JUNINA TRADIÇÃO

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PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA CEARENSE É TEMA DA QUADRILHA JUNINA TRADIÇÃO GÊNERO E SEXUALIDADE NO SÃO JOÃO DA TRADIÇÃO & BEM-DITOS DA TRADIÇÃO


Projeto gráfico Pedro Porto Redação Talita Chaves Colaboração Textual Lúcio Flávio Holanda Gabriel Barbosa Fotografia Talita Chaves Thuanny Albuquerque Arquivos pessoais QJT Revisão Rosiane Santos

Quadrilheiro: Membro de quadrilha junina. Enjuninado: Palavra utilizada para dizer que algo ou alguém está bem inserido no universo junino. Brincante: Pessoas que brincam, dançam em quadrilha junina. Puxador: Também chamado de marcador ou mestre de cerimônias, responsável por indicar os passos e próximos movimentos da quadrilha. Cerão: Multidão, grupo com muitas pessoas. Aprontamentos: Processo de se preparar, se arrumar para algo. Roça: Terreno em que se faz a roçada, plantações, tal palavra é muito utilizada no interior nordestino. Suntuosa: Grandiosa, luxuosa, majestosa. Caipira: Que vive no campo ou na roça. Romeiros: Pessoas que segue em romaria, peregrinação religiosa católica romana anual. Pomposa: Que demonstra luxo. Casa de engenho: Propriedade produtora de açúcar, rapadura e outros produtos derivados da cana-de-açúcar. Gracejos: Brincadeiras, risos. Croqui: Esboço à mão de pintura, desenho, planta. Marmotices: Bagunças, pessoa desengonçado ou desarrumado. Chitão: Também chamada de Chita, tão palavra significa tecido estampado de ramagens grandes.

Brincantes se apresentando em quadra de competição junina. Foto: Arquivo pessoal da Quadrilha Junina Tradição.

Orientação Paulo Jr Pinheiro

GLOSSÁRIO

EXPEDIENTE

Aqui você ficará por dentro dos significados de palavras que ao longo de sua leitora irá encontrar. Leu e ficou na dúvida? Volte aqui e esclareça.


CARTA AO LEITOR Enjuninado, Você é o que vive, mas ainda o que lê. A leitura permite conhecer lugares, entender costumes e saber histórias de outras pessoas, regiões, estados e países. É com essa percepção que te convido a mergulhar no universo quadrilheiro da Junina Tradição, da cidade de Pindoretama, e se enjuninar. Nesta primeira edição, se encante com histórias de jovens brincantes que dão vida a personagens marcantes. Na matéria principal, conheça a preparação antecipada desse grupo junino que, desde novembro de 2019, vem desenvolvendo o tema escolhido. Acompanhe o papo majestoso com a rainha, contando com detalhes a experiência desafiadora de carregar a coroa. De início, se depare com algumas opiniões reais de jovens integrantes, relatando a importância da Tradição para suas formações pessoais e profissionais. Se emocione com Kailly Furtado, primeiro transgênero da quadrilha e como sua entrada motivou outras a ingressarem. Se delicie com Lúcio Flávio, escritor pindoretamense que em versos singelos revela a importância da Tradição para a cidade. Entenda, a partir da leitura, que um dos principais objetivos da Junina é levar em suas apresentações características simples de sua região, de uma gente, tirando jovens e adolescentes do ócio, dando-lhes a oportunidade de conhecer e disseminar a arte de dançar São João. Bateu curiosidade? Então, entre na roda que, entre bandeirinhas e balões, você conhecerá a preparação da Tradição nas próximas páginas. Boa leitura!


BEM-DITOS DA TRADIÇÃO

TRADIÇÃO SEM FRONTEIRAS

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SUMÁ

DE FRENTE COM A NOVA MAJESTADE DA TRADIÇÃO

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COSTURANDO IDEIAS PARA DAR VIDA A DANÇA

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CASAL DE AMIGOS LEVA A HISTÓRIA DO CASAMENTO MATUTO PELAS QUADRAS CEARENSES

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JUNINA TRADIÇÃO NA TERRA DAS PALMEIRAS

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A “ATREVIDINHA” DO LITORAL LESTE

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PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA CEARENSE É TEMA DA QUADRILHA JUNINA TRADIÇÃO

ÁRIO 26

GÊNERO E SEXUALIDADE NO SÃO JOÃO DA TRADIÇÃO

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INFOGRÁFICO: TEMAS DA TRADIÇÃO


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BEM-DITOS DA TRADIÇÃO “Antes de conhecer a quadrilha eu não fazia ideia de o quão grandioso era o movimento junino no Ceará”. Bruno Fernandes, 25 Brincante há 3 anos

“Conheci a Junina Tradição nos pequenos festivais daqui de Pindoretama. De cara tive curiosidade em saber como era produzido aquele espetáculo simples, mas grandioso”. Fernanda Lima, 18 Brincante há 9 meses

“Estar dentro de quadra é um sentimento indescritível. A música, a energia, a alegria de cada brincante me leva não apenas até o céu, mas bem perto das estrelas” Brenna Silva, 20 Brincante há 2 anos

“Junina Tradição representa para mim uma forma de liberdade. Me sinto feliz e representada. Estar em contato com o universo junino é libertador, mágico, único” Kailly Furtado, 25 Brincante há 6 anos

“O trabalho em equipe está sempre muito presente. A união da equipe, o esforço de todos garante as conquistas alcançadas” Jairo Feitosa, 27 Brincante há 3 anos

“Me sinto vivo. Um sentimento diferente tira a gente da monotonia rotineira e nos põem em um lugar melhor” Bruno Willian, 20 Cantor da regional há 2 anos

“Entrar seguro, sair cansado, chegar em casa e pensar que você dançou até o último suspiro é a melhor sensação que um quadrilheiro pode sentir” Victor Afonso, 27 Noivo há 2 anos


“Sabemos que nossa quadrilha quer sempre levar e representar para outras pessoas o que é da nossa terra, nossas raízes, nossas tradições, fortalecendo ainda mais os laços com a nossa história” Maria Joana, 21 Cantora da regional há 2 anos “A Junina Tradição representa tudo aquilo que acredito como cultura no geral, é nela onde podemos nos expressar de modo ativo” Cleiton Chagas, 22 Baixista da regional há 4 anos

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Dançando, cantando me fortaleço como artista que sou. Resgatando nossa cultura, nossos valores e ainda por cima juntando os jovens para fazer algo que é bem raro hoje, formar um grupo junino dentro de uma cidade pequena”. André Martins, 26 Brincante há 1 ano


VERSO

JUNINA TRADIÇÃO NA TERRA DE PALMEIRAS por

Lúcio Holanda

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Vice-presidente da Academia de letras de Pindoretama- ACLAP, Escritor e Professor da Rede Municipal de Fortaleza. Natural de Pindoretama, o Professor graduado em geografia pela Universidade Federal do Ceará, UFC, começou a se interessar pela literatura recentemente, transformando em versos seu cotidiano. Em 2014 lançou seu primeiro livro, “Terra e Vida Entre Calos e Margaridas”, em que conta em versos poéticos vivências de sua trajetória de vida humilde. Nesta edição, Lúcio descreve em versos descritivos quem é a Junina Tradição e sua importância para sua terra. Confira:


Pindoretama, a terra das palmeiras Adocicada pela doçura da rapadura Presenteia seus munícipes, o Ceará, o Brasil e o Mundo Através da magnífica Junina Tradição Caprichosamente elaborada Nos esmeros de cada passista A voz melodiosa, aguda, do puxador Sincronias corpóreas harmoniosas Expressos no gosto e prazer De mostrar ao público Pela gesticulação da alma A beleza encantadora Da sonoridade regional As prévias mobilizam apaixonados Cultura raiz do lado de cá Ornamentam-se palcos Sintonia caracterizada por movimentos que tomam fôlego Identidade, amor, labor e emoção Maravilhando espectadores atentos Ao mágico brilho alegórico Seus componentes abraçam a causa Com vigor, raça e vibração Mexe, altera o cotidiano de vida simples Família tornam-se cúmplices do legado Fazem cerão Varam madrugadas Nos ensaios e aprontamentos

Para o sucesso da entusiasmada Maratona de shows e apresentações Brilho, emoção Frio na barriga Um ardente desejo de oferecer ao público A mais pomposa amostra teatral O tema? O mote é pensado, Discutido e estudado por todos os membros A relevância cultural é sempre o foco Vai da casa de engenho, o fabrico da apadura, a vida interiorana da roça Toda sua indumentária rústica Cuidadosamente detalhada nos cenários e coreografias Figurinos, maquiagem, roupas e musicalidade Vidas embelezadas pelos odores e sabores festivos Movidos por suntuosa euforia Premios, troféus, gracejos e molejos Marcam o glamour caipira Da cidade ao sertão Há de se ressaltar Os músicos da junina Sanfoneiro, zabumbeiro e vocalista Animal os brincantes Cantam e dançam num contágio virtuoso E a rainha? Verdadeira manifestação do belo! Seus movimentos mais parecem Um balé sincronizado Sorriso no rosto Empatia, simpatia Irradiam uma química inebriante Dramatizando com fidelidade A mensagem expressa no palco Junina tradição: o gesto marcante da cultura popular de nossa gente!

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Brincantes, amantes do improviso Uma peça teatral a céu aberto Quadrilheiros, puxadores da tradição junina Manifestam com maestria Ferramentas da cultura nordestina Mesmo fincadas na gênese europeia Culmina nos meses de junho e julho Porém, os preparativos Antecedem essa temporalidade A beleza expressa em canto e drama.


MARCADOR

por

Gabriel Barbosa

TRADIÇÃO

SEM FRONTE Marcador, Eleonardo Souza, em momento de apresentação. Foto:Thuanny Albuquerque.


A trajetória do ator e professor de teatro, Eleonardo Souza, começou em 2006 na quadrilha “Fulô do Mandacaru”. No ano seguinte seus passos também foram em direção ao grupo junino “Império Nordestino”, onde se permitiu participar de duas quadrilhas ao mesmo tempo. Ele lembra que a experiência foi uma “loucura”, porém enriquecedora. Após a dupla jornada, caiu nas graças da quadrilha “Fogueira da Paixão” e por lá ficou durante 10 anos, até que em 2018 desembarcou na Junina Tradição. De lá para cá, o professor soma 14 anos no universo junino. Natural de Cascavel, Eleonardo rompeu as fronteiras e decidiu participar da Junina Tradição em Pindoretama. “Quem faz cultura e quem gosta da cultura deve estar onde existe cultura. E vendo que a cidade de Pindoretama pulsa por isso, não só no movimento junino, mas também em outros aspectos, fez despertar meu interesse em participar, conhecer de perto esse grupo que vem se destacando na cena junina”, revela o professor. A escolha pela Junina Tradição deu pelo fato do grupo sempre do atenção através da dança e enxergar a cultura regional. O

também se ter chamaa forma de carro-che-

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EIRAS

Atualmente como marcador da Junina Tradição, Eleonardo Souza, 29, tem uma longa experiência no universo junino.


fe de artista no universo junino é o de ser marcador, função que é exercida na Junina Tradição desde 2019. “Aceitei o convite, fui para os ensaios e fiquei. Mas sem a expectativa de ser o marcador. Até que durante os ensaios eu fiz testes para a função, mas por uma razão ou outra acabei não sendo escolhido em 2018. Somente em 2019 que tive a grata satisfação de ser o marcador”, lembra. Sendo um grupo enraizado na cultura de Pindoretama, a quadrilha Junina Tradição despertou no professor o sentimento de realização ao fazer parte de um grupo sólido. “Hoje, eu digo que estou realizado. Lembro que em 2018 falei de forma aberta para todos que foi uma das melhores experiências artísticas da minha vida, da mesma forma, no ano passado. Creio que 2020 não será diferente”, exalta. Ocupar a função de marcador na Junina Tradição carrega uma responsabilidade significativa. O fato de representar um grupo bastante conhecido pelos méritos e prêmios faz com que Eleonardo tenha que honrar tal responsabilidade perante o público e o grupo. Além disso, trazer novidades para ter destaque nos festivais é um desafio constante para o artista. O lema é ser diferente, buscar novas formas de expressar o São João através da Junina Tradição.

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No aspecto pessoal, a Junina Tradição tem um lugar especial na vida do ator. O fato de ser marcador de uma quadrilha formada por pessoas que pensam diferente, com uma diversidade de histórias, razões distintas que unem o grupo reconstrói o artista a cada dia, a cada encontro e a cada ensaio. “Tudo isso me faz ser uma pessoa bem sociável, não fazendo discriminação pelo credo e nem pela raça do próximo. Isso soma muito na minha vida pessoal”, acrescenta. Já na vida profissional, o ator elenca seu desenvolvimento e maturidade como artista e docente. É por meio da prática exercida na quadrilha que encontra uma oportunidade de criar e revisar suas condutas artísticas e acadêmicas.

As origens da parceria entre Eleonardo e a Junina Tradição começou ainda em 2013, quando começou a seguir os passos do grupo apenas como admirador do trabalho, embora já participasse de outra quadrilha. Mas somente em 2017 foi que estreitou os laços com o grupo e em 2018 se tornou membro oficial.

Tudo isso me faz ser uma pessoa bem sociável, não fazendo discriminação pelo credo e nem pela raça do próximo. Isso soma muito na minha vida pessoal.

E já em 2019, as conquistas do artista pela Junina Tradição começaram a surgir. Eleonardo foi um dos marcadores mais consagrados na cena junina do Ceará. Ao todo, foram 20 títulos como o Jangadeiro Junino, um dos principais festivais do estado. Para 2020, o marcador cita os desafios: “ser diferente do que fiz ano passado, mostrar diferencial dos outros grupos que participei”, ressalta. Sobre o tema escolhido deste ano, expressa satisfação e identificação, por tratar da essência e cultura do Ceará, se tornando uma referência do próprio povo e de suas raízes através do que ele considera como “verdade poética”. Além disso, o ator não deixa de falar sobre as expectativas para 2020. “Desejo que seja um ano de muitas conquistas e que possamos mostrar de fato um excelente trabalho baseado em pesquisa, satisfazendo o público e de alguma forma contribuir para nossa cultura e o universo junino. É disso que precisamos na cena junina: contribuir para a nossa cultura”, finaliza.


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Eleonardo Souza, segurando uma cesta, em momento de apresentação. Foto: Thuanny Albuquerque.


A

Ex rainha da Quadrilha Junina Tradição dançando em apresentação.Foto:Thuanny Albuquerque.

RAINHAS

“ATREVIDINHA” DO LITORAL LESTE por

Gabriel Barbosa

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Rosiane Ribeiro, 23, entrou no universo junino pela primeira vez em 2012, quando dançou na quadrilha da escola. Com um toque especial, conquistou as quadras de dança, coreógrafos e o público. Confira! Em que ano começou a dançar na Junina Tradição? Comecei a dançar em 2013, quando a Junina Tradição foi fundada na junção de duas quadrilhas, Tradição Caipira, feita através do projeto do município, e a Explosão Junina, que tinha maior expressão em Pindoretama. Por participar de um projeto de Teatro, fui conhecendo danças populares, o universo da arte e, por fim, o São João. Na verdade, eu não fazia ideia que tinha tanta riqueza e grandiosidade. Então, em 2013, eu comecei como rainha já tendo uma experiência em 2012.

Como alcançou o reinado? Quando comecei no universo junino, tendo as primeiras experiências de 2012, havia uns testes de dança para analisar a desenvoltura da dançarina. Queria muito ser noiva, mas me encaixei como rainha. Naquele tempo, o auge para esse título eram os giros, pois tínhamos que girar muito. Foi quando, em um teste, comecei a girar em um piso molhado, dentro de uma sala pequena tendo que desviar de obstáculos pequenos. Passei e tudo começou. Quando a Junina Tradição surgiu em 2013 iniciei como rainha, falando do romeiro de Canindé, expressando a fé através da quadrilha. De fato, foi a primeira experiência em festivais federados, viajei para vários lugares, conhecendo novos quadrilheiros e ganhando títulos locais, sendo conhecida e impressionando os coreógrafos de outras quadrilhas. Prometia


Por que “atrevidinha” do Litoral Leste? Na verdade, o nome atrevidinha surgiu porque eu sempre colocava aquele toque especial na temática que o coreógrafo me passava. Como rainha, sempre coloquei um toque de Rosiane Ribeiro, com caras e bocas, gestos e passos. Por já possuir uma identidade conhecida pelas pessoas, todos já percebiam que era meu aquele diferencial a mais. Então, esse termo “atrevidinha” surgiu por eu sempre questionar e acrescentar algumas coisas na coreografia. Antes, esse adjetivo me incomodava, mas depois foi me conquistando, combinando um pouco comigo. Esse adjetivo se tornou forte por conta de ser a rainha do interior a conquistar muitos títulos e incomodar as rainhas da capital. Quais os principais títulos adquiridos? Apesar de ingressar em 2013 na Tradição, adquirindo reconhecimento local, foi em 2014 que consegui grandes títulos. No mesmo ano participei do festival da Cumade Chica, que não existe mais. Era o evento mais cobiçado entre as quadrilhas e foi onde conquistei o título de melhor rainha do litoral leste. No ano seguinte, obtive ótimas colocações nos festivais, levando várias faixas, medalhas e troféus para casa, mas uma das principais conquistas foi vencer o Ceará Junino em 2018 e o Jangadeiro Junino em 2018 e 2019. Quais os desafios desse título? As noites mal dormidas, a rivalidade existente entre as rainhas de outras quadrilhas quando o reconhecimento chega, o trajeto de um festival para outro, sem falar na correria para trocar as roupas da encenação do casamento para entrar com a roupa de majestade. Qual a importância da Junina Tradição para sua formação pessoal? Eu diria que a Junina Tradição foi uma escola que me ensinou a não ter vergonha de falar em público, foi onde pude mostrar quem realmente gosto de ser, onde pude encontrar minha identidade. Tenho mui-

ta gratidão pela quadrilha, pelas pessoas que a fundaram, as que tornaram a Junina Tradição essa força de representativa nos dias de hoje. Então, gratidão me define. Sem falar que a quadrilha é uma escola de artistas, não é somente uma quadrilha que dança na época de São João. É uma escola de arte, grupo de teatro que ensina você a mergulhar na temática passada. Resgata muito da nossa raiz nas apresentações. Qual a importância da Junina Tradição para sua formação profissional? A Junina Tradição me ajudou no convívio com as pessoas e o quanto essa questão de saber me relacionar melhor com pessoas é importante. A questão de lidar com as metas estabelecidas em cada ensaio, apresentações, objetivos e as consequências que é vencer e conquistar títulos. Então tudo isso também entrou na minha vida profissional: saber me planejar, estudar a fundo o que tem para ser trabalhado e poder mostrar com eficácia o que foi desenvolvido ao longo dos meses. O que levou a não representar a Tradição este ano? A Tradição é minha base de formação pessoal e profissional, não representá-la este ano foi uma decisão muito difícil, mas necessária. Estou concluindo minha formação em Educação Física e neste momento preciso me dedicar, coisa impossível para uma rainha. Em tempo de festival, participo de duas a três competições diferentes. Chego em casa no dia seguinte, dormindo por poucas horas já que à noite tem outras competições. Como que este semestre é decisivo em minha vida, precisei deixar o reinado em segundo plano. O que deseja para Gabriela, nova rainha da Tradição? Muita garra, coragem, paciência e luz. Gabriela não poderia ter recebido melhor título, ela lutou para adquirir isso e sei que irá honrar com unhas e dentes, neste caso, com muito giro e close. Ela é maravilhosa, acompanho o trabalho dela desde quando adquiriu o título de noiva, então sei que irá vencer muitos festivais.

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ser uma grande artista aos olhos deles.


RAINHAS

DE FRENTE COM A NOVA MAJESTADE DA TRADIÇÃO por

Gabriela Ferreira, 25, entrou no universo quadrilheiro em 2011, quando dançou na quadrilha Explosão Junina. Com a formação da Junina Tradição, entrou como uma brincante comum, tornando-se, mais tarde, noiva. Com a saída da rainha anterior, o teste para substituí-la surgiu e Gabriela conquistou a coroa, deixando de ser noiva da quadrilha. Confira seu trajeto até o reinado! Como ingressou na Junina Tradição? Eu comecei a dançar em 2013, ano em que a quadrilha foi fundada. A Junina Tradição foi a junção de duas quadrilhas já existentes em Pindoretama e eu já participava de uma delas, que era a Explosão Junina, em 2011, com apenas 18 anos de idade.

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Você já havia dançado em outras quadrilhas antes? Sim, em outras duas quadrilhas. Explosão Junina em 2011, onde conheci o universo junino a partir de uma quadrilha independente. Já em 2012 participei da quadrilha Dona Baixinha onde vi muitos dos meus colegas irem para os ensaios da quadrilha de bicicleta, a pé e outros se reuniam em grupos para pagarem um táxi. Como se tornou noiva ao lado de seu marido, na época namorado, José Luiz? Foi em 2014 o nosso primeiro ano juntos. Decidimos dançar pela Tradição e na volta de uma de nossas viagens de casal, recebemos o convite de sermos noivos. Foi uma grande surpresa, nos enchemos de alegria. Sem dúvida, fomos agraciados! A experiência de dançar como noivos motivou a se casarem de verdade?

Talita Chaves

Na verdade, não. Só pensávamos em dançar juntos, compartilhar esse momento e surpreender o público. Tem uma lenda regional que diz que o casal de noivos de uma quadrilha nunca se casa de verdade fora dela e isso deu um medo, mas se essa tradição for real, quebramos casando no civil. A Tradição fortaleceu nossa parceria um com o outro já que é necessário transparecer sinergia, amor e felicidade genuína. Qual o impacto da quadrilha na sua vida pessoal e profissional? No pessoal, a Junina Tradição é minha segunda família, onde me sinto completa dançando, cantando e dando o melhor de mim sempre. No profissional, me sinto mais focada, confiante na minha capacidade de alcançar meus objetivos. Quais as principais conquistas como noiva? Sou tricampeã do Sesc Ativo, campeã da etapa Ceará Junino, Ceará Litoral Leste e campeã da etapa Ceará Junino etapa final, que foi um presente para fechar com chave de ouro minha trajetória como noiva. Como alcançou o reinado da Tradição? Rosiane, rainha anterior, saiu por motivos de conclusão de sua formação (está terminando a graduação em Educação Física), assim que Herbesson anunciou testes para preencher a vaga, mostrei meu interesse. Participei do teste junto de outra brincante em janeiro. Após dois dias, Herbesson anunciou que eu havia passado e fez uma reunião comigo informando as datas e responsabilidades a serem cumpridas como rainha.


Ensaio de lançamento da nova rainha da quadrilha.Foto: Arquivos pessoais da Quadrilha Junina Tradição.

Qual o sentimento de ter sido nomeada a majestade real 2020? Meus sentimentos nesse momento são de muita alegria e euforia, muita esperança e que esse ano seja de muito reconhecimento para a quadrilha. Sou grata a todos que estão torcendo e vibrando por mim. Digo que viverei um grande desafio, mas estou muito tranquila e segura do que vou fazer. Tenho recebido muita ajuda e quero que esse ano venha para surpreender tanto a mim como a quadrilha em si.

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O que deseja para Tradição neste ano? Desejo que seja um ano de muita luz e que tenhamos momentos de muita alegria, diversão, muita felicidade, um ano abençoado com muitas vitórias e que venha o São João 2020!


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Casal de rei e rainha em momento de ensaio. Foto:Thuanny Albuquerque.


HISTÓRIA

PRODUÇÃO CINEMATOGRÁFICA CEARENSE É TEMA DA QUADRILHA JUNINA TRADIÇÃO por

Talita Chaves


Casal de brincantes em ensaio. Fotos: Talita Chaves.

Brincante ensaiando.Foto: Talita Chaves.

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para aqueles que desempenham uma boa coreografia”. O coordenador deixa claro que um dos seus maiores objetivos, além de divulgar a cultura nordestina, é tirar os jovens da ociosidade e proporcionar um direcionamento de vida no meio artístico. “Muitos jovens que dançam na Tradição, após finalizar o ensino médio, fazem cursos de teatro, se desenvolvendo no mundo artístico”, completa. Por meio dos recursos recebidos da gestão municipal, a coordenação da quadrilha compra os materiais necessários para a construção do cenário. Segundo o coreógrafo, o recurso recebido também é utilizado para distribuir, de forma gratuita, o uniforme confeccionado para os brincantes. A prefeitura de Pindoretama também disponibiliza dois ônibus para a equipe ir a

suas apresentações, oferecendo um terceiro para transportar o cenário e instrumentos do regional. “Acreditamos na capacidade dos jovens participantes da quadrilha. Graças ao apoio e ajuda que disponibilizamos, alcançamos visibilidade para cultura da cidade”, afirma o chefe de gabinete da prefeitura, Jorge Luiz Nogueira. Alice Silva dança há quatro anos na Quadrilha. Atualmente, cursando Licenciatura em Teatro, ela participa de outros projetos culturais, promovidos pela coordenação municipal de Cultura. Ela ressalta o quanto o envolvimento com a tradição foi importante no seu desenvolvimento profissional e social. “Graças à quadrilha, descobri-me no universo junino e cultural, aprendi muito e repasso o conhecimento para outros jovens e crianças por meio dos projetos


Integrandes da Quadrilha Junina Tradição em momento de ensaio.Fotos: Talita Chaves.

Fora do período junino e de ensaios, a Junina Tradição para as suas atividades. A coordenação municipal de Cultura, porém, junto com alguns participantes que dançam na quadrilha, desenvolvem outros projetos para os jovens da cidade, bem como grupos de dança, grupo de maracatu, ballet e grupos teatrais, surgindo, assim, o Coletivo Tradição. Segundo Herbesson, o coletivo surgiu da vontade de alguns brincantes de compartilhar seus conhecimentos e talentos adquiridos, dentro e fora da quadrilha, para outras pessoas. Hoje o Centro Cultural da cidade conta com mais de 45 alunos, entre 8 a 17 anos, praticando várias atividades culturais.

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Casal de brincantes com braços erguidos. Foto: Talita Chaves.

municipais. Hoje tenho meu grupo de dança e teatro, e devo tudo à Junina Tradição e à secretaria de Cultura que acredita num futuro melhor por meio da cultura”, diz Alice.


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SE PREPARANDO PARA OS FESTEJOS DE JUNHO Aos olhos de quem dança na Junina Tradição, o período junino “já tá bem ali”, seja qual for a época do ano. Afinal, antes de entrar em quadra e dançar o balancê, retratando histórias e costumes pindoretamenses para pessoas de outras cidades, Herbesson promove um primeiro encontro do grupo ainda no mês de novembro, compartilhando o tema escolhido para ser trabalhado no ano seguinte.

Os trajes dos figurinos saem do papel pela costura de Elenilda Holanda,48, que, ao longo dos 3 meses anteriores a junho, tira as medidas de cada brincante, entregando os modelos prontos dias antes da estreia. “É um desafio que faço questão de viver ao longo desses sete anos de tradição. Amo acompanhar e abrilhantar a quadrilha com minha costura, e meu orgulho aumenta por fazer parte dessa família”, declara a costureira.

Os interessados são convidados a participar, por oito meses, de ensaios intensivos com a duração de cinco horas nos finais de semana. No total são escolhidos 25 brincantes para dançar na quadrilha, e, a partir deles, são selecionados marcador, rainha e casal de noivos, os destaques principais. O enredo é repleto de falas e performances, a partir do qual todas as damas e cavalheiros mergulham no universo teatral para encenar o casamento matuto. No enredo, traços tradicionais de um casal apaixonado que vive um romance proibido. “No casamento matuto gostamos de manter a pegada tradicional do romance proibido pela família da noiva e com falas coloquiais e trejeitos típicos cearenses conseguimos desenvolver o tema, finalizando o casório com uma bela festa quadrilheira”, explica o coreógrafo.

O cenário é desenhado e construído pelas mãos de alguns brincantes e após músicas e coreografias ensaiadas, trajes desenhados, medidas tiradas e roupas costuradas, a tradição aguarda ansiosamente para dar seu grito de guerra, “Junina Tradição é Show”, às 21 horas do último domingo de maio, quando costumeiramente ocorre a estreia do grupo junino.

Enquanto a quadrilha se prepara, o regional da tradição dá o ritmo às composições do secretário de cultura da cidade, Jonathan Costa, que relata que um dos grandes desafios no ato de compor é a junção dos elementos presentes no São João e no tema escolhido para ser trabalhado ao longo do ano. Também responsável pela criação dos figurinos, o secretário afirma que o tema deste ano irá ser representado por rolos de filme nos trajes femininos e masculinos, exceto no traje da rainha.

@juninatradicaopindoretama Quadrilha Junina Tradição Pindoretama Junina Tradição Pindoretama

Devido à pandemia do novo coronavírus, que resultou no decreto de isolamento social em todo país, a Federação das Quadrilhas Juninas do Ceará, FEQUAJUCE, na qual a Quadrilha Junina Tradição é filiada, optou em reunião com todos os presidentes das quadrilhas filiadas que, neste ano não haverá apresentações juninas. Por causa disso, o tema escolhido para este ano será trabalhado em 2021. Desde o isolamento, o presidente da Junina Tradição, Herbesson Munhoz, vem promovendo lives por meio das redes sociais da quadrilha, entrevistando os integrantes, mostrando os melhores momentos, promovendo enquetes e compartilhando vídeos caseiros de dança que os brincantes estão fazendo em casa.



ESTILO TRADIÇÃO

COSTURANDO IDEIAS PA

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om mais de sete anos como estilista oficial da Junina Tradição, Jonathan Costa se prepara a cada ano para o dia “D” da apresentação, o momento único em que o público se depara com seu trabalho e estilo em forma de figurino. O jovem é responsável pela criação das roupas de todos os brincantes do grupo junino, e isso requer que Jonathan extraia uma inspiração própria. “Cada pessoa precisa ter sua própria inspiração, ela tem que colocar algo que veja e funcione. Para isso acontecer, eu não me espelho nos figurinos de outras quadrilhas, não consigo fazer isso. Em vez disso, tento dar vida ao figurino da melhor forma possível”, adverte. A criação dos figurinos do cavalheiro, dama, marcador, noiva, noivo e da rainha exige que Jonathan tenha o esforço de se aprofundar no tema escolhido pela quadrilha, fazendo-o se descobrir cada vez mais no universo da moda. Somente após essa etapa inicial

que o design do figurino, cores, estampas, tecidos e aviamentos são definidos pelo estilista. Até chegar na etapa da definição do figurino, Jonathan junta suas ideias, esboços e criações chegando no que ele chama de “croqui perfeito” para os figurinos. “Na quadrilha temos esse quesito que vai ser julgado, então tudo tem que estar impecável”, relata. Além disso, o estilista enfrenta os constantes desafios para finalização das peças, que vão desde o curto prazo para entrega dos croquis, o perfeccionismo do presidente da quadrilha, alterações, até a escolha do melhor tecido e a transformação dos desenhos em figurino. O amor pela arte, cultura junina e moda é o que move Jonathan a continuar sendo o estilista oficial da Junina Tradição desde 2013. De lá para cá, o jovem passou por desafios um tanto inusitados em relação à criação de figurino e adaptação com o tema. Ele lembra da vez em que a cana de açúcar foi


PARA DAR VIDA À DANÇA por

Gabriel Barbosa

Se existe um sentimento que aflora em Jonathan é o de alegria. Isso porque a cada dia se aproxima o período de tirar do papel cada desenho e finalmente dar cor e vida a cada um. “Mal vejo a hora de vivenciar a estreia, a apresentação e mostrar para o povo que todo meu projeto ficou lindo. Como sou muito futurista, já fico imaginando como o figurino vai ficar e a reação das pessoas”, espera. Até o final da entrevista, Jonathan não deixou de falar sobre as expectativas para a Junina Tradição e como a quadrilha mudou o conceito das festas juninas no Ceará. “A Junina Tradição mudou o conceito de quadrilha no Ceará porque as quadrilhas de Fortaleza tinham benefícios por causa do tamanho da estrutura que montavam, mas aí chegou a Tradição com estrutura simples, alinhamento em suas coreografias, estilo diferenciado no figurino e brincantes com muita vontade de dançar São João”, declara. O orgulho de pertencer a Tradição ficou nítido em cada fala e olhar do estilista, deixando claro em suas falas que a quadrilha tem um impacto grande em seu desenvolvimento pessoal e profissional, além de compartilhar com cada integrante o resgate de elementos tradicionais. “Com a Tradição resgatamos o chitão, a música, cenário, arrasta pé e tudo como manda o figurino”, finaliza.

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Desenhos dos figurinos da Quadrilha Junina Tradição. Foto: Arquivo pessoal da Quadrilha Junina Tradição.

o tema escolhido pela Junina Tradição no ano de 2018, e a grande questão era como criar figurinos que tivessem relação com a cana de açúcar e ainda harmonizar isso com festa junina. Muito antes de enfrentar desafios como esse, o jovem já desenhava seus primeiros figurinos ainda durante sua infância. “Isso não veio da noite para o dia e muito menos foi algo forçado, foi tudo da forma mais natural possível. Os primeiros figurinos foram de quadrilha, sendo que ainda não participava de quadrilha profissional”, lembra.


Kailly Furtado se apresentando em quadra. Foto:Thuanny Albuquerque.

BRINCANTE

GÊNERO E SEXUALIDADE NO SÃO JOÃO DA TRADIÇÃO Grupo é composto por integrantes LBTQ+ que dançam de maneira performática, conquistando espaço no movimento quadrilheiro da cidade Talita Chaves Kailly Furtado em momento de apresentação com outros brincantes.Foto:Thuanny Albuquerque.

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Assumindo sua transsexualidade aos 19 anos, a maquiadora profissional da cidade de Pindoretama, Kailly Soares, 25, passou por um processo de descobrimento de si mesma quando a não identificação com o gênero de seu nascimento começou a se tornar mais nítido, resultando em uma crise de identidade que entristecia seus dias. Embora já tivesse assumido sua homoxesualidade à família e tivesse recebido a aceitação por parte deles, sua felicidade não se encontrava completa. “O sentimento de aceitação por parte da minha família foi incrível, ao mesmo tempo em que a falta de identificação comigo mesma foi capaz de tirar o brilho de momentos tão bons”, complementa Kailly. Sempre interessada pelos grupos de teatro e de dança presentes no Centro Cultural da cidade, a maquiadora pôde encontrar no universo artístico a liberdade que precisava para se permitir ser quem quisesse e, através da informação, também pôde se encontrar e compreender sua transsexualidade. Segundo Kailly, foi em 2014, quando ingressou na Junina Tradição de Pindoretama, dançando como dama, que realmente se encontrou. Apesar da quadrilha já possuir brincantes homossexuais naquele ano, ainda não existiam pares homoafetivos ou transgêneros dançan-

O sentimento de aceitação por parte da minha família foi incrível, ao mesmo tempo que a falta de identificação comigo mesma foi capaz de tirar o brilho de momentos tão bons

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Kailly ao lado de seu par em quadra. Foto:Thuanny Albuquerque.

Movimentos culturais possibilitam ao participante mergulhar em um universo onde novos saberes são adquiridos por meio da troca de experiências. Embora a dança junina tenha em sua essência características capazes de diferir a qual gênero é destinada ou por qual melhor gênero será executada, a inclusão é capaz de quebrar essas divisões quando os responsáveis se permitem abraçar as diferenças por mais desafiadoras que essa decisão seja. Foi assim na Junina Tradição de Pindoretama, quando o presidente Herbesson Munhoz aceitou que Alisson Soares da Silva dançasse como Kailly Soares.


do como desejavam, por isso, a maquiadora decidiu conversar com o presidente e coreógrafo, Herbesson Munhoz, pedindo sua permissão para dançar como mulher. A aceitação por parte do coreógrafo veio, segundo a maquiadora, com um desafio que deu a brincante mais coragem de lutar por seu objetivo. “Herbesson permitiu, contanto que eu realmente dançasse como uma dama, caso contrário ele voltaria atrás e eu não dançaria”, completa Kailly. Apesar das palavras meio desanimadoras para maquiadora, Herbesson a incentivou, mostrando os pontos que precisavam ser melhorados a cada evolução e, em junho do mesmo ano, a Kailly se tornou a primeira transgênero a dançar na quadrilha. “Através da Junina pude perceber que eu conquistaria tudo se acreditasse que sou capaz e que eu poderia ser quem eu quisesse, pois quem toma as decisões da minha vida sou eu mesma”, ressalta.

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A entrada da brincante na Tradição incentivou outras pessoas LGBTQIA+ a ingressar na quadrilha, e Herbesson agradece a persistência e a garra que a brincante transgênero trouxe consigo. “A entrada de Kailly foi um achado, um verdadeiro marco para a Junina. Orgulho-me de ter desafiado a dar o melhor de si; e da quadrilha se tornar um porto seguro para todos encontrarem seu lugar no mundo”, afirma o coreógrafo e presidente da quadrilha. Hileano Lima, 21, é um dos brincantes que entrou motivado por Kailly e revela o quanto se sentiu abraçado pelo grupo. “Sou gay, e ser aceito pela quadrilha foi muito importante. Dançar como mulher, melhor ainda. Na junina não existem tabus, amarras ou preconceitos e sim uma família que te respeita, levando visibilidade para nossa comunidade LGBTQIA+”, afirma o brincante. Kailly revela o impacto da Tradição em sua formação profissional, pois, foi a partir das maquiagens feitas para as apresentações que adquiriu experiência e inspiração, buscando se profissionalizar no seguimento. Ela se tornou uma maquiadora reconhecida dentro e fora da cidade.

SERVIÇO Kailly Furtado Makeup Av. Capitão Nogueira 1203, Pindoretama, Ce, 62860-000 Seg. a Sex.; 8 às 12h e 13h às 19h Telefone: (85) 98637- 5645 Facebook: Kailly Dhyas Instagram: @Kailly_Furtado


DICAS DE MAQUIAGEM COM KAILLY FURTADO

PARA O DIA Durante o dia, a maquiagem deve ser leve, pois será essa a maquiagem que irá ficar até à noite. Além de esse ser o tipo mais adequado para o dia, outro aspecto importante é que a luz do dia tende a evidenciar muito mais a maquiagem, não sendo por isso aconselhado um aspecto mais carregado. O tipo e a cor da pele são fatores importantes. Assim, mulheres morenas devem usar tons dourados, laranjas e pêssego, que vão proporcionar luminosidade, e em peles claras, a preferência deve ser por tons rosa e laranja claro, que ajudam a dar cor ao rosto e a realçar os contornos.

Transgênero em momento de apresentação. Foto:Thuanny Albuquerque.

PARA A NOITE A maquiagem para a noite pode ser bem mais elaborada, pois a falta de luz permite a utilização de cores mais brilhantes e escuras, que se destaquem no rosto. No entanto, não se devem usar tons muito intensos simultaneamente nos lábios e olhos. Boas opções para usar durante a noite são os olhos pretos esfumados que realçam o olhar com um batom cor de pele ou rosa claro. Ou os batons vermelhos ou cor de vinho, cores bem fortes, mas sempre femininas, que podem ser combinadas com uma maquiagem nos olhos menos carregada.


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Casal de amigos leva a história do casamento matuto pelas quadras

CEARENSES Em 2019, Yasmin Ferreira e Victor Afonso foram considerados o melhor casal de noivos pela FEQUAJUCE

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Talita Chaves

Casal de noivos de braços dados em momento de apresentação.Foto:Arquivo pessoal da Quadrilha Junina Tradição.

NOIVOS


Antes da data prevista para a estreia, a sinergia de corpos dos brincantes surge nos ensaios, seguindo o roteiro de um romance vivido na noite de São João. Para o principal casal da Junina Tradição não poderia ser diferente, afinal, um dos quesitos mais importantes do julgamento é a interpretação dos noivos.

conflitos, apesar de cenas e danças que possuem beijos. “Danço há quatro anos na quadrilha e nesse tempo já fui brincante, rainha e hoje noiva, então, cenas com agarrados e selinhos é comum, sendo destaque ou não; mas meu companheiro entende e nunca se contrapôs a meus papéis”, declara.

Durante dois anos seguidos, o romance foi cercado de muito forró, proibições e vivido pelo fisioterapeuta Victor Afonso, 27, e a estudante Yasmin Freitas, 20. Os destaques revelam que a amizade surgiu logo nos primeiros ensaios de 2018, quando o par de ambos faltou alguns ensaios, levando o coreógrafo Herbesson Munhoz a pedir que dançassem juntos. “O santo bateu de cara. Yasmin com seu jeito travesso de menina levada me encantou, casando perfeitamente com minha maneira alegre e descontraída de dançar”, completa o fisioterapeuta. Yasmin também conta detalhes sobre esse dia. “Nada é por acaso, e receber o Victor como par foi mágico. Quando recebi o convite de ser noiva ao seu lado, percebi que essa conquista não seria possível se não fosse por esse laço que surgiu logo nos primeiros ensaios”, lembrou.

O fisioterapeuta possui um vasto currículo no universo junino, sendo noivo em outras quadrilhas como Estrela do Oriente, Fiapo de Trapo, Fogueira da Paixão e Junina Babaçu. “Em outras quadrilhas sempre conquistava o papel de noivo por causa da experiência e amadurecimento com o papel”, relata. Diferente de Victor, Yasmin ingressou no universo quadrilheiro por meio da Junina Tradição, evoluindo na dança a cada ano, adquirindo papéis de destaque como rainha e atualmente como noiva. “Posso não ter passado por outras quadrilhas, mas, na Tradição, além de destaque, sou reconhecida por pessoas de fora. E tudo isso graças a Tradição”, conta orgulhosa.

Há três anos Yasmin vive um relacionamento com José Alves, 25, vocalista regional da quadrilha e relata não ter

Em apenas dois anos, Victor e Yasmin já conquistaram cerca de trinta e três títulos de melhores noivos pelas quadras cearenses, dentre eles, estão de melhores noivos 2019 pela Federação das Quadrilhas Juninas do Ceará, FEQUAJUCE, Arraiá do Cumpade Zé, Etapa Jangadeiro Junino, João XXIII e Seletiva Sesc Ativo. E dessa forma, vão adquirindo mais espaço e visibilidade.

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Herbesson revela que antes de convidá-los a serem noivos em 2018, encontrou na dança do casal entregas essenciais para os personagens, não precisando fazer muitos testes para ter certeza. “A sintonia de ambos para com seus personagens é surreal e isso é nítido nos olhares, nos gestos e nos sorrisos. O verdadeiro teste é em quadra, é em cada ensaio que percebemos quem está realmente preparado para ser destaque”, explica.

Por não ser natural e não residir na cidade da quadrilha, Victor faz um trajeto de 18km entre Cascavel e Pindoretama para acompanhar aos ensaios. “Vale a pena fazer esse trajeto umas a duas vezes por semana. Tenho bons amigos na Junina, o clima da quadrilha é especial, a sensação é de família mesmo”, opina o brincante.


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O ano é 2013, a Quadrilha Junina Tradição nasce da junção das juninas Tradição Caipira e a Explosão Junina. De lá para cá, a quadrilha cresceu se consolidando como nível estadual, se tornando a única quadrilha da cidade, ao longo de seus sete anos de formação, a participar de campeonatos nacionais. O infográfico abaixo conta a história de todos os temas escolhidos ao longo dos sete anos de Tradição. Confira!



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