TFGI - Complexo de Apoio e Acolhida para os Refugiados da Venezuela

Page 1



COMPLEXO DE APOIO E ACOLHIDA

PARA OS REFUGIADOS DA VENEZUELA EM BOA VISTA - RR

Trabalho Final de Graduação Interdisciplinar apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Arquiteto e Urbanista. Discente: Luan Patrick Fuzo Orientador: Prof. Dr. Eduardo Hideo Suzuki

LONDRINA, 2018



COMPLEXO DE APOIO E ACOLHIDA

PARA OS REFUGIADOS DA VENEZUELA EM BOA VISTA - RR Trabalho Final de Graduação Interdisciplinar apresentado ao Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Arquiteto e Urbanista.

Discente: Luan Patrick Fuzo

_______________________________ Orientador: Prof. Dr. Eduardo Hideo Suzuki Universidade Estadual de Londrina - UEL

_______________________________ Prof. Universidade Estadual de Londrina - UEL

Londrina, _____de ___________de _____.

_______________________________ Prof. Universidade Estadual de Londrina - UEL



Dedico esse trabalho à todas as pessoas que foram forçadas a deixar seus lares por interesses políticos e perseguições sociais, e que buscam proteção em outros países, com o simples intuito de resguardar suas vidas.

7



Agradeço acima de tudo aos meus pais, Lucilene e José Luis, pelo apoio, confiança e dedicação durante meu crescimento pessoal e profissional, e dizer que sem eles, nada disso teria sido possível. A minha avó Maria, por acreditar e apoiar todas as decisões que me fizeram chegar até aqui. Aos meus amigos que me acompanharam durante essa jornada, principalmente Isadora, Agamie, Kauê, Paula, Ana Carolina, Lia, Rayane, Nicoli e Dimitria, que estiveram presentes nos momentos que eu mais precisei. Agradeço imensamente ao meu companheiro Pedro, pela paciência, carinho e por sempre me fazer acreditar que eu sou capaz. Por fim, agradeço todos os mestres e colegas de sala que dividiram toda sua sabedoria e intelecto, em especial ao meu orientador Prof. Eduardo, que esteve presente durante todas as etapas desse trabalho.



RESUMO

A crise econômica, política e social da Venezuela começou a ser um problema do Brasil a partir de 2016, quando o fluxo migratório para o território brasileiro explodiu, e ao menos 57 mil venezuelanos entraram por via terrestre em Boa Vista, capital do estado de Roraima, que em menos de 1 ano viu sua população crescer mais de 10%, gerando diversos problemas sociais na cidade. Por falta de uma estrutura para abrigar essa população, os venezuelanos passaram a ocupar as praças públicas e locais sub-utilizados da cidades, sem acesso a banheiros nem água potável. A proposta desse projeto possui um caráter exclusivamente temporário e tem como objetivo criar um espaço que possa abrigar essas pessoas enquanto elas necessitarem de ajuda. O projeto inclui a criação de modulos emergenciais que sejam construídos de forma rápida, fácil e de baixo custo, além de garantir o conforto dos usuários durante sua permanência. Os módulos são constrídos com materiais locais, como a madeira, e materiais industrializados, como o aço galvanizado das estruturas e são passiveis de serem montados pelos próprios moradores. O projeto ainda propõe a criação de um pavilhão de apoio, onde seja possível fornecer os serviços basicos para essas pessoas, como saúde, educação e lazer. Toda a estrutura parte da importância de promover as relações entre as pessoas dessa comunidade no processo de reabilitação do indivíduo, onde a arquitetura seja uma ferramenta para fomentar essas relações. A proposta de um complexo de apoio e acolhida aos imigrantes reforça a necessidade de que medidas sejam tomadas para oferecer os princípios básicos de uma sociedade aos que buscam refúgio em outro país, e que seja possível promover um meio apropriado para assegurar seus direitos, uma vez que se tratam de pessoas que buscam apenas proteção.



ABSTRACT

A crise econômica, política e social da Venezuela começou a ser um problema do Brasil a partir de 2016, quando o fluxo migratório para o território brasileiro explodiu, e ao menos 57 mil venezuelanos entraram por via terrestre em Boa Vista, capital do estado de Roraima, que em menos de 1 ano viu sua população crescer mais de 10%, gerando diversos problemas sociais na cidade. Por falta de uma estrutura para abrigar essa população, os venezuelanos passaram a ocupar as praças públicas e locais sub-utilizados da cidades, sem acesso a banheiros nem água potável. A proposta desse projeto possui um caráter exclusivamente temporário e tem como objetivo criar um espaço que possa abrigar essas pessoas enquanto elas necessitarem de ajuda. O projeto inclui a criação de modulos emergenciais que sejam construídos de forma rápida, fácil e de baixo custo, além de garantir o conforto dos usuários durante sua permanência. Os módulos são constrídos com materiais locais, como a madeira, e materiais industrializados, como o aço galvanizado das estruturas e são passiveis de serem montados pelos próprios moradores. O projeto ainda propõe a criação de um pavilhão de apoio, onde seja possível fornecer os serviços basicos para essas pessoas, como saúde, educação e lazer. Toda a estrutura parte da importância de promover as relações entre as pessoas dessa comunidade no processo de reabilitação do indivíduo, onde a arquitetura seja uma ferramenta para fomentar essas relações. A proposta de um complexo de apoio e acolhida aos imigrantes reforça a necessidade de que medidas sejam tomadas para oferecer os princípios básicos de uma sociedade aos que buscam refúgio em outro país, e que seja possível promover um meio apropriado para assegurar seus direitos, uma vez que se tratam de pessoas que buscam apenas proteção.



LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Charge sobre o posicionamento dos EUA, União Europeia e Brasil sobre os refugiados.

1

FIGURA 2 – Índia venezuelana da etnia Warao aguarda com seus filhos o fechamento da rodoviária para passar mais uma noite em Boa Vista, Roraima

2

FIGURA 3 – A venezuelana Elizabeth Parra, 22, (estudante de biologia) tenta arrumar dinheiro vendendo chapéus de palha nas ruas de Boa Vista, onde vive com o marido (também venezuelano) há 2 meses.

3

FIGURA 4 e 5 – Habitações Cottages São Francisco

4

FIGURA 6 e 7 – Habitações Better Shelters

5

FIGURA 8 e 9 – Habitações Sandbag Shelters

6

FIGURA 10 e 11 – Habitações Paper Log House

7

FIGURA 12 e 13 – Habitações Elemental Tecnopanel

8

FIGURA 14 – Caminho entre Venezuela - Pacaraima - Boa Vista percorrido pelos Venezuelanos

9

FIGURA 15 – Centro Cívico e histórico da cidade de Boa Vista - RR. Na imagem é possível ver os eixos em forma radial.

10

FIGURA 16 – Mapa da cidade de Boa Vista - RR. No mapa, destacado os eixos rodoviários de acesso a cidade e o cruzamento deles. Além do centro da cidade

11

FIGURA 17 – Mapa do Centro de Boa Vista - RR. No mapa, destacado os pontos principais e o eixo central da cidade

12

FIGURA 18 – Campo de refugiados Dadaab no Quênia com cerca de 400 mil refugiados.

13


FIGURA 19 – Mapa da cidade de Boa Vista - RR. No mapa está em destaque o terreno escolhido para implantação da proposta e seu entorno.

1

FIGURA 20 – Características físicas e geográficas do terreno escolhido

2

FIGURA 21– Terreno escolhido para implantação da proposta

3

FIGURA 22 – Vista do terreno a partir da Av. Brasil – terreno destacado em vermelho na imagem.

4

FIGURA 23 – Corte terreno de implantação

5

FIGURA 24 – Implantação abrigo Rondon 1 em Boa Vista -RR e instalação das habitações Better Shelters.

6

FIGURA 25– Terreno escolhido para implantação da proposta

7

FIGURA 26 – Tipologia de implantação habitações Better Shelter (em branco na imagem) no abrigo Rondon 1 em Boa Vista-RR.

8

FIGURA 27 – Tipologias de implantação das unidades habitacionais e a relação entre elas

9

FIGURA 28 – Vistas de habitações Ianomâmis

10

FIGURA 29 – Esquema de configuração das comunidades de vizinhança

11

FIGURA 30– Evolução forma de distribuição das habitações emergenciais.

12

FIGURA 31– Perspectiva explodida da estrutura do deck

13

FIGURA 32 – Elevação estrutura deck

14


FIGURA 33 – Perspectiva implantação, destacado em vermelho o elemento conector dos módulos

1

FIGURA 34 – Planta baixa deck

2

FIGURA 35 – Esquema evolução volumetria e usos dos módulos

3

FIGURA 36 – Esquema acessos e usos dos módulos

4

FIGURA 37 – Esquema estrutura dos módulos

5

FIGURA 38 – Esquema estrutura cobertura

6

FIGURA 39 – Esquema estrutura cobertura destacando o beiral e a estrutura da tela mosquiteiro - Esquema de distribuição das cargas e estabilidade da estrutura

7

FIGURA 40 – Painéis utilizados para vedação dos módulos

8

FIGURA 41 – Detalhe painel filetado e esquema de ventilação cruzada

9

FIGURA 42 – Esquema detalhado dos elementos construtivos e materiais d os módulos habitacionais

10

FIGURA 44 – Elevação módulo

11

FIGURA 45 – Planta Baixa módulo

12

FIGURA 46 – Esquema exemplo de uma unidade de vizinhança com a instalação dos reservatórios, tanques de evapotranspiração e os espaços de interação entre módulos

13

FIGURA 47 – Corte esquemático da unidade de vizinhança, evidenciando as ligações dos sistemas sanitários com os tanques de evapotranspiração

14


FIGURA 48 – Mapa eixo de diretriz para a implantação da praça central, destacada no mapa.

1

FIGURA 49 – Imagem estrutura projeto vencedor do concurso Open Ideas Competition: Mosul Postwar Camp, inspiração para a estrutura dos pavilhões do projeto proposto.

2

FIGURA 50 –Esquema detalhado estrutura modulo pavilhão

3

FIGURA 51 –Corte estrutura tensionada pavilhão

4

FIGURA 52 – Esquema distribuição e organização dos módulos dos pavilhões

5

FIGURA 53 – Biombos em material OSB utilizado para dividir os espaços dentro dos pavilhões

6

FIGURA 54 – Esquema distribuição dos espaços dos pavilhões. Na imagem, foi utilizado como exemplo o pavilhão do Abrigo 1

7

FIGURA 55 – Implantação do complexo de apoio para os refugiados da Venezuela, destacando as áreas principais da proposta.

8


SUMÁRIO INTRODUÇÃO

X

TEMA

X

Papel do Brasil na Política dos Refugiados Contextualização do Tema

PROPOSTA Respostas Arquitetônicas Análise do Local Programa Área de Implantação da Proposta

X X

X X X X X

PROJETO

X

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

X



INTRODUÇÃO

“Um velho e um miúdo vão seguindo pela estrada. Andam bamboleando como se caminhar fosse seu único serviço desde que nasceram. Vão pra lá de nenhuma parte, dando o vindo por não indo, à espera do adiante. Fogem da guerra, dessa guerra que contaminara toda sua terra. Vão na ilusão de, mais além, haver um refúgio tranquilo” MIA COUTO



Diante dos atuais eventos desencadeados pela crise econômica mundial, nos deparamos com um problema já não tão atual, mas que vem se agravando ao longo do tempo: a crise dos refugiados. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), em um total de 60 milhões de pessoas que se encontram atualmente fora de seu país de origem por consequência de guerras e conflitos, cerca de 33% são refugiados, maior numero registrado desde 1992, quando teve início a guerra da Bósnia e Herzegóvina, que gerou quase 900 mil pedidos de asilo em países desenvolvidos. Os refugiados são imigrantes internacionais forçados a abandonar seus lares em decorrência de cenários marcados pela violência e perseguições, cruzando fronteiras com o propósito essencial de proteger suas vidas. Nesses contextos, a população local afetada passa a necessitar de ajuda humanitária, procurando assim, refúgio nos países vizinhos. Entretanto, o termo “refugiado” é usado de forma pejorativa e discriminatória em determinados veículos de comunicação, os quais os indivíduos são tratados como um grave problema para os países que os acolhem. O foco deste trabalho são os refugiados vindos da Venezuela para o Brasil, que cruzam o território brasileiro através do Estado de Roraima e, que cada vez mais ganham visibilidade na imprensa e na mídia por consequência da atual crise econômica que afeta o país. Os venezuelanos que buscam refúgio em Roraima fogem da fome, da severa escassez de remédios, da instabilidade política e de uma

23


inflação galopante de 700%. Desta forma, tendo em vista a atual situação de descaso que essa população tem sofrido e o intenso fluxo migratório, a proposta desse trabalho é projetar um espaço que possa recebê-los, abrigá-los e oferecer a oportunidade de reintegrar seus valores e direitos, além de tentar promover através desse ambiente a integração entre a comunidade refugiada e os moradores da cidade de Boa Vista, local de implantação do projeto. A proposta possui um grau de complexidade alta, já que em sua maioria estes usuários não são fluentes da língua portuguesa, necessitam de lares temporários e são marcados por traumas ligados ao desabrigo e à grande ruptura cultural. Contudo, os mesmos geram uma imagem negativa onde chegam, ligada ao fenômeno da xenofobia, fazendo com que esta população acabe em subempregos e subáreas, marginalizados em total situação de descaso. Além disso, é proposto um modulo habitacional que corresponda os requisitos de uma habitação emergencial e que leve em consideração as características da região e as necessidades básicas dos usuários.

24


TEMA



Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os refugiados são migrantes internacionais forçados a abandonar seus lares em decorrência de cenários marcados pela violência, transpondo fronteiras com o propósito essencial de resguardar suas vidas. Os motivos que os levam a fugir de seus países abarcam conflitos intra ou interestatais, provocados por questões étnicas, religiosas, culturais, políticas e econômicas, assim como regimes repressivos e outras situações de instabilidade política, violência e violações de direitos humanos. Após o final da segunda guerra mundial, somente no centro e leste da Europa, 46 milhões de pessoas tornaram-se desenraizadas de seus países natal devido às fugas e evacuações forçadas durante os conflitos (ONU, 2012). Para que fosse possível discutir sobre esse tema e propor soluções que assegurassem os direitos humanos dessa população, em Novembro de 1943 foi fundada a UNRRA - Administração para a Assistência e Reabilitação das Nações Unidas e na sequência, em 1951, foi realizada a Convenção Europeia dos Direitos Humanos, onde foi criado o Alto Comissariado das Nações Unidas para os refugiados (ACNUR), agência especializada da ONU, que tinha como objetivo dar apoio e proteção a refugiados em uma escala mundial criando diretrizes para formalizar a proteção destes estrangeiros deslocados colocando-os em situação de igualdade dentro dos países abrigo. Após esses coletivos e tratados inciais até os dias de hoje, surgiram diferentes organizações para proteger estes estrangeiros deslocados, procurando sempre fornecer abrigo e condições básicas a seres humanos em momentos de grande fragilidade.

27


Com o tempo, percebeu-se que o conceito de refugiado devia ser mais abrangente do que a definição dada pela ACNUR em 1951, afim de responder aos desafios do novo contexto da sociedade. Durante a Conferência de 2016 em Praga sobre imigração e refugiados intitulada “Cidades de Migração”, a socióloga Saskia Sassen abordou que a imigração não é um evento aleatório, mas algo que é causado pelas ações de governos e cidadãos. Além disso, Sassen identificou diferentes tipos de refugiados: o primeiro era o refugiado político, aquele que foge da turbulência política em seu país, muitas vezes perseguidos por alguma maioria; o segundo, o imigrante econômico, que busca uma vida melhor em um novo país. Enquanto esses dois tipos de imigrantes são amplamente discutidos, Sassen argumentou que o terceiro tipo de imigrante mal foi reconhecido - o que ela chamou de “imigrante refugiado”, uma classe de pessoas que está fugindo da “enorme perda de habitat” catalisada por atividades econômicas de interesses particulares dos governantes. Apesar dessa preocupação em identificar e categorizar grupos de refugiados, é importante ressaltar também que a categorização entre os grupos de imigrantes é uma estratégia altamente politizada, tendo em vista as leis e interesses que norteiam essas categorias. (MESSINA; LAHAV, 2005; CASTLES, MILLER, 2003 apud MOREIRA, 2012). Logo, por serem categorias fluidas e que se mesclam na realidade, o que realmente precisa ser levado em consideração é que esses grupos são formados por seres humanos que precisam de proteção visto que o Estado de origem não foi ou não é mais capaz de provê-la, em

28


maior ou menor medida. Sendo assim, tomaremos como “refugiados” aquelas pessoas que cruzaram fronteiras internacionais em busca de proteção.

PAPEL DO BRASIL NA POLÍTICA DOS REFUGIADOS As questões relacionadas aos refugiados revelam como crises humanitárias exigem não só ações entre os países envolvidos, mas sim ações políticas no âmbito internacional. Além disso, o movimento de refugiados integra duas dimensões que não podem ser desassociadas: humanitária e política. Humanitária, porque se refere a seres humanos que têm suas vidas ou seus direitos mais fundamentais ameaçados ou já violados e, por isso, precisam com urgência de proteção. Política, porque depende de decisões políticas, que se guiam por interesses, tomadas por Estados e instituições internacionais. As organizações internacionais e não governamentais como a ONU, ACNUR, Cruz Vermelha, etc., buscam a cooperação estatal, mas, para obterem êxito, precisam negociar com as autoridades governamentais a partir de condições colocadas por elas, mostrando assim que cada país possui seus interesses e exigências em relação a causa. No cenário interno houveram diversos períodos marcados pelos processos de imigração de pessoas para o território brasileiro. Os imigrantes e refugiados, sobretudo os qualificados, passaram a desempenhar um papel importante na construção da economia nacional, como exemplo o estímulo ao desenvolvimento industrial e 29


também no trabalho realizado na lavoura. Esta, passava pelos processos de modernização e diversificação, o que requeria agricultores com maior conhecimento técnico, resultando em um aumento considerável de imigrantes no mercado de trabalho nacional. (CORREA, 2007; et. Al. Apud Moreira, 2012). Entretanto, ainda no período da Ditadura Militar no Brasil, com uma doutrina fundamentada nas políticas de “segurança nacional”, tendo como objetivo uma suposta proteção do trabalhador nacional, foi criado o Estatuto do Estrangeiro, por volta de 1980. Por consequência disso, os direitos civis, sociais e políticos dos imigrantes e refugiados, principalmente dos irregularizados, foram limitados, impedindo que houvessem políticas públicas para recebê-los (HERNANDES, 2016) Até hoje ainda utilizamos grande parte da constituição de 1980 para reger as leis em relação aos imigrantes e refugiados no território nacional. Diante das restrições da legislação, houveram diversos movimentos que buscaram revisões na mesma, com o intuito de adequar as novas questões sociais ligadas ao cisma, garantindo direitos como educação, saúde, trabalho digno, representação e participação política e visto humanitário. Após um novo período de imigração no território nacional movido pela ascensão de sua economia, o Brasil se mostrou a frente na política em relação aos refugiados, sendo que em julho de 1997 ocorreu a aprovação da Lei 9.474, que incorpora os princípios gerais das convenções e protocolos internacionais mais modernos na causa. Nesse sentido, houve um expressivo avanço conceitual em relação ao

30

FIGURA 1 – Charge sobre o posicionamento dos EUA, União Europeia e Brasil sobre os refugiados.

Fonte: Carlos Latuff, Opera Mundi, 2015.


tratamento dado anteriormente, que passou a entender o refugiado como todo aquele que, devido a temores de perseguição por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, recorra à proteção brasileira (VERWEY; et. Al., 2000). Além disso, ainda no mesmo ano, foi criado o CONARE que tem a finalidade de analisar os pedidos de solicitação de refúgio e de declarar o reconhecimento dessa condição, além de julgar o estado dessa. Com isso, atualmente ao chegarem no território nacional, os refugiados são orientados a procurar a Polícia Federal para darem entrada em seu pedido de refúgio, permitindo, através de um protocolo, a retirada de documentos como CPF e carteira de trabalho. Cabe ao Governo Federal promover a proteção legal dessas pessoas, processar os pedidos de refúgio e documentá-los, enquanto o Estado e o Município têm como responsabilidade garantir educação, saúde, assistência social, habitação e geração de renda (MOREIRA, 2012). Essas diretrizes fez com que fossemos considerados pela ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) como um país pioneiro na proteção internacional dos refugiados, sendo o primeiro país do Cone Sul a ratificar a convenção, garantindo aos refugiados os mesmos direitos que qualquer outro estrangeiro no país. A nossa política de portas abertas é considerada uma importante mensagem humanitária e de direitos humanos. A política de portas abertas do Brasil não deve apenas continuar, mas ainda incluir aperfeiçoamentos na nossa capacidade de promover uma verdadeira integração, respeitar os direitos dos refugiados e

31


oferecer apoio específico aos mais vulneráveis. A avaliação do ACNUR sobre programas de reassentamento de refugiados no país, a maioria vinda da própria América Latina, indica que ainda há espaço para melhorias, mas também que 85% dos refugiados que se restabeleceram aqui, no âmbito desses programas, permanecem no país, a maior proporção entre todos os países do Cone Sul. (CANINEU, 2016) Por mais que a constituição já assegure os direitos básicos aos refugiados no Brasil, é necessário ainda a implantação de políticas públicas que discutam o tema, uma vez que se trata de direitos humanos e que cada caso necessita de políticas específicas. Além disso, é necessário a conscientização da população local em relação a situação desses grupos, tendo em vista que ainda é muito difícil a inserção na sociedade local, devido a falta de oportunidades e aos ataques xenofóbicos vindos dos brasileiros, um aspecto curioso, uma vez que o brasileiro é conhecido por sua hospitalidade em relação aos estrangeiros. É possível perceber que essa cordialidade está diretamente ligada a um estrangeiro que possui um perfil econômico e social muito diferente de uma pessoa que busca refugio em outro pais, o que nos faz pensar sobre a diferenciação entre o refugiado e o estrangeiro e como a população lida com esses dois perfis. “O preconceito de brasileiros contra refugiados tem mais a ver com o fato de essas pessoas virem de países pobres do que por estarem fugindo de conflitos. [...] Ninguém diz que eles [imigrantes vindos de países desenvolvidos] estão vindo para cá roubar nossos empregos, porque os europeus e os norteamericanos têm imagem atrelada a desenvolvimento, cultura e acredita-se que eles vão contribuir para o crescimento do país. Aos refugiados resta a imagem de pobreza e doença. 32


Os refugiados não chegam a 15 mil pessoas contra 300 mil europeus. Por que os europeus não incomodam?” (MARCELO HAYDU, 2015 apud HERNANDES, 2016)

Desde que o fluxo migratório dos venezuelanos se direcionou ao Brasil, essa população se deparou com um descaso do Governo e por grande parte dos brasileiros, que frequentemente atacam os abrigos, insultam a população refugiada e até mesmo ameaçam o fechamento da fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Essa situação não foi muito diferente quando os haitianos e sírios buscaram refúgio no Brasil em 2010 e 2011 respectivamente.

CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA A crise econômica, política e social da Venezuela começou a ser um problema do Brasil a partir de 2016, quando o fluxo migratório para o território brasileiro explodiu, e ao menos 57 mil venezuelanos entraram por via terrestre em Roraima, no norte do Brasil, segundo contagem da Polícia Federal. Após o atual presidente, Nicolás Maduro, tentar adotar em seu governo a mesma política do ex-presidente Hugo Chávez, um nome populista que tinha seu governo voltado as populações mais pobres, a Venezuela passou a enfrentar uma das maiores crises econômicas do país. Isso ocorreu porque as condições que o atual presidente encontrou, eram bem diferentes das de quando Chávez assumiu: o

33


preço do barril de petróleo, responsável por 96% da economia da Venezuela, caiu drasticamente e somado a medidas de controle estatal próprias do chavismo, modelo de socialismo inspirado pelo bolivarianismo, se mostraram insustentáveis dentro de um contexto de crise política e econômica, como as políticas de controle de inflação adotada por Chávez, havendo um desinteresse por parte da iniciativa privada em investimentos dentro do país, agravando ainda mais a crise econômica. (VASCONCELOS, 2018) Á partir de então, a população da Venezuela se deparou com um aumento de mais de 800% dos impostos e passou a conviver com a deterioração dos serviços públicos e a escassez de comida e medicamentos, juntamente com a violência verbal e física de grupos ligados ao governo e oposições políticas (Carta Capital, 2017). Com isso, em busca de ajuda e novas oportunidades, diversos venezuelanos buscaram refúgio nos países vizinhos, mais intensamente na Colômbia e no Brasil. Segundo a Polícia Federal, por dia, mais de 800 venezuelanos cruzam a fronteira entre o Brasil e a Venezuela, sendo a maioria deles através da cidade de Pacaraima no estado de Roraima, rumo à Boa vista, capital do estado. Esse fluxo trouxe grandes problemas para a cidade de Boa Vista, que em menos de 1 ano viu sua população crescer mais de 10%. Sem condições de comportar tal fluxo migratório, Boa Vista não tem conseguido dar tratamento digno aos vizinhos sul-americanos. Com dificuldades para obter um emprego, os venezuelanos passaram a morar em praças públicas sem acesso a banheiros nem água potável,

34

FIGURA 2 – Índia venezuelana da etnia Warao aguarda com seus filhos o fechamento da rodoviária para passar mais uma noite em Boa Vista, Roraima

Fonte: Folha de São Paulo, 2016.


FIGURA 3 – A venezuelana Elizabeth Parra, 22, (estudante de biologia) tenta arrumar dinheiro vendendo chapéus de palha nas ruas de Boa Vista, onde vive com o marido (também venezuelano) há 2 meses.

Fonte: Folha de São Paulo, 2016.

lotar semáforos pedindo esmola ou vendendo alimentos e tomar calçadas com barracas ou comércios improvisados - todas situações até então raras no município. Uma minoria também começou a se prostituir ou praticar crimes, trazendo degradação e insegurança em alguns bairros da cidade. (Carta Capital, 2017). Além das questões econômicas, a cidade ainda presencia um surto de doenças importadas por alguns imigrantes que, devido à falta de um sistema de saúde básico na Venezuela, não recebem as vacinas necessárias para controlar a contaminação de mais pessoas. Todo esse contexto que a cidade de Boa Vista está passando com a imigração venezuelana faz com que a população da cidade passe a ver os imigrantes como marginais, culpando-os pela instabilidade na economia, segurança e saúde da cidade. Entretanto, a grande maioria dessa população está em busca de um lugar que respeite seus direitos morais e civis e que garanta os princípios básicos como moradia, educação e saúde. Além disso, com exceção da população indígena, grande parte dos imigrantes possuem alto nível de escolaridade, sendo parte deles com nível superior completo. (ONU, 2017) O levantamento feito pela ONU mostra que 72% dos venezuelanos não indígenas são jovens entre 20 e 39 anos, a maioria do sexo masculino (63%) e solteiros (54%). Praticamente um em cada três (32%) tem curso superior completo ou pós-graduação, enquanto três em cada quatro (78%) chegaram ao país com nível médio completo. Entre os não indígenas, 82% já apresentaram pedido de refúgio. Nesse caso,

35


cerca de 1/3 deles tem o protocolo de refúgio, 23% possuem carteira de trabalho, 29% têm CPF e 4% não possuem nenhum documento. Essa relação de atrito entre a comunidade receptora e os imigrantes faz com que a ideia de inserção e troca de valores culturais acabe ficando cada vez mais distante e dificulte a inclusão do grupo na sociedade local e no mercado de trabalho, consequentemente, tornando-os cada vez mais dependentes da ajuda do governo e órgãos sociais ligados à causa. Refugiados bem integrados podem representar uma grande vantagem ao país. Uma injeção de sangue novo pode ajudar a recuperar uma economia em recessão. Como declarou Ken Roth, diretor executivo da Human Rights Watch, sobre os sírios na Europa, “a vinda de pessoas que possuem a comprovada perseverança e inteligência para escapar da guerra e da repressão em seu país e atravessar todos os riscos letais inerentes à travessia até a Europa pode oferecer o ânimo e a energia de que o continente precisa”. O mesmo vale para o Brasil. (CANINEU, 2016) A proposta de um espaço de apoio e acolhida aos imigrantes reforça a necessidade de que medidas sejam tomadas para oferecer esses princípios básicos de uma sociedade, e que juntamente com os órgãos responsáveis pela situação como a ONU, Cruz Vermelha, ACNUR, e o Governo, seja possível promover um meio apropriado para assegurar esses direitos até que as condições de seu país de origem se restabeleçam ou que a possibilidade de reconstrução de uma nova vida seja assegurada.

36


ANÁLISES E ESCOLHA DO TERRENO



É quase impossível esperar que a arquitetura resolva todos os problemas ligados à crise de refugiados. Como já mencionado, além de uma questão habitacional, também é uma discussão politica e social, sendo necessária a combinação de diversas áreas e autoridades em prol da causa. Entretanto, uma crise de refugiados carrega consigo uma grande perda de habitat e, o fato dessas pessoas não terem perspectiva de onde se abrigarem pode ocasionar um problema urbano muito sério, e é nesse ponto que a arquitetura pode ajudar. O trabalho em questão parte dessa perda de habitat que essa população refugiada sofre e do aumento expressivo do numero de venezuelanos que buscam ajuda em outros países. É importante ressaltar também a instabilidade econômica e social da cidade de Boa Vista - RR, causada pelo aumento populacional decorrente desse processo migratório. Com base nesse contexto, é proposto nesse trabalho a criação de um COMPLEXO DE APOIO E ACOLHIDA PARA OS REFUGIADOS DA VENEZUELA, onde seja possível projetar um ambiente que, além de garantir o direito à moradia e fornecer as necessidades básicas para essa população, promova uma relação com os moradores da cidade de Boa Vista - RR. Esse contato, nessa situação, se torna essencial para que se desconstrua a ideia de marginalização e subdesenvolvimento atrelados à essa população. O projeto pode ser dividido em duas partes, que podem ser analisadas em relação a sua escala e seus objetivos. A primeira parte, que pode ser interpretada como “micro”, tem como objetivo entender as necessidades básicas em relação à moradia dessa população refugiada afim de propor uma UNIDADE HABITACIONAL TEMPORÁRIA, que seja rápida, fácil e de baixo custo para

39


ser construída e que também proporcione conforto aos usuários. A ideia é que essas habitações sejam dispostas na área escolhida para implantação criando especies de pequenas comunidades, onde seja possível criar relações entre os próprios refugiados. Já a segunda parte, o “macro”, tenta entender as relações entre essas pequenas comunidades e propõe uma grande implantação, que possibilite locar espaços em comum entre os refugiados e a população local. Esse espaço tem como objetivo criar e distribuir atividades para evitar o ócio dentro da comunidade, prevendo áreas destinadas à educação, ao lazer e ambientes de relações entre a comunidade receptora e os refugiados, como feiras, eventos, etc. O objetivo é que esse espaço seja utilizado apenas enquanto essa população necessitar, fazendo com que todo o ambiente tenha caráter efêmero e que este deixe de existir quando não for mais necessário. Todas essas questões são importantes na escolha dos materiais utilizados e o nível de conforto que essas habitações e esses espaços transmitirão aos usuários.

40




RESPOSTAS ARQUITETÔNICAS A arquitetura emergencial deve ser pensada de modo a agir, proteger e buscar um equilíbrio entre o mais cômodo possível e a procura pela solução do habitar permanente e, além disso, é necessário uma adaptação a diversos locais, situações e ser flexível o suficiente para receber outras estruturas (SOUSA, 2015 apud Tamura). Atender a essas questões se torna um desafio pois, se tratando de abrigos emergenciais, é preciso levar em consideração que seus usuários se encontram em um período de transição, onde tudo é incerto e que sua temporada no país receptor pode durar de meses a anos. O aumento do número de refugiados nas ultimas décadas, fez com que alguns grupos de arquitetos e profissionais da área começassem a discutir sobre o assunto e propor soluções que garantissem conforto aos usuários nesse período de transição. O avanço da tecnologia foi um grande impulso nos projetos de caráter efêmero, uma vez que foi possível a produção de peças mais esbeltas e leves, com sistemas de encaixes mais elaborados, facilitando o transporte e montagem dessas habitações. A seguir, serão apresentadas e analisadas algumas soluções de abrigos emergenciais utilizados em assentamentos para refugiados no mundo todo. O intuito dessa análise é coletar informações e soluções técnicas, para que juntamente com os objetivos desse trabalho, somem diretrizes para a elaboração do projeto em questão.

43


COTTAGES SÃO FRANCISCO “Cottages” implantadas no campo de refugiados no parque Presídio de São Francisco, EUA. LOCALIZAÇÃO: São Francisco - EUA. PROJETO: US Army Corps of Engineers. DESPESA: Habitação alugada (2,00 USD mensais) NÚMERO DE HABITAÇÕES: 862 - todas no Parque Presídio. CUSTO POR MÓDULO: O custo depende da área de implantação € 2.025,00 - € 15.010,00. M²: 13m² / HABIT.: pessoa

1

MATERIAIS UTILIZADOS:

CONFIGURAÇÃO ARQUITETÔNICA:

A madeira serrada é o principal material utilizado na habitação. Essa estrutura é ligada à partir de peças de aço, que dão acabamento e reforçam os encontros entre as madeiras.

Os módulos foram organizados em grupos lineares onde as entradas de cada habitação se da a partir dos espaços de interação definidos entre elas. Os módulos variam à partir do número de usuários, com áreas de 13m², 21,6m² e 37m².

FLEXIBILIDADE ESTRUTURAL E CONSTRUTIVA: A habitação se estrutura à partir de uma armação principal de madeira, que recebe paredes de suporte compostas com peças de madeira que travam o modelo. Toda a estrutura é apoiada em uma espécie de deck de madeira, implantado no perímetro da estrutura, atuando de forma conjunta com a estrutura, também em madeira, da cobertura formando um elemento portante, travando toda a estrutura. MONTAGEM: Não existem dados relacionados ao tempo de montagem da habitação. Em todos as habitações foi necessário mão de obra especializada, com conhecimento do processo construtivo e das ferramentas utilizadas para a construção. O processo construtivo começa com a estabilização de uma grelha que receberá as ripas de madeira, formando uma plataforma base (a e b). Em seguida é erguida a estrutura principal da habitação em madeira (d), onde será apoiada a estrutura principal da cobertura (e). Após essas etapas, são colocados os elementos de vedação das paredes e cobertura (f,g,h e i).

TOPOGRAFIA: Para a implantação das unidades é necessário uma terraplanagem do solo, uma vez que a estrutura não suporta declives no terreno. TRANSPORTE: A unidade pode ser transportada tanto montada quanto desmontada.

Fonte: Todas as informações dessa pagina, incluindo as imagens, foram retiradas do artigo El Ciclo de la Vida e la Sostentabilidad en la Arquitectura de emergência - José Rubén Ventura, 2016. 44


FIGURA 4 e 5 – Habitações Cottages São Francisco

CONSIDERAÇÕES DO AUTOR: positivas

NEGATIVAS

MATERIAIS UTILIZADOS: • materiais encontrados na região; • custo relativamente baixo; • material reutilizável. FLEXIBILIDADE ESTRUTURAL E CONSTRUTIVA: • sistema conhecido e • exige mão de obra utilizado na região. especializada; • ainda que pouco, existe desperdício de materiais. MONTAGEM: • muitos processos; • necessita ferramentas especiais. CONFIGURAÇÃO ARQUITETÔNICA: • permite agrupa- • permite pouco contato mentos de módulos, com outras unidades; criando unidades • corredores extensos maiores. para caminhar. TOPOGRAFIA: • não adaptável em diferentes terrenos. CUSTO DA OBRA: • alto custo dependendo da região implantada, devido a técnica. Fonte: El Ciclo de la Vida e la Sostentabilidad en la Arquitectura de emergência - José Rubén Ventura, 2016. 45


BETTER SHELTER Habitação em resposta aos desastres naturais e conflitos armados. LOCALIZAÇÃO: Dollo Ado, Etiópia. PROJETO: Fundação IKEA / ACNUR. NÚMERO ÇÕES: 30

DE

HABITA-

FINANCIAMENTO: Fundação IKEA. CUSTO POR MÓDULO: € 958,00 M²: 17,5m² / HABIT.: 4 pessoas

46

MATERIAIS UTILIZADOS:

CONFIGURAÇÃO ARQUITETÔNICA:

A estrutura principal das Better Shelters é composta por perfis de aço galvanizado, sendo as vedações feitas em painéis de polímero, denominadas RHULITE.

O agrupamento das Better Shelters são organizados de forma regular, muito semelhante aos agrupamentos militares de habitações temporárias. Segundo Ventura (2016) esse formato faz com que os módulos não interajam entre si.

FLEXIBILIDADE ESTRUTURAL E CONSTRUTIVA: A habitação temporária é um sistema pré-fabricado com montagem muito rápida, onde uma armadura de aço galvanizado faz o travamento da estrutura à partir de encaixes também em aço no formato de cruz. As placas externas de vedação, em material polimérico, são instaladas e grampeadas juntas, para formar chapas que proporcionam maior estabilidade ao protótipo. Por ser pré-fabricado modular, vale ressaltar que é possível a junção de módulos no eixo longitudinal do módulo. MONTAGEM: A montagem das Better Shelters pode ser feita por 4 pessoas - não necessita mão de obra qualificada - em aproximadamente 6 horas. A montagem começa com a nivelação do terreno onde ela será implantada. Em seguida, ergue-se as varetas de aço galvanizado (b) que irá transmitir o peso da estrutura da cobertura, composta pelo mesmo material (c). Para estabilizar a estrutura são instaladas diagonais com o mesmo perfil entre os montantes (d). O seguinte passo consiste na instalação dos painéis polimétricos (e e f), para finalmente instalar uma lona na cobertura (g).

TOPOGRAFIA: As habitações Better Sheltes necessitam de superfícies planas para sua implantação, pois não contam com elementos que regulem as diferenças de níveis. TRANSPORTE: A unidade é transportada com suas partes desmontadas para serem montadas no local, facilitando sua locomoção.

Fonte: Todas as informações dessa pagina, incluindo as imagens, foram retiradas do site http://bettershelter.org/order/ e do artigo El Ciclo de la Vida e la Sostentabilidad en la Arquitectura de emergência - José Rubén Ventura, 2016.


FIGURA 6 e 7 – Habitações Better Shelters

CONSIDERAÇÕES DO AUTOR: positivas

NEGATIVAS

MATERIAIS UTILIZADOS: • materiais pré-fabri- • materiais com pouco cados; conforto térmico, • baixo custo; dependendo da região. • materiais flexíveis para transporte. FLEXIBILIDADE ESTRUTURAL E CONSTRUTIVA: • sistema de encaixes facilita o processo e reduz desperdício de materiais. MONTAGEM: • montagem rápida com poucas pessoas; • materiais leves para carregar. CONFIGURAÇÃO ARQUITETÔNICA: • permite agrupa- • implantação isolada das mentos de módulos, outras unidades; criando unidades maiores. TOPOGRAFIA:

CUSTO DA OBRA:

• não adaptável em diferentes terrenos.

• baixo custo Fonte: El Ciclo de la Vida e la Sostentabilidad en la Arquitectura de emergência - José Rubén Ventura, 2016. 47


SANDBAG SHELTERS Campo de refugiados “Baninajar” em resposta a Guerra do Golfo Pérsico. LOCALIZAÇÃO: tan, Irã

Khuzes-

PROJETO: Nader Khalili / Cal-Earth Institute. NÚMERO ÇÕES: 14

DE

HABITA-

FINANCIAMENTO: ACNUR / PNUD CUSTO POR MÓDULO: € 656,51. M²: 22m² / HABIT.: não indicado

MATERIAIS UTILIZADOS:

CONFIGURAÇÃO ARQUITETÔNICA:

As Sandbag Shelters são habitações feitas com superadobe, desta forma, seu material principal é a terra extraída do lugar de implantação.

Em Baninajar, as Sandbag Shelters são organizadas de maneira dispersa, porém dentro de uma logica que deixa as entradas das habitações independentes, resultando na interação entre os usuários. A habitação se torna um espaço único, com diversas aberturas que asseguram uma correta ventilação cruzada.

FLEXIBILIDADE ESTRUTURAL E CONSTRUTIVA: A estrutura do protótipo deve sua estabilidade pelo grande peso que possui. Os elementos chamados de superadobe, são compostos por sacos de polipropilenos com terra empilhados, que se engastam através de fileiras de arame farpado, assegurando a estabilidade da estrutura. Afim de isolar a estrutura do solo, é utilizado uma manta butílica antes da primeira fileira de sacos. Por fim, é feito um acabamento externo com reboque de hidráulica para assegurar a impermeabilização e agentes externos. MONTAGEM: Cada habitação temporária Sandbag pode ser montada em 5 horas por um grupo de 5 pessoas, previamente qualificadas ou orientadas por pessoas especializadas, para otimizar sua construção. O processo construtivo começa com a escavação do terreno, a nivelação e instalação de uma manta butílica, evitando o contato do material com o solo (a). Em seguida, vai se empilhando os sacos de terra, espaços de ventilação e circulação com moldes de madeira (b,c,d,e e f). Por fim, a estrutura é coberta com um reboco com cal hidráulica, evitando possíveis infiltrações (g).

Fonte: El Ciclo de la Vida e la Sostentabilidad en la Arquitectura de emergência - José Rubén Ventura, 2016. TOPOGRAFIA: É necessário a nivelação da área de implantação da habitação.

Fonte: Todas as informações dessa pagina, incluindo as imagens, foram retiradas do artigo El Ciclo de la Vida e la Sostentabilidad en la Arquitectura de emergência - José Rubén Ventura, 2016. 48


FIGURA 8 e 9 – Habitações Sandbag Shelters

CONSIDERAÇÕES DO AUTOR: positivas

NEGATIVAS

MATERIAIS UTILIZADOS: • materiais extraídos • material pesado. do local; • baixo custo; • material reutilizável. • material com bom isolamento acústico e térmico FLEXIBILIDADE ESTRUTURAL E CONSTRUTIVA: • material pesado e resistente; • existe cuidado com impermeabilização e conforto térmico.

MONTAGEM: • montagem rápida com poucas pessoas; • Não necessita de mão de obra especializada.

Fonte: http://www.earthbagbuilding.com/projects/sandbagshelters.htm

• necessita uma área grande e próxima para extração do material, uma vez que é difícil carregá-lo. • sistema “artesanal”, necessita de um “canteiro de obras”. • materiais pesados para carregar.

CONFIGURAÇÃO ARQUITETÔNICA: • espaços de interação • forma rígida com entre as habitações pouca flexibilidade na área e no uso. TOPOGRAFIA: • necessita nivelamento do terreno. CUSTO DA OBRA: • baixo custo

49


PAPER LOG HOUSE Campo de refugiados vietnamitas do Parque Miname Komae em resposta ao terremoto de 17 de Janeiro de 1995. LOCALIZAÇÃO: Kobe, Japão.

DE

HABITA-

FINANCIAMENTO: ções locais.

Doa-

CUSTO POR MÓDULO: € 2.631, M²: 16m² / HABIT.: pessoas

50

CONFIGURAÇÃO ARQUITETÔNICA:

A Paper Log House apresenta como material predominante os tubos de papelão e a terra extraída do local de intervenção.

A Paper Log House apresenta uma configuração em que os acessos das habitações se voltam para o centro das unidades, criando espécies de pátios comuns.

FLEXIBILIDADE ESTRUTURAL E CONSTRUTIVA: A planta simétrica da habitação faz com que suas cargas sejam igualmente distribuídas pelas paredes feitas à partir dos tubos de papelão. Esses muros se conectam à fundação por meio de cruzetas de madeira ancoradas a um sanduíche do mesmo material e pinos de metal. MONTAGEM:

PROJETO: Shigueru Ban NÚMERO ÇÕES: 58

MATERIAIS UTILIZADOS:

3

Cada habitação temporária Paper Log House pode ser construída por 8 pessoas, em torno de 6 a 7 horas de trabalho. O processo construtivo de cada LPH foi guiada por uma pessoa designada por Shigueru Ban que foi responsável pelas orientações construtivas. Sendo assim: A cimentação era constituida com caixas de cerveja e se estabilizavam à partir do peso das bolsas de areia (a e b), em seguida, acrescentou-se um sandwich de madeira compensada para formar a base da habitação (c). O próximo passo consiste no encaixe das paredes de tubo, que são fixos com uma espécie de cruzeta de aço (d, e, f e g). Em seguida, são instaladas as portas, janelas e cobertura de lona (h,i e j). O processo se finaliza com estruturas tensionadas externas que asseguram a resistência da estrutura.

TOPOGRAFIA: É necessário a nivelação da área de implantação da habitação.

Fonte: Todas as informações dessa pagina, incluindo as imagens, foram retiradas do site http://myweb.wit.edu/kiml1/ 590fall05/web-content/chris.pdf e do artigo El Ciclo de la Vida e la Sostentabilidad en la Arquitectura de emergência - José Rubén Ventura, 2016.


FIGURA 10 e 11 – Habitações Paper Log House

CONSIDERAÇÕES DO AUTOR: positivas

NEGATIVAS

MATERIAIS UTILIZADOS: • material da cobertura • material reciclado; com pouco tratamento • baixo custo; térmico. • leve para transportar.

FLEXIBILIDADE ESTRUTURAL E CONSTRUTIVA: • sistema de encaixes facilita a montagem.

• muitos processos para montagem.

MONTAGEM: • não necessita mão de obra especializada; • materiais leves. CONFIGURAÇÃO ARQUITETÔNICA: • acessos das habitações criam espaços de interação entre os usuários. TOPOGRAFIA: • necessita nivelamento do terreno. CUSTO DA OBRA: • custo médio

Fonte: El Ciclo de la Vida e la Sostentabilidad en la Arquitectura de emergência - José Rubén Ventura, 2016. 51


VIVIENDA ELEM. TECNOPANEL Campo provisório em resposta ao terremoto de 27 de Fevereiro de 2010. LOCALIZAÇÃO: Calle Bulness 669 Constitución, Chile. PROJETO: Elemental Chile S.A. NÚMERO ÇÕES: 9

DE

HABITA-

FINANCIAMENTO: co.

Arau-

CUSTO POR MÓDULO: € 1.830,14 M²: 30m² / HABIT.: pessoas

4

MATERIAIS UTILIZADOS:

CONFIGURAÇÃO ARQUITETÔNICA:

A Vivenda Elemental Tecnopanel é composta basicamente por painéis SIP, que nada mais é que um painel sandwich de placas OSB e EPS.

As habitações se organizam em torno de um espaço central, na qual é utilizado como elemento de distribuição de ajuda e interação para os usuários.

FLEXIBILIDADE ESTRUTURAL E CONSTRUTIVA: A abordagem estrutural reparte homogeneamente as cargas nas paredes no perímetro da habitação feitas com placas de SIP (Structural Insulated Panels). A estrutura se complementa com um pilar de madeira no centro da habitação. MONTAGEM: Cada habitação temporária pode ser construída por 3 operários em uma jornada de 8 horas. O processo construtivo de cada VET começa com a instalação de estacas de madeira no solo (a). Então, um diafragma unificou essas estacas e estabeleceu a estrutura que se formaria, junto com painéis de compensada a plataforma base (b e c). Em seguida, assenta-se as paredes no perímetro da habitação, que se fixam com parafusos nas guias previamente instaladas na plataforma base (d, e, f e g). É instalado então, um pilar ao centro da unidade, juntamente com uma viga (h), onde recebe a cobertura formada por painéis SIP, uma camada de borracha e uma placa de zinco (i e j). Por fim, instala-se as portas e janelas.

TOPOGRAFIA: Apesar de algumas regiões do Chile apresentar grandes declividades, a área do Campo Calle Bulnes possui pouco desnível, sendo possível vencê-los com as alturas das estacas da fundação.

Fonte: Todas as informações dessa pagina, incluindo as imagens, foram retiradas do site https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-39644/casa-elemental-tecnopanel-una-alternativa-eficiente-a-la-vivienda-de-emergenciaf e do artigo El Ciclo de la Vida e la Sostentabilidad en la Arquitectura de emergência - José Rubén Ventura, 2016. 52


FIGURA 12 e 13 – Habitações Elemental Tecnopanel

CONSIDERAÇÕES DO AUTOR: positivas

NEGATIVAS

MATERIAIS UTILIZADOS: • material reutilizável; • preocupação com o conforto térmico e acústico. FLEXIBILIDADE ESTRUTURAL E CONSTRUTIVA: • poucos processos de montagem; • utilização de poucas ferramentas. MONTAGEM: • não necessita mão de obra especializada;

• placas SIP com grandes dimensões, dificulta o transporte.

CONFIGURAÇÃO ARQUITETÔNICA: • cria áreas de interação em pequenas comunidades, reforçando a ideia de vizinhança.

• não permite junção de módulos.

TOPOGRAFIA: • é possível ajustar conforme o desnível do terremo. CUSTO DA OBRA: • custo médio Fonte: El Ciclo de la Vida e la Sostentabilidad en la Arquitectura de emergência - José Rubén Ventura, 2016. 53


Os correlatos apresentados foram escolhidos para demonstrar algumas das possibilidades de técnicas, materiais e agrupamentos possíveis ao implantar uma habitação emergencial. Em todos projetos percebeu-se a preocupação de uma análise do local onde essas habitações seriam implantadas, uma vez que para um abrigo proteger um indivíduo, ele precisa ser construído de maneira apropriada ao contexto do local de implantação, como clima, topografia, aspectos culturais e econômicos, em relação a materiais e processos de construção (ANDERS, 2002). Anders também aponta que essas construções não podem ser vistas como uma “doação”, pois isto pode aumentar o perigo da dependência externa por auxílio e ajuda, enquanto o desenvolvimento da confiança local, crescimento econômico e demais atividades são dificultadas. Desta forma, é importante que os módulos sejam construídos in loco e, com ajuda dos futuros habitantes no processo de montagem. Assim, sistemas de encaixe devem ser pensados para a estrutura e fechamentos, afim de evitar o uso de ferramentas especializadas na construção, além da utilização de materiais leves, com peso e dimensões reduzidas. A utilização de materiais industrializados e modulares também é uma maneira eficaz no processo construtivo dessas habitações, possibilitando a produção em grande escala, facilitando a montagem das unidades e reduzindo os custos das habitações. Os abrigos emergenciais também precisam atender os diversos tipos de agrupamentos familiares, sendo necessário uma habitação modular que possa ser agrupada ou um espaço que possua capacidade

54


de abrigar esses diferentes grupos. Além das questões construtivas, o restabelecimento da dignidade de uma pessoa em uma situação de emergência envolve a construção de um espaço que ela possa desfrutar de privacidade e segurança. Isso exige que a permeabilidade do abrigo seja controlada pelo próprio usuário (ANDERS, 2002). Com base nessa análise, a criação de pequenas comunidades é importante para esse controle, evitando a circulação de pessoas estranhas entre esses espaços. Jane Jacobs defende em seu livro Morte e Vida das Grandes Cidades (1961) a importância da formação de vizinhanças em comunidades urbanas. Essas relações são essenciais para a criação de vínculos entre as pessoas e para garantir uma maior participação nas atividades comunitárias. Além disso, Jacobs enfatiza a ideia dos “olhos da rua”, onde um sistema de vizinhança pode ser essencial no auxílio da segurança no espaço. É importante ressaltar que a proposta não inclui uma habitação permanente, fazendo com que a habitação proposta nesse trabalho tenha caráter exclusivamente temporário, possuindo durabilidade intrínseca em sua forma e nos materiais utilizados, que a torne não atrativa para outro tipo de uso que não seja o de auxílio em emergências. Além disso, é importante que esses materiais e técnicas construtivas tenham pouco impacto ambiental, sendo possível a retirada dessas habitações sem danificar o terreno e sem produzir resíduos de materiais.

55


ANÁLISE DO LOCAL A principal porta de entrada dos imigrantes refugiados da Venezuela está localizada na cidade de Pacaraima, no Norte do estado de Roraima. Entre 2016 e 2017, a cidade, que contava com 12 mil habitantes, sofreu um acréscimo desse número com a chegada dessa população. Por ser uma cidade de pequeno porte e com poucos recursos para receber essa imigração, o fluxo se direcionou para Boa Vista, capital do estado, cerca de 200 km de Pacaraima, trajeto muitas vezes percorrido a pé pelos venezuelanos. FIGURA 14 – Caminho entre Venezuela - Pacaraima Boa Vista percorrido pelos Venezuelanos

Fonte: O autor 56


FIGURA 15 – Centro Cívico e histórico da cidade de Boa Vista - RR. Na imagem é possível ver os eixos em forma radial.

Atualmente, a cidade de Boa Vista-RR é a cidade que mais recebe refugiados no Brasil, quase 60 mil, segundo a Polícia Federal. Por mais que Boa Vista-RR seja a maior cidade do estado de Roraima, possui poucos recursos para recebê-los, abrigá-los e fornecer assistência básica, como higiene e saúde. Por esses motivos e por abrigar o maior numero de refugiados da Venezuela, Boa Vista-RR foi escolhida para a implantação da proposta desse trabalho. Localizada à margem do Rio Branco, um dos principais rios do Brasil, a região de Boa Vista-RR possui diversas nascentes em seu entorno, característica importante para sua economia, já que um dos produtos exportados pela região é a água mineral. A região ainda possui uma grande área vegetativa, que além de extensa é diversificada, qualidade marcante das regiões amazônicas. Capital do estado de Roraima, Boa Vista possui uma população de aproximadamente 320 mil pessoas, sendo o maior e mais populoso município de Roraima, dois terços da população total do estado. A proporção territorial de Boa Vista-RR ocupa cerca de 3% do território do estado, sendo 25% do restante destinado a áreas de reservas indígenas, destinadas as tribos: Iecuanas, Uaiuais, Uapixanas, Taurepangues, Patamona, Macuxi e Ianomâmi, sendo as duas ultimas a maior população indígena da região. (IBGE, 2017) A cidade se destaca pelo seu traçado urbano, organizado de forma radial planejado no período entre 1944 e 1946 pelo engenheiro civil Darcy Aleixo Derenusson. Assim como diversas cidades brasileiras,

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/ c9/Centro_c%C3%ADvico_de_Boa_Vista.jpg

Boa Vista teve grande influência europeia em seu traçado, sendo este

57


FIGURA 16– Mapa da cidade de Boa Vista - RR. No mapa, destacado os eixos rodoviários de acesso a cidade e o cruzamento deles. Além do centro da cidade

VEGETAÇÃO NATIVA RIOS, NASCENTES E DUNAS RODOVIAS DE ACESSO À BOA VISTA CENTRO DA CIDADE EM FORMATO RADIAL Fonte: Prefeitura Municipal de Boa Vista, modificado pelo autor

Escala: 1:80000


inspirado nas ruas e avenidas de Paris, assim como Belo Horizonte, primeira cidade projetada do Brasil. O relevo da cidade é praticamente plano, o que permitiu essa implantação. Os acessos para a cidade acontecem em três eixos principais, que se encontram na praça Simon Bolívar, localizado ao lado da rodoviária municipal (FIGURA 16). Esses acessos fazem ligação com a Venezuela (acesso Norte - principal rodovia que liga Boa Vista - Pacaraima), Guiana (acesso Leste) e Manaus (Acesso Sul), capital brasileira mais próxima de Boa Vista. Boa Vista foi planejada para que as principais avenidas do centro da cidade convergecem para a Praça do Centro Cívico Joaquim Nabuco, onde se concentram as sedes dos poderes executivo, legislativo e judiciário estaduais, além de edifícios culturais (teatros e museus), hotéis, bancos, agências de correio e a catedral diocesana. Além disso, a cidade possui um eixo central ligando o Centro Cívico ao Aeroporto (FIGURA 17), que abriga atividades de lazer e de serviços, como quadras de esporte, posto de saúde, clubes e praças, muito utilizada pela população aos finais de semana e durante eventos. Com relação a sua economia, o estado de Roraima representa cerca de 0,15% do PIB nacional, e está concentrada no setor de comércio e de serviços, sendo estes responsáveis por 50% da economia local. Boa Vista guarda traços de cidades pequenas onde quase todos os comércios da cidade se localizam na região central e possuem diversos usos e serviços, trazendo grande fluxo de pessoas em diversos períodos do dia.

59


FIGURA 17 – Mapa do Centro de Boa Vista - RR. No mapa, destacado os pontos principais e o eixo central da cidade

PRAÇA CENTRO CÍVICO JOAQUIM NABUCO EDIFÍCIOS POLÍTICOS E CULTURAIS EIXO DE LAZER E SERVIÇO Fonte: Prefeitura Municipal de Boa Vista, modificado pelo autor

Escala: 1:20000


DADOS CLIMATOLÓGICOS TEMPERATURA MÁXIMA MÉDIA (ºC) Boa Vista - RR / Londrina - PR / São Paulo - SP

33,3

28

25,7

TEMPERATURA MÁXIMA RECORDE (ºC) Boa Vista - RR / Londrina - PR / São Paulo - SP

42

39,3

37,8

TEMPERATURA MÍNIMA MÉDIA (ºC) Boa Vista - RR / Londrina - PR / São Paulo - SP

23,9

16,5

16,2

TEMPERATURA MÍNIMA RECORDE (ºC) Boa Vista - RR / Londrina - PR / São Paulo - SP

17,6

-2,8

0,8

PRECIPITAÇÃO ANUAL (mm) Boa Vista - RR / Londrina - PR / São Paulo - SP

1711

1583

1616

UMIDADE RELATIVA COMP. (%) Boa Vista - RR / Londrina - PR / São Paulo - SP

79,8

73,4

74,3

Fonte: Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) (normal climatológica de 1981-2010; recordes de temperatura a partir de 21/08/1961).

Por ser a única capital do Brasil localizada acima da Linha do Equador, Boa Vista-RR possui quase que 90º de inclinação dos raios solares, fazendo com que as faces Norte e Sul apresentem pouca incidência solar. Em relação ao clima, a cidade possui um Sol intenso na maior parte do ano, com temperaturas máximas em torno de 33,3º C e mínimas de 23,9º C, sendo uma região predominantemente quente. Ao lado, é possível fazer um comparativo dos dados climatológicos da cidade de Boa Vista com São Paulo - SP e Londrina - PR, afim de analisar esses dados com ambientes conhecidos pelo autor e apontar diretrizes para o projeto. Em relação as cidades comparadas, é possível perceber, como já mencionado, as altas temperaturas na cidade de Boa Vista - RR, superando as cidades de Londrina - PR e São Paulo - SP, até mesmo nas temperaturas mínimas, onde apresenta diferenças de 7ºC a mais que nas outras cidades. Além disso, é importante ressaltar que a temperatura mínima média nas cidades de Londrina - PR e São Paulo SP, é inferior a temperatura mínima recorde já alcançada desde 1961 em Boa Vista - RR, enfatizando o clima quente da região. Todos esses dados mostram a necessidade de estudar estratégias para diminuir o impacto da temperatura nos abrigos, uma vez que temperaturas excessivas causam desconforto térmico aos usuários. Outro aspecto climatológico a ser mencionado, é a umidade relativa compensada, que apresenta porcentagens superiores do que Londrina - PR e São Paulo - SP que, somado as altas temperaturas, causam a sensação de “mormaço” no ambiente. Aberturas que

61


permitam uma ventilação cruzada, efeito chaminé e a utilização de materiais com bom isolamento térmico são algumas estratégias para garantir o conforto dos usuários nessas condições. Ainda sobre o clima da região, é possível perceber que os índices pluviométricos de Boa Vista-RR superam os índices de Londrina-PR e até mesmo de São Paulo-SP, considerada uma cidade com altos índices de chuva. Além de impermeabilizar as fachadas e coberturas, afim de proteger os usuários, esse aspecto abre a possibilidade em aproveitar a água pluvial para utilização dentro dos abrigos, através da captação por reservatórios. Como mencionado anteriormente, além dos aspectos climatológicos, é importante uma leitura dos materiais disponíveis no local de implantação das habitações emergenciais, uma vez que a utilização de materiais locais reduz custos de importação, além dos aspectos culturais do local. Nos últimos anos, Boa Vista-RR recebeu diversos investimentos, tanto governamentais como de iniciativa privada que favoreceram o ramo da construção civil na cidade e em todo o estado. Esse incentivo ocorreu devido Roraima ser um dos maiores produtores de madeira do Brasil, sendo um dos principais materiais utilizados na construção civil no país. A recente atividade madeireira em Roraima se expandiu, a princípio, em face ao mercado venezuelano, grande consumidor de madeira branca, fina e mole, amplamente utilizada na indústria da construção civil daquele país. Isso criou as condições para que fosse instalado um parque madeireiro no distrito industrial de Boa Vista-

62


RR que, embora recente, proporciona emprego para 2.750 pessoas. Ainda segundo o autor, em 2009, a atividade madeireira em Roraima contou com a participação de 37 empresas, 01 polo madeireiro na capital Boa Vista, e um consumo em toras de 188.000 m³, gerando uma receita bruta de US$ 31.500.000 (ABDORAL, 2015). Com base nesse contexto, usou-se a madeira como principal elemento construtivo no projeto em questão, sendo utilizada tanto na estrutura como nos elementos de vedação, cobertura, piso, etc. Entretanto, por mais que o estado seja um grande produtor e consumidor de madeira, viu-se a necessidade de combiná-la com outros tipos de materiais construtivos como o aço, em elementos de encaixes e estrutura, uma vez que o projeto exige uma produção em grande escala de materiais e, ao empregar apenas a madeira no processo construtivo, aumentaria a demanda desse produto e consequentemente seu preço. A utilização do aço, como o aço galvanizado, abre um leque maior de possibilidades de peças mais esbeltas e mais leves, que podem ser enrijecidas criando dobras no material, facilitando sua produção e a montagem in loco. A madeira, na condição de componente da indústria da construção civil, apresenta uma quantidade de características dificilmente encontrada em conjunto em outro material: elevada resistência mecânica; baixa massa específica; boa elasticidade; baixa condutividade térmica e elétrica e baixo custo, quando comparada ao concreto e ao aço, por exemplo. Quando mencionada as propriedades mecânicas, se destacam a resistência à compressão, resistência à

63


tração, resistência ao cisalhamento, estabilidade dimensional e dureza, o que torna a madeira um eficiente material construtivo (ABDORAL, 2015). Entretanto, é necessário atentar-se a algumas desvantagens da madeira, como a alta absorção de água (umidade), o que pode levar ao apodrecimento, necessitando de alguns cuidados em sua utilização, como encaixes que não acumulam umidade em suas extremidades, uma boa ventilação e uma cobertura eficaz. Além disso, por se tratar de um material altamente combustível, seu uso em grande escala se torna uma preocupação, principalmente em habitações emergenciais, uma vez que a grande quantidade do material em uma pequena área possibilita uma rápida propagação do fogo. Tendo isso, deve-se evitar implantar as habitações muito próximas uma das outras e criar vias de acesso para caminhão-pipa, para que em caso de incêndios o acesso seja rápido e fácil. Ao lado, é possível analisar o levantamento, feito nas cinco maiores serralherias de Boa Vista-RR, apresentando as principais espécies de madeira extraídas, onde é possível visualizar seus principais usos, peso específico por m³ e a quantidade disponível no mercado. Essas análises apontarão diretrizes sobre quais espécies poderiam ser utilizadas na fabricação dos abrigos, sem que sobrecarregue a disponibilidade dessas no mercado, que garanta um material mais leve para ser transportado, que possa ser trabalhado de acordo com a necessidade e que não encareça o projeto. Ao comparar as particularidades das madeiras apresentadas, algumas delas se destacam no conjunto dessas características, como a Cedrorana, que além de apresentar boa trabalhabilidade e maior quantidade nas serralherias da região, ainda possui peso e custo inferiores das demais. 64

LEVANTAMENTO TIPOS DE MADEIRAS ANGELIM AMARGOSO • • • •

Peso Específico: 936 kg/m³; Trabalhabilidade: fácil de tornear, furar e pregar; Media quantidade nas serralherias. Custo: $$$

CEDRORANA • • • •

Peso Específico: 900 kg/m³; Trabalhabilidade: fácil de aplainar, serrar, furar e pregar; Grande quantidade nas serralherias. Custo: $$

CUMARU • • • •

Peso Específico: 1080 kg/m³; Trabalhabilidade: difícil trabalhabilidade, difícil furar e pregar. Bom acabamento. Grande quantidade nas serralherias. Custo: $$$$

CUMATÊ • • • •

Peso Específico: 780 kg/m³; Trabalhabilidade: pouca trabalhabilidade e difícil de furar; Pouca quantidade nas serralherias. Custo: $$$

CUPIÚBA • •

Peso Específico: 1130 kg/m³; Trabalhabilidade: fácil de tornear, furar e pregar, colar, serrar, aplainar e parafusar; • Grande quantidade nas serralherias. • Custo: $$ Fonte: Aplicação da madeira serrada na indústria da construção civil, em Boa Vista - RR . ABDORAL N., A. - Universidade Federal de Roraima, 2015.


PROGRAMA Afim de atender essa população e criar um espaço que, além de abriga-los, possibilite criar relações entre os usuários e a população boa-vistense, foi estabelecido um programa de necessidades que atenda esses objetivos. O programa foi baseado nas recomendações das Organizações das Nações Unidas (ONU) sobre assentamentos destinados a refugiados, com base nos campos de refugiados de Zaatari, na Jordânia e Dadaab no Quênia, e tem a intenção de atender pelo menos 1500 pessoas de início, dividindo-se em três principais áreas definidas pelo autor. Antes de apresentar o programa em questão, vale ressaltar que por mais que a proposta tenha caráter exclusivamente temporário, o programa precisa atender essa população pelo tempo que for necessário até que essas pessoas possam retornar ao seu país, uma vez que não é possível prever esse período. Embora se tratem de espaços muito maiores que a proposta apresentada, evidencia-se que os maiores campos de refugiados do mundo foram frutos de deslocamentos em massa de pessoas que perderam tudo o que tinham em seus países em busca sobrevivência, situação pouco diferente do que encontramos hoje em relação aos refugiados da Venezuela, e que alguns permanecem após 70 anos, como o campo de refugiados Dadaab, no Quênia, com cerca de 400 mil pessoas.

65


FIGURA 18 – Campo de refugiados Dadaab no Quênia com cerca de 400 mil refugiados.

Fonte: https://www.folhadonoroeste.com.br/colunas/a-mao-que-bate-e-a-mesma-que-afaga-as-guerras-proxy/

Abaixo é apresentado o programa proposto para esse trabalho:

1. ABRIGOS TEMPORÁRIOS: com o propósito de solucionar o problema de moradia foi pensado em um modulo habitacional que fosse rápido, fácil e barato de se construir. A ideia é que os próprios usuários possam ajudar na construção, possibilitando um processo participativo que reduza o uso de mão de obra assalariada/contratada, além de arquitetar laços entre a comunidade e o espaço. Os módulos serão distribuídos em pequenas comunidades, as habitações contarão 66


com instalações sanitárias, tratamento de esgoto, água e energia. 2. ÁREAS COMUNS: reforçando a ideia de comunidade, foram pensados em ambientes comunitários para atender as necessidades dos usuários, pois, segundo Harrel (1999), após sairmos de uma situação de vulnerabilidade, é comum nos isolarmos do convívio social, dificultando o processo de reintegração social dessas pessoas. Essas áreas serão utilizadas para: • Atividades de lazer: como praças, quadras de esportes e atividades religiosas, além de um espaço reservado para atividades comerciais; • Saúde: áreas para serviços básicos de saúde e de atendimentos psicológicos. Por já existir hospitais na cidade, essa área será útil para um primeiro atendimento; • Educação: por não falarem português, é necessária uma estrutura inicial para auxílio na língua para os interessados. Além disso, ambientes abertos dentro dos espaços serão criados para ensino básico para crianças e jovens. • Área para cultivo: afim de incentivar a participação de toda a comunidade, serão implantadas áreas de cultivo para que além do consumo próprio, ainda seja possível vender esses produtos, revertendo o dinheiro para a 67


comunidade. Esses espaços terão o objetivo de evitar o ócio dentro da comunidade. • Refeitório comunitário 3. ESPAÇOS DE APOIO: esses espaços contarão com áreas de apoio e serviço para a comunidade, como: • Espaços para distribuição: que serão utilizados para distribuição de mantimentos, roupas, água, entre outras necessidades. • Espaço para camping: apesar da proposta ser uma habitação rápida para se construir, é necessário fornecer uma área onde essa comunidade pode ficar em segurança até que as unidades sejam distribuídas, uma vez que atualmente a maioria deles ocupam praças e locais pouco seguros na cidade. • Área administrativa e de controle: tendo como objetivo organizar o funcionamento do complexo, orientar a população e distribuir as unidades habitacionais; • Estacionamento: para chegada e saída de materiais e vagas para usuários e assistentes da comunidade. Esse estacionamento também poderá ser utilizado em caso de eventos dentro do espaço; 68


• Descarte de resíduos: para que os resíduos da comunidade sejam descartados de forma correta, sem danificar o meio ambiente. Deverá estar implantado de forma estratégica em relação aos ventos (mal cheiro) e em relação à coleta (próximo às vias); • Reservatórios de água: será necessária a distribuição de água através de reservatórios, uma vez que por se tratar de uma medida temporária, a distribuição dessa forma facilitaria o processo e reduziria os custos.

ÁREA DE IMPLANTAÇÃO DA PROPOSTA Afim de escolher uma área adequada que responda aos objetivos do projeto e garanta uma boa infraestrutura para a implantação da proposta em questão, foi levado em consideração algumas recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU), sobre implantações de abrigos emergenciais e áreas destinadas a assentamentos para refugiados, juntamente com o artigo “Abrigos Temporários de Caráter Emergencial” de Gustavo Anders e algumas preocupações do autor com relação a proposta e os objetivos do projeto. Considerando que esses espaços possuem poucos recursos para sua implantação, a área escolhida requer alguns critérios que

69


garantem uma estrutura básica para um bom funcionamento das atividades propostas, como: • Área levemente inclinada para evitar gastos com drenagem de água da chuva; • Área com poucas árvores para não servir de abrigo para animais e insetos; • Área longe de polos industriais ou regiões com excesso de barulhos para não incomodar os usuários; • Área segura com relação a desastres naturais (enchentes, deslizamentos, etc.); • Área em que seja possível o acesso a água; • Área com espaço adequado para comportar a quantidade de usuários, as atividades e espaços do programa; • Área próxima aos serviços e comércios da cidade, para que estas sirvam de apoio ao complexo Além da vantagem de se utilizar a infraestrutura da cidade de Boa Vista-RR em prol da proposta, para Kuhlman, ao inserir uma população refugiada em uma nova sociedade, as chances de acontecer uma nova reintegração social nessa população é muito maior. Desta forma, seguindo um dos principais objetivos do projeto, que é tentar promover uma relação entre a população refugiada e a comunidade receptora, é importante que o terreno escolhido esteja inserido próximo a área central da cidade e das atividades ligadas ao dia a dia, para que essa relação aconteça de forma natural. Ademais,

70


implantar um assentamento para fins sociais nas áreas próximas ao perímetro da cidade abre margem para que o espaço se torne uma área marginalizada e pouco utilizada, aumentando a insegurança do local. Á partir dessas diretrizes sobre o terreno e os levantamentos em relação a cidade, chegamos ao terreno destacado no mapa 3, que possui cerca de 170 mil m² e está localizado a 2km do centro da cidade e a 1km da margem do Rio Branco, dado importante, uma vez que o transporte fluvial é um dos principais meios de transporte no Norte do Brasil. Além disso, o terreno ainda esta localizado no encontro entre os eixos viários e em uma das avenidas que compõem os eixos centrais da cidade, integrando assim o terreno na malha radial do centro de Boa Vista-RR. Todo o terreno é cercado por avenidas, o que favorece questões como transporte público, chegada de suprimentos e materiais através de caminhões. O terreno possui uma leve inclinação (aproximadamente 5%), sendo responsável pela drenagem da água da chuva em direção ao fundo de vale, localizado na parte posterior do terreno, pertencente a uma Área de Preservação Permanente (APP) da cidade, onde existe uma nascente de água. Ainda, afim de atender as necessidades do programa e das recomendações da ONU, o terreno é composto predominantemente por vegetação rasteira, sendo que em algumas áreas, com exceção do fundo de vale, possui poucas arvores de médio e grande porte.

71


2k

m

FIGURA 19 – Mapa da cidade de Boa Vista - RR. No mapa esta em destaque o terreno escolhido para implantação da proposta e seu entorno.

VEGETAÇÃO NATIVA RIOS, NASCENTES E DUNAS RODOVIAS DE ACESSO À BOA VISTA

1k

m

CENTRO DA CIDADE ÁREA DE IMPLANTAÇÃO DA PROPOSTA Fonte: Prefeitura Municipal de Boa Vista, modificado pelo autor

Escala: 1:40000


FIGURA 20 – Características físicas e geográficas do terreno escolhido

VEGETAÇÃO MÉDIO E GRANDE PORTE DIREÇÃO VENTOS PREDOMINANTES Escala: 1:7500

Fonte: Prefeitura Municipal de Boa Vista, modificado pelo autor


FIGURA 21– Terreno escolhido para implantação da proposta

Escala: 1:7500

Fonte: Prefeitura Municipal de Boa Vista, modificado pelo autor


A área possui diversos serviços municipais e estaduais posicionados ao redor que podem ser utilizados pelo complexo, afim de reduzir a infraestrutura da proposta, sem comprometer seu funcionamento. Esses serviços de apoio trariam, quando necessário, suporte para dentro do complexo, se instalando nas áreas destinadas a apoio de serviço, auxiliando da seguinte maneira: • Polícia Federal: além de ajudar na segurança do local, como mencionado anteriormente, ao chegarem no Brasil, os refugiados devem procurar a Polícia Federal para regularizar sua entrada no território e alegar o pedido de refugio. • Rodoviária Municipal: facilidade de acesso aos ônibus, sendo o meio de transporte mais utilizado no Brasil, para chegada e saída da cidade. • Hospital Infantil Municipal: sendo o maior hospital e com a melhor estrutura da cidade, este seria utilizado em situações mais graves, já que os atendimentos, vacinação e primeiros socorros seriam instalados no próprio complexo. Pela proximidade, os próprios funcionários do hospital poderiam dar apoio a comunidade. • Escolas: serviriam de apoio a educação dos mais jovens, podendo estender as aulas periodicamente no complexo, afim de integrar as crianças da comunidade com os alunos boa-vistenses. • 1ª Brigada Exército Militar: sendo um órgão que normalmente oferece ajuda nessas situações, teria como finalidade a distribuição de mantimentos, ajuda na preparação do local e segurança. 75


FIGURA 22 – Vista do terreno à partir da Av. Brasil - terreno destacado em vermelho na imagem.

Fonte: Google Maps - modificado pelo autor.

FIGURA 23 – Corte terreno de implantação

Área de Implantação

Polícia Federal

Fonte: O autor.

76

Hospital Municipal

Rodoviária

Escala: 1:5000


RONDON 1 FIGURA 24 – Implantação abrigo Rondon 1 em Boa Vista-RR e instalação das habitações Better Shelters.

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/ c9/Centro_c%C3%ADvico_de_Boa_Vista.jpg

Em Julho de 2018, o Governo Federal e a Organização das Nações Unidas (ONU) inauguraram o décimo abrigo temporário para os refugiados da Venezuela em Boa Vista-RR. Nomeado de Rondon 1, o abrigo possui capacidade para 600 pessoas e conta com as unidades habitacionais “Better Shelter”, vistas anteriormente, utilizadas pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) em operações humanitárias e instaladas pela primeira vez na América Latina. As unidades foram implantadas para solucionar a situação dos venezuelanos que estavam vivendo nas ruas da capital roraimense, priorizando famílias e pessoas em condições de maior vulnerabilidade, como mulheres grávidas, idosas e indivíduos com deficiência (ONU, 2018). O abrigo foi implantado ao longo da Av. General Sampaio, entre do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e a Escola Estadual Maria das Dores Brasil, mesma região escolhida para inserção da proposta desenvolvida neste trabalho. Atualmente, para abrigar uma maior quantidade de desabrigados, o projeto se estendeu em mais um conjunto de abrigos, ocupando toda área que circunda o edifício do INCRA, o qual permanece sem uso até o momento. Apesar de apresentar diversos vazios entre os edifícios construídos, a área em questão limitou a implantação dos Better Shelters, que necessitam de um terreno predominantemente plano, já que sua estrutura não suporta declives. Esse fator foi limitante para a implantação, uma vez que a inclinação em direção ao fundo de vale é desfavorável.

77


FIGURA 25– Terreno escolhido para implantação da proposta

ÁREA IMPLANTAÇÃO RONDON1 (1ª PARTE) ÁREA IMPLANTAÇÃO RONDON1 (2ª PARTE) Escala: 1:7500

Fonte: Prefeitura Municipal de Boa Vista, modificado pelo autor


FIGURA 26 – Tipologia de implantação habitações Better Shelter (em branco na imagem) no abrigo Rondon 1 em Boa Vista-RR.

Fonte: Arquivos disponibilizados pela plataforma MODO de concursos de Arquitetura. Modificado pelo autor.

Além do problema de expansão, o abrigo não possui nenhuma estrutura voltada aos espaços de convivência que fomentem a interação entre os usuários, característica essencial em contextos nos quais a população tende a se isolar da sociedade. Além disso, a análise feita das habitações Better Shelters indicou pouca conexão entre as unidades em seu conjunto, consequentemente, dificultando a relação entre a “vizinhança”. As Better Shelters são implantadas pela ONU em diversos assentamentos pelo mundo, uma vez que possuem estrutura de fácil montagem e transporte, pois são industrializadas. Apesar dessa facilidade, sua estrutura é composta por materiais poliméricos, os quais sem um tratamento adequado apresentam pouca eficiência em relação ao isolamento térmico. As condições de temperatura são agravadas devido a presença de poucas aberturas em suas fachadas, o que concentra todo o calor absorvido pelo material em seu interior. As questões apresentadas demonstram que apesar das Better Shelters serem uma boa solução em relação a praticidade e custo, elas não são indicadas para regiões onde o clima é predominantemente quente, como é o caso de Boa Vista-RR. O módulo apresentado neste trabalho tem o objetivo de poder ser implantado em qualquer tipo de terreno. Assim, foi descartada a utilização da área escolhida pelo projeto Rondon para a implantação de abrigos uma vez que o terreno escolhido para a proposta além de aproveitar um espaço sem utilização na cidade, conta com uma área maior para a distribuição das atividades e habitações.

79


80


PROPOSTA



O projeto a ser apresentado parte da importância de promover relações de convívio entre as pessoas no processo de reabilitação de uma comunidade refugiada. Ao compor um espaço com esse caráter, é importante colocar que a arquitetura é mais do que a satisfação de exigências puramente funcionais de um programa, e que propor ideias que incentivem a integração entre as pessoas de uma comunidade exige que a forma, implantação e o programa respondam essas ideias e que essas relações aconteçam de forma natural. Segundo Ching (2002), em Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem: o arranjo e as organizações das formas e espaços também determinam a maneira como a arquitetura pode promover iniciativas, trazer respostas e comunicar significados. No intuito de atender esses objetivos, foi importante pensar em diferentes esferas de comunidade, onde uma compreende a escala do usuário, e suas relações sociais mais próximas, através de pequenos sistemas de vizinhança, onde essas relações são mais estreitas entre os moradores. Já em uma escala maior, todo o ambiente necessita fornecer uma estrutura apropriada para que, além de dar suporte a essas comunidades, garanta a expansão dessas relações entre os usuários. O intuito de criar pequenos sistemas de vizinhança é promover as relações entre os indivíduos que compartilham o mesmo espaço, essencial no processo de reintegração do convívio em sociedade. Partindo dessa concepção, o projeto inicia-se a partir de uma análise das configurações arquitetônicas, apresentadas nos correlatos do

83


capítulo anterior, afim de elaborar uma implantação que melhor se adeque a proposta. Ao lado é possível visualizar as tipologias de implantação utilizadas para a análise, destacando os espaços de interação entre as unidades em laranja, e a relação entre as unidades à partir do módulo em vermelho, onde as tonalidades mais fortes de azul representam uma maior interação entre as unidades. • TIPOLOGIA 1 - se trata de uma implantação com formato linear, onde as habitações são implantadas ao longo de uma via contínua. Apesar de apresentar economia de espaço para implantação, as unidades possuem graus de interação diferentes conforme elas se distanciam entre si, fazendo com que apenas as unidades laterais e frontal tenham maior interação. Um dos principais problemas dessa configuração, com relação a proposta desse projeto, é que os espaços de interação entre os usuários também são utilizados como caminhos, tornando-os pouco privativo àquela vizinhança. • TIPOLOGIA 2 - nesse tipo de implantação, as habitações são dispostas linearmente alternando o sentido delas, conforme um tabuleiro de xadrez. Essa interpolação permite criar espaços entre as unidades, satisfazendo a necessidade de interação entre os vizinhos, além de permitir o contato direto com mais módulos. Entretanto, essa disposição acaba criando uma área de convívio para cada unidade, produzindo espécies de “quintal”, podendo segregar o espaço ao invés de integrá-lo. Outro aspecto positivo da 84

FIGURA 27 – Tipologias de implantação das unidades habitacionais e a relação entre elas TIPOLOGIA 1 – disposição linear

TIPOLOGIA 2 – disposição alternada

TIPOLOGIA 3 – disposição pátio central

Fonte: O autor.


implantação alternada, é a possibilidade de criar vias de circulação independentes, sem que relação com os espaços de interação, como na disposição linear. • TIPOLOGIA 3 - dispostas em torno de um patio central, essa implantação possibilita a criação de pequenas comunidades independentes do conjunto de abrigos, além de permitir a interação de forma igualitária entre as unidades, por estarem sempre uma com a outra. Nessa implantação as habitações formam um conjunto integrado de moradias sem perder a individualidade de cada modulo. Questões como segurança são reforçadas nesse sistema, uma vez que os pátios são destinados a um conjunto de unidades, evitando que estes se tornem “corta caminho” para outras habitações, diminuindo o fluxo de pessoas que não fazem parte daquela comunidade. Além disso, a interação acontece de forma mais homogênea, possibilitando o contato com mais pessoas. Por ser a tipologia de implantação que mais responde as propostas do projeto, onde a organização espacial possibilita e estimula as relações em comunidade, escolheu-se o modelo 3 como referencia de implantação para a comunidade proposta. É muito comum encontrar comunidades que distribuem suas habitações ao redor de um pátio central, principalmente nas tribos indígenas do Brasil. A arquitetura como organização espacial nessas comunidades carrega diversos significados que são fundamentais para a cultura dessas tribos, uma vez que esses espaços são utilizados para rituais, comemorações e 85


outras formas de interação entre os moradores. Essa disposição é bem explícita quando analisadas as habitações das tribos Ianomâmis, que utilizam da forma física e disposição da comunidade para criar as relações entre seus membros. Esse espaço é constituído por uma casa plurifamiliar em forma de cone truncado chamado Yano ou Xapono (FIGURA 28), onde ao centro da circunferência existe uma grande área descoberta na qual acontecem essas relações de interação entre os moradores da tribo (ALBERT, 1992). Essa disposição possibilita a criação de uma comunidade independente e restrita, sendo esta uma característica importante para a segurança do conjunto contra animais e estranhos. Em sua publicação “Por que a aldeia é redonda?” de Julio César Melatti no informativo FUNAI de 1974, o autor relata que a disposição das unidades de forma circular é uma maneira de dar a mesma importância para todas as habitações, sem hierarquizar as pessoas que fazem parte daquela comunidade. Em números, os grupos Ianomâmis representam a maior comunidade indígena do estado de Roraima, estando presentes também nos estado do Amazonas e nas regiões Bolívar e Amazonas, na Venezuela. Os Ianomâmis são tribos indígenas caçadores-agricultores formando comunidades independentes, onde cada membro da tribo possui uma função, garantindo seu funcionamento. Os serviços são dispostos fora da área do cone, onde são implantados pequenas construções sem ligação com a tipologia radial, que abrigam serviços como preparo de alimentos, instrumentos de caça e pesca, etc., fazendo com que a área delimitada pelo circulo seja um espaço mais privado.

86

FIGURA 28 – Vistas de habitações Ianomâmis

Fonte: https://www.ecoamazonia.org.br/2016/12/indigenas-isolados-povo-yanomami-registrados-operacao-funai/


FIGURA 29 – Esquema de configuração das comunidades de vizinhança

À partir disso, tomou-se como partido formal para a implantação das habitações emergenciais a configuração radial, inspirada nas comunidades Ianomâmis, que além de apontar diversos aspectos positivos em relação a proposta, ainda faz referência a uma comunidade que faz parte da cultura local tanto do Brasil quanto da Venezuela. A ideia segue o mesmo princípio das habitações Ianomâmis, onde as unidades estariam dispostas ao redor de uma área central de formato circular (FIGURA 29). É necessário entender que as comunidades Ianomâmis são conjuntos isolados de outros agrupamentos por questões culturais, logo, sua organização circular não abre margem para a comunicação com comunidades vizinhas, já que sua implantação é utilizada para garantir a segurança dentro do espaço. Entretanto, entendendo o programa da proposta como um conjunto de vizinhanças e a possível relação entre elas, viu-se também a necessidade de agrupar conjuntos de habitações mais próximas, criando diversas escalas de interação, entre os usuários e entre comunidades. Durante o capítulo dedicado as analises, foram levantadas algumas preocupações sobre a implantação dos abrigos, como a adequação dos módulos em diversos tipos de terrenos, tendo em vista a inclinação da área proposta para implantação do projeto e a preocupação em modificar o mínimo possível a área. Somado essa análise e a intenção de agrupar as unidades, é proposto uma estrutura elevada de um deck, onde além da função de proteger as unidades do solo, fará a ligação dos módulos através de um caminho orgânico.

Fonte: O autor

Como se trata de uma estrutura elevada, é possível nivelar o projeto

87


88

sem que seja necessário aplainar a área, evitando custos adicionais ao projeto. Ao projetar um abrigo emergencial é importante ressaltar a necessidade dos módulos serem construídos no menor tempo possível, tendo em vista as situações de vulnerabilidade que os futuros usuários se encontram e a necessidade de um espaço que assegure suas vidas. Pensando nisso, é importante que os elementos desse projeto sejam passiveis de serem produzidos em grande escala e com baixo custo de produção, levando em consideração a dimensão da proposta. Para que isso seja possível, é importante a simplificação das formas desses elementos, uma vez que formas mais simples são mais fáceis de serem produzidas e exigem técnicas menos elaboradas. Afim de “racionalizar” a estrutura do deck, a forma circular inspirada nas habitações Ianomâmis foi transformada em um hexágono, onde cada face desse polígono pudesse ser modulada à partir de placas pré-fabricadas com o intuito de reduzir tempo de serviço durante a montagem dessa estrutura. Além disso, a linearidade das faces permitiu que os módulos pudessem ser implantados no perímetro da forma, igualmente organizados. Por ser a base para toda a estrutura, o deck é a primeira etapa a ser construída e envolve a utilização de ferramentas e técnicas construtivas que, embora conhecidas, exigem o auxílio de uma equipe orientando sua construção. A estrutura é composta por caibros com seção retangular em madeira serrada de 8cm de altura por 4cm de

FIGURA 30– Evolução forma de distribuição das habitações emergenciais.

profundidade. As ligações entre essas vigas acontecem através de perfis

Fonte: O autor


Fonte: O autor

Apoio estrutura

Malha estrutural madeira

Placa ripada 120x240 cm

FIGURA 31– Perspectiva explodida da estrutura do deck

metálicos com seção “T” que se conectam com as vigas através de parafusos. As cargas são distribuídas através dos encaixes metálicos, passando pelos apoios locados ao longo da estrutura e neutralizadas no solo por meio de estacas de aço galvanizado, com seção circular de 2’’, que possuem uma espécie de “cabeça chata” que são parafusadas nos apoios, que também possuem o mesmo elemento de ligação. Afim de vencer os desníveis do terreno sem causar unidades muito elevadas do solo, foi pensado em distanciar o deck a 52 cm do terreno, altura que pode variar conforme o desnível apresentado na topografia, podendo ser nivelado a partir da profundidade em que as estacas forem colocadas. Após a estrutura principal montada, o fechamento é feito através de peças pré-fabricadas de madeira ripada de 5cm x 1,5 cm, moduladas em placas de 120cm x 240cm que são pregadas na estrutura principal afim de facilitar e agilizar a montagem. Toda a estrutura das unidades habitacionais foi projetada seguindo as dimensões apresentadas pelo engenheiro Aurélio A. Abdoral Neto, no artigo “APLICAÇÃO DA MADEIRA SERRADA NA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL, EM BOA VISTA/RORAIMA (2015)” onde ele mostra um levantamento feito sobre materiais disponíveis nas madeireiras de Boa Vista-RR.

FIGURA 32 – Elevação estrutura deck Sem escala

Fonte: O autor 89


FIGURA 33 – Perspectiva implantação, destacado em vermelho o elemento conector dos módulos

Placa madeira ripada 120x240 cm

Apoio estrutura

Elemento ligação das estruturas. Também em madeira ripada.

Com o propósito de ligar as estruturas dos decks e consequentemente as unidades habitacionais, foi inserido em cada extremidade da estrutura base um elemento conector em formato triangular (FIGURA 33). Além de conectar toda a estrutura, esse elemento de ligação tem como função adequar a composição aos desníveis do terreno, como mostra a figura ao lado:

240

pr o

j.

m ód

240

ul

o

de ck

Fonte: O autor

120 240

120 240

FIGURA 34 – Planta baixa deck Escala: 1:100

90

Fonte: O autor


Os módulos habitacionais foram pensados para serem implantados no perímetro do hexágono que compõe o deck, utilizando essa estrutura base para compor o projeto. Esses módulos possuem exclusivamente a função de dormitório para os refugiados, incentivando as relações comunitárias durante o dia, uma vez que segundo a cientista social Barbara Harrell-Bond (1999), especializada no campo de estudos de refugiados, após sairmos de uma situação de vulnerabilidade, é comum nos isolarmos do convívio social. Além disso, o módulo dormitório tem como objetivo proteger essas pessoas das intempéries, proporcionar conforto e um ambiente seguro durante sua permanência. Como apresentado durante o trabalho, além de garantir os objetivos mencionados acima, o módulo possui algumas recomendações para que sua funcionalidade seja satisfatória. Entre esses critérios, um dos mais relevantes é a facilidade na montagem das estruturas, uma vez que se trata de uma situação emergencial, onde o tempo se torna um fator determinante. Dessa forma, partiu-se da ideia de sistemas de montagem através de encaixes ou junções onde não fosse necessária a utilização de ferramentas específicas ou de difícil manuseio, pois além da agilidade no processo de montagem, permitiria que os próprios usuários montassem suas habitações, contribuindo com o processo e custo de montagem calém de estabelecer vínculos entre os refugiados e o ambiente. Assim como a estrutura do deck, e seguindo os padrões de medidas encontradas no mercado, utilizou-se uma modulação múltipla de 120 cm para compor o modulo habitacional, ainda como uma alternativa para reduzir custos e tempo de construção.

91


Com o intuito de manter uma possível circulação entre os decks que estiverem conectados, o modulo habitacional foi implantado ao centro da estrutura, deixando uma passagem livre de 120 cm ao redor da habitação, medida essa que possibilita a passagem de até duas pessoas ao mesmo tempo, ou transporte de objetos maiores. Além de criar um espaço sem contato com o solo para utilização dos moradores, como uma espécie de varanda. Essa passagem possibilita o deslocamento em dias de chuva, uma vez que a região possui altos índices de chuva e seria uma solução sem grandes modificações no terreno, aproveitando uma estrutura já existente. Segundo a pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas intitulada “Desafio migratório em Roraima: repensando a política e gestão da migração no Brasil” (2018), foi levantado que grande parte dos refugiados vem para o Brasil sem suas famílias, em busca de alguma atividade remunerada que possibilite enviar remessas para seus cônjuges e filhos. A pesquisa ainda aponta que as famílias que cruzam a fronteira são constituídas por 3 a 4 pessoas em média, composta por pai, mãe e dois filhos, na maioria dos casos. À partir disso, cada habitação possui cerca de 12m² e foi pensada para abrigar de início 4 pessoas, podendo variar com a utilização de beliches, chegando até 6 pessoas no máximo, por questões de conforto térmico e espacial, caso necessário. Para comportar famílias maiores que o recomendado, foi implantado em cada face da estrutura do deck dois módulos habitacionais, que podem ser utilizados pela mesma família ou por duas famílias diferentes. Em casos de famílias menores, compostas por

92

FIGURA 35 – Esquema evolução volumetria e usos dos módulos

Fonte: O autor


FIGURA 36 – Esquema acessos e usos dos módulos

Fonte: O autor

até duas pessoas, há a possibilidade de divisão de um módulo em dois, com o objetivo de comportar diversos grupos familiares, garantindo privacidade e conforto dos usuários. Como as habitações possuem a intenção de acomodar as necessidades básicas dos usuários, foi essencial a implantação de unidades sanitárias dentro da comunidade, locando-o mais próximo dos dormitórios. A princípio foi pensado na utilização de um modulo inteiro dedicado aos sanitários, onde este seria utilizado por toda unidade de vizinhança. Entretanto, afim de diminuir o percurso até os sanitários, principalmente em dias chuvosos, essas instalações foram implantadas entre os dois volumes de dormitórios que ocupam a mesma estrutura, diminuindo a distancia entre a instalação e o usuário e restringindo seu uso aos de uma família ou de um módulo, já que se trata de um espaço íntimo. Cada instalação possui seis cabines: três para cada módulo, uma para instalação de vaso sanitário, uma para chuveiro e outra para cuba, sendo as três com portas, afim de garantir a privacidade e usos simultâneos. As dimensões seguem a modulação proposta de 120cm x 120cm com exceção das cabines sanitárias que, afim de aproveitar melhor o espaço, foi dividido em seis cabines de 120cm x 80 cm. Os acessos das unidades habitacionais estão voltadas para o patio central, na face longitudinal do modulo, para aproveitar melhor o espaço de circulação no ambiente interno. Já os acessos das unidades sanitárias acontecem pelas laterais, com o interesse de criar um ambiente mais privado para quem esta utilizando esses espaços. Para vencer o desnível gerado pelo deck foi instalado uma escada ao centro 93


94

Fonte: O autor

painel madeira compensada 120x240 cm

FIGURA 37 – Esquema estrutura dos módulos

perfil aço galvanizado 90 mm

de cada lado do hexágono que compõe a unidade de vizinhança, que liga o patio aos dormitórios. Toda a estrutura dos módulos habitacionais foi pensada através de sistemas de encaixes, à partir de materiais com massa e dimensões adequadas para serem carregados pelos próprios usuários do complexo. À partir disso, a estrutura principal das habitações é composta por montantes de perfis com seção “C”, de 90mm em aço galvanizado, já que se trata de uma peça esbelta e com boa resistência. Os montantes foram dispostos ao redor do perímetro estabelecido para as habitações, sendo 480cm x 240cm para as unidades dormitórios e 240cm x 240cm para as unidades sanitárias, distanciados a 120cm entre eles, como mostra a figura 37. Foi escolhido o perfil com dobra nas extremidades, uma vez que daria mais rigidez ao perfil, já que este é responsável por descarregar os esforços para a estrutura do deck, onde estará fixo através de cantoneiras parafusadas pelo lado de fora do montante, detalhado na folha de croquis anexa nessa pagina. A vedação dos módulos é feita através de painéis de madeira compensada com 120cm de largura por 240cm de altura e 5 cm de espessura. Esses painéis são encaixados no montante como mostra o detalhe da figura 37 e, além de vedar o módulo, possui o papel de travamento horizontal dos montantes. Por ser um material com bom isolamento térmico, a madeira nessa situação contribui para reduzir a temperatura interna dos módulos. Com o propósito de servir como suporte para a cobertura, cada montante posicionado nas extremidades do módulo terão alturas diferentes, nos quais a cobertura será parafusada, uma vez que


Fonte: O autor

lona branca

estrutura cobertura em madeira seção 5x5 cm

placas de poliestireno expandido

FIGURA 38 – Esquema estrutura cobertura

esta será composta por uma estrutura pré-montada com caibros em madeira, atendendo a proposta de agilizar o processo de montagem. Esses montantes que servirão de apoio à cobertura, terão alturas de 300 cm em uma das faces e 270 cm na outra, afim de estruturar a inclinação desta. Por se tratar de uma estrutura pré-montada, foi necessária a escolha de um material leve e que ao mesmo tempo fosse resistente a chuva, tendo em vista os índices pluviométricos da região. Nas habitações Paper Log House do arquiteto Shigeru Ban, apresentada como correlato desse trabalho, o arquiteto utiliza a lona como elemento de vedação da cobertura, justificando por ser um material resistente, leve e fácil de ser encontrado em diferentes regiões. A utilização da lona como elemento de vedação nesse projeto, assegura a leveza da estrutura pré-montada proposta para a cobertura, agilizando o processo de montagem das habitações, além de ser considerada um material eficaz na vedação contra a chuva. Desta forma, foi criada uma cobertura onde a lona envolvesse a estrutura dos caibros de madeira, grampeada na parte interna da estrutura, criando um sistema tensionado, evitando o acúmulo de água em algumas regiões e protegendo as laterais da estrutura da chuva. A decisão de elevar a cobertura a 30cm e 60cm dos painéis de vedação da fachadas principais, além de estruturar sua inclinação, foi uma solução para diminuir a passagem de calor para o interior das habitações, uma vez que a lona é um material com alta condutividade térmica. As aberturas nas laterais contribuem com a passagem de ar, criando uma ventilação cruzada dentro do ambiente, diminuindo a 95


96

cobertura em lona branca

estrutura mosquiteiro, madeira serrada seção 5cm x 5cm.

temperatura interna, tendo em vista que o ar quente tende a sair por FIGURA 39 – Esquema estrutura cobertura destacando o beiral esses espaços. Ainda pensando no conforto dos usuários, acrescentou- e a estrutura da tela mosquiteiro - Esquema de distribuição das cargas e estabilidade da estrutura se placas de poliestireno expandido com 5 cm de espessura, entre os caibros da estrutura da cobertura, com o intuito de reduzir a quantidade de calor transmitida para o ambiente, dado que o material possui um bom isolamento térmico (VITTORINO, 2003). Com o intuito de proteger da chuva e ampliar a área sombreada de cada unidade, foi adicionado um beiral de 60 cm ao redor de cada módulo, abrindo a possibilidade de áreas cobertas e sombreadas para os uso dos moradores, como uma espécie de varanda. Entre a cobertura e os painéis de madeira que compõe a vedação, na abertura destinada a ventilação, foi instalado fechamentos com tela mosquiteiro em nylon, na tentativa de impedir a entrada de insetos dentro do módulo, se tratando de uma área próxima ao fundo de vale. Essa estrutura é feita em madeira, com seção quadrada 5cm x 5cm, e também é utilizada para travar os painéis, uma vez que é responsável por fechar a estrutura entre a cobertura e os painéis, garantindo estabilidade no sentido horizontal do módulo. Procurando contribuir para a ventilação de dentro das unidades, alguns painéis de madeira que compõe a vedação foram substituídos por painéis de madeira filetada (figura 39), onde essas aberturas permitem uma maior ventilação no interior dos módulos. Por Boa VistaRR possuir ventos fortes vindos da direção Nordeste (INMET 2016), com cerca de 8 a 10 m/s, esses painéis de madeira filetada foram orientados para que sempre estivessem voltados para essa posição geográfica, afim de proporcionar uma ventilação cruzada dentro do Fonte: O autor


FIGURA 41 – Detalhe painel filetado e esquema de ventilação cruzada

0

12

Fonte: O autor

240

PAINEL FILETADO

TELA MOSQUITEIRO

12

240

PAINEL FECHADO

perfil aço galvanizado 90 mm seção “C”

PAINEL PORTA SANITÁRIO PORTA 70 X 210 CM

240

PAINEL PORTA DORMIT. PORTA 80 X 210 CM

0

240

80

0

12

ambiente, reforçando a ideia de efeito chaminé, podendo contribuir para a diminuição da temperatura interna dos módulos. Os filetes de madeira possuem seção de 5cm x 1,5 cm e inclinação de 45º, sendo a parte de fora com as aberturas voltadas para baixo, bloqueando a entrada de água da chuva e raios solares. Esses painéis possuem 120 cm de largura e 240 cm de altura, como os painéis fechados. Telas mosquiteiro também foram instaladas na face interna desses painéis, impedi a entrada de insetos nas unidades. painel filetado madeira compensada 120x240 cm

FIGURA 40 – Painéis utilizados para vedação dos módulos

Fonte: O autor

97


FIGURA 42 – Esquema detalhado dos elementos construtivos e materiais dos módulos habitacionais PAINEL EM MADEIRA Compensada 120X240 CM MONTANTE EM AÇO GALVANIZADO PERFIL “C” 90MM

MATERIAIS UTILIZADOS

COBERTURA LONA BRANCA ESTRUTURA COBERTURA MADEIRA SEÇÃO 5X5 CM PAINEL POLIESTIRENO EXPANDIDO CONTROLE TEMPERATURA

LONA BRANCA

MADEIRA CEDRORAMA

DET. 1

TELA MOSQUITEIRO - PROTEÇÃO CONTRA INSETOS. ESTRUTURA MADEIRA, SEÇÃO 5X5 CM

ENCAIXE PAINEIS

PAINEL FILETADO EM MADEIRA Compensada 120X240 CM, ENCAIXADA NO PERFIL METÁLICO (DET 1) MONTANTE EM AÇO GALVANIZADO PERFIL “C” 90MM PAINEL EM MADEIRA Compensada 120X240 CM, ENCAIXADA NO PERFIL METÁLICO (DET 1)

Compensada DE MADEIRA

AÇO GALVANIZADO

POLIESTIRENO EXPANDIDO

TELA MOSQUITEIRO NYLON

MADEIRA SERRADA SEÇÃO 8X4 CM ENCAIXE ESTRUTURA DECK EM AÇO GALVANIZADO

FECHAMENTO DECK COM RIPAS DE MADEIRA (5X1,5 CM), MODULADAS EM PLACAS DE 120X240 CM.

FERRAMENTAS UTILIZADAS

ESTRUTURA DECK EM MADEIRA SERRADA COM SEÇÃO 8 X 4 CM, COM LIGAÇÃO METÁLICA ENTRE AS PEÇAS. ESTACA PARA FUNDAÇÃO DA ESTRUTURA, EM AÇO GALVANIZADO, SEÇÃO CIRCULAR 2”, PARAFUSADO NA ESTRUTURA DO DECK

DET. 2

ENCAIXE METÁLICO ESTRUTURA DECK

Fonte: O autor

PARAFUSADEIRA ELÉTRICA


CAPTAÇÃO DE ÁGUA DA CHUVA

CROQUI NA FOLHA MENOR, MOSTRANDO A CAIXA DAGUA - CROQUIS FEITOS NO QUADRICULADO

A cidade de Boa Vista-RR possui altos índices pluviométricos, principalmente durante os meses de Maio, Junho, Julho e Agosto, chegando até 300 mm/m². Essa característica aponta a possibilidade da utilização dessa água para atividades dentro do complexo, como nos sanitários dos módulos, reduzindo custos de consumo de água dos moradores e reforçando a ideia de unidades mais auto suficientes, proposta nesse trabalho. Reservatórios de água foram instalados no encontro entre os módulos que será responsável pela captação de água da chuva de três unidades diferentes, alternando as atividades desses encontros com espaços de lazer (figura 44, p. 102). Uma calha de 100mm de aço galvanizado foi instalada em cada cobertura das unidades, fixas nos caibros que compõem a estrutura da cobertura (folha anexa). Tendo em vista os índices pluviométricos da cidade de Boa Vista-RR e considerando o consumo médio de litros por pessoa em alojamentos provisórios, segundo a NBR 5626 sobre dimensionamentos de reservatórios, foram instaladas caixas d’água de 5000l nesses espaços, afim de suprir usos como vaso sanitários e lavagem de utensílios dos usuários. A utilização desses reservatórios, além de reduzir custos, também facilita a distribuição de água para os moradores, sendo possível recolhê-la através de torneiras instaladas na parte inferior desse reservatório. Com o intuito de evitar sistema de bombeamento, os reservatórios foram instalados a 120 cm do chão, permitindo um sistema de pressão através do nivelamento dos pontos de água. 99


CAPTAÇÃO DE ENERGIA Com altos índices de raios solares e horas de Sol por dia, optouse pela utilização de placas fotovoltaicas para a captação de energia solar para os usos dentro do complexo, uma vez que desde 2012 a ACNUR vem investindo nesse sistema de captação nos assentamentos de refugiados pelo mundo. Em Novembro de 2017, a ACNUR instalou o primeiro Parque Solar do campo de refugiados Zaatari, na Jordânia. Segundo a agência, o espaço tem capacidade de abastecer o local por 14 horas seguidas e beneficia cerca de 80 mil refugiados (ACNUR-ONU, 2017). Com o auxílio da ferramenta de cálculo de consumo de energia mensal do site NeoSolar, foi calculado a quantidade de energia consumida por módulo, considerando lâmpadas de 15w acesas durante 4 horas diárias, chuveiro elétrico para os módulos sanitários e usos diários do cotidiano da vida moderna, como carregadores de smartphones , entre outros equipamentos eletrônicos. Essas placas podem ser instaladas concentradas em pontos específicos do terreno, onde haja maior incidência de raios solares, com leve inclinação ao Sul, uma vez que a região se localiza acima da Linha do Equador, diferente das outras regiões do Brasil. Além disso, a energia produzida, também pode ser utilizada nos espaços comunitários, reduzindo os custos do complexo proposto. A solução de utilizar energia solar nesse trabalho, tem como objetivo propor soluções de energias renováveis, aproveitando as características climáticas da região de Boa Vista-RR. Entretanto, por estar localizado dentro do perímetro urbano da cidade, é possível também a utilização da energia da rede pública e de serviços municipais para abastecer o complexo. 100


TRATAMENTO DE ESGOTO Ainda com o objetivo de propor soluções que são funcionalmente simples, de fácil construção e de baixo custo, foi proposto para o tratamento de esgoto das unidades habitacionais os Tanques de Evapotranspiração (Tevap). Trata-se de uma trincheira de 1m³, sendo no mínimo 1,5m de profundidade, para cada usuário, com as paredes e fundo impermeabilizados com lona onde não há saída de efluente via infiltração no solo, onde canos diretamente ligados com as instalações sanitárias despejam os rejeitos em uma espécie de tubo compostos por pneus. Ao longo da trincheira, são colocadas camadas de materiais com diferentes granulometrias, como cacos de cerâmica, brita e areia. O efluente lançado no tanque é decomposto por processo de fermentação (digestão anaeróbia), realizado pelas bactérias na câmara de fermentação e nos espaços criados entre os materiais colocados ao redor desta câmara. Como a água está contida no tanque, ela se move por meio de capilaridade de baixo para cima e, com isso, depois de separada dos resíduos, percorre pelas camadas de brita, areia e solo, chegando até as raízes das plantas. A evapotranspiração é realizada por essas plantas e possibilita o tratamento final da água, que só sairá do sistema em forma de vapor, sem contaminante. Além disso, as plantas, principalmente as de folhas largas, como bananeiras, taiobas, copo-de-leite, etc., consomem os nutrientes em seu processo de crescimento, permitindo que o Tevap não encha. A proposta é que esses tanques sejam instalados no pátio central das unidades, onde a vegetação desse sistema, criará um espaço sombreado para o ambiente. Cada unidade de vizinhança deverá possuir de 2 a 4 tanques de 3x5 metros, dependendo da quantidade de módulos instalados 101


FIGURA 44 – Elevação módulo

Escala: 1:100

Escala: 1:100

102

Fonte: O autor

Fonte: O autor ACESSO

ESPAÇO LIVRE 60X60 CM DESTINADO A IMPLANTAÇÃO DE ARMÁRIOS

ACESSO

FIGURA 45 – Planta Baixa módulo

1m 2m 5m

CAIXA D’ÁGUA 5000l MATERIAL POLIMETRICO.

ESTRUTURA DECK EM MADEIRA SERRADA SEÇÃO 8X4 CM. ENCAIXE METÁLICO

MONTANTE EM AÇO GALVANIZADO PERFIL “C” 90MM

COBERTURA EM LONA ESTRUTURA COBERTURA MADEIRA SEÇÃO 5X5 CM

PAINEL EM MADEIRA Compensada 120X240 CM, ENCAIXADA NO PERFIL METÁLICO.

PAINEL FILETADO EM MADEIRA Compensada 120X240 CM, ENCAIXADA NO PERFIL METÁLICO.

TELA MOSQUITEIRO - PROTEÇÃO CONTRA INSETOS. ESTRUTURA MADEIRA, SEÇÃO 5X5 CM

ESTACA PARA FUNDAÇÃO DA ESTRUTURA, EM AÇO GALVANIZADO, SEÇÃO CIRCULAR 2”, PARAFUSADO NA ESTRUTURA DO DECK


FIGURA 46 – Esquema exemplo de uma unidade de vizinhança com a instalação dos reservatórios, tanques de evapotranspiração e os espaços de interação entre módulos

TANQUE DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO Plantas utilizadas: Taiobas e Bananeiras

MÓDULO HABITACIONAL

CAIXA D’ÁGUA 5000l MATERIAL POLIMETRICO

ESPAÇO DE INTERAÇÃO ENTRE OS MÓDULOS

Fonte: O autor 103


Fonte: O autor 104

1m

TERRA

CASCALHO, CACOS DE TIJOLOS

PNEU

BRITA 0

AREIA FINA

TANQUE DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO

TUBO CONDUTOR

FIGURA 47 – Corte esquematico da unidade de vizinhança, evidenciando as ligações dos sistemas sanitários com os tanques de evapotranspiração

2m

5m


IMPLANTAÇÃO DA PROPOSTA Como mencionado anteriormente, a proposta de implantação desses módulos pode ser entendida em duas escalas, diretamente vinculadas às relações entre os usuários usuários da comunidade, onde a arquitetura se torna um instrumento essencial nessas relações. Toda a estrutura que compõe os módulos habitacionais dessa proposta foi pensada para que fosse possível serem agrupadas, com o objetivo de criar pequenas comunidades de vizinhança, e que essas unidades fossem dispostas circularmente com o objetivo de criar um elemento de ligação entre as unidades (pátio central), onde esse elemento fosse distribuído homogeneamente para todos os módulos. Além disso, foi mencionado a preocupação com a conexão entre essas vizinhanças, para que fosse possível a expansão das relações entre as pessoas do complexo proposto. O centro da cidade de Boa Vista-RR possui uma organização muito relevante para a cidade, uma vez que o formato radial que compõe seu desenho urbano faz com que as principais avenidas da cidade, que abrigam os principais comércios e as principais atividades cotidianas, liguem o centro comercial e histórico ao restante do município. Além disso, como já mencionado, a cidade possui características de cidade pequena com apenas um polo comercial, localizado na área central, que atende toda a cidade. Esse aspecto reforça ainda mais a característica das regiões centrais de um espaço onde as relações pessoais se expandem entre diversos tipos e grupos de pessoas, criando uma heterogeneidade nessas relações. É possível fazer uma

105


referencia dessa organização com a proposta do projeto, uma vez que as cidades possuem diferentes relações em diferentes escalas, que se tornam importantes nas criações de laços e vínculos. “A casa, o lugar de trabalho, os pontos de encontro, os caminhos que unem esses pontos, são igualmente elementos passivos que condicionam a atividade dos homens e comandam a prática social”. (SANTOS, 1977, p. 92

Pensar a implantação da proposta do complexo através de eixos, além de organizar as funções, facilitando a leitura dentro do ambiente, ainda permite trazer características marcantes da cidade, fazendo uma relação entre os espaços. Desta forma, o terreno foi delimitado no seu eixo central, afim de delimitar um espaço em comum para todas as pessoas, inclusive os moradores boa-vistenses. A ideia inicial surge à partir de uma praça central, onde pudessem acontecer diferentes atividades simultâneas, como espaços para feiras, eventos da cidade ou da comunidade, além de concentrar essas atividades em um único lugar, sendo uma estratégia para deixar as habitações mais privativas. O terreno escolhido possui uma vegetação mais concentrada em sua parte central, propícia para a implantação desse eixo inicial, uma vez que por se tratar de uma praça extensa e, considerando as altas temperaturas da cidade, viu-se a necessidade de espaços sombreados. Outro ponto importante a ser considerado é a continuação da Av. Ville Roy alinhada a esse eixo, uma das vias que compõe o eixo radial do centro da cidade, possibilitando a ligação dos espaços futuramente.

106


FIGURA 48 – Mapa eixo de diretriz para a implantação da praça central, destacada no mapa.

ÁREA IMPLANTAÇÃO PRAÇA CENTRAL EIXO CONTINUAÇÃO AV. VILLE ROY Escala: 1:7500

Fonte: Prefeitura Municipal de Boa Vista, modificado pelo autor


Procurando garantir melhor conforto para os usuários do complexo e melhor organização na distribuição das atividades, os abrigos foram divididos em duas grandes áreas, com aproximadamente 750 pessoas em cada uma delas, criando a ideia de bairros. Com o intuito de ligar esses espaços, foi implantado um eixo perpendicular ao eixo da praça central, que irá abrigar as funções necessárias para cada agrupamento. Esse eixo terá como objetivo atender apenas o núcleo a qual ele pertencer, com o mesmo intuito de diminuir a quantidade de pessoas que utilizam aquele espaço. Esse eixo será coberto em algumas áreas, onde possa acontecer atividades como refeitório, atividades educativas, espaços de lazer e cultivo, em uma espécie de pavilhão aberto, onde seja possível que essas atividades aconteçam de forma simultânea e flexível. Cada atividade dessa foi dividida igualmente para os dois abrigos, afim de garantir um espaço adequado para a quantidade proposta de usuários sem gerar ambientes aglomerados. Além disso, esse espaço deve ser modular sendo passíveis de serem expandidos, caso haja expansão dos abrigos. As outras áreas apontadas no programa de necessidades, como espaços administrativos e de controle e segurança, espaços destinados a distribuição de mantimentos e utensílios e áreas de saúde, estarão distribuídos em um outro pavilhão localizado no eixo da praça central, uma vez que se tratam de ambientes mais públicos e com ligações externas, fazendo com que os abrigos sejam mais privados.

108


FIGURA 49 – Imagem estrutura projeto vencedor do concurso Open Ideas Competition: Mosul Postwar Camp, inspiração para a estrutura dos pavilhões do projeto proposto.

Fonte: Imagem prancha final vencedor concurso Open Ideas Competition: Mosul Postwar Camp dispoível em https://www.archstorming.com/info-mpc.html FIGURA 50 –Esquema detalhado estrutura modulo pavilhão (A) - APOIO LATERAL EM AÇO GALVANIZADO SEÇÃO “C” 90MM

(B) - LONA BRANCA TENSIONADA (C) - APOIOS EM AÇO GALVANIZADO (D) - APOIO CENTRAL EM AÇO GALVANIZADO SEÇÃO QUADRADA 15 CM - CONDUTOR AGUA CHUVA (E) - ESTRUTURA DECK EM MADEIRA, MODULADO 1.20X2.4 M

Fonte: O autor

A estrutura do pavilhão foi inspirada na estrutura principal do vencedor do concurso Open Ideas Competition: Mosul Postwar Camp, onde arquitetos e estudantes de arquitetura tinham o desafio de projetar uma solução de reintegração social com ajuda humanitária essencial para as pessoas que retornam a Mosul após a guerra do Iraque contra o ISIS. O grupo vencedor, um grupo de arquitetos de Nantes, na França, propôs para os espaços em comum uma estrutura em aço, com uma modulação quadrada, com um apoio central, com as faces da cobertura inclinadas para esse ponto central, criando uma espécie de tenda piramidal invertida, onde fosse possível usá-la como estrutura principal para a montagem das habitações (figura 49). A partir disso, usou-se a mesma composição formal da estrutura mencionada onde, afim de aproveitar os materiais presentes nos módulos habitacionais, foi usado para compor a estrutura do pavilhão, aço galvanizado para o esqueleto e lona para a vedação da cobertura (figura 50). Na parte central do módulo existe uma espécie de pilar (D) em aço galvanizado com seção quadrada de 15 cm, que é responsável pela distribuição das cargas verticais da estrutura. Em cada dobra da seção, por ser a parte mais rigida do perfil, foram instalados os apoios da cobertura (C), também em aço galvanizado, que distribui a carga dos perfis localizados no perímetro superior do módulo (A), com seção “C” e também em aço galvanizado, para o apoio central. A lona (B) que compõe a vedação da cobertura é fixa nas estruturas das laterais e nos perfis de apoio, compondo uma estrutura triangular e tensionada. A combinação desses módulos faz o travamento da estrutura com relação aos momentos horizontais, fazendo com que os esforços sejam igualmente distribuídos, compondo uma estrutura rígida e com grandes vãos. Com o intuito de canalizar a água da chuva dessa cobertura, foi 109


110

Fonte: O autor

(A) - APOIO LATERAL EM AÇO GALVANIZADO SEÇÃO “C” 90MM

(B) - LONA BRANCA TENSIONADA

(D) - APOIO CENTRAL EM AÇO GALVANIZADO SEÇÃO QUADRADA 15 CM - CONDUTOR AGUA CHUVA

(C) - APOIOS EM AÇO GALVANIZADO

FIGURA 51 –Corte estrutura tensionada pavilhão (E) - ESTRUTURA DECK EM MADEIRA, MODULADO 1.20X2.4 M

utilizada seção do apoio central como uma espécie de condutor, onde a inclinação das lonas tensionadas, direcionam a água para o centro da seção, distribuindo para o solo através de aberturas longitudinais na parte inferior da alma da seção. Com o objetivo de proteger os usuários do contato com o solo, foi utilizada a mesma estrutura do deck (E) das habitações, com módulos de 2.40x1.20 metros, fazendo com que os módulos quadrados da estrutura do pavilhão tenham 7.20x7.20 metros em suas faces laterais, com o intuito de seguir essa modulação e criar grandes vãos dentro do pavilhão, compondo um espaço amplo e aberto. Para criar certo dinamismo nesse eixo e gerar espaços mais privados da circulação principal, alguns módulos foram retirados do volume inicial, criando espaços abertos de convivência e outros mais reservados, utilizados para atividades educativas, por exemplo. Além da preocupação relacionada a disposição dos ambientes e da circulação, a retirada dos módulos de alguns espaços centrais, contribuiu com a saída do ar quente dessas estruturas, afim de garantir um melhor conforto térmico para os usuários. Ainda com esse intuito, os módulos possuem 3 metros de altura no seu ponto mais baixo (centro) e 4,5 metros no ponto mais alto (borda), garantindo um pé direito mais alto onde se concentrará o calor, podendo ser retirado pela corrente de ar gerada nesses espaços, sabendo que o ar mais quente é menos denso e tende sempre a subir. Apesar de ser comparada anteriormente com as estruturas de tenda em formato de pirâmide, muito usadas nessas situações temporárias, essa solução invertida apresenta um melhor desempenho, uma vez que o formato tradicional retém o calor em seu interior, necessitando de uma espécie de chaminé, e ao juntar as estruturas, é possível que não haja escoamento da chuva nos encontros das mesmas, criando vazamentos e a sobrecarga dos elementos estruturais.


PAVILHÃO ABRIGO 1 Educação, refeitório, lazer Espaço aberto, flexível. aprox. 4000 m²

PAVILHÃO CENTRAL Áreas administrativas, controle, distribuição, segurança, saúde, suporte para eventos. aprox. 4200 m²

PAVILHÃO ABRIGO 2 Educação, refeitório, lazer Espaço aberto, flexível. aprox. 4200 m²

FIGURA 52 – Esquema distribuição e organização dos módulos dos pavihões

Fonte: O autor 111


Para dividir os espaços e criar privacidade para alguns usos dos pavilhões, foram criados espécies de biombos com painéis de 1,20m de largura por 2,40m de altura de OSB (Oriented Strand Board), ligados por dobradiças. O material foi escolhido pela leveza e por ser facilmente encontrado no mercado que, além de ser usado madeira de reflorestamento, causando menor impacto ambiental, ainda possui menor preço quando comparado a outros materiais, como o MDF (Medium-Density Fiberboard). Apesar de ser um material mais leve que uma placa de madeira comum, foi pensado em agrupamentos de até 4 placas, de 9,5 mm de espessura cada, fazendo com que a estrutura tenha em torno de 65 kg, podendo ser carregadas por duas ou três pessoas. Além dos biombos, é possível a fabricação de outros equipamentos com esse material, como bancos e mesas, possibilitando a utilização nos espaços em comum. Os equipamentos sugeridos e, principalmente, os biombos, fazem com que o espaço seja fluido e multifuncional, podendo se transformar conforme a necessidade, sendo este um aspecto importante em situações temporárias, onde os espaços podem abrigar diversos tipos de funções. Afim de comportar um espaço adequado para refeições, foi criado em cada extremidade do eixo um grande ambiente destinado ao refeitório, destribuindo mesas ao redor de uma abertura central. Atualmente, a ACNUR é responsável pela distribuição de alimentos para os refugiados, dispensando a criação de um espaço para cozimento dos alimentos. 112

FIGURA 53 – Biombos em material OSB utilizado para dividir os espaços dentro dos pavilhões

Fonte: O autor


FIGURA 54 – Esquema distribuição dos espaços dos pavilhões. Na imagem, foi utilizado como exemplo o pavilhão do Abrigo 1

Fonte: O autor 113


As ligações entre os espaços, a praça e entre as unidades habitacionais sãos feitas através de caminhos utilizando brita 0, com o intuito de proteger os usuários do solo durante os percursos do complexo e evitar a construção de passagens fixas, uma vez que o projeto tem a princípio um caráter exclusivamente temporário. Essas passagens apresentam uma hierarquia com relação ao seu tamanho, onde nos espaços públicos possuem maiores dimensões e próximo as unidades, por ser um espaço mais privado, as dimensões são reduzidas. Todas as unidades de vizinhança são ligadas ao pavilhão através de passagens orgânicas, que seguem as arestas das habitações ao redor do pavilhão, fazendo com que esse elemento seja um ponto central desse espaço. Além disso, os eixos criados por essas passagens fazem referência aos eixos radiais do centro da cidade de Boa Vista-RR, onde os serviços estão centralizados em relação as comunidades. Colocar as habitações próximas as vias da cidade, isolando a praça em seu interior, foi pensado para que o complexo funcione como um bairro, que apesar de pouco, por questões de segurança, ainda mantenha contato com elementos externos. Desta forma, diferentemente de outros abrigos implantados, como o Rondon 1, o projeto proposto não tem intenção de fechar as fachadas do complexo com algum elemento de vedação, somente distanciar essas unidades cerca de 20 metros das vias principais, além de manter uma vegetação já existente nesses perímetros. O espaço destinado ao camping foi inserido próximo as habitações e ao pavilhão do abrigo 2, o qual foi ampliado para receber um numero maior de pessoas, afim de integrar todos que utilizam o complexo. Por se tratarem de barracas e por possuírem pouca estrutura contra as intempéries, foi criado um pavilhão de aproximadamente 1200

114


m², possibilitando a implantação de aproximadamente 52 barracas do modelo ao lado. Com o intuito de auxiliar na distribuição de água do complexo são previstas duas torres de água, sendo uma para cada conjunto de habitações, instaladas nas cotas mais altas do terreno, afim de facilitar a distribuição de água para as unidades através da gravidade, evitando sistemas de bombeamento. Além disso, juntamente com o espaço destinado ao descarte de resíduos, os reservatórios foram implantados próximos as vias existentes da cidade, facilitando a coleta de lixo, abastecimento e controle dos reservatórios. Os acessos de automóveis ao complexo se dão através de vias localizadas na parte superior do terreno, delimitando a área de implantação. Esses vias, que possuem acessos voltados para as avenidas Brasil e General Sampaio, se encontram no eixo central que configura a praça aberta do complexo, onde existe um estacionamento na lateral com capacidade de aproximadamente 200 vagas, destinadas a eventos e usos diários do local. A proposta não permite a entrada de automóveis no complexo, priorizando o caminhar, fazendo com que o espaço seja seguro para atividades, principalmente para crianças e jovens.

115


FIGURA 55 – Implantação do complexo de apoio para os refugiados da Venezuela, destacando as áreas principais da proposta.

A B 80 79 78 77

C D

E

F G

H I + Descarte A Reservatório de Lixo

administrativo e F Pavilhão de serviços

B Conjunto de abrigos 1

G Espaço para camping

Pavilhão de apoio para o

Pavilhão de apoio para o

C abrigo 1

H abrigo 2 e camping

D Estacionamento

I Conjunto de abrigos 2

E Praça de eventos e lazer Escala: 1:7500

Fonte: Prefeitura Municipal de Boa Vista, modificado pelo autor


FIGURA 56

– Planta Baixa e perspectiva implantação Fonte: O autor Escala: 1:3000

50m 100m 250m

AV. GENERAL SAMPAIO

PRAÇA CENTRAL

AV. BRASIL

VIA ACESSO

ABRIGO 2

REFEITÓRIO INTERAÇÃO

CAMPING

ATV. RECREATIVAS ATV. EDUCACIONAIS REDÁRIO

SETOR ADMIN./ SERVIÇOS

ESTACIONAMENTO

ATIV. RECREATIVAS ATV. EDUCACIONAIS REDÁRIO

REFEITÓRIO INTERAÇÃO

ABRIGO 1


FIGURA 57 – Perspectiva conjuntos de vizinhanças


FIGURA 58 – Perspectiva pavilhão apoio 1

FIGURA 59 – Perspectiva pavilhão apoio 2


FIGURA 60 – Perspectiva conjuntos de vizinhanças + pavilhão de apoio


CONCLUSÃO



O estudo sobre as políticas publicas, principalmente nacionais, sobre a situação dos refugiados mostrou que ainda existem diversas lacunas a serem preenchidas no Instatuto do Refugiado, tendo em vista a situação de diversas pessoas que chegam no Brasil e não possuem moradia, água, ou espaços adequados para higiene pessoal. Além disso, o trabalho mostrou que a população brasileira ainda possui muitos preconceitos estabelecidos com relação aos refugiados, sendo na maioria deles negativos, diminuindo ainda mais as oportunidades de condições melhores de vida dessa população. Desta forma, o trabalho também evidencia a importância das relações pessoais entre refugiados e entre a população receptora no processo de reabilitação, uma vez que se tratam de pessoas que buscam auxílio e fogem de uma situações como guerras e perseguições. Além disso, foi importante mostrar como a arquitetura pode contribuir nesse processo de reabilitação, onde foi usada como ferramenta de incentivo dessas relações. Por fim, esse trabalho contribui com o entendimento que ao propor um projeto destinado a habitações emergenciais, além das questões funcionais, como custos, sistemas de montagens e elementos construtivos, é necessário uma leitura do local de implantação dessas unidades, com relação aos materiais e técnicas locais e, mais importante, uma análise das necessidades dessa população, proporcionando um espaço seguro e capaz de garantir novamente seus direitos que foram tirados por motivos políticos e sociais.

123


124


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



ALBERT, Bruce; A FUMAÇA DO METAL: HISTÓRIA E REPRESENTAÇÕES DO CONTATO ENTREOS YANOMAMI. Anuario Antropológico, Rio de Janeiro, 1992. ANDERS, G. C. Abrigos temporários de caráter emergencial. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2007. CANINEU, Maria L.; Por que o Brasil deveria acolher os refugiados? Disponível em: < https://www.hrw.org/pt/news/2016/06/20/291108>. Folha de São Paulo, 2016. CHING, Francis, D. K.; Arquitetura: Forma, Espaço e Ordem. Martins Fontes, São Paulo, 2012. CRÉPEAU, F. (Ed). Forced migration and global processes: a view from forced migration studies. Lanham; Oxford: Lexington Books, 2006. CUNHA, P. S. C.; SOUZA, R. B. L.; SOUZA, P. L. ANÁLISE DO SETOR MADEIREIRO DE RORAIMA E SUA INTERAÇÃO COM A CONTABILIDADE AMBIENTAL E O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL. ConTexto, Porto Alegre, v. 9, n. 15, 1º semestre 2009.

127


FERES, G.S. Habitação emergencial e temporária: estudo de determinantes para o projeto de abrigos. Dissertação de Mestrado – Campinas-SP: Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Campinas, 2014. HERNANDES, T. H. Políticas abertas x cidades fechadas: Centro de apoio e acolhida aos imigrantes refugiados. Universidade São Judas Tadeu, São Paulo, 2016. JACOBS, Jane.; Morte e vida das grandes cidades. Martins Fontes, São Paulo, 2014. KUHLMAN, T. The Economic Integration of Refugees in Developing Countries: A Research Model. Journal of Refugee Studies, Oxford, v. 4, n. 1, p. 1-20, 1991. LYNCH, Patrick; Barberio Colella ARC projeta casas “pop-up” no Nepal. Disponível em: <https://www.archdaily.com.br/br/776295/barberio-colella-arcprojeta-casas-pop-up-no-nepal>. Archdaily, 2015. MOREIRA, J. B. Política em relação aos refugiados no Brasil. Dissertação de Doutorado. Campinas: Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, 2012.

128


Organização das Nações Unidas; Maioria de venezuelanos em Roraima é jovem, possui boa escolaridade e está trabalhando. Disponível em: < https:// nacoesunidas.org/maioria-de-venezuelanos-em-roraima-e-jovem-possui-boaescolaridade-e-esta-trabalhando/>. 2017. SANTOS, Milton.; Espaço e sociedade. Editora Vozes, Petrópolis, RJ, 1982. SOUSA, R. A. G. Arquitectura de emergência: do abrigo temporário à habitação permanente. Dissertação de Mestrado – Lisboa, Portugal: Faculdade de Arquitetura, Universidade de Lisboa, 2015. TAMURA, K. M. Habitação Emergencial: do temporário ao permanente. Trabalho Final de Graduação. CTC – DAU – Arquitetura e Urbanismo – Universidade Estadual de Maringa, Maringa, 2017. TAMURA, K. M. Habitação Emergencial: do temporário ao permanente. Trabalho Final de Graduação. CTC – DAU – Arquitetura e Urbanismo – Universidade Estadual de Maringa, Maringa, 2017. VASCONSELOS, Heloisa; Entenda a crise na Venezuela que provocou forte onda migratória ao Brasil. Disponível em: < https://www.opovo.com. br/noticias/mundo/2018/03/entenda-a-crise-na-venezuela-que-provocou-ondamigratoria-ao-brasil.html>. Folha de São Paulo, 2016.

129


VERWEY, Anton; ZERBINI, Renato; SILVA, Ariel. A percepção brasileira dos refugiados. Revista Brasileira de Política Internacional, Brasília, v. 43, n. 1, p.183-185 jun. 2000.

130


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.