Design de dois

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designdedois

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afinal, o que é

DESIGN

Tudo o que você queria saber sobre design e teve vergonha de perguntar

Do antiquado à moda: Novos modelos de Saiba mais sobre os negócios brechós e a carga cultural que eles trazem

Descubra o que é o design de serviços e como ele tem mudado o panorama das empresas

Feira de São Joaquim Conheça a feira e saiba um pouco mais sobre um dos portais de Salvador


Nigrinha,

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Aos seus pĂŠs. 3


editorial Por: L. Josué Dias

Quando Jaime nos deu a tarefa de realizar uma revista, a primeira coisa que eu pensei foi: “Eba!”. Por mais que eu goste de fazer trabalhos editoriais, eu sempre me esqueço do trabalho imenso que é fazer uma revista. Sair para pesquisar, tirar fotos, planejar o que vai ser posto na revista, a forma como vamos abordar alguns assuntos, a linguagem utilizada e muitas outras coisas que não vou ficar listando aqui eternamente. É um desafio louco criar conteúdo interessante para se colocar em uma revista. Aquilo que você vai ver nessa revista, é a tentativa de duas pessoas de conseguir uma diversidade interessante em temas que permeiam, não só o design, como também a cultura de Salvador. Do vernacular ao acadêmico, do rústico ao sofisticado, do antigo ao moderno. O contraste entre a Feira de São Joaquim e a Ladeira do Couro na Barroquinha com ações de grandes empresas de todo o mundo. O resgate do velho para a nova moda. O oito e o oitenta da cidade de todos os santos. Boa leitura.


índice Moda

brechós? acho vintage 6-7

capa afinal, o que é design? 12-13

novos modelos,

negócios para velhos negócios 16-17

cultura

produto com o pé na cozinha 9-10

produto fedorzinho cultural 14-15

gráfico 19-20

santa feira 22-23

a fonte do povo


moda

brechós? acho vintage por: Izana Lago

Na foto: Paula Magalhães, parte do time de apresentadores do programa Mosaico Baiano, em um brechó na Barroquinha

Aquela sua roupa velha que não dá mais em você, mas que ainda está em bom estado, podia te gerar uma renda. Existem lugares especializados em vendas de roupas usadas, os brechós. Não é um mercado de risco, apresenta um público variado e pouca concorrência, porém, os consumidores escolhem casas específicas, com as quais mantêm relação frequente. Prática comum em aglomerados urbanos de baixa renda e conjuntos habitacionais, hoje, brechó é tendência e neles as pessoas buscam por roupas antigas que hoje voltaram à moda.

Essas pessoas prezam por modos e modas antigas, de uma época em que nem viveram, mas que muito admiram. Essa é a moda “Vintage”. Andando pela Barroquinha, bairro simples e famoso em Salvador por suas lojas de roupas baratas, encontrei três Brechós fundados na época em que a prática ainda não era considerada moda. Lá é possível encontrar roupas a partir de 1 real. Os preços variam e vão até 20 reais, no máximo. No final, sempre há uma “garimpada” para conseguir uma boa peça. Os lugares são simples e carregam no ar e em

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moda

suas roupas o cheiro de coisas velhas que o tempo fincou ali. Outro fator importante é a resistência que os brechós ainda enfrentam por parte dos consumidores, comportamento que é reflexo da nossa cultura, já que nos Estados Unidos e Europa, por exemplo, essas lojas já existem há anos e são muito bem aceitas. Hoje, graças a moda Vintage, existem brechós espalhados por Salvador que vendem roupas e sapatos de grife usados. Até os cheiros mudam. Da poeira com naftalina, passei para perfumes de rosas e incensos. Não são só os cheiros que mudam. Apesar de venderem roupas usadas, esses brechós tem preços salgados, motivados por suas grifes e pela qualidade do estabelecimento. Ao invés de apenas roupas e sapatos usados, esses novos Brechós vendem o que está na moda e não uma simples roupa usada.

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Couro da barroca é tendência

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produto

com o pé na cozinha

A presença dos africanos foi fundamental para a criação da chamada identidade cultural afro-brasileira. A influência da raça negra é enorme em aspectos da cultura brasileira, como religião, música, dança, alimentação e na própria língua. Ao chegar ao Brasil, os negros eram obrigados a aceitar o Cristianismo. Por isso, eles criaram modos dentro do catolicismo de esconder vestígios de sua própria cultura. Então, a primeira influência cultural negra no Brasil foi religiosa, pois o candomblé tornou parte na igreja católica, o que criou uma mistura religiosa. A escultura foi uma forma de arte muito utilizada pelos artistas africanos usando-se o ouro, bronze e marfim como matéria prima. Representando um disfarce para a incorporação dos espíritos e a possibilidade de adquirir forças mágicas, as máscaras têm um significado místico e importante na arte africana sendo usadas nos rituais e funerais.

por: Izana Lago

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produto

Muitas das chamadas artes tradicionais da África estão sendo ainda trabalhadas, entalhadas e usadas dentro de contextos tradicionais. Mas, como em todos os períodos da arte, importantes inovações também têm sido assimiladas, havendo uma coexistência dos estilos e modos de expressão já estabelecidos com essas inovações que surgem. A culinária do Brasil também tem uma nítida influência africana. O negro introduziu na cozinha o leite de coco, o azeite de dendê, confirmou a excelência da pimenta malagueta sobre a do reino, deu ao Brasil o feijão

preto, o quiabo, ensinou a fazer vatapá, caruru, mungunzá, acarajé, angu e pamonha. A cozinha negra fez valer os seus temperos. Modificou os pratos portugueses, substituiu ingredientes; fez a mesma coisa com os pratos da terra; e finalmente criou a cozinha brasileira, ao descobrir o chuchu com camarão, e a usar as panelas de barro e a colher de pau. Além disso, o africano contribuiu com a difusão do inhame, da cana de açúcar, o dendezeiro e a galinha de Angola. Em Salvador, existem lugares que permitem que resgatemos heranças

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dos negros que aqui fincaram raízes e inventaram moda. Um desses lugares é a Feira de São Joaquim, com suas barracas entupidas de objetos culinários cheios de influências da cultura africana. Alguns desses objetos são as colheres de pau, panelas de barro, peneiras de palha e cuias de cabaças.


as cores da bahia 11


capa

afinal, o que é design?

por: L. Josué Dias

Considerado por muitos como a profissão do futuro, o design é um componente imprescindível para a sociedade moderna. Com suas raízes na Alemanha e na Inglaterra, entre os séculos XIX e XX, o design hoje assume uma posição de importância e elemento de inovação para empresas no mercado de trabalho. Com a Revolução Industrial acontecida na Inglaterra, abriu-se uma possibilidade para profissionais que pudessem projetar para as grandes massas. Escolas foram cri-

adas, onde esses profissionais pudessem aprender mais sobre artes, arquitetura e engenharia. Uma delas, a Bauhaus, tida como a primeira escola de design, difundiu muitos conceitos tomados até hoje para a produção de design. Existe uma eterna discussão sobre o que é design e até onde ele vai. Se é arte ou não, se ele deve ser universal, até aonde é design, a partir de que ponto se torne outra coisa... Entre outros quesitos levantados por todos aqueles que vivem e

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capa

convivem com o design. Sendo mais direto: design é concepção, experiência, metodologia e acima de tudo gestão. É papel do designer entender de todos os processos que envolvem na concepção de um projeto em que desenvolve. Ter controle de cada etapa, da ideia inicial, passando pela criação, produção e o pósuso pelo consumidor final. Mesmo sendo uma profissão nova, o design vem sofrendo com uma gama de especializações e ramificações de suas áreas de atuação. Algumas delas sendo o design gráfico, o de produtos, de ambientes ou interiores, o estratégico, o de moda e o de interação. No Brasil, a profissão ainda não é regulamentada, por isso está sujeito a aparições de algumas aberrações, tipo design de unhas, sobrancelhas e de cabelo. Sem falar naqueles que exercem a profissão sem um ensino formal de design e competem no mercado com profissionais por preços bem mais baixo do que o devido. O design está buscando novas áreas para se “apoderar” dos seus conhecimentos e ramificar ainda mais as suas áreas.

Com isso novas preocupações vão surgindo à velocidade com que o mundo vai crescendo, e com ele a necessidade de novos produtos, sobre até onde todo esse crescimento é sustentável para o planeta. Não é de se espantar chegar a esse ponto e não haver nada de concreto com relação a uma definição de design. Ainda em seu desenvolvimento, o design ainda está buscando se estabelecer, não só na sociedade, mas como um todo para pode se chegar a um “consenso” sobre o que é e até onde vai o tal do design.

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produto

fedorzinho cultural

por: Izana Lago

No centro da cidade, em frente à Praça Castro Alves e ao lado do Espaço Unibanco de Cinema Glauber Rocha, está a Ladeira da Barroquinha, mais conhecida pelos baianos como Ladeira do Couro. O batismo não foi à toa. Descendo essa rua íngreme, você se depara com um comércio popular de encher os olhos, tamanha variedade de artigos curtidos com o material. São em torno de 20 barracas, uma coladinha na outra, vendendo bolsas, sandálias, tapetes e muitos outros produ-

tos do interior da Bahia, de localidades como Tucano, Jéquie, Feira de Santana e Ipirá. Com um olhar apurado é possível fazer descobertas e incrementar o guarda-roupa ou decorar a casa. E o melhor: a preços convidativos. Nossos achados oscilam de R$ 1,50 até, no máximo, R$ 150. Sem falar que a pechincha por lá já virou tradição. Alguns produtos vêm com um odor característico. Ao ser questionado porque o couro tem esse cheiro, o Senhor Jus-

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produto

celino Conceição, artesão e dono do primeiro boxe à esquerda de quem chega na ladeira, explica o motivo: “Esses produtos são curtidos em fundo de quintal por processos artesanais e não em fábricas”. Nesse comércio há 26 anos, quando quase nada tinha ali, ele dá a receita caseira para tirar o cheiro: “Parta o limão e passe o suco da fruta duas vezes no produto”, orienta. A boa notícia é que algumas peças já estão sendo confeccionadas em grandes cortumes e já nascem inodoras. Na hora das compras, nem é preciso levar dinheiro. A maioria das barracas já aceita cartões como Visa e Mastecard.

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negócios

novos modelos, para velhos negócios por: L. Josué Dias

Primeiro: o que seria esse tal Design de serviços? Ele nada mais é o Design Thinking, o modo de pensar como um designer, aplicado à área de serviços. Ou seja, ele vai utilizar de métodos criativos para projetar a forma como o cliente vai interagir com a empresa. Mas antes de falar mais sobre o design de serviços, devemos saber um pouco mais sobre Design Thinking. Esse nome foi um nome dado por Tim Brown – presidente da IDEO, uma das empresas mais

inovadoras do mundo – para definir o pensar como designer, que é unir o racional com o emocional para trazer soluções. Brown fala sobre a mudança do design do nível tático e operacional para um nível mais estratégico. Por isso que todos os componentes de uma empresa desde o estagiário até o CEO (diretor executivo) devem pensar como designers, para que assim a empresa seja de fato inovadora. E design thinking também trás uma nova forma de projetar. Deixar de focar no pro-

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blema para focar no projeto, na forma de resolver esse problema. Com tudo isso, chega ao fim da era em que o profissional é quem sabe o que é melhor para o cliente. O design thinking evolui de tal forma que deixa de ser um designer projetando para as pessoas para o designer criando com as


negócios

pessoas e no fim, as pessoas criando por si próprias. Brown acredita que o design thinking é algo muito grande e muito importante para o mundo que não deve ficar somente nas mãos dos designers. Sabendo de tudo isso sobre design thinking, como ele se aplica na projetação de novos serviços? Simples, o designer vai utilizar de conhecimentos em diversas áreas para prever problemas que podem impedir a experiência do usuário (emocional, cognitiva, estético). Para que o serviço aconteça da forma como foi programado, ele passa por processos de prototipagem e simulações, representações gráficas das propostas e especificações. Algumas empresas têm deixado de criar novos produtos para investir em novos serviços. Sem falar que a demanda por novos serviços que funcionem e melhorem as experiências dos clientes com a empresa, hoje, toma uma enorme parte de um novo mercado para o usuário. Foco no cliente, interdisciplinaridade, co-criação, sequenciamento, design de interação e de experiência. São alguns dos elementos que compõe o processo de inovação em serviços. E aqui no Brasil esse novo modelo de gerar lucro vem cres-

cendo e setores bancários, transporte aéreo, turismo esportivo e seguradoras já usam esses métodos para gerar lucros.

Cultura Modelo de Negócios

Valor

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Design de Serviço

utilidade

Marca

Autenticidade


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gráfico

a fonte do povo

por: L. Josué Dias

Andando pela cidade é normal observarmos uma enorme quantidade de placas, anúncios publicitários e cartazes de diversos tipos e formas. Uma dessas peças, com certeza, foi feita pelo próprio dono do estabelecimento. Utilizando do recurso da tipografia vernacular, essa placa busca chamar atenção dentre outras tanta espalhadas pela cidade. A tipografia, como elemento que compreende operações relacionadas à impressão de textos, passando da concepção de

caracteres, sua composição e impressão de modo que seu fim seja um produto gráfico adequado, legível e agradável. Ela pode assumir várias formas e têm uma história vasta e cheia de frutos que refletem a compreensão do design gráfico das épocas de sua criação. E a tipografia vernacular é uma solução local – carregada de elementos culturais e contextuais de onde é feita – para criar novas peças que chamem atenção ao seu estabelecimento. Elas possuem, muitas

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gráfico

vezes, características próprias e conseguem diferir muito umas das outras, principalmente quando são de regiões/estados/municípios diferentes. Um ótimo lugar para observar essa enormidade de variação é a feira de São Joaquim. Localizada na chamada cidade baixa de Salvador, é um ponto comercial onde se encontra uma infinidade de produtos para culinária, desde alimentos a utensílios. Quando fomos até lá ficamos impressionados com a variedade e até mesmo beleza das placas feitas. Sem falar que algumas das tipografias encontradas possuem características de tipografias modernas e usadas pelos designers contemporâneo.

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cultura

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cultura

santa feira

A Feira de São Joaquim é a maior feira livre da cidade de Salvador, sendo a mais tradicional para a população de baixa renda, não só dos soteropolitanos, como do recôncavo baiano. Localizada na Cidade Baixa entre a Baía de Todos os Santos e a Avenida Oscar Pontes, no bairro do Comércio, possuindo uma área de 34 mil m², sua importância é vital para o comércio, cultura e favorecimento dos menos abastados, devido aos bons preços. Foi criada na década de 1960, depois da destruição da antiga feira de Água de meninos, devorada pelo fogo em 1964. São Joaquim abriga inúmeros trabalhadores informais que descendem dos africanos escravizados, sendo o principal distribuidor dos artesanatos de barro, alguidáres, cuscuzeiros, potes produzidos no recôncavo baiano e venda de produtos para rituais de candomblé, como orobôs, saridans. obis, gervão etc. Ao andar pela primeira vez na Feira, é difícil não se encantar. A cada rua e a cada esquina, se acha uma surpresa diferente. De um lado, o velho vendedor de temperos. Do outro, um rapaz vendendo colares

por: Izana Lago

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cultura

feitos por ele mesmo com sementes de árvores nativas. A Feira de São Joaquim continua gerando renda para mais de 40 mil pessoas e sendo considerado o ponto alto da visita de qualquer turista que quer conhecer a Bahia não tão limpa ou conservada, mas ainda autêntica e colorida. O ideal é reservar um bom tempo para visitá-la, pois são inevitáveis as paradas e os longos papos com os feirantes e até mesmo com outras pessoas, que circulam pelas ruelas de São Joaquim, popularmente decoradas com todo tipo de penduricalhos.



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