entranhas estava dominando cada vez mais. A casa precisava deles. Agora. E eles estavam perdendo tempo. — Os Daylighters querem as Casas Fundadoras destruídas. Eles estão tentando desfazer tudo o que foi construído por Amelie, você sabe disso. Myrnin sempre disse que as Casas Fundadoras eram o coração de Morganville. Se eles conseguirem destruí-las... — Nós teremos menos casas Vitorianas feias para lidar? — Monica perguntou e bebeu o resto de seu bourbon. — Tudo bem, qualquer coisa que tenha a ver com esses idiotas com fetiche do nascer do sol, eu sou contra, isso é óbvio. Mesmo que isso signifique se associar com... bem. — Ela apontou para eles dois com repugnância, nojo e resignação, e com um retorcer de sua boca. Ela serviu outro gole generoso de álcool. — Todo mundo está entusiasmado pelo mal ter sido derrotado e o sol ter aparecido novamente, e ser aurora na América e tudo mais, e eu não sei quanto a vocês, mas eu não acredito que estes idiotas deem a mínima para tornar a vida de ninguém melhor. Eles só querem as pessoas do lado deles. Toda essa nova construção, pintura e botox arquitetônico... é apenas ilusão. São os vampiros que eles querem. E são os vampiros que eles conseguiram. Essa foi uma observação surpreendentemente precisa para ter vindo de Monica, e até mesmo Shane esqueceu de Channing por tempo suficiente para olhar. Channing, evidentemente, perdeu o interesse já que Shane não estava mais horrorizado. O cão farejou o tapete, em seguida, trotou para mastigar as migalhas de alimentos de um pequeno recipiente rosa que era decorado com uma coroa de joias.


— O que vocês querem de mim? — Monica perguntou a eles. — Porque vocês sabem que eu não vou ser presa ou nada disso. Não por vocês dois, pelo amor de Deus. Isso seria epicamente patético. — Primeiro de tudo, precisamos de uma carona — Shane disse. — Para a nossa casa. Você consegue fazer isso, Princesa Exigente? Ela lançou-lhe o dedo do meio e terminou o bourbon, e Claire estremeceu. Essa já era a segunda dose de bourbon que ela tinha testemunhado, e pela forma que Monica estava se movendo — não completamente cambaleando sobre seus saltos altos, mas definitivamente desequilibrada, não havia nenhuma maneira de ela estar sóbria. — Eu vou dirigir — ela disse. — O inferno que você vai — Monica disse, e pegou as chaves — em uma argola brilhosa rosa, é claro — da mesa de café. Que era branca, com detalhes rosa. — Ninguém dirige o meu carro, a não ser eu. — Talvez você deva não tentar conduzir com a arma na outra mão —Shane disse. Monica olhou para seus dedos da mão direita, ainda enrolados em torno da arma de bolsa, e parecia ligeiramente surpresa. Ela deu de ombros e colocou-a ao lado do bourbon. Claire teve uma visão súbita e tristemente hilária de Monica daqui a trinta anos — inchada, flácida, bêbada e armada, sentada neste apartamento ainda rosa. Enquanto Monica estava bêbada e focada em colocar a arma no chão, Claire arrancou as chaves de seus dedos. Shane se levantou e se moveu ao mesmo tempo, e quando Monica se atrapalhou para pegar a arma novamente, ele deslizou ela para fora de seu alcance. Ela tentou dar um soco nele, mas ele se abaixou e desviou graciosamente, evitou tão facilmente como respirar. — Você não vai dirigir — Claire disse. — Mas obrigada pelo carro, e você pode vir com a gente, porque eu não quero que você mande a polícia atrás de nós por termos roubado o seu carro. Monica fez beicinho. Era bastante óbvio que entregar eles tinha saltado imediatamente para o topo de sua lista de afazeres. — Me dê a minha arma. — Obviamente isso é um não — Shane disse. — É uma relíquia de família! — Ele deu-lhe um olhar. — Tudo bem — ela disse. — Mas isso não acabou. — Nunca acaba com você — ele disse. — Só não crie problemas e vamos todos nos dar bem. Claire sinceramente duvidava disso, mas ela abriu a porta do apartamento de Monica e verificou lá fora. Não havia nenhum sinal do carro da polícia; ele tinha mudado para um novo território. — Depressa — ela disse,


e liderou o caminho. Shane continuou levando Monica na frente dele, com uma mão segurando o braço dela com força — metade para mantê-la firme sobre os saltos e metade para garantir que ela não escapulisse e levantasse o inferno. Mas ela se manteve em silêncio e entrou no banco do passageiro enquanto Claire ficou do lado do motorista. — O quê? — ela perguntou, quando Shane estava ali na porta, franzindo o cenho. — É sério? Você não vai levar uma espingarda no meu carro, perdedor. — Pelo menos eu posso estrangular você mais fácil aqui — ele disse enquanto entrava na parte de trás. — Revestimento de prata. — Me toque e você está morto. E não arranhe ele — Monica disse e apontou um dedo indicador para Claire. Atrás dele, seus olhos estavam brilhantes com bourbon e malícia. — Eu corto você duas vezes por cada amassado. Após ter conduzido a besta de Shane, isso era fácil — câmbio automático, direção suave, interior com couro luxuoso. Claire estava pronta para odiar o carro de Monica, mas foi... bem, foi muito bom. Talvez ser rico não fosse tão ruim, se você pudesse evitar ser uma vadia. Ela fez Monica gritar um pouco, dirigindo muito perto de uma lata de lixo oxidado, mas ela errou por polegadas e balançou fora do estacionamento para a estrada principal. Era arriscado dirigir por aí com esse carro aberto (Monica, é claro, tinha um conversível), mas eles não tinham tempo para colocar o topo para cima, e qualquer um que conhecesse Monica saberia que ela nunca colocava para cima de qualquer maneira, a menos que estivesse chovendo. O que raramente acontecia em Morganville. Na verdade, a noite estava clara, fresca e cheia de estrelas — tantas estrelas brilhantes em cima no céu preto e frio que parecia estranhamente irreal. A lua estava apenas pela metade, mas ainda lançava uma luz ferozmente focada, dando aos cantos e as sombras a sua própria densidade. Isso vibrou na pele exposta de Claire assim como o mentol que a mãe dela esfregava nela sempre que ela tossia. A diferença era que Morganville não cheirava a medicina, mas a sujeira com uma ponta curiosa de madeira serrada. Cheirava para ela a queimaduras solares, e ela teve um momento estranho ao pensar que a luz do sol que os Daylighters adoravam iria secá-los até virarem casca torrada e serem soprados pelos ventos do deserto constantes. Não foi uma longa viagem para a Glass House, mas a ansiedade continuou a bater em seu peito como um animal tentando ficar livre. Ela esperava ver o carro fúnebre de Eve parado na frente ou na lateral, mas em vez


disso ela viu um par de picapes velhas revestindo a rua de frente da casa — nunca um bom sinal. Ela virou o volante com força e mandou o conversível de Mônica chiando em uma curva acentuada à direita, para cima do cascalho da garagem da casa. Monica gritou ao som das pedras esmagadas pelos pneus batendo no fundo do carro com barulhos agudos. — Ei! — ela disse, e olhou quando Claire atingiu os freios com força, fazendo uma parada deslizante. — Onde você aprendeu a dirigir, aberração? — Na escola de condução de demolição de Myrnin — Shane disse, o que não era verdade, mas era engraçado, e Claire não corrigiu. — Certo, obrigado pela carona, não vamos precisar novamente, obrigado por não me fazer matála. Ele saiu do banco de trás, movendo-se rápido e mantendo-se nas sombras. Claire se perguntou porquê, mas então ela viu as figuras em movimento na parte de trás da casa. — Saia — Monica ordenou, e deu ênfase ao praticamente subir no colo de Claire antes que ela pudesse se mover. — Fora fora fora, estúpida! — Ela enfiou o carro em marcha à ré quando Claire saiu, e Claire tinha acabado de chegar na porta antes de Monica apertar o acelerador e fazer o carro subir para o lado de trás da garagem. Isso deixou alguns arranhões na rua enquanto ela acelerava ao máximo, e o clarão de faíscas foi bastante perceptível, mas Claire supôs que a teoria “não arranhe” não se aplicava quando Monica estava dirigindo. — O que diabos está acontecendo aqui? — Shane perguntou, quando o som do conversível de Monica desapareceu. — Porque eu acho que você estava certa que é alguma coisa. — Eu não sei — ela disse. — Mas a casa estava procurando por mim, muito angustiada. Eu não acredito que você não sentiu. — Ela não gosta de mim. Nunca gostou. Acho que ela sempre achou que eu fosse um problema para Michael, e você sabe de uma coisa? Essa bela casa é uma maldita boa julgadora de caráter, porque eu era quando cheguei aqui, não era? Então, por trás ou pela porta da frente? — Eu vi o que quer que seja nos fundos — ela disse. — Pela frente faz mais sentido. — Nenhum motivo para ser sutil — Shane concordou, e lhe deu um sorriso breve e louco antes de correr para a porta da frente. Ela acompanhou ele quando ele abrandou e preparou-se para dar um pontapé e arrebentar a porta. Ela conseguiu detê-lo, colocou um dedo sobre seus lábios e, em seguida, pegou a chave do bolso. Ela calmamente abriu a porta e entrou.


Shane estava desapontado que não pudesse fazer uma grande entrada, é claro, mas ele deslizou atrás dela, fechou e trancou a porta. Nada parecia errado no corredor da frente, e ela deu um par de passos em frente para olhar para a sala da frente. Nada tampouco. Os extintores ainda estavam exatamente onde ela os tinha deixado, e ela não viu nada que indicava que tinha um intruso. Mas ela sentia isso, atado e enrolado em suas entranhas. A casa estava com raiva, violada e com medo, e ela precisava dela. Ela só não sabia porquê. Ou o que ela esperava que ela fizesse. — Claire — Shane sussurrou, e fez uma série de gestos de mão que na verdade ela estava surpresa de ter entendido: ele estava dizendo para ela ir para o fundo do corredor, subir as escadas, e verificar o quarto escondido. Ele estava certo, também; lá era, de muitas formas, o coração da casa, e se alguma coisa estava acontecendo, provavelmente estava acontecendo lá. Ela apontou para ele e ergueu as sobrancelhas em pergunta. Ele apontou para a cozinha, em seguida, fez outro gesto completamente misterioso que de alguma forma fez perfeito sentido para ela, como se eles estivessem compartilhando algum manual de estratégia invisível. Ele estava indo recuperar as armas escondidas da despensa. Ela deu-lhe um polegar para cima e se dirigiu para o corredor. A sala de estar não parecia perturbada, tampouco. Estava silenciosa, completamente silenciosa, e ela sentiu um arrepio na pele com o quão estranho isso parecia... como se toda a casa estivesse prendendo a respiração. As escadas rangiam se você fosse descuidado, mas ela sabia como se locomover sem barulho. Ela equilibrou seu peso cuidadosamente sobre as pontas dos pés enquanto ficava no lado esquerdo, perto da parede. Houve apenas um leve gemido da madeira perto do topo, e ela congelou, ouvindo por qualquer mudança — mas ela não ouviu nada. O corredor com os quartos deles se estendeu na frente dela, e ela estava quase no meio, indo para a porta escondida quando a criatura saiu do banheiro, direto em sua direção. O cérebro dela relatou criatura porque não conseguiu pensar em nada para coincidir com o que ela estava olhando — ereto, bípede como um homem, mas errado, proporcionado de forma estranha. Os braços eram longos demais, o rosto muito afilado e toda a forma errada, como se os ossos estivessem quebrados sob a pele. Costas musculosas estranhas curvadas para a frente sob a camiseta branca esticada que usava. Ela nunca imaginou que um monstro em sua casa estaria usando jeans e tênis Nike de corrida, tampouco.


O pior de tudo, porém, absolutamente o pior, eram os olhos — amarelos ardentes e reluzentes, com as pupilas semicerradas — e as mãos, porque elas brotavam com garras que pareciam grandes e terríveis o suficiente para fazer Wolverine se sentir inadequado. Em seguida, ele abriu a boca e rosnou, e todo o resto desapareceu na insignificância além das fileiras de dentes reluzentes e afiados. Claire cambaleou para trás e se virou para correr, mas havia outro saindo do quarto de Michael e Eve, bloqueando sua fuga. Este parecia menor, mas ainda o dobro do tamanho dela, e de alguma forma também parecia uma fêmea — provavelmente porque estava usando um vestido, um vestido amarelo brilhante de verão, e por que um monstro usaria um vestido, de qualquer maneira? Não fazia sentido... E enquanto ela observava, aquilo se retorceu e retorceu, e mudou, e ela sentiu seu estômago se rebelar quando a criatura rosnou e rasgou as roupas. Aquilo fixou nela com seus olhos brilhantes, estranhos e insanos que vieram diretamente do inferno. O que foi que Shane havia dito? Cães do Inferno. Eles ainda estavam mudando, mas eles estavam mais como cachorros. Seu cérebro estava balbuciando porque era incapaz de encontrar uma única coisa de útil para dizer sobre esta situação. Ela foi pega entre duas coisas que pareciam ter escapado dos cofres de monstros, e eles estavam se aproximando, prendendo-a entre eles. E então eles estavam cheirando ela. Ela jogou as mãos sobre a cabeça e curvou para baixo em uma bola — instinto, não estratégia — e a próxima coisa que ela percebeu era que eles estavam completamente sobre ela, dando grandes respirações ruidosas através de seus narizes. Isso era alarmante e bruto, e de alguma forma aterrorizante de novo, porque parecia tão errado. Ela podia sentir o cheiro deles agora — uma mistura nauseante de animais e do tipo de spray de corpo que faria o sexo oposto rastejar em direção a você. Era uma combinação vil, e ela encontrou-se engasgando um pouco, mas em silêncio, porque ela mal podia controlar até mesmo um grito. Algum instinto bloqueou a sua voz com força. Fique tranquila, fique pequena, feche os seus olhos e faça tudo desaparecer. E, surpreendentemente, desapareceu. O fungando alto parou, e quando ela se atreveu a olhar para cima, viu que as duas coisas tinham desprezado ela e que se deslocavam para fora no corredor, usando as quatro patas agora. O


corredor estava cheio de roupas desfiadas. Eles pararam, aspiraram as paredes, e, em seguida, deslizaram para o quarto de Shane como fantasmas. Claire soltou um suspiro explosivo repentino, se levantou, e lutou com o impulso muito forte que queria que ela corresse para as escadas e dar o fora dessa casa, longe dessas coisas antes que fosse tarde demais. Em vez disso, ela correu para a frente, sua visão fixou no lugar sobre a madeira que ela precisava pressionar para abrir a porta escondida. Ela bateu-a e correu para dentro quando o painel abriu, ela fechou-a com um golpe forte logo quando viu o primeiro vislumbre de olhos amarelos das sombras do quarto de Shane girarem em seu rastro. Ela correu até as escadas, seu coração batendo com força, e ela só parou quando atingiu o topo e entrou na toca oculta de Amelie — o quarto de Miranda. Não era Miranda, mas havia alguém deitado no sofá. Era Amelie, e ela estava vestida de vermelho, um vermelho maçante que parecia completamente errado para ela e sua pele de alabastro branco, e tudo o que Claire conseguiu pensar à primeira vista foi por que ela estava vestindo dessa cor? antes de perceber que não era cor. Era sangue ensopando seu vestido branco esfarrapado. Os olhos de Amelie abriram, vermelho-cornalina para combinar com seu vestido ensanguentado, e ela disse: — Você precisa fugir, Claire. Você não pode me ajudar. Se você for agora, eles vão ignorá-la. Você não é a presa que eles estão perseguindo. — O que aconteceu? — Claire perguntou, e foi para mais perto. A mão branca e frágil de Amelie levantou-se, tremeu e fez um gesto para que ela parasse, e Claire obedeceu, porque quando um vampiro que tinha perdido tanto sangue dizia para você ficar longe provavelmente era uma boa ideia ouvir. — O que são essas coisas? — Mas ela sabia. Ela lembrou-se de Hannah, da mordida no braço de Shane, e parecia que a gravidade se inverteu debaixo dos seus pés. — Eles não são coisas — Amelie disse. — Eles são seres humanos modificados para rastrear vampiros, para nos perturbar até estarmos fracos para lutar ou correr. Eles são cães leais a Fallon, sem vontade própria. Mas eles não vão prejudicá-la se você for agora. — Ela parecia alerta, mas horrivelmente fraca. Claire engoliu em seco e se aproximou. — Você não me ouviu? Vá embora, Claire. Eles não vão me matar. Eles vão guardar essa honra para o mestre deles. — Eu não posso. Eu não posso simplesmente ir embora!


— Eu cometi um erro horrível — Amelie sussurrou. Ela fechou os olhos novamente, e sua mão caiu para seu peito. — Eu pensei que... eu pensei que eu pudesse argumentar com ele. Ele já foi um dos meus, uma vez. Um de nós. Eu acreditava que ele nunca poderia se voltar contra nós tão completamente. Estupidez minha, Claire, só minha. Eu causei isso a nós. Se eu o tivesse matado quando eu tive a chance... — Como eu faço para pará-los? — Claire perguntou, e agora pegou a mão de Amelie, apertando-a para chamar a sua atenção. Os olhos de Amelie se abriram novamente, mas olharam para cima, para evitar os dela. — Amelie! Você não pode apenas desistir, você tem que me dizer o que eu posso fazer! — Você pode fazer apenas uma coisa — Amelie disse, e Claire de repente não estava segurando a mão de Amelie... Amelie estava segurando a dela, em um aperto inquebrável. — Você pode ajudar Myrnin. Não faça nada por mim, você entendeu? Deixe eles me levarem. Eles não vão me matar, como eu disse. Mas você deve ficar longe ou eles vão rasgá-la para chegar a mim. — Sua cabeça se virou, só um pouco, como se ela estivesse ouvindo. Claire não ouviu nada, mas sentiu algo por dentro — um tipo de alteração, uma dor que ia além de quaisquer sentidos físicos. A casa estava machucada. E a porta escondida estava sendo triturada sob o ataque de garras de quinze centímetros. — Eu quero ajudá-la — Claire disse. — Por favor. — Não há como fugir desta sala. Os portais de Myrnin estão quebrados, e a única maneira de sair agora é através das criaturas abaixo. Você não pode me ajudar. Tudo o que você pode fazer é fugir, e eu quero que você escape, Claire. Eu quero que você vá. Pegue os seus amigos e aqueles que você ama. Deixe a Glass House, e nunca mais volte. Deixe Morganville. Vá. Eu sou uma causa perdida, e sou uma causa que você nunca poderia entender de qualquer forma. — Amelie fez uma tentativa de sorriso. Não parecia certo. — Nunca se esqueça que eu sou o monstro. — Eu não posso simplesmente deixá-la aqui para morrer, Amelie. Você não... — Ela engoliu em seco. — Você não é o monstro. Amelie analisou ela por alguns segundos, e o poder, a fome e a força da mulher atrás daquele olhar deixou Claire com uma sensação de tontura. Era como olhar para a história de alguma forma... Centenas de anos de história profunda. — Você é tão jovem — Amelie disse. — E tão teimosa. Combina com você, mas não vai te ajudar agora. Há uma coisa que você pode fazer por mim, então. Um último serviço que você pode realizar.


Claire assentiu. Ela estava com medo, mas ela não tinha medo de Amelie, realmente. Ela estava com medo do que poderia acontecer quando Amelie morresse. Quando não houvesse nada para parar Fallon. — Fique quieta — Amelie disse, e puxou o pulso de Claire para os seus lábios. A dor de suas presas entrando foi breve, e Claire sentiu uma instabilidade instantânea se apoderar, uma fraqueza irreal e sussurrante que tornou necessário ela cair de joelhos ao lado do sofá. Ela não tentou se afastar; não havia razão. Amelie iria beber o quanto ela quisesse, e talvez fosse tudo, e talvez não. Mas de qualquer forma, Claire não podia fazer nada para mudar o resultado. Ser mordida por Amelie não era como ser mordida por qualquer um dos outros que ela havia sobrevivido antes. Era surpreendentemente fácil de alguma forma, como se Amelie tivesse injetado algum tipo de tranquilizante junto com a mordida. Parecia pacífico, o que era muito estranho; ela devia ter se sentido horrorizada, ou com raiva, ou qualquer outra coisa, exceto estupidamente relaxada. Ela passou por um longo momento, e então Amelie a soltou com um suspiro suave, e a paz que tinha estado ecoando através da cabeça de Claire evaporou como gelo no sol do deserto e o pânico voltou de novo, com força e muito real. Ela estava fraca e drenada, e sua cabeça estava girando, e quando ela tentou se levantar, ela não conseguiu. Tudo o que ela podia fazer era se afastar lentamente, escapando com suas mãos até que ela colocou uma distância respeitável entre ela e a rainha vestida de sangue que estava deitada no sofá. Amelie ficou ereta. Gotas de sangue desciam pelos seus braços como franjas vermelhas, e ela olhou para si mesma com o cenho franzido, em seguida, se levantou quando um som oco veio da porta abaixo. Ela não tinha sido derrubada, ainda não, mas eles haviam atravessado a madeira com as garras e o metal por trás dela. — Limpe as mãos do meu sangue — ela disse a Claire. — Eles vão sentir o cheiro em você, e isso seria uma coisa perigosa. Quando eles vieram atrás de mim, desça as escadas. Pegue Shane e saia. Prometa-me que vai fazer isso. — O que vai acontecer com você? — Eles vão me machucar — Amelie disse categoricamente. — Eu vou lutar contra eles, mas eles vão me levar. Não interfira. Você não pode me salvar.


Agradeço-lhe pelo dom do seu sangue, Claire, e eu vou honrá-lo. Mas você deve me honrar também agora. Veio para Claire em um clarão ofuscante a possibilidade que Amelie não havia pensado — uma perigosa. Potencialmente fatal. Mas talvez, apenas talvez, uma que poderia funcionar. — Se você sair daqui, você pode se esconder? — Claire perguntou a ela. — Existe algum lugar para onde você possa ir? — Morley me prometeu segurança na cidade de Blacke, se eu puder chegar às fronteiras de Morganville — Amelie disse. — A partir daí, talvez possamos encontrar uma maneira de atacar Fallon. Mas é inútil especular. Eu nunca vou sair deste sótão, exceto nas mãos deles. Isso, Claire pensou, ia exigir duas coisas: o tempo de precisão e muita sorte. A casa estava do seu lado, no entanto; ela podia senti-la esperando ansiosamente por qualquer chance de ajudar. E Shane estaria armado e perigoso cuidando dela muito em breve. Ela ouviu o grito de metal deformando sendo quebrado, e esperou mais alguns segundos, olhando para Amelie. Ela não podia ouvir estas criaturas, porque elas se moviam como fantasmas, mas em sua visão periférica ela viu um deles na escada. Quando ele chegou ao topo, ela viu o borrão do segundo logo atrás dele. — Desculpe — Claire disse. — Eu não vou desistir de você ainda. Ela correu para a frente, e antes que Amelie pudesse detê-la, ela envolveu a fundadora de Morganville em um abraço. Foi estranho e repugnante. O sangue do vestido de Amelie estava completamente molhado entre elas, manchando Claire, e debaixo da roupa a vampira parecia com uma estátua de mármore fria, rigidamente inflexível. Durou apenas um segundo, e depois do choque de Amelie, ela empurrou Claire para trás. — O que você está fazendo? — ela perguntou, mas não havia tempo para explicar, porque os cães do inferno estavam chegando. Claire atirou-se para o lado, do outro lado do sofá, derrubou a lâmpada, e saltou o corrimão pousando desajeitadamente sobre os degraus abaixo. Ela perdeu o equilíbrio e caiu, caindo para baixo o resto do caminho, e parou a si mesma pouco antes de rolar na bagunça de metal irregular que costumava ser a porta do painel oculta. Claire tirou isso para fora do caminho, ofegante de medo e adrenalina, e viu um dos monstros saltar para baixo atrás dela na escada. Ele cheirou o ar, e aqueles olhos amarelos alargados fixaram diretamente sobre ela e assumiram um brilho profano enquanto abria a boca para rosnar.


Em seguida, ele soltou um grito que congelou seus ossos, e Claire não esperou para ver se ele iria começar uma perseguição. Ela apenas deixou Amelie para trás, e correu.


E

Capítulo 7

la estava a meio caminho das escadas quando a criatura brotou para fora da porta, ainda dando aquele uivo estranho e lamentador, e Claire mergulhou o resto do caminho em uma corrida mortal. Ela não podia deixá-lo pegá-la. Ele estava seguindo o cheiro do sangue de Amelie sobre ela, e a estava tratando como um vampiro — ele iria rasgá-la em pedaços, presumindo que ela iria curar. Mas ela não iria, é claro. Se ele a pegasse, tudo acabaria. Seu risco calculado teria falhado. Ela pensou que se Amelie tivesse apenas uma daquelas coisas para lidar, ela poderia ser capaz de lutar para sair. Essa era a teoria de Claire, de qualquer maneira. Ela só esperava que não apenas tenha se sacrificado para nada. — Shane! — Claire gritou quando ela chegou nas escadas e as desceu correndo. Ela não sentiu os arranhões, as contusões e as distensões musculares que ela tinha certeza que tinha ganhado com o primeiro tombo descendo as escadas da sala escondida. Ela pagaria por isso mais tarde, mas por agora o pânico foi substituindo por todas as respostas padrões. Nada foi quebrado, no mínimo; ela ainda podia colocar o seu peso sobre ambas as pernas igualmente. Isso era tudo o que importava. Shane estava no fundo das escadas, ali de pé com a mochila pesada de armas, olhando para ela. Ele não estava se movendo. Ele parecia... estranho. — Shane! — Ela chamou novamente, e olhou para trás por cima do ombro. Ela viu o monstro entrando à vista, com os olhos brilhando, as garras amarelas e os restos daquele vestido de verão ridículo. — Shane, eu preciso de uma arma! — Ela não se importava com o que isso era, ainda não. Não havia tempo para ser científica agora. Mas Shane não estava se movendo. Não. Agora ele estava deixando cair a mochila com um estrondo no chão de madeira. Alguma coisa estava acontecendo com ele. Seus olhos... Eles estavam mudando. Não. No esmagamento de eventos ela tinha esquecido, esquecido qual poderia ser o efeito se ele ficasse cara-a-cara com um vampiro...


...Ou alguém que cheirasse a um. Ele fechou os olhos e quando eles abriram, brilhavam com amarelo ácido, com as pupilas encolhidas verticalmente em fendas. Garras sangrentas explodiram para fora de seus dedos, como uma versão de pesadelo de um super-herói, mas o que ele estava se tornando era outra coisa, algo muito pior, e o uivo que saiu de sua garganta não era nada além de raiva e fúria animal. Claire gritou a plenos pulmões de desgosto e raiva, fúria e medo, e fez a única coisa que ela podia — ela correu, tentando passar por ele antes de ele estar totalmente alterado. Eles pegaram Shane. O que era ainda pior porque ele estava perto, ele era rápido, e ela não tinha a mínima chance de fugir dele. A única vantagem para ela era que a alteração tinha acabado de começar, e ele ainda estava confuso e com dor. Ela não tinha escolha a não ser tentar sobreviver a ele. — Por favor — ela sussurrou. Havia lágrimas de puro horror em seus olhos, e mágoa, porque mesmo agora ela não podia deixar de sentir horror com o que estava acontecendo com ele, com a dor que ele estava sentindo. — Por favor, Shane, sou eu. É Claire. Ele estava mudando rapidamente, e não havia mais nada de Shane em seus olhos, apenas instinto puro e raiva. A sua roupa estava impedindo a sua transformação, mas isso não ia durar muito tempo; suas garras agora estavam rasgando o pano grosso da calça jeans para destruí-la. Claire respirou fundo, agarrou o corrimão com as duas mãos e saltou sobre ele, do jeito que ela tinha visto Shane fazer um milhão de vezes. Ela saltou na poltrona de Michael e pulou alguns metros no ar para fazer uma aterrissagem estranha e tropeçada na frente da TV desligada. Shane uivou atrás dela, e ela olhou para trás quando viu que ele estava quase completamente cão do inferno agora, com os músculos deformado e deslocados fazendo-o ficar de quatro. Seu corpo não parecia mais humano. Ela viu tudo isso em um borrão porque logo ele estava em cima dela, saltando a distância para bater no peito dela. Ela de alguma forma colocou as mãos entre eles, pressionando contra a sua pele — não, não pele mais, pêlo duro e áspero contra os seus dedos — e a boca de Shane — focinho — abriu, e os dentes, os dentes eram afiados e sem fim, e ela sabia que estava prestes a morrer. E ela fechou os olhos para que ela não visse isso acontecendo.


Ele fez um som que ressoou dentro dela — um gemido agudo de dor e angústia. Ela sentiu o calor de dor — a respiração dele em seu pescoço e se obrigou a abrir os olhos e olhar de novo diretamente nos dele. — Sou eu — ela sussurrou. — Shane. Sou eu. Ele rosnou, mas se transformou em um gemido de novo, e então seu corpo ficou tenso e ela pensou: É isso, é o fim. Ela arriscou a sua vida, e desta vez, finalmente, ela perdeu-a se arriscando. Ela não estava com medo exatamente — o choque já a tinha tomado para protegê-la disso. Mas ela estava triste. Triste que ia ser Shane, de todas as pessoas. Triste que isso seria outra coisa que ele teria que viver depois de todas as perdas que ele tinha sofrido em sua vida. Ela sentiu o seu movimento corporal, e levou segundos para ela perceber que ele não estava se lançando para baixo em direção a ela, mas para longe. Longe, ao colidir com o segundo cão pulando em direção a ela da escada. Eles se enroscaram em um rosnar, formando uma pilha no chão ao lado do sofá. Ela não esperou para ver quem ganhava; contra todos os seus instintos, e toda a programação que estava sendo executada em suas veias, Shane tinha dado a ela uma chance, e isso era tudo o que ela poderia pedir. Ela tinha que se manter em movimento, não importava o quê, e atraí-los para longe de Amelie se pudesse. A casa realmente estava do seu lado, porque enquanto ela disparava através da porta da cozinha, um spray de água expeliu da pia como se tivesse rompido a tubulação, e bateu em cheio no seu rosto e no peito, encharcandoa e enxaguando a maior parte do sangue de Amelie. Ela parou por um segundo para esfregar freneticamente em sua pele, em seguida, quando a água parou, ela agarrou uma das amadas granadas-extintores de Shane. Ela armou-a logo quando a porta da cozinha abriu, e Shane e o outro cão entraram. Ela jogoua em linha reta neles enquanto abria a porta traseira, e a granada atingiu o chão bem na frente dos pés de Shane, em seguida, explodiu em uma nuvem asfixiante de pó branco que brilhava e subia no ar. Isso fez uma grande distração, e ela aproveitou isso para correr rápido, para fora do quintal e para a rua. Os postes de luz estavam acesos, reluzindo dourado, e ela considerou correr para a casa de um vizinho por ajuda — mas ela não sabia qual, se é que algum de seus vizinhos poderiam ser confiáveis. (Não que eles já tivessem sido confiáveis para começar, honestamente.) O carro grande de Shane deveria estar escondido em algum lugar na casa de Jenna, mas ela não tinha


perguntado a ele onde encontrá-lo, e ela não tinha tempo de brincar de esconde-esconde, não esta noite. A polícia estava procurando por ela, e agora ela tinha — o que eles eram? cães do inferno? lobisomens? — em seu rastro. Embora eles não tinham a seguido aqui fora. Ainda não. A solução rápida parecia ter funcionado, junto com a bomba em pó; ela deve ter confundido eles, e talvez destruído o sentido de cheiro deles temporariamente. Claire apenas escolheu uma direção, no final das contas, e começou a correr. Ela ficou perto dos postes, observando em volta, e manteve-se atenta as viaturas policiais, mas parecia suficientemente tranquilo. Muito tranquilo, talvez. O silêncio foi interrompido por um gemido crescente de sirenes da polícia, e ela fez uma pausa bem-vinda se escondendo atrás de uma sebe quando três carros passaram perto, vermelho e azul piscando e pintando o mundo em cores primárias antes de afundar em tons de cinza. Eles estavam indo para a Glass House, ela pensou. Ela duvidava que Amelie tivesse ligado para a emergência, mas talvez um dos vizinhos tenha ficado muito assustado para ignorar toda a estranheza. Morganville era, afinal, uma cidade cumpridora da lei agora. Ou talvez alguém só tenha visto ela e a reconhecido como a Mais Procurada de Morganville. Isso não seria tão bom. Claire saiu dos arbustos novamente. Ela estava tremendo agora, já que a água que ela estava encharcada estava lentamente secando ao ar livre e frio do deserto, e apesar da corrida ela estava congelando aqui fora, rapidamente. Normalmente ela teria corrido para o laboratório de Myrnin, mas ir para lá só iria expô-la a mais perigo. Ainda assim, ela desejava pelo conforto de um lugar familiar, mesmo se fosse imprudente. Ou assustador. O conhecido era sempre melhor do que o desconhecido. Pare com isso, ela disse a si mesma com firmeza. Você é uma cientista, certo? Pare de ter medo do desconhecido. Isso firmou ela. A ciência tinha ajudado ela a pensar em sujar a si mesma com o sangue de Amelie para afastar os invasores, e a ciência tinha ajudado ela a lembrar das granadas-extintores. O desconhecido não era completamente cheio de terror, ele era cheio de vantagens ainda não descobertas. Era melhor correr em direção a algo do que de algo. A Glass House estava agora em perigo mortal; se Amelie conseguisse tirar proveito da confusão e sair de lá, fugir para a pequena cidade de Blacke, não havia nenhuma maneira de Fallon permitir que as Casas Fundadoras ficassem de pé. Ele iria destruir os últimos refúgios de Amelie, e a casa deles.


Claire sabia que não podia defendê-la apenas ficando e lutando; isso era defensiva, e ela precisava atacar agora. Ela precisava chegar até Fallon. Ela precisava parar isso — por Shane, por Michael, pela segurança da Glass House. Além disso, ela não estaria sozinha se ela corresse em direção ao centro do perigo... Porque Eve já estava lá. Q q q Claire manteve-se nas sombras no caminho para a periferia da cidade. Ela lembrava do caminho, pelo menos, e no mínimo a caminhada constante que ela fazia até o ITM ao longo das últimas semanas tinha preparado ela para curtas distâncias relativas de caminhadas em Morganville. Não havia nenhum problema em andar na escuridão nesses dias, sem vampiros prontos para atacar, pelo menos. Embora ela não tenha ideia de onde Myrnin estava agora, ou se Amelie tinha realmente conseguido sair da Glass House. Se ela tivesse, então Shane estaria... Estaria caçando Amelie. Esse pensamento esmagou o seu coração. Shane sempre, no fundo, odiou os vampiros; ele tinha se inscrito voluntariamente para encontrar uma maneira de livrar Morganville de suas garras quando ele tinha estado com a equipe de seu pai. Mas Claire achava que ele estava começando a aceitá-los, um pouco — particularmente Michael. Quando o seu melhor amigo arranja presas é uma garantia para causar uma reavaliação séria de seus preconceitos. Mas parecia como se o ódio sempre tivesse sido imposto nele, isso não era algo que ele tinha escolhido para si mesmo — e isto não era diferente. Ela não queria ver Shane assim, absorto na sede de sangue, raiva e violência. Ele era melhor do que isso. Todos eles eram melhores do que isso. Claire parou em uma fonte de água pequena e negligenciada em um dos poucos parques ao longo do caminho, e lavou-se de novo, tentando tirar qualquer vestígio do sangue de Amelie para longe dela. Ela não tinha certeza do quão bons eram os sentidos de Shane aqui fora, mas ela suspeitava que quando Fallon criou cães de caça, ele fez um trabalho de perito. E, por mais que ela quisesse ficar com Shane, ela nunca iria querer vê-lo assim novamente. O vento frio e mordaz pareceu muito pior quando ela umedeceu as roupas, e ela pensou sombriamente que ela poderia ficar doente depois disso — se sobrevivesse.


O pior que ela sofreu no caminho para a Fundação Daylight, porém, foi o frio, e um ataque de um par de salsola vagando que foram sopradas direto para ela quando ela tentou evitá-las. Os pequenos galhos das plantas arredondadas foram difíceis de tirar de seus jeans e deixou os dedos da mão dela coçando onde tinha perfurado a pele. As salsolas também tinham uma tendência a virem em bando, então ela teve que brincar de se-esquivar-daservas-daninhas mais frequentemente do que ela gostaria... e então ela viu o brilho de uma placa de néon em frente quando ela virou a esquina. Esta parte da cidade ainda estava em construção na maior parte, no entanto os locais estavam silenciosos agora, todos os trabalhadores foram para casa e as ferramentas estavam abandonadas na noite. Estava com cheiro de madeira nova e poeira misturada e fez ela abafar um espirro quando ela parou no cruzamento. À sua esquerda, a placa em neon brilhava laranja e amarelo a dois andares acima. A imagem estilizada do nascer do sol usada pelos Daylighters como um broche. Claire se moveu cuidadosamente, mas ela não viu ninguém, novamente. Havia ainda alguns carros no estacionamento, e quando ela se aproximou ela viu o distinto carro fúnebre preto coberto de cromo de Eve. Primeiro, Claire sentiu uma onda de alívio, porque isso significava que Eve ainda estava aqui, em algum lugar... mas então ela percebeu que se Fallon tivesse decidido despejá-la com os vampiros no shopping, ele não se preocuparia em mover o carro dela. Então, a presença do carro fúnebre realmente não significava nada, exceto que Eve tinha estacionado aqui. Não era um indicador de onde ela estava. Claire precisava entrar para encontrá-la, e encontrar uma maneira de chegar até Fallon. Dúvidas tinham se estabelecido na caminhada, e ela estava tentando ignorá-las. Eve veio aqui com exatamente a mesma missão — de parar Fallon. Até onde ela tinha ido? Como eu posso ter certeza de que eu posso fazer melhor? Ela desejou que Myrnin não tivesse ido com Jenna. Ela precisava dele agora, mais do que nunca. O primeiro passo — o único passo — era tentar descobrir o que estava acontecendo dentro da Fundação Daylight. Se Eve ainda estava lá, ela tinha uma aliada. Se ela não estivesse, isso era mais um incentivo para Claire encontrar Fallon e acabar com isso, de uma vez por todas. Ela ouviu um uivar à distância, longo e estranho, e ele decidiu por ela. Às vezes, o lugar mais seguro para se estar é bem no coração do inimigo.


Q q q A porta da frente era impossível; havia ainda luzes acesas no lobby, e quando ela posicionou a si mesma no ângulo certo, ela pôde ver que um guarda de segurança usando terno estava sentado atrás do balcão onde a recepcionista tinha estado antes. Nenhum sinal de Eve, ou Fallon, aliás. Claire deu a volta no edifício para o lado e encontrou as janelas — todas fechadas. Os escritórios estavam escurecidos, no entanto. Ela se perguntou sobre os alarmes, e percorreu todo o caminho em torno do perímetro, para prevenir. Foi uma coisa boa que ela tenha feito isso porque ela descobriu que uma das janelas na parte de trás tinha sido deixada aberta. Não muito, só um pouquinho, mas o suficiente para tranquilizar ela de que não estava alarmado. Ela encontrou um pedaço de vergalhão enferrujado no chão nas proximidades e usou-o para alavancar a janela para acima. Ela devia estar emperrada, o motivo pelo qual ela não tinha sido fechada para começar, e ela estava com medo de quebrá-la, mas finalmente ela se soltou e deslizou para cima. Até mesmo totalmente aberta não era um espaço muito grande, e ela teve que passar cuidadosamente. Seus quadris quase não passaram, e ela caiu de cabeça para baixo em uma área de armazenamento mal iluminada cheia de prateleiras de livros e garrafas. Parecia tudo tediosamente normal, na verdade. Não havia nada de sinistro nos papeis higiênicos e produtos de limpeza, e até mesmo os livros eram todos sobre como fazer uma pessoa ser melhor. Esta era a aparência pública da Fundação Daylight. A aparência privada era, é claro, o shopping sombrio e os vampiros em seus chamados enclaves esperando por — pelo quê? Extinção. Claire tentou abrir a porta do armário de abastecimento. Ele abria por dentro — uma precaução de segurança contra ficar trancado, ela supôs — mas quando ela tentou a maçaneta do lado de fora, ela não se mexeu, então ela encontrou um pedaço de fita e colocou para segurar a porta. Ela e Eve poderiam precisar de uma maneira rápida de sair. Vamos torcer que não, mas pessoas inteligentes planejavam possibilidades ao longo do caminho. Os corredores estavam silenciosos, apenas normais e tediosos como o armário de abastecimento tinha estado — com carpete branco e cheio de portas de madeira e placas de identificação. Ele ainda cheirava a tinta fresca. Hannah Moses tinha o seu próprio escritório, e Claire sentiu um formigamento de alarme quando o viu, mas por sorte já era tarde; a porta estava trancada, e sem


luzes em baixo. Como isso funcionava, exatamente? A chefe de polícia realmente dividia o seu tempo entre trabalhar para a cidade e trabalhar para Fallon, ou era — ao menos no papel — mais um tipo de coisa voluntária? Hannah não tinha escolha, não mais do que Shane, mas Claire supôs que Fallon iria querer fazer isso parecer legítimo. Pelo menos por enquanto. Ela estava a meio caminho para o lobby quando ouviu o som de vozes. No cruzamento de outro corredor ela virou à direita, seguindo o som, porque uma das vozes era de Eve. Ela reconheceu os tons facilmente, mas as palavras estavam incertas e indistintas. Só havia uma porta nesse corredor, e era no final. O escritório de Fallon. Claire se aproximou, tentando ouvir o que eles estavam dizendo, mas ela pegou apenas palavras aleatórias. O nome de Michael foi mencionado — sem surpresa — mas o que a preocupava era a maneira que Eve estava falando. Soava... relaxado. Calmo. Quase sonolento. Ele tinha feito alguma coisa com ela? Drogado? Ela estava a apenas noventa centímetros da porta quando ouviu claramente a voz de Fallon. Ele tinha se aproximado do outro lado, e ele disse: — Eu sei que parece estranho para você, mas eu admiro você, você sabe. Admiro a sua audácia em vir aqui. Eu admiro a força da sua convicção de que há algo no jovem que você amava enterrado dentro do monstro. Talvez haja, porque ele é tão jovem. Espero que sim, pelo bem de vocês. — Você tem que soltá-lo — Eve disse. — Eu vou te matar se você não o soltar. — As palavras eram ferozes, mas não a voz. Ela parecia quase à beira das risadas. — Você me drogou. Você drogou a minha água. Isso foi maldade. — Eu não queria prejudicá-la, Eve — ele disse. — É por você que eu estou lutando, pela humanidade. Você simplesmente não consegue aceitar a verdade. Isso não é culpa sua, mas é perigoso, tanto para você quanto para mim. Você e a sua amiga Claire, vocês não são como o resto. Vocês vêm os vampiros como seres humanos com um problema, mas isso está errado, muito errado. Não há nada de humano sobrando neles. — Michael ainda é Michael. — Você está errada sobre isso. Eu vejo que eu não tenho escolha, além de provar isso a você, Eve. Você é uma jovem notável, sabe, eu nunca vi ninguém ficar tão firme em um relacionamento com um vampiro antes. Isso me deixa triste. E também me dá esperança. Houve o som agudo e musical de um telefone de mesa tocando em seguida, e Fallon atendeu. Ele não disse muito, mas o que ele disse soou severo


e com raiva. — Como? A incompetência de quem permitiu que isso acontecesse? Sim, eu vou querer falar com eles. Mantenha-os aí. Eu estou chegando. — Ele bateu o telefone e amaldiçoou em alguma língua que Claire não reconheceu, mas tinha certeza de que ele estava falando palavrão; tinha aquele tom. — O que está acontecendo? — Eve perguntou. Parecia que ela estava tentando se levantar, mas não conseguia fazer isso muito bem. — Michael? Michael está seguro? — Vamos vê-lo — Fallon disse severamente. — Eu tenho algumas perguntas para ele, e todo o resto. Havia algo nessas palavras que advertia a Claire para sair do caminho, e rapidamente ela se virou e correu pelo corredor até o cruzamento, virando para a direita, e apertando-se contra a parede. Ela fez isso com apenas um segundo de sobra antes de ouvir a porta de Fallon abrir e ouvir Eve dizer com aquela voz preguiçosa e quase sonhadora: — Para onde estamos indo? — Visitar o jovem Michael, lembra? — Fallon disse. — E mostrar a você que ele não é digno do seu amor. Vamos, minha cara, me dê o seu braço. Como está se sentindo? — Zonza — Eve disse. Ela não soava bem. — Eu bebi? Eu deveria realmente ir para casa agora. Está tarde. Claire vai ficar preocupada. Ela é uma pessoa preocupada, sabe. Claire. Pensa demais. Pensa o tempo todo. Eu gostaria que ela apenas relaxasse às vezes... você sabe. Apenas ser. — Eu tenho certeza de que ela está bem — Fallon disse, e Claire cerrou os dentes. Que mentiroso que ele era — ele deveria saber exatamente o que tinha acontecido com ela na casa, deveria saber do guarda morto também. Ele sabia que ela tinha sido presa e levada para a delegacia de polícia. Ele provavelmente até sabia que ela tinha fugido, e que havia cães do inferno no rastro dela. O problema era, não importava quantas drogas de estupro Fallon desse a Eve, ela não iria conseguir deixar de amar Michael — o que significava que ela estaria em mais perigo ainda quando ele percebesse isso. Claire ouviu passos e se perguntou se ela deveria se mover, mas realmente não havia nenhum lugar para se esconder; a porta estava trancada atrás dela, e correr para o armário de armazenamento a faria ser notada. Então ela ficou muito quieta, prendeu a respiração, e ouviu quando Fallon e Eve caminharam passando por ela até a esquina e, em seguida, viraram à esquerda, em direção ao hall de entrada. Para longe dela. Eve andava sozinha, mas instável; ela parecia trêmula em suas botas de combate, e estava se segurando em Fallon por apoio. Ele parecia que estava


feliz com isso. Os olhos de Claire se estreitaram quando ela o viu colocar o seu outro braço em volta dos ombros de Eve, como se ele tivesse o direito de fazer isso. Nenhuma dúvida que Fallon tinha a intenção de fazer alguma coisa com Michael; ele queria que Eve tivesse o seu coração partido, o seu amor destruído. E Claire não poderia deixar isso acontecer, mas ela não tinha ideia de como pará-lo, tampouco. Quando Fallon e Eve chegaram no lobby, ela percebeu que Eve não estava com a sua bolsa em seu pulso, uma coisa preta em forma de caixão com pregos de prata. Eve amava aquela bolsa. Ela nunca deixaria para trás, a menos que ela tenha sido drogada o suficiente para esquecer. Claire recuou e correu o mais silenciosamente possível pelo corredor até o escritório de Fallon. Ele não tinha trancado a porta — confiante da parte dele — e rapidamente ela analisou a sala. Era grande, o que ela esperava; um quadro do nascer do sol dourado decorava a parede atrás da grande mesa de madeira de Fallon. Toda a sala era enfeitada em dourado, laranja e marrom, de bom gosto e tons calmantes. A bolsa de caixão preta de Eve estava descartada no chão ao lado da cadeira de visita na frente da mesa. Claire a pegou, verificou o interior e encontrou as chaves do carro de Eve. Havia um pequeno recipiente de spray de pimenta preso nelas, para emergências. Nenhum sinal da mochila gigante que ela tinha trazido, infelizmente; Claire realmente poderia precisar de um arsenal agora, mas Fallon deve ter confiscado e levado para longe. Ela pendurou a bolsa de Eve no ombro e deu a volta para o outro lado da mesa, sentou-se na cadeira ainda quente de Fallon e começou a puxar as gavetas. Coisas chatas. Material de escritório. Algumas pastas, mas elas eram relacionadas principalmente ao planejamento municipal e não tinha nada a ver com vampiros. Havia, no entanto, uma gaveta fechada. Gavetas trancadas eram sempre interessantes. Claire abriu a gaveta de material de escritório e encontrou um abridor longo de cartas de aço. Ela colocou-o entre as fendas na parte superior da gaveta trancada e tentou arrancá-la até abrir; ela conseguiu separar um pouco, mas o abridor de cartas era muito elástico para realmente funcionar. Duas tesouras afiadas e longas funcionaram muito melhor como uma alavanca. A fechadura se abriu com um piscar de olhos, e a gaveta deslizou suavemente aberta, revelando uma coleção cuidadosamente ordenada de


arquivos. Todos eles tinham etiquetas impressas, e Claire reconhecia cada nome lá. Cada um era um vampiro. Ela agarrou o de Amelie, Myrnin, Oliver e Michael e espalhou-os no ambiente de trabalho. O de Amelie era o mais grosso do que os outros, e ela olhou rapidamente através dele, à procura de pistas. Em vez disso, o que ela encontrou foi história — uma história profunda que ela nunca tinha visto antes, sobre o nascimento de Amelie, sua morte, sua ressurreição. Sua filiação, tanto humana e vampira. A lista de todos aqueles que ela transformou em vampiro ao longo dos anos — uma longa lista, mas os intervalos entre fazer novos ficaram cada vez mais longos nos mais recentes cem anos, até que, havia apenas Sam Glass, e então seu neto Michael. Em uma letra manuscrita estranhamente confusa e antiga, alguém — provavelmente Fallon — havia deixado um bilhete por baixo do nome de Michael fim da linha. Isso parecia ameaçador. Na parte de trás do arquivo era uma página escrita à mão, com as observações de Fallon sobre Amelie — pontos fortes e fracos. Claire olhou rapidamente e sentiu um frio realmente passar sobre ela, porque seu próprio nome estava nela. Em ambas as colunas. Em fortes ela estava listada como forte defensora humana e aliada. Isso não era como Claire descreveria o seu relacionamento com Amelie. Mas sobre as fraquezas de Amelie ele tinha escrito: Amelie mostra um grande carinho pela menina e ameaças a ela poderão ter sucesso em enfraquecer a determinação de A. Claire realmente duvidava disso, mas ela pensou que era uma coisa ruim para ela que ele pudesse tentar isso. Michael estava lá, também, nas fraquezas. Fallon havia escrito: Ameaças a Michael Glass pode se revelar eficaz, pois ele é o único parente de Samuel Glass deixado em Morganville, e a sua ligação a Samuel é bem conhecida. Definitivamente sinistro. A pasta de Myrnin teria sido uma leitura interessante na seção histórica, mas ela ignorou e foi direto para a seção de pontos fortes e fracos. Ela estava nela novamente, mas ela esperava isso. Aparentemente Fallon achava que ameaçar ela iria colocar Myrnin na linha. Ele provavelmente estava certo sobre isso. Provavelmente. Ela nem sequer aparecia nas listas de Oliver. A única que aparecia era Amelie... como um ponto fraco. Nos fortes não havia nome de nenhuma pessoa. Apenas uma palavra. Implacável.


A pasta de Michael tinha um carimbo vermelho na primeira página que dizia CURA. Claire olhou para ela, franzindo a testa. O carimbo tinha o símbolo dos Daylighters em baixo dele, e ela não compreendeu inteiramente o que significava, mas não parecia bom, ela pensou. Ela queria pegar todas as pastas, mas havia muitas, e elas eram muito pesadas. Ela só arrancou as anotações de Fallon de cada pessoa e fez um maço de papel que ela enfiou na bolsa caixão de Eve. Em seguida, ela fechou a gaveta e começou a se levantar. Algo chamou a sua atenção quando ela se levantou... outra pasta, que encontrava-se em uma bandeja em cima da mesa. Este também tinha um selo de CURA no lado de fora. Ela puxou-a e descobriu que pertencia a um vampiro que ela conhecia um pouco: Sr. Ransom. Ransom era um homem velho e fantasmagórico que administrava a casa funerária local. Lá tinha, ela percebeu, dois quadrados de baixo do carimbo CURA. Ela não tinha notado antes. Um deles dizia VOLUNTÁRIO. O outro INVOLUNTÁRIO. O quadrado involuntário estava marcado no de Ransom. Ela abriu e encontrou a história de novo, e a página de análise de forças e fraquezas... no caso de Ransom, não era muito informativo. Ele era muito solitário, mal interagia até mesmo com outros vampiros, muito menos seres humanos. Mas havia uma outra página, uma nova. Havia uma foto do Sr. Ransom. Ele parecia... morto. Essa era uma foto com aparência clínica, tirada de cima; o corpo de Ransom estava deitado em uma maca de aço e sua maior parte estava coberta por um lençol branco fino. Nenhum ferimento. Ele parecia velho, debilitado e patético, e ela não conseguia imaginar nada que conseguisse deixar um vampiro deitado ali assim, sendo fotografado, exceto por uma estaca no coração... mas não havia nenhuma estaca no coração de Ransom. Nenhuma ferida. Ele apenas parecia morto. Ela virou a página. Era um relatório médico, sucintamente formulado. A Cobaia Ransom recebeu a cura na dose apropriada conforme o Protocolo H estabelecido, conforme determinado pela idade, altura e peso. Após um breve período de lucidez, seu estado de espírito declinou rapidamente, e ele entrou em estado de coma. Depois disso, despertou em três ocasiões e indicou dor significativa e angústia. Foram


feitas gravações das suas pronúncias, mas a língua não era familiar a qualquer um dos observadores. Após o terceiro período de lucidez parcial, a Cobaia Ransom experimentou um rápido declínio físico e mental, como tem sido documentado nos testes; este declínio caiu dentro dos limites da taxa de falha de aproximadamente 73%. Ele tem evidenciado um breve período de reversão ao ser humano verdadeiro antes de experimentar um evento isquêmico fatal. Hora da morte: 1.348 horas. Que Deus tenha piedade de sua alma. O Sr. Ransom estava morto. Por causa da chamada cura deles. Não poderia ser chamada de cura se havia uma taxa de falha de setenta e três por cento, poderia? Ela abriu a gaveta e verificou o arquivo de Michael novamente. A caixa estava marcada com cura involuntária. O que aconteceu com o Sr. Ransom — eles tinham a intenção de fazer com Michael também. Claire arrancou a informação da pasta de Ransom e acrescentou no seu esconderijo, em seguida, rapidamente voltou para o armário de armazenamento e para fora pela janela. Nenhum sinal de Fallon e Eve, mas ela viu luzes traseiras de um carro desaparecendo ao virar a esquina. Claire correu para o carro fúnebre de Eve, tirando as chaves fora da bolsa. Ela raramente tinha dirigido a coisa, mas não poderia ser muito mais resistente do que o carro monstro de Shane; este era mais como um transatlântico, com todos os problemas de manobra para girar nos cantos. Claire ligou o motor e fez uma super-grande virada no estacionamento quase vazio, em direção à rua. Ela tinha acabado de fazer uma pausa para verificar as direções quando uma voz muito perto de seu ouvido disse: — Então, para onde nós vamos agora, hum? Myrnin. Ela controlou a si mesma após o primeiro choque incontrolável, e virou-se para encará-lo. Ele estava inclinado sobre o seu assento, quase pressionando a bochecha dela, e seus olhos vermelhos refletiam as luzes do painel. — Você poderia por favor se sentar? — ela disse quando conseguiu o controle de sua voz de novo, embora ela tenha saído alta demais. — Você me deu tanto susto que tirou dez anos da minha vida. — Apenas dez? Eu estou perdendo o meu toque. — O que você está fazendo aqui? — Escondendo — ele disse. — Você pode ter notado que Fallon tem o próprio bando de cães humanos caçadores de vampiros. Infelizmente, eles


perseguiram o meu cheiro por um tempo. Eu acho que eu os despistei, mas eu achei sábio parar por um tempo. Você sabe que eu sou esperto como uma raposa. — Louco como uma também — ela disse. — Onde está Jenna? — Foi para casa — ele disse. — Ela me levou para o meu laboratório, mas eu o achei em condições pouco saudáveis. Eu peguei o que eu precisava, no entanto. — Ele deu um tapinha nos caroços sob a sua camisa distraidamente. — Eu espero que você esteja indo na mesma direção que eu. — Eu estou seguindo Fallon. Eu acho que ele está levando Eve ao shopping. — Ah. Perfeito então. Vai ficar tudo bem. Prossiga. — Ele se sentou de volta, como se ela fosse a motorista da sua limusine privada, o que a fez cerrar os dentes, mas ela se concentrou dirigindo por um minuto, até que ela tinha as luzes traseiras de Fallon em vista novamente. Ele estava, realmente, indo para o Shopping Bitter Creek, pelo que parecia. Ela disse: — Fallon acha que ele tem algum tipo de cura para o vampirismo. Você sabia? — Oh, sim — ele disse. — Eu sei tudo sobre Fallon e sua busca equivocada de tornar-se o nosso salvador. Isso nunca funcionou. Isso nunca vai funcionar. — Você tem um plano? — Sim. Eu planejo matar Fallon e destruir tudo o que ele construiu. — Eu acho que Shane diria que isso é uma meta, não um verdadeiro plano. Como exatamente você vai fazer isso? — Com as presas na garganta dele — Myrnin disse. — Para ser mais específico. Eu vou ter uma grande dose de prazer ao drenar esse homem até a última gota. Mais uma vez. — Outra vez? — Claire bateu nos freios e os segurou, olhando para Myrnin no espelho retrovisor. — Do que você está falando? Myrnin passou por cima do assento e caiu na frente ao lado dela. Ele mexia com as roupas — ainda incompatíveis, é claro — e finalmente disse: — Fallon, é claro. Eu o matei uma vez. O transformei em vampiro em, oh, há duzentos anos ou mais, é difícil ser exato sobre estas coisas. Eu não ligava muito para ele de qualquer forma. Eu era um pouco sombrio e mórbido, mas, bem, as circunstâncias ficaram diferentes. Vamos apenas deixar isso para lá. — Ele não é um vampiro! — Bem, não agora, obviamente. Mas certamente já foi. Ele não amou a vida que eu dei a ele, Fallon. Ele achou que era muito melhor do que o resto que apreciou. — Myrnin deu de ombros. — Ele poderia ter estado certo sobre


isso, é claro. Mas o ponto é que ele tem dedicado todo o tempo que eu dei a ele para encontrar uma maneira de reverter o processo e tornar-se humano novamente. — Ele encontrou uma — Claire disse. — Ele se curou. Essa é a cura que ele quer dar a Michael... a mesma. — Eu não diria que é uma cura — Myrnin disse. — Ele simplesmente não é mais dependente de sangue. — Do que ele é dependente, então? — Do que qualquer um de vocês são? Ar, água, alimento, da bondade de estranhos aleatórios. — Myrnin estremeceu, e parecia genuíno. — Eu prefiro ser dependente de sangue. Muito mais simples e mais fácil de conseguir em tempos de caos. Nunca racionado, sangue. Muitas vezes doado livremente. — Mas ele é, ele é humano. — Bem, sim. Batimentos cardíacos e tudo. — Ele ainda é imortal? — Ninguém é imortal. — Myrnin soou bastante sério quando disse isso, e ele olhou para longe, para fora da janela. — Certamente nenhum vampiro. Nós somos tão vulneráveis quanto os seres humanos. Somente deuses e demônios são imortais, e não somos nenhuma dessas coisas, embora já fomos chamados de uma dessas duas coisas. — Quero dizer, ele envelhece agora? — Sim. No instante em que abriu mão da natureza de vampiro, ele começou a marcha lenta da morte novamente. Eu esperava que depois de todo esse tempo com o coração silenciado, ele pensasse em cada batida como um relógio assinalando a sua mortalidade. Eu certamente pensaria. — Como é que ele faz isso? — Eu não sei — Myrnin disse. Ele soava sóbrio e pensativo, e descansou a cabeça de um lado enquanto continuava a olhar para a noite. — Eu realmente não tenho ideia. Ele estava desesperado para encontrar algum tipo de cura quando eu perdi o rastro dele. Ele tinha empregados médicos, cientistas, até mesmo feiticeiros, para tentar reverter o que ele via como a sua maldição. Até que eu o vi de novo aqui, eu jurava que tal coisa era completamente impossível. Ainda há muito a aprender no mundo, no final das contas. O problema é que algumas lições são muito, muito desagradáveis, Claire. Espero que essa não seja uma delas, mas receio muito que vai ser. Ela pensou no selo na pasta de Michael. NÃO VOLUNTÁRIO. — O Sr. Ransom está morto — ela disse. — De acordo com as notas no arquivo na mesa


de Fallon, essa cura dele tem apenas cerca de vinte e cinco por cento de sucesso. — Isso não é surpresa. A Fundação Daylight, a qual Fallon criou, é claro, desde o início teve a intenção de parar os vampiros, erradicar eles através dos meios necessários. Ele veria uma cura como uma forma humana de fazer isso, não é mesmo? Mesmo que três quartos deles fossem submetidos a agonia que eles causam com isso. — Ele deixa escapar um suspiro. — Um processo humano, atrás da palavra humana. Mas, na minha experiência, os seres humanos são capazes dessas coisas horríveis espetaculares. Ela não gostava do som disso, nem um pouco, nem a imaginação de Fallon, com seu jeito calmo e suave e olhos fanáticos, tendo o controle sobre Eve, e Michael, e todos os vampiros presos no shopping. — Como ele fez Amelie se render? — ela perguntou. Myrnin não respondeu. — Ele ameaçou alguém, não foi? — Ele ameaçou pelo menos as pessoas que ela menos quer perder — ele respondeu. — Um deles foi Michael, é claro, mas antes do nosso pequeno grupo chegar na cidade, Fallon tinha Oliver, e ele usou ele contra ela. — Ele usou você também, não foi? — Nada. O que ela levou como confirmação. — Myrnin, ele agora está com Eve. E pelo que eu vi escrito no arquivo de Michael, Fallon vai usá-la para fazer Michael tomar a cura ou algo assim. — Bem, isso seria um problema — ele disse. — Eu gosto bastante do rapaz. E a cura de Fallon é horrivelmente dolorosa, mesmo se alguém sobreviver, e como você sabe, as probabilidades estão contra isso. Eu não tenho nenhuma ideia de que tipo de danos poderia deixar em um vampiro tão jovem quanto Michael. Nem Fallon, eu suspeito. Não que isso vá detê-lo. Claire podia ver o shopping em frente, sua estrutura iluminada por lâmpadas industriais fortes, o que o fazia parecer cada vez mais como uma prisão, se prisões tinham um estacionamento abundante. — Nós temos que fazer alguma coisa. — Oh, eu tenho plenamente a intenção disso, e eu preciso de você para fazer isso acontecer. Você é a minha assistente, afinal. Eu te pago. — Amelie me paga. Eu acho que você não tem a menor noção de como depositar em uma conta bancária. — Verdade — ele disse alegremente. — Os dias eram muito mais fáceis quando você poderia pagar alguém com comida e um teto sobre a sua cabeça, e a riqueza do conhecimento. Tudo isso de dinheiro é simplesmente irritante. Vocês ainda usam ouro? Eu acho que tenho um pouco disso.


— Não vamos sair do foco — Claire disse, embora ela estava pensando, Você tem ouro? Onde você guarda? — O que exatamente você quer que eu faça? — Eu preciso de um segundo par de mãos, mãos humanas, no final das coisas, e bastante inteligentes, para me ajudar a sabotar aqueles malditos colares. A Dra. Anderson não é tola, e embora tenha dado certo como eu fiz, exige alguém com coragem e com pulso; dois vampiros simplesmente não conseguem fazer isso. Falando da nossa querida traidora Irene, ela vai estar trabalhando contra o relógio para produzir em massa as suas armas antivampiros, e quando isso acontecer, elas vão ser absolutamente tudo o que eles vão precisar para controlar, nos encurralar e nos agrupar para a nossa destruição. Nós não podemos permitir que isso aconteça, Claire. Então, eu preciso que você vá para a prisão comigo e me ajude a desativar as coleiras. — Eu não tenho certeza... — Eles estão nos matando quando nós lutamos — Myrnin disse. — Eles já sabem como fazer isso, é claro. De forma muito eficaz, eu devo acrescentar, e muito dolorosa. Os métodos que utilizam duram o suficiente para ser uma lição muito instrutiva para os outros, e eu poderia admirar a crueldade deles se não tivesse que custar os meus velhos amigos. Esta é uma situação que não pode durar por muito tempo, e devemos, absolutamente, libertar os vampiros antes que seja tarde demais. — Ele olhou para os lados, em seguida, disse: — Eu não acho que você esteja em muito perigo. Oliver, a Senhorita Grey e eu podemos garantir a sua segurança. Tenho quase certeza. Isso não soou tão positivo como Claire teria preferido, na verdade, mas ela não podia esperar algo muito melhor. — Como é que vamos entrar? — Do mesmo jeito que eu saí — Myrnin disse. — Através da caçamba de lixo. Vamos lá, então. Estacione essa coisa ridícula e vamos acelerar. Espero que essas não sejam as suas melhores roupas. Ela deveria saber que isso seria horrível. Q q q Passar pela tubulação de lixo foi ainda pior do que Claire esperava. Quando o shopping tinha sido abandonado, a tubulação de lixo — vindo do segundo andar através de um tubo de metal claustrofóbico que virava para baixo em uma inclinação em linha reta até uma caçamba de lixo oxidado e há muito tempo negligenciado — a caçamba aparentemente nunca tinha sido limpa. As camadas de alimentos podre, velhas e deterioradas e a sujeira eram geralmente horríveis o suficiente para fazê-la reconsiderar seriamente em fazer


isso, mas Eve estava lá dentro, e ela precisava de ajuda. — Eu não consigo — Claire disse. Ela não estava falando sobre o lodo, no entanto. — Eu sou apenas humana, Myrnin. Eu não posso subir isso! — Você não vai precisar — ele disse, e ofereceu-lhe uma mão fria e forte. — Até que você vá. Eu vou empurrar. Ele empurrou-a para dentro da pequena abertura metálica, sem lhe dar tempo para ficar pronta, e ela sentiu um momento de pânico e náusea que quase a fez gritar — e, em seguida, sua palma pousou solidamente na bunda dela quando ela começou a deslizar para baixo. — Ei! — ela sussurrou com a voz trêmula, mas ele já estava constantemente empurrando-a para a cima. Uma coisa boa sobre o lodo horrível, ele a fazia subir mais rapidamente. Ela tentou não pensar sobre o que ela poderia estar deslizando. Realmente, realmente tentou. O cheiro era indescritível. — Cuidado com as mãos! — É inteiramente impulsionador — ele sussurrou de volta. — Quieta, agora. O som pode ser levado. — Ela não tinha ideia de como ele estava conseguindo subir, ou empurrá-la na frente dele, mas ela achava que ele tinha afundado as suas unhas profundamente no lodo e ancorado no metal para fazer isso, como picos de escalada. Cada empurrar firme a levava mais adiante. Ela desistiu de tentar inutilmente alcançar apoio e em vez disso focou em manter as mãos estendidas à frente, para empurrar bloqueios totalmente desconhecidos e muito perturbadores para fora do caminho antes que ela se encontrasse cara-a-cara com eles. Foi o minuto mais curto e mais longo de sua vida, e ela teve que se segurar firmemente em todo o seu autocontrole para manter-se longe de desmoronar sob o estresse e se entregar a sua posição impotente e gritos de menininha de repulsa. E então tudo acabou, e ela deslizou em um ângulo para fora do tubo de metal, e um par de mãos fortes e pálidas agarrou-a pelos pulsos trêmulos para puxá-la para cima e para os seus pés. Claire piscou e na penumbra percebeu o cabelo vermelho e sorriso firme e brilhante de sua amiga de Cambridge, Jesse. Senhorita Grey, como Myrnin a chamava. Ela tinha sido uma bartender quando Claire a conheceu, mas isso foi antes de Claire saber que ela era uma vampira. Ela provavelmente tinha sido um monte de coisas durante a sua longa vida, e quase todas elas interessantes. — Bem — Jesse disse, erguendo as sobrancelhas para uma altura cética. — Eu admito que eu realmente não esperava por isso. — Ela soltou Claire, e virouse para o tubo de novo para oferecer uma mão amiga para Myrnin, que estava escalando para fora sozinho. Claire estava aborrecida de perder o apoio, porque as pernas dela ainda estavam tremendo, e ela agarrou uma cadeira de


plástico acessível para cair nela. Pelo que eu acabei de rastejar? Ela supôs que era melhor ela realmente não saber, mas ela precisava desesperadamente de um chuveiro, uma escova e água sanitária. E roupas novas, porque não importava o quanto ela lavasse, ela nunca, nunca iria usá-las novamente. Jesse estava falando enquanto Myrnin subia o resto do caminho para fora do tubo. — Você trouxe ela aqui? Eu tenho que perguntar, você apenas quer um lanche, ou você tem algum plano inteligente para salvar a vida dela? Porque você sabe o humor daqui. — Eu sei — ele concordou. — Eu também sei que a vida dela está correndo risco lá fora em Morganville. É melhor aqui, onde seus aliados podem ser capazes de protegê-la do que lá fora, evitando inimigos sozinha. — Como se ela não tivesse nenhum inimigo aqui? Ele deu de ombros. — Não que importe. Oliver gosta da menina, e tem alguns que teve graciosas experiência com ela. Pode ter alguns que ficariam felizes em fazer uma festa, mas não tantos que não podemos deter. — Nós? — Jesse cruzou os braços e olhou para ele com a cabeça inclinada. — Estamos assumindo muito, não estamos, querido louco? — A quantidade justa — ele admitiu. — Mas as necessidades exigem, de tempos em tempos, assumir as coisas. E eu acredito que eu posso contar com você, minha senhora. — Ele lhe deu uma reverência muito elegante que foi apenas um pouco arruinada pelo lodo que o cobria. Jesse, no entanto, não riu. Muito. Ela respondeu com uma reverência apenas um pouco arruinada pelo fato de ela estar usando calça jeans e uma camiseta apertada em vez de roupas da realeza extravagantes. — Tudo bem — ela disse. — Eu vou colaborar e ajudar a manter as presas longe da nossa amiguinha. Más notícias: Fallon está aqui. Ele entrou como um vento ruim há alguns instantes. Eu acho que ele descobriu que Amelie conseguiu sair viva. — Então ele não está satisfeito. — Oh, não — Jesse disse, com um sorriso largo e severo. — Nós todos temos sido convocados para o piso inferior para interrogatório. Você vai precisa se limpar antes que eles descubram como é que vocês estão conseguindo sair, embora eu acho que você arruinou todas as roupas extras agora. Ele deu de ombros com uma magnífica indiferença. — Eu vou encontrar alguma coisa.


— Eu tenho certeza de que você vai — ela concordou. — Deixe-me buscar algo para você. Eu posso conseguir fazer um trabalho melhor ao combinar cores, no mínimo. Ele deu-lhe um pequeno sorriso irônico, e entre um piscar e outro, Jesse apenas... desapareceu. Ela e Myrnin estavam sozinhos em uma sala que era, Claire percebeu, uma espécie de quarto. Havia duas camas dobráveis, pelo menos, cada uma com um cobertor fino cuidadosamente dobrado sobre ela. Nada mais no quarto, no entanto — sem posses pessoais de qualquer tipo. Poderia ter sido o quarto de ninguém, ou de qualquer pessoa. — Jesse estará de volta em um momento — Myrnin disse. — Ela está certa. Se eles nos ordenaram ir para baixo, então eu preciso me limpar rapidamente. Se alguém tentar mordê-la enquanto eu estiver fora, bem, tente não chamar a atenção. Morra em silêncio. — Eu posso me defender, você sabe. — Com as mãos nuas, contra a fome, tedio e raiva de vampiros? Claire. Você sabe que eu penso bem de você, mas isso não é realmente a sua melhor realização de resolução de problemas. — Ele balançou a cabeça como se estivesse muito desapontado com a falta de visão dela. — Pelo menos você está coberta de sujeiras e vai disfarçar o cheiro do seu sangue por enquanto. Apenas fique quieta e imóvel, e você deve ficar bem. Além disso, eu duvido que alguém esteja com fome suficiente para mordê-la enquanto você está assim... imunda. Ela tinha certeza de que havia algo insultante nisso, mas era também reconfortante. Myrnin desapareceu assim como Jesse, e Claire foi deixada sozinha no quarto escuro e quieto. Ela não tinha visto ele fazer isso, mas Myrnin tinha colocado de volta a grelha sobre o tubo que eles tinham usado para entrar; ela se aproximou e o testou, mas ele não se moveu, e ela percebeu que ele o colocou no lugar. Ninguém iria perceber que não estava sólido, nem mesmo na próxima inspeção. Seria preciso a força de um vampiro para sequer começar a soltá-lo. Foi assim que Amelie tinha saído? Através do lodo? De alguma forma, Claire não podia imaginá-la imaculadamente deslizando através do lodo para sair, ou andando por Morganville parecendo como um refugiado dos Nickelodeon Awards. Uma coisa importante para os vampiros era a dignidade. Ela estava em profunda contemplação da passagem e suas implicações quando percebeu que ela tinha um visitante. Não era Myrnin. Não era nem mesmo Jesse. Era Michael.


Ela se encolheu, porque ele estava bem ali, sem nenhum aviso, nenhum som. Normalmente ele não era assim, tão... vampiro. Na casa, Michael sempre tinha um cuidado especial para certificar-se de que eles ouvissem ele chegando, e ela nunca se preocupou em saber se precisava de um grande esforço adicional dele — se ele se sentia como se ele fosse forçado a ser embaraçosamente desajeitado em torno deles, apenas para evitar assustar eles na cozinha ou no corredor. Em seguida, na próxima fração de segundo ela percebeu que ele certamente não tinha se incomodado dessa vez, e havia algo na maneira que ele a estava observando-a — o silêncio absoluto do seu corpo e seu rosto — que fez ela se sentir profundamente inquieta. — Michael? — Ela quase deixou escapar você me assustou, mas isso era óbvio pelo jeito que ela pulou e, sem dúvida, pelo som ensurdecedor de seu batimento cardíaco correndo. O pulso dela deveria ter abrandado após o primeiro instante de alarme/reconhecimento, mas tocava como um tambor, em vez disso, como se seu corpo soubesse alguma coisa que sua mente não sabia. Ela não se mexeu. O que exigiu um grande esforço, na verdade, porque esses mesmos instintos insistiam para ela que ela estava com medo e também estavam querendo que ela desse pelo menos um par de passos para trás. Grandes passos, na verdade. Michael disse: — Eu menti para Eve. Isso foi um início totalmente confuso, isso era novo — inesperado e ameaçador. — Hum... tudo bem. Sobre o quê? — Eu disse que eles estavam nos alimentando, mas eles gostam de nós fracos. Quanto mais fracos, melhor. Eles nos dão sangue, mas já azedo, de alguma forma. Drogado. Ele realmente não ajuda — Michael disse. Sua voz suave e medida soou estranhamente reconfortante para ela, e ela sentiu seu batimento cardíaco abrandar, finalmente. Ele era seu amigo, afinal. Um doce e um dos seus melhores amigos. — Eu ouvi a sua voz. Eu sabia que você estava aqui. — É bom ver você — ela disse. Sua própria voz soou estranha agora, estranhamente calma e inexpressiva. — Você está bem? — Não — ele disse. — Ele trouxe Eve. Ele vai usá-la contra mim. Eu estou com muita fome. E você não devia estar aqui, Claire. Eu não quero que você esteja aqui, pois... — A contração de um sorriso, como um espasmo de dor, surgiu em seus lábios e logo em seguida foi embora de novo. — Você tem um cheiro terrível, você sabe.


— Desculpe. É o lodo. — Mas eu ainda quero você. Ela abriu a boca e percebeu que ela não tinha nada a dizer sobre isso. Absolutamente nada. Porque era chocante e errado e muito errado e isso era Michael dizendo, e apesar do fato de que tudo parecia estranhamente bem, como se ela estivesse imersa em um banho calmante e que tudo era um sonho... ela compreendeu duas coisas: ele não quis dizer isso sexualmente como parecia, e era por isso que não está bem. Ele estava mais perto dela agora, e ela não o viu se mover. Ele estava apenas... mais perto. Observando ela. Ela não gostava disso. Dentro do casulo calmo, algo dentro dela se torceu, empurrou e tentou se libertar das camadas de calma pegajosas e meladas que ela estava em volta. Por favor, não faça isso. Ele estava muito perto agora. Ela poderia estender a mão e colocar no peito dele, e a mão dela estaria subindo, como se ela não tivesse nenhum controle real sobre isso, e por que os olhos dele se tornaram vermelhos... — Michael. A voz era baixa e fria, e Claire sentiu uma facada direto através desse casulo que ela estava tão bem embrulhada e ele se rasgar. De repente o ar estava pesado em sua pele, e muito grosso, e ela não conseguia recuperar o fôlego. Seu pulso acelerou e deu o pontapé inicial novamente, e ela tropeçou para trás até que seus ombros tocaram uma parede. Jesse estava na porta. Ela parecia selvagem, perigosa e irritada, e quando Michael deu outro passo na direção de Claire, Jesse veio até ele, envolvendo um punho no tecido de sua camisa, e jogou o vampiro mais jovem a metros da saída. Quando ele tentou dar um bote para Claire de novo, Jesse o pegou, prendeu e o deixou no lugar enquanto ele tentava ficar livre. — Não — ela disse, e deu um tapinha no ombro dele. — Você vai me agradecer mais tarde quando você tiver uma chance de pensar sobre isso. Não foi culpa sua, garoto. Acredite em mim. Mas você ia ficar bem mal quando isso ficasse feio. — Eu não iria machucá-la — ele rosnou, e Claire viu suas presas para baixo, afiadas e brilhantes. — Ela é minha amiga. Eu sei o que eu estou fazendo. Eu só ia tomar um gole. — Apenas um gole. Sim, eu sei. Mas não funciona assim. Em momentos como estes, a única coisa a fazer é apenas dizer não. Ele não gostou, mas deixou Jesse virá-lo e o levar para fora. Ela fechou a porta atrás dele enquanto o empurrava.


Jesse parecia frustrada e com raiva, e houve um flash de vermelho em seus olhos, como um relâmpago distante na borda de uma tempestade. Ela começou a perseguir o quarto com passadas longas e inquietas. Enquanto caminhava, ela recolheu seu cabelo vermelho longo e torceu-o em uma corda na parte de trás de sua cabeça, em seguida, rasgou um pedaço de sua blusa para amarrá-lo no lugar. A blusa dela não estava em melhores condições. Claire se perguntou quantas vezes ela tinha rasgado a blusa para amarrar o cabelo. — Eles drogam o nosso sangue — Jesse disse a ela. — Eu não estou certa do que eles estão usando, mas parece cortar a eficácia das nossas refeições para quase nada. Nós comemos, mas não nos alimentam, e a fome... a fome não vai parar. Eu não sei por que eles estão fazendo isso, e isso me preocupa. Por que eles querem os vampiros vorazes? Era uma pergunta muito boa e assustadora. — Eu não sei. — Porque você escolheu se lançar no meio de tudo isso? — Bem — Claire disse, e tentou sorrir, — era isso ou cadeia. — Eles estavam ativamente tentando comê-la na cadeia? — Myrnin tem um trabalho para mim, e eu acho que você poderia me manter em segurança — ela disse. — Você pode? Jesse soltou uma risada sem humor e completamente seca. — Depende das circunstâncias — ela disse. — Mas contra a maioria dos meus colegas vampiros eu tenho uma melhor chance, sim. Os únicos confiáveis para acabar comigo seriam Amelie e Oliver, e nenhum deles parece provável que venha contra mim. Amelie desapareceu, e Oliver... — Fallon está com ele — Claire adivinhou. — Lá embaixo. O que ele está fazendo com ele? — Nada que Oliver não possa suportar — Jesse disse. — Ele passou por pior, eu quase posso garantir isso. — E quanto a Eve? Fallon está com Eve. Ele trouxe ela... — Eu a vi através da porta — Jesse disse. — Lá fora, ainda presa no carro dele. Ela parece... debilitada? — Drogada — Claire respondeu, irritada em nome de Eve. — Ela está bem? — Até agora. — Jesse estava segurando as mãos atrás das costas, como se ela sentisse a necessidade de ser contida, e Claire se perguntou o quão faminta ela estava. Provavelmente com muita fome. Myrnin teria se alimentado fora, mas Jesse não tinha tido a chance, e isso significava que ela estava tão faminta quanto Michael — talvez até mais. Oliver não teria se alimentado, tampouco — mesmo se ele tivesse a chance, ele teria garantido que os outros se


alimentassem primeiro, porque ele era o governante, mesmo que temporário, e esse era um pequeno reino muito triste. — É uma sorte que você tenha tão pouco sangue em você, você sabe. Isso ajuda a torná-la menos... atrativa. Finalmente, uma coisa útil em ser menor. — Eu pensei que vocês precisassem de mim. Myrnin disse que precisava de mãos humanas para ajudálo a desativar os colares de choque. — Ele está sonhando — Jesse disse, e balançou a cabeça. — Eles estão equipados com sensores de monitores modernos que os tribunais forçam os criminosos a usar sob prisão domiciliar, mas significativamente modificado. Se você tentar abrir, ele vai atordoar um vampiro até a submissão e, provavelmente fritar um cérebro humano. — Myrnin disse que ele poderia lidar com os choques. Isso fez com que Jesse sorrisse, mas era um tipo de expressão triste. — Isso é porque ele é louco como um chapeleiro. — Eu nunca entendi isso. Chapeleiro, quero dizer. — Nos velhos tempos, as pessoas que faziam chapéus costumavam usar mercúrio para produzir — Jesse disse. — Eles muitas vezes ficavam loucos. E Myrnin é tão louco quanto se pensa que você pode nos ajudar a sair dessas coisas. Na melhor das hipóteses, ele eletrocuta você. Na pior das hipóteses, ele explode a cabeça dele e as suas mãos. — Ela se aproximou enquanto circulava pela sala, e uma expressão de nojo torceu seu rosto enquanto ela recuava. — Certo, precisamos lavá-la. Você cheira como um esgoto que vomitou de tão nojento. Essa foi uma imagem tremendamente pitoresca, e Claire estava feliz por seu nariz ter ficado muito insensível ao não notar nada. — Myrnin me disse para esperar aqui — ela disse. — Myrnin disse de fato, e você obedeceu — Myrnin disse a ela, assim quando ele entrou pela porta. Ele estava usando algum tipo de manto esfarrapado de seda floral segurado por um cinto de couro — com pregos — junto com um par de grandes botas de chuva. Mas ele parecia limpo. Apenas... ridículo. — Vá em frente, então, garota. Ela está certa sobre o mau cheiro. Jesse vai ficar de guarda para você. Você não vai se machucar. Xô. — Ele soltou um suspiro exasperado quando ela hesitou, em seguida, então pegou-a pelos ombros firmemente e conduziu-a até a porta, onde Jesse esperava com os braços cruzados. — Fora — ele disse. — Myrnin — Jesse disse, — isso não foi muito inteligente, não é? Agora você está com as suas mãos sujas de lodo de novo.


— Oh — Myrnin disse, olhando para as palmas das mãos cabisbaixo. — Maldição. Jesse sorriu, mas parecia mais selvagem do que amigável neste exato momento. — Vamos lá, Claire, antes que ele tente se limpar em mim e eu tenha que remover os membros dele. Fora da pequena sala — que deveria ser algum tipo de quarto para o pessoal da loja, Claire imaginou — havia mais camas. Algumas bagunçadas, algumas limpas, e algumas estavam ocupadas... mas os vampiros que estavam lá não se mexeram quando elas passaram. Jesse estava, Claire percebeu, mantendo um olho sobre eles de qualquer maneira. Talvez ela estivesse com medo que eles, como Michael, conseguissem sentir o cheiro do sangue fresco sob o lodo e o cheiro de decomposição. O que eu vou fazer quando eu estiver limpa? Ela se perguntou, e era uma pergunta válida, mas a verdade era que ela queria tanto ficar limpa que ela realmente não se importava com o que viria depois. Ela só tinha que confiar que Myrnin e Jesse poderiam de alguma forma protegê-la. E quanto a Oliver? O que Fallon estava fazendo com ele? O banheiro era apenas isso — um lugar com várias pias e boxes, sem chuveiros. Havia pilhas de toalhas velhas desbotadas no canto de todas as cores e tamanhos como se tivessem vindo de algum saco da Goodwill, e ela agarrou duas e começou a tirar as camadas grudentas de sua roupa. Jesse estendeu um saco plástico no comprimento do braço onde Claire colocou a camisa, calças, roupas íntimas e, em seguida, virou o rosto como se ela não pudesse nem mesmo olhar confusão, muito menos cheirar. — Bem — Jesse disse: — Eu sinto que eu mal conheço você, Claire, mas você gostaria que eu buscasse alguma roupa para você enquanto você se lava? — Obrigada — Claire disse. Ela sentiu um frio gelado agora, e incrivelmente vulnerável. Ela observou Jesse amarrar o saco de plástico e colocar em uma caixa onde — evidentemente — era onde as roupas velhas eram mantidas. Claire pegou a toalha e molhou na água — fria, é claro — em seguida, passou-a sobre o velho sabão na bandeja até que estava cheia de espuma. Limpar o lodo não foi tão ruim, mas lavar seu cabelo foi horrível; isso significava dobra-se nua sobre a pia e esfregar o sabão através dele, o tempo todo com medo de que um vampiro, qualquer vampiro, pudesse estar escondido silenciosamente por trás dela para dar uma mordida. Isso não aconteceu, no entanto. Claire terminou torcendo os cabelos, atirando-os de volta para trás com um tapa molhado contra o pescoço e pegando uma toalha para secar-se.


Jesse estava sentada em uma cadeira dobrável, bloqueando a porta no caso de alguém tentar intrometer. — As roupas estão na segunda pia — Jesse disse. — Desculpe, as escolhas não eram boas. — Elas não eram realmente. As calcinhas eram grandes demais, o sutiã esfarrapado e esticado, e a blusa parecia algo que uma avó poderia ter achado muito feio. Pelo menos as calças cabiam, mesmo se fossem bem maiores; Claire dobrou as bainhas, enfiou os pés em keds velhos e desgastados que já tinham sido azuis e que não tinham qualquer tipo de cadarço, e disse: — Eu acho que estou pronta. Jesse pôs de lado o livro que estava lendo e olhou por cima do ombro. Suas sobrancelhas subiram apenas o suficiente para Claire perceber que ela estava lutando para não rir. — Boa aparência para você, garota. Um tipo de coisa moderna de sem-teto. — Você é realmente algum tipo de dama? — Claire perguntou a ela. — Porque sem ofensa, mas você não soa como uma. — Eu já fui uma vez. Eu já fui uma rainha também — Jesse disse. — Não leve isso muito a sério; isso não durou muito tempo. Mas eu passei a minha vida inteira falando como todo mundo pensava que eu deveria, vestindo-me com os padrões de todo mundo, nunca tendo um pensamento meu. Foi cansativo ser a boneca de todo mundo, e quando eu tive a chance de ser eu mesma, eu nunca olhei para trás. Myrnin gosta de pensar que eu costumava ser uma dama, mas não se deixe enganar. Eu não sou uma delas. Não mais. E, na verdade, eu acho que é isso que ele mais gosta em mim, a mudança. Provavelmente, Claire pensou. Ele tinha sido apaixonado por uma vampira chamada Ada — de acordo com todo mundo ele a tinha conhecido em sua vida — que tinha vivido para desafiar as expectativas daqueles ao seu redor, mesmo parecendo delicada e apropriada. E eu poderia caber nessa definição também, ela pensou. De tempos em tempos, Myrnin tinha olhado para ela com algo que poderia realmente ser desejo... mas ele tinha sido muito claro desde o início que seu fascínio era por sua mente, não seu corpo. E Myrnin amava uma garota por seu cérebro literalmente e até demais. Olha o que tinha acontecido com Ada: ele tinha salvado ela colocando seu cérebro em um frasco, conectando-a a um computador que funcionava com sangue e fingindo que era algum tipo de vida de verdade. Ela não podia imaginar Jesse deixando ele fazer qualquer coisa assim. E talvez isso fosse exatamente o que ele precisava: alguém para estabelecer limites para ele. Limites que Claire, como um ser humano, não poderia definir e manter. — Jesse... Michael parecia mal. Ele vai ficar bem?


Jesse inclinou a cabeça, e a trança pesada do seu cabelo vermelho deslizou sobre um ombro. — Eu acho que sim. Nós somos os últimos, então temos sorte; a maioria dos pobres coitados daqui estiveram nas mãos dos Daylighters por mais de duas semanas, o que significa que eles estão com fome suficiente para beber suco de barata e fingir que é B positivo. Michael apenas não está acostumado a estar desprovido. — Por que a Fundação Daylight está fazendo uma coisa dessas? Fazer os vampiros ficarem mais com fome? Não coloca as pessoas deles em perigo? — Claro que sim — Jesse respondeu. — E a maneira mais eficaz para demonizar o seu inimigo é torná-los monstros. A maioria das guerras apenas é feita através da propaganda, mas os Daylighters parecem sentir que é mais eficaz se eles realmente nos reduzirem a presas e raiva. Não é preciso muito para convencer o cidadão normal de Morganville que somos parasitas que precisam ser mortos. Certamente temos agido dessa forma com frequência suficiente. — Ela parecia triste e um pouco irritada quando ela disse isso. — É por isso que eu deixei este lugar. Porque Amelie era demais no passado, muito presa em tradição, e convencida da superioridade do vampiro. Eu avisei a ela que as coisas precisavam mudar, mas isso nunca foi confortável entre nós; ambas fomos governantes uma vez, e confie em mim, duas rainhas não podem nunca serem realmente amigas. Isso pode soar duro, mas em alguns aspectos, ela está colhendo o que ela semeou. Jesse tinha deixado Morganville muito antes de Claire chegar, e Claire podia muito bem imaginar Jesse não sendo tímida sobre suas opiniões. Amelie poderia ser mente aberta, mas ela não gostava de desafios diretos... e provavelmente não especialmente de uma vampira que já tinha sido rainha uma vez, mesmo por um breve tempo. — Então eles planejam deixar os vampiros fazerem um tumulto? Em seguida, pegá-los e provar de uma vez por todas que os vampiros são uma ameaça que tem que ser eliminada? Porque não apenas fazer isso sem todo o derramamento de sangue? Não tem ninguém objetando, isso eu posso garantir. — Porque Fallon não gosta de ser o vilão — Jesse disse. — Ele nunca foi, pelo que eu sei, e eu acho que ele tem a necessidade de justificação. A seus olhos, ele está do lado certo, e há alguns por aí que iriam contestar isso, mas para ser um herói, ele precisa de bandidos. — O peso do olhar de Jesse pareceu estranhamente intenso agora, e Claire se perguntou o que ela estava pensando... e se ela estava sendo julgada simplesmente pelo seu respirar e batimento cardíaco. — Eu tenho uma pergunta, Claire.


— Qual? — O que te faz ser tão bem disposta a ajudar os vampiros? eu vivi aqui; eu sei como um bando de hienas podemos ser com poucas advertências. Tem poucos de nós que mereciam a sua pena, sem mencionar a sua lealdade. — Você não gosta muito do seu próprio povo, não é? — Não muito — Jesse concordou com um encolher de ombros de improviso. — Somos um bando triste, em geral apegado ao passado e a nossa própria sobrevivência, não importa o custo da vida dos outros. Se eu estivesse no seu lugar, eu não tenho certeza se eu ficaria no caminho do nosso mais ou menos inevitável destino feio. A minha pergunta permanece: por quê? Claire abriu a boca para dizer-lhe o motivo e então... ela não podia, pelo menos não no início. Todos os argumentos lógicos faziam ela parecer falsa. Ela respirou e escolheu as suas palavras com mais cuidado. — Porque não importa o que qualquer um de vocês fizeram, vocês não fizeram tudo isso. Porque não é certo julgar uma classe de pessoas pelas ações de um ou alguns. Isso não é justiça. É preconceito, e eu não gosto disso. Justiça significa julgar cada pessoa individualmente. Os lábios de Jesse lentamente se curvaram em um sorriso, e seus olhos se aqueceram também. — Ótimos princípios — ela disse. — Eu não tenho certeza se você vai encontrar muitas pessoas que vivam no seu padrão. Claire deu de ombros. — Não importa. É a minha opinião; eu não estou tentando fazer qualquer outra pessoa concordar. Mas eu não quero que eles forcem as suas opiniões sobre mim. — E assim a guerra começa — Senhorita Grey disse, quem já foi uma rainha. Parecia que ela sabia exatamente o que ela estava falando. A certeza em sua voz e a tristeza fez Claire tremer.


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Capítulo 8

recisamos fazer alguma coisa — Claire disse, andando pelo chão. Eles estavam de volta ao quarto onde Myrnin tinha esperado — ela ainda não sabia se era o quarto dele, ou de outra pessoa, ou até mesmo se os vampiros ao menos se importavam onde dormiam. Se eles dormiam. — Se Fallon está com Oliver, nós deveríamos estar fazendo alguma coisa! — Fallon está muito ocupado tentando descobrir o que Oliver sabe sobre a fuga de Amelie — Myrnin disse. Ele estava sentado na cama lendo uma revista velha enrugada com água que aparentemente exibia o casamento da Princesa Diana na capa. Provavelmente os únicos materiais de leitura sobrando no shopping Bitter Creek, Claire imaginou. — E o que Oliver sabia era absolutamente nada. Ele nem sabia que ela tinha escapado. Então não há nada que Fallon tiraria dele. — Ele pode matá-lo! — Ela está certa — Jesse disse de onde ela estava encostada na parede, de braços cruzados. — Ele pode. — Ele não vai. Ele precisa de Oliver, especialmente se Amelie está longe de ser encontrada. Oliver é a única autoridade que lhe resta que todos respeitam. Ele tem medo o suficiente de nós agora; se não há ninguém para todos nós seguirmos, então é muito mais difícil nos manter na linha. — Myrnin deu de ombros. — E enquanto nós pudermos ouvi-lo gritar, então ele está bem. Claire estremeceu, e olhou dele para Jesse, que assentiu sobriamente. — Bom que você não pode ouvi-lo — ela disse. — Ajude ele! Myrnin se moveu com aquela velocidade estranha e com graça de vampiro, e antes que ela pudesse terminar de dizer as duas palavras, ele estava ajoelhado ao lado dela com o queixo levantado. — Então me ajude — ele disse, e apontou para o colar. — Me ajude a tira isso! — Não — Jesse disse, saindo da parede para ficar ao lado de Claire. — Myrnin, você vai fazê-la ser morta e você junto com ela. Você viu o quão mortal essas coisas podem ser se você mexer com elas.


— Espere — Claire disse. Seus pensamentos estavam correndo, e ela não conseguia entender o que ela estava tentando pensar até que uma imagem se acalmou em sua mente, vívida, sangrenta e nítida. Amelie. Amelie não estava usando uma coleira. — Eu estou esperando — Myrnin disse, aparentando impaciência. — Como Amelie tirou a dela? — Ela não tirou — ele disse. — Eu estaquei ela para que ela não sentisse as queimaduras enquanto eles ativavam o colar de choque automaticamente quando fomos para além da fronteira. Eu só acordei ela quando estávamos além do alcance efetivo e, em seguida, um libertei ela. Mas não tinha nenhuma maneira de tirá-la sem ativar o explosivo. — Ela tirou — Claire disse. — Ela não estava usando quando eu vi ela na Glass House. — A Glass... — Myrnin parecia totalmente atônito. — Ela deveria ir direto para a fronteira, deixar esta cidade. Porque ela estava na Glass House? — Eu acho que a questão mais urgente é a forma como ela conseguiu tirar a coleira sozinha? — Jesse perguntou. Myrnin acenou com a cabeça. — Claire, dê uma olhada na minha. Veja se há algo que não vimos. — Tudo bem — Claire disse. Ele se apoiou em um joelho, ergueu o queixo e inclinou a cabeça, e Claire se inclinou para analisar a trava. Não havia muito para analisar, na verdade. Havia sinais característicos, quase imperceptíveis, e havia um buraco de fechadura. A cobertura da coleira era de plástico preto duro. — Eu... não vi nada que poderia ajudar. Espere um pouco... você se importa se eu...? — Nem um pouco — ele disse, e seus olhos reviraram. — Isso deveria ser óbvio para você depois de todo esse tempo, Claire. Ela hesitantemente estendeu a mão e apalpou o colar, procurando por quaisquer interruptores, botão ou outras características estranhas ocultas que poderiam ter lhe dado uma pista. Parecia liso e regular até que ela encontrou uma mancha ligeiramente mais áspera em direção a parte de trás do círculo. Ela pressionou com mais força, e sentiu ele ceder. Uma divisão na coleira de plástico se abriu, expondo fiação e uma placa de circuito verde. Claire prendeu a respiração e com cuidado, virou cuidadosamente a coleira em volta para expor o resto. Ela viu uma luz vermelha piscando e uma série de coisas de borracha cinza que corriam pelo meio. Ela olhou fixamente para elas, e ela percebeu que as coisas cinzas eram provavelmente o explosivo que os Daylighters


tinham construído para os colares. A coisa projetada para remover a cabeça de um vampiro. Estar tão perto do composto era ruim, e o cheiro de ozônio e o fedor levemente oleoso a fez se sentir ainda pior, mas ela empurrou isso de lado. Concentre-se! O circuito parecia bastante simples, pelo menos, mas quando ela estendeu a mão em sua direção, ela viu a luz vermelha piscar mais rápido. Algum tipo de alerta de proximidade, talvez um detector de movimento... Ela se forçou a congelar, mas não tirou a mão de volta, em seguida deu profundas respirações enquanto observava a luz. Isso reduziu a sua velocidade. Detector de movimento. Se movia rápido demais seria ativado. Ela não sabia como isso iria causar um choque — como Myrnin tinha dito, provavelmente fritaria seu cérebro — ou apenas explodiria, levando a mão dela com ele. De qualquer maneira, não um resultado que ela queria. Isso pareceu durar uma eternidade, mas ela se moveu muito lentamente, a ponta do dedo empurrando para a frente a metade de um centímetro de cada vez, à espera da luz se abrandar, até que, a ponta do seu dedo roçou a parte inferior da placa de circuito. Ela traçou a linha do fio do detector de movimento para o processador, e passou mais alguns segundos olhando para o resto da configuração para ter certeza de que ela não tinha perdido nada. Parecia que havia apenas uma conexão indo para o explosivo. — Eu vou tentar uma coisa — ela disse a Myrnin. — Pode dar errado. — Mais errado do que já deu? — ele perguntou. — Faça o que você deve. Eu não sei se isso explode. Esse era um pensamento desagradável, mas ela respirou fundo, prendeu a respiração e avançou lentamente o dedo em direção ao fio. Então ela puxouo por baixo e deu-lhe um puxão rápido e afiado para cortar a conexão. A luz parou de piscar. Claire suspirou e se afastou. Apenas um segundo depois que ela o fez, a bomba ativou, uma faísca azul aguda sibilou e eletrocutou entre o contato debaixo da coleira e a pele de Myrnin, e ele caiu convulsionando. Cheirava a carne queimada e ela se inclinou em direção a ele, mas Jesse parou-a com as duas mãos sobre seus ombros. — Não — ela disse bruscamente. — Espere. Apenas espere. Demorou alguns segundos, mas a carga parou e os olhos de Myrnin relaxaram, ficaram em branco por um momento antes dele piscar, estender a mão e tatear o compartimento desligado. — Bem — ele disse, — eu acho que esse experimento é suficiente por hoje. A propósito, Oliver parou de gritar.


Jesse soltou Claire depois de um aperto reconfortante não forte o suficiente para machucar. — Fallon deve ter decidido que Oliver não sabia de nada — ela disse. — Isso pode ser uma boa notícia. — Raramente é — Myrnin disse. — Eu já lhe disse, é preciso destruir os guardas humanos. Rasgá-los em pedaços. Eu posso derrubar pelo menos alguns agora que eles já não podem me explodir como uma pinhata, e eu suponho que você... — Não — Jesse disse, e estendeu a mão para baixo para ele. Ele a pegou e se levantou. — Eles ainda podem acabar com você. Além disso, você não quer morrer em um roupão de banho, não é? Tão indigno. — Dignidade nunca foi minha característica marcante, você não acha? — ele perguntou enquanto lançava seu cabelo frisado ainda úmido para fora do seu rosto. — Eu estou falando sobre libertar o resto de nós. Eu posso agir. Você pode agir, até certo ponto. Precisamos fazer alguma coisa. Claire provou que com tempo suficiente nós podemos ser capazes de desativar essas coleiras... — Eu não provei isso — ela protestou. — Eu só provei que eu poderia puxar um fio, e até mesmo isso deu um choque em você. E se eu mover muito rápido e ativar o explosivo? — Você precisa de outro banho — ele disse. — E eu temo que esse roupão nunca mais vai ser o mesmo. — Myrnin... Ele ergueu a mão e virou-se para a porta. Assim como Jesse. Claire ouviu uma batida tranquila alguns segundos mais tarde, e ele abriu para mostrar o rosto pálido e silencioso de uma mulher vampira, que assentiu com a cabeça e se afastou. — Nós estamos sendo convocados — Myrnin disse. — Claire, eu deveria colocar você de volta naquela tubulação. Você acha que você pode conseguir voltar... — Eu não vou — ela disse. — Você não pode ficar. — Eu não vou até eu descobrir o que ele está fazendo com Eve! — Claire, você não pode... Ela prendeu os olhos com os dele e disse novamente, calmamente e ferozmente. — Eu. Não. Vou. Eve está em perigo. Se Fallon está disposto a ferir Oliver assim, o que você acha que ele vai fazer com Michael? Com ela? Eles iam argumentar com ela — ela percebeu — mas, em seguida, veio uma quietude estranha sobre eles, e Jesse a interrompeu para dizer: — Não há tempo. Temos de levá-la com a gente.


Q q q Eles levaram ela para o andar de baixo, andando entre eles para a vasta escadaria curvada do saguão. No piso térreo, zunindo no centro aberto de telha, estava uma parede sólida de vampiros de pé de ombro a ombro. Eles cercaram o espaço aberto onde ela primeiro tinha entrado com seus amigos. De longe, parecia algum tipo de reunião de vampiros na prefeitura. Oliver estava deitado machucado no azulejo a alguns centímetros de Fallon. Ele parecia morto até que ele se moveu um pouco, tentando se levantar. Ele não conseguiu. A mão de Myrnin puxou ela para uma parada e a manteve ali, escondida pela multidão. — Silêncio — ele avisou a ela, e se inclinou para olhar em seus olhos diretamente. — Por sua vida, silêncio. Uma vampira pequena olhou para eles e seu olhar faminto fixou no pescoço de Claire, mas, em seguida, se moveu para o lado quando Jesse se aproximou para protegê-la. Ela ficou em ambos os lados de Myrnin e Jesse, totalmente cercada por corpos que não respiravam. E ela sentiu que cada um deles queria dar uma mordida nela... mas nem um único deles se atreveu a tentar. A porta externa se abriu e dois policiais trouxeram Eve meio arrastada. Ela tinha se recuperado um pouco, porque ela estava lutando — não efetivamente, mas precisou de alguma força para dominá-la o suficiente para movê-la para o centro do saguão de azulejos ao lado da fonte seca onde Fallon estava. Eles não estavam sozinhos — aparentemente até mesmo Fallon não confiava em sua prisão. Uma dúzia completa de Daylighters armados estava espalhada em torno deles, parecendo tão tensos e vigilantes como agentes do Serviço Secreto em uma galeria de tiro. Eve parou de se debater e parou para olhar em volta. Ela sabia que tipo de perigo ela estava, mas continuou analisando também as fileiras dos vampiros, procurando por Michael. Que não parecia estar presente. — Oliver me assegurou que não teve nada a ver com o desaparecimento de Amelie, mas alguém aqui sabe. Alguém aqui ajudou. — A voz de Fallon, calma e confiante, ressoou pelos azulejos e os espaços distantes. — E eu posso assegurar a vocês que nos próximos dias cada um de vocês vai ser questionado longamente sobre o seu envolvimento, então esperem ansiosamente a vez de vocês, a menos que vocês queiram confessar agora. Alguém?


Um silêncio da morte — trocadilho intencional. Claire olhou em volta, mas ninguém se moveu. Nem mesmo uma contração muscular. — Então deixe-me assegurar que a oferta que eu fiz ontem à noite se mantém até hoje. O que vocês fizeram no seu passado, quaisquer que sejam as atrocidades, a partir deste momento, eu posso compensá-los. Eu posso purificar vocês. Vocês podem ser perdoados e esquecidos por seus crimes. Vocês todos me conhecem; vocês sabem o que eu era. Eu consegui um novo começo na minha vida, cada um de vocês pode, tudo o que vocês precisam fazer é dar um passo. Apenas um único passo. Oliver ainda estava deitado no chão, fraco demais para se levantar, mas quando ele falou, soou como se ele de alguma forma tivesse se elevado a metros de Fallon e seu povo. — Você não vai conseguir nenhum voluntário aqui — ele disse. — Dê o fora, e leve a menina para longe. Ela é carne para os cães se ela ficar aqui, e você sabe disso. Você não esqueceu como é morrer de fome, Fallon, e você não é tão santo quanto você finge ser. — Nem você, por mais que você finja ser um líder. — Eu não sou líder — Oliver disse com um latido curto e amargo como uma risada. — E você não é o tipo de homem santo. — Eu nunca disse isso. — Você pretende oferecer a salvação. — A sua salvação é sua própria responsabilidade. O que eu ofereço é uma chance de redenção, puro e simplesmente, e você nunca vai conseguir tal oferta novamente. Você sabe que é verdade. — Fallon parecia estar quase suplicante. — Eu sei que você acha que a sua causa é verdadeira, Oliver. Alguma vez você não achou? Mas você deve se lembrar que até mesmo a fé que nós partilhamos acredita que os vampiros estão condenados. Expulsos do céu, condenados a andar na terra e drenando a existência da esperança deles e recompensas eternas por causa do próprio pecado do orgulho. Você não é imortal. Você está perdido. E eu estou mostrando-lhe o caminho para casa. — Ele estava falando sério; Claire podia ver isso. Havia até mesmo lágrimas brilhando em seus olhos. Ele realmente acreditava que era o salvador deles. — Você está me mostrando a sepultura — Oliver disse. — Um regresso a casa fria, de fato. A resposta é não. Você não vai ter nenhum voluntário aqui. — Nem mesmo Michael Glass? Nem mesmo quando isso iria reunir ele com a sua linda garota, que tem sido tão corajosa ao suplicar pela libertação dele?


— Esposa — Eve disse. Sua voz soava rouca e estranha de alguma forma — atordoada, drogada, e profundamente amedrontada. Mas ela ainda estava de pé. Ainda lutando. — Eu sou a mulher dele. — Você é a isca dele — Oliver disse, e rolou dolorosamente até se levantar. Os guardas ficaram tensos, e Fallon pairou o seu polegar sobre o controle da caixa de choque que ele segurava. — Michael não vai cair nessa, Fallon, então leve-a para fora daqui antes que algo de ruim aconteça. — Com ela? — Com você — Oliver disse, e havia um ronronar profundo e obscuro em sua voz que fez uma estranha mistura de medo e antecipação rastejar na pele de Claire. — Sem mais jogos, você é um homem patético. Você não foi salvo, você foi escavado, esvaziado, transformado em uma sombra do que você era. Você está andando morto, e você sabe disso. Vá bambolear em direção ao túmulo sozinho. Você não irá encontrar seguidores entre o povo de Amelie. O pessoal de Amelie, pelo que Claire conhecia, nunca tinha sido unânime sobre qualquer coisa, mas nisso, pelo menos, eles mantiveram as suas diferenças para si mesmos. Esse era apenas um grupo imóvel e silencioso de estátuas estranhamente posicionadas com todos os olhos direcionados a Fallon, Eve e os guardas. Fallon parecia derrotado, Claire pensou... mas, em seguida, ele disse: — Michael, eu sei que você está aqui. Oliver de alguma forma restringiu você, mas eu sei que você está me ouvindo. Observando. Eu sei que você pode ver Eve, ouvir o batimento cardíaco dela, sentir a angústia dela. Ela te ama, e até mesmo eu posso sentir isso. Não finja indiferença. Mais silêncio. Fallon não pareceu surpreso; ele só fez uma pausa para dar efeito, Claire pensou, antes de soltar a sua bomba. — Ela diz que ela é sua esposa, mas ela não é, você sabe. Não pode haver união entre os vivos e os mortos, nem aos olhos de Deus, nem aos olhos do estado. A prefeita de Morganville aprovou uma nova lei hoje, uma que invalida qualquer casamento entre vampiros e humanos. O casamento de vocês está oficialmente cancelado. — O quê? — Eve se virou para ele, com a boca aberta, e no segundo seguinte, cor de fúria apareceu sobre suas bochechas e ela deu um tapa nele. Com força. Toda a tontura dela tinha desaparecido. — Seu filho da puta! Você mentiu para mim! — Sim — ele disse. A marca da mão dela na pele dele estava vermelha, mas ele não tinha se mexido. — Foi necessário. Agora, comece a escolher. Michael já fez a escolha; ele poderia ter se voluntariado para tomar a cura, e se juntar a você novamente como seu marido, mas ele rejeitou, e ele rejeitou você junto


com isso. Vou oferecer agora o oposto: rejeitá-lo. Tire esse anel e jogue fora. Diga a ele que você é humana e vai ficar orgulhosamente humana, e em troca você vai encontrar um lar aqui em Morganville, com a gente. — Vá para o inferno — Eve disse. Claire não esperava ouvir qualquer outra coisa, mas o tom solitário sob a raiva a surpreendeu. Mas é claro que Eve se sentia sozinha; ela deveria. Os seres humanos de Morganville tinham virado completamente contra ela depois que ela se casou com Michael, e nenhum dos moradores da Glass House tinha sido aceito, não realmente aceito, porque eles não se encaixavam para começar. O terreno ficava mudando ao redor deles, ao redor da pequena ilha de desajustados, e Claire não conseguiu evitar de se sentir terrível mais uma vez, pelo que ela estava fazendo para ajudar os vampiros... podia ser errado. Mas o que era certo? Fallon? Os Daylighters? Ela não podia acreditar nisso. Ela não acreditava. Fallon estava balançando a sua cabeça. — Se recuse a aceitar os fatos, se apegue a essa fantasia de amar uma criatura que não pode amá-la em retorno... bem, então você vai acabar em uma prisão e nós vamos ter que tratar essa doença mental até que você esteja curada disso. — Ouça a si mesmo. Você vai me colocar em um manicômio? — Eve disse. — Por amar alguém? — Você não ama Michael. Michael morreu. Você ama uma coisa que uma vez ele foi, e amar um cadáver sempre foi uma coisa asquerosa para qualquer pessoa com um pingo de decência. Então, sim. Chame de manicômio, se desejar, mas é o que acontecerá com você se você não renunciar a ele. Eu não sou cruel; eu estou te dando uma chance de evitar esse destino. Tire o anel e jogue-o fora. Mostre a eles que você vai ficar comigo. Com a humanidade. Torne-se uma Daylighter, Eve. Eve deu um passo para a frente, bem em sua frente, e olhou diretamente nos olhos dele e disse: — Vai se ferrar, Fallon. Se você quer o meu anel de casamento, eu vou bater ele no seu rosto fundo o suficiente para deixar uma tatuagem permanente. Fallon não vacilou. Ele só... sorriu. — Leve-a — ele disse, e um dos Daylighters agarrou Eve pelo ombro. Ela se virou para ele, se movendo com agilidade e graça, e bateu a sandália de sua mão direita bem no nariz dele, o ombro dela atingiu o peito dele e ela tirou o equilíbrio de seus pés e o derrubou no azulejo sujo. Ela ainda parecia atordoada e vulnerável, e ela poderia ter estremecido um pouco em seus pés, mas o coração de Claire inchou para duas vezes o seu tamanho padrão nesse


momento porque ela estava tão orgulhosa de Eve que ela queria soltar um grito de guerra. — Quem é o próximo? — Eve gritou por ela, e apontou para outro dos guardas Daylighters. — Você. Vamos, luz do sol, vamos fazer isso! Ao aceno de Fallon, aquele guarda deu um passo à frente — mas ele não foi pego de surpresa, e ele estava no mesmo nível de Eve, que conseguiu dar um par de socos, mas acabou perdendo o equilíbrio, que era tudo o que o homem precisava para passar os seus pés debaixo dela e enviá-la para o chão de barriga para baixo. No próximo segundo ele estava com o seu joelho nas costas dela e estava torcendo suas mãos atrás dela. Eve estava gritando, mas não de dor. Isso era pura raiva fervendo para fora dela, e agora Claire tentou se mover para a frente para ajudar — mas Myrnin colocou uma mão pesada e forte em seu ombro para mantê-la no lugar, e ela não conseguiu ficar livre. — Tire o anel dela — Fallon disse para o guarda, e o homem acenou com a cabeça, agarrou a mão esquerda de Eve e deslizou o anel de seu casamento para fora e o segurou para Fallon inspecionar. — Agora jogue fora. — Não! — Eve gritou, mas já era tarde demais. O homem jogou-o através do ar, e por um segundo ele capturou a luz difusa de cima e um brilho vermelho rubi brilhou no centro, e depois foi se dirigindo para as sombras. Uma mão pálida o pegou. Michael Glass saiu da multidão e foi para o espaço aberto. — Não, seu tolo. — Foi apenas um suave sussurro raivoso de Oliver, mas Claire sentiu os dedos de Myrnin se apertarem em sua pele, e ela sabia que as coisas tinham mudado de uma maneira que ela não podia realmente definir. Michael ficou lá, olhando para Fallon com o anel na mão, e disse: — Solte ela. Não é ela que você quer. Sou eu. — Criança de Amelie — Fallon concordou. — Sim. É de você que eu preciso, Michael, porque você é um símbolo. Você é a fraqueza de Amelie. E eu sei que você precisa desta menina tanto quanto ela precisa de você. Eu posso devolver ela para você — e você para ela, em formas que nenhum de vocês jamais imaginou ser possível. Tudo o que você precisa fazer é concordar em tomar a cura. A cura. É claro. A salvação de Fallon não era uma alegoria religiosa; ele tinha vindo oferecer à humanidade aos vampiros. Uma mudança de volta para uma respiração regular, a vida mortal. E isso não era uma coisa boa? Não deveria ser? Ele precisava de um voluntário, e aqui estava Michael, de pé na frente dele com o anel de casamento de Eve na mão, olhando para a sua esposa com


tanto amor e desespero que Claire se sentia um pouco fraca com isso. Havia uma espécie de sussurro inquieto que se movia através dos vampiros... algo além da audição dela, até mesmo além de sua visão, mas uma sensação como nada que ela já tinha sentido antes. — Não — Oliver sussurrou novamente. Havia raiva nessa palavra, e havia medo também. Se havia algum momento em que os eventos estavam mudando, que algo monumental estava acontecendo, era esse. Ela podia sentir, assim como eles. Pelo olhar no rosto de Fallon, ele sabia disso também. Ele estava esperando por seu triunfo. — Eu nunca quis ser um vampiro — Michael disse. — Você sabe disso, Eve. Eu nunca pedi por isso. O guarda tinha deixado ela se levantar de joelhos agora, mas ele segurava um pulso dela atrás das costas com força o suficiente para ser doloroso. Ela não fez um som. Seu olhar estava trancado pelo de Michael, à espera, sem fôlego. — Eu te amo — ele disse. — Eu sempre amei, mesmo quando eu era um idiota estúpido demais para admitir isso. No momento em que eu podia, já era tarde demais, e eu era... outra coisa. Eu nunca tive a chance de estar com você quando eu era humano. E eu sinto muito por isso. Você merece o melhor. — Não se desculpe — Eve disse. A voz dela estava tremendo, mas ela conseguiu sorrir. — Não é como se eu fosse normal para começar. Eu também te amo, Mike. Sempre e para sempre, não importa o que você seja. Michael acenou para ela, só um pouco, e seu sorriso era dolorosamente lindo. Algo pessoal e privado, apenas entre os dois. Então ele se virou para olhar diretamente para Fallon. Sem medo. Ele abriu a mão e deixou o anel de Eve cair de seus dedos. Ele caiu através do ar, balançando e girando, e bateu no azulejo com um som como corações partidos. Ele rolou até parar aos pés de Fallon. — Faça o que você quiser — Michael disse. — Mas com ou sem o anel, com ou sem a lei, Eve é minha esposa, e não há nada que você ou qualquer outra pessoa possa fazer sobre isso. Eu não me voluntario. Se você quiser me dar a sua cura, você vai ter que me forçar, assim como o vampiro que rasgou a minha garganta para fora em primeiro lugar. — Isso é um erro grave — Fallon disse. — Isso irá diminuir as suas chances de sobrevivência, se você lutar contra o tratamento. Aceite de bom grado. Por favor.


— Você ouviu a minha esposa. Vai se foder. O rosto de Fallon... mudou. Ele passou de uma máscara de simpatia calma para algo tão distorcido com raiva que era quase demoníaco, e Claire sentiu horror invadir ela — não por si mesma, mas por seus amigos, tão sozinhos, vulneráveis e corajosos. Fallon virou-se para o guarda segurando Eve. — Leve essa desviada para o hospital. Diga a Dra. Anderson que eu quero que ela receba uma terapia de aversão até que ela deteste a própria visão de vampiros. Não seja gentil sobre isso. Michael pulou, mas Fallon foi mais rápido — ele estava com o controle remoto das coleiras, e ele deve ter aumentado para um nível de dor de quebrar os ossos porque Michael foi derrubado para fora do ar desajeitadamente com as costas arqueadas como se ele estivesse convulsionado contra a corrente. E não apenas ele. Todos eles. Os vampiros caíram como sacos de cimento, e Claire percebeu em um único instante de clareza que, se ela não fosse com eles, ela estaria tão óbvia quanto um inseto em um bolo de casamento — a única de pé no meio dos prisioneiros. Felizmente, Myrnin ajudou com isso, mesmo se não fosse intencional; a mão dele esmagou a dela, empurrando-a para o chão, e ela se deixou cair. O peso dele caiu em cima dela, escondendo ela quase completamente de vista. Ela conseguiu se contorcer um pouco e conseguiu um pouco de ar, e uma linha de visão em direção a Fallon. Ele diminuiu a intensidade das coleiras, mas Claire ainda podia sentir a corrente correndo através do corpo de Myrnin — o suficiente para fazer todo o corpo dele se contorcer incontrolavelmente com a dor. Ela tinha sorte de não estar transmitindo através dela, exceto por um leve formigamento. Fallon, obviamente, queria que a sua audiência visse, mas ele também queria eles tranquilos. Submissos. Eve foi puxada de pé e empurrada pela porta gritando o nome de Michael. Fallon colocou uma ponta do sapato sob o corpo de Michael e o virou de costas, em seguida, se inclinou para olhar para ele. Aquele sorriso horrível ainda estava firmemente no lugar. — Eu avisei. Você vai ser curado, quer você queira ou não. Eu vou te mudar ou eu vou te matar. Quanto ao futuro infelizmente doloroso da garota, você causou isso, Michael. Eu quero que você se lembre disso quando a cura estiver cursando através de suas veias e tudo o que você é estiver sendo arrancado para nunca mais voltar. Eu quero que você se lembre de quem refez a sua imagem neste momento. Não Amelie. Eu.


Não havia nada que Claire pudesse fazer. Nada além de observar, escondida pelo corpo de Myrnin enquanto Michael era arrastado. Mas ela só tinha um pensamento, um pensamento ardente e totalmente claro: Nós vamos acabar com você. Não apenas porque o que ele estava fazendo era errado, mas porque ele acabou de tornar isso pessoal. Ela talvez esteja errada em ajudar os vampiros ao invés dos seres humanos; ela podia estar errada em pensar que Fallon não tinha o direito de empurrar a cura dele nas gargantas deles. Mas isso não importava agora. Era por causa dos amigos dela. Fallon estava conversando com o policial que estava ao lado dele. Com um choque, Claire reconheceu a postura ereta, o cabelo loiro. A policial Halling. — Valerie, pegue vinte deles para a cura, por favor, e certifique-se de que entre eles esteja Michael. Envie eles diretamente para o hospital e diga a Dra. Anderson para iniciar o tratamento imediatamente. — Sim, senhor. — Só mais uma coisa — Fallon disse. — Nós vamos ter que nos mover no nosso calendário já que Amelie escapou. Eu não posso correr o risco de que ela seja capaz de formar algum tipo de resistência. Encontre os filhos da puta mais famintos e mais sem moral deste edifício, escolha dez, e deixe eles soltos hoje à noite. Até mesmo Halling parecia perturbada com essa ordem. — Deixá-los... soltos? Você quer dizer livres? Nós não deveríamos dar choques neles, ou... — Eu quero que você desative as coleiras antes de soltá-los para saírem para caçar. — Senhor, eu não quero ser desrespeitosa, mas por quê... — Morganville se esqueceu do medo do escuro — ele disse. — Eles só precisam de um lembrete do porquê os vampiros precisam ser curados, ou derrotados. Muitos na cidade começaram a me questionar, reclamando sobre a prisão dos vampiros. Precisamos demonstrar que só há uma maneira correta de lidar com essas criaturas infelizes: a nossa maneira. Halling não parecia feliz, mas ela balançou a cabeça e deu um passo para trás. Ela garantiu que Michael estivesse preso e em segurança enquanto o arrastaram para fora, e então ela começou a contar, apontando para corpos até que ela tinha chegado a vinte. — Certo, levem esses para o hospital — ela disse. — Esses bastardos podem ter a sorte de conseguir a cura. Eles podem se mover para suas próprias casas em Morganville amanhã, sãos e salvos. Mas Claire sabia — talvez eles todos soubessem — que as chances disso eram bastante reduzidas. Quatro para um.


Os vinte escolhidos — inclusive Michael — foram arrastados enquanto se debatiam no cômodo. Claire prendeu a respiração e ficou muito quieta quando um deles andou perto dela; o peso de Myrnin parecia como tijolos em cima dela, e a dor em seu braço estava ficando mais e mais nítida a cada segundo. Ela fechou os olhos, concentrando-se em não reagir ou se movimentar, e o guarda cutucou Myrnin com o pé. Seu corpo rolou molemente para o chão de ladrilhos. — O que diabos há com este? — o guarda perguntou. — Ele está usando algum tipo de roupão de banho de mulheres. Fallon olhou para cima e, em seguida, focou em Myrnin. Ele deu vários passos em direção a eles. — Eu estava me perguntando onde a antiga aranha estava escondida. Cuidado, ele é perigoso, mesmo quando ele está são, e pela aparência dele, esse não é o melhor período de saúde mental dele. — O policial recuou, e Fallon se aproximou e se inclinou para baixo. Ele alisou seu cabelo escuro para longe do rosto de Myrnin. — Você pode me ouvir, Aranha? — Sim — Myrnin sussurrou. — Eu estou ouvido. — Eu não estou fazendo isso por causa de você — Fallon disse. — Apesar do que você fez comigo, me matando, me arrastando pelo inferno para me tornar um demônio que bebe sangue. Eu não estou fazendo isso para machucar você, Myrnin. Eu estou fazendo isso para ajudar. — Talvez ele acreditasse, mas Claire podia ver seu rosto através do espaço, e o que ela viu nele era crueldade. Ele estava com raiva. E era pessoal. — Estou te guardando por último, querido pai de sangue. Eu vou fazer de você o último vampiro vivo em todo o mundo, antes de eu desfazer. — Eu te salvei — Myrnin disse. — Você sabe disso. Você estava morrendo. — Eu estava nos braços de Deus, e você me arrancou do céu. Alguma vez você acha que eu irei esquecer? Ou perdoar? — Fallon empurrou Myrnin, e ao lado dele, Jesse tentou se mexer. Ele agarrou a trança vermelha e forçou a cabeça dela para cima em um ângulo doloroso. — Quem é essa? Uma amiga sua? — Solte ela — Myrnin disse, e bateu desajeitadamente na direção de Fallon. Ele caiu brevemente. — Por favor... — Essa aqui — Fallon disse, e arrastou Jesse para fora do azulejo. — Leve-a para a cura. — Não! — Foi apenas um sussurro de Myrnin, mas estava cheio de angústia e horror, e Claire tentou pensar no que poderia fazer para pará-lo. Talvez ela sobreviva, Claire pensou. Talvez Jesse pudesse... — O quê? Ser salva?


Jesse gostava de quem ela era. Ela era uma boa pessoa. Ela usava a sua força para ajudar os outros. Ela não precisava ser salva. Eu tenho que fazer alguma coisa. Ela não teve a chance, porque Oliver se levantou e disse fracamente: — Leve-me. Fallon se virou lentamente para olhar para ele. — Como é? — Eu. Me voluntario. Para tomar. A sua cura. — Oliver disse com precisão, falando claramente e friamente. — Você precisa de um voluntário. Um símbolo. Quem melhor do que eu? — Não é típico de você, Oliver, todo esse auto sacrifício — Fallon disse, mas ele deu de ombros. — Você seria útil, se você sobreviver. Você provavelmente não vai, você sabe. — Então você conseguiu o que queria, e eu não vou ter que olhar para você de novo. Nós dois ganhamos. Fallon gesticulou, e os policiais o algemaram e o levaram. Claire encontrou-se perguntando como eles desativariam os colares. Eles iriam já que eles não removeram antes de levá-los... mas ela também sabia que esse problema era apenas uma maneira de seu cérebro de elevar um escudo emocional para manter o pânico longe. Eles estavam levando Michael, Eve e Oliver, e ela não podia fazer nada para detê-los. A enormidade disso caiu sobre ela então, pânico pressionandoa. Seus pulmões estavam queimando, e ela se arriscou a dar uma única e rápida respiração trêmula. Fallon viu o movimento. Seus olhos se arregalaram, e ele apontou para um dos seus guardas Daylighters de jaqueta preta, que cruzou o saguão, se curvou e agarrou-a pelo braço. Claire estava pronta. Ela se levantou, lançando-se para ele com toda a fúria que vinha crescendo dentro dela desde que ela viu como Fallon tratou Eve e Michael, e o topo do crânio dela colidiu com tanta força com o nariz dele que ela viu estrelas. Ele a soltou e cambaleou para trás, e ela se moveu para a frente, de repente e friamente calma, deslizando para o espaço vazio que Shane tinha ensinado ela a ocupar quando sua vida estava em perigo. Ela se abaixou, se esquivando de um punho selvagem do homem enquanto ele segurava o nariz sangrando com a outra mão e ela girou como uma dançarina para chegar dentro de sua defesa e bater com o cotovelo direito onde ela já tinha


machucado. Ele gritou — um grito agudo que soou tanto como surpresa quanto dor — e caiu com força sob suas costas. Ele se contorcia para chegar ao que parecia ser algum tipo de laser de choque, mas Claire pegou primeiro, o abriu e encontrou o interruptor para ligá-lo. Ela deu choque nele, e deixou-o sangrando e tremendo no chão quando ela foi atrás de Fallon. Ele estava segurando uma arma. Claire derrapou até parar, com os olhos arregalados, e tirou seu dedo para fora do gatilho do laser. O som crepitante e reconfortante ameaçador parou. — Largue isso — Fallon disse. Ele parecia calmo e gentilmente divertido. — Vocês crianças da Glass House são cruéis quando provocados, não é? E para quê, defender os vampiros? Menina, você realmente não tem a menor ideia do que você está protegendo, não é? O que eles são? O que eles fazem? — Eu sei o que você é — ela disse. — Eu vi o que você faz. Isso é o suficiente. — Quando você luta contra seus inimigos, você deve se transformar neles ou pior. É assim que as guerras são vencidas, garota, embora eu não esperaria que você entendesse isso na sua idade. — Ele parecia tão cuidadoso e correto antes, mas agora ela podia ver toda a arrogância que estava por baixo de tudo isso — fanatismo nauseante. — Você não pode lutar contra o mal com paz e amor. — Eu pensei que você fosse um homem religioso — ela provocou. — Eu tenho certeza de que é exatamente o que Jesus disse para fazer. — Jesus foi crucificado, e eu não pretendo sofrer o mesmo. — Ele fez um gesto com a arma. — Eu não vou avisá-la novamente. Largue esse brinquedo. — Ou o quê? Você vai atirar em mim? Eu pensei que você fosse todo a favor de proteger os seres humanos. — Você é humano apenas quando você tecnicamente colabora com o inimigo. Ela se encontrou sorrindo. Não fazia ideia do porquê, na verdade; não era um momento para sorrir, mas, novamente, não era a felicidade que conduzia a expressão em seu rosto. Provavelmente não era uma aparência muito boa para ela. — E assim a guerra começa — ela disse baixinho. Ela entendeu o que Jesse queria dizer com isso. — Você está disposto a matar pessoas inocentes para salvá-los. Parece mesmo com fanatismo, não é? — Quieta — ele disse. Ele soava gratificantemente irritado. — De joelhos. Vamos. Mãos atrás da cabeça. Ela fez isso porque ela não sabia como causar a própria morte tornaria as coisas melhores, mas ela continuou sorrindo porque parecia perturbá-lo.


Ela continuou sorrindo até mesmo quando eles agarraram seus pulsos e algemaram ela — pela segunda vez em um dia — e puxaram ela para cima. — Você vai perder — ela disse. — Leve-a daqui — ele disse, e desta vez ele forçou um sorriso também. Não parecia convincente. — Para a sua própria proteção, é claro. — Levar ela para onde? — Ela mal conseguia entender a voz do guarda; soou irritado, abafado e sangrento, e o nariz dele estava provavelmente bem machucado. Ela quase sentiu uma pontada de culpa por isso. Quase. — O mesmo lugar que vocês levaram a amiga dela — Fallon disse. — Diga a Dra. Anderson que ela precisa de reeducação também. E Claire? Eu vou derrubar a sua Casa Fundadora até o chão. Você não terá nenhum lugar para voltar. Chame isso de um novo começo. Ele ia fazer isso de qualquer jeito, Claire disse a si mesma, apenas para se impedir de se lançar para ele. Não importa. Nós vamos encontrar uma maneira de pará-lo. Temos de encontrar um jeito. — É apenas uma casa — ela disse, e continuou sorrindo. — E nós nunca vamos deixar você ganhar. Mas ela sabia que a primeira metade era mentira. A Glass House nunca foi apenas uma casa. Não para eles.


O

Capítulo 9

guarda trouxe um amigo para dirigir, já que seus olhos estavam fechados e seu rosto era uma bagunça inchada e sangrenta. O nariz dele, Claire pensou, parecia algo que um artista de maquiagens de monstro poderia ter desprezado como “muito estranho”. Era incrível o quanto de dano ela tinha feito a ele, e ela se sentia cada vez mais culpada por isso. Essa era a diferença entre ela e Shane no final, ela pensou; ela não conseguia sentir qualquer orgulho com sua violência. Mas ainda era bom saber que ela conseguia se defender quando era necessário. Os guardas não disseram nada a ela no caminho. Ela pensou que eles estavam com raiva demais para tentar ser civilizados, e sinceramente, ela não queria falar com eles de qualquer maneira. Ela estava ocupada procurando o espaço empoeirado entre o assento e o encosto, tentando ver se alguém tinha deixado cair algo útil. Ela encontrou um tubo enrolado que parecia um cigarro, mas era provavelmente algo mais ilegal, e ela o deixou lá. Quando ela estava prestes a achar isso uma causa perdida, seus dedos roçaram algo metálico. Ela agarrou ele, e percebeu que era um clipe de papel, um dos grandes e resistentes. Ela tirou ele lentamente de dentro do tecido, em seguida, tentou pensar em como escondê-lo. Ela se recostou para deslizá-lo em uma abertura desgastada no jeans que ela estava usando, e encaixando-o às tiras brancas finas para que ele pendesse por dentro. Podia cair, mas era tudo o que ela poderia fazer em caso de revistarem ela. Não foi uma longa viagem no carro de polícia — Hannah estava, evidentemente, permitindo o uso de equipamento oficial para os guardas de segurança privada, o que parecia ser uma má ideia para Claire — antes deles pararem na frente dos portões de ferro de um lugar velho e sinistro que parecia como se tivesse sido construído para ser uma espécie de fortaleza. Janelas estreitas e fortes, e portas góticas sombrias. A placa acima da porta dizia INSTALAÇÕES DE SAÚDE MENTAL DE MORGANVILLE. Isso não parecia promissor. Os guardas se viraram para olhar para ela quando pararam o carro dentro dos portões ao lado da porta da frente. — Não nos cause mais problemas —


aquele cujo nariz não tinha sido quebrado disse. — Eu não gosto de dar porrada em meninas magras, mas se você fizer um truque daquele de novo, eu prometo a você, eu não hesitarei em colocá-la no chão. O outro murmurou algo que soou como aprovação, mas entre seu nariz congestionado e seu mau humor, Claire não poderia ter certeza de nada. Ela ficou ereta calmamente quando o homem ileso abriu a porta e, em seguida, ajudou-a a sair, já que seus pulsos presos atrás de suas costas tornava tudo dez vezes mais difícil (que era provavelmente a razão). A massa cinzenta de pedra do edifício — o manicômio — se elevava sobre ela como se estivesse planejando cair e enterrá-la, e ela sentiu um pequeno tremor de medo ao olhar para o futuro dela. Não, nós vamos sair daqui, ela pensou. Eu e Eve, nós vamos sair deste lugar e salvar a Glass House, Michael, Oliver e Myrnin e tornar tudo certo de novo. Mas Fallon tinha conseguido plantar uma profunda semente de germinação de dúvida. Porque o que “tornar certo” realmente significava, afinal? No estado que se encontrava? Vampiros continuando a oprimir e causar prejuízo nos seres humanos para sua própria riqueza e benefício? Humanos odiando vampiros e tentando matá-los? A constante tensão e derramamento de sangue em ambos os lados? Ela estava no lado certo — ou ao menos havia um lado certo? Tinha de haver, para o equilíbrio. Você tem que estar do lado dos que estão sendo caçados e presos, não é? Ainda assim. A sensação atormentada com a moralidade incerta que ela estava presenciando estava realmente começando a assustá-la. Ou a assustou até que as portas góticas velhas se abriram, e a Dra. Irene Anderson saiu para cumprimentá-los. Ela parecia a mesma que ela foi em Cambridge, quando Claire gostava dela como uma mentora; ela parecia calma, competente e peculiar, não como uma agente do mal e do caos. O casaco branco que ela usava dava a ela um ar ainda mais de legitimidade. Mas o olhar que ela deu a Claire era satisfeito e assustador. — Estou tão feliz em vê-la novamente, Claire — ela disse. — Por favor, entrem. Eu tenho certeza de que você vai se sentir tão feliz quanto eu quando nós começarmos a trabalhar juntas novamente para o bem comum. — Se isso significa não, então sim — Claire disse. Ela estava com uma relutância real para subir os dois degraus até a porta onde Anderson esperava, mas ela não parecia ter muita escolha. Os dois aspirantes a policiais iriam empurrá-la se ela não fosse por conta própria, e Anderson teria muito prazer com isso. Vê-la com medo. Claire manteve contato com os olhos e caminhou até se juntar a Dra. Anderson, que colocou uma mão amiga no ombro dela. — Tão bom vê-la


novamente — ela disse, e isso era uma mentira, e o olhar em seus olhos eram ilegíveis. — Não tenha medo. Nós vamos ajudá-la a passar por estes sentimentos de lealdade em relação aos vampiros. Não é culpa sua. É mais uma reação de refém com síndrome de Estocolmo, procurando agradar aqueles com poder sobre você para que você possa sobreviver. Não é nada que você tenha que se envergonhar, apenas algo a ser corrigido. — Obrigada. Você pode tirar isso, por favor? — Claire sacudiu suas algemas. O sorriso de Anderson se aprofundou e se tornou um pouco maldoso. — Talvez mais tarde — ela disse. — Parece que você adquiriu alguns hábitos muito ruins, Claire. Eu quero ter certeza de que eu posso confiar em você primeiro. — Pode confiar em mim — Claire disse. — Para fazer o quê? Para fingir? Sim, eu tenho certeza de que eu posso confiar em você para ser difícil de lidar... como a sua amiga Eve. Claire não podia deixar de perguntar. — Ela está bem? — Está — Anderson disse. — Você vai vê-la em breve. As portas se fecharam e trancaram atrás delas quando elas passaram para as sombras, e Claire lutou contra uma sensação de que ela tinha acabado de cometer um erro realmente horrível. Q q q O manicômio (ok, não era chamado assim, mas Claire não podia deixar de pensar dessa forma) era surpreendentemente tranquilo e quando seus olhos tinham se ajustado com os níveis mais baixos de luz, era também surpreendentemente exuberante. O tapete era novo, elástico e acolchoado sob seus pés, e ela sentiu o cheiro forte de tinta nova nas paredes. Aqui, como no resto de Morganville, tinha havido uma grande reforma. Mas as portas — portas pesadas de metal com janelas inseridas — estavam bloqueadas. — Animador — Claire disse. — Onde está Eve? — Começando a série de tratamentos — Anderson disse. — Não se preocupe, você vai vê-la, mas não imediatamente. Isso é mais como uma terapia imersiva. — Achei que você fosse precisar da minha ajuda para fazer mais cópias de VLAD. — Esse era o nome que ela tinha dado — talvez seja um pouco esquisito — para o dispositivo que ela tinha criado no laboratório de Myrnin que


funcionava como uma espécie de super-laser de vampiros, só que atacava mentalmente, não fisicamente. Era eficaz. Eficaz até demais, de fato. — Você sabotou a última coisa que eu lhe entreguei, e foi responsável por todas as mortes que aconteceram depois, por causa de suas ações — sua antiga mentora disse. Ela não conseguia manter o ressentimento de sua voz afastado. — Eu não acho que eu possa contar com você para racionalizar, Claire. Isso é péssimo. Você é uma jovem muito brilhante, e você poderia ter feito grandes coisas. — Ainda posso — Claire disse. — Mas provavelmente não com você, porque você é louca. — Você deve saber tudo sobre isso, dada a sua... intimidade com Myrnin. — Havia algo na voz de Anderson que fez Claire dar-lhe um olhar assustado, em seguida, um zangado. — Ele sabe, seu namorado? Sobre o seu caso com o vampiro? — Eu não estou tendo qualquer tipo de caso! — O que as pessoas chamam na sua idade então, hum? Uma ligação? — Eca — Claire disse. — Apenas cale a boca. Você está envergonhando a si mesma. Eu acho que você que quis uma ligação com Myrnin anos atrás e nunca conseguiu. — Ela disse isso com sinceridade, e até mesmo se sentiu um pouco animada de prazer quando a Dra. Anderson se encolheu. Ela tinha aprendido a lutar sujo com Shane, mas ela tinha aprendido como acertar o ponto fraco de alguém com Monica Morrell. Engraçado, você poderia aprender algo com até mesmo os seus piores inimigos. — Além disso, eu pensei que você estivesse toda pegajosa com o Dr. Davis em Cambridge. Eu disse a você que ele levou a minha companheira de casa para a cama também? Ou talvez você esteja apenas a fim de Fallon nesses dias. Não importa. Eles são ambos escolhas idiotas, e eles dizem muito sobre como você é como pessoa. Difícil de dizer pelo rubor furioso de Anderson qual foi o alvo, mas realmente não importava; Claire tinha atingido ela perfeitamente. Anderson abriu uma porta de metal com um rangido, empurrou Claire para fora do equilíbrio em direção a ela, e antes que Claire pudesse saltar o suficiente para se equilibrar, ela ouviu o som oco do seu único escape sendo fechado... e então a chave girando. O quarto não era grande coisa — simples e modesto como qualquer cela com uma pequena cama de solteiro, um travesseiro, um cobertor e um pequeno baú de madeira de gavetas que Claire imaginou que teria pijamas padrões e roupas íntimas para os pacientes. Um espelho estava aparafusado


na parede sobre a pia — não exatamente de vidro, é claro. Plástico. Pelo menos a combinação banheiro/chuveiro era em um pequeno recanto separado. Cheirava a desinfetante e desespero. A janela deslizou para o lado, e Anderson olhou para ela por um longo momento. — Não fique confortável — ela disse. — Seus tratamentos vão começar em breve. — E quanto a desbloquear estas algemas? — Não. — A janela se fechou com um último clique, e Claire ouviu ela travar no lugar também. Houve um som estranho bem no fundo de sua audição. No início, ela pensou que poderia ser uma sirene... E então ela sabia que não era. Era um grito. Tratamentos. Claire sentiu os joelhos fraquejarem. Ela afundou-se na cama, estremecendo com o barulho estridente das molas, e respirou fundo. Eu tenho que sair daqui. Ela sentiu a parte de trás da calça onde ela tinha escondido o clipe de papel. Ele ainda estava lá, enroscado em fios finos desfiados. Levou tempo e paciência e dores nos dedos para tirar o clipe de papel; depois que ela finalmente conseguiu, ela fez uma pausa, massageando suas mãos doloridas e ainda presas e tentando trazer alguma sensibilidade de volta para elas. Os guardas que tinham colocado nela, não de forma inesperada, colocaram as algemas com muita força, e ela estava com um dor latejante em torno de seus pulsos. As mãos dela pareciam inchadas e formigando, e por falta de coisa melhor para fazer no momento, ela se estendeu de bruços na cama e levantou as mãos em um ângulo doloroso para reduzir o fluxo de sangue. O formigamento desapareceu em um par de minutos, e seus dedos pareciam melhores. Ainda pesados, mas melhores. Ela sentou-se novamente, respirou fundo e começou a trabalhar com o clipe de papel. Demorou muito tempo para encontrar a fechadura das algemas. Myrnin treinava ela, às vezes, com os pontos mais delicados da arte; parecia ser uma habilidade necessária para se ter em Morganville, e acabou que ele estava quase certo. Ainda assim, ela estava enferrujada, e levou muito tempo para dobrar o clipe duro e grosso no formato correto e manobrá-lo na posição. Então ela teve que lutar contra seus próprios músculos queimando e doendo enquanto ela delicadamente deslizava o pequeno gancho dentro do bloqueio, mas finalmente ela sentiu o deslizar livre da primeira algema. A


segunda levou apenas cerca de um terço do tempo, agora que ela tinha o ângulo certo sobre o problema. Libertada, ela levou alguns segundos para respirar e silenciosamente comemorar. Em seguida, ela verificou as gavetas do seu quartinho. Como esperado, calcinhas de algodão feias estavam lá, em uma variedade de tamanhos, e alguns sutiãs esportivos igualmente feios (embora ela trocou rapidamente pelo que ela tinha recebido no Shopping de Vampiros, já que até mesmo essas coisas eram mais atuais). Então ela puxou a gaveta e deslizou suavemente, para dentro e para fora. Boa notícia. Claire acolchoou a área de baixo da gaveta com o travesseiro da cama, esvaziando o que havia dentro, e puxou com força o mecanismo. Ele prendeu com firmeza, recusando-se a deslizar para fora. Ela puxou para cima, para baixo e para os lados, até que uma das pequenas rodas dentro escorregou livre e, em seguida, uma do lado esquerdo ficou livre. De lá, foi fácil o suficiente para arrancar o da direita, mas a gaveta estava pesada e desajeitada, e ela estava feliz que ela tivesse colocado o travesseiro no lugar para pegá-la quando caísse ou o barulho ecoaria pelo corredor — silencioso agora que o grito desvaneceu. Uma vez que a gaveta estava fora, ela viu os trilhos metálicos aparafusados dos lados. Perfeito. Claire trabalhava em seu clipe de papel até que ele foi torcido em uma improvisada chave de fenda para as cabeças dos parafusos. Para fazer isso foi necessário de potência muscular, suor, paciência e esticar os músculos, mas ela conseguiu soltar dois dos três parafusos de um lado, e o terceiro não importava; até que ela rodou o metal e o soltou. Ela começou algemada, armada com um clipe de papel. Agora tinha um pedaço de metal de nove centímetros com pontas afiadas, algemas e um clipe de papel. Suas chances estavam melhorando cada vez mais. Não haveria tempo para moldar o metal corretamente, mas ela descobriu que as bordas de madeira pesadas da gaveta poderiam pressionar o metal e dobrá-lo em uma ponta afiada. Um par extra de calcinhas bem enroladas em torno do outro lado forneceram um aperto decente. Uma faca instantânea. Ela trabalhou no outro trilho, o deixou livre e dobrou em forma de U. Cuidadosamente embrulhado com o sutiã esportivo ela tinha um estilingue aceitável. Os parafusos que ela afrouxou forneciam munição. Assim como as peças que ela conseguiu tirar da cama.


Ela colocou a gaveta de volta, encheu-a com a roupa, e colocou o travesseiro de volta na cama. De longe, tudo parecia perfeitamente normal. Claire fez uma bainha de papelão para a faca (eles tinham deixado alguns lápis de cor para desenhar em uma gaveta) e fixou-a com um laço de elástico rasgado do cós de sua calça jeans. Então ela colocou a bainha no lado de sua perna, dentro das calças de brim, e deslizou a faca para dentro. Ela aparecia, mas não tanto como apareceria se o jeans fosse mais apertado. Bom o suficiente. A munição para o estilingue improvisado estava em seus bolsos. Num impulso, ela rasgou os papelões e acrescentou eles também. E os botões de sua calça jeans. Ela estava ponderando o que fazer com as algemas quando a porta se sacudiu, e depois de pensar um segundo, ela enfiou o estilingue na parte baixa de suas costas, e colocou as algemas em seus pulsos para trás, mas quase não travou... se soltaria facilmente e ela poderia ficar com suas mãos livres com uma sacudida rápida. Ela estava em pé no meio do quarto, parecendo cabisbaixa quando a Dra. Anderson abriu a porta novamente. —Você pode por favor tirar essas coisas agora? — ela perguntou, e tentou parecer castigada. — Elas machucam. — Depois — Anderson disse, que foi exatamente o que Claire esperava que ela dissesse. Ela fez um gesto para Claire sair, e ela o fez. O estilingue de metal atolado em suas costas pareceu grosso e estranho, e ela sabia que seria visível por trás, cutucando para fora contra sua camisa fina, mas Anderson não ia atrás dela; ela pegou seu cotovelo e caminhou ao lado dela pelo corredor rapidamente em direção ao final. Ninguém passou por elas, e quando Claire arriscou um olhar para trás, ela não viu ninguém as seguindo, tampouco. — Não tem uma equipe — ela disse. — Nós estamos começando a contratar — Anderson disse. — Você e sua amiga são as nossas primeiras pacientes. Eu tenho certeza de que você está honrada. Não era exatamente assim que Claire descreveria, mas ela não teve a chance de disparar uma tréplica sarcástica porque elas viraram a esquina para a esquerda e chegaram em outra porta de metal. Esta tinha um cartaz que dizia: QUARTO DE TRATAMENTO. PROIBIDA ENTRADA SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO. Anderson puxou um conjunto grosso de chaves de seu cinto para abri-la. O grito tinha começado novamente — abafado, mas claramente vindo do outro lado da porta.


Ele se abriu, e Claire viu Eve. Sua amiga estava amarrada em uma cadeira, completamente presa, e ela estava sendo mordida por um vampiro. Não era Michael. Era algum vagabundo imundo de olhos arregalados com presas, com a boca em sua garganta. Um pequeno fio de sangue escorria em sua pele pálida mostrando que ele tinha atingido a veia. — Não! — Claire gritou e pulou para a frente — em uma janela de vidro que estava entre elas. — Pare com isso! Deixe-a em paz! — Ela é quem escolheu isso — Anderson disse. — Ela que escolheu degradar-se assim, oferecendo-se para os vampiros. — Não, ela não fez isso! Ela e Michael... — Michael é um vampiro. — Pare com isso! — Eu quero que você duas vejam exatamente como eles são, esses vampiros. Eles são predadores. Parasitas. Eles não se preocupam com vocês, exceto como comida, e eles nunca se preocuparam. Olhe para ele, Claire. Olhe. Anderson forçou-a a ficar parada por longos segundos torturantes e, em seguida, estendeu a mão para pressionar um botão na parede ao lado dela. — Isso é o suficiente — ela disse para alguém do outro lado do alto-falante. — Está na hora da próxima fase. Eve estava quase inconsciente agora; ela parou de gritar, e sua pele tinha um tom azulado terrível. Duas pessoas de jaleco branco vieram para a sala por outra porta atrás de Eve; uma estava com um laser de choque, e a outra estava com um colar com revestimento de prata na extremidade de uma vara comprida. O choque do laser contra o vampiro se alimentando levou-o para longe de Eve, e quando ele mostrou as presas ensanguentadas e rosnou, o segundo funcionário deslizou o colar de metal sobre sua cabeça e puxou-o firmemente para o lado. O vampiro se engasgou e tentou ficar livre, mas o funcionário empurrou-o para fora da porta e para uma gaiola do outro lado. Claire não prestou qualquer atenção no vampiro depois disso; ela estava muito preocupada com Eve, que estava respirando muito rápido, muito superficialmente, e se agitando fracamente em sua cadeira. Sua garganta ainda estava sangrando. Outra funcionária de jaleco branco veio para a sala e com rapidez e eficiência enfaixou a mordida. Em seguida, ela trouxe uma seringa e injetou no braço de Eve. Os olhos do Eve se abriram largamente, e ela parecia terrivelmente e repentinamente alerta, mesmo que ela ainda parecesse fraca. A atendente


rolou uma intravenosa portátil para a sala e pendurou algumas bolsas — vermelho escura. A mulher deveria ter muita experiência porque ela bateu na veia de Eve na curva do seu braço e habilmente na primeira tentativa ligou a intravenosa para drenar. — O que você está dando a ela? — Claire perguntou. Sua voz parecia áspera em sua garganta. Ela queria agir, mas ela sabia que não era o momento; não havia nenhuma maneira de chegar até Eve de onde ela estava, e ela precisava ajudar a amiga dela, e não apenas escapar. — O que é aquela coisa? — Sangue, obviamente — a Dra. Anderson disse. — Sua amiga perdeu um litro pelo menos, e está perigosamente baixo. Mais um pouco e ela poderia ter sofrido distúrbios cardíacos. — Então essa é a sua terapia de aversão? Você deixa um vampiro mordêla, então você salva ela? — Não — Anderson disse. — Isso é uma parte, é claro, a perda de controle e medo. Mas a parte mais importante é o que está no sangue que ela está recebendo. Ele contém um composto que eu desenvolvi que reage intensamente com a presença de um vampiro. Ela vai sentir uma dor horrível quando estiver em torno de um, e quando repetirmos esse processo mais algumas vezes, ela não vai nem mesmo precisar de uma transfusão para sentir isso. O cérebro humano é engraçado desse jeito; ele vai antecipar a dor, e salvar a si mesmo. Vai demorar algumas semanas, mas no final, ela vai ser incapaz de tolerar a simples visão de vampiros, qualquer vampiro. Até mesmo Michael Glass. Ela vai ser superada pelo medo condicionado e a repulsa. — Ela pode me ver? — Claire perguntou. Ela estava tentando não deixar a raiva dominá-la antes que ela tivesse certeza de que ela seria útil, mas era muito difícil observar Eve se arrepiar e se contorcer assim. — Não. É um vidro espelhado para que possamos observar o paciente — Anderson disse com um sorriso. — Não se preocupe. O tratamento dela vai acabar daqui a meia hora, e então vai ser a sua vez. Eu achei que poderia ser útil para você saber o que estaria por vir. Claire fez absolutamente tudo para não se livrar das algemas e então dar um soco bem no rosto de Anderson, mas ela agarrou-se a uma coisa: eu vou dar um soco nesse rosto. Mas não agora. Quando for a hora certa. Porque Anderson absolutamente merecia. — Você sabe que você é má, certo? — Claire perguntou. — Quero dizer, realmente, profundamente má. Você entende que o que você está fazendo é errado.


— Ser mal é ser a favor do Vampirismo como você — Anderson disse. — Como o assistente de Drácula no romance de Stoker. Uma apologista aos vampiros. Uma colaboradora. Uma traidora da humanidade. E eu acho que em pouco tempo nós vamos mostrar a você os erros dos seus caminhos, Claire, e então você pode nos ajudar a encontrar maneiras melhores e mais rápidas para se livrar dos monstros. Finalmente, você vai ser útil. Claire mordeu o interior de seu lábio até sangrar, e observou em silêncio enquanto as bolsas de sangue esvaziavam no braço de sua amiga. Eve parecia mais firme, e sua cor estava melhor quando a segunda bolsa tinha se esgotado, isso, pelo menos, era uma coisa boa. Quando o funcionário do quarto levou as bolsas vazias da base, Anderson guiou Claire de volta para fora da porta que elas tinham entrado e para outra no lado direito. Ela estava trancada, mas Anderson tinha uma argola grossa de chaves em seu cinto, e ela abriu-a e puxou Claire através dela com ela, então fechou firmemente a porta atrás delas. E elas estavam na sala onde Eve estava sendo mantida na “cadeira de tratamento”. — Claire? — A voz de Eve soava fraca, e ela tremia com lágrimas, e Claire não podia aguentar mais. Ela não podia suportar a esperar nem mais um segundo. Ela deu as mãos uma sacudida com força e deslizou para fora das algemas. Ela as pegou em sua mão direita, colocou-as sobre a parte traseira de sua mão, e deu um soco no rosto da Dra. Anderson. Shane tinha ensinado como fazer isso também, todo o poder veio direto do seu ombro, seu peso corporal inclinando-se por causa dele e o movimento pegou Anderson completamente de surpresa. Ela tropeçou, bateu na parede atrás dela e caiu no chão. Claire se inclinou e arrancou as chaves de seu cinto, então percebeu que havia dois funcionários no quarto, não apenas o que ela esperava. Sem tempo para se preocupar com isso. Quando os funcionários estavam começando a ter consciência da violência, ela deixou cair as algemas e tirou seu estilingue. Ela carregou-o com um punhado de parafusos e lápis de cor e os deixou voar quando os dois começaram a vir em direção a ela. Ela bateu os dois no rosto. Eles cambalearam para trás, assustados, e ela recarregou e atingi-os novamente, movendo-se o tempo todo. O funcionário do sexo masculino tinha um bastão de choque em seu cinto, e ela o pegou, ligou-o e bateu em seu peito para acionar a carga. Ele caiu. Segundos mais tarde, assim como a sua colega.


Eve balançou a cabeça, como se ela ainda estivesse tonta. — Claire? O que diabos você está fazendo aqui? Claire já estava desafivelando o resto das correias que prendiam a sua amiga. — Sendo uma ameaça à sociedade, eu acho. — Graças a Deus! — Eve se levantou da maca e envolveu Claire em um abraço que a deixou sem fôlego e a levantou do chão. — Desculpe você ter que me salvar, mas obrigada. Eles... eles foram... — Eu sei — Claire disse e abraçou-a de volta com força. — Eu vi. — Ela queria chorar, mas este não era o momento, e certamente não o lugar. — Temos que dar o fora daqui, agora. A Dra. Anderson estava no chão, mas ela não estava apagada — não ainda; ela estava tentando levantar-se, na verdade. Claire soltou Eve, agarrou o laser de onde ela tinha colocado na cama e estendeu-o, estalando na frente dos olhos da doutora que se arregalaram. — Não — ela advertiu. — Eu não quero machucar você mais do que eu já machuquei. — Então você é um tola — Anderson disse. Soou irregular e com dor, e ela cuspiu um pouco de sangue. Isso, Claire pensou com alguma surpresa, tinha sido um inferno de um soco. Shane teria ficado tão orgulhoso. — Porque depois disso, não haverá quaisquer pequenos ajustes delicados para a sua psique. Você não vai ser consertada, você vai ser sacrificada. Eu disse que isso seria necessário desde que eu cheguei aqui, mas Fallon não me escutou. Agora ele vai saber que eu estava certa. Claire se agachou, pegou as algemas do chão, e rapidamente prendeu sobre os pulsos de Anderson para fixá-los atrás dela. — Fique aí — ela disse. — Eve? — Nós vamos embora — Eve disse. Ela olhou para si mesma e estremeceu, e Claire percebeu pela primeira vez que ela estava usando um pijama de hospital rosa pálido. — Ok, então vamos embora assim que eu descobrir o que esses assassinos da moda fizeram com as minhas roupas, porque, sério, eu nunca seria pega usando isso. — Ela estava tentando ser a antiga Eve, mas Claire podia ver a fragilidade nela, o medo, o horror. — Eu não acho que temos tempo para fazer compras — Claire disse, porque o grande servente de jaleco branco estava lentamente controlando seus músculos e olhando para elas com um olhar assassino em seus olhos injetados de sangue. Ela correu para a frente e recolheu as chaves dele, e depois a da outra mulher. — Fugir agora. Moda mais tarde. — Há sempre tempo para a moda! — Eve protestou, mas quando Claire agarrou a mão dela e rebocou-a para a porta, ela seguiu. Claire fechou a porta


quando elas saíram e trancou-a com as chaves da Dra. Anderson. Não havia motivo de deixar seus inimigos irem atrás dela sem ao menos tentar atrasá-los, ela pensou. Elas correram pelo corredor em direção a frente, mas Claire viu pessoas vindo em direção a elas, três, pelo menos, todas vestindo jalecos brancos. — Não por esse lado — ela disse, e elas recuaram e viraram para o outro lado. Esse corredor terminou em uma outra porta trancada, mas Claire tinha as chaves da Dr. Anderson, e ela vasculhou pelas opções até encontrar a que se encaixava. Uma virada rápida e elas estavam dentro. Havia uma fechadura com chave do outro lado também, então Claire virou a chave e ouviu o clique. — Pronto — ela disse para Eve, mas Eve não estava escutando. Eve estava encarando o quarto que elas estavam, e após o primeiro piscar, Claire também estava. Porque era uma sala cheia de cadáveres. Cadáveres de vampiros. — O Sr. Ransom — Claire disse. Ela caminhou até a mesa que estava com seu corpo parcialmente coberto. Ele parecia exatamente o mesmo assim como na foto que ela tinha visto no escritório de Fallon, e ele também parecia... triste. Sozinho e perdido. Ela puxou o lençol sobre o rosto parado dele. — Aquela ali era a assistente de Amelie. E aquele costumava ser um dos guardas dela. — Ela cobriu cada um deles quando passou. Ela não conhecia alguns deles, e alguns ela não gostava, mas isso não importava agora. Eles eram vítimas agora. Não havia dúvida de que eles estavam mortos — ela não podia explicar como ela sabia, mas era a cor deles, o vazio. — O que diabos aconteceu com eles? — Eve perguntou. Ela já sabia a resposta, Claire pensou. Havia medo em sua voz, medo de verdade. — Fallon deu a eles a chamada cura dele — ela disse. — Esses são os que não sobreviveram. — Mas... mas ele vai dar a Michael! — Eu sei — Claire disse. Ela respirou fundo e afastou-se dos mortos. — E Oliver, e um grupo mais deles. Eu ouvi Fallon; ele colocou Anderson responsável pela cura, e se ela está aqui, significa que Michael e os outros estão aqui também. Talvez atrás das portas trancadas no corredor. Nós vamos encontrá-los, Eve. — Você tem um laser — Eve disse. — Eu me sinto mal vestida para o combate. — Ela olhou ao redor da sala, em seguida, puxou as gavetas. Havia facas nelas. Serras. Todos os tipos de coisas que fez Claire se sentir um pouco fraca ao vê-las.


Eve hesitou, em seguida, estendeu a mão e tirou uma faca grossa de aparência perigosa. Claire soltou o elástico que segurava as suas armas improvisadas e caseiras e trocou por um bisturi que se encaixou dentro da bainha de papelão. Então ela olhou para as prateleiras, e as fileiras de garrafas. — Espere — ela disse, e começou a puxar as coisas para baixo. — Nós não podemos esperar. Eles vão dar aquele veneno para Michael! — Eu sei. Apenas espere. Eve não queria, mas Claire estava com todas as chaves. — O que diabos você está procurando? — Tricloroetileno — ela disse. — Fluoreto de hidrogênio e bromo. Eu vou fazer gás anestésico. Halotano. — Isso é seguro? — Não — Claire disse. — Mas é mais seguro do que usar facas nas pessoas, e talvez seja necessário derrubar um grupo de pessoas de uma só vez. Eve manteve suas objeções silenciosas, pelo menos, embora Claire tinha certeza de que ela estava gritando elas por dentro. Claire não deixou isso afetar a sua concentração porque fazer isso errado seria uma ideia muito ruim. Halotano era volátil, e esse não era o melhor cenário para fazer um gás. Ela encontrou algumas máscaras de respiração e colocou uma, em seguida, deu uma para Eve, que se queixou só um pouco. — Eles vão chegar aqui em breve — Eve lembrou. — Um deles deve ter as chaves. — Eu sei — Claire disse. — Aqui. Prenda isso na fechadura. — Ela entregoulhe o clipe de papel dobrado em uma forma quase irreconhecível agora depois de todo o uso. Eve correu para obedecer, e Claire começou com cuidado medindo os copos de líquidos. Ela tinha o equipamento mínimo necessário para capturar o gás quando começasse a reagir: tubo e um recipiente. Ela trabalhou rápido, com toda a sua atenção sobre o problema em sua frente. Sua mente estava clara, pelo menos, e a imagem do composto químico parecia tão real que ela poderia estender a mão para tocá-lo. Ela preparou os bicos de gás. A última parte seria o problema, porque a reação de bromo precisava de temperatura muito alta, mas ela só tinha que fazer o melhor que podia. A síntese do fluoreto de hidrogênio e tricloroetileno foi fácil o suficiente; quando atingiu a temperatura de 130 graus, o gás progrediu para a segunda fase. Ela acrescentou o brometo e dobrou o calor para tão alto quanto ela poderia. A mistura evaporou no gás, precipitando no tubo e no recipiente, e Claire rapidamente prendeu a cortiça no tubo e deixou-o junto da garrafa.


— Eles estão lá fora? — ela perguntou a Eve, que virou para ela. Eve não precisou responder porque Claire podia ouvir o clique metálico na fechadura, seguido por um estrondo na porta de metal. — Abram! — alguém chamou. Ele parecia irritado. — Abram agora! Claire correu para a frente e se agachou para desarrolhar o tubo. Ela deslizou ele sob a borda inferior da porta. — Fale com eles! — ela disse para Eve. — Traga os para perto! Eve começou a falar algo que soava metade louco sobre os mortos voltando à vida e zumbis cambaleando para fora das mesas, e se Claire não soubesse que era mentira ela poderia ter acreditado também, especialmente quando Eve terminou com: — Oh Deus, nos ajude, ajude... — E parou com um murmúrio que soava especialmente horrível. Houve silêncio do outro lado da porta. — Você acha... — Eve sussurrou, mas ela não precisava terminar a frase porque Claire ouviu um corpo cair e bater na porta e deslizar para baixo. Em seguida, outro, e outro mais longe. Claire arrancou o tubo para longe e rolou a garrafa para o outro lado da sala, em seguida, tirou a máscara. Eve tirou a dela também. — Prenda a respiração — Claire advertiu. Ela arrancou o clipe de papel dobrado da fechadura e usou sua chave. Quando ela abriu a porta, um homem caiu para dentro com ela — um homem mais velho e corpulento, e sua boca estava aberta e os olhos virados em sua cabeça. Ela verificou a pulsação e encontrou uma lenta, mas constante. A pulsação dos outros dois que estavam com ele também estava lenta, embora um estava murmurando sonolento. Claire garrou a mão de Eve e puxou-a sobre os corpos para uma corrida, dirigindo-se para o corredor. — Eles vão ficar bem — Claire assegurou. — O ar fresco vai acordar eles em breve. — Como se eu me importasse — Eve disse. — Precisamos encontrar Michael! — Pegue esse lado do corredor. Abra as janelas e veja se você encontra alguém. Eve não perdeu tempo, mas elas não tiveram qualquer sucesso. Elas abriram cada janela no corredor, em ambos os lados, mas não havia vampiros nas celas. Ninguém mesmo, na verdade. Eve enviou para Claire um olhar desesperado e em pânico que não precisava de palavras para ser entendido, e elas correram pela área de recepção aberta para o outro lado do edifício.


Que não havia celas no salão, apenas uma única porta trancada. Claire se atrapalhou com as chaves. Suas mãos estavam tremendo da adrenalina, e um relógio estava correndo em sua cabeça. Os três que elas haviam deixado dormindo iriam acordar em breve; eles estariam grogues e instáveis, e provavelmente com dores de cabeça assassinas de ressaca, mas o tempo estava definitivamente se esgotando para elas encontrarem Michael e os outros. Foi, é claro, a penúltima chave que Claire tentou que virou a fechadura. Ela abriu a porta, atravessou, e teve que segurar a placa de metal pesado porque havia um pouco de pressão pneumática automática para selá-la fechada. Eve passou apenas metade. Grosso como era, o aço poderia ter quebrado seus ossos se tivesse batido nela. Eve entrou espremida, e Claire a soltou; a porta se fechou e sibilou quando o bloqueio automático foi acionado. Elas estavam em uma pequena antecâmara, e não havia outra porta. Outro bloqueio. — Depressa — Eve disse. Ela olhou para as paredes em branco e, em seguida, para um pequeno semicírculo acima delas. O rosto dela estava firme. — Eles poderiam estar nos observando. — Merda — Claire sussurrou. Ela procurou pelas chaves outra vez, quase frenética agora, e encontrou uma que se encaixava perfeitamente. Ela virou. A porta se abriu na frente dela, em uma sala que era o oposto daquela em que elas tinham encontrado os vampiros mortos e descartados — aqueles que tinham falhado na conversão de volta para humanos. Aquele tinha sido um necrotério montado às pressas. Este era um laboratório brilhante, limpo, bem equipado, completo com armários e balcões com fachada de vidro, locais de preparação de compostos, refrigeradores... e que detinha aproximadamente o mesmo número de mesas, e neles vampiros deitados. A diferença era que esses vampiros ainda estavam vivos, pelo menos por agora. O olhar de Claire correu para baixo da fila e se fixou nos cabelos loiros despenteados. — Ali! — ela gritou para Eve, e ambas correram para a frente... e então tiveram que parar porque dois guardas apareceram em seu caminho. Estes eram policiais usando o uniforme de Morganville com os broches reluzentes da Daylighter em seus colarinhos. Claire reconheceu um deles, a policial Halling, a mulher que tinha encontrado o cadáver na Glass House. A policial Halling abriu seu coldre e pôs a mão sobre a coronha da sua arma.


Eve não hesitou; ela pulou para a frente com o laser, mas infelizmente para ela, o parceiro de Halling foi rápido, e ele agarrou Eve pelo braço e puxou com força, obrigando o laser a cair da mão dela a rolar no chão. Halling desprezou Eve, e focou o seu olhar frio sobre Claire. Claire puxou o bisturi da bainha de papelão, mas ela não atacou. Em vez disso, ela correu na direção oposta, para a última cama na extremidade. Ela tinha visto um rosto familiar lá também. Oliver. Ele estava amarrado com algum tipo de correias revestidas de prata em seus braços e pernas, e havia uma agulha intravenosa em seu braço, enterrado em uma veia azul grossa. A pele dele parecia giz, mas sob isso seus braços pareciam magros e fortes, e seu peito com espessura muscular. Seus olhos estavam abertos. Ele levantou a cabeça para olhar para ela, e seus olhos eram de um feroz enervante tom de vermelho. Ele não disse nada. Claire arrancou a agulha intravenosa de seu braço, e passou o bisturi no cinto que prendia ele. Era duro e prendeu na borda rapidamente, mas ela conseguiu deixar uma mão livre. Oliver fez o resto. Ele rolou para o lado e arrancou o tecido de prata até que foi retalhado apesar de queimar e cortar seus dedos e, em seguida, sentouse para rasgar as coisas segurando seus tornozelos. Um tiro quebrou o vidro em um balcão atrás de Claire, e ela olhou para cima e viu Halling mirando novamente. Desta vez, ela não iria disparar um tiro de aviso. — Pare! — Halling gritou. — Largue a faca! Claire largou, e ela bateu no chão de ladrilhos com um retinido musical, mas Halling estava apontando para o alvo errado. Talvez ela pensasse que seria necessário mais tempo para Oliver se soltar, ou para se recuperar, mas ela estava errada. Mortalmente errada. Oliver saiu da mesa em um borrão e parou com o uma mão na arma dela e a outra na garganta dela. Claire fechou os olhos porque ela não queria ver, mas ela ouviu o estalo de ossos quebrando... Quando era confiável para ela olhar novamente, Halling caiu no chão. Não morta, surpreendentemente, mas seu braço estava em um ângulo totalmente errado, preso perto de seu peito. Ela parecia desorientada com o choque. Sem muita pausa, Oliver se virou para o outro policial, que Eve estava segurando. Ele se virou para o lado, um movimento elegante e estranhamente antiquado, trazendo a pistola de Halling ao seu lado e disse: — Eu não vou


oferecer uma segunda chance. Este é o seu primeiro e único aviso. Largue sua arma agora e deixe a menina ir. — Era quase como se ele estivesse... duelando. Ele até mesmo colocou seu braço esquerdo atrás das costas, dobrado no cotovelo. E então ele estava duelando porque o policial soltou Eve, ficou em linha reta e puxou sua própria arma. Foi uma coisa rápida, foi a coisa mais rápida que Claire já nunca tinha visto fora de um filme do velho oeste antigo... mas foi muito lento, mesmo assim. Oliver não se esforçou, mas antes que a arma do homem estivesse na metade do caminho, Oliver levantou sua própria, nivelou, mirou e disparou. O outro homem caiu. Oliver manteve a pose por um longo segundo, observando o homem para ter certeza de que ele não iria se levantar, e então a tensão foi liberada e ele tropeçou para os lados. Ele bateu na cama de outro vampiro e se segurou por apoio, mas não conseguiu manter-se na posição vertical. Ele escorregou de joelhos, se emaranhando nos lençóis, e Claire observou com horror que ele começando a ter convulsões. — Oliver! — Ela se agachou ao lado dele, não tendo certeza do que fazer, se ela podia fazer alguma coisa. — Oliver, você pode me ouvir? Oliver! Ela passou um longo tempo, mas ele finalmente ficou mole. — Eu te escutei — ele disse. Sua voz soava ferida e estranha, e soava... com medo. Ele abriu os olhos então, e eles não estavam mais vermelho-vampiro. Eles estavam castanhos e normais. Sua pele tinha assumido um brilho estranho, como se estivesse mudando de cor. — Você deve pará-los, Claire. Não deixe eles destruírem todos nós... — Ele parou e soltou um grito de dor, dor de verdade, e estendeu sua mão. Ela não pensou duas vezes, mesmo tendo em conta o que ela tinha acabado de ver ele fazer. Ela agarrou os dedos dele e os segurou, sentindo eles tremerem como se ele estivesse despedaçando. Sua mão se fechou sobre a dela com uma força esmagadora, mas era apenas força humana agora, não força de vampiro. Sua pele estava brilhando por baixo, como se algo estivesse queimando dentro dele. Ou, como se algo estivesse sendo queimado para fora dele. O que quer que estava acontecendo com ele, era doloroso. As respirações que ele estava puxando eram torturadas e estranguladas, e seu pulso... Pulso? Respirações? Os olhos de Claire se arregalaram. Oliver estava, diante de seus olhos, virando humano. E ela sabia, de alguma forma, que esta era a última coisa que ele gostaria.


— Não — ele disse, e isso irrompeu dele como um grunhido e um rosnado primal e furioso. Suas convulsões empurraram suas costas em um arco, e Claire engasgou e teve que puxar a mão livre quando seu aperto cresceu mais e mais em torno dela. — Não! Eu não vou! Era quase um canto, ou uma oração, mas ela imaginava que Deus não ouviria uma coisa tão selvagem ou raivosa. A raiva que ele alimentava parecia totalmente além da capacidade de qualquer corpo humano criar, muito menos conter. E, de repente, o brilho dentro dele morreu, deixando sua pele como giz, branco translúcido novamente, como se ele fosse feito de leite, um copo vazio. Ele deixou escapar um suspiro, e seus músculos ficaram moles. Seus olhos marrons e sofridos sendo fechados. Ela estava apavorada de ter que tocar nele, mas ela colocou os dedos em seu pulso. Silencioso. Sem pulsação. Sem subir e descer do seu peito. Mas ele não parecia tão morto quanto os cadáveres no necrotério do outro lado do edifício. Ainda não, de qualquer maneira. Ele parecia — em coma. Suspenso entre a vida e a morte, vampiro e humano. Ela supôs que ele teria que ir em uma direção ou outra. Claire arrastou-o para uma posição mais confortável — mais por si mesma do que por ele, na verdade — e correu para o outro lado do laboratório. Havia manuais, produtos químicos, fileiras de bolsas de intravenosa, listas de verificações e protocolos. Ela agarrou o protocolo manual ferozmente e deslizou o dedo pela tabela de conteúdos. Resultados. A seção era uma tabela de resultados clínicos. Setenta e três por cento de média de mortes, o que Claire já sabia. Mas, estranhamente, apenas uma pontuação de vinte por cento de conversão para humano. O que deixava sete por cento... REV? O código não significava nada para ela, e ela examinou as fileiras de legendas até que ela encontrou. REV significava reverter. Sete por cento dos doentes tratados com a cura eram revertidos a vampiros. A linha estava marcada com um símbolo de nota de rodapé, e ela analisou embaixo para ler. Resolução imediata de todas as cobaias REV no protocolo D. Protocolo D, Claire descobriu, tinha uma ilustração de uma das estacas especiais cheias com prata líquida dos Daylighters sendo mergulhada no peito de um vampiro, em seguida, removida para liberar o líquido.


Em outras palavras, eles sacrificavam qualquer vampiro que tomavam a cura deles e permanecia vampiro. Claire soltou uma respiração lenta e trêmula. Ela se sentia entorpecida ao ler; Se ela tinha se perguntado antes se ela estava no lado certo, ela não se perguntava agora. Se Amelie era o diabo que ela conhecia, Fallon era muito, muito pior. Enquanto ela estava fechando o livro, uma palavra chamou a sua atenção, e ela voltou para ela. A última seção era marcada com Antígeno. Havia um capítulo inteiro, e ela espiou o mais rápido possível, deslizando o seu olhar para baixo para as colunas grandes com explicações por escrito. O antígeno era designado para deter o processo de cura. Eles originalmente desenvolveram para que eles pudessem estudar os efeitos durante o processo — parte deles eram com experimentos vivos, e Claire realmente não queria pensar muito sobre isso. Ela encontrou uma anotação manuscrita ao lado. COMB 733.118. Era uma combinação, então tinha que haver um cofre. Em algum lugar, tinha de haver um cofre... Ela viu-o, finalmente, meio escondido por baixo do balcão — uma coisa pequena e cinza com um teclado digital. Ela caiu de joelhos na frente dele e apertou os números. 733118. A trava bipou, e a porta se abriu. Mas não havia nada dentro dele. Absolutamente nada. — Não! — ela gritou em voz alta e bateu nele com a palma da mão com toda a angústia dentro dela. Ela podia ouvir os gritos vindo dos vampiros sobre os outros leitos agora, e ela podia ouvir Eve chamando seu nome com um desespero frenético. Se o antídoto ainda existia, eles tinham movido. Não havia nada aqui. Nada para reverter os efeitos da cura de Fallon. Ele tinha levado para algum lugar que ela não poderia encontrá-lo. Não em tempo. Por um momento, Claire pensou que simplesmente não conseguia se levantar... simplesmente se levantar. Não conseguia ficar diante de outro desafio, enfrentar mais dor. Ela só queria se deitar, se enrolar, colocar as mãos sobre as orelhas, e se esconder, só desta vez. Ela tinha enfrentado tudo isso, tão diretamente quanto ela podia. Ela lutou, planejou e tentou.


Mas esse cofre aberto, era o fim de todos os seus planos. Todas as suas esperanças. E agora não havia mais nada além de se agarrar em Eve e Michael enquanto tudo se desfazia. Eu preciso de você, ela pensou. Shane, por favor, eu preciso de você, por favor, esteja aqui, por favor... Mas lá no fundo ela sabia que ele não poderia estar aqui. Não desta vez. Quando ela se virou para se concentrar em Eve e Michael, ela percebeu que Eve não tinha ido para o lado de Michael. Ela estava de pé com as costas pressionadas contra a parede oposta... Com vampiros observando com olhos frenéticos e horrorizados. Se engasgando. Se dobrando. Ela tentou se aproximar, mas tremeu, se apoiando outra vez, cobrindo o rosto. — Leve-o para fora! — Eve gritou para Claire. — Ajude ele! — Ela apontou para a agulha intravenosa e Claire puxou-a para fora — mas ela sabia, pela cor de giz de sua pele que já era tarde demais. Seus olhos estavam fechados e ele não estava respondendo. Eve estava chorando agora, e ela bateu com a palma da mão na parede com força continuamente. Ela tentou novamente ir em direção a ele, mas o que quer que eles colocaram no sangue dela a deixou doente, fisicamente doente quanto mais perto ela chegava. — Vamos lá, você é o cérebro, você é uma pessoa inteligente, você pode consertar tudo, faça alguma coisa! — O horror e a angústia de sua amiga ameaçou derrubar Claire de sua dormência chocada, e ela fechou os olhos para bloqueá-los. — Faça alguma coisa, Claire! E então Michael gritou. Era um som que cortou através do cobertor de choque de Claire e esfaqueou seu coração, e seus olhos se abriram por vontade própria para fixar em seu rosto tenso e dolorido, seu rosto brilhando, a luz cintilante deslizava sob sua pele, traçando suas veias e artérias, centrando em seu coração... E, independentemente de sua dor, da droga, de tudo o que eles tinham feito para fazê-la detestar, temer com a visão de um vampiro, a própria Eve empurrou seu corpo para fora da parede e pulou para a frente para agarrar a mão dele. Ela estava engasgando e tremendo, mas ela aguentou duramente embora cada fibra do seu corpo estivesse tentando fazê-la fugir. Michael estava respirando com soluços profundos e agonizantes, e Claire podia ver sua pulsação batendo com força na veia de sua garganta. Seus olhos estavam bem abertos, tão azuis, azuis como o céu do Texas, e ele estava olhando em silêncio para Eve, se sacudindo, tremendo e olhando fixamente...


— Vivo — Claire disse. Ela sussurrou baixinho, um cântico, uma oração, um apelo desesperado. — Vivo, vivo, vivo! E então a luz nele se apagou, e Michael ficou completamente e totalmente imóvel.


E

Capítulo 10

le está morto, Claire pensou entorpecida. Eu matei ele. Era um pensamento incoerente e ele tinha som de cinzas caindo, um sabor ácido amargo na parte de trás de sua garganta. Eu matei ele. Ela não tinha, mas parecia dessa forma. Ela deveria ter sido mais rápida. Melhor. Mais forte. Ela deveria ter impedido que tudo isso acontecesse. Mas ela não tinha, e agora Michael estava morto. Eve estava olhando para ele e pensando que se ela não percebesse a verdade, de alguma forma tudo ficaria bem. — Michael? — ela perguntou. Seus olhos ainda estavam abertos. — Michael? — O horror oprimiu sua voz, deixando-a mais baixa, um sussurro irregular. — Por favor, olhe para mim. Eu amo você, por favor, olhe para mim, por favor... Os olhos de Claire estavam cheios de lágrimas agora, e sua visão do rosto dele tornou-se uma lavagem de cor — possivelmente rosa-pálido para sua pele, azuis para seus olhos, dourados para seu cabelo. Ela piscou, e as lágrimas deslizavam pelo seu rosto quente, quente como o sangue. Ela colocou a mão no braço dele. Ele não deveria parecer assim, ela pensou, tão perto da própria temperatura de pele dela. Parecendo que ele ainda estava vivo. Em seguida, a ponta dos dedos pareceu ter uma pequena pulsação. Não, eu imaginei isso. Eu não posso ter... isso não podia... Outra pulsação. Então outra. Não era a pulsação dela. Era dele. — Michael, você tem que olhar para mim — Eve estava dizendo entre lágrimas. Ela parecia pálida e doente, encarando o que para ela era o fim do mundo. — Você não pode me deixar, você não pode, você me prometeu... Ele deu uma respiração. Eve soltou um grito abafado, e caiu sobre seu peito para beijá-lo. Talvez, Claire pensou, fosse um pouco prematuro para isso, porque ele parecia muito atordoado para entender o que estava acontecendo... e então tudo mudou, e ele estava beijando-a de volta, realmente beijando, e sua pele estava assumindo


um tom de pele que não era muito mais escuro do que antes, mas de alguma forma muito mais vivo. Ele estava ofegante quando eles se separaram, mas sorrindo, e havia cor em suas bochechas e lábios. Ocorreu a Claire que ela nunca o tinha visto vivo antes. Não realmente cem por cento vivo, de qualquer maneira. Ele parecia quando ela o conheceu, mas desta vez... desta vez, ele era simplesmente apenas humano. Era... ela não queria chamar de milagre, mas era o que isso era. Um milagre. Ela percebeu lentamente que ele ainda estava preso à mesa, e ele estava esforçando-se para se libertar. Claire limpou as lágrimas, se recompôs e serrou rapidamente o cinto em seu pulso esquerdo, e então seu tornozelo esquerdo. No momento em que ela chegou na mão direita, ela teve que afastar Eve gentilmente, mas com firmeza enquanto o libertava completamente... e então foi ela que se empurrou para fora do caminho quando Michael se lançou para Eve e envolveu-a em um abraço tão completo que era como se ele nunca realmente tivesse abraçado ela antes. O que, Claire supôs, ele não tinha. Não assim. — Você pode sentir isso? — ele perguntou a Eve. Ele estava chorando. Michael estava chorando, lágrimas inundando seu rosto. Ele limpou-as, mas ele não conseguia conter a maré. — O meu coração. Ele está batendo. — Eu estou sentindo — Eve disse, e apertou a mão dela contra seu peito. — Oh, Deus, Michael, eu... eu provavelmente deveria dizer algo sarcástico agora, mas eu... Ele pegou a mão dela, levou-a aos lábios e beijou-a. Então ele a beijou novamente, um beijo longo e profundo que disse mais do que palavras poderiam dizer sobre como ele se sentia. Como os dois se sentiam. Milagre, Fallon chamou. E no caso de Michael ele estava certo, porque Michael Glass, que tinha tido vários tons de morto desde que Claire o conhecia, era ele mesmo agora novamente. Humano. Vital. Vivo. E, Claire pensou com um frio repentino, vulnerável. Ela afastou-se deles, e atingiu-a com horror de tirar o fôlego que a maioria dos vampiros lutando contra suas amarras agora ao seu redor, brilhando por dentro enquanto o medicamento de Fallon trabalhava... A maioria deles não sobreviveria. E não havia nada que ela pudesse fazer sobre isso. Claire canalizou sua frustração ansiosa e nauseante em ação. Ela empurrou Michael e Eve para fora de seu próprio mundo privado e colocouos para trabalhar amarrando os funcionários do laboratório, que estavam


começando a despertar. Ela arrastou os dois policiais para o lado e cobriu o morto que Oliver tinha atirado. Halling estava falando com fúria, mas Claire não ouviu o que ela estava dizendo. Isso só iria deixá-la com raiva, e ela estava se sentindo mal o suficiente. Quando não havia mais nada a fazer, ela se agachou ao lado da atendente de laboratório de vigília que estava acordando mais rápido, e ajudou-a a acordar esfregando os dedos através de seu esterno. Doía, Claire se lembrava. E isso despertou a mulher rápido. Não demorou muito tempo para a mulher se adaptar à nova situação. Ela percebeu que estava amarrada e que Claire, Eve e Michael eram os únicos de pé. Não era uma mulher estúpida, tampouco — medo cintilou em seu rosto antes que ela escondesse debaixo de uma máscara indiferente profissional. — Me solte — ela ordenou. — Vai se ferrar, Srta. Mengele — Eve disse. — Não sou estúpida. Os olhos da mulher fixaram em Michael, e ela parecia... feliz. — Você conseguiu — ela disse. — Eu sabia que você conseguiria, Michael. — Você me conhece? — Michael perguntou. Ele não estava sorrindo. — Claro que sim! Eu sou uma grande fã da sua música. Eu sou Amanda. Eu trabalho no hospital. Eu pisquei. — Mas você injetou veneno no meu braço. — Para salvar você! Ele abriu a boca, em seguida, parecia estranhamente confuso e envergonhado, e Claire percebeu que ele estava tentando mostrar as presas que ela já não tinha mais. Bem, isso foi estranho. — E quanto a eles? — Ele apontou para os outros. Alguns estavam parados. Outros ainda estavam se debatendo. Seus olhos brilharam na direção deles, depois voltaram rapidamente para se concentrar nele. — É melhor eles morrerem do que viverem naquele inferno — ela disse. — Estamos salvando pessoas. Pessoas. Não monstros. — O antígeno — Claire disse. — Me diga onde está. — Eu não sei do que você está falando — Amanda disse, mas seu rosto redondo não foi feito para mentir. — Que antígeno? — O que costumava estar trancado no cofre e não está mais lá — Claire disse. — Onde ele está agora? — Não faço ideia. — Não dê uma de boba, Mandy — Eve disse, — porque você é uma droga nisso. Está com quem?


Amanda apertou sua boca em uma linha teimosa e reta e olhou para trás. Oh, ela não gostava nem um pouco de Eve. O que era fortemente contrastada com a forma de adoração que ela olhava para Michael. Claire se levantou e agarrou os seus amigos. Ela arrastou-os um pouco e baixou a voz. — Ela tem uma queda por você, Michael. Eve, ela está com ciúmes de você. Então recue e deixe Michael seduzi-la e tirar a informação dela. Michael parecia um pouco enjoado. — Eu tenho que o quê? — As pessoas estão morrendo. Não é? Ele estremeceu, balançou a cabeça e disse: — Vá fazer outra coisa. Eu não preciso de vocês olhando para mim. Eu já me sinto ruim o bastante. — Claire sabia que ele estava pensando no fato de ele ter sobrevivido ao processo e tantos... tantos não. Ou talvez ele esteja odiando a necessidade de seduzir alguém que não via nada de errado em matar para curar. Mas ela pegou o braço de Eve e disse: — Vá checar Oliver. Os olhos de Eve ficaram grandes. — Claire... eu... não posso. Eu não posso nem chegar perto dele. — Você acabou de ir em direção a Michael... — Isso é diferente. E... ele estava mudando. — Assim como Oliver — Claire rebatou. — Apenas vá! Claire foi verificar os outros. Metade já tinha ido embora, suas luzes apagadas, suas peles pálidas como giz e bizarramente duras ao toque, como se tivessem virado pó. Aqueles estavam, sem dúvida, mortos. Duas outras pessoas além de Michael tinham feito a transição de volta para humanos e estavam dando respirações convulsivas, parecendo em pânico e selvagens, como se estivessem se afogando em um mar de ar. Um deles estava chorando, e parecia lágrimas de alegria. O outro, no entanto... parecia perdido e horrorizado. Claire supôs que depois de tantos anos, — centenas, talvez — de existência como um vampiro, ser mergulhado de volta a mortalidade deve parecer muito mais como um castigo do que uma salvação. Uma mulher estava no estado que Oliver estava — mais como um coma do que qualquer recuperação ou declínio. Sua pele estava se tornando giz, mas ainda era flexível ao toque, e ela não tinha a aparência em ruínas de quem tinha falhado completamente no processo. Os REVs, Claire pensou. Os que a Srta. Amanda teria estado feliz em sacrificar, para o próprio bem deles. O pensamento a deixou enjoada, em pensar em Oliver e essa mulher sem nome impotentes, presos, incapazes de se defender. Eve voltou para ela, parecendo corada e com medo. — Ele não está respirando, mas ele não está morto, tampouco — ela disse. — Eu não posso


chegar muito perto, Claire, isso me deixa... — Ela engoliu em seco. — Eu espero que isso seja apenas o sangue dopado que me deram, certo? Não... não é permanente? — Eu acho que não — Claire disse. — Anderson disse que o tratamento precisava ser repetido um monte de vezes, então eu acho que você vai ficar bem. — Ela abraçou Eve impulsivamente, e Eve respirou trêmula. — Obrigada — ela sussurrou. — Eu não sei o que teria acontecido se você não tivesse... — Nada disso. Nós salvamos uns aos outros, certo? É o que fazemos. — É o que nós fazemos. — Eve deu um passo para trás e ofereceu o punho para ela bater, que elas colidiram e abaixaram, por nenhuma razão. O momento de paz desvaneceu-se, porém, quando Claire olhou novamente para a mulher imóvel e silenciosa deitada na cama. — Eu não a conheço, não é? — Ayesha — Eve disse. — Ela é legal. Eu acho que ela era uma advogada. Eu costumava fazer um monte de piadas de advogados sugadores de sangue. Não é tão engraçado agora, eu acho. A mulher era muito pequena — talvez um metro e cinquenta e dois — e tinha uma quantidade proporções perfeitas para a sua altura. Bonita também, sob a cor de sua pele não saudável; na vida humana ela deve ter sido de ascendência Africana, e ela usava o cabelo abundante em um corte Afro preso com uma faixa colorida. Uma pessoa de verdade, Claire pensou. Uma pessoa de verdade travada entre a vida e a morte. Eram todas pessoas reais. Isso era o que Fallon e sua equipe não conseguia entender... o custo do que eles estavam fazendo. A história que eles estavam destruindo. Claire segurou a mão da mulher por um momento. Parecia fria e indiferente. Michael estava de volta alguns minutos depois, quando ela olhou para cima ela ficou desequilibrada pela color em sua pele, o rubor nas bochechas e nos lábios. Ele parecia um jovem que tinha ficado longe do sol por muito tempo, mas ele era definitivamente e inequivocamente humano. Isso ainda parecia impossível. — Ela não sabe onde está o antídoto — ele disse. — Você tem certeza? — Positivo. — Ele não disse como sabia, o que era provavelmente melhor para todos. — Como está Ayesha? — Eu não sei. Não está morta, eu acho. Como Oliver. Mas não viva como você.


Ele balançou a cabeça lentamente, observando a mulher vampira com um leve franzido entre suas sobrancelhas. — Devemos tirá-los aqui — ele disse. — Ela e Oliver, de qualquer maneira. — E quanto aos outros que, você sabe, conseguiram voltar a ser humanos? — Eve apontou vagamente para os outros três sobreviventes, que ainda estavam tentando se acostumar a respirar para viver. — Não deveríamos levá-los também? — Fallon não vai machucá-los. Eles são o relatório de sucesso deles. — Michael balançou a cabeça, ainda franzindo a testa. — Acho que eu sou grato a ele pelo que ele fez de alguma forma. Eu queria voltar a ser humano, mas eu estava com medo que não funcionasse em mim. Eu estava com medo de perder você, Eve, e eu não podia suportar isso. — Você nunca vai me perder — Eve disse. Ela parecia totalmente confiante disso. — Apenas certifique-se de que eu não perca você. — Prometo — ele disse, e beijou-a novamente. — Pessoal? — Claire odiava estourar a bolha privada deles, mas ela apontou para a forma silenciosa de Ayesha deitada sobre a mesa. — Se nós vamos levá-los, é melhor irmos andando. — As mesas têm rodas — Eve disse. — Elas desbloqueiam. — Ela pisou em uma alavanca de metal e empurrou, e a mesa deslizou suavemente para longe por alguns centímetros antes que ela parasse com a mão. — Nós vamos precisar de transporte quando nós chegarmos do lado de fora, no entanto. Mesmo em Morganville, macas rolando com vampiros semimortos pelas ruas pode parecer um pouco fora do comum. — Especialmente na nova e melhorada Morganville — Claire concordou. — Michael, vá explorar na frente, veja se tem algum tipo de carro que nós podemos pegar. Não, espere. — Ela viu um cabide perto da porta. Sobre ele pendia um par de bolsas. Ela foi até ele e procurou dentro em busca de chaves. Ela conseguiu um conjunto. Havia uma foto no chaveiro, e parecia que Amanda realmente era uma grande fã de Michael, porque a foto era uma das que ele usava para shows promocionais. Preto-e-branco, muito temperamental. Ela lançou-lhe as chaves, em seguida, ela quase riu da expressão perplexa dele quando viu a foto. — Acostume-se, estrela do rock. Espere até que você fique famoso fora da cidade — ela disse. — Depressa. Nós estaremos bem atrás de você. Ele beijou as costas da mão de Eve, o que foi doce e, em seguida, saiu porta afora. Claire esperava que ele não se metesse em qualquer problema, porque ela tinha medo que seus instintos humanos de sobrevivência ainda


não tivessem aparecido. Ele ainda estava pensando em si mesmo como um vampiro. Levaria tempo — e provavelmente um ou dois machucados — para ele desenvolver a cautela que vinha com ser mortal novamente. Eve suspirou. — Você sabe o quanto eu odeio que tenha acabado ficando tudo bem com nós dois? Porque agora... agora como eu deveria me sentir sobre isso? — Pense em Oliver — Claire disse. — E Ayesha. E todas essas pessoas deitadas nas mesas que não conseguiram. Fallon está perfeitamente bem com matar três quartos ou mais de pessoas que ele fez experiências. Isso simplesmente não é certo, mesmo que Michael esteja na faixa de sorte. — Eu sei — Eve disse. Ela respirou fundo, inclinou-se e rapidamente puxou o tubo da intravenosa do braço de Ayesha — isso curou imediatamente, o que era interessante — e acenou para Claire. — Você pega Oliver. Te encontro lá na frente. — Você consegue fazer isso? Tem certeza? Mesmo que ela... — Claire usou o símbolo universal de vampiros presas-feitas-com-os-dedos-no-pescoço, e Eve deu a ela um sorriso fraco. — Contanto que eu não tenha que fazer nada além de empurrar a maca — ela disse. Claire acreditou em sua palavra e se moveu para fazer a parte dela. Levantar o corpo inerte de Oliver e colocar sobre a cama era muito mais difícil do que ela havia pensado. Ela finalmente o colocou por cima do ombro e cambaleou alguns passos para derrubar ele torto na maca. Não foi um trabalho gracioso, mas serviria para ela empurrar ele pelo corredor enquanto ela não encontrasse muitos obstáculos pelo caminho. Eve já estava rolando Ayesha em direção à porta. Quando ela saiu do laboratório, porém, as coisas deram errado. Ela tinha acabado de segurar a segunda porta aberta para a maca quando os alarmes começaram a gritar — alarmes ensurdecedores, destinados para paralisar e causar pânico, e ele definitivamente teve esse segundo efeito sobre ela. Seu coração estava acelerado enquanto ela dirigia a maca de Oliver para fora. Ela ouviu o bloqueio se fechando atrás dela. Trancada. Ela esperava que Eve tivesse mantido a porta da frente aberta. Ela tinha. Ela segurou com uma maca vazia, e quando Claire chegou ofegante, ela viu que Michael carregava Ayesha enquanto descia os degraus e estava colocando ela no banco de trás do carro que eles haviam conseguido da cobaia Amanda. — Me ajudem — Claire ofegou quando ela agarrou os ombros de Oliver. — Nós não temos muito tempo!


Eve apenas balançou a cabeça e deu um passo para longe, tentando controlar as náuseas com ambas as mãos sobre a boca. Claire se perguntou como ela iria se sentir quando eles entrassem no carro com um casal de vampiros. Provavelmente não seria agradável. Michael veio correndo. Ela assentiu com a cabeça em direção a ele. — Pegue as pernas de Oliver — ela disse. Ele pegou, e o lençol em torno de Oliver deslizou, revelando uma pele muito pálida e cinza. — Hum... você já reparou que ele não está usando muita coisa? — Michael perguntou. — Pelo menos eu continuo com as minhas calças. — Ele tinha jogado um jaleco sobre o peito nu, mas não se encaixaram muito bem. Claire não tinha notado, na verdade, até aquele momento, e embora isso fosse mais do que um pouco perturbador, ela simplesmente ignorou tudo enquanto carregava a forma pesada e inerte de Oliver para o carro e o enfiava ao lado de Ayesha. Houve uma batida na porta, Claire olhou para cima e viu um dos homens do tratamento de Eve — se você podia chamar aquilo disso — parado de pé na porta, tentando forçar seu caminho através das macas vazias atoladas. — Entrem! — ela gritou. Ela viu o rosto furioso da Dr. Anderson por trás do servente. — Nós temos que ir! Michael ligou o carro quando Eve se sentou na frente ao lado dele, o que não deixou nenhuma escolha a Claire a não ser subir no banco de trás com dois vampiros seminus em coma. Ela tentou não pensar sobre isso, sobre os corpos frios e parecendo-mortos pressionados contra ela. Eve estava engasgando novamente, o que era ruim para ela, e potencialmente ruim para todos os outros. Michael enfiou o carro em sentido inverso logo quando um dos serventes — que deve ter pego uma arma de um dos guardas caídos — deu um tiro neles. Ele chocou-se contra o para-brisa formando rachaduras com um buraco grande no centro, e demorou um segundo para a reação tardia fazer efeito. Claire verificou a existência de buracos, mas a bala tinha atravessado a parte de trás sem atingir ninguém. — Eu não consigo ver! — Michael gritou. Eve, com apenas uma pausa para se encolher, preparou-se e começou a chutar o para-brisa dianteiro. Em algum lugar no meio da confusão ela tinha trocado o calçado do hospital por um par de botas de homem muito grandes, e elas vieram a calhar agora quando ela quebrou toda a bagunça para fora, deixando-os com um conversível improvisado. — Claire, quebre atrás!


Isso foi muito mais difícil, porque não tinha posição e nem espaço. Claire tateou ao redor do chão e encontrou um taco de beisebol de criança rolando debaixo de seus pés; Amanda deveria ter um filho ou estar na Liga Junior. Ela quebrou a janela na parte de trás até que formou uma pilha na mala. Não estava perfeito, mas bom o suficiente para permitir visibilidade para Michael. Claire perdeu o domínio sobre o bastão quando ele acelerou, e o bastão rolou para fora, bateu com a ponta de metal e caiu no estacionamento quando Michael desviou, mudou de marcha novamente, e rugiu para fora na velocidade máxima que o carro de Amanda poderia aguentar. A brisa fresca parecia agradável, e ela limpava um pouco do choque e confusão da mente de Claire. Não havia mais tiros do edifício por trás deles, o que era uma sorte. — Para onde vamos? — Claire perguntou. Infelizmente, Michael perguntou isso ao mesmo tempo, o que significava que nenhum deles tinha uma boa ideia... e atrás deles, não mais do que um par de quarteirões, as luzes da polícia começaram a piscar. — Eles estão atrás de nós! — Estou vendo eles — Michael disse firmemente. — Eu... puta merda! Ele pisou no freio com tanta força que Claire — sem cinto, por razões óbvias — teve que se agarrar no banco de trás com um aperto de morte para não ser jogada pela janela da frente aberta. Os dois vampiros flácidos como manequins na parte de trás com ela foram empurrados para a frente quando o carro derrapou, os pneus fumaçaram e vieram a uma parada estremecida. Shane estava de pé na estrada. Ele parecia violento, selvagem e louco, e seus olhos estavam assustadoramente com tons de ouro. Ele estava sem camisa, suas calças estavam rasgadas e sangrentas, e por baixo disso Claire podia ver que ele tinha ferimentos — cortes e contusões. Mas ele era na maior parte humano. Quando o carro parou apenas centímetros de suas coxas, ele estremeceu, perdeu o equilíbrio e bateu as palmas das mãos sobre o capô para se segurar quando seus joelhos ficaram fracos debaixo dele. — Shane! — Claire, não... — Michael gritou, mas era tarde demais, ela já estava fora do carro e correndo em direção a ele. Ele não vai me machucar, ela pensou. Ele não me machucou antes e não vai me machucar agora. E ele não machucou. As mãos de Shane tinham voltado para mãos humanas normais, embora elas parecessem sangrentas e machucadas, e quando ele levantou a cabeça para


encontrar seu olhar, a cor dourada ardente foi desaparecendo de seus olhos. — Claire? — Ele soava perdido e assustado. — Eu estava procurando por você. Por Amelie... eu cheirei o sangue dela... Michael tinha aberto a porta do lado do motorista e deu um passo para fora, observando-os. Pronto, Claire pensou, para correr em defesa dela se necessário... ou de Shane, se ele precisasse também. Agora ele se aproximou e colocou o seu peso sob o outro braço de Shane quando o namorado dela quase caiu completamente. — Ei, mano, você me encontrou em vez disso — Michael disse. — Você esteve lutando sem mim? — Você é... você não é... Mikey, o que diabos...? — Shane estava apenas começando a perceber a magnitude do que tinha acontecido, mas ninguém teve muito tempo para explicar. Havia sirenes por trás deles. Aqueles carros da polícia estariam indo direto para o asilo, mas definitivamente conseguiriam uma descrição do carro de Amanda em questão de minutos, e em seguida, seria quase impossível atravessar para fora da cidade. — Temos que ir — Claire disse, e no outro lado de Shane, Michael assentiu. — Vamos levar você para o carro. Vamos conversar no caminho. — No caminho para onde? — Shane perguntou. — Não podemos ir para casa. Eles estão na casa. Claire queria perguntar sobre isso, desesperadamente, mas eles estavam sem tempo. Em vez disso, ela ajudou Michael a arrastar Shane para o lado de Eve no carro. Eve se espremeu, e Shane conseguiu seu assento habitual. A porta mal fechou. Michael e Claire entraram de volta, e Michael apertou o acelerador com força, o carro se moveu com um rangido que provavelmente teria chamado a atenção se não fosse a confusão horrível de sirenes a algumas ruas à distância. O pôr do sol pintava o céu em uma confusão sangrenta de vermelho e laranja. — Hum... você está bem? Ela está bem? — Shane perguntou, olhando para Eve, que estava tremendo e parecendo nauseada. — Ela vai ficar bem. Para onde vamos? — Claire perguntou, segurando-se no assento de Michael por sua vida. — Nós vamos dar o maldito fora de Morganville — ele disse. — Nós vamos para Blacke. Q q q


Blacke, Texas, era uma cidade pequena (pequena até mesmo para os padrões de Morganville) cerca de duas horas de distância pelo caminho mais curto... mas não havia outras estradas, e os construtores de estradas não tinham motivo para querer ir para Blacke. A maioria das pessoas não queriam. Morganville praticamente era uma armadilha para turistas em comparação. Mas o pequeno lugar tinha a distinção — distinção secreta — de ser a outra única cidade que os vampiros viviam em paz com os humanos. Isso não era por causa da falta de egoísmo dos vampiros que tinham se mudado para lá; o líder do bando de maltrapilhos, Morley, não tinha nem mesmo uma pitada de altruísmo nele. O que ele tinha era um desejo ardente de governar sua própria vida e não viver pelas regras de Morganville... e um medo saudável/respeito pela Sra. Grant, a bibliotecária da cidade. Blacke tinha sido atacada por uma praga de vampiros provocada por uma visita de outro predador muito mais desagradável que não se importava com as consequências, e a Sra. Grant tinha organizado os sobreviventes da cidade em um campo de guerra. Morley tinha realmente ido para Blacke como um conquistador, mas ele havia se tornado o protetor e salvador ao invés. Ele parecia achar isso estranhamente emocionante. Ou talvez ele só achasse a Sra. Grant emocionante. Eles se davam bem quando eles viram eles pela última vez. A parceria deles ao governar a cidade — e proteger os cidadãos de Blacke que tinham sido involuntariamente transformados em vampiros — parecia funcionar melhor do que qualquer um esperava. Ou era o que Claire tinha ouvido falar. Ela não tinha visitado desde que ela tinha deixado a cidade para trás para voltar à Morganville. — Você tem certeza? — ela perguntou a Michael. — Você acha que nós temos uma escolha? — Eles estavam indo rápido para os limites da cidade de Morganville; ela podia ver a silhueta do outdoor à frente. — Se nós não dermos o fora daqui, então Fallon vai me pegar, e pegar Oliver. Se Amelie ainda estiver livre, eu vou ter o que ele precisa para trazê-la de volta. Além disso, o que quer que aconteça, ele nunca vai tocar em Eve novamente. — Uau. Michael era geralmente um cara calmo, mas o ataque de Fallon a Eve o tinha deixado no limite, com certeza. — Isso é doce — Eve disse. Ela estava pressionada contra ele, uma situação que Claire tinha certeza que ela não se importava, e agora ela deixou a cabeça descansar levemente em seu ombro. — Querido, me desculpe por eu ter perdido o meu anel. — Mas não me perdeu.


— Eu sei. — Ela deu um suspiro feliz e se mexeu mais para perto. — É estranho dizer que isso é bom? — Sim — Shane disse, mas ele estava sorrindo. Ele parecia... mais como ele mesmo, Claire pensou. — Bem estranho e esquisito. Eve virou a cabeça em direção a ele, considerando-o com cuidado. — Falando nisso. O que diabos aconteceu com você? Quero dizer, os seus olhos.... eles estão bons agora, mas eu tenho certeza de que você não tinha o recurso luz noturna antes. A menos que você tenha engolido o seu celular, seus olhos realmente não deveriam fazer aquilo. Ele deu de ombros. — O cão me mordeu, lembra? — Então agora você é o quê, um cão do inferno? — Seria muito se eu dissesse, vadia, por favor? — Provavelmente. — Considere meu silêncio viril uma resposta, então. As brincadeiras soaram habituais, mas no fundo havia medo — medo vindo de ambos. Por outro lado, talvez seja de uns pelos outros. Depois de um ou dois segundos de silêncio, Shane disse: — Ei, Mikey? — Oi, cara. — Então você não é um vampiro. — Eu te informaria antes da hora, mas aconteceu muito rápido. — Eu acho que isso acabou de salvar a sua vida — Shane disse, e encostou a cabeça no banco traseiro. — Eles me mandaram caçar Amelie, mas você está com o sangue dela em você, estava com o sangue dela em você. Eu meio que podia cheirar, mas saiu agora. — Você teria me matado? — Eu realmente tentaria não matar, se isso ajuda. — Ele fechou os olhos e engoliu em seco. Ele parecia cansado, Claire pensou, e seu coração doeu por ele. — Não sei se eu consigo afirmar com certeza, no entanto. Foi duro o suficiente me segurar para deixar Claire ir, e deixar Amelie escapar. — Ela fugiu? — Claire se inclinou para frente e colocou a mão em seu rosto. Ele ainda parecia febrilmente quente. — Eu sei que foi duro para você. Eu vi o quanto doeu para você me deixar ir quando eu... — Sim, sobre isso... Da próxima vez que você decidir tomar um banho do sangue da Fundadora quando você souber que tem cães do inferno me acompanhando para rastrear ela... — Espere, o quê? — Eve interrompeu, e se virou, tanto quanto ela poderia, para olhar para Claire. — O que você fez?


— Funcionou, não foi? — Claire perguntou, e sorriu, só um pouco. — Deu a ela uma chance de fugir. E Shane sorriu de volta. — Sim. Sim, deu. O carro passou pelo outdoor. Claire não sabia o quão rápido eles estavam indo, mas estava disposta a apostar que estavam se aproximando da velocidade de uma onda sonora pelo vento através deles. Ela não tinha ideia de que esse carro velho de Amanda poderia ir tão rápido assim, e ela tinha certeza que o carro nunca tinha experimentado isso antes, porque isso era algo terrível. Ela nem sequer viu o carro da polícia estacionado nas sombras sob a placa até que ele veio cambaleando para a estrada atrás deles, arrastando uma nuvem de poeira. Os piscas estalaram e o uivo de uma sirene atravessou a noite. — Se segurem! — Michael disse, e o carro parecia ir ainda mais rápido. Pouco importava, no entanto; o carro da polícia foi construído para interceptar, e foi se aproximando deles. Faltava mais duas milhas para o próximo cruzamento, mas todas as estradas aqui eram retas e simples, com nada a esconder, nenhum tráfego para usar para se proteger. — Você vai explodir o motor dessa coisa! — Shane gritou acima do barulho do vento. Claire sentiu o seu cabelo chicoteando em seu rosto. — Mike, você não pode correr mais do que ele! — Não dá para atirar nele, tampouco! — Michael atirou de volta. — E eu não sou mais à prova de balas. Você é? — Não, mas eles são — Shane disse, e apontou para trás dele para as formas impassíveis de Oliver e Ayesha. — Acorde eles. — Como? — Claire gritou de volta. — Você já tentou sangue? Droga. Ela ainda não tinha pensado nisso, mas fazia sentido. Eles estariam com fome, e talvez, apenas talvez, eles precisassem de um catalisador para sair do coma. E talvez quando acordassem, eles não parassem com apenas um gole, tampouco. Era arriscado, mas eles precisavam de uma vantagem, rápido, e foi a única coisa que Claire poderia pensar no momento. — Porta-luvas — ela disse. — Eu preciso de algo afiado. Shane estava muito à frente dela, puxando uma faca do cinto. Ela não sabia que estava lá, mas é claro que ele estava armado. Ele sempre não estava? — Tenha cuidado — ele disse. — Não confie neles, e use a faca se você precisar. Era, é claro, revestida de prata. — E quanto a você? Você vai ficar bem? Quero dizer, eles são vampiros e você é...


— Um maldito lobisomem caçador de vampiros? Sim, eu sei. Eu ainda estou preparado para ir atrás de Amelie, não especificamente atrás destes dois agora, então está relativamente ok. Se não estiver, eu vou lidar com isso. Eve tem permissão para bater na minha cabeça ou algo assim. — Que ótimo — Eve disse. — Sempre quis a sua permissão para isso. Ela não estava, Claire percebeu, parecendo tão ruim quanto antes, e as náuseas pareciam estar diminuindo. Talvez o que eles tinham injetado no sangue dela estava finalmente começando a se dissipar. Eles estavam tagarelando porque eles estavam com medo, e Claire sabia disso porque ela estava com medo também. Ela estava suando, seu coração estava acelerado, sua boca seca, sua língua áspera como couro. O vento chicoteando em seu rosto tornou difícil de se concentrar, e ela desejou ter óculos para proteger os olhos do vento sempre presente com poeira. Apenas faça logo isso. Ela colocou a faca na parte carnuda da palma de sua mão, abaixo do polegar, e cortou. O sangue fresco jorrou, e ela engasgou com a picada quente de dor, então se virou para Oliver e sua boca aberta. Dentro estava seca e pálida. Ela apertou o sangue em sua boca. Nada aconteceu. Droga. — Vamos lá — ela disse em voz baixa, suas palavras perdidas no rugido do vento martelando através do carro. — Vamos, engula, apenas engula... — Ela empurrou mais sangue da ferida até que houvesse uma piscina rasa dele em sua boca e, em seguida, fechou a mandíbula dele e empurrou a sua cabeça pra trás. Ela sentiu um movimento muscular sob a pele dele, apenas um tique... E então ela viu o movimento em sua maçã-de-adão quando ele engoliu. Os olhos de Oliver se abriram. Olharam confusos e desorientados, e em seguida, a mancha vermelha começou a girar em seus olhos. Ele piscou e levantou a mão para se proteger do vento. Seu olhar caiu sobre Claire, deslizou para baixo e focou em sua mão sangrando. Sem permissão, sem hesitação, ele agarrou-a e colocou-a em sua boca. Ela soltou um som abafado de protesto, mas ele não parecia selvagem ou fora de controle. Era uma diferença sutil, mas ela aprendeu a distinguir com vampiros. E ele a soltou depois que ele sugou duas ou três vezes.


Oliver lambeu os seus lábios, limpou a garganta e meio que sussurrou: — Obrigado. — Ela não podia ouvi-lo sobre o ruído da estrada, mas de qualquer forma ela compreendeu. — De nada — ela gritou de volta. — Preciso da sua ajuda! — Claro que sim. — Ele parecia profundamente irritado, o que não era de todo estranho para ele, mas ele levantou a voz para que ela pudesse ouvi-lo. Embora um pouco. — Você pode não ter percebido, mas eu quase morri. — Isso ainda pode acontecer — ela retrucou. — Precisamos parar o carro da polícia atrás de nós. Eu acho que eles provavelmente receberam ordens para atirar em nós e levar você de volta para Fallon para que ele possa terminar o que começou! Oliver pareceu ainda mais irritadiço, mas agora ele parecia também mais forte, e resolvido. — Diga a Michael para desacelerar. — Mas... — Faça! Ela se virou para Michael e gritou a instrução em seu ouvido. Ele não fez nenhuma pergunta; ele só apertou os freios, e o sedan desacelerou rápido. Oliver deslizou através da janela quebrada de trás, ficou de pé sobre a tampa da mala, e se lançou sobre o capô do carro-patrulha com quase nenhuma pausa — mas Claire sabia, pela forma que ele se movia, que ele estava fraco e machucado. Sua graça ágil se foi, deixando uma espécie de força brutalmente desajeitada. Ele empurrou um punho no para-brisa e pegou o motorista, e o carro da polícia virou violentamente, saiu da estrada para o deserto, e estava perdido em uma nuvem de areia em erupção. Michael estava apertando os freios e trouxe o carro para uma parada completa de fumaçar os pneu. Ele e Shane saíram em segundos, indo para onde o outro veículo tinha desaparecido, e Claire saiu também, juntando-se a Eve em uma corrida mortal para acompanhar. Eve tropeçou em suas botas muito grandes de homem e quase caiu, mas Claire pegou o braço dela e a manteve de pé e em movimento. Ela engasgou e tossiu na areia à deriva, e quando a areia baixou ela viu Oliver deslizando para baixo do capô do carropatrulha. Ele estava arranhado e cortado do para-brisa quebrado, mas fora isso ela parecia ileso. Apenas... realmente e desconfortavelmente quase nu, e Claire desejou que ela pudesse desver isso. Shane abriu a porta do lado do motorista da frente da viatura. Ele se agachou e verificou o homem dentro. — Ele está vivo — ele disse. — Eu estou surpreso.


— Eu não tive tempo para me alimentar — Oliver retrucou. — Arrumem algo para eu vestir. Shane abriu o porta-malas do carro, tirou um cobertor e jogou-o para Oliver sem se mover mais para perto. Lutando contra seus instintos, Claire pensou. Ele entrou de volta no carro da polícia e pegou as chaves, que ele usou para destravar a cabine do banco traseiro para tirar uma espingarda; jogou-a para Eve, que a pegou com uma facilidade perfeita. Ele pegou a arma do homem também. A essa altura, o policial estava começando a acordar, gemendo e se deslocando em seu assento, então Shane pegou as algemas do cinto e prendeu a mão direita do homem ao volante, em seguida, deu um tapinha nele na cabeça. — Anime-se, amigo — ele disse. — A boa notícia é que você não está morto. — Vocês vão estar — o policial murmurou. — Eles vão caçar vocês. Matar vocês. — Então nós vamos embora — Michael disse. — Todo mundo, vamos lá. Para o carro. Claire e Eve começaram a voltar, assim como Shane e Michael. Oliver, por outro lado, não voltou. — Ei! — Michael disse, sem parar. — Você vai perder a carona, Oliver, eu não acho que você deveria ficar sozinho. — Um momento — Oliver respondeu, e deu um passo para a viatura. Claire virou e correu de volta para o vampiro que se inclinou, e tirou suas presas brilhando para fora. — Espere! — ela gritou. Oliver se virou para ela, mas ela tinha muita experiência com a marca especial de intimidação dele. — Por favor, Oliver. Não mate ele. — Você prefere que eu tire de você? — Eu não disse que você não poderia mordê-lo, apenas seja cuidadoso. — Com medo de mais sangue em suas mãos? — Suas presas ainda estavam para baixo, e elas deixaram seu sorriso particularmente assustador. — Me deixe em paz, mulher, ou eu vou tomar de você. Eu vou escolher o quanto eu preciso. — Mate ele e você vai andando — ela disse. Ele olhou para ela por um longo momento, e sua raiva se transformou em algo estranhamente semelhante a... interesse. — Você sabe, você não é mais a ratinha que eu conheci naquela manhã no Common Grounds — ele disse. — Você se tornou algo totalmente diferente. Para o seu crédito, mas também extremamente inconveniente.


Ele levantou o braço livre do policial, rasgando a manga e apertando o pulso do homem em sua boca. Claire estremeceu com o grito que o policial deixou escapar, mas foi mais surpresa do que dor. Ele calou a boca depois disso, com exceção de gemidos de medo, e Oliver ignorou enquanto continuava a tirar sangue e engolir. Logo quando Claire estava começando a realmente se preocupar, ele soltou o braço do policial e deu um passo para trás, prendendo o cobertor em torno de seu corpo. Era uma daquelas coisas de lã macias, de modo que parecia quase como uma toga. Ela podia imaginá-lo na Roma antiga, causando alguns banhos de sangue no Coliseu. De alguma forma ele fez parecer que ser misericordioso foi ideia dele mesmo. — Depois de você, Srta. Danvers.


Capítulo 11 ida para Blacke não foi confortável, mas foi menos lotado no banco de trás já que Oliver se acomodou e colocou o corpo mole e parado de Ayesha em seu colo. Ele estava sentado ereto com os olhos fechados contra o vento impetuoso. — Eve — Michael finalmente disse, — por que você tem um curativo em seu pescoço? Alguém mordeu... — Podemos falar sobre isso mais tarde? — ela perguntou. — O que aconteceu com você? Eve não parecia disposta a dizer, mas Claire ainda lembrava, e ela achava que Michael precisava saber. — Eles colocaram ela — como Fallon chamou? — na terapia de aversão. Que envolvia um vampiro. — Está tudo bem, não foi nada. — Eve pegou a mão de Michael na dela. — Olha, eu nem sinto mais enjoada. Foi apenas uma mordida. Eu vou viver. Ele colocou o dorso de sua mão na bochecha dela. Ele não disse nada, mas seu olhar encontrou o de Claire no espelho retrovisor, e ela sabia que ele teria algumas perguntas mais tarde. Ela não o culpava. Ela sabia que Eve não teria vontade de falar sobre isso, e ele precisava saber. A noite já tinha caído, e o ar que entrava estava frio o suficiente para congelar os ossos de Claire. Michael tinha pego uma jaqueta descartada na mala do carro, mas de acordo comum eles tinham dado a Eve, que estava congelando e tremendo em suas roupas de hospital. Não que Michael estivesse usando muito mais coisa. — Mike — Shane disse e apontou. — Pare ali em cima. — Ali em cima acabou sendo uma luz cintilante na distância, de frente para uma pequena fazenda com um mercado e seguindo o caminho de uma única casa quadrada no meio do nada com uma luz brilhante amarela na varanda, luzes de segurança em um celeiro na parte traseira e lâmpadas domésticas caseiras por trás das cortinas. — Nós não vamos fazer nada com essas pessoas — Claire disse. — Nós não vamos.


— É claro que não — Shane disse. — Confie em mim, ok? — ele saiu quando Michael parou o carro e, em seguida, inexplicavelmente, tirou o jeans. — Mantenha as luzes apagadas. Eu já volto. Todos eles observaram ele correr a distância em sua cueca Joe Boxers. Claire se sentiu um pouco tonta, na verdade. — Eu não gosto disso — Eve disse. — O que diabos ele está fazendo? E se eles apenas, vocês sabem, atirar à primeira vista? — Ele disse para confiar nele — Claire disse. — Eu confio. E ela estava certa em fazer isso porque cerca de 10 minutos depois ele voltou com um saco plástico cheio de roupas. — Aqui — ele disse, e começou a tirar calças de moletons largas, casacos, jaquetas e camisas. — Desculpe, moças, são todos de tamanhos masculinos, mas eu tenho certeza que vocês ainda vão parecer incríveis. — Como? — Michael perguntou. Ele pegou um par de suéteres e saiu do carro para vesti-los, então acrescentou um casaco de zíper. O logotipo no algodão desbotado era, ironicamente, o da Universidade Prairie do Texas. A universidade de Morganville. A universidade que Claire cursava, mais ou menos. — Como diabos você conseguiu isso? — Bem, eu disse que eu estava iniciando na fraternidade da UPT com um carro cheio de outros caras, e nós fomos expulsos aqui e deixados nus ao lado da estrada, e o velho bastardo gargalhou e achou engraçado como o inferno. Então ele me deu roupas. — Shane colocou o casaco do saco — outro da UPT — e pegou suas calças jeans do chão. — Aqui, coloque outra camada. — Ele entregou a Eve mais roupas, e ela se agasalhou com gratidão. Claire estava fazendo o mesmo, pegando tanto uma camisa quanto um casaco e acrescentando ao que ela estava usando, e pela primeira vez, ela se sentiu esquentada novamente. — Oliver? — Shane estendeu algo para o vampiro e recebeu um olhar de desprezo em troca. — Não? Vai continuar com a toga? Bem, eu sempre disse que você era um assassino frio. Isso quase tirou um sorriso de Oliver. Quase. Depois que eles vestiram todas as camadas doadas, eles saíram de novo. — Você sabe, nós provavelmente deveríamos ter pego a viatura — Eve disse. — Pelo menos tinha mais para-brisa. — Exceto onde Oliver perfurou, e nós não poderíamos ver ao dirigir. — Ah, certo. Exceto por isso. Eles passaram por uma lanchonete deserta e caindo aos pedaços que provavelmente tinha servido seu último sanduíche de merda há vinte anos atrás, e nesse exato momento, o estômago de Claire retumbou. Audivelmente.


— Vocês estão com fome? — Michael perguntou. — Porque eu estou morrendo de fome. — Então ele riu, um som puro e livre que Claire nunca conseguiu ouvir dele quando ele não estava cantando. Ele soava... completo. — Sabem, como um vampiro, eu nunca estava realmente com fome de alimentos sólidos, mesmo que eu pudesse comer. Eu não sabia o quanto eu sentia falta disso. Eu poderia realmente matar por um hambúrguer no momento. E batata frita. Com sal. — Pare com isso, cara, você está me matando — Shane gemeu. — Talvez eles tenham onde jantar em Blacke. Mencionar a cidade — o destino deles — trouxe eles de volta à realidade com uma explosão. Esta não era uma viagem tola na estrada. Era uma missão. — Vocês deviam saber de uma coisa — Claire disse, e engoliu em seco quando todos eles se viraram para olhar para ela. Até mesmo Oliver. — Eu ouvi que Fallon vai dar uma ordem para libertar alguns dos vampiros do shopping hoje à noite. Os mais famintos e os mais malvados. — É claro — Oliver disse. — Fallon faz isso porque precisa de suas justificativas justas. Assim que ele forçar o pessoal de Morganville em um frenesi de medo, ele vai estar livre para fazer o que ele quiser com a gente, e ninguém vai ficar em seu caminho. Ele vai poder queimar todos nós em piras na Praça da Fundadora, se ele quiser. E ele pode achar uma punição justa. — Como alguém que você uma vez condenou a esse tipo de execução, talvez a carapuça sirva — Shane disse. — Shane! — Claire disse. Ele deu de ombros. — Desculpe, mas há muitas pessoas normais que se machucaram em Morganville. Que perderam a família. Isso que está acontecendo? São vocês tendo o que merecem. — Ele está certo — Oliver disse, o que foi um pouco inesperado, até mesmo para Shane, o que foi evidenciado pelo olhar assustado que ele devolveu a Claire. — O problema com governar pelo medo é que, eventualmente, quando o medo desaparece, ele é substituído por fúria. Essa é uma lição que eu deveria ter aprendido em meus anos respirando, talvez. — Pode ter a maldita certeza — Shane disse, mas a sua indignação tinha perdido sua força. — Então... tem alguma coisa que a gente possa fazer para parar Fallon hoje à noite? Se já não é tarde demais? — Não — Oliver disse. Ele tinha virado a cabeça e estava olhando para o deserto se movendo além da janela. — Mas é possível, apenas possível, que saia pela culatra o plano de Fallon. A maioria de nós vampiros mais velhos têm uma vasta experiência de gestão; o veneno que ele colocou em nossos estoques


de sangue nos deixou inquieto e com fome, com certeza, mas não tão incontrolados. São os mais jovens que têm... dificuldades. Ele deve ter perdido suas raízes de vampiro o suficiente para pensar que ele possa nos conduzir a um ataque tão facilmente. — Eu pensei que vocês todos fossem apenas de esperar pela oportunidade — Shane disse. — Você é? — Oliver deu de ombros. — Eu não estou dizendo que caçar não é algo que desejamos, mas como homens, nós odiamos ser manipulados. E esta é a nossa cidade, tanto quanto de qualquer ser humano. A nossa casa, nossos vizinhos e talvez até nossos amigos. Se você cair na armadilha de pensar como Fallon, que existem apenas heróis e vilões, monstros e vítimas, e nada entre eles. Nós todos estamos no espaço, cruzando a linha para o lado, então para o outro. Até mesmo você. Isso foi excepcionalmente tagarela para Oliver, e estranhamente poético também. Todos eles ficaram em silêncio por um tempo, até que Michael limpou a garganta e disse: — Eu vou fazer a volta mais à frente. Deve nos levar direto para Blacke. — Espero que o restaurante 24horas esteja aberto — Shane disse. — Porque agora você me fez pensar sobre batatas fritas. O estômago de Claire retumbou de novo bem nessa hora, mas ela estava observando Oliver. Observando a força calma que ele embalava Ayesha, ainda trancada em seu coma. Ele não tinha pedido sangue para ela, ou mais para si mesmo, embora ela pudesse ver pela cor de sua pele e o brilho em seus olhos que ele precisava. Ele estava ensinando a eles tudo sobre vampiros, simplesmente por ser quem ele era. Talvez as coisas ruins, talvez as boas. Mas esse era o objetivo dele. Que nada, absolutamente nada, era tão simples. Q q q Blacke se mantinha propositadamente escura; ela não queria viajantes ocasionais que procuravam postos de gasolina ou restaurantes 24horas. Na verdade, se Claire não soubesse que aquela cidade tinha uma população de pelo menos quinhentos habitantes, ela teria sido enganada em pensar que era uma cidade fantasma. Com apenas alguns carros em vista; as luzes apagadas e os negócios fechados pela noite. Era um pequeno lugar com um sinal de trânsito de qualquer maneira.


O tribunal desajeitado era como Claire se lembrava, embora os danos à grade de ferro tinham sido consertados e a estátua do Sr. Blacke, o cidadão mais famoso (ou pelo menos o mais rico) da cidade, havia sido restaurada, exceto que ela ainda se inclinava um pouco. Eles derrubaram ela com um ônibus escolar, não foi? Parecia um longo tempo atrás. Ela jurava que os anos em Morganville eram piores do que os anos de cão. O povo de Blacke tinha coberto as janelas do tribunal com tábuas, no entanto, e um cartaz vermelho desbotado com CONDENADO rangeu no vento da noite. A única luz que vinha do lugar era o brilho da torre do relógio, permanecendo congelado as três horas da manhã. Claire olhou para o seu relógio para ter certeza, mas seus instintos estavam certos; tinha acabado de passar da meia-noite. A hora das bruxas. — Nós estamos sendo observados — Oliver disse quando Michael desacelerou o carro até uma parada. — Embora eu absolutamente acho que é desnecessário dizer. Até mesmo um respirador deve ser capaz de sentir isso. — Isso é algum termo preconceituoso que vocês usam para nós? — Shane perguntou. — Da mesma maneira que você usa sugador de sangue, sanguessuga, parasita? Sim. Embora consideravelmente mais lisonjeiro. — Ele está certo — Eve disse, e Claire viu seus ombros se aproximarem quando ela estremeceu, mesmo que ela estivesse enrolada calorosamente agora. — Eles estão nos observando. Oliver saiu e levantou a sua voz. — Chega disso, Morley. Você já observou como um tolo. Temos um trabalho sério pela frente. — Temos? Claire ouviu a voz preguiçosa descer de algum lugar acima. Da torre do relógio. Ela inclinou a cabeça para trás e viu a sombra então, de pé sob o brilho da luz sobre os mostradores do relógio. O próprio Morley. Ele andou até a beira do telhado e deu mais um passo, como se a queda de quatro andares não fosse nada — e não deveria ser para os vampiros. Ele nem sequer flexionou os joelhos no pouso, e quando ele se levantou, Claire viu que ele tinha conseguido encontrar roupas em Blacke que combinavam com ele — um sobretudo de cowboy de couro marrom desbotado, um longo lenço vermelho que se arrastava ao vento, um chapéu de aba plana. Seus olhos vermelhos brilhavam na escuridão. — Nem me conte sobre a sua crise, Oliver. Você construiu para si um reino de gatos e agora os ratos já ficaram por cima, não é mesmo? Eles colocaram vocês, seus pequenos caçadores de ratos em gaiolas e alimentaram


vocês com sobras. Logo eles vão derrotar vocês, celebrar e então será o reinado dos ratos. Ratos e gatos, queijo e, por favor, posso dar uma mordida? — Morley fez uma pausa, inclinou-se para colocar um cotovelo no capô do carro, e deu a Oliver uma longa varredura da cabeça aos pés. — Eu sabia que você era velho, meu caro, mas sério, Romano? — Tem sido um longo dia. Eu não estou no clima para a sua idiotice. — E ainda assim você está no humor para a minha assistência. Interessante. Bem, então, venha comigo. A Sra. Grant está esperando. Morley não esperou por qualquer um deles concordar; ele simplesmente desceu a rua. O bater de seu casaco com o vento era o único som que ele fez enquanto caminhava pela estrada deserta e pegava a calçada à direita. Todos eles trocaram um olhar. Oliver balançou a cabeça em desgosto, se inclinou no carro e pegou o corpo inerte de Ayesha. Segurou-a tão facilmente como um travesseiro. — E então? — ele grunhiu. — Morley pode ter uma postura teatral, mas ele é uma ideia decente de táticas. E se nós ficarmos de pé aqui seremos alvos para os seguidores dele. Eles têm um tiro mortal mirado em cada um de nós. Eve piscou. — Hum... como você sabe disso? — Táticas — Oliver disse, e afastou-se descendo a estrada na direção que Morley tinha ido. Claire deu de ombros quando Shane levantou as suas sobrancelhas para ela. — Certo — ele disse. — Acho que vamos, então. Michael olhou para as janelas escuras, silenciosas em torno deles e gritou: — Você pode ficar com o carro! Então ele uniu seu braço com o de Eve e liderou o caminho no rastro de Oliver. Q q q — Oh, não, não a antiga biblioteca — Shane disse, em uma boa aproximação da voz e estilo de Oliver. — Que enfadonho nos levar para lá. Claire lhe deu uma cotovelada. — Você deve estar se sentindo melhor. — Parece, não é? Isso, ela pensou com uma súbita onda de inquietação, não era uma resposta. Era uma evasão. — Você está se sentindo melhor? — Se com melhor você quer dizer que eu estou muito mais consciente do fato de que há malditos vampiros em todo o lugar, então sim, muito melhor. Mas eu estou lidando com isso.


— Se você não puder, você vai me avisar? — Claro que sim. Eu uivo. — Não é engraçado. — Bem, em minha defesa, não era para ser. Quero dizer, eu posso literalmente uivar. — Shane. — Ela o puxou para uma parada, e quando seus olhos se encontraram, ele deixou cair um pouco do seu escudo de espertinho. — Nós vamos passar por isso. Eu prometo isso a você. Ele se inclinou para a frente e beijou-a nos lábios — caloroso, doce e gentil, todas as coisas que ela gostava nele. Todas as coisas que ela sabia que estavam dentro dele, enterradas às vezes pela atitude de durão e a conversa brincalhona. — Eu acho que você pode superar qualquer coisa — ele disse. — Ei, eu estou feliz em estar com você. Contanto que você não se cubra com sangue da Rainha Vampira de novo, eu posso ser uma aberração, mas há limites. — Fale sério. — Eu estou tentando. Não é o que eu faço melhor. Ele estava fazendo ela rir, e isso não era o que ela queria agora. Não o que ela precisava. — Shane, quando nós sairmos dessa, e nós vamos sair, eu quero que você saiba que eu estou... eu estou pronta. Ele ergueu as sobrancelhas, e pulou para a conclusão errada. Claro. — Isso é bom, porque eu sou um cara, Claire. Eu sempre estou... Ela colocou a mão sobre a boca dele. — Você me pediu para casar com você. Você estava falando sério? Ele pegou a mão dela. Ele não disse nada. Seus lábios formaram o que teria sido o início de uma palavra, talvez uma frase, mas ele não falou. Ela o assustou tanto que tirou as palavras dele. — Uau... isso veio do nada — ele disse. — Isso é um não? Você estava apenas dizendo aquilo antes porque você achou que tinha que dizer? — Não! Quero dizer, não à pergunta original, obviamente, a essa última... — Ele deu uma respiração profunda. — Deixe-me começar de novo. Claire... olha, você me assustou, isso é tudo. — Ele pegou suas mãos, ambas as mãos, e entrelaçou os seus dedos. Então ele se inclinou para a frente e descansou contra a testa dela. — Claro que eu falei sério. Eu sempre falei sério. Eu vou sempre querer. Eu apenas pensei... eu pensei que você queria esperar.


— Eu queria — ela disse. — Mas se esses últimos anos em Morganville me ensinaram uma coisa, é que às vezes você apenas tem que... se arriscar. Não é seguro. Nunca é seguro. Mas às vezes você tem que viver perigosamente. Ele riu um pouco. — Você está falando a minha língua agora. — Você disse que eu queria esperar. Você não fez isso? — Nós provavelmente devemos voltar para aquela coisa de antes sobre eu ser um cara, certo? — Eu entendi essa parte. — Ela o beijou, apenas um esfregar de lábios, suas testas ainda se tocando. — Você esperou de qualquer maneira. — Bem, sim. Porque você valeu a pena esperar. — Ele disse isso como se fosse simples e evidente, mas a fez estremecer. Era uma coisa tão forte, sexy para se dizer, e ela sabia que ele falou sério. Ele sempre falava sério. — Se você quer se casar agora, esta noite, então vamos encontrar alguém para se passar por um juiz de paz em Blacke. — Essa não seria uma história para contar para as crianças — ela disse, e então ela prendeu a respiração porque ela disse isso sem pensar muito, e ela estava esperando ele achar estranho isso, se afastar e dizer algo como Uau, garota, aperte os freios. Mas invés disso ele apenas sorriu e disse: — Eu tenho certeza que nós vamos ter muitas histórias para contar para as crianças. Quase nenhuma delas vai ser apropriada. — Bom. — Excelente. — Então. Juiz de paz? — Não — ela disse. — Que tal fazer isso em Morganville, quando isso acabar? Vamos fazer direito. De verdade. — Você quer dizer vestido e paletó? Porque eu estava me acostumando com a ideia de dizer eu aceito em um moletom que eu pegaria emprestado de algum velho fedorento sem dente. Seria diferente. — Um diferente de uma forma absolutamente ruim. — Seria a definição dos anos oitenta de mau sendo ótimo, ou... — Não deveríamos acompanhar? — ela perguntou. Porque os outros tinham desaparecido dentro do prédio da biblioteca escurecida à frente, e ela tinha aquela sensação de novo de que pessoas estavam observando nas sombras. Vamps, provavelmente. Ela supôs que eles estavam ouvindo também.


— Em um segundo — ele disse, e puxou-a para mais perto, corpo a corpo, se encaixando em todos os lugares certos para iniciar um incêndio de tirar o fôlego em seu interior. — Você sabe que eles estão nos observando, certo? Ela assentiu com a cabeça. — Vamos dar a eles algo para eles assistirem. E então ele a beijou com toda a paixão, intensidade, calor e doçura de um chocolate amargo derretendo em sua língua, mas não apenas doce, porque era picante também, rajadas de pimenta queimando, e ele a deixou faminta, tão incrivelmente faminta de sentir a pele dele na dela que quase a deixou louca. Quase. — Bom esforço em me fazer querer rasgar as suas roupas — ela disse quando ele a deixou respirar novamente. — Não funcionou? — Oh, funcionou. Eu me sinto apenas melhor sem uma audiência. Ele a beijou suavemente no nariz. — Eu vou te lembrar disso mais tarde. Q q q Quando eles abriram a porta da biblioteca, eles encontraram-se catapultados para o passado. As janelas tinham sido tampadas para esconder as luzes, mas além do fato de que a eletricidade estava ligada, a Biblioteca Pública de Blacke não tinha mudado muito. As mesmas mesas de madeira velhas, as mesmas cadeiras resistentes, os mesmos pisos de linóleo com riscos e carpete. Estava mais limpa, no entanto. E não estava cheia de cidadãos de Blacke em pé ao redor com armas. Em vez disso, as pessoas estavam de pé ao redor em grupos de dois e três, sussurrando, e não exibindo armamento visíveis. Eles estavam em sua maioria observando Morley, que tinha saltado para cima de uma das mesas de estudo e estava andando ao redor, com as mãos atrás das costas, com o sobretudo girando em torno dele. Claire meio que esperava que ele tivesse esporas tilintando. Certamente ele tinha as botas de cowboy, e elas pareciam velhas o suficiente para ter sobrevivido a Guerra Civil e já estar em uso desde então. Shane deve ter pensado a mesma coisa, porque ele disse para Morley: — Bela roupa. De que cadáver fedorento você roubou? Era difícil ler a expressão de Morley já que ele usava o cabelo longo e selvagem e ocultava o seu rosto muito bem. — Eu poderia perguntar a mesma sobre os seus trapos mal ajustados, menino. Embora eu duvido que você tenha


matado alguém. Talvez assaltado. Eu duvido que você tenha estômago para isso. — Oh — Shane disse com um sorriso que era pelo menos metade lobo, — você pode se surpreender. — Não diga — Morley falou. — Sem dúvidas. Oliver, onde você conseguiu essas... crianças selvagens? — Você se lembra de Shane — Oliver disse. Ele tirou o cobertor, e Claire rapidamente virou as costas quando ela viu o brilho branco de pele. Sem hesitação, ele estava tirando e colocando as roupas que tinham sido dadas a ele. Ela ouviu o sussurro de pano e zíperes fechando e, finalmente arriscou um olhar por cima do ombro. Sim, ele estava vestido com um par de jeans ajustados e uma camisa escura lisa que de alguma forma fazia ele parecer irritado. — E Claire. E, claro, Michael e Eve. — Encantado mais uma vez, obviamente — Morley disse. Ele não parecia encantado; ele parecia totalmente impaciente. — Algum de vocês não era vampiro antes? Oh, não importa. Entediante. Vamos ao objetivo, então. Vocês trouxeram Ayesha para nós e eu agradeço por isso, mas eu percebo que vocês não resgataram mais ninguém. Ideias? — Várias. Nenhuma que envolve você não gritando. — Não seja tão limitado, eu tenho certeza que você pode imaginar várias que me envolve implorando também. Você fugiu, Oliver? Deixou o seu orgulho com os gatos enjaulados para trás? — Fallon está com eles — Oliver disse. — Ah. Fez-se silêncio. Morley saltou da mesa e se apoiou contra ela, nivelando os olhos com Oliver para variar. Ele tirou o chapéu, deixou cair sobre a mesa e passou freneticamente as mãos pelo cabelo bagunçado. — E então? — ele finalmente disse. — Ele nunca foi meu problema, nem o seu, nem mesmo o de Amelie ou do pai morto dela. Ele é responsabilidade do seu cara louco. — Myrnin — Oliver disse. — Sim. — Espere — Claire disse. — O que você quer dizer, problema de Myrnin? Ele não tem nada a ver com isso! — Oh, ele tem, garota, certamente tem — Morley disse. Ele sentou sobre a mesa e deu-lhe um olhar divertido. — Ele nunca disse a você a história? Ah, bem, provavelmente porque não traz uma boa reputação, eu suponho. O pobre, triste e instável Myrnin estava sozinho depois que seu criador vampiro morreu. E ele se tornou amigo de um sacerdote, que também era culto, que também era um estudante secreto de alquimia.


— Era Fallon — Oliver disse. — No caso de você não ter entendido o óbvio. — Quieto, é a minha história. Sim, era o nosso querido amigo Fallon, que fervorosamente queria curar Myrnin de sua loucura... e sua maldição. Acabou que ele terrivelmente piorou as coisas, e a próxima coisa que se sabe é que Myrnin drenou Fallon como um barril de vinho. Como sempre, ele se arrependeu imediatamente e decidiu ressuscitá-lo, dentro das portas da própria igreja de Fallon, no mínimo. Uma coisa que Fallon com toda a certeza não queria fazer era ressuscitar, pelo menos não como um vampiro. Mas o nosso querido louco o arrastou chutando e gritando de volta à vida. Violou ele mais efetivamente, eu receio... e então deixou ele para cuidar de si mesmo. Claire não sabia o que era pior, ouvir que Myrnin matou um padre, ou que ele tinha tornado ele um vampiro contra sua vontade, ou que ele o tinha abandonado como um animal de estimação não desejado. — Ele não era ele mesmo na época — Oliver disse. — Myrnin não é o responsável pelos... excessos de Fallon. Ou pela igualmente excessiva autoaversão que levou a sua perseguição contra nós. — Bobagem. Em resumo — Morley disse, — tudo isso é culpa de Myrnin, e é a bagunça dele, e porquê eu deveria limpar não está claro. — Eu concordo que Myrnin que deveria eliminar Fallon para nós — Oliver disse. — Infelizmente, ele parece mais curioso do que indignado no momento. Algo sobre os progressos realizados pela cura de Fallon. Você sabe o quão tolo ele pode ficar quando você balança um pouco de ciência na frente dele. — Eu ouvi um boato — Morley disse. — Difícil de acreditar, francamente. É verdade que Fallon pensa que pode nos transformar de volta a humanos? — É verdade que ele pensa isso. Também é verdade que ele pode fazer isso, pelo menos em alguns casos. — Oliver apontou um dedo para onde Michael e Eve estavam sentados juntos em uma das mesas de estudo. — Você mencionou mais cedo. Lembra do menino? Morley deu a Michael um longo olhar, e seus olhos se estreitaram lentamente. — Ah. Bem, isso parece uma pena — ele disse. — Mal teve tempo de sentir o gosto, não é? E agora ele foi despejado de volta ao longo caminho da poeira humana. Ainda assim. Não é muito uma perda para o resto de nós, ao que parece. — Você se desviou do meu objetivo, Fantasiado. Fallon pode fazer o que ele diz. Não o tempo todo, não com uma grande garantia, mas ele tem uma cura. Quantos você acha que iriam atrás dele se o prêmio estivesse diante deles?


Morley deu de ombros. — Não com tudo isso. Quando você vê bastante amigos marchando até as suas sepulturas, você perde o sabor das cinzas. O sangue tem um sabor muito mais convincente. — Você e eu compartilhamos uma fé, se não os detalhes individuais da mesma. E se ele puder nos devolver a um estado de graça? — Eu sabia que no final iria se reduzir a crença para você — Morley disse e seus olhos reviraram. — Você se sente amaldiçoado e afastado do amor de Deus, pobre pomba? Eu não. Eu me sinto muito abençoado por ser capaz de acordar todos os dias sabendo que eu ainda vou ver outro livre de fraqueza, doença e dor. Michael se levantou. Sua cadeira chiou bem alto no chão, e ambos os vampiros olharam na direção dele, ambos com idênticas expressões franzindo a testa. — Nós não estamos aqui para o debate religioso ou seja o que for que vocês estavam prestes a fazer. Fallon pretende soltar os vampiros em Morganville, em seguida usar a matança para justificar dar a eles a cura até que não reste ninguém. E quando ele acabar com Morganville, ele virá aqui, Morley. Ele virá atrás de você. Todos vocês. Ele tem que vir. Uma senhora tranquila e esbelta de meia-idade estava sentada em uma poltrona próxima e disse: — Ele está certo. Nós sabemos que isso não vai acabar se Morganville for derrubada. Os draugs quase acabaram com tudo, e agora este Fallon vem para terminar o trabalho. Eu não vou deixar ele acabar conosco. Nós lutaremos ferozmente. Essa era a Sra. Grant, a bibliotecária — e, junto com Morley, aquela que governava a cidade de Blacke. Ela pode parecer doce e amigável, mas Claire tinha visto ela lutando contra os vampiros e sabia que ela não era alguém para se meter. Até mesmo Morley sabia disso. Ele abaixou a cabeça levemente em sua direção. — Nós sempre podemos fugir. Eu só acabei nessa cidade caipira do Éden pela desgraça que sempre persegue os meus passos. E se nós carregarmos os nossos carros de vampiros à prova de luz e simplesmente irmos embora? — Esses vampiros têm família aqui. Eles são os nossos filhos, filhas, pais, mães. Eles não pediram por essas coisas, e você não pode simplesmente mandá-los embora. A maioria deles vai querer esta cura que você está falando, você sabe. — Isso é exatamente o que me preocupa — ele disse. — Você já ouviu, Oliver. A maioria não vai sobreviver. E nós não temos nenhuma garantia real de que a cura não vai diminuir a vida deles, não é? E se a cura da humanidade


permitir viver apenas alguns dias, ou semanas, ou um ano? Que valor tem então? Claire não tinha pensado nisso — não tinha nem mesmo considerado isso. E agora isso a atingiu com uma força terrível. Fallon não estava realmente preocupado em se certificar que seus vamps “curados” viveriam vidas longas e produtivas, não é? Ele só queria que eles não fossem mais vampiros. Ele provavelmente considerava uma semana de vida sem beber sangue uma troca justa. E se Michael tinha apenas sobrevivido para ficar doente e morrer? Isso iria magoar Eve. Isso iria quebrá-la ao meio. — Nós não vamos correr — a Sra. Grant disse. — Mas querida — Morley começou. — Não venha com “querida”, desgraçado. Eu não sou a sua esposa e eu não sou a sua mãe. Eu sou a chefe da parte humana desta cidade e você vai prestar atenção em mim. De acordo? — Sim — Morley disse. Havia um pequeno sorriso em seus lábios e uma dobra de diversão ao redor dos olhos. — Claro. Muito bem então, como você acha que devemos prosseguir em nossa busca para libertar a grande Morganville? Descer sobre eles em uma horda furiosa de presas? Isso tem um certo apelo teatral, mas... — Eles estariam prontos — Oliver disse. — Eles estavam prontos antes de chegarem aqui. Eles ignoraram os vampiros primeiro; eles trouxeram boas obras para a comunidade humana, ganharam a confiança deles, acenderam as chamas da ira. E Amelie foi lenta para agir quando não havia nenhuma ameaça à vista. Se ela soubesse com quem estava lidando antes, ela teria tomado medidas. Mas ela hesitou. Se eu estivesse lá, ao lado dela... — Mas você não estava — Morley disse. — Porque você já tinha falhado com ela. O corpo de Oliver ficou tenso e sua cabeça baixou com uma ameaça inconfundível. — Felizmente — Morley continuou com esse estranho vestígio de um sorriso, — não eu, e nem os seus companheiros humanos. Ela escapou de Fallon. O quê, ninguém lhe disse? Aquela pivete com você, aquela que parece tão inofensiva, ela se cobriu com o sangue de Amelie para distrair os cãs do inferno. E aquele garoto, aquele que parece tão incapaz de autocontrole — apesar da infecção de Fallon no sangue dele, ele se impediu de matar tanto a garota dele quanto a sua.


O rosto de Oliver torceu em uma careta, e lançou um olhar afiado para Claire e Shane, mas antes que ele pudesse perguntar qualquer coisa, uma mulher vestida de calças jeans e uma camisa abotoada saiu de entre as estantes. Seu cabelo ondulado loiro-branco caía através de seus ombros até a metade das suas costas, e seus olhos cinza-gelo pareciam cansados. — É verdade — Amelie disse. — Morley exagera, mas ele absolutamente não mente. Se não fosse por essas crianças, eu estaria nas mãos de Fallon agora, e... estaria acabada para os vampiros de Morganville. A mão de Shane esmagou a de Claire, uma reação súbita e convulsiva que fez ela estremecer e olhar para ele em alarme. Ele ficou pálido, e seu corpo inteiro ficou tenso como se ele estivesse lutando uma batalha interna de proporções épicas. Uma batalha que ele perdeu, como aconteceu. Seus olhos ganharam um brilho dourado misterioso e ele soltou a mão dela para se lançar para a frente. Havia uma mesa no caminho, mas ele saltou sobre ela, indo direto para Amelie, e Claire viu garras sangrentas se empurrando para fora de seus dedos. — Não! — ela gritou. — Shane, não! Michael entrou em seu caminho. Talvez, naquele momento, ele estava pensando que ainda era um vampiro, com capaz de velocidade e força; deveria ser difícil de esquecer isso depois de anos estando acostumado a isso. Mas ele não tinha essas coisas, e Shane o atingiu como um trem de carga, empurrandoo para trás. Michael levantou o braço esquerdo para proteger a sua garganta enquanto Shane se lançou para ele, e os dentes de Shane morderam a sua carne em um borrão violento. Oliver já estava em movimento. Ele deu um salto do outro lado do quarto, pousou sobre a mesa, e lançou-se diretamente para Shane. Ele puxouo para longe de Michael, girou-o e jogou-o para baixo. Então ele segurou-o ali no chão enquanto Shane triturava o linóleo com suas garras. — Como sempre — Oliver disse: — Eu estou a seu serviço, Fundadora. — Eu sei. — Havia uma sombra de um sorriso nos olhos de Amelie, e nenhum traço de medo. — Michael? — Eu estou bem — ele disse, mas foi apenas uma resposta automática, não era verdade. Seu braço estava sangrando, e Eve já estava ao lado dele e ajudando a segurá-lo enquanto ele cambaleava. Ela pegou uma cadeira e colocou-o com segurança nela, e rapidamente tirou o casaco para envolvê-lo em torno de seu braço mordido.


No chão a alguns metros de distância, Shane ainda estava mudando, desencadeado pela presença de Amelie. — Ele vai precisar ser trancafiado — Amelie disse. — Não, você não pode... — Claire deixou escapar, e até mesmo quando ela disse isso, ela sabia que Amelie estava certa. Ainda assim parecia errado. Nauseante. Horrível. Mas Shane era perigoso, obviamente; ele tinha machucado Michael, e Michael não era um vampiro mais; ele esteve no caminho. Ele teria feito o mesmo com qualquer um. — Eu não acho que você iria querer que eu reconsiderasse — Amelie disse, — já que a alternativa seria a de acabar com o menino, e nenhum de nós quer isso. — Fale por você — Oliver resmungou, e teve que colocar uma mão aberta sobre as omoplatas de Shane para impedi-lo de empurrar para cima. Ele estava, Claire percebeu, ainda mudando, seu corpo se contorcendo em uma nova forma horrível. — Para baixo, menino. Fique para baixo. — Não o machuque! — Então eu preciso de algo para domá-lo — Oliver disse, ignorando-a completamente. — Depressa, por favor. Ele é forte. A Sra. Grant estava andando na direção deles, carregando uma bolsa antiquada — do Dr. Theo Goldman, Claire ficou surpresa ao ver. Ela lembrava dessa bolsa. Ela ainda tinha as iniciais do doutor vampiro sobre ela em um dourado apagado. — Espere, o que você está fazendo? — Claire disse. Ela não se lembrava de se mover, mas ela estava segurando a borda de uma mesa agora. — Shane, não lute! Por favor! — A Sra. Grant colocou a bolsa para baixo e tirou uma seringa de aparência antiga com uma agulha horrivelmente longa. Ela prendeu a respiração quando a Sra. Grant, com um impulso decisivo, aplicou a agulha nas costas de Shane. Ele deixou escapar um uivo — um uivo de verdade, puro e de dar arrepios — e Amelie se inclinou em um joelho para ajudar a segurar Shane para baixo quando a Sra. Grant deprimiu o êmbolo, esvaziando o conteúdo da seringa nele. — Volte — Oliver retrucou. A bibliotecária tampou a seringa e colocou na bolsa de Theo antes que ela se retirasse, deixando os dois vampiros para lidar com Shane enquanto ele continuava a se debater e lutar pela liberdade. Ele estava rosnando agora, um som baixo e cruel que fez Claire sentir falta de ar. E então, seu rosnar virou-se para dor e lamúria confusa, e desapareceu para uma respiração ofegante. Claire engasgou e pulou para onde Amelie e Oliver ainda estavam segurando Shane — o que Shane tinha se tornado — para baixo. Ele não parecia


humano agora. Parecia mais como um cachorro preto, enorme e terrível, com aqueles olhos estranhos e desumanos olhando sonolentos para ela. — Relaxante muscular — a Sra. Grant disse. — Deve segurá-lo um pouco, mas na minha experiência com vampiros pelo menos, não dura muito tempo. Então, é melhor descobrir com o que estamos lidando. Pela aparência dele, não há nenhum lugar que podemos prendê-lo aqui que ele não vá romper. — Oh, eu vi algo assim antes — Morley disse. Ele ainda estava sentado na borda de uma mesa, parecendo um pouco surpreso, mas não alarmado. — Há muito tempo. Um alquimista transformou alguém em um lobo, uma dessas demonstrações elaboradas tão populares de uns tempos atrás. — Ele transformou ele de volta? — Claire perguntou. — Os lobos não foram terrivelmente populares na época. Eles não tiveram a chance. — Ele olhou pensativo para Shane por um instante, em seguida, moveu seu olhar para Michael enquanto a Sra. Grant se movia até ele com a bolsa de médico e desembrulhava o braço ferido. Ela fez ele mexer seus dedos e parecia satisfeita quando ele foi capaz de fazer isso sem muita dor. — Mas parece-me que é uma coisa similar ao que aconteceu com ele. Claire não tinha ideia do que ele quis dizer, e ela não podia assimilar tudo; era muita coisa, muito rápido, de um momento caloroso e romântico para... isso. — Michael foi curado. Seja lá o que for, ele não está sendo curado! — Bem, é uma mudança essencial de estado. Vampiro para humano é uma grande mudança assim como o que aconteceu com o seu garoto cachorro; talvez a cura que Fallon forçou goela abaixo do jovem Michael possa funcionar tão bem para mudar o seu cão de volta à forma adequada dele, sim? Isso era... loucura. Não científico. Era o tipo de coisa que Myrnin pensaria — mas o que Claire não poderia esquecer era quantas vezes Myrnin estava certo nessas situações. — Mas nós não temos a cura — ela disse. — E mesmo que nós tivéssemos, mata a maior parte daqueles que tomam. — Não matou ele — Morley disse, apontando em direção a Michael. — O sangue dele ainda cheira estranho com tudo o que foi injetado nele. E o jovem Shane acabou de consumir um bocado dele. Claire compreendeu finalmente o que ele estava dizendo, assim como Michael que encontrou o olhar dela parecendo horrorizado. — Não — ele disse. — Não pode funcionar dessa maneira. — Diga isso a ele — Morley disse, e apontou para Shane... que estava mudando. Isso não aconteceu tão rapidamente quanto a mudança que ele tinha experimentado na presença de Amelie, e Claire reconheceu, com um horror


nauseante, o brilho prateado que tinha atingido a pele dele por baixo do casaco. Ela tinha visto isso antes, nos vampiros que tinham sido injetados com a cura. Ela viu isso matá-los. — Saia de perto dele! — ela gritou para Oliver, e quando ele não se mexeu imediatamente, ela o empurrou. Foi tão eficaz como empurrar um prédio, mas após um olhar com as sobrancelhas levantadas para Amelie, ele se levantou e deixou-a ajoelhar-se ao lado do corpo trêmulo de Shane. Ela não tinha medo de Shane, mesmo que ela supôs que deveria ter; ele não era ele mesmo — o fato de que ele tinha atacado Michael era prova suficiente disso. Mas ela não podia pensar nisso, não poderia se preocupar com isso. Ela estava com tanto medo por ele. Dentro de outro minuto o corpo dele tinha começado a deformar de volta para a forma humana. Ela viu as garras que tinham saído de seus dedos se tornarem opacas e quebradiças, em seguida, se quebrarem. O pêlo que cobria ele de cinza estava caindo, deixando sua pele prateada e palpitante. Ele estava gemendo baixinho. Ela o puxou para seu colo. Ele parecia quente e úmido, e ela podia sentir seus ossos se movimentando e mudando debaixo de sua pele em ângulos totalmente errados, repugnantes... até que eles ficaram certos novamente. Ele abriu os olhos, deu uma respiração profunda e lenta, e disse em uma voz áspera, mas reconhecível: — Claire? — Seus olhos estavam castanhos novamente. Humanos. — Desculpe. — Ele engoliu em seco, e ela viu que o brilho prateado estava desaparecendo de sua pele. — Desculpe. — Seus olhos se fecharam de novo, como se ele estivesse cansado demais para mantê-los abertos. — Não — ela disse, e sacudiu-o. — Não, fique acordado! Shane, fique acordado! Seus olhos se abriram de novo, e ele piscou e focou em seu rosto. — Estou cansado — ele disse. — Ei, alguém me drogou? Eu me sinto drogado. — Ele parecia fora de si também, mas pacífico. Ela verificou seu pulso. Estava lento e constante. Sua pele tinha tomado a cor de costume, um bronzeado suave. — Eu machuquei alguém? Ela involuntariamente olhou para onde Michael estava tendo o seu braço sendo olhado pela Sra. Grant; ele estava pálido, mas ele deu-lhe um polegar para cima. — Não — ela mentiu. — Não, tudo bem. Você está bem.


— Eu me transformei em um cão do inferno de novo? Porra. Isso é embaraçoso. — Apenas descanse. — Ela beijou sua testa suavemente. — Descanse. — Ela estava com medo de ver seus olhos se fecharem, mas ele estava dopado com muita quantidade de relaxante muscular para ficar acordado. A temperatura dele parecia... normal. E seu pulso forte. — O que diabos tinha naquela dose? — Ele soava indistinto e sonolento agora. — Uau. Droga de festas. Tem mais? Uau. — Ele levantou o braço e olhou para ele; a marca da mordida estava quase desaparecendo, reduzida a uma pequena cicatriz. — Isso ainda dói. Parecia que estava queimando. Você é bonita, você sabia disso? — Ele deu a Claire um sorriso desleixado. — O que estava naquela dose? — Eve perguntou. — Porque você está chapado como um ônibus espacial, cara. — Ela se agachou ao lado de Shane do outro lado e ajudou Claire a levantá-lo para ficar de pé. Ele parecia... sem osso. — Ok, ele vai ser praticamente inútil por um tempo. — Nós temos um lugar que vocês podem todos ficar o resto da noite — a Sra. Grant disse. — Alguma ideia de quanto tempo isso vai durar? — Claire acenou desesperadamente para Shane, que estava olhando para os dedos e balançando. Ele parecia fascinado. — Algumas horas, provavelmente. Deixe-me pegar as chaves da casa de hóspedes — a Sra. Grant disse e desapareceu dentro de um escritório. — Eu tenho que perguntar, — Michael disse. — Meu sangue acabou... de curar ele? — Parece que sim — Claire disse. — Morley disse que podia sentir o cheiro de medicamentos em você. Talvez aja contra a infecção que Shane tinha. — Vamos ser claros sobre isso — Eve disse. — Meu ex-marido vampiro acabou de curar o seu namorado lobisomem com o sangue dele. — Parece estar certo — Claire disse, e quase riu. — Típico de Morganville, certo? Eve ofereceu um punho erguido para ela. — Típico de Morganville. — Elas bateram. Do outro lado da sala, Oliver ignorou. Caiu de joelhos e inclinou a cabeça para Amelie da mesma maneira que um nobre antigo deveria se curvar à sua rainha. Ela silenciosamente ofereceu a mão, e ele pressionou-a sem sua testa, então nos lábios. Estranhamente todo formal. — Eu falhei com você duas vezes — ele disse. — Você acabou de parar o garoto.


— Não foi isso que eu quis dizer. — Eu sei o que você quis dizer, Oliver. Você conta muitas coisas como falhas quando são meramente contratempos. — Ela acenou para ele se levantar, e ele se levantou, ainda intimamente perto dela. Ela não parecia se importar. — Eu me sinto mais segura com o meu velho inimigo ao meu lado. — Então você tem um plano? — Nós temos um — ela disse, e moveu seu olhar em direção a Morley, que fez uma pequena reverência teatral presunçosa, pareceu ainda mais antigo do que o que Oliver tinha acabado de fazer. — Eu acredito que você vai ajudar. — De qualquer maneira que você julgar necessário. Ela assentiu com a cabeça, se aproximou ainda mais, e colocou a mão em seu rosto pálido. — Então coma e descanse até de manhã — ela disse. — Na parte da manhã vamos tomar de volta a nossa cidade.


Capítulo 12 Sra. Grant deu cama e café da manhã em Blacke para eles. Basicamente, era uma casa de quatro quartos com portas que fechavam e uma cozinha self-service localizada apenas cerca de um quarteirão da biblioteca. O esgotamento de Claire estava começando a fazer o mundo parecer muito brilhante, e quando ela se viu de pé na cozinha de uma casa estranha, tomando chocolate quente temperado, pareceu uma experiência estranhamente irreal e divina. O que, ela pensou quando se apoiou no balcão, de alguma forma parecia apropriada. Eve levantou as sobrancelhas quando ela drenou o resto de seu cacau. — O quê? — Eu só estou pensando — Claire disse. — Pensando que talvez Shane... — Poderia ter uma recaída ou algo assim? Oh, querida, não chame por problemas. Nós temos o suficiente aqui e os extras vão te matar. Shane é forte. Ele vai ficar bem. — Certo — Claire disse suavemente. — Eve, sobre o que Morley disse naquela hora, sobre a cura... Eve virou-se e enxaguou a xícara na pia, mas era mais para evitar o contato visual do que qualquer outra coisa. — Você acha que poderia haver efeitos colaterais? Eu não acredito nisso. Eu não posso. Eu o consegui de volta, e isso é tudo o que eu posso pensar agora, Claire. Eu consegui Michael de volta, o verdadeiro, aquele que eu me apaixonei quando eu tinha quatorze anos, aquele que eu amei tanto quando eu tinha dezoito anos. Qualquer outra coisa... qualquer outra coisa é algo para amanhã. Claire assentiu. Ela entendia isso, a necessidade de apenas bloquear tudo de fora e ficar tranquila. Parecia como se ainda houvesse esperança no mundo, e amor, e um futuro. — Vá em frente — ela disse, e terminou a sua própria bebida. O cacau estava tendo o efeito de costume, e por cima do esgotamento geral ela se sentia quase tão entusiasmada e confusa quanto, como se ela tivesse tomado uma dose do suco feliz de Shane. — Eu sei que você está morrendo de vontade de dizer isso a ele.


O sorriso de Eve iluminou o lugar. O mundo. — Oh, ele sabe, se ele tem um cérebro na cabeça dele — ela disse. — Mas eu definitivamente estou ansiosa para dizer de qualquer maneira. — Ela agarrou Claire em um abraço forte e firme. — Amo você, Claire Bear. Vejo vocês em algumas horas. — Eu também te amo — Claire disse. Era uma sensação tão boa, estarem juntos novamente. — Vá em frente. Michael está esperando. O sorriso de Eve era ainda mais quente do que o sol, o calor permaneceu mesmo depois que ela saiu. Claire enxaguou a sua própria caneca e colocou na máquina de lavar louça, em seguida foi até um pequeno banheiro central. Havia sabonetes de hóspedes e escovas de dentes descartáveis, e ela se limpou o melhor que pôde, então respirou fundo e andou pelo corredor até o quarto onde eles colocaram Shane. Ela temia que de alguma maneira ele estivesse pior, mas em vez disso ele estava deitado de lado enrolado no centro da cama king-size com cobertores empilhados em cima, e ele estava dormindo. Ela tirou os sapatos, calças e moletom com capuz e subiu na cama ao lado dele. Ele estava quente, mas não febrilmente quente, e quando ela se aconchegou perto dele ele fez um barulho satisfeito na parte traseira de sua garganta e colocou os braços ao redor dela. Ele não chegou a acordar, o que era bom; ela estava tão cansada que queria chorar, e a sensação dele, o calor suave sonhador — isto significava mais para ela do que qualquer outra coisa agora no mundo. Ela se enrolou contra ele, puxou as cobertas, e dormiu em menos de um minuto. Q q q Claire acordou lentamente — não em pânico, para variar, segura de que não havia monstros para se atirar nela nas sombras. Shane tinha mantido tudo isso à distância. A luz que rastejava através das cortinas de renda não anunciava ainda exatamente a manhã, mas era o suficiente para começar a sua lenta ascensão. Ela ainda estava na mesma posição em que ela tinha caído no sono, ela percebeu, exceto pelo calor de Shane que não estava próximo a ela. Ela se virou e viu que a cama estava vazia. Isso levou os sentimentos bons e preguiçosos da manhã para longe. Ela sentou-se rápido. — Shane? A porta do quarto se abriu, e Shane veio carregando duas canecas de café. Ele parecia pálido e cansado, mas ele definitivamente não estava muito feliz


mais. Ele sentou na cama de pernas cruzadas ao lado dela e passou-lhe uma caneca — estável o suficiente para não derramar uma gota. Ele lembrava de como ela gostava do dela, também. — Você acordou cedo — ela disse. — Como você se sente? — De ressaca — ele disse, e tomou um gole de seu café. Seus olhos fecharam de prazer. — Oh, graças a Deus. Eu estava com cerca de um milhão de por cento deficiente de cafeína. Eu disse alguma coisa embaraçosa? — Você ficou todo cão do inferno e atacou Amelie na biblioteca. — Não, é sério, eu disse algo embaraçoso? — Você disse que eu era bonita — ela disse, e sorriu. — Bem, você é, mesmo com o cabelo engraçado e assanhado para cima. — Ele pousou a caneca e estendeu a mão para alisá-lo para baixo. Ela olhou para o seu antebraço. A mordida era agora uma cicatriz desaparecida, não vermelha. — Sim, eu sei o que aconteceu. Eu me lembro de morder Mikey. Ele está bem, certo? — Ele está bem. — Parecia... parecia como se eu estivesse queimando por dentro. Era o sangue dele, certo? — O melhor que eu posso dizer é que a cura ainda estava na corrente sanguínea dele, e aquilo atacou o que Fallon colocou para fazer você... mudar. Então eles tipo se anularam mutuamente. — Por agora — ele disse. Eu peguei um fio solto no cobertor. — Shane, você está bem. De verdade. — Desculpe. Você está certa. Não tem café suficiente. — Ele pegou a sua caneca novamente e tomou um longo gole, então pousou na mesa de cabeceira. — Como está o seu? — O café? Está ótimo. — Ela beijou-o levemente. — Obrigada por trazer. — De nada — ele disse, e beijou-a de volta. Oh, isso era bom. Muito bom. Claire se afastou tempo suficiente para colocar a caneca de lado, antes do café derramar por todo o peito dela, e se inclinou para o beijo como se ela nunca tivesse se afastado. — Bem — Shane murmurou contra os seus lábios, e afastou o cabelo dela do rosto com toques demorados e calorosos, — isso é bom. Eu quase podia esquecer que estamos prestes a ir para a guerra. Mais uma vez. — Não vamos pensar sobre isso agora. — Ok. — Ele se inclinou para frente, e deixou-se cair de volta para o conforto suave das almofadas. — Vamos pensar em outra coisa, como... deixar o café esfriar.


— O café está bom. — Eu faço mais. Foi uma hora adorável e calorosa, doce, lenta e de tirar o fôlego, e Claire achou que talvez fosse estranho o quanto eles se conheciam tão bem agora, cada toque estava no lugar certo, na pressão certa. Era excitante, mas era confortável em formas que ela nunca poderia ter imaginado, tão confortável como ela nunca poderia ter estado com qualquer outro. Sem segredos. Sem vergonha. Nada além de uma confiança completa e doce. Até a batida na porta do quarto. Eles estavam deitados nos braços um do outro, agradavelmente sonolentos, mas os olhos de Claire se abriram ao som, assim como os de Shane. Eles hesitaram por apenas um segundo antes de rolarem em direções opostas para pegar as roupas do chão e começarem a se vestir. — Aguarde um segundo! — Claire disse, e puxou para cima as calças, em seguida, vestiu o casaco com capuz sobre sua camiseta. O logotipo UPT VÍBORA parecia apropriado nesta manhã. Ela enfiou os pés em seus sapatos, mas por mais rápido que ela fosse, Shane foi ainda mais rápido. Ele estava sentado na cama calmamente tomando o café quando a porta se abriu. — Bom dia — ele disse para Morley, que parecia totalmente Vampiro do Faroeste novamente em sobretudo, botas, cachecol e chapéu. — Meio rude entrar quando a moça pede a você para esperar, não é? — Meu sincero pedido de desculpas — Morley disse, e fez uma saudação com as pernas retas, chicoteando o seu chapéu com um abanar. — Mas estamos prestes a retomar a cidade de Morganville, e boas maneiras não são a minha maior preocupação. Talvez vocês queiram se juntar a nós, ou vocês estão, uh, ocupados? — Temos uma escolha? Porque se é assim... — Nós vamos — Claire disse. Ela bebeu o resto do café — frio, agora — e caminhou até Morley. — Vamos, Shane. Você realmente vai ficar sentado e fora disso? — Você está certa. Tem uma luta e eu não estou nela? Parece errado. — Shane fez questão de terminar o seu café. — Ok, vamos fazer isso. Espere, o que exatamente vamos fazer? — Eu não tenho ideia do que vocês vão fazer — Morley disse, — mas a Sra. Grant está matando Amelie. Q q q


Claire achou que fosse uma coisa estranha e frívola de dizer até que ela viu Amelie em cima da mesa da biblioteca, sem se mexer, com uma estaca com revestimento de prata em seu coração. — O que você está fazendo? — ela deixou escapar, e se empurrou para a frente. Michael e Eve já estavam lá de pé juntos. — O que aconteceu? — Não toque nela — A sra. Grant advertiu. — Confie em mim, nós calculamos isso muito cuidadosamente. — Estacar ela? Com prata? — Porque nem mesmo Amelie poderia resistir ao veneno por muito tempo, não no seu coração. Ela tinha mais resistência do que a maioria dos outros vampiros que Claire já tinha visto, mas isso... era extremo. E extremamente perigoso. Então ela viu o símbolo do lado da estaca — um nascer do sol. — Você é uma Daylighter — Claire disse sem rodeios, e olhou em volta por uma arma. Ela não viu uma por perto, então ela pegou uma cadeira. Era pesada, mas ela levantou-a de qualquer maneira. — Afaste-se dela. — Largue isso — Oliver disse, e pegou a cadeira dela com uma mão. Ele colocou-a de volta à mesa, manuseando tão facilmente como se ela fosse feita de palitos de fósforo. — É uma ilusão. Uma produzida. A estaca é de prata, roubada dos Daylighters; as armas dele vêm carregadas com nitrato de prata. — Ela sabia disso, porque ela tinha visto uma enterrada no peito de Michael em Cambridge. Elas foram projetadas para fornecer uma dose fatal de prata quando alguém tentava removê-las. — Nós removemos o nitrato de prata presente nessa, e a estaca está revestida com plástico. Não é tóxico para ela, mas é sem dúvida ridiculamente doloroso. Ela é mais convincente morta. Amelie abriu os olhos. — Eu posso ouvir você, você sabe. — Sim, eu estou bem ciente — ele disse, e por mais que ele gostasse de Amelie — o que, Claire pensou, era muito — ele também não podia resistir a ter um pouco de prazer em seu desconforto. — Fique quieta. Você está morta. — Nós sempre podemos enterrar essa estaca em seu peito, desgraçado. — Eu não ficaria nem metade adorável usando. Morley sacudiu a cabeça com impaciência. — Por favor, podemos apenas ir em frente? A Sra. Grant e os nossos seres humanos vão levar Amelie para a cidade e convencer Fallon de que eles vão trocá-la por alguma vingança justa pelos vampiros que ele tem prendido no shopping. Ele vai acreditar; a história é mais do que convincente, considerando o estrago que o sangue do pai de Amelie fez sobre esta cidade. Com o começo dos ataques de vampiros de ontem à noite, quem melhor para alimentar a multidão dos verdadeiros


crentes do que os moradores de uma cidade já atacada pelos monstros? — Ele parecia muito satisfeito consigo mesmo. De uma forma repugnante. — Estou tão feliz que você pense assim, Morley — a Sra. Grant disse. — Porque nós tivemos uma discussão, e estamos decididos a alterar o plano um pouco. Como atores, você entende que precisamos realmente fazê-los acreditar na ideia. — Ela assentiu com a cabeça, e das sombras por trás das estantes dois homens saíram, ambos armados com bestas. Morley rosnou e disparou para o lado, e a flecha que era para o seu coração o errou. Oliver foi mais lento, provavelmente o resultado de todas as coisas horríveis amontoadas sobre ele nos últimos meses — e a flecha com ponta de prata foi direto em seu peito e ele caiu bem onde estava. Mas Morley não ia cair sem uma luta. Ele virou-se para a Sra. Grant, rugindo em fúria, e ela calmamente levantou a pequena besta que ela segurava debaixo da mesa. Enquanto ele corria em sua direção, ela mirou e atirou. Morley caiu contra a mesa com os olhos e boca largos e, finalmente, caiu no chão. Eu estava certa, Claire pensou com uma onda de medo real. Eles são Daylighters. Mas Amelie não estava reagindo, mesmo ela podendo; o fato de que ela tinha sido capaz de falar provava isso o suficiente. O que significava que isso era o plano de Amelie, e tinha sido desde o início. Ela só não tinha dito a Oliver e Morley e quão longe ele iria. Shane, Eve e Michael não tinham se movido para protestar, provavelmente todos por diferentes razões: Shane porque ele não tinha motivo para protestar contra vampiros levando uma flecha, Eve porque ela estava em conflito sobre nunca ter gostado de Oliver e Morley, e Michael porque... bem, provavelmente porque ele entendeu do mesmo jeito que Claire. A Sra. Grant olhou para os quatro. — Não fiquem aí parados, levem eles para as mesas — ela disse. Ela não tinha gostado de atirar em Morley, Claire podia ver isso. — Eles são velhos, mas isso não foi uma mordida de besouro. Precisamos colocar as estacas revestidas neles rapidamente. Esse era um processo mais clínico do que Claire estava estritamente confortável; ela ajudou a puxar as flechas, mas empurrar as estacas era muito mais nojento, e ela deixou Michael e Shane fazerem esta parte. Não que eles estivessem tendo muito prazer nisso, tampouco. Eve simplesmente virou as costas inteiramente. — Temos certeza de isso é um bom plano? — ela perguntou, ansiosa. — Porque eu estou começando a me preocupar. Parece assustador.


— Porque é — a Sra. Grant disse. Ela caminhou até os quatro deles quando Michael e Shane se juntaram a elas. — Eu vou ter que manter um olho em meus dois cavalheiros aqui para ter certeza de que eles não façam algo bobo como remover as estacas, mas espero que isso atraia os instintos de atuação de Morley, e Oliver certamente pode ver as vantagens. Agora, vocês quatro. Eu preciso colocar vocês em uma atuação também. — Q...que tipo de atuação? — Eve perguntou. Ela parecia ainda mais duvidosa. — Nada muito difícil, eu prometo — a Sra. Grant disse. — Vocês simplesmente terão que ser nossos prisioneiros. — Ela assentiu com a cabeça, e mais dos seus habitantes de Blacke moveram-se, mas não armados com bestas desta vez, mas com lacres de plástico. — Desculpem por isso, mas vamos cortar na hora certa. Fallon parece querer vocês de volta, especialmente você, Michael. Ele parece achar que você é o novo garoto propaganda para a conversão. — Ele não está errado — Michael disse. — Parece ótimo, ter batimento de novo. Eu tinha aceitado ser um vampiro, mas eu não vou mentir... foi um presente que eu não vou recusar. — Nem eu — Eve disse. — Você não tem que nos colocar algemas. É sério. Nós vamos colaborar. — Tudo bem — a Sra. Grant disse. — Eu vou confiar em vocês dois. Não me desapontem. Mas, Claire percebeu, isso não pareceu incluir ela ou Shane, porque a próxima coisa que aconteceu foi que seus pulsos estavam sendo puxados juntos e lacres de plástico amarrados eficientemente. Ela trocou um olhar com Shane, mas ele deu de ombros. — Eu tenho que admitir, Fallon não iria acreditar que qualquer um de nós mudou de opinião, especialmente quando ele perceber que eu não estou na Equipe dos Cães do Inferno mais. Faz sentido. Nós não fomos exatamente aliados em potenciais dele, não é? — Não — ela admitiu. — Na verdade, não. Mas... você vai nos soltar? A Sra. Grant não desperdiçou palavras. Ela apenas passou um pequeno conjunto de cortadores de unha para Eve, que piscou e colocou-os no bolso do seu moletom. — Tenho tudo sob controle, amiga — Eve disse. — E se eu perder isso, eu me disponibilizo para roer o plástico até você se soltar. Toca aqui! — Ela ergueu o ombro direito. Claire levantou o dela. Elas bateram. — Isso — Shane disse, — foi a coisa mais nerd que eu já vi vocês duas fazerem, e isso não é pouca coisa.


— Isso vindo de um cara que tem figuras de ação de Blade. — Ei, são clássicos! E objetos de colecionador. A Sra. Grant suspirou. — Vamos todos obedecerem. Lembrem-se: Fallon pode estar em Morganville, mas a Fundação Daylight tem filiais em todo o mundo. Eles virão atrás de nós se não formos atrás deles primeiro. Podemos não conseguir derrotá-los, mas pelo menos podemos colocar o homem que procurou por uma cura em uma cruzada. Vamos garantir que ele não cause mais danos. Como um discurso de batalha, não era incrível, mas obviamente as pessoas de Blacke — a maior parte das pessoas do cotidiano, o tipo de pessoas que você veria em uma cidade maior em um Walmart ou comendo no Dairy Queen — já estavam a bordo. Blacke não era Morganville; e no momento em que Morley e o resto de seus vampiros se refugiaram do governo de Amelie aqui, a cidade já tinha sido despedaçada por uma infecção incontrolável que tinha tomado metade dos moradores e os reduzido a monstros insensíveis e com ânsia de sangue. O pai de Amelie, Bishop, tinha causado isso, e então tinha ido embora, provavelmente se divertindo com toda a confusão que tinha deixado para trás. Era por isso que Blacke não estava na pauta dos Daylighters; isso significaria sujeitar as pessoas da sua própria família a uma cura que mataria a maior parte deles. Em Morganville, as linhas entre humanos e vampiros eram geralmente muito bem desenhadas. Em Blacke, não havia linhas. Apenas pesar. Em um bom exemplo de simetria, os habitantes da cidade entraram no ônibus destruído que Morley tinha confiscado de Morganville; o ônibus ainda tinha a maioria dos danos, mas pelo menos andava, e era relativamente à prova de luz. Amelie, Oliver e Morley foram carregados por último para os assentos. Amelie manteve a calma ilusão de morte, talvez fosse mais fácil para ela dessa maneira. Mas Morley queixava-se amargamente, e Oliver parecia desconfortável, apesar de ele não fazer nada além de olhar furioso para aqueles ao seu redor. — Ei, cara, não olhe para mim — Shane disse a ele. — Estou de novo com algemas. Você tem alguma ideia de quantas vezes isso aconteceu? — Você tem uma estaca no seu coração? — Oliver disse. Sua voz soava tensa e fraca, como se ele estivesse usando toda a sua força de vontade para reprimir um grito. — Pelo menos se fosse de madeira eu estaria inconsciente. Isso é medonho. — Eu tenho certeza de que você pode lidar com isso muito bem — a Sra. Grant disse. Ela não parecia simpática. — Está todo mundo dentro? — Ela


olhou em volta para as fileiras de pessoas, homens e mulheres, alguns adolescentes, até mesmo alguns cidadãos idosos. Todos pareciam firmes e resistentes, e prontos para a ação. — Vamos, então. O motorista parecia como se ele realmente tivesse dirigido um ônibus escolar antes na Idade das Trevas; ele era antigo, e Claire estava um pouco receosa de que ele fosse tão velho que pudesse adormecer ao volante. Mas suas velhas mãos artríticas pareciam competentes o suficiente quando ele dirigiu para longe do meio-fio e pegou velocidade. Eles fizeram a curva e passaram pela corte judicial fechada. A estátua presunçosa de Hiram Blacke ficou olhando para eles. Havia vampiros em Blacke de pé nas sombras, ou nas janelas, observando-os ir. Desta vez, Claire não se sentia tão assustada com isso. Era mais como se eles estivessem desejando-lhes sorte. Ela esperava que isso realmente funcionasse. Q q q Foi uma longa viagem acidentada, pior, sem dúvida, para os três vampiros estacados, mas eles suportaram em relativo silêncio — até mesmo Morley depois de um tempo, quando ele percebeu que ninguém ia responder aos seus ataques. Claire decidiu não reclamar sobre o atrito do plástico em torno de seus pulsos. Parecia que o mínimo que ela podia fazer era sofrer com o mesmo silêncio impassível como os outros. Quando o ônibus finalmente começou a abrandar e os freios engrenarem, Claire olhou pela janela da frente e viu que eles estavam se aproximando do outdoor de Morganville. Ele trouxe uma enxurrada de emoções — alívio que o percurso estava acabando e o medo muito real de que o que eles iriam fazer desse errado. Muito medo. Mas ela não sabia o que mais poderia fazer, a não ser se levantar... virar suas costas para Morganville e apenas deixar tudo acontecer sem eles. Mas como isso os faria diferente dos outros moradores de Morganville que estavam dispostos a deixar que as coisas terríveis acontecessem com os vampiros, portanto que acontecesse longe de suas vistas? O sentimento voltou outra vez, nauseante e sombrio. Eu estou trazendo problemas para Morganville. Eles finalmente conseguiram a paz, o que eles sempre quiseram, e eu estou voltando para destruí-la. Eu sou a vilã.


Tudo o que ela sabia era que ela não podia correr, não disso. Ela sabia que Shane não faria isso, ou Michael, ou Eve. Eles haviam crescido aqui. Eles tinham raízes. E ela teve que confessar: ela tinha também. Seus pais poderiam viver em outro lugar, podiam não se lembrar de nada sobre Morganville, exceto uma vaga sensação de desconforto, mas se sua história familiar tivesse vindo daqui, ela não achava que poderia ter corrido, tampouco. Encare isso, a parte sensível dela dizia. Você não pode correr, porque você não corre. Você é teimosa. Esse sempre foi o seu maior problema. Se você não fosse tão teimosa, você teria fugido dessa cidade no dia em que Monica Morrell e suas Moniquetes empurraram você das escadas do dormitório. E se ela tivesse feito a coisa razoável e corrido para casa para mamãe e papai, o que ela perderia? Tudo. Inclusive Shane. A Sra. Grant levantou-se e saiu para o corredor, encarando de frente o resto das pessoas no ônibus. — Tudo bem — ela disse. — Lembrem-se: nós não estamos lutando por Morganville, estamos lutando por nossas próprias famílias. Não importa o que aconteça, mantenham elas em mente. As coisas vão ficar feias. Isso rendeu assentimentos solenes de todos de Blacke. De onde ele estava deitado no banco da frente, Morley disse: — E se vocês não tiverem motivação, lembrem-se que vocês odeiam vampiros pelo que eles fizeram com vocês. — Bem — A Sra. Grant disse, muito razoavelmente, — nós odiamos, de modo que o que fazemos não é com muito esforço, Morley. — Você me magoa, doce senhora. — Você me irrita, encrenqueiro. Isso tinha a sensação bem-vestida de familiaridade, e Claire se perguntou o quão próximo o Sra. Grant (uma viúva, ela se lembrava) e Morley tinham ficado. Não que fosse da conta dela, mas era mais divertido especular sobre isso do que sobre o que Fallon iria fazer em seguida. — Falando no diabo — a Sra. Grant disse, virando-se para olhar para fora do para-brisa. O outdoor de Morganville estava aproximando-se, assim como as luzes piscando de dois carros da polícia. Havia também três SUVs pretas e resistentes — de aparência nova (incomum para Morganville) — com o logotipo do sol nascente nas portas. Pelo menos dez homens e mulheres armados estavam preparados para uma luta lá fora. — Hora do show — Morley disse. — Cale a boca — ela disse a ele. — Você está morto, lembra? — Você vai sentir a minha falta quando eu for embora?


— Não. — Mentirosa. — A risada seca de Morley desvaneceu-se em silêncio, e o motorista do ônibus parou a vários metros da barricada. Claire ouviu uma voz se ampliar — a voz de Hannah Moses, ela tinha certeza — mesmo através das janelas fechadas do ônibus. — Fora do ônibus — ela disse. — Façam isso lentamente com as mãos levantadas, um de cada vez. Quando vocês saírem, formem uma fila e fiquem de joelhos com as mãos em cima da cabeça. Vocês têm dez segundos para obedecer. A Sra. Grant acenou para o motorista, que desligou o motor e abriu as portas do ônibus. — Um de cada vez — ela disse ao resto deles. — Os vampiros e os prisioneiros vão ficar aqui. Michael, Eve, vocês vão sair comigo. — Ela foi a primeira a sair do ônibus, e demonstrou a técnica perfeita de afastar-se, ajoelhar-se e colocar as mãos em cima da cabeça. Michael e Eve levantaram-se do assento na frente de Claire e Shane. Eve parecia angustiada. Michael estava escondendo, mas ele estava se sentindo mal por isso também. — Vão. — Shane acenou para eles. — Vocês são o nosso retorno do buraco. Não nos deixem na mão. — Nunca — Eve disse, e se inclinou para lhe dar um beijo rápido na bochecha. Então, ela deu um a Claire também. — Amo vocês. — Eu também te amo — Claire disse, e conseguiu dar um sorriso. — Os dois. Tenham cuidado. Michael acenou com a cabeça e bagunçou o cabelo de Claire, como um irmão mais velho, então conduziu a sua esposa para fora do ônibus. O resto seguiu em uma procissão lenta e metódica, se agachando e se ajoelhando. Claire ouviu a Sra. Grant explicar as coisas para Hannah. Hannah não era boba; ela provavelmente iria entender os significados implícitos. Ela conhecia muito bem a história de Blacke, e ela não ia acreditar na história tanto quanto os recém-chegados à cidade, como os Daylighters. Os instintos de Claire diziam que Hannah não queria ajudar Fallon, mas ela foi forçada a isso, e eles se provaram certos quando Hannah ouviu a Sra. Grant e disse: — Você fez a coisa certa ao entregá-los, e o Sr. Fallon vai agradecer por isso. Mas eu tenho que perguntar, por que você trouxe tantos com você? — Estes são os seres humanos de Blacke — a Sra. Grant disse. — Eu pensei que quando vocês terminarem de se livrar dos vampiros de Morganville, vocês poderiam cuidar do ninho da nossa cidade também. Até então, é mais seguro para eles aqui, com vocês. Eles estão ansiosos para aprender sobre a Fundação


Daylight. Trazer um pouco de luz para as nossas vidas, também. — Seu tom ficou sombrio. — E nós merecemos uma chance de chutar alguns traseiros de vampiros, para variar. Eles nos destruíram. Acabaram com a nossa cidade. Soou bom, especialmente a forma irritada que a Sra. Grant se referiu aos vampiros. Claire teve dúvida se ela estava sendo honesta sobre isso. A alimentação desagradável e gratuita de Bishop na cidade tinha trazido desastres para ela, famílias divididas e amigos mortos. É claro que ela odiava os vampiros em algum nível, mesmo que nada disso tivesse sido culpa deles. Quem não iria? E se tudo isso for apenas um truque para nós cooperarmos? E se essas estacas de prata da Daylighter estiverem carregadas com prata líquida? Ela conseguiu fazer eles concordarem em serem estacados. O quão gênio isso seria? Era tão plausível que Claire prendeu a respiração em alarme real, mas já era tarde demais, e Hannah Moses estava agora subindo os degraus para dentro do ônibus e inspecionando a situação. Não tinha muito deles a essa altura. Apenas ela e Shane amarrados, e os três vampiros estacados. Hannah sabia que era algum tipo de truque; Claire percebeu no jeito que ela olhou por cima dos corpos. Mas, em vez de fazer alarme, ela balançou a cabeça um pouco e deu um passo de lado quando os Daylighters de Fallon se moveram por trás dela. — Leve todos para Fallon — ela disse. — Ele vai querer ver isso. Ela quis dizer que Fallon iria apreciar... apreciar ver Amelie morta aos seus pés. Claire sinceramente esperava que a Sra. Grant não tivesse enganado brilhantemente a todos. Q q q Morganville estava tendo algum tipo de celebração hoje; havia faixas novas vermelho-branco-e-azul brilhantes penduradas pelas ruas que batiam com o vento, e bandeiras da Fundação Daylight nos gramados da maioria das casas, nas janelas das lojas e nas empresas. Os banners diziam, BEM-VINDOS À NOVA MORGANVILLE! VOCÊS NUNCA VÃO PRECISAR IR EMBORA! Sentimento certo, razões erradas. Claire estremeceu, porque era uma brincadeira com o lema original da cidade: Você nunca mais vai querer sair. E isso era uma mentira. Ela conhecia Fallon agora. Ele poderia ter começado com boas intenções há muito tempo; ele poderia antes querer


sinceramente proteger os seres humanos de vampiros e salvar os vampiros de si mesmos. Mas ele tinha se perdido de alguma forma, provavelmente quando decidiu que não havia problema em matar um monte para salvar alguns. Qual era o velho ditado que a mãe dela costumava amar? O inferno está cheio de boas intenções. Agora, tantos anos depois, Fallon via todos que não concordavam com ele como um traidor à humanidade, digno de punição e morte. E ela sabia que ela e Shane, por suas ações, tinham ganhado definitivamente esse rótulo. Eles tinham ajudado os vampiros acima dos humanos. Ele não iria esquecer ou perdoar. — O que vamos fazer com eles? — um dos homens perguntou a Hannah, e assentiu na direção de Claire e Shane enquanto os três silenciosos e frouxos vampiros estavam sendo carregados para fora. O autocontrole necessário para eles parecerem mortos assim estava além da compreensão de Claire, mas nenhum deles — nem mesmo Morley — piscou uma pálpebra com os empurrões, nem mesmo quando eles descuidadamente bateram contra os corrimões de metal ou saltaram os degraus. Hannah ergueu as sobrancelhas por um segundo, considerando, e então disse: — Eu acho que eles vão com os vampiros. Eles, obviamente, estavam do lado de Amelie. Eles deveriam ficar com ela. Fallon vai querer mostrar a todos que eles foram pegos e a situação está sob controle. — Quantas pessoas morreram na noite passada quando ele soltou os vampiros, Hannah? — Claire perguntou. Ela manteve a sua voz calma, mas a pergunta poderia cortar. — Quantas? — Duas — Hannah respondeu. — E seis vampiros. O resto foram recapturados e confinados. Eles estão à espera de julgamento. — Você sabe que ele projetou esse ataque. Ele queria que acontecesse. Ele provavelmente está desapontado que a contagem de corpos foi tão baixa. — Cale a boca — o Daylighter perto dela disse, e ele parecia irritado. — Você não sabe nada sobre o Sr. Fallon. Ele salvou esta cidade, e todo mundo nela. Nós não vivemos com medo mais. Não agora que estamos nos livrando dos vampiros. Shane levantou a sua cabeça pela primeira vez. — Livrando como? — Da única maneira definitiva. Nós tentamos ser gentis e dar a eles um lugar para viver em paz. Eles não conseguiram seguir as regras. Eles nunca conseguiriam. Você deve saber disso, Collins. As regras de Morganville, as regras que eles fizeram para nos controlar... elas nunca foram aplicadas a eles. — O homem não era tão velho, Claire percebeu; talvez a idade do falecido


irmão de Monica, Richard Morrell, com mais ou menos vinte e tantos anos. Ele claramente conhecia Shane. Assim como Shane claramente conhecia ele. — Você sempre foi um chorão covarde, Sully. Eu nunca vi você ou a sua família se levantando para defender as pessoas. Vocês só mantiveram a cabeça baixa, como pequenos bons cidadãos. Inferno, você nem sequer teve a coragem de ficar do lado do Capitão Óbvio quando teve a chance. Ele tinha acertado em cheio, Claire viu o rubor vermelho aparecer através do rosto largo de Sully. — Colaborador — Sully revidou. — Traidor. Você vai conseguir o que merece, e eu vou desfrutar ao assistir. — Ele literalmente cuspiu as palavras para fora; Claire estava com manchas de saliva no rosto. Eca. Ela se sentiu mais suja do que nunca, o que isso dizia alguma coisa, considerando que ela estava usando roupas íntimas de outra pessoa. — Sully — Hannah disse com a pressão de comando em sua voz. — Enquanto você estiver trabalhando comigo, você vai tratar os meus prisioneiros com respeito e manter a calma. Shane não é um perigo para você, e tudo o que ele pode fazer é provocar você. Não deixe que ele marque pontos. — Eu estou? — Shane perguntou, e deu casualmente o sorriso mais amargo que Claire já tinha visto em seu rosto. — Marcando pontos? — Quieto — Hannah disse, mas Claire viu um brilho rápido de humor em sua expressão antes de ela trancar em sua máscara profissional novamente. — Desperdício de tempo. Tirem eles daqui. A equipe de Sully se encarregou de Shane, o que era estranhamente reconfortante; Claire sabia que Shane conseguia provocar ele, e que isso era uma espécie de controle que eles precisavam agora. A sua própria guarda foi um dos policiais de Hannah — um familiar. — Policial Kentworth — ela disse. Ele era o policial educado que tinha vasculhado a casa deles juntamente com Halling. Ele tocou os dedos em seu chapéu. — Senhorita — ele disse. — Vamos ser metódicos com isso, ok? Não faça gracinhas. — Você sabe que está nos levando para ser mortos, certo? Ele se encolheu, mas controlou rapidamente e deu-lhe um olhar duro. — Você só está sendo transportada, senhorita. Não vamos tornar isso mais complicado — ele disse. Shane foi levado para outro carro por Sully, e Claire quase podia imaginar o quão divertido o passeio seria. Ela só esperava que Shane não o provocasse tanto que Sully enlouquecesse. Com as mãos amarradas, Shane não poderia lutar de volta muito bem... e Eve que estava com o cortador de


unhas para cortar as suas amarras. Eve e Michael, ela notou, também estavam sendo separados das pessoas de Blacke e carregados em um carro. Claire esperava que todos acabassem no mesmo lugar, porque ela teve a sensação de que realmente precisaria daqueles cortadores de unha logo, independentemente de que tipo de interpretação positiva o Policial Kentworth tenha tentado colocar nas coisas. Claire esperava ser levada para a construção da Fundação Daylight, mas em vez disso, o pequeno desfile de carros — com luzes piscando, embora sem sirenes — cortava o caminho através das ruas principais de Morganville, rumo a Praça da Fundadora. Isso pareceu estranho. A Praça da Fundadora era o território dos vampiros; era onde eles tinham vivido, trabalhado e tido seus próprios negócios de fim de noite. Era onde Amelie tinha os seus escritórios, e onde guardavam os registros de suas longas vidas. Era também onde eles tinham executado pessoas de vez em quando por infrações das regras de Morganville. Onde haviam ameaçado executar Shane, quando Amelie tinha pensado que ele fosse o culpado do assassinato de um vampiro. Era, Claire pensou com um sentimento triste, exatamente onde Fallon iria escolher para fazer a sua nova sede. O desfile de carros virou e pegou a rampa subterrânea, dentro da garagem que Claire se lembrava muito bem. Ela estava cheia de carros, principalmente de vampmóveis tingidos de preto que foram confiscados quando seus donos tinham ficado em “custódia protetora” no shopping. Como Fallon chamava? O enclave, como se fosse um complexo de apartamentos pomposo e exclusivo apenas para membros em vez de um pesadelo dos anos oitenta, um edifício deixado à poeira e concreto. E agora Fallon vivia no palácio de Amelie. Os outros carros pararam no estacionamento ao lado de seu próprio transporte, e um por um, eles foram trazidos para fora — Shane, ainda deixando vermelho o rosto do Policial Sully, em seguida, Michael e Eve, mas, obviamente, não algemados, sendo escoltados por seus próprios guardas. Ela, Shane, Eve e Michael, além de seus acompanhantes, todos se amontoaram em um elevador para a viagem ao andar de cima. Eles foram levados para o primeiro andar, o andar de entrada. Parecia justamente como Claire se lembrava — tapetes exuberantes, lustres caros, o leve cheiro opressivo de rosas e as pinturas sombrias e agourentas penduradas nas paredes. Qualquer coisa que reconhecia a presença de um vampiro tinha sido tirada, e havia uma pilha de telas no canto do átrio principal.


— Desse lado — Hannah disse, encontrando-os. Claire não sabia como ela tinha chegado antes deles, mas de alguma forma, ela tinha. Talvez ela estivesse na frente do desfile. Ela levou-os pelo corredor e para a grande porta de entrada sofisticada, com seu teto vasto e arqueado... e então para a varanda, onde o sol da manhã estava deslumbrando o mármore. Quando seus olhos se adaptaram ao brilho, Claire viu que a Praça da Fundadora estava sendo cuidada perfeitamente — as sebes e gramados estavam bem aparados, os canteiros de flores explodiam com cores frescas e de cor viva. Parecia tudo tão limpo e gracioso como qualquer coisa que você poderia encontrar em uma pintura de Paris, com os edifícios de mármore com colunas envolvendo o parque. Exceto pelas faixas, que eram vermelhas, brancas e azuis se levantando e balançando com a brisa e chicoteando através do pátio. Uma multidão do tamanho de Morganville, talvez três centenas de pessoas, tinha se reunido no gramado. Eles estavam realizando algum tipo de cerimônia em conexão com o nascer do sol. Claire viu um palco elevado no outro extremo, onde os vampiros antes mantinham uma gaiola para exibir aqueles que quebravam as leis... às vezes faziam execuções também. A gaiola não estava mais lá, e isso era uma coisa boa, mas ela tinha um flashback desagradável repentino de uma fotografia que ela tinha visto na aula de história — uma praça extravagante com grandes edifícios majestosos, longas faixas vermelhas, um palco. Um orador entusiasmado e exaltado fazendo seu discurso para um mar de pessoas extasiadas. História, se repetindo. Fallon deveria estar encantado, pensando que a sua oportunidade não poderia ter sido melhor. Os corpos de Morley, Oliver e Amelie estavam sendo carregados pelo corredor no centro da multidão, e havia completo silêncio até o desfile estar a meio caminho do palco... e então alguém começou a bater palmas. Então foi uma avalanche de aplausos, e encorajamentos. Eles estavam aplaudindo os cadáveres. Claire olhou para Shane, e viu que ele estava observando com uma expressão dura em seu rosto. Ele provavelmente estava pensando que ele poderia ter estado naquela multidão, aplaudindo, em algum momento de sua vida. Talvez ele até teria sido o primeiro a bater palmas. — Faz você se sentir orgulhoso de ser humano, não é? — ele disse para ninguém em particular.


Eve moveu-se ao lado deles. — Tão orgulhoso — ela disse. — Eles provavelmente vão abrir uma loja de recordações mais tarde. Chaveiros com ossos de vampiros e brincos de estaca. Talvez eles até mesmo coloquem o nome da cidade neles. Claire sentiu algo frio e metálico passar por seus dedos, e se encolheu, mas, em seguida ela percebeu que era o cortador de unhas, e era a mão de Eve pressionando-o na palma da mão dela. Ela apertou seu punho em torno dele. — Hora de ir — Hannah disse, e levou seu grupo para baixo para os degraus até a cerimônia. Os aplausos tinham principalmente parado no momento em que eles chegaram lá, e os três vampiros estavam sendo colocados no palco, sob o sol. Eles estariam se queimando — lentamente, porque eles eram muito velhos, mas ainda assim. Definitivamente doloroso. Michael parou nos degraus, e Eve parou e perguntou com ansiedade: — Querido? O que há de errado? — Seus olhos estavam fechados, e ele parecia muito estranho. — Está se sentindo bem? Quando abriu os olhos, Claire viu lágrimas se libertando e correndo pelo seu rosto. — É o sol — ele disse. — Eve, eu estou de pé no sol. É tão quente. Ela entendeu e o abraçou. Claire não entendeu por um segundo, até que ela percebeu quanto tempo fazia desde que Michael tinha sentido o toque de luz do sol sem o terrível ardor e cicatrizes que vinham com ele como um novo vampiro. Ele deve ter realmente percebido naquele momento que ele era genuinamente humano novamente. Genuinamente curado. Ele abraçou Eve e disse: — Eu odeio que seja ele que deu a minha vida de volta. Você sabe disso, certo? — Eu sei — ela disse, e esfregou suas costas. — Não importa. Você está aqui, e é isso que conta. Eles deram as mãos no caminho para descer os degraus, o sol brilhava no cabelo dourado de Michael em ardente glória. Ele parecia ainda mais o seu avô Sam agora, Claire pensou; Sam tinham estado congelado em uma idade não muito mais velha do que Michael quando ele se tornou um vampiro. Tirando o fato de o cabelo de Sam ter sido mais vermelho do que louro, eles tinham sido muito parecidos. Esse pensamento fez Claire se perguntar como Amelie realmente se sentia sobre a conversão de Michael de volta para humano. Ficou feliz ou triste? Ela tinha amado tão intensamente Sam que ela tinha mostrado tristeza pública quando ele morreu; talvez ela quisesse manter Michael preservado para sempre na idade onde se assemelhava ao seu avô.


Ou talvez ela tenha ficado feliz em deixá-lo ir e viver a sua vida. Nunca era fácil saber com Amelie. Isso tornava tudo mais difícil, porém, porque Michael era agora a vitória simbólica de Fallon. Hannah levou-os através da multidão para o palco, em seguida, subiu os degraus para sussurrar algo para Fallon. Ele balançou a cabeça e acenou; Eve e Michael foram levados ao palco. Shane e Claire se mantiveram onde estavam, à beira dos degraus. A atenção de todos estava em Fallon, Eve e Michael, então Claire se arriscou abrindo a lâmina do cortador de unhas e trabalhando com as minúsculas lâminas até que elas se agarraram em torno do plástico de seus pulsos. Ela teria que cortá-lo em fases; o plástico era largo e espesso, mas quando ela apertou o cortador, ela sentiu-o cortar através das limitações. Ela ajustou o outro lado e pressionou novamente. Desta vez foi pior; o ângulo era mais difícil, e ela não conseguia fazer força facilmente. Mas ela conseguiu. A terceira e última vez, no entanto, quando ela tentou deslizar o cortador para a posição, seus dedos suados escorregaram e ela deixou-o cair. Claire mudou de posição para trás gradualmente até que ela pudesse ver o brilho metálico dele na grama. Ela testou as amarras. Ela cortou dois terços do plástico, mas o que restava era ainda muito grosso, e ela não tinha a força necessária para rasgar as algemas. Eu preciso cortar mais, ela pensou, mas isso não iria ajudá-la muito agora. Ela precisava pegar o cortador. Ela deu um passo, e fingiu tropeçar e cair sobre um joelho, em seguida, caiu deselegantemente em uma perda de equilíbrio. Isso colocou as suas mãos dentro da distância do cortador, e ela buscou freneticamente na grama até que ela tocou nele e puxou com seu punho. O policial Sully agarrou o cotovelo dela e puxou-a para cima. — O que diabos há de errado com você? — ele perguntou, franzindo a testa. — Tente ficar com essas coisas por horas — ela disse. — Isso deixa você sem equilíbrio, ok? — Não tente nada. — Eu não vou — ela disse, e era a verdade. Ela não ia tentar. No palco, Fallon deu um passo para o microfone e toda a multidão se acalmou. — Amigos — ele disse, — companheiros residentes, obrigado por terem vindo aqui para celebrar o amanhecer de um novo dia em Morganville, um dia sem medo da violência ou opressão. A partir de hoje, vocês já não são escravos de monstros que matam para permanecerem vivos, que tomam o


sangue de vocês, o dinheiro e o usa para financiar a própria existência egoísta e infinita deles. A partir de hoje, vocês não têm medo do escuro. Seus filhos podem crescer sabendo que eles estão seguros de danos. Essa é uma nova Morganville. Essa é a Morganville à luz do dia. Ele fez uma pausa e aplausos irromperam. Ele ergueu as mãos para acalmá-los. — Como prova deste novo dia, estou muito contente de apresentar a vocês um dos nossos maiores sucessos... alguém que vocês todos conhecem e reconhecem, alguém de uma das treze famílias fundadoras de Morganville. Ele foi vítima dos vampiros duas vezes, uma vez por Oliver, e depois por Amelie, que o fez um dos seus próprios. Mas agora ele está comigo na luz, vivo e livre de sua maldição. Michael Glass! Michael não gostou; Claire podia ver isso. Ele não queria dar um passo adiante, mas Fallon sussurrou algo para ele, e ele cumpriu, de pé rígido e inexpressivo, enquanto a multidão irrompia em aplausos. Eles estavam torcendo por ele ter se tornado humano, mas ainda tinha uma borda de intolerância neles. Alguns desses torcendo agora teriam estado felizes em colocar uma estaca no coração dele um dia antes, e ele sabia disso. De todos eles, ele sabia o que significava ser rotulado como menos que os humanos. — Uau, isso é um show de publicidade chato e de merda — Shane disse enquanto Claire manobrava o cortador para uma posição e o pressionava com força, rangendo os dentes quando a dor passou por seus braços por causa da tensão e ângulo. — Ei, Sully, você vem servir donuts e café, ao menos? Porque eu soube que as organizações racistas nos servem uma ótima mesa. As amarras de Claire estalaram, e a pressão sobre os seus ombros aliviaram de uma dor incandescente para apenas um formigamento. Ela chamou a atenção de Shane quando Sully se moveu em direção a eles, e deulhe um aceno de cabeça. — Você — Sully disse por entre os dentes cerrados. — Venha aqui, seu pequeno idiota. — Ei, eu não sou pequeno — Shane disse. — Então me diga, os seus lençóis brancos estão na lavanderia ou você simplesmente se esqueceu de colocar? Sully agarrou o braço de Shane e arrastou-o para longe do palco. Havia um pano de fundo pendurado, e ele puxou Shane para trás dele. Hannah suspirou, balançou a cabeça e apontou para Kentworth ir ver o que estava acontecendo. Isso só deixou ela e Claire juntas. Claire deu um longo passo para trás na direção de onde Shane tinha desaparecido, com cuidado para fazer parecer que seus pulsos ainda estavam fixados atrás dela.


Hannah estava olhando para ela. Claire continuou se movendo até que ela colocou a barreira entre ela e qualquer um na multidão que pudesse estar observando. Hannah seguiu. Quando Hannah entrou nas sombras, Claire colocou as mãos livres atrás de suas costas e pegou a arma de Hannah. Ela não foi rápida o suficiente. A mão de Hannah apertou com força sobre a coronha da pistola automática, segurando-a no coldre, e Claire percebeu com uma sensação penetrante de amarga decepção que ela deveria ter pensado que uma exfuzileira naval não seria enganada facilmente. Não por uma menina inexperientes, sem treinamento e com metade de seu tamanho. — Bom trabalho nos punhos — Hannah disse. — Agora tire a sua mão da minha arma, Claire. Ela o fez lentamente e recuou. Shane estava tendo uma briga de bar, ainda algemado, com Sully. Kentworth estava de volta, com uma arma de choque em sua mão, procurando uma abertura. Ele não parecia especialmente feliz com a coisa toda. Shane bateu a testa no rosto de Sully e sorriu com dentes ensanguentados. — Amador — Shane disse quando Sully gritou e caiu, segurando o nariz sangrando e choramingando. — Isso é chamado de aperto de mão irlandesa. Alguém chamado Sullivan devia saber disso. Kentworth se moveu com a arma de choque, e Shane arqueou suas costas e desviou do disparo, como um toureiro com um touro. Mas ele não ia ser capaz de fugir, não com as mãos ainda presas atrás dele. Claire olhou com os olhos arregalados para Hannah. Agora ou nunca, ela pensou silenciosamente. Ela não podia pegar a arma, não contra os reflexos bem treinados de Hannah. Mas Hannah poderia desistir voluntariamente. Moses assentiu levemente e sua mão se afastou do coldre. Claire pulou para a frente e agarrou a arma; ela verificou a trava, que ela tinha aprendido em seu treinamento de armas com Shane e destravou. — Mande ele se afastar — ela disse. Ela não apontou a arma para Hannah. Ela não achava que precisasse. Hannah disse: — Kentworth. Recue. Agora. Ele deu um passo para longe, deixando Shane balançando um pouco e sangrando, mas ainda de pé. Tinha uma contusão vermelha se formando em sua testa, e ele cuspiu sangue de um lábio cortado, mas ela o tinha visto pior. Muito pior.


Sullivan ainda estava no chão, embalando seu nariz. Ele gritou alguma coisa, mas era incompreensível. — Faca — ela disse a Hannah. Hannah abriu um coldre do outro lado dela e pegou uma lâmina de estilo militar com um cabo preto, que ela entregou. Claire pegou e recuou em direção a Shane. Ela manteve a arma levantada dessa vez, e focada em Kentworth, que estava lançando olhares duvidosos para Hannah, claramente não tendo certeza do que deveria fazer sobre isso. Ela serrou cuidadosamente um lado das algemas de Shane, e quando a sua mão se soltou, ela colocou o cabo na palma da mão dele. — Você me dá os melhores presentes — ele disse, depois libertou seu outro pulso com um puxão preciso. As algemas caíram na grama. — Nós vamos agora. Chaves. — O quê? — Kentworth perguntou. — As chaves do carro. Me dê elas. Kentworth estava claramente considerando ir até a sua arma, não as suas chaves; qualquer dúvida que ele tinha sobre a Fundação Daylight — se ele tinha alguma — foram queimadas pelo fato de dois dos seus prisioneiros conseguirem de alguma forma escapar das restrições e pegar armas. Quando ele se contraiu ligeiramente, porém, Hannah disse categoricamente: — Dê as chaves. Isso é uma ordem. — Eu posso lidar com ela, senhora. — E você vai ter que acordar amanhã sabendo que você matou a tiros uma adolescente quando você não precisava — Hannah disse. — Entregue as chaves, Charlie. Eles não vão a lugar algum. Kentworth parecia duvidoso, mas o tom firme e calmo de Hannah fez a diferença. Ele soltou as chaves de seu cinto e jogou-as nos pés de Shane. — É um longo caminho até o carro, meu filho — ele disse. — Você pode querer pensar sobre o perigo que você está colocando a sua namorada lá dentro. Shane girou as chaves no seu dedo em torno de um segundo, então as jogou. Claire pensou por um segundo que seu objetivo era jogar para ela, mas não era, porque ele não estava jogando na direção dela. Ele estava jogando-as para Hannah, que as pegou sem esforço. — Desculpe por isso — ela disse a Kentworth, e antes que Claire pudesse realmente entender o que aconteceu, Hannah passou por Kentworth até Sullivan. Ele protestou quando ela o virou e usou as suas algemas para fixar suas mãos atrás das costas. Quando Sully deu um grito de protesto, ela se inclinou com um cotovelo em suas costas. — Sully, eu poderia fazer uma maldita coisa muito pior com você além de apenas algemá-lo. Se eu tiver que


amordaçar você, você vai engasgar com o seu sangue do nariz quebrado. Portanto, fique tranquilo, ou eu vou fazer-lhe ficar calmo. Sully se calou. Ele levou Hannah a sério, não perguntando sobre isso. Ela levantou-se e olhou para Kentworth, que levantou lentamente ambas as mãos no ar. Ele estendeu as mãos, puxou o pingente da Daylighter de seu colar e deixou-o cair no chão. — Fico contente em ajudar, minha senhora — ele disse. — Nunca gostei muito disso desde o início. Eu só me juntei a eles porque você se juntou. — Esse foi o meu erro — Hannah disse. Ela olhou para Claire e Shane. — Amelie não está realmente morta, não é? — Não — Shane disse, e estendeu a mão para ela. Ela sacudiu e balançou a cabeça seriamente. — É bom ter você de volta, Hannah. — É bom parar de fingir que eu sou uma verdadeira crente — ela disse. — Um aviso, eu não estou certa de que eu posso ficar do lado de vocês por muito tempo, se Fallon me definir como caça vampiros. Não é possível eu me controlar. — A boa notícia é que a cura dos vampiros de Fallon parece funcionar para o que somos também. Mas um conselho, tente morder alguém que sobreviveu a isso. Não Michael, no entanto. Ele já passou por muita coisa. Pela primeira vez em muito tempo, Hannah realmente sorriu. — Vou manter isso em mente. Pergunta tática, o que Amelie está esperando? Por que ela não acabou com Fallon ainda? — Bem, eu tenho certeza que ela adoraria, mas ela quer ter certeza de que as pessoas estejam livres antes que ela faça isso. Sem mais reféns. Foi assim que ele conseguiu ela em primeiro lugar, reféns e ameaças, certo? — Não — Hannah disse. — Não ameaças. A força-tarefa dele levou dez vampiros como reféns, mas o primeiro ato dele quando Amelie apareceu para resgatá-los foi estacar metade deles com aquelas estacas com armadilhas. Eles morreram quando ela tentou ajudá-los. Ela se entregou para impedi-lo de matar o resto da mesma maneira. — Ela hesitou, em seguida, continuou: — Eles eram toda a linhagem dela. Irmãos e vampiros que ela criou. Família, como os vampiros consideram. Amelie não parecia tão fácil de manipular, mas Claire sabia como ela se sentia sobre o seu pessoal — ela criou Morganville especificamente para protegê-los das ameaças contra tudo o que os rodeava. Ela iria lutar e morrer por eles. E quando isso acontece com a família de verdade... — Isso é horrível. — Sim — Hannah disse. — Mas eu não acho que Fallon reconhece isso mais.


Shane trocou um olhar com Claire e disse: — Precisamos chegar até Michael e Eve para eles darem o fora disso. Michael não está acostumado a ser humano. Ele vai cometer um erro, se matar tentando reagir como um vampiro. — Nós não podemos — Claire disse. — Eles estão no palco. Nós temos que deixá-los lá por enquanto. — Ela viu a expressão que atravessou o seu rosto, e ela simpatizava; ela não gostava disso, tampouco. Mas ele sabia que ela estava certa. — Então temos que nos apressar — Hannah disse. — Kentworth, você está no comando de Sully. Mantenha-o quieto. — Sim, senhora — ele disse. — Tenha cuidado. — Sempre. Acabou que não havia nenhuma maneira mais fácil de deixar a Praça da Fundadora do que sob a guarda da chefe de polícia de Morganville.


Capítulo 13 Sra. Grant não tinha traído eles, afinal. No momento em que eles chegaram no shopping Bitter Creek, o ônibus do Blacke estava em marcha lenta no lado norte do parque de estacionamento, fora da vista das portas da frente onde estavam os guardas estacionados. Claire o viu da estrada, e apontou para Hannah, que assentiu com a cabeça e virou-se para a rua que dava ao redor do shopping. O asfalto estava rachado e dividido, então ela foi lentamente evitando o arbusto ocasional que se empurrava no meio do caminho e na escuridão. A Sra. Grant desceu do ônibus quando o carro da polícia parou. Ela estava segurando uma espingarda, que ela apontou para a janela do lado do motorista. — Não! — Claire gritou, e se atrapalhou na porta do lado do passageiro. Ela saiu rápido e abanou os braços freneticamente. — Não! Ela está do nosso lado! A mulher mais velha hesitou por apenas um momento, então assentiu e voltou a arma para uma posição descansada no ombro dela. — É apenas sal de rocha, de qualquer maneira — ela disse. — Não quero matar nenhuma pessoa inocente, mesmo os que os Daylighters conseguiram atrair. Somos visitantes aqui. Não seria educado, não é? Hannah saiu da viatura e deu a Sra. Grant uma avaliação de ameaça profissional, em seguida, deu um passo à frente para oferecer-lhe a mão. — Chefe Hannah Moses — ela disse. — Você deve ser a Sra. Grant. — Ouviu falar de mim? — Você deixou uma boa impressão. Você deve ser a primeira bibliotecária em combate que eu já conheci. Isso rendeu um sorriso quase-completo da outra mulher. — Eu acho que a maioria dos bibliotecários são qualificados para o combate — ela disse. — Não é um trabalho tão tranquilo quanto parece. Estávamos prestes a ir sem vocês. E os outros? — Ela quis dizer Amelie, Oliver e Morley. — Fallon está fazendo um espetáculo — Hannah disse. — Bom para nós, porque isso significa que a atenção dele não estará aqui. Se você quiser salvar


esses vampiros, é melhor fazer agora. Ele tem planos para iniciar a terapia de conversão em todos eles hoje. As probabilidades são que três quartos deles não vão sobreviver. — Eles não vão deixá-lo fazer isso com eles. Eu conheço os vampiros. Eles não são muito dóceis. — Se eles resistirem, ele vai matá-los — Hannah disse sem rodeios, — e chamar de um motim e uma medida defensiva necessária. Ele vai incendiar o lugar. Se houver algum sobrevivente, ele vai dar a cura. Uma coisa certa sobre Fallon, ele não é escrupuloso. Ele já levou a maioria dos guardas Daylighters e o meu próprio pessoal para lá, armados com coisas letais para os vampiros e prontos para usar neles. — E ele está com os vampiros usando os colares de choque — Claire acrescentou. — Então ele pode atordoar eles primeiro. Não importa o quê, eles não podem ganhar sem a nossa ajuda. — Existe alguma outra entrada sem ser a da frente? — a Sra. Grant perguntou. Claire estremeceu, pensando na rampa de lixo horrível. — Nenhum ser humano conseguiria passar por ela por conta própria, ou iria querer. — Ataque frontal, então. — Talvez não — Hannah disse. — Eu posso até mesmo melhorar as probabilidades um pouco. — Ela voltou para a viatura e pegou o microfone de rádio, ajustou a frequência e apertou o botão na lateral. — Equipe Bitter Creek. Moses aqui. Em poucos segundos veio a resposta. — Salazar aqui, chefe. — Situação? — O mesmo que sempre. Um bando de malditas estátuas olhando para nós. Ninguém está fazendo nada. Eles estão com fome, no entanto. Quando o próximo embarque de sangue vem? — Poucas horas — Hannah respondeu. — Escute, eu vou precisar que você envie mais quatro homens para fora da Praça da Fundadora para controlar a multidão. — Chefe? Só vai restar eu aqui. — Você tem os Daylighters de Fallon, certo? — Sim, mas... — Isso é uma ordem, Salazar. Ele hesitou por alguns segundos antes de sua voz vir de volta através do rádio. — Sim, senhora. Enviando o resto para a Praça da Fundadora. Horário previsto de dez minutos.


— Mensagem recebida. — Hannah desligou o microfone e fez um sinal para a Sra. Grant. — Isso deixa a maioria dos meus homens longe de danos por enquanto. Salazar é um bom homem. Eu vou primeiro e pedir para ele entregar a caixa do colar de controle para mim. Olha, vocês não vão gostar disso, mas temos que esperar que os outros saiam, e eu preciso que Shane e Claire façam uma pequena missão para mim. — O quê? — Claire perguntou. — Sangue — Hannah disse. — Se vocês não querem os vampiros nos merendando assim que liberarmos os colares deles, nós vamos precisar de uma grande quantidade de sangue. O banco de sangue ainda tem um estoque. Vão buscar. — Eles apenas vão nos dar? — Eu tenho um contato lá dentro — ela disse. — Eu vou ligar com antecedência. Vocês vão pela entrada de vampiros, e eles vão levar para vocês. Depressa. Ela deu um passo para fora do caminho, e Claire entrou no lado do motorista, se acomodou no assento da frente e ligou o carro. Foi só então quando ela olhou no espelho retrovisor que viu Shane ainda sentado no banco de trás, parecendo irritado. — Oh — ela disse e cobriu a boca com a mão, principalmente para esconder um sorriso. — Desculpe. Nós deveríamos ter deixado você sair. — Você acha? — Desculpe. Nós vamos... — ...para o banco de sangue. Eu ouvi. Impressionante. Eu sempre quis ser o serviço de entrega de plasma para um bando de vampiros irritadiços com rancor. Espere, isso praticamente descreve a vida cotidiana por aqui, não é? Ela deixou ele ter a última palavra quando ela puxou o carro para a rua irregular, indo para o banco de sangue. Q q q Na verdade, foi uma troca simples, embora Claire esperava algo dar errado. Quando ela parou o carro da polícia, a porta do beco abriu, e um homem em um jaleco branco levou para fora um grande carrinho de rodas, algo que os hotéis encheriam com roupa para lavar. Só que esse estava cheio de sacos de sangue. — Porta malas — ele disse a ela através da janela rolada para baixo, e ela procurou um pouco até encontrar como abria. Então ela saiu, lembrando-se


de abrir a porta de Shane antes e correu para ajudar o médico — ele era um médico? Ela não perguntou — arremessou as bolsas no porta-malas do carro da polícia. Shane se juntou a ela, e com os três trabalhando levou apenas um par de minutos para arrumar o espaço disponível. Havia algumas bolsas sobrando, e Shane empilhou-as no assoalho do carro na parte de trás. — Diga a Hannah que o fornecimento é puro; eu destruí as coisas contaminadas — o homem disse e rolou o carrinho para dentro. Claire fechou o porta-malas com uma batida e pulou no banco do motorista, enquanto Shane escalou no banco do passageiro dessa vez. Ela dirigiu cuidadosamente, tentando evitar ser reconhecida por alguém que ela reconhecia ou por qualquer outro carro de patrulha. Até agora, não houve alertas. Ela esperava que Kentworth ainda tivesse Sully sob controle. Quando ela estacionou ao lado do ônibus mais uma vez, ela viu que Hannah estava organizando os residentes de Blacke em equipes de quatro, suficiente para cobrir as costas uns dos outros, se necessário. Claire deu-lhe um polegar para cima quando ela abriu a janela, e Hannah respondeu com um aceno de cabeça ligeiro e virou-se para enfrentar a todos. — Certo — ela disse. — Nós temos o sangue. Vejam como vai ser. Eu entro e pego o controlador de colares. Eu vou derrubar os vampiros — para a segurança deles, assim como a nossa. O trabalho de vocês é derrubar os guardas da Daylighter — mas tenham cuidado. Eles não hesitarão em lutar de volta. Enquanto vocês estão acabando com eles, as crianças e eu colocaremos todo o sangue na praça central do saguão. De preferência, a maioria dos vampiros vão para lá quando eu os libertar, mas eu aviso: alguns virão atrás de vocês ou dos Daylighters. Estejam preparados para se defender lá, e também sair do edifício enquanto eles se alimentam. Soava como um plano sólido, e Claire engoliu em seco quando Hannah ordenou que ela entrasse no banco de trás. Hannah dirigiu lentamente para a borda do edifício, e observou quando o pessoal da Sra. Grant seguiu de pé, mantendo-se à beira do muro. Hannah virou a esquina. — Vocês dois, se abaixem e fiquem assim até eu sair — ela disse. — Eu não quero que eles vejam vocês ou isto poderia se tornar péssimo. Eles seguiram as instruções. Claire tinha uma visão clara das bolsas de sangue empilhadas no chão ao lado dela, o líquido grosso vermelho-escuro se movendo no interior das bolsas quando Hannah saiu do carro e foi embora, em direção à entrada. O calor da manhã estava começando a aparecer, e Claire


sentiu suor se formando em suas costas enquanto o sol brilhava. Sem o arcondicionado funcionando no carro iria ficar desconfortável rapidamente. Mas não demorou muito para que o rádio no carro estalasse à vida, e a voz de Hannah dissesse: — Dê o sinal para a Sra. Grant. Claire não tinha certeza de qual era o sinal, mas Shane se levantou de trás do painel de instrumentos e deu a Sra. Grant, que estava olhando para o para-brisa a alguns metros de distância, um grande polegar para cima. As pessoas de Blacke — trinta pessoas fortes, pelo menos — correram para o prédio. Não havia necessidade de se esconder agora, Claire pensou, e ela se levantou para tentar ver o que estava acontecendo. O que era inútil, porque não dava para ver muito dentro. Mas depois de alguns longos minutos de silêncio, a voz de Hannah veio sobre o rádio novamente. — Abra o porta-malas. Traga para cá. Shane abriu a porta da parte de trás do carro, e eles agarraram as bolsas moles e correram para a entrada. Hannah abriu a porta para eles. Na mão direita, ela estava segurando a caixa de controlador das coleiras de choque, e Claire viu os vampiros que estavam no chão ainda em convulsão. Ela estava mantendo-os dessa forma. Os Daylighters estavam principalmente no chão também, Sendo amarrados pelas pessoas de Blacke, mas nem todos eles tinham caído na armadilha. De fato, um estava inclinado sobre a sacada do segundo andar, apontando um revólver para eles. Claire não teria visto ele se Myrnin não tivesse gritado: — Claire, se abaixe! — E ela obedeceu sem questionar, arrastando Shane com ela. A arma disparou, e a bala passou sobre suas cabeças e atingiu um lado das portas de entrada em uma explosão de cacos de vidro. Então Myrnin elevou-se pálido atrás do atirador, e afundou suas presas no pescoço do homem. Claire assistiu, horrorizada, porque nesse momento o seu chefe gentil, doce e pateta tornou-se um Vampiro com um V maiúsculo. Ela lembrava de momentos como este, quando toda a sua humanidade era esvaziada, mas desta vez parecia ainda mais assustador — principalmente porque ele estava zangado. Realmente, realmente com raiva. Ele esvaziou o homem até ficar seco, e o pescoço dele estalou quando ele terminou, simplesmente por pura fúria... e então ele o atirou por cima da grade, para jogá-lo como uma boneca de pano no chão de ladrilhos.


Isso fez com que todos parassem o que estavam fazendo — até mesmo os outros Daylighters que ainda estavam lutando pararam. Myrnin, Claire percebeu, ainda estava recebendo os choques do colar. Ele estava apenas... ignorando. Hannah percebeu isso também, e ela não gostava disso; ela desabotoou o fecho em sua arma quando Myrnin pulou por cima da borda da varanda e caiu como um gato ao lado do corpo de sua vítima. — Você pode parar isso agora — ele disse a Hannah. Sua voz era áspera e irregular, e com os olhos ardendo vermelho, mas ele ainda balançou a cabeça. — Eu não posso — ela disse. — Os outros estão morrendo de fome. Se eu liberá-los, eles vão nos matar. Nós temos sangue. Nós trouxemos. Myrnin, recue. Não me faça machucar você. Ele riu, de uma forma tensa e descontroladamente louca que fez com que Claire tivesse uma sensação muito ruim em seu estômago. — Me machucar? — ele perguntou. — Como você faria isso? Tirando tudo o que eu amo? Tudo o que eu honro? Você chegou muito tarde, Hannah. Tarde demais. Fallon já fez isso. De repente a sensação horrível de Claire se condensou em uma sensação pesada e enjoativa. — Ele levou Jesse — ela disse. — Fallon levou Jesse. — Porque ele sabia que ia me machucar — Myrnin disse. — Fallon gosta de fingir que sua cruzada é para nos salvar, mas no final é por causa de mim. Ele quer me ver sofrer por transformá-lo há tanto tempo em vampiro. Por abandoná-lo quando eu o transformei. A culpa é minha, você sabe. Tudo culpa minha. Mas a Lady Grey não deve pagar o preço. — Temos que salvá-la — Claire disse, e virou-se para Hannah. — Nós temos. — Nunca pensei que diria isso, mas, sim, ela é nossa amiga também — Shane concordou. Ele jogou a braçada de bolsas de sangue no chão ao lado da fonte, e Claire acrescentou sua própria à pilha. — Então quanto mais rápido trouxermos o sangue para dentro, mais rápido vocês podem ir encontrá-la — Hannah disse. — Ajude a trazer. Myrnin, apesar do choque ainda crepitante no colar em volta de seu pescoço, apesar da intensa luz solar no exterior, ajudou eles a carregar o resto do sangue para o saguão, indo e voltando, até que, a pilha de bolsas estava da altura da cintura e o porta-malas e o banco traseiro da viatura estavam vazios. Claire se lembrava, apesar do ritmo frenético, que eles ainda tinham um problema — um grande problema. — Os cães do inferno — ela disse. — Fallon pode ativá-los a qualquer momento. Se Hannah se voltar contra nós...


— Eu tenho trabalhado em uma adaptação da cura desprezível de Fallon — Myrnin disse. — Durante o meu tempo fora dessa prisão. Eu tenho um pequeno suprimento feito em meu laboratório. Ele está escondido na parte de trás da minha poltrona, atrás de uma pilha de livros. O suficiente para mais de três doses, se forem meticulosos. Oh, e quando você for lá, alimente Bob. Ele tem caçado sozinho ultimamente, mas ele gosta de receber um pouco de bondade. E isso, Claire pensou, era Myrnin em poucas palavras. Ele era capaz de ir de um humor selvagem que causou um assassinato à preocupação por uma aranha em menos de cinco minutos. No final, amar Myrnin, realmente amá-lo, seria como viver com uma bomba que não explodia — mais cedo ou mais tarde ela era obrigada a explodir, e para alguém frágil e humano, seria fatal. Isso não a fazia amá-lo menos, mas ela sabia que não poderia consertálo... ou sobreviver a ele, se ela deixasse ele chegar muito perto. — Sra. Grant — Hannah disse, — leve o seu pessoal daqui. Leve os prisioneiros com vocês. Eu vou liberá-los. A Sra. Grant balançou a cabeça e deu instruções rápidas. Cada equipe de quatro pegou um dos guardas e escoltou para fora. A maioria parecia aliviada por estar indo, honestamente. — Nós vamos esperar o resto disso em Blacke — a Sra. Grant disse. — Morganville é sua cidade, não nossa. Dissemos que iríamos ajudar a libertar os vampiros, e nós libertamos. Agora cabe a vocês. — Ela olhou para Claire e Shane, e por um momento parecia mudar de opinião sobre isso, ou pelo menos se arrepender. Ela veio até Shane e deu-lhe um abraço, em seguida, abraçou Claire. — Vocês dois, tomem cuidado. Eu comecei a gostar de vocês. — Obrigado, Sra. Grant — Shane disse. — Você já fez o suficiente. Você está certa. É o problema de Morganville agora. Em seguida, eles estavam indo para fora, de volta ao ônibus. Conhecendo a Sra. Grant e Morley, Claire tinha certeza que Blacke já estava se preparando para uma guerra total com os Daylighters, apenas no caso. Armados até os dentes. Ela e Shane olharam para Hannah, que assentiu e acenou em direção à porta. — Vocês dois, entrem no carro — ela disse. — Quando eu libertar os colares deles, eles estarão agitados e se movendo rápido. Myrnin não seguiu eles. Ele ficou parado onde estava, olhando sem ver a pilha de bolsas de sangue. Claire não achava que ele estivesse realmente as vendo, entretanto. — Encontrem ela — ele disse. — Encontrem Jesse. Vou liderar o resto deles quando eles forem alimentados. Deixem Fallon para mim.


— Myrnin, Fallon é um fanático. Ele brinca com os medos das pessoas. Ele os fez acreditar que matar todos vocês era a única maneira de permanecerem seguros. Não prove que ele estava certo — Claire disse. — Por favor. Não prove que ele estava certo. Ela não sabia se ele tinha ouvido, ou entendido; ele não deu a mínima indicação. Mas não havia tempo. Hannah foi empurrando eles para fora da porta, e Claire viu o polegar dela sair do botão. — No carro — ela ordenou, e praticamente os empurrou para dentro. Eles já estavam no carro dirigindo para longe quando os primeiros vampiros com os colares desligados de seus pescoços, drenando bolsas de sangue em suas mãos, apareceram na porta do shopping Bitter Creek. Q q q O laboratório de Myrnin era localizado em um beco sem saída no final de um bairro pequeno e degradado. Era ao lado de uma Casa Fundadora — a Day House, construída com a mesma estrutura da Glass House. Só que a Day House não estava mais lá. Havia uma pilha de madeiras antigas e alguns equipamentos de construção. Fallon estava cumprindo a sua ameaça de destruir as casas da Fundadora. Claire engoliu em seco. — O que aconteceu com elas? A vovó Day? — Mudou-se — Hannah disse. — Ela estava grata por ir embora, no entanto. A família Day nunca esteve muito confortável com essa casa, embora eles tenham permanecido nela por uma centena de anos. Mas ela está bem. Tem um lugar novinho em folha do outro lado da cidade, onde está acontecendo novas construções. — E Lisa, ela se juntou aos Daylighters? — Claire não ficaria nada surpresa que isso acontecesse com a neta Day, que era totalmente anti-vampiro pelo tanto tempo que ela tinha conhecido ela... mas Vovó Day, velha como era, tinha uma visão mais ampla das coisas. — Lisa sim. Vovó recusou — Hannah disse. — Vovó disse que eles lembravam a ela todos aqueles discursos da Alemanha na guerra. Eu não acho que ela esteja tão errada. Claire não achava, tampouco. A imagem daquelas bandeiras ao redor da Praça da Fundadora ainda lhe dava um calafrio. Ela liderou o caminho até a entrada para o laboratório de Myrnin. Ela era presa por uma grade de ferro e um novo cadeado brilhante, mas Hannah


tinha as chaves. — Fallon trancou — ela explicou. — Eu não tenho ideia de como Myrnin entrou. Myrnin tinha sempre os seus meios, mas Claire não explicou isso; ela achava que Hannah não precisava de mais pesadelos. Eles desceram os degraus, ligaram as luzes em resposta ao movimento, revelando... uma destruição. Bem, ainda mais destruição do que normalmente. Os equipamentos estavam quebrados em sua maioria, os livros rasgados, os mobiliários destruídos. Ou Myrnin tinha tido uma épica explosão de raiva — que, francamente, não era totalmente improvável — ou os capangas de Fallon tinham estado aqui para ter a maldita certeza de que nada de útil sairia desse laboratório novamente. Claire escalou as pilhas de escombros, cuidadosa com os vidros quebrados e caminhou para a parte de trás do laboratório. A poltrona de Myrnin tinha sido quebrada, mas os restos dela estavam mais ou menos onde elas tinham estado originalmente. O tanque da aranha Bob estava virado de lado, mas não quebrado. Não havia nenhum sinal dele nas teias, mas certamente ele não estava morrendo de fome; havia uma abundância de insetos infelizes encapsulados em sua despensa. Claire vasculhou os destroços, e sob uma pilha de livros que incluía uma primeira edição velha de Alice no País das Maravilhas e dois cadernos de rascunho com escritas comuns em uma língua que ela nem sequer reconhecia, ela encontrou uma caixa. Não parecia ser nada demais — velha, surrada, e não muito limpa. Ela puxou a tampa para cima, e no interior cuidadosamente embalada em jornais velhos estava uma seringa de estilo antigo, cheia de líquido castanho. — Achei! — ela falou para Hannah e Shane, e passou por cima das pilhas até eles. Hannah já estava desabotoando a camisa do uniforme. — Depressa — ela disse. — Alguma coisa está acontecendo. — Alguma coisa estava. Os olhos de Hannah pareciam diferente, mais claros, e entre piscadas Claire os viu mudando rapidamente para amarelo. — Merda — Shane disse. Ele pegou o braço de Hannah e segurou firme. — Ele está ativando ela. Vá rápido. — Na mordida? — Porque a mordida de Hannah estava elevada, inflamada e proeminente, como a de Shane tinha sido. — Sim! Vá! — Shane gritou assim que Hannah deixou escapar um rosnado cruel.


Claire atolou a agulha no frasco, e comprimiu o êmbolo — mas apenas cerca de um terço do caminho. Ela esperava que Myrnin estivesse certo sobre a dosagem; se Hannah fosse submedicada, seria pior do que não aplicar. O rosnar de Hannah tornou um latido assustado, e então ela estava caindo de joelhos, tremendo e com a boca aberta num grito silencioso. Seus olhos ficaram selvagens e amarelos, mas apenas por um momento. Em seguida, sua pele adquiriu um brilho prateado suave quando a cura funcionou. Claire prendeu a respiração. Myrnin adaptou isso da cura de Fallon, mas e se tivesse os mesmos defeitos? E se só funcionasse algumas vezes? Pareceu durar uma eternidade. Hannah não desmaiou completamente, mas ela tremeu, claramente muito doente e, finalmente, quando o brilho prateado desapareceu sob sua pele, ela olhou para Claire. Seus olhos, depois de um último toque de amarelo, voltaram a cor marrom normal humana. Hannah deu algumas respirações rápidas e rígidas, e acenou com a cabeça. Shane a soltou. Ela fez uma careta. — Tem gosto engraçado — ela disse. Sua voz soava rouca. — Dói também. — Vai passar — ele disse, e ajudou-a a se levantar. — Você aguentou mais do que eu. — Ele não estava olhando para o rosto dela, porém, ele estava examinando o braço dela. A mordida estava um pouco melhor. — Eu acho que eu gritei como um bebê. — Dê-me um minuto e talvez eu faça isso — Hannah disse e tentou sorrir. Ele não saiu muito bem, mas foi corajoso. — Vamos sair daqui. Claire teria saído, mas quando eles se viraram para as escadas, ela avistou uma aranha preta felpuda do tamanho de sua palma parada em cima de um livro, olhando para ela com oito olhos brilhantes e redondos. Ele parecia quase fofo. — Ei, Bob — ela disse. Ela estendeu a mão, e ele subiu em sua mão. — Vamos colocar você de volta em seu tanque, ok? Ele não parecia infeliz com isso. Ela levou-o de volta sobre os escombros, e ele se agarrou a mão dela facilmente, e escalou por todo o caminho desigual sem muita preocupação. Ela endireitou seu tanque e estendeu a mão, e ele saiu e parou nas teias parecendo perfeitamente confortável. Ela resistiu ao impulso de dar um tapinha na cabeça dele. Caixa torácica. Seja o que for. — Bom menino, Bob. Eu volto em breve. Ele pulou de cima para baixo nas teias, em seguida, voltou a sua atenção para um de seus insetos armazenados. Ela estava feliz por pular essa parte, na verdade.


Quando ela voltou para eles, Hannah já parecia muito melhor, e Shane pareceu aliviado. — Juro por Deus, eu não entendo você e essa aranha — ele disse. — Mas se você cansou de brincar de dr. Dolittle... — Eu sei para onde eles levaram Jesse — Claire disse. — Vamos. Q q q Mas ela estava errada. O hospício — hospital mental — ou qualquer outro termo politicamente correto que poderia ter — estava fechado e trancado. Não havia ninguém lá. Claire voltou para verificar em torno das janelas, mas ela não encontrou nada. Apenas para serem meticulosos, Hannah arrombou (embora de acordo com ela, foi uma entrada de emergência), mas ela voltou balançando a cabeça. Ela parecia perturbada, no entanto. — Corpos — ela disse. — Alguns. Ele esteve fazendo os seus processamentos de conversão de vampiros mais rápido do que eu pensava. Mas Jesse não está lá. — Então onde ela está? — Shane perguntou. Claire pensou freneticamente. Poderia estar em qualquer lugar, absolutamente em qualquer lugar de Morganville, mas Fallon parecia ser um homem que gostava de empurrar a faca e torcê-la um pouco mais. Isso significava que se ele tinha movido Jesse, ele tinha movido ela por um motivo. — Eu acho que ele está com ela — Claire disse. — Na Praça da Fundadora. Você não acha? — Bem — Hannah disse, — nós temos que ir lá de qualquer maneira. Vamos lá. Q q q A viagem de volta à Praça da Fundadora não foi tão fácil como sair, principalmente porque os alertas sobre Hannah tinham vazado; eles ouviram no rádio da polícia no carro quando a notícia se espalhou. Chefe Hannah Moses deve ser presa em flagrante. Armada e perigosa. — Isso — Hannah disse, — é o código para está tudo bem matá-la. A maioria do meu pessoal não se sente dessa forma. Eu contrato boas pessoas, em sua maioria, embora alguns deles foram forçados a mim, como Sullivan. Mas os Daylighters de Fallon estarão fora buscando por sangue, e eles não vão hesitar. Não era uma boa notícia, Claire pensou. Eles precisavam de Hannah do lado deles. — Então, como é que vamos chegar lá?


— A pé — Hannah disse. Ela parou o carro e estacionou em frente da Lavanderia City Lights, onde apenas duas pessoas estavam sentadas no interior, parecendo deprimidas e assistindo as secadoras girarem. — Me dê dois minutos. Ela entrou, teve uma breve conversa com a mulher sentada lá, abriu a secadora e tirou algumas roupas. — Hum... — Claire disse, e cutucou Shane nas costelas. — Ela foi trocar de roupa? — Sim — ele disse. — Normalmente, se não estivéssemos em perigo mortal, eu iria achar isso realmente fascinante. Passou, na verdade, menos de dois minutos antes de Hannah estar de volta carregando um pacote com seu uniforme e cinto de arma. Ela tinha encontrado um par de calças que não eram realmente grandes o suficiente (mas eram calças capri, Claire lembrou) e uma blusa rosa cheia de babados que também era um pouco grande, mas surpreendentemente bonita. As únicas coisas que pareciam não combinar eram seus sapatos, que eram do tipo de policial, mas ela poderia se passar facilmente como uma civil. Ela havia tirado também o pingente dos Daylighters de seu uniforme e estava usando-o na blusa. — Camuflagem — ela disse quando Claire apontou para ele. Ela abriu as portas. — Nós vamos andando daqui em diante. Shane, você está familiarizado com isso. — Ela atirou-lhe a espingarda do suporte da frente do carro. — Claire, pegue a arma de choque. — E quanto a você? Hannah deslizou a arma em um coldre na parte baixa das costas dela, e virou a camisa para baixo sobre ela. — A menos que hoje seja o dia de levar a arma para trabalhar, eu vou ser notado — Shane disse. — Não que isso não seja um grande presente de aniversário atrasado, apesar de tudo. Hannah olhou ao redor das outras lojas no quarteirão, e sorriu. — Eu posso dar conta disso. E ela deu. Q q q — Eu odeio isso — Shane reclamou, e espirrou. Acontece que ele era alérgico a rosas. E ele estava carregando um pacote grosso delas para esconder a espingarda. Era uma coisa estranha e inteligente, porque quem iria achar


que um cara que estava carregando rosas era perigoso, não é? Especialmente um que estava espirrando. Claire podia saber o quanto ele estava odiando por ele estar cerrando os dentes. Muito. Eles caminharam rapidamente, mas com calma a curta distância da Praça da Fundadora. Hannah deve ter pensado adiante, porque quando eles passaram por uma das entradas laterais; estava guardada por um policial, mas quando Hannah se aproximou, ela trancou olhares com a mulher e disse: — Fique do lado certo, Gretchen. Sempre Fiel. Gretchen — uma mulher com cabelo branco — assentiu com a cabeça, deu a eles todos uma rápida olhada e a porta se abriu. — Eu nunca vi você, chefe — ela disse a Hannah. — Afirmativo. E então eles entraram, se aproximando pelo lado. Havia um coro de estudantes no palco, cantando algo que Claire levou um momento para perceber que era “Here Comes the Sun”. Eles não eram muito bons. — Isso é pouco correto — Shane disse. — Eu acho que talvez “Black Hole Sun” poderia ser mais apropriado. Ele estava certo, é claro. A audiência de Fallon que havia se reunido, porém, parecia em transe; eles estavam balançando ao som da música de mãos dadas, olhando para todo mundo como se eles estivessem tendo uma experiência religiosa. Amelie, Oliver e Morley ainda estavam imóveis no palco, borbulhando e cozinhando no sol. Deveria ser agonizante esperar pela chance. Claire se perguntava o motivo de eles já não terem se movido, mas ela percebeu que eles estavam esperando por uma palavra que os vampiros no shopping haviam sido resgatados. Dependia dela, e de Shane, para que eles soubessem. Ela viu Eve e Michael. Eles estavam sentados em cadeiras no palco ao lado de Fallon, praticamente mantidos lá por dois guardas dos Daylighters que estavam por trás deles. Talvez essa seja outra razão para que Amelie não tenha se movido; Eve e Michael seriam os primeiros em perigo se ela se movesse. O coro estava cantando quando os vampiros começaram a chegar na Praça da Fundadora. Alguns estavam cobertos por mantas, casacos, tudo o que tinham sido capazes de arranjar no caminho do shopping. Outros, os mais velhos, tinham feito um chapéu com algum tipo de tampa. Eles vieram sobre as paredes em uma corrente silenciosa, aterrissando em silêncio nos arbustos e avançando


para se reunir nas bordas da multidão. Isso tudo foi feito com muita calma. Ninguém ameaçou. Ninguém atacou. Então, alguém na multidão deve ter notado que um vampiro estava de pé ao lado dele. Ele gritou, e uma onda de confusão entrou em erupção. As pessoas começaram a recuar, se encolhendo do aparecimento súbito dos bichos-papões todos ao redor deles... e com a falsa sensação deles de segurança despedaçada em caos a multidão começou a dispersar em todas as direções. A fé na luz do sol não era suficiente enquanto eles encaravam o perigo real, aparentemente. O coro ainda cantava, mas foi caindo aos pedaços também, e Fallon se empurrou através deles para chegar ao microfone. — Não corram! — ele gritou, e sua voz soou sobre a praça, ecoando de volta aos edifícios com suas bandeiras tremulando. — Não corram deles! Levantem-se a eles! Lutem pela cidade de vocês. Vocês têm a vantagem, eles são poucos, e eles estão fracos. Peguem Morganville de volta! — Vão — Hannah disse. — Tirem Michael e Eve de lá! Eu preciso ter certeza que ninguém faça nada estúpido. — Ela já tinha ido embora, correndo a todo vapor para dois de seus próprios policiais, um dos quais estava pegando a arma, mas não completamente certo de para onde apontá-la. Shane agarrou o braço de Claire e rebocou-a rapidamente em direção ao palco. Isso não foi fácil, porque um monte da multidão estava correndo naquela direção, como se a presença de Fallon fosse de alguma forma protegêlos dos vampiros agrupados do outro lado das cadeiras dobráveis. Fallon estava certo — os seres humanos estavam com mais número do que eles. Mas o medo de vampiros era tão arraigado que não isso parecia fazer diferença. Myrnin estava em frente a série de vampiros, Claire viu, mas ele não avançou. Ele levantou a mão, e os outros ficaram atrás dele, prontos para se moverem. Ela já os tinha visto no modo de exército, lutando contra os draugs, mas ainda era estranho e aterrorizador, saber o quanto eles poderiam desencadear o inferno. — Myrnin — Fallon disse. Sua voz subindo um pouco só por dizer o seu nome, tanta raiva e tanta dor. — Veio para lamentar a sua queda? — Isso não tem que terminar desse jeito — Myrnin disse. — Eu não tenho nada contra você, Rhys. Eu nunca tive. — Você destruiu a minha vida, Aranha. Você me fez um predador e enegreceu a minha alma, e eu precisei de centenas de anos para voltar para o caminho da luz. Bem, eu consegui. E agora eu vou arrastá-lo para a luz também.


— Eu estou de pé na luz agora — Myrnin disse. — Se você não notou. Nem mesmo um chapéu na minha cabeça. O que te faz pensar que eu temo isso? Fallon apontou para os corpos crepitantes de Amelie, Morley e Oliver. — Pergunte a eles — ele disse. — Eles são a prova da sua condenação. Prova de que o próprio sol odeia e rejeita o seu tipo. — Ele desviou o seu olhar para longe de Myrnin e para as pessoas que se aglomeram ao redor do palco. — Vamos ficar na luz solar e eles vão ser derrotados! O sol nos torna fortes. Fiquem junto! — Vamos, precisamos tirar Eve e Michael de lá — Shane disse. Ele se empurrou pela multidão, indo para a escada que levava até o palco. Enquanto eles subiam os degraus, eles estavam lotados até a borda pelo coro em fuga, mas ele praticamente atingia os corpos seu caminho, sem se importar com seus gritos e choros, e de alguma forma manteve o agarre em Claire e deixou espaço suficiente para ela seguir. Então eles estavam no topo, e Michael os avistou. Era o que ele estava esperando, aparentemente, porque ele se virou e empurrou um cotovelo direito na mandíbula do homem por trás dele e de Eve. Eve soltou um grito de guerra, jogou a cadeira para o lado, e chutou o homem com força no peito enquanto ele tentava dar um soco em troca. Isso atirou-o para trás e o enrolou nas cortinas, e elas foram rasgadas quando ele caiu para fora do palco. Eve se virou, com a cor queimando em suas bochechas, e agarrou a mão de Claire. Ela não falou, mas a pressão de seu aperto era suficiente. Michael e Shane trocaram acenos rápidos. — E agora? — Michael perguntou. — Nós vamos sair do maldito caminho, porque o inferno está vindo — Shane disse. — Vamos lá, cara. Mas eles não conseguiram. O homem que Eve chutou para fora do palco veio lutando para subir, e seu companheiro voltou do outro lado, arrastando o corpo inerte de uma mulher de cabelos vermelhos que Claire reconheceu um segundo mais tarde, Jesse. Ele soltou ela no palco ao lado do pódio de Fallon, e mesmo de longe Claire viu o tremor que atravessou Myrnin. Ela viu seus olhos se tornarem carmesim sangrentos. Mas se Fallon esperava que ele atacasse, ele ficou desapontado. Myrnin disse: — Você é um tolo, Rhys. Você alcançou a sua própria mortalidade. Parabéns. Deixe a sua raiva ir. Deixe para lá.


— Depois que eu enviar os seus amigos para o inferno, onde eles pertencem — Fallon disse. Ele foi até Amelie, estendeu a mão, e puxou a estaca bruscamente para cima. Ele esperava que liberar o nitrato de prata fosse destruí-la, é claro, e deve ter sido um choque terrível para ele quando ela abriu os olhos, sentou-se e disse em uma voz calma e clara: — Obrigada. Isso foi desagradável. Ele tropeçou para trás quando Amelie se levantou. Ela estava queimada e fraca, mas vê-la se mover enviou uma ondulação através da multidão dos vampiros que ainda estavam de pé parados. Ela caminhou até Oliver e arrancou a estaca de seu peito também, em seguida, o ajudou a se levantar. E então Morley. Foi quando Fallon tropeçou de volta ao pódio e tirou uma cópia do dispositivo VLAD de Claire — a arma desajeitada e volumosa dela e de Myrnin tinha sido transformada em moderna. Esta parecia mais elegante e fatal, e Fallon apontou para Amelie. Claro. Claire soube que a Dra. Anderson estava trabalhando em fazer novos modelos. Este era um protótipo, algo que ele trouxe hoje para mostrar aos verdadeiros crentes. Uma arma real que eles poderiam usar para se proteger dos vampiros. Claire sabia que estava na configuração mais alta. Isso poderia não matar Amelie, mas iria incapacitar tanto ela que ela estaria totalmente desamparada. A culpa é minha, Claire pensou com um ataque nauseante. Minha invenção. Eu sou a vilã afinal. Ela assistiu, impotente, Fallon apertar o gatilho. Oliver se lançou no caminho da explosão. Ele devia saber o que isso iria custar a ele; ele tinha sido atingido com ela antes, duas vezes, e ele compreendia a dor que iria sentir. Mas ele não hesitou. Claire viu o feixe atingi-lo, e viu-o cair no chão do palco. Ele contorcia em agonia e, em seguida, se enrolou em uma bola indefesa, tremendo de medo e horror. Isso deu a Morley uma oportunidade. Ele agarrou Fallon, arrancou a arma de suas mãos, e quebrou-a no joelho tão facilmente quanto se tivesse sido feita de madeira. Fluidos pulverizaram, faíscas voaram, apenas assim, ele reduziu a arma de Fallon a sucata e reciclagem. Isso custou a ele a sua vida. O Daylighter que tinha arrastado Jesse até o palco puxou uma estaca de prata e pulou para a frente para empurrá-la no peito de Morley. Morley poderia ter sobrevivido, pelo menos por um tempo, mas o homem rapidamente puxou-


a de volta para fora... o que desencadeou o lançamento da solução líquida de prata no interior. Ela inundou a cavidade torácica de Morley, e ele começou a queimar, gritando. Claire bateu as mãos sobre a boca e desviou o olhar de horror, sabendo que não havia nada que eles pudessem fazer por ele; foi rápido, e foi letal. Também foi uma maneira horrível de morrer. Ela ouviu-o cair, e sentiu o cheiro amargo de cinzas. Amelie ignorou Fallon, que agora estava recuando. Ela moveu-se em um borrão para o homem que estacou Morley, e ela atirou ele para fora do palco — até a parede mais próxima, no meio do mato — e caiu ao lado de seu aliado caído. Ela pegou a mão dele enquanto ele tremia, olhando para o rosto dela enquanto a prata borbulhava e assobiava em sua cavidade torácica. — Eu estou aqui — ela disse. — Morley, eu estou aqui. Obrigada, meu velho amigo. Que Deus lhe conceda o descanso. Ele não conseguia falar, mas ele segurou o olhar dela até que ele se foi, seu peito foi comido e tornado um buraco cheio de cinzas. Em seguida, Amelie levantou-se, e olhou para Fallon com aqueles olhos calmos, frios e cinzentos, e Claire sabia que ele estava acabado, de uma forma ou de outra. Ele se afastou dela, e ocorreu a Claire que o seu medo maior do mundo era ser transformado em um vampiro novamente. Amelie podia achar que era uma punição adequada. Podia até achar alguma satisfação nisso. Mas Claire realmente achava que ela iria matá-lo. Ela não fez nenhuma dessas coisas. Em vez disso, ela andou no pódio e pegou o microfone sem fio e falou nele. — Pessoas de Morganville — ela disse. — Por favor, fiquem calmos. Nenhum dano vai acontecer a qualquer um de vocês. — Mentirosa! — Fallon disse, mas ele não tinha o microfone mais. E Amelie virou as costas para ele para falar com a multidão. Ela estava adquirindo bolhas no sol, e começando a fumaçar; ela estava fraca, e ainda se recuperando do ferimento no peito. Mas mesmo com tudo isso, mesmo em roupas manchadas e seu cabelo longo selvagem, ela parecia como o que ela sempre era, e sempre tinha sido. Uma rainha. — Você tem feito grandes esforços para nos tornar os monstros, Fallon — ela disse. — Você fala que nós não podemos controlar os nossos impulsos bestiais, nossos apetites. De como as pessoas diferentes de você devem ser eliminados, para a segurança, ou convertidos em uma forma que você acha


aceitável. Mas aqui estamos, diferentes. Poderíamos parar cada batida de coração neste lugar. Nesta cidade. Nós poderíamos fazer um alvoroço em todo o mundo, criando mais e mais da nossa própria espécie. Mas nós não fazemos isso. Você sabe por quê? — Sua voz calma e calmante estava tendo um efeito sobre a multidão de Daylighters em pânico. Eles estavam de pé agora, ouvindo, não se empurrando ou fugindo. Se Amelie estava preocupada com os outros guardas que estavam se fechando perto dela — os fanáticos leais de Fallon — ela não demonstrou nada. — Porque nós não somos monstros. Nós somos o mesmo que vocês, exceto pela maldição que a maioria de nós acabamos aceitando. Se nós voltaríamos ao nosso estado humano se recebêssemos essa chance? Alguns conseguiriam. Alguns não. Mas nos forçar, sabendo que poderia destruir tantos no processo... Isso não é misericórdia, Fallon, não importa o quanto você finja. Isto é assassinato. Os guardas Daylighters estavam se aproximando agora com as estacas de prata para fora. Amelie se afundou graciosamente de joelhos, ainda segurando o microfone. — De todas as formas, nos matar à luz do sol que vocês amam tanto. Nos matar na frente de testemunhas. Mostra apenas o quão misericordioso você é, porque eu conheço você, Rhys Fallon. Eu reconheço o coração imaturo em você, e a raiva egoísta, e a amargura. Eu sei que você perseguiu a sua humanidade com um propósito cruel, e quando você conseguiu de volta... você detestou. Você criou isso para destruir tudo o que lembrava você do que você perdeu. Era uma imagem poderosa — a vampira mais mortal do mundo, de joelhos, de forma voluntária. Os Daylighters estendendo as suas armas. Mas ela não estava atacando, ela não estava matando, ela nem sequer parecia ameaçadora. E os guardas não sabiam o que fazer com isso. Algumas pessoas na multidão pareciam confusas agora, e algumas pareciam desconfortáveis. Como se a verdade estivesse começando a aparecer. — Nós tivemos mestres duros aqui — Amelie continuou. A força de vontade que levou para ela ignorar a morte iminente através das estacas de prata dos Daylighters, tendo em vista que elas haviam destruído Morley, era surpreendente. Claire não podia imaginar como ela estava fazendo isso. — Os vampiros são lentos para aprender, e demoram para mudar, mas nós mudamos. Sabemos que temos de mudar. Antes de Fallon chegar, nós estávamos construindo uma nova Morganville, uma Morganville igual, onde nós poderíamos todos viverem em paz juntos. Não deixem ele tirar isso de


vocês, porque se vocês construírem a sua nova cidade sobre os ossos das vítimas, isso nunca vai lhes trazer paz. Veja o que ele fez conosco agora, e lembrem-se. Fallon sabia que ele estava acabado, então. Ele deveria saber. O fato de que os vampiros não tinham atacado, que o seu lado tinha atirado em Oliver e matado Morley, e agora estava ameaçando matar uma mulher ajoelhada, desarmada... era um desastre de relações públicas para ele. Morganville se ressentia dos vampiros, sim, mas Claire percebeu que a multidão aqui na praça não era tão grande quanto poderia ter sido. Uma boa parte da cidade não estava aqui. Não estava cantando sobre o sol e celebrando a derrota dos vampiros. Talvez essa outra metade ainda se ressentia dos vampiros, mas se eles não estavam aqui, isso significava que eles tinham tido uma razão para não aparecer. Isso significava que alguns deles, muitos deles, não concordavam. E Amelie sabia disso. Fallon poderia ter feito uma retira graciosa, se manter sangue frio, pregado seu discurso antivampiro. Amelie iria deixá-lo, provavelmente. Mas ele não estava contente com isso. Ele não queria perder. — Mate-a! — ele disse aos seus homens, e apanhou o corpo mole de Jesse de onde ela tinha caído no chão. Ele pegou uma estaca de prata do bolso do casaco. O suor escorrendo pelo seu rosto, e sua pele tinha um rubor vermelho doentio da força de sua fúria. Shane deixou cair as rosas que ele estava segurando e ajustou a espingarda, em seguida, apontou-a para o grupo de homens que estavam em torno de Amelie. — Ei, rapazes? Não — ele disse. — Isso não vai machucá-la tanto, mas definitivamente vai machucar vocês. Eles congelaram. Todos, exceto um largaram as estacas, que caíram no palco e se afastaram até a borda. Um decidiu continuar. Ele apunhalou, esperando que Shane hesitaria em disparar... como ele fez. Amelie estendeu a mão e sem esforço pegou a arma dele enquanto ela ia em direção ao seu peito. Ela se virou e olhou para ele. — Não — ela disse. — Hoje não. — Ela arrancou a estaca de sua mão e empurrou-a no chão de madeira do palco ao lado dela. Então ela o soltou. Ele afastou-se, claramente não sabendo o que fazer com um vampiro que não queria machucá-lo. Deveria ter acabado, mas Fallon ainda estava com Jesse e uma estaca de sua autoria e, embora ele deveria ter fugido, ele estava avançando... para a


beira do palco, onde ele agarrou o corpo mole de Jesse e levantou ela apertando-a contra o peito dele. — Myrnin! — Mesmo sem o microfone seu grito era alto o suficiente para ser ouvido facilmente sobre a multidão. — Você precisa viver no mesmo inferno que você me deixou para apodrecer, e isso significa que você vai apodrecer sozinho. — Ele levantou a estaca. Myrnin estava muito longe. Longe demais para salvá-la. Mas Claire não estava. Ela disparou o laser nas costas de Fallon. Ele convulsionou, tombou e caiu com um baque pesado, ainda tremendo. Myrnin chegou apenas um segundo mais tarde, viajando na velocidade vampira e saltando para o palco para pegar Jesse em seus braços. — Cara senhora, minha senhora, o que é que eu fiz com você... — Ele pegou seu pulso e beliscou-o, puxando um pouco de sangue, o qual ele lambeu. Isso deve ter dito a ele o que ele precisava saber. — Ele deu a ela um sonífero. Logo vai passar. Ela está bem. Claire, ela está bem. — Ele olhou para cima, e havia lágrimas em seus olhos quando ele sorriu para ela. Ela sorriu de volta. Seu coração estava se partindo um pouco, porque ela sentiu algo mudar em Myrnin, e ela sabia que ela não seria mais o centro de sua gravidade. Ele sempre estaria lá para ela, e ele sempre seria seu amigo, mas havia algo na forma que ele segurava Jesse, acariciava o cabelo dela, sussurrava para ela de uma maneira que Claire nunca poderia vê-lo fazendo com ela. O peso quente de Shane se estabeleceu atrás dela, e seus braços se envolveram em torno dela. Ele tinha passado a espingarda para Eve, que estava segurando-a na direção dos guardas da Daylighter. Além disso, Amelie tinha finalmente se levantado. Ela olhou para os vampiros ainda de pé no sol — um sinal de sua lealdade a ela, Claire pensou — e levantou o microfone. — Se protejam do sol, amigos — ela disse a eles. — Obrigada. Hoje vocês me mostraram e a todos de Morganville, o que realmente pode acontecer. Será sempre uma luta para nós, mas podemos aprender e nós aprenderemos. Vão. Assim que eles começaram a se mover, indo para as sombras nas varandas dos edifícios, Amelie se virou para Oliver, que ainda estava deitado no chão, tremendo. Ajoelhou-se graciosamente ao lado dele e pegou a sua mão. — Eu estou aqui — ela disse. Foi o que ela disse para Morley, mas lá tinha sido compaixão, isso era algo muito mais forte. — Tola — ele consegui sussurrar. — Nunca confie nas boas intenções de um ser humano.


— Talvez nós dois vamos aprender a fazer melhor — ela disse, e se inclinou para dar um beijo em seus lábios. — Ao longo do tempo. — Talvez você não devesse confiar nas minhas intenções. — Eu nunca confio — ela disse, e levantou as sobrancelhas ligeiramente. — Descanse. Você pode me atormentar mais tarde. — Eu vou — ele disse. — Talvez você possa me levar para a sombra? Ela riu e pegou ele em seus braços — uma visão muito estranha, e uma que Claire tinha certeza de que Oliver não iria se lembra com carinho — e o levou para fora do sol. Michael ainda segurava Fallon. Ele estava lá com uma das estacas de prata, virando-a em seus dedos inquietos. Fallon estava começando a sacudir do choque. O olhar em seus olhos era ódio puro e frio. — Ei, Mikey — Shane disse. — Ele não é um vampiro mais. Se você fizer isso é assassinato. — Eu sei — Michael disse. — Eu não vou fazer nada que ele me faça fazer. Por favor, não me dê uma desculpa, Fallon. Eu devo a você por me dar a minha vida de volta. Fallon havia se recuperado o suficiente para dizer algo, mas foi fraco, e Claire quase não entendeu. — Você era um meio para o plano, menino — ele sussurrou. — Para machucá-la. Michael deu de ombros. — Então eu não vou convidá-lo para o meu casamento. — Que casamento? — Eve falou de onde ela estava. — Eles anularam o nosso casamento, lembra? Você não acha que eu deixaria você ir embora, não é? Ela soprou-lhe um beijo. — Nunca, jamais, estrela do rock. Solte ele. Vamos para casa. Fallon sorriu quando Hannah Moses colocou as algemas nele. — Vocês acham que vocês têm uma casa para voltar? Todos eles pararam e olharam para ele — para o triunfo quente e amargo de seu sorriso. — Michael — Shane disse, — nós não sabíamos... — Nós estávamos fora da cidade — Michael disse, e olhou para Claire para confirmação. — Nós saberíamos, não é? Ela procurou dentro de si por aquela conexão com a Glass House, aquele pequeno fio de sentimento que ela tinha se habituado a reconhecer. Ele ainda estava lá... mas era fraco. Muito fraco.


— Temos que ir — ela disse. — Agora mesmo.


E

Capítulo 14

les se apoderaram de um carro da polícia de Hannah, e Shane apertou as luzes e sirenes enquanto Michael dirigia, ignorando os semáforos e se contorcendo em torno de outros carros como se ele estivesse mergulhado em um vídeogame da vida real. Claire e Eve, por outro lado, apenas se agarraram aos seus lugares na parte de trás. Não demorou muito para avistar a casa deles. E a escavadora mecânica gigante que estava indo implacavelmente em direção a ela. — Oh, Deus — Eve disse. Enquanto eles viravam, as rodas do monstro gigante amarelo destruíram a caixa de correio, bateu na cerca branca, que se estilhaçou e esmagou a grama bonita e limpa. Não ficou limpa por muito tempo. As rodas cobriam o quintal de lama enquanto a escavadora se movia para a frente, levantando a caçamba. Ela estava mirando bem na esquina da casa, e quando Michael fez uma parada brusca com o carro no meio-fio, Claire viu o rosto de Miranda na janela, os olhos arregalados de terror, olhando para a coisa que estava indo destruir casa deles. E dela. Não havia planos para essa eventualidade e Claire sabia que não havia tempo para isso; Shane e Michael saíram pelas portas da frente, e Shane lembrou — por pouco — de abrir a porta de Claire na parte de trás antes de correr atrás de Michael também. — Vá atrás do motorista! — Michael gritou, mas não ia ser assim tão fácil, porque o motorista não estava sozinho — ele tinha um par de outros caras fortes da construção com ele. Shane mudou de direção e deu um salto correndo para a cabine da escavadeira. Ela era nova, mal estava suja ainda, e tinha uma cabine fechada com ar condicionado, provavelmente... com uma porta com bloqueio. E o motorista, é claro, a tinha bloqueado. Shane puxou a porta, mas isso era inútil; ele tentou empurrar o cotovelo no vidro, mas era espesso, projetado para resistir a restos que voassem. E então a escavadora, que tinha abrandado quando o operador avaliou a ameaça que


Shane representava, acelerou novamente, e a guinada jogou-o até rolar na grama. Não havia tempo para nada muito exagerado, mas Claire parou, correu de volta para o carro da polícia e procurou freneticamente ao redor dos assentos... e encontrou um bastão flexível e expansível. Ela correu passando por Shane, que estava subindo para a escavadora novamente. — Ajude Michael! — ela gritou. Ele e Eve estavam no meio de um grupo de construtores com dois outros homens, e Michael ainda não tinha percebido as limitações de seu corpo humano. — Eu cuido disso! Ele deu a ela um olhar rápido e preocupado, mas ele não discutiu. Além disso, ele adorava uma boa briga, e essa estava se moldando para ser uma que ele lembraria com carinho. Claire respirou fundo, correu e pulou, e pousou no degrau revestido de borracha ao lado da cabine. O motorista deu-lhe um olhar irritado e presunçoso; ele zombou e não se preocupou em colocar a máquina em marcha lenta dessa vez. Pelo menos não até que ela recuou o bastão pesado e bateu-o contra o vidro da janela estilhaçando-o. Um segundo golpe fez chover pedaços de vidro em cima dele, e ele soltou um grito e tirou a mão do acelerador — o que fez a escavadora ser desligada automaticamente para uma marcha lenta de novo, a cerda de um metro do canto da casa. Ele xingou ela em voz alta e empurrou a porta aberta, o que empurrou ela para fora e para a grama, onde ela bateu e rolou sob seus pés respirando com dificuldade. Ela tinha estado esperando que ele saltasse para fora e viesse atrás dela, mas ele tinha feito o que pretendia fazer, empurrá-la, e agora fechou a porta novamente e apertou o acelerador. — Não! — Claire gritou e pulou de novo. Ela colidiu com a porta de metal. Ele não tinha trancado corretamente dessa vez, e ela deu um passo para trás e abriu-a, se segurando desesperadamente. Ela tinha deixado cair o bastão em algum lugar, mas ela não tinha espaço para empunhá-lo dentro da cabine de qualquer maneira. — Você está louca? Caia fora! Não me faça te machucar! — o homem disse e empurrou ela. Ela se segurou, então ele soltou o acelerador para conseguir segurar ela com as duas mãos... e ela o deixou. Ele tinha mãos duras e fortes, e ela sabia que ele ia deixar hematomas, mas estava tudo bem agora. Contusões eram boas. Porque ela foi capaz de se inclinar e pegar a chave da ignição antes que ele a jogasse para fora da cabine e para fora da máquina.


A escavadora tossiu e morreu, trancada em suas trilhas enlameadas, e Claire se ajustou e ficou de pé sorrindo. Ele não entendeu o que tinha acontecido por um momento. Ele continuou empurrando o polegar no botão para ligar o motor, mas então ele deve ter visto o que estava faltando, porque ele nivelou um olhar negro e furioso com o de Claire e saltou da cabine para vir atrás dela. Ela correu para a briga confusa que estava prolongando por todo o gramado — Michael e Eve estavam com um dos caras da construção, que parecia furioso e frustrado, sem mencionar um pouco preocupado. Seu companheiro vestido de neon estava dando socos em Shane, o quais Shane estava evitando facilmente enquanto aplicava golpes duro e precisos na barriga do homem e — quando Claire correu passando por eles — um gancho de direita impressionante que girou o cara para o outro lado e o enviou fracamente para o chão. — Ei, Claire! — Shane gritou para ela e, em seguida, avistou o motorista da escavadeira furioso e implacável em sua perseguição. Ele deu um passo no caminho. Isso foi um erro, porque o cara da escavadeira evidentemente havia parado para pegar o bastão caído de Claire, que elevou com toda a sua força e bateu contra a perna de Shane. Shane gritou e caiu sob seu outro joelho, e o seu agarre no pé do homem não retardou o cara. Claire subiu correndo os degraus até a casa. A porta se abriu à sua frente porque Miranda estava esperando, e no instante em que Claire entrou a porta tentou fechar. A ponta do bastão ficou no caminho e a porta da frente se abriu para trás, batendo forte na parede do corredor. O cara da construção entrou na Glass House, flexionou seu pulso e levantou o bastão com seus dentes arreganhados para Claire e Miranda. Foi quando o mundo desabou. Miranda deve ter percebido porque ela agarrou Claire e puxou-a para baixo para o piso de madeira um instante antes da mesinha velha que eles usavam como depósito de mochila/bolsa/chave ser levantada do chão e bater com força no peito do invasor. Ele gritou de surpresa, mas não fez muito dano; Ele a agarrou e atirou-a para o lado, na sala de visitas, então veio atrás das duas com um olhar assassino. Claire sentiu uma onda de energia igualmente furiosa se elevando — do chão debaixo dela, girando nas paredes do chão ao teto, um poder abundante, mas invisível que levantou arrepios e formigamentos por todo o corpo dela.


E então a mesa de café da sala de visitas se pôs de pé e empurrou ele na parede com força suficiente para deixar rachaduras no gesso. Ele deixou cair o bastão e cambaleou. Um vaso velho e de forma estranha em um tom particularmente desagradável de marrom voou de uma prateleira e quebrou em pedaços contra a cabeça dele. E então ele caiu, flácido contra a parede. Gemendo. A casa pareceu satisfeita com isso — Claire sentiu a onda de triunfo e sabia que não tinha vindo dela ou Miranda. Ela andou, moveu a mesa de café para fora do caminho (que era mais pesada do que ela se lembrava), chutou os pedaços afiados do vaso de lado e pegou o bastão. O trabalhador da construção olhou para ela como um bêbado através de olhos vermelhos. Ela enfiou as chaves da escavadeira em seu bolso da calça e disse: — Você está bem? Ele murmurou algo que soou rude, então ela só assumiu que ele estava, e olhou para fora. O carro de Jenna estava chiando até parar no meio-fio na frente do carro da polícia; ela deve ter sentido o desconforto da casa ou de Miranda. A luta no gramado ainda estava acontecendo, mas já estava acabando, e quando Jenna saiu de seu carro e andou a passos largos para ajudar Shane a se levantar, o trabalhador da construção restante levantou as mãos para sinalizar rendição. — Ok, ok — ele gritou quando Michael e Eve pararam com os punhos erguidos. — Já chega. Eles não nos pagam o suficiente para isso! — Surpresa — Jenna disse secamente. — Eles não vão pagar nada por isso. Se você acha que a Fundação Daylight vai preencher um cheque para você, você terá uma surpresa. Eles simplesmente fecharam as portas definitivamente. Ele deveria ser o supervisou, Claire pensou, porque ele parecia enojado. — Bem, merda — ele disse. — Eu não vou pagar por essa cerca quebrada, senhora. Eu recebi ordens. — Vamos dizer que estamos quites — Eve disse. — Eu nunca gostei dessa cerca, de qualquer maneira. O que você acha, Michael? Algo gótico como ferro forjado? Com spikes? — Spikes são legais — ele disse, e agarrou-a para olhar para ela. Ele passou o polegar sobre o queixo dela. — Você vai ter uma contusão. — Jesus, eu espero que sim. Eu não teria feito a minha parte se eu não ganhasse.


Ele a beijou, colocou um braço em volta dos ombros dela, e levou-a em direção a casa. Shane estava mancando, mas quando ele chegou à porta com Jenna, ele deu a Claire um sorriso tranquilizador. — É um machucado; vai passar — ele disse. — Você pode ter que beijá-lo depois. Ela revirou os olhos. — Vai sonhando — ela disse, mas ela estendeu a mão para empurrar para trás o cabelo suado e grosso de seu rosto. — Olhe para isso. Ainda bonito. — Claro que sim. — Shane cutucou o cara da escavadora com o pé. — Ei. Quer dar o fora da nossa casa, imbecil? Não me faça dizer que você não é bemvindo. Coisas ruins acontecem. Não brinca, Claire pensou. A casa estava praticamente vibrando, ela estava tão chateada. Ela balançou a cabeça, ajudou o cara a se levantar (parecia o mínimo que ela podia fazer, na verdade), e empurrou-o para fora da porta para os braços de seu supervisor. — Eu acho que seria melhor tirar o dia de folga — ela disse. Ele balançou a cabeça. — É isso aí, garota. É hora da cerveja. Claire pegou as chaves do bolso e jogou-as para ele. — Tire essa coisa do nosso gramado. — Ela hesitou, segurando seu olhar. — Você sabe que se você ao menos pensar em colocá-la na direção errada... — Oh, eu entendi — ele disse. — Confie em mim. Se depender de mim essa maldita casa pode ficar em pé até toda a cidade ser destruída. Parecia aceitável, mas Claire checou com a sua amiga para ter certeza. Miranda assentiu seriamente e abraçou Jenna com força. Michael ergueu as sobrancelhas para Eve que analisou Shane e, em seguida, falou por todos eles quando disse: — Parece bom. Oh, e eu levaria os seus amigos para fazer um exame no hospital apenas por precaução. — Eles? E quanto a mim? — Ele esfregou o queixo. — Você chuta como uma mula, Sra. Glass. Ele escapou com os seus dois amigos desconcertados. Eve sorriu e relaxou contra Michael, que colocou os seus braços em volta dela. — Estamos em casa. Eu gosto disso — ela disse, e olhou para ele. — Espere, não estávamos falando de um casamento antes de tudo isso? — Nós estávamos — ele disse. — Vamos discutir o assunto. Em particular. — Ele agarrou a mão de Eve e rebocou-a pelo corredor. Eve acenou de volta para o resto deles, e toda a maquiagem gótica no mundo não poderia ter ocultado o rubor em suas bochechas.


— Deveríamos ir — Miranda disse para Jenna em um tom muito profissional. — Porque eles ficam estranhos comigo aqui quando eles estão, você sabe. — Eu estive pensando que talvez devêssemos fazer um quarto para você na minha casa — Jenna disse. — Eu tenho um quarto sobrando. Você terá que visitar aqui para manter a sua conexão, mas você é bem-vinda a qualquer hora. Os olhos de Miranda se arregalaram, e ela parecia tão brilhante e esperançosa que quase machucou Claire ao olhar para ela. Depois de todo o sofrimento da garota, talvez as coisas estivessem começando a finalmente, finalmente melhorarem. — Sim, isso parece bom — ela finalmente disse, e conseguiu fazer isso soar com a indiferença de uma adolescente, mesmo que ela definitivamente não estivesse indiferente. — Posso levar os meus pôsters? — Claro. Eu amo pôsters. — Jenna sorriu com um entusiasmo genuíno e caminhou em direção à porta. — Você vai ficar bem até chegarmos em casa? Não está se sentindo muito fraca? — Não — a voz de Miranda foi trazida quando elas caminharam pelo gramado destruído. — A casa está feliz. Eu me sinto forte. Shane colocou seus braços ao redor de Claire por trás, e beijou-a em um lugar bem atrás de sua orelha, um lugar que ele sabia que a fazia estremecer. — Hmmm, então vai ter um casamento. O que você acha? — ele perguntou a ela. — Você quer dizer o casamento de Michael e Eve? — Sim. E não. Ela virou-se em seus braços e olhou em seus olhos. Ela sentia como se ela estivesse caindo, e caindo, e caindo, mas não era assustador, nem um pouco. Parecia com uma sensação de voar. De liberdade. De possibilidades. Ela respirou fundo e disse: — Sim. Q q q Nada aconteceu instantaneamente. Não era possível, porque apesar de Fallon ter sido levado em custódia e os vampiros libertados da prisão, havia... problemas. Claro. Morganville nunca ficava sem eles. — Essas malditas políticas de ódio — Eve suspirou quando deixou a sua bolsa caixão na mesa da cozinha e caiu em uma cadeira ao lado de Claire, que estava navegando na internet em seu laptop. — Como está a prefeita?


Eve deu a ela um olhar. Em seguida, revirou os olhos. — A prefeita Ramos está renunciando. Ela diz que não pode servir em um conselho com vampiros. Acho que esperávamos por isso, certo? Esperei duas horas para ela aparecer, em seguida ela me disse que não poderia ajudar a endireitar a confusão com a nossa licença de casamento. Quero dizer, o quão difícil pode ser se casar, divorciar involuntariamente e se casar novamente? Eles não querem que eu seja feliz? Não responda isso. Claire não respondeu. As linhas antigas e amargas de Morganville nunca iriam desaparecer completamente; com os vampiros de volta, não exatamente de volta no comando, algumas pessoas culpavam Eve (e o resto deles) por estragar as coisas quando elas estavam se consertando. Se por consertando eles queriam dizer horrivelmente erradas, então Claire supôs que eles estavam corretos. Ela pensou que ela não se importava de ser taxada como uma vilã tanto assim, afinal, porque as pessoas que estavam em geral culpando-a pelo estado geral de suas vidas tinham muito pelo que responder. — Então, sem data ainda? Como resposta, Eve esticou um pedaço de papel na frente dela sobre o teclado. Claire olhou para cima, em seguida para baixo, para o documento. Parecia oficial. — Eu não disse isso — Eve disse e sorriu em um lento deleite. — Eu consegui uma substituição de Amelie. Além disso, Ramos está limpando a mesa, e o próximo prefeito disse que ia carimbá-lo no segundo que ele assumisse o cargo. — Charlie Kentworth? É sério? — Houve uma campanha e eleição muito apressada de dois dias para o cargo de prefeito de repente aberto, e tinha sido o Policial Kentworth a escolha bastante óbvia. Especialmente desde que sua única adversária, reciclando as coisas da sua última tentativa falha de campanha, tinha sido Monica Morrell. Ela reuniu cerca de cinco por cento dos votos, principalmente por causa da ironia demográfica, mas ela ainda estava determinada a encontrar algo para estar no comando. Ela falou sobre comprar o antigo edifício da Fundação Daylight — trancado agora — e tornálo um internato de cães. Shane achou aquilo adequado, estranho e divertido. — Ele é um cara bastante decente quando não encontra cadáveres em sua casa — Eve disse. — Falando nisso, eu não vou para o porão mais. — A lavanderia é no porão. — Então você vai tomar conta da lavanderia. — Ei! — Claire cutucou ela, e Eve cutucou de volta. — Então... a data? — Nós estávamos pensando no próximo sábado. Você está ocupada?


— Eu posso estar — Claire disse. Ela manteve a sua cara neutra o suficiente para Eve parecer momentaneamente devastada, e então ela enfiou a mão na mochila para tirar outro pedaço de papel, que ela deslizou para Eve. Que desdobrou-o, leu e gritou em intervalos que só os golfinhos poderiam ouvir e o laptop de Claire praticamente voou da mesa em sua pressa para abraçá-la. — Espere, eu estou atrasado para a orgia? — Shane perguntou quando atravessou a porta da cozinha carregando duas cocas. — Eu não recebi o convite. Cara, eu odeio internet lenta. — Cale a boca — Eve disse. Ela enxugou os olhos, com cuidado com a sua maquiagem extremamente elaborada e abraçou-o também, antes que ele tivesse a chance de pousar as garrafas. — Por que você não me contou? — Hum... eu mencionei a internet lenta? Espere, o quê? Eve empurrou a licença de casamento no rosto dele, e ele deu a Claire um olhar rápido antes de dizer: — Porque você estava implorando pela papelada. Demorou cerca de uma hora para nós. Eu não queria mostrar porque você começa a ficar toda manchada quando está chorando/com raiva. — Idiota — Eve disse, e beijou sua bochecha. Então ela beijou Claire. — Agora eu estou toda manchada. — Não dá nem para perceber — ele disse, e finalmente pousou as cocas. — Não entendo todas essas camadas de massa corrida em seu rosto. — É bom saber que estar à beira de perder a sua liberdade não tornou você menos juvenil. — Desculpe-me, você está se vestindo como uma Boneca Morta-Viva e quem exatamente é... — Ei — Claire disse com ambas as mãos estendidas para parar a briga. — Eu amo tanto vocês. — Vamos começar a orgia — Shane disse. — Quem trouxe tacos? — Michael. — E ele deixou eles sozinhos? Que tolo. — Shane pegou dois do saco, junto com um prato de plástico e os jogou no prato. — Mais para mim. Quando ele estava dando a sua primeira mordida, Michael desceu os degraus com a case da guitarra na mão, e colocou o seu instrumento para baixo em sua poltrona antes de dizer sem sequer olhar: — É melhor que esses não sejam os meus tacos, mano. — Eles não são mais seus — Shane murmurou com a boca cheia. — Calma. Você tem um saco inteiro.


Michael deu a Eve um beijo rápido em seu caminho para a mesa, colocou tacos em mais três pratos e tomou o seu lugar. — Eu ouvi vocês gritando. O que eu perdi? — Licenças de casamento — Eve disse, e exibiu-as. Quando ele estendeu a mão para elas, ela bateu em sua mão. — Oh, não, você não. Suas mãos estão gordurosas. — Você realmente vai se casar com esse ladrão de taco? — Michael disse, e balançou a cabeça. — Estou desapontado. — Ei, cara — Shane protestou. Ele pegou o molho picante quando Michael estendeu a mão para ele, então jogou-o na direção dele. Michael pegou quase com tanta graça quanto ele tinha quando era um vampiro. — Então, quando é a repetição? — Repetição? — Como se chama quando você consegue um segundo-casamento-falso? — Da licença, esse é um casamento de verdade — Eve disse, batendo na mão dele quando ele tentou tirar outro taco do prato dela. Ele pegou de qualquer maneira. — Quando é o de vocês? — Hum... — Ele mastigou, engoliu em seco e deu de ombros. — Na verdade, eu ia falar com vocês sobre isso. Sobre talvez... — Fazer juntos? — Estamos voltando para a conversa da orgia? Porque eu estou... — Deus, fale sério por um segundo — Eve disse, e revirou os olhos. — Claire? — Eu adoraria se pudéssemos ter o nosso casamento juntos — ela disse. — Se vocês estiverem bem com isso. — Portanto que Shane me dê o taco que ele acabou de pegar do meu prato. Shane solenemente colocou de volta. Todos olharam uns para os outros, e, em seguida, Michael pegou a mão de Eve e, em seguida, a de Shane, e Shane pegou a de Claire, e Claire pegou a de Eve... ...e foi um pouco como uma oração, e um pouco como um abraço, e muito familiar. — Então — Shane disse depois que o silêncio se passou por um longo tempo. — Tacos ou orgia? — Tacos — o resto deles disse todos juntos. — Eu sabia que vocês iam dizer isso. Q q q


De alguma forma Claire não esperava estar tão assustada. Ela enfrentou os seres humanos, vampiros e draugs. Ela tinha regularmente feito coisas que a maioria das pessoas ficaria uma vida inteira sem nunca ter que lidar nenhuma vez sequer. E sim, ela tinha ficado com medo, até mesmo com pavor de vez em quando... Mas não assim. — Respire — Eve aconselhou-a, e puxou o seu vestido ligeiramente. Parecia pesado e apertado ao seu redor, e no ar quente do camarim da igreja, Claire tinha medo de que ela pudesse desmaiar se ela tentasse se mover. A pessoa no espelho era inteiramente outra pessoa — alguém vestida com um longo vestido branco de cetim com um corpete frisado de cintura alta que conseguia fazê-la parecer alta e majestosa e ainda lhe dava curvas. Um longo tecido transparente caía em cascata pelas costas, quase tocando o chão. Junto com o colar de brilhante elegante e a pulseira (ambos emprestados da coleção, sem dúvida vasta, de Amelie), e o cabelo amarrado para cima e fixado com pinos com brilhantes, ela se sentia como uma princesa. Sentia-se como uma mulher, e de alguma forma ela nunca tinha pensado em si mesma dessa forma antes. Ela nunca deixou de ser uma menina, deixou? Bem, ela tinha deixado, mas gradualmente, tão gradualmente que ela não tinha sequer notado. Sua mãe estava sentada no canto da sala, e agora ela veio para a frente para colocar os braços em volta de Claire e balançá-la lentamente, de um lado para o outro. — Você está maravilhosa, querida — ela disse. — Eu não poderia estar mais feliz por você. — Sério? — Claire virou-se para olhar para ela, tentando se lembrar de não chorar. Eve tinha sido muito rigorosa com isso por causa da maquiagem. — Eu não achava que você aprovasse Shane. Você ou o papai. — Ele está... mudado — sua mãe disse. — E você o ama. E eu acho que o seu pai é inteligente o suficiente para saber que você é a segunda pessoa mais teimosa do mundo, e ele é inteligente por não contradizer você. — Apenas a segunda? — Bem, você conseguiu isso de mim. Algum dia quando você estiver mais velha eu vou contar como eu convenci o seu pai a se casar comigo — a sua mãe disse. Ela pegou o buquê de rosas vermelhas da mesa envolvido com fitas brancas. O buquê de Eve de rosas brancas estava embrulhado com fitas vermelhas, lindamente complementando o seu vestido totalmente nãotradicional vermelho. Claro, parecia incrível nela e ainda mostrava as suas


tatuagens também. — Quando você estiver pronta, querida, eu acabei de ouvir a batida na porta. — Mãe — Claire não sabia o que dizer, ou o que fazer, então ela só se lançou para frente e abraçou sua mãe. Com força. Lágrimas pingavam em seus olhos, mas ela forçou-as para longe. Por causa do rímel. — Eu te amo. — Eu também te amo, querida — sua mãe disse e beijou a sua bochecha, em seguida, tirou a mancha de batom em um gesto ausente tão familiar que o coração de Claire derreteu. — Estou tão orgulhosa de você. Sempre. Ela abriu a porta, e Claire quase não conseguiu dar um passo, só que o seu pai estava bem ali, parecendo alto, elegante e — pela primeira vez em um longo tempo — saudável, apesar de sua condição cardíaca. Talvez fosse o terno que ele estava usando, ou apenas o prazer do dia, mas ela se agarrava — se agarrava a todos os dias que ela tinha com os seus pais de bom grado. Seu pai lhe deu o sorriso mais incrível que ela já tinha visto, e então ofereceu a ela o seu braço. Não era muito como deslizar através de um sonho... Eve passeava à sua frente, vívida em seu vestido vermelho dramático. E ela estava com um vampiro levando-a, curiosamente era Oliver. Ele estava usando um smoking extremamente antiquado com uma faixa dourada sobre ele, e ele parecia feroz, bonito e um pouco entediado, mas quando ele a deixou no altar, ao lado de Michael, ele beijou a mão dela e isso pareceu sinceramente gentil. Ele tomou o seu lugar ao lado de Amelie. Por consideração as noivas ela renunciou o terno branco que ela normalmente usava e ao invés escolheu um azulesverdeado sob medida que parecia custar mais do que as joias pesadas em torno do pescoço de Claire. A igreja estava cheia de pessoas. Os regulares humanos e vampiros. E cem por cento Morganville. Ela quase não sentiu os passos pelo corredor, embora ela sentisse o peso de todos os olhos nela enquanto ela andava. Acabou em pouco tempo, e depois seu pai entregou-a para Shane, e seu coração quase parou quando seus olhos encontraram os dela. Shane não a tinha visto durante toda a manhã, e em algum momento desde que ela o tinha visto pela última vez ele tinha cortado o cabelo — não curto, mas mais curto. Combinou com ele, mostrava as linhas fortes de seu rosto e lhe dava um olhar feroz e incrível. Ele nunca, nunca pareceu tão bonito, ela pensou; ele provavelmente odiava o smoking, mas ele estava demais, mesmo com o broche de rubi em sua lapela.


Então ele piscou para ela, e ela sabia que ele ainda era Shane, e a tensão nela dissipou. Ela teve que lutar contra os súbitos impulsos vertiginosos de rir. A cerimônia passou em um borrão de palavras que ela não tinha certeza se tinha falado certo, e depois o toque frio do anel deslizando em seu dedo, em seguida a pressão quente dos lábios de Shane sobre os dela, e o ataque de vertigem súbito quando ele inclinou ela para trás e as risadas da plateia. Ela não conseguiu recuperar a sua respiração ou sanidade completamente até que eles estavam na sala de recepção, e Myrnin apareceu em um terno e gravata apropriados (para variar), apertou um copo de ponche nas mãos dela e disse: — Não tem álcool. Também não tem sangue. Você parece precisar. — Oh — ela disse, e olhou fixamente para o líquido vermelho. Ela bebeu; ele estava certo. Era apenas suco de fruta com um pouco de gengibre. — Obrigada. — Não há de quê — ele disse, e se encostou na parede ao lado dela. — Então. Feliz? — Ele cruzou os braços, olhando para as pessoas zanzando pelo bufê e pegando lugares nas mesas redondas. — De verdade? Ela pensou por alguns segundos e então disse muito calmamente: — Sim. — Ela resistiu aos impulsos de pedir desculpas por isso, e ele assentiu. — Bom — ele disse. — Claramente isso é bom. — Ele estava observando alguém, ela percebeu, e depois de procurar por um segundo, Claire viu Lady Grey — Jesse — conversando com Amelie; duas rainhas conversando juntas como amigas, embora houvesse apenas um pouco de rigidez entre elas, se você soubesse o que procurar. Jesse estava com um vestido de couro preto, provavelmente só para ter certeza que ela contrastaria profundamente; seu cabelo vermelho estava solto ao redor de seus ombros, como um casaco de fogo. Claire tomou um gole do ponche novamente. — Ela está bonita hoje. — Não está? — ele disse, e suspirou. — Terrivelmente. No palco elevado Michael terminou de afinar a sua guitarra e puxou o microfone para perto para dizer: — Então, bem-vindos ao afterparty — o que fez algumas pessoas rirem. — Esta é uma canção que eu escrevi para a minha esposa. Sintam-se livres para dançar. Ele começou a tocar, e era uma canção dolorosa e incrível que transbordava através dele, e Claire estava tão concentrada na música, na paixão dela, que ela ficou surpresa quando Myrnin pegou a taça de suas mãos, colocou-a de lado e puxou-a para a pista de dança. Ele girava ela ao redor rapidamente e, em seguida, acalmou para um deslizar lento e sem esforço.


Myrnin sabia dançar. Quem poderia ter previsto isso? Claire prendeu a respiração com uma risada e entrou no ritmo. — Eu vou sentir a sua falta — ela disse. Ela não sabia de onde isso veio, mas por estar tão perto dele precisava ser dito. — Não, você não vai — Myrnin disse e sorriu para ela. — Já que eu espero você em sua mesa no laboratório às dez da manhã na próxima segunda-feira. Oh, e eu tenho que lhe dizer que você terá que repetir algumas horas de crédito na universidade. Aparentemente algum problema com as suas transcrições. — O quê? Ele deu de ombros. — Oh, não finja que você não ama aula, Claire. Ambos sabemos disso. Shane bateu no ombro de Myrnin, e apenas por um segundo os dois se encararam... E então Myrnin graciosamente e extravagantemente se inclinou. — Deixe-me apenas dizer isto uma vez — Shane disse quando ele se aproximou e girou Claire para longe na pista de dança. — Sem mais flertar com o louco. Ela o beijou, e mesmo quando eles parassem de dançar, mesmo que o mundo girasse em torno deles em seu eixo, mesmo que as coisas nunca fossem exatamente certas, e os vampiros não cumprirem as suas promessas, e os seres humanos se tornassem maldosos, rancorosos e assassinos... mesmo com a vida real aparecendo ao redor deles, por aquele momento... Tudo estava perfeito. — Sra. Collins — Shane sussurrou em seu ouvido. — Vamos fugir dessa festa e ir para casa enquanto nós podemos ter ela só para nós mesmos. — Ele estava certo. Jenna estava aqui, e Miranda estava ao lado dela, parecendo doce e bonita em um vestido rosa e recebendo convites de meninos do ensino médio para dançar. Ela nunca pareceu tão feliz. Ou tão viva. Michael estava tocando no palco enquanto Eve girava ao redor da pista de dança com Oliver em um espetáculo impressionante de graça. Seu coração batia com força contra o seu peito, e o vestido de casamento branco bonito parecia muito apertado para contê-la. Muito apertado para segurar todas as emoções que faziam confusão dentro dela. — Sim — ela disse. — Vamos para casa.


-F

Epílogo

undadora. Amelie olhou para cima quando Oliver deslizou mais uma pasta de arquivo sombria na frente dela em sua mesa. Ela franziu a testa para ele, irritada. — E o que é isso? — Para sua assinatura — ele disse, e se sentou com facilidade insolente em uma cadeira do outro lado. Ele tinha voltado ao seu preto habitual, que — ela tinha certeza que ele estava ciente — o deixava muito intimidante. — Os relatórios sobre os procedimentos penais em curso. Rhys Fallon está alegando não ser culpado juntamente com Anderson e alguns dos outros membroschave da Fundação Daylight. Eu suponho que você vá assinar as ordens para acabar com eles quando o veredito for feito. — Ele estava olhando para ela com cuidado, sondando por fraqueza. Como sempre. Ela entregou a pasta de volta. — Não. A minha decisão original ainda está de pé. — Você realmente deve desiludir-se da crença de que misericórdia vai curar todas as feridas. Algumas doenças precisam de cirurgia. — Fallon achou que ele tinha tal cura cirúrgica — ela disse. — Eu não sou tão tola. Se eles forem considerados culpados, eles vão receber penas de prisão, Oliver, e eu não devo ouvir mais nada disso. Moses e eu estamos em perfeito acordo sobre este assunto. — Moses é uma tola romântica como você. — Cuidado — Amelie disse em um tom baixo e calmo, contudo um tom com pontas de gelo. — Eu já cedi o controle da maioria das coisas para os seres humanos, mas dentro do nosso posto eu ainda governo. Você sabe disso. — Eu sei — ele disse. — Mas você estaria terrivelmente desapontada comigo se eu não testasse você de vez em quando. Ele estava, infelizmente, certo. Todos os governantes precisavam de uma pessoa irritante para mantê-los alerta, mantê-los discutindo. E para melhor ou pior, pela eternidade, ele era dela. E ela não podia negar que isso lhes convinha muito bem. — Mais alguma coisa? A noite está se aproximando.


— A universidade está relatando alguns incidentes — ele disse. — Parece que não são todos os vampiros que estão se comportando tão bem quanto você exigiu. Eu suponho que você gostaria que eu investigasse isso. — Envie Jason Rosser — ela disse. — Já que você está preparando a pequena besta psicótica para atuar como o seu segundo em comando, é melhor dar a ele a responsabilidade de manter os outros na linha. Ele esperançosamente vai aprender alguma coisa sobre conter a si mesmo no processo, com a sua supervisão. Sem mortes envolvidas, eu presumo? — Não — ele disse. — Eu suponho que os três vampiros que você prendeu por assassinato passaram a mensagem de forma eficaz. — Então suponho que nós estamos... — Em paz? — Oliver levantou-se e ofereceu a ela a sua mão. Ela a pegou, e ele a escoltou até a porta de seu escritório, que ele manteve aberta enquanto ele a via sair. — Ainda há seres humanos que odeiam a visão de nós, e você deu-lhes poder e confiança. Myrnin ainda está administrando de forma autônoma aquele laboratório dele, inventando só Deus sabe que novo pesadelo. Há um emissário do novo Papa vindo avaliar a nossa situação, o que pode ser desagradável. Um blogueiro do Kansas fez uma postagem incoerente sobre vampiros se escondendo no Texas. Uma série de vampiros tem solicitado a cura de Fallon apesar das poucas probabilidades de sobrevivência. E eu acredito que Monica Morrell está exigindo a sua presença como juíza em uma exposição de cães. Paz, querida Fundadora, pode estar longe demais. — Ah — ela disse, e deu-lhe um sorriso calmo e frio enquanto caminhavam pelo corredor da Praça da Fundadora à noite. — Então suponho que temos que nos contentar com o caos controlado. — Como sempre, Amelie — ele disse. — Alguém poderia pensar que somos íntimos — ela disse. Quando eles saíram para o luar, ele se inclinou e levantou a mão dela aos lábios. — Eu não sou íntimo o suficiente, cara Fundadora. Ainda. — Bom — ela disse, e controlou um tremor. — Muito bom. Essa era agora, considerando tudo, uma cidade humana, com valores humanos. Mas no escuro... Morganville ainda era dela. Sempre.

FIM...


The Morganville Vampires Series


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