Monografia TFG II - A Articulação Entre o Espaço Público e o Espaço Privado no Centro se São Paulo.

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A ARTICULAÇÃO ENTRE O ESPAÇO PÚBLICO E O ESPAÇO PRIVADO NO CENTRO DE SÃO PAULO

LUCAS PRINCIPE FERREIRA


LUCAS PRÍNCIPE FERREIRA

A ARTICULAÇÃO ENTRE O ESPAÇO PÚBLICO E O ESPAÇO PRIVADO NO CENTRO DE SÃO PAULO

SÃO PAULO, DEZEMBRO DE 2013 1


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LUCAS PRÍNCIPE FERREIRA

A ARTICULAÇÃO ENTRE O ESPAÇO PÚBLICO E O ESPAÇO PRIVADO NO CENTRO DE SÃO PAULO Trabalho Final de Graduação Apresentado à FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE Para obtenção de título de Bacharel em ARQUITETURA E URBANISMO

Prof. Orientador: ANTÔNIO CLÁUDIO PINTO FONSECA

Banca Examinadora: Prof.: Dr. ANTÔNIO CLAUDIO PINTO FONSECA_FAU-Mackenzie Prof.: Dr. AFFONSO RISI_FAU-Mackenzie Prof.: Ms. Silvio Sant’anna_FAU-Mackenzie 3


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Dedicat贸ria Ao meu filho Bernardo Cravo Ferreira. 5


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Agradecimentos Aos meus pais, Diva e Luis e minha irmã Beatriz pelo apoio e incentivo nos momentos mais difíceis. À minha namorada e companheira Patrícia Cravo por estar ao meu lado acompanhando, dia a dia, toda a jornada deste trabalho. A turma 408 pela amizade, que espero levar sempre. A todos os colegas de curso e docentes da faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie pelo auxílio e orientação durante toda minha formação. 7


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‘‘Acredito que lutar pela qualidade desses espaços coletivos - ao mesmo tempo privados e públicos, e públicos e privados - é a principal tarefa do arquiteto na cidade.’’ Manuel de Solá-Morales 9


SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO_____________________________________________________________ 13 2. CONCEITOS E CONTEXTOS__________________________________________________ 19 2.1. Espaço Público e Espaço Privado___________________________________________ 21 2.2. As Transformações dos Espaços Públicos_____________________________________ 27 2.3. O Centro de São Paulo____________________________________________________ 35 2.4. Espaço Público x Espaço Privado ___________________________________________ 45 2.5. Espaço Público + Espaço Privado ___________________________________________ 51 EDIFÍCIO LOUVEIRA (1946) _ _______________________________________________ 55 COPAN (1951) _ _________________________________________________________ 59 EDIFÍCIO IBATÉ (1953)_ ___________________________________________________ 63 EDIFÍCIO ITÁLIA (1954)____________________________________________________ 67 EDIFÍCIO GALERIA METRÓPOLE (1958)_______________________________________ 71 EDIFÍCIO SUL-AMERICANO (1962)___________________________________________ 75 CETENCO PLAZA (1972)___________________________________________________ 79 REVITALIZAÇÃO DA PRAÇA ROOSVELT (2010)_ ________________________________ 83 3. ESTUDOS DE CASO_________________________________________________________ 89 3.1. Exemplos Internacionais__________________________________________________ 91 3.1.1. Chigado Federal Center, Mies Van der Rohe, 1959__________________________ 91 10


3.1. Exemplos Nacionais______________________________________________________ 95 3.1.1. Conjunto Nacional, David Libeskind, 1955________________________________ 95 3.1.2. Brascan Century Plaza, Konigsberger Vannuchi, 2000_______________________ 99 4. TERRITÓRIO E LUGAR______________________________________________________ 103 4.1. A Formação Histórica do Bairro República___________________________________ 105 4.2. A Praça da República____________________________________________________ 107 4.3. A Análise do Lugar______________________________________________________ 111 5. A PROPOSTA PROJETUAL E O OBJETO_______________________________________ 115 5.1. O Objeto______________________________________________________________ 116 5.2. O Programa de Necessidades_____________________________________________ 119 5.3. O Partido_____________________________________________________________ 121 5.4. O Projeto _____________________________________________________________ 127 6. EXPERIMENTAÇÃO________________________________________________________ 143 6.1. Estudo de Iluminação Natural_____________________________________________ 144 7. CONCLUSÃO_____________________________________________________________ 147 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS_____________________________________________ 151

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1. INTRODUÇÃO

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Este trabalho tem a intenção de mostrar o caminho percorrido durante o desenvolvimento do Trabalho Final de Graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo, da escolha do tema, primeiras pesquisas, considerações e desenvolvimento do mesmo, até a etapa de apresentação do objeto arquitetônico relacionando-o com o tema escolhido. Pretendo discutir aqui a relação entre os espaços públicos e privados no centro de São Paulo, e as estratégias e caminhos utilizados pelos profissionais para articulá-los de uma maneira satisfatória, dando ênfase em análises de alguns projetos que tratam essa relação de um modo muito peculiar e harmonioso, com diferentes usos e pontos de vistas. Penso que no dias atuais, com a série de problemas que as grandes metrópoles brasileiras vem enfrentando, com o pensamento individualizado de cada cidadão, e a busca incessante pelo lucro, o arquiteto tenha uma difícil missão em lidar com esses espaços e fazer com que no seu projeto essa relação esteja equilibrada, e o edifício passe a fazer parte da cidade como um todo, e não apenas se limite ao seu lote e dê pouca importância a questão urbana, ao lugar onde será inserido, aos fluxos existentes, aos usos consolidados, enfim, a uma série de características que são específicas de cada lugar e que devem ser compreendidas na hora de se estabelecer uma proposta para a cidade. A decisão em escolher um tema tão amplo e difícil partiu de uma simples caminhada pela Rua Augusta, famosa por seus comércios e sua vida noturna agitada, e na indignação ao observar um grande empreendimento imobiliário, em fase de construção, trazer na fachada voltada para

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a rua uma enorme empena cega, com aproximadamente 15 metros de altura, local destinado ao estacionamentos, e que se ‘‘fecha’’ totalmente para a rua, e num contexto mais amplo, para a cidade. Após observar esse empreendimento, passei a refletir nessa questão de relação entre o lote e a cidade, entre o terreno e a rua, entre o espaço público e o espaço privado e de que diferentes formas eles acontecem na cidade de maneira positiva e de maneira negativa. Para não deixar que esse tema tomasse proporções muito amplas, decidi focar essas análises no centro de São Paulo, pois resido nessa região há uns quatros anos, e adquiri um carinho e estreita relação com essa parte da cidade. Outro fator determinante para essa escolha, foi o fato do terreno escolhido para a proposta de projeto estar localizado nessa região (Distrito da República), que é um dos maiores centros econômicos, culturais e populacional deste país, e com uma infraestrutura muito ampla, mas que sofreu e vem sofrendo com o descaso e seu abandono. Á partir deste tema de pesquisa, pude começar a elaborar propostas de projetos para a área, que estabelecesse relação com o tema escolhido, com isso decidi adotar como objeto de projeto um edifício multifuncional, composto por habitação, comércio e escritórios, onde existem espaços públicos e privados, e que visa articular de maneira satisfatória esses dois espaços, tanto do ponto de vista programático, com programas que atendam a todos, quanto do ponto de vista estético e funcional, com estratégias de relação com a Praça da Republica e com o entorno

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existente. Além disso, procuro também qualificar e adensar a área central da cidade, trazendo a população para morar e trabalhar nessa região. Isto posto, este trabalho inicia-se apresentando os conceitos utilizados para a compreensão do que é o espaço público e o que é o espaço privado e o modo que eles se organizam, as mudanças ocorridas ao longo da história de uma maneira geral, e em seguida focando na região central de São Paulo e suas principais mudanças ao longo do tempo. Logo após traz uma análise de como esses espaços se articulam de uma maneira negativa e dos fatores que levaram a isso, e também analisa as articulações positivas, citando as diferentes formas com que essa articulação acontece e elencando alguns exemplos de projetos, com diagramas que buscam ilustrar como se dá essa relação entre o público e privado. Após essas análises feitas, o enfoque se dá mais no objeto proposto, descrevendo e analisando o local escolhido para intervenção, dos programas escolhidos, e então seguindo para todo o processo de desenvolvimento da proposta elaborada no exercício projetual, desde a concepção do partido até o objeto final consolidado. Em suma, o que se pretende discutir nessa linha de pensamento é refletir e discutir a coexistência desses espaços para a cidade, e para o usuário dela, de uma forma que tenhamos espaços qualificados, democráticos, gentis e agradáveis para todos.

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2. CONCEITOS E CONTEXTOS

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2.1. Espaço Público e Espaço Privado espaço. S. m. 1. Distância entre dois pontos, ou área ou volume entre limites determinados. 2. Lugar mais ou menos delimitado, cuja área pode conter alguma coisa. 3. Extensão indefinida.

público. Adj.

1. Do, ou relativo, ou pertencente ou destinado ao povo, à coletividade. 2.

Relativo ou pertencente ao governo de um país. 3. Que é do uso de todos; comum. 4. Aberto a quaisquer pessoas.

privado. Adj. 1. Que não é público; particular. 2. Falto, desprovido, carecido, carente.

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O início deste trabalho tem como objetivo traçar uma definição específica para os termos público e privado contextualizando-os com o tema tratado. Antes porém, julga-se necessário dividir os espaços estudados, em relação a sua propriedade e ao seu uso, visando um melhor entendimento, posteriormente, das análises feitas em outro capítulo. Propriedade

Uso

Exemplo

Pública

Público

Calçadas, ruas, parques, praças, aeroportos, centros culturais e esportivos, metrô, trem, etc.

Pública

Restrito

Administrações públicas, hospitais.

Privada

Privado

Residências, escritórios, etc.

Privada

Público

Comércios, shopping centers, térreo de edifícios, etc.

Tabela 1 - Relação entre o tipo de propriedade e o tipo de uso nos espaços da cidade Fonte: Oliveira, Luciana Monzillo de. Espaços Públicos e privados das centralidades urbanas.

De certo, como impressão inicial, ficará evidente o antagonismo entre esses dois termos, mas com base nessas definições irei discutir e analisar estratégias e soluções utilizadas que extrapolam o âmbito dos conceitos e relacionam esses espaços mutuamente. Observando a definições na pagina anterior, retiradas do conceituado dicionário Houaiss, podemos perceber as diferentes abordagens com que eles são utilizados na nossa literatura. Com isso, propõe-se estabelecer algumas definições desses termos, contextualizando-os com o es-

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paço urbano e seus usuários. A maioria das pessoas tem a ideia fixa que o público e privado são coisas totalmente opostas, relacionando esses termos a valores de uso e posse. Deste modo, há um clara separação entre os dois, sendo que um não pode completar o outro, excluindo qualquer tipo de possibilidade de estabelecer uma relação entre ambos. É o que escreve o arquiteto holandês, Herman Hetzberger, onde explica que ‘‘essa oposição extrema entre o público e privado - como oposição entre o coletivo e individual - resultou num clichê, e é tão sem matizes e falsa como a suposta oposição entre o geral e o específico, o objetivo e o subjetivo. Tais oposições são sintomas da desintegração das relações humanas básicas.’’ Deste modo temos a definição do público e privado baseada no senso comum que atrela esses termos as suas próprias relações. Entretanto, o próprio Herman Hetzberger, apresenta uma definição desses espaços, dando um dimensão maior do que, apenas, as relações entre pessoas. ‘‘ Os conceitos de ‘público’ e ‘privado’, podem ser interpretados, em termos espaciais em um sentido mais absoluto. Podemos dizer que: pública é uma área acessível a todos a qualquer momento; a responsabilidade por sua manutenção é assumida coletivamente. Privada é uma área cujo acesso é determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa, que tem a responsabilidade de mantê-la’’. Importante destacar também que há outras definições que julgam que um espaço deve se 23


impor ao outro por necessidade, e não apenas se opor. Manuel Solá-Morales, por exemplo, defende que os espaços públicos deveriam ‘interferir’ nos espaços privados, ‘‘a importância do espaço público não está, certamente, em ser mais ou menos extenso (...) senão referir entre si os espaços privados fazendo também deles patrimônio coletivo.’’ Com isso ele propõe uma dissolução entre esses dois termos, gerando um outro tipo de espaço, denominado de espaço coletivo. Diante desses conceitos expostos, e outros estudados, procura-se definir então, esses conceitos no contexto deste trabalho, que pretende analisar a articulação entre os espaços público e privados. Assim, tem-se que espaços públicos são aqueles, onde a população, de forma democrática pode-se ocupar, realizando diversas atividades e sua supervisão fica a cargo da administração pública e o espaço privado é aquele, onde há regras definidas a cargo do responsável pelo lugar, principalmente, ligadas ao seu acesso. Em nenhum momento se busca a prevalência de um sobre o outro. Os espaços públicos são importantes na cidade, desde que foram concebidos principalmente, na antiguidade como lugares de encontros e discussões sociais, da mesma forma que os espaços privados, ao longo do tempo, foi tomando seu lugar e notadamente faz parte do cotidiano da sociedade moderna. Desta maneira, a articulação desses espaços acontecerá quando um complementar ao outro,

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de forma que o privado dê qualidade ao público ou o público dê qualidade ao privado. Essa qualidade se dará através da presença de soluções pensadas com esse objetivo, e que serão analisadas em capítulos posteriores.

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2.2. As Transformações dos Espaços Públicos Ao longo dos anos pudemos perceber constantes variações e adaptações dos usos dos espaços públicos. Essas mudanças derivam de alguns fatores determinantes ocorridos em contextos diferentes na história. Temos a formação das praças, espaço público urbano, de convívio e lazer, muitas vezes utilizado para eventos importantes como manifestações, festivais, etc. característica essa que partiu do contexto dos espaços das ágoras gregas, dos fóruns romanos e da grande praça medieval europeia.

Reconstituição de uma Ágora Grega Fonte: www.elieserribeiro.blogspot.com.br

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As ágora gregas, como mencionado, teve seu nascimento nos diversos debates políticos que ali existiam e no constante comércio que eram para lá atraídos. Já os fóruns romanos teriam origem na necessidade de um mercado único para comércio entre os diversos po vos que compunham a sociedade romana daquela época. Essa denominação de ‘‘fórum’’ pode ser entendida com um lugar multifuncional, onde existiam ali, além do comércio, espaços para discussões, disputas atléticas, etc, além de estarem em uma privilegiada localização, próximo a locais importantes, como as igrejas. Na Idade Média temos o nascimento das cidades conforme a circulação das pessoas, os espaços de caráter público, como as praças e ruas, eram desenhados a partir da necessidade de espaços nas cidades. Esses novos espaços agora criados, passam a ter uma função mais urbanística. Atividades coletivas fazem uso desses espaços, este então passa a ser um ponto de encontro, um local de reunião No Brasil, a primeira ideia de espaço público pode ser vista na formação dos pátios em frente as igrejas. As cidades daquela época começavam a ser edificada através da posição da mesma, a partir dela, é que começavam a se formar as vilas, constatação essa que pode ser vista até hoje nas cidades do interior do Brasil. Com isso as igrejas e seus grandes pátios públicos passavam a ganhar uma grande importância na cidade, e o centro começava a se destacar, sendo o principal lugar de convívio público e de lazer. Com o decorrer do tempo esses espaços passariam a ser modificados pelo uso político, recreativo, comercial, etc.

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Outro importante aspecto foi a influência dos jardins europeus do século XVIII, segundo De Angelis (2004), esse jardins modificariam as principais características desse novo espaço, conferindo-lhe uma atribuição com um caráter mais aristocrático. A partir da segunda metade do século XVII, com a iminente expansão das cidades e em função do comércio as ruas também começaram a ganhar destaque como espaço público, ela deixa de ser apenas uma ligação entre pontos e passa a ser local de permanência e encontros, assim os centros vão se valorizando quanto ao uso de praças e ruas. Os pedestres podiam andar até onde precisassem ir, encontran do gente, comerciando, conversando e apreciando a vista, tudo isso no mesmo passeio pela cidade. Os usos das cidades eram realizados simultaneamente no mesmo espaço público. (Gehl, 2002, p. 105) A frase de Jan Gehl mostra como a utilização dos espaços públicos era realizada em cidades de séculos passados e como seus usos funcionavam harmoniosamente. As reuniões de pessoas, as trocas de informações, os encontros em festivais, procissões, etc., se encaixava perfeitamente com o comércio, que ali era realizado, onde bens e serviços eram oferecidos. Juntando-se a esses dois aspectos temos ainda a cidade era um enorme espaço de circulação, que se conectava a vários lugares e estabelecia essa fluidez. Com a chegada do século XIX, algumas cidades começam a passar por transformações decorrentes dos processo de industrialização e do aumento da população, que passa a ocupar os 29


grandes centros das cidades afim de novas oportunidades de emprego. Esse crescente adensamento populacional gerou uma série de medidas que foram implantadas, afim de adequar as cidades à esse boom populacional. O resultado dessas intervenções foram a destruição de partes antigas das cidades e espaços públicos, para criação de novas ruas e avenidas que comportassem essas mudanças. Além disso a falta de moradia também passa a ser um problema, gerando problemas de higiene, aumento dos índices de doenças e da criminalidade, resultando no aumento do número de pessoas pobres. Assim, o conceito de espaço público foi se reformulando, de modo a se adaptar com os novos padrões estabelecidos pelas cidade. Temos com isso, uma mudança radical na paisagem urbana da cidade na era industrial, marcada pelo fenômeno da circulação dessa multidão, e pela diminuição da função das praça como ponto central da vida urbana, como podemos observar nessa descrição de Frúgoli (1995, p.14-5):

As novas praças marcadas pela monumentalidade, por grandes espaços abertos ou jardins - negaram estrategicamente seu papel como espaços de uso múltiplo e popular, enfraquecendo-se como ponto central da vida urbana. Essas cidades deixaram de ter um centro referencial, iniciando a dispersão e fragmentação de sua centralidade. A histórica multiplicidade de funções foi

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sendo aos poucos enfraquecida, com a crescente dispersão da vida urbana em diversos fragmentos, visando entre outras coisas disciplinar o uso dos espaços centrais, circunscrevendo grandes grupos a determinados locais confinados. Aos poucos, portanto, as praças, tradicionais, com uma sociabilidade circunscrita e reconhecível, perderam força enquanto centros da vida urbana, passando a caracterizar parte da memória da cidade pré-industrial, ao passo que as ruas foram marcadas de forma indelével pelo novo fenômeno da Revolução Industrial: as multidões, dentro dos quais o estranhamento e imprevisibilidade tornaram-se predominantes. Outro fator que altera o conceito de espaço público e sua configuração física é a introdução dos meios de transportes rápidos, como o bonde e depois o carro, mudando a circulação nas cidades. Para Jan Gehl, nas partes novas adotou-se o princípio da hegemonia do tráfego de automóveis, fazendo com que nas partes mais antigas, houvesse um estreitamento de suas ruas e praças, invadidas pelo trânsito e por diversos estacionamentos de automóveis, tornando-as locais insalubres e sendo substituídas como ponto de encontro das pessoas, que em seu lugar passaram a ter em suas moradias locais com árvores e gramados para esta finalidade. Bondes elétricos e bicicletas, introduzidos no fim do século XIX, deram às pessoas maior mobilidade e permitiram à cidade ex31


pandir-se significativamente. Quando os carros foram introduzidos no começo do século XX, o tráfego mudou radicalmente. (...) o tráfego de veículos na cidade desenvolveu-se a sobressaltos e o uso do espaço público mudou em função deste. (Gehl, 2002, p.107) Essa nova filosofia das cidades também acarretou mudanças nos comércios locais. Se anteriormente, nos espaços públicos, os comércios eram feitos em feiras abertas, com a mudança nas circulação das cidades, agora começam a se transferir para lojas ao longo das ruas, e posteriormente para o interior de centro comerciais enormes, que se fecham para a cidade e para sua área pública, denominados de shoppings centers. Um exemplo desse fenômeno é a inauguração do Shopping Center Iguatemi, em São Paulo, que na década de sessenta contava com 2.539 vagas de automóveis, mostrando a mudança de hábito das pessoas e a preferência por locais fechados e mais seguros. A introdução do telefone, e mais tarde do celular também contribui para esse aspecto, trazendo novas oportunidades de mobilidade social que altera a maneira das pessoas se relacionarem. É nesse contexto que, durante o movimento moderno, os lugares públicos tidos como um grande local de encontros e aglutinador de pessoas se transformam radicalmente. Com a criação de grandes vias, os espaço urbano passa a ser projetado para o automóvel e não para os pedestres, principais responsáveis pela utilização dos espaços públicos.

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Nas última década do século XX e início do século XXI há uma reviravolta nesse contexto e os espaços públicos começam a assumir uma nova forma. A busca por uma mudança do cenário atual gera grandes intervenções na cidade, afim de promover a volta da população para os espaços públicos antes abandonados, com isso grandes operações urbanas e requalificações dos centros das cidades começam a ser projetados, buscando se aliar com as novas formas de vida da população e seus novos usos.

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2.3. O Centro de São Paulo Procurando introduzir as questões dos capítulos anteriores à uma esfera mais local, podemos nos atentar para o caso da cidade de São Paulo, mais especificamente no centro dela (local proposto para a proposta projetual). Na segunda metade do século XIX, as principais ruas do centro de São Paulo estavam localizadas no chamado‘‘Triângulo Histórico’’, formado pelo encontro das ruas Direita, XV de Novembro e Boa Vista, nesse perímetro podemos citar alguns importantes espaços públicos da cidade, próximos a esse ‘‘triângulo’’ - Praça da Sé, Pátio do Colégio, Largo da Memória, etc. - essa região de intenso desenvolvimento era local de consumo e negócios das elites paulistanas.

Rua XV de Novembro (esq.) e Rua São Bento (dir.) em 1910. Fonte: www.smdu.prefeitura.sp.gov.br/historico_demografico/1900.php

A expansão do Centro

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Esse cenário começa a ter suas primeiras mudanças quando em 1891 foi possível a transposição do Vale do Anhangabaú com a inauguração do Viaduto do Chá, com isso alguma lojas passaram a se instalar além do Anhangabaú, mais em direção à Praça da República, destaque para a loja de departamentos Mappin Stores, que se mudou para a Praça Ramos de Azevedo, acompanhando essa mudança que acontecia no centro. Ruas como a Barão de Itapetininga e próximas a ela passaram a receber lojas, fugindo um pouco do chamado Triângulo Central e dando início , de certa forma a expansão do Centro, seguindo para outras regiões. O ‘‘Triangulo Histórico’’ em azul Fonte: www.guiadeturismosp.com

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Concomitantemente à isso, o então prefeito da época Antônio Prado (1899-1910) implanta grandes intervenções urbanísticas na área, afim de desafogar o ‘‘Triângulo Central’’ e expandir o centro para outras regiões. Algumas medidas como: a ampliação do Largo do Rosário, a ligação do ‘‘Triângulo’’ com o Pátio do Colégio, arborização de algumas praças (República e Sé) e a criação da Praça do Patriarca, foram implementadas nessa nova reurbanização. Tais medidas, porém foram incapazes de suprir a alta demanda de pessoas que o centro passava a ter, já que neste período a classe mais popular da sociedade já passava a ocupar algumas ruas, o que incomodava e muito as classes mais elitizadas. Diante disso, Prado se viu na incumbência de se implantar uma ampliação para o Centro de São Paulo, foi criado então o plano de expansão para o Vale do Anhangabaú, num processo que culminou na criação do Parque do Anhangabaú, do arquiteto paisagista Bouvard, e que passa a articular os dois lados do vale. Temos então duas frentes que marcam pontualmente essa expansão do Centro de São Paulo. Uma de caráter ocasional, de uma forma mais natural, onde o comércio sente a necessidade de expansão além do ‘‘Triângulo’’, e também a popularização de suas lojas, fato consumado pela crescente massa popular presente no centro, como por exemplo na Igreja do Paissandu, onde havia forte presença de negros. Outra frente é marcada pela implementação de fortes intervenções urbanas promovidas pelo prefeito Antônio Prado, que se viu na necessidade de expandir o cento diante de seu crescimento populacional, e motivado também por questões políticas e sociais advindas de reclamações das classes mais elitizadas, que não suportariam tal aglutinação com o chamado ‘‘povão’’ .

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Centro Velho e Centro Novo Diante de tais mudanças no Centro, teve inicio então o processo de bipartição do centro da cidade, o qual se concluiria, gradativamente, no final da década de 1950. Na parte sudoeste, tendo como eixo a Rua Barão de Itapetininga temos o centro mais elitizado, formado por grandes escritórios, lojas de grife, restaurantes, etc. denominado de Centro Novo. Já do outro do lado do Anhangabaú, temos o Centro Velho, voltado para as camadas mais populares da sociedade, com lojas mais populares e mais acessíveis. À partir dos anos 30, a cidade e o Centro já em grande expansão passam a receber novas intervenções para a sua metropolização e afirmação como um grande centro metropolitano.

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Centro Velho e Centro Novo. Edifícios importantes em destaque Fonte: Associação Viva o Centro

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O Plano de Avenidas Francisco Prestes Maia, arquiteto e engenheiro, e então prefeito de São Paulo (1938-1945), cria o chamado Plano de Avenidas, um plano que englobava todo o sistema viário da cidade, e por consequência mudaria toda configuração urbana de São Paulo, principalmente na região central. Tais medidas alteram os espaços da cidade, que começam a se adequar ao novo caráter de circulação e transportes, a cidade passa a dar preferência aos meios de transportes individualizados, e a uma parte minoritária de população que possuía o carro, com isso o espaço urbano de São Paulo passa a ser projetado para os veículos e não mais para os pedestres. A função do espaço público torna-se apenas de passagem, perdendo suas principais características de local de encontros e permanência. Prestes Maia via a região central como peça fundamental para seu novo plano, e quis implantar ali grandes obras que mudassem novamente a paisagem urbana e ampliasse sua área. O principal motivo para tais mudanças era o fato de ele achar que o centro não seria capaz de suportar uma grande metrópole, de ser desprovido de fácil acesso, e de estar sempre congestionado, para ele somente a criação de um novo centro em uma nova localização resolveria os problemas. Diante disso promoveu uma série de mudanças além do Anhangabaú, como a remodelação do próprio parque, o alargamento de diversas ruas e avenidas, como a Vieira de Carvalho e Xavier de Toledo, além da criação de novas vias radiais, como a Consolação e a Nove de Julho. Com isso, nos anos que se seguem Prestes Maia acentua a condição do Centro como uma importante região, que além de se expandir efetivamente, passa a ser um ponto de encontro do

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complexo sistema viário da cidade. As Mudanças dos Espaços no Centro Nesse sentido, ainda podemos destacar a participação do governo federal nas mudanças ocorridas nas décadas de 50 e 60, com a criação e desenvolvimento do Plano Urbanístico Básico do Município de São Paulo, que num contexto autoritário acarretou inúmeras obras sem sentido, de forma a mudar completamente a configuração urbana existente. Se antes os espaços públicos de qualidade já eram escassos, depois dessas medidas passam a ficar ainda piores. Como foi o caso da Praça Roosvelt, que se antes era dotada de áreas verdes, com grandes espaços públicos, depois de sua reforma torna-se um ‘‘enorme bloco de concreto com inúmeros planos, cuja desorientação prejudicou qualquer forma de sociabilidade entre seus frequentadores’’. (Frúgoli Jr., 1995). Outro destaque dessas obras implantadas é o Elevado Costa e Silva, popularmente chamado de Minhocão, grande via expressa elevada, que corta a cidade em direção a Zona Leste, e atinge de forma predatória a Praça Marechal Deodoro e cria espaços totalmente obsoletos e degradados abaixo de seu nível, como na Av. São João. Essas medidas marcam uma grande transformação na natureza e estrutura do Centro de São Paulo. O então ‘‘centro novo’’, antes formado pela camadas de alta renda, começa a sofrer um processo de abandono por parte dessa população, que passa a se deslocar para outras regiões como a Avenida Paulista e Rua Augusta, gerando um novo eixo. Com isso, o centro ‘‘novo’’, passa a receber gradativamente um grande número de pessoas de classes mais baixas, sendo uma

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grande parte composta por migrantes nordestinos à procura de novas oportunidades, mas que acabaram desenvolvendo atividades informais para conseguirem algum tipo renda, ocupando os espaços públicos dessa região com camelos, engraxates, moradores de rua, e acentuando ainda mais condição de abandono desses espaços. Esse novo centro, que surgia na década de 60, na região da Paulista-Augusta, mais elitizado, começa a receber uma atenção maior de comércios e serviços mais especializados, como cinemas, escritórios, bancos, butiques e empresas. Depois desloca-se para a região da Rebouças, Faria Lima e Nações Unidas, e a medida que essa área se expandia esses deslocamentos se tornavam cada vez mais frequentes, um claro exemplo disso foi a mudança da sede do Governo do Estado de São Paulo, antes localizado no Palácio dos Campos Elísios no bairro Santa Cecilia, para o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, algo tão marcante que se tornou símbolo dessa nova área que surgira e do abandono do centro histórico. O Centro Expandido Tem início então a formação do chamado ‘‘Centro Expandido’’, com novos centros financeiros que começam a surgir pela cidade uma enorme região formada por residências, apartamentos, hotéis, escritórios, sedes de grandes empresas, além do surgimento dos shoppings centers que se proliferaram nesse novo centro, e deixam o centro antigo obsoleto. E o que estimulou o abandono do centro original? Segundo Flávio Villaça (1998) ‘‘a possibilida-

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de do deslocamento, o automóvel e a cidade sendo construída para este. Houve uma força com ação simultânea, generalizada e profunda, composta pelo novo padrão de mobilidade espacial decorrente da difusão no uso do automóvel, com as novas frentes de acessibilidade que ele criou e com o novo espaço urbano que foi para ela produzido pelas e para as camadas de maior renda. Essa nova mobilidade territorial, juntamente com o empenho do capital imobiliário em tornar obsoletos os centros existentes e promover novos centros e novas frentes imobiliárias, fez com que um novo padrão de deslocamento se estabelecesse em nossas metrópoles. Classes de alta renda não abandonaram o centro pela deterioração dos espaços e dos edifícios, mas ao contrário, estes deterioram-se pelo seu abandono.’’ Sendo assim, o espaço da região central foi se deteriorando, a medida que o seu abandono foi se intensificando. A nova configuração urbana, dotada de uma nova mobilidade espacial fez surgir espaços cada vez mais alargados e vazios, que se tornaram obsoletos. O abandono da área central foi se acentuando conforme o tempo passava e a cidade se expandia, as políticas públicas já não mais tem a sua atenção voltadas para o antigo centro, e sim para esse novos centros capazes de gerar mais lucro para a cidade. No inicio da década de 90, começam a surgir as primeiras intenções e movimentos por parte da sociedade e do governo municipal e estadual, que visavam a recuperação social, econômica, turística e cultural da região, iniciando um lento, porém constante, processo de revitalização do centro histórico que se percebe até hoje.

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Deslocamentos dos centros de São Paulo. Esquema viário e de uso e ocupação do solo. Fonte: Cadernos Brasileiros de Arquitetura. Arq. Carlos Bratke.

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2.4. Espaço Público x Espaço Privado Vimos nos capítulos anteriores como o desenvolvimento e expansão das cidades foram cruciais para a transformação do espaço público, sua intensa deterioração e abandono. As principais causas desses acontecimentos são atribuídas a mudança de filosofia das cidades que passaram a se adaptar a nova malha de comunicação e de transportes, principalmente a partir do surgimento dos automóveis e de sua afirmação como principal meio de locomoção. Os espaços de circulação (ruas, avenidas) começam aumentar, e espaços de permanência (praças, parques) diminuem, ou vezes são substituídos pelos primeiros. Em São Paulo esse fenômeno também esteve presente (ver capítulo 2.3.) atrelado a inúmeros processos de intervenções irregulares e restritas, sem almejar qualquer preocupação com o conjunto dos problemas urbanos, e em muitos casos voltados a interesses de uma minoria, ou por assim dizer, a interesses privados. Essa configuração irregular resulta em uma metrópole desigual, pouco democrática e mais individualista, onde começa-se a criar espaços privados, privilegiando as classes mais altas e reforçando a desigualdade na metrópole. Tais mudanças trazem alterações nos espaços públicos da cidade. As medidas implantadas pelo novo planejamento urbano, dando preferência ao carro, muitas vezes ocorreu de forma autoritária e abusiva, sem levar em conta a sociedade civil como um todo. Paralelamente a esse fenômeno, surge na década de 70, os novos centros especializados, que

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não são mais de fato o centro urbano original, e sim centros marcados pelo capital privado, como os complexos empresariais fechados, os shoppings centers, grandes empreendimentos imobiliários e talvez o caso mais grave, que são os condomínios e bairros murados e que não estabelecem relação nenhuma com a rua, ou com seu entorno, apenas excluem sua existência, estes financiados por grandes construtoras, que começam a surgir constantemente, e que só visam o próprio ganho próprio, em termos de dinheiro, e não o ganho da cidade, em termos de espaços de qualidade. Esses novos centros, gerados pelo capital privado, e voltados para si, alteram a noção do que é o espaço público, e começam a criar um ‘‘novo padrão de segregação urbana, com a recriação de preconceitos e discriminações, além de se objetivar nesses empreendimentos uma arquitetura da segurança, ou em outro termos, uma estética da violência, cuja marca visível, são os altos muros totalmente fechados, que passam a marcar a paisagem urbana’’. (Teresa Caldeira, 1992 p. 289). Os conjuntos de empreendimentos, pautados em parâmetros do novo mercado imobiliário, ameaçam a relação entre o espaço público e o espaço privado, e a maioria das construções que se estabelecem nesse longo período passam a extinguir esse tipo de relação, ou colocam esses espaços como conflitivos. O panorama que se cria é de grandes e luxuosos prédios construídos, com varandas e lindos terraços gourmet, envoltos por grandes muros, ou seja, a arquitetura aqui volta-se para a relação com seu interior, e descarta totalmente o exterior, de modo que não há relação de um com o outro, quando se deveria, ao menos, ter um equilíbrio maior entre 46


interior e exterior. A falsa ideia que se usa para justificar essa característica, é a maior preocupação com a segurança de seus moradores, quando na verdade, essa segregação explícita do espaço é que foi uma das causas desse problema, ou seja temos um ciclo que se repete regularmente. Além disso, esse isolamento do edifício através de grandes barreiras só aumenta a insegurança urbana, não cumprindo com seu papel, pois ao negar o espaço urbano da rua e da calçada cria-se espaços escuros e inóspitos que tendem a facilitar a ação de bandidos. Temos um claro exemplo disso, na Rua Senador Pádua Sales, localizado no bairro do Pacaembú, centro de São Paulo, na foto abaixo temos um prédio, provavelmente de classe alta, onde existe

Rua Senador Pádua Sales. Público x Privado Fonte: Google Street View

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Rua Senador Pádua Sales. Público x Privado Fonte: Google Street View

um enorme muro construído que separa abruptamente o espaço público do espaço privado, essa separação se acentua ainda mais se percebermos a proporção do muro em relação a calçada e a presença das vagas de carro criadas ali, esses aspectos só tendem a isolar o local, intimidando os pedestres a passar por ali, e revelando ainda mais a pouca, ou nenhuma, relação que o edifício tem com a rua, ou com a cidade. A preocupação entre o público e o privado foi totalmente descartada. Outro exemplo disso é o edifício mencionado na introdução deste trabalho. Trata-se de um novo empreendimento localizado na Rua Augusta, Importante rua comercial, mas que se volta totalmente contra ela, tendo um gradil separando o lote da calçada, e uma enorme bloco voltado para a rua, sem estabelecer nenhuma relação com ela, ou tenta buscar essa relação com 48


alguma ilustrações que foram pintadas nesse enorme bloco e no gradil existente, o que obviamente não exclui esse aspecto, como torna-se algo irrisório. O que se pretende aqui não é ignorar a existência dessa insegurança social que temos hoje, pelo contrário, ela está muito presente no nosso cotidiano, mas sim direcionar a discussão ao modo como ela acaba se originando, através da pouca relação criada entra o público e o privado, entre o lote e a rua, e principalmente entre o edifício e a cidade.

Novo Empreendimento na Rua Augusta. Público x Privado Fonte: Lucas Príncipe Ferreira

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Novo Empreendimento na Rua Augusta - Público x Privado Fonte: Lucas Príncipe Ferreira

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2.4. Espaço Público + Espaço Privado Logo após o movimento moderno há uma mudança na visão dos arquitetos em relação a pouca utilidade dos espaços públicos, sua deterioração e a perda de sua principal característica: a de ser um lugar de encontros, um lugar comum. Com isso, arquitetos e urbanistas passam a buscar soluções objetivando devolver à cidade moderna a coletividade perdida. O continente europeu surge como primeiro local onde essas mudanças começam a ser sentidas, e o interesse pelo espaço público começa a se manifestar novamente. Importante destacar aqui, que as mudanças ocorridas visavam trazer para a cidade o espaço público como era antes, mas moldando-se de forma a adequar seus usos a nova forma de vida dos grandes centros urbanos, que possui uma nova dinâmica, espaços mais privados e problemas mais acentuados. Essa nova configuração dos espaços, tanto públicos como privados, foi possível também graças ao processo de participação do poder público como articulador dos agentes privados. Políticas de parcerias entre público e privado fez surgir novos meio de crescimento dos espaços coletivos, que passaram a ser articular melhor com espaços mais privatizados. Espaços que detinham apenas um apelo mais comercial, foram alterados e melhorados, passando a ter áreas para o uso público, como espaços de permanência. Para ilustrar esse acontecimentos que emergiam na Europa, nas décadas de 70 e 80, podemos destacar a reorganização desses espaços na cidade de Barcelona, como enfatiza Manuel de Solá-Morales:

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Em Barcelona, com a chegada dos governos democráticos, a saída para o espaço público foi espetacular. Parecia que tudo ia ganhar espaço público, arrumá-lo e festejá-lo. Vieram as praças duras e menos duras, ocupando o vazio entre as edificações e se articulando melhor com o espaço privado.(SoláMoralles, 2001, p.104) O projeto da Ilha Diagonal, de Solá-Moralles também destaca essas mudanças, um complexo de escritórios com hotel, uma grande galeria comercial, uma escola pública, duas outras escolas, um centro de convenções também público e um parque. O projeto foi concebido através de um concurso internacional, e uma promoção privada, entretanto o município de Barcelona se atribuiu o direito de intervir no projeto (medida corriqueira na cidade, quando os projetos são muito importantes) e fazer exigências que garantissem a o direito público do projeto privado. Desse modo o projeto mantem um respeito com a avenida principal, com as ruas do entorno, com a vida cotidiana do bairro. Em uma de suas fachadas, o projeto apresenta um forte caráter metropolitano, e na outra procura estabelecer uma relação mais com o cotidiano do local, ao movimento com a escolas e com os pequenos comércios existentes. No Brasil foram criadas as chamadas Parcerias Público-Privadas (PPP’s), que iniciaram alguns projetos em São Paulo, visando articular melhor a relação entra o público e privado, e com isso melhorar o ambiente da cidade, dando a ela um aspecto mais coletivizado. As obras da linha

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amarela do metrô, e a requalificação da Praça Dom José Gaspar, são exemplos de projetos fruto dessas parcerias. Contudo faltam mais projetos desse tipo, que ainda são pouco presentes em uma metrópole como São Paulo. Após essa breve introdução sobre o início de uma relação mais intima entre o espaço público e espaço privado, apresenta-se uma análise de alguns projetos, localizados no cento de São Paulo que buscam essa relação, e mais do que isso, conseguem articular o público e privado de uma maneira muito satisfatória e harmoniosa, sob diferentes aspectos, esses que foram utilizados como forma de divisão dos projetos. Os projetos analisados se apresentam em ordem cronológica de construção, mostrando que a busca em articular o público e privado é constante e se faz muito presente na arquitetura. Os projetos foram divididos em quatro categorias que abrangem, principalmente, a forma como eles, direta ou indiretamente, relacionam essas duas categorias de espaços e resolvem, democraticamente, sua implantação no terreno e, principalmente, na cidades. Importante destacar que, eventualmente, mais de uma categoria pode estar presente na análise do mesmo projeto. CATEGORIAS: Uso e Programa: destina-se a análise feita a partir dos usos a que o objeto se propõe, principalmente aqueles que buscam relacionar usos públicos e privados, através dos programas iniciais

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propostos que são levantados depois de um estudo sobre a área de intervenção. Implantação: marca a projeção que o projeto estará situado no terreno. Essa categoria procura explicitar as estratégias que o arquiteto utilizou para colocar o projeto no terreno, e que soluções ele buscou, no sentido de relacionar o espaço da rua (pública), com o espaço do lote (privado). Espaço e Forma: pode-se relacionar um pouco com a categoria de implantação, mas se difere na sua análise ao levar em conta mais o aspecto do volume tridimensional que o projeto tem no terreno, e não a sua projeção como no caso da categoria acima, Detalhe Urbano: categoria marcada um pouco pelo antagonismo das palavras que a compõe, mas que se completam ao serem utilizadas no contexto a que se propõe. Detalhe é algo pequeno, uma particularidade, algo em escala menor. Já o urbano é o que é relativo a cidade, que abrange o todo, e possui uma escala grande. Desse modo, podemos traduzir essa categoria, como a minúcia que o arquiteto utiliza, e que faz toda a diferença no projeto e na cidade. De certa forma, podemos definir como uma ‘‘gentileza’’ que o arquiteto faz ao meio urbano. Podem ser exemplos disso, pilares, marquises, fechamentos, jardins, terraços, etc.

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EDIFÍCIO LOUVEIRA (1946) Arqts. João Baptista Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi Categoria: espaço e forma/implantação. Propriedade: Privada Uso: Privado

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EDIFÍCIO LOUVEIRA Fonte: www.flickr.com/photos/kuk/2688763329/in/set-72157610561232965

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Implantado em um terreno de esquina, com um lado voltado para a Praça Vilaboim e outro para a rua Piauí, localizado no bairro de Higienópolis, este edifício inicia um processo na região que se constituiria mais tarde em um área de intenso uso residencial verticalizado na cidade. Além disso também, propõe uma nova implantação de edifícios modernos, interpretando de maneira inovadora os princípios de Le Corbusier, ao ousar na colocação dos blocos do edifício. O arquiteto, ao invés de implantar os blocos de maneira tradicional com a frente virada para a praça, alinha-os com a rua Piauí, voltando suas fachadas laterais em empena cega para a Praça Vilaboim. Desse modo, como foram implantados paralelamente, um ao lado do outro, cria-se um grande espaço interno semi-público, de aproximadamente vinte metros, que serve local de permanência e convívio dos moradores e que cria uma ligação com a praça em frente. Com isso, além de estabelecer um conectividade visual entre o espaço privado do prédio e público da praça, funciona também como uma ‘‘extensão do domínio público na medida em que está visualmente unido à praça e, por meio desta, ao entorno urbano.’’ (Instituto Lina Bo e P. M. Bardi e Fundação Vilanova Artigas, 199, p. 55). Outra importante característica, que enfatiza ainda mais essa articulação do público e do privado, é a decisão em trabalhar com pés-direitos duplo no térreo, próximo a esquina, e que adentra aos limites do terreno, delimitando de uma forma muito sutil a diferença entre o que é de público e o o que é privado.

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ED. LOUVEIRA

PRAÇA VILABOIM

RELAÇÃO DO EDIFÍCIO COM A PRAÇA VILABOIM- PÚBLICO + PRIVADO Fonte: Google Maps Montagem: Lucas Principe Ferreira

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COPAN (1951) Arqts. Oscar Niemeyer / Colaboração: Carlos Lemos Categoria: Espaço e forma/implant./uso e programa Propriedade: Privada Uso: Público e Privado

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EDIFĂ?CIO COPAN Fonte: www.miliauskaarquitetura.wordpress.com/tag/edificio-copan/

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Localizado na avenida Ipiranga, o Copan também é uma referência na cidade. Encomendado pela Companhia Pan-Americana de Hotéis e Turismo, este imponente edifício dotado de dimensões muito grandes, e sendo em titulado como a maior estrutura de concreto armado do país com cerca de 400 quilos por metro cúbico construído, espalhados por 115 metros de altura, possui um apartamentos que variam de 26 a 350 metros quadrados e que se dividem em seis blocos ao longo de sua forma sinuosa. Esse movimento curvilíneo do edifício, além de demonstrar a habilidade do arquiteto em implantar um edifício desse porte em um lote relativamente estreito dado aos seu padrões, confere ao volume uma leveza e sutileza, apesar de seu tamanho e ‘‘peso’’ no tecido urbano, gerando uma ligação entre o interior e o exterior. Característica essa, que não existiria se pensarmos no mesmo edifício com as mesmas medidas, mas que fosse um grande bloco retangular implantado no terreno de forma agressiva e não possuindo essa relação marcante. Outra característica que busca articular o público e privado, é ter o seu térreo voltado para o uso público, composto por cerca de 70 lojas, além dos halls de acessos dos seis blocos do edifício e espaços de circulação, que confere um grande permeabilidade nesse espaço, onde circulam, em média, cerca de 1.200 pessoa nas imediações do Copan, e fazem com que o local ganhe um ambiência e seja marcante para a cidade.

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ACESSO PÚBLICO PEDESTRE ACESSO PRIVADO PEDESTRE

PLANTA TÉRREO COPAN - FLUXO DE PEDESTRES - PÚBLICO + PRIVADO Fonte: www.laformamodernaenlatinoamerica.blogspot.com.br Montagem: Lucas Principe Ferreira

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EDIFÍCIO IBATÉ (1953) Arq. Adolf Franz Heep Categoria: Uso e programa/detalhe urbano. Propriedade: Privada Uso: Público e Privado

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EDIFÍCIO IBATÉ Fonte: www.marcosocosta.wordpress.com

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Localizado na esquina das ruas Augusta e Antônio Carlos, é um edifício residencial composto por várias tipologias de apartamentos, desde kitchenetes com 30 m² até apartamentos de 90 metros quadrados, distribuídos em um volume retangular de oito pavimentos mais o térreo. Este é composto todo por lojas, que vão se adequando a subida do terreno na rua Antônio Carlos, que possui uma diferença de nível de aproximadamente de três metros. Dessas seis lojas térreas, quatro estão voltadas para a rua Antônio Carlos e uma para a rua Augusta, e uma está na esquina abrindo-se para as duas ruas, na porção central localiza-se o acesso de moradores, e a direita dele há ainda um outro acesso independe que conduz a uma sobreloja, destinada a salas comerciais. Analisando essa característica, vemos aqui um forte apelo do arquiteto em estabelecer uma relação do prédio residencial com a rua, e seu entorno, característica que ainda se faz mais presente dada a sua localização, por se tratar de um rua de intenso comércio e movimento o dia todo. Há ainda um outro ponto que chama atenção, e que de forma brilhante o arquiteto articula o espaço da rua com o espaço do edifício, que é a inflexão que a loja da esquina sofre, tirando a ortogonalidade do volume, e aumentando a área de circulação dos pedestres. Neste espaço um pilar redondo marca e ‘‘organiza a esquina’’ (Barbosa, 2002, p. 92), dando leveza ao volume. Um pequeno detalhe, mas que possui um caráter urbano muito forte.

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RUA AUGUSTA RUA ANTONIO CARLOS PLANTA ESQUEMÁTICA DO TÉRREO - PÚBLICO + PRIVADO Fonte: LUCCHINI, Edson. Adolf Franz Hepp. Edifícios Residenciais. Um estudo da sua contribuição para habitação coletiva vertical em São Paulo nos anos 1950.

DETALHE URBANO - AMPLIAÇÃO DA ESQUINA Fonte: www.marcosocosta.wordpress.com/2013/03/24/o-edificio-ibate-de-adolf-franz-heep-e-a-critica-a-legislacao-urbanistica-paulistana/blogimgp0022/

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EDIFÍCIO ITÁLIA (1954) Arq. Adolf Franz Heep Categoria: Uso e programa/implantação. Propriedade: Privada Uso: Público e Privado

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EDIFÍCIO ITÁLIA Fonte: www.americalatinhas.blgospot.com.br

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Um dos mais importantes edifícios de São Paulo, localizado na confluência das avenidas Ipiranga e São Luís, o Edifício Itália foi encomendado pela empresa privada Circolo Italiano, e é uma dois maiores empreendimentos da América Latina, medindo 150 metros a partir do nível da rua, com 47 pavimentos, sendo um subsolo, térreo com grande galeria de lojas e sobrelojas, 3 pavimentos ocupados pela sede social o Circolo Italiano, 40 pavimentos de escritórios e o terraço superior, onde há ainda um restaurante que tem um bela vista para a cidade de São Paulo. Por estar localizado em um importante esquina da cidade com intenso movimento, o arquiteto foi muito feliz, ao decidir ‘‘liberar’’ a esquina para o pedestre, ainda mais em um prédio que possui uma escala quase que monumental, essa solução gera uma permeabilidade da quadra, quase sempre dotada de muito movimento, tanto de dia quanto de noite, e enfatiza a preocupação do arquiteto em estabelecer uma relação do público e do privado, muito forte no projeto.

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ACESSO PÚBLICO PEDESTRE ACESSO PRIVADO PEDESTRE

AV. IPIRANGA

UIZ OL . SÃ AV PLANTA TÉRREO ED. ITÁLIA - FLUXO DE PEDESTRES - PÚBLICO + PRIVADO Fonte:www.laformamodernaenlatinoamerica.blogspot.com.br Montagem: Lucas Principe Ferreira

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EDIFÍCIO GALERIA METRÓPOLE (1958) Arq. Gian Carlo Gasperini e Salvador Candia Categoria: Uso e programa. Propriedade: Privada Uso: Público e Privado

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GALERIA METRÓPOLE Fonte: Google Street View

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Um dos primeiros edifícios multifuncionais da cidade de São Paulo foi encomendado sob iniciativa da Companhia Santista de Administração e Comércio e da Sociedade Comercial e Construtor S.A., através de um concurso de arquitetura. Está localizado na avenida São Luis bem próximo a Praça Dom José Gaspar, é um conjunto, que assim como o Copan e o Itália, apresenta um volume vertical de uso mais privado, com salas comercias, que se acomoda em um volume horizontal de uso mais público, com lojas diversas e que até chegou a abrigar uma sala de cinema. Essa volumetria configura-se pela inserção de um corpo vertical, posicionado no alinhamento da rua Dom José Gaspar com a avenida São Luis e com um corpo horizontal que se estende sobre todo o perímetro do lote e avança em projeção, na forma de terraço, sobre o espaço aéreo do passeio público que o contorna. Outra importante característica do conjunto, se dá ao fato que a geometria do corpo horizontal assume um forma irregular em direção ao interior da quadra ao longo dos fundos dos lotes vizinhos, chegando a alcançar a rua oposta, a rua Basílio da Gama. Desse modo, além de ter o acesso pela avenida São Luís, o pedestre pode acessar o conjunto também pela rua Basílio da Gama, essa possibilidade foi decisiva na elaboração do partido arquitetônico, que teve como princípio adotar um eixo contínuo, sem obstáculos ao pedestre. Assim, temos podemos estabelecer uma relação entre a Galeria Metrópole, o Copan e o Itália (já abordados nesse capítulo), no âmbito de trazer ao centro um uso mais democrático de seus espaços, objetivando sempre articulação entre o público e privado. Esse configuram o espaço

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da cidade ‘‘de forma ideal a diversidade urbana oferecendo um espaço privado com características de público.’’ (Regina Meyer, 1991, p. 43)

AV. SÃO LUIZ

RUA BASÍLIO DA GAMA

PRAÇA DOM JOSÉ GASPAR

PLANTA TÉRREO GALERIA METRÓPOLE - FLUXO DE PEDESTRES - PÚBLICO + PRIVADO Fonte: www.aflalogasperini.com.br Montagem: Lucas Principe Ferreira

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EDIFÍCIO SUL-AMERICANO (1962) Arqts. Rino Levi e Luis Roberto Carvalho Franco Categoria: Detalhe urbano. Propriedade: Privada Uso: Público e Privado

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EDIFÍCIO SULAMERICANO Fonte: www.archidaily.com.br

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Localizado na esquina da avenida Paulista com a rua Frei Caneca, o edifício tem como partido a conhecida e bem sucedida solução moderna, em que apresenta um bloco horizontal com dois pavimentos, e um bloco mais vertical que se acomoda acima do embasamento. Na parte horizontal temos o uso público do complexo, que hoje abriga uma agência bancária. Um terraço serve como transição entre o corpo horizontal e o corpo vertical que contém os escritórios. O fechamento de vidro da agência bancária é recuado em relação ao pavimento superior da parte horizontal criando uma espécia de varanda, e que é demarcada pela a utilização de brises verticais e horizontais, com esse recuo alguns pilares ficam sobre a calçada, demarcando os limites entre o espaço público da rua e o espaço privado do lote, de uma forma muito sutil e singela. Novamente temos aqui, assim como no edifício Ibaté, a articulação do público e do privado sendo garantida através de um detalhe do projeto, que faz toda a diferença, o recuo da parte térrea do volume e o fechamento parcial deste com brises enfatizam esse caráter tem, em um local tão expressivo como é a avenida Paulista.

PRIVADO

ARTICULAÇÃO

PÚBLICO

DETALHE URBANO - CORTE ESQUEMÁTICO DOS BRISES - PÚBLICO + PRIVADO Fonte: URSINI, Marcelo Luiz. Espaços Francos na Avenida Paulista. Montagem: Lucas Principe Ferreira

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BRISE COMO FORMA DE ARTICULAÇÃO Fonte: www.archidaily.com.br

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CENTENCO PLAZA (1972) Arqts. Rubens Carneiro Viana e Ricardo Sievers Categoria: Implantação. Propriedade: Privada Uso: Público e Privado

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CETENCO PLAZA Fonte: www.cetenco.com.br

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Localizado na esquina da Av. Paulista com a rua Ministro Rocha Azevedo, o projeto encomendado por empresários, foi concebido para abrigar salas comerciais para locação e principalmente atividades bancárias. O empreendimento conta com duas torres gêmeas, de planta quadrada e fachadas totalmente envidraçadas de cor esverdeada. Os arquitetos, ao estabelecerem o partido do projeto, mostraram um grande preocupação com o local onde estavam projetando, e buscar estabelecer um diálogo entre as áreas públicas e privadas do complexo. Esse aspecto pode ser notado na decisão de localizar uma torre na esquina e deslocar a segunda torre para o fundo do terreno, gerando a criação de um espaço livre, com permanências e circulações, marcado por uma forte articulação paisagística entre esses espaços. O resultado gerado é uma grande praça seca, que da permeabilidade aos pedestres, já que podem andar pelo interior dos terrenos privados sem qualquer tipo de impedimento ou obstáculo. Essa praça seca, é apontada como a maior área livre da Av. Paulista, sendo 10.000 metros quadrados destinados a jardins e ao piso com revestimento de granito apicoado.

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IMPLANTAÇÃO - FLUXO DE PEDESTRES NA QUADRA - PÚBLICO + PRIVADO Fonte: www.cetenco.com.br Montagem: Lucas Príncipe Ferreira

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REVITALIZAÇÃO DA PRAÇA ROOSVELT (2010) Arq. Rubens Reis Categoria: Uso e programa/detalhe urbano. Propriedade: Pública Uso: Público

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PRAÇA ROOSEVELT Fonte: Prefeitura de São Paulo

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Localizado entre as ruas da Consolação e Augusta, e estabelecida em 1960, após um projeto um projeto de urbanização na área, a praça, que no início incluiria um auditório e conjuntos culturais, era um conjunto formado por duas grandes estruturas de concreto e pouca arborização. Diante disso, além de não alcançar seu objetivo como praça, tornou-se um enorme espaço ocioso e abandonado, que inclusive se tornara um estacionamento subterrâneo, em 1986, que também não deu certo. A partir daí, o que era pra ser um espaço público para a população da cidade, passou a sofrer um grave processo de degradação, tornando-se um lugar-problema, alvo de moradores de rua, ponto de venda de drogas, furtos e até de prostituição. Como ilustra, em entrevista ao portal G1, o relato de Renato Orbetelli, lojista mais antigo da região. ‘’O melhor momento aqui era nos anos 1970 até 1985. Naquela época havia várias lojas, tudo ficava aberto. Essa região era de gente de alto padrão, alto poder aquisitivo. Depois, no início dos anos 90, quando o centro decaiu, tudo nos arredores foi juntos.’’ Após um longo período de discussões e tentativas de resgatar a praça, o edital para concorrência pública para a revitalização da praça, saiu em 2010 e em setembro de 2012 sua reforma foi concluída, passando a ter várias áreas verdes, espaços de lazer, de circulação, de permanência, enfim, devolvendo a cidade um grande espaço público, mas que agora assume seu papel com qualidade. Diferentemente, dos outros projetos aqui analisados, a Praça Roosevelt tem uma importante

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características que é o fato dela já ser um espaço público. Com isso a análise que se faz aqui é de como esse grande espaço público foi capaz de mudar os espaços privados do seu entorno, articulando-se de maneira indireta à eles. Com a revitalização da praça, o seu uso passou a ser constante, dando uma nova ‘‘vida’’ para essa região, assim seu espaço é ocupado, tanto de dia quanto anoite, o que de fato faz mudar o cotidiano da região. Moradores próximos tem agora um espaço de lazer, a reforma também atrai outras pessoas e novos empreendimentos imobiliários, além disso comerciantes receberão mais clientes, estes curiosos em saber como a nova praça está. Claro, que paralelamente a isso levanta-se a questão, negativa, da especulação imobiliária e do abusivo aumento dos aluguéis que, certamente, afastarão alguns comerciantes que não irão conseguir arcar com a despesa. Mas de uma forma geral, a cidade só tem a ganhar com essa revitalização. Segue, abaixo alguns relatos de comerciantes e moradores à diversos meios de comunicação, que ilustram como de fato, esse grande espaço público mudou a dinâmica dessa região, agregando benefícios e espaços de qualidade. 1. Entrevista retirada do site http://www. prefeitura.sp.gov.br/ cidade/secretarias/ comunicacao/noticias/?p=112587 em matéria publicada dia 03/10/2012

‘‘ Esta obra traz muitos benefícios para a região e é aquilo que nós queríamos, um polo cultural que vai integrar as ruas Avanhandava, Nestor Pestana e esta praça’’ Marina de Almeida Barbosa, presidente da Ação Local Nestor Pestana.1 86


2. Entrevista retirada do site http://vejasp. abril.com.br/materia/praca-roosevelt-obras-2013 em matéria publicada no dia 30/09/2013.

‘’A reforma trouxe jovens e crianças para a praça. Me surpreendi ao descobrir que tinha tanta criança morando no centro. Depois da inauguração tivemos um aumento de 30% no fluxo do público.’’ Hugo Passolo, ator do grupo de teatro Parlapatões.2

A seguir é exibido uma série de imagens retiradas de um pequeno vídeo chamado ‘‘Um Final de Semana na Praça Roosevelt’’, gravado nos dias 19, 20 e 21 de outubro de 2012, que é composto por várias fotos tiradas de um apartamento em frente a praça, em intervalos de cinco minutos e que visa mostrar como a praça é ocupada ao longo do fim de semana, de dia e anoite, até terminar em um evento na tarde de domingo.

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3. ESTUDOS DE CASO

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CHICAGO FEDERAL CENTER Fonte: www.ghafari.com

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3.1. Exemplos Internacionais 3.1.1. Chigado Federal Center, Mies Van der Rohe, 1959 O Centro Federal de Chicago, projetado pelo arquiteto Ludwing Mies Van der Rohe em 1959, e concluído apenas em 1974, é formado por três edifícios dispostos em torno da Praça Federal, em Chicago. No lado leste da rua South Deaerborn Street se localiza o Palácio de Justiça com 30 pavimentos já do outro lado temos uma torre de escritórios de 42 pavimentos e o prédio dos correiros composto apenas de um andar térreo. O projeto tem sua origem em um plano de 1950 promovido pelo governo dos Estados Unidos para atualizar os serviços federais de todo o país. Uma das condições do projeto era que o antigo edifício federal - que hoje abriga o Edifício Kluczynski e os correios - teria que permanecer em funcionamento até que o tribunal pudesse ser transferido para o novo prédio do outro lado da rua. Destaque-se no projeto a habilidade com que o arquiteto trabalha o detalhe estrutural e organizacional do conjunto, para dar-lhe uma presença urbana monumental. A forma simples e geométrica, com proporções perfeitas carrega em sua estrutura principal o vidro e o aço, materiais muitos recentes na época.

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Outra importante característica do complexo é a presença de grande área coletiva no seu embasamento, dando um permeabilidade ao térreo da quadra, tornando-a pública. Além de trabalhar com pés-direitos duplos, e vidro para reduzir as barreiras entre o interior e exterior. Após a conclusão do complexo em 1974, o complexo recebeu uma escultura metálica denominada de Flamingo, de autoria do artista plástico Alexander Calder. Essa escultura de aproximadamente 16 metros de altura, formas orgânicas e cor forte estabelece uma relação com as formas retilíneas e as paredes cortinas de vidro escura dos edifícios, além de proporcionar um aspecto simbólico ao conjunto e criar mais um anteparo de intermediação entre o pedestre e a arquitetura.

IMPLANTAÇÃO - RELAÇÃO DO CONJUNTO COM A RUA - PÚBLICO + PRIVADO Fonte: www.ghfari.com

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RELAÇÃO DO EDIFÍCIO COM A RUA - PÚBLICO + PRIVADO Fonte: www.ghfari.com

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CONJUNTO NACIONAL Fonte: www.cnn.com.br

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3.1. Exemplos Nacionais 3.1.1. Conjunto Nacional, David Libeskind, 1955 Programa: 111. 083 m² de área construída 61.354 m² de área comercial

13.169 m² de área residencial (Ed. Guayupiá); 47.919 m² de área corporativa (Ed. Horsa I e Horsa II);

Projetado em 1955, por David Libeskind, o Conjunto Nacional, tornou-se uma referência da arquitetura moderna de São Paulo. Importante edifício e centro comercial da cidade de São Paulo, o projeto ocupa a quadra delimitada pela Avenida Paulista, Rua Augusta, Alameda Santos e Rua Padre João Manuel e caracteriza-se por ser um dos primeiros grandes edifícios multifuncionais implantados na cidade. O complexo é marcado pela mistura de diferentes usos em uma mesma estrutura urbana, podemos perceber no projeto a presença de usos residenciais, comerciais, serviços e lazer. A relação entre os espaços públicos e os espaços privados dá-se pela composição entre duas lâminas: uma vertical e outra horizontal. A lâmina horizontal, de 61 mil metros quadrados, possui uma grande galeria comercial que ocupa a projeção do lote, permitindo ruas internas de aproximadamente 11 metros de largura e

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que se tornam verdadeira extensões das calçadas, não fazendo distinção entre o material do piso de do lado de dentro e do lado de fora do projeto. Com isso o projeto torna-se extensão da rua, permeando todo o projeto e tornando sua área totalmente coletiva compostas por espaços de circulação e permanência, através de cafés, livraria, lojas, espaços de exposições ao longo dos corredores e salas de cinema. Já a lâmina vertical, que ocupa apenas uma parte da projeção do terreno, pode ser dividida em 3 alas de PLANTA TÉRREO - CONJUNTO NACIONAL - PÚBLICO + PRIVADO Fonte: www.vitruvius.com.br

25 andares cada uma, sendo duas alas

comerciais (Horsa I e Horsa II) e uma ala residencial (Ed. Guayupiá), totalizando uma área de 60 mil metros quadrados, com 530 unidades e 716 vagas de estacionamento no subsolo. Entre essas duas lâminas (vertical e horizontal) temos um enorme terraço descoberto, que da vista para a avenida Paulista. Essa terraço, marcado por grande paisagismo, ainda oferece algumas lojas e um grande academia, além de mobiliário para permanência e descanso de seus transeuntes. Temos portante, que o terraço articula de forma muito natural e elegante o espaço público, marcado pelo volume horizontal com lojas, e o espaço privado, marcado pelo volume 96


vertical, com apartamentos e escritórios. Essa estratégia de projeto adotada por Libeskind no Conjunto Nacional, em unir esses dois espaços por um grande terraço, serviu de referência para a elaboração do objeto projetual pro-

AV. PAULISTA

posto, que será apresentado em alguns capítulos a frente.

MARQUISE CONJUNTO NACIONAL - PÚBLICO + PRIVADO

CORTE ESQUEMÁTICO MARQUISE CONJUNTO NACIONAL - RELAÇÃO COM A RUA - PÚBLICO + PRIVADO

Fonte: Lucas Príncipe Ferreira

Fonte: URSINI, Marcelo Luiz. Espaços Francos na Avenida Paulista.

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BRASCAN CENURY PLAZA Fonte: www.vitruvius.com

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3.1.2. Brascan Century Plaza, Konigsberger Vannuchi, 2000 ‘‘ Essa foi uma opção arquitetônica, urbanística e também ideológica, mostrando que os espaços da iniciativa privada podem ser permeados pelo uso público. ’’

Jorge Konigsberger

Programa: 93.920 m² de área construída

20.000 m² de área de flats

31.000 m² de área de corporativa

7.000m² de áreas verdes

Projetado por Jorge Konigsberger e Gianfranco Vannuchi, o complexo ocupa quase que totalmente uma quadra do bairro do Itaim Bibi, em São Paulo. Composto por três edifícios de volumetrias e usos distintos, tem como maior diferencial a praça térrea, com ampla área verde e boa oferta de produtos e serviços à população. Livre de muros e gradis, a praça é dotada de lojas, restaurantes, livraria, espaços de convívio e bloco com seis salas de cinema. O grande destaque do projeto está justamente nesse espaço arborizado, compartilhado por usuários do condomínio e moradores da região, e responsável pela articulação entra os blocos construídos. Sob o ponto de vista urbanístico, a área tem a função de criar uma centralidade a

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um bairro desprovido de referências, como igrejas ou praças públicas. O embasamento horizontal dos prédios, na área do interior da praça, busca simultaneamente distinguir os espaços público e privado e evitar que os frequentadores se sintam presos entre os blocos. A praça conta ainda com pisos de placas de granito sustentadas por pedestais, que evita o acúmulo de água, sem rejuntamento entre as peças, a água escorre até a caixa impermeabilizada. ‘Dos três edifícios que formam o complexo, o maior deles é o Brascan Century Staybridge Suites, torre de flats 31 pavimentos, 356 unidades hoteleiras, 20 mil metros quadrados e heliponto. O outro edifício, com volumes semelhantes, é o Brascan Century Offices. Contendo 24 pavimentos, 364 conjuntos de escritórios, somando 18 mil metros PRAÇA DE ACESSO PÚBLICO Fonte: www.vitruvius.com.br

quadrados de área construída. O Bras-

can Century Corporate, consiste em um volume retangular de 13 mil metros quadrados, distribuídos por 15 pavimentos e 710 metros quadrados de laje. O conjunto todo conta ainda com um centro de convenções, academia, 1200 vagas de garagem demarcadas e 5 mil rotativas.

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Embora façam parte do mesmo conjunto, os edifícios tem volumetrias distintas. As diferenças surgiram a partir do tipo de uso de cada um e da busca pelo melhor aproveitamento do lote. A implantação do conjunto assegurou mais espaço livre entre os prédios, permitindo a criação da área comum, e considerou recuos, sombreamentos e eixos visuais entre os blocos construídos.

ACESSO PÚBLICO PEDESTRE ACESSO PRIVADO PEDESTRE ACESSO PRIVADO CARRO

ANÁLISE IMPLANTAÇÃO DO CONJUNTO PÚBLICO + PRIVADO Fonte: www.vitruvius.com.br Montagem: Lucas Principe Ferreira

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4. TERRITÓRIO E LUGAR

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A área escolhida para implantação da proposta projetual, que ilustra o tema desse trabalho, foi a região central da cidade de São Paulo, mais especificamente no distrito da República.

LOCALIZAÇÃO DO CENTRO (AZUL) E DO DISTRITO DA REPÚBLICA (MAGENTA) NA METRÓPOLE Fonte: Prefeitura de São Paulo

AMPLIAÇÃO DO DISTRITO DA REPÚBLICA Fonte: Google Maps

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4.1. A Formação Histórica do Bairro República Situado na região central o distrito da República, forma juntamente com o da Sé, o chamado Centro Histórico da capital paulista. As origens do distrito tem como base a primeira e efetiva expansão no núcleo principal da cidade, a partir de sua colina central (denominado centro velho, que hoje ocupa o distrito da Sé) para oeste do Rio Anhangabaú (atual Vale do Anhangabaú), especialmente durante a segunda metade do século XIX e as primeiras décadas do século XX. A região do atual distrito da República seria então chamada de centro novo, em oposição à região do centro novo. Teve importante papel para o aparecimento da Ladeira do Açu, no fim da qual posteriormente foi construída uma pequena ponte que permitiria a sequência de seu traçado para além das águas e do vale do Rio Anhangabaú. Este caminho seria batizado, posteriormente, de Rua São João Batista e corresponde hoje ao trecho central da Avenida São João, um dos principais eixos viários da região. Também outro ponto de passagem era a chamada Ponte do Piques, que se localizava onde atualmente se encontra a Praça da Bandeira. A partir de então, o bairro, formado basicamente por chácaras, sendo a maior delas a do Marechal José Arouche de Toledo Rendon, foi ganhando ruas hoje ainda verificáveis no tecido urbano, como a Sete de Abril, Coronel Xavier de Toledo, Ypiranga (atual Avenida Ipiranga), entre

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outras. Formou-se também uma espaçosa área para que se pudesse praticar exercícios militares na cidade, a qual mais tarde daria lugar ao Largo do Arouche, e uma outra, que se constituía como ponto de diversão aos paulistanos da época com cavalhadas e corridas de touros: o Largo dos Curros, atual Praça da República, que deu nome ao distrito.

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4.2. A Praça da República

PRAÇA DA REPÚBLICA Fonte: Prefeitura de São Paulo

Uma das mais tradicionais praças da cidade de São Paulo é visitada diariamente por turistas e habitantes. Tem como afluentes as ruas Araújo, Marquês de Itu, Arouche, a Avenida Vieira de Carvalho, as ruas Joaquim Gustavo, Pedro Américo, Timbiras, a Avenida Ipiranga, as Rua Vinte e Quatro de Maio, a Rua Barão de Itapetininga, a Rua Sete de Abril, a Rua Basílio da Gama, a Avenida São Luís e a Avenida Ipiranga.

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Conhecida antigamente como Largo dos Curros, era ali que os paulistanos do século XIX tinham seus momentos de lazer assistindo a rodeios e touradas. Posteriormente, foi chamada de Largo da Palha, Praça das Milícias, Largo 7 de Abril, Praça 15 de Novembro e, finalmente, em 1889, Praça da República. Construída a partir do modelo de urbanização européia, a praça, que faz um elo entre o chamado “centro velho” e o “centro novo”, foi escolhida em 1894 como o endereço da Escola Caetano de Campos, edifício planejado por Ramos Azevedo que atualmente é a sede da Secretaria Estadual da Educação. A praça foi palco de manifestações importantes da história nacional notadamente com a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, no dia 23 de maio, ao se manifestarem os paulistas contra a ditadura Vargas, frente à sede do partido governista (era o Partido Popular Paulista, ex- Legião Revolucionária, fundado pelos asseclas da ditadura), na Rua Barão de Itapetininga, esquina da Praça da República. Foram recebidos à bala, morrendo os estudantes Euclides Bueno Miragaia, Mário Martins de Almeida, Dráusio Marcondes de Souza, e Antônio Américo Camargo de Andrade, os mártires do movimento em prol da Constituição. Sua feira de arte e artesanato abriga mais de 600 barracas e comercializa principalmente artesanato vindo dos estados do Norte e Nordeste do Brasil, além de países vizinhos, como o Peru.

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Iniciou-se em 11 de novembro de 1956, quando o filatelista J. L. Barros Pimentel iniciou no local uma feira de selos, e posteriormente tornou-se um ponto de comércio tradicional dos hippies. Juntamente com os objetos artísticos também são vendidos diversos tipos de alimentos.

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TRADICIONAL FEIRA QUE OCORRE SEMANALMENTE NA PRAÇA Fonte: www.guest-associados.com.br

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4.3. A Análise do Lugar Como dito em capítulos anteriores, essa região tem passado por um grande esvaziamento e abandono por parte da população e do poder público, tendo na expansão da cidade, e na criação de novas centralidades alguns dos fatores que contribuíram para essas causas. Mas apesar do longo processo de declínio por qual tem passado o centro, podemos verificar, atualmente, uma valorização e qualificação deste espaço. Várias ações indicam essa valorização, entre elas: a existência de grupos de discussão, como a Associação Viva o Centro, algumas iniciativas por parte dos governantes, como a volta de sedes administrativas e estaduais para a região central, intervenções urbanísticas em ambientes públicos, tais como a Praça Roosvelt e a própria Praça da Republica, programas culturais e de preservação do patrimônio e programas habitacionais. Podemos citar ainda a valorização arquitetônica, com a entrada de novo projetos, tal qual a Praça das Artes (Brasil Arquitetura), o SESC Vinte e Quatro de Maio (Paulo Mendes da Rocha), o Projeto da Nova Luz (Herzog e De Meuron), e o retrofit de alguns edifícios abandonados, como o caso do Ed. Riachuelo. Temos com isso a chamada ‘’volta para o centro’’, gerando um maior e melhor adensamento da área, e assim retomando seu importante papel como área central de uma grande metrópole.

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O TERRENO Compreendido pelas ruas Pedro Américo, Arouche, Aurora, Av. Dr. Vieira de Carvalho e localizado em frente a Praça da República, o terreno escolhido para o projeto proposto tem aproximadamente 4.200 metros quadrados que se diluem em uma topografia plana. Antigamente o terreno abrigava o antigo Cine República, uma das mais importantes salas de cinema da aristocracia paulistana na década vinte, possuindo localização privilegiada, mas que carece de algo atrativo nos dias de hoje (é ocupado por dois estacionamento)para um lugar dotado de grande importância e de intenso fluxo de pedestres, carros, transporte público (metrô e ônibus), etc.

FACHADA DO CINE REPÚBLICA Fonte: www.arquiamigos.org.br/info/info15/i-mode.htm

RECONSTITUIÇÃO DA FACHADA DO CINE REPÚBLICA Fonte: www.arquiamigos.org.br/info/info15/i-mode.htm

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R. .D AV RA

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PRAÇA DA REPÚBLICA

TERRENO ESCOLHIDO PARA PROPOSTA PROJETUAL Fonte: Google Maps

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Analisando a questão da paisagem urbana, temos um grande eixo imaginário, que vem desde ao Teatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo, segue pelo grande calçadão da Rua Barão de Itapetininga, corta a Praça da República, e o terreno e chega até o Largo do Arouche, nesse eixo, temos uma grande variação de gabaritos e um pluralidade de estilos, formando um grande clarão verde na passagem pela praça que rompe com esse ‘’ caos’’ de edifícios. Em relação a fluxos e transportes, temos as ruas dedicadas aos pedestres, os calçadões – Rua Barão de Itapetininga, Rua Vinte e Quatro de Maio, e Rua. Dr. Vieira de Carvalho, que contrastam com as ruas estreitas e calçadas estreitas da Rua do Arouche e Rua Aurora. Temos também as ruas dedicadas aos veículos, com intenso fluxo de ônibus e carros, como é o caso da Av. Ipiranga que possui em sua alça maior cinco faixas, sendo um destinada apenas aos ônibus. Em relação ao transporte público, a área é muito bem servida por linhas de ônibus e várias estações de Metrô, - Anhangabaú, São Bento, Sé - sendo a mais próxima à Estação República da Linha 3 – Vermelha e recente conexão com a Linha 4 – Amarela, que dão acesso a várias regiões da cidade. Deste modo, verifica-se evidente a localização estratégica desta área para a realização do projeto, bem servida por infraestrutura, comércio, serviços, cultura e lazer, mas que também carece de ações e medidas que qualifiquem e potencializem todas essas características presentes na área.

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5. A PROPOSTA PROJETUAL E O OBJETO

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5.1. O Objeto Após os estudos e pesquisas realizados, já discutidos nos capítulos iniciais sobre o tema deste trabalho e nas questões levantadas à partir de leituras e análises sobre o terreno escolhido, a proposta de projeto tem como base um maior e melhor adensamento da região central, gerando novos espaços de uso público, que se articularia com espaços de uso privado. Sendo assim, o objeto final proposto para projeto consiste em um edifício multifuncional, basicamente, formado por habitação, serviços e comércios. EDIFÍCIO MULTIFUNCIONAL Como o próprio nome já diz, o edifício multifuncional tem como caráter principal a mistura de funções em um mesmo espaço, ou num mesmo edifício construível, sendo capaz de abrigar estabelecimentos residenciais, comerciais, de serviços, de lazer, cultura, entre outros. O compromisso desse edifício se destaca ao impor muitos aspectos no projeto em si, tais como, circulações, permanências, atividades, equipamentos urbanos, como metas para o equilíbrio urbano. O edifício proposto então, deve ser entendido como uma concentração dos diversos programas existentes em uma cidade. Um espaço que se abre para a cidade, buscando a urbanidade e não a segregação. A coexistência de habitações, escritórios, comércio e equipamentos culturais traz uma série de novos espaços e relações, onde as pessoas se utilizam e criam um constante

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movimento, resultando em novas situações e dinâmicas que são parte da cidade.

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5.2. O Programa de Necessidades Com a escolha do objeto definida, a próxima etapa consistia na formação de um programa de necessidades que o edifício multifuncional proposto abrigaria, com a grande heterogeneidade de usos que um edifício deste tipo pode conter foi feita uma análise do lugar, comportando suas condicionantes e suas deficiências, que apontaram para quatro grandes áreas de uso:

- Edifício de habitação;

- Edifício de escritórios;

- Galeria comercial no térreo com lojas e sobrelojas;

- Espaço cultural no subsolo, com salas de cinemas e espaço para exposições

Aliar moradia e local de trabalho em uma região que transborda de transporte público, vem de encontro a diretrizes urbanísticas presentes em várias cidades desenvolvidas. Essa medida gera uma ‘’ vida’’ e dá uma ambiência a um lugar antes praticamente sem uso, com uma localização privilegiada. A criação do térreo público, com lojas e sobrelojas e espaços de circulação e convivência, também gera esse aspecto, tornando a área mais atrativa e permeável e fazendo uma ligação com a grande praça existente. Em relação ao subsolo, a ideia de também torná-lo um espaço usual e atrativo é consequência da proximidade de um dos acessos para o metrô República, através da Rua do Arouche, assim

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temos dois grandes espaços de uso dos usuários do metrô, um de circulação (o próprio metrô e seu acesso) e outro de permanência (projeto). Baseado nesses usos o projeto, iniciou-se um processo de setorização dos programas estabelecidos, de modo que os espaços gerados tivessem um articulação harmoniosa e bem definida. Partindo desta ideia, e realizando estudos de referências de outros projetos que tinham as mesmas características, como o Conjunto Nacional já abordado neste trabalho, o programa se organizou da seguinte forma: um embasamento horizontal com dois pavimentos mais terraço destinado ao uso público, composto por lojas, sobrelojas e espaços de permanência. E acima desse embasamento dois edifícios verticais, um destinado as unidades habitacionais e outro destinado as salas de escritórios. No subsolo foi definido os espaços culturais do projeto, com o cinema e pequenas exposições, além de um pavimento para estacionamento dos usuários dos edifícios. O esquema abaixo ilustra essa ideia:

R. DO AROUCHE

HABITAÇÃO ESCRITÓRIO HABITAÇÃO ESCRITÓRIO HABITAÇÃO ESCRITÓRIO HABITAÇÃO ESCRITÓRIO HABITAÇÃO ESCRITÓRIO HABITAÇÃO ESCRITÓRIO HABITAÇÃO ESCRITÓRIO HABITAÇÂO ESCRITÓRIO SOBRELOJA SOBRELOJA SOBRELOJA SOBRELOJA METRÔ LOJA LOJA LOJA CIDADE LOJA LOJA LOJA METRÔ CINEMA CINEMA CINEMA CINEMA CINEMA

ESTACIONAMENTO ESTACIONAMENTO ESTACIONAMENTO 120

Av. Dr. VIEIRA DE CARVALHO


5.3. O Partido Após uma análise da área e do terreno escolhido e com o programa consolidado, o partido de projeto foi estruturado com base em alguns pontos:

- Articular de maneira satisfatória o espaço público e espaço privado;

- Estabelecer uma integração entre o projeto proposto e o metrô existente;

- Estabelecer uma integração entre o projeto proposto e a praça existente;

- Estabelecer a combinação entre os usos;

- Estabelecer espaços de permanência;

- Criar um espaço convidativo às pessoas;

- Esconder a grande empena cega presente no terreno;

- Intensificar a diversidade de usos e atividades;

- Respeitar os fluxos existentes;

REFLEXÕES INICIAIS Com base nesses pontos adotados foram estabelecidas algumas e importantes reflexões sobre o projeto. A primeira delas diz respeito a área a ser utilizada, num primeiro momento o lote pensado para a realização do projeto seria o terreno do antigo Cine República. Mas diante da proposta de estabelecer uma ligação com o metrô pelo subsolo, surge a ideia de elevar essa proposta para o nível do térreo também agregando o lote de esquina, onde hoje está o acesso

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ao metrô pela Rua do Arouche e quatro pequenos comércios locais, ao lote escolhido. Com isso seria estabelecida uma reforma na entrada do metrô e como proposta a transferência dos comércios existentes para o interior do projeto. Assim, levada a proposta ao professor orientador e em conversa com o mesmo, ficou decidido pela ampliação do terreno agregando o lote do metrô ao lote do projeto, tendo com isso uma área final de aproximadamente 5.000 metros quadrados.

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!

Já a segunda reflexão tem como base a análise no fluxo de pedestres existentes na área. Notase dois eixos principais consolidados, que leva o pedestre da Praça da República até o Largo do Arouche, um eixo é a Rua do Arouche, composta por rua e calçadas estreitas, mas que ainda assim recebe um grande fluxo de pessoas, isso devido ao um calçadão estabelecido entre a Escola Caetano de Campos e a praça, ali existe um grande ‘‘vazio’’ que se vem da Rua Sete de Abril e se prolonga até Rua do Arouche, criando uma via de pedestres entre essas ruas. Do lado oposto temos a outra rua que leva até ao Largo, a Avenida Dr. Vieira de Carvalho, que diferentemente da Rua do Arouche, é uma elegante via e possui ruas e calçadas largas, bem arborizadas, e bem conservadas.

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Diante desses dois eixos consolidados, questiona-se se haveria a necessidade de criar um terceiro eixo paralelo aos existentes dentro do projeto, visto que o terreno dá a possibilidade de atravessá-lo. Partindo dessa ideia seria criado um ‘‘corredor’’ de circulação que atravessaria o projeto e iria até a Rua Aurora, que por sua vez dá acesso aos dois eixos da Rua do Arouche e Vieira de Carvalho. Diante desse questionamento, foi decido então não criar um outro corredor no terreno, de forma clara e direta. Baseando nessa ideia então, ficou definindo que no projeto a permanência seria mais importante que a circulação, mas ainda assim não de forma absoluta, pois a circulação na quadra existiria também, gerando uma permeabilidade, mas não de uma forma marcante, que levasse o pedestre a seguir um caminho proposto, como na hipótese de criação de um corredor na quadra, e sim de uma forma mais fluida e independente.

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ESTUDO DE VOLUMETRIA Com as reflexões adotadas foram feitos estudos de volumetria, através de croquis e ensaios tridimensionais. As formas estudadas tinham a intenção de fazer um volume que fosse atraente as pessoas, e fizessem com que elas se sentissem, intuitivamente, convidadas a entrar no projeto e usufruíssem dos espaço criados. Em suma, o projeto tem a clara intenção de convidar a pessoa para seu interior. Após a realização de mais alguns estudos, foi apresentado uma forma, em que a laje ’’abraçava’’ o pedestre, perfazendo quase um hexágono completo em sua fachada principal. Mas após uma análise do volume definido, notou-se que o volume proposto não apresentava de maneira satisfatória as intenções adotadas anteriormente. Com isso, houve a necessidade de recorrer novamente aos estudos de fluxos de pedestres na área. Nota-se aqui a grande quantidade de pessoas que passavam pelo calçadão entre a Escola e a praça, e se dispersavam para a direita dela, sentido Av. Dr. Vieira de Carvalho, ou que seguiam o caminho através da Rua do Arouche.

A partir dessa observação, foi definido o prolongamento desse fluxo até o projeto. Com isso,

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novos estudos foram realizados, até a retirada de um dos lados do hexágono criado no desenho anterior, definindo assim o volume do embasamento horizontal do projeto. Após a definição do volume horizontal do projeto, a próxima etapa constituiu nos estudos volumétricos dos edifícios de habitação e escritórios. Por decisão de partido os dois edifícios deveriam ter o mesmo volume. A necessidade de esconder a grande empena cega existente, aliada a estudos de insolação realizados, praticamente definiram a volumetria e implantação dos edifícios. Assim, os edifícios foram implantados perpendicularmente ao terreno, sendo que o edifício de escritórios foi ‘‘colado’’ no lote vizinho, cobrindo assim a empena existente e o edifício residencial posicionado paralelamente a ele, mas mais próximo da esquina, criando um vazio entre eles. Depois da formação da volumetria final, houve a necessidade de adequar o projeto às legislações vigentes no terreno - taxa de ocupação e de permeabilidade e coeficiente de aproveitamento - bem como aspectos de conforto, como a iluminação natural nos pavimentos do subsolo, térreo e pavimento superior, que propuseram ainda algumas adaptações no projeto, mas sem alterar de forma radical o volume inicial proposto.

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5.3. O Projeto O acesso público principal para o complexo se dá pela rua Pedro Américo, situada em frente a Praça da República, logo de início tem-se uma área descoberta ocupada com um paisagismo que visa buscar uma relação com a praça, convidando as pessoas a entrar no complexo. Esse convite também é criado pela inflexão causada na laje de cobertura, que também procura-se abrir para a praça e para o entorno, buscando uma relação harmoniosa entre o lote e a cidade. No interior é possível notar dois eixos principais de circulação aberta, que levam o pedestre até o outro lado da quadra que chega até a rua Aurora, as lojas se situam nas extremidades dessa circulação, bem como os halls de acessos, tanto para o edifício residencial, quanto para o edifício corporativo, deixando uma área no meio, destinada as escadas rolantes, a um vazio para iluminação natural do subsolo, e para um espaço de permanência/convivência com mesas e cadeiras, além de um café. O acesso de veículos é feito exclusivamente pela rua Aurora, pois possui menor movimento de carro em relação as outras, gerando uma menor interferência no fluxo da região. Outro acesso público para o complexo localiza-se na rua do Arouche próximo a esquina com a Pedro Américo neste espaço há a presença importante do hall de entrada para a estação do metrô República, da Linha 2 - Vermelha, com isso foi proposto uma outra área de permanência com tratamento paisagístico, e ambiente agradável, para que os pedestres pudessem ali des-

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cansar, passar o tempo, ou até mesmo esperar o horário de pico do metrô, esse espaço ainda contêm comércios locais, como lojas, cafés, lanchonetes, que procuram dar um ambiência ao local. O hall de acesso a estação do metrô possui escadas rolantes que levam ao primeiro subsolo, onde foi proposto um ligação com o projeto.

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ACESSO METRÔ REPÚBLICA

AV. DR. VIEIRA DE CARVALHO

E

CH RUA DO AROU

N

RUA AURORA

RUA PEDRO AMÉRICO

PLANTA PAVIMENTO TÉRREO_748.96

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SUBSOLOS O segundo subsolo foi destinado ao estacionamento dos edifícios do complexo, e tem seu acesso direto feito pela rua Aurora. O número de vagas foi calculado, de acordo com as regras estabelecidas, resultando em um total de 136 vagas previstas. Já o primeiro subsolo, como dito anteriormente, propõe uma ligação direta com a estação de metrô existente, fazendo com que o subsolo do complexo, esteja situado na mesma cota do metrô. Nesse pavimento temos um grande espaço cultural, composto por um hall que se destina a pequenas exposições, espaços de permanência, algumas lojas, café e a bilheteria do cinema. Os acessos as salas de exibição são feitos por escadas que levam ao mezanino, onde se localizam 8 salas com 130 lugares cada uma, além de uma lanchonete, sanitários, administração e áreas de apoio. A seguir é mostrado um corte do projeto, que ilustra a idéia acima, mostrando principalmente a ligação existente do projeto com o metrô e o subsolo cultural, com as salas de cinema.

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AV. IPIRANGA

CORTE B-B

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_758.46

RUA PEDRO AMÉRICO

_763.46

_753.46

_748.46

_741.46 _737.96 _736.34__plataforma SE - SO

_729.46__mezanino inferior

_724.34__plataforma L - O

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PRIMEIRO PAVIMENTO E TERRAÇO Tendo acesso por escadas rolantes, o primeiro pavimento é basicamente composto por lojas, possui ainda mais um vazio, para iluminação natural, tornando o pavimento bem iluminado e aberto. A fachada deste pavimento é marcada pelo jogo de placas cimenticias e grandes janelas que vão de piso à piso e que em alguns casos funcionam como vitrine das lojas para o exterior. A laje de cobertura deste primeiro pavimento, funciona como um grande terraço público, uma ampla área, que pode ser desfrutada pelos habitantes e trabalhadores do complexo, além dos pedestres que diariamente passam por ali. Conta ainda com uma academia, um restaurante e um pequeno auditório de uso do edifício corporativo. É importante destacar também a vista que esse terraço possui, sendo possível avistar a grande praça, a escola Caetano de Campos, além de edifícios históricos com o Copan e o Edifício Itália. Acima desse grande terraço temos as duas lâminas, com dez pavimentos cada, que ‘‘saltam’’ do complexo, e que possuem um uso mais privativo do que as outras áreas do projeto. Na porção mais a oeste do terreno temos a lâmina destinada a habitação, do outro lado, na porção mais a leste temos o edifício corporativo, que desempenha um importante papel no conjunto: o de esconder a grande e deteriorada empena cega existente, uma das diretrizes iniciais do projeto. EDIFÍCIO CORPORATIVO Destinado ao uso comercial do complexo, esse edifício possui uma planta tipo muito funcional e que atende bem as características de seu uso. Na sua porção central e junto a em

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pena, está localizado o core de circulação vertical do prédio, composto por quatro elevadores, uma escada de emergência, além das demais áreas de apoio do pavimento, como os sanitários, copa, e um pequeno depósito, além disso conta ainda com dois vazios, que tem como função levar iluminação natural ao corredor do pavimento. Esse corredor dá acesso as salas comerciais de, aproximadamente, 50 metros quadrados, com medidas de 7,7 metros por 6,5 metros modulação definida pelos eixos estruturais, e são separadas por painéis de drywall que visam dar maior opções de layout das salas. Eventualmente, uma empresa poderia ocupar quantos módulos achasse necessário, ou até mesmo a laje inteira, o que garante uma maior liberdade e rentabilidade para o edifício. EDIFÍCIO RESIDENCIAL Destinado a habitação, esse edifício conta também com um core central de circulação vertical, que dá acesso a um extenso corredor por onde se distribui os sete apartamentos do pavimento. Diferentemente do prédio de escritórios, o de residência possui duas fachadas ‘‘longitudinais’’, com isso foi decidido que as duas contariam com iluminação natural, se abrindo para o exterior, de forma que a fachada nordeste foi a escolhida para a colocação dos apartamentos por apresentar melhores condições de conforto do que a fachada sudoeste, onde está localizado o corredor. O corredor dos apartamentos tem uma largura maior do que a convencional, visando a utilização desse espaço também como um lugar de convívio entre os moradores, e não apenas de circulação, pensando nisso também as fachadas se alternam entre placas cimenticias e janelas, tornando um ambiente mais claro e agradável.

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Os sete apartamentos presente no pavimento tipo, podem ser divididos por sua metragem quadrada, sendo cinco apartamentos com 65 metros quadrados e dois apartamentos com 90 metros quadrados, estes localizados nas extremidades do edifício. Essa área foi definia pelos vãos dos eixos estruturais do projeto. O apartamento menor comporta uma família de até três pessoas, e possui um lavabo, uma área de serviços, cozinha (tipo americana), sala de estar/jantar, dois quartos e um banheiro. Já o apartamento maior, comporta uma família de até quatro ou cinco pessoas, e possui um lavabo, área de serviço, cozinha (tipo americana), sala de estar, sala de jantar, três quartos, um banheiro e uma varanda. Para as fachada dos apartamentos, grandes aberturas foram escolhidas, afim de aproveitar ao máximo as vistas que o edifício possui, com isso módulos de 1.20 foram utilizados nos caixilhos, de modo a formarem três grandes janelas de correr, que ocupam parte do pé-direito do pavimento, e que são completadas com vidro fixo na sua parte inferior, funcionando como um guarda-corpo.

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PLANTA UNIDADE TIPO A RESIDÊNCIAL 65m²

PLANTA PAVIMENTO TIPO

PLANTA UNIDADE TIPO B RESIDÊNCIAL 90m²

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FACHADAS Procurando integrar o conjunto, foi decidido que as fachadas dos três volumes do projeto seriam iguais. Placas cimenticias laranjas e vermelhas compõem 90% da fachada do complexo, estando presente no primeiro pavimento do volume vertical, e em todas as fachadas dos volumes verticais, exceção feita à fachada sudeste do edifício residencial que é composta por venezianas, que controlam a incidência de sol no interior dos apartamentos. As placas cimenticias e as venezianas se alternam em diferentes cores e com as janelas, criando um aspecto interessante na fachada, conferindo-lhe movimento e estética. Assim, foi definido uma modulação de 1.20 para toda a fachada, tanto as placas cimenticias, quanto as venezianas e as janelas de correr e maximar possuem essa modulação, organizando as fachadas, mas ao mesmo tempo criando esse ‘‘jogo’’ entre elas. A seguir são apresentados alguns desenhos explicando o funcionamento das venezianas de correr utilizadas nas unidades habitacionais e um desenho geral mostrando a variação na fachada utilizando as placas cimenticias.

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DETALHE FIXAÇÃO CAIXILHO E VENEZIANA

139 AMPLIAÇÃO CORTE

PERSPECTIVA


RUA PEDRO AMÉRICO

RUA AURORA

_763.46

_758.46

_753.46

_748.46

CORTE C-C _741.46

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_737.96


141 AV. IPIRANGA

PRAÇA DA REPÚBLICA


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6. EXPERIMENTAÇÃO

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6.1. Estudo de Iluminação Natural Durante o desenvolvimento do objeto de projeto, algumas questões relacionadas ao conforto da edificação foram levantadas, a fim de serem investigadas com mais precisão. Com isso estudos mais aprofundados foram realizados, utilizando equipamentos específicos que auxiliassem em uma noção mais exata do que estava se propondo fazer. Assim, como experimento, me propus a investigar a quantidade de luz natural que incidiria no primeiro pavimento e no térreo do volume horizontal, além também no primeiro subsolo. A dúvida levantada era se a área destinada ao vazio central do projeto seria suficiente para fazer entrar uma quantidade mínima necessária de luz natural, que fosse capaz de iluminar os níveis que o vazio abrangia, principalmente o primeiro subsolo, onde a situação era a mais preocupante. Desse modo, executei uma maquete volumétrica do projeto, em escala 1:250, capaz de comportar a colocação do luxímetro - aparelho utilizado na medição natural - em seu interior. Com a maquete pronta, escolhi uma área, onde não houvesse sombras, e com a ajuda do aparelho, defini três pontos de medição que seriam pertinentes para a obtenção de um resultado mais correto. O primeiro ponto medido estava localizado no terraço do projeto, pois era necessário saber quanto de luz incidia na área externa para poder comparar com os resultados medidos no interior do projeto. O segundo ponto medido, estava localizado já na parte central do subsolo,

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justamente onde o vazio estava posicionado. O terceiro e último ponto, estava localizado na parte mais crítica, na área mais afasta do vazio central, a partir do resultado desse ponto é que saber se seria necessário aumentar a área do vazio ou não. Realizada a medição, os resultado obtidos foram os seguintes: Ponto 1: 2368 lux Ponto 2: 467 lux Ponto 3: 238 lux Diante dos resultados apresentado, vemos que no ponto considerado mais crítico para a incidência de luz ainda há 10% da luz que se propaga no lado externo do projeto. Com isso, conclui-se que esta área receberá a incidência da luz natural, excluindo a necessidade de aumentar a área destinada ao vazio.

PROCESSO DE MEDIÇÃO UTILIZANDO MAQUETE VOLUMÉTRICA E LUXÍMETRO Fonte: Lucas Principe Ferreira

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CORTE A-A COM INDICAÇÃO DO PONTOS MEDIDOS Fonte: Lucas Principe Ferreira

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7. CONCLUSテグ

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Desde os meses que se antecederam ao Trabalho Final de Graduação, me propus a pesquisar e analisar como os espaços públicos se articulam com os espaços privados no centro de São Paulo. A decisão por esse tema, mesmo que me apresentada meio sem querer, através de atividades do cotidiano, me fez refletir até aqui o modo como as cidades estão se constituindo e se moldando desde o passado até o presente, principalmente São Paulo. Descobrindo como as relações sociais e humanas podem influenciar diretamente na constituição e caracterização desses espaços. Após essa pesquisa e as análises feitas aqui, julgo ser de vital importância que os espaços das cidades estejam diretamente ligados a ela, independente do projeto que se assume, é dever que essa relação aconteça para que tenhamos espaços com mais qualidade e mais democráticos, tanto públicos quanto privados. Ademais, essa condição passe exatamente por essa relação e articulação demonstradas no projeto. Assim, ainda acho que essa relação acontece muito timidamente em São Paulo, em relação ao volume construído. Prova disso são os próprios projetos que buscam essa articulação, pois ganham destaque, justamente por propor que o público seja complementar ao privado, ou vice e versa. Se essa condição estivesse presente na maioria dos espaços construídos na cidade, certamente esses edifícios não gozariam de tal importância sob esse aspecto. Entretanto, reconheço que há uma constante busca para que de fato isso aconteça e a cidade

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passe a contemplar mais espaços de qualidade elevada, melhorias estáo sendo feitas e novas edificações que articulam o público com o privado estão sendo projetas. A responsabilidade da administração pública passa por essa condição, no gerenciamento e manutenção dessas áreas, bem como os agentes privados que passariam a abranger a consciência de seu entorno e sua responsabilidade urbana perante a cidade. Por fim, penso que percorri um intenso caminho desde a escolha do tema, passando pela sua pesquisa e análises feitas, pela escolha do local para proposta do objeto de projeto e a decisão de se projetar um Edifício Multifuncional relacionando com o tema de pesquisa, até se chegar no projeto concluído. Caminho esse que me proporcionou levantar várias reflexões e questionamentos, resultando em novos conhecimentos e satisfação com o processo como um todo.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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