Espelho Cinematográfico

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LUCAS MAGALHテウS





LUCAS MAGALHテウS

www.lpm.com.br

L&PM Pocket


Este livro foi publicado pela editora L&PM POCKET, em formato 21x21 cm, em 2014 Capa: Lucas Magalhães Revisão: Lucas Magalhães ISBN: 847-32-354-9537-8 B326s Magalhães, Lucas, 1992 Espelho Cinematográfico/Lucas Augusto Campos Magalhães - Belo Horizonte: L&PM, 2014. 82p. 21cm. 1. Teoria Design. 2. Magalhães, Lucas Todos os direitos reservados por por L&PM POCKET Rua Comendador Coruja, 314 - loja 9 - Floresta - Porto Alegre/RS - Brasil - CEP 90220-180 Fone: (51) 3225.5777 - Fax: (51) 3221.5380 Pedido e Depto. Comercial: vendas@lpm.com.br Fale Conosco: info@lpm.com.br Impresso no Brasil


A compreensão da estrutura e da liberdade no design, da teoria à aplicação no mundo real.



O Projeto // 13 O Rom채ntico // 19 O Narrador // 35 O Complexo // 51 O Chefe // 67



O Projeto


O PROJETO Fazer uma analogia entre o design editorial e o cinema, pode ser considerado algo complexo, mas para isso, deve ser levado em consideração um enorme fator: as sensações. A partir do conceito “espelho cinematográfico”, uma melhor maneira de ler e entender esse livro é criada. A publicação possui um formato quadrado quando fechado, e aberto, representa um frame de uma película cinematográfica.

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A publicação é composta por quatro capítulos principais, cada capítulo tem como objetivo traduzir um estilo editorial/ cinematográfico em específico, e cada capítulo é cuidadosamente trabalhado para que esse estilo possa ser reproduzido, desde a escolha dos estilos tipográficos a escolha do papel a ser impresso.



Em todos os temas que possam ser abordados em uma publicação editorial, o escolhido para este estudo foi o grid, devido ao fato de ser um dos principais elementos estruturais responsável a transmissão de alguma ideia ou mensagem na página impressa (ou web). Retornando ao conceito principal, a característica principal do espelho é refletir (palavra que também é utilizada como metáfora em relação ao chamado “espelho editorial”) e a partir dessa ideia, inicia-se a estrutura básica da publicação, na página esquerda apresenta-se geralmente informações referentes ao grid, desconstrução de grids, exemplos e uma analogia dessa leitura editorial no cinema, e na página direita, o “reflexo” desse estudo, quase sempre traduzido em imagens. Os exemplos, são apresentados em fundo preto e com traço em branco, reforçando a técnica de fotografar (foto=luz e gravar=escrever) na película cinematográfica. Na estrutura organizacional do capítulo, primeiro são apresentados exemplos de grids e como descontruilos, para que a partir desse entendimento, o leitor possa captar a sensação que o grid tenta trasmitir e traduzi-lo para a linguagem cinematográfica a partir do enredo do filme apresentado, porém, para entender bem uma obra, às vezes se faz necessário conhecer o seu criador.

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Portanto, conclui-se que para o bom entendimento dessa publicação, o leitor deve possuir um mínimo conhecimento sobre os componentes de um grid, ao lado são apresentados os principais elementos que o compôem:

COLUNAS São áreas verticais que contém textos ou imagens. A largura e quantidae de colunas numa página ou tela podem variar dependendo do conteúdo

MARGENS São áreas protetoras periféricas. Representam a quantidade de espaço entre a borda do formato, incluindo as calas e o conteúdo da página. As margens ainda podem abrigar informações secundárias, como notas, títulos e legendas.

MÓDULO São divisões individuais separadas por espaços uniformes, possibilitando um grid ordenado e repetitivo. Combinando módulos podese criar colunas e espaçoes horizontais de vários tamanhos.


ZONAS ESPACIAIS São Agrupamentos de módulos ou colunas que podem formar áreas específicas para textos, anúncios, imagens ou outras informações.

GUIAS HORIZONTAIS São alinhamentos que quebram o espaço em faixas horizontais. Não são efetivamente linhas: as guias horizontais são um método para usar o espaço e os elementos para guiar o leitos pela página.

MARCADOR X Auxiliam o leitor a navegar pelo documento indicando posicionamento para informações que aparecem na mesma posição, os marcadores incluem número de página, cabeçalhos, títulos correntes, rodapés e ícones.

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O Rom채ntico




Grid retangular “Sua tarefa é acomodar um longo texto corrido, como um romance ou um ensaio extenso...” O grid retangular ou manuscrito é a estrutura mais simples. Como diz o próprio nome, sua estrutura básica é uma grande área retangular que ocupa a maior parte da página. Sua tarefa é acomodar um longo texto corrido, como um romance ou um ensaio extenso, e foi desenvolvido a partir da tradição do manuscrito que mais tarde resultou na impressão de livros. Ele tem uma estrutura primária – o bloco de texto e as margens que definem sua posição na página – e uma secundária que define outros detalhes importantes - a localização e as proporções dos cabeçalhos no topo ou no pé, o nome do capítulo e os fólios (números de página), além do espaço para as notas de rodapé, se for o caso. Mesmo numa estrutura tão simples, é preciso cuidar para que a leitura, com a mesma textura página após página, seja agradável. Uma grande quantidade de texto corrido com o mesmo tipo é essencialmente uma composição neutra e passiva. Deve-se criar conforto, estímulo e interesse visual para manter a atenção do leitor e evitar o cansaço visual numa longa sessão de leitura.

“Margens laterais estreitas aumentam a tensão porque a matéria viva está mais próxima do limite do formato...”

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Uma maneira de criar interesse visual é ajustar as proporções das margens. Na página dupla, a medianiz (margem interna de um livro) precisa de uma largura suficiente para impedir que o texto desapareça na espinha. Os grids clássicos espelham os blocos de texto à esquerda e à direita com uma margem central mais larga. Alguns designers usam


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uma proporção matemática para determinar um equilíbrio harmônico entre as margens e o peso da mancha de texto. Em geral, margens mais largas ajudam o foco visual e dão sensação de calma e estabilidade. Margens laterais estreitas aumentam a tensão porque a matéria viva está mais próxima do limite do formato. Os grids retangulares tradicionais usam margens de largura simétrica, mas também é possível criar uma estrutura assimétrica, com diferentes intervalos de margem. Uma estrutura assimétrica cria mais espaço em branco onde os olhos podem descansar; ela também oferece espaço para notas, ilustrações pontuais ou outros elementos editoriais que são esporádicos e, portanto, não chegam a articular uma verdadeira coluna. O tamanho do tipo na mancha – bem como o espaço entre linhas e palavras e o tratamento do material subordinado – é incrivelmente importante. A escolha do tamanho do tipo e seu espaçamento permite que o designer aumente o interesse visual, tratando o conteúdo secundário de maneira a criar um contraste, ainda que sutil. Note-se que pequenas alterações no peso, na ênfase ou no alinhamento criam enormes diferenças na hierarquia geral da página; nestes casos, menos costuma ser mais.

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Desconstruindo o grid

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Imagem retirada do livro “Percy Jackson’s and the sea of monsters”


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Cartaz de divulgação do filme “Hoje eu quero voltar sozinho” escrito e dirigido por Daniel Ribeiro


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Daniel Ribeiro Diretor, roteirista e montador paulista, nasceu em 1982 e formou-se pela Escola de Comunicações e Artes da USP. Seu curta-metragem Café com leite (2007), viajou o mundo em festivais após ser premiado com o Urso de Cristal na mostra Geração do Festival de Berlim. É um dos criadores do projeto Música de Bolso, que produz vídeos musicais para a internet. Seu primeiro longa-metragem – Hoje eu quero voltar sozinho – recebeu o prêmio de melhor filme da mostra Panorama, pela Fipresci, e o prêmio Teddy de melhor longa para um filme com temática LGBT no Festival de Berlim 2014.

Filmografia selecionada: - Hoje eu quero voltar sozinho (2014). Prêmio de melhor filme da mostra Panorama pela Fipresci, e prêmio Teddy de melhor longa para um filme com temática LGBT no Festival de Berlim. - Eu não quero voltar sozinho (2010). Curta-metragem. Prêmio de melhor filmes pelo júri, crítica e público e melhor roteiro no Festival de Paulínia.

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- Café com leite (2007). Curta-metragem. Prêmio Urso de Cristal no Festival de Berlim. Prêmio de melhor curta-metragem no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.



Hoje eu quero voltar sozinho A estreia de Daniel Ribeiro como diretor de longas-metragens, seria dizer que trata de amor. De forma mais intensa, o filme retoma os personagens, o elenco e a história do curta Eu não Quero Voltar Sozinho, de 2010, que ganhou prêmios em festivais e depois repercutiu no YouTube, onde tem quase 3 milhões de visualizações. Com mais tempo e mais recursos, o diretor pode explorar de forma sensível a sexualidade e as dificuldades para conquistar a independência de Leo (Ghilherme Lobo), um adolescente que nasceu cego. Sem nenhuma autocomiseração e com um humor certeiro, o longa mostra Leo e sua amiga inseparável Giovana (Tess Amorim) vendo suas vidas mudar após a chegada de Gabriel (Fabio Audi) à escola. O trio logo fica muito próximo e, como em qualquer triângulo amoroso, adulto ou juvenil, o ciúme é incontornável: está nas ações da amiga que defende Leo com unhas e dentes, na superproteção da mãe, na compreensão do pai que busca dialogar e, especialmente, na aproximação com o novo amigo. Um ponto muito tocante do filme é a naturalidade com que o próprio Leo passa a tratar a sua cegueira com a chegada do novo amigo. Seja pela força do hábito ou por nem lembrar que o menino é diferente, Gabriel vive cometendo gafes do tipo “já viu aquele vídeo famoso?”. No lugar de causar constrangimento, a total falta de dedos do amigo impulsiona Leo a buscar novas experiências, antes impensadas, como ir ao cinema ou sair de casa no meio da madrugada, sem avisar, para “ver” um eclipse.

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O Narrador




GRID COLUNAR A

informação descontínua se beneficia da organização em colunas verticais. As colunas podem ser dependentes umas das outras no texto corrido, independentes para pequenos blocos de texto ou somadas para formar colunas mais largar; o grid de colunas é muito flexível e pode ser usado para separar diversos tipos de informação. Por exemplo, algumas colunas podem ser reservadas parar o texto corrido e imagens grandes, e as legendas podem ficar numa coluna ao lado: essa disposição separa claramente as legendas do material primário, mas permite que o designer crie uma relação direta entre estes dois textos.

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tamanho, se a coluna for muito estreita provavelmente haverá muita quebra de palavras, e será difícil chegar uma textura uniforme. No outro extremo, com uma coluna larga demais para determinado corpo de letras, o leitor terá dificuldade em localizar o começo das linhas. Testando os efeitos de mudar o tamanho do corpo, da entrelinha e dos espaçamentos, o designer conseguirá achar uma boa largura de coluna. Num grid de coluna tradicional, a entrecoluna recebe uma medida x, e as margens geralmente recebem i dobro da largura da entrecoluna, ou seja, 2x. As margens mais largas que as entrecolunas dirigem o olhar para dentro, A largura das colunas depende diminuindo a tensão entre as da fonte usada no texto principal. bordas da coluna e os limites do O objetivo é definir uma largura formato. Mas não existe uma capaz de conter uma quantidade regra geral, e os designers têm a cômoda de caracteres numa liberdade de adaptar a proporção linha de tipos em determinado coluna/margem ao seu gosto.

Num grid de coluna, também existe uma estrutura subordinada. São as guias horizontais [flowlines]; intervalos verticais que permitem acomodar na página certas quebras de texto ou imagens e criar faixas horizontais de fora a fora. A linha de topo ou “varal” [hangline] é um tipo de guia horizontal: a linha imaginária traçada no alto do texto principal. Ela define que a distância do topo da página deve se iniciar o texto em coluna. Às vezes uma guia horizontal perto do topo define a posição para os cabeçalhos, os fólios ou os divisores de seções; outras guias horizontal no meio ou mais abaixo da página podem criar áreas para imagens ou outros tipos de textos concorrendo com o


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principal, como uma linha do tempo, subitem ou um texto destacado. Quando se lida com vários tipos de informação radicalmente diferentes entre si, uma opção é criar um grid de coluna para cada um deles, em vez de tentar juntálos em um só. A natureza da informação a ser veiculada pode pedir um grid de duas colunas e um outro de três colunas, ambos com a mesmas margens. Nesse grid composto, a coluna central do grid de três colunas se sobrepões à entrecoluna do grid de duas. Um grid de coluna composto pode ser formado por dois, três, quatro ou mais grids diferentes, cada um destinado a um tipo específico de conteúdo.

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DESCONSTRUINDO

O GRID! 42

Imagem retirada da edição 191 da revista “Empreendedor”, exemplo da aplicação de grid colunar em revista.


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DESCONSTRUINDO O GRID

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Imagem retirada do “Jornal o Dia”, exemplo da aplicação de grid colunar em jornal.


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Fernando Meirelles Cineasta, produtor e roteirista

D

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iretor de Cidade de Deus (2002), filme de maior bilheteria nacional de 2002. O longa-metragem também foi eleito o melhor filme da década pelo júri do jornal O Globo e um dos 100 melhores de todos os tempos pela revista Time. No exterior, o filme foi selecionado para o Festival de Cannes, onde foi apresentado em caráter hors concours. Sua trajetória internacional culminou com uma indicação ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e quatro indicações ao Oscar como melhor direção, roteiro adaptado, fotografia e edição. Formado em arquitetura, o cineasta realizou suas primeiras experiências com o audiovisual ainda na faculdade. Com um grupo de

colaboradores, criou a produtora Olhar Eletrônico, que conseguiu notoriedade nos anos 1980. A partir de 1989, criou e dirigiu o programa infantil Castelo Rá-tim-bum, grande sucesso da TV Cultura, que acabaria inspirando o longa-metragem de mesmo nome dirigido por Cao Hamburger. Em 1992, fundou a O2, inicialmente uma produtora de filme publicitário e de programas para televisão. Depois de uma longa carreira de diretor de publicidade, fez seu primeiro longa-metragem em 1998, O menino maluquinho II - A aventura (1998), que assinou ao lado de Fabrízia Alves Pinto e, desde então, tem se dedicado mais à carreira de cineasta.


Filmografia selecionada: Diretor - Ensaio sobre a cegueira (Blindness/2008). Coprodução entre Brasil, Canadá e Japão, baseada no livro homônimo de José Saramago. Selecionado para competição e abertura do Festival de Cannes 2008.- O jardineiro fiel (2005). Produção inglesa selecionada para o Festival de Veneza. - Cidade de Deus (2002). Codirigido com Kátia Lund. Selecionado para o Festival de Cannes. Indicado ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e quatro indicações ao Oscar como melhor direção, roteiro adaptado, fotografia e edição. - Palace II (2001). Curta-metragem codirigido com Kátia Lund. Premiado no Festival de Berlim. - Domésticas - O filme (2001). Codirigido com Nando Olival. - O menino maluquinho II - A aventura (1998). Codirigido com Fabrízia Alves Pinto

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CIDADE DE DEUS O

principal personagem do filme Cidade de Deus não é uma pessoa. O verdadeiro protagonista é o lugar. Cidade de Deus é uma favela que surgiu nos anos 60, e se tornou um dos lugares mais perigosos do Rio de

Janeiro, no começo dos anos 80. Para contar a estória deste lugar, o filme narra a vida de diversos personagens, todos vistos sob o ponto de vista do narrador, Buscapé. Este, um menino pobre, negro,

muito sensível e bastante amedrontado com a idéia de se tornar um bandido; mas também, inteligente suficientemente para se resignar com trabalhos quase escravos. Buscapé cresceu num ambiente bastante violento. Apesar de sentir que todas as chances estavam contra ele, descobre que pode ver a vida com outros olhos: os de um artista. Acidentalmente, torna-se fotógrafo profissional, o que foi sua libertação. Buscapé não é o verdadeiro protagonista do filme: não é o único que faz a estória acontecer; não é o único que determina os fatos principais . No entanto, não somente sua vida está ligada com os acontecimentos da estória, mas também, é através da sua perspectiva que entendemos a humanidade existente, em um mundo aparentemente condenado por uma violência infinita.


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O Complexo




Grid Modular Projetos muitos complexos exigem um grau maior de controle do que o de um grid de coluna, e neste caso a melhor opção pode ser o grid modular. Um grid modular é, essencialmente, um grid de coluna com muitas guias horizontais que subdividem as colunas em faixas horizontais, criando uma matriz de células chamadas módulos. Cada módulo define um pequeno campo de informação. Juntos, esses módulos definem áreas chamadas zonas espaciais que podem receber funções específicas. O grau de controle dentro do grid depende do tamanho dos módulos. Os menos oferecem mais flexibilidade e maior precisão, mas um excesso de subdivisões pode gerar confusão ou redundância.

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As proporções do módulo podem ser determinadas de inúmeras maneiras. Por exemplo, o módulo pode ter a largura e a altura de um parágrafo médio do texto principal. A proporção dos módulos pode ser vertical ou horizontal, e essa decisão pode estar relacionada com os tipos de imagens ou com a ênfase geral pretendida pelo designer. As proporções das margens devem ser avaliadas simultaneamente em relação aos módulos e as espaços entre eles. Os grids modulares geralmente são usados para coordenar sistemas de publicações. Se o designer tem oportunidade de considerar todos os conteúdos (ou a maioria deles) que estarão dentro do sistema, os formatos podem derivar do módulo ou vice- versa. Ao calibrar a relação entre formato e módulo, o designer atinge vários objetivos: a proporcionalidade entre os diversos formatos significa que irão criar um conjunto harmonioso; é mais fácil que as peças possam ser produzidas ao mesmo tempo, e isso diminui muitos custos.

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Além de sua praticidade, o grid modular desenvolveu um padrão estético e conceitual atraente para alguns designers. Entre os anos 1950 e 1980, ele esteve associado a uma ordem política e social ideal. Esses ideais derivam da concepção racionalista da Bauhaus e do estilo internacional suíço, que defende a objetividade e a ordem, a redução aos princípios essenciais e a clareza na forma e na comunicação. Os designers que adotam esses ideais às vezes usam grid modulares para transmitir esse racionalismo como um invólucro interpretativo de uma determinada comunicação visual. Mesmos projetos com demandas informativas ser estruturadas com um rígido grid modular, acrescentando um maior sendo de ordem, clareza e seriedade, ou uma impressão urbana, matemática ou tecnológica.

Um grid modular também serve para o desenho de informações tabulares, como gráficos, formulários, diagramas ou sistemas de navegação. A repetição exata do módulo ajuda a padronizar o espaço nas tabelas ou formulários, e a integrá-los na estrutura do texto e imagens adjacentes.

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DESCONSTRUINDO O

GRID

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Imagem disponĂ­vel em: http://www.pinterest.com/ pin/176484879122101461/


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Heitor Dhalia 62

Cineasta, nasceu em Pernambuco em 1970. Trabalhou com propaganda e criou mais de cem campanhas publicitárias. Estreou no cinema como assistente de direção de Aluísio Abranches em Um copo de cólera (1999), e nesse mesmo ano codirigiu, com Renato Ciasca, o curta-metragem Conceição. Em 2002, voltou a trabalhar com Aluísio Abranches, como corroteirista de As três Marias. Em 2004, estreou na direção de longa-metragem com Nina, filme livremente inspirado no romance Crime e castigo, de Fiodor Dostoievski. Seu segundo filme, O cheiro do ralo (2006), com roteiro de Marçal Aquino e do próprio Dhalia, ganhou o prêmio do júri de melhor filme e prêmio da crítica na Mostra de São Paulo, o prêmio especial do júri no Festival do Rio e entrou na seleção oficial do Sundance Film Festival de 2007, na competição mundial de filmes de ficção. Em 2009, lançou o longa À deriva, selecionado para a mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes. No mesmo ano, fundou a produtora ParanoidBR, ao lado de Patrick Siaretta, da Teleimage, Tatiana Quintella, ex-secretária de Cultura de Paulínia, e o produtor Fernando Fernando Menocci, entre outros. Em 2012, dirigiu seu primeiro longa-metragem para um estúdio hollywoodiano, o suspense 12 horas.


Filmografia Diretor -Serra Pelada (2013)

-2 horas (2012) -À deriva (2009). Selecionado para a mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes. -O cheiro do ralo (2006). Prêmio do júri de melhor filme e prêmio da crítica na Mostra de São Paulo. Prêmio especial do júri no Festival do Rio. Seleção oficial do Sundance Film Festival de 2007. -Nina (2004) -Conceição (1999). Curta-metragem codirigido com Renato Ciasca.

Roteirista -Serra pelada (2013). Escrito com Vera Egito.

-O cheiro do ralo (2006). Roteiro escrito com Marçal Aquino. -As três Marias (2002). Roteiro escrito com Aluízio Abranches.

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O Cheiro 20 do Ralo 06

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Música agradável e foco na passagem de um quadril vestindo um shortinho com estampa de paisagem paradisíaca. É nessa narrativa que começa uma das mais interessantes obras da cinematografia nacional, O Cheiro do Ralo (2006). Lourenço vive num universo de compra e venda de objetos usados, de maneira que a circulação constante de pessoas dependentes e em situação fragilizada imprime na sua personalidade uma relação fria e impessoal no seu relacionamento com o outro. O micro poder dado a ele na posição de comprador de objetos alheios reflete-se em conflitos internos e rompe a barreira do mundo do trabalho. A narrativa segue com a característica da narração subconsciente do protagonista, que aliás, é o único que tem nome o filme. Mesmo a garçonete quando num flerte se apresenta a Lourenço, tem seu nome absorvido por um silêncio, numa interessante sacada que contribui para que o público entenda a singularidade desse relacionamento e dessa aproximação. Sua imersão na prática de um trabalho que arranja todo o relacionamento interpessoal à transação monetária e atribuição de valores a objetos pela simples arbitrariedade do ir ou não com a cara do indivíduo na sua sala, põe em evidencia o lugar complexo do “eu profissional” na relação emaranhada com o “eu pessoal”. Essa relação transformadora do homem com o trabalho é de grande importância para o entendimento do lugar do indivíduo na sua trajetória social, mesmo no campo da ficção é possível verificar conexões com referenciais teóricos como o de


Karl Marx. Marx já havia enunciado a questão da práxis social como um processo de trabalho cuja realização depende da transformação real do indivíduo trabalhador. O trabalho não se assenta exclusivamente na transformação de objetos e manipulação de situações, como também implica na adaptação da identidade do sujeito a transformar a si mesmo na realização do ofício. A identidade de Lourenço carrega traços de sua atividade, assentada na eficiência da arte de negociação de preços de artefatos. Porém, o poder está centrado na sua figura, a câmera algumas vezes assume a perspectiva do que oferta o objeto a ser comprado. As figuras que visitam a sala pretendem um bom retorno financeiro, mas isso não interessa a Lourenço, cuja prática e experiência não o permite olhar com pena das pessoas. Para esses sujeitos valerá um dos jargões que o personagem carrega durante o filme: “A vida é dura”. O filme tem momentos de densidade, mas a rotatividade de personagens cria uma atmosfera dinâmica e com muitas situações engraçadas. O personagem de Selton Mello, além de grandes frases de efeito, tem um humor ácido e satírico de refinado alcance nas situações. A minha favorita é, quando um cliente olha o ralo e diz “Olha, tem até merda voltando”, e Lourenço responde “Então faz igual a merda, volta outra vez”. Feito com o orçamento de trezentos mil reais (o que para cinema é bem barato) foi possível chegar a um grande resultado. Com grande desempenho de Heitor Dhalia na direção, o premiado O Cheiro do Ralo é um grande filme, com grandes atuações, mas ainda prova que para fazer cinema no Brasil é preciso mais que vontade. A paixão e a associação dos produtores, atores e toda equipe foi determinante para a viabilização desse projeto de grande nível de sofisticação no roteiro e maturidade cinematográfica, raríssimos em tempos de Globo Filmes. A complexidade do personagem que desperta simultânea e aleatoriamente lapsos de amor e ódio, há de figurar entre os grandes personagens do nosso cinema, como retrato dos dilemas sociais e comportamentais do nosso tempo.

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O Chefe




Grid

Hierárquico

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As vezes as exigências visuais e informativas de um projeto demandam um grid especial que não se encaixa em nenhuma categoria. Esses grids se adaptam Às exigências da informação, mas se baseiam mais numa disposição intuitiva dos alinhamentos, posicionados conforma as várias proporções dos elementos, do que da repetição regular dos intervalos. A largura dos colunas e entre colunas costuma variar. A construção de um grid hierárquico começa com o estudo da interação ótica dos vários elementos em diferentes posições espontâneas, e depois com a definição de uma estrutura racionalizada que irá coordená-los. A atenção às

nuances da mudança do peso, do tamanho e da posição na página pode resultar numa armação reprodutível em páginas múltiplas. Às vezes um grid hierárquico unifica elementos díspares ou cria uma superestrutura que contrapõe elementos orgânicos numa única aplicação, como um cartaz. Um grid hierárquico também serve para unificar os diversos lados de uma embalagem ou parar criar novos arranjos visuais, quando dispostos em grupos.


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A página de internet é um exemplo de grid hierárquico, no começo da web, muitas variáveis da composição de página eram instáveis devido às configurações do navegador do usuário final. Mesmo hoje, podendo configurar margens fixas, o conteúdo dinâmico presente na maioria dos sites, além da opção de redimensionar a janela do navegador, exige uma flexibilidade na largura e comprimento que impede uma abordagem estritamente modular, mas continua a requerer uma padronização dos alinhamentos e áreas de exibição. Esse tipo de grid, seja em livros, cartazes ou páginas de internet, é uma abordagem quase orgânica da ordenação dos elementos e da informação que ainda unifica arquitetonicamente todas as partes no espaço tipográfico.

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DESCONSTRUINDO

O GRID

Imagem disponĂ­vel em: http://ideiasportalcriativo.com.br/ideias/ inspiracao/120-design/96-trabalhando-com-grids

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DESCONSTRUINDO O GRID

Imagem disponĂ­vel em: http://dahon.com.br/bicicletas/speedp8.htm

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Guel Arraes

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Cineasta e diretor da TV Globo, responsável por programas como TV Pirata, Programa legal e Comédia da vida privada, seu primeiro longa-metragem para cinema na realidade foi uma versão condensada da minissérie que dirigiu para a TV, inspirada na peça de Ariano Suassuna, O auto da Compadecida (2000). O filme se tornou o campeão de bilheteria do ano, com mais de dois milhões de espectadores, e lhe rendeu o prêmio de melhor diretor no Grande Prêmio Cinema Brasil. Nascido em 1953, filho do político Miguel Arraes, viveu exilado com sua família na Argélia. Começou sua carreira em Paris, no Comitê do Filme Etnográfico dirigido por Jean Rouch, considerado um mestre do cinema-verdade. Dirigiu documentários de curta-metragem em super-8 e também o média Barbes Palace (1979), em parceria com Ricardo Lua. Também dirigiu peças de teatro, e uma de suas montagens se transformou em seu terceiro longa-metragem, Lisbela e o prisioneiro (2003), adaptação do texto de Osman Lins. Desde então, concilia sua atuação como diretor de TV com a de cineasta.


Filmografia

Diretor -O bem amado (2010). Baseado na obra de Dias Gomes. -Romance (2008) -Lisbela e o prisioneiro (2003) -Caramuru – A invenção do Brasil (2001) -O auto da Compadecida (2000) -Barbes Palace (1979). Média-metragem em parceria com Ricardo Lua.

Produtor

-Reis e ratos (2012), de Mauro Lima. Com parcerias. -Meu tio matou um cara (2005), de Jorge Furtado. Com parcerias. -O coronel e o lobisomem (2005), de Maurício Farias. Com parcerias.

Roteirista

-Romance (2008). Roteiro escrito em parceria com Jorge Furtado. -Meu tio matou um cara (2005), de Jorge Furtado. Com parcerias. -O coronel e o lobisomem (2005), de Maurício Farias. Com parcerias.

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O Auto da Compadecida O enredo do filme se desenvolve com ambientação no sertão nordestino em torno de dois personagens principais: João Grilo (Matheus Nachtergale), um sertanejo mentiroso e Chicó (Selton Mello), o maior covarde da região. Ambos são muito pobres e sobrevivem de pequenos negócios e saques enquanto vagam pelo sertão. Em um desses golpes, eles se envolvem com Severino de Aracaju (Marco Nanini), um temido cangaceiro, que os persegue pela região. Com uma mistura de drama e comédia, o filme também aborda aspectos culturais e religiosos do nordeste do Brasil.

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Auto da Compadecida nasceu originalmente como uma peça teatral escrita por Ariano Suassuna em 1957. Em 1999, transformou-se em uma microssérie exibida pela Rede Globo, que continha tramas paralelas que acabaram por serem removidas do filme.4 Nessa época, o diretor Guel Arraes procurou Suassuna para que ele fizesse uma adaptação cinematográfica da peça, acrescentando cenas de outras de suas peças, O Santo e a Porca e Torturas de um Coração. O escritor disse: “Como são obras no mesmo estilo de O Auto, ou seja, com histórias populares, eu aceitei”. O diretor foi mais além e incluiu influências de Decameron, de Boccaccio, no filme.1 Entre os fatos omitidos do filme estão o gato que “discome”, na qual João Grilo e Chicó tentam enganar Dora, a esposa do padeiro, apresentando-lhe um gato que evacuava moedas de prata; a primeira invasão dos cangaceiros à cidade de Tape.


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Espelho Cinematogrรกfico Lucas Augusto Campos Magalhรฃes Prรกtica Projetual III

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Escola de Design - UEMG Belo Horizonte 2014



“A compreensão da estrutura e da liberdade no design, da teoria à aplicação no mundo real.” Este livro é um grande guia sobre design editorial e estudo de grid, abordado de uma maneira diferente da convencional, ele não tem como objetivo ensinar a técnica de criação de grid, mas sim a mensagem que você deve transmitir utilizando-o.

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