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A gestão estratégica sob uma perspectiva política: um estudo de caso comparativo entre empresas integrantes do Programa Paex da Fundação Dom Cabral• Anderson Rocha Valverde

A pesquisa aqui resumida analisa, sob uma perspectiva política, o processo de implantação de uma metodologia de gestão estratégica que integra um programa de consultoria da Fundação Dom Cabral denominado Paex – Parceiros para Excelência. Dentre as mais de cem empresas participantes do programa à época da pesquisa, foi desenvolvido um estudo de caso comparativo entre três organizações distintas: uma empresa de consultoria em engenharia, uma empreiteira e um atacadista distribuidor. O estudo realizado com 28 pessoas dessas organizações, dentre elas presidentes, assessores, diretores, gerentes médios, funcionários sem cargos de chefia e fornecedores, revela que a divergência de interesses entre indivíduos e grupos é natural e gera conflitos que podem ser amenizados por meio do uso do poder (HARDY, 1985; PETTIGREW, 1977; MINTZBERG, 1983). Para Bertero (1996), o poder nas organizações, num primeiro momento, centra-se na figura do proprietário, uma vez que é o responsável por todas as áreas da empresa, bem como pelas decisões estratégicas. Num segundo momento, o aumento das demandas e a própria expansão da empresa exigem a profissionalização da gestão e, conseqüentemente, a descentralização do poder do proprietário para especialistas em diversas áreas. Esses especialistas vão formar a coalizão interna da organização, isto é, o grupo de gestores que não são proprietários, mas têm capacidade de influenciar os rumos da organização. Nessa coalizão interna, existirá uma coalizão dominante formada por aqueles que exercem maior influência nas decisões organizacionais (MINTZBERG, 1983; CYERT; MARCH, 1963). Cyert e March (1963) alertam para a pluralidade de interesses existentes nas organizações, em que diversos grupos freqüentemente buscam objetivos diferentes. Os autores consideram que só as pessoas têm objetivos e por isso a formação da estratégia deve ser vista como um processo de negociação entre grupos sociais internos à empresa. Nesse sentido, percebe-se que as metas não são fixadas pela organização, mas por sua coalizão dominante através de um processo contínuo de barganha e aprendizagem. Desse modo, a idéia predominante de empresas como sistemas racionais em que seus membros procuram objetivos comuns desconsidera que as relações de poder cercam as organizações, permeiam todos os seus processos, definem suas estruturas e influenciam ativamente seus resultados (MINZTBERG; AHLSTRAND; LAMPEL, 2000).

Artigo recebido em 2/12/2005 e aprovado para publicação em 1/3/2006.

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