TFG - PATRIMÔNIO E MEMÓRIA DA AVENIDA PAULISTA

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PATRIMÔNIO E MEMÓRIA DA AVENIDA PAULISTA MUSEU DA AVENIDA PAULISTA COMO ANEXO AO PALACETE FRANCO DE MELLO

LUCIANA DE FARIA BAPTISTA, 2022



PATRIMÔNIO E MEMÓRIA DA AVENIDA PAULISTA MUSEU DA AVENIDA PAULISTA COMO ANEXO AO PALACETE FRANCO DE MELLO

LUCIANA DE FARIA BAPTISTA, 2022



UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

PATRIMÔNIO E MEMÓRIA DA AVENIDA PAULISTA: MUSEU DA AVENIDA PAULISTA COMO ANEXO AO PALACETE FRANCO DE MELLO

Luciana de Faria Baptista Monografia apresentada ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como pré requisito para a obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Prof a Dr a Cecília Rodrigues dos Santos

SÃO PAULO 2022


RESUMO Inaugurada no dia 8 de dezembro de 1891, a Avenida Paulista foi projetada pelo arquiteto uruguaio Joaquim Eugênio de Lima e implantada pelo agrimensor brasileiro Tarquínio Antônio Tarant. Localizada no espigão central da cidade de São Paulo, a avenida encontra-se em suas cotas mais altas e desde o final do século XIX, é considerada uma das principais avenidas da capital paulista. Nos primeiros anos após a inauguração da via, os lotes foram vendidos à elite paulistana que havia enriquecido com o cultivo de café e aos imigrantes enriquecidos com a indústria. Dava-se início à primeira fase residencial da Avenida Paulista, que se estendeu de 1891 a 1940 e foi marcada pela construção de casarões, frequentemente chamados de palacetes. Um exemplo é o Palacete Franco de Mello – um dos únicos três imóveis remanescentes desta época – construído no ano de 1905 pelo construtor português Antônio Fernandes Pinto, por encomenda do cafeicultor e empresário Joaquim Franco de Mello. Ao longo do século XX, a maior parte dos casarões foram demolidos e deram lugar a torres altas, majoritariamente comerciais, transformando radicalmente a paisagem da Avenida Paulista, que teve sua história praticamente apagada e esquecida por sua população. O objetivo do projeto proposto ao final deste trabalho é requalificar e valorizar o patrimônio da Avenida Paulista e da cidade de São Paulo, ao elaborar um anexo ao palacete Franco de Mello para abrigar o Museu da Avenida Paulista, que deve historiar e expor diferentes fases de transformação da via e da ocupação de seus lotes, fazendo do palacete, restaurado e mobiliado, a peça principal do acervo em exposição. PALAVRAS-CHAVES: Avenida Paulista; Patrimônio; Requalificação


ABSTRACT Inaugurated on December 8th, 1891, the Paulista Avenue was planned by the Uruguayan architect Joaquim Eugênio de Lima and was implanted by the Brazilian land surveyor Tarquínio Antônio Tarant. Located in the central spike of São Paulo, the Avenue is set in the highest elevations in the city and is considered one of the main streets of the Paulista capital. During the first years after the inauguration, the lands were sold to the Paulista elite who enriched by the coffee cultivation and to the immigrants that got rich due to the emergent industry. That was the beginning of the first residential era of Paulista Avenue, that lasted from 1891 to 1940 and was most known for the big houses – frequently called small palaces. An example is the small palace Franco de Mello – one of the three reminiscent houses of this first era – built in 1905 and planned by the Portuguese constructor called Antônio Fernandes Pinto in order of Joaquim Franco de Mello, a Brazilian businessman and coffee grower. The main goal of the project proposed in the end of this work is to requalify and to value the patrimony of São Paulo when proposing an annex to the small palace Franco de Mello that will become the Museum of Paulista Avenue, which will preserve the history and expose the different phases and transformation of the avenue since its inauguration, while making the palace the main piece of the museum’s content. KEYWORDS: Paulista Avenue; Patrimony; Requalification


AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter me guiado nessa jornada do TFG e do curso de Arquitetura e Urbanismo, por ter me iluminado e me concedido sabedoria e inteligência para conseguir fazer um bom trabalho final de graduação. Agradeço também à minha família, por ter me ajudado tanto e sempre me incentivado a dar o meu melhor ao longo dos últimos 5 anos, especilamente neste último ano de 2022. Agradeço à minha mãe, Letícia, por todo o apoio e por toda a ajuda nessa jornada, por ter me levantado e me incentivado a ser minha melhor versão e nunca ter me deixado desistir dos meus sonhos. Agradeço ao meu pai, Hilton, pelos conselhos estruturais do projeto e pelas correções ortográficas deste trabalho, além de sempre me colocar pra cima, me incentivar com seus conselhos e me confortar dizendo que tudo iria dar certo. Gostaria de agradecer também aos meus amigos. Obrigada a todos aqueles que me acompanharam ao longo dos últimos anos na faculdade, que me ensinaram, me icentivaram e me aconselharam. Agradeço também aos meus amigos que mesmo não sendo da área de arquitetura, sempre ficavam felizes em ver meus projetos da faculdade e torciam por minhas conquistas profissionais. Agradeço aos meus orientadores de monografia e de projeto, Cecília Rodrigues dos Santos e Guilherme Motta, pela orientação deste trabalho e por terem me ensinado tanto ao longo do último ano, apesar de todos os desafios que são impostos pelo TFG. E por fim, quero agradecer a todos os professores que estiveram comigo nessa caminhada do trabalho final da graduação, que tanto me ensinaram e me abriram portas para os primeiros passos depois da graduação. Dedico a todos vocês meu trabalho, que foi feito com muito carinho e dedicação. Muito obrigada!



LISTA DE FIGURAS _capítulo 01 figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura

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fotografia antiga dos casarões da avenida paulista fotografia atual da avenida paulista localização da avenida paulista mapa da cidade de são paulo em 1897 mapa atual da cidade de são paulo quadro da avenida paulista no dia de sua inauguração divisão dos terrenos da avenida paulista fotografia da avenida paulista recém inaugurada notícia de jornal do dia 23/08/1893 anúncio de jornal do dia 13/08/1900 anúncio de jornal do dia 07/05/1895 anúncio de jornal do dia 12/10/1892 anúncio de jornal do dia 04/05/1902 poema sobre a avenida publicado no jornal em 08/05/1904 notícia sobre a inauguração da linha de bondes em 21/08/1892 notícia sobre a linha de bondes em 17/06/1900 fotografia da avenida paulista recém inaugurada vista do belvedere trianon entre 1910 - 1915 fotografia do belvedere da avenida paulista salão do belvedere em 1916 baile no slaão do belvedere circ. 1916 entrada do belvedere fotografia do mirante do belvedere em 1945 machete de notícia de 27/09/1931 trecho da notícia do dia 27/09/1931 trecho da notícia do dia 27/09/1931 casarão de adam von büllow casarão de francisco matarazzo antes da reforma mansão de horácio sabino planta do pavimento térreo do casarão de sabino planta do primeiro pavimento do casarão de sabino antiga villa fortunata e palacete franco de mello implantação da villa fortunata fachada principal da villa fortunata planta do pavimento térreo da villa fortunata planta do primeiro pavimento da villa fortunata mapa histórico da av. paulista circ. 1940 casa da família matarazzo residência dos matarazzo desenho da proposta de projeto de vilares proposta da fachada do casarão dos matarazzo isométrica do projeto da mansão dos matarazzo

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16-17 18-19 28-29 30-31 32-33 p. 36 p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p.

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desenho da proposta da mansão dos matarazzo mansão dos matarazzo antes da demolição imagem ilustrativa do projeto do shopping cidade são paulo fotografia do palacete de nagib salem planta do jardim da propriedade de nagib salem fotografia do jardim da mansão salem fotografia da entrada do casarão de salem fotografia do hall de entrada do casarão de salem fotografia do salão de visitas do casarão de salem fotografia do salão de visitas do casarão de salem fotografia da sala de músicas do casarão de salem fotografia do jardim de inverno do casarão de salem desenhos da fachada da residência de horácio sabino fotografia dos casarões da avenida paulista pintura do casarão franco de mello fotografia do casarão franco de mello circ. 1930 planta do palacete franco de mello em 1906 planta do palacete franco de mello em 1920 fotografia da sala de estar do palacete franco de mello fotografia da sala de jantar do palacete franco de mello fotografia da biblioteca e depósito do palacete franco de mello fotografia do porão do palacete franco de mello fotografia do corredor do palacete franco de mello planta do casarão franco de mello após as reformas fotografia da edícula no lote do palacete franco de mello fotografia do biotério no lote do palacete franco de mello casarão franco de mello em 2015 fotografia da lateral do palacete franco de mello fotografia dos fundos do palacete franco de mello fotografia do casarão franco de mello em 1983 fotografia de lavínia e seus três filhos fotografia de joaquim franco de mello em 1937 fotografia do edifício anchieta fotografia do edifício nações unidas fotografia do edifício três marias fotografia do conjunto nacional circ. 1970 fotografia do conjunto nacional visto da avenida paulista fotografia da construção do masp fotografia do masp em construção fotografia da rainha elizabeth na inauguração do masp masp na década de 1970 corte da proposta do ‘nova paulista’ obras do projeto ‘nova paulista’ em andamento circ. 1970 notícia de jornal 08/12/1982

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87: casa das rosas 88: fotografia do casarão franco de mello 89: fotografia do grupo escolar rodrigues alves 90: casarão antônio ignácio pereira 91: edifício anchieta 92: casarão de horácio sabino 93: fotografia do conjunto nacional atualmente 94: palacete de adam vou büllow 95: edifício pauliceia 96: casarão de horácio espíndola 97: edifício gazeta 98: casarão de josé cardoso de almeida 99: edifício três marias 100: palacete de nagib salem 101: edifício fiesp 102: propriedade de joão gonçalves 103: edifício branco do brasil na av. paulista 104: belvedere trianon circ. 1930 105: masp e av. paulista ao fundo 106: palacete mourisco 107: edifício paulista 867 108: villa virginia matarazzo 109: edifício brazilian financial center 110: mapa com identificação dos casarões 111: avenida paulista em 1906 112: avenida paulista em 1974 113: avenida paulista atualmente

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_capítulo 02 figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura figura

01: 02: 03: 04: 05: 06: 07: 08: 09: 10: 11: 12: 13: 14:

quadro da avenida paulista de mick carnicelli desenho de suzana garcia da avenida paulista pintura da avenida paulista por ibã huni kuin quadro da avenida paulista de agostinho batista 1971 quadro da avenida paulista de agostinho batista 1974 quadro da avenida paulista de agostinho batista 1986 quadro do masp e avenida paulista por sergio bertoni quadro avenida paulista vista do mirante por enzo ferrara fotografia da sonneveld house fotografia da sonneveld house fotografia interna da sonneveld house fotografia interna da sonneveld house imagem satélite da área de intervenção fotografia da situação atual do casarão

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122 122 123 123 124 124 125 125

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fotografia da situação atual do casarão fotografia em frente ao parque mário covas fotografia da situação atual do casarão fotografia da situação atual do casarão fotografia da avenida paulista num domingo fotografia da situação atual do parque mário covas fotografia da situação atual do parque mário covas fotografia da situação atual do parque mário covas fotografia da situação atual do parque mário covas fotografia da situação atual do parque mário covas imagem satélite do entorno da área de intervenção mapa análise do entorno mapa análise do meio físico mapa análise de transportes e fluxos mapa análise de bens tombados e patrimônios corte urbano da área de intervenção diagrama de implantação do projeto implantação do projeto no terreno imagem ilustrativa do projeto visto da paulista diagrama do edifício anexo e casarão diagrama de usos do edifício anexo e casarão imagem ilustrativa do edifício anexo visto do café imagem ilustrativa da entrada do parque planta do pavimento térreo planta do primeiro pavimento imagem ilustrativa da entrada do anexo imagem ilustrativa do primeiro pavimento do anexo imagem ilustrativa do café no casarão planta do segundo pavimento planta do terceiro pavimento imagem ilustrativa do segundo pavimento do anexo imagem ilustrativa da biblioteca imagem ilustrativa da biblioteca planta do subsolo planta da cobertura imagem ilustrativa do foyer no subsolo corte aa corte bb detalhe da viga calha da cobertura de vidro detalhe da cobertura de vidro imagem ilustrativa da cobertura de vidro da escada corte cc corte dd elevação avenida paulista

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elevação rua ministro rocha de azevedo elevação alameda santos elevação lote do casarão fachada e corte ampliados carta solar fachada nordeste carta solar fachada nordeste carta solar fachada norte carta solar fachada norte carta solar fachada sudeste carta solar fachada sudeste detalhe fixação chapas metálicas fachada detalhe fixação superior do brise detalhe fixação inferior do brise carta solar e máscara de sombreamento fachada nordeste carta solar e máscara de sombreamento fachada norte carta solar e máscara de sombreamento fachada sudeste ampliação do corte ampliação da planta e análise de obstrução detalhe pele de vidro low-e imagem satélite da área de intervenção imagem do levantamento dos decibelímetros detalhe do piso elevado detalhe da cobertura verde detalhe da parede de drywall ampliação da planta do pavimento térreo ampliação da planta do primeiro pavimento ampliação da planta do segundo pavimento ampliação da planta do terceiro pavimento ampliação da planta do subsolo ampliação da planta da cobertura

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204-205 206-207 206-207 208-209 p. 210 p. 210 p. 210 p. 210 p. 210 p. 210 p. 212 p. 213 p. 213 p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p. p.

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_considerações finais figura 01: vista da paulista a partir do mirante do ims figura 02: vista da paulista a partir da ciclovia central figura 03: vista da paulista próximo à rua da consolação

p. 238-239 p. 240-241 p. 242-243



figura 01 – fotografia de guilherme gaensly da avenida paulista em direção à região do paraíso. fonte: museu paulista da usp


Se o sinhô não está lembrado Da licença de contar Que aqui onde agora está Esse edifício alto Era uma casa velha um palacete assobradado

Foi aqui seu moço Que eu, Mato Grosso e o Joca Construímos nossa maloca Mas um dia, eu nem quero me lembrar Veio os homens com as ferramentas O dono mandô derrubar

Peguemo’ toda’ nossas coisas E fumos pro meio da rua Apreciar a demolição Que tristeza que nós sentia Cada táuba que caia Doía no coração [...]

(Saudosa Maloca, Adoniran Barbosa, 1951)


figura 02 – vista do mirante do sesc paulista para a avenida paulista em direção à consolação. fonte: vou na janela. o mirante do


o sesc avenida paulista e a linda vista de são paulo. 2018.


sumário


introdução

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capítulo 01

28

avenida paulista: traçados e construções _1.1. a tipologia dos palacetes paulistanos: primeira

34

ocupação _1.2. o palacete joaquim franco de mello

68

_1.3. as transformações da avenida: segunda ocupação

82

capítulo 02

122

museu da avenida paulista _2.1. a pesquisa histórica e a pesquisa do objeto como metodologia _2.2. o projeto do museu na vizinhança do palacete: projeto em interação com a pré-existência _2.3. proposta projetual: museu da avenida paulista

126 136 144

considerações finais

234

referências bibliográficas

244


introdução



Avenida Paulista: considerada a via mais importante da cidade de São Paulo, responsável por ligar a região sul à oeste da capital paulista, é hoje repleta de altos edifícios de diversos usos, desde torres comerciais e residenciais, até museus, restaurantes e hotéis que marcam o traçado da avenida. A Paulista, porém, já teve um cenário bastante diferente de como é conhecida hoje. Inaugurada no final do século XIX pelo uruguaio Joaquim Eugênio de Lima, o logradouro passou a comportar os casarões da elite paulista e das famílias imigrantes enriquecidas no Brasil, especialmente de origem sírio-libanesa e italianas. Conhecidos por seus estilo ecléticos, os chamados ‘palacetes’ geralmente ostentavam a riqueza da família que ali vivia, através de fachadas e ambientes bastante ornamentados. A partir da década de 1940, com o crescimento da cidade e de sua população, alguns dos residentes da Av. Paulista passaram a buscar lugares mais afastados do centro de São Paulo para morarem e começam, então, a vender suas propriedades na Avenida Paulista. A partir deste momento, a avenida passa a atrair os incorporadores e investidores do mercado imobiliário, que enxergaram nos ainda raros terrenos desocupados, a possibilidade de verticalizar alguns lotes na Paulista. Este foi o início do processo de transformação da Avenida, em que os casarões começaram a dar lugar às altas torres presentes em seus terrenos ainda hoje. Na década de 1980, ainda havia algumas dezenas de palacetes em pé. Muitas famílias que haviam resistido ao mercado imobiliário e cujos casarões sobreviveram à primeira onda de demolições quarenta anos antes, já não tinham dinheiro para manter a propriedade na Paulista, onde os impostos eram - e ainda são, até hoje, muito altos.

24


O receio de terem suas residências tombadas pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístic) e, consequentemente, terem de arcar com todos os custos de preservação e manutenção dos palacetes sem auxílio do governo, fez com que muitas famílias demolissem os imóveis antes do tombamento. Assim, em apenas alguns dias, foram derrubados muitos dos palacetes que ainda restavam na Paulista. O Conselho à época decidiu não tombar todos aqueles casarões que haviam sobrado. Para ele, era mais importante tombarem o conjunto das obras do que imóveis isolados, uma vez que alguns casarões não possuíam altíssima qualidade arquitetônica ou haviam perdido a relação com o entorno quando haviam sido construídos, mas o conjunto dos imóveis ecléticos representava a história da Avenida Paulista - ou, pelo menos, uma parte importante dela. O presente trabalho propõe a preservação de um dos poucos remanescentes antigos dos palacetes da Avenida e o único que até hoje segue sem um uso definido - o Palacete Franco de Mello - a partir do projeto de um anexo que abrigará o Museu da Avenida Paulista. O projeto de intervenção no patrimônio permite a conservação e requalificação do imóvel tombado, que se encontra atualmente abandonado, e sem a devida manutenção pode futuramente ruir e ter o mesmo fim que seus vizinhos. O museu permite, portanto, conservar a memória da Paulista, contar sua história por meio dos acervos, além de propor o questionamento quanto à perda do patrimônio, não apenas da avenida, mas da cidade de São Paulo e sua população, reafirmando a importância da preservação dos poucos exemplares tombados que restaram.

25


01

avenida pau traçados e


ulista: construções


Brasil > Estado de São Paulo

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figura 03 Localização da Avenida Paulista . Fonte: autoria própria

Cidade de São Paulo

Distrito da Bela Vista e Pinheiros

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figura 04 – Planta geral da cidade de São Paulo feita em 1897, organizada por Gomes Cardim - Avenida Paulista destaca 30


ada em vermelho. Fonte: Geosampa 31


06

01

02

03

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figura 05 – Mapa do traçado atual da cidade de São Paulo, Avenida Paulista destacada em vermelho. Fonte: base de da 1 | distrito da Bela Vista; 2 | distrito de Pinheiros; 3 | distrito de Moema; 4 | distrito da Vila |Mariana; 5 | distrito da Moo


05

04

ados retirada do Geosampa; autoria própria oca

0m 0m

15m 100m

45m

300m

500m75m

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0m


linha do tempo

início da onda de ocupação dos terrenos da paulista e construção de palacetes

inauguração da linha de bondes na av. paulista

1892

1891 08 de dezembro inauguração da avenida paulista

1910

1905 construção do palacete franco de mello

SILVA, 2015, p. 66

34

crise econômica que afetou as famílias cuja riqueza era proveniente da cafeicultura

1929

1916 inauguração do belvedere do trianon; marco turístico da avenida e da cidade


execução parcial do projeto ‘nova paulista’ e alargamento da avenida

liberação para construção de edifícios comerciais e de uso misto

1950

1940 início do processo de verticalização da avenida paulista

finalização do processo de tombamento do palacete franco de mello

1992

1970

1968 inauguração da nova sede do masp na av. paulista

1982 abertura do processo de tombamento dos casarões da paulista

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1.1. a tipologia dos palacetes paulistanos: primeira ocupação figura 06 Quadro de Jules Martin, 1891. Representação das festividades do dia 08 de dezembro de 1891 para a inauguração da Avenida Paulista. TOLEDO, Benedito. Álbum iconográfico da Avenida Paulista. 1987, p. 127

No dia 8 de dezembro de 1891, foi inaugurada a Avenida Paulista na cidade de São Paulo. Idealizada pelo arquiteto uruguaio Joaquim Eugênio de Lima e planejada e executada pelo agrimensor Tarquínio Antônio Tarant, a avenida está localizada em uma das cotas mais altas da capital paulista, no espigão central da cidade. A avenida está a cerca de 3km do centro histórico da cidade e é vizinha dos atuais bairros da Consolação, Higienópolis, Bela Vista e Jardim Paulista. Desde o início do século XX, a avenida é considerada uma das principais vias da capital paulista e ao longo do século passado passou por muitas transformações em sua paisagem. Foi batizada de “Avenida Paulista” a pedido de seu idealizador, Eugênio de Lima, que determinou o nome em homenagem a todos os moradores do São Paulo que o acolheram quando ele havia chegado no estado. Como forma de aproveitar a altitude em que se estabelecia, a Paulista foi pensada inicialmente para ser um mirante: do espigão central, era possível observar o Morro do Jaraguá, as árvores nativas que compunham a vegetação chamada de Caaguaçu e o riacho que corria em direção ao 36


Rio Tietê, chamado de Paca-yembó. Não foi por acaso, portanto, que a Paulista logo se tornou uma atração turística aos moradores e visitantes da cidade. A Paulista tornou-se caminho para o novo Hospital do Isolamento – atual Hospital Emílio Ribas – construído em 1880, localizado na Av. Dr. Arnaldo, próximo ao Cemitério do Araçá, e onde hoje funcionam anexos voltados à área da saúde ligados à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Inicialmente, a Avenida possuía três proprietários: Joaquim Eugênio de Lima, idealizador do projeto de abertura da via, José Augusto Garcia e José Borges de Figueiredo. Juntos, eles fundaram a Sociedade Anônima Companhia Aviação Paulista e compraram os lotes situados no espigão na cidade. As Plantas dos Terrenos da Avenida Paulista revelam a divisão de todos os lotes da Avenida entre os três. Os lotes foram vendidos inicialmente à elite paulista que havia enriquecido com o cultivo de café em São Paulo. Até a inauguração da Avenida, no final de 1891, estes latifundiários e empresários viviam anteriormente no bairro dos Campos Elíseos e em Higienópolis (HOMEM, 2010). figura 07 Planta dos Terrenos da Avenida Paulista na Bella Cintra – Capital do Estado de São Paulo – 1891. Divisão dos terrenos: nº1: Joaquim Eugenio de Lima; nº2: João Augusto Garcia; nº3: José Borges de Figueiredo. Fonte: TOLEDO, Benedito. Álbum iconográfico da Avenida Paulista. 1987

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figura 08 Fotografia tirada nos primeiros anos após a inauguração da Avenida Paulita. Fonte: TOLEDO, benedito. Álbum iconográfico da Avenida Paulista. 1987

A Paulista foi inaugurada em um momento bastante propício, em que a elite da cidade começava a buscar outros bairros para construir suas residências oficiais ou para estabelecer suas casas de campo. O bairro Campos Elíseos foi o primeiro que abrigou uma concentração da elite cafeeira paulistana no século XIX. Projetado e loteado em 1872 pelos arquitetos Glette e Northam, sua proximidade com a Estação da Luz consagrou-o como um polo de urbanização da cidade de São Paulo e atraiu muitos paulistanos a construírem suas residências na região, que viam na proximidade de suas casas com a ferrovia uma vantagem de mobilidade dentro e fora da capital. Tal fato explica por que o bairro era majoritariamente residencial naquela época. Com o passar dos anos, a ferrovia atraiu muitas pessoas para o bairro, que se tornou bastante tumultuado. Assim, a elite paulistana passou a buscar um local mais tranquilo, afastado da ferrovia e da classe operária para residir dentro da capital do Estado de São Paulo. Enxergaram nas terras próximas à Consolação uma boa alternativa, uma vez que estavam afastadas do agito e do movimento das proximidades da Estação da Luz. Além disso, era considerada uma região mais salubre para morar devido à sua localização em áreas mais elevadas em relação ao bairro Campos Elíseos, e que, portanto, não corria risco de alagamentos, enchentes e a consequente proliferação de doenças, muito comum à época. Essa região foi então batizada de Higienópolis, que leva este nome até hoje. O 38


bairro foi loteado por dois imigrantes alemães, Martinho Buchard e Victor Northam no fim do século XIX e ficou conhecido por abrigar as residências dos fazendeiros mais abastados (TOLEDO, 1987). Foi nesta época que surgiram os primeiros palacetes da cidade de São Paulo, que se tornaram símbolo do modo de morar da elite paulistana, desde o fim do século XIX ao início do século XX (HOMEM, 1996). Em meio ao início da povoação de Higienópolis, a Avenida Paulista ainda estava coberta por sua vegetação nativa chamada de Caaguaçu, até o projeto de Joaquim Eugênio de Lima ser colocado em prática em 1891. A inauguração da Paulista no final do século XIX marcou a história da cidade de São Paulo. A avenida atraía muitas pessoas diariamente, que visitavam a primeira via arborizada da cidade e podiam desfrutar da bela vista que ela propiciava, devido a sua localização nas cotas mais elevadas de São Paulo. A ideia de morar em palacetes, incutida na alta sociedade paulistana anos antes no bairro de Higienópolis, incentivou os proprietários de terra a comprarem lotes na mais nova Avenida de São Paulo e a construírem seus luxuosos casarões, que permitiam mostrar à sociedade seu poderio e riqueza. “Era

expressão

de

um

novo

e

orgulhoso

regionalismo o próprio nome da nova via, “Paulista”,

uma

palavra

que,

voltamos

a

lembrar, já evocara barbárie, nos tempos em que os bandeirantes saíam à caça de índios nas fronteiras. A avenida era não só Paulista, como também se cercava de ruas com nomes de cidades paulistas. Isso tudo soava a café, a dinheiro, a influência, a prestígio e, pretendia-se, agora, a aristocracia [...]” (trecho retirado do livro A capital da solidão: uma história de São Paulo das origens a 1900 de Roberto Pompeu de Toledo; página 448; Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2003) A Avenida Paulista, portanto, tornou-se símbolo de ostentação e marcava uma nova era para os cafeicultores paulistas, que naquele momento haviam encontrado o lugar ideal para estabelecerem suas residências na capital do café. Dava-se início à primeira fase residencial da Avenida Paulista, que se estendeu de 1891 a 1929 e foi marcada pela construção de casarões de estilo eclético, chamados de palacetes. 39


figura 09 Recorte da notícia do jornal o Estado de S. Paulo do dia 23 de agosto de 1893. Fonte: Acervo Estadão

figura 10 Recorte do anúncio de venda de imóvel e objetos na Avenida Paulista publicado no jornal o Estado de S. Paulo do dia 13 de agosto de 1900. Fonte: Acervo Estadão figura 11 Recorte do anúncio da venda de lotes da avenida publicado no jornal o Estado de S. Paulo do dia 07 de maio de 1895. Fonte: Acervo Estadão

figura 12 Recorte do anúncio publicado no jornal o Estado de S. Paulo do dia 12 de outubro de 1892. Fonte: Acervo Estadão

figura 13 Recorte do anúncio da venda de uma chácara na Avenida Paulista publicado no jornal o Estado de S. Paulo do dia 04 de maio de 1902. Fonte: Acervo Estadão

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Houve um grande incentivo à compra dos lotes na Avenida Paulista. Quase diariamente, encontravam-se nos jornais anúncios de venda de lotes, chácaras e posteriormente, venda de casas já construídas e por vezes, mobiliadas. Em grande parte dos anúncios, era exaltada a beleza da nova avenida, que por estar no espigão da cidade, permitia que seus visitantes pudessem apreciar a bela vista. Sua localização, afastada de regiões alagáveis, conferia maior segurança e higiene aos futuros residentes da Paulista. As figuras a seguir foram retiradas do jornal Estado de S. Paulo, entre os anos de 1891 e 1904, período em que a ocupação da avenida estava apenas no início. 09

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Cada melhoria que a avenida recebia era também publicada no jornal, como forma de gerar interesse em possíveis compradores de terrenos ou imóveis na região. No entanto, a Avenida começou a receber mais moradores apenas a partir da década de 1910.

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figura 14 Poema publicado no jornal o Estado de S. Paulo no dia 08 de maio de 1904. Autoria de Gabriel Muniz franco. Fonte: Acervo Estadão

figura 15 Recorte da notícia da inauguração da linha de bondes da avenida paulista no jornal o Estado de S. Paulo do dia 21 de agosto de 1892. Fonte: Acervo Estadão

figura 16 Recorte da notícia sobre a linha de bondes da CIA Light and Power publicada no jornal o Estado de S. Paulo do dia 17 de junho de 1900. Fonte: Acervo Estadão

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figura 17 Fotografia de Guilherme Gaensly da Avenida Paulista recém inaugurada fonte: Atelier Guide. Avenida Paulista reúne obras de 59 artistas.

Nos primeiros anos após a inauguração da Avenida, os lotes que haviam sido comprados por algumas famílias da elite paulista eram destinados às “chácaras de fim de semana, a cocheiras e à criação de gado leiteiro, funcionando como extensões das casas que ficavam nos bairros situados nas encostas, como Vila Buarque e Santa Cecília.” (HOMEM, 2010). A elite cafeeira transferiu-se definitivamente para a Paulista a partir da década de 1910, quando a via passou a ganhar maior notoriedade entre a alta sociedade paulistana. Desde sua inauguração, a avenida recebeu melhorias, como forma de atrair moradores. Em 1892, foi inaugurado o Parque da Avenida, conhecido hoje como Parque Trianon – localizado à frente do MASP – projetado pelo francês Paul Villon (VIEGAS, 2020). Em 1894, Joaquim Eugênio de Lima consegue sancionar uma lei que obriga os moradores e futuros residentes do boulevard a construírem seus casarões a 10m de distância em relação à via, e com 2m de recuo lateral em cada lote, destinados ao cultivo de jardins (VIEGAS, 2020). Em 1900, a Paulista recebe linhas de bondes eletrificadas pela Companhia Light. Oito anos mais tarde, tornou-se a primeira via da cidade de São Paulo a ser asfaltada. Entre os anos de 1911 e 1914, o arquiteto Ramos de Azevedo projetava o Belvedere do Trianon, que ficaria localizado em frente ao Parque Trianon. Inaugurado em 1916, consagrou a Avenida Paulista como um dos pontos turísticos mais frequentados da capital e de maior notoriedade. 42


figura 18 Panorama da cidade de São Paulo vista do Trianon - entre 1910 e 1915. Fonte: COTRIM, Luciana. SPcity. Série Avenida Paulista: belvedere ao MASP – exposição fotográfica virtual. São Paulo, 2022

figura 19 Fotografia do belvedere da Avenida Paulista circ 1920. Fonte: COTRIM, Luciana. spcity. Série Avenida Paulista: belvedere ao MASP – exposição fotográfica virtual. São Paulo, 2022

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figura 20 Salão do belvedere do Trianon em 1916. Fonte: COTRIM, Luciana. SPcity. Série Avenida Paulista: belvedere ao MASP – exposição fotográfica virtual. São Paulo, 2022

figura 21 Baile realizado no salão do Trianon circ. 1916. Fonte: COTRIM, Luciana. SPcity. Série Avenida Paulista: belvedere ao MASP – exposição fotográfica virtual. São Paulo, 2022

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figura 22 Fotografia de Guilherme Gaensly da entrada do belvedere do Trianon - circ 1923. Fonte: acervo IMS

figura 23 Fotografia de Thomas Farkas do mirante do belvedere do Trianon - 1945. Fonte: acervo IMS

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Os primeiros aristocratas a construírem suas residências oficiais na Avenida Paulista foram o empresário e industrial Francisco Matarazzo no ano de 1896, cinco anos após a abertura da avenida, cujo projeto fora assinado pelos construtores Giulio Saltini e Luigi Mancini; e o Dr. Adam von Büllow, imigrante dinamarquês e enriquecido no Brasil com a exportação de café, que teve seu palacete projetado por Augusto Fried (COTRIM, 2021). Até 1910, a maior parte das residências ali construídas não eram as residências oficiais das famílias, mas sim suas casas de campo. Somente na segunda década do século XX, estas famílias mudaram-se definitivamente para a Paulista. No final do século XIX e no início do século XX, a elite de São Paulo ainda reunia os responsáveis pelo cultivo e pela exportação do café. Lentamente, algumas famílias migravam para a indústria que crescia paulatinamente no Estado de São Paulo. O investimento do capital gerado pela exportação do café - que motivou as famílias a deixar as lavouras para se dedicar aos ofícios urbanos, demandas do crescimento da cidade - somado à chegada de imigrantes em São Paulo acelerou o processo de industrialização da cidade. Muitos destes imigrantes enriqueceram graças à indústria, uma vez que grande parte deles era proveniente de países que já haviam passado pelo processo de início da industrialização, ao contrário do Brasil. A população de imigrantes em São Paulo correspondia à metade da população. Dentre eles havia italianos, portugueses, espanhóis, alemães, austríacos, sírio libaneses e japoneses, mas a população de imigrantes italianos era a mais numerosa. (HOMEM, 2010). A crise de 1929 gerou uma grande recessão econômica em todo o mundo e a economia brasileira foi também afetada. Muitos cafeicultores em São Paulo se viram obrigados a queimar suas safras de café destinadas à exportação, em vista da falta de demanda de compra do produto, uma vez que não havia interesse em investir em alimentos que não essenciais. Assim, a elite tradicional - vinculada ao cultivo de café - começou a dar lugar à elite cuja fortuna advinha da indústria, cada vez mais notória no Brasil. figura 24 Manchete de notícia publicada no jornal Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo) em 27 de setembro de 1931. Fonte: Acervo Folha.

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figuras 25 e 26 trecho da notícia referente à manchete da figura 24 publicada no jornal Folha da Manhã (atual Folha de S. Paulo) em 27 de setembro de 1931. fonte: acervo folha.

Desse modo, as famílias paulistas tradicionais que residiam da Avenida Paulista passaram a ter vizinhos imigrantes e industriais, majoritariamente italianos e sírio-libaneses, que consagravam seus status econômico e social no endereço mais caro de São Paulo. “Logo

depois

e

precedidos

pelos

irmãos

Matarazzo que aí residiam desde 1896, os grandes industriais e comerciantes italianos e árabes e profissionais liberais ocuparam a Avenida Paulista e ruas adjacentes. [...] também residiram famílias tradicionais e de origem alemã e judaica. [...] Os estilos dos palacetes da Avenida Paulista eram os mais diversificados, sugerindo os países de origem dos moradores. Ostentavam uma decoração mais profusa e exuberante. Com cerca de dois quilômetros de extensão, essa avenida apresentava um grande número de residências. Eram vilas pompeianas, neoclássicas, florentinas, neobizantinas, inspiradas no Renascimento ou no estilo Luís XVI, etc., aos quais viria juntar-se o art nouveau. O conjunto, dos mais harmoniosos, impressionava pelo fausto e pelo luxo, tendo rivalizado com a Avenida Higienópolis.” (trecho retirado do livro O Palacete Paulistano e outras formas de morar da elite cafeeira: 1867 – 1918 - Maria Cecília Naclério Homem, Editora WMF Martins Fontes, 2ª edição, São Paulo, 2010 – p. 190 e 191).

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figura 27 Fotografia do casarão de Adam von Büllow. Fonte: COTRIM, Luciana. Série Avenida Paulista. O casarão de Adam von Büllow: ícone da Avenida Paulista. 2021.

figura 28 Casarão de Francisco Matarazzo antes da reforma. Fonte: COTRIM, Luciana. Série Avenida Paulista. Da mansão matarazzo ao cidade São Paulo – parte 1. 2022.

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Muitos palacetes foram influenciados pela arquitetura eclética europeia, em particular a italiana e francesa, e contavam com a presença de mansardas e cúpulas, cujo estilo aproximava-se do art nouveau. (HOMEM, 2010). A influência da arquitetura francesa se dava especialmente na distribuição interna dos cômodos das residências. Vários destes casarões eram assobradados, e contavam com grandes halls de entrada que serviam para encontros da família com convidados e amigos. Também era comum a presença de cômodos voltados às atividades culturais, como bibliotecas e galerias de arte - estes ambientes eram chamados de estar formal. Os cômodos de estar informal eram comumente encontrados nos porões e eram voltados aos membros mais jovens da família. Eles eram compostos de salas de jogos, ateliês e sala de estudos. (HOMEM, 2010). Não era raro encontrar espaços que se configuravam como pequenos apartamentos nos pavimentos térreos dos casarões. De acordo com Maria Cecília Naclério Homem, do livro Palacetes Paulistanos e outras formas urbanas de morar da elite cafeeira (1867-1918), esses apartamentos eram destinados a hóspedes, a idosos e até mesmo a governantas, e ficavam localizados próximos à cozinha das casas. Além disso, a maioria dos palacetes apresentavam plantas bem compartimentadas a fim de conferir maior privacidade e independência para cada cômodo (HOMEM, 2010). A residência de Horácio Sabino (ver p. 48) é um dos casarões mais emblemáticos da Avenida Paulista e é uma das obras mais conhecidas do arquiteto Victor Dubugras, este responsável pelo projeto de muitos casarões na Avenida. O palacete da família Sabino foi construído no ano de 1903, e era um dos principais representantes de um ecletismo com elementos do art nouveau francês ou italiano comum ao projeto de Dubugras, que ficou conhecido por fazer uso de varandas semicirculares e pela organização da planta a partir da sala de jantar – característica da organização francesa residencial. O terreno da casa, que ocupava a totalidade do quarteirão da Paulista entre as ruas Augusta e Padre João Manoel, também contava com edículas destinadas às famílias do copeiro e do motorista da família Sabino, com entrada pela Alameda Santos (HOMEM, 2010). Dois anos após o falecimento do casal Sabino em 1950, o terreno foi vendido pela família e comprado pelo empresário José Tijurs. No lugar do casarão, demolido em junho de 1953, hoje situa-se o Conjunto Nacional (COTRIM, 2022 et al SPCity)

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figura 29 mansão de horácio sabino na avenida paulista. fonte: COTRIM , Luciana. o palacete de horácio sabino. série avenida paulista. 2019.

figuras 30 e 31 planta do pavimento térreo e do primeiro pavimento da mansão de horácio sabino. HOMEM, Maria Cecília Naclério. O palacete paulistano e outras formas de morar da elite cafeeira (1867 - 1918). Editora WMF Martins Fontes. São Paulo, 2010.

legenda planta pav. térreo 1 - entrada; 2 - vestíbulo; 3 - sala de visitas; 4 sala de jantar; 5 - jardim de inverno; 6 - saleta; 7 - copa; 8 - costura e refeição das crianças; 9 cozinha; 10 - quarto da criada; 11 - despensa.

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legenda planta 1 o pav. 1 - sala; 2 - sala; 3 - dormitório do casal; 4 dormitório; 5 - jardim de inverno; 6 - banheiro; 7 - hall; 8 - sala


Outro palacete bastante conhecido na Avenida Paulista foi a propriedade de René Thiollier, que também ficou conhecida como Vila Fortunata, em homenagem à sua esposa. Localizado na Avenida, nº56 na esquina da Rua Ministro Rocha de Azevedo. Teve como vizinho a residência da família Franco de Mello - objeto de estudo deste trabalho. A Vila Fortunata foi projetada pelo arquiteto de origem alemã, Augusto Fried. Assim como a maior parte das casas da Avenida Paulista, o casarão da família Thiollier possuía dois andares. Em seu terreno havia um parque cuja vegetação era remanescente da mata original do espigão central chamada de Caaguaçu (HOMEM, 2010). O palacete foi demolido, mas o remanescente da vegetação nativa continua preservado uma vez que foi tombada pelo Condephaat na década de 1980, juntamente com o Palacete Franco de Mello, no lote adjacente. Vale lembrar que na Vila Fortunata nasceu o renomado paisagista Roberto Burle Marx. Seu pai alugou a casa por quatro anos enquanto a família Thiollier morava por um período na França.

figura 32 fotografia circ 1970 da antiga villa fortunata (atual parque mário covas) e o lote do casarão franco de mello. fonte: TOLEDO, Benedito Lima de. Álbum Iconográfico da Avenida Paulista. São Paulo, 1987. Editora Ex Libris.

anexos da Vila Fortunata (demolidos na década de1980

Vila Fortunata (demolida na década de 1980)

Palacete Joaquim Franco de Mello

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A casa da família Thiollier (1) contava com três pequenas construções anexas situadas ao fundo do terreno, próximas à Alameda Santos: a casa do jardineiro (2), o depósito de carros ou garagem (3) e a cocheira (4). figuras 33 e 34 Implantação do lote da Villa Fortunata e fachada principal voltada para a Av Paulista. Fonte: HOMEM, Maria Cecília Naclério. O palacete paulistano e outras formas de morar da elite cafeeira (1867 - 1918). Editora WMF Martins Fontes. São Paulo, 2010.

figuras 35 e 36 Plantas do pavimento térreo o primeiro pavimento da Villa Fortunata. Fonte: HOMEM, Maria Cecília Naclério. O palacete paulistano e outras formas de morar da elite cafeeira (1867 - 1918). Editora WMF Martins Fontes. São Paulo, 2010.

legenda planta pav. térreo 1 - vestíbulo; 2 - escritório; 3 - sala; 4 - w.c.; 5 sala da senhora; 6 - sala de jantar; 7 - cozinha; 8 - copa; 9 - despensa.

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legenda planta 1 o pav. 1 - hall; 2 - rouparia; 3 - banho e w.c.; 4 dormitórios.


A partir da análise dos palacetes da Avenida Paulista, é possível observar que todas as residências tinham como um dos principais objetivos de demonstrar à sociedade o “êxito socioeconômico” das famílias que ali viviam (HOMEM, 2010, p. 247). A maior parte das casas situava-se no centro do lote, sendo cercada por jardins. Também contavam com um hall de entrada voltado para na Avenida Paulista – bem como ambientes separados de acordo com sua função (HOMEM, 2010). Era comum que nas redondezas dos casarões ou no interior dos lotes fossem construídas casas para as famílias dos funcionários – como é possível observar na Vila Fortunata – ou residências para os filhos do casal proprietário, que não raramente dependiam da fortuna de seus progenitores (HOMEM, 2010). Em alguns casarões, os funcionários se alojavam no subsolo ou nos pavimentos térreos inferiores – espaços insalubres e impróprios para morar – assim como acontece na Residência Franco de Mello, cujo pé direito do térreo inferior era de apenas 2m e que carecia de iluminação e ventilação natural. Na maioria das casas havia um espaço voltado exclusivamente à esposa do proprietário: a sala da senhora. Os homens também tinham espaços destinados apenas a eles, tais como o gabinete ou escritório, que frequentemente ficavam localizados na parte frontal da casa, voltados para a fachada principal e com entrada independente do restante da residência (HOMEM, 2010). As famílias imigrantes vindas da Europa priorizavam os encontros sociais em suas residências e, por isso, os ambientes de estar formais, como a sala de estar e a sala de jantar, eram os mais amplos e mais ornamentados. A sala de jantar era o centro da casa, sendo utilizada mais em ocasiões especiais, onde se exigia etiqueta e solenidade (HOMEM, 2010). Ao longo dos anos, com o avanço da urbanização da cidade, alguns ambientes tiveram seus usos modificados. Todos os lavatórios dos banheiros e as pias da cozinha começaram a receber água corrente o que propiciou mais higiene; os banheiros já não eram mais separados dos W.C., os porões que antes funcionavam como barreira de umidade passaram a ser utilizados pela juventude, que estabeleceu ali suas bibliotecas, dormitórios ou ateliês. As senhoras passaram a utilizar seus quartos de vestir para receber suas amigas, já que a sala da senhora não propiciava privacidade a ela e suas visitas (HOMEM, 2010).

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Os palacetes eram excessivamente ornamentados, em especial os ambientes de estar formal onde a família recebia visitantes e ostentavam seu poderio socioeconômico. O escritor brasileiro e paulista Monteiro Lobato teceu uma crítica às residências demasiadamente decoradas, que buscavam adequar-se a padrões estéticos estabelecidos na época e influenciados pelo art nouveau, que descaracterizava e despersonalizava as residências da mais importante via da capital paulista: “Nossas casas não denunciam o país [...] Dentro de um salão Luís XV somos uma mentira com o rabo de fora [...] O interior das nossas é um perfeito prato de frios dum hotel de segunda. A sala de visitas só pede azeite, sal e vinagre para virar salada completa. Cadeiras Luís XV ou XVI, mesinha central Império, jardineiras de Limoges, tapetes da Pérsia, pendões da Bretanha, gessos napolitanos,

porcelanas

de

Copenhague,

ventarolas do Japão, dragõezinhos de alabrasto chinês [...] Por fora, a mesma ausência de individualidade.

Acentos

gregos,

curveteiros

lombricoidais do Art Nouveau, capitéis coríntios, frisões de todas as nascenças, arcos romanos e árabes, barrocos, rocalhos – o can can inteiro das formas exóticas.” (trecho retirado do livro O Palacete Paulistano e outras formas de morar da elite cafeeira: 1867 – 1918 - Maria Cecília Naclério Homem, Editora WMF Martins Fontes, 2ª edição, São Paulo, 2010 – p. 241). A crítica de Monteiro Lobato revela que a influência do art nouveau nos casarões da elite paulista e o ecletismo já havia se esgotado. Os palacetes mais recentes, datados do final da década de 1910 e início da década de 1920 – muitos deles assinados pelo arquiteto Ricardo Savero, tais como a residência de Numa de Oliveira, cunhado de Horácio Sabino – adentravam o estilo Neocolonial, descrito por Lobato como um “renascimento arquitetônico” da época (HOMEM, 2010, p.246). Ao longo do século passado, especialmente a partir da década de 1960, algumas famílias começaram a vender seus casarões, uma vez que

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muitos dos primeiros proprietários da primeira fase residencial da Avenida Paulista já haviam falecido, e os custos de manter uma residência nos terrenos mais caros do país começava a mostrava-se inviável para os herdeiros. Começava a onda de demolições dos casarões, que deram lugar a empreendimentos comerciais e torres residenciais, a fim de tirar maior proveito dos valiosos terrenos da Paulista. Os palacetes foram aos poucos desaparecendo e altas torres foram surgindo em seus lugares. A partir da década de 1980, diante da desenfreada onda de demolições das antigas residências, o Condephaat iniciou o processo de tombamento dos casarões remanescentes. figura 37 Mapa da primeira metade do século XX com destaque para o lote da família Matarazzo; sem escala. Fonte: Geosampa

Como tentativa de escaparem do tombamento e ainda conseguirem se livrar dos custosos lotes das propriedades, várias famílias demoliram os palacetes que outrora pertenceram às gerações anteriores. Um dos casos mais conhecidos e que mais marcaram a Avenida Paulista, foi a demolição da Villa Matarazzo, antiga propriedade do conde italiano Francisco Matarazzo. O palacete da família Matarazzo foi projetado pelo construtor Giulio Saltini e Luigi Mancini. (HOMEM, 2010, p. 182). O casarão da família estava localizado na esquina da Rua Pamplona, no lote de número 83 e possuía

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20,2m de frente e 124m de profundidade. Inicialmente, a residência tinha apenas o andar térreo; ao longo dos anos, Matarazzo comprou outros dois lotes vizinhos a fim de expandir sua moradia, uma vez que “era uma casa de planta despoliciada e, com toda evidência, não estava apta a uma vida social dentro da etiqueta vigente.” (COTRIM et al TOGNON, 2021). figura 38 Fotografia da casa dos Matarazzo com parte do primeiro andar construída. Fonte: COTRIM, Luciana. A saga da família Matarazzo e a mansão na Paulista - parte 1. Série Avenida Paulista. 2021.

Em 1900, cerca de quatro anos após o início da construção do primeiro projeto, foi feita a primeira modificação na residência: foi construída uma sala de jantar que avançava sobre um dos lotes já comprados pelo industrial italiano, configurando-se como um volume anexo à casa. Em 1914, foi construído um andar superior projetado pelo jovem arquiteto Giovanni Battista Bianchi. Nos anos de 1929 e 1935, foram feitas outras alterações no Palacete Matarazzo executadas pelo engenheiro Júlio de Abreu Júnior, tais como a construção de garagem, porão, modificação da fachada de entrada, além de Francisco também ter adquirido o lote de seu vizinho Manoel Affonso Martins Costa, voltado para a Paulista. Dessa forma, o terreno do casarão – chamado de Villa Matarazzo – passou a ocupar uma frente de 110m por 124m de fundo. (COTRIM et al TOGNON, 2021). A partir de 1937, depois da morte de Francisco, seu filho Francisco Matarazzo Júnior assumiu a empresa da família e se tornou o responsável pela Villa Matarazzo. O sucessor do Conde Matarazzo contratou arquitetos e engenheiros para a elaboração de um novo projeto de reforma da Villa, dentre eles Ricardo Savero & Villares e o renomado escritório de Ramos de

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Azevedo. As obras foram iniciadas em 1938, mas Francisco Jr. mostravase bastante insatisfeito com o projeto, até que decidiu contratar o italiano Tomaso Buzzi, que apresentara uma nova proposta para o projeto da reforma já em andamento.

figura 39 Fotografia da residência da família Matarazzo. Fonte: COTRIM, Luciana. A saga da família Matarazzo e a mansão na paulista - parte 1. Série Avenida Paulista. 2021.

figura 40 Desenho da proposta de severo Villares para a moradia dos Matarazzo. Fonte: COTRIM, Luciana. A saga da família Matarazzo e a mansão na paulista - parte 2. Série Avenida Paulista. 2021.

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“A vila Matarazzo na avenida Paulista é, antes de mais nada, uma encomenda italiana em uma cidade metrópole que se sentia plenamente cosmopolita. Os Matarazzo eram duplamente brasileiros e italianos, e, por isso, é natural que tenham recorrido a um arquiteto italiano totalmente reconhecido e integrado na elite italiana dessa época, em que os Matarazzo procuravam criar novas raízes, por casamentos e investimentos do mais alto nível. A gramática usada não é, pois, a do neocolonial ou do modernismo racional. Ela deve fazer ver, de forma elegante, contida e erudita, as raízes e o cosmopolitismo de Francisco Matarazzo Júnior. E, ao mesmo tempo, utilizar materiais representativos da Itália, desde o tradicional travertino, aos expoentes da alta tecnologia, como os rebocos Terranova ou os vidros Securit.” (trecho retirado do artigo A Villa Matarazzo na Avenida Paulista e Tomaso Buzzi: projetos e obras (1938 - 1940) de João Mascarenhas Mateus – Revista Pós-graduação FAUUSP v.20 n.34, São Paulo, dezembro de 2013, p. 236)

figura 41 Proposta da fachada principal da mansão dos Matarazzo por Tomaso Buzzi. Fonte: Mateus, J. M. A vila Matarazzo na Avenida Paulista e Tomaso Buzzi: projeto e obras (1938-1940). Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP v. 20, n. 34 (2013) - p. 229

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figura 42 Isométrica da mansão dos Matarazzo por Tomaso Buzzi. Fonte: Mateus, J. M. A vila Matarazzo na Avenida paulista e Tomaso Buzzi: projeto e obras (1938-1940). Pós. Revista do Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP v. 20, n. 34 (2013) - p. 230

figura 43 Desenho da proposta da mansão dos Matarazzo por Tomaso Buzzi. Fonte: Mateus, J. M. A vila Matarazzo na Avenida Paulista e Tomaso Buzzi: projeto e obras (1938-1940). Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP v. 20, n. 34 (2013) - p. 230

A escolha de um arquiteto italiano para a realização do projeto da família ítalo-brasileira permitiu que a residência se assemelhasse à arquitetura residencial da elite italiana. Era muito comum que, na Paulista, os projetos dos palacetes remetessem às origens das famílias que ali viviam, majoritariamente composta de imigrantes italianos, sírio-libaneses, alemães e judeus. Após a reforma de Buzzi, a villa chegou a 4400m² de área construída e contava com 19 quartos e 17 salas, 3 adegas, refeitórios, cozinha e biblioteca (COTRIM, 2021). Era na mansão da família onde aconteciam os eventos e festividades promovidos por eles. As indústrias dos Matarazzo entraram em processo de falência na década de 1970, depois do falecimento de Francisco Matarazzo Júnior. Em 1989, 12 anos após a morte de Francisco Matarazzo Junior, o casarão foi tombado pelo Conpresp na 59


gestão da ex-prefeita Luiza Erundina. Ela pretendia transformar o palacete no Museu do Trabalhador, mas o projeto não saiu do papel. figura 44 Mansão dos Matarazzo antes da sua demolição, circ. 1980. fonte: Pinterest. Palacete da família Matarazzo, demolido em 1996.

Nesta mesma época do processo de tombamento, em março do mesmo ano, a família tentou implodir a residência para conseguir vender o terreno que era considerado um dos mais valiosos do país, mas o imóvel resistiu à tentativa. No entanto, durante a gestão do ex-prefeito Paulo Maluf (1993-1996), o tombamento da casa foi suspenso e a residência foi então quase totalmente demolida pela família Matarazzo em 1996, sobrando apenas o pórtico da entrada pela rua São Carlos do Pinhal. (COTRIM, 2021). No terreno, passou a funcionar um estacionamento como forma de garantir renda à família ainda proprietária dos lotes; o restante da casa foi demolido em 2011, e foi construída uma torre comercial junto ao Shopping Cidade São Paulo, construído em 2015 e projetado pelo escritório Aflalo & Gasperini em 2007. A proposta inicial do projeto era a de manter e preservar o restante da antiga mansão e construir a torre comercial atrás, mas infelizmente esta proposta não foi aprovada. (COTRIM, 2021 – Revista Cafeicultura). 60


A imagem abaixo, vista da Avenida Paulista, mostra o resultado final do projeto que foi executado, sem o antigo casarão. figura 45 Imagem ilustrativa da proposta final da torre Matarazzo e do shopping cidade São Paulo, tal como foi construído. Projeto de aflalo & gasperini. Fonte: VICTORIANO, Gabrielle. Shopping cidade São Paulo e torre Matarazzo. Galeria da Arquitetura. Imagem de Daniel Ducci.

A família Matarazzo teve grande influência econômica e cultural na cidade de São Paulo desde o final do século XIX até a década de 1970. A história da Villa Matarazzo é um dos principais exemplos de destruição do patrimônio histórico e cultural da Avenida Paulista, onde o descaso pela história e a desvalorização do patrimônio da cidade prevaleceram. A família proprietária da residência não tinha interesse algum em manter a mansão, visto que o IPTU chegava a cerca quatrocentos mil reais por ano, e as indústrias da família haviam falido há mais de uma década. Essa mesma história se repetiu ao longo da segunda metade do século XX com várias famílias proprietárias de casarões na Paulista, especialmente a partir da década de 1960 quando começou o boom de empreendimentos imobiliários na Avenida. As famílias já não tinham mais o mesmo poder aquisitivo que possuíam havia algumas décadas, e viram como oportunidade de se livrarem dos terrenos caros da avenida antes – ou até mesmo durante – do processo de tombamento dos antigos casarões. Apesar de muitas famílias terem seguido a mesma conduta que a família Matarazzo, algumas tentaram preservar o patrimônio de suas famílias e da cidade, como o caso da família Salem, cuja residência configurava-se como uma das mais icônicas da avenida e que teve o mesmo destino de grande parte dos antigos palacetes. 61


Um dos maiores e mais requintados palacetes era a residência da família do comerciante Nagib Salem. O casarão da família de origem síria estava localizado onde hoje encontra-se o edifício do FIESP, entre a rua Pamplona e a Alameda Casa Branca, no quarteirão vizinho ao Parque Trianon e próximo ao MASP. O palacete da família Salem foi projetado em 1920 pela empresa Malta & Guedes, dos engenheiros Francisco de Salles Malta Jr. e Henrique Jorge Guedes - ambos formados em 1914 pela Escola Politécnica - e a construção foi concluída em 1924. De estilo eclético, o casarão era um dos mais ornamentados à época entre seus vizinhos da Avenida e possuía mais de 1000m 2. O palacete - que fazia de fato jus ao nome de pequeno palácio - possuía cerca de 60 cômodos. Com objetos e materiais importados da Europa, quando não disponíveis no Brasil, muitos dos profissionais responsáveis por construir e decorar o imóvel foram também trazidos de lá, especialmente da França e da Itália. Este profissionais eram majoritariamente artesãos, artistas e pintores, que ficaram encarregados pelo acabamento da residência, principalmente em seu interior. O projeto de paisagismo do jardim da residência foi realizado pelo renomado escritório à época João Dierberger & Companhia - responsável por notórios projetos paisagísticos como o jardim do Museu do Ipiranga, em São Paulo e os jardins do palácio Guanabara no Rio de Janeiro. (COTRIM, 2021). figura 46 Fotografia do palacete de Nagib Salem. Fonte: COTRIM, Luciana. A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2021.

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figura 47 Jardim da propriedade de Nagib Salem projetado por Dierberger & Companhia. Fonte: COTRIM, Luciana. A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2021.

figura 48 Fotografia do jardim da residência Salem. Fonte: COTRIM, Luciana. A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2021.

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figura 49 Fotografia da entrada principal do palacete de Salem. Fonte: COTRIM, Luciana. A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2021.

figura 50 Fotografia do hall de entrada do palacete de Salem. Fonte: COTRIM, Luciana. A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2021.

figura 51 Fotografia do salão de visitas do palacete de Salem. Fonte: COTRIM, Luciana. A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2021.

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figura 52 Fotografia salão de visitas do palacete de Salem. Fonte: COTRIM, Luciana. A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2021.

figura 53 Fotografia da sala de músicas do palacete de Salem. Fonte: COTRIM, Luciana. A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2021.

figura 54 Fotografia do jardim de inverno do palacete de Salem. Fonte: COTRIM, Luciana. A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2021.

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Cada atividade possuía um cômodo diferente para ser executada. O palacete de Nagib possuía sala de banquete, sala de jantar, salão de visitas, sala de música, sala oriental, sala de espera, sala de almoço, sala de chá, dormitórios, jardim de inverno, além de um hall de entrada com pé direito duplo onde encontrava-se a escada principal da casa e que era revestida em mármore rosa (COTRIM, 2021). Todos eles eram extremamente ornamentados e ostentavam o poder e riqueza da família, o que era recorrente nos casarões da Paulista. Nagib vem a falecer na década de 1960 e cerca de 10 anos mais tarde, o terreno juntamente com a casa foi vendida para a FIESP (Federação de Indústrias do Estado de São Paulo) para a construção de seu edifício sede. Na época, tanto a família Salem quanto os novos proprietários do terreno realizaram um pedido à Câmara dos Vereadores de São Paulo para permitir que o palacete fosse mantido no local e que a nova torre da FIESP fosse construída atrás do antigo imóvel. O pedido foi negado, e na década de 1970 o casarão, depois de apenas 45 anos de pé, foi demolido. Este foi o final de muitos casarões ecléticos da Avenida Paulista. Vale ressaltar que dois dos principais arquitetos responsáveis por muitos projetos dos palacetes da Avenida Paulista foram Francisco de Paula Ramos de Azevedo, fundador do renomado Escritório Técnico Ramos de Azevedo, e Victor Dubugras. Ramos de Azevedo foi um renomado engenheiro arquiteto brasileiro. Nasceu em São Paulo em 1851 e estudou na Bélgica, onde obteve seu diploma. Em 1886, quando retorna à sua cidade natal, Francisco ganha notoriedade como construtor e arquiteto e até hoje é considerado um dos pioneiros na construção civil na capital paulista. Suas obras contrubuíram para o desenvolvimento de São Paulo e ainda hoje muitas de suas edificações são pontos turísiticos e de referência da cidade, dentre eles a Casa das Rosas, - contruída para sua filha Lúcia, atualmente sendo restaurada e onde funcionará um museu de literatura - o Theatro Municipal, Pinacoteca do Estado de São Paulo e etc (Ramos de Azevedo, FEA USP). Victor Dubugras, por sua vez, não era brasileiro. Nascido na França em 1868, cresceu na Argentina e mudou-se para o Brasil apenas em 1891, quando começa a trabalhar na carteira imobiliária do Banco União - que na época era dirigida por Ramos de Azevedo. Mesmo sem diploma de arquiteto ou engenheiro, passou a atuar como arquiteto autônomo a partir de 1896 e abriu seu escritório próprio entre 1897 e 1898. Dubugras é conhecido como

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um dos precursores do modernismo no Brasil. Em algumas de suas obras na Avenida Paulista, é possível identificar características do modernismo, como a casa de João Gonçalves Dente (ver p. 108) - apesar de também projetar residências de estilo eclético. A imagem abaixo mostra os desenhos da fachada da residência de Sabino desenvolvida pelo arquiteto francês. figura 55 Desenhos da fachada da residência de Horácio Sabino projetada por Victor Dubugras. Fonte: COTRIM, Luciana. O palacete de Horácio Sabino. Série Avenida Paulista. 2019.

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figura 56 – Fotografia dos casarões da Avenida Paulista em direção à Consolação. Fonte: TOLEDO, Benedito. Álbum Iconogr 68


ráfico da Avenida Paulista. 1987. 69


1.2. palacete joaquim franco de mello figura 57 Casarão franco de mello. Pintura intitulada ‘casa antiga da paulista’ de autoria de Antônio de Moraes, 1987. Fonte: GERMANO, Beta. Avenida Paulista ganha exposição sobre sua história no MASP. Casa Vogue. 2017.

Localizado na Avenida Paulista, no antigo lote nº 90 – atualmente, nº 1919 – o Palacete Joaquim Franco de Mello foi construído no ano de 1905 pelo construtor português Antônio Fernandes Pinto, a mando do cafeicultor e empresário Joaquim Franco de Mello. Recém-casado com Lavínia Dauntre Salles de Mello, Joaquim comprou o lote na famosa avenida - ainda com poucas casas e muita vegetação - no início do século XX para construir a residência que abrigaria sua família nas décadas seguintes. Originalmente, o lote possuía 118m de comprimento por 40m da largura, e ficava no lote ao lado da famosa Villa Fortunata, residência do imigrante francês Alexandre Thiollier, pai de René Thiollier, e que hoje contempla o Parque Mário Covas. Vale ressaltar que foi nesta casa da Villa Fortunata que nasceu o arquiteto e paisagista Roberto Burle Marx, no período em que seu pai alugou a residência de Thiollier enquanto estes estavam residindo por um período na França. 70


figura 58 Fotografia do palacete Franco de Mello em meados dos anos 1930. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 77. São Paulo, Dez. 2015 - p. 54

O casarão da família Franco de Mello não ocupa a totalidade do terreno original de 4720m² uma vez que Joaquim tinha planos de fazer negócios com o vizinho franco-brasileiro e futuramente ocupar a parte do seu lote que fazia limite com o terreno da família Thiollier. Por este motivo, Joaquim mandou construir o casarão descentralizado do lote, localizado à direita visto a partir da Avenida Paulista (fig. 2). Os planos do empresário paulista não saíram do papel e a porção de terra que havia ficado sem uso foi transformada em um pomar e jardim da residência Franco de Mello. Desse modo, o casarão da família ficava envolto por um jardim contínuo que abrangia as laterais do terreno e se estendia até a Alameda Santos. Parte dessa vegetação pode ser vista até os dias de hoje. No início do século passado, a casa possuía um recuo de 10 metros em relação à Avenida. Os recuos laterais eram de 5 metros e 7 metros, respectivamente dos lados direito e esquerdo do lote visto a partir da 71


Paulista e os fundos da casa tinham 60 metros livres até alcançar a Alameda Santos. No início da década de 1970, o engenheiro militar José Vicente Faria Lima, prefeito da cidade de São Paulo à época, desengavetou o projeto “Nova Paulista” concebido em 1967 pelo engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz e o arquiteto Nadir Mezerani, cuja proposta era a de se criar um calçadão na Avenida Paulista e enterrar o fluxo dos carros para o subsolo desta via, deixando-a exclusivamente para uso de pedestres. Para o início da execução deste projeto, fazia-se necessário o alargamento da avenida e a diminuição da largura das calçadas. O “Nova Paulista” foi iniciado por Faria Lima e seu sucessor, Figueiredo Ferraz, levou a cabo o projeto e prosseguiu com as obras da escavação do subsolo da Paulista. Em 1973, o prefeito Figueiredo Ferraz – que já vinha sofrendo oposição do governador do estado de São Paulo em relação à obra de renovação da Avenida – foi demitido do cargo e seu sucessor, Miguel Colassuono, interrompeu o projeto¹ (OLIVEIRA, 2016). Com as obras de alargamento da avenida, o casarão perdeu muito espaço do seu recuo frontal; tal fato explica o porquê de o palacete estar localizado tão próximo ao muro que separa a propriedade do passeio público. Esse tópico será aprofundado no subcapítulo seguinte “1.3. transformação da paulista: segunda fase de ocupação da avenida” (p. 80) O habite-se da residência dos Franco de Mello se deu apenas em 1907, dois anos depois do início de sua construção. Nessa época, a residência contava apenas com 230m² de área construída e não era considerada um palacete, ao contrário de grande parte das casas da Paulista. Com o nascimento dos três filhos do casal – Raphael, Rubens e Raul – Joaquim e sua esposa Lavínia decidiram reformar a casa em 1921 de modo a acomodar melhor a família que havia crescido. O construtor que havia sido responsável pelo projeto e construção da casa anos antes, Antônio Fernandes Pinto, já não trabalhava mais na área de construção civil. Para a reforma, foi contratado o construtor Luiz Ferreira que foi responsável por definir a volumetria do casarão tal como é visto hoje em dia. O projeto da fachada da residência ficou ao encargo do arquiteto Armando Reimann que já havia trabalhado no escritório do renomado Ramos de Azevedo – este, responsável por grande parte dos projetos residenciais da Paulista na época (SILVA, 2015). A reforma permitiu a ampliação e flexibilidade de usos de vários ambientes da casa, além de promover maior privacidade à família, de

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modo que os cômodos de serviços ficavam afastados e sem acesso direto aos cômodos íntimos dos Franco de Mello, tais como os dormitórios e banheiros. O novo projeto possibilitou o aumento da área construída da casa, que passou de 230m² para 858,15m². As figuras acima mostram as mudanças realizadas na casa neste período (fig. 04 e fig. 05). figuras 59 e 60 Plantas da casa em 1905 e depois da reforma, na década de 1920. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 - 77. São Paulo, Dez. 2015 p. 46 e p. 52

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O casarão é um exemplo do ecletismo que muito vinha sendo utilizado nas demais residências da Avenida Paulista. Normalmente, as casas tinham traços estilísticos de modo que era possível saber a nacionalidade da família que a habitava apenas ao analisar a fachada, uma vez que a maior parte dos proprietários dos casarões eram imigrantes – geralmente árabes e italianos – que haviam enriquecido depois de chegarem ao Brasil. No caso da família Franco de Mello, tanto Joaquim quanto Lavínia eram brasileiros e, portanto, ao contrário das casas da Paulista, sua arquitetura nada revelava sobre a nacionalidade da família. Ao analisar a fachada da residência, são observados elementos da arquitetura francesa e árabe, tais como as mansardas e a cúpula arabesca – elementos estes meramente decorativos, uma vez que não havia acesso para a cobertura (SILVA, 2015). O casarão em estudo se diferenciava esteticamente das demais

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residências pois apresentava em sua fachada mais elementos ornamentais em comparação com a maioria dos outros palacetes. A planta do casarão pode ser esquematicamente dividida em três setores: o frontal, que abriga a recepção – sala de visitas – e o local de trabalho do proprietário – o escritório de Joaquim; o intermediário, onde acontecia a vida familiar – dormitórios e sala de jantar; e por fim, os fundos, onde se encontravam as peças de serviço – cozinha, copa e despensa – e as peças de higiene – banheiros e latrina (SILVA, 2015). De acordo com Carlos Lemos, ex conselheiro do Condephaat, em grande parte das residências do início do séc. XX, havia uma tentativa de setorização dos ambientes – característica recorrente em grande parte dos palacetes devido à distribuição francesa dos espaços – e a implementação de uma circulação única por parte dos projetistas, constituindo o que Lemos denomina de “casa-corredor” (SILVA, 2015). Mesmo após a reforma da casa em 1921, o corredor único permaneceu como o principal meio de circulação no interior do palacete, mas foram criadas algumas alternativas como a escadaria nos fundos da casa e as entradas laterais no térreo inferior. Esta circulação alternativa foi projetada para ser utilizada pelos serviçais, de modo que não houvesse a necessidade de eles fazerem uso do corredor interno, marcando a segregação dos ambientes destinados aos funcionários e à família (SILVA, 2015 ). Os cômodos principais da casa ficavam no térreo principal, que contava com 4,5m de pé direito e se desenvolve a 2,35m acima da cota da Avenida Paulista. A reforma possibilitou o melhor aproveitamento desse pé direito generoso, e permitiu a entrada de mais luz natural e ventilação ao interior da residência. Ao contrário do pavimento principal, o térreo inferior tinha apenas 2m de pé direito e a luz natural era bastante escassa, contrariando as normas sanitárias vigentes da época. Apesar de grande parte de os ambientes deste pavimento serem voltados aos usos de serviços e depósitos, alguns dos serviçais que trabalhavam na residência dormiam em cômodos neste andar – conforme é possível observar na planta acima, a presença de dormitórios e banheiros nesta cota – o que revela ainda o resquício de uma mentalidade escravocrata da elite brasileira, que ainda não oferecia condições de trabalho salutares aos funcionários.

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figura 61 Sala de estar do palacete Franco de Mello, fotografia de Pedro Napolitano, 2015. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 77. São Paulo, Dez. 2015 - p. 57

figura 62 Sala de jantar do palacete Franco de Mello, fotografia de Pedro Napolitano, 2015. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 77. São Paulo, Dez. 2015 - p. 49

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figura 63 Biblioteca e depósito no térreo inferior, fotografia de Pedro Napolitano, 2015. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 - 77. São Paulo, Dez. 2015 - p. 60

figura 64 Fotografia do porão do palacete Franco de Mello, fotografia de Camila Raghi, 2014. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 - 77. São Paulo, Dez. 2015 - p. 49

figura 65 Fotografia do corredor do palacete franco de mello, fotografia de Camila Raghi, 2014. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 - 77. São Paulo, Dez. 2015 - p. 56

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Em dezembro de 1937, Joaquim Franco de Mello vem a falecer. Sua viúva Lavínia continuou vivendo na casa pelos 17 anos seguintes, até sua morte em 1954. O filho do meio, Raul, e sua família moraram na residência por um certo período na década de 50. O filho primogênito do casal, Raphael, que era solteiro, permaneceu no imóvel até 1978 quando veio a falecer. Rubens, o irmão mais novo, voltou a morar no palacete no início da década de 1980, apenas depois da morte do irmão Raphael. Dessa forma, durante grande parte do século passado a família Franco de Mello ocupou a casa. Com a morte de Lavínia em meados da década de 1950, os irmãos Raul e Rubens além de Renato – filho deste último – assumiram cuidar do imóvel da família e, portanto, foram os responsáveis por todas as transformações realizadas na casa a partir da metade do século XX. A planta abaixo mostra as alterações realizadas na residência depois da última reforma feita em 1921. figura 66 Planta da casa após todas as intervenções, desenho de camila Raghi. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 77. São Paulo, Dez. 2015 - p. 63

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Em 1953, Raul ocupou os fundos do lote voltado para a Alameda Santos para construir sua residência. Quatro anos mais tarde, em 1957, ele construiu um biotério nos fundos do lote. Estas construções permaneceram no terreno até a divisão da propriedade entre os filhos do casal. As imagens abaixo mostram os anexos construídos no fundo do lote, próximo à Alameda Santos, ao longo do século XX, depois da morte de Joaquim.

figura 67 Fotografia da edícula/ garagem do casarão em 1990. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 - 77. São Paulo, Dez. 2015 - p. 51

figura 68 Fotografia do biotério na década de 1990. Fonte: Processo de tombamento 22121-82: Casarão 1919 e Mata remanescente da Vila Fortunata. Condephaat, Secretaria da Cultura. 1987 - p. 134

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Em 1971, com o projeto Nova Paulista em andamento - projeto este que é explicado no subcapítulo “1.3. transformação na paulista: segunda fase de ocupação da avenida” (ver p. 82) - o muro original da casa que pode ser observado na Figura 58 (pág. 69) foi demolido e em seu lugar foi construído um outro muro cujo desenho era esteticamente mais simples e inferior ao original. O novo muro ficou muito próximo à entrada da casa e, como consequência, impossibilitou a compreensão do palacete quando visto a partir da Avenida Paulista. Além disso, foi necessário demolir a escada frontal do casarão e reconstruir uma menor, e por isso, foi preciso construir uma escada lateral de dois lances. No ano de 1985, anos depois do falecimento do casal e do filho primogênito, Raphael, foi iniciada a partilha do terreno do imóvel entre os dois irmãos, Raul e Rubens. O lote foi dividido em duas matrículas: a matrícula voltada para a Avenida Paulista e que contempla o casarão foi destinada a Raul; e a outra matrícula, voltada para a Alameda Santos, que abrangia os anexos construídos na década de 1970 e uma edícula edificada em 1913, tornou-se posse de Rubens. No início da década de 1980, no ano de 1982, foi dado início ao processo de tombamento do casarão Franco de Mello pelo Condephaat, simultaneamente ao tombamento de outros palacetes remanescentes da Avenida Paulista. Cinco anos mais tarde, ainda no início do processo, foi proposto por Carlos Lemos, conselheiro do Condephaat à época, que o processo de tombamento deveria considerar todo o terreno do palacete e não apenas o casarão, tal como havia sido feito com a Casa das Rosas. Lemos propõe então a preservação da residência Franco de Mello e da mata remanescente dos lotes do palacete e da Villa Fortunata – vale pontuar que à época, o imóvel da família Thiollier já havia sido demolido, portanto restava apenas a vegetação. No processo do Condephaat, não foram consideradas as edificações anexas ao Palacete Franco de Mello – apelidado de “Casarão 1919” pelo Conselho. Em meio ao processo de tombamento, a porção do terreno de Rubens – voltada para a Alameda Santos e que contemplava apenas os anexos que não eram considerados pelo processo – foi vendida na década de 1990 para a construção de uma torre comercial que fica localizada bem atrás do palacete, e que foi erguida em 1991. Tanto a pequena residência quanto o biotério e a edícula foram demolidos para dar lugar ao novo edifício, ao passo que foi construído um muro que passou a dividir ambos os

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lotes. Apesar de a torre possuir muitos pavimentos e seu gabarito exceder em muitos metros o gabarito de altura do casarão, sua fachada de vidro espelhado permite que a torre se camufle no entorno, não competindo arquitetonicamente com o Palacete. Na imagem abaixo, é possível observar que a torre pouco se destaca visualmente, configurando-se apenas como um pano de fundo ao casarão. figura 69 Casarão Franco de Mello em 2015, fotografia de Pedro Napolitano, 2015. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 77. São Paulo, Dez. 2015 - p. 66

Em 1990, foi aberto o processo de tombamento do CONPRESP – Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo. No mesmo ano, ainda durante o processo de tombamento, a empresa de estacionamentos Multipark, desobedecendo ao Condephaat e ao CONPRESP, retirou parte da forração original do terreno do casarão – matrícula voltada para a Avenida Paulista – e um conjunto de árvores para implantar um estacionamento no local. Tal ação descaracterizou o jardim externo original da propriedade. Ao longo da década de 1990, antes da finalização do tombamento do Casarão 1919 e da mata remanescente da Villa Fortunata, a residência Franco de Mello abrigou diversos usos; foram eles: estacionamento, sebo de livros e discos, restaurante, bar, clube, antiquário e empresa de eventos e promoções, além da construção de um palco para eventos. Todos estes usos mal planejados propiciaram alterações indevidas na casa, que acabaram por interferir na rede elétrica e hidráulica do palacete. No mesmo período da construção do Edifício Parque Paulista, na matrícula do lote original voltada para a Alameda Santos, o casarão vizinho da residência Franco de Mello foi demolido. Em seu lugar foi construído o edifício Market Paulista (fig. 69). Ao contrário da torre comercial espelhada 80


localizada no fundo do lote do palacete, o Market Paulista respeita o gabarito de altura do casarão Franco de Mello. Sua fachada, porém, compete visualmente com o casarão e não respeita a pré-existência no contexto ao qual está inserido, conforme é possível observar na imagem da página anterior. As figuras abaixo revelam o estado externo do casarão Franco de Mello no levantamento realizado em 2014 (SILVA, 2015). figura 70 Lateral do palacete Franco de Mello, fotografia de Camila Raghi, 2014. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 - 77. São Paulo, Dez. 2015 - p. 57

figura 71 Fundos do casarão, fotografia de pedro napolitano, 2015. Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 77. São Paulo, Dez. 2015 - p. 56

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No processo de tombamento do Casarão 1919 e da mata remanescente da Villa Fortunata, consta em diversas cartas a dificuldade que os proprietários do Palacete Franco de Mello impuseram sobre as equipes que realizaram levantamentos no lote da propriedade – ou tentaram fazê-lo. Em meio a uma batalha judicial travada pela família Franco de Mello e pelo Condephaat, por muitas vezes os proprietários negaram a entrada da equipe ao terreno, contrariando às ordens impostas judicialmente. Não houve, portanto, uma cooperação da parte dos donos do imóvel, que eram contra o tombamento da residência e queriam ver-se livres da propriedade. Em vista das dificuldades financeiras da família para realizarem a manutenção da propriedade em um dos terrenos mais caros da cidade de São Paulo, a residência ficou abandonada por alguns anos até Renato Franco de Mello, neto de Joaquim, mudar-se para o palacete no início do século XXI. Renato frequentemente alugava o térreo superior do casarão para eventos, com exceção de dois ambientes que ele utilizava para sua moradia: o quarto de casal e a cozinha. Esta foi a maneira que o neto do primeiro proprietário da casa encontrou para manter o palacete com algum uso. Em meio a determinados eventos e aluguéis, a Prefeitura de São Paulo lançou concursos a fim de tentar dar algum uso definitivo ao palacete e à vegetação remanescente da Villa Fortunata. Entre os editais de concursos lançados, vale destacar o concurso do Museu da Diversidade Sexual lançado em 2014. Apesar de muitos escritórios renomados da cidade haverem participado e de o júri ter escolhido um vencedor – o escritório Hereñu + Ferroni Arquitetos – o projeto nunca saiu do papel. O casarão continuou recebendo alguns eventos esporádicos até 2019, quando Renato Franco de Mello veio a falecer. Após sua morte, a propriedade passou definitivamente para a Prefeitura de São Paulo. Em julho de 2021, a Prefeitura lançou um edital de chamamento público para a concessão do Casarão 1919 da Avenida Paulista. No edital, consta que aquele que tornar-se proprietário do imóvel tombado deve necessariamente comprometer-se a reformar e restaurar o palacete, além de propor algum uso para uma futura edificação de 3.634,30m 2 que deverá funcionar como anexo à propriedade (Governo do Estado de São Paulo, 2021). Até hoje, em novembro de 2022, a outorga segue em estudo, conforme consta no site do Governo do Estado de São Paulo.

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figura 72 Fotografia do casarão Franco de Mello em 1983. Fonte: Carlos Fadon. 1983

figuras 73 e 74 Lavínia e os filhos (esq. p/ direita) Raul, Raphael e Rubens - p. 41 Fotografia de Joaquim Franco de Mello em 1937, ano de seu falecimento - p. 45 Fonte: SILVA. Joana Mello de Carvalho e. et al. A Residência Franco de Mello em três tempos. Revista CPC, n° 20, p. 36 77. São Paulo, Dez. 2015.

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1.3. transformação na paulista: segunda fase de ocupação da avenida Até a década de 1930, os aristocratas residentes da Avenida Paulista estavam cercados de luxuosos e ecléticos casarões, com exceção de três edifícios, - o Colégio São Luís (esquina com a rua Bela Cintra), o Instituto Pasteur (esquina com a rua Maria Figueiredo) e o Hospital Santa Catarina (entre as ruas Treze de Maio e Teixeira da Silva).Com o rápido crescimento populacional da cidade, especialmente entre as décadas de 1930 e 1960, a população paulistana começou a ocupar regiões cada vez mais próximas da Paulista e por isso, a elite da avenida Paulista passou a buscar regiões mais afastadas e tranquilas para morar, seguindo o ideal da vida no campo, vendido pelos responsáveis dos novos loteamentos da cidade à época - a “organização imobiliária-urbanísitica Cia. City” (LORES, 2017, p. 108), que loteou os bairros hoje conhecidos como Pacaembu e Jardins (LORES, 2017). O crescimento de uma cidade está diretamente atrelado ao crescimento populacional. A aproximação demográfica da Paulista, permitiu a criação de importantes vias transversais à avenida e novos negócios e comércios surgiram e se instalaram nas proximidades da via (LORES, 2017). Assim, muitos empresários inseridos no mercado imobiliário passaram a enxergar a verticalização da Avenida Paulista como um grande potencial econômico. Em 07 de abril de 1937, o prefeito de São Paulo à época, Fábio da Silva Prado (1934 - 1938), sancionou a lei n o 3571 que permitia a construção de edifícios residenciais na Avenida Paulista. As unidades comerciais só poderiam se instalar nas ruas transversais, de modo a não terem acesso direto pela Paulista. Assim, durante o período de 1940 à 1970, os casarões começaram a dar lugar aos edifícios modernistas - estilo arquitetônico que começava a ganhar espaço na arquitetura paulistana, e passou a ter maior destaque na construção civil especialmente nos anos 1950 e 1960. Apesar da lei sancionada por Fábio Prado, poucos edifícios residenciais foram erguidos na década seguinte. Apenas um dentre os raros projetos elaborados na época se destacou: o Edifício Anchieta, 84


localizado na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista, projetado pelo escritório MMM Roberto, propriedade dos irmãos cariocas Marcelo, Milton e Maurício. O empreendimento deu lugar ao casarão do dono da renomada empresa Votorantim, Antônio Pereira Ignácio (ver p. 101) e foi encomendado em 1941 pelo IAPI - Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Industriários (LORES, 2017). O prédio conta com 72 unidades cujas metragens variam entre 108m 2 e 122m 2 e ficou pronto somente no final da década de 1940, no ano de 1948 (LORES, 2017). figura 75 Fotografia do edifício Anchieta. Fonte: COTRIM, Luciana. Edifício Anchieta: o primeira da avenida paulista. Série Avenida Paulista. São Paulo, 2019.

A inauguração do Edifício Anchieta acelerou o processo de verticalização e democratização da Paulista (LORES, 2017), que mesmo após onze anos do sancionamento da lei n o 3571 ainda contava com poucos prédios construídos. 85


A partir dos anos 1950, o interesse do mercado imobiliário pela construção de novos projetos na Paulista aumentava gradativamente. O receio de residir em uma via muito tumultuada somado ao medo de suas propriedades se desvalorizarem com a chegada do comércio nas proximidades da Paulista, fez com que algumas das famílias se mudassem para regiões mais afastadas na cidade, como o Morumbi (LORES, 2017). Desse modo, os proprietários dos casarões passaram a vender seus imóveis e terrenos na Paulista para os empresários que desejavam investir na avenida. Um dos principais investidores foi o jornalista e empresário Octávio Frias de Oliveira, acionista e fundador do BNI - Banco Nacional Imobiliário (LORES, 2017). O BNI foi responsável pelo financiamento e lançamento de dois dos maiores edifícios da Paulista à época, que se consagraram como marcos arquitetônicos do boulevard: o Edifício Nações Unidas (1953, Abelardo de Souza - esquina com a rua Haddock Lobo) e o Edifício Três Marias (1952, Affonso Eduardo Riedy - esquina com a avenida Brigadeiro Luís Antônio). Ao contrário do Três Marias, o projeto assinado por Affonso Reidy possui lojas no pavimento térreo. A criação e aprovação de uma galeria comercial com entrada pela Paulista foi tomada como inspiração por muitos projetos futuros na avenida (LORES, 2017). Vale ressaltar que ambos os empreendimentos do BNI possuíam mais pavimentos e consequentemente mais unidades que o Edifício Ancheita - gerando, portanto, mais lucro. Nos anos seguintes, ao longo da década de 1950, foram erguidos edifícios notórios, marcos na arquitetura da avenida e da cidade até os dias de hoje. Os edifícios Saint Honoré (1952, Artacho Jurado - entre a rua Pamplona e Alameda Campinas), Baronesa de Arary (1954, Simeon Fichel - esquina com a rua Peixoto Gomide) e Pauliceia/São Carlos do Pinhal (1956, Gian Carlo Gasperini e Jacques Pilon - entre a alameda Campinas e rua Joaquim Eugênio de Lima) tornaram-se alguns dos principais prédios da via (LORES, 2017) (ver p. 105). Em 1952, foi aprovada uma nova lei que permitia a construção de edifícios de uso comercial, institucional e de serviços na Avenida Paulista. O principal empreendimento da época e que impulsionou a construção de demais edifícios comerciais e de uso misto foi o Conjunto Nacional, autoria do jovem arquiteto paranaense David Libeskind. O Conjunto Nacional foi construído no lugar do famoso casarão do empresário e advogado Horácio Sabino, com projeto do renomado arquiteto francês Victor Dubugras, este

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figura 76 Edifício Nações Unidas na década de 1960. Fonte: PEREIRA, Matheus. Clássicos da arquitetura: edifício Nações Unidas / Abelardo Riedy de Souza. Archdaily Brasil. 2017.

figura 77 Edifício Três Marias circ. 1970. Fonte: PEREIRA, Matheus. Clássicos da Arquitetura: edifício Três Marias / Abelardo Riedy de Souza. Archdaily Brasil. 2018.

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responsável por diversos projetos de casarões na Paulista. A lei, todavia, não permitia a construção de hotéis na avenida. Esta era a ideia de José Tijurs, o incorporador responsável pela compra do terreno de Sabino e financiamento do futuro projeto que seria ali construído. Toda a concepção programática do Conjunto Nacional foi feita por Libeskind, que propôs à Tijurs a construção de um edifício de uso misto - inovador para a época (LORES, 2017). O empreendimento foi um sucesso, e possibilitou que a Paulista fosse frequentada a todo momento, todos os dias e por pessoas que vinham de toda a cidade. A qualidade arquitetônica do Conjunto Nacional, com seu programa inovador e a criação de uma grande praça pública coberta - a primeira da avenida Paulista - faz com que o projeto do jovem Libeskind seja estudado até hoje nas faculdades de arquitetura. Inaugurado em 1956, pouco tempo depois suas unidades comerciais e de serviços já estavam ocupadas por grandes nomes como a Confeitaria Fasano que se instalou no térreo no conjunto (LORES, 2017). Dali se viam as mansões da ainda estreita Avenida Paulista, com apenas duas pistas em cada sentido, um corredor de bonde na pista central e ipês amarelos nas calçadas. A largura total era de 30 metros (a ampliação foi feita entre 1972 - 1974, com a derrubada de 120 ipês, a retirada dos trilhos dos bondes e o alargamento para 48 metros). (LORES, Raul Juste. São Paulo nas alturas: a revolução modernista da arquitetura e do mercado imobiliário nos anos 1950 e 1960. Editora Três Estrelas. São Paulo, 2017 - p. 125 e 126) Apesar dos evidentes benefícios proporcionados pelo Conjunto Nacional e seu térreo democrático e acessível, a prefeitura de São Paulo sancionou uma lei que proibia a construção de edifícios que ocupassem toda a área do terreno, estabelecendo recuos mínimos nos lotes a serem cumpridos pelos projetistas (LORES, 2017) - recuos estes que devem ser seguidos até hoje. Outro edifício icônico que marcou a paisagem da Paulista e a história da avenida e da cidade foi o Museu de Artes de São Paulo Assis 88


figura 78 Conjunto Nacional circ. 1970. Fonte: BRASIL, Luciana Tombi. Clássicos da arquitetura: Conjunto Nacional / David Libeskind. Archdaily Brasil. 2015.

figura 79 Conjunto Nacional visto a partir da Avenida Paulista. fonte: BRASIL, Luciana Tombi. Clássicos da Arquitetura: Conjunto Nacional / David Libeskind. Archdaily Brasil. 2015.

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Chateaubriand, popularmente conhecido como MASP. O museu é um ícone da Paulista e consagrou-se como um dos pontos turísticos mais visitados da cidade de São Paulo. Inaugurada em 1947, a primeira sede do museu ficava originalmente na rua 07 de abril, no centro da capital paulista. Os pavimentos do edifício onde o museu estava instalado foram adaptados pela arquiteta Lina Bo Bardi. Os idealizadores do museu, Assis Chateaubriand e Pietro Maria Bardi queriam associar a industrialização da cidade e seu crescimento populacional à modernidade (GOMES, 2019). Em poucos anos o museu obteve grande sucesso entre a população da cidade e cerca de dez anos após sua inauguração no edifício que mal comportava seu uso, foi decidida a mudança do endereço para a icônica Avenida Paulista - que no final da década de 1950 já havia passado por muitas transformações. O local escolhido para a construção da nova sede do museu foi o terreno do Belvedere do Trianon, projetado cerca de quarenta anos antes pelo escritório de Ramos de Azevedo. O lote, que tem uma vista para o centro da cidade, foi escolhido por Lina, arquiteta encarregada pelo projeto do novo MASP. Um dos principais partidos do projeto da italiana foi de preservar a vista que o terreno proporcionava (GOMES, 2019); assim surgiu o famoso vão do MASP, com seus extensos 74 metros e que, na época, se consagrou como o maior vão livre do mundo (VIEGAS, 2020). figura 80 Fotografia da Construção do edifício do MASP, foto de Hans Günter Llieg. Sonte: COTRIM, Luciana. Série Avenida Paulista: belvedere ao MASP – exposição fotográfica virtual. SPcity. 2022

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figura 81 MASP ainda em construção na década de 1950. Fonte: Prédio do MASP na avenida paulista projetado por Lina Bo Bardi completa 50 anos. União Geral os Trabalhadores.

figura 82 Rainha Elizabeth na inauguração do MASP no dia 08 de novembro de 1968. Fonte: COTRIM, Luciana. Série Avenida Paulista: belvedere ao MASP – exposição fotográfica virtual. SPcity. 2022

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A nova sede do museu no atual endereço da Avenida Paulista foi inaugurada em 1968. A inauguração contou com a presença de muitos intelectuais, políticos e personalidades nacionais e internacionais, tais como a Rainha Elizabeth II e seu marido, o príncipe Philip. figura 83 MASP na década de 1970, foto de Hans Günter Flieg. Fonte: COTRIM, Luciana. Série Avenida Paulista: belvedere ao MASP – exposição fotográfica virtual. SPcity. 2022

O MASP antecipou as migrações do Centro para a região do espigão, caminho posteriormente percorrido por muitas empresas, além de ser o marco inicial da crescente ocupação cultural da avenida. A partir do final dos anos 1960, a Paulista já configura definitivamente uma nova centralidade, com a migração de diversas atividades originalmente exclusivas do centro para o espigão. (VIÉGAS, Mariana Felippe. Linha Paulista no metrô de São Paulo: reflexos da inserção urbana na arquitetura e no método construtivo das estações. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. São Paulo, 2020 - p. 105) 92


A construção de novos edifícios começou a modificar a paisagem da Paulista ao longo século XX. Inicialmente, os edifícios residenciais com apartamentos de diversas metragens consagrou o início da democratização da Paulista, que teve a origem social de seus moradores cada vez mais ampliada (VIÉGAS, 2020). Os edifícios comerciais e institucionais, por sua vez, marcaram a chegada de empresas e centros de uso cultural que definiram o cenário da avenida. Todavia, a mudança mais drástica sofrida pelo boulevard foi seu alargamento na década de 1970, fruto do projeto Nova Paulista de autoria do arquiteto Nadir Curi Mezerani, e que resultou na ampliação das faixas de rolamento em 18 metros. Assim, a avenida que tinha somente 30 metros destinados a veículos, passou a contar com 48 metros de largura, possibilitando a criação de ainda mais pistas voltadas para os automóveis (VIÉGAS, 2020). Em meados dos anos 1960, o arquiteto Jorge Wilheim publicou em seu livro São Paulo metrópole 65 um projeto de alargamento da Avenida Paulista que foi batizado de Nova Paulista. Wilheim propunha o alargamento de 13km de extensão que abrangia a região do Jabaquara até Sumaré e passava pela Paulista. Os 13km seriam alargados de forma que houvessem quatro faixas de rolamento em cada lado das vias somadas à duas pistas laterais destinadas à ônibus e demais transportes coletivos (VIÉGAS, 2020). As críticas à proposta de Wilheim não foram poupadas. Em 1964, o arquiteto Roberto Cerqueira César publicou uma nota no jornal O Estado de S. Paulo criticando o projeto Nova Paulista de Wilheim, afirmando que seria melhor abolir o tráfego de veículos pela avenida e torná-la uma grande praça voltada para pedestres - um parque linear - ao invés de alargar a avenida para priorizar os automóveis (VIÉGAS, 2020). Muitas foram as propostas para a tentar resolver o tráfego na Avenida Paulista e no interior da cidade ao longo da década de 1960. No entanto, o projeto que foi aprovado e parcialmente executado foi a proposta de Nadir Mezerani, batizada também de Nova Paulista. Mezerani começou a desenvolver o projeto em 1967 durante a gestão do prefeito à época, José Vicente Faria Lima -, para o departamento de Urbanismo e Vias Públicas. Assim como a proposta homônima de Wilheim, o Nova Paulista de Mezerani propunha o alargamento da avenida para 48 metros. Porém, Nadir propôs a criação de faixas laterais voltadas apenas para o trânsito local, além de seis pistas semi enterradas destinadas ao tráfego

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expresso, naturalmente iluminadas por canteiros centrais e jardins que se estenderiam por toda a Paulista. Em 12 de julho de 1968, foi aprovada a lei n o 7166, que permitiu o alargamento da avenida para 48 metros (VIÉGAS, 2020). figura 84 Corte perspectivado da proposta do projeto Nova Paulista de Nadir Mezerani. Fonte: Research Gate.

A proposta de Mezerani começou a ser construída na gestão do prefeito José Carlos de Figueiredo Ferraz, que havia sido responsável pelo cálculo estrutural do projeto. As obras iniciaram no trecho que compreende as ruas da Consolação e a Haddock Lobo no ano de 1971 e foram concluídas. Em 1973, Figueiredo Ferraz foi exonerado do cargo e consequentemente a proposta de rebaixamento do projeto Nova Paulista 94


foi engavetado pela gestão que o seguiu. Apenas o alargamento da avenida continuou em obras, que se estenderam até 1974 (VIÉGAS, 2020). Isso explica por que a via possui os canteiros abertos apenas no trecho próximo à rua da Consolação. O início das obras ainda na gestão de Figueiredo Ferraz implicou na desapropriação do subsolo de muitos edifícios ao longo de toda a Paulista. Foram feitas escavações no subsolo, que resultaram em caixões perdidos aos quais ainda não foram destinados nenhum uso (VIÉGAS, 2020). figura 85 Fotografia das obras do projeto Nova Paulista na década de 1970. Fonte: OLIVEIRA, Abrahão de. A ‘nova paulista’ e o calçadão que não deu certo. São Paulo in foco. 2016.

Como consequência do projeto Nova Paulista, mesmo que este tenha sido executado parcialmente, toda a extensão da avenida foi alargada, atingindo seus atuais 48 metros de largura. Para que isto pudesse ser feito, as calçadas foram reduzidas e os muros e portões de muitos casarões ainda existentes foram demolidos e reconstruídos. Tal situação aconteceu com o palacete Joaquim Franco de Mello - objeto de estudo do presente trabalho. O alargamento da Paulista acarretou na demolição do muro original do palacete, na demolição da escada de acesso principal e na perda do jardim frontal. O muro e a escada foram reconstruídos, todavia, perdeu-se a compreensão do imóvel a partir da Paulista (SILVA, 2015). O alargamento do boulevard implicou também na retirada da linha de bondes e na derrubada de mais de 120 ipês ao longo de toda a avenida. Na manhã de 08 de dezembro de 1972, dia em que a avenida completava 81 anos, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma notícia cuja manchete anunciava a morte da Avenida Paulista (VIÉGAS, 2020). A reportagem apresentava um posicionamento contrário às constantes mudanças que o 95


figura 86 Notícia “a velha Paulista, aos 81 anos, está morta” publicada no jornal o Estado de S. Paulo no dia 08 de dezembro de 1982. Fonte: Acervo Estadão.

Estava em pleno vigor a “metropolização” da Paulista - mero eufemismo utilizado para justificar a sistemática mutilação de documentos da arquitetura do começo do século. A avenida parecia-se cada vez mais com qualquer outra das movimentadas ruas de São Paulo e já não havia sentido na frase colocada na entrada da mansão dos Matarazzo: não marco senão horas tranquilas. PAULO, Estado de S. Reportagem de capa A velha Paulista, aos 81, está morta. Jornal O Estado de S. Paulo, São Paulo, 08 Dez. 1972. 96


boulevard vinha sofrendo desde meados da década de 1950, em especial às obras da Nova Paulista. A rápida transformação da Avenida Paulista e a demolição de parte de seus importantes exemplares arquitetônicos do início do século XX acarretou no início do processo de tombamento de alguns dos palacetes que ainda restavam na década de 1980. Em 1982, pouco antes do escândalo de demolições de parte dos casarões, foi feito o levantamento de dados dos palacetes da Paulista por membros do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) órgão subordinado à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo que fora fundado em 1968. No mês de junho de 1982, foram selecionados 32 casarões que poderiam ser tombados pelo Conselho (SIQUEIRA, 2019). Alguns jornais distorceram o fato e declararam que o Conselho iria tombar todos os imóveis remanescentes da primeira fase residencial da Paulista. As notícias a respeito do tombamento dos palacetes circulavam pela imprensa e, apesar das declarações do Conselho de que estava sendo feito apenas um levantamento e que os imóveis a serem tombados seriam definidos somente em alguns meses, na manhã do dia 20 de junho de 1982, alguns dos casarões haviam sido demolidos da noite para o dia (SIQUEIRA, 2019). À essa altura, restavam apenas 25 exemplares da arquitetura residencial eclética da Paulista. O Condephaat afirmava a importância do conjunto dos exemplares arquitetônicos, onde cada residência deixava transparecer a origem da família proprietária e que, por isso, o tombamento de todo o conjunto era mais representativo para a história da avenida e da cidade do que o tombamento individual de algumas das casas: [...] a avenida mudara com as transformações da cidade e, assim, já tinham desaparecido exemplares

interessantes

como

a

casa

da

família Thiollier e a de Horácio Sabino, projetada por Victor Dubugras; e a essas somavam-se as lamentáveis demolições recentes. Este é o ponto central que justificou o não tombamento de quase todas as casas: “O que sobra achase comprometido profundamente pela perda do

sentido

de

conjunto

e

mesmo

aqueles

casos remanescentes encontram-se bastante 97


descaracterizados por indiscriminadas reformas e adaptações inadequadas” (SIQUEIRA, Lucília Santos. Tombamentos e demolições na Avenida Paulista na década de 1980. Universidade Federal de São Paulo. Artigo publicado na revista CPC São Paulo n o 28, p. 37-71. Guarulhos, São Paulo, 2019 - p. 55). Tendo em vista o recente escândalo envolvendo as demolições de alguns dos exemplares arquitetônicos, e o receio das famílias proprietárias de arcarem com os custos e impostos gerados pelos casarões, o Condephaat optou por tombar apenas alguns dos exemplares remanescentes. O estado de conservação de algumas obras pontuais e a preservação de suas relações com o entorno foram levadas em consideração para o tombamento de alguns dos casarões. Foi decidido pelo Conselho que seriam tombados apenas três imóveis dos 25 que haviam sobrado; para isso, foi levado em conta também a possibilidade de construção de edifícios na porção vazia de seus respectivos lotes dentro da lei de zoneamento vigente. Por unanimidade, os três imóveis a seguir foram escolhidos para o Livro do Tombo (SIQUEIRA, 2019). 1. Casa das Rosas - proprietário: família Ramos de Azevedo - arquiteto: Francisco de Paula Ramos de Azevedo - data de construção: 1935 - estilo: neoclássico; eclético 2. Palacete Joaquim Franco de Mello figura 87 Imagem da Casa das Rosas em 2017. Fonte: Casa das Rosas.

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- proprietário: família Franco de Mello - construtor: Antônio Fernandes Pinto - data de construção: 1905 - estilo: eclético

figura 88 Fotografia do casarão Franco de Mello. Fonte: autoria própria, fev. 2022

3. Grupo Escolar Rodrigues Alves - proprietário: Estado de São Paulo - arquiteto: Francisco de Paula Ramos de Azevedo - data de construção: 1919 - estilo: eclético

figura 89 Fotografia do Grupo Escolar Rodrigues Alves tirada em 2008. Fonte: Escola Estadual Rodrigues Alves. Wikipédia. 2022

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As famílias que haviam demolido suas propriedades meses antes, alegavam que não tinham sido notificadas do levantamento e possível tombamento do Condephaat (SIQUEIRA, 2019). De fato, as notificações não chegaram antes da publicação das notícias acerca do tombamento dos casarões. Naquela época, os donos dos imóveis a serem tombados deveriam arcar com os custos de manutenção de suas propriedades, portanto, as demolições foram as soluções encontradas pelos proprietários para se desvencilharem dos ônus de imóveis de valor histórico e arquitetônico. No entanto, o secretário da Cultura à época, João Carlos Martins, foi titular do projeto de lei que compensaria os proprietários dos palacetes em processo de tombamento. Ele elaborou o “direito de construção” que permitiria que os donos dos imóveis construíssem na parte desocupada do terreno, ou que vendessem este direito a demais interessados (PAULO, Estado de S., 27 out. 1982). Desse modo, poderiam lucrar também com o terreno. Os proprietários da Casa das Rosas e do Palacete Franco de Mello abriram processos contra o Condephaat, contestando o tombamento de seus respectivos imóveis. Foi travada uma batalha judicial que decorreu por meses e que deu vitória ao Conselho. Os donos dos palacetes alegavam que teriam custos exorbitantes para manter os imóveis; no entanto, a defesa do Conselhou alegou que os donos das casas se recusaram a receber profissionais para realizar vistorias no imóvel - necessárias para a documentação do estado das propriedades - mesmo sendo devidamente notificados e que descumpriram ordens judiciais ao tentarem postergar ou inviabilizar o tombamento. Os donos de outros sete imóveis cujo tombamento estava pendente e sob avaliação dos conselheiros do Condephaat e seu presidente à época, Aziz Ab’Saber, foram informados de que seriam recompensados pelas “instâncias municipais” (SIQUEIRA, 2019, p. 66). Tal pendência divergia da decisão tomada pelo Conselho e presidente anterior, Ruy Ohtake - decisão esta que definiu apenas o tombamento dos três palacetes citados. Por fim, a decisão do antigo conselho foi mantida, e definiu-se, portanto, o tombamento dos três imóveis definidos em 1982. Apesar de apenas três imóveis terem sido escolhidos, a população da cidade demandava a preservação de ainda mais imóveis. De acordo com a arquiteta e ex membro do UPPH (Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo) Sílvia Wolff, isso acontecia ao redor de todo o Estado de São Paulo e não

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somente na capital paulista: As mudanças sofridas pela Paulista ao longo do século XX [os membros do condephaat] passaram a ser solicitados pelos cidadãos tombamentos de casarões e palacetes urbanos, fóruns e cadeiras e edificações escolares, localizados em cidades estagnadas no interior, em municípios em surto de desenvolvimento ou na capital em transformação. Todos classificados como ecléticos. [...] Os paulistas pediam, assim, que se preservassem edificações marcantes na sua história e na paisagem urbana, mais enfaticamente quando estavam ameaçados por demolições. (WOLFF, Silvia in SIQUEIRA, Lucília Santos. Tombamentos e demolições na Avenida Paulista na década de 1980. Universidade Federal de São Paulo. Artigo publicado na revista CPC São Paulo n o 28, p. 3771. Guarulhos, São Paulo, 2019 - p. 55 transformaram a avenida tal qual conhecemos hoje: prédios comerciais, prédios residenciais, edifícios insititucionais, quase nenhuma área verde e poucos exemplares arquitetônicos do início do século passado. O boulevard idealizado no século XIX por Joaquim Eugênio de Lima hoje tem uma paisagem completamente diferente daquela que ele um dia presenciou. Hoje, a Paulista é moradia de muitas pessoas que ocupam os prédios residenciais das décadas de 1950 e 1960; é também o sustento de muitos que se deslocam até ela todos os dias para trabalhar; para muitos, é sinônimo de lazer e descanso em especial aos domingos, quando a Avenida é fechada para automóveis; a Paulista tornou-se palco de manifestações, eventos culturais, encontros e é, sem dúvidas, a avenida mais importante, mais diversa e mais democrática da cidade de São Paulo. A demolição de quase todos os exemplares dos antigos casarões apagou também a memória da população paulistana, que pouco sabe a respeito da avenida. A Paulista merece um espaço onde sua história é contada e onde a população da cidade e os visitantes de São Paulo possam compreender as transformações que ela sofreu nos últimos 70 anos e a importância de sua história para a cidade.

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figura 90 Casarão Antônio Pereira Ignácio. COTRIM, Luciana. A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2021

figura 91 Edifício Anchieta; MOSSIM, Carolina. Edifício Anchieta. Refúgios Urbanos.

figura 92 Casarão de Horácio Belfort Sabino. COTRIM, Luciana. O palacete de Horácio Sabino. Série Avenida Paulista. 2019

figura 93 Conjunto Nacional. OLIVEIRA, Marcus. Conjunto Nacional completa 55 anos. Veja São Paulo. 2017

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casarão antônio pereira ignácio proprietário: antônio pereira ignácio - dono da votorantim arquiteto: desconhecido estilo: eclético localização: avenida paulista / rua da consolação data de construção: circ. 1910 data de demolição: final dos anos 1930 edifício atual: edifício anchieta uso do edifício: residencial + térreo comercial (onde funciona o bar Riviera) arquiteto do edifício atual: abelardo riedy de sousa estilo: modernista data de construção: 1941

residência horácio sabino proprietário: horácio sabino arquiteto: victor dubugras estilo: eclético localização: avenida paulista / rua augusta data de construção: 1902 data de demolição: meados década de 1950 edifício atual: conjunto nacional uso do edifício: misto (residencial + comercial com térreo livre) arquiteto do edifício atual: david libeskind estilo: modernista data de construção: 1958

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figura 94 Palacete de Adam von Büllow. COTRIM, Luciana. O palacete de Adam von Büllow: ícone da Avenida Paulista. Série Avenida Paulista. 2021

figura 95 Edifício Pauliceia. aflalo/gasperini arquitetos reúne 60 anos de referências arquitetônicas em acervo digital. Revista Projeto. 2022

figura 96 Casarão de Horácio Espíndola. COTRIM, Luciana. O casarão de Horácio Espíndola e o edifício Gazeta. Série Avenida Paulista. 2022

figura 97 edifício Gazeta. MORGADO, Filipe. Passeio fotográfico na Avenida Paulista em São Paulo. Sympla. 2020

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palacete adam von büllow proprietário: dr. adam von büllow arquiteto: desconhecido estilo: eclético localização: avenida paulista (próximo à esquina com a alameda campinas) data de construção: final dos anos 1890 data de demolição: meados dos anos 1950 edifício atual: edifício pauliceia uso do edifício: residencial arquiteto do edifício atual: gian carlo gasperini + jacques pilon estilo: modernista data de construção: 1955

casarão horácio espíndola proprietário: horácio espíndola arquiteto: ramos de azevedo estilo: eclético localização: avenida paulista (próximo à esquina com a alameda campinas) data de construção: 1925 data de demolição: circ. 1958 edifício atual: edifício gazeta uso do edifício: institucional (rádio gazeta + faculdade cásper líbero) arquiteto do edifício atual: josé carlos de figueiredo ferraz estilo: modernista data de construção: 1958

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figura 98 Casarão de José Cardoso de almeida. COTRIM, Luciana. O casarão e a história de José Cardoso de Almeida. Série Avenida Paulista. 2019

figura 99 Edifício Três Marias. GRIFONI, Felipe. Edifício Três Marias. Refúgios Urbanos.

figura 100 Palacete de Nagib Salem. COTRIM, Luciana. A história dos Salem e a beleza do palacete da família na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2021

figura 101 Edifício Fiesp. BARROS, Isabela. Uma prova de amor pela arquitetura. FIESP. 2013

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casarão josé cardoso de almeida proprietário: josé cardoso de almeida arquiteto: escritório técnico ramos de azevedo estilo: eclético localização: avenida paulista / rua haddock lobo data de construção: 1915 data de demolição: circ. 1955 edifício atual: edifício três marias uso do edifício: residencial arquiteto do edifício atual: abelardo riedy de sousa estilo: modernista data de construção: 1956

palacete nagib salem proprietário: nagib salem arquiteto: malta & guedes estilo: eclético localização: avenida paulista (próximo à esquina da rua pamplona) data de construção: 1924 data de demolição: 1969 edifício atual: fiesp uso do edifício: comercial + institucional arquiteto do edifício atual: rino levi estilo: modernista + brutalista data de construção: 1969

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figura 102 Propriedade de João Gonçalves Dente destinada a aluguel. COTRIM, Luciana. Uma vila pré-modernista na Paulista com a Augusta. Série Avenida Paulista. 2019

figura 103 Edifício Banco do Brasil / Camillo Ansarah. Google Maps Street View. 2022

figura 104 Belvedere do Trianon ao fundo da imagem circ. 1930. Belvedere Trianon. wikipédia. 2022

figura 105 Fotografia do MASP com a Av. Paulista ao fundo. CONSIGLIO, Marina. Quais os museus de São Paulo mais buscados no Google? Conheça os 5 mais procurados. Guia Folha São Paulo. 2022

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vila de joão gonçalves dente proprietário: joão gonçalves dente (residência para aluguel) arquiteto: victor dubugras estilo: eclético, pré-modernista localização: rua augusta / rua bela cintra data de construção: circ. 1912 data de demolição: circ. 1976 edifício atual: edifício camilo ansarah / edifício banco do brasil uso do edifício: comercial arquiteto do edifício atual: desconhecido data de construção: 1976

belvedere do parque trianon proprietário: público arquiteto: ramos de azevedo estilo: esclético localização: avenida paulista (entre r. itapeva e r. peixoto gomide) data de construção: 1915 data de demolição: final da década de 1960 edifício atual: museu de arte moderna de são paulo assis chateaubriand - masp uso do edifício: cultural arquiteto do edifício atual: lina bo bardi estilo: brutalista data de construção: 1968

109


figura 106 Palacete mourisco. COTRIM, Luciana. Schaumann, Andraus, Lotaif moraram onde é a prainha da Paulista. Série Avenida Paulista. 2022

figura 107 Edifício Paulista 867. COTRIM, Luciana. O edifício Paulista 867 é na Avenida Paulista 867. Série Avenida Paulista. 2022

figura 108 Villa Virginia Matarazzo. COTRIM, Luciana. Villa Virginia Matarazzo na Av. Paulista. Série Avenida Paulista. 2020

figura 109 Edifício Brazilian Financial Center, sede da CNN. COTRIM, Luciana. O antigo prédio do Banco Real, hoje Brazilian Financial Center. Série Avenida Paulista. 2020

110


residência de schaumann, andraus e lotaif proprietários: joão gonçalves dente arquitetos: augusto fried + calos eckman / josé câmera estilo: eclético localização: avenida paulista / alameda joaquim eugênio de lima data de construção: 1906 data de demolição: 1982 edifício atual: edifício camilo ansarah / edifício banco do brasil uso do edifício: comercial arquiteto do edifício atual: aflalo & gasperini data de construção: 2012

villa virginia matarazzo proprietário: público arquiteto: fortunato nigro estilo: localização: avenida paulista / alameda rio claro data de construção: 1905 data de demolição: final da década de 1970 edifício atual: museu de arte moderna de são paulo assis chateaubriand - masp uso do edifício: cultural arquiteto do edifício atual: ivan castaldi / perkins + will data de construção: 1977 / 2015

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figura 110 – Mapa da Avenida Paulista atualmente com a identificação dos lotes dos antigos casarões. fonte: base de dados


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s extraída do Geosampa; autoria própria.

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figura 111 – avenida paulista em 1906, fotografia de Frédéric Manuel. fonte: Brasiliana Fotográfica Biblioteca Na

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acional

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figura 112 - avenida paulista em 1974 entre os trechos rua maria figueiredo e brigadeiro luis antonio. fonte: BRAN g1 revisitou e fotografou locais de fotos históricas da via símbolo de São Paulo. G1. 2021

116


NDT, Marcelo. Av. Paulista 130 anos: fotos antes e depois mostram transformações em cartão postal de SP -

117


figura 113 - avenida paulista vista a partir da ciclovia no canteiro central. PAULINO, eduardo. Avenida Paulista fe

118


echa no domingo, dia 10? Mobilidade Sampa. 2019.

119


02

museu da avenida pau


ulista


figura 01 Avenida Paulista por Mick Carnicelli, óleo sobre tela, 1955. Fonte: MASP. avenida paulista 2.

figura 02 Avenida Paulista por Suzana Garcia, desenho em nanquim. Fonte: Esporte Clube Pinheiros. exposição virtual ‘em algum lugar do passado’. São Paulo, 2021.

122


figura 03 Dami (Avenida Paulista) por Ibã Huni Kuin, acrílica sobre tela, 2017. Fonte: MASP. Dami Avenida Paulista.

figura 04 Quadro de Agostinho Batista vista MASP 1971. fonte: DELAQUA, Victor. No masp: o olhar de Agostinho de Freitas sobre uma São Paulo de outrora. Archdaily Brasil. 2017.

123


figura 05 Quadro de Agostinho Batista vista MASP 1978. Fonte: DELAQUA, Victor. No MASP: o olhar de Agostinho de Freitas sobre uma São Paulo de outrora. Archdaily Brasil. 2017.

figura 06 Quadro de Agostinho Batista vista aérea 1986. Fonte: DELAQUA, Victor. No MASP: o olhar de Agostinho de Freitas sobre uma São Paulo de outrora. Archidaily Brasil. 2017.

124


figura 07 Avenida Paulista MASP por Sergio Bertoni , óleo sobre tela, 1984. Fonte: GERMANO, Beta. Avenida Paulista ganha exposição sobre sua história no MASP. Casa Vogue. 2017.

figura 08 Avenida Paulista vista do mirante por Enzo Ferrara, 2020. Fonte: Galeria de Artes Jacques Ardies. 2022.

125


2.1. a pesquisa histórica e a pesquisa do objeto como metodologia Com base na pesquisa realizada sobre as primeiras ocupações na Avenida Paulista e as transformações que sofreu ao longo do século XX, foi pensado um uso para o Palacete Franco de Mello e seu edifício anexo que fosse condizente com a história da Paulista e o imóvel, respeitando o processo de tombamento pelo Condephaat da década de 1980. A avenida tem se consolidado como um importante eixo cultural na cidade de São Paulo desde o início deste século, além de se configurar como um dos principais polos comerciais da cidade. No entanto, muitos palacetes foram demolidos para que dessem lugar às torres que hoje configuram a paisagem do antigo boulevard. Na década de 1980, os tombamentos realizados pelo Condephaat foram uma maneira de manter os poucos exemplares da arquitetura eclética da Paulista construídos no início do século XX e final do século XIX. Os casarões remanescentes são parte importante da história da Avenida e da cidade de São Paulo. O palacete remanescente que até hoje não foi restaurado e ao qual não foi conferido um novo uso é o Palacete Franco de Mello. Ao contrário dos demais palacetes, este exemplar da arquitetura eclética encontra-se em um estado de má conservação; além disso, não é possível entrar no imóvel, que permanece fechado desde a morte do último morador em 2019. Portanto, é de suma importância que o casarão seja restaurado e a ele seja destinado algum uso, de modo que a população de São Paulo e os seus visitantes tenham acesso e façam uso deste importante exemplar do patrimônio da Avenida Paulista. A proposta do Museu da Avenida Paulista como anexo ao Palacete Franco de Mello nasce como questionamento ao abandono de um imóvel histórico e ao esquecimento da história da avenida mais importante da cidade. O museu tem como objetivo reunir documentação sobre a história e o desenvolvimento da avenida, valorizando-a através de mostras de arte, de fotografia e de maquetes que reproduzem a transformação da Paulista através dos anos - tendo como base mapas, fotografias e pesquisas acadêmicas - em colaboração com os outros museus e centros 126


de documentação como o MASP e o Instituto Moreira Sales, também localizados na Avenida Paulista. O Palacete Franco de Mello, por sua vez, configura-se como a principal peça do acervo do museu - restaurado e remobiliado -, de modo a mostrar aos visitantes os modos de morar da elite paulista há mais de 100 anos e as condições a que os funcionários de maior parte das famílias eram submetidos. A exposição permanente do museu, que acontece no primeiro pavimento do edifício anexo, reúne pinturas, fotografias e informações acerca dos antigos casarões da Avenida e a primeira ocupação residencial da Paulista - apresentados no primeiro capítulo da presente monografia. Uma das principais referências projetuais para o desenvolvimento deste trabalho foi o museu-casa Sonneveld House, localizado na cidade de Rotterdam, na Holanda. Projetada em 1933 pelo escritório de arquitetura Brinkman e Van der Vlugt, a antiga residência modernista representa como uma importante família burguesa da cidade acatou o movimento moderno e como esta escolha definiu seu ambiente cotidiano. O projeto de interiores da residência foi assinado pelo arquiteto holandês Willem Hendrik Gispen. No momento em que esta casa foi escolhida para funcionar como anexo ao museu de arquitetura Het Nieuwe Institut - localizado nas redondezas da casa, no Museum Park -, o imóvel foi totalmente remobiliado por meio de compras de objetos além de empréstimos e doações de terceiros que gostariam de contribuir com o acervo do museu. A Sonneveld House foi também cuidadosamente restaurada, que permitiu que o imóvel se tornasse uma referência de restauro e preservação de patrimônio arquitetônico do movimento modernista. O instituto Het Nieuwe eventualmente convida artistas, designers e arquitetos para realizarem intervenções artísticas na residência e específicas para o local, como forma de garantir maior dinâmica à exposição do museu. As imagens apresentadas na próxima página ilustram a Sonneveld House atualmente, já remobiliada e em funcionamento em conjunto com o museu. 127


figura 09 Fotografia da Sonneveld House tirada por Johannes Schwartz. Fonte: Sonneveld House. Collectie Het Nieu Instituut. Holanda.

figura 10 Fotografia da Sonneveld House tirada por Johannes Schwartz. Fonte: Sonneveld House. Collectie Het Nieu Instituut. Holanda.

figura 11 Fotografia do interior da Sonneveld House. Fonte: Sonneveld House. Holanda.

128


figura 12 Fotografia do escritório da Sonneveld House. Fonte: Sonneveld House. Holanda.

Analisando o processo de tombamento do Condephaat do Casarão Franco de Mello, foi constatado que todo o imóvel é tombado e que toda e qualquer alteração depende da aprovação de autoridades do Conselho. Assim, o presente trabalho não propõe nenhuma demolição de paredes para ampliação de cômodos, visto que o casarão, por ser um exemplar das moradias da época e fazer parte do acervo, deve transparecer os modos de morar e de construir do início do século passado. O edifício anexo e as dependências do museu se desenvolvem atrás do imóvel tombado, que será detalhado no item “2.3. o projeto do museu na vizinhança do palacete: projeto em interação com a pré existência”. Na década de 1980, durante o processo de tombamento do casarão em questão, o ex conselheiro do Condephaat, Carlos Lemos, propôs o tombamento da vegetação remanescente dos lotes do Palacete Franco de Mello e do lote da antiga Villa Fortunata no terreno vizinho - que hoje contempla o Parque Mário Covas. De acordo com Lemos, a área verde apresenta tanta importância histórica quanto o palacete. Assim, a massa arbórea que hoje compreende o parque é também protegida por lei. As árvores que por ventura forem retiradas em eventual intervenção, deverão ser replantadas dentro da área tombada (CONDEPHAAT, 1987). Tendo em vista a importância de também preservar a escassa vegetação que restou na Avenida Paulista, o terreno escolhido para o desenvolvimento do projeto do museu compreende os dois lotes: o terreno do parque Mário Covas e o terreno do casarão Franco de Mello. A figura 13 mostra o terreno do projeto identificado por um contorno branco.

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AVENIDA

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01. alameda santos 02. rua ministro rocha de azevedo 03. rua padre joão manoel a - conjunto nacional 130


PAULISTA

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lote do casarão

lote do parque mário covas o tracejado vermelho marca a localização da antiga Villa Fortunata

figura 13 imagem satélite da área de intervenção. fonte: google earth

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Além da pesquisa histórica da Avenida Paulista contemplada no Capítulo 01, a análise do objeto - o Palacete Franco de Mello - foi de suma importância para o desenvolvimento do projeto. Apesar da impossibilidade de entrar no imóvel, foram feitas visitas ao local que mostraram-se necessárias para o melhor entendimento da área e as relações que o imóvel estabelece com a Paulista e vice-versa. Assim, por meio das visitas à área e através do estudo e levantamentos fotográficos presentes no artigo “Residência Franco de Mello em Três Tempos” (SILVA, 2015), foi possível estabelecer diretrizes de projeto (ver imagens do item 1.2. palacete franco de mello) Visto da Paulista, a primeira impressão que se tem do terreno é a presença significativa da massa arbórea de ambos os lotes, com árvores de grande porte. O casarão situado ao lado da vegetação mostra-se bastante mal conservado: esquadrias e vidros quebrados, pichações nas fachadas da casa, no muro e no portão voltados para a Paulista, fio elétricos e lâmpadas pendentes. A sujeira acumulada de anos de abandono do imóvel, somados à poluição advinda da avenida e as plantas que começam a apossar-se das fachadas dão a impressão de absoluto descaso com o patrimônio. As imagens a seguir foram tiradas em 27 de fevereiro de 2022 - por ser um domingo, a Paulista estava fechada para automóveis - e mostram o estado atual do palacete e do parque. figura 14 situação atual do casarão; autoria própria

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figura 15 situação atual do casarão; autoria própria

figura 16 fotografia em frente ao parque mário covas; autoria prórpia

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figuras 17 e 18 situação atual do casarão; autoria própria

figura 19 imagem da paulista em um domingo 27/02/2022; autoria própria

figura 20 situação atual do parque mário covas; autoria própria

O levantamento fotográfico retrata o estado da área de intervenção do projeto do presente trabalho. Foi possível identificar a proximidade exagerada da escada do casarão que dá acesso ao térreo superior do imóvel com o muro - reconstruído mais próximo da casa na década de 1970 devido à implementação do projeto Nova Paulista. Há um muro que separa os lotes do parque e do palacete (figura 08), que impossibilita a passagem de um lote para o outro. Além disso, foi constatado que o 134


figuras 21 e 22 situação atual do parque mário covas; autoria própria

figuras 23 e 24 situação atual do parque mário covas; autoria própria

parque não é bem conservado e é pouco utilizado pela população: ele serve majoritariamente para passagem de pedestres da Alameda Santos para a Paulista ou vice-versa. Possui poucos equipamentos de lazer e apenas um bicicletário. Assim como a maior parte dos equipamentos públicos da cidade, infelizmente é cercado de grades que impedem o trânsito livre de pessoas pelo local. Apresenta apenas duas entradas localizadas nas ruas citadas acima. Em pleno domingo, o parque estava vazio. 135


Uma questão importante que foi considerada para o desenvolvimento do projeto foi a dinâmica da Avenida Paulista. Movimentada em todos os horários e com alto tráfego de veículos de segunda a sexta-feira, aos domingos a avenida é fechada para automóveis e torna-se uma via exclusiva para pedestres. Desse modo, o projeto desenvolvido considerou os diferentes usos e os diferentes públicos que a Paulista recebe ao longo da semana. Uma das diretrizes adotadas no projeto foi a demolição dos muros que separam o lote do casarão da Paulista e do Parque Mário Covas, permitindo assim a livre circulação de pedestres no terreno de intervenção. Desse modo, é possível estabelecer a integração da Avenida Paulitsa com o Parque, com o lote do museu e com o edifício anexo. A elaboração de um projeto de um edifício anexo que funciona como museu visa o incentivo ao uso do casarão e do parque todos os dias da semana. Além das áreas expositivas, o museu conta também com biblioteca - espaço que poderá ser usado para estudos, consulta de arquivos, de livros e demais itens que compõem o acervo bibliográfico, e tem funcionamento independente ao das exposições. Também é proposto um café e uma loja dentro do imóvel tombado; estes espaços possuem dois acessos distintos e podem ser acessados tanto pelo anexo quanto pela escada principal da casa. Assim, não é necessário entrar no museu para poder fazer uso do café dentro do casarão. O museu da Avenida Paulista proposto no presente trabalho possui 6 tipos de acervo que compõem seus espaços expositivos. O primeiro é o acervo arquitetônico, ou seja, o próprio Palacete Franco de Mello. O segundo é o acervo de objetos tridimensionais, que contempla os objetos e mobiliário do casarão - vale ressaltar que o palacete será remobiliado seguindo o modo de morar da época, com base nas plantas da residência e fotografias do interior do imóvel. O terceiro é o acervo artístico, que abrange as obras de artes, quadros e pinturas. O quarto é o acervo fotográfico, que possui fotografias antigas desde o início do século XX até hoje. O quinto é o acervo bibliográfico, presente na biblioteca do edifício anexo: ele contempla livros, revistas, jornais que relatam e fazem parte da história da avenida. E por fim, o sexto acervo é o paisagístico; a vegetação do parque e do lote do imóvel é tombada e deve ser preservada. Para desenvolver e fundamentar o projeto do edifício anexo em interação com o bem tombado e propor o uso para o casarão, foram estudadas teorias de restauro e intervenções em patrimônios. Tal estudo

136


será explicitado no próximo item deste capítulo: “2.2. o projeto do museu na vizinhança do palacete: projeto em interação com a pré existência”.

137


2.2. o projeto do museu na vizinhança do palacete: projeto em interação com a pré existência A interação com a pré existência seguiu os conceitos de intervenção em patrimônio e restauro dos arquitetos de vertentes moderadas. A premissa adotada para elaboração do edifício anexo ao palacete foi que este novo prédio deveria demonstrar que é uma construção atual, diferenciando-se quanto às técnicas construtivas, materiais utilizados, e estilo arquitetônico da edificação antiga. A mesma diretriz foi adotada para a intervenção no interior do casarão Franco de Mello, no qual os cômodos voltados à Avenida Paulista e ao Parque Mário Covas foram remobiliados e a eles foram conferidos usos distintos ao residencial, de modo que é possível compreender que trata-se, portanto, de uma intervenção posterior à construção original do palacete. O projeto e estas intervenções serão apresentadas no item 2.3 deste capítulo. Vale lembrar que o presente trabalho não contempla o projeto de restauração do palacete, mas apenas propõe seu restauro e que este siga as vertentes moderadas, descritas neste subcapítulo. Neste momento, vale ressaltar que “tombamento, [é] o momento em que um bem sai do contínuo indiferenciado em que se encontrava para fazer parte de uma coleção, um conjunto discreto que é também uma narrativa da nação” (RUBINO, Silvana. Lúcio Costa e o patrimônio histórico e artístico nacional. Revista USP n o 53, São Paulo, 2002 - p. 08) Um dos principais arquitetos moderados no que se refere ao restauro e às intervenções em bens tombados e que foi fundamental para o desenvolvimento e fundamentação do presente trabalho foi Camillo Boito (1834-1914). Arquiteto italiano, Boito é considerado o “meio termo” entre os arquitetos Viollet-le-duc e Ruskin, que defendiam terorias de restauro e conservação consideradas mais extremas: Em seu período de maturidade conceitual, Boito defendeu sua tese de forma avessa aos princípios anteriormente enunciados por Ruskin e Violletle-Duc, pois acreditava que os monumentos não poderiam ser relegados à ruína ou à morte, muito 138


menos se deveria chegar a uma unidade formal baseada em analogias estilísticas [...] (OLIVEIRA, Rogério Pinto Dias de. O equilíbrio em Camillo Boito. Resenhas Online, São Paulo, ano 08, n. 086.01, Vitruvius, fev. 2009) Boito desenvolveu sua teoria de restauro filológico, uma vertente da restauração que defende a conservação e o respeito à “matéria original da pré existência” (OLIVEIRA, 2009), a elaboração de intervenções - somente quando necessárias - que podem ser revertidas e facilmente identificadas como obras posteriores à construção original, a preservação e manutenção de acréscimos à edificação original entendidos como parte da história do bem tombado e a distinção da tectônica - aparência e estrutura das construções (ANDRADE, 2016) - entre as arquiteturas do presente e do passado (OLIVEIRA, 2009). Na vertente do restauro filológico de Camillo Boito, -

também

defendido por Gustavo Giovannonni, um importante arquiteto italiano que influenciou a Carta de Atenas (KÜHL, 2010) - as eventuais reconstruções e completamentos devem seguir os desenhos originais das edificações, além de serem consultadas fotografias da época da edificação sem intervenções e outros documentos originais (OLIVEIRA, 2009). Assim, o arquiteto ou interventor responsável pela realização de futuras intervenções e complementos pode compreender a história. o estilo arquitetônico, os materiais e as relações que a construção originalmente estabelecia com o contexto urbano em que estava inserido. A conservação periódica das edificações sugerida pelo arquiteto italiano mostra-se eficaz para a preservação das construções históricas, que visa reduzir futuras intervenções nos imóveis tombados (OLIVEIRA, 2009). O casarão Franco de Mello, se tivesse sido devidamente conservado ao longo dos anos, provavelmente não estaria no estado inadequado em que hoje se encontra. Lúcio Costa, arquiteto modernista brasileiro responsável pelo 139


plano urbano de Brasília e antigo membro atuante do SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - atual IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), foi um profissional importante para a preservação do patrimônio no Brasil. Costa ficou conhecido por ter se desdobrado na batalha travada entre a arquitetura moderna e a defesa do patrimônio tradicional brasileiro ao longo dos anos 1930, chamada de “guerra santa” (RUBINO, 2002, p. 09). Assim como Camillo Boito, Lúcio Costa era também um teórico moderado quanto à preservação e restauro dos patrimônios. Ele defendia a mínima intervenção no bem tombado, sendo estas somente permitidas se aprovadas pelo conselho responsável por seu tombamento (RUBINO, 2002). Costa mostrava-se contrário às intervenções que imitavam a arquitetura original do edifício tombado - mostrando-se também contra a vertente pregada por Viollet-le-duc, restaurador idealista que pregava a unidade estilística e formal das edificações (OLIVEIRA, 2009, O idealismo de Violet-le-Duc) por meio de intervenções que assemelhavam-se à arquitetura original da edificação. Lúcio Costa, porém, defendia pequenas alterações em elementos dos imóveis que tivessem sido acrescentados posteriormente à edificação original, como por exemplo, a remoção de alguns destes elementos (RUBINO, 2002). Em 1937, seu lado modernista sobressai e ele abandona a “guerra santa” no momento da construção do primeiro edifício modernista no Brasil, o Ministério da Educação no Rio de Janeiro, projetado em conjunto com Le Corbusier - um dos principais arquitetos modernistas da história da arquitetura. Apesar de sua valorização ao expoente modernismo no Brasil, Lúcio Costa valorizava muito as construções coloniais brasileiras e afirmava sua importância histórica e construtiva que muito poderia ensinar aos arquitetos. Enquanto o SPHAN valorizava as obras brasileiras coloniais, os exemplares da arquitetura neocolonial e eclética eram tombados apenas quando apresentassem alta qualidade arquitetônica: Diversos autores já assinalaram que o período histórico de eleição para os tombamentos do SPHAN situa-se entre os séculos XVI e XVIII, sendo o período entre o [século] XIX e o término da Primeira República o oposto disso: o período imediatamente anterior à geração do Sphan, a ser no máximo tolerado quando se tratasse de 140


inscrever um bem de qualidade excepcional. É comum, tanto nos escritos de Mário como nos de Lúcio, a menção a um bem ou a um elemento notável, apesar de ser do século XIX. (RUBINO, Silvana. Lúcio Costa e o patrimônio histórico e artístico nacional. Revista USP n o 53, São Paulo, 2002 - p. 14) Apesar das críticas aos estilos vigentes em muitos edifícios do século XIX e início do século XX no Brasil, Lúcio Costa compreendia a importância social e histórica de determinados imóveis, mesmo que a qualidade de sua arquitetura fosse questionável, levando em conta a relação do bem tombado com a cidade e o patrimônio ambiental. Esse pensamento vai de encontro à decisão do Condephaat em 1987, em São Paulo, no momento em que o Conselho deveria decidir quais casarões tombar na Avenida Paulista. Foram tombados aqueles imóveis que não haviam sofrido muitas alterações e reformas ao longo dos anos, bem como aqueles cuja relação original com a Avenida Paulista havia sido mantida - ou pelo menos, pouco havia sido alterada mesmo com o alargamento da avenida. O mesmo raciocínio se aplica no momento do tombamento da vegetação do Parque Mário Covas e do lote do casarão Franco de Mello, que foi considerada tão importante historicamente para a cidade e a população quanto os palacetes. No que se refere à construção de edificações em interação com imóveis pré existentes, Lúcio seguia a vertente de Camillo Boito ao ser adepto à elaboração de projetos que demonstrem com clareza sua contemporaneidade em relação à edificação antiga. No entanto, em alguns casos, um edifício muito moderno pode exacerbar o contraste entre o novo e o antigo. Esta postura foi adotada por Costa no processo do tombamento do Grande Hotel de Ouro Preto, de estilo neocolonial, para o qual havia duas propostas de projeto que procuravam integrar a paisagem da cidade histórica e o hotel. Lúcio optou pela proposta projetual de Oscar Niemeyer, mas pontuou algumas alterações para que não houvesse uma grande discrepância de estilos entre a arquitetura antiga e a nova, de modo a criar um “elo de continuidade, reforçando a homologia que o grupo do SPHAN apregoava entre duas boas arquiteturas” (RUBINO, 2002, p. 16) Lúcio Costa desenvolveu critérios para análise do imóvel em processo de tombamento e elaboração de intervenções projetuais em interação 141


com a pré existência. Para o arquiteto brasileiro, é necessário fazer três perguntas no processo de reconhecimento do imóvel: como, quando e quem construiu o edifício? Essas perguntas servem de procedimento técnico básico para a primeira etapa da abordagem de um patrimônio. É preciso conhecer a fundo a arquitetura do imóvel e sua história para decidir ou não pelo seu tombamento e suas eventuais intervenções. No artigo A Residência Franco de Mello em três tempos: da domesticidade belle époque ao Centro de cultura, memória e estudos da diversidade sexual do Estado de São Paulo foram encontradas as respostas para as três perguntas colocadas por Lúcio Costa: o casarão foi construído em alvenaria de tijolos, em 1905 com projeto do construtor Antônio Fernandes Pinto. Além disso, a pesquisa histórica apresentada no primeiro capítulo da presente monografia, reforçada no item “2.1. a pesquisa histórica e a pesquisa do objeto como metodologia”, contribuiu para a tomada de decisões no que se refere à elaboração do edifício anexo, suas tectônica, e as intervenções no interior do casarão Franco de Mello. A arquiteta Lina Bo Bardi traz uma reflexão pertinente no que se refere à preservação e intervenções no patrimônio arquitetônico e histórico. Ela possui uma teoria, batizada por ela de “presente histórico” descrita como “algo do passado, que guarda aquilo que ainda vive mas que o arquiteto pode fazer aquilo aparecer e viver novamente através do projeto, da ação. Mas sempre está ligado à vida contemporânea, aos usos e necessidades atuais.” (FERRAZ, 2014, p. 169). A proposta da elaboração de um edifício anexo ao bem tombado e que funciona como museu, cujo acervo é voltado à história da Avenida Paulista vai de encontro ao que Lina propõe. Na Avenida Paulista, pouquíssimos casarões foram preservados. A proposta do museu nasce, portanto, como um meio de divulgação e conhecimento da história e da importância da avenida para São Paulo, mas também como questionamento ao descaso com o patrimônio histórico da Paulista, que é um reflexo do que se passou ao longo do século XX na cidade e no Brasil. Desse modo, existe uma tentativa de se mostrar a importância da preservação do pouco que restou do patrimônio de São Paulo, e a necessidade de manter de pé e conservada a memória da cidade que aos poucos vem se perdendo. A construção do anexo ao casarão é uma maneira de dar vida e uso a um dos poucos exemplares que restaram na avenida.

142


O arquiteto carioca João Filgueiras Lima, Lelé, escreve em seu livro Ser Arquiteto sobre a desvalorização da compreensão arquitetônica e funcional dos edifícios preservados e que, atualmente, só as coisas superficiais valem, o que interessa é a fachada e não o que está dentro. A ideia de resgatar a memória é fazer um lindo cenário em volta e o que é fundamental, que é como aquele prédio funcionava, não é mantido. (FERRAZ, Marcelo

Carvalho.

Arquitetura

Conversável.

Editora Azougue, Rio de Janeiro, 2014, p. 15, trecho retirado da introdução escrita por Antônio Risério) A proposta para o casarão Franco de Mello neste presente trabalho vai de encontro à frase de Lelé, ao preservar o interior do palacete mantendo a disposição interna dos ambientes, seus móveis originais e remobiliando-o, de modo a demonstrar como aquela residência funcionava e como a família proprietária e seus funcionários apropriavam-se dos seus espaços. Por isso, o imóvel tombado é a peça principal do Museu. Os principais textos sobre arquitetura e restauro e que devem ser mencionados aqui são a Carta de Atenas e a Carta de Veneza. Ambas as Cartas não são meros guias ou receitas exatas de como realizar projetos de restauros e como projetar edificações em interação com pré existências. Elas servem como base e apresentam diretrizes que devem ser avaliadas caso a caso, de acordo com o país e cultura em que um imóvel está inserido. (KÜHL, 2010). Dito isso, a Carta de Atenas demonstra que as obras primas do passado nos mostram que cada geração teve sua maneira de pensar, suas concepções, sua estética, recorrendo, como trampolim para sua imaginação, à totalidade de recursos técnicos de sua época. Copiar servilmente o passado é condenar-se à mentira, é erigir o “falso” como princípio, pois as antigas condições

de

trabalho

não

poderiam

ser

reconstituídas e a aplicação da técnica moderna a um ideal ultrapassado sempre leva a um simulacro desprovido de qualquer vida. (Carta de Atenas, 1933, p. 27) 143


Portanto, pode-se concluir que muitos dos projetos de restauração e intervenção nos patrimônios históricos no século XX tomam como base os princípios estabelecidos nos anos 1930 na Carta de Atenas, uma vez que diferenciam-se das edificações antigas, tal como foi explicado ao longo deste subcapítulo. A comissão e a Carta de Atenas forneceram as bases para a Carta de Veneza de maio de 1964. A esta última foram acrescidas considerações condizentes com o mundo dos anos 1960, que havia então passado pela Segunda Guerra Mundial. A devastação gerada pela guerra mostrou o limite do restauro filológico de Boito e Giovannoni; assim, passou a ser considerado o restauro formal e não apenas documental. Na Carta de Veneza, consta que a noção de monumento histórico “estende-se não só às grandes criações, mas também às obras modestas, que tenham adquirido, com o tempo, uma significação cultural” (Carta de Veneza, 1964, p. 02). As duas cartas, portanto, “contrapunham-se às numerosíssimas experiências, efetuadas ao longo do séc. XIX, em que se buscava reconstituir o estado ‘‘original’’ da obra” (KÜHL, 2010, p. 292) Em suma, todos os autores, arquitetos e textos mencionados no presente subcapítulo foram levados em conta para o início da elaboração do edifício do Museu da Avenida Paulista em anexo ao casarão Franco de Mello. Apesar de haver certo distanciamento de vertentes defendidas por alguns destes profissionais, as teorias por eles fornecidas contribuíram para o questionamento das decisões projetuais tomadas ao longo deste ano, durante o processo de projeto.

144


145


2.3. proposta projetual: museu da avenida paulista

Como forma de requalificar e destinar um uso ao Palacete Franco de Mello na Avenida Paulista - um bem tombado de 117 anos - que se configura como um dos únicos exemplares que restaram da primeira fase residencial da Avenida Paulista e encontra-se abandonado, foi pensado em um edifício anexo ao imóvel pré existente que funcionará em conjunto com o casarão. Tendo em vista o caráter cultural que a Avenida Paulista vem adquirindo ao longo dos anos, foi pensado um projeto de uso cultural, que pudesse ser utilizado e frequentado todos os dias da semana, inclusive aos domingos, quando a avenida é fechada para automóveis. Assim, surgiu a proposta de estabelecer o Museu da Avenida Paulista como anexo ao palacete: um novo edifício cultural, com áreas expositivas que relatam a história da avenida mais importante da cidade de São Paulo e as transformações que a via sofreu ao longo do século XX, contendo também espaços como biblioteca, auditório, café e loja. A peça principal do acervo do museu da Paulista é o palacete Franco de Mello, que demonstra os modos de morar elite paulistana. O imóvel tombado pode ser acessado tanto por dentro do museu - como será demonstrado nas próximas páginas -, quanto diretamente pela avenida, permitindo que a população frequente o café em seu interior sem necessariamente entrar e visitar o museu. Com a demolição do muro que atualmente “protege” o palacete da Avenida Paulista, é possível criar uma relação direta com a avenida. O casarão deixará de ficar escondido e será exposto a todos que passam pela Paulista, convidando a adentrarem ao lote do casarão e incentivando a visita ao museu, que se desenvolve atrás do bem tombado. Além da integração com a Paulista, foi proposta também a integração com o Parque Mário Covas, a antiga Villa Fortunata. Como foi visto nas fotografias do levantamento da área (ver p. 132), existe um muro que divide os lotes do palacete do atual parque. Por isso, foi proposta também a demolição deste muro, permitindo desse modo a circulação livre de 146


pessoas por todo o terreno. A retirada das grades e dos portões que hoje circundam o parque também permite o acesso mais livre e democrático àqueles que desejarem frequentar o parque Mário Covas e o museu. Em relação à elaboração do edifício anexo, a diretriz adotada foi apresentar um contraste evidente em relação ao casarão; isto é, sua fachada, sua volumetria e os materiais utilizados em sua construção devem demonstrar que se trata de uma edificação atual. Por isso, foram indicados materiais mais modernos e que fossem distintos daqueles utilizados na construção do casarão. O palacete foi construído em alvenaria de tijolos, método amplamente utilizado no Brasil no início do século XX e seu estilo arquitetônico é eclético, assim como os demais casarões da Avenida Paulista da primeira fase residencial. O edifício do museu foi projetado em concreto armado, técnica difundida no Brasil, normatizada nos anos 1940 e amplamente utilizada até hoje no país (SANTOS, 2008). O uso estrutural do concreto permitiu a plasticidade da volumetria do anexo, que se distancia arquitetonicamente do estilo do antigo casarão, diferenciando-se com clareza da pré existência. O projeto do museu da Avenida Paulista como anexo ao palacete Franco de Mello desenvolve-se nos fundos do lote do casarão. A área total do anexo obedece a área máxima construída prevista no edital de chamamento público de 2021 (EDITAL PROAC, 2021), que não poderia exceder 3634,30m 2 (três mil e seiscentos e trinta e quatro e trinta centésimos) dentro do lote do palacete. A construção do anexo ultrapassa o limite do lote do casarão e avança sobre o lote do parque Mário Covas. Assim, a área total do novo edifício é de 1981,80m 2 (mil e novecentos e oitenta e um e oitenta centésimos), sendo 1234,24m 2 (mil e duzentos e trinta e quatro e vinte e quatro contésimos) dentro do limite do lote do palacete e 747,56m 2 (setecentos e quarenta e sete e cinquenta e seis centésimos) no lote do parque. A imagem satélite a seguir revela o contexto urbano em que o projeto está inserido. A análise do entorno a partir de mapas e as visitas ao local nortearam as demais diretrizes do projeto explicadas adiante. 147


fiesp parque trianon

N

E AV A ID U PA A ST LI

masp DO

VE

A

CH

O .R

E AZ

IN

AM RU

área de estudo

RU

Com base na imagem aérea acima, é possível perceber que a região envoltória é bastante consolidada; há muitos prédios comerciais e residenciais com muitos pavimentos; há pouca vegetação e, na Avenida Paulista, não existe nenhum terreno vazio, sem edficiações - com exceção dos parques. Nesta imagem é possível identificar a relação do Palacete Franco de Mello e seu entorno, além de verificar sua proximidade com a Avenida, decorrente do alargamento da via nos anos 1970.

148


UA

colégio dante alighieri

hotel renaissance

O

PE

.

à JO

U A R

EL

O AN

AU

G

U

ST A

conjunto nacional

M

figura 25 imagem satélite do entorno da área de intervenção; fonte google earth

149


0m 0m

15m 100m

0m m

15

150

45m 300m

75m 500m


MAPA 01 imagem satélite do entorno A imagem satélite ao lado mostra o recorte de 400m a partir do terreno de estudo, bem como uma parte do entorno. Foi adotado o raio de 400m para o recorte a fim de abranger alguns dos principais equipamentos culturais presentes na área, tais como o MASP e o Conjunto Nacional - o projeto desenvolvido no presente trabalho, por ser um museu, enquadra-se como um edifício de uso cultural. O recorte também abrange o Parque Trianon – cuja cobertura vegetal é de extrema importância para a área e para este estudo, já que é a maior concentração de cobertura vegetal ao longo de toda a Paulista. O parque Mário Covas, que está inserido no terreno de intervenção projetual configura-se como uma continuação do Trianon. A região da Avenida Paulista e seu entorno é extremamente desenvolvido e consolidado. A avenida é uma via de alto fluxo de automóveis e conecta a região sul à noroeste da cidade de São Paulo. Analisando a imagem ao lado, nota-se também a escassa presença de área verde em todo o entorno da área de estudo, com exceção dos dois parques supracitados. figura 26 mapa com imagem satélite do entorno com enfoque ao raio de 400m; dados extraídos do Geosampa; autoria própria

151


0m 0m

15m 100m

0m m

15

152

45m 300m

75m 500m


MAPA 02 meio físico + topografia Este mapa voltado à análise do meio físico da área envoltória revela as características ambientais e geofísicas do local relevantes a este trabalho. A topografia revela-se pouco acidentada e bastante plana no eixo da Avenida Paulista e nos lotes adjacentes à via – diferente de boa parte da cidade. O terreno de estudo tem apenas 0,5m de desnível. Em relação à vegetação, grande parte da avenida e de seu entorno carece de áreas verdes, com exceção apenas do Parque Mário Covas – que está inserido no terreno de intervenção – e o Parque Trianon. Tal condição indica a necessidade de preservação da vegetação remanescente. Quanto à hidrografia, a área não é alagável, visto que está no espigão central – região que abrange as cotas mais altas da cidade– além de estar afastada dos córregos mais próximos, ambos destacados no mapa, localizados do outro lado da avenida.

figura 27 mapa com análise do meio físico do entorno com enfoque ao raio de 400m; dados extraídos do Geosampa; autoria própria

153


0m 0m

15m 100m

0m m

15

154

45m 300m

75m 500m


MAPA 03 transporte + principais vias O mapa de transporte evidencia o que já se sabe sobre a Avenida Paulista: ela é regada por transportes públicos, desde linhas de ônibus, estações de metrô e ciclofaixas concentradas no canteiro central. O acesso à Paulista é bastante fácil, tendo em vista que além dos transportes coletivos, cada lado da Avenida conta com 3 faixas de rolamento para carros além das faixas exclusivas de ônibus. Pelo fato de a Paulista ser sede de muitos escritórios e empresas, e também por estar localizada em uma região central da cidade, existe um grande fluxo de pessoas que percorrem esta região todos os dias e, por isso, faz-se necessária a ampla rede de transporte representada no mapa. Diariamente, há muito trânsito na avenida em ambos os sentidos

figura 28 mapa com análise do transporte e principais vias do entorno com enfoque ao raio de 400m; dados extraídos do Geosampa; autoria própria

155


0m 0m

15m 100m

0m m

15

156

45m 300m

75m 500m


MAPA 04 bens tombados + equipamentos culturais Tendo em vista que este presente trabalho aborda uma edificação histórica tombada datada do início do séc. XX, foi necessário elaborar um mapa que identifica os bens tombados da área envoltória. Dentre os patrimônios tombados, estão: Parque Trianon, Colégio Dante Alighieri, MASP, Parque Mário Covas, lote do Palacete Franco de Mello, Edifício do Banco Itaú – projetado por Rino Levi - , um casarão da Alameda Santos, Conjunto Nacional e os Edifícios Três Marias e Nações Unidas, localizados na esquina com a Haddock Lobo e projetados por Abelardo de Souza. Este levantamento mostra que apesar de ser uma região histórica, existem poucos edifícios e bens históricos remanescentes na Paulista. Também foram mapeados os equipamentos de cultura do entorno. Estas informações espacializadas confirmam o caráter de “corredor cultural” que a avenida vem consolidando.

figura 29 mapa com dados sobre os equipamentos e bens tombados do entorno com enfoque ao raio de 400m; dados extraídos do Geosampa; autoria própria

157


figura 30 corte urbano do entorno da área de intervenção - longitudinal passando pela paulista - autoria própria

rua pamplona

fiesp

158

alameda casa branca

parque trianon

rua peixoto gomide


rua ministro rocha de azevedo

terreno projeto

rua padre joão manoel

rua augusta

conjunto nacional

rua haddock lobo

ed. 3 marias

0m 0m

50m 15m

150m 45m

250m 75m

159


AL

AM

ED

A

SA

NT

OS

figura 31 diagrama da implantação do projeto no terreno de intervenção; sem escala; autoria própria

160


161

AV

EN

ID

A

PA

UL

IS

TA


figura 32 implantação do projeto no terreno de intervenção; autoria própria

RUA PE. JOIÃO MANOEL

AVENIDA PAULISTA

ALAMEDA SANTOS

162

IMPLANTAÇÃO cota 0.00m


RUA MIN. ROCHA AZEVEDO

0m 0m 0m

15m 15m 15m

45m 45m 45m

75m75m163 75m


O edifício anexo se desenvolve atrás do casarão, próximo ao limite do lote do palacete com o lote da torre de trás do terreno. Tendo em vista o recuo mínimo de 3 metros estabelecido por lei, o anexo é mais estreito atrás da pré existência mas avança em direção à Paulista a fim de proporcionar espaços mais amplos aos ambientes do museu. Desse modo, a fachada volta à Avenida Paulista é curvada, de modo a suavizar a diferença de larguras da nova edificação. Esteticamente, a curva remete ao movimento da Paulista, que dia e noite funciona com os mais diversos usos ao longo de toda sua extensão. Os materiais utilizados, por sua vez, foram pensados para serem neutros e não desviarem a atenção do palacete para o novo anexo. Por isso, foram usados materiais brancos, sendo eles a chapa metálica perfurada e o brise vertical metálico.

164


figura 33 imagem ilustrativa do projeto do edifício anexo e do casarão a partir da Avenida Paulista; autoria própria

165


A entrada do edifício anexo se dá pelo pavimento térreo, que acontece na cota da Avenida Paulista. Neste pavimento, há um balcão de informações que funciona juntamente à bilheteria e um pequeno guarda volumes; há também um espaço de espera voltado para o parque Mário Covas, além do acesso ao térreo inferior do palacete Franco de Mello e ao térreo superior, através de uma escada pré existente. A entrada pelos fundos do casarão a partir do anexo é coberta por uma cobertura de vidro. No primeiro e segundo pavimentos se dão as áreas expositivas. O primeiro pavimento abriga a exposição permanente, cujo acervo relata a história da Avenida Paulista e as transformações que esta sofreu ao longo do século XX. O segundo pavimento é destinado às exposições temporárias. A proposta apresentada ao lado é composta de paineis autorportantes metálicos que podem ser reutilizados em outras exposições. No entanto, a planta livre permite a utilização deste pavimento de diversas maneiras, de acordo com a necessidade da exposição que será ali realizada. O terceiro pavimento é composto pela biblioteca e a administração. A biblioteca fornece diferentes tipos de materiais de consulta e computadores, além de configurar-se como um espaço de estudos que pode ser utilizado por todos e deve ter acesso independente ao do museu. A administração é separada da biblioteca por meio de uma grande estante dupla, que é usada em ambos os espaços. Acima da estante, os caixilhos de vidro são basculantes e podem ser abertos para garantir a ventilação natural por todo o pavimento. No subsolo, há o foyer, o auditório e o camarim. Estes espaços são destinados a eventos, palestras, workshops e outros usos. Além desses espaços, esse pavimento abriga o acervo técnico, onde são guardadas obras que não estão expostas, a sala de restauro que permite a conservação das obras de arte; há também a central de controle ou sala técnica, que abriga o controle de luz, ar condicionado e demais funções técnicas. Por fim, o casarão. Ele pode ser acessado tanto pelos fundos, já no interior do edifício anexo ou pela própria Avenida Paulista. O palacete é remobiliado, a fim de mostrar como as famílias da alta sociedade viviam há mais de 100 anos. Além disso, o casarão remobiliado demonstra a clara diferença entre os espaços destinados à família prorpietária e os ambientes voltados aos funcionários. O pé de direito de 2m do térreo inferior denuncia as más qualidades de trabalho aos quais eram submetidos, revelando o resquicio de uma sociedade escravocrata.

166


C

O

3

O

2

O

1

E OB

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V PA

V PA

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IM

IM

IM

A

figura 34 diagrama do edifício anexo e do casarão; sem escala; autoria própria

T EN

O

T EN

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T EN

O

TÉ SU

B

L SO

E RR

O

O

167


caixa d’água e barrilete cobertura verde

circulação vertical banheiros e shafts biblioteca administração

exposição temporária

exposição permanente circulação vertical

bilheteria e área de permanência

auditório, foyer e camarim

acervo, sala de restauro e sala técnica

168


figura 35 diagrama dos usos do edifício anexo e do casarão; sem escala; autoria própria

exposição permanente

loja e café

169


A imagem acima ilustra a vista do café dentro do casarão voltada para o edifício anexo e o parque Mário Covas. É possível observar a integração do térreo com o parque e o passeio público, buscando incentivar os pedestres a visitarem o museu e o palacete.

170


figura 36 imagem ilustrativa do edifício anexo visto do café do casarão; autoria própria

171


Também foi proposta uma revitalização do Parque Mário Covas, a partir da disposição de novos usos, como uma área de jogos de ping pong, xadrez e um espaço para eventos ao ar livre. Foi mantido o passeio que conecta a Avenida Paulista com a Alameda Santos, que hoje configura-se como o principal uso do parque - apenas para a passagem de uma via para outra. A imagem acima ilustra a entrada do parque pela Alameda Santos. 172


figura 37 imagem ilustrativa da entrada do parque mário covas a partir da alameda santos; autoria própria

173


PAV. TÉRREO cota 0.00m

C

B

A

1

2

3

4

legenda 01 02 03 04 05 06

174

bilheteria + guarda volumes área de permanência shaft banheiro PNE banheiro feminino banheiro masculino

0m

15m

45m

75m


figuras 38 e 39 plantas do pavimento térreo e 1o pavimento do projeto; autoria própria

1O PAVIMENTO cota +5.00m

C

B

A

1

2

3

4

legenda 01 02 03 04 05 06 07 08

área de exposição permanente sala multimídia shaft banheiro PNE banheiro feminino banheiro masculino café loja

0m

15m

45m

75m

175


O térreo é integrado e aberto para a avenida Paulista. A continuação do piso permite a maior integração entre a via e o projeto. Ao fundo da imagem, é possível observar a escada principal do edifício anexo e, do lado direito, a conexão do novo edifício com o casarão, que é coberta por uma cobertura de vidro.

176


figura 40 imagem ilustrativa da entrada do edifício anexo; autoria própria

177


Os ambientes neutros adotados no interior do anexo permitem o enfoque dos visitantes para as obras de arte e para seu exterior. Esta imagem ilustra o primeiro pavimento, onde acontece a exposição permanente do museu, que contempla fotos históricas, mapas antigos, quadros, pinturas e desenhos de diversos artistas que retrataram a Paulista ao longo dos anos. 178


figura 41 imagem ilustrativa do 1o pavimento do edifício anexo; autoria própria

179


O casarão conta com dois espaços que não fazem parte da área expositiva do museu: o café e a loja. Ambos os espaços foram instalados nos ambientes próximos à entrada do palacete pela Avenida Paulista, permitindo que mesmo os não visitantes di museu possam frequentar estes espaços. O café ilustrado na imagem acima tem vista voltada para o Parque, para a Paulista e também para o anexo. 180


figura 42 imagem ilustrativa do café no casarão; autoria própria

181


20 PAVIMENTO cota +10.00m

C

B

A

1

2

3

4

legenda 01 02 03 04

área de exposição temporária shaft banheiro PNE banheiro feminino

05 banheiro masculino

182

0m

15m

45m

75m


figuras 43 e 44 plantas do 2o e o 3 pavimento do projeto; autoria própria

3O PAVIMENTO cota +15.00m

C

B

A

1

2

3

4

legenda 01 02 03 04 05 06 07

biblioteca guarda volumes administração copa da administração banheiro PNE banheiro feminino banheiro masculino

0m

15m

45m

75m

183


Assim como no primeiro pavimento, o segundo pavimento também mostra-se bastante neutro, para que as obras e as exposições nele expostas fossem o principal. Neste andar acontecem as exposições temporárias, onde foram propostos painéis autorportantes que podem ser desmontados conforme a necessidade da exposição qeu se dará no espaço. 184


figura 45 imagem ilustrativa do 2o pavimento do edifício anexo; autoria própria

185


A biblioteca está no último pavimento do edifício anexo. A grande estante central dispõe de vários usos: além de abrigar os livros, funciona também como mesa e sofá. Ao fundo da imagem nota-se a estante, que é responável por dividir a biblioteca do espaço da administração; a lateral da estante e a parte de cima são fechadas por vidro.

186


figura 46 imagem ilustrativa da biblioteca no 3o pavimento do edifício anexo; autoria própria

187


188


figura 47 imagem ilustrativa da biblioteca no 3o pavimento do edifício anexo; autoria própria

189


SUBSOLO cota -5.00m

C

B

A

1

2

3

4

legenda 01 02 03 04 05 06 07 08 09

190

foyer auditório shaft acervo sala de restauro sala técnica banheiro PNE banheiro feminino banheiro masculino

0m

15m

45m

75m


figuras 48 e 49 plantas da cobertura e subsolo do projeto; autoria própria

COBERTURA cota +20.00m

C

B

A

1

2

3

4

legenda caixa d’água e barrilete

0m

15m

45m

75m

191


No subsolo, encontra-se o auditório - à esquerda da imagem acima - o foyer e os espaços de acesso restrito, tais como o acervo técnico, sala de restauro e sala técnica, cujos acessos são mostrados no fundo desta imagem. O foyer do auditório conta também com uma copa.

192


figura 50 imagem ilustrativa do subsolo do edifício anexo; autoria própria

193


1

+20.00m

+15.00m

+10.00m

+05.00m

00.00m

-05.00m

-06.85m

CORTE AA 194

2


figura 51 corte longitudinal aa; autoria própria

3

0m

4

5m

15m

25m

195


4

+20.00m

+15.00m

+10.00m

+05.00m

00.00m

-05.00m

CORTE BB 196

3


figura 52 corte longitudinal bb; autoria própria

2

0m

5m

1

15m

25m

197


estabilizador horizontal de vidro temperado pele de vidro low-e

A cobertura de vidro localizada acima do vão da escada permite a entrada de mais luz natural ao foyer, localizado no subsolo.

8. DETALHEviga ÁTRIOcalha DE VIDRO TEMPERADO de vidro _detalhe | cobertura

platibanda de concreto em vista laje nervurada de concreto em vista viga calha em aço vidro low-e i = 2%

chapa metálica perfurada branca cobertura de vidro temperado low-e tipo moeda estabilizador horizontal viga metálica perfil i fixadadenavidro laje temperado corte 20cmem x 50cm viga metálica perfilhorizontal tubular retangular estabilizador de vidro 15cmem x 7,5cm temperado vista chapa metálica

figura 53 detalhe viga calha cobertura de vidro - autoria própria

parafuso parafuso

escala 1.20

9. DETALHE VIGA CALHA COBERTURA DE VIDRO

laje nervurada de concreto armado

_detalhe | cobertura de(SUP. vidro 7. DETALHEfixação FIXAÇÃO CHAPA METÁLICA + INF.)

platibanda de concreto cobertura de vidro temperado low-e

chapa metálica dobrada parafusada chapa metálica dobrada parafusada estabilizador horizontal de vidro temperado

figura 54 detalhe conexão metálica das vigas de vidro e platibanda de concreto - autoria própria

pele de vidro low-e

escala 1.20

8. DETALHE ÁTRIO DE VIDRO TEMPERADO figura 55 imagem ilustrativa da cobertura de vidro vista do subsolo - autoria própria

platibanda de concreto em vista laje nervurada de concreto em vista

198

viga calha em aço i = 2% cobertura de vidro temperado low-e


199


4

+20.00m

+15.00m

+10.00m

+05.00m

00.00m

-05.00m

-06.85m

CORTE CC 200

3


figura 56 corte cc - autoria própria

2

0m

5m

1

15m

25m

201


A

+20.00m

+15.00m

+10.00m

+05.00m

00.00m

-05.00m

CORTE DD 202

B


figura 57 corte dd - autoria própria

0m

5m

15m

25m

203


ELEVAÇÃO 01 figura 58 elevação 01, fachada vista da avenida paulista - autoria própria

ELEVAÇÃO 02 figura 59 elevação 02, fachada vista da rua ministro rocha de azevedo - autoria própria

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0m

5m

15m

25m

0m

5m

15m

25m

205


ELEVAÇÃO 03 figura 60 elevação 03, fachada vista da alameda santas - autoria própria

ELEVAÇÃO 04 figura 61 elevação 04, fachada vista do lote do casarão - autoria própria

206


0m

5m

15m

25m

0m

5m

15m

25m

207


cobertura verde | inclinação 2% estrutura metálica para fixação superior do brise viga perfil i + viga seção tubular retangular brise metálico em chapa perfurada tipo moeda ref. strip screen hunter douglas

estrutura metálica para fixação inferior do brise viga perfil i + viga seção tubular retangular

chapa perfurada branca tipo moeda

chapa perfurada branca tipo moeda

pele de vidro low-e fixa

208

ELEVAÇÃO E CORTE | 1.75

figura 62 trecho da fachada e corte ampliados - autoria própria


cobertura verde | inclinação 2% estrutura metálica para fixação superior do brise viga perfil i + viga seção tubular retangular brise metálico em chapa perfurada tipo moeda ref. strip screen hunter douglas

pele de vidro low-e fixa

piso elevado em placas - piso tecnogran lavaggio

+15.00m chapa metálica fixada no brise metálico e na viga de seção tubular retangular estrutura metálica para fixação inferior do brise viga perfil i + viga seção tubular retangular

janela pivotante eixo horizontal

pele de vidro low-e fixa chapa perfurada branca tipo moeda

+10.00m estrutura metálica para fixação da chapa metálica

janela pivotante eixo horizontal

chapa perfurada branca tipo moeda pilar circular de concreto armado branco diâmetro = 0,60m

+05.00m estrutura metálica para fixação da chapa metálica laje em grelha de concreto armado branco cubeta 0,9375m x 0,9375m; h = 0,50m pele de vidro low-e fixa

00.00m

209


figuras 67 e 68 carta solar sobreposta à máscara de sombreamento da fachada sudeste - autoria própria

figuras 65 e 66 carta solar sobreposta à máscara de sombreamento da fachada norte - autoria própria

figuras 63 e 64 carta solar sobreposta à máscara de sombreamento da fachada nordeste - autoria própria

_1 o pavimento | 5m

210

_3 o pavimento | 15m


análise das fachadas | períodos de insolação e maiores temperaturas 1. fachada nordeste _1o pavimento

_3o pavimento

maiores temperaturas de bulbo seco: solstício de verão = 09:30h – 17:00h equinócio de outono = 10:00h – 16:00h

maiores temperaturas de bulbo seco: solstício de verão = 09:30h – 17:00h equinócio de outono = 10:00h – 16:00h

horários de maior insolação: equinócio de outono = 10:00h – 13:00h

horários de maior insolação: solstício de verão = 09:30h - 12:00h equinócio de outono = 10:00h – 13:00h

Não há incidência solar durante o solstício de verão, por isso foi projetado um brise que protege o ambiente durante o equinócio de outono, das 10h às 13h da tarde

Proteção solar utilizada: chapa metálica perfurada -> necessidade de sombreamento para proteção das obras

2. fachada norte _1o pavimento

_3o pavimento

maiores temperaturas de bulbo seco: solstício de verão = 09:30h – 17:00h equinócio de outono = 10:00h – 16:00h

maiores temperaturas de bulbo seco: solstício de verão = 09:30h – 17:00h equinócio de outono = 10:00h – 16:00h

horários de maior insolação: solstício de verão = 09:30h - 12:00h equinócio de outono = 10:00h – 11:00h

horários de maior insolação: solstício de verão = 09:30h - 12:00h equinócio de outono = 10:00h – 11:00h

Proteção solar utilizada: chapa metálica perfurada -> necessidade de sombreamento para proteção das obras nas áreas expositivas do museu

Proteção solar utilizada: brises fixos verticais em chapa metálica perfurada -> só há necessidade de sombreamento no equinócio de outono, das 10:00h às 16:00h

3. fachada sudeste _1o pavimento

_3o pavimento

maiores temperaturas de bulbo seco: solstício de verão = 09:30h – 17:00h equinócio de outono = 10:00h – 16:00h

maiores temperaturas de bulbo seco: solstício de verão = 09:30h – 17:00h equinócio de outono = 10:00h – 16:00h

horários de maior insolação: solstício de verão = 09:30h - 12:00h equinócio de outono = 10:00h – 11:00h

horários de maior insolação: solstício de verão = 09:30h - 12:00h equinócio de outono = 10:00h – 11:00h

Não há incidência solar na fachada sudeste no 1º pavimento do edifício, portanto, não houve necessidade de projetar elemento de proteção solar

Proteção solar utilizada: chapa metálica perfurada -> necessidade de sombreamento para proteção das obras 211


A partir da análise das cartas solares na página anterior, foi comprovada a necessidade de proteção solar das fachadas, de modo a protegê-las especialmente nos períodos de insolação com maior temperatura. O experimento foi realizado a partir do software Andrew Marsh, que permitiu a construção da máscara de sombreamento e o software SOLar, que possibilitou a criação da carta solar. Assim, foram sobrepostas as máscara de sombreamento e a carta solar para a identificação dos períodos de maior incidência solar nas fachadas e as maiores temperaturas. Tendo em vista que o primeiro e segundo pavimentos contemplam as áreas expositivas, foi necessária a proteção de todas as fachadas com a chapa metálica perfurada. Estes pavimentos possuem pinturas, quadros e objetos que requerem proteção solar, por isso, a chapa metálica é fixa para que todos os períodos de insolação mais críticos de todas as orientações sejam protegidos da incidência solar. Além disso, as áreas de exposição são espaços de curta ou média permanência; dessa forma, não foi necessária a utilização de proteções solares móveis, como brises que podem ser regulados conforme a necessidade de quem utiliza o ambiente. A chapa metálica perfurada, além de garantir maior conforto térmico àqueles que fazem uso dos espaços expositivos e proteger as obras de arte, também garante a conexão visual dos espaços internos com o ambiente externo; o visitante aprende sobre a história e as transformações da Avenida Paulista por meio do acervo e das exposições do museu ao mesmo tempo que visualiza a avenida do lado de fora do edifício. O detalhe abaixo mostra a fixação das chapas metálicas do 1 o e 2 o pavimentos. figura 69 detalhe da fixação das chapas metálicas do 1o e 2o pavimentos autoria própria

vidro low-e chapa metálica perfurada branca tipo moeda viga metálica perfil i fixada na laje 20cm x 50cm viga metálica perfil tubular retangular 15cm x 7,5cm chapa metálica parafuso parafuso

laje nervurada de concreto armado

escala 1.20

7. DETALHE FIXAÇÃO CHAPA METÁLICA (SUP. + INF.) 212


strip screen metálico perfurado branco - hunter douglas pletina/lâmina de alumínio

No terceiro pavimento, devido aos ambientes de longa permanência manilha tipo lira

tais como a biblioteca e a administração, foi projetado um birse vertical gancho

mola que protege durantes os períodos mais críticos, fixo, porém na inclinação ganchoEssa solução permite a entrada controlada de de maior temperatura. manilha tipo lira

iluminação natural, uma vez que esses ambientes não requerem uma estrutura metálica de suporte

proteção constante mas a proteção durantes as horas mais quentes é viga metálica perfil tubular retangular 15cm x 7,5cm

essencial.

viga metálica perfil i fixada na laje O material 20cm utilizado x 50cm

no brise é também a chapa metálica perfurada

laje nervurada concreto armado branca, que deconfere uma uniformidade de materiais ao edifício quando

visto de fora. Os detalhes abaixo mostram as fixações superior e inferior 1. DETALHE FIXAÇÃO INFERIOR STRIP SCREEN

do brise. rufo metálico platibanda

figura 70 detalhe de fixação superior do brise vertical no 3o pavimento - autoria própria

viga metálica perfil i fixa na viga de concreto armado | 20cm x 50cm viga metálica perfil tubular retangular 15cm x 7,5cm estrutura metálica de suporte

tensor de veleiro / parafuso de aparelhamento de aço inoxidável pletina/lâmina de alumínio

laje nervurada de concreto armado strip screen metálico perfurado branco - hunter douglas escala 1.20

2. DETALHE FIXAÇÃO SUPERIOR STRIP SCREEN figura 71 detalhe de fixação inferior do brise vertical no 3o pavimento - autoria própria

vidro duplo low-e strip screen metálico perfurado branco fita de isolamento - hunter douglas parabuso tipo bolt pletina/lâmina de alumínio revestimento em placas tipo tecnogran manilha tipo lira piso elevado gancho longarina mola suporte rosqueado do piso elevado gancho manilha tipo lira malha de aço estrutura metálica de suporte viga metálica perfil tubular retangular armadura de aço 15cm x 7,5cm viga metálica perfil i fixada na laje 20cm x 50cm laje nervurada de concreto armado laje nervurada de concreto armado armadura de aço perimetral escala 1.20

1. DETALHE FIXAÇÃO INFERIOR STRIP SCREEN 3. DETALHE PISO ELEVADO rufo metálico platibanda

213


figura 72 carta solar sobreposta à máscara de sombreamento da fachada nordeste e proteção dos brises - autoria própria

fachada nordeste

figura 73 carta solar sobreposta à máscara de sombreamento da fachada norte e proteção dos brises - autoria própria

fachada norte

figura 74 carta solar sobreposta à máscara de sombreamento da fachada sudeste e proteção dos brises - autoria própria

_3 o pavimento | 15m

fachada sudeste

214

ângulo alfa = 55 o

ângulo beta = 50 o

ângulo gama = 55 o

ângulo alfa = 65 o

ângulo beta = 70 o

ângulo gama direito = 55 o

ângulo gama esquerdo = 40 o

ângulo alfa = 55 o

ângulo beta = 25 o

ângulo gama = 55 o


Após a definição dos ângulos beta que definiram as inclinações dos brises verticais das três fachadas analisadas, foi necessário determinar a máscara de obstrução destes quebra-sóis em cada uma das fachadas. Para isso, os brises foram colocados na ampliação da planta na inclinação correta de modo a definir os ângulos beta da esquerda e beta da direita; essa análise permite identificar a incidência solar entre os brises. Isto significa que os brises, por serem fixos, permitem cobrir apenas parcialmente as fachadas - no espaço entre estes elementos há incidência solar. Além disso, como é possível identificar na ampliação do corte abaixo, os brises não cobrem a platibanda de concreto; dessa forma, há também incidência solar por cima dos brises verticais. Por isso, foi necessário incluir o ângulo alfa determinado abaixo para a definição da máscara de obstrução das fachadas.

alfa = 7o

figura 75 ampliação do corte para detalhe da fachada - autoria própria


a área sem hachura corresponde à parte da fachada com incidência solar a hachura vermelha indica a obstrução do brise na fachada analisada

beta = 68o

beta = 79o

beta = 56o

3º PAVIMENTO | +15.00m esc. 1.50

216

figura 76 ampliação do planta do 3o pavimento e máscaras de obstrução dos brises - autoria própria

0m 0m

15m

45m5m

7,5m 75m


Um vez que o brise é fixo, foi calculada sua inclinação de modo a proteger os ambientes durante os períodos de maior insolação e maiores temperaturas. Para isso, foi utilizado o programa SOL-ar; foi determinada a inclinação da fachada (orientação do transferidor) e identificado os períodos críticos, conforme é apresentado na página 192. Depois, foi definido o ângulo alfa, beta e gama para construir a máscara que cobre os períodos críticos. A definição do ângulo beta permite, por fim, determinar a inclinação adequada dos brises verticais a fim de garantir maior conforto térmico aos usuários do terceiro pavimento do edifício. Outra solução adotada para garantir o conforto térmico do edifício anexo foi a utilização de vidro low-e em todas as fachadas. O vidro de baixa emissividade apresenta diversas vantagens em sua aplicação. Em dias frios, ele é responsável por absorver mais radiação solar e consequentemente permite que o ambiente interno fique mais quente. Ao contrário, em dias mais quentes ele reflete grande parte da radiação solar, de modo que o interior do edifício não fique demasiadamente quente. Além disso, sua aparência é bastante transparente e é pouco reflexivo, distanciando-se visualmente daqueles vidros espelhados que são muito usados em altas torres comerciais na cidade. O detalhe abaixo mostra a pele de vidro low-e e o caixilho.

figura 77 detalhe da pele de vidro low-e - autoria própria

encaixe de alumínio parafuso tipo bolt

parafuso tipo bolt encaixe de alumínio

vidro low-e face interna vidro low-e face externa escala 1.20 4. DETALHE PELE DE VIDRO LOW-E

As soluções propostas para o anexo possibilitaram que suas fachadas fossem devidamente protegidas placa de gesso acartonado 15mm para garantir a melhor experiência dos usuários e a proteção de alumínio das obrasmontante de arte nos demais pavimentos. Foi necessário também garantir conforto isolamento acústico de lã de vidro

acústico aosfitausuários, devido à proximidade do museu com a avenida, que é bastante de isolamento movimentada e ruidosa. O experimento realizado para definir as soluções de conforto banda acústica

acústico do edifícioelástico anexo é apresentado a partir da página preenchimento 217 parafuso para fixação na laje


3

2

1

figura 78 – imagem satélite da área de intervenção; sem escala - fonte: Google Earth

1. parque mário covas

2. frente lote casarão

12:10h

3. canteiro av. paulista

12:15h

12:20h

110dB

110dB

110dB

100dB

100dB

100dB

90dB

90dB

90dB 88dB

80dB

80dB 76dB

70dB

218

70dB

63dB

60dB

60dB

50dB

50dB

50dB

40dB

40dB

40dB

30dB

30dB

30dB

20dB

20dB

20dB

10dB

10dB

10dB

0dB

0dB

0dB

figura 79 – imagem ilustrativa do decibelímetro nos 3 pontos de medição - autoria própria


análise dos ruídos no entorno levantamento do índice de decibéis em 3 pontos Tendo em vista a necessidade de reduzir o ruído no interior do museu devido às áreas expositivas, fez-se necessário o levantamento sobre o ruído no entorno do terreno. Foram selecionados 3 pontos de medição: 1_ dentro do Parque Mário Covas; 2_ em frente ao casarão; 3_ no meio da Avenida Paulista, no canteiro central entre as duas pistas. A experimentação foi feita com um decibelímetro e tem como fim comparar os níveis de ruído em um local com alta cobertura vegetal, um local com um pouco de vegetação e que está mais próximo de uma via de grande fluxo de carros e pedestres e um espaço onde não há cobertura vegetal e está cercada de carros, ônibus, ciclistas e pedestres. Com base no levantamento demonstrado na página anterior, foi possível definir diretrizes que visam o melhor conforto acústico dos ambientes do museu. A análise de cada um dos pontos é descrita abaixo: _ponto 1 | o Parque Mário Covas não apresenta tanto com ruído em comparação com a Avenida Paulista e a entrada do Palacete Joaquim Franco de Mello. Tal fato se dá pela grande cobertura vegetal do Parque que ainda conta com uma significativa massa arbórea que pode ser observada na imagem satélite. A absorção do ruído vindo das vias do entorno, especialmente da Paulista é de extrema importância para este trabalho, pois a vegetação ajuda a proteger as edificações – anexo e casarão – e seus usuários dos barulhos inconvenientes das vias, junto com a absorção exercida pela laje verde. Neste primeiro ponto da medição, o decibelímetro não passou dos 75dB. _ponto 2 | Este ponto da medição foi feito em frente à entrada do Casarão – o mais perto que se pode chegar da edificação tombada, uma vez que não foi possível adentrar ao palacete. A calçada do palacete é bastante arborizada, assim como o interior do lote do imóvel. Esta medição foi realizada com o decibelímetro às 12:15min da manhã de um sábado, um horário bastante movimentado e que já apresenta grande fluxo de pessoas e automóveis. Apesar da presença de massa arbórea, esta é consideravelmente mais baixa em relação ao parque e, além de estar mais próximo à avenida, marcou 86dB. _ponto 3 | O último local de medição se deu no canteiro central da Avenida Paulista, no meio das duas pistas, onde passa a ciclo faixa. Com tantos carros, ônibus, pedestres e ciclistas passando, além de as árvores já estarem bastante distantes o decibelímetro chegou a marcar 102dB. A cobertura vegetal mais próxima era a referente ao terreno de estudo, uma vez que a Paulista carece de vegetação. 219


pletina/lâmina de alumínio

bolt laje nervurada de parafuso concreto tipo armado encaixe de alumínio strip screen metálico perfurado branco - hunter douglas

2. DETALHE FIXAÇÃO STRIP SCREEN _detalheSUPERIOR piso elevado em placas vidro low-e face interna

fita deface isolamento vidro low-e externa parabuso tipo bolt revestimento em placas tipo tecnogran

4. DETALHE PELE DE VIDRO LOW-E

piso elevado longarina placa de gesso acartonado 15mm suporte rosqueado do piso elevado montante de alumínio isolamento acústico de lã de vidro

malha de aço fita de isolamento banda acústica armadura de aço preenchimento elástico parafusode para fixaçãoarmado na laje laje nervurada concreto laje nervurada deperimetral concreto armadura de aço piso elevado parafuso tipo bolt

escala 1.20 3. DETALHE PISO ELEVADO

parafuso autoatarrachante

figura 80 detalhe do piso elevado - autoria própria

parede de drywall 15cm

5. DETALHE PAREDE DE DRYWALL + PISO ELEVADO

_detalhe cobertura verde

rufo platibanda vegetação (camada vegetal intensiva) substrato 15cm membrana líquida de poliuretano espuma drenante de poliestireno manta geotêxtil membrana impermeabilizante de cascalho 4mm membrana impermeabilizante lisa 3mm adesivo especial tipo primer

i = 2%

escala 1.20

figura 6. COBERTURA VERDE COM CAPTAÇÃO DE ÁGUA

220

81 detalhe da laje verde - autoria própria


Como forma de reduzir os ruídos proventientes da Paulista, foram utilizadas diferrentes estratégias no edifício anexo. A primeira delas foi a instalação dos pisos elevados em todos os pavimentos - com exceção do subsolo. O piso elevado absorve o ruído do andar onde está instalado, garantindo maior conforto aos usuários do pavimento inferior. Foi utilizada a laje verde na cobertura de modo a absorver os ruídos e barulhos vindos da Avenida Paulista. Como esta é uma via bastante movimentada e ruidosa, como foi visto na medição apresentada anteriormente, a cobertura verde mostra-se uma solução bastante eficaz para o melhor conforto acústico do edifício. Vale ressaltar também que a encaixe de alumínio laje verde propicia maio parafuso tipo boltconforto térmico, uma vez que a terra, a vegetação e as demais camadas que a compõe absorvem também o calor, reduzindo assim a temperatura interna do edifício. As paredes de drywall com isolamento acústico também foi uma parafuso solução adotada a tipo fimboltde reduzir os ruídos entre ambientes. O drywall

foi mais utilizado no subsolo, nas paredes que dividem o auditório do encaixe de alumínio foyer e do acervo técnico. Nos demais pavimentos, devido à planta livre sem muitas divisões de ambientes, as paredes de drywall foram usadas apenas para separar as salas de projeção de vídeo e som, para que o ruído vidro low-e face interna

proveniente desses espaços não atrapalhassem os outros ambientes das vidro low-e face externa

exposições. 4. DETALHE PELE DE VIDRO LOW-E _detalhe parede de drywall

placa de gesso acartonado 15mm montante de alumínio isolamento acústico de lã de vidro fita de isolamento banda acústica preenchimento elástico parafuso para fixação na laje laje nervurada de concreto piso elevado parafuso tipo bolt parafuso autoatarrachante parede de drywall 15cm

escala 1.20 figura 82 5. DETALHE PAREDE DE DRYWALL + PISO ELEVADO

detalhe da parede de drywall com isolamento acústico - autoria própria

rufo platibanda vegetação (camada vegetal intensiva) substrato 15cm

221


PLANTA PAV. TÉRREO | 0.00m PAVIMENTO TÉRREO | 0.00m escala 1.50

esc. 1.50

222

0m

15m

45m

75m


figura 83 ampliação do trecho da planta do pavimento térreo - autoria própria

pele de vidro low-e h = 4,5m; l = 0,9375m

piso tecnogran lavaggio branco 90cm x 90cm

projeção chapa metálica do 1o pavimento

pilar de concreto armado diâmetro 0,60m

divisória sanitária painel tse (lâmina estrutural)

pilar de concreto armado 0,25m x 0,60m

parede de drywall 7,5cm de espessura parede de alvenaria bloco 24cm x 19cm + massa

223


PLANTA 1 PAVIMENTO 1º PAVIMENTO | +5.00m escala 1.50 esc. 1.50 o

224

| +5.00m 0m

15m

45m

75m


figura 84 ampliação do trecho da planta do 1o pavimento - autoria própria

pele de vidro low-e h = 4,5m; l = 0,9375m piso tecnogran branco 120cm x 120cm chapa em alumínio para fixação da chapa metálica perfurada na viga chapa metálica branca perfurada h = 5m; l = 0,45m viga metálica de suporte para chapa h = 0,20m; l = 0,50m pilar de concreto armado diâmetro 0,60m

divisória sanitária painel tse (lâmina estrutural)

pilar de concreto armado 0,25m x 0,60m

parede de drywall 7,5cm de espessura parede de alvenaria bloco 24cm x 19cm + massa

225


PLANTA 2o PAVIMENTO | +10.00m 2º PAVIMENTO | +10.00m escala 1.50 esc. 1.50 226

0m

15m

45m

75m


figura 85 ampliação do trecho da planta do 2o pavimento - autoria própria

pele de vidro low-e h = 4,5m; l = 0,9375m piso tecnogran branco 120cm x 120cm chapa em alumínio para fixação da chapa metálica perfurada na viga chapa metálica branca perfurada h = 5m; l = 0,45m viga metálica de suporte para chapa h = 0,20m; l = 0,50m pilar de concreto armado diâmetro 0,60m parede de drywall curva com isolamento acústico e = 7,5cm divisória sanitária painel tse (lâmina estrutural)

pilar de concreto armado 0,25m x 0,60m

parede de drywall 7,5cm de espessura parede de alvenaria bloco 24cm x 19cm + massa

227


PLANTA 3o PAVIMENTO | +15.00m 3º PAVIMENTO | +15.00m escala 1.50 esc. 1.50 228

0m

15m

45m

75m


figura 86 ampliação do trecho da planta do 3o pavimento - autoria própria

pele de vidro low-e h = 4,5m; l = 0,9375m piso tecnogran branco 120cm x 120cm viga metálica h = 0,20m; l = 0,50m viga metálica de apoio para o brise h = 7,5cm

brise metálico branco perfurado tipo moeda h=5m; l=0,45m pilar de concreto armado diâmetro 0,60m estante dupla em mdf divisória sanitária painel tse (lâmina estrutural)

pilar de concreto armado 0,25m x 0,60m

parede de drywall 7,5cm de espessura parede de alvenaria bloco 24cm x 19cm + massa

229


S

PLANTA |SUBSOLO SUBSOLO -5.00m escala 1.50 esc. 1.50 230

| -5.00m 0m

15m

45m

75m


figura 87 ampliação do trecho da planta do subsolo - autoria própria

parede cortina de concreto e = 30cm

parede de drywall com isolamento acústico em fibra de lã de vidro e = 10cm

parede de drywall com isolamento acústico em fibra de lã de vidro e = 20cm

divisória sanitária painel tse (lâmina estrutural)

pilar de concreto armado 0,25m x 0,60m

parede de drywall 7,5cm de espessura parede de alvenaria bloco 24cm x 19cm + massa

231


PLANTA COBERTURA | +20.00m

COBERTURA | +20.00m escala 1.50 esc. 1.50 232

0m

15m

45m

75m


viga metálica seção tubular 7,5x15cm

figura 88 ampliação do trecho da planta da cobertura - autoria própria

para fixação superior do brise

brise metálico branco perfurado tipo moeda h=5m; l=0,45m

viga metálica h = 0,20m; l = 0,50m

cobertura verde com 2% de inclinação

platibanda h = 50cm

calha metálica

233


consideraçõ finais


ões


O presente trabalho buscou fazer o levantamento da história e das transformações sofridas pela Avenida Paulista, desde a sua inauguração até os dias de hoje, como forma de promover o questionamento acerca das demolições do patrimônio que se deram na avenida no século XX. A Avenida Paulista teve sua história quase completamente esquecida devido à onda de demolições dos antigos casarões. Muitas paulistanos e moradores da cidade não conhecem a trajetória da mais importante via da capital paulista e quais foram as condicionantes que levaram a sua atual configuração. A avenida é um reflexo do que ocorreu em toda a cidade de São Paulo, mas é também um dos exemplos mais marcantes da história da cidade no que se refere à destruição do patrimônio. Muitos imóveis de alto valor arquitetônico, histórico e cultural foram demolidos ou abandonados e, em seus lugares, foram construídas altas torres comerciais ou residenciais que marcam a ocupação da cidade. É importante ressaltar que não são todos os imóveis que devem ser preservados, tombados e conservados. É necessário avaliar criticamente o estado de conservação dos imóveis, sua importância histórica e cultural para a população de modo a conservar o que é relevante para a cidade. Afinal, o crescimento e progresso da cidade também é muito positivo - não é preciso viver preso ao passado. No entanto, o descaso com o patrimônio e a história da cidade e de sua população é extremamente prejudicial. Preservar a história da cidade de São Paulo e da Avenida Paulista é de suma importância, tendo em vista que a maior parte do patrimônio já foi destruída. É necessário, portanto, desenvolver projetos de restauro e intervenções nos imóveis de valor histórico remanescentes a fim de garantir sua

236


preservação e conservação. O museu da Avenida Paulista como anexo ao Palacete Franco de Mello foi pensado como uma forma de garantir a preservação do único casarão remanescente que ainda se encontra abandonado e sem nenhum uso destinado a ele. Além disso, o museu deve difundir o conhecimento sobre a história da Avenida Paulista, enfatizando a demolição de seu patrimônio e reafirmando a necessidade de preservação da história e da cultura em uma cidade onde grande parte do passado já foi apagada.

237


238


figura 01 vista da paulista a partir do mirante Instituto Moreira Salles. fonte: autoria própria. out. 2022

239


240


figura 02 vista da paulista da ciclovia do canteiro central da avenida. fonte: autoria própria. fev. 2022

241


242


figura 03 vista da paulista em frente a um dos canteiros do projeto Nova Paulista próximo à rua da consolação. fonte: autoria própria. out. 2022

243


referências bibliográfica


as


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VILA

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Patrimônio

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Brasileiro.

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