Revista do Câncer
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Expediente revista do
Câncer Panorama da Oncologia Nacional Volume XV - nº 27 Diretor e Editor Dr. José Márcio da Silva Araújo j.marcioaraujo@bol.com.br Diretor Comercial / Financeiro Gilberto Cozzuol gibacozzuol@gmail.com Administração e Circulação Yvete Togni dra.ytogni@hotmail.com Diretoria Relações Externas Daniela Tarabai Araujo Secretaria Diretoria Angela Cavalin Produção e Publicação Lucida Artes Gráficas revistadocancer.dir@gmail.com
Sumário
Onconews Notícias .....................................
Entrevista Dr. Daniel Morel ........................
Eventos Asco/2019 e Next Frontiers......
Site www.revistadocancer.com Jornalista Sunara Avamilano Fotografia Assessoria de Imprensa e Arquivos
Matéria de Capa Os grandes centros oncológico
Correspôndencia Rua Carneiro da Cunha, 212 - sala 1 Vila da Saúde - CEP 04144-000 Contato Fone - 11- 2339-4710 Fax - 11 - 2339-4711
As opiniões expressas ou artigos assinados são de responsabilidade dos autores.
Conselho Editorial
Artigo Nutrição parenteral em oncolo
Mercado .....................................
• Dr. João Carlos G. Sampaio Góes • Dra. Clarissa Cerqueira Mathias • Dra. Gildete Lessa • Dra.4Maria Lúcia M. Batista
Atualização ................................
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Editorial
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sta edição apresenta os grandes centros oncológicos do Brasil e traz um panorama dos principais serviços oferecidos para combater o câncer, bem como aponta os métodos mais avançados de tratamento e da inovação tecnológica que a cada ano surpreende a medicina. Um exemplo de avanço tecnológico é a Watson Health, inteligência artificial da IBM. Em entrevista exclusiva para a Revista do Câncer, Dr. Daniel Morel, Clinical Adoption Specialist da IBM Brasil, conta como funciona o método e como tem contribuído para o trabalho dos médicos no tratamento contra o câncer. Ainda nesta edição, você poderá verificar os temas mais debatidos em dois grandes eventos internacionais sobre o câncer. O congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (American Society of Clinical Oncology – ASCO) abordou tratamento cada vez mais personalizado e eficiente. O Next Frontiers to Cure Cancer 2019, que chegou a sua quarta edição, mostrou quais são as possibilidades para se alcançar um futuro mais inteligente e saudável. Boa leitura!
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ONCONEWS
B. Braun é referência em dispositivos médicos seguros para Oncologia
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B.Braun possui mais de 50 anos de expertise em terapia de infusão segura no Brasil, garantindo a segurança de pacientes, profissionais de saúde e do meio ambiente. A terapia oncológica é um dos nossos focos, uma vez que, tanto os pacientes, quanto os profissionais de saúde estão expostos a riscos durante o tratamento. Em 2018 a empresa lançou o projeto OncoPartner, onde se apresenta como uma empresa parceira dos serviços de Oncologia de todo o país. Mais do que um portfólio amplo e de altíssima qualidade, a B.Braun é referência em soluções para o tratamento do paciente oncológico, que vão desde o controle de infecções (higiene de mãos e superfícies), passando pela terapia de infusão (dentro e fora do ambiente hospitalar) e do tratamento domiciliar (com bombas de infusão elastoméricas, curativos
para o tratamento de feridas, e ostomias, por exemplo). “Nossa empresa demonstra grande preocupação com a segurança de pacientes e manipuladores de dispositivos médicos; no tratamento dos pacientes oncológicos esta preocupação precisa ser redobrada, uma vez que a prevenção de riscos é fundamental para garantir a segurança de todos os envolvidos no processo. A alta tecnologia investida nos produtos B.Braun garante processos mais seguros e eficazes, além de minimizar gastos desnecessários com perda de dispositivos e medicamentos, estes últimos com custos cada vez maiores na Oncologia,” afirma Erik Barbosa, Diretor Comercial dos Laboratórios B.Braun. A empresa convida a todos para visitarem seu site www.bbraun.com.br, e conhecer as soluções que oferece para Oncologia.
Um novo medicamento foi liberado para o tratamento de pessoas diagnosticadas com câncer
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egistrado pelo nome Mvasi, o remédio conta com o princípio ativo bevacizumabe e é classificado como biossimilar, isto é, altamente semelhante ao medicamento de referência. Isso significa que o medicamento foi desenvolvido a partir do momento em que a patente do produto biológico expirou, o que representa uma oportunidade para novas empresas desenvolverem versões semelhantes. Por ser um processo mais elaborado e com vários testes, a produção dos remédios biossimilares — como o Mvasi — acaba sendo mais cara do que as dos sintéticos. Por isso, existem poucos biossimilares aprovados. Nessa fase de testes, o remédio foi comparado com o Avastin, um outro medicamento 6
que tem o mesmo princípio ativo. Esse procedimento é conhecido pelas autoridades de saúde como testes de comparabilidade, que servem para verificar o desempenho dos medicamentos e para ajudar na decisão de ser aprovado ou não pela agência. Com a liberação, segundo a Anvisa, o remédio deve ser indicado para o tratamento de pacientes com diferentes tipos de câncer, tais como o colorretal, de pulmão, de mama, no rim, do útero e de ovário. O medicamento também só deve ser utilizado seguindo uma prescrição médica, pois depende de uma avaliação clínica prévia. A inclusão e aprovação do remédio também é importante para os médicos, que podem prescrevê-lo com maior segurança para os pacientes.
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ANVISA aprova novo tratamento para câncer de pulmão
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Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anuncia a aprovação de uma nova opção de tratamento para câncer de pulmão de não pequenas células avançado com mutação ALK, que acomete, em sua maioria, mulheres jovens e não fumantes. O estudo ALEX, que baseou a aprovação, demonstrou que o uso de alectinibe reduziu em mais da metade, o risco de progressão da doença, em comparação com o tratamento padrão atual, estendendo o tempo médio de vida sem o agravamento do câncer de menos de um ano para mais de dois anos”. Mostrou, ainda, redução de mais de 80% no risco de desenvolvimento de metástase cerebral. O perfil de segurança da molécula foi consistente com o já observado em estudos anteriores. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, cerca de 85% dos pacientes diagnosticados com câncer de pulmão no país são do tipo não pequenas células, dentre estes cerca de 5% possuem alteração do gene ALK. O medicamento alectinibe, registrado no País com o nome comercial Alecensa®, é desenvolvido pela Roche Farma Brasil, líder mundial em biotecnologia. Para o diretor médico da companhia, Lenio Alvarenga, a medicação chega para atuar em uma área que necessitava de avanços terapêuticos: “Nosso objetivo é fornecer uma opção de tratamento eficaz para todos aqueles que precisam. O Alecensa trouxe aos pacientes resultados significativamente melhores quando comparado aos tratamentos existentes para este tipo de câncer de pulmão”. Apesar de importantes avanços terapêuticos e campanhas de redução do risco da doença, como a antitabagismo, a taxa de mortalidade para o câncer de pulmão ainda é muito alta. Este é o tipo da doença que mais leva pessoas a óbito no mundo e, no Brasil, é considerada uma das principais causas de morte evitáveis.
Sírio-Libanês em Brasília
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Hospital Sírio-Libanês vai inaugurar em Brasília a primeira unidade fora de São Paulo. Com investimento de R$ 260 milhões, o hospital ampliará as especialidades médicas oferecidas na capital. Além de oncologia e medicina diagnóstica, prestará atendimento em áreas como cardiologia, neurologia, ortopedia e emergências. Nesta primeira fase, serão criados 450 empregos formais, além de 130 terceirizados. De acordo com Fábio Patrus, diretor de Unidades Externas do Sírio-Libanês, ainda serão investidos R$ 60 milhões, o que fará o número de empregos chegar a 800 até 2022. Com mais de 30 mil metros quadrados, na quadra 613 sul, o hospital terá 44 leitos, dos quais 30 de UTI, seis salas de cirurgia com tecnologia de ponta e, inclusive, robôs cirúrgicos. "Já tínhamos um grande volume de atendimentos de pacientes de Brasília, e grandes lideranças do hospital de São Paulo atendiam aqui. Então, foi um processo natural", relata Patrus. Para o Dr. Gustavo Fernandes, diretor Geral do Sírio-Libanês, o diferencial do hospital são os profissionais: "Cuidar de pessoas exige qualificação e excelência profissional, mas também um lado humano que valorizamos muito", afirma. O hospital tem parcerias com a rede pública, como o atendimento de pacientes de radioterapia do Hospital da Criança. A instituição também executa projetos de apoio ao Sistema Único de Saúde (SUS) e desenvolve projetos sociais. Fonte: Correio Braziliense
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ONCONEWS
Fleury Medicina e Saúde e o Hospital Sírio-Libanês inauguram plataforma de análises clínicas totalmente automatizada
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Fleury Medicina e Saúde e o Sírio-Libanês, parceiros na área de análises clínicas desde 2006, inauguraram parque diagnóstico na Unidade Bela Vista da instituição hospitalar, em São Paulo, para promover maior agilidade e controle do fluxo de amostras, aumentando em 60% o volume de exames processados e reduzindo o tempo médio de liberação de resultados. Com a modernização, também foi possível aumentar em 40% o portfólio de testes processados in loco. A solução Total Laboratory Automation (TLA) combina a tecnologia da Roche com a inteligência em medicina diagnóstica do Fleury. Na América Latina, é a primeira vez que um projeto deste porte é implantado em um hospital privado de excelência e alta complexidade. Com grande volume de exames, em sua maioria com necessidade de resultados de urgência, o Sírio-Libanês é o local ideal para implantação desta solução. O controle digital dos processos, o transporte e o armazenamento robotizado de amostras e a utilização de equipamentos de última geração, associados ao time de profissionais altamente qualificados, beneficiam os médi-
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cos, que poderão tomar decisões mais rápidas e precisas, proporcionando mais conforto e satisfação aos pacientes. A capacidade de armazenar amostras por 10 dias e recuperá-las automaticamente, caso necessário, também evita que pacientes sejam submetidos a novas coletas. "A automação do fluxo de amostras permite que os assessores técnicos e colaboradores tenham menos trabalho operacional e acesso a dados da mais alta qualidade, podendo dedicar mais tempo ao que realmente importa para os pacientes: a análise e liberação dos resultados dos exames", explica o diretor executivo Médico e Técnico do Grupo Fleury, Dr. Edgar Rizzatti. Para o Hospital Sírio-Libanês, a tecnologia agilizará a entrega de resultados de cerca de 40% do total de exames processados na instituição. "O paciente está sempre no centro do cuidado. Esta tecnologia irá beneficiá-lo ainda mais, com resultados rápidos e precisos, além de apoiar os médicos na tomada de decisão", afirma Cesar Nomura, diretor de Medicina Diagnóstica do Sírio-Libanês.
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Idosos: o público fiel da farmácia
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egundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 40 anos, a população brasileira com mais de 60 anos de idade deve triplicar. O futuro cenário é consequência dos constantes avanços da ciência e da medicina, que permitem uma maior longevidade e qualidade de vida. Para os indivíduos, essa perspectiva é animadora, já para o sistema de saúde, representa um enorme desafio. A população brasileira já enfrenta limitações importantes nos serviços de saúde, especialmente em regiões mais pobres. À medida que o número de idosos aumentar significativamente, o quadro tende a piorar, uma vez que uma série de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes e hipertensão, são mais incidentes após os 60 anos de idade. “Com o envelhecimento da população, também aumentam os casos de infarto e Aci-
dente Vascular Cerebral (AVC), ou seja, a educação da população em relação à saúde se torna cada vez mais fundamental para a prevenção de condições que possam afetar negativamente a qualidade e a longevidade dos idosos”, alerta o gerente sênior de marketing Consumer Health Care no Brasil da IQVIA, Rodrigo Kurata. A indústria investe constantemente em estudos e pesquisas que visam melhorar o combate a doenças comuns na terceira idade. No entanto, o possível surgimento de novas terapias não significa um retorno imediato à população. Segundo informa a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma), medicamentos inovadores têm custos altos, que acabam impactando no sistema público de saúde. O governo acha caro e retarda a incorporação desse produto, no entanto, é justamente a incorporação do novo medicamento que faz cair o preço. É um dilema que precisa ser resolvido.
Prêmio Excelência e Qualidade Brasil 2019
Homenagem ao Comendador Adalberto de Oliveira Filho Destaque 2019 da empresa Similar & Compativel Revista do Câncer
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ONCONEWS
Roche anuncia medicina personalizada como alternativa de cura para o câncer
Tratamentos personalizados com drogas combinadas e teste genéticos em tumores são os caminhos que já começaram a ser estudados pela farmacêutica
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Roche realizou durante três dias, o Roche Press Day, que reuniu cerca de cem jornalistas de toda a América Latina, na capital paulista, para apresentar seus projetos de inovação na área de oncologia e debater com diversos players do mercado o futuro da cura para o câncer. O diretor médico da Roche, Lênio Alvarenga, ressaltou a importância da iniciativa como um espaço de diálogo para discutir
as necessidades mais urgentes da América Latina, a fim de se encontrar soluções. Segundo o executivo, a medicina personalizada está transformando o tratamento do câncer e esse foi o principal foco das apresentações. Outro destaque ficou por conta da reunião de informações que se precisa ter do paciente e de seu tumor, por isso, cada vez mais o Big Data tem se configurado como ferramenta essencial de pesquisa e tratamento.
Morre pesquisador que desenvolveu a fosfoetanolamina, a “pílula do câncer”
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pesquisador Gilberto Orivaldo Chierice, conhecido por ter desenvolvido a fosfoetanolamina sintética, droga buscada por seus supostos efeitos contra o câncer, morreu aos 75 anos, em São José do Rio Preto, interior de São Paulo. Chierice, que era professor aposentado do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), campus daquela cidade, estava internado no Hospital Instituto de Moléstias Cardiovasculares. A causa da morte não foi divulgada. Ele fabricou e distribuiu durante 20 anos a fosfoetanolamina, conhecida como “pílula do câncer”, em seu laboratório no Instituto de Química de São Carlos. Sem testes clínicos que comprovassem sua eficácia, a droga, sintetizada a partir da monoetanolamina e ácido fosfórico, ganhou fama como eficaz contra vários tipos de câncer. Ele chegou a distribuir 50 mil cápsulas por mês, até que, em 2016, notificada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a USP suspendeu a produção e distribuição das cápsulas. 10
A medida desencadeou uma corrida de pacientes e familiares à Justiça, obtendo liminares para que o fornecimento da fosfoetanolamina fosse continuado. Em abril daquele ano, a então presidente Dilma Rousseff (PT) chegou a sancionar uma lei para que a medicação fosse fornecida para pacientes com tumores malignos. Em maio do mesmo ano, por 6 votos a 4, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a lei e as decisões judiciais que obrigavam o governo a fornecer a substância. Na época, o governo paulista havia autorizado uma pesquisa clínica para para testar a eficácia da “pílula do câncer”. Meses depois, o Instituto do Câncer suspendeu os trabalhos porque a substância não apresentou resultados significativos. A suspensão dos testes foi bastante criticada por grupos criados em redes sociais que defendiam a eficácia da fosfoetanolamina. Uma das alegações foi a de que a substância usada nos testes não era a mesma desenvolvida pelo professor Chierice. Desde então, o laboratório da USP não voltou a produzir a ‘pílula do câncer’.
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Dispositivo a laser encontra e destrói células cancerígenas, diz estudo
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m um estudo publicado pela revista Science Translational Medicine, pesquisadores demonstraram que um novo dispositivo a laser é 96% mais sensível do que o existente atualmente. Chamado de citofone, ele foi desenvolvido por cientistas da Universidade de Arkansas, nos Estados Unidos. Conforme destacado pelos autores do estudo, esse novo dispositivo a laser poderá identificar células que causam o câncer de pele do tipo melanoma, e eliminá-las com mais facilidade. No entanto, é necessário identificar a existência do câncer antes que este tenha a chance de se espalhar pelo corpo humano. O melanoma é um câncer capaz de espalhar a sua fonte original para outras áreas corporais logo no início da doença. O citofone é capaz de captar células de melanoma que circulam pelos vasos sanguíneos do organismo, quando estão próximos da superfície e são aquecidos. Quando a temperatura aumenta, a coloração das células escurece, o que gera uma onda acústica facilmente detectada. Os autores do estudo afirmam, porém, que o dispositivo não consegue identificar uma célula que esteja sozinha e imóvel no meio do sangue. Além de identificá-las, o dispositivo também pode destruí-las. Após um tratamento de cerca de uma hora, os níveis das células cancerígenas no corpo humano diminuíram consideravelmente. Essa ação pode não ser suficiente para acabar com a doença, mas, em conjunto com outros tratamentos já existentes, é capaz que o desempenho da remoção do câncer se torne mais eficaz. Para comprovação da hipótese,
28 pacientes com melanoma foram submetidos ao teste com o citofone, que conseguiu identificar a presença de células cancerígenas circulantes em 27 destes. Entretanto, apenas 3 pacientes desses possuíam a doença em um nível avançado. Esse número precisa aumentar em futuros testes para que o dispositivo se torne algo promissor para o tratamento de células cancerígenas.
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ENTREVISTA
Watson Health revoluciona medicina de precisão
Inteligência artificial da IBM apresenta possibilidades terapêuticas embasadas em artigos científicos para otimizar o trabalho dos profissionais de saúde. Por: Sunara Avamilano
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Dr. Daniel Morel
linical Adoption Specialist da IBM Brasil, conta como funciona a tecnologia Watson Health e como ela tem contribuído para o trabalho dos médicos no tratamento contra o câncer.
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Revista do Câncer: O que é e como funcio- decisões clínicas, como o Watson for Oncology, por exemplo, ajuda a aumentar a conformina a tecnologia Watson Health? dade com os padrões profissionais e aumenta Dr. Daniel Morel: É humanamente impossível a capacidade dos médicos de oferecer oncoacompanhar a proliferação diária de dados de logia de precisão. O IBM Watson for Oncology, saúde. Pensando nisso, a IBM criou o Watson treinado pelo Memorial Sloan Kettering (MSK), Health, um ecossistema conectado em todo complementa o trabalho dos oncologistas, o setor de saúde para aproveitar a expertise apoiando-os na tomada de decisões clínicas, permitindo-lhes acesso a opções de tratamendessas informações e compartilhar valor. to personalizado com base em evidências de Utilizando a tecnologia de inteligência artifi- mais de 300 revistas médicas, mais de 200 cial, as soluções de Watson Health permitem livros e quase 15 milhões de páginas de texto. que os profissionais tenham acesso a informações médicas para ajudar hospitais, provedo- RC - Como o Watson Health tem contribures, seguradoras, pesquisadores e pacientes a ído para o trabalho dos médicos? Como obterem acesso a dados mais atualizados na eles têm se adaptado a essa tecnologia? literatura e tomarem decisões baseadas em Há treinamento específico para o seu uso? evidências. Nosso objetivo é capacitar líderes, referências e influenciadores no setor de saú- DM - A ferramenta é de uso extremamente de, por meio de um suporte que os ajude a simples. No momento em que o Watson for atingir resultados significativos, acelerar as Oncology apresenta as possibilidades teradescobertas, fazer conexões fundamentais e pêuticas, ele é capaz de mostrar ao médico ganhar confiança no caminho que passa pela todos os artigos científicos que justificam resolução dos grandes desafios mundiais da aquela opção, otimizando o trabalho do profissional de saúde, principalmente no momento área. em que há necessidade de se buscar informaA abrangência e penetração do Watson He- ções adequadas para embasar aquela terapia alth no mercado são mostradas por meio de escolhida. números abrangentes: mais de 15 mil clien- Os médicos recebem treinamento da IBM, por tes e parceiros, 80 mil profissionais e 185 mil meio da equipe de Clinical Adoption. Além disso, pacientes e usuários com nossas soluções de têm um acompanhamento para que sejam solucionadas suas eventuais dúvidas clínicas, podendo inteligência artificial para o setor. inclusive interagir com oncologistas da IBM. Hoje temos soluções disponíveis IBM Watson for Oncology, IBM Watson for Genomics, IBM RC - Qual o feedback dos médicos e dos Watson for Clinical Trial Matching e IBM Wat- pacientes sobre essa tecnologia que ajuson for Drug Discovery, que permeiam todas da no tratamento contra o câncer? as etapas de cuidado do paciente – desde a DM - Atualmente, mais de 310 hospitais e pesquisa clínica até o tratamento. organizações de saúde em todo o mundo RC - Fale sobre a viabilidade do Watson usam as ofertas de oncologia e genômica de Health em relação ao seu custo-benefício. IBM Watson Health, beneficiando 140 mil pacientes. Os colegas que utilizam a tecnologia DM - O conjunto de soluções de Inteligência demonstram um elevado nível de satisfação Artificial de IBM Watson Health para apoiar com a otimização do trabalho e na qualida-
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ENTREVISTA
Oncologia e Genoma
- Todos os dias, líderes e porta-vozes de oncologia trabalham para aprimorar o tratamento contra o câncer em uma era de transformação da saúde. Watson Health está trazendo uma combinação sem precedentes de recursos e tecnologias para ajudar a superar os desafios que eles enfrentam. de das discussões clínicas desenvolvidas em ambiente de ensino. Desta forma, a ferramenta além de beneficiar no cuidado do paciente, também impacta diretamente no ensino do profissional médico em formação. RC - Quais os centros oncológicos brasileiros que já utilizam o Watson Health? DM – Atualmente, temos alguns centros oncológicos utilizando a tecnologia no país, mas por questões contratuais de confidencialidade, não podemos revelar os nomes. RC - Teria algum case de sucesso no Brasil para contar? DM - Um exemplo é o Fleury que utiliza Watson for Genomics no Oncofoco, o primeiro exame disponível na América Latina que usa inteligência artificial na elaboração de um laudo detalhado e personalizado para pacientes com câncer. Após sequenciamento do DNA de nova geração (NGS) de 72 genes e um sequenciamento ampliado que analisa 366 genes, relacionados a
diferentes tipos de tumores sólidos e hematológicos, as informações são analisadas pela plataforma de bioinformática do laboratório. A análise identifica alterações de nucleotídeo único, inserções e deleções, alterações no número de cópias gênicas e marcadores de resposta para imunoterapia. O Watson for Genomics recebe esses resultados e gera um relatório com possíveis medicamentos, terapias e estudos clínicos disponíveis e indicados para o caso. Um laudo final é elaborado por médicos e equipe técnica para ser enviado ao paciente. Esta análise permite um melhor diagnóstico de precisão atrelada à melhor terapia disponível para pacientes com câncer (casos complexos ou que não respondem aos tratamentos tradicionais). O Watson for Genomics é uma solução IBM hospedada na nuvem que usa computação cognitiva para auxiliar os médicos a identificarem medicamentos e ensaios clínicos relevantes com base em alterações genômicas de um indivíduo e dados extraídos da literatura médica.
Dr. Daniel Morel
é graduado em Medicina pela Universidade Metropolitana de Santos (2005). Atuou como médico oncologista em importantes instituições de saúde, como Rede D'Or/São Luiz (capital/SP), Instituto de Oncologia Marcello Fanelli, Hospital São Vicente de Paulo, ambos em Jundiaí (SP). Foi professor-colaborador de Oncologia Clínica na Faculdade de Medicina de Jundiaí Atualmente, atua como membro da divisão global de Watson Health na IBM na função de Clinical Adoption Specialist, especializando-se em Inteligência Cognitiva aplicada à Oncologia e soluções de Watson for Oncology, Watson for Genomics e Watson for Clinical Trial Matching Tem experiência em Oncologia Clínica, com ênfase em tumores do trato gastrointestinal, tumores do trato geniturinário, melanoma e câncer de pulmão. 14
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Eventos
ASCO 2019
Por um tratamento cada vez mais personalizado e eficiente
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congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (American Society of Clinical Oncology – ASCO) deste ano foi marcado pelo tema “Cuidando de cada paciente, aprendendo com cada paciente”. O foco central das discussões foi a medicina humanizada, essencial para garantir as melhores práticas terapêuticas. Essa importância da medicina personalizada nos tratamentos dos pacientes foi reforçada com a apresentação de painéis que trataram de abordagens modernas para superar o acesso limitado ao tratamento do câncer e debates em torno dos impactos dos hábitos de vida saudáveis na prevenção e, especialmente, na melhora do prognóstico de quem foi diagnosticado com a doença. Baseados em estudos de casos, médicos oncologistas afirmam que os resultados são muito melhores para o paciente quando é possível individualizar o tratamento. Em pacientes com câncer, os tumores têm características genômicas diferentes, mesmo quando a doença é a mesma. Ou seja, as informações de seu DNA são distintas, o que pode afetar o tratamento. O maior evento médico-científico de oncologia do mundo foi realizado em Chicago, nos Estados Unidos, de 31 de maio a 04 de junho, e reuniu mais de 40 mil profissionais da área. O Brasil foi representado por renomados médicos e também hospitais, como Sírio Libanês, Oncoclínicas, Beneficência Portuguesa, São Lucas. Nesse período foram debatidos os últimos avanços da pesquisa clínica sobre o câncer, incluindo novas terapias, drogas e métodos diagnósticos. Simultaneamente, foram realizadas quase 100 atividades que abordaram todos os tipos de câncer, reunindo oncologistas de diversas especialidades que acom16
panharam as tendências e novidades sobre câncer de pulmão, de mama, de cabeça, de cabeça e pescoço, tumores gastrointestinais, ginecológicos e do sistema nervoso central. AS PRINCIPAIS NOVIDADES APRESENTADAS NO ASCO 2019 Tecnologia: compartilhamento de dados de pacientes. Estudo mostrou que a partir de um grande banco de dados nacional reunido por uma startup privada, a expansão do programa social de saúde social Medcaid nos Estados Unidos diminuiu drasticamente a disparidade no acesso ao tratamento de câncer entre pacientes brancos e afro-americanos. Na ocasião foi apresentado o CancerLinq, portal sem fins lucrativos com sistema de monitoramento. Ele coleta e analisa dados de todos os encontros com pacientes. Ainda inserido no tema inovação tecnológica, foi apresentado no ASCO estudo do uso do aplicativo ePAL, criado por uma equipe de Boston especialmente para pacientes com câncer. A pesquisa reuniu grupos com três níveis de dores oncológicas diferentes: pacientes com dor controlada, com dor crônica e com dor aguda. Distinguir a dor urgente da não urgente e fornecer mensagens educacionais em tempo real, como por exemplo, quando tomar cada remédio e em qual horário, é possível por meio da inteligência artificial. O resultado do estudo mostrou que após oito semanas, o nível de dor dos pacientes que usaram o app diminuiu em 20%, mas o mais surpreendente foi a redução em 69% de chances de visitar um pronto-socorro por conta da dor, em comparação com o grupo controle, que não utilizou a tecnologia.
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Hábitos de vida: aulas educativas reuniram especialistas para debater questões ligadas ao estilo de vida e seus impactos para o paciente com câncer. Câncer de canal anal e de colo uterino: foi reforçada a importância da vacinação contra o HPV para prevenir tumores de canal anal e de colo uterino. Câncer de pulmão: destaque à consolidação dos dados de estudos do congresso passado, aprimorando cada vez mais a qualidade de vida dos pacientes com essa doença. Há grande expectativa com relação a estudos iniciais com novas drogas que podem trazer vantagens futuras. Câncer de próstata: apresentação do estudo ENZAMET randomizado fase III, que mostrou a efetividade de uma nova opção de bloqueador hormonal, chamado enzalutamida, já disponível no Brasil, no aumento da sobrevida de pacientes diagnosticados com tumores metastáticos de próstata sensíveis a tratamento de bloqueio de testosterona. Mieloma múltiplo: nova combinação de medicamentos mostrou resposta positiva quando comparada apenas ao tratamento quimioterápico em pacientes com diagnóstico de mieloma múltiplo. Câncer de pâncreas: ganhou uma nova abordagem terapêutica, por meio do estudo POLO: um quinto (22%) dos pacientes que receberam o tratamento com olaparibe – medicação que atua na reparação do DNA – já tinham superado os dois anos de sobrevivência à doença sem progressão. A pesquisa mostrou ainda que entre os pacientes que receberam a medicação, a doença ficou controlada por quase o dobro do tempo em comparação com os pacientes que receberam o placebo: 7,4 versus 3,8 meses. A descoberta representa avanço significativo para pacientes com tumores metastáticos de pâncreas que possuem esse tipo de mutação genética hereditária – a mesma responsável por alguns tipos de câncer de mama, ovário e próstata. Câncer colorretal: apresentação de mudanças que alteram a prática clínica, como a rediscussão de dados do estudo IDEA, que recomendou a redução pela metade no tempo de tratamento quimioterápico preventivo para pacientes com diagnóstico de câncer colorretal (estádio III) de baixo risco. Isso diminui a toxicidade dos pacientes, aumentando sua qualidade de vida.
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Eventos
NEXT FRONTIERS TO CURE CANCER 2019
Por um futuro mais inteligente e saudável
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onvergência – o Futuro da Saúde” foi o grande tema da 4ª edição do Next Frontiers to Cure Cancer, congresso internacional organizado pelo A.C.Camargo Cancer Center para discutir os principais avanços em pesquisa, diagnóstico e tratamento do câncer. O evento, realizado de 16 a 18 de maio de 2019 no WTC Events Center, em São Paulo, abordou a convergência da engenharia, física, química, computação e ciências da vida em benefício da prática médica, uma poderosa abordagem para mudar os rumos do tratamento do câncer. Neste ano, o congresso teve pela primeira vez um Pre-Annual Meeting, dedicado a simpósios com temas diferentes.
caminhos de controle e do entendimento do câncer e as possibilidades de previsão da progressão da doença, tanto nos indivíduos quanto nas populações. Oito especialidades foram abordadas:
Next Frontiers abordou o uso de inteligência artificial, Big Data e de novos modelos computacionais; equipamentos de imagem capazes de enxergar com precisão processos celulares nos tecidos e a possibilidade de detalhar cada vez mais o RNA e o DNA de cada célula. As novas tecnologias estão trazendo uma quantidade inimaginável de dados que ajudam a expandir o conhecimento dos médicos sobre o câncer, desde a prevenção até métodos diagnósticos e novas terapias e conceitos, proporcionando aos pacientes um futuro com mais qualidade na saúde e custos sustentáveis.
Trato gastrointestinal alto
Mastologia
Urologia
Pesquisa básica e translacional
Ginecologia
Trato gastrointestinal baixo
Inovações e tecnologias
Músculo esquelético
Entre os temas debatidos, destacaram-se, adenomas de hipófise: tumores raros e de difícil diagnóstico, câncer de causa anal, inovações e desafios no tratamento cirúrgico de tumores do aparelho digestivo alto, combinação de medicamentos que se mostram eficazes a pacientes com câncer de pulmão que não respondem às terapias disponíveis, a era da bioimpressão 3D na saúde, avanços da cirurgia robótica no câncer gástrico, aconselhamento genético: um caminho promissor para antever o câncer de próstata, avanços em carcinoma renal e as necessidades do paciente, Especialistas de importantes institui- reabilitação em câncer de mama no Brasil, ções brasileiras e internacionais participaram como lidar com adolescentes e jovens adultos em salas simultâneas, discutindo esses novos com câncer, entre outros. 18
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Vem aí o XXI Congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica Os principais avanços da oncologia clínica com os maiores nomes da especialidade poderão ser conhecidos na 21ª edição do Congresso da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC). O evento acontecerá de 23 a 26 de outubro, no Rio de Janeiro. Aguarde, em breve divulgaremos mais informações. O enfoque deste Congresso, que faz parte da Segunda Semana de Oncologia Brasileira, será a multidisciplinaridade e os grandes avanços no tratamento sistêmico de cada tipo tumoral. O evento contará com especialistas nacionais e líderes mundiais. Mais informações sobre o Congresso SBOC podem ser obtidas no site https://www.semanaonco.com.br/oncologiaclinica/
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MATÉRIA DE CAPA
Os grandes progressos no tratamento do câncer Além das terapias, também houve mudança na postura médica no tratamento do câncer. Agora, a estratégia é definida por uma equipe multidisciplinar
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á meio século, os pacientes com diagnóstico de câncer eram tratados com as poucas armas disponíveis: cirurgia, radioterapia ou quimioterapia. Geralmente, a decisão sobre os tratamentos propostos eram tomadas pelo médico e estavam focados no melhor resultado esperado em termos de chance de sobrevida, independentemente de qualquer outra consequência. 20
As autoridades médicas eram poderosas por terem o conhecimento de uma literatura inacessível a outros médicos e impossível de ser acessada ou compreendida por pacientes. Eles utilizavam ainda o argumento da experiência pessoal para justificar as decisões. O paciente e a família, na maioria dos casos, aceitava esta autoridade sem questionar. Não havia como questionar. Mas, na verdade, pouco se conhecia sobre a biologia da doença, pouco se podia ofe-
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Comparação recer para a maioria dos pacientes. Apenas entre tratamentos um em cada três casos de câncer eram curados. Era um tempo em que se usava da expeO maior salto, no entanto, foi o fato de que riência de cada um ou de cada instituição e da cega confiança e esperança dos pacientes. os resultados de diferentes tratamentos passaram a ser comparados e questionados. Velhos dogmas foram quebrados. Agora, as decisões terapêuticas Os progressos no tratamento passaram a ter mais base científica e os médicos a discutir casos entre especialidades. Mas ainda haNos anos 1960 até 1990 registraram-se via muita rivalidade. Nessa época ocorreram meinúmeros progressos com novas técnicas ci- lhoras significativas dos resultados, um em cada rúrgicas, com destaque para as cirurgias onco- dois pacientes eram curados. No entanto, por velógicas regradas baseadas em conhecimento zes, a ciência era atropelada pela arrogância. Foi da disseminação tumoral. Os cirurgiões dessa a época do início da colaboração entre especiaépoca avançaram muito nas reconstruções, lidades para maximizar os efeitos terapêuticos e possibilitando uma sobrevida com menor minimizar as sequelas do tratamento. morbidade. Também na radioterapia houve Progressos extraordinários ganhos com novos equipamentos, mais precisos e capazes de tratar melhor, produzindo A partir dos anos 1990 os progressos menos sequelas. Na quimioterapia algumas drogas novas surgiram e elas foram combina- foram extraordinários. Cirurgiões tornaram-se das trazendo maior eficácia aos tratamentos. cada vez mais especializados e passaram a Revista do Câncer
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MATÉRIA DE CAPA usar novos instrumentos como a endoscopia, a cirurgia videoassistida e, mais recentemente, a robótica. Refinaram-se as técnicas de reconstrução. A radioterapia progrediu de forma exponencial. Agora, radioterapeutas não poderiam mais continuar a ser generalistas. Eles também se dividiram em subespecialidades. A oncologia clínica mudou drasticamente pelo aparecimento de novas drogas, novas combinações e, mais recentemente, com as drogas-alvo e imunomoduladoras.
dicas. E as equipes estão cada vez mais preparadas para discutir opções, rever rumos, adotar novas alternativas. O tratamento não é mais dogmático. Surgem novidades com muita frequência. Os médicos precisam ter a agilidade – mas também a necessária parcimônia – em adotar novos procedimentos.
Ninguém mais consegue entender tudo. Houve uma pulverização em subáreas dentro da especialidade. Agora não há como exercer a oncologia sem especialização fina, sem cooperação entre especialistas.
Estamos agora mergulhados em um mar de informações. Como lidar com isso tudo?
Em primeiro lugar, se as equipes médicas não tirarem benefício dos progressos científicos, elas não estarão oferecendo a seus pacientes tudo aquilo que pode ser usado, diminuindo suas chances de cura. Em pouco tempo, estas equipes cairão em descrédito e Maior precisão sofrerão pesadas críticas pelo anacronismo das decisões tomadas. Para utilizar as mePacientes oncológicos atuais recebem o lhores evidências científicas, não basta ler benefício de diagnóstico e estadiamento mais os últimos artigos. É necessário saber medir precisos, terapêuticas mais baseadas na his- a qualidade da informação. É preciso ler com tória natural da doença e em resultados de espírito crítico, mas com a mente aberta para estudos criteriosos. Não há mais campo para absorver novos conceitos. o médico individual decidir o tratamento. São equipes multiprofissionais, lideradas por um Em segundo lugar, existem classificaou outro de seus participantes que coordena ções que auxiliam na tomada de decisões de o tratamento.No entanto, por vezes, mesmo acordo o “nível de evidência”. De um modo gecom todo o conhecimento acumulado exis- ral, meta-análises (um compilado de estudos tem divergências quanto a determinadas con- randomizados), estudos controlados com cadutas. Uma segunda opinião, de equipes mais sos e controles submetidos a diferentes trataespecializadas e experientes pode ser neces- mentos (os chamados estudos randomizados) sária. Aqui sempre fica um dilema. O pacien- são considerados os mais poderosos. te e a família, ansiosos pelo melhor, podem buscar ajuda de quem prometa resultados No entanto, não existem tais estudos mágicos, aqueles que são mais agradáveis de para responderem a todas as perguntas do serem ouvidos. No entanto, o preço da cura dia-a-dia dos médicos e de seus pacientes. Por pode ser um período difícil e doloroso. Os ata- exemplo: podem existir informações de que lhos podem custar a vida. determinado tratamento é melhor que outro em vários estudos. Nesse caso, pouco questioHoje curamos dois de cada três pacien- namento existe sobre a validade de indicar o tes. Eles participam da decisão porque agora tratamento identificado como mais eficiente. têm acesso irrestrito a informações e elas são, de modo geral, compreensíveis. Eles têm Por outro lado, ele pode não ter sido oportunidade de questionar suas equipes mé- testado em pacientes idosos, excluídos dos 22
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estudos originais. Como o médico poderá tratar pacientes reais desta faixa etária? Pode extrapolar os resultados daqueles estudos e aplicar nesse grupo específico de pacientes? Certamente, não existindo a melhor evidência científica, a equipe médica deverá adotar condutas baseadas em outras fontes e até mesmo na experiência para tomar decisões dessa complexidade.
Conhecimento foi o grande diferencial Lamento dizer, mas a medicina baseada em evidência não é atual. Sempre se utilizou a melhor evidência disponível para a tomada de decisões. O que mudou é o volume de conhecimento que norteia a prática. Isto fez com que o fato de ser, outrora, uma prática individual do médico (que podia até saber muito, mas não tudo, o que se conhecia sobre um dado assunto), para uma prática atual de equipes médicas especializadas (onde cada um sabe muito, mas não tudo, o que se conhece sobre cada fragmento do assunto). O entendimento da complexa literatura atual requer a participação de muitos especialistas e uma reflexão profunda e orquestrada quanto a hierarquização das evidências para que haja uma parcimoniosa aplicação prática do conhecimento.
Em terceiro lugar as evidências têm sido utilizadas para construção de diretrizes (guidelines) de diagnóstico e tratamento. São ferramentas úteis que facilitam as atividades médicas no dia-a-dia. Elas oferecem um guia para a prática, mas não podem ser tomadas como inquestionáveis ou imutáveis. Elas ajudam a melhorar a assistência à população, mais pelas contraindicações a tratamentos não comprovados do que pela indicação precisa. Elas não substituem o juízo clínico apurado Ao tratar de um paciente individual, onde na responsabilidade pela tomada de decisões qualquer equívoco para menos ou para mais complexas em pacientes individuais. no diagnóstico ou no tratamento pode custar a vida, todos os dados precisam ser consideraEm quarto lugar, outro contexto a ser dos, revistos e confirmados antes do início da lembrado é aquele relacionado a disponibili- jornada de um tratamento oncológico. Este é dade dos meios. Em países como o Brasil, as um exercício de coordenação de trabalho em realidades locais podem ser muito distintas. equipes compostas por seres humanos que Por exemplo, o melhor meio para diagnóstico tratam de outros seres humanos buscando o de metástase de determinado tumor pode ser máximo benefício com o menor risco possível. um PET-CT. Mas o equipamento mais próximo pode As certezas e intransigências do passado estar a milhares de quilômetros. Ou o melhor deram lugar a uma nova postura médica, onde tratamento exige um equipamento como a a observação cuidadosa – e em tempo real – Próton terapia, indisponível no país. da evolução dos pacientes e a abertura para a consideração de críticas construtivas permiCabe ao corpo médico tem rever planos de tratamento, incorporando avaliar as tecnologias condutas que possam beneficiar os pacientes. Uma postura de colaboração e humildade na As equipes médicas terão que julgar se estas prática médica evidencia todos os dias que há tecnologias trariam um benefício tão marcan- sempre o que aprender e melhorar. te para pacientes específicos que justificariam uma custosa transferência para outros locais. Dr. Luiz Paulo Kowalski Na maioria dos casos, o impacto é limitado e Cirurgião Oncologista e Diretor do departameno melhor a fazer é utilizar o melhor recurso to de cirurgia de cabeça e pescoço e otorrinolalocal disponível para benefício dos pacientes. ringologia do A.C. Camargo Cancer Center Revista do Câncer
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apesar do avanço de tratamentos, custos ainda são empecilhos
É
difícil curar o câncer porque ele não é um, mas vários. Para cada um dos 200 tipos da doença, responsável por uma a cada seis mortes no mundo, há outras dezenas de subtipos. Não faz muito tempo que a ciência sabe disso, mas com a popularização do mapeamento genético e a evolução da biologia molecular não só tornou-se possível determinar o tipo exato como desenvolver uma forma específica de lidar com ele.
indefinido, não se sabe que valor será preciso despender”, diz Holtz.
Enquanto isso, o número de novos casos da doença não para de aumentar: a projeção é de que, em todo o mundo, pule dos 14 milhões registrados em 2010 para 21 milhões em 2030. Com isso, os gastos devem subir de US$ 290 bilhões para US$ 458 bilhões no período. Os países ricos devem contribuir de cinco a dez vezes mais que os pobres nesse investimento. Assim, apesar da maior incidência nos países ricos (1,8 vezes mais casos), 70% Enquanto a quimioterapia, criada na das mortes ocorrem em locais onde a renda é década de 1970, ataca todas as células de média e baixa. Essa desigualdade aparece até crescimento rápido no corpo, seja dos tumo- dentro de um mesmo país. Nos EUA, a chance res (neoplásicas), do sistema digestivo, seja de um homem negro morrer de câncer é 24% do cabelo — o que provoca os efeitos colate- maior que a de um branco. rais —, as terapias-alvo atacam somente características específicas das células canceríNo Brasil, o salto deve ser dos 490 mil genas, bloqueando, assim, o crescimento e a novos casos registrados em 2010 para 600 disseminação do câncer. Já a imunoterapia, mil neste ano. Desses pacientes, 25% estão última grande novidade, “convence” o próprio cobertos por planos de saúde; os demais 75% sistema imunológico de que o tumor deve ser dependem do SUS. De acordo com o Ministério combatido. “É a revolução da oncologia”, res- da Saúde, os gastos somente com tratamento salta Luciana Holtz, do Instituto Oncoguia. “Há mais que dobraram nos últimos anos: de R$ casos de cura de pacientes com melanoma e 2,2 bilhões em 2010 para R$ 4,7 bilhões em câncer de pulmão metastáticos, doenças que 2017. É o mesmo que todo o orçamento preantes matavam em seis meses.” visto neste ano para investimento em ciência. Só tem um problema: o preço. Se a utiEsse montante não incorpora a maioria lização da terapia-alvo em um único paciente dos novos tratamentos, já que 75% dos gastos pode chegar a R$ 600 mil, na imunoterapia são com quimioterapia. O acréscimo das desesse valor é anual. “O tratamento tem prazo pesas com tecnologias mais modernas seria 24
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sinônimo de falência, certo? Segundo o economista do banco Interamericano de Desenvolvimento André Medici não é bem assim. “Boa parte do aumento dos gastos se justifica pelos custos associados a tratamentos em estágios avançados da doença.” Cerca de 60% dos casos são diagnosticados nos estágios 3 e 4 — em uma escala em que 5 é terminal. Neles, os custos são entre 60% e 80% maiores que nos estágios 1 e 2, com chance de cura sensivelmente menor. “A necessidade de medicamentos e terapias, mesmo as novas e mais caras, tende a ser proporcionalmente elevada. No ritmo atual, as necessidades ficarão sempre aquém das possibilidades de financiamento”, afirma Medici.
marcador molecular específico que comprove a eficácia do tratamento. “Cada vez que surge um avanço, a tendência é querer aplicar essa tecnologia em todos. Esse é um dos primeiros fatores que levam ao encarecimento”, afirma o oncologista Paulo Hoff. “O custo é importante, mas o retorno é mais ainda. Uma coisa é um remédio custar R$ 60 mil por mês e resolver o problema; mas, se tiver o mesmo custo e propiciar sobrevida de um mês, como sociedade você começa a questionar seu real benefício.”
A OMS preconiza que um medicamento tem custo-benefício adequado quando aumenta a vida do paciente em um ano com o valor de até um PIB per capita (menos de R$ 30 mil no Brasil). “Um camiUm estudo feito pela nho são os biossimilares”, Associação Brasileira de aponta Gélcio Mendes, do Linfoma e Leucemia (AbraInstituto Nacional do Cânle) em 2016 mostra que, no cer. Da mesma forma que, caso do câncer de mama, com os genéricos, a quebra por exemplo, o custo médio da patente baixou os prepor paciente no estágio 3 é ços para até 15% do origide R$ 65.125, comparado nal, pode acontecer com a com R$ 11.373 no estágio imunoterapia. “O problema 1. “Quem depende do SUS é que são técnicas muito não consegue agendar um avançadas de biologia mocheck-up”, destaca Merulecular, com um processo la Steagall, presidente da de produção extremamente Abrale. “Se a suspeita não delicado e complicado. Muiestá iminente para justificar o pedido de um tos medicamentos estão perdendo a patente, exame, dificilmente a pessoa vai conseguir mas o desafio é produzi-los”, afirma Mendes. um diagnóstico com os primeiros sintomas.” O que não pode ocorrer é a população Paralelamente, as novas tecnologias de- ficar sem tratamento. Além da questão humandam diagnósticos cada vez mais precisos, mana, o prejuízo é muito maior que o custo. com a chamada medicina personalizada. As Segundo a OMS, dos 225 mil brasileiros morterapias-alvo e a imunoterapia não funcionam tos pelo câncer em 2012, 87 mil eram econoem todo mundo. Para cada subtipo de câncer micamente ativos, entre 15 e 65 anos, o que usa-se um medicamento diferente, além de acarretou perda de produtividade equivalente ser necessário que o paciente apresente um a R$ 15 bilhões. Fonte revista Galileu
No Brasil, 25% dos pacientes diagnosticados com câncer estão cobertos por planos de saúde; os demais 75% dependem do SUS
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Os grandes centros oncológicos
Casos de câncer aumentam, e hospitais financiam pesquisas contra a doença e inauguram novas unidades
O
câncer é uma das principais causas de morte em todo o mundo. A cada ano, 8,2 milhões de pessoas morrem devido à doença. E esse número é crescente. No Brasil, enquanto foram registrados 189.454 óbitos por câncer em 2013, para o biênio 2018 e 2019, estimam-se 600 mil novas ocorrências a cada ano, segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca). No mundo, mais de 32 milhões de pessoas vivem com a doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o número de novos casos de câncer continuará aumentando apesar do enorme investimento no combate à doença. Para minimizar os dados alarmantes, centros de referência e hospitais de ponta no Brasil e no mundo se debruçam em pesquisar inovações em tratamentos e uso de tecnologias e medicamentos capazes de melhorar a condição de vida do paciente, a sobrevida e a cura. A abertura e a compra de novos centros hospitalares, de atendimento e assistência, e a utilização de robôs e aparelhos menos invasivos e com maior precisão têm sido o caminho percorrido. Além da intensificação no mapeamento genético, para identificação precoce de doenças, a imunoterapia aparece como o que há de mais eficiente para o tratamento de alguns tipos de tumor. Na sequencia apresentaremos as maiores intituições oncologicas do Brasil. 28
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Centro de Oncologia e Hematologia Hospital Albert Einstein O Centro de Oncologia e Hematologia Einstein Família Dayan – Daycoval foi criado para ser o mais avançado sistema em diagnóstico e tratamento do câncer da América Latina. Tem por objetivo integrar os atendimentos em oncologia e hematologia, por meio de normas de condutas, protocolos clínicos e de pesquisa, unificação da gestão e incentivos à colaboração multiprofissional. Priorizando o acolhimento à frente de cada etapa de tratamento e um modelo assistencial baseado no atendimento interdisciplinar e integrado, o Centro inclui toda a cadeia de atendimento: Diagnóstico, Tratamento Cirúrgico, Oncologia Clínica, Quimioterapia, Radioterapia, Gestão de Doença Oncológica Crônica, Cuidados Paliativos, Cuidados Hospitalares de Suporte e Home Care. Trabalhando em conjunto com o médico titular, os serviços de suporte como Medicina Integrativa, Psicologia, Nutrologia, Homecare, Odonto-oncologia, Reabilitação, Geriatria, Cuidados Paliativos e Onco-genética, complementam o tratamento oncológico, garantindo a visão holística do Einstein. Justiça social também caracteriza a Oncologia e Hematologia Einstein com diversas parcerias com as Secretarias da Saúde do Município e do Estado de São Paulo assim como com o Ministério da Saúde. Uma prova disso é o serviço de Oncologia do Hospital Municipal da Vila Santa Catarina, que é gerenciado pelo Einstein. O Einstein é o primeiro hospital na América Latina a ser um membro associado do MD Anderson Cancer Network, programa do MD Anderson Cancer Center, um dos principais centros de referência em oncologia do mundo, reconhecido por sua excelência no tratamento, cuidado humanizado, pesquisa e prevenção do. Essa colaboração envolve diversas áreas e te-
mas, como adequação da nova estrutura física, tecnologia da informação, modelo assistencial, discussão de processos técnicos, treinamento e educação, indicadores de qualidade, pesquisa , além de acesso aos mais avançados protocolos de tratamento ao paciente oncológico. Alta tecnologia a serviço do paciente com câncer, excelência em técnicas de diagnóstico e tratamento e na formação de profissionais são valores que permeiam a nossa instituição. Temos certeza que contribuiremos cada vez mais na prevenção, diagnóstico precoce, tratamento, ensino e pesquisa na área de oncologia.
Centro Oncológico da BP Beneficência Portuguesa de São Paulo Tem especialidade de Oncologia em formato de cuidado integrado de saúde, que permeia todos os serviços oferecidos pela instituição, desde prevenção, diagnóstico até tratamentos e terapias. Os clientes contam com um time de renomados especialistas nas áreas de Oncologia Cirúrgica, para retirada cirúrgica dos tumores, Oncologia Clínica, para prescrição de sessões de quimioterapia, imunoterapia ou para aconselhamento a partir de estudos genéticos, Radioterapia, nos casos com indicação para este tratamento, e Hematologia, que atua nas condições relacionadas ao sangue e aos órgãos que o produzem, principalmente nos casos de transplante de medula óssea.
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Todos esses profissionais, somados a uma extensa equipe multiprofissional composta por enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos, entre outros, atuam de forma integrada, trocando informações sobre cada cliente para, com a máxima rapidez, definir a melhor estratégia de tratamento. Aliada à expertise de especialistas, o Centro Oncológico da BP possui tecnologia de ponta para o tratamento do câncer. Nossos clientes contam com os mais modernos equipamentos disponíveis no mercado para a realização da radioterapia e, para os casos nos quais há indicação de cirurgia, o robô da Vinci Xi® Surgical System™, disponível no BP Mirante, é uma opção de procedimento minimamente invasivo que oferece a máxima segurança e rápida recuperação. A Oncologia da BP também se tornou referência no ensino e pesquisa do câncer. Ao todo são mais de 30 trabalhos nacionais e internacionais coordenados por nossos médicos e que promovem novas descobertas sobre a doença, seus diversos subtipos e as mais inovadoras e assertivas opções de tratamento disponíveis no mundo 30
Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz Está inteiramente dedicado ao ensino e à pesquisa, para garantir o avanço contínuo da ciência oncológica, e a introdução rápida dos mais modernos tratamentos ao alcance de nossos pacientes. O Centro Especializado em Oncologia está intensamente envolvido em: • Pesquisas clínicas com protocolos locais e mundiais; • Pesquisadores dedicados a esclarecer dúvidas pertinentes ao cuidado de nossos pacientes; • Publicações científicas de nosso time de especialistas; • Eventos científicos, incluindo palestras, simpósios e congressos, para atualizar e disseminar o conhecimento originado em nosso Centro Especializado em Oncologia.
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profissionais de enfermagem. Todos preparados para dar suporte às necessidades dos pacientes
Centro Onco-Hematologia do H9J A Onco-Hematologia do H9J conta bom duas Unidades especializadas em Transplante de Medula Óssea (TMO), que totalizam 31 leitos. Com conceito inovador baseado nas boas práticas internacionais, as unidades possuem sistema de tratamento de água inédito no País, garantindo a qualidade da água para o paciente com imunodeficiência, e sistema de filtragem de ar HEPA (high efficiency particulate air filter) com pressão positiva, além de apartamentos para isolamento respiratório com pressão positiva e negativa, sistema individualizado de monitoramento de umidade, temperatura e pressão do ar, o que garante total privacidade e um tratamento personalizado. Com equipe interdisciplinar qualificada e especializada para realizar transplantes autólogo, alogênico, haploidêntico, e singênico, as Unidades têm capacidade para atender a pacientes adultos e infantis.
Em 2018 inaugurou novo prédio com mais 60 leitos que se somaram aos 120 inaugurados dois anos antes, em um moderno prédio com 18 andares, com oito andares de garagem, também certificado pela JCI com selo de qualidade internacional. Além disso, o edifício possui o selo Green Building, certificado que confirma a sustentabilidade da construção.
Centro de Oncologia Hospital São Camilo As equipes de Oncologia Clínica e Onco-hematologia da Rede de Hospitais São Camilo são formadas por oncologistas clínicos e hematologistas especializados em todos os tipos de câncer. Os cânceres mais comumente atendidos pelo Centro de Oncologia são de pulmão, mama, cólon, próstata, linfoma não Hodgkin e mieloma múltiplo. As unidades da Rede de Hospitais São Camilo estão preparadas para oferecer toda a gama de atendimentos, O atendimento dos pacientes é personalizado e tanto eles quanto seus familiares têm acesso fácil aos médicos da equipe para esclarecer dúvidas e receber orientações. O Pronto-socorro conta com protocolos específi-
utro diferencial do Hospital 9 de Julho O é o seu Centro de Medicina Especializadaque oferece atendimento ambulatorial e multidisciplinar composto por mais de 50 especialidades médicas e 13 Centros de Referência. A expertise do hospital tem como base sua selecionada e completa equipe de profissionais, formada por cerca de quatro mil médicos, dois mil colaboradores, sendo 1,5 mil Revista do Câncer
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MATÉRIA DE CAPA cos de atendimento das complicações do tratamento oncológico. Um importante diferencial é a formação do Núcleo de Oncogeriatria, em parceria com a equipe de geriatria do hospital, especializado no tratamento oncológico de idosos, e o Núcleo de Oncologia em Imunodeprimidos, em parceria com a equipe de Infectologia, dedicado ao atendimento de pacientes com neoplasias associadas ao HIV. Um importante diferencial do serviço do Centro de Oncologia é a realização de exames laboratoriais, imuno-histoquímica – identificação de células anormais por meio da localização de antígenos em tecidos -, genética e biologia molecular – para investigar as interações entre os diversos sistemas celulares -, além de ultrassom, tomografia e ressonância nuclear magnética. Por meio desses exames é possível fazer diagnósticos e prognósticos mais precisos, o que permite o planejamento adequado do tratamento com foco específico no estado de cada paciente.
Centro de Oncologia do Sírio-Libanês No Centro de Oncologia do Sírio-Libanês, os pacientes recebem os cuidados das equipes médicas de Oncologia Clínica, Radioterapia, Oncogenética, Oncogeriatria, Hematologia/ Transplante de Medula Óssea, Cuidados 32
Paliativos, além de todo o apoio de nossa equipe multiprofissional e equipe de voluntários, o que confere ao atendimento um caráter mais abrangente e, ao mesmo tempo, especializado. Cada médico se concentra em uma determinada área de atuação, como mama e melanoma, por exemplo, o que os torna grandes especialistas no assunto e assegura as melhores opções de tratamento para cada paciente Centro de Oncologia Molecular Desenvolvido em parceria com o Ludwig Institute for Cancer Research, o Centro de Oncologia Molecular do Hospital Sírio-Libanês desenvolve pesquisas para melhor entender os mecanismos moleculares envolvidos na gênese e na progressão das neoplasias, e busca desenvolver ferramentas que permitam diagnóstico e reconhecimento dos fatores prognósticos, bem como a predição de resposta aos diferentes tratamentos. O Centro tem um particular interesse na pesquisa de DNA tumoral circulante – biópsia líquida, que vem sendo ativamente estudada, já tendo proporcionado publicações científicas em revistas internacionais de alto impacto. Uma de suas iniciativas, em parceria com o Serviço de Patologia, foi a criação de um teste genético próprio que aplica o sequenciamento de última geração para detectar alterações genômicas em aproximadamente 500 genes relacionados ao câncer e reconhecidos como determinantes de tumores sólidos.
HCor Onco. No setor de diagnósticos na área da oncologia, uma das maiores novidades dos últimos tempos foi o lançamento do PET-CT. Trata-se de um “super-scanner” capaz de produzir, ao mesmo tempo, imagens metabólicas do organismo e de tomografia computadorizada. Nenhum outro equipamento no mundo
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consegue realizar essas duas análises simultaneamente. O HCor está entre os pioneiros na utilização dessa tecnologia no Brasil e agora acaba de adquirir uma versão ainda mais avançada do equipamento. Quem não conhece de perto a história do hospital pode estranhar que uma instituição reconhecida pela excelência em tratamento das doenças do coração esteja na vanguarda também no setor de oncologia. O investimento no PET-CT, no entanto, faz parte de um grande movimento do HCor de expansão de sua expertise em cardiologia para outras áreas da medicina. Após quatro décadas de existência, esse processo já atingiu uma fase bem avançada e a instituição começa a consolidar-se também como referência em outras especialidades. Em ortopedia, por exemplo, há equipes multidisciplinares atuando em todas as especialidades: coluna, ombro e cotovelo, mão, quadril, joelho, pé e tornozelo, além da ortopedia pediátrica. Em sintonia com o aumento da expectativa de vida do país, o HCor Neuro atua fortemente para garantir um envelhecimento ativo e saudável das pessoas. Os avanços científicos não deixaram de impactar também a cardiologia,carro-chefe que segue sendo referência nacional e internacional quando se pensa no que há de mais moderno em prevenção e tratamento. Exemplo disso são as salas híbridas, responsáveis por derrubar as barreiras entre centro cirúrgico e estrutura de apoio. Mesmo técnicas nascidas dentro do HCor continuam sendo aperfeiçoadas, como o stent, que ganhou uma versão farmacológica e, mais recentemente, um
modelo bio absorvível, com diversas vantagens em relaçã ao modelo convencional. O impressionante processo de diversificação científica do HCor, vale lembrar, ocorre sem deixar de lado o atendimento humanizado e a vocação filantrópica, que há 40 anos norteiam a atuação da Associação do Sanatório Sírio, mantenedora do Hospital do Coração. São estes valores que impulsionam o cuidado cada vez maior da instituição com seus pacientes e a busca diária pela excelência no atendimento.
Oncologia do Hospital Moinhos de Vento O Serviço de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento é reconhecido como um dos maiores do país. Coordenados pelo Dr Sérgio Roithmann, nossos profissionais altamente capacitados prestam atendimento integral, sempre dando prioridade total ao paciente e sua família. Através de uma abordagem multidisciplinar, o tratamento é realizado por equipes médico-assistenciais formadas por cirurgiões, oncologistas clínicos, radioterapeutas, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas e hematologistas. O atendimento e o apoio psicológico e nutricional dispõem de um dos Serviços mais modernos do Brasil: o Centro de Oncologia Lydia Wong Ling, onde o paciente encontra estrutura completa e humanizada para diagnosticar e tratar o câncer. Combinando experiência em casos de alta complexidade com o que existe de mais moderno em Oncologia, é possível diminuir o tempo do diagnóstico e o início da terapia, além de aumentar as chances de sucesso no tratamento. Tecnologia Em constante evolução, o Hospital Moinhos de Vento foi o primeiro hospital do Sul do país a oferecer a tecnologia do Sistema Truebeam, que gera benefícios para o paciente
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MATÉRIA DE CAPA clear, entre outras. Também integra o complexo hospitalar, o serviço de Radiologia e Diagnóstico por Imagem, Laboratório de Análises Clínicas, Anatomia Patológica e Imunohistoquímica, juntamente com as terapias complementares (Psicologia, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição, Serviço Social, Terapia Ocupacional) e Terapia da Dor e Cuidados Paliativos. O Hospital Haroldo Juaçaba é a primeira instituição filantrópica do estado a receber Certificação Nível 1 de Acreditação Hospitalar emitido pela Organizaatravés do tratamento mais efetivo como me- ção Nacional de Acreditação – ONA nos toxicidade. Além de combinar métodos, como a quimioterapia aliada a novos agentes biológicos e a radioterapia, no mesmo lugar, a constante evolução fez da nossa instituição também pioneira no país ao adotar o Sistema Calypso. A tecnologia aplica com precisão o tratamento de radiação, poupando as áreas saudáveis do organismo e tornando o tratamento, além de mais eficaz, com menores sequelas. O Serviço de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento está em permanente evoluCentro de Oncologia ção para chegar cada vez mais rápido e perto da cura. do Hospital Vera Cruz
Instituto do câncer do Ceará Hospital Haroldo Juaçaba
Projetado para ser um grande centro de prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer, o Hospital superou as expectativas, transformando-se, atualmente, na maior referência em cancerologia no Norte e Nordeste do país, proporcionando há mais de dez anos à população do Ceará e estados vizinhos integralidade no tratamento do câncer, através de uma equipe de saúde multidisciplinar altamente capacitada, oferecendo várias especialidades, entre elas a de Cancerologia Cirúrgica (Mastologia, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Urologia, Cirurgia Abdominal, Cirurgia Ginecológica, Cirurgia Plástica Reparadora e Pele e Tecido Ósseo), Oncologia Clínica, Oncologia Pediátrica, Radioterapia, Radioisotopoterapia, Medicina Nu34
No Centro de Oncologia, os pacientes poderão fazer consultas com oncologistas, hematologistas e outras especialidades medicas, para diagnostico e planejamento do tratamento ou acompanhamento. Também terão acesso a tratamentos com quimioterapia, hormonioterapia, anticorpos monoclonais, imunoterapia e todos os tratamentos sistêmicos disponíveis, por via injetável ou oral. Os pacientes receberão atendimento integral, com equipe multidisciplinar envolvendo enfermagem, nutrição, odontologia e psicologia. Um espaço planejado para o conforto e a comodidade com acesso aos mais modernos tratamentos disponíveis para o câncer. Os consultórios foram pensados para facilitar a conversa entre médico, pacientes e familiares. Também, pacientes em quimioterapia podem receber seu tratamento ao lado de um acompanhante, se desejarem.
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Centro de Oncologia do Paraná Desde 1991, o Centro de Oncologia do Paraná (COP) se dedica ao tratamento do câncer, priorizando um atendimento exclusivo, sempre atualizado e com ênfase no relacionamento médico-paciente. Conta com um corpo clínico formado por médicos qualificados, com profissionais especializados na área de CANCEROLOGIA, incluindo Oncologia Clínica, Cirurgia Oncológica, Vídeo-cirurgia, Mastologia, Oncologia Pediátrica, e Oncologia Ginecológica, Hemato-oncologia e Endoscopia. Possui uma equipe multidisciplinar com especialistas em Dermatologia, Ginecologia, Urologia, Hematologia, Farmacêuticos, Nutricionistas e Psicóloga. O COP realiza consultas médicas, procedimentos diagnósticos, tratamento com quimioterapia e com procedimentos cirúrgicos.
Instituto de Oncologia Santa Paula (IOSP) O Instituto de Oncologia do Hospital Santa Paula foi criado para oferecer o que há de mais atual no tratamento do câncer. São 4.000 m² especialmente projetados para assegurar eficiência, segurança e conforto no cuidado de nossos pacientes. Tendo como modelo as mais avançadas instituições dedicadas ao tratamento do câncer no mundo, o Instituto foi concebido para reunir em um mesmo espaço oncologistas clínicos, hematologistas, radioterapeutas e equipes cirúrgicas especializadas no tratamento dos diferentes tipos de câncer, estimulando o trabalho em equipe. Conta com o apoio de uma equipe de psicólogos que auxiliam o paciente e seus familiares a encontrar caminhos que os levem a enfrentar o tratamento da melhor maneira possível, além de nutricionistas para orientação dietética aos paciente e farmacêuticos
clínicos para a reconciliação medicamentosa, orientação e seguimento terapêutico. O tratamento integrado é indispensável para os pacientes oncológicos, inclusive em termos de desfecho clínico, como as taxas de cura, a sobrevida, e menor desperdício de recursos financeiros. A responsabilidade pela gestão técnica do Instituto de Oncologia é do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês (HSL). Nessa parceria, todos os atendimentos médicos oncológicos são realizados por profissionais do HSL, que seguem os mesmos protocolos de tratamento adotados nas Unidades do Centro de Oncologia. O Instituto possuiu dois andares dedicados à terapia antineoplásica, com farmácia exclusiva para manuseio e preparo desses medicamentos, dentro dos mais rigorosos padrões de segurança. Além disso, inaugura uma unidade de radioterapia completa e atual, com equipamentos de última geração para tratamentos, incluindo radiocirurgia e braquiterapia. Amplos consultórios, área de atendimento multidisciplinar, anfiteatro e espaço para convivência completam essa estrutura. Conheça um pouco mais sobre o Instituto e entenda como ele irá transformar positivamente os cuidados com os pacientes.
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MATÉRIA DE CAPA Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) “Octavio Frias de Oliveira”, unidade ligada à Secretaria de Estado da Saúde e à Faculdade de Medicina da USP, é o melhor hospital público do Estado, com nota média de 9,65. É o que aponta a nova Pesquisa de Satisfação dos Usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), promovida pela Secretaria de Estado da Saúde. Cerca de 204,4 mil pacientes dos hospitais públicos do Estado de São Paulo deram nota 8,86 ao SUS. O levantamento ouviu pacientes internados em 630 instituições hospitalares que atendem pela rede pública no Estado, no período entre julho e dezembro de 2010. A nota média é melhor do que a verificada em 2009, que foi de 8,65. De acordo com a Secretaria de Saúde, o objetivo do projeto é monitorar a qualidade de atendimento e a satisfação do usuário, reconhecer os bons prestadores, identificar possíveis irregularidades e ampliar a capacidade de gestão eficiente da saúde pública. Com cerca de 500 leitos, o Icesp foi inaugurado em maio de 2008 e é o maior centro especializado em oncologia da América Latina. No ano passado, realizou cerca de 11.000 internações. Um dos diferenciais da instituição está na assistência inovadora, que oferece ao paciente todas as fases de seu tratamento, a partir do diagnóstico até a reabilitação, integradas em um único local. Atualmente o instituto possui cerca de 50 projetos na área de humanização do atendimento a pacientes, familiares e funcionários. Desde sua implantação, a assistência, o ensino e a pesquisa formam o alicerce da instituição, essência mantida até hoje e que faz com que o hospital seja reconhecido como um centro de excelência em âmbito nacional e internacional. 36
Hospital A.C. Camargo Cancer Center A integração de diagnóstico, tratamento, ensino e pesquisa do câncer é o modelo adotado no A.C.Camargo Cancer Center, assim como nos principais Cancer Centers do mundo. Uma evolução do conceito de saúde em oncologia para aprofundar constantemente o conhecimento sobre a doença e gerar inovação: o paciente é avaliado por um grupo multidisciplinar de especialistas em todas as etapas, desde o diagnóstico até a reabilitação. Médicos e cientistas atuam em conjunto no desenvolvimento de pesquisas que serão aplicadas no futuro da oncologia. A busca dos melhores resultados para cada paciente é possível quando as terapias são baseadas em evidências científicas. Oferece assistência de alta complexidade, integrada, humanizada e centrada nas necessidades e na segurança de todos os pacientes, sejam eles provenientes do sistema de saúde privado ou do Sistema Único de Saúde (SUS). Trata-se uma Instituição privada, sem fins lucrativos, mantida pela Fundação Antônio Prudente. Em 2017, realizou 3,8 milhões de atendimentos, sendo 60,8% dos ambulatoriais dedicados aos pacientes do SUS. Desde quando começou a sua história, em 1934, somos a principal Instituição de ensino em Oncologia no país. Só no último ano, formamos 30 doutorandos, 41 mestrandos e 6 pós-doutorandos. A instituição é responsáveis pela formação de mais de mil especialistas e residentes, além de mais de 600 mestres e doutores. Tem uma missão clara e consistente: combater o câncer. E no centro de tudo o que somos, tudo o que fazemos, está o paciente. Esse é o conceito do A.C.Camargo Cancer Center.
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ARTIGO
Nutrição Parenteral Em Oncologia
O meu paciente realmente precisa de nutrição parenteral?
O
Dr. Ivens Augusto Oliveira de Souza
paciente oncológico possui um alto risco de desnutrição e o suporte nutricional deve fazer parte do tratamento multimodal contra o câncer. Talvez esta afirmação tenha lhe soado óbvia, mas estudos mostram que em hospitais europeus apenas 30 a 60% dos pacientes com risco de desnutrição recebem algum tipo de suporte nutricional. 1-2 O estado nutricional pode estar comprometido já no diagnóstico da doença e piorar durante o tratamento. Um estudo italiano multicêntrico que incluiu 1952 pacientes virgens de tratamento, identificou uma prevalência de comprometimento no estado nutricional em 51% dos pacientes e 43% já apresentavam anorexia na primeira consulta com o oncologista. 3 No Brasil, em um estudo realizado em Recife/ PE que incluiu 277 pacientes oncológicos hospi38
talizados, a prevalência de desnutrição moderada a grave chegou a 71.1%. 4 Certamente, que uma orientação dietética nutricional a respeito de uma alimentação hipercalórica e hiperproteica pode ajudar na aceitação alimentar, mas isto nem sempre é suficiente. Neste caso, o tratamento de pacientes com risco nutricional é feito através de suplementos via oral, nutrição enteral e/ou nutrição parenteral. Do ponto de vista prático o que determina a indicação de um suplemento via oral, por exemplo, é uma ingestão alimentar inadequada, abaixo de 60% das necessidades calóricas e proteicas nos últimos 7 a 14 dias. A anorexia, tão comum nos pacientes oncológicos, decorre da resposta inflamatória imposta pela doença de base e, muitas vezes, se soma a uma idade avançada e a presença de múltiplas comorbidades. O resultado, portanto, é um estado de inanição, catabolismo crônico e resistência anabólica, favorecendo a perda de massa muscular,
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fragilidade e a queda no status performance. O paciente quando sarcopênico está sujeito não só a uma maior mortalidade, como também a um maior numero de complicações e eventos adversos associados ao tratamento do câncer. 5-6 O que fazer, então, com um paciente que, mesmo com o suplemento, não atinge suas necessidades nutricionais? Neste momento, você já deve ter percebido que qualquer período em inanição pode ser deletério para o estado nutricional do mesmo. Neste caso, faz-se necessária utilização da nutrição enteral, e se o trato gastrintestinal não estiver viável, da nutrição parenteral.
versus parenteral com a mesma oferta calórica, não mostraram nenhum desfecho desfavorável associado a nutrição parenteral. 7-8 Além disso, uma metanálise publicada por Elke G e cols. em 2016, demonstrou que o maior numero de complicações infecciosas associado a nutrição parenteral só foi visto nos estudos onde a oferta calórica pela via endovenosa foi maior que a ofertada pela via enteral. 9 Estes estudos demonstram, portanto, que o problema não é a via, mas sim o excesso de caloria ofertado pela nutrição parenteral em determinados estudos.
Perdendo o medo da nutrição parenteral
Indicando corretamente o uso de nutrição parenteral
A nutrição parenteral é a única forma de manter o suporte nutricional para um paciente que não consegue utilizar o trato digestório. Ela é mantenedora da vida em determinadas situações, como em resseções amplas do tubo digestivo e intestino curto, mas pode ser utilizada por curto período, em momentos de disfunção do trato gastrintestinal. O grande medo que se tem em relação ao uso da nutrição parenteral é o aumento do numero de complicações metabólicas e infecciosas, conforme apontado por estudos realizados na década de 80 e 90. A falta de cuidado com o cateter venoso, a hiperalimentação e a interferência na resposta inflamatória mediada pelo tipo de emulsão lipídica, estão entre as principais causas desses eventos adversos. Atualmente, com uma oferta mais racional de nutrientes pela via endovenosa, com as novas técnicas de inserção e cuidados do cateter e com a utilização de emulsões lipídicas mais balanceadas e inertes (por exemplo: óleo de oliva), a utilização da nutrição parenteral tem ficado cada vez mais segura. Prova disso são os estudos realizados em UTI. O paciente crítico, principalmente na fase aguda da doença, é aquele que está mais exposto ao risco de hiperalimentação e de interferência no processo inflamatório. Dois estudos recentes, que incluíram mais de 2000 pacientes críticos cada um, e compararam a via enteral
No paciente oncológico, a utilização da nutrição parenteral vai depender do estado nutricional e das condições clínicas do paciente; da expectativa de retorno do uso do trato gastrintestinal; da proposta terapêutica e do prognóstico da doença.
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ARTIGO As Principais indicações de nutrição parenteral no paciente oncológico são: ■■ Mucosite, enterite actínica ou GVHD (doença enxerto versus hospedeiro) graves. ■■ Vômitos ou diarreia ou expectativa de jejum por mais de 7 dias na vigência de desnutrição grave. ■■ No período pré-operatório por 7-14 dias em pacientes de alto risco nutricional ou com albumina & lt; 3.0g/dl e que não atingem mais de 60% das suas necessidades pelo trato gastrintestinal. 10 ■■ Na UTI e no período pós-operatório, iniciar o quanto antes em pacientes de alto risco nutricional sem perspectiva de alcançar a meta calórico-proteica e 7-10 dias somente pelo tubo digestivo, desde que estejam hemodinamicamente estáveis. 10-11 ■■ Em pacientes com falência intestinal e sem proposta terapêutica, quando a expectativa de vida for acima de 2-3 meses e é esperado que a nutrição parenteral possa estabilizar ou melhorar a qualidade de vida, devendo respeitar o desejo do paciente e familiares. Sendo assim, voltando a pergunta inicial deste artigo: O meu paciente realmente precisa de nutrição parenteral? Se for um paciente com o estado nutricional comprometido, ingerindo ou tolerando menos de 60% da meta calórico-proteica pelo trato gastrintestinal, sem perspectiva de alcançar as suas necessidades nos próximos 7 dias, a resposta é sim. A nutrição parenteral quando bem indicada e conduzida, evitando hiperalimentação e utilizando emulsões lipídicas mais balanceadas, que não prejudiquem o estado inflamatório e imunológico do paciente pode ser absolutamente segura. A maioria dos hospitais no Brasil dispõe de bolsas de nutrição parenteral prontas para uso que podem ser utilizadas por grande parte dos pacientes. A terapia multimodal e o acompanhamento interdisciplinar com Oncologia, Cirurgia Nutrologia, Nutrição, Enfermagem, Psicolologia, etc, são a chave para o sucesso no tratamento do paciente oncológico. 40
Dr. Ivens Augusto Oliveira de Souza Médico da UTI e Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional do Hospital Sírio Libanes/SP Especialista em Medicina Intensiva pela AMIB Especialista em Terapia Nutricional Parenteral e Enteral pela BRASPEN Membro da Diretoria da BRASPEN (Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral)
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ARTIGO Referências
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MERCADO
Takeda em 2º lugar no ranking
das 50 grandes empresas mais amadas pelos seus funcionários no Brasil
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Takeda Farmacêutica, que conta com presença no Brasil por mais de 60 anos, foi reconhecida como a farmacêutica mais amada por seus funcionários, de acordo com ranking realizado pela plataforma Love Mondays. Dentro da categoria ‘50 grandes empresas mais amadas pelos seus funcionários no Brasil’, a companhia está em segundo lugar com índice de satisfação geral de 4,51 em uma escala que vai até 5. Anualmente, o portal realiza um ranking com as organizações de todo o país que possuem alguma avaliação na plataforma. O resultado se dá de acordo com a avaliação dos colaboradores que publicam resenhas anônimas e de maneira espontânea no próprio site. Renata Campos, presidente da Takeda Brasil e Área Head LATAM, afirma que “ser reconhecida pela 3º vez consecutiva como uma das empresas mais amadas do Brasil é resultado de nossas práticas internas e esforços diários em empoderar nossos colaboradores como agentes de mudança na sociedade, com uma base de valores sólida, prioridades claras e o compromisso de colocar foco em nossos pacientes acima de qualquer decisão do negócio. Esse reconhecimento reflete que o caminho que estamos seguindo como companhia está na direção certa”. A Takeda é uma empresa farmacêutica global, comprometida em proporcionar ao paciente saúde melhor e um futuro mais brilhante, traduzindo a ciência em medicamentos que mudam vidas. A companhia concentra os seus esforços de pesquisa nas áreas de oncologia, gastroenterologia e sistema nervoso central e tem programas específicos de desenvolvimento na área de doenças cardiometabólicas, assim como produção de vacinas. A companhia investe em Pesquisa e Desenvolvimento internamente e com parceiros, com o objetivo de permanecer na liderança das inovações. Mais de 30 mil funcionários, em 70 países, estão empenhados em melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Novos produtos, bem como sua presença nos mercados emergentes, fomentam o seu crescimento de forma sustentada. A Takeda no Brasil está entre as 10 principais farmacêuticas do país e possui uma fábrica instalada em território nacional, em Jaguariúna (SP), com mais de 500 colaboradores. A área de MIPs (medicamentos isentos de prescrição) conta no portfólio com produtos consagrados para dor de cabeça, má digestão e antibactericida. Na área de prescrição médica, as principais especialidades atendidas pela Takeda são gastroenterologia, cardiometabólica e oncologia. 44
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Touca Inglesa reduz queda de cabelo em pacientes com câncer
Sistema importado resfria o couro cabeludo durante a quimioterapia e diminui a alopecia relacionada ao tratamento
E
nfrentar o câncer é um grande desafio, e que pode ser ainda mais difícil quando pacientes apresentam quadros de baixa autoestima e depressão. Estudos revelam que a queda do cabelo durante o tratamento, um dos efeitos colaterais mais traumatizantes da quimioterapia, incide diretamente nas taxas de desistência e afeta principalmente as mulheres. Para evitar este quadro, hospitais e diversas clínicas de oncologia de todo o país adotaram uma tecnologia única, que atua de maneira uniforme no couro cabeludo por meio do sistema de resfriamento de um líquido circulante: a touca inglesa. O sistema, criado no Reino Unido pela empresa Paxman, pioneira no mundo, é o único no Brasil com aprovação da FDA (agência que regula os medicamentos nos Estados Unidos) e da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), proporcionando segurança ao paciente e eficácia do tratamento de maneira cientificamente comprovada. Mais de 100 mil pessoas em 64 países já utilizaram o sistema Paxman desde que foi criado em 1997. No Brasil, desde 2013, já foram realizadas mais de 33 mil sessões nos principais centros de referências, como Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Sírio-Libanês, Rede D´Or e Grupo Oncoclínicas, além das clínicas privadas. Como funciona (importante) A touca inglesa é colocada cerca de 30 minutos antes e não pode ser retirada até uma hora e meia depois da infusão das drogas. O sistema especial resfria o couro cabeludo do paciente a uma temperatura entre18ºC e 22ºC, o que permite a menor absorção dos fármacos nessa região. O procedimento com-
pleto permite que o couro cabeludo fique estavelmente resfriado, graças à circulação do líquido gelado, o que causa diminuição do fluxo sanguíneo nos folículos capilares e evita ou reduz a perda dos fios. A tecnologia de resfriamento do couro cabeludo vem sendo desenvolvida há décadas, e curiosamente já utilizou até mesmo melancias na cabeça de pacientes, nos primórdios dos estudos. O sistema da touca inglesa é o que há de mais moderno e o único com eficácia comprovada por dezenas de estudos realizados pela empresa britânica ao longo de mais de 20 anos. Em mais de 50% dos casos, os pacientes tratados relataram a diminuição da alopecia a ponto de não precisar usar lenço ou peruca. A queda de cabelo causa danos que vão muito além do aspecto visual nos pacientes. As consequências são graves e estão ligadas diretamente a problemas de autoestima, depressão e, em alguns casos, até desistência do tratamento. "Tive câncer duas vezes, da primeira vez meu cabelo caiu, e nenhuma mulher gosta de ficar careca, não é mesmo? Já quando tive o câncer pela segunda vez utilizei a touca e meu cabelo continuou crescendo mesmo com o tratamento de quimioterapia. É um tratamento muito eficaz. Hoje tenho minha autoestima elevada e estou muito satisfeita, indico o tratamento com a touca para todos”, relata Martha Matta, de 61 anos, que passou por tratamento para câncer no Rio de Janeiro. Por inibir a absorção das drogas na região do couro cabeludo, o resfriamento não é indicado para os tipos de câncer hematológicos ou para alguma alergia ao frio. Recentemente, o FDA expandiu o uso da touca inglesa para todos os tipos de tumores sólidos.
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História
A.C. Camargo Cancer Center Liderança no tratamento de câncer
I
naugurado em 23 de abril de 1953, o A.C.Camargo Cancer Center tem uma trajetória grandiosa no combate ao câncer. Líder em conhecimento científico sobre oncologia, é um centro de referência internacional em ensino, pesquisa e tratamento multidisciplinar. Para saber como chegamos aqui, vamos voltar um pouco nessa história.
que mais matavam. Em São Paulo e no Rio, o Anuário Estatístico do Brasil (IBGE) apontava como principais causas de óbito as doenças do aparelho circulatório, a tuberculose e o câncer. Prudente pensava em transformar a APCC (Associação Paulista de Combate ao Câncer) num hospital. A proposta era oferecer assistência médica hospitalar contra tumores malignos, disseminar informação para a sociedade e aperfeiçoar o conhecimento dos Em 1938, em Berlim, médicos brasilei- médicos na área de Oncologia. No entanto, ros visitaram centros de medicina germâni- era necessário capital. Ele veio em 1943, pecos. Na viagem, estavam o cirurgião Antônio las mãos do Comendador Martinelli, paciente Prudente Meireles de Moraes, então com 32 do cirurgião Antônio Prudente – discípulo de anos, e a jornalista Carmem Annes Dias, 27 A.C.Camargo. Martinelli doou 100 contos de anos, filha do chefe da comitiva brasileira e réis, que foram rapidamente transformados médico pessoal do presidente Getúlio Vargas. em mil contos de réis graças a campanhas de doações para a construção do hospital. Antônio Prudente se encantou com aquela jornalista que falava inglês, francês, Com o fim da guerra, em 1945, a APCC alemão, italiano, espanhol e já escrevera seu promoveu campanha para arrecadação de doprimeiro livro de viagens, "Do Brasil ao Japão", nativos e conscientização sobre a doença. No uma reunião de seus artigos para o jornal A dia 1º de maio, foi lançada por Carmem PruGazeta, dos Diários Associados, sobre sua via- dente a primeira Campanha Contra o Câncer, gem ao país do sol nascente. com a distribuição de 25 mil cartazes colados nos muros da cidade. São Paulo acordou saEsse amor – Prudente declarou-se para bendo que o câncer existia e deveria ser enCarmem durante um jantar, já no navio de vol- frentado. ta, quando entregou, por baixo da mesa, um livro de sua autoria para ela, com a dedicaCarmem Prudente criou, em 1946, a tória. "Que Deus nos una para sempre e que Rede Feminina de Combate ao Câncer, uma nosso pensamento seja um só: a luta contra organização que começou sendo composessa doença terrível". ta por uma divisão de quarenta chefes, com a proposta de alistar 31.200 pessoas para o Carmem abriu seu sorriso de sempre, combate ao câncer. Existiriam 200 núcleos que acabou sendo conhecido de norte a sul da Rede Feminina em todo o Brasil. Os núcledo Brasil e também no exterior como a marca os fariam campanhas destinadas a angariar registrada da luta contra o câncer. Dois meses fundos e com propósito educativo de transdepois estavam casados. mitir conhecimento sobre o câncer pelo país, além de encaminhar casos da doença para Em 1939, o câncer era uma das doenças tratamento. Ela mobilizou a população de São 46
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História Paulo em torno da construção do Hospital por meio da criação de um concurso para arrecadação de fundos. O vencedor foi um jovem estudante de Medicina chamado Humberto Torloni, filho de imigrantes italianos e que mais tarde ocuparia posição de destaque na Organização Mundial de Saúde. A campanha teve sucesso tão grande que, naquele mesmo ano, a APCC conseguiu viabilizar a tão sonhada primeira Clínica de Tumores. O contrato entre o Hospital Santa Cruz e a APCC previa cessão por 20 anos, pelo qual a APCC forneceria ao hospital um significativo valor, a ser reembolsado dentro do prazo de 2 anos. A Clínica de Tumores funcionaria no ambulatório do hospital, e a APCC instalaria no local todos os equipamentos necessários para o trabalho. De 1946 a 1953, a Clínica de Tumores funcionou no ambulatório do Hospital Santa Cruz. Além de cirurgia, havia serviço de fisioterapia e radioterapia, com aparelhagem trazida dos Estados Unidos. Os médicos eram distribuídos em três serviços de cirurgia, cada qual com seu chefe e titulares, para tratamento de pacientes portadores de tumores.
que durante toda a vida chefiou a Medicina de Homens da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo e que, como mestre, era considerado por muitos a própria vida da Faculdade de Medicina. Em 1948, Antônio Prudente fincou no bairro da Liberdade, em São Paulo, a pedra fundamental do Hospital do Câncer. A APCC havia conseguido, por doações ou compra, dois lotes de terreno na rua José Getúlio, região repleta de chácaras, próxima à linha de bonde da rua Vergueiro.
1934 - O professor doutor Antônio Cândido de Camargo, da Faculdade de Medicina da USP, cria a Associação Paulista de Combate ao Câncer (APCC), o embrião do Hospital do Câncer.
Parte do terreno – uma área de 1.400 metros quadrados – era um charco onde descansavam cavalos das charretes da chácara Jambeiro Costa, propriedade do casal Leônidas de Castro Mendes e Odylia Jambeiro Costa Mendes – ele, médico da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo; ela, neta do Barão de Ibitinga, de quem herdara as terras.
O Hospital do Câncer foi projetado pelo arquiteto modernista Rino Levi, filho de italianos formado em Roma O antigo mestre de e Milão. De sua pranPrudente e presidente da APCC, Antônio Cân- cheta saiu a estrutura com o amplo mezanino dido de Camargo, morreu meses depois da sobre o qual se apoiavam 13 andares, e que inauguração da clínica, em 20 de fevereiro seria considerada um belo exemplar de arde 1947. Assumiu a presidência da entidade quitetura funcional. Levi projetou janelas que outro professor de Antônio Prudente na Uni- afastassem o sol e o ruído excessivo e que, versidade de São Paulo, Celestino Bourroul, vistas a distância, depois de construído o hos48
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História
Dr. Antônio Prudente
Sra. Carmem Prudente
pital, pareceriam pequenas demais para os paulistanos que passavam pela rua. Nasceu, enfim, em 23 de abril de 1953 o primeiro hospital de São Paulo construído com o dinheiro da população, e a ela destinado, sem ligação a nenhuma instituição de saúde oficial brasileira, sem respaldo financeiro de nenhuma organização religiosa, tampouco patrocínio de colônias de imigrantes, como era usual. O novo hospital trazia a São Paulo o mais avançado conjunto de equipamentos para diagnóstico do câncer. Ofereceria radiografia, endoscopia, anatomia patológica e radioterapia. Havia também seu corpo de cirurgiões, a espinha dorsal do Hospital do Câncer. As cirurgias realizadas por esses médicos e suas equipes, nas cinco salas de operações do Centro Cirúrgico, no 10º andar, espalhariam por todo o prédio os sentimentos de respeito e esperança pela cura do câncer. Hoje, a nossa Instituição continua seguindo o legado de Antônio e Carmem: a pesquisa científica e a busca pela excelência, que ele jamais deixou de perseguir, e o olhar humanitário dela.
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1934 - O professor doutor Antônio Cândido de Camargo, da Faculdade de Medicina da USP, cria a Associação Paulista de Combate ao Câncer (APCC), o embrião do Hospital do Câncer. 1943 - O Comendador Martinelli, paciente do cirurgião Antônio Prudente, doa 100 contos de réis. É o ponto de partida para as campanhas de doações para a construção do hospital. Rapidamente já tínhamos mil contos de réis. 1946 - A jornalista Carmem Prudente, esposa de Antônio Prudente, cria a Rede Feminina de Combate ao Câncer e mobiliza a população de São Paulo em torno da construção do hospital. 1947 - Humberto Torloni, um jovem estudante de medicina, vence a gincana de arrecadação de fundos para a construção do Hospital do Câncer. 1953 - O Hospital do Câncer é fundado no dia 23 de abril com corpo clínico composto por 92 especialistas: médicos, cirurgiões, radioterapeutas, laboratoristas e 35 enfermeiras da Cruz Vermelha alemã. No mesmo ano foi criada a Residência para médicos
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