CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNIBH TRABALHO INTERDISCIPLINAR DE GRADUAÇÃO IV PERÍODO – CURSO DE DESIGN GRÁFICO
LUCAS FREITAS LUIZ FELLIPE FERNANDES MARCUS FILHO NATÁLIA PIRES WAGNER SILVA
O DESIGN GRÁFICO APLICADO AO TRÂNSITO RODOVIÁRIO: PARALELO HISTÓRICO E NICHO MERCADOLÓGICO PARA DESIGNERS
BELO HORIZONTE 2013
A maioria das pessoas cometem o erro de pensar que design é a aparência. As pessoas pensam que é esse verniz - que aos designers é entregue esta caixa e dito: "Deixe bonito!" Isso não é o que achamos que seja design. Não é só o que aparece e sente. Design é como funciona. Steve Jobs - CEO da Apple
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O DESIGN GRÁFICO APLICADO AO TRÂNSITO RODOVIÁRIO: PARALELO HISTÓRICO E NICHO MERCADOLÓGICO PARA DESIGNERS Lucas Freitas 1 Luiz Fellipe Fernandes Marcus Filho Natália Pires Paloma Rosane Wagner Silva Cristine Gonçalves 2 RESUMO: Dentro do objetivo do Trabalho Interdisciplinar do IV Módulo de Design do Centro Universitário de Belo Horizonte – UNIBH, que é o de “exercitar a integração do binômio teoria e prática mediante o exercício da observação e análise” e cuja temática é “A construção do design através de movimentos artísticos”, o Escritório Acadêmico de Design H2D, formado pelos alunos supracitados, oferece o presente artigo onde se demonstra que a relação do design gráfico com o trânsito é bastante antiga e que sua aplicação nesse contexto é mais abrangente do que comumente se imagina. É dada, ainda, sucinta explicação sobre a forma como os sinais visuais do trânsito são percebidos por nossa mente e de como este fenômeno é aproveitado em nosso favor pela ciência ergonômica. Conclui-se que o trânsito é um interessante mercado para os profissionais de design gráfico, dada a imensa quantidade de empreendimentos privados e estatais que estão relacionados direta ou indiretamente com essa atividade humana. PALAVRAS-CHAVE: Trânsito, Veículos, Design, Ergonomia, Sinalização ABSTRACT: Within the scope of the Interdisciplinary Work of the IV Design Module at Centro Universitário de Belo Horizonte – UNIBH, which is “to promote the integration of theory and practice by exercising observation and analysis”, and whose theme is “the development of design through artistic movements”, the Academic Office of Design H2D, made up of the aforementioned students, offers the present article so as to demonstrate that the relation between graphic design and traffic is quite old and that its application in this context is broader than one usually supposes. The article also offers a brief explanation about the way through which visual traffic signs are perceived by our minds and how this phenomenon is used to our favor by the science of ergonomics. The article concludes that traffic is an interesting market for graphic design professionals, given the large amount of state and private undertakings that are directly or indirectly related to this human activity. KEYWORDS: Traffic, Vehicles, Design, Ergonomics, Traffic Signals. 1
Alunos do curso de Superior de Tecnologia em Design Gráfico, 4º período, do Centro Universitário de Belo Horizonte – UniBH 2 Professora orientadora
INTRODUÇÃO “O cavalo está aqui para ficar, o automóvel é apenas uma novidade, uma moda passageira”. A frase acima, dita no princípio do século XX, é atribuída ao presidente de um banco do estado de Michigan aconselhando o advogado de Henry Ford a não investir na Ford Motor Company. Essa frase foi muito citada, ao longo do tempo, como exemplo de “palpite infeliz”. Mas, o estudo que ora oferece-se propõe que existem restrições a essa análise, a qual pode estar calcada sobre um equívoco: o de se esquecer que aqueles tempos eram outros e que a condição de credulidade das pessoas era limitada. Imagine o leitor deste artigo em como teria reagido, caso fosse um cidadão daqueles tempos, se uma máquina barulhenta e desengonçada que nunca vira antes aparecesse de repente na sua frente e avançasse em sua direção. Para o cidadão de hoje, ver-se na mesma situação frente a um automóvel é coisa corriqueira e ele saberia se safar com tranquilidade. Para os daquela época, entretanto, a visão da máquina era simplesmente aterrorizante e muitos punham-se em fuga logo que a viam. Assim, nos primórdios da indústria automobilística havia, inclusive, a necessidade da sinalização da proximidade dos veículos quando estes circulavam pelas ruas. Os automóveis eram, naquela época,
seres exóticos na paisagem
urbana. Data do ano de 1865 a promulgação, pelo governo britânico, do Locomotives on Highways Act, (Decreto sobre Locomotivas em Estradas) que tornou-se mais conhecido como Lei da Bandeira Vermelha. A lei obrigava os condutores
dos
veículos
automotores
de
então
a
jamais
excederem
o
“impressionante” limite de quatro milhas por hora nas estradas e de duas, nas cidades (cerca de 6 e 3 quilômetros por hora, respectivamente). A mesma lei previa ainda que os tais veículos, na época chamados de “locomotivas rodoviárias”, deviam, ao transitar, serem precedidos por um homem a pé, distante 50 jardas (em torno de 45 metros) do veículo portando uma bandeira vermelha, durante o dia, e uma lanterna, durante a noite, de forma a alertar os pedestres (fig.1). Evidentemente, dirigir nessas condições devia ser algo bastante monótono. Assim, era perceptível na época que a lei vinha para desestimular o uso dos veículos
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motorizados, visando atender aos interesses dos empresários do ramo ferroviário e dos transportes em veículos de tração animal.
Fig. 1 – Lei da Bandeira Vermelha
É provável que a cena acima descrita e ilustrada tenha sido uma das primeiras manifestações históricas do design gráfico aplicado ao controle do trânsito de veículos automotores. Assim, a bandeira vermelha, com sua carga de significados, remete à ciência semiótica, um dos alicerces teóricos da ciência do design gráfico: "A Semiótica é a ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e de sentido." (p.13) (SANTAELLA, 2003)
O estudo dos signos, conteúdo abrangido pela semiótica, auxilia o entendimento do processo de como as pessoas interpretam mensagens, interagem com objetos, raciocinam e até como se emocionam. Assim, a cor vermelha da bandeira, tão familiar para os motoristas atuais, transmitia, na ocasião, uma mensagem clara aos transeuntes: Atenção, perigo. A própria aplicação dessa cor em algum tipo de tecido afixado a uma haste de madeira, formando uma bandeira e visando comunicar uma mensagem também remete a uma das áreas de atuação do design gráfico: o design de superfícies. Assim, alguém com o olhar treinado consegue perceber a presença maciça do design gráfico em um simples passeio matinal por sua vizinhança. Ele (o design)
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está lá, de alguma forma, orientando, convidando, sugerindo, solicitando, enfim, influenciando o cidadão motorizado ou mesmo a pé com relação não só à segurança em seu deslocamento, como também em fatores insuspeitos que o cidadão comum nem conjetura pertencerem ao universo do trânsito. Discorrer sobre essa diversidade de aplicações do design gráfico relativas ao trânsito de veículos rodoviários, sua influência no comportamento humano e as possibilidades de trabalho para designers nessa área é do que pretende tratar este artigo. Breve histórico da indústria automobilística Para atingir os objetivos deste artigo é necessário, primeiramente, apresentar um breve relato da história dos meios de transporte rodoviários, destacando os principais fatos ocorridos durante o desenvolvimento da indústria automobilística, e assim, permitir ao leitor ter uma visão mais abrangente do assunto. Existe uma lei não escrita, tão antiga quanto a própria humanidade e que promove avanços tecnológicos surpreendentes para o benefício da raça humana: a lei do menor esforço. Assim descrita de forma tão simples, não se percebe a extensão dessa afirmativa. Pois que a história dos veículos de transporte começou exatamente por causa dessa lei, à medida que as necessidades de locomoção das tribos apresentava dificuldades relacionadas à quantidade e peso da carga transportada, além do tempo necessário nos deslocamentos. Henry Ford, uma das figuras mais importantes no desenvolvimento da indústria automobilística, já comentava esse fato em sua autobiografia: Foi a vida de fazenda que me levou à preocupação de melhorar os meios de transporte. Nasci a 30 de julho de 1863, em Dearborn, no Michigan, onde meu pai era fazendeiro, e a minha primeira ideia foi que o trabalho para mínimos resultados, requeria um esforço excessivo. (FORD,1926)
Assim, no século XV, o inventor e pintor renascentista Leonardo da Vinci já havia projetado um veículo triciclo movido à corda, tal qual um relógio. No entanto, como a maioria das ideias do genial italiano, essa nunca saiu do papel. Mais tarde, no ano de 1769, o engenheiro-militar francês Nicolás Cugnot construiu um estranho veículo de três rodas feito em madeira e movido a vapor que se convencionou ter
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o
el
na
sido o primeiro veículo a andar por seus próprios meios, isto é, sem ser tracionado por cavalos (fig. 2). O veículo foi projetado para o transporte de canhões do Exército Francês e conseguia rebocar peças de até quatro toneladas a uma velocidade de até 4 quilômetros por hora, façanha espetacular para a época. Assim, tendo em vista o tipo de utilização dessa primeira máquina rodoviária razoavelmente eficiente, pode-se concluir que este foi também o primeiro veículo trator da história.
(Fig. 2) A locomotiva de Cugnot
Em 1860, o belga Ettiene Lenoir patenteia o primeiro motor “à explosão”, que usava gás para o seu funcionamento e cujo princípio construtivo, guardadas as devidas proporções, é praticamente o mesmo da maioria dos motores atuais. A palavra “automóvel”, oriunda da junção da palavra grega auto, (“por si próprio; autônomo”) e da palavra latina mobilis, (“mobilidade”), significando “aquele que leva a si mesmo” só foi usada pela primeira vez no ano de 1875, na França. No ano seguinte, o engenheiro alemão Nicolaus August Otto aperfeiçoa grandemente a invenção de Lenoir. Seu motor usava como combustível gás misturado com o ar atmosférico. Era o princípio do fim da era dos veículos rodoviários movidos a vapor, os quais eram predominantes até então. Em 1886, os engenheiros alemães Karl Benz e Gottlieb Daimler patenteiam o primeiro automóvel movido a gasolina. O veículo era um triciclo que usava pneus de bicicleta e tinha o motor na traseira, com tração por corrente e que alcançava a velocidade de oito quilômetros por hora (fig.3).
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Mais tarde, em 1896, a Daimler-Benz lançou também o primeiro caminhão a gasolina do mundo, com motor de 10 hp e que podia atingir a velocidade de até doze quilômetros por hora (fig. 4).
Fig. 3 - Primeiro automóvel à gasolina do
Fig. 4 - Primeiro caminhão à gasolina do mundo
mundo
Nas décadas seguintes ocorreu um espetacular crescimento da indústria automobilística na Europa e na América do Norte. No entanto, foi nos Estados Unidos que ocorreu a principal revolução nos processos de fabricação de automóveis, com a criação da primeira linha de montagem pelo americano Henry Ford, que barateou os veículos ao padronizar a sua produção. O seu “Modelo T”, produzido entre 1908 e 1927 alcançou a marca de 15 milhões de unidades produzidas. O estilo de produzir elaborado por Ford passou a ser copiado no mundo inteiro, sendo chamado de “fordismo”. Não é o objetivo deste artigo alongar-se na descrição da história dos veículos automotores, por si só bastante extensa. Basta que se resuma que os progressos da indústria automobilística em termos de quantidade e qualidade na produção geraram a expansão do uso dessas “máquinas maravilhosas” por praticamente todo o mundo, a ponto de gerar, nas grandes cidades, o congestionamento das vias por excesso de veículos, além do agravamento da poluição do ar e a residual, gerada pelo descarte incorreto dos veículos inservíveis. Devido a esses fatores, a sociedade humana está atualmente vivendo um momento de desencanto com os automóveis, desencanto que é percebido notadamente entre os jovens, que começam a preferir o
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transporte público ou mesmo as bicicletas para se deslocarem nos grandes centros urbanos. A seguir, procurar-se-á descrever o papel do design gráfico no contexto de uma sociedade dependente deste meio de transporte. O design gráfico aplicado ao trânsito rodoviário – necessidade e diversidade Vejamos este trecho de um artigo publicado no dia 20 de setembro de 2006 na seção “Opinião” da versão on-line do jornal Folha de São Paulo, de autoria do engenheiro e empresário Gilberto Kassab, prefeito (reeleito) da cidade de São Paulo no período de 2006 a 2008: Nas últimas décadas, São Paulo foi sendo tomada, às vezes até em nome do "progresso", por uma epidemia de outdoors, back-lights, painéis eletrônicos, faixas, cartazes e placas de identificação de estabelecimentos comerciais. A essa forma de "publicidade selvagem", que esconde a cidade e agride o ambiente, contrapomos um argumento singelo: a paisagem da cidade não é meio nem veículo de comunicação publicitária.
É sintomático o fato de que o na ocasião recém-empossado prefeito da cidade de São Paulo, uma das maiores metrópoles do mundo, apresente sua indignação contra o excesso de publicidade veiculada nas ruas da cidade que governava. O efeito dessa indignação mais tarde transformou-se na chamada Lei Cidade Limpa uma lei contra a poluição visual no município de São Paulo que está em vigor desde o dia 1º de janeiro de 2007. O fato acima narrado nos dá bem uma ideia da quase onipresença do design gráfico nas ruas e avenidas, estradas e demais logradouros abrangidos pela ocupação humana no planeta. Assim, ao contrário do que um leigo poderia vir a pensar, quando se fala em “design gráfico aplicado ao trânsito rodoviário” não se está falando apenas da óbvia sinalização de trânsito, composta por placas contendo símbolos ou de faixas pintadas no asfalto visando orientar/alertar os motoristas, pedestres e ciclistas que usam a via para circulação.
Mais uma vez, pede-se ao leitor que use a sua
imaginação e que se coloque, por alguns instantes, em uma típica estrada vicinal não asfaltada e onde nunca tenha estado antes, cercada apenas pela mata verdejante. Tente, então, orientar-se: a que conclusão chega? É bem provável que a conclusão seja de total desorientação, visto não haver nenhuma referência gráfica
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para saber os principais aspectos para o seu deslocamento, seja a pé ou motorizado, resumidas nas seguintes indagações: -
De onde eu vim?
-
Para onde estou indo?
-
A que distância estou de minha residência?
-
Esta é uma estrada pública ou particular?
-
Que tipo de veículos transitam por ela?
-
Qual a velocidade permitida (caso leitor tenha-se imaginado dirigindo um veículo)?
-
Corro algum tipo de perigo estando aqui, com florestas me circundando (posso ser atacado por algum tipo de animal)?
-
Onde posso me hospedar e me alimentar, caso a noite chegue sem que encontre as respostas a essas perguntas (fig.5)?
Fig. 5 - Estrada vicinal sem sinalizações
A esta altura, fica mais clara a intenção do preâmbulo desse artigo, quando foi comentada a situação dos cidadãos do final do século XIX e princípio do século XX, os quais ficavam assustados à vista dos primeiros veículos automotores. Da mesma forma, a narração da história da indústria automobilística com foco nos primórdios dessa atividade pretendeu preparar o espírito do leitor para perceber a utilidade e a evolução do design gráfico aplicado ao trânsito rodoviário.
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Assim, o contato do cidadão com o design gráfico aplicado ao trânsito começa, em termos práticos, antes mesmo que esse cidadão saia de casa. Ao folhear o seu jornal predileto (design gráfico editorial), ele já está sendo informado de várias situações que eventualmente terá de se confrontar ao transitar pelas ruas. Por exemplo, ele procura informações sobre o tempo: quer saber se vai chover e assim poder precaver-se contra a possibilidade de aquaplanagem de seu veículo na estrada; nas páginas relativas a generalidades poderá encontrar informação relativa à greves, passeatas ou simplesmente de eventos culturais (como shows) que porventura possam interromper vias onde normalmente circula. Ao sentar, finalmente, ao volante de seu automóvel e girar a chave de ignição, será então avisado pelos ícones brilhantes do painel (design de pictogramas) sobre as condições de seu veículo: se este está abastecido, se o sistema de freios está funcionando corretamente, se há algum vazamento de óleo no motor etc. (fig. 5).
Fig.6 – Ícones de painel de automóvel
Ao finalmente dar a partida no motor e sair de casa o cidadão, agora denominado “motorista”, tem a sua orientação espacial e a direção de seu deslocamento balizadas por imagens aplicadas em placas de diversos tamanhos e formatos afixadas em postes, paredes etc. e também pintadas no pavimento. Essas imagens são essenciais para a correta condução de seu veículo, pois elas fornecem aos condutores informações sobre, por exemplo, a direção em que deve seguir para chegar onde pretende, o limite de velocidade da via, a distância que terá de percorrer, os locais onde é permitido ultrapassar etc. No entanto, o hipotético
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cidadão a quem estamos acompanhando se depara em seu trajeto com outros estímulos visuais além dos acima citados mas que, no entanto, não estão vinculados, como os primeiros, ao cumprimento de ações específicas para garantir a fluidez e segurança do tráfego. Estas imagens adicionais são letreiros, cartazes, outdoors, empenas, faixas, totens, displays, vitrines e outros itens de divulgação publicitária que fazem parte da chamada “poluição visual” urbana (fig. 7) que provocou o indignado artigo de Gilberto Kassab, citado em parágrafo anterior deste artigo.
Fig. 7- Poluição visual nos grandes centros urbanos
Assim, dirigir nos modernos centros urbanos exige do motorista disciplina para que sua atenção não se disperse por todos esses convites publicitários ou até mesmo por intervenções urbanas criativas, como por exemplo um grafite bem trabalhado e de cores vibrantes que insiste em saltar em seu campo de visão. Conforme demonstrado, percebe-se que a influência do design gráfico no trânsito transcende as expectativas do cidadão comum com relação ao tema. E, para melhor compreensão do assunto, serão descritos em seguida, de forma sucinta, os principais elementos que compõem a atuação do design gráfico, quando aplicado ao trânsito.
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Elementos básicos do design gráfico aplicado ao trânsito: 1. Signos visuais Signo visual é, basicamente, qualquer imagem captada pelo olho que, ao acessar a consciência do ser, transmite a ele uma informação. O aproveitamento ou não da informação pelo receptor depende de seu interesse imediato e de seus valores sócio-culturais. Assim, os sinais gráficos de orientação no trânsito
e as
demais peças gráficas circunstantes são signos visuais, e conforme GOMES FILHO (2003): A capacidade da informação visual é muito mais ampla do que as outras informações transmitidas pelos outros sentidos da percepção e, em muitos casos, ela tem marcante prioridade sobre as outras. Cada vez mais se acentua sua necessidade, sobretudo, nas sociedades mais avançadas, que estão mudando da sociedade industrial para uma sociedade de informação. (GOMES FILHO, 2003)
Assim, a criação da sinalização de trânsito exigiu a concorrência de diversas ciências que estudam o comportamento humano, tais como a semiótica, psicologia, antropologia e comunicação social, de forma a tentar prever com o máximo de exatidão as reações do indivíduo que transita de automóvel ou a pé. Descrever detalhadamente todos esses estudos e de como eles conduzem a soluções cognitivas para uso no trânsito exigiria um espaço muito maior que o escopo deste artigo. No entanto, uma amostra do grau de sofisticação desses estudos pode ser encontrado em FRUTIGER (2007): A sinalização transformou-se no principal elemento da época moderna, em que o ser humano movimenta-se com velocidades que não correspondem à sua morfologia física. (...) (pg.315) (...) A determinação do formato das placas de sinalização foi feita, conscientemente ou não, levando-se em consideração a intensidade do seu efeito visual. As placas redondas, que de certo modo correspondem à palma da mão levantada e aberta, são as que apresentam melhor visibilidade em contraste com o ambiente. Em contrapartida, placas quadradas tendem a submergir na paisagem urbana, que consiste basicamente em formas do mesmo tipo. (...) o triângulo apoiado sobre uma das pontas, assim como a placa circular, transmite forte mensagem de ordem ou comando, enquanto o que apresenta a ponta voltada para cima (...) tende mais para a advertência. (pg. 316) – (FRUTIGER, 2007).
2. Ergonomia e design Outra importante ciência que contribui para elaboração dos projetos de sinalização é a ergonomia. Ergonomia é o termo resultante da junção de duas palavras gregas “ergon”, que significa “trabalho” e “nomos”, que significa “leis ou
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normas”. Conforme definição disponível na página eletrônica da Associação Brasileira de Ergonomia – ABERGO (www.abergo.org.br): A Ergonomia (ou Fatores Humanos) é uma disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema. Os ergonomistas contribuem para o planejamento, projeto e a avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das pessoas.
A ergonomia é uma ciência multidisciplinar, pois diversas áreas do conhecimento, como psicologia, sociologia, medicina, organização do trabalho e fisiologia contribuem para o seu escopo.
A sua relação como design gráfico
aplicado ao trânsito se dá através do estudo ergonômico das possibilidades de distribuição do design gráfico no espaço das cidades. Para entender o que isso significa, tome-se o exemplo um designer gráfico que se esmera em criar um determinado signo que avisa aos motoristas sobre a existência de entroncamento rodoviário perigoso, de forma a que esses reduzam a velocidade antes de acessá-lo. No entanto, por falta de um estudo ergonômico adequado, esta mesma placa é mal posicionada no entroncamento, fazendo com que os motoristas só percebam tardiamente que deveriam ter reduzido a velocidade. Portanto, o objetivo pretendido pelo designer, que é o de se evitar acidentes, não é atingido. Um exemplo dessa descoordenação pode ser observado na figura 8, onde a profusão de placas gera mais incerteza do que certeza nos usuários da via.
Fig. 8 – Exemplo de falta de estudo ergonômico adequado
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CONCLUSÃO O design gráfico aplicado ao transito rodoviário é, portanto, uma interessante e promissora área de atuação para os designers, pois que o controle da circulação de veículos envolve atender também à vida comercial existente no entorno das vias constituída pelas empresas que têm suas atividades atreladas direta ou indiretamente ao trânsito, como hotéis, transportadoras, restaurantes, autoescolas, estacionamentos etc., e que estão, em sua maioria, carentes de bom design. O que enseja, portanto, muitas oportunidades de trabalho. Conclui-se também que é importante para os novos profissionais criativos que estão se formando expandirem suas possibilidades através da reflexão sobre novas áreas em que estes podem atuar, mas sempre com o olhar voltado para as questões relativas à interdisciplinaridade, no que tange à necessidade de acrescentar à sua bagagem cultural conhecimentos aparentemente díspares de sua formação, mas que contribuem para a melhora de seu trabalho na medida em que lhe proporcionam uma visão holística do contexto social.
REFERÊNCIAS SANTAELLA, Lúcia. O que é Semiótica. 2ª. São Paulo: Brasiliense, 2003 FORD, Henry. Minha vida e minha obra. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1926 KASSAB, Gilberto. São Paulo, cidade limpa. Folha de São Paulo On-line – Tendências/debates http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2009200608.htm - Acesso em 14/11/2013 FRUTIGER, Adrian. Sinais e Símbolos. Desenho, projeto e significado. 2ª. São Paulo: Martins Fontes, 2007. GOMES FILHO, João. Ergonomia do Objeto. 2ª. São Paulo: Escrituras, 2003 HISTÓRIA DO AUTOMÓVEL: http://mapadelondres.org / acesso em: 22/10/2013
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Wikipedia/ acesso em: 21/10/2013 http://www.transitoideal.com / acesso em: 22/10/2013 IMAGENS - CRÉDITOS Fig. 1, pg. 4: Autor desconhecido. Obtida no site http://www.mdolla.com Fig. 2, pg. 6: Autor desconhecido. Obtida no site http://jimysweet.com Fig. 3, pg. 7: Autor desconhecido. Obtida no site http://www.uh.edu Fig. 4, pg. 7: Autor desconhecido. Obtida no site www.carroantigo.com Fig. 5, pg. 9: Wagner Silva (arquivo pessoal) Fig. 6, pg. 10: Hyundai – divulgação Fig. 7, pg. 11: Autor desconhecido. Obtida no site http://cafejornalepoesia.blogspot.com.br Fig. 8, pg. 13: Autor desconhecido. Obtida no site www.infoescola.com
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