Seção Verde

PLANTAS PARA QUADROS VIVOS

Aposte nesta ideia e leve verde para os ambientes

Por Roberto Barretto Dias Filho*

Os quadros vivos são recursos muito importantes para composição paisagística, conferindo leveza e aconchego para espaços pequenos e fechados. Chamam a atenção pela harmonia que conferem a uma diversidade de ambientes.

A reclamação mais frequente que tenho recebido a respeito dos quadros vivos diz respeito, principalmente, a dificuldade em sua manutenção, com a reposição constante de espécies, o desenvolvimento de plantas daninhas e os problemas constantes com a irrigação. O que mais tenho visto é a desfiguração do projeto inicial pela reposição de plantas que “deram certo” naquele local. Em termos de agricultura e tecnologia atualmente disponível, isto não faz o menor sentido. Cultivamos as rosas desde regiões extremamente frias na Holanda até outras regiões tropicais como o nosso Nordeste.

O que isto nos diz então? Simplesmente que as plantas escolhidas para o quadro vivo terão que ser pelo menos originárias de uma região climaticamente semelhante. Não colocar plantas suculentas, altamente adaptadas às condições extremas de seca, junto com plantas com alta demanda hídrica, como o impatiens. Também devemos observar as demais variáveis climáticas, como a quantidade e intensidade de luz necessária para que as plantas mantenham uma boa aparência. Espécies com necessidades de luz e temperatura muito diversas, dificilmente estarão com boa aparência. Em casos extremos, quando adequamos as condições para uma delas, outras acabam ficando prejudicadas e podem vir a sofrer danos significativos que podem chegar a inviabilizar sua utilização.

FIQUE DE OLHO!

Outro ponto a ser observado é a estrutura. A grande maioria dos projetos preveem o plantio das plantas no local, o que por si só já causa diversos transtornos. O primeiro é a necessidade de movimentação de terra ou substrato para ambientes que podem ter seu piso danificado de forma severa. Imaginem um travertino com seus orifícios preenchidos por terra vegetal. Uma situação que por si só já causaria muito transtorno para ser solucionado. Outro problema normalmente mal resolvido diz respeito a irrigação das plantas. Está muito evidente que a grande maioria dos projetos não é desenvolvida por pessoas que têm informações suficientes sobre os materiais e tecnologias que poderiam estar sendo utilizadas visando evitar excessos e a falta de água nas irrigações. E pior ainda são as pessoas escolhidas para a manutenção e operação deste sistema, que em sua grande maioria não tem qualquer noção sobre o cultivo de plantas e o que deve ser observado.

Hoje em dia temos tecnologias que são capazes de “sentir” como está a umidade do solo e repor somente o necessário em água para cada parte do quadro vivo. É fundamental que o projeto do quadro evite que a água que foi aplicada em uma planta atinja outras abaixo. E o motivo é muito simples: além de aumentar muito a quantidade de água que está chegando nas partes mais baixas do quadro, podem carregar fungos e bactérias que podem afetar de forma muito significativa as plantas abaixo, podendo até inutilizar estes locais para o cultivo além da espécie que morreu, todas aquelas sensíveis ao ataque destes agentes biológicos. É muito importante salientar que, uma vez contaminado o local, é praticamente impossível eliminar este fungo ou bactéria.

DICAS DE ESPÉCIES

Confira algumas plantas que tenho visto em projetos com maior sucesso e sustentabilidade. São espécies ou grupo mais rústico, ou que se adaptam melhor às condições de cultivo. 1) Filodendros: possuem uma diversidade de cores e formatos de folhas excelentes para harmonizar com as mais diversas composições. São afetadas por poucas pragas e doenças e altamente adaptáveis a uma variedade muito grande de quantidade de luz. São mediamente exigentes em relação a água e nutrição. 2) Samambaias: existem uma diversidade muito grande de espécies de samambaias, com cores, formatos e tamanhos muito diferentes. Altamente resistentes, são pouco afetadas por pragas e doenças. Se adaptam muito bem a condições de umidade mais alta. Com baixa disponibilidade de água tendem a perder o brilho das folhas e comprimento das hastes. 3) Tillandsias: são plantas pequenas, disponíveis em três cores, verde, avermelhada e amarelada. São muito resistentes, com baixíssima exigência na quantidade de água. Ideais para pequenos quadros em ambientes fechados, onde a manutenção e regas são mais complicadas. 4) Callisias: são plantas pendentes, com variação de coloração entre o verde escuro e o rosado claro. Muito resistentes a condições de baixa umidade e disponibilidade de nutrientes. São plantas pendentes de rápido desenvolvimento. 5) Aspargos: os Asparagus, mais especificamente o Alfinete é outra planta muito recomendada para composições em quadros vivos. Altamente resistente a pragas e doenças, necessita de muita pouca água para se desenvolver. Em condições mais ideais de desenvolvimento, podem lançar ramos pendentes com mais de dois metros de comprimento. Dão um bom volume ao quadro. Seus frutos podem causar um certo incômodo e necessidade maior de manutenção para limpeza. 6) Véu-de-noiva (Gibasis pelúcida): é uma planta com aparência muito boa, produção constante de flores brancas, com rápido crescimento. Não suporta muito bem a falta de água. Quando o vaso fica mais seco, as hastes apodrecem e caem. Estas hastes enraízam facilmente em contato com uma superfície úmida.

7) Dillenia: são plantas pendentes com crescimento muito rápido, com cores variando entre tonalidades fracas de verde a folhas desenhadas de branco e tonalidades mais escuras de verde. Altamente adaptáveis a condições em ambientes fechados. São bem resistentes a falta de água e pouco exigentes em nutrição. A ocorrência de pragas e doenças é muito rara. 8) Sedum: é um gênero de plantas extremamente grande, com uma diversidade muito grande de formatos e tamanhos. Necessita de muita pouca água e nutrientes e é altamente adaptável a condições de iluminação relativamente baixa. Não é afetada por pragas e doenças. A morte desta planta ocorre pelo excesso de água nas irrigações. 9) Tradescantia: outro gênero de plantas altamente resistente e pouco afetado por pragas. Em condições de umidade mais alta no quadro, são afetadas de forma muito significativa por lesmas e caracóis. Se adaptam muito bem a condições de baixa luminosidade. Resistentes a seca, porém conforme a disponibilidade de água diminui, as folhas mais velhas apodrecem e secam. 10) Orquídeas epífitas: são plantas muito resistentes a falta de água. Necessitam de uma boa aeração para suas raízes, não sendo apropriado o seu cultivo em terra vegetal pela dificuldade em controlar a quantidade de água. Os principais gêneros deste grupo Dendrobium, Catleias, Vandas, Miltonias, Colmanaras, Oncidium e Phalaenopsis. 11) Hedera: é um gênero de plantas altamente adaptável a condições de cultivo em uma variedade muito grande da quantidade de luz. São afetadas com intensidade por ácaros, que deformam as folhas mais novas. São também afetadas por doenças nas suas raízes, sendo altamente recomendável prestar muita atenção às regas.

Obviamente a lista de plantas pode ser muito ampliada, mas procurei listar os grupos com maiores chances de adaptação a maior parte dos quadros vivos atualmente em utilização no mercado. As adubações devem ser feitas adicionando adubos junto à água de irrigação. Existem injetoras disponíveis no mercado que podem facilitar muito esta operação. O controle de pragas e doenças nestas condições de cultivo de quadros vivos só deve ser feito por pessoas especializadas.

Grande parte do sucesso do quadro vivo está baseado na tecnologia da irrigação. Quanto maior a atenção a questões como a drenagem, emissores que não molhem o ambiente ao redor e sensores de umidade, estes últimos ainda muito desprezados devido ao seu preço, maiores serão as chances de obter um bom desenvolvimento das plantas com baixa manutenção. *Roberto Barretto Dias Filho é engenheiro agrônomo consultor da Fazenda Boa Vista. É diretor da Barretto Consultoria Agronômica & Paisagismo junto com a paisagista Agnes Barretto Dias.

Barretto – Consultoria Agronômica & Paisagismo

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