FAZER O QUE NÃO FOI FEITO COM O QUE JÁ FOI FEITO o reuso como alternativa de desenvolvimento para as cidades brasileiras
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO . LUCCA BRIGATTO . FAU UFJF . 2023
FAZER O QUE NÃO FOI FEITO COM O QUE JÁ FOI FEITO
O REUSO COMO ALTERNATIVA DE DESENVOLVIMENTO PARA AS CIDADES BRASILEIRAS
reflexões
Para o desenvolvimento deste trabalho final de graduação, partiu-se de uma postura de constante inquietação a respeito da necessidade e responsabilidade do ato de construir. O ambiente construído, hoje, é incorporado à lógica de consumo, sujeito ao sistema econômico que opera com uma base na ideia de crescimento infinito em um planeta de recursos finitos. No emaranhado de fluxos materiais e imateriais que dão forma ao mundo, a arquitetura —enquanto forma de conhecimento que opera espaço a partir de matéria e trabalho — tem um forte campo gravitacional, sendo o canteiro o ponto central. Cada decisão de projeto é como uma ordem de extração de recursos e beneficiamento até
aplicação em canteiro.
Por compreender a destrutividade das atuais formas de construção (desligadas de uma consciência plena dos processos, e implicações ambientais e violência recorrente nos canteiros de obras), faz-se o caso do reuso do patrimônio edificado como forma de romper com o extrativismo — material e humano.
“Fazer o que não foi feito com o que já foi feito” — frase guia — representa fundamentalmente uma forma de imaginar futuros possíveis a partir do existente. Com um olhar olhar oportunista e propositivo, para imaginar, exercício fundamental do projeto, no que existe aquilo que poderia ser.
Por essa ótica, olha-se para o centro da cidade de Juiz de Fora - MG em busca de situações oportunas, para um exercício de projeto que sintetize o discurso em prática. Em meio a um grande número de lotes vazios, utilizados meramente como estacionamento, percebe-se a subutilização da terra urbana infraestruturada manifiestada no ambiente construído a partir do edifício garagem.
O caso específico, o Edifício Garagem Hércules, localizado na Avenida Rio Branco, principal via da cidade, torna explícita a subutilização de um grande aparato edificado para um uso caduco e desqualificado, uma máquina de guardar máquinas, meu ponto de partida.
projeto
A intervenção sobre o edifício é pautada na subversão da lógica arquitetônica de operar espaço: faz-se às avessas, a partir da retirada de material da pré-existência. Não buscou-se transformar o edifício uma resposta à um programa específico, mas um sistema que assume o reuso como algo constante: gerar espaços que amparem programas diversos, mutáveis, reprogramáveis, compreendendo que na adaptabilidade do espaço e na leveza de novos acréscimos está grande parte da longevidade da intervenção.
Como forma de visualizar a capacidade da intervenção de amparar usos abrangentes de interesse coletivo, é definido um programa múltiplo: esporte, cultura, e educação, por entender estas atividades como fortes geradoras de convívio (base da formação cultural). Como uma continuação da cidade, como as galerias do centro de Juiz de Fora, fomentando fruição urbana, uma comunicação direta com a
rua e com a paisagem urbana da avenida. Com trinca programática como norte, a intervenção é marcada por remoções, objetivando a habitabilidade e adaptabilidade do espaço, preservando o máximo possível dentro da utilidade. Com a nova situação, tem-se três blocos, nos quais o programa foi organizado por pavimentos e agrupado em blocos análogos: cotidiano, esportes, cultura, educacional.
Para viabilizar o funcionamento dos pavimentos de forma autônoma, são acrescentadas duas torres de infraestrutura de concreto armado contendo todos serviços necessários. Como forma de reduzir a pegada ambiental, propõe-se a reutilização do resíduo das demolições como parte do agregado, reduzindo também o volume excedente.
Sobre os pilares que tiveram áreas de influência reduzidas pela demolição dos vãos, apoia-se um grande volume pré-fabricado de estrutura mista — ma-
deira engenheirada, estrutura metálica e fechamentos leves. Um único ponto de referência que permeia toda a cobertura, um acréscimo de espaços sem nome Adotou-se para as intervenções a postura de torná-las distinguíveis da pré-existência, exaltando as camadas de mudança e a interação entre diferentes tempos, tecnologias e sistemas, o edifício como continuidade.
Favoreceu-se, portanto, com exceção da torre de infraestrutura, por sua natureza perene, o uso de materiais pré-fabricados, leves, utilizando amplamente o aço por sua versatilidade, lógica de montagem e esbeltez, e a madeira engenheirada sempre que oportuno, por sua excelência ambiental. Definiu-se, assim, uma lógica de canteiro direta e precisa, pautada na montagem de componentes serializados, garantindo maior precisão e salubridade no trabalho do operário, dividindo os processos entre fábrica e canteiro.
situação atual nova situação torres de infraestrutura novo bloco demolições pontuais demolições estratégicas
7 pavimentos rampeados, ocupeção plena do lote; apenas duas aberturas de ar/ luz, a ~65m de distância; estrutura de concreto armado, pilares com seção variável (de acordo com solicitação estrutural), eixo padrão de ~5m; pé direito 2,70m (menor altura livre 2,20m).
demolição das rampas de circulação vertical de veículos; demolição da bateria técnica (elevador e lavabos); remoção da loja (supermercado) . liberar todo o térreo como uma continuação da calçada, borrar os limites entre cidade e arquitetura, extrapolar o lote.
demolição de dois grandes vãos (dois módulos, ~10m), possibilitando iluminação e ventilação naturais para ocupação qualificada;
. demolição de uma pequena faixa de 2m ao fundo do lote, (iluminação, ventilação, visadas) demolição de lajes inteiras, gerando espaços de pé-direito duplo.
o volume de demolições da ordem de ~1000m³ (~2400 ton.) tem a qualidade de ser homogêneo, o que facilita processo de reciclagem em usina.
feitas as operações de demolição, tem-se pavimentos livres em 3 blocos verticais; lajes livres, com variabilidade de dimensões e pé-direito, possibilitando uma ocupação futura mais abrangente em termos de programas e usos capazes de operarem nos espaços.
no vazio das rampas demolidas, são inseridos duas torres, concentrando as infraestruturas; feitas em concreto armado, são como um depósito para os resíduos gerados nas demolições: até 50% do agregado da nova mistura poderia ser de material reciclado das demolições; a concentração dos serviços nas torres viabiliza os pavimentos como áreas livres, espaços mutáveis de acordo com as necessidades; estratégia de projeto em prol da longevidade da intervenção.
apoiado nos pilares aliviados pelas demolições prévias, apoiase um novo volume: espaços programáveis a serem utilizados de acordo com a necessidade; . como uma grande viga habitável, é composto por estruturas leves de aço e madeira engenheirada, reutiliza em sua cobertura parte das peças da antiga cobertura metálica desmontada; como uma cobertura ocupável, um único volume que filtra a luz, gera recintos;
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO 2023
painel metálico isotérmico
treliça metálica (peças reaproveitadas da estrutura existente)
calha galvanizada viga-vagão forro acústico
laje de CLT perfil "I" 600x250mm cantoneira metálica
forro metálico "colméia"
guarda-corpo
vidro temperado jateado com pivô lateral (báscula)
rufo galvanizado chapa metálica perfurada
vidro temperado jateado fixo (peitoril)
quebra-sol rolô retrátil (tecido sintético translúcido)
travamentos horizontais metálicos (prevenção flambagem)
fechamento de vidro
quebra-sol rolô retrátil (tecido sintético translúcido)
fechamento de vidro translúcido (luz difusa, bloqueio visual direto)
pilar de concreto armado existente
travamentos horizontais metálicos (prevenção contra flambagem)
fechamento de vidro translúcido (luz difusa, bloqueio visual direto)
pilar de concreto armado existente
travamentos horizontais metálicos (prevenção contra flambagem)
passarela de estrutura metálica ancorada no perfil perimetral
placa modular (piso elevado)
montante (piso elevado)
perfil "c" 750x150mm (estruturação em nível, arremate do piso elevado)
01
AMPLIAÇÃO 01
fechamentos e sombreamento: fachada frontal
passarela de estrutura metálica ancorada no perfil perimetral
placa modular (piso elevado)
montante (piso elevado)
perfil "c" 750x150mm (estruturação em nível, arremate do piso elevado)
02
AMPLIAÇÃO 02 interação entre materiais no bloco programável
telha trapezoidal galvanizada treliça metálica (perfis reaproveitados da antiga cobertura)
telha trapezoidal policarbonato vigas-vagão (perfis reaproveitados da antiga cobertura)
ISOMÉTRICA EXPLODIDA . bloco programável
painel metálico isotérmico
vigas perfil “I” 600x300mm treliça de madeira laminada colada (MLC) lajes de madeira laminada colada cruzada (CLT)o ar da cidade nos faz livres
