CENTRO
ACOLHIDA [SP]
Trabalho Final de Graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Artes Plásticas da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP)
CENTRO
ACOLHIDA [SP] A Reintegração coletiva
Inserção social, cultural e econômica dos refugiados em São Paulo
Luana Bueno Peris Orientadora Fabiana Stuchi
São Paulo 2017
“...os seres humanos, capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se...” (Cf. Laudato Si› n. 205)
AGRADECIMENTOS
Trabalho dedicado aos meus primeiros professores da arte da vida, meus pais: Leandro e Eliana, responsáveis não apenas pela consolidação desta formação, mas também pelo apoio e incentivo diário desta jornada. Ele, carpinteiro, me ensinou a construir sonhos com as próprias mãos. Ela, jornalista, me ensinou a carregar em poucas palavras grandes emoções. Agradeço também aos meus irmãos Leliana e Leandro, arquitetos, que foram meu espelho e meu norte em todo percurso. A minha orientadora, Fabiana Stuchi, fundamental para a existência deste trabalho, pela qual construí uma relação de respeito e admiração. Aos meus colegas e amigos de faculdade, que se tornaram companheiros
da
vida.
Aos mestres que dividiram conosco toda sua sabedoria e intelecto. E principalmente, aos refugiados de toda parte do mundo. Registro neste trabalho minha transição de telespectadora oculta a intercessora de seus direito.
ÍNDICE
11 25 47
CAPÍTULO 1 – O TEMA
CAPÍTULO 2 - HISTÓRICO E DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO
CAPÍTULO 3 – REFERÊNCIAS
59 93 97
CAPÍTULO 4 – O PROJETO
CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
CAPÍTULO 6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO
O enfoque deste trabalho são os refugiados de
grande ruptura cultural e geram uma imagem negativa
diversas partes do mundo que cada vez mais ganham
onde chegam:
visibilidade na imprensa e na mídia diante do cenário mundial
que esta população acabe em subempregos e subáreas,
que se encontram de perseguições, guerra, pobreza, dentre
marginalizados em total situação de descaso.
outros fatores de vulnerabilidade e risco.
Em busca principalmente de proteção, refugiados
Paulo é a sua população flutuante que ocupa as ruas
procuram o Brasil para restabelecerem suas vidas. A cidade
durante o dia em um movimento intenso, e após o horário
de São Paulo por ser uma grande metrópole, acaba por
comercial a área sofre um esvaziamento. Trazer moradia
recebê-los em maior quantidade, já que há grande oferta de
para esta região, tem como função trazer vitalidade, já que
empregos e oportunidades.
os moradores ocupam as ruas vinte a quatro horas por dia.
Desde sua fundação até os dias atuais, a cidade
Além dos moradores equipamentos como comércio, bares e
de São Paulo tem um alto fluxo migratório, abrigando
restaurantes fazem com que essa ocupação se estenda para
descendentes de diversas etnias e sendo o destino de
as calçadas.
diversas imigrações e migrações de pessoas em busca de
melhores condições de vida. Em alguns bairros os traços
para o público de refugiados, o projeto possui apartamentos
destas imigrações são mais evidentes, como a concentração
destinados a aluguel social, um modelo de habitação social
de italianos no bairro do Bixiga, asiáticos na Liberdade,
que visa suprir o déficit habitacional da região central.
o fenômeno da xenofobia¹, fazendo com
Um dos principais problemas do centro de São
Além de todos programas e equipamentos voltados
Paraguaios e bolivianos nos bairros do Pari E Brás e Judeus na região do Higienópolis e Jardins.
A proposta deste trabalho de graduação é projetar
um espaço que possa recebê-los, abrigando-os, capacitandoos e inserindo-os na nossa sociedade e cultura. Estes usuários são de alta complexibilidade, já em sua maioria não são fluentes da língua portuguesa, necessitam de lares temporários, tem grandes traumas psicológicos, tem uma
Centro Acolhida || SP
1. Aversão ou rejeição a pessoas ou coisas estrangeiras, temor ao incomum ou estranho ao seu ambiente. (MICHAELIS - Moderno Dicionário da Língua Portuguesa)
TC 2017
9
1
TEMA
12
Centro Acolhida || SP
TC 2017
1.1. CRITÉRIO DE ESCOLHA DO TEMA E DA ÁREA DE
PROJETO
processo de degradação e desvalorização ao longo da
A escolha do tema “Abrigo para refugiados”, nasceu gradual e progressivamente à medida tomei conhecimento do assunto. Impossível ficar insensível diante os noticiários que abordam o tema – deparamos diariamente com notícias de refugiados homens, mulheres e crianças que foram banidos de seus países, em sua maioria, afugentados e amedrontados com a barbárie que batem às portas de suas casas, ora em forma de guerras (em sua maioria), ora perseguições e que fazem com que estes se joguem pelo mundo em busca de melhores condições para salvarem suas vidas e de suas famílias. O pedido de socorro é nitidamente estampado nos olhos de cada refugiado, são seres humanos que se arriscam em busca da sobrevivência, e mostrar que de alguma forma através da arquitetura é possível amenizar o sofrimento e qualificar este processo de adaptação, é algo encantador. O trabalho batizado de “CENTRO acolhida || SP” trata não só da questão da acolhida dos refugiados, mas também do centro de São Paulo, minha cidade natal.
Centro Acolhida || SP
Embora o centro de São Paulo tenha sofrido um
segunda metade do século XX, a área continua sendo um setor privilegiado da cidade, servido com a presença de órgãos do governo, patrimônios históricos, equipamentos culturais, espaços públicos e principalmente, de ampla oferta de empregos e amplo serviço de transporte público.
Além da rica mistura de uso, de diferentes
populações e de toda a infraestrutura urbana, o centro também pode ser visto como um espaço democrático, sendo palco de celebrações e manifestações, políticas, culturais, sociais e artísticas. Assim, possuindo todo suporte que um refugiado poderia buscar em uma cidade.
Durante minha formação no curso de arquitetura
e urbanismo não fora proposto o exercício de trabalhar projetualmente o centro desta cidade, tão fascinante por estes fatores já acima descritos, fazendo com que nascesse esta ânsia de projetar ali. Portanto, resulta da fusão destas duas vontades, o centro de acolhida ao refugiado no centro da cidade de São Paulo.
TC 2017
13
1.2. CONCEITOS _REFUGIADO: conforme Art. 1º da Lei Nº 1997/9.474, será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: I - devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III - devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país. _MIGRANTE: indivíduo que se desloca de sua região de origem para outra em busca de melhores condições de vida, não por causa de uma ameaça direta. _IMIGRANTE: indivíduo que entra em outro lugar, também sem ameaça direta. _SOLICITANTES DE REFÚGIO: de acordo com a ONU são pessoas que solicitam refúgio em um pais, mas que ainda não teve seu pedido deferido. _DESLOCADOS INTERNOS: também conhecidos como refugiados internos, os mesmos se deslocam dentro do seu próprio pais pelo mesmo motivo de um refugiado, mas sem cruzar fronteiras internacionais (ONU). _RETORNADOS: refugiados e solicitantes de refúgio que retornam voluntariamente a seu país de origem (ONU). _APÁTRIDAS: segundo a convenção de 1954 sobre o estatuto dos apátridas define o termo apátrida a toda pessoa que não seja considerada por qualquer Estado, segundo a sua legislação, como seu nacional. _MIGRANTES INTERNACIONAIS: pessoas que vivem fora de seus países, mas ao contrário dos refugiados, estes escolhem viver no exterior por motivos econômicos, e não para garantir seus direitos e sua liberdade (ainda que muitos tenham sido obrigados a migrar por viver em condições precárias). _MIGRANTE INDOCUMENTADO: todos aqueles em situação irregular, não possuindo de documentos que autorizam a residência no Brasil. _EXILADOS: Individuo que fora enviado para fora do pais contra sua vontade pelo governo, podendo retornar à nação apenas através de uma autorização.
14
Centro Acolhida || SP
TC 2017
MIGRAR [do latim migrare] 1 v.int. passar de uma região para outra. ²
2. Definição Michaelis (Moderno Dicionário da Língua Portuguesa) Centro Acolhida || SP
TC 2017
15
1.3. CENÁRIO DE REFÚGIO NO BRASIL
No cenário de intolerâncias, guerras e perseguições
que o mundo se encontra, cada vez mais pessoas deixam seus países para se refugiar em outro local. Dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) contabilizam 65,6 milhões de pessoas em 2016 forçadas a deixar seus locais de origem por diferentes tipos de conflitos.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a
legislação brasileira sobre o refúgio é considerada uma das mais modernas, generosas e abrangentes, pois contempla todos os quesitos de proteção internacional do refugiado e foi escrita sob a ótica dos direitos humano. De acordo com a Polícia Federal 9552 pessoas de 82 nacionalidades distintas já tiveram sua condição de refugiadas reconhecida no país. “O Brasil tem generosamente recebido migrantes e refugiados por décadas, e tem feito isso com respeito aos seus direitos e à sua dignidade humana. Em um mundo onde refugiados e estrangeiros são com frequência estigmatizados e marginalizados devido ao racismo e à xenofobia, nós temos muito que aprender com
16
Centro Acolhida || SP
Concentração de solicitantes de refúgio no Brasil (2013) Fonte: CONARE
TC 2017
a positiva experiência brasileira em relação aos refugiados.”
serve como documento de identidade no Brasil. Com este
Angelina Jolie, então Embaixadora da Boa Vontade do
protocolo o refugiado tem direito a obter a Carteira de
ACNUR, em 2010, para prefácio do livro “Refúgio no Brasil:
Trabalho (CTPS) e Cadastro de Pessoa Física (CPF).
a proteção brasileira aos refugiados e seu impacto nas Américas”.
A partir do momento que migrante chega ao Brasil
é recomendado regularizar a estadia em território brasileiro junto as autoridades competentes, assim é possível acessar com mais facilidade uma série de direitos e serviços como saúde educação e trabalho. Para pedido de refúgio no Brasil o procedimento é feito em duas etapas: •
Solicitação de refúgio na Delegacia da Polícia Federal
ou autoridade migratória na fronteira •
Decisão proferida pelo CONARE (Comitê Nacional
para
Refugiados)
Desde que é solicitado refúgio no pais, é gerado
um protocolo provisório com validade de um ano, que
Centro Acolhida || SP
TC 2017
17
1.4. DADOS Perfil dos Solicitantes de Refúgio no Brasil em 2016
Solicitações de Refúgio por Ano
Solicitações por Faixa Etária
Solicitações por Gênero
Fonte: Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados
18
Centro Acolhida || SP
TC 2017
Perfil dos Solicitantes de Refúgio em São Paulo no CRAI entre 2014 e 2015
Moradia
Escolaridade
Fonte: Centro de Referência e Atendimento para Imigrantes
Centro Acolhida || SP
TC 2017
19
1.5.
CENÁRIO DE REFÚGIO EM SÃO PAULO
sobreviver, trabalhando em condições sub-humanas, sendo,
A cidade de São Paulo por ser uma grande metrópole
portanto, uma analogia à escravidão. A ausência de políticas
e oferecer vasta oportunidade de emprego, recebe um
públicas adequadas faz com que, até os dias atuais, ocorra a
grande contingente de refugiados, que encontram na cidade
exploração destes imigrantes não apenas em São Paulo, mas
condições para restabelecerem suas vidas.
em todo Brasil, deixando milhares de pessoas em situação
vulnerável.
Segundo dados da CONARE e da ACNUR, São Paulo
é o estado brasileiro que recebe os refugiados em maiores
números, totalizando %26 do total de solicitações brasileiras,
da população paulistana era composta de escravos segundo
seguido pelos estados do Acre (%22), Rio Grande do Sul
o livro “Brancos e negros em São Paulo”, de Florestan
(%17) e Paraná (%12).
Fernandes e Roger Bastide. Embora a cidade tente camuflar
o passado ligado a escravidão, esta memória persiste pelas
Os dados anteriores (pág. 16 e 17) mostram que a
Na metade do século XIX, aproximadamente %30
maioria dos refugiados ingressam no país sem qualquer tipo
ruas mostrando o que tenta ser esquecido.
de renda, e embora possuam, em sua maioria, alto nível de
escolaridade, acabam em subempregos para conseguirem
escravidão rural que conhecemos por estar sempre sendo
sobreviver. Porém, se soubéssemos aproveitar esta mão
revividas em novelas e filmes de época. Os escravos urbanos
de obra, que é qualificada, em prol da nossa economia, a
eram cozinheiros, cocheiros, sapateiros, pedreiros, entre
cidade poderia ter ganhos econômicos, assim como afirma a
outros.
pesquisadora americana Leah Zamore:
“É uma forma diferente de usar os escravos. Não é o escravo
“Os refugiados trazem capital humano, ideias e habilidades
preso na senzala. São escravos que circulam o tempo todo pela
que os moradores locais podem não ter, aceitam trabalhos que
cidade”, conta a historiadora da Universidade de São Paulo
outros não aceitariam, e muitos querem ter negócios próprios,
(USP) Maria Cristina Cortez Wissenbach, autora do livro
criando oportunidades de emprego. E, quando podem, trazem
“Sonhos africanos, vivências ladinas, escravos e forros em
consigo dinheiro, recursos e conexões.”
São Paulo”.
A realidade da escravidão paulista era diferente da
Além da falta de reconhecimento destas qualificações
pelos contratantes, nos deparamos frequentemente com casos de exploração desta mão de obra, onde o “empregado” aceita as condições que os submetem pois precisam
20
Centro Acolhida || SP
TC 2017
1.6.
DIREITOS DOS REFUGIADOS
documento de trabalho no Brasil, ele pode ser solicitado por
A partir do momento em que uma pessoa busca
qualquer pessoa maior de 14 anos que esteja em situação
refúgio no país, esta possui os mesmos direitos e deveres
migratória regular (refúgio deferido pelo CONARE e pela
de qualquer cidadão natural do Brasil. Entretanto, a cidade
Polícia Federal).
ainda possui uma dificuldade em atender pessoas migrantes
•
em serviços públicos, seja pela barreira do idioma, pelo
ser feito em qualquer agência da Polícia Federal mediante
desconhecimento da legislação ou pela falta de apoio técnico
ao pagamento de uma taxa, necessário também estar em
especializado.
situação migratória regular no país.
_DIREITO A SAÚDE
Como estabelece a Constituição Federal de 1988 no
CPF (Cadastro de Pessoa Física): o cadastro pode
Art. 5º:
Podem e devem ser atendidos em quaisquer hospitais e
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
postos de saúde públicos no território nacional, incluindo
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
atendimento psicológico oferecido pelo SUS (sistema único
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
de saúde).
à igualdade, à segurança e à propriedade.”
_DIREITO A EDUCAÇÃO
_DIREITO A DOCUMENTAÇÃO
Direito de frequentar as escolas públicas de ensino
•
fundamental e médio, bem como de participar de programas
Protocolo de solicitação de refúgio: o documento
que regularizar a estadia do imigrante que solicitou refúgio
públicos de capacitação técnica e profissional.
no Brasil enquanto a decisão é tomada pelo CONARE.
_DIREITO AO TRABALHO
•
RNE (Registro Nacional de Estrangeiros): o solicitante
Podem trabalhar formalmente e são titulares dos mesmo
de refúgio que teve a sua condição de refugiado reconhecida
direitos inerentes a qualquer outro trabalhador no Brasil.
obtém junto a Polícia Federal um número que é seu registro
_DIREITO A MORADIA
no pais.
Existem na cidade de São Paulo poucos centros de
é o
acolhida, que são espaços com alojamento provisório que
documento físico que possui o RNE, sendo o documento de
oferecem banho, guarda de pertences, dormitório e café da
identificação de estrangeiros registrados no Brasil válido em
manhã. A maioria são para pessoas de rua ou em situação
todo o território nacional.
alta vulnerabilidade, porém o contexto e o programa
•
se diferem totalmente quando se trata de refugiados.
•
CIE (Cédula de Identidade de Estrangeiro):
CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social):
Centro Acolhida || SP
TC 2017
21
Moradores de rua em sua grande maioria tem problemas
Capacidade máxima: 110 pessoas.
relacionados a dependência química, não tem famílias, tem
Período máximo de permanência: homens solteiros em
graves problemas sociais. Já o imigrante tem dificuldade
torno de 2 a 3 meses, mulheres com crianças 4 a 6 meses,
com a língua portuguesa, tem alto grau de escolaridade e a
mas a assistente social analisa a necessidade individual.
grande maioria está acompanhado de seus familiares.
2017, efetuei uma visita a Casa do Migrante (Missão Paz).
para •
A cidade de São Paulo possui 6 centros voltados o
imigrante,
sendo
eles:
Casa de Passagem Terra Nova
Rua da Abolição, 145 – República Capacidade máxima: 50 famílias. Período máximo de permanência: 6 meses. •
Arsenal da Esperança
Rua Dr. Almeida Lima, 900 – Mooca Capacidade máxima: 1150 pessoas. Período máximo de permanência: não determinado, cada situação analisada pela assistente social. •
Missão Sclabriana
Rua Teresa Francisca Martim, -201 Pari Capacidade máxima: 200 pessoas. Período máximo de permanência: analisado de acordo com a necessidade individual de cada acolhido. •
Associação Palotinas
Rua Visconde de Itaboraí, 133 – Tatuapé
Para fins de estudo de caso, no dia 18 de abril de A missão paz é uma organização ligada igreja
católica que acolhe e presta atendimento a migrantes, imigrantes e refugiados, embora não envolva nenhuma questão religiosa a seus acolhidos, o que é um fator positivo já que os imigrantes possuem diversas religiões e o centro não as reprimem.
Além de usufruir da estrutura, o centro promove
mutirões para emissão de carteira de trabalho, festas multiculturais,
palestras
informativas,
amparo
social,
profissional e psicológico, atendimento emergencial de primeiros socorros e atendimento religioso para quem solicitar, além de cederem o endereço da Casa para correspondências.
O programa da organização contempla:
•
Alojamento (110 vagas) dormitórios separados em
duas alas: feminina e masculina.
Capacidade máxima: 80 pessoas.
•
Alimentação (Café da manhã, almoço e jantar)
Período máximo de permanência: em média 6 meses.
•
Assistência Social
• CRAI
•
Aulas de Português
Rua Japurá, 234 - Bela Vista
•
Sala TV
Capacidade máxima: 120 pessoas.
• Biblioteca
Período máximo de permanência: até 6 meses, mas analisam
•
a necessidade individual.
• Brinquedoteca
•
• Rouparia
Casa do Migrante Missão Paz
Rua do Glicério, 225 – Liberdade
22
Centro Acolhida || SP
•
Sala de Reunião
Salas administrativas
TC 2017
FOTOS DA VISITA
A Casa do Migrante é um anexo da
A organização não permite que os
Os dormitórios estão dispostos ao
Igreja Nossa Senhora da Paz, que foi
refugiados fiquem durante o dia
redor de um jardim central, separados
construida com o intuito de resgatar a
dentro dos quartos, tem hora de
em alas masculinas e femininas.
identidade dos Italianos que viviam em
entrada e saída, para incentivar que
São Paulo.
busquem empregos.
Os dormitórios são compartilhados
Nas salas lecionam aulas de idiomas,
Devido as limitações de permanência
entre 8 e 10 pessoas, no caso das
capacitação profissional, informática,
nos quartos, o pátio externo da igreja
mulheres, elas sempre ficam com os
entre outros. Além de fornecerem
está sempre movimentado.
filhos.
palestras para visitantes sobre a organização.
Centro Acolhida || SP
TC 2017
23
2
HISTÓRICO E DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE INTERVENÇÃO
2.1. O CENTRO DE SÃO PAULO E SEU CENÁRIO DE IMIGRAÇÃO
Um dos principais fatores que contribuem para a
riqueza econômica e cultural da capital paulista é a presença histórica de imigrantes de diversas nacionalidades, etnias, culturas e idiomas. São Paulo é conhecida pelo seu multiculturalismo desde os primórdios de sua fundação até os dias atuais. Seus primeiros habitantes eram de origens europeia e indígenas.
A cidade surgiu a partir de uma missão jesuíta de
catequização dos indígenas, na data em que comemoramos a fundação de São Paulo, 25 de janeiro de 1554, foi executada a primeira missa no colégio que funcionava num barracão feito de taipa de pilão, realizada pelos padres José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, que subiram a Serra do Mar em busca de um lugar seguro para catequização e encontraram o lugar ideal no alto de uma colina entre os rios Tietê, Anhangabaú e Tamanduateí. Existem resquícios desta construção, as fundações feita pelos padres e índios, onde hoje encontra-se hoje o Pateo do Collegio.
A ocupação da cidade ocorreu de forma policêntrica,
com diversos aldeamentos, e fora crescendo conforme enxergavam nela oportunidades, a princípio, geográficas.
O crescimento urbano de São Paulo está fortemente
ligado a dois fatores fundamentais: o ciclo cafeeiro, que
26
Centro Acolhida || SP
Hospedaria de Imigrantes do Estado de São Paulo. s.d. Acervo do Museu da Imigração/APESP
TC 2017
trouxe mão de obra estrangeira (principalmente italianos) e
dificultaram a importação de produtos industrializados,
a industrialização.
fortalecendo assim o mercado interno e, particularmente, a
indústria paulista, que liderava na diversificação da produção
A partir do ciclo cafeeiro, foram criadas inúmeras
ferrovias que interligavam São Paulo e o porto de Santos as
industrial.
principais áreas produtoras de café, a primeira delas foi a
São Paulo Railway.
principalmente do nordeste do pais, devido a necessidade
de mão de obra nas indústrias, que se tornaram o motor
No século XIX, a mão-de-obra escrava foi substituída
Na década de 1940 houve um novo fluxo migratório,
pela mão-de-obra do imigrante estrangeiro, neste período
econômico da cidade.
foi criada a Hospedaria dos Imigrantes (atual Museu da
Imigração do Estado de São Paulo), para recepção dos
quando a industrialização dá lugar para os negócios de
imigrantes na cidade, os quais vinham para trabalhar como
investimentos
mão de obra cafeeira, desembarcando no porto de Santos
assim o ritmo de crescimento e diversificando imigrantes
e chegando até São Paulo através da linha férrea. O abrigo
estrangeiros e migrantes internos.
era temporário, ficavam alocados por alguns dias, até que
seguissem para as fazendas.
sofreu um processo de desvalorização e degradação. O
Instalada inicialmente no bairro do bom retiro
setor de serviços ganhou maior destaque na economia
(1882), a hospedaria mudou de bairro após alguns anos por
paulistana, as indústrias migraram para municípios mais
questões epidêmicas já que a edificação não comportava
afastados e assim foram surgindo novas regiões com
o grande número de imigrantes que chegavam, assim, foi
funções de centralidade e a mancha da expansão urbana
construída uma nova sede no bairro da Mooca em 1886.
fora se alastrando pela cidade, fazendo com que a o centro
Mais da metade dos habitantes da cidade, em meados da
se tornasse apenas um lugar de passagem e não uma área
década de 1890, era formada por imigrantes.
de permanência e de estar.
O processo de deslocamento migratório só diminui financeiros
e
culturais,
desacelerando
Na segunda metade o século XX, o centro da cidade
A crise de 1929 e a primeira guerra mundial,
Centro Acolhida || SP
TC 2017
27
2.2.
TENTATIVAS DE REQUALIFICAÇÃO
julho de 2014, sendo uma lei municipal que orientará o
“(...) está presente no vazio urbano a expectativa do novo
desenvolvimento e o crescimento da cidade até 2030.
(...) As áreas residuais são também a presença viva de um
potencial imenso. Da reconstrução, renovação, revitalização,
regulamentar o futuro da cidade de São Paulo, após
mudança. A construção do novo território. Da vida coletiva.
aprovação do novo Plano Diretor Estratégico, foi sancionada
Da metrópole que esta à espreita (...) A arquitetura e a cidade
a nova Lei de Zoneamento em 23 de março de 2016 e
contemporâneas devem ter a plasticidade que as permitam
recentemente a revisão do Código de Obras e Edificações
acomodação às articulações da rede de fluxos, aos terrenos
(COE) em 09 de maio de 2017, que estava em vigor a 20 anos
vagos, à nova dinâmica presente no território desarticulado.”
sem nenhuma alteração ou revisão.
(LEITE, Carlos. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes.
2002, p.39)
projetos são elaborados com a finalidade de recuperação do
Os
últimos
anos
têm
sido
prósperos
para
Paralelamente a estes instrumentos legais gerais,
cidades
centro de São Paulo, área privilegiada da cidade por diversos
brasileiras, fruto do desenvolvimento econômico do país, fez
aspectos, sendo eles econômicos, geográficos, funcionais e
com que em apenas cinquenta anos a realidade mudasse de
históricos. A situação atual da região central é alarmante,
rural para urbana. Tal ruptura não foi acompanhada de um
além dos problemas urbanísticos, as ruas são palco de
desenvolvimento urbano nem social, fazendo com que estes
enormes problemas sociais como a quantidade de cortiços
centros urbanos crescessem de forma desordenada.
em imóveis degradados, tráfico de drogas, menores carentes
Em 2003 o governo federal criou Estatuto da Cidade, uma lei
nas ruas, prostituição e criminalidade, gerando insegurança
nacional que regulamenta diretrizes sobre a política urbana
e medo, problemas estes de saúde pública, da falta de união
e importantes instrumentos e mecanismos para gestão
dos setores públicos de saúde e de segurança em encontrar
urbana brasileira.
uma solução.
O
rápido
crescimento
urbano
das
O Estatuto tem como objetivo a efetivação dos
A tentativa de reversão da situação de desvalorização
princípios constitucionais de participação popular ou gestão
e degradação do Centro de São Paulo é até os dias atuais um
democrática da cidade e da garantia da função social da
desafio para a prefeitura e para os arquitetos e urbanistas,
propriedade. Um dos principais instrumentos é o Plano
que constantemente discutem projetos para a área. Nas
Diretor, obrigatório para toda cidade com mais de 20.000
últimas décadas inúmeros projetos foram propostos,
habitantes ou aglomerados urbanos.
mas nenhum efetivamente aplicado. No mais das vezes, o
O mais recente Plano Diretor Estratégico do
projeto é arquivado junto com o fim do mandato de nossos
Município de São Paulo, foi aprovado no dia 31 de
prefeitos, que tem duração de 4 anos. Formando assim um
28
Centro Acolhida || SP
TC 2017
ciclo vicioso de novos prefeitos, com novos ideais e novas
domínio público podem ser a solução: a Medida Provisória
propostas, sem nenhuma eficaz alteração do cenário.
700 e o Projeto de Intervenção Urbana – PIU.
Um dos maiores projetos para a área foi anunciado
A Medida Provisória de 8 de dezembro de 2014,
em 2005 pelo então prefeito José Serra. O Projeto Nova Luz,
estipulou novas regras para a desapropriação, facilitando
tratava da renovação urbana, que seria feita através de uma
assim a intervenção nos imóveis. Enquanto o Projeto de
concessão urbanística. Previa ciclovias, ciclo faixas, jardins,
Intervenção Urbana proposto no Plano Diretor da cidade
melhorias no sistema de transporte, renovação do patrimônio
de 2014, propõe que os projetos sejam elaborados pelo
histórico, recuperação de passeios e praças, bulevares,
poder público ou pela iniciativa privada, objetivando
aumento da oferta de unidades habitacionais, comerciais
transformações
e de serviços na região com a melhor acessibilidade e
e econômicas, estando no poder público a decisão e
infraestrutura do Centro de São Paulo. Porém, o projeto foi
regulamentação da implementação dos projetos.
urbanísticas,
habitacionais,
ambientais
malquisto por pessoas da comunidade desde o início de sua implementação, acusado de ser uma “ação higienista», já que a ação resultaria em obvia valorização dos seus imóveis e, portanto, na expulsão da população local. O projeto após inúmeras contestações foi arquivado no ano de 2013 pelo prefeito Fernando Haddad.
Em setembro deste ano, o então prefeito João
Doria anunciou um novo projeto para a área. Batizado de “Centro Novo”, promete revitalizar o centro com bulevares e duas linhas turísticas de Veículo Leve Sobre Pneus (VLP), além polos de economia criativa e verticalização de áreas. O projeto ainda se trata de um estudo, e possivelmente será mais um projeto utópico para a área.
O que difere o Brasil de diversos países da Europa
que conseguiram reverter o quadro de degradação de seus centros urbanos é, principalmente, o nível de regulação pública da produção urbana. Entretanto, a combinação de dois recentes instrumentos de intervenção urbana sob
Centro Acolhida || SP
TC 2017
29
EXPANSÃO URBANA
Planta da Cidade de São Paulo - 1810
Os mapas a seguir mostram o crescimento da Cidade de São Paulo, irradiando do centro para as periferiais.
Região da Santa Efigênia
Fonte: Geosampa
30
Centro Acolhida || SP
TC 2017
Planta da Cidade de São Paulo - 1897
Região da Santa Efigênia
Fonte: Geosampa
Centro Acolhida || SP
TC 2017
31
2.3. BAIRRO DA SANTA EFIGÊNIA
A área surgiu a partir do loteamento das chácaras
reaproveitadas e transformadas em habitações coletivas e
em torno do triângulo histórico. É chamado de triangulo
de baixo custo.
histórico o perímetro marcado pelas ruas: São Bento, 15 de
novembro e Direita, que marcaram o início da cidade.
parte por cortiços e habitações populares, a “saudosa
A Rua 15 de novembro, era conhecida como Rua
maloca” cantada por Adoniran Barbosa relata esta realidade,
do Rosário, devido a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos
principalmente vivida na demolição das casas populares na
Homens Pretos, que era localizada na atual praça Antônio
Rua Aurora:
Desde os anos 40 a região é ocupada em grande
Prado, onde hoje encontra-se o Edifício do Banespa. Na metade do século XIX, a rua se tornou a artéria econômica
“Si o senhor não está lembrado
do triângulo histórico e a Igreja Nossa Senhora do Rosário
Da licença de conta
dos Homens Pretos foi demolida por trazer para a área
Que aqui onde agora está
inúmeros descendentes de escravos e pobres, o que fez com
Esse edifício alto
que essa população ocupasse outras regiões do entorno,
Era uma casa velha um palacete assobradado
como o bairro da Santa Efigênia.
Foi aqui seu moço
Além do culto a Nossa Senhora do Rosário, esta
população era devota também da Santa Efigênia, estima-
Que eu, Mato Grosso e o Joca Construímos nossa maloca
se que desde 1720 há presença de uma capela na região,
Mais um dia nem quero lembrar
construída com esmolas dos escravos, onde hoje se encontra
Veio os homens com as ferramentas
a Igreja de Santa Efigênia.
O
bairro
possuía
o dono mando derruba uma
população
bastante
Peguemo todas nossas coisas
heterogênea, abrigou desde ex-escravos e imigrantes, até
E fumos pro meio da rua
elites paulistanas. Com o passar dos anos e a mudança das
Apreciar a demolição
elites para bairros adjacentes, a função residencial foi sendo
Que tristeza que eu sentia
substituída pelos usos comercias e prestações de serviços.
Cada táuba que caia
As edificações residenciais dessa elite que se deslocou, foram
Doía no coração” Fonte: Letra Cast
32
Centro Acolhida || SP
TC 2017
Perímetro do triângulo histórico. Fonte: Mapeia SP.
Centro Acolhida || SP
TC 2017
33
Nos anos 60 a região ficou conhecida
e conta com uma população de 56.981 pessoas,
como “boca do lixo”, marcada pela prostituição
numa área correspondente a 2,3 Km², segundo
e o tráfico de drogas nas ruas, além do lixo e da
dados demográficos dos distritos pertencentes
degradação dos imóveis.
às Prefeituras Regionais de janeiro de 2017.
Entretanto
a
ferrovia
atraiu
para o bairro, escritórios de companhias estrangeiras de distribuidoras de filmes e pequenas produtoras e comércio de carros. A diversificação do uso urbano contracena riqueza com pobreza: as escolas e comércio de luxo se misturam entre cortiços, lojas miúdas e populares,
cinema
e
teatro.
A área foi palco do maior núcleo de
produção de cinema dos anos 70, concentrada principalmente na Rua do Triunfo. Além do
O
uso
é
predominantemente
de
comércio e prestadores de serviços, com população heterogenia e flutuante - há grande concentração de imigrantes da Angola, Nigéria e de migrantes internos, como os nordestinos em sua maioria, instalada em hotéis e cortiços.
O comércio de eletrônicos e informática
oferecem vitalidade na vida diurna do bairro, como podemos constatar na Rua 25 de Marco e Rua Santa Ifigênia, porém a vida noturna
eram
continua sendo um desafio, já que enquanto
realizados principalmente na Rua General
não forem efetuadas políticas e projetos para
Osório, onde surgiram inúmeras rodas de
gerar habitações, não apenas de interesse
choro e de samba de São Paulo.
social, mas para diferentes classes, a região
continuará sem vitalidade no período noturno,
cinema,
vários
encontros
musicais
Hoje, o bairro Santa Ifigênia pertence a
Prefeitura Regional da Sé, Distrito da República,
34
Centro Acolhida || SP
causando insegurança e medo.
TC 2017
“...a união entre o passado e o futuro está na própria ideia da cidade, que a percorre tal como a memória percorre a vida de uma pessoa e que, para concretizar-se, deve conformar a realidade, mas também conformar-se nela.” ROSSI, Aldo. Arquitetura da Cidade, pág. 200.
Centro Acolhida || SP
TC 2017
35
2.4. ANÁLISE DA ÁREA RAIO 1000m PONTOS DE INTERESSE
5_ESTAÇÃO DA LUZ
1_PRAÇA DA REPÚBLICA
2_PRAÇA PRINCESA ISABEL
3 2
3_ESTAÇÃO JULIO PRESTES
6 4
5
7
6_JARDIM DA LUZ
8
7_PINACOTECA
1 4_MEMORIAL DA RESISTÊNCIA
36
Centro Acolhida || SP
8_P. S. CRISTOVÃO
TC 2017
RAIO 1000m PRINCIPAIS VIAS E REDE DE DRENAGEM
CÓRREGO DA LUZ
AV. PRESTES MAIA RIO TAMANDUATEÍ
AV. RIO BRANCO
AV. SÃO JOÃO
AV. IPIRANGA
Centro Acolhida || SP
TC 2017
37
RAIO 1000m REDE DE TRANSPORTES
LINHA DE ÔNIBUS LINHA CPTM LINHA METRÔ ESTAÇÃO DE TREM ESTAÇÃO DE METRÔ
38
Centro Acolhida || SP
TC 2017
RAIO 1000m GABARITO DE ALTURA
3 metros
140 metros
Centro Acolhida || SP
TC 2017
39
RAIO 1000m CHEIOS E VAZIOS
40
Centro Acolhida || SP
TC 2017
RAIO 1000m ZONEAMENTO
ZC ZEPAM ZEM ZEIS - 3 ZEIS - 5 ZOE ZDE PRAÇA E CANTEIRO PERÍMETRO OPERAÇÃO URBANA CENTRO
Centro Acolhida || SP
TC 2017
41
2.5. A QUADRA O quarteirão do terreno está compreendido entre as ruas Rua General Osório, Rua dos Andradas, Rua dos Gusmões e a Rua do Triunfo, com aproximadamente 6.430 m². Segundo o PDE 14/16.050 e Lei de Zoneamento 16/16.402, trata-se de uma área de Zona de Interesse Social – 3, área com ocorrência de imóveis ociosos, subutilizados, não utilizados, encortiçados ou deteriorados localizados em regiões dotadas de serviços, equipamentos e infraestruturas urbanas, boa oferta de empregos, onde haja interesse público ou privado em promover Empreendimentos de Habitação de Interesse Social. Além disso, o terreno faz parte do perímetro da Operação Urbana Centro, proposta que foi criada para promover a melhoria e revalorização da área central, afim de atrair investimentos da iniciativa privada, revertendo o processo de deterioração que se encontra. Portanto, para
QUADRA SITUAÇÃO ATUAL
42
Centro Acolhida || SP
parâmetros de ocupação, o coeficiente de aproveitando nas áreas de operação urbana o valor seis vezes a área do terreno. A região escolhida para projeto, possui imóveis com valor histórico reconhecido pelo patrimônio histórico da cidade. O tombamento é analisado caso a caso perante aos órgãos responsáveis, o que faz com que estes edifícios não sejam um empecilho na questão projetual, já que não tem restrições específicas.
MANTIDOS X DEMOLIDOS
Quadro parâmetros de ocupação. Fonte: Site Gestão Urbana
QUADRA COM EDIFÍCIOS REMANESCENTES
TC 2017
2.6. LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO DA QUADRA
A DEMOLIR VAZIO OU SUBUTILIZADO TOMBADOS/RESTAURAR
44
Centro Acolhida || SP
TC 2017
A DEMOLIR VAZIO OU SUBUTILIZADO TOMBADOS/RESTAURAR
Centro Acolhida || SP
TC 2017
45
3
REFERÊNCIAS
PÁTIO BELLAVISTA
O patrimônio histórico e a revitalização urbana
Local: Chile / Santiago Ano: 2006 Arquiteto: Plan 3 Arquitetos
48
Centro Acolhida || SP
TC 2017
O Centro gastronômico, comercial
O projeto restaurou as fachadas das
O programa é desenvolvido em 5 níveis,
e
quadra,
antigas fábricas da quadra e interveio
em algumas áreas em dois níveis acima
principalmente seu miolo, em uma
com novas construções para acomodar
do nível da rua, além dos 3 andares
antiga área degradada no Bairro
o novo programa.
de estacionamento subterrâneo, com
cultural
ocupa
Bellavista.
uma
16 lojas, 8 bares e restaurantes, e 221 vagas de estacionamento.
Centro Acolhida || SP
TC 2017
49
PLANTA PAVIMENTO TÉRREO
50
Centro Acolhida || SP
TC 2017
CORTES
Centro Acolhida || SP
TC 2017
51
BIKUBEN KOLLEGIUM
A habitação e os espaços coletivos
Local: Copenhagen / Denmark Ano: 2007 Arquiteto: AART architects Engenheiro: Rambøll
52
Centro Acolhida || SP
TC 2017
Ruptura com o modelo tradicional de
As
em
Cozinhas e áreas comuns são voltadas
habitações com vastos corredores e
um princípio de rotação, com áreas
para um pátio central de forma que
claras divisões entre áreas comuns e
comuns acontecendo pelo trajeto.
consigam ser vistas de todos andares.
unidades
desenvolvem-se
unidades.
Centro Acolhida || SP
TC 2017
53
CENTRE HUMANITAIRE PARIS NORD
Abrigo de refugiados e o programa
Local: França / Paris Ano: 2016 Arquiteto: Julien Beller e Hans-walter Müller (bolha)
54
Centro Acolhida || SP
TC 2017
Com propósito de evitar a formação
O programa é divido em três blocos:
As acomodações estão dispostas em 8
de
a bolha inflável onde o refugiados são
áreas para 50 pessoas. Os quartos de
refugiados pelas ruas de Paris, as
recepcionados; as acomodações que
16m² são para 4 pessoas, com camas,
autoridades
foram montadas dentro de um galpão
roupeiros e tomadas. Os sanitários
cidade o centro humanitário para
de um antigo armazém e um centro
são externos, compartilhados entre 2
refugiados.
de saúde.
quartos.
acampamentos
informais
francesas
Centro Acolhida || SP
criaram
de na
TC 2017
55
CENTRO DE ABRIGO TEMPORÁRIO
CENTRO DE SAÚDE
capacidade para 400 pessoas
atendimento médico e psicológico
CENTRO DE BOAS VINDAS orientação e encaminhamento
56
Centro Acolhida || SP
TC 2017
CABANAS NO INTERIOR DO GALPร O dormitรณrios compartilhados
Centro Acolhida || SP
TC 2017
57
4
O PROJETO
4.1. PARTIDO ARQUITETÔNICO
O projeto é um complexo que pretende
de usos dos espaços, tem o intuito de suprimir
além de fornecer moradia temporária, reintegrar
as necessidades primárias dos refugiados que
o
estão chegando e trazendo em suas bagagens as
refugiado
socialmente,
culturalmente
e
economicamente na cidade de São Paulo.
Localizado no bairro da Santa Efigênia,
o espaço será dedicado para o acolhimento em uma moradia provisória para o refugiado, oferecendo-lhes além da moradia, as ferramentas necessárias para que possam sanar ou ao menos, amenizar as inúmeras dificuldades de adaptação
suas tradições e costumes, mas também, muita insegurança e medo.
Como o refugiado tem direito a todo
serviço público da nossa cidade, a intenção projetual é não criar uma “ilha” e sim dar o suporte mínimo para que os mesmos busquem
e sobrevivência no novo país em que se
os equipamentos na cidade, mesmo por motivos
encontram. Para tanto, essa edificação chamada
sociais de inseri-los e englobá-los no nosso
de “complexo” pelas suas amplas características
contexto
60
Centro Acolhida || SP
urbano.
TC 2017
Centro Acolhida || SP
TC 2017
61
4.2. PROGRAMA • O
Além da oportunidade de interação social, inicia-se também seu restabelecimento econômico e inserção no mercado de
Abrigo temporário para refugiados programa
busca
vulnerabilidade
acolher
social,
qualquer
econômica
e
imigrante
em
cultural.
trabalho, capacitando-os para gerir estes estabelecimentos, afim de trazer a população local para o complexo, havendo
Os apartamentos são compartilhados, com capacidade de 4
uma troca mútua de cultura e costumes. Visto que o
pessoas por unidade, podendo abrigar famílias ou pessoas
complexo está inserido no centro da cidade do São Paulo,
distintas. A divisão entre os quartos é feita através de
a fachada ativa³ serve como uma forma de dar vitalidade a
marcenaria, assim, tendo possiblidade de alteração.
área.
A cada andar é disposto um apartamento para Portadores
•
de Necessidades Especiais, compartilhado também entre 4
Em todos andares existem lavanderias comunitárias e
pessoas.
bagageiros, além de alguns andares existirem também
• Administração
espaços
Além
do
psicológico, •
acolhimento, jurídico
e
presta-se médico
acompanhamento
(emergencial).
Centro de capacitação
Áreas Comuns
de
convivência
e
cozinhas
comunitárias,
incentivando o convívio dos usuários. Como o térreo é ocupado pelo centro gastronômico, a fim de gerar uma área livre para convívio e ao mesmo tempo
Dentro do complexo também há o setor de qualificação,
privada do comércio, é criado um térreo elevado que garante
onde são oferecidas aulas de português, ateliês de atividades
esta interação porem com certa privacidade. Dispondo de:
manuais além de aulas e workshops de capacitação voltado
brinquedoteca, playground, salão de jogos, biblioteca e
para o mercado alimentício, a fim de preparar o imigrante
midiateca, academia e um café.
para ter seu próprio negócio no embasamento do complexo,
•
o centro gastronômico.
Uma nova proposta da Prefeitura de São Paulo é estimular
•
a criação de habitações de pequenas unidades subsidiadas
Centro gastronômico
Aluguel Social
O centro gastronômico fora pensado com dois propósitos
para aluguel na área central da cidade, com a vantagem de
distintos, primeiramente como uma forma de interação dos
descontos no IPTU e a permissão de aumento do coeficiente
refugiados com a população da cidade, unindo-os através
de aproveitamento para edifícios que servirem a inquilinos
de uma das maiores disseminadoras de cultura: a culinária.
de menor renda. Esta iniciativa é vantajosa já que a maioria
62
Centro Acolhida || SP
TC 2017
das habitações de interesse social (casa própria) criadas são em áreas periféricas, feitas em grande escala.
Em relação ao projeto, o aluguel social serve como
uma maneira do refugiado dar o primeiro passo em busca da sua independência e estabilidade na cidade, já que o centro de acolhida se trata de um período temporário, e este teria que buscar uma nova moradia. Portanto, a locação social, além de atender a população, serve também para dar continuidade para integração deste refugiado. 3. “Fachada ativa corresponde à ocupação da fachada localizada no alinhamento de passeios públicos por uso não residencial com acesso aberto à população e abertura para o logradouro.” Fonte: site Gestão Urbana > acesso em 17/10/24
Centro Acolhida || SP
TC 2017
63
N
0
IMPLANTAÇÃO PAVIMENTO TÉRREO ESC. 1:2500
5
10
20
QUADRO DE ÁREAS 6.573
Área total do terreno X
C.A. Máx. Zona
4
26292
Área por Pavto.
Pavimento Pavimento térreo
3151,83
Primeiro pavto.
3805,2
Segundo pavto.
3725,89
Mezanino
869,98
Terceiro pavto.
1183,95
Quarto pavto.
1280,88
Quinto pavto.
1183,95
Sexto pavto.
1183,95
Sétimo pavto.
1280,88
Oitavo pavto.
1280,88
Nono pavto.
1183,95
Décimo pavto.
1280,88
Décimo primeiro pavto.
1183,95
Décimo segundo pavto.
1280,88
C.A. do Projeto
23877,05 > 500 m²
T.O. Máx. Zona T.O. do Projeto
85%
5.587
3922,21 Pessoas por unidade Quantidade
Pessoas
50
4
refugiados P.N.E.
10
4
Loft individual
20
2
Loft familiar
8
4
Apartamento Aluguel Social 50m²
40
3
Apartamento Aluguel Social 63m²
20
3
Tipologia Apartamentos compartilhado para refugiados Apartamentos compartilhado para
Total de pessoas do empreendimento
492
N
0
16
16
5
16
16
10
20
1.Recepção
10.D.M.L
2.Assistência social e
11.Ambulatório
jurídica
12.Assistência
3.Sala de espera
Profissional
4.Posto de informação 13.Rouparia 14.Sanitários
5.Hall aluguel social
6.Sala de comunicação 15.Hall abrigo
16
16
10
7.Recepção médica
16.Restaurantes/
8.Consultórios
comércio
9.Expurgo
17.Auditório
16 16
14 12 15
13
11
9 10
7
2
5
8 6
1
3
4
15 14
16
16
17 16
16 14
16
PLANTA PAVIMENTO TÉRREO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
16
16
16
5
16
16
10
16
16
20
3.Sala de espera
21.Ateliê atividades
10.D.M.L.
manuais
14.Sanitários
22.Salas de aulas
15.Administração
23.Estoque
16.Restaurantes/
24.Câmara Fria
comércio
25.Cozinha Industrial
17.Auditório
26.Passarela/
18.Biblioteca
Praça Alimentação
19.Sala de reunião
27.Exposições
20.Recepção
16
16
14
26
15
27
3
25 23
22 24
22
19 18
10
20 21
16
16
16
16 14
27
16 16
PLANTA PRIMEIRO PAVIMENTO PAVIMENTO TÉRREO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
14.Sanitรกrios 28.Salรฃo de Jogos 29.Academia
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
30.Brinquedoteca
32
31.Loft familiar 32.Loft individual
32
28
14
29
30
32
32 32
32
31
31
31
31
31
31
31
31
PLANTA SEGUNDO PAVIMENTO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
PLANTA MEZANINO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
33.Apartamentos Aluguel Social 34.ร rea de Estar 35.Lavanderia Comunitรกria 36.Apartamento abrigo P.N.E. 37.Apartamento Abrigo 38.Lockers/bagageiro
36
34 37
37
35
37
37
38
35
34
37 33
33
33
33
33
33
PLANTA TERCEIRO PAVIMENTO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
33.Apartamentos Aluguel Social 34.ร rea de Estar 35.Lavanderia Comunitรกria 36.Apartamento abrigo P.N.E. 37.Apartamento Abrigo 38.Lockers/bagageiro 39.Cozinha Comunitรกria
36 37
37
35
37 39
34
37
38
35
34
37 33
33
33
33
33
33
PLANTA QUARTO PAVIMENTO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
PLANTA QUINTO PAVIMENTO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
PLANTA SEXTO PAVIMENTO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
PLANTA SÉTIMO PAVIMENTO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
PLANTA OITAVO PAVIMENTO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
PLANTA NONO PAVIMENTO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
PLANTA DÉCIMO PAVIMENTO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
PLANTA DÉC. PRIMEIRO PAVIMENTO ESC. 1:600
0
5
10
20
N
0
5
10
20
PLANTA DÉC. SEGUNDO PAVIMENTO ESC. 1:600
0
5
10
20
CORTE AA ESC. 1:400
Acabamento de piso cimentado alisado
Rufo
Argila expandida
Cimentado como proteção mecânica Usar tela se necessário
Manta de impermeab. Laje
Pingadeira
00
5 5
10 10
20 20
CORTE BB ESC. 1:400
00
5 5
10 10
20 20
TIPOLOGIAS
ABRIGO REFUGIADO moradias compartilhadas
Unidade de 68m² para 4 pessoas com divisórias em marcenaria possibilitando alteração de layout
Unidade de 67m² para 4 pessoas adaptado para portadores de necessidades especiais
TIPOLOGIAS
ALUGUEL SOCIAL moradias familiares
Unidade de 51m² para até 3 pessoas com divisórias em marcenaria possibilitando alteração de layout
Unidade de 68m² para até 3 pessoas com divisórias em marcenaria possibilitando alteração de layout
TIPOLOGIAS
ALUGUEL SOCIAL lofts
PLANTA PRIMEIRO PAVIMENTO
PLANTA MEZANINO
Unidade duplex de 74m² para 2 pessoas
PLANTA PRIMEIRO PAVIMENTO
PLANTA MEZANINO
Unidade duplex de 170m² para 4 pessoas
5
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O intuito inicial de estabelecer uma reflexão crítica e aprofundada a respeito do cenário de acolhimento dos inúmeros refugiados abrigados cidade de São Paulo, acabou por responder a diversas questões levantadas à respeito dos problemas urbanos da metrópole.
Através da análise dos estudos de caso e das
referências bibliográficas, foi possível compreender e explorar as questões a serem abordadas de maneira mais profunda, tornando possível o desenvolvimento de uma solução qualificada para as problemáticas levantadas no início.
Por meio deste trabalho, focado, em sua grande
maioria, nos aspectos emocionais, sociais e econômicos da situação dos refugiados em São Paulo, foi possível imergir neste delicado cenário em que a cidade – mais especificamente o centro – se encontra, e trabalhar nos diferentes aspectos para que tais imigrantes possam viver dignamente e com segurança.
6
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COELHO JUNIOR, Marcio Novaes. Processos de intervenção
desenvolvimento sustentável num planeta urbano. São Paulo :
urbana: bairro da Luz. São Paulo, FAU USP, 2010.
Bookman, 2012.
PRODAM: São Paulo antiga. Disponível em: www.prodam.
ANDRADE, José H. Fischel. Direito Internacional dos
sp.gov.br/dph/spimag. Acesso em:
Refugiados: evolução histórica (1952-1921). Rio de Janeiro:
2017/08/20.
Renovar, 1996.
ROSSI, Aldo. Arquitetura da cidade. São Paulo, Martins
ARGAN, Giulio Carlo. A história da arte como a história da
Fontes, 1998.
cidade. 5ª ed. São Paulo, Martins Fontes, 2005.
JACOBS, Jane. Morte e vida nas grandes cidades. São Paulo,
FERNANDES, Florestan. Brancos e negros em São Paulo:
Martins Fontes, 2001.
ensaio sociológico sôbre aspectos da formação, manifestações atuais e efeitos do preconceito de côr na sociedade paulistana.
BRUNO, Ernani da Silva. História e tradições da cidade de São
São Paulo: Editora Global, 2008.
Paulo. 4a ed. São Paulo: Hucitec, 1991. CUTTS, Mark. A situação dos refugiados no mundo. Tradução BASTOS, Sênia. História urbana e hospitalidade: o Bairro de
de Isabel Galvão. Almada/POR: ACNUR, 2000.
Santa Ifigênia/São Paulo. RAMOS, André de Carvalho. 60 anos de ACNUR: Perspectivas LEITE, Carlos. Cidades sustentáveis, cidades inteligentes:
de Futuro, ACNUR, USP e UniSantos. São Paulo, 1. ed. - 2011