Ano 1 - Nº011 - Novembro 2010 - Brasil - R$5,90 - Europa €1,50
Macro A revista brasileira de fotografia!
A absurda provocação do olhar
Entrevista exclusiva com James Natchway: O mais famoso fotógrafo de guerra da atualidade
Perfil do fotojornalista Didier Lefèvre: ele ficou famoso ao narrar sua história nos quadrinhos
Cobertura inédita da 21ª Bienal Internacional da Fotografia realizada há 21 anos na Grécia
Homenagem aos fotojornalistas com imagens de André Dusek
A fotografia cura depressão? Sacha Goldberger transformou sua avó na super Mamika
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Macro
A revista brasileira de fotografia!
Nesta edição:
Editorial: A arte do olhar fotográfico - Pág. 4 Zoom: O papel do celular na fotografia - Pág. 5
Pág. 06
Fotografia cura depressão?
Foto: Sacha Goldberger
Foto: André Dusek
Matéria especial sobre Fotojornalismo
Pág. 17
Pág. 24
Perfil: Didier Lefèvre
Foto: Didier Lefèvre
Pág. 10
Confira a cobertura inédita no Brasil da Bienal Internacional da Fotografia realizada anualmente há 21 anos na Grécia
Foto: Divulgação
Foto: Célio Costa
Entrevista exclusiva com o fotógrafo de guerra
Pág. 28
Edição 11 | Novembro 2010 | Macro
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olhar do leitor, editorial, expediente
Editorial
Olhar do leitor..
A arte do olhar fotográfico
Não concordei com a análise da Canon EOS 1000D. Entre as mais antigas ela é barata e acessível sim mas a lente que acompanha o kit original deixa a desejar se comparado ao kit Nikon D3000 que foi lançada logo depois, por exemplo, e acho que faltou comentar isso. Fernanda Trapo Estudante de Jornalismo
Qual o segredo de uma boa foto? A exposição certa, o foco preciso, o equipamento adequado, as cores, a luz ideal, a escolha do cenário ou do assunto.. Mas a verdade é que a resposta é bem mais simples do que parece! Para uma foto impressionar ela precisa, antes de tudo, nos falar à alma. E a ferramenta mais poderosa para isso é a composição. Claro que o conhecimento técnico ajuda mas no final é a forma que dispomos os elementos no quadro que
Olá Macro! Gostaria de solicitar que vocês voltassem a publicar fotógrafos antigos como o José Oiticica Filho na 5ª edição pois são excelentes referências para nossa criatividade e nos enxem os olhos. Franciele Favero Bióloga e professora Escreva para a macro você também: oi@revistamacro.com.br
Macro
Editora chefe e jornalista responsável Carmem Lúcia - MTb.10.756 Redação Diretor de redação: Alexandre Carbonieri Repórteres: Ravi Jaganatha, Heitor Headbanger e Logato Negu Editor de arte: Lucas Godoy Publicidade Radha Damodara
Administração Paulino Benvenuto Impressão Editora Voz do Povo 4
Macro | Novembro 2010 | Edição 11
Fotos: Lucas Godoy
Assinaturas e atendimento ao leitor Gerente: Rosa Teresan rosa@revistamacro.com.br Consultores: Lúcio Chicarelli, Luciana Godoy, Romeu Fernandes, Mateus Campos Teleatendimento: 0800-549796 Pela internet: www.revistamacro.com.br E-mail: contato@revistamacro.com.br
permite criar fotos que tocam até mesmo os mais indiferentes. Então, a dica é: coloque a máquina e o olhar fotográfico na bagagem e carregue-os para onde for. Aprenda a viver o momento com o olhar aceso, se apaixone, aponte a lente e disparare o diafragma. Garanto que o resultado irá surpreender e encantar. A fotografia é uma arte possível para quem a pratica em tempo integral, para quem a vive. Lucas Godoy
Zoom
opinião e notícias relevantes
Por Lucas Godoy
O papel do celular na fotografia
Flash
Foto: Arquivo
O artigo “Fotografia Por celu- cionamente imaginamos a utilidade lar”, publicado recentemente pela da fotografia. pesquisadora da Universidade FedTem havido ainda alusões eral da Bahia Karla Schuch Brunet é comuns no meio fotográfico ao fato mais um reflexo do que tem sacudi- de que a fotografia o celular poderá do o mundo da fotografia. O celular alcançar lugar importante na cultuchegou para estabelecer um novo ra visual de nossa sociedade e que marco no ramo da fotografia? a baixa qualidade das imagens será A mobilidade permite registrar superada em breve. os fatos na hora em que aconteE justamente aí está a concem, isso permitiu uma boa acei- tradição que eu gostaria abordar tação desta pelo jornalismo. Um no artigo desse mês. Não deveexemplo foi a publicação, no mês mos apenas nos sentar e aguardar passado, do ensaio do america- a fabricação de celulares perfeitos no Damon Winter no Afeganistão para a fotografia, nossa tarefa é a pelo The New York de observar esse Times. Para realizar momento histórico. “Não devemos apenas as fotos ele usou Em que essa caranos sentar e aguardar a apenas um iphone cterística de tecnofabricação de celulares e garante que aslogia nova, barata e perfeitos para a sim os militares em desenvolvimenfotografia” ficaram mais a vonto também habilita tade do que se estivesse com sua novas possibilidades no campo da lente reflex em mãos. experimentação artística. Além disso, para outros muitos, Assim como as Lomos foram a fotografia com o celular passa a consideradas a princípio câmeras ser algo completamente efêmero, de baixa qualidade para depois, até algo para se usar como tela de fun- hoje, serem muito bem aceitas no do ou enviar na hora aos amigos, campo da arte. Quem garante que sem a necessidade de armazenar isso não irá ocorrer com os celuno álbum de memórias, como tradi- lares? Estejamos atentos, os celu-
lares estão aí e suas possibilidades ainda foram pouco exploradas. Reparem nas distorções possíveis sem a edição de imagem, programando para registrar daqui a 3 segundos, por exemplo, e jogando o celular para cima. É só uma idéia, o convite fica aqui: a fotografia com o celular pode render novas formas de ver o mundo?
Por Nayara Ghundi Morre Sibylle Bergemann A fotógrafa alemã Sibylle Bergemann, conhecida por documentar com suas instantâneas a vida cotidiana na extinta República Democrática Alemã (RDA) faleceu no dia 3 de novembro. A frase “Me interessam as fronteiras do mundo, não seu centro” foi um marco em sua forma de pensar a fotografia. Suas fotos mais famosas residem na revista de moda Sibylle e em sua documentação do dia a dia na Alemanha comunista na RDA.
“Me agrada o que é não é correto nos rostos e nas paisagens” Sibylle Bergemann Edição 11 | Novembro 2010 | Macro
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Foto: Sibylle Bergemann
Antonio Bandeiras é ousado O ator espanhol Antonio Banderas mostrará pela primeira vez seu trabalho como fotógrafo na exposição “Segredos sobre negro”, aberta ao público nesta sexta-feira no Instituto Cervantes em Madri. Para ele, as imagens retratam o universo da cultura espanhola sob o ponto de vista da feminilidade. Ele afirma que quer “apenas dar vazão às inquietações”. “Tenho 50 anos e muito por fazer”, declarou. A mostra permanecerá em Madri até 21 de dezembro.
reportagem especial sobre fotojornalismo
Composição Alma do fotojornalismo brasileiro
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reportagem especial sobre fotojornalismo
Para conquistar um espaço de destaque nas páginas de jornais, sites e revistas, os fotojornalistas se desdobram, correm, enfrentam empurra-empurra, sobem em cadeira, escada, muro, andam na enchente, imploram para entrar em prédios vizinhos ao local do fato e até mergulham Fotos: André Dusek
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reportagem especial sobre fotojornalismo
Fotojornalistas se praparam na tribuna de imprensa do Maracanã Fotojornalismo Cenas desoladoras, lances de futebol, detalhes de rostos, violência urbana, acontecimentos sociais, estes são alguns aspectos do dia-a-dia do repórter fotográfico. O ambiente em que ele trabalha, até mesmo são mostradas pelas fotos que chegam aos jornais, revistas e exposições fotográficas. O esforço de captar uma imagem que traduza os fatos tem início quando o pauteiro, aquele que rege suas andanças ou mesmo a sensibilidade do próprio fotógrafo, que obedecendo a um impulso pessoal, busca colocar em prática, em forma de trabalho, aquilo que ele sabe fazer melhor. Numa primeira relação com a reportagem fotográfica no campo social emerge no fotógrafo a necessidade de aprofundar o seu trabalho, de se aproximar das pessoas. A emoção forte de entrar em contato com elas, descobrir seus anseios mais profundos revelados pela in8
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O COLEGUINHA “Começou com uma brincadeira lá em 1978. Em locais como Brasília, passamos horas juntos esperando a notícia acontecer. Mas com o tempo, passei a arquivar essas fotos e hoje tenho até um site para publicar minhas histórias e imagens dos coleguinhas, que é como nós jornalistas nos apelidamos” André Dusek nos presenteou com as belas imagens que ilustram esta reportagem. timidade do olhar, muitas vezes, atônitos, clamando por justiça, solidariedade ou até mesmo, por esperança, tornam o repórter fotográfico numa testemunha ocular de uma realidade, muitas vezes, ignorada pela nossa sociedade. O profissional sabe que cada
André Dusek imagem traduz uma realidade parcial, não traz todos ingredientes que a compõe. Mesmo um olhar triste ou alegre não dá a dimensão de sua dor ou felicidade, apenas incita. Entretanto para o fotógrafo, os primeiros cliques de sua câmera não escondem a emoção do conta-
reportagem especial sobre fotojornalismo
Pablo Valadares registra em Brasília o protesto Fora Arruda em 2009
A satisfação após uma boa foto
O PIONEIRO “Tenho a mais absoluta certeza que estas fotografias só são o que são porque Haruo nunca pensou em comercializá-las; fotografou pelo amor incondicional que tinha pela fotografia.”
Paulo César Boni to, da descoberta daquelas pessoas simples que, à sua frente, se preocupam com a aparência pessoal e seus pertences. Não são raros os momentos em que o repórter se sensibiliza. O contato com o cotidiano se torna um momento de transformação do
O primeiro doutor em fotojornalismo do Brasil, e um dos maiores pesquisadores no tema atualmente, Paulo César Boni demonstra a essência do que é ser fotógrafo ao se referir ao trabalho de Haruo Ohara. próprio fotógrafo. Entre a dualidade de emoções, o repórter fotográfico, pode estar acostumado com as turbulências de um país instável, mas, certamente, é transformado diáriamente pelos seus registros que capta e a compartilha com seus semelhantes na
tentativa de mostrar com os seus trabalhos um pouco do mundo real que cerca a todos. Ser fotojornalista é poder cobrir situações do cotidiano e também captar imagens de pessoas que são constantemente marginalizadas devido a inúmeros fatores – pobreza, cor, regionalismo, aparência etc. São momentos difíceis, mas necessários e revigorantes para o fotógrafo: impressionar, captar o inesperado e sacudir a sensibilidade dos leitores com o cotidiano. Quando este tipo de imagem é publicada, torna-se eterna pelo talento do repórter fotográfico. Serve ainda como referência para lembrar o passado. A profissão, entretanto, não é fácil, após uma sessão de fotos é preciso retomar a vida familiar normal, e por mais emocionado que esteja o fotojornalista não deve se deixar tocar totalmente com a feliz ou cruel realidade que enfrenta e traduz diáriamente. Lucas Godoy Edição 11 | Novembro 2010 | Macro
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entrevista
Diafragma James Natchway: “Eu não me censuro”
C Foto: Célio
Caminha devagar, suave e muito direito. É um homem sério, perfeccionista, totalmente comprometido com o fotojornalismo, descreve quem o conhece. James Nachtwey aparenta ser um solitário, apesar de definir a agência VII, por si fundada em 2001, como uma cooperativa de amigos; isto é, fotógrafos tão empenhados como ele na cobertura de conflitos e causas sociais. Hoje, vive em Banguecoque. Vivenciou o horror das guerras nos últimos 25 anos. O mostrou na edição luxuosa do seu segundo livro, Inferno (Phaidon Press). “Se olharmos para uma imagem de guerra, e ela não nos perturbar, algo falhou?”, defende. A conversa tem muitas pausas, próprias de quem mede o que diz. James Nachtwey prefere, claramente, o silêncio das imagens à prerrogativa de ser um homem de opiniões. Por Leslye Trapo
osta
Em entrevista exclusiva, o mais famoso fotógrafo de guerra, que cobriu conflitos e horrores em todo o mundo, pede para que eles não sejam esquecidos nem repetidos
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Fotos: James Natchway
Áfeganistão, 1986, Mujahedins jogam durante uma operação militar contra o exército soviético
entrevista
África do Sul, 1992, jovem Xhosano cumpre ritual da passagem para a idade adulta
MACRO: Seu forte é o jor- Mas o desafio é conseguir que do conteúdo: quero a fotografia nalismo de guerra, como vê as fotos mais exigentes, como as invisível e que o conteúdo salte. fotos de outros gêneros? de conflitos, sejam publicadas! Retoca as suas imagens, JAMES NACHTWEY: Apre- Como convencer editores a dar para as tornar mais fortes? cio-as pelo que são. Eu próprio espaço, quando os anunciantes Quando fazemos a impressão, fiz retratos, para entender o de- quere, outro tipo de imagem? Há escolhemos o nível de contraste, safio que implicavam. Mas me sempre tensão entre o market- o brilho, a escuridão, a profunpreparei para ser fotógrafo de ing e a responsabilidade social. didade das sombras. Como se guerra. Parecia-me ser este o Qual seu critério para con- revela um negativo feito há cem uso mais importante da fotogra- siderar uma fotografia forte? anos? A dada altura, colocamos fia. A guerra é a atividade que O mais importante é o con- num quadro de luz e pensamos: tem os efeitos mais profundos teúdo humano e emocional. “Que tipo de papel usar? Há cenem populações Isso é o coração e tenas de papéis. E o químico? Há “A fotografia de guerra numerosas. E isso alma da imagem. dezenas.” Isso que é fotografia. é, sob todos os aspectos, tem de ser mu- o mais difícil género de E outra parte é o Vejo o negativo e o digital dado. A fotograquão eloquente o como pontos de partida para fotojornalismo” fia de guerra é, fotógrafo conseg- recriar um sentido de realidade. sob todos os aspectos, o mais ue ser com a linguagem visual, a Não tento criar uma estética. difícil género de fotojornalismo: transmitir essa emoção. No meu Alguns fotógrafos gostam de é preciso chegar ao lugar certo, caso, coloco a forma ao serviço grandes contrastes, sombras nena hora certa, ser capaz de lidar com os aspectos da sobrevivência e ainda criar uma fotografia poderosa. Tudo isto num mundo caótico, violento, onde tudo está fora do controle. Que outra fotografia é tão desafiadora? Mas muito mais fácil para o público… É verdade. Essa outra fotografia tem mais espaço na imprensa: são temas que não perturbam, mais fáceis de olhar e mais vendáveis.. Vivemos num mundo visualmente orientado, O capitão e fundador da ong Sea Shepard, famosa por atacar em em que ficamos sofisticados até alto mar caçadores ilegais de baleias, Paul Watson no olhar. As fotografias falam. Edição 11 | Novembro 2010 | Macro
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entrevista
Rwanda, 1994 - Sobrevivente de um campo de concentração gras.. Mas o olho humano não vê assim: vê todos os pormenores, até nas sombras! E eu tento respeitar essa realidade. Quando se deve parar a câmara e ajudar as pessoas? Temos uma grande responsabilidade e temos que nos dedicar. Mas há alturas em que somos as únicas pessoa para ajudar. Não é um código moral, é humanidade básica. Qualquer um o faria. Não estou a dizer que tenho um qualquer código moral superior. Por exemplo, a maior parte das fotografias sobre a fome são feitas em centros de alimentação, onde as pessoas estão reunidas. É muito difícil encontrar vítimas de fome espalhadas pela paisagem vasta. As pessoas vão lá, quando sabem que há comida a ser distribuída e é quando as fotografias são tiradas. Portanto, 12
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essas vítimas já estão a ser ajudadas; não há mais nada que um fotógrafo possa fazer. Mas já houve situações, quando trabalhei em certas zonas costeiras, em que encontrei quem tentasse chegar ao centro de alimentação, estando demasiado fraco para conseguir percorrer o caminho e chegar lá. Nessa altura, eu próprio os levei. Já baixou a câmara em uma situação horrível ou para conceder privacidade? São questões diferentes. Se alguém me diz que não posso tirar-lhe uma fotografia, então não violo sua privacidade. A outra questão, o que posso dizer é que vejo situações tão horríveis, que preferia não as ver, mas entendo ser meu dever documentá-las. Guerras e problemas de saúde são sempre muito difíceis de ver,
Nova Yorke, 11 de setembro de 2001..
mas é nossa responsabilidade olhar e interpretar para que outros vejam também. Proteger a nossa sensibilidade delicada e violar a nossa responsabilidade como jornalistas, não é correto. Eu não me censuro. Não teme ser instrumen-
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Chechenya, 1996 - Ruínas no centro de Grozny isso são pessoas que promovem a violência e têm interesse e querem que ninguém veja a realidade. Se há uma guerra, não é por causa dos jornalistas; é pelas condições históricas, a repressão. A guerra é a resposta a isso. O registro não a provoca. Mas as câmaras podem atiçar os ânimos? Raramente vi isso. Por exemplo, durante a revolta palestiniana, o exército israelita dizia que ..bombeiros buscam não podíamos fotografar porque sobreviventes causaríamos mais violência. Isso é mentira. Às vezes, eles intertalizado por um dos lados ditavam o acesso pois não queou prejudicar por fotografar riam mostrar que justamente uma situação? nesses dias eram mortos mais É muito exagerada. É fácil palestinianos. Nada contra os isacusar a imprensa, argumentan- raelitas, é só um exemplo.. do que a única razão por que um O que pensa sobre o joracto violento aconteceu é estar- nalismo acessorado: em que mos lá. Não é verdade! Quem diz só se vê o permitido?
Quando a América invadiu o Iraque seria impossível a centenas de jornalistas vaguear por sua conta e risco pelo campo de batalha. Portanto, é melhor que hajam mecanismos que permitam cobrir a guerra. Isso cria algumas limitações mas ao menos torna algum trabalho possível. Você tem sempre um ponto de vista? Não acredito que exista tal objetividade. Há sempre uma bagagem individual – cultura, educação, história, família. Temos a nossa história interna. Mas seu ponto de vista é americano? Sou um americano. Mas não sinto que esteja, conscientemente, a transmitir o ponto de vista americano. Não somos limitados pela nacionalidade, é apenas um fator entre outros. Edição 11 | Novembro 2010 | Macro
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Você se vê como um mis- situação é uma trapalhada, o sionário contemporâneo? Iraque está numa posição terMe vejo como alguém que rível. Detesto dizer mas é difícil tem um propósito. Tento revelar pensar como a situação poderá o que se passa e fazer agir. Não ser resolvida. tento promover a religião ou a Fez exposições, livros em agenda política de outros. edição luxuosas. Há quem Foi ferido no Iraque, você o acuse de se beneficiar da é viciado em tragédia? “Me vejo como alguém adrenalina? [Pausa] Tentei que tem um propósito. Não. A adrencriar uma consciênTento revelar o que se alina é um fato, cia sobre situações passa e fazer agir” mas não é por ela no mundo que grique fotografo. tam por uma mudança. Esse foi O 11 de Setembro acon- o meu objetivo. Essas acusações teceu no seu bairro. Isso in- seriam como dizer que um fluenciou a forma de ver a médico que não tem direito a guerra do Iraque? rendimentos. Todos tem direito Não creio na ligação direta a ganhar com o que faz. O que entre o ataque a Nova Iorque ganho não é nada extravagante. e a invasão o Iraque. A ligação Tenho de trabalhar muito, e me foi criada, mas não erareal. Es- sujeitar a condições duras e ristava na mente da Administração cos. Não percebo as bases des[Bush]. Hoje, já foi admitido por sas acusações. todos que era esse o caso. Esta Recebeu a medalha de
ouro Robert Capa. Considera natural ser herdeiro dele? Nunca diria isso de mim mesmo. Mas sinto-me inspirado por ele. Entendo que ele foi um fotojornalista com consciência e propósito, e só por se colocar em situações duras e arriscadas sinto uma ligação. Capa morreu em serviço. Teme que isso lhe aconteça? Não chamaria de medo, mas respeito essa possibilidade E no conflito, como lida Nicaragua, 1984..
Kosovo, 1999, impressão de um homem morto pelos sérvios 14
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com o medo? Temos de controlar o medo. Existe uma razão para ter medo: é um mecanismo de sobrevivência, como a adrenalina, que a natureza deu a todos. Se somos por ele dominados não funcionamos. Temos de ultrapassar os nossos próprios obstáculos emocionais – e o medo é um deles. Qual seu maior medo? Eu diria que é falhar no que faço. Não corresponder às minhas responsabilidades.
Foto: Célio Costa
Para saber mais sobre Natchway veja o documentário “Fotógrafo de guerra” lançado em 2001
..relíquia da guerra civil vira diversão em um parque
Alabama, 1994, prisioneiro no setor externo da penitenciária Edição 11 | Novembro 2010 | Macro
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Ampliação A absurda provocação do olhar
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Foto: Nermine Hammam
A reportagem especial deste mês trás a cobertura completa da 21ª Bienal internacional da fotografia realizada na Grécia no mês passado. A ousadia e o experimentalismo foram as marcas registradas deste ano
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A Grécia e a fotografia Pouca gente sabe, mas a Grécia, popularmente conhecida como o berço da democracia, da filosofia, das olimpíadas tem também uma longa tradição nas artes e, em especial, na fotografia. Para se ter idéia, já em 1987, a terra dos museus, fundaria o seu espaço histórico destinado à fotografia. O Museu fica lozalizado na metrópole de Thessaloniki e realiza há 21 anos a bienal internacional de fotografia. Foi um orgulho participar do evento, além disso, esta matéria nos é significativa pois somos a primeira equipe de reportagem brasileira a cobrir esta bienal. Detalharemos a seguir o funcionamento, a estrutura e também os principais destaques deste ano, a impressão que ficou é a melhor possível. Por Lucas Godoy
Fotos: Francisco Naqoy
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A grandiosidade do museu grego da fotografia em Thessaloniki A estrutura da Bienal De acordo com o diretor que criado e mantido em funcionamento há 23 anos pela Grécia está a frente da mostra desde 2005, Vangelis Ioakimidis, o objetivo não organização da mostra que, mesmo é apenas o de conservar a história neste momento de crise, é patrocida fotografia grega e mundial, nada integralmente pelo governo mas é principalmente “incentivar a Grego. Recebendo apenas alguns produção contemporânea, seja ela apoios de outras organizações para documental ou artística de imagens as mostras descentralizadas e as fotográficas”. premiações. Neste ano, a bienal reuniu 180 Galerias artistas de 35 países. O evento Além disso, todo ano há uma congrega exibições de trabalhos, programação paralela com o objegrupos de trabalho e revisões de tivo de não limitar os criadores ao portifólios, premiações, lançamen- tema central. É impressionante o to de livros e leituras, colóquios e que notamos, mas no período da oficinas. mostra todas as galerias de arte da A mostra adota sempre um tema cidade apenas aceitam sugestões norteador. Em 2008 foi “tempo”, e somente exibem materiais relaneste ano “local” e em cionados, direta ou in2011 será “discurso”. “Neste ano, a bienal diretamente, à arte da os custos e a responsabilidade. Essa temática central reuniu 180 artistas fotografia. De acordo com o diretor execurompe os limites do provenientes de 35 tivo da empresa na Grécia, HenricsPremiações museu e diversas exIoakimidis nos expli- sen Palatinaikos, esta foi a melhor países” posições são montacou ainda que as premi- forma encontrada para incentivar a das em espaços culturais da cidade ações foram criadas para incentivar produção de arte, mas não deixa de na região de Thessaloniki. os criadores a trabalharem também concordar que esta é uma parceria A equipe sobre os temas centrais. Como de muito lucrativa, afinal, multinacionTodo ano, Ioakimidis convida um costume, uma grande empresa in- al é uma das maiores fabricantes grupo de pesquisadores, coleciona- ternacional financia estas premi- mundiais de impressoras fotográfidores e institutos para auxiliá-lo na ações e neste ano a Epson assumiu cas e copiadoras. 18
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A capital da região da Macedônia é belíssima durante a noite, toda iluminada e repleta de tentações para os turistas
Thessaloniki é a segunda maior cidade grega com 363,987 mil habitantes somente na área central e 995,766 em toda região Edição 11 | Novembro 2010 | Macro
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Fotos: Lucas Rodrigues
Estudantes discutem..
A conceituada fotógrafa holandesa de exteriores Laurien Vanden Hoven, de roxo, observa o andamento de sua oficina Atividades educacionais Além disso existem uma série de Se você acha que acabou, muita oficinas como de iluminação em escalma, existiram uma infinidade de túdio, técnicas fotográficas e comatividades educacionais na Foto Bi- posição, por exemplo. enal de Thessaloniki. Como se não basEssas atividades são tasse tudo isso, al“a mostra é um divididas em níveis e guns grandes nomes exemplo para o qual todo amante da foda fotografia são as organizações de tografia pode partici- qualquer tipo deveriam convidados para palar de um evento, de estrar e lançar seus olhar com carinho” acordo com seu nível livros no evento. e interesse. E, é claro, estamos falando da Para começar, alguns partici- Grécia. Para fechar o cardápio, os pantes são selecionados para par- participantes são convidados a inticipar de uma revisão de seus por- tegrar excursões fotog´raficas pelo tifólios por profissionais renomados interior grego. Neste ano, estiverna área. am no roteiro as cidades de Alexan20
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Ao ver que era brasileiros Hoven fez questão de posar para nós.. droupoli, Kastoria, Volos, Heraklion, Naoussa e Xanthi. Todas as cidades visitadas também receberam exibições da mostra. A Macro foi muito bem recebida e a mostra é um exemplo para o qual as organizações de qualquer tipo deveriam olhar com carinho e atenção. As oficinas e palestras Foram cerca de 50 oficinas para os mais diversos níveis de fotógrafos. Até oficinas infantis aconteceram. Estas, muito divertidas, voltavam-se mais para a recreação, a educação social e a criatividade do que para a técnica, um bom exem-
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O workshop de conversão de fotografias em 3d foi concorrido e integrará matéria específica na macro do próximo mês ..a melhor abordagem para o assunto escolhido
..nesta divertida foto ao lado de seu companheiro Peter Hoven plo de como a fotografia pode sim ser aplicada como método educativo e de lazer. A cultura da solidariedade e do amor à fotografia ficou evidente nos gregos. Todos querem opinar, fotografar e participar ativamente. A brasileira Talita Trapo nos confessa que é apenas uma fotógrafa amadora e não tem intenção em se profissionalizar. “Estava de férias quando um amigo que está estudando aqui da Grécia me ligou e convidou para passar uns dias em sua casa, ele me disse que iria participar de algumas oficinas de fotografia e me explicou como eu de-
veria me inscrever. Estou adorando sente nesta edição da Macro. Noe também me encantei com a hos- tamos logo que ele é uma figura pitalidade dos gregos, é a primeira de presença, que fala pouco mas vez que visito o país“. Ela disse demonstra com clareza suas contambém que no final vicções. Na ocasição de semana iria iniciar ele também apre“Foram cerca de um tour pelo interior sentou algumas de 50 oficinas para da Grécia e nos ensuas fotografias tios mais diversos viaria algumas fotos radas em sua última níveis de fotógrafos. de sua viagem. viagem ao Congo. Até oficinas infantis Ainda no primeiro Imagens muito aconteceram” dia que estivemos fotes, porém, para aqui tivemos a oportunidade de nossa surpresa, algumas também assistir a palestra do fotógrafo de eram bem divertidas e leves. guerra James Natchway que, muito As imagens! simpático e humilde nos concedVejam a seguir algumas belas eria em seguida a entrevista pre- fotografias expostas na mostra. Edição 11 | Novembro 2010 | Macro
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A australiana Annelies de Mey criou uma proposta estética de explorar os espaços, a geometria e a cultura de massa e encantou a todos com suas capturas em preto e branco
Já o italiano Toledano Philip abusou dos efeitos em sua série de crítica social 22
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Do museu da fotografia na Rússia, Rasmus Rasmussen, ousou em suas experiências
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Imagens fortes da série “A água que não dorme“ produzidas pelo grego Theodoros Tempos
Já a finlandesa Kari Soinio explorou deformações, desfoques e distorções
E parece o Brasil sim, mas é a grécia mais humilde nos olhos do grego Pavlos Pavlidis Edição 11 | Novembro 2010 | Macro
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ensaio
Exposição
Por Sacha Goldberger Texto de Lugas Godoy
Fotos: Sacha Goldberger
Ensaio para curar a depressão
O Fotógrafo francês Sacha Goldberger descobriu que sua avó Frederika, 91, estava sofrendo de uma forte depressão
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Macro | Novembro 2010 | Edição 11
ensaio
Para ajudá-la a superar a doença, ele a fez protagonizar este divertido ensaio transformando-a na Super Mamika
Edição 11 | Novembro 2010 | Macro
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ensaio
O ensaio foi um sucesso: vovó Frederika Goldberger agora se diz completamente livre da depressão..
Ensaio deu uma força na carreira de Goldberger
As fotos decolaram tanto que eles já estão na quarta edição da super Mamika
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Macro | Novembro 2010 | Edição 11
ensaio
Ops, pequeno acidente na quadra de tênis..
Superhomem não percebeu, mas..
E Frederika agora é sua garota propaganda
..Batman está emabaixo da cama
Receita do sucesso: inovação, Goldberger fugiu da velha receita que busca um padrão estético e abusou do bom humor Edição 11 | Novembro 2010 | Macro
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perfil
Retrato
Foto: Arquivo
Didier Lefèvre: de observador a protagonista
Acima, Lefèvre com sua máquina fotográfica Abaixo, foto que compõe seu primeiro livro
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Lefèvre nasceu em 1957 na França e se formou como biólogo farmaceutico, foi quando recebeu o convide para integrar a equipe dos Médicos Sem Fronteiras. Aceitou imediatamente e, assim, sua vida mudou completamente
perfil
Zaire, 1991, bicicleta improvisada durante a ditadura de Mobutu, conhecida como uma das mais corruptas
Isso foi em 1984, quando publicou sua primeira reportagem fotográfica. A partir daí, não parou mais. Percorreu Afeganistão, Sri Lanka, Colômbia, Iran, Israel, vários países da África e produziu um material único
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Foto: Didier Lefèvre
Afeganistão, 1986, o Hazara aterrorizado que estava guiando a equipe dos Médicos Sem Fronteiras
perfil
Ilustrações: Emmanuel Guibert
Hazaras descansam com o burro de carga antes de seguir viagem pelos árduos vales afegãos
“Ainda lembro do que a mulher do camponês disse ao Didier quando cobríamos uma história em Burundi: “Você é muito simples para ser um repórter, você parece um ser humano normal” Florence Aubenas Jornalista do Le Nouvel Observateur 30
Após publicar suas primeiras fotos em jornais, seu trabalho ganhou destaque em revistas francesas conceituadas como a LL’Express e Éditions Ouest France. Seu trabalho seria finalmente consagrado e ganharia fama mundial de forma muito inovadora. Produziu um livro em coautoria com o amigo e renomado ilustrador Emmanuel Guibert e do designer Frédéric Lemercier. “O fotógrafo“ , lançado no Brasil pela editora Conrad. Ao final do terceiro volume ele conclui a missão de mostrar ao mundo a história e a cultura de um país arrasado pela pobreza e pela guerra durante a invasão soviética em 1986. Didier Lefèvre faleceu subitamente em sua casa no dia 29 de janeiro, em Morangis, na França, vítima de um ataque cardíaco.
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Suas imagens, porém, estarão para sempre registradas na memória da humanidade. Serviço Livros: O Fotógrafo, vol. 1, 2 e 3 Editora: Conrad Autores: Didier Lefèvre, Emmanuel Guibert e Frédéric Lemercier Preço: R$ 27,60 cada
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