O alquimista do som

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8 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, segunda-feira, 29 de setembro de 2014 • Diversão&Arte A Hit no Twitter: twitter.com/colunahit

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Fotos: Romulo Juracy/Esp. CB/D.A Press

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Tuíte “Foi assim, sorriso estampado em ótimas companhias e hands up! #paralellas #5uinto” (@aryelaknox)

ADRIANA IZEL

adrianaizel.df@dabr.com.br

Donna Mídia Comunicação/Divulgação

Janaina Borges, Aryela Knox e Ingrid Diniz

Ingrid Andrade e Yascara Saskia

ESTREIA NA CAPITAL Em 10 de outubro, às 22h na prainha da Assefe (SCES, Tc. 1), Brasília será palco da primeira edição do evento Mar e paz – A festa. A ideia é que o projeto circule pelas capitais brasileiras. O evento terá show do grupo Alma Djem (foto), que relembrará os principais sucessos da carreira. A banda contará ainda com participação de Alexandre Carlo, do Natiruts. Acesse nosso site e confira a parceira musical dos artistas em Divide.

Hit indica Hoje, às 18h, o Pinella Bistrô (408 Norte) recebe uma edição rock’n’roll com som do DJ Maraskin. Ingressos a R$ 10. Na web Confira em www.df.divirtasemais.com.br/hit galeria de fotos dos eventos registrados no fim de semana.

Hans Lee e Gustavo Nunes

PROJETO APROVADO A estreia do Projeto Paralellas na capital reuniu o público amante de música eletrônica no clube Asceb (904 Sul). Com discotecagem das DJs Vivi Seixas, Ingrid Finiz, Aryela Knox e Telma e Selma, o evento valorizou a produção feita por mulheres. Antes de chegar a Brasília, a festa passou pela Bahia, por Belo Horizonte e pelo Rio de Janeiro.

Camila Paula e Daniel Teixeira

Carol Nantet, Pedro Rocha e Sarah Maria

Vivi Seixas e Nick Cole

AS FESTAS CITADAS NESTA COLUNA NÃO SÃO RECOMENDADAS PARA MENORES DE 18 ANOS

>> entrevista MARCO ANTÔNIO GUIMARÃES Marco Antônio Guimarães, do Uakti, fala sobre a relação com Smetak, a invenção de instrumentos e a parceria com Phillip Glass » LUANA BRASIL ESPECIAL PARA O CORREIO

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arco Antônio Guimarães, líder do grupo Uakti, não é afeito a aparições. Avesso às entrevistas, o mestre mineiro do improviso e da criação musical vive uma vida reclusa em sua humilde casa-estúdio-oficina em Belo Horizonte, de onde não costuma sair. Ele nem sequer acompanha o grupo que lidera, Uakti, nas apresentações públicas, apenas nas gravações de estúdio. No entanto, aceitou falar com o Correio. Uakti é um personagem lendário da tradição dos índios Tukanos que encanta e seduz por sua sonoridade).

Como um alquimista, Marco converte pedras, madeiras, tubos de PVC, panelas, vidros de maionese, antenas de tevê, caixotes em música suave e sedutora.“Teve época em que eu ia criando instrumentos por curiosidade minha, por deleite.Você consegue imaginar a magia que existe no instante em que acabou de construir um novo instrumento, está todo pronto e só falta se sentar com ele e tocar e aquela sonoridade acontecer pela primeira vez no mundo”, comenta o compositor em entrevista ao Correio. Durante mais de 40 anos de carreira artística,fez parcerias com o compositor minimalista Phillip Glass e teve como mestres dois grandes nomes da composição: ErnstWidmer eWalter Smetak, figuras importantes da música erudita.

Fotos: UAKTI Produtora/Divulgação

Criações Aqualung: único instrumento do Uakti que resiste às convencionais classificações: sopro, corda ou percussão. Sua fonte sonora é a água. É formado por madeira, PVC e galão d’agua. Para tocá-lo, coloca-se água tanto no galão quanto no tubo de PVC mais largo. Como os tubos são comunicantes, a água preenche também o interior do tubo mais estreito. Abre-se o registro da válvula do galão, a água cai e percute dentro do tubo mais estreito gerando um som que é amplificado pelos demais tubos.

O alquimista do som

Quais as consequências desse encontro? Pouco depois parou o que estava fazendo e começou a me explicar sobre cada um dos instrumentos, falou os nomes (muito criativos e instigantes) de alguns e como eram tocados. Saí de lá maravilhado com aquela descoberta e decidido a voltar muitas

Você consegue imaginar a magia que existe no instante em que acabou de construir um novo instrumento” Marco Antônio Guimarães, compositor e inventor de instrumentos outras vezes. Só não sabia, ainda, que esse encontro iria mudar minha vida e me inspirar como artista desse dia em diante. Aquela primeira vez em sua oficina, no porão da escola, foi completamente encantadora, definiu o que eu viria a fazer nos quase 50 anos seguintes e que resultaria no Uakti. Voltando a Belo Horizonte, um dia me passou pela cabeça um pensamento assim: “Eu posso fazer isso!” Mas o senhor já gostava de construir coisas? Desde criança desenvolvi habilidades no uso de ferramentas incentivado pela minha mãe, Heloisa. E, por ter conhecido Smetak, ter convivido com ele durante anos, enxerguei uma porta se abrindo para mim como músico e artista. Meu avô por parte de mãe, Camilo, construiu sozinho (literalmente ) uma oficina no quintal de

casa, feita de madeira, com máquinas e todo tipo de ferramentas onde ele estava sempre trabalhando em alguma coisa (com madeira, metal e outros materiais) e eu, bem menino ainda, gostava de ficar ao lado dele observando. Além de Smetak, quem mais foi importante em sua passagem por Salvador? O compositor e professor Ernest Widmer. Um dia encontrei o professor e cometi a ousadia de mostrar meus papelotes/partituras de composições a ele. Certa noite (eu costumava ir à escola no horário da noite para estudar violoncelo), enquanto subia as escadas para o segundo andar, ouvi sons que me pareceram familiares vindos de uma sala de aula. Chegando à porta, encontrei o professor Widmer, o grande compositor (um dos maiores que conheci na vida) ao piano, tocando minhas musiquinhas. Foi verdadeiramente emocionante. Ele me viu, disse que pegasse uma cadeira e sentasse ao seu lado e começou a comentar a respeito de cada uma das pecinhas. E recebi, talvez, a aula de composição mais importante da minha vida. Ele, como também Smetak, era suíço, veio para o Brasil, conheceu a Bahia, se encantou e ficou. Sorte minha. Quais são as necessidades que levam o senhor à criação de um novo instrumento? Antes do Uakti, era por deleite. Quando o grupo se formou e começamos a ensaiar e compor

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Como conheceu Smetak e qual a importância dele em sua formação? Quando decidi que seria músico e fui para a Bahia estudar (naquela época, 1966, a UFBA tinha uma das mais interessantes e vanguardistas escolas de música do Brasil), eu planejei que estudaria um instrumento de orquestra (tinha escolhido o fagote) e regência. Mas acontece que, como ocorre muitas vezes na vida, o planejamento inicial é só um motivo para mudar quase tudo depois — segundo o que vier de inesperado, o que o “acaso” nos apresentar. Certo dia, alguém que encontrei ao acaso num corredor do prédio me fez essa pergunta :“Você já conheceu o louco do porão?” Isso, é claro, bastou para que eu, assim que tivesse um tempo livre dos estudos e criasse um pouquinho de coragem, descesse a escada que levava ao porão da escola. Walter Smetak trabalhava em um instrumento novo na sua bancada, olhou pra mim e com toda certeza viu meus olhos de adolescente brilhando com a descoberta maravilhosa de um mundo novo, colorido, inusitado. E disse para eu entrar e olhar à vontade.

Nastaré: um instrumento que toca sozinho e compõe sua própria melodia, sempre inédita. Excêntrico assim é o Nastaré, instrumento de percussão de acionamento elétrico, cujo nome deriva das iniciais National StereoTape Recorder. O movimento giratório de um motor central foi convertido no vaivém caótico de uma baqueta, que se move entre tubos de metal, e ninguém nunca sabe onde vai bater. Entre os materiais, alumínio, mangueira cirúrgica e espuma.

repertório, comecei a perceber alguns tipos de instrumentos que estariam faltando para específicas funções musicais, como: um instrumento para tocar acordes, um outro para servir como um baixo (notas graves ), outros melódicos, ou percussivos, etc. Então, durante vários anos, passei a criar e construir esses instrumentos que sentia falta. Deixou de ser um deleite e passou a ser mais“funcional”. O senhor vislumbra uma abertura das orquestras tradicionais para novos modelos de instrumentos de corda, sopro e percussão? A família de instrumentos de percussão, dentro da orquestra sinfônica, é a mais aberta nesse aspecto. Instrumentos antes considerados “menores”, instrumentos de origem folclórica ou popular como agogô, reco-reco, entre outros, são utilizados normalmente hoje. Entre os instrumentos de sopro e cordas, talvez ocorresse alguma resistência, mas, como disse antes, o grande repertório sinfônico já está fechado,

em um bom sentido, naquela formação. Uma nova música precisaria ser criada pra uma possível nova orquestra. Estou compondo, atualmente, um novo balé para o Grupo Corpo (aqui de Belo Horizonte e uma das maiores companhias de dança da atualidade) e utilizo uma sinfônica completa além de instrumentos de minha criação. A estreia será em 2015 e a trilha será gravada pela Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. É uma fase nova na minha música. O senhor é fanático por Beatles? Inclusive lançou um disco com versões da banda. O Paul McCartney chegou a ouvi-lo? Paul McCartney esteve tocando em Belo Horizonte, em sua turnê brasileira, e eu entreguei um CD para o produtor dele que ficou de encaminhar. Não sei se recebeu. Enviei também, por um inglês amigo do Ringo, alguns CDs para tentar que chegassem até ele e a viúva e o filho de George Harrison.

Panelário: este instrumento percussivo é formado por sete panelas de alumínio de diferentes diâmetros e profundidades, dispostas sobre uma base de espuma. Para tocar, baquetas de madeira revestidas por mangueiras cirúrgicas de látex. Tampanário: cinco tampas de panela em alumínio fixadas a uma peça quadrangular de madeira formam mais um instrumento percussivo. É tocado com arco de violoncelo, pela fricção das crinas na bordas das tampas. Também pode ser tocado com os dedos nas bordas das tampas, método chamado de pizzicato.


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