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Seção Verde
AS FLORES QUE ESTÃO NO CANTEIRO
Espécies levam cores para as alamedas e casas da Boa Vista
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Por Roberto Barretto Dias Filho*
A flora da Fazenda Boa Vista contempla as características da localização do residencial, que está em uma região que abrange a Mata Atlântica, o bioma mais rico em biodiversidade do Estado de São Paulo e um dos mais ricos do mundo. Este bioma cobre em torno de 15% de todo o Brasil, e é onde se encontra a maior parte da população brasileira. É constituído por aproximadamente 20 mil espécies diferentes de plantas, mais ou menos 35% de todas as espécies catalogadas no Brasil. É onde encontramos a maior diversidade por hectare, maior até do que o encontrado na Amazônia e, possivelmente, do mundo. Das 200 espécies em risco de extinção da flora brasileira, 117 estão neste bioma.
Na nossa região, foram catalogadas 555 espécies, dentre elas algumas em risco de extinção como copaíba (Copaifera langsdorfii), o jacarandá-paulista (Machaerium villosum), sucupira-branca ou cabreúva (Myroxylon peruiferum), jequitibá-vermelho (Cariniana legalis) e o cedro rosa (Cedrella fissillis).
Este bioma é caracterizado por um clima úmido, coberto nesta região pela Floresta Ombrófila Úmida, que é caracterizada pela presença de árvores altas, com aproximadamente 50 metros de altura, muitos arbustos, palmeiras, bromélias de várias espécies, entre elas as Tillandsias - perseguidas ao serem confundidas com plantas parasitas, as quais são também muito comuns neste tipo de floresta -, orquídeas, cactos e diversos tipos de samambaias, como aquelas que são facilmente encontradas subindo em árvores pelos troncos com córtex (casca) mais espesso como as Tipuanas e Sibipirunas. É composta de plantas que não perdem as folhas durante o inverno (perinófila). Portanto, estão verdes o ano todo. Possuem muitas plantas frutíferas, o que fornece um bom suporte para uma diversidade muito grande de animais, especialmente as aves.
CUIDADOS ESPECIAIS
Mas nem tudo são rosas. Devido à grande diversidade de espécies e densidade da mata, temos igualmente uma quantidade anormal de fungos, bactérias e insetos e outros artrópodes (centopeias, collembolas, entre outros) que habitam e se alimentam de plantas. É o que comumente chamamos de pragas e doenças (fungos, bactérias e vírus). Este é um dos motivos para termos tanto trabalho no controle e contenção de pragas e doenças nesta região. A floresta ao redor é um grande repositório de pragas e doenças, as quais podem causar danos irreversíveis às plantas ornamentais cultivadas. As mais destrutivas e de difícil controle são as que se alimentam dos tecidos do cerne, como cupins, brocas e alguns fungos como o Phelinnus, Phytophthora, Fusarium, Roselinia, entre outros. A todos estes organismos, damos o nome técnicos de xilófagos (que se alimentam da região do xilema das plantas).
O controle destas pragas e doenças em árvores é muito difícil. Para entender o porquê, é necessário saber um pouco da fisiologia deste grupo de vegetais. O tronco da árvore possui uma porção viva, composta pelos vasos do Xilema e Floema, por onde circulam as seivas brutas (absorvidas diretamente das raízes) e a elaborada (compostos provenientes da fotossíntese). O cerne não é vivo, portanto, não circula nenhum tipo de seiva por esta parte do tronco. E é justamente desta parte morta da planta que a maioria dos cupins e brocas se alimentam. Desta forma, um produto sistêmico aplicado ao solo não é capaz de atingir estes insetos. Suas galerias não são construídas exatamente para cima ou para baixo, o que faz com que a aplicação de inseticidas nos orifícios tenha eficiência duvidosa. Vai depender da espécie de broca ou cupim em questão e de seus hábitos. As palmeiras não possuem cerne lenhoso, desta forma o tratamento para controle destes tipos de pragas é significativamente mais fácil, uma vez que a seiva destas plantas circula por toda o diâmetro do tronco da planta. Nestas plantas, o controle por meio da aplicação de inseticidas sistêmicos sempre será capaz de controlar o inseto.
Os fungos que afetam o tronco das plantas são também outro grande desafio. Eles penetram nos vasos de condução da seiva que acabam sendo inutilizados (entopem). Com isso, não existe forma de atingir e matar. Somente é possível o controle nas fases iniciais do ataque da doença, onde raramente a planta apresenta sintomas visíveis para pessoas não treinadas. As plantas passam a secar com mais facilidade e perdem o brilho das folhas, com o avanço da infecção.


VARIAÇÃO CLIMÁTICA
Devido às geadas e secas que tem ocorrido nestes últimos três anos, uma quantidade muito significativa de árvores acabara morrendo. A madeira começa a fermentar e, dessa forma, a atrair estes insetos. Se olharmos com atenção para as matas existentes na Fazenda, iremos verificar a grande quantidade de árvores com a copa completamente seca. Isso provocou uma explosão na população dos besouros das brocas, especialmente da Ambrosia, a mais comum na Boa Vista. É uma das espécies mais destrutivas. Ataca as plantas sempre em quantidade muito grande e mata as árvores em poucos meses. Tanto as larvas, que são as brocas, como os insetos adultos (besouros), se alimentam do tronco da planta ainda viva. Tem um ciclo de vida curto e produzem muitos ovos. Para nossa sorte, é também uma das mais fáceis de controlar por seus hábitos durante a alimentação e sensibilidade a alguns inseticidas não tóxicos aos seres humanos.
Outro grande problema que enfrentamos são insetos sugadores que se alimentam da seiva em brotações nas plantas. Com uma seca prolongada como as que tem ocorrido, as plantas param de vegetar. Com isso, ocorre uma redução muito grande na população destes insetos e, dos outros insetos predadores que se alimentam destes.
Quando as chuvas voltam a cair, as plantas passam a emitir brotações com vigor e sincronizadas. Com excesso de alimento, esse tipo de praga explode na FBV, causando danos às plantas e incômodos aos associados. Muitos deles excretam uma substância rica em açúcares. Esta secreção acaba por deixar nos carros, bancos, asfalto e tudo mais o que possa haver na sombra de árvores e outras plantas – ele é melado e pegajoso. Apesar destes insetos não causarem a morte das plantas, o controle acaba sendo necessário em muitos casos. Curiosamente, esse fluido é produzido como uma forma de atrair insetos como as formigas doceiras, por exemplo, que se alimentam deste produto. Por esse motivo, as formigas doceiras passam a proteger os insetos de seus predadores e a ajudar na dispersão das pragas. Elas levam ovos e ninfas de uma planta para outra.
Para nossa felicidade, as pragas também são de fácil controle, e são utilizados inseticidas não tóxicos para seres humanos. A maior parte dos produtos é, na realidade, de princípios ativos de inseticidas utilizados em cães e gatos para controle de pulgas e carrapatos. Outro detalhe interessante é que a concentração necessária para matar os insetos nas plantas é muito menor do que a utilizada em nossos animais de estimação.
*Roberto Barretto Dias Filho é engenheiro agrônomo consultor da Fazenda Boa Vista. É diretor da Barretto Consultoria Agronômica & Paisagismo junto com a paisagista Agnes Barretto Dias.


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